Angela Arruda - representações sociais

download Angela Arruda - representações sociais

of 28

Transcript of Angela Arruda - representações sociais

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    1/28

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    TEORIA DAS REPRESENTAES SOCIAIS ECINCIAS SOCIAIS: trnsito e atravessamentos

    Angela Arruda*

    Resumo: Este texto pretende assinalar a relao da teoriapsicossocial das representaes sociais de Serge Moscovici com ascincias sociais, a partir da sua caracterizao como uma abordagemde interpenetrao da Psicologia com a Sociologia. Primeiramentefar uma breve anlise sobre o trnsito entre Psicologia-Psicologia

    Social e Cincias Sociais, como um dos elementos de explicaopara o entrecruzamento da Teoria das Representaes Sociais(TRS) com as cincias sociais. Em seguida pontuar como esteentrecruzamento se coloca na abordagem moscoviciana, e comoa TRS no escapa a ele. O argumento da autora de que a baseda relao entre essas reas e a TRS est na concepo do social,

    presente no pensamento moscoviciano, o qual, ao mesmo tempo,no negligencia o quanto os aspectos psicolgicos participam dos

    fatos sociais. O texto se encerra com alguns exemplos de pesquisapara ilustrar esta posio.

    Palavras-chave:teoria das representaes sociais; cincias sociais;atravessamentos.

    O estudo sobre a representao social da Psicanlise na Frana

    dos anos 50, de como ela se tornou um fato da cultura (Moscovici,1961), persegue a transformao do pensamento social e os seus

    desdobramentos segundo o grupo que fala. Ou seja, como todo tipo

    de saber especializado, uma vez posto em debate na esfera pblica,

    tornava-se objeto de representao, migrando do seu universo

    especco para o do senso comum. Levar adiante esta empreitada

    * Doutora em Psicologia Social pela Universidade de So Paulo (USP); professora doPrograma de Ps- Graduao em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ).E-mail: [email protected]

    Artigo recebido em 20 out. 2009 e aprovado em 23 out. 2009.

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    2/28

    740 Angela Arruda

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    signicou produzir a Teoria das Representaes Sociais (TRS) a

    partir de um entrecruzamento de cincias.

    A passagem de um saber do seu prprio domnio para omundo da conversao entre os leigos um fenmeno psicossocial.Envolve a mobilizao de elementos psicolgicos afetivos,cognitivos, imaginrios, fantasmticos, de memria e outros masimpregnados de contedo social sociolgico, histrico, cultural,

    lingustico, entre outros e acontece ao mesmo tempo nesses doisregistros que se encontram totalmente entrelaados: o social e o

    individual, dissolvendo assim a dicotomia indivduo-sociedade. Odilema do ovo e da galinha, para efeitos do trabalho do pensamento,ca superado, uma vez que quem pensa est inserido e atravessadopela sociedade (com sua histria, forma de organizao, suasculturas etc.). Moscovici (1988) cita Lvi-Strauss para apoiar essainseparabilidade:

    [...] bem verdade que, em certo sentido, todo fenmeno psicolgico

    um fenmeno sociolgico, o mental se identica com o social. Mas,num outro sentido, tudo se inverte. A prova do social s pode sermental; ou seja, ns jamais poderemos estar seguros de ter atingidoo sentido e a funo de uma instituio se no formos capazes dereviver a sua incidncia sobre uma conscincia individual. Comoessa incidncia uma parte integrante das instituies, qualquerinterpretao deve fazer coincidir a objetividade da anlise histricaou comparativa com a subjetividade da experincia vivida.

    Na busca moscoviciana da compreenso da mudana, portanto,se indivduo e sociedade no se separam, mas se atravessam, nem

    a Psicologia nem as cincias sociais entre as quais ele situa aPsicologia Social podem explic-la sozinhas. Esta uma vertenteda Psicologia que v a Psicologia social como rea de interface cincia charneira, segundo Maisonneuve ([1950] 1988, p. 129),encruzilhada, entre a Antropologia Cultural, a Sociologia, a

    Psicologia e a Psiquiatria. Podemos acrescentar tambm a Histria(e se enveredamos pelas artes, a literatura, o cinema, as artesplsticas, a fotograa e a msica...).

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    3/28

    741Teoria das representaes sociais e cincias sociais: trnsito ...

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    nesta perspectiva que se integra o pensamento moscoviciano,

    toda a sua obra, bem como a de Jodelet. Nos tempos de hoje, podemos

    ir alm e supor que, mais que uma encruzilhada, estamos falando

    de uma aliana que se assemelha quela discutida por Prigogine

    e Stengers (1997), da qual eles apontam Moscovici como um dos

    precursores. Ela implica por entender o social e o individual como

    os entrelaados num mesmo tecido , considerar esse tecido de

    forma aberta e mltipla, sem barreiras disciplinares. A teoria que

    aqui est em pauta se situa no corao dessa aliana, ao navegar

    sempre no encontro das guas da Psicologia Social e suas irms, as

    outras cincias sociais.

    Pretendo aqui caminhar no sentido de assinalar a relao da

    TRS com as cincias sociais a partir da sua caracterizao como

    uma abordagem de interpenetrao da Psicologia com a Sociologia.

    Proponho, ento, desenvolver o texto passando primeiro por uma

    breve anlise sobre o trnsito entre Psicologia-Psicologia Social

    e cincias sociais, como um dos elementos de explicao para oentrecruzamento da TRS com as cincias sociais. Em seguida,

    pontuarei como este entrecruzamento se coloca na abordagem

    moscoviciana, e como a no escapa dele. Minha posio de que

    a base da relao entre essas reas e a TRS est na concepo do

    social, presente no pensamento moscoviciano, o qual, ao mesmo

    tempo, no negligencia o quanto aspectos psicolgicos participam

    dos fatos sociais. Encerrarei com alguns exemplos de pesquisa parailustrar esta posio.

    Psicologia, Psicologia Social, Cincias Sociais

    A Psicologia Social como Moscovici e Jodelet a entendem

    uma cincia social. Contudo, a contribuio desses dois autoresmais conhecida entre ns, a Teoria das Representaes Sociais

    (TRS), despertou questionamentos que variaram de o que tem a ver

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    4/28

    742 Angela Arruda

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    com cincia social? at em que difere da abordagem sociolgica?

    fcil respondermos que o interesse pelos processos psicossociais

    de elaborao das representaes enfatizando suas razes sociais

    o n da questo, embora isto no seja tudo. A representao social,

    na abordagem daqueles autores, nada tem a ver com o reexo da

    realidade. Teoriza, avant la lettre, em 1961, a perspectiva da

    construo social da realidade, que ser sistematizada por Berger e

    Luckmann pouco tempo depois, em 1963.

    Tal construo social acontece atravessada por um uxo de

    afetos, imaginrios, estilos cognitivos e se congura por meio deprocessos que, sendo sociais, so ao mesmo tempo psicolgicos,

    como aqueles que permeiam a produo das representaes

    sociais, tal como consideram Moscovici e Jodelet. Rero-me aqui

    aos processos de objetivao, ancoragem, focalizao, presso

    inferncia, disperso da informao. Ou seja, processos que, do

    ponto de vista psicossocial, esto entre os que contribuem para a

    mudana do pensamento social e, simultaneamente, so formasde organizao do pensamento social e operaes mentais. Esse

    atravessamento, contudo, no era ponto pacco quando Moscovici

    interpelou a Psicologia Social, situando-a como cincia social.

    A Psicologia e as Cincias Sociais

    Para entender como se coloca no campo da Psicologia a relao

    entre TRS e cincias sociais, interessante revisitar rapidamente

    a relao entre a Psicologia em particular a Psicologia Social

    e aquelas cincias.1 Foi o que zeram recentemente Moscovici e

    Markova (2006), quando propuseram a existncia de duas tradies

    da rea e batizando-as como a tradio de origem americana

    (indigenous american, no original) e a tradio euro-americana.Alertando para a simplicao inevitvel desse tipo de classicaes,

    sinalizam que suas grandes diferenas so epistemolgicas. A

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    5/28

    743Teoria das representaes sociais e cincias sociais: trnsito ...

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    primeira lia a Psicologia Social Psicologia geral como rea me,devido nfase comum s duas: a natureza humana tal como seexpressa no indivduo. Em algumas interpretaes, isto signica

    uma aproximao com as cincias neurolgicas, uma vez que osprocessos psicolgicos (memria, percepo, etc.) se produzemde forma semelhante nos indivduos graas ao funcionamento docrebro. S o indivduo tem crebro, no a multido ou o grupo. Istoafasta as cincias sociais, estranhas ao treinamento dos psiclogos;eles se aproximam mais das prticas experimentais em laboratrio,isoladas da realidade. O que o laboratrio faz, nesta vertente, criar

    situaes articiais e um grupo ctcio que no funciona amparadoem nenhum contexto, a no ser o do prprio experimento. Osautores estabelecem uma metfora, da cincia-porta e da cincia-ponte. Esta tradio se situaria na primeira, fechando-se para teoriassociolgicas ou antropolgicas.

    Em contraste, a tradio euro-americana considera que aPsicologia Social vem preencher uma lacuna entre a AntropologiaCultural e a Sociologia. Com efeito, ela se encontrava no departamentode cincias sociais de muitas universidades americanas. KurtLewin chegava a considerar que cincias como a Sociologia ou aPsicologia deveriam car vontade para recorrer a construtos deoutras cincias se estas se adequassem s questes com as quais elaslidavam. E recomendava que, para ter idias, no se lesse Psicologia,mas sim Filosoa, Histria, Cincia, poesia, romances e biograas.

    Assim, a Psicologia Social nesta tradio seria uma cincia-ponte,porque recorre interdisciplinaridade no apenas para combinarconhecimentos de vrias disciplinas sobre um assunto, mas porqueconstri conhecimento novo sobre um tema especco usando oconhecimento de outras reas (Moscovici; Markova, 2006, p. 40).Isso teria acontecido no estudo de fenmenos como a inunciasocial, a inovao e a conformidade.

    A diferena fundamental entre as duas tradies seria a

    concepo e o lugar do social: na tradio de origem americana,

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    6/28

    744 Angela Arruda

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    o grupo seria um agregado de indivduos, enquanto que na euro-

    americana, o grupo, ou a cultura, implica interdependncia, dinmica

    interna homeostase e interao, um sistema vivo feito de foras

    interativas que buscam um equilbrio. O emblema de cada uma seria,

    respectivamente, o conceito de atitude e o de grupo social. Moscovici

    e Markova (2006) exemplicam ainda com tericos importantes de

    cada uma, Floyd Allport e Kurt Lewin, entre outros.

    Esta interpretao da histria da Psicologia Social, situando-a

    em vertentes que se entrecruzam, uma das quais a coloca na seara

    das cincias sociais, parece avanar um pouco mais com relao

    quela expressa por Farr (1994), que separava a Psicologia Social

    psicolgica e a sociolgica quase como duas entidades existentes

    na realidade, e no como fruto de uma angulao da histria

    da Psicologia. Ademais, as duas tradies no se sucedem,

    mas se entrelaam. Ambas as leituras, contudo, coincidem no

    reconhecimento da insularidade da psicologia, como diziaDuveen, e insistem na existncia de uma Psicologia Social que se

    lia e se mistura s cincias sociais. Ela conrma a posio da obra

    de Moscovici. Para alm do grupo, existe a sociedade mais ampla,

    colocada no territrio da determinao central da representao.

    Jodelet (2001) sistematiza esta idia ao explicitar a armao de

    Moscovici de que toda representao representao de algum e de

    alguma coisa, indicando que esse algum integra pertenas sociaisvariadas, se situa num tempo histrico, numa sociedade dada, em

    um lugar dela que faz parte da forma como ela se organiza, e que o

    coloca em contato com formas de comunicao, institucionalidades,

    ideologias, culturas especcas. Isto, nos estudos de representaes

    sociais, contemplado pelo estudo dos contextos (Jesuno, 2001), os

    quais compem uma espiral que vai do mais imediato, situacional,

    at o mais remoto, ligado ao passado histrico e ao imaginrio

    coletivo (Arruda, 2005)

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    7/28

    745Teoria das representaes sociais e cincias sociais: trnsito ...

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    Moscovici: pensando a vida, a natureza, a sociedade

    A obra de Serge Moscovici se pauta pela interdisciplinaridade,

    j observada no seu extenso percurso de reexo sobre a relaoentre os humanos e a natureza, para alm das teorias psicossociais

    que elaborou. Naquele percurso, no hesitou em dialogar com a

    Biologia, a Gentica, a Histria, a Antropologia (Moscovici, 1972,

    1977), mostrando como a relao entre a natureza e a humanidade

    tem uma complexidade que escapa viso da dominao da natureza

    pelo homem. Da mesma forma, ele responsvel por uma teoria

    que vem contrariar tudo o que se estudava sobre inuncia socialat ento na Psicologia Social. A rea se interessava sobretudo pela

    presso conformidade, pela inuncia da maioria, e a resistncia

    posio predominante era colocada no terreno do desvio. Moscovici

    prope observar o problema pelo avesso: em contraposio ao

    interesse pela permanncia, pela preservao da continuidade, toma

    o ngulo da mudana, no qual a inovao pode acontecer a partir da

    ao de minorias ativas. Os desviantes seriam, ento, possveisinovadores. Pensar o social sem divisrias disciplinares para pensar

    a mudana, , portanto, uma marca da sua reexo que se prolonga

    na TRS. Moscovici tanto um psiclogo social quanto um pensador

    das questes da vida, do social e da natureza, como bem descreve o

    ttulo do livro em sua homenagem (Buschini; Kalampalikis, 2001).

    No poderia ser diferente, uma vez que, para ele, estas dimenses se

    interpenetram. O leque da interdisciplinaridade pode variar segundoa temtica que ele traz cena. No texto escrito com Markova

    (Moscovici; Markova, 2006, p. 39), sobre o qual se apoiou at aqui

    esta reexo, ele retoma, ao analisar a construo da Psicologia

    Social moderna, o argumento de Lewin sobre cincias como a

    Sociologia ou a Psicologia, citado anteriormente.

    Em suma, o fato de que a TRS seja uma teoria de interface ou de aliana entre a Psicologia, a Sociologia e a Antropologia, j

    indica que nela, como no pensamento moscoviciano de forma geral,

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    8/28

    746 Angela Arruda

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    no se trata de um encontro fortuito ou complementar de disciplinas,

    mas de reas cujo ntimo parentesco incontornvel para entender

    a produo do conhecimento tal como Moscovici prope: deslindar

    a construo do pensamento cotidiano pelos seus mltiplos autores,

    encontrar os processos que esto na base da mudana do pensamento

    e das prticas sociais.

    Falar em autores, ou atores, implica falar em suas vrias

    inseres social, histrica, poltica, cultural etc. E aqui o social se

    amplia, aumentando o foco progressivamente doclose sobre o entorno

    imediato at atingir uma grande angular. Estas inseres compem oacervo de onde surgir a representao que qualquer grupo elabora;

    elas so reordenadas, negociadas, recortadas e recombinadas para

    congurar o pensamento. Sem conhecer as razes do pensamento dos

    grupos e, por conseguinte, dos sujeitos o que remete sociedade

    como um todo e seus mltiplos recortes torna-se impossvel

    chegar compreenso do seu processo de construo da realidade,

    de elaborao do conhecimento na vida diria. Fatores como amemria, a experincia, o olhar, cuja incidncia para a produo

    das representaes fundamental, so multiface, situados tanto no

    espao social quanto no individual. O(s) espao(s) social(is) pelos

    quais cada um transita marcam-no, mas tambm (so) tingido(s)

    pela sua tonalidade especca, fruto do encontro e da negociao

    das diversas procedncias do pensar. impossvel negar o peso da

    comunicao, da troca, do confronto de idias para produzir umarepresentao social. O ambiente pensante em que vivemos, nas

    sociedades contemporneas, com a velocidade vertiginosa do uxo

    de informaes, estimula esta produo, porque preciso falar do

    que todos falam, mostrar que se est por dentro.

    O ser humano, portanto, no pensa isolado, desligado do

    social. Ele pensa atravessado por este. Ele carrega no seu pensar amarca dos grupos que incidem sobre a sua experincia, sobre a sua

    identidade, bem como a marca da histria, da poltica, das divises

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    9/28

    747Teoria das representaes sociais e cincias sociais: trnsito ...

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    sociais e tantas outras, e isso no se congura como uma simples

    retraduo na linguagem daquele grupo. A inveno do pensamento

    no dia a dia mistura, portanto, elementos que envolvem interesses,

    exerccio do poder, desejo de aceitao, eventuais questes

    circunstanciais, compondo um novo desenho traado pelos diversos

    atravessamentos do social os mais prximos, os mais distantes

    que vo da experincia vivida necessidade de comunicao, de

    reconhecimento, passando pela presena ou pertena aos grupos

    sociais, valores e interesses do grupo, bem como pelo momento

    histrico, a posio sociocultural, geogrca, tnica, religiosa, at asituao poltica mais prxima e mais geral no obrigatoriamente

    nesta ordem. Em ambos os casos, trata-se do social mais, ou

    menos, encarnado nas pessoas e nos grupos sociais que a atravessam

    e que ela atravessa, ou, como se costuma dizer, tanto no nvel micro

    como no macro. As representaes sociais seriam para sintetizar e

    simplicar uma forma de manejo do macro (entre outras coisas) no

    nvel micro. Do ponto de vista psicossocial, elas trazem para o registrodo cotidiano: relaes, concepes, crenas, imagens e afetos que a

    sociedade abriga e veicula por perodos longos e outros no to

    longos vertendo-os na construo deste cotidiano. Elas trabalham

    no apenas o que provoca o conhecimento, o objeto que instiga a

    (re)construo, mas os diversos os que tecem a organizao social,

    a urdidura das culturas, os andaimes do simblico, para acolher

    na rede pr-existente de signicados o objeto ou a situao que seapresenta.

    A necessidade e relativa facilidade do dilogo da teoria das

    representaes sociais com as cincias sociais, desta forma, no so

    circunstanciais, mas sim fator constitutivo da teoria: elas conferem

    a densidade e o carter que ela possui. A TRS uma abordagem

    de aliana, situada na fecundao entre a Psicologia e a Sociologia,em sintonia com o pensamento de Prigogine e Stengers (1997, p.

    209), que o consideram um precursor da perspectiva da abertura das

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    10/28

    748 Angela Arruda

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    cincias imprevisibilidade e ao dilogo com um mundo aberto, ao

    qual pertencemos e em cuja construo colaboramos.

    Como seus tericos no cansam de armar, isso acontecea partir da viso da Psicologia Social como uma cincia social

    (Castro, 2002), e como conseqncia, porque a TRS v o social

    como caleidoscpico dotado de mltiplas facetas e inseparvel/

    indistinguvel do indivduo ou, deveramos dizer, no hbrido

    individuossociedade. Essa capilaridade permite hoje pensar o social

    recorrendo metfora do rizoma, que projeta razes e caules em

    todas as direes, indistinguindo-o no corpo da teoria.

    O projeto epistemolgico que a teoria abraa, partindo do

    pressuposto da construo social da realidade, est na base dessa

    proposio. O m das dicotomias, que faz parte dos eixos da teoria,

    estabelece o desbotamento da divisria indivduo-sociedade, que se

    apresenta tambm sob a forma sujeito-objeto. Indivduo e sociedade,

    sujeito e objeto, so duas formas de entender o comparecimento dohumano frente a disjuntivas colocadas pela sua condio: mais do

    que duas faces da mesma moeda, so os do mesmo tecido. Da a

    impossibilidade de estudar representaes sociais sem as cincias

    sociais. Os contextos nos quais nos situamos nos constituem, e

    nesta condio de seres contextuados que elaboramos nossas

    representaes. Isso implica um entendimento hologrco de

    pessoas, grupos e sociedade como um todo. No se trata de acumularuma lista de pertenas que nos percorrem, mas de entend-las como

    forma de expresso articulada e semovente da sociedade em que

    vivemos e da sociedade global: suas caractersticas contemporneas,

    os interesses que a habitam, as posies que se aliam e se contrapem,

    o complexo jogo jogado para a sobrevivncia no planeta hoje,

    com suas caractersticas diversas e plsticas. A compreenso das

    grandes linhas diretoras e demarcadoras desta(s) sociedade(s), bemcomo da porosidade entre elas, e das resistncias e alternativas a

    elas indispensvel para perceber como as pertenas das pessoas,

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    11/28

    749Teoria das representaes sociais e cincias sociais: trnsito ...

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    atravessadas pelas caractersticas mais gerais da organizao e

    funcionamento da sociedade se articulam e negociam entre si e,

    desta maneira, fazem a construo social da realidade. Em resumo,

    voltando ao vocabulrio consagrado, para compreender o micro,

    preciso conhecer o macro.

    Construindo conhecimento novo usando o conhecimentode outras reas2

    A relao entre Psicologia e Sociologia assunto de muitasdiscusses levadas a cabo por Moscovici. Depois de brigar no seio

    da sua prpria rea para mostrar a incontornvel dimenso do social

    na Psicologia em A mquina de fazer deuses(1988), ele reage ao

    dogma anti-psicologista de que os fatos sociais no podem receber

    explicaes psicolgicas. Mostrando ao mesmo tempo a relao

    da Sociologia com a modernidade e o imprio da razo, advoga a

    impossibilidade de separar as coisas: dicilmente os fatos sociaispodem ser analisados sem recorrer a noes psicolgicas, e as

    teorias sociais recorrem a elas o tempo todo, mesmo sem reconhecer

    isso. Mais uma vez Moscovici se adianta, introduzindo o discurso

    sobre a falcia da modernidade e as armadilhas do racionalismo,

    insinuando o que Latour (1994) iria denir como hibridismo em

    Jamais fomos modernos.Ou seja, partindo do mesmo pressuposto

    da relao intrnseca entre individual e social, Moscovici ressalta alia dimenso psicolgica dos fatos sociais e das teorias que tratam de

    explic-los.

    Em texto recente, Porto (2009) traz consideraes sobre as

    dimenses objetiva e subjetiva da violncia e ressalta que, por um

    lado, o carter objetivo do fenmeno dene a sua concretude pela

    via dos registros e estatsticas, tornando-o inegvel; por outro lado,o carter subjetivo inclui o que diferentes indivduos e sociedades

    reputam como violncia, e esta representao pode interferir na

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    12/28

    750 Angela Arruda

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    prpria realidade da violncia... (p. 149). Em uma pesquisa em

    curso, que coordeno, sobre o universo do funkproibido no Rio de

    Janeiro com jovens moradores de espaos populares, alguns deles

    comentaram durante a entrevista que se sentem mais seguros nos

    bailes funkna comunidade que frequentam do que em bailes de

    pista, comerciais, porque conhecem as pessoas, e sobretudo porque

    l o trco impede que haja confuso o fuzil faz as vezes de

    segurana, ainda que no seja esta a sua funo primordial naquele

    momento. O subjetivo parte da substncia do social, jogando sobre

    ele uma luz que pode nos surpreender, iluminando-o por outros

    ngulos.

    Como esclarece Porto (2009), o carter quase tangvel que

    podem ter as representaes sociais, segundo Moscovici, pode

    torn-las/tom-las como realidade concreta, o que rearma o poder

    das crenas, tendo sido o motivo da busca terica desse autor a

    partir da experincia de vida sob o nazismo, confrontado pela crena

    ento circulante na superioridade ariana. No exemplo acima, o fuzilobjetivaria a presena do trco no baile. Como um de seus emblemas,

    ele ao mesmo tempo prestgio e perigo, conferindo aos meninos

    que o carregam, uma aura que os transforma aos olhos das meninas

    e da populao em geral. Mas no obrigatoriamente transmite o

    sentimento de temor e insegurana associado violncia em toda

    situao. Pelo contrrio, nesses testemunhos, ele identicado como

    um elemento protetor, mostrando que, alm de uma representaohegemnica que o associa violncia, existe uma situao, um lugar

    e um segmento em que ele pode no ser visto sob este ngulo.

    [...] possvel supor que existam, por um lado, contextos (objetivos)mais ou menos favorveis ao desenvolvimento da violncia, e que,

    por outro, o que representado como violncia (dimenso subjetiva)participe igualmente da realidade da violncia. Se determinados

    contextos favorecem o desenvolvimento de manifestaes deviolncia, essa, uma vez posta em ao, manifesta aos atores o poderde sua utilizao. Nesse sentido, uma violncia que, inicialmente, se

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    13/28

    751Teoria das representaes sociais e cincias sociais: trnsito ...

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    constitui a partir de um contexto propcio produz, ou pode produzir,a violncia como lgica de interveno. O que est em questono algo como o crculo vicioso da violncia, mas o fato (...)

    de serem objetividade e subjetividade dois elementos interagindosolidariamente na constituio do fenmeno. (Porto, 2009, p. 149-150)

    A partir da indicao de Porto, trago o exemplo de uma

    pesquisa sobre imaginrio e representaes sociais do Brasil por

    jovens universitrios (Arruda; Ulup, 2007) para ilustrar as cincias

    sociais entrelaadas na TRS, trazendo a congurao do pensamento

    social como a trama em que pertenas e inuncias sociais devariados nveis se conguram num desenho especco daquele

    grupo, que revela como estas inuncias so atravessadas por afetos

    e formas de saber tambm especcas. Como arma Thiesse (2001),

    uma nao resultado de um longo processo de construo histrica,

    cultural, social e poltica, processo esse que institui um imaginrio

    e um sentimento de nacionalidade, os quais se expressam por meio

    da elaborao de um conjunto de representaes sociais. Um pasexiste tanto na sua materialidade concreta quanto nas mentes e nos

    afetos das pessoas. Desta forma, compreender a viso que tem dele

    os futuros prossionais implica percorrer as suas representaes

    sociais.

    Brasil, brasis: as representaes sociais de jovensuniversitrios

    O Projeto Imaginrio e Representaes Sociais do Brasil e

    da Escola situa-se na vertente dos poucos trabalhos de Psicologia

    Social voltados para o pensamento brasileiro a respeito da nao e

    dos seus cidados, de Manoel Bomm a Dante Moreira Leite e at

    hoje. Uma das questes que conduziu a pesquisa foi de investigar oque seria o Brasil para jovens iniciantes de cursos universitrios, em

    pleno processo de globalizao liberal, nos anos 2003-4 (Arruda;

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    14/28

    752 Angela Arruda

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    Ulup, 2007).3 Foi utilizada a metodologia dos mapas mentais,

    inspirada no trabalho de Milgram e Jodelet (1976) sobre os mapas

    de Nova York e Paris.

    Participaram 1.029 jovens das cinco regies do Brasil,

    estudantes do primeiro ano de cinco cursos universitrios:

    Enfermagem, Servio Social, Pedagogia, Medicina e Engenharia.

    Inicialmente, desenharam um mapa do Brasil com o que imaginavam

    encontrar-se a; deviam explicar o que tinham desenhado e responder

    duas perguntas abertas: o que fazia com que tudo aquilo fosse Brasil

    e o que diferenciava o Brasil de outros pases. Depois, outros mapasdeviam ser preenchidos com indicaes sobre aspectos culturais,

    histricos, econmicos da renda, etc. Ao nal, deviam completar

    frases iniciadas com o gentlico de cada Estado brasileiro, como:

    cearense ...; gacho ... etc. Para ilustrar o que anunciei acima, vou

    pinar alguns resultados referentes apenas ao desenho do primeiro

    mapa. Parte desses resultados corresponde ao conjunto de 1.029

    mapas e outra parte provm de trabalhos de mestrado realizados porjovens pesquisadoras do projeto. Num deles, foram analisados 140

    mapas de estudantes do Rio de Janeiro (Cruz, 2006) e no outro, 177

    do Par (Gonalves, 2008).

    Na totalidade dos 1.029 mapas, alguns elementos chamaram

    a ateno pela sua constncia. O primeiro foi a ausncia de pases

    para alm das nossas fronteiras: o nico limite externo, quandohavia, era o mar. O contraste com pesquisa similar, levada a cabo

    no Mxico (Guerrero, 2007), sugere o peso de circunstncias

    polticas, sociais e culturais de cada pas sobre a maneira como

    construdo ou imaginado por seus habitantes (Anderson, 1989).

    Os jovens mexicanos desenham uma fronteira com os Estados

    Unidos demarcada por muros, barreiras, armas, mulheres mortas e

    at uma pirmide, inexistente na regio. J ao sul, com pases daAmrica Central a divisria quase ausente. O desenho expressa

    uma situao de fato com relao a estas duas fronteiras, tingida

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    15/28

    753Teoria das representaes sociais e cincias sociais: trnsito ...

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    pelo colorido da sua representao social: a divisa sob a forma de

    muro, que inexistia naquele momento, mas j estava presente no

    imaginrio dos jovens. Da mesma maneira o registro das mortes

    de mulheres em Jurez, talvez como uma objetivao da violncia

    ressentida pelos mexicanos naquela regio, em relao com o vizinho

    do norte. A presena da pirmide na fronteira, que no um dado de

    realidade, nos provoca a suposio de que, como um dos emblemas

    da nao, ela demarca o territrio e sinalizaria a riqueza ao sul do

    Rio Grande as tradies culturais mexicanas, apesar do trnsito em

    busca do sonho americano. No sul do Mxico, por sua vez, o que se

    v uma continuidade entre o Mxico e os demais pases de lngua

    espanhola.

    Quanto ao Brasil, aparece como um pas sem vizinhos, solto

    no espao, cuja fronteira apenas o contm, fechado sobre si mesmo.

    S o mar indica o contato com o exterior, como uma reminiscncia

    do perodo da colnia. Com efeito, em pesquisa sobre a memria

    do descobrimento do Brasil, levada a cabo no momento do 5Centenrio, a imagem mais associada a ele foi a das caravelas (S.

    Oliveira; Prado, 2005), sublinhando o mar como a via de chegada

    e sada. O Brasil comea no mar. Em nossa pesquisa, a imagem de

    um pas descolado do continente domina a folha de papel, havendo

    at desenhos em que ele aparece cercado de gua por todos os lados,

    ocupando todo o espao da Amrica do Sul. Podemos nos perguntar

    at que ponto a viso que a escola difunde no seria a maior

    fonte de inspirao para este tipo de gurao, e acompanharia a

    armao de Capelato (2000) a respeito do proverbial desinteresse

    dos brasileiros pelos outros pases latino-americanos, relacionado

    falta de um projeto unicador da Amrica Latina que envolvesse o

    Brasil e fosse ao mesmo tempo poltico e identitrio. Cabe tambm

    se perguntar o que acontece com esta representao social quando

    a regio valorizada pela poltica externa brasileira, traz benefcios

    econmicos e ganha maior visibilidade e interesse do pblico.

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    16/28

    754 Angela Arruda

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    O outro limite, a oeste, mostra um Centro-Oeste denido

    nos mapas pela incompletude. s vezes, totalmente em branco, svezes com a ilustrao do Distrito Federal isolada no meio do nada.

    Muitos armam desconhecer o que existe na regio. Impossvelno se remeter antiga representao, surgida no Brasil Colnia.Segundo Amado (1995), o interior, ou serto, denotava terras semf, nem lei nem rei: reas extensas, longe do litoral, de naturezaselvagem; as autoridades detinham pouca informao ou controlesobre elas. Aparentemente, a Marcha para o Oeste no se concretizouna representao dos estudantes: apenas Braslia tem registro nela. O

    restante do Centro-Oeste continuaria como no passado: um grandeterritrio desocupado (Gonalves, 2008).

    Por m, no que se refere ao conjunto dos estudantes, caberessaltar que o desenho do Brasil contm guras que retratamrepetidamente os seus problemas, numa viso crtica, mais, oumenos, acentuada segundo fatores que veremos mais adiante.

    Esses elementos anunciam um pouco do que interessapara esta discusso: a conjugao dos contextos possibilitadapela Sociologia, as cincias polticas, a Histria, a Geograa indispensvel para a compreenso do que dizem os estudantes pormeio dos desenhos, e do olhar psicossocial, pelo qual transitam,alm da fora das crenas e graas ao poder da imagem, o lugardos vazios, a cor, a expresso dos afetos e os atalhos da identidade,

    tonalizando vises no generalizantes do pas.

    Outro exemplo desse olhar o que se observou a partir do

    que os gegrafos denominam fator de proximidade (Saarinen,1973), segundo o qual o lugar de origem e adjacncias tem maiorprobabilidade de serem desenhados num mapa feito de memria;como so mais conhecidos, aparecem com mais detalhe e propores

    aumentadas. Isto se conrmou em uma parte dos mapas, porm couclaro que a proximidade geogrca no d origem a um simples

    estoque de conhecimentos, mas atravessada por afetos, que podem

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    17/28

    755Teoria das representaes sociais e cincias sociais: trnsito ...

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    se expressar no apego ao lugar, num sentimento de territrio, que

    vai alm da mera demarcao espacial (Gimnez, 2000), chegando

    a compor uma marca de identidade.

    Passo ento ao que tm em comum os estudantes paraenses

    e cariocas, a partir dos dados de Gonalves (2008) e Cruz (2006).

    Para comear, dois elementos de estruturao dos mapas: a forma e

    a lgica de organizao. A forma do pas para ambos prxima

    dos mapas ociais e ao que se v nos manuais escolares, porm com

    as caractersticas j comentadas de um grande espao pairando sem

    razes sobre a folha branca. Quanto organizao dos contedos,ela segue duas lgicas: uma regional, que distribui os desenhos em

    consonncia com as regies geogrcas, respeitando o que rezam os

    manuais escolares, e outra desterritorializada, em que os desenhos

    no guardam correspondncia com o lugar onde so colocados,

    podendo indicar caractersticas gerais do pas, como uma casa,

    um lar... porque o Brasil o nosso lar... (estudante de Pedagogia,

    Rio de Janeiro), ou panela vazia... porque existe muita fome emisria (estudante de Pedagogia, Par). A distribuio dessas

    lgicas praticamente a mesma nos dois Estados: entre dois teros

    e trs quartos dos mapas so desterritorializados, sendo o restante

    regionalizado. Na verdade, essas duas lgicas recobrem duas vises

    do Brasil: uma apoiada na diversidade das regies e a outra no

    que caracterstico do Pas como um todo (Cruz, 2006). Contudo,

    ambas so atravessadas por uma avaliao dos seus componentes,tendendo a ressaltar positivamente os aspectos naturais, por um lado,

    e, por outro, a arrolar uma srie de problemas socioeconmicos,

    evidenciando mais um contraste estruturante do Pas, desta vez entre

    natureza e sociedade.

    No Par, a lgica desterritorializada corresponde aos cursos

    de Servio Social e Pedagogia, enquanto a regionalizada, aos cursosde Engenharia e Medicina. Quanto aos elementos desenhados, os

    alunos de Medicina deram maior destaque aos elementos naturais,

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    18/28

    756 Angela Arruda

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    enquanto os de Servio Social, aos elementos humanos, apontandopara aspectos vinculados s respectivas carreiras como terreno deancoragem.

    Igualmente comum a dupla viso do Sul. Por um lado,ela minimalista, o que no se expressa verbalmente, mas simgracamente: em vrios mapas ele aparece espremido, reduzido, ousem a presena do mar, ou ainda sem nenhum contedo desenhado,podendo combinar mais de um desses aspectos (Fig. 1 e 2). Poroutro lado, h desenhos que sublinham a sua diferena com o resto

    do Brasil por meio do clima frio, da populao de origem europia,da menor desigualdade e maior democracia.

    Figura 1Sul minimizado Estudante de Engenharia

    Estado do Par

    Figura 2 Sul minimizado Estudante de Servio Social

    Estado do Rio de Janeiro

    A oresta amaznica, ltimo rinco da vida selvagem,ltima fronteira de mata virgem, tem grande presena nos mapasdos paraenses e cariocas, e, para ambos, riqueza natural sob risco

    de extino; mas, entre eles, h nuances. Os estudantes paraenses,mais numerosos a desenh-la, apresentam uma viso mais prxima,

    quase vivencial. Ela constitui para eles, ao mesmo tempo, um

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    19/28

    757Teoria das representaes sociais e cincias sociais: trnsito ...

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    ecossistema integrado por rios e matas, fonte de biodiversidade e

    de minrios, e um espao que se revela num cotidiano especco,

    com crianas que vo escola de barco, por exemplo, alm de ser

    um smbolo da nacionalidade. Outra nuance se refere beleza da

    oresta, smbolo de beleza e uma fonte de vida (estudante de

    Pedagogia, PA), que s mencionada pelos paraenses. O fator de

    proximidade parece se conrmar e se revestir tambm das tintas

    da identidade; isso corresponderia s praias do Rio de Janeiro, que

    foram superlativizadas pelos estudantes desse Estado. A natureza,

    portanto, mantm-se rme no rankingdo imaginrio dos dois gruposde universitrios, por vias diversas.

    O territrio nacional estaria, assim, delimitado segundo uma

    viso singular dos pontos cardeais: a leste, pelo mar; ao norte, pela

    oresta; a oeste, por um espao opaco ou fracamente identicado,

    nalizando ao sul com um espao reduzido ou marcado pela

    imagem de Um Brasil diferente (Martins, 2005) que sistematiza o

    imaginrio sobre essa parte do Pas (Oliveira, 2007). Tal distribuio

    acaba por desenhar o Brasil como a conjugao litoral-interior,

    tendo este um triplo desdobramento: a mata, o campo e o serto,

    localizado na Regio Nordeste.

    A representao hegemnica, como denomina Moscovici

    (1988), o que mais se aproxima, na traduo na TRS, da

    representao coletiva conceituada por Durkheim: o Brasil

    est cercado de natureza por todos os lados, guardando ainda

    aparentemente a denio de pas de riquezas naturais privilegiadas.

    Porm, esta representao, que nos acompanha desde a carta de

    Caminha, no to uniforme nem to inescapvel quanto parece. O

    estudo dos mapas mostrou como, a respeito desse mesmo objeto

    o Brasil , convivem representaes hegemnicas e representaessociais especcas de grupos ou segmentos, no caso, estudantes de

    regies diferentes e at de cursos diferentes.

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    20/28

    758 Angela Arruda

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    Figura 3 Brasil dividido Estudante de Engenharia Estado do Par

    Neste sentido, chamam a ateno de imediato, entre os

    desenhos feitos no Par, aqueles que dividem o Brasil em dois

    Norte e Sul seja por meio de uma linha demarcatria, uma barreira,ou um espao em branco, seja pela disposio dos desenhos no

    interior dos mapas. Embora no sejam a maioria, eles mostram

    uma diferena sobretudo nas formas da riqueza: acima, a riqueza

    natural; abaixo, a riqueza nanceira, simbolizada pelo cifro, por

    exemplo. O contraste uma das formas de estruturao dos mapas e

    da representao do Brasil, de modo geral, e no faltam indicadores

    para conrm-lo, mas o que intrigante o registro de uma barreirafsica (Gonalves, 2008, p.75) que parece objetiv-lo e remete

    histria das relaes entre a Provncia do Gro Par e o resto do Brasil.

    Os universitrios expressaram indignao pela no participao nas

    riquezas produzidas na regio um lugar de riquezas, mas excludo

    do Brasil (estudante de Engenharia, PA) e pela destruio da

    oresta. O presente parece reforar a possvel memria coletiva

    [que suscitou] uma predisposio signicante que resultou em

    mapas separados (Gonalves, 2008, p.76), semelhana dos mapas

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    21/28

    759Teoria das representaes sociais e cincias sociais: trnsito ...

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    de Paris recolhidos por Milgram e Jodelet (1976), que apresentavam

    s portas da cidade a barreira dos fazendeiros (fermiers gnraux),

    desaparecida no sculo XVIII.

    Ainda sobre a possvel permanncia da representao do Brasil

    como paraso terrestre pela sua natureza, ca claro que, embora a

    imagem idealizada continue a ser evocada, no se trata mais de uma

    natureza intocada. O desmatamento, as queimadas, a soja, na Regio

    Norte, e a poluio e a urbanizao desordenada, na Regio Sudeste,

    revelam que a viso da natureza tem dois lados: o do desejo (ou ser

    do clich?) que a instituiu em smbolo do Brasil, marca identitria,ancorada no passado, e o do conito na realidade do tempo presente,

    com as conseqncias do progresso e das polticas, desembocando

    em problemas, alguns semelhantes e outros especcos para cada

    regio. A violncia, por exemplo, tem a ver com o trco de drogas

    e a misria no Rio de Janeiro. J no Par, est presente sobretudo nos

    conitos agrrios, na luta pela terra, na fronteira com a Colmbia. A

    sensibilidade aos problemas, por sua vez, apresenta diferenas entreos cursos, no Par. Os estudantes de Servio Social manifestam-

    se mais sobre os socioeconmicos, enquanto os de Medicina e

    Engenharia, sobre os relativos natureza.

    Figura 4 Cenas de violncia Estudante de Enfermagem Estado do Par

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    22/28

    760 Angela Arruda

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    Figura 5 Cenas de violncia

    Estudante de Pedagogia Estado do Rio de Janeiro

    ltimas palavras

    Aps estes exemplos, ca claro que a comparecem tanto amemria coletiva remetendo a fatos e crenas originados na nossahistria quanto o peso da estrutura econmica e social do Brasil

    e as polticas que a sustentam, com os problemas e conitos que

    provocam. Os estudantes mostraram em seus mapas, ademais, umaviso que exprime o olhar situado no contexto geogrco e culturaldeles. Por ltimo, para entender a maneira como o Brasil imaginadopor eles, no se pode contornar o seu atravessamento pelos afetos.O exemplo dos paraenses feliz para mostrar o entrelaamentodo social e do psicolgico. O sentimento de distncia, excluso eespoliao que vrios deles expressam denuncia o lugar de onde

    falam, e parece ser o produto tanto dos dados de realidade relativos explorao dos recursos naturais da Amaznia quanto da herana

    de uma histria complicada das relaes entre o Par e o resto doBrasil. Desta forma, se a histria, a poltica, a economia esclarecem aorigem de mitos e crenas que ainda se manifestam quanto ao Brasil,a representao social do pas integra a tambm a Sociologia, otempo presente, vivido e veiculado pelas instituies produtoras

    de subjetividade, como a escola e os meios de comunicao, numtecido bem urdido e denso, entremeado dos afetos que este conjuntode fatores ajudou a criar. A representao social do Brasil um

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    23/28

    761Teoria das representaes sociais e cincias sociais: trnsito ...

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    amlgama de vrias camadas de pensamentos e afetos, originadas

    em contextos e momentos diversos da existncia do pas.

    Por m, ressalto ainda o fato de que, mesmo se um pas ,como acredita Anderson (1989), uma comunidade imaginada, asua representao se relaciona tambm com prticas, tanto aquelasque difundem a representao ocial, como as educativas e as queimplementam as polticas pblicas, quanto aquelas exercidas pelaspopulaes que o habitam. Os estudantes do Rio de Janeiro falam deprticas da vida urbana na metrpole litornea, prticas de lazer, de

    sociabilidade, experincias que lhes so familiares e que informamo seu olhar. O mesmo acontece com os paraenses, a partir de outrasprticas e experincias, como as da vida ribeirinha. O olhar informadorecorre, assim, experincia, s representaes hegemnicas, aosconhecimentos prvios para elaborar a representao social. Esta,uma vez delineada, entra em jogo como uma rede de signicadosque se torna manejvel, ajudando a situar-se no mundo, e a falar do

    Brasil. Mas tambm ajuda a agir a partir dessa representao. Masisso j seria assunto para outro artigo.

    Resumindo, para ressaltar a concepo de social que habita aabordagem psicossocial da teoria das representaes sociais, o socialaqui no um elemento de circunstncia, uma varivel no processode representar. Ele est embutido em todo o processo, porque ele constitutivo do humano e do pensar. Ele dotado de uma dimenso

    rizomtica, na medida em que tanto contempla a interao imediata,face a face, entre os humanos, quanto as bases da formao socialque permeiam os humanos, e difcil deslindar essas esferas, a no

    ser em termos conceituais, uma vez que a prpria interao face aface carrega as marcas sociais, histricas, culturais e outras de quemnela participa, ainda que boa parte disto no seja consciente. Estaconcepo do social, que Oliveira (2003) requeria da TRS, tem-na

    tornado efetiva para a reexo sobre inmeros problemas trazidospelas reas aplicadas da Sade, da Educao, e, agora, tambm de

    outras que vo se aproximando dela.

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    24/28

    762 Angela Arruda

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    A teoria psicossocial das representaes sociais no se

    considera uma teoria acabada. Na sua concepo, j Moscovici a

    deniu como uma teoria aberta para permitir que a complexidade do

    seu objeto pudesse receber o tratamento necessrio, o que, por si s,

    um processo longe de se encerrar. Ela se desenvolveu bastante em

    quase meio sculo de existncia, gerando at vertentes diferenciadas.

    A mudana, o Graal da teoria, contudo, cobra a busca incessante. A

    proximidade e o dilogo com as outras cincias sociais parte desse

    processo.

    Notas

    1 Para uma discusso a respeito da Psicologia Social e Sociologia, remeto

    a S (1998) e sobre a relao entre Sociologia e representaes sociais,

    a Doise (1986), Jodelet (2009) e Porto (2009), no sem antes retomar

    algumas reexes de Moscovici (1988) e Moscovici e Markova (2006)

    sobre o encontro (e desencontros) dessas duas reas.

    2 Tomo emprestada aqui a idia de Moscovici e Markova (2006, p. 40)

    para caracterizar a interdisciplinaridade, mencionada anteriormente.

    3 Projeto Imaginrio e Representaes Sociais do Brasil e da Escola,

    realizado no quadro do grupo de trabalho Imaginrios Latinoamericanos,

    do Laboratrio de Psicologia Social, Maison des Sciences de lHomme,

    Paris, com nanciamento da Fapesp, Fundao Carlos Chagas, apoio da

    Fundao Jos Bonifcio (UFRJ) e bolsas de iniciao cientca CNPq.O projeto executado no Brasil foi levado a cabo tambm no Mxico,

    com o mesmo instrumento e pblico semelhante.

    Theory of social representations and social sciences: transit and

    crossings

    Abstract:This text intends to pinpoint the relationship between thepsychosocial theory of social representations by Serge Moscoviciand the social sciences, based on the characterization of this theoryas an interpenetrative approach between psychology and sociology.

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    25/28

    763Teoria das representaes sociais e cincias sociais: trnsito ...

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    Firstly, the transit between psychology-social psychology andsociology will be briey presented as one of the elements that explainthe intertwining of the Theory of Social Representations (TSR) and

    social sciences. Next, it will be indicated how this intertwining ispresent in Moscovicis approach and how the TSR cannot escapeit. The authors argument is that the relationship between these twoelds is based on the conception of the social in Moscovicis thought,which does not neglect the importance of psychological aspectsfor social facts as well. The text concludes with some examples ofresearch works that illustrate this point of view.

    Keywords: theory of social representations; social sciences;

    crossings.

    Referncias bibliogrcas

    AMADO, J. Regio, serto, nao. Estudos Histricos,v. 8, n. 5, p.145-

    151, 1995.

    ANDERSON, B.Nao e consciencia nacional. So Paulo: tica, 1989.

    ARRUDA, A. Despertando do pesadelo: a interpretao. In: MOREIRA,

    A. S. P.; CAMARGO, B. V.; JESUINO, J. C.; NBREGA, S. M.

    Perspectivas terico-metodolgicas em representaes sociais.

    Joo Pessoa: Universitrio UFPB, 2005. p. 229-258.

    ARRUDA, A.; ULUP, L. Brasil imaginado: representaciones sociales de

    jvenes universitarios. In: ARRUDA, A.; DE ALBA, M. (Coords.)

    Espacios imaginrios y representaciones sociales: aportes desde

    Latinoamrica. Barcelona: Anthropos, UAM, 2007. p. 165-198.

    BUSCHINI, F.; KALAMPALIKIS, N.Penser la vie, le social, la nature:

    mlanges en lhonneurde Serge Moscovici. Paris: Editions de la

    Maison des Sciences de lHomme, 2001.

    CAPELATO, M. H. O gigante brasileiro na Amrica Latina: ser ou no

    ser latino-americano. In: MOTA, Carlos Guilherme (Org.). Viagemincompleta: a experincia brasileira (1500-2000). So Paulo: Senac,

    2000.

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    26/28

    764 Angela Arruda

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    CASTRO, Paula. Notas para uma leitura da teoria das representaes

    sociais em S. Moscovici. Anlise Social, Revista do Instituto de

    Cincias Sociais da Universidade de Lisboa,v.37, n. 164, p. 949-

    979, 2002.

    CRUZ, A. C. D. Representaes sociais de universitrios do Rio de

    Janeiro sobre o Brasil. 2006. Dissertao (Mestrado em Psicologia)

    Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 2006.

    DOISE, W. Les reprsentations sociales: dnition dun concept. In:

    DOISE, W.; PALMONARI, A. (Orgs.).Ltude des reprsentations

    sociales.Neuchtel: Delachaux et Niestl, 1986. p. 81-94.FARR, R. Representaes sociais: a teoria e sua histria. In:

    JOVCHELOVITCH, S.; GUARESCHI, P. (Orgs.) Textos em

    representaes sociais. Petrpolis: Vozes, 1994. p. 31-59.

    GIMNEZ, G. Territorio, cultura e identidades: la regin scio-cultural. In:

    ROSALES, R. (Org.). Globalizacin y regiones en Mxico. Mxico:

    UNAM-Fcps-PUEC-Miguel Angel Porra, 2000. p. 19-52.

    GONALVES, L. P. V. Um pas escorre pelas terras dos rios gigantes:

    representaes sociais de universitrios do Par sobre o Brasil. 2008.

    Dissertao (Mestrado em Psicologia) Universidade Federal do

    Rio de Janeiro (UFRJ), 2008.

    GUERRERO, A. Imgenes de Amrica Latina y Mxico a travs de

    los mapas mentales. In ARRUDA, A.; ALBA, M. de (Orgs.).

    Espacios imaginarios y representaciones sociales: aportes desdeLatinoamrica. Barcelona: Anthropos, 2007. p. 235-284.

    JESUINO, J. C. Ancrages. In: BUSCHINI, F.; KALAMPALIKIS, N.

    Penser la vie, le social, la nature: mlanges en lhonneurde Serge

    Moscovici. Paris: Editions de la Maison des Sciences de lhomme,

    2001. p. 267-291.

    JODELET, D.Representaes sociais.Rio de Janeiro: Eduerj, 2001.______. Recentes desenvolvimentos da noo de representaes sociais nas

    cincias sociais. In: ALMEIDA, A. M. O.; JODELET, D. (Orgs.).

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    27/28

    765Teoria das representaes sociais e cincias sociais: trnsito ...

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 24, n. 3, p. 739-766, set./dez. 2009

    Interdisciplinaridade e diversidade de paradigmas: representaes

    sociais. Braslia: Thesaurus, 2009. p. 105-122.

    LATOUR, B.Jamais fomos modernos. So Paulo: Editora 34, 1994.MAISONNEUVE, J.A psicologia social. Trad. lvaro Cabral. So Paulo:

    Martins Fontes, [1950] 1988.

    MARTINS, W. Um Brasil diferente: ensaio sobre fenmenos de aculturao

    no Paran. So Paulo: T. A. Queiroz, [1955] 1989.

    MILGRAM, S.; JODELET, D. Psychological maps of Paris. In:

    PROSHANSKY, H.; ITTELSON, W.; RIVLIN, L. (Eds.)Environmental psychology:people and their physical settings.New

    York: Holt, Rinehart & Winston, 1976. p. 104-124.

    MOSCOVICI, S. La reprsentation sociale de la psychanalyse. Paris:

    PUF, 1961.

    ______.La socit contre nature. Paris:Union Gnrale dditions, 1972.

    ______. Essai sur lhistoire humaine de la nature. Paris: Flammarion,1977.

    ______. A mquina de fazer deuses. Trad. Maria de Lourdes Menezes. Rio

    de Janeiro: Imago, 1988.

    MOSCOVICI, S.; MARKOVA, I. The making of modern social psychology.

    The hidden story of how aninternational social science was created.

    Cambridge: Polity Press, 2006.

    OLIVEIRA, M. Imigrao e diferena em um estado do sul do Brasil: o caso

    do Paran. Nuevo Mundo Mundos Nuevos v. 7, 2007. Disponvel

    em: .

    Acesso em: em 17 out. 2009.

    PORTO, M. S. G. Re-pensando crenas e valores: sociologia e

    representaes sociais. In: ALMEIDA, A. M. O.; JODELET,

    D. (Orgs.). Interdisciplinaridade e diversidade de paradigmas:

    representaes sociais.Braslia: Thesaurus, 2009. p. 139-161.

  • 8/13/2019 Angela Arruda - representaes sociais

    28/28

    766 Angela Arruda

    PRIGOGINE, I.; STENGERS, I. A nova aliana. Braslia: Ed. UnB,

    1997.

    S, C. P. Psicologia social e cincias sociais. Cadernos de Psicologia,UERJ, Rio de Janeiro, n. 8, p. 7-17, 1998.

    S, C. P.; OLIVEIRA, D. C.; PRADO, L. A. As memrias coletivas dodescobrimento do Brasil: imagem comum e juzos diferenciadosnas populaes portuguesa e brasileira. In: S, C. P. de; CASTRO,

    P. (Orgs.).Memrias do descobrimento do Brasil. Rio de Janeiro:

    Museu da Repblica, 2005. p. 27-44.

    SAARINEN, T. Students views of the world. In: DOWNS, R.; STEA, D.(Orgs.). Image and environment: cognitive mapping and spatial

    behavior. Chicago: Adline Publishing, 1973. p. 148-161.

    THIESSE, A. M. La cration des identits nationales: Europe XVII-XX

    sicle. Paris: Seuil, 2001.