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  • CAPTULO 5

    PESQUISA QUALITATIVA: APONTAMENTOS, CONCEITOS E TIPOLOGIAS

    ngela Mara de Barros Lara Ado Aparecido Molina

    INTRODUO

    Ao trabalharmos com metodologia da pesquisa, especialmente na rea das Cincias Humanas, percebemos as dificuldades que os alunos encontram para compreender o que pesquisa qualitativa e para viabilizar sua metodologia durante os trabalhos que realizam. Alunos da graduao ou da ps-graduao levantam questionamentos sobre esse tipo de pesquisa e sua metodologia confundindo, muitas vezes, a proposta terica e o mtodo com os procedimentos na pesquisa.

    Este texto procura auxiliar no entendimento do que a pesquisa qualitativa nas cincias humanas, bem como no desenvolvimento de propostas metodolgicas nessa rea. Num primeiro momento localizamos a pesquisa qualitativa no tempo, ou seja, buscamos o seu surgimento na Amrica Latina, discutindo a dicotomia entre pesquisa qualitativa e pesquisa quantitativa e, tambm, sobre as bases dessas investigaes na educao.

    Num segundo momento, apresentamos o conceito e a tipologia da pesquisa qualitativa dialogando com vrios autores sobre esse tema. Como contraponto apresentamos outros tipos de pesquisa que esto vinculados pesquisa quantitativa, pois, acreditamos que a pesquisa qualitativa pode e deve ser mediada, em sua coleta de dados, por outros tipos de pesquisa. Assim sendo, necessrio ir alm da dicotomia entre a pesquisa qualitativa e a quantitativa. Em funo disso, entendemos que ao apresentarmos esses tericos e os encaminhamentos para a pesquisa, possibilitamos uma discusso mais ampla entre os pesquisadores e os seus orientadores.

    DISCUTINDO A DICOTOMIA ENTRE A PESQUISA QUALITATIVA E A PESQUISA QUANTITATIVA

    Depois de centralizar a discusso sobre a formao do pesquisador nas tcnicas e metodologias, na dcada dos 70, de destacar a importncia das teorias (crticas e no crticas) nos anos 80 e da discusso sobre os paradigmas epistemolgicos no comeo da dcada dos anos 90 e, ainda, de anunciar a crise dos paradigmas na segunda metade dessa ltima dcada, hoje parece ganhar consistncia a discusso em torno das teorias do conhecimento que fundamentam a pesquisa educacional. As teorias do conhecimento tornam-se espaos mais amplos que permitem um debate que compreende as anteriores dimenses da pesquisa (tcnicas, mtodos, teorias, epistemologias) e ajuda a elucidar melhor as tendncias atuais da pesquisa e suas relaes com o mundo da necessidade e dos desafios da educao no limiar do prximo milnio (GAMBOA, 2000, p. 14).

    Alguns termos so fundamentais para iniciar esta discusso, por isso preciso buscar no Dicionrio Aurlio as definies de palavras como: teoria, teoria do conhecimento, pesquisa, metodologia e mtodo.

    Teoria conhecimento especulativo, meramente racional; conjunto de princpios fundamentais duma arte ou duma cincia; Doutrina ou sistema fundado em princpios e opinies sistematizadas. Teoria do conhecimento o estudo do Valor e dos limites do conhecimento, e especialmente da relao entre sujeito e objeto GNOSIOLOGIA. Pesquisa ato ou efeito de pesquisar; indagao ou busca minuciosa para averiguao da realidade, investigao, inquirio; investigao e estudo, minudentes e sistemticos,

  • com o fim de descobrir ou estabelecer fatos ou princpios relativos a um campo qualquer do conhecimento. Metodologia a arte de dirigir o esprito na investigao da verdade; estudo dos mtodos e, especialmente, dos mtodos das cincias. Mtodo o caminho pelo qual se atinge um objetivo; programa que regula previamente uma srie de operaes que se devem realizar, apontando erros evitveis, em vista de um resultado determinado; processo ou tcnica de ensino: mtodo direto; modo de proceder; maneira de agir; meio (FERREIRA, 1987).

    No dicionrio estes verbetes apresentam uma viso da discusso que fundamental para o entendimento do conhecimento cientfico que leva ao desenvolvimento da pesquisa.

    Para fazer pesquisa necessrio ter uma dvida, um questionamento, uma pergunta. Fala-se do problema, o que se quer investigar? a partir desta dvida ou desta pergunta inicial, que parte do senso comum, que se procura a teoria e o mtodo que fundamentaro a pesquisa. Parece simples colocar as coisas nestes termos, tenho um problema, procuro uma teoria, uma metodologia e est resolvido o meu projeto de pesquisa. Bom, claro que o conhecimento cientfico no elaborado de forma simplista, este entendimento seria temerrio e porque no dizer ingnuo. Ao propor uma discusso de base cientfica so necessrios: clareza, rigor, domnio de conceitos, teorias e mtodos.

    neste sentido que iniciamos a discusso da pesquisa qualitativa. Muitos autores j fizeram um histrico sobre essa forma de fazer pesquisa1, importante, entretanto salientar que na Amrica Latina ela surgiu na dcada dos setenta do sculo vinte. O enfoque da educao na regio possui aspectos qualitativos, por essa razo imprescindvel compreender que o ensino sempre apresentou um destaque pela sua realidade qualitativa, como salienta Trivios (1987). O que nos motiva a entender o percurso da pesquisa qualitativa na regio justamente a ideia de perceber as perspectivas e os fundamentos da pesquisa educacional no Brasil.

    A pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa vm sendo tratadas de variadas formas por diferentes pesquisadores, mas escolhemos um encaminhamento para tratarmos desta questo. No que tange dicotomia entre pesquisa qualitativa e pesquisa quantitativa procuramos fundamentar esta discusso sob a teoria de dois autores: Silvio Sanchez Gamboa e Jos Camilo dos Santos Filho, tericos que tratam das questes da pesquisa e auxiliam na compreenso desta dicotomia. Ela necessria? cabvel? Para Gamboa (2000) este conflito falso, ou seja, ele aparece enquanto reducionismo no que diz respeito s alternativas de pesquisa considerando apenas as opes tcnicas sem observar outros processos e nveis no desenvolvimento da pesquisa cientfica. preciso que se avance nesta discusso, tendo em vista que necessrio admitir a distino entre nveis tcnicos, metodolgicos, tericos e epistemolgicos. Conforme o autor anteriormente citado, deve-se racionalizar as formas de articulao entre os nveis.

    A questo perpassa as bases histricas nas quais os paradigmas da pesquisa esto inseridos. Faz-se necessrio, portanto, ressaltar dois pontos, conforme aponta Santos Filho (2000). 1) Problema do contexto histrico, ou seja, as bases conceituais da discusso atual esto enraizadas em ideias do sculo XIX; 2) necessrio discutir as teses da incomensurabilidade, da complementaridade e da unidade dos paradigmas nas Cincias Humanas e na Educao.

    Cabe levantar o contexto histrico dos paradigmas da pesquisa nas dcadas passadas, onde na dcada de 1980 os paradigmas dominantes das cincias humanas e da educao eram: qualitativo-realista, quantitativo-realista e neomarxistas, este ltimo desafiando a hegemonia dos dois anteriores a partir do final dos anos 1970. Os neomarxistas tratam as categorias de quantidade e qualidade na perspectiva da dialtica materialista, conforme Santos Filho (2000). preciso refletir sobre a possibilidade da superao desta contradio entre as pesquisas qualitativas e quantitativas. A defesa neste momento com relao unidade dos paradigmas.

    Os diferentes nveis, tipos e abordagens de problemas educacionais, e os diversos objetos de pesquisa requerem mtodos que se adequem natureza do problema pesquisado. Em ltima instncia, porm, essas abordagens e metodologias precisam contribuir para a explicao e compreenso mais aprofundada dos fenmenos humanos

    1 Os autores que j fizeram um histrico sobre a pesquisa qualitativa foram Gamboa (2000); Santos Filho

    (2000); Lara (1992); Trivios (1987); Hirano (1987) entre outros.

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  • que, pela sua grande complexidade necessitam, ser pesquisados sob os mais diferentes ngulos e segundo as mais variadas metodologias. A tolerncia e o pluralismo epistemolgico justificam a no admisso de uma nica ratio e a aceitao do pluralismo terico-metodolgico nas cincias humanas e da educao. Finalmente, cabe observar que a controvrsia continua e, por isso, o contato com os clssicos das cincias sociais, especialmente Durkheim, Weber e Marx, sempre ser fecundo no aprofundamento e na discusso das razes filosfico-histricas e terico-metodolgicas do problema do objeto e da metodologia das cincias humanas e da educao. Por outro lado, os tericos das cincias humanas e da educao precisam familiarizar-se com as correntes atuais de filosofia das cincias, pois estas constituem uma base importante para clarificar e fundamentar as diferentes teses sobre o problema da incompatibilidade, complementaridade ou unidade dos paradigmas de pesquisa nessas cincias (SANTOS FILHO, 2000, p. 54-55).

    Retornamos a Gamboa (2000) para salientar uma das questes que levantamos no incio deste texto, isto , a dificuldade para entender a diferena entre o mtodo e a tcnica. As tcnicas, por si s, no se tornam alternativas para a pesquisa, suas opes s tm sentido num enfoque epistemolgico, onde so utilizadas ou elaboradas para superar o dualismo da pesquisa quantitativa versus qualitativa. Deve-se relativizar a dimenso tcnica inserindo-a num todo maior que lhe d sentido tornando-a parte do processo de pesquisa.

    Elas devem ser o instrumental que efetivar o mtodo. Neste sentido, cabe perceber, que os enfoques emprico-analticos e os enfoques etnogrficos e fenomenolgicos devem ser compreendidos e trabalhados no intuito de sua superao.

    Nesta discusso do mtodo surgem duas vises: 1) aqueles que defendem a existncia de um nico mtodo cientfico, unidade entre

    cincia e mtodo, tendo como nico conhecimento vlido o cientfico; 2) devem existir apenas dois mtodos cientficos o das cincias exatas e naturais e o

    das cincias humanas e sociais. A preocupao do terico nesta discusso justamente com os riscos na reduo das

    alternativas, da pesquisa em cincias sociais, em apenas duas abordagens epistemolgicas fundadas nas tradies positivistas/ fenomenolgicas: situar num mesmo campo diferentes concepes de cincia e excluir as terceiras opes.

    Conforme Gamboa (2000) fundamental concluir esta discusso afirmando a procura de uma possvel sntese, que justifique a superao dos falsos dualismos tcnicos e metodolgicos, preciso ento:

    1) superar a postura mais radical que critica toda tentativa de conciliao entre os modelos de pesquisa;

    2) aceitar diferentes modalidades de trabalho tolerando a coexistncia de modelos e admitir a convenincia de se trabalhar com formas quantitativas e qualitativas como um modo de completar e ampliar informaes com base em pontos de vista diferentes;

    3) propor uma sntese que supere os falsos dualismos e as dicotomias epistemolgicas existentes entre pesquisa qualitativa e pesquisa quantitativa.

    No que diz respeito dicotomia entre a pesquisa qualitativa e quantitativa, temos na primeira modalidade um fundamento terico que partia da discusso da Fenomenologia e do Marxismo e na segunda modalidade os fundamentos eram do Positivismo e do Empiricismo. A partir da surgiram dois tipos de enfoques:

    Os enfoques subjetivistas-compreensivistas, com suporte nas ideias de Schleiermacher, Weber, Dilthey e tambm em Jaspers, Heidegger, Marcel, Husserl e ainda Sartre, que privilegiam os aspectos conscienciais, subjetivos dos atores (percepes, processos de conscientizao, de compreenso do contexto cultural, da realidade a-histrica, de relevncia dos fenmenos pelos significados que eles tm para o sujeito). Os enfoques crtico-participativos com viso histrico-estrutural-dialtica da realidade social que partem da necessidade de conhecer (atravs de percepes, reflexo e intuio) a realidade para transform-la em processos contextuais e dinmicos complexos (Marx, Engels, Gramsci, Adorno, Horkheimer, Marcuse, Fromm, Habermas etc.) (TRIVIOS, 1987, p. 117).

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  • CONCEITO E CARACTERSTICAS DA PESQUISA QUALITATIVA

    importante apresentar, a partir daqui, o conceito e as caractersticas da pesquisa qualitativa. Para alguns autores a Pesquisa Qualitativa uma expresso genrica. Deve-se verificar que ela possui atividades de investigao que se apresentam de forma especfica e possuem caractersticas de traos comuns. Devendo-se perceber dois aspectos: o primeiro, as peculiaridades da pesquisa qualitativa e o segundo, as modalidades dos tipos de investigao.

    A pesquisa qualitativa surgiu na antropologia de maneira mais ou menos naturalstica, e na sua tradio antropolgica ficou conhecida como investigao etnogrfica. Alguns a definem como sendo o estudo da cultura2. Cabe aqui salientar algumas de suas denominaes:

    A pesquisa qualitativa conhecida tambm como "estudo de campo", "estudo qualitativo", "interacionismo simblico", "perspectiva interna", "interpretativa", "etnometodologia", "ecolgica", "descritiva", "observao participante", "entrevista qualitativa", "abordagem de estudo de caso", "pesquisa participante", "pesquisa fenomenolgica", "pesquisa-ao", "pesquisa naturalista", "entrevista em profundidade", "pesquisa qualitativa e fenomenolgica", e outras [...]. Sob esses nomes, em geral, no obstante, devemos estar alertas em relao, pelo menos, a dois aspectos. Alguns desses enfoques rejeitam total ou parcialmente o ponto de vista quantitativo na pesquisa educacional; e outros denunciam, claramente, os suportes tericos sobre os quais elaboraram seus postulados interpretativos da realidade (TRIVIOS, 1987, p. 124).

    As bases tericas do pesquisador no incio da utilizao da pesquisa qualitativa eram dominadas pelo Funcionalismo e pelo estrutural funcionalismo, com razes no positivismo, exemplificadas pela Antropologia de Malinowski3. Na dcada de 1970 foram trs bases tericas que influenciaram a pesquisa qualitativa: o enfoque estrutural-funcionalista, o enfoque fenomenolgico e o enfoque histrico-estrutural que emprega o mtodo materialista dialtico.

    Estas trs bases tericas, a estrutural-funcionalista, a fenomenolgica e a materialista dialtica, tornam impossvel uma definio da pesquisa qualitativa em termos que satisfaam os requisitos destas direes fundamentais. Por isso, o teor de qualquer enfoque qualitativo que se desenvolva ser dado pelo referencial terico no qual se apie o pesquisador. [...] cabe levantar trs ressalvas. Em primeiro lugar, esta dificuldade para definir a pesquisa qualitativa com validade absoluta no significa que no sejamos capazes de caracteriz-la atravs de peculiaridades essenciais que justifiquem sua existncia. [...] Em segundo lugar, apesar de haver afirmado que a dimenso terica da pesquisa qualitativa seria dada pelo pesquisador, devemos afirmar, sem que isto se constitua numa proposio essencial, que o tipo de pesquisa qualitativa denominada "pesquisa participante" (ou "participativa") pode prestar-se melhor a um enfoque dialtico, histrico-estrutural que tenha por objetivo principal transformar a realidade que se estuda. Em terceiro lugar, no obstante reconhecer os obstculos que existem para caracterizar genericamente a pesquisa qualitativa, vamos intentar esboar um corpo de ideias que trazem uma linha identificadora deste tipo de investigao. Nossa tentativa peca, talvez, por ser relativamente parcial, j que, quando assinalamos traos peculiares, estamos com a ideia em mente, de maneira principal, do enfoque qualitativo de natureza fenomenolgica (TRIVIOS, 1987, p. 125-126).

    2 Spradley (1979 apud TRIVIOS, 1987, p. 121).

    3 Bronislaw Kasper Malinowski (1884-1942). Antroplogo polons nascido em Cracvia, um dos mais

    importantes antroplogos do sculo XX e conhecido como o fundador da antropologia social. Disponvel em: http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/BronKMal.html.

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  • Outra questo importante sobre a pesquisa qualitativa a tratada por Bogdan (1982 apud TRIVIOS, 1987, p. 128-130) onde se destaca a investigao do tipo fenomenolgico e da natureza histrico-estrutural, dialtica. O autor apresenta cinco caractersticas:

    1) A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta dos dados e o pesquisador como instrumento-chave; 2) A pesquisa qualitativa descritiva; 3) Os pesquisadores qualitativos esto preocupados com o processo e no simplesmente com os resultados e o produto; 4) Os pesquisadores qualitativos tendem a analisar seus dados indutivamente; 5) O significado a preocupao essencial na abordagem qualitativa [...].

    importante ressaltar os pressupostos que servem de fundamentos para a pesquisa qualitativa, conforme registra Trivios (1987). Segundo esse autor, no Positivismo esses pressupostos foram considerados como bvios ou no investigveis. O enfoque fenomenolgico valorizou a anlise dos pressupostos, porque entendia que os significados que os sujeitos davam aos fenmenos dependiam essencialmente dos pressupostos culturais prprios do meio no qual viviam. No que diz respeito pesquisa de carter Histrico-Estrutural-Dialtico, ela no ficou somente na compreenso dos significados que surgiam dos pressupostos, mas buscou as razes desses pressupostos [...] as causas de sua existncia, suas relaes num quadro amplo do sujeito como ser social e histrico, tratando de explicar e compreender o desenvolvimento da vida humana e de seus diferentes significados no devir dos diversos meios culturais (TRIVIOS, 1987, p. 130).

    O terico que a base desta discusso sugere alguns esclarecimentos importantes com relao ao processo de investigao sobre a pesquisa qualitativa. 1) A pesquisa qualitativa no segue sequncia to rgida das etapas assinaladas no desenvolvimento da Pesquisa Quantitativa; 2) O pesquisador deve iniciar sua investigao, apoiado numa fundamentao terica geral, numa reviso aprofundada da literatura em torno do tpico em discusso. A maior parte do trabalho se realiza no processo de desenvolvimento do estudo. A necessidade da teoria surge em face das interrogativas que se apresentaro no decorrer do estudo; 3) As variveis devero ser descritivas e seu nmero pode ser grande; 4) Com relao populao e amostra:

    Na pesquisa fenomenolgica os recursos podem ser aleatrios para fixar amostra, buscando uma representatividade do grupo maior de sujeitos;

    A pesquisa Materialista-Dialtica no reconhece a dicotomia qualidade/quantidade, podendo apoiar-se na estatstica para determinar a representatividade da amostragem.

    Cabe enfatizar que para Trivios (1987, p. 133) o pesquisador, que utiliza o enfoque qualitativo, poder contar com uma liberdade terico-metodolgica para desenvolver seus trabalhos. [...] Os limites de sua iniciativa particular estaro exclusivamente fixados pelas condies da exigncia de um trabalho cientfico [...].

    A sociloga e pesquisadora Maria Ceclia de Souza Minayo, escrevendo sobre a pesquisa qualitativa, explica que essa modalidade de pesquisa responde a questes que so muito especficas. Para ela, a pesquisa qualitativa, nas Cincias Sociais, trabalha com uma realidade que no pode ser apenas quantificada, porque essa realidade possui um universo de significados, motivos, aspiraes, crenas, valores e atitudes. Tudo isso corresponde a relaes, processos e fenmenos que no podem ser reduzidos apenas a operaes variveis.

    A diferena entre qualitativo-quantitativo de natureza. Enquanto cientistas sociais que trabalham com estatstica apreendem dos fenmenos apenas a regio visvel, ecolgica, morfolgica e concreta, a abordagem qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados das aes e relaes humanas, um lado no perceptvel e no captvel em equaes, mdias e estatsticas (MINAYO, 2003, p. 22).

    Essa autora afirma tambm que, o conjunto de dados quantitativos e qualitativos no se ope, ao contrrio, esses dados se complementam, pois a realidade que eles abrangem exclui a

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  • dicotomia e interage dinamicamente. Do ponto de vista dessa concepo, pode-se perceber que a pesquisa qualitativa no exclui a utilizao de dados quantitativos, que podem complement-la.

    Nesta unidade do texto procuramos discutir as questes tericas e os fundamentos que possibilitam um conhecimento mais aprofundado sobre a pesquisa qualitativa, discutindo a dicotomia entre a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa, bem como o conceito e as caractersticas da pesquisa qualitativa. A necessidade deste enfoque sobre a pesquisa qualitativa oportuniza a compreenso dos diferentes tipos de pesquisa e como se pode utiliz-los.

    TIPOS DE PESQUISA QUALITATIVA

    A partir daqui apresentamos os tipos de pesquisa qualitativa encontrados em alguns autores que nos auxiliaram no levantamento desta discusso, cabe apresent-los para que os usurios possam aprofundar suas investigaes nas obras aqui referenciadas: Trivios (1987), Ldke e Andr (1986), Andr (1995), Engers (1994), Coulon (1995a), Coulon (1995b), Thiollent (1988), Orlandi (1996), Fazenda (1994), Rey (1998), Gil (1987), Medeiros (2000).

    A diviso utilizada no texto se dispe em dois segmentos: o primeiro apresenta os tipos de pesquisa qualitativa que so aqueles que buscam a apreenso de um fenmeno em maior profundidade e o segundo apresenta outros tipos de pesquisa que podero auxiliar no desenvolvimento das pesquisas, complementadas por este material de apoio investigativo.

    1 O Estudo de Caso

    Definio:

    uma categoria de pesquisa cujo objeto uma unidade que se analisa aprofundadamente. Duas circunstncias devem ser observadas:

    Natureza e abrangncia da unidade; Complexidade do estudo de caso determinado pelos suportes tericos que servem de

    orientao ao trabalho do investigador.

    Tipos:

    1) Estudos de Casos histrico-organizacionais: O interesse do pesquisador recai sobre a vida de uma instituio. A unidade pode ser uma escola, uma universidade, um clube etc. O pesquisador deve partir do conhecimento que existe sobre a organizao que deseja examinar. 2) Estudos de Casos observacionais: Podemos dizer que esta uma categoria tpica de pesquisa qualitativa. A tcnica de coleta de informaes mais importante dela a observao participante que, lembramos, s vezes, aparece como sinnima de enfoque qualitativo.

    3) O Estudo de Caso denominado Histria de Vida: Geralmente, a tcnica utilizada para a investigao em Histria de Vida a entrevista semi-estruturada que se realiza com uma pessoa de relevo social (escritor famoso, cientista clebre, filantropo esclarecido, poltico de renome etc.), ou com uma pessoa de uma vila popular (como a antiga professora, presidente da Associao de Mes, operrios distintos, uma famlia qualquer etc.). A entrevista aprofunda-se cada vez mais na Histria de Vida do sujeito (BOGDAN, 1982 apud TRIVIOS, 1987, p. 134-136).

    Caractersticas fundamentais:

    l. Os estudos de caso visam descoberta. Mesmo que o investigador parta de alguns pressupostos tericos iniciais, ele procurar se manter constantemente atento a novos elementos que podem emergir como importantes durante o estudo. O quadro terico inicial servir assim de esqueleto, de estrutura bsica a partir da qual novos aspectos podero ser detectados, novos

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  • elementos ou dimenses podero ser acrescentados, na medida em que o estudo avance. [...] o pesquisador estar sempre buscando novas respostas e novas indagaes no desenvolvimento do seu trabalho. 2. Os estudos de caso enfatizam a "interpretao em contexto". Um princpio bsico desse tipo de estudo que, para uma apreenso mais completa do objeto, preciso levar em conta o contexto em que ele se situa. Assim, para compreender melhor a manifestao geral de um problema, as aes, as percepes, os comportamentos e as interaes das pessoas devem ser relacionadas situao especfica onde ocorrem ou problemtica determinada a que esto ligadas. 3. Os estudos de caso buscam retratar a realidade de forma completa e profunda. O pesquisador procura revelar a multiplicidade de dimenses presentes numa determinada situao ou problema, focalizando-o como um todo. Esse tipo de abordagem enfatiza a complexidade natural das situaes, evidenciando a inter-relao dos seus componentes. 4. Os estudos de caso usam uma variedade de fontes de informao. Ao desenvolver o estudo de caso, o pesquisador recorre a uma variedade de dados, coletados em diferentes momentos, em situaes variadas e com uma variedade de tipos de informantes. 5. Os estudos de caso revelam experincia vicria e permitem generalizaes naturalsticas. O pesquisador procura relatar as suas experincias durante o estudo de modo que o leitor ou usurio possa fazer as suas "generalizaes naturalsticas". Em lugar da pergunta: este caso representativo do qu? O leitor vai indagar: o que eu posso (ou no) aplicar deste caso na minha situao? A generalizao naturalstica ocorre em funo do conhecimento experiencial do sujeito, no momento em que este tenta associar dados encontrados no estudo com dados que so frutos das suas experincias pessoais. 6. Estudos de caso procuram representar os diferentes e s vezes conflitantes pontos de vista presentes numa situao social. Quando o objeto ou a situao estudada, podem suscitar opinies divergentes, o pesquisador procurar trazer para o estudo essa divergncia de opinies, revelando ainda o seu prprio ponto de vista sobre a questo. Desse modo deixado aos usurios do estudo tirarem concluses sobre esses aspectos contraditrios. 7. Os relatos do estudo de caso utilizam uma linguagem e uma forma mais acessveis do que os outros relatrios de pesquisa. Os dados do estudo de caso podem ser apresentados numa variedade de formas, tais como dramatizaes, desenhos, fotografias, colagens, slides, discusses, mesas-redondas etc. Os relatos escritos apresentam, geralmente, um estilo informal, narrativo, ilustrado por figuras de linguagem, citaes, exemplos e descries. possvel tambm que um mesmo caso tenha diferentes formas de relato, dependendo do tipo de usurio a que se destina. A preocupao aqui com uma transmisso direta, clara e bem articulada do caso e num estilo que se aproxime da experincia pessoal do leitor. Pode-se dizer que o caso construdo durante o processo de estudo; ele s se materializa enquanto caso, no relatrio final, onde fica evidente se ele se constitui realmente num estudo de caso.

    Em vista dessas vrias caractersticas, pode-se indagar: em que o estudo de caso se distingue de outros tipos de pesquisa? A preocupao central ao desenvolver esse tipo de pesquisa a compreenso de uma instncia singular. Isso significa que o objeto estudado tratado como nico, uma representao singular da realidade que multidimensional e historicamente situada. Desse modo, a questo sobre o caso ser ou no ser "tpico", isto , empiricamente representativo de uma populao determinada, torna-se inadequada, j que cada caso tratado como tendo um valor intrnseco (LDKE; ANDR, 1986, p. 18-20).

    2 Etnogrfico/Etnometodolgico:

    Etnogrfico Definio:

    A etnografia um esquema de pesquisa desenvolvido pelos antroplogos para estudar a cultura e a sociedade. Etimologicamente etnografia significa "descrio cultural". Para os antroplogos, o termo tem dois sentidos: (1) um conjunto de tcnicas que eles usam para coletar dados sobre os valores, os hbitos, as crenas, as prticas e os comportamentos de um grupo social; e (2) um relato escrito resultante do emprego dessas tcnicas. (ANDR, 1995, p. 27).

  • Engers (1994, p. 66) postula que Latorre et al. (1990), com base em estudos anteriormente desenvolvidos, explicitam que esta abordagem de pesquisa descreve "etnoi", que significa outros em grego, ou seja, uma descrio detalhada do modo de vida dos outros grupos de indivduos ou raas (LATORRE et al., 1990 apud ENGERS, 1994, p. 66).

    Caractersticas do tipo de pesquisa etnogrfica na educao:

    1- Tcnicas > observao participante, entrevista intensiva e anlise de documentos, princpio de interao entre o pesquisador e o objeto pesquisado;

    2- O pesquisador o instrumento principal na coleta e anlise de dados; 3- nfase no processo, naquilo que est ocorrendo e no no produto ou nos resultados finais; 4- Preocupao com o significado, maneira prpria com que as pessoas crem em si mesmas,

    suas experincias e o mundo que as cerca. O pesquisador deve apreender e retratar a viso pessoal dos participantes;

    5- Envolve um trabalho de campo; 6- Descrio e induo, ela utiliza grande quantidade de dados descritivos; 7- Busca a formulao de hipteses, conceitos, abstraes, teorias e no sua testagem.

    Visa descoberta de novos conceitos, novas relaes, novas formas de entendimento da realidade.

    Alternativa metodolgica de investigao educacional:

    [...] a Etnografia busca descrever, compreender e interpretar os fenmenos educativos que tm lugar no contexto escolar. evidente que sempre se vincula teoria e descrio atravs de uma viso holstica, naturalista e indutivista, que caracteriza a abordagem em questo (ENGERS, 1994, p. 67).

    Perspectivas tericas para estudar educao:

    1) Ecologia cultural - o etngrafo volta-se para um grupo especfico e seleciona a teoria cultural que d suporte para explorar o comportamento, as aes ou origens do analfabeto ou recursos do grupo ou comunidade; 2)Etnografia da comunicao - o pesquisador se detm na compreenso do fenmeno alfabetizao para um grupo especfico. O etngrafo centralizar sua ateno nas aes e interaes entre os membros do grupo, tanto interna como externamente a este. [...] Este utiliza a Cultura como orientao conceitual, a base terica como abordagem do estudo do cotidiano do grupo e estabelece limites que servem para formulao das questes, planejamento de mtodos e tcnicas de coleta e anlise de dados (ENGERS, 1994, p. 68).

    O lugar do pesquisador:

    imprescindvel que o investigador tenha presente seu grau de envolvimento na pesquisa, pois ele ocupa lugar de destaque para descrio e compreenso da relao e inter-relao do cotidiano escolar. A intensidade do envolvimento varia de acordo com as necessidades do trabalho e as opes feitas. O pesquisador atua como observador, entrevistador e analista entre teoria e empiria. H autores que indicam um longo tempo de permanncia em campo, para que o pesquisador possa descrever, concretamente, as relaes que emergem desse cotidiano. Porm, parece que o importante compreender esses fatos emergidos no e do grupo (ENGERS, 1994, p. 69).

    Etnometodolgico:

    Definio:

  • A etnometodologia a pesquisa emprica dos mtodos que os indivduos utilizam para dar sentido e ao mesmo tempo realizar as suas aes de todos os dias: comunicar-se, tomar decises, raciocinar. Para os etnometodlogos, a etnometodologia ser, portanto, o estudo dessas atividades cotidianas, quer sejam triviais ou eruditas, considerando que a prpria sociologia deve ser tratada como uma atividade prtica. Como observa George Psathas, a etnometodologia se apresenta como "[...] uma prtica social reflexiva que procura explicar os mtodos de todas as prticas sociais, inclusive os seus prprios mtodos". Diferenciando-se nisto dos socilogos que geralmente consideram o saber do senso comum como "[...] categoria residual", a etnometodologia analisa as crenas e os comportamentos de senso comum como os constituintes necessrios de "[...] todo comportamento socialmente organizado" (PSATHAS 1980 apud COULON, 1995a, p. 30).

    Mtodo ou indiferena metodolgica:

    Os estudos etnometodolgicos sobre as estruturas formais se destinam ao estudo de fenmenos como, por exemplo, suas descries pelos membros, quaisquer que sejam, abstendo-se de todo juzo sobre a sua pertinncia, seu valor, sua importncia, sua necessidade, sua praticalidade, seu sucesso ou consequncia. Damos a esse modo de proceder, o nome de "indiferena metodolgica". Nosso trabalho no consiste em modificar, elaborar, contribuir, detalhar, dividir, explicar, fundamentar a relao do raciocnio sociolgico profissional, como tampouco a nossa indiferena a essas tarefas. A nossa indiferena se refere sobretudo ao conjunto do raciocnio sociolgico prtico, e esse raciocnio implica inevitavelmente para ns, sejam quais forem as suas formas, o domnio da linguagem natural. O raciocnio sociolgico profissional no se distingue de maneira alguma como fenmeno que chama a ateno de nossa pesquisa. As pessoas ao realizarem estudos etnometodolgicos podem preocupar-se nem mais, nem menos com o raciocnio sociolgico profissional do que com prticas do raciocnio jurdico, do raciocnio das conversaes, do raciocnio divinatrio ou psiquitrico, e assim por diante (GARFINKEL e SACKS, 1970 apud COULON, 1995a, p. 81-82).

    Projeto cientfico dessa corrente:

    [...] analisar os mtodos - ou, se quisermos, os procedimentos - que os indivduos utilizam para levar a termo as diferentes operaes que realizam em sua vida cotidiana. Trata-se da anlise das maneiras habituais de proceder mobilizadas pelos atores socais comuns a fim de realizar suas aes habituais. Essa metodologia leiga - constituda pelo conjunto do que vamos designar por etnomtodos - utilizada, de forma banal, mas engenhosa, pelos membros de uma sociedade ou grupo para viverem juntos, constitui o corpus da pesquisa etnometodolgica. A etnometodologia , assim, definida como a "cincia" dos "etnomtodos", isto , procedimentos que constituem "o raciocnio sociolgico prtico" - expresso forjada por Harold Garfinkel, fundador da corrente e "inventor" da palavra (COULON, 1995b, p. 15).

    Principais proposies da Interao Simblica:

    - vivemos em um meio ambiente, simultaneamente, simblico e fsico, e somos ns que construmos as significaes do mundo e de nossas aes no mundo com a ajuda de smbolos; - graas a esses smbolos "significantes" que, segundo Mead, so distintos dos "sinais naturais", temos capacidade para "tomar o lugar do outro" porque partilhamos com os outros os mesmos smbolos; - partilhamos uma cultura que um conjunto elaborado de significaes e valores que orienta a maior parte de nossas aes e permite-nos predizer, em larga medida, o comportamento dos outros indivduos; - os smbolos e, portanto, tambm o sentido e valor que lhes esto associados, no so isolados, mas fazem parte de conjuntos complexos, em face dos quais o indivduo define seu "papel"; tal definio designada por Mead como sendo o "ego", que varia segundo os grupos com quem est em relao, enquanto seu "eu" a percepo que tem de si mesmo como um todo:

  • "O eu a resposta do organismo s atitudes dos outros; o ego o conjunto organizado de atitudes que atribuo aos outros. As atitudes dos outros constituem o ego organizado e o indivduo reage, ento, diante disso enquanto eu". - o pensamento o processo pelo qual, determinadas solues potenciais so, em primeiro lugar, examinadas sob o ngulo das vantagens e desvantagens que o indivduo obteria em relao a seus valores e, finalmente, escolhidas. Um "ato" , portanto, uma interao contnua entre o 'eu' e o ego, uma sucesso de fases que acabam por se cristalizar em um comportamento nico (MEAD, 1934 apud COULON, 1995b, p. 60).

    Abordagem dos problemas educacionais:

    - terica: [...] a abordagem etnogrfica quer esteja ligada tradio interacionista ou etnometodolgica, permite demonstrar, por exemplo, os processos do fracasso escolar, da orientao ou seleo, enquanto a sociologia positivista da educao limita-se identificar seus efeitos; - metodolgica: [...] a sociologia interacionista serve-se da observao participante para ter acesso direto aos fenmenos que pretende estudar; - prtica: o conhecimento de conjuntos sociais restritos mais facilmente apreensvel pelo etngrafo; um pesquisador isolado pode conseguir isso sem haver necessidade de recorrer a uma grande, equipe ou a muitos meios; - enfim, existencial: os indivduos vivem em grupos sociais naturais e a que devemos observ-los e compreender como organizam a vida em comum como a ordem social est interacionalmente construda e como se perpetua (COULON, 1995b, p. 77).

    Principais conceitos:

    [...] contexto, perspectiva, cultura, estratgia, negociao e carreira (COULON, 1995b, p. 78-79).

    3 Anlise de contexto ou microetnografia:

    Definio:

    [...] Estudo do sistema social em miniatura: a observao do nvel local, as interpretaes de situao feitas in situ reenviavam a hipteses que podiam ser feitas no mbito geral dos sistemas.

    Caractersticas:

    - disponibilidade dos dados, suscetveis de serem consultados (por exemplo, documentos udio ou vdeo, ou transcrio integral); - exaustividade do tratamento dos dados que um meio de luta contra a tendncia a limitar a explorao aos elementos favorveis s hipteses dos pesquisadores; - convergncia entre pesquisadores e participantes sobre a viso dos acontecimentos na medida em que os pesquisadores garantem que a perfeita identidade entre a estrutura que descobrem nas aes aquela que orienta os participantes nessas aes. So utilizados dispositivos de verificao: demanda de confirmao, junto aos entrevistados, de que os quadros de anlise so corretos; - anlise interacional que evita a reduo psicolgica e, ao mesmo tempo, a reificao sociolgica. Na medida em que a organizao dos acontecimentos socialmente construda, procurar-se- essa estruturao nas expresses e gestos dos participantes (COULON, 1995b, p. 109-110).

    4 Pesquisa-Ao/Pesquisa Participante:

  • Pesquisa-Ao:

    Definio:

    [...] tipo de pesquisa social com base emprica que concebida e realizada em estreita associao com uma ao ou com a resoluo de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situao ou do problema esto envolvidos de modo cooperativo ou participativo (THIOLLENT, 1988, p. 15).

    Principais aspectos:

    a) h uma ampla e explcita interao entre pesquisadores e pessoas implicadas na situao investigada; b) desta interao resulta a ordem de prioridade dos problemas a serem pesquisados e das solues a serem encaminhadas sob forma de ao concreta; c) o objeto de investigao no constitudo pelas pessoas e sim pela situao social e pelos problemas de diferentes naturezas encontrados nesta situao; d) o objetivo da pesquisa-ao consiste em resolver ou, pelo menos, em esclarecer os problemas da situao observada; e) h, durante o processo, um acompanhamento das decises, das aes e de toda a atividade intencional dos atores da situao; f) a pesquisa no se limita a uma forma de ao (risco de ativismo): pretende-se aumentar o conhecimento dos pesquisadores e o conhecimento ou o "nvel de conscincia" das pessoas e grupos considerados (THIOLLENT, 1988, p. 16).

    Metodologia:

    [...] Trata-se de um mtodo, ou de uma estratgia de pesquisa agregando vrios mtodos ou tcnicas de pesquisa social, com os quais se estabelece uma estrutura coletiva, participativa e ativa ao nvel da captao de informao. A metodologia das cincias sociais considera a pesquisa-ao como qualquer outro mtodo. Isto quer dizer que ela a toma como objeto para analisar suas qualidades, potencialidades, limitaes e distores. A metodologia oferece subsdios de conhecimento geral para orientar a concepo da pesquisa-ao e controlar o seu uso (THIOLLENT, 1988, p. 25-26).

    Estratgia: Como estratgia de pesquisa, a pesquisa-ao pode ser vista como modo de conceber e de organizar uma pesquisa social de finalidade prtica e que esteja de acordo com as exigncias prprias da ao e da participao dos atores da situao observada. [...] Uma pesquisa concebida sem esse tipo de exigncia corre o risco de se limitar a uma simples reproduo de lugares-comuns e de encobrir manipulaes por parte de quem "fala mais alto" nas situaes observadas. O fato de manter na pesquisa-ao algum tipo de exigncia metodolgica e cientfica no deve ser interpretado como "cientificismo", "positivismo" ou "academicismo". E apenas um elemento de defesa contra as ideologias passageiras e contra a mediocridade do senso comum (THIOLLENT, 1988, p. 26).

    Diferena entre a pesquisa-ao e a pesquisa participante:

    Isto questo de terminologia no h unanimidade; Segundo o autor, toda pesquisa-ao do tipo participativo, mas nem tudo que chamado pesquisa participante pesquisa-ao.

    [...] Isso porque pesquisa participante em alguns casos, um tipo de pesquisa baseado numa metodologia de observao participante na qual os pesquisadores estabelecem relaes comunicativas com pessoas ou grupos da situao investigada com o intuito de serem melhor aceitos. Nesse caso, a participao sobretudo participao dos pesquisadores e consiste em aparente identificao com os valores e os comportamentos

  • que so necessrios para a sua aceitao pelo grupo considerado (THIOLLENT, 1988, p. 15).

    Pesquisadores:

    Os pesquisadores pretendem desempenhar um papel ativo na prpria realidade dos fatos observados.

    Objetivos e contexto no qual aplicada:

    1) organizada para realizar objetivos prticos de um ator social homogneo dispondo de suficiente autonomia para encomendar e controlar a pesquisa; 2) realizada dentro de uma organizao na qual existe hierarquia ou grupos cujos relacionamentos so problemticos; 3) organizada num meio aberto (bairro popular, comunidade rural), podendo se desencadeada com uma maior iniciativa por parte dos pesquisadores; 4) organizada em funo de instituies exteriores comunidade.

    Pesquisa Participante:

    Definio:

    A Pesquisa Participante tem sido mais caracterizada do que definida na literatura especializada. Percebemos de imediato que ela envolve um processo de investigao, de educao e de ao, embora alguns autores enfatizem a organizao, como componente fundamental da Pesquisa Participante (HAGUETTE, 1990 apud SILVA, 1994, p. 96).

    Essa pesquisa encontra-se comprometida com a reduo dos conflitos oriundos das relaes entre dirigentes e dirigidos e, assim, busca despertar o nvel de conscientizao da classe oprimida. Centra-se, portanto, nas relaes poltico-sociais que abrem o espao para a participao.

    Consideraes:

    A Pesquisa Participante tm como "pano de fundo" a participao coletiva que envolve pesquisadores e pesquisados na busca de solues para os problemas da sociedade; assim, visa a produo do conhecimento, que abre caminhos para a movimentao e para a organizao das classes populares.

    Investigao, educao e ao constituem os rumos do processo. E nesta abrangncia, o nvel de participao poltica, assumido pelos participantes, ser "fermento na massa".

    Originalidade, historicidade e intersubjetividade fluem ao longo do processo e a Pesquisa Participante vai se fundamentando e apontando resultados, os quais podero gerar novos problemas a serem pesquisados. Entende-se que, do ponto de vista metodolgico, a Pesquisa Participante acentua a relao entre conhecimento e ao como dois aspectos inseparveis da atividade humana. Convm ressaltar que existem afinidades entre Pesquisa Participante e Pesquisa Ao, pois ambas se voltam para os aspectos subjetivos da ao, das percepes e das explicaes.

    A Pesquisa Participante tem razes na necessidade de gerar um processo de conscientizao e reflexo constantes que, como afirma Gajardo (1986, p. 65 apud ENGERS, 1994, p. 101), visa "atuar como um mecanismo coletivo de negociao e aproveitamento de recursos e espaos de participao disponveis na sociedade".

    Pesquisadores, na caminhada da pesquisa, conscientemente, tero que assumir uma posio; no podero ficar neutros, pois, se isso ocorrer, a pesquisa ser uma farsa.

    A Pesquisa Participante se fortalece na relao teoria-prtica (e vice-versa) e nessa relao que se enfatiza a importncia de uma metodologia fundamentalmente dialgica e

  • dialtica, comprometida com o processo de transformao. Ela at poder extrapolar as metas previstas ou tomar rumos diferentes da proposta inicial; entretanto, essa flexibilidade, quando necessria, no significar um desvio metodolgico. Ressalte-se que se trata de um trabalho cientfico cuja linha de ao deve ser bem estruturada, crtica e criativa. Visa, sobretudo, transformar o saber popular espontneo em saber popular orgnico (GAJARDO, 1986 apud ENGERS, 1994, p. 101-102).

    5 Anlise de Contedo:

    Definio:

    [...] a anlise de contedo constitui-se de um conjunto de tcnicas e instrumentos empregados na fase de anlise e interpretao de dados de uma pesquisa, aplicando-se, de modo especial, ao exame de documentos escritos, discursos, dados de comunicao e semelhantes, com a finalidade de uma leitura crtica e aprofundada levando descrio e interpretao destes materiais, assim como a inferncias sobre suas condies de produo e recepo (MORAES, 1994 apud ENGERS, 1994, p. 103).

    Grupos de materiais:

    1) Materiais de comunicao verbal, sejam textos, documentos oficiais, livros, jornais, documentos pessoais; material de comunicao oral, como transmisses de rdio, televiso, gravaes de reunies e similares; 2) Materiais especialmente criados pela pesquisa, tais como entrevistas, discusses de grupos, respostas a questionrios e depoimentos orais ou escritos (MORAES, 1994 apud ENGERS, 1994, p. 105).

    Diferentes Perspectivas:

    1) Da perspectiva da profundidade da anlise: A anlise se limitar ao contedo manifesto ou procurar atingir o contedo latente? Historicamente, a anlise de contedo iniciou examinando o contedo manifesto, mais facilmente passvel de uma anlise objetiva e quantitativa. Entretanto, a evoluo do estudo da linguagem fez compreender que esta pretenso era ilusria, j que toda leitura uma interpretao. Tambm a evoluo da discusso da prpria natureza da cincia, com a superao da concepo restritiva de objetividade e quantificao, fez com que as possibilidades da anlise de contedo se expandissem consideravelmente. medida que o analista de contedo compreende que uma mensagem pode possibilitar diferentes leituras, atingindo inclusive contedos dos quais nem o prprio emissor estava consciente ao produzir sua comunicao, amplia-se consideravelmente o campo de ao da anlise de contedo. 2) Da perspectiva da quantificao: A anlise ter na quantificao sua principal preocupao ou se centrar no exame de aspectos qualitativos? A opo pela quantificao representa, necessariamente, um corte nas possibilidades de estudo da realidade. Os mesmos paradigmas que se propem a superar a viso positivista, de modo geral, enfatizam a importncia dos aspectos qualitativos, ainda que no desprezando a possibilidade da quantificao. Esta superao, de algum modo, est associada ao movimento que vai da explicao, fundamentada nas relaes causais, para a compreenso, que supera a questo da causalidade. No restam dvidas de que estes novos paradigmas, enfatizando o qualitativo, ampliam enormemente as possibilidades da anlise de contedo. 3) Da perspectiva da utilizao de hipteses:

    arianaResaltar

    arianaResaltar

    arianaResaltar

  • A pesquisa em que a anlise est inserida organizada em torno da testagem de hipteses ou est orientada para a compreenso de um fenmeno? O exame das possibilidades da anlise de contedo, no que se refere utilizao ou no de hipteses, se aproxima muito da discusso anterior. Hipteses implicam relaes causais e, consequentemente, em geral, quantificao. A ausncia de hipteses corresponde, geralmente, ainda que no necessariamente, a uma opo pela compreenso. Assim, a anlise de contedo amplia sensivelmente suas possibilidades quando se supera a concepo de que ela deva estar ligada ao teste de hipteses. Alguns autores entendem e denominam os estudos sem hipteses de exploratrios. Entendemos que isto traz o vis positivista e preferimos denomin-los estudos compreensivos, sendo ento concebidos como um fim to vlido quanto a testagem de hipteses e no um estgio preparatrio para tais estudos. 4) Da perspectiva dos elementos da comunicao: A anlise volta-se aos significados ou pretende atingir os significantes? Historicamente, a anlise de contedo nasceu com a preocupao de exame dos significados, a anlise temtica. Nesta perspectiva, a preocupao aprofundar a compreenso da mensagem propriamente dita, seja da perspectiva do emissor, seja do receptor. Mas, aos poucos, esta perspectiva se ampliou, incluindo o exame dos significantes. Isto abriu toda uma nova gama de possibilidades para a anlise de contedo, atingindo a anlise lxica, a lgica, entre outras. Surgem, assim, diversas novas tcnicas de anlise, alm da anlise temtica: anlise de enunciao, anlise de relaes, anlise estrutural, anlise de avaliao e anlise de discurso. 5) Da perspectiva dos objetivos da anlise: A anlise pretende atingir objetivos essencialmente descritivos ou visa de modo mais aprofundado inferncia e interpretao? A preocupao com uma descrio crtica, aprofundada e detalhada, seja dos contedos manifestos ou latentes de uma mensagem , sem dvida, uma preocupao inicial de qualquer anlise de contedo. Entretanto, manter-se meramente na descrio seria assumir a posio de um estudo exploratrio, anteriormente criticado. Uma boa pesquisa, utilizando anlise de contedo, deveria pretender a inferncia e a interpretao. A inferncia um termo mais relacionado ao paradigma positivista, quantificao. Implica generalizar e estender as relaes e constataes para o contexto. Interpretao um termo que descreve melhor a pretenso compreensiva, portanto, preocupao de paradigmas que pretendem superar o positivismo e suas limitaes. De qualquer modo, seja por inferncia, seja por interpretao, as possibilidades de anlise de contedo se ampliam significativamente. Entendemos que a anlise de contedo tambm cresce em qualidade ao se superarem objetivos meramente descritivos. 6) Da perspectiva do carter objetivo/subjetivo: A anlise direcionada pelo rigor da objetividade ou pela fecundidade da subjetividade? O exame desta perspectiva se aproxima da perspectiva do manifesto/latente. Tambm aqui est subjacente a adoo dos pressupostos do paradigma positivista em contraste com paradigmas alternativos como o fenomenolgico, o dialtico ou naturalista. O primeiro enfatiza a necessidade de objetividade e neutralidade do pesquisador, o que conseguido de modo mais fcil se a anlise se limitar ao manifesto. Os outros reconhecem que nada mais objetivo do que o que se manifesta diretamente ao sujeito, portanto, o subjetivo. Aspectos de qualidade, subjetivos, no diretamente explicitados, podem ser to ou mais significativos do que os quantificveis, objetivos e manifestos. Qualquer que seja a posio assumida, fcil reconhecer que a ampliao das possibilidades de anlise de contedo mxima pelo envolvimento da anlise dos aspectos subjetivos. a que esta tcnica pode atingir sua fecundidade mxima. Poder, mesmo assim, atingir o rigor que se exige de uma pesquisa de qualidade? Esta uma questo cuja resposta tem constitudo preocupao de muitos pesquisadores (MORAES, 1994 apud ENGERS, 1994, p. 105-108).

    6 Anlise do discurso:

    Definio:

    arianaResaltar

    arianaResaltar

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    arianaResaltar

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  • A Anlise do Discurso pertence ao campo da lingstica e da comunicao e uma atividade de estudos utilizada para analisar construes ideolgicas presentes em um texto. Ao analisar textos da mdia, por exemplo, a anlise do discurso procura explicitar as ideologias que os engendram. Essa atividade proposta a partir da filosofia materialista que pe em questo a prtica das cincias humanas e a diviso do trabalho intelectual, de forma reflexiva.

    Os processos que entram em jogo na constituio da linguagem so processos histrico-sociais. A anlise de discurso tem uma proposta adequada em relao a estas colocaes, j que no discurso constatamos o modo social de produo da linguagem. Ou seja, o discurso um objeto histrico-social cuja especificidade est em sua materialidade, que lingustica (ORLANDI, 1996, p. 17).

    O Quadro epistemolgico da Anlise do Discurso articulado com trs regies do conhecimento cientfico:

    1. o materialismo histrico, como teoria das formaes sociais e suas transformaes; 2. a lingustica, como teoria dos mecanismos sintticos e dos processos de enunciao; 3. a teoria do discurso, como teoria da determinao histrica dos processos semnticos (ORLANDI, 1996, p. 19).

    Tipologia da Anlise do Discurso:

    Assim, o tipo autoritrio o que tende para a parfrase (o mesmo) e em que se procura conter a reversibilidade (h um agente nico: a reversibilidade tende a zero), em que a polissemia contida (procura-se impor um s sentido) e em que o objeto do discurso (seu referente) fica dominado pelo prprio dizer (o objeto praticamente desaparece). O discurso polmico o que apresenta um equilbrio tenso entre polissemia e parfrase, em que a reversibilidade se d sob condies, disputada pelos interlocutores, e em que o objeto do discurso no est obscurecido pelo dizer, mas direcionado pela disputa (perspectivas particularizantes) entre os interlocutores, havendo assim a possibilidade de mais de um sentido: a polissemia controlada. O discurso ldico, que o terceiro tipo, aquele que tende para a total polissemia, em que a reversibilidade total e em que o objeto do discurso se mantm como tal no discurso. A polissemia aberta. O exagero do discurso autoritrio a ordem no sentido militar, o do polmico a injria e o exagero do ldico o nonsense. Em nossa forma de sociedade atual, o discurso autoritrio dominante, o polmico possvel e o ldico ruptura (ORLANDI, 1996, p. 24).

    Anlise do Discurso:

    A anlise de discurso no um mtodo de interpretao, no atribui nenhum sentido ao texto. O que ela faz problematizar a relao com o texto, procurando apenas explicitar os processos de significao que nele esto configurados, os mecanismos de produo de sentidos que esto funcionando. Compreender, na perspectiva discursiva, no , pois, atribuir um sentido, mas conhecer os mecanismos pelos quais se pe em jogo um de terminado processo de significao. Desse modo, podemos dizer que a anlise de discurso visa a compreenso na mesma medida em que visa explicitar a histria dos processos de significao, para atingir os mecanismos de sua produo. O que temos a dizer, finalmente, que, ao acolher a compreenso entre seus objetos de reflexo, a anlise de discurso pode fornecer uma contribuio substancial para o trabalho sobre leitura. E foi isso que procuramos fazer nesse nosso estudo (ORLANDI, 1996, p. 117).

    7 Fenomenolgica:

    Definio:

    arianaResaltar

    arianaResaltar

    arianaResaltar

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  • Estudo descritivo dos fenmenos sem o uso de teorias que os expliquem. A Fenomenologia se baseia na experincia intuitiva do fenmeno, e tem como premissa que a realidade consiste de objetos e eventos, perceptveis conscientemente pelos seres humanos.

    - [...] no existe o ou um mtodo fenomenolgico, mas uma atitude (MASINI, 1989 apud FAZENDA, 1989, p. 62).

    Atitude: a atitude de abertura do ser humano para compreender o que se mostra (abertura no sentido de estar livre para perceber o que se mostra e no preso a conceitos ou predefinies). Estamos livres quando sabemos de nossos valores, conceitos e preconceitos e podemos ver o que se mostra cuidando das possveis distores. (MASINI, 1989 apud FAZENDA, 1989, p. 62).

    A Fenomenologia busca a compreenso dos mltiplos mundos construdos de acordo com as formas de perceber das pessoas, afastando-nos da viso de uma realidade nica e independente do homem. Por isto, a pesquisa fenomenolgica provoca a ruptura de um conceito de cientificidade fundamentado no positivismo, levando a uma nova concepo de cincia (METZLER et al., 1994 apud ENGERS, 1994, p. 76).

    Mtodo: O mtodo fenomenolgico trata de desentranhar o fenmeno, p-lo a descoberto. Desvendar o fenmeno alm da aparncia. Exatamente porque os fenmenos no esto evidentes de imediato e com regularidade, faz-se necessria a Fenomenologia.

    O mtodo fenomenolgico no se limita a uma descrio passiva. simultaneamente tarefa de interpretao (tarefa da Hermenutica) que consiste em pr a descoberto os sentidos menos aparentes, os que o fenmeno tem de mais fundamental (MASINI, 1989 apud FAZENDA, 1989, p. 63).

    [...] caracteriza-se, antes de tudo, por uma preocupao em dar uma descrio pura [...] do fenmeno. O fenmeno aquilo que se oferece ao olhar intelectual [...]. preciso orientar-se para as prprias coisas, interrog-las na sua prpria maneira de se oferecerem ao pensamento (HUSSERL, 1994 apud ENGERS, 1994, p. 76).

    Pesquisa fenomenolgica:

    A Pesquisa Fenomenolgica, portanto, parte da compreenso de nosso viver - no de definies ou conceitos - da compreenso que orienta a ateno para aquilo que se vai investigar. Ao percebermos novas caractersticas do fenmeno, ou ao encontrarmos no outro interpretaes, ou compreenses diferentes, surge para ns uma nova interpretao que levar a outra compreenso (MASINI, 1989 apud FAZENDA, 1989, p. 63).

    Etapas:

    Discusso e ao De reflexo De ao

    Procedimentos:

    Fazer a leitura completa de cada descrio, para captar o sentido do todo. Captar o sentido do todo e, ento, voltar ao incio para discriminar as unidades de significado, conforme uma determinada perspectiva (psicolgica ou educacional) e com o foco no fenmeno que est sendo investigado. Delinear as unidades de significado, retomar todas as unidades, reescrevendo-as em funo do fenmeno que est sendo investigado, ou seja, fazendo uma transformao das unidades de significado em linguagem educacional.

  • Realizar a sntese de todas as unidades transformadas em uma perspectiva consistente. Isto de acordo com a estrutura da experincia, que pode ser expressa em diferentes nveis (GIORGI, 1985 apud ENGERS, 1994, p. 77-78).

    O sentido do discurso descritivo e suas caractersticas:

    Significante por ser capaz de atribuir valores e hierarquizar o que lhe parece significativo. Pertinente porque o senso da estrutura do fenmeno permite articular os sentidos que pertencem a esse fenmeno e no a outro; considerando sempre a complexidade da estrutura do todo. Relevante porque a significncia e a pertinncia do discurso fenomenolgico reforam a necessidade de descrever, por ser impossvel expressar o fenmeno em uma palavra ou em uma frase. Referente porque a descrio estabelece relaes, tanto no interior da estrutura do fenmeno como entre a estrutura e o seu contexto, que o mundo. Provocante porque, na correspondncia entre homens e mundo, o comportamento humano no se reduz a respostas determinadas por estmulos (behaviorismo), pois livre e envolve aes imprevisveis. Suficiente porque, mesmo sendo forosamente inacabada, a descrio fenomenolgica deve permitir a emergncia do sentido (METZLER et al., 1994 apud ENGERS, 1994, p. 81).

    Pesquisador:

    Os educadores que optam pela Fenomenologia reconhecem que a subjetividade isolada no pode proporcionar respostas. preciso busc-la na intersubjetividade. Desse modo, a conscincia ampliada e se transforma. O simples movimento em direo ao outro modifica tudo. Compreendemos, ento, que a Fenomenologia "[...] no s um estilo de pensar, mas de viver". (REZENDE, 1990, p. 77). Aprendemos Fenomenologia fazendo pesquisa fenomenolgica, em coerncia com uma concepo de educao em que teoria e prtica so indissociveis. Essa opo depende do pesquisador. Entretanto, destacamos, mais uma vez, que a Fenomenologia no se reduz a mtodos. Mais do que metodologia um modo de assumir a prpria existncia e de posicionar-se em face dos outros. Sendo a educao um processo de imensa complexidade, imprevisvel e sempre inacabado, consideramos que sua compreenso s vivel atravs de pesquisas com abordagem qualitativa. Entre essas situa-se (sic) a Fenomenologia, que exerce um fascnio especial sobre quem gosta de enfrentar desafios e arriscar-se diante do desconhecido, na busca permanente do sentido, compreenso e abertura ao mundo (METZLER et al., 1994 apud ENGERS, 1994, p. 82).

    8 A Dialtica Materialista-Histrica na Pesquisa Educacional:

    A Concepo Materialista:

    [...] funda-se no imperativo do modo humano de produo social da existncia (FRIGOTTO, 1989, p.76). O primeiro pressuposto de toda a histria humana naturalmente a existncia de indivduos humanos vivos. O primeiro fato a constatar , pois, a organizao corporal destes indivduos e, por meio disto, sua relao dada com o resto da natureza. Pode-se distinguir os homens dos animais pela conscincia, pela religio, ou por tudo o que se queira. Mas eles prprios comeam a se diferenciar dos animais to logo comeam a produzir seus meios de vida; passo esse que condicionado por sua organizao corporal (MARX; ENGELS, 1986, p. 27).

    Categorias: Totalidade; contradio; mediao; ideologia; prxis, etc.

    Mtodo de anlise:

  • O mtodo de anlise, na perspectiva dialtica materialista, no se constitui na ferramenta assptica, uma espcie "de metrologia" dos fenmenos sociais, que nas perspectivas que aqui denomino de metafsicas tomada como garantia da "cientificidade, da objetividade e da neutralidade". Na perspectiva materialista histrica, o mtodo est vinculado a uma concepo de realidade, de mundo e de vida no seu conjunto. A questo da postura, neste sentido, antecede ao mtodo. Este constitui-se numa espcie de mediao no processo de apreender, revelar e expor a estruturao, o desenvolvimento e transformao dos fenmenos sociais. O entendimento do que seja o mtodo dialtico materialista inicia sua explicitao mediante a questo: como se produz concretamente um determinado fenmeno social? Ou seja, quais as "leis sociais", histricas, quais as foras reais que o constituem enquanto tal? Esta questo indica, ao mesmo tempo, no mbito das cincias humano-sociais, o carter sincrnico e diacrnico dos fatos, a relao sujeito e objeto, em suma, o carter histrico dos objetos que investigamos. Marx, como fundador do materialismo histrico, curiosamente no se ocupa, seno em poucas passagens, em falar do seu mtodo. Aqui se explicita, a meu ver, a dialtica materialista, ao mesmo tempo como uma postura, um mtodo de investigao e uma prxis, um movimento de superao e de transformao. H, pois, um trplice movimento: de crtica, de construo do conhecimento "novo", e da nova sntese no plano do conhecimento e da ao. Um primeiro aspecto a ser caracterizado nesta compreenso de mtodo que a "dialtica" um atributo da realidade e no do pensamento. "[...] a dialtica trata da coisa em si". Mas a "coisa em si" no se manifesta imediatamente ao homem. Para chegar sua compreenso necessrio fazer no s um certo esforo, mas tambm um detour. Por este motivo o pensamento dialtico distingue a representao do conceito da coisa [...] (KOSIK, 1976 apud FRIGOTO, 1989, p. 79-80).

    Prxis:

    A teoria materialista histrica sustenta que o conhecimento efetivamente se d na e pela prxis. A prxis expressa, justamente, a unidade indissolvel de duas dimenses distintas, diversas no processo de conhecimento: a teoria e a ao. A reflexo terica sobre a realidade no uma reflexo diletante, mas uma reflexo em funo da ao para transformar. Para a teoria materialista, o ponto de partida do conhecimento, enquanto esforo reflexivo de analisar criticamente a realidade e a categoria bsica do processo de conscientizao, a atividade prtica social dos sujeitos histricos concretos. A atividade prtica dos homens concretos constitui-se em fundamento e limite do processo de conhecimento (FRIGOTO, 1989 apud FAZENDA, 1994, p. 81).

    Pontos importantes na pesquisa em educao:

    Trata-se, primeiro, de perguntarmos qual o sentido "necessrio" e prtico das investigaes que se fazem nas faculdades, centros, mestrados e doutorados de educao? No se trata do sentido utilitarista e apenas imediato, ou de uma espcie de ativismo. Trata-se de indagar sobre o sentido histrico, social, poltico e tcnico de nossas pesquisas. A servio de que e de quem despendemos nosso tempo, nossas foras, e grande parte de nossa vida? A outra questo, mais complexa, ao meu ver, a necessidade de examinarmos com maior rigor qual de fato a novidade que traz hoje a "metodologia da pesquisa-ao". Em que nos ajuda aprofundar o entendimento da pesquisa como crtica, como produo de conhecimento e como sustentao de uma ao prtica mais consequente? Em que, por outro lado, pode banalizar o processo mesmo de apreenso rigoroso dos fatos que analisamos? (FRIGOTO, 1989 apud FAZENDA, 1994, p. 83).

    Cinco pontos relacionados estratgia de pesquisa:

  • a) Ao iniciarmos uma pesquisa, dificilmente temos um problema, mas uma problemtica. O recorte que se vai fazer para investigar se situa dentro de uma totalidade mais ampla. b) No trabalho propriamente de pesquisa, de investigao, um primeiro esforo o resgate crtico da produo terica ou do conhecimento j produzido sobre a problemtica em jogo. Aqui se podem identificar as diferentes perspectivas de anlise, as concluses a que se chegou pelo conhecimento anterior e a indicao das premissas do avano do novo conhecimento. c) Feito o levantamento do material da realidade que se est investigando, necessita-se definir um mtodo de organizao para a anlise e exposio. Trata-se de discutir os conceitos, as categorias que permitem organizar os tpicos e as questes prioritrias e orientar a interpretao e anlise do material. d) A anlise dos dados representa o esforo do investigador de estabelecer as conexes, mediaes e contradies dos fatos que constituem a problemtica pesquisada. Mediante este trabalho, vo-se identificando as determinaes fundamentais e secundrias do problema. no trabalho de anlise que se busca superar a percepo imediata, as impresses primeiras, a anlise mecnica e empiricista, passando-se assim do plano pseudoconcreto ao concreto que expressa o conhecimento apreendido da realidade. na anlise que se estabelecem as relaes entre a parte e a totalidade. e) Finalmente busca-se a sntese da investigao. A sntese resulta de uma elaborao. a exposio orgnica, coerente, concisa das "mltiplas determinaes" que explicam a problemtica investigada. Aqui no s aparece o avano em cima do conhecimento anterior, mas tambm questes pendentes e a prpria redefinio das categorias, conceitos etc. Na sntese, de outra parte, discutem-se as implicaes para a ao concreta. Repe-se aqui o ciclo da prxis, onde o conhecimento ampliado permite ou deveria permitir uma ao mais consequente, avanada, que por sua vez vai tornando o conhecimento ampliado base para uma nova ampliao. Por essa razo a pesquisa mantida como "segredo do pesquisador", ou dos pesquisadores, uma dupla sonegao: no questiona e nem permite ser questionada e acaba no tendo, por isso, nenhum sentido histrico e poltico (FRIGOTO, 1989 apud FAZENDA, 1994, p. 87-89).

    OUTROS TIPOS DE PESQUISA

    importante destacar que existem outros tipos de pesquisa que esto voltados para questes mais especficas, como as pesquisas empricas nas reas da sade, da linguagem, nas cincias humanas e sociais, entre outras. Sugerimos estes outros enfoques na pesquisa para que os acadmicos tenham base metodolgica para viabilizarem suas pesquisas, stricto e latu sensu, bem como as de graduao. Acrescentamos ainda a preocupao em oferecer aos professores-orientadores uma proposta de material de apoio que eles podem somar aos que j apresentam aos seus orientandos.

    1 Amostragem:

    Definio: Chamaremos de universo ou populao o conjunto de todos os seres (pessoas, objetos ou fatos) que apresentem pelo menos uma caracterstica em comum. Se o nmero total de elementos for N, podemos designar a caracterstica comum representada genericamente por X, de tal forma que assuma valores tais que: X = X1; X2; X3;... ; XN A amostra que uma parte ou frao desse universo, com um nmero n de elementos, deve ser selecionada por um dos mtodos que descreveremos adiante; de modo que, sendo o nmero de elementos da amostra n < N, a totalidade da amostra poder ser representada por: x = x1; x2; x3;... ; xn

    Ela deve ser, tanto quanto possvel, representativa do universo de onde foi extrada. Para alcanar esse objetivo, utiliza-se em geral uma tcnica probabilstica, definida como aleatria ou de escolha "ao acaso". Nessas condies, a amostra presta-se para o tratamento estatstico dos dados (REY, 1998, p. 40).

  • Mtodo:

    Mtodo aleatrio simples - aquele em que cada elemento de uma populao tem a mesma probabilidade de ser escolhido para a amostra que os demais. A escolha requer prvia atribuio de nmeros aos membros da populao e posterior sorteio baseado, por exemplo, em uma tabela de nmeros aleatrios. Amostragem estratificada - Ao submeter-se uma populao a esse tipo de amostragem, divide-se a populao em grupos homogneos ou estratos. Em cada um deles, toma-se a amostra aleatria dos indivduos que participaro do estudo. Amostragem por conglomerados (ou em cacho) - Em geral, no se dispe de uma lista de indivduos ou de unidades estatsticas sobre as quais seria feito o sorteio de amostragem. Mais fcil ter-se o registro de grupos, ou de entidades em que os indivduos estejam agrupados, tais como casas, escolas, hospitais, localidades etc. Amostragem aleatria por estgios mltiplos - Sempre que, pelo tamanho da populao ou por outras circunstncias, no for possvel atribuir a cada elemento um nmero com que participe do sorteio, podemos optar por sorteios preliminares das reas geogrficas, das localidades, dos grupos ou conglomerados e, depois, numerar e sortear os membros dessas partes escolhidas que integram o universo (REY, 1998, p. 40-41).

    2 Estudos Etiolgicos:

    Definio: Compreendem no s pesquisas destinadas a estabelecer relaes de causalidade (a etiologia de uma doena, por exemplo), como tambm a definir fatores de risco, pelos quais se podem, mesmo na ausncia de um conhecimento da causa, identificar populaes expostas a determinados riscos. Pode-se chegar l, por exemplo, pelo estudo de dois fenmenos ou de dois fatores que se suponha possam ter relaes estreitas. Assim, para se verificar a influncia do alcoolismo sobre a frequncia do cncer do esfago, sugerida pela alta ocorrncia da doena em pases de grande consumo alcolico, buscou-se estudar na Frana a distribuio geogrfica dessa variedade de cncer e a do consumo de lcool, encontrando-se forte correlao positiva entre os dois fenmenos (REY, 1998, p. 41).

    Estudos:

    Estudos retrospectivos - Consistem em identificar os indivduos com determinado problema (D) e compar-los com um certo nmero de outros indivduos sem essa caracterstica (no-D), atravs de questionrios em que se procura relacionar D com fatores (f) suspeitos de serem causa ou contriburem para a ocorrncia de D. O estudo pode incidir sobre uma populao completa (inqurito exaustivo) ou sobre uma amostra representativa, onde os fatores a serem investigados conservem uma distribuio aleatria. Em razo das dificuldades de se trabalhar com a totalidade de uma populao e de seu alto custo operacional, prefere-se proceder amostragem aleatria, com pequeno nmero de indivduos de cada categoria escolhidos por sorteio. Estudos prospectivos - Partem da observao dos indivduos com determinadas caractersticas (f), suspeitas de produzirem ou de contriburem para o problema em estudo (D). Os pacientes sero futuramente examinados para a anlise da correlao entre D e f, juntamente com outros indivduos sem as mesmas caractersticas (no-f), utilizados para comparao. Um trabalho desse tipo consiste, por exemplo, no estabelecimento do diagnstico de infeco por Trypanosoma Cruzi, em uma parte da populao, e seguimento dos casos positivos e negativos para detectar o aparecimento de doena cardaca, de megaesfago ou de outros problemas, no fim de determinados prazos (REY, 1998, p. 42).

    3 Experimental:

    Definio:

  • A experimentao ou experimento (ou, simplesmente, experincia) um mtodo cientfico de observao dos fatos ou fenmenos naturais, sob condies particulares estabelecidas pelo pesquisador. Em sua essncia, a experimentao deve permitir comparar o efeito de duas ou mais condies ou tratamentos, bem definidos, sobre um atributo do organismo ou material que objeto da pesquisa. As condies, que o pesquisador seleciona ou manipula na experincia, so geralmente denominadas variveis independentes, enquanto que as mudanas observadas em consequncia, no atributo, so as variveis dependentes, [...]. Assim, em estudos sobre nutrio, as dietas ou os alimentos administrados seriam as variveis independentes, e o crescimento em peso ou a estatura dos animais a eles submetidos corresponderiam s variveis dependentes. Nas experincias mais simples, os valores de uma varivel independente (chamemo-la de X) so confrontados com os da varivel dependente (digamos: Y). Por vezes, apenas duas condies da varivel so testadas (por exemplo: duas temperaturas, duas concentraes de uma substncia, a presena ou a ausncia de luz, a administrao ou no de um medicamento etc.). Mas, como a resposta do organismo ou do fenmeno estudado pode no ser diretamente proporcional intensidade do fator ensaiado, torna-se em geral necessrio experimentar trs ou mais valores da varivel independente, para que se possa apreciar seu efeito e estabelecer a lei do fenmeno (Fig. 3.1).

    Figura 3.1 - Interpretao dos dados experimentais. O grfico da esquerda, baseado em apenas dois pares de valores anotados para X e Y (que definem os pontos A e D), parece sugerir que Y cresce em funo direta de X. Entretanto, o grfico da direita, em que foram registrados tambm outros valores intermedirios (definindo os pontos B e C), mostra que a relao entre X e Y obedece a uma lei mais complexa (REY, 1998, p. 33).

    Plano experimental:

    Consiste no traado de um esquema conveniente e no estabelecimento das condies de uma experincia, de modo que se possam obter dela respostas adequadas s perguntas formuladas, tendo em vista a hiptese em causa. Para poder-se testar a validade ou no de uma hiptese, necessita-se estabelecer em funo dela quais parmetros devem ser observados e medidos, quais variveis sero submetidas manipulao (ou tratamento), constituindo, portanto, variveis independentes, e quais as que sero tratadas como variveis dependentes. Muitos experimentos biolgicos so caracterizados pela aplicao de um estmulo, que constitui a varivel independente ou controlada, e a observao de um efeito, que a varivel resposta. Em sua essncia, o plano experimental deve permitir que se faam comparaes. Essas comparaes podem envolver uma nica varivel, duas, trs ou mais. A natureza do fenmeno observado e as condies em que a experincia deve ser feita podem recomendar tipos de planejamento muito diferentes. Neste texto descreveremos, a ttulo de ilustrao, os mais correntes. Aconselhamos aos leitores procurarem obras especializadas (ver bibliografia) para os casos particulares que tenham em vista (REY, 1998, p. 34).

  • Tipos de Projetos:

    O mtodo experimental consiste essencialmente em submeter os objetos de estudo influncia de certas variveis, em condies controladas e conhecidas pelo investigador, para observar os resultados que a varivel produz no objeto. No constitui exagero afirmar que boa parte dos conhecimentos obtidos nos ltimos trs sculos se deve ao emprego do mtodo experimental, que pode ser considerado como o mtodo por excelncia das cincias naturais (REY, 1998, p. 34 - 39). [...] j foi assinalado que as limitaes da experimentao no campo das cincias sociais fazem com que este mtodo s possa ser aplicado em poucos casos, visto que consideraes ticas e tcnicas impedem sua utilizao (GIL, 1987, p. 34-35).

    4 Observacional:

    Em certos campos da biologia e das cincias sociais, por exemplo, os mtodos experimentais podem ser difceis ou mesmo impossveis de aplicar. Ento, a observao cientfica adquire grande importncia e deve ser feita com o mximo cuidado. Teorias to fundamentais como a da evoluo foram estabelecidas com base exclusiva na observao da natureza. A viagem de Darwin ao redor do mundo permitiu-lhe coligir tal quantidade de informaes que pde consubstanciar a hiptese formulada por Lamarck, Saint Hilaire e outros naturalistas sobre a evoluo dos seres vivos. Darwin buscou correlacionar as caractersticas prprias das espcies com as condies do meio em que vivia cada uma delas. Suas observaes sobre as relaes entre os organismos e o meio contriburam decisivamente para a criao de uma nova cincia: a ecologia. A observao deve ser inteligente e sagaz, de modo a permitir clara distino entre os fatos que so relevantes, para o estudo em causa, e os inmeros outros que se apresentem concomitantemente. Por isso deve ser atenta, precisa e metdica. Deve ser pertinaz, completa, porm analtica. Exige que o pesquisador seja curioso, paciente, objetivo e imparcial; capaz de ver com olhos isentos de preconceitos e a cabea livre das frmulas tradicionais, de ideias fixas ou baseadas em dogmas ou em autoridades que no demonstraram cabalmente, na prtica, a validade de suas teses (REY, 1998, p. 32).

    O mtodo observacional um dos mais utilizados nas cincias sociais e apresenta alguns aspectos curiosos. Por um lado, pode ser considerado como o mais primitivo, e consequentemente o mais impreciso. Mas, por outro lado, pode ser tido como um dos mais modernos, visto ser o que possibilita o mais elevado grau de preciso nas cincias sociais. Tanto que em Psicologia os procedimentos de observao so frequentemente estudados como prximos aos procedimentos experimentais. Nestes casos, o mtodo observacional difere do experimental em apenas um aspecto: nos experimentos o cientista toma providncias para que alguma coisa ocorra, a fim de observar o que se segue, ao passo que no estudo por observao apenas observa algo que acontece ou j aconteceu. H investigaes em cincias sociais que se valem exclusivamente do mtodo observacional. Outras utilizam-no em conjunto com outros mtodos. E pode-se afirmar com muita segurana que qualquer investigao em cincias sociais deve valer-se, em mais de um momento, de procedimentos observacionais (GIL, 1987, p. 35).

    5 Estatstico:

    Este mtodo fundamenta-se na aplicao da teoria estatstica da probabilidade e constitui importante auxlio para a investigao em cincias sociais. H que se considerar, porm, que as explicaes obtidas mediante a utilizao do mtodo estatstico no podem ser consideradas absolutamente verdadeiras, mas dotadas de boa probabilidade de serem verdadeiras.

  • Mediante a utilizao de testes estatsticos, torna-se possvel determinar, em termos numricos, a probabilidade de acerto de determinada concluso, bem como a margem de erro de um valor obtido. Portanto, o mtodo estatstico passa a caracterizar-se por razovel grau de preciso, o que o torna bastante aceito por parte dos pesquisadores com preocupaes de ordem quantitativa. Os procedimentos estatsticos fornecem considervel reforo s concluses obtidas, sobretudo mediante a experimentao e a observao. Tanto que os conhecimentos obtidos em alguns setores da Psicologia e da Economia devem-se fundamentalmente utilizao do mtodo estatstico (GIL, 1987, p. 36).

    6 Clnico: O mtodo clnico apia-se numa relao profunda entre pesquisador e pesquisado. utilizado, principalmente, na pesquisa psicolgica, onde os pesquisados so indivduos que procuram o psiclogo ou o psiquiatra para obter ajuda. O mtodo clnico tornou-se um dos mais importantes na investigao psicolgica, sobretudo depois dos trabalhos de Freud. Sua contribuio Psicologia tem sido muito significativa, particularmente no que se refere ao estudo dos determinantes inconscientes do comportamento. Todavia, o pesquisador que adota o mtodo clnico deve cercar-se de muitos cuidados ao propor generalizaes, visto que esse mtodo se apia em casos individuais e envolve experincias subjetivas (GIL, 1987, p. 36-37).

    7 Documental e Bibliogrfica:

    A pesquisa documental compreende o levantamento de documentos que ainda no foram utilizados como base de uma pesquisa. Os documentos podem ser encontrados em arquivos pblicos, ou de empresas particulares, em arquivos de entidades educacionais e/ou cientficas, em arquivos de instituies religiosas, ou mesmo particulares, em cartrios, museus, videotecas, filmotecas, correspondncias, dirios, memrias, autobiografias ou colees de fotografias. A documentao direta compreende ainda a observao direta intensiva, cuja modalidade mais utilizada a entrevista. Faz parte da observao direta extensiva o uso de formulrios, testes, questionrios, histria de vida (estudo de caso). Na utilizao de documentos cientficos, o pesquisador se depara com dois tipos: documentos primrios e secundrios. Os primrios englobam resultados novos de pesquisa; os secundrios apresentam repetio de informaes. Entre estes ltimos, destacam-se: listas bibliogrficas sobre certa especialidade, revises com anlise de trabalhos sobre determinado assunto, papers (documento sobre o resultado de uma pesquisa que apresenta viso pessoal), relato de casos. Os textos utilizados numa pesquisa podem ainda ser classificados em: Primrios: livros, jornais, peridicos, artigos, relatrios. Secundrios: bibliografias, resumos, tradues, textos produzidos pelos servios de documentao. Tercirios: estudos recapitulativos. A pesquisa bibliogrfica inclui-se nos procedimentos de documentao indireta. Pesquisa bibliogrfica significa o levantamento da bibliografia referente ao assunto que se deseja estudar. A pesquisa bibliogrfica apresenta quatro etapas: identificao, localizao, compilao e fichamento. Identificao: cuida do recolhimento bibliogrfico que existe a respeito do assunto em questo. Esse levantamento feito por meio de catlogos de editoras, livrarias, de rgos pblicos, de entidades de classe, de universidades, de bibliotecas. Localizao: a fase posterior ao levantamento bibliogrfico e significa a localizao das obras especficas, a fim de conseguir as informaes necessrias. Compilao: caracteriza-se como fase da obteno e reunio do material desejado. Fichamento: a transcrio dos dados em fichas, para posterior consulta e referncia, devendo-se anotar os elementos essenciais ao trabalho. Portanto, essas anotaes devem ser completas, claramente redigidas e fiis ao original (MEDEIROS, 2000, p. 37-38).

    Em primeiro lugar, cumpre destacar que a pesquisa se constitui num procedimento formal para a aquisio de conhecimento sobre a realidade. Exige pensamento reflexivo e

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  • tratamento cientfico. No se resume, apenas, na busca da verdade; mas aprofunda-se na procura de resposta para todos os porqus envolvidos pela pesquisa. Utiliza, por isso, mtodos cientficos, reflexo sistemtica, controle de variveis, observao atenta dos fatos, estabelecimento de leis ou checagem de informaes com o conhecimento j adquirido.

    A pesquisa procura dados em variadas fontes, de forma direta ou indireta. No primeiro caso, levantam-se dados no local em que os fenmenos ocorrem (pesquisa de campo ou de laboratrio); no segundo, a coleta de informaes pode dar-se por documentao. A pesquisa bibliogrfica caracteriza-se como documentao indireta. Num estudo, alm da pesquisa bibliogrfica, pode-se tambm realizar uma investigao de documentos de primeira mo, que ainda no foram objeto de estudo. A documentao direta abrange a observao da prpria realidade e a entrevista.

    Constituem fonte primria os documentos adquiridos pelo prprio autor da pesquisa. Esses documentos podem ser encontrados em arquivos pblicos, particulares, anurios estatsticos. So ainda consideradas fontes primrias: fotografias, gravaes de entrevistas, de programas radiofnicos ou provenientes da televiso, desenhos, pinturas, msicas, objetos de arte (MEDEIROS, 2000).

    Pesquisa Bibliogrfica:

    A pesquisa bibliogrfica constitui-se em fonte secundria. aquela que busca o levantamento de livros e revistas de relevante interesse para a pesquisa que ser realizada. Seu objetivo colocar o autor da nova pesquisa diante de informaes sobre o assunto de seu interesse. um passo decisivo em qualquer pesquisa cientfica, uma vez que elimina a possibilidade de se trabalhar em vo, de se despender tempo com o que j foi solucionado.

    O xito nos estudos depende em grande parte da leitura que o estudioso realiza. A leitura feita segundo regras elementares favorece a tomada de notas, de apontamentos, a realizao de resumos e o estudo, propriamente dito. Logo ao incio de qualquer curso, o professor indica livros de leitura. Alguns deles so bsicos, outros complementares. H ainda os livros de referncia, os dicionrios, as enciclopdias, e h os especializados em um ou outro assunto.

    Qualquer curso ficaria comprometido, sem a necessria complementao com leituras bsicas ou especializadas. Da a necessidade de consulta biblioteca ou at mesmo de formao de uma prpria, segundo a rea de interesse de cada pessoa.

    Parece inegvel que a leitura proporciona ampliao e integrao de conhecimentos, enriquece o vocabulrio e melhora a comunicao. Outra grande contribuio da leitura melhorar o desempenho nas argumentaes e nos juzos (MEDEIROS, 2000).

    Passos da Pesquisa Bibliogrfica:

    A pesquisa bibliogrfica compreende: escolha do assunto, elaborao do plano de trabalho, identificao, localizao, compilao, fichamento, anlise e interpretao, redao. O assunto ser delimitado e preciso; ao geral, amplo, ser preferido o restrito. Exige, portanto, que seja escolhido assunto condizente com a capacidade do pesquisador, de acordo com suas inclinaes e gosto pessoais. Outros fatores que devem ser considerados: tempo para realizar a pesquisa e existncia de bibliografia pertinente ao assunto. Evitem-se assuntos pouco aprofundados ou sobre os quais pouco foi escrito, isto , cujo conhecimento ainda duvidoso e superficial. Depois de escolhido o assunto, passa-se para sua delimitao, o que vem a constituir-se no tema. Favorecem delimitao do assunto: o uso de adjetivos explicativos e restritivos, de complementos nominais, de adjuntos adverbiais. Exemplos: Redao escolar no Ensino Fundamental. Experincias no ensino de redao para o Ensino Mdio. Normas Gerais para os Trabalhos Cientficos nos Cursos de Graduao Aps o estabelecimento do tema, que o assunto devidamente delimitado, passa-se fase de leitura e fichamento. H autores que recomendam como passo seguinte o

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  • estabelecimento de um plano provisrio. Evidentemente, com o transcorrer da pesquisa, o plano pode ser alterado. Para a elaborao do plano, leve-se em conta que dever ter: introduo (formulao do tema, importncia dele, justificativa da pesquisa, metodologia a ser empregada); desenvolvimento (fundamentao lgica do trabalho, explicao do tema, discusso, demonstrao). O desenvolvimento deve ser dividido em tpicos. Finalmente, a concluso exige que tudo seja sintetizado (MEDEIROS, 2000, p. 40-42).

    CONSIDERAES FINAIS

    As informaes compiladas e apresentadas neste texto cumprem o propsito de contribuir com os pesquisadores em geral graduandos ou ps-graduandos no esclarecimento de questes referentes ao planejamento, organizao e procedimentos das pesquisas que, porventura, venham a desenvolver durante a permanncia em cursos de graduao ou programas de ps-graduao.

    Como anunciamos anteriormente, buscamos apresentar conceitos de autores que tratam dessas questes, apresentando tambm, alm dos aspectos importantes na pesquisa qualitativa, outros tipos de pesquisa que se relacionam ou complementam os procedimentos na coleta, anlise e apresentao de informaes qualitativas. Haja vista que, a pesquisa qualitativa pode e, muitas vezes, necessita ser complementada com recursos de outros tipos de pesquisa como a quantitativa, por exemplo, para atingir os objetivos propostos ou almejados quando do seu planejamento ou da organizao, anlise e apresentao de seus resultados.

    Esperamos, portanto, que as informaes aqui contidas esclaream, complementem e melhorem as condies necessrias para a compreenso do mtodo, dos procedimentos e da utilizao de cada tipo ou tcnica de pesquisa, necessrios para a realizao dos estudos. Esperamos, ainda, que essas informaes contribuam para a obteno de resultados que possam ser apresentados como a percepo e a explicao possvel da realidade investigada por cada pesquisador.

    REFERNCIAS

    ANDR, M. E. D. A. Etnografia da prtica escolar. So Paulo: Papirus, 1995. COULON, A. Etnometodologia. Traduo de Ephraim Ferreira Alves. Petrpolis: Vozes, 1995a.

    ______. Etnometodologia e Educao. Traduo de Guilherme Joo de Freitas Teixeira. Petrpolis: Vozes, 1995b.

    ENGERS, M. E. A. Pesquisa educacional: reflexes sobre a abordagem etnogrfica. In: ______. (Org.). Paradigmas e Metodologias de Pesquisa em Educao: notas para reflexo. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1994. p. 65-74.

    FAZENDA, I. C. A. Interdisciplinaridade: Histria, Teoria e Pesquisa. Campinas, SP: Papirus, 1994.

    FERREIRA, A. B. H. Novo dicionrio Aurlio da Lngua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987.

    FRIGOTO, G. O Enfoque da Dialtica Materialista Histrica na Pesquisa Educacional. In: FAZENDA, I. (Org.). Metodologia da Pesquisa Educacional. So Paulo: Cortez, 1989. p. 69-90.

    GAMBOA, S.S. Tendncias epistemolgicas: dos tecnicismos e outros ismos aos paradigmas cientficos. In: SANTOS FILHO, J. C.; GAMBOA, S. S. Pesquisa Educacional: Quantidade-Qualidade. So Paulo: Cortez, 2000. p. 60-83.

    arianaResaltar

  • GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 1. ed. So Paulo: Atlas, 1987.

    HIRANO, S. Pesquisa em cincias sociais: projeto e planejamento. So Paulo: T. A. Quei