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1 Artigo Original Revista: Revista de Educação Física de Maringá (ISSN 0103-3948) Análise da associação da prática de atividade física com sarcopenia e obesidade sarcopênica em adultos e idosos Andressa Albuquerque de Siqueira 1,2 , Luís Alberto Gobbo 1,2,3 1. Departamento de Educação Física, UNESP, Presidente Prudente, SP 2. Grupo de Estudos em Epidemiologia, Envelhecimento e Exercício (GEPEEEx), UNESP, Presidente Prudente, SP 3. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Motricidade, UNESP, Rio Claro, SP Autor Correspondente: Luís Alberto Gobbo, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Rua Roberto Simonsen, 305, Jd. Educacional, CEP 19.060-080, Presidente Prudente, SP, e-mail: [email protected], fone +55 18 3229-5720

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Artigo Original

Revista: Revista de Educação Física de Maringá (ISSN 0103-3948)

Análise da associação da prática de atividade física com

sarcopenia e obesidade sarcopênica em adultos e idosos

Andressa Albuquerque de Siqueira1,2, Luís Alberto Gobbo1,2,3

1. Departamento de Educação Física, UNESP, Presidente Prudente, SP

2. Grupo de Estudos em Epidemiologia, Envelhecimento e Exercício

(GEPEEEx), UNESP, Presidente Prudente, SP

3. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Motricidade, UNESP, Rio

Claro, SP

Autor Correspondente: Luís Alberto Gobbo, Faculdade de Ciências e

Tecnologia, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Rua

Roberto Simonsen, 305, Jd. Educacional, CEP 19.060-080, Presidente

Prudente, SP, e-mail: [email protected], fone +55 18 3229-5720

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Resumo

Introdução: A diminuição da massa muscular associada à baixa força muscular ou baixo desempenho motor é definida como sarcopenia, e quando associada ao excesso de gordura corporal, denomina-se obesidade sarcopênica (OS). A prática de atividade física pode atenuar a perda da massa e força muscular e contribuir com a prevenção e tratamento destes agravos. Objetivo: Analisar a associação entre a prática de atividade física e a presença de sarcopenia ou obesidade sarcopênica em indivíduos com idade igual ou superior a 50 anos. Métodos: A amostra foi constituída por 506 indivíduos com idade entre 50 e 88 anos(62±9anos), sendo 153 homens e 353 mulheres atendidos em duas Unidades Básicas de Saúde do município de Presidente Prudente, SP. Para o diagnóstico da sarcopenia considerou-se as seguintes condições: 1) baixa massa (MM) e força muscular (FM); ou 2) baixa velocidade de locomoção (VL) e baixa MM. A MM foi mensurada por meio de equação preditiva, e posteriormente calculou-se o índice de massa muscular (IMM, em kg/m²), a partir da razão entre MM e estatura. A FM foi estimada, em kg, por força de preensão manual, mensurada por dinamômetro digital. O teste de caminhada de 4 metros foi utilizado para avaliar a VL. Foram considerados com baixa MM, FM e VL os indivíduos com valores abaixo do percentil 20, e com obesidade indivíduos com valores de circunferência da cintura superiores a 102 e 88 cm para homens e mulheres, respectivamente. Os indivíduos com a presença dos dois agravos (obesidade e sarcopenia) concomitantemente foram identificados com OS. As informações referentes à prática de atividade física foram levantadas com a utilização do questionário auto-referido, proposto pela literatura.Para tratamento estatístico, foi empregado o teste qui-quadrado para verificar a associação entre a prática de atividade física, sarcopenia e OS, e análise de regressão logística binária ajustada pela variável (sexo) para expressar à magnitude das associações. Resultados: Os indivíduos insuficientemente ativos no escore total para prática de atividade física têm aproximadamente 5 vezes (OR 5,35; IC 95% 1,40-20,46; p=0,014) mais chances de apresentarem OS em comparação aos suficientemente ativos, independente do sexo. Conclusão: A prática de atividade física está inversamente associada à obesidade sarcopênica em adultos e idosos. Palavras-chaves: Atividade Física, Sarcopenia, Obesidade Sarcopênica, Envelhecimento.

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Introdução

A diminuição da massa muscular associada à baixa força muscular ou

baixo desempenho motor é definida como sarcopenia1 e quando associada ao

excesso de gordura corporal, denomina-se obesidade sarcopênica2.

Estima-se que a prevalência de sarcopenia e obesidade sarcopênica

(OS) em idosos com idade entre 60 e 80 anos, segundo diferentes estudos,

com metodologias e critérios distintos, varia entre 6-36% e 2-7%,

respectivamente. Quando o grupo etário em análise é de idosos longevos, com

idade igual ou superior a 80 anos, as prevalências aproximam-se,

respectivamente, de 60% e 10%3-6.

Esses valores são preocupantes, uma vez que a sarcopenia e OS

podem afetar o desempenho motor e diminuir a capacidade funcional,

dificultando a realização das atividades de vida diária (AVDs) dos idosos

longevos. Além disso, são fatores de risco para agravos cardio-metabólicos7-9,

quedas10, fragilidade11 e mortalidade12,13.

Está comprovado que a prática de atividade física auxilia na manutenção

ou até mesmo pode aumentar a massa e força muscular14,15, bem como reduzir

gordura corporal14 e, consequentemente, melhorar o desempenho motor16,17.

Neste sentido, a prática de atividade física pode contribuir com a prevenção e

tratamento da sarcopenia e OS em indivíduos mais velhos18.

Recentemente, alguns estudos internacionais têm apontado à

associação inversa entre a prática de atividade e sarcopenia e OS em idosos19-

22. Contudo, torna-se necessário a investigação de tais aspectos na população

brasileira, que envelhece de maneira acelerada e com maior redução do nível

de atividade física. Desta forma, o objetivo do presente estudo foi analisar a

associação entre a prática de atividade física e a presença de sarcopenia ou

obesidade sarcopênica em indivíduos com idade igual ou superior a 50 anos.

Métodos

Delineamento do estudo e recrutamento dos sujeitos

Estudo de delineamento transversal, conduzido no período entre

setembro e novembro de 2013 em duas Unidades Básicas de Saúde da cidade

de Presidente Prudente, SP.

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Foram convidados a participar do estudo todos os indivíduos com idade

igual ou superior a 50 anos, que passaram por consulta médica ou receberam

qualquer outro tipo de atendimento nas unidades durante o período de coleta.

Dessa forma, foram avaliados 506 indivíduos com idade entre 50 e 88 anos.

O convite e as avaliações foram realizados no momento em que os

participantes aguardavam pelo atendimento ou após o término da consulta. Os

objetivos e a metodologia empregada para a coleta de dados foram

esclarecidos e os sujeitos foram informados de que poderiam interromper sua

participação a qualquer momento. Somente os que assinaram o “Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido” fizeram parte da amostra. Todos os

protocolos foram revisados e aprovados pelo Comitê de Ética em pesquisas da

Universidade Estadual Paulista (Processo 241.291/2013).

Medidas antropométricas

O peso corporal foi mensurado com a utilização de uma balança

eletrônica e a estatura em um estadiômetro fixa à balança. Os valores obtidos

de peso e estatura foram utilizados para o cálculo do índice de massa corporal

(IMC, em kg/m2), a partir da razão entre peso e estatura ao quadrado.A medida

da circunferência da cintura foi realizada com a utilização de uma fita

antropométrica metálica.Todas as medidas antropométricas foram realizadas

segundo a padronização descrita por Freitas Jr23.

Massa muscular

A massa muscular (MM) foi mensurada por meio de equação preditiva24,

e posteriormente calculou-se o índice de massa muscular (IMM, em kg/m²), a

partir da razão entre MM e estatura ao quadrado.

Força muscular

A força muscular (FM) foi estimada, em kg, a partir da força de preensão

manual, mensurada em dinamômetro digital. O teste foi realizado em duplicata,

com os indivíduos sentados em uma cadeira sem apoio para os braços, com o

ombro aduzido e cotovelo do braço dominante flexionado a 90° e com o

antebraço e punho em posição neutra. Os idosos foram instruídos a pressionar

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o dinamômetro o mais forte possível, duas vezes, com intervalo de um minuto,

entre cada tentativa. O maior valor de força obtido foi registrado.

Velocidade de locomoção

A velocidade de locomoção (VL) foi determinada pelo teste de

caminhada de 4 metros25. Os idosos foram orientados a andar de maneira

natural, como se estivesse andando dentro de casa, e foi registrado o maior

tempo (m/s) obtido entre as duas caminhadas.

Foram considerados com baixa MM, FM e VL os indivíduos com valores

abaixo do percentil 20 para cada variável, segundo sexo.

Sarcopenia

Para o diagnóstico da sarcopenia considerou-se as seguintes condições:

1) baixa massa (MM) e força muscular (FM); ou 2) baixa velocidade de

locomoção(VL) e baixa MM1.

Obesidade sarcopênica

Foram considerados com obesidade indivíduos com valores de

circunferência da cintura superiores a 102 e 88 cm para homens e mulheres,

respectivamente. Aqueles com a presença dos dois agravos (obesidade e

sarcopenia) concomitantemente foram identificados com OS.

Atividade física

As informações referentes a pratica habitual de atividades físicas

também foram levantadas a partir de entrevista com a utilização do

questionário desenvolvido por Baecke26, cuja tradução e validação para

realidade brasileira foi realizada por Florindo27.

Após a aplicação do instrumento foi possível identificar o nível de

atividade física habitual em cada domínio (lazer, ocupacional, locomoção). A

soma dos escores de cada sessão representa a atividade física habitual. Para

sua classificação foi utilizada a fórmula proposta por Baecke26.

Para efeito estatístico, a amostra foi dividida em quartis, para três

domínios analisados: i) ocupacional; ii) exercício físico no lazer; iii) lazer e

locomoção; e iv) escore total (atividade física habitual). Em cada domínio e no

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escore total os indivíduos avaliados foram estratificados da seguinte forma,

segundo classificação adotada por Guedes28 quartil 1, insuficientemente ativo;

quartis 2 e 3, moderadamente ativo; e quartil 4, ativo. Os indivíduos

classificados como moderadamente ativo e ativo foram considerados como

suficientemente ativos.

Análise estatística

A estatística descritiva foi composta por valores de média e desvio-

padrão. Os valores médios de cada variável foram comparados segundo a

ausência, presença de sarcopenia e obesidade sarcopênica por meio do teste

ANOVA One-wayseguido por post-hocde Tukey.A análise de distribuição de

frequência foi utilizada para estimar a prevalência de sarcopenia e obesidade

sarcopênica. O teste qui-quadrado foi empregado para verificar a associação

entre a prática de atividade física, sarcopenia e OS, e análise de regressão

logística binária, ajustada pelas variáveis sexo e idade, para expressar a

magnitude das associações. O tratamento estatístico foi realizado utilizando o

software SPSS (SPSS inc. Chicago. IL), versão 17.0 e o nível de significância

foi estabelecido em 5%.

Resultados

A Tabela 1 apresenta as características gerais da amostra e análise de

comparação segundo a presença dos agravos. Indivíduos com a ausência dos

agravos apresentaram valores médios maiores de peso corporal (p≤0,001),

estatura (p=0,004), IMC (p≤0,001), força muscular (p≤0,001), velocidade de

locomoção (p≤0,001) e IMM (p≤0,001). Foi observada maioridade em

indivíduos com obesidade sarcopênica (p≤0,001) e menor CC em indivíduos

com sarcopenia (p≤0,001).

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Tabela 1. Características gerais da amostra e comparação segundo a presença dos agravos

Variáveis

Ausência (n=474)

Sarcopenia (n=23)

Obesidade sarcopênica

(n=09) f

p

Média±DP Média±DP Média±DP

Idade (anos) 61,4±8,6a 67,6±9,8b 82,4±6,2c 31,070 ≤0,001

Peso (Kg) 74,8±15,0a 53,6±7,2b 56,6±5,8b 28,876 ≤0,001

Estatura (m) 157,8±11,3a 154,4±8,1a,b 146,6±5,4b 5,468 0,004

IMC (Kg/m2) 29,9±5,6a,c 22,5±3,0b 26,4±3,3b,c 21,139 ≤0,001

CC (cm) 96,0±14,4a 77,0±8,9b 101,0±5,7a 19,646 ≤0,001

Força muscular (Kg) 25,8±9,6a 19,2±7,8b 14,3±6,3b 11,207 ≤0,001

Vel. locomoção (m/s) 0,98±0,2a 0,83±0,2b 0,57±0,2c 16,209 ≤0,001

IMM (Kg/m2) 9,4±1,6a 7,2±1,2b 6,6±0,6b 33,683 ≤0,001

Notas: CC=circunferência da cintura, IMC=índice de massa corporal, IMM=índice de massa muscular, Vel.=velocidade. P<0,05 para letras (a, b e c) diferentes.

A Figura 1 representa a prevalência de sarcopenia e obesidade

sarcopênica para a amostra total e segundo o sexo. A prevalência de

sarcopenia observada foi semelhante para amostra total e ambos os sexos.

Não foi encontrada presença de obesidade sarcopênica em homens.

Figura1. Distribuição de frequência dos agravos para a amostra total e

segundo sexo.

A Figura 2 representa o percentual de indivíduos ativos em cada

domínio investigado, bem como no escore total segundo sexo. O percentual de

mulheres que praticam atividade física no domínio ocupacional e no escore

total foi maior do que os homens (p≤0,001). Por outro lado, o percentual de

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homens que praticam atividade física no lazer e locomoção foi maior

comparado às mulheres (p=0,041). Não foi observada diferença significativa

entre os sexos para o domínio exercício físico no lazer (p=0,107).

Figura 2. Percentual de indivíduos ativos em cada domínio investigado e

escore total segundo o segundo.

Na Figura 3 está representada a prevalência dos agravos em cada sexo

segundo a prática de atividade física habitual (escore total). As mulheres

suficientemente ativas apresentam menor prevalência dos agravos,

principalmente, de sarcopenia (p=0,011).

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Figura 3. Prevalência dos agravos em cada sexo segundo a prática de atividade física habitual.

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Na Tabela 2 é apresentada a associação entre a prática de atividade e

sarcopenia. Não houve associação entre as duas variáveis no que se refere

aos três domínios investigados, bem como no escore total (prática de atividade

física habitual).

Tabela 2. Associação entre a prática de atividade física e sarcopenia em adultos e idosos.

Atividade Física Sarcopenia

n (%) OR (IC95%) p

Ocupacional

Suficiente 14 (60,9) 1,00 0,067

Insuficiente 9 (39,1) 2,34 (0,94-5,95)

Exercício físico no lazer

Suficiente 14 (60,9) 1,00 0,467

Insuficiente 9 (39,1) 1,38 (0,58-3,26)

Lazer e locomoção

Suficiente 16 (69,6) 1,00 0,460

Insuficiente 7 (30,4) 0,70 (0,28-1,76)

Escore total

Suficiente 18 (78,3) 1,00 0,764

Insuficiente 5 (21,7) 0,85 (0,31-2,38)

*OR=valor ajustado por sexo

Na Tabela 3 observa-se a associação entre a prática de atividade e

obesidade sarcopênica. Indivíduos insuficientemente ativos têm

aproximadamente 5 vezes mais chances de apresentarem obesidade

sarcopênica (p=0,014).

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Tabela 3. Associação entre a prática de atividade física e obesidade sarcopênica em adultos e idosos.

Atividade Física Obesidade sarcopênica

n (%) OR (IC95%) p

Ocupacional

Suficiente 6 (66,7) 1,00 0,121

Insuficiente 3 (33,3) 3,07 (0,74-12,70)

Exercício físico no lazer

Suficiente 3 (33,3) 1,00 0,057

Insuficiente 6 (66,7) 3,91 (0,96-15,93)

Lazer e locomoção

Suficiente 4 (44,4) 1,00 0,363

Insuficiente 5 (55,6) 1,86 (0,49-7,04)

Escore total

Suficiente 4 (44,4) 1,00 0,014

Insuficiente 5 (55,6) 5,35 (1,40-20,46)

*OR=valor ajustado por sexo

Discussão

O presente estudo teve como objetivo analisar a associação entre a

prática de atividade física e a presença de sarcopenia ou obesidade

sarcopênica em indivíduos com idade igual ou superior a 50 anos, visando o

levantamento de informações a respeito de tais aspectos na população

brasileira.

Foi observada associação inversa entre a prática de atividade física e

obesidade sarcopênica, com maior chance de risco para o agravo em

indivíduos insuficientemente ativos. Resultados similares aos encontrados por

Ryu 22 em idosos coreanos de ambos os sexos. Tais resultados podem ter sido

observados pelo fato de que a pratica de atividades físicas, especialmente

aquelas de caráter aeróbio, diminuem a gordura corporal, o que resulta na

inibição da síntese de citocinas pró-inflamatórios,tais como o fator de necrose

tumoral-α (TNF-α) e a interleucina 6 (IL-6), que podem causar um declínio do

funcionamento físico por meio dos seus efeitos catabólicos no músculo, uma

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vez que essas substâncias aumentam a degradação de proteínas miofibrilares

e diminuem a síntese de proteínas29,30.

Na coexistência da sarcopenia e obesidade, observa-se uma

predisposição à infiltração de gordura no músculo, mediada pela liberação das

citocinas pró-inflamatórias, que, por sua vez, podem agravar o quadro da

sarcopenia, maximizando a perda muscular e gerando um ciclo vicioso, que

leva a maiores ganhos de gordura e reduções de massa muscular31.

Por outro lado, foi observado que o músculo também exerce função

endócrina e também produz citocinas como, a IL-6, durante a prática de

atividade física. Essas substâncias são denominadas miocinas e podem

influenciar o metabolismo em outros órgãos e tecidos, neste caso, elas agem

de forma anti-inflamatória32,33. Essa evidência ressalta a importância da

atividade física para a prevenção da sarcopenia e OS.

Mesmo evidenciado na literatura científica que a prática de atividade

física atenua a perda da massa e força muscular14,15, em nosso estudo, não foi

encontrada associação entre a prática de atividade e sarcopenia em indivíduos

de ambos os sexos.

Nossa hipótese inicial considerou que a prática de atividade física pode

minimizar os efeitos da apoptose muscular, que ocasiona a diminuição no

número e tamanho das fibras musculares18,30, bem como auxilia na

funçãomúsculo-esquelética, promovendo melhoria no desempenho motor16,17,

na realização das AVDs e, consequentemente, na qualidade de vida de

indivíduos mais velhos34.

A prevalência de sarcopenia encontrada foi semelhante para ambos os

sexos, valores diferentes aos encontrados em estudos prévios que indicaram

diferença entre os sexos, onde a maioria observou maior prevalência em

homens comparados às mulheres5,35,36. Em relação a OS, nossos resultados

corroboram com os achados previamente6,37, onde foi observada maior

prevalência em mulheres.

Pesquisas revelam que os homens são mais ativos em comparação as

mulheres38-40 e tendem a envolver-se mais em atividades esportivas, enquanto

as mulheres desempenham mais atividades domésticas38,41, como observado

em nosso estudo (Figura 2). No entanto, a aderência em atividades físicas

supervisionadas por indivíduos mais velhos é baixa42, esse fato pode explicar a

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maior proporção de indivíduos insuficientemente ativos do sexo masculino

(66% homens vs ≈80% mulheres [p≤0,001]) encontrada no presente estudo.

As mulheres suficientemente ativas apresentaram menor prevalência de

obesidade sarcopênica. Em contrapartida, em ambos os sexos foi verificado

que indivíduos sarcopênicos também eram suficientemente ativos (Figura 3).

Tal resultado sugere-se que a possível relação de causa-efeito ocorre em

ambos os sexos.

Portanto, como ressalva, vale destacar que o delineamento transversal

do presente estudo não permite o estabelecimento de uma relação de causa-

efeito. Entretanto, ressalta-se que ainda são limitados os estudos que tiveram

como objetivo verificar tais aspectos na população brasileira.

Conclusão

Na amostra investigada, a prática de atividade física está inversamente

associada à obesidade sarcopênica em adultos e idosos, especialmente

aquelas do sexo feminino. Medidas preventivas como a prática de atividade

física ao longo da vida pode contribuir para a manutenção da massa muscular,

bem como redução de gordura corporal, e diminuir o risco de sarcopenia e

obesidade sarcopênica em indivíduos mais velhos.

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