Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

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KÁTIA FERREIRA DOS SANTOS Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ocupacionais, práticas de biossegurança e impacto na rotina de trabalho de cirurgiões-dentistas, após exposição a material biológico. Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ciências da Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo, para obtenção do título de doutor em Ciências. Área de Concentração: Infectologia em Saúde Pública. Orientador: Prof. Dr. Nilton José Fernandes Cavalcante SÃO PAULO 2014

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KÁTIA FERREIRA DOS SANTOS

Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes

ocupacionais, práticas de biossegurança e impacto na

rotina de trabalho de cirurgiões-dentistas, após

exposição a material biológico.

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo, para obtenção do título de doutor em Ciências.

Área de Concentração: Infectologia em Saúde Pública.

Orientador: Prof. Dr. Nilton José Fernandes Cavalcante

SÃO PAULO

2014

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DEDICATÓRIA

Dedico às mulheres ancestrais de minha família por me permitirem chegar até

aqui e, por meio delas, saber que estou em um novo tempo, onde as mulheres,

atualmente, têm vozes, têm poder de decisão e escolhas mais justas e dignas!

Ao meu pai: Lourival José dos Santos, por ter me ensinado a ter resiliência em

diversos momentos cotidianos o que contribuiu para minha persistência!

Dedico, principalmente, à minha mãe: Helena Ferreira dos Santos (In

memorian), pelo seu amor, incentivo e pela inesgotável vontade de me ver

crescer e voar! Aquela que, além de mãe, foi meu testemunho em vida de

muitas lutas e de muitos anseios! O onde quer que Ela esteja, sua benção e luz

possam continuar me fortalecendo e me ajudando a existir !

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AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

À DEUS, pelos sinais enviados para que eu persistisse e enfrentasse com

louvor os desafios desta jornada!

Ao Prof. Dr. Nilton José Fernandes Cavalcante, por ter me dado a honra de

caminhar ao seu lado e tornar este sonho possível! Sua participação em meu

crescimento profissional começou em uma entrevista que alternou sonho e luta.

Como uma brincadeira de criança, este trabalho foi seguido de muita paciência,

generosidade e respeito para sua conclusão! Assim, seguem as minhas

reverências para alguém muito profissional e dedicado!

À minha irmã Márcia Santos que pela força e leveza, me ajudou a enfrentar

dores emocionais profundas, no momento de luto de nossa mãe, e a

compreender que a vida se fundamenta em laços afetivos irrevogáveis.

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AGRADECIMENTOS

Ao Programa de Pós–Graduação CCD/ SES, pela colaboração de tornar viável

este Projeto.

À coordenadora do Programa Pós–Graduação, Profa. Dra. Maria de Fátima

Costa Pires, pela paciência e ajuda em momentos conturbados de minha vida

pessoal.

Aos professores do programa de Pós-Graduação da CCD-SES/SP,

especialmente os do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, pela contribuição

profissional e riqueza intelectual.

À Dra. Anna Christina Nunes D’Ambrosio, pela dedicação, paciência e

contribuição para, eticamente, viabilizar este Projeto.

À funcionária Maria Francisca da Silva, da CCIH que tanto me ajudou na

organização das fichas dos pacientes para elaboração do banco de dados para

seguir adiante com as questões deste trabalho.

À funcionária Mônica Ferreira Dias, pela competência e intensa vontade de

assessorar, secretariar e torcer pela minha vitória.

Aos colegas cirurgiões- dentistas que aceitaram ser entrevistados nas mais

diversas horas e lugares os quais puderam confidenciar em seus relatos seus

acidentes e contribuir com a execução da pesquisa.

Às amigas Rosélia Paparelli, psicoterapeuta, e Rosa Marcusso, matemática,

pelos conhecimentos cedidos de diferentes áreas os quais contribuíram para

elaboração deste Projeto.

Ao meu amigo Marcelo Barbosa, bibliotecário, no IIER, que, incansavelmente,

ensinou-me muito sobre normas, referências, base de dados e outras

particularidades para finalização desta etapa.

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Ao meu professor de inglês Robert Turner, pela incansável vontade de me

ensinar inglês, traduzir textos e adentrar em um Universo cultural muito

diferenciado.

À minha notável amiga Dra. Noemi Campelo, pela incessante serenidade ao

me ouvir e me fazer acreditar no meu potencial para finalização deste Projeto.

À minha grandiosa amiga Dra. Nina Michel que, com suas palavras de ordem,

fizeram- me persistir nesta jornada.

Ao meu amigo Marino Teixeira, pelo apoio e pela força em momentos difíceis.

Ao meu amigo Laurêncio Nascimento de Jesus, pelas palavras de sabedoria e

pela competência que tanto admiro.

À minha disciplinada assistente Aida Nascimento Coelho pela dedicação para

organizar papéis e otimizar minha agenda, a fim de que eu pudesse ter

tranquilidade para estudar.

Ao meu amigo Rafael Cuoco, pelos ensinamentos de computação.

Ao meu amigo Luiz Antonio Schaffhauzzer, pelo carinho de médico e apoio em

todos os momentos de que precisei.

A todos os meus amigos e familiares que se preocuparam e me incentivaram

com palavras de apoio para eu chegar ao fim deste sonho.

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IN MEMORIAN:

Ao meu irmão: Ricardo Ferreira dos Santos que, por meio de uma passagem

meteórica em minha vida, me fez dar conta do poder do desconhecido, da

importância da ordem e do pertencer na família.

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A LIBERDADE DO PAPAGAIO

Um mercador tinha um papagaio preso a um poleiro e o tratava muito bem. Um dia resolveu viajar para Amazônia e perguntou ao louro o que desejava de presente de lá. Este lhe pediu: - Se vires algum bando de papagaios livres, pergunta-lhes como também posso fazer para voar livremente.

O dono perguntou ao louro se este não estava feliz, pois não precisava ter nenhuma preocupação com alimentação, local de moradia ou se quer voar, pois podia voar livremente pelo quintal do mercador.

O louro disse que queria saber maiores detalhes sobre a vida de seus parentes! Na Amazônia, o mercador viu um bando de papagaios e gritou-lhes a mensagem do louro de estimação. Ao ouvi-lo, o guia do bando caiu como morto. O homem, penalizado, pensou: - Coitado, este guia devia ser parente do meu papagaio! Ao voltar, contou o sucedido a seu papagaio e este, para seu espanto, tombou também como morto. O homem lamentou e chorou, mas, resignado desprendeu o louro inerte e o atirou ao quintal para o funeral. No próprio impulso com que foi jogado, o papagaio alçou um longo vôo e pousou num galho. O mercador, muito admirado e irritado perguntou: - Afinal, o que significa tudo isso? E o papagaio livremente, respondeu: - Eu apenas segui a lição!

- Fiquei atento aos sinais! E com ar de liberdade afirmou para o mercador:

Não basta adquirir sabedoria, é preciso também saber usá-la!

(autor desconhecido ou ignorado)

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RESUMO

INTRODUÇÃO: As publicações referentes a acidentes com cirurgiões dentistas

são em número reduzido e a extrapolação do que ocorre em outras profissões

como médicos e enfermeiros não atende as peculiaridades da odontologia

quanto a técnica, havendo necessidade de estudos. OBJETIVOS: Os objetivos

foram caracterizar os aspectos epidemiológicos dos acidentes com

perfurocortantes e risco com material biológico em cirurgiões-dentistas, avaliar

as práticas de biossegurança adotadas, grau de percepção frente aos

acidentes e as mudanças decorrentes. MÉTODO: Estudo Transversal quali-

quantitativo, retrospectivo e prospectivo realizado a partir do preenchimento da

“Ficha de Notificação de Acidente com Material Biológico” da CCIH do IIER e

entrevistas por meio de questionários distribuídos para 40 cirurgiões-dentistas,

divididos em dois grupos de vinte, no período de 2008 a 2012, selecionados do

total de 103 acidentes notificados (grupo geral) que resultou em banco de

dados com informações epidemiológicas do material biológico. RESULTADOS:

Foram selecionados todos os dentistas entre 2008 a 2012 pela CCIH, no

ambulatório de acidentes do IIER, perfazendo o total de 103 profissionais. O

grupo apresentou predominância de profissionais do sexo feminino 80

(77,71%), idade média de 33,6 anos e mínima de 22 anos. Na maioria

profissionais particulares 101 (98%). Turno diurno 78 (75,7%), 8,9 anos (1,5-

30) em média de jornada de trabalho, 71 (68,9%) não notificaram a Medicina

do Trabalho, apenas 33(32%) com acidente prévio, os acidentes ocorreram na

sexta 24 (23,3%) e sábado 22(21,3%), maioria percutâneos 87(84,5%) com

material contendo sangue 58(56,3%) e com agulha oca 40 (38,8%), mão

esquerda 48 (46,7%), durante procedimentos 60 (58,3 %), autoacidentes 78

(75,7%). Entre os EPIs as luvas estavam presentes durante o acidente em 89

(86,4%). O paciente fonte era conhecido em 90(87,4%), mas não tiveram os

exames de sangue realizados de rotina. Os profissionais estavam vacinados

para Hepatite B em 94 (91,3%), receberam TARV em 60 (58,3%) e 47(45,6%)

receberam alta por acompanhamento adequado. Com intuito de explorar

informações adicionais foram contatados 20 profissionais de grupos anteriores

ao início do estudo e 20 profissionais prospectivamente durante o estudo. Na

análise temática, o motivo do acidente relacionou-se a ordem pessoal, ordem

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técnica, ordem de trabalho e reincidência de acidente. Na ordem pessoal os

motivos alegados foram desatenção, distração, distração seguida de uso

inadequado de técnica odontológica e euforia. Quanto a Biossegurança foi

verificado se o profissional tinha as informações sobre protocolo de

atendimento em casos de acidentes ou não e se as normas de biossegurança

eram seguidas. Quanto às mudanças ocorridas após o acidente foram

encontradas as seguintes categorias: ordem pessoal, ordem técnica, ordem de

trabalho e ordem de prevenção. Alguns entrevistados não revelaram

mudanças, mas ficou claro em seus discursos que os acidentes foram

banalizados e também, por não acreditarem na seriedade causada por eles.

CONCLUSÃO: Diante do estudo realizado concluiu-se que a maioria era do

gênero feminino, trabalhava em consultório particular diurnamente e não

realizou notificação de medicina do trabalho, a maioria dos autoacidentes foi

percutâneo com agulha oca e na mão esquerda. O paciente fonte era sempre

conhecido do cirurgião-dentista e não houveram resultados sorológicos

presentes que viabilizassem o tratamento do profissional acometido. O dia de

maior frequência de acidentes foi a sexta-feira, provavelmente, por ser o dia

mais estressante. Os profissionais relataram mudanças de comportamento

depois dos referidos acidentes quanto às questões de biossegurança e uso de

EPIs, aperfeiçoamento das técnicas odontológicas exercidas, autocuidado na

atenção, nos limites pessoais e profissionais.

Palavras-Chave: Exposição a agentes biológicos. Odontologia. Acidentes de

trabalho. Riscos ocupacionais. Saúde do trabalhador.

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ABSTRACT

INTRODUCTION: The publications relating to accidents involving dentists are

few and extrapolation of what happens in other professions such as doctors and

nurses does not meet the peculiarities of dentistry as the technique, requiring

studies. OBJECTIVES: The objectives of epidemiology of sharps injuries and

risk were characterized with biological material among dentists, to evaluate

biosafety practices adopted, degree of perception against accidents and the

resulting changes. METHODS: Cross-sectional qualitative and quantitative,

retrospective and prospective done from completing the "Accident Notification

Form with Biological Material" of the CCIH IIER interviews and through

questionnaires distributed to 40 dentists, divided into two groups of twenty

Study in the period from 2008 to 2012, selected from over 103 accidents

reported (general group) which resulted in a database with epidemiological

information of biological material. RESULTS: all dentists were selected between

2008-2012 by CCIH in outpatient IIER accidents, totaling 103 professionals.

The group had a predominance of female professionals 80 patients (77.71%),

mean age of 33.6 years and a minimum of 22 years. In particular professional

most 101 (98%). Day shift 78 (75.7%), 8.9 years (1.5-30) in average workday,

71 (68.9%) did not notify the Occupational Medicine, only 33 (32%) with

accident prior the accident occurred on Friday 24 (23.3%) and Saturday 22

(21.3%), percutaneous majority 87 (84.5%) with blood containing material 58

(56.3%) and 40 with hollow needle (38.8%), the left hand 48 (46.7%) during

procedures 60 (58.3%), autoacidentes 78 (75.7%). Between PPE gloves were

present during the accident in 89 (86.4%). The source patient was known in 90

(87.4%), but did not have the blood tests routinely performed. Professionals

were vaccinated against Hepatitis B in 94 (91.3%) received ART in 60 (58.3%)

and 47 (45.6%) were discharged by proper monitoring. Seeking to exploit

information from previous 20 professional groups at baseline and 20

professionals were contacted prospectively during the study. In thematic

analysis, the reason for the accident was related to personal, technical, work

order and recurrence of accidents. In order personal reasons were alleged

inattention, distraction, distraction followed by inappropriate use of dental

technique and elation. As for Biosecurity was checked if the professional had

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information about treatment protocol in cases of accidents or not and whether

the biosafety norms were followed. As for the changes that occurred after the

accident the following categories were found: personal, technical, work order

and order of prevention. Some respondents revealed no changes, but it was

clear in his speeches that accidents were trivialized and also for not believing in

gravity caused by them. CONCLUSION: In the study it was concluded that the

majority were female, worked in private practice and has performed

diurnamente notification of occupational medicine, most autoacidentes was with

percutaneous hollow needle and left hand. The source patient was always

known to the dentist and there were no serological results present that would

enable the treatment of the affected professional. The day with the highest

frequency of accidents was Friday, likely to be the most stressful day.

Practitioners reported changes in behavior after the accident referred to as

biosafety issues and use of PPE, improving exercised dental techniques, self-

care in care, personal and professional boundaries.

Key words: Exposure to biological agents. Dentistry. Occupational accidents.

Occupational Risks. Occupational health.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Prevalência de HBsAg no mundo ............................................ 27

Figura 2 - Prevalência de Hepatite B no Brasil, entre as unidades

federativas ................................................................................. 28

Figura 3 - Prevalência de Anti- HCV no Mundo ....................................... 33

Figura 4 - Fluxograma de resultados ........................................................ 78

Figura 5 - Gráfico do dia da semana que ocorreu o acidente nos

profissionais notificados e profissionais entrevistados. ...... 96

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Conduta na exposição ao HBV ................................................ 31

Quadro 2 - Condutas e Cuidados após acidente ....................................... 46

Quadro 3 - Descrição Sumária do Acidente............................................... 96

Quadro 4 - Fonte de Informação sobre o Risco ...................................... 105

Quadro 5 - Descrição de Protocolo Ativo de Biossegurança................. 107

Quadro 6 - Mudanças ocorridas após o Acidente ................................... 110

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuição de óbitos por AIDS no mundo ............................ 36

Tabela 2 - Estudo caso-controle de fatores de risco para

soroconversão pelo HIV em exposições percutâneas ........... 39

Tabela 3 - Informações sócio demográficas de cirurgiões-dentistas

com exposição a material biológico acompanhados no

ambulatório de acidentes da CCIH do IIER (2008 a 2012) ...... 80

Tabela 4 - Caracterização de acidentes em cirurgiões-dentistas

com exposição a material biológico acompanhados no

ambulatório de acidentes. CCIH - IIER (2008 a 2012) ............. 82

Tabela 5 - Caracterização de acidentes em cirurgiões-dentistas

com exposição a material biológico acompanhados no

ambulatório de acidentes. CCIH - IIER (2008 a 2012) Uso

de EPI(s) ..................................................................................... 83

Tabela 6 - Caracterização do paciente fonte dos acidentes em

cirurgiões-dentistas com exposição a material biológico

acompanhados no ambulatório de acidentes da CCIH do

IIER (2008 a 2012) ...................................................................... 84

Tabela 7 - Informações epidemiológicas dos acidentes em

cirurgiões-dentistas com exposição a material biológico

acompanhados no ambulatório de acidentes da CCIH do

IIER (2008 a 2012) ...................................................................... 86

Tabela 8 - Informações sócio demográficas de 40 dos profissionais

acidentados com exposição a material biológico (2008 a

2012) ........................................................................................... 88

Page 16: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

Tabela 9 - Informações sobre biossegurança de 40 profissionais

acidentados com exposição a material biológico (2008 a

2012) ........................................................................................... 90

Tabela 10 - Informações epidemiológicas de 40 profissionais

acidentados com exposição a material biológico (2008 a

2012) ........................................................................................... 92

Tabela 11 - Informações epidemiológicas de 40 profissionais

acidentados com exposição a material biológico (2008 a

2012) ........................................................................................... 94

Tabela 12 - Informações epidemiológicas de 40 profissionais

acidentados com exposição a material biológico (2008 a

2012) ........................................................................................... 95

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACD Auxiliar de Consultório Dentário

AIDS/ SIDA Síndrome de Imunodeficiência Adquirida

ALT/TGP Alanina Amino Transferase /Transaminase Glutâmica

Pirúvica

Anti-HBc Anticorpos contra Antígeno “core” da Hepatite B

Anti-HBe Anticorpos contra antígeno “e” da Hepatite B

Anti-HBs Anticorpos contra antígeno “superfície” da Hepatite B

Anti-HCV Anticorpos contra vírus da Hepatite C

Anti-HIV Anticorpos contra vírus da Imunodeficiência Humana

ARV Antiretrovirais

AZT Zidovudina

CAT Comunicação de Acidente de Trabalho

CCIH Comissão de Controle de Infecção Hospitalar

CD Cirurgião Dentista

CDC Centers for Disease Control and Prevention

CD4 Linfócitos CD4 (auxiliares)

CFO Conselho Federal de Odontologia

CRO Conselho Regional de Odontologia

CRO/SP Conselho Regional de Odontologia de São Paulo

CV Carga Viral

DNA Ácido Desoxirribonucléico

DORT Doença Óssea Relacionada ao Trabalho

DST Doença Sexualmente Transmissível

EASL European Association for the Study of the Liver

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EPI Equipamento de Proteção Indivídual

FDA Food and Drug Administration

HAART Terapia anti retroviral altamente potente

HBeAg Antígeno “e” do vírus da hepatite B

HbsAg Antígeno “s” do vírus da hepatite B

HBV Vírus da Hepatite B

HCC Carcinoma Hepatocelular

HCV Vírus da Hepatite C

HIV Vírus da Imunodeficiência Humana

IC Intervalo de Confiança

IDV Indinavir

IGHAHB Imunoglobulina Hiper imune contra Hepatite B

IIER Instituto de Infectologia Emilio Ribas

IP Inibidor de Protease

MS Ministério da Saúde

NFV Nelfinavir

OMS Organização Mundial da Saúde

ONU Organização das Nações Unidas

PAS Profissionais da área da saúde

PEP Profilaxia pós-exposição

PU Precaução Universal

QP Quimioprofilaxia Básica

RNA Ácido Ribonucléico

RVS Resposta Virológica Sustentada

SCIH Serviço de Controle de Infecção Hospitalar

SINAN Sistema Nacional de Notificações de Doenças

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SUS Sistema Único de Saúde

TARV Terapias Antiretrovirais

TC Termo de Confidencialidade

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

3 T C Lamivudina

UNAIDS Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/

AIDS

UNAIDS/ONUSIDA Programa Conjunto das Nações Unidas sobre

HIV/VIH/AIDS/SIDA

WHO World Health Organization

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ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO .................................................................................... 22

1.1 Exposição Ocupacional na Saúde ................................................... 23

1.2 Brasil e os acidentes com perfurocortantes ................................... 25

1.3 Profissionais de Saúde e Tipos de Exposições .............................. 25

1.4 Avaliação da exposição no acidente com material biológico ....... 26

1.5 Epidemiologia Hepatite B no mundo ............................................... 26

1.6 Hepatite B e a Contaminação em Profissionais da Saúde ............. 29

1.7 Profilaxia Pós-Exposição para Hepatite B ....................................... 31

1.8 Epidemiologia da Hepatite C ............................................................ 31

1.9 Profilaxia Pós-Exposição para Hepatite C ....................................... 33

1.10 A Epidemia de AIDS no Mundo ........................................................ 35

1.11 A Epidemia de AIDS no Brasil .......................................................... 36

1.12 Risco de Transmissão do vírus da Imunodeficiência Humana ..... 37

1.13 Materiais biológicos e risco de transmissão do HIV ...................... 37

1.14 Profilaxia Pós-Exposição para HIV .................................................. 40

1.15 Quimioprofilaxia ................................................................................ 40

1.16 Odontologia e os riscos de adquirir doenças ocupacionais ......... 43

1.17 Cuidados e condutas após exposição a material biológico, de

acordo com o Ministério da Saúde .................................................. 45

1.18 Notificação do acidente (CAT/SINAN) .............................................. 46

1.19 Prevenção e Medidas de Biossegurança ........................................ 46

1.20 Vacinação ........................................................................................... 51

1.21 Historias de Dentistas com HIV ........................................................ 52

1.22 Medo de acidentes com perfurocortantes ....................................... 54

2 OBJETIVOS ........................................................................................ 57

2.1 Geral ................................................................................................... 58

2.2 Específicos ......................................................................................... 58

3 MÉTODO ............................................................................................. 59

3.1 Tipo de Estudo e Casuística ............................................................. 60

Page 21: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

3.2 Critérios de Inclusão e Exclusão do Estudo ................................... 61

3.3 Local de Estudo ................................................................................. 62

3.3.1 Ficha de Notificação de Acidentes com Material Biológico .......... 62

3.3.2 Questionário sobre Biossegurança ................................................. 66

3.3.3 Questionário sobre o acidente com perfurocortante ..................... 69

3.4 Ética em Pesquisa ............................................................................. 71

3.5 Recursos Financeiros ....................................................................... 71

3.6 Recursos Humanos ........................................................................... 72

3.7 Análise Estatística ............................................................................. 72

3.8 Análise Qualitatitiva .......................................................................... 73

3.8.1 Casuística ........................................................................................... 73

3.8.2 Técnica de coleta de dados .............................................................. 74

3.8.3 Entrevista Semi-Estruturada ............................................................ 74

3.8.4 Análise temática ................................................................................ 74

3.8.5 Tratamento dos dados Qualitativos ................................................. 75

4 RESULTADOS .................................................................................... 77

4.1 Fluxograma de Resultados ............................................................... 78

4.2 Análise Temática ............................................................................... 96

4.2.1 Descrição Sumária do Acidente ....................................................... 97

4.2.1.1 Ordem Pessoal................................................................................... 97

4.2.1.2 Ordem Técnica ................................................................................. 101

4.2.1.3 Ordem do trabalho ........................................................................... 103

4.2.1.4 Reincidências de Acidente ............................................................. 104

4.2.2 Informações sobre Biossegurança ................................................ 104

4.2.2.1 Informação sobre Protocolo em Caso de Acidentes .................... 105

4.2.2.2 Protocolo Ativo de Biossegurança ................................................ 106

4.2.3 Mudanças ocorridas após o Acidente ........................................... 109

4.2.3.1 Ordem Pessoal................................................................................. 111

4.2.3.2 Ordem Técnica ................................................................................. 116

4.2.3.3 Ordem do Trabalho .......................................................................... 119

4.2.3.4 Prevenção de Acidentes ................................................................. 120

5 DISCUSSÃO ..................................................................................... 123

Page 22: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

6 CONCLUSÕES ................................................................................. 141

7 SUGESTÕES .................................................................................... 144

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 147

ANEXOS ........................................................................................................ 158

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22

1 INTRODUÇÃO

___________________________________________________________________

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23

1.1 Exposição Ocupacional na Saúde

O número total de acidentes em profissionais da saúde não é

conhecido, mas a Organização Mundial da Saúde (OMS), em um estudo

realizado de 1989 a 2001, estimou que ocorreram mais de três milhões de

exposições percutâneas com material biológico, entre 35 milhões de

profissionais no mundo, o que resultaria em aproximadamente 16 mil casos de

transmissão de hepatite C (HCV), 66 mil casos de hepatite B (HBV) e 200 a

cinco mil casos de transmissão de Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV)

(World Health Organization (WHO), 2002).

Em 1982, foram publicadas as primeiras recomendações para prevenir

a transmissão ocupacional de HIV pelo Centers for Disease Control and

Prevention (CDC). Estas orientações foram direcionadas a todos os

profissionais de saúde que manipulavam material biológico, bem como

resíduos orgânicos, definindo-se situações de risco para aquisição de doenças

e as medidas de prevenção a serem utilizadas.

O primeiro relato de aquisição de HIV, na ocasião chamado de HTLVIII,

alertou sobre a possibilidade de sua aquisição por acidente ocupacional, por

meio de reencape de agulha com sangue fresco retirado de artéria de paciente

contaminado (Needlestic...,1984). Até junho de 2001, haviam sido relatados 99

casos documentados e 180 suspeitos de aquisição ocupacional do HIV por

profissionais de saúde, dados fornecidos pelo CDC.

Cardo et al. (1997) identificaram fatores de risco envolvidos com

chance maior de aquisição para HIV no acidente ocupacional, em um estudo

caso-controle que contou 33 casos de pacientes com soroconversão e 655

casos-controles dos EUA, Reino Unido, França e Itália. Os fatores de risco

encontrados pelos autores foram: lesão perfurocortante profunda, dispositivo

visivelmente contaminado com sangue do paciente- fonte, dispositivo retirado

de dentro de um vaso do paciente-fonte e paciente-fonte com doenças

terminal. Os autores encontraram, ainda, como fator protetor o uso de

zidovudina (ZDV) pós-exposição.

Page 25: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

24

As secreções consideradas de risco para exposição ao HIV são:

sangue, tecidos, líquor, líquido pleural, líquido sinovial, líquido peritoneal,

líquido pericárdico e líquido amniótico. Secreções não consideradas de risco:

fezes, secreções nasais, saliva, pus, lágrima, urina, suor e vômito (Kuhar et al.,

2013).

Em 2005, as recomendações foram atualizadas exclusivamente para

acidentes com fontes HIV positivos (Bakowski, 2012).

O CDC atualizou as diretrizes para o manejo das exposições

ocupacionais e as medidas a serem empregadas na profilaxia pós- exposição a

HIV em 2001 (incluindo hepatites B e C), 2005 e 2013. Na mais recente, as

recomendações para profilaxia pós-exposição foram elaboradas pelo grupo de

trabalho do Serviço de Saúde Pública americano, juntamente com membros do

CDC, do Food and Drug Administration (FDA), do Health Resources and

Services Administration, do National Institutes of Health (Kuhar et al., 2013).

Os princípios de gestão da exposição permanecem inalterados para

profilaxia pós-exposição (PEP), mas os regimes antiretrovirais recomendados e

a duração do acompanhamento com testes anti-HIV para pessoas expostas

foram atualizados. Houve maior ênfase nas estratégias de prevenção primária,

rápida elaboração de relatórios, gestão de exposições ocupacionais e

priorização na adesão aos regimes propostos quando indicado para uma

exposição (Kuhar et al., 2013).

A testagem para HIV do paciente-fonte facilita a tomada de decisão

sobre a necessidade de administrar PEP depois da exposição ocupacional pela

fonte, para a qual muitas vezes, a sorologia para HIV é desconhecida

(Bakowski, 2012).

O guia do CDC de 2013 identificou alguns desafios como: dificuldades

em determinar o nível de risco de transmissão do HIV para o profissional de

saúde que sofre exposição, problemas em determinar o uso de 2, 3 (ou mais)

drogas no esquema de profilaxia pós-exposição (PEP), a alta frequência de

efeitos colaterais e a toxicidade associados com administração de drogas

previamente recomendadas, e o manejo inicial com o profissional de saúde

Page 26: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

25

exposto, cuja informação sobre dados sorológicos para HIV do paciente-fonte é

desconhecida. Esse guia prevê também, o uso de esquema de Profilaxia para

HIV pós-exposição (PEP) que seja otimamente tolerado, elimina a

recomendação de avaliar o nível de risco associado à exposição do profissional

para determinar o número de drogas recomendadas para PEP, modifica e

expande a lista de antirretrovirais (ARV) que podem ser considerados para uso

na PEP, e oferece opção para finalizar os testes de seguimento para HIV do

profissional acidentado antes de 6 (seis) meses após a exposição (Kuhar et al.,

2013).

1.2 Brasil e os acidentes com perfurocortantes

No Brasil, os acidentes de trabalho com perfurocortantes começaram a

ter maior enfoque na década de 1970, mesmo de forma incipiente. Mas é na

década de 1980 com o advento da AIDS (Síndrome da Imunodeficiência

Adquirida) e com muitas publicações sobre a forma de contrair a doença, que

muitos profissionais de saúde se atemorizaram com o risco de se contaminar e

passaram a tomar cuidados com o risco da aquisição de doenças e também a

fazer uso de equipamentos de proteção individual (EPIs). No entanto, como os

materiais contaminantes sempre veiculam sangue e secreções, esses são

seguidos de muito temor no que se refere à contaminação por HIV e Hepatites.

O risco estimado de contaminação por material contaminado,

considerando-se mucosa íntegra, é em torno de 0,09% e a exposição de pele

íntegra tem risco inferior a 0,09% (Kuhar et al., 2013).

1.3 Profissionais de Saúde e Tipos de Exposições

As exposições que podem trazer riscos de transmissão ocupacional do

HIV e dos vírus das hepatites B (HBV) e C (HCV) são definidas como:

• Exposições percutâneas – lesões provocadas por instrumentos

perfurantes e cortantes, (por exemplo: agulhas, bisturi, vidrarias);

Page 27: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

26

• Exposições em mucosas – por exemplo, quando há respingos na face

envolvendo olho, nariz, boca ou genitália;

• Exposições cutâneas (pele não -íntegra) – por exemplo, contato de

pele com dermatite ou feridas abertas;

• Mordeduras humanas – consideradas exposição de risco quando

envolvem a presença de sangue, devendo ser avaliadas tanto para o

indivíduo que provocou a lesão quanto para àquele que tenha sido

exposto. (Rapparini, Lara, Vitória, 2004)

1.4 Avaliação da exposição no acidente com material biológico

A avaliação dos riscos se inicia imediatamente após o acidente e

baseia-se em anamnese do acidente, caracterização do paciente fonte, análise

do risco, notificação do acidente, orientação de manejo e medidas de cuidado

com o local exposto.

A exposição ocupacional ao material biológico deve ser avaliada

quanto ao potencial de transmissão de HIV, HBV e HCV, com base nos

critérios já mencionados.

1.5 Epidemiologia Hepatite B no mundo

O vírus da hepatite B (HBV) é 57 vezes mais infectante que o HIV

(Brasil, 2000).

A estabilidade do vírus no meio ambiente e a possibilidade de que

quantidades minúsculas de sangue ou secreções contendo esse agente sejam

capazes de transmitir a infecção justificam as hipóteses, fundamentadas em

evidências clínicas, de que o HBV pode ser transmitido por inalação de

gotículas, aerossóis contaminados ou pelo transporte manual para a boca de

partículas contaminadas presentes na superfície de balcões (Martins, Barreto,

2003).

Page 28: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

27

Inquéritos sorológicos realizados em diversos países demonstram uma

maior prevalência da infecção pelo HBV em dentistas do que na população

geral, especialmente entre as especialidades cirúrgicas (Brasil, 2000).

Em termos mundiais, as taxas de prevalência da hepatite B variam

amplamente de 0,1% a taxas superiores a 15%. São considerados de alta

prevalência o Sul da Ásia, a África tropical e China. Levando-se em conta que

muitas pessoas infectadas são assintomáticas e que as infecções sintomáticas

são insuficientemente notificadas, a frequência da hepatite B é, certamente,

ainda subestimada. Na América do Sul, a prevalência aumenta no sentido Sul-

Norte (Gonçalves Junior, 2009). No contexto geral, o Brasil é considerado de

baixa prevalência de infecção pelo vírus da hepatite B (Fonseca, 2008).

Segundo a OMS, a prevalência do HBV varia marcadamente entre as

diferentes regiões do mundo, (Figura 1) e a literatura estabelece distinção entre

áreas de alta, intermediária e baixa prevalência (Brasil, 2008).

Figura 1 - Prevalência de HBsAg no mundo Fonte: Brasil, 2008

Cerca de 2 bilhões de pessoas já foram infectadas pelo HBV, em todo

o mundo, existindo aproximadamente 325 milhões de portadores crônicos, com

1 a 2 milhões de óbitos por ano. O vírus é transmitido de forma horizontal,

acometendo crianças maiores de 5 anos de idade e adultos - pelas vias sexual,

Page 29: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

28

parenteral e cutâneo-mucosa e de forma vertical, de mãe para filho, atingindo

crianças no período perinatal até os 5 anos de idade. O padrão epidemiológico

de prevalência da infecção crônica pelo VHB de uma região tende a ser

definido pela prevalência dos marcadores sorológicos HBsAg, anti-HBc e anti-

HBs. Consideram-se áreas de alta endemicidade aquelas com prevalência

acima de 8% de infecção crônica ou acima de 60% da população com

evidência sorológica de infecção prévia; de endemicidade moderada, aquelas

com prevalência de infecção crônica entre 2% e 7%, ou entre 20% a 60% da

população com evidência sorológica de infecção prévia; e de baixa

endemicidade, as regiões com prevalência de infecção crônica menor que 2%

ou menos de 20% da população com infecção prévia sorologicamente

evidenciada (Nunes et al., 2010).

Figura 2 - Prevalência de Hepatite B no Brasil, entre as unidades federativas

Fonte: Brasil, 2008

Nos últimos cinco anos, a média de casos notificados confirmados de

hepatite B no Brasil foi de 14.000/ano (Brasil, 2002).

Page 30: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

29

Na região Norte, trabalhos recentes mostram que na região de Lábrea,

no Amazonas, a taxa de portadores de HBV passou de 15,3%, em 1988, para

3,7%, em 1998. Na região de Ipixuma, no mesmo estado, esta queda foi de

18% para 7%. A bacia Amazônica é uma região com alta prevalência do HBV.

A região Sul apresenta prevalência moderada, porém o Oeste do

Paraná e de Santa Catarina apresentam alta prevalência (Brasil, 2002,

Fundação Nacional de Saúde (Funasa), 2005).

A totalidade da região Sudeste apresenta baixa endemicidade, com

exceção do Sul do Espírito Santo e do Nordeste de Minas Gerais, onde ainda

são encontradas altas prevalências (Brasil, 2002, 2009, Funasa, 2005).

A região Centro Oeste é de baixa endemicidade, com exceção da

região do médio norte do Mato Grosso, área de transição entra a Amazônia e o

Planalto Central do Brasil. A prevalência nesta região pode ser classificada

como área de transição entre o sul (prevalência baixa) e o norte (moderada e

alta) do estado (Figura 2) (Brasil, 2002, 2008, Funasa, 2005, Souto et al., 1997,

Souto, Fontes, Gaspar, 1998).

A distribuição por faixa etária da hepatite B mostra uma concentração

de casos na faixa de 20 a 39 anos, seguida pela faixa de 40 a 59 anos (Brasil,

2002, 2009; Funasa, 2005).

Essa maior concentração de casos em adultos jovens pode ocorrer

pelas medidas de prevenção adotadas, sobretudo, depois de 2001, com a

prática de vacinação a todas as pessoas menores de 20 anos de idade (Brasil,

2002, 2009; Funasa, 2005).

1.6 Hepatite B e a Contaminação em Profissionais da Saúde

Quanto à exposição a vírus da hepatite, o primeiro caso documentado

de aquisição ocupacional foi publicado em 1949 por Leibowitz. De acordo com

a Organização Mundial da Saúde (OMS), em documento publicado em 2002,

dos 35 milhões de profissionais da área de saúde no mundo, aproximadamente

Page 31: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

30

três milhões se expuseram a acidentes perfurocortantes, sendo dois milhões a

HBV, com uma estimativa de setenta mil infecções por este vírus (WHO, 2002).

O risco de contaminação depende do grau de exposição ao sangue no

ambiente de trabalho, da condição imunológica do profissional e da condição

do paciente – fonte, caracterizada pela presença do antígeno e (HBeAg+) que

expressa a replicação viral deste vírus. Estudos clínicos apontaram que nos

profissionais da área da saúde (PAS) vítimas de ferimentos com agulhas

contaminadas com sangue contendo HBV em que os antígenos de superfície

HBsAg e o HBe Ag estavam presentes, o risco de desenvolver hepatite na

forma clínica variou entre 22% e 31% e o risco de desenvolver evidência

sorológica de infecção por HBV foi de 37% a 62 %. Em comparação, quando

houve exposição com agulha contaminada com sangue HBsAg positivo e

HBeAg negativo, o risco de desenvolver hepatite clínica foi de 1% a 6 % e o

risco de desenvolver evidencia sorológica de infecção por HBV foi de 23% a

37%.

O sangue é o material biológico que tem os maiores títulos de HBV e o

principal responsável pela transmissão do vírus nos serviços de saúde geral e

consultórios odontológicos (Bakowski, 2012).

As exposições percutâneas oferecem maior risco de transmissão. No

entanto, elas são responsáveis por uma minoria de casos ocupacionais de

hepatite B, entre profissionais da saúde. Em investigações de surtos

nosocomiais, a maioria dos profissionais infectados não relata exposiçôes

percutâneas. Em alguns desses estudos, um terço dos profissionais se lembra

do contato com pacientes HBsAg positivos (Centers for Disease Control and

Prevention (CDC), 2001). Isso poderia ser explicado pelo longo período de

sobrevida deste vírus em sangue ressecado em superfícies, podendo alcançar

mais que uma semana (Bond et al., 1983).

Page 32: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

31

1.7 Profilaxia Pós-Exposição para Hepatite B

A profilaxia pós-exposição pode ser feita com a aplicação de vacina, de

imunoglobulina humana anti-hepatite B ou de ambas, conforme a situação.

Vide quadro abaixo.

Tipo de exposição Imunoprofilaxia

Exposição percutânea ou permucosa ao sangue, para profissional que atua na área da saúde/ inclusive equipe de higienização, terceirizado.

Vacina, ou vacina mais imunoglobulina hiperimune anti-hepatite B, ou nada, dependendo da situação vacinal do profissional exposto.

Contato domiciliar e sexual de pessoa HBsAg positivo.

Vacina (fazer a investigação clínica e triagem sorológica do comunicante).

Perinatal. Vacina e imunoglobulina, de preferência nas primeiras 12 horas. Parceiro sexual de paciente com infecção aguda, Vacina e Imunoglobulina.

Parceiro sexual de paciente com infecção aguda.

Vacina e imunoglobulina (sendo a imunoglobulina até 14 dias após a exposição)

Vítima de abuso sexual Vacina e imunoglobulina (sendo a imunoglobulina até 14 dias após a exposição).

Quadro 1 - Conduta na exposição ao HBV Fonte: Pickering, 2000 (Adaptado).

A gamaglobulina comum não é eficaz para profilaxia pós- exposição ao

vírus da hepatite B, porque os títulos de anticorpos são muito baixos, por isso

usa-se a gamaglobulina específica. Pessoas infectadas com o vírus da hepatite

B devem também tomar vacina contra o vírus da hepatite A (Isihi, 2010).

1.8 Epidemiologia da Hepatite C

Estima-se que cerca de 170 milhões de pessoas estejam infectadas

pelo vírus da hepatite C (HCV), no mundo, e 3 a 4 milhões de pessoas sejam

infectadas a cada ano. A infecção por transmissão sanguínea é a mais comum

nos Estados Unidos da América. A infecção apresenta distribuição mundial e

constitui-se em um dos maiores problemas de saúde pública, pois estima-se

Page 33: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

32

que 2,2% da população mundial sejam portadores deste vírus (CDC, 2001,

Focaccia, Galante, Oliveira, 2009, WHO, 1997).

Não se conhece, realmente, a prevalência do HCV no Brasil. Existem

relatos, em diversas áreas, citando, em média, que esteja entre 1% a 2%.

(Alvariz, 2004). Nos últimos 5 anos, a média de casos notificados de hepatite C

foi de 16.500 casos/ano (Brasil, 2009). Os conhecimentos epidemiológicos

sobre a infecção pelo vírus da hepatite C encontram- se em construção

(Focaccia, Galante, Oliveira, 2009).

Segundo dados do Ministério da Saúde, de 1994 a 2005 foram

diagnosticados 52.489 casos, sendo que os dados estão incompletos no último

ano contabilizado nessa série. Um dos poucos estudos de base populacional

realizado na cidade de São Paulo revelou 1,42% de portadores de anti-HCV A

maior prevalência foi encontrada na população com mais de 30 anos de idade

(Brasil, 2009, Focaccia, Galante, Oliveira, 2009, Funasa, 2005).

Com base em dados da rede de hemocentros de pré-doadores de

sangue, a distribuição, em 2002, variou entre as regiões brasileiras: 0,62% no

Norte, 0,55% no Nordeste, 0,28% no Centro-Oeste, 0,43% no Sudeste e 0,46%

no Sul (Brasil, 2009, Funasa, 2005).

A prevalência1 da infecção, com base em dados de doadores de

sangue, pode variar entre índices inferiores a 1,0% no Reino Unido, na

Escandinávia, Nova Zelândia e em algumas áreas do Japão, ou chegar até a

26% em locais como no Egito. A incidência2 de HCV em uma escala global não

é bem conhecida, porque a infecção aguda é geralmente assintomática (Alter,

2007, WHO, 1997, 1997b).

Segundo o Ministério da Saúde (Brasil, 2009), o Brasil é classificado

pela Organização Mundial de Saúde como país de endemicidade intermediária

para hepatite.

1 Prevalência – é a frequencia de casos existentes de uma determinada doença em um dado

momento. (Costa, Kale, 2009, p. 25). 2 Incidência – é a frequência de casos novos de uma determinada doença, num determinado

período de tempo (Costa, Kale, 2009, p. 14).

Page 34: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

33

Figura 3 - Prevalência de Anti- HCV no Mundo Fonte: Brasil, 2008 (Adaptado).

Em casos de infecção pelo HCV, os indivíduos que não eliminam o

vírus têm uma infecção crônica que pode estar associada com sintomas

sistêmicos, como mal-estar, letargia e artrite. Inflamação crônica do fígado

pode levar lentamente à fibrose hepática progressiva e à clinicamente

significativa doença hepática prolongada durante o acompanhamento. Pelo

menos 30% de pacientes cronicamente infectados têm distúrbio de

sangramento e fibrose progressiva desenvolvida culminando em cirrose,

doença hepática em estágio final, e carcinoma hepatocelular (HCC). O principal

objetivo do tratamento de HCV é a erradicação do vírus e a prevenção

progressiva da doença. O ideal seria curar a doença antes do desenvolvimento

de cirrose, não só para evitar a progressão para doença hepática em estágio

final, mas também para reduzir o risco de HCC. Terapia Antirretroviral

altamente ativa (HAART) revolucionou o prognóstico de infecção por HIV de

modo que a infecção pelo HCV também assumiu uma importância muito maior.

De fato, a doença hepática tornou-se a causa mais comum de morte em

pacientes com HIV e co-infecção HCV (Wilde et al., 2011).

1.9 Profilaxia Pós-Exposição para Hepatite C

A estratégia global de prevenção e controle do vírus da hepatite C

(HCV) e doenças relacionadas ao HCV tem como principal objetivo a

Page 35: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

34

prevenção que se baseia na não exposição ao sangue contaminado, pois ainda

não há vacina específica contra hepatite C, e a imunoprofilaxia pós-exposição

com a imunoglobulina comum não está indicada devido à falta de eficácia em

experiência com a sua utilização. Além disso, a imunoglobulina comum é

manufaturada com plasma de doadores testados e sem HCV. Em caso de

acidente biológico, testar o paciente – fonte para vírus da hepatite C.

O indivíduo que sofreu o acidente deverá ser acompanhado e realizar

os seguintes exames laboratoriais: ALT/TGP (Alanina Amino Transferase/

Transaminase Glutâmica Pirúvica), no momento do acidente, seis semanas e

seis meses após o acidente. A sorologia anti-HCV deve ser realizada no

momento do acidente, três e seis meses após o acidente. Para as exposições

de alto-risco com paciente fonte positivo, deve ser feito HCV-RNA nas

primeiras duas horas a seis semanas após o acidente para diagnóstico precoce

de soro conversão. Na positividade dos exames, o paciente deverá ser

encaminhado para um centro de referência (Isihi, 2010).

De acordo com European Association for the Study of the Liver (EASL,

2014), os tratamentos disponíveis para a hepatite C são usados com o objetivo

de curar a doença. Existem pelo menos seis tipos de genótipos da hepatite C.

O tipo 1 é o mais conhecido na Europa. Infelizmente, o tipo 1 responde menos

aos tratamentos atualmente disponíveis para a hepatite C. Fatores como a

idade, o sexo, a duração da infecção, o grau de dano hepático e o

desenvolvimento de cirrose são também importantes para avaliar a

probabilidade de o tratamento ser eficaz. Contrariamente à terapêutica

antiretroviral, o tratamento para a hepatite C não é indefinido no tempo. A

duração do tratamento depende do genótipo pelo qual se é infectado e da

resposta ao tratamento. Um teste na quarta semana determina os

respondedores rápidos e o teste após 12 semanas pode prever se o doente

não vai responder ao tratamento. Os tratamentos atualmente disponibilizados

para a hepatite C são a ribavirina e o interferon peguilado. O tratamento com

interferon peguilado e ribavirina correspondem ao padrão de cuidados

recomendado atualmente. Melhores taxas de resposta são também observadas

quando a ribavirina é dosada de acordo com o peso do doente, evitando

reduções de dose. O objetivo do tratamento é erradicar completamente o vírus

Page 36: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

35

da hepatite C. Muitas vezes, tem-se uma resposta virológica sustentada (RVS),

o que significa que o doente não tem uma carga viral detectável do vírus da

hepatite C no organismo seis meses após o fim do tratamento (EASL, 2014).

O portador de HCV deve receber vacinas contra hepatites A e B, se

necessário.

1.10 A Epidemia de AIDS no Mundo

O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS)

divulgou, em 2011, um levantamento acerca da incidência de HIV na população

mundial. O relatório indicou que no mundo, 34,2 milhões de pessoas viviam

com HIV, sendo 30,7 milhões de adultos. Dentre esse total, 16,7 são mulheres

que já representam metade das pessoas vivendo com HIV em todo o mundo,

com números crescentes em muitos países. Estima-se que 3,4 milhões são

crianças menores de 15 anos.

A África Subsaariana concentrava cerca de 69% das pessoas vivendo

com HIV (23,5 milhões de portadores), seguida pela (UNAIDS, 2012). Ásia

Meridional e Sul-oriental, com 4,2 milhões. Na América Latina, foram 1,4

milhões, enquanto a Oceania tinha a menor estimativa, com 53 mil infectados.

O estudo mostrou também que cerca de 2,5 milhões de novas infecções foram

identificadas no mundo, em 2011, desses, 2,2 milhões em adultos e 330 mil em

menores de 15 anos – o que representa mais de 7 mil novas infecções por dia,

dos quais 97% foram notificados em países de baixa e média renda. O maior

número de casos continua sendo atribuído à África Subsaariana, com 1,7

milhões de novas infecções. Em seguida, aparecem a Ásia Meridional e Sul-

oriental, com 300 mil, e a Europa Oriental e Ásia Central, com 170 mil. Já na

América Latina, cerca de 86 mil pessoas foram infectadas pelo vírus em 2011

(WHO, 2013).

As mortes provocadas pelo HIV em 2011 totalizaram 1,7 milhão,

distribuídas entre 1,5 milhões de adultos e 230 mil menores de 15 anos

(UNAIDS, 2012).

A tabela abaixo aponta o número de óbitos em cada país:

Page 37: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

36

Tabela 1 - Distribuição de óbitos por AIDS no mundo

Fonte: UNAIDS, 2012

1.11 A Epidemia de AIDS no Brasil

No Brasil, em 2010, estimou-se que cerca de 630 mil indivíduos, na

maioria entre 15 e 49 anos de idade, convivam com HIV. Segundo parâmetros

estabelecidos, a epidemia de AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é

concentrada, ou seja, apresenta taxa de prevalência da infecção pelo HIV

menor que 1%, na população em geral, e maior que 5%, em subgrupos

populacionais de risco acrescido para a infecção pelo HIV (Homens que fazem

Sexo com Homens, Usuários de Drogas e Profissionais do Sexo do Gênero

Feminino). Com relação aos casos de AIDS, de 1980 até junho de 2009, foram

identificados 544.846 casos. A taxa de incidência de AIDS vem apresentando

tendência à estabilização em patamares elevados. Em 2008, atingiu 18,2 casos

por 100.000 habitantes. Entretanto, é necessário analisar a epidemia no Brasil

de modo desagregado, pois as diferentes regiões apresentam dinâmicas

diferentes, com declínio da taxa de incidência de AIDS nas regiões Sudeste e

Centro-Oeste, no período de 2000 a 2008, e aumento nas regiões Norte,

Nordeste e Sul. A Região Sudeste ainda concentra o maior percentual de

casos identificados no país com 59,3%; a região Sul, 19,2%; a Nordeste,

11,9%; a Centro-Oeste, 5,7%; e, a Norte, 3,9%. Em média, 36 mil novos casos

de AIDS são identificados a cada ano desde 2004: 0,41%, entre as mulheres,

0,82%, entre os homens, e 3.500 casos de AIDS, entre adolescentes e jovens

de 12 a 24 anos. Há também uma redução de novos casos de AIDS por

Page 38: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

37

transmissão vertical entre crianças, em mais de 60%, nos últimos anos: de 572

casos observados em 2005, passou-se para 361 em 2008, isso em razão da

terapia antirretroviral (Brasil, 2012).

1.12 Risco de Transmissão do vírus da Imunodeficiência Humana

Vários fatores podem interferir no risco de transmissão do HIV. Estudos

realizados estimam, em média, que o risco de transmissão do HIV é de 0,3%

(IC (intervalo de confiança) 95% = 0,2% – 0,5%), em acidentes percutâneos e

de 0,09 % (IC 95% = 0,006 – 0,5%), após exposições em mucosas. O risco

pós-exposições envolvendo pele não-íntegra não é precisamente quantificado,

estimando-se que ele seja inferior ao risco das exposições em mucosas (Kuhar

et al., 2013).

1.13 Materiais biológicos e risco de transmissão do HIV

• Sangue, outros materiais contendo sangue, sêmen e secreções vaginais

são considerados materiais biológicos envolvidos na transmissão do

HIV. Apesar de o sêmen e de as secreções vaginais estarem

frequentemente relacionados à transmissão sexual desses vírus, esses

materiais não estão envolvidos habitualmente nas situações de risco

ocupacional para profissionais de saúde.

• Líquidos de serosas (peritoneal, pleural, pericárdico), líquido amniótico,

líquor e líquido articular são fluídos e secreções corporais

potencialmente infectantes. Não existem, no entanto, estudos

epidemiológicos que permitam quantificar os riscos associados a estes

materiais biológicos. Exposições a esses materiais devem ser avaliadas

de forma individual, já que, em geral, tais materiais são considerados de

baixo risco para transmissão viral ocupacional.

• Suor, lágrima, fezes, urina, vômitos, secreções nasais e saliva (exceto

em ambientes odontológicos) são líquidos biológicos sem risco de

transmissão ocupacional. Nesses casos, as profilaxias e o

Page 39: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

38

acompanhamento clínico-laboratorial não são necessários. A presença

de sangue nesses líquidos torna-os materiais infectantes.

• Qualquer contato sem barreira de proteção com material concentrado de

vírus (laboratórios de pesquisa, com cultura e em grandes quantidades)

deve ser considerado uma exposição ocupacional que requer avaliação

e acompanhamento.

As estimativas baseiam-se em situações de exposição a sangue; o

risco de infecção associado a outros materiais biológicos é provavelmente

inferior. Casos de contaminação ocupacional pelo HIV podem ser

caracterizados como comprovados ou prováveis. De maneira geral, casos

comprovados de contaminação por acidente de trabalho são definidos como

aqueles em que há evidência documentada de soroconversão e sua

demonstração temporal associada à exposição ao vírus. No momento do

acidente, os profissionais apresentam sorologia não reativa, e durante o

acompanhamento se evidencia sorologia reativa. Alguns casos em que a

exposição é inferida (mas não documentada) também podem ser considerados

como casos comprovados de contaminação quando há evidência de homologia

da análise sequencial do DNA viral do paciente-fonte e do profissional de

saúde. Casos prováveis de contaminação, são aqueles em que a relação

causal entre a exposição e a infecção não pode ser estabelecida porque a

sorologia do profissional acidentado não foi obtida no momento do acidente. Os

profissionais de saúde apresentam infecção e não possuem nenhum risco

identificado para infecção diferente da exposição ocupacional, mas não foi

possível a documentação temporal da soroconversão (Kuhar et al., 2013).

Os cinco primeiros casos de AIDS ocorridos em Los Angeles,

Califórnia, foram publicados pelo Centers for Disease Control and Prevention

(CDC) em 05 de junho de 1981 em sua edição oficial MMWR- Morbidity and

Mortality Weekly Report (CDC, 1981). Desde o início da epidemia da AIDS, em

1981, até o momento atual, 103 casos comprovados e 219 casos prováveis de

profissionais de saúde contaminados pelo HIV por acidente de trabalho foram

publicados em todo o mundo (Bakowski, 2012).

Page 40: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

39

O risco maior de transmissão com acidentes percutâneos esteve

associado às exposições com grande quantidade de sangue do paciente-fonte.

Destacam-se: a) dispositivo visivelmente contaminado pelo sangue do

paciente; b) procedimentos com agulha diretamente inserida em acesso arterial

ou venoso; e c) lesão profunda. A indicação do uso profilático do AZT

(zidovudina) esteve associado à redução de 81% do risco de soroconversão,

após exposição ocupacional (Tabela 2). Esse mesmo estudo mostrou que um

risco aumentado de transmissão também esteve relacionado com exposições

envolvendo pacientes com AIDS em fase terminal (Cardo et al., 1997 ).

O Profissional de saúde que sofreu exposição ao HIV deve receber

orientações, fazer teste pós-exposição e passar por avaliação médica para

decisão de usar ou não PEP. Após o teste, o profissional deverá ser

acompanhado em novos testes por- 6 semanas, 12 semanas e 6 meses após a

exposição. O profissional deve ser assistido por 12 meses quando houver

também exposição com vírus HCV (Kuhar et al., 2013).

Tabela 2 - Estudo caso-controle de fatores de risco para soroconversão pelo HIV em exposições percutâneas

FATOR DE RISCO ODDS RATIO IC 95%

Lesão profunda 15 6.0 – 41

Sangue visível no dispositivo 6.2 2.2 – 21

Agulha previamente em veia ou artéria do paciente-fonte

4.3 1.7 – 12

Paciente-fonte com aids em fase terminal

5.6 2.0 – 16

Uso de zidovudina após exposição

0.19 0.06 – 0.52

Fonte: Cardo et al., 1997.

Quando o paciente-fonte tem HIV um especialista no assunto deve ser

consultado para recomendação do melhor esquema de Profilaxia Pós -

Exposição (PEP) a ser prescrito para o profissional exposto.

Para fins de vigilância epidemiológica, as hepatites podem ser

agrupadas de acordo com a forma de transmissão. No primeiro grupo têm-se

Page 41: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

40

as hepatites transmitidas por via oro-fecal (vírus A e E), cujo mecanismo de

transmissão é ligado às condições de saneamento básico, higiene pessoal,

contaminação da água e alimentos. O segundo grupo (vírus B, C e D) tem

transmissão via parenteral, sexual, vertical, por vários mecanismos, como

material contaminado, seja para uso de drogas ilícitas, seja para higiene

pessoal, e perfuração corporal, entre outras (Brasil, 2008, Ferreira, Silveira,

2004).

1.14 Profilaxia Pós-Exposição para HIV

Para Cardo et al. (1997), os acidentes de trabalho com sangue e outros

fluidos contaminados devem ser tratados como casos de emergência medica ,

uma vez que as intervenções para profilaxia de infecção pelo HIV e Hepatite B

necessitam ser iniciadas o quanto antes para sua maior eficácia.

A recomendação do uso de AZT (zidovudina) passou a ter uma maior

adesão quando se evidenciou a redução de transmissão materno-infantil de

mães soropositivas, apesar de não ser bem entendido o mecanismo de

atuação da droga na profilaxia, uma vez que não é inteiramente explicado pela

redução da carga viral. O regime profilático não é infalível pelo fato de se

conhecer seis relatos de aquisição de HIV apesar do HAART (terapia

antirretroviral altamente potente) dentro das duas horas preconizadas

(Bakowski, 2012).

1.15 Quimioprofilaxia

A administração de anti-retrovirais (ARVs) para profissionais de saúde

que sofreram exposição acidental ao material biológico de pacientes HIV

positivos foi defendida inicialmente pelo National Comission on Aids dos EUA

em 1993, e, posteriormente, foi recomendada pelo CDC, que considerou os

seguintes dados:

• Redução de 69% na transmissão materno-fetal de HIV com AZT;

Page 42: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

41

• Redução da viremia associada ao uso de ARV, o aumento de sobrevida

com redução de viremia com os esquemas combinados de ARV e a

identificação de casos de falha na profilaxia pós-exposição com AZT

isoladamente levaram à opção de associação de drogas. É importante

sempre considerar que o uso indiscriminado dos ARV propicia a seleção

de cepas resistentes, aumenta o risco de toxicidade para o profissional

de saúde e eleva os custos no sistema de saúde;

• A decisão de se considerar ou recomendar a administração de

antirretrovirais para profissionais expostos a fluidos biológicos deve levar

em consideração o tipo de exposição (gravidade, volume de material

biológico, profundidade) e o paciente-fonte. As situações não previstas

devem ser avaliadas caso a caso, visando benefício do acidentado.

.No Brasil, a administração de quimioprofilaxia (QP) pós-exposição foi

preconizada pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e pelo

Ministério da Saúde, em 1999. O Programa Estadual de AIDS e o Instituto de

Infectologia Emílio Ribas iniciaram, em 1999, um programa para o atendimento

dos profissionais acidentados com material biológico. (Cavalcante, Monteiro,

Barbieri, 2003).

A partir de 2001, a Prefeitura do Município de São Paulo iniciou o seu

programa de atendimento a profissionais acidentados, com ampliação da rede

pública de atendimento. Em dezembro de 2001, a Coordenação Nacional DST/

AIDS do Ministério da Saúde publicou as “Recomendações para Terapia

Antirretroviral em Adultos e Adolescentes Infectados pelo HIV – 2001.

(Rapparini, Lara, Vitória, 2004).

Nas novas recomendações para profilaxia pós-exposição elaboradas

pelo grupo de trabalho do Serviço de Saúde Pública Americana juntamente

com o CDC e FDA, em setembro de 2013, ressaltam:

• Em situações de menor risco, recomenda-se o uso de esquemas

envolvendo duas drogas antirretrovirais análogas de nucleosídeo,

preferencialmente, a associação AZT + 3TC.

Page 43: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

42

• Em situações de maior risco, recomenda-se o uso de esquemas

potentes com inibidores de protease, preferencialmente, o AZT + 3TC,

juntamente com o nelfinavir ou indinavir ou, ainda, associação indinavir

com ritonavir (este como adjuvante farmacológico para o indinavir).

• A nevirapina não é recomendada em esquemas de profilaxia pós-

exposição, devido aos relatos de reações adversas graves com o

medicamento nessas situações.

• Deve-se considerar a possibilidade de utilizar esquemas alternativos em

situações de exposição com risco elevado de resistência.

• Recomenda-se enfaticamente que as sorologias dos pacientes-fonte

sejam realizadas.

• Acidentes com fonte desconhecida ou com paciente com sorologia anti-

HIV desconhecida, em geral, não devem ser medicados com

antirretrovirais. Nessas situações, o uso da profilaxia pós-exposição

deverá ser considerada com base na gravidade do acidente e na história

clínico-epidemiológica do paciente. A Quimioprofilaxia básica (QP) está

indicada quando há risco conhecido de transmissão do HIV e consiste

na aplicação AZT (Zidovudina) + 3TC (Lamivudina). Já a

Quimioprofilaxia expandida está indicada quando há risco elevado de

transmissão pelo HIV e consiste na aplicação de aplicação AZT

(Zidovudina) + 3TC (Lamivudina) +IP (Inibidor de Protease) que são

Indinavir (IDV) ou Nelfinavir (NFV). Pelo fato de a quimioprofilaxia

apresentar potencial de toxicidade, o seu uso não é justificado em

exposições com risco desprezível de transmissão pelo HIV. Além disso,

pelo fato de haver inexistência de evidências suficientes de benefício, o

uso de esquemas expandidos não é recomendado para todos os tipos

de exposições. Emtricitabini é uma droga nova utilizada na

quimioprofilaxia para HIV em exposições com perfurocortantes e,

também, para exposição sexual. (Kuhar et al., 2013).

Page 44: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

43

1.16 Odontologia e os riscos de adquirir doenças ocupacionais

A odontologia é uma profissão com muita atividade cirúrgica e a

preocupação com contaminação pelos cirurgiões-dentistas tem aumentado

devido ao uso de instrumentos rotatórios e inalação de partículas de aerossóis

durante procedimentos em salas reduzidas (Artuzi, Bercini, Azambuja 2009).

Há, na prática odontológica, diferentes riscos profissionais que cabem

mencionar, a saber: riscos físicos (ligados ao manuseio de instrumentos

perfurocortantes, além do contato com radiações, ruídos, etc.), riscos químicos

(pela manipulação de materiais dentários, muitas vezes, tóxicos), riscos

biológicos (contaminação por fungos, bactérias e vírus), riscos mecânicos

(ergonômicos ligados a posturas de trabalho inadequadas e movimentos

repetitivos prolongados e riscos de acidentes, que podem ser potencializados

devido à sobrecarga de trabalho (Jorge, 2002).

O ambiente de trabalho, suas instalações e equipamentos associados

ao tipo de atividade desenvolvida, no caso, o controle e prevenção de doenças,

expõem o cirurgião-dentista a manifestações patológicas do tipo

infectocontagiosa como hepatites, herpes e AIDS; ou crônico-degenerativas,

decorrentes de efeitos cumulativos, como intoxicação por mercúrio, postura

corporal inadequada, Doença Óssea Relacionada ao Trabalho (DORT) e

efeitos da radiação ionizante.

De acordo com a Norma Regulamentadora n°6 (NR6) do Ministério do

Trabalho e Emprego, a qual especifica os diversos tipos de equipamentos de

proteção individual seja para risco físico, químico, mecânico ou biológico, todo

trabalhador exposto a ruído (risco físico) acima do estabelecido pela NR 15,

que determina os limites de tolerância para ruído contínuo e intermitente, deve

fazer uso de protetor auricular como equipamento de proteção individual (EPI)

(Lopes Netto, Barreto, 2014).

A prevenção dos riscos ocupacionais é essencial ao bom desempenho

profissional e está diretamente relacionada à qualidade do trabalho

desenvolvido. A consciência desse fato tem feito com que empresas e

instituições adotem programas específicos com enfoque educativo e de

Page 45: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

44

priorização do uso de equipamentos de proteção individual – (EPI), de suma

importância na formação de uma barreira segura contra riscos ocupacionais.

Todos esses riscos ocupacionais podem ser reduzidos, senão

eliminados, com cuidados específicos e aplicação de normas e rotinas de

biossegurança como meios de prevenção, a começar pelo uso das precauções

Universais (PU), e introduzidas pelo CDC, em 1985. O CDC destaca o risco de

contaminação por quaisquer fluidos corporais, com ênfase para o sangue,

devendo tais métodos serem aplicadas a todos os pacientes e não somente

aos suspeitos ou a portadores de patógenos de alta transmissibilidade

(Fernandes, Ribeiro Filho, Barroso, 2000).

Os cirurgiões-dentistas percebem que podem sofrer contaminações

que os colocam em risco, bem como levá-los aos seus familiares, mas nem

sempre, possuem uma percepção diferenciada da diminuição de riscos ou

ausência destes na profissão. Entendem, muitas vezes, que tais riscos são

inerentes ao próprio trabalho. Dentre as patologias causadas por contaminação

biológica, encontram-se: hepatites, principalmente tipo B e C e AIDS, além de

outras, tão comprometedoras da saúde como: tuberculose, pneumonia, gripe,

meningite, conjuntivite, sífilis e infestação por piolhos. Inquéritos sorológicos

realizados em diversos países demonstram, quase invariavelmente, uma maior

prevalência da infecção pelo HBV em dentistas do que na população geral,

especialmente entre as especialidades cirúrgicas (Martins, Barreto, 2003).

Há também, fatores determinantes de tensão e estresse que estão

relacionados ao fato de lidar com o medo, a ansiedade e o nervosismo dos

pacientes, o manejo de instrumentos cortantes, com risco para o profissional e

paciente, quebra de equipamentos, eventuais precariedades nas condições de

trabalho, isolamento do profissional no consultório, ausência de pessoal auxiliar

(ACD e/ou THD), trabalho repetitivo, carga de trabalho além do normatizado -

(5 a 8 atendimentos/turno) - e fatores financeiros. Há também as síndromes,

como a de Burnout, que podem se desenvolver nestes profissionais levando à

exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional, uma

vez que se caracterizam pelo contato direto com a prestação serviços (Carlotto,

2009).

Page 46: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

45

Essas situações contribuem para debilitar o organismo, predispondo-o

a contrair doenças, além de determinar a insatisfação e a fadiga mental que se

manifestam como: irritabilidade, dificuldade de concentração e de

relacionamento, lapsos de memória, perturbação da libido, insônia ou

hipersônia, sentimento de culpa e de solidão, ansiedade e depressão (Campos

et al., 2010).

1.17 Cuidados e condutas após exposição a material biológico, de

acordo com o Ministério da Saúde

Condutas após o acidente e Cuidados com a área exposta

Lavagem do local exposto com água e sabão nos casos de

exposição percutânea ou cutânea.

Não há evidência de que o uso de anti-sépticos ou a expressão do

local do ferimento reduzam o risco de transmissão, entretanto, o uso

de anti-séptico não é contra-indicado.

Nas exposições de mucosas, deve-se lavar exaustivamente com

água ou solução salina fisiológica.

Não devem ser realizados procedimentos que aumentem a área

exposta, tais como cortes, injeções locais ou expressão local e nem

a utilização de soluções irritantes (éter, glutaraldeído, hipoclorito de

sódio) também está contra-indicada.

Orientações e aconselhamento ao acidentado

Notificar o acidente.

Discutir o risco de aquisição de doenças.

Avaliar uso de quimioprofilaxia.

Realizar exames sorológicos do profissional e da fonte consentidos.

Comprometer o acidentado com seu acompanhamento. (na maioria

das vezes, são seis (6) meses de seguimento).

Prevenir a transmissão secundária adotando a prática do sexo

seguro.

Fornecer suporte emocional devido ao estresse pós-acidente.

Page 47: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

46

Orientar o acidentado a relatar, imediataente, os seguintes sintomas:

linfoadenopatia, exantema, dor de garganta, sintomas gripais

(sugestivos de soro-conversão aguda).

Reforçar a prática de biossegurança e precauções básicas em

serviço.

Quadro 2 - Condutas e Cuidados após acidente Fonte: Brasil, 2009.

1.18 Notificação do acidente (CAT/SINAN)

Devido à importância de alguns aspectos relacionados ao acidente,

apresenta-se, de forma mais pormenorizada, a notificação do acidente e quais

as informações são úteis para as condutas adicionais. (Cavalcante, Monteiro,

Barbieri, 2003).

No momento do acidente, deverá ser feita a notificação à chefia

imediata, que, por sua vez, notificará o Serviço de Controle de Infecção

Hospitalar (SCIH) e/ou o setor responsável para avaliar o acidente e determinar

a conduta, o mais precocemente possível, idealmente nas primeiras duas

horas, e, no máximo, até 72 horas após o acidente. O Departamento Pessoal

deve emitir a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), cujo verso será

preenchido pelo médico do trabalho que atender o acidentado, a fim de

documentar o acidente para efeitos legais e preenchimento da ficha de

notificação do Sinan, conforme Portaria n.º777 do Ministério da Saúde (Brasil,

2004).

É importante que tais casos sejam bem documentados e notificados ao

Programa Estadual DST/AIDS para que se possam ter dados consistentes da

ocorrência dos acidentes no estado e para que se possa trabalhar com controle

e prevenção desses casos (Rapparini, Lara, Vitória, 2004).

1.19 Prevenção e Medidas de Biossegurança

A biossegurança é definida por Müller e Mastroeni (2004) como a

aplicação de técnicas e equipamentos para prevenir e exposição do

Page 48: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

47

trabalhador, laboratório a agentes potencialmente infecciosos ou biorriscos.

Risco é a chance de ocorrer prejuízo, dano ou perda. Perigo compreende algo

que possa causar dano: um objeto, um produto químico, um agente infeccioso

ou uma situação.

Para evitar riscos, um importante fator de proteção veio fazer parte do

dia a dia dos cirurgiões dentistas, a saber, os EPIs. Os Equipamentos de

Proteção Individual (EPIs) são regulamentados pela Norma Regulamentadora

número 6 do Ministério do Trabalho. São eles que conferem proteção a cada

profissional individualmente e estão incluídos nas medidas de precaução-

padrão. Essas medidas incluem o uso de luvas, máscaras, óculos de proteção,

aventais (EPI regulamentada através da Norma Regulamentadora da Portaria

3.214 do Ministério do Trabalho). Incluem, ainda, cuidados com a manipulação

e descarte de agentes perfurocortantes e com materiais e equipamentos

utilizados no atendimento aos pacientes. Tais cuidados devem ser tomados

com todos os pacientes quando existir manipulação de sangue, secreções,

contato com mucosa e pele não íntegra, independente do diagnóstico ou

estado presumido da doença infecciosa (Hepatites B e C, HIV, Tuberculose,

etc.). Essas medidas de prevenção são atualmente denominadas de

“Precauções Padrão” e são consideradas as melhores alternativas a fim de

evitar o contágio preservando a saúde dos trabalhadores expostos, visto que

as medidas pós-exposição nem sempre são tomadas pelos profissionais que

muitas vezes, não consideram a relevância da gravidade de riscos (Teixeira et

al., 2008).

Há outros fatores que podem resultar em contaminação, como não

seguir normas de biossegurança propostas pelos conselhos de suas

categorias, bem como, muitas vezes por falta de conhecimento específico,

displicência ou falta de correta orientação diante de acidentes ou riscos deles.

O controle dos riscos em saúde tem representado sempre um esforço

na busca da proteção contra as ameaças à vida humana. Identificar e reduzir

os riscos é uma das metas da saúde pública e esta diretamente relacionada à

promoção da saúde, por meio de estratégias de intervenção que promovam

melhores condições de vida e saúde.

Page 49: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

48

Outras formas mencionadas como proteção para o risco biológico

foram: material esterilizado por meio de uso com autoclave, boa anamnese do

paciente, considerar todos como potencialmente portadores de HIV e Hepatite,

tomar vacina contra hepatite tipo B e realizar sorologia, uso de barreiras

mecânicas como sugador descartável e uso de rolos plásticos nas cadeiras

odontológicas (Pinho, Rodrigues, Gomes, 2007).

Dentre as causas dos acidentes com perfurocortantes que acometem

os cirurgiões dentistas, vale destacar: uso inadequado dos EPIs, resistência em

adotar medidas preventivas recomendadas, postura de trabalho com

retorcimento e encurvamento de coluna, descarte inadequado de

perfurocortantes (agulhas e seringas) utilizados rotineiramente,

desconsideração de gravidade de contaminação nos materiais descartáveis

como máscaras que devem ser descartadas a cada 20 minutos, por exemplo,

ou gorros que protegem cabelos da contaminação por aerossóis (Damasceno

et al. 2006).

Um EPI muito importante na rotina odontológica são as luvas que,

embora não protejam os profissionais das perfurações das agulhas, está

comprovado que diminuem a penetração de sangue em até 50% de seu

volume (Jorge, 2002).

A indicação de dois pares de luvas tem grande importância quando

utilizadas em procedimento cirúrgicos de longa duração e sangramento profuso

e conferem proteção extra contra a contaminação. A utilização de luvas são

sempre recomendas em qualquer procedimento, até mesmo para exames

clínicos simples ou quando houver manipulação de sangue ou fluidos bucais.

Também, não se dispensa a lavagem de mãos, pois, além de reduzir bactérias

presente nas mãos, previne irritações na pele íntegra. Para uso de luvas, são

preconizadas práticas que incluem: não manipular objetos fora do campo de

trabalho, retirar as luvas imediatamente após o uso, não tocar na parte externa

das luvas ao removê-las, lavar as mãos quando remover as luvas (Jorge,

2002).

Page 50: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

49

A necessidade de proteger o homem de infecções data de muito

tempo. Lister, em 1864, estudando os métodos de Pasteur, desenvolveu

técnicas para impedir o acesso de microorganismos aos ferimentos cirúrgicos,

com a finalidade de evitar infecção microbiana (sepsia) nos tecidos após

cirurgia e preconizou para os cirurgiões que: “A contaminação deve,

obrigatoriamente, ser vista com seus olhos mentais de maneira distinta do que

podem fazer seus olhos corporais” (Jorge, 2002).

Diante disso, vale ressaltar que os procedimentos necessários para o

controle da infecção cruzada vão desde os métodos preventivos e os de

descontaminação e esterilização do material e ambiente, até as medidas a

serem tomadas em caso de suposta ocorrência de contaminação, por meio das

medidas de prevenção pós-exposição.

Sabe-se que o risco de aquisição de HIV após uma exposição

ocupacional é muito baixo. Henderson et al.,1990, revisaram 23 estudos sobre

lesões perfurocortantes, em funcionários da saúde expostos a um paciente-

fonte HIV, na era pré-terapia antirretroviral altamente potente (HAART) e

encontraram transmissão de HIV em 20 de 6135 casos (0,33%), um caso de

transmissão de HIV em 1143 exposições de mucosas (0,09%) e a ausência de

casos de transmissão após 2712 exposições de pele íntegra.

Além disso, é importante verificar o tipo de conduta do profissional

diante do caso e, principalmente, se há o conhecimento sobre o que fazer após

a ocorrência de acidentes com material contaminado, com a ferida, caso haja

perfuração, informações sobre a fonte (paciente contaminado ou não), local e

atendimento e tratamento e quanto tempo após o acidente o serviço foi

procurado. Essas informações são, pois, de extrema importância para o serviço

de saúde pública, no que se refere ao atendimento e à conduta clínica a ser

tomada.

É importante ressaltar a necessidade de se implementar ações

educativas permanentes, que familiarizem os profissionais de saúde com as

precauções universais e os conscientizem da necessidade de empregá-las

adequadamente, uma vez que as medidas profiláticas pós -exposição não são

Page 51: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

50

totalmente eficazes, quando isoladas, e como medida mais eficaz para a

redução do risco de infecção pelo HIV ou hepatite em ambiente ocupacional.

Nos últimos anos, manuais de orientação e recomendações aos

profissionais da saúde têm disponibilizado informações específicas para

desinfecção e esterilização de equipamentos utilizados tanto na área médica,

quanto odontológica, bem como normas para prevenção e conduta em

acidentes ocupacionais com material biológico.

Sabe-se que a exposição ocupacional a patógenos transmitidos por

sangue vai além do comprometimento físico, a curto ou a longo prazos, e

podem afetar outros aspectos da saúde profissional, tais como: controle

emocional, social e até financeiro. O acidente envolvendo material biológico

potencialmente contaminado pode trazer repercussões psicossociais ao

profissional acidentado, levando mudanças nas relações sociais, familiares e

de trabalho (Damasceno et al., 2006).

Para muitos cirurgiões-dentistas, é conhecida a adoção de medidas de

controle que possibilitem o combate às doenças infecciosas, assepsia aos

pacientes, independente de planejamento cirúrgico responsável, a manipulação

de materiais, limpeza, desinfecção e paramentação da sala, a antissepsia e a

paramentação do profissional, preparo do paciente e o destino dos dejetos

destes procedimentos, para garantir, na prática, a eficiência e conscientização

dos procedimentos, sem riscos de infecção para pacientes ou para cirurgiões

(Faizibaioff, Kignel, 2000).

O emprego de luvas tornou-se uma prática muito difundida entre os

profissionais da área da saúde, no entanto, há profissionais que ainda alegam

aumento dos custos pela adoção desta prática, mesmo no tocante ao uso de

luvas cirúrgicas (Melo, Smaha, 2002).

De acordo com o Inmetro, os profissionais da saúde que utilizam luvas

no atendimento de rotina ou cirúrgicas, relatam problemas quanto à baixa

qualidade do material, no que se refere a defeitos de fabricação, baixa

resistência e rompimento ao calçá-las e, muitas vezes, presença de furos e, por

Page 52: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

51

ser um equipamento de proteção individual (EPI), não oferece garantia para a

finalidade a que está destinada (Inmetro, 1998).

1.20 Vacinação

Os cirurgiões-dentistas tiveram acesso à vacina contra hepatite B, em

1995, pela campanha de âmbito nacional do Conselho Federal de Odontologia

(CFO) e de suas representações regionais. No Estado de São Paulo, o

Conselho Regional de Odontologia (CRO) foi o órgão encarregado de

promover a vacinação, com inclusão de cirurgiões-dentistas, estudantes de

Odontologia, Técnicos de higiene dental, auxiliares de consultório dentário,

técnicos de prótese dental, estudantes de prótese e auxiliares de prótese

dental (São Paulo (Estado), 1997).

Art. 1º - Torna-se obrigatória e rotineira a vacinação contra Hepatite B para as puérperas, crianças menores de um ano e profissionais de risco, nos hospitais púbicos e naqueles contratados pelo Sistema Único de Saúde - SUS. Art. 2º - Entende- se, para efeitos de aplicação desta Lei, por profissionais de risco, os seguintes: I - técnicos de laboratórios; II- médicos; III-odontólogos; IV-enfermeiros; V- auxiliares de enfermagem. (Rio de Janeiro (Estado), 1998).

A medida preventiva da transmissão de HBV ainda é a vacinação pré-

exposição contra hepatite B, para os profissionais da saúde, com indicação

também para profissionais que se expõem a materiais biológicos, como

equipes de higienização e de apoio. A vacinação consiste em três doses, com

intervalos de zero, um e seis meses. Depois de um a dois meses após a última

dose, o teste sorológico anti-HBs pode ser realizado para confirmação de

resposta vacinal (presença de anticorpos protetores com títulos acima de 10

mUI/ ml). Quando não há resposta vacinal adequada após a primeira série de

vacinação, grande parte dos profissionais (até 60%) responderá a uma série

adicional de três doses. Caso persista a falta de resposta, não é recomendada

uma revacinação. Deve-se lembrar, ainda, que a vacina contra hepatite B é

extremamente segura e eficaz, apresentando de 90% a 95% de resposta

vacinal e as doses de reforço não são recomendadas de rotina, uma vez que

Page 53: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

52

os indivíduos que respondem à série básica permanecem imunes, mesmo

quando os anticorpos anti-HBs tornam-se baixos ou indectáveis.

No mundo, observa-se que os trabalhadores não manifestam

motivação para adotar essa medida de proteção, mesmo recebendo

gratuitamente as três doses da vacina (Brasil, 2000).

De acordo com dados de 1997, do Conselho Regional de Odontologia

do Estado de São Paulo (CROSP), havia 51.244 cirurgiões-dentistas inscritos

para vacinação em 1995. Destes, 64,5% tomou a primeira dose, 58,44%, a

segunda dose, e 49,51%, a terceira dose (São Paulo (Estado), 1997).

1.21 Historias de Dentistas com HIV

Em 1990, foi notificado o falecimento de um cirurgião- dentista, na

Flórida, de nome David Acer e que contaminou seis de seus pacientes. Uma

das pacientes infectadas, Kimberly Bergalis, adoeceu e fez campanhas

exigindo a criação de leis que impedissem o exercício da profissão por

profissionais infectados. O Centers for Diseases Control and Prevention (CDC)

demonstrou que o vírus dos pacientes realmente era o mesmo do dentista ao

comparar a sequência de nucleotídeos dos vírus dos pacientes e de Acer. Mas,

não se sabe ao certo como as infecções aconteceram. Posteriormente, a

equipe do CDC relatou ter dúvidas sobre as circunstâncias das transmissões

(CDC, 1991).

Até setembro de 2000, 132 casos de CDs com AIDS foram notificados

ao Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo. No Brasil, não

se tem conhecimento de caso de transmissão de HIV/AIDS de paciente para

CD e vice-versa. A redução na transmissão de HIV é, aproximadamente, 81%

para indivíduos que fazem uso de terapia antirretroviral como profilaxia pós-

exposição em acidentes percutâneos.

O risco de adquirir HBV com material perfurocortante contaminado com

sangue pode variar de 6 a 30 %, caso nenhuma medida com profilaxia

medicamentosa seja executada. O risco de contrair HCV pós-exposição é de

Page 54: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

53

1,8 %, aproximadamente, e a maioria dos infectados evoluem para doença

crônica (CDC, 2001).

Recentemente, houve uma notificação que alertou cerca de 7 mil

pessoas que poderiam ter sido expostas ao HIV e outras doenças infecciosas

num consultório dentário de Oklahoma, onde foram descobertos procedimentos

impróprios de biossegurança quanto a esterilização e utilização de

instrumentos enferrujados, noticiados pela mídia em 29/03/2013. A

investigação teve início depois que um paciente do doutor Wayne Scott

Harrington, de Tulsa, foi diagnosticado com hepatite C e HIV, após fazer

exames rotineiros para doar sangue e registrou uma queixa contra o cirurgião

dentista. Quando ficou determinado que o paciente não esteve envolvido em

comportamentos associados a doenças transmissíveis pelo sangue,

investigadores foram ao consultório de Harrington e encontraram uma série de

violações, segundo a queixa feita pelo Conselho de Odontologia de Oklahoma.

De acordo com informações, ampolas e agulhas eram usadas várias vezes em

pacientes diferentes, causando risco de contaminação, e sem cuidados de

biossegurança. Um conjunto de instrumentos utilizado em portadores de

doenças infecciosas também foi encontrado e estava enferrujado. O cirurgião-

dentista, de 64 anos, manteve um consultório num subúrbio de Tulsa, por 35

anos. Sua licença profissional foi entregue, o consultório foi fechado e ele está

cooperando com as investigações locais que seguem em sigilo. (Olafson,

2013).

Em setembro de 2013, de acordo com o Departamento de Saúde do

Estado de Oklahoma e o Departamento de Saúde de Tulsa gastaram cerca de

710.000 dólares em fundos federais, estaduais e locais para fazer os exames

de doenças infecciosas em 4208 pacientes e anunciaram que nenhum caso de

HIV foi associado a clínica. Entretanto, eles confirmaram que um caso de

transmissão do vírus da hepatite C ocorreu de paciente para paciente, na

clínica e foi o primeiro documento relatado e associado à odontologia nos EUA.

No total, o laboratório de saúde publica de Oklahoma finalizou os exames de

4208 pacientes, dos quais 90 pacientes foram testados positivamente para

hepatite C, seis em hepatites B e quatro em HIV (Moisse, 2013).

Page 55: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

54

Os profissionais de odontologia podem adquirir doenças infecciosas

durante o trabalho, especialmente hepatites B e C. O conhecimento das

situações de risco motivaram-nos na busca de técnicas seguras e na adoção

de medidas que minimizem tais riscos. No presente estudo, buscou-se

identificar práticas de biossegurança adotadas pelos cirurgiões-dentistas antes

de acidentes com perfurocortantes e as mudanças de comportamento que

ocorreram após esses acidentes.

1.22 Medo de acidentes com perfurocortantes

O acidente de trabalho com agulhas e instrumentos cortantes origina

alterações na estrutura física do profissional, em virtude das perfurações e/ou

cortes ocasionados por materiais desta natureza. Com efeito, pode ocasionar

modificações biológicas, em razão de uma possível infecção pelo vírus da

hepatite B, C e da AIDS. Em relação às doenças, temos que a falta de preparo

psicológico e o medo de contrair infecções podem ter várias origens, uma delas

verificada pela representação social da AIDS, que, desde o início da epidemia,

afeta negativamente tanto a população quanto os profissionais de saúde. Há

manifestação de sentimentos negativos, como o medo diante da alteração

permanente que ocorrerá em seu estilo de vida, da proximidade da morte e do

preconceito de que poderão ser alvo em seu ambiente familiar, social e de

trabalho (Lima, Pinheiro, Vieira, 2007).

O acidente propicia, também, mudanças psicossociais em decorrência

da necessidade de acompanhamento sorológico e, consequentemente, da

espera de um provável resultado indicativo de soroconversão, da ingestão de

medicamentos antirretrovirais, quando indicados, da vacinação e do uso de

imunoglobulinas, conforme a prescrição.

Em razão disso, tanto as instituições quanto os profissionais podem

realizar ações visando à prevenção de acidentes de trabalho com materiais

perfurocortantes, já que o acidente envolvendo este tipo de material

proporciona momentos de intenso estresse físico e psíquico, produzindo

alterações nos seus relacionamentos, seja de caráter social seja familiar, e no

desempenho de suas atividades laborais.

Page 56: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

55

Portanto, o equilíbrio emocional é imprescindível para a atuação de

qualquer profissional da saúde, de forma eficaz e com menores riscos a sua

saúde ocupacional. Para Ferreira e Silveira (2004), o bom relacionamento entre

as partes é fator importante para que o cirurgião-dentista esteja preparado para

o atendimento de pacientes portadores de HIV ou HCV.

Por conseguinte, o acidente acarretado pela inoculação percutânea

acidental de sangue poderá originar repercussões negativas à vida profissional

e pessoal, em função do estresse psicológico vivenciado, na medida em que

eles se submetem a mudanças nas práticas sexuais e no relacionamento social

e familiar, durante o período de espera do resultado dos exames realizados,

por poderem evidenciar uma possível soroconversão. Todas as modificações

originadas de um acidente de trabalho desta natureza precisam ser adaptadas

à rotina habitual do profissional, ou esta deve ser modificada, a fim de que

todas as medidas a serem praticadas pós-acidente sejam concretizadas. A

abstinência sexual ou a prática sexual segura e a suspensão de aleitamento

materno até a confirmação da ausência de soroconversão detectada após a

realização dos testes sorológicos são práticas rotineiras que passam a ser

vistas como algo proibido, ensejando conflitos para si e para seus

componentes familiares. Assim, no estudo de Discacciati, a alteração no estilo

de vida e a reflexão acerca do fato de estar infectado ou não provoca o

afloramento ou a introspecção dos sentimentos e emoções para os

profissionais de enfermagem, uma vez que os sentimentos são oriundos de um

conjunto de eventos vivenciados, em que as reações dependerão do tipo de

evento que fez parte da experiência de vida de cada um, pois acontecimentos

dolorosos ou não repercutirão na reação presente do profissional.

A experiência proporcionada pelo acidente de trabalho com materiais

perfurocortantes promove a manifestação de sentimentos como medo,

angústia, desespero, ansiedade e tensão (Discacciati, Vilaça, 2001).

As publicações referentes a este assunto ainda são necessárias, pois,

embora seja um assunto difundido, as pesquisas ainda são em número

reduzido, principalmente, as que envolvem acidentes perfurocortantes com

cirurgiões dentistas. Muitos estudos se referem à profissão de enfermagem

Page 57: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

56

como a classe mais acometida pelos acidentes e que também causa muitos

danos a estes profissionais da saúde. Não há na literatura muitos trabalhos que

notifiquem acidentes com cirurgiões-dentistas.

Page 58: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

57

2 OBJETIVOS

___________________________________________________________________

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58

2.1 Geral

Analisar a epidemiologia dos acidentes com material biológico em

cirurgiões-dentistas acompanhados no IIER, no período de 2008 a 2012.

2.2 Específicos

• Identificar quais as práticas de biossegurança adotadas pelos

profissionais que realizam procedimentos com instrumentos

perfurocortantes.

• Avaliar o grau de percepção dos cirurgiões-dentistas diante dos

acidentes.

• Avaliar mudanças de comportamento pós-acidente ocupacional com

material biológico, na rotina de trabalho e na vida.

• Caracterizar o perfil sociodemográfico e de exposição a material

biológico.

Page 60: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

59

3 MÉTODO

___________________________________________________________________

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60

3.1 Tipo de Estudo e Casuística

Foi realizado um estudo Transversal Quali–Quantitativo que utilizou

dados obtidos da “Ficha de Notificação de Acidente com Material Biológico” e

da resposta voluntária a dois questionários. O primeiro foi dirigido para práticas

de biossegurança em odontologia e o segundo sobre o acidente.

Foram selecionadas as “Fichas de Notificação de Acidente com

Material Biológico” preenchidas pela equipe da Comissão de Controle de

Infecção Hospitalar (CCIH) do Instituto de Infectologia Emílio Ribas (IIER), para

cirurgiões dentistas, atendidos no período de 2008 a 2012. Os dados obtidos

entre 2008 e 2010 foram retrospectivos e aqueles entre 2011 e 2012 foram

prospectivos (fluxograma 1).

Foi elaborado um Banco de Dados contendo todas as informações da

referida ficha (Anexo C), identificação, dados profissionais, acidentes prévios,

acidente atual, tipo de acidente, material, instrumento, momento do acidente,

causa do acidente, EPI, dados da fonte, antecedentes do profissional

acidentado, conduta clínicas, e retornos com acompanhamento, seguindo os

intervalos de tempo de 6 semanas, 3 meses, 6 meses até 1 ano

Deste Banco de Dados de Cirurgiões-Dentistas, foram selecionados 40

profissionais para responderem, em entrevista semi-estruturada, a dois

questionários. Os profissionais que sofreram acidentes antes de 2011 foram

selecionados por telefone e somente aqueles que aceitaram foram

entrevistados. O número total de profissionais compreendidos no período de

2008, 2009 e 2010 foi de 65; e contatados por telefone foram 45 profissionais.

Os demais cirurgiões, dos anos de 2011 e 2012 foram indagados

pessoalmente durante as consultas ambulatoriais e aceitaram, prontamente,

ser entrevistados naquele momento. Procurou-se dividir em números

equivalentes, antes e após, o ano de início do estudo. Foram selecionados

para a entrevista cinco profissionais acidentados em 2008, cinco em 2009, dez

em 2010, nove em 2011 e onze em 2012, perfazendo 20 dentistas, no período

de 2008, 2009 e 2010, e os outros 20, compreendidos entre 2011 e 2012.

Esses foram divididos em dois grupos de 20 cada. Os dois questionários

Page 62: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

61

(Anexo B, questionário 1 e questionário 2) foram usados para caracterizar as

práticas de biossegurança, grau de percepção e impacto de mudança no

comportamento após acidente. Os questionários foram elaborados pela

pesquisadora e pelo orientador.

Esses instrumentos de avaliação foram pré-testados (piloto) antes de

sua aplicação definitiva para que as perguntas estivessem adequadas ao

estudo com três cirurgiões-dentistas e não sofreram alteração depois da sua

aplicação.

Junto dos questionários, havia uma carta de apresentação e um termo

de consentimento livre e esclarecido (Anexo A) de participação e divulgação

dos resultados, o qual foi lido e assinado pelos participantes da pesquisa, antes

de realização da entrevista.

3.2 Critérios de Inclusão e Exclusão do Estudo

O critério de inclusão deste estudo referiu-se aos cirurgiões-dentistas

formados e notificados no serviço de atendimento da CCIH do IIER e que

sofreram acidentes com perfurocortantes, no período de 2008 a 2012. Quanto

aos critérios de exclusão adotados foram: não ser cirurgião-dentista formado

neste mesmo período, outros profissionais notificados que não fossem

cirurgiões-dentistas, alunos de graduação de qualquer instituição e cirurgiões-

dentistas notificados com outros acidentes. Para definição dos participantes do

estudo, inicialmente, procurou-se contatar, pessoalmente, todos os

profissionais, pessoalmente, que vinham ao retorno no ambulatório da CCIH e

apresentar a pesquisa. Posteriormente, para completar a casuística do estudo,

o contato foi feito por telefone uma única vez. As entrevistas foram previamente

agendadas de acordo com a melhor disponibilidade e definição do local para o

participante. A maioria preferiu que a entrevista fosse feita em seu local de

trabalho. A entrevista foi realizada na forma escrita pelo próprio participante,

pois todos os profissionais tinham no mínimo curso universitário.

Page 63: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

62

3.3 Local de Estudo

O estudo foi realizado no Instituto de Infectologia Emilio Ribas (IIER),

local de referência para atendimento de acidentes com material biológico desde

o final dos anos 80. Em 1999, o instituto passou a atender profissionais

expostos a material biológico da Grande São Paulo. Ao longo dos anos,

acumulou informações sobre diferentes grupos que procuraram seguimento.

Os profissionais selecionados em nosso estudo, quando se acidentavam,

procuravam o Pronto Socorro do IIER, onde era feito o primeiro atendimento,

seguindo normas pré-estabelecidas pelo Ministério da Saúde do Brasil. Lá

foram realizados exames sorológicos e indicados ou não medicamentos,

vacinas, imunoglobulinas. A seguir, os profissionais foram agendados para

retornos no ambulatório de acidentes da CCIH.

No ambulatório da CCIH houve o preenchimento de uma ficha de

notificação de acidentes (Anexo C), realizado por um médico residente, sob

supervisão da equipe da CCIH.

A partir da notificação do acidente, a equipe reavaliava a necessidade

ou não da indicação de quimioprofilaxia e seguimento ambulatorial adequado,

de acordo com as variáveis epidemiológicas e os resultados das sorologias

realizadas.

Os exames sorológicos foram colhidos no setor de coleta do próprio

IIER e realizados no laboratório do IIER. Os resultados ficaram arquivados na

ficha de cada paciente na CCIH.

3.3.1 Ficha de Notificação de Acidentes com Material Biológico

Na ficha de notificação de acidentes com material biológico (Anexo C),

foram consideradas as variáveis abaixo:

• Idade

• Gênero: masculino e feminino

• Dados profissionais:

Page 64: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

63

• Funcionário do IIER ou outro serviço.

• Função: cargo de atuação.

• Tempo de trabalho na função como profissional.

• Setor: Consultório Particular, Clínica e/ou Empresa Particular e

Postos de Saúde ou Hospital Públicos.

• Turno: Diurno ou Noturno ou Ambos.

• Acidente Prévio: Caso tenha acontecido, quantos, se fez ou não

acompanhamento e qual o tempo de seguimento.

• Acidente Atual: Data, Hora, Dia da Semana, Data do PS, Hora do PS

Notificação da CCIH e data, Notificação da Medicina do Trabalho.

• Tempo até o primeiro atendimento: Tempo decorrido entre a hora do

acidente e o primeiro contato do cirurgião-dentista com um profissional da

CCIH:

• Menor que 2 horas,

• Maior que 2 horas: 2-48 horas,

• Maior que 48horas,

• Sem informação: dado não descrito na ficha.

• Tipo de Exposição: Avaliação do tipo de contato com material biológico:

• Percutâneo,

• Mucosa: Oral e/ou Ocular,

• Pele Íntegra,

• Pele não integra e

• Outros.

• Material biológico envolvido: material biológico envolvido na

exposição:

• Sangue,

• Fluido com Sangue,

• Outros Fluidos,

• Ignorado: dado não descrito na ficha.

Page 65: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

64

• Instrumento: Instrumento envolvido na exposição pérfuro-cortante:

• Agulha Oca,

• Agulha de Sutura,

• Vidro: vidrarias cortantes,

• Lâmina: lâmina de bisturi,

• Mandril: instrumento de encaixe e suporte para apoiar outras peças,

• Ignorado: dado não descrito na ficha e

• Outros: Informações pertinentes a instrumentos odontológicos

específicos como limas endodônticas, alavancas cirúrgicas, fios

ortodônticos, etc.

• Uso do instrumento: Identificação do instrumento quanto ao seu uso,

por exemplo: anestesia, extração, raspagem, reencape, profilaxia e

outros.

Momento do acidente: Se o acidente ocorreu durante o procedimento de

assistência direta ao paciente ou após o procedimento.

• Medidas após o acidente: O que foi feito imediatamente no momento do

acidente, se foi ou não feita expressão, uso de água com sabão, uso de

antisséptico ou outros.

• Causa do acidente: Ação que gerou o acidente:

• Auto-Acidente: Quando o profissional foi o responsável pelo próprio

acidente, durante a utilização do instrumento e /ou realização de

procedimentos,

• Movimento do Paciente: O paciente se movimentou e causou o

acidente,

• Movimento do Colega: Quando o colega que auxiliava o

procedimento movimentou-se, inadvertidamente, e causou o

acidente,

• Descarte Inadequado: quando o profissional deixa o instrumento

esquecido ou desprezado em local impróprio (agulhas desencapadas

em bancadas),

Page 66: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

65

• Caixa Cheia: quando a caixa de papelão ou plástica de descarte de

insumos ultrapassa o limite recomendável e agulhas ou outro

material contaminado ficam expostos,

• Reencape: quando o profissional tenta recolocar a capa em agulhas

ou lâminas, após a utilização do instrumento em algum procedimento

e

• Outras: Outras situações relatadas pelos profissionais que não

puderam ser classificadas na ficha.

EPIs: Avaliação se, no momento do acidente, o profissional estava usando

EPI (equipamento de proteção individual) (Luvas, Máscara, Avental, Óculos,

Protetor Facial, Sem EPI, Outros).

• Dados da fonte e Diagnóstico: Identificação e classificação do

paciente-fonte e do material biológico envolvidos no acidente do

profissional:

• Paciente-fonte conhecido - acidente que ocorreu com paciente

identificado e do qual é possível a coleta de amostras de sangue

para a realização das sorologias para HIV, HCV, HBV.

• Paciente fonte desconhecido – acidente no qual não é possível

colher os exames para realização de sorologias e pode ser por

evasão do paciente e acidente, por óbito ou, por exemplo,

exposições com material já descartado em caixas de perfuro-cortante

ou contato com fluidos de sugador contaminado em consultório.

• Antecedentes do Profissional Acidentado: Levantamento sobre a

história vacinal do profissional com doses e sorologias

• Vacinação completa: indivíduos que receberam três doses ou mais da

vacina contra hepatite B;

• Vacinação incompleta ou não realizada: indivíduos que receberam uma

ou duas doses e profissionais sem história previa de vacinação contra

hepatite B;

• Tétano e difteria (T dT )

• Sarampo, Caxumba e Rubéola (MMR)

Page 67: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

66

• Uso de medicamentos e

• Antecedentes psiquiátricos.

• Conduta Clínica: Indicação da melhor terapêutica, de acordo com o

histórico do acidente e data de retorno com:

• Indicação de terapia antirretro viral (ARV),

• Vacinas: Hepatite B, dT, MMR e outras

• Exames solicitados: Hemograma, TGO/TGP, BTF, Uréia, Creatinina,

Anti-HIV, HbsAg, Anti-HBc, Anti-HBs, Anti-HCV, Anti HTLV I/II, Teste

de gravidez, outro exame.

• Retorno: Acompanhamento dos pacientes expostos a portadores de

HIV, os quais receberam quimioprofilaxia com ARV. Caso não houvesse alta

sem soroconversão na consulta inicial, haveria mais cinco retornos

agendados previamente, com pedidos de exames laboratoriais; foi indicado

ARV, verificaram-se efeitos adversos como náuseas, vômitos, dor

abdominal, diarréia e outros, e também alterações laboratoriais como

anemia, leucopenia, plaquetopenia e outros, Sind Mono Like, com queixas e,

finalmente, a respectiva conduta. Os retornos foram agendados com o

seguinte tempo: 6 semanas, 3 meses, 6 meses e até um ano.

3.3.2 Questionário sobre Biossegurança

Este questionário (Anexo B, questionário 1) semi-estruturado com

questões fechadas continha três partes. A primeira parte, com informações

pessoais para caracterização sociodemográfica; a segunda parte, com

informações para caracterização ocupacional dos profissionais; e a terceira

parte, com questões sobre biossegurança em odontologia.

A primeira parte possuía as seguintes variáveis:

• Idade

• Gênero: Masculino e Feminino.

Page 68: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

67

• Estado Civil: Casado, Viúvo, Divorciado, Separado, Solteiro, Vive em

União Livre.

• Etnia: Parda, Preta, Branca, Amarela, Indígena.

• Local de Nascimento: Cidade e Estado

• Tempo de residência em São Paulo

• Escolaridade: Superior Completo, Especialização, Mestrado, Doutorado

e Aperfeiçoamento. Todos os profissionais eram graduados em

Odontologia. Esta questão procurou saber se os profissionais possuíam

somente a graduação, ou outra formação circunscrita à área

odontológica.

• Endereço de Moradia em São Paulo. Local de residência do

profissional.

A segunda parte do questionário relacionada à questões profissionais

continha:

• Cargo atual: Cirurgião-Dentista

• Àreas de atuação e período: Qual a área predominante de atuação

profissional nas especialidades odontológicas. As especialidades

consideradas para este estudo foram: Endodontia, Periodontia, Prótese,

Cirurgia Oral Menor, Implantodontia, Dentística, Ortodontia e

Odontopediatria.

• Tempo de Trabalho na Profissão: Em anos e meses.

• Tempo no Cargo ou na Função: Tempo que o profissional exercia a

profissão desde formado.

• Quantos pacientes atende em média por dia: De 1 a 5; de 6 a 10; ou

11 a 20.

A terceira parte destinada a identificar rotina profissional relativa a

questões relacionadas à Biossegurança:

Page 69: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

68

• Lavar as mãos no momento da execução dos procedimentos

clínicos rotineiros? Sim ou Não

Esta questão procurou verificar se todos os profissionais lavavam as

mãos corretamente, antes de fazer o atendimento clínico e calçar as

luvas.

• Qual o material utilizado: Indicava qual o material utilizado

preferencialmente, pelo profissional durante a lavagem das mãos.

• Usa luvas descartáveis em todos os procedimentos? Sim ou Não

Se o profissional utilizava luvas descartáveis rotineiramente e/ ou se fazia

reutilização delas em algum momento dos procedimentos.

• Lava as mãos antes dos procedimentos cirúrgicos? Sim ou Não

Quando o profissional executava este procedimento, se fazia a lavagem

das mãos de forma adequada com o uso de água e sabão líquido e uso

de antisséptico, antes da colocação de luvas.

• Qual o material utilizado: Identificar se o material utilizado pelo

profissional era um antisséptico para procedimentos cirúrgicos durante a

lavagem das mãos.

• Utiliza algum tipo de produto especial após lavagem das mãos? Sim

ou Não

Identificar se o profissional possuía hábitos de usar hidratantes ou

antissépticos após a lavagem das mãos.

• Usa luvas cirúrgicas descartáveis em procedimentos cirúrgicos?

Sim ou Não

Identificar se o profissional utilizava luvas descartáveis cirúrgicas

rotineiramente em diferentes procedimentos ou se fazia reutilização das

mesmas em algum momento.

• Já sofreu algum tipo de contaminação em procedimentos? Sim ou

Não

Caso seja afirmativo, qual o tipo:

Page 70: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

69

Esta questão procurou verificar se o profissional foi contaminado com

doença infectocontagiosas em algum procedimento que envolveu

acidente com material perfurocortante.

• Segue protocolo de paramentação quando em cirurgia? Sim ou Não.

Verificar se o profissional segue normas de biossegurança padronizadas

e adequadas para a execução do procedimento e uso de roupas

descartáveis adequadas para execução dos procedimentos, nos caos de

cirurgia extensas.

• Usa duplas-luvas em procedimentos cirúrgicos? Sim ou Não

Identificar se o profissional tem hábito de utilizar duplas luvas como forma

de prevenção.

• Tem percepção de perfuração de luvas quando executa

procedimentos cirúrgicos? Sim ou Não

Identificar se o profissional efetua a troca de luvas perfuradas durante o

ato operatório para evitar contaminação.

• Em caso afirmativo, efetua a troca de luva durante o ato cirúrgico?

Sim ou Não

Identificar se no momento do ato cirúrgico, quando há um contato maior

com fluido que contenha sangue, o profissional descarta a luva furada e

efetua a troca por outra.

• Você é canhoto ou destro ?

Identificar a mão dominante de trabalho.

3.3.3 Questionário sobre o acidente com perfurocortante

A primeira parte do segundo questionário apresentava as seguintes

variáveis:

• Gênero: masculino e feminino.

• Categoria profissional: cirurgião-dentista formado.

Page 71: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

70

• Tempo de serviço: tempo de atuação profissional.

• Turno de trabalho: manhã, tarde ou noite.

• Jornada de Trabalho: Totalizando 6horas, 8horas ou12horas.

• Número de empregos: Quantos empregos o profissional possuía.

A segunda parte do segundo questionário apresentava questões

referentes ao acidente de trabalho:

• Tipo de Exposição: Avaliação do tipo de contato com material biológico:

• Perfurocortante;

• Mucosa: mucosa ocular e/ou oral;

• Pele íntegra;

• Pele não íntegra.

• Data do Acidente e Horário: Data, Hora e Dia da semana que ocorreu o

acidente perfurocortante.

• Objeto Causador: Instrumento odontológico envolvido na exposição

perfurocortante.

• Região atingida: Mão Esquerda ou Mão Direita.

• Uso de precaução padrão: Sim ou Não.

• Qual o tipo de precaução que o profissional utilizava na hora do

acidente? Avaliação se, no momento do acidente, o profissional estava

usando EPI: Luvas, Máscara, Avental, Óculos, Protetor Facial, Sem EPI,

Outros.

• Procurou o serviço público de atendimento imediatamente? Sim ou

Não.

Objetivou verificar se o profissional procurou o serviço de atendimento e

quanto tempo ele demorou entre a hora do acidente e o primeiro contato.

Page 72: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

71

• Descrição sumária do acidente e consequências:

Relato do acidente com perfurocortante pelo profissional.

• Informações Complementares: Informações que o profissional fornecia

sobre como proceder, onde procurar e quem indicou o IIER na hora do

acidente.

• O que mudou na sua vida depois do acidente?

Relato sobre quais as mudanças ocorridas na vida e na rotina do

profissional, após o acidente com perfurocortante.

A segunda parte do questionário possuía uma entrevista semi-

estruturada (anexo B, questionário parte 2) com questões pessoais,

profissionais, questões referentes ao acidente de trabalho e duas

questões abertas, sendo que a primeira estava relacionada a

informações complementares que o profissional respondia sobre como

proceder na hora do acidente, a procura do local de atendimento e quem

indicou o IIER. A segunda questão aberta relacionava as mudanças

desencadeadas para o profissional, após o acidente.

3.4 Ética em Pesquisa

Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do IIER,

pela Plataforma Brasil, sob o número CAAE: 15709913.4.0000.0061 (Anexo

D).

Foi utilizado um termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE

(Anexo A) aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de

Infectologia Emílio Ribas.

3.5 Recursos Financeiros

Para esta pesquisa, houve financiamento do Programa de Pós-

Graduação da CCD-SES, somente para os exemplares da qualificação e da

tese. Outros recursos financeiros foram de total responsabilidade da

pesquisadora.

Page 73: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

72

3.6 Recursos Humanos

Para a análise estatística dos dados desta pesquisa, contou-se com a

colaboração de uma matemática que é voluntária no IIER. Para a análise

temática, contou-se com a colaboração de uma psicóloga que foi aluna do

Programa de Pós-Graduação CCD-SES.

3.7 Análise Estatística

As variáveis selecionadas para este estudo referentes aos acidentes

ocupacionais com cirurgiões dentistas foram submetidas a análise descritiva.

Os dados coletados foram inseridos em banco de dados construído em

um programa estatístico Software Statiscal Package for the Social Science

(SPSS versão 19.0) e tratados por meio de estatística descritiva, com cálculos

de percentuais e frequências.

Na comparação dos escores dos grupos, foram utilizados testes não

paramétricos e paramétricos. Assim, foi utilizado como teste não - paramétrico

a prova U de Man-Whitney, para a comparação dos escores de dois grupos e p

de Spearman, com o propósito de descobrir se havia relacionamento entre as

variáveis: exemplos: sócio demográficas (idade, sexo, etnia, estado civil);

clínicas (coinfecção, momento do acidente, realização de exame sorológico,

início, sintomas, procura pelo serviço de atendimento, vacinação, diagnóstico).

Todos os testes foram realizados sob a admissão de probabilidade de erro de

primeira espécie (alfa) de 5%, e do tipo monocaudal para as provas de Mann-

Whitney.

Poder-se-ia aplicar o teste do Qui-Quadrado (somente se os dados

fossem nominais), para medir a discrepância entre as frequências observadas

e as esperadas e se necessário aplicar a correção de Yates (quando há

somente uma ou duas categorias envolvidas) (Field, 2009).

Page 74: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

73

3.8 Análise Qualitatitiva

O método qualitativo de pesquisa responde a questões muito

particulares, do mundo das relações humanas, das representações e da

intencionalidade, o que dificilmente pode ser traduzido em números e

indicadores quantitativos. Trabalha com o universo dos significados, dos

motivos, dos valores, das atitudes, das aspirações e crenças dos indivíduos

(Minayo, 2004).

A ideia da combinação de metodologias diferentes, também chamada

de triangulação tem por objetivo, neste trabalho, abranger uma amplitude maior

na descrição, explicação e compreensão do objeto de estudo. Os métodos

quantitativos pressupõem uma gama de objetos de estudo comparáveis e que

fornecem dados que podem ser generalizáveis, já os métodos qualitativos

poderão observar diretamente como cada indivíduo, grupo ou instituição

experimenta concretamente a realidade pesquisada. A pesquisa qualitativa é

útil para identificar conceitos e variáveis relevantes de situações que podem ser

estudadas quantitativamente. É também útil para estudar questões difíceis de

quantificar, como sentimentos, motivações, crenças e atitudes individuais.

Desta forma, os métodos qualitativos e quantitativos são complementares.

(Goldenberg, 2002).

3.8.1 Casuística

A amostra utilizada para análise desta pesquisa qualitativa foi

composta por 40 cirurgiões – dentistas formados (32 mulheres e 8 homens) e

foram realizadas entrevistas individuais semiestruturadas, com questões

fechadas e abertas acerca do acidente e as mudanças provocadas em razão

do acidente. Foram incluídos, inicialmente, os profissionais que procuraram o

ambulatório do IIER e aceitaram fazer parte desta pesquisa e conceder a

entrevista. Na sequência foram incluídos aqueles contatados por telefone até

completar os 20 participantes de cada grupo. O critério de exclusão foi aplicado

para aqueles profissionais, contatados por telefone, que se recusaram a

participar da pesquisa.

Page 75: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

74

3.8.2 Técnica de coleta de dados

Entre os 40 profissionais selecionados do banco de dados, vinte foram

contatados no próprio IIER, quando estavam em consulta e os demais foram

contatados por telefone. A entrevista foi agendada previamente em horário e

local disponível para o entrevistado.

3.8.3 Entrevista Semi-Estruturada

Goldenberg (2002) ressalta que, dentre as vantagens da entrevista

estão à maior flexibilidade para conseguir as respostas e poder observar o que

diz o entrevistado bem como possíveis contradições. É o instrumento mais

adequado para a revelação de assuntos mais complexos, como as emoções,

permite maior profundidade e ajuda a estabelecer uma relação de confiança e

amizade entre pesquisador e pesquisado, o que favorece o aparecimento de

outros dados. Assim, colocar a entrevista semi-estruturada como uma técnica

da coleta de dados visou o favorecimento do profissional da saúde em falar

sobre o tema de forma livre, apenas guiado pela entrevistadora (Anexo B

questionário 2).

3.8.4 Análise temática

A análise temática é uma técnica que propõe a descoberta de núcleos

de sentido, na qual há o surgimento de pontos centrais de significação, os

quais expressam os valores de referência e os modelos de comportamento em

uma perspectiva qualitativa.

“O tema é a unidade de significação que se liberta naturalmente de um

texto analisado segundo critérios relativos à teoria que serve de guia à leitura”

(Minayo, 2004). Em uma unidade de significação complexa de comprimento

variável, a sua validade não é de ordem linguística, mas antes de ordem

psicológica. (Minayo, 2004).

Page 76: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

75

3.8.5 Tratamento dos dados Qualitativos

Na análise temática, temos três etapas:

• Pré- Análise: Consiste na escolha dos documentos a serem analisados;

na retomada das hipóteses e dos objetivos iniciais da pesquisa,

reformulando-as em consonância com material coletado; e na

elaboração de indicadores que orientem a interpretação final. Pode ser

decomposta na seguinte tarefa: primeiro, uma leitura flutuante de todo o

material, e verificação do conjunto das comunicações. Consiste em

tomar contato exaustivo com o material deixando-se impregnar pelo seu

conteúdo. A dinâmica entre as hipóteses iniciais, as hipóteses

emergentes, as teorias relacionadas ao tema tornarão a leitura mais

sugestiva e capaz de ultrapassar a sensação de caos inicial.

Constituição do corpus: Organização do material de tal forma que possa

responder a algumas normas de validade; Exaustividade (que contempla

todos os aspectos levantados no roteiro); Representatividade (que

represente o universo pretendido); Homogeneidade (que obedeça a

critérios precisos de escolha em termos de temas), técnicas e

interlocutores; Pertinência (os documentos analisados devem ser

adequados ao objetivo do trabalho), Formulação de hipóteses e

objetivos. Em relação ao material qualitativo, a proposta do primado

quadro de análises sobre as técnicas e controversa. Entendemos que há

a necessidade de se estabelecer hipóteses iniciais, pois a realidade não

é evidente; responde a questões que teoricamente lhe são colocadas.

Porém, esses pressupostos iniciais têm de ser flexíveis de forma que

permitam hipóteses emergentes a partir de procedimentos exploratórios.

• Exploração do Material: Consiste essencialmente na operação de

codificação. Análise temática tradicional trabalha essa primeira fase com

o recorte do texto em unidades de registro que podem ser uma palavra,

uma frase, um tema, um personagem que foi estabelecido na pré-

análise. Em segundo lugar, recolhe as regras de contagem, uma vez

que, tradicionalmente, ela constrói índices que permitem alguma forma

de quantificação. Em terceiro lugar, ela realiza a classificação e a

Page 77: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

76

agregação dos dados, escolhendo as categorias teóricas ou empíricas

que comandarão a especificação dos temas.

• Tratamento dos Resultados Obtidos e Interpretação: Os resultados

brutos são submetidos (tradicionalmente) a operação estatística simples

(percentagens) ou (complexas) análise fatorial que permitem colocar em

relevo as informações obtidas. A partir disso, o analista propõe

inferências e realiza interpretações previstas no seu quadro teórico ou

abre outras pistas em torno de dimensões teóricas sugeridas pela leitura

do material (Minayo, 2004).

A análise temática desta pesquisa foi realizada em três etapas: duas

abordando o material correspondente às entrevistas dos cirurgiões-dentistas e

uma realizando uma análise geral a partir de todo material e de seus

resultados.

Page 78: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

77

4 RESULTADOS

___________________________________________________________________

Page 79: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

78

4.1 Fluxograma de Resultados

O fluxograma abaixo evidencia: Banco de dados da CCIH, a Ficha

Cadastral com respectivos dados dos 103 acidentes, Seleção dos 40

profissionais entrevistados, Entrevista semi-estruturada com aplicação dos

questionários e Banco de dados com as análises temática e casuística.

Figura 4 - Fluxograma de resultados

Page 80: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

79

As tabelas abaixo informaram os aspectos epidemiológicos dos

acidentes ocupacionais em cirurgiões-dentistas com material de risco biológico.

As tabelas 3, 4, 5, 6 e 7 forneceram dados referentes ao total de

participantes com 103 profissionais.

• A faixa etária variou entre a idade mínima de 22 anos, a máxima de 54

anos e o desvio padrão de 7,9 anos.

• A predominância dos profissionais foi do sexo feminino. Não houve

nenhuma profissional grávida e apenas 2 profissionais eram do IIER.

• O turno de trabalho apontado foi o diurno e o tempo na função variou

entre o mínimo de 1,5 anos e o máximo com 30 anos, com desvio padrão

de 7,6 anos.

• A medicina do trabalho foi pouco notificada pelos profissionais.

• A maioria não havia sofrido acidente prévio e, dos que foram acometidos,

somente 10 profissionais fizeram acompanhamento.

• A sexta-feira foi o dia mais apontado pelos profissionais com maior

ocorrência dos acidentes.

Page 81: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

80

Tabela 3 - Informações sócio demográficas de cirurgiões-dentistas com exposição a material biológico acompanhados no ambulatório de acidentes da CCIH do IIER (2008 a 2012)

Categoria Gênero Variável Participantes

Total de participantes 103

Faixa Etária

Mínimo em anos = 22

Máximo em anos = 54

Média em anos = 33,6

Mediana = 33

Desvio padrão em anos =

7,9

Sexo Feminino 80 (77,7%)

Masculino 23 (22,3%)

Gestante Feminino Sim 0 (0%)

Não 80 (100%)

Instituição IIER 2 (1,9%)

Particulares 101 (98,1%)

Turno

Diurno 78 (75,7%)

Noturno 22 (21,4%)

Ambos 3 (2,9%)

Tempo na função

Mínimo em anos = 1,5

Máximo em anos = 30

Média em anos = 8,9

Mediana = 8,0

Desvio padrão em anos =

7,6

Notificou Medicina do trabalho na primeira

consulta

Sim 13 (12,7%)

Não 71 (68,9%)

Não mencionado 19 (18,4%)

Acidente prévio Sim 33 (32%)

Não 70 (68%)

Acompanhamento do acidente prévio (33

profissionais)

Sim 10 (30,3%)

Não 22 (66,7%)

Não mencionado 01 (3,0%)

Dia da semana em que ocorreu o acidente

Segunda 9 (8,7%) Terça 17 (16,5%)

Quarta 16 (15,5%) Quinta 15 (14,5%) Sexta 24(23,3%)

Sábado 22 (21,3%)

Page 82: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

81

Na tabela 4, os aspectos epidemiológicos mostrados foram:

• O Tempo transcorrido até o primeiro atendimento que mostrou uma

media de 14 horas.

• O tipo de acidente que mais acometeu os profissionais foi percutâneo e

o sangue foi o material mais envolvido nos acidentes.

• O instrumento envolvido nos acidentes foi agulha oca.

• A Topografia do acidente apontou a mão esquerda dos profissionais

como a mais acometida pelos acidentes.

• O momento do acidente relatado foi durante os procedimentos.

• Um terço dos profissionais realizou expressão no local acidentado como

medida após o acidente.

• Autoacidente mostrou ser a causa principal dos acidentes.

Page 83: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

82

Tabela 4 - Caracterização de acidentes em cirurgiões-dentistas com exposição a material biológico acompanhados no ambulatório de acidentes. CCIH - IIER (2008 a 2012)

Categoria Gênero Variável Participantes

Total de participantes 103

Tempo até 1º atendimento do acidente atual

Mínimo em horas = 0,5

Máximo em horas = 288

Média em horas = 14

Mediana = 28

Desvio padrão em horas = 36

Tipo

Percutâneo 87 (84,5%)

Mucosa oral 2 (1,9%)

Mucosa ocular 8 (7,8%)

Pele integra 5 (4,9%)

Outro 1 (0,9%)

Material

Sangue 58(56,3%)

Fluido com sangue 4(3,9%)

Outro Fluido 15(14,6%)

Ignorado 26(25,2%)

Instrumento

Agulha oca 40(38,8%)

Agulha sutura 5(4,9%)

Lâmina 4 (3,9%)

Ignorado 9(8,7%)

Topografia do acidente

Mão direita 28 (27,2%)

Mão esquerda 48 (46,7%)

Olhos 4 (3,9%)

Coxa 2 (1,9%)

Não informado 21 (20,3%)

Momento do acidente

Durante 60 (58,3%)

Após 36 (35,0%)

Ambos 1 (1,0%)

Não Informado 6 (5,8%)

Medida após o acidente

Expressão (87) Sim 27 (31,0%) Não 60 (69,0%)

Água Sim 77 (74,8%) Não 26 (25,2%)

Sabão Sim 63 (61,2%) Não 40 (38,8%)

Antisséptico Sim 47 (45,6%) Não 56 (54,4%)

Causa do Acidente

Autoacidente 78 (75,7%)

Movimento do Paciente 3 (2,9%)

Movimento do Colega 2 (1,9%)

Descarte inadequado 3 (2,9%)

Reencape 9 (8,7%)

Outro 8 (7,8%)

Page 84: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

83

Na tabela 5, as características epidemiológicas voltadas ao uso de EPI

mostraram:

• As luvas descartáveis foram o EPI de maior uso entre os profissionais e

protetor facial foi o EPI menos utilizado por todos.

Tabela 5 - Caracterização de acidentes em cirurgiões-dentistas com exposição a material biológico acompanhados no ambulatório de acidentes. CCIH - IIER (2008 a 2012) Uso de EPI(s)

Categoria Gênero Variável Participantes

EPI

Luvas Sim 89 (86,4%)

Não 14 (13,6%)

Máscara Sim 54 (52,4%)

Não 49 (47,6%)

Avental Sim 53 (51,5%)

Não 50 (48,5%)

Óculos Sim 45 (43,7%)

Não 58 (56,3%)

Protetor Facial Sim 3 (2,9%)

Não 100 (97,1%)

Outros (Propé, Gorro) Sim 8 (7,8%)

Não 95 (92,2%)

Sem EPI Sim 10 (9,7%)

Não 93 (90,3%)

Na tabela 6, as características epidemiológicas relacionadas:

• Ao paciente conhecido (fonte) apontou que a maioria é conhecida dos

profissionais e a idade média foi 35,1 anos.

• O sexo predominante dos pacientes foi masculino.

• Embora o paciente fosse conhecido, os exames iniciais de HCV e HIV

revelaram ser ignorado pela maioria dos profissionais.

Page 85: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

84

Tabela 6 - Caracterização do paciente fonte dos acidentes em cirurgiões-dentistas com exposição a material biológico acompanhados no ambulatório de acidentes da CCIH do IIER (2008 a 2012)

Categoria Gênero Variável Participantes

Total de

Participantes 103

Paciente conhecido Sim 90 (87,4%)

Não 13 (12,6%)

Idade (50)

Mínimo em anos = 8

Máximo em anos= 57

Media em anos = 35,1

Desvio Padrão= 2,8

Sexo

Masculino 56 (54,4%)

Feminino 27 (26,2%)

Não informado 20 (19,4%)

Exames Iniciais do

Paciente

HBsAG Ignorado 103 (100%)

HBeAG ignorado 103 (100%)

LUES ignorado 103 (100%)

HTLV ignorado 103 (100%)

CHAGAS ignorado 103 (100%)

HCV Sim 1(0,97%)

HIV Sim 15(14,56%)

TGO

ignorado 88(85,43%)

Sim 1 (0,97%)

TGP

Não 102(99,03%)

Sim 1 (0,97%)

CD4

Não 102(99,03%)

Sim 3 (2,91%)

CARGA VIRAL

Não 100(97,08%)

Sim 6 (5,82%)

Não 97 (94,17%)

Page 86: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

85

Na tabela 7, as características epidemiológicas relacionadas:

• Aos Antecedentes do Profissional Acidentado mostrou que a maioria dos

profissionais tomou a vacina contra Hepatite B.

• A Sorologia pós-vacina é sempre recomendada para os profissionais que

tomaram vacina contra Hepatite B, porém mostrou que, praticamente, a

metade dos profissionais não realizava a sorologia.

• A TARV inicial foi indicada pelo PS para 58,3% de todos os profissionais

acidentados.

• TARV foi mantida pela CCIH, após consulta inicial pelo PS, em mais da

metade do total referenciado.

• A conduta Alta em seis semanas foi indicada somente para 1,94% dos

profissionais inicialmente atendidos, e em seis meses foi indicado para

45,6 % dos profissionais acidentados.

• As tabelas abaixo, de números 6, 7, 8, 9, e 10, informaram os aspectos

epidemiológicos dos acidentes ocupacionais em cirurgiões-dentistas com

material de risco biológico, nos 40 profissionais entrevistados.

Page 87: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

86

Tabela 7 - Informações epidemiológicas dos acidentes em cirurgiões-dentistas com exposição a material biológico acompanhados no ambulatório de acidentes da CCIH do IIER (2008 a 2012)

Categoria Gênero Variável Participantes

Total de participantes 103

Antecedentes do Profissional Acidentado

Profissional é vacinado 94 (91,3%)

Profissional não é vacinado 4 (3,9%)

Não informado 5 (4,9%)

Sorologia pós- vacina (94)

Sim 44 (42,7%)

Não 50 (56,3%)

Não informado 0 (0,0%)

Indicação de TARV pelo PS

Sim 60 (58,3%)

Não 42 (40,7%)

Não informado 1 (1,0%)

TARV mantido pela CCIH (60)

Sim 33 (55,0%)

Não 27 (45,0%)

Conduta: Alta/6 semanas

Sim 2 (1,94%)

Não 101(98,05%)

Conduta: Alta/3 meses Sim 7 (6,79%)

Não 94 (91,2%)

Conduta: Alta/6 meses Sim 37 (35,9%)

Não 57 (55,33%)

Conduta: Total das Altas

Sim 47 (45,6%)

Não 56 (54,3%)

Page 88: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

87

Na tabela 8, ficaram informações sócio-demográficas dos 40 cirurgiões-

dentistas entrevistados.

• A média da faixa etária dos profissionais foi de 36,5 em anos.

• O sexo predominante dos profissionais entrevistados foi feminino.

• Não houve profissionais grávidas entrevistadas.

• A maioria dos profissionais entrevistados (62,5%) era casada.

• Quanto a etnia, a predominância dos entrevistados era Branca.

• A maioria dos profissionais nasceu em São Paulo (67,5%).

• Somente uma profissional entrevistada era do IIER.

• Todos os profissionais entrevistados eram graduados em Odontologia;

somente 15% não possuíam outra titularidade.

• Quanto às Especialidades, a área mais destacada foi Clínica Geral,

77,5% dos profissionais atuando em consultórios particulares.

• O tempo médio de trabalho na profissão foi de 14,7 anos.

• O diurno foi o turno de trabalho predominante, com 92,5 %.

Page 89: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

88

Tabela 8 - Informações sócio demográficas de 40 dos profissionais acidentados com exposição a material biológico (2008 a 2012)

Categoria Gênero Variável Participantes

Total de participantes 40

Faixa Etária

Mínimo em anos = 24

Máximo em anos = 56

Média em anos = 36,5

Mediana = 33

Desvio Padrão= 9,1

Sexo Feminino 32 (80%)

Masculino 8 (20%)

Gestante Feminino Não 32 (100%)

Estado Civil

Casado 25 (62,5%)

Divorciado 3 (7.5%)

Solteiro 10 (25%)

União livre 2 (5%)

Etnia Branco 34 (85%)

Amarelo 6 (15%)

Tempo em São Paulo

De 1 a 5 3 (7,5%)

De 6 a 10 1 (2,5%)

11 ou mais 9 (22,5%)

Nasceu em SP 27 (67,5%)

IIER * Gênero Sim 1 (2,5%)

Não 39 (97,5%)

Escolaridade

Superior Completo 6 (15%)

Especialização 21 (52,5%)

Mestrado 3 (7,5%)

Doutorado 1 (2,5%)

Aperfeiçoamento 9 (22,5%)

Especialidades

Clínica geral Part. 31 (77,5%)

Empr. 9 (22,5%)

Cirurgia Part. 4 (10%)

Empr. 1 (2,5%)

Periodontia Part. 7 (17,5%)

Empr. 1 (2,5%)

Endodontia Part. 2 (5%)

Empr. 7 (17,5%)

Implante Part. 5 (12,5%)

Empr. 1 (2,5%)

Emergência Part. 2 (5,0%)

Outras Part. 6 (15%)

Empr. 5 (12,5%)

Tempo de trabalho na Profissão

Mínimo em anos= 1

Máximo em anos= 32,41

Média em anos= 14,7

Turno Diurno 37 (92,5%)

Ambos 3 (7,5%)

Page 90: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

89

Na tabela 9, ficaram as características epidemiológicas relacionadas a

biossegurança.

• Os profissionais atendiam entre 11 e 20 pacientes/ dia o que corresponde

a 42,5% .

• A lavagem das mãos, antes de procedimentos clínicos, foi executada por

95 % dos profissionais.

• Todos os profissionais usavam luvas descartáveis.

• As lavagens das mãos antes de procedimentos cirúrgicos foram

executadas por 90 % dos profissionais e apenas 5% não realiza

procedimentos cirúrgicos.

• O número de antisséptico utilizado pelos profissionais chegou a 50%.

• O uso de produtos especiais mostrou que 57,5% não utilizavam nada.

• Luvas cirúrgicas descartáveis foram utilizadas por 90 % dos profissionais

que realizavam este procedimento.

• Todos os profissionais entrevistados sofreram algum tipo de exposição.

• O tipo de exposição apontado foi também percutâneo, com 90% dos

casos.

• Protocolo de paramentação cirúrgica foi realizado por 80% dos

profissionais.

• O uso de duplas luvas não foi seguido por 70% dos profissionais

entrevistados.

• Percepção de perfuração de luvas apontou que 90% dos profissionais

perceberam-nas.

• A troca das luvas perfuradas foi realizada, também, por 90% dos

profissionais entrevistados.

• A mão dominante de trabalho dos profissionais entrevistados foi a direita,

com 87,5% dos casos.

Page 91: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

90

Tabela 9 - Informações sobre biossegurança de 40 profissionais acidentados com exposição a material biológico (2008 a 2012)

Categoria Gênero Variável Participantes

Total de participantes 40

Pacientes em média por Dia

De 1 a 5 7 (17,5%) De 6 a 10 14(35%)

De 11 a 20 17(42,5%) Mais de 20 2(5%)

Lava as mãos antes de procedimentos clínicos

Sim 38 (95%) Não 2 (5%)

Usa luvas descartáveis Sim 40 (100%)

Lava as mãos antes de procedimentos cirúrgicos

Sim 36 (90%) Não 2 (5%)

Não executam cirurgia 2 (5%)

Qual material utilizado Sabão 18 (45%)

Antisséptico 20 (50%) Não executam cirurgia 2 (5%)

Utiliza produto especial Sim 11 (27%) Não 23 (57,5%)

Às vezes 6 (15%)

Usa luvas Cirúrgicas Sim 36 (90%) Não 2 (5%)

Não executam cirurgia 2 (5%) Já sofreu algum tipo de

exposição em procedimento

Sim 40 (100%)

Tipo de exposição Percutâneo 36 (90%) Mucosa oral 1 (2,5%)

Mucosa ocular 3 (7,5%)

Protocolo de paramentação Sim 32 (80%) Não 5 (12,5%)

Não executam cirurgia 3 (7,5%)

Usa duplas luvas Sim 9 (22,5%) Não 28 (70%)

Às vezes 3 (7,5%)

Tem percepção de Perfuração de luvas

Sim 36 (90%) Não 4 (10%)

Efetua a troca das luvas Sim 36 (90%) Não 2 (5%)

Às vezes 2 (5%)

Mão dominante de trabalho Canhoto 3 (7,5%) Destro 35 (87,5%)

Ambidestro 2 (5%)

Page 92: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

91

A tabela 10, mostrou características epidemiológicas referentes a

exposição ao material biológico.

• Os profissionais que mencionaram ter procurado o serviço público,

imediatamente, para atendimento do acidente ficou com 75% dos casos.

• O tempo médio de atendimento foi de 7,1 horas.

• Dos profissionais entrevistados 35 % já haviam sofrido acidente prévio e

a média de acidentes foi de 2,3% em quantidade.

• O acompanhamento de acidentes prévios foi realizado por 29 % dos

casos informados.

• O dia da semana em que mais ocorreram acidentes foi a sexta-feira, com

27,5 % dos casos.

• A notificação à medicina do trabalho não foi realizada por 87,5% dos

profissionais entrevistados

• O material mais envolvido foi o sangue, com 52,5%

• O instrumento que mais apareceu como causador de acidentes foi agulha

oca, com 32,5%.

• A topografia dos acidentes apontou a mão esquerda, com 52,5% dos

casos.

• O momento do acidente revelou que 2,5% dos casos notificados sofreu o

acidente durante e após o procedimento.

• O tipo de exposição em mucosa oral apareceu em 2,5 % dos casos

notificados.

Page 93: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

92

Tabela 10 - Informações epidemiológicas de 40 profissionais acidentados com exposição a material biológico (2008 a 2012)

Categoria Gênero Variável Participantes

Total de participantes 40

Procurou o serviço público de imediato (SIC)

Sim 30 (75%)

Não 10 (25%)

Tempo do primeiro atendimento até 4h

Mínimo em horas= 0,50

Máximo em horas= 48

Média em horas= 7,1

Acidente prévio Sim 14(35%)

Não 26(65%)

Quantos acidentes prévios

Mínimo em quantidade= 1

Máximo em quantidade= 10

Media em quantidade= 2,3

Acompanhamento de acidentes prévios

Sim 4(29%)

Não 10(71%)

Dia da semana em que ocorreu o acidente

Segunda 3 (7,5%)

Terça 7 (17,5%)

Quarta 8 (20%)

Quinta 6 (15%)

Sexta 11 (27,5%)

Sábado 5 (12,5%)

Notificação da Medicina do trabalho

Sim 5 (12,5%)

Não 35 (87,5%)

Material

Sangue 21(52,5%)

Fluido com sangue 7 (17,5%)

Outro Fluido 3 (7,5%)

Ignorado 9 (22,5%)

Instrumento

Agulha oca 13 (32,5%)

Agulha sutura 2 (5%)

Outros* 25 (62,5%)

Topografia

Mão direita 13(32,5%)

Mão esquerda 21(52,5%)

Olhos 5(12%)

Outros 1(2,5%)

Momento do acidente

Durante 26(65%)

Após 13(32,5%)

Ambos 1(2,5%)

Tipo de exposição Percutâneo 36 (90%)

Mucosa oral 1 (2,5%)

Mucosa ocular 3 (7,5%)

Nota: *Outros se refere a: curetas, agulhas anestésicas, fio ortodôntico, lima endodôntica.

Page 94: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

93

Na tabela 11, as características epidemiológicas referiram se a:

• Medida após o acidente mostrou que 27 % dos profissionais fizeram este

procedimento com a região atingida.

• As causas de acidente com reencape de agulha ficou com 7,5 % dos

casos notificados.

• O EPI mais utilizado por todos os profissionais foi a luva, com 80 %.

• Somente 10% dos profissionais não conheciam o paciente (fonte).

• O sexo predominante do paciente fonte foi masculino.

• Somente 5 % dos profissionais entrevistados não eram vacinados contra

hepatite B.

• O mínimo em quantidade de doses de vacinas para Hepatite B foram

2(duas) e o máximo 6(seis).

Page 95: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

94

Tabela 11 - Informações epidemiológicas de 40 profissionais acidentados com exposição a material biológico (2008 a 2012)

Categoria Gênero Variável Participantes

Total de participantes 40

Medida após o acidente

Expressão Sim 11(27,0%)

Não 29(73%)

Água Sim 30(75%)

Não 10(25%)

Sabão Sim 25(62%)

Não 15(38%)

Antisséptico Sim 19(47,5%)

Não 21(52,5%)

Outros Sim 1(2,5%)

Não 39(97,5%)

Causa do Acidente

Autoacidente 26(65%)

Movimento do Paciente 3 (7,5%)

Movimento do Colega 1(2,5%)

Descarte inadequado 3 (7,5%)

Reencape 3 (7,5%)

Outro 4 (10%)

EPI

Luvas Não 08(20%)

Sim 32(80%)

Máscara Não 21(52,5%)

Sim 19(47,5%)

Avental Não 20(50%)

Sim 20(50%)

Óculos Não 24(60%)

Sim 16(40%)

Protetor Facial Não 39(97,5%)

Sim 1(2,5%)

Sem nenhum EPI Sim 4(10%)

Não 36(90%)

Outros Sim 2(40%)

Não 38(95%)

Fonte Conhecida Sim 36(90%)

Não 4(10%)

Sexo da fonte

Masculino

23 (57,5%)

Feminino 13(32,5%)

Não informado 4(10%)

Antecedentes do Profissional Acidentado

Profissional é vacinado 38(95%) Profissional não é

vacinado 2(5%)

Quantas doses

Mínimo em quantidade= 2

Máximo em quantidade= 6

Média em quantidade= 3,3

Maior que 3 doses= 33

Page 96: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

95

Na tabela 12, as características epidemiológicas dos profissionais

entrevistados foram:

• A sorologia pós-vacina foi realizada em 50 % dos profissionais.

• Indicação de TARV pelo PS foi para 52,5% (21 profissionais) acidentados

e mantidos pela CCIH do total acima foi de 52,4% com (11 profissionais).

• A conduta Alta foi de 85% para os profissionais entrevistados.

• Não foram registradas soroconversões para nenhum dos três vírus

considerados (HIV, HBV e HCV).

Tabela 12 - Informações epidemiológicas de 40 profissionais acidentados com exposição a material biológico (2008 a 2012)

Categoria Gênero Variável Participantes

Total de participantes 40

Sorologia pós Vacina

Sim 20(50%)

Não 12(30%)

Não informado 8(20%)

Indicação de TARV pelo OS Sim 21(52,5%)

Não 19(47,5%)

TARV mantido pela CCIH Sim 11(52,4%)

Não 10(47,6%)

Conduta: Alta Sim 34 (85%)

Não 6 (15%)

Page 97: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

96

Figura 5 - Gráfico do dia da semana que ocorreu o acidente nos

profissionais notificados e profissionais entrevistados.

4.2 Análise Temática

Na análise temática, foram encontradas quatro categorias relacionadas

ao motivo do acidente: ordem pessoal, ordem técnica, ordem do trabalho e

reincidência de acidente.

Tabela orientadora dos Resultados:

Ordem Pessoal Ordem Técnica Ordem do Trabalho

Reincidência de Acidente

Desatenção, Distração, Euforia, Descuido, Distração seguida de uso inadequado de técnica. (25)

Técnica Odontológica inadequada (3)

Sobrecarga de trabalho (4) Três pessoas notificaram (3)

Estresse (12) Falta de EPI (4) Insatisfação Profissional (1)

Fadiga (6) Negligência do manuseio do material (6)

Psicologicamente Dividida (5)

Imprudência (2)

Medo de doenças Transmissíveis HIV) e (HCV) (8)

Falta de AutoCuidado (4)

Total dos Discursos = 60 Total dos Discursos = 15 Total dos Discursos =5 Total dos Discursos = 3

Quadro 3 - Descrição Sumária do Acidente Nota: os números entre parênteses referem-se ao total de discursos dos profissionais

entrevistados

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sabado

Grupo dos 103 Dentistas notificados

Grupo dos 40 Dentistas entrevistados

Page 98: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

97

4.2.1 Descrição Sumária do Acidente

4.2.1.1 Ordem Pessoal

Nesta categoria, agrupamos

Discursos que revelam aspectos da singularidade dos entrevistados

relativos à gama de exigências de seu cotidiano. Desta forma, agrupamos os

motivos alegados em: desatenção, distração, distração seguida de uso

inadequado de técnica odontológica e euforia. (Dicionário do Aurélio, 2013).

Desatenção (descuido, distração, uso inadequado de técnica e euforia).

Entende-se por desatenção a falta de atenção ou cuidado; por distração,

descaso, desrespeito, indelicadeza. Já para a palavra descuido, tratar sem

cuidado, não fazer caso, não cuidar, deixar de ser atento, falta de apuro, falta

de cuidado para com alguém ou algo.

• Distração: desatenção, desviar a atenção de alguém para outro ponto

ou objeto, descuidar-se.

• Distração seguida de uso inadequado de técnica: desatenção

associada ao não uso adequado da técnica odontológica preconizada

para um atendimento sem riscos.

Euforia: sensação de perfeito bem – estar; alegria intensa e, em regra,

expansiva. (Dicionário do Aurélio, 2013).

Totalizaram-se 25 discursos predominantes dos profissionais, por

exemplo:

Eu estava anestesiando e quando removi a agulha, do tecido gengival, me perfurei, pois eu desviei o olhar falando com a secretaria (Profissional 70).

• Estresse: O estresse pode ser definido como um esgotamento e que indica

a situação em que a exigência física e psicológica é maior do que os meios

para enfrentá-la; por isso, interferem no bem-estar do indivíduo que passa a

ver essas experiências como ameaçadoras, dolorosas, frustrantes ou como

Page 99: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

98

perda. Os estressores podem ser traumáticos, cotidianos e crônicos.

Observa-se que o estresse ocupacional reside na percepção pelo

profissional do equilíbrio entre as demandas existentes no trabalho e sua

habilidade e/ou possibilidade para respondê-las.

As pesquisas indicam um número considerável de evidências

apontando a profissão de cirurgião-dentista como geradora de estresse

contínuo. Por exemplo, estudos realizados nos Estados Unidos da América,

onde a Odontologia foi considerada a segunda ocupação mais estressante,

sendo a primeira a de piloto de aviões militares de caça (Regis Filho, Ribeiro,

2012).

Na literatura, encontramos também descrições de síndromes

associadas às atividades profissionais da saúde. A síndrome do Burnout ou

síndrome do estresse profissional tem sido reconhecida como uma condição

experimentada por profissionais que desempenham atividades em que está

envolvido um alto grau de contato com outras pessoas e que podem gerar

sintomas depressivos e ansiosos (De Marco et al., 2008). Como exemplo, o

seguinte relato:

De acordo com Abreu et al. (2002)

Estresse ocupacional difere da Síndrome de Burnout por ser o resultado de um prolongado processo de tentativas de lidar com determinadas condições de estresse (Rabin, Feldman, Kaplan, 1999). O estresse pode ser visto como seu determinante, mas não coincide com o mesmo. Farber (citado em Roazzi, Carvalho, Guimaraens, 2000) explora a ideia de que burnout não resulta só do estresse em si (que pode ser inevitável em profissões assistenciais), mas do estresse não mediado, do estresse não moderado, sem possibilidade de solução. Assim, burnout não é um evento, mas sim um processo e, apesar de compartilharem duas características- esgotamento emocional e escassa realização pessoal - burnout e estresse ocupacional diferem pelo fator despersonalização (Cherniss, citado em Roazzi, Carvalho, Guimaraens, 2000). Léon e Iguti (1999) consideram burnout como um quadro clínico mental extremo do estresse ocupacional. Parece haver um consenso em torno de a síndrome poder ser caracterizada como uma resposta ao estresse laboral crônico, mas é importante que seus conceitos sejam mantidos distintos. Burnout tem como conseqüência uma dessensibilização dirigida às pessoas com quem se trabalha, incluindo usuários, clientes e a própria organização, e o estresse é um esgotamento diverso que, de modo geral, interfere na vida pessoal do individuo, além de seu trabalho (Codo, Vasques -

Page 100: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

99

Menezes, 1999). Entretanto, apesar de suas particularidades, as diferenças entre os dois não são claras, em função dos fatores desencadeadores serem muito próximos [...], o que dificulta o estabelecimento de um diagnóstico preciso e de uma relação de comorbidade.

Ia retirar dois dentes e depois de retirar apenas um, o paciente convulsionou! Parei para dar assistência e o paciente era homossexual com aspectos de AIDS e então, a médica do PS informou para eu procurar o IIER, pois o paciente me mordeu e babou até ser atendido e eu tive que segurar! O paciente não me informou nada que tinha ataque epilético (Profissional 20).

• Irritação: Pode ser definido como a ação, efeito de irritar ou irritar-se.

Ação do que excita os nervos, os órgãos dos sentidos, estado de

nervosismo, exaltação facilmente provocável. Agastamento, cólera

(Dicionário do Aurélio, 2013).

• Alguns a consideram uma forma mais fraca da raiva, apenas uma fúria

diluída.

O profissional, muitas vezes, enfrenta jornadas diárias longas de

trabalho e torna-se distante de seus familiares e de situações cotidianas por ter

a necessidade de dois ou mais locais de trabalho e, aos poucos, termina

alienado e irritado. Deste modo, afasta-se do convívio social e familiar,

direcionando a maior parte de seu tempo a atividades profissionais, deixando

de lado questões subjetivas, pois passa a ver o trabalho em primeiro plano,

sem perceber os prejuízos que está acumulando não apenas para si, como

também para a família. (Cecagno et al., 2002).

c) Fadiga:

A palavra fadiga é usada cotidianamente para descrever uma série de

males subjetivos intrínsecos que vão desde um estado genérico de letargia até

uma sensação específica de calor nos músculos provocada pelo trabalho

intenso e resultante de sobrecarga de trabalho, trabalho cansativo (Houaiss,

Villar, Franco, 2009).

Page 101: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

100

Na síndrome de Burnout, os sintomas somáticos que mais aparecem

são: exaustão, fadiga, cefaléias, distúrbios gastrointestinais, insônia, dispnéia e

os psicológicos: humor depressivo, irritabilidade, ansiedade, rigidez,

negativismo, ceticismo e desinteresse (Murofuse, Abranches, Napoleão, 2005).

Verifica-se em:

Era o último horário, e eu estava bem cansado em uma quinta-feira, às 21h30min, estava sem auxiliar e a paciente não se mostrou a vontade para preencher a ficha clínica de anamnese com os dados pessoais e relatou que trabalhava como terapeuta, dando a crer que era uma paciente com comportamento de risco (Profissional 89).

d) Condição de estar psicologicamente dividido

A condição de estar psicologicamente dividido ocorre quando

executamos uma tarefa, mas não estamos onipresentes nela e com situações

pendentes para se resolverem ao mesmo tempo. Desencadeiam, muitas vezes,

sentimentos angustiantes, de muita ansiedade, seguidos de pressa e que nos

fazem perder a atenção, favorecendo os acidentes (Possobon et al., 2007). Por

exemplo, em:

A paciente tinha HIV positivo e era o último horário no curso de especialização, eu já estava cansada, preocupada com as crianças e atrasada para pegá-las e estava ainda lavando os instrumentais sem luvas e fui pegar agulha para reencapar quando me perfurei, espremi o dedo e fui orientada a procurar o IIER (Profissional 56).

e) Medo de Doenças Transmissíveis

Existem diferentes formas de medo: aquele tem uma razão de ser

evidente, quando nossa vida esta sendo diretamente ameaçada, e o medo

como manifestação de uma doença psicológica. Nesse caso, o medo não se

apresenta como reação a uma ameaça real com razão concreta e imediata,

mas é simplesmente, resultado de um estado de preocupação, ansiedade, ou

tensão bastante elevado. Sente-se medo de que algo possa acontecer, ou seja,

desencadeia um estado de pavor baseado em uma mera hipótese. No caso

das doenças transmissíveis, o profissional presencia o medo já no atendimento

Page 102: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

101

e esta tensão o remete, muitas vezes, a um descuido, favorecendo o acidente

(Oliveira et al., 2011).Verifica-se em:

Eu sabia que o paciente era HCV positivo. Eu tenho os dados do paciente. Estava tratando o canal e a lima 10, escapou e perfurou o dedo indicador da mão esquerda (Profissional 11).

f) Deficiência no Autocuidado

Autocuidado é a atenção e a ação que se exerce sobre si mesmo para

preservar e cultivar uma boa qualidade de vida de maneira responsável,

autônoma e livre, nas escolhas das ferramentas para sua realização.

Necessariamente, não significa estar bem o tempo todo, mas sim acolher os

confortos e desconfortos, ver as causas e escolher agir ou não sobre elas

(Dicionário do Aurélio, 2013). A falta de autocuidado pressupõe descuido

consigo mesmo e com o outro, pois passa a ser um elemento de autoproteção,

visto que é por meio do autocuidado que se refletem os aspectos da

subjetividade, também na condição profissional. Desta forma, em nosso

trabalho, identificamos que o autocuidado faz revelar muito mais que uma

autoproteção, mas uma postura de cuidado com o outro e que implica saúde,

que é um direito do indivíduo como cidadão e registrado na constituição

Brasileira (Freixinho et al., 2010).

Estava realizando uma exodontia e a alavanca escorregou, pois estava apoiando o dente da paciente com o meu dedo! Fui para o IIER depois de quatro horas e meia, pois decidi terminar todos os pacientes do serviço, primeiro! E fui bem atendida no PS (Profissional 71).

4.2.1.2 Ordem Técnica

a) Inadequação do Uso da Técnica

A técnica odontológica adequada é uma ferramenta da qual o

profissional dispõe para uma execução ideal de trabalho a ser realizado com

precisão, menor tempo de trabalho, melhor ergonomia. Depreendemos que

dela decorre muito mais que a excelência no desempenho profissional, pois

seguramente, a partir dela, atingimos um trabalho voltado ao outro, numa

dimensão de cuidado (Knackfuss, Barbosa, Mota, 2010). Verifica-se em:

Page 103: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

102

Era uma sexta – feira, durante a técnica anestésica, na remoção da agulha (carpule) a agulha tocou o dedo indicador em um movimento do paciente. Atribuo o acidente ao meu excesso de confiança. Eu terminei o tratamento no IIER, pois eu não queria ter nenhuma surpresa futura (Profissional 106).

b) Uso inadequado de Equipamentos de Proteção Individual (EPI)

Os acidentes podem ser definidos como toda ação não programada,

estranha ao andamento normal do trabalho, da qual poderá resultar dano físico

ou econômico. O uso adequado de EPIs é uma medida preventiva e eficaz na

redução de acidentes e que pode beneficiar o profissional, evitando-os. O uso

inadequado está relacionado a um aumento significativo de acidentes a

exposições ocupacionais (Simões et al., 2003).Verifica-se em :

Estava sem precaução nenhuma, pois o paciente já havia ido embora e após o procedimento, o equipamento usado estava na mesa de apoio e bati a palma da mão direita na ponta do instrumento com sangue! (Profissional 61).

c) Negligência no Manuseio do Material

Na negligência, alguém deixa de tomar uma atitude ou apresentar

conduta que era esperada para a situação, entretanto age. Age com descuido,

indiferença ou desatenção, menosprezo, não tomando as devidas precauções.

O profissional é displicente ou omissivo (Kiffer, Abrel, 2011). Confirma-se em:

Era de manhã e me preparava para o atendimento, quando fui verificar se o sugador estava ok e por pressão negativa o refluxo de líquidos atingiu mucosa oral e ocular, estava sem óculos de proteção e após 15 horas fiquei muito preocupado e decidi procurar o IIER (Profissional 103).

d) Imprudência

A imprudência, por sua vez, pressupõe uma ação precipitada e sem

cautela. A pessoa não deixa de fazer algo, não é uma conduta omissiva como

na negligência. Na imprudência, ela age, mas toma uma atitude diversa da

esperada. Há a falta de cautela, de cuidado que se deveria prever, porém não

previu (Kiffer, Abrel, 2011). Por exemplo, em:

Page 104: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

103

Houve a necessidade de uma odontosecção de um dente e por não estar usando óculos de proteção, um jato de sangue espirrou nos meus olhos (Profissional 31).

4.2.1.3 Ordem do trabalho

a) Sobrecarga

A sobrecarga de trabalho é apontada por muitos profissionais como

uma das causas do estresse. A sobrecarga de trabalho pode ser quantitativa,

quando há muito trabalho a fazer em relação ao tempo disponível, e qualitativa,

quando é atribuído ao trabalho maior grau de dificuldade que habitualmente. A

sobrecarga apontada nos discursos relaciona-se, principalmente, à escassez

de horas para executar muitas tarefas (Queluz, 2005). Confirma-se em:

[...] eu tive que tomar fluoxetina como medicação até saber os resultados dos exames e que me deixou com letargia e falta de atenção, pois me sentia com muita sobrecarga (Profissional 16).

b) Insatisfação

A insatisfação profissional pode, muitas vezes, estar ligada ao tipo de

trabalho executado de uma forma isolada, extremamente tecnicista, decorrente

do mercado competitivo e da baixa remuneração que geram alta de

insatisfação profissional e pode, ainda, estar relacionada com a noção do

contato imaginário de doenças infectocontagiosas. Várias outras crenças e

mitos relativos à doença continuam causando pânico e provocando

insegurança no profissional que assiste. Continua

forte a crença de que a AIDS é uma doença que está fora de nós

(Rodrigues, Domingos Sobrinho, Silva, 2005). Verifica-se em:

Eu estava muito cansada e não queria mais trabalhar entre 4 paredes, já tinha anestesiado o paciente e a agulha estava desencapada e quando fui pegar gaze, perfurei o polegar da mão esquerda (Profissional 27).

Page 105: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

104

4.2.1.4 Reincidências de Acidente

Três profissionais notificaram reincidência de acidentes odontológicos,

sendo que dois concluíram o protocolo de tratamento e um negligenciou o

protocolo dos dois tratamentos. Observa-se em:

Durante o procedimento de extração dentária, a alavanca escorregou e perfurou o dedo de apoio, pois fiquei com medo de machucar a paciente e instintivamente coloquei o dedo para proteger a paciente, em nenhum momento houve distração. Como já era o segundo acidente e em pouquíssimo tempo fui direto ao IIER... No primeiro eu me acidentei, pois fazia reencape de agulha sem olhar! (Profissional 77).

Na análise temática da questão Complemento, foi verificado se o

profissional tinha as informações de como proceder em casos de acidente com

perfurocortantes.

Esta questão apontou que dos profissionais entrevistados, 26 não

tinham as informações necessárias e 14 tinham informações prévias de como

proceder em casos de acidentes.

4.2.2 Informações sobre Biossegurança

Na análise temática relacionada à biossegurança foi verificado se o

profissional tinha as informações sobre protocolo de Atendimento em casos de

acidente com perfurocortantes e sobre protocolo Ativo de Biossegurança.

Na questão sobre como proceder, 26 profissionais informaram que não

tinham as informações necessárias e 14 tinham informações prévias de como

proceder em casos de acidentes. Dentre as respostas dos que afirmaram ter

sido informados, encontramos as seguintes:

Informação Prévia do Acidente Sim (14 profissionais) Congresso-(2)

Especialização-(1) Autodidata-(1) Equipe de Saúde-(1) Formação/Graduação-(4) No local de Trabalho e com 2 acidentes-(3)

Page 106: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

105

No IIER-(2) Não (26 profissionais) Descobriu na hora-(4)

Mídia-(1) Colega-(9) IIER-(3) Equipe de trabalho-(4) Familiares-(5) Cartilha do Ministério da Saúde-(1)

Quadro 4 - Fonte de Informação sobre o Risco Nota: os números entre parênteses referem-se ao total de discursos dos profissionais

entrevistados

4.2.2.1 Informação sobre Protocolo em Caso de Acidentes

Dos que afirmaram ‘saber’ como proceder em acidentes, destacamos

no grupo dos Sim, dois profissionais que tiveram a informação em congressos

(69 e 45), e dois em especialização (70 e 106). Isso sugere que estes

profissionais se mantêm em atividade profissional constante e fazem

aperfeiçoamento, pois um deles conta com 30 anos de formado (106) e o outro

25 anos (69). O profissional (71) relatou ser autodidata, verifica-se em:

Tomei conhecimento do acidente com perfurocortantes, na teoria com muita leitura, e pelas cartilhas do ministério, pois eu fazia atendimento, no consultório de paciente portador de HIV, muito precocemente (Profissional 71).

Os profissionais (01, 08, 35, 50) relataram ter obtido as informações na

graduação. Cabe ressaltar que eles possuem respectivamente um ano, três

anos e meio, oito anos e meio e treze anos de formados o que mostra que os

profissionais desta última década aparentam uma incorporação eficaz do uso

de EPIs como meio de proteção. Com o advento da AIDS na década de 80 os

agentes de formação tiveram uma preocupação maior com a capacitação

destes profissionais para o mercado de trabalho. Verifica-se, em:

Tive as informações de como proceder em acidentes em todas as disciplinas na graduação e quando aconteceu o meu acidente, eu fui a outro hospital e lá me encaminharam ao IIER (Profissional 35).

• Quanto aos profissionais que sofreram dois acidentes e notificaram (03,

37, 77), esses afirmaram que souberam como proceder, pois já tinham

Page 107: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

106

informações obtidas no primeiro acidente nos atendimentos do próprio

IIER.

No primeiro acidente fui orientada por um amigo que tinha as informações de como proceder em acidentes, e fui orientada a procurar o IIER e o paciente tinha hepatite C. Já no segundo acidente eu tinha informações adquiridas de como fazer no atendimento do IIER (Profissional 03).

• O profissional (23) referiu que, embora tivesse 12 anos de formado, não

teve na escola de graduação informações sobre como proceder em

acidentes e sim por meio de enfermeira (membro da equipe) do local de

trabalho que entre outras orientações, no momento do acidente, indicou

para ir ao IIER.

• O profissional (05) relatou saber como proceder em acidentes, pois

trabalhava com pacientes infectados de HIV, HCV e outras doenças

infecciosas e todos os protocolos de atendimento que além de

conhecidos eram seguidos. Verifica-se em:

Já tinha informações adquiridas no IIER, pois trabalho com pessoas infectadas (Profissional 05).

Entre os profissionais que disseram não ter as informações de como

proceder em acidentes, foi observado à seguinte disposição: quatro

profissionais descobriram na hora (39, 91, 95, 100); um pela mídia (103); nove

por colegas: cirurgiões- dentistas, médicos e enfermeiros (89, 42, 55, 56, 60,

26, 03, 07, 20); um refere à descoberta no próprio IIER (19); quatro pela equipe

de trabalho (42, 26, 30,07); seis por familiares, nestes casos, a figura que mais

contribuiu para as informações foram as mães (44, 53, 31, 32, 33,11); um

profissional relatou ter as informações pela cartilha do ministério da saúde (27).

4.2.2.2 Protocolo Ativo de Biossegurança

Entende-se por Protocolo Ativo um local que segue as normas e

condutas satisfatórias quanto a Biossegurança. Neste item, os quesitos mais

importantes destacados pelos participantes foram:

Page 108: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

107

• Esterilização realizada por autoclaves;

• Uso de EPIs pelo profissional e equipe auxiliar;

• Vacinação contra Hepatite B;

• Agulhas, seringas e caixas de descarte descartáveis;

• Uso de Luvas descartáveis;

• Lavagem das mãos.

Na questão sobre Protocolo Ativo de Biossegurança:

Local SIM NÃO

Posto de Saúde 1 2

Instituição A 3

Empresa B 1

Consultório-Particular 26 4

Hospital A 1

Curso 1

IIER 1

Total 33 7

Quadro 5 - Descrição de Protocolo Ativo de Biossegurança

Dos profissionais que seguem protocolo ativo de biossegurança,

encontramos dispostos da seguinte forma:

O profissional 91 trabalha em posto de saúde onde tudo é realizado de

acordo com as normas adequadas de biossegurança. Os profissionais 71 e 26

também trabalham em posto de saúde e referiram que as normas não são

seguidas, pois, muitas vezes, há falta de estrutura e de funcionamento dos

equipamentos e nem sempre há recursos humanos compatíveis com a

demanda de trabalho. Confere-se em:

Eu estava terminando a raspagem de dentes de um paciente e fui descartar a ponta do ultrassom, que estava enferrujada e emperrada, quando furei o dedo e a minha auxiliar neste dia havia faltado (Profissional 26 ).

Page 109: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

108

Os profissionais que trabalham na empresa A (95,100,37) em

diferentes unidades em São Paulo, relataram que o protocolo é sempre

seguido no que se refere a esterilização de instrumentais, uso de luvas

descartáveis, lavagem das mãos sempre, paramentação clínica; além disso,

alegam contar com informações para funcionários ligadas aos caso de

acidentes, bem como controle periódico de vacinas, tanto para profissionais

quanto para auxiliares. Verifica-se em:

Aqui na empresa, sempre temos orientações de seguimento de acidentes e também fazemos os exames periódicos ocupacionais, isto é para todos os que trabalham na área da odontologia (Profissional 100).

O profissional 103 relatou que trabalhava em uma empresa particular

B, onde o protocolo nem sempre era seguido, pois o volume de pacientes na

unidade em que trabalhava era muito grande.

Dos profissionais que atendiam em Hospital A (42), Curso (56) e no

IIER (05), todos concordaram que, nestes locais, o protocolo de biossegurança

é sempre seguido de uma forma exemplar. Confirma-se em:

Eu fazia especialização em um curso onde tudo as normas de biossegurança eram seguidas e havia um professor no dia do acidente que me orientou muito, principalmente a não lavar os instrumentais sem luvas adequadas de proteção (Profissional 56).

Quanto aos profissionais que clinicavam em consultório particular

próprio ou prestavam serviços em clínica particular (01,07, 11,16, 17, 18, 19,

20, 23,27, 30, 32, 33, 35, 39, 44, 45, 53, 55, 60, 61, 69, 70, 77, 89) esses

mostraram ter conhecimento sobre este quesito. Muitos deles apresentaram o

consultório durante a entrevista, o que facilitou esta conclusão. O profissional

106 tem 30 anos de formado e disse também que executa todos os protocolos

de biossegurança, além de controle periódico de vacinas e controle de hepatite

C. Verifica-se em:

Faço da minha profissão uma referência para não contaminar meus pacientes e vice-versa. Com o uso de paramentação adequada e cuidados para o atendimento e também controle periódico de Hepatite C (Profissional 106).

Page 110: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

109

Quanto aos quatro profissionais que apresentaram protocolo inativo de

biossegurança (03, 08, 31, 50) e que trabalhavam em consultório particular,

destacaram-se aqueles que afirmaram não lavar as mãos entre os

atendimentos de um paciente para outro e também não lavam as mãos antes

do atendimento odontológico e sim, depois. Os consultórios onde prestavam

serviço não apresentavam normas ideais de esterilização e, muitas vezes, o

próprio equipamento de trabalho não funcionava de forma ideal para executar

as tarefas com precisão (sugador paralisado, caneta de alta-rotação quebrada,

esterilização feita por estufa e não por autoclave, entre outros). Por exemplo,

em:

Lavo as mãos sempre depois de atender o paciente, normalmente passo álcool sobre as luvas na hora de atender o paciente (Profissional 03).

4.2.3 Mudanças ocorridas após o Acidente

Na questão aberta: “O que mudou na rotina de trabalho e na sua vida

depois do acidente?” foram encontradas quatro categorias: Ordem Pessoal;

Ordem Técnica; Ordem de Trabalho e Ordem de Prevenção.

Na Ordem Pessoal houve uma subcategoria dos entrevistados que não

apresentou mudanças (5), sendo que três (3) entrevistados já eram criteriosos

e também tinham cuidado com prevenção e dois(2) entrevistados não

apontaram mudanças, mas ficou claro em seus discursos que foi por

banalização do próprio acidente e em não acreditarem na seriedade causada

por eles.

Page 111: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

110

Ordem Pessoal Ordem Técnica Ordem do

Trabalho

Prevenção de

Acidentes

Aumento no Auto cuidado Mais Criterioso (20)

- Melhora da Técnica (12)

-Delegar Atividades (1)

- Noções de Alteridade (1)

Reduziram a Onipotência(5)

- Mudança da Técnica ( 2)

- Troca de Emprego ( 1)

- Heterocuidado (5)

Melhora na Auto Percepção (4)

- Melhora na Orientação para Conduzir Casos

Clínicos (1)

- Melhora na Percepção do Trabalho (1)

- Seriedade na Prevenção(4)

Seriedade no Uso da Terapia antirretroviral

(TARV) (3)

- Atenção na Limpeza (1)

Melhora na Atenção (12) - Uso Adequado de EPI ( 2)

Reconhece Limites (4)

Mudança de Emprego (3)

Melhora na Condição Pessoal (1)

Troca de Área/Especialidade(1)

Diminuição de Carga de Trabalho (2)

Total dos Discursos=55 18 3 10

Quadro 6 - Mudanças ocorridas após o Acidente

• Ordem Pessoal: Nesta categoria, ficaram agrupados os discursos de:

Aumento do AutoCuidado e Criteriosidade, Redução da Onipotência,

Melhora na AutoPercepção, Seriedade no Uso de TARV, Melhora na

Atenção, Reconhecimento de Limites, Mudança de Emprego, Melhora

em Condições Pessoais, Troca de Especialidades. Totalizaram-se, nesta

categoria, 55 discursos predominantes.

• Ordem Técnica: - Melhora da técnica, Mudança da técnica, Melhora da

orientação para os casos, Atenção na limpeza, Uso adequado de EPI,

• Ordem de Trabalho: Delegar as atividades, Troca de emprego, Melhora

na percepção do trabalho,

• Prevenção: Noções de alteridade, Heterocuidado, Seriedade na

prevenção.

Page 112: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

111

4.2.3.1 Ordem Pessoal

Nesta categoria, ficaram agrupados os discursos que revelaram

aspectos dos entrevistados quanto à percepção de suas mudanças no seu

cotidiano e após o acidente de trabalho. Desta forma, agrupamos os motivos

alegados em:

a) Aumento no Autocuidado:

• Mais Criterioso

Autocuidado é a atenção e a ação que se exerce sobre si mesmo para

preservar e cultivar uma boa qualidade de vida de maneira responsável,

autônoma e livre nas escolhas das ferramentas para sua realização. A palavra

criterioso revela aquele que possui critério, ponderação, medida, equilíbrio,

discernimento para distinguir o verdadeiro do falso. (Dicionário do Aurélio,

2013).

Cuidado deriva do inglês ‘carion’ e das palavras góticas ‘kara’. Como

substantivo, significa aflição, pesar ou tristeza. Como verbo, significa aflição, ter

preocupação por, sentir uma inclinação ou preferência, respeitar, considerar,

no sentido de ligação de afeto, amor, carinho e simpatia.

O aumento no autocuidado sugere uma possibilidade para observar-se

e perceber como está o corpo físico, mental e emocional, e poder agir sobre ele

de maneira benéfica e saudável para melhoria na qualidade de vida. Ao se

perceber, o profissional se torna mais criterioso e menos negligente consigo

mesmo e capaz de cometer menos acidentes (Kovacs, 2010). Verifica-se em:

Tento tomar mais cuidado durantes as cirurgias quando não estou muito sobrecarregada porque nestes casos eu entro em desespero e não há um planejamento na minha agenda que é controlada por outras pessoas[...]” “ Eu tomo mais cuidado comigo, pois também viajo pela Dutra para trabalhar e eu aprendi a dar muito valor para a vida humana e também gostaria de ter mais voz ativa para cuidar de todos no serviço. (Profissional 71).

Page 113: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

112

b) Reduziram a Onipotência

Apesar de muitos profissionais da saúde (pelo próprio exercício da

profissão) possuírem a falsa idéia da onipotência, em que Onipotência é

entendida como o poder supremo ou absoluto; Autoridade extrema; o poder de

fazer tudo (Dicionário do Aurélio, 2013).

Em seus relatos, fica claro o entendimento de que é preciso que se

tenha consciência e trabalhe com fatos reais, saber que a vida é vulnerável e

que nem sempre se podem ultrapassar as barreiras físicas, emocionais e de

biossegurança, bem como se expor a acidentes de riscos de doenças

infectocontagiosas. Confirma-se, em:

Fiquei mais criteriosa comigo e passei a delegar tarefas e também a encaminhar pacientes de cirurgia para outros colegas que fazem a especialidade dentro de serviço, pois minha área de atuação é prótese e endodontia (Profissional 100).

c) Melhora na AutoPercepção

A melhora na auto percepção está relacionada aos aspectos da saúde

física, cognitiva e emocional e com a capacidade que o profissional possui de

se perceber no ambiente e no contexto (Ofstedal et al., 2002).

Autopercepção é definida como a reação do sujeito a um estímulo

exterior, que se manifesta por fenômenos químicos, neurológicos, relativos aos

dos órgãos dos sentidos e do sistema nervoso central, e por diversos

mecanismos psíquicos tendentes a adaptar essa reação a seu objeto, como a

identificação do objeto percebido (ou seu reconhecimento), sua diferenciação

por ligação aos outros objetos etc. (Dicionário do Aurélio, 2013). Confirma-se,

em:

Mudou tudo na minha rotina! Mudou a biossegurança do meu trabalho, fiquei mais atenta com as pessoas que me auxiliam, mais atenta aos detalhes e com a possibilidade de ocorrer acidentes fiquei mais cuidadosa, pois estou reingressando na profissão, depois de 28 anos e até vacina de hepatite eu tive que tomar por conta do acidente (Profissional 07).

Page 114: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

113

d) Seriedade no Uso da Terapia Antirretroviral

Os profissionais acidentados, quando procuram o serviço público para

atendimento, são avaliados por um profissional que vai indicar o tratamento

com terapia antirretroviral, de acordo como histórico relatado. A seriedade no

uso da medicação esta relacionada com a adesão e o acompanhamento

adequado para sua continuidade ou não.

O Brasil garante acesso universal e gratuito à terapia antirretroviral.

Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 30 mil pessoas iniciam o tratamento

antirretroviral, no país a cada ano. Das 530 mil pessoas que vivem com HIV no

país, atualmente, 135 mil desconhecem sua situação e, cerca de 30% dos

pacientes, ainda chegam ao serviço de saúde tardiamente (Brito, 2012). Por

exemplo, em:

O que me fez procurar ajuda imediatamente foi o medo de ter que tomar a medicação preventiva novamente, pois já tinha sofrido um acidente em 2009 e que me fez passar muito mal durante o período de tratamento (Profissional 42).

e) Melhora na Atenção

O comportamento voltado para a atenção do profissional se deveu ao

fato de estar mais atento aos riscos com acidentes perfurocortantes e tentar

preveni-los por meio da concentração na atenção, no instante do atendimento,

principalmente nos momentos de manipular objetos como agulhas, e terminar o

atendimento com calma. A falta de atenção associada à pressa de terminar o

atendimento também favoreceu a ocorrência de acidentes (Teixeira,

Fernandes, Serratini, 2008). Confirma-se em:

Agora eu tenho maior conscientização dos riscos em que os profissionais da saúde estão expostos no dia a dia e, redobrei a atenção em relação à anamnese de pacientes e ao manuseio com objetos perfurocortantes e sempre que possível, utilizo dupla luvas para atendimento a pacientes de grupo de risco a doenças infectocontagiosas (Profissional 01).

Page 115: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

114

f) Reconhecimento de Limites

Reconhecer os limites da profissão faz parte de um processo de

reflexão e maturidade que colabora para a saúde mental e física dos

profissionais da saúde. Ultrapassar os limites saudáveis do trabalho pode levar

o profissional a desenvolver a síndrome de Burnout ou síndrome do estresse

profissional, reconhecida como uma condição experimentada por profissionais

que desempenham atividades em que está envolvido um alto grau de contato

com outras pessoas. É definida como uma resposta ao estresse emocional

crônico intermitente e, em profissionais da área de saúde, é composta por

sintomas somáticos, psicológicos e comportamentais. Os sintomas somáticos

compreendem: exaustão, fadiga, cefaléias, distúrbios gastrointestinais, insônia

e dispnéia, e os psicológicos: humor depressivo, irritabilidade, ansiedade,

rigidez, negativismo, ceticismo e desinteresse. A síndrome de Burnout envolve

atitudes e condutas negativas com os usuários, clientes, organização e

trabalho. É um processo gradual, de experiência subjetiva que resulta em

problemas práticos e emocionais no trabalhador e na organização (Nogueira-

Martins, 2003). Observa-se, em:

Eu me acidentei por conta da pressa em reencapar agulha anestésica, eu queria limpar tudo rápido! E deixar tudo em ordem, pois tinha que fazer um encaixe de um paciente com dor e isto me trouxe muita preocupação e ansiedade! Mas, depois do acidente, eu não atendo mais os pacientes com pressa! Faço tudo com mais calma, e qualquer coisa eu remarco os pacientes e também não faço mais reencape de agulha, mudei a forma de fazer (Profissional 08).

g) Mudança de Emprego

O mercado de trabalho, na área da odontologia, aponta, nos dias

atuais, a predominância de mulheres e a concentração dos profissionais na

região Sudeste, com estes atuando, principalmente, como autônomos. A idéia

de seguir carreira autônoma em consultório particular, pautada nas

possibilidades de lucro, ainda é um fator dominante. A realidade da

Odontologia tem permanecido cada vez mais vinculada à realidade das classes

operárias, nas quais a jornada de trabalho é superior a 40 horas semanais,

tendo, em algumas situações, mais de um vínculo e possibilidades de

Page 116: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

115

remuneração menores, além do atrelamento quase que compulsório a

convênios (Saliba et al., 2012).

A mudança de emprego neste tema relacionou-se com a saída do

profissional de um consultório próprio particular, onde aconteceu o acidente,

para uma instituição, a fim de uma carreira multidisciplinar mais focada na

prevenção odontológica e sem riscos com material perfurocortante. Observa-

se, em:

Abandonei meu consultório, pois não queria ficar entre quatro paredes! Estava muito cansada com tudo e queria ficar em consultoria de empresas. Ainda estou me identificando com outras áreas para fazer mudanças e comecei um trabalho de odontologia preventiva dentro de uma empresa com crianças, onde eu ensino e não trato clinicamente! (Profissional 27).

h) Melhora na Condição Pessoal

A melhora na condição pessoal está relacionada a uma melhora na

qualidade de vida e que é um conceito muito mais amplo, subjetivo e que

envolve vários componentes essenciais da condição humana, quer seja físico,

psicológico, cultural ou espiritual. Atitudes sadias implicam prevenir e estar livre

de doenças; para tanto, é necessário adotar práticas saudáveis de: higiene

pessoal, cuidados médicos, prevenção de acidentes e equilíbrio das atividades

diárias, como trabalho, recreação, sono e repouso. Todos esses fatores

colaboram para a satisfação pessoal e profissional, além de resultarem em um

bom desempenho no trabalho (Regis Filho, Ribeiro, 2012).

[...] Eu não sabia como fazer na hora do acidente e quase desisti do atendimento, pois o médico que me atendeu sugeriu que se eu tivesse 60 anos e seis filhos eu não precisaria de terapia antirretroviral, mas eu insisti e depois isto me valeu, pois logo que atendo os meus pacientes, desmonto tudo para evitar acidentes e fiquei muito mais atenta durante o tratamento com os pacientes e comecei a deixar tudo que tem ponta na direção contrária a mim (Profissional 61).

i) Troca de Área/ Especialidade

As especialidades odontológicas surgiram com a função de aprofundar

em uma área específica do conhecimento e que, pela complexidade ou

Page 117: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

116

especificidade, foge ao alcance do clínico geral (Conselho Federal de

Odontologia (CFO), 2010).

Hoje eu procuro administrar mais e trabalhar menos e comecei a me dedicar a áreas específicas como ortodontia e odontopediatria que me expõe menos a acidentes (Profissional 03).

j) Diminuição de Carga de Trabalho

A diminuição da carga de trabalho é essencial para o ser humano, seja

pela ordem econômica, social ou biológica. Na Declaração Universal dos

Direitos do Homem (Organização das Nações Unidas (ONU), 1948), destaca-

se no artigo XXIV - Todo homem tem direito a repouso e lazer, inclusive a

limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas. O

fundamento legal dessa lei está na Constituição Federal, CLT, Capítulo II,

Artigos 57 a 75, e Lei 605/49 (Brasil, 1949). Confere-se, em:

Era um momento muito difícil da minha vida, muito tumultuado e estressante, com jornadas de trabalho das 8: 30 h as 22h e ainda fazia especialização[...] e, devido a isto eu acabava me sentindo muito cansada e sobrecarregada para atender e acabei me perfurando no reencape da agulha e hoje eu mudei a minha rotina de trabalho, não faço mais reencape e ajustei os meus horários da rotina profissional e sai de um emprego para ganhar mais qualidade de vida com menos horas de trabalho (Profissional 47).

4.2.3.2 Ordem Técnica

a) Melhora da Técnica

O cirurgião-dentista tem sido apontado na literatura como um

profissional vulnerável a riscos ocupacionais, devido às características

peculiares à sua atuação profissional e os resultados conseguidos na execução

do trabalho. Com a melhora da técnica odontológica, seja ela manual ou por

meio de técnica automatizada, conferem maior segurança e domínio para se

evitar acidentes com perfurocortantes. Confirma-se, em:

[...] Em consultório não deixei de atender nenhuma pessoa que fosse portadora de HIV. Se eu me acidentasse de novo, não espremeria mais o dedo e melhorei a técnica cirúrgica comecei a usar afastador labial durante o procedimento de sutura com agulhas (Profissional 33).

Page 118: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

117

b) Mudança de Técnica

A mudança da técnica está associada à execução de alguns

procedimentos odontológicos geradores de ansiedade profissional e que

aumentam antes de sua execução, independentemente da colaboração do

paciente. Quando o profissional consegue observar o seu próprio

comportamento e fica atento não somente aos aspectos técnicos da prática

odontológica, mas também aos efeitos desta prática sobre o repertório de

comportamentos do paciente e dos acompanhantes, se estabelece uma

interação de segurança e tranquilidade, o que facilita a realização dos

procedimentos, de forma rápida e segura, para todos os envolvidos, com a

diminuição dos acidentes de risco (Possobon, 2007). Por exemplo, em:

Já tinha medo de acidentes! E agora eu tomo muito mais cuidado, mudei a técnica cirúrgica para me sentir mais segura (Profissional 69).

c) Melhora na Orientação dos Casos Clínicos

Para muitos profissionais da odontologia, o aparecimento do HIV

revelou despreparo, preconceito e medo em relação ao tratamento de

pacientes portadores do vírus, em razão da estigmatização em torno da

doença. Quando os procedimentos de proteção precaução são utilizados como

rotina, em qualquer atendimento odontológico, associados à busca de

conhecimentos adequados em Biossegurança, acabam funcionando como

prevenção das infecções e também um caminho para vencer o preconceito.

Porém, quando o profissional não se sente apto ao atendimento de

casos complexos, pode contar com assistência de especialistas, a fim de

garantir a eficiência de tratamento (Silva, 2010). Confirma-se, em

[...] Realizo uma anamnese mais detalhada. Fiquei muito apavorada com tudo que aconteceu, pois eu fui muito mordida pelo paciente que convulsionou durante o atendimento e tive que segurá-lo no PS para esperar o atendimento e tentava estancar a hemorragia do dente, depois do atendimento e agora eu peço mais exames de sangue e trato todos como se tivessem a doença. O principal é que agora eu indico para os serviços especializados os pacientes suspeitos de HIV e Hepatite (Profissional 20).

Page 119: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

118

d) Atenção na Limpeza

O controle da Infecção odontológica deve fazer parte de um protocolo

de biossegurança no interior de cada consultório. Os instrumentos

odontológicos são classificados em três categorias: críticos, semicríticos e não

críticos. Instrumentos cirúrgicos e outros que são utilizados para penetrar o

tecido ou osso são classificados como críticos e devem ser esterilizados em

autoclave, após cada uso. Esses dispositivos incluem fórceps, curetas, cinzel

de osso, sondas e brocas. Os instrumentos, tais como espelhos e

condensadores de amálgama, que não penetram tecidos macios ou não

desossam tecidos orais são classificados como semicríticos e devem ser

também esterilizados em autoclave, após cada uso. Os materiais não

descartáveis utilizados durante o atendimento clínico devem ser lavados

separadamente, em pias exclusivas para esta finalidade, após processo de

degermação. Se, entretanto, a esterilização não é praticável porque o

instrumento será danificado pelo calor, o instrumento deve receber, pelo

menos, a desinfecção de nível elevado. Os instrumentos ou os dispositivos

odontológicos que entram em contato somente com pele intacta são

classificados como não críticos, porque estas superfícies têm relativamente um

baixo risco para transmitir infecção; dessa forma, pode ser feita a desinfecção

de nível intermediário ou baixo, por exemplo, lavagem com detergente e água.

Desinfecção é o processo que elimina micro-organismos na forma

vegetativa, excetuando-se os esporos. Esterilização é o processo capaz de

destruir todas as formas de vida microbiana como bactérias, fungos e vírus,

inclusive na sua forma vegetativa e esporulada (Knackfuss, Barbosa, Mota,

2010). Observa-se, em:

Perfurei o dedo após instrumentação de canal e eu sabia que o paciente tinha HCV! E depois disto presto muito mais atenção durante o procedimento de limpeza das limas e brocas e tudo. Troco os estopes (borracha) que encaixam nas limas mais frequentemente e cuido bem do controle de esterilização (Profissional 11).

e) Uso Adequado de EPI

Page 120: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

119

O uso de equipamentos de proteção individual (EPI) tem a finalidade

de impedir que microrganismos provenientes de pacientes por sangue, fluidos

orgânicos, secreções e excreções contaminem o profissional de saúde e sua

equipe. Os EPIs incluem luvas próprias para cada procedimento, avental

impermeável de mangas compridas, gorro com cobertura da orelha, máscara e

óculos de proteção que não deve ser confundindo com o uso de lentes

corretivos e que devem ser usados pelos cirurgiões-dentistas (Jorge, 2002).

Confirma-se, em:

Não atendi mais no consultório do local do acidente. Passei observar melhor a qualidade e a quantidade de instrumental e equipamentos para trabalhar. Nunca deixo de utilizar a paramentação em biossegurança, embora onde trabalho no período da manhã, as normas e protocolos são sempre executados (Profissional 50).

4.2.3.3 Ordem do Trabalho

a) Delegar Atividades

Delegar significa transmitir poderes por delegação; incumbir alguém.

Em odontologia delegar tarefas esta relacionado com a contratação de pessoas

qualificadas como o auxiliar de consultório dental (ACD) e o técnico de higiene

dental (THD), profissões estas regulamentadas a partir de junho de 2000, pelo

CFO, órgão responsável pela regulamentação do exercício profissional da

classe odontológica no Brasil. A produtividade máxima de um profissional só

pode ser alcançada com a adoção de pessoal auxiliar e com delegação de

funções e não pode ser confundida com busca de status ou aumento de

custos. Seu principal objetivo é a promoção de maior eficiência, elevação do

rendimento, a otimização do uso do tempo e diminuição de custos

operacionais, além de prevenir acidentes com perfurocortantes (Queluz, 2005).

Por exemplo, em:

Hoje eu evito trabalhar até muito tarde. No dia do acidente eu estava sem auxiliar e muito sobrecarregado (Profissional 89).

b) Troca de Emprego

Page 121: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

120

Do mesmo modo que na ordem pessoal, também apareceu à troca de

emprego relacionada à ordem do trabalho. Na Declaração Universal dos

Direitos do Homem de 1948, o artigo XXIII, refere nos Parágrafos 1 e 2 que:

• Toda pessoas tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a

condições equitativas e satisfatórias do trabalho e à Proteção contra o

desemprego.

• Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por

trabalho igual.

Por exemplo, em:

Eu decidi sair do emprego, pois meu chefe responsável, também ia sair, por conta de conflitos administrativos e sei que não seria bom para mim, continuar com a equipe que estava lá, além do que, eu já tinha sofrido o acidente! (Profissional, 95).

c) Melhora na Percepção do Trabalho

Os acidentes com instrumentos perfurocortantes são característicos,

muitas vezes, da sobrecarga de trabalho e da exaustão profissional à qual está

submetido o profissional. A melhora na percepção do trabalho resgata o

reconhecimento dos sinais e sintomas indicadores deste desgaste laboral e

deixa reflexos nas condições de vida destes. Confere-se, em:

Eu me sentia muito mal, pois meu cachorro havia morrido naquela semana. Hoje estou mais atenta nos procedimentos de raspagem periodontal e atendo todos os pacientes como se fossem portadores do vírus HIV e Hepatite (Profissional 23).

4.2.3.4 Prevenção de Acidentes

a) Noções de Alteridade:

A noção de alteridade está relacionada com o caráter ou estado do que

é diferente; que é outro; do que é distinto, que se opõe a identidade. Em

filosofia, relaciona-se com a condição ou característica que se desenvolve por

relações de diferença, de contraste, de mudanças (Dicionário do Aurélio, 2013).

Confirma-se em:

Page 122: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

121

Por conta do acidente que eu sofri com alguém que nem sei quem era e contrai hepatite C, em um momento que não se usava luvas, eu decidi terminar meu tratamento no IIER, pois não queria ter nenhuma surpresa com vírus HIV e também não queria mais nenhum problema para minha vida (Profissional 106).

b) Heterocuidado

O conceito de heterocuidado faz parte das competências profissionais

e se relaciona com o cuidado do outro, que é diferente do cuidado de si próprio,

possibilitando efetivamente uma condição de saúde para o outro, encargo ou

uma responsabilidade. O heterocuidado sugere um processo de reflexão e,

também, argumentos para o cirurgião-dentista reconhecer sua realidade

pessoal de ser finito e aponta caminhos para o reabastecimento de sua

vitalidade, por meio do cuidado de si. Um profissional adoecido que está em

burning-out também está envolvido em atitudes e condutas negativas que

podem trazer problemas no relacionamento com seus pacientes, colegas e,

também, queda na produtividade e na qualidade dos serviços prestados, além

de não conseguir pensar no outro. (Garbin, Saliba, Gonçalves, 2006). Observa-

se em:

Em relação ao acidente, eu aconselho os meus colegas, que trabalham nas mesmas condições em que me encontrei, a usarem óculos de proteção nos momentos em que realizam cirurgias e usam brocas para remover dentes, para aumentar a proteção e evitar acidentes (Profissional 31).

c) Seriedade na Prevenção

Dentre os cuidados em biossegurança na Odontologia que devem ser

observados internacionalmente, destacam-se o uso correto dos Equipamentos

de Proteção Individual (EPI), principalmente o uso correto de luvas, óculos de

proteção, máscara, avental e gorro, o que não exclui lavar frequentemente as

mãos. Para que haja proteção ideal do profissional contra exposições a

doenças infectocontagiosas, ele deve estar, também, devidamente vacinado,

por exemplo, contra Hepatite B. Observa-se, em:

Neste momento estou conseguindo usar duplas luvas em pacientes suspeitos e sem dificuldades e também pedi para todo o corpo auxiliar da minha clínica tomar vacina de hepatite

Page 123: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

122

B e as pessoas foram procurar o serviço por conta do que aconteceu comigo (Profissional 17).

Dois acidentes foram banalizados, pois um profissional, embora

dissesse na entrevista que não houve mudanças após o ocorrido, acabou

demitindo-se do emprego por insatisfação pessoal, readequando-se a outro

local de trabalho, fato que contradisse sua fala e comportamento. Outro

profissional não atribuiu nenhuma mudança na vida ou rotina de trabalho, pois

segue os protocolos recomendados pela instituição na qual trabalha, sempre

usa todos os EPIs a cada atendimento, e também, óculos de proteção sobre

lentes corretivas. Confere-se, em:

[...] eu estava passando por um momento delicado de insatisfação dentro da empresa e por fim acabei me desligando [...] E quanto à rotina de trabalho? Não mudou nada na minha vida e na minha rotina, pois o que devemos fazer para evitar, e eu faço normalmente e o que tiver que acontecer de acidentes vai acontecer. È uma profissão de riscos e acidentes acontecem (Profissional 95).

Page 124: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

123

5 DISCUSSÃO

___________________________________________________________________

Page 125: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

124

A predominância dos profissionais foi do sexo feminino e idade média

de 33,6 anos e mínima de 22 anos, o que está compatível com Moysés (2003),

que revisou outras publicações sobre política de saúde e formação de recursos

humanos em odontologia e relatou progressiva feminização do trabalho, com

predomínio de profissionais jovens, até 30 anos, com altíssima concentração

na região sudeste, especialmente no estado de São Paulo, atuando como

clínicos gerais e/ou especialistas nos seus consultórios particulares. A maioria

tem a autopercepção de que ainda são profissionais liberais autônomos.

Contudo, a realidade mais típica das classes trabalhadoras assalariadas

confronta esta autopercepção liberal dos dentistas. Mais de 40% deles

declararam exercer uma jornada de trabalho igual ou maior de 44 horas

semanais, 37% admitem duplo vínculo com emprego público ou privado, e mais

de 48% deles admitem uma renda familiar máxima mensal de até sete salários

mínimos. Um número bastante importante dos profissionais, exercendo a

prática privada, também reconhece serem dependente dos convênios /

credenciamentos, que poderiam ser percebidos como uma forma de

“assalariamento indireto”, exercido no próprio consultório privado, dada à

grande dependência desta modalidade de vínculo na geração de “receita”

(Moysés, 2003).

Neste contexto, foram relatados acidentes em 25 (24,3%) profissionais

do grupo geral e 3 (7,5%) do grupo entrevistado que trabalha no período

noturno. A maioria dos acidentes ocorreu durante o dia. Os consultórios

particulares privados funcionam, principalmente, no período diurno e, poucos,

no noturno. Paralelamente à enfermagem, os acidentes ocorreram no final de

plantão e relacionados ao cansaço físico (Bakke, Araújo, 2010).

A sexta-feira foi o dia com maior ocorrência dos acidentes

perfurocortantes apontado pelos profissionais. Esse dado é pouco mencionado

na literatura para Odontologia.

Para estudos realizados na área de Enfermagem temos que os

acidentes ocorrem predominantemente às segundas-feiras (27,7% em 2003 e

24,6% em 2004) e no período da manhã (63%, em 2003, e 54,8%, em 2004).

Constatou-se queda acentuada da ocorrência dos acidentes de trabalho aos

Page 126: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

125

sábados e domingos bem como no período da noite, fato que pode estar

relacionado à redução de atividades e do número de trabalhadores expostos ao

risco, uma vez que as equipes de trabalho são reduzidas, nos finais de semana

e no período noturno.

No período da manhã, nos hospitais, geralmente, são efetuadas

atividades nas quais há manuseio de material perfurocortante, entre os quais

cateteres intravenosos, agulhas, lâminas de bisturis, entre outros. Considera-se

que, devido à rotina adotada, o trabalhador, no período da manhã, está mais

exposto a riscos acidentais (Marziale et al., 2007).

Na Odontologia, isso pode estar ligado ao fato de ser a sexta-feira o dia

em que se acumula o maior nível de estresse e ansiedade, muitas vezes ligado

ao fato de uma semana extenuante de trabalho e mais de um local de atuação.

Poucos estudos referem o dia da semana como o de maior risco para o

acontecimento de acidentes. O que parece uma relação lógica por ser a sexta-

feira o último dia da semana de trabalho, o mais exaustivo e o mais

estressante. Considerando a população de cirurgiões dentistas vulnerável para

o risco de acidentes, cabe ressaltar que, muitas vezes, tais riscos estão

associados a fatores como stress físico e emocional, horas demasiadas de

trabalho, diferentes locais de trabalho com rotinas diversas que requerem maior

atenção, distração, pressa e fatores como dia da semana e hora provável do

acidente.

O estresse é relatado por Carlotto (2009) como fator preponderante

para o acontecimento de acidentes. A preocupação com a questão do estresse

reside na sua provável relação com o adoecimento ou sofrimento que ele

provoca. Os sintomas físicos mais comuns relatados por Carlotto são: fadiga,

dores de cabeça, insônia, dores no corpo, palpitações, alterações intestinais,

náusea, tremores, extremidades frias e resfriados constantes.

Entre os sintomas psíquicos, mentais e emocionais, encontram-se

diminuição da concentração e memória, indecisão, confusão, perda do senso

de humor, ansiedade, nervosismo, depressão, raiva, frustração, preocupação,

medo, irritabilidade e impaciência (Murofuse, Abranches, Napoleão, 2005). De

Page 127: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

126

acordo com as cargas psíquicas, essas são exemplificadas pela expôsição à

atenção permanente no trabalho, à supervisão com pressão, à consciência da

periculosidade do trabalho, aos altos ritmos de trabalho, à repetitividade, à

monotonia e à falta de criatividade (Sarquis, Felli, 2002).

Há trabalhos de Odontologia que apontam o cansaço excessivo como

um agravante do stress e que pode levar à síndrome de Burnout que é uma

doença de ordem psicofisiológica, como uma resposta ao estresse laboral

crônico, tratando de uma experiência subjetiva interna que agrupa sentimentos

e atitudes e que tem um perfil negativo para o indivíduo, pois implicam

alterações, problemas e disfunções, pela qual o profissional perde o sentido da

sua relação com o trabalho e este deixa de ter a importância de vida e qualquer

esforço parece ser inútil. Trata-se de um conceito multidimensional que envolve

três componentes, os quais podem aparecer associados, ainda que são

independentes como a exaustão emocional e a despersonalização do trabalho,

tornando-o mecânico, o que e levando à desmotivação e á falta de

envolvimento no trabalho (Regis Filho, Ribeiro, 2012).

Entre as causas relatadas de acidentes, os autoacidentes ocorreram

em 78 (75,7%) dentistas do grupo geral e 26 (65%) do grupo dos entrevistados,

seguido de reencape de agulhas, com um total de 9(8,7%) e 3(7,5%),

respectivamente. A maioria dos estudos focaliza uma determinada categoria de

trabalhador, sendo os profissionais de enfermagem os mais estudados,

aparecendo, portanto, como os mais expostos (Silva, 2010).

O acidente com perfurocortante acometeu 87 (84,5%) dos dentistas no

grupo geral e 36 (90%) no grupo entrevistado. Esse tipo de acidente é o mais

comum entre enfermeiros, médicos e dentistas e é o mais grave e de maior

risco. Esses dados vêm ao encontro com a literatura que afirma ser o

perfurocortante o objeto mais frequente nos acidentes de trabalho. Nas

instituições hospitalares de outros países como Austrália, Arábia Saudita e

países europeus as frequências de acidentes com perfurocortantes entre os

trabalhadores de enfermagem são altas e variadas (Sarquis, Felli, 2002).

Page 128: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

127

A predominância do objeto perfurocortante como causa do acidente

aparece com um percentual significativo de 53,7% expresso por trabalhadores

de enfermagem que manuseiam objetos perfurocortantes, sendo na maioria,

agulhas. O tipo de material associado à exposição em nosso estudo foi diverso,

à semelhança de Oliveira et al., (2011), o que refletiu a heterogeneidade de

instrumentos usados em Odontologia, com ligeiro predomínio de agulha oca.

No estudo de Martins, Pereira e Ferreira (2010), os acidentes

aconteceram principalmente com os instrumentos como brocas, seguidas por

sonda exploradora. Para evitar tais acidentes, deve-se tomar cuidados ao

receber, manipular ou passar instrumentos pontiagudos, não mantendo a ponta

direcionada para o profissional e para equipe. Além disso, seringas e agulhas

não devem ser reutilizadas, curvadas, quebradas ou manipuladas pelas mãos.

Procedimentos simples, como não deixar brocas e outros instrumentos

rotatórios montados no micromotor ou alta-rotação, podem reduzir os

acidentes, durante o exercício da clínica odontológica.

Além do mais, o acidente com perfurocortante é o de maior risco para

aquisição de doenças, segundo Marziale, Nishimura e Ferreira (2004), o que

pode contribuir para maior notificação e/ou busca de acompanhamento. Um

estudo, em hospital universitário, 76% das ocorrências corresponderam a

acidentes com perfurocortantes e fluidos corporais entre os profissionais que

prestam assistência á saúde (Bakke, Araujo, 2010).

O sangue foi o material biológico observado no momento do acidente

por 56,3% dos cirurgiões dentistas. O contato com sangue mostrou ser

responsável pela transmissão do HIV e do vírus da hepatite, apesar do baixo

risco de transmissão. Devem-se avaliar todas as exposições ocupacionais a

sangue ou outro material potencialmente infectante, incluindo saliva,

independentemente da presença de sangue visível.

Um estudo, envolvendo perfurocortantes, com alunos de Odontologia

em Recife, também, apontou que a maioria dos acidentes foram com

procedimentos invasivos, exposição repetida aos microorganismos do sangue

o que resultou em uma incidência mais elevada de determinadas doenças

Page 129: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

128

infecciosas nesses profissionais do que a observada na população geral

(Orestes-Cardoso et al., 2009).

Autores como Almeida e Benatti (2007) ressaltam que o material

orgânico da maioria das exposições ocupacionais foi o sangue, com 87,3% dos

acidentes ocupacionais em trabalhadores da saúde, principalmente a equipe de

enfermagem com 71,5% dos casos relatados, a área de odontologia neste

estudo ficou com 3,2% dos casos relatados.

Machado et al. (1992), em seu estudo, apontou que é recomendável

manter os profissionais de saúde, mais intensamente expostos ao risco de

transmissão do HIV e do vírus da Hepatite B e C, orientados quanto á atual

dimensão do problema da AIDS no ambiente de trabalho, levando-se em conta

o sangue visível nos materiais de trabalho, a contaminação e os aspectos

emocionais que seguem os acidentes.

A topografia do acidente mostrou a mão esquerda dos profissionais

como a mais acometida nos acidentes. Foram relatados acidentes na mão

esquerda em 48 (46,7%) pessoas do grupo geral e 21 (52,5%) no grupo

entrevistado. No grupo entrevistado, foi possível caracterizar que a maioria dos

acidentes ocorreu na mão não dominante (22 de 34). Isto representou 64,7%

dos acidentes com acometimento nas mãos.

Ribeiro, Hayashida, Moriya (2007) em um estudo específico para

Odontologia, relacionando acidentes com material biológico entre estudantes

de graduação em odontologia, mostrou que, dos 122 (70,9%) alunos que

sofreram algum tipo de exposição acidental com material biológico

contaminado, a região dos olhos (53,3%) foi a mais acometida, seguida das

mãos (51,6%) e dedos (45,9%) que foram as regiões mais atingidas pelas

exposições.

Em outro estudo, que envolveu 102 cirurgiões-dentistas, 68

acidentados relataram que as partes do corpo mais envolvidas foram,

respectivamente, os dedos das mãos, em 25 casos, seguida do dorso das

mãos, em 20, a palma da mão, em 18, olhos, em 4, e antebraço, em 1 acidente

(Gabler et al., 2012).

Page 130: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

129

Os EPIs mais utilizados pelos profissionais foram as luvas

descartáveis, em 89 (86,4%) dos dentistas no grupo geral e 32(80%) no grupo

entrevistado, somente 10(9,7 %) do grupo geral e 4 (10%) do grupo

entrevistado estavam sem nenhum EPI.

Martins, Pereira e Ferreira (2010) relatam que uma única luva pode

reduzir o volume de sangue injetado por agulhas de sutura em 70% e, no caso

de agulhas ocas, a luva pode reduzir de 35% a 50% a inoculação do sangue.

Garantir o uso de EPI com material de boa qualidade diminuirá riscos

de contaminação para todos, cirurgiões, equipe e pacientes. Timler et al.,

(2014) relatam que a qualidade das luvas e o uso de duas luvas podem

contribuir para redução de exposições. Isso pode não ser uma tarefa fácil, mas

medidas educativas práticas e efetivas devem contribuir para trabalhos efetivos

nesta área.

Apesar de as luvas não impedirem a perfuração, elas funcionam como

uma barreira mecânica auxiliar para diminuir o risco de contato com patógenos

transportados pelo sangue e outros fluidos corporais e podem reduzir o volume

de sangue injetado por agulhas de sutura em 70% e a inoculação de sangue

por agulhas para o tratamento intravenoso em 35% a 50%, considerando que

parte deste sangue pode permanecer no bisel da agulha (Marziale et al.,2007 ).

Para que haja proteção ideal do profissional contra exposições

ocupacionais, ele deve utilizar todos os equipamentos de proteção individual

recomendados, em todos os atendimentos. Quando se compreendem os

motivos e as medidas de controle de infecção, os profissionais são mais

propensos a aderir às medidas de proteção que resultem na redução da

ocorrência de acidentes com exposição à material biológico (Garcia, Blank,

2006).

Um aspecto adicional ao uso de EPIs, que contribui para acidentes é a

precarização do trabalho (equipamentos e recursos humanos), pressa,

descuido, sobrecarga de trabalho, múltiplos empregos, disposição incorreta em

bancadas de perfurocortantes que facilitem os acidentes associado, muitas

vezes, a estresse e cansaço físico.

Page 131: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

130

Há a necessidade de uma reavaliação da estrutura e de conteúdos das

aulas de biossegurança oferecidas nos cursos de graduação e, também, uma

necessidade de reciclagem para o profissional graduado que corroborem para

a adoção de práticas seguras para pacientes e profissionais (Vasconcelos et

al., 2009).

O acidente prévio foi relatado por 33 (32%) dos profissionais, sendo

que, destes, somente 10(30,3%) fizeram acompanhamento. Segundo Garcia e

Blank (2006), profissionais que referiram acidentes, 10,8% dos dentistas e

2,7% dos auxiliares, buscaram atendimento por ocasião do acidente e 76,9%

dos dentistas e 30,6% dos auxiliares com acidentes em anos anteriores

completaram a vacinação indicada.

Um estudo realizado com 318 cirurgiões-dentistas sobre risco de

infecção ocupacional e práticas sexuais apontou que 32% não se sente seguro

em atender pacientes portadores de HIV; que 69% já se feriram com

instrumentos perfurcortantes. No entanto, apenas 24,8% procuraram o serviço

especializado e fizeram acompanhamento de tratamento. Em relação às

práticas sexuais 60,3% nunca utilizaram preservativo nas relações sexuais. O

estudo mostrou que o alto índice de acidentes ocupacionais reportados e a

insegurança diante do atendimento de pacientes portadores de HIV e/ou HBV,

quando relacionados com o baixo percentual de utilização de preservativos em

todas as relações sexuais, revelaram um contexto de vulnerabilidade

desfavorável para os dentistas pesquisados (Oliveira et al., 2011). Convém

ressaltar que não foi questionado sobre prática sexual segura no presente

estudo.

A adesão a um protocolo pós-exposição tem por finalidade a redução

das chances de infecção e seu controle, quando ocorrem. Em alguns estudos,

a não adesão a protocolo pós-exposição ocupacional foi explicada pelo fato de

os profissionais se sentirem acanhados para se submeterem ao tratamento e

também, o paciente, às medidas e ao relato de ocorrência do acidente em

questão. Entretanto, as condições de trabalho, a anamnese parecem também

interferir na adoção de protocolos pós-exposição (Martins, Pereira e Ferreira,

2010).

Page 132: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

131

A adesão é a principal variável na qual os serviços de saúde podem

intervir a fim de aumentar a eficácia da medicação e diminuir a possibilidade de

resistência aos antirretrovirais. No entanto, são poucas as publicações

internacionais e nacionais sobre a adesão à QP em trabalhadores da saúde

pós-exposição a material biológico. Em um estudo que envolveu a prescrição

de quimioprofilaxia com antiretroviral, os dados encontrados, entre os 379

acidentados em um hospital com trabalhadores da saúde, mostraram que 165

casos (43,5%) tiveram prescrição medicamentosa com ARV, distribuídos em 62

casos (37,5%) com paciente-fonte conhecido e 103 casos (62,5%) com

paciente-fonte desconhecido. Entre os 165 acidentados com prescrição de QP,

12 recusaram a medicação, representando 7,3% de recusa (Almeida, Benatti,

2007). Donatelli (2007) relata que, para se conseguir a adesão, no tocante aos

acidentados, e diminuir o abandono, são necessários fatores como a garantia

de bom acolhimento, informações sobre a importância dos procedimentos

indicados e do seguimento, além de reestruturar o fluxo de atendimento,

retirando do acidentado a responsabilidade pela busca de resultados de

exames e estabelecer mecanismos de busca de faltosos ao seguimento (por

exemplo, por telefone).

Garcia e Blank (2006) ressaltam que a educação continuada dos

profissionais da Odontologia deve servir para melhorar o conhecimento a

respeito da transmissão de doenças infecciosas, sendo este fator

preponderante para a adesão de práticas de controle de infecção e também a

fixação de conteúdos relevantes que resultem em impactos na mudança de

comportamento dos profissionais, quanto à necessidade de aderir às práticas

biosseguras.

Entre as medidas adotadas após o acidente, a expressão local após foi

à medida mais comum em 27(31%) de 87 exposições percutâneas no grupo

geral e 11 (27%) dos 40 do grupo entrevistado. As demais medidas usadas

incluíram a lavagem com água, água e sabão, água e antisséptico em

77(74,8%), 63(61,2%) e 47 (45,6%), respectivamente, no grupo geral. No grupo

dos entrevistados, a distribuição foi bem semelhante ao geral.

Page 133: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

132

O Ministério da Saúde, também, preconiza como medida imediata após

o acidente, a lavagem exaustiva do local exposto com água corrente e

soluções antissépticas; para exposições em mucosa, lavar abundantemente

com água ou solução fisiológica. Não há evidência de que o uso de

antissépticos ou a expressão do local do ferimento reduzam o risco de

transmissão. Não devem ser realizados procedimentos que aumentem

exposição percutânea ou cutânea, entretanto, o uso de antisséptico não é

contraindicado à área exposta, tais como cortes e injeções locais. A utilização

de soluções irritantes (éter, glutaraldeído, hipoclorito de sódio) também está

contraindicada (Brasil, 2006).

Recomenda-se após o acidente a retirada imediata da luva e as lesões

lavadas abundantemente com água e sabão e o sangramento não deverá ser

estancado imediatamente, sugere-se fazer um curativo compressivo ou sutura,

caso haja necessidade no local do acidente (Graziano, Silva, Bianchi, 2000).

A expressão local foi relatada em um estudo de condutas pós-

exposição ocupacional a material biológico na odontologia, no qual no grupo 2,

17,0% dos dentistas e 20,6% dos auxiliares indicaram espremer o dedo para

estimular o sangramento como procedimento a ser realizado após sofrer lesão

percutânea. O grupo 1 procedeu com a lavagem do local afetado, com 98,5%

dos cirurgiões-dentistas e 89,2% dos auxiliares, após lesão percutânea (Garcia,

Blank, 2006).

Em outro estudo envolvendo a realização da expressão do local

atingido, durante o acidente, esteve presente em 3,8% dos relatos como

complemento a outro cuidado entre profissionais e estudantes de odontologia

que fizeram parte da população estudada; 701 (11,6%) corresponderam aos

acidentes com acidente com material biológico, atendidos em uma instituição

de referência para o atendimento, no período de 1996-2010, em Goiânia (Lima,

2012).

Teixeira et al., (2008) relataram que a conduta profissional mais comum

seguida pelos acidentados é a de lavar bem o local afetado em um estudo que

Page 134: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

133

envolveu oitenta cirurgiões-dentistas e mostrou que 69,5 % realizaram este

procedimento.

O tempo transcorrido até o primeiro atendimento do acidente variou

entre 30 minutos e 288 horas, sendo a mediana de 5 e a média de 14 horas.

Ao considerarmos o tempo adequado para início de antirretrovirais como 2

horas, apenas 24 (23,3%) profissionais foram atendidos nesse prazo. O

protocolo pós-exposição ocupacional recomenda ainda a realização de exames

sorológicos anti-HIV e anti-HBsAg, dos profissionais e dos pacientes fonte, a

fim de direcionar a quimioprofilaxia com antirretrovirais para infecção pelo HIV,

que deverá idealmente ser iniciada após duas horas do acidente, ou a

aplicação de gamaglobulina hiperimune para hepatite B, cuja maior eficácia é

obtida com uso precoce, dentro de 24 a 48 horas após o acidente. Além disso,

o acompanhamento clínico laboratorial deve ser realizado para todos os

profissionais acidentados que tenha sido expostos a pacientes fonte com

sorologia desconhecida ou pacientes fonte infectados pelo HIV, HBV ou HCV,

independentemente do uso de quimioprofilaxias ou imunizações (Martins,

Pereira, Ferreira, 2010).

O paciente-fonte era conhecido do cirurgião-dentista, em 90( 87,4%),

porém, as sorologias para HIV, HCV, HBV não foram solicitadas previamente

ao tratamento clínico ou cirúrgico, o que pode estar associado a falta de

conhecimento ou menosprezo ao risco de aquisição de doenças infecciosas,

falta de protocolos referenciados e padronizados, por preconceito de solicitar

tais exames, ou inabilidade em lidar com questões de pacientes que

apresentem sorologias positivas para tais doenças.

Independentemente do conhecimento de resultado de sorologia, o

atendimento deve seguir as mesmas normas de biossegurança. A vantagem da

identificação sorológica é permitir pronta adoção de profilaxia correta a cada

situação. Em vários estudos, o conhecimento da sorologia do paciente-fonte

permite redução desnecessária da terapia ARV para o profissional acidentado.

Em nossa casuística, apenas 15 (14,56%) eram HIV positivos, contudo, foram

prescritos ARVs no Pronto Socorro para 60 (58,3%) pessoas e 33 (32%)

usaram por 4 semanas.

Page 135: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

134

Para Lima (2012), em um estudo sobre registros de acidentes com

material biológico na prática odontológica no estado de Goiás, 1996-2010, que

envolveu 701 cirurgiões dentistas com acidentes em Goiânia, a identificação do

paciente-fonte foi possível na maioria dos casos apresentados, com (82,6%).

Dado considerado previsível na odontologia, pelas características em que o

paciente é assistido; entretanto, observou-se que, em 109 casos, mesmo

sendo conhecidos, não foi solicitado pela vítima que o paciente-fonte fosse até

o serviço ou que fornecesse amostra de sangue para testagem sorológica, o

que pode estar relacionado a diversos fatores como a falta de conhecimento,

dificuldades estruturais e inabilidade técnica para coleta, dentre outras. Entre

os auxiliares odontológicos, houve maior frequência (32,3%) de paciente-fonte

desconhecido, o que pode ser atribuído ao fato desses profissionais serem

responsáveis por executar o processamento de produtos para a saúde, bem

como a descontaminação dos equipamentos odontológicos e o controle

ambiental, como os cuidados com os resíduos, atividades essas que não

caracterizam assistência direta ao paciente.

Nesse contexto, vale lembrar que o estado sorológico do paciente-fonte

é apresentado como um dos critérios para a avaliação das exposições

ocupacionais a materiais biológicos, devendo ser analisado quanto à infecção

pelo HIV, hepatite B e hepatite C, no momento da ocorrência do acidente,

sendo fundamental para a escolha da conduta a ser seguida (Brasil, 2000,

2006, 2009).

Brozoski et al., (2010) descreveram em seu estudo sobre a ocorrência

de acidentes com perfurocortantes em um curso de odontologia e, que das 40

notificações com acidentes quanto à conduta realizada, foi possível constatar

que houve 21 solicitações de sorologia, sem discriminação do teste ou do

sujeito submetido (acidentado e/ou paciente-fonte); 8 registros de prescrição de

quimioprofilaxia; 4 pacientes orientados, mas não medicados e 1 prescrição de

vacina antitetânica. Dessas, 10 (dez) notificações não descreviam claramente

quais as condutas foram tomadas.

Das 21 solicitações de sorologia, 10(dez) não descreviam os

resultados. 9 casos (acidentado e paciente-fonte) foram negativos para HIV,

Page 136: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

135

HBV e HCV. 2 pacientes-fonte apresentaram resultados positivos: um para

hepatite B e um para HIV.

Em outro estudo, quando a fonte não possui exames, mas se

disponibiliza a fazer teste rápido, também há uma redução significativa das

indicações desnecessárias de TARV que podem, muitas vezes, demorar mais

de 48 horas, gerando mais ansiedade para o profissional que aguarda os

resultados. (Coutinho et al., 2004 ).

Os resultados sorológicos para HIV são desconhecidos. A profilaxia

com drogas antirretrovirais pode reduzir a possibilidade de infecção por HIV.

Cardo et al. (1997) apontam que o uso profilático da Zidovudina (AZT) resultou

em redução de 79% do risco de soro conversão após o acidente. A indicação

de terapia antirretroviral (TARV) é sempre nas primeiras duas horas e, no

máximo, vinte e quatro horas após o acidente, com tratamento de duração de

quatro semanas. Entretanto, segundo informações da CCIH da instituição

estudada, observa-se que muitos profissionais abandonam o tratamento,

devido à intolerância ao medicamento e, muitas vezes, dão-se conta que o

acidente causou pânico e, diante dos efeitos colaterais, interrompem a

medicação.

Shimizu e Ribeiro (2002) mostraram que os profissionais da saúde

costumam abandonar o tratamento com drogas antirretrovirais devido aos

diversos efeitos colaterais. Além disso, constataram que muitos deles

interrompem o uso da medicação porque acreditam que pode aumentar a

chance de estarem realmente contaminados com o vírus HIV. Por fim, os

resultados do estudo mostram que muitos profissionais têm medo de adquirir

AIDS, principalmente pelo estigma da doença.

Nesse estudo, o grupo dos entrevistados revelou um total de 82,5%

(33) profissionais que finalizaram o tratamento com intervenção.

Dessa forma, a profilaxia para a doença após acidente de trabalho

precisa ser abordada com cuidado, ou seja, esclarecendo-se sobre a

importância, os benefícios e os prováveis efeitos colaterais.

Page 137: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

136

A vacina contra a hepatite-B é obrigatória. Apesar da disponibilidade e

recomendação sobre a vacinação contra hepatite B, as taxas de vacinação

entre os profissionais da área odontológica têm-se mantido consistentemente

baixa em países em desenvolvimento. As razões para as taxas de vacinação

contra hepatite-B abaixo do ideal entre os trabalhadores de saúde incluem a

falta de oportunidade, falta de motivação, falta de informação, falta de

consciência, falta de disponibilidade, alto custo da vacina, o medo de efeitos

colaterais, o medo de ser reconhecido como portador de hepatite-B, a falta de

percepção da necessidade da vacina, e crença errônea de não susceptibilidade

à infecção (Azodo et al., 2012). Em nosso estudo, 94 (91,3%) dos profissionais

referiram vacinação completa contra hepatite B, mas apenas 44 (42,7%)

realizaram controle sorológico e 27 (61,4%) destes relataram resultado protetor

(acima de 10 UI). Foram colhidas sorologias para hepatite B em 85

profissionais e 73 (77,5%) foram antiHBs reagentes. Isto reforça a importância

de realizar controle sorológico pós-vacinação e minimizar uma falsa sensação

de proteção apenas por ter recebido as vacinas.

Um estudo, de 1995, apontou que o percentual de cirurgiões-dentistas

vacinados foi o maior entre os estudos brasileiros. Resultado semelhante foi

observado entre cirurgiões-dentistas canadenses (90,6%), inferior ao

encontrado entre cirurgiões-dentistas ingleses (97%) e superior ao registrado

entre cirurgiões-dentistas japoneses (64,3%); alemães (74%) e italianos

(56,2%) (Nagao et al.,2008).

Ashfaq, Chatha e Sohail (2011), em estudo conduzido entre 139

profissionais e estudantes de odontologia de uma instituição de ensino

odontológico do Paquistão, evidenciaram dados ainda mais alarmantes, em

que, entre os indivíduos que afirmaram nunca terem sido vacinados (13,0%),

90,0% eram auxiliares de saúde bucal.

Um estudo realizado por Kabir et al. (2010), no Iran, entre alguns

profissionais da área da saúde, observaram que 100,0% dos CD pesquisados

informaram vacinação contra hepatite B, sendo que desses, 75,0% haviam

realizado o anti-HBs.

Page 138: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

137

No Brasil, ao comparar resultados de estudos da década de 1990 e

2000, foi observado um aumento no percentual de cirurgiões-dentistas

vacinados, principalmente entre aqueles que participavam de congresso

odontológico no período de 1991 a 1996, sendo de 9,29% a 34,7% e variando

de 73,1% a 82,2% nos anos 2000. Essa observação, provavelmente, evidencia

o impacto positivo das campanhas de vacinação entre os cirurgiões-dentistas

brasileiros e o aumento da adesão às medidas para controle de infecção

(Ferreira et al., 2012).

Um dos aspectos previstos nos protocolos pós-exposição inclui a

notificação dos acidentes ao Serviço de Medicina Ocupacional, conforme

indica:

Uma portaria Nº 777/GM de 28 de abril de 2004. Dispõe sobre os procedimentos técnicos para a notificação compulsória de agravos à saúde do trabalhador em rede de serviços sentinela específica, no Sistema Único de Saúde – SUS e ainda resolve que: Art. 1º Regulamentar a notificação compulsória de agravos à saúde do trabalhador - acidentes e doenças relacionados ao trabalho – em rede de serviços sentinela específica. § 1° São agravos de notificação compulsória, para efeitos desta portaria: III - Acidente com Exposição a Material Biológico; (Martins, Pereira, Ferreira, 2010)

Os profissionais que trabalham em instituições privadas ou públicas

são obrigados a notificar; porém, para os profissionais que trabalham em

consultório particular, não há um local específico de notificação.

Na presente casuística, apenas 13 (12,7%) dentistas notificaram seus

acidentes. Garcia e Blank (2006) relataram menos notificações que esta

pesquisa.

Embora a NR-32 estabeleça a obrigatoriedade de comunicação dos

acidentes de trabalho, os profissionais frequentemente não o fazem, pois,

muitas vezes, o acidente não gera nenhuma das situações previstas na

definição de acidente de trabalho e pode não ter a transmissão caracterizada

de imediatamente em curto prazo. A comunicação, apenas quando a doença

se desenvolve, demonstra, claramente, uma negligência no componente

preventivo (Caixeta, Barbosa-Branco, 2005).

Page 139: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

138

Para garantir os benefícios trabalhistas dos empregados em caso de

acidente, grande parte dos hospitais procura estabelecer alguma forma de

registro desses acidentes, mas, na prática, há falta de normalização desse

procedimento e uma deficiente divulgação aos profissionais de saúde. Além

disso, é necessário o estabelecimento de rotinas relacionadas às medidas de

precaução imediatas, bem como as orientações e a disponibilidade da

quimioprofilaxia em casos de acidentes com material biológico de pacientes

soropositivos para o HIV ou desconhecidos (Orestes-Cardoso et al., 2009).

Alguns acidentes, neste estud

o, aconteceram devido ao uso inadequado de técnica odontológica,

como reencape de agulhas anestésicas.

Rodrigues (2002) ressaltou que o reencape de agulhas é um fator de

risco e uma prática comum entre os profissionais de Odontologia. Em seu

trabalho, constatou que 78,6% dos CDs e 74,5% dos auxiliares de

odontologias reencapavam as agulhas antes de descartá-las. No Canadá, em

um estudo semelhante, McCarthy, Koval e Morin (1995) observaram que 60%

dos CDs reencapavam agulhas.

A seringa carpule é um instrumento de uso múltiplo e utilizada para

anestesia e pode ser esterilizada; nela são acoplados o tubete de anestésico e

uma agulha rosqueável, ambos descartáveis. A conduta segura, porém, é

descartar os materiais perfurocortantes em coletores adequados, com

dispositivo que permita que a agulha seja desenroscada e descartada sem o

auxílio da outra mão, evitando-se assim a ocorrência de acidentes. O registro

de acidentes envolvendo a atividade de reencapar agulhas indica a

necessidade de treinamento dos cirurgiões-dentistas e auxiliares de consultório

dentário, no intuito de erradicar práticas inadequadas e reforçar a

implementação de medidas de proteção que resultem na redução da

ocorrência de acidentes com exposição a material biológico. Considerando-se

que esses acidentes podem resultar na aquisição de doenças, é fundamental

que todos os membros da equipe odontológica conheçam as doenças que

podem ser transmitidas e seus modos de transmissão, para que possam se

Page 140: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

139

proteger adequadamente. Quando compreendem os motivos da necessidade

de adoção de medidas de controle de infecção, as pessoas são mais

propensas a melhorarem a técnica operacional (Garcia, Blank, 2006).

Em um estudo sobre a epidemiologia dos acidentes ocupacionais com

material de risco biológico, em São Paulo, com a equipe de enfermagem, onde

a atenção com a técnica é importante, alguns acidentes são acusados por

desprezo do material em local inadequado, levando ao acidente de um

profissional que nem sempre estava diretamente envolvido no procedimento.

Esse fato é também uma causa passível de intervenção técnica preventiva

(Bakowski, 2012).

Convém enfatizar que o acidente com material perfurocortantes muitas

vezes, influencia negativamente a vida do profissional acidentado em razão do

estresse psicológico, mudanças nas práticas sexuais, nos relacionamentos

sociais, familiares e profissionais, principalmente durante o período de espera

de resultados e a possibilidade de soroconversão. As mudanças variam, por

exemplo, o estilo de vida, como, a abstinência sexual ou a prática sexual

segura, a suspensão de aleitamento materno até a confirmação da ausência de

soroconversão, detectada após a realização dos testes sorológicos. Essas são

práticas rotineiras que passam a ser vistas como algo proibido, ensejando

conflitos para si e para seus componentes familiares.

A experiência proporcionada pelo acidente de trabalho com materiais

perfurocortantes gera sentimentos como medo, angústia, desespero,

ansiedade e tensão. Tais sentimentos são sempre decorrentes do medo de

terem sido, possivelmente, infectados pelo vírus HIV, em primeira instância, e,

depois, pelo da hepatite B e C, em razão de alterações permanentes no modo

de viver, oriundas da infecção por estes vírus. Além disso, a AIDS é uma

doença incurável e, portanto, reflete a proximidade da morte, pois o medo é

causado por estar assustado com algo, uma dor, a rejeição de uma pessoa ou

grupo, a perda de alguma coisa ou alguém, ou o momento de morrer (Lima,

Pinheiro, Vieira, 2007).

Page 141: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

140

Nesse estudo, o acidente de trabalho com perfurocortantes apontou

que os mesmos aconteceram em momentos de estresse, seguidos de falhas

de ordem técnica e falta de conhecimento dos profissionais em como agir

diante da ocorrência. Protocolos de exames sorológicos podem contribuir para

um rápido diagnóstico da situação e nos procedimentos a serem seguidos,

além de colaborar, para diminuir custos.

Page 142: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

141

6 CONCLUSÕES

___________________________________________________________________

Page 143: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

142

• A maioria dos cirurgiões-dentistas atendidos no ambulatório do IIER foi

do gênero feminino, até 34 anos, trabalhando em consultórios

particulares durante o dia e que não fizeram CAT- SINAN (notificação da

medicina do trabalho).

• Na maioria, foram auto-acidentes percutâneos durante procedimentos

com agulha oca e, principalmente, acometendo a mão esquerda (não

dominante).

• Aproximadamente 35% dos entrevistados relataram acidente prévio e

número semelhante executou expressão da região perfurada.

• A fonte é sempre conhecida, mas não realiza exames sorológicos por

ocasião do acidente

• Quanto às práticas de biossegurança, observou-se: carteira de

vacinação e uso de EPIs foram incompletos. EPI mais usado foram

luvas, e metade dos profissionais usavam avental e/ou máscara.

• Foram relatados inadequações de técnica odontológica como

negligência na lavagem das mãos, sutura guiada pelo dedo do

profissional, reencape de agulhas. Profissionais formados há menos

tempo sabiam o que fazer e onde buscar atendimento.

• Após acidente, cerca de 1/3 dos profissionais fez expressão local e

lavagem com água e sabão. Menos da metade usou antisséptico.

• O motivo principal dos acidentes foi de ordem pessoal, relacionado à

desatenção, descuido, distração e estresse.

• Alguns acidentes foram banalizados, pois o profissional, embora

dissesse na entrevista que não houve mudanças após o mesmo,

confirmou, posteriormente, a saída do emprego, readequando-se a outro

local de trabalho, o que contradisse sua fala e comportamento.

• Outros profissionais, embora não banalizassem o acidente, atribuem à

profissão um risco inerente a ela.

Page 144: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

143

• Quanto à ordem de trabalho, os principais fatores foram relacionados a

estresse e a insatisfação pessoal. O cirurgião-dentista deveria ter um

roteiro melhor orientado muito bem orientado para acidentes.

• Os profissionais acidentados entrevistados relataram mudanças na

rotina de trabalho e a questão pessoal foi a mais referida para a melhora

no autocuidado, na atenção e no reconhecimento de limites na própria

profissão. Na questão de ordem técnica, também se evidenciou maior

cuidado com uso de EPIs e maior adequação de técnica profissional.

• Foram relatados impactos nas relações familiares, nas relações de

trabalho, com dispêndio de tempo, finanças e desgaste psicossocial com

o tratamento.

Page 145: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

144

7 SUGESTÕES

___________________________________________________________________

Page 146: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

145

As sugestões visam à eliminação e/ou neutralização de fatores

envolvidos nas questões do acidente com perfurocortantes, dentre eles:

É importante rever a organização do trabalho, adequação do número de

pacientes e de procedimentos quanto ao período de atendimento,

introdução de pausas para descanso durante a jornada, adequação da

carga de trabalho aos recursos disponíveis, ajuste da quantidade de

locais de trabalho com sobrecarga, dentre outros para minimizar ou

eliminar fatores predisponentes aos acidentes;

Outro aspecto se refere a análise da disponibilidade e possibilidade de

uso de dispositivos de segurança que evitem o reencape das agulhas

carpule nos procedimentos de analgesia;

Maior atenção quanto ao dia da semana, levando-se em conta a sexta

feira como o dia de maior estresse e risco para os acidentes;

Disponibilização de recipientes para descarte de perfurocortantes

instalados em locais próximos à sua geração, em tamanho adequado à

demanda, assim como substituição correta deles. É fundamental que os

profissionais sejam instruídos a utilizá-los de modo seguro;

Uso de EPI em quantidade, qualidade e tamanho adequado aos

profissionais e à demanda de atendimento, bem como de medidas que

visem facilitar a aderência de uso pelos profissionais;

Uso de EPIs e busca de técnicas mais seguras podem ser adquiridas,

por meio de divulgação em congressos e entidades de classe que visem

à educação continuada, como medida para se obter conhecimento.

Maior domínio da técnica odontológica por meio de aperfeiçoamentos e

especializações que ampliem o olhar do profissional.

Uso de Técnicas de meditação, relaxamento, tai chi chuan ou esporte

que possam diminuir estresse físico e mental, ansiedade, prevenção da

depressão e favorecer elevação da autoestima, melhoria do sistema

imunológico e prevenção de doenças;

Page 147: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

146

Apoio psicológico com psicoterapia para tratar de emoções e situações

cotidianas conflitantes o que possa auxiliar no gerenciamento adequado

entre a profissão e a vida.

Em algumas situações os profissionais podem se beneficiar da inserção

do conteúdo de segurança no trabalho, nos currículos de graduação dos

cursos de odontologia, para capacitar e identificar riscos ocupacionais e

como prevenir acidentes.

Trabalhos preventivos relacionados ao estresse desde a graduação de

Odontologia.

Page 148: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

147

REFERÊNCIAS

___________________________________________________________________

Page 149: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

148

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ANEXOS

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159

ANEXO A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIDO (TCLE)

Este é um termo de consentimento livre e esclarecido que visa convidá-lo para participar como

voluntário desta pesquisa intitulada: “Avaliação de Cirurgiões Dentistas atendidos pela CCIH do

Instituto de Infectologia Emílio Ribas e mudanças da rotina de trabalho, após exposição a acidente

de risco”.

E que apresenta como objetivos:

• Caracterizar os aspectos epidemiológicos dos acidentes ocupacionais em cirurgiões dentistas

com material de risco biológico.

• Identificar quais as práticas de biossegurança são adotadas pelos profissionais que realizam

procedimentos com instrumentos pérfuro – cortantes.

• Avaliar o grau de percepção dos cirurgiões-dentistas frente ao acidente e as mudanças de

comportamento após acidente e profilaxia medicamentosa.

Será aplicado um questionário com duas partes, sendo que a primeira contém: informações

pessoais, informações profissionais e outras informações ligadas a biossegurança. E a segunda parte

possui questões do acidente com instrumento pérfuro-cortante. Nesta pesquisa a sua participação é

somente o preenchimento de questionário. Os resultados, ao final da pesquisa, caso queira será

fornecido.

A pesquisadora responsável é Kátia Ferreira dos Santos, aluna do Curso de Pós-Graduação em

Ciências da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES/ SP), sob a orientação da Prof. (o). Dr.

Nilton José Fernandes Cavalcante (Emílio Ribas – SES/ SP). A mesma coloca-se à disposição para

discutir e esclarecer quaisquer dúvidas sobre o trabalho, em qualquer etapa do estudo. Não há despesas

pessoais para os participantes em qualquer fase do estudo e, também, não há compensação financeira

relacionada à sua participação. Serão assegurados o anonimato e o sigilo sobre as declarações, assim

como o direito de não participar ou retirar-se da pesquisa em qualquer fase, sem que isso implique em

penalidades de qualquer natureza, permanecendo as garantias a mim oferecidas. Caso os participantes

queiram tirar dúvidas quanto a ética da pesquisa poderão procurar diretamente o Comitê de Ética em

Pesquisa do instituto de Infectologia Emilio Ribas, situado na Av: Dr. Arnaldo, 165 - Casa Azul (

fone:3896-1406).

Eu,________________________________________________________, declaro também que, após ter

sido convenientemente esclarecido pelo pesquisador e ter entendido o que me foi explicado, consinto em

participar desta pesquisa.

Assinatura do participante: ____________________ ______/______/2013.

_____________________________ _____/______/2013.

Kátia Ferreira dos Santos

(Pesquisadora que obteve o TCLE)

Para quaisquer outros esclarecimentos, favor contatar: Fones: (0xx11) 2674-7743/ E-mail: [email protected]

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160

ANEXO B – QUESTIONÁRIO – PARTE 1

Instruções para preenchimento do QUESTIONÁRIO

Você deve preencher esse questionário usando caneta esferográfica.

O questionário consta de:

Parte I

• Informações pessoais_____ 09 itens • Informações profissionais__ 05 itens • Outras informações_______ 14 itens

A- INFORMAÇÕES PESSOAIS

Nome: __________________________________________

• Idade: _______

• Sexo:

1. Feminino 2. Masculino

Estado Civil

• Casado

• Viúvo

• Divorciado

• Separado

• Solteiro

• Vive em união livre

Cor ou raça

1. Parda

2. Preta

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3. Branca

4. Amarela

5. Indígena

Local de nascimento

• Cidade

• Estado: _____________ ( ______ ) não preencher

• Há quanto tempo reside no Município de São Paulo

1. menos de 1 ano

2. de 1 a 5 anos

3. de 6 a 10 anos

4. 11 e mais anos

5. nasceu em São Paulo

• Escolaridade

1. Curso ____________________________________

Ano de conclusão _________ Instituição__________________________________

Pós-graduação - Obs: No caso de ter concluído alguma pós-graduação preencher

também as informações da graduação

2. especialização

Área _____________________

Ano de conclusão_________ Instituição__________________________________

Área _____________________

Ano de conclusão_________ Instituição__________________________________

3. mestrado

Área _____________________

Ano de conclusão_________ Instituição__________________________________

4. doutorado

Área _____________________

Ano de conclusão_________ Instituição__________________________________

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162

• Endereço de moradia

Rua/ Av______________________________ nº ______ complemento _________

Bairro: ___________________________________

Telefone: _______________ / ________________

E mail de contato: ___________________________

B- INFORMAÇÕES PROFISSIONAIS

• Cargo atual

• Cirurgião-Dentista

• Médico

• Enfermeira

• Outros

• Se cirurgião-dentista qual/ quais a área de atuação e o período:

área 1: _______________ período: ____; _____

área 1: _______________ período: ____; _____

área 1: _______________ período: ____; _____

• Tempo de trabalho na profissão

(Obs: se tempo for superior a 12 meses favor colocar em anos)

____ anos

____ meses

• Tempo no cargo ( área predominante ou função atual

(Obs: se tempo for superior a 12 meses favor colocar em anos)

____ anos

____ meses

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163

• Quantos pacientes atende em média por dia com procedimentos

executados

( )1 a 5

( ) 6 a10

( ) 11 a 20

C-OUTRAS INFORMAÇÕES

Lava as mãos quando da execução dos procedimentos clínicos rotineiros?

( ) sim ( )não

Qual o material utilizado?

______________________________

Usa luvas descartáveis em todos os procedimentos?

( ) sim ( )não

Lava as mãos antes dos procedimentos cirúrgicos?

( ) sim ( )não

Qual o material utilizado?

_______________________________

Utiliza algum tipo de produto especial após lavagem das mãos?

_______________________________

Usa luvas descartáveis cirúrgica em procedimentos cirúrgicos?

( ) sim ( )não

Já sofreu algum tipo de contaminação em procedimentos?

( ) sim ( )não

Caso seja afirmativo qual o tipo?

Page 165: Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes ...

164

Segue protocolo de paramentação quando em cirurgia?

( ) sim ( )não

Usa duplas em procedimentos cirúrgicos?

( ) sim ( )não

12. Tem percepção de perfuração de luvas quando executa procedimentos

cirúrgicos?

( ) sim ( )não

• Caso afirmativo, efetua a troca de luva durante o ato cirúrgico?

( ) sim ( )não

• Você é canhoto ( ) ou ( )destro?

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165

PARTE 2 - INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS DO

ACIDENTE COM PÉRFURO CORTANTE.

I) IDENTIFICAÇÃO

Nome:

Sexo: ( )masc. ( )fem. Estado civil:_________, Idade:___________

Categoria profissional:______________Tempo de serviço_______

Turno de trabalho: ( ) M ( ) T ( ) N Jornada ( ) 6hs ( ) 8hs ( ) 12hs

Número de empregos:___________

II) DADOS REFERENTES AO ACIDENTE DE TRABALHO

Tipo:_________________________________

Data do acidente:_____________Horário:__________

Objeto causador:_______________ Região atingida__________

Uso de precaução: ( ) sim ( )não

Qual:________________________________________________

Procurou o serviço público de atendimento de imediato ? ( )sim ( ) não

Descrição sumária do acidente e consequências:

III) INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES:

O que mudou na sua rotina de trabalho e na sua vida depois do acidente?

ASS: DATA:

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ANEXO C – FICHA DE NOTIFICAÇÃO DE ACIDENTE COM

MATERIAL BIOLÓGICO

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ANEXO D – PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

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