ANÁLISE MORFOESTRUTURAL DA REGIÃO DE SALINÓPOLIS-PA...

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INTRODUÇÃO A questão do contexto estrutural do litoral do nordeste paraense tem avançado pouco desde o início das pesquisas nessa área. Em grande parte isso se deve ao escasso registro estrutural encontrado tanto em superfície como em subsuperfície, por esta região ser afetada por uma série de fatores climáticos, que contribuem para o baixo grau de preservação das rochas da área. Atualmente o modelo estrutural em vigor para a área de estudo é o de Aranha et al. (1990), de Costa et al. (1992) e de Costa et al. (1991), que descrevem alinhamentos maiores de direção NW-SE cortados por alinhamento menores de direção E-W e NE-SW, enquanto a divisão morfoestrutural mais aceita é a proposta por Sena et al. (1991), que separa a região em duas unidades: A Planície flúvio- METODOLOGIA Durante o trabalho foram utilizadas imagens da missão SRTM, para construção de relevos sombreados da área, e imagens GeoEye obtidas no software Google Earth Pro, para construção de anaglifos digitais. Além disso, foi utilizado o software de edição de imagens Zoner Photo Studio para construção dos anaglifos e do ArcMap 10.5 para manipulação do banco de dados e análise dos produtos, além da construção de layouts para apresentação dos mapas. O relevo sombreado foi utilizado principalmente na extração de feições lineares, fazendo-se separação entre aquelas de dimensões maiores e menores. Enquanto os anaglifos digitais foram utilizados principalmente para extração da drenagem da área e de quebras negativas de relevo. Uma vez extraídas, a drenagem, as feições lineares e as quebras negativas de relevo foram analisadas e correlacionadas para definição de zonas homólogas de relevo, para juntas compor o mapa final (Figura 2). RESULTADOS Foram divididas duas zonas homólogas de relevo dentro da área de estudo, onde a primeira (ZHD_I), presente em menores cotas (máximo 20m), nas proximidades do litoral e das maiores drenagens, apresentando uma drenagem mais densa e lineamentos de direção predominantemente NW-SE, com lineamentos subordinados NE-SW. Além disso, os lineamentos de direção NW-SE são representados pelos maiores traçados, enquanto os subordinados possuem menores dimensões. Seu terreno é rebaixado e predominantemente ocupado por uma vegetação rasteira de praia (restinga), mangues e vegetação típica de várzea, caracterizando as planícies de inundação dos rios e a zona afetada pelas ondas e marés nas proximidades da costa, correspondendo em parte à descrição da Planície flúvio-marinha descrita por Costa et al. (1992). A segunda zona (ZHD_II) foi identificada nas maiores cotas da área (entre 20 e 50m), com um relevo relativamente acidentado e colinoso, uma drenagem menos densa e uma vegetação de grande porte e adensada. Os lineamentos observados nessa unidade possuem um trend principal de direção NW-SE, com trends WNW-ESE e NE-SW subordinados. Esta zona foi relacionada ao Planalto rebaixo da Amazônia. E possível notar ao longo dos lineamentos de direção NW-SE uma grande quantidade de deslocamentos, por vezes em pontos onde estes são cortados por lineamentos menores dos demais trends, indicando relação temporal entre os trends, onde o trend NW-SE ocorreu primeiro, sendo mais tarde deslocado pelos demais. CONCLUSÕES A partir do mapa de zonas homólogas de relevo produzido, foram observados trends principais na região de Salinópolis-PA de direção NW-SE, E-W e NE-SW, onde os lineamentos maiores (NW-SE) se apresentavam cortados pelos demais, o que corrobora com as interpretações de evolução estrutural da região de Costa et al. (1992) e Aranha et al. (1990). Os dados estruturais aqui foram associados e confirmados com perfis elétricos realizados pela CPRM na cidade de Salinópolis que mostram descontinuidades características de falhamentos normais com mergulhos para NW (Figura 3). Estes dados estruturais e mapa poderão ser explorados em campo em busca de adensamento de dados estruturais acerca da área de estudo. As zonas homólogas de relevo identificadas no trabalho correspondem em parte às unidades morfoestruturais descritas por Sena et al. (1991) e Costa et al. (1992). REFERÊNCIAS ARANHA, L.G.F. LIMA, H.P. SOUZA, J.M.P. MARINHO, R.K. 1990. Origem e Evolução das Bacias de Bragança Vizeu, São Luís e Ilha Nova. In: RAJA GABAGLIA, G.P. MILANI, E.J. Origem e Evolução de Bacias Sedimentares. Petrobrás. Rio de Janeiro: 221-233. COSTA, J.B.S. BORGES, M.S. IGREJA, H.L.S. PINHEIRO, R.V.L. 1991. Aspectos da tectônica cenozóica na região do salgado, litoral nordeste do Estado do Pará. In: III Simpósio de Geologia da Amazônia. Resumos Expandidos. Belém. SBG-Núcleo Norte: 156-165. COSTA, J.B.S. BORGES, M.S. BEMERGUY, R.L. FERNANDES, J.M.G. COSTAJR., P.S. COSTA, M.L.C. 1992. Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro: Carta Geológica da Folha Salinópolis (SA.23-V-A-V). IBAMA/ IDESP. Belém. Pará: P SENA, C.S.F. BASTO, M.N.C. OLIVEIRA, J.R. LOBATO, L.C. SANTOS, R.T. MORAES, P.G. 1991. Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro. Geomorfologia. IBAMA/SECTAM. Relatório Técnico. Belém: 59-67. Figura 2. Mapa de zonas homólogas para a área do município de Salinópolis-PA. Figura 1. Mapa de localização da área de estudo. ANÁLISE MORFOESTRUTURAL DA REGIÃO DE SALINÓPOLIS-PA ATRAVÉS DE ANAGLIFOS DIGITAIS Moura, M. R.¹; Imbiriba Junior, M.² ¹Universidade Federal do Pará; ²Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Figura 3. Perfis elétricos realizados na cidade de Salinópolis, mostrando descontinuidades correspondentes a falhas normais no substrato. Também nota-se que a drenagem da área por várias vezes varia de um padrão dendrítico para um padrão retilíneo, tendendo sempre a uma direção específica no percurso final, a exemplo do rio Maracanã, que possui uma direção geral NNW-SSE. Isto pode ser interpretado pelos lineamentos de menores dimensões que localmente interferem na orientação dos rios que estão seguindo os lineamentos maiores de direção NW-SE. marinha e o Planalto rebaixado da Amazônia. Este último é dito composto litologicamente pelo Grupo Barreiras. Este trabalho visou a análise em maior escala na área do município de Salinópolis (Figura 1) para enriquecimento do conhecimento acerca do desenvolvimento morfológico desta no que diz respeito ao campo da morfoestrutural.

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INTRODUÇÃO

A questão do contexto estrutural do litoral do nordeste paraense tem avançadopouco desde o início das pesquisas nessa área. Em grande parte isso se deve aoescasso registro estrutural encontrado tanto em superfície como em subsuperfície,por esta região ser afetada por uma série de fatores climáticos, que contribuem parao baixo grau de preservação das rochas da área.

Atualmente o modelo estrutural em vigor para a área de estudo é o de Aranhaet al. (1990), de Costa et al. (1992) e de Costa et al. (1991), que descrevemalinhamentos maiores de direção NW-SE cortados por alinhamento menores dedireção E-W e NE-SW, enquanto a divisão morfoestrutural mais aceita é a propostapor Sena et al. (1991), que separa a região em duas unidades: A Planície flúvio-

METODOLOGIA

Durante o trabalho foram utilizadas imagens da missão SRTM, para construçãode relevos sombreados da área, e imagens GeoEye obtidas no software GoogleEarth Pro, para construção de anaglifos digitais. Além disso, foi utilizado o softwarede edição de imagens Zoner Photo Studio para construção dos anaglifos e doArcMap 10.5 para manipulação do banco de dados e análise dos produtos, além daconstrução de layouts para apresentação dos mapas.

O relevo sombreado foi utilizado principalmente na extração de feiçõeslineares, fazendo-se separação entre aquelas de dimensões maiores e menores.Enquanto os anaglifos digitais foram utilizados principalmente para extração dadrenagem da área e de quebras negativas de relevo. Uma vez extraídas, adrenagem, as feições lineares e as quebras negativas de relevo foram analisadas ecorrelacionadas para definição de zonas homólogas de relevo, para juntas compor omapa final (Figura 2).

RESULTADOS

Foram divididas duas zonas homólogas de relevo dentro da área de estudo,onde a primeira (ZHD_I), presente em menores cotas (máximo 20m), nasproximidades do litoral e das maiores drenagens, apresentando uma drenagem maisdensa e lineamentos de direção predominantemente NW-SE, com lineamentossubordinados NE-SW. Além disso, os lineamentos de direção NW-SE sãorepresentados pelos maiores traçados, enquanto os subordinados possuem menoresdimensões. Seu terreno é rebaixado e predominantemente ocupado por umavegetação rasteira de praia (restinga), mangues e vegetação típica de várzea,caracterizando as planícies de inundação dos rios e a zona afetada pelas ondas emarés nas proximidades da costa, correspondendo em parte à descrição da Planícieflúvio-marinha descrita por Costa et al. (1992).

A segunda zona (ZHD_II) foi identificada nas maiores cotas da área (entre 20 e50m), com um relevo relativamente acidentado e colinoso, uma drenagem menosdensa e uma vegetação de grande porte e adensada. Os lineamentos observadosnessa unidade possuem um trend principal de direção NW-SE, com trends WNW-ESEe NE-SW subordinados. Esta zona foi relacionada ao Planalto rebaixo da Amazônia.

E possível notar ao longo dos lineamentos de direção NW-SE uma grandequantidade de deslocamentos, por vezes em pontos onde estes são cortados porlineamentos menores dos demais trends, indicando relação temporal entre os trends,onde o trend NW-SE ocorreu primeiro, sendo mais tarde deslocado pelos demais.

CONCLUSÕES

A partir do mapa de zonas homólogas de relevo produzido, foram observadostrends principais na região de Salinópolis-PA de direção NW-SE, E-W e NE-SW,onde os lineamentos maiores (NW-SE) se apresentavam cortados pelos demais, oque corrobora com as interpretações de evolução estrutural da região de Costa etal. (1992) e Aranha et al. (1990). Os dados estruturais aqui foram associados econfirmados com perfis elétricos realizados pela CPRM na cidade de Salinópolisque mostram descontinuidades características de falhamentos normais commergulhos para NW (Figura 3). Estes dados estruturais e mapa poderão serexplorados em campo em busca de adensamento de dados estruturais acerca daárea de estudo. As zonas homólogas de relevo identificadas no trabalhocorrespondem em parte às unidades morfoestruturais descritas por Sena et al.(1991) e Costa et al. (1992).

REFERÊNCIAS

ARANHA, L.G.F. LIMA, H.P. SOUZA, J.M.P. MARINHO, R.K. 1990. Origem e Evolução das Bacias de BragançaVizeu, São Luís e Ilha Nova. In: RAJA GABAGLIA, G.P. MILANI, E.J. Origem e Evolução de BaciasSedimentares. Petrobrás. Rio de Janeiro: 221-233.COSTA, J.B.S. BORGES, M.S. IGREJA, H.L.S. PINHEIRO, R.V.L. 1991. Aspectos da tectônica cenozóica naregião do salgado, litoral nordeste do Estado do Pará. In: III Simpósio de Geologia da Amazônia. ResumosExpandidos. Belém. SBG-Núcleo Norte: 156-165.COSTA, J.B.S. BORGES, M.S. BEMERGUY, R.L. FERNANDES, J.M.G. COSTA JR., P.S. COSTA, M.L.C. 1992.Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro: Carta Geológica da Folha Salinópolis (SA.23-V-A-V). IBAMA/IDESP. Belém. Pará: PSENA, C.S.F. BASTO, M.N.C. OLIVEIRA, J.R. LOBATO, L.C. SANTOS, R.T. MORAES, P.G. 1991. ProgramaNacional de Gerenciamento Costeiro. Geomorfologia. IBAMA/SECTAM. Relatório Técnico. Belém: 59-67.

Figura 2. Mapa de zonas homólogas para a área do município de Salinópolis-PA.

Figura 1. Mapa de localização da área de estudo.

ANÁLISE MORFOESTRUTURAL DA REGIÃO DE SALINÓPOLIS-PAATRAVÉS DE ANAGLIFOS DIGITAIS

Moura, M. R.¹; Imbiriba Junior, M.²

¹Universidade Federal do Pará; ²Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais

Figura 3. Perfis elétricos realizados na cidade de Salinópolis, mostrando descontinuidades

correspondentes a falhas normais no substrato.

Também nota-se que a drenagem da área por várias vezes varia de um padrãodendrítico para um padrão retilíneo, tendendo sempre a uma direção específica nopercurso final, a exemplo do rio Maracanã, que possui uma direção geral NNW-SSE.Isto pode ser interpretado pelos lineamentos de menores dimensões que localmenteinterferem na orientação dos rios que estão seguindo os lineamentos maiores dedireção NW-SE.

marinha e o Planalto rebaixado daAmazônia. Este último é ditocomposto litologicamente peloGrupo Barreiras.

Este trabalho visou a análiseem maior escala na área domunicípio de Salinópolis (Figura 1)para enriquecimento doconhecimento acerca dodesenvolvimento morfológico destano que diz respeito ao campo damorfoestrutural.