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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA PARASITÁRIA ANÁLISE TRANSCRIPTÔMICA COMPARATIVA DA INFECÇÃO POR PAPILOMAVÍRUS BOVINO GERLANE DOS SANTOS BARROS SÃO CRISTÓVÃO - SE 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA PARASITÁRIA

ANÁLISE TRANSCRIPTÔMICA COMPARATIVA DA

INFECÇÃO POR PAPILOMAVÍRUS BOVINO

GERLANE DOS SANTOS BARROS

SÃO CRISTÓVÃO - SE 2018

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GERLANE DOS SANTOS BARROS

ANÁLISE TRANSCRIPTÔMICA COMPARATIVA DA INFECÇÃO POR

PAPILOMAVÍRUS BOVINO

SÃO CRISTÓVÃO - SE

2018

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Biologia Parasitária

da Universidade Federal de Sergipe como

parte dos requisitos exigidos para

obtenção do título de Mestre em Biologia

Parasitária.

Orientador: Prof. Dr. Marcus Vinicius de

Aragão Batista

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

Barros, Gerlane dos Santos

B277a

Análise transcriptômica comparativa da infecção por papilomavírus bovino / Gerlane dos Santos Barros; orientador Marcus Vinicius de Aragão Batista. – São Cristovão, 2018. 56 f. : il.

Dissertação (mestrado em Biologia Parasitária) – Universidade Federal de Sergipe, 2018.

1. Papilomavirus. 2. Expressão gênica. 3. Relações

hospedeiro-parasita. 4. Bovino - Doenças I. Batista, Marcus Vinicius de Aragão, orient. II. Título.

CDU 636.2.09:578

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A Deus, por me permitir chegar até aqui, aos

meus Pais, por dispensarem em meu favor

palavras de fé e honradez, e aos meus irmãos,

por se fazerem presentes nos momentos mais

valorosos.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo simples fato da existência!

Aos meus pais, Ivanildo e Valderês, que como materialização do amor

incondicional, nunca mediram esforços para me apoiar em busca dos meus ideais,

sempre se fazendo presentes nos momentos árduos e felizes de minha vida.

Ao meu orientador, Marcus Batista, pelo exemplo de pessoa, pelos

ensinamentos, oportunidades e orientações. Agradeço pela confiança que depositou

em mim e no meu trabalho.

A coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior (CAPES) por apoiar o

meu projeto de dissertação, concedendo bolsa para a execução do mesmo.

Aos meus irmãos, por vibrarem com as minhas conquistas, e torcerem pelo

meu sucesso profissional.

Aos meus familiares e amigos, que souberam compreender a minha

ausência, me apoiando incansavelmente, na torcida pelo meu triunfo.

Aos meus professores, cujos conhecimentos permitiram-me novas

percepções e motivações. Obrigada por contribuírem para meu crescimento

intelectual e pessoal.

A vocês do “Quarteto”, Jaqueline, Kelly Francielly e Valquiria, obrigada pelas

alegrias, momentos de descontração e por toda ajuda que vocês me apresentaram.

Aos meus amigos Marcela e José Luiz, pelo apoio, carinho, pelos momentos

de risos, pelas conversas construtivas e descontraídas. Obrigada amigos!

Aos meus colegas do laboratório de Genética Molecular e Biotecnologia

(GMBio), Débora, Myrela, Lucas, Everton, Melina, Edilaine, Luana, Fernanda,

Conceição, Lidiane, Wilson e Jordana, por tornar o trabalho mais alegre e o

ambiente descontraído. Vocês são definitivamente o melhor grupo de laboratório.

Enfim, a todos aqueles que torceram por mim, que disseram “você consegue”

e, direta ou indiretamente, contribuíram para a consolidação deste trabalho.

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“Lembre-se de olhar para cima, em direção as

estrelas, e não para baixo, para seus pés.

Tente entender o que você vê e se pergunte o

que faz o universo existir. Seja curioso.”

Stephen Hawking

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RESUMO

ANÁLISE TRANSCRIPTÔMICA COMPARATIVA DA INFECÇÃO POR

PAPILOMAVÍRUS BOVINO.

O papilomavírus bovino (BPV) é o agente causador da papilomatose no gado. A

doença causa lesões cutâneas e mucosas que podem ser minimizadas ou levar ao

aparecimento de tumores malignos. Ocorre no Brasil e em vários outros países,

afetando principalmente os animais jovens. Além da aparência desagradável do

animal afetado pela papilomatose cutânea, o problema pode causar danos

incalculáveis aos diferentes criatórios, principalmente no que diz respeito à

diminuição da produtividade. Sabendo que o Brasil é um dos grandes produtores de

carne e leite do mundo, este estudo busca identificar possíveis mecanismos

moleculares que estão por trás dos processos patológicos associados à

papilomatose bovina através da identificação de genes relacionados ao

desenvolvimento das lesões. Para isso, sequenciamento de RNA de nova geração

foi utilizado para avaliar genes diferencialmente expressos em bovinos infectados e

não infectados por BPV. Foram estudados três animais com lesão papilomatosa e

três sem lesão. A plataforma Galaxy foi utilizada para análise dos dados gerados

pelo sequenciamento. Os arquivos de saída Illumina foram convertidos em formato

de arquivo FASTQ. Avaliação de qualidade foi realizada utilizando FastQC e o corte

de qualidade de sequência foi realizado usando Trimmomatic, TopHat e Bowtie

foram utilizados para mapear e alinhar os reads com o genoma de referência. A

abundância dos genes expressos foi verificada utilizando Cuffilinks. Para análise da

expressão diferencial foi utilizado Cuffdiff. A anotação funcional dos genes

diferencialmente expressos foi realizada utilizando o banco de dados do Gene

Ontology (GO). O sequenciamento de RNA gerou um total de 121.722.238 reads. Na

análise de expressão gênica foi identificado um total de 13.421 genes expressos e

destes 1343 foram diferencialmente expressos. A anotação funcional dos genes

diferencialmente expressos mostrou que muitos genes apresentaram funções ou

estavam relacionados a vias metabólicas associadas à progressão de lesões de

papilomatose e desenvolvimento de câncer em bovinos. Embora sejam necessários

mais estudos, este é o primeiro estudo que se concentrou em uma avaliação em

larga escala da expressão gênica associada à infecção por BPV, o que é importante

para identificar possíveis mecanismos regulados pelos genes hospedeiros que são

necessários para o desenvolvimento da lesão.

Palavras-chave: Papilomavírus bovino; Expressão gênica diferencial; RNA-seq;

Anotação funcional; Interação parasito-hospedeiro.

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ABSTRACT

COMPARATIVE TRANSCRIPTOMAL ANALYSIS OF BOVINE PAPILOMAVIRUS

INFECTION.

Bovine papillomavirus (BPV) is the causative agent of papillomatosis in cattle. The

disease causes cutaneous and mucosal lesions that can be minimized or lead to the

appearance of malignant tumors. It occurs in Brazil and in several other countries,

mainly affecting young animals. In addition to the unpleasant appearance of the

animal affected by cutaneous papillomatosis, the problem can cause incalculable

damage to the creative differences, especially in regard to the decrease of

productivity. Knowing that Brazil is one of the great producers of meat and milk in the

world, this study aims to identify possible molecular mechanisms that are behind the

pathological processes associated with bovine papillomatosis through the

identification of genes related to the development of the lesions. For this, next-

generation RNA sequencing was used to assess differentially expressed genes in

infected by BPV and non-infected bovines. Three animals with papillomatosis lesion

and three without papillomatosis lesion were studied. The Galaxy platform was used

to analyze the data generated by the sequencing. The Illumina output files were

converted to FASTQ format. Quality evaluation was performed using FastQC and the

sequence quality cut was performed using Trimmomatic. TopHat and Bowtie were

used to map and align the reads with the reference genome. The abundance of the

expressed genes was verified using Cuffilinks. Cuffdiff was used for differential

expression analysis. Functional annotation of the differentially expressed genes was

performed using Gene Ontology (GO) databases. RNA-sequencing generated a total

of 121,722,238 of reads. In the gene expression analysis, a total of 13,421 genes

expressed were identified and of these 1343 were differentially expressed. The

functional annotation of differentially significant genes showed that many genes

presented functions or they were related to metabolic pathways associated with the

progression of papillomatosis lesions and cancer development in cattle. Although

more studies are needed, this is the first study that focused on a large-scale

evaluation of gene expression associated with the BPV infection, which is important

to identify possible mechanisms regulated by the host genes that are necessary the

development of the lesion.

Keywords: Bovine papillomavirus; Differential gene expression; RNA-seq;

Functional annotation; Host-parasite interaction.

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LISTA DE ABREVIATURAS

BPV Papilomavírus Bovino

cDNA Ácido Desoxirribonucleico complementar

FPKM/RPKM Fragments per kilobase of transcript per million mapped reads

GO Gene Ontology

INF Interferon

LCR Região Longa de Controle

Ori Origem de replicação

KEGG Kyoto Encyclopedia of Genes and Genomes

MHC I Complexo Principal de Histocompatibilidade de classe I

p53 Proteína supressora de tumor

PCR Reação em Cadeia da Polimerase

pRb Proteína do Retinoblastoma

PV Papilomavírus

RNAm Ácido Ribonucleico Mensageiro

RNA-seq Tecnologia de sequenciamento de RNA de nova geração

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Representação esquemática da estrutura do capsídeo do papilomavírus

humano tipo 16 (Fonte: Buck et al., 2013).................................................................3

Figura 2. Genoma viral de BPV-1, evidenciando a região controladora (URR), os

genes de expressão precoce (E) e de expressão tardia (L) (Fonte: Christensen et al.,

2017)............................................................................................................................4

Figura 3. Ciclo de infecção de papilomavirus (Mckinney et al., 2015).........................8

Figura 4. Fotomicrografias da verruga pela coloração de hematoxilina e

eosina.........................................................................................................................20

Figura 5. Gráficos de qualidade da biblioteca 01 gerados pelo FastQC....................22

Figura 6. Distribuição da anotação funcional pelo GO...............................................29

Figura 7. Via metabólica identificada pelo KEGG para o gene Up-regulado (ISG15)

no grupo de vacas infectadas pelo BPV.....................................................................32

Figura 8. Interação entre o gene up-regulado ISG15 e seus parceiros celulares.....33

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Reads e estatísticas de montagem............................................................23

Tabela 2. Número de genes expressos em animais infectados e não infectados pelo

papilomavírus.............................................................................................................24

Tabela 3. Trinta e um genes expressos e suas funções............................................25

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1

1.1 Estrutura do papilomavírus bovino ...................................................................... 3

1.2 Proteínas dos papilomavírus bovino ................................................................... 4

1.3 Ciclo de infecção de papilomavírus bovino ......................................................... 7

1.4 Classificação de papilomavírus bovino ............................................................... 9

1.5 Dogma central da biologia molecular e transcriptômica .................................... 10

1.6 Tecnologia de sequenciamento de RNA de nova geração (RNA-seq) ............. 12

2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 14

2.1 Objetivo geral ................................................................................................... 14

2.2 Objetivos Específicos ....................................................................................... 14

3 MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................... 15

3.2 Detecção da lesão papilomatosa ..................................................................... 15

3.3 Detecção molecular de BPV ............................................................................ 16

3.4 Isolamento de RNA e sequenciamento ............................................................ 17

3.5 Identificação dos genes diferencialmente expressos ....................................... 17

3.6 Anotação funcional e análise das vias moleculares dos genes diferencialmente

expressos ............................................................................................................... 18

4 RESULTADOS ...................................................................................................... 19

4.1 Análise histopatológica e detecção do DNA viral ............................................. 19

4.2 Sequenciamento de RNA e avaliação das sequências .................................... 21

4.3 Mapeamento dos transcritos e expressão gênica ............................................ 23

4.4 Anotação funcional dos genes diferencialmente expressos ............................. 27

5 DISCUSSÃO ......................................................................................................... 33

6 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 37

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 38

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1 INTRODUÇÃO

A agropecuária é uma importante atividade para a economia brasileira,

entre os diversos setores, destaca-se a bovinocultura. O Brasil possui o

segundo maior rebanho bovino do mundo, com 218,23 milhões de cabeça de

gado (IBGE, 2017), ficando atrás somente da Índia (LIVESTOCK, 2013;

LANDES et al., 2016). Dados do Departamento de Agricultura dos Estados

Unidos (USDA, 2017) mostram que o Brasil é o segundo maior produtor

mundial de carne bovina comercial, perdendo apenas para os Estados Unidos

com 2,586 milhões de toneladas. Em 2012, as exportações brasileiras de carne

bovina foram avaliadas em US$ 4,4 bilhões (USDA, 2012). Além disso, o Brasil

ocupa a quinta posição mundial na produção de leite, com 33,62 bilhões de

litros (IBGE, 2017), ficando atrás da União Europeia (se vista como um todo),

Índia, Estados Unidos, China e Rússia (DAIRY, 2013).

No ano de 2012 foi registrada a produção de 32,304 bilhões de litros de

leite, gerando o equivalente a R$ 26,797 bilhões (IBGE, 2012). Dados do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que no ano de

2017 a agropecuária teve aumento de 14,5% em sua produção contribuindo

com 5,7% do Produto Interno Bruto (PIB) (IBGE, 2017). Estes dados mostram

que a produção de gado se coloca em uma posição estratégica para a

economia do país, e desta forma, o Brasil precisa investir cada vez mais no

aumento da qualidade e da quantidade dos produtos provenientes da pecuária.

Entretanto, alguns patógenos são conhecidos por interferir na eficiência

produtiva da bovinocultura de corte e leite, causando danos aos animais e

perdas para os produtores. Dentre estes patógenos, destaca-se o

papilomavírus bovino (BPV), que causa lesões cutâneas e mucosas, que

podem inclusive levar ao surgimento de câncer no animal.

O BPV pertence à família Papillomaviridae, e infecta células epiteliais de

bovinos e animais que estão próximos fisicamente, como cães e gatos

domésticos, causando lesões hiperproliferativas conhecidas como verrugas ou

papilomas, que podem regredir ou levar ao surgimento de tumores benignos e

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malignos (BAM et al., 2012; VILLIERS et al., 2004). Esses vírus evoluíram para

explorar os queratinócitos, que compõem a superfície da pele, bem como a

superfície do epitélio oral e genital (BUCK & TRUS, 2012). No gado saudável,

normalmente o sistema imunológico é capaz de combater as lesões

papilomatosas. Entretanto, em animais mal nutridos ou imunocomprometidos,

além daqueles que se alimentam de brotos de samambaia (Pteridium

aquilinum), há uma grande correlação entre papilomatose persistente e câncer.

O broto de samambaia possui substâncias toxicas que deixam o animal

imunocomprometido e susceptível ao desenvolvimento da papilomatose

(BORZACCHIELLO; ROPERTO, 2008).

A papilomatose bovina ocorre no Brasil e em vários outros países do

mundo e acometem principalmente bovinos jovens menores de dois anos.

Entretanto, bovinos de todas as idades podem ser afetados, estando

normalmente mais presentes em propriedades nas quais os animais

encontram-se agrupados como em confinamentos ou em rebanhos de leite

(LEISHANGTHEM et al., 2008).

Além da aparência desagradável do animal acometido pela

papilomatose cutânea, esta doença pode causar prejuízos incalculáveis às

diferentes propriedades, principalmente no que diz respeito à diminuição da

produção de carne, uma vez que os animais acabam ficando caquéticos. Há

ainda a desvalorização do couro do animal, desenvolvimento retardado,

cegueira, depreciação do valor do bovino em função da dificuldade em

comercializá-lo, além de problemas relacionados à fertilidade quando o

papiloma localiza-se no órgão reprodutor do animal fazendo com que este evite

a cópula (CARVALHO et al., 2013).

A presença das lesões papilomatosas no úbere de vacas em lactação

desvaloriza os animais e torna o úbere susceptível a infecções secundárias

resultando em mastites, que influenciam negativamente na produção de leite

(CARVALHO et al., 2013; BOCANETI, 2014). Em casos extremos, esta

enfermidade pode levar o animal à morte (JARRETT et al., 1978; FREITAS et

al., 2011; CARVALHO et al., 2012; BATISTA et al., 2013).

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1.1 Estrutura do papilomavírus bovino

O BPV, agente causador da papilomatose bovina, é um vírus não-

envelopado de estrutura icosaédrica com 55-60 nm de diâmetro. Seu genoma

consiste de uma única molécula de DNA de cadeia dupla circular com

aproximadamente 8 Kilobases (Kb) de tamanho e se encontra associado com

proteínas do hospedeiro, as histonas (BORZACCHIELLO; ROPERTO, 2008;

BOCANETI et al., 2014) (Figura. 1).

Figura 1: Fotomicrografia por microscopia eletrônica criogênica (CryoEM) da estrutura

do capsídeo do papilomavírus humano tipo 16 (Fonte: Buck & Trus, 2012).

O genoma dos BPV pode ser dividido em três regiões: a região longa de

controle (LCR – Long Control Region, ou URR – Upstream Regulatory Region),

não codificante, e duas outras regiões que contem regiões de leitura aberta

(ORF – Open Reading Frames), a região de expressão precoce (E – Early) e a

região de expressão tardia (L – Late). A LCR é uma região com

aproximadamente 1000 pares de bases (pb), que compõe aproximadamente

12,5% do genoma, contém a região promotora onde o aparato de transcrição

viral irá se ligar e iniciar a transcrição dos genes virais. Essa região possui

vários elementos reguladores para a replicação do genoma e a transcrição dos

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genes virais. A região E corresponde à 47,5% do genoma e codifica proteínas

não estruturais designadas E1-E8 que exercem funções reguladoras

importantes no ciclo de infecção do vírus. A região L codifica duas proteínas

estruturais, L1 e L2 que formam o capsídeo viral e compõem 40% do genoma

do vírus (ZHENG & BAKER, 2006; BORZACCHIELLO; ROPERTO, 2008;

BOCANETI et al., 2014) (Figura. 2).

Figura 2: Representação esquemática do genoma de BPV-1 evidenciando a região

controladora (URR), os genes de expressão precoce (E) e de expressão tardia (L)

(Fonte: Christensen et al., 2017).

1.2 Proteínas dos papilomavírus bovino

Dentre as proteínas dos BPV, E1 e E2 são as mais importantes na

replicação e transcrição do genoma do vírus. A proteína E1 é a mais

conservada, sendo importante para reconhecimento da origem de replicação

(ori), tem atividade de helicase dependente de ATP, e desempenha o seu papel

na replicação viral.

A proteína E2 é responsável pelo reconhecimento e ligação à origem de

replicação e recrutamento da proteína E1 especificamente na ori. Quando as

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proteínas E2 e E1 se ligam, formam um complexo E2-E1-ori. Esse complexo

auxilia na montagem de um duplo hexamero de E1 com atividade de

deselicoidização da fita de DNA (SANDERS & STENLUND, 1998; SANDERS &

STENLUND, 2001; SANDERS, 2008; BERGVALL & MELENDY, 2013). Além

disso, E2 possui atividade de ligação ao cromossomo mitótico, a fim de

assegurar uma distribuição igual de epissomas virais entre as células-filha.

Essa proteína também exerce um papel na ativação ou inativação do processo

de transcrição do vírus. O gene E4 está completamente sobreposto em E2,

mas se encontra em uma matriz de leitura diferente. Ele produz uma pequena

proteína encontrada no citoplasma de queratinócitos durante a replicação. O

gene E4 está situado centralmente dentro do gene E2, numa região que

codifica o domínio flexível da proteína E2 (DOORBAR, 2013).

Três proteínas precoces são necessárias para o processo carcinogênico

do BPV, por isso são chamadas de oncoproteínas: E5, E6 e E7. E5 é uma

proteína associada à membrana hidrofóbica, que desempenha um papel

perturbando o controle do crescimento celular. E5 interage com várias

proteínas celulares exercendo um papel importante na transformação da célula

hospedeira e na evasão da resposta imune (DiMaio & Mattoon, 2001). E5

interfere na capacidade de comunicação das células através da comunicação

mediada pelas junções gap, ao bloquear a conexina 43, podendo tornar as

células transformadas insensíveis aos sinais de controle de crescimento das

células normais adjacentes (TOMAKIDI et al., 2000; VENUTI et al., 2011;

DIMAIO & PETTI, 2013). O primeiro domínio transmembranar de E5 interage

com elementos do Complexo Principal de Histocompatibilidade de classe I

(MHC I) através dos pares de leucina (REGAN & LAIMIN, 2008; CORTESE et

al., 2010). A regulação negativa do MHC I mediada por E5 leva a uma

diminuição desse complexo na superfície celular e acumulação do mesmo no

Complexo de Golgi. Esses eventos provocam uma redução do reconhecimento

ao vírus por células T CD8+ e, desta forma, ele pode burlar o sistema imune

(ARAIBI et al., 2006).

Outra função de E5 é a regulação negativa da expressão das proteínas

supressoras tumorais p21 e p27. Estas proteínas por sua vez estão fortemente

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envolvidas na inibição das proteína-quinases dependente de ciclina (CdK),

promovendo a progressão do ciclo celular e a síntese de DNA na fase S da

interfase (DIMAIO & PETTI, 2013). A associação de E5 e E6 induz a formação

de coilócitos, células vacuolizadas com núcleos basofílicos circundado por um

halo claro (LETO et al., 2011).

A proteína E6 é conhecida por ter um grande número de parceiros

proteicos do hospedeiro e conduzir junto com a proteína E7 a progressão do

ciclo celular acima da camada basal, de modo a facilitar a amplificação do

genoma do viral. E6 atua inibindo a proteína supressora de tumor p53, com

isso garante que o vírus amplifique seu genoma. A p53 interrompe o ciclo

celular na presença de dano ao DNA e ativa a p21 (POL & KLINGELHUTZ,

2013).

A proteína E7 atua de forma sinérgica com E5 e E6 para a

transformação celular, cuja produção com as duas outras oncoproteínas

aumenta a eficiência de transformação. Além disso, E7 inibe as proteínas do

Retinoblastoma (pRb) através da via de ubiquitinação, resultando numa

estabilização da p53 e parada do ciclo celular. Para que isso não aconteça, E6

inibe a função da p53 e a célula segue no ciclo celular (EICHTEN et al., 2002).

A pRb regula o ciclo celular formando complexo com o fator de transcrição E2F

impedindo a progressão do ciclo para a fase S.

A ação combinada das proteínas E2, E5, E6 e E7 dos BPVs levam ao

aparecimento de acantose (MOODY & LAIMINS, 2010). E7 está associada à

hiperplasia das células da camada espinhosa, ocasionando um aumento no

número de desmossomos e tonofibrilas (FERNANDES et al., 2009).

A estrutura do capsídeo viral é constituída por duas proteínas

codificadas pelos genes de manifestação tardia em genomas virais, L1 e L2. O

gene L1 apresenta a região do genoma viral mais conservada, assim, é

importante para a classificação dos tipos, subtipos e variantes dos

papilomavírus (VILLIERS et al., 2004). O capsídeo é formado por 360 cópias

de proteína L1, organizadas em 72 capsômeros, e 12 cópias da proteína L2.

Apesar de estar presente em menor número, a proteína L2, que é a menor

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proteína do capsídeo, é necessária para a morfogênese viral (revisado por

FREITAS et al., 2011).

1.3 Ciclo de infecção de papilomavírus bovino

A infecção pelo BPV ocorre na camada basal do epitélio, onde o genoma

viral apresenta-se em baixo número de cópias e em seu estado epissomal

(MOODY & LAIMINS, 2010; MCBRIDE et al., 2012). A entrada do vírus tem

início a partir de uma microlesão que expõe os peptideoglicanos de sulfato de

heparina da membrana plasmática (CULP et al., 2005; MCKINNEY et al.,

2015). A proteína L1 se liga ao sulfato de heparina, levando a uma mudança

conformacional que expõe a proteína L2 e esta é clivada pela furina, resultando

em uma segunda alteração estrutural que permite a ligação do vírus à integrina

α6. Esse processo permite a internalização do vírus por endocitose e

transferência do genoma viral para o núcleo, por volta de 2-4 horas após a

ligação do vírus à superfície da membrana (BOORBAR, 2005; KINES et al.,

2009; DOORBAR et al., 2012; MCBRIDE et al., 2012).

A expressão dos genes precoces virais é relativamente baixa, incluindo

os oncogenes E5, E6 e E7, o gene E1, e o fator de transcrição E2. As proteínas

produzidas por esses genes conduzem em conjunto a divisão dos

queratinócitos na camada basal do epitélio e estimulam baixos níveis de

replicação do DNA viral em sincronia com elementos extracromossômicos do

hospedeiro (BUCK & TRUS, 2012).

O fator de replicação viral E1 com sua atividade de helicase e a proteína

auxiliar E2, que também é um fator de transcrição viral, são expressos no início

da infecção. Quando as células infectadas entram na camada epitelial

suprabasal, as proteínas E6 e E7 promovem a progressão do ciclo celular não

programada e manipulam os programas de diferenciação celular. Nesta fase,

outras proteínas reguladoras virais, E4 e E5, são expressas. À medida que

essas células avançam na camada epitelial ocorre uma amplificação produtiva

do DNA viral com aumento na síntese das proteínas E1 e E2. Finalmente,

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8

ocorre a síntese das proteínas da cápside, L1 e L2, na camada granular do

epitélio e as partículas virais são montadas (MCKINNEY et al., 2015; EGAWA

et al., 2015) (Figura. 3).

O processo de infecção do vírus é acoplado à replicação do genoma

viral, esse processo depende dos fatores do hospedeiro. Durante a infecção, os

fatores do hospedeiro são inibidos ou ativados por proteínas do patógeno

(KLYMENKO et al., 2017). Estudos têm demonstrado que o vírus regula esses

fatores para garantir o aumento do número de cópias do genoma viral e assim

desencadear o processo infeccioso (CULP et al., 2005; MCKINNEY et al.,

2015; KLYMENKO et al., 2017). Ainda não se sabe quais são esses genes do

hospedeiro que são regulados pela infecção por vírus, dessa forma, este

trabalho é relevante para conhecer como ocorre o processo patogênico no

animal, e também para encontrar alvos para possíveis drogas que interrompem

o ciclo de infecção do vírus do papiloma, evitando assim a papilomatose.

Figura 3: Ciclo de infecção de papilomavirus bovino (modificado de Mckinney et al.,

2015).

Manutenção

do genoma

Amplificação

do genoma

Montagem

do virion

D

i

f

e

r

e

n

c

i

a

ç

ã

o

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9

1.4 Classificação de papilomavírus bovino

Os papillomavírus bovino são classificados em cinco diferentes gêneros:

Deltapapillomavirus, Xipapillomavirus, Epsilonpapillomavirus,

Dyoxipapillomavirus, e Dyokappapapillomavirus (ZHU et al., 2012; RECTOR;

RANST, 2013). Atualmente são conhecidos 21 tipos de BPV. Os BPV -1, -2, -

13, e -14 são classificados como Deltapapillomavirus; BPV -3, -4, -6, -9, -10, -

11, -12, -15, -17, e -20 pertencem ao gênero Xipapillomavirus; BPV -5 e -8

pertencem ao gênero Epsilonpapillomavirus; BPV-7 ao gênero

Dyoxipapillomavirus; e BPV -16 e -18 pertencem ao gênero

Dyokappapapillomavirus (VILLIERS et al., 2004; RECTOR; RANST, 2013;

BOCANETI et al., 2014; MONDAY at al., 2015; DAUDT et al., 2016). Os BPV -

19, e -21 ainda não foram classificados em nenhum dos gêneros descritos.

Provavelmente esses tipos serão agrupados em novos gêneros (DAUDT et al.,

2016).

Os tipos de BPV que são classificados no gênero Deltapapillomavirus

induzem fibropapilomas cutâneos que consistem de componentes epiteliais e

dérmicos, já os tipos do gênero Xipapillomavirus são responsáveis pela

ocorrência de verdadeiros papilomas, principalmente epiteliotrópico, e os dos

gêneros Epsilonpapillomavirus e Dyokappapapillomavirus induzem

fibropapilomas e papilomas verdadeiros (BOCANETI et al., 2014; DAUDT et al.,

2016; BAUERMANT et al., 2017).

Os diferentes tipos de BPV podem causar lesões em diferentes locais do

corpo do animal. O BPV-1 tem sido relacionado com lesões nos tetos, pênis,

papadas, costas e fibropapilomas cutâneas; BPV-2 com verrugas de pele e

fibropapilomas gastrointestinais; BPV-3 com papilomas da pele; BPV-4 com

papilomas epiteliais do trato gastrointestinal e pele; BPV-5 com verrugas no

ombro, ao redor dos olhos e úbere e fibropapilomas; BPV-6 com papilomas nos

tetos, ombro e ao redor dos olhos; BPV-7 e BPV-8 com verrugas cutâneas na

região das costas; BPV-9 e BPV-10 com papilomas epiteliais escamosos nos

tetos e úbere; BPV-11 com verrugas nos tetos e fibropapilomas; BPV-13 tem

sido associado com papiloma cutâneo da orelha, e tumores de bexiga; e BPV-

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14 com tumores de bexiga (BATISTA et al., 2013; BOCANETI et al., 2014,

ROPERTO et al., 2016, ROPERTO et al., 2016).

Alguns tipos de BPV estão associados com câncer em bovinos,

especialmente quando combinado com co-fatores ambientais, como a ingestão

de brotos de samambaia (FREITAS et al., 2011). O BPV-1 e BPV-2 estão

associados com câncer da bexiga urinária que resulta em hematúria, levando à

morte do animal, e o BPV-4 desenvolve papilomas no trato gastrointestinal

superior que pode evoluir para carcinomas (HAGA et al., 2013). É sabido que

os BPV tipo 3, 5 e 6 não estão relacionados com câncer em bovinos. No

entanto, existe apenas uma quantidade muito limitada de informações

disponíveis sobre a patologia associada com os outros tipos de BPV, tornando

importantes estudos que visem identificar os mecanismos moleculares pelos

quais estes vírus desenvolvem o ciclo de infecção. Mais informações precisam

ser acumuladas de forma a elucidar a associação do BPV e a doença que ele

desenvolve no hospedeiro. Entender a relação hospedeiro-patógeno no

desenvolvimento da papilomatose bovina é crucial para o desenvolvimento de

métodos diagnósticos e de tratamento mais eficientes para o controle desta

patologia.

1.5 Dogma central da biologia molecular e transcriptômica

O dogma central da biologia molecular estabelece que o fluxo da

informação genética seja passado de uma molécula de DNA para outra

molécula de DNA por meio da replicação do material hereditário, essa molécula

é transcrita em uma molécula de RNA e por fim traduzida em uma molécula de

proteína para manifestação do fenótipo (CRICK, 1958; CRICK, 1970). O

conjunto completo dos genes de uma molécula de DNA que foram transcritos

em moléculas de RNA formam o transcriptoma de uma célula. Essas moléculas

de RNA regulam boa parte da atividade biológica da célula, sendo de suma

importância para manutenção do metabolismo celular. Compreender a

abundância e funcionamento das moléculas de RNA na célula, tecidos ou

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órgãos sob uma condição fisiológica específica é o principal objetivo dos

estudos com RNA (WANG et al., 2009).

O transciptoma é formado por diferentes classes de RNA, abrange desde RNA

que codificam proteínas, tal como o RNA mensageiro (RNAm), a RNA não

codificantes, como RNA transportador (tRNA), RNA ribossômico (rRNA), RNA

de interferência (siRNA), RNA nuclear (snRNA), RNA nucleolar (snoRNA),

micro RNA (miRNA) e outras variedade de RNA (MATTICK & MAKUNIN, 2006;

STEFANI & SLACK, 2008; KUKURBA & MONTGOMERY, 2015). Dentre todos

as classes de RNA, o mRNA é o mais estudado já que produz proteína e estas

estão fortemente associadas com o desenvolvimento do corpo e surgimento de

doenças (KUKURBA & MONTGOMERY, 2015).

Estudos pioneiros de expressão gênica basearam-se em métodos, como

reação em cadeia da polimerase quantitativa (qPCR), que se limita ao estudo

de transcritos únicos. Ao decorrer do anos, os métodos evoluíram para permitir

a quantificação transcriptômica em larga escala. A primeira tecnologia

desenvolvida para estudar o transcriptoma foi a do microarranjos de DNA

baseada em hibridação de genes marcados com fluoróforos (SCHENA et al.,

1995).

Apesar da tecnologia de microarranjos de DNA ser de mais acessível do

ponto de vista financeiro, ela possui algumas limitações. O método possui uma

capacidade limitada de quantificar os genes expressos, pois a hibridização

cruzada diminui a especificidade e sensibilidade da técnica (SHENDURE,

2008). Além disso, é necessário ter um conhecimento prévio das sequências

do organismo em estudo para que se possa inferir algo (CASNEUF et

al., 2007; SHENDURE, 2008).

Com o objetivo de suprir essas limitações, métodos baseados em

sequenciamento foram desenvolvidos. Os novos métodos de sequenciamento

de nova geração (NGS) permitem a análise de moléculas de RNA a partir de

DNA complementar (cDNA). Este método é conhecido como sequenciamento

de RNA (RNA-seq) e apresenta várias vantagens em relação aos métodos

anteriores, fornecendo uma visão mais ampla e quantitativa da expressão

gênica (WANG et al., 2009).

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12

A análise do transcriptoma é importante para entender a relação entre o

genótipo e fenótipo e compreender as vias e os mecanismos de controle

celular, desenvolvimento e progressão das doenças.

1.6 Tecnologia de sequenciamento de RNA de nova geração (RNA-seq)

A tecnologia de sequenciamento de RNA de nova geração (RNA-seq)

permite o sequenciamento em larga escala do transcriptoma de uma célula que

é expresso sob uma determinada condição. Neste tipo de sequenciamento são

geradas grandes quantidades de dados, ou seja, são produzidas grandes

quantidades de sequências de RNA que precisam ser analisadas de forma

automatizada, tornando estas informações mais claras aos pesquisadores que

as utilizam em novas pesquisas e comparações de organismos (ZHONG et al.,

2009). Essa técnica é utilizada para determinar o nível de expressão gênica de

forma acurada, podendo ser aplicada na avaliação da expressão diferencial de

genes envolvidos na relação hospedeiro-patógeno, como foi visto com

papilomavírus humano (CHEN et al., 2014), e também na relação planta-

patógeno (SEDANO; CARRASCAL, 2012; PROGAR, et al., 2017).

RNA-seq mostra com detalhes o perfil do nível de expressão dos genes,

identifica genes diferencialmente expressos em duas ou mais condições e

mostra a caracterização do transcriptoma de todos os genes expressos. Este

método foi bem-sucedido no estudo de tecidos mamários bovinos

(WICKRAMASINGHE et al., 2012; CUI et al., 2014; CANOVAS et al., 2014;

IBEAGHA-AWEMU et al., 2016) e na analise de diferencial de queratinócitos

durante a infecção por papilomavírus humano (KLYMENKO et al., 2017).

Entretanto, nenhum desses estudos considerou o efeito da expressão gênica

durante a infecção por BPV.

Desta forma, este estudo se torna relevante por propor aumentar o

conhecimento da interação hospedeiro-patógeno no desenvolvimento das

lesões papilomatosas em bovinos, e assim fornecer subsídios para a

identificação de genes diferencialmente expressos que podem estar envolvidos

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nestas lesões, podendo ser utilizadas para auxiliar no desenvolvimento de

estratégias de controle das doenças associadas ao papilomavírus bovino.

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Identificar genes bovinos diferencialmente expressos associadas com a

infecção por papilomavírus bovino utilizando a tecnologia de RNA-Seq.

2.2 Objetivos Específicos

Obter transcritos de lesões papilomatosas e de tecidos normais;

Construir uma biblioteca de cDNA associada com transcritos isolados de

lesões papilomatosas e de tecidos saudáveis;

Avaliar o transcriptoma relacionado com a infecção por papilomavírus

bovino;

Identificar genes regulados devido à infecção pelo BPV;

Avaliar funcionalmente os genes do hospedeiro regulados pelo vírus;

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3 MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Coleta das Amostras

Foram coletadas três amostras de lesões papilomatosas cutâneas e três

amostras de tecido epitelial saudável (controle) de seis diferentes bovinos

fêmeas leiteiras, da raça girolando, com até dois anos de idade na Fazenda

São José – Aquidabã, região Central Agreste do estado de Sergipe, Nordeste

do Brasil. A coleta foi realizada por profissional médico veterinário qualificado e

registrado no conselho da classe, de acordo com os procedimentos

estabelecidos pelo comitê de ética correspondente. Inicialmente foi efetuada a

limpeza local com água e sabão e anti-sepsia da área ao redor das verrugas

com álcool a 70ºC. Em seguida, foi realizada incisão de parte dos papilomas

com tesoura de Mayo® e/ou lâmina de bisturi, utilizando-se para tal, luvas

descartáveis para cada animal. Após a retirada da lesão, foi utilizada pomada

veterinária cicatrizante do tipo Vetaglós® (que possui como princípio ativo

gentamicina, sulfadiazina de prata e vitamina A), aplicando uma fina camada

em cima da área afetada. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em

Pesquisa com Animais de Produção da Universidade Federal de Sergipe

(Protocolo: 05/14).

As amostras do tecido coletado de cada animal foram fragmentadas em

três porções utilizando lâmina de bisturi estéril. Uma porção foi destinada à

identificação molecular do vírus presente na amostra, sendo transportada em

caixa térmica e mantida a -20ºC para posterior manuseio. A segunda porção foi

destinada à análise histopatológica para a confirmação da lesão papilomatosa,

sendo fixada em solução de formalina tamponada a 10% em PBS. E a terceira

porção foi coletada utilizando RNAlater (Qiagen, SP, Brasil), e o tecido extraído

foi prontamente congelado com nitrogênio líquido para posterior manipulação e

avaliação da expressão gênica.

3.2 Detecção da lesão papilomatosa

O material fixado em solução de formalina tamponada a 10% em PBS foi

desidratado em diferentes concentrações de álcool, infiltrado em parafina,

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16

submetido a cortes de 3-5 µm no micrometro e corado com hematoxilina-eosina

(HE). As lâminas foram analisadas em microscópio óptico binocular, com

objetivas de 5X, 10X, 20X e 40X.

3.3 Detecção molecular de BPV

Para verificar a presença de BPV na lesão, cada amostra foi macerada

individualmente para extração de DNA total com o auxílio do kit Wizard®

Genomic DNA Purification (Promega, SP, Brasil), seguindo instruções do

fabricante. A quantificação do DNA extraído foi realizada utilizando

espectrofotômetro Nonodrop. A integridade do DNA extraído foi confirmada

através de PCR para o gene da beta-globina bovina (primer forward 5’- AAC

CTC TTT GTT CAC AAA GAG -3’ e primer reverse 5’- CAG ATG CTT AAC

CCA CTG AGC -3’) (YAGUIU et al., 2008). Cerca de 20 ng de DNA foi utilizado

para a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) utilizando os primers de

detecção geral FAP59/64 para BPV (FORSLUND et al., 1999).

Todas as reações de amplificação foram preparadas para um volume

final de 25 μL, sendo estas compostas de 12 μL de PCR Master Mix (Promega,

SP, Brasil), 1 μL do primer forward, 1 μL do primer reverse, 2 μL de DNA e 9 μL

de água ultrapura. Todos os primers utilizados estavam na concentração de 10

μM. A solução foi levada ao termociclador e submetida desnaturação inicial a

94ºC durante 10 min, 35 ciclos de 94ºC durante 1 min, 50ºC durante 1 min,

72ºC durante 1 min, seguido por uma fase de extensão final a 72ºC por 10 min.

Os produtos da PCR foram submetidos à eletroforese utilizando gel de agarose

1,5%, 1x TBE buffer, peso molecular (DNA step Ladder), corado com

Diamond™ Nucleic Acid Dye e fotografado com transluminador UV.

Os produtos da PCR foram purificados usando o kit Wizard® SV and PCR

Clean-Up System (Promega) e submetidos a sequenciamento automático pelo

Applied biosystems 3500 utilizando o kit BigDye® Direct Sanger Sequencing

(ThermoFisher, Brasil). A qualidade do sequenciamento e montagem dos

contigs foi realizada usando os programas Pregap4 e Gap4 contidos no pacote

de programas Staden v.2.0 (STADEN, 1996). Somente as sequências com

valor de Phred acima de 30 foram consideradas para a montagem dos contigs.

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O programa Nucleotide Blast (ALTSCHUL et al., 1990) foi utilizado para

comparar as sequências de nucleotídeos com as de referência, depositadas no

GenBank do National Center for Biotechnology Information (NCBI)

(https://www.ncbi.nlm.nih.gov/).

3.4 Isolamento de RNA e sequenciamento

O RNA total (~15 µg/amostra) foi purificado utilizando ReliaPrep™ RNA

Tissue Miniprep System (Promega), de acordo com as instruções do fabricante.

A concentração do RNA foi mensurada com Nanodrop ND-2000 (NanoDrop

Thermo Scientific, Wilmington, DE, USA) e a qualidade foi verificada com

Bioanalyzer 2100 (Agilent Technologies, Santa Clara, CA, USA).

As bibliotecas foram confeccionadas a partir de 250 ng de RNA total

usando o TruSeq Stranded mRNA Sample Preparation LS Protocol Kit (Illumina

Inc. San Diego, CA, USA), seguindo as orientações do fabricante. As

bibliotecas foram quantificadas usando Library Quantification Kits (Illumina Inc.

San Diego, CA, USA). O tamanho do fragmento foi avaliado utilizando

Bioanalyzer 2100 (Agilent Technologies). A formação dos clusters na célula de

fluxo foi realizada usando cBot instrument (Illumina Inc). As bibliotecas foram

sequenciadas como multiplex em proporções iguais, na forma de 50 ciclos de

100 bp paired-end reads, no HiSeq 2000 system (Illumina Inc. San Diego, CA,

USA) rodada no HCS software v2.2.58.

3.5 Identificação dos genes diferencialmente expressos

Os dados obtidos a partir das imagens adquiridas após o

sequenciamento foram transformados por base calling em reads e

armazenados no formato FASTQ. A plataforma Galaxy foi utilizada para análise

dos dados gerados pelo sequenciamento (BLANKENBERG et al., 2010). Os

reads foram submetidos à avaliação de qualidade utilizando FastQC

(ANDREWS, 2010). O algoritmo Phred foi utilizado para a avaliação da

qualidade do sequenciamento e do base calling (EWING & GREEN, 1998;

EWING et al., 1998). As sequências adaptadoras, homopolímeros e as bases

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com baixa qualidade foram retirados dos dados FASTQ utilizando o programa

Trimmomatic (BOLGER et al., 2014). Os reads que possuíam menos que 70 pb

após o processamento foram removidos. Após, os reads foram montados em

contigs e alinhados com o genoma de bovino de referência utilizando os

programas TopHat e Bowtie (TRAPNELL et al., 2013).

Os reads mapeados, pertencentes aos bovinos, foram analisados

usando Cufflinks (TRAPNEL et al., 2013) para quantificar a expressão de cada

gene do animal, para calcular o FPKM/RPKM (fragments per kilobase of

transcript per million mapped reads) e para gerar informações sobre a

cobertura do genoma. A análise de expressão diferencial dos genes foi

realizada usando a ferramenta Cuffdiff (TRAPNEL et al., 2013) e visualizado

por meio do programa CummeRbund (TRAPNEL et al., 2013). Os genes

diferencialmente expressos foram definidos como significativos quando tendo

uma taxa de descoberta falsa (FDR) (BENJAMINI & HOCHBERG, 1995) com

valor corrigido de p<0,1 (ANDERS & HUBER, 2010; IBEAGHA-AWEMU et al.,

2016).

3.6 Anotação funcional e análise das vias moleculares dos genes

diferencialmente expressos

A anotação funcional dos genes diferencialmente expressos foi realizada

utilizando os bancos de dados do Gene Ontology (GO)

(http://www.geneontology.org/) e da Universal Protein knowledgebase (UniProt)

(http://www.uniprot.org/). Os genes que apresentaram funções associadas com

a progressão da lesão papilomatosa em bovino tiveram sua via mapeada

utilizando o banco de dados do Kyoto Encyclopedia of Genes and Genomes

(KEEG) (http://www.genome.jp/kegg/) e seus parceiros foram analisados

usando STRING (https://string-db.org/).

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19

4 RESULTADOS

4.1 Análise histopatológica e detecção do DNA viral

A análise histopatológica comprovou a presença de lesão papilomatosa

em todas as amostras de animais que apresentavam sinais clínicos

condizentes com a papilomatose. Foram visualizados através de

fotomicrografia a presença de hiperqueratose da camada epitelial, coilocitose e

acantose (Figura. 4, a-c). Nas análises realizadas em amostras de tecidos

saudáveis não foi encontrado nenhum indício de hiperqueratose, coilocitose e

acantose (Figura. 4, d-e).

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Figura 4:.Fotomicrografias da verruga pela coloração de hematoxilina e eosina. a)

fragmento de um papiloma. Hiperqueratose (Q) da camada epitelial e com

irregularidade da epiderme (E). Aumento de 40x. b) visualização de coilocitose (C).

Aumento 40x. c) acantose (A). Aumento de 10x. d) tecido animal sem o vírus,

evidenciando a camada epitelial sem presença de hiperqueratose e núcleos normais.

E Q

a)

b)

C

c)

A

d) e)

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Aumento de 40x. e) células da camada espinhosa sem presença de acantose.

Aumento de 10x.

O DNA viral foi identificado nas amostras dos três animais que

apresentaram sinais clínicos de lesões papilomatosas, as quais foram

confirmadas por sequenciamento e comparação no banco de dados pelo

algoritmo Blastn.

4.2 Sequenciamento de RNA e avaliação das sequências

Seis bibliotecas de cDNA foram construídas em duplicata, sendo três de

animais saudáveis e três de animais com lesões papilomatosas, e

sequenciadas pela plataforma Illumina. O sequenciamento de RNA gerou um

total de 121.722.238 reads paired-ends com uma cobertura de

aproximadamente 20 milhões de reads por biblioteca. O comprimento médio

das sequências contidas nos arquivos R1 (Forward) e R2 (Reverse) foram de

101 pares de bases (pb).

A análise da qualidade das sequências mostrou que todas as reads

possuíam boa qualidade, tendo um valor de Phred médio acima de 32,

significando que há uma chance em mil de cada uma das bases terem sido

inseridas incorretamente durante o sequenciamento. Levando em consideração

que cada read possuía aproximadamente 101 pb, poucos erros são esperados

(Figura. 5).

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Figura 5: Distribuição dos valores de qualidade Phred por posição no read em pares

de base (pb) evidenciando os altos valores na camada verde do gráfico. A) Gráfico de

qualidade do arquivo R1 (Forward); B) Gráfico de qualidade do arquivo R2 (Reverse).

A)

B)

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Após a remoção dos adaptadores e das sequências de baixa qualidade,

o número de reads contidos nos arquivos R1 e R2 foram reduzidos em torno de

2 milhões, ficando um total de mais de 17 milhões de reads por arquivo. Ao

final da filtragem, foram gerados quatro arquivos, sendo dois arquivos paired-

end com as sequências pareadas e dois arquivos unpaired, que contém as

sequências cujo par foi removido durante a análise.

4.3 Mapeamento dos transcritos e expressão gênica

O alinhamento mostrou que 87,56% (93.261.478) das sequências foram

mapeadas com o genoma bovino de referência (UMD3.1 Bos taurus 8). Das

sequências mapeadas, 94,29% (87.934.570) tiveram posições únicas, 16,20%

(15.106.598) foram mapeadas em múltiplas posições e 4,1% (3.868.570)

tiveram alinhamentos discordantes (Tabela 1).

Tabela 1. Reads e estatísticas de montagem

Biblioteca paired

reads

trimmed

pairs

Total de

reads

alinhados

no genoma

Alinhamentos

múltiplos

Alinhamentos

discordantes

Alinhamentos

de posições

únicas

1 20335461 17917849 15920141 2740052 649007 15011438

2

3

19950125

20407539

17165233

17796330

15573331

15831717

4947482

2041789

543712

681433

14744157

14913038

4 19266702 17389959 15142172 2013621 683536 14191137

5 21908947 19081327 15028129 1730788 586840 14203296

6 19853464 17389655 15765988 1632866 724042 14871504

A análise de expressão gênica identificou um total de 14.213 genes

expressos. Usando os valores de RPKM, os genes foram classificados em

muito altamente expressos (>2% do total de valores RPKM), altamente

expressos (0.1 para 1.99%), mediamente expressos (0.01 para 0.099%), pouco

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expressos (0.001 para 0.0099%) e muito pouco expressos (<0.0099%) (Tabela

2).

Tabela 2: Número de genes expressos por categoria em animais infectados e

não infectados por papilomavírus bovino

Categoria RPKM

Range (% of total) Infectados Não infectados

Muito altamente expressos >2% 6 5

Altamente expressos 0,1 a 1,99% 114 107

Mediamente expressos 0,01 a 0,099% 849 872

Pouco expressos 0,001 a 0,0099% 5082 5334

Muito pouco expressos < 0,00099% 8123 6354

Nossas análises revelaram que 1343 genes foram diferencialmente

expressos (FDR <0,1). Na comparação dos genes expressos em bovinos

infectados e não infectados pelo vírus, foi encontrado 650 genes com

regulação ascendente e 693 genes com regulação descendente no grupo de

bovinos com o vírus.

Trinta e um dos principais genes diferencialmente expressos e suas

funções estão listados na Tabela 3. No grupo de vacas com o vírus foram

encontrados 14 genes regulados de forma ascendente e no grupo de vacas

sem o vírus 17 genes foram regulados de forma ascendente. Dentre os

principais genes listados destacam-se como regulados de forma ascendente

pelo vírus os genes IFI6, IVL, FABP4, BNIP3, ISG15, OAS1Y e SERPINA 12.

Como regulados de forma descendente temos BOLA-DYB, KRT78, KRTAP3-1,

CST6, HEPACAM, ZBTB16, KRT35 e SPP1. Todos esses genes

diferencialmente expressos estão fortemente associados com a presença do

vírus no animal.

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25

Tabela 3: Genes diferencialmente expressos e suas funções

Símbolo do gene

Nome do gene

% RPKM em vacas infectadas com BPV

% RPKM em vacas

sem o BPV

Função do gene

BOLA-DYB Principal de

Histocompatibilidade de classe II, DY beta

0,129 0,975

Participa da resposta imune; ligação do peptídeo a molécula de MHCII

DAPL1 Proteína associada à

morte 1 0,798 5,430

Desempenha um papel na diferenciação do epitélio e apoptose

IFI6 Proteína induzível de

interferon alfa 6 1,934 0,453

Contribui para apoptose induzida por interferon através da perturbação normal da função da mitocôndria

KRT78 Queratina, tipo cito

esqueleto 78 0,137 1,355

Principal proteína estrutural do cabelo

IVL Involucrina 4,097 0,439 Participa da diferenciação dos queratinócitos

FABP4

Proteína de ligação a ácidos graxos

114,396

3,280

Participa da regulação positiva da proliferação celular e regulação da resposta inflamatória

KRTAP3-1

Queratina associada a proteína 3-1

0,939

9,875

Possui atividade estrutural

UBA7

Proteína UBA7

0,349

0,147

Atividade de ubiquitinção; participa da ativação da enzima ISG15

CST6

Cistatina-B

50,470

272,66

Inibidor de cisteína tipo endopeptidase

BNIP3

Proteína 3 interagindo com BLC2

7,220

0,422

Participa da defesa a resposta a vírus; regulação negativa do processo apoptótico

HEPACAM

Molécula de adesão celular de hepatócitos

0,006

0,029

Envolvida na regulação da mobilidade celular; contribui para inibição do crescimento e proliferação celular

...Continua...

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26

Cont. Tabela 3.

ISG15

Proteína semelhante à ubiquitina ISG15 U

3,406

0,165

Participa da resposta a vírus. Envolvido na via de infecção do papilomavírus humano

BLA-DQB

Antígeno MHC classe II

0,569

2,141

Participa da resposta imune

ZBTB16

Domínio de zinco e BTB contendo 16

0,001

0,019

Repressor da atividade transcricional

GGCT

gamma-glutamylcyclotransferase

2,707

0,32

Papel na homeostase da gluationa; indução da apoptose

IFI27

Proteína indutível de ISG12(a)

0,712

0,113

Contribui para apoptose induzida por interferon através da perturbação normal da função da mitocôndria

OAS1Y

Proteína não caracterizada

0,973

0,134

Participa na defesa a resposta a vírus

RXRG

Receptor gama de retinóide x

0,005

0,025

Regulação da expressão gênica

BLK

BLK proto-oncogene, Src família da tirosina

quinase

0,021

0,039

Participa da regulação da proliferação e diferenciação celular; atua na resposta imune inata

KRT35

Queratina 35

0,127

1,178

Repressor da atividade transcricional

SERPINA12

Serpina 12

4,932

0,472

Atua no processo inflamatório e supressão do tumor

ZNF385B

Proteína de dedo de zinco 385B

0,008

0,036

Participa do processo apoptótico via sinalização da p53

...Continua...

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27

Cont. Tabela 3.

PRSS23

Protease, serina 23

0,633

0,14

Atua no processo inflamatório e supressão do tumor

VEGFD

Fator D de crescimento vascular endotelial

0,021

0,032

Atividade de fator de crescimento; participa da proliferação celular

PHLDA1

Proteína PHLDA1

0,786

0,14

Participa da via do câncer (promotores do câncer)

FGFR1

Receptor 1 do fator de crescimento do

fibroblasto

0,084

0,573

Participa do ciclo celular; atividade de crescimento, proliferação e diferenciação celular

LOC785756

Proteína beta de ligação ao andrógeno

1,746

109,783

Atividade anti-inflamatória e imunomodulatória

SPP1

Osteoproteína

0,231

0,981

Atua como citosina, envolvido no aumento da produção de interferon-gama e interleucina-12

PTGS2

Prosteoglandina G

0.409

0,026

Principal mediador da inflamação; desempenha um papel na motilidade, proliferação e resistência a apoptose

OSM

oncostatina M

0,258

0,001

Regulador do fator de crescimento; inibe a proliferação de células tumorais

4.4 Anotação funcional dos genes diferencialmente expressos

Foi realizada a anotação funcional dos 1343 genes diferencialmente

expressos presentes em bibliotecas de tecidos infectados e não infectados. As

anotações foram feitas para as três categorias do Gene Ontology (GO), sendo

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28

que a maioria dos genes tiveram anotações para Componente Celular

(85,55%), seguido de Função Molecular (78,55%) e Processo Biológico

(73,79%).

Dentro da categoria de Componente Celular, a grande maioria dos

genes compõem os componentes de membrana, citoplasma e núcleo. Os

genes que atuam no citoplasma não estão associados a organelas e nem a

membrana plasmática (Fig. 6).

Na categoria Função Molecular boa parte dos genes apresentaram

função estrutural, de transcrição e de ligação ao RNA. Atividade de transferase

e transcrição foram as principais funções moleculares envolvendo

respectivamente 42 (p-valor 0,001) e 32 (p-valor 0,001) dos genes

diferencialmente expressos em vacas infectadas com BPV. O número de genes

com atividade estrutural foi reduzido consideravelmente em vacas com o vírus

(Figura. 6).

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29

Figura 6: Anotação funcional por Gene Ontology. Genes Up-regulados em

grupo de vacas infectadas pelo BPV.

Na categoria de Processo Biológico, a maioria dos genes estavam

associados à regulação da transcrição, ciclo celular, proliferação, diferenciação

celular e processo imune.

Expressão gênica

Proliferação celular

Apoptose

Resposta imune

Ciclo celular

Diferenciação celular

Ubiquitinação

Queratinização

Resposta a vírus

Crescimento celular

Membrana

Citoplasma

núcleo

Extracelular

Intracelular

Transmembrana

Queratina

Transferase/Acyltransferase

Transcrição

Hemodimerização

Ligação ao RNA

Ubiquitinização

Ligação ao DNA

Estrutural

Crescimento celular

Apoptose

Pro

ce

sso B

ioló

gic

oC

om

po

nen

te C

elu

lar

Fun

çã

o M

ole

cu

lar

85

65

64

55

52

38

33

13

14

8

284

201

91

17

10

10

10

42

38

34

29

23

23

22

19

5

Número de genes

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30

Entre as funções moleculares e celulares, destacou-se a morte, o

crescimento, a proliferação e o ciclo celular. A anotação dos genes

diferencialmente expressos revelou funções associadas com a progressão da

lesão papilomatosa e o desenvolvimento de câncer no gado. A anotação

funcional desses genes mostrou que muitos estavam associados à função

molecular estrutural (TUBB2B, KRT28, KRT79, KRT25), ligação ao RNA

(FSCN1, OAS1Y, TRIM25), ao antígeno e ao domínio da morte (CASP14,

CSTB, CST6), desencadeadas pelo vírus no hospedeiro. Outros estavam

envolvidos em processos biológicos como, ciclo celular (BMP7, WNT5B,

TP53INP1), regulação da transcrição gênica (FDFT1, GGCT, MX1) e

imunidade (DLX2, SOSTDC1, DLX1). E outros associados ao componente

celular do hospedeiro tais como, componente de membrana (AK1, SLC52A3,

TMEM79) transmembrana (CREM, JUNB, ELL2), região intracelular (KRT28,

KRT79, KRT25), núcleo (UACA, HES2, FABP4), citoplasma (ZEB1, SEPT8,

ADA) e filamento intermediário (SYNM, VIM, KRT24).

Na análise realizada no KEGG foi possível identificar que 116 genes

associados à progressão da lesão apresentaram via metabólica. As vias mais

comumente encontradas foram as de adesão celular de moléculas,

processamento e apresentação de antígeno, diferenciação de células TH1 e

TH2, e via da infecção pelo papilomavírus humano.

Dentre as vias metabólicas estudadas foi encontrada a via de infecção

do papilomavírus humano, como referência, via ativação do gene ISG15

(Figura. 7).

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31

Figura 7: Via metabólica identificada pelo KEGG para o gene regulado de forma

ascendente (ISG15) no grupo de vacas infectadas pelo BPV.

Os parceiros celulares do ISG15 foram analisados e dentre as muitas

funções, todos tinham em comum a resposta celular a vírus e função de

ubiquitinação (Figura. 8). Dois dos parceiros de ISG15 foram diferencialmente

expressos nesse estudos, são eles UBA7 e HERC5. É importante destacar que

esses foram regulados de forma ascendente em vacas infectadas pelo vírus.

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32

Figura 8: Interação entre o gene regulado de forma ascendente ISG15 e seus

parceiros celulares.

Em geral, os principais genes que foram significativamente modulados

pela presença do vírus em vacas em comparação com o controle foram genes

com função estrutural, transcrição, morte celular e crescimento celular.

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33

5 DISCUSSÃO

Neste estudo, a tecnologia de sequenciamento de RNA de nova geração

foi utilizada para apresentar o repertório de moléculas de RNA de um sistema

biológico no tecido epitelial bovino após a infecção por BPV. Os dados dos

controles e do grupo de infeção foram todos tirados de animais diferentes, com

e sem a presença do vírus e na mesma propriedade, dando a oportunidade de

medir o efeito dos tratamentos sobre a expressão gênica. Além disso, os

animais experimentais estavam todos no mesmo estágio de maturidade, o que

implica que as alterações na expressão gênica devido à idade não deveriam

influenciar os resultados da expressão gênica neste estudo.

A infecção pelo BPV no animal modificou o perfil de expressão de alguns

dos genes do hospedeiro. Nossos dados corroboram com os dados dos

estudos de EGAWA et al., (2015) e KLYMENCO et al., (2017), quando eles

apresentam uma mudança no perfil de expressão dos queratinócitos em

células com HPV. A alta expressão dessas células é diretamente influenciada

pelo patógeno, uma vez que o vírus infecta essas células e usa de sua

maquinaria para replicar-se e transcrever os genes virais.

Nossos resultados também sugerem um aumento da expressão dos

genes de queratina TMEM79, IVL, KRT10, FOXN1 e SOSTDC1 no animais

infectados quando comparada ao controle. Isso acontece devido à infecção

pelo BPV, uma vez que o patógeno se utiliza das células dos queratinócitos

para amplificar seu genoma e sintetizar suas proteínas (KLYMENKO et al.,

2017). Os queratinócitos são os principais componentes na resposta imune,

induzem a produção de moléculas envolvidas na defesa do hospedeiro contra

patógenos (KLYMENKO et al., 2017).

A alta expressão de IVL e KRT10, marcadores-chave de diferenciação

de queratinócitos, em animais com BPV é esperada, uma vez que, a infecção

pelo vírus prejudica a diferenciação epitelial tornando os níveis de expressão

desses dois genes elevada (EGAWA et al., 2015; KLYMENCO et al., 2017).

Os genes diferencialmente expressos regulados de forma ascendente

(≥2 do valor de RPKM) S100A9, P28782, S100A12 e CAAF1 podem ser

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34

candidatos importantes na via de infecção por papilomavírus bovino visto que,

todos estes genes codificam proteínas com funções metabólicas, imunes e

inflamatórias conhecidas no epitélio normal. Os genes S100A9 e P28782 estão

envolvidos na resposta inflamatória e indução do apoptose via ativação de p53;

S100A12 e CAAF1 atuam na resposta inflamatória promovendo produção de

citosinas pro-inflamatórias.

Esse estudo também revelou que genes com função de morte celular

(UBA7 e BNIP3) foram afetados no grupo de vacas infectadas (Tabela 3). A

morte celular controlada é importante para manter o funcionamento dos

processos biológicos e fisiológicos de forma adequada. O aumento na

expressão de genes de morte celular leva uma diminuição no número de

células, visto que essas são fagocitadas antes do tempo excedendo então, a

taxa de renovação celular, ou seja, ocorre um desequilíbrio entre a taxa de

morte e renovação das células. Isso pode comprometer o funcionamento

adequado das funções fisiológicas e consequentemente do desenvolvimento

do organismo. As proteínas virais E6 e E7 podem controlar a expressão de

genes de morte celular via ativação ou inativação da p53 e pRb (DEMASI et al.,

2007).

A oncoproteína E7 induz a apoptose independente e dependente de

p53. E7 conduz à degradação de pRb através da associação e reprogramação

do complexo de ubiquitina ligase de culina (GHIM et al., 2008; ); E5 por sua vez

pode regular negativamente a expressão das proteínas supressoras tumorais

p21 e p27. A ação dessas proteínas do vírus garante a amplificação do

genoma viral e consequentemente aumento da proliferação celular e indução

de morte celular, uma vez que o vírus utiliza-se da célula hospedeira para

amplificar seu genoma. Tal resultado também foi encontrado nos estudos de

Capuco et al., 2001 e Ibeagha-Awemu et al., 2017. No entanto, esses estudos

se concentraram na avaliação da ação de óleos de linhaça na dieta de vacas.

Para nosso conhecimento, esse é o primeiro estudo em larga escala que

mostra genes de morte celular sendo regulado pelo BPV, isso é de suma

importância no processo de infecção do vírus, uma vez que genes do patógeno

estão sendo regulados para manutenção do ciclo de vida de BPV.

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35

A maioria dos genes anotados neste estudo está envolvida com a

resposta imune, transcrição, proliferação e ciclo celular, possivelmente

envolvidos no desenvolvimento da lesão papilomatosa e transformação

maligna em bovinos desencadeada pela presença do vírus. Os genes ISG15,

BMP7 e SERPINB5, respectivamente envolvidos na resposta imune e

proliferação celular. O gene ISG15 desempenha um papel importante na

resposta à infecção viral, quer pela conjugação com uma proteína alvo

(ISGylation) quer pela sua ação como uma proteína livre. A ISGilação envolve

uma cascata de reações enzimáticas envolvendo enzimas que catalisam a

conjugação de ISG15 com um resíduo de lisina na proteína alvo. Ela

desempenha atividade antiviral e exerce seu papel sobre vírus de DNA e RNA.

A forma segregada de ISG15 induzir a proliferação de células assassinas

naturais, induz a maturação das células dendríticas e atua como uma citocina

de indução de IFN-gamma desempenhando um papel fundamental na

imunidade a vírus (HERNÁEZ et al., 2017), BMP7 atua na síntese de citosinas

pro inflamatórias e proliferação celular . SERPINB5 é essencial para regulação

da proliferação celular do epitélio. Em nosso estudo SERPINB5 foi regulado de

forma descendente no grupo de vacas infectadas, ou seja, o vírus está

regulando de forma negativa genes primordiais para desenvolvimento do

epitélio.

Quando o vírus infecta a célula hospedeira ele consegue inibir a

resposta antiviral através da ação da proteína E5, permitindo que seu genoma

se replique e seus genes sejam expressos (GRCE et al., 2012). As proteínas

E6 e E7 aumentam os níveis de replicação promovendo quebras no DNA,

instabilidade genômica e posteriormente transformação celular (DOORBAR et

al., 2012). A identificação de genes regulados pela presença do vírus é de

suma importância para conhecermos como ocorrem as alterações estruturais e

o processo de transformação maligna no animal.

O número elevado de genes encontrados na categoria de componente

celular é esperado, uma vez que a maioria dos processos metabólicos e

celulares necessários para manutenção do organismo ocorre na membrana

plasmática e citoplasma (CARBON et al., 2009). Os genes que compõem o

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núcleo são fundamentais para o funcionamento da célula, estão associados à

síntese e transporte de biomoléculas, síntese de DNA e RNA. Esses dados

mostram que o patógeno está regulando a expressão de alguns genes para

garantir sua permanência no hospedeiro.

Os genes relacionados a processos celulares são abundantes já que

estão relacionadas a atividades celulares como crescimento, manutenção e

comunicação entre células via junções gaps (JUNG et al., 2014). Esses

processos são fundamentais para o funcionamento e manutenção dos

organismos.

As proteínas E5, E6, E7 e E2 de PVs são conhecidas por controlar a

expressão dos genes do hospedeiro. E6 e E7 controlam o ciclo celular dos

queratinócitos, programas de diferenciação celular e apoptose. Assim, as

alterações na expressão gênica que observamos podem ser atribuídas a

funções das oncoproteínas do BPV. Essas mudanças são importantes para o

ciclo de vida do vírus e infecção persistente (EGAWA et al., 2015; KLYMENKO

et al., 2017).

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37

6 CONCLUSÃO

A análise do perfil transcriptômico durante a infecção no hospedeiro

possibilitou identificar genes regulados pelo vírus que podem estar

relacionados ao desenvolvimento da infecção por BPV nos bovinos. A

avaliação funcional desses genes contribuiu para o melhor entendimento da

relação parasita-hospedeiro e, consequentemente, serve de base para

entendermos melhor como ocorre à infecção e as manifestações patológicas

decorrentes da infecção por BPV no animal. Embora sejam necessários mais

estudos, este é o primeiro estudo que se concentrou em uma avaliação em

larga escala da expressão gênica associada à infecção por BPV, o que é

importante para identificar possíveis mecanismos regulados pelos genes

hospedeiros que são necessários para o desenvolvimento da lesão. Desta

forma, este estudo pode contribuir para a identificação de possíveis alvos para

o desenvolvimento de estratégias mais específicas de tratamento.

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