Ano Liturgico e Liturgia Das Horas 1

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    CAD

    ERNOD

    EREFERNCIA

    D

    ECONT

    EDO

    Seja bem-vindo ao estudo da disciplina Ano Litrgico e Liturgia das Horas,disponibilizada para voc em ambiente virtual (Educao a Distncia).

    Como pde observar no Guia de disciplina, nesta parte, chamada Caderno dereferncia de contedo, voc encontrar o referencial terico das quatro unidades em quese divide a presente disciplina.

    Com o estudo aqui proposto voc ter a oportunidade de refletir sobre acelebrao do mistrio cristo, que o mistrio pascal de Jesus Cristo (sua morte eressurreio) no tempo, ou seja, esse mistrio celebrado no transcorrer do tempo:

    horas, dias, semanas, meses e ano.

    Desse modo, voc perceber que, em cada um desses momentos celebrativos, omistrio de Cristo se apresentar com um colorido diferente. Em outras palavras, em cadamomento do tempo em que se celebra a liturgia h um sentido teolgico-litrgico distinto.

    A relao entre a liturgia e o tempo acontece no ciclo dirio com a celebrao daLiturgia das Horas, por meio da qual as diversas horas do dia (manh, meio-dia, tarde enoite) so assinaladas pela presena do mistrio pascal.

    Tal relao acontece tambm no ciclo semanal, mensal e anual. Assim, temoso chamado Ano Litrgico com seus vrios tempos litrgicos (ciclo do Natal, ciclo Pascal,

    tempo comum) e suas vrias festas (do Senhor, de Maria e dos Santos).

    Os contedos desta disciplina tm como objetivo aprofundar o sentido que h nacelebrao do mistrio de Cristo no tempo, alm dos sentidos que cada uma das horas, dias,semanas, meses e o prprio ano adquirem ao serem tocados pela presena desse mistrio.

    Esperamos que, com este programa, voc possa conhecer e aprofundar osconceitos relacionados disciplina Ano Litrgico e Liturgia das Horas.

    Bom estudo!

    ATENO!

    Aceite o desafio! Venha fazer parte deste novo processo de construo coletivae cooperativa do saber.

    APRESENTAO

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    INTRODUO

    DISCIPLINA

    AULA PRESENCIAL

    Objetivos

    Estabelecer interao com os participantes do curso ecom o tutor, tendo em vista o necessrio fortalecimentodo vnculo inicial para a construo do processo deaprendizagem na modalidade EAD.

    Analisar e discutir os temas explicitados na disciplina AnoLitrgico e Liturgia das Horas.

    Contedos

    Programa para o desenvolvimento da disciplina.

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    UN

    IDAD

    E1

    TEMPO, LITURGIA ECELEBRAO DO DOMINGO

    Objetivos

    Interpretar as diversas categorias temporais presentes naHistria at a atualidade.

    Reconhecer o modo como as categorias temporais seapresentam na Bblia: Antigo e Novo Testamento e suaincidncia na liturgia.

    Interpretar a sacramentalidade do Ano Litrgico e daLiturgia das Horas.

    Identicar e interpretar o domingo como ncleo e centro do

    Ano Litrgico partindo de sua origem histrica e sua teologia,alm das conseqncias para sua celebrao e pastoral.

    Contedos

    Tempo e liturgia compreendendo o que o tempo.

    Tempo na Sagrada Escritura.

    Sacramentalidade do tempo litrgico.

    Domingo fundamentao bblica, teologia e celebrao.

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    Bacharelado em Teologia

    UNIDADE 1

    1 INTRODUOAo iniciar a disciplina Ano Litrgico e Liturgia das Horas, preciso considerar

    que o objeto de nosso estudo ser a relao existente entre a liturgia e o tempo.

    A liturgia, como j foi estudado, a celebrao do mistrio de Cristo que se

    atualiza cada vez que a comunidade crist rene-se para, dele, fazer a memria. Tal

    memria se faz no decorrer do tempo que se estende ao longo do ano (Ano Litrgico) ou

    ao longo do dia (Liturgia das Horas).

    Vale ressaltar que o Ano Litrgico apresenta o mistrio de Cristo em seus

    mistrios: sua encarnao, vida pblica, morte, ressurreio e ascenso.

    J a Liturgia das Horas apresenta o mesmo mistrio pascal de Cristo presente na

    orao diria da Igreja. Pode-se dizer que aquilo que celebrado ao longo do Ano Litrgicoapresenta-se sintetizado pela celebrao das horas.

    Alm do mistrio de Cristo em seus mistrios, o Ano Litrgico e a Liturgia das

    Horas manifestam a presena de Maria e dos santos como modelos de vivncia. Por isso

    se pode falar do culto mariano e do culto dos santos na liturgia.

    Como voc v, esta disciplina apresenta-se, de um lado, multifacetada, por

    apresentar vrios temas, e por outro, unitria, quando se percebe que o fio condutor de

    tudo o mistrio de Cristo.

    Comecemos, ento, a caminhada para compreender o Ano Litrgico e a Liturgiadas Horas.

    Bom estudo!

    2 TEMPO E LITURGIA

    Para iniciar nosso estudo sobre tempo e liturgia, vamos compreender o que o

    tempo.

    Falar sobre o tempo no coisa fcil. Agostinho j dizia: O que o tempo? Seningum me pergunta, eu sei; porm, se quero explic-lo a quem me pergunta, ento no

    sei (AGOSTINHO, 1997, p. 14-17).

    O tempo algo sentido pelo homem que experimenta que a vida e a histria se

    cumprem do decorrer dos dias e dos anos. Sobre a base dos ritmos sazonais e mensais,

    nos quais o ciclo anual se divide, bem como o ciclo semanal, conjunto menor no qual se

    agrupam os dias, divididos, por sua vez, em horas e minutos, temos unidades temporais

    convencionais que circunscrevem e medem as obras e os dias dos grupos humanos

    (ROSSO, 2002).

    Devido ao fato de o tempo ser, antes de tudo, algo vivenciado do que definido

    que, ao longo da histria, ele se tornou objeto de estudo de vrias cincias. Dentre as

    TENO!ara alcanar os objetivosperados nesta unidade,lecione os perodos do dia

    m que voc se sente maism disposto para estudar. H

    ssoas que trabalham melhor ite, outros logo ao amanhecer.o se esquea de consultar ouia de disciplinapara verificardedicao semanal mdia detudos para cada disciplina epare suas horas para estudo.

    ma sugesto: entre uma horaoutra, lembre-se de descansara cabea por alguns minutos.

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    UNIDADE 1

    vrias cincias, a filosofia tem um campo especfico para o estudo do tempo e da vida

    humana, considerando que o tempo tambm estudado pela fsica, pela histria, pela

    histria das religies etc.

    Assim, o tempo foi explicado segundo diversas categorias, umas mais antigas,outras mais recentes, as quais continuam sendo utilizadas em nosso cotidiano.

    A liturgia, em sua relao com o tempo, tambm adota algumas dessas

    categorias temporais, cujo uso tem origem na cultura judaica e no modo como a Bblia

    apresenta sua viso de tempo.

    Desse modo, a experincia humana do tempo pode ser vista em algumas trades,

    as quais se referem aos usos diversos do termo, como:

    devir universal: o passado, o presente e o futuro;a)

    ordem de sucesses: a simultaneidade (ao mesmo tempo em que), ab) sucesso (o tempo passa veloz) e a durao (no tive tempo de fazer);

    relaes de estaticidade e dinamismo: velho e novo; estvel e mutvel;c)

    sistema e evento.

    No entanto no so, somente, essas as formas de compreender o tempo. De

    acordo com Aug (1991), desde as culturas mais arcaicas j encontramos tentativas de

    definir a experincia do tempo.

    Em primeiro lugar, fala-se do tempo csmico como aquela dimenso universal

    com a qual se mede o perdurar das coisas mutveis, bem como a sucesso rtmica das

    fases em que se processa o devir da natureza. Este tempo se mostra como algo neutro,objetivo, independente do homem.

    Assim, enquanto experimenta o devir da natureza, o homem primitivo percebe,

    antes mesmo de fazer uma reflexo filosfica sobre o tempo, que as vicissitudes de sua

    vida pessoal, familiar e social esto contidas nos ritmos do tempo csmico. Dessa forma,

    surge o tempo histrico.

    Os gregos, partindo de tal experincia temporal, explicam o tempo segundo a

    categoria da circularidade, ou seja, falam do tempo cclico. Para eles o tempo no traz

    novidade, pois sempre volta ao seu ponto de origem, para se repetir novamente.

    Na base dessa viso grega esto o mito e as especulaes cosmognicas1, os

    quais procuram explicar os ciclos do tempo e como a vida renasce. A histria para eles

    uma repetio indefinida de ciclos fechados, num movimento semelhante ao movimento

    dos astros.

    O tempo cclico torna-se sinnimo de uma rotao sem sentido, e a histria

    vazia, sem esperana, pois como uma realidade fechada no ciclo eterno dos astros,

    recomea sempre sem jamais se cumprir definitivamente.

    Desse modo, o homem sente-se um prisioneiro e vive seu destino na rotina que

    se repete indefinidamente. Para encontrar a salvao preciso fugir, libertar-se do crculoque o amarra fatalidade.

    ATENO!Para ampliar seus conhecimentossobre as categorias temporais naatualidade, consulte o artigo de

    Armido Rizzi. Categories culturaliodierne nellinterpretazione del

    tempo(Categorias culturaishodiernas na interpretaodo tempo). In: AssociazioneProfessori di Liturgia (Org.)Lanno liturgico, Brecia: Marietti,1983. p. 11-22.

    ATENO!Para aprofundar seusconhecimentos sobre aexperincia humana do tempo,voc poder consultar asseguintes obras:

    a)BERGAMINI, A. Cristo, festada Igreja: histria, teologia,espiritualidade e pastoral

    do ano litrgico, So Paulo:Paulinas, 1994. (Coleoliturgia e participao).

    b) LOPEZ MARTIN, J. Temposagrado, tempo litrgicoe mistrio de Cristo. In:BOROBIO, D. (Org.).Acelebrao na Igreja. Ritmose tempos da celebrao. SoPaulo: Loyola, 2000. v. 3. p.31-44.

    INFORMAO:Experimentamos este tempo acada dia, com a sucesso dodia (a presena da luz do sol, da

    noite), com a lua e as estrelas,assim como na sucesso dasestaes do ano: primavera,vero, outono, inverno. Este otempo dos calendrios, divididoem dias, semanas, meses.

    (1) Cosmognica: referente cosmogonia narrativas sobre aorigem do mundo e do homem.Tais narrativas esto presentesem todas as culturas. A Bblia,por exemplo, no Gnesis, trazduas narrativas cosmognicas:1,1-2,4a (da tradio sacerdotal)e 2,4b-4,26 (da tradio javista).

    INFORMAO: neste sentido que se entendena mitologia grega a ao deKronos, o deus do tempo, quedevora seus filhos. A experinciahumana que o tempo vaipassando inexoravelmente.

    VOC SABIA QUE...Esta viso do tempo ainda se fazpresente na atualidade, quandoalguns pensam que o destino jest definido, que acontecero que tiver de acontecer, que

    no podemos mudar o cursoda histria etc. Esta umaviso fatalista e pode levar aodesespero.

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    UNIDADE 1

    nesse contexto que se apresentam outras duas categorias temporais: o temposagrado e o tempo profano. Tais categorias esto presentes nas religies primitivas e, dealguma forma, esto relacionadas viso fatalista da circularidade.

    Diante da circularidade do tempo cclico para os gregos, ou do tempo histricomarcado por acontecimentos imprevisveis e irreversveis, o homem busca refgio numtempo primordial, no qual possa transcender a contingncia e a casualidade.

    Tal tempo primordial no algo produzido pelo homem, mas nasce de arqutiposdivinos que esto inscritos no mais profundo da conscincia humana e que respondem ordem mais profunda da realidade.

    o tempo sagrado que caracteriza a prtica ritual das diversas religies, duranteas quais se atualiza o mito primordial das origens, permitindo ao homem transcender-see encontrar o sentido mais profundo de sua vida, ao mesmo tempo em que se ope aotempo profano2, que o tempo do dia-a-dia, no qual pesam a rotina e o cansao.

    Vale ressaltar que h ainda outras categorias para se compreender o tempo,dentre as quais destacam-se os estudos de Jacques Le Goff no seu livro Tempo da Igrejae tempo do mercador3.

    O tempo da Igreja predomina no primeiro milnio depois de Cristo e apresenta-se como o tempo que pertence a Deus. Assim, a viso do mundo e da histria influenciada pelas leis imutveis da criao e pelo desgnio progressivo de salvao quemarca a histria da Igreja.

    As oraes do monge e o trabalho do campons so ritmados por esse tempo,que tem no toque do sino a sua voz. Toda a vida humana marcada por esse tempo.

    No incio do segundo milnio, a economia vai deixando o campo e a informalidadee vai se orientando e se desenvolvendo em sentido comercial. Isso exige do homem umanova relao com o tempo. O homem precisa control-lo para que se cumpram os prazoscomerciais, para a produo das mercadorias, para a sua venda e para que ele possa lucrar.

    H nesse tempo uma profunda transformao antropolgica, pois no maisDeus e suas leis que governam a vida humana e o mundo. O homem torna-se o protagonistada histria, aquele que d sentido ao tempo, sua vida e ao mundo.

    Assim, o tempo do mercador assume tal importncia que o homem acabaperdendo o poder de control-lo. Hoje, de fato, o homem governado pelas leis domercado e no pode parar de trabalhar, produzir sem encontrar um sentido para isso epara sua prpria vida.

    Sentindo-se oprimido pelo tempo do mercador, o homem moderno buscatempos alternativos, ou seja, novas maneiras de dar sentido ao tempo e sua vida. Umaalternativa, que fruto do prprio tempo do mercador, o tempo livre, durante o qual ohomem pode fazer o que quiser.

    No entanto, mesmo para vivenciar o tempo livre, segundo sua prpria vontade, ohomem acaba ficando preso s ofertas de sentido para seu tempo, as quais esto ligadas concepo do tempo do mercador: ir ao shopping, fazer compras, ir ao cinema, viajar etc.

    Outras categorias temporais atuais so:

    o tempo apocalptico, que se caracteriza pelo anncio do fim do mundo;a)

    TENO!mplie seus conhecimentosbre o tempo sagrado e ompo profano, consultando asras a seguir:ELIADE, M. Mito do eterno

    retorno. So Paulo: Mercuryo,1992.ELIADE, M. O sagrado eo profano: a essncia dasreligies. So Paulo: MartinsFontes, 1992.

    )Em grego, o termo profanognifica aquilo que est diante sagrado: pro fanum (deinon que o mesmo termoado na palavra fenmeno).

    )Tempo da Igreja e tempo doercador: LE GOFF,Jacques.

    empo della Chiesa e tempo del

    ercante.Torino: Einaudi, 1977.

    TENO!viso de Jacques Le Goff,portante historiador da Idadedia, discutida por Rizzipud APL, 1983, p. 13-14).onfira!

    FORMAO:lema Tempo dinheiro oe caracteriza esta concepomporal.

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    UNIDADE 1

    o retorno do tempo cclico, que procura levar o homem a seguir o ciclo dab)natureza com propostas de tcnicas de conhecimento, de reapropriao docorpo, disciplina alimentar etc.

    Desse modo, est ainda em atuao uma viso niilista do tempo, ou seja,uma viso pessimista que prega um vazio de sentido da histria. Diante de todas essascategorias temporais, surgem estes questionamentos:

    Como a liturgia se relaciona com o tempo?a)

    Qual categoria predominante na organizao do Ano Litrgico?b)

    Como outras categorias influenciam a pastoral e a espiritualidadec)litrgicas?

    Tais perguntas podero ser respondidas a seguir, com a viso que a Sagrada Escrituratem do tempo e como isso influenciou a liturgia judaica e em seguida a liturgia crist.

    Tempo na Sagrada EscrituraO tempo est presente de maneira particular em toda a Sagrada Escritura, pois

    a partir dele que a Bblia enxerga o mundo. A revelao de Deus se abre e se encerracom indicaes temporais:

    No princpio, Deus criou o cu e a terra (Gn 1,1).

    Aquele que atesta estas coisas, diz: Sim, venho muito em breve!. Amm!Vem, Senhor, Jesus (Ap 22,20).

    Ainda que a categoria temporal seja mais importante do que a categoria espacial,para a viso bblica no h uma nica concepo do tempo na Sagrada Escritura.

    Assim, pode-se dizer que h uma evoluo e que a religio de Israel, numprimeiro momento, privilegia a viso mais simples do tempo como fluxo que mede a vida,com a alternncia de dia e noite, tempo fsico-cronolgico associado ao movimento dosastros e vida agrcola.

    Num segundo momento d-se a historicizao das primitivas festas agrcolascananias trocando os seus contedos pelos prodgios realizados por Deus no passado,como o caso da festa da Pscoa, por exemplo. Predomina agora a concepo histrico-existencial do tempo, a qual pode ser vista na sua progresso linear.

    Por fim, por meio dos profetas, prega-se uma nova manifestao de Deus na

    histria, convidando o povo para a converso: como Deus agiu no passado, ele agir nofuturo. O momento presente (o hoje) faz convergir o passado que se atualiza e o futuroque se antecipa. Ser essa concepo que se far presente na liturgia judaica e crist, pormeio do memorial (anmnesis) hoje se atualiza o evento salvfico passado e por meiodessa atualizao se antecipa a futura interveno de Deus na histria (escatologia).

    O Novo Testamento apresenta a maneira crist de entender o tempo, a qual foiherdada do judasmo, que compreendia o tempo por meio de uma concepo histricamarcada por eventos significativos de interveno de Deus em favor de seu povo.

    A novidade que, do ponto de vista da f crist, o evento decisivo, a intervenodefinitiva de Deus na histria, d-se na pessoa de Jesus, o Cristo. Com suamorte-ressurreio j se iniciou entre ns o fim, o eschatn, a eternidade,

    a plenitude do tempo, o Reino de Deus, como visita de Deus, como graatransformadora. Por isso, na viglia pascal, ao inscrever no crio pascal a cruz,os nmeros do ano corrente e as letras A e Z, o ministro diz:

    ATENO!Para aprofundar o tema darelao tempo e liturgia, vocpode consultar o nmeromonogrfico da RevistaConciliumTempo e liturgia,162:2, 1981.

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    Bacharelado em Teologia

    UNIDADE 1

    Cristo, ontem e hoje, Princpio e Fim, A e Z,

    A ele o tempo e a eternidade, a glria e o poder pelos

    sculos sem fim. Amm(BUYST apud BUYST; FRANCISCO, 2004, p. 107).

    Pode-se afirmar, ainda, que:

    No Novo Testamento o Kronosassumiu uma conotao salvfica, mediante okairsda morte-ressurreio de Cristo, que qualifica tambm a sua encarnao,dando lugar ao eonpresente, o qual, enquanto pe um termo ao passado,antecipa a soluo final, atravs das aes de Cristo e da Igreja. O tempocsmico continua seu curso, aparentemente inalterado; o tempo histricorecebe uma nova orientao, mas a natureza dos acontecimentos que marcamseu curso no se modifica (AUG, 1991, p. 18).

    Cabe aqui a distino entre a abordagem quantitativa e a abordagemqualitativa do tempo.

    A abordagem quantitativa considera o tempo como uma sucesso deentidades que podem ser medidas: um determinado nmero de dias, mesesou anos kronos o tempo cronolgico, a durao do tempo o eon querepresenta uma era, uma idade.

    J a abordagem qualitativa considera o tempo como uma sucesso deexperincias essencialmente nicas e sem medida (kairs): cada dia vistocomo significativo em si mesmo, ou seja, cada dia visto como revelador doprojeto de Deus. a partir dessa abordagem que a Sagrada Escritura, Antigoe Novo Testamento, compreende o tempo e celebra liturgicamente os eventosde salvao ou kairs.

    Sacramentalidade do tempo litrgico

    O tempo da salvao est radicado em Cristo, no mistrio de sua morte-ressurreio e de sua encarnao; esse mistrio que atualizado na liturgia. Isso aconteceem cada celebrao litrgica, a qual acontecendo num determinado dia e hora, consideraeste evento salvfico na sua dimenso de kairse isto que faz do tempo litrgico umtempo sacramental. De fato, em todo o Ano Litrgico est presente a sacramentalidadeque brota da celebrao do mistrio pascal.

    Assim, a organizao do tempo na liturgia pertence a uma estrutura simblico-sacramental. por isso que os momentos do tempo (amanhecer, entardecer, o domingo,determinados dias ou meses etc.) possuem um sentido simblico, o qual pode se chocarcom uma concepo temporal que no considere a ao de Deus na histria.

    No entanto, tal sentido simblico pode tornar-se o meio pelo qual o homem,oprimido pelo tempo do mercador (marcado pela produo e lucro), encontre um sentidopara sua vida e para a histria.

    Desse modo, a celebrao anual do mistrio de Cristo, ao longo do Ano Litrgicoe da Liturgia das Horas, torna-se anncio, profecia e realizao do Reino aqui e agora.Isto est presente no hoje litrgico, caracterstico do memorial ou anmnesis. nestesentido que se pode dizer que a liturgia Histria da Salvao em ato, ou seja, elacontinua acontecendo no tempo por meio da ao litrgica.

    TENO!oc poder aprofundar seusnhecimentos em relao aompo da salvao radicado emisto, consultando as obras:

    CULLMANN, O. Cristo eo tempo. Tempo e histriano cristianismo primitivo.So Paulo: Custom, 2003.J em relao ao sentidosacramental do Ano Litrgico,voc poder consultar a obra:

    SIVINSKI, M. (Org.)Ano

    litrgico como realidadesimblico-sacramental.So Paulo: Paulus, 2002(Cadernos de liturgia 11).

    OC SABIA QUE...ada um dos tempos litrgicos,as festivos ou horriosrgicos esto carregados dentedo simblico e, por isso,a celebrao s pode serudada mediante um processo inculturao, o qual consideredos os elementos simblicos

    volvidos, para que no serca seu sentido teolgico-

    rgico.

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    UNIDADE 1

    INFORMAO COMPLEMENTAR:

    Os prefcios utilizados na celebrao eucarstica que evidenciam estarealidade, quando, por meio do HOJE litrgico atualizam um determinado

    mistrio de Cristo e assim permitem celebrar ao longo do Ano Litrgico atotalidade de seu mistrio pascal. Exemplos: Revelastes, hoje, o mistrio devosso Filho como luz para iluminar os povos no caminho da salvao (Prefciode Epifania); Hoje, nas guas do rio Jordo, revelais o novo Batismo...(Prefcio do Batismo do Senhor), Vencendo o pecado e morte, vosso FilhoJesus Cristo, Rei da Glria, subiu hojeantes os anjos maravilhados... (Prefcioda Ascenso do Senhor).

    Observe no quadro a seguir, a descrio do Ano Litrgico:

    ANO LITRGICO

    a)Tempo da manifestao: Advento. Natal. Epifania.

    b)Tempo comum

    c)Tempo pascal: Quaresma. Trduo pascal. Qinquagsima pascal.

    d)Celebraes festivas do senhor, de Maria e dos Santos.

    Ano Litrgico a partir do Vaticano II

    A Constituio Litrgica Sacrosanctum Conciliumem sua reforma enriqueceu oAno Litrgico com uma teologia que acentuou o mistrio pascal de Cristo como seu centroe, de modo definitivo, como seu nico objeto de celebrao.

    Assim, encontramos no nmero 102 uma sntese dos fundamentos do AnoLitrgico:

    A Santa Me Igreja considera que seu dever celebrar a obra de salvaode seu divino Esposo com uma sagrada recordao, em dias determinados,ao logo do ano. Toda semana, no dia que chamou do Senhor, comemorasua ressurreio, que uma vez ao ano celebra tambm, junto com sua santapaixo, na solenidade mxima da Pscoa.

    Alm disso, no ciclo do ano, desenvolve todo o mistrio de Cristo, desde aEncarnao e o Natal at a Ascenso, Pentecostes e a expectativa de felizesperana e vinda do Senhor.

    Ao comemorar assim os mistrios da Redeno, abre as riquezas do podersantificador e dos mritos de seu Senhor, de modo que os torna presentes, decerto modo, durante todo o tempo, aos fiis para que os alcancem e plenifiquem-se da graa da salvao (SC 102).

    Foi mediante esta teologia do Ano Litrgico que foi organizada a atual estruturado Ano Litrgico e seu calendrio, para que, assim, sua celebrao pudesse, de fato,

    tornar presente a cada dia a celebrao do mistrio de Cristo.

    INFORMAO:

    Cada famlia litrgica tem umaorganizao e uma estruturadiversa do Ano Litrgico, aindaque sempre celebrem o mistriode Cristo. Por exemplo: aLiturgia Ambrosiana em Milo,as Liturgias Orientais etc. Parasaber mais sobre esse temaconsulte a obra: DONADEO, M.O ano litrgico bizantino. SoPaulo: Ave Maria, 1998.

    INFORMAO:Outra sntese da teologia do Ano

    Litrgico pode ser encontrada noCatecismo da Igreja Catlica, n.1168-1173.

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    Bacharelado em Teologia

    UNIDADE 1

    O calendrio litrgico a lista ordenada cronologicamente das celebraes daIgreja Universal e de cada Igreja particular, ao longo dos dias de um ano. Tal calendriopode ser encontrado no incio do Missal Romano, de cada um dos volumes da Liturgia dasHoras e em diversas edies prticas, como calendrios e agendas litrgicas.

    Desse modo, contendo as datas determinadas para a Igreja Universal (calendriogeral), como as prprias de cada Igreja particular ou instituto religioso (calendrios particulares), um instrumento pastoral to indispensvel como os rituais dos sacramentos.

    3 DOMINGOA celebrao do mistrio pascal est no centro da memria que a comunidade

    crist faz de seu Senhor.

    Tal celebrao realizada semanalmente e sobre ela a Sacrosanctum Conciliumafirma:

    Devido tradio apostlica que tem sua origem do dia mesmo da Ressurreiode Cristo, a Igreja celebra cada oitavo dia o Mistrio Pascal. Esse dia chama-sejustamente dia do Senhor ou domingo. Neste dia, pois, os cristos devem reunir-se para, ouvindo a Palavra de Deus e participando da Eucaristia, lembrarem-seda Paixo, Ressurreio e Glria do Senhor Jesus e darem graas a Deus queos regenerou para a viva esperana, pela Ressurreio de Jesus Cristo entreos mortos (1Pe 1,3). Por isso, o domingo um dia de festa primordial quedeve ser lembrado e inculcado piedade dos fiis, de modo que seja tambmum dia de alegria e de descanso do trabalho. As outras celebraes no se lheanteponham, a no ser que realmente sejam de mxima importncia, pois que

    o domingo o fundamento e o ncleo do ano litrgico (SC 106).

    A citao da Sacrosanctum Conciliumapresenta uma sntese daquilo que o domingorepresenta para a comunidade crist, desde a sua origem apostlica at o presente.

    O domingo evocado por meio de sua tradio apostlica, como o dia da celebraoda ressurreio de Cristo, chamado de dia do Senhor ou oitavo dia, dia em que se recorda obatismo e se rene para a palavra e a eucaristia, sendo um dia de festa e de descanso.

    O domingo o dia da comunidade crist, pois ela se rene para a celebraoeucarstica, sendo tambm o dia da caridade, j que neste dia que os cristos podem seconfraternizar na fraternidade crist e rezar pelas intenes de todo o mundo, bem comofazer a coleta que ir ajudar os mais necessitados.

    Vamos analisar brevemente cada uma das afirmaes citadas sobre odomingo:

    Dados do Novo Testamento

    Os primeiros cristos, muito embora, como judeus, tivessem arraigada em suavida a celebrao do sbado como dia de descanso e com culto, escolheram desdeo comeo o domingo como seu dia de reunio e de celebrao da eucaristia. Omotivo parece evidente: nesse dia, o primeiro dia da semana, depois do sbado,Jesus ressuscitou, convertendo-o assim em o dia do Senhor por excelncia.

    Podiam ter escolhido a quinta-feira por suas reminiscncias eucarsticas, ou asexta-feira como dia da morte salvadora, ou mesmo o sbado, com contedonovo (ALDAZBAL, 2000, p. 69).

    FORMAO:atual, chamado Calendrio

    omanofoi aprovado mediantemotu-propriodo papa PauloMysterii paschalisde 14 de

    vereiro de 1969 e publicadosse mesmo ano, entrando em

    gor em 1 de janeiro de 1970.

    OC SABIA QUE...o Brasil a CNBB publica ada ano o Diretrio Litrgicontendo o calendrio litrgico doo em vigor com todas as datas

    demais indicaes litrgicasra as celebraes da eucaristia

    da Liturgia das Horas.

    TENO!ara um estudo mais detalhado tema, consulte as obras aguir:

    AUG, M. O domingo: festaprimordial dos cristos. SoPaulo: Ave Maria, 2000.

    SILVA, J. A. O domingo:pscoa semanal dos cristos.Elementos de espiritualidadedominical para as equipes deliturgia e o povo em geral. SoPaulo: Paulus, 1998. (Coleocelebrar a f e a vida 5).

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    De fato, a razo para tal escolha pode ser encontrada em vrias pginas doNovo Testamento:

    O episdio de Emasa) (Lc 24,13-35) apresenta como uma parbola as riquezasdo domingo para os cristos: no primeiro dia da semana (Lc 24,1.13) queos discpulos de Emas, desanimados aps a morte de Jesus, encontram-secom um caminhante pela estrada, o qual vai revelando o mistrio da mortede Jesus por meio das Sagradas Escrituras e quando parte o po durantea ceia que eles o reconhecem como o Senhor4. Esse texto traz a prticadominical dos cristos: renem-se para a palavra e para a frao do po edurante a reunio encontram-se com o seu Senhor, Jesus Ressuscitado. Istofica claro em nossa celebrao eucarstica dominical, a qual dividida emduas partes: a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarstica.

    O Evangelho de Joob) (Jo 20,19-29) traz as aparies do Ressuscitado aosseus discpulos no oitavo dia, que tambm o primeiro dia da semana,enquanto estavam escondidos por medo dos judeus. Nesse texto, encontram-se outros aspectos teolgicos do domingo: a reunio da comunidade, apresena do ressuscitado, a f dos discpulos, a paz que o Senhor d aosseus discpulos, a recordao da paixo, o envio missionrio e a tarefa dareconciliao (ALDAZABAL, 2000).

    Os Atos dos Apstolosc) (20, 7-12) fala-nos da reunio de Paulo com acomunidade em Trade: no primeiro dia da semana, enquanto estvamosreunidos para partir o po.

    A primeira carta aos Corntiosd) (1Cor 16,1-2) apresenta o convite de Paulopara que a comunidade, por ocasio de sua reunio semanal (cada primeirodia da semana), faa uma coleta em favor dos pobres da comunidade deJerusalm o domingo o dia da caridade.

    O livro do Apocalipsee) (1,10) fala que Joo teve uma viso no dia do Senhor fui arrebatado pelo esprito no dia do Senhor kyriak hemera. Estetexto traz pela primeira vez o nome dia do Senhor aplicado a esse dia,como sendo o dia que pertence ao Kyrios Jesus, o Ressuscitado.

    Como possvel notar, o domingo , segundo o Novo Testamento, o dia em quea comunidade crist celebra a vitria pascal de Jesus, do Senhor. Por isso que esse dia denominado dia do Senhor e a celebrao da pscoa semanal, a festa primordial,fundamento e ncleo do Ano Litrgico.

    Nomes do domingo

    Os textos do Novo Testamento usam alguns nomes diferentes para falar damesma realidade que o domingo:

    O primeiro dia da semanaa) : isto porque na nomenclatura numrica aplicadaaos dias da semana pelos judeus, ele o primeiro dia depois do sbado, que o stimo e o ltimo dia da semana. Este nome evoca um significado duplo:recorda o primeiro dia em que Deus criou a luz (Gn 1,3-5) e d incio atoda criao e indica que Jesus, pela sua morte e ressurreio, d incio auma nova criao.

    Ob) oitavo dia: este nome aparece em Jo 20, 26 oito dias depois... etambm nos Santos Padres que querem ressalt-lo como o dia que transcendeao septenrio e assim assume um sentido escatolgico: tempo da plenitude eao mesmo tempo de antecipao. Cada domingo traz a presena da salvao

    que j est acontecendo como memria da ressurreio salvadora de Cristoe como antecipao da plenitude de seu Reino.

    ATENO!No deixe de ler os textoscitados, na ntegra, em suaBblia. Tal leitura ser muitoimportante para compreender asdescries apresentadas.

    (4)O termo Senhor, do gregoKyriosaparece no NovoTestamento sempre que se querindicar o Ressuscitado.

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    O dia do Senhorc) : este nome mais especificamente cristo dado a essedia o dia senhorial ou do Senhor (kyriak hemera, dies dominicus) doSenhor. Como se v, um adjetivo (do grego kyriake do latino dominicus,dominica) que qualifica o dia como o dia do Ressuscitado, de fato, o dia emque Jesus ressuscitou dos mortos e apareceu aos seus e continua a se fazerpresente quando a comunidade de seus discpulos se rene para ouvir suapalavra e partir o po em sua memria.

    Domingo e o sbado

    O domingo, como foi visto nos textos neotestamentrios, nasce mediante aexperincia que a comunidade crist fez da presena do Ressuscitado em seu meio e, porisso, distingue-se da instituio sabtica dos judeus.

    H testemunhos no Novo Testamento de que Jesus e seus discpulos observassemo sbado. No entanto, no ser esse o dia adotado pela comunidade crist para celebraro seu culto. No se trata de uma substituio de um dia pelo outro, mas sim de uma

    instituio nova, diferente, pois como se v as caractersticas do sbado judaico, sobretudo,o descanso semanal, no passou para o domingo.

    De fato, o domingo, na sua origem no era feriado, dia de descanso, e s passoua s-lo aps o Edito de Milo, promulgado pelo Imperador Constantino em 313. Por isso que os cristos celebravam a eucaristia dominical na noite do sbado para o domingocomo uma viglia, concluindo-a ao nascer do sol, para que pudessem ir para o trabalho.Justino, na suaApologia I,refere-se a isso quando escreve que lem-se as memrias dosapstolos ou os outros escritos dos profetas at que o tempo permita...).

    O domingo, portanto, rompe com o sbado, superando-o e levando-o plenitudecomo dia da nova criao e da salvao plena, realizada na morte e ressurreio de Cristo.

    O sbado judaico apresenta, contudo, uma teologia que, depois da pazconstantiniana, quando o domingo se torna dia de descanso, comear a ser aplicadatambm pelos cristos, para vivenciar esse dia.

    Nessa teologia, encontram-se os seguintes elementos: o sbado exalta o podercriador de Deus, convida festa e ao descanso, tem um sentido social de fraternidade enele se atualiza a aliana pascal de Deus com seu povo, os quais podem ser percebidos nacelebrao dominical da pscoa de Senhor.

    Celebrao do domingo

    A celebrao do domingo como pscoa semanal provm desde a comunidadeprimitiva e se estendeu durante os sculos com variaes, segundo os lugares e ostempos, at chegar aos dias de hoje, quando o celebramos segundo o sentido e estruturaque assumiu desde o Vaticano II.

    Um dos primeiros testemunhos sobre a celebrao do domingo encontradona Didaqu5(do fim do sculo 1), que apresenta no captulo 14 a unio da celebraoeucarstica com o dia de domingo:

    Reuni-vos no dia do Senhor para a frao do po e agradecei (celebrai a eucaristia),depois de haverdes confessado vossos pecados, para que vosso sacrifcio seja puro.

    Nota-se que desde ento o domingo celebrado com a eucaristia, a qual faz amemria do Senhor Ressuscitado em meio aos seus (Lc 24).

    FORMAO:palavra domingoderiva desteme: dies dominicus,que passa

    ser abreviado como dominicus

    da domingo, em portugus epanhol, domenicaem italiano,mancheem francs. As linhasglo-saxnicas conservaram

    nome dia do Sol(Sunday,onntag) que era usado pelosmanos, que atribuam ome de um planeta a cada

    a da semana, segundo umancepo mitolgica.

    FORMAO:ara compreender melhor ontido do domingo voc podernsultar Joo Paulo II Carta

    postlica Dies Domini sobre

    santificao do domingo988), na qual o Papa chamaateno para os principaislores cristos desse dia e sualebrao na atualidade.

    )A Didaqu um compndio doutrina crist do primeiroculo, chamada de Catecismos primeiros cristos(ZILLES,, 1986, 39.76).

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    Outro testemunho importante o texto da Apologia I6, que Justino escreveao imperador Antonino Pio, descrevendo amplamente a vida da comunidade crist, emparticular a eucaristia dominical:

    E no dia chamado do Sol, realiza-se a reunio num mesmo lugar de todos oshabitantes nas cidades ou nos campos... Fazemos a reunio todos juntos nodia do Sol, porque o primeiro dia, em que Deus, transformando as trevas e amatria, fez o cosmos, e Jesus Cristo, nosso Salvador no mesmo dia ressuscitou

    de entre os mortos... (Apologia I, 67).

    O texto reafirma a praxe crist de celebrar o domingo com a reunio comunitria,na qual se celebra a eucaristia memorial do mistrio pascal de Jesus.

    O Vaticano II, em sua reforma litrgica, resgatou o sentido teolgico-litrgicodo domingo, como aparece na Sacrosanctum Concilium n 106, citado anteriormente,reafirmando ser ele o dia de festa primordial e o fundamento e ncleo do Ano Litrgico,orientando que sua celebrao no seja substituda por nenhuma outra.

    Assim, para que isso se tornasse realidade tanto a eucologia como o lecionriodominical foram revistos de modo a expressarem mais claramente o contedo litrgico dodomingo. Isso pode ser percebido mais plenamente nos domingos do Tempo comum (33 ou34 domingos no ano), mas tambm se manifesta nos domingos do Tempo da manifestaoe do Tempo pascal, nos quais se inserem ainda os contedos prprios desses tempos.

    Pode-se, contudo, perceber na pastoral litrgica do Ano Litrgico algumasdificuldades para a celebrao atual do domingo: a organizao da sociedade capitalistaancorada na concepo do tempo do mercador estruturou turnos de trabalho ininterruptos eisto traz dificuldade para o descanso dominical e para a celebrao eucarstica dominical.

    Pastoralmente tem se sugerido que as pessoas que trabalham no domingocelebrem sua pscoa semanal durante a semana, isto, no entanto, poderia suprir opreceito dominical, mas tal celebrao fica reduzida em seu contedo simblico prpriodo domingo.

    Outra dificuldade a falta de sacerdotes para presidirem a eucaristia emtodas as comunidades crists, as quais, para no se privarem totalmente do dia doSenhor, renem-se para a celebrao da Palavra, em que se acrescenta, muitas vezes,a comunho eucarstica com pr-santificados. Esta no , contudo, a soluo adequadapara tal situao.

    Por fim, nem sempre se cumpre o pedido da Sacrosanctum Conciliumn 106.A celebrao do domingo acaba sendo substituda por outras celebraes, como as

    jornadas: dia do catequista, dia do religioso, dia do padroeiro, dia da Bblia etc.

    Ainda que a celebrao eucarstica dominical atualize o mistrio pascal para arealidade atual e tal realidade esteja presente na celebrao por meio das oraes e naoferenda que fazemos com Cristo ao Pai, ela no deve tomar o lugar do mistrio de Cristo.

    Assim, conclumos com o texto do Prefcio dominical IX do Missal Romanoatual,o qual nos apresenta uma sntese teolgica do domingo e de sua celebrao:

    Na verdade justo e necessrio, nosso dever e salvao, dar-vos graas e

    bendizer-vos, Senhor, Pai santo, fonte da verdade e da vida, porque, nestedomingo festivo, nos acolhestes em vossa casa.

    (6)Esta obraApologia I(apologia = defesa, justificativa)foi escrita por Justino ao redordo ano 165 para explicarao Imperador Antonio Pio eseus companheiros como

    os cristos viviam, pois jhavia perseguies contra acomunidade crist, sendo queo prprio Justino morreu mrtirem 165 (NOVAK; GIBIN, 1981,p. 82-83).

    INFORMAO:Este texto apresenta ateologia dos nomes dodomingo, conforme foi descritaanteriormente.

    ATENO!Para aprofundar seusconhecimentos neste temaconsulte a obra: BERGAMINI, A.Cristo, festa da Igreja: histria,teologia, espiritualidade e pastoraldo Ano Litrgico. So Paulo:Paulinas, 1994. (Coleo liturgia eparticipao). p.122-126.

    INFORMAO:Como esta uma dificuldadeque atinge grande parte das

    comunidades crists em todoo mundo, tem havido umareflexo sobre o tema porparte do magistrio da Igreja,por telogos, liturgistas epastoralistas, com o objetivo debuscar solues.

    ATENO!Amplie seus conhecimentossobre o dia do Senhor. Consulteas obras a seguir:a) CONGREGAO PARA O

    CULTO DIVINO. Diretrio paraas celebraes dominicais na

    ausncia do presbtero, 1988.b) CNBB. Orientaes para a

    celebrao da Palavra de

    Deus, 1994. (Documentos daCNBB 52).

    c) BUYST, I. Celebrao dodomingo ao redor da palavra

    de Deus. So Paulo: Paulinas,2002 (Coleo celebrar).

    d) BUYST, I. Presidir acelebrao do dia do Senhor.So Paulo: Paulinas, 2004.

    e) PALUDO, F. A celebraoda palavra de Deus.In:CELAM Manual de liturgia.

    A celebrao do mistrio

    pascal: outras expresses

    celebrativas do mistrio pascale a liturgia na vida da Igreja.So Paulo: Paulus, 2007. v. 4.p. 155-186.

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    UNIDADE 1

    Hoje, vossa famlia, para escutar vossa Palavra e repartir o Po consagrado,recorda a Ressurreio do Senhor, na esperana de ver o dia sem ocaso, quandoa humanidade inteira repousar junto de vs. Ento, contemplaremos vossaface e louvaremos sem fim vossa misericrdia.

    Por isso, cheios de alegria e esperana, unimo-nos aos anjos e a todos ossantos, cantando a uma s voz...

    4 CONSIDERAESChegamos ao final da primeira unidade da disciplina Ano Litrgico e Liturgia

    das Horas, com a qual voc pde estudar alguns conceitos introdutrios relacionados aotempo e a liturgia e a celebrao do domingo.

    Assim, entre os contedos abordados neste estudo destacaram-se as diversas

    categorias temporais presentes na histria at a atualidade e a sacramentalidade do AnoLitrgico e da Liturgia das Horas.

    A prxima unidade vai abordar conceitos relacionados ao tempo pascal, combase na preparao quaresmal, no trduo pascal e na qinquagsima pascal.

    5 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    AGOSTINHO, SANTO. Confisses. So Paulo: Paulus, 1997. (Coleo Patrstica 10)

    ALDAZABAL, J. Domingo, dia do Senhor. In: BOROBIO, D. (Org.)A celebrao na Igreja:ritmos e tempos da celebrao. So Paulo: Loyola, 2000. v. 3. p. 6791.

    AUG, M. O domingo: festa primordial dos cristos. So Paulo: Ave Maria, 2000.

    ______. Liturgia: histria, celebrao, teologia, espiritualidade. So Paulo: AM, 1996. p.276337.

    ______. Teologia do ano litrgico. In: AUG, M. et al. O ano litrgico: histria, teologia ecelebrao. Anmnesis 5. So Paulo: Paulinas, 1991. p. 1134.

    BERGAMINI, A. Cristo, festa da Igreja: histria, teologia, espiritualidade e pastoral do anolitrgico, So Paulo: Paulinas, 1994. (Coleo liturgia e participao)

    BUYST, I. Celebrao do domingo ao redor da palavra de Deus. So Paulo: Paulinas, 2002

    (Coleo celebrar)

    ______. O mistrio celebrado ao longo do tempo. In: BUYST, I.; FRANCISCO, M. J. Omistrio celebrado: memria e compromisso. Teologia litrgica 2. Valencia (Espanha):Siquem, 2002. p. 105121.

    ______. Presidir a celebrao do dia do Senhor. So Paulo: Paulinas, 2004.

    CULLMANN, O. Cristo e o tempo. Tempo e histria no cristianismo primitivo. So Paulo:Custom, 2003.

    DONADEO, M. O ano litrgico bizantino. So Paulo: Ave Maria, 1998.

    ELIADE, M. Mito do eterno retorno. So Paulo: Mercuryo, 1992.

    ______. O sagrado e o profano: a essncia das religies. So Paulo: Martins Fontes,1992.

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    UNIDADE 1

    LOPEZ MARTIN, J. Tempo sagrado, tempo litrgico e mistrio de Cristo. In: BOROBIO, D.(Org.).A celebrao na Igreja. Ritmos e tempos da celebrao. So Paulo: Loyola, 2000.v. 3. p. 31-44.

    NOVAK, M. G., GIBIN, M. Tradio apostlica de Hiplito de Roma: Liturgia e catequese

    em Roma no sculo III. Em apndice Textos catequtico-litrgicos de So Justino Mrtir.2. ed. Petrpolis: Vozes, 1981. (Fontes da catequese 4)

    PALUDO, F. A celebrao da palavra de Deus.In:CELAM Manual de liturgia.A celebraodo mistrio pascal: outras expresses celebrativas do mistrio pascal e a liturgia na vidada Igreja. So Paulo: Paulus, 2007. v. 4. p. 155-186.

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    ROSAS, G. O ano litrgico. In: CELAM Manual de liturgia. A celebrao do mistriopascal: outras expresses celebrativas do mistrio pascal e a liturgia na vida da Igreja.So Paulo: Paulus, 2007. v. 4. p. 1541.

    SILVA, J. A. O domingo: pscoa semanal dos cristos. Elementos de espiritualidadedominical para as equipes de liturgia e o povo em geral. So Paulo: Paulus, 1998. (Coleocelebrar a f e a vida 5)

    SIVINSKI, M. (Org.) Ano litrgico como realidade simblico-sacramental. So Paulo:Paulus, 2002. (Cadernos de liturgia 11)

    VATICANO II. Constituio Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. In:Compndio do Vaticano II. 11. ed. Petrpolis: Vozes, 1977. p. 259-306.

    ZILLES, U. (Org.). Didaqu: catecismos dos primeiros cristos. 5. ed. Petrpolis: Vozes,1986. (Fontes da catequese 1)

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