Ano VIII, Número 27, Julho - 2017

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Ano VIII, Número 27, Julho - 2017 ISSN 2518 - 2242

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Ano VIII Nuacutemero 27 Julho - 2017

ISSN 2518 - 2242

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Equipa Editorial

Direcccedilatildeo Directora - Stela Mithaacute Duarte Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Director-Adjunto - Feacutelix Singo Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Comissatildeo Editorial

Daniel Dinis da Costa Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Juliano Neto de Bastos Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Geraldo Deixa Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Suzete Lourenccedilo Buque Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Benvindo Maloa Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Conselho Editorial

Adelino Chissale Universidade S Tomaacutes de Moccedilambique

Alberto Graziano Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Argentil do Amaral Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Azevedo Nhantumbo Universidade Eduardo Mondlane Moccedilambique

Begontildea Vitoriano Villanueva Universidade Complutense de Madrid

Camilo Ussene Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Carla Maciel Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Crisalita Djeco Funes Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Cristina Tembe Universidade Eduardo Mondlane Moccedilambique

Daniel Agostinho Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Elizabeth Macedo Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Feacutelix Mulhanga Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Francisco Maria Januaacuterio Universidade Eduardo Mondlane Moccedilambique

Gil Gabriel Mavanga Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Isaac Paxe Instituto Superior de Ciecircncias de Educaccedilatildeo (ISCED) - Luanda Angola

Jefferson Mainardes Universidade Estadual de Ponta Grossa Paranaacute Brasil

Joacute Capece Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Joseacute Manuel Flores Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Joseacute Matemulane Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Laurinda Sousa Ferreira Leite Universidade do Minho Portugal

Lourenccedilo Cossa Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Manuel Guro Universidade Eduardo Mondlane Moccedilambique

Maria Cristina Villanova Biazus Universidade Federal do Rio Grande do Sul Brasil

Marielda Ferreira Pryjma Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Brasil

Nevensha Sing Universidade de Johannesburg Aacutefrica do Sul

Oseacuteias Santos de Oliveira Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Brasil

Rogeacuterio Joseacute Uthui Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Equipa Teacutencica

Claacuteudia Jovo Universidade Pedagoacutegica (Coordenadora da Equipa Teacutecnica)

Germano Diogo Universidade Pedagoacutegica

Armando Machaieie Universidade Pedagoacutegica

Tiacutetulo UDZIWI Revista de Educaccedilatildeo da Universidade Pedagoacutegica

Periodicidade Semestral

Propriedade Centro de Estudos de Poliacuteticas Educativas (CEPE) da Universidade Pedagoacutegica de

Moccedilambique (UP) de Moccedilambique - Maputo

DISP REGordmGABINFO-DEC2008

ISSN 2518-2242

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Iacutendice Nota Editorial 4

Ensinando alunos do Ensino Meacutedio a pesquisar incertezas que marcaram uma experiecircncia 8

Antoacutenio Sales Lis Regiane Vizolli Favarin Smenia Aparecida da Silva Moura Milene Martins

Ricardo Capiberibe Nunes

O ensino contextualizado e a abordagem curricular de conteuacutedos de Microbiologia em Moccedilambique 20

Manecas Cacircndido Laurinda Leite Briacutegida Singo

Actividades laboratoriais no ensino das Ciecircncias um estudo com os livros escolares e professores de

Biologia da 8ordf classe das escolas da Cidade de Maputo 33

Agnes Clotilde Novela

Livro didaacutectico de Geografia em Moccedilambique passado presente e desafios 52

Stela Mithaacute Duarte

Desafios da formaccedilatildeo de professores por competecircncias no Modelo de 10ordf classe + 3 anos 69

Acircngelo Guiloviccedila Niquice

Percepccedilotildees de professores de Matemaacutetica sobre o uso de calculadoras em salas de aulas 83

Herciacutelio Paulo Munguambe

Reflexatildeo sobre o sistema de progressatildeo por ciclos de aprendizagem 98

Yavalane Sergio Parruque

Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior atribuiccedilotildees causais dos conflitos estudante-docente na Universidade

Pedagoacutegica 111

Faque Tuair Chare

Fracasso escolar um olhar conjunto de alunos professores e pais 124

Arauacutejo Manuel Arauacutejo

A influecircncia das liacutenguas xichangana e cicopi no insucesso escolar - caso dos alunos da 10ordf classe da

Escola Secundaacuteria de Mandlakazi 136

Antoacutenio Domingos Cossa

Jogos recreativos na Cidade de Nampula Os predilectos das crianccedilas das zonas suburbanas 150

Domingos Carlos Mirione

Crescimento somaacutetico e aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede Um estudo em alunos da Cidade da Beira

Moccedilambique 162

Djossefa Joseacute Nhantumbo e Bridgette Simone Bruce-Nhantumbo

Relaccedilatildeo entre a orientaccedilatildeo vocacionalprofissional e qualidade no sistema educativo moccedilambicano 183

Rafael Renaldo Laquene Zunguze

Amorosidade como componente pedagoacutegica 198

Elisabeth Jesus de Souza

ldquoDe Ministro mais activo e mais reluzente do Governo para Reitorrdquo um contributo para o estudo da

configuraccedilatildeo de rituais verbais da descortesia e incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da

STV 210

Acircngelo Ameacuterico Mauai

Normas de publicaccedilatildeo na Revista UDZIWI 226

4

Nota Editorial

Estimados leitores

Este eacute o nuacutemero 27 da Revista Udziwi Revista de Educaccedilatildeo da Universidade Pedagoacutegica

Neste nuacutemero apresentamos um total de 16 artigos

O primeiro artigo Ensinando alunos do Ensino Meacutedio a pesquisar incertezas que

marcaram uma experiecircncia de Antoacutenio Sales Lis Regiane Vizolli Favarin Smenia Aparecida

da Silva Moura Milene Martins Ricardo Capiberibe Nunes apresenta uma experiecircncia

envolvendo a praacutetica de ensinar pela pesquisa numa escola puacuteblica do Ensino Meacutedio no Brasil

relatando dificuldades encontradas no processo e possibilidades de superaacute-las

O segundo artigo de Manecas Cacircndido Laurinda Leite Briacutegida Singo initulado O ensino

contextualizado e a abordagem curricular de conteuacutedos de Microbiologia em Moccedilambique

analisa documentos oficiais que orientam o Ensino Secundaacuterio Geral em Moccedilambique no que

concerne agraves eventuais propostas metodoloacutegicas que apresentam para um ensino contextualizado

de conteuacutedos de Microbiologia nas escolas reflectindo sobre a necessidade da adopccedilatildeo pelas

escolas de tais metodologias fomentado o ensino contextualizado de conteuacutedos de

Microbiologia

O terceiro artigo Actividades laboratoriais no ensino das Ciecircncias um estudo com os

livros escolares e professores de Biologia da 8ordf classe das escolas da Cidade de Maputo da

autoria de Agnes Clotilde Novela tem como objectivo analisar as caracteriacutesticas das Actividades

Laboratoriais (ALs) propostas pelos livros escolares de Biologia da 8ordf Classe as concepccedilotildees e as

representaccedilotildees praacuteticas dos professores sobre a importacircncia e utilizaccedilatildeo destas actividades no

ensino da Biologia Conclui que o tipo de ALs proposto pelos livros analisados em uso nas

escolas e as atitudes e praacuteticas dos professores de Biologia natildeo se relacionam com as

perspectivas defendidas para o uso do laboratoacuterio no ensino das Ciecircncias

O quarto artigo Livro didaacutectico de Geografia em Moccedilambique passado presente e

desafios de Stela Mithaacute Duarte tem como objectivo analisar o processo de desenvolvimento do

livro didaacutectico de Geografia ao longo da Histoacuteria da educaccedilatildeo em Moccedilambique assim como os

actuais desafios sugerindo que eacute necessaacuterio apetrechar melhor as bibliotecas com livros

didaacutecticos e complementares e melhorar a formaccedilatildeo de professores para o uso do livro didaacutectico

de Geografia

5

O quinto artigo de Acircngelo Guiloviccedila Niquice intitulado Desafios da formaccedilatildeo de

professores por competecircncias no Modelo de 10ordf classe + 3 anos apresenta algumas linhas de

reflexatildeo sobre o desafio da transposiccedilatildeo do texto curricular agrave praacutetica docente implementada com

vista a formaccedilatildeo de professores competentes e reflexivos de modo a corresponder aos anseios da

sociedade em relaccedilatildeo agrave qualidade de educaccedilatildeo sugerindo que se trabalhe continuamente com os

formadores de modo a promover praacuteticas pedagoacutegicas inovadoras

O sexto artigo Percepccedilotildees de professores de Matemaacutetica sobre o uso de calculadoras em

salas de aulas de Herciacutelio Paulo Munguambe visa compreender o uso da calculadora identificar as

percepccedilotildees dos professores e propor estrateacutegias do seu uso procurando assim contribuir para a

melhoria da qualidade de ensino da Matemaacutetica O autor sugere a preparaccedilatildeo de professores de

Matemaacutetica no uso de calculadoras em salas de aulas e por via disso garantir-se o seu uso no

Ensino Secundaacuterio Geral do 1ordm Ciclo

O seacutetimo artigo da autoria de Yavalane Sergio Parruque intitulado Reflexatildeo sobre o

sistema de progressatildeo por ciclos de aprendizagem discute este assunto poleacutemico da progressatildeo

no contexto de ensino primaacuterio em Moccedilambique segundo o autor por natildeo permitir a reprovaccedilatildeo

do aluno ao longo do ciclo e por isso serem justificadas as lacunas que os alunos apresentam no

desenvolvimento das competecircncias prescritas nos programas de ensino Constata que alguns dos

problemas existentes satildeo a falta de preparaccedilatildeo dos professores em mateacuteria de avaliaccedilatildeo

formativa o uso abusivo da avaliaccedilatildeo sumativa e a falta de registo das competecircncias dos alunos

O oitavo artigo de Faque Tuair Chare intitulado Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior

atribuiccedilotildees causais dos conflitos estudante-docente na Universidade Pedagoacutegica visa

compreender na perspectiva de estudantes na Delegaccedilatildeo de Nampula os factores que propiciam

a ocorrecircncia dos conflitos entre eles e seus docentes no processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem

sugerindo trabalhos de divulgaccedilatildeo dos regulamentos de avaliaccedilatildeo supervisatildeo das aulas e

sobretudo das avaliaccedilotildees assim como sensibilizar-se ao docente em relaccedilatildeo ao seu perfil

docente como modelo no processo de ensino e aprendizagem

O nono artigo Fracasso escolar um olhar conjunto de alunos professores e pais de

Arauacutejo Manuel Arauacutejo tem como objectivo analisar o problema do fracasso escolar O autor

analisa as causas relativas ao estudante na sala de aula na escola e fora dela e outras ainda intra

e extras escolares indirectas e identifica causas que necessitam de intervenccedilatildeo de modo a se

resolver este problema

O deacutecimo artigo de Antoacutenio Domingos Cossa intitulado A influecircncia das liacutenguas

xichangana e cicopi no insucesso escolar - caso dos alunos da 10ordf classe da Escola Secundaacuteria de

6

Mandlakazi surge no contexto dos estudos sociolinguiacutesticos e tem como objectivos analisar as

influecircncias das liacutenguas xichangana e cicopi no processo de ensino-aprendizagem da liacutengua

portuguesa e relacionar o insucesso escolar que se verifica na disciplina de portuguecircs com as

influecircncias das liacutenguas xichangana e cicopi nos alunos da 10ordf classe O autor conclui que haacute

outros factores determinantes para a ocorrecircncia do insucesso escolar no grupo alvo que se

associam ao uso das liacutenguas xichangana e cicopi

O deacutecimo primeiro artigo Jogos recreativos na Cidade de Nampula Os predilectos das

crianccedilas das zonas suburbanas de Domingos Carlos Mirione tem como objectivo identificar os

jogos predilectos das crianccedilas dos bairros suburbanos da Cidade de Nampula-Moccedilambique Os

resultados revelam que o jogo predilecto das crianccedilas do sexo masculino eacute o futebol e para as do

sexo feminino eacute o jogo de cartas localmente conhecido como naripito

O deacutecimo segundo artigo de Djossefa Joseacute Nhantumbo e Bridgette Simone Bruce-

Nhantumbo intitulado Crescimento somaacutetico e aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede Um estudo

em alunos da Cidade da Beira Moccedilambique tem como objectivo avaliar o crescimento

somaacutetico e a aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede em alunos dos 6 aos 14 anos da Cidade da Beira

Moccedilambique Os autores concluem que parece existir uma inter-relaccedilatildeo entre os niacuteveis de

Aptidatildeo Fiacutesica com os valores do Iacutendice de Massa Corporal cuja inteligibilidade carece de mais

estudos contextualizados

O deacutecimo terceiro artigo Relaccedilatildeo entre a orientaccedilatildeo vocacionalprofissional e a qualidade

do sistema educativo moccedilambicano de Rafael Renaldo Laquene Zunguze sustenta a

necessidade e a possibilidade de introduccedilatildeo da orientaccedilatildeo vocacional eou profissional no

sistema educativo moccedilambicano O autor sugere que se invista na promoccedilatildeo dos serviccedilos de

orientaccedilatildeo vocacional e profissional comunitaacuteria aquela que inicia na famiacutelia passando pela

comunidade ateacute a escola para habilitar os indiviacuteduos a trabalharem em prol do desenvolvimento

numa clara intenccedilatildeo de melhoria da qualidade de ensino no paiacutes

O deacutecimo quarto artigo de Elisabeth Jesus de Souza com o tiacutetulo Amorosidade como

componente pedagoacutegica a autora reflecte sobre a necessidade de considerar a amorosidade na

atuaccedilatildeo docente sobretudo na educaccedilatildeo infantil dado que natildeo eacute uma questatildeo de perda de

autoridade pelo contraacuterio o amor eacute uma ferramenta no exerciacutecio da conquista pelo respeito na

sala de aula pela consolidaccedilatildeo dos laccedilos humanos fazendo da aprendizagem uma consequecircncia

O deacutecimo quinto artigo De Ministro mais activo e mais reluzente do Governo para

Reitor um contributo para o estudo da configuraccedilatildeo de rituais verbais da descortesia e

incoerecircncia discursiva no programa Pontos de Vista da STV de Acircngelo Ameacuterico Mauai

7

pretende demonstrar de que forma as estrateacutegias discursivas se manifestam na interacccedilatildeo entre

interlocutores O autor analisa a configuraccedilatildeo de rituais verbais as estrateacutegias de descortesia e a

incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV e considera que as sequecircncias

discursivas do ldquoPontos de Vistardquo analisadas evidenciam situaccedilotildees de ameaccedila das faces

Desejamos a todos uma oacuteptima leitura

A Direcccedilatildeo

8

Ensinando alunos do Ensino Meacutedio a pesquisar incertezas que marcaram uma

experiecircncia

Antoacutenio Sales1

Lis Regiane Vizolli Favarin2

Smenia Aparecida da Silva Moura3

Milene Martins4

Ricardo Capiberibe Nunes5

Resumo

Este artigo eacute uma discussatildeo teoacuterica associada a um relato de experiecircncia envolvendo a praacutetica de ensinar

pela pesquisa Uma tentativa que durou um ano de discussatildeo com professores de uma escola puacuteblica de

tempo integral para alunos do ensino meacutedio Nele satildeo relatadas as dificuldades encontradas pelos

professores para operacionalizar um projecto de pesquisa envolvendo alunos durante o horaacuterio regular de

aula levando em conta as exigecircncias de cumprimento de ementas preparo do professor perspectivas dos

alunos e os objectivos educacionais defendidos pela gestatildeo Discute tambeacutem o problema da orientaccedilatildeo da

pesquisa a questatildeo dos limites da interferecircncia do professor e conclui apontando a possibilidade de

proposta alternativa para que esse objectivo seja alcanccedilado

Palavras-chave Educar pela Pesquisa Orientaccedilatildeo para Pesquisa Dificuldades para Pesquisar no Ensino

Meacutedio

Abstract

This article is a theoretical discussion in association with an experience report involving inquiry-based

teaching practice It is an attempt that lasted a year of discussion with teachers in a full-time public school

for students in the secondary education This work presents the teachersrsquo difficulties by dealing with a

research project during class hours where students were also included considering content demands

teacherrsquos preparation studentsrsquo outlook and educational objectives alleged by management This work

also discusses the research advice process and the teaching intervention limits The outcome presents

alternative proposal possibilities in order to reach the intended goal

Keywords Inquiry-Based Teaching Research advice Researching difficulties in the Secondary School

1 Licenciado em Matemaacutetica Mestre e Doutor em Educaccedilatildeo Professor em Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo Stricto

Sensu da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul e da Uniderp-Brasil e Coordenador do Projeto -

profesaleshotmailcom 2 Professora de Quiacutemica na Rede Puacuteblica de Ensino em Campo Grande MS Doutoranda em Quiacutemica pela

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul-Brasil- lisregianehotmailcom 3 Professora de Quiacutemica na Rede Puacuteblica de Ensino em Campo Grande MS-Brasil Mestre em Educaccedilatildeo-

smeniamouragmailcom 4 Professora de Biologia na Rede Puacuteblica de Ensino em Campo Grande MS-Brasil -

professoramilenebiologiagmailcom 5 Professor de Fiacutesica e ClimatologiaMeteorologia na Rede Puacuteblica de Ensino em Campo Grande MS Pesquisador

associado ao Laboratoacuterio de Ciecircncias Atmosfeacutericas (LCA-UFMS)- capiberibegmailcom

9

Introduccedilatildeo

Educar pela pesquisa tem sido o mote da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Mato Grosso

do Sul-Brasil (SED) nessa gestatildeo que se iniciou em 2015 A proposta tem como referencial os

trabalhos publicados e a orientaccedilatildeo directa do Professor Doutor Pedro Demo Para esse estudioso

a pesquisa tem poder libertador tem potencial para conduzir o aluno pelos caminhos da

autonomia acadecircmica e pessoal DEMO (20075 itaacutelicos do autor) fala que a pesquisa tem o

potencial de introduzir o ser humano nos caminhos da rebeldia contra os seus proacuteprios limites ao

afirmar que ldquoO que melhor distingue a educaccedilatildeo escolar de outros tipos e espaccedilos educativos eacute

o fazer-se e refazer-se na e pela pesquisardquo E acrescenta ldquoeducaccedilatildeo pela pesquisa eacute a educaccedilatildeo

tipicamente escolarrdquo

Esse estudioso pauta a sua argumentaccedilatildeo no fato de que a educaccedilatildeo natildeo ocorre somente na

escola As famiacutelias bem como a vida de forma geral tambeacutem educam burilando a ldquotecircmpera das

pessoasrdquo No entanto a escola tem o potencial de produzir um ldquoquestionamento reconstrutivordquo

que faccedila emergir a eacutetica a intervenccedilatildeo a inserccedilatildeo do sujeito no contexto histoacuterico (DEMO

20077)

Na mesma obra o autor reafirma a sua convicccedilatildeo no potencial transformador da pesquisa

ao afirmar que ldquoA aula que apenas repassa conhecimento ou a escola que somente se define

como socializadora de conhecimento natildeo sai do ponto de partida e na praacutetica atrapalha o

aluno porque o deixa como objeto de ensino e instruccedilatildeordquo (DEMO 20077) Esse treinamento

dificulta o estabelecimento do contacto pedagoacutegico e transforma professor e aluno em meros

copistas

Por partilhar dessa perspectiva de trabalho e por acreditar que embora difiacutecil natildeo eacute

impossiacutevel transformar a sala de aula em um ambiente de diaacutelogo tendo o saber

institucionalizado como objecto e a pesquisa como metodologia e factor de mediaccedilatildeo entre

professor e aluno elaboramos um projecto cujo problema pode ser sintetizado na seguinte

questatildeo eacute possiacutevel desencadear um processo de investigaccedilatildeo cientiacutefica em sala de aula da

Educaccedilatildeo Baacutesica

10

O projecto foi apresentado agrave SED e uma escola foi sugerida pelos teacutecnicos como espaccedilo

para nosso campo de experiecircncia Eacute uma escola de Ensino Meacutedio6 e de tempo integral7 A

pretensatildeo era desenvolver uma pesquisa participante

Esperaacutevamos encontrar nessa escola um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento de um

trabalho onde a investigaccedilatildeo se fizesse presente

Com esses pressupostos nos aproximamos da escola traccedilamos planos para breves

encontros quinzenais com professores voluntaacuterios no seu dia de planificaccedilatildeo que nessa escola

acontecem todos numa mesma tarde da semana Embora a nossa formaccedilatildeo seja em Matemaacutetica o

espaccedilo estava aberto a professores das todas as aacutereas

No final de 2015 tivemos umas poucas reuniotildees (apenas 4) e jaacute percebemos que a suspeita

inicial de que o trabalho natildeo seria simples se confirmou Algumas dificuldades satildeo facilmente

determinadas tais como

1 Certa incredulidade por parte de alguns professores

2 Dificuldade para entender a proposta que se afigura irreal para aquilo ou aquele contexto

estudantil a que estatildeo acostumados A ideia fortemente arraigada de que a pesquisa deve

sempre ser ineacutedita eacute paralisante para o professor como possiacutevel pesquisador e natildeo

permite imaginar o envolvimento do aluno que tem Convencecirc-lo de que haacute outro niacutevel

de pesquisa e que cumpre muito bem o papel de educar pela pesquisa natildeo eacute tarefa

simples

3 Preocupaccedilatildeo com o cumprimento da ementa uma vez que o professor natildeo imagina que o

aluno possa pesquisar ou continuar os estudos sem a sua supervisatildeo directa

4 A preocupaccedilatildeo com o cumprimento da ementa eacute tambeacutem um entrave de outra ordem Eacute

um entrave da burocracia educacional uma vez que os coordenadores e por vezes

representantes diretos da Secretaria da Educaccedilatildeo exigem esse cumpriemto rigoroso

visando o preparo do aluno para exames de avaliaccedilatildeo externa Amedronta o professor a

possibilidade de natildeo cumpri-la

5 A questatildeo do que eacute pesquisar tambeacutem os incomoda por outro motivo Para eles ou

conforme o assunto lhes eacute apresentado na universidade a pesquisa cientiacutefica comeccedila pela

memorizaccedilatildeo das Normas Teacutecnicas (ABNT) de um roteiro preacute-elaborado com hipoacuteteses

bem definidas justificativas um cronograma e a necessidade do ineditismo

6 Ensino Meacutedio no Brasil corresponde aos trecircs uacuteltimos anos de um periacuteodo de 12 da Educaccedilatildeo Baacutesica 7 O aluno permanece na escola 8 horas por dia Em um periacuteodo tem as aulas regulares e no outro eacute orientado atraveacutes

de actividades complementares

11

6 A necessidade que o professor tem de mostrar resultados em um curto espaccedilo de tempo eacute

outro factor interveniente

7 A ideia de pesquisa quantitativa se faz muito presente As falas de alguns professores

revelavam isso Essa modalidade exige um universo consideraacutevel de sujeitos e pensar em

abranger um puacuteblico grande se afigura um obstaacuteculo quase intransponiacutevel Para o

professor da Educaccedilatildeo Baacutesica o problema eacute definir um objecto que possa ser

quantificado

8 Pensar em pesquisa bibliograacutefica lhes traz agrave memoacuteria as coacutepias integrais dos textos sem

nenhuma leitura ou reflexatildeo sobre o conteuacutedo Eacute a ldquopesquisardquo para nota O professor

anuncia o problema e o aluno apenas pergunta se vale nota e sobre o nuacutemero de paacuteginas

que deve ter o trabalho Em seguida na data marcada apresenta um ldquorelatoacuteriordquo que nem

sequer dedicou tempo para a leitura cuidadosa Apresenta um texto que apenas copiou da

internet e colou tendo por base a palavra-chave dada pelo professor

9 A discussatildeo foi conduzida tambeacutem para o facto de que o professor entende que eacute preciso

levar em conta a qualidade das fontes de pesquisa acessiacuteveis ao aluno considerando que

esse estaacute em seu niacutevel inicial Visto que o trabalho cientiacutefico exige uma revisatildeo de

literatura eacute necessaacuterio disponibilizar ao aluno essas fontes e questionar se as mesmas

apresentam conceitos e dados histoacutericos adequados Segundo MARTINS (1998 243) ldquoo

problema eacute encontrar quem possa fazer bons trabalhos de divulgaccedilatildeo cientiacutefica O ideal

(difiacutecil de atingir) eacute unir uma competecircncia cientiacutefica agrave capacidade de escrever de modo

simples e interessante mas natildeo errocircneordquo O professor teme que o aluno (que muitas

vezes mal passa os olhos sobre o ldquorelatoacuteriordquo que faz) tome por base do seu trabalho

fontes natildeo confiaacuteveis em termos de exposiccedilatildeo dos conceitos

Soma-se a este facto afirmam os professores de que haacute entre alunos e alguns

professores a cultura de pressupor que livros escritos por autores renomados estatildeo livre de

equiacutevocos conceituais e histoacutericos

Essa discussatildeo revela as expectativas inclusive jaacute abordadas em paraacutegrafos

precedentes de que para pesquisar eacute necessaacuterio dar passos sempre seguros caminhar sobre

certezas partir de verdades consolidadas Eacute como se natildeo fosse possiacutevel ou talvez prudente pocircr

em xeque ldquoverdadesrdquo problematizar afirmaccedilotildees e fazer as devidas verificaccedilotildees Aquelas

verificaccedilotildees que podem ser feitas no ambiente escolar isto eacute fazer experiecircncias ou investigaccedilotildees

bibliograacuteficas mais amplas visando confrontar o exposto por tais autores

12

Partiu-se do pressuposto de que hoje haacute uma ampla literatura de boa qualidade

disponiacutevel nos sites de busca bastando que para isso o aluno tenha acesso agrave internet e esteja

suficientemente desafiado e orientado quanto a essas fontes

Para tentar desafiar os professores para a experimentaccedilatildeo a primeira tarefa do

pesquisador consistiu em mostrar outras possibilidades de pesquisa e orientar sobre a

necessidade de ldquoprovocaccedilotildeesrdquo procurando despertar a curiosidade do aluno para algum

problema

No ano de 2016 as actividades foram retomadas poreacutem com intervalos maiores No

entanto alguns professores do grupo que eram contratados jaacute natildeo mais estavam na escola e

outros haviam desistido da ideia Alguns permaneceram e outros foram agregados O grupo

nunca passou de oito professores

Nesse segundo uma professora jovem doutoranda em Quiacutemica engajou-se logo de

iniacutecio na proposta

A proposta reforccedilada em cada reuniatildeo dizia respeito agrave necessidade de romper com os

contractos estabelecidos Contracto aqui eacute uma referecircncia aos contractos didaacutecticos objecto de

estudo da Didaacutectica da Matemaacutetica Francesa (PAIS 2001)

A professora de Quiacutemica coordena actividades de oficina8 e apresentava certa relutacircncia

em considerar o seu trabalho como de investigaccedilatildeo Temia que embora estivesse imbuiacuteda do

desejo de conduzir os alunos pelos caminhos da investigaccedilatildeo estivesse falhando porque se via

frequentemente diante da necessidade de orientar o olhar dos alunos Estes pela inexperiecircncia

pela falta de vivecircncia com a pesquisa tinham dificuldades em distinguir o que eacute importante em

uma experiecircncia de investigaccedilatildeo

A orientaccedilatildeo do trabalho de pesquisa com alunos

O presente trabalho pode ser caracterizado como um relato de experiecircncia Uma

experiecircncia de investir na constituiccedilatildeo de uma atitude de estudante pesquisador ainda na

Educaccedilatildeo Baacutesica

O trabalho foi desenvolvido com alunos do ensino meacutedio em uma escola de tempo

integral nas oficinas de Quiacutemica O que se pretende aqui eacute descrever e analisar o processo

relatando as incertezas que perseguiram o professor durante o periacuteodo em que se empenhou

nessa tarefa

8 Termo usado entre noacutes para designar actividade extracurricular em que algueacutem faz uma exposiccedilatildeo de como

determinada proposta de acccedilatildeo pode ser conduzida

13

Uma questatildeo levantada tem relaccedilatildeo com os limites da orientaccedilatildeo Como deve se portar

um professor que se propotildee a orientar um processo de pesquisa com alunos da Educaccedilatildeo Baacutesica

sem obstruir a sua trajectoacuteria rumo agrave autonomia

A preocupaccedilatildeo justifica-se porque o trabalho de conduzir um processo de pesquisa com

alunos da Educaccedilatildeo Baacutesica esbarra em factores que supostamente natildeo aparecem em curso de

poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu Na graduaccedilatildeo natildeo se conhece experiecircncia semelhante

Tais factores natildeo se prendem somente agrave inexperiecircncia do estudante agravequilo que

poderiacuteamos chamar de imaturidade intelectual Eles se estendem tambeacutem ao domiacutenio da

disposiccedilatildeo isto eacute um estudante ao se candidatar a um curso de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu se

predispotildee a estudar por antecipaccedilatildeo a definir antecipadamente um possiacutevel objecto para os seus

estudos posteriores O mesmo poreacutem natildeo ocorre com o estudante da Educaccedilatildeo Baacutesica que na

nossa cultura escolar natildeo pensa em pesquisa nos moldes de uma pesquisa como a conhecemos

na poacutes-graduaccedilatildeo Pesquisa para ele traz a marca da determinaccedilatildeo do tema pelo professor

independente do seu interesse Dizendo em outras palavras pesquisa na sua concepccedilatildeo eacute algo

que se faz para o outro para atender um requisito ldquolegalrdquo para obter alguma vantagem imediata

relacionada agrave promoccedilatildeo escolar Nesse caso na maioria das vezes natildeo se faz necessaacuterio o

investimento de capital intelectual O que ele precisa eacute de uma determinaccedilatildeo exterior a ele

incluindo tema prazo e fonte de consulta que normalmente era uma enciclopeacutedia e agora um

conhecido site de busca

Essa condiccedilatildeo inicial apresenta-se como um obstaacuteculo a ser superado pelo professor que

se proponha a ensinar pela pesquisa Se num curso de poacutes-graduaccedilatildeo o orientador precisa

orientar a escrita a metodologia indicar muacuteltiplas fontes de consulta e produzir conflitos

cognitivos no orientado aqui na Educaccedilatildeo Baacutesica ele necessita antes de tudo orientar o olhar

do estudante

O que pode ser um objecto de pesquisa O que eacute relevante olhar nesse objecto (cor

forma cheiro comportamento relaccedilotildees frequecircncia falhas apresentadas etc) Essa eacute tarefa

primeira o que olhar no objecto que se propotildee investigar

Um descuido nessa perspectiva deixa o aluno sem saber o que estaacute procurando a

qualidade do objecto que se espera seja observada Essa incerteza tambeacutem ronda o estudante de

poacutes-graduaccedilatildeo poreacutem se faz mais presente no estudante da Educaccedilatildeo Baacutesica No entanto ao

professor orientador desse estudante resta-lhe a inseguranccedila sobre o limite da sua intervenccedilatildeo

Ateacute onde ele conduz o olhar do estudante e onde deve parar com a sua intervenccedilatildeo Eis a

questatildeo a ser respondida por ele proacuteprio

14

Na tentativa de encontrar indicativos de uma resposta recorre-se agraves discussotildees jaacute

existentes sobre o papel do orientador na poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu tendo em vista que na

Educaccedilatildeo Baacutesica natildeo temos tradiccedilatildeo de pesquisa e consequentemente dificilmente

encontraremos um debate dessa natureza

COSTA SOUSA e SILVA (2014823) definem ldquotrecircs responsabilidades

de formaccedilatildeo do estudante [de poacutes-graduaccedilatildeo] pelo orientadorrdquo antes poreacutem destacando que a

[] orientaccedilatildeo eacute tratada pelos programas de poacutes-graduaccedilatildeo de forma geneacuterica e vaga ficando

mais ao criteacuterio do professor definir individualmente o que fazer e como desenvolver suas

accedilotildees rdquo e que ldquo[] poucos discursos e pouca pesquisa tecircm-se desenvolvido em torno do tema

da orientaccedilatildeorsquordquo

Os autores realccedilam que o orientador ldquo[] deve ser capaz de ouvir o orientado de

encorajar o debate de fornecer feedback contiacutenuo e de ser entusiasmado aleacutem de demonstrar

atenccedilatildeo e respeitordquo (COSTA SOUSA SILVA 2014829) No entanto dado o oacutebvio da

observaccedilatildeo ela natildeo socorre o professor que deseja inserir-se neste fazer tendo em vista que tais

caracteriacutesticas dificilmente estatildeo ausentes em quem se dispotildee a esse trabalho voluntariamente

como eacute o caso de um professor da Educaccedilatildeo Baacutesica Supomos que o factor destacado por esses

autores que traz melhor orientaccedilatildeo ao orientador seja a que consta no item a seguir Nesse texto

evidencia-se que haacute a necessidade de orientar

[] os haacutebitos mentais relacionados ao entendimento e ao exerciacutecio do

aprendizado e da reflexatildeo ativa sobre as decisotildees a serem tomadas aleacutem da

capacidade de aplicar esse processo na tomada de decisotildees imprevistas e com

elevado niacutevel de responsabilidade[] os ldquoaspectos teacutecnicosrdquo relacionados aos

procedimentos e agraves teacutecnicas de execuccedilatildeo da orientaccedilatildeo (produccedilatildeo verbal de

ciecircncia prospecccedilatildeo de fontes e manipulaccedilatildeo de dados gerenciamento de

informaccedilotildees uso de uma boa diversidade de ferramentas de anaacutelise de dados

gerenciamento do tempo etc) a ldquoexpertise contextualrdquo relacionada agrave

capacidade de entender o campo cientiacutefico em geral e a dinacircmica do campo de

pesquisa em particular (COSTA SOUSA SILVA 2014830)

Acrescentamos a isso que ao orientador cabe a tarefa de orientar o olhar do estudante

ldquoAjustar os focos da sua lenterdquo para que seja possiacutevel que ele olhe na direcccedilatildeo em que objecto

possa estar e no caso do estudante da Educaccedilatildeo Baacutesica veja o que se quer que seja visto

Talvez essa expressatildeo ldquoveja o que se quer que seja vistordquo possa sugerir ao menos

experiente que se deve dar directividade absoluta ao novo pesquisador Natildeo eacute isso que se quer

dizer Aponta-se aqui a necessidade de questionar sobre algumas caracteriacutesticas que o objeto

deve apresentar para ser o objeto que se procura

15

Outro enunciado de Costa Sousa e Silva que julgamos merecer destaque eacute o que eles

[] identificaram [como] trecircs tipos de metaacuteforas relacionadas ao processo de

orientaccedilatildeo acadecircmica que satildeo a metaacutefora da maacutequina a metaacutefora do treinador e

a metaacutefora da viagem A primeira apresenta a orientaccedilatildeo como uma atividade

alinhada com as poliacuteticas institucionais das universidades e faculdades a

segunda descreve a orientaccedilatildeo como uma accedilatildeo de aconselhamento na

apresentaccedilatildeo de soluccedilotildees para o trabalho do aluno e a terceira mostra a

orientaccedilatildeo como uma parceria na qual orientador e orientando aprendem juntos

(COSTA SOUSA SILVA 2014 p 831)

Esses autores salientaram que dar autonomia eacute diferente de natildeo orientar A autonomia do

estudante eacute resultado de um processo

VIANA e VEIGA (2010 p 223) por exemplo destacam que a ldquo[] orientaccedilatildeo

acadecircmica [se daacute] atraveacutes dos seguintes pontos assim caracterizados atitudinais cognitivos

administrativos e temporaisrdquo e esclarecem que ldquoEm relaccedilatildeo ao aspecto cognitivo eles apontam

garantir a convergecircncia entre seu objeto de pesquisa e o objeto do orientando tornar viaacutevel a

delimitaccedilatildeo do objeto contribuir com uma seleccedilatildeo bibliograacutefica adequadardquo

Numa orientaccedilatildeo acontecem naturalmente algumas dificuldades Uma delas diz respeito agrave

natureza do objeto e aos valores de uma pesquisa cientiacutefica que satildeo desconhecidos pelos

estudantes (LEITE FILHO MARTINS 2006) requerendo o direcionamento do olhar

Portanto direcionar o olhar do estudante natildeo implica necessariamente na obstruccedilatildeo da

sua autonomia Pode ser o impulso que ele necessita para persegui-la

A segunda questatildeo eacute como essa orientaccedilatildeo se processa Como eacute vivenciada essa

experiecircncia

A Experiecircncia

Se ensinar no contexto escolar eacute tarefa para profissionais ensinar Quiacutemica se apresenta

mais difiacutecil ainda ou pelo menos assim se aparenta em decorrecircncia do fato de que o contato

que se tem com ela no Ensino Fundamental eacute miacutenimo Esse contato miacutenimo eacute pouco para que o

aluno aprenda sobre Quiacutemica No entanto eacute longo o suficiente para se criar obstaacuteculos agrave sua

aprendizagem se o trabalho natildeo for bem conduzido Inicia-se com definiccedilotildees de elementos

invisiacuteveis (aacutetomo proacutetons eleacutetrons e necircutrons) e discutindo a localizaccedilatildeo deles num universo

hipoteacutetico axiomaacutetico Dessa forma os alunos no Ensino Meacutedio jaacute iniciam a disciplina com um

preconceito constituiacutedo de que a mesma seraacute difiacutecil de compreender e de correlacionar e

vivenciar no seu cotidiano Uma das maneiras utilizadas para atrair esses alunos eacute a

experimentaccedilatildeo quiacutemica Faz parte da grade curricular da escola estadual de tempo integral onde

16

a experiecircncia foi realizada a atividade optativa de quiacutemica tendo uma co-autora deste trabalho

como professora Como estiacutemulo para os alunos e para familiariza-los mais com o mundo

quiacutemico a maioria das aulas ocorre no laboratoacuterio da escola em que os alunos satildeo divididos em

seis grupos Cada grupo possui sua bancada para trabalhar com equipamentos necessaacuterios para a

realizaccedilatildeo dos experimentos As aulas satildeo iniciadas com uma fundamentaccedilatildeo teoacuterica do tema

tratado para auxiliaacute-los na compreensatildeo dos experimentos Os alunos recebem um roteiro

experimental com a metodologia e tem-se observado que a parte de manipulaccedilatildeo de vidrarias e

componentes quiacutemicos sempre foi bem desempenhada pelos mesmos Entretanto o objetivo

central da aula a compreensatildeo das transformaccedilotildees e a construccedilatildeo do conhecimento quiacutemico natildeo

era alcanccedilado Considerando que a maior parte dos alunos tinha o conhecimento baacutesico de

quiacutemica esperava-se que eles tivessem capacidade para entender o experimento realizado

poreacutem natildeo era o que acontecia no decorrer das aulas

Todos os experimentos realizados na disciplina satildeo contextualizados socialmente isto eacute

relacionados com a ldquovida realrdquo do aluno vatildeo aleacutem das reaccedilotildees no tubo de ensaio Poreacutem

percebeu-se que apenas a contextualizaccedilatildeo natildeo seria suficiente pois durante as aulas o que se

verificou foi que a docente estava apenas transmitindo o conhecimento pronto e que os alunos

estavam participando mecanicamente das aulas mesmo tendo o conhecimento teoacuterico dos

assuntos abordados nos experimentos Fez-se necessaacuterio uma mudanccedila na forma de trabalhar

com esses alunos Aleacutem de usar como ferramenta a contextualizaccedilatildeo e a fundamentaccedilatildeo teoacuterica

acrescentou-se o direcionamento do olhar dos alunos durante os experimentos Esta tentativa de

orientar os alunos durante a aula surgiu devido ao fato de que os mesmos jaacute possuiacuteam o

conhecimento teoacuterico para compreender as transformaccedilotildees quiacutemicas que ocorrem nos

experimentos poreacutem natildeo conseguiam correlacionar o que estavam observando com o que

poderia estar ocasionando tal mudanccedila Por exemplo um dos experimentos realizados na

disciplina consistiu em encontrar a vitamina C nos alimentos Partiu-se do pressuposto de que os

conceitos de reaccedilotildees quiacutemicas e oxirreduccedilatildeo jaacute eram dominados pelos alunos uma vez que a

discussatildeo teoacuterica havia acontecido Dessa forma durante o experimento procurou-se direcionaacute-

los para que empregassem esses conhecimentos em cada etapa do experimento Durante a aula

fez-se necessaacuterio fazer perguntas durante cada etapa como Por que no suco de laranja foi

adicionado mais iodo que no suco de limatildeo Por que a soluccedilatildeo ficou azul Por que adicionamos

o amido na soluccedilatildeo E apoacutes cada pergunta os grupos tentavam responder os questionamentos

entre si mesmos observando o que estava ocorrendo realmente nos experimentos e elaborando

propostas para explicar essas possiacuteveis transformaccedilotildees Dessa forma esta nova forma de guiar as

17

aulas experimentais foi mantida aula apoacutes aula para verificar se este meacutetodo estava produzindo

resultados Pediu-se aos alunos que entregassem relatoacuterios cientiacuteficos referentes a cada

experimento Esses relatoacuterios eram entregues por cada grupo de alunos em que a parte

fundamental analisada eacute resultados de discussotildees Percebeu-se que houve um avanccedilo durante as

aulas poreacutem isso natildeo ocorreu para a totalidade da turma Este fator foi detectado pelo fato de

que cada vez que um grupo entregava um relatoacuterio eacute um aluno diferente do grupo que elabora

tendo um rodiacutezio entre eles Dessa forma foi possiacutevel verificar que dentro dos grupos alguns

estatildeo avanccedilando mais que os outros mas a metodologia estaacute atingindo a todos

Outro fator relevante desta praacutetica do direcionamento do olhar ocorreu durante os

experimentos de investigaccedilatildeo criminal em que os alunos puderam ver como a quiacutemica eacute usada

para resolver crimes Foram realizados vaacuterios experimentos com esta proposta entre eles

Extraccedilatildeo do DNA humano e da cebola impressatildeo digital cromatografia e adulteraccedilatildeo da

gasolina Em todos os casos os alunos eram orientados a voltar o seu olhar para cada etapa do

experimento O objetivo era que conseguissem investir o seu conhecimento de Quiacutemica em cada

uma das fases e dessa forma visualizar como estes dados influenciariam na resoluccedilatildeo de um

problema envolvendo crime O resultado foi excelente os alunos se empolgaram por saber

aplicar seus conhecimentos e como o que aprendiam poderia ser utilizado para um bem maior

Apoacutes estes experimentos trecircs alunos da disciplina resolveram que queriam investigar se os

postos de combustiacuteveis que se encontram proacuteximos agrave escola estavam vendendo gasolina de

acordo com a legislaccedilatildeo Dessa forma sob a orientaccedilatildeo da professora fizeram pesquisa de

campo procedimentos experimentais pesquisas bibliograacuteficas e desenvolveram uma

investigaccedilatildeo que apresentou como resultado que todos os postos investigados estatildeo fornecendo a

seus clientes combustiacuteveis adulterados Este trabalho investigativo foi apresentado em duas

feiras cientiacuteficas estaduais a Feira de Tecnologias Engenharias e Ciecircncias de Mato Grosso do

Sul (FETEC) e a Feira de Ciecircncias e Tecnologias do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul

(FECINTEC) Dessa forma a metodologia do ldquodirecionamento do olharrdquo do aluno para as etapas

dos experimentos foi fundamental para a evoluccedilatildeo dos mesmos isso eacute perceptiacutevel na experiecircncia

da maior parte dos alunos da disciplina

Ressalta-se que trabalhar com um nuacutemero grande de alunos durante as aulas dificulta um

pouco o desenvolvimento da metodologia por um lado porque alguns alunos necessitam de

maior atenccedilatildeo e auxilio que outros Por outro lado quando se tem um nuacutemero pequeno como o

caso dos trecircs alunos que desenvolveram a investigaccedilatildeo eacute possiacutevel trabalhar melhor o

direcionamento do olhar desses alunos quanto ao trabalho que estatildeo desenvolvendo

18

Uma perspectiva eacute que em um segundo ano de experiecircncia alguns alunos que tiveram o

seu olhar direcionado possa contribuir para que outros alcancem esse niacutevel de vivecircncia Nesse

caso um nuacutemero maior de alunos pode ser atendido com sucesso e a experiecircncia ser gratificante

Consideraccedilotildees finais

Em que pese as dificuldades encontradas pelos professores para assumir uma postura de

pesquisador perante a classe e operacionalizar um projeto dessa natureza alguns casos de

sucesso podem ser relatados

Uma discussatildeo sobre como pesquisar em sala de aula precisa envolver aleacutem dos

professores coordenadores e gestores locais para que diminuindo determinadas exigecircncias

burocraacuteticas o trabalho do professor que se envolver no processo possa se tornar menos tenso

Algumas perspectivas precisam mudar de foco e o professor necessita entender os limites de um

aluno do ensino meacutedio como pesquisador Requer que o docente se prepare para ter uma nova

visatildeo do que eacute pesquisa rompendo com paradigmas ensinados teoricamente nos cursos de

graduaccedilatildeo e ele mesmo possa aprender a problematizar

Em aacutereas mais abstratas como a Matemaacutetica por exemplo natildeo foi possiacutevel avanccedilar uma

vez que os professores encontraram dificuldades para problematizar e o termo ldquopesquisardquo remete

sempre a uma busca por algo pronto pela explicaccedilatildeo jaacute existente de uma propriedade tambeacutem jaacute

confirmada Pesquisar buscar uma certeza jaacute existente

Em Biologia pela maior familiaridade do aluno com temas relacionados desde os anos

inicias os professores entendem que nada mais haacute para problematizar Que nenhum problema

mais provocaraacute o aluno

Referecircncias

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ago 2016

20

O ensino contextualizado e a abordagem curricular de conteuacutedos de

Microbiologia em Moccedilambique

Manecas Cacircndido9

Laurinda Leite10

Briacutegida Singo11

Resumo

Este artigo visou analisar documentos oficiais que orientam o Ensino Secundaacuterio Geral em Moccedilambique

no que concerne agraves eventuais propostas metodoloacutegicas que apresentam para um ensino contextualizado de

conteuacutedos de Microbiologia Os documentos analisados foram a Lei ndeg 692 sobre o Sistema Nacional da

Educaccedilatildeo o Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio Geral e os Programas de Biologia da 8ordf agrave 12ordf classe

A anaacutelise de conteuacutedo desses documentos centrou-se na presenccedila ou ausecircncia de seis dimensotildees

identificadas com base na literatura e que permitiam averiguar se para os conteuacutedos em causa eacute ou natildeo

fomentado o ensino contextualizado de conteuacutedos de Microbiologia Os resultados do estudo mostram

que apesar de natildeo terem sido encontradas evidecircncias de todas as dimensotildees consideradas em todos os

documentos analisados a Lei ndeg 692 preconiza o ensino contextualizado acontecendo o mesmo com o

Plano Curricular e os Programas de Biologia que satildeo documentos que orientam poliacuteticas e estrateacutegias de

ensino Assim nas escolas deveriam ser adotadas metodologias promotoras do ensino contextualizado

dos conteuacutedos de Microbiologia

Palavrasndashchave Ensino Contextualizado das Ciecircncias Microbiologia Curriacuteculo Moccedilambique

Abstract

This article aimed at analysing the official documents that guide general secondary education in

Mozambique with regard to approaches for contextualized teaching of microbiology contents The

documents analysed were Law No 692 on the National Educational System the General Secondary

Education Curriculum plan and the 8th to 12th grade Biology syllabuses Content analysis of those

documents focused on the presence or absence of a set of six dimensions that were collected from the

literature These dimensions enabled to find out whether the documents analysed acknowledge a

contextualized teaching of the contents under question The results of the study show that even though

evidences of all the dimensions of analysis were not found in all documents that re at stake all the

documents advocate contextualized teaching of microbiology contents Thus schools should adopt

teaching approaches able to promote contextualized teaching of microbiology contents

Keywords Contextualized Science Teaching Microbiology Curriculum Mozambique

Introduccedilatildeo

O Sistema Nacional de Educaccedilatildeo (SNE) em Moccedilambique criado pela Lei ndeg 483 de 23

de Marccedilo foi revisto para se adequar agraves condiccedilotildees socioeconoacutemicas do Paiacutes atraveacutes da lei ndeg

692 de 6 de Maio O objetivo dessa revisatildeo foi o de garantir uma formaccedilatildeo integral ao cidadatildeo

9 Docente da Universidade Pedagoacutegica e Doutorando em Educaccedilatildeo em Ciecircncias na UMinho Portugal 10 Docente da UMinho Braga Portugal Doutorada em Educaccedilatildeo em Ciecircncias 11 Docente da Universidade Pedagoacutegica Doutorada em Biologia

21

moccedilambicano para que adquira e desenvolva conhecimentos e capacidades intelectuais Esta

mudanccedila obrigava a uma revisatildeo curricular incluindo dos programas das diversas disciplinas de

modo a que a escola passasse a preparar melhor os alunos para a vida

De acordo com o INDE (2010) as competecircncias importantes para a vida referem-se ao

conjunto de recursos (isto eacute conhecimentos habilidades atitudes valores e comportamentos)

que o indiviacuteduo mobiliza para enfrentar com sucesso exigecircncias complexas ou realizar uma

tarefa na vida quotidiana

Um dos objectivos do ensino das ciecircncias eacute fomentar a aprendizagem significativa de

conteuacutedos que sejam relevantes para o dia-a-dia dos cidadatildeos Uma das formas de contribuir para

a consecuccedilatildeo deste objetivo consiste em abordar de modo contextualizado os assuntos a ensinar

Neste contexto a abordagem contextualizada de conteuacutedos de Microbiologia no ensino

secundaacuterio geral moccedilambicano pode levar os alunos a alcanccedilarem uma melhor preparaccedilatildeo para

enfrentarem de forma ativa e adequada situaccedilotildees de prevenccedilatildeo de doenccedilas causadas pelos

microrganismos de conservaccedilatildeo de produtos alimentares e de proteccedilatildeo do meio ambiente

Analisando os Programas de Biologia da 8ordf agrave 12ordf classe (INDE 2010) constata-se que

todos eles propotildeem a abordagem de conteuacutedos de Microbiologia que tecircm relaccedilatildeo com e

relevacircncia para o dia-a-dia das pessoas embora isso dependa pelo menos em parte de serem

abordados ou natildeo de um modo contextualizado

Sendo a contextualizaccedilatildeo dos conteuacutedos a ensinar uma estrateacutegia que pode ser adotada

para dar significado ao conhecimento escolar (Oda amp Delizoicov 2011 Bulte et al 2006)

torna-se relevante investigar em que medida os documentos orientadores do ensino

anteriormente referidos reconhecem a problemaacutetica da contextualizaccedilatildeo e incentivam a adoccedilatildeo

de abordagens contextualizadas de conteuacutedos curriculares relevantes para os cidadatildeos como eacute o

caso da Microbiologia Assim o objectivo deste trabalho foi o de averiguar em que medida os

documentos oficiais que regem o ensino de Biologia propotildeem metodologias promotoras de uma

abordagem contextualizada de conteuacutedos de Microbiologia no ensino secundaacuterio geral em

Moccedilambique e caso isso se verifique como o fazem Caso a contextualizaccedilatildeo seja reconhecida

pelos documentos em causa e especialmente se isso acontecer de forma impliacutecita os resultados

deste estudo poderatildeo ser uacuteteis para alertar os formadores de professores para a necessidade de

sensibilizar os estudantes para as exigecircncias do curriacuteculo em termos de ensino contextualizado

das ciecircncias

22

A contextualizaccedilatildeo do ensino das ciecircncias e a formaccedilatildeo cientiacutefica dos cidadatildeos

Segundo Wartha et al (2013) contextualizaccedilatildeo eacute um termo novo na liacutengua portuguesa que

natildeo faz parte do leacutexico Contudo alguns estudos realizados na aacuterea da educaccedilatildeo em ciecircncias a

que tivemos acesso falam de contextualizaccedilatildeo e de ensino contextualizado Gilbert (2006)

considera que existam diversas formas de contextualizar o ensino mas que nem todas elas tecircm a

ver com ensino baseado em contextos (em que estes satildeo um ponto de partida) sendo que em

algumas delas os contextos satildeo um ponto de chegada que serve para aplicar conhecimentos

aprendidos de modo desligado do dia-a-dia dos alunos Assim alguns autores (Schwartz 2006

Gilbert 2006 Bulte et al 2006 Gilbert et al2011) associam o ensino contextualizado a um

ensino que recorre a situaccedilotildees do quotidiano do aluno para nelas fazer emergir os conceitos

cientiacuteficos necessaacuterios para as compreender Nesta perspetiva a aprendizagem de um assunto

ocorre ligada a um contexto que daacute significado ao assunto a estudar pelo que se torna relevante

para o aluno tendo mais probabilidade de aumentar o interesse deste pelas ciecircncias de o

preparar para aprender ao longo da vida e de o levar a contribuir para a resoluccedilatildeo de problemas

da comunidade a que pertence

Para Gilbert (2006) contextualizar o ensino implica assumir que os significados dos

conceitos dependem do ambiente em que satildeo construiacutedos e das accedilotildees realizadas para o efeito a

existecircncia de uma interaccedilatildeo entre o sujeito e o ambiente ou contexto a utilizaccedilatildeo de processos

intelectuais que adicionam novos significados a uma dada situaccedilatildeo e que delimitam o que pode

(ou deve) e o que natildeo pode ser feito (naquele momento) sobre essa situaccedilatildeo Assim

contextualizar eacute por um lado construir contextos (os contextos modificam-se pelas interaccedilotildees

satildeo dinacircmicos) e por outro lado realizar atividades com vista agrave recontextualizaccedilatildeo de

significados e ao desenvolvimento dos conceitos

Neste sentido um contexto eacute uma situaccedilatildeo que apresenta um acontecimento imerso no seu

ambiente sociocultural de ocorrecircncia e que eacute apelativo para os alunos (Gilbert 2006) No

entanto uma situaccedilatildeo seraacute ou natildeo um contexto consoante sejam ou natildeo realizadas accedilotildees

(mediadas por ferramentas cognitivas eou outras) relevantes no acircmbito da atividade que eacute

realizada sobre o contexto Por isso para implementar ensino contextualizado natildeo basta

apresentar uma situaccedilatildeo do quotidiano dos alunos eacute preciso trabalhar nela com ela eou sobre

ela envolvendo os alunos nesse trabalho

Nesta perspetiva contextualizar os conteuacutedos a ensinar nas aulas significa primeiramente

assumir que todo conhecimento envolve uma relaccedilatildeo entre o sujeito que aprende e o objeto de

aprendizagem (Wartha et al 2013)

23

Segundo Schwartz (2006) o ensino contextualizado das ciecircncias caracteriza-se do seguinte

modo

Eacute centrado em problemas sociais do mundo real que constituem a base do contexto a

adotar

Os fenoacutemenos factos e princiacutepios satildeo introduzidos conforme necessaacuterio para informar o

estudo das questotildees centrais que criam o contexto

Estabelece conexotildees interdisciplinares importantes entre as ciecircncias e outras aacutereas de

conhecimento especialmente com as ciecircncias sociais

Na medida do possiacutevel os assuntos satildeo ensinados do modo como as ciecircncias satildeo

praticadas

O estudo dos fenoacutemenos abrange a metodologia usada em ciecircncias para os compreender e

a teoria que os explica

Utiliza recursos diversificados incluindo o laboratoacuterio a biblioteca o trabalho em sala de

aulas e o trabalho de campo

Privilegia metodologias centradas no aluno enfatizando a discussatildeo e o trabalho em

grupo

Dedica atenccedilatildeo consideraacutevel agrave resoluccedilatildeo de problemas e ao desenvolvimento do

pensamento criacutetico

Assim o ensino contextualizado eacute um ensino realista (Taconis et al 2016) que pode

contribuir para aumentar o interesse do aluno pela aprendizagem das ciecircncias evitando como

realccedila Gilbert (2006) a baixa participaccedilatildeo na aula e o esquecimento de conteuacutedos aprendidos

A contextualizaccedilatildeo do ensino das ciecircncias oferece possibilidades muacuteltiplas de mediaccedilatildeo

didaacutetica (Kato amp Kawasaki 2011) sendo possiacutevel recorrer a vaacuterios tipos de situaccedilotildees para

contextualizar o ensino De entre elas salientam o quotidiano do aluno (Lopes 2002 Oda amp

Delizoicov 2011 Giassi amp Moraes sd) os contextos histoacutericos sociais e culturais (Souza amp

Roseira 2010 Lopes 2002 Fernandes et al 2011) a interdisciplinaridade (Kato amp Kawasaki

2011 Florentino amp Fernandes sd) e as fotografias e ilustraccedilotildees (Leite et al 2016)

Natildeo parecem ser frequentes os estudos centrados na anaacutelise de documentos orientadores do

ensino e da aprendizagem das ciecircncias relativamente agrave contextualizaccedilatildeo Contudo um estudo

realizado por Kato e Kawasaki (2011) mostra que no Brasil os documentos curriculares de

ciecircncias apresentam propostas de contextualizaccedilatildeo do ensino bastante variadas centradas por

exemplo no quotidiano do aluno e em contextos histoacutericos sociais e culturais em torno das

24

quais se articulam as abordagens dos conhecimentos especiacuteficos dessas disciplinas

No ensino secundaacuterio geral moccedilambicano os alunos devem aprender conteuacutedos de

Microbiologia os quais incluem assuntos como viacuterus bacteacuterias e fungos Embora haja situaccedilotildees

em que a atuaccedilatildeo destes eacute positiva (ex vacinas produccedilatildeo de iogurte) muitas vezes eles atuam

no meio provocando a degradaccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica e causando doenccedilas aos seres humanos e

a outros seres vivos Eacute por isso importante saber lidar com eles de modo a tirar partido dos seus

efeitos positivos e a proteger-se dos seus efeitos nefastos Por esta razatildeo eacute relevante usar

estrateacutegias de ensino que sejam capazes de ajudar o aluno a realizar uma aprendizagem

significativa de conteuacutedos de Microbiologia e capaz de ser uacutetil no seu quotidiano como eacute o caso

da contextualizaccedilatildeo Na verdade ao estudar assuntos de Microbiologia de modo contextualizado

o aluno poderaacute por exemplo ficar mais preparado para na sua vida pessoal social e

profissional adotar medidas eficientes na prevenccedilatildeo de doenccedilas causadas pelos microrganismos

Metodologia

Este trabalho centrou-se na anaacutelise dos documentos oficiais que regulam o ensino da

disciplina de Biologia no Ensino Secundaacuterio Geral (ESG) da Repuacuteblica de Moccedilambique a fim

de averiguar se adotam e promovem uma abordagem contextualizada de conteuacutedos de

Microbiologia Este estudo eacute qualitativo de anaacutelise de documentos com recurso agrave teacutecnica de

anaacutelise de conteuacutedo Seguindo Schreiber e Asner-Self (2011) fez-se o exame detalhado do

conteuacutedo dos documentos centrado em alguns aspetos (dimensotildees) que a seguir seratildeo

explicitados de modo a obter informaccedilatildeo que permitisse alcanccedilar o objetivo do estudo

Os documentos selecionados para anaacutelise no acircmbito deste estudo foram a Lei nordm 692

sobre o Sistema Nacional da Educaccedilatildeo (Conselho de Ministros 1992) o Plano Curricular do

Ensino Secundaacuterio Geral (MECINDE 2007) e os Programas de Biologia da 8ordf agrave 12ordf classe

(MECINDE 2010) A razatildeo da sua seleccedilatildeo deveu-se ao facto de em Moccedilambique estes serem

os documentos que orientam o ensino em geral e o ensino da Biologia em particular e de por

isso caso reconheccedilam e recomendem abordagens contextualizadas poderem fomentar praacuteticas

de ensino contextualizado de conteuacutedos de Microbiologia em todo o ensino secundaacuterio geral

Para recolha de informaccedilatildeo tivemos que identificar primeiramente as dimensotildees de

contextualizaccedilatildeo que iriam ser usadas na anaacutelise dos documentos referidos e para cada uma

delas definir categorias de anaacutelise Com base na literatura consultada as dimensotildees de anaacutelise

consideradas foram as seguintes

- Quotidiano do aluno que segundo Wartha et al (2013) permite relacionar situaccedilotildees

25

concretas ligadas ao dia-a-dia das pessoas incluindo os saberes locais com

conhecimentos cientiacuteficos

- Formaccedilatildeo pessoal que segundo Fernandes et al (2011) requer que a aprendizagem de

conteuacutedos cientiacuteficos seja feita de forma a promover o desenvolvimento do aluno

enquanto pessoa

- Interdisciplinaridade que tem a ver com o facto de os conhecimentos cientiacuteficos

designadamente os bioloacutegicos serem relacionados com os sociais poliacuteticos econoacutemicos

e culturais (Oda amp Delizoicov 2011)

- Processos de construccedilatildeo do conhecimento que tecircm a ver com os processos de produccedilatildeo dos

conhecimentos cientiacuteficos e sua relaccedilatildeo com os procedimentos usados na produccedilatildeo de

conhecimentos do quotidiano (Fernandes et al 2011)

- Histoacuterica que segundo Kato e Kawasaki (2011) tem a ver com o recurso agrave histoacuteria das

ciecircncias para a apresentaccedilatildeo de conteuacutedos cientiacuteficos e da sua evoluccedilatildeo

- Sociocultural segundo a qual os conteuacutedos de ciecircncias devem ser ensinados em articulaccedilatildeo

com a cultura e com os haacutebitos quotidianos e os costumes locais (Kato amp Kawasaki

2011 Leite Et al 2016)

Para cada dimensatildeo definimos duas categorias (presente e ausente) Na seccedilatildeo seguinte nas

tabelas utilizadas para efeitos de registo de dados a presenccedila de uma dada dimensatildeo seraacute

sinalizada com exemplos de extratos dos documentos analisados

Antes de passar agrave anaacutelise dos documentos selecionados foi necessaacuterio identificar nas

diversas unidades dos Programas de Biologia da 8ordf classe agrave 12ordf classe os conteuacutedos de

Microbiologia que elas incluem a fim de centrar neles a anaacutelise a realizar nos Programas O

resultado dessa identificaccedilatildeo estaacute sintetizado na tabela 1

Tabela 1 Conteuacutedos de Microbiologia presentes nos Programas de Biologia do ESG

Ciclos Classe Unidades Conteuacutedos

1deg ciclo

8ordf Unidade 1 - Tipos de ceacutelula (procarioacutetica e eucarioacutetica)

- Classificaccedilatildeo dos seres vivos em 5 reinos

9ordf Unidade 4 - Importacircncia de fermentaccedilatildeo

Unidade 7 - Organismos no solo

- Organismos decompositores

10ordf Unidade 4 - Processos comuns dentro de um ecossistema

- Ciclo de Nitrogeacutenio

2deg ciclo

11ordf Unidade 1 - Sistemas de classificaccedilatildeo dos seres vivos (breve historial da

sistemaacutetica e sua evoluccedilatildeo)

Unidade 2 - Reino Monera- seres procariotas

26

- Doenccedilas causadas por bacteacuterias (coacutelera tuberculose difteria e

teacutetano) sintomatologia e medidas de prevenccedilatildeo

- Viacuterus e doenccedilas virais (SIDA sarampo varicela variacuteola raiva)

sintomatologia modo de transmissatildeo e profilaxia das doenccedilas

- Reino fungi

12ordf Unidade 3 - Doenccedilas do sistema respiratoacuterio

- Tuberculose

Resultados

A Lei ndeg 692 eacute uma lei geral que se aplica a todo o sistema de ensino Assim as

afirmaccedilotildees que faz embora podendo natildeo se centrar explicitamente agraves ciecircncias tecircm implicaccedilotildees

no seu ensino e aprendizagem Assim a anaacutelise da referida Lei evidenciou a presenccedila de todas as

dimensotildees de contextualizaccedilatildeo consideradas neste estudo com exceccedilatildeo da dimensatildeo histoacuterica

(tabela 2) relativa agrave histoacuteria das ciecircncias Na verdade nesta Lei estaacute explicitado que a escola

deve fomentar a formaccedilatildeo pessoal promover a sua articulaccedilatildeo com a comunidade bem como o

desenvolvimento da sociedade moccedilambicana e os processos de aprendizagem do aluno Aleacutem

disso ao enfatizar que o ensino e a formaccedilatildeo deveratildeo responder agraves exigecircncias de

desenvolvimento do paiacutes embora natildeo seja explicitado infere-se que seraacute necessaacuterio recorrer a

abordagens interdisciplinares pois problemas do mundo real satildeo multidisciplinares

Tabela 2 Evidecircncias da contextualizaccedilatildeo do ensino na Lei do Sistema Nacional de Educaccedilatildeo

Dimensotildees Extrato ilustrativo da dimensatildeo

Quotidiano do aluno ldquohellipLigaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica que se traduz [hellip] na ligaccedilatildeo entre a

escola e a comunidaderdquo (art 2ordmc)

Formaccedilatildeo Pessoal ldquohellipdesenvolvimento da iniciativa criadora da capacidade de estudo

individualldquo (art 2ordm b)

ldquoDesenvolvimento [hellip] da personalidade de uma forma harmoniosa

equilibrada e constante que confira uma formaccedilatildeo integrardquo (art 2ordma)

Interdisciplinaridade ldquohelliporientaccedilatildeo necessaacuteria para realizaccedilatildeo de um ensino e formaccedilatildeo que

respondam aacutes exigecircncias do desenvolvimento do paiacutesrdquo (art 2 e)

Processo de

construccedilatildeo do

conhecimento

ldquoDesenvolvimento [hellip] de assimilaccedilatildeo criacutetica de conhecimentosrdquo (art 2ordf

b)

Histoacuterica ---

Sociocultural ldquohellip a escola participa ativamente na dinamizaccedilatildeo do desenvolvimento

socio-econoacutemico e cultural da comunidaderdquo (art 2ordm e)

De igual modo o Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio Geral apresenta evidecircncias da

presenccedila de todas as dimensotildees de contextualizaccedilatildeo consideradas neste estudo com exceccedilatildeo da

dimensatildeo histoacuterica (tabela 3) nos dois ciclos do ESG No entanto embora na tabela 3 sejam

27

apresentadas evidecircncias para os dois ciclos separadamente a anaacutelise efetuada natildeo permite

ajuizar sobre a intensidade relativa proposta para a contextualizaccedilatildeo em cada um desses dois

ciclos do ESG em geral nem na disciplina de Biologia em particular Para isso seria necessaacuterio

realizar uma anaacutelise mais profunda do documento em causa

Contudo vale a pena realccedilar a importacircncia da valorizaccedilatildeo da contextualizaccedilatildeo no Plano

Curricular nos dois ciclos pois ela pode contribuir para que a contextualizaccedilatildeo do ensino seja

tambeacutem valorizada nos correspondentes Programas designadamente nos de Biologia e

aceitando os argumentos de Lopes (2002) aumente a probabilidade de esta disciplina e os

conteuacutedos a ela associados serem relevantes para os alunos

Tabela 3 Evidecircncias da contextualizaccedilatildeo do enino no Plano Curricular do ESG

Ciclos Dimensotildees Extrato ilustrativo da dimensatildeo

1deg Ciclo Quotidiano do aluno ldquoAplicar os conhecimentos adquiridos e as tecnologias a

eles associados na soluccedilatildeo de problemas da sua famiacutelia e

da

Comunidaderdquo (p20)

ldquohellip aplicar os conhecimentos na resoluccedilatildeo de problemas

especiacuteficos quer da disciplina quer da vida praacutetica

socialrdquo (p44)

Formaccedilatildeo pessoal ldquohellipformaccedilatildeo integral dos alunos promovendo

conhecimentos habilidades e atitudes correctas perante a

natureza e a sociedaderdquo (p20)

ldquohellipser empreendedor criativo criacutetico e auto-confiante ao

desenvolver tarefas ou resolver problemas no ambiente

escolar e fora desterdquo (p20)

Interdisciplinaridade ldquoDesenvolver pequenos trabalhos de pesquisahelliprdquo (p20)

Processo de

construccedilatildeo do

conhecimento

rdquoUsar estrateacutegias de aprendizagem adequadas nas

diferentes aacutereas de estudordquo (p20)

ldquoContribuir para a compreensatildeo cientiacutefica do mundo

atraveacutes da utilizaccedilatildeo dos conhecimentos bioloacutegicosrdquo

(p44)

Histoacuterica ---

Sociocultural ldquoReconhecer a diversidade cultural do paiacutes incluindo a

linguiacutestica religiosa e poliacutetica aceitando e respeitando

os membros dos grupos distintos do seu desenvolvendo

acccedilotildees concretas que visam o respeito a preservaccedilatildeo do

patrimoacutenio culturalrdquo (p20)

2deg Ciclo Quotidiano do aluno ldquoAplique as teacutecnicas de conservaccedilatildeo do ambiente na

comunidaderdquo (p57)

Formaccedilatildeo Pessoal ldquoValorize a importacircncia dos avanccedilos da ciecircncia bioloacutegica

e suas implicaccedilotildees na sociedaderdquo (p58)

ldquoDemonstre haacutebitos correctos de convivecircncia e conduta

28

social responsaacutevelrdquo (p58)

Interdisciplinaridade ldquoRealizar pequenos projectos de pesquisa e investigaccedilatildeo

cientiacutefica na sua aacuterea curricular de opccedilatildeo orientaccedilatildeo ou

adopccedilatildeordquo (p22)

Processo de

construccedilatildeo do

conhecimento

ldquoDesenvolva habilidades estrateacutegias haacutebitos de

investigaccedilatildeo cientiacutefica e comunicaccedilatildeo no ramo da

Biologiardquo (p58)

Histoacuterica ---

Sociocultural ldquohellipdesenvolvendo acccedilotildees concretas que visam a

preservaccedilatildeo do patrimoacutenio culturalrdquo (p22)

No caso dos Programas aleacutem dos conteuacutedos a abordar satildeo apresentadas sugestotildees

metodoloacutegicas para abordagem desses conteuacutedos A anaacutelise recaiu por isso nas propostas

metodoloacutegicas apresentadas para a abordagem dos conteuacutedos elencados na tabela 1 Foi

identificada a presenccedila de quatro das seis dimensotildees de contextualizaccedilatildeo consideradas neste

trabalho (tabela 4) Natildeo se encontraram evidecircncias da dimensatildeo ldquointerdisciplinaridaderdquo e

ldquosocioculturalrdquo embora os conteuacutedos em que se centrou a anaacutelise tenham relaccedilatildeo com conteuacutedos

de outras disciplinas (por ex quiacutemica e geografia) e possam ser relacionados com praacuteticas

sociais eou culturais como acontece no caso de doenccedilas cujo tratamento em algumas

comunidades eacute feito com o apoio de meacutedicos tradicionais

Tabela 4 Evidecircncias da contextualizaccedilatildeo dos conteuacutedos de Microbiologia nos Programas de

Biologia do ESG

Classe Dimensotildees de

contextualizaccedilatildeo

Extrato ilustrativo da dimensatildeo

8ordf

Histoacuteria das

ciecircncias

ldquohellipsistema actual de classificaccedilatildeo que distribui os seres vivos em cinco

grandes reinos e que foi idealizado por R H Whittaker em 1969rdquo (p16)

Formaccedilatildeo Pessoal

ldquoAs excursotildees previstas nos programas as actividades praacuteticas devem ser

utilizadas pelo professor para permitir que o aluno reconheccedila a importacircncia

desta ciecircncia despertando nele a responsabilidade para com a comunidade

e sociedaderdquo (p16)

Processo de

construccedilatildeo do

conhecimento

ldquohellip os alunos deveratildeo elaborar uma grelha que contenha algumas

caracteriacutesticas dos seres vivos dos diferentes reinos Em plenaacuteria os

grupos apresentam os resultados seguidos de discussatildeordquo (p18)

9ordf

Quotidiano do

aluno

ldquoOs alunos em grupos podem visitar uma faacutebrica de produccedilatildeo d bebidas

alcooacutelicas de produccedilatildeo de lacticiacutenios ou uma padariardquo (p29)

Formaccedilatildeo Pessoal ldquoOs alunos devem consultar literatura variada revistas e jornais procurar

informaccedilatildeo junto dos pais ou encarregados de educaccedilatildeo sobre como se

produz determinados alimentos a niacutevel familiar usando o processo de

29

fermentaccedilatildeordquo (p29)

Processo de

construccedilatildeo do

conhecimento

ldquoAs visitas de estudo tecircm como finalidade observar os diferentes processos

de fermentaccedilatildeo criar no aluno o gosto pelo trabalho entrar em contacto

com o equipamento e dialogar com os funcionaacuterios destas unidades de

produccedilatildeordquo (p29)

ldquoOs alunos sob a orientaccedilatildeo do professor poderatildeo realizar uma excursatildeo

aos campos ou hortas escolares onde poderatildeo ver o solo [hellip] a apreciaccedilatildeo

dos horizontes do solo e recolher algumas amostras para o estudo na sala

de aulasrdquo (p36)

10ordf Quotidiano do

aluno

ldquohellip os alunos investiguem problemas ambientais na sua comunidadehelliprdquo

(p29)

ldquohellipexcursotildees para locais que sofreram efeitos nocivos do

ambientehelliprdquo(p29)

Processo de

construccedilatildeo do

conhecimento

ldquoOs alunos podem fazer propostas para a soluccedilatildeo de problemas

relacionados com a poluiccedilatildeo de diferentes meiosrdquo (p29)

ldquohellip os alunos [propotildeem] soluccedilotildees inovadoras para os problemas

identificadosrdquo (p29)

11ordf

Histoacuteria das

ciecircncias

ldquoOs alunos devem entender que com o desenvolvimento da ciecircncia os

estudos sobre os agrupamentos dos seres vivos evoluiacuteramrdquo (p17)

Quotidiano do

aluno

ldquohellipseria importante que os alunos pesquisassem as doenccedilas mais comuns

na sua comunidaderdquo (p22)

Formaccedilatildeo Pessoal

ldquoAs investigaccedilotildees mais profundas das caracteriacutesticas dos organismos

incluindo as substacircncias geneacuteticas e bioquiacutemicas em geral evoluiacuteram na

aacuterea cientiacutefica permitindo a possibilidade do surgimento de novos

agrupamentos das espeacuteciesrdquo (p17)

Processo de

construccedilatildeo do

conhecimento

ldquoEacute importante que os alunos diferenciem as caracteriacutesticas gerais de cada

um dos reinos estudados agrupem os seres de acordo com os filos e

classes de cada um dos reinosrdquo (p22)

ldquohellip sugere-se que o professor decirc um trabalho de investigaccedilatildeo aos alunos

sobre as doenccedilas causadas pelos diferentes organismos estudados por

exemplo os causadores da tuberculose coacutelera teacutetano HIV-SIDA etchelliprdquo

(p17)

12ordf Quotidiano do

aluno

ldquohellipdar possibilidades aos alunos para aplicarem os conhecimentos

relacionados com a vida diaacuteriardquo (p 31)

No caso da 12ordf classe apesar de o respetivo programa incluir conteuacutedos de Microbiologia

(doenccedilas respiratoacuterias por exemplo a tuberculose causada por bacteacuteria da espeacutecie

Mycobacterium tuberculose ou Bacilos de Koch) natildeo foram nele identificadas propostas

metodoloacutegicas especificas promotoras da contextualizaccedilatildeo dos referidos conteuacutedos A

tuberculose eacute uma doenccedila ainda algo preocupante em Moccedilambique pelo que o programa deveria

sugerir uma metodologia para leccionaccedilatildeo desse conteuacutedo que fomentasse a sua relaccedilatildeo com o

quotidiano e as condiccedilotildees de vida de modo a natildeo soacute contribuir para a compreensatildeo das causas

30

da referida doenccedila e de formas de reduzir o risco de a contrair mas tambeacutem de tornar o conteuacutedo

em causa mais relevante para os alunos

Comparando os resultados obtidos neste estudo com os alcanccedilados por Kato e Kawasaki

(2011) referidos na fundamentaccedilatildeo teoacuterica constata-se que os curriacuteculos moccedilambicanos

fomentam a contextualizaccedilatildeo do ensino da Microbiologia tal como os curriacuteculos brasileiros

analisados por aqueles autores fomentam a contextualizaccedilatildeo do ensino da Biologia

Conclusotildees

A anaacutelise dos documentos que regem o ensino em Moccedilambique que aqui apresentaacutemos eacute

uma anaacutelise exploratoacuteria que se centra apenas em alguns dos aspetos que os compotildeem No

entanto essa anaacutelise sugere que os documentos em causa atribuem alguma relevacircncia ao ensino

contextualizado das ciecircncias em geral e dos conteuacutedos de Microbiologia em particular Na

verdade no conjunto de documentos analisados foram encontradas evidecircncias de todas as

dimensotildees de anaacutelise consideradas embora a dimensatildeo histoacuterica esteja ausente da Lei 692 e do

Plano Curricular dois documentos orientadores importantes de que dependem os Programas

Estes resultados satildeo concordantes com os obtidos por Kato e Kawasaki (2011) atraveacutes da anaacutelise

de documentos curriculares brasileiros dado que tambeacutem estes autores constaram a presenccedila

nesses documentos de uma variedade de formas de contextualizaccedilatildeo

A valorizaccedilatildeo da contextualizaccedilatildeo por parte dos documentos em anaacutelise eacute importante na

medida que pode influenciar quer os autores de manuais escolares quer os professores de

Biologia levando-os a adoptar metodologias de ensino capazes de ajudar os alunos a dar

significado agrave aprendizagem de conteuacutedos de Microbiologia que embora sendo relevantes para o

cidadatildeo comum podem natildeo ser facilmente percebidos como tal Aleacutem disso poderatildeo cativar os

alunos apresentando-lhes uma Biologia mais interessante e capaz de contribuir para uma

educaccedilatildeo em ciecircncias para a cidadania o que teraacute implicaccedilotildees positivas ao longo da vida dos

alunos

Finalmente conveacutem salientar que o facto de os documentos orientadores recomendarem

mais ou menos implicitamente a contextualizaccedilatildeo natildeo garante que ela eacute feita na sala de aulas

pois a concretizaccedilatildeo a esse niacutevel depende muito por um lado do modo como os manuais

escolares se apropriam dessas recomendaccedilotildees e por outro lado da formaccedilatildeo dos professores da

dependecircncia que eles tiverem face aos manuais escolares da importacircncia que atribuiacuterem agrave

questatildeo da contextualizaccedilatildeo e da sua capacidade para ensinarem ciecircncias a partir de contextos

reais

31

Agradecimentos

A segunda autora agradece ao CIEd - Centro de Investigaccedilatildeo em Educaccedilatildeo do Instituto de

Educaccedilatildeo da UMinho (UIDCED016612013) que financiou parcialmente este trabalho com

verbas nacionais

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33

Actividades laboratoriais no ensino das Ciecircncias um estudo com os livros escolares

e professores de Biologia da 8ordf classe das escolas da Cidade de Maputo12

Agnes Clotilde Novela13

Resumo

O ensino das Ciecircncias Naturais tem levado ao surgimento de muitas pesquisas no que concerne as suas

metodologias que devem ser diferentes de outras disciplinas A presente pesquisa tem como principal

objectivo analisar as caracteriacutesticas das Actividades Laboratoriais (ALs) propostas pelos livros escolares

de Biologia da 8ordf Classe as concepccedilotildees e as representaccedilotildees praacuteticas dos professores sobre a importacircncia e

utilizaccedilatildeo destas actividades no ensino da Biologia Nesta pesquisa foram desenvolvidos dois estudos um

estudo com os livros escolares de Biologia da 8ordf classe e o outro com os professores de Biologia da 8ordf

classe de algumas escolas da cidade de Maputo sobre as suas concepccedilotildees atitudes e praacuteticas em relaccedilatildeo

as ALs Constatou-se que nos trecircs livros analisados aparecem com maior frequecircncia as actividades

ilustrativas e algumas orientadas para a determinaccedilatildeo do que acontece e concentradas na unidade

temaacutetica ldquoMetabolismo do Organismo Humanordquo Todos os professores reconhecem a importacircncia das

ALs Conclui-se que o tipo de ALs proposto pelos livros analisados em uso nas escolas e as atitudes e

praacuteticas dos professores de Biologia natildeo se relacionam com as perspectivas defendidas para o uso do

laboratoacuterio no ensino das Ciecircncias

Palavras chave Livros escolares Actividades Laboratoriais Ensino de CiecircnciasBiologia

Abstract

The teaching of the Natural Sciences has led to the emergence of many researches regarding their

methodologies which must be different from other disciplines The present research has as main

objective to analyse the characteristics of the Laboratory Activities (LAs) proposed by the grade 8

Biology textbooks the conceptions and practical representations of the teachers about the importance and

use of these activities in Biology Teaching In this research two studies were developed a study with

grade 8 biology school textbooks and the other with 8th grade biology teachers from some schools in the

city of Maputo about their conceptions attitudes and practices regarding ALs It was found that in the

three books analysed the illustrative activities are more often shown and some are oriented towards the

determination of what happens and are concentrated in the thematic unit Metabolism of the Human

Organism All teachers recognize the importance of LAs It is concluded that the type of LAs proposed

by the analysed books of use in the schools the attitudes and practices of the teachers of Biology are not

related to the perspectives defended for the use of the laboratory in the teaching of Sciences

Keywords School books Laboratory Activities Teaching Science Biology

Introduccedilatildeo

A Educaccedilatildeo eacute o sector chave para a continuidade de uma naccedilatildeo Eacute um processo dinacircmico

sujeito a perioacutedicas revisotildees e reformas de seus curriacuteculos com vista natildeo soacute a melhoria da

qualidade do processo ensino-aprendizagem (PEA) (MEC 2012) mas tambeacutem a responder aos

diferentes desafios da sociedade moderna De acordo com Pacheco (2001) a inovaccedilatildeo curricular

estaacute ligada agraves mudanccedilas que contribuem para a transformaccedilatildeo e melhoria do PEA e

12 Este estudo constitui parte da Dissertaccedilatildeo de Mestrado da autora 13 Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de Biologia pela Universidade Pedagoacutegica e Docente na mesma Universidade na

Faculdade de Ciecircncias Naturais e Matemaacutetica Departamento de Biologia

34

consequentemente para a confirmaccedilatildeo do sucesso educativo dos alunos e este sucesso iraacute

reflectir-se na sociedade na sua actuaccedilatildeopara a resoluccedilatildeo dos diversos problemas

O conjunto de ideias plasmadas nos curriacuteculos (teacuteoricos) deve ser traduzido em praacuteticas

escolares (implementaccedilatildeo do curriacuteculo) de acordo com as novas visotildees do PEA e formaccedilatildeo de

um Homem activo na Sociedade Para a concretizaccedilatildeo destas ideias em Ciecircncias Naturais em

geral e particularmente em Biologia eacute necessaacuteria a aplicaccedilatildeo de estrateacutegias metodoloacutegicas

adequadas e especiacuteficas que demonstrem ao aluno a importacircncia das Ciecircncias Naturais na sua

vida Como refere Silva (2011) eacute preciso que se formem jovens seguros de seus conhecimentos

capazes de interligar os conhecimentos adquiridos em sala de aula com o seu quotidiano Um dos

meacutetodos que constitui objecto de estudo na presente investigaccedilatildeo satildeo as Actividades

Laboratorias (ALs)

Com a evoluccedilatildeo das Ciecircncias e com as inovaccedilotildees nos curriacuteculos educacionais em

Moccedilambique tornou-se importante a valorizaccedilatildeo das actividades laboratoriais na aacuterea de

Ciecircncias Naturais (MEC 2009) com vista a desenvolver no aluno as capacidades e habilidades

para a transposiccedilatildeo dos conhecimentos cientiacuteficos adquiridos para a Sociedade

O PEA depende para aleacutem dos recursos humanos (professores) tambeacutem de recursos

materiais tais como o livro escolar que dada a sua importacircncia torna-se indispensaacutevel Desta

forma torna-se relevante a integraccedilatildeo destas actividades nos livros escolares e a sua

consideraccedilatildeo no processo de selecccedilatildeo embora estudo realizado por Frison et al (2009) mostre a

complexidade do processo e exija a definiccedilatildeo de criteacuterios especiacuteficos que daratildeo significacircncia ao

PEA em Ciecircncias

Objectivo geral

Este trabalho tem como principal objectivo analisar as caracteriacutesticas das actividades

laboratoriais propostas pelos livros escolares de Biologia da 8ordf Classe as concepccedilotildees e as

representaccedilotildees praacuteticas dos professores sobre a utilizaccedilatildeo destas actividades no ensino

Revisatildeo da literatura

Actividades Laboratoriais no Ensino de Biologia

Que as ALs motivam os alunos para a aprendizagem eacute uma concepccedilatildeo da maior parte dos

intervenientes do PEA que justificam as suas praacuteticas e a tipologia das ALs desenvolvidas em

muitas escolas Com estas ou outras concepccedilotildees sobre o papel das ALs no PEA eacute inegaacutevel a

utilizaccedilatildeo de ALs no ensino das Ciecircncias e para Figueiroa (2001) o laboratoacuterio apresenta-se

35

como um ambiente que garante uma maior interacccedilatildeo entre os alunos sentindo-se incentivados a

aprender com base em desafios que lhes satildeo colocados Este caraacutecter das ALs facilita a

concretizaccedilatildeo de uma perspectiva construtivista do ensino e da aprendizagem (Dourado 2005)

Acredita-se que as ALs como um meacutetodo de ensino das Ciecircncias Naturais poderatildeo

contribuir para a melhor compreensatildeo dos processos bioloacutegicos por parte dos alunos podendo

proporcionar a aquisiccedilatildeo de teacutecnicas laboratoriais melhoramento da sua compreensatildeo acerca dos

conceitos cientiacuteficos considerando tambeacutem o aspecto motivacional (Rosito 2000)

Na disciplina de Biologia tal como acontece nas outras de Ciecircncias Naturais do Ensino

Secundaacuterio as ALs satildeo na maioria das vezes desenvolvidas apenas para a confirmaccedilatildeo de teorias

e leis expostas pelo professor e poucas vezes como via para a construccedilatildeo de um novo

conhecimento por parte dos alunos (Borges 2002) Ainda de acordo com Borges (2002) o que

falta nos professores de Biologia eacute a definiccedilatildeo de objectivos claros ao escolherem ALs para

realizarem com seus alunos Todo tipo de AL realizada pode desempenhar um papel importante

na aprendizagem desde que os objectivos da realizaccedilatildeo da mesma sejam claramente definidos

pelo professor

Vaacuterias ALs desenvolvidas durante as aulas na 8ordf classe visam a determinaccedilatildeo do que

acontece e natildeo como acontece (Leite 2006) realizadas em funccedilatildeo de um conteuacutedo jaacute abordado

teoricamente Para todas ALs independentemente do tipo de conteuacutedo abordado haacute sempre um

guiatildeo do tipo ldquoreceitardquo que o professor orienta os seus alunos a segui-lo ou ele proacuteprio segue em

caso de demonstraccedilotildees Borges (2002) defende a organizaccedilatildeo de ALs de uma forma mais aberta

sem nenhuma imposiccedilatildeo do que o aluno deve ou natildeo fazer garantindo deste modo o espiacuterito

investigativo

Os livros escolares de Biologia

O livro escolar (termo muito usado em Moccedilambique) tambeacutem chamado Manual escolar

(Figueiroa 2001 Sousa 2009) ou ainda Livro Didaacutectico (Nuntildeez et al 2003 Xavier et al 2006

Neto amp Flacalanza 2003 Vasconselos e Souto 2003) eacute o principal recurso de que o professor

dispotildee para a orientaccedilatildeo das suas actividades de ensino (Nuntildeez et al 2003) e um elemento

influenciador de todo PEA principalmente da praacutetica docente pois continua prevalecendo como

o principal instrumento de trabalho do professor (Figueiroa 2001 Leite 2006)

Os especialistas em educaccedilatildeo de quase todos os paiacuteses do mundo reconhecem que o livro

escolar eacute o meio didaacutectico mais utilizado (Figueiroa 2001) sendo que as suas caracteriacutesticas

podem dificultar ou facilitar a aprendizagem dos alunos (Silva 2001) Eacute um facto inegaacutevel a

36

ligaccedilatildeo entre os livros escolares e o PEA existindo na mente de muitas pessoas a

impossibilidade de ensinar e de aprender sem o livro escolar pois eacute neste instrumento em que os

professores e alunos encontram alguma seguranccedila no que ensinam e no que aprendem

respectivamente (Pereira 2010) Embora natildeo existam no nosso paiacutes investigaccedilotildees notaacuteveis

ligadas agrave utilizaccedilatildeo dos livros escolares investigadores de outras partes do mundo consideram o

livro escolar o principal determinante da natureza da actividade cientiacutefica desenvolvida na sala

de aula

Em Moccedilambique os livros escolares de todas as disciplinas curriculares do Ensino

Secundaacuterio Geral satildeo produzidos por autores convidados pelas diferentes editoras existentes no

paiacutes Estes livros produzidos satildeo submetidos agrave Comissatildeo de Avaliaccedilatildeo do Livro Escolar (CALE)

do MINEDH (Ministeacuterio da Educaccedilao e Desenvolvimento Humano) onde satildeo avaliados de

acordo com o Artigo 5 (Aacutereas e Criteacuterios de Avaliaccedilatildeo) do Regulamento de avaliaccedilatildeo dos Livros

Escolares Constituem as aacutereas de avaliaccedilatildeo as seguintes

a) Curriculum e conteuacutedo

b) Abordagem Metodoloacutegica e Liacutengua

c) Valores e Questotildees Transversais

d) Estrutura e Organizaccedilatildeo

Os criteacuterios de avaliaccedilatildeo estatildeo definidos no Formulaacuterio de Avaliaccedilatildeo aprovado pelo

Ministro da Educaccedilatildeo Uma vez aprovados os livros satildeo colocados agrave disposiccedilatildeo dos professores

para que estes faccedilam a sua avaliaccedilatildeo entretanto esta avaliaccedilatildeo difere de escola para escola natildeo

soacute pela sua realidade contextual mas pelo ponto de vista dos professores e pelas suas

perspectivas no ensino da disciplina de Biologia De acordo com esta realidade cada grupo de

professores da disciplina em diferentes escolas optam por umuns podendo desta maneira

adoptar mais do que um livro para a mesma disciplina

Em Moccedilambique a utilidade e importacircncia dada ao livro de Biologia natildeo difere dos livros

de outras disciplinas O livro de Biologia destinado ao aluno eacute fonte de conteuacutedos ldquofieacuteisrdquo aos

programas de ensino havendo muitas vezes inserccedilatildeo de figuras imagens representaccedilotildees

bioloacutegicas e questionaacuterios relacionados com os diversos conteuacutedos Entretanto Vasconcelos amp

Souto (2003) referem que os livros de Ciecircncias tecircm uma funccedilatildeo que os difere dos demais

estimulando a anaacutelise de fenoacutemenos o teste de hipoacuteteses e a formulaccedilatildeo de conclusotildees

De acordo com Nuntildeez et al (2003) os livros escolares devem responder agraves exigecircncias

actuais da educaccedilatildeo passando desta forma a ser um instrumento que promove a capacidade de

resoluccedilatildeo de problemas e o desenvolvimento de competecircncias Havendo necessidade de

37

desenvolver actividades laboratoriais ou de outro tipo os livros escolares tornam-se a fonte das

mesmas de modo que o aluno possa ter um instrumento que lhe oriente em caso de

desenvolvimento destas actividades mesmo na ausecircncia do professor Ademais o livro do aluno

deve ser um instrumento capaz de promover a reflexatildeo sobre os muacuteltiplos aspectos da realidade e

estimular a capacidade investigativa do aluno para que ele assuma a condiccedilatildeo de agente

construtor do seu proacuteprio conhecimento (Vasconcelos e Souto 2003)

Metodologia

A pesquisa envolveu dois estudos Um com os livros escolares de Biologia da 8ordf classe e o

outro com os professores da mesma disciplina e classe das escolas da cidade de Maputo O

primeiro estudo consistiu em trecircs etapas

1ordf Levantamento dos livros escolares de Biologia da 8ordf classe mais usados nas

escolas

Foram seleccionados trecircs livros de Biologia da 8ordf classe a saber

Livro A (Plural Editores Laurinda Joseacute Titoce e PedroAlberto Cossa) Biologia 8ordf

Classe

Livro B (Texto Editores Cristina Loforte) B8 Biologia 8ordf Classe

Livro C (Editora Longman Antoacutenio da Costa Diakos e Ivaldo Quincardete) Saber

Biologia

2ordf Verificaccedilatildeo de ALs nas diferentes unidades didaacutecticas nos livros em estudo

Foram analisados os trecircs livros seleccionados e verificou-se que em cada unidade temaacutetica

existem actividades laboratoriais propostas

3ordf Anaacutelise das actividades laboratoriais propostas pelos livros por unidade didaacutectica

Esta fase consistiu numa anaacutelise exaustiva e incidiu sobre as caracteriacutesticas (tipologia) dos

protocolosguiotildees e do nuacutemero de actividades propostas em cada unidade

Como forma de dar mais ecircnfase e relevacircncia a pesquisa fez-se ainda uma anaacutelise

comparativa entre os livros de Biologia quanto ao nuacutemero de propostas em cada unidade e agrave

tipologia

Os paracircmetros de anaacutelise dos protocolos satildeo os propostos por Leite e Coelho (1997)

Figueiroa (2001) Sousa (2009) centrando-se em dois aspectos

38

1ordm O principal objectivo que a AL permite atingir o qual conduziraacute agrave definiccedilatildeo do tipo de

ALs proposto

2ordmO niacutevel de abertura da AL O qual informa acerca do envolvimento procedimental e

conceptual que a AL exige do aluno

No estudo feito com os professores de Biologia na 8ordf classe participaram 14 professores de

7 escolas secundaacuterias da cidade de Maputo nomeadamente Josina Machel Francisco

Manyanga Coleacutegio Kitabu Zedeguias Manganhela Malhazine Laulane e Quisse Mavota para

as quais foram atribuiacutedos os coacutedigos K J F Z M L e Q respectivamente Da amostra (que

corresponde ao universo dos professores de Biologia 8ordf classe nas escolas seleccionadas) 8

professores satildeo Licenciados em Ensino de Quiacutemica-Biologia (cursos bivalentes oferecidos desde

a criaccedilatildeo da UP ateacute 2004) quatro (4) Licenciados em Ensino de Biologia um (1) Licenciado em

Veterinaacuteria mas com a formaccedilatildeo em docecircncia para Biologia e Quiacutemica um (1) com o niacutevel

baacutesico

Resultados e discussatildeo

Anaacutelise das ALs propostas pelos livros escolares de Biologia da 8ordf classe

Todos os livros analisados estatildeo estruturados em unidades temaacuteticas previstas no programa

de ensino da 8ordf Classe

ALs nas diferentes Unidades Didaacuteticas

Os livros de Biologia analisados apresentam propostas de ALs embora em nuacutemero

reduzido Dos resultados encontrados nenhum dos trecircs livros apresenta proposta de ALs na

unidade 1 (Biologia como Ciecircncia) e na unidade 5 (Reproduccedilatildeo e Sauacutede Sexual) A Unidade 3 eacute

que possui um nuacutemero relativamente maior de propostas de ALs poreacutem todas as actividades

estatildeo relacionadas com o toacutepico que aborda conteuacutedos sobre a ldquoComposiccedilatildeo dos Alimentosrdquo

Contudo este nuacutemero eacute insignificante olhando para o nuacutemero de conteuacutedos temaacuteticos que a

unidade apresenta

De acordo com os programas de ensino a unidade I (Biologia como Ciecircncia) aborda

assuntos relacionados com os seres vivos desde o meacutetodo de estudo da ceacutelula com vaacuterios

conteuacutedos ateacute agrave importacircncia da Biologia para a sociedade poreacutem nenhuma AL eacute proposta

sobre estes assuntos Resultados encontrados por Goldbach (2009) num estudo com livros de

Biologia do ensino meacutedio mostram por um lado que a maior parte apresenta um nuacutemero baixo

39

de actividades laboratoriais e por outro lado a ausecircncia de propostas de AL em determinadas

unidades temaacuteticas Este eacute um facto tambeacutem observado por Figueiroa (2001) em seu estudo com

livros escolares de Ciecircncias Naturais

Existe uma fraqueza numeacuterica muito maior de ALs no livro A em relaccedilatildeo aos outros dois

(B e C) por unidade O livro B apresenta um nuacutemero relativamente maior de propostas na 3ordf

unidade didaacutectica distribuiacutedas pelos diferentes conteuacutedos temaacuteticos Estes dois livros

apresentam ainda uma proposta de actividade na unidade didaacutectica 4 (Sensibilidade e regulaccedilatildeo)

contrariamente ao livro A A desigualdade no que concerne a frequecircncia das ALs nos diferentes

livros analisados eacute um resultado obtido por Figueiroa (2001) e por Sousa (2009) em seus

estudos com manuais de Ciecircncias Fiacutesico-Quiacutemicas

Tipos de ALs propostas pelos livros escolares

Para a classificaccedilatildeo das ALs propostas pelos livros tomou-se como base a classificaccedilatildeo de

Silva amp Leite (1997) tambeacutem adoptada por Leite (2001) Figueiroa (2001 e Sousa (2009) Estes

autores agrupam as ALs de acordo com os objectivos a serem alcanccedilados em seis tipos

exerciacutecios actividades para a aquisiccedilatildeo de sensibilidade acerca dos fenoacutemenos ilustrativas

orientadas para determinaccedilatildeo do que acontece e Prevecirc-Observa-Explica-Reflecte (com ou sem

procedimentos apresentados) A tabela abaixo mostra os diferentes tipos de ALs existentes nos

livros analisados

Tabela 1 Tipos de ALs por livro analisado

Tipo de Actividade Manual

A B C

Investigaccedilatildeo - - -

Prevecirc-Observa-Explica-Reflecte - -

Actividades orientadas para determinaccedilatildeo do que acontece 2

Actividades ilustrativas 1 5 5

Exerciacutecio - - -

Actividades para aquisiccedilatildeo de sensibilidade acerca dos

fenoacutemenos

1 1

Da tabela 1 pode-se verificar que os livros de Biologia em uso nas escolas apresentam

quase sempre propostas de ALs do tipo ilustrativas e orientadas para a determinaccedilatildeo do que

acontece verificando-se ausecircncia de outros tipos de actividades Resultados similares foram

encontrados por Figueiroa (2001) em seu estudo com manuais escolares de Ciecircncias da

40

Natureza do 5ordm ano de escolaridade De acordo com a mesma autora estas actividades apesar de

terem a vantagem de dar aos alunos uma sensaccedilatildeo de descoberta eacute bom ter-se em mente que ao

realizar-se actividades deste tipo o aluno natildeo estaacute a fazer uma descoberta cientiacutefica e natildeo estaacute

aprender a trabalhar como cientista Este eacute um tipo de actividade que visa a construccedilatildeo do

conhecimento conceptual e natildeo garante ao aluno nehuma autonomia nem habilidades na

execuccedilatildeo e manipulaccedilatildeo de instrumentos pois limita-se a seguir o que estaacute descrito nos

procedimentos da actividade proposta Muitos investigadores tecircm criticado os livros escolares

que propotildeem ALs acompanhadas de um guiatildeo de procedimentos do tipo ldquoreceita de cozinhardquo

para determinaccedilatildeo do que acontece pois em nada contribuem para a promoccedilatildeo de atitudes

cientiacuteficas Este tipo de actividades eacute segundo autores como Reis (1996) e Leite (2001)

responsaacutevel pela incompatibilidade entre as mesmas e os objectivos preconizados pelos actuais

curriacuteculos de Ciecircncias

Desta maneira os livros de Biologia da 8ordf classe em uso estatildeo longe de alcanccedilar um dos

objectivos da reforma curricular do Ensino Secundaacuterio Geral que eacute o desenvolvimento de

competecircncias2

No ESG1 a aprendizagem da Biologia visa desenvolver habilidades nos alunos

que lhes permitam aplicar os conhecimentos na resoluccedilatildeo de problemas

especiacuteficos quer da disciplina quer da vida social mediante observaccedilotildees

realizaccedilatildeo de experiecircncias excursotildees manipulaccedilatildeo de instrumentos (MEC

2007 p 44)

Resultado das entrevistas aos professores de Biologia das Escolas Secundaacuterias da

Cidade de Maputo

Concepccedilotildees dos professores em relaccedilatildeo as ALs

Relativamente agraves concepccedilotildees dos professores sobre as ALs os resultados mostram uma

diversidade de concepccedilotildees em relaccedilatildeo a importacircncia das ALs no ensino dos conteuacutedos de

Biologia entre os professores entrevistados Podemos constatar que 6 professores (Z2 F2 F3

L1 L2 e Q) consideram as ALs importantes pois estas melhoram a compreensatildeo dos conteuacutedos

Resultados similares foram encontrados por Dourado (2005) em seu estudo com professores

estagiaacuterios de Biologia e Geologia em Portugal onde estes apontam como razotildees da

implementaccedilatildeo das ALs o aumento do niacutevel de compreensatildeo dos conteuacutedos pelos alunos

Trecircs professores (M1 M2 e Q) referiram-se ao caraacutecter motivador das ALs Estudos de

autores como Camuendo (2006 e Sousa (2009) relacionados com a ALs no PEA mostram que

estas tecircm um caraacutecter motivador pelo simples facto de o aluno sair da sala de aulas normal para

41

um laboratoacuterio despertando-lhe curiosidade e interesse em querer perceber o que eacute e como eacute

feito Eacute motivador ainda pelo facto do aluno sentir-se ldquolivrerdquo pois pode manipular e questionar

sobre a actividade que executa

A realidade do nosso paiacutes confirmada em certa medida com os resultados do presente

estudo mostra que satildeo muito poucos os professores que desenvolvem ALs no PEA fazendo com

que o aluno passe por vaacuterios anos de escolaridade sem nunca ter entrado num laboratoacuterio ou

visto a demonstraccedilatildeo de alguma actividade Assim sendo independemente do tipo de actividade

que o aluno desenvolve este fica motivado pelo facto de algumas se natildeo muitas vezes tornar-se

uma novidade este meacutetodo de aprendizagem de processos e fenoacutemenos naturais

A realidade descrita eacute mais notoacuteria em escolas puacuteblicas (natildeo apenas as envolvidas no

estudo) Em algumas escolas privadas do nosso paiacutes como eacute o caso de uma envolvida no

presente estudo (Escola K) torna-se ldquoobrigatoacuteriordquoque o professor realize com os seus alunos

actividades praacuteticas quer laboratoriais ou de outro tipo A grande maioria das escolas puacuteblicas

mesmo com laboratoacuterios concebidos estes natildeo satildeo utilizados por vaacuterios factores e natildeo por falta

de professores qualificados pois estes professores satildeo os mesmos que trabalham em escolas

privdas

A importacircncia e o impacto das ALs no PEA satildeo claros para muitos professores de Ciecircncias

Naturais poreacutem a realidade escolar de um lado e as atitudes dos professores de outro fazem

com que a componente praacutetico-laboratorial natildeo se desenvolva tornando assim o ensino das

Ciecircncias Naturais igual ao ensino de Literatura ou de Ciecircncias Sociais Galiazzi et al (2001) e

Gil Perez et al (2002) afirmam que as actividades experimentais embora aconteccedilam pouco nas

salas de aula satildeo apontadas como a soluccedilatildeo que precisaria de ser implementada para a tatildeo

esperada melhoria no ensino de Ciecircncias

Uma outra questatildeo colocada nesta secccedilatildeo esteve relacionada com a existecircncia ou natildeo de

uma forma ideal de usar as ALs em que a maior parte dos professores limitou-se em ldquogesticularrdquo

(difiacutecil de interpretar por uma entrevista) um pequeno sorriso natildeo tendo dito nada poreacutem dois

professores responderam o seguinte

P1 FldquoNo horaacuterio devia-se colocar um dia de praacuteticasrdquo

P2 K ldquoA forma ideal de usar as ALs tecircm a ver com o seu

enquadramento portanto as ALs devem ser bem enquadradas nos

respectivos conteuacutedos teoacutericos

A atitude dos restantes professores face agrave questatildeo ligada a existecircncia de uma forma ideal

de usar as ALs mostra que estas natildeo satildeo as pessoas indicadas para responderem agrave esta questatildeo

42

pois satildeo professores que natildeo desenvolvem ou nunca reflectiram sobre o assunto levantado nesta

pesquisa

Resultados obtidos por Sousa (2009) em seu estudo com professores de Fiacutesica e Quiacutemica

mostram que estes referem que natildeo existe uma forma ideal de usar as ALs poreacutem um dos

envlvidos no estudo apontou que estas devem estar de acordo com as aulas teoacutericas Esta uacuteltima

opiniatildeo relaciona-se com a segunda resposta obtida no presente estudo em que para este

professor a forma ideal seria o bom enquadramento das ALs

Borges (2002) afirma que eacute necessaacuterio aliar sempre a teoria e a praacutetica criando uma

relaccedilatildeo entre estas duas componentes de forma que se garanta a integraccedilatildeo dos conhecimentos

tanto teoacutericos assim como praacuteticos pelos alunos

Um dos professores (P1F) referiu que para ele a forma ideal seria a organizaccedilatildeo do

horaacuterio semanal de forma a que se reservasse um dia para aulas praacuteticaslaboratoriais Sendo a

reduzida carga horaacuteria na disciplina de Biologia um factor pelo qual alguns professores

justificam a natildeo realizaccedilatildeo das ALs era de se esperar que este tipo de resposta surgisse embora

natildeo relevante para o objectivo da questatildeo colocada

Um outro professor (P2K) considera como forma ideal de usar as ALs o seu

enquadramento nos conteuacutedos abordados Esta ideia foi encontrada por Dourado (2005) em seu

estudo com os professores estagiaacuterios em que do grupo de professores envolvidos um afirmou

natildeo ter implementado ALs durante o estaacutegio por natildeo ter conseguido adequar a nenhum dos

conteuacutedos abordados

Estas concepccedilotildees demonstram a existecircncia de uma linha fixa no desenvolvimento de ALs

pelos professores em que estas satildeo usadas para a confirmaccedilatildeo do que foi abordado teoricamente

e nunca para o desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas e do skill cognitivo Resultados

relacionados foram obtidos por Leite e Esteves (2005) em seu estudo com estudantes de

graduaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores em que apresentam como proposta para a

melhor compreensatildeo das evidecircncias de uma determinada AL pelos alunos ensinar o conteuacutedo

cientiacutefico correspondente antes de entrar na actividade Este meacutetodo impede ao aluno de

desenvolver a capacidade de interpretaccedilatildeo de factos e de retirar as suas proacuteprias conclusotildees sobre

determinados fenoacutemenos ou processos

43

Representaccedilotildees sobre as praacuteticas dos professores relativamente agraves Actividades

Laboratoriais

Nesta secccedilatildeo foi nossa intenccedilatildeo conhecer as praacuteticas dos professores relativamente agraves ALs

especificamente com o intuito de saber se as Als satildeo desenvolvidas na sala de aula bem como a

frequecircncia com que elas satildeo desenvolvidas Foi ainda de interesse nesta secccedilatildeo saber com que

objectivos os professores desenvolvem as ALs nas suas aulas e que material editorial serve de

apoio para a preparaccedilatildeo das mesmas assim como a sua tipologia e o momento de abordagem dos

conteuacutedos em que satildeo desenvolvidadas

Em relaccedilatildeo agrave primeira questatildeo ligada ao uso de ALs nas aulas oito (8) professores

afirmaram que natildeo usam por razotildees comofalta de laboratoacuterio de materiais e de tempo Somente

cinco (5) dos professores das escolas K M e Q afirmaram que sim

A falta de laboratoacuterio indicada como razatildeo para a natildeo realizaccedilatildeo das ALs natildeo eacute real pois

duas delas (J e F) tecircm salas concebidas para laboratoacuterio poreacutem natildeo satildeo usados mantendo-os

fechados alegando a falta de teacutecnicos para a gestatildeo dos mesmos Gonccedilalves e Marques (2006)

em seus estudos sobre a actividade praacutetico-experimental no Brasil mostram que os professores

revelam-se pouco satisfeitos em geral com as condiccedilotildees infra-estruturais (laboratoacuterios) de suas

escolas pincipalmente aqueles que actuam em escolas puacuteblicas justificando desta forma o natildeo

desenvolvimento de actividades laboratoriais

Agraves perguntas subsequentes desta secccedilatildeo apenas responderam os mesmos professores que

disseram ldquosimrdquo agrave primeira pois dela dependiam as outras que satildeo a frequecircncia com que o

professor usa e como usa as ALs nas aulas O uacuteltimo aspecto aborda sobre o objectivo das ALs

realizadas material editorial em que os professores se apoiam para preparar as actividades

existecircncia ou natildeo de um protocolo para acompanhar as actividades e sobre o momento de

abordagem dos conteuacutedos em que se desenvolvem ALs com os seus alunos

Na tabela 2 estaacute sistematizada a frequecircncia com que satildeo desenvolvidas as ALs pelos

professores

Tabela 2 Frequecircncia com que os professores utilizam as ALs nas aulas N=5

Uso das ALs Freq

Pelo menos duas por semestre 4

Uma a duas por semestre 1

44

As respostas representadas na tabela 2 foram dadas pelos dois (2) professores da escola K

escola M e a uacuteltima pelo uacutenico professor da escola Q Olhando os resultados apresentados na

tabela pode-se afirmar que as ALs satildeo pouco frequentes nas escolas onde elas satildeo

implementadas Estes resultados assemelham-se aos encontrados por Dourado (2005) em seu

estudo com professores estagiaacuterios em que referiram ter realizado uma a duas ALs durante o seu

trabalho de estaacutegio

Para a terceira questatildeo ligada agraves praacuteticas dos professores estes dizem que realizam as ALs

de acordo com o programa de ensino adaptando-as agraves condiccedilotildees existentes na escola e buscando

tambeacutem outro tipo de actividades

Foi pedido aos professores que se referissem aos objectivos pelos quais desenvolvem as

ALs e os resultados mostram que o uacutenico objectivo que os professores procuram alcanccedilar com o

desenvolvimento das ALs estaacute ligado agrave confirmaccedilatildeo de teorias como usualmente tecircm dito

ldquoligaccedilatildeo da teoria agrave praacuteticardquo apresentando afirmaccedilotildees do tipo

K1 ldquoAliar a teoria a praacuteticardquo

K2 ldquoFazer uma ligaccedilatildeo entre a teoria e a praacuteticardquo

M1 ldquoConfirmaccedilatildeo das teoriasrdquo

A realizaccedilatildeo de ALs para a confirmaccedilatildeo de teorias poderaacute ateacute certo ponto ser aceitaacutevel para

as classes iniciais do ensino secundaacuterio como eacute o caso da classe em estudo pois visam

desenvolver o domiacutenio conceptual procedimental e motivacional Contudo este tipo de

actividade natildeo responde agraves perspectivas defendidas para o ensino de Ciecircncias Naturais no que

tange a praacutetica de metodologias que levam agrave construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

As actividades com o uacutenico objectivo de confirmaccedilatildeo de teorias e leis normalmente satildeo

executadas pelo professor e demonstradas aos alunos ou se os alunos satildeo envolvidos estes natildeo

fazem nenhum exerciacutecio seguindo apenas um protocolo do tipo ldquoreceita de cozinhardquoem que o

niacutevel de envolvimento cognitivo eacute muito reduzido Para Borges (2002) a realizaccedilatildeo de ALs com

este objectivo eacute enganoso pois o sucesso da actividade eacute garantido por uma preparaccedilatildeo preacutevia

adequada Um aspecto criacutetico sobre a realizaccedilatildeo de ALs com o objectivo de confirmaccedilatildeo de leis

e teorias referido por Hodson (1998) citado por Borges (2002) eacute que o aluno logo percebe que

sua experiecircncia deve produzir o resultado previsto pela teoria ou que alguma regularidade deve

ser encontrada

Dois professores natildeo se referem a este objectivo mas apontam como principal objectivo da

realizaccedilatildeo das ALs melhorar a perecepccedilatildeo dos conteuacutedos abordados e a promoccedilatildeo de uma

45

aprendizagem soacutelida Seguem-se abaixo as afirmaccedilotildees dos professores relativamente aos

objectivos por eles defendidos

J1 ldquoReduzir o grau de abstraccedilatildeo e desenvolver uma aprendizagem

soacutelidardquo

Q ldquoMelhorar a percepccedilatildeo dos conteuacutedosrdquo

Sousa (2009) obteve resultados similares embora no seu estudo todos professores

envolvidos tenham afirmado realizar ALs o que natildeo aconteceu no presente estudo Um outro

aspecto de relevo encontrado pela autora eacute que um dos professores envolvidos no estudo indica

como objectivo da realizaccedilatildeo de ALs com os seus alunos a construccedilatildeo de conhecimento

cientiacutefico em detrimento de confirmaccedilatildeo de teorias Este uacuteltimo aspecto encontrado pela autora

em seus estudos mas infelizmente natildeo encontrado neste nosso poderaacute estar ligado aos diferentes

contextos em que as pesquisas foram desenvolvidas poreacutem trata-se de uma concepccedilatildeo muito

valiosa Estas ideias satildeo secundadas por Borges (2002) ao defender que ldquoo laboratoacuterio pode

proporcionar aos alunos o desenvolvimento do caraacutecter investigativo na medida em que por si

podem planear actividades para testar hipoacuteteses levantadas de forma a produzir resultados

confiaacuteveis Para que este objectivo seja alcanccedilado no nosso contexto eacute necessaacuterio por um lado

que haja investimento suficiente na concepccedilatildeo de espaccedilos laboratoriais e na aquisiccedilatildeo de

diversos materiais e por outro lado que os fazedores e implementadores dos curriacuteculos de

ensino de Ciecircncias valorizem as ALs como parte integrante desta aacuterea concedendo mais tempo

lectivo agraves respectivas disciplinas no geral e particularmente agrave Biologia

Para a questatildeo relacionada com o tipo de material em que os professores se apoiam para

desenvolver ALs com os seus alunos todos os professores que desenvolvem alguma AL nas

aulas tem com fonte os livros escolares buscando os respectivos protocolos ou guiotildees

apesentados para desenvolverem com os seus alunos

Os resultados obtidos no presente estudo assemelham-se aos obtidos por Dourado (2005) e

por Sousa (2009) em que a maior parte dos professores envolvidos em seus estudos apontaram

os manuais escolares como a principal fonte dos protocolos utilizados pelos professores para a

execuccedilatildeo de ALs Em todo PEA e particularmente no Ensino Baacutesico e Secundaacuterio o professor

limita-se a um uacutenico recurso para a busca de actividades a desenvolver nas suas aulas com os

alunos e Leite (2006) afirma que os manuais satildeo uma das principais fontes de actividades

laboratoriais que os professores implementam em todos os niacuteveis de ensino e que a maior parte

destes parece natildeo introduzir alteraccedilotildees nos protocolos disponibilizados pelos manuais

46

Os professores devem ter a capacidade para aleacutem de criticar os protocolos adaptaacute-los agraves

condiccedilotildees existentes em diferentes escolas Devem ter em mente que os protocolos de ALs

propostos pelos livros escolares referem na maioria das vezes materiais e condiccedilotildees de um

laboratoacuterio ideal e natildeo o real A realidade das escolas do nosso paiacutes em particular eacute um grande

factor para que os mediadores do PEA sejam dinacircmicos e criativos na busca de meios

alternativos para o desenvolvimento de actividades praacutetico-laboratoriais com os seus alunos

Caracterizaccedilatildeo das opiniotildees dos professores relativamente ao criteacuterio de selecccedilatildeo e

adopccedilatildeo dos livros escolares de Biologia

Para esta secccedilatildeo foi de interesse caracterizar as opiniotildees dos professores relativamente agrave

adopccedilatildeo dos livros escolarescujas perguntas colocadas estiveram intrinsecamente ligadas aos

livros escolares de Biologia Entre os livros de Biologia da 8ordf Classe adoptados pelas escolas

encontram-se os das seguintes editoras Plural Texto e Longman Poreacutem na sua maioria as

escolas adoptam o livro da Plural editores e apenas em uma escola foi encontrado o livro da

editora Longman

Quanto ao envolvimento dos professores no processo de selecccedilatildeo de livros escolares de

Biologia apenas 1 (um) professor afirmou jaacute ter participado no processo Embora a maioria

nunca tenha participado afirma ser consultada a cada final de ano sobre qual dos livros adoptar

para utilizaccedilatildeo no ano seguinte Este eacute um aspecto fundamental pois o professor eacute o indiviacuteduo

que faz o uso do livro junto com os seus alunos e consegue ver as fraquezas e as forccedilas de um

determinado livro durante o seu uso eou anaacutelise

Sete (07) dos professores entrevistados afirmaram natildeo conhecer os criteacuterios usados para a

selecccedilatildeo dos livros adoptados pelas escolas Entretanto 3 professores (J2 Z1e Z2) referem a

concordacircncia dos conteuacutedos apresentados pelos livros escolares com os programas de ensino

apresentando as seguintes opiniotildees

J2 ldquoConcordacircncia dos conteuacutedos com o programa de ensinordquo

Z1 ldquoA relaccedilatildeo entre os conteuacutedos com os programas de ensinordquo

Z2 ldquoDesde que os conteuacutedos estejam de acordo com os programas de

ensinordquo

Resultados similares foram obtidos por Frison et al (2009) em seu estudo com Licenciados

dos cursos de Quiacutemica e Ciecircncias Bioloacutegicas no Brasil que consideram a relaccedilatildeo estabelecida

entre o iacutendice de conteuacutedos apresentados pelos livros escolares e os listados nos planos de

ensino como o principal criteacuterio utilizado

47

Outras trecircs opiniotildees referem-se agrave apresentaccedilatildeo graacutefica como um factor determinante na

escolha de um livro Segundo os mesmos as imagens devem ser atraentes para os alunos

Os resultados obtidos assemelham-se aos de um estudo realizado por um grupo de

pesquisadores ldquoFORMAR-Ciecircnciasrdquo com professores das escolas puacuteblicas do Brasil referido por

Neto amp Fracalanza (2003) em que de entre os aspectos por eles considerados para a selecccedilatildeo dos

livros escolares podem-se destacar as ilustraccedilotildees com qualidade graacutefica visualmente atraentes e

a integraccedilatildeo dos conteuacutedos e assuntos abordados Poreacutem eles acrescentam um aspecto muito

importante que eacute a presenccedila de actividades experimentais de faacutecil realizaccedilatildeo e com material

acessiacutevel sem representar riscos fiacutesicos aos alunos No presente estudo pode-se considerar que

estes desprezam a componente experimental nos livros como um dos aspectos a serem

considerados no processo de selecccedilatildeo Analisando este facto natildeo se pode encontrar diferenccedilas

entre os criteacuterios de avaliaccedilatildeo dos manuais de Ciecircncias Naturais e os das demais disciplinas

como Portuguecircs Histoacuteria Geografia entre outras

Haacute necessidade de preparar os professores de Ciecircncias Naturais e de Biologia em

particular enquanto elementos de decisatildeo final quanto agrave adopccedilatildeo dos livros implementadores

dos curriacuteculos e mediadores do PEA sobre os criteacuterios mais especiacuteficos a serem considerados

para uma melhor avaliaccedilatildeo dos livros existentes pois os livros escolares editados nos uacuteltimos

anos embora registem melhorias limitam-se ao aspecto graacutefico correccedilatildeo de erros conceptuais e

na eliminaccedilatildeo de preconceitos tal como refere Amaral e Megid Neto (1997) apud Neto e

Fracalanza (2003)

Na produccedilatildeo de um livro escolar eacute importante que se espelhe metoacutedica e didacticamente o

caraacutecter cientiacutefico da disciplina em causa por um lado e por outro lado e de acordo com Nuacutentildeez

et al (2003) nele a Ciecircncia se deve apresentar como fruto da construccedilatildeo humana

contextualizada e dinacircmica e natildeo como produto fechado como racionalidade objectiva uacutenica

que mutila o pensamento das crianccedilas

No que diz respeito a existecircncia ou natildeo de ALs nos livros escolares adoptados pelas

diferentes escolas todos professores das diferentes escolas afirmaram que existem apesar de

alguns considerarem estas muito poucas

48

Representaccedilotildees das praacuteticas dos professores relativamente agraves actividades

laboratoriais presentes nos livros escolares de Biologia adoptados nas escolas

As questotildees colocadas nesta secccedilatildeo estatildeo relacionadas com a realizaccedilatildeo de ALs propostas

pelos livros escolares com a tipologia mais frequente e ainda com a avaliaccedilatildeo que os professores

fazem acerca das mesmas

Agrave questatildeo ligada a realizaccedilatildeo das ALs sete (07) professores responderam que natildeo realizam

pelas razotildees jaacute apresentadas nas secccedilotildees anteriores e os outros sete (07) afirmaram que realizam

Quanto a tipologia das ALs presentes nos livros todos afirmam que as predominantes satildeo

aquelas cujos procedimentos satildeo apresentados ou descritos nos guiotildees e cujos resultados satildeo

apresentados (ilustrativas e orientadas para a determinaccedilatildeo do que acontece) aos alunos e as do

tipo POER14 natildeo aparecem Entretanto os professores avaliam positivamente as ALs propostas

pelos livros embora para alguns estes pudessem ser enriquecidos Leite (2001) afirma ser uma

constante a ausecircncia das actividades do tipo POER Segundo a mesma autora as actividades

deste tipo presentes nos livros escolares seriam um bom auxiacutelio agrave mudanccedila das praacuteticas

docentes e como consequecircncia dariam um grande contributo para a promoccedilatildeo do ensino e

aprendizagem das Ciecircncias

Algumas concepccedilotildees que os professores tecircm eacute que uma boa AL eacute aquela em que os

procedimentos e as conclusotildees satildeo apresentados nos protocolos podendo esta ser uma razatildeo para

que os professores envolvidos no estudo considerassem como sendo boas

Destes resultados destacou-se a resposta de um dos professores da Escola K que diz que as

ALs satildeo fracas Este professor eacute um dos que durante a entrevista teraacute afirmado realizar as ALs

natildeo soacute baseando-se nos livros escolares mas em alguns manuais portugueses De facto um

professor que desenvolve ALs com os seus alunos natildeo com o uacutenico objectivo de confirmaccedilatildeo de

teorias ou determinaccedilatildeo do que acontece mas tambeacutem para a determinaccedilatildeo do porquecirc que

acontece e com um olhar criacutetico encontraraacute as lacunas que os livros apresentam neste aspecto

Consideraccedilotildees finais

A anaacutelise dos resultados de cada um dos estudos realizados em funccedilatildeo dos objectivos

preconizados permitiu chegar agraves seguintes conclusotildees

14 Actividade laboratorial do tipo Prevecirc Observa Explica e Reflecte

49

Os trecircs livros de Biologia analisados apresentam actividades laboratoriais poreacutem natildeo

para todas as unidades temaacuteticas Entre estes livros existe uma semelhanccedila no que

concerne as unidades temaacuteticas que incluem propostas de ALs e para as que natildeo incluem

concentrando maior nuacutemero de actividades na unidade temaacutetica ldquoMetabolismo no

organismo humano e um nuacutemero muito reduzido na unidade temaacutetica ldquosistema oacutesseo-

muscularrdquo

Foi de notar que nos livros analisados predominam actividades ilustrativas incluindo

tambeacutem em nuacutemero bastante reduzido as orientadas para determinaccedilatildeo do que acontece

com um baixo niacutevel de abertura

Ainda relacionado com um dos objetivos da investigaccedilaatildeo concluiu-se que o tipo de ALs

proposto pelos livros escolares analisados que concidentemente satildeo de uso nas escolas

envolvidas no estudo natildeo se relacionam com as perspectivas defendidas para o uso do

laboratoacuterio no ensino das Ciecircncias em geral e de Biologia em particular na medida em

que o seu principal objectivo eacute o reforccedilo de conhecimento conceptual dos alunos com

baixo niacutevel de abertura pouco viradas ao desenvolvimento de competecircncias e a

construccedilatildeo de novos conhecimentos

Todos os professores envolvidos no estudo reconhecem a importacircncia do uso de ALs no

processo de ensino poreacutem uma boa parte destes natildeo as desenvolve indicando como

razotildees o factor material espacial e tempo Por este motivo as ALs tornam-se pouco

frequentes nas aulas de Biologia tendo-se realizado no maacuteximo duas (2) por ano nas

escolas onde satildeo desenvolvidas

A adopccedilatildeo dos livros escolares de Biologia natildeo depende do tipo de ALs neles propostos

O que determina a adopccedilatildeo eacute o volume do conteuacutedo e a sua concordacircncia com os

programas de ensino da disciplina

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(INDE) Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio Geral (PCESG) Documento orientador

Objectivos Poliacutetica Estrutura Plano de estudo e Estrateacutegia de implementaccedilatildeo

Moccedilambique Novembro 2007

MINED Plano Estrateacutegico da Educaccedilatildeo 2012-2016 Aprovado pelo Conselho de Ministros

2012

52

Livro didaacutectico de Geografia em Moccedilambique passado presente e desafios

Stela Mithaacute Duarte15

Resumo

O artigo tem como objectivo analisar o processo de desenvolvimento do livro didaacutectico de Geografia ao

longo da Histoacuteria da educaccedilatildeo em Moccedilambique assim como os actuais desafios A metodologia usada foi

a pesquisa bibliograacutefica e documental e a experiecircncia informada da autora O texto transcorre as vaacuterias

etapas de desenvolvimento de Moccedilambique realccedilando como a questatildeo poliacutetica e ideoloacutegica sempre se

reflecte nos livros Actualmente o livro didaacutectico de Geografia apesar de disponiacutevel no mercado nem

sempre eacute adquirido pelos alunos devido a constrangimentos financeiros e o seu uso na sala de aula ainda

natildeo eacute o mais apropriado Sugere-se apetrechar melhor as bibliotecas com livros didaacutecticos e

complementares e melhorar a formaccedilatildeo de professores para o uso do livro didaacutectico de Geografia

Palavras-chave Livro didaacutectico Ensino da Geografia Pensamento geograacutefico Educaccedilatildeo em

Moccedilambique

Abstract

The article aims at analyzing the process of development of the didactic book of Geography throughout

the History of education in Mozambique as well as the current challenges The methodology used was

the bibliographic and documentary research and the informed experience of the author The text goes

through the various stages of development in Mozambique highlighting how the political and ideological

question is always reflected in the books Currently the didactic book of Geography although available in

the market is not always acquired by students due to financial constraints and its use in the classroom is

not yet the most appropriate It is suggested to better equip libraries with didactic and complementary

textbooks and to improve the teacher training for the use of the didactic book of Geography

Keywords Didactic book Teaching Geography Geographical thought Education in Mozambique

Introduccedilatildeo

O livro didaacutectico exerce um papel fundamental no processo de ensino-aprendizagem

Possibilita o desenvolvimento de competecircncias de leitura escrita oralidade compreensatildeo

observaccedilatildeo anaacutelise siacutentese compreensatildeo atitudes comportamentos valores e normas de forma

integrada e holiacutestica O livro didaacutectico permite-nos conhecer melhor o meio em que nos

encontramos o nosso paiacutes o mundo outros povos culturas e formas de estar reconhecer as

semelhanccedilas respeitar as diferenccedilas desenvolver o amor agrave Natureza e agrave Paacutetria Nesse sentido

pode contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e solidaacuteria reconhecido

que a educaccedilatildeo tem a particularidade de antecipar o futuro Somente se formos capazes de

projectar e construir desde agora uma educaccedilatildeo justa seraacute possiacutevel uma sociedade justa no

futuro (Tedesco 201526)

15 Doutora em EducaccedilatildeoCurriacuteculo pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de S Paulo (Brasil) Licenciada em Ensino

de Geografia pelo Instituto Superior Pedagoacutegico (actual Universidade Pedagoacutegica) Maputo (Moccedilambique) e

Bacharel em Ensino de Histoacuteria e Geografia pela Universidade Eduardo Mondlane Maputo (Moccedilambique)

Professora Associada Docente da Universidade Pedagoacutegica - Maputo

53

A formaccedilatildeo de professores tanto inicial como contiacutenua satildeo bases fundamentais para que

se garanta um adequado uso do livro didaacutectico Um professor formado tem maiores

potencialidades de fazer uso pleno do livro didaacutectico contribuindo para garantir a aprendizagem

dos alunos e melhorar a qualidade de ensino-aprendizagem

Ao analisar-se o livro didaacutectico num determinado contexto e paiacutes percebe-se que estatildeo

nele reflectidas questotildees sociais poliacuteticas econoacutemicas e culturais O livro didaacutectico veicula

assim a ideologia dominante de um paiacutes

A elaboraccedilatildeo do livro deve estar orientada para a necessidade de provocar questionamentos

constantes As praacuteticas docentes muitas vezes restringem-se ao uso do livro e do quadro natildeo se

adoptando outros meios didaacutecticos Mas a realidade eacute dinacircmica o livro eacute feito por pessoas natildeo

possui verdades absolutas e inquestionaacuteveis estando sujeito a intersubjectividades constantes

O artigo tem como objectivo analisar o processo de desenvolvimento do livro didaacutectico de

Geografia ao longo da Histoacuteria da educaccedilatildeo em Moccedilambique assim como os actuais desafios

Constituem objectivos especiacuteficos (i) descrever as caracteriacutesticas do livro didaacutectico de Geografia

antes e apoacutes a Independecircncia nacional (ii) contribuir para um maior conhecimento do livro

didaacutectico de Geografia em Moccedilambique (iii) identificar os desafios da utilizaccedilatildeo do livro

didaacutectico de Geografia

O argumento central eacute que o livro didaacutectico de Geografia em Moccedilambique ao longo do

tempo foi sofrendo vaacuterias alteraccedilotildees ligadas a questotildees poliacuteticas e ideoloacutegicas havendo

necessidade de garantir o seu acesso por parte dos alunos e aprofundar continuamente os

aspectos metodoloacutegicos da sua utilizaccedilatildeo investindo na formaccedilatildeo inicial e em exerciacutecio dos

professores tendo em vista a utilizaccedilatildeo adequada deste importante instrumento

A metodologia usada baseia-se na pesquisa bibliograacutefica e documental e na experiecircncia

informada da autora

O artigo estrutura-se em 04 partes (i) aspectos teoacutericos do livro didaacutectico de Geografia (ii)

o livro didaacutectico de Geografia no periacuteodo colonial (iii) o livro didaacutectico de Geografia no periacuteodo

da Independecircncia (iv) os desafios da utilizaccedilatildeo do livro didaacutectico Seguem-se as consideraccedilotildees

finais e as referecircncias bibliograacuteficas

1 Aspectos teoacutericos do livro didaacutectico de Geografia

Nunca se pode equacionar que a existecircncia do livro didaacutectico permite descartar outros

meios de ensino-aprendizagem No caso da Geografia referimo-nos a livros complementares

54

mapas de diferentes escalas atlas fotografias imagens sateacutelite graacuteficos entre outros a ser

usados numa perspectiva interdisciplinar e transversal

A inclusatildeo ou exclusatildeo de conteuacutedos e a forma da sua abordagem no livro estaacute relacionada

a questotildees ideoloacutegicas e de poder

O livro estimula a nossa memoacuteria visual pois registamos os elementos que mais nos

marcam na nossa mente e fazemos uso disso ao longo da vida

O livro de Geografia integra uma seacuterie de elementos de aprendizagem como conceitos

teorias factos fenoacutemenos habilidades atitudes meacutetodos e teacutecnicas de trabalho permitindo-nos

uma visatildeo de aspectos naturais sociais poliacuteticos econoacutemicos da vivecircncia do homem no

passado presente e ainda perspectiva o futuro

Em relaccedilatildeo agrave Geografia corroboramos com Lacoste que ao analisar os problemas do

nosso tempo afirma que nunca conhecimentos geograacuteficos e uma iniciaccedilatildeo ao raciociacutenio

geograacutefico verdadeiro foram tatildeo necessaacuterios agrave formaccedilatildeo dos cidadatildeos (1997254) Mais

adiante este autor acrescenta que O mundo eacute ininteligiacutevel para quem natildeo tem um miacutenimo de

conhecimentos geograacuteficos (Ibid) O livro didaacutectico tem um papel relevante no sentido de abrir

o horizonte espacial do aluno pela multiplicidade de elementos nele incorporados que podem

ser analisados de forma inter-relacionada e dinacircmica

Na praacutetica lectiva deve ser estabelecida a relaccedilatildeo permanente com a realidade proacutexima do

aluno um dos princiacutepios do ensino da Geografia por isso o livro natildeo pode ser usado como mero

objecto que possibilita a memorizaccedilatildeo e reproduccedilatildeo de conhecimentos O desenvolvimento do

pensamento geograacutefico exige uma postura reflexiva espiacuterito criacutetico e criativo Soacute deste modo o

aluno pode actuar de forma interventiva e contribuir para a mudanccedila na sua comunidade no paiacutes

e no mundo

O livro tem que ser convenientemente explorado no processo de ensino-aprendizagem e eacute

importante o uso que dele o professor faz o pior livro pode ficar bom na sala de um bom

professor e o melhor livro desanda na sala de um mau professor (Schaumlffer 199933)

Natildeo existe nenhum livro que pode esgotar a possibilidade de compreensatildeo apreensatildeo e

desenvolvimento do conhecimento sendo sempre necessaacuterio recorrer a outras fontes de

aprendizagem

Para Nicolau o livro didaacutectico de Geografia para cumprir com as suas funccedilotildees tem que

ser elaborado obedecendo a determinados requisitos desenvolver conteuacutedos cientiacuteficos

adequados ter linguagem clara simples directa e paraacutegrafos curtos apresentar perguntas que

sirvam de estiacutemulo e deem dinamismo aos conteuacutedos possuir ilustraccedilotildees variadas como mapas

55

materiais estatiacutesticos esquemas fotografias entre outros oferecer um sistema de actividades

teoacutericas e praacuteticas e um vocabulaacuterio geograacutefico adequado (Nicolau 199161)

Ainda satildeo escassas as pesquisas existentes eou divulgadas em Moccedilambique sobre a

importacircncia e uso do livro didaacutectico de Geografia Tivemos acesso a alguns estudos sendo um

de Thompson sobre avaliaccedilatildeo pedagoacutegica do livro de Geografia da 5ordf classe do Sistema Nacional

de Educaccedilatildeo (1991) em que a autora sugere a necessidade de tomar em conta as condiccedilotildees de

aprendizagem dos alunos ter atenccedilatildeo agraves inter-relaccedilotildees geograacuteficas garantir maior equiliacutebrio

entre os elementos verbais e natildeo-verbais assim como utilizar no livro mapas de escalas variadas

No final a autora considera que os materiais de ensino de Geografia tecircm que contribuir para a

compreensatildeo entre os moccedilambicanos e os homens em geral realccedilar a beleza e a diversidade da

paisagem do territoacuterio nacional educar para a protecccedilatildeo e preservaccedilatildeo do meio ambiente e

para a utilizaccedilatildeo correcta dos recursos naturais do paiacutes (Thompson 199122)

Buque faz a relaccedilatildeo entre os meacutetodos de ensino e o uso do livro didaacutectico de Geografia da

7ordf classe A autora conclui que no processo de ensino-aprendizagem de Geografia predomina o

meacutetodo expositivo e que o livro eacute pouco utilizado Sugere que as escolas adquiram material

didaacutectico que os meacutetodos de ensino sejam activos que se faccedila a distribuiccedilatildeo do livro pelas

escolas entre outros (Buque 1999)

O trabalho de Mesquita (2002) explora a importacircncia do livro didaacutectico de Geografia da 8ordf

classe no processo de ensino-aprendizagem A autora conclui que as aulas de Geografia satildeo

predominantemente expositivas culminando com o ditado de apontamentos extraiacutedos do livro O

custo do livro e o fraco poder aquisitivo das famiacutelias inibem a compra e uitlizaccedilatildeo deste

importante meio de ensino Sugere entre outros a necessidade de o professor conhecer a

importacircncia do livro no processo de ensino-aprendizagem e definir-se uma poliacutetica de formaccedilatildeo

contiacutenua de professores (Mesquita 2002)

Outro estudo de Jaime (2013) relativo a avaliaccedilatildeo pedagoacutegica do livro de Ciecircncias

Sociais da 7ordf classe sugere-se a revisatildeo do livro de modo a garantir um ensino mais relevante a

formaccedilatildeo de um cidadatildeo que possa integrar-se na vida e aplicar os conhecimentos adquiridos em

prol da sua comunidade (p 219)

Na parte que se segue iremos tentar resgatar um pouco da histoacuteria do livro didaacutectico no

geral e em particular o de Geografia

56

1 O livro didaacutectico de Geografia no periacuteodo colonial em Moccedilambique - dominaccedilatildeo e

exclusatildeo

Chorou e chora Moccedilambique

Pelas riquezas que lhe usurpam

Sem os filhos as utilizarem

Moccedilambique chorou e chora

(Jackson 197918)

O extracto acima eacute de um poema de um militante da FRELIMO (Frente Nacional de

Libertaccedilatildeo de Moccedilambique) publicado na obra Poesia de Combate cuja primeira ediccedilatildeo

aconteceu em 1971 altura em que Moccedilambique ainda era uma coloacutenia A estrofe revela o

sentimento de dominaccedilatildeo e exclusatildeo a que o povo moccedilambicano estava sujeito

O acto educativo natildeo eacute neutro dado que reflecte aquilo que satildeo os interesses inerentes agrave

estrutura social e poliacutetica A educaccedilatildeo visa transformar dentro de uma determinada perspectiva

de desenvolvimento Antes da Independecircncia o livro didaacutectico de Geografia expressava os

interesses e valores coloniais O ensino no tempo colonial em Moccedilambique caracterizava-se por

ser discriminatoacuterio elitista e selectivo

Mondlane denunciava que os programas do Ensino Primaacuterio em Moccedilambique tinham

mateacuterias idecircnticas agraves que constavam dos programas em Portugal constituindo a cultura

portuguesa o ponto central sendo ignoradas a Histoacuteria e Geografia do continente africano

(1995) Prosseguindo afirma que as mateacuterias principais satildeo a liacutengua portuguesa geografia das

descobertas e conquistas portuguesas moral cristatilde trabalhos manuais e agricultura

(Mondlane 199558)

O livro didaacutectico era produzido em Portugal Tomando como exemplo o livro utilizado no

1deg ano do curso complementar do Ensino Secundaacuterio (equivalente actualmente agraves 11ordf e 12ordf

classes) datado de 1974 com 447 paacuteginas verificamos que apresentava para o 1deg ano a seguinte

estrutura (i) Introduccedilatildeo geograacutefica (ii) Geografia Fiacutesica (iii) Geografia Humana (iv) Geografia

Econoacutemica Jaacute para o 2deg ano apoacutes um toacutepico sobre Advertecircncia segue-se a (i) Bibliografia

(ii) Monografias de alguns produtos ultramarinos e (iii) Antologia (Vieira e Moura 1974)

Os autores citados afirmam com base no programa de Geografia do 6deg e 7deg anos do Ensino

Liceal que no 7deg ano o programa incide sobre o estudo de Portugal metropolitano e ultramarino

natildeo havendo um compecircndio propriamente dito mas uma indicaccedilatildeo da bibliografia de

57

estatiacutesticas mapas e outros elementos Nesta senda no que diz respeito a Portugal ultramarino

especificamente Moccedilambique eacute indicada a seguinte bibliografia (apenas 2 obras) Boleacuteo Joseacute de

Oliveira Moccedilambique AGU16 Lisboa 1950 e Costa Maacuterio Bibliografia Geral de

Moccedilambique AGU Lisboa Posteriormente satildeo indicados mapas para serem consultados (Vieira

e Moura 1974)

Na parte correspondente agrave Monografia de alguns produtos ultramarinos satildeo apresentados

os seguintes amendoim gergelim coqueiro riacutecino palmeira do azeite algodoeiro cafeeiro e

cacauiero Na Antologia a informaccedilatildeo sobre Moccedilambique eacute apresentada da p 423 agrave p 428

com o tiacutetulo A agricultura em Moccedilambique integrando os seguintes itens condiccedilotildees naturais -

distribuiccedilatildeo das culturas as empresas agriacutecolas e a produccedilatildeo exportaccedilatildeo dos produtos agriacutecolas

possibilidades de expansatildeo (Vieira e Moura 1974) A figura 372 apresenta o mapa de

Moccedilambique vegetaccedilatildeo espontacircnea e algumas plantaccedilotildees e o mapa da figura 373 apresenta as

principais produccedilotildees vegetais de Moccedilambique A figura 374 apresenta o movimento comercial

de Moccedilambique com graacuteficos de importaccedilatildeo e exportaccedilatildeo Ainda consta uma tabela com

exportaccedilotildees de produtos agriacutecolas e respectivos valores

Os objectivos da colonizaccedilatildeo passavam pela construccedilatildeo do colonizado com uma identidade

lusitana Assim podemos perceber neste livro que natildeo havia muita preocupaccedilatildeo em atender agraves

necessidades dos paiacuteses colonizados mas sim conhecer as suas principais produccedilotildees e

potencialidades para maior exploraccedilatildeo Entretanto do ponto de vista pedagoacutegico jaacute se mostrava

uma tendecircncia de dar maior autonomia ao estudante de pesquisar natildeo se elaborando um livro

para o 7deg ano do Liceu mas dando pistas para o estudo independente

2 O livro didaacutectico de Geografia no periacuteodo poacutes-Independecircncia de Moccedilambique - do

marxismo-leninismo ao neoliberalismo

I Repuacuteblica

Os primeiros anos apoacutes a Independecircncia em Moccedilambique foram caracterizados por uma

grande falta de livros didaacutecticos e outros materiais de ensino Isto deveu-se a razotildees conjunturais

como a mudanccedila de regime o processo de massificaccedilatildeo a insuficiecircncia de especialistas na aacuterea

da educaccedilatildeo os parcos recursos financeiros disponiacuteveis as prioridades definidas no momento

entre outros Apoacutes 1975 e ateacute iniacutecios dos anos 90 as principais instituiccedilotildees nacionais

16 AGU - Agecircncia Geral do Ultramar

58

fomentadoras da produccedilatildeo e utilizaccedilatildeo do livro didaacutectico foram principalmente o Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo (e Cultura) o Instituto Nacional do Desenvolvimento da Educaccedilatildeo (INDE) a

Distribuidora Nacional de Material Escolar (DINAME) o Instituto Nacional do Livro e Disco

(INLD) a Editora Escolar e a Universidade Eduardo Mondlane (UEM)

No periacuteodo de vigecircncia de Partido uacutenico a direcccedilatildeo da FRELIMO definiu que a tarefa

principal da educaccedilatildeo eacute no ensino nos livros de textos e nos programas inculcar em cada um a

ideologia avanccedilada cientiacutefica objectiva colectiva que nos permite progredir no processo

revolucionaacuterio( Machel 198059)

Esta ideologia estava associada agrave criaccedilatildeo de uma sociedade marxista-leninista e agrave formaccedilatildeo

do Homem Novo Para Bastos e Duarte a criaccedilatildeo do Homem Novo constituiacutea a pedra

angular do processo revolucionaacuterio que caracterizou grande parte da Iordf Repuacuteblica (1975-1990)

(201572)

Na Constituiccedilatildeo de 1975 a Repuacuteblica Popular de Moccedilambique eacute um Estado de Democracia

Popular em que o poder pertence aos operaacuterios e camponeses unidos e dirigidos pela FRELIMO

que eacute a forccedila dirigente do Estado e da Sociedade

A Lei do Sistema Nacional de Educaccedilatildeo (SNE) menciona que na construccedilatildeo da

sociedade socialista o sistema de educaccedilatildeo deve no seu conteuacutedo estrutura e meacutetodo conduzir

agrave criaccedilatildeo do Homem Novo (Moccedilambique 1983) Mais adiante constam os fundamentos da lei

que satildeo as experiecircncias da educaccedilatildeo desde a luta armada ateacute agrave fase em que se encontrava o paiacutes

na construccedilatildeo do socialismo os princiacutepios universais do marxismo-leninismo e o patrimoacutenio

comum da Humanidade (Ibid) No capiacutetulo I artigo 1 aliacutenea e) estaacute expliacutecito que A Educaccedilatildeo

eacute dirigida planificada e controlada pelo Estado que garante a sua universalidade e laicidade

no quadro da realizaccedilatildeo dos objectivos fundamentais consagrados na Constituiccedilatildeo

(Moccedilambique 1983)

Podemos verificar que o centralismo democraacutetico desse periacuteodo natildeo permitia que outros

actores tivessem oportunidade de participar nos processos de planificaccedilatildeo e organizaccedilatildeo da

educaccedilatildeo estando isso apenas reservado ao Estado sob direcccedilatildeo da Frelimo cuja ideologia era

dominante em todo o sistema educativo e social no geral A Nacionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo em

1975 definitivamente descartava essa possibilidade de participaccedilatildeo sendo o Estado o principal

provedor dos serviccedilos educativos

Assim observando os programas de ensino por exemplo o Programa de Geografia para o

Curso de Formaccedilatildeo de Professores para o 2deg grau do Ensino Primaacuterio na parte introdutoacuteria

consta que De acordo com as grandes decisotildees do glorioso IV Congresso do Partido Frelimo

59

cabe agrave educaccedilatildeo criar o Homem Novo (MEC 19841) Mais adiante o documento que temos

vindo a citar considera que o professor eacute um agente poliacutetico do Partido Frelimo na escola

atraveacutes do ensino cientiacutefico e partidaacuterio na base dos princiacutepios gerais do marxismo-leninismo

(Ibid)

Em 1986 para a 5ordf classe do Ensino Primaacuterio foi disponibilizado o livro intitulado

Geografia de um colectivo de autores nomeadamente Isabel Coelho Laura Loforte Benilda

Reis e Emiacutedio Sebastiatildeo (Moccedilambique 1986) Este primeiro livro moccedilambicano apoacutes a

Independecircncia para a 5ordf classe na disciplina de Geografia teve ediccedilatildeo do INDE e Editora Escolar

e foi avaliado por Thompson (1991) que destaca que apesar das deficiecircncias que apresenta e

que carecem de correcccedilatildeo ele constitui base de trabalho de alunos e professores (Ibid21)

Para a 6ordf classe o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Cultura disponibilizou dois livros o primeiro

em 1978 Geografia - 6ordf classe Textos para os alunos 3deg periacuteodo (MEC 1978) e outro

intitulado Geografia - 6ordf classe textos para os alunos 1deg e 2deg periacuteodos isto em 1979 (MEC

1979) Nestes livros temos presente a ideologia entatildeo dominante no que se refere por exemplo

ao papel do cooperativismo e do Estado Vamos estudar o que se produz nas machambas

colectivas e estatais (MEC 19797) O domiacutenio do Partido uacutenico Depois da Independecircncia

o povo moccedilambicano organizado pelo seu Partido de vanguarda a Frelimo procura

transformar radicalmente a sociedade construindo o Poder Democraacutetico Popular e uma

sociedade socialista O desenvolvimento do paiacutes eacute expresso desta forma na aacuterea dos transportes

aeacutereos

Ateacute 1974 a DETA teve que se limitar a voar em terras de Moccedilambique () com

a conquista da Independecircncia atraveacutes da Luta Armada de Libertaccedilatildeo Nacional

esta companhia viu-se libertada dos travotildees coloniais e comeccedilou a fazer voos

internacionais para a Tanzacircnia Zacircmbia Angola Portugal Aacutefrica do Sul e por

uacuteltimo Itaacutelia (MEC 197963)

Na aacuterea das comunicaccedilotildees O jornal e a raacutedio satildeo dois meios de informaccedilatildeo de grande

importacircncia na vida do nosso paiacutes Atraveacutes deles podemos saber as informaccedilotildees nacionais

internacionais e divulgar a poliacutetica do nosso Partido a FRELIMO (Ibid66)

O livro de Manuel Arauacutejo intitulado Noccedilotildees elementares da Geografia de Moccedilambique teve uma

influecircncia profunda no processo de ensino-aprendizagem de Geografia Natildeo foi concebido

especificamente para o ensino mas foi amplamente usado para esse fim O livro tem ediccedilatildeo do Instituto

Nacional do Livro e do Disco (1979)17 com 65 paacuteginas e estruturado da seguinte forma (i) Situaccedilatildeo e

limites (ii) O relevo (iii) Hidrografia (iv) Breve noccedilatildeo do clima de Moccedilambique (v) Divisatildeo

17 A primeira ediccedilatildeo foi em 1975

60

administrativa (vi) Populaccedilatildeo (vii) Aspectos simples de Geografia Econoacutemica (Arauacutejo 1979) Como o

autor afirma

Esta nova ediccedilatildeo surge natildeo pelo valor da obra que como dissemos na 1ordf

ediccedilatildeo fornece alguns dados muito simples e ateacute incompletos sobre a RPM18

mas pela vontade de conhecer o nosso Povo O facto de com esta ediccedilatildeo se

atingir um nuacutemero de 50000 exemplares eacute revelador de que o Povo

Moccedilambicano quer conhecer o seu Paiacutes (Arauacutejo 19795)

Apoacutes a Independecircncia e ateacute a deacutecada 1980 era grande a carecircncia de materiais de ensino tal

como jaacute nos referimos Muitos dos livros disponiacuteveis no mercado eram da ex URSS19 Ediccedilotildees

Progresso traduzidos para o portuguecircs como Geografia Econoacutemica do Mundo (1979)

Ciecircncia da Sociedade (1980) Metodologia do Ensino das Ciecircncias Sociais (1980) Teoria

da Populaccedilatildeo (1987) Tambeacutem se encontravam os livros das Ediccedilotildees da Imprensa Noacutevosti com

vaacuterios tiacutetulos Estes livros divulgavam as teorias marxistas-leninistas no contexto da guerra-fria

e eram apropriados para o momento poliacutetico que o paiacutes vivia (Duarte 2007) Um livro que

tambeacutem serviu aos professores moccedilambicanos foi Geografia - 1deg ano - 1deg volume - Curso

Complementar do Ensino Secundaacuterio do autor Dragomir Knapic Editorial Aster sem data

A Universidade Eduardo Mondlane Faculdade de Letras Departamento de Geografia

elaborou trecircs manuais para o ensino da Geografia20 Um intitulado deles Geografia Manual da

10ordf classe do ano 1982 possui 95 paacuteginas Este manual tem sete capiacutetulos (i) Cosmografia (ii)

Cartografia (iii) Climatogeografia (iv) Geomorfologia (v) Hidrogeografia (vi) Pedogeografia

(vii) Biogeografia De realccedilar que no manual natildeo constam os nomes dos autores (UEM 1982)

O outro Geografia Econoacutemica Manual da 11ordf classe Volume I do ano 1981 conta com

138 paacuteginas e estaacute estruturado em 6 capiacutetulos (i) As bases metodoloacutegicas da Geografia

Econoacutemica (ii) A Geografia Econoacutemica como ciecircncia social (iii) O meio geograacutefico e a

sociedade (iv) Os recursos naturais e a Geografia Econoacutemica (v) As leis da distribuiccedilatildeo

geograacutefica das forccedilas produtivas (vi) A divisatildeo geograacutefica do trabalho Os autores satildeo Ximena

Andrade Pablo Garcia e Khazimukhmet Nurgaliev (UEM 1981a)

O Manual de Geografia Econoacutemica Volume II para a 11ordf classe elaborado tambeacutem por

Ximena Andrade Pablo Garcia e Khazimukhamet Nurgaliev em 1981 tem 5 capiacutetulos (i)

18 Repuacuteblica Popular de Moccedilambique 19 Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas 20 Estes manuais satildeo do Antigo Sistema de Educaccedilatildeo

61

Geografia da Populaccedilatildeo (ii) Geografia da Induacutestria (iii) Geografia Agraacuteria (iv) Geografia dos

Transportes e (v) As bases da divisatildeo em regiotildees econoacutemicas (UEM 1981b)

Podemos ver nestes livros como era divulgada a ideologia dominante Nestas novas

condiccedilotildees na Repuacuteblica Popular de Moccedilambique a propriedade estatal e a propriedade

cooperativa estabelecendo novas relaccedilotildees de produccedilatildeo constituiratildeo a base econoacutemica do

Poder Popular Democraacutetico (UEM 1981a79) Outro exemplo relacionado com a Geografia

da Populaccedilatildeo Nos paiacuteses socialistas o desemprego eacute eliminado pois a produccedilatildeo social baseia-

se na propriedade social dos meios de produccedilatildeo (Ibid8) ou ainda a questatildeo da agricultura e

dos povoamentos rurais era tratada do seguinte modo Com base no desenvolvimento da

agricultura socialista forma-se a nova rede de povoamentos rurais - Sistema de Aldeias

Comunais (Ibid80)

O livro A terra planeta dinacircmico foi usado para a 8ordf classe em Moccedilambique Este livro

produzido em Portugal e para o sistema de ensino portuguecircs tinha um total de 256 paacuteginas e 5

capiacutetulos (i) Introduccedilatildeo ao estudo da Geografia (ii) O relevo terrestre (iii) A atmosfera (iv) os

ambientes bioclimaacuteticos (v) Conclusatildeo os meacutetodos da geografia Depois seguia-se o apecircndice e

a bibliografia Na ficha teacutecnica lecirc-se Ediccedilatildeo Especial para a 8ordf classe com um apecircndice de 32

paacuteginas O apecircndice sobre Moccedilambique constava das paacuteginas 226 a 256 e encontrava-se assim

estruturado 1 Caracterizaccedilatildeo geneacuterica do clima de Moccedilambique 2 A hidrosfera 3 A litosfera

4 Uso conservaccedilatildeo e protecccedilatildeo da natureza O nome dos autores do apecircndice natildeo consta desta

obra (Matos e Ramalho 1989)

As mesmas autoras posteriormente em 1990 publicam o livro Contrastes geograacuteficos -

9ordf classe com um total de 272 paacuteginas Este livro concebido para o sistema educativo

portuguecircs foi tambeacutem usado em Moccedilambique Na ficha teacutecnica pode-se ler Ediccedilatildeo Especial

para a 9ordf classe com um apecircndice de 32 paacuteginas e ainda Colaboraram na elaboraccedilatildeo deste

apecircndice Luiacutes Agostinho Nanjolo e Francisco Mbebe A estrutura do livro eacute a seguinte (i)

Populaccedilatildeo mundial (ii) Os grandes contrastes da agricultura no mundo actual (iii) Contrastes

da industrializaccedilatildeo no mundo actual (iv) As cidades no mundo A parte do apecircndice apresenta o

seguinte (i) Populaccedilatildeo mundial (ii) Agricultura mundial (iii) Induacutestria mundial (iv) Transportes

no mundo (Matos e Ramalho 1990)

II Repuacuteblica

Com a nova Constituiccedilatildeo de 1990 Moccedilambique torna-se um Estado de Direito

Democraacutetico Neste contexto eacute revista a Lei do SNE permitindo a participaccedilatildeo de outras

62

entidades incluindo comunitaacuterias cooperativas empresarias e privadas no processo educativo

(Moccedilambique 1992)

Em 1992 a 10ordf classe beneficia-se de um livro intitulado Geografia de Moccedilambique Vol

I Parte Fiacutesica com 109 paacuteginas Este livro eacute da autoria de Alberto da Barca e Tirso Santos

com ediccedilatildeo do INDE e da Editora Escolar O livro possui um total de 10 capiacutetulos (i)

Localizaccedilatildeo geograacutefica e coacutesmica (ii) Limites (iii) Extensatildeo territorial (iv) Orla mariacutetima (v)

Geologia (vi) Morfologia (vii) Solos (viii) Clima (ix) Hidrografia (x) Biogeografia (Barca e

Santos 1992)

Posteriormente em 1993 eacute disponibilizado o livro tambeacutem para a 10ordf classe Geografia

de Moccedilambique Vol II Parte Econoacutemica da autoria de Alberto da Barca com ediccedilatildeo da

Editora Escolar num total de 243 paacuteginas O livro possui 7 capiacutetulos nomeadamente (i)

Populaccedilatildeo (ii) Agricultura (iii) Pescas (iv) Induacutestria e Energia (v) Transportes e vias de

comunicaccedilatildeo (vi) Comeacutercio (vii) Turismo (Barca 1993)

Surgem depois em 1995 dois livros um para a 8ordf classe e o outro para a 9ordf classe O livro

intitulado Geografia 8ordf classe dos autores Joseacute Martins e Marta Correia com ediccedilatildeo da

Editora Escolar com 119 paacuteginas estaacute dividido em 4 partes (i) Atmosfera (ii) Hidrosfera (iii)

Litosfera (iv) As grandes regiotildees naturais (Martins e Correia 1995)

Da autoria de Luiacutes Nanjolo Geografia 9ordf classe tambeacutem da Editora Escolar com 80

paacuteginas encontra-se subdividido em 5 partes (i) Populaccedilatildeo (ii) Agricultura e Pecuaacuteria (iii)

Induacutestria (iv) Transporte e (v) Urbanismo (Nanjolo 1995)

A Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo prevecirc tanto para o Ensino Primaacuterio como para o Ensino

Secundaacuterio no acircmbito da melhoria da qualidade e relevacircncia a disponibilizaccedilatildeo e a provisatildeo do

livro escolar e dos manuais de ensino para alunos e professores (Moccedilambique 1995)

Reconhecendo os problemas socio-econoacutemicos do paiacutes a partir de 2004 o livro didaacutectico

no Ensino Primaacuterio em Moccedilambique eacute gratuito No Ensino Secundaacuterio eacute necessaacuterio adquiri-lo ao

preccedilo do mercado

Um estudo nacional revela-nos que apesar da gratuidade do livro no Ensino Primaacuterio este

ainda natildeo estaacute ao alcance de todos Agrave medida que a classe frequentada se eleva a percentagem de

alunos que possui o livro escolar vai decrescendo Na 1ordf classe essas percentagens estatildeo acima

de 90 mas jaacute na 7ordf classe natildeo alcanccedilam os 50 Ainda a niacutevel nacional abaixo de 40 dos

alunos frequentam escolas em que todos eles possuem livros de todas as disciplinas

(MINEDINDE 2014) Outro aspecto que eacute necessaacuterio referenciar eacute a existecircncia de livros-

63

caderno que satildeo descartados apoacutes um ano encarecendo ainda mais o processo de provisatildeo do

livro escolar

Assim mesmo sendo gratuito o livro natildeo cobre todas as necessidades A par disso estatildeo

os problemas de desvio de livros e venda no mercado informal corrupccedilatildeo maacute conservaccedilatildeo

fazendo com o que o seu periacuteodo de vida seja encurtado

Um relatoacuterio do Tribunal Administrativo sobre a distribuiccedilatildeo gratuita do livro escolar

constata que o processo ligado ao livro eacute complexo os recursos humanos ligados ao Ministeacuterio

da Educaccedilatildeo natildeo conseguem atender agrave demanda haacute falta de infraestruturas de suporte ao

processo natildeo satildeo apresentados relatoacuterios sistemaacuteticos sobre a distribuiccedilatildeo dos livros o retorno

do livro natildeo estaacute assegurado a qualidade do livro natildeo eacute adequada para assegurar a sua maior

durabilidade os professores nem sempre satildeo preparados para utilizar o livro nem sempre o livro

gratuito eacute suficiente para todos os alunos entre outros (Moccedilambique 20107-8)

O livro didaacutectico actualmente eacute um recurso que apresenta muacuteltiplos aspectos sendo uma

produccedilatildeo cultural e ao mesmo tempo uma mercadoria (Pontuschka Paganelle e Cacete

2007339)

Por exemplo em 2017 os alunos da 1ordf e 2ordf classes tiveram os livros de distribuiccedilatildeo gratuita

apoacutes cerca de 3 meses do iniacutecio das aulas Compram-se anualmente em meacutedia 14 milhotildees de

livros da 1ordf agrave 7ordf classe para cerca de seis milhotildees de alunos despendendo-se um valor estimado

em 17 milhotildees de doacutelares financiado por parceiros do Fundo de Apoio ao Sector da Educaccedilatildeo

(FASE) sendo um deles o Banco Mundial (Jornal O Paiacutes 2017)

Para o Ensino Secundaacuterio o livro eacute uma mercadoria de custo elevado para a maioria da

populaccedilatildeo Geralmente numa turma de 70 alunos podemos encontrar 5 com o livro didaacutectico

Em consonacircncia com o Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio novas exigecircncias satildeo

colocadas ao livro orientadas para a educaccedilatildeo inclusiva ensino-aprendizagem centrado no

aluno desenvolvimento de competecircncias para a vida ensino em espiral transversalidade e

interdisciplinaridade entre outros (MECINDE 2007)

Actualmente no mercado moccedilambicano temos vaacuterias editoras que concorrem e disputam

para garantir a aprovaccedilatildeo dos seus livros a fim de serem adoptados no sistema educativo Os

livros apresentam-se atractivos coloridos e bem ilustrados mas para o Ensino Secundaacuterio

encontram-se mais nas prateleiras das livrarias do que nas matildeos dos alunos das escolas puacuteblicas

Conforme o Diploma Ministerial 842016 que Aprova o Regulamento de Avaliaccedilatildeo do

Livro Escolar no seu artigo 1 os livros do aluno e o manual do professor passam a ser editados

pelo sector empresarial puacuteblico e privado constituindo objecto de avaliaccedilatildeo pelo Conselho de

64

Avaliaccedilatildeo do Livro Escolar (CALE) Segundo o artigo 5 constituem grandes aacutereas de avaliaccedilatildeo

as seguintes (i) curriacuteculo e conteuacutedos (ii) abordagem metodoloacutegica e liacutenguas (iii) valores e

questotildees transversais e (iv) estrutura e organizaccedilatildeo No artigo 5 consta que a adopccedilatildeo do livro

prevista para 5 anos eacute da competecircncia do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano

sob proposta do CALE O artigo 7 menciona que no Ensino Primaacuterio os livros satildeo adquiridos

sem a comparticipaccedilatildeo dos pais e encarregados de educaccedilatildeo e no Ensino Secundaacuterio estaraacute agrave

venda no mercado formal e deve ser adquirido pelos paisencarregados de educaccedilatildeo e pelos

professores (Moccedilambique 2016)

Corroboramos com a ideia de que em relaccedilatildeo ao livro didaacutectico mesmo diante de tempos e

espaccedilos escolares tatildeo diferenciados e distantes a forccedila deste artefacto sobrevive a poliacuteticas

diacutespares culturas diferentes e espaccedilos virtuais (Tonini 2014149) Deste modo mesmo com

todas as mudanccedilas que foram ocorrendo em Moccedilambique o livro didaacutectico continua a ser un

importante instrumento de trabalho de alunos e professores

Os desafios da utilizaccedilatildeo do livro didaacutectico

Por longo tempo permaneceu (e ainda permanece) a ideia de que com o livro didaacutectico

tudo se resolve ou seja O livro didaacutectico natildeo eacute visto como instrumento auxiliar na sala de

aula mas sim como a autoridade a uacuteltima instacircncia o criteacuterio absoluto da verdade o padratildeo

de excelecircncia a ser adoptado na aula (Freitag 1997124)

Os grandes problemas relacionados com o livro didaacutectico no ensino da Geografia prendem-

se com a dificuldade de acesso por parte dos alunos e agrave falta do seu uso adequado em sala de

aula O livro tem inuacutemeras possibilidades de ser explorado mas numa aula do Ensino

Secundaacuterio poucos alunos possuem o livro Natildeo existindo outros materiais auxiliares a

aprendizagem fica comprometida

No nosso trabalho de observaccedilatildeo de aulas de Geografia em escolas secundaacuterias

encontramos casos em que os professores se limitam na aula a dar uma breve explicaccedilatildeo do

conteuacutedo para de seguida fazer um exaustivo dito de apontamentos directamente do livro Ou

entatildeo observamos aulas em que os erros constantes do livro didaacutectico satildeo passados ipsis verbis

para os alunos

Jaacute participamos em sessotildees de trabalho com professores secundaacuterios que lamentavam o

facto de os livros de Geografia em Moccedilambique estarem desactualizados por que por exemplo

ainda mencionavam que os planetas do sistema solar satildeo 9 ao inveacutes de 8 Com os avanccedilos da

65

ciecircncia e da teacutecnica novas descobertas vatildeo sendo feitas mas o livro didaacutectico tem o seu tempo

de vida e natildeo pode dar conta do que acontece diariamente

A formaccedilatildeo dos professores para trabalhar devidamente com os livros eacute um desafio que

nos eacute colocado permanentemente sabido que muitos deles fizeram o seu percurso escolar com

muitas dificuldades de acesso aos livros ou pela sua inexistecircncia em termos de produccedilatildeo em

Moccedilambique ou pelo preccedilo a que eacute colocado no mercado

O professor tem que se posicionar criticamente perante o livro e natildeo limitar-se a ser um

consumidor passivo

Tenta-se actualmente colocar o livro ao alcance de todos A Universidade Pedagoacutegica tem

dado o seu exemplo investindo em Bibliotecas Moacuteveis

Consideraccedilotildees finais

Este estudo tentou abarcar a histoacuteria do livro didaacutectico de Geografia ao longo das vaacuterias

fases de desenvolvimento de Moccedilambique O livro didaacutectico eacute um instrumento importante no

processo de ensino-aprendizagem mas o professor natildeo pode restringir a praacutetica docente-

educativa ao uso ou consulta de um uacutenico material didaacutectico

O livro didaacutectico reflecte os interesses dominantes numa sociedade a ideologia e a poliacutetica

dos governantes

Em Moccedilambique no periacuteodo colonial devido ao regime vigente usava-se o livro

produzido em Portugal que reflectia os interesses do colonizador

Apoacutes a Independecircncia verificaram-se seacuterias dificuldades em produzir o livro internamente

e nalguns casos para a disciplina de Geografia foi necessaacuterio recorrer novamente aos livros de

Portugal com apecircndices elaborados por autores moccedilambicanos que reflectiam a nossa realidade

Nos uacuteltimos anos estabeleceu-se a gratuidade do livro didaacutectico para o Ensino Primaacuterio

Contudo para o Ensino Secundaacuterio o livro tem que ser adquirido pelas famiacutelias Vigoram as leis

do mercado o nuacutemero de alunos que possuem o livro no ensino secundaacuterio eacute ainda muito

insignificante e isso estaacute relacionados aos custos do livro

Muitas vezes o livro didaacutectico eacute usado de forma inadequada natildeo se explorando todo o seu

potencial

Sugere-se a formulaccedilatildeo de poliacuteticas que garantam maior acesso ao livro por parte dos

alunos maior apetrechamento das bibliotecas escolares com livros didaacutecticos e de leitura

complementar e melhor formaccedilatildeo dos professores para explorarem cabalmente o livro

66

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VIEIRA Evaristo e MOURA Alves Geografia - 1deg ano do curso complementar do Ensino

Secundaacuterio Porto Porto Editora 1974

69

Desafios da formaccedilatildeo de professores por competecircncias no Modelo de 10ordf

classe + 3 anos

Acircngelo Guiloviccedila Niquice21

Resumo

O artigo apresenta algumas linhas de reflexatildeo sobre o desafio da transposiccedilatildeo do texto curricular agrave praacutetica

docente implementada na formaccedilatildeo de professores competentes reflexivos de modo a corresponder os

anseios da sociedade em relaccedilatildeo agrave qualidade de educaccedilatildeo O principal objectivo eacute analisar a actual

formaccedilatildeo de professores e aprendizagem por competecircncias do novo Plano Curricular de Formaccedilatildeo de

Professores para o Ensino Primaacuterio em Moccedilambique A metodologia eacute baseada na pesquisa bibliograacutefica

Conclui-se que jaacute foi um grande passo a opccedilatildeo por uma estrutura curricular na perspectiva de

competecircncias mas persistem muitos desafios para levar a cabo a formaccedilatildeo Sugere-se que se trabalhar

continuamente com os formadores de modo a promover praacuteticas pedagoacutegicas inovadoras

Palavras-chave Formaccedilatildeo de professores Aprendizagem por Competecircncias Modelo 10ordf + 3 anos

Abstract

The article presents some lines of reflection on the challenge of transposing the curricular text to the

teaching practice implemented in the formation of competent reflective teachers in order to match the

aspirations of society in relation to the quality of education The main objective is to analyze the current

teacher training and competency learning of the new Teacher Education Curricular Plan for Primary

Education in Mozambique The methodology is based on bibliographic research It is concluded that the

option for a curricular structure in the perspective of competences was a great step but many challenges

persist for carrying out the training It is suggested to work continuously with teacher educators in order

to promote innovative pedagogical practices

Keywords Teacher training Competency Learning Model 10 + 3 years

Introduccedilatildeo

As grandes mudanccedilas sociais econoacutemicas e poliacuteticas dos uacuteltimos tempos em Moccedilambique

e no mundo levaram a que as autoridades educacionais sentissem a necessidade de embarcar em

transformaccedilotildees curriculares como forma de dar resposta agrave expansatildeo da educaccedilatildeo e agrave crescente

inquietaccedilatildeo sobre qualidade de ensino como por exemplo as evidecircncias de fraco desempenho na

leitura escrita e na matemaacutetica referenciados nos relatoacuterios de estudos (MINEDINDE 2000 e

2010) Eacute neste contexto que o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo concebeu a estrateacutegia para a formaccedilatildeo de

professores 2004 ndash 2015 na qual se propocircs a elaborar um programa coerente consistente e

coordenado de formaccedilatildeo de professores competentes criacuteticos reflexivos e comprometidos com

21 Mestrando em EducaccedilatildeoFormaccedilatildeo de Formadores na UP ndash Maxixe angeloniquicesapomz

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uma educaccedilatildeo de qualidade e que proporcionasse um desenvolvimento profissional do docente

ao longo da carreira Assim pretendemos neste artigo analisar os desafios da adopccedilatildeo de um

curriacuteculo baseado em competecircncias na formaccedilatildeo de professores do modelo de 10ordf classe mais 3

anos

O novo Plano Curricular de Formaccedilatildeo de Professores para o Ensino Primaacuterio (PCFPEP) eacute

baseado em competecircncias e nele estatildeo definidas nove competecircncias nos domiacutenios pessoal e

social de conhecimentos cientiacuteficos e das habilidades profissionais Estas vatildeo desenvolvendo-se

de forma transversal na medida em que as mesmas satildeo operacionalizadas ao longo do curso nos

diferentes moacutedulos

Iniciada a transformaccedilatildeo curricular levantam-se desafios sendo o primeiro a criatividade

dos formadores que devem gerar e estimular actividades centradas na aprendizagem de

competecircncias profissionais atraveacutes da mobilizaccedilatildeo de saberes e habilidades de forma a tornar os

graduados em professores competentes O segundo desafio prende-se com a transposiccedilatildeo

didaacutectica (modificaccedilatildeo selecccedilatildeo de saberes curriculares tomando em conta a

interdisciplinaridade e contextualizaccedilatildeo com o objectivo de operacionalizaccedilatildeo de competecircncias)

e o uacuteltimo relaciona-se com os mecanismos de implementaccedilatildeo de um sistema de avaliaccedilatildeo

adequado agrave construccedilatildeo de competecircncias

A motivaccedilatildeo para a realizaccedilatildeo deste estudo deve-se em primeiro lugar ao facto de que

durante o nosso percurso profissional nas instituiccedilotildees de formaccedilatildeo de professores no periacuteodo que

vai de 1999 a 2014 termos tido vaacuterias inquietaccedilotildees das quais a preocupaccedilatildeo com uma

abordagem que possibilitasse a formaccedilatildeo de professores criacuteticos reflexivos e por outro da

percepccedilatildeo da necessidade de uma mudanccedila da praacutetica docente reflexiva quer do formador quer

do professor primaacuterio ou secundaacuterio

Para direccionar o estudo partimos das seguintes questotildees

Que desafios poderatildeo ser vivenciados na implementaccedilatildeo do modelo 10ordf classe + 3 anos

baseado em competecircncias na formaccedilatildeo de professores criacuteticos e reflexivos

Qual o grau de competecircncia e criatividade dos formadores na abordagem de praacuteticas

docentes apoiadas na mobilizaccedilatildeo de um conjunto de saberes transformando-os em

acccedilatildeo de forma a promover um ensino de qualidade

Ateacute que ponto as aspiraccedilotildees subjacentes no curriacuteculo prescrito encontram enquadramento

na implementaccedilatildeo do texto curricular em particular a atitude didaacutectica dos formadores e

o sistema de avaliaccedilatildeo

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Metodologicamente este trabalho tem um caraacutecter bibliograacutefico do tipo exploratoacuterio e

descritivo O principal objectivo do mesmo eacute de analisar a actual formaccedilatildeo de professores e

aprendizagem por competecircncias do novo PCFPEP em Moccedilambique A principal bibliografia

usada foi Niquice (2006) Golias (1993) e Perrenoud (1999 2002)

Breve abordagem histoacuterica e caracterizaccedilatildeo da formaccedilatildeo de professores em

Moccedilambique

A formaccedilatildeo de professores em Moccedilambique comeccedila na deacutecada 30 do seacuteculo XX no

regime colonial numa perspectiva racista discriminatoacuteria e selectiva tal como retrata Golias

(1993 p48) quando afirma que os professores para o ensino dos ldquoindiacutegenasrdquo foram inicialmente

formados pela Escola de Habilitaccedilatildeo de Professores Indiacutegenas do Alvor ndash Manhiccedila sendo esta a

primeira do geacutenero criada em 1930 e que com o mesmo espiacuterito satildeo criadas em 1965 as Escolas

de Habilitaccedilatildeo dos Professores do Posto Escolar

As estruturas curriculares prescritas e ocultas destas Escolas de Habilitaccedilatildeo de Professores

eram sustentadas por um paradigma tradicional Eacute assim que Golias (1993 p57) caracteriza

aquele paradigma como sendo um ensino destinado a professores do povo colonizado como

forma de cristalizar a instrumentalizaccedilatildeo teacutecnica e a ldquodomesticaccedilatildeordquo e que em paralelo decorria

o ldquoensino oficialrdquo representado basicamente por uma educaccedilatildeo da elite colonial assegurada por

professores das Escolas do Magisteacuterio Primaacuterio criadas em 1962

A caracterizaccedilatildeo do formador da eacutepoca colonial eacute feita no acircmbito de um caraacutecter riacutegido do

ensino formal e muito tecnicista Para Niquice (2006 p27 e 28) ao trazer a limitaccedilatildeo da

preparaccedilatildeo de professores ao niacutevel de treinamento de habilidades acreditava-se nos

procedimentos uniformizados de ensino-aprendizagem na padronizaccedilatildeo das situaccedilotildees onde

resumia-se na capacidade de imitar os passos do mestre-formador Estas praacuteticas de formaccedilatildeo de

professores de entatildeo enquadram-se nas teorias tradicionais no entanto carregavam consigo

questotildees de poder na perspectiva de manutenccedilatildeo do status quo a dominaccedilatildeo do povo

colonizado atraveacutes de reproduccedilatildeo da desigualdade social continuando o povo pobre menos

escolarizado e excluiacutedo

Com a Independecircncia Nacional a formaccedilatildeo de professores passou por grandes testes e

transformaccedilotildees principalmente para preencher as vagas dos professores que abandonaram o

paiacutes e tambeacutem assegurar que se cumprisse a grande aposta de massificaccedilatildeo da educaccedilatildeo As

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transformaccedilotildees foram inadiaacuteveis pois era necessaacuterio adaptar-se a educaccedilatildeo agrave realidade do Paiacutes

qualificando a matildeo-de-obra para responder agraves necessidades de desenvolvimento da jovem naccedilatildeo

Niquice (2006 p34) recorre a Chirrime (2000) para explicar que os planos de estudos eram

organizados para pequenos cursos de reciclagem onde os primeiros foram de 1 a 3 meses e

entre 1976 a 1980 os cursos passaram a ter duraccedilatildeo de 6 a 10 meses

Em 1983 eacute introduzido o curso 6ordf classe mais 3 anos com uma pretensatildeo dupla elevaccedilatildeo

da formaccedilatildeo (geral) dos formandos e formaccedilatildeo profissional Esta duplicidade de objectivos levou

a que existissem muitas disciplinas teoacutericas (gerais) em detrimento das praacuteticas (profissionais)

Parafraseando Golias (1993 p74) a implementaccedilatildeo de cursos de duraccedilatildeo diversa visava

responder agraves urgecircncias quantitativas impostas pela vontade poliacutetica de massificar o ensino e que

estas natildeo permitiram influenciar mudanccedilas profundas nos professores por exemplo no que se

refere agrave transposiccedilatildeo da teoria agrave praacutetica O autor citado explicita que aqueles curriacuteculos

mantinham a tradicional concepccedilatildeo enciclopedista compartimentarizaccedilatildeo dos planos de estudos

em disciplinas estas sobrecarregadas de conteuacutedos muitas vezes pouco relevantes Tais

disciplinas e curriacuteculo eram estritamente seguidos e disseminados em todo Paiacutes sem nenhuma

flexibilidade e iniciativas por parte dos professores

Com o decurso do tempo em 1996 satildeo criados os Institutos do Magisteacuterio Primaacuterio que

primeiramente proveram cursos de 10ordf classe + 2 anos e sucessivamente alguns deles

ofereceram o curso do modelo de 10ordf classe + 1 ano + 1 ano e em 2006 esses Institutos devido agrave

grande urgecircncia em colmatar a contrataccedilatildeo de pessoas sem formaccedilatildeo psicopedagoacutegica

ofereceram em moldes transitoacuterios o curso de 10ordf classe + 1 ano Com estes cursos mesmo com

o ldquofantasmardquo da quantidade houve uma aposta para que se garantisse a qualidade Os cursos de

10ordf classe + 1 ano tinham apenas disciplinas profissionais e praacuteticas pedagoacutegicas Contudo

diversos segmentos (professores formadores pesquisadores pais e encarregados de educaccedilatildeo)

de forma contiacutenua foram mostrando-se ceacutepticos agrave eficaacutecia destes cursos Destes destacam-se as

reservas de Niquice (2006 p43) concernentes agrave preparaccedilatildeo pedagoacutegica-didaacutectica dos

formadores pois estes usam praacuteticas conservadoras muitas vezes contraditoacuterias ao discurso

actual da melhoria da qualidade de ensino Percebe-se que a manutenccedilatildeo de modelos

transmissivos por parte dos formadores denuncia a circulaccedilatildeo e contramatildeo dos movimentos da

escola nova da pedagogia activa e das abordagens construtivistas

Niquice (2006 p46) realccedila que os formadores tomam atitudes autoritaacuterias em sala de

aulas e que existe predominacircncia de aulas teoacutericas sobre praacuteticas Realccedila ainda que a formaccedilatildeo

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de professores continuava esquemaacutetica e restritiva porque a aula continuava confinada agrave sala de

aulas e a uacutenica forma de ensinar era a aula

Eacute importante realccedilar que os actuais modelos de formaccedilatildeo de professores em

implementaccedilatildeo em Moccedilambique trazem consigo alguns aspectos vinculados pelas teorias poacutes

criacuteticas tais como preocupaccedilatildeo das relaccedilotildees de geacutenero diversidade cultural e eacutetnica (esta

materializada atraveacutes de mobilidade de formandos das diferentes proviacutencias do Paiacutes)

A formaccedilatildeo de professores eacute crucial para a materializaccedilatildeo seja da massificaccedilatildeo do ensino

seja tambeacutem da melhoria contiacutenua da qualidade contudo eacute apontada como uma das responsaacuteveis

pelos problemas de educaccedilatildeo Ainda que tenha ocorrido uma verdadeira revoluccedilatildeo quer em

nuacutemeros quer na preocupaccedilatildeo pela qualidade atraveacutes de reformas curriculares haacute ainda grande

dificuldade em se por em praacutetica concepccedilotildees e paradigmas dos modelos inovadores com

destaque do modelo 10ordf classe + 3 anos

A formaccedilatildeo de professores por competecircncias no modelo curricular de 10 ordf classe + 3 anos

exige por um lado a criatividade e flexibilidade dos formadores por outro adopccedilatildeo efectiva da

pedagogia de competecircncias combinada agrave avaliaccedilatildeo predominantemente formativa

Criatividade e qualidade dos formadores

As aceleradas mudanccedilas que ocorrem ao niacutevel local e pelo mundo fora sugerem de

imediato um formador dotado de competecircncias de criatividade e de autonomia capaz de

aprimorar nos formandos natildeo apenas o exerciacutecio profissional mas tambeacutem a capacidade criacutetica e

criativa

Parafraseando Niquice (2006 p16 e 43) ao abordar as questotildees do niacutevel de competecircncia e

criatividade assim como a maneira de ensinar e orientar a aprendizagem afirma que os

formadores natildeo conseguem evitar a aprendizagem predominantemente teoacuterica combinada com

um trabalho pedagoacutegico bastante rotineiro Os formadores recrutados conservam praacuteticas muitas

vezes contraditoacuterias ao discurso actual de melhoria qualidade de ensino de criatividade no

ensino de implementaccedilatildeo do curriacuteculo integrado centralizaccedilatildeo da aprendizagem no formando

ligaccedilatildeo teoria-praacutetica Satildeo formadores que receberam uma escolarizaccedilatildeo e formaccedilatildeo baseadas no

curriacuteculo conteuacutedista racionalista tecnicista O autor argumenta ainda que os processos que satildeo

utilizados pelos formadores satildeo laquocristalizadosraquo as suas concepccedilotildees estatildeo subjacentes ao

pensamento de que ensinar eacute simplesmente transmitir e aprender eacute receber Para eles o discurso

moderno significa um incoacutemodo na medida em que exige em fazer diferente do habitual que

desestabiliza as praacuteticas e haacutebitos consolidados

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Em reacccedilatildeo aos vaacuterios estudos o novo PCFPEP coloca a acccedilatildeo praacutetica desde o 1ordm moacutedulo

da formaccedilatildeo docente para aleacutem de preconizar a articulaccedilatildeo da formaccedilatildeo inicial (no 1ordm e 2ordm ano) e

formaccedilatildeo em exerciacutecio (no 3ordm ano) tendo esta uacuteltima o objectivo de dar continuidade ao

desenvolvimento de competecircncias reflexivas no contexto escolar Esperamos que seja o fim da

formaccedilatildeo em que formandos recebam conteuacutedos prontos sistematizados sem uso da criticidade

e muito menos da problematizaccedilatildeo

A necessidade de formar professores competentes e reflexivos eacute uma discussatildeo actual

colocando-se no centro da questatildeo a problemaacutetica da mudanccedila educativa que suscita a reflexatildeo-

acccedilatildeo-reflexatildeo e compromisso dos profissionais da educaccedilatildeo no exerciacutecio das suas tarefas

quotidianas

O perfil profissional dos formadores deve estar em consonacircncia com o espiacuterito da

formaccedilatildeo de professores onde se exige que haja articulaccedilatildeo cientiacutefica e pedagoacutegica orientada agrave

praacutetica reflexiva e contextualizada Aconselha-se a apropriaccedilatildeo do pensamento de Noacutevoa (1992

p67) segundo o qual a formaccedilatildeo de professores deve fornecer um pensamento autoacutenomo em

sentido criacutetico-reflexivo Eacute que os formadores devem repensar o seu papel na formaccedilatildeo de

professores pois estes precisam desenvolver e estimular situaccedilotildees de aprendizagem nos

formandos

Implementaccedilatildeo da pedagogia por competecircncias na formaccedilatildeo de professores

A abordagem por competecircncias eacute apresentada como nuclear na organizaccedilatildeo curricular do

novo paradigma de formaccedilatildeo de professores em Moccedilambique Por intermeacutedio desta componente

de competecircncias eacute constituiacutedo um discurso de se ter alcanccedilado a foacutermula para a elevaccedilatildeo da

qualidade da formaccedilatildeo docente e consequentemente da educaccedilatildeo (no seu contexto geral) no

Paiacutes Isto insta-nos a querer analisar a abordagem por competecircncias as modalidades inseridas

no modelo de 10ordf classe + 3 anos e a sua implementaccedilatildeo

Competecircncia

O termo ldquocompetecircnciardquo pode assumir diferentes significados pelo que importa clarificar

que discutiremos alguns conceitos inseridos na aacuterea da educaccedilatildeo Allessandrini (2002 p164)

define competecircncia como sendo a capacidade de compreender uma determinada situaccedilatildeo e reagir

adequadamente frente a ela No mesmo diapasatildeo Perrenoud (1999 p7) chama competecircncia a

capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situaccedilatildeo apoiando-se em

conhecimentos mas sem limitar-se a eles O mesmo autor (Perrenoud 2003 p13) enfatiza a

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competecircncia como sendo uma mais-valia acrescentada aos saberes a capacidade de a utilizar

para resolver problemas construir estrateacutegias tomar decisotildees e actuar no sentido mais vasto

Formaccedilatildeo de professores por competecircncias

Os desafios de Moccedilambique no acircmbito de educaccedilatildeo tais como a) universalizaccedilatildeo do

Ensino Primaacuterio b) elevaccedilatildeo da qualidade de ensino e por exemplo as evidecircncias de fraco

desempenho na leitura escrita e matemaacutetica reforccedilaram a convicccedilatildeo do MINED de repensar a

qualidade do professor atraveacutes da reforma do curriacuteculo de formaccedilatildeo de professores do Ensino

Primaacuterio adoptando um curso baseado em competecircncias Estas competecircncias surgem como

alternativa para suprir essa lacuna e captar mais precisamente as tarefas que o indiviacuteduo estaacute

efectivamente apto a cumprir (Ramos 2006 p 38)

A proposta do PCFPEP de formaccedilatildeo por competecircncias veio atender a uma preocupaccedilatildeo da

sociedade que reivindicava um professor competente dinacircmico capaz de dar sentido aos

conteuacutedos transmitidos pela escola e de garantir que os conhecimentos sejam de facto

convertidos em acccedilotildees concretas de acordo com as necessidades de cada formandoaluno Em

reacccedilatildeo aos desafios que se impotildeem encontram-se alternativas seguindo o preceituado por

Perrenoud (1997 p 47) que defende que as competecircncias permitem enfrentar com algum

sucesso as situaccedilotildees desconhecidas por que conteacutem certa intuiccedilatildeo analoacutegica que possibilita a

mobilizaccedilatildeo de vaacuterios recursos e experiecircncias anteriores a fim de obter uma resposta

parcialmente original que seja adequada agrave situaccedilatildeo

A ideia de que a escola tem de fazer aprender habilidades directamente uacuteteis agrave escola eacute

cada vez mais abrangente no nosso seio logo a pedagogia por competecircncias aparece como

alternativa

Operacionalizaccedilatildeo de competecircncias na formaccedilatildeo de professores

Um curriacuteculo por competecircncias pressupotildee uma proactividade do formandoaluno

estimula-se nele o desenvolvimento de determinadas habilidades comportamentais mobilizaccedilatildeo

de outras dimensotildees do sujeito para aleacutem do conhecimento

Para esta abordagem preferimos parafrasear o principal representante da pedagogia de

competecircncias Perrenoud (1999) por este alertar que aceitar uma abordagem por competecircncias eacute

assumir um compromisso contiacutenuo de mudanccedila de ruptura das rotinas pedagoacutegicas e didaacutecticas

de compartimentaccedilotildees disciplinares Para este autor estrateacutegias didaacutecticas como a segmentaccedilatildeo

do curriacuteculo o peso da avaliaccedilatildeo e da selecccedilatildeo as imposiccedilotildees da organizaccedilatildeo escolar a

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necessidade de tornar rotineiros o ofiacutecio de professor e o ofiacutecio de aluno natildeo contribuem muito

para a construccedilatildeo de competecircncias mas apenas para obter aprovaccedilatildeo em exames (Perrenoud

1999 p14) O maior desafio na concretizaccedilatildeo de um modelo por competecircncias consiste na

prontidatildeo dos formadores em assumir novos papeacuteis na transposiccedilatildeo didaacutectica e na aplicaccedilatildeo de

uma avaliaccedilatildeo concertada com o espiacuterito de construccedilatildeo de competecircncias

Para a operacionalizaccedilatildeo de competecircncias Perrenoud (1999 p17) convida neste caso os

formadores a considerar os conhecimentos como ferramentas a serem mobilizadas conforme as

necessidades a trabalhar regularmente com situaccedilotildees-problema a criar ou utilizar outros meios

de ensino a negociar e conduzir projectos com seus alunos a adoptar uma planificaccedilatildeo flexiacutevel

a improvisar a implementar e explicitar um novo contrato didaacutectico a praticar uma avaliaccedilatildeo

formadora em uma situaccedilatildeo de trabalho a alcanccedilar uma compartimentaccedilatildeo disciplinar menor

Apreciaccedilatildeo criacutetica da abordagem por competecircncias

A implementaccedilatildeo da formaccedilatildeo de professores por competecircncias no caso do Instituto de

Formaccedilatildeo de Professores (IFP) de Homoine foi antecedida por actualizaccedilatildeo dos formadores

criaccedilatildeo de condiccedilotildees em termos infra-estruturais limitaccedilatildeo de 20 formandos por turma No

entanto verificam-se dificuldades para a transposiccedilatildeo didaacutectica dificuldades de materializar a

avaliaccedilatildeo de competecircncias combinadas com ceptismo na aplicabilidade do sistema de avaliaccedilatildeo

Esta tendecircncia teraacute sido analisada por Perrenoud (1999 p 95) que alertava que se o

sistema educativo natildeo se der tempo de fazer a reconstruccedilatildeo didaacutectica natildeo traraacute resultados agraves

finalidades da escola pois apenas estaratildeo a atribuir nome de competecircncias aos antigos

conteuacutedos O autor apresenta seus argumentos afirmando que o indiacutecio mais evidente de uma

mudanccedila profunda eacute a diminuiccedilatildeo de peso dos conteuacutedos disciplinares e uma avaliaccedilatildeo formativa

e certificativa orientada claramente agraves competecircncias de tal forma que natildeo se pode pretender

desenvolvecirc-las sem dedicar o tempo necessaacuterio para colocaacute-los em praacutetica

O novo papel do formadorprofessor no ensino de competecircncias

Eacute importante destacar que no desenvolvimento da formaccedilatildeo que tem como orientaccedilatildeo um

modelo educacional baseado em competecircncias os participantes directos do processo de ensino-

aprendizagem assumem novos papeacuteis

A figura tradicional do formadordocente transmitindo um enorme volume de

conhecimentos algumas vezes de forma passiva sofre uma mudanccedila no modelo de formaccedilatildeo

baseado em competecircncias Exige-se dele mudanccedila de postura e aplicaccedilatildeo efectiva de estrateacutegias

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metodoloacutegicas previamente seleccionadas para o desenvolvimento do curso O

formadorprofessor tem responsabilidade pelo desenvolvimento e progresso dos

formandosalunos no programa como um todo aleacutem de encorajar o formandoprofessor a buscar

informaccedilotildees e aplicaacute-las na aquisiccedilatildeo de uma habilidade aconselhando e motivando-o para que

atinja as metas

Parafraseando Perrenoud (1999 2003) este implora na mudanccedila de postura

concretamente na transferecircncia e mobilizaccedilatildeo das capacidades e dos conhecimentos atraveacutes da

exercitaccedilatildeo sempre em situaccedilatildeo didaacutecticas apropriadas As opccedilotildees pedagoacutegica-didaacutecticas

sugeridas satildeo a problematizaccedilatildeo da aprendizagem e aprendizagem por projectos

De salientar que ensinar nos dias que correm pressupotildee uma pedagogia activa a

necessidade de concepccedilatildeo encaixe e regulaccedilatildeo de situaccedilotildees de aprendizagem Neste propoacutesito

Rey et al (2005 p26-37) consideram que a operacionalizaccedilatildeo de competecircncias atraveacutes da

resoluccedilatildeo de problemas deve ser associada agrave perspectiva construtivista de aprendizagem e no

paradigma reflexivo uma vez que o aluno eacute colocado diante situaccedilotildees que por vezes natildeo tem

conhecimentos para encontrar soluccedilotildees Este aluno perante as situaccedilotildees novas e complexas

interroga os seus raciociacutenios cria um saber de forma autoacutenoma entende problema mobiliza

vaacuterias faculdades nesta resoluccedilatildeo da situaccedilatildeo-problema Ainda reactiva a pedagogia de projecto

que vai partir de problemas questotildees ou situaccedilotildees mais ou menos complexas de princiacutepio

seleccionadas por ele e vi mobilizar e contextualizar saberes e organizaccedilatildeo de toda informaccedilatildeo

Como eacute sustentada a aprendizagem por competecircncias no novo modelo de formaccedilatildeo de

professores

O novo texto curricular eacute segundo o MINEDINDE (2012 p20 e 80) baseado em

competecircncias e tem como fonte principal de avaliaccedilatildeo das competecircncias as evidecircncias que

demonstram o alcance de um determinado resultado de aprendizagem dentro de um moacutedulo O

curso eacute caracterizado como estando estruturado em torno de nove competecircncias estas satildeo

operacionalizadas de forma transversal em todas as aacutereas curriculares e de forma especiacutefica nos

moacutedulos (op cit79)

Esta operacionalizaccedilatildeo decorre de forma transversal nas diversas componentes do curriacuteculo

e pressupotildee superar a loacutegica do formador como transmissor de conteuacutedos passando a ser um

estimulador da aprendizagem atraveacutes da construccedilatildeo de uma diversidade de situaccedilotildees de

aprendizagem concretas onde se valorizam os princiacutepios da diferenciaccedilatildeo pedagoacutegica Contudo

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a sua implementaccedilatildeo ainda em fase piloto eacute caracterizada por uma descrenccedila dos formadores

Estes deviam ser mais criativos inovadores e comprometidos em assumir a prescriccedilatildeo do texto

curricular Estes continuam obcecados em praacuteticas dirigistas e preocupados com os testes

escritos que satildeo heranccedila de praacuteticas de avaliaccedilatildeo classificatoacuterias

Exige-se dos formadores mudanccedilas de postura e aplicaccedilatildeo efectiva de estrateacutegias

metodoloacutegicas previamente seleccionadas para o desenvolvimento do curso Segundo Perrenoud

(1999 p 57) o novo objectivo do formador eacute mais fazer aprender do que ensinar por meio de

pedagogia e meacutetodos mais activos convidando os formadores a a) considerar os conhecimentos

como recursos a serem mobilizados b) trabalhar regularmente com problemas c) criar ou

utilizar outros meios de ensino d) negociar e conduzir projectos com seus formandos e) adoptar

uma implementaccedilatildeo flexiacutevel e indicativa f) implementar e explicitar um novo contrato

didaacutectico g) praticar uma avaliaccedilatildeo formadora e situaccedilotildees de trabalho

Avaliaccedilatildeo numa abordagem por competecircncias (como eacute adoptada no Plano Curricular)

Na abordagem por competecircncias a avaliaccedilatildeo natildeo se limita agrave verificaccedilatildeo do produto final

mas identifica as dificuldades no processo de aprendizagem e as estrateacutegias de aperfeiccediloamento e

progressatildeo

Avaliaccedilatildeo na oacuteptica de Fernandes (2001 p68) durante muito tempo esteve mais atenta a

mediccedilatildeo dos resultados adquiridos pelos alunos atraveacutes da utilizaccedilatildeo de testes e exames em

detrimento da valorizaccedilatildeo dos processos que promoviam essa aquisiccedilatildeo ou aprendizagem

Eacute assim que o PCFEP aposta na avaliaccedilatildeo como uma actividade contiacutenua que permita

por um lado obter-se uma imagem do desempenho do formando em termos de competecircncias

descritas no texto curricular e por outro servir de mecanismo de retro-alimentaccedilatildeo ao processo

de formaccedilatildeo

Outra inovaccedilatildeo eacute a previsatildeo de dois niacuteveis de avaliaccedilatildeo interna e externa Este raciociacutenio

encontra-se em Alonso (2001 p20) que sugere a avaliaccedilatildeo interligada a aprendizagem devendo

basear-se em competecircncias em atitudes que facilitem o aprender a aprender o colaborar com os

outros o intervir activamente na sociedade adaptar-se agraves mudanccedilas constantes O autor

argumenta que eacute necessaacuterio ldquoum ensino construtivista que requer uma avaliaccedilatildeo contiacutenua

formativa diferenciada e multidimensionalrdquo

A experiecircncia de Tochon (1995 p159) no acircmbito da avaliaccedilatildeo na formaccedilatildeo de

professores mostra que as diferentes funccedilotildees estatildeo longe de serem fixas ou exclusivas ao niacutevel

da aula Este autor aconselha a natildeo opccedilatildeo por fixaccedilatildeo riacutegida dos instrumentos de avaliaccedilatildeo

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dando como exemplo a generalizaccedilatildeo das grelhas de avaliaccedilatildeo formativa que considera

perigosa uma vez que corre-se o risco de se metamorfosear o ideal de diferenciaccedilatildeo e de

autonomizaccedilatildeo da aprendizagem num processo de socializaccedilatildeo escalonado normalizado e depois

controlado segundo processos repetitivos e aborrecidos

Esta problemaacutetica estaacute acontecendo com a avaliaccedilatildeo no novo modelo de 10ordf classe + 3

anos uma vez que este preconiza a elaboraccedilatildeo de muitos relatoacuterios reflexivos

consequentemente torna-se uma actividade repetitiva e aborrecida tanto para os formandos que

esgotam inspiraccedilatildeo e ficam sem palavras assim como para os formadores que lhes parece

estarem a corrigir relatoacuterios iguais

Retomando o debate da aposta pela avaliaccedilatildeo formativa Perrenoud (1999 p15) aconselha

que esta deve forjar seus proacuteprios instrumentos que vatildeo do teste criterioso agrave observaccedilatildeo in loco

dos meacutetodos de trabalho dos procedimentos e dos processos intelectuais do formandoaluno O

autor insiste que a verdadeira avaliaccedilatildeo formativa eacute acompanhada de uma intervenccedilatildeo

diferenciada em termos de meios de ensino de organizaccedilatildeo de horaacuterios organizaccedilatildeo do grupo-

aula ateacute mesmo de transformaccedilotildees radicais das estruturas escolares

Enquanto os formadores no modelo de 10ordf classe + 3 anos tendem a sobrevalorizar mais os

testes escritos pois estes prevalecem no sistema avaliativo os pesquisadores se mostram

ceacutepticos a aplicabilidade das provas tradicionais numa abordagem por competecircncias Zabala

(2001 p194) natildeo recomenda provas especiacuteficas num tempo predeterminado porque na sua

opiniatildeo quebra o ritmo de trabalho e torna-se num processo artificial Para este autor a

verdadeira avaliaccedilatildeo deve integrar-se no proacuteprio desenvolvimento da unidade no decurso de

vaacuterias actividades que permitam observar o percurso de aprendizagem do aluno e deste modo

facultar as ajudas necessaacuterias na altura adequada

Prosseguindo o ceptismo de certos pesquisadores em relaccedilatildeo aos testes escritos o grande

estudioso da abordagem por competecircncias Perrenoud (1999 p159) considera que as provas

escolares tradicionais se relevam de pouca utilidade porque satildeo essencialmente concebidas para

anaacutelise dos erros dos formandosalunos mais para a classificaccedilatildeo dos alunos do que para a

identificaccedilatildeo do niacutevel de domiacutenio de cada um Acrescenta ainda que provas desse geacutenero natildeo

informam muito como se operam a aprendizagem e a construccedilatildeo de conhecimentos elas

sancionam seus erros sem buscar os meios para compreendecirc-los e para trabalhaacute-los

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Consideraccedilotildees finais

A adopccedilatildeo de um curriacuteculo por competecircncias na formaccedilatildeo de professores anuncia um

modelo de profissionalizaccedilatildeo que possibilita a formaccedilatildeo de professores competentes e reflexivos

Tal perspectiva apresenta-se como sendo uma formaccedilatildeo que pode privilegiar a praacutetica e

secundarizar o conhecimento teoacuterico Em suma a aprendizagem por competecircncias na formaccedilatildeo

de professores do modelo 10ordf classe + 3 anos suscita a articulaccedilatildeo entre teoria e praacutetica

De acordo com as anaacutelises ao PCFPEP agrave revisatildeo da literatura e os diaacutelogos exploratoacuterios

feitos aos formadores conclui-se que jaacute foi um grande passo a opccedilatildeo por uma estrutura curricular

na perspectiva de competecircncias mas persistem muitos desafios para que de facto os formadores

assumam a prescriccedilatildeo curricular e formem professores competentes criacuteticos reflexivos eacuteticos

prudentes autoacutenomos Estas qualidades satildeo imprescindiacuteveis para que se possa realmente

desenvolver um ensino de qualidade e eliminar as fragilidades existentes na praacutetica reflexiva dos

professores

Consideramos que deve trabalhar-se continuamente com os formadores de modo a

promover praacuteticas pedagoacutegicas inovadoras que ultrapassem a mera transmissatildeo de

conhecimentos e que se impulsione a transposiccedilatildeo didaacutectica que privilegie experiecircncias

educativas promotoras de desenvolvimento de competecircncias

Bibliografia

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Percepccedilotildees de professores de Matemaacutetica sobre o uso de calculadoras em

salas de aulas

Herciacutelio Paulo Munguambe22

Resumo

O presente artigo cientiacutefico enquadra-se no uso das tecnologias no Ensino Secundaacuterio Geral do 1ordm Ciclo e

pretende discutir as percepccedilotildees que os professores de Matemaacutetica tecircm sobre o uso de calculadoras em salas

de aulas Os objectivos deste estudo satildeo compreender o uso da calculadora identificar as percepccedilotildees dos

professores e propor estrateacutegias do seu uso procurando assim contribuir para a melhoria da qualidade de

ensino da Matemaacutetica O trabalho baseou-se em anaacutelise bibliograacutefica assistecircncia agraves aulas entrevista aos

professores da escola pioneira da pesquisa aplicaccedilatildeo do questionaacuterio aos professores de Matemaacutetica em

exerciacutecio abarcando no seu todo 13 participantes de diferentes escolas da cidade e distrito de Xai-Xai No

que respeita agrave anaacutelise da assistecircncia agraves aulas e das respostas dadas na entrevista e no questionaacuterio chegou-se

agrave conclusatildeo de que os professores na praacutetica natildeo usam as calculadoras embora a maioria afirma o contraacuterio

tanto na entrevista como no questionaacuterio defendendo que fazem o seu uso o que nos leva a perceber que eles

tecircm vontade de usar as calculadoras nas aulas de Matemaacutetica mas por falta de bases cientiacuteficas tecircm muitas

limitaccedilotildees Se eles afirmam que usam entatildeo fica claro que usam-nas de forma empiacuterica E ainda segundo os

dados obtidos entende-se que a maioria reconhece a utilidade destas em salas de aulas embora alegando que

as mesmas criam dependecircncia e preguiccedila mental no aluno Portanto conclui-se haver necessidade de

recomendar a preparaccedilatildeo de professores de Matemaacutetica no uso de calculadoras em salas de aulas e por via

disso garantir-se o seu uso no Ensino Secundaacuterio Geral do 1ordm Ciclo

Palavras-chave Matemaacutetica Calculadoras Aprendizagem e Ensino Resistecircncia Percepccedilotildees

Abstract

The present dissertation fits in the use of technologies in the Lower Secondary Schools programs and aims

to discuss the perceptions teachers of Mathematics have on the use of calculators in the classroom context

The objective of the present study is to understand the use of the calculator identify the perceptions the

teachers of Mathematics have and suggest strategies for their use with the aim of giving a contribution for

the improvement of the quality of Mathematics teaching The present dissertation is based on the literature

review carried out lesson observations interview to a group of teachers in the schools the studied was

carried out the use of a questionnaire to a group of on duty teachers of Mathematics All in all (13) thirteen

respondents from different schools in Xai-Xai took part in this study With regards to the lesson observation

and the analysis of the process as well as the analysis of the data from the interview and questionnaire it

was concluded that teachers do not use the calculators in the teaching context However the majority of our

respondents stated that they do use This brings us to the assumption that they would like to use them in

Mathematics lessons but due to the lack of scientific basis they have some limitations If they state that they

use it then becomes clear that they use them in an empiric form Furthermore from the data collected it is

quite clear that the majority recognizes the importance of the use of the calculators in the classroom context

in spite of their argument that these calculators may lead to dependence and mental laziness among

learners Therefore it is concluded that there is a need to recommend the training of the teachers of

Mathematics on the usage of the calculators in the classroom context with a view to guaranteeing their

appropriate use in the Lower Secondary School

Key Words Mathematics Calculators Learning and Teaching Resistance Perceptions

22 Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de Matemaacutetica Docente da UP Gaza Universidade Pedagoacutegica de Moccedilambique Email

herciliomunguambeyahoocombr

84

1 Introduccedilatildeo

No nosso paiacutes os iacutendices de reprovaccedilatildeo escolar em especial na disciplina de Matemaacutetica

chegam a limites considerados injustificados os obstaacuteculos e as dificuldades de aprendizagem

constituem uma das preocupaccedilotildees das sociedades e dos intervenientes dos processos de ensino e de

aprendizagem em particular isto eacute haacute necessidade de se procurar buscar respostas agrave pergunta qual

a razatildeo que leva o aluno a natildeo aprender

Nos uacuteltimos anos presenciamos um avanccedilo tecnoloacutegico bastante visiacutevel e promissor Por esta

via as calculadoras e computadores passaram a fazer parte do quotidiano de muitos indiviacuteduos e

por conseguinte estes materiais estatildeo jaacute presentes em quase vaacuterias escolas moccedilambicanas Eacute loacutegico

que a chegada destes materiais agraves escolas ainda assusta tanto aos alunos assim como aos

professores Partindo do princiacutepio que as novas tecnologias vieram para ficar e que as escolas natildeo

podem ser alheias a estas exige-se que os professores estejam seguros e preparados para o seu

manuseio procurando assim melhorar a sua praacutetica pedagoacutegica

Assim sendo actualmente num mundo globalizado jaacute natildeo faz sentido se caminhar sem o uso

das novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo A comunidade escolar jaacute percebe a

importacircncia das tecnologias como ferramenta pedagoacutegico-didaacutectica na educaccedilatildeo e como

instrumento de mudanccedilas nos processos de ensino e de aprendizagem Com base nos

assinalamentos anteriores levanta-se a seguinte questatildeo de investigaccedilatildeo Que percepccedilotildees os

professores de Matemaacutetica tecircm sobre o uso de calculadoras em salas de aulas

Assim sendo esta pesquisa busca compreender as percepccedilotildees dos professores de Matemaacutetica

do 1ordm ciclo do Ensino Secundaacuterio Geral a respeito do uso da calculadora na sala de aulas

Constituem objectivos especiacuteficos desta pesquisa

Identificar as percepccedilotildees dos professores sobre o uso das calculadoras em sala de

aulas no ESG do 1ordm ciclo (8ordf a 10ordf classes)

Descrever o niacutevel de percepccedilatildeo dos professores sobre o uso das calculadoras na sala

de aulas de Matemaacutetica no ensino secundaacuterio geral do 1ordm ciclo

Propor algumas sugestotildees com vista a melhoria da utilizaccedilatildeo de calculadoras nas aulas

de Matemaacutetica do ESG do 1ordm ciclo

11 Justificativa

A escolha deste tema deveu-se ao facto de que a escola onde se fez a pesquisa possuir um

aproveitamento muito baixo especialmente na disciplina de Matemaacutetica e considerou-se que a

85

partir desta pesquisa poder-se-aacute encontrar uma soluccedilatildeo com a implementaccedilatildeo de calculadoras

como recursos didaacutecticos facilitadores dos processos de ensino e de aprendizagem

Por este motivo escolheu-se este trabalho para propor sugestotildees que possam permitir a

melhor utilizaccedilatildeo de calculadoras mais concretamente no Ensino Secundaacuterio Geral do 1ordm Ciclo (8ordf

9ordf e 10ordf classes) de forma a que se desenvolvam competecircncias colocando assim o aluno cada vez

mais proacuteximo da utilizaccedilatildeo eficiente deste material na vida real e com expectativas promissoras

para enfrentar o ensino superior com sucesso

A escolha do tema justifica-se tambeacutem pelo facto do autor pretender contribuir para a

melhoria do processo de ensino-aprendizagem incentivando a implementaccedilatildeo adequada de

calculadoras e promovendo maior rigor nas mediccedilotildees e nos caacutelculos em pouco tempo por um lado

e por outro permitir que mais tempo e energia sejam despendidos na compreensatildeo de conceitos

2 Revisatildeo da literatura

Calculadoras satildeo dispositivos universalmente disponiacuteveis e usados por mais diversas

profissotildees para a realizaccedilatildeo de caacutelculos numeacutericos Assim a aula de Matemaacutetica natildeo pode ser

alheia agrave utilizaccedilatildeo destas embora se refere MOURA (20123) que ldquoentre os seacuteculos XII e XVI

ocorre uma oposiccedilatildeo entre os que utilizavam o aacutebaco como instrumento de caacutelculo e os que

defendiam a praacutetica do caacutelculo escrito onde mais tarde no seacuteculo XVII essa oposiccedilatildeo resulta

na transiccedilatildeo do aacutebaco para adopccedilatildeo de maacutequinas artificiaisrdquo Deste modo os actuais programas

de Matemaacutetica um pouco por todo mundo foram elaborados temendo consagrar o seu uso

Desde os tempos mais remotos o homem sentiu anecessidade de efectuar caacutelculos Deste

modo ldquono iniacutecio usou pedrinhas e pequenos paus que separava e agrupava depois comeccedilou a usar

os proacuteprios dedosrdquo (OLEacute 200410)

Segundo PAVAtildeO (20054) ao longo do tempo ldquoeacute inventado na China o Aacutebaco que eacute um

instrumento designado por maacutequina de calcular a mais antiga da histoacuteria do caacutelculo e a primeira

que ajudou o homem a calcular de forma mais raacutepidardquo O Aacutebaco foi o ponto de partida para

inventar novas formas de calcular mais faacuteceis e raacutepidas Os ocidentais baseando-se no Aacutebaco

Chinecircs comeccedilam entatildeo a inventar novas maacutequinas de calcular mas que ainda apresentavam

grandes dimensotildees e peso

Todavia percebe-se que com o passar do tempo verifica-se o aparecimento de calculadoras

mecacircnicas portaacuteteis que funcionam por cursores e manivelas sem utilizarem para isso qualquer

energia senatildeo a cineacutetica De acordo com OLIVEIRA (2011) ldquoconseguem-se entatildeo as 4 operaccedilotildees

baacutesicas (soma subtracccedilatildeo multiplicaccedilatildeo e divisatildeo) e chega-se rapidamente a uma caracteriacutestica

86

revolucionaacuteria a impressatildeo em papel que daacute origem agrave primeira calculadora impressora de

escritoacuterio - a Maacutequina Facit de teclas e alavancasrdquo Com o aparecimento da calculadora

electroacutenica aparecem as primeiras maacutequinas com circuitos electroacutenicos que tornavam mais raacutepidos

e fiaacuteveis os caacutelculos A calculadora comeccedila assim natildeo soacute a ser utilizada no escritoacuterio mas tambeacutem

a niacutevel pessoal

Na deacutecada de 80 surgiram diversos modelos de calculadoras de mesa e de bolso e

diferentes computadores Assim as calculadoras foram aperfeiccediloadas e diminuiacuteram

de preccedilo e de tamanho podendo hoje ser adquiridas por um custo menor e a

populaccedilatildeo em geral passou a ter acesso a esse tipo de instrumento o que acaba

auxiliando nas tarefas particulares e profissionais (OLIVEIRA 201118)

Dentre os vaacuterios tipos de calculadoras as mais usadas hoje em dia satildeo as electroacutenicas

construiacutedas por vaacuterios fabricantes em diversas formas e tamanhos variando em preccedilo conforme a

qualidade e os recursos ofertados A capacidade de uma calculadora varia de acordo com o modelo

desde o poder de caacutelculos agrave aritmeacutetica elementar inclusive outras que consagram funccedilotildees

trigonomeacutetricas

Assim das calculadoras electroacutenicas consideram-se dois tipos que satildeo a baacutesica (simples) e

a cientiacutefica por serem as mais usadas actualmente De acordo com OLIVEIRA (201126) a baacutesica

conta com as quatro operaccedilotildees fundamentais acrescidas de raiz quadrada e percentagem e depois a

cientiacutefica que realiza operaccedilotildees mais complexas como funccedilotildees trigonomeacutetricas logaritmos

interpolaccedilatildeo meacutedia desvio padratildeo potenciaccedilatildeo factorial entre outras Esta uacuteltima ainda pode ser

encontrada no mercado com diferentes funccedilotildees e com maior ou menor complexidade dependendo

do modelo tendo assim um custo relativamente maior que a baacutesica

A partir da Tabela 1 a seguir mostramos os resultados para facilitar a visualizaccedilatildeo das

diferenccedilas referidas previamente

Tabela 1 ndash Resultados depois dos comandos digitados

Expressatildeo Calculadora Cientiacutefica Calculadora Baacutesica

5+4x5 25 45

4x5+5 25 25

20+4x10+5x2+5 75 495

44011x4 160 160

10+10x10+10 120 210 Fonte Organizado pelo autor

87

Da tabela apresentada anteriormente podemos verificar que usando as duas calculadoras para

resolver a mesma expressatildeo obtemos em algum momento o mesmo resultado e noutro resultados

diferentes o que nos leva a perceber que na segunda e na quarta linha os resultados mantecircm-se

pois a multiplicaccedilatildeo vem antes e na divisatildeo e multiplicaccedilatildeo segue-se a ordem respectivamente

Poreacutem noutras linhas a calculadora baacutesica natildeo respeita a multiplicaccedilatildeo como operaccedilatildeo com

prioridade e assim acaba originando um outro nuacutemero como resultado

Uma outra diferenccedila das calculadoras verifica-se no arredondamento de valores que eacute feito

apenas nas calculadoras cientiacuteficas Exemplo 17x7 = 1 Este valor na calculadora baacutesica resulta em

09999997

Assim vaacuterios autores procuram perceber dos professores se tecircm algum conhecimento sobre

a importacircncia ou mesmo vantagens e desvantagens do uso de calculadoras nas aulas de Matemaacutetica

Uma das respostas tidas dos professores eacute que eles afirmam reconhecer a necessidade do uso de

calculadoras em sala de aulas apontando as vantagens e desvantagens da sua utilizaccedilatildeo mas os

mesmos reconhecem natildeo usarem sistematicamente estes materiais no seu quotidiano escolar

A partir das consideraccedilotildees ateacute entatildeo suscitadas tornam-se convenientes as

reflexotildees sobre o papel do professor numa escola adaptada ao uso das novas

tecnologias as representaccedilotildees destes profissionais acerca do perfil dessa nova

escola bem como um olhar atento sobre os processos de formaccedilatildeo especiacutefica

direcionados ao ensino da matemaacutetica e mediados por essas tecnologias

(MORAES 20007)

Neste sentido percebe-se que o nosso sistema de educaccedilatildeo moccedilambicano precisa incluir nos

curriacuteculos uma estrutura educacional que procure priorizar a necessidade de acelerar o processo de

formaccedilatildeo e aperfeiccediloamento de professores em mateacuterias ligadas ao uso de calculadoras nas aulas de

Matemaacutetica

As pesquisas mostram que ldquoo uso de calculadoras em sala de aulas pode promover uma

reorganizaccedilatildeo da actividade matemaacuteticardquo (KISTEMANN 2014)

ldquoEmbora o uso da calculadora ainda possa ser um tabu nas aulas de Matemaacutetica fora da

escola nas mais variadas situaccedilotildees eacute uma realidade esta faz parte das experiecircncias quotidianas

dos alunosrdquo (SANTOS 2014) Percebe-se que todo mundo deveria estar a utilizar a calculadora

por tratar-se de uma ferramenta importantiacutessima Ao contraacuterio do que muitos professores dizem a

calculadora natildeo coloca no activo o raciociacutenio do aluno Todas as pesquisas feitas sobre a

aprendizagem usando calculadoras preocupam-se em como utilizar correctamente estas tecnologias

de forma a desenvolver actividades que contribuam para o desenvolvimento dos alunos tanto no

ambiente escolar como fora

88

De acordo com KISTEMANN (2014) ldquoestudos nacionais e internacionais vecircm apresentando

resultados que demonstram que a calculadora pode exercer um papel importante na compreensatildeo

de conceitos matemaacuteticosrdquo Sendo assim estes materiais podem ser propostos em sala de aulas a

partir de situaccedilotildees que estimulem os alunos a reflectirem subsidiando tambeacutem o professor na

proposiccedilatildeo de actividades matemaacuteticas

Todavia a discussatildeo sobre o uso de calculadoras nas salas no ensino primaacuterio em

Moccedilambique eacute actual e contestada dividindo opiniotildees nos diversos quadrantes educacionais uma

vez que a poleacutemica se conduz para a forma como a calculadora pode auxiliar no desenvolvimento

de actividades em sala de aula influenciando de maneira positiva a aprendizagem matemaacutetica do

aluno

De acordo com DEIXA (2016) natildeo se justifica que a calculadora seja vista como um

instrumento destruidor das mentes dos alunos na escola em pleno seacuteculo das inovaccedilotildees

tecnoloacutegicas uma vez que esta pode servir como alavanca para verificar os resultados sem perca do

tempo

Apesar das divergecircncias nesta secccedilatildeo percebeu-se que vaacuterios autores defendem que o uso de

calculadoras em sala de aulas quando bem explorado em situaccedilotildees didaacutecticas planificadas com

criteacuterios bem definidos pode constituir uma oportunidade para o aluno se auxiliar na operaccedilatildeo com

nuacutemeros naturais e racionais na visualizaccedilatildeo da interpretaccedilatildeo de conceitos matemaacuteticos construccedilatildeo

de graacuteficos entre outros aspectos

Neste contexto percebe-se que o uso de calculadoras aparece como alvo de muitos

preconceitos pois muitos profissionais consideram que a inserccedilatildeo destes materiais pode impedir o

raciociacutenio do aluno aleacutem de lhe causar a chamada preguiccedila mental

As actividades propostas com calculadoras satildeo organizadas de modo criterioso

Levando-se em consideraccedilatildeo o tipo de actividade o eixo matemaacutetico a que se

refere e os conceitos trabalhados as actividades buscam entre outras propostas (i)

explorar o valor posicional do sistema de numeraccedilatildeo decimal (ii) propor a

resoluccedilatildeo de problemas com grandezas e medidas (iii) explorar a divisatildeo como

geradora de nuacutemeros decimais e a multiplicaccedilatildeo de decimais (iv) explorar

diferentes representaccedilotildees dos conceitos matemaacuteticos e as relaccedilotildees entre operaccedilotildees

inversas e (v) estimular actividades de estimativas e realizaccedilatildeo de caacutelculos

confirmadores de resultados (KISTEMANN 201410)

Depreende-se que tomando em consideraccedilatildeo todas estas actividades a presenccedila de

calculadora nas aulas de Matemaacutetica pode ser motivadora para os alunos criando um ambiente de

89

reflexatildeo acerca de situaccedilotildees matemaacuteticas que de certo modo se tornam reincidentes fatigantes e

abaladas por praacuteticas mecacircnicas nas quais se utilizam somente laacutepis e papel

A imagem a visatildeo real da coisa natildeo soacute economizam palavras mas permitem senti-

las tal como satildeo sem ter que imaginaacute-las a partir das palavras do professor Aleacutem

disso os recursos do ensino satildeo estimuladores e incentivadores O aluno que vecirc

que toca que manipula os objectos que realiza as experiecircncias que age sobre os

objectos tem mais facilidade de compreender e explicar a mateacuteria em estudo Dessa

forma a aprendizagem se torna mais real mais concreta mais significativa

(FERREIRA 2007 51)

Neste contexto percebe-se que com base em demonstraccedilotildees do concreto usando objectos

como eacute o caso da calculadora em sala de aulas facilmente pode se contextualizar a mateacuteria em

estudo colocando assim o aluno muito proacuteximo da realidade ou do seu quotidiano Entende-se

tambeacutem que um processo de ensino e aprendizagem da Matemaacutetica acompanhado de manipulaccedilatildeo

de objectos pode tornar o aluno mais entusiasmado e com facilidade de poupar mais tempo na

assimilaccedilatildeo da mateacuteria

3 Metodologia

Para a concretizaccedilatildeo deste trabalho de pesquisa foram aplicados os estudos qualitativo e

quantitativo A pesquisa qualitativa natildeo se preocupa com representatividade numeacuterica mas sim

com o aprofundamento da compreensatildeo de um grupo social ou organizaccedilatildeo Por isso o autor do

presente trabalho utilizou os meacutetodos qualitativos para poder explicar e exprimir o que conveacutem ser

feito E mais ainda o autor preocupou-se com aspectos da realidade que natildeo podem ser

quantificados centrando-se na compreensatildeo e explicaccedilatildeo da dinacircmica da utilizaccedilatildeo de calculadoras

na sala de aulas Para a recolha de dados foram utilizados os seguintes instrumentos questionaacuterio

entrevista observaccedilatildeo directa e registos institucionais

No que respeita ao estudo quantitativo estabelece-se que ldquoos resultados da pesquisa

quantitativa podem ser quantificados conforme as amostras que satildeo geralmente grandes e

consideradas representativas da populaccedilatildeo alvo da pesquisardquo (FONSECA 200220) Neste

contexto o autor centrou o seu estudo na objectividade onde a realidade foi compreendida com

base na anaacutelise de dados brutos recolhidos com auxiacutelio de instrumentos padronizados

Salientar que a utilizaccedilatildeo conjunta da pesquisa qualitativa e quantitativa permitiu recolher

mais informaccedilotildees do que se poderia conseguir isoladamente A pesquisa quantitativa serviu apenas

para auxiliar e complementar o estudo qualitativo que foi mais amplo e que permitiu que as pessoas

90

socializassem a sua proacutepria realidade e daiacute tirar conclusotildees a partir do proacuteprio trabalho do campo

respeitando o que foi mais uacutetil de acordo com a posiccedilatildeo dos intervenientes no contexto estudado

Nesta direcccedilatildeo para melhor verificar como tinham sido utilizadas as calculadoras nas aulas

de Matemaacutetica ao longo do periacuteodo fez-se um estudo pioneiro que na primeira etapa consistiu na

recolha dos dados referentes ao uso da calculadora na oacuteptica de diversos autores na segunda etapa

baseou-se no trabalho de campo mais concretamente na Escola Secundaacuteria de Inhamissa em Xai-

Xai com o intuito de entender profundamente o que estava acontecendo com o aproveitamento

pedagoacutegico na disciplina de Matemaacutetica atraveacutes das pautas do exame da 10ordf classe realizado em

2012 e de outros documentos como fichas relatoacuterios ou arquivos em computador A seguir foram

assistidas algumas aulas de Matemaacutetica da 8ordf 9ordf e 10ordf classe Posteriormente foram auscultados 13

professores em exerciacutecio nas distintas escolas da cidade e distrito de Xai-Xai Para a recolha dos

dados aplicou-se um questionaacuterio

O questionaacuterio foi aplicado em 5 escolas nomeadamente Escola Secundaacuteria de Chongoene

Escola Secundaacuteria Ndambine 2000 Escola Secundaacuteria de Xai-Xai Escola Secundaacuteria de Tavene e

Escola Secundaacuteria de Inhamissa abrangendo professores de Matemaacutetica na maioria a leccionar a 8ordf

classe haacute mais de 7 anos

Com esta composiccedilatildeo de teacutecnicas foi possiacutevel obter respostas que permitiram fazer uma

anaacutelise assente em aspectos convergentes e divergentes em torno do uso da calculadora na sala de

aulas de Matemaacutetica Para efeitos de anaacutelise as respostas dos inquiridos foram apresentadas por

P11 P12 P13 ateacute P115 e assim sucessivamente ateacute ao 13ordm inquirido que foi designado por P1315

onde P11 significa inquirido 1 pergunta 1 e P1315 significa inquirido 13 pergunta 15

4 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

Para apresentar analisar e discutir o uso de calculadoras no ensino de Matemaacutetica recorreu-

se agrave anaacutelise dos dados recolhidos a partir dos instrumentos elaborados para o efeito

As calculadoras natildeo satildeo usadas no ensino da Matemaacutetica pois de acordo com as respostas

dadas por um total de 3 professores de Matemaacutetica entrevistados na Escola Secundaacuteria de

Inhamissa em Xai-Xai haacute falta de domiacutenio no manuseamento durante o ensino da Matemaacutetica

aliaacutes eles reconhecem que natildeo se tecircm promovido acccedilotildees de formaccedilatildeo ou capacitaccedilatildeo regular de

professores em mateacuterias ligadas ao uso da calculadora

Da observaccedilatildeo directa feita conseguiu-se verificar que os 3 professores de Matemaacutetica tecircm

um certo domiacutenio na planificaccedilatildeo das suas aulas uma vez que os seus planos apresentavam-se bem

estruturados e com quase todos os materiais didaacutecticos contemplados

91

Ao longo da nossa presenccedila na escola em causa houve oportunidade de conhecer a sala onde

se encontram guardados todos os materiais didaacutecticos desde calculadoras giz reacuteguas esquadros

compassos transferidores soacutelidos geomeacutetricos ateacute alguns construiacutedos pelos proacuteprios alunos

ldquoA aprendizagem da Matemaacutetica visa desenvolver o raciociacutenio loacutegico ao operar com

conceitos e procedimentos usando meacutetodos apropriadosrdquo (INDEMINED 200743) Do estudo

feito a niacutevel do Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio Geral (PCESG) desde o seu Contexto

Poliacutetica Geral Inovaccedilotildees no ESG Estrutura Cultural do ESG Aacutereas Curriculares do 1ordm ciclo ateacute agraves

Estrateacutegias de Implementaccedilatildeo constatou-se que no seu todo ele tem como principal desafio

formar cidadatildeos capazes de lidar com padrotildees de trabalho em mudanccedila de adaptar-se a uma

economia baseada no conhecimento e em novas tecnologias influenciando assim o reforccedilo das

conquistas atingidas nos campos poliacutetico econoacutemico e social e para a reduccedilatildeo da pobreza na

famiacutelia e na sociedade em geral Neste sentido entende-se que tanto ao niacutevel da famiacutelia como da

sociedade em geral haacute necessidade de reduzir os preconceitos tendentes ao uso da calculadora

Apresentam-se a seguir os resultados do questionaacuterio aplicado em cinco escolas secundaacuterias

da cidade e distrito de Xai-Xai sobre a percepccedilatildeo dos professores de Matemaacutetica no que respeita ao

uso de calculadoras em sala de aulas Este questionaacuterio foi respondido no iniacutecio do mecircs de

Novembro de 2016

Para tornar faacutecil a anaacutelise dos dados recolhidos no campo de pesquisa foram organizadas as

respostas e declaraccedilotildees dos inquiridos em cinco (5) quadros resumo de acordo com o nuacutemero da

questatildeo nomeadamente Quadro 1 2 3 4 e 5 para as questotildees Q4 Q5 Q6 Q7 Q8 Q9 Q10 Q11

Q12 Q13 Q14 e Q15 respectivamente E os inquiridos foram designados por P1 P2 P3 P4 P5

P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 e P13

Para as questotildees Q1 Q2 e Q3 da anaacutelise das respostas dadas pelos 13 professores de

Matemaacutetica inquiridos do ESG do 1ordm ciclo em 5 escolas da cidade e distrito de Xai-Xai Proviacutencia

de Gaza pudemos depreender que dois (2) possuem o niacutevel meacutedio um (1) bacharel e dez (10)

licenciados trabalhando com Matemaacutetica entre um (1) a trinta e seis (36) anos

92

Quadro 1 - Tem alguma formaccedilatildeo sobre TIC`s (Q4)

Resposta dada Inquiridos Nordm de inquiridos Percentagem ()

Sim P1 P2 P7 P8 P9 P11 e P12 7 538

Natildeo P3 P4 P5 P6 P10 e P13 6 462

Fonte Organizado pelo autor

O Quadro 2 mostra a situaccedilatildeo referente agrave formaccedilatildeo dos professores em TIC`s Deste quadro

podemos notar que 538 dos inquiridos tecircm a formaccedilatildeo em TIC`s contra os 462 que natildeo tecircm

Quadro 2 - Alguma vez jaacute leu ou procurou se informar sobre artigos que abordam sobre o uso da

calculadora no ensino de Matemaacutetica (Q6)

Resposta dada Inquiridos Nordm de inquiridos Percentagem ()

Sim P1 P2 P5 P10 e P12 5 385

Natildeo P3 P4 P6 P7 P8 P9 11 e P13 8 615

Fonte Organizado pelo autor

Com relaccedilatildeo agraves respostas apresentadas no quadro anterior respeitantes agrave informaccedilatildeo que os

professores tecircm sobre o uso da calculadora no ensino da Matemaacutetica atraveacutes da leitura de artigos

verifica-se que apenas 385 dos inquiridos eacute que jaacute tinham lido alguns artigos e a maioria

correspondente a 615 natildeo o tinham feito

Neste sentido e segundo os resultados apresentados entende-se que a falta de alguma

informaccedilatildeo cientiacutefica atraveacutes da leitura de textos ou artigos cientiacuteficos que versam sobre o uso das

calculadoras no ensino da Matemaacutetica provoca limitaccedilotildees da sua implementaccedilatildeo em sala de aulas

93

Quadro 3 ndash Respostas dos inquiridos nas questotildees Q7 e Q8

Questotildees Respostas dadas pelos professores inquiridos Percentagem

()

Q7 Em relaccedilatildeo ao uso da calculadora com os alunos para ensinar Matemaacutetica 7

professores dos inquiridos responderam que ldquoSimrdquo o fazem nas operaccedilotildees

matemaacuteticas com nuacutemeros complicados para determinar a soluccedilatildeo para

caacutelculos aritmeacuteticos longos e trigonometria e para estudo de estatiacutestica E os

restantes 6 dos inquiridos responderam que ldquoNatildeordquo sem comentaacuterios

exceptuando 1 dos 6 que justifica natildeo utilizar a calculadora na medida em

que o aluno precisa desenvolver competecircncias de caacutelculo mental

Sim 538

Natildeo 462

Q8 No que respeita agrave mateacuteria em que se exige o uso da calculadora 10

professores dos inquiridos responderam que o fazem em algumas (mateacuterias)

como na determinaccedilatildeo de aacutereas de figuras geomeacutetricas trigonometria

caacutelculo combinatoacuterio probabilidades e estatiacutestica e logaritmos E os

restantes 3 dos inquiridos abstiveram-se de responder

Algumas 769

Sem

resposta 231

Fonte Organizado pelo autor

Como se pode depreender a partir do quadro anterior nas questotildees 7 e 8 a maioria dos

professores fazem o uso da calculadora com os seus alunos em algumas mateacuterias conforme ilustra

o quadro aliaacutes as percentagens que rondam entre 538 e 769 datildeo a indicaccedilatildeo de que haacute

necessidade por parte dos professores de usarem a calculadora por um lado e por outro verifica-

se que haacute limitaccedilotildees no manuseamento desta visto que uma parte dos inquiridos natildeo explora esta

tecnologia nas suas aulas por que tanto o programa da 10ordf classe como o livro do aluno natildeo datildeo

nenhuma orientaccedilatildeo sobre o uso da calculadora

Quadro 4 ndash Respostas dos inquiridos nas questotildees Q11 e Q12

Questotildees Respostas dadas pelos professores inquiridos Percentagem ()

Q11 Sobre aspectos positivos do uso da calculadora nas aulas de Matemaacutetica

11 professores dos inquiridos responderam que ldquoSimrdquo existem

nomeadamente reduz os caacutelculos permitindo que o aluno tenha mais

Sim 85

94

tempo para resolver muitos exerciacutecios em pouco tempo rapidez na

determinaccedilatildeo de valores numeacutericos sobretudo no caso de nuacutemeros

irracionais flexibiliza o trabalho com caacutelculos incentiva o aluno a

explorar a aacuterea tecnoloacutegica e traz simplicidade nos caacutelculos E ainda na

mesma questatildeo 2 professores responderam que natildeo existem

Natildeo 15

Q12 No que respeita aos aspectos negativos do uso da calculadora nas aulas

de Matemaacutetica 11 professores dos inquiridos responderam que ldquoSimrdquo

existem nomeadamente quando o aluno natildeo consegue acertar caacutelculos

simples sem a calculadora cria um fracasso (preguiccedila) no aluno ao

resolver casos simples o aluno natildeo desenvolve habilidades para

resolver casos subsequentes que dependem do que aprendeu

anteriormente cria preguiccedila na forma de pensar E os restantes 2

responderam que ldquoNatildeordquo mas sem comentaacuterio

Algumas 85

Natildeo 15

Fonte Organizado pelo autor

A partir das respostas apresentadas no quadro anterior entendemos que elas evidenciam um

equiliacutebrio entre as vantagens e desvantagens do uso da calculadora nas aulas de Matemaacutetica pois

tanto em aspectos positivos como negativos nas questotildees 11 e 12 a percentagem dos inquiridos que

responderam e comentaram eacute a mesma de 85 contra 15 dos que natildeo comentaram

Assim apesar deste equiliacutebrio as respostas dos inquiridos revelam que eles tecircm sido

dominados pelas desvantagens uma vez que em nenhuma das respostas clarificam o objectivo

especiacutefico do uso da calculadora em determinados conteuacutedos de Matemaacutetica Por esta razatildeo haacute

receio na implementaccedilatildeo desta devido agrave falta de formaccedilatildeo de professores em mateacuterias ligadas ao

uso de calculadoras em salas de aulas o que contribui para o mesmo professor tornar esta

tecnologia alheia agraves aulas de Matemaacutetica

Quadro 5 ndash Respostas resumidas nos comentaacuterios dos inquiridos nas questotildees Q5 Q9 Q10 Q13

Q14 e Q15 sobre o uso da calculadora

Resposta dada Inquiridos Nordm de inquiridos Percentagem ()

Sim P1 P2 P3 P4 P5 e P11 6 46

Natildeo P6 P7 P8 P9 P10 P12 e P13 7 54

Fonte Organizado pelo autor

Quanto ao uso de calculadoras em sala de aulas 6 dos inquiridos (P1 P2 P3 P4 P5 e P11)

correspondentes a 46 apresentaram os seguintes comentaacuterios deve-se usar a calculadora somente

para os testes excepto para exames deve-se usar a calculadora simples e de acordo com o conteuacutedo

a dar mas natildeo em todas as classes (acho que podia se comeccedilar no ensino secundaacuterio porque o aluno

95

jaacute possui as bases do caacutelculo) deixar os alunos usarem a maacutequina pois facilita na obtenccedilatildeo do

resultado e racionaliza o tempo o que permite o aluno se sentir bastante motivado que se deixe o

aluno usar a calculadora sempre que necessaacuterio a Matemaacutetica eacute uma sequecircncia de conteuacutedos em

que cada um depende do anterior obrigando assim o aluno a aprender com base na calculadora as

maacutequinas calculadoras satildeo importantes no nosso dia-a-dia de caacutelculos mas eacute preciso que sejam

usadas depois de se ter desenvolvido o caacutelculo mental no aluno Contudo os outros 7 dos inquiridos

(P6 P7 P8 P9 P10 P12 e P13) correspondentes a 54 natildeo apresentaram nenhum comentaacuterio

Contudo salientar que todos foram unacircnimes em reconhecer a existecircncia e faacutecil acesso das

maacutequinas simples e cientiacuteficas

Neste contexto os comentaacuterios apresentados pelos professores inquiridos constituem mais

uma prova de que de facto eles reconhecem que as calculadoras satildeo bastante importantes no

processo de ensino e aprendizagem no caso concreto de Matemaacutetica Poreacutem prevalece o problema

referente ao seu manuseamento pois os proacuteprios professores natildeo estatildeo preparados cientificamente

em mateacuterias ligadas ao uso de calculadoras em sala de aulas E se assim continuar teremos um

professor que estaraacute sempre em choque com as tecnologias que dia poacutes dia estatildeo ganhando espaccedilo

pelo universo

4 Conclusotildees e sugestotildees

Do estudo realizado sobre as percepccedilotildees dos professores no que tange ao uso de calculadoras

em sala de aulas do ESG do 1ordm ciclo conclui-se o seguinte

Os professores natildeo fazem o uso de calculadoras em aulas de Matemaacutetica pois durante a

assistecircncia em nenhum momento o professor se preocupou em orientar o uso da calculadora

limitando-se apenas a usar frequentemente materiais didaacutecticos como quadro verde e giz e

livro do aluno

Haacute uma vontade clara por parte dos professores em usar a calculadora no ensino da

Matemaacutetica segundo as respostas dadas pela maioria dos inquiridos (acima de 60)

afirmando que esta facilita simplifica e impulsiona uma aprendizagem significativa dos

alunos Poreacutem na praacutetica o cenaacuterio eacute outro pois haacute receio no uso desta devido a

preconceitos excessivos dos professores que se ilustram pelas afirmaccedilotildees como a

calculadora cria preguiccedila mental ao aluno assim como a dependecircncia mesmo em caacutelculos

simples ou seja a calculadora retarda o desenvolvimento da capacidade mental

96

Os professores tecircm conhecimento da importacircncia de calculadoras em sala de aulas mas natildeo

fazem o seu uso conforme as expectativas porque natildeo tecircm bases da sua implementaccedilatildeo

limitando-se assim a usaacute-las de forma empiacuterica

Nos documentos como PCESG do 1ordm Ciclo e Livro do aluno natildeo aparece nenhuma

orientaccedilatildeo sobre o uso de calculadoras em sala de aulas

Sugestotildees

Com o triunfo e surgimento das novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tanto alunos

como professores deveratildeo se sentir obrigados a acompanhar essa evoluccedilatildeo e apostar num trabalho

que vise promover acccedilotildees de formaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo em mateacuterias concretamente ligadas ao uso de

calculadoras nas aulas de Matemaacutetica

Para futuras pesquisas sugerimos um debate com os professores a respeito do uso das

calculadoras em salas de aulas visto que este trabalho pode abrir um espaccedilo para dar seguimento

das investigaccedilotildees Contudo muitas questotildees se levantaram por exemplo Quando usar a

calculadora Como usar a calculadora Onde usar a calculadora Porquecirc usar a calculadora

Uma alteraccedilatildeo nos cursos de formaccedilatildeo dos professores com vista a equipaacute-los de capacidades

cientiacuteficas ajustadas ao uso das calculadoras em particular e das tecnologias em geral em salas de

aulas poderia ser uma oportunidade para que o professor de Matemaacutetica possa buscar coerecircncia

entre a actividade e os objectivos educacionais que pretende atingir com seus alunos

Referecircncias bibliograacuteficas

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Ensino Fundamental PUCPR 2005

SANTOS Adriano C Centro de Ensino e pesquisa Aplicada agrave Educaccedilatildeo Plano de Ensino de

Matemaacutetica 7ordm Ano 2014

98

Reflexatildeo sobre o sistema de progressatildeo por ciclos de aprendizagem

Yavalane Sergio Parruque23

Resumo

O presente trabalho com o tema ldquoReflexatildeo sobre o sistema de progressatildeo por ciclos de aprendizagemrdquo

visa conduzir a uma reflexatildeo dos professores e da sociedade moccedilambicana sobre a implementaccedilatildeo da

progressatildeo por ciclos de aprendizagem introduzidas no paiacutes e a sua relaccedilatildeo com o modelo por

competecircncias Em vaacuterios paiacuteses os ciclos de aprendizagem tecircm sido implementados com o objectivo de

reduzir ou eliminar o grande nuacutemero de reprovaccedilotildees que tem-se verificado nas escolas Entretanto a

progressatildeo por ciclos de aprendizagem tem sido um assunto poleacutemico no contexto de ensino primaacuterio em

Moccedilambique por natildeo permitir a reprovaccedilatildeo do aluno ao longo do ciclo e por isso serem justificadas as

lacunas que os alunos apresentam no desenvolvimento das competecircncias prescritas nos programas de

ensino Para a compreensatildeo deste fenoacutemeno desenvolveu-se um estudo qualitativo baseado na revisatildeo de

literatura e na anaacutelise de documentos Com a informaccedilatildeo recolhida foi possiacutevel perceber que a falta de

preparaccedilatildeo dos professores em mateacuteria da avaliaccedilatildeo formativa o uso abusivo da avaliaccedilatildeo sumativa e a

falta de registo das competecircncias dos alunos satildeo entre outros factores que caracterizam a maacute gestatildeo dos

ciclos de aprendizagem

Palavrasexpressotildees-chave Gestatildeo Progressatildeo por Ciclos de Aprendizagem

Abstract

This present work titled ldquoReflection on learning cycles system progressionrdquo am to conduct a reflection to

Mozambican teachers and the society about the implementation of learning cycles progression introduced

in the country and its relation with the competence model

In various countries learning cycles have been implemented with the objective to reduce or eliminate high

number of failures that are being seen in the schools However learning cycles progression have been seen

as a polemic subject in the context of primary education in Mozambique by not permitting students

failures along the cycle and that is being justified the gaps that the students present in the development

of prescribed competences in the education programs

To comprehend this phenomenon it was developed a qualitative study based in literature revision and

document analysis With the collected data it was possible to perceive that the lack of teachers preparation

in formative assessment abusive use of summative assessment and the lack of the students competences

registration are among other factors that characterize the bad management of learning cycles

Key wordsexpression management learning cycles progression

Introduccedilatildeo

Em vaacuterios paiacuteses do mundo tecircm-se verificado elevados iacutendices de reprovaccedilatildeo o que

conduziu a procura de soluccedilatildeo para mudar-se este cenaacuterio A busca de uma soluccedilatildeo para um

sistema de ensino fustigado pelas reprovaccedilotildees paiacuteses lusoacutefonos e francoacutefonos inclusive

Moccedilambique implementaram a promoccedilatildeo automaacutetica que reduziu as reprovaccedilotildees no Ensino

Baacutesico organizando o ensino por ciclos (Duarte et al 2012)

23 Mestre em Desenvolvimento Curricular e Instrucional pela UEM (2013-2016) e Licenciado em Ensino de Ingles

pela UEM (2001-2005) Docente de Inglecircs na Escola Comunitaacuteria Santo Antoacutenio da Malhangalene desde 2003 e

colaborador na aacuterea de docecircncia no Instituto de Ciecircncias de Sauacutede (ISCISA) em Maputo na cadeira de Inglecircs desde

2010

99

Em Moccedilambique o relatoacuterio de Desenvolvimento Humano do ano 2000 colocou a

necessidade de o paiacutes adoptar a promoccedilatildeo automaacutetica ou a avaliaccedilatildeo por ciclos de aprendizagem

(Duarte et al 20122) O Regulamento Geral do Ensino Baacutesico (REGEB) 2008 preconiza que a

progressatildeo seja por ciclos de aprendizagem e dentro de cada ciclo a progressatildeo seja automaacutetica

A progressatildeo por ciclos de aprendizagem significa transitar de um ciclo de aprendizagem para o

outro e passagens automaacuteticas a transiccedilatildeo do aluno de uma classe para outra dentro do ciclo

(INDE 2003) 24

Apos vaacuterias transformaccedilotildees curriculares em 2004 eacute introduzido um novo curriacuteculo para o

Ensino Baacutesico (EB) em Moccedilambique cujo desafio eacute melhorar a qualidade elevando o acesso e

equidade do geacutenero com vista a assegurar a universalizaccedilatildeo da escolaridade baacutesica gratuita de

07 classes ateacute 2015 (Duarte et al 2012)

Problema

A progressatildeo por ciclos de aprendizagem tem sido um assunto poleacutemico no contexto de

ensino primaacuterio em Moccedilambique por natildeo permitir a reprovaccedilatildeo do aluno ao longo do ciclo

mesmo os alunos natildeo possuindo o domiacutenio das competecircncias exigidas para cada ciclo Por isso

a questatildeo que se levanta eacute porquecirc os alunos progridem de um ciclo para o outro sem revelarem

as competecircncias exigidas em cada ciclo

Objectivo da pesquisa

Reflectir sobre a poleacutemica da progressatildeo por ciclos de aprendizagem no Ensino Baacutesico em

Moccedilambique e suas consequecircncias aos niacuteveis subsequentes

Perguntas de pesquisa

I Seraacute que os intervenientes principais deste processo (alunos e professores) estatildeo

esclarecidos sobre a filosofia da progressatildeo por ciclos de aprendizagem

II Seraacute que os professores praticam a avaliaccedilatildeo que acompanha as aprendizagens dos

alunos

III O que estaacute sendo feito para que os alunos passem com o domiacutenio das competecircncias

exigidas para cada ciclo

24 Citado por Nhantumbo (2009)

100

Este artigo estaacute dividido em trecircs partes A primeira discute a questatildeo da reprovaccedilatildeo no

contexto internacional e nacional no Ensino Baacutesico mostrando as suas desvantagens A segunda

parte retrata a questatildeo da introduccedilatildeo da progressatildeo por ciclos de aprendizagem em Moccedilambique

e a aprovaccedilatildeo dos alunos sem o domiacutenio das competecircncias exigidas para cada ciclo e a terceira

discute a implicaccedilatildeo da sua maacute gestatildeo

Metodologia

Para a compreensatildeo deste fenoacutemeno se desenvolveu um estudo qualitativo baseado na

revisatildeo de literatura e na anaacutelise de documentos A opccedilatildeo pela pesquisa de orientaccedilatildeo qualitativa

justifica-se em funccedilatildeo da crenccedila de que este tipo de investigaccedilatildeo fundamenta-se na anaacutelise

qualitativa e interpretativa como sendo a mais adequada na compreensatildeo de processos sociais

Bauer e Gaskell (2003) defendem que o aspecto quantitativo de uma investigaccedilatildeo pode

estar presente ateacute mesmo em informaccedilotildees colhidas por estudos essencialmente qualitativos natildeo

obstante o seu caraacutecter qualitativo quando satildeo transformados em dados quantificaacuteveis na

tentativa de assegurar a exatidatildeo dos resultados

Para a consecuccedilatildeo desta pesquisa recorreu-se agrave anaacutelise de documentos deste modo foram

analisados o Programa Curricular do Ensino Baacutesico (PCEB) e Regulamento Geral do Ensino

Baacutesico (REGEB) no que concerne a avaliaccedilatildeo

A revisatildeo de literatura permitiu explorar de melhor forma aspectos relativos ao novo

sistema de avaliaccedilatildeo progressatildeo por ciclos de aprendizagem e a qualidade de ensino

Fundamentaccedilatildeo teoacuterica

Avaliaccedilatildeo

O artigo 58 do REGEB considera avaliaccedilatildeo uma componente de praacutetica educativa que

permite uma recolha sistemaacutetica de informaccedilotildees que uma vez analisadas retroalimentam o

processo de ensino-aprendizagem promovendo assim a qualidade de educaccedilatildeo A avaliaccedilatildeo tem

como objectivos

I Permitir ao professor tirar conclusotildees dos resultados obtidos para o trabalho pedagoacutegico

subsequente

II Apoiar o trabalho educativo de modo a sustentar o sucesso permitindo o reajuste

curricular da escola e da turma nomeadamente quanto agrave selecccedilatildeo de metodologias e

recursos em funccedilatildeo das necessidades educativas

101

III Contribuir para a melhoria da qualidade do sistema educativo possibilitando a tomada de

decisotildees para o seu aperfeiccediloamento e promovendo a confianccedila social no seu

funcionamento

IV Certificar as diversas competecircncias adquiridas pelo aluno no final de cada ciclo e no

ensino baacutesico

Evoluccedilatildeo ou fases da avaliaccedilatildeo

A avaliaccedilatildeo da aprendizagem foi e continua sendo obejcto de anaacutelise por parte dos

pesquisadores da aacuterea da avaliaccedilatildeo educacional e teve diferentes fases As suas origens

remontam desde o iniacutecio do seacuteculo XX com o objectivo de medir mudanccedilas nos

comportamentos humanos A avaliaccedilatildeo eacute entendida como a mediccedilatildeo da diferenccedila existente entre

o modelo do professor e a reproduccedilatildeo desse modelo que o aluno consegue fazer serve para

hierarquizar os alunos e o erro natildeo constitui um ponto de referecircncia para novas aprendizagens

mas sim eacute punido atribuindo-se uma nota para qualquer tipo de apreciaccedilatildeo (Pinto e Santos

2006)

A segunda fase da avaliaccedilatildeo eacute marcada por estudos desenvolvidos por Tyler e Smith (sd)

que incluiacuteam uma diversidade de procedimentos avaliativos como testes escalas de atitude

inventaacuterios questionaacuterios fichas de registos de comportamento entre outras medidas Para

Tyler (1974) o propoacutesito da educaccedilatildeo eacute modificar o comportamento isto eacute consiste basicamente

na determinaccedilatildeo dos objectivos tradutores das mudanccedilas desejaacuteveis nos padrotildees de

comportamento do aluno que satildeo determinados no curriacuteculo

Desde o seu surgimento a avaliaccedilatildeo teve uma funccedilatildeo classificatoacuteria selectiva e de

hierarquizar os alunos a sua funccedilatildeo eacute de atribuir creacutedito agraves aprendizagens realizadas pelo aluno

no final de cada etapa formativa quando se obteacutem um diploma ou certificado sendo um criteacuterio

de selecccedilatildeo no mundo laboral

A terceira geraccedilatildeo eacute marcada pelos estudos de Scriven a avaliaccedilatildeo como juiacutezo de valores

Nesta fase haacute distinccedilatildeo da avaliaccedilatildeo sumativa e formativa Nesta geraccedilatildeo para aleacutem dos testes

escritos a avaliaccedilatildeo envolve os seus intervenientes na tomada de decisatildeo e toma em conta o

processo de ensino-aprendizagem (Duarte et al 201210)

A quarta geraccedilatildeo da avaliaccedilatildeo teve seu iniacutecio nos finais de seacuteculo XX Avaliaccedilatildeo passou

para a funccedilatildeo de acompanhamento das aprendizagens colocando o aluno como o centro das

aprendizagens e o professor como facilitador do processo de ensino-aprendizagem Nesta

102

abordagem o aluno tem espaccedilo para descobrir suas fraquezas e procurar formas de superaacute-las

adoptando novas formas de aprendizagem assim como o professor adopta novas estrateacutegias de

ensino com vista a garantir a apropriaccedilatildeo do conhecimento pelos alunos

Embora na progressatildeo por ciclos se privilegie a utilizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo formativa aquela

que ajuda o aluno na construccedilatildeo do saber ainda nota-se nas escolas do ensino baacutesico em

Moccedilambique o uso excessivo da avaliaccedilatildeo sumativa o que acaba sendo contraditoacuterio para o tipo

de avaliaccedilatildeo que se procura implementar para reduzir ou eliminar as reprovaccedilotildees em

Moccedilambique

Ciclos

No seacuteculo XX devido a um alto iacutendice de reprovaccedilotildees alguns paiacuteses introduziram no

ensino os ciclos de aprendizagem Eles se caracterizam como possibilidade de reorganizaccedilatildeo do

tempo e espaccedilo escolares respeito aos processos de aprendizagem dos alunos e eliminaccedilatildeo da

repetecircncia

O termo ciclos com o significado de natildeo retenccedilatildeo veio a ser utilizado de modo mais

recorrente na deacutecada de 1980 adquirindo posteriormente outras designaccedilotildees tais como

promoccedilatildeo automaacutetica progressatildeo continuada ciclos de formaccedilatildeo e ciclos de aprendizagem

Contudo as denominaccedilotildees natildeo podem ser consideradas como sinoacutenimos (Mainardes 2007)

Segundo Barretto e Mitrulis (1999) os ciclos surgem como forma de regularizar o fluxo

escolar buscando eliminar ou limitar a repetecircncia O objetivo eacute oferecer melhores condiccedilotildees de

ensino e ecircxito escolar dos alunos favorecendo assim o exerciacutecio da plena cidadania

Os ciclos de aprendizagem procuram romper com o regime normal que tem em sua origem

uma loacutegica de reprovaccedilatildeo e exclusatildeo Essa loacutegica eacute uma construccedilatildeo histoacuterica e produz enormes

taxas de reprovaccedilatildeo sem viabilizar o desempenho acadecircmico dos alunos Esse fracasso se revela

atraveacutes do modo como o professor avalia aos seus alunos privilegiando a forma classificatoacuteria

verificando se eles dominam habilidades e conteuacutedos atraveacutes de provas testes trabalhos Essa

forma de avaliar tem sido contestada pois daacute primazia apenas ao produto e natildeo ao processo de

aprendizagem (Freitas 2003)

A discussatildeo trazida por Barretto e Mitrulis (1999) Freitas (2003) e Mainardes (2007)

sobre os ciclos de aprendizagem mostra a necessidade de uma mudanccedila no sistema de avaliaccedilatildeo

rompendo o regime de reprovaccedilotildees avaliaccedilatildeo classificativa para uma abordagem centrada no

aluno que assenta na avaliaccedilatildeo formativa

103

Por isso em Moccedilambique para se reduzir ou eliminar o maior iacutendice de reprovaccedilatildeo foi

introduzido em 2004 um novo curriacuteculo que entre vaacuterias mudanccedilas introduzidas inclui-se a

progressatildeo por ciclos de aprendizagem aliada a progressatildeo semi-automaacutetica

O curriacuteculo de Ensino Baacutesico (EB) eacute organizado em dois graus o Ensino Primaacuterio do 1ordm

grau (EP1) e o Ensino Primaacuterio do 2ordm grau (EP2) O EP1 eacute constituiacutedo por dois ciclos o 1ordm ciclo

que corresponde a 1ordf e 2ordf classes e o 2ordm ciclo que corresponde a 3ordf 4ordf e 5ordfclasses O EP2 eacute

constituiacutedo por 3ordm ciclo que correspondem a 6ordf e 7ordf classes

Segundo o INDEMINED (2008) os principais objectivos dos trecircs ciclos do ensino

primaacuterio satildeo

O 1ordm ciclo tem como objectivo desenvolver habilidades e competecircncias de leitura e escrita

contagem de nuacutemeros e realizaccedilatildeo das operaccedilotildees baacutesicas somar subtrair multiplicar e dividir

observar e estimar distacircncia medir comprimentos noccedilotildees de higiene pessoal de relaccedilatildeo com as

outras pessoas consigo proacuteprio e com o meio

O 2ordm ciclo tem como objectivo aprofundar os conhecimentos e habilidades desenvolvidas

no primeiro ciclo e introduzir novas aprendizagens relativas as Ciecircncias Sociais e Naturais e

tambeacutem levar o aluno a calcular superfiacutecies e volumes

O 3ordm ciclo tem como objectivo consolidar e ampliar os conhecimentos habilidades

adquiridas nos ciclos anteriores preparar o aluno para a continuaccedilatildeo dos estudos eou para a

vida

Neste sistema de avaliaccedilatildeo pressupotildeem-se que haja a criaccedilatildeo de condiccedilotildees de

aprendizagem de modo a que os alunos alcancem os objectivos miacutenimos de aprendizagem de um

determinado ciclo para que possam progredir para os outros ciclos Por isso a avaliaccedilatildeo

predominante eacute formativa ela faz o acompanhamento do aluno de modo a superar as suas

fraquezas as actividades de aprendizagem centram-se no aluno e esta avaliaccedilatildeo procura aferir

o desempenho fiaacutevel em termos de competecircncias descritas no curriacuteculo para cada ciclo Eacute com

base nos resultados dela que se identificam as actividades de reforccedilo e de recuperaccedilatildeo dos

alunos com dificuldades de aprendizagem

A avaliaccedilatildeo formativa na visatildeo de Hadji (2001) tem a funccedilatildeo de informar ao professor

sobre a sua acccedilatildeo pedagoacutegica e ao aluno sobre o seu ponto de situaccedilatildeo no processo de ensino-

aprendizagem dando ecircnfase sobre os seus ecircxitos e dificuldades

Como se pode depreender esta avaliaccedilatildeo ajuda ao professor a avaliar o niacutevel de

aprendizagem os seus meacutetodos e a adequar as suas estrateacutegias quando necessaacuterio e tambeacutem ao

aluno traz informaccedilatildeo vaacutelida informa-se sobre os seus erros para os poder corrigir Knoblauch

104

(2004) explica que a avaliaccedilatildeo formativa estaacute integrada no processo de ensino e facilita a

aprendizagem do aluno

Tanto Haidji (2001) assim como Knoblauch (2004) concordam que a avaliaccedilatildeo formativa

natildeo tem a funccedilatildeo de medir e classificar entretanto de fornecer o feedback aos seus

intervenientes de modo a conduzi-los a uma aprendizagem efectiva

Embora o discurso centra-se na utilizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo formativa nas salas de aulas em

Moccedilambique

prevalece nas praacuteticas educativas uma avaliaccedilatildeo sumativa que procura

classificar o aluno verificar a sua posiccedilatildeo no conjunto dos alunos reprovaacute-lo

ou aprovaacute-lo dando-se pouca ecircnfase agrave avaliaccedilatildeo como forma de ajudar o aluno

a superar as suas dificuldades e ajudaacute-lo a melhorar o seu desempenho (Duarte

et al 2012)

Na eacutepoca contemporacircnea estudos desenvolvidos internacionalmente assim como

nacionalmente mostram-se a favor de uma avaliaccedilatildeo que natildeo seja classificatoacuteria e que procure

eliminar a reprovaccedilatildeo Por exemplo internacionalmente um estudo efectuado por Almeida

Junior (1957) explica que a reprovaccedilatildeo acarreta problemas como a evasatildeo escolar desperdiacutecio

de recursos financeiros e a estagnaccedilatildeo de alunos reprovados nas seacuteries iniciais do curso primaacuterio

e que eles envelhecem ocupando o lugar das novas geraccedilotildees

Um outro estudo levado a cabo por Perrenoud (2004) considera que reprovar o aluno duas

ou mais vezes durante a sua escolaridade natildeo eacute soluccedilatildeo pois a reprovaccedilatildeo natildeo cria

homogeneidade das turmas afecta a auto-imagem do aluno e o seu valor aos olhos dos outros o

seu atraso escolar torna-se uma deficiecircncia no momento de qualquer decisatildeo posterior a

reprovaccedilatildeo natildeo somente eacute inuacutetil mas tambeacutem injusta

A niacutevel nacional Gomez (2010) Dias (2009) Duarte et al (2012) e INDEMINED (2008)

explicam nos seus estudos que a reprovaccedilatildeo retarda e afecta o aluno no seu rendimento escolar

e consequentemente na sua auto-estima como se testemunha a seguir

Os alunos repetentes tecircm tendecircncia a ter um rendimento baixo

relativamente aos natildeo repetentes Isto pode significar que em alguns

casos a repetecircncia natildeo melhora significativamente a qualidade de

ensino-aprendizagem pelo contraacuterio pode provocar bloqueios nos

alunos quer porque a sua faixa etaacuteria natildeo condiz com os colegas da

turma criando complexos de inferioridade inibiccedilotildees e ateacute bloqueios

cognitivos quer porque eventualmente foi lhe impedida uma

progressatildeo Note que eacute necessaacuterio ter em conta que os ritmos de

aprendizagem e desenvolvimento satildeo variaacuteveis de pessoa para pessoa e

isto tambeacutem se pode aplicar ao niacutevel da escola principalmente nos

primeiros anos de escolaridade (INDEMINED 2008)

105

A citaccedilatildeo em epiacutegrafe faz-nos perceber que a reprovaccedilatildeo traz no sistema uma seacuterie de

desvantagens no caso concreto de Moccedilambique para aleacutem de trazer descompassos no ritmo de

aprendizagem ela tira o aluno do sistema e consequentemente o marginaliza Contudo

Perrenoud (2004) explica que o desaparecimento da reprovaccedilatildeo natildeo basta para eliminar o

fracasso escolar Deve se buscar outras respostas para a questatildeo da heterogeneidade nas salas de

aulas Na opiniatildeo do autor na busca de uma homogeneidade sem acompanhamento acaba-se

conduzindo os alunos a natildeo aprendizagem efectiva

Em Moccedilambique eliminou-se a reprovaccedilatildeo poreacutem os alunos chegam no fim de cada ciclo

sem apresentarem o desenvolvimento das competecircncias prescritas nos programas de ensino

Uma das razotildees eacute que

a escola na perspectiva de individualizar o ensino atender aos ritmos de

aprendizagem de cada aluno acaba criando situaccedilotildees de desigualdade na sala

de aula ou seja haacute alunos que progredindo automaticamente chegam a uma

fase em que a classe em que estatildeo natildeo corresponde aquilo que satildeo os seus

saberes (Duarte et al 2012)

O Plano Curricular do Ensino Baacutesico-PCEB (200829) apresenta as seguintes condiccedilotildees

para que se cumpram os objectivos esperados sobre ciclos de aprendizagem

Preparaccedilatildeo dos professores em mateacuterias de avaliaccedilatildeo o que poderaacute ser realizado atraveacutes

da formaccedilatildeo inicial e em exerciacutecio

Disponibilidade de cadernos de exerciacutecios que reflictam as competecircncias miacutenimas que os

alunos devem desenvolver em cada estaacutegio de aprendizagem

Disponibilizaccedilatildeo pelo MINED de instrumentoc de recolha de informaccedilatildeo (qualitativa e

quantitativa) sobre o desempenho do aluno (hellip)

Contudo estudos desenvolvidos por Dias (2008) revelam que o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

natildeo criou condiccedilotildees para que tal acontecesse e os implementadores os professores natildeo

entendem em que consiste a avaliaccedilatildeo formativa

A minha questatildeo eacute como desenvolver as competecircncias prescritas nos programas

curriculares sem acompanhamento do aluno e adequaccedilatildeo das estrateacutegias ou por outra sem

aplicaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo formativa Esta situaccedilatildeo mostra que enquanto os executores (professores

directores e inspectores) natildeo estiverem familiarizados com este tipo de avaliaccedilatildeo e convencidos

da sua necessidade a promoccedilatildeo automaacutetica estaraacute destinada a completo fracasso (Leite 1959)

Dias (2009291) explica que em Moccedilambique

ao tentar resolver o problema das repetecircncias criando ciclos de

aprendizagem apenas se escamoteou o problema Jaacute natildeo temos

106

repetentes as estatiacutesticas satildeo todas bonitas os alunos todos aprovados

temos dados quantitativos para mostrar a eficiecircncia a eficaacutecia e a

ldquoqualidaderdquo do sistema educacional e continuamos cinicamente

mantendo um sistema de avaliaccedilatildeo distorcido e que estaacute a ser desastroso

Como interpretar esta triste realidade que oculta o real desempenho do aluno Isto por um

lado acontece por que os professores natildeo estatildeo preparados para aplicar a avaliaccedilatildeo formativa

por outro por que ldquo as direcccedilotildees das escolas entendem que devem apresentar altos iacutendices de

aprovaccedilatildeo porque essa seria uma exigecircncia vinda de cimardquo(Gomez 2010 256)

A falta de conhecimento sobre o que os professores devem fazer nos ciclos de

aprendizagem faz com que eles escondam o resultado do seu trabalho nas estatiacutesticas ldquobonitasrdquo

que natildeo revelam o real desempenho dos alunos

Com os problemas aqui arrolados pode-se inferir que os ciclos de aprendizagem em

Moccedilambique ainda natildeo estatildeo a assumir a funccedilatildeo pela qual foram adoptados que seria de os

alunos progredirem para etapas subsequentes com as competecircncias desses ciclos bem

consolidadas Por isso na tese 2 de Perrenoud (200441) sobre os ciclos de aprendizagem o

autor defende que ldquo um ciclo de aprendizagem soacute pode funcionar se os objectivos de formaccedilatildeo

visados no fim do percurso forem claramente definidos Eles constituem o controlo de base para

os professores alunos e paisrdquo

Implicaccedilatildeo da maacute gestatildeo de progressatildeo por ciclos de aprendizagem associada a

promoccedilatildeo semi-automaacutetica

As mudanccedilas no sistema educacional sempre foram acompanhadas pela aceitaccedilatildeo assim

como pela resistecircncia dos seus intervenientes Garcia (2001) afirma que os professores

consideram que no sistema normal era possiacutevel obter resultados mais eficazes do que com o

sistema de ciclos de aprendizagem

Para Gloria (2002) uma das implicaccedilotildees deste sistema de aprendizagem eacute que a escola natildeo

tem cumprido o papel que para eles eacute fundamental a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho

Essa consequecircncia eacute atribuiacuteda agrave proposta de natildeo retenccedilatildeo escolar que tem aprovado os seus

filhos sem que eles dominem o miacutenimo exigido por esse mercado

A implantaccedilatildeo dos ciclos eacute complexa uma vez que traz implicaccedilotildees para o curriacuteculo a

avaliaccedilatildeo as metodologias a organizaccedilatildeo e a gestatildeo da escola Pressupotildee uma formaccedilatildeo

contiacutenua dos professores Trata-se de uma mudanccedila na estrutura do sistema de escolarizaccedilatildeo que

traz implicaccedilotildees para o trabalho docente organizaccedilatildeo da escola relaccedilatildeo escola-comunidade e

que demanda investimento de natureza diversa algo que eacute atendido de forma variada e algumas

107

vezes de forma descontiacutenua nos diferentes contextos nos quais os ciclos satildeo implantados

(Mainardes amp Stremed 2012)

Estes autores afirmam que a implantaccedilatildeo de ciclos traz diversos desafios para os

professores sendo primeiro a necessidade de conhecer o projecto de ciclos proposto para as

escolas o significado desta politica e as implicaccedilotildees dessa politica para o seu trabalho e o

segundo desafio diz respeito agraves implicaccedilotildees pedagoacutegicas dos ciclos uma vez que a sua

implantaccedilatildeo pressupotildee uma alteraccedilatildeo significativa nos processos de avaliaccedilatildeo e

desenvolvimento curricular que eram usados pelos professores no regime anterior

Segundo Franco (2001) entre as implicaccedilotildees positivas da organizaccedilatildeo por ciclos destacam-

se as seguintes

i Cria a necessidade de se repensar o sentido da escola das praacuteticas avaliativas dos

conteuacutedos curriculares do trabalho pedagoacutegico e da organizaccedilatildeo escolar

ii Agiliza o fluxo de um maior nuacutemero de alunos contribuindo para a diminuiccedilatildeo do

desperdiacutecio de recursos financeiros

iii Descongestiona o sistema possibilitando o acesso agrave populaccedilatildeo escolarizaacutevel que se

encontra fora da escola

iv Garante aos alunos maior permanecircncia na escola elevando assim as meacutedias de

escolaridade em termos de anos de estudo

v Exige a destinaccedilatildeo de maiores recursos para a educaccedilatildeo a fim de garantir as

condiccedilotildees adequadas

vi Implica em mudanccedilas nas concepccedilotildees e praacuteticas pedagoacutegicas

vii Implica igualmente numa mudanccedila de atitudes dos pais que deixariam de se

preocupar apenas com aprovaccedilatildeo passando a se interessarem tambeacutem pelo

conhecimento que os seus filhos estariam adquirindo na escola bem como pela

necessidade de assumir a responsabilidade da frequecircncia agrave escola no periacuteodo

regular e nos periacuteodos destinados ao reforccedilo ou recuperaccedilatildeo

E entre as possiacuteveis implicaccedilotildees negativas menciona

i Pode ser implantada apenas como soluccedilatildeo formal para as taxas de reprovaccedilatildeo ou

para atender interesses economicistas sem preocupaccedilatildeo com a elevaccedilatildeo da

qualidade de ensino e socializaccedilatildeo efectiva do conhecimento

ii A ausecircncia de trabalho colectivo na escola e a falta de estrateacutegias de projecto

pedagoacutegicos consistentes podem inviabilizar a efectivaccedilatildeo de tais medidas ou

108

ainda estimular a criaccedilatildeo de praacuteticas que visem a moldar as novas orientaccedilotildees agraves

praacuteticas anteriores

Em Moccedilambique a implementaccedilatildeo dos ciclos de aprendizagem implica em primeiro

lugar informar os seus intervenientes sobre este projecto para que eles estejam familiarizados

preparar os professores para a sua implementaccedilatildeo criar condiccedilotildees para capacitaccedilotildees contiacutenuas

de modo a revitalizar o conhecimento destes sobre os ciclos de aprendizagem e mostrar para a

sociedade em geral que embora se procure por um sistema que crie homogeneidade dos alunos

natildeo significa progredir para ciclos subsequentes sem mostrar o domiacutenio das competecircncias

prescritas para cada ciclo

A inquietaccedilatildeo que atormenta ao pesquisador eacute que jaacute passam 13 anos apoacutes a

implementaccedilatildeo das progressotildees por ciclos de aprendizagem no paiacutes mesmo assim entretanto

na medida em que o tempo passa nota-se que haacute transferecircncia deste problema de um niacutevel para o

outro do Ensino Baacutesico para o Ensino Secundaacuterio e os mesmos alunos daqui haacute alguns anos

seratildeo clientes das universidades com particular destaque para Universidade Pedagoacutegiga e

Universidade Eduardo Mondlane A questatildeo que se levanta eacute seraacute que as universidades sendo

instituiccedilotildees de pesquisa estatildeo preparadas para levar a cabo acccedilotildees de modo a inverter este

cenaacuterio

Conclusatildeo

Este trabalho reflectiu sobre as progressotildees por ciclos de aprendizagem e as implicaccedilotildees

da sua maacute gestatildeo no Ensino Baacutesico em Moccedilambique As progressotildees por ciclos de

aprendizagem satildeo vistas internacionalmente assim como nacionalmente como uma forma de

reduzir ou eliminar as reprovaccedilotildees Embora se pretenda eliminar as reprovaccedilotildees a implantaccedilatildeo

deste sistema tem gerado poleacutemica no contexto de ensino primaacuterio em Moccedilambique por natildeo

permitir a reprovaccedilatildeo do aluno ao longo do ciclo mesmo natildeo demostrando o domiacutenio das

competecircncias prescritas para cada ciclo Em Moccedilambique estudos desenvolvidos por Dias

(2009) revelam que jaacute natildeo haacute reprovaccedilatildeo as estatiacutesticas satildeo bonitas contudo a qualidade do

sistema educacional eacute desastrosa

Entretanto vaacuterios factores concorrem para esses resultados poleacutemicos (i) a falta de

preparaccedilatildeo dos professores em mateacuteria de avaliaccedilatildeo inicial e em exerciacutecio (ii) gestatildeo escolar

efectiva (iii) disponibilizaccedilatildeo de material como cadernos de exerciacutecios que reflictam as

109

competecircncias miacutenimas que os alunos devem desenvolver em cada estaacutegio de aprendizagem

entre outros Todos estes factores conduzem as implicaccedilotildees negativas como a falsificaccedilatildeo das

estatiacutesticas pois elas satildeo positivas enquanto a qualidade do ensino eacute baixa o desinteresse por

parte do aluno por saber que no fim do ciclo iraacute progredir e a revindicaccedilatildeo da sociedade por se

graduar alunos que natildeo servem para as exigecircncias do mercado de emprego e a transferecircncia

deste problema de um niacutevel para o outro Portanto exige-se uma reflexatildeo raacutepida especialmente

para as universidades como instituiccedilotildees de pesquisa para a soluccedilatildeo deste problema que

recentemente enferma quase todo o sistema de ensino em Moccedilambique

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111

Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior atribuiccedilotildees causais dos conflitos estudante-

docente na Universidade Pedagoacutegica

Faque Tuair Chare25

Resumo

O comportamento de oposiccedilatildeo entre estudantes e docentes eacute uma realidade na Universidade Pedagoacutegica

manifestando-se por rivalidades acusaccedilotildees muacutetuas e queixas frequentes aos vaacuterios niacuteveis de gestatildeo da

instituiccedilatildeo Assim este artigo visou compreender na perspectiva de estudantes na Delegaccedilatildeo de

Nampula os factores que propiciam a ocorrecircncia dos conflitos entre eles e seus docentes no processo de

avaliaccedilatildeo da aprendizagem Para o efeito usamos entrevistas colectivas em quatro turmas do curso de

Psicologia Educacional antecedidas de revisatildeo literatura e documental Eacute de realccedilar que tratou-se de uma

pesquisa explanatoacuteria uma versatildeo das pesquisas qualitativas e pesquisa de campo para a recolha de

dados A anaacutelise de conteuacutedo serviu-nos para compreender as intervenccedilotildees dos estudantes e as leituras

que fizemos e tambeacutem para a estruturaccedilatildeo do texto Os resultados indicam uma diversidade e confluecircncia

de factores no comportamento conflituoso tais como a corrupccedilatildeo desconhecimento eou incumprimento

de regulamentos da instituiccedilatildeo e subjectividade dos procedimentos de avaliaccedilatildeo Assim propomos que

continuem os trabalhos de divulgaccedilatildeo dos regulamentos de avaliaccedilatildeo supervisatildeo das aulas e sobretudo

das avaliaccedilotildees e sensibilize-se ao docente em relaccedilatildeo ao seu perfil docente como modelo no processo de

ensino e aprendizagem

Palavras-chave Atribuiccedilotildees causais Avaliaccedilatildeo Conflitos Ensino Superior Percepccedilatildeo

Abstract

The behaviour of opposition between students and teachers is a reality in the Pedagogical University

manifesting itself by rivalries mutual accusations and frequent complaints to various levels of

management of the institution So this article aimed to understand the perspective of students in

Nampula Delegation the factors that promote the occurrence of conflicts between them and their teachers

in the process of learning evaluation For that purpose we use collective interviews in four classes of

Educational Psychology course preceded for literature and documentary review It should be noted that

this was an explanatory research a version of the qualitative research and field research for the collection

of data The analysis of content served us to understand both the students speeches and readings that we

did and the structuring of the text The results indicate a diversity and confluence of factors in the

conflictual behaviour such as corruption ignorance andor non-compliance with regulations of the

institution subjectivity of the evaluation procedures We therefore propose to continue the work of

disseminating the assessment regulations supervision of classes and above all the evaluations and raises

awareness to teachers in relation to teaching profile as models in the process of teaching and learning

Keywords Causal attributions Conflicts Assessment Higher education Perception

25 Docente da UP - Nampula Doutorando em Psicologia Educacional na Universidade Pedagoacutegica ndash Maputo

(faquetuairyahoocombr)

112

Introduccedilatildeo

Uma das caracteriacutesticas do ensino eacute a interacccedilatildeo entre os alunos e os professores Esta

interacccedilatildeo supotildee-se que seja agradaacutevel No entanto em algumas vezes verificam-se cenaacuterios

contraditoacuterios isto eacute surgem conflitos entre os principais intervenientes sendo uma das razotildees o

processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem

De facto se definirmos o conflito como o ldquoprocesso que se inicia quando um indiviacuteduo ou

um grupo se sente negativamente afectado por outra pessoa ou grupordquo (De Dreu 1997) apud

CUNHA et al (2004) a avaliaccedilatildeo da aprendizagem parece ter passado a centro de conflitos entre

estudantes e docentes na Universidade Pedagoacutegica (UP) Delegaccedilatildeo de Nampula Os estudantes

tendem a natildeo reconhecer os seus resultados principalmente quando esses satildeo negativos A partir

daiacute assiste-se a constantes pedidos de recorrecccedilotildees dos exames acusaccedilotildees rivalidades cartas

com abaixo-assinados denuacutencias de corrupccedilatildeo nas Miacutedias perseguiccedilotildees em ambientes fora da

instituiccedilatildeo e de queixas aos gestores dos cursos e departamentos como se significasse existecircncia

de docentes injustos Agraves vezes parece uma instrumentalizaccedilatildeo de outros docentes colegas da aacuterea

a qual os estudantes encontram os resultados negativos Aliaacutes parece estar na moda que todos os

estudantes tenham um ldquopadrinhordquo ele pode ser um marido esposa irmatildeo vizinho entre outras

relaccedilotildees que facilitam pedidos e consequente passagem nas disciplinas

Em virtude do disso jaacute existem roacutetulos de professores que reprovam e dos que passam e

ateacute dos que satildeo corruptos como escreveu a Associaccedilatildeo dos estudantes desta instituiccedilatildeo na

mensagem da abertura do Ano Acadeacutemico de 2014

Eacute digno de nota que natildeo obstante aos conflitos o trabalho que se tem feito no iniacutecio dos

anos acadeacutemicos como estrateacutegia preventiva em docentes e estudantes tem sido de divulgaccedilatildeo

dos planos curriculares e do regulamento acadeacutemico da instituiccedilatildeo que incluem o proacuteprio

processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem

Entretanto os conflitos tendem a aumentar e tendo em conta que o conflito precisa ser

percebido pelas partes envolvidas isto eacute a existecircncia ou natildeo do conflito eacute uma questatildeo de

percepccedilatildeo (ROBBINS 2009 190) procuramos saber na percepccedilatildeo dos estudantes que factores

susceptibilizam a ocorrecircncia desses no processo de avaliaccedilatildeo

Nesta pespectiva em que colocamos a questatildeo o artigo procurou compreender na

perspectiva de estudantes os factores que propiciam a ocorrecircncia de conflitos entre eles e seus

docentes no processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem Para o alcance desse objectivo

enquadramos os estudantes dentro da problemaacutetica vivida em seguida exploramos as suas

113

atribuiccedilotildees causais ao fenoacutemeno e por meio das causas evocadas propusemos agrave instituiccedilatildeo

algumas estrateacutegias para minimizar a situaccedilatildeo

Eacute uma temaacutetica digna de abordar visto que a UP tem sido motivo de debates em torno da

sua qualidade e em particular pela conduta dos seus docentes Aliaacutes a educaccedilatildeo superior nas

palavras de SORDI (2005 125) deve ser de qualidade sempre a qualidade natildeo eacute uma condiccedilatildeo

que seja facultativa agraves instituiccedilotildees de ensino E tambeacutem poderaacute servir para evitar que entremos

no perigo de a avaliaccedilatildeo ser utilizada de forma tendenciosa onde segundo Cavalieri (2004)

apud MARTINS (2010 34) existe o risco de manipulaccedilotildees por parte dos professores

coordenadores de dados de avaliaccedilatildeo dos seus pares e outros professores no jogo de poder e

rivalidades na instituiccedilatildeo Ou por outra tambeacutem estaremos a acautelar riscos de possiacuteveis

retaliaccedilotildees dos proacuteprios estudantes intimidando os professores a darem as notas que lhes

convecircm

Pelas razotildees descritas enveredamos por uma pesquisa qualitativa e explanatoacuteria ou

explicativa cujo trabalho de campo usou a entrevista como principal procedimento de recolha de

dados Outrossim recorremos agrave pesquisa bibliograacutefica e documental como auxiliares e agrave anaacutelise

de conteuacutedo para compreensatildeo das intervenccedilotildees dos sujeitos da pesquisa das leituras que

fizemos e tambeacutem para a organizaccedilatildeo do texto

Avaliaccedilatildeo de aprendizagem no Ensino Superior

O conceito de avaliaccedilatildeo eacute polisseacutemico provavelmente seja por isso que as suas praacuteticas

tambeacutem sejam variadas Eacute nessa loacutegica que apresentamos nesta etapa as vaacuterias concepccedilotildees e

praacuteticas e relacionamo-las com as da instituiccedilatildeo que elegemos para este estudo

Para Kraemer (2006) citado por OLIVEIRA APARECIDA e SOUZA (sd 2384)

avaliaccedilatildeo vem do latim e significa valor ou meacuterito ao objecto em pesquisa junccedilatildeo do acto de

avaliar ao de medir os conhecimentos adquiridos pelo indiviacuteduo Os autores consideram um

instrumento valioso e indispensaacutevel no sistema escolar podendo descrever os conhecimentos

atitudes ou aptidotildees das quais os alunos se apropriaram A avaliaccedilatildeo nesse sentido revela os

objetivos de ensino jaacute atingidos num determinado ponto de percurso e tambeacutem as dificuldades no

processo de ensino-aprendizagem

Por seu turno NETO e ROSENBERG (1995 14) definem sinteticamente a avaliaccedilatildeo

como sendo a comparaccedilatildeo entre os resultados observados e os desejados A partir dessa

comparaccedilatildeo podem ser levantadas hipoacuteteses para atribuir causas aos efeitos encontrados como

foi o propoacutesito deste trabalho

114

Um bom instrumento de avaliaccedilatildeo eacute aquele que informa bem eacute discriminador eacute

consistente natildeo eacute arbitraacuterio Uma boa metodologia de avaliaccedilatildeo deve ir muito aleacutem do medir do

verificar do classificar precisa oferecer muito mais do que um iacutendice quantitativo deve permitir

compreender conhecer interpretar identificar situar entender o que e como se aprendeu A

medida e a nota tecircm seu papel mas eacute preciso ter clareza sobre ele (RAMOS sd 12)

Aleacutem disso RAMOS (op cit 13) salienta que o processo avaliativo deve respeitar e

promover o desenvolvimento de relaccedilotildees interpessoais autecircnticas e cooperativas Atitudes e

posturas com relaccedilatildeo aos colegas agrave instituiccedilatildeo aos professores bem como atitudes com relaccedilatildeo

ao conhecimento devem tambeacutem ser consideradas Isso implica que os alunos construam uma

relaccedilatildeo saudaacutevel com o conhecimento natildeo devendo a avaliaccedilatildeo ser fonte de perda de energia ou

fonte de stress destrutivo

Para o propoacutesito que acabamos de nos referenciar LUCKESI (2011a 204-205) considera

que a avaliaccedilatildeo devia ser como um acto amoroso no sentido de que ela por si jaacute eacute um acto

acolhedor integrativo inclusivo Como um acto amoroso para o autor seria aquele que

acolhesse actos acccedilotildees alegrias e dores como eles satildeo acolhesse para permitir que cada coisa

seja o que eacute neste momento Por acolher a situaccedilatildeo como ela eacute o acto amoroso tem a

caracteriacutestica de natildeo julgar pois os julgamentos apareceratildeo mas evidentemente para dar curso

agrave vida (agrave acccedilatildeo) e natildeo para excluiacute-la

Esse amor nos parece muito bem evidenciado nos princiacutepios da avaliaccedilatildeo do Regulamento

Acadeacutemico da Universidade Pedagoacutegica (2012 15) concretamente no nuacutemero 5 do Artigo16

onde se propotildee que a avaliaccedilatildeo tem de desenvolver a motivaccedilatildeo dos estudantes e melhorar o seu

desempenho acadeacutemico

Poreacutem em BASSEDAS HUGUET e SOLEacute (1999 172) sabemos que o juiacutezo e as

valorizaccedilotildees que fazemos dos nossos alunos frequentemente estatildeo permeados por diferentes

factores que agraves vezes natildeo tecircm quase nada a ver com uma observaccedilatildeo cuidadosa e objectiva

como se exige nas avaliaccedilotildees Muitas vezes essa valorizaccedilatildeo depende das expectativas que

formamos (noacutes professores) sobre a crianccedila lecciona-se com sua simpatia ou graccedila com a sua

vontade de aprender com a sua obediecircncia ou ateacute com o seu fiacutesico Este ponto de vista eacute

compartilhado por LUCKESI (op cit 41) quando afirma especificamente que as provas e

exames satildeo realizados conforme o interesse do professor ou do sistema de ensino Nem sempre

se leva em consideraccedilatildeo o que foi ensinado Mais importante do que ser uma oportunidade de

aprendizagem significativa a avaliaccedilatildeo tem sido uma oportunidade de prova de resistecircncia do

aluno aos ataques do professor As notas satildeo operadas como se nada tivessem a ver com a

115

aprendizagem Do mesmo modo essa subjectividade da avaliaccedilatildeo eacute referida por Hadji (1994)

apud GREGO (2014 1) ao admitir que quem quer que seja que avalie revela o seu projecto ou o

que lhe impuseram os seus preconceitos as suas preocupaccedilotildees e se natildeo estiver consciente disso

natildeo pode pretender ser aquilo a que hoje se chama um ldquoactor socialrdquo e a que antigamente se

chamava um homem livre A questatildeo que podemos colocar eacute natildeo seraacute por essa dependecircncia do

factor humano o subjectivo na avaliaccedilatildeo que temos tantos conflitos nesse processo

Por essas contrariedades eacute pertinente vincar nas palavras de BASSEDAS HUGUET e

SOLEacute (op cit 173) que a finalidade baacutesica da avaliaccedilatildeo eacute que sirva para intervir para tomar

decisotildees educativas para observar a evoluccedilatildeo e o progresso da crianccedila e para planear se eacute

preciso intervir ou modificar determinadas situaccedilotildees relaccedilotildees ou actividades na aula E para que

isso seja concretizado eacute necessaacuterio considerar-se na oacuteptica de CHUEIRI (2008 51) que a

avaliaccedilatildeo escolar eacute um meio e natildeo um fim em si mesma

BROWN RACE e SMITH (2000 42-44) reconhecendo que a avaliaccedilatildeo pode ser muito

aborrecida natildeo soacute para os alunos como para os professores propotildeem as seguintes sugestotildees para

a sua animaccedilatildeo diversificaccedilatildeo dos meacutetodos de avaliaccedilatildeo contar com a participaccedilatildeo dos alunos

na avaliaccedilatildeo contar com a participaccedilatildeo de outros colegas pedir a colaboraccedilatildeo de pessoas

estranhas ao processo diversificar os locais de afixaccedilatildeo das notas de vez em quando fazer

sessotildees de avaliaccedilatildeo raacutepida procurar utilizar os meios tecnoloacutegicos dar aos alunos a

possibilidade de se avaliarem em sessotildees informais fazer uma lista de falhas recolhidas nos

trabalhos que corrigiu e dar a conhecer aos alunos atribuir alguns pontos ao sentido de humor

dos trabalhos Assim importa questionar qual eacute a nossa realidade

Os autores que acabamos de citar referem antes que por um lado a avaliaccedilatildeo deve ser

justa e equitativa Isto eacute os estudantes devem ter igualdade de oportunidades para ter ecircxito

mesmo que as suas vivecircncias natildeo sejam idecircnticas Eacute muito importante que todos os instrumentos

e processos de avaliaccedilatildeo sejam considerados justos pelos estudantes E por outro lado as

praacuteticas avaliativas natildeo devem fazer discriminaccedilotildees entre os alunos nem colocar em

desvantagem quaisquer indiviacuteduos ou grupos Por isso deve haver uma gama equilibrada de

diferentes meios de avaliaccedilatildeo em cada curso de modo a assegurar que natildeo haja um grupo de

estudantes mais favorecido do que outro

MARTINS (2010 27) tambeacutem concorda que os procedimentos de avaliaccedilatildeo no ensino

superior natildeo podem se resumir exclusivamente em provas mas devem envolver outras teacutecnicas

capazes de fornecer informaccedilotildees sobre certas mudanccedilas comportamentais como a socializaccedilatildeo

que provas e testes convencionais natildeo tecircm condiccedilotildees de fornecer

116

Note-se que o nuacutemero 1 do artigo 20 do capiacutetulo VI sobre a avaliaccedilatildeo da aprendizagem o

Regulamento Acadeacutemico da UP (2012 17) cumpre com esses pressupostos ao prever que a

avaliaccedilatildeo possa ser individual eou colectiva e apoiar-se em vaacuterios instrumentos a saber

trabalhos teoacutericos trabalhos praacuteticos seminaacuterios testes exames das disciplinas observaccedilatildeo

praacuteticas profissionalizantes praacuteticas pedagoacutegicas e estaacutegio pedagoacutegico praacuteticas teacutecnico-

profissionais e estaacutegio profissionalizante relatoacuterios de praacuteticas profissionalizantes auto-

avaliaccedilatildeo portefoacutelio exames de qualificaccedilatildeo e outras dependendo de cada aacuterea de formaccedilatildeo E

ainda o regulamento sublinha que a participaccedilatildeo do estudante em aulas em sessotildees tutoriais e

em outras actividades o seu empenho e dedicaccedilatildeo ao estudo a sua atitude perante colegas

docentes tutores gestores dos centros de recursos a sua capacidade de auto-avaliaccedilatildeo e

correcccedilatildeo dos seus erros satildeo elementos importantes a tomar em consideraccedilatildeo no processo

avaliativo Entatildeo onde eacute que estaacute o problema Porque razatildeo existem conflitos Seraacute que os

docentes usufruem dessa abertura do regulamento

O processo avaliativo deve ser democraacutetico claro transparente e honesto Eacute impossiacutevel

conceber um processo cooperativo de aprendizagem funcionando junto com um processo

autoritaacuterio de avaliaccedilatildeo Isso implica que os aprendizes devem tambeacutem estar envolvidos na

decisatildeo do que deve ser avaliado (RAMOS sd 13)

McConnel (1999) relata resultados de pesquisas que ao avaliar o grau de relaccedilatildeo entre o

processo de avaliaccedilatildeo e de aprendizagem mostraram que os estudantes em geral escolhem como

e o que aprender com base na forma como satildeo avaliados ou melhor na forma como eles

conseguem imaginar que seratildeo avaliados (RAMOS sd 11) Em virtude desse estudo a UP teraacute

que procurar mecanismos que reduzem os conflitos para que depois natildeo seja viacutetima de fugas de

estudantes para outras instituiccedilotildees de Ensino Superior

Retomando a ideia da democraticidade ABRAMOWICZ (1992 95-96) afirma que a

avaliaccedilatildeo natildeo pode ser vista desgarrada de um universo existencial Ela natildeo deve ser imposta

doada mas deveraacute constituir-se em uma criaccedilatildeo em uma recriaccedilatildeo Portanto deve ser um

processo em que o aluno eacute o sujeito activo o homem no mundo que se auto-avalia de dentro

para fora Deve ser uma avaliaccedilatildeo pelo diaacutelogo amorosa criacutetica natildeo arrogante natildeo autoritaacuteria

mas esperanccedilosa

Sendo o professor um representante dos modelos e valores universalistas Parsons (1985)

apud AFONSO (2000 24) supotildee que deveria garantir a todos os alunos uma igualdade de partida

e oportunidades reais para que estes revelem as suas capacidades recompensando o ecircxito de

117

qualquer um que se mostre capaz Portanto nesta oacuteptica seria o professor o garante de

implementaccedilatildeo de todos os princiacutepios possiacuteveis que tornem ameno o processo de avaliaccedilatildeo

O que se percebe ao aprofundar os estudos sobre a questatildeo eacute que o ensino superior natildeo estaacute

isento dos problemas mais gerais constatados no campo da avaliaccedilatildeo e que tanto na teoria

quanto na praacutetica a avaliaccedilatildeo se reveste de rituais e atitudes discriminatoacuterias Grande parte dos

professores avalia da forma como foram avaliados em sua trajectoacuteria escolar ou vatildeo criando a

partir da experiecircncia e do bom-senso maneiras de avaliar o desempenho dos alunos A prova

escrita eacute o instrumento baacutesico utilizado para verificar a retenccedilatildeo dos conhecimentos repassados

natildeo servindo para orientar ou reorientar o aluno e o professor (CHAVES 2001 156-157)

Dentre os problemas mais destacados na avaliaccedilatildeo da aprendizagem em contextos

universitaacuterios Benedito et al (1995) apud CHAVES (op cit 157-158) destacam

Os processos de avaliaccedilatildeo que passam pela complexidade dos conteuacutedos dos niacuteveis de

aprendizagem dos alunos e de sua valoraccedilatildeo Usualmente enfatiza-se avaliaccedilatildeo de conteuacutedos

conceituais valorizando a memorizaccedilatildeo e reproduccedilatildeo desconsiderando ou deixando de lado as

capacidades e habilidades mentais desenvolvidas o pensamento criacutetico a resoluccedilatildeo de

problemas o estabelecimento de relaccedilotildees etc

Ausecircncia de criteacuterios avaliativos e de sua explicitaccedilatildeo Os proacuteprios alunos percebem

incoerecircncia entre os procedimentos avaliativos os niacuteveis de exigecircncia e a forma do professor

lidar com o conteuacutedo Os criteacuterios natildeo soacute devem ser expliacutecitos como discutidos e analisados

com os alunos modificando-os introduzindo novos criteacuterios derivados da interacccedilatildeo

alunoprofessor

Uso corrente de avaliaccedilatildeo sumativa Haacute uma preocupaccedilatildeo por parte de alunos e

professores com o produto em detrimento do processo de compreensatildeo apropriaccedilatildeo e

construccedilatildeo do conhecimento

Utilizaccedilatildeo inadequada dos resultados da avaliaccedilatildeo Poucos professores utilizam os

resultados de suas avaliaccedilotildees para rever o processo para retomar o conteuacutedo ou para analisar a

sua proacutepria praacutetica assumindo com os alunos a co-responsabilidade pela sua formaccedilatildeo

Contudo talvez seja este o espaccedilo oportuno para se saber que do ponto de vista

pedagoacutegico natildeo existe nenhuma razatildeo cabiacutevel para a reprovaccedilatildeo Pois a reprovaccedilatildeo em si natildeo

faz sentido em nenhuma praacutetica educativa desde que o objectivo seja a aprendizagem e o

desenvolvimento do educando Se a meta eacute essa natildeo faz sentido abortaacute-la pela reprovaccedilatildeo mas

sim investir nela na perspectiva do sucesso Oferecer ensino a educandos e reprovaacute-los satildeo actos

118

contraditoacuterios Quem ensina tem como objectivo o aprendizado do outro A reprovaccedilatildeo aborta o

acto de ensinar e de aprender (LUCKESI 2011b 428-429)

Contrariamente o artigo 34 sobre aprovaccedilatildeo no exame deixa claro a inoperacircncia do

conselho de Luckesi pois considera-se aprovado no exame de uma disciplina moacutedulo ou

actividade curricular o estudante cuja classificaccedilatildeo seja igual ou superior a dez (10) valores

arredondados Para dizer que os que natildeo chegam a esses valores satildeo reprovados e satildeo essas

reprovaccedilotildees como se afirmou antes uma das grandes promotoras de conflitos

Para efeito de promoccedilatildeo ou de graduaccedilatildeo NEacuteRICI (1993 203) afirma que a universidade

deveria promover avaliaccedilatildeo em trecircs sectores assim distribuiacutedos avaliaccedilatildeo de conhecimentos

avaliaccedilatildeo de teacutecnicas e habilidades por meio de estaacutegios e por uacuteltimo avaliaccedilatildeo de atitudes

soacutecio-morais e cientiacuteficas por meio de conceitos expedidos apoacutes a observaccedilatildeo geral do

comportamento do estudante durante o ano lectivo que seria elaborado primeiramente pelos

professores que actuam junto ao estudante separadamente e depois em conjunto

Para evitar os conflitos tambeacutem eacute interessante a experiecircncia de MASETTO (2003159)

que demonstra a sua praacutetica pessoal como docente nos seguintes moldes

No teacutermino do bimestre ou do semestre conforme a exigecircncia da instituiccedilatildeo

fecho a avaliaccedilatildeo juntamente com a auto-avaliaccedilatildeo dos alunos desde que eles

jaacute tenham aprendido a realizaacute-la bem Fazemos em conjunto uma descriccedilatildeo de

como se desenvolveu o processo de aprendizagem durante aquele periacuteodo

conforme jaacute comentado e buscamos uma nota ou um conceito que represente

aquilo que foi aprendido durante o periacuteodo Em minha experiecircncia poucos

foram os casos em que este processo natildeo deu certo Na sua quase totalidade os

resultados foram satisfatoacuterios

Metodologia

Por aquilo que constitui o nosso objectivo nesta pesquisa recorremos aos estudantes para

que compreendecircssemos as suas atribuiccedilotildees causais em relaccedilatildeo aos conflitos que envolvem eles e

seus docentes no processo de avaliaccedilatildeo de aprendizagem

BRUNNER e ZELTNER (1994 31) definem atribuiccedilatildeo causal como tratando-se de um

processo de atribuiccedilatildeo de resultados de acccedilotildees a determinados factores que satildeo considerados

como origem destes resultados Os autores citam Heider (1958) como tendo dito que qualquer

acccedilatildeo pode ser justificada por factores pessoais situacionais e de estabilidade temporal

Deste modo com base em uma investigaccedilatildeo qualitativa que visou compreender os

problemas analisando os comportamentos as atitudes ou os valores (SOUSA e BAPTISTA

119

2011 56) exploramos junto aos estudantes as razotildees que atribuem aos conflitos que ocorrem

entre eles e seus docentes

Na classificaccedilatildeo de Marshall e Rossman (1999) apud SOUSA e BAPTISTA (op cit 57)

de tipos de estudos qualitativos esta pesquisa enquadra-se nos estudos explanatoacuterios visto que

preocupou-se em explicar as forccedilas que originam o fenoacutemeno em estudo e identificar as causas

que o afectam

A entrevista colectiva a anaacutelise documental e a anaacutelise bibliograacutefica foram as teacutecnicas que

auxiliaram a pesquisa A anaacutelise bibliograacutefica segundo GIL (2008 50) eacute desenvolvida a partir

de material jaacute elaborado constituiacutedo de livros e artigos cientiacuteficos enquanto a anaacutelise

documental na perspectiva de OLIVEIRA (2007 69) caracteriza-se pela busca de informaccedilotildees

em documentos que natildeo receberam nenhum tratamento cientiacutefico ou seja as fontes primaacuterias

como satildeo os casos de regulamentos da UP e a mensagem de estudantes desta universidade que

aqui foram usados

O levantamento dos dados por via da entrevista decorreu em quatro turmas que compotildeem o

curso de Psicologia Educacional (com um total de 218 estudantes) A entrevista foi conduzida de

forma grupal Em cada turma (grupo) a estrateacutegia foi de apresentar o enquadramento do

problema que eacute sobejamente conhecido e por via disso os estudantes de uma forma livre foram

dando as razotildees que achavam justificar o comportamento de conflitos entre eles e os seus

docentes no processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem A entrevista foi semi-estruturada visto que

a pergunta era aberta e dava a possibilidade dos entrevistados de exprimirem e justificarem

livremente as suas opiniotildees sem fugirem muito do tema (SOUSA e BAPTISTA op cit 81)

Por meio da anaacutelise de conteuacutedo procuramos compreender melhor o discurso ou as

intervenccedilotildees dos estudantes aprofundar as caracteriacutesticas (gramaticais fonoloacutegicas cognitivas

ideoloacutegicas etc) da bibliografia e dos documentos e extrair os momentos mais importantes os

que nos interessavam para a nossa pesquisa (RICHARDSON et al 1999 224)

Resultados

Apoacutes um enquadramento sobre os comportamentos que evidenciam a problemaacutetica de

conflitos entre docentes e estudantes no que concerne as avaliaccedilotildees como afirmamos

anteriormente pedimos aos estudantes para que atribuiacutessem as razotildees que achavam influenciar o

comportamento em estudo pelo que tivemos vaacuterias razotildees que passaremos a apresentar

Uma das primeiras razotildees indicadas pelos estudantes foi a da elaboraccedilatildeo de testes na base

de mateacuterias natildeo dadas Nesses termos ateacute haacute docentes que apenas deixam o plano temaacutetico

120

orientam para os estudantes prepararem certas mateacuterias mas que depois trazem outras mateacuterias

tambeacutem natildeo discutidas violando assim o nuacutemero 3 do artigo 16 sobre Princiacutepios Gerais da

Avaliaccedilatildeo do Regulamento Acadeacutemico da UP (2012 15) onde se determina que a avaliaccedilatildeo tem

de permitir a identificaccedilatildeo e descriccedilatildeo clara do que vai ser objecto e conteuacutedo da avaliaccedilatildeo

conhecimentos habilidades capacidades e atitudes ou seja competecircncias

Mais uma violaccedilatildeo das normas da instituiccedilatildeo regista-se na marcaccedilatildeo de exames orais

surpresa isto eacute sem que os estudantes tenham sido avisados antecipadamente pois alguns

docentes decidem no dia calendarizado em aplicar esta modalidade de exame Embora os exames

orais sejam uma das alternativas previstas no Artigo 25 sobre exames das disciplinas o Artigo

32 sobre Juacuteri de exames orais impotildee que os mesmos sejam prestados perante um Juacuteri

constituiacutedo no miacutenimo por trecircs membros O Juacuteri referido deveraacute ser designado pelo Chefe de

Departamento o que pressupotildee que a sua realizaccedilatildeo seja antecipada e natildeo de surpresa com um

uacutenico elemento no Juacuteri como foi salientado pelos estudantes

Agraves vezes regista-se incumprimento das calendarizaccedilotildees de exames e remarcaccedilatildeo unilateral

por parte de docentes o que origina consequentemente perca desses por parte de estudantes o

que tambeacutem gera conflitos entre esses sujeitos

Os docentes de liacutenguas foram referenciados como sendo os que avaliam como se

estivessem em cursos de especialidade deixando muita gente a repetir Outrossim regista-se

falta de obras na biblioteca entretanto os docentes mandam fazer trabalhos cujas fontes natildeo

existem e como se natildeo bastasse ainda exigem que tenham uma perfeiccedilatildeo que os estudantes

consideraram de impossiacutevel

Alguns docentes distribuem todo o programa em forma de seminaacuterios e nem sequer fazem

a suacutemula desses e natildeo obstante reprovam os estudantes Haacute docentes que sempre as suas notas

satildeo muito baixas nunca consideram o esforccedilo do estudante mesmo em trabalhos independentes

Os estudantes consideraram que existem docentes que parecem estar a competir com estudantes

aplicando testes quase impossiacuteveis de realizar por exemplo haacute uma tendecircncia de trazerem mais

questotildees de memorizaccedilatildeo do que de reflexatildeo

Nas avaliaccedilotildees referentes aos relatoacuterios de praacuteticas pedagoacutegicas e estaacutegios os estudantes

falaram de arbitrariedades nas notas isto eacute os docentes avaliam sem bases pois eles natildeo

acompanham o decurso dessas actividades acabando por usar criteacuterios obscuros nas atribuiccedilotildees

de notas

121

Alguns estudantes revelaram natildeo terem conhecimento do regulamento de avaliaccedilatildeo sendo

que as uacutenicas informaccedilotildees sobre o processo de avaliaccedilatildeo apenas adquirem na base dos planos

temaacuteticos dos docentes

Por uacuteltimo o Sistema de Gestatildeo de Dados da UP (SIGEUP) agraves vezes contribui para esses

conflitos que agraves vezes parecem provocados pelos docentes isto eacute os estudantes se surpreendem

com duplos resultados numa primeira visualizaccedilatildeo com aprovaccedilotildees e noutra com reprovaccedilotildees

ou por outra com notas diferentes das visualizadas nas primeiras vezes

Consideraccedilotildees finais

O processo de avaliaccedilatildeo que deveria ser um momento amoroso tem virado na UP

Delegaccedilatildeo de Nampula de fonte de conflitos manifestando-se por acusaccedilotildees muacutetuas entre os

docentes e seus estudantes Entre os comportamentos que nos tecircm revelado a ocorrecircncia desses

conflitos destacam-se os pedidos constantes de recorreccedilotildees dos exames as queixas regulares

apresentadas aos gestores dos cursos e departamentos as cartas com abaixo-assinado a

perseguiccedilatildeo de docentes manifestadas fora da instituiccedilatildeo a desobediecircncia de estudantes em

realizarem actividades que incluem alguns testes e exames as denuacutencias de corrupccedilatildeo em

Miacutedias entre outros

Na base dessas evidecircncias desencadeamos uma pesquisa em que nos propuacutenhamos a

compreender na percepccedilatildeo dos estudantes as atribuiccedilotildees causais do comportamento descrito

Pelo que apuramos uma diversidade e confluecircncia de factores sobretudo de iacutendole pessoal dos

docentes no sentido que tratamos em BRUNNER e ZELTNER (1994) Ora vejamos haacute

incumprimento dos calendaacuterios de exames avaliaccedilatildeo com conteuacutedos natildeo leccionados

responsabilizaccedilatildeo inteira dos conteuacutedos dos planos temaacuteticos aos estudantes natildeo divulgaccedilatildeo do

regulamento de avaliaccedilatildeo administraccedilatildeo de testes com questotildees contestadas como os que

exigem memorizaccedilatildeo e a natildeo valorizaccedilatildeo dos trabalhos independentes

E esses factos podem levar a utilizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo para fins pessoais como nos alertou

CAVALIERI (2004) e na contra-acccedilatildeo poderemos continuar a ver estudantes ameaccedilando os

docentes Natildeo soacute como tambeacutem poderaacute a instituiccedilatildeo entrar em decadecircncia pela fuga de

estudantes para outras instituiccedilotildees de ensino superior

Assim propomos que

- sejam divulgados os princiacutepios de avaliaccedilatildeo no geral e da UP em particular

- que se desenvolva um movimento de sensibilizaccedilatildeo dos docentes para tomarem uma

postura que natildeo desgaste a sua imagem pessoal assim como da instituiccedilatildeo

122

- os regulamentos de avaliaccedilatildeo devem continuar a ser divulgados junto dos docentes assim

como dos estudantes

- deve-se fazer uma supervisatildeo constante das aulas e sobretudo das avaliaccedilotildees

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124

Fracasso escolar um olhar conjunto de alunos professores e pais

Arauacutejo Manuel Arauacutejo26

Resumo

Este artigo tem como objectivo analisar o problema do fracasso escolar Pretende descrever as causas

relativas ao estudante na sala de aula na escola e fora dela e outras ainda intra e extra escolares indirectas

ao estudante A metodologia usada foi do tipo descritivo de um levantamento de dados e o instrumento

para a recolha destes foi um conjunto de dois inqueacuteritos o primeiro composto de 23 perguntas semi-

fechadas dirigido a estudantes e o segundo com 5 perguntas abertas para professores e pais e

encarregados de educaccedilatildeo Numa perspectiva indutiva os resultados da leitura dos inqueacuteritos permitiram

concluir que i) o fracasso escolar eacute uma realidade ii) existem causas especiacuteficas cuja existecircncia permite

intervenccedilatildeo em ordem a se ter saiacutedas para problema Propotildee-se um trabalho conjunto de aquisiccedilatildeo de

mecanismos para reduzir o impacto do fracasso

Palavras-chave Fracasso escolar Estudante Repetecircncia Meio escolar Professor

Summary

This article aims to analyse the problem of school failure Describes the causes related to the

student in the classroom in the school and outside of it and others still intra and extra school

indirect to the student The methodology used was the descriptive type of a data survey and the

instrument for the collection of these was a set of two surveys the first compound of 23 semi-

closed questions to students and the second with 5 open questions to teachers and parents and

guardians From an inductive perspective the results of the reading of the surveys allowed to

conclude that i) school failure is a reality ii) there are specific causes whose existence allows

intervention in order to have outputs to the problem It is proposed a joint work of acquiring

mechanisms to reduce the impact of failure

Keywords School failure Student Repeat School environment Teacher

Introduccedilatildeo

O fracasso escolar eacute um dos problemas do Sistema de Educaccedilatildeo em Moccedilambique Haacute

muitos estudos feitos sobre o tema Este artigo procura trazer aleacutem da abordagem bibliograacutefica

pontos de vista sobre as causas do fracasso escolar de docentes estudantes e pais e encarregados

de educaccedilatildeo e como trabalhar para mitigar a problemaacutetica Os manuais usados para o suporte

bibliograacutefico abordam o tema muitas vezes em acircmbitos nacionais de realidades natildeo

moccedilambicanas contudo os inqueacuteritos que serviram para a elaboraccedilatildeo deste artigo foram

26 Mestrando em Educaccedilatildeo Ensino de Filosofia pela Universidade Pedagoacutegica em Maputo ndash Moccedilambique Teacutecnico

na Direcccedilatildeo dos Serviccedilos de Documentaccedilatildeo e Informaccedilatildeo (DSDI) da Universidade Pedagoacutegica

125

especificamente direccionados a estudantes do niacutevel meacutedio (11ordf e 12ordf classes) de escolas puacuteblicas

e privadas de Maputo e Matola nomeadamente Coleacutegio Moderno Escola Secundaacuteria Armando

Emiacutelio Guebuza Escola Secundaacuteria 14 de Outubro e Escola Secundaacuteria Satildeo Damaso Os

professores e os encarregados de educaccedilatildeo inquiridos tambeacutem pertencem a estes ciacuterculos

O inqueacuterito foi levado a cabo no mecircs de Setembro do ano de 2015 Foram inquiridos 100

estudantes das escolas em causa 4 professores e 4 pais e encarregados de educaccedilatildeo num total de

108 elementos cuja escolha foi aleatoacuteria

Este artigo surge da associaccedilatildeo de duas metodologias dois inqueacuteritos (um aos estudantes

e o outro aos professores e pais e encarregados de educaccedilatildeo) e leitura de bibliografia que trata do

tema de fracasso escolar

Fracasso escolar em muitos dos casos estudados estaacute ligado agrave pobreza esta ideia eacute

defendida por Libacircneo na sua obra com o tiacutetulo Didaacutectica ldquoum dos mais graves problemas do

sistema escolar (hellip) eacute o fracasso escolar principalmente de crianccedilas mais pobresrdquo (Libacircneo

201339) Este tem como origem (no sentido de germe) o ensino primaacuterio comportando

insuficiente alfabetizaccedilatildeo e repercute-se em exclusotildees ao longo dos anos repetecircncias

dificuldades ldquoinsuperaacuteveisrdquo comprometedoras do estudo ateacute desistecircncias

Urge tambeacutem nesta introduccedilatildeo emergir algumas definiccedilotildees sobre o que seja a expressatildeo

fracasso escolar ou insucesso escolar como prefere designar Annamaria Rangel (sd) Haacute aquelas

definiccedilotildees que parecem sinoacutenimas especificamente no campo educacional tais como ldquoinsucesso

num exame bem como o afastamento definitivo da escola provocado por repetecircncias sucessivasrdquo

(Rangel sd9)

Considere-se tambeacutem que fracasso escolar eacute uma noccedilatildeo relativa Ela soacute tem sentido no

seio de uma dada instituiccedilatildeo escolar e num dado momento da carreira nessa instituiccedilatildeo Eacute

relativa aos objectivos da escola traduzidos num programa uma progressatildeo niacuteveis e natildeo a uma

inadaptaccedilatildeo que caracteriza o aluno permanentemente (Cfr Rangel sd 21) Quer dizer

mudadas as circunstacircncias um aluno dito fracassado pode ser aluno de sucesso

A ideia de fracasso escolar eacute um conceito da deacutecada de 60 Segundo explicaccedilotildees dos

socioacutelogos de educaccedilatildeo fracasso escolar eacute o fenoacutemeno da desigualdade de oportunidades na

escola

O sistema escolar pode ter um papel nas desigualdades de sucesso escolar contudo o

papel de outros campos vectores deve ser atendido como eacute o da famiacutelia o Governo e a

sociedade no geral para se apurar o papel que estes tecircm sobre o tema em causa

126

Quais satildeo as causas do fracasso escolar no nosso meio proacuteximo e como trabalhar para a

mitigaccedilatildeo de algumas delas satildeo as questotildees que vatildeo ser esclarecidas ao longo da leitura deste

artigo Ele estaacute dividido em cinco partes a primeira apresenta a conceituaccedilatildeo a segunda as

causas do fracasso escolar relativas ao estudante e a sala de aulas a terceira causas relativas ao

meio escolar a quarta causas relativas ao meio extra-escolar e a quinta uma possiacutevel soluccedilatildeo

do problema do fracasso escolar

1 Revisatildeo da literatura

O problema do fracasso escolar tatildeo presente em vaacuterios contextos educacionais do mundo

actual pode ateacute ser considerado de um problema antropoloacutegico educacional Eacute sobejamente

estudado contudo um estudo a mais levanta sempre uma possibilidade de tornar presente uma

missatildeo a cumprir na educaccedilatildeo resolver o problema do fracasso escolar

Segundo Durkheim citado por Rangel a primeira tarefa de um investigador eacute a de definir

o objecto do seu estudo ou seja determinar a ordem dos factos que propotildee a estudar a fim de

lhes dar homogeneidade e a especificidade que lhes satildeo necessaacuterias para serem tratados como

cientiacuteficos e poderem estabelecer uma ponte segura no diaacutelogo do discurso do texto com o leitor

(Cfr Rangel sd 28) Eacute a partir desta ideia que satildeo chamadas as palavras-chave ou ideias-chave

a serem definidas Nesta ordem o primeiro conceito a definir eacute o fracasso escolar Eacute importante

dissecaacute-lo para entendecirc-lo melhor Por um lado temos o termo fracasso e por outro o termo

escolar Aquele deve ser entendido como insucesso falecircncia de um projecto bem como uma

posiccedilatildeo difiacutecil na qual algueacutem coloca o seu adversaacuterio O dicionaacuterio da liacutengua portuguesa

coordenado por Joatildeo Costa define fracasso como ruina ou desgraccedila (Costa 2011 734) O

correlativo termo para exprimir esta ideia eacute a palavra escolar Esta eacute um adjectivo de qualquer

coisa que versa sobre a escola Sendo assim fracasso escolar no contexto desta abordagem deve

ser entendido como insucesso escolar relativo aos estudantes incapacidade de sua progressatildeo

chumbos desistecircncias repetecircncia de estudantes na escola Esta ideia eacute antoacutenima de sucesso

escolar abordada por Bernard Lahire na sua obra Sucesso escolar nos meios populares como

sendo ldquoverdadeiros ecircxitos sem defeitos que os professores percebem como brilhanteshelliprdquo

(Lahire 1997 285)

Um outro conceito a ser abordado eacute o de repetecircncia Para Rangel repetente diz-se de um

estudante que recomeccedila um ano escolar desde que esta decisatildeo natildeo tenha sido provocada por

uma causa fortuita nem ter problemas graves do ponto de vista psicoloacutegico ou fiacutesico e ao fim de

127

um ano os seus resultados escolares levem-no a repetir (Cfr Rangel sd 30) A anaacutelise do termo

visa alargar o conceito de insucesso escolar

A falta de dignificaccedilatildeo da actividade docente tambeacutem tem sido tomada como um dos

factores para o fracasso escolar Nas questotildees levantadas nos inqueacuteritos aos docentes estes

apontam a natildeo valorizaccedilatildeo dos docentes como causa do fracasso escolar ratificando a existecircncia

conjuntural desta desvalorizaccedilatildeo expressa por Lourenccedilo na introduccedilatildeo do seu livro com o tiacutetulo

Hoje natildeo haacute aulas como ldquoreacccedilatildeo agrave cada vez mais insuportaacutevel e injusta desvalorizaccedilatildeo da

profissatildeo docente ou seja da imagem daqueles que satildeo agentes principais no futuro de um paiacutesrdquo

(Lourenccedilo 2007 5)

No seu livro Acabar com insucesso na escola Hubert Montagner propotildee a atenccedilatildeo dos

professores a casos particulares de estudantes mas isto depende da motivaccedilatildeo que eles tecircm o

nuacutemero de estudantes que compotildeem as turmas os problemas que cada estudante traz de casa

Mesmo assim ele afirma que ldquoo professor eacute o observador melhor colocado do tempo pessoal

das diferentes crianccedilasrdquo (Montagner 1996 205) Ele deveria ter ou deveria ser dotado da

capacidade privilegiada para ajudar os estudantes a ultrapassar as suas dificuldades sem ser

intrometido nem ldquomandatildeordquo e assegurando uma presenccedila eficaz

Os conceitos acima descritos relativos ao fracasso escolar abrem um horizonte para a

percepccedilatildeo do espaccedilo criado para a anaacutelise do tema ou o ciacuterculo do fracasso envolvente aos

estudantes nas escolas de Maputo e Matola a intersecccedilatildeo que este ciacuterculo tem com o ciacuterculo do

meio extra-escolar e possiacuteveis saiacutedas do problema

2 Causas do fracasso escolar relativas ao estudante e a sala de aulas

Quando se aborda a o assunto em causa isto eacute fracasso escolar a primeira ideia que

surge eacute sobre o sujeito em foco o estudante Para atender a esta primazia coloca-se neste

trabalho o ponto de vista do proacuteprio alvo

Um olhar sobre o inqueacuterito respondido pelos estudantes referido no resumo que constitui

uma das metodologias da elaboraccedilatildeo deste artigo dita que dos 100 estudantes inquiridos das

diversas escolas (Cfr Anexo II) boa parte deles acredita que a causa do fracasso escolar estaacute

estritamente ligada ao proacuteprio estudante que fracassa Eles se atribuem a culpa pelo fracasso

escolar pelo natildeo empenho e maus resultados

Outros factores de relevo que levantam os estudantes como causas do fracasso escolar

satildeo os professores menos motivados e consequentemente desmotivadores isto eacute pouco atentos

no acompanhamento dos alunos se progridem ou natildeo o factor transporte tambeacutem eacute apontado

128

como causa relevante do fracasso pese embora estando ligado a causas econoacutemicas extra-

escolares do fracasso Dois uacuteltimos factores apontados como causas do fracasso escolar satildeo a

fome e a falta de orientaccedilatildeo profissional dos alunos para a sua vida adulta

No que diz respeito aos nuacutemeros sugeridos para a composiccedilatildeo das turmas dos 100

estudantes inquiridos 25 sugerem 30 estudantes por turma e fazem passar entre os argumentos a

favor deste nuacutemero a ideia segundo a qual este nuacutemero proporciona um bom sentimento na sala

de aulas que acaba favorecendo um melhor processo de ensino e aprendizagem e favorece que o

professor esteja atento ao crescimento dos seus estudantes outros 25 sugerem 35 estudantes por

turma com similares argumentos anteriores a favor Sucessivamente em nuacutemero de 12

estudantes por cada opccedilatildeo apresentam 25 40 45 e 50 estudantes por turma com os seguintes

argumentos facilitaccedilatildeo da compreensatildeo da mateacuteria por parte dos estudantes facilitaccedilatildeo do

trabalho docente e muita interacccedilatildeo estudantes professor professor estudantes e estudantes

entre si Os 12 uacuteltimos estudantes que propotildeem o nuacutemero de 50 estudantes por turma estatildeo

convictos de que haacute desistecircncias ao longo do ano e que este nuacutemero deve compor as turmas no

iniacutecio do ano quer dizer que para eles o nuacutemero ideal para compor as turmas deve ser menor que

50 estudantes por turma caso natildeo houvesse desistecircncias Haacute dois estudantes que propotildeem o

nuacutemero de 36 estudantes por turma sem apresentar argumentos relevantes Em meacutedia as turmas

que proporcionaram alunos que responderam ao questionaacuterio eram compostas de 65 alunos por

turma aleacutem dos nuacutemeros propostos pelos alunos

Entre os docentes que abordaram o fracasso escolar sob ponto de vista dos alunos

levantaram factores que se podem chamar de ldquodistractoresrdquo que levam ao fracasso escolar nas

zonas urbanas onde o questionaacuterio foi lanccedilado entre os quais as novelas as redes sociais (p ex

facebook) os jogos electroacutenicos etc que absorvem completamente o tempo que era reservado

para que um estudante se dedicasse aos estudos

3 Causas do fracasso escolar relativas ao meio escolar

O meio escolar tambeacutem tem sido apontado como uma causa do fracasso escolar Entre os

factores que tecircm sido levantados constam o professor o corpo teacutecnico da escola a localizaccedilatildeo

da escola a distacircncia do seu acesso as comodidades ndash carteiras quadros giz ndash a interacccedilatildeo dos

corpos docente e natildeo docente com os estudantes a aplicaccedilatildeo de normas etc (Cfr Rangel sd

10-12)

O inqueacuterito aos estudantes levantou 5 factores que se resumem fundamentalmente em

trecircs que satildeo tipo do sistema escolar interacccedilatildeo entre estudantes e o corpus natildeo docente e

129

aplicaccedilatildeo de normas Em relaccedilatildeo ao primeiro dos trecircs aspectos os estudantes natildeo concordam que

o fracasso escolar dependa de uma escola se eacute ou natildeo privada segundo eles tanto nas escolas

privadas como nas puacuteblicas encontra-se o problema fracasso escolar sob vaacuterios aspectos Em

relaccedilatildeo ao segundo aspecto se os directores das escolas fazem visitas agraves turmas 49 estudantes

afirmaram que sim 11 natildeo se pronunciaram e 40 responderam negativamente Essas respostas

permitem argumentar que no geral os directores das escolas natildeo satildeo motivo alarmante para

imputar o fracasso escolar Sobre se os outros dirigentes das escolas (pessoal teacutecnico-pedagoacutegico

e outros) se se encontram regularmente com os estudantes a maioria diz que natildeo podendo

interpretar-se que haacute necessidade de se promover encontros do geacutenero que serviratildeo quem sabe

de uma sinergia na luta contra o fracasso escolar

Em relaccedilatildeo se existe exagero de exigecircncias que dificultam aos alunos de participar das

aulas a concordacircncia de 37 estudantes no universo de 100 eacute preocupante vezes haacute em que nas

escolas no geral os estudantes perdem trecircs aulas sucessivas por atrasar apenas numa aula do

primeiro tempo perdem outras tantas aulas por natildeo obedecer a uma ou outra norma tais como

usar uniforme poder comprar fichas de apoio natildeo levantar-se para ir satisfazer necessidades

bioloacutegicas em tempo de aulas apenas como exemplos

Sobre este item docentes inquiridos apontaram como causas do fracasso escolar questotildees

psicoloacutegicas pedagoacutegicas e didaacutecticas que tecircm pesado sobre o professor entre as quais

incapacidade de ensinar falta de estiacutemulo do professor condiccedilotildees de trabalho improacuteprias e

exigecircncia de percentagens por parte da direcccedilatildeo da escola para a classificaccedilatildeo do docente em

bom ou mau professor

4 Causas do fracasso escolar relativas ao meio extra-escolar

A escola eacute uma instituiccedilatildeo inserida dentro do conjunto das instituiccedilotildees humanas e faz

com as outras instituiccedilotildees um todo interligado Sendo assim tudo quanto afecta outras

instituiccedilotildees directa ou indirectamente afecta a escola Nesse sentido o fracasso escolar natildeo

deve ter apenas causas intra-escolares deve sim e em grande medida ter causas extra-escolares

Tecircm sido apontadas como causas extra-escolares a situaccedilatildeo econoacutemico-financeira dos

pais e encarregados de educaccedilatildeo poliacuteticas que excluem a educaccedilatildeo agravequeles que natildeo pertencem a

certos ciacuterculos sociais e outras barreiras do geacutenero

O resultado do inqueacuterito aos estudantes no quadro indicativo (Apecircndice II) mostra

claramente que entre as causas do fracasso escolar sob ponto de vista dos alunos estaacute no topo a

130

falta de poliacuteticas de emprego Ou os estudantes vatildeo a escola e natildeo sabem ou natildeo satildeo orientados

para agravequilo que vatildeo fazer na vida poacutes escolar

Um outro factor a que os estudantes se referiram ligado ao precedente eacute que o Governo

natildeo garante explicitamente esperanccedila de empregabilidade Ou se o faz isso natildeo eacute sentido no seio

dos estudantes e essa falta de ldquoseguranccedila laboralrdquo conduz ao fracasso escolar Um outro factor

natildeo menos importante elencado pelos estudantes eacute a famiacutelia que daacute menos atenccedilatildeo ao processo

de ensino e aprendizagem os estudantes deixados a soacutes sentem-se sem acompanhamento e

fracassam

Os docentes do ensino meacutedio e pais e encarregados de educaccedilatildeo que responderam ao

questionaacuterio do apecircndice III na questatildeo ldquoporque acontece o fracasso escolarrdquo disseram que tecircm

constituiacutedo causas do fracasso escolar aspectos culturais (ritos de iniciaccedilatildeo no periacuteodo de aulas

casamentos precoces) econoacutemicos (fraca renda dos pais incapazes de sustentar as necessidades

escolares) poliacuteticos (entre os quais poliacuteticas educativas ldquoinadequadasrdquo e instabilidade militar nas

zonas propensas) sociais (trabalho infantil ligado a factor econoacutemico) naturais (estiagem secas

e inundaccedilotildees que tecircm causado fome) entre outros factores

5 Propostas de superaccedilatildeo do fracasso escolar

O fracasso escolar eacute um problema proveniente de muitas causas Pensar na sua

eliminaccedilatildeo eacute um sonho a realizar-se em vaacuterios conjuntos A superaccedilatildeo aqui deve entender-se

como a possibilidade de gradualmente num trabalho conjunto encontrarem-se e aplicarem-se

mecanismos para reduzir ou debelaacute-lo ao maacuteximo

Um olhar atento sobre as respostas dos estudantes inquiridos pode ajudar a extrair

algumas propostas de saiacuteda do problema do fracasso escolar que os professores pais e outros

agentes de educaccedilatildeo inspirem a autoconfianccedila nos seus estudantes (questatildeo 2 e 4) isto eacute um

trabalho conjunto deve ser feito em ordem a remover-se a auto condenaccedilatildeo dos estudantes pelo

fracasso escolar pois implantar essa ideia na sua mente e deixar que ela cresccedila e que faccedila parte

deles soacute agrava mais o fracasso escolar ao inveacutes de tender a combater o problema que o pessoal

natildeo docente envolva-se no papel educativo (questotildees 16 e 17) os pais e encarregados de

educaccedilatildeo se envolvam mais (embora indirectamente) no processo de ensino e aprendizagem

(questotildees 18 e 19) e que o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano crie poliacuteticas

orientadoras para o emprego mais abrangentes (questotildees 21 e 23)

131

Os docentes envolvidos no inqueacuterito (Apecircndice III) sugerem que haja mais planificaccedilatildeo

das actividades educativas formaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos gestores da educaccedilatildeo uma forte relaccedilatildeo

entre escola e comunidade motivaccedilatildeo dos professores uma atenccedilatildeo agrave educaccedilatildeo da rapariga

Parece que o paradigma de uma educaccedilatildeo centrada no aluno tirou de certa forma a

autoridade do professor comenta um professor eacute preciso que este paradigma seja revisto e que

se recupere a autoridade do professor natildeo como detentor do conhecimento mas como figura

digna de valor

O curriacuteculo e os relativos programas de ensino tecircm sido a chave do problema Eacute

necessaacuterio que estejam desenhados politicamente para irem ao encontro da situaccedilatildeo real que se

vive isto constituiraacute um caminho bem andado na debilitaccedilatildeo do fracasso escolar

Os pais e encarregados trazem vaacuterios apelos entre os quais que haja um melhor

acompanhamento dos alunos por parte das famiacutelias por parte dos professores e por parte do

Governo quer dizer que haja um trabalho mais uma vez conjunto e triangular

escolaharrfamiacuteliaharrGoverno

Conclusatildeo

O fracasso escolar eacute um tema bastante estudado sob inuacutemeras perspectivas e a que

acabou de ser levantada eacute mais uma um olhar conjunto de alunos professores e pais e

encarregados de educaccedilatildeo Como um problema com vaacuterias vertentes o trato com ele deve ser

tambeacutem de ordem muito diversa O surgimento de mais uma perspectiva eacute mais um contributo

nesta luta

Natildeo basta identificar o problema que ele eacute muito evidente eacute preciso saber quais satildeo as

causas (algumas) para depois segundo essas mesmas causas esboccedilar algumas possibilidades de

saiacuteda do problema como afirma Madaloacutez ldquoplanejar acccedilotildees que realmente tragam benefiacutecios e

resultados agraves praacuteticas de sala de aula e nas relaccedilotildees do espaccedilo escolar minimizando conflitos e

tensotildees que possam vir a surgir entre escola famiacutelia e sociedaderdquo (Madaloacutez 2012 12)

Os questionaacuterios usados foram bastante reveladores de alguns caminhos para a reduccedilatildeo

destes conflitos e tensotildees ou entatildeo a debilitaccedilatildeo do problema fracasso escolar como o potenciar

da autoconfianccedila no estudante a niacutevel poliacutetico criaccedilatildeo de escolas orientadas em vista a

profissotildees futuras para os jovens motivaccedilatildeo dos professores a atenccedilatildeo da educaccedilatildeo da rapariga

criaccedilatildeo de mais escolas e reduccedilatildeo de nuacutemero de estudantes por turma entre outras propostas

132

Bibliografia

COMENIUS Didaacutectica mMagna Trad de Ivone Castilho Beneditti Satildeo Paulo Livraria Martins

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COSTA Joatildeo Dicionaacuterio Moderno da Liacutengua Portuguesa Lobito Escolar Editora 2011

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Editora Aacutetica 1997

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1036

RANGEL Annamaria Insucesso escolar Lisboa Horizontes Pedagoacutegicos sd

133

APEcircNDICES

Apecircndice I Ficha sobre Possiacuteveis causas do Fracasso Escolar (respondido pelos estudantes)

Escala Concordo Plenamente (CP) Concordo (C) Sem Opiniatildeo (SO) Discordo (D) Discordo Plenamente (DP)

Dimensatildeo1 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao estudante e agrave sala de aulas

Questotildees

Escala

CP C SO D DP

1 Fracasso escolar estaacute ligado ao abandono escolar 12 26 13 49 0

2 Fracasso escolar estaacute ligado ao proacuteprio estudante 43 49 4 4 0

3 Todos os professores acusam os alunos de natildeo saberem nada 17 0 30 49 4

4 Alguns professores acusam os alunos de natildeo saberem nada 32 20 19 12 0

5 Os professores conhecem individualmente todos os alunos 24 25 12 25 14

6 Alguns professores conhecem individualmente todos os alunos 22 53 25 0 0

7 Todos os professores acompanham individualmente os alunos 18 25 16 37 4

8 Alguns professores acompanham individualmente os alunos 15 58 15 12 0

9 No decurso do Processo de Ensino e Aprendizagem haacute uma orientaccedilatildeo

profissional aos alunos

21 21 21 16 21

10 Os alunos se confrontam com a situaccedilatildeo de fome durante o Processo de

Ensino e Aprendizagem

4 37 32 12 15

11 Haacute espaccedilo de exposiccedilatildeo e esclarecimento de duacutevidas na sala de aulas 49 25 4 11 11

12 Os professores usam recursos didaacutecticos que facilitam a compreensatildeo dos

conteuacutedos

16 41 16 16 11

Total Dimensatildeo1 273 380 207 243 80

Dimensatildeo 2 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao meio escolar

Questotildees

Escala

CP C SO D DP

13 Fracasso escolar depende da escola em que o aluno se encontra 5 12 21 37 25

14 Nas escolas privadas haacute menor iacutendice de fracasso escolar que nas escolas

puacuteblicas

11 16 16 37 20

15 O director da escola visita as turmas 0 49 11 15 25

16 O director e outros dirigentes da escola tecircm tido encontros com os alunos 0 12 25 25 38

17 Existe exagero de exigecircncias que dificultam aos alunos de participar das

aulas

16 21 21 42 0

Total Dimensatildeo2 32 110 94 156 108

Dimensatildeo 3 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao meio extra-escolar

Questotildees

Escala

CP C SO D DP

18 Fracasso Escolar estaacute ligado agrave famiacutelia do aluno 7 25 16 26 26

19 Os pais e encarregados participam regularmente a reuniotildees na escola

quando convocados para tal

26 53 0 21 0

20 Os alunos datildeo informe aos pais e encarregados de educaccedilatildeo sobre o

decorrer do seu Processo de Ensino e Aprendizagem

11 32 21 32 4

21 As poliacuteticas do emprego satildeo de ldquosalva quem puderrdquo 73 16 11 0 0

22 Os media divulgam oportunidades de emprego aos alunos 12 48 20 10 10

23 O Governo daacute esperanccedila de empregabilidade aos alunos 11 21 11 25 32

Total Dimensatildeo3 140 195 79 114 72

Totais 445 685 380 513 260

Quantos alunos sugere que as turmas tenham E porquecirc _______________________________________________

Justifique em poucas linhas algumas das respostas que deu na grelha acima________________________________

_____________________________________________________________________________

134

Apecircndice II Causas do Fracasso Escolar (iacutendice de concordacircncia e discordacircncia)

Escala Iacutendice de Concordacircncia (IC) Sem Opiniatildeo (SO) Iacutendice de discordacircncia (ID)

Dimensatildeo1 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao estudante e agrave sala de aulas

Questotildees

Escala

IC SO ID

1 Fracasso escolar estaacute ligado ao abandono escolar 38 13 49

2 Fracasso escolar estaacute ligado ao proacuteprio aluno 92 4 4

3 Todos os professores acusam os alunos de natildeo saberem nada 17 30 53

4 Alguns professores acusam os alunos de natildeo saberem nada 52 19 12

5 Os professores conhecem individualmente todos os alunos 49 12 39

6 Alguns professores conhecem individualmente todos os alunos 75 25 0

7 Todos os professores acompanham individualmente os alunos 43 16 41

8 Alguns professores acompanham individualmente os alunos 73 15 12

9 No decurso do Processo de Ensino e Aprendizagem haacute uma orientaccedilatildeo

profissional aos alunos

42 21 37

10 Os alunos se confrontam com a situaccedilatildeo de fome durante o Processo de

Ensino e Aprendizagem

41 32 27

11 Haacute espaccedilo de exposiccedilatildeo e esclarecimento de duacutevidas na sala de aulas 74 4 22

12 Os professores usam recursos didaacutecticos que facilitam a compreensatildeo dos

conteuacutedos

57 16 27

Total em numeral 653 207 323

Percentagem () 56 17 27

Dimensatildeo 2 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao meio escolar

Questotildees

Escala

IC SO ID

13 Fracasso escolar depende da escola em que o alunos se encontra 17 21 62

14 Nas escolas privadas haacute menor iacutendice de fracasso escolar que nas escolas

puacuteblicas

27 16 57

15 O director da escola visita as turmas 49 11 40

16 O director e outros dirigentes da escola tecircm tido encontros com os alunos 12 25 63

17 Existe exagero de exigecircncias que dificultam aos alunos de participar das

aulas

37 21 42

Total em numeral 142 94 264

Percentagem () 28 19 53

Dimensatildeo 3 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao meio extra-escolar

Questotildees

Escala

IC SO ID

18 Fracasso Escolar estaacute ligado agrave famiacutelia do alunos 32 16 52

19 Os pais e encarregados participam regularmente a reuniotildees na escola

quando convocados para tal

79 0 21

20 Os alunos datildeo informe aos pais e encarregados de educaccedilatildeo sobre o

decorrer do seu Processo de Ensino e Aprendizagem

43 21 36

21 As poliacuteticas do emprego satildeo de ldquosalva quem poderrdquo 89 11 0

22 Os media divulgam oportunidades de emprego aos alunos 60 20 20

23 O Governo daacute esperanccedila de empregabilidade aos alunos 32 11 57

Total em numeral 335 79 186

Percentagem() 56 13 31

135

Apecircndice III Questionaacuterio dirigido aos professores e pais e encarregados de educaccedilatildeo

1 a)Professor _________________ (Nome da escola onde lecciona ____________________________)

b)Pai ou Matildee (Encarregadoa de educaccedilatildeo) ____________________________________________

2 O que entende por fracasso escolar

________________________________________________________________________________

3 Como acontece o fracasso escolar

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

4 Porque acontece o fracasso escolar

_________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

5 Como pode ser superado o fracasso escolar

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

Teccedila alguns comentaacuterios sobre o fracasso escolar

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

136

A influecircncia das liacutenguas xichangana e cicopi no insucesso escolar - caso dos

alunos da 10ordf classe da Escola Secundaacuteria de Mandlakazi

Antoacutenio Domingos Cossa27

Resumo

O presente artigo surge no contexto dos estudos sociolinguiacutesticos e na tentativa de compreender o

fenoacutemeno insucesso ou fracasso escolar no ensino secundaacuterio geral Motivado pelos estudos de Bright

Soussure Labov Firmino Gonccedilalves e Dias definiu-se o seguinte temaldquoA influecircncia das liacutenguas

xichangana e cicopi no insucesso escolar - caso dos alunos da 10ordf classe da Escola Secundaacuteria de

Mandlakazirdquo com os seguintes objectivos analisar as influecircncias das liacutenguas xichangana e cicopi no

processo de ensino-aprendizagem da liacutengua portuguesa relacionar o insucesso escolar que se verifica na

disciplina de portuguecircs com as influecircncias das liacutenguas xichangana e cicopi nos alunos da 10ordf classe O

tipo de pesquisa foi qualitativa com recurso a questionaacuterio como instrumentos de recolha de dados tendo

sido usado o meacutetodo indutivo Os resultados da pesquisa postulam que 64 dos inquiridos possuem uma

L1 moccedilambicana sendo 14 falantes da liacutengua Xichangana 14 da liacutengua Cicopi e 36 falantes de

outras liacutenguas Bantu nacionais Olhando para estes dados pode-se afirmar que cerca de 64 dos

inquiridos possuem uma gramaacutetica impliacutecita diferente da gramaacutetica da liacutengua-alvo (o portuguecircs) usada

em contextos formais em situaccedilotildees de aprendizagem no geral e em situaccedilotildees de aprendizagem do

portuguecircs como L2 em particular O insucesso escolar eacute uma realidade e constituiu fenoacutemeno negativo

para o progresso acadeacutemico dos alunos do ensino secundaacuterio e da 10ordfclasse nesta escolaNo entanto as

liacutenguas Xichangana e Cicopi natildeo satildeo somente factores determinantes para a ocorrecircncia do insucesso

escolar neste grupo alvo associando a eles o meio e a falta do imput da L2

Palavras-Chave Insucesso-escolar L1 L2 Ensino-aprendizagem

Abstract

This article appears in the context of sociolinguistic studies and in trying to understand the phenomenon

of failure or school failure in secondary education Motivated by studies of Bright Soussure Labov

Firmino Gonccedilalves and Dias defined the following theme The influence of cicopi and xichangana on

school failure -case of grade10 in Mandlakazi secondary school With the following objectives to

analyze the influences of cicopi and xichangana in teaching-learning process of the Portuguese language

relate school failure that occurs in the Portuguese subject with the influences of cicopi and xichangana

students of grade 10 Have been used qualitative research questionnaires as tools of data collection in

inductive method Search results postulate that 64 of respondents have a Mozambican language 14

speakers Xichangana language 14 of the Cicopi language and 36 speakers of other Bantu

languagesLooking at these figures it means that approximately 64 of respondents have an implicit

grammar unlike the grammar of the target language (Portuguese) used in formal contexts in learning

situations in General and in situations of learning Portuguese as second language in particular School

failure is a reality and it constituted negative phenomenon to the academic progress of students in

secondary education and the 10th grade at this school However the Cicopi and Xichangana languages

are not only determinant factors for the occurrence of failure at school in this target group the middle

and the lack of imput from second language associate

Keywords Failure 1 st L 2nd L Teaching and learning

27 Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de Portuguecircs Bacharel e Licenciado em Ensino de Portuguecircs Docente da Faculdade

de Ciecircncias de Linguagem Comunicaccedilatildeo e Artes na Universidade Pedagoacutegica ndash Delegaccedilatildeo de Gaza

137

0 Introduccedilatildeo

A partir do pressuposto que a liacutengua eacute um veiacuteculo pelo qual se transmitem informaccedilotildees e

se estabelecemmantecircm contactos sociais ldquoqualquer pessoa fala de modo diferente a pessoas

diferentes e em diferentes situaccedilotildees ainda que o conteuacutedo do que diz ateacute aconteccedila ser o

mesmordquo (Strevens apud MARQUES1995) Assim entende-se que o ldquorepertoacuterio verbalrdquo de um

indiviacuteduo (como tambeacutem de uma comunidade) eacute um conjunto de variantes linguiacutesticas

Ferdinand Saussure o considerado precursor da corrente estruturalista reconhecia a

importacircncia de natureza etnoloacutegica histoacuterica e poliacutetica poreacutem seus estudos voltaram-se

essencialmente para o organismo linguiacutestico interno uma vez que ele concebia a liacutengua como

um produto homogeacuteneo e sua anaacutelise partia da observaccedilatildeo como comportamento linguiacutestico de

um indiviacuteduo O princiacutepio da homogeneidade linguiacutestica foi adoptado pelos estudiosos da

glossemaacutetica e do gerativismo

As primeiras investigaccedilotildees acerca de estudos sociolinguiacutesticos surgem a partir de

WILLIAM BRIGHT (1966) e FISHMAN (1972) os quais passaram a incorporar os aspectos

sociais nas descriccedilotildees linguiacutesticas BRIGHT (idem) afirmava que a diversidade linguiacutestica eacute

precisamente a mateacuteria de que trata a Sociolinguiacutestica Segundo este autor as dimensotildees desse

estudo estatildeo condicionadas a vaacuterios factores sociais com os quais a diversidade linguiacutestica se

encontra relacionada nas identidades sociais do emissor e receptor e na situaccedilatildeo comunicativa

Dando prosseguimento aos estudos de Bright LABOV (1972) passa a descrever a

heterogeneidade linguiacutestica pois para ele todo facto linguiacutestico relaciona-se a um facto social e

que a liacutengua sofre implicaccedilotildees de ordem fisioloacutegica e psicoloacutegica Labov ficou conhecido por ser

o representante da teoria da variaccedilatildeo linguiacutestica

Tendo em vista a heterogeneidade dos fenoacutemenos linguiacutesticos William Labov precursor

dos estudos variacionistas propocircs um modelo de anaacutelise linguiacutestica que considera a influecircncia

dos factores sociais atuantes na liacutengua e que ficou conhecido como teoria da variaccedilatildeo

linguiacutestica Eacute a partir desse conhecimento que o presente trabalho desenvolve-se acerca do tema

ldquoA Influecircncia das liacutenguas Xichangana e Cicopi no Insucesso Escolar - caso dos alunos da 10ordf

Classe da Escola Secundaacuteria de Mandlakazirdquo

No contexto de ensino-aprendizagem da Liacutengua Portuguesa eacute frequente ouvir-se dos

alunos o seguinte ldquoaquele professor de portuguecircs como natildeo daacute notardquo ou ldquoTenho notas razoaacuteveis

a quase todas as disciplinas mas a minha meacutedia na liacutengua portuguesa eacute a pior de todasrdquo Os

alunos tecircm direito de observar a sua prestaccedilatildeo acadeacutemica sob diversas perspectivas Poreacutem a

verdade estaacute relacionada com o fraco domiacutenio da liacutengua portuguesa particularmente a gramaacutetica

138

do portuguecircs de ensino por parte dos alunos desde o ensino primaacuterio e que se arrasta ateacute aos

niacuteveis imediatamente superiores

A este respeito vaacuterias questotildees satildeo levantadas desde conteuacutedos curriculares formaccedilatildeo

do corpo docente qualidade infraestrutural e linguiacutesticos

No presente estudo como aludiu-se acima interessa aprofundar o fenoacutemeno linguiacutestico

como elemento fundamental no processo de ensino-aprendizagem formal Sabe-se que o fraco

domiacutenio da liacutengua portuguesa por parte da maioria dos moccedilambicanos tem as suas razotildees

enraizadas na histoacuteria da eleiccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa como oficial no paiacutes Por conseguinte a

aprendizagem e uso da liacutengua de ensino natildeo eacute homogeacutenea para os aprendentes Isto eacute quanto

mais os falantes se distanciam dos centros urbanos mais distante se colocam da aprendizagem e

domiacutenio da norma padratildeo da liacutengua portuguesa Ou seja quanto menos praticarem e menos

tiverem a oferta linguiacutestica menos conhecimentos sobre a liacutengua vatildeo possuindo

Segundo estudos efectuados por LAURENCE LAUTIN (1990) referem que 25 a 30

das crianccedilas provenientes das classes chamadas ldquosocioculturais desfavorecidasrdquo repetem uma

ou vaacuterias vezes as classes do ciclo primaacuterio sofrendo portanto um insucesso a partir da sua

confrontaccedilatildeo com a linguagem escrita Pois segundo STOER e GRAacuteCIO(1982) ldquo A inteligecircncia

e a linguagem satildeo produto duma interacccedilatildeo permanente entre o sujeito e o meiordquo

Para estes autores o meio social exerce um efeito importante sobre o ritmo do

desenvolvimento intelectual A pobreza da sintaxe pode constituir um obstaacuteculo ao domiacutenio do

pensamento formal e da loacutegica das proposiccedilotildees Ela pode sem duacutevidas afectar o sucesso

escolar O ambiente soacutecio-cultural pode moldar a inteligecircncia e as aptidotildees linguiacutesticas da

crianccedila

Tal como se refere LOPES (1991) citado por FIRMINO (2000) fazendo uma abordagem

sobre a alfabetizaccedilatildeo e o insucesso escolar no contexto moccedilambicano a Liacutengua Portuguesa (LP)

em Moccedilambique eacute manipulada pelos seus falantes como uma Liacutengua Segunda (L2) na medida

em que a LP convive com as liacutenguas Bantu (LB) que constitui a Liacutengua Materna (L1) da maior

parte da populaccedilatildeo Esta afirmaccedilatildeo eacute consubstanciada pelos dados estatiacutesticos do censo de 1997

analisados por FIRMINO (2000) segundo os quais a LP eacute falada por apenas 39 dos

moccedilambicanos O papel da L2 em Moccedilambique torna-se ainda mais evidente quando se refere

que 90 dos moccedilambicanos usa mais frequentemente uma LB no seu discurso quotidiano

STROUD (2001) acrescenta que numa sociedade do tipo moccedilambicana a variedade-alvo

escolhida como norma pedagoacutegica natildeo eacute congruente com a norma que eacute usada pela maioria dos

falantes

139

Tendo em consideraccedilatildeo os pressupostos acima o presente trabalho guia-se pelos

seguintes objectivos

- Analisar as influecircncias das liacutenguas Xichangana e Cicopi no processo de ensino-

aprendizagem liacutengua portuguesa

- Relacionar o insucesso escolar que se verifica na disciplina de Portuguecircs com as

influecircncias das liacutenguas Xichangana e Cicopi nos alunos da 10ordf Classe

Constituem nossas hipoacuteteses as seguintes Os alunos da 10ordfClasse falantes das liacutenguas

Xichangana e Cicopi como L1 registam um relativo insucesso pedagoacutegico na disciplina de

Portuguecircs O fracasso manifesta-se atraveacutes da dificuldade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de

textos em liacutengua portuguesa

A metodologia usada para este trabalho eacute o uso da abordagem qualitativa e de um

questionaacuterios como instrumento de recolha de dados O instrumento de recolha de dados estaacute

subdividido em trecircs secccedilotildees sendo A- social linguiacutestico e pedagoacutegico B-Questionaacuterio de

interpretaccedilatildeo e C-Comentaacuterio Para substanciar as nossas hipoacuteteses escolhemos como amostra

os alunos da 10ordfclasse turmas A e B curso diurno da Escola da Secundaacuteria de Mandlakazi no

universo de cinquenta alunos inquiridos sendo vinte e cinco por cada turma A consulta

bibliograacutefica eacute um dos tradicionais meacutetodos usados para provar a cientificidade do trabalho

Os resultados desta pesquisa iratildeo ajudar no Processo de Ensino Aprendizagem (PEA) e

no melhoramento gradual do rendimento pedagoacutegico na disciplina pois uma vez identificadas as

razotildees reais que motivam o insucesso pedagoacutegico o impacto das liacutenguas Xichangana e Cicopi

na aprendizagem da L2 Poderatildeo tambeacutem contribuir na suscitaccedilatildeo de outras pesquisas e debates

acadeacutemicos

10 Referencial teoacuterico

Antes da nossa abordagem de fundo sobre o insucesso escolar importa-nos trazer

conceitos de alguns termos-chave que recorrentemente seratildeo referenciados no corpo do

presente trabalho

11 Linguagem

Linguagem eacute um processo por meio do qual os seres animais transmitem mensagens entre

si servindo-se da oralidade escrita e gesto etc isto eacute a capacidade que os seres vivos tecircm de

140

comunicar Para GALLISSON e COSTE (1983445)28 Linguagem eacute meio de comunicaccedilatildeo

utilizado por uma comunidade humana ou animal para transmitir mensagens

Linguagem pode tambeacutem ser considerado com todo o sistema de signos que serve de

meio de comunicaccedilatildeo entre indiviacuteduos e pode ser percebido pelos diferentes oacutergatildeos dos sentidos

Para FREITAG amp LIMA(2010) Linguagem eacute a

Capacidade inata e universal que faz parte da heranccedila geneacutetica do ser humano e

permite a ele reconhecer e produzir um nuacutemero infinito de sentenccedilas

gramaticais atribuindo-lhes respectivamente uma interpretaccedilatildeo semacircntica e

uma interpretaccedilatildeo fonoloacutegica Instrumento de comunicaccedilatildeo cuja principal

funccedilatildeo eacute a transmissatildeo de informaccedilotildees Eacute colocado em relevo o circuito da

comunicaccedilatildeo um emissor transmite a um receptor atraveacutes de um canal uma

informaccedilatildeo colocada em coacutedigo

Isto eacute eacute pela sua linguagem que o homem realiza as suas atividades sejam de denuacutencias

de afirmaccedilatildeo de identidade social de lazer de trabalho eou de vida Estes autores refem em

uacuteltima anaacutelise que Linguagem eacute um meio ou veiacuteculo de comunicaccedilatildeo usada por uma

determinada comunidade ou grupo para se transmitir informaccedilotildees

12 Liacutengua

Segundo a formulaccedilatildeo Soussuriana a liacutengua eacute um sistema formal de valores puros ou seja

de signos arbitraacuterios A langue eacute uma estrutura homogeacutenea que se constitui como objecto do

estudo da linguiacutestica desde que esta se tem como ciecircncia autoacutenoma

Segundo FREITAG amp LIMA(idem) Liacutengua eacute

Coacutedigo um conjunto de signos que se combinam segundo certas regras que os

organizam em niacuteveis hieraacuterquicos (fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico) e que

deve ser conhecido pelos falantes para que a comunicaccedilatildeo possa acontecer

Embora seu uso seja um ato social a liacutengua eacute preacute-estabelecida e concebida

como um sistema convencional imanente desvinculado dos indiviacuteduos Liacutengua

= coacutedigo estrutura A liacutengua eacute uma realidade soacuteciohistoricamente construiacuteda

pelos sujeitosinterlocutores Liacutengua = enunciaccedilatildeo atividade social

Segundo GALLISSON (ibid) citando Saussure Liacutengua eacute todo o sistema especiacutefico de

signos articulados que servem para transmitir mensagens humanas Na perspectiva de

GONCcedilALVES e STROUD (2000)29 Liacutengua eacute um sistema organizado de sons vocais de que nos

servimos para expressar ideias e comunicar com os falantes conhecedores do mesmo coacutedigo

Gorski e Freitag( 2007) apud KOCH (2002) vecircem a liacutengua simultaneamente como

28Gallisson e Coste (1983) Dicionaacuterio de Didaacutectica das Liacutenguas Coimbra Livraria Almedia 29 Gonccedilalves P e StroudC A Construccedilatildeo de Um Banco de Erros Moccedilambique INDE

141

um sistema e como uma praacutetica social No primeiro caso ela eacute vista como

um conjunto de elementos inter-relacionados que se manifestam em

vaacuterios niacuteveis de organizaccedilatildeo (fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico

semacircntico) No entanto soacute se realiza ou se configura no interior do meio

social lugar de interacccedilatildeo dos membros de uma sociedade

Embora linguagem e liacutengua sejam noccedilotildees interligadas a noccedilatildeo de linguagemeacute mais

abrangente que a de liacutengua O termo linguagem costuma ser associado a palavras como

lsquofaculdadersquo lsquocapacidadersquo lsquoatividadersquo com foco tanto na funccedilatildeo cognitivabioloacutegica como na

funccedilatildeo comunicativasocial da linguagem humana A linguagem eacute uma atividade cognitiva e

discursiva jaacute que ela manteacutem um viacutenculo estreito com o pensamento e tambeacutem estabelece a

interlocuccedilatildeo( GORSKI e FREITAG 2007)

13 Liacutengua Materna (L1)

Os estudiosos GONCcedilALVES e STROUD (ibid) definem a L1 como sendo a primeira

liacutengua que a crianccedila aprende no meio familiar de lugar de origem materna Entretanto

GALLISSON (1985opcit) afirma que a L1 eacute o primeiro instrumento de comunicaccedilatildeo desde a

mais tenra idade e a utilizada no paiacutes de origem do sujeito falante

14 Liacutengua Segunda (L2)

Ainda na perspectiva de GONCcedilALVES e STROUD (ibid) a L2 eacute a liacutengua natildeo materna

que o indiviacuteduo aprende apoacutes a primeira liacutengua e que exerce uma influecircncia relevante no falante

Na oacuteptica de GALLISSON e COSTE (1983opcit) a L2 eacute a liacutengua natildeo materna que beneficia

oficialmente de um estatuto privilegiado Acrescentam que esta eacute ensinada como veicular a toda

a comunidade em que as liacutenguas maternas satildeo praticamente desconhecidas fora das fronteiras do

paiacutes

Como se pode constatar os autores consultados para a conceitualizaccedilatildeo dos termos

Linguagem Liacutengua L1 L2 de uma forma geral convergem nas suas abordagens pelo que a

presente abordagem tomaraacute como base estas definiccedilotildees que grandemente seratildeo convocadas O

outro indispensaacutevel conceito para esta reflexatildeo eacute o insucesso escolar que portanto constitui o

principal objecto de estudo

142

15 Insucesso Escolar

No contexto de ensino-aprendizagem estudos sobre insucesso esolar satildeo frequentes pois

duma mateacuteria bastante complexa e inerente

SILVA e SAacute (200328)30 consideram sucesso e insucesso escolar como sendo crenccedilas

pessoais que advecircm de uma motivaccedilatildeo mantida pelos efeitos do meio positivos ou negativos

Estes autores afirmam que ldquo As razotildees do seu sucesso e insucesso as suas respostas

geralmente caem em quatro categorias capacidade esforccedilo dificuldade da tarefa e sorterdquo E

ainda estas percepccedilotildees que os alunos tecircm sobre aquelas causas vatildeo influenciar diferencialmente

as suas respostas emocionais os seus desempenhos e as suas motivaccedilotildees

Parafraseando estes autores como resultado destas crenccedilas os alunos deixam de se

esforccedilar quando confrontados com tarefas difiacuteceis Esta atitude por sua vez aumenta as

probabilidades de haver insucessos frequentes De recordar que insucesso eacute antoacutenimo do

sucesso que de acordo AAVV (20013475)31 eacute aquilo que acontece que sucede especialmente

quando eacute de grande importacircncia Ter sucesso sair-se bem ter ecircxito

Para DIAS (200271)32 habitualmente o insucesso escolar eacute definido como falta de

conhecimentos habilidades e competecircncias em certas aacutereas Citando PERRENOND(2000)

ldquohellippara a definiccedilatildeo do insucesso escolar eacute importante distinguir entre desigualdades reais de

capital cultural e hierarquias de excelecircnciasrdquo e afirma que ldquoas desigualdades podem

desempenhar um papel no fracasso escolar quando elas pertencem a aacutereas que tecircm ligaccedilatildeo com

a relaccedilatildeo pedagoacutegicardquo

20 O Impacto das Liacutenguas Xichangana e Cicopi no Insucesso Escolar

21 Argumentaccedilatildeo

Ao escolher-se a variaacutevel Insucesso Escolar pretende-se de uma forma sucinta trazer agrave

superfiacutecie as causas deste fenoacutemeno compreendeacute-lo e propor algumas estrateacutegias a serem

observadas no processo de Ensino-aprendizagem (PEA) da LP

COSSA (2015) no seu estudo sobre o fracasso escolar no I Ciclo do Ensino Baacutesico

moccedilambicano concluiu que

30Adelina Lopes da Silva e Isabel Saacute (2003) Saber Estudar e Estudar para Saber Porto Colecccedilatildeo Ciecircncia de

Educaccedilatildeo 31 AAVV Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Contemporacircneo Academia das Ciecircncias de Lisboa 32 Dias Hildizina Norbeto As Desigualdades Sociolinguiacutesticas e o Insucesso Escolar em Direcccedilatildeo a Uma Praacutetica

Linguiacutestica Escolar Libertador Maputo Ediccedilatildeo Promeacutedia

143

as dificuldades de ensino e de aprendizagem da leitura satildeo um facto e resultam

de diversas razotildees Algumas das quais as seguintes a grande maioria dos

aprendentes do Ensino Baacutesico eacute proveniente das zonas rurais com a sua cultura

veiculada pela L1 bantu e frequentam este ensino numa L2 Estas crianccedilas

enfrentam dificuldades de aprendizagem da leitura pela simultaneidade da

aprendizagem da liacutengua de ensino e dos conteuacutedos programaacuteticos que tambeacutem

satildeo de mundo totalmente distinto do delas (COSSA 2015)

Esta constataccedilatildeo pode ser extensiva para o contexto deste estudo Pois a maioria dos

alunos da Escola Secundaacuteria de Mandlakazi eacute falante nativa das liacutenguas Bantu (Xichangana e

Cicopi ) o que pode interferir negativamente no aproveitamento pedagoacutegico e na proacutepria

aprendizagem da L2 Esta nossa escolha foi motivada pelo facto de a escola (em que foram

recolhidos os dados) localizar-se no meio cujas liacutenguas maternas-bantu dominantes satildeo

Xichangana e Cicopi

22 Da apresentaccedilatildeo e descriccedilatildeo dos dados

Como jaacute foi avanccedilado na introduccedilatildeo a amostra foi delimitada em cinquenta informantes

sendo vinte e cinco seleccionados por cada turma Neste contexto os propoacutesitos reportados no

instrumento de recolha de dados foram os dados pessoais linguiacutesticos sociais culturais e

pedagoacutegicos contidos no inqueacuterito sociolinguiacutestico a secccedilatildeo B que visava confirmar e apurar as

dificuldades que conduzem os alunos ao fraco aproveitamento pedagoacutegico ligados a

compreensatildeo e domiacutenio da gramaacutetica da liacutengua de ensino no meio escolar Dos dados colhidos

no universo dos informantes reporta-se o seguinte os falantes de Xichangana como L1

correspondem apenas a 14 do total dos inquiridos de Cicopi tambeacutem 14 de Portuguecircs 28

de outras LB nacionais 36 e estrangeira 8

Inquiridos sobre a frequecircncia de leitura 30 confirmaram nunca terem lido um livro

sequer durante o primeiro semestre fora da escola e 70 foram unacircnimes em dizer que leram

mais de trecircs livros fora do ambiente escolar

Quanto agrave compreensatildeo que se desdobra em interpretaccedilatildeo e gramaacutetica 16 dos

inquiridos mostraram dificuldades na interpretaccedilatildeo pobreza vocabular e 84 demonstraram

dificuldades na gramaacutetica (morfologia classe de palavras)

Em relaccedilatildeo agraves actividades que mais ocupam os informantes fora da escola 20 ocupam-

se em actividades acadeacutemicas 46 em actividades domeacutesticas (cozinha comeacutercio e religiatildeo) ao

144

passo que 34 em desporto Em relaccedilatildeo ao aproveitamento pedagoacutegico 2 do total teve Muito

Bom 2 Bom 60 Suficiente 34 Mediacuteocre e 2 Mau

23 Da anaacutelise e discussatildeo dos dados

Ainda na esteira de cumprir com o objectivo deste estudo que eacute relacionar o insucesso

escolar com as influecircncias das liacutenguas Xichangana e Cicopi segue-se anaacutelise e discussatildeo dos

dados recolhidos no campo de estudo auxiliando-se das fontes teoacutericas seleccionadas para esta

reflexatildeo Recuperando a ideia de LOPES (2001opcit) a aquisiccedilatildeo de L2 tem contributos de L1

tendo por isso repercussotildees na linguagem escrita

Para GONCcedilALVES (199822)33 os estudos de aquisiccedilatildeo da L2 tambeacutem tiveram de tomar

em consideraccedilatildeo uma diversidade de factores determinantes no sistema de regras do aprendente

como sejam o papel da gramaacutetica universal (GU) ldquoa influecircncia da L1 e as caracteriacutesticas da

liacutengua-alvo o papel do imput para aleacutem de outros aspectos influentes como a motivaccedilatildeo as

caracteriacutesticas individuais ou o contexto de aquisiccedilatildeordquo Tomando como alicerces estes dois

pensamentos os resultados em anaacutelise postulam que 64 dos inquiridos possuem uma L1

moccedilambicana sendo 14 falantes da liacutengua Xichangana 14 da liacutengua Cicopi e 36 falantes

de outras liacutenguas Bantu nacionais

Olhando para estes dados pode-se afirmar que cerca de 64 dos inquiridos possuem

uma gramaacutetica impliacutecita diferente da gramaacutetica da liacutengua-alvo (o portuguecircs) usada em contextos

formais em situaccedilotildees de aprendizagem no geral e em situaccedilotildees de aprendizagem do portuguecircs

como L2 em particular Esta constataccedilatildeo concorda com a ideia de Gonccedilalves pois de facto a

diversidade e as caracteriacutesticas que cercam a L1 e L2 fazem com que sempre haja dificuldades

no processo de aquisiccedilatildeo e aprendizagem da L2 uma vez que as suas caracteriacutesticas natildeo tecircm

sequer uma aproximaccedilatildeo de inteligibilidade Como diz GONCcedilALVES(1998) o papel de imput eacute

bastante relevante na apreensatildeo e treinamento das regras gramaticais de uma dada liacutengua Este

imput eacute condicionado pelo ambiente situacional em que os alunos vivem e passam a maior parte

do seu tempo ao longo do dia

Nesta perspectiva ambiental e de imput 46 do total dos nossos respondentes passam a

maior parte do seu tempo em ambientes lsquocaseirosrsquo fazendo trabalhos domeacutesticos e 34 tem

passado com amigos em ambientes desportivos Como se sabe nos ambientes aqui descritos a

33 Gonccedilalves Perpeacutetua Mudanccedilas do Portuguecircs em Moccedilambique Maputo Livraria universitaacuteria UEM

145

linguagem eacute basicamente informal onde segundo BERNSTEIN(1980)34 o coacutedigo predominante

eacute restrito que versa questotildees meramente particulares e que natildeo orientam os seus significados

para o universo da L2 Para este estudioso uma vez as escolas trabalharem com o coacutedigo

linguiacutestico elaborado os alunos da classe social baixa tecircm sido objecto de exclusatildeo e conclui

que ldquo as crianccedilashellipestatildeo excluiacutedas pelo coacutedigo escolar satildeo discriminadas e afastadas pelo

coacutedigo escolarrdquo

Eacute curioso numa altura de ldquoaudiovisualismordquo os respondentes natildeo se terem referido da

televisatildeo como elemento de diversatildeo ou de ocupaccedilatildeo temporal A falta deste item conduz a

confirmaccedilatildeo do ecircxodo rural a que se fez alusatildeo antes Para esta situaccedilatildeo concreta desta pesquisa

a diferenccedila do coacutedigo linguiacutestico escolar do aluno natildeo se prende com a classe social baixa dos

alunos mas com o ambiente de imput que proporciona a oferta linguiacutestica Esta afirmaccedilatildeo

prende-se essencialmente com o facto de 70 do universo dos inquiridos habitar no meio urbano

e apenas 30 na zona suburbana e 90 dos encarregados destes serem funcionaacuterios puacuteblicos

Na perspectiva de BENAVENTE(1976)35 ldquocada crianccedila constroacutei a sua personalidade e

a sua inteligecircncia nas trocas com o meio que a rodeiardquo e acrescenta que ldquoos factores de

insucesso ligados ao meio social satildeo de ordem material e de ordem culturalrdquo

Tomando em consideraccedilatildeo o factor imigraccedilatildeo a que se fez referecircncia anteriormente pode-

se referir com seguranccedila que maior parte destes alunos actualmente residentes na Vila nascem e

crescem em ambientes de fraca oferta linguiacutestica da liacutengua-alvo mesmo em ambiente escolar por

eles vivido durante o ensino primaacuterio

A cultura linguiacutestica deste tipo de escolas localizadas na periferia e no interior natildeo eacute a

mesma praticada nas escolas urbanas particularmente dos jardins infantis dos coleacutegios e de

outras instituiccedilotildees consideradas de prestiacutegio que procuram pautar pelo uso do coacutedigo elaborado

que coincide com a L1 para alguns L2 para outros e liacutengua de ensino escolar caracterizada pela

gramaacutetica expliacutecita (regida por regras prescritivas) sugerida pelos linguistas e gramaacuteticos

Como diz LOPES (2001opcit) a escrita da L2 eacute influenciada pela L1 trazendo assim

repercussotildees que culminam com o insucesso escolar Pois como se sabe o ensino moccedilambicano

eacute totalmente avaliativo e este item centra-se na linguagem escrita e oral onde as dificuldades e

desproporcionalidades do coacutedigo linguiacutestico elaborado residem

34 Declaraccedilotildees de Basil Bernstein em uma entrevista sobre a Socializaccedilatildeo e Coacutedigos Linguiacutesticos a um professor em

25 de Fevereiro de 1980 35Benavente Ana A Escola na Sociedade de Classes Lisboa Biblioteca do Educador Profissional Livros

Horizontes 1976 pp20-39

146

Embora alguns autores defendam que quanto mais o aprendente da L2 possuir

conhecimentos soacutelidos de leitura e escrita da L1 mais facilidades teraacute na aprendizagem e na

praacutetica da L2 a realidade moccedilambicana natildeo se acomoda nesta teoria uma vez que a maioria dos

falantes nativos da L1 natildeo domina as regras gramaticais da oralidade nem da escrita

DIAS (200279) citando HAMERS e BLAC (1989) refere que ldquohellip a noccedilatildeo de

semilinguismohellipocorre quando a crianccedila natildeo consegue alcanccedilar uma proficiecircncia monolingue

em nenhuma das liacutenguas que conhecerdquo E acrescenta que ldquoIsto natildeo quer dizer que a crianccedila

natildeo eacute capaz de comunicar no seu dia-a-dia pelo contraacuterio a crianccedila eacute muito fluente mas essa

fluecircncia eacute considerada superficial nas duas liacutenguas visto que a crianccedila natildeo domina bem a

estrutura de nenhuma das liacutenguasrdquo

Esta tese defendida por Dias sustenta a afirmaccedilatildeo avanccedilada anteriormente ligada a natildeo

domiacutenio de sequer uma das duas liacutenguas faladas por uma boa parte dos moccedilambicanos residentes

na periferia e na zona urbana no geral e agraves crianccedilas em idade escolar na zona rural e na zona

urbana em particular Este fenoacutemeno pode tomar a dianteira no insucesso escolar sucessivo dos

alunos no ensino secundaacuterio onde as exigecircncias tecircm sido maiores em relaccedilatildeo agraves classes do

ensino primaacuterio

Cerca de 86 do total dos inquiridos responderam incorrectamente a pergunta que exigia

os conhecimentos da gramaacutetica concretamente no que concerne a classe dos adjectivos isto eacute 43

alunos dos cinquenta natildeo conseguem identificar um adjectivo Somente 14 eacute que conseguiram

responder correctamente a esta questatildeo Olhando para estes dados eacute preciso questionar a

qualidade destes alunos que quase ou nada entendem da gramaacutetica expliacutecita que coincide com o

coacutedigo elaborado praticado no PEA

A este propoacutesito ressalta a ideia que vem veiculada nas hipoacuteteses segundo a qual existe

um deacutefice de estrateacutegias de ensino resultante da falta de professores com formaccedilatildeo cientifico-

pedagoacutegica nesta aacuterea de ensino de liacutengua portuguesa Este resultado eacute a prova do arrastamento

de dificuldades (nesta mateacuteria) a que se fez referecircncia nas respostas preacutevias Como se sabe no

acto de avaliaccedilatildeo pedagoacutegica da liacutengua portuguesa eacute inevitaacutevel a parte que exige o domiacutenio da

liacutengua Neste caso eacute evidente que 86 seja o nuacutemero suficiente para determinar o sucesso e

insucesso escolar Outra parte que compotildee a avaliaccedilatildeo eacute a produccedilatildeo escrita onde as influecircncias

das liacutenguas nacionais aparecem em lsquogrossorsquo a construccedilatildeo de frases gramaticalmente incorrectas

e algumas carentes de conteuacutedo que se espera neste niacutevel

Estes dois elementos tirando a compreensatildeo comportam a maior percentagem da

avaliaccedilatildeo daiacute por aquilo que se verificou nesta pesquisa esta tem sido a maior razatildeo do

147

insucesso escolar que por si soacute comporta a maior carga das influecircncias linguiacutesticas negativas no

PEA da liacutengua portuguesa como L2 e como liacutengua de ensino ndash o chamado coacutedigo elaborado

caracterizado pela gramaacutetica expliacutecita do ensino

Um outro pormenor que merece uma anaacutelise profunda eacute a leitura que eacute um instrumento

impulsionador da aprendizagem e se reveste daquilo que Gonccedilalves chamou de imput pois bem

concebida e didacticamente orientada pode fazer a diferenccedila nos aprendentes tirando o

lsquoestacionamento linguiacutestico caseirorsquo e moldando a cada passo a cultura linguiacutestica dos alunos

influenciando-os a uma linguagem proacutexima da formal

Segundo resultado dos dados recolhidos a maioria dos inquiridos lecircem em meacutedia

semestral 5 livros fora do ambiente escolar O que significa que 70 destes leu durante o

primeiro semestre 3 livros no miacutenimo e 30 natildeo leu nenhum livro

Em primeiro lugar eacute de referir que 30 eacute uma percentagem elevada dos que natildeo lecircem

tendo em consideraccedilatildeo o tempo de um semestre a localizaccedilatildeo da escola e das residecircncias destes

alunos e o proacuteprio niacutevel em que estes se encontram Poreacutem os 70 de frequecircncia positiva de

leitura satildeo suficientes para dizermos que a cultura de leitura existe no seio destes respondentes

Natildeo obstante o elevado nuacutemero de alunos que responderam positivamente quanto agrave frequecircncia

de leitura este natildeo eacute proporcional agrave capacidade de interpretaccedilatildeo dos textos lidos Satildeo exemplos

as respostas incorrectas demonstradas na interpretaccedilatildeo pois 56 dos inquiridos tiveram

problemas de compreensatildeo somente no que concerne a perguntas de interpretaccedilatildeo textual Por

conseguinte constatam-se algumas evidecircncias de insucesso escolar no seio destes

3 Consireraccedilotildees Finais

O insucesso escolar eacute uma realidade no seio desta camada estudantil que constituiu a

fonte dos dados acabados de ser analisados e discutidos Ele constitui um fenoacutemeno negativo

para o progresso acadeacutemico dos alunos do ensino secundaacuterio no geral da 10ordfclasse e da escola

que foi o campo do estudo

No entanto as liacutenguas Xichangana e Cicopi natildeo satildeo somente factores determinantes

para a ocorrecircncia do insucesso escolar neste grupo alvo Poreacutem eacute preciso frisar que estas duas

liacutenguas satildeo parte integrante de um conjunto de liacutenguas bantu nacionais que directa ou

indirectamente tecircm a sua contribuiccedilatildeo para o insucesso escolar Como diz LOPES (2001) na

aquisiccedilatildeo de uma L2 existe um contributo assinalaacutevel do L1 isto eacute verificaacutevel na situaccedilatildeo

concreta de bilinguismo em Moccedilambique

148

Entretanto o factor ldquoMeiordquo em que os alunos se encontram e convivem constitui um

impulsionador dominante para a ocorrecircncia do insucesso escolar que eacute resultado da praacutetica

massiva do coacutedigo linguiacutestico restrito que entra em choque com o coacutedigo linguiacutestico elaborado

coincidente com a liacutengua-alvo de ensino

A influecircncia do meio eacute tida como poacutelo dominador devido a sua atracccedilatildeo nesta faixa

etaacuteria GONCcedilALVES (1998) chamou a isto de imput que diz ter um papel bastante relevante na

apreensatildeo e treinamento das regras gramaticais da liacutengua de ensino e acrescenta ldquoeste imput eacute

condicionado pelo ambiente situacional em que os alunos se encontramrdquo

Por conseguinte as liacutenguas bantu locais o fraco imput da L2 e o meio lideram o grupo de

vaacuterios factores que contribuem para o insucesso escolar embora alguns autores considerarem o

insucesso escolar como sendo crenccedila mas o meio estaacute sempre na vanguarda Entretanto nem

todos os alunos registam o insucesso escolar dependendo das influecircncias do meio e da praacutetica

linguiacutestica quotidiana que traduzem a cultura e a vivecircncia de cada aluno

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150

Jogos recreativos na Cidade de Nampula Os predilectos das crianccedilas das zonas

suburbanas

Domingos Carlos Mirione36

Resumo

O presente estudo tem como objectivo identificar os jogos predilectos das crianccedilas dos bairros suburbanos

da Cidade de Nampula-Moccedilambique Utilizou-se como teacutecnica de recolha de dados a observaccedilatildeo com

registo cursivo complementado com uma entrevista semi-estruturada Os resultados revelam que o jogo

predilecto das crianccedilas do sexo masculino eacute o futebol e para as do sexo feminino eacute o jogo de cartas

localmente conhecido como naripito O facto de as crianccedilas do sexo feminino optarem mais por jogos

passivos e de azar sugere implicaccedilotildees futuras negativas para esta geraccedilatildeo pelo que deveria-se reflectir

profundamente sobre essa tendecircncia

Palavras-chave Jogo Recreaccedilatildeo Actividade fiacutesica Sauacutede

Abstract

This study aimed to identify the most preferred games for the children of the suburban neighborhoods of

the city of Nampula Mozambique It was used as a technique for data collection observation with cursive

record complete with a semi-structured interview The results revealed that the most favorite game for

male children is football and the female is the card game locally known as naripito The fact that the

female children choose more for passive games and gambling suggests negative future implications for

this generation and should be deeply reflected on this trend

Keywords Game Recreation Physical activity Health

Introduccedilatildeo

O Jogo eacute uma das actividades mais estudadas pelos cientistas de diferentes aacutereas

pedagogos psicoacutelogos filoacutesofos bioacutelogos antropoacutelogos etc Por que tanto interesse pelo jogo

Porque o jogo eacute a essecircncia do ser humano a vida soacute eacute agradaacutevel quando se joga ORTIZ (2002)

cita Soacutefoles como tendo dito a ceacutelebre palavra ldquoaquele que se esqueceu de jogar que se afaste

do meu caminho porque para o homem eacute perigosordquo

36 Licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desporto e Mestre em Treino Desportivo de Crianccedilas e Jovens Assistente do

Curso de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desporto na Universidade Pedagoacutegica de Moccedilambique-Delegaccedilatildeo de Nampula

151

O jogo eacute multifaceacutetico e polisseacutemico presente em todas as culturas e ao longo da vida de

todo ser humano eacute uma atividade que exerce grande influecircncia na vida de uma crianccedila por ser

uma das atividades mais realizadas pela mesma

Nos Bairros Suburbanos da Cidade de Nampula eacute comum ver crianccedilas a praticarem

diversos jogos em campos na rua e ateacute nos quintais das casas Isso cria a curiosidade de saber

qual desses jogos eacute o predilecto das crianccedilas desses bairros

Dada a variedade dos jogos sua influecircncia pode variar de jogo para jogo havendo uns que

podem exercer uma influecircncia positiva e outros negativa

Identificar os jogos preferidos pelas crianccedilas pode facilitar a previsatildeo de futuros

comportamentos ou haacutebitos das crianccedilas nas fases subsequentes para aleacutem dos efeitos a longo

prazo

O jogo e suas caracteriacutesticas

O ser humano pratica actividades ao longo da vida denominadas luacutedicas que lhe servem de

distraccedilatildeo relaxamento recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ou entretenimento (ORTIZ 2002)

O vocaacutebulo jogo e jogar tecircm muitas aceitaccedilotildees e interpretaccedilotildees A palavra jogo para uns

significa entretenimento diversatildeo mas para outros ultrapassa esses limites conceptuais Como

afirmam CILLAS amp OMENtildeACA (1999) ldquoa diversatildeo a alegria a exploraccedilatildeo das proacuteprias

possibilidades e a relaccedilatildeo com os demais se manteacutem para aqueles que participam na

actividade luacutedica agrave margem das definiccedilotildees e categoriasrdquo

CILLAS amp OMENtildeACA (1999) depois de analisarem estudos sobre o jogo de 24 autores

elaboraram um quadro sinoacuteptico intitulado ldquoAs caracteriacutesticas do jogo desde uma perspectiva

teoacutericardquo onde eles identificam 8 caracteriacutesticas nomeadamente

1 O jogo daacute prazer e diverte

2 Constitui um desfrute dos meios

3 Eacute espontacircneo e voluntaacuterio livremente escolhido

4 Representa uma fonte de aprendizagem

5 Supotildee um acto de expressatildeo

6 Implica participaccedilatildeo activa

7 Possui pontos de encontro com outras condutas seacuterias

8 Constitui um mundo a parte

Nestas caracteriacutesticas distintivas do jogo estaacute impliacutecita a importacircncia do mesmo e por

conseguinte a pertinecircncia da sua praacutetica e promoccedilatildeo

152

Segundo ORTIZ (2002) ldquopode-se afirmar que o jogo possibilita o desenvolvimento

evolutivo em diferentes acircmbitos cognitivo-linguiacutestico social-afectivo fiacutesico e motrizrdquo Se

relacionarmos este entendimento ao conceito de sauacutede entatildeo chegariacuteamos a conclusatildeo de que o

jogo eacute promotor de sauacutede ou seja jogar eacute sauacutede

CORSINO (2000) define a sauacutede como ldquoo estado completo de bem estar fiacutesico mental

emocional social e espiritual e natildeo somente ausecircncia de doenccedila ou incapacidaderdquo

No entanto nem todo jogo eacute saudaacutevel Estudos feitos por OMAIS (2007) evidenciaram o

caraacutecter destrutivo dos jogos de azar O jogo de azar eacute entendido como aquele em que a vitoacuteria

depende mais da sorte do que da razatildeo e segundo a autora este tipo de jogo pode ldquoconduzir o

indiviacuteduo a desenvolver seacuterios problemas psiacutequicos e sociais assumindo a forma de uma

patologia o jogo patoloacutegicordquo

Entre os jogos de azar que podem conduzir ao jogo patoloacutegico estatildeo os jogos de cartas

bingos lotarias apostas em eventos desportivos maacutequinas de jogos electroacutenicos jogos de casino

e apostas pela internet (SPRITZER 2009)

Classificaccedilatildeo dos jogos

O facto de o jogo ser polimoacuterfico e polisseacutemico torna a sua classificaccedilatildeo muito difiacutecil

Vaacuterios autores como CAILLOIS (1958) HUIZINGA (1938) PIAGET (1964) DELVAL (1994)

OTERO (1994) PARLEBAS (2001) LOacutePEZ et al (2002) DOS ANJOS (2002) e outros

classificaram os jogos desde diferentes perspectivas e como resultado encontramos hoje na

literatura uma infinidade de classificaccedilotildees muitas delas com criteacuterios natildeo consentacircneos

Dada a natureza do presente trabalho destaca-se a classificaccedilatildeo de OTERO (1994) que

distingue os jogos em desportivos e recreativos Os jogos recreativos distinguem-se dos

desportivos pela ausecircncia de qualquer superestrutura institucional e consequentemente ausecircncia

de qualquer requisito burocraacutetico para a sua praacutetica nem precisando de treinador De facto o que

mais distingue os jogos recreativos dos outros eacute o objectivo pelo qual se joga recrear-se

divertir-se entreter-se

Outras classificaccedilotildees feitas pelos autores antes citados podem ser usadas nas

subclassificaccedilotildees dos jogos recreativos como por exemplo a classificaccedilatildeo feita por

ZAPAROZHANOVA amp LATYSHKEVICH (1996) citados por ORTIZ (2002) que distinguem

os jogos em activos onde integram todos aqueles que envolvem corridas saltos e lanccedilamentos e

natildeo activos onde integram o resto Integrando essa classificaccedilatildeo na classificaccedilatildeo de OTERO

(1994) teriacuteamos jogos recreativos activos e jogos recreativos natildeo activos ou passivos Eacute verdade

153

que uma anaacutelise mais detalhada poderia distinguir esses jogos recreativos em muito activos ou

super activos activos e passivos dependendo do grau de intensidade dos movimentos

envolvidos

Igualmente dentro dos jogos recreativos podemos integrar a classificaccedilatildeo de CAILLOIS

(1958) que distingue os jogos em

Jogos agonais (acircgon) que satildeo aqueles que implicam competiccedilatildeo entre os jogadores ou

equipa de jogadores

Jogos aleatoacuterios (alea) tambeacutem chamados de jogos de azar satildeo aqueles em que a vitoacuteria

natildeo depende muito do jogador mas sim da sorte do acaso como por exemplo jogo de

cartas bingo lotaria etc

Jogos ilusoacuterios (mimicry) satildeo simboacutelicos de imitaccedilatildeo simulacros a caracteriacutestica

principal eacute a representaccedilatildeo

Jogos vertiginosos (inlix) satildeo jogos associados a uma busca freneacutetica de uma situaccedilatildeo que

potildee o corpo numa exaustatildeo atingindo o frenesi momentacircneo poreacutem no maacuteximo de

ecircxtase Como exemplo temos os chamados desportos radicais ou de forte emoccedilatildeo

Assim tendo em conta estas classificaccedilotildees um jogo pode ser recreativo ou desportivo e

subclassificar-se em superactivo activo ou passivo e estes por sua vez em agonal aleatoacuterio de

ilusatildeo ou vertiginoso como mostra a tabela 1

Tabela 1 Classificaccedilatildeo dos jogos

O presente estudo teve como objectivo identificar os jogos predilectos das crianccedilas dos

bairros suburbanos da Cidade de Nampula

Jogo

Desportivo

Recreativo

Superactivo

Activo

Passivo

Agonal

Aleatoacuterio

Ilusoacuterio

Vertiginoso

154

Metodologia

O presente estudo eacute do tipo levantamento e teve como amostra dois Postos Administrativos

suburbanos da Cidade de Nampula nomeadamente o Posto Administrativo de Napipine e o

Posto Administrativo de Muatala

Utilizou-se como teacutecnica de recolha de dados a observaccedilatildeo com registo cursivo

complementado-se com uma entrevista semi-estruturada na qual os observadores devidamente

treinados e credenciados se deslocavam aos bairros nos periacuteodos de manhatilde das 08h00 agraves 10h00

horas e no periacuteodo da tarde das 14h30 agraves 16h30 horas de segunda a sexta-feira durante duas

semanas do periacuteodo de interrupccedilatildeo escolar Agrave medida que encontravam crianccedilas a jogar

registavam numa ficha todos os dados importantes referentes ao jogo e em caso de

desconhecimento de alguns dados como o nome do jogo e material usado entrevistavam alguns

membros do grupo de crianccedilas para o devido esclarecimento

Os dados recolhidos foram processados no pacote estatiacutestico SPSS para analisar a

frequecircncia da ocorrecircncia dos jogos tendo em conta o sexo dos praticantes

Os jogos mais observados ao longo das duas semanas foram considerados como os jogos

predilectos das crianccedilas

Resultados

A tabela 2 mostra os jogos e a frequecircncia que cada jogo foi observado a ser praticado pelas

crianccedilas ao longo dos 10 dias da recolha dos dados

Tabela 2 Frequecircncia de jogos

Nordm Nome do jogo Frequecircncia Percentagem

1 Futebol 40 336

2 Naripito 19 16

3 Berlinde 8 67

4 Cheia 7 59

5 Neca 6 5

6 Namacachantho 6 5

7 Banana 6 5

8 Zero 5 42

9 Phada 5 42

10 Pino 3 25

11 Saca 3 25

12 Isa-isa 2 17

13 Matraquilho 2 17

14 Salto a Corda 2 17

155

15 Desconto 2 17

16 Corrida de Pneus 1 08

17 Trinta e Cinco 1 08

18 Dama 1 08

Total 119 100

Como mostra a tabela em termos gerais o jogo de futebol foi o que com mais frequecircncia

se encontrou as crianccedilas a praticarem com uma frequecircncia de 40 correspondente a 336

seguido de naripito com uma frequecircncia de 19 correspondente a 16 berlinde com uma

frequecircncia de 8 correspondente a 67 Cheia com uma frequecircncia de 7 correspondente a 59

Os jogos neca namacachantho e banana foram observados com a mesma frequecircncia 6

que corresponde a 50 do total das observaccedilotildees seguido do jogo zero e phada observados 5

vezes cada que corresponde a 42

Os jogos de pino e saca foram observados com a mesma frequecircncia de 3 que corresponde

a 25 para cada jogo A esses jogos seguem os jogos de matraquilho salto a corda e desconto

com uma frequecircncia de 2 correspondente a 17 cada

Em uacuteltimo lugar estatildeo os jogos de corrida de pneus dama e jogo 35 que foram observados

1 vez apenas cada um deles uma frequecircncia correspondente a 08 cada

Em funccedilatildeo do sexo foram identificados 8 jogos realizados exclusivamente por crianccedilas do

sexo masculino com maior frequecircncia para o futebol seguido de berlinde (tabela 3)

Tabela 3 Frequecircncia de jogos sexo masculino

Nordm Nome do jogo Frequecircncia acumulada

1 Futebol 40 667 667

2 Berlinde 8 133 800

3 Pino 3 50 850

4 Naripito 3 50 900

5 Desconto 2 33 933

6 Matraquilhos 2 33 966

7 Dama 1 17 983

8 Corrida de pneus 1 17 1000

Total 60 1000

Jaacute para o sexo feminino foram identificados 10 jogos realizados exclusivamente por

crianccedilas do sexo feminino com maior frequecircncia para o jogo naripito seguido de neca (tabela 4)

Tabela 4 Frequecircncia de jogos sexo feminino

Nordm Nome do jogo Frequecircncia acumulada

1 Naripito 13 271 271

2 Neca 6 125 396

156

3 Zero 5 104 500

4 Namacachantho 5 104 604

5 Banana 5 104 708

6 Phada 5 104 812

7 Cheia 4 83 895

8 Salto de corda 2 42 937

9 Isa-isa 2 42 979

10 Trinta e cinco 1 21 1000

Total 48 100

Em cinco jogos estiveram a participar tanto crianccedilas de sexo masculino como crianccedilas de

sexo feminino (tabela 5)

Tabela 5 Frequecircncia de jogos praticados por grupos mistos

Nordm Nome do jogo Frequecircncia

1 Saca 3 273

2 Naripito 3 273

3 Cheia 3 273

4 Banana 1 91

5 Namacachantho 1 91

Total 11 100

Discussatildeo

Em termos gerais o jogo de futebol e o jogo de naripito satildeo os predilectos das crianccedilas

O jogo recreativo de futebol praticado por estas crianccedilas tem certas particularidades

diferentes do jogo desportivo de futebol tendo em conta a classificaccedilatildeo referenciada no presente

estudo Eacute um jogo em que o mais importante eacute divertir-se pelo que natildeo eacute exclusivo mas sim

inclusivo sem regras restritas como o caso do nuacutemero de jogadores dimensotildees tanto do espaccedilo

como dos implementos do jogo o tempo de duraccedilatildeo de jogo etc Todos esses aspectos satildeo

definidos pelos proacuteprios jogadores e natildeo precisam nem sequer de um aacuterbitro para zelar pelo

cumprimento das regras Todos satildeo aacuterbitros pelo que todos ficam atentos agraves infracccedilotildees das

regras do jogo

Caso o nuacutemero de jogadores for iacutempar um dos jogadores que eacute conhecido como jogador

galo integra por um periacuteodo de tempo uma equipa e noutro periacuteodo integra a outra equipa ou

entatildeo eacute integrado definitivamente na equipa que estiver a perder para equilibrar o jogo o que

mostra que nesses jogos o mais importante natildeo eacute ganhar mas sim divertir-se

A preferecircncia do jogo de futebol por parte das crianccedilas da Cidade de Nampula pode dever-

se a popularidade do futebol como desporto tanto a niacutevel mundial como agrave niacutevel de Moccedilambique

ao avaliar pela sua divulgaccedilatildeo nos oacutergatildeos de informaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos outros desportos

Todos os jogos recreativos de futebol registados foram praticados absolutamente por

crianccedilas de sexo masculino Isso pode indicar que para essas crianccedilas o futebol eacute um desporto

157

para indiviacuteduos do sexo masculino e isso pode ser resultado de influecircncias culturais onde ainda

persiste a divisatildeo de trabalho por sexo ou seja existem actividades tidas como masculinas e

actividades tidas como femininas Em Moccedilambique ateacute o ano de 2012 o uacutenico campeonato de

futebol devidamente estabelecido e cuja praacutetica eacute regular e bem divulgada pelos principais

oacutergatildeos de informaccedilatildeo eacute o campeonato masculino

Isso pode ter influecircncia no pensamento das crianccedilas que faz com que elas pensem que o

futebol eacute para os homens e natildeo para as mulheres

O segundo jogo predilecto foi o jogo de naripito Trata-se de um jogo recreativo de cartas

cujo preacutemio satildeo ripitos que satildeo contas de diferentes cores que as crianccedilas de sexo feminino

usam para enfeitar o cabelo Pode-se classificar como um jogo recreativo passivo aleatoacuterio ou

seja jogo de azar onde cada crianccedila aposta uma determinada quantidade de contas ou bijutarias

chamadas na liacutengua local de ripitos

Eacute um jogo recreativo eminentemente feminino embora dos 18 registos tenha havido 3 em

que eram jogados por crianccedilas do sexo masculino e 3 em que se encontravam a jogar de forma

mista crianccedilas tanto do sexo feminino como do sexo masculino

Quando praticado pelas crianccedilas do sexo masculino em vez de apostar os ripitos muitas

vezes apostam dinheiro

Esses resultados sobre a preferecircncia de um jogo alea por parte das crianccedilas de sexo

feminino exige uma reflexatildeo dado aos estudos que indicam o perigo desses jogos Eacute mais

provaacutevel que com o avanccedilar da idade essas crianccedilas passem de aposta de ripitos para aposta de

dinheiro ou joias conduzindo-as ao jogo patoloacutegico cujos efeitos negativos foram comprovados

em estudos de OMAIS (2007) e GALETTI AT AL (2008)

OMAIS (2007) refere que os jogos patoloacutegicos fragilizam os viacutenculos familiares e causam

no jogador sensaccedilotildees desagradaacuteveis como culpa vergonha tristeza humilhaccedilatildeo ressentimento e

raiva depressatildeo ansiedade perda de amizades como consequecircncia de actos ilegais cometidos

pelo jogador para financiar o jogo

Diferentemente do futebol que eacute um jogo recreativo superiactivo e agonal e que por

conseguinte pode contribuir muito na aptidatildeo fiacutesica para a sauacutede dessas crianccedilas o naripito natildeo

soacute eacute um jogo recreativo alea mas tambeacutem passivo o que pode criar futuros haacutebitos sedentaacuterios

nessas crianccedilas

Eacute verdade que pela forccedila da cultura as crianccedilas de sexo feminino fora da escola dedicam-

se mais a actividades activas inseridas nas tarefas domeacutesticas como carregar aacutegua cozinhar o

que pode justificar a preferecircncia pelos jogos passivos nos tempos livres no entanto mereceria um

158

estudo especiacutefico para provar ou rejeitar essa hipoacutetese uma vez que namacaxantho (jogo de

pedrinhas) que eacute outro jogo que se pode classificar como passivo jaacute que se joga sentado

lanccedilando e encaixando uma pedrinha que natildeo pesa mais que 50 gramas teve apenas uma

frequecircncia de 5 correspondente a 104 contra 271 de naripito o que sugere que a motivaccedilatildeo

para a maior preferecircncia no jogo naripito natildeo estaacute no facto de ser um jogo passivo mas sim no

facto de ser um jogo de sorte

O resto dos jogos preferidos pelas crianccedilas de sexo feminino que constituem

aproximadamente 625 de frequecircncia podem ser considerados jogos activos nomeadamente

Neca zero phada salto de corda e isa-isa que envolvem saltos banana cheia e trinta e

cinco que envolvem corridas e lanccedilamentos de bola

Dos 18 jogos identificados 13 jogos que constitui 722 podem ser considerados de

activos ou superactivos Um estudo feito por PRISTA (1995) na Cidade de Maputo constatou

que as brincadeiras das crianccedilas envolvem ldquomovimentos relativamente intensosrdquo o que parece

ser caracteriacutestico dos bairros suburbanos da Cidade de Nampula

Quanto agraves crianccedilas do sexo masculino a frequecircncia de jogos activos foi de

aproximadamente 767 nomeadamente futebol pino (movimentos acrobaacuteticos do solo)

desconto (jogo que se usa bola de futebol e que cada jogador situado na sua aacuterea delimitada por

linhas no chatildeo trata de defender a aacuterea com qualquer parte do corpo menos com a matildeo para

que a bola natildeo caia na sua aacuterea Cada vez que a bola pica na aacuterea de um jogador de 20 ou 100

desconta 5 pontos Aquele que desconta ateacute zero eacute eliminado do jogo ateacute se achar o campeatildeo e

corrida de pneus que eacute um jogo mimicry mas que tambeacutem agraves vezes as crianccedilas o transformam

em um jogo agonal consiste em correr rolando um pneu seja de motociclo ou de automoacutevel

O resto dos jogos preferidos pelas crianccedilas do sexo masculino com uma frequecircncia de

aproximadamente 233 podem ser considerados passivos nomeadamente berlinde (em outros

paiacuteses lusoacutefonos eacute conhecido como jogo de gude que eacute um jogo de bolinhas de vidro que satildeo

lanccediladas desde uma determinada distacircncia para caiacuterem numa cova e depois procura-se impactar a

bolinha do adversaacuterio para eliminaacute-lo) Naripito matraquilho (jogo de futebol de ficccedilatildeo

efectuado numa maacutequina que para soltar as bolas que satildeo usadas no jogo deve-se colocar uma

moeda) e dama (jogo de mesa que usa fichas ou dados que satildeo movimentados num tabuleiro

quadriculado)

Para as crianccedilas do sexo feminino os jogos activos tiveram uma frequecircncia de 625 e

foram Neca Zero (conhecido tambeacutem por salto de elaacutestico eacute um jogo que envolve saltos

verticais sucessivos de uma corda elaacutestica) Banana (jogo de mata-mata com bola) Phada (uma

159

variante de neca mas que usa uma figura desenhada no chatildeo de duas colunas de quadrados que

se passam a peacute cochinho) Cheia (jogo de mata-mata mas que usa uma garrafa no meio que se

procura encher de arreia) Salto de Corda Isa-isa (um jogo de agilidade que envolve saltos em

diferentes direcccedilotildees frente atraacutes e laterais) e trinta e cinco (jogo de mata-mata parecido com

beisebol em que o jogador tem que passar por quatro bases sem ser tocado com a bola para

ganhar)

Ainda 375 da frequecircncia foi constituiacuteda por jogos que podem ser considerados de

passivos nomeadamente Naripito e Namacaxantho

Em termos de diversidade as meninas tecircm mais jogos activos do que os meninos mas em

termos de praacutetica os meninos se dedicam mais a jogos activos do que as meninas

Isso subentende que embora as meninas tenham mais opccedilotildees recreativas elas preferem

mais jogos recreativos passivos do que os meninos

De todos os jogos identificados apenas um pode ser classificado como ilusoacuterio o jogo de

matraquilho um pode ser classificado de vertiginoso o jogo de pino ainda um pode ser

classificado de aleatoacuterio o jogo de naripito e o resto dos jogos podem ser classificados de

agonais o que mostra a maior componente competitiva dos jogos praticados por essas crianccedilas

Dos 18 jogos identificados apenas em quatro jogos foram encontrados a jogarem juntas

crianccedilas do sexo masculino e crianccedilas do sexo feminino

O facto de poucas vezes ter-se encontrado crianccedilas de ambos os sexos a praticarem o

mesmo jogo juntas pode ser justificado pela proacutepria faixa etaacuteria preacute-puberdade e puberdade Agrave

medida que a crianccedila cresce cria sua identidade sexual vai-se identificando com o seu sexo e

consequentemente procura juntar-se agrave crianccedilas que tenham a mesma identidade sexual

Conclusatildeo

Foram identificados 18 jogos praticados por crianccedilas da Cidade de Nampula e desses os

predilectos em ordem decrescentes satildeo futebol naripito berlinde cheia e neca sendo futebol e

berlinde os jogos preferidos pelas crianccedilas do sexo masculino e naripito e neca os preferidos

pelas crianccedilas do sexo feminino

Destes 722 dos jogos identificados podem ser classificados de activos ou superactivos

o que indica existecircncia ainda de opccedilotildees recreativas saudaacuteveis para as crianccedilas da Cidade de

Nampula

Em termos de diversidade de jogos as crianccedilas do sexo feminino tecircm jogos mais

diversificados do que as crianccedilas do sexo masculino e em termos de classificaccedilatildeo dos mesmos

160

as crianccedilas do sexo feminino tecircm mais jogos activos do que as crianccedilas do sexo masculino no

entanto na opccedilatildeo recreativa as crianccedilas do sexo feminino optam mais por jogos passivos do que

as crianccedilas do sexo masculino A maiorias dos jogos recreativos identificados satildeo agonais no

entanto a maioria dos jogos optados pelas crianccedilas do sexo feminino satildeo aleatoacuterios ou de azar

O facto de as crianccedilas do sexo feminino optarem mais por jogos passivos e de azar sugere

implicaccedilotildees futuras negativas para esta geraccedilatildeo pelo que dever-se-ia refletir profundamente

sobre essa tendecircncia

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162

Crescimento somaacutetico e aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede Um estudo em

alunos da Cidade da Beira Moccedilambique

Djossefa Joseacute Nhantumbo37

Bridgette Simone Bruce-Nhantumbo38

Resumo

O presente estudo teve como objectivo avaliar o Crescimento somaacutetico e a Aptidatildeo Fiacutesica Relacionada agrave

Sauacutede (AptFS) em alunos dos 6 aos 14 anos da Cidade da Beira Moccedilambique Eacute um estudo de caraacutecter

descritivo comparativo e transversal envolvendo uma amostra de 883 alunos (451 rapazes e 432

raparigas) que foram submetidos agrave bateria de testes FITNESSGRAM para a avaliaccedilatildeo da AptFS O

crescimento somaacutetico foi avaliado de acordo com a padronizaccedilatildeo descrita por LOHMAN et al (1998)

tendo o IMC sido determinado dividindo o valor do peso pelo quadrado da altura em metros

(pesoaltura2) sendo expresso em kgm2 A anaacutelise de dados foi realizada atraveacutes do pacote estatiacutestico

SPSS 150 e o niacutevel de significacircncia foi fixado em 005 Os resultados mostram que tanto as meninas

como os meninos apresentam valores meacutedios estatuto ponderais abaixo do recomendado para as idades

consideradas no presente estudo pese a que as meninas espelham valores mais elevados de IMC Na

maior parte dos intervalos etaacuterios a Aptidatildeo Fiacutesica aumenta com o avanccedilo da idade sendo que os rapazes

evidenciaram melhores niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica em quase todas as provas em relaccedilatildeo agraves raparigas o

maior desempenho da Aptidatildeo Fiacutesica registou-se na prova de elevaccedilatildeo do tronco em ambos os sexos

enquanto o menor desempenho registou-se na prova de corrida de 1600 metros em que foram evidentes

em ambos os sexos niacuteveis abaixo do recomendado na maior parte das provas fiacutesicas seleccionadas para o

presente estudo excepto nas idades 6 e 9 Embora natildeo tenha sido efectuada uma correlaccedilatildeo linear entre

estas variaacuteveis parece existir uma inter-relaccedilatildeo entre os niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica com os valores de IMC

cuja inteligibilidade carece de mais estudos contextualizados Palavras ndash Chaves Aptidatildeo Fiacutesica IMC Alunos

Abstract

The present study had as objective to evaluate somatic growth and Physical Fitness associated to Health

in students aged 6 to 14 years from the City of Beira Mozambique Itacutes a descriptive-comparative and

transversal study which involved a sample of 883 pupils (451 boys and 432 girls) who were submitted to

Fitnessgram battery of test to measure Physical Fitness Related to Health Somatic growth was evaluated

according to LOHMAN et al (1998) standardized method and BMI was determined by dividing the

value of the weight by the square of height in meters (IMC=WeightHeightsup2) Data analysis was

performed in the SPSS statistical program version 15 and the significance level was set at 005 The

results show that both girls and boys present somatic average values below to those recommended for the

ages of the present study although the girls show higher values of Body Mass Index in most age ranges

the Physical Fitness increases as the age advances even so the boys showed better levels in almost all the

tests if compared to the girls the best performance was in the test trunk lift which occurred in both

genders while the worst performance was in the mile race in which both boys and girls performed above

recommended in almost all the tests selected for the present study excepting the ages 6 and 9 Although

there has not been a linear correlation analysis between these variables there appears to be an

interrelationship between levels of Physical Fitness with BMI whose intelligibility needs more

contextualized studies

Keywords Physical Fitness Body Mass Index Students

37 Licenciado em EF e Desporto Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de EF e Desporto Doutorando em Educaccedilatildeo

especializaccedilatildeo em Metodologia de Investigaccedilatildeo Educacional pela Universidad Iberoamericana (UNINI) 38 Licenciada em EF e Desporto Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de EF e Desporto Doutoranda em Educaccedilatildeo

especializaccedilatildeo em Metodologia de Investigaccedilatildeo Educacional pela Universidad Iberoamericana (UNINI)

163

Introduccedilatildeo

A praacutetica regular de Actividade Fiacutesica sistematizada na infacircncia e na adolescecircncia pode

favorecer o desenvolvimento ou a manutenccedilatildeo de niacuteveis adequados de Aptidatildeo Fiacutesica reduzindo

o risco de incidecircncia de inuacutemeras disfunccedilotildees croacutenico degenerativas em idades precoces

(RONQUE et al 2007) Embora sejam vaacuterios os elementos necessaacuterios para aquisiccedilatildeo de

habilidades muitos desportos enfatizam capacidades fiacutesicas especiacuteficas por exemplo os

halterofilistas precisam de forccedila os maratonistas de resistecircncia muscular e cardiovascular entre

outros A danccedila requer o desenvolvimento de vaacuterios componentes pois movimentos como o

ldquogrande saltordquo necessita tanto de flexibilidade quanto de forccedila e para realizar equiliacutebrio fora do

centro de gravidade ou passos raacutepidos e intrincados na ponta deve-se possuir refinada

coordenaccedilatildeo neuromuscular (GREGO et al 2006)

Nas uacuteltimas trecircs deacutecadas numerosos trabalhos tecircm consistentemente demonstrado que altos

niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica estatildeo associados agrave diminuiccedilatildeo do risco de doenccedila arterial coronaacuteria

diabetes hipertensatildeo e osteoporose (PITANGA 2002)

O desenvolvimento da Aptidatildeo Fiacutesica assim como do desporto nas suas diferentes formas

de manifestaccedilatildeo satildeo objectivos a serem alcanccedilados nos programas de Educaccedilatildeo Fiacutesica (EF) e de

desporto nos quais o indiviacuteduo eacute submetido a um processo de treino Para tanto eacute necessaacuterio que

o profissional de EF ou Desporto tenha conhecimento destes conceitos e suas relaccedilotildees (BOumlHME

2003)

O desenvolvimento motor eacute um processo sequencial relacionado agrave idade cronoloacutegica

traduzido pela interacccedilatildeo entre os requisitos das tarefas a biologia do indiviacuteduo e as condiccedilotildees

ambientais sendo inerente agraves mudanccedilas sociais intelectuais e emocionais (GALLAHUE amp

OZMUN 2001) Eacute na infacircncia particularmente no iniacutecio do processo de escolarizaccedilatildeo que

ocorre um amplo incremento das habilidades motoras o que possibilita agrave crianccedila um amplo

domiacutenio do seu corpo em diferentes actividades saltar correr rastejar chutar uma bola lanccedilar

um arco equilibrar-se num peacute escrever entre outras (SANTOS et al 2004)

A infacircncia e a adolescecircncia satildeo periacuteodos criacuteticos poreacutem extremamente importantes

estando associados a aspectos de conduta e solicitaccedilatildeo motora jaacute que nesta fase do

desenvolvimento humano aleacutem das implicaccedilotildees fisioloacutegicas relacionadas agrave maturaccedilatildeo bioloacutegica

o organismo eacute sensiacutevel agrave influecircncia de factores ambientais e comportamentais tanto de natureza

positiva como negativa (GUEDES amp GUEDES 2006)

164

Assim o acompanhamento dos iacutendices de desempenho motor de crianccedilas e adolescentes

pode contribuir de forma decisiva na tentativa de promover a praacutetica de Actividade Fiacutesica no

presente e para toda a vida Para tal as experiecircncias motoras devem fazer parte do dia-a-dia das

crianccedilas e adolescentes pois satildeo representadas por toda e qualquer actividade corporal realizada

em casa na escola e nas brincadeiras

Com efeito e conforme LUGUETTI et al (2010) enfatizam verificar os aspectos da

AptFS de jovens poderaacute contribuir de forma decisiva na tentativa de promoccedilatildeo da sauacutede

colectiva

Os estudos centrados no crescimento somaacutetico e Aptidatildeo Fiacutesica realizados em

Moccedilambique que pelo seu valor constituem-se como referecircncias (PRISTA et al 1997 PRISTA

et al 2002 SARANGA et al 2002) foram realizados em contexto urbano concretamente com

crianccedilas e jovens de Maputo existindo apenas um uacutenico estudo de referecircncia que se insere neste

domiacutenio que foi realizado com crianccedilas e jovens moccedilambicanos em idade escolar vivendo em

contextos rurais (NHANTUMBO 2007)

Todavia e ateacute aos dias que correm natildeo existem dados sistematizados no domiacutenio dos

padrotildees de crescimento somaacutetico e Aptidatildeo Fiacutesica referentes agraves outras aacutereas de Moccedilambique Por

conseguinte do ponto de vista eacutetnico orograacutefico e de assimetrias socioeconoacutemicas regionais a

populaccedilatildeo de Moccedilambique eacute heterogeacutenea o que justifica a necessidade e extrema importacircncia de

avaliar a variabilidade destes indicadores em todas as regiotildees do paiacutes Foi neste contexto que no

acircmbito do presente estudo foram consideradas algumas variaacuteveis somaacuteticas e de AptFS no

sentido de examinar e caracterizar a expressatildeo destes indicadores no seio de crianccedilas e jovens da

cidade da Beira

Crescimento somaacutetico

As modificaccedilotildees no estilo de vida das pessoas vecircm acometendo grandes transformaccedilotildees

sociais isto eacute na actualidade o trabalho as novas tecnologias e sobretudo as mudanccedilas nos

haacutebitos alimentares associadaso agrave inactividade fiacutesica estatildeo proporcionando alteraccedilotildees

significativas no tocante agraves alteraccedilotildees morfoloacutegicas dos indiviacuteduos (MOREIRA et al 2010)

Sendo assim a monitorizaccedilatildeo do crescimento resulta ser um procedimento

internacionalmente aceite para aferir as condiccedilotildees de sauacutede e qualidade de vida de um

determinado paiacutes ou regiatildeo (TANNER 1987 MALINA amp BOUCHARD 1991) embora o

165

crescimento corporal seja tambeacutem em muitos paiacuteses um indicador de sauacutede mais relevante do

que qualquer informaccedilatildeo acerca do valor do produto interno bruto (PRISTA et al 2000)

Outrossim o conhecimento do estado de crescimento e desenvolvimento de uma

populaccedilatildeo eacute de extrema importacircncia pois revela na realidade resultados relevantes aos

educadores pediatras nutricionistas pais e gestores na perspectiva de trazer agrave luz as

necessidades contemporacircneas que estejam associadas agrave sauacutede e ao bem-estar (MAIA et al

2007)

A informaccedilatildeo do crescimento somaacutetico e do desempenho motor de crianccedilas e jovens eacute de

primordial importacircncia natildeo soacute para profissionais de Desporto e de Educaccedilatildeo Fiacutesica mas

tambeacutem e sobretudo para Nutricionistas Pediatras e peritos em Sauacutede Puacuteblica (MAIA et al

2006)

Em termos antropomeacutetricos crescimento consiste no aumento e nas modificaccedilotildees dos

componentes corporais tanto longitudinais como transversais sendo que apoacutes o primeiro ano a

fase mais acelerada eacute a adolescecircncia (WALRICK amp DUARTE 2000)

Historicamente profissionais da aacuterea de sauacutede tecircm utilizado a estatura e a massa corporal

como medidas para avaliar as alteraccedilotildees no crescimento e essas medidas antropomeacutetricas podem

ser usadas a niacutevel individual e populacional para obter informaccedilotildees sobre comprometimento da

sauacutede ou o bem-estar nutricional e para obter informaccedilotildees sobre o estado nutricional de um paiacutes

comunidade grupo socioeconoacutemico e para estudar os determinantes e consequecircncias da maacute

nutriccedilatildeo respectivamente (BERGMANN et al 2008)

Tambeacutem pode ser visto como um encadeamento de fenoacutemenos de ordem celular

fisioloacutegica e morfoloacutegica predeterminados geneticamente e modificaacuteveis pelos fenoacutemenos que

traduzem o meio ambiente mesmo quando o componente geneacutetico natildeo possa anular a influecircncia

ambiental (SILVA NETO 1999)

O crescimento e desenvolvimento passam por fases definidas mais ou menos susceptiacuteveis

agraves influecircncias geneacuteticas e ambientais onde os primeiros anos de vida satildeo mais susceptiacuteveis aos

estresses alimentares doenccedilas infecciosas niacutevel socioeconoacutemico e dependecircncia cultural da

famiacutelia no tratamento com a sauacutede As alteraccedilotildees saudaacuteveis na composiccedilatildeo corporal durante o

crescimento implicam uma imediata disponibilidade de nutrientes seja em qualidade e

quantidade para a actualizaccedilatildeo dos incrementos dos valores estatuto ponderais esperados para

uma determinada idade e contexto socioeconoacutemico favoraacutevel (SARANGA et al 2007)

No entanto o crescimento fiacutesico e em especial a performance motora vecircm merecendo

particular destaque em pesquisas com a finalidade de documentar e compreender diversos

166

aspectos relacionados agrave sauacutede de uma determinada populaccedilatildeo (PRADO 2000) Isto faz com que

o crescimento e desenvolvimento fiacutesico juntamente com o desempenho motor mereccedilam uma

particular abordagem em pesquisas que buscam documentar e compreender a diversidade de

aspectos relacionados agrave sauacutede de determinada populaccedilatildeo (BARBOSA et al 2008)

Estudos tecircm vindo a denunciar a influecircncia preponderante do factor ambiental sobre o

estado de crescimento e desenvolvimento de crianccedilas e adolescentes o que inclui entre outros

as condiccedilotildees socioeconoacutemicas das famiacutelias e inegavelmente factores geneacuteticos que determinam

toda essa complexa intensa e veloz transformaccedilatildeo ocorrida no organismo humano (JOHNSTON

amp MACVEAN 1995 PRADO 2000)

A relevacircncia desses estudos reside no facto de que o crescimento principalmente nos

paiacuteses em desenvolvimento configurar-se como um importante meio para avaliaccedilatildeo das

condiccedilotildees de sauacutede de crianccedilas e jovens tendo em vista que constitui um dos indicadores de

qualidade de vida de um pais alem disso o acompanhamento do crescimento durante a infacircncia

e adolescecircncia possibilita a comparaccedilatildeo dos iacutendicies individuais com os valores apresentados

pelo grupo ou com referencias preestabelecidas possibilitando assim o diagnoacutestico precoce de

possiacuteveis problemas de subnutriccedilatildeo ou de sobrepeso e obesidade (BERGMANN et al 2008)

Aptidatildeo fiacutesica

O incremento galopante do sedentarismo nas sociedades modernas e industrializadas tem

sido associado a factores de risco de um complexo espectro de condiccedilotildees moacuterbidas bem como

ao estabelecimento de relaccedilotildees entre Aptidatildeo Fiacutesica e sauacutede fundamentalmente a partir de uma

oacuteptica epidemioloacutegica (NHANTUMBO et al 2006)

O que realmente se tem verificado eacute que o modo de vida contemporacircneo induz as pessoas

ao sedentarismo e agrave adopccedilatildeo de haacutebitos alimentares inadequados que por sua vez estatildeo

intimamente relacionados a uma maior morbidade e mortalidade (BIM amp JUNIOR 2005)

Vaacuterias tentativas tecircm sido feitas para melhorar a Aptidatildeo Fiacutesica em crianccedilas

principalmente no meio escolar atraveacutes do aumento do conhecimento e da praacutetica de actividades

fiacutesicas apesar de saber-se que estas medidas embora importantes natildeo satildeo tatildeo eficazes devido agrave

forte interferecircncia dos meios de comunicaccedilatildeo verbais escritos e principalmente visuais no dia-a-

dia da crianccedila o que supera qualquer tentativa de fazer com que a crianccedila tenha um

comportamento fiacutesico activo e uma alimentaccedilatildeo a mais saudaacutevel possiacutevel (PINHO amp

PETROSKI 1999)

167

Outro aspecto importante eacute que no mundo existe uma forte preocupaccedilatildeo no sentido de

determinar e atribuir significado pedagoacutegico e epidemioloacutegico aos niacuteveis de AptFS o que tem

por conseguinte conduzido a investigaccedilatildeo a dirigir o seu olhar para populaccedilotildees diferenciadas em

termos etaacuterios e contextuais (SANTOS et al 2010)

Compreendendo os benefiacutecios que a praacutetica da Actividade Fiacutesica regular promove na

melhoria da qualidade de vida desperta-nos a atenccedilatildeo no que concerne agrave relaccedilatildeo entre as

actividades fiacutesicas e os iacutendices de Aptidatildeo Fiacutesica para o estado de sauacutede global das pessoas

principalmente na infacircncia e na adolescecircncia (MARCHESONI et al 2011)

A Aptidatildeo Fiacutesica eacute um indicador fundamental do niacutevel de sauacutede individual e comunitaacuterio

aleacutem de possuir reconhecida associaccedilatildeo entre os haacutebitos de Actividade Fiacutesica o estado de sauacutede

e o bem-estar sendo de grande utilidade tanto para os profissionais de EF como para os da aacuterea

de sauacutede por conter informaccedilotildees relevantes acerca das caracteriacutesticas de uma determinada

populaccedilatildeo em seu local de actuaccedilatildeo (VERARDI et al 2007)

Com o aumento do sedentarismo e a diminuiccedilatildeo dos niacuteveis de actividade fisica em crianccedilas

e adolescentes na fase escolar a Aptidatildeo Fiacutesica converteu-se num motivo de grande interesse

para os profissionais na aacuterea de sauacutede (TOMKINSON amp OLDS 2007 MOJICA et al 2008

CLELAND et al 2008)

Sabe-se que os niacuteveis satisfatoacuterios de AptFS podem para aleacutem de favorecer a prevenccedilatildeo

manutenccedilatildeo e melhoria da capacidade funcional reduzir a probabilidade do desenvolvimento de

inuacutemeras disfunccedilotildees de caraacutecter croacutenico degenerativo tais como obesidade diabetes doenccedilas

cardiovasculares hipertensatildeo entre outras proporcionando consequentemente melhores

condiccedilotildees de sauacutede e qualidade de vida agrave populaccedilatildeo (BOREHAM amp RIDDOCH 2001)

O desenvolvimento da Aptidatildeo Fiacutesica assim como do desporto nas suas diferentes formas

de manifestaccedilatildeo satildeo objectivos que devem ser alcanccedilados em programas de EF e do desporto

em particular nos quais o indiviacuteduo eacute submetido a um processo de treino sendo para tal

necessaacuterio que o profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica ou Desporto tenha conhecimento destes

conceitos e suas respectivas relaccedilotildees jaacute que o desporto e a Aptidatildeo Fiacutesica tecircm em comum o

facto de se desenvolverem por meio de actividades fiacutesicas em que a realizaccedilatildeo do desporto se

daacute principalmente por actividades fiacutesicas denominadas acccedilotildeesactividades desportivas

(BOumlHME 2003)

Avaliar os niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica deve ser o primeiro passo para identificar um estado

que predispotildee a sauacutede e deve-se neste contexto incentivar uma constante revisatildeo dos programas

168

de EF escolar para preservaccedilatildeo de niacuteveis satisfatoacuterios de sauacutede (BOELHOUWER amp BORGES

2002)

Eacute importante ainda salientar que o mais fundamental eacute desenvolver no aluno a

consciencializaccedilatildeo e formaccedilatildeo para que ele possa praticar Actividade Fiacutesica fora do acircmbito

escolar sabendo da sua importacircncia para a sauacutede e assim influenciar outras pessoas agrave essa

praacutetica Ademais a Aptidatildeo Fiacutesica apresenta caracteriacutesticas individualizadas de acordo com as

necessidades proacuteprias de actividades fiacutesicas de cada ser humano possuindo elementos

qualitativos de acordo com o modo de vida e apresenta variaccedilotildees entre os indiviacuteduos assim

como durante as diferentes fases da vida do proacuteprio indiviacuteduo nas quais ele possa ser mais ou

menos activo (Boumlhme 2003)

Resulta importante ver a aptidatildeo desde uma perspectiva total na qual se iria referir agrave

totalidade biopsicossocial do homem isto eacute agrave realidade de o indiviacuteduo estar apto para todas as

suas necessidades do ponto de vista bioloacutegico psicoloacutegico e social levando-o a uma integraccedilatildeo

adequada ao meio ambiente onde estaacute inserido ou seja seria o resultado directo da interacccedilatildeo

das suas caracteriacutesticas geneacuteticas com o meio ambiente com que estaacute relacionado e o seu

fenoacutetipo (BOumlHME 1993) Os componentes que englobam a AptFS compreendem os factores

motores (flexibilidade e forccedilaresistecircncia muscular localizada) funcionais (aptidatildeo

cardiorrespiratoacuteria) morfoloacutegicos (anaacutelise da composiccedilatildeo corporal) fisioloacutegicos e

comportamentais (PEZZETA et al 2003)

Referir que Aptidatildeo Fiacutesica sauacutede e qualidade de vida relacionada agrave sauacutede satildeo variaacuteveis

com um alto grau de associaccedilatildeo Existe uma tendecircncia a uma maior prevalecircncia dos niacuteveis de

sedentarismo quando se inicia a vida adulta e essa populaccedilatildeo adulta jovem tende a ser

aparentemente saudaacutevel por ausecircncia de sintomas muito embora esse grupo tenda a apresentar

factores de risco que potencialmente levaratildeo a doenccedilas hipocineacuteticas

Em decorrecircncia do sedentarismo cada vez mais prevalente esse grupo populacional tende

a apresentar niacuteveis progressivamente menores de Aptidatildeo Fiacutesica de sauacutede e de qualidade de vida

(ARAUacuteJO amp ARAUacuteJO 2000) Como eacute evidente natildeo existe um conceito uacutenico de Aptidatildeo

Fiacutesica jaacute que diferentes especialistas e pesquisadores tecircm trazido conceitos adequados agrave sua

realidade contextual (GUEDES amp GUEDES 1997) A Aptidatildeo Fiacutesica eacute em geral um estado

fiacutesico de bem-estar que permite agraves pessoas realizar as actividades e reduzir os problemas de

sauacutede relacionados com a falta de exerciacutecio proporcionar uma base de aptidatildeo para a

participaccedilatildeo em actividades fiacutesicas (AAHPERD 1988)

169

Contudo a AptFS eacute tambeacutem a capacidade de executar actividades fiacutesicas com energia e

vigor sem excesso de fadiga e tambeacutem como a demonstraccedilatildeo de qualidades e capacidades fiacutesicas

que conduzem ao menor risco de desenvolvimento de doenccedilas hipocineacuteticas (PATE 1988

ACSM 1996) Eacute simultaneamente um conceito complexo e um instrumento operacional de

mensuraccedilatildeo de um conjunto lato de atributos fisicos psicoloacutegicos e fisioloacutegicos que cada pessoa

possui em determinado momento da sua histoacuteria de vida cujos valores moderados a elevados

estatildeo intimamente associados a um risco reduzido de desenvolvimento de doenccedilas de natureza

hipocineacutetica (BOUCHARD amp SHERPARD 1994) Por seu turno trata-se da capacidade de

executar actividades fiacutesicas de forma eneacutergica e vigorosa sem excesso de fadiga e ao mesmo

tempo a demonstraccedilatildeo de qualidades e capacidades que conduzam ao menor risco de

desenvolvimento de doenccedilas e incapacidades funcionais (SILVA et al 2005)

Tambeacutem a Aptidatildeo Fiacutesica eacute a expressatildeo da capacidade funcional direccionada agrave realizaccedilatildeo

de esforccedilos fiacutesicos associados agrave praacutetica de Actividade Fiacutesica representada por conjunto de

componentes relacionados agrave sauacutede e ao desempenho atleacutetico (CASPERSEN et al 1985) Nesta

vertente enquanto a Actividade Fiacutesica define-se como processo estreitamente relacionado com

aspectos comportamentais a Aptidatildeo Fiacutesica caracteriza-se como produto voltado ao

dimensionamento das capacidades para a posterior realizaccedilatildeo do trabalho muscular Visto nestas

perspectivas ser um indiviacuteduo saudaacutevel eacute uma espeacutecie de harmonia entre o comportamento e as

funccedilotildees corporais (PEZZETTA et al 2003)

Metodologia

A presente pesquisa possui um delineamento transversal e teve como enfoque descrever e

comparar as variaacuteveis do Crescimento Somaacutetico e da AptFS dos alunos do ensino primaacuterio da

Cidade da Beira Participaram do estudo de 883 alunos de ambos os sexos (451 rapazes e 432

raparigas) do 1ordm ao 7ordm grau com compreendidas entre os 6 e os 14 anos da Cidade da Beira

pertencentes a quatro escolas sendo duas puacuteblicas e outras duas privadas todas da Cidade da

Beira seleccionadas aleatoriamente

Teacutecnica e instrumentos de recolha de dados

A altura e o peso foram medidas com um estadioacutemetro e uma balanccedila de marca

Harpenderreg e Seccareg respectivamente de acordo com a padronizaccedilatildeo descrita por LOHMAN et

al (1998) O IMC foi determinado dividindo o valor do peso pelo quadrado da altura em metros

170

(IMC=PesoAltura2) sendo expresso em kgm2 A Aptidatildeo Fiacutesica foi avaliada com recurso agrave

bateria de testes FITNESSGRAM que compreende os seguintes testes Corrida de 1600 metros

(aptidatildeo cardiorespiratoacuteria) Curl-Up ou Abdominais (forccedila de resistecircncia abdominal) Flexotildees

de Braccedilo ou Push-Up (forccedila de resistecircncia dos membros superiores) e Trunk lift (flexibilidade do

tronco) Agrave excepccedilatildeo das provas de corrida 1600 metros e forccedila de resistecircncia abdominal foram

concedidas duas repeticcedilotildees a cada sujeito em todas as provas de aptidatildeo fiacutesica Nestas foi

considerado o melhor resultado Em ordem a minimizar a variacircncia do erro nas mediccedilotildees tanto

nas medidas antropomeacutetricas como em todas as provas fiacutesicas os sujeitos foram sempre

avaliados pelos mesmos observadores

Procedimentos estatiacutesticos

A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi efectuada no programa estatiacutestico SPSS versatildeo 150

com um niacutevel de significacircncia fixado em 005 tendo compreendido as seguintes etapas 1

Aplicaccedilatildeo do teste de Kolmogorov-Smirnov para efeitos de verificaccedilatildeo da normalidade da

distribuiccedilatildeo dos dados tendo evidenciado uma distribuiccedilatildeo normal 2 Caacutelculo das medidas de

estatiacutestica descritiva baacutesicas isto eacute a meacutedia e desvio padratildeo 3 Comparaccedilatildeo das meacutedias obtidas

nas diferentes variaacuteveis de interesse em funccedilatildeo do sexo atraveacutes do T-Teste de medidas

independentes 4 Aplicaccedilatildeo da anaacutelise de variacircncia a dois factores (ANOVA II) para determinar

o efeito da idade e do sexo sobre as variaacuteveis somaacuteticas e de Aptidatildeo Fiacutesica bem como a

interacccedilatildeo idade-sexo

Consideraccedilotildees eacuteticas

Foram feitas todas as diligecircncias necessaacuterias para salvaguardar a integridade fiacutesica e a

sauacutede dos sujeitos avaliados Os testes foram aplicados por avaliadores previamente treinados

para o efeito Todas as avaliaccedilotildees e observaccedilotildees encerraram um caraacutecter natildeo invasivo e foram

realizadas nas escolas seleccionadas para esta pesquisa num ambiente adequado aos propoacutesitos

da mesma A autorizaccedilatildeo para a recolha de dados foi obtida apoacutes a explicaccedilatildeo antecipada da

metodologia e objectivos do estudo agraves direcccedilotildees das escolas e aos pais e encarregados de

educaccedilatildeo dos alunos da faixa etaacuteria abrangida no acircmbito desta pesquisa

171

Resultados

Crescimento somaacutetico

A anaacutelise dos resultados da presente pesquisa face agrave tabela de classificaccedilatildeo do IMC da

OMS permitiu evidenciar valores abaixo dos padrotildees recomendados em todas as idades da

amostra do presente estudo facto resultante dos baixos escores do Peso e Altura (Tabela 1) Os

resultados da anaacutelise de variacircncia (ANOVA II) revelam um efeito do sexo e da idade

significativo e altamente significativo respectivamente Evidenciou-se ainda uma interacccedilatildeo

significativa entre o sexo e a idade nas variaacuteveis somaacuteticas Peso e IMC Ainda que se trate de

dois contextos diferenciados estes resultados satildeo contraditoacuterios com os reportados por BORGES

et al (2010) em que avaliaram os indicadores antropomeacutetricos e neuromusculares de 94 alunos

(51 meninas e 43 meninos) brasileiros com idade entre 10 e 14 anos tendo sido constatados

iacutendices de prevalecircncia de risco de excesso de peso expressivos em todas as crianccedilas investigadas

Tabela 1 Valores descritivos da altura peso e IMC em funccedilatildeo do sexo e da idade (MplusmnDP)

Altura (cm) Peso (Kg) IMC

Idade

(anos) Meninas

(n= 432)

Meninos

(n= 450)

Meninas

(n= 429)

Meninos

(n= 444)

Meninas

(n= 429)

Meninos

(n= 443)

6 11989plusmn826 12098plusmn996 2019plusmn452 1939plusmn386 1408plusmn285 1328plusmn223

7 12575plusmn969 12392plusmn663 2076plusmn418 2159plusmn342 1324plusmn275 1406plusmn197

8 13368plusmn1021 13208plusmn990 2950plusmn738 2755plusmn681 1631plusmn283 1576plusmn331

9 13919plusmn970 13671plusmn817 3281plusmn886 2987plusmn598 1679plusmn345 1591plusmn231

10 14088plusmn788 14056plusmn896 3259plusmn794 3523plusmn1077 1625plusmn271 1764plusmn442

11 14541plusmn735 14366plusmn906 3485plusmn679 3437plusmn1057 1639plusmn242 1644plusmn366

12 14538plusmn711 14290plusmn1393 3478plusmn589 3479plusmn746 1641plusmn216 1656plusmn265

13 15152plusmn631 14875plusmn1004 4207plusmn727 3732plusmn804 1834plusmn326 1676plusmn231

14 15309plusmn1418 15305plusmn1280 4658plusmn1428 4195plusmn1275 1963plusmn448 1757plusmn326

Anova II

Efeitos Principais Efeitos Principais Efeitos Principais

Sexo F=4229 pgt001

Idade F=125433 plt0001

Interacccedilatildeo F=0462 pgt005

Sexo F=6115 pgt001

Idade F=94163 plt0001

Interacccedilatildeo F=2285 plt005

Sexo F=3579 pgt005

Idade F=28333 plt0001

Interacccedilatildeo F=3206plt005

Em Moccedilambique PRISTA et al (2005) descreveram o estado de crescimento de crianccedilas

e jovens de Maputo em idade escolar comparando esses valores com as normas da OMS e com

os resultados obtidos em 1992 com a populaccedilatildeo da mesma zona numa tentativa de averiguar o

impacto socioeconoacutemico naqueles indicadores de crescimento As crianccedilas de 11 anos

apresentaram menor estatura e baixo peso em relaccedilatildeo agraves normas da OMS O IMC em rapazes de

11 anos e em raparigas a partir de 12 anos foi relativamente menor quando comparado com as

normas da OMS Os valores de altura e peso diferiam substancialmente dos valores normativos

172

da OMS e verificou-se ainda uma clara vantagem dos indiviacuteduos com niacutevel socioeconoacutemico

mais alto

Comparando os valores descritivos dos indicadores somaacuteticos em funccedilatildeo do sexo (Tabela

2) observa-se que natildeo existem diferenccedilas significativas entre as meacutedias (pgt005) contudo ao

niacutevel do peso as meninas apresentam valores meacutedios superficialmente maiores em relaccedilatildeo aos

meninos A semelhanccedila estatiacutestica constatada entre os dois sexos ao niacutevel do peso e altura deve-

se muito provavelmente ao facto de se tratar de uma comparaccedilatildeo global da amostra em funccedilatildeo

do sexo e sem ter em conta a idade Com efeito uma leitura atenta dos valores meacutedios das

variaacuteveis somaacuteticas em funccedilatildeo da idade permite observar que as meninas apresentam na faixa

etaacuteria dos 13-14 anos valores meacutedios substancialmente mais elevados

Estes resultados estatildeo em linha com os reportados noutros estudos realizados com crianccedilas

e jovens residentes em contextos urbanos e rurais de Moccedilambique (PRISTA 1994 MURIA et

al 1999 MAIA et al 2002 NHANTUMBO 2007 NHANTUMBO et al 2007

NHANTUMBO et al 2010)

Por sua vez os resultados referentes ao iacutendice de massa corporal indicam que as meninas

apresentam valores mais elevados em relaccedilatildeo aos seus pares do sexo masculino nas idades de 6

8 9 11 13 e 14 anos Resultados semelhantes foram encontrados pelo grupo de autores citados

anteriormente em crianccedilas e jovens moccedilambicanos

Tabela 2 Comparaccedilatildeo dos indicadores do Crescimento Somaacutetico em funccedilatildeo do sexo

Variaacuteveis

Meninas

(n=432)

Meninos

(n=451)

t

p

Peso (Kg) 32011086 31381074 -086 039

Altura (cm) 138821372 138171436 -069 049

IMC (kgm2) 1620342 1621576 003 097

No presente estudo as meninas nas idades de 13 e 14 anos apresentam valores meacutedios de

IMC mais elevados o que justifica a influecircncia do iniacutecio do processo de maturaccedilatildeo das meninas

(idade de menarca) o qual eacute caracterizado por um aumento de concentraccedilatildeo de gordura corporal

decorrente da acccedilatildeo hormonal (GUEDES amp GUEDES 1997) Em outras palavras os resultados

meacutedios de IMC encontrados no presente estudo parecem traduzir as caracteriacutesticas maturacionais

proacuteprias das meninas nesta faixa etaacuteria

Como foi referido anteriormente os resultados da anaacutelise da variacircncia bifactorial

evidenciaram um efeito principal significativo do sexo e da idade bem como uma interacccedilatildeo da

173

mesma magnitude entre os dois factores Resultados similares foram documentados por

NHANTUMBO et al (2010) ao verificarem aumentos dos valores meacutedios do peso altura e IMC

com o avanccedilo da idade evidenciando um efeito claro desta sobre aqueles indicadores conjugado

com uma interacccedilatildeo significativa com o sexo Poreacutem estes valores encontravam-se aqueacutem dos

valores normativos internacionais situando-se abaixo do P25 da distribuiccedilatildeo percentiacutelica de

referecircncia adoptada pela CDC e pela OMS

Considerando que a maior parte de estudos centrados nos aspectos do crescimento

somaacutetico de crianccedilas e jovens em idade escolar foi realizada na Cidade de Maputo (PRISTA

1994 MURIA et al 1999 MAIA et al 2002 SARANGA et al 2002) e na localidade rural de

Calanga (NHANTUMBO 2007 NHANTUMBO et al 2007 NHANTUMBO et al 2010)

espelha-se um desconhecimento da dinacircmica do crescimento deste extracto populacional

residente noutras regiotildees soacuteciogeograacuteficas deste vasto paiacutes

Uma vez reportado um efeito significativo da aacuterea geograacutefica no comportamento da

maioria das variaacuteveis somaacuteticas (NHANTUMBO et al 2007) e natildeo existindo nenhum estudo

feito com a populaccedilatildeo em idade escolar da Cidade da Beira os resultados encontrados no

presente estudo referentes agrave dimensatildeo somaacutetica podem reflectir uma pressatildeo ambiental

especiacutefica sobre as variaacuteveis em estudo

Aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede

Os resultados da comparaccedilatildeo dos valores meacutedios da Aptidatildeo Fiacutesica em funccedilatildeo do sexo

permitem observar diferenccedilas estatiacutesticas altamente significativas em todas as variaacuteveis em

anaacutelise com uma niacutetida vantagem dos rapazes em relaccedilatildeo aos seus pares do sexo oposto em

todos os testes motores Uma anaacutelise cuidadosa dos resultados encontrados nas diferentes provas

de Aptidatildeo Fiacutesica (Tabela 3) seleccionadas para o presente estudo permite constatar uma

tendecircncia de os meninos mostram valores superiores aos das meninas em quase todas as idades

embora essa tendecircncia sofra alteraccedilotildees segundo o tipo de prova Resultados semelhantes foram

encontrados por alguns autores que evidenciaram a forte tendecircncia das crianccedilas e adolescentes

do sexo masculino superarem os seus pares do sexo feminino (CARDOSO 2000 LOPES et al

2004 NHANTUMBO et al 2007 LUGUETTI et al 2010 DUMITH et al 2010 SILVA et

al 2010)

Os dados obtidos permitem tambeacutem analisar o desempenho da amostra em cada teste

efectuado Na prova de elevaccedilatildeo do tronco nota-se que o desempenho aumenta com o avanccedilo da

idade o que era esperado dado o desenvolvimento morfoloacutegico mostrar a tendecircncia de

174

acompanhar o desenvolvimento de capacidades em razatildeo do avanccedilo da idade Esta tendecircncia de

desempenho pode ser explicada pelo facto de a maturaccedilatildeo bioloacutegica exercer uma influecircncia

directa em quase todos os componentes do desempenho motor e da composiccedilatildeo corporal

(ALVES et al 2009) Ao analisarmos esta prova em funccedilatildeo do sexo observa-se que os meninos

apresentam um niacutevel de desempenho superior ao das meninas em todas as idades excepto nas

idades de 6 e 8 anos corroborando com os resultados de estudos anteriormente referenciados Na

prova de abdominais observa-se uma tendecircncia normal de aumento com o avanccedilo da idade

sendo interrompida esta aos 8 12 e 13 anos Analisando os dados em funccedilatildeo do sexo os

meninos apresentam aqui tambeacutem resultados superiores aos das meninas na maior parte das

idades agrave excepccedilatildeo das idades dos 6 e 10 anos em que se observa o inverso

Na prova de flexotildees de braccedilos nota-se uma perspectiva de crescimento que soacute eacute

interrompida aos 9 e 11 anos pese embora estes dados quando analisados em funccedilatildeo do sexo

mostrem um desempenho melhor dos meninos em todas as idades com excepccedilatildeo dos 6 anos

Para a prova de Corrida de 1600 metros observam-se valores elevados nas idades de 6 e 7 anos

A comparaccedilatildeo em funccedilatildeo do sexo destes valores permitem observar uma superioridade dos

meninos em relaccedilatildeo agraves meninas em todas as idades exceptuando-se unicamente a idade dos 8

anos

Os resultados da presente pesquisa foram comparados com os pontos de corte relacionados

aos indicadores de AptFS propostos pelo Fitnessgram e Physical Best Ao contrastar os

resultados deste estudo com os valores propostos pelo Physical Best observa-se que nenhuma

das idades atinge os valores dos pontos de corte propostos o que denota um fraco desempenho

da nossa amostra Na referenciaccedilatildeo destes resultados junto dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo dos

indicadores da Aptidatildeo Fiacutesica propostos pelo Fitnessgram observou-se que tanto as meninas

como os meninos atingiram os valores recomendados nas provas de elevaccedilatildeo do tronco e

abdominais Em contrapartida na prova de corrida de 1600 metros natildeo se verificou qualquer

sucesso em nenhuma das idades exceptuando o intervalo etaacuterio dos 6 aos 9 anos em que o

objectivo principal eacute terminar a prova

Tabela 3 Valores descritivos das provas de Aptidatildeo Fiacutesica em funccedilatildeo do sexo e da idade (meacutedia

plusmn desvio padratildeo)

Elevaccedilatildeo do Tronco Abdominais Flexotildees de braccedilos Corrida 1600 (minutos)

Idade

(anos)

Meninas

(n= 432)

Meninos

(n= 450)

Meninas

(n= 431)

Meninos

(n= 450)

Meninas

(n= 425)

Meninos

(n= 444)

Meninas

(n= 432)

Meninos

(n= 451)

6 2819plusmn790 2822plusmn831 915plusmn827 893plusmn695 698plusmn497 676plusmn510 2463plusmn368 2341plusmn619

7 2890plusmn672 3000plusmn700 1045plusmn759 1431plusmn863 741plusmn521 951plusmn556 1889plusmn342 1780plusmn258

175

8 3289plusmn724 3282plusmn793 1000plusmn612 1053plusmn624 839plusmn532 1047plusmn659 1295plusmn516 1384plusmn335

9 3489plusmn568 3524plusmn779 1179plusmn787 1249plusmn624 798plusmn564 924plusmn493 1499plusmn327 1350plusmn219

10 3595plusmn638 3877plusmn869 1520plusmn1162 1519plusmn806 764plusmn572 977plusmn631 1451plusmn125 1395plusmn109

11 3793plusmn670 4007plusmn638 1554plusmn1333 1871plusmn868 648plusmn433 924plusmn402 1496plusmn130 1265plusmn90

12 3822plusmn735 4005plusmn689 1269plusmn715 1824plusmn969 778plusmn578 1024plusmn607 1254plusmn136 1176plusmn151

13 3877plusmn603 3925plusmn768 1327plusmn664 1709plusmn1013 698plusmn460 1053plusmn642 1188plusmn95 1125plusmn120

14 3786plusmn838 4222plusmn993 2039plusmn1165 2335plusmn1492 609plusmn420 1137plusmn550 1247plusmn156 1208plusmn134

Anova

II

Efeitos Principais Efeitos Principais Efeitos Principais Efeitos Principais Sexo F=824 plt001

Idade F= 3630 plt0001

Interacccedilatildeo F= 087 pgt005

Sexo F=12850 plt0001

Idade F=15355 plt0001

Interacccedilatildeo F= 1207 pgt005

Sexo F=41891 plt0001

Idade F= 1918 p=005

Interacccedilatildeo F= 1735 pgt005

Sexo F=24770 plt0001

Idade F= 211067 plt0001

Interacccedilatildeo F= 2215 plt005

Refira-se que na prova de flexotildees de braccedilos constatou-se que os sujeitos do intervalo

etaacuterio dos 6 aos 10 anos atingiram os pontos de corte propostos pelo FITNESSGRAM Ao

analisar-se os resultados por idades nota-se que na idade de 11 anos soacute os meninos conseguiram

situar-se dentro dos pontos de corte propostos superando de longe as meninas que nem sequer

situaram-se nos limites propostos facto que repete-se nas idades de 12 13 e 14 com os meninos

sempre superando as meninas (Tabela 4) Como se pode constatar no presente estudo os

maiores valores meacutedios da Aptidatildeo Fiacutesica nas diferentes provas observam-se entre os 12-14

anos O predomiacutenio de meacutedias de desempenho motor dos meninos mais elevadas a partir desta

faixa etaacuteria pode ser explicado pela ocorrecircncia de eventos hormonais associados ao aumento da

massa muscular e testosterona (MALINA et al 2004)

Estudos realizados em Moccedilambique sobre a Aptidatildeo Fiacutesica evidenciam esta tendecircncia de

os meninos superarem as meninas em tarefas de forccedila e resistecircncia e as meninas superarem em

tarefas de flexibilidade (PRISTA 1995 PRISTA 1997 SARANGA et al 2002 PRISTA et al

2008 NHANTUMBO et al 2010) Poreacutem eacute necessaacuterio ter em conta que as diferenccedilas

somaacuteticas e sociais entre as crianccedilas moccedilambicanas e americanas e ao tentar associar o

desempenho de crianccedilas moccedilambicanas aos pontos de corte sugeridos tanto pelo Physical Best

como pelo Fitnessgram incorre obrigatoriamente a discordacircncias devido agrave influecircncia dos

indicadores de crescimento fiacutesico e de maturaccedilatildeo bioloacutegica nos resultados dos testes motores De

facto estudos anteriores realizados em Moccedilambique com crianccedilas e jovens da Cidade de Maputo

evidenciaram uma vantagem de sujeitos de grupos socioeconoacutemicos desfavorecidos em

praticamente todos os testes fiacutesicos selecionados

Tabela 4 Comparaccedilatildeo dos valores da Aptidatildeo Fiacutesica em funccedilatildeo do sexo

Variaacuteveis

Meninas

(n=432)

Meninos

(n=451)

t

p

Elevaccedilatildeo Tronco 3473785 3643906 298 0003

176

Abdominais 1303985 1556997 380 0000

Flexotildees de braccedilo 730512 963571 637 0000

Corrida 1600 1561475 1439474 -384 0000

Os melhores desempenhos da classe desfavorecida foram explicados pelo facto das

crianccedilas e jovens que crescem em condiccedilotildees desfavorecidas se engajarem em tarefas domeacutesticas

diaacuterias que contemplam actividades fiacutesicas de duraccedilatildeo frequecircncia e intensidade consideraacuteveis

(PRISTA 1994 PRISTA et al 1997)

A desvantagem constatada entre a amostra do presente estudo e os valores de corte do

Fitnessgram na prova de Corrida da Milha eacute de certo modo surpreendente uma vez que estudos

anteriores que compararam o desempenho motor de crianccedilas e jovens moccedilambicanas tanto

urbanos (PRISTA 1994 PRISTA et al 1997 MURIA et al 1999) como rurais

(NHANTUMBO 2007 NHANTUMBO et al 2010) evidenciaram uma clara superioridade

destes em relaccedilatildeo aos seus pares europeus e americanos

Aliaacutes no estudo de MURIA et al (1999) que testou com a populaccedilatildeo moccedilambicana em

idade escolar os criteacuterios sugeridos pela bateria da Prudential Fitnessgram tendo avaliado 547

crianccedilas de ambos os sexos dos 8 aos 11 anos de idade foi evidenciada uma elevada proporccedilatildeo

de sujeitos que superava os valores de corte pelo Fitnessgram para classificar os sujeitos em

aptos do ponto de vista de AptFS com valores de 991 e 966 para os rapazes e as raparigas

respectivamente

Ora a fraca performance revelada pela amostra do presente estudo na prova de Corrida da

milha pode ser explicada atraveacutes de factores ambientais adversos contudo e tratando-se este de

um estudo envolvendo crianccedilas e jovens da Cidade da Beira portanto fora do contexto da Cidade

de Maputo deparamo-nos com alguma limitaccedilatildeo para elaborar uma explicaccedilatildeo substantiva

destes resultados o que torna clara a necessidade de mais estudos em ordem a tornar esta mateacuteria

mais inteligiacutevel

Com efeito e como jaacute referenciado anteriormente crianccedilas e jovens moccedilambicanos

sobretudo pertencentes ao estatuto socioeconoacutemico desfavorecido ou vivendo em contextos

rurais evidenciaram niacuteveis superiores de aptidatildeo caacuterdiorrespiratoacuteria comparativamente aos seus

pares europeus e americanos da mesma faixa etaacuteria o que torna interessante estabelecer e

clarificar as inter-relaccedilotildees entre a Aptidatildeo Fiacutesica Actividade Fiacutesica e o ecossistema especiacutefico

com que estas crianccedilas interagem no seu quotidiano

177

Consideraccedilotildees finais

Neste estudo foi possiacutevel verificar que tanto as meninas como os meninos apresentam

valores meacutedios estaturo-ponderais abaixo do recomendado pela OMS para as idades

consideradas Mesmo assim as meninas espelharam valores mais elevados de IMC na maior

parte dos intervalos etaacuterios Foi notoacuterio em ambos os sexos um aumento da Aptidatildeo Fiacutesica com

o avanccedilo da idade sendo que os rapazes evidenciaram melhores niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica em

quase todas as provas em relaccedilatildeo agraves raparigas O maior desempenho registou-se na prova de

elevaccedilatildeo do tronco em ambos os sexos enquanto o menor desempenho registou-se na prova de

corrida de 1600 metros em que foram evidentes em ambos os sexos niacuteveis abaixo do

recomendado pelo Fitnessgram e Physical Best na maior parte das provas fiacutesicas seleccionadas

para o presente estudo com excepccedilatildeo das idades dos 6 aos 9 anos Foi ainda evidente em todas

as variaacuteveis somaacuteticas e de Aptidatildeo Fiacutesica um efeito e uma interacccedilatildeo significativos do sexo e da

idade Ainda que natildeo se tenha efectuado uma correlaccedilatildeo linear entre estas variaacuteveis parece

existir uma inter-relaccedilatildeo entre os niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica e os valores de IMC cuja

inteligibilidade carece de mais estudos contextualizados Os resultados encontrados neste estudo

sugerem face as limitaccedilotildees encontradas a relevacircncia de realizar-se mais estudos transversais

ampliando a amostra e incluir mais variaacuteveis correlatas no sentido de melhor mapear com

abrangecircncia a populaccedilatildeo em idade escolar da Cidade da Beira analisando profundamente

variaacuteveis do crescimento somaacutetico Aptidatildeo Fiacutesica actividade fiacutesica composiccedilatildeo corporal

estado nutricional entre outros paracircmetros Relevante ainda seria examinar a influecircncia dos

factores ambientais e das assimetrias socioeconoacutemicas existentes entre as diferentes regiotildees da

Proviacutencia de Sofala sobre os indicadores de crescimento somaacutetico aptidatildeo fiacutesica e ainda da

actividade fiacutesica em ordem a recomendar estrateacutegias e medidas para a sua monitorizaccedilatildeo

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183

Relaccedilatildeo entre a orientaccedilatildeo vocacionalprofissional e qualidade no sistema

educativo moccedilambicano

Rafael Renaldo Laquene Zunguze39

Resumo

Com o presente artigo pretendo sustentar a necessidade e a possibilidade de introduccedilatildeo da orientaccedilatildeo

vocacional eou profissional no sistema educativo moccedilambicano Com efeito irei demonstrar as

implicaccedilotildees e as contribuiccedilotildees da implementaccedilatildeo destes serviccedilos designadamente na melhoria da

qualidade de ensino Foi uma pesquisa qualiquantitativa concretizada atraveacutes da teacutecnica de questionaacuterio a

estudantes e docentes da Universidade Pedagoacutegica Delegaccedilatildeo de Maxixe (UPMax) Importa referir que

todos os estudantes envolvidos exercem a funccedilatildeo de professorado em escolas da Proviacutencia de Inhambane

A amostra foi de 32 elementos sendo 8 docentes e 24 estudantes Os resultados permitiram constatar que

todos os inquiridos reconhecem ser necessaacuteria a introduccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional ou

profissional no sistema educativo Embora natildeo possuam nenhuma referecircncia ou experiecircncia desses

serviccedilos os inquiridos acreditam ser de grande utilidade para a vida dos alunos o que se pode reflectir

ainda na esfera social concretamente no desenvolvimento do paiacutes Sugiro que o Governo e a sociedade

civil sobretudo os indiviacuteduos e instituiccedilotildees de niacuteveis superiores invistam na promoccedilatildeo dos serviccedilos de

orientaccedilatildeo vocacional e profissional comunitaacuteria aquela que inicia na famiacutelia passando pela comunidade

ateacute a escola para habilitar os indiviacuteduos a trabalharem em prol do desenvolvimento numa clara intenccedilatildeo

de melhoria da qualidade de ensino no paiacutes

Palavras-chave Orientaccedilatildeo Vocaccedilatildeo Profissatildeo Qualidade Desenvolvimento Comunidade

Abstract

With the present article I intend to support the need and the possibility of introducing vocational and or

professional orientation in the Mozambican educational system In effect I will demonstrate the

implications and contributions of the implementation of these services particularly in improving the

quality of education It was a qualiquantitative research accomplished through the questionnaire technique

to students and teachers of the Pedagogical University Maxixe Delegation (UPMax) It should be noted

that all the students involved perform the teaching function at schools in Inhambane Province The

sample consisted of 32 teachers of which 8 were teachers and 24 students The results showed that all

respondents recognized that it is necessary to introduce vocational or professional guidance services into

the education system Although they do not have any reference or experience of these services

respondents believe it to be very useful for the students lives which can still be reflected in the social

sphere specifically in the development of the country I suggest that government and civil society

especially individuals and institutions at higher levels invest in the promotion of vocational guidance and

community vocational services the one that starts in the family through the community to the school to

enable individuals to work for Of development with a clear intention to improve the quality of education

in the country

Keywords Orientation Vocation Profession Quality Development Community

39 Docente na Universidade Pedagoacutegica Delegaccedilatildeo de Maxixe onde igualmente eacute Director do Curso de Psicologia

Educacional e Coordenador do Nuacutecleo de Estudos de Poliacuteticas Educativas Mestre em Educaccedilatildeo Social pela

Universidade Catoacutelica de Moccedilambique Doutorando em Psicologia Educacional pela Faculdade de Ciecircncias de

Educaccedilatildeo e Psicologia (FACEP) da UP

184

Introduccedilatildeo

Este artigo eacute resultado de uma pesquisa sobre a necessidade e a possibilidade de introduccedilatildeo

dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema educativo moccedilambicano

realizada em 2015

A principal dificuldade constatada estaacute ligada agrave inexistecircncia dos serviccedilos de orientaccedilatildeo

vocacional ou profissional no sistema educativo moccedilambicano o que faz com que os alunos ou

estudantes terminem niacuteveis de ensino sem ldquosaber fazerrdquo Embora existam outros casos de

graduados que conseguem ingressar no mercado de emprego nacional estes denotam problemas

nas componentes vocacional ou profissional Na praacutetica verifica-se que os empregados realizam

as actividades incumbidas sem interesse vocacional ou sem nenhuma formaccedilatildeo preparatoacuteria

Em funccedilatildeo do desconhecimento e da inexistecircncia dos serviccedilos em referecircncia os resultados

do estudo demonstram claramente a sua necessidade de uma das aacutereas no sistema de ensino

moccedilambicano desde a educaccedilatildeo infantil ateacute aos niacuteveis primaacuterio secundaacuterio e universitaacuterio

destacando o papel preponderante da famiacutelia

O meu pensamento circunscreve-se na necessidade da elaboraccedilatildeo e concretizaccedilatildeo de um

projecto cuja finalidade se afigura multidimensional e que deve incidir na orientaccedilatildeo vocacional

e profissional ou pelo menos numa delas no sistema escolar do nosso paiacutes Ao longo do

trabalho procuro relacionar a introduccedilatildeo e concretizaccedilatildeo destes serviccedilos com a qualidade de

educaccedilatildeo oferecida no e pelo nosso paiacutes No artigo chamo atenccedilatildeo ao facto de ter que se

conceber a qualidade como objecto ainda e em permanente construccedilatildeo pela sociedade Nisso

natildeo tenciono afirmar que a orientaccedilatildeo vocacional e profissional eacute a soluccedilatildeo de todos os

problemas da considerada ldquofraca qualidaderdquo de ensino no nosso paiacutes Tenciono isso sim alertar

para o contributo desses serviccedilos no incremento das competecircncias dos alunos o que pode de

certa forma concorrer para o incremento da qualidade de ensino especificamente no produto

final Isso prepara psicologicamente o indiviacuteduo a amar e a dedicar todas as suas energias numa

determinada ocupaccedilatildeo Mas tambeacutem pode ser a proacutepria formaccedilatildeo profissional sobre essa

actividade e que futuramente possa valer ao aluno por toda a vida

Ademais incentivo a designaccedilatildeo e concretizaccedilatildeo duma Orientaccedilatildeo Vocacional e

Profissional Comunitaacuteria (OVPC) Embora acredite que a materializaccedilatildeo destes serviccedilos deve ser

fundamentalmente da responsabilidade do Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano

considero ser necessaacuterio o envolvimento das famiacutelias na concretizaccedilatildeo desses serviccedilos O Estado

deve promover e assegurar os serviccedilos comunitaacuterios dessa orientaccedilatildeo Os serviccedilos comunitaacuterios

185

com destaque para a famiacutelia visam essencialmente preparar a pessoa humana desde a infacircncia agrave

velhice a desenvolver uma profissatildeo a partir de uma escolha responsaacutevel madura e vocacional

Assim antevejo e considero um grande aesafio da Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional em

Moccedilambique

No concernente agrave estrutura do presente artigo apresento a introduccedilatildeo depois segue-se a

metodologia a fundamentaccedilatildeo teoacuterica a apresentaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos dados e as

consideraccedilotildees finais

Metodologia

Foram envolvidos no estudo trinta e dois (32) inquiridos nomeadamente oito (8) docentes

e vinte e quatro (24) estudantes da Universidade PedagoacutegicaSagrada Famiacutelia em Maxixe

Todos os estudantes satildeo professores em exerciacutecio nas escolas primaacuterias e secundaacuterias da

Proviacutencia de Inhambane Para todos os inquiridos foram administrados inqueacuteritos por

questionaacuterio

No que se refere ao plano de processamento e anaacutelise dos dados (resultados obtidos a partir

da pesquisa) haacute que realccedilar que os mesmos foram submetidos a uma tabulaccedilatildeo Nisso foram

elaboradas algumas tabelas contendo algumas das perguntas preponderantes para a obtenccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre o estudo Seguiu-se depois uma quantificaccedilatildeo numeacuterica e percentual que

facilitou a anaacutelise eou a interpretaccedilatildeo que se almejavam sustentando as nossas convicccedilotildees e

pensamentos a partir de fundamentos teoacutericos

Para melhor apresentaccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados recolhidos fez-se a

apresentaccedilatildeo das diferentes perspectivas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre os serviccedilos em

alusatildeo e a qualidade de educaccedilatildeo com ecircnfase na definiccedilatildeo e nas tarefas das duas aacutereas de

desenvolvimento humano

Fundamentaccedilatildeo teoacuterica

A Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional deve ser compreendida como um processo de

busca complexa de caracteriacutesticas individuais sua relaccedilatildeo com as possibilidades profissionais

bem como o estabelecimento de medidas e tomada de decisatildeo Espera-se que essa capacidade se

traduza na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas baseadas em evidecircncias e que levem agrave melhoria perceptiacutevel da

qualidade da aprendizagem Eacute um componente importante do esforccedilo para alcanccedilar a promessa

real de que a educaccedilatildeo esteja associada a economias dinacircmicas (Greaney amp Kellaghan 2011)

186

Para que sejam conhecidas as caracteriacutesticas e possibilidades eacute preciso que se faccedila uma

avaliaccedilatildeo tripartida ou seja psicopatoloacutegica cognitiva e da personalidade Esta avaliaccedilatildeo deve

incluir a histoacuteria pessoal e familiar devendo ainda explorar o autoconceito e o mundo

profissional

A Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional constitui uma junccedilatildeo de duas aacutereas as quais

podem ser estudadas concretizadas e compreendidas separadas ou conjuntamente nas famiacutelias

nas escolas e nas comunidades A primeira aacuterea eacute mais ampla e eacute intrapsiacutequica no indiviacuteduo

Busca informaccedilotildees profissionais e caracteriacutesticas para promover um encontro entre o sujeito e

aquilo que poderaacute vir a ser A segunda eacute restrita Eacute a ajuda agrave algueacutem a escolher uma profissatildeo ou

ocupaccedilatildeo Estas aacutereas podem ser estudadas separadamente embora sejam muito proacuteximas

Pertencem numas e noutras perspectivas agraves Psicologias Educacional Vocacional do Trabalho

Comunitaacuteria etc numa manifestaccedilatildeo clara da multintertransdisciplinaridade (Zunguze

2013293)

Como principais tarefas estas aacutereas visam essencialmente despertar na famiacutelia no

indiviacuteduo na escola na comunidade e na sociedade a necessidade de identificaccedilatildeo e

desenvolvimento vocacional Relacionam-se as caracteriacutesticas do indiviacuteduo e as exigecircncias

vocacionais capacidades e competecircncias profissionais para a elaboraccedilatildeo e concretizaccedilatildeo de um

Projecto de vida

Haacute que efectuar e conservar registos das perspectivas dos graduados sobre a sua inserccedilatildeo

no mercado de trabalho a correspondecircncia entre as competecircncias adquiridas no ciclo de estudos

e as exigecircncias do mercado de trabalho as necessidades do mercado de trabalho na aacuterea

cientiacutefica em que se insere o ciclo de estudos (CNAQ 201217)

Embora natildeo se possua informaccedilotildees e experiecircncias processuais no contexto moccedilambicano

os poucos conhecimentos sobre os serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional apontam que

a sua concretizaccedilatildeo efectiva-se predominantemente nas escolas secundaacuterias sobretudo no fim do

niacutevel preacute-universitaacuterio ou para o ingresso no ensino superior ou para o exerciacutecio de qualquer

profissatildeo Atraveacutes deste artigo pretendo inverter a concepccedilatildeo sobre a realizaccedilatildeo desses serviccedilos

Tenciono fundamentar que eles devem se concretizar em todo o momento e em qualquer espaccedilo

Como jaacute se disse oficialmente natildeo existem esses serviccedilos em Moccedilambique

Esporadicamente surgem pequenos movimentos Acredito que o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e

Desenvolvimento Humano deve se esforccedilar em introduzir estes serviccedilos no sistema educativo o

que vai incrementar a melhoria da qualidade

187

Apelo a todos os compatriotas independentemente das classes idades e niacuteveis para o

aproveitamento positivo dos novos recursos Haacute que investir na formaccedilatildeo vocacional e

profissional A qualidade dos alunos ou estudantes vai traduzir-se no trabalho e depois de

terminar o niacutevel de escolaridade o aluno ou estudante pode realizar-se profissionalmente

O trabalho faz e desenvolve o indiviacuteduo a famiacutelia a comunidade a sociedade e a naccedilatildeo

inteira Embora natildeo seja apenas nisto que se resume a qualidade de ensino constitui verdade a

consideraccedilatildeo de que estes serviccedilos concorrem para a melhoria da qualidade A Educaccedilatildeo integral

e criativa marca essencial da qualidade de ensino resume-se em minha opiniatildeo no ensinar as

pessoas a trabalharem Eacute no trabalho onde cada um deixa transparecer as suas competecircncias

Os resultados de vaacuterios estudos internacionais clarificam que os sistemas avaliativos de

cada paiacutes responsaacuteveis pelo controle da aprendizagem devem visar a promoccedilatildeo e mediccedilatildeo das

competecircncias na leitura na matemaacutetica e ciecircncias com consciecircncia de que elas parecem mostrar

a eficaacutecia do sistema educativo (Pascal 200234)

Com efeito importa referir que a qualidade natildeo se esgota apenas na compreensatildeo de

assuntos restritos Eacute preciso que se compreenda a qualidade como uma construccedilatildeo quotidiana de

todos os actores psico-educativos sociais em todos os contextos e fases do desenvolvimento

humano

Seguramente haacute muito a fazer na aacuterea de qualidade e as informaccedilotildees coletadas pecam

pelo caraacuteter parcial ndash em educaccedilatildeo a qualidade natildeo poderia reduzir-se agrave satisfaccedilatildeo imediata do

lsquoclientersquo ndash uniacutevoco e finalmente pouco construtivo (Pascal 200244)

Apresentaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo de dados

Para a auscultaccedilatildeo e anaacutelise das sensibilidades em relaccedilatildeo agrave necessidade e possibilidade da

introduccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional foi priorizada a pergunta Acha

necessaacuteria a introduccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema

educativo moccedilambicano Porquecirc

Todos os 32 (100) inquiridos afirmaram ser necessaacuterio e urgente que o Governo de

Moccedilambique especificamente o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano se esforce

em introduzir os serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema educativo do paiacutes

Para fundamentar a sua afirmaccedilatildeo os inquiridos consideram que a concretizaccedilatildeo dos mesmos

serviccedilos permite que cada aluno e estudante desempenhem profissotildees ajustadas agraves suas

caracteriacutesticas e vontades

188

Em funccedilatildeo destas declaraccedilotildees julgo essencial e real a ideia segundo a qual a introduccedilatildeo da

orientaccedilatildeo vocacional e profissional vai fortificar cada vez mais a qualidade de ensino

Os formuladores de poliacuteticas devem assumir a lideranccedila para garantir que as evidecircncias

objectivas e confiaacuteveis sobre o funcionamento do sistema educacional resultantes da avaliaccedilatildeo

nacional sejam utilizadas para melhorar a qualidade global do processo de tomada de decisotildees

(Greaney e Kellaghan 201187)

No meu entender os envolvidos no estudo acreditam que a orientaccedilatildeo vocacional e

profissional vai beneficiar e poderaacute facilitar a materializaccedilatildeo do ensino por competecircncias

vigente no nosso sistema de educaccedilatildeo Explicitando os informantes acrescentaram que as

competecircncias estatildeo ligadas ao saber fazer uma componente ligada agraves profissotildees Natildeo haacute

incompatibilidade entre as competecircncias e as profissotildees

Numa consideraccedilatildeo categoacuterica 30 (9375) informantes dentre estudantes e docentes da

Universidade PedagoacutegicaSagrada Famiacutelia afirmam que a orientaccedilatildeo vocacional e profissional

poderaacute contribuir para a melhoria da qualidade de ensino Para sustentar o seu posicionamento

estes informantes fundamentam que a orientaccedilatildeo vocacional e profissional forneceraacute o

diagnoacutestico sobre o niacutevel de aprendizagem de cada aluno o que eacute importante para o

desenvolvimento profissional e isso reflecte a qualidade de ensino se considerarmos que ela em

grande escala traduz-se nas capacidades e competecircncias que os alunos ou estudantes ostentam

apoacutes a conclusatildeo de certos graus de escolaridade

Num outro desenvolvimento os informantes referiram que para que se reflicta na

qualidade de ensino esses serviccedilos devem ser introduzidos o mais raacutepido possiacutevel como

instrumento de orientaccedilatildeo educacional e sobretudo escolar

Por outro lado 2 (625) natildeo concordam que a orientaccedilatildeo vocacional e profissional

poderaacute contribuir para a melhoria da qualidade de ensino Para sustentar este posicionamento

estes informantes fundamentam que a questatildeo da qualidade eacute relativa e complexa visto que para

que o sistema surta efeito desejado eacute necessaacuterio que haja envolvimento efectivo das famiacutelias

professores e o proacuteprio estudante

Com este posicionamento percebo que estes informantes natildeo possuem um domiacutenio

exaustivo da orientaccedilatildeo vocacional e profissional bem como se encontram desprovidos dos

conhecimentos aprofundados sobre a qualidade de ensino

Embora seja real que eacute preciso que se envolvam as famiacutelias no processo de ensino e

aprendizagem para a melhora da qualidade de ensino para colaborarem com a escola e com o

189

proacuteprio estudante natildeo constitui verdade que estes serviccedilos natildeo sejam fundamentais para o

desenvolvimento pessoal e social

Pelo contraacuterio a orientaccedilatildeo vocacional e profissional sobretudo no novo mileacutenio prioriza

uma realizaccedilatildeo destes serviccedilos a partir das famiacutelias passando das escolas ateacute agraves comunidades

destacando o papel fulcral do orientador educacional especificamente o professor das escolas

puacuteblicas Estes serviccedilos consideram que o ser humano eacute indissoluacutevel ao meio no qual se encontra

inserido

A intenccedilatildeo aqui patente eacute fazer referecircncia agrave qualidade educativa a qual haacute bem pouco

tempo comeccedilou a ganhar um espaccedilo reconhecido nas aacutereas da Psicologia da Educaccedilatildeo e noutras

De acordo Godoy (199558) de maneira diversa agrave quantitativa a avaliaccedilatildeo qualitativa natildeo

procura enumerar eou medir os eventos estudados nem emprega instrumental estatiacutestico na

anaacutelise dos dados

A avaliaccedilatildeo qualitativa parte de questotildees ou focos de interesses amplos que vatildeo se

definindo agrave medida que o processo se desenvolve Envolve a obtenccedilatildeo de dados descritivos sobre

os sujeitos educativos ambiente e processos interactivos podendo ser pelo contacto directo do

avaliador com a situaccedilatildeo procurando compreender os fenoacutemenos segundo a perspectiva dos

sujeitos ou seja dos participantes da situaccedilatildeo em estudo

O autor acima citado acrescenta que ldquosob a denominaccedilatildeo avaliaccedilatildeo qualitativa

encontram-se variados tipos de investigaccedilatildeo apoiados em diferentes quadros de orientaccedilatildeo

teoacuterica e metodoloacutegica tais como o interaccionismo simboacutelico a etnometodologia o

materialismo dialeacutectico e a fenomenologiardquo Godoy (199558)

A abordagem qualitativa faz uma anaacutelise essencialmente descritiva do processo educativo

ao conceber a avaliaccedilatildeo no e do processo de ensino e aprendizagem como um processo o

interaccionismo simboacutelico entende que o indiviacuteduo e a educaccedilatildeo mantecircm constante e estreita

inter-relaccedilatildeo e que o aspecto subjectivo do comportamento humano eacute necessaacuterio na formaccedilatildeo e

na manutenccedilatildeo dinacircmica do self social e do grupo social

Esta abordagem atribui importacircncia fundamental ao sentido que as coisas (como os

objectos fiacutesicos seres humanos instituiccedilotildees ideias que satildeo valorizadas situaccedilotildees vivenciadas)

tecircm para os indiviacuteduos ressaltando que esse sentido surge do processo de interacccedilatildeo entre as

pessoas Tais sentidos (significados) satildeo manipulados e modificados por meio de um processo

interpretativo

A avaliaccedilatildeo qualitativa tem o ambiente natural como fonte directa de dados e o avaliador

como instrumento fundamental A avaliaccedilatildeo denominada qualitativa tem como preocupaccedilatildeo

190

fundamental a anaacutelise das situaccedilotildees didaacutecticas de aprendizagem no mundo empiacuterico em seu

ambiente natural

Os orientadores e avaliadores estatildeo preocupados com o processo e natildeo simplesmente com

os resultados ou produto Eles tentam compreender os fenoacutemenos que intervecircm em todo o

processo incluindo as perspectivas dos participantes considerando todos os pontos de vista

como importantes

O autor acima citado acrescenta que este tipo de avaliaccedilatildeo ilumina e esclarece o

dinamismo interno das situaccedilotildees

Quando a avaliaccedilatildeo eacute de caraacutecter descritivo o que se busca eacute o entendimento do processo

fenoacutemeno como um todo na sua complexidade

Tenoacuterio e Lopes (2010172) afirmam que ldquoa qualidade educacional eacute um conceito fluido

polisseacutemico complexo cuja apreensatildeo que se objectiva seraacute sempre imparcial e incompletardquo

Em funccedilatildeo do acima exposto pelos autores pode se compreender que o termo qualidade

natildeo esgota tudo o que deve se compreender pelo e nos processos de orientaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo uma

vez que neles intervecircm vaacuterios aspectos alguns dos quais imprevisiacuteveis A qualidade em

orientaccedilatildeo vocacional e em avaliaccedilatildeo eacute considerada sempre incompleta pois refere-se a uns e

exclui tantos outros aspectos nesse processo Aliaacutes se o proacuteprio sistema de ensino eacute dinacircmico

satildeo dinacircmicas tambeacutem a orientaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo e a proacutepria qualidade

Em funccedilatildeo dos dados recolhidos constatou-se que 3 (937) informantes acham que a

orientaccedilatildeo vocacional e profissional deve ser introduzida e concretizada no ensino primaacuterio para

quem vai ao ensino profissional baacutesico e no ensino secundaacuterio para os alunos que entram na

universidade

Estas declaraccedilotildees mostram claramente um desconhecimento total das abordagens

modernas sobre estes serviccedilos as quais advogam que a sua concretizaccedilatildeo deve se materializar

em todos os niacuteveis de ensino incluindo na infacircncia Estas declaraccedilotildees indicam claramente que a

concepccedilatildeo destes inquiridos resume-se na ideia de que os serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e

profissional destinam-se aos indiviacuteduos que terminam o ensino secundaacuterio para obter

informaccedilotildees fundamentais para o ingresso no ensino superior ou para a aquisiccedilatildeo de um emprego

eou realizaccedilatildeo duma actividade remunerativa

Entretanto 29 (9062) informantes embora natildeo tenham sabido justificar consideraram

que estes serviccedilos devem ser concretizados em todos os niacuteveis de ensino

191

De facto estes serviccedilos devem ser concretizados em todo o espaccedilo social Devem mesmo

iniciar em tenra idade para permitir que o indiviacuteduo cresccedila com haacutebito e espiacuterito de trabalho

para o seu sustento e dos demais que se localizam em seu redor

A Perspectiva Ecoloacutegica da Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional advoga que o ser

humano eacute considerado indissoluvelmente unido ao seu meio como uma unidade em

funcionamento O ambiente eacute activo e modificador de possibilidades e de projectos pessoais e

sociais (Lassance 200515)

Todos os 32 (100) inquiridos afirmaram que as possibilidades ou condiccedilotildees necessaacuterias

para a introduccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no nosso sistema

educativo devem se concretizar na exposiccedilatildeo das possibilidades e profissotildees nas escolas

Embora natildeo seja simplesmente nas escolas onde devem ser expostas as possibilidades e

profissotildees julga-se verdadeira a afirmaccedilatildeo segundo a qual estes serviccedilos satildeo responsaacuteveis pela

orientaccedilatildeo pessoal em prol dum projecto pessoal social e nacional numa clara realidade de

desenvolvimento do paiacutes atraveacutes da melhoria da qualidade de ensino

Existe uma relaccedilatildeo visiacutevel entre a Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional e o

desenvolvimento humano pois quem faz o que gosta tem mais possibilidades de se desenvolver

humanamente Da mesma maneira tem mais possibilidade de contribuir para o desenvolvimento

da sua famiacutelia sua comunidade e para o paiacutes inteiro

Uma das caracteriacutesticas naturais dos seres humanos eacute a transformaccedilatildeo da natureza para o

benefiacutecio proacuteprio em prol do desenvolvimento

Nas sociedades globalizadas o envolvimento das comunidades rurais eacute um dos

instrumentos para a competitividade e sobrevivecircncia

Nestes termos acreditando que a promoccedilatildeo valorizaccedilatildeo e concretizaccedilatildeo do

desenvolvimento e envolvimento dependem essencial e fundamentalmente do niacutevel ou grau de

formaccedilatildeo considero necessaacuterio um programa de Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional

processual (a iniciar na famiacutelia) visando a consciencializaccedilatildeo das populaccedilotildees sobre a

necessidade de participar e decidir pelo aproveitamento das potencialidades locais

A colaboraccedilatildeo ou envolvimento parental eacute traduzida por um importante alijamento da

formaccedilatildeo geral dos alunos envolvidos e por um incremento dos saberes em benefiacutecio das

competecircncias teacutecnicas profissionais e sociais permitindo a adaptaccedilatildeo dos trabalhadores nos

projectos institucionais e nacionais (Pascal 200241)

192

Movido pelo conhecimento da importacircncia do envolvimento na realizaccedilatildeo das actividades

comunitaacuterias pretendo atraveacutes da investigaccedilatildeo identificar formas conducentes agrave materializaccedilatildeo

da Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional individualizada ou colectiva nas comunidades rurais

Consequentemente desejo desenvolver nas comunidades a necessidade de busca

incessante de esforccedilos para a concretizaccedilatildeo de muacuteltiplos intentos

Em termos pessoais pretendo identificar e promover estrateacutegias que me possam envolver

cada vez mais nas comunidades do distrito donde sou natural ajudando-as a desenhar e sustentar

projectos de vida individuais ou comunitaacuterios materializando um antigo desejo de desenvolver

economicamente principalmente a minha localidade

Nos aspectos de ordem profissional assumindo-me como pesquisador tenciono elevar as

capacidades e o conhecimento na aplicaccedilatildeo de diversificados instrumentos proacuteprios e adequados

para a concretizaccedilatildeo de serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional tanto individual como

colectivamente Pretendo igualmente consciencializar nos nativos e nos residentes o espiacuterito e

cultura do trabalho para o benefiacutecio proacuteprio e comunitaacuterio

No concernente aos aspectos de ordem acadeacutemica pretendo dar continuidade aos estudos

tidos na minha formaccedilatildeo anterior de Mestrado em Educaccedilatildeo Social pois acredito que os

serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacionalocupacional e profissional concretizam uma das praacuteticas

antigas do trabalho social

Em Moccedilambique ainda natildeo encontrei nenhuma referecircncia sobre a orientaccedilatildeo

vocacionalocupacional e profissional comunitaacuteria

A mateacuteria sobre o desenvolvimento rural eacute do domiacutenio da Sociologia e Antropologia e natildeo

concretamente da Psicologia Deste modo pretendo introduzir uma novidade no domiacutenio da

Psicologia Vocacional

Pasqualin Garbulho e Schut (200414) debruccedilam-se sobre a orientaccedilatildeo vocacional e

profissional numa perspectiva para o novo mileacutenio apelando uma reflexatildeo sobre as necessidades

e satisfaccedilotildees actuais desta aacuterea e citando Bronfenbrenner (1996) referem-se ao paradigma

ecoloacutegico para esclarecer que o ser humano eacute indissoluvelmente unido ao seu meio como uma

unidade em funcionamento

A orientaccedilatildeo vocacional e profissional eacute considerada uma das chaves fulcrais para a

superaccedilatildeo de inuacutemeras dificuldades com que os homens se deparam no processo de

desenvolvimento social Eacute a partir da orientaccedilatildeo vocacional comunitaacuteria que se pode promover a

participaccedilatildeo das comunidades na identificaccedilatildeo de causas consequecircncias e soluccedilotildees dos

problemas locais

193

Anseio ainda incrementar e sustentar o niacutevel de colaboraccedilatildeo efectiva entre os diferentes

segmentos populacionais na planificaccedilatildeo e execuccedilatildeo de projectos comunitaacuterios em prol dum

desenvolvimento franco envolvente e permanente

Como resultado os Governos nacionais e os oacutergatildeos doadores tecircm aumentado bastante o

apoio a avaliaccedilotildees nacionais destinadas a monitorar o aproveitamento dos alunos O pressuposto

frequente eacute que natildeo soacute as avaliaccedilotildees nacionais forneceratildeo informaccedilotildees sobre o estado da

educaccedilatildeo mas tambeacutem que o uso dessa informaccedilatildeo deve levar agrave melhoria do aproveitamento

(Greaney e Kellaghan 2011 9)

Consideraccedilotildees finais

A partir de orientaccedilatildeo vocacional e profissional colectiva processual sobretudo a iniciar

em tenra idade pode se consciencializar as famiacutelias e comunidades locais a manifestar interesse

pela realizaccedilatildeo de qualquer actividade profissional para o sustento proacuteprio e comunitaacuterio

A orientaccedilatildeo vocacional e profissional sobretudo no novo mileacutenio considera a sociedade

em geral como o espaccedilo proacuteprio para a sua concretizaccedilatildeo e auto-afirmaccedilatildeo

Os conhecimentos sobre a materializaccedilatildeo da orientaccedilatildeo vocacionalocupacional e

Profissional nas comunidades poderatildeo beneficiar ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Desenvolvimento

Humano na identificaccedilatildeo e introduccedilatildeo de poliacuteticas referentes no sistema educativo nacional

conntribuindo assim para a melhoria da qualidade entendida como produto de ensino

Para Silva (200467) o desenvolvimento eacute entendido como crescimento econoacutemico

acompanhado do progresso tecnoloacutegico e institucional definido controlado e dirigido pela

populaccedilatildeo a serviccedilo da mesma para o seu bem-estar O autor considera que o desenvolvimento

eacute um ideal a ser alcanccedilado

A orientaccedilatildeo vocacional consiste em o conselheiro incentivar o indiviacuteduo a pensar com

cuidado na profissatildeo que lhe agrada e depois fornecer-lhe todas as informaccedilotildees possiacuteveis sobre

as habilidade e qualificaccedilotildees exigidas por essa profissatildeo e sobre o tipo de perspectivas e

oportunidades que ela pode oferecer com o passar do tempo (Fontana 2002359)

Para Souza citado por Francisco (201078) a comunidade eacute o conjunto de grupos e subgrupos

de uma mesma classe social que tem interesse e preocupaccedilotildees comuns sobre condiccedilotildees de

vivecircncia no espaccedilo residencial e que dadas as condiccedilotildees fundamentais de existecircncia tendem a

ampliar continuamente o acircmbito de repercussatildeo dos seus interesses preocupaccedilotildees e

enfrentamentos comuns Eacute uma organizaccedilatildeo cujos assuntos satildeo do interesse colectivo

194

As aglomeraccedilotildees humanas situadas numa dada base territorial constituem uma comunidade

na medida em que a organizaccedilatildeo do quotidiano leva agrave criaccedilatildeo de canais particulares de

expressatildeo assim como cria relaccedilotildees que de modo limitado cumprem diversas funccedilotildees

Haacute que reconhecer a importacircncia que o envolvimento dos diferentes segmentos

populacionais das comunidades locais tem para a materializaccedilatildeo de qualquer vontade sobretudo

no contexto do desenvolvimento Deve igualmente reinar entre todos os moradores das diferentes

comunidades o espiacuterito de interdependecircncia e cooperaccedilatildeo

O desenvolvimento comunitaacuterio eacute um processo de cooperaccedilatildeo social O homem sempre

buscou a cooperaccedilatildeo para vencer as barreiras naturais e as dificuldades causadas pelo homem e

pelo proacuteprio desenvolvimento Aqui estaacute o grande fundamento da qualidade educativa resultante

da implementaccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional comunitaacuteria em prol do

desenvolvimento de toda a naccedilatildeo a partir do indiviacuteduo formado vocacional ou

profissionalmente

Para a concretizaccedilatildeo destes serviccedilos satildeo fundamentais as teorias psicodinacircmicas

desenvolvimentais humaniacutesticas comunitaacuterias e contextuais que enfocam a origem o

desenvolvimento vocacional e a escolha profissional a partir das caracteriacutesticas pessoais do

jovem e de suas relaccedilotildees significativas com as pessoas mais proacuteximas

Em outras palavras o pleno potencial da educaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao crescimento econoacutemico

soacute pode se concretizar se o ensino oferecido for de alta qualidade e se forem desenvolvidos os

conhecimentos e as habilidades cognitivas dos alunos (Greaney e Kellaghan 2011)

Em siacutentese considero que para que o nosso sistema de ensino seja considerado de melhor

qualidade os governantes e a sociedade civil devem se esforccedilar em oferecer aos aprendentes as

capacidades e competecircncias para a escolha e desempenho profissional

Referecircncias bibliograacuteficas

CNAQ Sistema Nacional de Avaliaccedilatildeo Acreditaccedilatildeo e Garantia de qualidade de Ensino

Superiorndash Manual de avaliaccedilatildeo Externa de Instituiccedilotildees Maputo CNAQ 2012

FONTANA David Psicologia para Professores 2 ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 2002

FRANCISCO Antoacutenio Aacutelvaro Desenvolvimento Comunitaacuterio em Moccedilambique contribuiccedilotildees

para a sua compreensatildeo 2 ed Editora BS 2010

GODOY Arllda Schmidt Introduccedilatildeo agrave Pesquisa Qualitativa e suas Possibilidades Satildeo Paulo

1995

195

GREANEY Vincent e KELLAGHAN Thomas Avaliaccedilatildeo dos niacuteveis de desempenho

educacional Rio de Janeiro Elsevier 2011

LASSANCE Maria Ceacutelia Pacheco Adultos com Dificuldades de Ajustamento ao Trabalho

Ampliando o Enquadre da Orientaccedilatildeo Vocacional de Abordagem Evolutiva Revista

Brasileira de Orientaccedilatildeo Profissional nuacutem 6 2005

PASCAL Roggero Avaliaccedilatildeo dos sistemas educativos nos paiacuteses da Uniatildeo Europeia de uma

necessidade problemaacutetica a uma praacutetica complexa desejaacutevel EccoS Revista Cientiacutefica

vol 4 nuacutem 2 2002 Satildeo Paulo

PASQUALINI Juliana Campregher GARBULHO Norma de Faacutetima e SCHUT Tannie

Orientaccedilatildeo Profissional com Crianccedilas Uma Contribuiccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Infantil Revista

Brasielira de Orientaccedilatildeo Profissional Volume 5 num 1 2004

SILVA Janaila dos Santos A Influecircncia dos Meios de Comunicaccedilatildeo Social na Problemaacutetica da

Escolha Profissional Psicologia Ciecircncia e Profissatildeo Brasil 2004

TENOacuteRIO Robinson e LOPES Uaccedilai (org) Avaliaccedilatildeo e gestatildeo teorias e praacuteticas Salvador

EDUFBA 2010

ZUNGUZE Rafael Importacircncia das Ciecircncias de Educaccedilatildeo nos temas transversais In

DUARTE Stela e MACIEL Carla Temas Transversais em Moccedilambique Educaccedilatildeo Paz

e Cidadania Maputo Educar-UP 2015 (pp 293-304)

196

Apecircndices

Universidade Pedagoacutegica

Questionaacuterio dirigido aos docentes

O presente inqueacuterito por questionaacuterio visa recolher informaccedilotildees sobre a necessidade e

possibilidade de introduccedilatildeo da orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema educativo

moccedilambicano bem como das suas implicaccedilotildees na qualidade de ensino O conteuacutedo seraacute usado

para fins meramente acadeacutemicos

Idade ______anos em 2015 SexoMF______ NiacutevelGrau acadeacutemico_________

NiacutevelGrau onde lecciona________________________________

1 Acha necessaacuteria a introduccedilatildeo do serviccedilo de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema

educativo moccedilambicano____________________ Porque___________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

2 Concorda com a ideia segundo a qual a introduccedilatildeo da orientaccedilatildeo vocacional e profissional

vai enfraquecer cada vez mais a qualidade de ensino__________ Fundamenta__________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

3 No seu entender a orientaccedilatildeo vocacional e profissional beneficia ou prejudica o ensino por

competecircncia vigente no nosso sistema de educaccedilatildeo________________ Explicite_______

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

4 Em sua opiniatildeo a orientaccedilatildeo vocacional e profissional poderaacute contribuir para a melhoria da

qualidade de ensino__________ Argumeta_______________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

5 Para vocecirc a orientaccedilatildeo vocacional e profissional deve ser introduzida e concretizada no

Ensino Primaacuterio_______ Ensino Secundaacuterio_________ Ensino Superior_____________

Porque______________________________________________________________________

197

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

6 Estes serviccedilos devem ser introduzidos e concretizados em todos os sistemas de ensino____

Porquecirc______________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

7 A seu ver existem possibilidades ou condiccedilotildees em Moccedilambique para a introuccedilatildeo dos

serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional_______

8 Quais satildeo as possibilidades ou condiccedilotildees necessaacuterias para a introduccedilatildeo dos serviccedilos de

orientaccedilatildeo vocacionale e profissional no nosso sistema educativo_____________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

9 Concorda com o pensamento de que os serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional

devem ser discutidos no ensino geral_____________ Desenvolva____________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

10 Existe alguma relaccedilatildeo entre as descobertas dos Recursos Minerais e introduccedilatildeo dos serviccedilos

de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema educativo________ Comente________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

11 Acha que apenas nas escolas teacutecnico-profissionais eacute que devem ser concretizados os serviccedilos

de orientaccedilatildeo vocacional e profissional___________ Fundamente___________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

12 Existe alguma relaccedilatildeo entre a orientaccedilatildeo vocacional e profissional e o desenvolvimento

humano________Justifique__________________________________________________

_

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Muito obrigado pela colaboraccedilatildeo

198

Amorosidade como componente pedagoacutegica

Elisabeth Jesus de Souza40

Resumo

O principal objetivo deste trabalho eacute discutir a amorosidade como componente pedagoacutegica na Educaccedilatildeo

Infantil O meacutetodo de pesquisa utilizado foi de observaccedilatildeo participante baseado natildeo somente na praacutetica

como tambeacutem na leitura de alguns teoacutericos A observaccedilatildeo participante realizou-se numa Unidade

Municipal de Educaccedilatildeo Infantil situada em uma comunidade no centro da Cidade de Niteroacutei Rio de

Janeiro Conclui-se que considerar a amorosidade na atuaccedilatildeo docente sobretudo na educaccedilatildeo infantil natildeo

eacute uma questatildeo de perda de autoridade pelo contraacuterio o amor eacute uma ferramenta no exerciacutecio da conquista

pelo respeito na sala de aula pela consolidaccedilatildeo dos laccedilos humanos fazendo da aprendizagem uma

consequecircncia O caminho da amorosidade como componente pedagoacutegica eacute uma escolha uma escolha

minha e ou sua Sem uma escolha voluntaacuteria o amor seraacute apenas uma utopia pedagoacutegica

Palavras-chave Educaccedilatildeo Amorosidade Componente pedagoacutegica Educaccedilatildeo infantil

Abstract

The main objective of this work is to discuss amorousness as a pedagogical component in Early

Childhood Education The research method used was participant observation based not only on the

practice but also on the reading of some theorists The participant observation was carried out in a

Municipal Infant Education Unit located in a community in the center of the City of Niteroacutei Rio de

Janeiro It is concluded that considering amorousness in teaching especially in early childhood education

is not a matter of loss of authority on the contrary love is a tool in the exercise of achievement for

respect in the classroom for the consolidation of human bonds making learning a consequence The path

of love as a pedagogical component is a choice a choice of mine and or yours Without a voluntary

choice love is only a pedagogical utopia

Keywords Education Amorosity Pedagogical component Child education

Introduccedilatildeo

O presente artigo eacute o capiacutetulo dois que compotildee parte do trabalho monograacutefico intitulado

de Pedagogia Social ldquoUm olhar amoroso na educaccedilatildeo infantil de meninos e meninas em

situaccedilatildeo de vulnerabilidade socialrdquo como requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de especialista

em Pedagogia Social para o Seacuteculo XXI por mim defendido em novembro de 2016 Nele

veremos a amorosidade como componente Pedagoacutegica na Educaccedilatildeo Infantil o amor como

40 Poacutes graduanda - Universidade Federal FluminenseEmail uffbethjesushotmailcom

elisabethjesusdesouzagmailcom

199

possibilidade efetiva de mudanccedilas e transformaccedilotildees no contexto educacional natildeo somente de

meninos e meninas como tambeacutem de educadores e educadoras deste segmento Quem satildeo os

sujeitos da amorosidade De que forma a amorosidade pode cooperar para inclusatildeo escolar

Atraveacutes de embasamentos teoacutericos do diaacutelogo com os respectivos autores citados ao longo da

discussatildeo bem como por meio da pesquisa de caraacuteter participativo eacute possiacutevel chegarmos a um

consenso de respostas e possiacuteveis caminhos para essas e outras indagaccedilotildees no contexto da

educaccedilatildeo escolar e na busca de educadores que almejam uma praacutetica coerente com seu discurso

O artigo constitui-se de trecircs partes Na primeira parte a partir de alguns autores como

Freire e Schettini a partir tambeacutem de relatos de experiecircncias podemos encontrar pelo menos

uma definiccedilatildeo para a questatildeo ldquoO que eacute amorosidaderdquo Prosseguindo com o primeiro autor e

dialogando com outro profissional da educaccedilatildeo infantil na segunda parte discutiremos quem satildeo

ldquoOs Sujeitos da Amorosidaderdquo a motivaccedilatildeo que tanto os educandos quanto os educadores

poderatildeo experimentar quando a afetividade eacute considerada nessa relaccedilatildeo reciacuteproca Para que haja

ldquoAmorosidade e Inclusatildeordquo item discutido na terceira parte deste trabalho compreender a

importacircncia do diaacutelogo neste contexto eacute imprescindiacutevel Por fim na quarta parte com bases

teoacutericas e praacuteticas eacute possiacutevel encontrar a primeira definiccedilatildeo de ldquoO que eacute amorrdquo Com a mesma

base encontraremos exemplos do que eacute sua praacutetica e qual sua aplicaccedilatildeo no acircmbito educacional

1 O que eacute amorosidade

() o ato de amor estaacute em comprometer-se com sua causa A causa da

libertaccedilatildeo Mas este compromisso porque amoroso eacute dialoacutegico () Como ato

de valentia natildeo pode ser piegas como ato de liberdade natildeo pode ser pretexto de

manipulaccedilatildeo senatildeo gerador de outros atos de liberdade A natildeo ser assim natildeo eacute

amor Somente com a supressatildeo da situaccedilatildeo opressora eacute possiacutevel restaurar o

amor que nela estava proibido Se natildeo amo o mundo se natildeo amo a vida se natildeo

amo os homens natildeo me eacute possiacutevel o diaacutelogo

Paulo Freire

Eacute possiacutevel entatildeo a partir da citaccedilatildeo acima definir amorosidade como a expressatildeo a

praacutetica do amor Eacute em nome do comprometimento com a causa de uma educaccedilatildeo libertadora

para os vulneraacuteveis de nosso paiacutes que noacutes educadores nos dispomos a dar um corpo uma

corporeificaccedilatildeo ao amor agregando-o em nossa luta

200

Quando me comprometo com a educaccedilatildeo tenho uma causa a crianccedila em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social por exemplo Se a nossa responsabilidade como educador social eacute propor

uma educaccedilatildeo que a liberte da opressatildeo do pensamento hegemocircnico de que estaacute fadada ao

fracasso de que eacute algueacutem incapaz precisamos ser educadores amorosos porque sem amor

seremos mais um opressor ou natildeo faremos qualquer diferenccedila na vida escolar dessa crianccedila

Para tal eacute indispensaacutevel o diaacutelogo Quando esta relaccedilatildeo muacutetua eacute estabelecida entre

educador e educando a troca na construccedilatildeo do conhecimento acontece de forma mais maleaacutevel

mais terna com mais satisfaccedilatildeo de forma mais estaacutevel para ambas as partes Natildeo estou falando

de permissividade leviana mas de um profissional movido pelo sentimento humano um ser

sensiacutevel capaz de mudar sua praacutetica pela flexibilidade inerente ao seu fazer do ser educador

Nesta senda da libertaccedilatildeo vou cada vez mais querendo bem ao educando

O resultado seraacute sem nenhuma descrenccedila um contiacutenuo e progressivo processo de

libertaccedilatildeo Esse resultante da accedilatildeo amorosa nos conduz a reflexotildees que culminam em ouvir a

crianccedila perceber seus anseios suas anguacutestias sentir seu silecircncio seu medo ou sua valentia seu

olhar sua alegria ou tristeza Nessa direccedilatildeo vamos encontrando sentido para a praacutetica docente

Natildeo podemos ser dissuadidos quanto a nossa motivaccedilatildeo quanto aos nossos pensamentos

quanto agrave educaccedilatildeo que desejamos e pela qual lutamos natildeo podemos ser atordoados nem

desvanecidos por aqueles que afrontam os direitos humanos O direito a que refiro nesse

contexto eacute o direito de libertar a alegria o amor que pode estar gritando dentro de mim e de

vocecirc a alegria de ser o que eacute sem medo da felicidade sem medo da inveja alheia

A seguir relato de experiecircncia

Certa vez enquanto estava agrave mesa tomando cafeacute com algumas colegas de

trabalho fiz referecircncia agraves crianccedilas (as quais chamo de meus amores meus

favores) de minha sala de aula Uma das colegas interrompeu-me com a seguinte

fala

― Vocecirc fica aiacute cheia de amor com eles mas um dia pode pegar o jornal e ver

uma delas morta

(Raquel professora de educaccedilatildeo infantil haacute doze anos)

Chamar essas crianccedilas de meus amores tem para mim grande significado pois foi com

essa ―turminha que pude pela primeira vez sentir experimentar o sabor e a gratidatildeo que eacute

trabalhar como educadora de crianccedilas da classe popular A espontaneidade de cada um se

traduzia na pureza e singeleza da vida que noacutes adultos muitas vezes complicamos

201

Amorosidade cuidado dedicaccedilatildeo atenccedilatildeo todo esse labor que a infacircncia exige de noacutes

educadores que com ela trabalhamos resultam nessa ternura Por isso eles eram tambeacutem meus

favores A sociedade e muitos intelectuais destacam apenas as sofrecircncias os problemas

apresentados pelos educandos da classe popular mas as experiecircncias nos mostram e nos ensinam

que nesse contexto tambeacutem temos peacuterolas a lapidar

A fala da professora Raquel me deixou tatildeo aborrecida que me retirei da mesa naquele

momento Fui assim percebendo no conviacutevio com esta e algumas outras colegas de profissatildeo

que sem amor natildeo temos esperanccedila ou qualquer perspectiva de mudanccedila seja qual for o contexto

que me envolve Na educaccedilatildeo isso tem peso dobrado A sociedade ainda quer ver a Educaccedilatildeo

como meio de mudanccedila social ainda deposita nela alguma esperanccedila

Para a professora citada no entanto as crianccedilas que moram em comunidade que vivem

em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social jaacute estatildeo condenadas a morte Que sentido faz entatildeo investir

nessas crianccedilas Jaacute estatildeo arruinadas mesmo jaacute tecircm seu futuro predeterminado preestabelecido

Para que serviraacute entatildeo meu amor em relaccedilatildeo a elas

No sentido oposto fui tambeacutem constatando atraveacutes da troca de experiecircncia com outros

colegas que uma simples atitude amorosa por parte do professor pode marcar profundamente

uma crianccedila no seu contexto escolar e trazer a ela o sentido da Educaccedilatildeo Mesmo que ela natildeo

alcance esse sentido agora Ser amoroso eacute parte integrante da superaccedilatildeo da opressatildeo Mas para

ter amor pelos oprimidos noacutes educadores tambeacutem precisamos ser libertos Segundo Luiz

Schettini

Que seria uma ―accedilatildeo afetiva em um contexto pedagoacutegico Natildeo existe manual

ou roteiros a serem seguidos para cumprir um programa de accedilatildeo afetiva Essa eacute

talvez a dificuldade da maioria das pessoas mesmo quando compreendem a

importacircncia da afetividade Agir com afeiccedilatildeo eacute a resultante de tudo o que uma

pessoa eacute nas suas relaccedilotildees com o mundo (SCHETTINI 2010 p 26)

Conforme citaccedilatildeo acima natildeo existe uma resposta pronta que defina a expressatildeo accedilatildeo

afetiva efetiva O que estaacute intriacutenseco nesse contexto eacute muito mais do que o planejamento que

temos para cumprir ou as regras ―os combinados do cotidiano que criamos como pretexto para

manter a ordem O valor sentimental e profissional estaacute expliacutecito em nossa atitude

Nossa presenccedila e nosso fazer na sala de aula tem significaccedilatildeo e valor imensuraacutevel Natildeo

deixemos portanto que por estarmos tatildeo embaraccedilados com o proacuteprio cotidiano isso passe

despercebido Quando dermos conta disso o amor a afetividade seraacute apenas uma consequecircncia

202

A proposta natildeo estaacute em que o educador se torne um profissional melancoacutelico natildeo Mas em que

cuidemos para natildeo deixar morrer a sensibilidade a alegria de praticar a docecircncia porque sem a

amorosidade a praacutetica educativa perde o sentido

Relato a seguir uma experiecircncia

Isaque tem 2 (dois) anos de idade foi matriculado na unidade escolar dois

meses apoacutes inicio do ano letivo Ao ser entregue na sala pela avoacute a crianccedila

resistiu chorando as professoras tentaram acolhe-lo convidandondasho para brincar

No primeiro dia durante o tempo em que permaneceu na creche (periacuteodo de

inserccedilatildeo ndash das 8 agraves 10 horas) ele reagiu com muito choro ameaccedilando e batendo

em qualquer adulto que dele se aproximasse No segundo dia Isaque parecia

mais calmo poreacutem demonstrava agressividade na interaccedilatildeo com os colegas de

sala de aula e tambeacutem na interaccedilatildeo com os colegas de paacutetio Ele apertava com

forccedila e mordia os demais colegas que se aproximassem dele ou simplesmente

se aproximava para morder No dia seguinte ou seja no terceiro dia Isaque

trouxe flores para uma das professoras e a abraccedilou carinhosamente Estendemos

um pouco mais seu horaacuterio na escola Alimentou-se muito bem

A partir do quarto dia consideramos que a crianccedila jaacute teria condiccedilatildeo de

permanecer tempo integral na escola pois jaacute natildeo chorava mais Alimentou-se

bem e dormiu bem Aos poucos vem demonstrando ser bastante carinhoso e

prestativo com uma oacutetima desenvoltura na fala demonstra ter uma inteligecircncia

bastante aguccedilada Possui uma incriacutevel autonomia na realizaccedilatildeo das atividades

cotidianas da escola

Poreacutem a crianccedila Isaque vem nos sinalizando continuamente que precisa de

socorro de ajuda pois na relaccedilatildeo na interaccedilatildeo com os colegas durantes as

brincadeiras tem ainda apresentado sinais de agressividade mordendo e

apertando pegando-os pelo colarinho Se chamado agrave atenccedilatildeo pelas professoras

disse que vai matar o coleguinha em quem bateu ou chutou bate na professora

chamando-a de palavras de baixo escalatildeo Considerando as dificuldades de

Isaque as professoras Elisabeth e Cristiane planejaram realizar com ele natildeo

somente atividades coletivas mas tambeacutem individuais tais como jogos de

memoacuteria quebra-cabeccedila leituras etc

(Caderno de campo- junho de 2016)

A primeira leitura que fizemos dessa crianccedila foi de que ele era um menino agressivo Mas

felizmente logo que proferimos essas palavras percebemos nossa insensibilidade refazemos

nossa leitura a tempo - tinha paacuteginas sem ler Antes de qualquer conclusatildeo precisaacutevamos saber o

que se passava com Isaque sua atitude era apenas reproduccedilatildeo de algum contexto apesar de seus

tatildeo poucos anos de vida Nossa relaccedilatildeo com essa crianccedila natildeo poderia ser outra senatildeo uma

relaccedilatildeo pedagoacutegica-amorosa Nossos julgamentos deram lugar ao amor Tentar impor-lhe limites

sem qualquer compreensatildeo de sua realidade seria somente mais uma forma de opressatildeo

203

A matildee de Isaque tem dezessete anos de idade e estava reclusa Certo dia ela foi busca-lo

na escola e ficou um periacuteodo levando e buscando-o Periacuteodo esse que percebiacuteamos nitidamente

consideraacutevel melhora no seu desempenho no seu relacionamento com as demais crianccedilas Mas

de repente ela jaacute natildeo estava mais Isaque dizia que sua matildee fora embora Essa oscilaccedilatildeo sem

duacutevida reflete diretamente na vida pessoal da crianccedila e no seu rendimento escolar Isaque fica

sob a responsabilidade da avoacute materna

Atraveacutes de um olhar amoroso da postura do sentir do agir foi possiacutevel a percepccedilatildeo de

que haveria de existir outras maneiras de intervir no cotidiano de Isaque que natildeo fosse de forma

repressora Aacute medida em que buscaacutevamos alternativas fomos observando a incriacutevel crianccedila que

era o Isaque suas dificuldades e inquietudes natildeo poderiam estar acima de suas e de nossas

possiblidades

Natildeo teriacuteamos tantos jovens e adultos na EJA (Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos) se

minimamente as crianccedilas e os jovens recebessem o respaldo necessaacuterio na educaccedilatildeo infantil e no

ensino fundamental Mas no lugar do acolhimento o que vemos na maioria das vezes eacute a

exclusatildeo dos mesmos seja pela roupa que veste pelo sapato que calccedila ou pelo modo como fala

seja pelo lugar onde vive ou pelo tipo de cultura que expressa As proacuteprias atividades

pedagoacutegicas que lhes satildeo propostas muitas das vezes satildeo excludentes pela de falta de

contextualizaccedilatildeo

A partir do momento em que mecanismos natildeo satildeo criados para a permanecircncia de uma

crianccedila ou um adolescente na escola automaticamente seus sonhos satildeo fragmentamos E se essa

crianccedila natildeo for acolhida pela escola teraacute que mais tarde fazer parte do quadro da EJA Isso eacute

perverso Eacute perverso porque se hoje a crianccedila e o adolescente jaacute tecircm o direito agrave educaccedilatildeo direito

constitucionalmente adquirido por que precisar recorrer a EJA mais tarde Isso acontece porque

o sistema eacute perverso Entatildeo noacutes educadores tambeacutem precisamos nos libertar dessa opressatildeo

hegemocircnica

2 Os Sujeitos da Amorosidade

Quem satildeo os sujeitos da amorosidade No contexto da discussatildeo podemos entender como

sujeitos da amorosidade tanto o educando quanto o educador Compreendo que a amorosidade

acontece na relaccedilatildeo de troca numa relaccedilatildeo muacutetua Se o amor pode ser aprendido tanto eu e

vocecirc noacutes educadores podemos aprender o caminho do amor como tambeacutem o educando Entatildeo

ambos somos sujeitos dessa componente pedagoacutegica a amorosidade

204

Eacute a convivecircncia amorosa com seus alunos e na postura curiosa e aberta que

assume e ao mesmo tempo provoca-os a se assumirem enquanto sujeitos

soacutecios-histoacutericos-culturais do ato de conhecer eacute que ele pode falar do respeito agrave

dignidade e autonomia do educando Pressupotildee romper com concepccedilotildees e

praacuteticas que negam a compreensatildeo da educaccedilatildeo como uma situaccedilatildeo

gnoseoloacutegica (FREIRE 1996 p11)

Freire nos mostra que quando assumida a coexistecircncia amorosa com o educando o

educador natildeo soacute tem uma postura curiosa como tambeacutem permite ao educando ser sujeito de sua

proacutepria aprendizagem sujeito de sua histoacuteria Isso denota respeito ao educando e o dignifica ao

mesmo tempo em que viabiliza sua autonomia

Essa cumplicidade abre caminho para que o educando rompa com e medo e a opressatildeo

Nessa accedilatildeo amorosa derrubamos e vencemos paradigmas conceitos e preconceitos natildeo soacute por

parte do educando mas do proacuteprio educador Compreendemos nessa mutualidade

epistemoloacutegica a importacircncia de reconhecer aluno como protagonista como sujeito do processo

ensino-aprendizagem na praacutetica educativa

Segundo a professora Cristiane

Eacute atraveacutes da afetividade que a relaccedilatildeo professor-aluno se constitui e assim

sendo possibilita que o processo ensino-aprendizagem se torne mais

significativo ao educando (Cristiane Moura de Mattos ndash Professora haacute 8 anos)

Se haacute essa relaccedilatildeo afetiva entre o professor e o aluno ambos constituem-se como sujeitos

da amorosidade Conforme a fala da professora Cristiane essa relaccedilatildeo permite olharmos para o

educando como sujeito no processo Esse viacutenculo reincide no fato de que o professor natildeo

somente ensina como tambeacutem aprende

A postura sensiacutevel do profissional da educaccedilatildeo auxilia na autonomia do aluno

motivando-o na construccedilatildeo do conhecimento tanto escolar como extraescolar Quando na sua

praacutetica o professor eacute motivado pelo amor para o educando a aprendizagem ganha novo

significado Aprender com prazer contribui para o desempenho e rendimento do educando

3 Amorosidade e Inclusatildeo

Para algueacutem ser incluiacutedo em determinado contexto ele precisa ser ouvido Ouvir eacute algo

essencial no processo de inclusatildeo pois ao ouvir o outro eu o percebo ele passa a existir para

mim se esse outro fala comigo eacute porque para ele eu jaacute existo Isto sem duacutevida me compromete

Por isso nosso trabalho deveria estaacute sempre seguido do diaacutelogo

205

Segundo Freire (2011) ldquoEacute preciso poreacutem que quem tem o que dizer saiba saiba sem

sombra de duacutevida natildeo ser o uacutenico ou a uacutenica a ter o que dizerrdquo Ao despertar nossa atenccedilatildeo

para colocar em praacutetica o diaacutelogo Freire estaacute nos dizendo que para haver diaacutelogo eu

necessariamente tenho que saber aprender a ouvir o outro o que ele tem a anunciar Uma

simples escuta pode mudar todo seu plano de aula Freire propotildee uma interaccedilatildeo uma

movimentaccedilatildeo interna da fala do outro ao seu pensamento comprometido com o comunicar natildeo

como fazer o comunicado mas daacute atenccedilatildeo ao questionamento agrave incerteza daquele que ouviu O

ato dialoacutegico me anuncia natildeo somente como educador criacutetico e questionador mas tambeacutem

amoroso respeitoso e humilde no processo de autoavaliaccedilatildeo da minha praacutetica docente

Como citado anteriormente o amor eacute dialoacutegico se dialoacutegico eacute tambeacutem inclusivo A

questatildeo da amorosidade como componente pedagoacutegica eacute de suma importacircncia e de grande

relevacircncia portanto imprescindiacutevel no processo educativo de inclusatildeo Com o exerciacutecio do

amor consequentemente as demais virtudes me seguiratildeo

Segundo a professora Letiacutecia Lucas

Sem diaacutelogo nossa praacutetica e discurso satildeo vazios Sem ele natildeo temos como

saber como atender a necessidade do aluno Se natildeo o ouvimos como saberemos

do que precisa (Letiacutecia ndash 10 anos de magisteacuterio)

Para a professora Letiacutecia o diaacutelogo eacute uma forma de ser diligente de evitar a incoerecircncia

entre o discurso e a praacutetica docente Sem essa ferramenta natildeo eacute possiacutevel a contextualizaccedilatildeo do

fazer pedagoacutegico com o cotidiano do educando ficando somente na teoria Poreacutem ao

enveredarmos pelo caminho do diaacutelogo a probabilidade de certos em nossa experiecircncia praacutetica

seraacute maior

Traccedilar caminhos buscar alternativas que incluam cada crianccedila que se achega aos bancos

das escolas puacuteblicas no processo de rendimento escolar eacute uma forma de estimulo para que esta

permaneccedila dando prosseguimento agrave educaccedilatildeo para a vida e tornando possiacuteveis seus sonhos

Conforme Martins

Assim acredito que tudo depende da forma como vemos os fatos depende da

nossa formaccedilatildeo dos autores eleitos das nossas possibilidades ou limitaccedilotildees de

intervir no real O ato de pesquisar eacute um bom exerciacutecio para nos olharmos

(MARTINS 2015 P 47)

De acordo com a citaccedilatildeo acima a intervenccedilatildeo do educador na realidade no cotidiano do

educando depende do seu olhar em relaccedilatildeo a este Na educaccedilatildeo infantil principalmente o modo

206

como eacute direcionado esse olhar tem peso maior Nesse contexto o olhar antecede a palavra

resultando em accedilotildees As accedilotildees do professor em relaccedilatildeo ao aluno dependem de como este o ver

sendo acolhedora ou excludente

A formaccedilatildeo do educador sua escolha teoacuterica suas possibilidades e limitaccedilotildees podem

determinar seu modo de intervenccedilatildeo no papel que desempenha na dinacircmica docente O educador

social entende e estaacute ciente de que eacute parte no processo de mudanccedilas dos paradigmas da

educaccedilatildeo intervindo como parte transformadora de uma sociedade em que os dominados natildeo

satildeo excluiacutedos apenas economicamente mas em todos os aspectos sociais sobretudo no que diz

respeito a uma educaccedilatildeo com qualidade uma educaccedilatildeo modificadora e libertadora

Como componente pedagoacutegica a amorosidade tem relaccedilatildeo direta na inclusatildeo do educando

no acircmbito educacional Para aleacutem do conhecimento cientifico a educaccedilatildeo forma cidadatildeos seres

humanos Partindo desse pressuposto nesse sentido a amorosidade tem participaccedilatildeo

fundamental nessa correlaccedilatildeo entre o aluno e o professor

A pesquisa eacute um dos caminhos que podemos trilhar com vista ao aperfeiccediloamento ao

amadurecimento do olhar amoroso como forma de inclusatildeo do educando em nossas accedilotildees

docentes Atraveacutes da pesquisa hipoacuteteses podem ser levantadas e ou confirmadas conceitos

podem ser mudados as certezas e incertezas podem dar lugar a novas formas de pensar E vocecirc

professor acredita na amorosidade como componente pedagoacutegica

Para a professora Anoil

Atraveacutes do amor conquistamos alcanccedilamos objetivos (Anoil ndash 20 anos de

magisteacuterio)

Se a amorosidade eacute esse facilitador ela eacute tambeacutem promotora da inclusatildeo A amorosidade

eacute um facilitador no processo de inclusatildeo quem natildeo ama natildeo inclui Sem ser incluiacutedo nas

atividades pedagoacutegicas o aluno perde o estiacutemulo perde a motivaccedilatildeo em aprender A

amorosidade no ato de educar eacute uma demonstraccedilatildeo de valoraccedilatildeo do professor em relaccedilatildeo o

aluno Essa preocupaccedilatildeo eacute essencial

4 O que eacute amor

A primeira definiccedilatildeo por mim encontrada estaacute no capiacutetulo treze da primeira carta aos

coriacutentios na Biacuteblia Sagrada O tiacutetulo desse capiacutetulo define o amor como dom supremo e a

introduccedilatildeo deste capiacutetulo descreve-o como caminho sobremodo excelente

207

Agora pois permanecem a feacute a esperanccedila e o amor estes trecircs poreacutem o maior

destes eacute o amor (I Coriacutentios 13 13)

Partindo da citaccedilatildeo podemos ver que o amor realmente eacute algo sublime pois estaacute acima

de todos os dons de todo conhecimento cientiacutefico de toda eloquecircncia humana Apesar de todos

esses outros atributos que o ser humano possa vir adquirir se natildeo for o amor a real causa de meu

efetuar natildeo tem valor algum Mesmo exercendo a generosidade distribuindo todos os meus bens

entre os necessitados ainda que eu negue a proacutepria vida dando-a em favor de meus semelhantes

que entregue os meus bens entre eles se natildeo for o amor a razatildeo a essecircncia de tudo nada me

acrescentaraacute

Paulo finaliza o capiacutetulo falando de trecircs coisas que devem permanecer a feacute a esperanccedila e

o amor Mas de todas elas a maior eacute o amor A feacute e a esperanccedila estatildeo interligadas pela motivaccedilatildeo

que ambas promovem aqueles que nelas depositam suas forccedilas Natildeo haacute como desvincular uma da

outra No entanto nem mesmo a feacute (algo capaz de superar qualquer expectativa humana para os

que dela se apoderam) pode se sobrepor ao amor Essa compreensatildeo eacute encontrada na proacutepria

experiecircncia do apoacutestolo Paulo um homem que aprendeu a amar aprendeu a amorosidade

Podemos ver a seguir de forma praacutetica

Essa experiecircncia estaacute relacionada a um escravo chamado Oneacutesimo cuidado por Paulo

quando este estava aprisionado em Roma Em o texto ONEacuteSIMO ndash DE INUacuteTIL A UacuteTIL o autor

explana a carta de Paulo a Filemon mostrando a grande mudanccedila que Oneacutesimo teve em sua vida

atraveacutes da amorosidade e cuidado de Paulo Ele destaca os versiacuteculos 10 e 11 desta carta

passagem em que Paulo chama Oneacutesimo de filho e confirma que este foi gerado entre algemas

que ele era algueacutem sem valor agora poreacutem eacute valoroso O texto detalha que outrora Oneacutesimo era

um simples escravo em fuga desprezado pela sociedade Contudo os versiacuteculos mencionados

segundo o autor mostram com clareza a amorosidade paciecircncia e dedicaccedilatildeo que Paulo tinha agraves

pessoas independente de seu niacutevel social ou seu grau de instruccedilatildeo (YULAN DONG 2016)

Na praacutetica docente a experiecircncia de Paulo pode ser aplicada com o mesmo princiacutepio o

amor Vemos com essa experiecircncia que o resultado se deu a partir da amorosidade como

componente principal no processo de transformaccedilatildeo na vida de Oneacutesimo Portanto a

amorosidade eacute uma componente pedagoacutegica a partir do qual podemos como educadores

intervir de maneira beneacutefica na vida de crianccedilas da educaccedilatildeo infantil Essa interferecircncia poderaacute

ultrapassar os muros da sala de aula e da escola

A experiecircncia a seguir nos faz pensar sobre a importacircncia da afetividade na educaccedilatildeo

infantil de um olhar amoroso voltado para as crianccedilas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

208

Atualmente a comunidade onde estaacute localizada a unidade escolar em que a pesquisa foi

realizada passa por grande conflito entre as facccedilotildees atingindo diretamente aos moradores e o

funcionamento da escola tornando-os refeacutem de suas accedilotildees Tanto as crianccedilas como suas

respectivas famiacutelias e de alguma forma noacutes educadores e demais funcionaacuterios da unidade

escolar sofremos as consequecircncias desses atos Ao dialogar com a professora Cristiane chegamos

a conclusatildeo que no atual contexto em que se encontram as crianccedilas a noacutes confiadas natildeo apenas

como profissionais mas como seres humanos capazes de cuidar de outro o melhor pedagoacutegico

que poderiacuteamos propor seria o acolhimento atraveacutes da afetividade o afago o calor e o valor

humano teria maior significado do que qualquer outro conteuacutedo (Caderno de campo novembro

de 2016)

Conclusatildeo

Considerar a amorosidade na atuaccedilatildeo docente sobretudo na educaccedilatildeo infantil natildeo eacute uma

questatildeo de perda de autoridade pelo contraacuterio o amor eacute uma ferramenta no exerciacutecio da

conquista pelo respeito na sala de aula pela consolidaccedilatildeo dos laccedilos humanos fazendo da

aprendizagem uma consequecircncia Essa conquista eacute gradual agrave medida que pratico a amorosidade

o amor torna-se muacutetuo Afirmo assim que eacute uma praacutetica reciacuteproca Como seres humanos

precisamos natildeo somente de conhecimento cientifico das condiccedilotildees sugeridas e muitas senatildeo na

maioria das vezes impostas pelo sistema no contexto social poliacutetico e econocircmico do sistema

capitalista que domina a sociedade Brasileira E eacute esse sistema que na maioria das vezes noacutes

educadores reproduzimos no cotidiano escolar sem levar em consideraccedilatildeo a afetividade esta

indispensaacutevel na relaccedilatildeo professor aluno ainda mais quando se refere agrave educaccedilatildeo infantil com

maior peso a educaccedilatildeo de meninos e meninas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social pois estes jaacute

sofrem com maior expressividade e visibilidade o estigma da violecircncia Seja ela fiacutesica ou

simboacutelica Mas se a amorosidade como componente pedagoacutegica fizer parte do curriacuteculo nas

salas de aula e nos espaccedilos escolares certamente a realidade escolar teraacute outro sentido na

educaccedilatildeo escolar na infacircncia de muitos meninos e meninas que se fazem parte do dia a dia de

nossas praacuteticas docente

Referecircncias Bibliograacuteficas

FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa Satildeo Paulo

Paz e Terra 2011

209

MARTINS Margareth Pedagogia Social diaacutelogos com crianccedilas trabalhadoras VIII Satildeo

Paulo Expressatildeo e Arte 2015

SCHETTINI Luiz Filho Analfabetismo afetivo In Pedagogia da Ternura 2 ed Petroacutepolis

RJ Vozes 2010

YU LAN Dong ONEacuteSIMO ndash DE UTIL A INUTIL In O Encargo Central de Paulo Alimento

Diaacuterio Seacuterie A ideia central das epistolas de Paulo Satildeo Paulo Aacutervore da Vida 2016

210

ldquoDe Ministro mais activo e mais reluzente do Governo para Reitorrdquo um

contributo para o estudo da configuraccedilatildeo de rituais verbais da descortesia e

incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV

Acircngelo Ameacuterico Mauai41

Resumo

Com o presente estudo procuramos demonstrar de que forma as estrateacutegias discursivas se manifestam na

interacccedilatildeo entre interlocutores Analisamos a configuraccedilatildeo de rituais verbais as estrateacutegias de descortesia

e a incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV As sequecircncias discursivas do ldquoPontos

de Vistardquo analisadas evidenciam situaccedilotildees de ameaccedila das faces tendo em conta o valor social positivo

que as pessoas reivindicam Os interlocutores natildeo conseguem evitar a vulnerabilidade das faces jaacute que

usam estrateacutegias discursivas invasivas ou comprometedoras na perspectiva em que os outros possam

entender o seu discurso A intenccedilatildeo deliberada do locutor atacar a imagem de outro ou outros manifesta-

se ritualmente de forma descortecircs e os argumentos perfilados na interacccedilatildeo natildeo satildeo coerentes com a tese

defendida no discurso

Palavras-chave (Des)cortesia verbal Rituais verbais Estrateacutegia discursiva

Abstract

The study aims to demonstrate how the discursive strategies are revealed in the interaction between

interlocutors We analyze the outline of verbal rituals discourtesy strategies and discursive incoherence in

the STV ldquoPontos de Vistardquo program When scrutinized the discursive sequences of the ldquoPontos de Vistardquo

program show situations of facial threat taking into account the positive social value that the interlocutors

claim for They cannot avoid the vulnerability of the facial expression since they use invasive or

compromising discursive strategies in the perspective in which others can understand their discourse The

deliberate intention of the participants to attach the other manifests itself ritually in a discourteous manner

and the arguments outlined in the interaction are not consistent with the thesis defended in the discourse

Key words Verbal courtesy Verbal rituals Discursive strategy

1 Introduccedilatildeo

Em qualquer forma de interacccedilatildeo verbal aquele que ocupa uma posiccedilatildeo de falante tem a

consciecircncia de que estaacute numa posiccedilatildeo vulneraacutevel pois corre o risco de ser julgado interrompido

ou sofrer objecccedilatildeo Em funccedilatildeo disso ele procura controlar (monitorar) suas proacuteprias palavras

assim como as palavras e reacccedilotildees dos interlocutores Atraveacutes dessa estrateacutegia o falante procura

manter a situaccedilatildeo de equiliacutebrio no processo interaccional42

41 Docente da UP Delegaccedilatildeo de Gaza Licenciado em Ensino de Portuguecircs Mestre em Estudos Portugueses

Multidisciplinares na Aacuterea de Especializaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa e Doutorando em Estudos Portugueses na

Aacuterea de Especializaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa 42 A reflexatildeo sobre os fenoacutemenos linguiacutesticos subjacentes agrave interaccedilatildeo verbal insere-se no acircmbito do conjunto de

problemaacuteticas linguiacutesticas que emergem no campo da Pragmaacutetica das sequecircncias discursivas (Fonseca 1992) da

Anaacutelise Interacional (Kerbrat-Orecchioni 1986) e da Sociolinguiacutestica Interacional (Gumperz 1989)

211

Tendo por base as interacccedilotildees discursivas entre dois interlocutores - um jornalista e um

comentador permanente do programa ldquoPontos de Vistardquo da STV43 decorrido no dia 27 de

Novembro de 2016 - gravadas e posteriormente transcritas atraveacutes do sistema de notaccedilatildeo

ortograacutefica procuraremos analisar o comportamento sociolinguiacutestico subjacente ao geacutenero

discursivo ldquoPontos de Vistardquo um programa de informaccedilatildeo que vai para o ar aos domingos sob

moderaccedilatildeo do jornalista Jeremias Langa (JLL1) e nesta ediccedilatildeo contou com a participaccedilatildeo do

comentador Fernando Lima (FLL2)

O programa ldquoPontos de Vistardquo tem o objectivo de levar ateacute aos telespectadores a anaacutelise dos

acontecimentos semanais de ordem poliacutetica econoacutemica e social de Moccedilambique Na confluecircncia

de orientaccedilotildees teoacutericas e metodoloacutegicas da Sociolinguiacutestica Interaccional seguiremos o meacutetodo

qualitativo e interpretativo de anaacutelise de fenoacutemenos interaccionais concebendo a liacutengua como

um fenoacutemeno social e como as unidades linguiacutesticas do discurso funcionam nas conversaccedilotildees

dando enfoque agrave cortesia44 linguiacutestica e ao modo como se estabelece a coerecircncia discursiva

tendo por base as ldquopistas de contextualizaccedilatildeordquo subjacentes ao discurso e interpretados pelos

interlocutores (Gumpez 1989)

Considerando a relaccedilatildeo entre as praacuteticas discursivas e ldquocomunidades de pensamentordquo

(Gumperz 1989) procederemos ao levantamento e agrave anaacutelise das sequecircncias de valorizaccedilatildeo da

face dos actos ameaccediladores da face (Brown e Levinson 1987) e de como se realizam

discursivamente os rituais verbais de delicadeza no ldquoPontos de Vistardquo Descreveremos o modo

como se estabelece a intercompreensatildeo de sentido atraveacutes das estrateacutegias discursivas utilizadas

pelos interlocutores na anaacutelise da exoneraccedilatildeo do Prof Dr Jorge Ferratildeo do cargo de Ministro de

Educaccedilatildeo Cultura e Desenvolvimento Humano de Moccedilambique e da sua nomeaccedilatildeo para Reitor

da Universidade Pedagoacutegica (UP) de Moccedilambique Analisados os dados precedidos

basicamente por alguns pressupostos teoacutericos que confluem no modelo da chamada

Sociolinguiacutestica Interaccional apresentaremos por fim as principais conclusotildees extraiacutedas da

anaacutelise efectuada

2 Consideraccedilotildees teoacutericas

Uma das formas de manter o equiliacutebrio na interacccedilatildeo eacute por um lado construir uma auto-

imagem puacuteblica de si mesmo na qual se evidenciam os traccedilos positivos e se ocultem os traccedilos

negativos e por outro lado o falante busca resguardar a imagem dos interlocutores evitando

43 Soico Televisatildeo 44 Os itens cortesia e delicadeza descortesia e indelicadeza satildeo sinoacutenimos

212

aquilo que possa ser tomado por invasivo ou comprometedor ou seja uma imagem delineada em

termos de atributos aprovados socialmente A esta imagem Goffman (1967 5) atribui o nome de

face termo entendido como o valor social positivo que uma pessoa reivindica para si de forma

eficaz na percepccedilatildeo dos outros durante um contacto especiacutefico

John Gumperz e Erving Goffman destacam-se nos estudos da Sociolinguiacutestica

Interaccional Eles desenvolvem estudos que buscam dar conta de fenoacutemenos que envolvem

cultura sociedade e linguagem Uma elocuccedilatildeo pode ser compreendida de vaacuterias maneiras e

atraveacutes de inferecircncias Os interlocutores decidem como interpretaacute-la em conformidade com

ldquoconstelaccedilotildees de traccedilos presentes na estrutura de superfiacutecie das mensagens que falantes

sinalizam e interpretam a actividade que estaacute ocorrendordquo (Gumperz 1982 99 apud Biar 2006

4) Biar salienta que os mecanismos de sinalizaccedilatildeo como entoaccedilatildeo ritmo do discurso escolhas

lexicais foneacuteticas e sintaacutecticas constituem as pistas de estereoacutetipos de classe assimetrias de

poder Para Gumperz as pistas de contextualizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo e inferecircncia associam-se agrave

interpretaccedilatildeo inerente a qualquer discurso e tecircm como base as expectativas dos participantes e

contribuem na construccedilatildeo do significado

As pistas de contextualizaccedilatildeo podem aparecer sob vaacuterias manifestaccedilotildees linguiacutesticas

dependendo do repertoacuterio linguiacutestico de cada falante determinado historicamente e tambeacutem

culturalmente Assim

uma teoria geral das estrateacutegias do discurso deve portanto comeccedilar por

especificar quais satildeo os conhecimentos linguiacutesticos e socioculturais que satildeo

necessaacuterios partilhar para manter o envolvimento conversacional e tratar de

seguida o que constitui a proacutepria natureza de inferecircncia conversacional o que

faz a especificidade cultural e situacional da interpretaccedilatildeo (Gumperz 1989 2

apud Almeida 2012 14)

As pistas ajudam no estabelecimento da cortesia no curso da interacccedilatildeo em funccedilatildeo do

geacutenero discursivo actualizado Catherine Kerbrat-Orecchioni (2004) acentua a funccedilatildeo reguladora

da cortesia ligada ao contexto A delicadeza eacute sensiacutevel ao contexto quer situacional quer o

contexto mais amplo de que o geacutenero discursivo participa O geacutenero impotildee constriccedilotildees agrave relaccedilatildeo

interpessoal e por conseguinte agrave relaccedilatildeo cortecircs ou seja a cortesia verbal eacute uma competecircncia

sociocultural e linguiacutestica especiacutefica de cada geacutenero discursivo

213

3 Anaacutelise da configuraccedilatildeo de descortesia rituais verbais e incoerecircncia

discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV

31 A (des)cortesia verbal

A anaacutelise da cortesia passa pela distinccedilatildeo a partir da teoria da ameaccedila ou preservaccedilatildeo das

faces entre delicadeza positiva (estrateacutegias de valorizaccedilatildeo da imagem dos falantes) e delicadeza

negativa (estrateacutegias de evitaccedilatildeo dos actos ameaccediladores) (Brown e Levinson 1987 61) O ato de

cortesia exige um adequado trabalho de figuraccedilatildeo na interacccedilatildeo e a descortesia revela a emoccedilatildeo

na interacccedilatildeo e um forte ldquoenvolvimento conversacionalrdquo dos interlocutores no contexto

interaccional A indelicadeza distingue-se da rudeza Como refere Marina Terkourafi (2008)45

na rudeza o locutor tem a intenccedilatildeo deliberada de ameaccedilar a face enquanto na indelicadeza natildeo

haacute essa intenccedilatildeo deliberada A descortesia para efeitos da nossa anaacutelise envolve comportamento

comunicativo que causa a ofensa ou a ldquoperda da facerdquo de um alvo ou interpretado como alvo

(Almeida 2013 61)

311 Rituais verbais na abertura do Programa

Analisar uma interacccedilatildeo verbal como praacutetica sociodiscursiva situada historicamente eacute

investigar de que maneira as pessoas utilizam e o que fazem com as palavras ao se envolverem

em actividades quotidianas mediadas pela linguagem Para que isso ocorra eacute necessaacuterio observar

as regularidades e consistecircncias que moldam as praacuteticas sociais e seus geacuteneros dentro das

comunidades discursivas analisando os seus propoacutesitos comunicativos as diversas relaccedilotildees

interpessoais de poder e de interesses estabelecidas suas estrateacutegias discursivas tendentes ao

equiliacutebrio relacional ou para a preservaccedilatildeo das faces dos interactantes

No programa ldquoPontos de Vistardquo os interlocutores no processo conversacional

estabelecem uma relaccedilatildeo dialoacutegica em que ambos adaptam continuamente suas enunciaccedilotildees agraves

necessidades do Outro e do contexto em que se desenrolam Assim cada acto de fala influi

directamente no desenvolvimento sucessivo da interacccedilatildeo determinando as futuras acccedilotildees dos

interlocutores no evento comunicacional uma troca verbal que se preza pela manutenccedilatildeo de

acordos firmados atraveacutes de contiacutenuas negociaccedilotildees

O geacutenero discursivo ldquoPontos de Vistardquo configura portanto uma relaccedilatildeo discursiva

assimeacutetrica uma vez que os papeacuteis dos interlocutores satildeo distintos A assimetria interaccional

relaciona-se natildeo soacute com as funccedilotildees dos interlocutores na situaccedilatildeo comunicativa mas

45 Citado por Almeida (2013 61)

214

principalmente com seus papeacuteis sociais e suas caracteriacutesticas individuais JL eacute o jornalista que

modera a conversa enquanto ao FL neste contexto cabe-lhe a missatildeo de analisarcomentar os

assuntos propostos Embora revestidos de um papel distinto e institucionalizado tambeacutem

organizam criteriosamente o seu discurso com um ldquograu de ritualizaccedilatildeordquo verbal ao serviccedilo de

equiliacutebrio relacional parte integrante do trabalho de figuraccedilatildeo46 (ou ldquoface workrdquo) (Goffman

1974) dos comportamentos de interacccedilatildeo

A ritualizaccedilatildeo das praacuteticas discursivas revela-se como um saber de uma ldquopoliacutetica de uma

conversaccedilatildeordquo (Gumperz 1989 128) que determina o que os interactantes dizem em funccedilatildeo da

situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo na qual a cortesia se reveste de grande importacircncia na gestatildeo da relaccedilatildeo

instituiacuteda na interacccedilatildeo (Almeida 2009 46) O L1 eacute responsaacutevel pela abertura moderaccedilatildeo e

fecho do programa ele introduz novos assuntos formula perguntas controla e orienta a

interacccedilatildeo e decide pela mudanccedila de toacutepicos Estando integrado em todas as culturas como

componente verbal de interacccedilatildeo social o programa abre atraveacutes de uma saudaccedilatildeo para pocircr em

contacto os telespectadores conforme podemos observar no excerto seguinte

JL Muito boa noite (hellip) hoje vamos analisar as mexidas no Governo com

mudanccedila do Ministro da Educaccedilatildeo Cultura e Desenvolvimento Humano sua

nomeaccedilatildeo para Reitor da Universidade Pedagoacutegica (UP) A nomeaccedilatildeo de um

novo vice-ministro dos Recursos Minerais e Energia no caso eacute novo e uacutenico

pois natildeo havia neste ministeacuterio um vice-ministro Seria apenas um ministro

substituiacutedo entatildeo pela ministra Letiacutecia Como se sabe o Presidente reforccedila este

ministeacuterio com um vice-ministro quase dois anos depois da formaccedilatildeo deste

Governo Estes vatildeo ser entatildeo os assuntos de fundo aqui no nosso Programa

(hellip)

As ldquoestrateacutegias de alinhamentordquo possibilitam a retoma de uma intervenccedilatildeo interrompida e a

manutenccedilatildeo do ldquofluxo de progressatildeo temaacuteticardquo (Traverso 1996 apud Almeida 2012 22)

reorientando os rumos discursivos evitando as digressotildeesdivagaccedilotildees temaacuteticas e mantendo a

coerecircncia temaacutetica contribuindo para a manutenccedilatildeo da ordem interaccional da conversaccedilatildeo

46 A ldquofiguraccedilatildeordquo ou ldquotrabalho de face (face-work)rdquo ndash relativa a tudo o que uma pessoa empenha para que suas acccedilotildees

natildeo faccedilam ningueacutem perder a face incluindo ela proacutepria ndash estaacute ligada agrave noccedilatildeo de ldquoritualizaccedilatildeordquo das actividades

discursivas (Goffman 197417) O autor fundamenta o trabalho de figuraccedilatildeo ldquoEu emprego o termo ritual porque

se tratam de actos cuja componente simboacutelica serve para demonstrar o quanto a pessoa que age eacute digna de respeito

ou quanto ela estima que os outros satildeo dignos delerdquo (idem p21)

215

Estes fenoacutemenos denotam um forte ldquoenvolvimento conversacionalrdquo dos participantes nas trocas

discursivas

JL Vamo-nos situar para o primeiro assunto que elegemos para esta noite

Como dissemos houve mudanccedilas ao niacutevel do Governo duas pedras foram

mexidas uma a sair e outra a entrar Vamos comeccedilar por falar do Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo um dos ministros mais activos e diria mais reluzentes deste Governo

sai sai no final de uma forma muito espraia e parece muito suacutebita do Governo

e regressa para academia o que eacute que lhe parece esta mudanccedila para Jorge

Ferratildeo

Os alinhamentos muacutetuos dos participantes atraveacutes das trocas pergunta-resposta ou seja o

ldquoenquadramento de participaccedilatildeordquo (Schiffrin 1993 255 apud Almeida 2012 22) guiam os

interlocutores no seu trabalho e as intervenccedilotildees ocupam uma ldquosintagmaacutetica conversacionalrdquo

(Kerbrat-Orecchioni 1998 196) sendo que a coerecircncia natildeo se inscreve apenas ao niacutevel do

toacutepico (mantendo a continuidade referencial) mas tambeacutem em relaccedilatildeo agrave organizaccedilatildeo sequencial

da interacccedilatildeo respeitando a vez de elocuccedilatildeo e analisando as intervenccedilotildees que possibilitam o

entrelaccedilamento da vez de elocuccedilatildeo

Assim a interacccedilatildeo verbal eacute regida por regras e convenccedilotildees que determinam a

estruturaccedilatildeo da conversa em trecircs macro-momentos como saudaccedilatildeo empenhamento temaacutetico e

despedida As rotinas linguiacutesticas de abertura e de fecho revelam-se instrumentos de cortesia

Constituem meios para reduzir o risco da ameaccedila da face (Laver 1989 289 apud Almeida 2012

112) O elevado niacutevel de padronizaccedilatildeo social que caracteriza a abertura e o encerramento

conversacionais ocorre dentro das normas interaccionais envolvidas na situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo

e encontra a sua explicaccedilatildeo no tratamento dos actos ameaccediladores das faces - FTArsquos - face

threatening acts - (Brown e Levinson 1987)

312 A descortesia atraveacutes de actos de valorizaccedilatildeo da face como

forma de persuasatildeo

Os papeacuteis desempenhados pelos interlocutores na conversaccedilatildeo satildeo assimeacutetricos O L1 faz

perguntas e L2 tem o papel de responder em conformidade com a questatildeo como podemos

observar nas sequecircncias abaixo

216

[(hellip) um dos ministros mais activos e diria mais reluzentes deste Governo sai

sai no final de uma forma muito espraia e parece muito suacutebita do Governo e

regressa para academia]asserccedilatildeo [o que eacute que lhe parece esta mudanccedila para

Jorge Ferratildeo]Pergunta

De acordo com Gumperz as pistas de contextualizaccedilatildeo as pressuposiccedilotildees e inferecircncias

satildeo relevantes na interpretaccedilatildeo de qualquer discurso pelos interlocutores e contribuem na

construccedilatildeo do significado O L1 realiza um acto de valorizaccedilatildeo da face do Ministro exonerado

natildeo obstante natildeo se conheccedilam os criteacuterios convocados para o avaliar ou comparar aos outros

ministros do Governo actual O uso da asserccedilatildeo avaliativa de valor axioloacutegico positivo um dos

ministros mais activos e diria mais reluzentes deste Governo que apresenta um item

intensificador ldquomaisrdquo e os adjectivos ldquoactivosrdquo e ldquoreluzentesrdquo permitem a forte valorizaccedilatildeo da

face do Professor Ferratildeo Esta estrateacutegia discursiva pode causar discordacircncia entre os

admiradores das qualidades do Professor e os opositores da decisatildeo tomada indicia portanto

uma solidariedade de L2 em relaccedilatildeo agrave contraposiccedilatildeo da decisatildeo tomada pelo Presidente Eacute um

acto de descortesia porque limita a liberdade de posiccedilatildeo e ameaccedila a face do interactante O

locutor podia espevitar melhor a opiniatildeo do seu interlocutor se evitasse um comentaacuterio que

revela explicita ou implicitamente a sua posiccedilatildeo

O L1 realiza um ato directivo directo precedido de uma construccedilatildeo assertiva com

objectivo de conduzir o L2 a reagir segundo o que lhe eacute pedido o que eacute que lhe parece esta

mudanccedila para Jorge Ferratildeo A formulaccedilatildeo da ldquointerrogativa totalrdquo (Mateus et al 2003)

esperaria da parte do L2 uma resposta afirmativa ou negativa A resposta afirmativa a esta

interrogativa podia ser ldquofoi uma boaexcelente decisatildeo ou uma maacutepeacutessima decisatildeordquo seguido da

expressatildeo ldquoa mudanccedila de Jorge Ferratildeordquo mas o interlocutor infere a intenccedilatildeo e reage num tom

emocionado

FL Bem Jeremias eu estou atoacutenito estou atoacutenito eu estou como aqueles

espectadores que quando satildeo perguntados para comentar alguma coisa dizem

ldquoestou sem palavrasrdquo Esta deveria ser de facto a minha posiccedilatildeo estou sem

palavras com o afastamento de Jorge Ferratildeo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo mas

natildeo satildeo conhecidos os motivos pelos quais um dos ministros que quanto a mim

tentou inovar tentou fazer coisas novas tentou levantar um debate nacional

sobre questotildees tatildeo prementes do nosso sistema educativo nomeadamente a

questatildeo da qualidade Estava a tentar fazer um trabalho estruturante neste

217

sector e eacute assim tirado deste cargo aliaacutes presumo que o Jeremias tal como eu

tenha o seu telemoacutevel cheio de mensagens de incredulidade de centenas de

moccedilambicanos que natildeo percebem por que eacute que este ministro foi afastado

Em diferentes contextos de uso linguiacutestico a minimizaccedilatildeo de expressotildees descorteses deve

ser mais evidente quando haacute uma relaccedilatildeo de poder do alocutaacuterio sobre o locutor ou quando haacute

uma grande distacircncia social entre eles bem como quando se trata de um referente com um papel

social reconhecido universalmente Agrave semelhanccedila do L1 o comentador realiza um acto de

valorizaccedilatildeo da face do Professor Ferratildeo atraveacutes da sequecircncia de justificaccedilatildeo (Lopes 2009) tiacutepica

da relaccedilatildeo de coerecircncia do discurso argumentativo que se processa entre blocos enunciativos

conclusatildeo e argumento organizados segundo uma ordem regressiva (Marques 2010 296)

Veja-se o enunciado

ndash [() estou sem palavras com o afastamento de Jorge Ferratildeo do Ministeacuterio

da Educaccedilatildeo]conclusatildeo [mas natildeo satildeo conhecidos os motivos pelos quais um dos

ministros que quanto a mim tentou inovar tentou fazer coisas novas tentou

levantar um debate nacional sobre questotildees tatildeo prementes do nosso sistema

educativo nomeadamente a questatildeo da qualidade]argumento

O L2 usa uma estrateacutegia de cortesia negativa para salvaguardar a sua imagem diante dos

telespectadores presumo que o Jeremias tal como eu tenha o seu telemoacutevel cheio de mensagens

de incredulidade de centenas de moccedilambicanos que natildeo percebem por que eacute que este ministro

foi afastado FL entende que estaacute a exteriorizar o sentimento de muitos compatriotas incluindo o

do moderador do Programa Esta eacute uma estrateacutegia discursiva de mitigaccedilatildeo dos efeitos da ameaccedila

da sua face e de promoccedilatildeo da credibilidade do seu argumento desfavoraacutevel agrave decisatildeo tomada A

convocaccedilatildeo das vozes diferentes para alicerccedilar o seu discurso inscreve-se na ldquopolifoniardquo

discursiva uma estrateacutegia usada pelos falantes para conferir argumento de autoridade uma vez

reconhecer que a informaccedilatildeo dada desconfortaria algumas pessoas que estivessem a acompanhar

o Programa O L2 apresenta deste modo um discurso agoniante de ameaccedila agraves faces de

Presidente responsaacutevel pela sua exoneraccedilatildeo do cargo de Ministro e da sua nomeaccedilatildeo para Reitor

da UP esta Instituiccedilatildeo com a imagem conspirada pelo discurso do comentador

218

[Noacutes estamos muito quente47 a comentar a saiacuteda deste Ministro certamente

que nos proacuteximos dias haveraacute muito mais de explorar (hellip) A educaccedilatildeo eacute um

sector vital e matarmos48 uma pessoa que tem trabalho feito na educaccedilatildeo

mostrou que tinha comprometimento com a educaccedilatildeo natildeo eacute natildeo me parece

muito interessante]argumentos orientados agrave tese seguinte[Eu acho que claramente o

Presidente andou muito mal nesta exoneraccedilatildeo (hellip)]conclusatildeotese

Para compreender a interacccedilatildeo conversacional eacute necessaacuterio ver por um lado de que

modo um ato de discurso se relaciona com os outros na conversaccedilatildeo e por outro eacute importante

natildeo soacute compreender as relaccedilotildees entre actos de discurso em diferentes movimentos como

tambeacutem considerar as relaccedilotildees entre os actos no mesmo movimento (Holdcroft 1992 apud

Almeida 2012 38) Neste acircmbito a estrutura argumentativa desencadeia ldquopistas de

contextualizaccedilatildeordquo utilizadas pelos interlocutores (Gumperz 1989) o que facilita a compreensatildeo

dos actos verbais actualizados O locutor tomado pela emoccedilatildeo apresenta actos verbais

descorteses com recurso a expressotildees que ameaccedilam fortemente a face da entidade que decidiu

exonerar o Ministro cujas qualidades satildeo fortemente exaltadas Eacute visto como um profissional

criativo sagaz inovador e aberto para consultas sobre os problemas da educaccedilatildeo (esta sequecircncia

constitui um acto de valorizaccedilatildeo da face) Desconfortado e perplexo com a decisatildeo tomada o L2

apresenta um comportamento de desespero por natildeo poder contar mais com a colaboraccedilatildeo do

Professor Ferratildeo a dedicar as suas energias experiecircncias e os seus conhecimentos na busca

incessante de soluccedilotildees para os problemas da educaccedilatildeo

O uso da expressatildeo ldquomatarmos uma pessoardquo ao serviccedilo da criacutetica incisiva ameaccedila

intensamente a face do Presidente acusado de ter tomado uma decisatildeo infeliz e constitui um acto

de descortesia A afirmaccedilatildeo de que ldquoo Presidente andou muito mal na exoneraccedilatildeordquo constitui

estrateacutegia de desvalorizaccedilatildeo agressiva do outro uma indelicadeza discursiva que resulta de uma

anaacutelise focalizada na saiacuteda de Ferratildeo do Ministeacuterio sem reflectir na intenccedilatildeo da sua nomeaccedilatildeo

para Reitor pelo Presidente A sagacidade e o comprometimento do exonerado com a educaccedilatildeo

podem ser importantes na UP dado que esta Instituiccedilatildeo natildeo eacute excluiacuteda quando se reflecte sobre a

educaccedilatildeo em Moccedilambique natildeo soacute por ser uma Instituiccedilatildeo do Ensino Superior como tambeacutem

pela sua vocaccedilatildeo de formar quadros superiores (professores gestores etc) para servirem a

47 O termo ldquoquenterdquo foi usado como extensatildeo semacircntica por meio da metaacutefora conceptual No contexto vertente do

uso assume o sentido de ldquopreocupado impacienterdquo 48 Item tambeacutem usado como extensatildeo semacircntica com sentido sacrificar ofuscar destruir o brio profissional do Dr

Jorge Ferratildeo

219

educaccedilatildeo No entanto ameaccedila em contrapartida a face do locutor que natildeo soube usar

adequadamente padrotildees estabelecidos pela etiqueta social natildeo suavizou a criacutetica com intuito de

assegurar relativa harmonia na interacccedilatildeo social O interactante parece ignorar que as faces a sua

e a do alvo da censura satildeo vulneraacuteveis isto eacute satildeo passiacuteveis de serem ameaccediladas Enfim este

juiacutezo de desvalorizaccedilatildeo funciona como estrateacutegia discursiva de intensificaccedilatildeo da ameaccedila agrave face e

eacute uma forma de descortesia

313 A cortesia e solidariedade linguiacutestica no ldquocerne das estrateacutegias de

argumentaccedilatildeo discursivardquo

O Professor Jorge Ferratildeo foi exonerado do posto de Ministro da Educaccedilatildeo e

Desenvolvimento Humano atraveacutes de um despacho presidencial datado de 24 de Novembro e

passou a assumir a pasta de Reitor da UP de Moccedilambique O L1 reorientou o debate focalizado

para a nova atribuiccedilatildeo de Ferratildeo

L1 Permita-me encerrar esta vertente e olhar para a UP Jorge Ferratildeo eacute

nomeado para Reitor da UP portanto o regresso dele agrave academia Aconteceu

um processo eleitoral dentro da Universidade Pedagoacutegica que culminou com

a selecccedilatildeo daqueles trecircs nomes num processo de votaccedilatildeo num processo

democraacutetico (hellip) quando o Presidente pode ignorar a vontade democraacutetica

destas instituiccedilotildees e nomear quem ele quiser este debate este velho debate o

reitor de uma universidade eacute uma extensatildeo de poder executivo de poder

poliacutetico ou do acircmbito acadeacutemico

Mais uma vez o L1 usa uma estrateacutegia de descortesia ao revelar a sua posiccedilatildeo face agrave

nomeaccedilatildeo para Reitor procurando influenciar o analista A Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica na sua

aliacutenea c) do nuacutemero 2 refere que compete ao Presidente da Repuacuteblica no domiacutenio do Governo

nomear exonerar e demitir os reitores e vice-reitores das universidades estatais sob proposta dos

respectivos colectivos de direcccedilatildeo nos termos da lei Na verdade houve eleiccedilotildees para se

encontrar um reitor que sucederia o Professor Rogeacuterio Uthui O colectivo da UP apresentou trecircs

nomes de candidatos melhor posicionados no escrutiacutenio Um dos nomes seria alvo de nomeaccedilatildeo

por parte do Presidente da Repuacuteblica (PR) de Moccedilambique No entanto ele nomeou o Professor

Jorge Ferratildeo para o cargo de Reitor Este antes da sua nomeaccedilatildeo para o MInisteacuterio da Educaccedilatildeo

e Desenvolvimento Humano tinha sido Reitor da Uniluacuterio uma Instituiccedilatildeo do Ensino Superior

220

onde despertou as suas qualidades de gestatildeo O nomeado natildeo se tinha candidatado nem

participado do processo de eleiccedilatildeo o que desvaloriza a vontade democraacutetica da Instituiccedilatildeo e lesa

sobremaneira a separaccedilatildeo de poderes entre a academia e a poliacutetica retira a autonomia das

Instituiccedilotildees do Ensino Superior e faz com que os criteacuterios de nomeaccedilatildeo sejam subjectivos Nesse

sentido o L2 reage nos seguintes termos

L2 Em primeiro lugar eu acho que a academia tem que ter mais liberdade e

tem que ter muito mais independecircncia e este processo de selecccedilatildeo de votaccedilatildeo

dos candidatos poderem ser votados e escolhidos no seio da academia eacute um

processo que encerra em si esta nuance de democracia

Segundo Marques (2008) no campo da argumentaccedilatildeo o efeito perlocutoacuterio visado por

um determinado protagonista prende-se basicamente com o acto de convencer o seu antagonista

da justeza do ponto de vista defendido Assim a relaccedilatildeo de refutaccedilatildeo processa-se por meio de

diferentes operaccedilotildees de cariz linguiacutestico que funcionando no domiacutenio metadiscursivo

desenvolvem uma acccedilatildeo de argumentaccedilatildeo negativa que procura invalidar a posiccedilatildeo alheia a de

conferir a legalidade da decisatildeo tomada

O Presidente natildeo estaacute a fazer nada de ilegal mas de algum modo corta este

filme ou seja na proacutexima vez ningueacutem se vai importar muito com estes

processos ou seja estamos aqui a fazer um exerciacutecio esteacuteril um exerciacutecio para

dizer que haacute democracia para que no fim do dia o chefe eacute quem nomeia o chefe

eacute quem decide (hellip) natildeo me parece uma coisa muito interessante

O L2 recorre agrave cortesia e solidariedade linguiacutestica no ldquocerne das estrateacutegias de

argumentaccedilatildeo discursivardquo (Marques 2008 294) Um contra-argumento questiona a

aceitabilidade da possiacutevel posiccedilatildeo alheia referente agrave legalidade da decisatildeo tomada depois de uma

encenaccedilatildeo ou de um exerciacutecio ingloacuterio de eleiccedilotildees Esta operaccedilatildeo linguiacutestica tem como objectivo

invalidar modestamente as vozes concordantes centra-se mais na refutaccedilatildeo indirecta tanto da

conclusatildeo alheia como do argumento alheio O objectivo desta estrateacutegia discursiva passa

evidentemente pela refutaccedilatildeo do argumento do Outro para num segundo plano se sustentar o

argumento do locutor atraveacutes de um acto de ameaccedila da face do Presidente O acto de asserccedilatildeo

avaliativa por parte do L2 constitui uma estrateacutegia argumentativa para fragilizar uma verdade

geral (uma doxa) partilhada pelo puacuteblico que eacute reorientada a uma nova tese de natildeo ser

221

interessante que o PR nomeie reitores sem tomar em consideraccedilatildeo a opiniatildeo do Conselho

Universitaacuterio o que possibilitaria a construccedilatildeo de consenso e reduziria a responsabilidade

pessoal do Presidente

314 A emoccedilatildeo e a retoacuterica de denigrir como estrateacutegia de justificaccedilatildeo

Do ponto de vista discursivo a expressatildeo da emoccedilatildeo pode ser perspectivada atraveacutes das

ldquoestrateacutegias discursivasrdquo (Gumperz 1989) usadas ldquono envolvimento conversacionalrdquo (Goffman

1967) Num tom poleacutemico o L2 que natildeo eacute a favor da passagem do Professor Ferratildeo para a UP

expressa de forma descortecircs o seu inconformismo ou desconsolo face agrave sua mudanccedila do sector

em que estava a desenvolver um bom trabalho para uma universidade com problemas conforme

podemos entender no excerto

A pessoa sai de ministro para ser reitor de uma universidade E que

universidade Esta eacute a universidade que tem o oacutenus de ter passado mais

diplomas administrativos que haacute neste paiacutes mas uma universidade que nem

sequer disciplina os seus licenciados para usarem as suas verdadeiras

credenciais ou seja uma pessoa formada para dar aulas de psicologia chama-

se a ele proacuteprio de psicoacutelogo um professor formado em geografia chama-se a

si proacuteprio geoacutegrafo o que eacute que eacute isto Eacute esta universidade que agora foi dada

ao Doutor Jorge Ferratildeo para dirigir

Para aleacutem de orientar a seu favor uma situaccedilatildeo interlocutiva ameaccediladora da sua face

nesta sequecircncia discursiva o locutor realiza actos ameaccediladores da face ldquoFace Threatening Actrdquo

quer do PR quer da UP Esta estrateacutegia argumentativa ameaccedila por um lado a face positiva do

locutor uma vez que se trata de um comportamento autodegradante pois se os telespectadores e

outras entidades natildeo se simpatizarem com a informaccedilatildeo dada pode ter autodegradaccedilatildeo da sua

face (a sua imagem puacuteblica) que seraacute alvo de julgamento desfavoraacutevel Por outro se o

diagnoacutestico for real ao inveacutes de ameaccedilar valida a posiccedilatildeo do PR de apostar por este homem

reluzente activo e capaz de dar uma dinacircmica diferente agrave UP Ainda usa uma estrateacutegia

ameaccediladora para denegrir a face desta Instituiccedilatildeo com 30 anos de existecircncia no Paiacutes um

comportamento exemplificativo da ausecircncia de cortesia na interacccedilatildeo verbal evidenciado pelos

actos expressivos natildeo comedidos e natildeo abonatoacuterios para a imagem do comentador de um

programa televisivo com maior auditoacuterio como eacute o caso de ldquoPontos de Vistardquo Conveacutem salientar

que na verdade natildeo eacute o tempo que determina a qualidade a indicaccedilatildeo de tempo do

222

funcionamento desta Instituiccedilatildeo visa apenas chamar atenccedilatildeo para o facto de ser uma instituiccedilatildeo

que tenha produzido muitos quadros integrados em diferentes sectores laborais

A argumentaccedilatildeo eacute ldquoum esquema de acccedilatildeordquo e permite ldquoa construccedilatildeo de expectativas

muacutetuas partilhadasrdquo que possibilitam a realizaccedilatildeo de inferecircncias a partir do que eacute dito na

interacccedilatildeo (Almeida 2012 67) isto eacute funciona na base de ldquopistas de contextualizaccedilatildeordquo

(Gumperz 1989) Decorrente disso a criacutetica generalizada (e natildeo mitigada para a evitaccedilatildeo de

conflitos na interacccedilatildeo) da ldquoseriedade institucionalrdquo constitui uma estrateacutegia discursiva de

intensificaccedilatildeo da ameaccedila das faces um mecanismo discursivo de desvalorizaccedilatildeo de muitos

quadros graduados por esta Universidade incluindo o Jornalista Jeremias Langa que fez a sua

licenciatura e mestrado nesta Instituiccedilatildeo Satildeo quadros que dedicam as suas energias os seus

conhecimentos e as suas experiecircncias em muitos sectores em prol do desenvolvimento do Paiacutes

32 Incoerecircncia no raciociacutenio argumentativo

O Professor Jorge Ferratildeo foi nomeado como Reitor da UP uma instituiccedilatildeo de ensino

vocacional cuja missatildeo estatutaacuteria eacute a formaccedilatildeo superior de professores para todos os niacuteveis de

ensino e de outros profissionais para a aacuterea de educaccedilatildeo e afins a pesquisa e extensatildeo Nesse

sentido para aleacutem da sua funccedilatildeo instrumental na disseminaccedilatildeo de conhecimento para a

transformaccedilatildeo da sociedade moccedilambicana rumo ao desenvolvimento social cultural e

tecnoloacutegico a UP atraveacutes dos seus pesquisadores diagnostica as fragilidades no sistema

educativo e por fim apresenta propostas terapecircuticas para a melhoria da qualidade de educaccedilatildeo

em Moccedilambique ou seja o trabalho da UP ocorre ao serviccedilo da educaccedilatildeo

O Professor Jorge Ferratildeo enquanto Ministro da Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano

teve a oportunidade de conhecer os problemas que afectam o ensino em Moccedilambique um dos

quais tem que ver com a formaccedilatildeo humana e teacutecnica dos professores Essa formaccedilatildeo encontra

maior espaccedilo na UP pois o Ministro da Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano recebe os

graduados desta Instituiccedilatildeo Na linha das fragilidades o L2 usa uma estrateacutegia de descortesia

pois realiza um acto ilocutoacuterio assertivo (Searle 1972) ndash ldquoesta eacute a universidade que tem o oacutenus

de ter passado mais diplomas administrativos que haacute neste paiacutesrdquo - que ameaccedila intensamente as

faces com objectivo de sustentar o seu desacordo em relaccedilatildeo agrave nomeaccedilatildeo do novo reitor Perante

os cenaacuterios apresentados natildeo se justifica a objecccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave nomeaccedilatildeo do Professor Jorge

Ferratildeo para Reitor da UP Os argumentos convocados natildeo legitimam a proposiccedilatildeo de que a sua

nomeaccedilatildeo foi mal feita pelo PR Pelo contraacuterio o reconhecimento de que o Professor Ferratildeo eacute

um acadeacutemicoliacuteder carismaacutetico cujas qualidades (satildeo perceptiacuteveis de forma expliacutecita ou

223

impliacutecita atraveacutes do uso de expressotildees com valor axioloacutegico positivo um homem visionaacuterio

criativo reluzente activo corajoso sagaz) justificam a sua nomeaccedilatildeo para ajudar a UP a

melhorar a sua imagem puacuteblica

4 Conclusotildees

Com este trabalho procuramos demonstrar de que forma as estrateacutegias discursivas se

manifestam na interacccedilatildeo entre interlocutores Analisamos a configuraccedilatildeo de rituais verbais as

estrateacutegias de descortesia e a incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV As

sequecircncias discursivas do ldquoPontos de Vistardquo analisadas evidenciam situaccedilotildees de ameaccedila das

faces tendo em conta o valor social positivo que as pessoas reivindicam Os interlocutores natildeo

conseguem evitar a vulnerabilidade das faces jaacute que usam estrateacutegias discursivas invasivas ou

comprometedoras na perspectiva de que os outros possam entender o seu discurso Para o L2 a

intenccedilatildeo deliberada de ataque da imagem de outro ou outros manifesta-se ritualmente de forma

descortecircs e os argumentos perfilados na interacccedilatildeo natildeo satildeo coerentes com a tese defendida a de

que ldquoo Presidente andou muito mal na exoneraccedilatildeo do Professor Ferratildeo do MINEDH e na sua

nomeaccedilatildeo para Reitor da UPrdquo provavelmente sejam as boas qualidades demonstradas pelo

Professor Jorge Ferratildeo nas instituiccedilotildees onde trabalhou como gestor que justificaram a sua

nomeaccedilatildeo para ajudar a UP a melhorar a sua imagem puacuteblica

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226

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Os artigos enviados devem estar enquadrados dentro dos preceitos da eacutetica na pesquisa em

educaccedilatildeo Em caso de existir algum conflito de interesses a responsabilidade eacute exclusivamente

do autor do artigo

Envio do artigo

- O artigo deve ser enviado em formato Word

- O nome do autor e os seus dados de identificaccedilatildeo natildeo devem aparecer no corpo do artigo

- Todos os dados de identificaccedilatildeo do autor deveratildeo ser digitados no espaccedilo apropriado da paacutegina

de submissatildeo do artigo O autor teraacute de fazer uma breve descriccedilatildeo dos seus dados acadeacutemicos e

profissionais (no maacuteximo 3 linhas)

Processo de aprovaccedilatildeo do artigo

Compete a Comissatildeo Editorial

- Aceitar integralmente o artigo

- Recusar o artigo para efeitos de publicaccedilatildeo na Revista UDZIWI (isto acontece quando os

trabalhos estatildeo fora dos requisitos editoriais)

- Recomendar se necessaacuterio melhorias ao texto para posterior avaliaccedilatildeo

- Enviar as propostas de melhoria do texto ao autor e posterior reenvio do artigo jaacute reformulado

aos mesmos avaliadores

Soacute satildeo publicados artigos aprovados pela Comissatildeo Editorial

227

Sobre o artigo

1 O artigo deve integrar o seguinte

- Tiacutetulo do artigo (natildeo pode ultrapassar 10 palavras caso isso aconteccedila tem que ser criado um

subtiacutetulo)

- Subtiacutetulo (se houver)

- Resumo apresentado em Portuguecircs Inglecircs Espanhol Francecircs ou uma liacutengua nacional escrito

a tamanho de letra 11 e espaccedilo simples com o maacuteximo de 250 palavras e com indicaccedilatildeo de

palavras-chave (4 a 5 palavras-chave) Artigos escritos em Portuguecircs Espanhol Francecircs ou

numa liacutengua nacional devem apresentar resumo em Inglecircs Artigos escritos em Inglecircs devem

apresentar resumo em Portuguecircs O resumo natildeo pode ter enumeraccedilatildeo de toacutepicos e deve-se evitar

ao maacuteximo fazer citaccedilotildees no resumo No resumo apresenta-se o objecto e objectivos do estudo a

metodologia os principais resultados e as conclusotildees e sugestotildees

- Caso haja agradecimentos estes satildeo feitos junto ao tiacutetulo e em nota de rodapeacute natildeo se

admitindo qualquer referecircncia agrave autoria do texto

- Depois do resumo segue-se a Introduccedilatildeo Desenvolvimento Conclusatildeo e Referecircncias

Bibliograacuteficas (apenas o que foi referenciadocitado no texto)

- Os quadros tabelas e figuras que constem do trabalho devem estar em formato editaacutevel Todas

as imagens devem ser apresentadas em formato JPG permitindo ampliar ou reduzir o seu

tamanho sem prejuiacutezo

- As citaccedilotildees com mais de 3 linhas devem ter um recuo de 4cm na margem esquerda sem aspas

e em tamanho 11

2 A apresentaccedilatildeo dos artigos cientiacuteficos deve obedecer aos seguintes requisitos

a O texto deve ter no miacutenimo 10 e no maacuteximo 20 paacuteginas Se for necessaacuterio ultrapassar as

20 paacuteginas eacute necessaacuterio contactar com a Comissatildeo Editorial

b A revisatildeo linguiacutestica eacute da competecircncia do autor

c O tipo de letra deve ser Times New Roman

d A fonte deve ser 12

e O espaccedilamento entre linhas deve ser 15

f Devem ser usadas as seguintes margens

Margem superior 3 cm

228

Margem inferior 2 cm

Margem esquerda 3

Margem direita 2 cm

3 As referecircncias bibliograacuteficas devem ser apresentadas da seguinte forma

Apelido do autor

Nome do autor

Tiacutetulo do documento (em itaacutelico)

Ediccedilatildeo (primeira ediccedilatildeo natildeo se coloca)

Local de publicaccedilatildeo

Editora

Ano de publicaccedilatildeo

Exemplos

AUAREK Wagner NUNES Ceacutelia e PAULA Maria Joseacute ldquoPesquisa e formaccedilatildeo com

professores contribuiccedilotildees de estudos da narrativardquo In SOUZA Joatildeo DINIZ Margareth e

OLIVEIRA Miacuteria (orgs) Formaccedilatildeo de professores (as) e condiccedilatildeo docente Belo

Horizonte Editora UFMG 2014 (pp 120-132)

DUARTE Stela et al Progressatildeo por ciclos de aprendizagem no Ensino Baacutesico desafios na

mudanccedila do paradigma de avaliaccedilatildeo Maputo INDE e Editora Educar-UP 2012

MACHAVA Abiacutelio A poliacutetica e a praacutetica da avaliaccedilatildeo da aprendizagem no terceiro ciclo do

Ensino Baacutesico um estudo de caso na Escola Primaacuteria Completa de Matola-Gare

Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Formaccedilatildeo de Formadores Maputo Universidade Pedagoacutegica

2014 (natildeo publicado)

MONDLANE Eduardo Lutar por Moccedilambique Maputo Centro de Estudos Africanos 1995

NOTA Juvecircncio Algumas dificuldades praacuteticas no trabalho com a sexualidade humana em

sala de aulas nas escolas do ensino primaacuterio na cidade de Maputo-Moccedilambique UDZIWI

- Revista de Educaccedilatildeo da UP Nordm 22 Junho de 2015 (pp 4-21) In

htppswwwupacmzcepe Consultado em 14022016

SOARES Wilson ldquoAs memoacuterias de um grupo de professores aposentados sobre suas formaccedilotildees

e as praacuteticas pedagoacutegicas em Rondonoacutepolis ndash MTrdquo Revista Interfaces Cientiacuteficas ndash

Educaccedilatildeo Aracaju V 2 Nordm 2 Fev 2014 (pp 37-46) In httpperiodicossetedubr

Consultado em 15012016

Page 2: Ano VIII, Número 27, Julho - 2017

2

Equipa Editorial

Direcccedilatildeo Directora - Stela Mithaacute Duarte Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Director-Adjunto - Feacutelix Singo Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Comissatildeo Editorial

Daniel Dinis da Costa Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Juliano Neto de Bastos Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Geraldo Deixa Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Suzete Lourenccedilo Buque Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Benvindo Maloa Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Conselho Editorial

Adelino Chissale Universidade S Tomaacutes de Moccedilambique

Alberto Graziano Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Argentil do Amaral Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Azevedo Nhantumbo Universidade Eduardo Mondlane Moccedilambique

Begontildea Vitoriano Villanueva Universidade Complutense de Madrid

Camilo Ussene Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Carla Maciel Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Crisalita Djeco Funes Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Cristina Tembe Universidade Eduardo Mondlane Moccedilambique

Daniel Agostinho Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Elizabeth Macedo Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Feacutelix Mulhanga Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Francisco Maria Januaacuterio Universidade Eduardo Mondlane Moccedilambique

Gil Gabriel Mavanga Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Isaac Paxe Instituto Superior de Ciecircncias de Educaccedilatildeo (ISCED) - Luanda Angola

Jefferson Mainardes Universidade Estadual de Ponta Grossa Paranaacute Brasil

Joacute Capece Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Joseacute Manuel Flores Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Joseacute Matemulane Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Laurinda Sousa Ferreira Leite Universidade do Minho Portugal

Lourenccedilo Cossa Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Manuel Guro Universidade Eduardo Mondlane Moccedilambique

Maria Cristina Villanova Biazus Universidade Federal do Rio Grande do Sul Brasil

Marielda Ferreira Pryjma Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Brasil

Nevensha Sing Universidade de Johannesburg Aacutefrica do Sul

Oseacuteias Santos de Oliveira Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Brasil

Rogeacuterio Joseacute Uthui Universidade Pedagoacutegica Moccedilambique

Equipa Teacutencica

Claacuteudia Jovo Universidade Pedagoacutegica (Coordenadora da Equipa Teacutecnica)

Germano Diogo Universidade Pedagoacutegica

Armando Machaieie Universidade Pedagoacutegica

Tiacutetulo UDZIWI Revista de Educaccedilatildeo da Universidade Pedagoacutegica

Periodicidade Semestral

Propriedade Centro de Estudos de Poliacuteticas Educativas (CEPE) da Universidade Pedagoacutegica de

Moccedilambique (UP) de Moccedilambique - Maputo

DISP REGordmGABINFO-DEC2008

ISSN 2518-2242

3

Iacutendice Nota Editorial 4

Ensinando alunos do Ensino Meacutedio a pesquisar incertezas que marcaram uma experiecircncia 8

Antoacutenio Sales Lis Regiane Vizolli Favarin Smenia Aparecida da Silva Moura Milene Martins

Ricardo Capiberibe Nunes

O ensino contextualizado e a abordagem curricular de conteuacutedos de Microbiologia em Moccedilambique 20

Manecas Cacircndido Laurinda Leite Briacutegida Singo

Actividades laboratoriais no ensino das Ciecircncias um estudo com os livros escolares e professores de

Biologia da 8ordf classe das escolas da Cidade de Maputo 33

Agnes Clotilde Novela

Livro didaacutectico de Geografia em Moccedilambique passado presente e desafios 52

Stela Mithaacute Duarte

Desafios da formaccedilatildeo de professores por competecircncias no Modelo de 10ordf classe + 3 anos 69

Acircngelo Guiloviccedila Niquice

Percepccedilotildees de professores de Matemaacutetica sobre o uso de calculadoras em salas de aulas 83

Herciacutelio Paulo Munguambe

Reflexatildeo sobre o sistema de progressatildeo por ciclos de aprendizagem 98

Yavalane Sergio Parruque

Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior atribuiccedilotildees causais dos conflitos estudante-docente na Universidade

Pedagoacutegica 111

Faque Tuair Chare

Fracasso escolar um olhar conjunto de alunos professores e pais 124

Arauacutejo Manuel Arauacutejo

A influecircncia das liacutenguas xichangana e cicopi no insucesso escolar - caso dos alunos da 10ordf classe da

Escola Secundaacuteria de Mandlakazi 136

Antoacutenio Domingos Cossa

Jogos recreativos na Cidade de Nampula Os predilectos das crianccedilas das zonas suburbanas 150

Domingos Carlos Mirione

Crescimento somaacutetico e aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede Um estudo em alunos da Cidade da Beira

Moccedilambique 162

Djossefa Joseacute Nhantumbo e Bridgette Simone Bruce-Nhantumbo

Relaccedilatildeo entre a orientaccedilatildeo vocacionalprofissional e qualidade no sistema educativo moccedilambicano 183

Rafael Renaldo Laquene Zunguze

Amorosidade como componente pedagoacutegica 198

Elisabeth Jesus de Souza

ldquoDe Ministro mais activo e mais reluzente do Governo para Reitorrdquo um contributo para o estudo da

configuraccedilatildeo de rituais verbais da descortesia e incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da

STV 210

Acircngelo Ameacuterico Mauai

Normas de publicaccedilatildeo na Revista UDZIWI 226

4

Nota Editorial

Estimados leitores

Este eacute o nuacutemero 27 da Revista Udziwi Revista de Educaccedilatildeo da Universidade Pedagoacutegica

Neste nuacutemero apresentamos um total de 16 artigos

O primeiro artigo Ensinando alunos do Ensino Meacutedio a pesquisar incertezas que

marcaram uma experiecircncia de Antoacutenio Sales Lis Regiane Vizolli Favarin Smenia Aparecida

da Silva Moura Milene Martins Ricardo Capiberibe Nunes apresenta uma experiecircncia

envolvendo a praacutetica de ensinar pela pesquisa numa escola puacuteblica do Ensino Meacutedio no Brasil

relatando dificuldades encontradas no processo e possibilidades de superaacute-las

O segundo artigo de Manecas Cacircndido Laurinda Leite Briacutegida Singo initulado O ensino

contextualizado e a abordagem curricular de conteuacutedos de Microbiologia em Moccedilambique

analisa documentos oficiais que orientam o Ensino Secundaacuterio Geral em Moccedilambique no que

concerne agraves eventuais propostas metodoloacutegicas que apresentam para um ensino contextualizado

de conteuacutedos de Microbiologia nas escolas reflectindo sobre a necessidade da adopccedilatildeo pelas

escolas de tais metodologias fomentado o ensino contextualizado de conteuacutedos de

Microbiologia

O terceiro artigo Actividades laboratoriais no ensino das Ciecircncias um estudo com os

livros escolares e professores de Biologia da 8ordf classe das escolas da Cidade de Maputo da

autoria de Agnes Clotilde Novela tem como objectivo analisar as caracteriacutesticas das Actividades

Laboratoriais (ALs) propostas pelos livros escolares de Biologia da 8ordf Classe as concepccedilotildees e as

representaccedilotildees praacuteticas dos professores sobre a importacircncia e utilizaccedilatildeo destas actividades no

ensino da Biologia Conclui que o tipo de ALs proposto pelos livros analisados em uso nas

escolas e as atitudes e praacuteticas dos professores de Biologia natildeo se relacionam com as

perspectivas defendidas para o uso do laboratoacuterio no ensino das Ciecircncias

O quarto artigo Livro didaacutectico de Geografia em Moccedilambique passado presente e

desafios de Stela Mithaacute Duarte tem como objectivo analisar o processo de desenvolvimento do

livro didaacutectico de Geografia ao longo da Histoacuteria da educaccedilatildeo em Moccedilambique assim como os

actuais desafios sugerindo que eacute necessaacuterio apetrechar melhor as bibliotecas com livros

didaacutecticos e complementares e melhorar a formaccedilatildeo de professores para o uso do livro didaacutectico

de Geografia

5

O quinto artigo de Acircngelo Guiloviccedila Niquice intitulado Desafios da formaccedilatildeo de

professores por competecircncias no Modelo de 10ordf classe + 3 anos apresenta algumas linhas de

reflexatildeo sobre o desafio da transposiccedilatildeo do texto curricular agrave praacutetica docente implementada com

vista a formaccedilatildeo de professores competentes e reflexivos de modo a corresponder aos anseios da

sociedade em relaccedilatildeo agrave qualidade de educaccedilatildeo sugerindo que se trabalhe continuamente com os

formadores de modo a promover praacuteticas pedagoacutegicas inovadoras

O sexto artigo Percepccedilotildees de professores de Matemaacutetica sobre o uso de calculadoras em

salas de aulas de Herciacutelio Paulo Munguambe visa compreender o uso da calculadora identificar as

percepccedilotildees dos professores e propor estrateacutegias do seu uso procurando assim contribuir para a

melhoria da qualidade de ensino da Matemaacutetica O autor sugere a preparaccedilatildeo de professores de

Matemaacutetica no uso de calculadoras em salas de aulas e por via disso garantir-se o seu uso no

Ensino Secundaacuterio Geral do 1ordm Ciclo

O seacutetimo artigo da autoria de Yavalane Sergio Parruque intitulado Reflexatildeo sobre o

sistema de progressatildeo por ciclos de aprendizagem discute este assunto poleacutemico da progressatildeo

no contexto de ensino primaacuterio em Moccedilambique segundo o autor por natildeo permitir a reprovaccedilatildeo

do aluno ao longo do ciclo e por isso serem justificadas as lacunas que os alunos apresentam no

desenvolvimento das competecircncias prescritas nos programas de ensino Constata que alguns dos

problemas existentes satildeo a falta de preparaccedilatildeo dos professores em mateacuteria de avaliaccedilatildeo

formativa o uso abusivo da avaliaccedilatildeo sumativa e a falta de registo das competecircncias dos alunos

O oitavo artigo de Faque Tuair Chare intitulado Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior

atribuiccedilotildees causais dos conflitos estudante-docente na Universidade Pedagoacutegica visa

compreender na perspectiva de estudantes na Delegaccedilatildeo de Nampula os factores que propiciam

a ocorrecircncia dos conflitos entre eles e seus docentes no processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem

sugerindo trabalhos de divulgaccedilatildeo dos regulamentos de avaliaccedilatildeo supervisatildeo das aulas e

sobretudo das avaliaccedilotildees assim como sensibilizar-se ao docente em relaccedilatildeo ao seu perfil

docente como modelo no processo de ensino e aprendizagem

O nono artigo Fracasso escolar um olhar conjunto de alunos professores e pais de

Arauacutejo Manuel Arauacutejo tem como objectivo analisar o problema do fracasso escolar O autor

analisa as causas relativas ao estudante na sala de aula na escola e fora dela e outras ainda intra

e extras escolares indirectas e identifica causas que necessitam de intervenccedilatildeo de modo a se

resolver este problema

O deacutecimo artigo de Antoacutenio Domingos Cossa intitulado A influecircncia das liacutenguas

xichangana e cicopi no insucesso escolar - caso dos alunos da 10ordf classe da Escola Secundaacuteria de

6

Mandlakazi surge no contexto dos estudos sociolinguiacutesticos e tem como objectivos analisar as

influecircncias das liacutenguas xichangana e cicopi no processo de ensino-aprendizagem da liacutengua

portuguesa e relacionar o insucesso escolar que se verifica na disciplina de portuguecircs com as

influecircncias das liacutenguas xichangana e cicopi nos alunos da 10ordf classe O autor conclui que haacute

outros factores determinantes para a ocorrecircncia do insucesso escolar no grupo alvo que se

associam ao uso das liacutenguas xichangana e cicopi

O deacutecimo primeiro artigo Jogos recreativos na Cidade de Nampula Os predilectos das

crianccedilas das zonas suburbanas de Domingos Carlos Mirione tem como objectivo identificar os

jogos predilectos das crianccedilas dos bairros suburbanos da Cidade de Nampula-Moccedilambique Os

resultados revelam que o jogo predilecto das crianccedilas do sexo masculino eacute o futebol e para as do

sexo feminino eacute o jogo de cartas localmente conhecido como naripito

O deacutecimo segundo artigo de Djossefa Joseacute Nhantumbo e Bridgette Simone Bruce-

Nhantumbo intitulado Crescimento somaacutetico e aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede Um estudo

em alunos da Cidade da Beira Moccedilambique tem como objectivo avaliar o crescimento

somaacutetico e a aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede em alunos dos 6 aos 14 anos da Cidade da Beira

Moccedilambique Os autores concluem que parece existir uma inter-relaccedilatildeo entre os niacuteveis de

Aptidatildeo Fiacutesica com os valores do Iacutendice de Massa Corporal cuja inteligibilidade carece de mais

estudos contextualizados

O deacutecimo terceiro artigo Relaccedilatildeo entre a orientaccedilatildeo vocacionalprofissional e a qualidade

do sistema educativo moccedilambicano de Rafael Renaldo Laquene Zunguze sustenta a

necessidade e a possibilidade de introduccedilatildeo da orientaccedilatildeo vocacional eou profissional no

sistema educativo moccedilambicano O autor sugere que se invista na promoccedilatildeo dos serviccedilos de

orientaccedilatildeo vocacional e profissional comunitaacuteria aquela que inicia na famiacutelia passando pela

comunidade ateacute a escola para habilitar os indiviacuteduos a trabalharem em prol do desenvolvimento

numa clara intenccedilatildeo de melhoria da qualidade de ensino no paiacutes

O deacutecimo quarto artigo de Elisabeth Jesus de Souza com o tiacutetulo Amorosidade como

componente pedagoacutegica a autora reflecte sobre a necessidade de considerar a amorosidade na

atuaccedilatildeo docente sobretudo na educaccedilatildeo infantil dado que natildeo eacute uma questatildeo de perda de

autoridade pelo contraacuterio o amor eacute uma ferramenta no exerciacutecio da conquista pelo respeito na

sala de aula pela consolidaccedilatildeo dos laccedilos humanos fazendo da aprendizagem uma consequecircncia

O deacutecimo quinto artigo De Ministro mais activo e mais reluzente do Governo para

Reitor um contributo para o estudo da configuraccedilatildeo de rituais verbais da descortesia e

incoerecircncia discursiva no programa Pontos de Vista da STV de Acircngelo Ameacuterico Mauai

7

pretende demonstrar de que forma as estrateacutegias discursivas se manifestam na interacccedilatildeo entre

interlocutores O autor analisa a configuraccedilatildeo de rituais verbais as estrateacutegias de descortesia e a

incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV e considera que as sequecircncias

discursivas do ldquoPontos de Vistardquo analisadas evidenciam situaccedilotildees de ameaccedila das faces

Desejamos a todos uma oacuteptima leitura

A Direcccedilatildeo

8

Ensinando alunos do Ensino Meacutedio a pesquisar incertezas que marcaram uma

experiecircncia

Antoacutenio Sales1

Lis Regiane Vizolli Favarin2

Smenia Aparecida da Silva Moura3

Milene Martins4

Ricardo Capiberibe Nunes5

Resumo

Este artigo eacute uma discussatildeo teoacuterica associada a um relato de experiecircncia envolvendo a praacutetica de ensinar

pela pesquisa Uma tentativa que durou um ano de discussatildeo com professores de uma escola puacuteblica de

tempo integral para alunos do ensino meacutedio Nele satildeo relatadas as dificuldades encontradas pelos

professores para operacionalizar um projecto de pesquisa envolvendo alunos durante o horaacuterio regular de

aula levando em conta as exigecircncias de cumprimento de ementas preparo do professor perspectivas dos

alunos e os objectivos educacionais defendidos pela gestatildeo Discute tambeacutem o problema da orientaccedilatildeo da

pesquisa a questatildeo dos limites da interferecircncia do professor e conclui apontando a possibilidade de

proposta alternativa para que esse objectivo seja alcanccedilado

Palavras-chave Educar pela Pesquisa Orientaccedilatildeo para Pesquisa Dificuldades para Pesquisar no Ensino

Meacutedio

Abstract

This article is a theoretical discussion in association with an experience report involving inquiry-based

teaching practice It is an attempt that lasted a year of discussion with teachers in a full-time public school

for students in the secondary education This work presents the teachersrsquo difficulties by dealing with a

research project during class hours where students were also included considering content demands

teacherrsquos preparation studentsrsquo outlook and educational objectives alleged by management This work

also discusses the research advice process and the teaching intervention limits The outcome presents

alternative proposal possibilities in order to reach the intended goal

Keywords Inquiry-Based Teaching Research advice Researching difficulties in the Secondary School

1 Licenciado em Matemaacutetica Mestre e Doutor em Educaccedilatildeo Professor em Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo Stricto

Sensu da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul e da Uniderp-Brasil e Coordenador do Projeto -

profesaleshotmailcom 2 Professora de Quiacutemica na Rede Puacuteblica de Ensino em Campo Grande MS Doutoranda em Quiacutemica pela

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul-Brasil- lisregianehotmailcom 3 Professora de Quiacutemica na Rede Puacuteblica de Ensino em Campo Grande MS-Brasil Mestre em Educaccedilatildeo-

smeniamouragmailcom 4 Professora de Biologia na Rede Puacuteblica de Ensino em Campo Grande MS-Brasil -

professoramilenebiologiagmailcom 5 Professor de Fiacutesica e ClimatologiaMeteorologia na Rede Puacuteblica de Ensino em Campo Grande MS Pesquisador

associado ao Laboratoacuterio de Ciecircncias Atmosfeacutericas (LCA-UFMS)- capiberibegmailcom

9

Introduccedilatildeo

Educar pela pesquisa tem sido o mote da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Mato Grosso

do Sul-Brasil (SED) nessa gestatildeo que se iniciou em 2015 A proposta tem como referencial os

trabalhos publicados e a orientaccedilatildeo directa do Professor Doutor Pedro Demo Para esse estudioso

a pesquisa tem poder libertador tem potencial para conduzir o aluno pelos caminhos da

autonomia acadecircmica e pessoal DEMO (20075 itaacutelicos do autor) fala que a pesquisa tem o

potencial de introduzir o ser humano nos caminhos da rebeldia contra os seus proacuteprios limites ao

afirmar que ldquoO que melhor distingue a educaccedilatildeo escolar de outros tipos e espaccedilos educativos eacute

o fazer-se e refazer-se na e pela pesquisardquo E acrescenta ldquoeducaccedilatildeo pela pesquisa eacute a educaccedilatildeo

tipicamente escolarrdquo

Esse estudioso pauta a sua argumentaccedilatildeo no fato de que a educaccedilatildeo natildeo ocorre somente na

escola As famiacutelias bem como a vida de forma geral tambeacutem educam burilando a ldquotecircmpera das

pessoasrdquo No entanto a escola tem o potencial de produzir um ldquoquestionamento reconstrutivordquo

que faccedila emergir a eacutetica a intervenccedilatildeo a inserccedilatildeo do sujeito no contexto histoacuterico (DEMO

20077)

Na mesma obra o autor reafirma a sua convicccedilatildeo no potencial transformador da pesquisa

ao afirmar que ldquoA aula que apenas repassa conhecimento ou a escola que somente se define

como socializadora de conhecimento natildeo sai do ponto de partida e na praacutetica atrapalha o

aluno porque o deixa como objeto de ensino e instruccedilatildeordquo (DEMO 20077) Esse treinamento

dificulta o estabelecimento do contacto pedagoacutegico e transforma professor e aluno em meros

copistas

Por partilhar dessa perspectiva de trabalho e por acreditar que embora difiacutecil natildeo eacute

impossiacutevel transformar a sala de aula em um ambiente de diaacutelogo tendo o saber

institucionalizado como objecto e a pesquisa como metodologia e factor de mediaccedilatildeo entre

professor e aluno elaboramos um projecto cujo problema pode ser sintetizado na seguinte

questatildeo eacute possiacutevel desencadear um processo de investigaccedilatildeo cientiacutefica em sala de aula da

Educaccedilatildeo Baacutesica

10

O projecto foi apresentado agrave SED e uma escola foi sugerida pelos teacutecnicos como espaccedilo

para nosso campo de experiecircncia Eacute uma escola de Ensino Meacutedio6 e de tempo integral7 A

pretensatildeo era desenvolver uma pesquisa participante

Esperaacutevamos encontrar nessa escola um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento de um

trabalho onde a investigaccedilatildeo se fizesse presente

Com esses pressupostos nos aproximamos da escola traccedilamos planos para breves

encontros quinzenais com professores voluntaacuterios no seu dia de planificaccedilatildeo que nessa escola

acontecem todos numa mesma tarde da semana Embora a nossa formaccedilatildeo seja em Matemaacutetica o

espaccedilo estava aberto a professores das todas as aacutereas

No final de 2015 tivemos umas poucas reuniotildees (apenas 4) e jaacute percebemos que a suspeita

inicial de que o trabalho natildeo seria simples se confirmou Algumas dificuldades satildeo facilmente

determinadas tais como

1 Certa incredulidade por parte de alguns professores

2 Dificuldade para entender a proposta que se afigura irreal para aquilo ou aquele contexto

estudantil a que estatildeo acostumados A ideia fortemente arraigada de que a pesquisa deve

sempre ser ineacutedita eacute paralisante para o professor como possiacutevel pesquisador e natildeo

permite imaginar o envolvimento do aluno que tem Convencecirc-lo de que haacute outro niacutevel

de pesquisa e que cumpre muito bem o papel de educar pela pesquisa natildeo eacute tarefa

simples

3 Preocupaccedilatildeo com o cumprimento da ementa uma vez que o professor natildeo imagina que o

aluno possa pesquisar ou continuar os estudos sem a sua supervisatildeo directa

4 A preocupaccedilatildeo com o cumprimento da ementa eacute tambeacutem um entrave de outra ordem Eacute

um entrave da burocracia educacional uma vez que os coordenadores e por vezes

representantes diretos da Secretaria da Educaccedilatildeo exigem esse cumpriemto rigoroso

visando o preparo do aluno para exames de avaliaccedilatildeo externa Amedronta o professor a

possibilidade de natildeo cumpri-la

5 A questatildeo do que eacute pesquisar tambeacutem os incomoda por outro motivo Para eles ou

conforme o assunto lhes eacute apresentado na universidade a pesquisa cientiacutefica comeccedila pela

memorizaccedilatildeo das Normas Teacutecnicas (ABNT) de um roteiro preacute-elaborado com hipoacuteteses

bem definidas justificativas um cronograma e a necessidade do ineditismo

6 Ensino Meacutedio no Brasil corresponde aos trecircs uacuteltimos anos de um periacuteodo de 12 da Educaccedilatildeo Baacutesica 7 O aluno permanece na escola 8 horas por dia Em um periacuteodo tem as aulas regulares e no outro eacute orientado atraveacutes

de actividades complementares

11

6 A necessidade que o professor tem de mostrar resultados em um curto espaccedilo de tempo eacute

outro factor interveniente

7 A ideia de pesquisa quantitativa se faz muito presente As falas de alguns professores

revelavam isso Essa modalidade exige um universo consideraacutevel de sujeitos e pensar em

abranger um puacuteblico grande se afigura um obstaacuteculo quase intransponiacutevel Para o

professor da Educaccedilatildeo Baacutesica o problema eacute definir um objecto que possa ser

quantificado

8 Pensar em pesquisa bibliograacutefica lhes traz agrave memoacuteria as coacutepias integrais dos textos sem

nenhuma leitura ou reflexatildeo sobre o conteuacutedo Eacute a ldquopesquisardquo para nota O professor

anuncia o problema e o aluno apenas pergunta se vale nota e sobre o nuacutemero de paacuteginas

que deve ter o trabalho Em seguida na data marcada apresenta um ldquorelatoacuteriordquo que nem

sequer dedicou tempo para a leitura cuidadosa Apresenta um texto que apenas copiou da

internet e colou tendo por base a palavra-chave dada pelo professor

9 A discussatildeo foi conduzida tambeacutem para o facto de que o professor entende que eacute preciso

levar em conta a qualidade das fontes de pesquisa acessiacuteveis ao aluno considerando que

esse estaacute em seu niacutevel inicial Visto que o trabalho cientiacutefico exige uma revisatildeo de

literatura eacute necessaacuterio disponibilizar ao aluno essas fontes e questionar se as mesmas

apresentam conceitos e dados histoacutericos adequados Segundo MARTINS (1998 243) ldquoo

problema eacute encontrar quem possa fazer bons trabalhos de divulgaccedilatildeo cientiacutefica O ideal

(difiacutecil de atingir) eacute unir uma competecircncia cientiacutefica agrave capacidade de escrever de modo

simples e interessante mas natildeo errocircneordquo O professor teme que o aluno (que muitas

vezes mal passa os olhos sobre o ldquorelatoacuteriordquo que faz) tome por base do seu trabalho

fontes natildeo confiaacuteveis em termos de exposiccedilatildeo dos conceitos

Soma-se a este facto afirmam os professores de que haacute entre alunos e alguns

professores a cultura de pressupor que livros escritos por autores renomados estatildeo livre de

equiacutevocos conceituais e histoacutericos

Essa discussatildeo revela as expectativas inclusive jaacute abordadas em paraacutegrafos

precedentes de que para pesquisar eacute necessaacuterio dar passos sempre seguros caminhar sobre

certezas partir de verdades consolidadas Eacute como se natildeo fosse possiacutevel ou talvez prudente pocircr

em xeque ldquoverdadesrdquo problematizar afirmaccedilotildees e fazer as devidas verificaccedilotildees Aquelas

verificaccedilotildees que podem ser feitas no ambiente escolar isto eacute fazer experiecircncias ou investigaccedilotildees

bibliograacuteficas mais amplas visando confrontar o exposto por tais autores

12

Partiu-se do pressuposto de que hoje haacute uma ampla literatura de boa qualidade

disponiacutevel nos sites de busca bastando que para isso o aluno tenha acesso agrave internet e esteja

suficientemente desafiado e orientado quanto a essas fontes

Para tentar desafiar os professores para a experimentaccedilatildeo a primeira tarefa do

pesquisador consistiu em mostrar outras possibilidades de pesquisa e orientar sobre a

necessidade de ldquoprovocaccedilotildeesrdquo procurando despertar a curiosidade do aluno para algum

problema

No ano de 2016 as actividades foram retomadas poreacutem com intervalos maiores No

entanto alguns professores do grupo que eram contratados jaacute natildeo mais estavam na escola e

outros haviam desistido da ideia Alguns permaneceram e outros foram agregados O grupo

nunca passou de oito professores

Nesse segundo uma professora jovem doutoranda em Quiacutemica engajou-se logo de

iniacutecio na proposta

A proposta reforccedilada em cada reuniatildeo dizia respeito agrave necessidade de romper com os

contractos estabelecidos Contracto aqui eacute uma referecircncia aos contractos didaacutecticos objecto de

estudo da Didaacutectica da Matemaacutetica Francesa (PAIS 2001)

A professora de Quiacutemica coordena actividades de oficina8 e apresentava certa relutacircncia

em considerar o seu trabalho como de investigaccedilatildeo Temia que embora estivesse imbuiacuteda do

desejo de conduzir os alunos pelos caminhos da investigaccedilatildeo estivesse falhando porque se via

frequentemente diante da necessidade de orientar o olhar dos alunos Estes pela inexperiecircncia

pela falta de vivecircncia com a pesquisa tinham dificuldades em distinguir o que eacute importante em

uma experiecircncia de investigaccedilatildeo

A orientaccedilatildeo do trabalho de pesquisa com alunos

O presente trabalho pode ser caracterizado como um relato de experiecircncia Uma

experiecircncia de investir na constituiccedilatildeo de uma atitude de estudante pesquisador ainda na

Educaccedilatildeo Baacutesica

O trabalho foi desenvolvido com alunos do ensino meacutedio em uma escola de tempo

integral nas oficinas de Quiacutemica O que se pretende aqui eacute descrever e analisar o processo

relatando as incertezas que perseguiram o professor durante o periacuteodo em que se empenhou

nessa tarefa

8 Termo usado entre noacutes para designar actividade extracurricular em que algueacutem faz uma exposiccedilatildeo de como

determinada proposta de acccedilatildeo pode ser conduzida

13

Uma questatildeo levantada tem relaccedilatildeo com os limites da orientaccedilatildeo Como deve se portar

um professor que se propotildee a orientar um processo de pesquisa com alunos da Educaccedilatildeo Baacutesica

sem obstruir a sua trajectoacuteria rumo agrave autonomia

A preocupaccedilatildeo justifica-se porque o trabalho de conduzir um processo de pesquisa com

alunos da Educaccedilatildeo Baacutesica esbarra em factores que supostamente natildeo aparecem em curso de

poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu Na graduaccedilatildeo natildeo se conhece experiecircncia semelhante

Tais factores natildeo se prendem somente agrave inexperiecircncia do estudante agravequilo que

poderiacuteamos chamar de imaturidade intelectual Eles se estendem tambeacutem ao domiacutenio da

disposiccedilatildeo isto eacute um estudante ao se candidatar a um curso de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu se

predispotildee a estudar por antecipaccedilatildeo a definir antecipadamente um possiacutevel objecto para os seus

estudos posteriores O mesmo poreacutem natildeo ocorre com o estudante da Educaccedilatildeo Baacutesica que na

nossa cultura escolar natildeo pensa em pesquisa nos moldes de uma pesquisa como a conhecemos

na poacutes-graduaccedilatildeo Pesquisa para ele traz a marca da determinaccedilatildeo do tema pelo professor

independente do seu interesse Dizendo em outras palavras pesquisa na sua concepccedilatildeo eacute algo

que se faz para o outro para atender um requisito ldquolegalrdquo para obter alguma vantagem imediata

relacionada agrave promoccedilatildeo escolar Nesse caso na maioria das vezes natildeo se faz necessaacuterio o

investimento de capital intelectual O que ele precisa eacute de uma determinaccedilatildeo exterior a ele

incluindo tema prazo e fonte de consulta que normalmente era uma enciclopeacutedia e agora um

conhecido site de busca

Essa condiccedilatildeo inicial apresenta-se como um obstaacuteculo a ser superado pelo professor que

se proponha a ensinar pela pesquisa Se num curso de poacutes-graduaccedilatildeo o orientador precisa

orientar a escrita a metodologia indicar muacuteltiplas fontes de consulta e produzir conflitos

cognitivos no orientado aqui na Educaccedilatildeo Baacutesica ele necessita antes de tudo orientar o olhar

do estudante

O que pode ser um objecto de pesquisa O que eacute relevante olhar nesse objecto (cor

forma cheiro comportamento relaccedilotildees frequecircncia falhas apresentadas etc) Essa eacute tarefa

primeira o que olhar no objecto que se propotildee investigar

Um descuido nessa perspectiva deixa o aluno sem saber o que estaacute procurando a

qualidade do objecto que se espera seja observada Essa incerteza tambeacutem ronda o estudante de

poacutes-graduaccedilatildeo poreacutem se faz mais presente no estudante da Educaccedilatildeo Baacutesica No entanto ao

professor orientador desse estudante resta-lhe a inseguranccedila sobre o limite da sua intervenccedilatildeo

Ateacute onde ele conduz o olhar do estudante e onde deve parar com a sua intervenccedilatildeo Eis a

questatildeo a ser respondida por ele proacuteprio

14

Na tentativa de encontrar indicativos de uma resposta recorre-se agraves discussotildees jaacute

existentes sobre o papel do orientador na poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu tendo em vista que na

Educaccedilatildeo Baacutesica natildeo temos tradiccedilatildeo de pesquisa e consequentemente dificilmente

encontraremos um debate dessa natureza

COSTA SOUSA e SILVA (2014823) definem ldquotrecircs responsabilidades

de formaccedilatildeo do estudante [de poacutes-graduaccedilatildeo] pelo orientadorrdquo antes poreacutem destacando que a

[] orientaccedilatildeo eacute tratada pelos programas de poacutes-graduaccedilatildeo de forma geneacuterica e vaga ficando

mais ao criteacuterio do professor definir individualmente o que fazer e como desenvolver suas

accedilotildees rdquo e que ldquo[] poucos discursos e pouca pesquisa tecircm-se desenvolvido em torno do tema

da orientaccedilatildeorsquordquo

Os autores realccedilam que o orientador ldquo[] deve ser capaz de ouvir o orientado de

encorajar o debate de fornecer feedback contiacutenuo e de ser entusiasmado aleacutem de demonstrar

atenccedilatildeo e respeitordquo (COSTA SOUSA SILVA 2014829) No entanto dado o oacutebvio da

observaccedilatildeo ela natildeo socorre o professor que deseja inserir-se neste fazer tendo em vista que tais

caracteriacutesticas dificilmente estatildeo ausentes em quem se dispotildee a esse trabalho voluntariamente

como eacute o caso de um professor da Educaccedilatildeo Baacutesica Supomos que o factor destacado por esses

autores que traz melhor orientaccedilatildeo ao orientador seja a que consta no item a seguir Nesse texto

evidencia-se que haacute a necessidade de orientar

[] os haacutebitos mentais relacionados ao entendimento e ao exerciacutecio do

aprendizado e da reflexatildeo ativa sobre as decisotildees a serem tomadas aleacutem da

capacidade de aplicar esse processo na tomada de decisotildees imprevistas e com

elevado niacutevel de responsabilidade[] os ldquoaspectos teacutecnicosrdquo relacionados aos

procedimentos e agraves teacutecnicas de execuccedilatildeo da orientaccedilatildeo (produccedilatildeo verbal de

ciecircncia prospecccedilatildeo de fontes e manipulaccedilatildeo de dados gerenciamento de

informaccedilotildees uso de uma boa diversidade de ferramentas de anaacutelise de dados

gerenciamento do tempo etc) a ldquoexpertise contextualrdquo relacionada agrave

capacidade de entender o campo cientiacutefico em geral e a dinacircmica do campo de

pesquisa em particular (COSTA SOUSA SILVA 2014830)

Acrescentamos a isso que ao orientador cabe a tarefa de orientar o olhar do estudante

ldquoAjustar os focos da sua lenterdquo para que seja possiacutevel que ele olhe na direcccedilatildeo em que objecto

possa estar e no caso do estudante da Educaccedilatildeo Baacutesica veja o que se quer que seja visto

Talvez essa expressatildeo ldquoveja o que se quer que seja vistordquo possa sugerir ao menos

experiente que se deve dar directividade absoluta ao novo pesquisador Natildeo eacute isso que se quer

dizer Aponta-se aqui a necessidade de questionar sobre algumas caracteriacutesticas que o objeto

deve apresentar para ser o objeto que se procura

15

Outro enunciado de Costa Sousa e Silva que julgamos merecer destaque eacute o que eles

[] identificaram [como] trecircs tipos de metaacuteforas relacionadas ao processo de

orientaccedilatildeo acadecircmica que satildeo a metaacutefora da maacutequina a metaacutefora do treinador e

a metaacutefora da viagem A primeira apresenta a orientaccedilatildeo como uma atividade

alinhada com as poliacuteticas institucionais das universidades e faculdades a

segunda descreve a orientaccedilatildeo como uma accedilatildeo de aconselhamento na

apresentaccedilatildeo de soluccedilotildees para o trabalho do aluno e a terceira mostra a

orientaccedilatildeo como uma parceria na qual orientador e orientando aprendem juntos

(COSTA SOUSA SILVA 2014 p 831)

Esses autores salientaram que dar autonomia eacute diferente de natildeo orientar A autonomia do

estudante eacute resultado de um processo

VIANA e VEIGA (2010 p 223) por exemplo destacam que a ldquo[] orientaccedilatildeo

acadecircmica [se daacute] atraveacutes dos seguintes pontos assim caracterizados atitudinais cognitivos

administrativos e temporaisrdquo e esclarecem que ldquoEm relaccedilatildeo ao aspecto cognitivo eles apontam

garantir a convergecircncia entre seu objeto de pesquisa e o objeto do orientando tornar viaacutevel a

delimitaccedilatildeo do objeto contribuir com uma seleccedilatildeo bibliograacutefica adequadardquo

Numa orientaccedilatildeo acontecem naturalmente algumas dificuldades Uma delas diz respeito agrave

natureza do objeto e aos valores de uma pesquisa cientiacutefica que satildeo desconhecidos pelos

estudantes (LEITE FILHO MARTINS 2006) requerendo o direcionamento do olhar

Portanto direcionar o olhar do estudante natildeo implica necessariamente na obstruccedilatildeo da

sua autonomia Pode ser o impulso que ele necessita para persegui-la

A segunda questatildeo eacute como essa orientaccedilatildeo se processa Como eacute vivenciada essa

experiecircncia

A Experiecircncia

Se ensinar no contexto escolar eacute tarefa para profissionais ensinar Quiacutemica se apresenta

mais difiacutecil ainda ou pelo menos assim se aparenta em decorrecircncia do fato de que o contato

que se tem com ela no Ensino Fundamental eacute miacutenimo Esse contato miacutenimo eacute pouco para que o

aluno aprenda sobre Quiacutemica No entanto eacute longo o suficiente para se criar obstaacuteculos agrave sua

aprendizagem se o trabalho natildeo for bem conduzido Inicia-se com definiccedilotildees de elementos

invisiacuteveis (aacutetomo proacutetons eleacutetrons e necircutrons) e discutindo a localizaccedilatildeo deles num universo

hipoteacutetico axiomaacutetico Dessa forma os alunos no Ensino Meacutedio jaacute iniciam a disciplina com um

preconceito constituiacutedo de que a mesma seraacute difiacutecil de compreender e de correlacionar e

vivenciar no seu cotidiano Uma das maneiras utilizadas para atrair esses alunos eacute a

experimentaccedilatildeo quiacutemica Faz parte da grade curricular da escola estadual de tempo integral onde

16

a experiecircncia foi realizada a atividade optativa de quiacutemica tendo uma co-autora deste trabalho

como professora Como estiacutemulo para os alunos e para familiariza-los mais com o mundo

quiacutemico a maioria das aulas ocorre no laboratoacuterio da escola em que os alunos satildeo divididos em

seis grupos Cada grupo possui sua bancada para trabalhar com equipamentos necessaacuterios para a

realizaccedilatildeo dos experimentos As aulas satildeo iniciadas com uma fundamentaccedilatildeo teoacuterica do tema

tratado para auxiliaacute-los na compreensatildeo dos experimentos Os alunos recebem um roteiro

experimental com a metodologia e tem-se observado que a parte de manipulaccedilatildeo de vidrarias e

componentes quiacutemicos sempre foi bem desempenhada pelos mesmos Entretanto o objetivo

central da aula a compreensatildeo das transformaccedilotildees e a construccedilatildeo do conhecimento quiacutemico natildeo

era alcanccedilado Considerando que a maior parte dos alunos tinha o conhecimento baacutesico de

quiacutemica esperava-se que eles tivessem capacidade para entender o experimento realizado

poreacutem natildeo era o que acontecia no decorrer das aulas

Todos os experimentos realizados na disciplina satildeo contextualizados socialmente isto eacute

relacionados com a ldquovida realrdquo do aluno vatildeo aleacutem das reaccedilotildees no tubo de ensaio Poreacutem

percebeu-se que apenas a contextualizaccedilatildeo natildeo seria suficiente pois durante as aulas o que se

verificou foi que a docente estava apenas transmitindo o conhecimento pronto e que os alunos

estavam participando mecanicamente das aulas mesmo tendo o conhecimento teoacuterico dos

assuntos abordados nos experimentos Fez-se necessaacuterio uma mudanccedila na forma de trabalhar

com esses alunos Aleacutem de usar como ferramenta a contextualizaccedilatildeo e a fundamentaccedilatildeo teoacuterica

acrescentou-se o direcionamento do olhar dos alunos durante os experimentos Esta tentativa de

orientar os alunos durante a aula surgiu devido ao fato de que os mesmos jaacute possuiacuteam o

conhecimento teoacuterico para compreender as transformaccedilotildees quiacutemicas que ocorrem nos

experimentos poreacutem natildeo conseguiam correlacionar o que estavam observando com o que

poderia estar ocasionando tal mudanccedila Por exemplo um dos experimentos realizados na

disciplina consistiu em encontrar a vitamina C nos alimentos Partiu-se do pressuposto de que os

conceitos de reaccedilotildees quiacutemicas e oxirreduccedilatildeo jaacute eram dominados pelos alunos uma vez que a

discussatildeo teoacuterica havia acontecido Dessa forma durante o experimento procurou-se direcionaacute-

los para que empregassem esses conhecimentos em cada etapa do experimento Durante a aula

fez-se necessaacuterio fazer perguntas durante cada etapa como Por que no suco de laranja foi

adicionado mais iodo que no suco de limatildeo Por que a soluccedilatildeo ficou azul Por que adicionamos

o amido na soluccedilatildeo E apoacutes cada pergunta os grupos tentavam responder os questionamentos

entre si mesmos observando o que estava ocorrendo realmente nos experimentos e elaborando

propostas para explicar essas possiacuteveis transformaccedilotildees Dessa forma esta nova forma de guiar as

17

aulas experimentais foi mantida aula apoacutes aula para verificar se este meacutetodo estava produzindo

resultados Pediu-se aos alunos que entregassem relatoacuterios cientiacuteficos referentes a cada

experimento Esses relatoacuterios eram entregues por cada grupo de alunos em que a parte

fundamental analisada eacute resultados de discussotildees Percebeu-se que houve um avanccedilo durante as

aulas poreacutem isso natildeo ocorreu para a totalidade da turma Este fator foi detectado pelo fato de

que cada vez que um grupo entregava um relatoacuterio eacute um aluno diferente do grupo que elabora

tendo um rodiacutezio entre eles Dessa forma foi possiacutevel verificar que dentro dos grupos alguns

estatildeo avanccedilando mais que os outros mas a metodologia estaacute atingindo a todos

Outro fator relevante desta praacutetica do direcionamento do olhar ocorreu durante os

experimentos de investigaccedilatildeo criminal em que os alunos puderam ver como a quiacutemica eacute usada

para resolver crimes Foram realizados vaacuterios experimentos com esta proposta entre eles

Extraccedilatildeo do DNA humano e da cebola impressatildeo digital cromatografia e adulteraccedilatildeo da

gasolina Em todos os casos os alunos eram orientados a voltar o seu olhar para cada etapa do

experimento O objetivo era que conseguissem investir o seu conhecimento de Quiacutemica em cada

uma das fases e dessa forma visualizar como estes dados influenciariam na resoluccedilatildeo de um

problema envolvendo crime O resultado foi excelente os alunos se empolgaram por saber

aplicar seus conhecimentos e como o que aprendiam poderia ser utilizado para um bem maior

Apoacutes estes experimentos trecircs alunos da disciplina resolveram que queriam investigar se os

postos de combustiacuteveis que se encontram proacuteximos agrave escola estavam vendendo gasolina de

acordo com a legislaccedilatildeo Dessa forma sob a orientaccedilatildeo da professora fizeram pesquisa de

campo procedimentos experimentais pesquisas bibliograacuteficas e desenvolveram uma

investigaccedilatildeo que apresentou como resultado que todos os postos investigados estatildeo fornecendo a

seus clientes combustiacuteveis adulterados Este trabalho investigativo foi apresentado em duas

feiras cientiacuteficas estaduais a Feira de Tecnologias Engenharias e Ciecircncias de Mato Grosso do

Sul (FETEC) e a Feira de Ciecircncias e Tecnologias do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul

(FECINTEC) Dessa forma a metodologia do ldquodirecionamento do olharrdquo do aluno para as etapas

dos experimentos foi fundamental para a evoluccedilatildeo dos mesmos isso eacute perceptiacutevel na experiecircncia

da maior parte dos alunos da disciplina

Ressalta-se que trabalhar com um nuacutemero grande de alunos durante as aulas dificulta um

pouco o desenvolvimento da metodologia por um lado porque alguns alunos necessitam de

maior atenccedilatildeo e auxilio que outros Por outro lado quando se tem um nuacutemero pequeno como o

caso dos trecircs alunos que desenvolveram a investigaccedilatildeo eacute possiacutevel trabalhar melhor o

direcionamento do olhar desses alunos quanto ao trabalho que estatildeo desenvolvendo

18

Uma perspectiva eacute que em um segundo ano de experiecircncia alguns alunos que tiveram o

seu olhar direcionado possa contribuir para que outros alcancem esse niacutevel de vivecircncia Nesse

caso um nuacutemero maior de alunos pode ser atendido com sucesso e a experiecircncia ser gratificante

Consideraccedilotildees finais

Em que pese as dificuldades encontradas pelos professores para assumir uma postura de

pesquisador perante a classe e operacionalizar um projeto dessa natureza alguns casos de

sucesso podem ser relatados

Uma discussatildeo sobre como pesquisar em sala de aula precisa envolver aleacutem dos

professores coordenadores e gestores locais para que diminuindo determinadas exigecircncias

burocraacuteticas o trabalho do professor que se envolver no processo possa se tornar menos tenso

Algumas perspectivas precisam mudar de foco e o professor necessita entender os limites de um

aluno do ensino meacutedio como pesquisador Requer que o docente se prepare para ter uma nova

visatildeo do que eacute pesquisa rompendo com paradigmas ensinados teoricamente nos cursos de

graduaccedilatildeo e ele mesmo possa aprender a problematizar

Em aacutereas mais abstratas como a Matemaacutetica por exemplo natildeo foi possiacutevel avanccedilar uma

vez que os professores encontraram dificuldades para problematizar e o termo ldquopesquisardquo remete

sempre a uma busca por algo pronto pela explicaccedilatildeo jaacute existente de uma propriedade tambeacutem jaacute

confirmada Pesquisar buscar uma certeza jaacute existente

Em Biologia pela maior familiaridade do aluno com temas relacionados desde os anos

inicias os professores entendem que nada mais haacute para problematizar Que nenhum problema

mais provocaraacute o aluno

Referecircncias

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ago 2016

20

O ensino contextualizado e a abordagem curricular de conteuacutedos de

Microbiologia em Moccedilambique

Manecas Cacircndido9

Laurinda Leite10

Briacutegida Singo11

Resumo

Este artigo visou analisar documentos oficiais que orientam o Ensino Secundaacuterio Geral em Moccedilambique

no que concerne agraves eventuais propostas metodoloacutegicas que apresentam para um ensino contextualizado de

conteuacutedos de Microbiologia Os documentos analisados foram a Lei ndeg 692 sobre o Sistema Nacional da

Educaccedilatildeo o Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio Geral e os Programas de Biologia da 8ordf agrave 12ordf classe

A anaacutelise de conteuacutedo desses documentos centrou-se na presenccedila ou ausecircncia de seis dimensotildees

identificadas com base na literatura e que permitiam averiguar se para os conteuacutedos em causa eacute ou natildeo

fomentado o ensino contextualizado de conteuacutedos de Microbiologia Os resultados do estudo mostram

que apesar de natildeo terem sido encontradas evidecircncias de todas as dimensotildees consideradas em todos os

documentos analisados a Lei ndeg 692 preconiza o ensino contextualizado acontecendo o mesmo com o

Plano Curricular e os Programas de Biologia que satildeo documentos que orientam poliacuteticas e estrateacutegias de

ensino Assim nas escolas deveriam ser adotadas metodologias promotoras do ensino contextualizado

dos conteuacutedos de Microbiologia

Palavrasndashchave Ensino Contextualizado das Ciecircncias Microbiologia Curriacuteculo Moccedilambique

Abstract

This article aimed at analysing the official documents that guide general secondary education in

Mozambique with regard to approaches for contextualized teaching of microbiology contents The

documents analysed were Law No 692 on the National Educational System the General Secondary

Education Curriculum plan and the 8th to 12th grade Biology syllabuses Content analysis of those

documents focused on the presence or absence of a set of six dimensions that were collected from the

literature These dimensions enabled to find out whether the documents analysed acknowledge a

contextualized teaching of the contents under question The results of the study show that even though

evidences of all the dimensions of analysis were not found in all documents that re at stake all the

documents advocate contextualized teaching of microbiology contents Thus schools should adopt

teaching approaches able to promote contextualized teaching of microbiology contents

Keywords Contextualized Science Teaching Microbiology Curriculum Mozambique

Introduccedilatildeo

O Sistema Nacional de Educaccedilatildeo (SNE) em Moccedilambique criado pela Lei ndeg 483 de 23

de Marccedilo foi revisto para se adequar agraves condiccedilotildees socioeconoacutemicas do Paiacutes atraveacutes da lei ndeg

692 de 6 de Maio O objetivo dessa revisatildeo foi o de garantir uma formaccedilatildeo integral ao cidadatildeo

9 Docente da Universidade Pedagoacutegica e Doutorando em Educaccedilatildeo em Ciecircncias na UMinho Portugal 10 Docente da UMinho Braga Portugal Doutorada em Educaccedilatildeo em Ciecircncias 11 Docente da Universidade Pedagoacutegica Doutorada em Biologia

21

moccedilambicano para que adquira e desenvolva conhecimentos e capacidades intelectuais Esta

mudanccedila obrigava a uma revisatildeo curricular incluindo dos programas das diversas disciplinas de

modo a que a escola passasse a preparar melhor os alunos para a vida

De acordo com o INDE (2010) as competecircncias importantes para a vida referem-se ao

conjunto de recursos (isto eacute conhecimentos habilidades atitudes valores e comportamentos)

que o indiviacuteduo mobiliza para enfrentar com sucesso exigecircncias complexas ou realizar uma

tarefa na vida quotidiana

Um dos objectivos do ensino das ciecircncias eacute fomentar a aprendizagem significativa de

conteuacutedos que sejam relevantes para o dia-a-dia dos cidadatildeos Uma das formas de contribuir para

a consecuccedilatildeo deste objetivo consiste em abordar de modo contextualizado os assuntos a ensinar

Neste contexto a abordagem contextualizada de conteuacutedos de Microbiologia no ensino

secundaacuterio geral moccedilambicano pode levar os alunos a alcanccedilarem uma melhor preparaccedilatildeo para

enfrentarem de forma ativa e adequada situaccedilotildees de prevenccedilatildeo de doenccedilas causadas pelos

microrganismos de conservaccedilatildeo de produtos alimentares e de proteccedilatildeo do meio ambiente

Analisando os Programas de Biologia da 8ordf agrave 12ordf classe (INDE 2010) constata-se que

todos eles propotildeem a abordagem de conteuacutedos de Microbiologia que tecircm relaccedilatildeo com e

relevacircncia para o dia-a-dia das pessoas embora isso dependa pelo menos em parte de serem

abordados ou natildeo de um modo contextualizado

Sendo a contextualizaccedilatildeo dos conteuacutedos a ensinar uma estrateacutegia que pode ser adotada

para dar significado ao conhecimento escolar (Oda amp Delizoicov 2011 Bulte et al 2006)

torna-se relevante investigar em que medida os documentos orientadores do ensino

anteriormente referidos reconhecem a problemaacutetica da contextualizaccedilatildeo e incentivam a adoccedilatildeo

de abordagens contextualizadas de conteuacutedos curriculares relevantes para os cidadatildeos como eacute o

caso da Microbiologia Assim o objectivo deste trabalho foi o de averiguar em que medida os

documentos oficiais que regem o ensino de Biologia propotildeem metodologias promotoras de uma

abordagem contextualizada de conteuacutedos de Microbiologia no ensino secundaacuterio geral em

Moccedilambique e caso isso se verifique como o fazem Caso a contextualizaccedilatildeo seja reconhecida

pelos documentos em causa e especialmente se isso acontecer de forma impliacutecita os resultados

deste estudo poderatildeo ser uacuteteis para alertar os formadores de professores para a necessidade de

sensibilizar os estudantes para as exigecircncias do curriacuteculo em termos de ensino contextualizado

das ciecircncias

22

A contextualizaccedilatildeo do ensino das ciecircncias e a formaccedilatildeo cientiacutefica dos cidadatildeos

Segundo Wartha et al (2013) contextualizaccedilatildeo eacute um termo novo na liacutengua portuguesa que

natildeo faz parte do leacutexico Contudo alguns estudos realizados na aacuterea da educaccedilatildeo em ciecircncias a

que tivemos acesso falam de contextualizaccedilatildeo e de ensino contextualizado Gilbert (2006)

considera que existam diversas formas de contextualizar o ensino mas que nem todas elas tecircm a

ver com ensino baseado em contextos (em que estes satildeo um ponto de partida) sendo que em

algumas delas os contextos satildeo um ponto de chegada que serve para aplicar conhecimentos

aprendidos de modo desligado do dia-a-dia dos alunos Assim alguns autores (Schwartz 2006

Gilbert 2006 Bulte et al 2006 Gilbert et al2011) associam o ensino contextualizado a um

ensino que recorre a situaccedilotildees do quotidiano do aluno para nelas fazer emergir os conceitos

cientiacuteficos necessaacuterios para as compreender Nesta perspetiva a aprendizagem de um assunto

ocorre ligada a um contexto que daacute significado ao assunto a estudar pelo que se torna relevante

para o aluno tendo mais probabilidade de aumentar o interesse deste pelas ciecircncias de o

preparar para aprender ao longo da vida e de o levar a contribuir para a resoluccedilatildeo de problemas

da comunidade a que pertence

Para Gilbert (2006) contextualizar o ensino implica assumir que os significados dos

conceitos dependem do ambiente em que satildeo construiacutedos e das accedilotildees realizadas para o efeito a

existecircncia de uma interaccedilatildeo entre o sujeito e o ambiente ou contexto a utilizaccedilatildeo de processos

intelectuais que adicionam novos significados a uma dada situaccedilatildeo e que delimitam o que pode

(ou deve) e o que natildeo pode ser feito (naquele momento) sobre essa situaccedilatildeo Assim

contextualizar eacute por um lado construir contextos (os contextos modificam-se pelas interaccedilotildees

satildeo dinacircmicos) e por outro lado realizar atividades com vista agrave recontextualizaccedilatildeo de

significados e ao desenvolvimento dos conceitos

Neste sentido um contexto eacute uma situaccedilatildeo que apresenta um acontecimento imerso no seu

ambiente sociocultural de ocorrecircncia e que eacute apelativo para os alunos (Gilbert 2006) No

entanto uma situaccedilatildeo seraacute ou natildeo um contexto consoante sejam ou natildeo realizadas accedilotildees

(mediadas por ferramentas cognitivas eou outras) relevantes no acircmbito da atividade que eacute

realizada sobre o contexto Por isso para implementar ensino contextualizado natildeo basta

apresentar uma situaccedilatildeo do quotidiano dos alunos eacute preciso trabalhar nela com ela eou sobre

ela envolvendo os alunos nesse trabalho

Nesta perspetiva contextualizar os conteuacutedos a ensinar nas aulas significa primeiramente

assumir que todo conhecimento envolve uma relaccedilatildeo entre o sujeito que aprende e o objeto de

aprendizagem (Wartha et al 2013)

23

Segundo Schwartz (2006) o ensino contextualizado das ciecircncias caracteriza-se do seguinte

modo

Eacute centrado em problemas sociais do mundo real que constituem a base do contexto a

adotar

Os fenoacutemenos factos e princiacutepios satildeo introduzidos conforme necessaacuterio para informar o

estudo das questotildees centrais que criam o contexto

Estabelece conexotildees interdisciplinares importantes entre as ciecircncias e outras aacutereas de

conhecimento especialmente com as ciecircncias sociais

Na medida do possiacutevel os assuntos satildeo ensinados do modo como as ciecircncias satildeo

praticadas

O estudo dos fenoacutemenos abrange a metodologia usada em ciecircncias para os compreender e

a teoria que os explica

Utiliza recursos diversificados incluindo o laboratoacuterio a biblioteca o trabalho em sala de

aulas e o trabalho de campo

Privilegia metodologias centradas no aluno enfatizando a discussatildeo e o trabalho em

grupo

Dedica atenccedilatildeo consideraacutevel agrave resoluccedilatildeo de problemas e ao desenvolvimento do

pensamento criacutetico

Assim o ensino contextualizado eacute um ensino realista (Taconis et al 2016) que pode

contribuir para aumentar o interesse do aluno pela aprendizagem das ciecircncias evitando como

realccedila Gilbert (2006) a baixa participaccedilatildeo na aula e o esquecimento de conteuacutedos aprendidos

A contextualizaccedilatildeo do ensino das ciecircncias oferece possibilidades muacuteltiplas de mediaccedilatildeo

didaacutetica (Kato amp Kawasaki 2011) sendo possiacutevel recorrer a vaacuterios tipos de situaccedilotildees para

contextualizar o ensino De entre elas salientam o quotidiano do aluno (Lopes 2002 Oda amp

Delizoicov 2011 Giassi amp Moraes sd) os contextos histoacutericos sociais e culturais (Souza amp

Roseira 2010 Lopes 2002 Fernandes et al 2011) a interdisciplinaridade (Kato amp Kawasaki

2011 Florentino amp Fernandes sd) e as fotografias e ilustraccedilotildees (Leite et al 2016)

Natildeo parecem ser frequentes os estudos centrados na anaacutelise de documentos orientadores do

ensino e da aprendizagem das ciecircncias relativamente agrave contextualizaccedilatildeo Contudo um estudo

realizado por Kato e Kawasaki (2011) mostra que no Brasil os documentos curriculares de

ciecircncias apresentam propostas de contextualizaccedilatildeo do ensino bastante variadas centradas por

exemplo no quotidiano do aluno e em contextos histoacutericos sociais e culturais em torno das

24

quais se articulam as abordagens dos conhecimentos especiacuteficos dessas disciplinas

No ensino secundaacuterio geral moccedilambicano os alunos devem aprender conteuacutedos de

Microbiologia os quais incluem assuntos como viacuterus bacteacuterias e fungos Embora haja situaccedilotildees

em que a atuaccedilatildeo destes eacute positiva (ex vacinas produccedilatildeo de iogurte) muitas vezes eles atuam

no meio provocando a degradaccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica e causando doenccedilas aos seres humanos e

a outros seres vivos Eacute por isso importante saber lidar com eles de modo a tirar partido dos seus

efeitos positivos e a proteger-se dos seus efeitos nefastos Por esta razatildeo eacute relevante usar

estrateacutegias de ensino que sejam capazes de ajudar o aluno a realizar uma aprendizagem

significativa de conteuacutedos de Microbiologia e capaz de ser uacutetil no seu quotidiano como eacute o caso

da contextualizaccedilatildeo Na verdade ao estudar assuntos de Microbiologia de modo contextualizado

o aluno poderaacute por exemplo ficar mais preparado para na sua vida pessoal social e

profissional adotar medidas eficientes na prevenccedilatildeo de doenccedilas causadas pelos microrganismos

Metodologia

Este trabalho centrou-se na anaacutelise dos documentos oficiais que regulam o ensino da

disciplina de Biologia no Ensino Secundaacuterio Geral (ESG) da Repuacuteblica de Moccedilambique a fim

de averiguar se adotam e promovem uma abordagem contextualizada de conteuacutedos de

Microbiologia Este estudo eacute qualitativo de anaacutelise de documentos com recurso agrave teacutecnica de

anaacutelise de conteuacutedo Seguindo Schreiber e Asner-Self (2011) fez-se o exame detalhado do

conteuacutedo dos documentos centrado em alguns aspetos (dimensotildees) que a seguir seratildeo

explicitados de modo a obter informaccedilatildeo que permitisse alcanccedilar o objetivo do estudo

Os documentos selecionados para anaacutelise no acircmbito deste estudo foram a Lei nordm 692

sobre o Sistema Nacional da Educaccedilatildeo (Conselho de Ministros 1992) o Plano Curricular do

Ensino Secundaacuterio Geral (MECINDE 2007) e os Programas de Biologia da 8ordf agrave 12ordf classe

(MECINDE 2010) A razatildeo da sua seleccedilatildeo deveu-se ao facto de em Moccedilambique estes serem

os documentos que orientam o ensino em geral e o ensino da Biologia em particular e de por

isso caso reconheccedilam e recomendem abordagens contextualizadas poderem fomentar praacuteticas

de ensino contextualizado de conteuacutedos de Microbiologia em todo o ensino secundaacuterio geral

Para recolha de informaccedilatildeo tivemos que identificar primeiramente as dimensotildees de

contextualizaccedilatildeo que iriam ser usadas na anaacutelise dos documentos referidos e para cada uma

delas definir categorias de anaacutelise Com base na literatura consultada as dimensotildees de anaacutelise

consideradas foram as seguintes

- Quotidiano do aluno que segundo Wartha et al (2013) permite relacionar situaccedilotildees

25

concretas ligadas ao dia-a-dia das pessoas incluindo os saberes locais com

conhecimentos cientiacuteficos

- Formaccedilatildeo pessoal que segundo Fernandes et al (2011) requer que a aprendizagem de

conteuacutedos cientiacuteficos seja feita de forma a promover o desenvolvimento do aluno

enquanto pessoa

- Interdisciplinaridade que tem a ver com o facto de os conhecimentos cientiacuteficos

designadamente os bioloacutegicos serem relacionados com os sociais poliacuteticos econoacutemicos

e culturais (Oda amp Delizoicov 2011)

- Processos de construccedilatildeo do conhecimento que tecircm a ver com os processos de produccedilatildeo dos

conhecimentos cientiacuteficos e sua relaccedilatildeo com os procedimentos usados na produccedilatildeo de

conhecimentos do quotidiano (Fernandes et al 2011)

- Histoacuterica que segundo Kato e Kawasaki (2011) tem a ver com o recurso agrave histoacuteria das

ciecircncias para a apresentaccedilatildeo de conteuacutedos cientiacuteficos e da sua evoluccedilatildeo

- Sociocultural segundo a qual os conteuacutedos de ciecircncias devem ser ensinados em articulaccedilatildeo

com a cultura e com os haacutebitos quotidianos e os costumes locais (Kato amp Kawasaki

2011 Leite Et al 2016)

Para cada dimensatildeo definimos duas categorias (presente e ausente) Na seccedilatildeo seguinte nas

tabelas utilizadas para efeitos de registo de dados a presenccedila de uma dada dimensatildeo seraacute

sinalizada com exemplos de extratos dos documentos analisados

Antes de passar agrave anaacutelise dos documentos selecionados foi necessaacuterio identificar nas

diversas unidades dos Programas de Biologia da 8ordf classe agrave 12ordf classe os conteuacutedos de

Microbiologia que elas incluem a fim de centrar neles a anaacutelise a realizar nos Programas O

resultado dessa identificaccedilatildeo estaacute sintetizado na tabela 1

Tabela 1 Conteuacutedos de Microbiologia presentes nos Programas de Biologia do ESG

Ciclos Classe Unidades Conteuacutedos

1deg ciclo

8ordf Unidade 1 - Tipos de ceacutelula (procarioacutetica e eucarioacutetica)

- Classificaccedilatildeo dos seres vivos em 5 reinos

9ordf Unidade 4 - Importacircncia de fermentaccedilatildeo

Unidade 7 - Organismos no solo

- Organismos decompositores

10ordf Unidade 4 - Processos comuns dentro de um ecossistema

- Ciclo de Nitrogeacutenio

2deg ciclo

11ordf Unidade 1 - Sistemas de classificaccedilatildeo dos seres vivos (breve historial da

sistemaacutetica e sua evoluccedilatildeo)

Unidade 2 - Reino Monera- seres procariotas

26

- Doenccedilas causadas por bacteacuterias (coacutelera tuberculose difteria e

teacutetano) sintomatologia e medidas de prevenccedilatildeo

- Viacuterus e doenccedilas virais (SIDA sarampo varicela variacuteola raiva)

sintomatologia modo de transmissatildeo e profilaxia das doenccedilas

- Reino fungi

12ordf Unidade 3 - Doenccedilas do sistema respiratoacuterio

- Tuberculose

Resultados

A Lei ndeg 692 eacute uma lei geral que se aplica a todo o sistema de ensino Assim as

afirmaccedilotildees que faz embora podendo natildeo se centrar explicitamente agraves ciecircncias tecircm implicaccedilotildees

no seu ensino e aprendizagem Assim a anaacutelise da referida Lei evidenciou a presenccedila de todas as

dimensotildees de contextualizaccedilatildeo consideradas neste estudo com exceccedilatildeo da dimensatildeo histoacuterica

(tabela 2) relativa agrave histoacuteria das ciecircncias Na verdade nesta Lei estaacute explicitado que a escola

deve fomentar a formaccedilatildeo pessoal promover a sua articulaccedilatildeo com a comunidade bem como o

desenvolvimento da sociedade moccedilambicana e os processos de aprendizagem do aluno Aleacutem

disso ao enfatizar que o ensino e a formaccedilatildeo deveratildeo responder agraves exigecircncias de

desenvolvimento do paiacutes embora natildeo seja explicitado infere-se que seraacute necessaacuterio recorrer a

abordagens interdisciplinares pois problemas do mundo real satildeo multidisciplinares

Tabela 2 Evidecircncias da contextualizaccedilatildeo do ensino na Lei do Sistema Nacional de Educaccedilatildeo

Dimensotildees Extrato ilustrativo da dimensatildeo

Quotidiano do aluno ldquohellipLigaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica que se traduz [hellip] na ligaccedilatildeo entre a

escola e a comunidaderdquo (art 2ordmc)

Formaccedilatildeo Pessoal ldquohellipdesenvolvimento da iniciativa criadora da capacidade de estudo

individualldquo (art 2ordm b)

ldquoDesenvolvimento [hellip] da personalidade de uma forma harmoniosa

equilibrada e constante que confira uma formaccedilatildeo integrardquo (art 2ordma)

Interdisciplinaridade ldquohelliporientaccedilatildeo necessaacuteria para realizaccedilatildeo de um ensino e formaccedilatildeo que

respondam aacutes exigecircncias do desenvolvimento do paiacutesrdquo (art 2 e)

Processo de

construccedilatildeo do

conhecimento

ldquoDesenvolvimento [hellip] de assimilaccedilatildeo criacutetica de conhecimentosrdquo (art 2ordf

b)

Histoacuterica ---

Sociocultural ldquohellip a escola participa ativamente na dinamizaccedilatildeo do desenvolvimento

socio-econoacutemico e cultural da comunidaderdquo (art 2ordm e)

De igual modo o Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio Geral apresenta evidecircncias da

presenccedila de todas as dimensotildees de contextualizaccedilatildeo consideradas neste estudo com exceccedilatildeo da

dimensatildeo histoacuterica (tabela 3) nos dois ciclos do ESG No entanto embora na tabela 3 sejam

27

apresentadas evidecircncias para os dois ciclos separadamente a anaacutelise efetuada natildeo permite

ajuizar sobre a intensidade relativa proposta para a contextualizaccedilatildeo em cada um desses dois

ciclos do ESG em geral nem na disciplina de Biologia em particular Para isso seria necessaacuterio

realizar uma anaacutelise mais profunda do documento em causa

Contudo vale a pena realccedilar a importacircncia da valorizaccedilatildeo da contextualizaccedilatildeo no Plano

Curricular nos dois ciclos pois ela pode contribuir para que a contextualizaccedilatildeo do ensino seja

tambeacutem valorizada nos correspondentes Programas designadamente nos de Biologia e

aceitando os argumentos de Lopes (2002) aumente a probabilidade de esta disciplina e os

conteuacutedos a ela associados serem relevantes para os alunos

Tabela 3 Evidecircncias da contextualizaccedilatildeo do enino no Plano Curricular do ESG

Ciclos Dimensotildees Extrato ilustrativo da dimensatildeo

1deg Ciclo Quotidiano do aluno ldquoAplicar os conhecimentos adquiridos e as tecnologias a

eles associados na soluccedilatildeo de problemas da sua famiacutelia e

da

Comunidaderdquo (p20)

ldquohellip aplicar os conhecimentos na resoluccedilatildeo de problemas

especiacuteficos quer da disciplina quer da vida praacutetica

socialrdquo (p44)

Formaccedilatildeo pessoal ldquohellipformaccedilatildeo integral dos alunos promovendo

conhecimentos habilidades e atitudes correctas perante a

natureza e a sociedaderdquo (p20)

ldquohellipser empreendedor criativo criacutetico e auto-confiante ao

desenvolver tarefas ou resolver problemas no ambiente

escolar e fora desterdquo (p20)

Interdisciplinaridade ldquoDesenvolver pequenos trabalhos de pesquisahelliprdquo (p20)

Processo de

construccedilatildeo do

conhecimento

rdquoUsar estrateacutegias de aprendizagem adequadas nas

diferentes aacutereas de estudordquo (p20)

ldquoContribuir para a compreensatildeo cientiacutefica do mundo

atraveacutes da utilizaccedilatildeo dos conhecimentos bioloacutegicosrdquo

(p44)

Histoacuterica ---

Sociocultural ldquoReconhecer a diversidade cultural do paiacutes incluindo a

linguiacutestica religiosa e poliacutetica aceitando e respeitando

os membros dos grupos distintos do seu desenvolvendo

acccedilotildees concretas que visam o respeito a preservaccedilatildeo do

patrimoacutenio culturalrdquo (p20)

2deg Ciclo Quotidiano do aluno ldquoAplique as teacutecnicas de conservaccedilatildeo do ambiente na

comunidaderdquo (p57)

Formaccedilatildeo Pessoal ldquoValorize a importacircncia dos avanccedilos da ciecircncia bioloacutegica

e suas implicaccedilotildees na sociedaderdquo (p58)

ldquoDemonstre haacutebitos correctos de convivecircncia e conduta

28

social responsaacutevelrdquo (p58)

Interdisciplinaridade ldquoRealizar pequenos projectos de pesquisa e investigaccedilatildeo

cientiacutefica na sua aacuterea curricular de opccedilatildeo orientaccedilatildeo ou

adopccedilatildeordquo (p22)

Processo de

construccedilatildeo do

conhecimento

ldquoDesenvolva habilidades estrateacutegias haacutebitos de

investigaccedilatildeo cientiacutefica e comunicaccedilatildeo no ramo da

Biologiardquo (p58)

Histoacuterica ---

Sociocultural ldquohellipdesenvolvendo acccedilotildees concretas que visam a

preservaccedilatildeo do patrimoacutenio culturalrdquo (p22)

No caso dos Programas aleacutem dos conteuacutedos a abordar satildeo apresentadas sugestotildees

metodoloacutegicas para abordagem desses conteuacutedos A anaacutelise recaiu por isso nas propostas

metodoloacutegicas apresentadas para a abordagem dos conteuacutedos elencados na tabela 1 Foi

identificada a presenccedila de quatro das seis dimensotildees de contextualizaccedilatildeo consideradas neste

trabalho (tabela 4) Natildeo se encontraram evidecircncias da dimensatildeo ldquointerdisciplinaridaderdquo e

ldquosocioculturalrdquo embora os conteuacutedos em que se centrou a anaacutelise tenham relaccedilatildeo com conteuacutedos

de outras disciplinas (por ex quiacutemica e geografia) e possam ser relacionados com praacuteticas

sociais eou culturais como acontece no caso de doenccedilas cujo tratamento em algumas

comunidades eacute feito com o apoio de meacutedicos tradicionais

Tabela 4 Evidecircncias da contextualizaccedilatildeo dos conteuacutedos de Microbiologia nos Programas de

Biologia do ESG

Classe Dimensotildees de

contextualizaccedilatildeo

Extrato ilustrativo da dimensatildeo

8ordf

Histoacuteria das

ciecircncias

ldquohellipsistema actual de classificaccedilatildeo que distribui os seres vivos em cinco

grandes reinos e que foi idealizado por R H Whittaker em 1969rdquo (p16)

Formaccedilatildeo Pessoal

ldquoAs excursotildees previstas nos programas as actividades praacuteticas devem ser

utilizadas pelo professor para permitir que o aluno reconheccedila a importacircncia

desta ciecircncia despertando nele a responsabilidade para com a comunidade

e sociedaderdquo (p16)

Processo de

construccedilatildeo do

conhecimento

ldquohellip os alunos deveratildeo elaborar uma grelha que contenha algumas

caracteriacutesticas dos seres vivos dos diferentes reinos Em plenaacuteria os

grupos apresentam os resultados seguidos de discussatildeordquo (p18)

9ordf

Quotidiano do

aluno

ldquoOs alunos em grupos podem visitar uma faacutebrica de produccedilatildeo d bebidas

alcooacutelicas de produccedilatildeo de lacticiacutenios ou uma padariardquo (p29)

Formaccedilatildeo Pessoal ldquoOs alunos devem consultar literatura variada revistas e jornais procurar

informaccedilatildeo junto dos pais ou encarregados de educaccedilatildeo sobre como se

produz determinados alimentos a niacutevel familiar usando o processo de

29

fermentaccedilatildeordquo (p29)

Processo de

construccedilatildeo do

conhecimento

ldquoAs visitas de estudo tecircm como finalidade observar os diferentes processos

de fermentaccedilatildeo criar no aluno o gosto pelo trabalho entrar em contacto

com o equipamento e dialogar com os funcionaacuterios destas unidades de

produccedilatildeordquo (p29)

ldquoOs alunos sob a orientaccedilatildeo do professor poderatildeo realizar uma excursatildeo

aos campos ou hortas escolares onde poderatildeo ver o solo [hellip] a apreciaccedilatildeo

dos horizontes do solo e recolher algumas amostras para o estudo na sala

de aulasrdquo (p36)

10ordf Quotidiano do

aluno

ldquohellip os alunos investiguem problemas ambientais na sua comunidadehelliprdquo

(p29)

ldquohellipexcursotildees para locais que sofreram efeitos nocivos do

ambientehelliprdquo(p29)

Processo de

construccedilatildeo do

conhecimento

ldquoOs alunos podem fazer propostas para a soluccedilatildeo de problemas

relacionados com a poluiccedilatildeo de diferentes meiosrdquo (p29)

ldquohellip os alunos [propotildeem] soluccedilotildees inovadoras para os problemas

identificadosrdquo (p29)

11ordf

Histoacuteria das

ciecircncias

ldquoOs alunos devem entender que com o desenvolvimento da ciecircncia os

estudos sobre os agrupamentos dos seres vivos evoluiacuteramrdquo (p17)

Quotidiano do

aluno

ldquohellipseria importante que os alunos pesquisassem as doenccedilas mais comuns

na sua comunidaderdquo (p22)

Formaccedilatildeo Pessoal

ldquoAs investigaccedilotildees mais profundas das caracteriacutesticas dos organismos

incluindo as substacircncias geneacuteticas e bioquiacutemicas em geral evoluiacuteram na

aacuterea cientiacutefica permitindo a possibilidade do surgimento de novos

agrupamentos das espeacuteciesrdquo (p17)

Processo de

construccedilatildeo do

conhecimento

ldquoEacute importante que os alunos diferenciem as caracteriacutesticas gerais de cada

um dos reinos estudados agrupem os seres de acordo com os filos e

classes de cada um dos reinosrdquo (p22)

ldquohellip sugere-se que o professor decirc um trabalho de investigaccedilatildeo aos alunos

sobre as doenccedilas causadas pelos diferentes organismos estudados por

exemplo os causadores da tuberculose coacutelera teacutetano HIV-SIDA etchelliprdquo

(p17)

12ordf Quotidiano do

aluno

ldquohellipdar possibilidades aos alunos para aplicarem os conhecimentos

relacionados com a vida diaacuteriardquo (p 31)

No caso da 12ordf classe apesar de o respetivo programa incluir conteuacutedos de Microbiologia

(doenccedilas respiratoacuterias por exemplo a tuberculose causada por bacteacuteria da espeacutecie

Mycobacterium tuberculose ou Bacilos de Koch) natildeo foram nele identificadas propostas

metodoloacutegicas especificas promotoras da contextualizaccedilatildeo dos referidos conteuacutedos A

tuberculose eacute uma doenccedila ainda algo preocupante em Moccedilambique pelo que o programa deveria

sugerir uma metodologia para leccionaccedilatildeo desse conteuacutedo que fomentasse a sua relaccedilatildeo com o

quotidiano e as condiccedilotildees de vida de modo a natildeo soacute contribuir para a compreensatildeo das causas

30

da referida doenccedila e de formas de reduzir o risco de a contrair mas tambeacutem de tornar o conteuacutedo

em causa mais relevante para os alunos

Comparando os resultados obtidos neste estudo com os alcanccedilados por Kato e Kawasaki

(2011) referidos na fundamentaccedilatildeo teoacuterica constata-se que os curriacuteculos moccedilambicanos

fomentam a contextualizaccedilatildeo do ensino da Microbiologia tal como os curriacuteculos brasileiros

analisados por aqueles autores fomentam a contextualizaccedilatildeo do ensino da Biologia

Conclusotildees

A anaacutelise dos documentos que regem o ensino em Moccedilambique que aqui apresentaacutemos eacute

uma anaacutelise exploratoacuteria que se centra apenas em alguns dos aspetos que os compotildeem No

entanto essa anaacutelise sugere que os documentos em causa atribuem alguma relevacircncia ao ensino

contextualizado das ciecircncias em geral e dos conteuacutedos de Microbiologia em particular Na

verdade no conjunto de documentos analisados foram encontradas evidecircncias de todas as

dimensotildees de anaacutelise consideradas embora a dimensatildeo histoacuterica esteja ausente da Lei 692 e do

Plano Curricular dois documentos orientadores importantes de que dependem os Programas

Estes resultados satildeo concordantes com os obtidos por Kato e Kawasaki (2011) atraveacutes da anaacutelise

de documentos curriculares brasileiros dado que tambeacutem estes autores constaram a presenccedila

nesses documentos de uma variedade de formas de contextualizaccedilatildeo

A valorizaccedilatildeo da contextualizaccedilatildeo por parte dos documentos em anaacutelise eacute importante na

medida que pode influenciar quer os autores de manuais escolares quer os professores de

Biologia levando-os a adoptar metodologias de ensino capazes de ajudar os alunos a dar

significado agrave aprendizagem de conteuacutedos de Microbiologia que embora sendo relevantes para o

cidadatildeo comum podem natildeo ser facilmente percebidos como tal Aleacutem disso poderatildeo cativar os

alunos apresentando-lhes uma Biologia mais interessante e capaz de contribuir para uma

educaccedilatildeo em ciecircncias para a cidadania o que teraacute implicaccedilotildees positivas ao longo da vida dos

alunos

Finalmente conveacutem salientar que o facto de os documentos orientadores recomendarem

mais ou menos implicitamente a contextualizaccedilatildeo natildeo garante que ela eacute feita na sala de aulas

pois a concretizaccedilatildeo a esse niacutevel depende muito por um lado do modo como os manuais

escolares se apropriam dessas recomendaccedilotildees e por outro lado da formaccedilatildeo dos professores da

dependecircncia que eles tiverem face aos manuais escolares da importacircncia que atribuiacuterem agrave

questatildeo da contextualizaccedilatildeo e da sua capacidade para ensinarem ciecircncias a partir de contextos

reais

31

Agradecimentos

A segunda autora agradece ao CIEd - Centro de Investigaccedilatildeo em Educaccedilatildeo do Instituto de

Educaccedilatildeo da UMinho (UIDCED016612013) que financiou parcialmente este trabalho com

verbas nacionais

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33

Actividades laboratoriais no ensino das Ciecircncias um estudo com os livros escolares

e professores de Biologia da 8ordf classe das escolas da Cidade de Maputo12

Agnes Clotilde Novela13

Resumo

O ensino das Ciecircncias Naturais tem levado ao surgimento de muitas pesquisas no que concerne as suas

metodologias que devem ser diferentes de outras disciplinas A presente pesquisa tem como principal

objectivo analisar as caracteriacutesticas das Actividades Laboratoriais (ALs) propostas pelos livros escolares

de Biologia da 8ordf Classe as concepccedilotildees e as representaccedilotildees praacuteticas dos professores sobre a importacircncia e

utilizaccedilatildeo destas actividades no ensino da Biologia Nesta pesquisa foram desenvolvidos dois estudos um

estudo com os livros escolares de Biologia da 8ordf classe e o outro com os professores de Biologia da 8ordf

classe de algumas escolas da cidade de Maputo sobre as suas concepccedilotildees atitudes e praacuteticas em relaccedilatildeo

as ALs Constatou-se que nos trecircs livros analisados aparecem com maior frequecircncia as actividades

ilustrativas e algumas orientadas para a determinaccedilatildeo do que acontece e concentradas na unidade

temaacutetica ldquoMetabolismo do Organismo Humanordquo Todos os professores reconhecem a importacircncia das

ALs Conclui-se que o tipo de ALs proposto pelos livros analisados em uso nas escolas e as atitudes e

praacuteticas dos professores de Biologia natildeo se relacionam com as perspectivas defendidas para o uso do

laboratoacuterio no ensino das Ciecircncias

Palavras chave Livros escolares Actividades Laboratoriais Ensino de CiecircnciasBiologia

Abstract

The teaching of the Natural Sciences has led to the emergence of many researches regarding their

methodologies which must be different from other disciplines The present research has as main

objective to analyse the characteristics of the Laboratory Activities (LAs) proposed by the grade 8

Biology textbooks the conceptions and practical representations of the teachers about the importance and

use of these activities in Biology Teaching In this research two studies were developed a study with

grade 8 biology school textbooks and the other with 8th grade biology teachers from some schools in the

city of Maputo about their conceptions attitudes and practices regarding ALs It was found that in the

three books analysed the illustrative activities are more often shown and some are oriented towards the

determination of what happens and are concentrated in the thematic unit Metabolism of the Human

Organism All teachers recognize the importance of LAs It is concluded that the type of LAs proposed

by the analysed books of use in the schools the attitudes and practices of the teachers of Biology are not

related to the perspectives defended for the use of the laboratory in the teaching of Sciences

Keywords School books Laboratory Activities Teaching Science Biology

Introduccedilatildeo

A Educaccedilatildeo eacute o sector chave para a continuidade de uma naccedilatildeo Eacute um processo dinacircmico

sujeito a perioacutedicas revisotildees e reformas de seus curriacuteculos com vista natildeo soacute a melhoria da

qualidade do processo ensino-aprendizagem (PEA) (MEC 2012) mas tambeacutem a responder aos

diferentes desafios da sociedade moderna De acordo com Pacheco (2001) a inovaccedilatildeo curricular

estaacute ligada agraves mudanccedilas que contribuem para a transformaccedilatildeo e melhoria do PEA e

12 Este estudo constitui parte da Dissertaccedilatildeo de Mestrado da autora 13 Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de Biologia pela Universidade Pedagoacutegica e Docente na mesma Universidade na

Faculdade de Ciecircncias Naturais e Matemaacutetica Departamento de Biologia

34

consequentemente para a confirmaccedilatildeo do sucesso educativo dos alunos e este sucesso iraacute

reflectir-se na sociedade na sua actuaccedilatildeopara a resoluccedilatildeo dos diversos problemas

O conjunto de ideias plasmadas nos curriacuteculos (teacuteoricos) deve ser traduzido em praacuteticas

escolares (implementaccedilatildeo do curriacuteculo) de acordo com as novas visotildees do PEA e formaccedilatildeo de

um Homem activo na Sociedade Para a concretizaccedilatildeo destas ideias em Ciecircncias Naturais em

geral e particularmente em Biologia eacute necessaacuteria a aplicaccedilatildeo de estrateacutegias metodoloacutegicas

adequadas e especiacuteficas que demonstrem ao aluno a importacircncia das Ciecircncias Naturais na sua

vida Como refere Silva (2011) eacute preciso que se formem jovens seguros de seus conhecimentos

capazes de interligar os conhecimentos adquiridos em sala de aula com o seu quotidiano Um dos

meacutetodos que constitui objecto de estudo na presente investigaccedilatildeo satildeo as Actividades

Laboratorias (ALs)

Com a evoluccedilatildeo das Ciecircncias e com as inovaccedilotildees nos curriacuteculos educacionais em

Moccedilambique tornou-se importante a valorizaccedilatildeo das actividades laboratoriais na aacuterea de

Ciecircncias Naturais (MEC 2009) com vista a desenvolver no aluno as capacidades e habilidades

para a transposiccedilatildeo dos conhecimentos cientiacuteficos adquiridos para a Sociedade

O PEA depende para aleacutem dos recursos humanos (professores) tambeacutem de recursos

materiais tais como o livro escolar que dada a sua importacircncia torna-se indispensaacutevel Desta

forma torna-se relevante a integraccedilatildeo destas actividades nos livros escolares e a sua

consideraccedilatildeo no processo de selecccedilatildeo embora estudo realizado por Frison et al (2009) mostre a

complexidade do processo e exija a definiccedilatildeo de criteacuterios especiacuteficos que daratildeo significacircncia ao

PEA em Ciecircncias

Objectivo geral

Este trabalho tem como principal objectivo analisar as caracteriacutesticas das actividades

laboratoriais propostas pelos livros escolares de Biologia da 8ordf Classe as concepccedilotildees e as

representaccedilotildees praacuteticas dos professores sobre a utilizaccedilatildeo destas actividades no ensino

Revisatildeo da literatura

Actividades Laboratoriais no Ensino de Biologia

Que as ALs motivam os alunos para a aprendizagem eacute uma concepccedilatildeo da maior parte dos

intervenientes do PEA que justificam as suas praacuteticas e a tipologia das ALs desenvolvidas em

muitas escolas Com estas ou outras concepccedilotildees sobre o papel das ALs no PEA eacute inegaacutevel a

utilizaccedilatildeo de ALs no ensino das Ciecircncias e para Figueiroa (2001) o laboratoacuterio apresenta-se

35

como um ambiente que garante uma maior interacccedilatildeo entre os alunos sentindo-se incentivados a

aprender com base em desafios que lhes satildeo colocados Este caraacutecter das ALs facilita a

concretizaccedilatildeo de uma perspectiva construtivista do ensino e da aprendizagem (Dourado 2005)

Acredita-se que as ALs como um meacutetodo de ensino das Ciecircncias Naturais poderatildeo

contribuir para a melhor compreensatildeo dos processos bioloacutegicos por parte dos alunos podendo

proporcionar a aquisiccedilatildeo de teacutecnicas laboratoriais melhoramento da sua compreensatildeo acerca dos

conceitos cientiacuteficos considerando tambeacutem o aspecto motivacional (Rosito 2000)

Na disciplina de Biologia tal como acontece nas outras de Ciecircncias Naturais do Ensino

Secundaacuterio as ALs satildeo na maioria das vezes desenvolvidas apenas para a confirmaccedilatildeo de teorias

e leis expostas pelo professor e poucas vezes como via para a construccedilatildeo de um novo

conhecimento por parte dos alunos (Borges 2002) Ainda de acordo com Borges (2002) o que

falta nos professores de Biologia eacute a definiccedilatildeo de objectivos claros ao escolherem ALs para

realizarem com seus alunos Todo tipo de AL realizada pode desempenhar um papel importante

na aprendizagem desde que os objectivos da realizaccedilatildeo da mesma sejam claramente definidos

pelo professor

Vaacuterias ALs desenvolvidas durante as aulas na 8ordf classe visam a determinaccedilatildeo do que

acontece e natildeo como acontece (Leite 2006) realizadas em funccedilatildeo de um conteuacutedo jaacute abordado

teoricamente Para todas ALs independentemente do tipo de conteuacutedo abordado haacute sempre um

guiatildeo do tipo ldquoreceitardquo que o professor orienta os seus alunos a segui-lo ou ele proacuteprio segue em

caso de demonstraccedilotildees Borges (2002) defende a organizaccedilatildeo de ALs de uma forma mais aberta

sem nenhuma imposiccedilatildeo do que o aluno deve ou natildeo fazer garantindo deste modo o espiacuterito

investigativo

Os livros escolares de Biologia

O livro escolar (termo muito usado em Moccedilambique) tambeacutem chamado Manual escolar

(Figueiroa 2001 Sousa 2009) ou ainda Livro Didaacutectico (Nuntildeez et al 2003 Xavier et al 2006

Neto amp Flacalanza 2003 Vasconselos e Souto 2003) eacute o principal recurso de que o professor

dispotildee para a orientaccedilatildeo das suas actividades de ensino (Nuntildeez et al 2003) e um elemento

influenciador de todo PEA principalmente da praacutetica docente pois continua prevalecendo como

o principal instrumento de trabalho do professor (Figueiroa 2001 Leite 2006)

Os especialistas em educaccedilatildeo de quase todos os paiacuteses do mundo reconhecem que o livro

escolar eacute o meio didaacutectico mais utilizado (Figueiroa 2001) sendo que as suas caracteriacutesticas

podem dificultar ou facilitar a aprendizagem dos alunos (Silva 2001) Eacute um facto inegaacutevel a

36

ligaccedilatildeo entre os livros escolares e o PEA existindo na mente de muitas pessoas a

impossibilidade de ensinar e de aprender sem o livro escolar pois eacute neste instrumento em que os

professores e alunos encontram alguma seguranccedila no que ensinam e no que aprendem

respectivamente (Pereira 2010) Embora natildeo existam no nosso paiacutes investigaccedilotildees notaacuteveis

ligadas agrave utilizaccedilatildeo dos livros escolares investigadores de outras partes do mundo consideram o

livro escolar o principal determinante da natureza da actividade cientiacutefica desenvolvida na sala

de aula

Em Moccedilambique os livros escolares de todas as disciplinas curriculares do Ensino

Secundaacuterio Geral satildeo produzidos por autores convidados pelas diferentes editoras existentes no

paiacutes Estes livros produzidos satildeo submetidos agrave Comissatildeo de Avaliaccedilatildeo do Livro Escolar (CALE)

do MINEDH (Ministeacuterio da Educaccedilao e Desenvolvimento Humano) onde satildeo avaliados de

acordo com o Artigo 5 (Aacutereas e Criteacuterios de Avaliaccedilatildeo) do Regulamento de avaliaccedilatildeo dos Livros

Escolares Constituem as aacutereas de avaliaccedilatildeo as seguintes

a) Curriculum e conteuacutedo

b) Abordagem Metodoloacutegica e Liacutengua

c) Valores e Questotildees Transversais

d) Estrutura e Organizaccedilatildeo

Os criteacuterios de avaliaccedilatildeo estatildeo definidos no Formulaacuterio de Avaliaccedilatildeo aprovado pelo

Ministro da Educaccedilatildeo Uma vez aprovados os livros satildeo colocados agrave disposiccedilatildeo dos professores

para que estes faccedilam a sua avaliaccedilatildeo entretanto esta avaliaccedilatildeo difere de escola para escola natildeo

soacute pela sua realidade contextual mas pelo ponto de vista dos professores e pelas suas

perspectivas no ensino da disciplina de Biologia De acordo com esta realidade cada grupo de

professores da disciplina em diferentes escolas optam por umuns podendo desta maneira

adoptar mais do que um livro para a mesma disciplina

Em Moccedilambique a utilidade e importacircncia dada ao livro de Biologia natildeo difere dos livros

de outras disciplinas O livro de Biologia destinado ao aluno eacute fonte de conteuacutedos ldquofieacuteisrdquo aos

programas de ensino havendo muitas vezes inserccedilatildeo de figuras imagens representaccedilotildees

bioloacutegicas e questionaacuterios relacionados com os diversos conteuacutedos Entretanto Vasconcelos amp

Souto (2003) referem que os livros de Ciecircncias tecircm uma funccedilatildeo que os difere dos demais

estimulando a anaacutelise de fenoacutemenos o teste de hipoacuteteses e a formulaccedilatildeo de conclusotildees

De acordo com Nuntildeez et al (2003) os livros escolares devem responder agraves exigecircncias

actuais da educaccedilatildeo passando desta forma a ser um instrumento que promove a capacidade de

resoluccedilatildeo de problemas e o desenvolvimento de competecircncias Havendo necessidade de

37

desenvolver actividades laboratoriais ou de outro tipo os livros escolares tornam-se a fonte das

mesmas de modo que o aluno possa ter um instrumento que lhe oriente em caso de

desenvolvimento destas actividades mesmo na ausecircncia do professor Ademais o livro do aluno

deve ser um instrumento capaz de promover a reflexatildeo sobre os muacuteltiplos aspectos da realidade e

estimular a capacidade investigativa do aluno para que ele assuma a condiccedilatildeo de agente

construtor do seu proacuteprio conhecimento (Vasconcelos e Souto 2003)

Metodologia

A pesquisa envolveu dois estudos Um com os livros escolares de Biologia da 8ordf classe e o

outro com os professores da mesma disciplina e classe das escolas da cidade de Maputo O

primeiro estudo consistiu em trecircs etapas

1ordf Levantamento dos livros escolares de Biologia da 8ordf classe mais usados nas

escolas

Foram seleccionados trecircs livros de Biologia da 8ordf classe a saber

Livro A (Plural Editores Laurinda Joseacute Titoce e PedroAlberto Cossa) Biologia 8ordf

Classe

Livro B (Texto Editores Cristina Loforte) B8 Biologia 8ordf Classe

Livro C (Editora Longman Antoacutenio da Costa Diakos e Ivaldo Quincardete) Saber

Biologia

2ordf Verificaccedilatildeo de ALs nas diferentes unidades didaacutecticas nos livros em estudo

Foram analisados os trecircs livros seleccionados e verificou-se que em cada unidade temaacutetica

existem actividades laboratoriais propostas

3ordf Anaacutelise das actividades laboratoriais propostas pelos livros por unidade didaacutectica

Esta fase consistiu numa anaacutelise exaustiva e incidiu sobre as caracteriacutesticas (tipologia) dos

protocolosguiotildees e do nuacutemero de actividades propostas em cada unidade

Como forma de dar mais ecircnfase e relevacircncia a pesquisa fez-se ainda uma anaacutelise

comparativa entre os livros de Biologia quanto ao nuacutemero de propostas em cada unidade e agrave

tipologia

Os paracircmetros de anaacutelise dos protocolos satildeo os propostos por Leite e Coelho (1997)

Figueiroa (2001) Sousa (2009) centrando-se em dois aspectos

38

1ordm O principal objectivo que a AL permite atingir o qual conduziraacute agrave definiccedilatildeo do tipo de

ALs proposto

2ordmO niacutevel de abertura da AL O qual informa acerca do envolvimento procedimental e

conceptual que a AL exige do aluno

No estudo feito com os professores de Biologia na 8ordf classe participaram 14 professores de

7 escolas secundaacuterias da cidade de Maputo nomeadamente Josina Machel Francisco

Manyanga Coleacutegio Kitabu Zedeguias Manganhela Malhazine Laulane e Quisse Mavota para

as quais foram atribuiacutedos os coacutedigos K J F Z M L e Q respectivamente Da amostra (que

corresponde ao universo dos professores de Biologia 8ordf classe nas escolas seleccionadas) 8

professores satildeo Licenciados em Ensino de Quiacutemica-Biologia (cursos bivalentes oferecidos desde

a criaccedilatildeo da UP ateacute 2004) quatro (4) Licenciados em Ensino de Biologia um (1) Licenciado em

Veterinaacuteria mas com a formaccedilatildeo em docecircncia para Biologia e Quiacutemica um (1) com o niacutevel

baacutesico

Resultados e discussatildeo

Anaacutelise das ALs propostas pelos livros escolares de Biologia da 8ordf classe

Todos os livros analisados estatildeo estruturados em unidades temaacuteticas previstas no programa

de ensino da 8ordf Classe

ALs nas diferentes Unidades Didaacuteticas

Os livros de Biologia analisados apresentam propostas de ALs embora em nuacutemero

reduzido Dos resultados encontrados nenhum dos trecircs livros apresenta proposta de ALs na

unidade 1 (Biologia como Ciecircncia) e na unidade 5 (Reproduccedilatildeo e Sauacutede Sexual) A Unidade 3 eacute

que possui um nuacutemero relativamente maior de propostas de ALs poreacutem todas as actividades

estatildeo relacionadas com o toacutepico que aborda conteuacutedos sobre a ldquoComposiccedilatildeo dos Alimentosrdquo

Contudo este nuacutemero eacute insignificante olhando para o nuacutemero de conteuacutedos temaacuteticos que a

unidade apresenta

De acordo com os programas de ensino a unidade I (Biologia como Ciecircncia) aborda

assuntos relacionados com os seres vivos desde o meacutetodo de estudo da ceacutelula com vaacuterios

conteuacutedos ateacute agrave importacircncia da Biologia para a sociedade poreacutem nenhuma AL eacute proposta

sobre estes assuntos Resultados encontrados por Goldbach (2009) num estudo com livros de

Biologia do ensino meacutedio mostram por um lado que a maior parte apresenta um nuacutemero baixo

39

de actividades laboratoriais e por outro lado a ausecircncia de propostas de AL em determinadas

unidades temaacuteticas Este eacute um facto tambeacutem observado por Figueiroa (2001) em seu estudo com

livros escolares de Ciecircncias Naturais

Existe uma fraqueza numeacuterica muito maior de ALs no livro A em relaccedilatildeo aos outros dois

(B e C) por unidade O livro B apresenta um nuacutemero relativamente maior de propostas na 3ordf

unidade didaacutectica distribuiacutedas pelos diferentes conteuacutedos temaacuteticos Estes dois livros

apresentam ainda uma proposta de actividade na unidade didaacutectica 4 (Sensibilidade e regulaccedilatildeo)

contrariamente ao livro A A desigualdade no que concerne a frequecircncia das ALs nos diferentes

livros analisados eacute um resultado obtido por Figueiroa (2001) e por Sousa (2009) em seus

estudos com manuais de Ciecircncias Fiacutesico-Quiacutemicas

Tipos de ALs propostas pelos livros escolares

Para a classificaccedilatildeo das ALs propostas pelos livros tomou-se como base a classificaccedilatildeo de

Silva amp Leite (1997) tambeacutem adoptada por Leite (2001) Figueiroa (2001 e Sousa (2009) Estes

autores agrupam as ALs de acordo com os objectivos a serem alcanccedilados em seis tipos

exerciacutecios actividades para a aquisiccedilatildeo de sensibilidade acerca dos fenoacutemenos ilustrativas

orientadas para determinaccedilatildeo do que acontece e Prevecirc-Observa-Explica-Reflecte (com ou sem

procedimentos apresentados) A tabela abaixo mostra os diferentes tipos de ALs existentes nos

livros analisados

Tabela 1 Tipos de ALs por livro analisado

Tipo de Actividade Manual

A B C

Investigaccedilatildeo - - -

Prevecirc-Observa-Explica-Reflecte - -

Actividades orientadas para determinaccedilatildeo do que acontece 2

Actividades ilustrativas 1 5 5

Exerciacutecio - - -

Actividades para aquisiccedilatildeo de sensibilidade acerca dos

fenoacutemenos

1 1

Da tabela 1 pode-se verificar que os livros de Biologia em uso nas escolas apresentam

quase sempre propostas de ALs do tipo ilustrativas e orientadas para a determinaccedilatildeo do que

acontece verificando-se ausecircncia de outros tipos de actividades Resultados similares foram

encontrados por Figueiroa (2001) em seu estudo com manuais escolares de Ciecircncias da

40

Natureza do 5ordm ano de escolaridade De acordo com a mesma autora estas actividades apesar de

terem a vantagem de dar aos alunos uma sensaccedilatildeo de descoberta eacute bom ter-se em mente que ao

realizar-se actividades deste tipo o aluno natildeo estaacute a fazer uma descoberta cientiacutefica e natildeo estaacute

aprender a trabalhar como cientista Este eacute um tipo de actividade que visa a construccedilatildeo do

conhecimento conceptual e natildeo garante ao aluno nehuma autonomia nem habilidades na

execuccedilatildeo e manipulaccedilatildeo de instrumentos pois limita-se a seguir o que estaacute descrito nos

procedimentos da actividade proposta Muitos investigadores tecircm criticado os livros escolares

que propotildeem ALs acompanhadas de um guiatildeo de procedimentos do tipo ldquoreceita de cozinhardquo

para determinaccedilatildeo do que acontece pois em nada contribuem para a promoccedilatildeo de atitudes

cientiacuteficas Este tipo de actividades eacute segundo autores como Reis (1996) e Leite (2001)

responsaacutevel pela incompatibilidade entre as mesmas e os objectivos preconizados pelos actuais

curriacuteculos de Ciecircncias

Desta maneira os livros de Biologia da 8ordf classe em uso estatildeo longe de alcanccedilar um dos

objectivos da reforma curricular do Ensino Secundaacuterio Geral que eacute o desenvolvimento de

competecircncias2

No ESG1 a aprendizagem da Biologia visa desenvolver habilidades nos alunos

que lhes permitam aplicar os conhecimentos na resoluccedilatildeo de problemas

especiacuteficos quer da disciplina quer da vida social mediante observaccedilotildees

realizaccedilatildeo de experiecircncias excursotildees manipulaccedilatildeo de instrumentos (MEC

2007 p 44)

Resultado das entrevistas aos professores de Biologia das Escolas Secundaacuterias da

Cidade de Maputo

Concepccedilotildees dos professores em relaccedilatildeo as ALs

Relativamente agraves concepccedilotildees dos professores sobre as ALs os resultados mostram uma

diversidade de concepccedilotildees em relaccedilatildeo a importacircncia das ALs no ensino dos conteuacutedos de

Biologia entre os professores entrevistados Podemos constatar que 6 professores (Z2 F2 F3

L1 L2 e Q) consideram as ALs importantes pois estas melhoram a compreensatildeo dos conteuacutedos

Resultados similares foram encontrados por Dourado (2005) em seu estudo com professores

estagiaacuterios de Biologia e Geologia em Portugal onde estes apontam como razotildees da

implementaccedilatildeo das ALs o aumento do niacutevel de compreensatildeo dos conteuacutedos pelos alunos

Trecircs professores (M1 M2 e Q) referiram-se ao caraacutecter motivador das ALs Estudos de

autores como Camuendo (2006 e Sousa (2009) relacionados com a ALs no PEA mostram que

estas tecircm um caraacutecter motivador pelo simples facto de o aluno sair da sala de aulas normal para

41

um laboratoacuterio despertando-lhe curiosidade e interesse em querer perceber o que eacute e como eacute

feito Eacute motivador ainda pelo facto do aluno sentir-se ldquolivrerdquo pois pode manipular e questionar

sobre a actividade que executa

A realidade do nosso paiacutes confirmada em certa medida com os resultados do presente

estudo mostra que satildeo muito poucos os professores que desenvolvem ALs no PEA fazendo com

que o aluno passe por vaacuterios anos de escolaridade sem nunca ter entrado num laboratoacuterio ou

visto a demonstraccedilatildeo de alguma actividade Assim sendo independemente do tipo de actividade

que o aluno desenvolve este fica motivado pelo facto de algumas se natildeo muitas vezes tornar-se

uma novidade este meacutetodo de aprendizagem de processos e fenoacutemenos naturais

A realidade descrita eacute mais notoacuteria em escolas puacuteblicas (natildeo apenas as envolvidas no

estudo) Em algumas escolas privadas do nosso paiacutes como eacute o caso de uma envolvida no

presente estudo (Escola K) torna-se ldquoobrigatoacuteriordquoque o professor realize com os seus alunos

actividades praacuteticas quer laboratoriais ou de outro tipo A grande maioria das escolas puacuteblicas

mesmo com laboratoacuterios concebidos estes natildeo satildeo utilizados por vaacuterios factores e natildeo por falta

de professores qualificados pois estes professores satildeo os mesmos que trabalham em escolas

privdas

A importacircncia e o impacto das ALs no PEA satildeo claros para muitos professores de Ciecircncias

Naturais poreacutem a realidade escolar de um lado e as atitudes dos professores de outro fazem

com que a componente praacutetico-laboratorial natildeo se desenvolva tornando assim o ensino das

Ciecircncias Naturais igual ao ensino de Literatura ou de Ciecircncias Sociais Galiazzi et al (2001) e

Gil Perez et al (2002) afirmam que as actividades experimentais embora aconteccedilam pouco nas

salas de aula satildeo apontadas como a soluccedilatildeo que precisaria de ser implementada para a tatildeo

esperada melhoria no ensino de Ciecircncias

Uma outra questatildeo colocada nesta secccedilatildeo esteve relacionada com a existecircncia ou natildeo de

uma forma ideal de usar as ALs em que a maior parte dos professores limitou-se em ldquogesticularrdquo

(difiacutecil de interpretar por uma entrevista) um pequeno sorriso natildeo tendo dito nada poreacutem dois

professores responderam o seguinte

P1 FldquoNo horaacuterio devia-se colocar um dia de praacuteticasrdquo

P2 K ldquoA forma ideal de usar as ALs tecircm a ver com o seu

enquadramento portanto as ALs devem ser bem enquadradas nos

respectivos conteuacutedos teoacutericos

A atitude dos restantes professores face agrave questatildeo ligada a existecircncia de uma forma ideal

de usar as ALs mostra que estas natildeo satildeo as pessoas indicadas para responderem agrave esta questatildeo

42

pois satildeo professores que natildeo desenvolvem ou nunca reflectiram sobre o assunto levantado nesta

pesquisa

Resultados obtidos por Sousa (2009) em seu estudo com professores de Fiacutesica e Quiacutemica

mostram que estes referem que natildeo existe uma forma ideal de usar as ALs poreacutem um dos

envlvidos no estudo apontou que estas devem estar de acordo com as aulas teoacutericas Esta uacuteltima

opiniatildeo relaciona-se com a segunda resposta obtida no presente estudo em que para este

professor a forma ideal seria o bom enquadramento das ALs

Borges (2002) afirma que eacute necessaacuterio aliar sempre a teoria e a praacutetica criando uma

relaccedilatildeo entre estas duas componentes de forma que se garanta a integraccedilatildeo dos conhecimentos

tanto teoacutericos assim como praacuteticos pelos alunos

Um dos professores (P1F) referiu que para ele a forma ideal seria a organizaccedilatildeo do

horaacuterio semanal de forma a que se reservasse um dia para aulas praacuteticaslaboratoriais Sendo a

reduzida carga horaacuteria na disciplina de Biologia um factor pelo qual alguns professores

justificam a natildeo realizaccedilatildeo das ALs era de se esperar que este tipo de resposta surgisse embora

natildeo relevante para o objectivo da questatildeo colocada

Um outro professor (P2K) considera como forma ideal de usar as ALs o seu

enquadramento nos conteuacutedos abordados Esta ideia foi encontrada por Dourado (2005) em seu

estudo com os professores estagiaacuterios em que do grupo de professores envolvidos um afirmou

natildeo ter implementado ALs durante o estaacutegio por natildeo ter conseguido adequar a nenhum dos

conteuacutedos abordados

Estas concepccedilotildees demonstram a existecircncia de uma linha fixa no desenvolvimento de ALs

pelos professores em que estas satildeo usadas para a confirmaccedilatildeo do que foi abordado teoricamente

e nunca para o desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas e do skill cognitivo Resultados

relacionados foram obtidos por Leite e Esteves (2005) em seu estudo com estudantes de

graduaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores em que apresentam como proposta para a

melhor compreensatildeo das evidecircncias de uma determinada AL pelos alunos ensinar o conteuacutedo

cientiacutefico correspondente antes de entrar na actividade Este meacutetodo impede ao aluno de

desenvolver a capacidade de interpretaccedilatildeo de factos e de retirar as suas proacuteprias conclusotildees sobre

determinados fenoacutemenos ou processos

43

Representaccedilotildees sobre as praacuteticas dos professores relativamente agraves Actividades

Laboratoriais

Nesta secccedilatildeo foi nossa intenccedilatildeo conhecer as praacuteticas dos professores relativamente agraves ALs

especificamente com o intuito de saber se as Als satildeo desenvolvidas na sala de aula bem como a

frequecircncia com que elas satildeo desenvolvidas Foi ainda de interesse nesta secccedilatildeo saber com que

objectivos os professores desenvolvem as ALs nas suas aulas e que material editorial serve de

apoio para a preparaccedilatildeo das mesmas assim como a sua tipologia e o momento de abordagem dos

conteuacutedos em que satildeo desenvolvidadas

Em relaccedilatildeo agrave primeira questatildeo ligada ao uso de ALs nas aulas oito (8) professores

afirmaram que natildeo usam por razotildees comofalta de laboratoacuterio de materiais e de tempo Somente

cinco (5) dos professores das escolas K M e Q afirmaram que sim

A falta de laboratoacuterio indicada como razatildeo para a natildeo realizaccedilatildeo das ALs natildeo eacute real pois

duas delas (J e F) tecircm salas concebidas para laboratoacuterio poreacutem natildeo satildeo usados mantendo-os

fechados alegando a falta de teacutecnicos para a gestatildeo dos mesmos Gonccedilalves e Marques (2006)

em seus estudos sobre a actividade praacutetico-experimental no Brasil mostram que os professores

revelam-se pouco satisfeitos em geral com as condiccedilotildees infra-estruturais (laboratoacuterios) de suas

escolas pincipalmente aqueles que actuam em escolas puacuteblicas justificando desta forma o natildeo

desenvolvimento de actividades laboratoriais

Agraves perguntas subsequentes desta secccedilatildeo apenas responderam os mesmos professores que

disseram ldquosimrdquo agrave primeira pois dela dependiam as outras que satildeo a frequecircncia com que o

professor usa e como usa as ALs nas aulas O uacuteltimo aspecto aborda sobre o objectivo das ALs

realizadas material editorial em que os professores se apoiam para preparar as actividades

existecircncia ou natildeo de um protocolo para acompanhar as actividades e sobre o momento de

abordagem dos conteuacutedos em que se desenvolvem ALs com os seus alunos

Na tabela 2 estaacute sistematizada a frequecircncia com que satildeo desenvolvidas as ALs pelos

professores

Tabela 2 Frequecircncia com que os professores utilizam as ALs nas aulas N=5

Uso das ALs Freq

Pelo menos duas por semestre 4

Uma a duas por semestre 1

44

As respostas representadas na tabela 2 foram dadas pelos dois (2) professores da escola K

escola M e a uacuteltima pelo uacutenico professor da escola Q Olhando os resultados apresentados na

tabela pode-se afirmar que as ALs satildeo pouco frequentes nas escolas onde elas satildeo

implementadas Estes resultados assemelham-se aos encontrados por Dourado (2005) em seu

estudo com professores estagiaacuterios em que referiram ter realizado uma a duas ALs durante o seu

trabalho de estaacutegio

Para a terceira questatildeo ligada agraves praacuteticas dos professores estes dizem que realizam as ALs

de acordo com o programa de ensino adaptando-as agraves condiccedilotildees existentes na escola e buscando

tambeacutem outro tipo de actividades

Foi pedido aos professores que se referissem aos objectivos pelos quais desenvolvem as

ALs e os resultados mostram que o uacutenico objectivo que os professores procuram alcanccedilar com o

desenvolvimento das ALs estaacute ligado agrave confirmaccedilatildeo de teorias como usualmente tecircm dito

ldquoligaccedilatildeo da teoria agrave praacuteticardquo apresentando afirmaccedilotildees do tipo

K1 ldquoAliar a teoria a praacuteticardquo

K2 ldquoFazer uma ligaccedilatildeo entre a teoria e a praacuteticardquo

M1 ldquoConfirmaccedilatildeo das teoriasrdquo

A realizaccedilatildeo de ALs para a confirmaccedilatildeo de teorias poderaacute ateacute certo ponto ser aceitaacutevel para

as classes iniciais do ensino secundaacuterio como eacute o caso da classe em estudo pois visam

desenvolver o domiacutenio conceptual procedimental e motivacional Contudo este tipo de

actividade natildeo responde agraves perspectivas defendidas para o ensino de Ciecircncias Naturais no que

tange a praacutetica de metodologias que levam agrave construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

As actividades com o uacutenico objectivo de confirmaccedilatildeo de teorias e leis normalmente satildeo

executadas pelo professor e demonstradas aos alunos ou se os alunos satildeo envolvidos estes natildeo

fazem nenhum exerciacutecio seguindo apenas um protocolo do tipo ldquoreceita de cozinhardquoem que o

niacutevel de envolvimento cognitivo eacute muito reduzido Para Borges (2002) a realizaccedilatildeo de ALs com

este objectivo eacute enganoso pois o sucesso da actividade eacute garantido por uma preparaccedilatildeo preacutevia

adequada Um aspecto criacutetico sobre a realizaccedilatildeo de ALs com o objectivo de confirmaccedilatildeo de leis

e teorias referido por Hodson (1998) citado por Borges (2002) eacute que o aluno logo percebe que

sua experiecircncia deve produzir o resultado previsto pela teoria ou que alguma regularidade deve

ser encontrada

Dois professores natildeo se referem a este objectivo mas apontam como principal objectivo da

realizaccedilatildeo das ALs melhorar a perecepccedilatildeo dos conteuacutedos abordados e a promoccedilatildeo de uma

45

aprendizagem soacutelida Seguem-se abaixo as afirmaccedilotildees dos professores relativamente aos

objectivos por eles defendidos

J1 ldquoReduzir o grau de abstraccedilatildeo e desenvolver uma aprendizagem

soacutelidardquo

Q ldquoMelhorar a percepccedilatildeo dos conteuacutedosrdquo

Sousa (2009) obteve resultados similares embora no seu estudo todos professores

envolvidos tenham afirmado realizar ALs o que natildeo aconteceu no presente estudo Um outro

aspecto de relevo encontrado pela autora eacute que um dos professores envolvidos no estudo indica

como objectivo da realizaccedilatildeo de ALs com os seus alunos a construccedilatildeo de conhecimento

cientiacutefico em detrimento de confirmaccedilatildeo de teorias Este uacuteltimo aspecto encontrado pela autora

em seus estudos mas infelizmente natildeo encontrado neste nosso poderaacute estar ligado aos diferentes

contextos em que as pesquisas foram desenvolvidas poreacutem trata-se de uma concepccedilatildeo muito

valiosa Estas ideias satildeo secundadas por Borges (2002) ao defender que ldquoo laboratoacuterio pode

proporcionar aos alunos o desenvolvimento do caraacutecter investigativo na medida em que por si

podem planear actividades para testar hipoacuteteses levantadas de forma a produzir resultados

confiaacuteveis Para que este objectivo seja alcanccedilado no nosso contexto eacute necessaacuterio por um lado

que haja investimento suficiente na concepccedilatildeo de espaccedilos laboratoriais e na aquisiccedilatildeo de

diversos materiais e por outro lado que os fazedores e implementadores dos curriacuteculos de

ensino de Ciecircncias valorizem as ALs como parte integrante desta aacuterea concedendo mais tempo

lectivo agraves respectivas disciplinas no geral e particularmente agrave Biologia

Para a questatildeo relacionada com o tipo de material em que os professores se apoiam para

desenvolver ALs com os seus alunos todos os professores que desenvolvem alguma AL nas

aulas tem com fonte os livros escolares buscando os respectivos protocolos ou guiotildees

apesentados para desenvolverem com os seus alunos

Os resultados obtidos no presente estudo assemelham-se aos obtidos por Dourado (2005) e

por Sousa (2009) em que a maior parte dos professores envolvidos em seus estudos apontaram

os manuais escolares como a principal fonte dos protocolos utilizados pelos professores para a

execuccedilatildeo de ALs Em todo PEA e particularmente no Ensino Baacutesico e Secundaacuterio o professor

limita-se a um uacutenico recurso para a busca de actividades a desenvolver nas suas aulas com os

alunos e Leite (2006) afirma que os manuais satildeo uma das principais fontes de actividades

laboratoriais que os professores implementam em todos os niacuteveis de ensino e que a maior parte

destes parece natildeo introduzir alteraccedilotildees nos protocolos disponibilizados pelos manuais

46

Os professores devem ter a capacidade para aleacutem de criticar os protocolos adaptaacute-los agraves

condiccedilotildees existentes em diferentes escolas Devem ter em mente que os protocolos de ALs

propostos pelos livros escolares referem na maioria das vezes materiais e condiccedilotildees de um

laboratoacuterio ideal e natildeo o real A realidade das escolas do nosso paiacutes em particular eacute um grande

factor para que os mediadores do PEA sejam dinacircmicos e criativos na busca de meios

alternativos para o desenvolvimento de actividades praacutetico-laboratoriais com os seus alunos

Caracterizaccedilatildeo das opiniotildees dos professores relativamente ao criteacuterio de selecccedilatildeo e

adopccedilatildeo dos livros escolares de Biologia

Para esta secccedilatildeo foi de interesse caracterizar as opiniotildees dos professores relativamente agrave

adopccedilatildeo dos livros escolarescujas perguntas colocadas estiveram intrinsecamente ligadas aos

livros escolares de Biologia Entre os livros de Biologia da 8ordf Classe adoptados pelas escolas

encontram-se os das seguintes editoras Plural Texto e Longman Poreacutem na sua maioria as

escolas adoptam o livro da Plural editores e apenas em uma escola foi encontrado o livro da

editora Longman

Quanto ao envolvimento dos professores no processo de selecccedilatildeo de livros escolares de

Biologia apenas 1 (um) professor afirmou jaacute ter participado no processo Embora a maioria

nunca tenha participado afirma ser consultada a cada final de ano sobre qual dos livros adoptar

para utilizaccedilatildeo no ano seguinte Este eacute um aspecto fundamental pois o professor eacute o indiviacuteduo

que faz o uso do livro junto com os seus alunos e consegue ver as fraquezas e as forccedilas de um

determinado livro durante o seu uso eou anaacutelise

Sete (07) dos professores entrevistados afirmaram natildeo conhecer os criteacuterios usados para a

selecccedilatildeo dos livros adoptados pelas escolas Entretanto 3 professores (J2 Z1e Z2) referem a

concordacircncia dos conteuacutedos apresentados pelos livros escolares com os programas de ensino

apresentando as seguintes opiniotildees

J2 ldquoConcordacircncia dos conteuacutedos com o programa de ensinordquo

Z1 ldquoA relaccedilatildeo entre os conteuacutedos com os programas de ensinordquo

Z2 ldquoDesde que os conteuacutedos estejam de acordo com os programas de

ensinordquo

Resultados similares foram obtidos por Frison et al (2009) em seu estudo com Licenciados

dos cursos de Quiacutemica e Ciecircncias Bioloacutegicas no Brasil que consideram a relaccedilatildeo estabelecida

entre o iacutendice de conteuacutedos apresentados pelos livros escolares e os listados nos planos de

ensino como o principal criteacuterio utilizado

47

Outras trecircs opiniotildees referem-se agrave apresentaccedilatildeo graacutefica como um factor determinante na

escolha de um livro Segundo os mesmos as imagens devem ser atraentes para os alunos

Os resultados obtidos assemelham-se aos de um estudo realizado por um grupo de

pesquisadores ldquoFORMAR-Ciecircnciasrdquo com professores das escolas puacuteblicas do Brasil referido por

Neto amp Fracalanza (2003) em que de entre os aspectos por eles considerados para a selecccedilatildeo dos

livros escolares podem-se destacar as ilustraccedilotildees com qualidade graacutefica visualmente atraentes e

a integraccedilatildeo dos conteuacutedos e assuntos abordados Poreacutem eles acrescentam um aspecto muito

importante que eacute a presenccedila de actividades experimentais de faacutecil realizaccedilatildeo e com material

acessiacutevel sem representar riscos fiacutesicos aos alunos No presente estudo pode-se considerar que

estes desprezam a componente experimental nos livros como um dos aspectos a serem

considerados no processo de selecccedilatildeo Analisando este facto natildeo se pode encontrar diferenccedilas

entre os criteacuterios de avaliaccedilatildeo dos manuais de Ciecircncias Naturais e os das demais disciplinas

como Portuguecircs Histoacuteria Geografia entre outras

Haacute necessidade de preparar os professores de Ciecircncias Naturais e de Biologia em

particular enquanto elementos de decisatildeo final quanto agrave adopccedilatildeo dos livros implementadores

dos curriacuteculos e mediadores do PEA sobre os criteacuterios mais especiacuteficos a serem considerados

para uma melhor avaliaccedilatildeo dos livros existentes pois os livros escolares editados nos uacuteltimos

anos embora registem melhorias limitam-se ao aspecto graacutefico correccedilatildeo de erros conceptuais e

na eliminaccedilatildeo de preconceitos tal como refere Amaral e Megid Neto (1997) apud Neto e

Fracalanza (2003)

Na produccedilatildeo de um livro escolar eacute importante que se espelhe metoacutedica e didacticamente o

caraacutecter cientiacutefico da disciplina em causa por um lado e por outro lado e de acordo com Nuacutentildeez

et al (2003) nele a Ciecircncia se deve apresentar como fruto da construccedilatildeo humana

contextualizada e dinacircmica e natildeo como produto fechado como racionalidade objectiva uacutenica

que mutila o pensamento das crianccedilas

No que diz respeito a existecircncia ou natildeo de ALs nos livros escolares adoptados pelas

diferentes escolas todos professores das diferentes escolas afirmaram que existem apesar de

alguns considerarem estas muito poucas

48

Representaccedilotildees das praacuteticas dos professores relativamente agraves actividades

laboratoriais presentes nos livros escolares de Biologia adoptados nas escolas

As questotildees colocadas nesta secccedilatildeo estatildeo relacionadas com a realizaccedilatildeo de ALs propostas

pelos livros escolares com a tipologia mais frequente e ainda com a avaliaccedilatildeo que os professores

fazem acerca das mesmas

Agrave questatildeo ligada a realizaccedilatildeo das ALs sete (07) professores responderam que natildeo realizam

pelas razotildees jaacute apresentadas nas secccedilotildees anteriores e os outros sete (07) afirmaram que realizam

Quanto a tipologia das ALs presentes nos livros todos afirmam que as predominantes satildeo

aquelas cujos procedimentos satildeo apresentados ou descritos nos guiotildees e cujos resultados satildeo

apresentados (ilustrativas e orientadas para a determinaccedilatildeo do que acontece) aos alunos e as do

tipo POER14 natildeo aparecem Entretanto os professores avaliam positivamente as ALs propostas

pelos livros embora para alguns estes pudessem ser enriquecidos Leite (2001) afirma ser uma

constante a ausecircncia das actividades do tipo POER Segundo a mesma autora as actividades

deste tipo presentes nos livros escolares seriam um bom auxiacutelio agrave mudanccedila das praacuteticas

docentes e como consequecircncia dariam um grande contributo para a promoccedilatildeo do ensino e

aprendizagem das Ciecircncias

Algumas concepccedilotildees que os professores tecircm eacute que uma boa AL eacute aquela em que os

procedimentos e as conclusotildees satildeo apresentados nos protocolos podendo esta ser uma razatildeo para

que os professores envolvidos no estudo considerassem como sendo boas

Destes resultados destacou-se a resposta de um dos professores da Escola K que diz que as

ALs satildeo fracas Este professor eacute um dos que durante a entrevista teraacute afirmado realizar as ALs

natildeo soacute baseando-se nos livros escolares mas em alguns manuais portugueses De facto um

professor que desenvolve ALs com os seus alunos natildeo com o uacutenico objectivo de confirmaccedilatildeo de

teorias ou determinaccedilatildeo do que acontece mas tambeacutem para a determinaccedilatildeo do porquecirc que

acontece e com um olhar criacutetico encontraraacute as lacunas que os livros apresentam neste aspecto

Consideraccedilotildees finais

A anaacutelise dos resultados de cada um dos estudos realizados em funccedilatildeo dos objectivos

preconizados permitiu chegar agraves seguintes conclusotildees

14 Actividade laboratorial do tipo Prevecirc Observa Explica e Reflecte

49

Os trecircs livros de Biologia analisados apresentam actividades laboratoriais poreacutem natildeo

para todas as unidades temaacuteticas Entre estes livros existe uma semelhanccedila no que

concerne as unidades temaacuteticas que incluem propostas de ALs e para as que natildeo incluem

concentrando maior nuacutemero de actividades na unidade temaacutetica ldquoMetabolismo no

organismo humano e um nuacutemero muito reduzido na unidade temaacutetica ldquosistema oacutesseo-

muscularrdquo

Foi de notar que nos livros analisados predominam actividades ilustrativas incluindo

tambeacutem em nuacutemero bastante reduzido as orientadas para determinaccedilatildeo do que acontece

com um baixo niacutevel de abertura

Ainda relacionado com um dos objetivos da investigaccedilaatildeo concluiu-se que o tipo de ALs

proposto pelos livros escolares analisados que concidentemente satildeo de uso nas escolas

envolvidas no estudo natildeo se relacionam com as perspectivas defendidas para o uso do

laboratoacuterio no ensino das Ciecircncias em geral e de Biologia em particular na medida em

que o seu principal objectivo eacute o reforccedilo de conhecimento conceptual dos alunos com

baixo niacutevel de abertura pouco viradas ao desenvolvimento de competecircncias e a

construccedilatildeo de novos conhecimentos

Todos os professores envolvidos no estudo reconhecem a importacircncia do uso de ALs no

processo de ensino poreacutem uma boa parte destes natildeo as desenvolve indicando como

razotildees o factor material espacial e tempo Por este motivo as ALs tornam-se pouco

frequentes nas aulas de Biologia tendo-se realizado no maacuteximo duas (2) por ano nas

escolas onde satildeo desenvolvidas

A adopccedilatildeo dos livros escolares de Biologia natildeo depende do tipo de ALs neles propostos

O que determina a adopccedilatildeo eacute o volume do conteuacutedo e a sua concordacircncia com os

programas de ensino da disciplina

Referecircncias

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Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Cultura (MEC) e Instituto para o Desenvolvimento da Educaccedilatildeo

(INDE) Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio Geral (PCESG) Documento orientador

Objectivos Poliacutetica Estrutura Plano de estudo e Estrateacutegia de implementaccedilatildeo

Moccedilambique Novembro 2007

MINED Plano Estrateacutegico da Educaccedilatildeo 2012-2016 Aprovado pelo Conselho de Ministros

2012

52

Livro didaacutectico de Geografia em Moccedilambique passado presente e desafios

Stela Mithaacute Duarte15

Resumo

O artigo tem como objectivo analisar o processo de desenvolvimento do livro didaacutectico de Geografia ao

longo da Histoacuteria da educaccedilatildeo em Moccedilambique assim como os actuais desafios A metodologia usada foi

a pesquisa bibliograacutefica e documental e a experiecircncia informada da autora O texto transcorre as vaacuterias

etapas de desenvolvimento de Moccedilambique realccedilando como a questatildeo poliacutetica e ideoloacutegica sempre se

reflecte nos livros Actualmente o livro didaacutectico de Geografia apesar de disponiacutevel no mercado nem

sempre eacute adquirido pelos alunos devido a constrangimentos financeiros e o seu uso na sala de aula ainda

natildeo eacute o mais apropriado Sugere-se apetrechar melhor as bibliotecas com livros didaacutecticos e

complementares e melhorar a formaccedilatildeo de professores para o uso do livro didaacutectico de Geografia

Palavras-chave Livro didaacutectico Ensino da Geografia Pensamento geograacutefico Educaccedilatildeo em

Moccedilambique

Abstract

The article aims at analyzing the process of development of the didactic book of Geography throughout

the History of education in Mozambique as well as the current challenges The methodology used was

the bibliographic and documentary research and the informed experience of the author The text goes

through the various stages of development in Mozambique highlighting how the political and ideological

question is always reflected in the books Currently the didactic book of Geography although available in

the market is not always acquired by students due to financial constraints and its use in the classroom is

not yet the most appropriate It is suggested to better equip libraries with didactic and complementary

textbooks and to improve the teacher training for the use of the didactic book of Geography

Keywords Didactic book Teaching Geography Geographical thought Education in Mozambique

Introduccedilatildeo

O livro didaacutectico exerce um papel fundamental no processo de ensino-aprendizagem

Possibilita o desenvolvimento de competecircncias de leitura escrita oralidade compreensatildeo

observaccedilatildeo anaacutelise siacutentese compreensatildeo atitudes comportamentos valores e normas de forma

integrada e holiacutestica O livro didaacutectico permite-nos conhecer melhor o meio em que nos

encontramos o nosso paiacutes o mundo outros povos culturas e formas de estar reconhecer as

semelhanccedilas respeitar as diferenccedilas desenvolver o amor agrave Natureza e agrave Paacutetria Nesse sentido

pode contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e solidaacuteria reconhecido

que a educaccedilatildeo tem a particularidade de antecipar o futuro Somente se formos capazes de

projectar e construir desde agora uma educaccedilatildeo justa seraacute possiacutevel uma sociedade justa no

futuro (Tedesco 201526)

15 Doutora em EducaccedilatildeoCurriacuteculo pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de S Paulo (Brasil) Licenciada em Ensino

de Geografia pelo Instituto Superior Pedagoacutegico (actual Universidade Pedagoacutegica) Maputo (Moccedilambique) e

Bacharel em Ensino de Histoacuteria e Geografia pela Universidade Eduardo Mondlane Maputo (Moccedilambique)

Professora Associada Docente da Universidade Pedagoacutegica - Maputo

53

A formaccedilatildeo de professores tanto inicial como contiacutenua satildeo bases fundamentais para que

se garanta um adequado uso do livro didaacutectico Um professor formado tem maiores

potencialidades de fazer uso pleno do livro didaacutectico contribuindo para garantir a aprendizagem

dos alunos e melhorar a qualidade de ensino-aprendizagem

Ao analisar-se o livro didaacutectico num determinado contexto e paiacutes percebe-se que estatildeo

nele reflectidas questotildees sociais poliacuteticas econoacutemicas e culturais O livro didaacutectico veicula

assim a ideologia dominante de um paiacutes

A elaboraccedilatildeo do livro deve estar orientada para a necessidade de provocar questionamentos

constantes As praacuteticas docentes muitas vezes restringem-se ao uso do livro e do quadro natildeo se

adoptando outros meios didaacutecticos Mas a realidade eacute dinacircmica o livro eacute feito por pessoas natildeo

possui verdades absolutas e inquestionaacuteveis estando sujeito a intersubjectividades constantes

O artigo tem como objectivo analisar o processo de desenvolvimento do livro didaacutectico de

Geografia ao longo da Histoacuteria da educaccedilatildeo em Moccedilambique assim como os actuais desafios

Constituem objectivos especiacuteficos (i) descrever as caracteriacutesticas do livro didaacutectico de Geografia

antes e apoacutes a Independecircncia nacional (ii) contribuir para um maior conhecimento do livro

didaacutectico de Geografia em Moccedilambique (iii) identificar os desafios da utilizaccedilatildeo do livro

didaacutectico de Geografia

O argumento central eacute que o livro didaacutectico de Geografia em Moccedilambique ao longo do

tempo foi sofrendo vaacuterias alteraccedilotildees ligadas a questotildees poliacuteticas e ideoloacutegicas havendo

necessidade de garantir o seu acesso por parte dos alunos e aprofundar continuamente os

aspectos metodoloacutegicos da sua utilizaccedilatildeo investindo na formaccedilatildeo inicial e em exerciacutecio dos

professores tendo em vista a utilizaccedilatildeo adequada deste importante instrumento

A metodologia usada baseia-se na pesquisa bibliograacutefica e documental e na experiecircncia

informada da autora

O artigo estrutura-se em 04 partes (i) aspectos teoacutericos do livro didaacutectico de Geografia (ii)

o livro didaacutectico de Geografia no periacuteodo colonial (iii) o livro didaacutectico de Geografia no periacuteodo

da Independecircncia (iv) os desafios da utilizaccedilatildeo do livro didaacutectico Seguem-se as consideraccedilotildees

finais e as referecircncias bibliograacuteficas

1 Aspectos teoacutericos do livro didaacutectico de Geografia

Nunca se pode equacionar que a existecircncia do livro didaacutectico permite descartar outros

meios de ensino-aprendizagem No caso da Geografia referimo-nos a livros complementares

54

mapas de diferentes escalas atlas fotografias imagens sateacutelite graacuteficos entre outros a ser

usados numa perspectiva interdisciplinar e transversal

A inclusatildeo ou exclusatildeo de conteuacutedos e a forma da sua abordagem no livro estaacute relacionada

a questotildees ideoloacutegicas e de poder

O livro estimula a nossa memoacuteria visual pois registamos os elementos que mais nos

marcam na nossa mente e fazemos uso disso ao longo da vida

O livro de Geografia integra uma seacuterie de elementos de aprendizagem como conceitos

teorias factos fenoacutemenos habilidades atitudes meacutetodos e teacutecnicas de trabalho permitindo-nos

uma visatildeo de aspectos naturais sociais poliacuteticos econoacutemicos da vivecircncia do homem no

passado presente e ainda perspectiva o futuro

Em relaccedilatildeo agrave Geografia corroboramos com Lacoste que ao analisar os problemas do

nosso tempo afirma que nunca conhecimentos geograacuteficos e uma iniciaccedilatildeo ao raciociacutenio

geograacutefico verdadeiro foram tatildeo necessaacuterios agrave formaccedilatildeo dos cidadatildeos (1997254) Mais

adiante este autor acrescenta que O mundo eacute ininteligiacutevel para quem natildeo tem um miacutenimo de

conhecimentos geograacuteficos (Ibid) O livro didaacutectico tem um papel relevante no sentido de abrir

o horizonte espacial do aluno pela multiplicidade de elementos nele incorporados que podem

ser analisados de forma inter-relacionada e dinacircmica

Na praacutetica lectiva deve ser estabelecida a relaccedilatildeo permanente com a realidade proacutexima do

aluno um dos princiacutepios do ensino da Geografia por isso o livro natildeo pode ser usado como mero

objecto que possibilita a memorizaccedilatildeo e reproduccedilatildeo de conhecimentos O desenvolvimento do

pensamento geograacutefico exige uma postura reflexiva espiacuterito criacutetico e criativo Soacute deste modo o

aluno pode actuar de forma interventiva e contribuir para a mudanccedila na sua comunidade no paiacutes

e no mundo

O livro tem que ser convenientemente explorado no processo de ensino-aprendizagem e eacute

importante o uso que dele o professor faz o pior livro pode ficar bom na sala de um bom

professor e o melhor livro desanda na sala de um mau professor (Schaumlffer 199933)

Natildeo existe nenhum livro que pode esgotar a possibilidade de compreensatildeo apreensatildeo e

desenvolvimento do conhecimento sendo sempre necessaacuterio recorrer a outras fontes de

aprendizagem

Para Nicolau o livro didaacutectico de Geografia para cumprir com as suas funccedilotildees tem que

ser elaborado obedecendo a determinados requisitos desenvolver conteuacutedos cientiacuteficos

adequados ter linguagem clara simples directa e paraacutegrafos curtos apresentar perguntas que

sirvam de estiacutemulo e deem dinamismo aos conteuacutedos possuir ilustraccedilotildees variadas como mapas

55

materiais estatiacutesticos esquemas fotografias entre outros oferecer um sistema de actividades

teoacutericas e praacuteticas e um vocabulaacuterio geograacutefico adequado (Nicolau 199161)

Ainda satildeo escassas as pesquisas existentes eou divulgadas em Moccedilambique sobre a

importacircncia e uso do livro didaacutectico de Geografia Tivemos acesso a alguns estudos sendo um

de Thompson sobre avaliaccedilatildeo pedagoacutegica do livro de Geografia da 5ordf classe do Sistema Nacional

de Educaccedilatildeo (1991) em que a autora sugere a necessidade de tomar em conta as condiccedilotildees de

aprendizagem dos alunos ter atenccedilatildeo agraves inter-relaccedilotildees geograacuteficas garantir maior equiliacutebrio

entre os elementos verbais e natildeo-verbais assim como utilizar no livro mapas de escalas variadas

No final a autora considera que os materiais de ensino de Geografia tecircm que contribuir para a

compreensatildeo entre os moccedilambicanos e os homens em geral realccedilar a beleza e a diversidade da

paisagem do territoacuterio nacional educar para a protecccedilatildeo e preservaccedilatildeo do meio ambiente e

para a utilizaccedilatildeo correcta dos recursos naturais do paiacutes (Thompson 199122)

Buque faz a relaccedilatildeo entre os meacutetodos de ensino e o uso do livro didaacutectico de Geografia da

7ordf classe A autora conclui que no processo de ensino-aprendizagem de Geografia predomina o

meacutetodo expositivo e que o livro eacute pouco utilizado Sugere que as escolas adquiram material

didaacutectico que os meacutetodos de ensino sejam activos que se faccedila a distribuiccedilatildeo do livro pelas

escolas entre outros (Buque 1999)

O trabalho de Mesquita (2002) explora a importacircncia do livro didaacutectico de Geografia da 8ordf

classe no processo de ensino-aprendizagem A autora conclui que as aulas de Geografia satildeo

predominantemente expositivas culminando com o ditado de apontamentos extraiacutedos do livro O

custo do livro e o fraco poder aquisitivo das famiacutelias inibem a compra e uitlizaccedilatildeo deste

importante meio de ensino Sugere entre outros a necessidade de o professor conhecer a

importacircncia do livro no processo de ensino-aprendizagem e definir-se uma poliacutetica de formaccedilatildeo

contiacutenua de professores (Mesquita 2002)

Outro estudo de Jaime (2013) relativo a avaliaccedilatildeo pedagoacutegica do livro de Ciecircncias

Sociais da 7ordf classe sugere-se a revisatildeo do livro de modo a garantir um ensino mais relevante a

formaccedilatildeo de um cidadatildeo que possa integrar-se na vida e aplicar os conhecimentos adquiridos em

prol da sua comunidade (p 219)

Na parte que se segue iremos tentar resgatar um pouco da histoacuteria do livro didaacutectico no

geral e em particular o de Geografia

56

1 O livro didaacutectico de Geografia no periacuteodo colonial em Moccedilambique - dominaccedilatildeo e

exclusatildeo

Chorou e chora Moccedilambique

Pelas riquezas que lhe usurpam

Sem os filhos as utilizarem

Moccedilambique chorou e chora

(Jackson 197918)

O extracto acima eacute de um poema de um militante da FRELIMO (Frente Nacional de

Libertaccedilatildeo de Moccedilambique) publicado na obra Poesia de Combate cuja primeira ediccedilatildeo

aconteceu em 1971 altura em que Moccedilambique ainda era uma coloacutenia A estrofe revela o

sentimento de dominaccedilatildeo e exclusatildeo a que o povo moccedilambicano estava sujeito

O acto educativo natildeo eacute neutro dado que reflecte aquilo que satildeo os interesses inerentes agrave

estrutura social e poliacutetica A educaccedilatildeo visa transformar dentro de uma determinada perspectiva

de desenvolvimento Antes da Independecircncia o livro didaacutectico de Geografia expressava os

interesses e valores coloniais O ensino no tempo colonial em Moccedilambique caracterizava-se por

ser discriminatoacuterio elitista e selectivo

Mondlane denunciava que os programas do Ensino Primaacuterio em Moccedilambique tinham

mateacuterias idecircnticas agraves que constavam dos programas em Portugal constituindo a cultura

portuguesa o ponto central sendo ignoradas a Histoacuteria e Geografia do continente africano

(1995) Prosseguindo afirma que as mateacuterias principais satildeo a liacutengua portuguesa geografia das

descobertas e conquistas portuguesas moral cristatilde trabalhos manuais e agricultura

(Mondlane 199558)

O livro didaacutectico era produzido em Portugal Tomando como exemplo o livro utilizado no

1deg ano do curso complementar do Ensino Secundaacuterio (equivalente actualmente agraves 11ordf e 12ordf

classes) datado de 1974 com 447 paacuteginas verificamos que apresentava para o 1deg ano a seguinte

estrutura (i) Introduccedilatildeo geograacutefica (ii) Geografia Fiacutesica (iii) Geografia Humana (iv) Geografia

Econoacutemica Jaacute para o 2deg ano apoacutes um toacutepico sobre Advertecircncia segue-se a (i) Bibliografia

(ii) Monografias de alguns produtos ultramarinos e (iii) Antologia (Vieira e Moura 1974)

Os autores citados afirmam com base no programa de Geografia do 6deg e 7deg anos do Ensino

Liceal que no 7deg ano o programa incide sobre o estudo de Portugal metropolitano e ultramarino

natildeo havendo um compecircndio propriamente dito mas uma indicaccedilatildeo da bibliografia de

57

estatiacutesticas mapas e outros elementos Nesta senda no que diz respeito a Portugal ultramarino

especificamente Moccedilambique eacute indicada a seguinte bibliografia (apenas 2 obras) Boleacuteo Joseacute de

Oliveira Moccedilambique AGU16 Lisboa 1950 e Costa Maacuterio Bibliografia Geral de

Moccedilambique AGU Lisboa Posteriormente satildeo indicados mapas para serem consultados (Vieira

e Moura 1974)

Na parte correspondente agrave Monografia de alguns produtos ultramarinos satildeo apresentados

os seguintes amendoim gergelim coqueiro riacutecino palmeira do azeite algodoeiro cafeeiro e

cacauiero Na Antologia a informaccedilatildeo sobre Moccedilambique eacute apresentada da p 423 agrave p 428

com o tiacutetulo A agricultura em Moccedilambique integrando os seguintes itens condiccedilotildees naturais -

distribuiccedilatildeo das culturas as empresas agriacutecolas e a produccedilatildeo exportaccedilatildeo dos produtos agriacutecolas

possibilidades de expansatildeo (Vieira e Moura 1974) A figura 372 apresenta o mapa de

Moccedilambique vegetaccedilatildeo espontacircnea e algumas plantaccedilotildees e o mapa da figura 373 apresenta as

principais produccedilotildees vegetais de Moccedilambique A figura 374 apresenta o movimento comercial

de Moccedilambique com graacuteficos de importaccedilatildeo e exportaccedilatildeo Ainda consta uma tabela com

exportaccedilotildees de produtos agriacutecolas e respectivos valores

Os objectivos da colonizaccedilatildeo passavam pela construccedilatildeo do colonizado com uma identidade

lusitana Assim podemos perceber neste livro que natildeo havia muita preocupaccedilatildeo em atender agraves

necessidades dos paiacuteses colonizados mas sim conhecer as suas principais produccedilotildees e

potencialidades para maior exploraccedilatildeo Entretanto do ponto de vista pedagoacutegico jaacute se mostrava

uma tendecircncia de dar maior autonomia ao estudante de pesquisar natildeo se elaborando um livro

para o 7deg ano do Liceu mas dando pistas para o estudo independente

2 O livro didaacutectico de Geografia no periacuteodo poacutes-Independecircncia de Moccedilambique - do

marxismo-leninismo ao neoliberalismo

I Repuacuteblica

Os primeiros anos apoacutes a Independecircncia em Moccedilambique foram caracterizados por uma

grande falta de livros didaacutecticos e outros materiais de ensino Isto deveu-se a razotildees conjunturais

como a mudanccedila de regime o processo de massificaccedilatildeo a insuficiecircncia de especialistas na aacuterea

da educaccedilatildeo os parcos recursos financeiros disponiacuteveis as prioridades definidas no momento

entre outros Apoacutes 1975 e ateacute iniacutecios dos anos 90 as principais instituiccedilotildees nacionais

16 AGU - Agecircncia Geral do Ultramar

58

fomentadoras da produccedilatildeo e utilizaccedilatildeo do livro didaacutectico foram principalmente o Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo (e Cultura) o Instituto Nacional do Desenvolvimento da Educaccedilatildeo (INDE) a

Distribuidora Nacional de Material Escolar (DINAME) o Instituto Nacional do Livro e Disco

(INLD) a Editora Escolar e a Universidade Eduardo Mondlane (UEM)

No periacuteodo de vigecircncia de Partido uacutenico a direcccedilatildeo da FRELIMO definiu que a tarefa

principal da educaccedilatildeo eacute no ensino nos livros de textos e nos programas inculcar em cada um a

ideologia avanccedilada cientiacutefica objectiva colectiva que nos permite progredir no processo

revolucionaacuterio( Machel 198059)

Esta ideologia estava associada agrave criaccedilatildeo de uma sociedade marxista-leninista e agrave formaccedilatildeo

do Homem Novo Para Bastos e Duarte a criaccedilatildeo do Homem Novo constituiacutea a pedra

angular do processo revolucionaacuterio que caracterizou grande parte da Iordf Repuacuteblica (1975-1990)

(201572)

Na Constituiccedilatildeo de 1975 a Repuacuteblica Popular de Moccedilambique eacute um Estado de Democracia

Popular em que o poder pertence aos operaacuterios e camponeses unidos e dirigidos pela FRELIMO

que eacute a forccedila dirigente do Estado e da Sociedade

A Lei do Sistema Nacional de Educaccedilatildeo (SNE) menciona que na construccedilatildeo da

sociedade socialista o sistema de educaccedilatildeo deve no seu conteuacutedo estrutura e meacutetodo conduzir

agrave criaccedilatildeo do Homem Novo (Moccedilambique 1983) Mais adiante constam os fundamentos da lei

que satildeo as experiecircncias da educaccedilatildeo desde a luta armada ateacute agrave fase em que se encontrava o paiacutes

na construccedilatildeo do socialismo os princiacutepios universais do marxismo-leninismo e o patrimoacutenio

comum da Humanidade (Ibid) No capiacutetulo I artigo 1 aliacutenea e) estaacute expliacutecito que A Educaccedilatildeo

eacute dirigida planificada e controlada pelo Estado que garante a sua universalidade e laicidade

no quadro da realizaccedilatildeo dos objectivos fundamentais consagrados na Constituiccedilatildeo

(Moccedilambique 1983)

Podemos verificar que o centralismo democraacutetico desse periacuteodo natildeo permitia que outros

actores tivessem oportunidade de participar nos processos de planificaccedilatildeo e organizaccedilatildeo da

educaccedilatildeo estando isso apenas reservado ao Estado sob direcccedilatildeo da Frelimo cuja ideologia era

dominante em todo o sistema educativo e social no geral A Nacionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo em

1975 definitivamente descartava essa possibilidade de participaccedilatildeo sendo o Estado o principal

provedor dos serviccedilos educativos

Assim observando os programas de ensino por exemplo o Programa de Geografia para o

Curso de Formaccedilatildeo de Professores para o 2deg grau do Ensino Primaacuterio na parte introdutoacuteria

consta que De acordo com as grandes decisotildees do glorioso IV Congresso do Partido Frelimo

59

cabe agrave educaccedilatildeo criar o Homem Novo (MEC 19841) Mais adiante o documento que temos

vindo a citar considera que o professor eacute um agente poliacutetico do Partido Frelimo na escola

atraveacutes do ensino cientiacutefico e partidaacuterio na base dos princiacutepios gerais do marxismo-leninismo

(Ibid)

Em 1986 para a 5ordf classe do Ensino Primaacuterio foi disponibilizado o livro intitulado

Geografia de um colectivo de autores nomeadamente Isabel Coelho Laura Loforte Benilda

Reis e Emiacutedio Sebastiatildeo (Moccedilambique 1986) Este primeiro livro moccedilambicano apoacutes a

Independecircncia para a 5ordf classe na disciplina de Geografia teve ediccedilatildeo do INDE e Editora Escolar

e foi avaliado por Thompson (1991) que destaca que apesar das deficiecircncias que apresenta e

que carecem de correcccedilatildeo ele constitui base de trabalho de alunos e professores (Ibid21)

Para a 6ordf classe o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Cultura disponibilizou dois livros o primeiro

em 1978 Geografia - 6ordf classe Textos para os alunos 3deg periacuteodo (MEC 1978) e outro

intitulado Geografia - 6ordf classe textos para os alunos 1deg e 2deg periacuteodos isto em 1979 (MEC

1979) Nestes livros temos presente a ideologia entatildeo dominante no que se refere por exemplo

ao papel do cooperativismo e do Estado Vamos estudar o que se produz nas machambas

colectivas e estatais (MEC 19797) O domiacutenio do Partido uacutenico Depois da Independecircncia

o povo moccedilambicano organizado pelo seu Partido de vanguarda a Frelimo procura

transformar radicalmente a sociedade construindo o Poder Democraacutetico Popular e uma

sociedade socialista O desenvolvimento do paiacutes eacute expresso desta forma na aacuterea dos transportes

aeacutereos

Ateacute 1974 a DETA teve que se limitar a voar em terras de Moccedilambique () com

a conquista da Independecircncia atraveacutes da Luta Armada de Libertaccedilatildeo Nacional

esta companhia viu-se libertada dos travotildees coloniais e comeccedilou a fazer voos

internacionais para a Tanzacircnia Zacircmbia Angola Portugal Aacutefrica do Sul e por

uacuteltimo Itaacutelia (MEC 197963)

Na aacuterea das comunicaccedilotildees O jornal e a raacutedio satildeo dois meios de informaccedilatildeo de grande

importacircncia na vida do nosso paiacutes Atraveacutes deles podemos saber as informaccedilotildees nacionais

internacionais e divulgar a poliacutetica do nosso Partido a FRELIMO (Ibid66)

O livro de Manuel Arauacutejo intitulado Noccedilotildees elementares da Geografia de Moccedilambique teve uma

influecircncia profunda no processo de ensino-aprendizagem de Geografia Natildeo foi concebido

especificamente para o ensino mas foi amplamente usado para esse fim O livro tem ediccedilatildeo do Instituto

Nacional do Livro e do Disco (1979)17 com 65 paacuteginas e estruturado da seguinte forma (i) Situaccedilatildeo e

limites (ii) O relevo (iii) Hidrografia (iv) Breve noccedilatildeo do clima de Moccedilambique (v) Divisatildeo

17 A primeira ediccedilatildeo foi em 1975

60

administrativa (vi) Populaccedilatildeo (vii) Aspectos simples de Geografia Econoacutemica (Arauacutejo 1979) Como o

autor afirma

Esta nova ediccedilatildeo surge natildeo pelo valor da obra que como dissemos na 1ordf

ediccedilatildeo fornece alguns dados muito simples e ateacute incompletos sobre a RPM18

mas pela vontade de conhecer o nosso Povo O facto de com esta ediccedilatildeo se

atingir um nuacutemero de 50000 exemplares eacute revelador de que o Povo

Moccedilambicano quer conhecer o seu Paiacutes (Arauacutejo 19795)

Apoacutes a Independecircncia e ateacute a deacutecada 1980 era grande a carecircncia de materiais de ensino tal

como jaacute nos referimos Muitos dos livros disponiacuteveis no mercado eram da ex URSS19 Ediccedilotildees

Progresso traduzidos para o portuguecircs como Geografia Econoacutemica do Mundo (1979)

Ciecircncia da Sociedade (1980) Metodologia do Ensino das Ciecircncias Sociais (1980) Teoria

da Populaccedilatildeo (1987) Tambeacutem se encontravam os livros das Ediccedilotildees da Imprensa Noacutevosti com

vaacuterios tiacutetulos Estes livros divulgavam as teorias marxistas-leninistas no contexto da guerra-fria

e eram apropriados para o momento poliacutetico que o paiacutes vivia (Duarte 2007) Um livro que

tambeacutem serviu aos professores moccedilambicanos foi Geografia - 1deg ano - 1deg volume - Curso

Complementar do Ensino Secundaacuterio do autor Dragomir Knapic Editorial Aster sem data

A Universidade Eduardo Mondlane Faculdade de Letras Departamento de Geografia

elaborou trecircs manuais para o ensino da Geografia20 Um intitulado deles Geografia Manual da

10ordf classe do ano 1982 possui 95 paacuteginas Este manual tem sete capiacutetulos (i) Cosmografia (ii)

Cartografia (iii) Climatogeografia (iv) Geomorfologia (v) Hidrogeografia (vi) Pedogeografia

(vii) Biogeografia De realccedilar que no manual natildeo constam os nomes dos autores (UEM 1982)

O outro Geografia Econoacutemica Manual da 11ordf classe Volume I do ano 1981 conta com

138 paacuteginas e estaacute estruturado em 6 capiacutetulos (i) As bases metodoloacutegicas da Geografia

Econoacutemica (ii) A Geografia Econoacutemica como ciecircncia social (iii) O meio geograacutefico e a

sociedade (iv) Os recursos naturais e a Geografia Econoacutemica (v) As leis da distribuiccedilatildeo

geograacutefica das forccedilas produtivas (vi) A divisatildeo geograacutefica do trabalho Os autores satildeo Ximena

Andrade Pablo Garcia e Khazimukhmet Nurgaliev (UEM 1981a)

O Manual de Geografia Econoacutemica Volume II para a 11ordf classe elaborado tambeacutem por

Ximena Andrade Pablo Garcia e Khazimukhamet Nurgaliev em 1981 tem 5 capiacutetulos (i)

18 Repuacuteblica Popular de Moccedilambique 19 Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas 20 Estes manuais satildeo do Antigo Sistema de Educaccedilatildeo

61

Geografia da Populaccedilatildeo (ii) Geografia da Induacutestria (iii) Geografia Agraacuteria (iv) Geografia dos

Transportes e (v) As bases da divisatildeo em regiotildees econoacutemicas (UEM 1981b)

Podemos ver nestes livros como era divulgada a ideologia dominante Nestas novas

condiccedilotildees na Repuacuteblica Popular de Moccedilambique a propriedade estatal e a propriedade

cooperativa estabelecendo novas relaccedilotildees de produccedilatildeo constituiratildeo a base econoacutemica do

Poder Popular Democraacutetico (UEM 1981a79) Outro exemplo relacionado com a Geografia

da Populaccedilatildeo Nos paiacuteses socialistas o desemprego eacute eliminado pois a produccedilatildeo social baseia-

se na propriedade social dos meios de produccedilatildeo (Ibid8) ou ainda a questatildeo da agricultura e

dos povoamentos rurais era tratada do seguinte modo Com base no desenvolvimento da

agricultura socialista forma-se a nova rede de povoamentos rurais - Sistema de Aldeias

Comunais (Ibid80)

O livro A terra planeta dinacircmico foi usado para a 8ordf classe em Moccedilambique Este livro

produzido em Portugal e para o sistema de ensino portuguecircs tinha um total de 256 paacuteginas e 5

capiacutetulos (i) Introduccedilatildeo ao estudo da Geografia (ii) O relevo terrestre (iii) A atmosfera (iv) os

ambientes bioclimaacuteticos (v) Conclusatildeo os meacutetodos da geografia Depois seguia-se o apecircndice e

a bibliografia Na ficha teacutecnica lecirc-se Ediccedilatildeo Especial para a 8ordf classe com um apecircndice de 32

paacuteginas O apecircndice sobre Moccedilambique constava das paacuteginas 226 a 256 e encontrava-se assim

estruturado 1 Caracterizaccedilatildeo geneacuterica do clima de Moccedilambique 2 A hidrosfera 3 A litosfera

4 Uso conservaccedilatildeo e protecccedilatildeo da natureza O nome dos autores do apecircndice natildeo consta desta

obra (Matos e Ramalho 1989)

As mesmas autoras posteriormente em 1990 publicam o livro Contrastes geograacuteficos -

9ordf classe com um total de 272 paacuteginas Este livro concebido para o sistema educativo

portuguecircs foi tambeacutem usado em Moccedilambique Na ficha teacutecnica pode-se ler Ediccedilatildeo Especial

para a 9ordf classe com um apecircndice de 32 paacuteginas e ainda Colaboraram na elaboraccedilatildeo deste

apecircndice Luiacutes Agostinho Nanjolo e Francisco Mbebe A estrutura do livro eacute a seguinte (i)

Populaccedilatildeo mundial (ii) Os grandes contrastes da agricultura no mundo actual (iii) Contrastes

da industrializaccedilatildeo no mundo actual (iv) As cidades no mundo A parte do apecircndice apresenta o

seguinte (i) Populaccedilatildeo mundial (ii) Agricultura mundial (iii) Induacutestria mundial (iv) Transportes

no mundo (Matos e Ramalho 1990)

II Repuacuteblica

Com a nova Constituiccedilatildeo de 1990 Moccedilambique torna-se um Estado de Direito

Democraacutetico Neste contexto eacute revista a Lei do SNE permitindo a participaccedilatildeo de outras

62

entidades incluindo comunitaacuterias cooperativas empresarias e privadas no processo educativo

(Moccedilambique 1992)

Em 1992 a 10ordf classe beneficia-se de um livro intitulado Geografia de Moccedilambique Vol

I Parte Fiacutesica com 109 paacuteginas Este livro eacute da autoria de Alberto da Barca e Tirso Santos

com ediccedilatildeo do INDE e da Editora Escolar O livro possui um total de 10 capiacutetulos (i)

Localizaccedilatildeo geograacutefica e coacutesmica (ii) Limites (iii) Extensatildeo territorial (iv) Orla mariacutetima (v)

Geologia (vi) Morfologia (vii) Solos (viii) Clima (ix) Hidrografia (x) Biogeografia (Barca e

Santos 1992)

Posteriormente em 1993 eacute disponibilizado o livro tambeacutem para a 10ordf classe Geografia

de Moccedilambique Vol II Parte Econoacutemica da autoria de Alberto da Barca com ediccedilatildeo da

Editora Escolar num total de 243 paacuteginas O livro possui 7 capiacutetulos nomeadamente (i)

Populaccedilatildeo (ii) Agricultura (iii) Pescas (iv) Induacutestria e Energia (v) Transportes e vias de

comunicaccedilatildeo (vi) Comeacutercio (vii) Turismo (Barca 1993)

Surgem depois em 1995 dois livros um para a 8ordf classe e o outro para a 9ordf classe O livro

intitulado Geografia 8ordf classe dos autores Joseacute Martins e Marta Correia com ediccedilatildeo da

Editora Escolar com 119 paacuteginas estaacute dividido em 4 partes (i) Atmosfera (ii) Hidrosfera (iii)

Litosfera (iv) As grandes regiotildees naturais (Martins e Correia 1995)

Da autoria de Luiacutes Nanjolo Geografia 9ordf classe tambeacutem da Editora Escolar com 80

paacuteginas encontra-se subdividido em 5 partes (i) Populaccedilatildeo (ii) Agricultura e Pecuaacuteria (iii)

Induacutestria (iv) Transporte e (v) Urbanismo (Nanjolo 1995)

A Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo prevecirc tanto para o Ensino Primaacuterio como para o Ensino

Secundaacuterio no acircmbito da melhoria da qualidade e relevacircncia a disponibilizaccedilatildeo e a provisatildeo do

livro escolar e dos manuais de ensino para alunos e professores (Moccedilambique 1995)

Reconhecendo os problemas socio-econoacutemicos do paiacutes a partir de 2004 o livro didaacutectico

no Ensino Primaacuterio em Moccedilambique eacute gratuito No Ensino Secundaacuterio eacute necessaacuterio adquiri-lo ao

preccedilo do mercado

Um estudo nacional revela-nos que apesar da gratuidade do livro no Ensino Primaacuterio este

ainda natildeo estaacute ao alcance de todos Agrave medida que a classe frequentada se eleva a percentagem de

alunos que possui o livro escolar vai decrescendo Na 1ordf classe essas percentagens estatildeo acima

de 90 mas jaacute na 7ordf classe natildeo alcanccedilam os 50 Ainda a niacutevel nacional abaixo de 40 dos

alunos frequentam escolas em que todos eles possuem livros de todas as disciplinas

(MINEDINDE 2014) Outro aspecto que eacute necessaacuterio referenciar eacute a existecircncia de livros-

63

caderno que satildeo descartados apoacutes um ano encarecendo ainda mais o processo de provisatildeo do

livro escolar

Assim mesmo sendo gratuito o livro natildeo cobre todas as necessidades A par disso estatildeo

os problemas de desvio de livros e venda no mercado informal corrupccedilatildeo maacute conservaccedilatildeo

fazendo com o que o seu periacuteodo de vida seja encurtado

Um relatoacuterio do Tribunal Administrativo sobre a distribuiccedilatildeo gratuita do livro escolar

constata que o processo ligado ao livro eacute complexo os recursos humanos ligados ao Ministeacuterio

da Educaccedilatildeo natildeo conseguem atender agrave demanda haacute falta de infraestruturas de suporte ao

processo natildeo satildeo apresentados relatoacuterios sistemaacuteticos sobre a distribuiccedilatildeo dos livros o retorno

do livro natildeo estaacute assegurado a qualidade do livro natildeo eacute adequada para assegurar a sua maior

durabilidade os professores nem sempre satildeo preparados para utilizar o livro nem sempre o livro

gratuito eacute suficiente para todos os alunos entre outros (Moccedilambique 20107-8)

O livro didaacutectico actualmente eacute um recurso que apresenta muacuteltiplos aspectos sendo uma

produccedilatildeo cultural e ao mesmo tempo uma mercadoria (Pontuschka Paganelle e Cacete

2007339)

Por exemplo em 2017 os alunos da 1ordf e 2ordf classes tiveram os livros de distribuiccedilatildeo gratuita

apoacutes cerca de 3 meses do iniacutecio das aulas Compram-se anualmente em meacutedia 14 milhotildees de

livros da 1ordf agrave 7ordf classe para cerca de seis milhotildees de alunos despendendo-se um valor estimado

em 17 milhotildees de doacutelares financiado por parceiros do Fundo de Apoio ao Sector da Educaccedilatildeo

(FASE) sendo um deles o Banco Mundial (Jornal O Paiacutes 2017)

Para o Ensino Secundaacuterio o livro eacute uma mercadoria de custo elevado para a maioria da

populaccedilatildeo Geralmente numa turma de 70 alunos podemos encontrar 5 com o livro didaacutectico

Em consonacircncia com o Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio novas exigecircncias satildeo

colocadas ao livro orientadas para a educaccedilatildeo inclusiva ensino-aprendizagem centrado no

aluno desenvolvimento de competecircncias para a vida ensino em espiral transversalidade e

interdisciplinaridade entre outros (MECINDE 2007)

Actualmente no mercado moccedilambicano temos vaacuterias editoras que concorrem e disputam

para garantir a aprovaccedilatildeo dos seus livros a fim de serem adoptados no sistema educativo Os

livros apresentam-se atractivos coloridos e bem ilustrados mas para o Ensino Secundaacuterio

encontram-se mais nas prateleiras das livrarias do que nas matildeos dos alunos das escolas puacuteblicas

Conforme o Diploma Ministerial 842016 que Aprova o Regulamento de Avaliaccedilatildeo do

Livro Escolar no seu artigo 1 os livros do aluno e o manual do professor passam a ser editados

pelo sector empresarial puacuteblico e privado constituindo objecto de avaliaccedilatildeo pelo Conselho de

64

Avaliaccedilatildeo do Livro Escolar (CALE) Segundo o artigo 5 constituem grandes aacutereas de avaliaccedilatildeo

as seguintes (i) curriacuteculo e conteuacutedos (ii) abordagem metodoloacutegica e liacutenguas (iii) valores e

questotildees transversais e (iv) estrutura e organizaccedilatildeo No artigo 5 consta que a adopccedilatildeo do livro

prevista para 5 anos eacute da competecircncia do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano

sob proposta do CALE O artigo 7 menciona que no Ensino Primaacuterio os livros satildeo adquiridos

sem a comparticipaccedilatildeo dos pais e encarregados de educaccedilatildeo e no Ensino Secundaacuterio estaraacute agrave

venda no mercado formal e deve ser adquirido pelos paisencarregados de educaccedilatildeo e pelos

professores (Moccedilambique 2016)

Corroboramos com a ideia de que em relaccedilatildeo ao livro didaacutectico mesmo diante de tempos e

espaccedilos escolares tatildeo diferenciados e distantes a forccedila deste artefacto sobrevive a poliacuteticas

diacutespares culturas diferentes e espaccedilos virtuais (Tonini 2014149) Deste modo mesmo com

todas as mudanccedilas que foram ocorrendo em Moccedilambique o livro didaacutectico continua a ser un

importante instrumento de trabalho de alunos e professores

Os desafios da utilizaccedilatildeo do livro didaacutectico

Por longo tempo permaneceu (e ainda permanece) a ideia de que com o livro didaacutectico

tudo se resolve ou seja O livro didaacutectico natildeo eacute visto como instrumento auxiliar na sala de

aula mas sim como a autoridade a uacuteltima instacircncia o criteacuterio absoluto da verdade o padratildeo

de excelecircncia a ser adoptado na aula (Freitag 1997124)

Os grandes problemas relacionados com o livro didaacutectico no ensino da Geografia prendem-

se com a dificuldade de acesso por parte dos alunos e agrave falta do seu uso adequado em sala de

aula O livro tem inuacutemeras possibilidades de ser explorado mas numa aula do Ensino

Secundaacuterio poucos alunos possuem o livro Natildeo existindo outros materiais auxiliares a

aprendizagem fica comprometida

No nosso trabalho de observaccedilatildeo de aulas de Geografia em escolas secundaacuterias

encontramos casos em que os professores se limitam na aula a dar uma breve explicaccedilatildeo do

conteuacutedo para de seguida fazer um exaustivo dito de apontamentos directamente do livro Ou

entatildeo observamos aulas em que os erros constantes do livro didaacutectico satildeo passados ipsis verbis

para os alunos

Jaacute participamos em sessotildees de trabalho com professores secundaacuterios que lamentavam o

facto de os livros de Geografia em Moccedilambique estarem desactualizados por que por exemplo

ainda mencionavam que os planetas do sistema solar satildeo 9 ao inveacutes de 8 Com os avanccedilos da

65

ciecircncia e da teacutecnica novas descobertas vatildeo sendo feitas mas o livro didaacutectico tem o seu tempo

de vida e natildeo pode dar conta do que acontece diariamente

A formaccedilatildeo dos professores para trabalhar devidamente com os livros eacute um desafio que

nos eacute colocado permanentemente sabido que muitos deles fizeram o seu percurso escolar com

muitas dificuldades de acesso aos livros ou pela sua inexistecircncia em termos de produccedilatildeo em

Moccedilambique ou pelo preccedilo a que eacute colocado no mercado

O professor tem que se posicionar criticamente perante o livro e natildeo limitar-se a ser um

consumidor passivo

Tenta-se actualmente colocar o livro ao alcance de todos A Universidade Pedagoacutegica tem

dado o seu exemplo investindo em Bibliotecas Moacuteveis

Consideraccedilotildees finais

Este estudo tentou abarcar a histoacuteria do livro didaacutectico de Geografia ao longo das vaacuterias

fases de desenvolvimento de Moccedilambique O livro didaacutectico eacute um instrumento importante no

processo de ensino-aprendizagem mas o professor natildeo pode restringir a praacutetica docente-

educativa ao uso ou consulta de um uacutenico material didaacutectico

O livro didaacutectico reflecte os interesses dominantes numa sociedade a ideologia e a poliacutetica

dos governantes

Em Moccedilambique no periacuteodo colonial devido ao regime vigente usava-se o livro

produzido em Portugal que reflectia os interesses do colonizador

Apoacutes a Independecircncia verificaram-se seacuterias dificuldades em produzir o livro internamente

e nalguns casos para a disciplina de Geografia foi necessaacuterio recorrer novamente aos livros de

Portugal com apecircndices elaborados por autores moccedilambicanos que reflectiam a nossa realidade

Nos uacuteltimos anos estabeleceu-se a gratuidade do livro didaacutectico para o Ensino Primaacuterio

Contudo para o Ensino Secundaacuterio o livro tem que ser adquirido pelas famiacutelias Vigoram as leis

do mercado o nuacutemero de alunos que possuem o livro no ensino secundaacuterio eacute ainda muito

insignificante e isso estaacute relacionados aos custos do livro

Muitas vezes o livro didaacutectico eacute usado de forma inadequada natildeo se explorando todo o seu

potencial

Sugere-se a formulaccedilatildeo de poliacuteticas que garantam maior acesso ao livro por parte dos

alunos maior apetrechamento das bibliotecas escolares com livros didaacutecticos e de leitura

complementar e melhor formaccedilatildeo dos professores para explorarem cabalmente o livro

66

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VIEIRA Evaristo e MOURA Alves Geografia - 1deg ano do curso complementar do Ensino

Secundaacuterio Porto Porto Editora 1974

69

Desafios da formaccedilatildeo de professores por competecircncias no Modelo de 10ordf

classe + 3 anos

Acircngelo Guiloviccedila Niquice21

Resumo

O artigo apresenta algumas linhas de reflexatildeo sobre o desafio da transposiccedilatildeo do texto curricular agrave praacutetica

docente implementada na formaccedilatildeo de professores competentes reflexivos de modo a corresponder os

anseios da sociedade em relaccedilatildeo agrave qualidade de educaccedilatildeo O principal objectivo eacute analisar a actual

formaccedilatildeo de professores e aprendizagem por competecircncias do novo Plano Curricular de Formaccedilatildeo de

Professores para o Ensino Primaacuterio em Moccedilambique A metodologia eacute baseada na pesquisa bibliograacutefica

Conclui-se que jaacute foi um grande passo a opccedilatildeo por uma estrutura curricular na perspectiva de

competecircncias mas persistem muitos desafios para levar a cabo a formaccedilatildeo Sugere-se que se trabalhar

continuamente com os formadores de modo a promover praacuteticas pedagoacutegicas inovadoras

Palavras-chave Formaccedilatildeo de professores Aprendizagem por Competecircncias Modelo 10ordf + 3 anos

Abstract

The article presents some lines of reflection on the challenge of transposing the curricular text to the

teaching practice implemented in the formation of competent reflective teachers in order to match the

aspirations of society in relation to the quality of education The main objective is to analyze the current

teacher training and competency learning of the new Teacher Education Curricular Plan for Primary

Education in Mozambique The methodology is based on bibliographic research It is concluded that the

option for a curricular structure in the perspective of competences was a great step but many challenges

persist for carrying out the training It is suggested to work continuously with teacher educators in order

to promote innovative pedagogical practices

Keywords Teacher training Competency Learning Model 10 + 3 years

Introduccedilatildeo

As grandes mudanccedilas sociais econoacutemicas e poliacuteticas dos uacuteltimos tempos em Moccedilambique

e no mundo levaram a que as autoridades educacionais sentissem a necessidade de embarcar em

transformaccedilotildees curriculares como forma de dar resposta agrave expansatildeo da educaccedilatildeo e agrave crescente

inquietaccedilatildeo sobre qualidade de ensino como por exemplo as evidecircncias de fraco desempenho na

leitura escrita e na matemaacutetica referenciados nos relatoacuterios de estudos (MINEDINDE 2000 e

2010) Eacute neste contexto que o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo concebeu a estrateacutegia para a formaccedilatildeo de

professores 2004 ndash 2015 na qual se propocircs a elaborar um programa coerente consistente e

coordenado de formaccedilatildeo de professores competentes criacuteticos reflexivos e comprometidos com

21 Mestrando em EducaccedilatildeoFormaccedilatildeo de Formadores na UP ndash Maxixe angeloniquicesapomz

70

uma educaccedilatildeo de qualidade e que proporcionasse um desenvolvimento profissional do docente

ao longo da carreira Assim pretendemos neste artigo analisar os desafios da adopccedilatildeo de um

curriacuteculo baseado em competecircncias na formaccedilatildeo de professores do modelo de 10ordf classe mais 3

anos

O novo Plano Curricular de Formaccedilatildeo de Professores para o Ensino Primaacuterio (PCFPEP) eacute

baseado em competecircncias e nele estatildeo definidas nove competecircncias nos domiacutenios pessoal e

social de conhecimentos cientiacuteficos e das habilidades profissionais Estas vatildeo desenvolvendo-se

de forma transversal na medida em que as mesmas satildeo operacionalizadas ao longo do curso nos

diferentes moacutedulos

Iniciada a transformaccedilatildeo curricular levantam-se desafios sendo o primeiro a criatividade

dos formadores que devem gerar e estimular actividades centradas na aprendizagem de

competecircncias profissionais atraveacutes da mobilizaccedilatildeo de saberes e habilidades de forma a tornar os

graduados em professores competentes O segundo desafio prende-se com a transposiccedilatildeo

didaacutectica (modificaccedilatildeo selecccedilatildeo de saberes curriculares tomando em conta a

interdisciplinaridade e contextualizaccedilatildeo com o objectivo de operacionalizaccedilatildeo de competecircncias)

e o uacuteltimo relaciona-se com os mecanismos de implementaccedilatildeo de um sistema de avaliaccedilatildeo

adequado agrave construccedilatildeo de competecircncias

A motivaccedilatildeo para a realizaccedilatildeo deste estudo deve-se em primeiro lugar ao facto de que

durante o nosso percurso profissional nas instituiccedilotildees de formaccedilatildeo de professores no periacuteodo que

vai de 1999 a 2014 termos tido vaacuterias inquietaccedilotildees das quais a preocupaccedilatildeo com uma

abordagem que possibilitasse a formaccedilatildeo de professores criacuteticos reflexivos e por outro da

percepccedilatildeo da necessidade de uma mudanccedila da praacutetica docente reflexiva quer do formador quer

do professor primaacuterio ou secundaacuterio

Para direccionar o estudo partimos das seguintes questotildees

Que desafios poderatildeo ser vivenciados na implementaccedilatildeo do modelo 10ordf classe + 3 anos

baseado em competecircncias na formaccedilatildeo de professores criacuteticos e reflexivos

Qual o grau de competecircncia e criatividade dos formadores na abordagem de praacuteticas

docentes apoiadas na mobilizaccedilatildeo de um conjunto de saberes transformando-os em

acccedilatildeo de forma a promover um ensino de qualidade

Ateacute que ponto as aspiraccedilotildees subjacentes no curriacuteculo prescrito encontram enquadramento

na implementaccedilatildeo do texto curricular em particular a atitude didaacutectica dos formadores e

o sistema de avaliaccedilatildeo

71

Metodologicamente este trabalho tem um caraacutecter bibliograacutefico do tipo exploratoacuterio e

descritivo O principal objectivo do mesmo eacute de analisar a actual formaccedilatildeo de professores e

aprendizagem por competecircncias do novo PCFPEP em Moccedilambique A principal bibliografia

usada foi Niquice (2006) Golias (1993) e Perrenoud (1999 2002)

Breve abordagem histoacuterica e caracterizaccedilatildeo da formaccedilatildeo de professores em

Moccedilambique

A formaccedilatildeo de professores em Moccedilambique comeccedila na deacutecada 30 do seacuteculo XX no

regime colonial numa perspectiva racista discriminatoacuteria e selectiva tal como retrata Golias

(1993 p48) quando afirma que os professores para o ensino dos ldquoindiacutegenasrdquo foram inicialmente

formados pela Escola de Habilitaccedilatildeo de Professores Indiacutegenas do Alvor ndash Manhiccedila sendo esta a

primeira do geacutenero criada em 1930 e que com o mesmo espiacuterito satildeo criadas em 1965 as Escolas

de Habilitaccedilatildeo dos Professores do Posto Escolar

As estruturas curriculares prescritas e ocultas destas Escolas de Habilitaccedilatildeo de Professores

eram sustentadas por um paradigma tradicional Eacute assim que Golias (1993 p57) caracteriza

aquele paradigma como sendo um ensino destinado a professores do povo colonizado como

forma de cristalizar a instrumentalizaccedilatildeo teacutecnica e a ldquodomesticaccedilatildeordquo e que em paralelo decorria

o ldquoensino oficialrdquo representado basicamente por uma educaccedilatildeo da elite colonial assegurada por

professores das Escolas do Magisteacuterio Primaacuterio criadas em 1962

A caracterizaccedilatildeo do formador da eacutepoca colonial eacute feita no acircmbito de um caraacutecter riacutegido do

ensino formal e muito tecnicista Para Niquice (2006 p27 e 28) ao trazer a limitaccedilatildeo da

preparaccedilatildeo de professores ao niacutevel de treinamento de habilidades acreditava-se nos

procedimentos uniformizados de ensino-aprendizagem na padronizaccedilatildeo das situaccedilotildees onde

resumia-se na capacidade de imitar os passos do mestre-formador Estas praacuteticas de formaccedilatildeo de

professores de entatildeo enquadram-se nas teorias tradicionais no entanto carregavam consigo

questotildees de poder na perspectiva de manutenccedilatildeo do status quo a dominaccedilatildeo do povo

colonizado atraveacutes de reproduccedilatildeo da desigualdade social continuando o povo pobre menos

escolarizado e excluiacutedo

Com a Independecircncia Nacional a formaccedilatildeo de professores passou por grandes testes e

transformaccedilotildees principalmente para preencher as vagas dos professores que abandonaram o

paiacutes e tambeacutem assegurar que se cumprisse a grande aposta de massificaccedilatildeo da educaccedilatildeo As

72

transformaccedilotildees foram inadiaacuteveis pois era necessaacuterio adaptar-se a educaccedilatildeo agrave realidade do Paiacutes

qualificando a matildeo-de-obra para responder agraves necessidades de desenvolvimento da jovem naccedilatildeo

Niquice (2006 p34) recorre a Chirrime (2000) para explicar que os planos de estudos eram

organizados para pequenos cursos de reciclagem onde os primeiros foram de 1 a 3 meses e

entre 1976 a 1980 os cursos passaram a ter duraccedilatildeo de 6 a 10 meses

Em 1983 eacute introduzido o curso 6ordf classe mais 3 anos com uma pretensatildeo dupla elevaccedilatildeo

da formaccedilatildeo (geral) dos formandos e formaccedilatildeo profissional Esta duplicidade de objectivos levou

a que existissem muitas disciplinas teoacutericas (gerais) em detrimento das praacuteticas (profissionais)

Parafraseando Golias (1993 p74) a implementaccedilatildeo de cursos de duraccedilatildeo diversa visava

responder agraves urgecircncias quantitativas impostas pela vontade poliacutetica de massificar o ensino e que

estas natildeo permitiram influenciar mudanccedilas profundas nos professores por exemplo no que se

refere agrave transposiccedilatildeo da teoria agrave praacutetica O autor citado explicita que aqueles curriacuteculos

mantinham a tradicional concepccedilatildeo enciclopedista compartimentarizaccedilatildeo dos planos de estudos

em disciplinas estas sobrecarregadas de conteuacutedos muitas vezes pouco relevantes Tais

disciplinas e curriacuteculo eram estritamente seguidos e disseminados em todo Paiacutes sem nenhuma

flexibilidade e iniciativas por parte dos professores

Com o decurso do tempo em 1996 satildeo criados os Institutos do Magisteacuterio Primaacuterio que

primeiramente proveram cursos de 10ordf classe + 2 anos e sucessivamente alguns deles

ofereceram o curso do modelo de 10ordf classe + 1 ano + 1 ano e em 2006 esses Institutos devido agrave

grande urgecircncia em colmatar a contrataccedilatildeo de pessoas sem formaccedilatildeo psicopedagoacutegica

ofereceram em moldes transitoacuterios o curso de 10ordf classe + 1 ano Com estes cursos mesmo com

o ldquofantasmardquo da quantidade houve uma aposta para que se garantisse a qualidade Os cursos de

10ordf classe + 1 ano tinham apenas disciplinas profissionais e praacuteticas pedagoacutegicas Contudo

diversos segmentos (professores formadores pesquisadores pais e encarregados de educaccedilatildeo)

de forma contiacutenua foram mostrando-se ceacutepticos agrave eficaacutecia destes cursos Destes destacam-se as

reservas de Niquice (2006 p43) concernentes agrave preparaccedilatildeo pedagoacutegica-didaacutectica dos

formadores pois estes usam praacuteticas conservadoras muitas vezes contraditoacuterias ao discurso

actual da melhoria da qualidade de ensino Percebe-se que a manutenccedilatildeo de modelos

transmissivos por parte dos formadores denuncia a circulaccedilatildeo e contramatildeo dos movimentos da

escola nova da pedagogia activa e das abordagens construtivistas

Niquice (2006 p46) realccedila que os formadores tomam atitudes autoritaacuterias em sala de

aulas e que existe predominacircncia de aulas teoacutericas sobre praacuteticas Realccedila ainda que a formaccedilatildeo

73

de professores continuava esquemaacutetica e restritiva porque a aula continuava confinada agrave sala de

aulas e a uacutenica forma de ensinar era a aula

Eacute importante realccedilar que os actuais modelos de formaccedilatildeo de professores em

implementaccedilatildeo em Moccedilambique trazem consigo alguns aspectos vinculados pelas teorias poacutes

criacuteticas tais como preocupaccedilatildeo das relaccedilotildees de geacutenero diversidade cultural e eacutetnica (esta

materializada atraveacutes de mobilidade de formandos das diferentes proviacutencias do Paiacutes)

A formaccedilatildeo de professores eacute crucial para a materializaccedilatildeo seja da massificaccedilatildeo do ensino

seja tambeacutem da melhoria contiacutenua da qualidade contudo eacute apontada como uma das responsaacuteveis

pelos problemas de educaccedilatildeo Ainda que tenha ocorrido uma verdadeira revoluccedilatildeo quer em

nuacutemeros quer na preocupaccedilatildeo pela qualidade atraveacutes de reformas curriculares haacute ainda grande

dificuldade em se por em praacutetica concepccedilotildees e paradigmas dos modelos inovadores com

destaque do modelo 10ordf classe + 3 anos

A formaccedilatildeo de professores por competecircncias no modelo curricular de 10 ordf classe + 3 anos

exige por um lado a criatividade e flexibilidade dos formadores por outro adopccedilatildeo efectiva da

pedagogia de competecircncias combinada agrave avaliaccedilatildeo predominantemente formativa

Criatividade e qualidade dos formadores

As aceleradas mudanccedilas que ocorrem ao niacutevel local e pelo mundo fora sugerem de

imediato um formador dotado de competecircncias de criatividade e de autonomia capaz de

aprimorar nos formandos natildeo apenas o exerciacutecio profissional mas tambeacutem a capacidade criacutetica e

criativa

Parafraseando Niquice (2006 p16 e 43) ao abordar as questotildees do niacutevel de competecircncia e

criatividade assim como a maneira de ensinar e orientar a aprendizagem afirma que os

formadores natildeo conseguem evitar a aprendizagem predominantemente teoacuterica combinada com

um trabalho pedagoacutegico bastante rotineiro Os formadores recrutados conservam praacuteticas muitas

vezes contraditoacuterias ao discurso actual de melhoria qualidade de ensino de criatividade no

ensino de implementaccedilatildeo do curriacuteculo integrado centralizaccedilatildeo da aprendizagem no formando

ligaccedilatildeo teoria-praacutetica Satildeo formadores que receberam uma escolarizaccedilatildeo e formaccedilatildeo baseadas no

curriacuteculo conteuacutedista racionalista tecnicista O autor argumenta ainda que os processos que satildeo

utilizados pelos formadores satildeo laquocristalizadosraquo as suas concepccedilotildees estatildeo subjacentes ao

pensamento de que ensinar eacute simplesmente transmitir e aprender eacute receber Para eles o discurso

moderno significa um incoacutemodo na medida em que exige em fazer diferente do habitual que

desestabiliza as praacuteticas e haacutebitos consolidados

74

Em reacccedilatildeo aos vaacuterios estudos o novo PCFPEP coloca a acccedilatildeo praacutetica desde o 1ordm moacutedulo

da formaccedilatildeo docente para aleacutem de preconizar a articulaccedilatildeo da formaccedilatildeo inicial (no 1ordm e 2ordm ano) e

formaccedilatildeo em exerciacutecio (no 3ordm ano) tendo esta uacuteltima o objectivo de dar continuidade ao

desenvolvimento de competecircncias reflexivas no contexto escolar Esperamos que seja o fim da

formaccedilatildeo em que formandos recebam conteuacutedos prontos sistematizados sem uso da criticidade

e muito menos da problematizaccedilatildeo

A necessidade de formar professores competentes e reflexivos eacute uma discussatildeo actual

colocando-se no centro da questatildeo a problemaacutetica da mudanccedila educativa que suscita a reflexatildeo-

acccedilatildeo-reflexatildeo e compromisso dos profissionais da educaccedilatildeo no exerciacutecio das suas tarefas

quotidianas

O perfil profissional dos formadores deve estar em consonacircncia com o espiacuterito da

formaccedilatildeo de professores onde se exige que haja articulaccedilatildeo cientiacutefica e pedagoacutegica orientada agrave

praacutetica reflexiva e contextualizada Aconselha-se a apropriaccedilatildeo do pensamento de Noacutevoa (1992

p67) segundo o qual a formaccedilatildeo de professores deve fornecer um pensamento autoacutenomo em

sentido criacutetico-reflexivo Eacute que os formadores devem repensar o seu papel na formaccedilatildeo de

professores pois estes precisam desenvolver e estimular situaccedilotildees de aprendizagem nos

formandos

Implementaccedilatildeo da pedagogia por competecircncias na formaccedilatildeo de professores

A abordagem por competecircncias eacute apresentada como nuclear na organizaccedilatildeo curricular do

novo paradigma de formaccedilatildeo de professores em Moccedilambique Por intermeacutedio desta componente

de competecircncias eacute constituiacutedo um discurso de se ter alcanccedilado a foacutermula para a elevaccedilatildeo da

qualidade da formaccedilatildeo docente e consequentemente da educaccedilatildeo (no seu contexto geral) no

Paiacutes Isto insta-nos a querer analisar a abordagem por competecircncias as modalidades inseridas

no modelo de 10ordf classe + 3 anos e a sua implementaccedilatildeo

Competecircncia

O termo ldquocompetecircnciardquo pode assumir diferentes significados pelo que importa clarificar

que discutiremos alguns conceitos inseridos na aacuterea da educaccedilatildeo Allessandrini (2002 p164)

define competecircncia como sendo a capacidade de compreender uma determinada situaccedilatildeo e reagir

adequadamente frente a ela No mesmo diapasatildeo Perrenoud (1999 p7) chama competecircncia a

capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situaccedilatildeo apoiando-se em

conhecimentos mas sem limitar-se a eles O mesmo autor (Perrenoud 2003 p13) enfatiza a

75

competecircncia como sendo uma mais-valia acrescentada aos saberes a capacidade de a utilizar

para resolver problemas construir estrateacutegias tomar decisotildees e actuar no sentido mais vasto

Formaccedilatildeo de professores por competecircncias

Os desafios de Moccedilambique no acircmbito de educaccedilatildeo tais como a) universalizaccedilatildeo do

Ensino Primaacuterio b) elevaccedilatildeo da qualidade de ensino e por exemplo as evidecircncias de fraco

desempenho na leitura escrita e matemaacutetica reforccedilaram a convicccedilatildeo do MINED de repensar a

qualidade do professor atraveacutes da reforma do curriacuteculo de formaccedilatildeo de professores do Ensino

Primaacuterio adoptando um curso baseado em competecircncias Estas competecircncias surgem como

alternativa para suprir essa lacuna e captar mais precisamente as tarefas que o indiviacuteduo estaacute

efectivamente apto a cumprir (Ramos 2006 p 38)

A proposta do PCFPEP de formaccedilatildeo por competecircncias veio atender a uma preocupaccedilatildeo da

sociedade que reivindicava um professor competente dinacircmico capaz de dar sentido aos

conteuacutedos transmitidos pela escola e de garantir que os conhecimentos sejam de facto

convertidos em acccedilotildees concretas de acordo com as necessidades de cada formandoaluno Em

reacccedilatildeo aos desafios que se impotildeem encontram-se alternativas seguindo o preceituado por

Perrenoud (1997 p 47) que defende que as competecircncias permitem enfrentar com algum

sucesso as situaccedilotildees desconhecidas por que conteacutem certa intuiccedilatildeo analoacutegica que possibilita a

mobilizaccedilatildeo de vaacuterios recursos e experiecircncias anteriores a fim de obter uma resposta

parcialmente original que seja adequada agrave situaccedilatildeo

A ideia de que a escola tem de fazer aprender habilidades directamente uacuteteis agrave escola eacute

cada vez mais abrangente no nosso seio logo a pedagogia por competecircncias aparece como

alternativa

Operacionalizaccedilatildeo de competecircncias na formaccedilatildeo de professores

Um curriacuteculo por competecircncias pressupotildee uma proactividade do formandoaluno

estimula-se nele o desenvolvimento de determinadas habilidades comportamentais mobilizaccedilatildeo

de outras dimensotildees do sujeito para aleacutem do conhecimento

Para esta abordagem preferimos parafrasear o principal representante da pedagogia de

competecircncias Perrenoud (1999) por este alertar que aceitar uma abordagem por competecircncias eacute

assumir um compromisso contiacutenuo de mudanccedila de ruptura das rotinas pedagoacutegicas e didaacutecticas

de compartimentaccedilotildees disciplinares Para este autor estrateacutegias didaacutecticas como a segmentaccedilatildeo

do curriacuteculo o peso da avaliaccedilatildeo e da selecccedilatildeo as imposiccedilotildees da organizaccedilatildeo escolar a

76

necessidade de tornar rotineiros o ofiacutecio de professor e o ofiacutecio de aluno natildeo contribuem muito

para a construccedilatildeo de competecircncias mas apenas para obter aprovaccedilatildeo em exames (Perrenoud

1999 p14) O maior desafio na concretizaccedilatildeo de um modelo por competecircncias consiste na

prontidatildeo dos formadores em assumir novos papeacuteis na transposiccedilatildeo didaacutectica e na aplicaccedilatildeo de

uma avaliaccedilatildeo concertada com o espiacuterito de construccedilatildeo de competecircncias

Para a operacionalizaccedilatildeo de competecircncias Perrenoud (1999 p17) convida neste caso os

formadores a considerar os conhecimentos como ferramentas a serem mobilizadas conforme as

necessidades a trabalhar regularmente com situaccedilotildees-problema a criar ou utilizar outros meios

de ensino a negociar e conduzir projectos com seus alunos a adoptar uma planificaccedilatildeo flexiacutevel

a improvisar a implementar e explicitar um novo contrato didaacutectico a praticar uma avaliaccedilatildeo

formadora em uma situaccedilatildeo de trabalho a alcanccedilar uma compartimentaccedilatildeo disciplinar menor

Apreciaccedilatildeo criacutetica da abordagem por competecircncias

A implementaccedilatildeo da formaccedilatildeo de professores por competecircncias no caso do Instituto de

Formaccedilatildeo de Professores (IFP) de Homoine foi antecedida por actualizaccedilatildeo dos formadores

criaccedilatildeo de condiccedilotildees em termos infra-estruturais limitaccedilatildeo de 20 formandos por turma No

entanto verificam-se dificuldades para a transposiccedilatildeo didaacutectica dificuldades de materializar a

avaliaccedilatildeo de competecircncias combinadas com ceptismo na aplicabilidade do sistema de avaliaccedilatildeo

Esta tendecircncia teraacute sido analisada por Perrenoud (1999 p 95) que alertava que se o

sistema educativo natildeo se der tempo de fazer a reconstruccedilatildeo didaacutectica natildeo traraacute resultados agraves

finalidades da escola pois apenas estaratildeo a atribuir nome de competecircncias aos antigos

conteuacutedos O autor apresenta seus argumentos afirmando que o indiacutecio mais evidente de uma

mudanccedila profunda eacute a diminuiccedilatildeo de peso dos conteuacutedos disciplinares e uma avaliaccedilatildeo formativa

e certificativa orientada claramente agraves competecircncias de tal forma que natildeo se pode pretender

desenvolvecirc-las sem dedicar o tempo necessaacuterio para colocaacute-los em praacutetica

O novo papel do formadorprofessor no ensino de competecircncias

Eacute importante destacar que no desenvolvimento da formaccedilatildeo que tem como orientaccedilatildeo um

modelo educacional baseado em competecircncias os participantes directos do processo de ensino-

aprendizagem assumem novos papeacuteis

A figura tradicional do formadordocente transmitindo um enorme volume de

conhecimentos algumas vezes de forma passiva sofre uma mudanccedila no modelo de formaccedilatildeo

baseado em competecircncias Exige-se dele mudanccedila de postura e aplicaccedilatildeo efectiva de estrateacutegias

77

metodoloacutegicas previamente seleccionadas para o desenvolvimento do curso O

formadorprofessor tem responsabilidade pelo desenvolvimento e progresso dos

formandosalunos no programa como um todo aleacutem de encorajar o formandoprofessor a buscar

informaccedilotildees e aplicaacute-las na aquisiccedilatildeo de uma habilidade aconselhando e motivando-o para que

atinja as metas

Parafraseando Perrenoud (1999 2003) este implora na mudanccedila de postura

concretamente na transferecircncia e mobilizaccedilatildeo das capacidades e dos conhecimentos atraveacutes da

exercitaccedilatildeo sempre em situaccedilatildeo didaacutecticas apropriadas As opccedilotildees pedagoacutegica-didaacutecticas

sugeridas satildeo a problematizaccedilatildeo da aprendizagem e aprendizagem por projectos

De salientar que ensinar nos dias que correm pressupotildee uma pedagogia activa a

necessidade de concepccedilatildeo encaixe e regulaccedilatildeo de situaccedilotildees de aprendizagem Neste propoacutesito

Rey et al (2005 p26-37) consideram que a operacionalizaccedilatildeo de competecircncias atraveacutes da

resoluccedilatildeo de problemas deve ser associada agrave perspectiva construtivista de aprendizagem e no

paradigma reflexivo uma vez que o aluno eacute colocado diante situaccedilotildees que por vezes natildeo tem

conhecimentos para encontrar soluccedilotildees Este aluno perante as situaccedilotildees novas e complexas

interroga os seus raciociacutenios cria um saber de forma autoacutenoma entende problema mobiliza

vaacuterias faculdades nesta resoluccedilatildeo da situaccedilatildeo-problema Ainda reactiva a pedagogia de projecto

que vai partir de problemas questotildees ou situaccedilotildees mais ou menos complexas de princiacutepio

seleccionadas por ele e vi mobilizar e contextualizar saberes e organizaccedilatildeo de toda informaccedilatildeo

Como eacute sustentada a aprendizagem por competecircncias no novo modelo de formaccedilatildeo de

professores

O novo texto curricular eacute segundo o MINEDINDE (2012 p20 e 80) baseado em

competecircncias e tem como fonte principal de avaliaccedilatildeo das competecircncias as evidecircncias que

demonstram o alcance de um determinado resultado de aprendizagem dentro de um moacutedulo O

curso eacute caracterizado como estando estruturado em torno de nove competecircncias estas satildeo

operacionalizadas de forma transversal em todas as aacutereas curriculares e de forma especiacutefica nos

moacutedulos (op cit79)

Esta operacionalizaccedilatildeo decorre de forma transversal nas diversas componentes do curriacuteculo

e pressupotildee superar a loacutegica do formador como transmissor de conteuacutedos passando a ser um

estimulador da aprendizagem atraveacutes da construccedilatildeo de uma diversidade de situaccedilotildees de

aprendizagem concretas onde se valorizam os princiacutepios da diferenciaccedilatildeo pedagoacutegica Contudo

78

a sua implementaccedilatildeo ainda em fase piloto eacute caracterizada por uma descrenccedila dos formadores

Estes deviam ser mais criativos inovadores e comprometidos em assumir a prescriccedilatildeo do texto

curricular Estes continuam obcecados em praacuteticas dirigistas e preocupados com os testes

escritos que satildeo heranccedila de praacuteticas de avaliaccedilatildeo classificatoacuterias

Exige-se dos formadores mudanccedilas de postura e aplicaccedilatildeo efectiva de estrateacutegias

metodoloacutegicas previamente seleccionadas para o desenvolvimento do curso Segundo Perrenoud

(1999 p 57) o novo objectivo do formador eacute mais fazer aprender do que ensinar por meio de

pedagogia e meacutetodos mais activos convidando os formadores a a) considerar os conhecimentos

como recursos a serem mobilizados b) trabalhar regularmente com problemas c) criar ou

utilizar outros meios de ensino d) negociar e conduzir projectos com seus formandos e) adoptar

uma implementaccedilatildeo flexiacutevel e indicativa f) implementar e explicitar um novo contrato

didaacutectico g) praticar uma avaliaccedilatildeo formadora e situaccedilotildees de trabalho

Avaliaccedilatildeo numa abordagem por competecircncias (como eacute adoptada no Plano Curricular)

Na abordagem por competecircncias a avaliaccedilatildeo natildeo se limita agrave verificaccedilatildeo do produto final

mas identifica as dificuldades no processo de aprendizagem e as estrateacutegias de aperfeiccediloamento e

progressatildeo

Avaliaccedilatildeo na oacuteptica de Fernandes (2001 p68) durante muito tempo esteve mais atenta a

mediccedilatildeo dos resultados adquiridos pelos alunos atraveacutes da utilizaccedilatildeo de testes e exames em

detrimento da valorizaccedilatildeo dos processos que promoviam essa aquisiccedilatildeo ou aprendizagem

Eacute assim que o PCFEP aposta na avaliaccedilatildeo como uma actividade contiacutenua que permita

por um lado obter-se uma imagem do desempenho do formando em termos de competecircncias

descritas no texto curricular e por outro servir de mecanismo de retro-alimentaccedilatildeo ao processo

de formaccedilatildeo

Outra inovaccedilatildeo eacute a previsatildeo de dois niacuteveis de avaliaccedilatildeo interna e externa Este raciociacutenio

encontra-se em Alonso (2001 p20) que sugere a avaliaccedilatildeo interligada a aprendizagem devendo

basear-se em competecircncias em atitudes que facilitem o aprender a aprender o colaborar com os

outros o intervir activamente na sociedade adaptar-se agraves mudanccedilas constantes O autor

argumenta que eacute necessaacuterio ldquoum ensino construtivista que requer uma avaliaccedilatildeo contiacutenua

formativa diferenciada e multidimensionalrdquo

A experiecircncia de Tochon (1995 p159) no acircmbito da avaliaccedilatildeo na formaccedilatildeo de

professores mostra que as diferentes funccedilotildees estatildeo longe de serem fixas ou exclusivas ao niacutevel

da aula Este autor aconselha a natildeo opccedilatildeo por fixaccedilatildeo riacutegida dos instrumentos de avaliaccedilatildeo

79

dando como exemplo a generalizaccedilatildeo das grelhas de avaliaccedilatildeo formativa que considera

perigosa uma vez que corre-se o risco de se metamorfosear o ideal de diferenciaccedilatildeo e de

autonomizaccedilatildeo da aprendizagem num processo de socializaccedilatildeo escalonado normalizado e depois

controlado segundo processos repetitivos e aborrecidos

Esta problemaacutetica estaacute acontecendo com a avaliaccedilatildeo no novo modelo de 10ordf classe + 3

anos uma vez que este preconiza a elaboraccedilatildeo de muitos relatoacuterios reflexivos

consequentemente torna-se uma actividade repetitiva e aborrecida tanto para os formandos que

esgotam inspiraccedilatildeo e ficam sem palavras assim como para os formadores que lhes parece

estarem a corrigir relatoacuterios iguais

Retomando o debate da aposta pela avaliaccedilatildeo formativa Perrenoud (1999 p15) aconselha

que esta deve forjar seus proacuteprios instrumentos que vatildeo do teste criterioso agrave observaccedilatildeo in loco

dos meacutetodos de trabalho dos procedimentos e dos processos intelectuais do formandoaluno O

autor insiste que a verdadeira avaliaccedilatildeo formativa eacute acompanhada de uma intervenccedilatildeo

diferenciada em termos de meios de ensino de organizaccedilatildeo de horaacuterios organizaccedilatildeo do grupo-

aula ateacute mesmo de transformaccedilotildees radicais das estruturas escolares

Enquanto os formadores no modelo de 10ordf classe + 3 anos tendem a sobrevalorizar mais os

testes escritos pois estes prevalecem no sistema avaliativo os pesquisadores se mostram

ceacutepticos a aplicabilidade das provas tradicionais numa abordagem por competecircncias Zabala

(2001 p194) natildeo recomenda provas especiacuteficas num tempo predeterminado porque na sua

opiniatildeo quebra o ritmo de trabalho e torna-se num processo artificial Para este autor a

verdadeira avaliaccedilatildeo deve integrar-se no proacuteprio desenvolvimento da unidade no decurso de

vaacuterias actividades que permitam observar o percurso de aprendizagem do aluno e deste modo

facultar as ajudas necessaacuterias na altura adequada

Prosseguindo o ceptismo de certos pesquisadores em relaccedilatildeo aos testes escritos o grande

estudioso da abordagem por competecircncias Perrenoud (1999 p159) considera que as provas

escolares tradicionais se relevam de pouca utilidade porque satildeo essencialmente concebidas para

anaacutelise dos erros dos formandosalunos mais para a classificaccedilatildeo dos alunos do que para a

identificaccedilatildeo do niacutevel de domiacutenio de cada um Acrescenta ainda que provas desse geacutenero natildeo

informam muito como se operam a aprendizagem e a construccedilatildeo de conhecimentos elas

sancionam seus erros sem buscar os meios para compreendecirc-los e para trabalhaacute-los

80

Consideraccedilotildees finais

A adopccedilatildeo de um curriacuteculo por competecircncias na formaccedilatildeo de professores anuncia um

modelo de profissionalizaccedilatildeo que possibilita a formaccedilatildeo de professores competentes e reflexivos

Tal perspectiva apresenta-se como sendo uma formaccedilatildeo que pode privilegiar a praacutetica e

secundarizar o conhecimento teoacuterico Em suma a aprendizagem por competecircncias na formaccedilatildeo

de professores do modelo 10ordf classe + 3 anos suscita a articulaccedilatildeo entre teoria e praacutetica

De acordo com as anaacutelises ao PCFPEP agrave revisatildeo da literatura e os diaacutelogos exploratoacuterios

feitos aos formadores conclui-se que jaacute foi um grande passo a opccedilatildeo por uma estrutura curricular

na perspectiva de competecircncias mas persistem muitos desafios para que de facto os formadores

assumam a prescriccedilatildeo curricular e formem professores competentes criacuteticos reflexivos eacuteticos

prudentes autoacutenomos Estas qualidades satildeo imprescindiacuteveis para que se possa realmente

desenvolver um ensino de qualidade e eliminar as fragilidades existentes na praacutetica reflexiva dos

professores

Consideramos que deve trabalhar-se continuamente com os formadores de modo a

promover praacuteticas pedagoacutegicas inovadoras que ultrapassem a mera transmissatildeo de

conhecimentos e que se impulsione a transposiccedilatildeo didaacutectica que privilegie experiecircncias

educativas promotoras de desenvolvimento de competecircncias

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83

Percepccedilotildees de professores de Matemaacutetica sobre o uso de calculadoras em

salas de aulas

Herciacutelio Paulo Munguambe22

Resumo

O presente artigo cientiacutefico enquadra-se no uso das tecnologias no Ensino Secundaacuterio Geral do 1ordm Ciclo e

pretende discutir as percepccedilotildees que os professores de Matemaacutetica tecircm sobre o uso de calculadoras em salas

de aulas Os objectivos deste estudo satildeo compreender o uso da calculadora identificar as percepccedilotildees dos

professores e propor estrateacutegias do seu uso procurando assim contribuir para a melhoria da qualidade de

ensino da Matemaacutetica O trabalho baseou-se em anaacutelise bibliograacutefica assistecircncia agraves aulas entrevista aos

professores da escola pioneira da pesquisa aplicaccedilatildeo do questionaacuterio aos professores de Matemaacutetica em

exerciacutecio abarcando no seu todo 13 participantes de diferentes escolas da cidade e distrito de Xai-Xai No

que respeita agrave anaacutelise da assistecircncia agraves aulas e das respostas dadas na entrevista e no questionaacuterio chegou-se

agrave conclusatildeo de que os professores na praacutetica natildeo usam as calculadoras embora a maioria afirma o contraacuterio

tanto na entrevista como no questionaacuterio defendendo que fazem o seu uso o que nos leva a perceber que eles

tecircm vontade de usar as calculadoras nas aulas de Matemaacutetica mas por falta de bases cientiacuteficas tecircm muitas

limitaccedilotildees Se eles afirmam que usam entatildeo fica claro que usam-nas de forma empiacuterica E ainda segundo os

dados obtidos entende-se que a maioria reconhece a utilidade destas em salas de aulas embora alegando que

as mesmas criam dependecircncia e preguiccedila mental no aluno Portanto conclui-se haver necessidade de

recomendar a preparaccedilatildeo de professores de Matemaacutetica no uso de calculadoras em salas de aulas e por via

disso garantir-se o seu uso no Ensino Secundaacuterio Geral do 1ordm Ciclo

Palavras-chave Matemaacutetica Calculadoras Aprendizagem e Ensino Resistecircncia Percepccedilotildees

Abstract

The present dissertation fits in the use of technologies in the Lower Secondary Schools programs and aims

to discuss the perceptions teachers of Mathematics have on the use of calculators in the classroom context

The objective of the present study is to understand the use of the calculator identify the perceptions the

teachers of Mathematics have and suggest strategies for their use with the aim of giving a contribution for

the improvement of the quality of Mathematics teaching The present dissertation is based on the literature

review carried out lesson observations interview to a group of teachers in the schools the studied was

carried out the use of a questionnaire to a group of on duty teachers of Mathematics All in all (13) thirteen

respondents from different schools in Xai-Xai took part in this study With regards to the lesson observation

and the analysis of the process as well as the analysis of the data from the interview and questionnaire it

was concluded that teachers do not use the calculators in the teaching context However the majority of our

respondents stated that they do use This brings us to the assumption that they would like to use them in

Mathematics lessons but due to the lack of scientific basis they have some limitations If they state that they

use it then becomes clear that they use them in an empiric form Furthermore from the data collected it is

quite clear that the majority recognizes the importance of the use of the calculators in the classroom context

in spite of their argument that these calculators may lead to dependence and mental laziness among

learners Therefore it is concluded that there is a need to recommend the training of the teachers of

Mathematics on the usage of the calculators in the classroom context with a view to guaranteeing their

appropriate use in the Lower Secondary School

Key Words Mathematics Calculators Learning and Teaching Resistance Perceptions

22 Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de Matemaacutetica Docente da UP Gaza Universidade Pedagoacutegica de Moccedilambique Email

herciliomunguambeyahoocombr

84

1 Introduccedilatildeo

No nosso paiacutes os iacutendices de reprovaccedilatildeo escolar em especial na disciplina de Matemaacutetica

chegam a limites considerados injustificados os obstaacuteculos e as dificuldades de aprendizagem

constituem uma das preocupaccedilotildees das sociedades e dos intervenientes dos processos de ensino e de

aprendizagem em particular isto eacute haacute necessidade de se procurar buscar respostas agrave pergunta qual

a razatildeo que leva o aluno a natildeo aprender

Nos uacuteltimos anos presenciamos um avanccedilo tecnoloacutegico bastante visiacutevel e promissor Por esta

via as calculadoras e computadores passaram a fazer parte do quotidiano de muitos indiviacuteduos e

por conseguinte estes materiais estatildeo jaacute presentes em quase vaacuterias escolas moccedilambicanas Eacute loacutegico

que a chegada destes materiais agraves escolas ainda assusta tanto aos alunos assim como aos

professores Partindo do princiacutepio que as novas tecnologias vieram para ficar e que as escolas natildeo

podem ser alheias a estas exige-se que os professores estejam seguros e preparados para o seu

manuseio procurando assim melhorar a sua praacutetica pedagoacutegica

Assim sendo actualmente num mundo globalizado jaacute natildeo faz sentido se caminhar sem o uso

das novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo A comunidade escolar jaacute percebe a

importacircncia das tecnologias como ferramenta pedagoacutegico-didaacutectica na educaccedilatildeo e como

instrumento de mudanccedilas nos processos de ensino e de aprendizagem Com base nos

assinalamentos anteriores levanta-se a seguinte questatildeo de investigaccedilatildeo Que percepccedilotildees os

professores de Matemaacutetica tecircm sobre o uso de calculadoras em salas de aulas

Assim sendo esta pesquisa busca compreender as percepccedilotildees dos professores de Matemaacutetica

do 1ordm ciclo do Ensino Secundaacuterio Geral a respeito do uso da calculadora na sala de aulas

Constituem objectivos especiacuteficos desta pesquisa

Identificar as percepccedilotildees dos professores sobre o uso das calculadoras em sala de

aulas no ESG do 1ordm ciclo (8ordf a 10ordf classes)

Descrever o niacutevel de percepccedilatildeo dos professores sobre o uso das calculadoras na sala

de aulas de Matemaacutetica no ensino secundaacuterio geral do 1ordm ciclo

Propor algumas sugestotildees com vista a melhoria da utilizaccedilatildeo de calculadoras nas aulas

de Matemaacutetica do ESG do 1ordm ciclo

11 Justificativa

A escolha deste tema deveu-se ao facto de que a escola onde se fez a pesquisa possuir um

aproveitamento muito baixo especialmente na disciplina de Matemaacutetica e considerou-se que a

85

partir desta pesquisa poder-se-aacute encontrar uma soluccedilatildeo com a implementaccedilatildeo de calculadoras

como recursos didaacutecticos facilitadores dos processos de ensino e de aprendizagem

Por este motivo escolheu-se este trabalho para propor sugestotildees que possam permitir a

melhor utilizaccedilatildeo de calculadoras mais concretamente no Ensino Secundaacuterio Geral do 1ordm Ciclo (8ordf

9ordf e 10ordf classes) de forma a que se desenvolvam competecircncias colocando assim o aluno cada vez

mais proacuteximo da utilizaccedilatildeo eficiente deste material na vida real e com expectativas promissoras

para enfrentar o ensino superior com sucesso

A escolha do tema justifica-se tambeacutem pelo facto do autor pretender contribuir para a

melhoria do processo de ensino-aprendizagem incentivando a implementaccedilatildeo adequada de

calculadoras e promovendo maior rigor nas mediccedilotildees e nos caacutelculos em pouco tempo por um lado

e por outro permitir que mais tempo e energia sejam despendidos na compreensatildeo de conceitos

2 Revisatildeo da literatura

Calculadoras satildeo dispositivos universalmente disponiacuteveis e usados por mais diversas

profissotildees para a realizaccedilatildeo de caacutelculos numeacutericos Assim a aula de Matemaacutetica natildeo pode ser

alheia agrave utilizaccedilatildeo destas embora se refere MOURA (20123) que ldquoentre os seacuteculos XII e XVI

ocorre uma oposiccedilatildeo entre os que utilizavam o aacutebaco como instrumento de caacutelculo e os que

defendiam a praacutetica do caacutelculo escrito onde mais tarde no seacuteculo XVII essa oposiccedilatildeo resulta

na transiccedilatildeo do aacutebaco para adopccedilatildeo de maacutequinas artificiaisrdquo Deste modo os actuais programas

de Matemaacutetica um pouco por todo mundo foram elaborados temendo consagrar o seu uso

Desde os tempos mais remotos o homem sentiu anecessidade de efectuar caacutelculos Deste

modo ldquono iniacutecio usou pedrinhas e pequenos paus que separava e agrupava depois comeccedilou a usar

os proacuteprios dedosrdquo (OLEacute 200410)

Segundo PAVAtildeO (20054) ao longo do tempo ldquoeacute inventado na China o Aacutebaco que eacute um

instrumento designado por maacutequina de calcular a mais antiga da histoacuteria do caacutelculo e a primeira

que ajudou o homem a calcular de forma mais raacutepidardquo O Aacutebaco foi o ponto de partida para

inventar novas formas de calcular mais faacuteceis e raacutepidas Os ocidentais baseando-se no Aacutebaco

Chinecircs comeccedilam entatildeo a inventar novas maacutequinas de calcular mas que ainda apresentavam

grandes dimensotildees e peso

Todavia percebe-se que com o passar do tempo verifica-se o aparecimento de calculadoras

mecacircnicas portaacuteteis que funcionam por cursores e manivelas sem utilizarem para isso qualquer

energia senatildeo a cineacutetica De acordo com OLIVEIRA (2011) ldquoconseguem-se entatildeo as 4 operaccedilotildees

baacutesicas (soma subtracccedilatildeo multiplicaccedilatildeo e divisatildeo) e chega-se rapidamente a uma caracteriacutestica

86

revolucionaacuteria a impressatildeo em papel que daacute origem agrave primeira calculadora impressora de

escritoacuterio - a Maacutequina Facit de teclas e alavancasrdquo Com o aparecimento da calculadora

electroacutenica aparecem as primeiras maacutequinas com circuitos electroacutenicos que tornavam mais raacutepidos

e fiaacuteveis os caacutelculos A calculadora comeccedila assim natildeo soacute a ser utilizada no escritoacuterio mas tambeacutem

a niacutevel pessoal

Na deacutecada de 80 surgiram diversos modelos de calculadoras de mesa e de bolso e

diferentes computadores Assim as calculadoras foram aperfeiccediloadas e diminuiacuteram

de preccedilo e de tamanho podendo hoje ser adquiridas por um custo menor e a

populaccedilatildeo em geral passou a ter acesso a esse tipo de instrumento o que acaba

auxiliando nas tarefas particulares e profissionais (OLIVEIRA 201118)

Dentre os vaacuterios tipos de calculadoras as mais usadas hoje em dia satildeo as electroacutenicas

construiacutedas por vaacuterios fabricantes em diversas formas e tamanhos variando em preccedilo conforme a

qualidade e os recursos ofertados A capacidade de uma calculadora varia de acordo com o modelo

desde o poder de caacutelculos agrave aritmeacutetica elementar inclusive outras que consagram funccedilotildees

trigonomeacutetricas

Assim das calculadoras electroacutenicas consideram-se dois tipos que satildeo a baacutesica (simples) e

a cientiacutefica por serem as mais usadas actualmente De acordo com OLIVEIRA (201126) a baacutesica

conta com as quatro operaccedilotildees fundamentais acrescidas de raiz quadrada e percentagem e depois a

cientiacutefica que realiza operaccedilotildees mais complexas como funccedilotildees trigonomeacutetricas logaritmos

interpolaccedilatildeo meacutedia desvio padratildeo potenciaccedilatildeo factorial entre outras Esta uacuteltima ainda pode ser

encontrada no mercado com diferentes funccedilotildees e com maior ou menor complexidade dependendo

do modelo tendo assim um custo relativamente maior que a baacutesica

A partir da Tabela 1 a seguir mostramos os resultados para facilitar a visualizaccedilatildeo das

diferenccedilas referidas previamente

Tabela 1 ndash Resultados depois dos comandos digitados

Expressatildeo Calculadora Cientiacutefica Calculadora Baacutesica

5+4x5 25 45

4x5+5 25 25

20+4x10+5x2+5 75 495

44011x4 160 160

10+10x10+10 120 210 Fonte Organizado pelo autor

87

Da tabela apresentada anteriormente podemos verificar que usando as duas calculadoras para

resolver a mesma expressatildeo obtemos em algum momento o mesmo resultado e noutro resultados

diferentes o que nos leva a perceber que na segunda e na quarta linha os resultados mantecircm-se

pois a multiplicaccedilatildeo vem antes e na divisatildeo e multiplicaccedilatildeo segue-se a ordem respectivamente

Poreacutem noutras linhas a calculadora baacutesica natildeo respeita a multiplicaccedilatildeo como operaccedilatildeo com

prioridade e assim acaba originando um outro nuacutemero como resultado

Uma outra diferenccedila das calculadoras verifica-se no arredondamento de valores que eacute feito

apenas nas calculadoras cientiacuteficas Exemplo 17x7 = 1 Este valor na calculadora baacutesica resulta em

09999997

Assim vaacuterios autores procuram perceber dos professores se tecircm algum conhecimento sobre

a importacircncia ou mesmo vantagens e desvantagens do uso de calculadoras nas aulas de Matemaacutetica

Uma das respostas tidas dos professores eacute que eles afirmam reconhecer a necessidade do uso de

calculadoras em sala de aulas apontando as vantagens e desvantagens da sua utilizaccedilatildeo mas os

mesmos reconhecem natildeo usarem sistematicamente estes materiais no seu quotidiano escolar

A partir das consideraccedilotildees ateacute entatildeo suscitadas tornam-se convenientes as

reflexotildees sobre o papel do professor numa escola adaptada ao uso das novas

tecnologias as representaccedilotildees destes profissionais acerca do perfil dessa nova

escola bem como um olhar atento sobre os processos de formaccedilatildeo especiacutefica

direcionados ao ensino da matemaacutetica e mediados por essas tecnologias

(MORAES 20007)

Neste sentido percebe-se que o nosso sistema de educaccedilatildeo moccedilambicano precisa incluir nos

curriacuteculos uma estrutura educacional que procure priorizar a necessidade de acelerar o processo de

formaccedilatildeo e aperfeiccediloamento de professores em mateacuterias ligadas ao uso de calculadoras nas aulas de

Matemaacutetica

As pesquisas mostram que ldquoo uso de calculadoras em sala de aulas pode promover uma

reorganizaccedilatildeo da actividade matemaacuteticardquo (KISTEMANN 2014)

ldquoEmbora o uso da calculadora ainda possa ser um tabu nas aulas de Matemaacutetica fora da

escola nas mais variadas situaccedilotildees eacute uma realidade esta faz parte das experiecircncias quotidianas

dos alunosrdquo (SANTOS 2014) Percebe-se que todo mundo deveria estar a utilizar a calculadora

por tratar-se de uma ferramenta importantiacutessima Ao contraacuterio do que muitos professores dizem a

calculadora natildeo coloca no activo o raciociacutenio do aluno Todas as pesquisas feitas sobre a

aprendizagem usando calculadoras preocupam-se em como utilizar correctamente estas tecnologias

de forma a desenvolver actividades que contribuam para o desenvolvimento dos alunos tanto no

ambiente escolar como fora

88

De acordo com KISTEMANN (2014) ldquoestudos nacionais e internacionais vecircm apresentando

resultados que demonstram que a calculadora pode exercer um papel importante na compreensatildeo

de conceitos matemaacuteticosrdquo Sendo assim estes materiais podem ser propostos em sala de aulas a

partir de situaccedilotildees que estimulem os alunos a reflectirem subsidiando tambeacutem o professor na

proposiccedilatildeo de actividades matemaacuteticas

Todavia a discussatildeo sobre o uso de calculadoras nas salas no ensino primaacuterio em

Moccedilambique eacute actual e contestada dividindo opiniotildees nos diversos quadrantes educacionais uma

vez que a poleacutemica se conduz para a forma como a calculadora pode auxiliar no desenvolvimento

de actividades em sala de aula influenciando de maneira positiva a aprendizagem matemaacutetica do

aluno

De acordo com DEIXA (2016) natildeo se justifica que a calculadora seja vista como um

instrumento destruidor das mentes dos alunos na escola em pleno seacuteculo das inovaccedilotildees

tecnoloacutegicas uma vez que esta pode servir como alavanca para verificar os resultados sem perca do

tempo

Apesar das divergecircncias nesta secccedilatildeo percebeu-se que vaacuterios autores defendem que o uso de

calculadoras em sala de aulas quando bem explorado em situaccedilotildees didaacutecticas planificadas com

criteacuterios bem definidos pode constituir uma oportunidade para o aluno se auxiliar na operaccedilatildeo com

nuacutemeros naturais e racionais na visualizaccedilatildeo da interpretaccedilatildeo de conceitos matemaacuteticos construccedilatildeo

de graacuteficos entre outros aspectos

Neste contexto percebe-se que o uso de calculadoras aparece como alvo de muitos

preconceitos pois muitos profissionais consideram que a inserccedilatildeo destes materiais pode impedir o

raciociacutenio do aluno aleacutem de lhe causar a chamada preguiccedila mental

As actividades propostas com calculadoras satildeo organizadas de modo criterioso

Levando-se em consideraccedilatildeo o tipo de actividade o eixo matemaacutetico a que se

refere e os conceitos trabalhados as actividades buscam entre outras propostas (i)

explorar o valor posicional do sistema de numeraccedilatildeo decimal (ii) propor a

resoluccedilatildeo de problemas com grandezas e medidas (iii) explorar a divisatildeo como

geradora de nuacutemeros decimais e a multiplicaccedilatildeo de decimais (iv) explorar

diferentes representaccedilotildees dos conceitos matemaacuteticos e as relaccedilotildees entre operaccedilotildees

inversas e (v) estimular actividades de estimativas e realizaccedilatildeo de caacutelculos

confirmadores de resultados (KISTEMANN 201410)

Depreende-se que tomando em consideraccedilatildeo todas estas actividades a presenccedila de

calculadora nas aulas de Matemaacutetica pode ser motivadora para os alunos criando um ambiente de

89

reflexatildeo acerca de situaccedilotildees matemaacuteticas que de certo modo se tornam reincidentes fatigantes e

abaladas por praacuteticas mecacircnicas nas quais se utilizam somente laacutepis e papel

A imagem a visatildeo real da coisa natildeo soacute economizam palavras mas permitem senti-

las tal como satildeo sem ter que imaginaacute-las a partir das palavras do professor Aleacutem

disso os recursos do ensino satildeo estimuladores e incentivadores O aluno que vecirc

que toca que manipula os objectos que realiza as experiecircncias que age sobre os

objectos tem mais facilidade de compreender e explicar a mateacuteria em estudo Dessa

forma a aprendizagem se torna mais real mais concreta mais significativa

(FERREIRA 2007 51)

Neste contexto percebe-se que com base em demonstraccedilotildees do concreto usando objectos

como eacute o caso da calculadora em sala de aulas facilmente pode se contextualizar a mateacuteria em

estudo colocando assim o aluno muito proacuteximo da realidade ou do seu quotidiano Entende-se

tambeacutem que um processo de ensino e aprendizagem da Matemaacutetica acompanhado de manipulaccedilatildeo

de objectos pode tornar o aluno mais entusiasmado e com facilidade de poupar mais tempo na

assimilaccedilatildeo da mateacuteria

3 Metodologia

Para a concretizaccedilatildeo deste trabalho de pesquisa foram aplicados os estudos qualitativo e

quantitativo A pesquisa qualitativa natildeo se preocupa com representatividade numeacuterica mas sim

com o aprofundamento da compreensatildeo de um grupo social ou organizaccedilatildeo Por isso o autor do

presente trabalho utilizou os meacutetodos qualitativos para poder explicar e exprimir o que conveacutem ser

feito E mais ainda o autor preocupou-se com aspectos da realidade que natildeo podem ser

quantificados centrando-se na compreensatildeo e explicaccedilatildeo da dinacircmica da utilizaccedilatildeo de calculadoras

na sala de aulas Para a recolha de dados foram utilizados os seguintes instrumentos questionaacuterio

entrevista observaccedilatildeo directa e registos institucionais

No que respeita ao estudo quantitativo estabelece-se que ldquoos resultados da pesquisa

quantitativa podem ser quantificados conforme as amostras que satildeo geralmente grandes e

consideradas representativas da populaccedilatildeo alvo da pesquisardquo (FONSECA 200220) Neste

contexto o autor centrou o seu estudo na objectividade onde a realidade foi compreendida com

base na anaacutelise de dados brutos recolhidos com auxiacutelio de instrumentos padronizados

Salientar que a utilizaccedilatildeo conjunta da pesquisa qualitativa e quantitativa permitiu recolher

mais informaccedilotildees do que se poderia conseguir isoladamente A pesquisa quantitativa serviu apenas

para auxiliar e complementar o estudo qualitativo que foi mais amplo e que permitiu que as pessoas

90

socializassem a sua proacutepria realidade e daiacute tirar conclusotildees a partir do proacuteprio trabalho do campo

respeitando o que foi mais uacutetil de acordo com a posiccedilatildeo dos intervenientes no contexto estudado

Nesta direcccedilatildeo para melhor verificar como tinham sido utilizadas as calculadoras nas aulas

de Matemaacutetica ao longo do periacuteodo fez-se um estudo pioneiro que na primeira etapa consistiu na

recolha dos dados referentes ao uso da calculadora na oacuteptica de diversos autores na segunda etapa

baseou-se no trabalho de campo mais concretamente na Escola Secundaacuteria de Inhamissa em Xai-

Xai com o intuito de entender profundamente o que estava acontecendo com o aproveitamento

pedagoacutegico na disciplina de Matemaacutetica atraveacutes das pautas do exame da 10ordf classe realizado em

2012 e de outros documentos como fichas relatoacuterios ou arquivos em computador A seguir foram

assistidas algumas aulas de Matemaacutetica da 8ordf 9ordf e 10ordf classe Posteriormente foram auscultados 13

professores em exerciacutecio nas distintas escolas da cidade e distrito de Xai-Xai Para a recolha dos

dados aplicou-se um questionaacuterio

O questionaacuterio foi aplicado em 5 escolas nomeadamente Escola Secundaacuteria de Chongoene

Escola Secundaacuteria Ndambine 2000 Escola Secundaacuteria de Xai-Xai Escola Secundaacuteria de Tavene e

Escola Secundaacuteria de Inhamissa abrangendo professores de Matemaacutetica na maioria a leccionar a 8ordf

classe haacute mais de 7 anos

Com esta composiccedilatildeo de teacutecnicas foi possiacutevel obter respostas que permitiram fazer uma

anaacutelise assente em aspectos convergentes e divergentes em torno do uso da calculadora na sala de

aulas de Matemaacutetica Para efeitos de anaacutelise as respostas dos inquiridos foram apresentadas por

P11 P12 P13 ateacute P115 e assim sucessivamente ateacute ao 13ordm inquirido que foi designado por P1315

onde P11 significa inquirido 1 pergunta 1 e P1315 significa inquirido 13 pergunta 15

4 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

Para apresentar analisar e discutir o uso de calculadoras no ensino de Matemaacutetica recorreu-

se agrave anaacutelise dos dados recolhidos a partir dos instrumentos elaborados para o efeito

As calculadoras natildeo satildeo usadas no ensino da Matemaacutetica pois de acordo com as respostas

dadas por um total de 3 professores de Matemaacutetica entrevistados na Escola Secundaacuteria de

Inhamissa em Xai-Xai haacute falta de domiacutenio no manuseamento durante o ensino da Matemaacutetica

aliaacutes eles reconhecem que natildeo se tecircm promovido acccedilotildees de formaccedilatildeo ou capacitaccedilatildeo regular de

professores em mateacuterias ligadas ao uso da calculadora

Da observaccedilatildeo directa feita conseguiu-se verificar que os 3 professores de Matemaacutetica tecircm

um certo domiacutenio na planificaccedilatildeo das suas aulas uma vez que os seus planos apresentavam-se bem

estruturados e com quase todos os materiais didaacutecticos contemplados

91

Ao longo da nossa presenccedila na escola em causa houve oportunidade de conhecer a sala onde

se encontram guardados todos os materiais didaacutecticos desde calculadoras giz reacuteguas esquadros

compassos transferidores soacutelidos geomeacutetricos ateacute alguns construiacutedos pelos proacuteprios alunos

ldquoA aprendizagem da Matemaacutetica visa desenvolver o raciociacutenio loacutegico ao operar com

conceitos e procedimentos usando meacutetodos apropriadosrdquo (INDEMINED 200743) Do estudo

feito a niacutevel do Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio Geral (PCESG) desde o seu Contexto

Poliacutetica Geral Inovaccedilotildees no ESG Estrutura Cultural do ESG Aacutereas Curriculares do 1ordm ciclo ateacute agraves

Estrateacutegias de Implementaccedilatildeo constatou-se que no seu todo ele tem como principal desafio

formar cidadatildeos capazes de lidar com padrotildees de trabalho em mudanccedila de adaptar-se a uma

economia baseada no conhecimento e em novas tecnologias influenciando assim o reforccedilo das

conquistas atingidas nos campos poliacutetico econoacutemico e social e para a reduccedilatildeo da pobreza na

famiacutelia e na sociedade em geral Neste sentido entende-se que tanto ao niacutevel da famiacutelia como da

sociedade em geral haacute necessidade de reduzir os preconceitos tendentes ao uso da calculadora

Apresentam-se a seguir os resultados do questionaacuterio aplicado em cinco escolas secundaacuterias

da cidade e distrito de Xai-Xai sobre a percepccedilatildeo dos professores de Matemaacutetica no que respeita ao

uso de calculadoras em sala de aulas Este questionaacuterio foi respondido no iniacutecio do mecircs de

Novembro de 2016

Para tornar faacutecil a anaacutelise dos dados recolhidos no campo de pesquisa foram organizadas as

respostas e declaraccedilotildees dos inquiridos em cinco (5) quadros resumo de acordo com o nuacutemero da

questatildeo nomeadamente Quadro 1 2 3 4 e 5 para as questotildees Q4 Q5 Q6 Q7 Q8 Q9 Q10 Q11

Q12 Q13 Q14 e Q15 respectivamente E os inquiridos foram designados por P1 P2 P3 P4 P5

P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 e P13

Para as questotildees Q1 Q2 e Q3 da anaacutelise das respostas dadas pelos 13 professores de

Matemaacutetica inquiridos do ESG do 1ordm ciclo em 5 escolas da cidade e distrito de Xai-Xai Proviacutencia

de Gaza pudemos depreender que dois (2) possuem o niacutevel meacutedio um (1) bacharel e dez (10)

licenciados trabalhando com Matemaacutetica entre um (1) a trinta e seis (36) anos

92

Quadro 1 - Tem alguma formaccedilatildeo sobre TIC`s (Q4)

Resposta dada Inquiridos Nordm de inquiridos Percentagem ()

Sim P1 P2 P7 P8 P9 P11 e P12 7 538

Natildeo P3 P4 P5 P6 P10 e P13 6 462

Fonte Organizado pelo autor

O Quadro 2 mostra a situaccedilatildeo referente agrave formaccedilatildeo dos professores em TIC`s Deste quadro

podemos notar que 538 dos inquiridos tecircm a formaccedilatildeo em TIC`s contra os 462 que natildeo tecircm

Quadro 2 - Alguma vez jaacute leu ou procurou se informar sobre artigos que abordam sobre o uso da

calculadora no ensino de Matemaacutetica (Q6)

Resposta dada Inquiridos Nordm de inquiridos Percentagem ()

Sim P1 P2 P5 P10 e P12 5 385

Natildeo P3 P4 P6 P7 P8 P9 11 e P13 8 615

Fonte Organizado pelo autor

Com relaccedilatildeo agraves respostas apresentadas no quadro anterior respeitantes agrave informaccedilatildeo que os

professores tecircm sobre o uso da calculadora no ensino da Matemaacutetica atraveacutes da leitura de artigos

verifica-se que apenas 385 dos inquiridos eacute que jaacute tinham lido alguns artigos e a maioria

correspondente a 615 natildeo o tinham feito

Neste sentido e segundo os resultados apresentados entende-se que a falta de alguma

informaccedilatildeo cientiacutefica atraveacutes da leitura de textos ou artigos cientiacuteficos que versam sobre o uso das

calculadoras no ensino da Matemaacutetica provoca limitaccedilotildees da sua implementaccedilatildeo em sala de aulas

93

Quadro 3 ndash Respostas dos inquiridos nas questotildees Q7 e Q8

Questotildees Respostas dadas pelos professores inquiridos Percentagem

()

Q7 Em relaccedilatildeo ao uso da calculadora com os alunos para ensinar Matemaacutetica 7

professores dos inquiridos responderam que ldquoSimrdquo o fazem nas operaccedilotildees

matemaacuteticas com nuacutemeros complicados para determinar a soluccedilatildeo para

caacutelculos aritmeacuteticos longos e trigonometria e para estudo de estatiacutestica E os

restantes 6 dos inquiridos responderam que ldquoNatildeordquo sem comentaacuterios

exceptuando 1 dos 6 que justifica natildeo utilizar a calculadora na medida em

que o aluno precisa desenvolver competecircncias de caacutelculo mental

Sim 538

Natildeo 462

Q8 No que respeita agrave mateacuteria em que se exige o uso da calculadora 10

professores dos inquiridos responderam que o fazem em algumas (mateacuterias)

como na determinaccedilatildeo de aacutereas de figuras geomeacutetricas trigonometria

caacutelculo combinatoacuterio probabilidades e estatiacutestica e logaritmos E os

restantes 3 dos inquiridos abstiveram-se de responder

Algumas 769

Sem

resposta 231

Fonte Organizado pelo autor

Como se pode depreender a partir do quadro anterior nas questotildees 7 e 8 a maioria dos

professores fazem o uso da calculadora com os seus alunos em algumas mateacuterias conforme ilustra

o quadro aliaacutes as percentagens que rondam entre 538 e 769 datildeo a indicaccedilatildeo de que haacute

necessidade por parte dos professores de usarem a calculadora por um lado e por outro verifica-

se que haacute limitaccedilotildees no manuseamento desta visto que uma parte dos inquiridos natildeo explora esta

tecnologia nas suas aulas por que tanto o programa da 10ordf classe como o livro do aluno natildeo datildeo

nenhuma orientaccedilatildeo sobre o uso da calculadora

Quadro 4 ndash Respostas dos inquiridos nas questotildees Q11 e Q12

Questotildees Respostas dadas pelos professores inquiridos Percentagem ()

Q11 Sobre aspectos positivos do uso da calculadora nas aulas de Matemaacutetica

11 professores dos inquiridos responderam que ldquoSimrdquo existem

nomeadamente reduz os caacutelculos permitindo que o aluno tenha mais

Sim 85

94

tempo para resolver muitos exerciacutecios em pouco tempo rapidez na

determinaccedilatildeo de valores numeacutericos sobretudo no caso de nuacutemeros

irracionais flexibiliza o trabalho com caacutelculos incentiva o aluno a

explorar a aacuterea tecnoloacutegica e traz simplicidade nos caacutelculos E ainda na

mesma questatildeo 2 professores responderam que natildeo existem

Natildeo 15

Q12 No que respeita aos aspectos negativos do uso da calculadora nas aulas

de Matemaacutetica 11 professores dos inquiridos responderam que ldquoSimrdquo

existem nomeadamente quando o aluno natildeo consegue acertar caacutelculos

simples sem a calculadora cria um fracasso (preguiccedila) no aluno ao

resolver casos simples o aluno natildeo desenvolve habilidades para

resolver casos subsequentes que dependem do que aprendeu

anteriormente cria preguiccedila na forma de pensar E os restantes 2

responderam que ldquoNatildeordquo mas sem comentaacuterio

Algumas 85

Natildeo 15

Fonte Organizado pelo autor

A partir das respostas apresentadas no quadro anterior entendemos que elas evidenciam um

equiliacutebrio entre as vantagens e desvantagens do uso da calculadora nas aulas de Matemaacutetica pois

tanto em aspectos positivos como negativos nas questotildees 11 e 12 a percentagem dos inquiridos que

responderam e comentaram eacute a mesma de 85 contra 15 dos que natildeo comentaram

Assim apesar deste equiliacutebrio as respostas dos inquiridos revelam que eles tecircm sido

dominados pelas desvantagens uma vez que em nenhuma das respostas clarificam o objectivo

especiacutefico do uso da calculadora em determinados conteuacutedos de Matemaacutetica Por esta razatildeo haacute

receio na implementaccedilatildeo desta devido agrave falta de formaccedilatildeo de professores em mateacuterias ligadas ao

uso de calculadoras em salas de aulas o que contribui para o mesmo professor tornar esta

tecnologia alheia agraves aulas de Matemaacutetica

Quadro 5 ndash Respostas resumidas nos comentaacuterios dos inquiridos nas questotildees Q5 Q9 Q10 Q13

Q14 e Q15 sobre o uso da calculadora

Resposta dada Inquiridos Nordm de inquiridos Percentagem ()

Sim P1 P2 P3 P4 P5 e P11 6 46

Natildeo P6 P7 P8 P9 P10 P12 e P13 7 54

Fonte Organizado pelo autor

Quanto ao uso de calculadoras em sala de aulas 6 dos inquiridos (P1 P2 P3 P4 P5 e P11)

correspondentes a 46 apresentaram os seguintes comentaacuterios deve-se usar a calculadora somente

para os testes excepto para exames deve-se usar a calculadora simples e de acordo com o conteuacutedo

a dar mas natildeo em todas as classes (acho que podia se comeccedilar no ensino secundaacuterio porque o aluno

95

jaacute possui as bases do caacutelculo) deixar os alunos usarem a maacutequina pois facilita na obtenccedilatildeo do

resultado e racionaliza o tempo o que permite o aluno se sentir bastante motivado que se deixe o

aluno usar a calculadora sempre que necessaacuterio a Matemaacutetica eacute uma sequecircncia de conteuacutedos em

que cada um depende do anterior obrigando assim o aluno a aprender com base na calculadora as

maacutequinas calculadoras satildeo importantes no nosso dia-a-dia de caacutelculos mas eacute preciso que sejam

usadas depois de se ter desenvolvido o caacutelculo mental no aluno Contudo os outros 7 dos inquiridos

(P6 P7 P8 P9 P10 P12 e P13) correspondentes a 54 natildeo apresentaram nenhum comentaacuterio

Contudo salientar que todos foram unacircnimes em reconhecer a existecircncia e faacutecil acesso das

maacutequinas simples e cientiacuteficas

Neste contexto os comentaacuterios apresentados pelos professores inquiridos constituem mais

uma prova de que de facto eles reconhecem que as calculadoras satildeo bastante importantes no

processo de ensino e aprendizagem no caso concreto de Matemaacutetica Poreacutem prevalece o problema

referente ao seu manuseamento pois os proacuteprios professores natildeo estatildeo preparados cientificamente

em mateacuterias ligadas ao uso de calculadoras em sala de aulas E se assim continuar teremos um

professor que estaraacute sempre em choque com as tecnologias que dia poacutes dia estatildeo ganhando espaccedilo

pelo universo

4 Conclusotildees e sugestotildees

Do estudo realizado sobre as percepccedilotildees dos professores no que tange ao uso de calculadoras

em sala de aulas do ESG do 1ordm ciclo conclui-se o seguinte

Os professores natildeo fazem o uso de calculadoras em aulas de Matemaacutetica pois durante a

assistecircncia em nenhum momento o professor se preocupou em orientar o uso da calculadora

limitando-se apenas a usar frequentemente materiais didaacutecticos como quadro verde e giz e

livro do aluno

Haacute uma vontade clara por parte dos professores em usar a calculadora no ensino da

Matemaacutetica segundo as respostas dadas pela maioria dos inquiridos (acima de 60)

afirmando que esta facilita simplifica e impulsiona uma aprendizagem significativa dos

alunos Poreacutem na praacutetica o cenaacuterio eacute outro pois haacute receio no uso desta devido a

preconceitos excessivos dos professores que se ilustram pelas afirmaccedilotildees como a

calculadora cria preguiccedila mental ao aluno assim como a dependecircncia mesmo em caacutelculos

simples ou seja a calculadora retarda o desenvolvimento da capacidade mental

96

Os professores tecircm conhecimento da importacircncia de calculadoras em sala de aulas mas natildeo

fazem o seu uso conforme as expectativas porque natildeo tecircm bases da sua implementaccedilatildeo

limitando-se assim a usaacute-las de forma empiacuterica

Nos documentos como PCESG do 1ordm Ciclo e Livro do aluno natildeo aparece nenhuma

orientaccedilatildeo sobre o uso de calculadoras em sala de aulas

Sugestotildees

Com o triunfo e surgimento das novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tanto alunos

como professores deveratildeo se sentir obrigados a acompanhar essa evoluccedilatildeo e apostar num trabalho

que vise promover acccedilotildees de formaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo em mateacuterias concretamente ligadas ao uso de

calculadoras nas aulas de Matemaacutetica

Para futuras pesquisas sugerimos um debate com os professores a respeito do uso das

calculadoras em salas de aulas visto que este trabalho pode abrir um espaccedilo para dar seguimento

das investigaccedilotildees Contudo muitas questotildees se levantaram por exemplo Quando usar a

calculadora Como usar a calculadora Onde usar a calculadora Porquecirc usar a calculadora

Uma alteraccedilatildeo nos cursos de formaccedilatildeo dos professores com vista a equipaacute-los de capacidades

cientiacuteficas ajustadas ao uso das calculadoras em particular e das tecnologias em geral em salas de

aulas poderia ser uma oportunidade para que o professor de Matemaacutetica possa buscar coerecircncia

entre a actividade e os objectivos educacionais que pretende atingir com seus alunos

Referecircncias bibliograacuteficas

DEIXA Geraldo Vernijo O Uso de Calculadoras nas Aulas de Matemaacutetica no Ensino Primaacuterio

Concepccedilotildees de Professores em exerciacutecio e em formaccedilatildeo Proviacutencia da Zambeacutezia Maputo

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MOURA Rui Aprendizagem Transformativa Uma Abordagem ao Conceito Lisboa Ed UL

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Guaratinguetaacute UNESP 2011

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Ensino Fundamental PUCPR 2005

SANTOS Adriano C Centro de Ensino e pesquisa Aplicada agrave Educaccedilatildeo Plano de Ensino de

Matemaacutetica 7ordm Ano 2014

98

Reflexatildeo sobre o sistema de progressatildeo por ciclos de aprendizagem

Yavalane Sergio Parruque23

Resumo

O presente trabalho com o tema ldquoReflexatildeo sobre o sistema de progressatildeo por ciclos de aprendizagemrdquo

visa conduzir a uma reflexatildeo dos professores e da sociedade moccedilambicana sobre a implementaccedilatildeo da

progressatildeo por ciclos de aprendizagem introduzidas no paiacutes e a sua relaccedilatildeo com o modelo por

competecircncias Em vaacuterios paiacuteses os ciclos de aprendizagem tecircm sido implementados com o objectivo de

reduzir ou eliminar o grande nuacutemero de reprovaccedilotildees que tem-se verificado nas escolas Entretanto a

progressatildeo por ciclos de aprendizagem tem sido um assunto poleacutemico no contexto de ensino primaacuterio em

Moccedilambique por natildeo permitir a reprovaccedilatildeo do aluno ao longo do ciclo e por isso serem justificadas as

lacunas que os alunos apresentam no desenvolvimento das competecircncias prescritas nos programas de

ensino Para a compreensatildeo deste fenoacutemeno desenvolveu-se um estudo qualitativo baseado na revisatildeo de

literatura e na anaacutelise de documentos Com a informaccedilatildeo recolhida foi possiacutevel perceber que a falta de

preparaccedilatildeo dos professores em mateacuteria da avaliaccedilatildeo formativa o uso abusivo da avaliaccedilatildeo sumativa e a

falta de registo das competecircncias dos alunos satildeo entre outros factores que caracterizam a maacute gestatildeo dos

ciclos de aprendizagem

Palavrasexpressotildees-chave Gestatildeo Progressatildeo por Ciclos de Aprendizagem

Abstract

This present work titled ldquoReflection on learning cycles system progressionrdquo am to conduct a reflection to

Mozambican teachers and the society about the implementation of learning cycles progression introduced

in the country and its relation with the competence model

In various countries learning cycles have been implemented with the objective to reduce or eliminate high

number of failures that are being seen in the schools However learning cycles progression have been seen

as a polemic subject in the context of primary education in Mozambique by not permitting students

failures along the cycle and that is being justified the gaps that the students present in the development

of prescribed competences in the education programs

To comprehend this phenomenon it was developed a qualitative study based in literature revision and

document analysis With the collected data it was possible to perceive that the lack of teachers preparation

in formative assessment abusive use of summative assessment and the lack of the students competences

registration are among other factors that characterize the bad management of learning cycles

Key wordsexpression management learning cycles progression

Introduccedilatildeo

Em vaacuterios paiacuteses do mundo tecircm-se verificado elevados iacutendices de reprovaccedilatildeo o que

conduziu a procura de soluccedilatildeo para mudar-se este cenaacuterio A busca de uma soluccedilatildeo para um

sistema de ensino fustigado pelas reprovaccedilotildees paiacuteses lusoacutefonos e francoacutefonos inclusive

Moccedilambique implementaram a promoccedilatildeo automaacutetica que reduziu as reprovaccedilotildees no Ensino

Baacutesico organizando o ensino por ciclos (Duarte et al 2012)

23 Mestre em Desenvolvimento Curricular e Instrucional pela UEM (2013-2016) e Licenciado em Ensino de Ingles

pela UEM (2001-2005) Docente de Inglecircs na Escola Comunitaacuteria Santo Antoacutenio da Malhangalene desde 2003 e

colaborador na aacuterea de docecircncia no Instituto de Ciecircncias de Sauacutede (ISCISA) em Maputo na cadeira de Inglecircs desde

2010

99

Em Moccedilambique o relatoacuterio de Desenvolvimento Humano do ano 2000 colocou a

necessidade de o paiacutes adoptar a promoccedilatildeo automaacutetica ou a avaliaccedilatildeo por ciclos de aprendizagem

(Duarte et al 20122) O Regulamento Geral do Ensino Baacutesico (REGEB) 2008 preconiza que a

progressatildeo seja por ciclos de aprendizagem e dentro de cada ciclo a progressatildeo seja automaacutetica

A progressatildeo por ciclos de aprendizagem significa transitar de um ciclo de aprendizagem para o

outro e passagens automaacuteticas a transiccedilatildeo do aluno de uma classe para outra dentro do ciclo

(INDE 2003) 24

Apos vaacuterias transformaccedilotildees curriculares em 2004 eacute introduzido um novo curriacuteculo para o

Ensino Baacutesico (EB) em Moccedilambique cujo desafio eacute melhorar a qualidade elevando o acesso e

equidade do geacutenero com vista a assegurar a universalizaccedilatildeo da escolaridade baacutesica gratuita de

07 classes ateacute 2015 (Duarte et al 2012)

Problema

A progressatildeo por ciclos de aprendizagem tem sido um assunto poleacutemico no contexto de

ensino primaacuterio em Moccedilambique por natildeo permitir a reprovaccedilatildeo do aluno ao longo do ciclo

mesmo os alunos natildeo possuindo o domiacutenio das competecircncias exigidas para cada ciclo Por isso

a questatildeo que se levanta eacute porquecirc os alunos progridem de um ciclo para o outro sem revelarem

as competecircncias exigidas em cada ciclo

Objectivo da pesquisa

Reflectir sobre a poleacutemica da progressatildeo por ciclos de aprendizagem no Ensino Baacutesico em

Moccedilambique e suas consequecircncias aos niacuteveis subsequentes

Perguntas de pesquisa

I Seraacute que os intervenientes principais deste processo (alunos e professores) estatildeo

esclarecidos sobre a filosofia da progressatildeo por ciclos de aprendizagem

II Seraacute que os professores praticam a avaliaccedilatildeo que acompanha as aprendizagens dos

alunos

III O que estaacute sendo feito para que os alunos passem com o domiacutenio das competecircncias

exigidas para cada ciclo

24 Citado por Nhantumbo (2009)

100

Este artigo estaacute dividido em trecircs partes A primeira discute a questatildeo da reprovaccedilatildeo no

contexto internacional e nacional no Ensino Baacutesico mostrando as suas desvantagens A segunda

parte retrata a questatildeo da introduccedilatildeo da progressatildeo por ciclos de aprendizagem em Moccedilambique

e a aprovaccedilatildeo dos alunos sem o domiacutenio das competecircncias exigidas para cada ciclo e a terceira

discute a implicaccedilatildeo da sua maacute gestatildeo

Metodologia

Para a compreensatildeo deste fenoacutemeno se desenvolveu um estudo qualitativo baseado na

revisatildeo de literatura e na anaacutelise de documentos A opccedilatildeo pela pesquisa de orientaccedilatildeo qualitativa

justifica-se em funccedilatildeo da crenccedila de que este tipo de investigaccedilatildeo fundamenta-se na anaacutelise

qualitativa e interpretativa como sendo a mais adequada na compreensatildeo de processos sociais

Bauer e Gaskell (2003) defendem que o aspecto quantitativo de uma investigaccedilatildeo pode

estar presente ateacute mesmo em informaccedilotildees colhidas por estudos essencialmente qualitativos natildeo

obstante o seu caraacutecter qualitativo quando satildeo transformados em dados quantificaacuteveis na

tentativa de assegurar a exatidatildeo dos resultados

Para a consecuccedilatildeo desta pesquisa recorreu-se agrave anaacutelise de documentos deste modo foram

analisados o Programa Curricular do Ensino Baacutesico (PCEB) e Regulamento Geral do Ensino

Baacutesico (REGEB) no que concerne a avaliaccedilatildeo

A revisatildeo de literatura permitiu explorar de melhor forma aspectos relativos ao novo

sistema de avaliaccedilatildeo progressatildeo por ciclos de aprendizagem e a qualidade de ensino

Fundamentaccedilatildeo teoacuterica

Avaliaccedilatildeo

O artigo 58 do REGEB considera avaliaccedilatildeo uma componente de praacutetica educativa que

permite uma recolha sistemaacutetica de informaccedilotildees que uma vez analisadas retroalimentam o

processo de ensino-aprendizagem promovendo assim a qualidade de educaccedilatildeo A avaliaccedilatildeo tem

como objectivos

I Permitir ao professor tirar conclusotildees dos resultados obtidos para o trabalho pedagoacutegico

subsequente

II Apoiar o trabalho educativo de modo a sustentar o sucesso permitindo o reajuste

curricular da escola e da turma nomeadamente quanto agrave selecccedilatildeo de metodologias e

recursos em funccedilatildeo das necessidades educativas

101

III Contribuir para a melhoria da qualidade do sistema educativo possibilitando a tomada de

decisotildees para o seu aperfeiccediloamento e promovendo a confianccedila social no seu

funcionamento

IV Certificar as diversas competecircncias adquiridas pelo aluno no final de cada ciclo e no

ensino baacutesico

Evoluccedilatildeo ou fases da avaliaccedilatildeo

A avaliaccedilatildeo da aprendizagem foi e continua sendo obejcto de anaacutelise por parte dos

pesquisadores da aacuterea da avaliaccedilatildeo educacional e teve diferentes fases As suas origens

remontam desde o iniacutecio do seacuteculo XX com o objectivo de medir mudanccedilas nos

comportamentos humanos A avaliaccedilatildeo eacute entendida como a mediccedilatildeo da diferenccedila existente entre

o modelo do professor e a reproduccedilatildeo desse modelo que o aluno consegue fazer serve para

hierarquizar os alunos e o erro natildeo constitui um ponto de referecircncia para novas aprendizagens

mas sim eacute punido atribuindo-se uma nota para qualquer tipo de apreciaccedilatildeo (Pinto e Santos

2006)

A segunda fase da avaliaccedilatildeo eacute marcada por estudos desenvolvidos por Tyler e Smith (sd)

que incluiacuteam uma diversidade de procedimentos avaliativos como testes escalas de atitude

inventaacuterios questionaacuterios fichas de registos de comportamento entre outras medidas Para

Tyler (1974) o propoacutesito da educaccedilatildeo eacute modificar o comportamento isto eacute consiste basicamente

na determinaccedilatildeo dos objectivos tradutores das mudanccedilas desejaacuteveis nos padrotildees de

comportamento do aluno que satildeo determinados no curriacuteculo

Desde o seu surgimento a avaliaccedilatildeo teve uma funccedilatildeo classificatoacuteria selectiva e de

hierarquizar os alunos a sua funccedilatildeo eacute de atribuir creacutedito agraves aprendizagens realizadas pelo aluno

no final de cada etapa formativa quando se obteacutem um diploma ou certificado sendo um criteacuterio

de selecccedilatildeo no mundo laboral

A terceira geraccedilatildeo eacute marcada pelos estudos de Scriven a avaliaccedilatildeo como juiacutezo de valores

Nesta fase haacute distinccedilatildeo da avaliaccedilatildeo sumativa e formativa Nesta geraccedilatildeo para aleacutem dos testes

escritos a avaliaccedilatildeo envolve os seus intervenientes na tomada de decisatildeo e toma em conta o

processo de ensino-aprendizagem (Duarte et al 201210)

A quarta geraccedilatildeo da avaliaccedilatildeo teve seu iniacutecio nos finais de seacuteculo XX Avaliaccedilatildeo passou

para a funccedilatildeo de acompanhamento das aprendizagens colocando o aluno como o centro das

aprendizagens e o professor como facilitador do processo de ensino-aprendizagem Nesta

102

abordagem o aluno tem espaccedilo para descobrir suas fraquezas e procurar formas de superaacute-las

adoptando novas formas de aprendizagem assim como o professor adopta novas estrateacutegias de

ensino com vista a garantir a apropriaccedilatildeo do conhecimento pelos alunos

Embora na progressatildeo por ciclos se privilegie a utilizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo formativa aquela

que ajuda o aluno na construccedilatildeo do saber ainda nota-se nas escolas do ensino baacutesico em

Moccedilambique o uso excessivo da avaliaccedilatildeo sumativa o que acaba sendo contraditoacuterio para o tipo

de avaliaccedilatildeo que se procura implementar para reduzir ou eliminar as reprovaccedilotildees em

Moccedilambique

Ciclos

No seacuteculo XX devido a um alto iacutendice de reprovaccedilotildees alguns paiacuteses introduziram no

ensino os ciclos de aprendizagem Eles se caracterizam como possibilidade de reorganizaccedilatildeo do

tempo e espaccedilo escolares respeito aos processos de aprendizagem dos alunos e eliminaccedilatildeo da

repetecircncia

O termo ciclos com o significado de natildeo retenccedilatildeo veio a ser utilizado de modo mais

recorrente na deacutecada de 1980 adquirindo posteriormente outras designaccedilotildees tais como

promoccedilatildeo automaacutetica progressatildeo continuada ciclos de formaccedilatildeo e ciclos de aprendizagem

Contudo as denominaccedilotildees natildeo podem ser consideradas como sinoacutenimos (Mainardes 2007)

Segundo Barretto e Mitrulis (1999) os ciclos surgem como forma de regularizar o fluxo

escolar buscando eliminar ou limitar a repetecircncia O objetivo eacute oferecer melhores condiccedilotildees de

ensino e ecircxito escolar dos alunos favorecendo assim o exerciacutecio da plena cidadania

Os ciclos de aprendizagem procuram romper com o regime normal que tem em sua origem

uma loacutegica de reprovaccedilatildeo e exclusatildeo Essa loacutegica eacute uma construccedilatildeo histoacuterica e produz enormes

taxas de reprovaccedilatildeo sem viabilizar o desempenho acadecircmico dos alunos Esse fracasso se revela

atraveacutes do modo como o professor avalia aos seus alunos privilegiando a forma classificatoacuteria

verificando se eles dominam habilidades e conteuacutedos atraveacutes de provas testes trabalhos Essa

forma de avaliar tem sido contestada pois daacute primazia apenas ao produto e natildeo ao processo de

aprendizagem (Freitas 2003)

A discussatildeo trazida por Barretto e Mitrulis (1999) Freitas (2003) e Mainardes (2007)

sobre os ciclos de aprendizagem mostra a necessidade de uma mudanccedila no sistema de avaliaccedilatildeo

rompendo o regime de reprovaccedilotildees avaliaccedilatildeo classificativa para uma abordagem centrada no

aluno que assenta na avaliaccedilatildeo formativa

103

Por isso em Moccedilambique para se reduzir ou eliminar o maior iacutendice de reprovaccedilatildeo foi

introduzido em 2004 um novo curriacuteculo que entre vaacuterias mudanccedilas introduzidas inclui-se a

progressatildeo por ciclos de aprendizagem aliada a progressatildeo semi-automaacutetica

O curriacuteculo de Ensino Baacutesico (EB) eacute organizado em dois graus o Ensino Primaacuterio do 1ordm

grau (EP1) e o Ensino Primaacuterio do 2ordm grau (EP2) O EP1 eacute constituiacutedo por dois ciclos o 1ordm ciclo

que corresponde a 1ordf e 2ordf classes e o 2ordm ciclo que corresponde a 3ordf 4ordf e 5ordfclasses O EP2 eacute

constituiacutedo por 3ordm ciclo que correspondem a 6ordf e 7ordf classes

Segundo o INDEMINED (2008) os principais objectivos dos trecircs ciclos do ensino

primaacuterio satildeo

O 1ordm ciclo tem como objectivo desenvolver habilidades e competecircncias de leitura e escrita

contagem de nuacutemeros e realizaccedilatildeo das operaccedilotildees baacutesicas somar subtrair multiplicar e dividir

observar e estimar distacircncia medir comprimentos noccedilotildees de higiene pessoal de relaccedilatildeo com as

outras pessoas consigo proacuteprio e com o meio

O 2ordm ciclo tem como objectivo aprofundar os conhecimentos e habilidades desenvolvidas

no primeiro ciclo e introduzir novas aprendizagens relativas as Ciecircncias Sociais e Naturais e

tambeacutem levar o aluno a calcular superfiacutecies e volumes

O 3ordm ciclo tem como objectivo consolidar e ampliar os conhecimentos habilidades

adquiridas nos ciclos anteriores preparar o aluno para a continuaccedilatildeo dos estudos eou para a

vida

Neste sistema de avaliaccedilatildeo pressupotildeem-se que haja a criaccedilatildeo de condiccedilotildees de

aprendizagem de modo a que os alunos alcancem os objectivos miacutenimos de aprendizagem de um

determinado ciclo para que possam progredir para os outros ciclos Por isso a avaliaccedilatildeo

predominante eacute formativa ela faz o acompanhamento do aluno de modo a superar as suas

fraquezas as actividades de aprendizagem centram-se no aluno e esta avaliaccedilatildeo procura aferir

o desempenho fiaacutevel em termos de competecircncias descritas no curriacuteculo para cada ciclo Eacute com

base nos resultados dela que se identificam as actividades de reforccedilo e de recuperaccedilatildeo dos

alunos com dificuldades de aprendizagem

A avaliaccedilatildeo formativa na visatildeo de Hadji (2001) tem a funccedilatildeo de informar ao professor

sobre a sua acccedilatildeo pedagoacutegica e ao aluno sobre o seu ponto de situaccedilatildeo no processo de ensino-

aprendizagem dando ecircnfase sobre os seus ecircxitos e dificuldades

Como se pode depreender esta avaliaccedilatildeo ajuda ao professor a avaliar o niacutevel de

aprendizagem os seus meacutetodos e a adequar as suas estrateacutegias quando necessaacuterio e tambeacutem ao

aluno traz informaccedilatildeo vaacutelida informa-se sobre os seus erros para os poder corrigir Knoblauch

104

(2004) explica que a avaliaccedilatildeo formativa estaacute integrada no processo de ensino e facilita a

aprendizagem do aluno

Tanto Haidji (2001) assim como Knoblauch (2004) concordam que a avaliaccedilatildeo formativa

natildeo tem a funccedilatildeo de medir e classificar entretanto de fornecer o feedback aos seus

intervenientes de modo a conduzi-los a uma aprendizagem efectiva

Embora o discurso centra-se na utilizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo formativa nas salas de aulas em

Moccedilambique

prevalece nas praacuteticas educativas uma avaliaccedilatildeo sumativa que procura

classificar o aluno verificar a sua posiccedilatildeo no conjunto dos alunos reprovaacute-lo

ou aprovaacute-lo dando-se pouca ecircnfase agrave avaliaccedilatildeo como forma de ajudar o aluno

a superar as suas dificuldades e ajudaacute-lo a melhorar o seu desempenho (Duarte

et al 2012)

Na eacutepoca contemporacircnea estudos desenvolvidos internacionalmente assim como

nacionalmente mostram-se a favor de uma avaliaccedilatildeo que natildeo seja classificatoacuteria e que procure

eliminar a reprovaccedilatildeo Por exemplo internacionalmente um estudo efectuado por Almeida

Junior (1957) explica que a reprovaccedilatildeo acarreta problemas como a evasatildeo escolar desperdiacutecio

de recursos financeiros e a estagnaccedilatildeo de alunos reprovados nas seacuteries iniciais do curso primaacuterio

e que eles envelhecem ocupando o lugar das novas geraccedilotildees

Um outro estudo levado a cabo por Perrenoud (2004) considera que reprovar o aluno duas

ou mais vezes durante a sua escolaridade natildeo eacute soluccedilatildeo pois a reprovaccedilatildeo natildeo cria

homogeneidade das turmas afecta a auto-imagem do aluno e o seu valor aos olhos dos outros o

seu atraso escolar torna-se uma deficiecircncia no momento de qualquer decisatildeo posterior a

reprovaccedilatildeo natildeo somente eacute inuacutetil mas tambeacutem injusta

A niacutevel nacional Gomez (2010) Dias (2009) Duarte et al (2012) e INDEMINED (2008)

explicam nos seus estudos que a reprovaccedilatildeo retarda e afecta o aluno no seu rendimento escolar

e consequentemente na sua auto-estima como se testemunha a seguir

Os alunos repetentes tecircm tendecircncia a ter um rendimento baixo

relativamente aos natildeo repetentes Isto pode significar que em alguns

casos a repetecircncia natildeo melhora significativamente a qualidade de

ensino-aprendizagem pelo contraacuterio pode provocar bloqueios nos

alunos quer porque a sua faixa etaacuteria natildeo condiz com os colegas da

turma criando complexos de inferioridade inibiccedilotildees e ateacute bloqueios

cognitivos quer porque eventualmente foi lhe impedida uma

progressatildeo Note que eacute necessaacuterio ter em conta que os ritmos de

aprendizagem e desenvolvimento satildeo variaacuteveis de pessoa para pessoa e

isto tambeacutem se pode aplicar ao niacutevel da escola principalmente nos

primeiros anos de escolaridade (INDEMINED 2008)

105

A citaccedilatildeo em epiacutegrafe faz-nos perceber que a reprovaccedilatildeo traz no sistema uma seacuterie de

desvantagens no caso concreto de Moccedilambique para aleacutem de trazer descompassos no ritmo de

aprendizagem ela tira o aluno do sistema e consequentemente o marginaliza Contudo

Perrenoud (2004) explica que o desaparecimento da reprovaccedilatildeo natildeo basta para eliminar o

fracasso escolar Deve se buscar outras respostas para a questatildeo da heterogeneidade nas salas de

aulas Na opiniatildeo do autor na busca de uma homogeneidade sem acompanhamento acaba-se

conduzindo os alunos a natildeo aprendizagem efectiva

Em Moccedilambique eliminou-se a reprovaccedilatildeo poreacutem os alunos chegam no fim de cada ciclo

sem apresentarem o desenvolvimento das competecircncias prescritas nos programas de ensino

Uma das razotildees eacute que

a escola na perspectiva de individualizar o ensino atender aos ritmos de

aprendizagem de cada aluno acaba criando situaccedilotildees de desigualdade na sala

de aula ou seja haacute alunos que progredindo automaticamente chegam a uma

fase em que a classe em que estatildeo natildeo corresponde aquilo que satildeo os seus

saberes (Duarte et al 2012)

O Plano Curricular do Ensino Baacutesico-PCEB (200829) apresenta as seguintes condiccedilotildees

para que se cumpram os objectivos esperados sobre ciclos de aprendizagem

Preparaccedilatildeo dos professores em mateacuterias de avaliaccedilatildeo o que poderaacute ser realizado atraveacutes

da formaccedilatildeo inicial e em exerciacutecio

Disponibilidade de cadernos de exerciacutecios que reflictam as competecircncias miacutenimas que os

alunos devem desenvolver em cada estaacutegio de aprendizagem

Disponibilizaccedilatildeo pelo MINED de instrumentoc de recolha de informaccedilatildeo (qualitativa e

quantitativa) sobre o desempenho do aluno (hellip)

Contudo estudos desenvolvidos por Dias (2008) revelam que o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

natildeo criou condiccedilotildees para que tal acontecesse e os implementadores os professores natildeo

entendem em que consiste a avaliaccedilatildeo formativa

A minha questatildeo eacute como desenvolver as competecircncias prescritas nos programas

curriculares sem acompanhamento do aluno e adequaccedilatildeo das estrateacutegias ou por outra sem

aplicaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo formativa Esta situaccedilatildeo mostra que enquanto os executores (professores

directores e inspectores) natildeo estiverem familiarizados com este tipo de avaliaccedilatildeo e convencidos

da sua necessidade a promoccedilatildeo automaacutetica estaraacute destinada a completo fracasso (Leite 1959)

Dias (2009291) explica que em Moccedilambique

ao tentar resolver o problema das repetecircncias criando ciclos de

aprendizagem apenas se escamoteou o problema Jaacute natildeo temos

106

repetentes as estatiacutesticas satildeo todas bonitas os alunos todos aprovados

temos dados quantitativos para mostrar a eficiecircncia a eficaacutecia e a

ldquoqualidaderdquo do sistema educacional e continuamos cinicamente

mantendo um sistema de avaliaccedilatildeo distorcido e que estaacute a ser desastroso

Como interpretar esta triste realidade que oculta o real desempenho do aluno Isto por um

lado acontece por que os professores natildeo estatildeo preparados para aplicar a avaliaccedilatildeo formativa

por outro por que ldquo as direcccedilotildees das escolas entendem que devem apresentar altos iacutendices de

aprovaccedilatildeo porque essa seria uma exigecircncia vinda de cimardquo(Gomez 2010 256)

A falta de conhecimento sobre o que os professores devem fazer nos ciclos de

aprendizagem faz com que eles escondam o resultado do seu trabalho nas estatiacutesticas ldquobonitasrdquo

que natildeo revelam o real desempenho dos alunos

Com os problemas aqui arrolados pode-se inferir que os ciclos de aprendizagem em

Moccedilambique ainda natildeo estatildeo a assumir a funccedilatildeo pela qual foram adoptados que seria de os

alunos progredirem para etapas subsequentes com as competecircncias desses ciclos bem

consolidadas Por isso na tese 2 de Perrenoud (200441) sobre os ciclos de aprendizagem o

autor defende que ldquo um ciclo de aprendizagem soacute pode funcionar se os objectivos de formaccedilatildeo

visados no fim do percurso forem claramente definidos Eles constituem o controlo de base para

os professores alunos e paisrdquo

Implicaccedilatildeo da maacute gestatildeo de progressatildeo por ciclos de aprendizagem associada a

promoccedilatildeo semi-automaacutetica

As mudanccedilas no sistema educacional sempre foram acompanhadas pela aceitaccedilatildeo assim

como pela resistecircncia dos seus intervenientes Garcia (2001) afirma que os professores

consideram que no sistema normal era possiacutevel obter resultados mais eficazes do que com o

sistema de ciclos de aprendizagem

Para Gloria (2002) uma das implicaccedilotildees deste sistema de aprendizagem eacute que a escola natildeo

tem cumprido o papel que para eles eacute fundamental a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho

Essa consequecircncia eacute atribuiacuteda agrave proposta de natildeo retenccedilatildeo escolar que tem aprovado os seus

filhos sem que eles dominem o miacutenimo exigido por esse mercado

A implantaccedilatildeo dos ciclos eacute complexa uma vez que traz implicaccedilotildees para o curriacuteculo a

avaliaccedilatildeo as metodologias a organizaccedilatildeo e a gestatildeo da escola Pressupotildee uma formaccedilatildeo

contiacutenua dos professores Trata-se de uma mudanccedila na estrutura do sistema de escolarizaccedilatildeo que

traz implicaccedilotildees para o trabalho docente organizaccedilatildeo da escola relaccedilatildeo escola-comunidade e

que demanda investimento de natureza diversa algo que eacute atendido de forma variada e algumas

107

vezes de forma descontiacutenua nos diferentes contextos nos quais os ciclos satildeo implantados

(Mainardes amp Stremed 2012)

Estes autores afirmam que a implantaccedilatildeo de ciclos traz diversos desafios para os

professores sendo primeiro a necessidade de conhecer o projecto de ciclos proposto para as

escolas o significado desta politica e as implicaccedilotildees dessa politica para o seu trabalho e o

segundo desafio diz respeito agraves implicaccedilotildees pedagoacutegicas dos ciclos uma vez que a sua

implantaccedilatildeo pressupotildee uma alteraccedilatildeo significativa nos processos de avaliaccedilatildeo e

desenvolvimento curricular que eram usados pelos professores no regime anterior

Segundo Franco (2001) entre as implicaccedilotildees positivas da organizaccedilatildeo por ciclos destacam-

se as seguintes

i Cria a necessidade de se repensar o sentido da escola das praacuteticas avaliativas dos

conteuacutedos curriculares do trabalho pedagoacutegico e da organizaccedilatildeo escolar

ii Agiliza o fluxo de um maior nuacutemero de alunos contribuindo para a diminuiccedilatildeo do

desperdiacutecio de recursos financeiros

iii Descongestiona o sistema possibilitando o acesso agrave populaccedilatildeo escolarizaacutevel que se

encontra fora da escola

iv Garante aos alunos maior permanecircncia na escola elevando assim as meacutedias de

escolaridade em termos de anos de estudo

v Exige a destinaccedilatildeo de maiores recursos para a educaccedilatildeo a fim de garantir as

condiccedilotildees adequadas

vi Implica em mudanccedilas nas concepccedilotildees e praacuteticas pedagoacutegicas

vii Implica igualmente numa mudanccedila de atitudes dos pais que deixariam de se

preocupar apenas com aprovaccedilatildeo passando a se interessarem tambeacutem pelo

conhecimento que os seus filhos estariam adquirindo na escola bem como pela

necessidade de assumir a responsabilidade da frequecircncia agrave escola no periacuteodo

regular e nos periacuteodos destinados ao reforccedilo ou recuperaccedilatildeo

E entre as possiacuteveis implicaccedilotildees negativas menciona

i Pode ser implantada apenas como soluccedilatildeo formal para as taxas de reprovaccedilatildeo ou

para atender interesses economicistas sem preocupaccedilatildeo com a elevaccedilatildeo da

qualidade de ensino e socializaccedilatildeo efectiva do conhecimento

ii A ausecircncia de trabalho colectivo na escola e a falta de estrateacutegias de projecto

pedagoacutegicos consistentes podem inviabilizar a efectivaccedilatildeo de tais medidas ou

108

ainda estimular a criaccedilatildeo de praacuteticas que visem a moldar as novas orientaccedilotildees agraves

praacuteticas anteriores

Em Moccedilambique a implementaccedilatildeo dos ciclos de aprendizagem implica em primeiro

lugar informar os seus intervenientes sobre este projecto para que eles estejam familiarizados

preparar os professores para a sua implementaccedilatildeo criar condiccedilotildees para capacitaccedilotildees contiacutenuas

de modo a revitalizar o conhecimento destes sobre os ciclos de aprendizagem e mostrar para a

sociedade em geral que embora se procure por um sistema que crie homogeneidade dos alunos

natildeo significa progredir para ciclos subsequentes sem mostrar o domiacutenio das competecircncias

prescritas para cada ciclo

A inquietaccedilatildeo que atormenta ao pesquisador eacute que jaacute passam 13 anos apoacutes a

implementaccedilatildeo das progressotildees por ciclos de aprendizagem no paiacutes mesmo assim entretanto

na medida em que o tempo passa nota-se que haacute transferecircncia deste problema de um niacutevel para o

outro do Ensino Baacutesico para o Ensino Secundaacuterio e os mesmos alunos daqui haacute alguns anos

seratildeo clientes das universidades com particular destaque para Universidade Pedagoacutegiga e

Universidade Eduardo Mondlane A questatildeo que se levanta eacute seraacute que as universidades sendo

instituiccedilotildees de pesquisa estatildeo preparadas para levar a cabo acccedilotildees de modo a inverter este

cenaacuterio

Conclusatildeo

Este trabalho reflectiu sobre as progressotildees por ciclos de aprendizagem e as implicaccedilotildees

da sua maacute gestatildeo no Ensino Baacutesico em Moccedilambique As progressotildees por ciclos de

aprendizagem satildeo vistas internacionalmente assim como nacionalmente como uma forma de

reduzir ou eliminar as reprovaccedilotildees Embora se pretenda eliminar as reprovaccedilotildees a implantaccedilatildeo

deste sistema tem gerado poleacutemica no contexto de ensino primaacuterio em Moccedilambique por natildeo

permitir a reprovaccedilatildeo do aluno ao longo do ciclo mesmo natildeo demostrando o domiacutenio das

competecircncias prescritas para cada ciclo Em Moccedilambique estudos desenvolvidos por Dias

(2009) revelam que jaacute natildeo haacute reprovaccedilatildeo as estatiacutesticas satildeo bonitas contudo a qualidade do

sistema educacional eacute desastrosa

Entretanto vaacuterios factores concorrem para esses resultados poleacutemicos (i) a falta de

preparaccedilatildeo dos professores em mateacuteria de avaliaccedilatildeo inicial e em exerciacutecio (ii) gestatildeo escolar

efectiva (iii) disponibilizaccedilatildeo de material como cadernos de exerciacutecios que reflictam as

109

competecircncias miacutenimas que os alunos devem desenvolver em cada estaacutegio de aprendizagem

entre outros Todos estes factores conduzem as implicaccedilotildees negativas como a falsificaccedilatildeo das

estatiacutesticas pois elas satildeo positivas enquanto a qualidade do ensino eacute baixa o desinteresse por

parte do aluno por saber que no fim do ciclo iraacute progredir e a revindicaccedilatildeo da sociedade por se

graduar alunos que natildeo servem para as exigecircncias do mercado de emprego e a transferecircncia

deste problema de um niacutevel para o outro Portanto exige-se uma reflexatildeo raacutepida especialmente

para as universidades como instituiccedilotildees de pesquisa para a soluccedilatildeo deste problema que

recentemente enferma quase todo o sistema de ensino em Moccedilambique

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111

Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior atribuiccedilotildees causais dos conflitos estudante-

docente na Universidade Pedagoacutegica

Faque Tuair Chare25

Resumo

O comportamento de oposiccedilatildeo entre estudantes e docentes eacute uma realidade na Universidade Pedagoacutegica

manifestando-se por rivalidades acusaccedilotildees muacutetuas e queixas frequentes aos vaacuterios niacuteveis de gestatildeo da

instituiccedilatildeo Assim este artigo visou compreender na perspectiva de estudantes na Delegaccedilatildeo de

Nampula os factores que propiciam a ocorrecircncia dos conflitos entre eles e seus docentes no processo de

avaliaccedilatildeo da aprendizagem Para o efeito usamos entrevistas colectivas em quatro turmas do curso de

Psicologia Educacional antecedidas de revisatildeo literatura e documental Eacute de realccedilar que tratou-se de uma

pesquisa explanatoacuteria uma versatildeo das pesquisas qualitativas e pesquisa de campo para a recolha de

dados A anaacutelise de conteuacutedo serviu-nos para compreender as intervenccedilotildees dos estudantes e as leituras

que fizemos e tambeacutem para a estruturaccedilatildeo do texto Os resultados indicam uma diversidade e confluecircncia

de factores no comportamento conflituoso tais como a corrupccedilatildeo desconhecimento eou incumprimento

de regulamentos da instituiccedilatildeo e subjectividade dos procedimentos de avaliaccedilatildeo Assim propomos que

continuem os trabalhos de divulgaccedilatildeo dos regulamentos de avaliaccedilatildeo supervisatildeo das aulas e sobretudo

das avaliaccedilotildees e sensibilize-se ao docente em relaccedilatildeo ao seu perfil docente como modelo no processo de

ensino e aprendizagem

Palavras-chave Atribuiccedilotildees causais Avaliaccedilatildeo Conflitos Ensino Superior Percepccedilatildeo

Abstract

The behaviour of opposition between students and teachers is a reality in the Pedagogical University

manifesting itself by rivalries mutual accusations and frequent complaints to various levels of

management of the institution So this article aimed to understand the perspective of students in

Nampula Delegation the factors that promote the occurrence of conflicts between them and their teachers

in the process of learning evaluation For that purpose we use collective interviews in four classes of

Educational Psychology course preceded for literature and documentary review It should be noted that

this was an explanatory research a version of the qualitative research and field research for the collection

of data The analysis of content served us to understand both the students speeches and readings that we

did and the structuring of the text The results indicate a diversity and confluence of factors in the

conflictual behaviour such as corruption ignorance andor non-compliance with regulations of the

institution subjectivity of the evaluation procedures We therefore propose to continue the work of

disseminating the assessment regulations supervision of classes and above all the evaluations and raises

awareness to teachers in relation to teaching profile as models in the process of teaching and learning

Keywords Causal attributions Conflicts Assessment Higher education Perception

25 Docente da UP - Nampula Doutorando em Psicologia Educacional na Universidade Pedagoacutegica ndash Maputo

(faquetuairyahoocombr)

112

Introduccedilatildeo

Uma das caracteriacutesticas do ensino eacute a interacccedilatildeo entre os alunos e os professores Esta

interacccedilatildeo supotildee-se que seja agradaacutevel No entanto em algumas vezes verificam-se cenaacuterios

contraditoacuterios isto eacute surgem conflitos entre os principais intervenientes sendo uma das razotildees o

processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem

De facto se definirmos o conflito como o ldquoprocesso que se inicia quando um indiviacuteduo ou

um grupo se sente negativamente afectado por outra pessoa ou grupordquo (De Dreu 1997) apud

CUNHA et al (2004) a avaliaccedilatildeo da aprendizagem parece ter passado a centro de conflitos entre

estudantes e docentes na Universidade Pedagoacutegica (UP) Delegaccedilatildeo de Nampula Os estudantes

tendem a natildeo reconhecer os seus resultados principalmente quando esses satildeo negativos A partir

daiacute assiste-se a constantes pedidos de recorrecccedilotildees dos exames acusaccedilotildees rivalidades cartas

com abaixo-assinados denuacutencias de corrupccedilatildeo nas Miacutedias perseguiccedilotildees em ambientes fora da

instituiccedilatildeo e de queixas aos gestores dos cursos e departamentos como se significasse existecircncia

de docentes injustos Agraves vezes parece uma instrumentalizaccedilatildeo de outros docentes colegas da aacuterea

a qual os estudantes encontram os resultados negativos Aliaacutes parece estar na moda que todos os

estudantes tenham um ldquopadrinhordquo ele pode ser um marido esposa irmatildeo vizinho entre outras

relaccedilotildees que facilitam pedidos e consequente passagem nas disciplinas

Em virtude do disso jaacute existem roacutetulos de professores que reprovam e dos que passam e

ateacute dos que satildeo corruptos como escreveu a Associaccedilatildeo dos estudantes desta instituiccedilatildeo na

mensagem da abertura do Ano Acadeacutemico de 2014

Eacute digno de nota que natildeo obstante aos conflitos o trabalho que se tem feito no iniacutecio dos

anos acadeacutemicos como estrateacutegia preventiva em docentes e estudantes tem sido de divulgaccedilatildeo

dos planos curriculares e do regulamento acadeacutemico da instituiccedilatildeo que incluem o proacuteprio

processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem

Entretanto os conflitos tendem a aumentar e tendo em conta que o conflito precisa ser

percebido pelas partes envolvidas isto eacute a existecircncia ou natildeo do conflito eacute uma questatildeo de

percepccedilatildeo (ROBBINS 2009 190) procuramos saber na percepccedilatildeo dos estudantes que factores

susceptibilizam a ocorrecircncia desses no processo de avaliaccedilatildeo

Nesta pespectiva em que colocamos a questatildeo o artigo procurou compreender na

perspectiva de estudantes os factores que propiciam a ocorrecircncia de conflitos entre eles e seus

docentes no processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem Para o alcance desse objectivo

enquadramos os estudantes dentro da problemaacutetica vivida em seguida exploramos as suas

113

atribuiccedilotildees causais ao fenoacutemeno e por meio das causas evocadas propusemos agrave instituiccedilatildeo

algumas estrateacutegias para minimizar a situaccedilatildeo

Eacute uma temaacutetica digna de abordar visto que a UP tem sido motivo de debates em torno da

sua qualidade e em particular pela conduta dos seus docentes Aliaacutes a educaccedilatildeo superior nas

palavras de SORDI (2005 125) deve ser de qualidade sempre a qualidade natildeo eacute uma condiccedilatildeo

que seja facultativa agraves instituiccedilotildees de ensino E tambeacutem poderaacute servir para evitar que entremos

no perigo de a avaliaccedilatildeo ser utilizada de forma tendenciosa onde segundo Cavalieri (2004)

apud MARTINS (2010 34) existe o risco de manipulaccedilotildees por parte dos professores

coordenadores de dados de avaliaccedilatildeo dos seus pares e outros professores no jogo de poder e

rivalidades na instituiccedilatildeo Ou por outra tambeacutem estaremos a acautelar riscos de possiacuteveis

retaliaccedilotildees dos proacuteprios estudantes intimidando os professores a darem as notas que lhes

convecircm

Pelas razotildees descritas enveredamos por uma pesquisa qualitativa e explanatoacuteria ou

explicativa cujo trabalho de campo usou a entrevista como principal procedimento de recolha de

dados Outrossim recorremos agrave pesquisa bibliograacutefica e documental como auxiliares e agrave anaacutelise

de conteuacutedo para compreensatildeo das intervenccedilotildees dos sujeitos da pesquisa das leituras que

fizemos e tambeacutem para a organizaccedilatildeo do texto

Avaliaccedilatildeo de aprendizagem no Ensino Superior

O conceito de avaliaccedilatildeo eacute polisseacutemico provavelmente seja por isso que as suas praacuteticas

tambeacutem sejam variadas Eacute nessa loacutegica que apresentamos nesta etapa as vaacuterias concepccedilotildees e

praacuteticas e relacionamo-las com as da instituiccedilatildeo que elegemos para este estudo

Para Kraemer (2006) citado por OLIVEIRA APARECIDA e SOUZA (sd 2384)

avaliaccedilatildeo vem do latim e significa valor ou meacuterito ao objecto em pesquisa junccedilatildeo do acto de

avaliar ao de medir os conhecimentos adquiridos pelo indiviacuteduo Os autores consideram um

instrumento valioso e indispensaacutevel no sistema escolar podendo descrever os conhecimentos

atitudes ou aptidotildees das quais os alunos se apropriaram A avaliaccedilatildeo nesse sentido revela os

objetivos de ensino jaacute atingidos num determinado ponto de percurso e tambeacutem as dificuldades no

processo de ensino-aprendizagem

Por seu turno NETO e ROSENBERG (1995 14) definem sinteticamente a avaliaccedilatildeo

como sendo a comparaccedilatildeo entre os resultados observados e os desejados A partir dessa

comparaccedilatildeo podem ser levantadas hipoacuteteses para atribuir causas aos efeitos encontrados como

foi o propoacutesito deste trabalho

114

Um bom instrumento de avaliaccedilatildeo eacute aquele que informa bem eacute discriminador eacute

consistente natildeo eacute arbitraacuterio Uma boa metodologia de avaliaccedilatildeo deve ir muito aleacutem do medir do

verificar do classificar precisa oferecer muito mais do que um iacutendice quantitativo deve permitir

compreender conhecer interpretar identificar situar entender o que e como se aprendeu A

medida e a nota tecircm seu papel mas eacute preciso ter clareza sobre ele (RAMOS sd 12)

Aleacutem disso RAMOS (op cit 13) salienta que o processo avaliativo deve respeitar e

promover o desenvolvimento de relaccedilotildees interpessoais autecircnticas e cooperativas Atitudes e

posturas com relaccedilatildeo aos colegas agrave instituiccedilatildeo aos professores bem como atitudes com relaccedilatildeo

ao conhecimento devem tambeacutem ser consideradas Isso implica que os alunos construam uma

relaccedilatildeo saudaacutevel com o conhecimento natildeo devendo a avaliaccedilatildeo ser fonte de perda de energia ou

fonte de stress destrutivo

Para o propoacutesito que acabamos de nos referenciar LUCKESI (2011a 204-205) considera

que a avaliaccedilatildeo devia ser como um acto amoroso no sentido de que ela por si jaacute eacute um acto

acolhedor integrativo inclusivo Como um acto amoroso para o autor seria aquele que

acolhesse actos acccedilotildees alegrias e dores como eles satildeo acolhesse para permitir que cada coisa

seja o que eacute neste momento Por acolher a situaccedilatildeo como ela eacute o acto amoroso tem a

caracteriacutestica de natildeo julgar pois os julgamentos apareceratildeo mas evidentemente para dar curso

agrave vida (agrave acccedilatildeo) e natildeo para excluiacute-la

Esse amor nos parece muito bem evidenciado nos princiacutepios da avaliaccedilatildeo do Regulamento

Acadeacutemico da Universidade Pedagoacutegica (2012 15) concretamente no nuacutemero 5 do Artigo16

onde se propotildee que a avaliaccedilatildeo tem de desenvolver a motivaccedilatildeo dos estudantes e melhorar o seu

desempenho acadeacutemico

Poreacutem em BASSEDAS HUGUET e SOLEacute (1999 172) sabemos que o juiacutezo e as

valorizaccedilotildees que fazemos dos nossos alunos frequentemente estatildeo permeados por diferentes

factores que agraves vezes natildeo tecircm quase nada a ver com uma observaccedilatildeo cuidadosa e objectiva

como se exige nas avaliaccedilotildees Muitas vezes essa valorizaccedilatildeo depende das expectativas que

formamos (noacutes professores) sobre a crianccedila lecciona-se com sua simpatia ou graccedila com a sua

vontade de aprender com a sua obediecircncia ou ateacute com o seu fiacutesico Este ponto de vista eacute

compartilhado por LUCKESI (op cit 41) quando afirma especificamente que as provas e

exames satildeo realizados conforme o interesse do professor ou do sistema de ensino Nem sempre

se leva em consideraccedilatildeo o que foi ensinado Mais importante do que ser uma oportunidade de

aprendizagem significativa a avaliaccedilatildeo tem sido uma oportunidade de prova de resistecircncia do

aluno aos ataques do professor As notas satildeo operadas como se nada tivessem a ver com a

115

aprendizagem Do mesmo modo essa subjectividade da avaliaccedilatildeo eacute referida por Hadji (1994)

apud GREGO (2014 1) ao admitir que quem quer que seja que avalie revela o seu projecto ou o

que lhe impuseram os seus preconceitos as suas preocupaccedilotildees e se natildeo estiver consciente disso

natildeo pode pretender ser aquilo a que hoje se chama um ldquoactor socialrdquo e a que antigamente se

chamava um homem livre A questatildeo que podemos colocar eacute natildeo seraacute por essa dependecircncia do

factor humano o subjectivo na avaliaccedilatildeo que temos tantos conflitos nesse processo

Por essas contrariedades eacute pertinente vincar nas palavras de BASSEDAS HUGUET e

SOLEacute (op cit 173) que a finalidade baacutesica da avaliaccedilatildeo eacute que sirva para intervir para tomar

decisotildees educativas para observar a evoluccedilatildeo e o progresso da crianccedila e para planear se eacute

preciso intervir ou modificar determinadas situaccedilotildees relaccedilotildees ou actividades na aula E para que

isso seja concretizado eacute necessaacuterio considerar-se na oacuteptica de CHUEIRI (2008 51) que a

avaliaccedilatildeo escolar eacute um meio e natildeo um fim em si mesma

BROWN RACE e SMITH (2000 42-44) reconhecendo que a avaliaccedilatildeo pode ser muito

aborrecida natildeo soacute para os alunos como para os professores propotildeem as seguintes sugestotildees para

a sua animaccedilatildeo diversificaccedilatildeo dos meacutetodos de avaliaccedilatildeo contar com a participaccedilatildeo dos alunos

na avaliaccedilatildeo contar com a participaccedilatildeo de outros colegas pedir a colaboraccedilatildeo de pessoas

estranhas ao processo diversificar os locais de afixaccedilatildeo das notas de vez em quando fazer

sessotildees de avaliaccedilatildeo raacutepida procurar utilizar os meios tecnoloacutegicos dar aos alunos a

possibilidade de se avaliarem em sessotildees informais fazer uma lista de falhas recolhidas nos

trabalhos que corrigiu e dar a conhecer aos alunos atribuir alguns pontos ao sentido de humor

dos trabalhos Assim importa questionar qual eacute a nossa realidade

Os autores que acabamos de citar referem antes que por um lado a avaliaccedilatildeo deve ser

justa e equitativa Isto eacute os estudantes devem ter igualdade de oportunidades para ter ecircxito

mesmo que as suas vivecircncias natildeo sejam idecircnticas Eacute muito importante que todos os instrumentos

e processos de avaliaccedilatildeo sejam considerados justos pelos estudantes E por outro lado as

praacuteticas avaliativas natildeo devem fazer discriminaccedilotildees entre os alunos nem colocar em

desvantagem quaisquer indiviacuteduos ou grupos Por isso deve haver uma gama equilibrada de

diferentes meios de avaliaccedilatildeo em cada curso de modo a assegurar que natildeo haja um grupo de

estudantes mais favorecido do que outro

MARTINS (2010 27) tambeacutem concorda que os procedimentos de avaliaccedilatildeo no ensino

superior natildeo podem se resumir exclusivamente em provas mas devem envolver outras teacutecnicas

capazes de fornecer informaccedilotildees sobre certas mudanccedilas comportamentais como a socializaccedilatildeo

que provas e testes convencionais natildeo tecircm condiccedilotildees de fornecer

116

Note-se que o nuacutemero 1 do artigo 20 do capiacutetulo VI sobre a avaliaccedilatildeo da aprendizagem o

Regulamento Acadeacutemico da UP (2012 17) cumpre com esses pressupostos ao prever que a

avaliaccedilatildeo possa ser individual eou colectiva e apoiar-se em vaacuterios instrumentos a saber

trabalhos teoacutericos trabalhos praacuteticos seminaacuterios testes exames das disciplinas observaccedilatildeo

praacuteticas profissionalizantes praacuteticas pedagoacutegicas e estaacutegio pedagoacutegico praacuteticas teacutecnico-

profissionais e estaacutegio profissionalizante relatoacuterios de praacuteticas profissionalizantes auto-

avaliaccedilatildeo portefoacutelio exames de qualificaccedilatildeo e outras dependendo de cada aacuterea de formaccedilatildeo E

ainda o regulamento sublinha que a participaccedilatildeo do estudante em aulas em sessotildees tutoriais e

em outras actividades o seu empenho e dedicaccedilatildeo ao estudo a sua atitude perante colegas

docentes tutores gestores dos centros de recursos a sua capacidade de auto-avaliaccedilatildeo e

correcccedilatildeo dos seus erros satildeo elementos importantes a tomar em consideraccedilatildeo no processo

avaliativo Entatildeo onde eacute que estaacute o problema Porque razatildeo existem conflitos Seraacute que os

docentes usufruem dessa abertura do regulamento

O processo avaliativo deve ser democraacutetico claro transparente e honesto Eacute impossiacutevel

conceber um processo cooperativo de aprendizagem funcionando junto com um processo

autoritaacuterio de avaliaccedilatildeo Isso implica que os aprendizes devem tambeacutem estar envolvidos na

decisatildeo do que deve ser avaliado (RAMOS sd 13)

McConnel (1999) relata resultados de pesquisas que ao avaliar o grau de relaccedilatildeo entre o

processo de avaliaccedilatildeo e de aprendizagem mostraram que os estudantes em geral escolhem como

e o que aprender com base na forma como satildeo avaliados ou melhor na forma como eles

conseguem imaginar que seratildeo avaliados (RAMOS sd 11) Em virtude desse estudo a UP teraacute

que procurar mecanismos que reduzem os conflitos para que depois natildeo seja viacutetima de fugas de

estudantes para outras instituiccedilotildees de Ensino Superior

Retomando a ideia da democraticidade ABRAMOWICZ (1992 95-96) afirma que a

avaliaccedilatildeo natildeo pode ser vista desgarrada de um universo existencial Ela natildeo deve ser imposta

doada mas deveraacute constituir-se em uma criaccedilatildeo em uma recriaccedilatildeo Portanto deve ser um

processo em que o aluno eacute o sujeito activo o homem no mundo que se auto-avalia de dentro

para fora Deve ser uma avaliaccedilatildeo pelo diaacutelogo amorosa criacutetica natildeo arrogante natildeo autoritaacuteria

mas esperanccedilosa

Sendo o professor um representante dos modelos e valores universalistas Parsons (1985)

apud AFONSO (2000 24) supotildee que deveria garantir a todos os alunos uma igualdade de partida

e oportunidades reais para que estes revelem as suas capacidades recompensando o ecircxito de

117

qualquer um que se mostre capaz Portanto nesta oacuteptica seria o professor o garante de

implementaccedilatildeo de todos os princiacutepios possiacuteveis que tornem ameno o processo de avaliaccedilatildeo

O que se percebe ao aprofundar os estudos sobre a questatildeo eacute que o ensino superior natildeo estaacute

isento dos problemas mais gerais constatados no campo da avaliaccedilatildeo e que tanto na teoria

quanto na praacutetica a avaliaccedilatildeo se reveste de rituais e atitudes discriminatoacuterias Grande parte dos

professores avalia da forma como foram avaliados em sua trajectoacuteria escolar ou vatildeo criando a

partir da experiecircncia e do bom-senso maneiras de avaliar o desempenho dos alunos A prova

escrita eacute o instrumento baacutesico utilizado para verificar a retenccedilatildeo dos conhecimentos repassados

natildeo servindo para orientar ou reorientar o aluno e o professor (CHAVES 2001 156-157)

Dentre os problemas mais destacados na avaliaccedilatildeo da aprendizagem em contextos

universitaacuterios Benedito et al (1995) apud CHAVES (op cit 157-158) destacam

Os processos de avaliaccedilatildeo que passam pela complexidade dos conteuacutedos dos niacuteveis de

aprendizagem dos alunos e de sua valoraccedilatildeo Usualmente enfatiza-se avaliaccedilatildeo de conteuacutedos

conceituais valorizando a memorizaccedilatildeo e reproduccedilatildeo desconsiderando ou deixando de lado as

capacidades e habilidades mentais desenvolvidas o pensamento criacutetico a resoluccedilatildeo de

problemas o estabelecimento de relaccedilotildees etc

Ausecircncia de criteacuterios avaliativos e de sua explicitaccedilatildeo Os proacuteprios alunos percebem

incoerecircncia entre os procedimentos avaliativos os niacuteveis de exigecircncia e a forma do professor

lidar com o conteuacutedo Os criteacuterios natildeo soacute devem ser expliacutecitos como discutidos e analisados

com os alunos modificando-os introduzindo novos criteacuterios derivados da interacccedilatildeo

alunoprofessor

Uso corrente de avaliaccedilatildeo sumativa Haacute uma preocupaccedilatildeo por parte de alunos e

professores com o produto em detrimento do processo de compreensatildeo apropriaccedilatildeo e

construccedilatildeo do conhecimento

Utilizaccedilatildeo inadequada dos resultados da avaliaccedilatildeo Poucos professores utilizam os

resultados de suas avaliaccedilotildees para rever o processo para retomar o conteuacutedo ou para analisar a

sua proacutepria praacutetica assumindo com os alunos a co-responsabilidade pela sua formaccedilatildeo

Contudo talvez seja este o espaccedilo oportuno para se saber que do ponto de vista

pedagoacutegico natildeo existe nenhuma razatildeo cabiacutevel para a reprovaccedilatildeo Pois a reprovaccedilatildeo em si natildeo

faz sentido em nenhuma praacutetica educativa desde que o objectivo seja a aprendizagem e o

desenvolvimento do educando Se a meta eacute essa natildeo faz sentido abortaacute-la pela reprovaccedilatildeo mas

sim investir nela na perspectiva do sucesso Oferecer ensino a educandos e reprovaacute-los satildeo actos

118

contraditoacuterios Quem ensina tem como objectivo o aprendizado do outro A reprovaccedilatildeo aborta o

acto de ensinar e de aprender (LUCKESI 2011b 428-429)

Contrariamente o artigo 34 sobre aprovaccedilatildeo no exame deixa claro a inoperacircncia do

conselho de Luckesi pois considera-se aprovado no exame de uma disciplina moacutedulo ou

actividade curricular o estudante cuja classificaccedilatildeo seja igual ou superior a dez (10) valores

arredondados Para dizer que os que natildeo chegam a esses valores satildeo reprovados e satildeo essas

reprovaccedilotildees como se afirmou antes uma das grandes promotoras de conflitos

Para efeito de promoccedilatildeo ou de graduaccedilatildeo NEacuteRICI (1993 203) afirma que a universidade

deveria promover avaliaccedilatildeo em trecircs sectores assim distribuiacutedos avaliaccedilatildeo de conhecimentos

avaliaccedilatildeo de teacutecnicas e habilidades por meio de estaacutegios e por uacuteltimo avaliaccedilatildeo de atitudes

soacutecio-morais e cientiacuteficas por meio de conceitos expedidos apoacutes a observaccedilatildeo geral do

comportamento do estudante durante o ano lectivo que seria elaborado primeiramente pelos

professores que actuam junto ao estudante separadamente e depois em conjunto

Para evitar os conflitos tambeacutem eacute interessante a experiecircncia de MASETTO (2003159)

que demonstra a sua praacutetica pessoal como docente nos seguintes moldes

No teacutermino do bimestre ou do semestre conforme a exigecircncia da instituiccedilatildeo

fecho a avaliaccedilatildeo juntamente com a auto-avaliaccedilatildeo dos alunos desde que eles

jaacute tenham aprendido a realizaacute-la bem Fazemos em conjunto uma descriccedilatildeo de

como se desenvolveu o processo de aprendizagem durante aquele periacuteodo

conforme jaacute comentado e buscamos uma nota ou um conceito que represente

aquilo que foi aprendido durante o periacuteodo Em minha experiecircncia poucos

foram os casos em que este processo natildeo deu certo Na sua quase totalidade os

resultados foram satisfatoacuterios

Metodologia

Por aquilo que constitui o nosso objectivo nesta pesquisa recorremos aos estudantes para

que compreendecircssemos as suas atribuiccedilotildees causais em relaccedilatildeo aos conflitos que envolvem eles e

seus docentes no processo de avaliaccedilatildeo de aprendizagem

BRUNNER e ZELTNER (1994 31) definem atribuiccedilatildeo causal como tratando-se de um

processo de atribuiccedilatildeo de resultados de acccedilotildees a determinados factores que satildeo considerados

como origem destes resultados Os autores citam Heider (1958) como tendo dito que qualquer

acccedilatildeo pode ser justificada por factores pessoais situacionais e de estabilidade temporal

Deste modo com base em uma investigaccedilatildeo qualitativa que visou compreender os

problemas analisando os comportamentos as atitudes ou os valores (SOUSA e BAPTISTA

119

2011 56) exploramos junto aos estudantes as razotildees que atribuem aos conflitos que ocorrem

entre eles e seus docentes

Na classificaccedilatildeo de Marshall e Rossman (1999) apud SOUSA e BAPTISTA (op cit 57)

de tipos de estudos qualitativos esta pesquisa enquadra-se nos estudos explanatoacuterios visto que

preocupou-se em explicar as forccedilas que originam o fenoacutemeno em estudo e identificar as causas

que o afectam

A entrevista colectiva a anaacutelise documental e a anaacutelise bibliograacutefica foram as teacutecnicas que

auxiliaram a pesquisa A anaacutelise bibliograacutefica segundo GIL (2008 50) eacute desenvolvida a partir

de material jaacute elaborado constituiacutedo de livros e artigos cientiacuteficos enquanto a anaacutelise

documental na perspectiva de OLIVEIRA (2007 69) caracteriza-se pela busca de informaccedilotildees

em documentos que natildeo receberam nenhum tratamento cientiacutefico ou seja as fontes primaacuterias

como satildeo os casos de regulamentos da UP e a mensagem de estudantes desta universidade que

aqui foram usados

O levantamento dos dados por via da entrevista decorreu em quatro turmas que compotildeem o

curso de Psicologia Educacional (com um total de 218 estudantes) A entrevista foi conduzida de

forma grupal Em cada turma (grupo) a estrateacutegia foi de apresentar o enquadramento do

problema que eacute sobejamente conhecido e por via disso os estudantes de uma forma livre foram

dando as razotildees que achavam justificar o comportamento de conflitos entre eles e os seus

docentes no processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem A entrevista foi semi-estruturada visto que

a pergunta era aberta e dava a possibilidade dos entrevistados de exprimirem e justificarem

livremente as suas opiniotildees sem fugirem muito do tema (SOUSA e BAPTISTA op cit 81)

Por meio da anaacutelise de conteuacutedo procuramos compreender melhor o discurso ou as

intervenccedilotildees dos estudantes aprofundar as caracteriacutesticas (gramaticais fonoloacutegicas cognitivas

ideoloacutegicas etc) da bibliografia e dos documentos e extrair os momentos mais importantes os

que nos interessavam para a nossa pesquisa (RICHARDSON et al 1999 224)

Resultados

Apoacutes um enquadramento sobre os comportamentos que evidenciam a problemaacutetica de

conflitos entre docentes e estudantes no que concerne as avaliaccedilotildees como afirmamos

anteriormente pedimos aos estudantes para que atribuiacutessem as razotildees que achavam influenciar o

comportamento em estudo pelo que tivemos vaacuterias razotildees que passaremos a apresentar

Uma das primeiras razotildees indicadas pelos estudantes foi a da elaboraccedilatildeo de testes na base

de mateacuterias natildeo dadas Nesses termos ateacute haacute docentes que apenas deixam o plano temaacutetico

120

orientam para os estudantes prepararem certas mateacuterias mas que depois trazem outras mateacuterias

tambeacutem natildeo discutidas violando assim o nuacutemero 3 do artigo 16 sobre Princiacutepios Gerais da

Avaliaccedilatildeo do Regulamento Acadeacutemico da UP (2012 15) onde se determina que a avaliaccedilatildeo tem

de permitir a identificaccedilatildeo e descriccedilatildeo clara do que vai ser objecto e conteuacutedo da avaliaccedilatildeo

conhecimentos habilidades capacidades e atitudes ou seja competecircncias

Mais uma violaccedilatildeo das normas da instituiccedilatildeo regista-se na marcaccedilatildeo de exames orais

surpresa isto eacute sem que os estudantes tenham sido avisados antecipadamente pois alguns

docentes decidem no dia calendarizado em aplicar esta modalidade de exame Embora os exames

orais sejam uma das alternativas previstas no Artigo 25 sobre exames das disciplinas o Artigo

32 sobre Juacuteri de exames orais impotildee que os mesmos sejam prestados perante um Juacuteri

constituiacutedo no miacutenimo por trecircs membros O Juacuteri referido deveraacute ser designado pelo Chefe de

Departamento o que pressupotildee que a sua realizaccedilatildeo seja antecipada e natildeo de surpresa com um

uacutenico elemento no Juacuteri como foi salientado pelos estudantes

Agraves vezes regista-se incumprimento das calendarizaccedilotildees de exames e remarcaccedilatildeo unilateral

por parte de docentes o que origina consequentemente perca desses por parte de estudantes o

que tambeacutem gera conflitos entre esses sujeitos

Os docentes de liacutenguas foram referenciados como sendo os que avaliam como se

estivessem em cursos de especialidade deixando muita gente a repetir Outrossim regista-se

falta de obras na biblioteca entretanto os docentes mandam fazer trabalhos cujas fontes natildeo

existem e como se natildeo bastasse ainda exigem que tenham uma perfeiccedilatildeo que os estudantes

consideraram de impossiacutevel

Alguns docentes distribuem todo o programa em forma de seminaacuterios e nem sequer fazem

a suacutemula desses e natildeo obstante reprovam os estudantes Haacute docentes que sempre as suas notas

satildeo muito baixas nunca consideram o esforccedilo do estudante mesmo em trabalhos independentes

Os estudantes consideraram que existem docentes que parecem estar a competir com estudantes

aplicando testes quase impossiacuteveis de realizar por exemplo haacute uma tendecircncia de trazerem mais

questotildees de memorizaccedilatildeo do que de reflexatildeo

Nas avaliaccedilotildees referentes aos relatoacuterios de praacuteticas pedagoacutegicas e estaacutegios os estudantes

falaram de arbitrariedades nas notas isto eacute os docentes avaliam sem bases pois eles natildeo

acompanham o decurso dessas actividades acabando por usar criteacuterios obscuros nas atribuiccedilotildees

de notas

121

Alguns estudantes revelaram natildeo terem conhecimento do regulamento de avaliaccedilatildeo sendo

que as uacutenicas informaccedilotildees sobre o processo de avaliaccedilatildeo apenas adquirem na base dos planos

temaacuteticos dos docentes

Por uacuteltimo o Sistema de Gestatildeo de Dados da UP (SIGEUP) agraves vezes contribui para esses

conflitos que agraves vezes parecem provocados pelos docentes isto eacute os estudantes se surpreendem

com duplos resultados numa primeira visualizaccedilatildeo com aprovaccedilotildees e noutra com reprovaccedilotildees

ou por outra com notas diferentes das visualizadas nas primeiras vezes

Consideraccedilotildees finais

O processo de avaliaccedilatildeo que deveria ser um momento amoroso tem virado na UP

Delegaccedilatildeo de Nampula de fonte de conflitos manifestando-se por acusaccedilotildees muacutetuas entre os

docentes e seus estudantes Entre os comportamentos que nos tecircm revelado a ocorrecircncia desses

conflitos destacam-se os pedidos constantes de recorreccedilotildees dos exames as queixas regulares

apresentadas aos gestores dos cursos e departamentos as cartas com abaixo-assinado a

perseguiccedilatildeo de docentes manifestadas fora da instituiccedilatildeo a desobediecircncia de estudantes em

realizarem actividades que incluem alguns testes e exames as denuacutencias de corrupccedilatildeo em

Miacutedias entre outros

Na base dessas evidecircncias desencadeamos uma pesquisa em que nos propuacutenhamos a

compreender na percepccedilatildeo dos estudantes as atribuiccedilotildees causais do comportamento descrito

Pelo que apuramos uma diversidade e confluecircncia de factores sobretudo de iacutendole pessoal dos

docentes no sentido que tratamos em BRUNNER e ZELTNER (1994) Ora vejamos haacute

incumprimento dos calendaacuterios de exames avaliaccedilatildeo com conteuacutedos natildeo leccionados

responsabilizaccedilatildeo inteira dos conteuacutedos dos planos temaacuteticos aos estudantes natildeo divulgaccedilatildeo do

regulamento de avaliaccedilatildeo administraccedilatildeo de testes com questotildees contestadas como os que

exigem memorizaccedilatildeo e a natildeo valorizaccedilatildeo dos trabalhos independentes

E esses factos podem levar a utilizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo para fins pessoais como nos alertou

CAVALIERI (2004) e na contra-acccedilatildeo poderemos continuar a ver estudantes ameaccedilando os

docentes Natildeo soacute como tambeacutem poderaacute a instituiccedilatildeo entrar em decadecircncia pela fuga de

estudantes para outras instituiccedilotildees de ensino superior

Assim propomos que

- sejam divulgados os princiacutepios de avaliaccedilatildeo no geral e da UP em particular

- que se desenvolva um movimento de sensibilizaccedilatildeo dos docentes para tomarem uma

postura que natildeo desgaste a sua imagem pessoal assim como da instituiccedilatildeo

122

- os regulamentos de avaliaccedilatildeo devem continuar a ser divulgados junto dos docentes assim

como dos estudantes

- deve-se fazer uma supervisatildeo constante das aulas e sobretudo das avaliaccedilotildees

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124

Fracasso escolar um olhar conjunto de alunos professores e pais

Arauacutejo Manuel Arauacutejo26

Resumo

Este artigo tem como objectivo analisar o problema do fracasso escolar Pretende descrever as causas

relativas ao estudante na sala de aula na escola e fora dela e outras ainda intra e extra escolares indirectas

ao estudante A metodologia usada foi do tipo descritivo de um levantamento de dados e o instrumento

para a recolha destes foi um conjunto de dois inqueacuteritos o primeiro composto de 23 perguntas semi-

fechadas dirigido a estudantes e o segundo com 5 perguntas abertas para professores e pais e

encarregados de educaccedilatildeo Numa perspectiva indutiva os resultados da leitura dos inqueacuteritos permitiram

concluir que i) o fracasso escolar eacute uma realidade ii) existem causas especiacuteficas cuja existecircncia permite

intervenccedilatildeo em ordem a se ter saiacutedas para problema Propotildee-se um trabalho conjunto de aquisiccedilatildeo de

mecanismos para reduzir o impacto do fracasso

Palavras-chave Fracasso escolar Estudante Repetecircncia Meio escolar Professor

Summary

This article aims to analyse the problem of school failure Describes the causes related to the

student in the classroom in the school and outside of it and others still intra and extra school

indirect to the student The methodology used was the descriptive type of a data survey and the

instrument for the collection of these was a set of two surveys the first compound of 23 semi-

closed questions to students and the second with 5 open questions to teachers and parents and

guardians From an inductive perspective the results of the reading of the surveys allowed to

conclude that i) school failure is a reality ii) there are specific causes whose existence allows

intervention in order to have outputs to the problem It is proposed a joint work of acquiring

mechanisms to reduce the impact of failure

Keywords School failure Student Repeat School environment Teacher

Introduccedilatildeo

O fracasso escolar eacute um dos problemas do Sistema de Educaccedilatildeo em Moccedilambique Haacute

muitos estudos feitos sobre o tema Este artigo procura trazer aleacutem da abordagem bibliograacutefica

pontos de vista sobre as causas do fracasso escolar de docentes estudantes e pais e encarregados

de educaccedilatildeo e como trabalhar para mitigar a problemaacutetica Os manuais usados para o suporte

bibliograacutefico abordam o tema muitas vezes em acircmbitos nacionais de realidades natildeo

moccedilambicanas contudo os inqueacuteritos que serviram para a elaboraccedilatildeo deste artigo foram

26 Mestrando em Educaccedilatildeo Ensino de Filosofia pela Universidade Pedagoacutegica em Maputo ndash Moccedilambique Teacutecnico

na Direcccedilatildeo dos Serviccedilos de Documentaccedilatildeo e Informaccedilatildeo (DSDI) da Universidade Pedagoacutegica

125

especificamente direccionados a estudantes do niacutevel meacutedio (11ordf e 12ordf classes) de escolas puacuteblicas

e privadas de Maputo e Matola nomeadamente Coleacutegio Moderno Escola Secundaacuteria Armando

Emiacutelio Guebuza Escola Secundaacuteria 14 de Outubro e Escola Secundaacuteria Satildeo Damaso Os

professores e os encarregados de educaccedilatildeo inquiridos tambeacutem pertencem a estes ciacuterculos

O inqueacuterito foi levado a cabo no mecircs de Setembro do ano de 2015 Foram inquiridos 100

estudantes das escolas em causa 4 professores e 4 pais e encarregados de educaccedilatildeo num total de

108 elementos cuja escolha foi aleatoacuteria

Este artigo surge da associaccedilatildeo de duas metodologias dois inqueacuteritos (um aos estudantes

e o outro aos professores e pais e encarregados de educaccedilatildeo) e leitura de bibliografia que trata do

tema de fracasso escolar

Fracasso escolar em muitos dos casos estudados estaacute ligado agrave pobreza esta ideia eacute

defendida por Libacircneo na sua obra com o tiacutetulo Didaacutectica ldquoum dos mais graves problemas do

sistema escolar (hellip) eacute o fracasso escolar principalmente de crianccedilas mais pobresrdquo (Libacircneo

201339) Este tem como origem (no sentido de germe) o ensino primaacuterio comportando

insuficiente alfabetizaccedilatildeo e repercute-se em exclusotildees ao longo dos anos repetecircncias

dificuldades ldquoinsuperaacuteveisrdquo comprometedoras do estudo ateacute desistecircncias

Urge tambeacutem nesta introduccedilatildeo emergir algumas definiccedilotildees sobre o que seja a expressatildeo

fracasso escolar ou insucesso escolar como prefere designar Annamaria Rangel (sd) Haacute aquelas

definiccedilotildees que parecem sinoacutenimas especificamente no campo educacional tais como ldquoinsucesso

num exame bem como o afastamento definitivo da escola provocado por repetecircncias sucessivasrdquo

(Rangel sd9)

Considere-se tambeacutem que fracasso escolar eacute uma noccedilatildeo relativa Ela soacute tem sentido no

seio de uma dada instituiccedilatildeo escolar e num dado momento da carreira nessa instituiccedilatildeo Eacute

relativa aos objectivos da escola traduzidos num programa uma progressatildeo niacuteveis e natildeo a uma

inadaptaccedilatildeo que caracteriza o aluno permanentemente (Cfr Rangel sd 21) Quer dizer

mudadas as circunstacircncias um aluno dito fracassado pode ser aluno de sucesso

A ideia de fracasso escolar eacute um conceito da deacutecada de 60 Segundo explicaccedilotildees dos

socioacutelogos de educaccedilatildeo fracasso escolar eacute o fenoacutemeno da desigualdade de oportunidades na

escola

O sistema escolar pode ter um papel nas desigualdades de sucesso escolar contudo o

papel de outros campos vectores deve ser atendido como eacute o da famiacutelia o Governo e a

sociedade no geral para se apurar o papel que estes tecircm sobre o tema em causa

126

Quais satildeo as causas do fracasso escolar no nosso meio proacuteximo e como trabalhar para a

mitigaccedilatildeo de algumas delas satildeo as questotildees que vatildeo ser esclarecidas ao longo da leitura deste

artigo Ele estaacute dividido em cinco partes a primeira apresenta a conceituaccedilatildeo a segunda as

causas do fracasso escolar relativas ao estudante e a sala de aulas a terceira causas relativas ao

meio escolar a quarta causas relativas ao meio extra-escolar e a quinta uma possiacutevel soluccedilatildeo

do problema do fracasso escolar

1 Revisatildeo da literatura

O problema do fracasso escolar tatildeo presente em vaacuterios contextos educacionais do mundo

actual pode ateacute ser considerado de um problema antropoloacutegico educacional Eacute sobejamente

estudado contudo um estudo a mais levanta sempre uma possibilidade de tornar presente uma

missatildeo a cumprir na educaccedilatildeo resolver o problema do fracasso escolar

Segundo Durkheim citado por Rangel a primeira tarefa de um investigador eacute a de definir

o objecto do seu estudo ou seja determinar a ordem dos factos que propotildee a estudar a fim de

lhes dar homogeneidade e a especificidade que lhes satildeo necessaacuterias para serem tratados como

cientiacuteficos e poderem estabelecer uma ponte segura no diaacutelogo do discurso do texto com o leitor

(Cfr Rangel sd 28) Eacute a partir desta ideia que satildeo chamadas as palavras-chave ou ideias-chave

a serem definidas Nesta ordem o primeiro conceito a definir eacute o fracasso escolar Eacute importante

dissecaacute-lo para entendecirc-lo melhor Por um lado temos o termo fracasso e por outro o termo

escolar Aquele deve ser entendido como insucesso falecircncia de um projecto bem como uma

posiccedilatildeo difiacutecil na qual algueacutem coloca o seu adversaacuterio O dicionaacuterio da liacutengua portuguesa

coordenado por Joatildeo Costa define fracasso como ruina ou desgraccedila (Costa 2011 734) O

correlativo termo para exprimir esta ideia eacute a palavra escolar Esta eacute um adjectivo de qualquer

coisa que versa sobre a escola Sendo assim fracasso escolar no contexto desta abordagem deve

ser entendido como insucesso escolar relativo aos estudantes incapacidade de sua progressatildeo

chumbos desistecircncias repetecircncia de estudantes na escola Esta ideia eacute antoacutenima de sucesso

escolar abordada por Bernard Lahire na sua obra Sucesso escolar nos meios populares como

sendo ldquoverdadeiros ecircxitos sem defeitos que os professores percebem como brilhanteshelliprdquo

(Lahire 1997 285)

Um outro conceito a ser abordado eacute o de repetecircncia Para Rangel repetente diz-se de um

estudante que recomeccedila um ano escolar desde que esta decisatildeo natildeo tenha sido provocada por

uma causa fortuita nem ter problemas graves do ponto de vista psicoloacutegico ou fiacutesico e ao fim de

127

um ano os seus resultados escolares levem-no a repetir (Cfr Rangel sd 30) A anaacutelise do termo

visa alargar o conceito de insucesso escolar

A falta de dignificaccedilatildeo da actividade docente tambeacutem tem sido tomada como um dos

factores para o fracasso escolar Nas questotildees levantadas nos inqueacuteritos aos docentes estes

apontam a natildeo valorizaccedilatildeo dos docentes como causa do fracasso escolar ratificando a existecircncia

conjuntural desta desvalorizaccedilatildeo expressa por Lourenccedilo na introduccedilatildeo do seu livro com o tiacutetulo

Hoje natildeo haacute aulas como ldquoreacccedilatildeo agrave cada vez mais insuportaacutevel e injusta desvalorizaccedilatildeo da

profissatildeo docente ou seja da imagem daqueles que satildeo agentes principais no futuro de um paiacutesrdquo

(Lourenccedilo 2007 5)

No seu livro Acabar com insucesso na escola Hubert Montagner propotildee a atenccedilatildeo dos

professores a casos particulares de estudantes mas isto depende da motivaccedilatildeo que eles tecircm o

nuacutemero de estudantes que compotildeem as turmas os problemas que cada estudante traz de casa

Mesmo assim ele afirma que ldquoo professor eacute o observador melhor colocado do tempo pessoal

das diferentes crianccedilasrdquo (Montagner 1996 205) Ele deveria ter ou deveria ser dotado da

capacidade privilegiada para ajudar os estudantes a ultrapassar as suas dificuldades sem ser

intrometido nem ldquomandatildeordquo e assegurando uma presenccedila eficaz

Os conceitos acima descritos relativos ao fracasso escolar abrem um horizonte para a

percepccedilatildeo do espaccedilo criado para a anaacutelise do tema ou o ciacuterculo do fracasso envolvente aos

estudantes nas escolas de Maputo e Matola a intersecccedilatildeo que este ciacuterculo tem com o ciacuterculo do

meio extra-escolar e possiacuteveis saiacutedas do problema

2 Causas do fracasso escolar relativas ao estudante e a sala de aulas

Quando se aborda a o assunto em causa isto eacute fracasso escolar a primeira ideia que

surge eacute sobre o sujeito em foco o estudante Para atender a esta primazia coloca-se neste

trabalho o ponto de vista do proacuteprio alvo

Um olhar sobre o inqueacuterito respondido pelos estudantes referido no resumo que constitui

uma das metodologias da elaboraccedilatildeo deste artigo dita que dos 100 estudantes inquiridos das

diversas escolas (Cfr Anexo II) boa parte deles acredita que a causa do fracasso escolar estaacute

estritamente ligada ao proacuteprio estudante que fracassa Eles se atribuem a culpa pelo fracasso

escolar pelo natildeo empenho e maus resultados

Outros factores de relevo que levantam os estudantes como causas do fracasso escolar

satildeo os professores menos motivados e consequentemente desmotivadores isto eacute pouco atentos

no acompanhamento dos alunos se progridem ou natildeo o factor transporte tambeacutem eacute apontado

128

como causa relevante do fracasso pese embora estando ligado a causas econoacutemicas extra-

escolares do fracasso Dois uacuteltimos factores apontados como causas do fracasso escolar satildeo a

fome e a falta de orientaccedilatildeo profissional dos alunos para a sua vida adulta

No que diz respeito aos nuacutemeros sugeridos para a composiccedilatildeo das turmas dos 100

estudantes inquiridos 25 sugerem 30 estudantes por turma e fazem passar entre os argumentos a

favor deste nuacutemero a ideia segundo a qual este nuacutemero proporciona um bom sentimento na sala

de aulas que acaba favorecendo um melhor processo de ensino e aprendizagem e favorece que o

professor esteja atento ao crescimento dos seus estudantes outros 25 sugerem 35 estudantes por

turma com similares argumentos anteriores a favor Sucessivamente em nuacutemero de 12

estudantes por cada opccedilatildeo apresentam 25 40 45 e 50 estudantes por turma com os seguintes

argumentos facilitaccedilatildeo da compreensatildeo da mateacuteria por parte dos estudantes facilitaccedilatildeo do

trabalho docente e muita interacccedilatildeo estudantes professor professor estudantes e estudantes

entre si Os 12 uacuteltimos estudantes que propotildeem o nuacutemero de 50 estudantes por turma estatildeo

convictos de que haacute desistecircncias ao longo do ano e que este nuacutemero deve compor as turmas no

iniacutecio do ano quer dizer que para eles o nuacutemero ideal para compor as turmas deve ser menor que

50 estudantes por turma caso natildeo houvesse desistecircncias Haacute dois estudantes que propotildeem o

nuacutemero de 36 estudantes por turma sem apresentar argumentos relevantes Em meacutedia as turmas

que proporcionaram alunos que responderam ao questionaacuterio eram compostas de 65 alunos por

turma aleacutem dos nuacutemeros propostos pelos alunos

Entre os docentes que abordaram o fracasso escolar sob ponto de vista dos alunos

levantaram factores que se podem chamar de ldquodistractoresrdquo que levam ao fracasso escolar nas

zonas urbanas onde o questionaacuterio foi lanccedilado entre os quais as novelas as redes sociais (p ex

facebook) os jogos electroacutenicos etc que absorvem completamente o tempo que era reservado

para que um estudante se dedicasse aos estudos

3 Causas do fracasso escolar relativas ao meio escolar

O meio escolar tambeacutem tem sido apontado como uma causa do fracasso escolar Entre os

factores que tecircm sido levantados constam o professor o corpo teacutecnico da escola a localizaccedilatildeo

da escola a distacircncia do seu acesso as comodidades ndash carteiras quadros giz ndash a interacccedilatildeo dos

corpos docente e natildeo docente com os estudantes a aplicaccedilatildeo de normas etc (Cfr Rangel sd

10-12)

O inqueacuterito aos estudantes levantou 5 factores que se resumem fundamentalmente em

trecircs que satildeo tipo do sistema escolar interacccedilatildeo entre estudantes e o corpus natildeo docente e

129

aplicaccedilatildeo de normas Em relaccedilatildeo ao primeiro dos trecircs aspectos os estudantes natildeo concordam que

o fracasso escolar dependa de uma escola se eacute ou natildeo privada segundo eles tanto nas escolas

privadas como nas puacuteblicas encontra-se o problema fracasso escolar sob vaacuterios aspectos Em

relaccedilatildeo ao segundo aspecto se os directores das escolas fazem visitas agraves turmas 49 estudantes

afirmaram que sim 11 natildeo se pronunciaram e 40 responderam negativamente Essas respostas

permitem argumentar que no geral os directores das escolas natildeo satildeo motivo alarmante para

imputar o fracasso escolar Sobre se os outros dirigentes das escolas (pessoal teacutecnico-pedagoacutegico

e outros) se se encontram regularmente com os estudantes a maioria diz que natildeo podendo

interpretar-se que haacute necessidade de se promover encontros do geacutenero que serviratildeo quem sabe

de uma sinergia na luta contra o fracasso escolar

Em relaccedilatildeo se existe exagero de exigecircncias que dificultam aos alunos de participar das

aulas a concordacircncia de 37 estudantes no universo de 100 eacute preocupante vezes haacute em que nas

escolas no geral os estudantes perdem trecircs aulas sucessivas por atrasar apenas numa aula do

primeiro tempo perdem outras tantas aulas por natildeo obedecer a uma ou outra norma tais como

usar uniforme poder comprar fichas de apoio natildeo levantar-se para ir satisfazer necessidades

bioloacutegicas em tempo de aulas apenas como exemplos

Sobre este item docentes inquiridos apontaram como causas do fracasso escolar questotildees

psicoloacutegicas pedagoacutegicas e didaacutecticas que tecircm pesado sobre o professor entre as quais

incapacidade de ensinar falta de estiacutemulo do professor condiccedilotildees de trabalho improacuteprias e

exigecircncia de percentagens por parte da direcccedilatildeo da escola para a classificaccedilatildeo do docente em

bom ou mau professor

4 Causas do fracasso escolar relativas ao meio extra-escolar

A escola eacute uma instituiccedilatildeo inserida dentro do conjunto das instituiccedilotildees humanas e faz

com as outras instituiccedilotildees um todo interligado Sendo assim tudo quanto afecta outras

instituiccedilotildees directa ou indirectamente afecta a escola Nesse sentido o fracasso escolar natildeo

deve ter apenas causas intra-escolares deve sim e em grande medida ter causas extra-escolares

Tecircm sido apontadas como causas extra-escolares a situaccedilatildeo econoacutemico-financeira dos

pais e encarregados de educaccedilatildeo poliacuteticas que excluem a educaccedilatildeo agravequeles que natildeo pertencem a

certos ciacuterculos sociais e outras barreiras do geacutenero

O resultado do inqueacuterito aos estudantes no quadro indicativo (Apecircndice II) mostra

claramente que entre as causas do fracasso escolar sob ponto de vista dos alunos estaacute no topo a

130

falta de poliacuteticas de emprego Ou os estudantes vatildeo a escola e natildeo sabem ou natildeo satildeo orientados

para agravequilo que vatildeo fazer na vida poacutes escolar

Um outro factor a que os estudantes se referiram ligado ao precedente eacute que o Governo

natildeo garante explicitamente esperanccedila de empregabilidade Ou se o faz isso natildeo eacute sentido no seio

dos estudantes e essa falta de ldquoseguranccedila laboralrdquo conduz ao fracasso escolar Um outro factor

natildeo menos importante elencado pelos estudantes eacute a famiacutelia que daacute menos atenccedilatildeo ao processo

de ensino e aprendizagem os estudantes deixados a soacutes sentem-se sem acompanhamento e

fracassam

Os docentes do ensino meacutedio e pais e encarregados de educaccedilatildeo que responderam ao

questionaacuterio do apecircndice III na questatildeo ldquoporque acontece o fracasso escolarrdquo disseram que tecircm

constituiacutedo causas do fracasso escolar aspectos culturais (ritos de iniciaccedilatildeo no periacuteodo de aulas

casamentos precoces) econoacutemicos (fraca renda dos pais incapazes de sustentar as necessidades

escolares) poliacuteticos (entre os quais poliacuteticas educativas ldquoinadequadasrdquo e instabilidade militar nas

zonas propensas) sociais (trabalho infantil ligado a factor econoacutemico) naturais (estiagem secas

e inundaccedilotildees que tecircm causado fome) entre outros factores

5 Propostas de superaccedilatildeo do fracasso escolar

O fracasso escolar eacute um problema proveniente de muitas causas Pensar na sua

eliminaccedilatildeo eacute um sonho a realizar-se em vaacuterios conjuntos A superaccedilatildeo aqui deve entender-se

como a possibilidade de gradualmente num trabalho conjunto encontrarem-se e aplicarem-se

mecanismos para reduzir ou debelaacute-lo ao maacuteximo

Um olhar atento sobre as respostas dos estudantes inquiridos pode ajudar a extrair

algumas propostas de saiacuteda do problema do fracasso escolar que os professores pais e outros

agentes de educaccedilatildeo inspirem a autoconfianccedila nos seus estudantes (questatildeo 2 e 4) isto eacute um

trabalho conjunto deve ser feito em ordem a remover-se a auto condenaccedilatildeo dos estudantes pelo

fracasso escolar pois implantar essa ideia na sua mente e deixar que ela cresccedila e que faccedila parte

deles soacute agrava mais o fracasso escolar ao inveacutes de tender a combater o problema que o pessoal

natildeo docente envolva-se no papel educativo (questotildees 16 e 17) os pais e encarregados de

educaccedilatildeo se envolvam mais (embora indirectamente) no processo de ensino e aprendizagem

(questotildees 18 e 19) e que o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano crie poliacuteticas

orientadoras para o emprego mais abrangentes (questotildees 21 e 23)

131

Os docentes envolvidos no inqueacuterito (Apecircndice III) sugerem que haja mais planificaccedilatildeo

das actividades educativas formaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos gestores da educaccedilatildeo uma forte relaccedilatildeo

entre escola e comunidade motivaccedilatildeo dos professores uma atenccedilatildeo agrave educaccedilatildeo da rapariga

Parece que o paradigma de uma educaccedilatildeo centrada no aluno tirou de certa forma a

autoridade do professor comenta um professor eacute preciso que este paradigma seja revisto e que

se recupere a autoridade do professor natildeo como detentor do conhecimento mas como figura

digna de valor

O curriacuteculo e os relativos programas de ensino tecircm sido a chave do problema Eacute

necessaacuterio que estejam desenhados politicamente para irem ao encontro da situaccedilatildeo real que se

vive isto constituiraacute um caminho bem andado na debilitaccedilatildeo do fracasso escolar

Os pais e encarregados trazem vaacuterios apelos entre os quais que haja um melhor

acompanhamento dos alunos por parte das famiacutelias por parte dos professores e por parte do

Governo quer dizer que haja um trabalho mais uma vez conjunto e triangular

escolaharrfamiacuteliaharrGoverno

Conclusatildeo

O fracasso escolar eacute um tema bastante estudado sob inuacutemeras perspectivas e a que

acabou de ser levantada eacute mais uma um olhar conjunto de alunos professores e pais e

encarregados de educaccedilatildeo Como um problema com vaacuterias vertentes o trato com ele deve ser

tambeacutem de ordem muito diversa O surgimento de mais uma perspectiva eacute mais um contributo

nesta luta

Natildeo basta identificar o problema que ele eacute muito evidente eacute preciso saber quais satildeo as

causas (algumas) para depois segundo essas mesmas causas esboccedilar algumas possibilidades de

saiacuteda do problema como afirma Madaloacutez ldquoplanejar acccedilotildees que realmente tragam benefiacutecios e

resultados agraves praacuteticas de sala de aula e nas relaccedilotildees do espaccedilo escolar minimizando conflitos e

tensotildees que possam vir a surgir entre escola famiacutelia e sociedaderdquo (Madaloacutez 2012 12)

Os questionaacuterios usados foram bastante reveladores de alguns caminhos para a reduccedilatildeo

destes conflitos e tensotildees ou entatildeo a debilitaccedilatildeo do problema fracasso escolar como o potenciar

da autoconfianccedila no estudante a niacutevel poliacutetico criaccedilatildeo de escolas orientadas em vista a

profissotildees futuras para os jovens motivaccedilatildeo dos professores a atenccedilatildeo da educaccedilatildeo da rapariga

criaccedilatildeo de mais escolas e reduccedilatildeo de nuacutemero de estudantes por turma entre outras propostas

132

Bibliografia

COMENIUS Didaacutectica mMagna Trad de Ivone Castilho Beneditti Satildeo Paulo Livraria Martins

Fontes Editora 2002

COSTA Joatildeo Dicionaacuterio Moderno da Liacutengua Portuguesa Lobito Escolar Editora 2011

LAHIRE Bernard Sucesso escolar nos meios populares ndash as razotildees do improvaacutevel Satildeo Paulo

Editora Aacutetica 1997

LIBAcircNEO Joseacute Carlos Didaacutectica 2 ed Satildeo Paulo Cortez Editora 2013

LOURENCcedilO Joatildeo Hoje natildeo haacute aulas Lisboa Texto Editores 2007

MADALOacuteZ Rodrigo Joseacute O fracasso escolar sob olhar docente alguns apontamentos In

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PAULA Valderly Maria dos Santos Rodrigues de Fracasso Escolar quem satildeo os culpados In

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1036

RANGEL Annamaria Insucesso escolar Lisboa Horizontes Pedagoacutegicos sd

133

APEcircNDICES

Apecircndice I Ficha sobre Possiacuteveis causas do Fracasso Escolar (respondido pelos estudantes)

Escala Concordo Plenamente (CP) Concordo (C) Sem Opiniatildeo (SO) Discordo (D) Discordo Plenamente (DP)

Dimensatildeo1 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao estudante e agrave sala de aulas

Questotildees

Escala

CP C SO D DP

1 Fracasso escolar estaacute ligado ao abandono escolar 12 26 13 49 0

2 Fracasso escolar estaacute ligado ao proacuteprio estudante 43 49 4 4 0

3 Todos os professores acusam os alunos de natildeo saberem nada 17 0 30 49 4

4 Alguns professores acusam os alunos de natildeo saberem nada 32 20 19 12 0

5 Os professores conhecem individualmente todos os alunos 24 25 12 25 14

6 Alguns professores conhecem individualmente todos os alunos 22 53 25 0 0

7 Todos os professores acompanham individualmente os alunos 18 25 16 37 4

8 Alguns professores acompanham individualmente os alunos 15 58 15 12 0

9 No decurso do Processo de Ensino e Aprendizagem haacute uma orientaccedilatildeo

profissional aos alunos

21 21 21 16 21

10 Os alunos se confrontam com a situaccedilatildeo de fome durante o Processo de

Ensino e Aprendizagem

4 37 32 12 15

11 Haacute espaccedilo de exposiccedilatildeo e esclarecimento de duacutevidas na sala de aulas 49 25 4 11 11

12 Os professores usam recursos didaacutecticos que facilitam a compreensatildeo dos

conteuacutedos

16 41 16 16 11

Total Dimensatildeo1 273 380 207 243 80

Dimensatildeo 2 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao meio escolar

Questotildees

Escala

CP C SO D DP

13 Fracasso escolar depende da escola em que o aluno se encontra 5 12 21 37 25

14 Nas escolas privadas haacute menor iacutendice de fracasso escolar que nas escolas

puacuteblicas

11 16 16 37 20

15 O director da escola visita as turmas 0 49 11 15 25

16 O director e outros dirigentes da escola tecircm tido encontros com os alunos 0 12 25 25 38

17 Existe exagero de exigecircncias que dificultam aos alunos de participar das

aulas

16 21 21 42 0

Total Dimensatildeo2 32 110 94 156 108

Dimensatildeo 3 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao meio extra-escolar

Questotildees

Escala

CP C SO D DP

18 Fracasso Escolar estaacute ligado agrave famiacutelia do aluno 7 25 16 26 26

19 Os pais e encarregados participam regularmente a reuniotildees na escola

quando convocados para tal

26 53 0 21 0

20 Os alunos datildeo informe aos pais e encarregados de educaccedilatildeo sobre o

decorrer do seu Processo de Ensino e Aprendizagem

11 32 21 32 4

21 As poliacuteticas do emprego satildeo de ldquosalva quem puderrdquo 73 16 11 0 0

22 Os media divulgam oportunidades de emprego aos alunos 12 48 20 10 10

23 O Governo daacute esperanccedila de empregabilidade aos alunos 11 21 11 25 32

Total Dimensatildeo3 140 195 79 114 72

Totais 445 685 380 513 260

Quantos alunos sugere que as turmas tenham E porquecirc _______________________________________________

Justifique em poucas linhas algumas das respostas que deu na grelha acima________________________________

_____________________________________________________________________________

134

Apecircndice II Causas do Fracasso Escolar (iacutendice de concordacircncia e discordacircncia)

Escala Iacutendice de Concordacircncia (IC) Sem Opiniatildeo (SO) Iacutendice de discordacircncia (ID)

Dimensatildeo1 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao estudante e agrave sala de aulas

Questotildees

Escala

IC SO ID

1 Fracasso escolar estaacute ligado ao abandono escolar 38 13 49

2 Fracasso escolar estaacute ligado ao proacuteprio aluno 92 4 4

3 Todos os professores acusam os alunos de natildeo saberem nada 17 30 53

4 Alguns professores acusam os alunos de natildeo saberem nada 52 19 12

5 Os professores conhecem individualmente todos os alunos 49 12 39

6 Alguns professores conhecem individualmente todos os alunos 75 25 0

7 Todos os professores acompanham individualmente os alunos 43 16 41

8 Alguns professores acompanham individualmente os alunos 73 15 12

9 No decurso do Processo de Ensino e Aprendizagem haacute uma orientaccedilatildeo

profissional aos alunos

42 21 37

10 Os alunos se confrontam com a situaccedilatildeo de fome durante o Processo de

Ensino e Aprendizagem

41 32 27

11 Haacute espaccedilo de exposiccedilatildeo e esclarecimento de duacutevidas na sala de aulas 74 4 22

12 Os professores usam recursos didaacutecticos que facilitam a compreensatildeo dos

conteuacutedos

57 16 27

Total em numeral 653 207 323

Percentagem () 56 17 27

Dimensatildeo 2 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao meio escolar

Questotildees

Escala

IC SO ID

13 Fracasso escolar depende da escola em que o alunos se encontra 17 21 62

14 Nas escolas privadas haacute menor iacutendice de fracasso escolar que nas escolas

puacuteblicas

27 16 57

15 O director da escola visita as turmas 49 11 40

16 O director e outros dirigentes da escola tecircm tido encontros com os alunos 12 25 63

17 Existe exagero de exigecircncias que dificultam aos alunos de participar das

aulas

37 21 42

Total em numeral 142 94 264

Percentagem () 28 19 53

Dimensatildeo 3 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao meio extra-escolar

Questotildees

Escala

IC SO ID

18 Fracasso Escolar estaacute ligado agrave famiacutelia do alunos 32 16 52

19 Os pais e encarregados participam regularmente a reuniotildees na escola

quando convocados para tal

79 0 21

20 Os alunos datildeo informe aos pais e encarregados de educaccedilatildeo sobre o

decorrer do seu Processo de Ensino e Aprendizagem

43 21 36

21 As poliacuteticas do emprego satildeo de ldquosalva quem poderrdquo 89 11 0

22 Os media divulgam oportunidades de emprego aos alunos 60 20 20

23 O Governo daacute esperanccedila de empregabilidade aos alunos 32 11 57

Total em numeral 335 79 186

Percentagem() 56 13 31

135

Apecircndice III Questionaacuterio dirigido aos professores e pais e encarregados de educaccedilatildeo

1 a)Professor _________________ (Nome da escola onde lecciona ____________________________)

b)Pai ou Matildee (Encarregadoa de educaccedilatildeo) ____________________________________________

2 O que entende por fracasso escolar

________________________________________________________________________________

3 Como acontece o fracasso escolar

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

4 Porque acontece o fracasso escolar

_________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

5 Como pode ser superado o fracasso escolar

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

Teccedila alguns comentaacuterios sobre o fracasso escolar

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

136

A influecircncia das liacutenguas xichangana e cicopi no insucesso escolar - caso dos

alunos da 10ordf classe da Escola Secundaacuteria de Mandlakazi

Antoacutenio Domingos Cossa27

Resumo

O presente artigo surge no contexto dos estudos sociolinguiacutesticos e na tentativa de compreender o

fenoacutemeno insucesso ou fracasso escolar no ensino secundaacuterio geral Motivado pelos estudos de Bright

Soussure Labov Firmino Gonccedilalves e Dias definiu-se o seguinte temaldquoA influecircncia das liacutenguas

xichangana e cicopi no insucesso escolar - caso dos alunos da 10ordf classe da Escola Secundaacuteria de

Mandlakazirdquo com os seguintes objectivos analisar as influecircncias das liacutenguas xichangana e cicopi no

processo de ensino-aprendizagem da liacutengua portuguesa relacionar o insucesso escolar que se verifica na

disciplina de portuguecircs com as influecircncias das liacutenguas xichangana e cicopi nos alunos da 10ordf classe O

tipo de pesquisa foi qualitativa com recurso a questionaacuterio como instrumentos de recolha de dados tendo

sido usado o meacutetodo indutivo Os resultados da pesquisa postulam que 64 dos inquiridos possuem uma

L1 moccedilambicana sendo 14 falantes da liacutengua Xichangana 14 da liacutengua Cicopi e 36 falantes de

outras liacutenguas Bantu nacionais Olhando para estes dados pode-se afirmar que cerca de 64 dos

inquiridos possuem uma gramaacutetica impliacutecita diferente da gramaacutetica da liacutengua-alvo (o portuguecircs) usada

em contextos formais em situaccedilotildees de aprendizagem no geral e em situaccedilotildees de aprendizagem do

portuguecircs como L2 em particular O insucesso escolar eacute uma realidade e constituiu fenoacutemeno negativo

para o progresso acadeacutemico dos alunos do ensino secundaacuterio e da 10ordfclasse nesta escolaNo entanto as

liacutenguas Xichangana e Cicopi natildeo satildeo somente factores determinantes para a ocorrecircncia do insucesso

escolar neste grupo alvo associando a eles o meio e a falta do imput da L2

Palavras-Chave Insucesso-escolar L1 L2 Ensino-aprendizagem

Abstract

This article appears in the context of sociolinguistic studies and in trying to understand the phenomenon

of failure or school failure in secondary education Motivated by studies of Bright Soussure Labov

Firmino Gonccedilalves and Dias defined the following theme The influence of cicopi and xichangana on

school failure -case of grade10 in Mandlakazi secondary school With the following objectives to

analyze the influences of cicopi and xichangana in teaching-learning process of the Portuguese language

relate school failure that occurs in the Portuguese subject with the influences of cicopi and xichangana

students of grade 10 Have been used qualitative research questionnaires as tools of data collection in

inductive method Search results postulate that 64 of respondents have a Mozambican language 14

speakers Xichangana language 14 of the Cicopi language and 36 speakers of other Bantu

languagesLooking at these figures it means that approximately 64 of respondents have an implicit

grammar unlike the grammar of the target language (Portuguese) used in formal contexts in learning

situations in General and in situations of learning Portuguese as second language in particular School

failure is a reality and it constituted negative phenomenon to the academic progress of students in

secondary education and the 10th grade at this school However the Cicopi and Xichangana languages

are not only determinant factors for the occurrence of failure at school in this target group the middle

and the lack of imput from second language associate

Keywords Failure 1 st L 2nd L Teaching and learning

27 Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de Portuguecircs Bacharel e Licenciado em Ensino de Portuguecircs Docente da Faculdade

de Ciecircncias de Linguagem Comunicaccedilatildeo e Artes na Universidade Pedagoacutegica ndash Delegaccedilatildeo de Gaza

137

0 Introduccedilatildeo

A partir do pressuposto que a liacutengua eacute um veiacuteculo pelo qual se transmitem informaccedilotildees e

se estabelecemmantecircm contactos sociais ldquoqualquer pessoa fala de modo diferente a pessoas

diferentes e em diferentes situaccedilotildees ainda que o conteuacutedo do que diz ateacute aconteccedila ser o

mesmordquo (Strevens apud MARQUES1995) Assim entende-se que o ldquorepertoacuterio verbalrdquo de um

indiviacuteduo (como tambeacutem de uma comunidade) eacute um conjunto de variantes linguiacutesticas

Ferdinand Saussure o considerado precursor da corrente estruturalista reconhecia a

importacircncia de natureza etnoloacutegica histoacuterica e poliacutetica poreacutem seus estudos voltaram-se

essencialmente para o organismo linguiacutestico interno uma vez que ele concebia a liacutengua como

um produto homogeacuteneo e sua anaacutelise partia da observaccedilatildeo como comportamento linguiacutestico de

um indiviacuteduo O princiacutepio da homogeneidade linguiacutestica foi adoptado pelos estudiosos da

glossemaacutetica e do gerativismo

As primeiras investigaccedilotildees acerca de estudos sociolinguiacutesticos surgem a partir de

WILLIAM BRIGHT (1966) e FISHMAN (1972) os quais passaram a incorporar os aspectos

sociais nas descriccedilotildees linguiacutesticas BRIGHT (idem) afirmava que a diversidade linguiacutestica eacute

precisamente a mateacuteria de que trata a Sociolinguiacutestica Segundo este autor as dimensotildees desse

estudo estatildeo condicionadas a vaacuterios factores sociais com os quais a diversidade linguiacutestica se

encontra relacionada nas identidades sociais do emissor e receptor e na situaccedilatildeo comunicativa

Dando prosseguimento aos estudos de Bright LABOV (1972) passa a descrever a

heterogeneidade linguiacutestica pois para ele todo facto linguiacutestico relaciona-se a um facto social e

que a liacutengua sofre implicaccedilotildees de ordem fisioloacutegica e psicoloacutegica Labov ficou conhecido por ser

o representante da teoria da variaccedilatildeo linguiacutestica

Tendo em vista a heterogeneidade dos fenoacutemenos linguiacutesticos William Labov precursor

dos estudos variacionistas propocircs um modelo de anaacutelise linguiacutestica que considera a influecircncia

dos factores sociais atuantes na liacutengua e que ficou conhecido como teoria da variaccedilatildeo

linguiacutestica Eacute a partir desse conhecimento que o presente trabalho desenvolve-se acerca do tema

ldquoA Influecircncia das liacutenguas Xichangana e Cicopi no Insucesso Escolar - caso dos alunos da 10ordf

Classe da Escola Secundaacuteria de Mandlakazirdquo

No contexto de ensino-aprendizagem da Liacutengua Portuguesa eacute frequente ouvir-se dos

alunos o seguinte ldquoaquele professor de portuguecircs como natildeo daacute notardquo ou ldquoTenho notas razoaacuteveis

a quase todas as disciplinas mas a minha meacutedia na liacutengua portuguesa eacute a pior de todasrdquo Os

alunos tecircm direito de observar a sua prestaccedilatildeo acadeacutemica sob diversas perspectivas Poreacutem a

verdade estaacute relacionada com o fraco domiacutenio da liacutengua portuguesa particularmente a gramaacutetica

138

do portuguecircs de ensino por parte dos alunos desde o ensino primaacuterio e que se arrasta ateacute aos

niacuteveis imediatamente superiores

A este respeito vaacuterias questotildees satildeo levantadas desde conteuacutedos curriculares formaccedilatildeo

do corpo docente qualidade infraestrutural e linguiacutesticos

No presente estudo como aludiu-se acima interessa aprofundar o fenoacutemeno linguiacutestico

como elemento fundamental no processo de ensino-aprendizagem formal Sabe-se que o fraco

domiacutenio da liacutengua portuguesa por parte da maioria dos moccedilambicanos tem as suas razotildees

enraizadas na histoacuteria da eleiccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa como oficial no paiacutes Por conseguinte a

aprendizagem e uso da liacutengua de ensino natildeo eacute homogeacutenea para os aprendentes Isto eacute quanto

mais os falantes se distanciam dos centros urbanos mais distante se colocam da aprendizagem e

domiacutenio da norma padratildeo da liacutengua portuguesa Ou seja quanto menos praticarem e menos

tiverem a oferta linguiacutestica menos conhecimentos sobre a liacutengua vatildeo possuindo

Segundo estudos efectuados por LAURENCE LAUTIN (1990) referem que 25 a 30

das crianccedilas provenientes das classes chamadas ldquosocioculturais desfavorecidasrdquo repetem uma

ou vaacuterias vezes as classes do ciclo primaacuterio sofrendo portanto um insucesso a partir da sua

confrontaccedilatildeo com a linguagem escrita Pois segundo STOER e GRAacuteCIO(1982) ldquo A inteligecircncia

e a linguagem satildeo produto duma interacccedilatildeo permanente entre o sujeito e o meiordquo

Para estes autores o meio social exerce um efeito importante sobre o ritmo do

desenvolvimento intelectual A pobreza da sintaxe pode constituir um obstaacuteculo ao domiacutenio do

pensamento formal e da loacutegica das proposiccedilotildees Ela pode sem duacutevidas afectar o sucesso

escolar O ambiente soacutecio-cultural pode moldar a inteligecircncia e as aptidotildees linguiacutesticas da

crianccedila

Tal como se refere LOPES (1991) citado por FIRMINO (2000) fazendo uma abordagem

sobre a alfabetizaccedilatildeo e o insucesso escolar no contexto moccedilambicano a Liacutengua Portuguesa (LP)

em Moccedilambique eacute manipulada pelos seus falantes como uma Liacutengua Segunda (L2) na medida

em que a LP convive com as liacutenguas Bantu (LB) que constitui a Liacutengua Materna (L1) da maior

parte da populaccedilatildeo Esta afirmaccedilatildeo eacute consubstanciada pelos dados estatiacutesticos do censo de 1997

analisados por FIRMINO (2000) segundo os quais a LP eacute falada por apenas 39 dos

moccedilambicanos O papel da L2 em Moccedilambique torna-se ainda mais evidente quando se refere

que 90 dos moccedilambicanos usa mais frequentemente uma LB no seu discurso quotidiano

STROUD (2001) acrescenta que numa sociedade do tipo moccedilambicana a variedade-alvo

escolhida como norma pedagoacutegica natildeo eacute congruente com a norma que eacute usada pela maioria dos

falantes

139

Tendo em consideraccedilatildeo os pressupostos acima o presente trabalho guia-se pelos

seguintes objectivos

- Analisar as influecircncias das liacutenguas Xichangana e Cicopi no processo de ensino-

aprendizagem liacutengua portuguesa

- Relacionar o insucesso escolar que se verifica na disciplina de Portuguecircs com as

influecircncias das liacutenguas Xichangana e Cicopi nos alunos da 10ordf Classe

Constituem nossas hipoacuteteses as seguintes Os alunos da 10ordfClasse falantes das liacutenguas

Xichangana e Cicopi como L1 registam um relativo insucesso pedagoacutegico na disciplina de

Portuguecircs O fracasso manifesta-se atraveacutes da dificuldade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de

textos em liacutengua portuguesa

A metodologia usada para este trabalho eacute o uso da abordagem qualitativa e de um

questionaacuterios como instrumento de recolha de dados O instrumento de recolha de dados estaacute

subdividido em trecircs secccedilotildees sendo A- social linguiacutestico e pedagoacutegico B-Questionaacuterio de

interpretaccedilatildeo e C-Comentaacuterio Para substanciar as nossas hipoacuteteses escolhemos como amostra

os alunos da 10ordfclasse turmas A e B curso diurno da Escola da Secundaacuteria de Mandlakazi no

universo de cinquenta alunos inquiridos sendo vinte e cinco por cada turma A consulta

bibliograacutefica eacute um dos tradicionais meacutetodos usados para provar a cientificidade do trabalho

Os resultados desta pesquisa iratildeo ajudar no Processo de Ensino Aprendizagem (PEA) e

no melhoramento gradual do rendimento pedagoacutegico na disciplina pois uma vez identificadas as

razotildees reais que motivam o insucesso pedagoacutegico o impacto das liacutenguas Xichangana e Cicopi

na aprendizagem da L2 Poderatildeo tambeacutem contribuir na suscitaccedilatildeo de outras pesquisas e debates

acadeacutemicos

10 Referencial teoacuterico

Antes da nossa abordagem de fundo sobre o insucesso escolar importa-nos trazer

conceitos de alguns termos-chave que recorrentemente seratildeo referenciados no corpo do

presente trabalho

11 Linguagem

Linguagem eacute um processo por meio do qual os seres animais transmitem mensagens entre

si servindo-se da oralidade escrita e gesto etc isto eacute a capacidade que os seres vivos tecircm de

140

comunicar Para GALLISSON e COSTE (1983445)28 Linguagem eacute meio de comunicaccedilatildeo

utilizado por uma comunidade humana ou animal para transmitir mensagens

Linguagem pode tambeacutem ser considerado com todo o sistema de signos que serve de

meio de comunicaccedilatildeo entre indiviacuteduos e pode ser percebido pelos diferentes oacutergatildeos dos sentidos

Para FREITAG amp LIMA(2010) Linguagem eacute a

Capacidade inata e universal que faz parte da heranccedila geneacutetica do ser humano e

permite a ele reconhecer e produzir um nuacutemero infinito de sentenccedilas

gramaticais atribuindo-lhes respectivamente uma interpretaccedilatildeo semacircntica e

uma interpretaccedilatildeo fonoloacutegica Instrumento de comunicaccedilatildeo cuja principal

funccedilatildeo eacute a transmissatildeo de informaccedilotildees Eacute colocado em relevo o circuito da

comunicaccedilatildeo um emissor transmite a um receptor atraveacutes de um canal uma

informaccedilatildeo colocada em coacutedigo

Isto eacute eacute pela sua linguagem que o homem realiza as suas atividades sejam de denuacutencias

de afirmaccedilatildeo de identidade social de lazer de trabalho eou de vida Estes autores refem em

uacuteltima anaacutelise que Linguagem eacute um meio ou veiacuteculo de comunicaccedilatildeo usada por uma

determinada comunidade ou grupo para se transmitir informaccedilotildees

12 Liacutengua

Segundo a formulaccedilatildeo Soussuriana a liacutengua eacute um sistema formal de valores puros ou seja

de signos arbitraacuterios A langue eacute uma estrutura homogeacutenea que se constitui como objecto do

estudo da linguiacutestica desde que esta se tem como ciecircncia autoacutenoma

Segundo FREITAG amp LIMA(idem) Liacutengua eacute

Coacutedigo um conjunto de signos que se combinam segundo certas regras que os

organizam em niacuteveis hieraacuterquicos (fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico) e que

deve ser conhecido pelos falantes para que a comunicaccedilatildeo possa acontecer

Embora seu uso seja um ato social a liacutengua eacute preacute-estabelecida e concebida

como um sistema convencional imanente desvinculado dos indiviacuteduos Liacutengua

= coacutedigo estrutura A liacutengua eacute uma realidade soacuteciohistoricamente construiacuteda

pelos sujeitosinterlocutores Liacutengua = enunciaccedilatildeo atividade social

Segundo GALLISSON (ibid) citando Saussure Liacutengua eacute todo o sistema especiacutefico de

signos articulados que servem para transmitir mensagens humanas Na perspectiva de

GONCcedilALVES e STROUD (2000)29 Liacutengua eacute um sistema organizado de sons vocais de que nos

servimos para expressar ideias e comunicar com os falantes conhecedores do mesmo coacutedigo

Gorski e Freitag( 2007) apud KOCH (2002) vecircem a liacutengua simultaneamente como

28Gallisson e Coste (1983) Dicionaacuterio de Didaacutectica das Liacutenguas Coimbra Livraria Almedia 29 Gonccedilalves P e StroudC A Construccedilatildeo de Um Banco de Erros Moccedilambique INDE

141

um sistema e como uma praacutetica social No primeiro caso ela eacute vista como

um conjunto de elementos inter-relacionados que se manifestam em

vaacuterios niacuteveis de organizaccedilatildeo (fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico

semacircntico) No entanto soacute se realiza ou se configura no interior do meio

social lugar de interacccedilatildeo dos membros de uma sociedade

Embora linguagem e liacutengua sejam noccedilotildees interligadas a noccedilatildeo de linguagemeacute mais

abrangente que a de liacutengua O termo linguagem costuma ser associado a palavras como

lsquofaculdadersquo lsquocapacidadersquo lsquoatividadersquo com foco tanto na funccedilatildeo cognitivabioloacutegica como na

funccedilatildeo comunicativasocial da linguagem humana A linguagem eacute uma atividade cognitiva e

discursiva jaacute que ela manteacutem um viacutenculo estreito com o pensamento e tambeacutem estabelece a

interlocuccedilatildeo( GORSKI e FREITAG 2007)

13 Liacutengua Materna (L1)

Os estudiosos GONCcedilALVES e STROUD (ibid) definem a L1 como sendo a primeira

liacutengua que a crianccedila aprende no meio familiar de lugar de origem materna Entretanto

GALLISSON (1985opcit) afirma que a L1 eacute o primeiro instrumento de comunicaccedilatildeo desde a

mais tenra idade e a utilizada no paiacutes de origem do sujeito falante

14 Liacutengua Segunda (L2)

Ainda na perspectiva de GONCcedilALVES e STROUD (ibid) a L2 eacute a liacutengua natildeo materna

que o indiviacuteduo aprende apoacutes a primeira liacutengua e que exerce uma influecircncia relevante no falante

Na oacuteptica de GALLISSON e COSTE (1983opcit) a L2 eacute a liacutengua natildeo materna que beneficia

oficialmente de um estatuto privilegiado Acrescentam que esta eacute ensinada como veicular a toda

a comunidade em que as liacutenguas maternas satildeo praticamente desconhecidas fora das fronteiras do

paiacutes

Como se pode constatar os autores consultados para a conceitualizaccedilatildeo dos termos

Linguagem Liacutengua L1 L2 de uma forma geral convergem nas suas abordagens pelo que a

presente abordagem tomaraacute como base estas definiccedilotildees que grandemente seratildeo convocadas O

outro indispensaacutevel conceito para esta reflexatildeo eacute o insucesso escolar que portanto constitui o

principal objecto de estudo

142

15 Insucesso Escolar

No contexto de ensino-aprendizagem estudos sobre insucesso esolar satildeo frequentes pois

duma mateacuteria bastante complexa e inerente

SILVA e SAacute (200328)30 consideram sucesso e insucesso escolar como sendo crenccedilas

pessoais que advecircm de uma motivaccedilatildeo mantida pelos efeitos do meio positivos ou negativos

Estes autores afirmam que ldquo As razotildees do seu sucesso e insucesso as suas respostas

geralmente caem em quatro categorias capacidade esforccedilo dificuldade da tarefa e sorterdquo E

ainda estas percepccedilotildees que os alunos tecircm sobre aquelas causas vatildeo influenciar diferencialmente

as suas respostas emocionais os seus desempenhos e as suas motivaccedilotildees

Parafraseando estes autores como resultado destas crenccedilas os alunos deixam de se

esforccedilar quando confrontados com tarefas difiacuteceis Esta atitude por sua vez aumenta as

probabilidades de haver insucessos frequentes De recordar que insucesso eacute antoacutenimo do

sucesso que de acordo AAVV (20013475)31 eacute aquilo que acontece que sucede especialmente

quando eacute de grande importacircncia Ter sucesso sair-se bem ter ecircxito

Para DIAS (200271)32 habitualmente o insucesso escolar eacute definido como falta de

conhecimentos habilidades e competecircncias em certas aacutereas Citando PERRENOND(2000)

ldquohellippara a definiccedilatildeo do insucesso escolar eacute importante distinguir entre desigualdades reais de

capital cultural e hierarquias de excelecircnciasrdquo e afirma que ldquoas desigualdades podem

desempenhar um papel no fracasso escolar quando elas pertencem a aacutereas que tecircm ligaccedilatildeo com

a relaccedilatildeo pedagoacutegicardquo

20 O Impacto das Liacutenguas Xichangana e Cicopi no Insucesso Escolar

21 Argumentaccedilatildeo

Ao escolher-se a variaacutevel Insucesso Escolar pretende-se de uma forma sucinta trazer agrave

superfiacutecie as causas deste fenoacutemeno compreendeacute-lo e propor algumas estrateacutegias a serem

observadas no processo de Ensino-aprendizagem (PEA) da LP

COSSA (2015) no seu estudo sobre o fracasso escolar no I Ciclo do Ensino Baacutesico

moccedilambicano concluiu que

30Adelina Lopes da Silva e Isabel Saacute (2003) Saber Estudar e Estudar para Saber Porto Colecccedilatildeo Ciecircncia de

Educaccedilatildeo 31 AAVV Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Contemporacircneo Academia das Ciecircncias de Lisboa 32 Dias Hildizina Norbeto As Desigualdades Sociolinguiacutesticas e o Insucesso Escolar em Direcccedilatildeo a Uma Praacutetica

Linguiacutestica Escolar Libertador Maputo Ediccedilatildeo Promeacutedia

143

as dificuldades de ensino e de aprendizagem da leitura satildeo um facto e resultam

de diversas razotildees Algumas das quais as seguintes a grande maioria dos

aprendentes do Ensino Baacutesico eacute proveniente das zonas rurais com a sua cultura

veiculada pela L1 bantu e frequentam este ensino numa L2 Estas crianccedilas

enfrentam dificuldades de aprendizagem da leitura pela simultaneidade da

aprendizagem da liacutengua de ensino e dos conteuacutedos programaacuteticos que tambeacutem

satildeo de mundo totalmente distinto do delas (COSSA 2015)

Esta constataccedilatildeo pode ser extensiva para o contexto deste estudo Pois a maioria dos

alunos da Escola Secundaacuteria de Mandlakazi eacute falante nativa das liacutenguas Bantu (Xichangana e

Cicopi ) o que pode interferir negativamente no aproveitamento pedagoacutegico e na proacutepria

aprendizagem da L2 Esta nossa escolha foi motivada pelo facto de a escola (em que foram

recolhidos os dados) localizar-se no meio cujas liacutenguas maternas-bantu dominantes satildeo

Xichangana e Cicopi

22 Da apresentaccedilatildeo e descriccedilatildeo dos dados

Como jaacute foi avanccedilado na introduccedilatildeo a amostra foi delimitada em cinquenta informantes

sendo vinte e cinco seleccionados por cada turma Neste contexto os propoacutesitos reportados no

instrumento de recolha de dados foram os dados pessoais linguiacutesticos sociais culturais e

pedagoacutegicos contidos no inqueacuterito sociolinguiacutestico a secccedilatildeo B que visava confirmar e apurar as

dificuldades que conduzem os alunos ao fraco aproveitamento pedagoacutegico ligados a

compreensatildeo e domiacutenio da gramaacutetica da liacutengua de ensino no meio escolar Dos dados colhidos

no universo dos informantes reporta-se o seguinte os falantes de Xichangana como L1

correspondem apenas a 14 do total dos inquiridos de Cicopi tambeacutem 14 de Portuguecircs 28

de outras LB nacionais 36 e estrangeira 8

Inquiridos sobre a frequecircncia de leitura 30 confirmaram nunca terem lido um livro

sequer durante o primeiro semestre fora da escola e 70 foram unacircnimes em dizer que leram

mais de trecircs livros fora do ambiente escolar

Quanto agrave compreensatildeo que se desdobra em interpretaccedilatildeo e gramaacutetica 16 dos

inquiridos mostraram dificuldades na interpretaccedilatildeo pobreza vocabular e 84 demonstraram

dificuldades na gramaacutetica (morfologia classe de palavras)

Em relaccedilatildeo agraves actividades que mais ocupam os informantes fora da escola 20 ocupam-

se em actividades acadeacutemicas 46 em actividades domeacutesticas (cozinha comeacutercio e religiatildeo) ao

144

passo que 34 em desporto Em relaccedilatildeo ao aproveitamento pedagoacutegico 2 do total teve Muito

Bom 2 Bom 60 Suficiente 34 Mediacuteocre e 2 Mau

23 Da anaacutelise e discussatildeo dos dados

Ainda na esteira de cumprir com o objectivo deste estudo que eacute relacionar o insucesso

escolar com as influecircncias das liacutenguas Xichangana e Cicopi segue-se anaacutelise e discussatildeo dos

dados recolhidos no campo de estudo auxiliando-se das fontes teoacutericas seleccionadas para esta

reflexatildeo Recuperando a ideia de LOPES (2001opcit) a aquisiccedilatildeo de L2 tem contributos de L1

tendo por isso repercussotildees na linguagem escrita

Para GONCcedilALVES (199822)33 os estudos de aquisiccedilatildeo da L2 tambeacutem tiveram de tomar

em consideraccedilatildeo uma diversidade de factores determinantes no sistema de regras do aprendente

como sejam o papel da gramaacutetica universal (GU) ldquoa influecircncia da L1 e as caracteriacutesticas da

liacutengua-alvo o papel do imput para aleacutem de outros aspectos influentes como a motivaccedilatildeo as

caracteriacutesticas individuais ou o contexto de aquisiccedilatildeordquo Tomando como alicerces estes dois

pensamentos os resultados em anaacutelise postulam que 64 dos inquiridos possuem uma L1

moccedilambicana sendo 14 falantes da liacutengua Xichangana 14 da liacutengua Cicopi e 36 falantes

de outras liacutenguas Bantu nacionais

Olhando para estes dados pode-se afirmar que cerca de 64 dos inquiridos possuem

uma gramaacutetica impliacutecita diferente da gramaacutetica da liacutengua-alvo (o portuguecircs) usada em contextos

formais em situaccedilotildees de aprendizagem no geral e em situaccedilotildees de aprendizagem do portuguecircs

como L2 em particular Esta constataccedilatildeo concorda com a ideia de Gonccedilalves pois de facto a

diversidade e as caracteriacutesticas que cercam a L1 e L2 fazem com que sempre haja dificuldades

no processo de aquisiccedilatildeo e aprendizagem da L2 uma vez que as suas caracteriacutesticas natildeo tecircm

sequer uma aproximaccedilatildeo de inteligibilidade Como diz GONCcedilALVES(1998) o papel de imput eacute

bastante relevante na apreensatildeo e treinamento das regras gramaticais de uma dada liacutengua Este

imput eacute condicionado pelo ambiente situacional em que os alunos vivem e passam a maior parte

do seu tempo ao longo do dia

Nesta perspectiva ambiental e de imput 46 do total dos nossos respondentes passam a

maior parte do seu tempo em ambientes lsquocaseirosrsquo fazendo trabalhos domeacutesticos e 34 tem

passado com amigos em ambientes desportivos Como se sabe nos ambientes aqui descritos a

33 Gonccedilalves Perpeacutetua Mudanccedilas do Portuguecircs em Moccedilambique Maputo Livraria universitaacuteria UEM

145

linguagem eacute basicamente informal onde segundo BERNSTEIN(1980)34 o coacutedigo predominante

eacute restrito que versa questotildees meramente particulares e que natildeo orientam os seus significados

para o universo da L2 Para este estudioso uma vez as escolas trabalharem com o coacutedigo

linguiacutestico elaborado os alunos da classe social baixa tecircm sido objecto de exclusatildeo e conclui

que ldquo as crianccedilashellipestatildeo excluiacutedas pelo coacutedigo escolar satildeo discriminadas e afastadas pelo

coacutedigo escolarrdquo

Eacute curioso numa altura de ldquoaudiovisualismordquo os respondentes natildeo se terem referido da

televisatildeo como elemento de diversatildeo ou de ocupaccedilatildeo temporal A falta deste item conduz a

confirmaccedilatildeo do ecircxodo rural a que se fez alusatildeo antes Para esta situaccedilatildeo concreta desta pesquisa

a diferenccedila do coacutedigo linguiacutestico escolar do aluno natildeo se prende com a classe social baixa dos

alunos mas com o ambiente de imput que proporciona a oferta linguiacutestica Esta afirmaccedilatildeo

prende-se essencialmente com o facto de 70 do universo dos inquiridos habitar no meio urbano

e apenas 30 na zona suburbana e 90 dos encarregados destes serem funcionaacuterios puacuteblicos

Na perspectiva de BENAVENTE(1976)35 ldquocada crianccedila constroacutei a sua personalidade e

a sua inteligecircncia nas trocas com o meio que a rodeiardquo e acrescenta que ldquoos factores de

insucesso ligados ao meio social satildeo de ordem material e de ordem culturalrdquo

Tomando em consideraccedilatildeo o factor imigraccedilatildeo a que se fez referecircncia anteriormente pode-

se referir com seguranccedila que maior parte destes alunos actualmente residentes na Vila nascem e

crescem em ambientes de fraca oferta linguiacutestica da liacutengua-alvo mesmo em ambiente escolar por

eles vivido durante o ensino primaacuterio

A cultura linguiacutestica deste tipo de escolas localizadas na periferia e no interior natildeo eacute a

mesma praticada nas escolas urbanas particularmente dos jardins infantis dos coleacutegios e de

outras instituiccedilotildees consideradas de prestiacutegio que procuram pautar pelo uso do coacutedigo elaborado

que coincide com a L1 para alguns L2 para outros e liacutengua de ensino escolar caracterizada pela

gramaacutetica expliacutecita (regida por regras prescritivas) sugerida pelos linguistas e gramaacuteticos

Como diz LOPES (2001opcit) a escrita da L2 eacute influenciada pela L1 trazendo assim

repercussotildees que culminam com o insucesso escolar Pois como se sabe o ensino moccedilambicano

eacute totalmente avaliativo e este item centra-se na linguagem escrita e oral onde as dificuldades e

desproporcionalidades do coacutedigo linguiacutestico elaborado residem

34 Declaraccedilotildees de Basil Bernstein em uma entrevista sobre a Socializaccedilatildeo e Coacutedigos Linguiacutesticos a um professor em

25 de Fevereiro de 1980 35Benavente Ana A Escola na Sociedade de Classes Lisboa Biblioteca do Educador Profissional Livros

Horizontes 1976 pp20-39

146

Embora alguns autores defendam que quanto mais o aprendente da L2 possuir

conhecimentos soacutelidos de leitura e escrita da L1 mais facilidades teraacute na aprendizagem e na

praacutetica da L2 a realidade moccedilambicana natildeo se acomoda nesta teoria uma vez que a maioria dos

falantes nativos da L1 natildeo domina as regras gramaticais da oralidade nem da escrita

DIAS (200279) citando HAMERS e BLAC (1989) refere que ldquohellip a noccedilatildeo de

semilinguismohellipocorre quando a crianccedila natildeo consegue alcanccedilar uma proficiecircncia monolingue

em nenhuma das liacutenguas que conhecerdquo E acrescenta que ldquoIsto natildeo quer dizer que a crianccedila

natildeo eacute capaz de comunicar no seu dia-a-dia pelo contraacuterio a crianccedila eacute muito fluente mas essa

fluecircncia eacute considerada superficial nas duas liacutenguas visto que a crianccedila natildeo domina bem a

estrutura de nenhuma das liacutenguasrdquo

Esta tese defendida por Dias sustenta a afirmaccedilatildeo avanccedilada anteriormente ligada a natildeo

domiacutenio de sequer uma das duas liacutenguas faladas por uma boa parte dos moccedilambicanos residentes

na periferia e na zona urbana no geral e agraves crianccedilas em idade escolar na zona rural e na zona

urbana em particular Este fenoacutemeno pode tomar a dianteira no insucesso escolar sucessivo dos

alunos no ensino secundaacuterio onde as exigecircncias tecircm sido maiores em relaccedilatildeo agraves classes do

ensino primaacuterio

Cerca de 86 do total dos inquiridos responderam incorrectamente a pergunta que exigia

os conhecimentos da gramaacutetica concretamente no que concerne a classe dos adjectivos isto eacute 43

alunos dos cinquenta natildeo conseguem identificar um adjectivo Somente 14 eacute que conseguiram

responder correctamente a esta questatildeo Olhando para estes dados eacute preciso questionar a

qualidade destes alunos que quase ou nada entendem da gramaacutetica expliacutecita que coincide com o

coacutedigo elaborado praticado no PEA

A este propoacutesito ressalta a ideia que vem veiculada nas hipoacuteteses segundo a qual existe

um deacutefice de estrateacutegias de ensino resultante da falta de professores com formaccedilatildeo cientifico-

pedagoacutegica nesta aacuterea de ensino de liacutengua portuguesa Este resultado eacute a prova do arrastamento

de dificuldades (nesta mateacuteria) a que se fez referecircncia nas respostas preacutevias Como se sabe no

acto de avaliaccedilatildeo pedagoacutegica da liacutengua portuguesa eacute inevitaacutevel a parte que exige o domiacutenio da

liacutengua Neste caso eacute evidente que 86 seja o nuacutemero suficiente para determinar o sucesso e

insucesso escolar Outra parte que compotildee a avaliaccedilatildeo eacute a produccedilatildeo escrita onde as influecircncias

das liacutenguas nacionais aparecem em lsquogrossorsquo a construccedilatildeo de frases gramaticalmente incorrectas

e algumas carentes de conteuacutedo que se espera neste niacutevel

Estes dois elementos tirando a compreensatildeo comportam a maior percentagem da

avaliaccedilatildeo daiacute por aquilo que se verificou nesta pesquisa esta tem sido a maior razatildeo do

147

insucesso escolar que por si soacute comporta a maior carga das influecircncias linguiacutesticas negativas no

PEA da liacutengua portuguesa como L2 e como liacutengua de ensino ndash o chamado coacutedigo elaborado

caracterizado pela gramaacutetica expliacutecita do ensino

Um outro pormenor que merece uma anaacutelise profunda eacute a leitura que eacute um instrumento

impulsionador da aprendizagem e se reveste daquilo que Gonccedilalves chamou de imput pois bem

concebida e didacticamente orientada pode fazer a diferenccedila nos aprendentes tirando o

lsquoestacionamento linguiacutestico caseirorsquo e moldando a cada passo a cultura linguiacutestica dos alunos

influenciando-os a uma linguagem proacutexima da formal

Segundo resultado dos dados recolhidos a maioria dos inquiridos lecircem em meacutedia

semestral 5 livros fora do ambiente escolar O que significa que 70 destes leu durante o

primeiro semestre 3 livros no miacutenimo e 30 natildeo leu nenhum livro

Em primeiro lugar eacute de referir que 30 eacute uma percentagem elevada dos que natildeo lecircem

tendo em consideraccedilatildeo o tempo de um semestre a localizaccedilatildeo da escola e das residecircncias destes

alunos e o proacuteprio niacutevel em que estes se encontram Poreacutem os 70 de frequecircncia positiva de

leitura satildeo suficientes para dizermos que a cultura de leitura existe no seio destes respondentes

Natildeo obstante o elevado nuacutemero de alunos que responderam positivamente quanto agrave frequecircncia

de leitura este natildeo eacute proporcional agrave capacidade de interpretaccedilatildeo dos textos lidos Satildeo exemplos

as respostas incorrectas demonstradas na interpretaccedilatildeo pois 56 dos inquiridos tiveram

problemas de compreensatildeo somente no que concerne a perguntas de interpretaccedilatildeo textual Por

conseguinte constatam-se algumas evidecircncias de insucesso escolar no seio destes

3 Consireraccedilotildees Finais

O insucesso escolar eacute uma realidade no seio desta camada estudantil que constituiu a

fonte dos dados acabados de ser analisados e discutidos Ele constitui um fenoacutemeno negativo

para o progresso acadeacutemico dos alunos do ensino secundaacuterio no geral da 10ordfclasse e da escola

que foi o campo do estudo

No entanto as liacutenguas Xichangana e Cicopi natildeo satildeo somente factores determinantes

para a ocorrecircncia do insucesso escolar neste grupo alvo Poreacutem eacute preciso frisar que estas duas

liacutenguas satildeo parte integrante de um conjunto de liacutenguas bantu nacionais que directa ou

indirectamente tecircm a sua contribuiccedilatildeo para o insucesso escolar Como diz LOPES (2001) na

aquisiccedilatildeo de uma L2 existe um contributo assinalaacutevel do L1 isto eacute verificaacutevel na situaccedilatildeo

concreta de bilinguismo em Moccedilambique

148

Entretanto o factor ldquoMeiordquo em que os alunos se encontram e convivem constitui um

impulsionador dominante para a ocorrecircncia do insucesso escolar que eacute resultado da praacutetica

massiva do coacutedigo linguiacutestico restrito que entra em choque com o coacutedigo linguiacutestico elaborado

coincidente com a liacutengua-alvo de ensino

A influecircncia do meio eacute tida como poacutelo dominador devido a sua atracccedilatildeo nesta faixa

etaacuteria GONCcedilALVES (1998) chamou a isto de imput que diz ter um papel bastante relevante na

apreensatildeo e treinamento das regras gramaticais da liacutengua de ensino e acrescenta ldquoeste imput eacute

condicionado pelo ambiente situacional em que os alunos se encontramrdquo

Por conseguinte as liacutenguas bantu locais o fraco imput da L2 e o meio lideram o grupo de

vaacuterios factores que contribuem para o insucesso escolar embora alguns autores considerarem o

insucesso escolar como sendo crenccedila mas o meio estaacute sempre na vanguarda Entretanto nem

todos os alunos registam o insucesso escolar dependendo das influecircncias do meio e da praacutetica

linguiacutestica quotidiana que traduzem a cultura e a vivecircncia de cada aluno

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Cadernos de Pesquisa nordm 24 INDE 2001

150

Jogos recreativos na Cidade de Nampula Os predilectos das crianccedilas das zonas

suburbanas

Domingos Carlos Mirione36

Resumo

O presente estudo tem como objectivo identificar os jogos predilectos das crianccedilas dos bairros suburbanos

da Cidade de Nampula-Moccedilambique Utilizou-se como teacutecnica de recolha de dados a observaccedilatildeo com

registo cursivo complementado com uma entrevista semi-estruturada Os resultados revelam que o jogo

predilecto das crianccedilas do sexo masculino eacute o futebol e para as do sexo feminino eacute o jogo de cartas

localmente conhecido como naripito O facto de as crianccedilas do sexo feminino optarem mais por jogos

passivos e de azar sugere implicaccedilotildees futuras negativas para esta geraccedilatildeo pelo que deveria-se reflectir

profundamente sobre essa tendecircncia

Palavras-chave Jogo Recreaccedilatildeo Actividade fiacutesica Sauacutede

Abstract

This study aimed to identify the most preferred games for the children of the suburban neighborhoods of

the city of Nampula Mozambique It was used as a technique for data collection observation with cursive

record complete with a semi-structured interview The results revealed that the most favorite game for

male children is football and the female is the card game locally known as naripito The fact that the

female children choose more for passive games and gambling suggests negative future implications for

this generation and should be deeply reflected on this trend

Keywords Game Recreation Physical activity Health

Introduccedilatildeo

O Jogo eacute uma das actividades mais estudadas pelos cientistas de diferentes aacutereas

pedagogos psicoacutelogos filoacutesofos bioacutelogos antropoacutelogos etc Por que tanto interesse pelo jogo

Porque o jogo eacute a essecircncia do ser humano a vida soacute eacute agradaacutevel quando se joga ORTIZ (2002)

cita Soacutefoles como tendo dito a ceacutelebre palavra ldquoaquele que se esqueceu de jogar que se afaste

do meu caminho porque para o homem eacute perigosordquo

36 Licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desporto e Mestre em Treino Desportivo de Crianccedilas e Jovens Assistente do

Curso de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desporto na Universidade Pedagoacutegica de Moccedilambique-Delegaccedilatildeo de Nampula

151

O jogo eacute multifaceacutetico e polisseacutemico presente em todas as culturas e ao longo da vida de

todo ser humano eacute uma atividade que exerce grande influecircncia na vida de uma crianccedila por ser

uma das atividades mais realizadas pela mesma

Nos Bairros Suburbanos da Cidade de Nampula eacute comum ver crianccedilas a praticarem

diversos jogos em campos na rua e ateacute nos quintais das casas Isso cria a curiosidade de saber

qual desses jogos eacute o predilecto das crianccedilas desses bairros

Dada a variedade dos jogos sua influecircncia pode variar de jogo para jogo havendo uns que

podem exercer uma influecircncia positiva e outros negativa

Identificar os jogos preferidos pelas crianccedilas pode facilitar a previsatildeo de futuros

comportamentos ou haacutebitos das crianccedilas nas fases subsequentes para aleacutem dos efeitos a longo

prazo

O jogo e suas caracteriacutesticas

O ser humano pratica actividades ao longo da vida denominadas luacutedicas que lhe servem de

distraccedilatildeo relaxamento recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ou entretenimento (ORTIZ 2002)

O vocaacutebulo jogo e jogar tecircm muitas aceitaccedilotildees e interpretaccedilotildees A palavra jogo para uns

significa entretenimento diversatildeo mas para outros ultrapassa esses limites conceptuais Como

afirmam CILLAS amp OMENtildeACA (1999) ldquoa diversatildeo a alegria a exploraccedilatildeo das proacuteprias

possibilidades e a relaccedilatildeo com os demais se manteacutem para aqueles que participam na

actividade luacutedica agrave margem das definiccedilotildees e categoriasrdquo

CILLAS amp OMENtildeACA (1999) depois de analisarem estudos sobre o jogo de 24 autores

elaboraram um quadro sinoacuteptico intitulado ldquoAs caracteriacutesticas do jogo desde uma perspectiva

teoacutericardquo onde eles identificam 8 caracteriacutesticas nomeadamente

1 O jogo daacute prazer e diverte

2 Constitui um desfrute dos meios

3 Eacute espontacircneo e voluntaacuterio livremente escolhido

4 Representa uma fonte de aprendizagem

5 Supotildee um acto de expressatildeo

6 Implica participaccedilatildeo activa

7 Possui pontos de encontro com outras condutas seacuterias

8 Constitui um mundo a parte

Nestas caracteriacutesticas distintivas do jogo estaacute impliacutecita a importacircncia do mesmo e por

conseguinte a pertinecircncia da sua praacutetica e promoccedilatildeo

152

Segundo ORTIZ (2002) ldquopode-se afirmar que o jogo possibilita o desenvolvimento

evolutivo em diferentes acircmbitos cognitivo-linguiacutestico social-afectivo fiacutesico e motrizrdquo Se

relacionarmos este entendimento ao conceito de sauacutede entatildeo chegariacuteamos a conclusatildeo de que o

jogo eacute promotor de sauacutede ou seja jogar eacute sauacutede

CORSINO (2000) define a sauacutede como ldquoo estado completo de bem estar fiacutesico mental

emocional social e espiritual e natildeo somente ausecircncia de doenccedila ou incapacidaderdquo

No entanto nem todo jogo eacute saudaacutevel Estudos feitos por OMAIS (2007) evidenciaram o

caraacutecter destrutivo dos jogos de azar O jogo de azar eacute entendido como aquele em que a vitoacuteria

depende mais da sorte do que da razatildeo e segundo a autora este tipo de jogo pode ldquoconduzir o

indiviacuteduo a desenvolver seacuterios problemas psiacutequicos e sociais assumindo a forma de uma

patologia o jogo patoloacutegicordquo

Entre os jogos de azar que podem conduzir ao jogo patoloacutegico estatildeo os jogos de cartas

bingos lotarias apostas em eventos desportivos maacutequinas de jogos electroacutenicos jogos de casino

e apostas pela internet (SPRITZER 2009)

Classificaccedilatildeo dos jogos

O facto de o jogo ser polimoacuterfico e polisseacutemico torna a sua classificaccedilatildeo muito difiacutecil

Vaacuterios autores como CAILLOIS (1958) HUIZINGA (1938) PIAGET (1964) DELVAL (1994)

OTERO (1994) PARLEBAS (2001) LOacutePEZ et al (2002) DOS ANJOS (2002) e outros

classificaram os jogos desde diferentes perspectivas e como resultado encontramos hoje na

literatura uma infinidade de classificaccedilotildees muitas delas com criteacuterios natildeo consentacircneos

Dada a natureza do presente trabalho destaca-se a classificaccedilatildeo de OTERO (1994) que

distingue os jogos em desportivos e recreativos Os jogos recreativos distinguem-se dos

desportivos pela ausecircncia de qualquer superestrutura institucional e consequentemente ausecircncia

de qualquer requisito burocraacutetico para a sua praacutetica nem precisando de treinador De facto o que

mais distingue os jogos recreativos dos outros eacute o objectivo pelo qual se joga recrear-se

divertir-se entreter-se

Outras classificaccedilotildees feitas pelos autores antes citados podem ser usadas nas

subclassificaccedilotildees dos jogos recreativos como por exemplo a classificaccedilatildeo feita por

ZAPAROZHANOVA amp LATYSHKEVICH (1996) citados por ORTIZ (2002) que distinguem

os jogos em activos onde integram todos aqueles que envolvem corridas saltos e lanccedilamentos e

natildeo activos onde integram o resto Integrando essa classificaccedilatildeo na classificaccedilatildeo de OTERO

(1994) teriacuteamos jogos recreativos activos e jogos recreativos natildeo activos ou passivos Eacute verdade

153

que uma anaacutelise mais detalhada poderia distinguir esses jogos recreativos em muito activos ou

super activos activos e passivos dependendo do grau de intensidade dos movimentos

envolvidos

Igualmente dentro dos jogos recreativos podemos integrar a classificaccedilatildeo de CAILLOIS

(1958) que distingue os jogos em

Jogos agonais (acircgon) que satildeo aqueles que implicam competiccedilatildeo entre os jogadores ou

equipa de jogadores

Jogos aleatoacuterios (alea) tambeacutem chamados de jogos de azar satildeo aqueles em que a vitoacuteria

natildeo depende muito do jogador mas sim da sorte do acaso como por exemplo jogo de

cartas bingo lotaria etc

Jogos ilusoacuterios (mimicry) satildeo simboacutelicos de imitaccedilatildeo simulacros a caracteriacutestica

principal eacute a representaccedilatildeo

Jogos vertiginosos (inlix) satildeo jogos associados a uma busca freneacutetica de uma situaccedilatildeo que

potildee o corpo numa exaustatildeo atingindo o frenesi momentacircneo poreacutem no maacuteximo de

ecircxtase Como exemplo temos os chamados desportos radicais ou de forte emoccedilatildeo

Assim tendo em conta estas classificaccedilotildees um jogo pode ser recreativo ou desportivo e

subclassificar-se em superactivo activo ou passivo e estes por sua vez em agonal aleatoacuterio de

ilusatildeo ou vertiginoso como mostra a tabela 1

Tabela 1 Classificaccedilatildeo dos jogos

O presente estudo teve como objectivo identificar os jogos predilectos das crianccedilas dos

bairros suburbanos da Cidade de Nampula

Jogo

Desportivo

Recreativo

Superactivo

Activo

Passivo

Agonal

Aleatoacuterio

Ilusoacuterio

Vertiginoso

154

Metodologia

O presente estudo eacute do tipo levantamento e teve como amostra dois Postos Administrativos

suburbanos da Cidade de Nampula nomeadamente o Posto Administrativo de Napipine e o

Posto Administrativo de Muatala

Utilizou-se como teacutecnica de recolha de dados a observaccedilatildeo com registo cursivo

complementado-se com uma entrevista semi-estruturada na qual os observadores devidamente

treinados e credenciados se deslocavam aos bairros nos periacuteodos de manhatilde das 08h00 agraves 10h00

horas e no periacuteodo da tarde das 14h30 agraves 16h30 horas de segunda a sexta-feira durante duas

semanas do periacuteodo de interrupccedilatildeo escolar Agrave medida que encontravam crianccedilas a jogar

registavam numa ficha todos os dados importantes referentes ao jogo e em caso de

desconhecimento de alguns dados como o nome do jogo e material usado entrevistavam alguns

membros do grupo de crianccedilas para o devido esclarecimento

Os dados recolhidos foram processados no pacote estatiacutestico SPSS para analisar a

frequecircncia da ocorrecircncia dos jogos tendo em conta o sexo dos praticantes

Os jogos mais observados ao longo das duas semanas foram considerados como os jogos

predilectos das crianccedilas

Resultados

A tabela 2 mostra os jogos e a frequecircncia que cada jogo foi observado a ser praticado pelas

crianccedilas ao longo dos 10 dias da recolha dos dados

Tabela 2 Frequecircncia de jogos

Nordm Nome do jogo Frequecircncia Percentagem

1 Futebol 40 336

2 Naripito 19 16

3 Berlinde 8 67

4 Cheia 7 59

5 Neca 6 5

6 Namacachantho 6 5

7 Banana 6 5

8 Zero 5 42

9 Phada 5 42

10 Pino 3 25

11 Saca 3 25

12 Isa-isa 2 17

13 Matraquilho 2 17

14 Salto a Corda 2 17

155

15 Desconto 2 17

16 Corrida de Pneus 1 08

17 Trinta e Cinco 1 08

18 Dama 1 08

Total 119 100

Como mostra a tabela em termos gerais o jogo de futebol foi o que com mais frequecircncia

se encontrou as crianccedilas a praticarem com uma frequecircncia de 40 correspondente a 336

seguido de naripito com uma frequecircncia de 19 correspondente a 16 berlinde com uma

frequecircncia de 8 correspondente a 67 Cheia com uma frequecircncia de 7 correspondente a 59

Os jogos neca namacachantho e banana foram observados com a mesma frequecircncia 6

que corresponde a 50 do total das observaccedilotildees seguido do jogo zero e phada observados 5

vezes cada que corresponde a 42

Os jogos de pino e saca foram observados com a mesma frequecircncia de 3 que corresponde

a 25 para cada jogo A esses jogos seguem os jogos de matraquilho salto a corda e desconto

com uma frequecircncia de 2 correspondente a 17 cada

Em uacuteltimo lugar estatildeo os jogos de corrida de pneus dama e jogo 35 que foram observados

1 vez apenas cada um deles uma frequecircncia correspondente a 08 cada

Em funccedilatildeo do sexo foram identificados 8 jogos realizados exclusivamente por crianccedilas do

sexo masculino com maior frequecircncia para o futebol seguido de berlinde (tabela 3)

Tabela 3 Frequecircncia de jogos sexo masculino

Nordm Nome do jogo Frequecircncia acumulada

1 Futebol 40 667 667

2 Berlinde 8 133 800

3 Pino 3 50 850

4 Naripito 3 50 900

5 Desconto 2 33 933

6 Matraquilhos 2 33 966

7 Dama 1 17 983

8 Corrida de pneus 1 17 1000

Total 60 1000

Jaacute para o sexo feminino foram identificados 10 jogos realizados exclusivamente por

crianccedilas do sexo feminino com maior frequecircncia para o jogo naripito seguido de neca (tabela 4)

Tabela 4 Frequecircncia de jogos sexo feminino

Nordm Nome do jogo Frequecircncia acumulada

1 Naripito 13 271 271

2 Neca 6 125 396

156

3 Zero 5 104 500

4 Namacachantho 5 104 604

5 Banana 5 104 708

6 Phada 5 104 812

7 Cheia 4 83 895

8 Salto de corda 2 42 937

9 Isa-isa 2 42 979

10 Trinta e cinco 1 21 1000

Total 48 100

Em cinco jogos estiveram a participar tanto crianccedilas de sexo masculino como crianccedilas de

sexo feminino (tabela 5)

Tabela 5 Frequecircncia de jogos praticados por grupos mistos

Nordm Nome do jogo Frequecircncia

1 Saca 3 273

2 Naripito 3 273

3 Cheia 3 273

4 Banana 1 91

5 Namacachantho 1 91

Total 11 100

Discussatildeo

Em termos gerais o jogo de futebol e o jogo de naripito satildeo os predilectos das crianccedilas

O jogo recreativo de futebol praticado por estas crianccedilas tem certas particularidades

diferentes do jogo desportivo de futebol tendo em conta a classificaccedilatildeo referenciada no presente

estudo Eacute um jogo em que o mais importante eacute divertir-se pelo que natildeo eacute exclusivo mas sim

inclusivo sem regras restritas como o caso do nuacutemero de jogadores dimensotildees tanto do espaccedilo

como dos implementos do jogo o tempo de duraccedilatildeo de jogo etc Todos esses aspectos satildeo

definidos pelos proacuteprios jogadores e natildeo precisam nem sequer de um aacuterbitro para zelar pelo

cumprimento das regras Todos satildeo aacuterbitros pelo que todos ficam atentos agraves infracccedilotildees das

regras do jogo

Caso o nuacutemero de jogadores for iacutempar um dos jogadores que eacute conhecido como jogador

galo integra por um periacuteodo de tempo uma equipa e noutro periacuteodo integra a outra equipa ou

entatildeo eacute integrado definitivamente na equipa que estiver a perder para equilibrar o jogo o que

mostra que nesses jogos o mais importante natildeo eacute ganhar mas sim divertir-se

A preferecircncia do jogo de futebol por parte das crianccedilas da Cidade de Nampula pode dever-

se a popularidade do futebol como desporto tanto a niacutevel mundial como agrave niacutevel de Moccedilambique

ao avaliar pela sua divulgaccedilatildeo nos oacutergatildeos de informaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos outros desportos

Todos os jogos recreativos de futebol registados foram praticados absolutamente por

crianccedilas de sexo masculino Isso pode indicar que para essas crianccedilas o futebol eacute um desporto

157

para indiviacuteduos do sexo masculino e isso pode ser resultado de influecircncias culturais onde ainda

persiste a divisatildeo de trabalho por sexo ou seja existem actividades tidas como masculinas e

actividades tidas como femininas Em Moccedilambique ateacute o ano de 2012 o uacutenico campeonato de

futebol devidamente estabelecido e cuja praacutetica eacute regular e bem divulgada pelos principais

oacutergatildeos de informaccedilatildeo eacute o campeonato masculino

Isso pode ter influecircncia no pensamento das crianccedilas que faz com que elas pensem que o

futebol eacute para os homens e natildeo para as mulheres

O segundo jogo predilecto foi o jogo de naripito Trata-se de um jogo recreativo de cartas

cujo preacutemio satildeo ripitos que satildeo contas de diferentes cores que as crianccedilas de sexo feminino

usam para enfeitar o cabelo Pode-se classificar como um jogo recreativo passivo aleatoacuterio ou

seja jogo de azar onde cada crianccedila aposta uma determinada quantidade de contas ou bijutarias

chamadas na liacutengua local de ripitos

Eacute um jogo recreativo eminentemente feminino embora dos 18 registos tenha havido 3 em

que eram jogados por crianccedilas do sexo masculino e 3 em que se encontravam a jogar de forma

mista crianccedilas tanto do sexo feminino como do sexo masculino

Quando praticado pelas crianccedilas do sexo masculino em vez de apostar os ripitos muitas

vezes apostam dinheiro

Esses resultados sobre a preferecircncia de um jogo alea por parte das crianccedilas de sexo

feminino exige uma reflexatildeo dado aos estudos que indicam o perigo desses jogos Eacute mais

provaacutevel que com o avanccedilar da idade essas crianccedilas passem de aposta de ripitos para aposta de

dinheiro ou joias conduzindo-as ao jogo patoloacutegico cujos efeitos negativos foram comprovados

em estudos de OMAIS (2007) e GALETTI AT AL (2008)

OMAIS (2007) refere que os jogos patoloacutegicos fragilizam os viacutenculos familiares e causam

no jogador sensaccedilotildees desagradaacuteveis como culpa vergonha tristeza humilhaccedilatildeo ressentimento e

raiva depressatildeo ansiedade perda de amizades como consequecircncia de actos ilegais cometidos

pelo jogador para financiar o jogo

Diferentemente do futebol que eacute um jogo recreativo superiactivo e agonal e que por

conseguinte pode contribuir muito na aptidatildeo fiacutesica para a sauacutede dessas crianccedilas o naripito natildeo

soacute eacute um jogo recreativo alea mas tambeacutem passivo o que pode criar futuros haacutebitos sedentaacuterios

nessas crianccedilas

Eacute verdade que pela forccedila da cultura as crianccedilas de sexo feminino fora da escola dedicam-

se mais a actividades activas inseridas nas tarefas domeacutesticas como carregar aacutegua cozinhar o

que pode justificar a preferecircncia pelos jogos passivos nos tempos livres no entanto mereceria um

158

estudo especiacutefico para provar ou rejeitar essa hipoacutetese uma vez que namacaxantho (jogo de

pedrinhas) que eacute outro jogo que se pode classificar como passivo jaacute que se joga sentado

lanccedilando e encaixando uma pedrinha que natildeo pesa mais que 50 gramas teve apenas uma

frequecircncia de 5 correspondente a 104 contra 271 de naripito o que sugere que a motivaccedilatildeo

para a maior preferecircncia no jogo naripito natildeo estaacute no facto de ser um jogo passivo mas sim no

facto de ser um jogo de sorte

O resto dos jogos preferidos pelas crianccedilas de sexo feminino que constituem

aproximadamente 625 de frequecircncia podem ser considerados jogos activos nomeadamente

Neca zero phada salto de corda e isa-isa que envolvem saltos banana cheia e trinta e

cinco que envolvem corridas e lanccedilamentos de bola

Dos 18 jogos identificados 13 jogos que constitui 722 podem ser considerados de

activos ou superactivos Um estudo feito por PRISTA (1995) na Cidade de Maputo constatou

que as brincadeiras das crianccedilas envolvem ldquomovimentos relativamente intensosrdquo o que parece

ser caracteriacutestico dos bairros suburbanos da Cidade de Nampula

Quanto agraves crianccedilas do sexo masculino a frequecircncia de jogos activos foi de

aproximadamente 767 nomeadamente futebol pino (movimentos acrobaacuteticos do solo)

desconto (jogo que se usa bola de futebol e que cada jogador situado na sua aacuterea delimitada por

linhas no chatildeo trata de defender a aacuterea com qualquer parte do corpo menos com a matildeo para

que a bola natildeo caia na sua aacuterea Cada vez que a bola pica na aacuterea de um jogador de 20 ou 100

desconta 5 pontos Aquele que desconta ateacute zero eacute eliminado do jogo ateacute se achar o campeatildeo e

corrida de pneus que eacute um jogo mimicry mas que tambeacutem agraves vezes as crianccedilas o transformam

em um jogo agonal consiste em correr rolando um pneu seja de motociclo ou de automoacutevel

O resto dos jogos preferidos pelas crianccedilas do sexo masculino com uma frequecircncia de

aproximadamente 233 podem ser considerados passivos nomeadamente berlinde (em outros

paiacuteses lusoacutefonos eacute conhecido como jogo de gude que eacute um jogo de bolinhas de vidro que satildeo

lanccediladas desde uma determinada distacircncia para caiacuterem numa cova e depois procura-se impactar a

bolinha do adversaacuterio para eliminaacute-lo) Naripito matraquilho (jogo de futebol de ficccedilatildeo

efectuado numa maacutequina que para soltar as bolas que satildeo usadas no jogo deve-se colocar uma

moeda) e dama (jogo de mesa que usa fichas ou dados que satildeo movimentados num tabuleiro

quadriculado)

Para as crianccedilas do sexo feminino os jogos activos tiveram uma frequecircncia de 625 e

foram Neca Zero (conhecido tambeacutem por salto de elaacutestico eacute um jogo que envolve saltos

verticais sucessivos de uma corda elaacutestica) Banana (jogo de mata-mata com bola) Phada (uma

159

variante de neca mas que usa uma figura desenhada no chatildeo de duas colunas de quadrados que

se passam a peacute cochinho) Cheia (jogo de mata-mata mas que usa uma garrafa no meio que se

procura encher de arreia) Salto de Corda Isa-isa (um jogo de agilidade que envolve saltos em

diferentes direcccedilotildees frente atraacutes e laterais) e trinta e cinco (jogo de mata-mata parecido com

beisebol em que o jogador tem que passar por quatro bases sem ser tocado com a bola para

ganhar)

Ainda 375 da frequecircncia foi constituiacuteda por jogos que podem ser considerados de

passivos nomeadamente Naripito e Namacaxantho

Em termos de diversidade as meninas tecircm mais jogos activos do que os meninos mas em

termos de praacutetica os meninos se dedicam mais a jogos activos do que as meninas

Isso subentende que embora as meninas tenham mais opccedilotildees recreativas elas preferem

mais jogos recreativos passivos do que os meninos

De todos os jogos identificados apenas um pode ser classificado como ilusoacuterio o jogo de

matraquilho um pode ser classificado de vertiginoso o jogo de pino ainda um pode ser

classificado de aleatoacuterio o jogo de naripito e o resto dos jogos podem ser classificados de

agonais o que mostra a maior componente competitiva dos jogos praticados por essas crianccedilas

Dos 18 jogos identificados apenas em quatro jogos foram encontrados a jogarem juntas

crianccedilas do sexo masculino e crianccedilas do sexo feminino

O facto de poucas vezes ter-se encontrado crianccedilas de ambos os sexos a praticarem o

mesmo jogo juntas pode ser justificado pela proacutepria faixa etaacuteria preacute-puberdade e puberdade Agrave

medida que a crianccedila cresce cria sua identidade sexual vai-se identificando com o seu sexo e

consequentemente procura juntar-se agrave crianccedilas que tenham a mesma identidade sexual

Conclusatildeo

Foram identificados 18 jogos praticados por crianccedilas da Cidade de Nampula e desses os

predilectos em ordem decrescentes satildeo futebol naripito berlinde cheia e neca sendo futebol e

berlinde os jogos preferidos pelas crianccedilas do sexo masculino e naripito e neca os preferidos

pelas crianccedilas do sexo feminino

Destes 722 dos jogos identificados podem ser classificados de activos ou superactivos

o que indica existecircncia ainda de opccedilotildees recreativas saudaacuteveis para as crianccedilas da Cidade de

Nampula

Em termos de diversidade de jogos as crianccedilas do sexo feminino tecircm jogos mais

diversificados do que as crianccedilas do sexo masculino e em termos de classificaccedilatildeo dos mesmos

160

as crianccedilas do sexo feminino tecircm mais jogos activos do que as crianccedilas do sexo masculino no

entanto na opccedilatildeo recreativa as crianccedilas do sexo feminino optam mais por jogos passivos do que

as crianccedilas do sexo masculino A maiorias dos jogos recreativos identificados satildeo agonais no

entanto a maioria dos jogos optados pelas crianccedilas do sexo feminino satildeo aleatoacuterios ou de azar

O facto de as crianccedilas do sexo feminino optarem mais por jogos passivos e de azar sugere

implicaccedilotildees futuras negativas para esta geraccedilatildeo pelo que dever-se-ia refletir profundamente

sobre essa tendecircncia

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162

Crescimento somaacutetico e aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede Um estudo em

alunos da Cidade da Beira Moccedilambique

Djossefa Joseacute Nhantumbo37

Bridgette Simone Bruce-Nhantumbo38

Resumo

O presente estudo teve como objectivo avaliar o Crescimento somaacutetico e a Aptidatildeo Fiacutesica Relacionada agrave

Sauacutede (AptFS) em alunos dos 6 aos 14 anos da Cidade da Beira Moccedilambique Eacute um estudo de caraacutecter

descritivo comparativo e transversal envolvendo uma amostra de 883 alunos (451 rapazes e 432

raparigas) que foram submetidos agrave bateria de testes FITNESSGRAM para a avaliaccedilatildeo da AptFS O

crescimento somaacutetico foi avaliado de acordo com a padronizaccedilatildeo descrita por LOHMAN et al (1998)

tendo o IMC sido determinado dividindo o valor do peso pelo quadrado da altura em metros

(pesoaltura2) sendo expresso em kgm2 A anaacutelise de dados foi realizada atraveacutes do pacote estatiacutestico

SPSS 150 e o niacutevel de significacircncia foi fixado em 005 Os resultados mostram que tanto as meninas

como os meninos apresentam valores meacutedios estatuto ponderais abaixo do recomendado para as idades

consideradas no presente estudo pese a que as meninas espelham valores mais elevados de IMC Na

maior parte dos intervalos etaacuterios a Aptidatildeo Fiacutesica aumenta com o avanccedilo da idade sendo que os rapazes

evidenciaram melhores niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica em quase todas as provas em relaccedilatildeo agraves raparigas o

maior desempenho da Aptidatildeo Fiacutesica registou-se na prova de elevaccedilatildeo do tronco em ambos os sexos

enquanto o menor desempenho registou-se na prova de corrida de 1600 metros em que foram evidentes

em ambos os sexos niacuteveis abaixo do recomendado na maior parte das provas fiacutesicas seleccionadas para o

presente estudo excepto nas idades 6 e 9 Embora natildeo tenha sido efectuada uma correlaccedilatildeo linear entre

estas variaacuteveis parece existir uma inter-relaccedilatildeo entre os niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica com os valores de IMC

cuja inteligibilidade carece de mais estudos contextualizados Palavras ndash Chaves Aptidatildeo Fiacutesica IMC Alunos

Abstract

The present study had as objective to evaluate somatic growth and Physical Fitness associated to Health

in students aged 6 to 14 years from the City of Beira Mozambique Itacutes a descriptive-comparative and

transversal study which involved a sample of 883 pupils (451 boys and 432 girls) who were submitted to

Fitnessgram battery of test to measure Physical Fitness Related to Health Somatic growth was evaluated

according to LOHMAN et al (1998) standardized method and BMI was determined by dividing the

value of the weight by the square of height in meters (IMC=WeightHeightsup2) Data analysis was

performed in the SPSS statistical program version 15 and the significance level was set at 005 The

results show that both girls and boys present somatic average values below to those recommended for the

ages of the present study although the girls show higher values of Body Mass Index in most age ranges

the Physical Fitness increases as the age advances even so the boys showed better levels in almost all the

tests if compared to the girls the best performance was in the test trunk lift which occurred in both

genders while the worst performance was in the mile race in which both boys and girls performed above

recommended in almost all the tests selected for the present study excepting the ages 6 and 9 Although

there has not been a linear correlation analysis between these variables there appears to be an

interrelationship between levels of Physical Fitness with BMI whose intelligibility needs more

contextualized studies

Keywords Physical Fitness Body Mass Index Students

37 Licenciado em EF e Desporto Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de EF e Desporto Doutorando em Educaccedilatildeo

especializaccedilatildeo em Metodologia de Investigaccedilatildeo Educacional pela Universidad Iberoamericana (UNINI) 38 Licenciada em EF e Desporto Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de EF e Desporto Doutoranda em Educaccedilatildeo

especializaccedilatildeo em Metodologia de Investigaccedilatildeo Educacional pela Universidad Iberoamericana (UNINI)

163

Introduccedilatildeo

A praacutetica regular de Actividade Fiacutesica sistematizada na infacircncia e na adolescecircncia pode

favorecer o desenvolvimento ou a manutenccedilatildeo de niacuteveis adequados de Aptidatildeo Fiacutesica reduzindo

o risco de incidecircncia de inuacutemeras disfunccedilotildees croacutenico degenerativas em idades precoces

(RONQUE et al 2007) Embora sejam vaacuterios os elementos necessaacuterios para aquisiccedilatildeo de

habilidades muitos desportos enfatizam capacidades fiacutesicas especiacuteficas por exemplo os

halterofilistas precisam de forccedila os maratonistas de resistecircncia muscular e cardiovascular entre

outros A danccedila requer o desenvolvimento de vaacuterios componentes pois movimentos como o

ldquogrande saltordquo necessita tanto de flexibilidade quanto de forccedila e para realizar equiliacutebrio fora do

centro de gravidade ou passos raacutepidos e intrincados na ponta deve-se possuir refinada

coordenaccedilatildeo neuromuscular (GREGO et al 2006)

Nas uacuteltimas trecircs deacutecadas numerosos trabalhos tecircm consistentemente demonstrado que altos

niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica estatildeo associados agrave diminuiccedilatildeo do risco de doenccedila arterial coronaacuteria

diabetes hipertensatildeo e osteoporose (PITANGA 2002)

O desenvolvimento da Aptidatildeo Fiacutesica assim como do desporto nas suas diferentes formas

de manifestaccedilatildeo satildeo objectivos a serem alcanccedilados nos programas de Educaccedilatildeo Fiacutesica (EF) e de

desporto nos quais o indiviacuteduo eacute submetido a um processo de treino Para tanto eacute necessaacuterio que

o profissional de EF ou Desporto tenha conhecimento destes conceitos e suas relaccedilotildees (BOumlHME

2003)

O desenvolvimento motor eacute um processo sequencial relacionado agrave idade cronoloacutegica

traduzido pela interacccedilatildeo entre os requisitos das tarefas a biologia do indiviacuteduo e as condiccedilotildees

ambientais sendo inerente agraves mudanccedilas sociais intelectuais e emocionais (GALLAHUE amp

OZMUN 2001) Eacute na infacircncia particularmente no iniacutecio do processo de escolarizaccedilatildeo que

ocorre um amplo incremento das habilidades motoras o que possibilita agrave crianccedila um amplo

domiacutenio do seu corpo em diferentes actividades saltar correr rastejar chutar uma bola lanccedilar

um arco equilibrar-se num peacute escrever entre outras (SANTOS et al 2004)

A infacircncia e a adolescecircncia satildeo periacuteodos criacuteticos poreacutem extremamente importantes

estando associados a aspectos de conduta e solicitaccedilatildeo motora jaacute que nesta fase do

desenvolvimento humano aleacutem das implicaccedilotildees fisioloacutegicas relacionadas agrave maturaccedilatildeo bioloacutegica

o organismo eacute sensiacutevel agrave influecircncia de factores ambientais e comportamentais tanto de natureza

positiva como negativa (GUEDES amp GUEDES 2006)

164

Assim o acompanhamento dos iacutendices de desempenho motor de crianccedilas e adolescentes

pode contribuir de forma decisiva na tentativa de promover a praacutetica de Actividade Fiacutesica no

presente e para toda a vida Para tal as experiecircncias motoras devem fazer parte do dia-a-dia das

crianccedilas e adolescentes pois satildeo representadas por toda e qualquer actividade corporal realizada

em casa na escola e nas brincadeiras

Com efeito e conforme LUGUETTI et al (2010) enfatizam verificar os aspectos da

AptFS de jovens poderaacute contribuir de forma decisiva na tentativa de promoccedilatildeo da sauacutede

colectiva

Os estudos centrados no crescimento somaacutetico e Aptidatildeo Fiacutesica realizados em

Moccedilambique que pelo seu valor constituem-se como referecircncias (PRISTA et al 1997 PRISTA

et al 2002 SARANGA et al 2002) foram realizados em contexto urbano concretamente com

crianccedilas e jovens de Maputo existindo apenas um uacutenico estudo de referecircncia que se insere neste

domiacutenio que foi realizado com crianccedilas e jovens moccedilambicanos em idade escolar vivendo em

contextos rurais (NHANTUMBO 2007)

Todavia e ateacute aos dias que correm natildeo existem dados sistematizados no domiacutenio dos

padrotildees de crescimento somaacutetico e Aptidatildeo Fiacutesica referentes agraves outras aacutereas de Moccedilambique Por

conseguinte do ponto de vista eacutetnico orograacutefico e de assimetrias socioeconoacutemicas regionais a

populaccedilatildeo de Moccedilambique eacute heterogeacutenea o que justifica a necessidade e extrema importacircncia de

avaliar a variabilidade destes indicadores em todas as regiotildees do paiacutes Foi neste contexto que no

acircmbito do presente estudo foram consideradas algumas variaacuteveis somaacuteticas e de AptFS no

sentido de examinar e caracterizar a expressatildeo destes indicadores no seio de crianccedilas e jovens da

cidade da Beira

Crescimento somaacutetico

As modificaccedilotildees no estilo de vida das pessoas vecircm acometendo grandes transformaccedilotildees

sociais isto eacute na actualidade o trabalho as novas tecnologias e sobretudo as mudanccedilas nos

haacutebitos alimentares associadaso agrave inactividade fiacutesica estatildeo proporcionando alteraccedilotildees

significativas no tocante agraves alteraccedilotildees morfoloacutegicas dos indiviacuteduos (MOREIRA et al 2010)

Sendo assim a monitorizaccedilatildeo do crescimento resulta ser um procedimento

internacionalmente aceite para aferir as condiccedilotildees de sauacutede e qualidade de vida de um

determinado paiacutes ou regiatildeo (TANNER 1987 MALINA amp BOUCHARD 1991) embora o

165

crescimento corporal seja tambeacutem em muitos paiacuteses um indicador de sauacutede mais relevante do

que qualquer informaccedilatildeo acerca do valor do produto interno bruto (PRISTA et al 2000)

Outrossim o conhecimento do estado de crescimento e desenvolvimento de uma

populaccedilatildeo eacute de extrema importacircncia pois revela na realidade resultados relevantes aos

educadores pediatras nutricionistas pais e gestores na perspectiva de trazer agrave luz as

necessidades contemporacircneas que estejam associadas agrave sauacutede e ao bem-estar (MAIA et al

2007)

A informaccedilatildeo do crescimento somaacutetico e do desempenho motor de crianccedilas e jovens eacute de

primordial importacircncia natildeo soacute para profissionais de Desporto e de Educaccedilatildeo Fiacutesica mas

tambeacutem e sobretudo para Nutricionistas Pediatras e peritos em Sauacutede Puacuteblica (MAIA et al

2006)

Em termos antropomeacutetricos crescimento consiste no aumento e nas modificaccedilotildees dos

componentes corporais tanto longitudinais como transversais sendo que apoacutes o primeiro ano a

fase mais acelerada eacute a adolescecircncia (WALRICK amp DUARTE 2000)

Historicamente profissionais da aacuterea de sauacutede tecircm utilizado a estatura e a massa corporal

como medidas para avaliar as alteraccedilotildees no crescimento e essas medidas antropomeacutetricas podem

ser usadas a niacutevel individual e populacional para obter informaccedilotildees sobre comprometimento da

sauacutede ou o bem-estar nutricional e para obter informaccedilotildees sobre o estado nutricional de um paiacutes

comunidade grupo socioeconoacutemico e para estudar os determinantes e consequecircncias da maacute

nutriccedilatildeo respectivamente (BERGMANN et al 2008)

Tambeacutem pode ser visto como um encadeamento de fenoacutemenos de ordem celular

fisioloacutegica e morfoloacutegica predeterminados geneticamente e modificaacuteveis pelos fenoacutemenos que

traduzem o meio ambiente mesmo quando o componente geneacutetico natildeo possa anular a influecircncia

ambiental (SILVA NETO 1999)

O crescimento e desenvolvimento passam por fases definidas mais ou menos susceptiacuteveis

agraves influecircncias geneacuteticas e ambientais onde os primeiros anos de vida satildeo mais susceptiacuteveis aos

estresses alimentares doenccedilas infecciosas niacutevel socioeconoacutemico e dependecircncia cultural da

famiacutelia no tratamento com a sauacutede As alteraccedilotildees saudaacuteveis na composiccedilatildeo corporal durante o

crescimento implicam uma imediata disponibilidade de nutrientes seja em qualidade e

quantidade para a actualizaccedilatildeo dos incrementos dos valores estatuto ponderais esperados para

uma determinada idade e contexto socioeconoacutemico favoraacutevel (SARANGA et al 2007)

No entanto o crescimento fiacutesico e em especial a performance motora vecircm merecendo

particular destaque em pesquisas com a finalidade de documentar e compreender diversos

166

aspectos relacionados agrave sauacutede de uma determinada populaccedilatildeo (PRADO 2000) Isto faz com que

o crescimento e desenvolvimento fiacutesico juntamente com o desempenho motor mereccedilam uma

particular abordagem em pesquisas que buscam documentar e compreender a diversidade de

aspectos relacionados agrave sauacutede de determinada populaccedilatildeo (BARBOSA et al 2008)

Estudos tecircm vindo a denunciar a influecircncia preponderante do factor ambiental sobre o

estado de crescimento e desenvolvimento de crianccedilas e adolescentes o que inclui entre outros

as condiccedilotildees socioeconoacutemicas das famiacutelias e inegavelmente factores geneacuteticos que determinam

toda essa complexa intensa e veloz transformaccedilatildeo ocorrida no organismo humano (JOHNSTON

amp MACVEAN 1995 PRADO 2000)

A relevacircncia desses estudos reside no facto de que o crescimento principalmente nos

paiacuteses em desenvolvimento configurar-se como um importante meio para avaliaccedilatildeo das

condiccedilotildees de sauacutede de crianccedilas e jovens tendo em vista que constitui um dos indicadores de

qualidade de vida de um pais alem disso o acompanhamento do crescimento durante a infacircncia

e adolescecircncia possibilita a comparaccedilatildeo dos iacutendicies individuais com os valores apresentados

pelo grupo ou com referencias preestabelecidas possibilitando assim o diagnoacutestico precoce de

possiacuteveis problemas de subnutriccedilatildeo ou de sobrepeso e obesidade (BERGMANN et al 2008)

Aptidatildeo fiacutesica

O incremento galopante do sedentarismo nas sociedades modernas e industrializadas tem

sido associado a factores de risco de um complexo espectro de condiccedilotildees moacuterbidas bem como

ao estabelecimento de relaccedilotildees entre Aptidatildeo Fiacutesica e sauacutede fundamentalmente a partir de uma

oacuteptica epidemioloacutegica (NHANTUMBO et al 2006)

O que realmente se tem verificado eacute que o modo de vida contemporacircneo induz as pessoas

ao sedentarismo e agrave adopccedilatildeo de haacutebitos alimentares inadequados que por sua vez estatildeo

intimamente relacionados a uma maior morbidade e mortalidade (BIM amp JUNIOR 2005)

Vaacuterias tentativas tecircm sido feitas para melhorar a Aptidatildeo Fiacutesica em crianccedilas

principalmente no meio escolar atraveacutes do aumento do conhecimento e da praacutetica de actividades

fiacutesicas apesar de saber-se que estas medidas embora importantes natildeo satildeo tatildeo eficazes devido agrave

forte interferecircncia dos meios de comunicaccedilatildeo verbais escritos e principalmente visuais no dia-a-

dia da crianccedila o que supera qualquer tentativa de fazer com que a crianccedila tenha um

comportamento fiacutesico activo e uma alimentaccedilatildeo a mais saudaacutevel possiacutevel (PINHO amp

PETROSKI 1999)

167

Outro aspecto importante eacute que no mundo existe uma forte preocupaccedilatildeo no sentido de

determinar e atribuir significado pedagoacutegico e epidemioloacutegico aos niacuteveis de AptFS o que tem

por conseguinte conduzido a investigaccedilatildeo a dirigir o seu olhar para populaccedilotildees diferenciadas em

termos etaacuterios e contextuais (SANTOS et al 2010)

Compreendendo os benefiacutecios que a praacutetica da Actividade Fiacutesica regular promove na

melhoria da qualidade de vida desperta-nos a atenccedilatildeo no que concerne agrave relaccedilatildeo entre as

actividades fiacutesicas e os iacutendices de Aptidatildeo Fiacutesica para o estado de sauacutede global das pessoas

principalmente na infacircncia e na adolescecircncia (MARCHESONI et al 2011)

A Aptidatildeo Fiacutesica eacute um indicador fundamental do niacutevel de sauacutede individual e comunitaacuterio

aleacutem de possuir reconhecida associaccedilatildeo entre os haacutebitos de Actividade Fiacutesica o estado de sauacutede

e o bem-estar sendo de grande utilidade tanto para os profissionais de EF como para os da aacuterea

de sauacutede por conter informaccedilotildees relevantes acerca das caracteriacutesticas de uma determinada

populaccedilatildeo em seu local de actuaccedilatildeo (VERARDI et al 2007)

Com o aumento do sedentarismo e a diminuiccedilatildeo dos niacuteveis de actividade fisica em crianccedilas

e adolescentes na fase escolar a Aptidatildeo Fiacutesica converteu-se num motivo de grande interesse

para os profissionais na aacuterea de sauacutede (TOMKINSON amp OLDS 2007 MOJICA et al 2008

CLELAND et al 2008)

Sabe-se que os niacuteveis satisfatoacuterios de AptFS podem para aleacutem de favorecer a prevenccedilatildeo

manutenccedilatildeo e melhoria da capacidade funcional reduzir a probabilidade do desenvolvimento de

inuacutemeras disfunccedilotildees de caraacutecter croacutenico degenerativo tais como obesidade diabetes doenccedilas

cardiovasculares hipertensatildeo entre outras proporcionando consequentemente melhores

condiccedilotildees de sauacutede e qualidade de vida agrave populaccedilatildeo (BOREHAM amp RIDDOCH 2001)

O desenvolvimento da Aptidatildeo Fiacutesica assim como do desporto nas suas diferentes formas

de manifestaccedilatildeo satildeo objectivos que devem ser alcanccedilados em programas de EF e do desporto

em particular nos quais o indiviacuteduo eacute submetido a um processo de treino sendo para tal

necessaacuterio que o profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica ou Desporto tenha conhecimento destes

conceitos e suas respectivas relaccedilotildees jaacute que o desporto e a Aptidatildeo Fiacutesica tecircm em comum o

facto de se desenvolverem por meio de actividades fiacutesicas em que a realizaccedilatildeo do desporto se

daacute principalmente por actividades fiacutesicas denominadas acccedilotildeesactividades desportivas

(BOumlHME 2003)

Avaliar os niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica deve ser o primeiro passo para identificar um estado

que predispotildee a sauacutede e deve-se neste contexto incentivar uma constante revisatildeo dos programas

168

de EF escolar para preservaccedilatildeo de niacuteveis satisfatoacuterios de sauacutede (BOELHOUWER amp BORGES

2002)

Eacute importante ainda salientar que o mais fundamental eacute desenvolver no aluno a

consciencializaccedilatildeo e formaccedilatildeo para que ele possa praticar Actividade Fiacutesica fora do acircmbito

escolar sabendo da sua importacircncia para a sauacutede e assim influenciar outras pessoas agrave essa

praacutetica Ademais a Aptidatildeo Fiacutesica apresenta caracteriacutesticas individualizadas de acordo com as

necessidades proacuteprias de actividades fiacutesicas de cada ser humano possuindo elementos

qualitativos de acordo com o modo de vida e apresenta variaccedilotildees entre os indiviacuteduos assim

como durante as diferentes fases da vida do proacuteprio indiviacuteduo nas quais ele possa ser mais ou

menos activo (Boumlhme 2003)

Resulta importante ver a aptidatildeo desde uma perspectiva total na qual se iria referir agrave

totalidade biopsicossocial do homem isto eacute agrave realidade de o indiviacuteduo estar apto para todas as

suas necessidades do ponto de vista bioloacutegico psicoloacutegico e social levando-o a uma integraccedilatildeo

adequada ao meio ambiente onde estaacute inserido ou seja seria o resultado directo da interacccedilatildeo

das suas caracteriacutesticas geneacuteticas com o meio ambiente com que estaacute relacionado e o seu

fenoacutetipo (BOumlHME 1993) Os componentes que englobam a AptFS compreendem os factores

motores (flexibilidade e forccedilaresistecircncia muscular localizada) funcionais (aptidatildeo

cardiorrespiratoacuteria) morfoloacutegicos (anaacutelise da composiccedilatildeo corporal) fisioloacutegicos e

comportamentais (PEZZETA et al 2003)

Referir que Aptidatildeo Fiacutesica sauacutede e qualidade de vida relacionada agrave sauacutede satildeo variaacuteveis

com um alto grau de associaccedilatildeo Existe uma tendecircncia a uma maior prevalecircncia dos niacuteveis de

sedentarismo quando se inicia a vida adulta e essa populaccedilatildeo adulta jovem tende a ser

aparentemente saudaacutevel por ausecircncia de sintomas muito embora esse grupo tenda a apresentar

factores de risco que potencialmente levaratildeo a doenccedilas hipocineacuteticas

Em decorrecircncia do sedentarismo cada vez mais prevalente esse grupo populacional tende

a apresentar niacuteveis progressivamente menores de Aptidatildeo Fiacutesica de sauacutede e de qualidade de vida

(ARAUacuteJO amp ARAUacuteJO 2000) Como eacute evidente natildeo existe um conceito uacutenico de Aptidatildeo

Fiacutesica jaacute que diferentes especialistas e pesquisadores tecircm trazido conceitos adequados agrave sua

realidade contextual (GUEDES amp GUEDES 1997) A Aptidatildeo Fiacutesica eacute em geral um estado

fiacutesico de bem-estar que permite agraves pessoas realizar as actividades e reduzir os problemas de

sauacutede relacionados com a falta de exerciacutecio proporcionar uma base de aptidatildeo para a

participaccedilatildeo em actividades fiacutesicas (AAHPERD 1988)

169

Contudo a AptFS eacute tambeacutem a capacidade de executar actividades fiacutesicas com energia e

vigor sem excesso de fadiga e tambeacutem como a demonstraccedilatildeo de qualidades e capacidades fiacutesicas

que conduzem ao menor risco de desenvolvimento de doenccedilas hipocineacuteticas (PATE 1988

ACSM 1996) Eacute simultaneamente um conceito complexo e um instrumento operacional de

mensuraccedilatildeo de um conjunto lato de atributos fisicos psicoloacutegicos e fisioloacutegicos que cada pessoa

possui em determinado momento da sua histoacuteria de vida cujos valores moderados a elevados

estatildeo intimamente associados a um risco reduzido de desenvolvimento de doenccedilas de natureza

hipocineacutetica (BOUCHARD amp SHERPARD 1994) Por seu turno trata-se da capacidade de

executar actividades fiacutesicas de forma eneacutergica e vigorosa sem excesso de fadiga e ao mesmo

tempo a demonstraccedilatildeo de qualidades e capacidades que conduzam ao menor risco de

desenvolvimento de doenccedilas e incapacidades funcionais (SILVA et al 2005)

Tambeacutem a Aptidatildeo Fiacutesica eacute a expressatildeo da capacidade funcional direccionada agrave realizaccedilatildeo

de esforccedilos fiacutesicos associados agrave praacutetica de Actividade Fiacutesica representada por conjunto de

componentes relacionados agrave sauacutede e ao desempenho atleacutetico (CASPERSEN et al 1985) Nesta

vertente enquanto a Actividade Fiacutesica define-se como processo estreitamente relacionado com

aspectos comportamentais a Aptidatildeo Fiacutesica caracteriza-se como produto voltado ao

dimensionamento das capacidades para a posterior realizaccedilatildeo do trabalho muscular Visto nestas

perspectivas ser um indiviacuteduo saudaacutevel eacute uma espeacutecie de harmonia entre o comportamento e as

funccedilotildees corporais (PEZZETTA et al 2003)

Metodologia

A presente pesquisa possui um delineamento transversal e teve como enfoque descrever e

comparar as variaacuteveis do Crescimento Somaacutetico e da AptFS dos alunos do ensino primaacuterio da

Cidade da Beira Participaram do estudo de 883 alunos de ambos os sexos (451 rapazes e 432

raparigas) do 1ordm ao 7ordm grau com compreendidas entre os 6 e os 14 anos da Cidade da Beira

pertencentes a quatro escolas sendo duas puacuteblicas e outras duas privadas todas da Cidade da

Beira seleccionadas aleatoriamente

Teacutecnica e instrumentos de recolha de dados

A altura e o peso foram medidas com um estadioacutemetro e uma balanccedila de marca

Harpenderreg e Seccareg respectivamente de acordo com a padronizaccedilatildeo descrita por LOHMAN et

al (1998) O IMC foi determinado dividindo o valor do peso pelo quadrado da altura em metros

170

(IMC=PesoAltura2) sendo expresso em kgm2 A Aptidatildeo Fiacutesica foi avaliada com recurso agrave

bateria de testes FITNESSGRAM que compreende os seguintes testes Corrida de 1600 metros

(aptidatildeo cardiorespiratoacuteria) Curl-Up ou Abdominais (forccedila de resistecircncia abdominal) Flexotildees

de Braccedilo ou Push-Up (forccedila de resistecircncia dos membros superiores) e Trunk lift (flexibilidade do

tronco) Agrave excepccedilatildeo das provas de corrida 1600 metros e forccedila de resistecircncia abdominal foram

concedidas duas repeticcedilotildees a cada sujeito em todas as provas de aptidatildeo fiacutesica Nestas foi

considerado o melhor resultado Em ordem a minimizar a variacircncia do erro nas mediccedilotildees tanto

nas medidas antropomeacutetricas como em todas as provas fiacutesicas os sujeitos foram sempre

avaliados pelos mesmos observadores

Procedimentos estatiacutesticos

A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi efectuada no programa estatiacutestico SPSS versatildeo 150

com um niacutevel de significacircncia fixado em 005 tendo compreendido as seguintes etapas 1

Aplicaccedilatildeo do teste de Kolmogorov-Smirnov para efeitos de verificaccedilatildeo da normalidade da

distribuiccedilatildeo dos dados tendo evidenciado uma distribuiccedilatildeo normal 2 Caacutelculo das medidas de

estatiacutestica descritiva baacutesicas isto eacute a meacutedia e desvio padratildeo 3 Comparaccedilatildeo das meacutedias obtidas

nas diferentes variaacuteveis de interesse em funccedilatildeo do sexo atraveacutes do T-Teste de medidas

independentes 4 Aplicaccedilatildeo da anaacutelise de variacircncia a dois factores (ANOVA II) para determinar

o efeito da idade e do sexo sobre as variaacuteveis somaacuteticas e de Aptidatildeo Fiacutesica bem como a

interacccedilatildeo idade-sexo

Consideraccedilotildees eacuteticas

Foram feitas todas as diligecircncias necessaacuterias para salvaguardar a integridade fiacutesica e a

sauacutede dos sujeitos avaliados Os testes foram aplicados por avaliadores previamente treinados

para o efeito Todas as avaliaccedilotildees e observaccedilotildees encerraram um caraacutecter natildeo invasivo e foram

realizadas nas escolas seleccionadas para esta pesquisa num ambiente adequado aos propoacutesitos

da mesma A autorizaccedilatildeo para a recolha de dados foi obtida apoacutes a explicaccedilatildeo antecipada da

metodologia e objectivos do estudo agraves direcccedilotildees das escolas e aos pais e encarregados de

educaccedilatildeo dos alunos da faixa etaacuteria abrangida no acircmbito desta pesquisa

171

Resultados

Crescimento somaacutetico

A anaacutelise dos resultados da presente pesquisa face agrave tabela de classificaccedilatildeo do IMC da

OMS permitiu evidenciar valores abaixo dos padrotildees recomendados em todas as idades da

amostra do presente estudo facto resultante dos baixos escores do Peso e Altura (Tabela 1) Os

resultados da anaacutelise de variacircncia (ANOVA II) revelam um efeito do sexo e da idade

significativo e altamente significativo respectivamente Evidenciou-se ainda uma interacccedilatildeo

significativa entre o sexo e a idade nas variaacuteveis somaacuteticas Peso e IMC Ainda que se trate de

dois contextos diferenciados estes resultados satildeo contraditoacuterios com os reportados por BORGES

et al (2010) em que avaliaram os indicadores antropomeacutetricos e neuromusculares de 94 alunos

(51 meninas e 43 meninos) brasileiros com idade entre 10 e 14 anos tendo sido constatados

iacutendices de prevalecircncia de risco de excesso de peso expressivos em todas as crianccedilas investigadas

Tabela 1 Valores descritivos da altura peso e IMC em funccedilatildeo do sexo e da idade (MplusmnDP)

Altura (cm) Peso (Kg) IMC

Idade

(anos) Meninas

(n= 432)

Meninos

(n= 450)

Meninas

(n= 429)

Meninos

(n= 444)

Meninas

(n= 429)

Meninos

(n= 443)

6 11989plusmn826 12098plusmn996 2019plusmn452 1939plusmn386 1408plusmn285 1328plusmn223

7 12575plusmn969 12392plusmn663 2076plusmn418 2159plusmn342 1324plusmn275 1406plusmn197

8 13368plusmn1021 13208plusmn990 2950plusmn738 2755plusmn681 1631plusmn283 1576plusmn331

9 13919plusmn970 13671plusmn817 3281plusmn886 2987plusmn598 1679plusmn345 1591plusmn231

10 14088plusmn788 14056plusmn896 3259plusmn794 3523plusmn1077 1625plusmn271 1764plusmn442

11 14541plusmn735 14366plusmn906 3485plusmn679 3437plusmn1057 1639plusmn242 1644plusmn366

12 14538plusmn711 14290plusmn1393 3478plusmn589 3479plusmn746 1641plusmn216 1656plusmn265

13 15152plusmn631 14875plusmn1004 4207plusmn727 3732plusmn804 1834plusmn326 1676plusmn231

14 15309plusmn1418 15305plusmn1280 4658plusmn1428 4195plusmn1275 1963plusmn448 1757plusmn326

Anova II

Efeitos Principais Efeitos Principais Efeitos Principais

Sexo F=4229 pgt001

Idade F=125433 plt0001

Interacccedilatildeo F=0462 pgt005

Sexo F=6115 pgt001

Idade F=94163 plt0001

Interacccedilatildeo F=2285 plt005

Sexo F=3579 pgt005

Idade F=28333 plt0001

Interacccedilatildeo F=3206plt005

Em Moccedilambique PRISTA et al (2005) descreveram o estado de crescimento de crianccedilas

e jovens de Maputo em idade escolar comparando esses valores com as normas da OMS e com

os resultados obtidos em 1992 com a populaccedilatildeo da mesma zona numa tentativa de averiguar o

impacto socioeconoacutemico naqueles indicadores de crescimento As crianccedilas de 11 anos

apresentaram menor estatura e baixo peso em relaccedilatildeo agraves normas da OMS O IMC em rapazes de

11 anos e em raparigas a partir de 12 anos foi relativamente menor quando comparado com as

normas da OMS Os valores de altura e peso diferiam substancialmente dos valores normativos

172

da OMS e verificou-se ainda uma clara vantagem dos indiviacuteduos com niacutevel socioeconoacutemico

mais alto

Comparando os valores descritivos dos indicadores somaacuteticos em funccedilatildeo do sexo (Tabela

2) observa-se que natildeo existem diferenccedilas significativas entre as meacutedias (pgt005) contudo ao

niacutevel do peso as meninas apresentam valores meacutedios superficialmente maiores em relaccedilatildeo aos

meninos A semelhanccedila estatiacutestica constatada entre os dois sexos ao niacutevel do peso e altura deve-

se muito provavelmente ao facto de se tratar de uma comparaccedilatildeo global da amostra em funccedilatildeo

do sexo e sem ter em conta a idade Com efeito uma leitura atenta dos valores meacutedios das

variaacuteveis somaacuteticas em funccedilatildeo da idade permite observar que as meninas apresentam na faixa

etaacuteria dos 13-14 anos valores meacutedios substancialmente mais elevados

Estes resultados estatildeo em linha com os reportados noutros estudos realizados com crianccedilas

e jovens residentes em contextos urbanos e rurais de Moccedilambique (PRISTA 1994 MURIA et

al 1999 MAIA et al 2002 NHANTUMBO 2007 NHANTUMBO et al 2007

NHANTUMBO et al 2010)

Por sua vez os resultados referentes ao iacutendice de massa corporal indicam que as meninas

apresentam valores mais elevados em relaccedilatildeo aos seus pares do sexo masculino nas idades de 6

8 9 11 13 e 14 anos Resultados semelhantes foram encontrados pelo grupo de autores citados

anteriormente em crianccedilas e jovens moccedilambicanos

Tabela 2 Comparaccedilatildeo dos indicadores do Crescimento Somaacutetico em funccedilatildeo do sexo

Variaacuteveis

Meninas

(n=432)

Meninos

(n=451)

t

p

Peso (Kg) 32011086 31381074 -086 039

Altura (cm) 138821372 138171436 -069 049

IMC (kgm2) 1620342 1621576 003 097

No presente estudo as meninas nas idades de 13 e 14 anos apresentam valores meacutedios de

IMC mais elevados o que justifica a influecircncia do iniacutecio do processo de maturaccedilatildeo das meninas

(idade de menarca) o qual eacute caracterizado por um aumento de concentraccedilatildeo de gordura corporal

decorrente da acccedilatildeo hormonal (GUEDES amp GUEDES 1997) Em outras palavras os resultados

meacutedios de IMC encontrados no presente estudo parecem traduzir as caracteriacutesticas maturacionais

proacuteprias das meninas nesta faixa etaacuteria

Como foi referido anteriormente os resultados da anaacutelise da variacircncia bifactorial

evidenciaram um efeito principal significativo do sexo e da idade bem como uma interacccedilatildeo da

173

mesma magnitude entre os dois factores Resultados similares foram documentados por

NHANTUMBO et al (2010) ao verificarem aumentos dos valores meacutedios do peso altura e IMC

com o avanccedilo da idade evidenciando um efeito claro desta sobre aqueles indicadores conjugado

com uma interacccedilatildeo significativa com o sexo Poreacutem estes valores encontravam-se aqueacutem dos

valores normativos internacionais situando-se abaixo do P25 da distribuiccedilatildeo percentiacutelica de

referecircncia adoptada pela CDC e pela OMS

Considerando que a maior parte de estudos centrados nos aspectos do crescimento

somaacutetico de crianccedilas e jovens em idade escolar foi realizada na Cidade de Maputo (PRISTA

1994 MURIA et al 1999 MAIA et al 2002 SARANGA et al 2002) e na localidade rural de

Calanga (NHANTUMBO 2007 NHANTUMBO et al 2007 NHANTUMBO et al 2010)

espelha-se um desconhecimento da dinacircmica do crescimento deste extracto populacional

residente noutras regiotildees soacuteciogeograacuteficas deste vasto paiacutes

Uma vez reportado um efeito significativo da aacuterea geograacutefica no comportamento da

maioria das variaacuteveis somaacuteticas (NHANTUMBO et al 2007) e natildeo existindo nenhum estudo

feito com a populaccedilatildeo em idade escolar da Cidade da Beira os resultados encontrados no

presente estudo referentes agrave dimensatildeo somaacutetica podem reflectir uma pressatildeo ambiental

especiacutefica sobre as variaacuteveis em estudo

Aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede

Os resultados da comparaccedilatildeo dos valores meacutedios da Aptidatildeo Fiacutesica em funccedilatildeo do sexo

permitem observar diferenccedilas estatiacutesticas altamente significativas em todas as variaacuteveis em

anaacutelise com uma niacutetida vantagem dos rapazes em relaccedilatildeo aos seus pares do sexo oposto em

todos os testes motores Uma anaacutelise cuidadosa dos resultados encontrados nas diferentes provas

de Aptidatildeo Fiacutesica (Tabela 3) seleccionadas para o presente estudo permite constatar uma

tendecircncia de os meninos mostram valores superiores aos das meninas em quase todas as idades

embora essa tendecircncia sofra alteraccedilotildees segundo o tipo de prova Resultados semelhantes foram

encontrados por alguns autores que evidenciaram a forte tendecircncia das crianccedilas e adolescentes

do sexo masculino superarem os seus pares do sexo feminino (CARDOSO 2000 LOPES et al

2004 NHANTUMBO et al 2007 LUGUETTI et al 2010 DUMITH et al 2010 SILVA et

al 2010)

Os dados obtidos permitem tambeacutem analisar o desempenho da amostra em cada teste

efectuado Na prova de elevaccedilatildeo do tronco nota-se que o desempenho aumenta com o avanccedilo da

idade o que era esperado dado o desenvolvimento morfoloacutegico mostrar a tendecircncia de

174

acompanhar o desenvolvimento de capacidades em razatildeo do avanccedilo da idade Esta tendecircncia de

desempenho pode ser explicada pelo facto de a maturaccedilatildeo bioloacutegica exercer uma influecircncia

directa em quase todos os componentes do desempenho motor e da composiccedilatildeo corporal

(ALVES et al 2009) Ao analisarmos esta prova em funccedilatildeo do sexo observa-se que os meninos

apresentam um niacutevel de desempenho superior ao das meninas em todas as idades excepto nas

idades de 6 e 8 anos corroborando com os resultados de estudos anteriormente referenciados Na

prova de abdominais observa-se uma tendecircncia normal de aumento com o avanccedilo da idade

sendo interrompida esta aos 8 12 e 13 anos Analisando os dados em funccedilatildeo do sexo os

meninos apresentam aqui tambeacutem resultados superiores aos das meninas na maior parte das

idades agrave excepccedilatildeo das idades dos 6 e 10 anos em que se observa o inverso

Na prova de flexotildees de braccedilos nota-se uma perspectiva de crescimento que soacute eacute

interrompida aos 9 e 11 anos pese embora estes dados quando analisados em funccedilatildeo do sexo

mostrem um desempenho melhor dos meninos em todas as idades com excepccedilatildeo dos 6 anos

Para a prova de Corrida de 1600 metros observam-se valores elevados nas idades de 6 e 7 anos

A comparaccedilatildeo em funccedilatildeo do sexo destes valores permitem observar uma superioridade dos

meninos em relaccedilatildeo agraves meninas em todas as idades exceptuando-se unicamente a idade dos 8

anos

Os resultados da presente pesquisa foram comparados com os pontos de corte relacionados

aos indicadores de AptFS propostos pelo Fitnessgram e Physical Best Ao contrastar os

resultados deste estudo com os valores propostos pelo Physical Best observa-se que nenhuma

das idades atinge os valores dos pontos de corte propostos o que denota um fraco desempenho

da nossa amostra Na referenciaccedilatildeo destes resultados junto dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo dos

indicadores da Aptidatildeo Fiacutesica propostos pelo Fitnessgram observou-se que tanto as meninas

como os meninos atingiram os valores recomendados nas provas de elevaccedilatildeo do tronco e

abdominais Em contrapartida na prova de corrida de 1600 metros natildeo se verificou qualquer

sucesso em nenhuma das idades exceptuando o intervalo etaacuterio dos 6 aos 9 anos em que o

objectivo principal eacute terminar a prova

Tabela 3 Valores descritivos das provas de Aptidatildeo Fiacutesica em funccedilatildeo do sexo e da idade (meacutedia

plusmn desvio padratildeo)

Elevaccedilatildeo do Tronco Abdominais Flexotildees de braccedilos Corrida 1600 (minutos)

Idade

(anos)

Meninas

(n= 432)

Meninos

(n= 450)

Meninas

(n= 431)

Meninos

(n= 450)

Meninas

(n= 425)

Meninos

(n= 444)

Meninas

(n= 432)

Meninos

(n= 451)

6 2819plusmn790 2822plusmn831 915plusmn827 893plusmn695 698plusmn497 676plusmn510 2463plusmn368 2341plusmn619

7 2890plusmn672 3000plusmn700 1045plusmn759 1431plusmn863 741plusmn521 951plusmn556 1889plusmn342 1780plusmn258

175

8 3289plusmn724 3282plusmn793 1000plusmn612 1053plusmn624 839plusmn532 1047plusmn659 1295plusmn516 1384plusmn335

9 3489plusmn568 3524plusmn779 1179plusmn787 1249plusmn624 798plusmn564 924plusmn493 1499plusmn327 1350plusmn219

10 3595plusmn638 3877plusmn869 1520plusmn1162 1519plusmn806 764plusmn572 977plusmn631 1451plusmn125 1395plusmn109

11 3793plusmn670 4007plusmn638 1554plusmn1333 1871plusmn868 648plusmn433 924plusmn402 1496plusmn130 1265plusmn90

12 3822plusmn735 4005plusmn689 1269plusmn715 1824plusmn969 778plusmn578 1024plusmn607 1254plusmn136 1176plusmn151

13 3877plusmn603 3925plusmn768 1327plusmn664 1709plusmn1013 698plusmn460 1053plusmn642 1188plusmn95 1125plusmn120

14 3786plusmn838 4222plusmn993 2039plusmn1165 2335plusmn1492 609plusmn420 1137plusmn550 1247plusmn156 1208plusmn134

Anova

II

Efeitos Principais Efeitos Principais Efeitos Principais Efeitos Principais Sexo F=824 plt001

Idade F= 3630 plt0001

Interacccedilatildeo F= 087 pgt005

Sexo F=12850 plt0001

Idade F=15355 plt0001

Interacccedilatildeo F= 1207 pgt005

Sexo F=41891 plt0001

Idade F= 1918 p=005

Interacccedilatildeo F= 1735 pgt005

Sexo F=24770 plt0001

Idade F= 211067 plt0001

Interacccedilatildeo F= 2215 plt005

Refira-se que na prova de flexotildees de braccedilos constatou-se que os sujeitos do intervalo

etaacuterio dos 6 aos 10 anos atingiram os pontos de corte propostos pelo FITNESSGRAM Ao

analisar-se os resultados por idades nota-se que na idade de 11 anos soacute os meninos conseguiram

situar-se dentro dos pontos de corte propostos superando de longe as meninas que nem sequer

situaram-se nos limites propostos facto que repete-se nas idades de 12 13 e 14 com os meninos

sempre superando as meninas (Tabela 4) Como se pode constatar no presente estudo os

maiores valores meacutedios da Aptidatildeo Fiacutesica nas diferentes provas observam-se entre os 12-14

anos O predomiacutenio de meacutedias de desempenho motor dos meninos mais elevadas a partir desta

faixa etaacuteria pode ser explicado pela ocorrecircncia de eventos hormonais associados ao aumento da

massa muscular e testosterona (MALINA et al 2004)

Estudos realizados em Moccedilambique sobre a Aptidatildeo Fiacutesica evidenciam esta tendecircncia de

os meninos superarem as meninas em tarefas de forccedila e resistecircncia e as meninas superarem em

tarefas de flexibilidade (PRISTA 1995 PRISTA 1997 SARANGA et al 2002 PRISTA et al

2008 NHANTUMBO et al 2010) Poreacutem eacute necessaacuterio ter em conta que as diferenccedilas

somaacuteticas e sociais entre as crianccedilas moccedilambicanas e americanas e ao tentar associar o

desempenho de crianccedilas moccedilambicanas aos pontos de corte sugeridos tanto pelo Physical Best

como pelo Fitnessgram incorre obrigatoriamente a discordacircncias devido agrave influecircncia dos

indicadores de crescimento fiacutesico e de maturaccedilatildeo bioloacutegica nos resultados dos testes motores De

facto estudos anteriores realizados em Moccedilambique com crianccedilas e jovens da Cidade de Maputo

evidenciaram uma vantagem de sujeitos de grupos socioeconoacutemicos desfavorecidos em

praticamente todos os testes fiacutesicos selecionados

Tabela 4 Comparaccedilatildeo dos valores da Aptidatildeo Fiacutesica em funccedilatildeo do sexo

Variaacuteveis

Meninas

(n=432)

Meninos

(n=451)

t

p

Elevaccedilatildeo Tronco 3473785 3643906 298 0003

176

Abdominais 1303985 1556997 380 0000

Flexotildees de braccedilo 730512 963571 637 0000

Corrida 1600 1561475 1439474 -384 0000

Os melhores desempenhos da classe desfavorecida foram explicados pelo facto das

crianccedilas e jovens que crescem em condiccedilotildees desfavorecidas se engajarem em tarefas domeacutesticas

diaacuterias que contemplam actividades fiacutesicas de duraccedilatildeo frequecircncia e intensidade consideraacuteveis

(PRISTA 1994 PRISTA et al 1997)

A desvantagem constatada entre a amostra do presente estudo e os valores de corte do

Fitnessgram na prova de Corrida da Milha eacute de certo modo surpreendente uma vez que estudos

anteriores que compararam o desempenho motor de crianccedilas e jovens moccedilambicanas tanto

urbanos (PRISTA 1994 PRISTA et al 1997 MURIA et al 1999) como rurais

(NHANTUMBO 2007 NHANTUMBO et al 2010) evidenciaram uma clara superioridade

destes em relaccedilatildeo aos seus pares europeus e americanos

Aliaacutes no estudo de MURIA et al (1999) que testou com a populaccedilatildeo moccedilambicana em

idade escolar os criteacuterios sugeridos pela bateria da Prudential Fitnessgram tendo avaliado 547

crianccedilas de ambos os sexos dos 8 aos 11 anos de idade foi evidenciada uma elevada proporccedilatildeo

de sujeitos que superava os valores de corte pelo Fitnessgram para classificar os sujeitos em

aptos do ponto de vista de AptFS com valores de 991 e 966 para os rapazes e as raparigas

respectivamente

Ora a fraca performance revelada pela amostra do presente estudo na prova de Corrida da

milha pode ser explicada atraveacutes de factores ambientais adversos contudo e tratando-se este de

um estudo envolvendo crianccedilas e jovens da Cidade da Beira portanto fora do contexto da Cidade

de Maputo deparamo-nos com alguma limitaccedilatildeo para elaborar uma explicaccedilatildeo substantiva

destes resultados o que torna clara a necessidade de mais estudos em ordem a tornar esta mateacuteria

mais inteligiacutevel

Com efeito e como jaacute referenciado anteriormente crianccedilas e jovens moccedilambicanos

sobretudo pertencentes ao estatuto socioeconoacutemico desfavorecido ou vivendo em contextos

rurais evidenciaram niacuteveis superiores de aptidatildeo caacuterdiorrespiratoacuteria comparativamente aos seus

pares europeus e americanos da mesma faixa etaacuteria o que torna interessante estabelecer e

clarificar as inter-relaccedilotildees entre a Aptidatildeo Fiacutesica Actividade Fiacutesica e o ecossistema especiacutefico

com que estas crianccedilas interagem no seu quotidiano

177

Consideraccedilotildees finais

Neste estudo foi possiacutevel verificar que tanto as meninas como os meninos apresentam

valores meacutedios estaturo-ponderais abaixo do recomendado pela OMS para as idades

consideradas Mesmo assim as meninas espelharam valores mais elevados de IMC na maior

parte dos intervalos etaacuterios Foi notoacuterio em ambos os sexos um aumento da Aptidatildeo Fiacutesica com

o avanccedilo da idade sendo que os rapazes evidenciaram melhores niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica em

quase todas as provas em relaccedilatildeo agraves raparigas O maior desempenho registou-se na prova de

elevaccedilatildeo do tronco em ambos os sexos enquanto o menor desempenho registou-se na prova de

corrida de 1600 metros em que foram evidentes em ambos os sexos niacuteveis abaixo do

recomendado pelo Fitnessgram e Physical Best na maior parte das provas fiacutesicas seleccionadas

para o presente estudo com excepccedilatildeo das idades dos 6 aos 9 anos Foi ainda evidente em todas

as variaacuteveis somaacuteticas e de Aptidatildeo Fiacutesica um efeito e uma interacccedilatildeo significativos do sexo e da

idade Ainda que natildeo se tenha efectuado uma correlaccedilatildeo linear entre estas variaacuteveis parece

existir uma inter-relaccedilatildeo entre os niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica e os valores de IMC cuja

inteligibilidade carece de mais estudos contextualizados Os resultados encontrados neste estudo

sugerem face as limitaccedilotildees encontradas a relevacircncia de realizar-se mais estudos transversais

ampliando a amostra e incluir mais variaacuteveis correlatas no sentido de melhor mapear com

abrangecircncia a populaccedilatildeo em idade escolar da Cidade da Beira analisando profundamente

variaacuteveis do crescimento somaacutetico Aptidatildeo Fiacutesica actividade fiacutesica composiccedilatildeo corporal

estado nutricional entre outros paracircmetros Relevante ainda seria examinar a influecircncia dos

factores ambientais e das assimetrias socioeconoacutemicas existentes entre as diferentes regiotildees da

Proviacutencia de Sofala sobre os indicadores de crescimento somaacutetico aptidatildeo fiacutesica e ainda da

actividade fiacutesica em ordem a recomendar estrateacutegias e medidas para a sua monitorizaccedilatildeo

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183

Relaccedilatildeo entre a orientaccedilatildeo vocacionalprofissional e qualidade no sistema

educativo moccedilambicano

Rafael Renaldo Laquene Zunguze39

Resumo

Com o presente artigo pretendo sustentar a necessidade e a possibilidade de introduccedilatildeo da orientaccedilatildeo

vocacional eou profissional no sistema educativo moccedilambicano Com efeito irei demonstrar as

implicaccedilotildees e as contribuiccedilotildees da implementaccedilatildeo destes serviccedilos designadamente na melhoria da

qualidade de ensino Foi uma pesquisa qualiquantitativa concretizada atraveacutes da teacutecnica de questionaacuterio a

estudantes e docentes da Universidade Pedagoacutegica Delegaccedilatildeo de Maxixe (UPMax) Importa referir que

todos os estudantes envolvidos exercem a funccedilatildeo de professorado em escolas da Proviacutencia de Inhambane

A amostra foi de 32 elementos sendo 8 docentes e 24 estudantes Os resultados permitiram constatar que

todos os inquiridos reconhecem ser necessaacuteria a introduccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional ou

profissional no sistema educativo Embora natildeo possuam nenhuma referecircncia ou experiecircncia desses

serviccedilos os inquiridos acreditam ser de grande utilidade para a vida dos alunos o que se pode reflectir

ainda na esfera social concretamente no desenvolvimento do paiacutes Sugiro que o Governo e a sociedade

civil sobretudo os indiviacuteduos e instituiccedilotildees de niacuteveis superiores invistam na promoccedilatildeo dos serviccedilos de

orientaccedilatildeo vocacional e profissional comunitaacuteria aquela que inicia na famiacutelia passando pela comunidade

ateacute a escola para habilitar os indiviacuteduos a trabalharem em prol do desenvolvimento numa clara intenccedilatildeo

de melhoria da qualidade de ensino no paiacutes

Palavras-chave Orientaccedilatildeo Vocaccedilatildeo Profissatildeo Qualidade Desenvolvimento Comunidade

Abstract

With the present article I intend to support the need and the possibility of introducing vocational and or

professional orientation in the Mozambican educational system In effect I will demonstrate the

implications and contributions of the implementation of these services particularly in improving the

quality of education It was a qualiquantitative research accomplished through the questionnaire technique

to students and teachers of the Pedagogical University Maxixe Delegation (UPMax) It should be noted

that all the students involved perform the teaching function at schools in Inhambane Province The

sample consisted of 32 teachers of which 8 were teachers and 24 students The results showed that all

respondents recognized that it is necessary to introduce vocational or professional guidance services into

the education system Although they do not have any reference or experience of these services

respondents believe it to be very useful for the students lives which can still be reflected in the social

sphere specifically in the development of the country I suggest that government and civil society

especially individuals and institutions at higher levels invest in the promotion of vocational guidance and

community vocational services the one that starts in the family through the community to the school to

enable individuals to work for Of development with a clear intention to improve the quality of education

in the country

Keywords Orientation Vocation Profession Quality Development Community

39 Docente na Universidade Pedagoacutegica Delegaccedilatildeo de Maxixe onde igualmente eacute Director do Curso de Psicologia

Educacional e Coordenador do Nuacutecleo de Estudos de Poliacuteticas Educativas Mestre em Educaccedilatildeo Social pela

Universidade Catoacutelica de Moccedilambique Doutorando em Psicologia Educacional pela Faculdade de Ciecircncias de

Educaccedilatildeo e Psicologia (FACEP) da UP

184

Introduccedilatildeo

Este artigo eacute resultado de uma pesquisa sobre a necessidade e a possibilidade de introduccedilatildeo

dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema educativo moccedilambicano

realizada em 2015

A principal dificuldade constatada estaacute ligada agrave inexistecircncia dos serviccedilos de orientaccedilatildeo

vocacional ou profissional no sistema educativo moccedilambicano o que faz com que os alunos ou

estudantes terminem niacuteveis de ensino sem ldquosaber fazerrdquo Embora existam outros casos de

graduados que conseguem ingressar no mercado de emprego nacional estes denotam problemas

nas componentes vocacional ou profissional Na praacutetica verifica-se que os empregados realizam

as actividades incumbidas sem interesse vocacional ou sem nenhuma formaccedilatildeo preparatoacuteria

Em funccedilatildeo do desconhecimento e da inexistecircncia dos serviccedilos em referecircncia os resultados

do estudo demonstram claramente a sua necessidade de uma das aacutereas no sistema de ensino

moccedilambicano desde a educaccedilatildeo infantil ateacute aos niacuteveis primaacuterio secundaacuterio e universitaacuterio

destacando o papel preponderante da famiacutelia

O meu pensamento circunscreve-se na necessidade da elaboraccedilatildeo e concretizaccedilatildeo de um

projecto cuja finalidade se afigura multidimensional e que deve incidir na orientaccedilatildeo vocacional

e profissional ou pelo menos numa delas no sistema escolar do nosso paiacutes Ao longo do

trabalho procuro relacionar a introduccedilatildeo e concretizaccedilatildeo destes serviccedilos com a qualidade de

educaccedilatildeo oferecida no e pelo nosso paiacutes No artigo chamo atenccedilatildeo ao facto de ter que se

conceber a qualidade como objecto ainda e em permanente construccedilatildeo pela sociedade Nisso

natildeo tenciono afirmar que a orientaccedilatildeo vocacional e profissional eacute a soluccedilatildeo de todos os

problemas da considerada ldquofraca qualidaderdquo de ensino no nosso paiacutes Tenciono isso sim alertar

para o contributo desses serviccedilos no incremento das competecircncias dos alunos o que pode de

certa forma concorrer para o incremento da qualidade de ensino especificamente no produto

final Isso prepara psicologicamente o indiviacuteduo a amar e a dedicar todas as suas energias numa

determinada ocupaccedilatildeo Mas tambeacutem pode ser a proacutepria formaccedilatildeo profissional sobre essa

actividade e que futuramente possa valer ao aluno por toda a vida

Ademais incentivo a designaccedilatildeo e concretizaccedilatildeo duma Orientaccedilatildeo Vocacional e

Profissional Comunitaacuteria (OVPC) Embora acredite que a materializaccedilatildeo destes serviccedilos deve ser

fundamentalmente da responsabilidade do Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano

considero ser necessaacuterio o envolvimento das famiacutelias na concretizaccedilatildeo desses serviccedilos O Estado

deve promover e assegurar os serviccedilos comunitaacuterios dessa orientaccedilatildeo Os serviccedilos comunitaacuterios

185

com destaque para a famiacutelia visam essencialmente preparar a pessoa humana desde a infacircncia agrave

velhice a desenvolver uma profissatildeo a partir de uma escolha responsaacutevel madura e vocacional

Assim antevejo e considero um grande aesafio da Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional em

Moccedilambique

No concernente agrave estrutura do presente artigo apresento a introduccedilatildeo depois segue-se a

metodologia a fundamentaccedilatildeo teoacuterica a apresentaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos dados e as

consideraccedilotildees finais

Metodologia

Foram envolvidos no estudo trinta e dois (32) inquiridos nomeadamente oito (8) docentes

e vinte e quatro (24) estudantes da Universidade PedagoacutegicaSagrada Famiacutelia em Maxixe

Todos os estudantes satildeo professores em exerciacutecio nas escolas primaacuterias e secundaacuterias da

Proviacutencia de Inhambane Para todos os inquiridos foram administrados inqueacuteritos por

questionaacuterio

No que se refere ao plano de processamento e anaacutelise dos dados (resultados obtidos a partir

da pesquisa) haacute que realccedilar que os mesmos foram submetidos a uma tabulaccedilatildeo Nisso foram

elaboradas algumas tabelas contendo algumas das perguntas preponderantes para a obtenccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre o estudo Seguiu-se depois uma quantificaccedilatildeo numeacuterica e percentual que

facilitou a anaacutelise eou a interpretaccedilatildeo que se almejavam sustentando as nossas convicccedilotildees e

pensamentos a partir de fundamentos teoacutericos

Para melhor apresentaccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados recolhidos fez-se a

apresentaccedilatildeo das diferentes perspectivas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre os serviccedilos em

alusatildeo e a qualidade de educaccedilatildeo com ecircnfase na definiccedilatildeo e nas tarefas das duas aacutereas de

desenvolvimento humano

Fundamentaccedilatildeo teoacuterica

A Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional deve ser compreendida como um processo de

busca complexa de caracteriacutesticas individuais sua relaccedilatildeo com as possibilidades profissionais

bem como o estabelecimento de medidas e tomada de decisatildeo Espera-se que essa capacidade se

traduza na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas baseadas em evidecircncias e que levem agrave melhoria perceptiacutevel da

qualidade da aprendizagem Eacute um componente importante do esforccedilo para alcanccedilar a promessa

real de que a educaccedilatildeo esteja associada a economias dinacircmicas (Greaney amp Kellaghan 2011)

186

Para que sejam conhecidas as caracteriacutesticas e possibilidades eacute preciso que se faccedila uma

avaliaccedilatildeo tripartida ou seja psicopatoloacutegica cognitiva e da personalidade Esta avaliaccedilatildeo deve

incluir a histoacuteria pessoal e familiar devendo ainda explorar o autoconceito e o mundo

profissional

A Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional constitui uma junccedilatildeo de duas aacutereas as quais

podem ser estudadas concretizadas e compreendidas separadas ou conjuntamente nas famiacutelias

nas escolas e nas comunidades A primeira aacuterea eacute mais ampla e eacute intrapsiacutequica no indiviacuteduo

Busca informaccedilotildees profissionais e caracteriacutesticas para promover um encontro entre o sujeito e

aquilo que poderaacute vir a ser A segunda eacute restrita Eacute a ajuda agrave algueacutem a escolher uma profissatildeo ou

ocupaccedilatildeo Estas aacutereas podem ser estudadas separadamente embora sejam muito proacuteximas

Pertencem numas e noutras perspectivas agraves Psicologias Educacional Vocacional do Trabalho

Comunitaacuteria etc numa manifestaccedilatildeo clara da multintertransdisciplinaridade (Zunguze

2013293)

Como principais tarefas estas aacutereas visam essencialmente despertar na famiacutelia no

indiviacuteduo na escola na comunidade e na sociedade a necessidade de identificaccedilatildeo e

desenvolvimento vocacional Relacionam-se as caracteriacutesticas do indiviacuteduo e as exigecircncias

vocacionais capacidades e competecircncias profissionais para a elaboraccedilatildeo e concretizaccedilatildeo de um

Projecto de vida

Haacute que efectuar e conservar registos das perspectivas dos graduados sobre a sua inserccedilatildeo

no mercado de trabalho a correspondecircncia entre as competecircncias adquiridas no ciclo de estudos

e as exigecircncias do mercado de trabalho as necessidades do mercado de trabalho na aacuterea

cientiacutefica em que se insere o ciclo de estudos (CNAQ 201217)

Embora natildeo se possua informaccedilotildees e experiecircncias processuais no contexto moccedilambicano

os poucos conhecimentos sobre os serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional apontam que

a sua concretizaccedilatildeo efectiva-se predominantemente nas escolas secundaacuterias sobretudo no fim do

niacutevel preacute-universitaacuterio ou para o ingresso no ensino superior ou para o exerciacutecio de qualquer

profissatildeo Atraveacutes deste artigo pretendo inverter a concepccedilatildeo sobre a realizaccedilatildeo desses serviccedilos

Tenciono fundamentar que eles devem se concretizar em todo o momento e em qualquer espaccedilo

Como jaacute se disse oficialmente natildeo existem esses serviccedilos em Moccedilambique

Esporadicamente surgem pequenos movimentos Acredito que o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e

Desenvolvimento Humano deve se esforccedilar em introduzir estes serviccedilos no sistema educativo o

que vai incrementar a melhoria da qualidade

187

Apelo a todos os compatriotas independentemente das classes idades e niacuteveis para o

aproveitamento positivo dos novos recursos Haacute que investir na formaccedilatildeo vocacional e

profissional A qualidade dos alunos ou estudantes vai traduzir-se no trabalho e depois de

terminar o niacutevel de escolaridade o aluno ou estudante pode realizar-se profissionalmente

O trabalho faz e desenvolve o indiviacuteduo a famiacutelia a comunidade a sociedade e a naccedilatildeo

inteira Embora natildeo seja apenas nisto que se resume a qualidade de ensino constitui verdade a

consideraccedilatildeo de que estes serviccedilos concorrem para a melhoria da qualidade A Educaccedilatildeo integral

e criativa marca essencial da qualidade de ensino resume-se em minha opiniatildeo no ensinar as

pessoas a trabalharem Eacute no trabalho onde cada um deixa transparecer as suas competecircncias

Os resultados de vaacuterios estudos internacionais clarificam que os sistemas avaliativos de

cada paiacutes responsaacuteveis pelo controle da aprendizagem devem visar a promoccedilatildeo e mediccedilatildeo das

competecircncias na leitura na matemaacutetica e ciecircncias com consciecircncia de que elas parecem mostrar

a eficaacutecia do sistema educativo (Pascal 200234)

Com efeito importa referir que a qualidade natildeo se esgota apenas na compreensatildeo de

assuntos restritos Eacute preciso que se compreenda a qualidade como uma construccedilatildeo quotidiana de

todos os actores psico-educativos sociais em todos os contextos e fases do desenvolvimento

humano

Seguramente haacute muito a fazer na aacuterea de qualidade e as informaccedilotildees coletadas pecam

pelo caraacuteter parcial ndash em educaccedilatildeo a qualidade natildeo poderia reduzir-se agrave satisfaccedilatildeo imediata do

lsquoclientersquo ndash uniacutevoco e finalmente pouco construtivo (Pascal 200244)

Apresentaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo de dados

Para a auscultaccedilatildeo e anaacutelise das sensibilidades em relaccedilatildeo agrave necessidade e possibilidade da

introduccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional foi priorizada a pergunta Acha

necessaacuteria a introduccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema

educativo moccedilambicano Porquecirc

Todos os 32 (100) inquiridos afirmaram ser necessaacuterio e urgente que o Governo de

Moccedilambique especificamente o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano se esforce

em introduzir os serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema educativo do paiacutes

Para fundamentar a sua afirmaccedilatildeo os inquiridos consideram que a concretizaccedilatildeo dos mesmos

serviccedilos permite que cada aluno e estudante desempenhem profissotildees ajustadas agraves suas

caracteriacutesticas e vontades

188

Em funccedilatildeo destas declaraccedilotildees julgo essencial e real a ideia segundo a qual a introduccedilatildeo da

orientaccedilatildeo vocacional e profissional vai fortificar cada vez mais a qualidade de ensino

Os formuladores de poliacuteticas devem assumir a lideranccedila para garantir que as evidecircncias

objectivas e confiaacuteveis sobre o funcionamento do sistema educacional resultantes da avaliaccedilatildeo

nacional sejam utilizadas para melhorar a qualidade global do processo de tomada de decisotildees

(Greaney e Kellaghan 201187)

No meu entender os envolvidos no estudo acreditam que a orientaccedilatildeo vocacional e

profissional vai beneficiar e poderaacute facilitar a materializaccedilatildeo do ensino por competecircncias

vigente no nosso sistema de educaccedilatildeo Explicitando os informantes acrescentaram que as

competecircncias estatildeo ligadas ao saber fazer uma componente ligada agraves profissotildees Natildeo haacute

incompatibilidade entre as competecircncias e as profissotildees

Numa consideraccedilatildeo categoacuterica 30 (9375) informantes dentre estudantes e docentes da

Universidade PedagoacutegicaSagrada Famiacutelia afirmam que a orientaccedilatildeo vocacional e profissional

poderaacute contribuir para a melhoria da qualidade de ensino Para sustentar o seu posicionamento

estes informantes fundamentam que a orientaccedilatildeo vocacional e profissional forneceraacute o

diagnoacutestico sobre o niacutevel de aprendizagem de cada aluno o que eacute importante para o

desenvolvimento profissional e isso reflecte a qualidade de ensino se considerarmos que ela em

grande escala traduz-se nas capacidades e competecircncias que os alunos ou estudantes ostentam

apoacutes a conclusatildeo de certos graus de escolaridade

Num outro desenvolvimento os informantes referiram que para que se reflicta na

qualidade de ensino esses serviccedilos devem ser introduzidos o mais raacutepido possiacutevel como

instrumento de orientaccedilatildeo educacional e sobretudo escolar

Por outro lado 2 (625) natildeo concordam que a orientaccedilatildeo vocacional e profissional

poderaacute contribuir para a melhoria da qualidade de ensino Para sustentar este posicionamento

estes informantes fundamentam que a questatildeo da qualidade eacute relativa e complexa visto que para

que o sistema surta efeito desejado eacute necessaacuterio que haja envolvimento efectivo das famiacutelias

professores e o proacuteprio estudante

Com este posicionamento percebo que estes informantes natildeo possuem um domiacutenio

exaustivo da orientaccedilatildeo vocacional e profissional bem como se encontram desprovidos dos

conhecimentos aprofundados sobre a qualidade de ensino

Embora seja real que eacute preciso que se envolvam as famiacutelias no processo de ensino e

aprendizagem para a melhora da qualidade de ensino para colaborarem com a escola e com o

189

proacuteprio estudante natildeo constitui verdade que estes serviccedilos natildeo sejam fundamentais para o

desenvolvimento pessoal e social

Pelo contraacuterio a orientaccedilatildeo vocacional e profissional sobretudo no novo mileacutenio prioriza

uma realizaccedilatildeo destes serviccedilos a partir das famiacutelias passando das escolas ateacute agraves comunidades

destacando o papel fulcral do orientador educacional especificamente o professor das escolas

puacuteblicas Estes serviccedilos consideram que o ser humano eacute indissoluacutevel ao meio no qual se encontra

inserido

A intenccedilatildeo aqui patente eacute fazer referecircncia agrave qualidade educativa a qual haacute bem pouco

tempo comeccedilou a ganhar um espaccedilo reconhecido nas aacutereas da Psicologia da Educaccedilatildeo e noutras

De acordo Godoy (199558) de maneira diversa agrave quantitativa a avaliaccedilatildeo qualitativa natildeo

procura enumerar eou medir os eventos estudados nem emprega instrumental estatiacutestico na

anaacutelise dos dados

A avaliaccedilatildeo qualitativa parte de questotildees ou focos de interesses amplos que vatildeo se

definindo agrave medida que o processo se desenvolve Envolve a obtenccedilatildeo de dados descritivos sobre

os sujeitos educativos ambiente e processos interactivos podendo ser pelo contacto directo do

avaliador com a situaccedilatildeo procurando compreender os fenoacutemenos segundo a perspectiva dos

sujeitos ou seja dos participantes da situaccedilatildeo em estudo

O autor acima citado acrescenta que ldquosob a denominaccedilatildeo avaliaccedilatildeo qualitativa

encontram-se variados tipos de investigaccedilatildeo apoiados em diferentes quadros de orientaccedilatildeo

teoacuterica e metodoloacutegica tais como o interaccionismo simboacutelico a etnometodologia o

materialismo dialeacutectico e a fenomenologiardquo Godoy (199558)

A abordagem qualitativa faz uma anaacutelise essencialmente descritiva do processo educativo

ao conceber a avaliaccedilatildeo no e do processo de ensino e aprendizagem como um processo o

interaccionismo simboacutelico entende que o indiviacuteduo e a educaccedilatildeo mantecircm constante e estreita

inter-relaccedilatildeo e que o aspecto subjectivo do comportamento humano eacute necessaacuterio na formaccedilatildeo e

na manutenccedilatildeo dinacircmica do self social e do grupo social

Esta abordagem atribui importacircncia fundamental ao sentido que as coisas (como os

objectos fiacutesicos seres humanos instituiccedilotildees ideias que satildeo valorizadas situaccedilotildees vivenciadas)

tecircm para os indiviacuteduos ressaltando que esse sentido surge do processo de interacccedilatildeo entre as

pessoas Tais sentidos (significados) satildeo manipulados e modificados por meio de um processo

interpretativo

A avaliaccedilatildeo qualitativa tem o ambiente natural como fonte directa de dados e o avaliador

como instrumento fundamental A avaliaccedilatildeo denominada qualitativa tem como preocupaccedilatildeo

190

fundamental a anaacutelise das situaccedilotildees didaacutecticas de aprendizagem no mundo empiacuterico em seu

ambiente natural

Os orientadores e avaliadores estatildeo preocupados com o processo e natildeo simplesmente com

os resultados ou produto Eles tentam compreender os fenoacutemenos que intervecircm em todo o

processo incluindo as perspectivas dos participantes considerando todos os pontos de vista

como importantes

O autor acima citado acrescenta que este tipo de avaliaccedilatildeo ilumina e esclarece o

dinamismo interno das situaccedilotildees

Quando a avaliaccedilatildeo eacute de caraacutecter descritivo o que se busca eacute o entendimento do processo

fenoacutemeno como um todo na sua complexidade

Tenoacuterio e Lopes (2010172) afirmam que ldquoa qualidade educacional eacute um conceito fluido

polisseacutemico complexo cuja apreensatildeo que se objectiva seraacute sempre imparcial e incompletardquo

Em funccedilatildeo do acima exposto pelos autores pode se compreender que o termo qualidade

natildeo esgota tudo o que deve se compreender pelo e nos processos de orientaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo uma

vez que neles intervecircm vaacuterios aspectos alguns dos quais imprevisiacuteveis A qualidade em

orientaccedilatildeo vocacional e em avaliaccedilatildeo eacute considerada sempre incompleta pois refere-se a uns e

exclui tantos outros aspectos nesse processo Aliaacutes se o proacuteprio sistema de ensino eacute dinacircmico

satildeo dinacircmicas tambeacutem a orientaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo e a proacutepria qualidade

Em funccedilatildeo dos dados recolhidos constatou-se que 3 (937) informantes acham que a

orientaccedilatildeo vocacional e profissional deve ser introduzida e concretizada no ensino primaacuterio para

quem vai ao ensino profissional baacutesico e no ensino secundaacuterio para os alunos que entram na

universidade

Estas declaraccedilotildees mostram claramente um desconhecimento total das abordagens

modernas sobre estes serviccedilos as quais advogam que a sua concretizaccedilatildeo deve se materializar

em todos os niacuteveis de ensino incluindo na infacircncia Estas declaraccedilotildees indicam claramente que a

concepccedilatildeo destes inquiridos resume-se na ideia de que os serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e

profissional destinam-se aos indiviacuteduos que terminam o ensino secundaacuterio para obter

informaccedilotildees fundamentais para o ingresso no ensino superior ou para a aquisiccedilatildeo de um emprego

eou realizaccedilatildeo duma actividade remunerativa

Entretanto 29 (9062) informantes embora natildeo tenham sabido justificar consideraram

que estes serviccedilos devem ser concretizados em todos os niacuteveis de ensino

191

De facto estes serviccedilos devem ser concretizados em todo o espaccedilo social Devem mesmo

iniciar em tenra idade para permitir que o indiviacuteduo cresccedila com haacutebito e espiacuterito de trabalho

para o seu sustento e dos demais que se localizam em seu redor

A Perspectiva Ecoloacutegica da Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional advoga que o ser

humano eacute considerado indissoluvelmente unido ao seu meio como uma unidade em

funcionamento O ambiente eacute activo e modificador de possibilidades e de projectos pessoais e

sociais (Lassance 200515)

Todos os 32 (100) inquiridos afirmaram que as possibilidades ou condiccedilotildees necessaacuterias

para a introduccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no nosso sistema

educativo devem se concretizar na exposiccedilatildeo das possibilidades e profissotildees nas escolas

Embora natildeo seja simplesmente nas escolas onde devem ser expostas as possibilidades e

profissotildees julga-se verdadeira a afirmaccedilatildeo segundo a qual estes serviccedilos satildeo responsaacuteveis pela

orientaccedilatildeo pessoal em prol dum projecto pessoal social e nacional numa clara realidade de

desenvolvimento do paiacutes atraveacutes da melhoria da qualidade de ensino

Existe uma relaccedilatildeo visiacutevel entre a Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional e o

desenvolvimento humano pois quem faz o que gosta tem mais possibilidades de se desenvolver

humanamente Da mesma maneira tem mais possibilidade de contribuir para o desenvolvimento

da sua famiacutelia sua comunidade e para o paiacutes inteiro

Uma das caracteriacutesticas naturais dos seres humanos eacute a transformaccedilatildeo da natureza para o

benefiacutecio proacuteprio em prol do desenvolvimento

Nas sociedades globalizadas o envolvimento das comunidades rurais eacute um dos

instrumentos para a competitividade e sobrevivecircncia

Nestes termos acreditando que a promoccedilatildeo valorizaccedilatildeo e concretizaccedilatildeo do

desenvolvimento e envolvimento dependem essencial e fundamentalmente do niacutevel ou grau de

formaccedilatildeo considero necessaacuterio um programa de Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional

processual (a iniciar na famiacutelia) visando a consciencializaccedilatildeo das populaccedilotildees sobre a

necessidade de participar e decidir pelo aproveitamento das potencialidades locais

A colaboraccedilatildeo ou envolvimento parental eacute traduzida por um importante alijamento da

formaccedilatildeo geral dos alunos envolvidos e por um incremento dos saberes em benefiacutecio das

competecircncias teacutecnicas profissionais e sociais permitindo a adaptaccedilatildeo dos trabalhadores nos

projectos institucionais e nacionais (Pascal 200241)

192

Movido pelo conhecimento da importacircncia do envolvimento na realizaccedilatildeo das actividades

comunitaacuterias pretendo atraveacutes da investigaccedilatildeo identificar formas conducentes agrave materializaccedilatildeo

da Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional individualizada ou colectiva nas comunidades rurais

Consequentemente desejo desenvolver nas comunidades a necessidade de busca

incessante de esforccedilos para a concretizaccedilatildeo de muacuteltiplos intentos

Em termos pessoais pretendo identificar e promover estrateacutegias que me possam envolver

cada vez mais nas comunidades do distrito donde sou natural ajudando-as a desenhar e sustentar

projectos de vida individuais ou comunitaacuterios materializando um antigo desejo de desenvolver

economicamente principalmente a minha localidade

Nos aspectos de ordem profissional assumindo-me como pesquisador tenciono elevar as

capacidades e o conhecimento na aplicaccedilatildeo de diversificados instrumentos proacuteprios e adequados

para a concretizaccedilatildeo de serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional tanto individual como

colectivamente Pretendo igualmente consciencializar nos nativos e nos residentes o espiacuterito e

cultura do trabalho para o benefiacutecio proacuteprio e comunitaacuterio

No concernente aos aspectos de ordem acadeacutemica pretendo dar continuidade aos estudos

tidos na minha formaccedilatildeo anterior de Mestrado em Educaccedilatildeo Social pois acredito que os

serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacionalocupacional e profissional concretizam uma das praacuteticas

antigas do trabalho social

Em Moccedilambique ainda natildeo encontrei nenhuma referecircncia sobre a orientaccedilatildeo

vocacionalocupacional e profissional comunitaacuteria

A mateacuteria sobre o desenvolvimento rural eacute do domiacutenio da Sociologia e Antropologia e natildeo

concretamente da Psicologia Deste modo pretendo introduzir uma novidade no domiacutenio da

Psicologia Vocacional

Pasqualin Garbulho e Schut (200414) debruccedilam-se sobre a orientaccedilatildeo vocacional e

profissional numa perspectiva para o novo mileacutenio apelando uma reflexatildeo sobre as necessidades

e satisfaccedilotildees actuais desta aacuterea e citando Bronfenbrenner (1996) referem-se ao paradigma

ecoloacutegico para esclarecer que o ser humano eacute indissoluvelmente unido ao seu meio como uma

unidade em funcionamento

A orientaccedilatildeo vocacional e profissional eacute considerada uma das chaves fulcrais para a

superaccedilatildeo de inuacutemeras dificuldades com que os homens se deparam no processo de

desenvolvimento social Eacute a partir da orientaccedilatildeo vocacional comunitaacuteria que se pode promover a

participaccedilatildeo das comunidades na identificaccedilatildeo de causas consequecircncias e soluccedilotildees dos

problemas locais

193

Anseio ainda incrementar e sustentar o niacutevel de colaboraccedilatildeo efectiva entre os diferentes

segmentos populacionais na planificaccedilatildeo e execuccedilatildeo de projectos comunitaacuterios em prol dum

desenvolvimento franco envolvente e permanente

Como resultado os Governos nacionais e os oacutergatildeos doadores tecircm aumentado bastante o

apoio a avaliaccedilotildees nacionais destinadas a monitorar o aproveitamento dos alunos O pressuposto

frequente eacute que natildeo soacute as avaliaccedilotildees nacionais forneceratildeo informaccedilotildees sobre o estado da

educaccedilatildeo mas tambeacutem que o uso dessa informaccedilatildeo deve levar agrave melhoria do aproveitamento

(Greaney e Kellaghan 2011 9)

Consideraccedilotildees finais

A partir de orientaccedilatildeo vocacional e profissional colectiva processual sobretudo a iniciar

em tenra idade pode se consciencializar as famiacutelias e comunidades locais a manifestar interesse

pela realizaccedilatildeo de qualquer actividade profissional para o sustento proacuteprio e comunitaacuterio

A orientaccedilatildeo vocacional e profissional sobretudo no novo mileacutenio considera a sociedade

em geral como o espaccedilo proacuteprio para a sua concretizaccedilatildeo e auto-afirmaccedilatildeo

Os conhecimentos sobre a materializaccedilatildeo da orientaccedilatildeo vocacionalocupacional e

Profissional nas comunidades poderatildeo beneficiar ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Desenvolvimento

Humano na identificaccedilatildeo e introduccedilatildeo de poliacuteticas referentes no sistema educativo nacional

conntribuindo assim para a melhoria da qualidade entendida como produto de ensino

Para Silva (200467) o desenvolvimento eacute entendido como crescimento econoacutemico

acompanhado do progresso tecnoloacutegico e institucional definido controlado e dirigido pela

populaccedilatildeo a serviccedilo da mesma para o seu bem-estar O autor considera que o desenvolvimento

eacute um ideal a ser alcanccedilado

A orientaccedilatildeo vocacional consiste em o conselheiro incentivar o indiviacuteduo a pensar com

cuidado na profissatildeo que lhe agrada e depois fornecer-lhe todas as informaccedilotildees possiacuteveis sobre

as habilidade e qualificaccedilotildees exigidas por essa profissatildeo e sobre o tipo de perspectivas e

oportunidades que ela pode oferecer com o passar do tempo (Fontana 2002359)

Para Souza citado por Francisco (201078) a comunidade eacute o conjunto de grupos e subgrupos

de uma mesma classe social que tem interesse e preocupaccedilotildees comuns sobre condiccedilotildees de

vivecircncia no espaccedilo residencial e que dadas as condiccedilotildees fundamentais de existecircncia tendem a

ampliar continuamente o acircmbito de repercussatildeo dos seus interesses preocupaccedilotildees e

enfrentamentos comuns Eacute uma organizaccedilatildeo cujos assuntos satildeo do interesse colectivo

194

As aglomeraccedilotildees humanas situadas numa dada base territorial constituem uma comunidade

na medida em que a organizaccedilatildeo do quotidiano leva agrave criaccedilatildeo de canais particulares de

expressatildeo assim como cria relaccedilotildees que de modo limitado cumprem diversas funccedilotildees

Haacute que reconhecer a importacircncia que o envolvimento dos diferentes segmentos

populacionais das comunidades locais tem para a materializaccedilatildeo de qualquer vontade sobretudo

no contexto do desenvolvimento Deve igualmente reinar entre todos os moradores das diferentes

comunidades o espiacuterito de interdependecircncia e cooperaccedilatildeo

O desenvolvimento comunitaacuterio eacute um processo de cooperaccedilatildeo social O homem sempre

buscou a cooperaccedilatildeo para vencer as barreiras naturais e as dificuldades causadas pelo homem e

pelo proacuteprio desenvolvimento Aqui estaacute o grande fundamento da qualidade educativa resultante

da implementaccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional comunitaacuteria em prol do

desenvolvimento de toda a naccedilatildeo a partir do indiviacuteduo formado vocacional ou

profissionalmente

Para a concretizaccedilatildeo destes serviccedilos satildeo fundamentais as teorias psicodinacircmicas

desenvolvimentais humaniacutesticas comunitaacuterias e contextuais que enfocam a origem o

desenvolvimento vocacional e a escolha profissional a partir das caracteriacutesticas pessoais do

jovem e de suas relaccedilotildees significativas com as pessoas mais proacuteximas

Em outras palavras o pleno potencial da educaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao crescimento econoacutemico

soacute pode se concretizar se o ensino oferecido for de alta qualidade e se forem desenvolvidos os

conhecimentos e as habilidades cognitivas dos alunos (Greaney e Kellaghan 2011)

Em siacutentese considero que para que o nosso sistema de ensino seja considerado de melhor

qualidade os governantes e a sociedade civil devem se esforccedilar em oferecer aos aprendentes as

capacidades e competecircncias para a escolha e desempenho profissional

Referecircncias bibliograacuteficas

CNAQ Sistema Nacional de Avaliaccedilatildeo Acreditaccedilatildeo e Garantia de qualidade de Ensino

Superiorndash Manual de avaliaccedilatildeo Externa de Instituiccedilotildees Maputo CNAQ 2012

FONTANA David Psicologia para Professores 2 ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 2002

FRANCISCO Antoacutenio Aacutelvaro Desenvolvimento Comunitaacuterio em Moccedilambique contribuiccedilotildees

para a sua compreensatildeo 2 ed Editora BS 2010

GODOY Arllda Schmidt Introduccedilatildeo agrave Pesquisa Qualitativa e suas Possibilidades Satildeo Paulo

1995

195

GREANEY Vincent e KELLAGHAN Thomas Avaliaccedilatildeo dos niacuteveis de desempenho

educacional Rio de Janeiro Elsevier 2011

LASSANCE Maria Ceacutelia Pacheco Adultos com Dificuldades de Ajustamento ao Trabalho

Ampliando o Enquadre da Orientaccedilatildeo Vocacional de Abordagem Evolutiva Revista

Brasileira de Orientaccedilatildeo Profissional nuacutem 6 2005

PASCAL Roggero Avaliaccedilatildeo dos sistemas educativos nos paiacuteses da Uniatildeo Europeia de uma

necessidade problemaacutetica a uma praacutetica complexa desejaacutevel EccoS Revista Cientiacutefica

vol 4 nuacutem 2 2002 Satildeo Paulo

PASQUALINI Juliana Campregher GARBULHO Norma de Faacutetima e SCHUT Tannie

Orientaccedilatildeo Profissional com Crianccedilas Uma Contribuiccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Infantil Revista

Brasielira de Orientaccedilatildeo Profissional Volume 5 num 1 2004

SILVA Janaila dos Santos A Influecircncia dos Meios de Comunicaccedilatildeo Social na Problemaacutetica da

Escolha Profissional Psicologia Ciecircncia e Profissatildeo Brasil 2004

TENOacuteRIO Robinson e LOPES Uaccedilai (org) Avaliaccedilatildeo e gestatildeo teorias e praacuteticas Salvador

EDUFBA 2010

ZUNGUZE Rafael Importacircncia das Ciecircncias de Educaccedilatildeo nos temas transversais In

DUARTE Stela e MACIEL Carla Temas Transversais em Moccedilambique Educaccedilatildeo Paz

e Cidadania Maputo Educar-UP 2015 (pp 293-304)

196

Apecircndices

Universidade Pedagoacutegica

Questionaacuterio dirigido aos docentes

O presente inqueacuterito por questionaacuterio visa recolher informaccedilotildees sobre a necessidade e

possibilidade de introduccedilatildeo da orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema educativo

moccedilambicano bem como das suas implicaccedilotildees na qualidade de ensino O conteuacutedo seraacute usado

para fins meramente acadeacutemicos

Idade ______anos em 2015 SexoMF______ NiacutevelGrau acadeacutemico_________

NiacutevelGrau onde lecciona________________________________

1 Acha necessaacuteria a introduccedilatildeo do serviccedilo de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema

educativo moccedilambicano____________________ Porque___________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

2 Concorda com a ideia segundo a qual a introduccedilatildeo da orientaccedilatildeo vocacional e profissional

vai enfraquecer cada vez mais a qualidade de ensino__________ Fundamenta__________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

3 No seu entender a orientaccedilatildeo vocacional e profissional beneficia ou prejudica o ensino por

competecircncia vigente no nosso sistema de educaccedilatildeo________________ Explicite_______

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

4 Em sua opiniatildeo a orientaccedilatildeo vocacional e profissional poderaacute contribuir para a melhoria da

qualidade de ensino__________ Argumeta_______________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

5 Para vocecirc a orientaccedilatildeo vocacional e profissional deve ser introduzida e concretizada no

Ensino Primaacuterio_______ Ensino Secundaacuterio_________ Ensino Superior_____________

Porque______________________________________________________________________

197

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

6 Estes serviccedilos devem ser introduzidos e concretizados em todos os sistemas de ensino____

Porquecirc______________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

7 A seu ver existem possibilidades ou condiccedilotildees em Moccedilambique para a introuccedilatildeo dos

serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional_______

8 Quais satildeo as possibilidades ou condiccedilotildees necessaacuterias para a introduccedilatildeo dos serviccedilos de

orientaccedilatildeo vocacionale e profissional no nosso sistema educativo_____________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

9 Concorda com o pensamento de que os serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional

devem ser discutidos no ensino geral_____________ Desenvolva____________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

10 Existe alguma relaccedilatildeo entre as descobertas dos Recursos Minerais e introduccedilatildeo dos serviccedilos

de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema educativo________ Comente________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

11 Acha que apenas nas escolas teacutecnico-profissionais eacute que devem ser concretizados os serviccedilos

de orientaccedilatildeo vocacional e profissional___________ Fundamente___________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

12 Existe alguma relaccedilatildeo entre a orientaccedilatildeo vocacional e profissional e o desenvolvimento

humano________Justifique__________________________________________________

_

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Muito obrigado pela colaboraccedilatildeo

198

Amorosidade como componente pedagoacutegica

Elisabeth Jesus de Souza40

Resumo

O principal objetivo deste trabalho eacute discutir a amorosidade como componente pedagoacutegica na Educaccedilatildeo

Infantil O meacutetodo de pesquisa utilizado foi de observaccedilatildeo participante baseado natildeo somente na praacutetica

como tambeacutem na leitura de alguns teoacutericos A observaccedilatildeo participante realizou-se numa Unidade

Municipal de Educaccedilatildeo Infantil situada em uma comunidade no centro da Cidade de Niteroacutei Rio de

Janeiro Conclui-se que considerar a amorosidade na atuaccedilatildeo docente sobretudo na educaccedilatildeo infantil natildeo

eacute uma questatildeo de perda de autoridade pelo contraacuterio o amor eacute uma ferramenta no exerciacutecio da conquista

pelo respeito na sala de aula pela consolidaccedilatildeo dos laccedilos humanos fazendo da aprendizagem uma

consequecircncia O caminho da amorosidade como componente pedagoacutegica eacute uma escolha uma escolha

minha e ou sua Sem uma escolha voluntaacuteria o amor seraacute apenas uma utopia pedagoacutegica

Palavras-chave Educaccedilatildeo Amorosidade Componente pedagoacutegica Educaccedilatildeo infantil

Abstract

The main objective of this work is to discuss amorousness as a pedagogical component in Early

Childhood Education The research method used was participant observation based not only on the

practice but also on the reading of some theorists The participant observation was carried out in a

Municipal Infant Education Unit located in a community in the center of the City of Niteroacutei Rio de

Janeiro It is concluded that considering amorousness in teaching especially in early childhood education

is not a matter of loss of authority on the contrary love is a tool in the exercise of achievement for

respect in the classroom for the consolidation of human bonds making learning a consequence The path

of love as a pedagogical component is a choice a choice of mine and or yours Without a voluntary

choice love is only a pedagogical utopia

Keywords Education Amorosity Pedagogical component Child education

Introduccedilatildeo

O presente artigo eacute o capiacutetulo dois que compotildee parte do trabalho monograacutefico intitulado

de Pedagogia Social ldquoUm olhar amoroso na educaccedilatildeo infantil de meninos e meninas em

situaccedilatildeo de vulnerabilidade socialrdquo como requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de especialista

em Pedagogia Social para o Seacuteculo XXI por mim defendido em novembro de 2016 Nele

veremos a amorosidade como componente Pedagoacutegica na Educaccedilatildeo Infantil o amor como

40 Poacutes graduanda - Universidade Federal FluminenseEmail uffbethjesushotmailcom

elisabethjesusdesouzagmailcom

199

possibilidade efetiva de mudanccedilas e transformaccedilotildees no contexto educacional natildeo somente de

meninos e meninas como tambeacutem de educadores e educadoras deste segmento Quem satildeo os

sujeitos da amorosidade De que forma a amorosidade pode cooperar para inclusatildeo escolar

Atraveacutes de embasamentos teoacutericos do diaacutelogo com os respectivos autores citados ao longo da

discussatildeo bem como por meio da pesquisa de caraacuteter participativo eacute possiacutevel chegarmos a um

consenso de respostas e possiacuteveis caminhos para essas e outras indagaccedilotildees no contexto da

educaccedilatildeo escolar e na busca de educadores que almejam uma praacutetica coerente com seu discurso

O artigo constitui-se de trecircs partes Na primeira parte a partir de alguns autores como

Freire e Schettini a partir tambeacutem de relatos de experiecircncias podemos encontrar pelo menos

uma definiccedilatildeo para a questatildeo ldquoO que eacute amorosidaderdquo Prosseguindo com o primeiro autor e

dialogando com outro profissional da educaccedilatildeo infantil na segunda parte discutiremos quem satildeo

ldquoOs Sujeitos da Amorosidaderdquo a motivaccedilatildeo que tanto os educandos quanto os educadores

poderatildeo experimentar quando a afetividade eacute considerada nessa relaccedilatildeo reciacuteproca Para que haja

ldquoAmorosidade e Inclusatildeordquo item discutido na terceira parte deste trabalho compreender a

importacircncia do diaacutelogo neste contexto eacute imprescindiacutevel Por fim na quarta parte com bases

teoacutericas e praacuteticas eacute possiacutevel encontrar a primeira definiccedilatildeo de ldquoO que eacute amorrdquo Com a mesma

base encontraremos exemplos do que eacute sua praacutetica e qual sua aplicaccedilatildeo no acircmbito educacional

1 O que eacute amorosidade

() o ato de amor estaacute em comprometer-se com sua causa A causa da

libertaccedilatildeo Mas este compromisso porque amoroso eacute dialoacutegico () Como ato

de valentia natildeo pode ser piegas como ato de liberdade natildeo pode ser pretexto de

manipulaccedilatildeo senatildeo gerador de outros atos de liberdade A natildeo ser assim natildeo eacute

amor Somente com a supressatildeo da situaccedilatildeo opressora eacute possiacutevel restaurar o

amor que nela estava proibido Se natildeo amo o mundo se natildeo amo a vida se natildeo

amo os homens natildeo me eacute possiacutevel o diaacutelogo

Paulo Freire

Eacute possiacutevel entatildeo a partir da citaccedilatildeo acima definir amorosidade como a expressatildeo a

praacutetica do amor Eacute em nome do comprometimento com a causa de uma educaccedilatildeo libertadora

para os vulneraacuteveis de nosso paiacutes que noacutes educadores nos dispomos a dar um corpo uma

corporeificaccedilatildeo ao amor agregando-o em nossa luta

200

Quando me comprometo com a educaccedilatildeo tenho uma causa a crianccedila em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social por exemplo Se a nossa responsabilidade como educador social eacute propor

uma educaccedilatildeo que a liberte da opressatildeo do pensamento hegemocircnico de que estaacute fadada ao

fracasso de que eacute algueacutem incapaz precisamos ser educadores amorosos porque sem amor

seremos mais um opressor ou natildeo faremos qualquer diferenccedila na vida escolar dessa crianccedila

Para tal eacute indispensaacutevel o diaacutelogo Quando esta relaccedilatildeo muacutetua eacute estabelecida entre

educador e educando a troca na construccedilatildeo do conhecimento acontece de forma mais maleaacutevel

mais terna com mais satisfaccedilatildeo de forma mais estaacutevel para ambas as partes Natildeo estou falando

de permissividade leviana mas de um profissional movido pelo sentimento humano um ser

sensiacutevel capaz de mudar sua praacutetica pela flexibilidade inerente ao seu fazer do ser educador

Nesta senda da libertaccedilatildeo vou cada vez mais querendo bem ao educando

O resultado seraacute sem nenhuma descrenccedila um contiacutenuo e progressivo processo de

libertaccedilatildeo Esse resultante da accedilatildeo amorosa nos conduz a reflexotildees que culminam em ouvir a

crianccedila perceber seus anseios suas anguacutestias sentir seu silecircncio seu medo ou sua valentia seu

olhar sua alegria ou tristeza Nessa direccedilatildeo vamos encontrando sentido para a praacutetica docente

Natildeo podemos ser dissuadidos quanto a nossa motivaccedilatildeo quanto aos nossos pensamentos

quanto agrave educaccedilatildeo que desejamos e pela qual lutamos natildeo podemos ser atordoados nem

desvanecidos por aqueles que afrontam os direitos humanos O direito a que refiro nesse

contexto eacute o direito de libertar a alegria o amor que pode estar gritando dentro de mim e de

vocecirc a alegria de ser o que eacute sem medo da felicidade sem medo da inveja alheia

A seguir relato de experiecircncia

Certa vez enquanto estava agrave mesa tomando cafeacute com algumas colegas de

trabalho fiz referecircncia agraves crianccedilas (as quais chamo de meus amores meus

favores) de minha sala de aula Uma das colegas interrompeu-me com a seguinte

fala

― Vocecirc fica aiacute cheia de amor com eles mas um dia pode pegar o jornal e ver

uma delas morta

(Raquel professora de educaccedilatildeo infantil haacute doze anos)

Chamar essas crianccedilas de meus amores tem para mim grande significado pois foi com

essa ―turminha que pude pela primeira vez sentir experimentar o sabor e a gratidatildeo que eacute

trabalhar como educadora de crianccedilas da classe popular A espontaneidade de cada um se

traduzia na pureza e singeleza da vida que noacutes adultos muitas vezes complicamos

201

Amorosidade cuidado dedicaccedilatildeo atenccedilatildeo todo esse labor que a infacircncia exige de noacutes

educadores que com ela trabalhamos resultam nessa ternura Por isso eles eram tambeacutem meus

favores A sociedade e muitos intelectuais destacam apenas as sofrecircncias os problemas

apresentados pelos educandos da classe popular mas as experiecircncias nos mostram e nos ensinam

que nesse contexto tambeacutem temos peacuterolas a lapidar

A fala da professora Raquel me deixou tatildeo aborrecida que me retirei da mesa naquele

momento Fui assim percebendo no conviacutevio com esta e algumas outras colegas de profissatildeo

que sem amor natildeo temos esperanccedila ou qualquer perspectiva de mudanccedila seja qual for o contexto

que me envolve Na educaccedilatildeo isso tem peso dobrado A sociedade ainda quer ver a Educaccedilatildeo

como meio de mudanccedila social ainda deposita nela alguma esperanccedila

Para a professora citada no entanto as crianccedilas que moram em comunidade que vivem

em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social jaacute estatildeo condenadas a morte Que sentido faz entatildeo investir

nessas crianccedilas Jaacute estatildeo arruinadas mesmo jaacute tecircm seu futuro predeterminado preestabelecido

Para que serviraacute entatildeo meu amor em relaccedilatildeo a elas

No sentido oposto fui tambeacutem constatando atraveacutes da troca de experiecircncia com outros

colegas que uma simples atitude amorosa por parte do professor pode marcar profundamente

uma crianccedila no seu contexto escolar e trazer a ela o sentido da Educaccedilatildeo Mesmo que ela natildeo

alcance esse sentido agora Ser amoroso eacute parte integrante da superaccedilatildeo da opressatildeo Mas para

ter amor pelos oprimidos noacutes educadores tambeacutem precisamos ser libertos Segundo Luiz

Schettini

Que seria uma ―accedilatildeo afetiva em um contexto pedagoacutegico Natildeo existe manual

ou roteiros a serem seguidos para cumprir um programa de accedilatildeo afetiva Essa eacute

talvez a dificuldade da maioria das pessoas mesmo quando compreendem a

importacircncia da afetividade Agir com afeiccedilatildeo eacute a resultante de tudo o que uma

pessoa eacute nas suas relaccedilotildees com o mundo (SCHETTINI 2010 p 26)

Conforme citaccedilatildeo acima natildeo existe uma resposta pronta que defina a expressatildeo accedilatildeo

afetiva efetiva O que estaacute intriacutenseco nesse contexto eacute muito mais do que o planejamento que

temos para cumprir ou as regras ―os combinados do cotidiano que criamos como pretexto para

manter a ordem O valor sentimental e profissional estaacute expliacutecito em nossa atitude

Nossa presenccedila e nosso fazer na sala de aula tem significaccedilatildeo e valor imensuraacutevel Natildeo

deixemos portanto que por estarmos tatildeo embaraccedilados com o proacuteprio cotidiano isso passe

despercebido Quando dermos conta disso o amor a afetividade seraacute apenas uma consequecircncia

202

A proposta natildeo estaacute em que o educador se torne um profissional melancoacutelico natildeo Mas em que

cuidemos para natildeo deixar morrer a sensibilidade a alegria de praticar a docecircncia porque sem a

amorosidade a praacutetica educativa perde o sentido

Relato a seguir uma experiecircncia

Isaque tem 2 (dois) anos de idade foi matriculado na unidade escolar dois

meses apoacutes inicio do ano letivo Ao ser entregue na sala pela avoacute a crianccedila

resistiu chorando as professoras tentaram acolhe-lo convidandondasho para brincar

No primeiro dia durante o tempo em que permaneceu na creche (periacuteodo de

inserccedilatildeo ndash das 8 agraves 10 horas) ele reagiu com muito choro ameaccedilando e batendo

em qualquer adulto que dele se aproximasse No segundo dia Isaque parecia

mais calmo poreacutem demonstrava agressividade na interaccedilatildeo com os colegas de

sala de aula e tambeacutem na interaccedilatildeo com os colegas de paacutetio Ele apertava com

forccedila e mordia os demais colegas que se aproximassem dele ou simplesmente

se aproximava para morder No dia seguinte ou seja no terceiro dia Isaque

trouxe flores para uma das professoras e a abraccedilou carinhosamente Estendemos

um pouco mais seu horaacuterio na escola Alimentou-se muito bem

A partir do quarto dia consideramos que a crianccedila jaacute teria condiccedilatildeo de

permanecer tempo integral na escola pois jaacute natildeo chorava mais Alimentou-se

bem e dormiu bem Aos poucos vem demonstrando ser bastante carinhoso e

prestativo com uma oacutetima desenvoltura na fala demonstra ter uma inteligecircncia

bastante aguccedilada Possui uma incriacutevel autonomia na realizaccedilatildeo das atividades

cotidianas da escola

Poreacutem a crianccedila Isaque vem nos sinalizando continuamente que precisa de

socorro de ajuda pois na relaccedilatildeo na interaccedilatildeo com os colegas durantes as

brincadeiras tem ainda apresentado sinais de agressividade mordendo e

apertando pegando-os pelo colarinho Se chamado agrave atenccedilatildeo pelas professoras

disse que vai matar o coleguinha em quem bateu ou chutou bate na professora

chamando-a de palavras de baixo escalatildeo Considerando as dificuldades de

Isaque as professoras Elisabeth e Cristiane planejaram realizar com ele natildeo

somente atividades coletivas mas tambeacutem individuais tais como jogos de

memoacuteria quebra-cabeccedila leituras etc

(Caderno de campo- junho de 2016)

A primeira leitura que fizemos dessa crianccedila foi de que ele era um menino agressivo Mas

felizmente logo que proferimos essas palavras percebemos nossa insensibilidade refazemos

nossa leitura a tempo - tinha paacuteginas sem ler Antes de qualquer conclusatildeo precisaacutevamos saber o

que se passava com Isaque sua atitude era apenas reproduccedilatildeo de algum contexto apesar de seus

tatildeo poucos anos de vida Nossa relaccedilatildeo com essa crianccedila natildeo poderia ser outra senatildeo uma

relaccedilatildeo pedagoacutegica-amorosa Nossos julgamentos deram lugar ao amor Tentar impor-lhe limites

sem qualquer compreensatildeo de sua realidade seria somente mais uma forma de opressatildeo

203

A matildee de Isaque tem dezessete anos de idade e estava reclusa Certo dia ela foi busca-lo

na escola e ficou um periacuteodo levando e buscando-o Periacuteodo esse que percebiacuteamos nitidamente

consideraacutevel melhora no seu desempenho no seu relacionamento com as demais crianccedilas Mas

de repente ela jaacute natildeo estava mais Isaque dizia que sua matildee fora embora Essa oscilaccedilatildeo sem

duacutevida reflete diretamente na vida pessoal da crianccedila e no seu rendimento escolar Isaque fica

sob a responsabilidade da avoacute materna

Atraveacutes de um olhar amoroso da postura do sentir do agir foi possiacutevel a percepccedilatildeo de

que haveria de existir outras maneiras de intervir no cotidiano de Isaque que natildeo fosse de forma

repressora Aacute medida em que buscaacutevamos alternativas fomos observando a incriacutevel crianccedila que

era o Isaque suas dificuldades e inquietudes natildeo poderiam estar acima de suas e de nossas

possiblidades

Natildeo teriacuteamos tantos jovens e adultos na EJA (Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos) se

minimamente as crianccedilas e os jovens recebessem o respaldo necessaacuterio na educaccedilatildeo infantil e no

ensino fundamental Mas no lugar do acolhimento o que vemos na maioria das vezes eacute a

exclusatildeo dos mesmos seja pela roupa que veste pelo sapato que calccedila ou pelo modo como fala

seja pelo lugar onde vive ou pelo tipo de cultura que expressa As proacuteprias atividades

pedagoacutegicas que lhes satildeo propostas muitas das vezes satildeo excludentes pela de falta de

contextualizaccedilatildeo

A partir do momento em que mecanismos natildeo satildeo criados para a permanecircncia de uma

crianccedila ou um adolescente na escola automaticamente seus sonhos satildeo fragmentamos E se essa

crianccedila natildeo for acolhida pela escola teraacute que mais tarde fazer parte do quadro da EJA Isso eacute

perverso Eacute perverso porque se hoje a crianccedila e o adolescente jaacute tecircm o direito agrave educaccedilatildeo direito

constitucionalmente adquirido por que precisar recorrer a EJA mais tarde Isso acontece porque

o sistema eacute perverso Entatildeo noacutes educadores tambeacutem precisamos nos libertar dessa opressatildeo

hegemocircnica

2 Os Sujeitos da Amorosidade

Quem satildeo os sujeitos da amorosidade No contexto da discussatildeo podemos entender como

sujeitos da amorosidade tanto o educando quanto o educador Compreendo que a amorosidade

acontece na relaccedilatildeo de troca numa relaccedilatildeo muacutetua Se o amor pode ser aprendido tanto eu e

vocecirc noacutes educadores podemos aprender o caminho do amor como tambeacutem o educando Entatildeo

ambos somos sujeitos dessa componente pedagoacutegica a amorosidade

204

Eacute a convivecircncia amorosa com seus alunos e na postura curiosa e aberta que

assume e ao mesmo tempo provoca-os a se assumirem enquanto sujeitos

soacutecios-histoacutericos-culturais do ato de conhecer eacute que ele pode falar do respeito agrave

dignidade e autonomia do educando Pressupotildee romper com concepccedilotildees e

praacuteticas que negam a compreensatildeo da educaccedilatildeo como uma situaccedilatildeo

gnoseoloacutegica (FREIRE 1996 p11)

Freire nos mostra que quando assumida a coexistecircncia amorosa com o educando o

educador natildeo soacute tem uma postura curiosa como tambeacutem permite ao educando ser sujeito de sua

proacutepria aprendizagem sujeito de sua histoacuteria Isso denota respeito ao educando e o dignifica ao

mesmo tempo em que viabiliza sua autonomia

Essa cumplicidade abre caminho para que o educando rompa com e medo e a opressatildeo

Nessa accedilatildeo amorosa derrubamos e vencemos paradigmas conceitos e preconceitos natildeo soacute por

parte do educando mas do proacuteprio educador Compreendemos nessa mutualidade

epistemoloacutegica a importacircncia de reconhecer aluno como protagonista como sujeito do processo

ensino-aprendizagem na praacutetica educativa

Segundo a professora Cristiane

Eacute atraveacutes da afetividade que a relaccedilatildeo professor-aluno se constitui e assim

sendo possibilita que o processo ensino-aprendizagem se torne mais

significativo ao educando (Cristiane Moura de Mattos ndash Professora haacute 8 anos)

Se haacute essa relaccedilatildeo afetiva entre o professor e o aluno ambos constituem-se como sujeitos

da amorosidade Conforme a fala da professora Cristiane essa relaccedilatildeo permite olharmos para o

educando como sujeito no processo Esse viacutenculo reincide no fato de que o professor natildeo

somente ensina como tambeacutem aprende

A postura sensiacutevel do profissional da educaccedilatildeo auxilia na autonomia do aluno

motivando-o na construccedilatildeo do conhecimento tanto escolar como extraescolar Quando na sua

praacutetica o professor eacute motivado pelo amor para o educando a aprendizagem ganha novo

significado Aprender com prazer contribui para o desempenho e rendimento do educando

3 Amorosidade e Inclusatildeo

Para algueacutem ser incluiacutedo em determinado contexto ele precisa ser ouvido Ouvir eacute algo

essencial no processo de inclusatildeo pois ao ouvir o outro eu o percebo ele passa a existir para

mim se esse outro fala comigo eacute porque para ele eu jaacute existo Isto sem duacutevida me compromete

Por isso nosso trabalho deveria estaacute sempre seguido do diaacutelogo

205

Segundo Freire (2011) ldquoEacute preciso poreacutem que quem tem o que dizer saiba saiba sem

sombra de duacutevida natildeo ser o uacutenico ou a uacutenica a ter o que dizerrdquo Ao despertar nossa atenccedilatildeo

para colocar em praacutetica o diaacutelogo Freire estaacute nos dizendo que para haver diaacutelogo eu

necessariamente tenho que saber aprender a ouvir o outro o que ele tem a anunciar Uma

simples escuta pode mudar todo seu plano de aula Freire propotildee uma interaccedilatildeo uma

movimentaccedilatildeo interna da fala do outro ao seu pensamento comprometido com o comunicar natildeo

como fazer o comunicado mas daacute atenccedilatildeo ao questionamento agrave incerteza daquele que ouviu O

ato dialoacutegico me anuncia natildeo somente como educador criacutetico e questionador mas tambeacutem

amoroso respeitoso e humilde no processo de autoavaliaccedilatildeo da minha praacutetica docente

Como citado anteriormente o amor eacute dialoacutegico se dialoacutegico eacute tambeacutem inclusivo A

questatildeo da amorosidade como componente pedagoacutegica eacute de suma importacircncia e de grande

relevacircncia portanto imprescindiacutevel no processo educativo de inclusatildeo Com o exerciacutecio do

amor consequentemente as demais virtudes me seguiratildeo

Segundo a professora Letiacutecia Lucas

Sem diaacutelogo nossa praacutetica e discurso satildeo vazios Sem ele natildeo temos como

saber como atender a necessidade do aluno Se natildeo o ouvimos como saberemos

do que precisa (Letiacutecia ndash 10 anos de magisteacuterio)

Para a professora Letiacutecia o diaacutelogo eacute uma forma de ser diligente de evitar a incoerecircncia

entre o discurso e a praacutetica docente Sem essa ferramenta natildeo eacute possiacutevel a contextualizaccedilatildeo do

fazer pedagoacutegico com o cotidiano do educando ficando somente na teoria Poreacutem ao

enveredarmos pelo caminho do diaacutelogo a probabilidade de certos em nossa experiecircncia praacutetica

seraacute maior

Traccedilar caminhos buscar alternativas que incluam cada crianccedila que se achega aos bancos

das escolas puacuteblicas no processo de rendimento escolar eacute uma forma de estimulo para que esta

permaneccedila dando prosseguimento agrave educaccedilatildeo para a vida e tornando possiacuteveis seus sonhos

Conforme Martins

Assim acredito que tudo depende da forma como vemos os fatos depende da

nossa formaccedilatildeo dos autores eleitos das nossas possibilidades ou limitaccedilotildees de

intervir no real O ato de pesquisar eacute um bom exerciacutecio para nos olharmos

(MARTINS 2015 P 47)

De acordo com a citaccedilatildeo acima a intervenccedilatildeo do educador na realidade no cotidiano do

educando depende do seu olhar em relaccedilatildeo a este Na educaccedilatildeo infantil principalmente o modo

206

como eacute direcionado esse olhar tem peso maior Nesse contexto o olhar antecede a palavra

resultando em accedilotildees As accedilotildees do professor em relaccedilatildeo ao aluno dependem de como este o ver

sendo acolhedora ou excludente

A formaccedilatildeo do educador sua escolha teoacuterica suas possibilidades e limitaccedilotildees podem

determinar seu modo de intervenccedilatildeo no papel que desempenha na dinacircmica docente O educador

social entende e estaacute ciente de que eacute parte no processo de mudanccedilas dos paradigmas da

educaccedilatildeo intervindo como parte transformadora de uma sociedade em que os dominados natildeo

satildeo excluiacutedos apenas economicamente mas em todos os aspectos sociais sobretudo no que diz

respeito a uma educaccedilatildeo com qualidade uma educaccedilatildeo modificadora e libertadora

Como componente pedagoacutegica a amorosidade tem relaccedilatildeo direta na inclusatildeo do educando

no acircmbito educacional Para aleacutem do conhecimento cientifico a educaccedilatildeo forma cidadatildeos seres

humanos Partindo desse pressuposto nesse sentido a amorosidade tem participaccedilatildeo

fundamental nessa correlaccedilatildeo entre o aluno e o professor

A pesquisa eacute um dos caminhos que podemos trilhar com vista ao aperfeiccediloamento ao

amadurecimento do olhar amoroso como forma de inclusatildeo do educando em nossas accedilotildees

docentes Atraveacutes da pesquisa hipoacuteteses podem ser levantadas e ou confirmadas conceitos

podem ser mudados as certezas e incertezas podem dar lugar a novas formas de pensar E vocecirc

professor acredita na amorosidade como componente pedagoacutegica

Para a professora Anoil

Atraveacutes do amor conquistamos alcanccedilamos objetivos (Anoil ndash 20 anos de

magisteacuterio)

Se a amorosidade eacute esse facilitador ela eacute tambeacutem promotora da inclusatildeo A amorosidade

eacute um facilitador no processo de inclusatildeo quem natildeo ama natildeo inclui Sem ser incluiacutedo nas

atividades pedagoacutegicas o aluno perde o estiacutemulo perde a motivaccedilatildeo em aprender A

amorosidade no ato de educar eacute uma demonstraccedilatildeo de valoraccedilatildeo do professor em relaccedilatildeo o

aluno Essa preocupaccedilatildeo eacute essencial

4 O que eacute amor

A primeira definiccedilatildeo por mim encontrada estaacute no capiacutetulo treze da primeira carta aos

coriacutentios na Biacuteblia Sagrada O tiacutetulo desse capiacutetulo define o amor como dom supremo e a

introduccedilatildeo deste capiacutetulo descreve-o como caminho sobremodo excelente

207

Agora pois permanecem a feacute a esperanccedila e o amor estes trecircs poreacutem o maior

destes eacute o amor (I Coriacutentios 13 13)

Partindo da citaccedilatildeo podemos ver que o amor realmente eacute algo sublime pois estaacute acima

de todos os dons de todo conhecimento cientiacutefico de toda eloquecircncia humana Apesar de todos

esses outros atributos que o ser humano possa vir adquirir se natildeo for o amor a real causa de meu

efetuar natildeo tem valor algum Mesmo exercendo a generosidade distribuindo todos os meus bens

entre os necessitados ainda que eu negue a proacutepria vida dando-a em favor de meus semelhantes

que entregue os meus bens entre eles se natildeo for o amor a razatildeo a essecircncia de tudo nada me

acrescentaraacute

Paulo finaliza o capiacutetulo falando de trecircs coisas que devem permanecer a feacute a esperanccedila e

o amor Mas de todas elas a maior eacute o amor A feacute e a esperanccedila estatildeo interligadas pela motivaccedilatildeo

que ambas promovem aqueles que nelas depositam suas forccedilas Natildeo haacute como desvincular uma da

outra No entanto nem mesmo a feacute (algo capaz de superar qualquer expectativa humana para os

que dela se apoderam) pode se sobrepor ao amor Essa compreensatildeo eacute encontrada na proacutepria

experiecircncia do apoacutestolo Paulo um homem que aprendeu a amar aprendeu a amorosidade

Podemos ver a seguir de forma praacutetica

Essa experiecircncia estaacute relacionada a um escravo chamado Oneacutesimo cuidado por Paulo

quando este estava aprisionado em Roma Em o texto ONEacuteSIMO ndash DE INUacuteTIL A UacuteTIL o autor

explana a carta de Paulo a Filemon mostrando a grande mudanccedila que Oneacutesimo teve em sua vida

atraveacutes da amorosidade e cuidado de Paulo Ele destaca os versiacuteculos 10 e 11 desta carta

passagem em que Paulo chama Oneacutesimo de filho e confirma que este foi gerado entre algemas

que ele era algueacutem sem valor agora poreacutem eacute valoroso O texto detalha que outrora Oneacutesimo era

um simples escravo em fuga desprezado pela sociedade Contudo os versiacuteculos mencionados

segundo o autor mostram com clareza a amorosidade paciecircncia e dedicaccedilatildeo que Paulo tinha agraves

pessoas independente de seu niacutevel social ou seu grau de instruccedilatildeo (YULAN DONG 2016)

Na praacutetica docente a experiecircncia de Paulo pode ser aplicada com o mesmo princiacutepio o

amor Vemos com essa experiecircncia que o resultado se deu a partir da amorosidade como

componente principal no processo de transformaccedilatildeo na vida de Oneacutesimo Portanto a

amorosidade eacute uma componente pedagoacutegica a partir do qual podemos como educadores

intervir de maneira beneacutefica na vida de crianccedilas da educaccedilatildeo infantil Essa interferecircncia poderaacute

ultrapassar os muros da sala de aula e da escola

A experiecircncia a seguir nos faz pensar sobre a importacircncia da afetividade na educaccedilatildeo

infantil de um olhar amoroso voltado para as crianccedilas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

208

Atualmente a comunidade onde estaacute localizada a unidade escolar em que a pesquisa foi

realizada passa por grande conflito entre as facccedilotildees atingindo diretamente aos moradores e o

funcionamento da escola tornando-os refeacutem de suas accedilotildees Tanto as crianccedilas como suas

respectivas famiacutelias e de alguma forma noacutes educadores e demais funcionaacuterios da unidade

escolar sofremos as consequecircncias desses atos Ao dialogar com a professora Cristiane chegamos

a conclusatildeo que no atual contexto em que se encontram as crianccedilas a noacutes confiadas natildeo apenas

como profissionais mas como seres humanos capazes de cuidar de outro o melhor pedagoacutegico

que poderiacuteamos propor seria o acolhimento atraveacutes da afetividade o afago o calor e o valor

humano teria maior significado do que qualquer outro conteuacutedo (Caderno de campo novembro

de 2016)

Conclusatildeo

Considerar a amorosidade na atuaccedilatildeo docente sobretudo na educaccedilatildeo infantil natildeo eacute uma

questatildeo de perda de autoridade pelo contraacuterio o amor eacute uma ferramenta no exerciacutecio da

conquista pelo respeito na sala de aula pela consolidaccedilatildeo dos laccedilos humanos fazendo da

aprendizagem uma consequecircncia Essa conquista eacute gradual agrave medida que pratico a amorosidade

o amor torna-se muacutetuo Afirmo assim que eacute uma praacutetica reciacuteproca Como seres humanos

precisamos natildeo somente de conhecimento cientifico das condiccedilotildees sugeridas e muitas senatildeo na

maioria das vezes impostas pelo sistema no contexto social poliacutetico e econocircmico do sistema

capitalista que domina a sociedade Brasileira E eacute esse sistema que na maioria das vezes noacutes

educadores reproduzimos no cotidiano escolar sem levar em consideraccedilatildeo a afetividade esta

indispensaacutevel na relaccedilatildeo professor aluno ainda mais quando se refere agrave educaccedilatildeo infantil com

maior peso a educaccedilatildeo de meninos e meninas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social pois estes jaacute

sofrem com maior expressividade e visibilidade o estigma da violecircncia Seja ela fiacutesica ou

simboacutelica Mas se a amorosidade como componente pedagoacutegica fizer parte do curriacuteculo nas

salas de aula e nos espaccedilos escolares certamente a realidade escolar teraacute outro sentido na

educaccedilatildeo escolar na infacircncia de muitos meninos e meninas que se fazem parte do dia a dia de

nossas praacuteticas docente

Referecircncias Bibliograacuteficas

FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa Satildeo Paulo

Paz e Terra 2011

209

MARTINS Margareth Pedagogia Social diaacutelogos com crianccedilas trabalhadoras VIII Satildeo

Paulo Expressatildeo e Arte 2015

SCHETTINI Luiz Filho Analfabetismo afetivo In Pedagogia da Ternura 2 ed Petroacutepolis

RJ Vozes 2010

YU LAN Dong ONEacuteSIMO ndash DE UTIL A INUTIL In O Encargo Central de Paulo Alimento

Diaacuterio Seacuterie A ideia central das epistolas de Paulo Satildeo Paulo Aacutervore da Vida 2016

210

ldquoDe Ministro mais activo e mais reluzente do Governo para Reitorrdquo um

contributo para o estudo da configuraccedilatildeo de rituais verbais da descortesia e

incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV

Acircngelo Ameacuterico Mauai41

Resumo

Com o presente estudo procuramos demonstrar de que forma as estrateacutegias discursivas se manifestam na

interacccedilatildeo entre interlocutores Analisamos a configuraccedilatildeo de rituais verbais as estrateacutegias de descortesia

e a incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV As sequecircncias discursivas do ldquoPontos

de Vistardquo analisadas evidenciam situaccedilotildees de ameaccedila das faces tendo em conta o valor social positivo

que as pessoas reivindicam Os interlocutores natildeo conseguem evitar a vulnerabilidade das faces jaacute que

usam estrateacutegias discursivas invasivas ou comprometedoras na perspectiva em que os outros possam

entender o seu discurso A intenccedilatildeo deliberada do locutor atacar a imagem de outro ou outros manifesta-

se ritualmente de forma descortecircs e os argumentos perfilados na interacccedilatildeo natildeo satildeo coerentes com a tese

defendida no discurso

Palavras-chave (Des)cortesia verbal Rituais verbais Estrateacutegia discursiva

Abstract

The study aims to demonstrate how the discursive strategies are revealed in the interaction between

interlocutors We analyze the outline of verbal rituals discourtesy strategies and discursive incoherence in

the STV ldquoPontos de Vistardquo program When scrutinized the discursive sequences of the ldquoPontos de Vistardquo

program show situations of facial threat taking into account the positive social value that the interlocutors

claim for They cannot avoid the vulnerability of the facial expression since they use invasive or

compromising discursive strategies in the perspective in which others can understand their discourse The

deliberate intention of the participants to attach the other manifests itself ritually in a discourteous manner

and the arguments outlined in the interaction are not consistent with the thesis defended in the discourse

Key words Verbal courtesy Verbal rituals Discursive strategy

1 Introduccedilatildeo

Em qualquer forma de interacccedilatildeo verbal aquele que ocupa uma posiccedilatildeo de falante tem a

consciecircncia de que estaacute numa posiccedilatildeo vulneraacutevel pois corre o risco de ser julgado interrompido

ou sofrer objecccedilatildeo Em funccedilatildeo disso ele procura controlar (monitorar) suas proacuteprias palavras

assim como as palavras e reacccedilotildees dos interlocutores Atraveacutes dessa estrateacutegia o falante procura

manter a situaccedilatildeo de equiliacutebrio no processo interaccional42

41 Docente da UP Delegaccedilatildeo de Gaza Licenciado em Ensino de Portuguecircs Mestre em Estudos Portugueses

Multidisciplinares na Aacuterea de Especializaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa e Doutorando em Estudos Portugueses na

Aacuterea de Especializaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa 42 A reflexatildeo sobre os fenoacutemenos linguiacutesticos subjacentes agrave interaccedilatildeo verbal insere-se no acircmbito do conjunto de

problemaacuteticas linguiacutesticas que emergem no campo da Pragmaacutetica das sequecircncias discursivas (Fonseca 1992) da

Anaacutelise Interacional (Kerbrat-Orecchioni 1986) e da Sociolinguiacutestica Interacional (Gumperz 1989)

211

Tendo por base as interacccedilotildees discursivas entre dois interlocutores - um jornalista e um

comentador permanente do programa ldquoPontos de Vistardquo da STV43 decorrido no dia 27 de

Novembro de 2016 - gravadas e posteriormente transcritas atraveacutes do sistema de notaccedilatildeo

ortograacutefica procuraremos analisar o comportamento sociolinguiacutestico subjacente ao geacutenero

discursivo ldquoPontos de Vistardquo um programa de informaccedilatildeo que vai para o ar aos domingos sob

moderaccedilatildeo do jornalista Jeremias Langa (JLL1) e nesta ediccedilatildeo contou com a participaccedilatildeo do

comentador Fernando Lima (FLL2)

O programa ldquoPontos de Vistardquo tem o objectivo de levar ateacute aos telespectadores a anaacutelise dos

acontecimentos semanais de ordem poliacutetica econoacutemica e social de Moccedilambique Na confluecircncia

de orientaccedilotildees teoacutericas e metodoloacutegicas da Sociolinguiacutestica Interaccional seguiremos o meacutetodo

qualitativo e interpretativo de anaacutelise de fenoacutemenos interaccionais concebendo a liacutengua como

um fenoacutemeno social e como as unidades linguiacutesticas do discurso funcionam nas conversaccedilotildees

dando enfoque agrave cortesia44 linguiacutestica e ao modo como se estabelece a coerecircncia discursiva

tendo por base as ldquopistas de contextualizaccedilatildeordquo subjacentes ao discurso e interpretados pelos

interlocutores (Gumpez 1989)

Considerando a relaccedilatildeo entre as praacuteticas discursivas e ldquocomunidades de pensamentordquo

(Gumperz 1989) procederemos ao levantamento e agrave anaacutelise das sequecircncias de valorizaccedilatildeo da

face dos actos ameaccediladores da face (Brown e Levinson 1987) e de como se realizam

discursivamente os rituais verbais de delicadeza no ldquoPontos de Vistardquo Descreveremos o modo

como se estabelece a intercompreensatildeo de sentido atraveacutes das estrateacutegias discursivas utilizadas

pelos interlocutores na anaacutelise da exoneraccedilatildeo do Prof Dr Jorge Ferratildeo do cargo de Ministro de

Educaccedilatildeo Cultura e Desenvolvimento Humano de Moccedilambique e da sua nomeaccedilatildeo para Reitor

da Universidade Pedagoacutegica (UP) de Moccedilambique Analisados os dados precedidos

basicamente por alguns pressupostos teoacutericos que confluem no modelo da chamada

Sociolinguiacutestica Interaccional apresentaremos por fim as principais conclusotildees extraiacutedas da

anaacutelise efectuada

2 Consideraccedilotildees teoacutericas

Uma das formas de manter o equiliacutebrio na interacccedilatildeo eacute por um lado construir uma auto-

imagem puacuteblica de si mesmo na qual se evidenciam os traccedilos positivos e se ocultem os traccedilos

negativos e por outro lado o falante busca resguardar a imagem dos interlocutores evitando

43 Soico Televisatildeo 44 Os itens cortesia e delicadeza descortesia e indelicadeza satildeo sinoacutenimos

212

aquilo que possa ser tomado por invasivo ou comprometedor ou seja uma imagem delineada em

termos de atributos aprovados socialmente A esta imagem Goffman (1967 5) atribui o nome de

face termo entendido como o valor social positivo que uma pessoa reivindica para si de forma

eficaz na percepccedilatildeo dos outros durante um contacto especiacutefico

John Gumperz e Erving Goffman destacam-se nos estudos da Sociolinguiacutestica

Interaccional Eles desenvolvem estudos que buscam dar conta de fenoacutemenos que envolvem

cultura sociedade e linguagem Uma elocuccedilatildeo pode ser compreendida de vaacuterias maneiras e

atraveacutes de inferecircncias Os interlocutores decidem como interpretaacute-la em conformidade com

ldquoconstelaccedilotildees de traccedilos presentes na estrutura de superfiacutecie das mensagens que falantes

sinalizam e interpretam a actividade que estaacute ocorrendordquo (Gumperz 1982 99 apud Biar 2006

4) Biar salienta que os mecanismos de sinalizaccedilatildeo como entoaccedilatildeo ritmo do discurso escolhas

lexicais foneacuteticas e sintaacutecticas constituem as pistas de estereoacutetipos de classe assimetrias de

poder Para Gumperz as pistas de contextualizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo e inferecircncia associam-se agrave

interpretaccedilatildeo inerente a qualquer discurso e tecircm como base as expectativas dos participantes e

contribuem na construccedilatildeo do significado

As pistas de contextualizaccedilatildeo podem aparecer sob vaacuterias manifestaccedilotildees linguiacutesticas

dependendo do repertoacuterio linguiacutestico de cada falante determinado historicamente e tambeacutem

culturalmente Assim

uma teoria geral das estrateacutegias do discurso deve portanto comeccedilar por

especificar quais satildeo os conhecimentos linguiacutesticos e socioculturais que satildeo

necessaacuterios partilhar para manter o envolvimento conversacional e tratar de

seguida o que constitui a proacutepria natureza de inferecircncia conversacional o que

faz a especificidade cultural e situacional da interpretaccedilatildeo (Gumperz 1989 2

apud Almeida 2012 14)

As pistas ajudam no estabelecimento da cortesia no curso da interacccedilatildeo em funccedilatildeo do

geacutenero discursivo actualizado Catherine Kerbrat-Orecchioni (2004) acentua a funccedilatildeo reguladora

da cortesia ligada ao contexto A delicadeza eacute sensiacutevel ao contexto quer situacional quer o

contexto mais amplo de que o geacutenero discursivo participa O geacutenero impotildee constriccedilotildees agrave relaccedilatildeo

interpessoal e por conseguinte agrave relaccedilatildeo cortecircs ou seja a cortesia verbal eacute uma competecircncia

sociocultural e linguiacutestica especiacutefica de cada geacutenero discursivo

213

3 Anaacutelise da configuraccedilatildeo de descortesia rituais verbais e incoerecircncia

discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV

31 A (des)cortesia verbal

A anaacutelise da cortesia passa pela distinccedilatildeo a partir da teoria da ameaccedila ou preservaccedilatildeo das

faces entre delicadeza positiva (estrateacutegias de valorizaccedilatildeo da imagem dos falantes) e delicadeza

negativa (estrateacutegias de evitaccedilatildeo dos actos ameaccediladores) (Brown e Levinson 1987 61) O ato de

cortesia exige um adequado trabalho de figuraccedilatildeo na interacccedilatildeo e a descortesia revela a emoccedilatildeo

na interacccedilatildeo e um forte ldquoenvolvimento conversacionalrdquo dos interlocutores no contexto

interaccional A indelicadeza distingue-se da rudeza Como refere Marina Terkourafi (2008)45

na rudeza o locutor tem a intenccedilatildeo deliberada de ameaccedilar a face enquanto na indelicadeza natildeo

haacute essa intenccedilatildeo deliberada A descortesia para efeitos da nossa anaacutelise envolve comportamento

comunicativo que causa a ofensa ou a ldquoperda da facerdquo de um alvo ou interpretado como alvo

(Almeida 2013 61)

311 Rituais verbais na abertura do Programa

Analisar uma interacccedilatildeo verbal como praacutetica sociodiscursiva situada historicamente eacute

investigar de que maneira as pessoas utilizam e o que fazem com as palavras ao se envolverem

em actividades quotidianas mediadas pela linguagem Para que isso ocorra eacute necessaacuterio observar

as regularidades e consistecircncias que moldam as praacuteticas sociais e seus geacuteneros dentro das

comunidades discursivas analisando os seus propoacutesitos comunicativos as diversas relaccedilotildees

interpessoais de poder e de interesses estabelecidas suas estrateacutegias discursivas tendentes ao

equiliacutebrio relacional ou para a preservaccedilatildeo das faces dos interactantes

No programa ldquoPontos de Vistardquo os interlocutores no processo conversacional

estabelecem uma relaccedilatildeo dialoacutegica em que ambos adaptam continuamente suas enunciaccedilotildees agraves

necessidades do Outro e do contexto em que se desenrolam Assim cada acto de fala influi

directamente no desenvolvimento sucessivo da interacccedilatildeo determinando as futuras acccedilotildees dos

interlocutores no evento comunicacional uma troca verbal que se preza pela manutenccedilatildeo de

acordos firmados atraveacutes de contiacutenuas negociaccedilotildees

O geacutenero discursivo ldquoPontos de Vistardquo configura portanto uma relaccedilatildeo discursiva

assimeacutetrica uma vez que os papeacuteis dos interlocutores satildeo distintos A assimetria interaccional

relaciona-se natildeo soacute com as funccedilotildees dos interlocutores na situaccedilatildeo comunicativa mas

45 Citado por Almeida (2013 61)

214

principalmente com seus papeacuteis sociais e suas caracteriacutesticas individuais JL eacute o jornalista que

modera a conversa enquanto ao FL neste contexto cabe-lhe a missatildeo de analisarcomentar os

assuntos propostos Embora revestidos de um papel distinto e institucionalizado tambeacutem

organizam criteriosamente o seu discurso com um ldquograu de ritualizaccedilatildeordquo verbal ao serviccedilo de

equiliacutebrio relacional parte integrante do trabalho de figuraccedilatildeo46 (ou ldquoface workrdquo) (Goffman

1974) dos comportamentos de interacccedilatildeo

A ritualizaccedilatildeo das praacuteticas discursivas revela-se como um saber de uma ldquopoliacutetica de uma

conversaccedilatildeordquo (Gumperz 1989 128) que determina o que os interactantes dizem em funccedilatildeo da

situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo na qual a cortesia se reveste de grande importacircncia na gestatildeo da relaccedilatildeo

instituiacuteda na interacccedilatildeo (Almeida 2009 46) O L1 eacute responsaacutevel pela abertura moderaccedilatildeo e

fecho do programa ele introduz novos assuntos formula perguntas controla e orienta a

interacccedilatildeo e decide pela mudanccedila de toacutepicos Estando integrado em todas as culturas como

componente verbal de interacccedilatildeo social o programa abre atraveacutes de uma saudaccedilatildeo para pocircr em

contacto os telespectadores conforme podemos observar no excerto seguinte

JL Muito boa noite (hellip) hoje vamos analisar as mexidas no Governo com

mudanccedila do Ministro da Educaccedilatildeo Cultura e Desenvolvimento Humano sua

nomeaccedilatildeo para Reitor da Universidade Pedagoacutegica (UP) A nomeaccedilatildeo de um

novo vice-ministro dos Recursos Minerais e Energia no caso eacute novo e uacutenico

pois natildeo havia neste ministeacuterio um vice-ministro Seria apenas um ministro

substituiacutedo entatildeo pela ministra Letiacutecia Como se sabe o Presidente reforccedila este

ministeacuterio com um vice-ministro quase dois anos depois da formaccedilatildeo deste

Governo Estes vatildeo ser entatildeo os assuntos de fundo aqui no nosso Programa

(hellip)

As ldquoestrateacutegias de alinhamentordquo possibilitam a retoma de uma intervenccedilatildeo interrompida e a

manutenccedilatildeo do ldquofluxo de progressatildeo temaacuteticardquo (Traverso 1996 apud Almeida 2012 22)

reorientando os rumos discursivos evitando as digressotildeesdivagaccedilotildees temaacuteticas e mantendo a

coerecircncia temaacutetica contribuindo para a manutenccedilatildeo da ordem interaccional da conversaccedilatildeo

46 A ldquofiguraccedilatildeordquo ou ldquotrabalho de face (face-work)rdquo ndash relativa a tudo o que uma pessoa empenha para que suas acccedilotildees

natildeo faccedilam ningueacutem perder a face incluindo ela proacutepria ndash estaacute ligada agrave noccedilatildeo de ldquoritualizaccedilatildeordquo das actividades

discursivas (Goffman 197417) O autor fundamenta o trabalho de figuraccedilatildeo ldquoEu emprego o termo ritual porque

se tratam de actos cuja componente simboacutelica serve para demonstrar o quanto a pessoa que age eacute digna de respeito

ou quanto ela estima que os outros satildeo dignos delerdquo (idem p21)

215

Estes fenoacutemenos denotam um forte ldquoenvolvimento conversacionalrdquo dos participantes nas trocas

discursivas

JL Vamo-nos situar para o primeiro assunto que elegemos para esta noite

Como dissemos houve mudanccedilas ao niacutevel do Governo duas pedras foram

mexidas uma a sair e outra a entrar Vamos comeccedilar por falar do Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo um dos ministros mais activos e diria mais reluzentes deste Governo

sai sai no final de uma forma muito espraia e parece muito suacutebita do Governo

e regressa para academia o que eacute que lhe parece esta mudanccedila para Jorge

Ferratildeo

Os alinhamentos muacutetuos dos participantes atraveacutes das trocas pergunta-resposta ou seja o

ldquoenquadramento de participaccedilatildeordquo (Schiffrin 1993 255 apud Almeida 2012 22) guiam os

interlocutores no seu trabalho e as intervenccedilotildees ocupam uma ldquosintagmaacutetica conversacionalrdquo

(Kerbrat-Orecchioni 1998 196) sendo que a coerecircncia natildeo se inscreve apenas ao niacutevel do

toacutepico (mantendo a continuidade referencial) mas tambeacutem em relaccedilatildeo agrave organizaccedilatildeo sequencial

da interacccedilatildeo respeitando a vez de elocuccedilatildeo e analisando as intervenccedilotildees que possibilitam o

entrelaccedilamento da vez de elocuccedilatildeo

Assim a interacccedilatildeo verbal eacute regida por regras e convenccedilotildees que determinam a

estruturaccedilatildeo da conversa em trecircs macro-momentos como saudaccedilatildeo empenhamento temaacutetico e

despedida As rotinas linguiacutesticas de abertura e de fecho revelam-se instrumentos de cortesia

Constituem meios para reduzir o risco da ameaccedila da face (Laver 1989 289 apud Almeida 2012

112) O elevado niacutevel de padronizaccedilatildeo social que caracteriza a abertura e o encerramento

conversacionais ocorre dentro das normas interaccionais envolvidas na situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo

e encontra a sua explicaccedilatildeo no tratamento dos actos ameaccediladores das faces - FTArsquos - face

threatening acts - (Brown e Levinson 1987)

312 A descortesia atraveacutes de actos de valorizaccedilatildeo da face como

forma de persuasatildeo

Os papeacuteis desempenhados pelos interlocutores na conversaccedilatildeo satildeo assimeacutetricos O L1 faz

perguntas e L2 tem o papel de responder em conformidade com a questatildeo como podemos

observar nas sequecircncias abaixo

216

[(hellip) um dos ministros mais activos e diria mais reluzentes deste Governo sai

sai no final de uma forma muito espraia e parece muito suacutebita do Governo e

regressa para academia]asserccedilatildeo [o que eacute que lhe parece esta mudanccedila para

Jorge Ferratildeo]Pergunta

De acordo com Gumperz as pistas de contextualizaccedilatildeo as pressuposiccedilotildees e inferecircncias

satildeo relevantes na interpretaccedilatildeo de qualquer discurso pelos interlocutores e contribuem na

construccedilatildeo do significado O L1 realiza um acto de valorizaccedilatildeo da face do Ministro exonerado

natildeo obstante natildeo se conheccedilam os criteacuterios convocados para o avaliar ou comparar aos outros

ministros do Governo actual O uso da asserccedilatildeo avaliativa de valor axioloacutegico positivo um dos

ministros mais activos e diria mais reluzentes deste Governo que apresenta um item

intensificador ldquomaisrdquo e os adjectivos ldquoactivosrdquo e ldquoreluzentesrdquo permitem a forte valorizaccedilatildeo da

face do Professor Ferratildeo Esta estrateacutegia discursiva pode causar discordacircncia entre os

admiradores das qualidades do Professor e os opositores da decisatildeo tomada indicia portanto

uma solidariedade de L2 em relaccedilatildeo agrave contraposiccedilatildeo da decisatildeo tomada pelo Presidente Eacute um

acto de descortesia porque limita a liberdade de posiccedilatildeo e ameaccedila a face do interactante O

locutor podia espevitar melhor a opiniatildeo do seu interlocutor se evitasse um comentaacuterio que

revela explicita ou implicitamente a sua posiccedilatildeo

O L1 realiza um ato directivo directo precedido de uma construccedilatildeo assertiva com

objectivo de conduzir o L2 a reagir segundo o que lhe eacute pedido o que eacute que lhe parece esta

mudanccedila para Jorge Ferratildeo A formulaccedilatildeo da ldquointerrogativa totalrdquo (Mateus et al 2003)

esperaria da parte do L2 uma resposta afirmativa ou negativa A resposta afirmativa a esta

interrogativa podia ser ldquofoi uma boaexcelente decisatildeo ou uma maacutepeacutessima decisatildeordquo seguido da

expressatildeo ldquoa mudanccedila de Jorge Ferratildeordquo mas o interlocutor infere a intenccedilatildeo e reage num tom

emocionado

FL Bem Jeremias eu estou atoacutenito estou atoacutenito eu estou como aqueles

espectadores que quando satildeo perguntados para comentar alguma coisa dizem

ldquoestou sem palavrasrdquo Esta deveria ser de facto a minha posiccedilatildeo estou sem

palavras com o afastamento de Jorge Ferratildeo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo mas

natildeo satildeo conhecidos os motivos pelos quais um dos ministros que quanto a mim

tentou inovar tentou fazer coisas novas tentou levantar um debate nacional

sobre questotildees tatildeo prementes do nosso sistema educativo nomeadamente a

questatildeo da qualidade Estava a tentar fazer um trabalho estruturante neste

217

sector e eacute assim tirado deste cargo aliaacutes presumo que o Jeremias tal como eu

tenha o seu telemoacutevel cheio de mensagens de incredulidade de centenas de

moccedilambicanos que natildeo percebem por que eacute que este ministro foi afastado

Em diferentes contextos de uso linguiacutestico a minimizaccedilatildeo de expressotildees descorteses deve

ser mais evidente quando haacute uma relaccedilatildeo de poder do alocutaacuterio sobre o locutor ou quando haacute

uma grande distacircncia social entre eles bem como quando se trata de um referente com um papel

social reconhecido universalmente Agrave semelhanccedila do L1 o comentador realiza um acto de

valorizaccedilatildeo da face do Professor Ferratildeo atraveacutes da sequecircncia de justificaccedilatildeo (Lopes 2009) tiacutepica

da relaccedilatildeo de coerecircncia do discurso argumentativo que se processa entre blocos enunciativos

conclusatildeo e argumento organizados segundo uma ordem regressiva (Marques 2010 296)

Veja-se o enunciado

ndash [() estou sem palavras com o afastamento de Jorge Ferratildeo do Ministeacuterio

da Educaccedilatildeo]conclusatildeo [mas natildeo satildeo conhecidos os motivos pelos quais um dos

ministros que quanto a mim tentou inovar tentou fazer coisas novas tentou

levantar um debate nacional sobre questotildees tatildeo prementes do nosso sistema

educativo nomeadamente a questatildeo da qualidade]argumento

O L2 usa uma estrateacutegia de cortesia negativa para salvaguardar a sua imagem diante dos

telespectadores presumo que o Jeremias tal como eu tenha o seu telemoacutevel cheio de mensagens

de incredulidade de centenas de moccedilambicanos que natildeo percebem por que eacute que este ministro

foi afastado FL entende que estaacute a exteriorizar o sentimento de muitos compatriotas incluindo o

do moderador do Programa Esta eacute uma estrateacutegia discursiva de mitigaccedilatildeo dos efeitos da ameaccedila

da sua face e de promoccedilatildeo da credibilidade do seu argumento desfavoraacutevel agrave decisatildeo tomada A

convocaccedilatildeo das vozes diferentes para alicerccedilar o seu discurso inscreve-se na ldquopolifoniardquo

discursiva uma estrateacutegia usada pelos falantes para conferir argumento de autoridade uma vez

reconhecer que a informaccedilatildeo dada desconfortaria algumas pessoas que estivessem a acompanhar

o Programa O L2 apresenta deste modo um discurso agoniante de ameaccedila agraves faces de

Presidente responsaacutevel pela sua exoneraccedilatildeo do cargo de Ministro e da sua nomeaccedilatildeo para Reitor

da UP esta Instituiccedilatildeo com a imagem conspirada pelo discurso do comentador

218

[Noacutes estamos muito quente47 a comentar a saiacuteda deste Ministro certamente

que nos proacuteximos dias haveraacute muito mais de explorar (hellip) A educaccedilatildeo eacute um

sector vital e matarmos48 uma pessoa que tem trabalho feito na educaccedilatildeo

mostrou que tinha comprometimento com a educaccedilatildeo natildeo eacute natildeo me parece

muito interessante]argumentos orientados agrave tese seguinte[Eu acho que claramente o

Presidente andou muito mal nesta exoneraccedilatildeo (hellip)]conclusatildeotese

Para compreender a interacccedilatildeo conversacional eacute necessaacuterio ver por um lado de que

modo um ato de discurso se relaciona com os outros na conversaccedilatildeo e por outro eacute importante

natildeo soacute compreender as relaccedilotildees entre actos de discurso em diferentes movimentos como

tambeacutem considerar as relaccedilotildees entre os actos no mesmo movimento (Holdcroft 1992 apud

Almeida 2012 38) Neste acircmbito a estrutura argumentativa desencadeia ldquopistas de

contextualizaccedilatildeordquo utilizadas pelos interlocutores (Gumperz 1989) o que facilita a compreensatildeo

dos actos verbais actualizados O locutor tomado pela emoccedilatildeo apresenta actos verbais

descorteses com recurso a expressotildees que ameaccedilam fortemente a face da entidade que decidiu

exonerar o Ministro cujas qualidades satildeo fortemente exaltadas Eacute visto como um profissional

criativo sagaz inovador e aberto para consultas sobre os problemas da educaccedilatildeo (esta sequecircncia

constitui um acto de valorizaccedilatildeo da face) Desconfortado e perplexo com a decisatildeo tomada o L2

apresenta um comportamento de desespero por natildeo poder contar mais com a colaboraccedilatildeo do

Professor Ferratildeo a dedicar as suas energias experiecircncias e os seus conhecimentos na busca

incessante de soluccedilotildees para os problemas da educaccedilatildeo

O uso da expressatildeo ldquomatarmos uma pessoardquo ao serviccedilo da criacutetica incisiva ameaccedila

intensamente a face do Presidente acusado de ter tomado uma decisatildeo infeliz e constitui um acto

de descortesia A afirmaccedilatildeo de que ldquoo Presidente andou muito mal na exoneraccedilatildeordquo constitui

estrateacutegia de desvalorizaccedilatildeo agressiva do outro uma indelicadeza discursiva que resulta de uma

anaacutelise focalizada na saiacuteda de Ferratildeo do Ministeacuterio sem reflectir na intenccedilatildeo da sua nomeaccedilatildeo

para Reitor pelo Presidente A sagacidade e o comprometimento do exonerado com a educaccedilatildeo

podem ser importantes na UP dado que esta Instituiccedilatildeo natildeo eacute excluiacuteda quando se reflecte sobre a

educaccedilatildeo em Moccedilambique natildeo soacute por ser uma Instituiccedilatildeo do Ensino Superior como tambeacutem

pela sua vocaccedilatildeo de formar quadros superiores (professores gestores etc) para servirem a

47 O termo ldquoquenterdquo foi usado como extensatildeo semacircntica por meio da metaacutefora conceptual No contexto vertente do

uso assume o sentido de ldquopreocupado impacienterdquo 48 Item tambeacutem usado como extensatildeo semacircntica com sentido sacrificar ofuscar destruir o brio profissional do Dr

Jorge Ferratildeo

219

educaccedilatildeo No entanto ameaccedila em contrapartida a face do locutor que natildeo soube usar

adequadamente padrotildees estabelecidos pela etiqueta social natildeo suavizou a criacutetica com intuito de

assegurar relativa harmonia na interacccedilatildeo social O interactante parece ignorar que as faces a sua

e a do alvo da censura satildeo vulneraacuteveis isto eacute satildeo passiacuteveis de serem ameaccediladas Enfim este

juiacutezo de desvalorizaccedilatildeo funciona como estrateacutegia discursiva de intensificaccedilatildeo da ameaccedila agrave face e

eacute uma forma de descortesia

313 A cortesia e solidariedade linguiacutestica no ldquocerne das estrateacutegias de

argumentaccedilatildeo discursivardquo

O Professor Jorge Ferratildeo foi exonerado do posto de Ministro da Educaccedilatildeo e

Desenvolvimento Humano atraveacutes de um despacho presidencial datado de 24 de Novembro e

passou a assumir a pasta de Reitor da UP de Moccedilambique O L1 reorientou o debate focalizado

para a nova atribuiccedilatildeo de Ferratildeo

L1 Permita-me encerrar esta vertente e olhar para a UP Jorge Ferratildeo eacute

nomeado para Reitor da UP portanto o regresso dele agrave academia Aconteceu

um processo eleitoral dentro da Universidade Pedagoacutegica que culminou com

a selecccedilatildeo daqueles trecircs nomes num processo de votaccedilatildeo num processo

democraacutetico (hellip) quando o Presidente pode ignorar a vontade democraacutetica

destas instituiccedilotildees e nomear quem ele quiser este debate este velho debate o

reitor de uma universidade eacute uma extensatildeo de poder executivo de poder

poliacutetico ou do acircmbito acadeacutemico

Mais uma vez o L1 usa uma estrateacutegia de descortesia ao revelar a sua posiccedilatildeo face agrave

nomeaccedilatildeo para Reitor procurando influenciar o analista A Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica na sua

aliacutenea c) do nuacutemero 2 refere que compete ao Presidente da Repuacuteblica no domiacutenio do Governo

nomear exonerar e demitir os reitores e vice-reitores das universidades estatais sob proposta dos

respectivos colectivos de direcccedilatildeo nos termos da lei Na verdade houve eleiccedilotildees para se

encontrar um reitor que sucederia o Professor Rogeacuterio Uthui O colectivo da UP apresentou trecircs

nomes de candidatos melhor posicionados no escrutiacutenio Um dos nomes seria alvo de nomeaccedilatildeo

por parte do Presidente da Repuacuteblica (PR) de Moccedilambique No entanto ele nomeou o Professor

Jorge Ferratildeo para o cargo de Reitor Este antes da sua nomeaccedilatildeo para o MInisteacuterio da Educaccedilatildeo

e Desenvolvimento Humano tinha sido Reitor da Uniluacuterio uma Instituiccedilatildeo do Ensino Superior

220

onde despertou as suas qualidades de gestatildeo O nomeado natildeo se tinha candidatado nem

participado do processo de eleiccedilatildeo o que desvaloriza a vontade democraacutetica da Instituiccedilatildeo e lesa

sobremaneira a separaccedilatildeo de poderes entre a academia e a poliacutetica retira a autonomia das

Instituiccedilotildees do Ensino Superior e faz com que os criteacuterios de nomeaccedilatildeo sejam subjectivos Nesse

sentido o L2 reage nos seguintes termos

L2 Em primeiro lugar eu acho que a academia tem que ter mais liberdade e

tem que ter muito mais independecircncia e este processo de selecccedilatildeo de votaccedilatildeo

dos candidatos poderem ser votados e escolhidos no seio da academia eacute um

processo que encerra em si esta nuance de democracia

Segundo Marques (2008) no campo da argumentaccedilatildeo o efeito perlocutoacuterio visado por

um determinado protagonista prende-se basicamente com o acto de convencer o seu antagonista

da justeza do ponto de vista defendido Assim a relaccedilatildeo de refutaccedilatildeo processa-se por meio de

diferentes operaccedilotildees de cariz linguiacutestico que funcionando no domiacutenio metadiscursivo

desenvolvem uma acccedilatildeo de argumentaccedilatildeo negativa que procura invalidar a posiccedilatildeo alheia a de

conferir a legalidade da decisatildeo tomada

O Presidente natildeo estaacute a fazer nada de ilegal mas de algum modo corta este

filme ou seja na proacutexima vez ningueacutem se vai importar muito com estes

processos ou seja estamos aqui a fazer um exerciacutecio esteacuteril um exerciacutecio para

dizer que haacute democracia para que no fim do dia o chefe eacute quem nomeia o chefe

eacute quem decide (hellip) natildeo me parece uma coisa muito interessante

O L2 recorre agrave cortesia e solidariedade linguiacutestica no ldquocerne das estrateacutegias de

argumentaccedilatildeo discursivardquo (Marques 2008 294) Um contra-argumento questiona a

aceitabilidade da possiacutevel posiccedilatildeo alheia referente agrave legalidade da decisatildeo tomada depois de uma

encenaccedilatildeo ou de um exerciacutecio ingloacuterio de eleiccedilotildees Esta operaccedilatildeo linguiacutestica tem como objectivo

invalidar modestamente as vozes concordantes centra-se mais na refutaccedilatildeo indirecta tanto da

conclusatildeo alheia como do argumento alheio O objectivo desta estrateacutegia discursiva passa

evidentemente pela refutaccedilatildeo do argumento do Outro para num segundo plano se sustentar o

argumento do locutor atraveacutes de um acto de ameaccedila da face do Presidente O acto de asserccedilatildeo

avaliativa por parte do L2 constitui uma estrateacutegia argumentativa para fragilizar uma verdade

geral (uma doxa) partilhada pelo puacuteblico que eacute reorientada a uma nova tese de natildeo ser

221

interessante que o PR nomeie reitores sem tomar em consideraccedilatildeo a opiniatildeo do Conselho

Universitaacuterio o que possibilitaria a construccedilatildeo de consenso e reduziria a responsabilidade

pessoal do Presidente

314 A emoccedilatildeo e a retoacuterica de denigrir como estrateacutegia de justificaccedilatildeo

Do ponto de vista discursivo a expressatildeo da emoccedilatildeo pode ser perspectivada atraveacutes das

ldquoestrateacutegias discursivasrdquo (Gumperz 1989) usadas ldquono envolvimento conversacionalrdquo (Goffman

1967) Num tom poleacutemico o L2 que natildeo eacute a favor da passagem do Professor Ferratildeo para a UP

expressa de forma descortecircs o seu inconformismo ou desconsolo face agrave sua mudanccedila do sector

em que estava a desenvolver um bom trabalho para uma universidade com problemas conforme

podemos entender no excerto

A pessoa sai de ministro para ser reitor de uma universidade E que

universidade Esta eacute a universidade que tem o oacutenus de ter passado mais

diplomas administrativos que haacute neste paiacutes mas uma universidade que nem

sequer disciplina os seus licenciados para usarem as suas verdadeiras

credenciais ou seja uma pessoa formada para dar aulas de psicologia chama-

se a ele proacuteprio de psicoacutelogo um professor formado em geografia chama-se a

si proacuteprio geoacutegrafo o que eacute que eacute isto Eacute esta universidade que agora foi dada

ao Doutor Jorge Ferratildeo para dirigir

Para aleacutem de orientar a seu favor uma situaccedilatildeo interlocutiva ameaccediladora da sua face

nesta sequecircncia discursiva o locutor realiza actos ameaccediladores da face ldquoFace Threatening Actrdquo

quer do PR quer da UP Esta estrateacutegia argumentativa ameaccedila por um lado a face positiva do

locutor uma vez que se trata de um comportamento autodegradante pois se os telespectadores e

outras entidades natildeo se simpatizarem com a informaccedilatildeo dada pode ter autodegradaccedilatildeo da sua

face (a sua imagem puacuteblica) que seraacute alvo de julgamento desfavoraacutevel Por outro se o

diagnoacutestico for real ao inveacutes de ameaccedilar valida a posiccedilatildeo do PR de apostar por este homem

reluzente activo e capaz de dar uma dinacircmica diferente agrave UP Ainda usa uma estrateacutegia

ameaccediladora para denegrir a face desta Instituiccedilatildeo com 30 anos de existecircncia no Paiacutes um

comportamento exemplificativo da ausecircncia de cortesia na interacccedilatildeo verbal evidenciado pelos

actos expressivos natildeo comedidos e natildeo abonatoacuterios para a imagem do comentador de um

programa televisivo com maior auditoacuterio como eacute o caso de ldquoPontos de Vistardquo Conveacutem salientar

que na verdade natildeo eacute o tempo que determina a qualidade a indicaccedilatildeo de tempo do

222

funcionamento desta Instituiccedilatildeo visa apenas chamar atenccedilatildeo para o facto de ser uma instituiccedilatildeo

que tenha produzido muitos quadros integrados em diferentes sectores laborais

A argumentaccedilatildeo eacute ldquoum esquema de acccedilatildeordquo e permite ldquoa construccedilatildeo de expectativas

muacutetuas partilhadasrdquo que possibilitam a realizaccedilatildeo de inferecircncias a partir do que eacute dito na

interacccedilatildeo (Almeida 2012 67) isto eacute funciona na base de ldquopistas de contextualizaccedilatildeordquo

(Gumperz 1989) Decorrente disso a criacutetica generalizada (e natildeo mitigada para a evitaccedilatildeo de

conflitos na interacccedilatildeo) da ldquoseriedade institucionalrdquo constitui uma estrateacutegia discursiva de

intensificaccedilatildeo da ameaccedila das faces um mecanismo discursivo de desvalorizaccedilatildeo de muitos

quadros graduados por esta Universidade incluindo o Jornalista Jeremias Langa que fez a sua

licenciatura e mestrado nesta Instituiccedilatildeo Satildeo quadros que dedicam as suas energias os seus

conhecimentos e as suas experiecircncias em muitos sectores em prol do desenvolvimento do Paiacutes

32 Incoerecircncia no raciociacutenio argumentativo

O Professor Jorge Ferratildeo foi nomeado como Reitor da UP uma instituiccedilatildeo de ensino

vocacional cuja missatildeo estatutaacuteria eacute a formaccedilatildeo superior de professores para todos os niacuteveis de

ensino e de outros profissionais para a aacuterea de educaccedilatildeo e afins a pesquisa e extensatildeo Nesse

sentido para aleacutem da sua funccedilatildeo instrumental na disseminaccedilatildeo de conhecimento para a

transformaccedilatildeo da sociedade moccedilambicana rumo ao desenvolvimento social cultural e

tecnoloacutegico a UP atraveacutes dos seus pesquisadores diagnostica as fragilidades no sistema

educativo e por fim apresenta propostas terapecircuticas para a melhoria da qualidade de educaccedilatildeo

em Moccedilambique ou seja o trabalho da UP ocorre ao serviccedilo da educaccedilatildeo

O Professor Jorge Ferratildeo enquanto Ministro da Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano

teve a oportunidade de conhecer os problemas que afectam o ensino em Moccedilambique um dos

quais tem que ver com a formaccedilatildeo humana e teacutecnica dos professores Essa formaccedilatildeo encontra

maior espaccedilo na UP pois o Ministro da Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano recebe os

graduados desta Instituiccedilatildeo Na linha das fragilidades o L2 usa uma estrateacutegia de descortesia

pois realiza um acto ilocutoacuterio assertivo (Searle 1972) ndash ldquoesta eacute a universidade que tem o oacutenus

de ter passado mais diplomas administrativos que haacute neste paiacutesrdquo - que ameaccedila intensamente as

faces com objectivo de sustentar o seu desacordo em relaccedilatildeo agrave nomeaccedilatildeo do novo reitor Perante

os cenaacuterios apresentados natildeo se justifica a objecccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave nomeaccedilatildeo do Professor Jorge

Ferratildeo para Reitor da UP Os argumentos convocados natildeo legitimam a proposiccedilatildeo de que a sua

nomeaccedilatildeo foi mal feita pelo PR Pelo contraacuterio o reconhecimento de que o Professor Ferratildeo eacute

um acadeacutemicoliacuteder carismaacutetico cujas qualidades (satildeo perceptiacuteveis de forma expliacutecita ou

223

impliacutecita atraveacutes do uso de expressotildees com valor axioloacutegico positivo um homem visionaacuterio

criativo reluzente activo corajoso sagaz) justificam a sua nomeaccedilatildeo para ajudar a UP a

melhorar a sua imagem puacuteblica

4 Conclusotildees

Com este trabalho procuramos demonstrar de que forma as estrateacutegias discursivas se

manifestam na interacccedilatildeo entre interlocutores Analisamos a configuraccedilatildeo de rituais verbais as

estrateacutegias de descortesia e a incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV As

sequecircncias discursivas do ldquoPontos de Vistardquo analisadas evidenciam situaccedilotildees de ameaccedila das

faces tendo em conta o valor social positivo que as pessoas reivindicam Os interlocutores natildeo

conseguem evitar a vulnerabilidade das faces jaacute que usam estrateacutegias discursivas invasivas ou

comprometedoras na perspectiva de que os outros possam entender o seu discurso Para o L2 a

intenccedilatildeo deliberada de ataque da imagem de outro ou outros manifesta-se ritualmente de forma

descortecircs e os argumentos perfilados na interacccedilatildeo natildeo satildeo coerentes com a tese defendida a de

que ldquoo Presidente andou muito mal na exoneraccedilatildeo do Professor Ferratildeo do MINEDH e na sua

nomeaccedilatildeo para Reitor da UPrdquo provavelmente sejam as boas qualidades demonstradas pelo

Professor Jorge Ferratildeo nas instituiccedilotildees onde trabalhou como gestor que justificaram a sua

nomeaccedilatildeo para ajudar a UP a melhorar a sua imagem puacuteblica

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entrevistardquo In REDIS Revista de Estudo do Discurso Nordm 1 2012b disponiacutevel em

httplerletrasupptuploadsficheiros12714pdf acesso 13112016

224

______ ldquo(hellip) eacute um rapaz cheio de sorte digo-lhe jaacute (risos)rdquo o humor como estrateacutegia discursiva

de mitigaccedilatildeo do conflito (potencial) em interacccedilotildees verbais na raacutedio In Brito et alTextos

Seleccionados XXV Encontro Nacional da Associaccedilatildeo Portuguesa de Linguiacutestica Porto

APL 2010a pp 127-142 disponiacutevel tambeacutem em httpwwwaplorgptapl-actasxv-

encontro-nacional-da-aplhtml

______ ldquolsquoO envolvimento conversacionalrsquo no momento do desenvolvimento de interacccedilotildees

verbais na raacutedio sequecircncias de actos ilocutoacuterios e lsquoestrateacutegias de alinhamentorsquo em

programas de raacutedios especiacuteficos In FROTA Soacutenia e SANTOS Ana Luacutecia (orgs) 2008

XXIII Encontro Nacional da Associaccedilatildeo Portuguesa de Linguiacutestica Textos Seleccionados

Lisboa 2008 (pp 9-21)

ATALLAH Mariana de Castro e NOGUEIRA Mayara de OliveiraldquoE Eu Tocirc aqui Sofrendordquo

Uma Entrevista e os Vaacuterios Fenoacutemenos Sociolinguiacutesticos Interacionais 2013 disponiacutevel

emhttpperiodicosufesbrpercursosarticleview4019 acesso 1102016

BIAR Liana de Andrade Pistas Linguiacutesticas na Construccedilatildeo do Fenoacutemeno Collor 2006

disponiacutevel httpwwwpgletrasuerjbrlinguisticatextoslivro02LTAA02_a12pdf acesso

5122016

BROWN P e LEVINSON S PolitenessSome Universals in Language Use Cambridge CUP

1987

FONSECA Joaquim Linguiacutestica e Texto Discurso - teoria descriccedilatildeo aplicaccedilatildeo Lisboa

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Instituto de Cultura e Liacutengua Portuguesa 1992

GUMPERZ John Sociolinguistique interactionnelle Une approche interpreacutetative La Reacuteunion

LrsquoHarmattan 1989

______ ldquoThe sociolinguistic basis of speech act theoryrdquo Versus quaderni di studisemiotici

2627 1980 (pp 101-121)

KERBRAT-ORECCHIONI Catherine Introducing Polyloguerdquo in Journal of Pragmatics

2004 p 1-24

MARQUES Carla Maria Geraldo Henriques da Cunha ldquoRelaccedilatildeo de Coerecircncia e Natureza dos

Argumentosrdquo 2010 In MARQUES Carla Maria Geraldo da Cunha A Argumentaccedilatildeo

Oral Formal em Contexto Escolar (tese de doutoramento apresentada agrave Universidade de

Coimbra) 2010 p 295-368 disponiacutevel em

httpwwwyumpucomptdocumentview12709065a-argumentacao-oral-formal-em-

contexto-escolarpdf-estudo-geral- [acesso 06062013]

225

MARQUES Maria Aldina Quando a cortesia eacute agressiva In OLIVEIRA Faacutetima amp

DUARTE Isabel Margarida (orgs) O Fasciacutenio da Linguagem ndash Actas do Coloacutequio de

Homenagem a Fernanda Irene Fonseca Porto Centro de Linguiacutestica da Universidade do

Porto 2008

MATEUS et al Gramaacutetica da Liacutengua Portuguesa 5 ed Lisboa Editorial Caminho 2003

MAUAI Acircngelo Ameacuterico Elementos para uma Anaacutelise Linguiacutestica do Discurso Realizado em

Situaccedilatildeo de Entrevista contributos para o seu estudo semacircntico-pragmaacutetico Dissertaccedilatildeo

de Mestrado Lisboa Departamento de Humanidades da Universidade Aberta 2015

RODRIGUES Conceiccedilatildeo Carapinha ldquoA Sequecircncia Discursiva Pergunta-Respostardquo 1998 In

FONSECA Joaquim (org) A Organizaccedilatildeo e o Funcionamento dos Discursos Estudos

sobre o Portuguecircs Tomo II Porto Porto Editora 1998 (pp 11-220)

SANTOS Aline Reneacutee Benigno dos amp HACK Joseacute Ricardo ldquoAs marcas linguiacutesticas da

sequecircncia argumentativa no geacutenero artigo de opiniatildeordquo XIX Seminaacuterio do CELLIP

UNIOESTE Cascal Paranaacute 2009 disponiacutevel em httpwwwhackcceprofufscbrwp-

contentuploads201001Cellip2009pdf acesso 13112016

SILVA Gonccedilalves PINTO Casimiro Imagens da Cultura Actas do VI Seminaacuterio Imagem da

Cultura Cultura das Imagens E-book Ediccedilatildeo Centro de Estudos das Migraccedilotildees e

Relaccedilotildees Interculturais ndash CEMRI ndash Universidade Aberta 2010 p 122-130 disponiacutevel em

httpsrepositorioabertouabptbitstream10400222011IMAGENS20DA20CULTU

RApdf

226

Normas de publicaccedilatildeo na Revista UDZIWI

O artigo a ser publicado deve ser ineacutedito

Depois de publicar o artigo na Revista UDZIWI o autor pode publicaacute-lo noutras revistas ou

livros

Recomenda-se que sejam ateacute 3 autores do artigo Se for necessaacuterio ultrapassar esse nuacutemero o

autor principal pode contactar a equipa editorial da Revista

(cepepoliticaseducativasgmailcom)

Os direitos autorais satildeo do autor e passaratildeo a ser tambeacutem da Revista apoacutes a sua publicaccedilatildeo

Todas as ideias expressas no artigo pertencem ao autor que tem toda a responsabilidade sobre as

mesmas

Os artigos enviados devem estar enquadrados dentro dos preceitos da eacutetica na pesquisa em

educaccedilatildeo Em caso de existir algum conflito de interesses a responsabilidade eacute exclusivamente

do autor do artigo

Envio do artigo

- O artigo deve ser enviado em formato Word

- O nome do autor e os seus dados de identificaccedilatildeo natildeo devem aparecer no corpo do artigo

- Todos os dados de identificaccedilatildeo do autor deveratildeo ser digitados no espaccedilo apropriado da paacutegina

de submissatildeo do artigo O autor teraacute de fazer uma breve descriccedilatildeo dos seus dados acadeacutemicos e

profissionais (no maacuteximo 3 linhas)

Processo de aprovaccedilatildeo do artigo

Compete a Comissatildeo Editorial

- Aceitar integralmente o artigo

- Recusar o artigo para efeitos de publicaccedilatildeo na Revista UDZIWI (isto acontece quando os

trabalhos estatildeo fora dos requisitos editoriais)

- Recomendar se necessaacuterio melhorias ao texto para posterior avaliaccedilatildeo

- Enviar as propostas de melhoria do texto ao autor e posterior reenvio do artigo jaacute reformulado

aos mesmos avaliadores

Soacute satildeo publicados artigos aprovados pela Comissatildeo Editorial

227

Sobre o artigo

1 O artigo deve integrar o seguinte

- Tiacutetulo do artigo (natildeo pode ultrapassar 10 palavras caso isso aconteccedila tem que ser criado um

subtiacutetulo)

- Subtiacutetulo (se houver)

- Resumo apresentado em Portuguecircs Inglecircs Espanhol Francecircs ou uma liacutengua nacional escrito

a tamanho de letra 11 e espaccedilo simples com o maacuteximo de 250 palavras e com indicaccedilatildeo de

palavras-chave (4 a 5 palavras-chave) Artigos escritos em Portuguecircs Espanhol Francecircs ou

numa liacutengua nacional devem apresentar resumo em Inglecircs Artigos escritos em Inglecircs devem

apresentar resumo em Portuguecircs O resumo natildeo pode ter enumeraccedilatildeo de toacutepicos e deve-se evitar

ao maacuteximo fazer citaccedilotildees no resumo No resumo apresenta-se o objecto e objectivos do estudo a

metodologia os principais resultados e as conclusotildees e sugestotildees

- Caso haja agradecimentos estes satildeo feitos junto ao tiacutetulo e em nota de rodapeacute natildeo se

admitindo qualquer referecircncia agrave autoria do texto

- Depois do resumo segue-se a Introduccedilatildeo Desenvolvimento Conclusatildeo e Referecircncias

Bibliograacuteficas (apenas o que foi referenciadocitado no texto)

- Os quadros tabelas e figuras que constem do trabalho devem estar em formato editaacutevel Todas

as imagens devem ser apresentadas em formato JPG permitindo ampliar ou reduzir o seu

tamanho sem prejuiacutezo

- As citaccedilotildees com mais de 3 linhas devem ter um recuo de 4cm na margem esquerda sem aspas

e em tamanho 11

2 A apresentaccedilatildeo dos artigos cientiacuteficos deve obedecer aos seguintes requisitos

a O texto deve ter no miacutenimo 10 e no maacuteximo 20 paacuteginas Se for necessaacuterio ultrapassar as

20 paacuteginas eacute necessaacuterio contactar com a Comissatildeo Editorial

b A revisatildeo linguiacutestica eacute da competecircncia do autor

c O tipo de letra deve ser Times New Roman

d A fonte deve ser 12

e O espaccedilamento entre linhas deve ser 15

f Devem ser usadas as seguintes margens

Margem superior 3 cm

228

Margem inferior 2 cm

Margem esquerda 3

Margem direita 2 cm

3 As referecircncias bibliograacuteficas devem ser apresentadas da seguinte forma

Apelido do autor

Nome do autor

Tiacutetulo do documento (em itaacutelico)

Ediccedilatildeo (primeira ediccedilatildeo natildeo se coloca)

Local de publicaccedilatildeo

Editora

Ano de publicaccedilatildeo

Exemplos

AUAREK Wagner NUNES Ceacutelia e PAULA Maria Joseacute ldquoPesquisa e formaccedilatildeo com

professores contribuiccedilotildees de estudos da narrativardquo In SOUZA Joatildeo DINIZ Margareth e

OLIVEIRA Miacuteria (orgs) Formaccedilatildeo de professores (as) e condiccedilatildeo docente Belo

Horizonte Editora UFMG 2014 (pp 120-132)

DUARTE Stela et al Progressatildeo por ciclos de aprendizagem no Ensino Baacutesico desafios na

mudanccedila do paradigma de avaliaccedilatildeo Maputo INDE e Editora Educar-UP 2012

MACHAVA Abiacutelio A poliacutetica e a praacutetica da avaliaccedilatildeo da aprendizagem no terceiro ciclo do

Ensino Baacutesico um estudo de caso na Escola Primaacuteria Completa de Matola-Gare

Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Formaccedilatildeo de Formadores Maputo Universidade Pedagoacutegica

2014 (natildeo publicado)

MONDLANE Eduardo Lutar por Moccedilambique Maputo Centro de Estudos Africanos 1995

NOTA Juvecircncio Algumas dificuldades praacuteticas no trabalho com a sexualidade humana em

sala de aulas nas escolas do ensino primaacuterio na cidade de Maputo-Moccedilambique UDZIWI

- Revista de Educaccedilatildeo da UP Nordm 22 Junho de 2015 (pp 4-21) In

htppswwwupacmzcepe Consultado em 14022016

SOARES Wilson ldquoAs memoacuterias de um grupo de professores aposentados sobre suas formaccedilotildees

e as praacuteticas pedagoacutegicas em Rondonoacutepolis ndash MTrdquo Revista Interfaces Cientiacuteficas ndash

Educaccedilatildeo Aracaju V 2 Nordm 2 Fev 2014 (pp 37-46) In httpperiodicossetedubr

Consultado em 15012016

Page 3: Ano VIII, Número 27, Julho - 2017

3

Iacutendice Nota Editorial 4

Ensinando alunos do Ensino Meacutedio a pesquisar incertezas que marcaram uma experiecircncia 8

Antoacutenio Sales Lis Regiane Vizolli Favarin Smenia Aparecida da Silva Moura Milene Martins

Ricardo Capiberibe Nunes

O ensino contextualizado e a abordagem curricular de conteuacutedos de Microbiologia em Moccedilambique 20

Manecas Cacircndido Laurinda Leite Briacutegida Singo

Actividades laboratoriais no ensino das Ciecircncias um estudo com os livros escolares e professores de

Biologia da 8ordf classe das escolas da Cidade de Maputo 33

Agnes Clotilde Novela

Livro didaacutectico de Geografia em Moccedilambique passado presente e desafios 52

Stela Mithaacute Duarte

Desafios da formaccedilatildeo de professores por competecircncias no Modelo de 10ordf classe + 3 anos 69

Acircngelo Guiloviccedila Niquice

Percepccedilotildees de professores de Matemaacutetica sobre o uso de calculadoras em salas de aulas 83

Herciacutelio Paulo Munguambe

Reflexatildeo sobre o sistema de progressatildeo por ciclos de aprendizagem 98

Yavalane Sergio Parruque

Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior atribuiccedilotildees causais dos conflitos estudante-docente na Universidade

Pedagoacutegica 111

Faque Tuair Chare

Fracasso escolar um olhar conjunto de alunos professores e pais 124

Arauacutejo Manuel Arauacutejo

A influecircncia das liacutenguas xichangana e cicopi no insucesso escolar - caso dos alunos da 10ordf classe da

Escola Secundaacuteria de Mandlakazi 136

Antoacutenio Domingos Cossa

Jogos recreativos na Cidade de Nampula Os predilectos das crianccedilas das zonas suburbanas 150

Domingos Carlos Mirione

Crescimento somaacutetico e aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede Um estudo em alunos da Cidade da Beira

Moccedilambique 162

Djossefa Joseacute Nhantumbo e Bridgette Simone Bruce-Nhantumbo

Relaccedilatildeo entre a orientaccedilatildeo vocacionalprofissional e qualidade no sistema educativo moccedilambicano 183

Rafael Renaldo Laquene Zunguze

Amorosidade como componente pedagoacutegica 198

Elisabeth Jesus de Souza

ldquoDe Ministro mais activo e mais reluzente do Governo para Reitorrdquo um contributo para o estudo da

configuraccedilatildeo de rituais verbais da descortesia e incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da

STV 210

Acircngelo Ameacuterico Mauai

Normas de publicaccedilatildeo na Revista UDZIWI 226

4

Nota Editorial

Estimados leitores

Este eacute o nuacutemero 27 da Revista Udziwi Revista de Educaccedilatildeo da Universidade Pedagoacutegica

Neste nuacutemero apresentamos um total de 16 artigos

O primeiro artigo Ensinando alunos do Ensino Meacutedio a pesquisar incertezas que

marcaram uma experiecircncia de Antoacutenio Sales Lis Regiane Vizolli Favarin Smenia Aparecida

da Silva Moura Milene Martins Ricardo Capiberibe Nunes apresenta uma experiecircncia

envolvendo a praacutetica de ensinar pela pesquisa numa escola puacuteblica do Ensino Meacutedio no Brasil

relatando dificuldades encontradas no processo e possibilidades de superaacute-las

O segundo artigo de Manecas Cacircndido Laurinda Leite Briacutegida Singo initulado O ensino

contextualizado e a abordagem curricular de conteuacutedos de Microbiologia em Moccedilambique

analisa documentos oficiais que orientam o Ensino Secundaacuterio Geral em Moccedilambique no que

concerne agraves eventuais propostas metodoloacutegicas que apresentam para um ensino contextualizado

de conteuacutedos de Microbiologia nas escolas reflectindo sobre a necessidade da adopccedilatildeo pelas

escolas de tais metodologias fomentado o ensino contextualizado de conteuacutedos de

Microbiologia

O terceiro artigo Actividades laboratoriais no ensino das Ciecircncias um estudo com os

livros escolares e professores de Biologia da 8ordf classe das escolas da Cidade de Maputo da

autoria de Agnes Clotilde Novela tem como objectivo analisar as caracteriacutesticas das Actividades

Laboratoriais (ALs) propostas pelos livros escolares de Biologia da 8ordf Classe as concepccedilotildees e as

representaccedilotildees praacuteticas dos professores sobre a importacircncia e utilizaccedilatildeo destas actividades no

ensino da Biologia Conclui que o tipo de ALs proposto pelos livros analisados em uso nas

escolas e as atitudes e praacuteticas dos professores de Biologia natildeo se relacionam com as

perspectivas defendidas para o uso do laboratoacuterio no ensino das Ciecircncias

O quarto artigo Livro didaacutectico de Geografia em Moccedilambique passado presente e

desafios de Stela Mithaacute Duarte tem como objectivo analisar o processo de desenvolvimento do

livro didaacutectico de Geografia ao longo da Histoacuteria da educaccedilatildeo em Moccedilambique assim como os

actuais desafios sugerindo que eacute necessaacuterio apetrechar melhor as bibliotecas com livros

didaacutecticos e complementares e melhorar a formaccedilatildeo de professores para o uso do livro didaacutectico

de Geografia

5

O quinto artigo de Acircngelo Guiloviccedila Niquice intitulado Desafios da formaccedilatildeo de

professores por competecircncias no Modelo de 10ordf classe + 3 anos apresenta algumas linhas de

reflexatildeo sobre o desafio da transposiccedilatildeo do texto curricular agrave praacutetica docente implementada com

vista a formaccedilatildeo de professores competentes e reflexivos de modo a corresponder aos anseios da

sociedade em relaccedilatildeo agrave qualidade de educaccedilatildeo sugerindo que se trabalhe continuamente com os

formadores de modo a promover praacuteticas pedagoacutegicas inovadoras

O sexto artigo Percepccedilotildees de professores de Matemaacutetica sobre o uso de calculadoras em

salas de aulas de Herciacutelio Paulo Munguambe visa compreender o uso da calculadora identificar as

percepccedilotildees dos professores e propor estrateacutegias do seu uso procurando assim contribuir para a

melhoria da qualidade de ensino da Matemaacutetica O autor sugere a preparaccedilatildeo de professores de

Matemaacutetica no uso de calculadoras em salas de aulas e por via disso garantir-se o seu uso no

Ensino Secundaacuterio Geral do 1ordm Ciclo

O seacutetimo artigo da autoria de Yavalane Sergio Parruque intitulado Reflexatildeo sobre o

sistema de progressatildeo por ciclos de aprendizagem discute este assunto poleacutemico da progressatildeo

no contexto de ensino primaacuterio em Moccedilambique segundo o autor por natildeo permitir a reprovaccedilatildeo

do aluno ao longo do ciclo e por isso serem justificadas as lacunas que os alunos apresentam no

desenvolvimento das competecircncias prescritas nos programas de ensino Constata que alguns dos

problemas existentes satildeo a falta de preparaccedilatildeo dos professores em mateacuteria de avaliaccedilatildeo

formativa o uso abusivo da avaliaccedilatildeo sumativa e a falta de registo das competecircncias dos alunos

O oitavo artigo de Faque Tuair Chare intitulado Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior

atribuiccedilotildees causais dos conflitos estudante-docente na Universidade Pedagoacutegica visa

compreender na perspectiva de estudantes na Delegaccedilatildeo de Nampula os factores que propiciam

a ocorrecircncia dos conflitos entre eles e seus docentes no processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem

sugerindo trabalhos de divulgaccedilatildeo dos regulamentos de avaliaccedilatildeo supervisatildeo das aulas e

sobretudo das avaliaccedilotildees assim como sensibilizar-se ao docente em relaccedilatildeo ao seu perfil

docente como modelo no processo de ensino e aprendizagem

O nono artigo Fracasso escolar um olhar conjunto de alunos professores e pais de

Arauacutejo Manuel Arauacutejo tem como objectivo analisar o problema do fracasso escolar O autor

analisa as causas relativas ao estudante na sala de aula na escola e fora dela e outras ainda intra

e extras escolares indirectas e identifica causas que necessitam de intervenccedilatildeo de modo a se

resolver este problema

O deacutecimo artigo de Antoacutenio Domingos Cossa intitulado A influecircncia das liacutenguas

xichangana e cicopi no insucesso escolar - caso dos alunos da 10ordf classe da Escola Secundaacuteria de

6

Mandlakazi surge no contexto dos estudos sociolinguiacutesticos e tem como objectivos analisar as

influecircncias das liacutenguas xichangana e cicopi no processo de ensino-aprendizagem da liacutengua

portuguesa e relacionar o insucesso escolar que se verifica na disciplina de portuguecircs com as

influecircncias das liacutenguas xichangana e cicopi nos alunos da 10ordf classe O autor conclui que haacute

outros factores determinantes para a ocorrecircncia do insucesso escolar no grupo alvo que se

associam ao uso das liacutenguas xichangana e cicopi

O deacutecimo primeiro artigo Jogos recreativos na Cidade de Nampula Os predilectos das

crianccedilas das zonas suburbanas de Domingos Carlos Mirione tem como objectivo identificar os

jogos predilectos das crianccedilas dos bairros suburbanos da Cidade de Nampula-Moccedilambique Os

resultados revelam que o jogo predilecto das crianccedilas do sexo masculino eacute o futebol e para as do

sexo feminino eacute o jogo de cartas localmente conhecido como naripito

O deacutecimo segundo artigo de Djossefa Joseacute Nhantumbo e Bridgette Simone Bruce-

Nhantumbo intitulado Crescimento somaacutetico e aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede Um estudo

em alunos da Cidade da Beira Moccedilambique tem como objectivo avaliar o crescimento

somaacutetico e a aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede em alunos dos 6 aos 14 anos da Cidade da Beira

Moccedilambique Os autores concluem que parece existir uma inter-relaccedilatildeo entre os niacuteveis de

Aptidatildeo Fiacutesica com os valores do Iacutendice de Massa Corporal cuja inteligibilidade carece de mais

estudos contextualizados

O deacutecimo terceiro artigo Relaccedilatildeo entre a orientaccedilatildeo vocacionalprofissional e a qualidade

do sistema educativo moccedilambicano de Rafael Renaldo Laquene Zunguze sustenta a

necessidade e a possibilidade de introduccedilatildeo da orientaccedilatildeo vocacional eou profissional no

sistema educativo moccedilambicano O autor sugere que se invista na promoccedilatildeo dos serviccedilos de

orientaccedilatildeo vocacional e profissional comunitaacuteria aquela que inicia na famiacutelia passando pela

comunidade ateacute a escola para habilitar os indiviacuteduos a trabalharem em prol do desenvolvimento

numa clara intenccedilatildeo de melhoria da qualidade de ensino no paiacutes

O deacutecimo quarto artigo de Elisabeth Jesus de Souza com o tiacutetulo Amorosidade como

componente pedagoacutegica a autora reflecte sobre a necessidade de considerar a amorosidade na

atuaccedilatildeo docente sobretudo na educaccedilatildeo infantil dado que natildeo eacute uma questatildeo de perda de

autoridade pelo contraacuterio o amor eacute uma ferramenta no exerciacutecio da conquista pelo respeito na

sala de aula pela consolidaccedilatildeo dos laccedilos humanos fazendo da aprendizagem uma consequecircncia

O deacutecimo quinto artigo De Ministro mais activo e mais reluzente do Governo para

Reitor um contributo para o estudo da configuraccedilatildeo de rituais verbais da descortesia e

incoerecircncia discursiva no programa Pontos de Vista da STV de Acircngelo Ameacuterico Mauai

7

pretende demonstrar de que forma as estrateacutegias discursivas se manifestam na interacccedilatildeo entre

interlocutores O autor analisa a configuraccedilatildeo de rituais verbais as estrateacutegias de descortesia e a

incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV e considera que as sequecircncias

discursivas do ldquoPontos de Vistardquo analisadas evidenciam situaccedilotildees de ameaccedila das faces

Desejamos a todos uma oacuteptima leitura

A Direcccedilatildeo

8

Ensinando alunos do Ensino Meacutedio a pesquisar incertezas que marcaram uma

experiecircncia

Antoacutenio Sales1

Lis Regiane Vizolli Favarin2

Smenia Aparecida da Silva Moura3

Milene Martins4

Ricardo Capiberibe Nunes5

Resumo

Este artigo eacute uma discussatildeo teoacuterica associada a um relato de experiecircncia envolvendo a praacutetica de ensinar

pela pesquisa Uma tentativa que durou um ano de discussatildeo com professores de uma escola puacuteblica de

tempo integral para alunos do ensino meacutedio Nele satildeo relatadas as dificuldades encontradas pelos

professores para operacionalizar um projecto de pesquisa envolvendo alunos durante o horaacuterio regular de

aula levando em conta as exigecircncias de cumprimento de ementas preparo do professor perspectivas dos

alunos e os objectivos educacionais defendidos pela gestatildeo Discute tambeacutem o problema da orientaccedilatildeo da

pesquisa a questatildeo dos limites da interferecircncia do professor e conclui apontando a possibilidade de

proposta alternativa para que esse objectivo seja alcanccedilado

Palavras-chave Educar pela Pesquisa Orientaccedilatildeo para Pesquisa Dificuldades para Pesquisar no Ensino

Meacutedio

Abstract

This article is a theoretical discussion in association with an experience report involving inquiry-based

teaching practice It is an attempt that lasted a year of discussion with teachers in a full-time public school

for students in the secondary education This work presents the teachersrsquo difficulties by dealing with a

research project during class hours where students were also included considering content demands

teacherrsquos preparation studentsrsquo outlook and educational objectives alleged by management This work

also discusses the research advice process and the teaching intervention limits The outcome presents

alternative proposal possibilities in order to reach the intended goal

Keywords Inquiry-Based Teaching Research advice Researching difficulties in the Secondary School

1 Licenciado em Matemaacutetica Mestre e Doutor em Educaccedilatildeo Professor em Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo Stricto

Sensu da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul e da Uniderp-Brasil e Coordenador do Projeto -

profesaleshotmailcom 2 Professora de Quiacutemica na Rede Puacuteblica de Ensino em Campo Grande MS Doutoranda em Quiacutemica pela

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul-Brasil- lisregianehotmailcom 3 Professora de Quiacutemica na Rede Puacuteblica de Ensino em Campo Grande MS-Brasil Mestre em Educaccedilatildeo-

smeniamouragmailcom 4 Professora de Biologia na Rede Puacuteblica de Ensino em Campo Grande MS-Brasil -

professoramilenebiologiagmailcom 5 Professor de Fiacutesica e ClimatologiaMeteorologia na Rede Puacuteblica de Ensino em Campo Grande MS Pesquisador

associado ao Laboratoacuterio de Ciecircncias Atmosfeacutericas (LCA-UFMS)- capiberibegmailcom

9

Introduccedilatildeo

Educar pela pesquisa tem sido o mote da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Mato Grosso

do Sul-Brasil (SED) nessa gestatildeo que se iniciou em 2015 A proposta tem como referencial os

trabalhos publicados e a orientaccedilatildeo directa do Professor Doutor Pedro Demo Para esse estudioso

a pesquisa tem poder libertador tem potencial para conduzir o aluno pelos caminhos da

autonomia acadecircmica e pessoal DEMO (20075 itaacutelicos do autor) fala que a pesquisa tem o

potencial de introduzir o ser humano nos caminhos da rebeldia contra os seus proacuteprios limites ao

afirmar que ldquoO que melhor distingue a educaccedilatildeo escolar de outros tipos e espaccedilos educativos eacute

o fazer-se e refazer-se na e pela pesquisardquo E acrescenta ldquoeducaccedilatildeo pela pesquisa eacute a educaccedilatildeo

tipicamente escolarrdquo

Esse estudioso pauta a sua argumentaccedilatildeo no fato de que a educaccedilatildeo natildeo ocorre somente na

escola As famiacutelias bem como a vida de forma geral tambeacutem educam burilando a ldquotecircmpera das

pessoasrdquo No entanto a escola tem o potencial de produzir um ldquoquestionamento reconstrutivordquo

que faccedila emergir a eacutetica a intervenccedilatildeo a inserccedilatildeo do sujeito no contexto histoacuterico (DEMO

20077)

Na mesma obra o autor reafirma a sua convicccedilatildeo no potencial transformador da pesquisa

ao afirmar que ldquoA aula que apenas repassa conhecimento ou a escola que somente se define

como socializadora de conhecimento natildeo sai do ponto de partida e na praacutetica atrapalha o

aluno porque o deixa como objeto de ensino e instruccedilatildeordquo (DEMO 20077) Esse treinamento

dificulta o estabelecimento do contacto pedagoacutegico e transforma professor e aluno em meros

copistas

Por partilhar dessa perspectiva de trabalho e por acreditar que embora difiacutecil natildeo eacute

impossiacutevel transformar a sala de aula em um ambiente de diaacutelogo tendo o saber

institucionalizado como objecto e a pesquisa como metodologia e factor de mediaccedilatildeo entre

professor e aluno elaboramos um projecto cujo problema pode ser sintetizado na seguinte

questatildeo eacute possiacutevel desencadear um processo de investigaccedilatildeo cientiacutefica em sala de aula da

Educaccedilatildeo Baacutesica

10

O projecto foi apresentado agrave SED e uma escola foi sugerida pelos teacutecnicos como espaccedilo

para nosso campo de experiecircncia Eacute uma escola de Ensino Meacutedio6 e de tempo integral7 A

pretensatildeo era desenvolver uma pesquisa participante

Esperaacutevamos encontrar nessa escola um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento de um

trabalho onde a investigaccedilatildeo se fizesse presente

Com esses pressupostos nos aproximamos da escola traccedilamos planos para breves

encontros quinzenais com professores voluntaacuterios no seu dia de planificaccedilatildeo que nessa escola

acontecem todos numa mesma tarde da semana Embora a nossa formaccedilatildeo seja em Matemaacutetica o

espaccedilo estava aberto a professores das todas as aacutereas

No final de 2015 tivemos umas poucas reuniotildees (apenas 4) e jaacute percebemos que a suspeita

inicial de que o trabalho natildeo seria simples se confirmou Algumas dificuldades satildeo facilmente

determinadas tais como

1 Certa incredulidade por parte de alguns professores

2 Dificuldade para entender a proposta que se afigura irreal para aquilo ou aquele contexto

estudantil a que estatildeo acostumados A ideia fortemente arraigada de que a pesquisa deve

sempre ser ineacutedita eacute paralisante para o professor como possiacutevel pesquisador e natildeo

permite imaginar o envolvimento do aluno que tem Convencecirc-lo de que haacute outro niacutevel

de pesquisa e que cumpre muito bem o papel de educar pela pesquisa natildeo eacute tarefa

simples

3 Preocupaccedilatildeo com o cumprimento da ementa uma vez que o professor natildeo imagina que o

aluno possa pesquisar ou continuar os estudos sem a sua supervisatildeo directa

4 A preocupaccedilatildeo com o cumprimento da ementa eacute tambeacutem um entrave de outra ordem Eacute

um entrave da burocracia educacional uma vez que os coordenadores e por vezes

representantes diretos da Secretaria da Educaccedilatildeo exigem esse cumpriemto rigoroso

visando o preparo do aluno para exames de avaliaccedilatildeo externa Amedronta o professor a

possibilidade de natildeo cumpri-la

5 A questatildeo do que eacute pesquisar tambeacutem os incomoda por outro motivo Para eles ou

conforme o assunto lhes eacute apresentado na universidade a pesquisa cientiacutefica comeccedila pela

memorizaccedilatildeo das Normas Teacutecnicas (ABNT) de um roteiro preacute-elaborado com hipoacuteteses

bem definidas justificativas um cronograma e a necessidade do ineditismo

6 Ensino Meacutedio no Brasil corresponde aos trecircs uacuteltimos anos de um periacuteodo de 12 da Educaccedilatildeo Baacutesica 7 O aluno permanece na escola 8 horas por dia Em um periacuteodo tem as aulas regulares e no outro eacute orientado atraveacutes

de actividades complementares

11

6 A necessidade que o professor tem de mostrar resultados em um curto espaccedilo de tempo eacute

outro factor interveniente

7 A ideia de pesquisa quantitativa se faz muito presente As falas de alguns professores

revelavam isso Essa modalidade exige um universo consideraacutevel de sujeitos e pensar em

abranger um puacuteblico grande se afigura um obstaacuteculo quase intransponiacutevel Para o

professor da Educaccedilatildeo Baacutesica o problema eacute definir um objecto que possa ser

quantificado

8 Pensar em pesquisa bibliograacutefica lhes traz agrave memoacuteria as coacutepias integrais dos textos sem

nenhuma leitura ou reflexatildeo sobre o conteuacutedo Eacute a ldquopesquisardquo para nota O professor

anuncia o problema e o aluno apenas pergunta se vale nota e sobre o nuacutemero de paacuteginas

que deve ter o trabalho Em seguida na data marcada apresenta um ldquorelatoacuteriordquo que nem

sequer dedicou tempo para a leitura cuidadosa Apresenta um texto que apenas copiou da

internet e colou tendo por base a palavra-chave dada pelo professor

9 A discussatildeo foi conduzida tambeacutem para o facto de que o professor entende que eacute preciso

levar em conta a qualidade das fontes de pesquisa acessiacuteveis ao aluno considerando que

esse estaacute em seu niacutevel inicial Visto que o trabalho cientiacutefico exige uma revisatildeo de

literatura eacute necessaacuterio disponibilizar ao aluno essas fontes e questionar se as mesmas

apresentam conceitos e dados histoacutericos adequados Segundo MARTINS (1998 243) ldquoo

problema eacute encontrar quem possa fazer bons trabalhos de divulgaccedilatildeo cientiacutefica O ideal

(difiacutecil de atingir) eacute unir uma competecircncia cientiacutefica agrave capacidade de escrever de modo

simples e interessante mas natildeo errocircneordquo O professor teme que o aluno (que muitas

vezes mal passa os olhos sobre o ldquorelatoacuteriordquo que faz) tome por base do seu trabalho

fontes natildeo confiaacuteveis em termos de exposiccedilatildeo dos conceitos

Soma-se a este facto afirmam os professores de que haacute entre alunos e alguns

professores a cultura de pressupor que livros escritos por autores renomados estatildeo livre de

equiacutevocos conceituais e histoacutericos

Essa discussatildeo revela as expectativas inclusive jaacute abordadas em paraacutegrafos

precedentes de que para pesquisar eacute necessaacuterio dar passos sempre seguros caminhar sobre

certezas partir de verdades consolidadas Eacute como se natildeo fosse possiacutevel ou talvez prudente pocircr

em xeque ldquoverdadesrdquo problematizar afirmaccedilotildees e fazer as devidas verificaccedilotildees Aquelas

verificaccedilotildees que podem ser feitas no ambiente escolar isto eacute fazer experiecircncias ou investigaccedilotildees

bibliograacuteficas mais amplas visando confrontar o exposto por tais autores

12

Partiu-se do pressuposto de que hoje haacute uma ampla literatura de boa qualidade

disponiacutevel nos sites de busca bastando que para isso o aluno tenha acesso agrave internet e esteja

suficientemente desafiado e orientado quanto a essas fontes

Para tentar desafiar os professores para a experimentaccedilatildeo a primeira tarefa do

pesquisador consistiu em mostrar outras possibilidades de pesquisa e orientar sobre a

necessidade de ldquoprovocaccedilotildeesrdquo procurando despertar a curiosidade do aluno para algum

problema

No ano de 2016 as actividades foram retomadas poreacutem com intervalos maiores No

entanto alguns professores do grupo que eram contratados jaacute natildeo mais estavam na escola e

outros haviam desistido da ideia Alguns permaneceram e outros foram agregados O grupo

nunca passou de oito professores

Nesse segundo uma professora jovem doutoranda em Quiacutemica engajou-se logo de

iniacutecio na proposta

A proposta reforccedilada em cada reuniatildeo dizia respeito agrave necessidade de romper com os

contractos estabelecidos Contracto aqui eacute uma referecircncia aos contractos didaacutecticos objecto de

estudo da Didaacutectica da Matemaacutetica Francesa (PAIS 2001)

A professora de Quiacutemica coordena actividades de oficina8 e apresentava certa relutacircncia

em considerar o seu trabalho como de investigaccedilatildeo Temia que embora estivesse imbuiacuteda do

desejo de conduzir os alunos pelos caminhos da investigaccedilatildeo estivesse falhando porque se via

frequentemente diante da necessidade de orientar o olhar dos alunos Estes pela inexperiecircncia

pela falta de vivecircncia com a pesquisa tinham dificuldades em distinguir o que eacute importante em

uma experiecircncia de investigaccedilatildeo

A orientaccedilatildeo do trabalho de pesquisa com alunos

O presente trabalho pode ser caracterizado como um relato de experiecircncia Uma

experiecircncia de investir na constituiccedilatildeo de uma atitude de estudante pesquisador ainda na

Educaccedilatildeo Baacutesica

O trabalho foi desenvolvido com alunos do ensino meacutedio em uma escola de tempo

integral nas oficinas de Quiacutemica O que se pretende aqui eacute descrever e analisar o processo

relatando as incertezas que perseguiram o professor durante o periacuteodo em que se empenhou

nessa tarefa

8 Termo usado entre noacutes para designar actividade extracurricular em que algueacutem faz uma exposiccedilatildeo de como

determinada proposta de acccedilatildeo pode ser conduzida

13

Uma questatildeo levantada tem relaccedilatildeo com os limites da orientaccedilatildeo Como deve se portar

um professor que se propotildee a orientar um processo de pesquisa com alunos da Educaccedilatildeo Baacutesica

sem obstruir a sua trajectoacuteria rumo agrave autonomia

A preocupaccedilatildeo justifica-se porque o trabalho de conduzir um processo de pesquisa com

alunos da Educaccedilatildeo Baacutesica esbarra em factores que supostamente natildeo aparecem em curso de

poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu Na graduaccedilatildeo natildeo se conhece experiecircncia semelhante

Tais factores natildeo se prendem somente agrave inexperiecircncia do estudante agravequilo que

poderiacuteamos chamar de imaturidade intelectual Eles se estendem tambeacutem ao domiacutenio da

disposiccedilatildeo isto eacute um estudante ao se candidatar a um curso de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu se

predispotildee a estudar por antecipaccedilatildeo a definir antecipadamente um possiacutevel objecto para os seus

estudos posteriores O mesmo poreacutem natildeo ocorre com o estudante da Educaccedilatildeo Baacutesica que na

nossa cultura escolar natildeo pensa em pesquisa nos moldes de uma pesquisa como a conhecemos

na poacutes-graduaccedilatildeo Pesquisa para ele traz a marca da determinaccedilatildeo do tema pelo professor

independente do seu interesse Dizendo em outras palavras pesquisa na sua concepccedilatildeo eacute algo

que se faz para o outro para atender um requisito ldquolegalrdquo para obter alguma vantagem imediata

relacionada agrave promoccedilatildeo escolar Nesse caso na maioria das vezes natildeo se faz necessaacuterio o

investimento de capital intelectual O que ele precisa eacute de uma determinaccedilatildeo exterior a ele

incluindo tema prazo e fonte de consulta que normalmente era uma enciclopeacutedia e agora um

conhecido site de busca

Essa condiccedilatildeo inicial apresenta-se como um obstaacuteculo a ser superado pelo professor que

se proponha a ensinar pela pesquisa Se num curso de poacutes-graduaccedilatildeo o orientador precisa

orientar a escrita a metodologia indicar muacuteltiplas fontes de consulta e produzir conflitos

cognitivos no orientado aqui na Educaccedilatildeo Baacutesica ele necessita antes de tudo orientar o olhar

do estudante

O que pode ser um objecto de pesquisa O que eacute relevante olhar nesse objecto (cor

forma cheiro comportamento relaccedilotildees frequecircncia falhas apresentadas etc) Essa eacute tarefa

primeira o que olhar no objecto que se propotildee investigar

Um descuido nessa perspectiva deixa o aluno sem saber o que estaacute procurando a

qualidade do objecto que se espera seja observada Essa incerteza tambeacutem ronda o estudante de

poacutes-graduaccedilatildeo poreacutem se faz mais presente no estudante da Educaccedilatildeo Baacutesica No entanto ao

professor orientador desse estudante resta-lhe a inseguranccedila sobre o limite da sua intervenccedilatildeo

Ateacute onde ele conduz o olhar do estudante e onde deve parar com a sua intervenccedilatildeo Eis a

questatildeo a ser respondida por ele proacuteprio

14

Na tentativa de encontrar indicativos de uma resposta recorre-se agraves discussotildees jaacute

existentes sobre o papel do orientador na poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu tendo em vista que na

Educaccedilatildeo Baacutesica natildeo temos tradiccedilatildeo de pesquisa e consequentemente dificilmente

encontraremos um debate dessa natureza

COSTA SOUSA e SILVA (2014823) definem ldquotrecircs responsabilidades

de formaccedilatildeo do estudante [de poacutes-graduaccedilatildeo] pelo orientadorrdquo antes poreacutem destacando que a

[] orientaccedilatildeo eacute tratada pelos programas de poacutes-graduaccedilatildeo de forma geneacuterica e vaga ficando

mais ao criteacuterio do professor definir individualmente o que fazer e como desenvolver suas

accedilotildees rdquo e que ldquo[] poucos discursos e pouca pesquisa tecircm-se desenvolvido em torno do tema

da orientaccedilatildeorsquordquo

Os autores realccedilam que o orientador ldquo[] deve ser capaz de ouvir o orientado de

encorajar o debate de fornecer feedback contiacutenuo e de ser entusiasmado aleacutem de demonstrar

atenccedilatildeo e respeitordquo (COSTA SOUSA SILVA 2014829) No entanto dado o oacutebvio da

observaccedilatildeo ela natildeo socorre o professor que deseja inserir-se neste fazer tendo em vista que tais

caracteriacutesticas dificilmente estatildeo ausentes em quem se dispotildee a esse trabalho voluntariamente

como eacute o caso de um professor da Educaccedilatildeo Baacutesica Supomos que o factor destacado por esses

autores que traz melhor orientaccedilatildeo ao orientador seja a que consta no item a seguir Nesse texto

evidencia-se que haacute a necessidade de orientar

[] os haacutebitos mentais relacionados ao entendimento e ao exerciacutecio do

aprendizado e da reflexatildeo ativa sobre as decisotildees a serem tomadas aleacutem da

capacidade de aplicar esse processo na tomada de decisotildees imprevistas e com

elevado niacutevel de responsabilidade[] os ldquoaspectos teacutecnicosrdquo relacionados aos

procedimentos e agraves teacutecnicas de execuccedilatildeo da orientaccedilatildeo (produccedilatildeo verbal de

ciecircncia prospecccedilatildeo de fontes e manipulaccedilatildeo de dados gerenciamento de

informaccedilotildees uso de uma boa diversidade de ferramentas de anaacutelise de dados

gerenciamento do tempo etc) a ldquoexpertise contextualrdquo relacionada agrave

capacidade de entender o campo cientiacutefico em geral e a dinacircmica do campo de

pesquisa em particular (COSTA SOUSA SILVA 2014830)

Acrescentamos a isso que ao orientador cabe a tarefa de orientar o olhar do estudante

ldquoAjustar os focos da sua lenterdquo para que seja possiacutevel que ele olhe na direcccedilatildeo em que objecto

possa estar e no caso do estudante da Educaccedilatildeo Baacutesica veja o que se quer que seja visto

Talvez essa expressatildeo ldquoveja o que se quer que seja vistordquo possa sugerir ao menos

experiente que se deve dar directividade absoluta ao novo pesquisador Natildeo eacute isso que se quer

dizer Aponta-se aqui a necessidade de questionar sobre algumas caracteriacutesticas que o objeto

deve apresentar para ser o objeto que se procura

15

Outro enunciado de Costa Sousa e Silva que julgamos merecer destaque eacute o que eles

[] identificaram [como] trecircs tipos de metaacuteforas relacionadas ao processo de

orientaccedilatildeo acadecircmica que satildeo a metaacutefora da maacutequina a metaacutefora do treinador e

a metaacutefora da viagem A primeira apresenta a orientaccedilatildeo como uma atividade

alinhada com as poliacuteticas institucionais das universidades e faculdades a

segunda descreve a orientaccedilatildeo como uma accedilatildeo de aconselhamento na

apresentaccedilatildeo de soluccedilotildees para o trabalho do aluno e a terceira mostra a

orientaccedilatildeo como uma parceria na qual orientador e orientando aprendem juntos

(COSTA SOUSA SILVA 2014 p 831)

Esses autores salientaram que dar autonomia eacute diferente de natildeo orientar A autonomia do

estudante eacute resultado de um processo

VIANA e VEIGA (2010 p 223) por exemplo destacam que a ldquo[] orientaccedilatildeo

acadecircmica [se daacute] atraveacutes dos seguintes pontos assim caracterizados atitudinais cognitivos

administrativos e temporaisrdquo e esclarecem que ldquoEm relaccedilatildeo ao aspecto cognitivo eles apontam

garantir a convergecircncia entre seu objeto de pesquisa e o objeto do orientando tornar viaacutevel a

delimitaccedilatildeo do objeto contribuir com uma seleccedilatildeo bibliograacutefica adequadardquo

Numa orientaccedilatildeo acontecem naturalmente algumas dificuldades Uma delas diz respeito agrave

natureza do objeto e aos valores de uma pesquisa cientiacutefica que satildeo desconhecidos pelos

estudantes (LEITE FILHO MARTINS 2006) requerendo o direcionamento do olhar

Portanto direcionar o olhar do estudante natildeo implica necessariamente na obstruccedilatildeo da

sua autonomia Pode ser o impulso que ele necessita para persegui-la

A segunda questatildeo eacute como essa orientaccedilatildeo se processa Como eacute vivenciada essa

experiecircncia

A Experiecircncia

Se ensinar no contexto escolar eacute tarefa para profissionais ensinar Quiacutemica se apresenta

mais difiacutecil ainda ou pelo menos assim se aparenta em decorrecircncia do fato de que o contato

que se tem com ela no Ensino Fundamental eacute miacutenimo Esse contato miacutenimo eacute pouco para que o

aluno aprenda sobre Quiacutemica No entanto eacute longo o suficiente para se criar obstaacuteculos agrave sua

aprendizagem se o trabalho natildeo for bem conduzido Inicia-se com definiccedilotildees de elementos

invisiacuteveis (aacutetomo proacutetons eleacutetrons e necircutrons) e discutindo a localizaccedilatildeo deles num universo

hipoteacutetico axiomaacutetico Dessa forma os alunos no Ensino Meacutedio jaacute iniciam a disciplina com um

preconceito constituiacutedo de que a mesma seraacute difiacutecil de compreender e de correlacionar e

vivenciar no seu cotidiano Uma das maneiras utilizadas para atrair esses alunos eacute a

experimentaccedilatildeo quiacutemica Faz parte da grade curricular da escola estadual de tempo integral onde

16

a experiecircncia foi realizada a atividade optativa de quiacutemica tendo uma co-autora deste trabalho

como professora Como estiacutemulo para os alunos e para familiariza-los mais com o mundo

quiacutemico a maioria das aulas ocorre no laboratoacuterio da escola em que os alunos satildeo divididos em

seis grupos Cada grupo possui sua bancada para trabalhar com equipamentos necessaacuterios para a

realizaccedilatildeo dos experimentos As aulas satildeo iniciadas com uma fundamentaccedilatildeo teoacuterica do tema

tratado para auxiliaacute-los na compreensatildeo dos experimentos Os alunos recebem um roteiro

experimental com a metodologia e tem-se observado que a parte de manipulaccedilatildeo de vidrarias e

componentes quiacutemicos sempre foi bem desempenhada pelos mesmos Entretanto o objetivo

central da aula a compreensatildeo das transformaccedilotildees e a construccedilatildeo do conhecimento quiacutemico natildeo

era alcanccedilado Considerando que a maior parte dos alunos tinha o conhecimento baacutesico de

quiacutemica esperava-se que eles tivessem capacidade para entender o experimento realizado

poreacutem natildeo era o que acontecia no decorrer das aulas

Todos os experimentos realizados na disciplina satildeo contextualizados socialmente isto eacute

relacionados com a ldquovida realrdquo do aluno vatildeo aleacutem das reaccedilotildees no tubo de ensaio Poreacutem

percebeu-se que apenas a contextualizaccedilatildeo natildeo seria suficiente pois durante as aulas o que se

verificou foi que a docente estava apenas transmitindo o conhecimento pronto e que os alunos

estavam participando mecanicamente das aulas mesmo tendo o conhecimento teoacuterico dos

assuntos abordados nos experimentos Fez-se necessaacuterio uma mudanccedila na forma de trabalhar

com esses alunos Aleacutem de usar como ferramenta a contextualizaccedilatildeo e a fundamentaccedilatildeo teoacuterica

acrescentou-se o direcionamento do olhar dos alunos durante os experimentos Esta tentativa de

orientar os alunos durante a aula surgiu devido ao fato de que os mesmos jaacute possuiacuteam o

conhecimento teoacuterico para compreender as transformaccedilotildees quiacutemicas que ocorrem nos

experimentos poreacutem natildeo conseguiam correlacionar o que estavam observando com o que

poderia estar ocasionando tal mudanccedila Por exemplo um dos experimentos realizados na

disciplina consistiu em encontrar a vitamina C nos alimentos Partiu-se do pressuposto de que os

conceitos de reaccedilotildees quiacutemicas e oxirreduccedilatildeo jaacute eram dominados pelos alunos uma vez que a

discussatildeo teoacuterica havia acontecido Dessa forma durante o experimento procurou-se direcionaacute-

los para que empregassem esses conhecimentos em cada etapa do experimento Durante a aula

fez-se necessaacuterio fazer perguntas durante cada etapa como Por que no suco de laranja foi

adicionado mais iodo que no suco de limatildeo Por que a soluccedilatildeo ficou azul Por que adicionamos

o amido na soluccedilatildeo E apoacutes cada pergunta os grupos tentavam responder os questionamentos

entre si mesmos observando o que estava ocorrendo realmente nos experimentos e elaborando

propostas para explicar essas possiacuteveis transformaccedilotildees Dessa forma esta nova forma de guiar as

17

aulas experimentais foi mantida aula apoacutes aula para verificar se este meacutetodo estava produzindo

resultados Pediu-se aos alunos que entregassem relatoacuterios cientiacuteficos referentes a cada

experimento Esses relatoacuterios eram entregues por cada grupo de alunos em que a parte

fundamental analisada eacute resultados de discussotildees Percebeu-se que houve um avanccedilo durante as

aulas poreacutem isso natildeo ocorreu para a totalidade da turma Este fator foi detectado pelo fato de

que cada vez que um grupo entregava um relatoacuterio eacute um aluno diferente do grupo que elabora

tendo um rodiacutezio entre eles Dessa forma foi possiacutevel verificar que dentro dos grupos alguns

estatildeo avanccedilando mais que os outros mas a metodologia estaacute atingindo a todos

Outro fator relevante desta praacutetica do direcionamento do olhar ocorreu durante os

experimentos de investigaccedilatildeo criminal em que os alunos puderam ver como a quiacutemica eacute usada

para resolver crimes Foram realizados vaacuterios experimentos com esta proposta entre eles

Extraccedilatildeo do DNA humano e da cebola impressatildeo digital cromatografia e adulteraccedilatildeo da

gasolina Em todos os casos os alunos eram orientados a voltar o seu olhar para cada etapa do

experimento O objetivo era que conseguissem investir o seu conhecimento de Quiacutemica em cada

uma das fases e dessa forma visualizar como estes dados influenciariam na resoluccedilatildeo de um

problema envolvendo crime O resultado foi excelente os alunos se empolgaram por saber

aplicar seus conhecimentos e como o que aprendiam poderia ser utilizado para um bem maior

Apoacutes estes experimentos trecircs alunos da disciplina resolveram que queriam investigar se os

postos de combustiacuteveis que se encontram proacuteximos agrave escola estavam vendendo gasolina de

acordo com a legislaccedilatildeo Dessa forma sob a orientaccedilatildeo da professora fizeram pesquisa de

campo procedimentos experimentais pesquisas bibliograacuteficas e desenvolveram uma

investigaccedilatildeo que apresentou como resultado que todos os postos investigados estatildeo fornecendo a

seus clientes combustiacuteveis adulterados Este trabalho investigativo foi apresentado em duas

feiras cientiacuteficas estaduais a Feira de Tecnologias Engenharias e Ciecircncias de Mato Grosso do

Sul (FETEC) e a Feira de Ciecircncias e Tecnologias do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul

(FECINTEC) Dessa forma a metodologia do ldquodirecionamento do olharrdquo do aluno para as etapas

dos experimentos foi fundamental para a evoluccedilatildeo dos mesmos isso eacute perceptiacutevel na experiecircncia

da maior parte dos alunos da disciplina

Ressalta-se que trabalhar com um nuacutemero grande de alunos durante as aulas dificulta um

pouco o desenvolvimento da metodologia por um lado porque alguns alunos necessitam de

maior atenccedilatildeo e auxilio que outros Por outro lado quando se tem um nuacutemero pequeno como o

caso dos trecircs alunos que desenvolveram a investigaccedilatildeo eacute possiacutevel trabalhar melhor o

direcionamento do olhar desses alunos quanto ao trabalho que estatildeo desenvolvendo

18

Uma perspectiva eacute que em um segundo ano de experiecircncia alguns alunos que tiveram o

seu olhar direcionado possa contribuir para que outros alcancem esse niacutevel de vivecircncia Nesse

caso um nuacutemero maior de alunos pode ser atendido com sucesso e a experiecircncia ser gratificante

Consideraccedilotildees finais

Em que pese as dificuldades encontradas pelos professores para assumir uma postura de

pesquisador perante a classe e operacionalizar um projeto dessa natureza alguns casos de

sucesso podem ser relatados

Uma discussatildeo sobre como pesquisar em sala de aula precisa envolver aleacutem dos

professores coordenadores e gestores locais para que diminuindo determinadas exigecircncias

burocraacuteticas o trabalho do professor que se envolver no processo possa se tornar menos tenso

Algumas perspectivas precisam mudar de foco e o professor necessita entender os limites de um

aluno do ensino meacutedio como pesquisador Requer que o docente se prepare para ter uma nova

visatildeo do que eacute pesquisa rompendo com paradigmas ensinados teoricamente nos cursos de

graduaccedilatildeo e ele mesmo possa aprender a problematizar

Em aacutereas mais abstratas como a Matemaacutetica por exemplo natildeo foi possiacutevel avanccedilar uma

vez que os professores encontraram dificuldades para problematizar e o termo ldquopesquisardquo remete

sempre a uma busca por algo pronto pela explicaccedilatildeo jaacute existente de uma propriedade tambeacutem jaacute

confirmada Pesquisar buscar uma certeza jaacute existente

Em Biologia pela maior familiaridade do aluno com temas relacionados desde os anos

inicias os professores entendem que nada mais haacute para problematizar Que nenhum problema

mais provocaraacute o aluno

Referecircncias

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226 setdez 2010 Disponiacutevel emlt

httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpfacedarticleview8079 gt Acesso em 31

ago 2016

20

O ensino contextualizado e a abordagem curricular de conteuacutedos de

Microbiologia em Moccedilambique

Manecas Cacircndido9

Laurinda Leite10

Briacutegida Singo11

Resumo

Este artigo visou analisar documentos oficiais que orientam o Ensino Secundaacuterio Geral em Moccedilambique

no que concerne agraves eventuais propostas metodoloacutegicas que apresentam para um ensino contextualizado de

conteuacutedos de Microbiologia Os documentos analisados foram a Lei ndeg 692 sobre o Sistema Nacional da

Educaccedilatildeo o Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio Geral e os Programas de Biologia da 8ordf agrave 12ordf classe

A anaacutelise de conteuacutedo desses documentos centrou-se na presenccedila ou ausecircncia de seis dimensotildees

identificadas com base na literatura e que permitiam averiguar se para os conteuacutedos em causa eacute ou natildeo

fomentado o ensino contextualizado de conteuacutedos de Microbiologia Os resultados do estudo mostram

que apesar de natildeo terem sido encontradas evidecircncias de todas as dimensotildees consideradas em todos os

documentos analisados a Lei ndeg 692 preconiza o ensino contextualizado acontecendo o mesmo com o

Plano Curricular e os Programas de Biologia que satildeo documentos que orientam poliacuteticas e estrateacutegias de

ensino Assim nas escolas deveriam ser adotadas metodologias promotoras do ensino contextualizado

dos conteuacutedos de Microbiologia

Palavrasndashchave Ensino Contextualizado das Ciecircncias Microbiologia Curriacuteculo Moccedilambique

Abstract

This article aimed at analysing the official documents that guide general secondary education in

Mozambique with regard to approaches for contextualized teaching of microbiology contents The

documents analysed were Law No 692 on the National Educational System the General Secondary

Education Curriculum plan and the 8th to 12th grade Biology syllabuses Content analysis of those

documents focused on the presence or absence of a set of six dimensions that were collected from the

literature These dimensions enabled to find out whether the documents analysed acknowledge a

contextualized teaching of the contents under question The results of the study show that even though

evidences of all the dimensions of analysis were not found in all documents that re at stake all the

documents advocate contextualized teaching of microbiology contents Thus schools should adopt

teaching approaches able to promote contextualized teaching of microbiology contents

Keywords Contextualized Science Teaching Microbiology Curriculum Mozambique

Introduccedilatildeo

O Sistema Nacional de Educaccedilatildeo (SNE) em Moccedilambique criado pela Lei ndeg 483 de 23

de Marccedilo foi revisto para se adequar agraves condiccedilotildees socioeconoacutemicas do Paiacutes atraveacutes da lei ndeg

692 de 6 de Maio O objetivo dessa revisatildeo foi o de garantir uma formaccedilatildeo integral ao cidadatildeo

9 Docente da Universidade Pedagoacutegica e Doutorando em Educaccedilatildeo em Ciecircncias na UMinho Portugal 10 Docente da UMinho Braga Portugal Doutorada em Educaccedilatildeo em Ciecircncias 11 Docente da Universidade Pedagoacutegica Doutorada em Biologia

21

moccedilambicano para que adquira e desenvolva conhecimentos e capacidades intelectuais Esta

mudanccedila obrigava a uma revisatildeo curricular incluindo dos programas das diversas disciplinas de

modo a que a escola passasse a preparar melhor os alunos para a vida

De acordo com o INDE (2010) as competecircncias importantes para a vida referem-se ao

conjunto de recursos (isto eacute conhecimentos habilidades atitudes valores e comportamentos)

que o indiviacuteduo mobiliza para enfrentar com sucesso exigecircncias complexas ou realizar uma

tarefa na vida quotidiana

Um dos objectivos do ensino das ciecircncias eacute fomentar a aprendizagem significativa de

conteuacutedos que sejam relevantes para o dia-a-dia dos cidadatildeos Uma das formas de contribuir para

a consecuccedilatildeo deste objetivo consiste em abordar de modo contextualizado os assuntos a ensinar

Neste contexto a abordagem contextualizada de conteuacutedos de Microbiologia no ensino

secundaacuterio geral moccedilambicano pode levar os alunos a alcanccedilarem uma melhor preparaccedilatildeo para

enfrentarem de forma ativa e adequada situaccedilotildees de prevenccedilatildeo de doenccedilas causadas pelos

microrganismos de conservaccedilatildeo de produtos alimentares e de proteccedilatildeo do meio ambiente

Analisando os Programas de Biologia da 8ordf agrave 12ordf classe (INDE 2010) constata-se que

todos eles propotildeem a abordagem de conteuacutedos de Microbiologia que tecircm relaccedilatildeo com e

relevacircncia para o dia-a-dia das pessoas embora isso dependa pelo menos em parte de serem

abordados ou natildeo de um modo contextualizado

Sendo a contextualizaccedilatildeo dos conteuacutedos a ensinar uma estrateacutegia que pode ser adotada

para dar significado ao conhecimento escolar (Oda amp Delizoicov 2011 Bulte et al 2006)

torna-se relevante investigar em que medida os documentos orientadores do ensino

anteriormente referidos reconhecem a problemaacutetica da contextualizaccedilatildeo e incentivam a adoccedilatildeo

de abordagens contextualizadas de conteuacutedos curriculares relevantes para os cidadatildeos como eacute o

caso da Microbiologia Assim o objectivo deste trabalho foi o de averiguar em que medida os

documentos oficiais que regem o ensino de Biologia propotildeem metodologias promotoras de uma

abordagem contextualizada de conteuacutedos de Microbiologia no ensino secundaacuterio geral em

Moccedilambique e caso isso se verifique como o fazem Caso a contextualizaccedilatildeo seja reconhecida

pelos documentos em causa e especialmente se isso acontecer de forma impliacutecita os resultados

deste estudo poderatildeo ser uacuteteis para alertar os formadores de professores para a necessidade de

sensibilizar os estudantes para as exigecircncias do curriacuteculo em termos de ensino contextualizado

das ciecircncias

22

A contextualizaccedilatildeo do ensino das ciecircncias e a formaccedilatildeo cientiacutefica dos cidadatildeos

Segundo Wartha et al (2013) contextualizaccedilatildeo eacute um termo novo na liacutengua portuguesa que

natildeo faz parte do leacutexico Contudo alguns estudos realizados na aacuterea da educaccedilatildeo em ciecircncias a

que tivemos acesso falam de contextualizaccedilatildeo e de ensino contextualizado Gilbert (2006)

considera que existam diversas formas de contextualizar o ensino mas que nem todas elas tecircm a

ver com ensino baseado em contextos (em que estes satildeo um ponto de partida) sendo que em

algumas delas os contextos satildeo um ponto de chegada que serve para aplicar conhecimentos

aprendidos de modo desligado do dia-a-dia dos alunos Assim alguns autores (Schwartz 2006

Gilbert 2006 Bulte et al 2006 Gilbert et al2011) associam o ensino contextualizado a um

ensino que recorre a situaccedilotildees do quotidiano do aluno para nelas fazer emergir os conceitos

cientiacuteficos necessaacuterios para as compreender Nesta perspetiva a aprendizagem de um assunto

ocorre ligada a um contexto que daacute significado ao assunto a estudar pelo que se torna relevante

para o aluno tendo mais probabilidade de aumentar o interesse deste pelas ciecircncias de o

preparar para aprender ao longo da vida e de o levar a contribuir para a resoluccedilatildeo de problemas

da comunidade a que pertence

Para Gilbert (2006) contextualizar o ensino implica assumir que os significados dos

conceitos dependem do ambiente em que satildeo construiacutedos e das accedilotildees realizadas para o efeito a

existecircncia de uma interaccedilatildeo entre o sujeito e o ambiente ou contexto a utilizaccedilatildeo de processos

intelectuais que adicionam novos significados a uma dada situaccedilatildeo e que delimitam o que pode

(ou deve) e o que natildeo pode ser feito (naquele momento) sobre essa situaccedilatildeo Assim

contextualizar eacute por um lado construir contextos (os contextos modificam-se pelas interaccedilotildees

satildeo dinacircmicos) e por outro lado realizar atividades com vista agrave recontextualizaccedilatildeo de

significados e ao desenvolvimento dos conceitos

Neste sentido um contexto eacute uma situaccedilatildeo que apresenta um acontecimento imerso no seu

ambiente sociocultural de ocorrecircncia e que eacute apelativo para os alunos (Gilbert 2006) No

entanto uma situaccedilatildeo seraacute ou natildeo um contexto consoante sejam ou natildeo realizadas accedilotildees

(mediadas por ferramentas cognitivas eou outras) relevantes no acircmbito da atividade que eacute

realizada sobre o contexto Por isso para implementar ensino contextualizado natildeo basta

apresentar uma situaccedilatildeo do quotidiano dos alunos eacute preciso trabalhar nela com ela eou sobre

ela envolvendo os alunos nesse trabalho

Nesta perspetiva contextualizar os conteuacutedos a ensinar nas aulas significa primeiramente

assumir que todo conhecimento envolve uma relaccedilatildeo entre o sujeito que aprende e o objeto de

aprendizagem (Wartha et al 2013)

23

Segundo Schwartz (2006) o ensino contextualizado das ciecircncias caracteriza-se do seguinte

modo

Eacute centrado em problemas sociais do mundo real que constituem a base do contexto a

adotar

Os fenoacutemenos factos e princiacutepios satildeo introduzidos conforme necessaacuterio para informar o

estudo das questotildees centrais que criam o contexto

Estabelece conexotildees interdisciplinares importantes entre as ciecircncias e outras aacutereas de

conhecimento especialmente com as ciecircncias sociais

Na medida do possiacutevel os assuntos satildeo ensinados do modo como as ciecircncias satildeo

praticadas

O estudo dos fenoacutemenos abrange a metodologia usada em ciecircncias para os compreender e

a teoria que os explica

Utiliza recursos diversificados incluindo o laboratoacuterio a biblioteca o trabalho em sala de

aulas e o trabalho de campo

Privilegia metodologias centradas no aluno enfatizando a discussatildeo e o trabalho em

grupo

Dedica atenccedilatildeo consideraacutevel agrave resoluccedilatildeo de problemas e ao desenvolvimento do

pensamento criacutetico

Assim o ensino contextualizado eacute um ensino realista (Taconis et al 2016) que pode

contribuir para aumentar o interesse do aluno pela aprendizagem das ciecircncias evitando como

realccedila Gilbert (2006) a baixa participaccedilatildeo na aula e o esquecimento de conteuacutedos aprendidos

A contextualizaccedilatildeo do ensino das ciecircncias oferece possibilidades muacuteltiplas de mediaccedilatildeo

didaacutetica (Kato amp Kawasaki 2011) sendo possiacutevel recorrer a vaacuterios tipos de situaccedilotildees para

contextualizar o ensino De entre elas salientam o quotidiano do aluno (Lopes 2002 Oda amp

Delizoicov 2011 Giassi amp Moraes sd) os contextos histoacutericos sociais e culturais (Souza amp

Roseira 2010 Lopes 2002 Fernandes et al 2011) a interdisciplinaridade (Kato amp Kawasaki

2011 Florentino amp Fernandes sd) e as fotografias e ilustraccedilotildees (Leite et al 2016)

Natildeo parecem ser frequentes os estudos centrados na anaacutelise de documentos orientadores do

ensino e da aprendizagem das ciecircncias relativamente agrave contextualizaccedilatildeo Contudo um estudo

realizado por Kato e Kawasaki (2011) mostra que no Brasil os documentos curriculares de

ciecircncias apresentam propostas de contextualizaccedilatildeo do ensino bastante variadas centradas por

exemplo no quotidiano do aluno e em contextos histoacutericos sociais e culturais em torno das

24

quais se articulam as abordagens dos conhecimentos especiacuteficos dessas disciplinas

No ensino secundaacuterio geral moccedilambicano os alunos devem aprender conteuacutedos de

Microbiologia os quais incluem assuntos como viacuterus bacteacuterias e fungos Embora haja situaccedilotildees

em que a atuaccedilatildeo destes eacute positiva (ex vacinas produccedilatildeo de iogurte) muitas vezes eles atuam

no meio provocando a degradaccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica e causando doenccedilas aos seres humanos e

a outros seres vivos Eacute por isso importante saber lidar com eles de modo a tirar partido dos seus

efeitos positivos e a proteger-se dos seus efeitos nefastos Por esta razatildeo eacute relevante usar

estrateacutegias de ensino que sejam capazes de ajudar o aluno a realizar uma aprendizagem

significativa de conteuacutedos de Microbiologia e capaz de ser uacutetil no seu quotidiano como eacute o caso

da contextualizaccedilatildeo Na verdade ao estudar assuntos de Microbiologia de modo contextualizado

o aluno poderaacute por exemplo ficar mais preparado para na sua vida pessoal social e

profissional adotar medidas eficientes na prevenccedilatildeo de doenccedilas causadas pelos microrganismos

Metodologia

Este trabalho centrou-se na anaacutelise dos documentos oficiais que regulam o ensino da

disciplina de Biologia no Ensino Secundaacuterio Geral (ESG) da Repuacuteblica de Moccedilambique a fim

de averiguar se adotam e promovem uma abordagem contextualizada de conteuacutedos de

Microbiologia Este estudo eacute qualitativo de anaacutelise de documentos com recurso agrave teacutecnica de

anaacutelise de conteuacutedo Seguindo Schreiber e Asner-Self (2011) fez-se o exame detalhado do

conteuacutedo dos documentos centrado em alguns aspetos (dimensotildees) que a seguir seratildeo

explicitados de modo a obter informaccedilatildeo que permitisse alcanccedilar o objetivo do estudo

Os documentos selecionados para anaacutelise no acircmbito deste estudo foram a Lei nordm 692

sobre o Sistema Nacional da Educaccedilatildeo (Conselho de Ministros 1992) o Plano Curricular do

Ensino Secundaacuterio Geral (MECINDE 2007) e os Programas de Biologia da 8ordf agrave 12ordf classe

(MECINDE 2010) A razatildeo da sua seleccedilatildeo deveu-se ao facto de em Moccedilambique estes serem

os documentos que orientam o ensino em geral e o ensino da Biologia em particular e de por

isso caso reconheccedilam e recomendem abordagens contextualizadas poderem fomentar praacuteticas

de ensino contextualizado de conteuacutedos de Microbiologia em todo o ensino secundaacuterio geral

Para recolha de informaccedilatildeo tivemos que identificar primeiramente as dimensotildees de

contextualizaccedilatildeo que iriam ser usadas na anaacutelise dos documentos referidos e para cada uma

delas definir categorias de anaacutelise Com base na literatura consultada as dimensotildees de anaacutelise

consideradas foram as seguintes

- Quotidiano do aluno que segundo Wartha et al (2013) permite relacionar situaccedilotildees

25

concretas ligadas ao dia-a-dia das pessoas incluindo os saberes locais com

conhecimentos cientiacuteficos

- Formaccedilatildeo pessoal que segundo Fernandes et al (2011) requer que a aprendizagem de

conteuacutedos cientiacuteficos seja feita de forma a promover o desenvolvimento do aluno

enquanto pessoa

- Interdisciplinaridade que tem a ver com o facto de os conhecimentos cientiacuteficos

designadamente os bioloacutegicos serem relacionados com os sociais poliacuteticos econoacutemicos

e culturais (Oda amp Delizoicov 2011)

- Processos de construccedilatildeo do conhecimento que tecircm a ver com os processos de produccedilatildeo dos

conhecimentos cientiacuteficos e sua relaccedilatildeo com os procedimentos usados na produccedilatildeo de

conhecimentos do quotidiano (Fernandes et al 2011)

- Histoacuterica que segundo Kato e Kawasaki (2011) tem a ver com o recurso agrave histoacuteria das

ciecircncias para a apresentaccedilatildeo de conteuacutedos cientiacuteficos e da sua evoluccedilatildeo

- Sociocultural segundo a qual os conteuacutedos de ciecircncias devem ser ensinados em articulaccedilatildeo

com a cultura e com os haacutebitos quotidianos e os costumes locais (Kato amp Kawasaki

2011 Leite Et al 2016)

Para cada dimensatildeo definimos duas categorias (presente e ausente) Na seccedilatildeo seguinte nas

tabelas utilizadas para efeitos de registo de dados a presenccedila de uma dada dimensatildeo seraacute

sinalizada com exemplos de extratos dos documentos analisados

Antes de passar agrave anaacutelise dos documentos selecionados foi necessaacuterio identificar nas

diversas unidades dos Programas de Biologia da 8ordf classe agrave 12ordf classe os conteuacutedos de

Microbiologia que elas incluem a fim de centrar neles a anaacutelise a realizar nos Programas O

resultado dessa identificaccedilatildeo estaacute sintetizado na tabela 1

Tabela 1 Conteuacutedos de Microbiologia presentes nos Programas de Biologia do ESG

Ciclos Classe Unidades Conteuacutedos

1deg ciclo

8ordf Unidade 1 - Tipos de ceacutelula (procarioacutetica e eucarioacutetica)

- Classificaccedilatildeo dos seres vivos em 5 reinos

9ordf Unidade 4 - Importacircncia de fermentaccedilatildeo

Unidade 7 - Organismos no solo

- Organismos decompositores

10ordf Unidade 4 - Processos comuns dentro de um ecossistema

- Ciclo de Nitrogeacutenio

2deg ciclo

11ordf Unidade 1 - Sistemas de classificaccedilatildeo dos seres vivos (breve historial da

sistemaacutetica e sua evoluccedilatildeo)

Unidade 2 - Reino Monera- seres procariotas

26

- Doenccedilas causadas por bacteacuterias (coacutelera tuberculose difteria e

teacutetano) sintomatologia e medidas de prevenccedilatildeo

- Viacuterus e doenccedilas virais (SIDA sarampo varicela variacuteola raiva)

sintomatologia modo de transmissatildeo e profilaxia das doenccedilas

- Reino fungi

12ordf Unidade 3 - Doenccedilas do sistema respiratoacuterio

- Tuberculose

Resultados

A Lei ndeg 692 eacute uma lei geral que se aplica a todo o sistema de ensino Assim as

afirmaccedilotildees que faz embora podendo natildeo se centrar explicitamente agraves ciecircncias tecircm implicaccedilotildees

no seu ensino e aprendizagem Assim a anaacutelise da referida Lei evidenciou a presenccedila de todas as

dimensotildees de contextualizaccedilatildeo consideradas neste estudo com exceccedilatildeo da dimensatildeo histoacuterica

(tabela 2) relativa agrave histoacuteria das ciecircncias Na verdade nesta Lei estaacute explicitado que a escola

deve fomentar a formaccedilatildeo pessoal promover a sua articulaccedilatildeo com a comunidade bem como o

desenvolvimento da sociedade moccedilambicana e os processos de aprendizagem do aluno Aleacutem

disso ao enfatizar que o ensino e a formaccedilatildeo deveratildeo responder agraves exigecircncias de

desenvolvimento do paiacutes embora natildeo seja explicitado infere-se que seraacute necessaacuterio recorrer a

abordagens interdisciplinares pois problemas do mundo real satildeo multidisciplinares

Tabela 2 Evidecircncias da contextualizaccedilatildeo do ensino na Lei do Sistema Nacional de Educaccedilatildeo

Dimensotildees Extrato ilustrativo da dimensatildeo

Quotidiano do aluno ldquohellipLigaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica que se traduz [hellip] na ligaccedilatildeo entre a

escola e a comunidaderdquo (art 2ordmc)

Formaccedilatildeo Pessoal ldquohellipdesenvolvimento da iniciativa criadora da capacidade de estudo

individualldquo (art 2ordm b)

ldquoDesenvolvimento [hellip] da personalidade de uma forma harmoniosa

equilibrada e constante que confira uma formaccedilatildeo integrardquo (art 2ordma)

Interdisciplinaridade ldquohelliporientaccedilatildeo necessaacuteria para realizaccedilatildeo de um ensino e formaccedilatildeo que

respondam aacutes exigecircncias do desenvolvimento do paiacutesrdquo (art 2 e)

Processo de

construccedilatildeo do

conhecimento

ldquoDesenvolvimento [hellip] de assimilaccedilatildeo criacutetica de conhecimentosrdquo (art 2ordf

b)

Histoacuterica ---

Sociocultural ldquohellip a escola participa ativamente na dinamizaccedilatildeo do desenvolvimento

socio-econoacutemico e cultural da comunidaderdquo (art 2ordm e)

De igual modo o Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio Geral apresenta evidecircncias da

presenccedila de todas as dimensotildees de contextualizaccedilatildeo consideradas neste estudo com exceccedilatildeo da

dimensatildeo histoacuterica (tabela 3) nos dois ciclos do ESG No entanto embora na tabela 3 sejam

27

apresentadas evidecircncias para os dois ciclos separadamente a anaacutelise efetuada natildeo permite

ajuizar sobre a intensidade relativa proposta para a contextualizaccedilatildeo em cada um desses dois

ciclos do ESG em geral nem na disciplina de Biologia em particular Para isso seria necessaacuterio

realizar uma anaacutelise mais profunda do documento em causa

Contudo vale a pena realccedilar a importacircncia da valorizaccedilatildeo da contextualizaccedilatildeo no Plano

Curricular nos dois ciclos pois ela pode contribuir para que a contextualizaccedilatildeo do ensino seja

tambeacutem valorizada nos correspondentes Programas designadamente nos de Biologia e

aceitando os argumentos de Lopes (2002) aumente a probabilidade de esta disciplina e os

conteuacutedos a ela associados serem relevantes para os alunos

Tabela 3 Evidecircncias da contextualizaccedilatildeo do enino no Plano Curricular do ESG

Ciclos Dimensotildees Extrato ilustrativo da dimensatildeo

1deg Ciclo Quotidiano do aluno ldquoAplicar os conhecimentos adquiridos e as tecnologias a

eles associados na soluccedilatildeo de problemas da sua famiacutelia e

da

Comunidaderdquo (p20)

ldquohellip aplicar os conhecimentos na resoluccedilatildeo de problemas

especiacuteficos quer da disciplina quer da vida praacutetica

socialrdquo (p44)

Formaccedilatildeo pessoal ldquohellipformaccedilatildeo integral dos alunos promovendo

conhecimentos habilidades e atitudes correctas perante a

natureza e a sociedaderdquo (p20)

ldquohellipser empreendedor criativo criacutetico e auto-confiante ao

desenvolver tarefas ou resolver problemas no ambiente

escolar e fora desterdquo (p20)

Interdisciplinaridade ldquoDesenvolver pequenos trabalhos de pesquisahelliprdquo (p20)

Processo de

construccedilatildeo do

conhecimento

rdquoUsar estrateacutegias de aprendizagem adequadas nas

diferentes aacutereas de estudordquo (p20)

ldquoContribuir para a compreensatildeo cientiacutefica do mundo

atraveacutes da utilizaccedilatildeo dos conhecimentos bioloacutegicosrdquo

(p44)

Histoacuterica ---

Sociocultural ldquoReconhecer a diversidade cultural do paiacutes incluindo a

linguiacutestica religiosa e poliacutetica aceitando e respeitando

os membros dos grupos distintos do seu desenvolvendo

acccedilotildees concretas que visam o respeito a preservaccedilatildeo do

patrimoacutenio culturalrdquo (p20)

2deg Ciclo Quotidiano do aluno ldquoAplique as teacutecnicas de conservaccedilatildeo do ambiente na

comunidaderdquo (p57)

Formaccedilatildeo Pessoal ldquoValorize a importacircncia dos avanccedilos da ciecircncia bioloacutegica

e suas implicaccedilotildees na sociedaderdquo (p58)

ldquoDemonstre haacutebitos correctos de convivecircncia e conduta

28

social responsaacutevelrdquo (p58)

Interdisciplinaridade ldquoRealizar pequenos projectos de pesquisa e investigaccedilatildeo

cientiacutefica na sua aacuterea curricular de opccedilatildeo orientaccedilatildeo ou

adopccedilatildeordquo (p22)

Processo de

construccedilatildeo do

conhecimento

ldquoDesenvolva habilidades estrateacutegias haacutebitos de

investigaccedilatildeo cientiacutefica e comunicaccedilatildeo no ramo da

Biologiardquo (p58)

Histoacuterica ---

Sociocultural ldquohellipdesenvolvendo acccedilotildees concretas que visam a

preservaccedilatildeo do patrimoacutenio culturalrdquo (p22)

No caso dos Programas aleacutem dos conteuacutedos a abordar satildeo apresentadas sugestotildees

metodoloacutegicas para abordagem desses conteuacutedos A anaacutelise recaiu por isso nas propostas

metodoloacutegicas apresentadas para a abordagem dos conteuacutedos elencados na tabela 1 Foi

identificada a presenccedila de quatro das seis dimensotildees de contextualizaccedilatildeo consideradas neste

trabalho (tabela 4) Natildeo se encontraram evidecircncias da dimensatildeo ldquointerdisciplinaridaderdquo e

ldquosocioculturalrdquo embora os conteuacutedos em que se centrou a anaacutelise tenham relaccedilatildeo com conteuacutedos

de outras disciplinas (por ex quiacutemica e geografia) e possam ser relacionados com praacuteticas

sociais eou culturais como acontece no caso de doenccedilas cujo tratamento em algumas

comunidades eacute feito com o apoio de meacutedicos tradicionais

Tabela 4 Evidecircncias da contextualizaccedilatildeo dos conteuacutedos de Microbiologia nos Programas de

Biologia do ESG

Classe Dimensotildees de

contextualizaccedilatildeo

Extrato ilustrativo da dimensatildeo

8ordf

Histoacuteria das

ciecircncias

ldquohellipsistema actual de classificaccedilatildeo que distribui os seres vivos em cinco

grandes reinos e que foi idealizado por R H Whittaker em 1969rdquo (p16)

Formaccedilatildeo Pessoal

ldquoAs excursotildees previstas nos programas as actividades praacuteticas devem ser

utilizadas pelo professor para permitir que o aluno reconheccedila a importacircncia

desta ciecircncia despertando nele a responsabilidade para com a comunidade

e sociedaderdquo (p16)

Processo de

construccedilatildeo do

conhecimento

ldquohellip os alunos deveratildeo elaborar uma grelha que contenha algumas

caracteriacutesticas dos seres vivos dos diferentes reinos Em plenaacuteria os

grupos apresentam os resultados seguidos de discussatildeordquo (p18)

9ordf

Quotidiano do

aluno

ldquoOs alunos em grupos podem visitar uma faacutebrica de produccedilatildeo d bebidas

alcooacutelicas de produccedilatildeo de lacticiacutenios ou uma padariardquo (p29)

Formaccedilatildeo Pessoal ldquoOs alunos devem consultar literatura variada revistas e jornais procurar

informaccedilatildeo junto dos pais ou encarregados de educaccedilatildeo sobre como se

produz determinados alimentos a niacutevel familiar usando o processo de

29

fermentaccedilatildeordquo (p29)

Processo de

construccedilatildeo do

conhecimento

ldquoAs visitas de estudo tecircm como finalidade observar os diferentes processos

de fermentaccedilatildeo criar no aluno o gosto pelo trabalho entrar em contacto

com o equipamento e dialogar com os funcionaacuterios destas unidades de

produccedilatildeordquo (p29)

ldquoOs alunos sob a orientaccedilatildeo do professor poderatildeo realizar uma excursatildeo

aos campos ou hortas escolares onde poderatildeo ver o solo [hellip] a apreciaccedilatildeo

dos horizontes do solo e recolher algumas amostras para o estudo na sala

de aulasrdquo (p36)

10ordf Quotidiano do

aluno

ldquohellip os alunos investiguem problemas ambientais na sua comunidadehelliprdquo

(p29)

ldquohellipexcursotildees para locais que sofreram efeitos nocivos do

ambientehelliprdquo(p29)

Processo de

construccedilatildeo do

conhecimento

ldquoOs alunos podem fazer propostas para a soluccedilatildeo de problemas

relacionados com a poluiccedilatildeo de diferentes meiosrdquo (p29)

ldquohellip os alunos [propotildeem] soluccedilotildees inovadoras para os problemas

identificadosrdquo (p29)

11ordf

Histoacuteria das

ciecircncias

ldquoOs alunos devem entender que com o desenvolvimento da ciecircncia os

estudos sobre os agrupamentos dos seres vivos evoluiacuteramrdquo (p17)

Quotidiano do

aluno

ldquohellipseria importante que os alunos pesquisassem as doenccedilas mais comuns

na sua comunidaderdquo (p22)

Formaccedilatildeo Pessoal

ldquoAs investigaccedilotildees mais profundas das caracteriacutesticas dos organismos

incluindo as substacircncias geneacuteticas e bioquiacutemicas em geral evoluiacuteram na

aacuterea cientiacutefica permitindo a possibilidade do surgimento de novos

agrupamentos das espeacuteciesrdquo (p17)

Processo de

construccedilatildeo do

conhecimento

ldquoEacute importante que os alunos diferenciem as caracteriacutesticas gerais de cada

um dos reinos estudados agrupem os seres de acordo com os filos e

classes de cada um dos reinosrdquo (p22)

ldquohellip sugere-se que o professor decirc um trabalho de investigaccedilatildeo aos alunos

sobre as doenccedilas causadas pelos diferentes organismos estudados por

exemplo os causadores da tuberculose coacutelera teacutetano HIV-SIDA etchelliprdquo

(p17)

12ordf Quotidiano do

aluno

ldquohellipdar possibilidades aos alunos para aplicarem os conhecimentos

relacionados com a vida diaacuteriardquo (p 31)

No caso da 12ordf classe apesar de o respetivo programa incluir conteuacutedos de Microbiologia

(doenccedilas respiratoacuterias por exemplo a tuberculose causada por bacteacuteria da espeacutecie

Mycobacterium tuberculose ou Bacilos de Koch) natildeo foram nele identificadas propostas

metodoloacutegicas especificas promotoras da contextualizaccedilatildeo dos referidos conteuacutedos A

tuberculose eacute uma doenccedila ainda algo preocupante em Moccedilambique pelo que o programa deveria

sugerir uma metodologia para leccionaccedilatildeo desse conteuacutedo que fomentasse a sua relaccedilatildeo com o

quotidiano e as condiccedilotildees de vida de modo a natildeo soacute contribuir para a compreensatildeo das causas

30

da referida doenccedila e de formas de reduzir o risco de a contrair mas tambeacutem de tornar o conteuacutedo

em causa mais relevante para os alunos

Comparando os resultados obtidos neste estudo com os alcanccedilados por Kato e Kawasaki

(2011) referidos na fundamentaccedilatildeo teoacuterica constata-se que os curriacuteculos moccedilambicanos

fomentam a contextualizaccedilatildeo do ensino da Microbiologia tal como os curriacuteculos brasileiros

analisados por aqueles autores fomentam a contextualizaccedilatildeo do ensino da Biologia

Conclusotildees

A anaacutelise dos documentos que regem o ensino em Moccedilambique que aqui apresentaacutemos eacute

uma anaacutelise exploratoacuteria que se centra apenas em alguns dos aspetos que os compotildeem No

entanto essa anaacutelise sugere que os documentos em causa atribuem alguma relevacircncia ao ensino

contextualizado das ciecircncias em geral e dos conteuacutedos de Microbiologia em particular Na

verdade no conjunto de documentos analisados foram encontradas evidecircncias de todas as

dimensotildees de anaacutelise consideradas embora a dimensatildeo histoacuterica esteja ausente da Lei 692 e do

Plano Curricular dois documentos orientadores importantes de que dependem os Programas

Estes resultados satildeo concordantes com os obtidos por Kato e Kawasaki (2011) atraveacutes da anaacutelise

de documentos curriculares brasileiros dado que tambeacutem estes autores constaram a presenccedila

nesses documentos de uma variedade de formas de contextualizaccedilatildeo

A valorizaccedilatildeo da contextualizaccedilatildeo por parte dos documentos em anaacutelise eacute importante na

medida que pode influenciar quer os autores de manuais escolares quer os professores de

Biologia levando-os a adoptar metodologias de ensino capazes de ajudar os alunos a dar

significado agrave aprendizagem de conteuacutedos de Microbiologia que embora sendo relevantes para o

cidadatildeo comum podem natildeo ser facilmente percebidos como tal Aleacutem disso poderatildeo cativar os

alunos apresentando-lhes uma Biologia mais interessante e capaz de contribuir para uma

educaccedilatildeo em ciecircncias para a cidadania o que teraacute implicaccedilotildees positivas ao longo da vida dos

alunos

Finalmente conveacutem salientar que o facto de os documentos orientadores recomendarem

mais ou menos implicitamente a contextualizaccedilatildeo natildeo garante que ela eacute feita na sala de aulas

pois a concretizaccedilatildeo a esse niacutevel depende muito por um lado do modo como os manuais

escolares se apropriam dessas recomendaccedilotildees e por outro lado da formaccedilatildeo dos professores da

dependecircncia que eles tiverem face aos manuais escolares da importacircncia que atribuiacuterem agrave

questatildeo da contextualizaccedilatildeo e da sua capacidade para ensinarem ciecircncias a partir de contextos

reais

31

Agradecimentos

A segunda autora agradece ao CIEd - Centro de Investigaccedilatildeo em Educaccedilatildeo do Instituto de

Educaccedilatildeo da UMinho (UIDCED016612013) que financiou parcialmente este trabalho com

verbas nacionais

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33

Actividades laboratoriais no ensino das Ciecircncias um estudo com os livros escolares

e professores de Biologia da 8ordf classe das escolas da Cidade de Maputo12

Agnes Clotilde Novela13

Resumo

O ensino das Ciecircncias Naturais tem levado ao surgimento de muitas pesquisas no que concerne as suas

metodologias que devem ser diferentes de outras disciplinas A presente pesquisa tem como principal

objectivo analisar as caracteriacutesticas das Actividades Laboratoriais (ALs) propostas pelos livros escolares

de Biologia da 8ordf Classe as concepccedilotildees e as representaccedilotildees praacuteticas dos professores sobre a importacircncia e

utilizaccedilatildeo destas actividades no ensino da Biologia Nesta pesquisa foram desenvolvidos dois estudos um

estudo com os livros escolares de Biologia da 8ordf classe e o outro com os professores de Biologia da 8ordf

classe de algumas escolas da cidade de Maputo sobre as suas concepccedilotildees atitudes e praacuteticas em relaccedilatildeo

as ALs Constatou-se que nos trecircs livros analisados aparecem com maior frequecircncia as actividades

ilustrativas e algumas orientadas para a determinaccedilatildeo do que acontece e concentradas na unidade

temaacutetica ldquoMetabolismo do Organismo Humanordquo Todos os professores reconhecem a importacircncia das

ALs Conclui-se que o tipo de ALs proposto pelos livros analisados em uso nas escolas e as atitudes e

praacuteticas dos professores de Biologia natildeo se relacionam com as perspectivas defendidas para o uso do

laboratoacuterio no ensino das Ciecircncias

Palavras chave Livros escolares Actividades Laboratoriais Ensino de CiecircnciasBiologia

Abstract

The teaching of the Natural Sciences has led to the emergence of many researches regarding their

methodologies which must be different from other disciplines The present research has as main

objective to analyse the characteristics of the Laboratory Activities (LAs) proposed by the grade 8

Biology textbooks the conceptions and practical representations of the teachers about the importance and

use of these activities in Biology Teaching In this research two studies were developed a study with

grade 8 biology school textbooks and the other with 8th grade biology teachers from some schools in the

city of Maputo about their conceptions attitudes and practices regarding ALs It was found that in the

three books analysed the illustrative activities are more often shown and some are oriented towards the

determination of what happens and are concentrated in the thematic unit Metabolism of the Human

Organism All teachers recognize the importance of LAs It is concluded that the type of LAs proposed

by the analysed books of use in the schools the attitudes and practices of the teachers of Biology are not

related to the perspectives defended for the use of the laboratory in the teaching of Sciences

Keywords School books Laboratory Activities Teaching Science Biology

Introduccedilatildeo

A Educaccedilatildeo eacute o sector chave para a continuidade de uma naccedilatildeo Eacute um processo dinacircmico

sujeito a perioacutedicas revisotildees e reformas de seus curriacuteculos com vista natildeo soacute a melhoria da

qualidade do processo ensino-aprendizagem (PEA) (MEC 2012) mas tambeacutem a responder aos

diferentes desafios da sociedade moderna De acordo com Pacheco (2001) a inovaccedilatildeo curricular

estaacute ligada agraves mudanccedilas que contribuem para a transformaccedilatildeo e melhoria do PEA e

12 Este estudo constitui parte da Dissertaccedilatildeo de Mestrado da autora 13 Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de Biologia pela Universidade Pedagoacutegica e Docente na mesma Universidade na

Faculdade de Ciecircncias Naturais e Matemaacutetica Departamento de Biologia

34

consequentemente para a confirmaccedilatildeo do sucesso educativo dos alunos e este sucesso iraacute

reflectir-se na sociedade na sua actuaccedilatildeopara a resoluccedilatildeo dos diversos problemas

O conjunto de ideias plasmadas nos curriacuteculos (teacuteoricos) deve ser traduzido em praacuteticas

escolares (implementaccedilatildeo do curriacuteculo) de acordo com as novas visotildees do PEA e formaccedilatildeo de

um Homem activo na Sociedade Para a concretizaccedilatildeo destas ideias em Ciecircncias Naturais em

geral e particularmente em Biologia eacute necessaacuteria a aplicaccedilatildeo de estrateacutegias metodoloacutegicas

adequadas e especiacuteficas que demonstrem ao aluno a importacircncia das Ciecircncias Naturais na sua

vida Como refere Silva (2011) eacute preciso que se formem jovens seguros de seus conhecimentos

capazes de interligar os conhecimentos adquiridos em sala de aula com o seu quotidiano Um dos

meacutetodos que constitui objecto de estudo na presente investigaccedilatildeo satildeo as Actividades

Laboratorias (ALs)

Com a evoluccedilatildeo das Ciecircncias e com as inovaccedilotildees nos curriacuteculos educacionais em

Moccedilambique tornou-se importante a valorizaccedilatildeo das actividades laboratoriais na aacuterea de

Ciecircncias Naturais (MEC 2009) com vista a desenvolver no aluno as capacidades e habilidades

para a transposiccedilatildeo dos conhecimentos cientiacuteficos adquiridos para a Sociedade

O PEA depende para aleacutem dos recursos humanos (professores) tambeacutem de recursos

materiais tais como o livro escolar que dada a sua importacircncia torna-se indispensaacutevel Desta

forma torna-se relevante a integraccedilatildeo destas actividades nos livros escolares e a sua

consideraccedilatildeo no processo de selecccedilatildeo embora estudo realizado por Frison et al (2009) mostre a

complexidade do processo e exija a definiccedilatildeo de criteacuterios especiacuteficos que daratildeo significacircncia ao

PEA em Ciecircncias

Objectivo geral

Este trabalho tem como principal objectivo analisar as caracteriacutesticas das actividades

laboratoriais propostas pelos livros escolares de Biologia da 8ordf Classe as concepccedilotildees e as

representaccedilotildees praacuteticas dos professores sobre a utilizaccedilatildeo destas actividades no ensino

Revisatildeo da literatura

Actividades Laboratoriais no Ensino de Biologia

Que as ALs motivam os alunos para a aprendizagem eacute uma concepccedilatildeo da maior parte dos

intervenientes do PEA que justificam as suas praacuteticas e a tipologia das ALs desenvolvidas em

muitas escolas Com estas ou outras concepccedilotildees sobre o papel das ALs no PEA eacute inegaacutevel a

utilizaccedilatildeo de ALs no ensino das Ciecircncias e para Figueiroa (2001) o laboratoacuterio apresenta-se

35

como um ambiente que garante uma maior interacccedilatildeo entre os alunos sentindo-se incentivados a

aprender com base em desafios que lhes satildeo colocados Este caraacutecter das ALs facilita a

concretizaccedilatildeo de uma perspectiva construtivista do ensino e da aprendizagem (Dourado 2005)

Acredita-se que as ALs como um meacutetodo de ensino das Ciecircncias Naturais poderatildeo

contribuir para a melhor compreensatildeo dos processos bioloacutegicos por parte dos alunos podendo

proporcionar a aquisiccedilatildeo de teacutecnicas laboratoriais melhoramento da sua compreensatildeo acerca dos

conceitos cientiacuteficos considerando tambeacutem o aspecto motivacional (Rosito 2000)

Na disciplina de Biologia tal como acontece nas outras de Ciecircncias Naturais do Ensino

Secundaacuterio as ALs satildeo na maioria das vezes desenvolvidas apenas para a confirmaccedilatildeo de teorias

e leis expostas pelo professor e poucas vezes como via para a construccedilatildeo de um novo

conhecimento por parte dos alunos (Borges 2002) Ainda de acordo com Borges (2002) o que

falta nos professores de Biologia eacute a definiccedilatildeo de objectivos claros ao escolherem ALs para

realizarem com seus alunos Todo tipo de AL realizada pode desempenhar um papel importante

na aprendizagem desde que os objectivos da realizaccedilatildeo da mesma sejam claramente definidos

pelo professor

Vaacuterias ALs desenvolvidas durante as aulas na 8ordf classe visam a determinaccedilatildeo do que

acontece e natildeo como acontece (Leite 2006) realizadas em funccedilatildeo de um conteuacutedo jaacute abordado

teoricamente Para todas ALs independentemente do tipo de conteuacutedo abordado haacute sempre um

guiatildeo do tipo ldquoreceitardquo que o professor orienta os seus alunos a segui-lo ou ele proacuteprio segue em

caso de demonstraccedilotildees Borges (2002) defende a organizaccedilatildeo de ALs de uma forma mais aberta

sem nenhuma imposiccedilatildeo do que o aluno deve ou natildeo fazer garantindo deste modo o espiacuterito

investigativo

Os livros escolares de Biologia

O livro escolar (termo muito usado em Moccedilambique) tambeacutem chamado Manual escolar

(Figueiroa 2001 Sousa 2009) ou ainda Livro Didaacutectico (Nuntildeez et al 2003 Xavier et al 2006

Neto amp Flacalanza 2003 Vasconselos e Souto 2003) eacute o principal recurso de que o professor

dispotildee para a orientaccedilatildeo das suas actividades de ensino (Nuntildeez et al 2003) e um elemento

influenciador de todo PEA principalmente da praacutetica docente pois continua prevalecendo como

o principal instrumento de trabalho do professor (Figueiroa 2001 Leite 2006)

Os especialistas em educaccedilatildeo de quase todos os paiacuteses do mundo reconhecem que o livro

escolar eacute o meio didaacutectico mais utilizado (Figueiroa 2001) sendo que as suas caracteriacutesticas

podem dificultar ou facilitar a aprendizagem dos alunos (Silva 2001) Eacute um facto inegaacutevel a

36

ligaccedilatildeo entre os livros escolares e o PEA existindo na mente de muitas pessoas a

impossibilidade de ensinar e de aprender sem o livro escolar pois eacute neste instrumento em que os

professores e alunos encontram alguma seguranccedila no que ensinam e no que aprendem

respectivamente (Pereira 2010) Embora natildeo existam no nosso paiacutes investigaccedilotildees notaacuteveis

ligadas agrave utilizaccedilatildeo dos livros escolares investigadores de outras partes do mundo consideram o

livro escolar o principal determinante da natureza da actividade cientiacutefica desenvolvida na sala

de aula

Em Moccedilambique os livros escolares de todas as disciplinas curriculares do Ensino

Secundaacuterio Geral satildeo produzidos por autores convidados pelas diferentes editoras existentes no

paiacutes Estes livros produzidos satildeo submetidos agrave Comissatildeo de Avaliaccedilatildeo do Livro Escolar (CALE)

do MINEDH (Ministeacuterio da Educaccedilao e Desenvolvimento Humano) onde satildeo avaliados de

acordo com o Artigo 5 (Aacutereas e Criteacuterios de Avaliaccedilatildeo) do Regulamento de avaliaccedilatildeo dos Livros

Escolares Constituem as aacutereas de avaliaccedilatildeo as seguintes

a) Curriculum e conteuacutedo

b) Abordagem Metodoloacutegica e Liacutengua

c) Valores e Questotildees Transversais

d) Estrutura e Organizaccedilatildeo

Os criteacuterios de avaliaccedilatildeo estatildeo definidos no Formulaacuterio de Avaliaccedilatildeo aprovado pelo

Ministro da Educaccedilatildeo Uma vez aprovados os livros satildeo colocados agrave disposiccedilatildeo dos professores

para que estes faccedilam a sua avaliaccedilatildeo entretanto esta avaliaccedilatildeo difere de escola para escola natildeo

soacute pela sua realidade contextual mas pelo ponto de vista dos professores e pelas suas

perspectivas no ensino da disciplina de Biologia De acordo com esta realidade cada grupo de

professores da disciplina em diferentes escolas optam por umuns podendo desta maneira

adoptar mais do que um livro para a mesma disciplina

Em Moccedilambique a utilidade e importacircncia dada ao livro de Biologia natildeo difere dos livros

de outras disciplinas O livro de Biologia destinado ao aluno eacute fonte de conteuacutedos ldquofieacuteisrdquo aos

programas de ensino havendo muitas vezes inserccedilatildeo de figuras imagens representaccedilotildees

bioloacutegicas e questionaacuterios relacionados com os diversos conteuacutedos Entretanto Vasconcelos amp

Souto (2003) referem que os livros de Ciecircncias tecircm uma funccedilatildeo que os difere dos demais

estimulando a anaacutelise de fenoacutemenos o teste de hipoacuteteses e a formulaccedilatildeo de conclusotildees

De acordo com Nuntildeez et al (2003) os livros escolares devem responder agraves exigecircncias

actuais da educaccedilatildeo passando desta forma a ser um instrumento que promove a capacidade de

resoluccedilatildeo de problemas e o desenvolvimento de competecircncias Havendo necessidade de

37

desenvolver actividades laboratoriais ou de outro tipo os livros escolares tornam-se a fonte das

mesmas de modo que o aluno possa ter um instrumento que lhe oriente em caso de

desenvolvimento destas actividades mesmo na ausecircncia do professor Ademais o livro do aluno

deve ser um instrumento capaz de promover a reflexatildeo sobre os muacuteltiplos aspectos da realidade e

estimular a capacidade investigativa do aluno para que ele assuma a condiccedilatildeo de agente

construtor do seu proacuteprio conhecimento (Vasconcelos e Souto 2003)

Metodologia

A pesquisa envolveu dois estudos Um com os livros escolares de Biologia da 8ordf classe e o

outro com os professores da mesma disciplina e classe das escolas da cidade de Maputo O

primeiro estudo consistiu em trecircs etapas

1ordf Levantamento dos livros escolares de Biologia da 8ordf classe mais usados nas

escolas

Foram seleccionados trecircs livros de Biologia da 8ordf classe a saber

Livro A (Plural Editores Laurinda Joseacute Titoce e PedroAlberto Cossa) Biologia 8ordf

Classe

Livro B (Texto Editores Cristina Loforte) B8 Biologia 8ordf Classe

Livro C (Editora Longman Antoacutenio da Costa Diakos e Ivaldo Quincardete) Saber

Biologia

2ordf Verificaccedilatildeo de ALs nas diferentes unidades didaacutecticas nos livros em estudo

Foram analisados os trecircs livros seleccionados e verificou-se que em cada unidade temaacutetica

existem actividades laboratoriais propostas

3ordf Anaacutelise das actividades laboratoriais propostas pelos livros por unidade didaacutectica

Esta fase consistiu numa anaacutelise exaustiva e incidiu sobre as caracteriacutesticas (tipologia) dos

protocolosguiotildees e do nuacutemero de actividades propostas em cada unidade

Como forma de dar mais ecircnfase e relevacircncia a pesquisa fez-se ainda uma anaacutelise

comparativa entre os livros de Biologia quanto ao nuacutemero de propostas em cada unidade e agrave

tipologia

Os paracircmetros de anaacutelise dos protocolos satildeo os propostos por Leite e Coelho (1997)

Figueiroa (2001) Sousa (2009) centrando-se em dois aspectos

38

1ordm O principal objectivo que a AL permite atingir o qual conduziraacute agrave definiccedilatildeo do tipo de

ALs proposto

2ordmO niacutevel de abertura da AL O qual informa acerca do envolvimento procedimental e

conceptual que a AL exige do aluno

No estudo feito com os professores de Biologia na 8ordf classe participaram 14 professores de

7 escolas secundaacuterias da cidade de Maputo nomeadamente Josina Machel Francisco

Manyanga Coleacutegio Kitabu Zedeguias Manganhela Malhazine Laulane e Quisse Mavota para

as quais foram atribuiacutedos os coacutedigos K J F Z M L e Q respectivamente Da amostra (que

corresponde ao universo dos professores de Biologia 8ordf classe nas escolas seleccionadas) 8

professores satildeo Licenciados em Ensino de Quiacutemica-Biologia (cursos bivalentes oferecidos desde

a criaccedilatildeo da UP ateacute 2004) quatro (4) Licenciados em Ensino de Biologia um (1) Licenciado em

Veterinaacuteria mas com a formaccedilatildeo em docecircncia para Biologia e Quiacutemica um (1) com o niacutevel

baacutesico

Resultados e discussatildeo

Anaacutelise das ALs propostas pelos livros escolares de Biologia da 8ordf classe

Todos os livros analisados estatildeo estruturados em unidades temaacuteticas previstas no programa

de ensino da 8ordf Classe

ALs nas diferentes Unidades Didaacuteticas

Os livros de Biologia analisados apresentam propostas de ALs embora em nuacutemero

reduzido Dos resultados encontrados nenhum dos trecircs livros apresenta proposta de ALs na

unidade 1 (Biologia como Ciecircncia) e na unidade 5 (Reproduccedilatildeo e Sauacutede Sexual) A Unidade 3 eacute

que possui um nuacutemero relativamente maior de propostas de ALs poreacutem todas as actividades

estatildeo relacionadas com o toacutepico que aborda conteuacutedos sobre a ldquoComposiccedilatildeo dos Alimentosrdquo

Contudo este nuacutemero eacute insignificante olhando para o nuacutemero de conteuacutedos temaacuteticos que a

unidade apresenta

De acordo com os programas de ensino a unidade I (Biologia como Ciecircncia) aborda

assuntos relacionados com os seres vivos desde o meacutetodo de estudo da ceacutelula com vaacuterios

conteuacutedos ateacute agrave importacircncia da Biologia para a sociedade poreacutem nenhuma AL eacute proposta

sobre estes assuntos Resultados encontrados por Goldbach (2009) num estudo com livros de

Biologia do ensino meacutedio mostram por um lado que a maior parte apresenta um nuacutemero baixo

39

de actividades laboratoriais e por outro lado a ausecircncia de propostas de AL em determinadas

unidades temaacuteticas Este eacute um facto tambeacutem observado por Figueiroa (2001) em seu estudo com

livros escolares de Ciecircncias Naturais

Existe uma fraqueza numeacuterica muito maior de ALs no livro A em relaccedilatildeo aos outros dois

(B e C) por unidade O livro B apresenta um nuacutemero relativamente maior de propostas na 3ordf

unidade didaacutectica distribuiacutedas pelos diferentes conteuacutedos temaacuteticos Estes dois livros

apresentam ainda uma proposta de actividade na unidade didaacutectica 4 (Sensibilidade e regulaccedilatildeo)

contrariamente ao livro A A desigualdade no que concerne a frequecircncia das ALs nos diferentes

livros analisados eacute um resultado obtido por Figueiroa (2001) e por Sousa (2009) em seus

estudos com manuais de Ciecircncias Fiacutesico-Quiacutemicas

Tipos de ALs propostas pelos livros escolares

Para a classificaccedilatildeo das ALs propostas pelos livros tomou-se como base a classificaccedilatildeo de

Silva amp Leite (1997) tambeacutem adoptada por Leite (2001) Figueiroa (2001 e Sousa (2009) Estes

autores agrupam as ALs de acordo com os objectivos a serem alcanccedilados em seis tipos

exerciacutecios actividades para a aquisiccedilatildeo de sensibilidade acerca dos fenoacutemenos ilustrativas

orientadas para determinaccedilatildeo do que acontece e Prevecirc-Observa-Explica-Reflecte (com ou sem

procedimentos apresentados) A tabela abaixo mostra os diferentes tipos de ALs existentes nos

livros analisados

Tabela 1 Tipos de ALs por livro analisado

Tipo de Actividade Manual

A B C

Investigaccedilatildeo - - -

Prevecirc-Observa-Explica-Reflecte - -

Actividades orientadas para determinaccedilatildeo do que acontece 2

Actividades ilustrativas 1 5 5

Exerciacutecio - - -

Actividades para aquisiccedilatildeo de sensibilidade acerca dos

fenoacutemenos

1 1

Da tabela 1 pode-se verificar que os livros de Biologia em uso nas escolas apresentam

quase sempre propostas de ALs do tipo ilustrativas e orientadas para a determinaccedilatildeo do que

acontece verificando-se ausecircncia de outros tipos de actividades Resultados similares foram

encontrados por Figueiroa (2001) em seu estudo com manuais escolares de Ciecircncias da

40

Natureza do 5ordm ano de escolaridade De acordo com a mesma autora estas actividades apesar de

terem a vantagem de dar aos alunos uma sensaccedilatildeo de descoberta eacute bom ter-se em mente que ao

realizar-se actividades deste tipo o aluno natildeo estaacute a fazer uma descoberta cientiacutefica e natildeo estaacute

aprender a trabalhar como cientista Este eacute um tipo de actividade que visa a construccedilatildeo do

conhecimento conceptual e natildeo garante ao aluno nehuma autonomia nem habilidades na

execuccedilatildeo e manipulaccedilatildeo de instrumentos pois limita-se a seguir o que estaacute descrito nos

procedimentos da actividade proposta Muitos investigadores tecircm criticado os livros escolares

que propotildeem ALs acompanhadas de um guiatildeo de procedimentos do tipo ldquoreceita de cozinhardquo

para determinaccedilatildeo do que acontece pois em nada contribuem para a promoccedilatildeo de atitudes

cientiacuteficas Este tipo de actividades eacute segundo autores como Reis (1996) e Leite (2001)

responsaacutevel pela incompatibilidade entre as mesmas e os objectivos preconizados pelos actuais

curriacuteculos de Ciecircncias

Desta maneira os livros de Biologia da 8ordf classe em uso estatildeo longe de alcanccedilar um dos

objectivos da reforma curricular do Ensino Secundaacuterio Geral que eacute o desenvolvimento de

competecircncias2

No ESG1 a aprendizagem da Biologia visa desenvolver habilidades nos alunos

que lhes permitam aplicar os conhecimentos na resoluccedilatildeo de problemas

especiacuteficos quer da disciplina quer da vida social mediante observaccedilotildees

realizaccedilatildeo de experiecircncias excursotildees manipulaccedilatildeo de instrumentos (MEC

2007 p 44)

Resultado das entrevistas aos professores de Biologia das Escolas Secundaacuterias da

Cidade de Maputo

Concepccedilotildees dos professores em relaccedilatildeo as ALs

Relativamente agraves concepccedilotildees dos professores sobre as ALs os resultados mostram uma

diversidade de concepccedilotildees em relaccedilatildeo a importacircncia das ALs no ensino dos conteuacutedos de

Biologia entre os professores entrevistados Podemos constatar que 6 professores (Z2 F2 F3

L1 L2 e Q) consideram as ALs importantes pois estas melhoram a compreensatildeo dos conteuacutedos

Resultados similares foram encontrados por Dourado (2005) em seu estudo com professores

estagiaacuterios de Biologia e Geologia em Portugal onde estes apontam como razotildees da

implementaccedilatildeo das ALs o aumento do niacutevel de compreensatildeo dos conteuacutedos pelos alunos

Trecircs professores (M1 M2 e Q) referiram-se ao caraacutecter motivador das ALs Estudos de

autores como Camuendo (2006 e Sousa (2009) relacionados com a ALs no PEA mostram que

estas tecircm um caraacutecter motivador pelo simples facto de o aluno sair da sala de aulas normal para

41

um laboratoacuterio despertando-lhe curiosidade e interesse em querer perceber o que eacute e como eacute

feito Eacute motivador ainda pelo facto do aluno sentir-se ldquolivrerdquo pois pode manipular e questionar

sobre a actividade que executa

A realidade do nosso paiacutes confirmada em certa medida com os resultados do presente

estudo mostra que satildeo muito poucos os professores que desenvolvem ALs no PEA fazendo com

que o aluno passe por vaacuterios anos de escolaridade sem nunca ter entrado num laboratoacuterio ou

visto a demonstraccedilatildeo de alguma actividade Assim sendo independemente do tipo de actividade

que o aluno desenvolve este fica motivado pelo facto de algumas se natildeo muitas vezes tornar-se

uma novidade este meacutetodo de aprendizagem de processos e fenoacutemenos naturais

A realidade descrita eacute mais notoacuteria em escolas puacuteblicas (natildeo apenas as envolvidas no

estudo) Em algumas escolas privadas do nosso paiacutes como eacute o caso de uma envolvida no

presente estudo (Escola K) torna-se ldquoobrigatoacuteriordquoque o professor realize com os seus alunos

actividades praacuteticas quer laboratoriais ou de outro tipo A grande maioria das escolas puacuteblicas

mesmo com laboratoacuterios concebidos estes natildeo satildeo utilizados por vaacuterios factores e natildeo por falta

de professores qualificados pois estes professores satildeo os mesmos que trabalham em escolas

privdas

A importacircncia e o impacto das ALs no PEA satildeo claros para muitos professores de Ciecircncias

Naturais poreacutem a realidade escolar de um lado e as atitudes dos professores de outro fazem

com que a componente praacutetico-laboratorial natildeo se desenvolva tornando assim o ensino das

Ciecircncias Naturais igual ao ensino de Literatura ou de Ciecircncias Sociais Galiazzi et al (2001) e

Gil Perez et al (2002) afirmam que as actividades experimentais embora aconteccedilam pouco nas

salas de aula satildeo apontadas como a soluccedilatildeo que precisaria de ser implementada para a tatildeo

esperada melhoria no ensino de Ciecircncias

Uma outra questatildeo colocada nesta secccedilatildeo esteve relacionada com a existecircncia ou natildeo de

uma forma ideal de usar as ALs em que a maior parte dos professores limitou-se em ldquogesticularrdquo

(difiacutecil de interpretar por uma entrevista) um pequeno sorriso natildeo tendo dito nada poreacutem dois

professores responderam o seguinte

P1 FldquoNo horaacuterio devia-se colocar um dia de praacuteticasrdquo

P2 K ldquoA forma ideal de usar as ALs tecircm a ver com o seu

enquadramento portanto as ALs devem ser bem enquadradas nos

respectivos conteuacutedos teoacutericos

A atitude dos restantes professores face agrave questatildeo ligada a existecircncia de uma forma ideal

de usar as ALs mostra que estas natildeo satildeo as pessoas indicadas para responderem agrave esta questatildeo

42

pois satildeo professores que natildeo desenvolvem ou nunca reflectiram sobre o assunto levantado nesta

pesquisa

Resultados obtidos por Sousa (2009) em seu estudo com professores de Fiacutesica e Quiacutemica

mostram que estes referem que natildeo existe uma forma ideal de usar as ALs poreacutem um dos

envlvidos no estudo apontou que estas devem estar de acordo com as aulas teoacutericas Esta uacuteltima

opiniatildeo relaciona-se com a segunda resposta obtida no presente estudo em que para este

professor a forma ideal seria o bom enquadramento das ALs

Borges (2002) afirma que eacute necessaacuterio aliar sempre a teoria e a praacutetica criando uma

relaccedilatildeo entre estas duas componentes de forma que se garanta a integraccedilatildeo dos conhecimentos

tanto teoacutericos assim como praacuteticos pelos alunos

Um dos professores (P1F) referiu que para ele a forma ideal seria a organizaccedilatildeo do

horaacuterio semanal de forma a que se reservasse um dia para aulas praacuteticaslaboratoriais Sendo a

reduzida carga horaacuteria na disciplina de Biologia um factor pelo qual alguns professores

justificam a natildeo realizaccedilatildeo das ALs era de se esperar que este tipo de resposta surgisse embora

natildeo relevante para o objectivo da questatildeo colocada

Um outro professor (P2K) considera como forma ideal de usar as ALs o seu

enquadramento nos conteuacutedos abordados Esta ideia foi encontrada por Dourado (2005) em seu

estudo com os professores estagiaacuterios em que do grupo de professores envolvidos um afirmou

natildeo ter implementado ALs durante o estaacutegio por natildeo ter conseguido adequar a nenhum dos

conteuacutedos abordados

Estas concepccedilotildees demonstram a existecircncia de uma linha fixa no desenvolvimento de ALs

pelos professores em que estas satildeo usadas para a confirmaccedilatildeo do que foi abordado teoricamente

e nunca para o desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas e do skill cognitivo Resultados

relacionados foram obtidos por Leite e Esteves (2005) em seu estudo com estudantes de

graduaccedilatildeo do curso de formaccedilatildeo de professores em que apresentam como proposta para a

melhor compreensatildeo das evidecircncias de uma determinada AL pelos alunos ensinar o conteuacutedo

cientiacutefico correspondente antes de entrar na actividade Este meacutetodo impede ao aluno de

desenvolver a capacidade de interpretaccedilatildeo de factos e de retirar as suas proacuteprias conclusotildees sobre

determinados fenoacutemenos ou processos

43

Representaccedilotildees sobre as praacuteticas dos professores relativamente agraves Actividades

Laboratoriais

Nesta secccedilatildeo foi nossa intenccedilatildeo conhecer as praacuteticas dos professores relativamente agraves ALs

especificamente com o intuito de saber se as Als satildeo desenvolvidas na sala de aula bem como a

frequecircncia com que elas satildeo desenvolvidas Foi ainda de interesse nesta secccedilatildeo saber com que

objectivos os professores desenvolvem as ALs nas suas aulas e que material editorial serve de

apoio para a preparaccedilatildeo das mesmas assim como a sua tipologia e o momento de abordagem dos

conteuacutedos em que satildeo desenvolvidadas

Em relaccedilatildeo agrave primeira questatildeo ligada ao uso de ALs nas aulas oito (8) professores

afirmaram que natildeo usam por razotildees comofalta de laboratoacuterio de materiais e de tempo Somente

cinco (5) dos professores das escolas K M e Q afirmaram que sim

A falta de laboratoacuterio indicada como razatildeo para a natildeo realizaccedilatildeo das ALs natildeo eacute real pois

duas delas (J e F) tecircm salas concebidas para laboratoacuterio poreacutem natildeo satildeo usados mantendo-os

fechados alegando a falta de teacutecnicos para a gestatildeo dos mesmos Gonccedilalves e Marques (2006)

em seus estudos sobre a actividade praacutetico-experimental no Brasil mostram que os professores

revelam-se pouco satisfeitos em geral com as condiccedilotildees infra-estruturais (laboratoacuterios) de suas

escolas pincipalmente aqueles que actuam em escolas puacuteblicas justificando desta forma o natildeo

desenvolvimento de actividades laboratoriais

Agraves perguntas subsequentes desta secccedilatildeo apenas responderam os mesmos professores que

disseram ldquosimrdquo agrave primeira pois dela dependiam as outras que satildeo a frequecircncia com que o

professor usa e como usa as ALs nas aulas O uacuteltimo aspecto aborda sobre o objectivo das ALs

realizadas material editorial em que os professores se apoiam para preparar as actividades

existecircncia ou natildeo de um protocolo para acompanhar as actividades e sobre o momento de

abordagem dos conteuacutedos em que se desenvolvem ALs com os seus alunos

Na tabela 2 estaacute sistematizada a frequecircncia com que satildeo desenvolvidas as ALs pelos

professores

Tabela 2 Frequecircncia com que os professores utilizam as ALs nas aulas N=5

Uso das ALs Freq

Pelo menos duas por semestre 4

Uma a duas por semestre 1

44

As respostas representadas na tabela 2 foram dadas pelos dois (2) professores da escola K

escola M e a uacuteltima pelo uacutenico professor da escola Q Olhando os resultados apresentados na

tabela pode-se afirmar que as ALs satildeo pouco frequentes nas escolas onde elas satildeo

implementadas Estes resultados assemelham-se aos encontrados por Dourado (2005) em seu

estudo com professores estagiaacuterios em que referiram ter realizado uma a duas ALs durante o seu

trabalho de estaacutegio

Para a terceira questatildeo ligada agraves praacuteticas dos professores estes dizem que realizam as ALs

de acordo com o programa de ensino adaptando-as agraves condiccedilotildees existentes na escola e buscando

tambeacutem outro tipo de actividades

Foi pedido aos professores que se referissem aos objectivos pelos quais desenvolvem as

ALs e os resultados mostram que o uacutenico objectivo que os professores procuram alcanccedilar com o

desenvolvimento das ALs estaacute ligado agrave confirmaccedilatildeo de teorias como usualmente tecircm dito

ldquoligaccedilatildeo da teoria agrave praacuteticardquo apresentando afirmaccedilotildees do tipo

K1 ldquoAliar a teoria a praacuteticardquo

K2 ldquoFazer uma ligaccedilatildeo entre a teoria e a praacuteticardquo

M1 ldquoConfirmaccedilatildeo das teoriasrdquo

A realizaccedilatildeo de ALs para a confirmaccedilatildeo de teorias poderaacute ateacute certo ponto ser aceitaacutevel para

as classes iniciais do ensino secundaacuterio como eacute o caso da classe em estudo pois visam

desenvolver o domiacutenio conceptual procedimental e motivacional Contudo este tipo de

actividade natildeo responde agraves perspectivas defendidas para o ensino de Ciecircncias Naturais no que

tange a praacutetica de metodologias que levam agrave construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

As actividades com o uacutenico objectivo de confirmaccedilatildeo de teorias e leis normalmente satildeo

executadas pelo professor e demonstradas aos alunos ou se os alunos satildeo envolvidos estes natildeo

fazem nenhum exerciacutecio seguindo apenas um protocolo do tipo ldquoreceita de cozinhardquoem que o

niacutevel de envolvimento cognitivo eacute muito reduzido Para Borges (2002) a realizaccedilatildeo de ALs com

este objectivo eacute enganoso pois o sucesso da actividade eacute garantido por uma preparaccedilatildeo preacutevia

adequada Um aspecto criacutetico sobre a realizaccedilatildeo de ALs com o objectivo de confirmaccedilatildeo de leis

e teorias referido por Hodson (1998) citado por Borges (2002) eacute que o aluno logo percebe que

sua experiecircncia deve produzir o resultado previsto pela teoria ou que alguma regularidade deve

ser encontrada

Dois professores natildeo se referem a este objectivo mas apontam como principal objectivo da

realizaccedilatildeo das ALs melhorar a perecepccedilatildeo dos conteuacutedos abordados e a promoccedilatildeo de uma

45

aprendizagem soacutelida Seguem-se abaixo as afirmaccedilotildees dos professores relativamente aos

objectivos por eles defendidos

J1 ldquoReduzir o grau de abstraccedilatildeo e desenvolver uma aprendizagem

soacutelidardquo

Q ldquoMelhorar a percepccedilatildeo dos conteuacutedosrdquo

Sousa (2009) obteve resultados similares embora no seu estudo todos professores

envolvidos tenham afirmado realizar ALs o que natildeo aconteceu no presente estudo Um outro

aspecto de relevo encontrado pela autora eacute que um dos professores envolvidos no estudo indica

como objectivo da realizaccedilatildeo de ALs com os seus alunos a construccedilatildeo de conhecimento

cientiacutefico em detrimento de confirmaccedilatildeo de teorias Este uacuteltimo aspecto encontrado pela autora

em seus estudos mas infelizmente natildeo encontrado neste nosso poderaacute estar ligado aos diferentes

contextos em que as pesquisas foram desenvolvidas poreacutem trata-se de uma concepccedilatildeo muito

valiosa Estas ideias satildeo secundadas por Borges (2002) ao defender que ldquoo laboratoacuterio pode

proporcionar aos alunos o desenvolvimento do caraacutecter investigativo na medida em que por si

podem planear actividades para testar hipoacuteteses levantadas de forma a produzir resultados

confiaacuteveis Para que este objectivo seja alcanccedilado no nosso contexto eacute necessaacuterio por um lado

que haja investimento suficiente na concepccedilatildeo de espaccedilos laboratoriais e na aquisiccedilatildeo de

diversos materiais e por outro lado que os fazedores e implementadores dos curriacuteculos de

ensino de Ciecircncias valorizem as ALs como parte integrante desta aacuterea concedendo mais tempo

lectivo agraves respectivas disciplinas no geral e particularmente agrave Biologia

Para a questatildeo relacionada com o tipo de material em que os professores se apoiam para

desenvolver ALs com os seus alunos todos os professores que desenvolvem alguma AL nas

aulas tem com fonte os livros escolares buscando os respectivos protocolos ou guiotildees

apesentados para desenvolverem com os seus alunos

Os resultados obtidos no presente estudo assemelham-se aos obtidos por Dourado (2005) e

por Sousa (2009) em que a maior parte dos professores envolvidos em seus estudos apontaram

os manuais escolares como a principal fonte dos protocolos utilizados pelos professores para a

execuccedilatildeo de ALs Em todo PEA e particularmente no Ensino Baacutesico e Secundaacuterio o professor

limita-se a um uacutenico recurso para a busca de actividades a desenvolver nas suas aulas com os

alunos e Leite (2006) afirma que os manuais satildeo uma das principais fontes de actividades

laboratoriais que os professores implementam em todos os niacuteveis de ensino e que a maior parte

destes parece natildeo introduzir alteraccedilotildees nos protocolos disponibilizados pelos manuais

46

Os professores devem ter a capacidade para aleacutem de criticar os protocolos adaptaacute-los agraves

condiccedilotildees existentes em diferentes escolas Devem ter em mente que os protocolos de ALs

propostos pelos livros escolares referem na maioria das vezes materiais e condiccedilotildees de um

laboratoacuterio ideal e natildeo o real A realidade das escolas do nosso paiacutes em particular eacute um grande

factor para que os mediadores do PEA sejam dinacircmicos e criativos na busca de meios

alternativos para o desenvolvimento de actividades praacutetico-laboratoriais com os seus alunos

Caracterizaccedilatildeo das opiniotildees dos professores relativamente ao criteacuterio de selecccedilatildeo e

adopccedilatildeo dos livros escolares de Biologia

Para esta secccedilatildeo foi de interesse caracterizar as opiniotildees dos professores relativamente agrave

adopccedilatildeo dos livros escolarescujas perguntas colocadas estiveram intrinsecamente ligadas aos

livros escolares de Biologia Entre os livros de Biologia da 8ordf Classe adoptados pelas escolas

encontram-se os das seguintes editoras Plural Texto e Longman Poreacutem na sua maioria as

escolas adoptam o livro da Plural editores e apenas em uma escola foi encontrado o livro da

editora Longman

Quanto ao envolvimento dos professores no processo de selecccedilatildeo de livros escolares de

Biologia apenas 1 (um) professor afirmou jaacute ter participado no processo Embora a maioria

nunca tenha participado afirma ser consultada a cada final de ano sobre qual dos livros adoptar

para utilizaccedilatildeo no ano seguinte Este eacute um aspecto fundamental pois o professor eacute o indiviacuteduo

que faz o uso do livro junto com os seus alunos e consegue ver as fraquezas e as forccedilas de um

determinado livro durante o seu uso eou anaacutelise

Sete (07) dos professores entrevistados afirmaram natildeo conhecer os criteacuterios usados para a

selecccedilatildeo dos livros adoptados pelas escolas Entretanto 3 professores (J2 Z1e Z2) referem a

concordacircncia dos conteuacutedos apresentados pelos livros escolares com os programas de ensino

apresentando as seguintes opiniotildees

J2 ldquoConcordacircncia dos conteuacutedos com o programa de ensinordquo

Z1 ldquoA relaccedilatildeo entre os conteuacutedos com os programas de ensinordquo

Z2 ldquoDesde que os conteuacutedos estejam de acordo com os programas de

ensinordquo

Resultados similares foram obtidos por Frison et al (2009) em seu estudo com Licenciados

dos cursos de Quiacutemica e Ciecircncias Bioloacutegicas no Brasil que consideram a relaccedilatildeo estabelecida

entre o iacutendice de conteuacutedos apresentados pelos livros escolares e os listados nos planos de

ensino como o principal criteacuterio utilizado

47

Outras trecircs opiniotildees referem-se agrave apresentaccedilatildeo graacutefica como um factor determinante na

escolha de um livro Segundo os mesmos as imagens devem ser atraentes para os alunos

Os resultados obtidos assemelham-se aos de um estudo realizado por um grupo de

pesquisadores ldquoFORMAR-Ciecircnciasrdquo com professores das escolas puacuteblicas do Brasil referido por

Neto amp Fracalanza (2003) em que de entre os aspectos por eles considerados para a selecccedilatildeo dos

livros escolares podem-se destacar as ilustraccedilotildees com qualidade graacutefica visualmente atraentes e

a integraccedilatildeo dos conteuacutedos e assuntos abordados Poreacutem eles acrescentam um aspecto muito

importante que eacute a presenccedila de actividades experimentais de faacutecil realizaccedilatildeo e com material

acessiacutevel sem representar riscos fiacutesicos aos alunos No presente estudo pode-se considerar que

estes desprezam a componente experimental nos livros como um dos aspectos a serem

considerados no processo de selecccedilatildeo Analisando este facto natildeo se pode encontrar diferenccedilas

entre os criteacuterios de avaliaccedilatildeo dos manuais de Ciecircncias Naturais e os das demais disciplinas

como Portuguecircs Histoacuteria Geografia entre outras

Haacute necessidade de preparar os professores de Ciecircncias Naturais e de Biologia em

particular enquanto elementos de decisatildeo final quanto agrave adopccedilatildeo dos livros implementadores

dos curriacuteculos e mediadores do PEA sobre os criteacuterios mais especiacuteficos a serem considerados

para uma melhor avaliaccedilatildeo dos livros existentes pois os livros escolares editados nos uacuteltimos

anos embora registem melhorias limitam-se ao aspecto graacutefico correccedilatildeo de erros conceptuais e

na eliminaccedilatildeo de preconceitos tal como refere Amaral e Megid Neto (1997) apud Neto e

Fracalanza (2003)

Na produccedilatildeo de um livro escolar eacute importante que se espelhe metoacutedica e didacticamente o

caraacutecter cientiacutefico da disciplina em causa por um lado e por outro lado e de acordo com Nuacutentildeez

et al (2003) nele a Ciecircncia se deve apresentar como fruto da construccedilatildeo humana

contextualizada e dinacircmica e natildeo como produto fechado como racionalidade objectiva uacutenica

que mutila o pensamento das crianccedilas

No que diz respeito a existecircncia ou natildeo de ALs nos livros escolares adoptados pelas

diferentes escolas todos professores das diferentes escolas afirmaram que existem apesar de

alguns considerarem estas muito poucas

48

Representaccedilotildees das praacuteticas dos professores relativamente agraves actividades

laboratoriais presentes nos livros escolares de Biologia adoptados nas escolas

As questotildees colocadas nesta secccedilatildeo estatildeo relacionadas com a realizaccedilatildeo de ALs propostas

pelos livros escolares com a tipologia mais frequente e ainda com a avaliaccedilatildeo que os professores

fazem acerca das mesmas

Agrave questatildeo ligada a realizaccedilatildeo das ALs sete (07) professores responderam que natildeo realizam

pelas razotildees jaacute apresentadas nas secccedilotildees anteriores e os outros sete (07) afirmaram que realizam

Quanto a tipologia das ALs presentes nos livros todos afirmam que as predominantes satildeo

aquelas cujos procedimentos satildeo apresentados ou descritos nos guiotildees e cujos resultados satildeo

apresentados (ilustrativas e orientadas para a determinaccedilatildeo do que acontece) aos alunos e as do

tipo POER14 natildeo aparecem Entretanto os professores avaliam positivamente as ALs propostas

pelos livros embora para alguns estes pudessem ser enriquecidos Leite (2001) afirma ser uma

constante a ausecircncia das actividades do tipo POER Segundo a mesma autora as actividades

deste tipo presentes nos livros escolares seriam um bom auxiacutelio agrave mudanccedila das praacuteticas

docentes e como consequecircncia dariam um grande contributo para a promoccedilatildeo do ensino e

aprendizagem das Ciecircncias

Algumas concepccedilotildees que os professores tecircm eacute que uma boa AL eacute aquela em que os

procedimentos e as conclusotildees satildeo apresentados nos protocolos podendo esta ser uma razatildeo para

que os professores envolvidos no estudo considerassem como sendo boas

Destes resultados destacou-se a resposta de um dos professores da Escola K que diz que as

ALs satildeo fracas Este professor eacute um dos que durante a entrevista teraacute afirmado realizar as ALs

natildeo soacute baseando-se nos livros escolares mas em alguns manuais portugueses De facto um

professor que desenvolve ALs com os seus alunos natildeo com o uacutenico objectivo de confirmaccedilatildeo de

teorias ou determinaccedilatildeo do que acontece mas tambeacutem para a determinaccedilatildeo do porquecirc que

acontece e com um olhar criacutetico encontraraacute as lacunas que os livros apresentam neste aspecto

Consideraccedilotildees finais

A anaacutelise dos resultados de cada um dos estudos realizados em funccedilatildeo dos objectivos

preconizados permitiu chegar agraves seguintes conclusotildees

14 Actividade laboratorial do tipo Prevecirc Observa Explica e Reflecte

49

Os trecircs livros de Biologia analisados apresentam actividades laboratoriais poreacutem natildeo

para todas as unidades temaacuteticas Entre estes livros existe uma semelhanccedila no que

concerne as unidades temaacuteticas que incluem propostas de ALs e para as que natildeo incluem

concentrando maior nuacutemero de actividades na unidade temaacutetica ldquoMetabolismo no

organismo humano e um nuacutemero muito reduzido na unidade temaacutetica ldquosistema oacutesseo-

muscularrdquo

Foi de notar que nos livros analisados predominam actividades ilustrativas incluindo

tambeacutem em nuacutemero bastante reduzido as orientadas para determinaccedilatildeo do que acontece

com um baixo niacutevel de abertura

Ainda relacionado com um dos objetivos da investigaccedilaatildeo concluiu-se que o tipo de ALs

proposto pelos livros escolares analisados que concidentemente satildeo de uso nas escolas

envolvidas no estudo natildeo se relacionam com as perspectivas defendidas para o uso do

laboratoacuterio no ensino das Ciecircncias em geral e de Biologia em particular na medida em

que o seu principal objectivo eacute o reforccedilo de conhecimento conceptual dos alunos com

baixo niacutevel de abertura pouco viradas ao desenvolvimento de competecircncias e a

construccedilatildeo de novos conhecimentos

Todos os professores envolvidos no estudo reconhecem a importacircncia do uso de ALs no

processo de ensino poreacutem uma boa parte destes natildeo as desenvolve indicando como

razotildees o factor material espacial e tempo Por este motivo as ALs tornam-se pouco

frequentes nas aulas de Biologia tendo-se realizado no maacuteximo duas (2) por ano nas

escolas onde satildeo desenvolvidas

A adopccedilatildeo dos livros escolares de Biologia natildeo depende do tipo de ALs neles propostos

O que determina a adopccedilatildeo eacute o volume do conteuacutedo e a sua concordacircncia com os

programas de ensino da disciplina

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Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Cultura (MEC) e Instituto para o Desenvolvimento da Educaccedilatildeo

(INDE) Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio Geral (PCESG) Documento orientador

Objectivos Poliacutetica Estrutura Plano de estudo e Estrateacutegia de implementaccedilatildeo

Moccedilambique Novembro 2007

MINED Plano Estrateacutegico da Educaccedilatildeo 2012-2016 Aprovado pelo Conselho de Ministros

2012

52

Livro didaacutectico de Geografia em Moccedilambique passado presente e desafios

Stela Mithaacute Duarte15

Resumo

O artigo tem como objectivo analisar o processo de desenvolvimento do livro didaacutectico de Geografia ao

longo da Histoacuteria da educaccedilatildeo em Moccedilambique assim como os actuais desafios A metodologia usada foi

a pesquisa bibliograacutefica e documental e a experiecircncia informada da autora O texto transcorre as vaacuterias

etapas de desenvolvimento de Moccedilambique realccedilando como a questatildeo poliacutetica e ideoloacutegica sempre se

reflecte nos livros Actualmente o livro didaacutectico de Geografia apesar de disponiacutevel no mercado nem

sempre eacute adquirido pelos alunos devido a constrangimentos financeiros e o seu uso na sala de aula ainda

natildeo eacute o mais apropriado Sugere-se apetrechar melhor as bibliotecas com livros didaacutecticos e

complementares e melhorar a formaccedilatildeo de professores para o uso do livro didaacutectico de Geografia

Palavras-chave Livro didaacutectico Ensino da Geografia Pensamento geograacutefico Educaccedilatildeo em

Moccedilambique

Abstract

The article aims at analyzing the process of development of the didactic book of Geography throughout

the History of education in Mozambique as well as the current challenges The methodology used was

the bibliographic and documentary research and the informed experience of the author The text goes

through the various stages of development in Mozambique highlighting how the political and ideological

question is always reflected in the books Currently the didactic book of Geography although available in

the market is not always acquired by students due to financial constraints and its use in the classroom is

not yet the most appropriate It is suggested to better equip libraries with didactic and complementary

textbooks and to improve the teacher training for the use of the didactic book of Geography

Keywords Didactic book Teaching Geography Geographical thought Education in Mozambique

Introduccedilatildeo

O livro didaacutectico exerce um papel fundamental no processo de ensino-aprendizagem

Possibilita o desenvolvimento de competecircncias de leitura escrita oralidade compreensatildeo

observaccedilatildeo anaacutelise siacutentese compreensatildeo atitudes comportamentos valores e normas de forma

integrada e holiacutestica O livro didaacutectico permite-nos conhecer melhor o meio em que nos

encontramos o nosso paiacutes o mundo outros povos culturas e formas de estar reconhecer as

semelhanccedilas respeitar as diferenccedilas desenvolver o amor agrave Natureza e agrave Paacutetria Nesse sentido

pode contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e solidaacuteria reconhecido

que a educaccedilatildeo tem a particularidade de antecipar o futuro Somente se formos capazes de

projectar e construir desde agora uma educaccedilatildeo justa seraacute possiacutevel uma sociedade justa no

futuro (Tedesco 201526)

15 Doutora em EducaccedilatildeoCurriacuteculo pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de S Paulo (Brasil) Licenciada em Ensino

de Geografia pelo Instituto Superior Pedagoacutegico (actual Universidade Pedagoacutegica) Maputo (Moccedilambique) e

Bacharel em Ensino de Histoacuteria e Geografia pela Universidade Eduardo Mondlane Maputo (Moccedilambique)

Professora Associada Docente da Universidade Pedagoacutegica - Maputo

53

A formaccedilatildeo de professores tanto inicial como contiacutenua satildeo bases fundamentais para que

se garanta um adequado uso do livro didaacutectico Um professor formado tem maiores

potencialidades de fazer uso pleno do livro didaacutectico contribuindo para garantir a aprendizagem

dos alunos e melhorar a qualidade de ensino-aprendizagem

Ao analisar-se o livro didaacutectico num determinado contexto e paiacutes percebe-se que estatildeo

nele reflectidas questotildees sociais poliacuteticas econoacutemicas e culturais O livro didaacutectico veicula

assim a ideologia dominante de um paiacutes

A elaboraccedilatildeo do livro deve estar orientada para a necessidade de provocar questionamentos

constantes As praacuteticas docentes muitas vezes restringem-se ao uso do livro e do quadro natildeo se

adoptando outros meios didaacutecticos Mas a realidade eacute dinacircmica o livro eacute feito por pessoas natildeo

possui verdades absolutas e inquestionaacuteveis estando sujeito a intersubjectividades constantes

O artigo tem como objectivo analisar o processo de desenvolvimento do livro didaacutectico de

Geografia ao longo da Histoacuteria da educaccedilatildeo em Moccedilambique assim como os actuais desafios

Constituem objectivos especiacuteficos (i) descrever as caracteriacutesticas do livro didaacutectico de Geografia

antes e apoacutes a Independecircncia nacional (ii) contribuir para um maior conhecimento do livro

didaacutectico de Geografia em Moccedilambique (iii) identificar os desafios da utilizaccedilatildeo do livro

didaacutectico de Geografia

O argumento central eacute que o livro didaacutectico de Geografia em Moccedilambique ao longo do

tempo foi sofrendo vaacuterias alteraccedilotildees ligadas a questotildees poliacuteticas e ideoloacutegicas havendo

necessidade de garantir o seu acesso por parte dos alunos e aprofundar continuamente os

aspectos metodoloacutegicos da sua utilizaccedilatildeo investindo na formaccedilatildeo inicial e em exerciacutecio dos

professores tendo em vista a utilizaccedilatildeo adequada deste importante instrumento

A metodologia usada baseia-se na pesquisa bibliograacutefica e documental e na experiecircncia

informada da autora

O artigo estrutura-se em 04 partes (i) aspectos teoacutericos do livro didaacutectico de Geografia (ii)

o livro didaacutectico de Geografia no periacuteodo colonial (iii) o livro didaacutectico de Geografia no periacuteodo

da Independecircncia (iv) os desafios da utilizaccedilatildeo do livro didaacutectico Seguem-se as consideraccedilotildees

finais e as referecircncias bibliograacuteficas

1 Aspectos teoacutericos do livro didaacutectico de Geografia

Nunca se pode equacionar que a existecircncia do livro didaacutectico permite descartar outros

meios de ensino-aprendizagem No caso da Geografia referimo-nos a livros complementares

54

mapas de diferentes escalas atlas fotografias imagens sateacutelite graacuteficos entre outros a ser

usados numa perspectiva interdisciplinar e transversal

A inclusatildeo ou exclusatildeo de conteuacutedos e a forma da sua abordagem no livro estaacute relacionada

a questotildees ideoloacutegicas e de poder

O livro estimula a nossa memoacuteria visual pois registamos os elementos que mais nos

marcam na nossa mente e fazemos uso disso ao longo da vida

O livro de Geografia integra uma seacuterie de elementos de aprendizagem como conceitos

teorias factos fenoacutemenos habilidades atitudes meacutetodos e teacutecnicas de trabalho permitindo-nos

uma visatildeo de aspectos naturais sociais poliacuteticos econoacutemicos da vivecircncia do homem no

passado presente e ainda perspectiva o futuro

Em relaccedilatildeo agrave Geografia corroboramos com Lacoste que ao analisar os problemas do

nosso tempo afirma que nunca conhecimentos geograacuteficos e uma iniciaccedilatildeo ao raciociacutenio

geograacutefico verdadeiro foram tatildeo necessaacuterios agrave formaccedilatildeo dos cidadatildeos (1997254) Mais

adiante este autor acrescenta que O mundo eacute ininteligiacutevel para quem natildeo tem um miacutenimo de

conhecimentos geograacuteficos (Ibid) O livro didaacutectico tem um papel relevante no sentido de abrir

o horizonte espacial do aluno pela multiplicidade de elementos nele incorporados que podem

ser analisados de forma inter-relacionada e dinacircmica

Na praacutetica lectiva deve ser estabelecida a relaccedilatildeo permanente com a realidade proacutexima do

aluno um dos princiacutepios do ensino da Geografia por isso o livro natildeo pode ser usado como mero

objecto que possibilita a memorizaccedilatildeo e reproduccedilatildeo de conhecimentos O desenvolvimento do

pensamento geograacutefico exige uma postura reflexiva espiacuterito criacutetico e criativo Soacute deste modo o

aluno pode actuar de forma interventiva e contribuir para a mudanccedila na sua comunidade no paiacutes

e no mundo

O livro tem que ser convenientemente explorado no processo de ensino-aprendizagem e eacute

importante o uso que dele o professor faz o pior livro pode ficar bom na sala de um bom

professor e o melhor livro desanda na sala de um mau professor (Schaumlffer 199933)

Natildeo existe nenhum livro que pode esgotar a possibilidade de compreensatildeo apreensatildeo e

desenvolvimento do conhecimento sendo sempre necessaacuterio recorrer a outras fontes de

aprendizagem

Para Nicolau o livro didaacutectico de Geografia para cumprir com as suas funccedilotildees tem que

ser elaborado obedecendo a determinados requisitos desenvolver conteuacutedos cientiacuteficos

adequados ter linguagem clara simples directa e paraacutegrafos curtos apresentar perguntas que

sirvam de estiacutemulo e deem dinamismo aos conteuacutedos possuir ilustraccedilotildees variadas como mapas

55

materiais estatiacutesticos esquemas fotografias entre outros oferecer um sistema de actividades

teoacutericas e praacuteticas e um vocabulaacuterio geograacutefico adequado (Nicolau 199161)

Ainda satildeo escassas as pesquisas existentes eou divulgadas em Moccedilambique sobre a

importacircncia e uso do livro didaacutectico de Geografia Tivemos acesso a alguns estudos sendo um

de Thompson sobre avaliaccedilatildeo pedagoacutegica do livro de Geografia da 5ordf classe do Sistema Nacional

de Educaccedilatildeo (1991) em que a autora sugere a necessidade de tomar em conta as condiccedilotildees de

aprendizagem dos alunos ter atenccedilatildeo agraves inter-relaccedilotildees geograacuteficas garantir maior equiliacutebrio

entre os elementos verbais e natildeo-verbais assim como utilizar no livro mapas de escalas variadas

No final a autora considera que os materiais de ensino de Geografia tecircm que contribuir para a

compreensatildeo entre os moccedilambicanos e os homens em geral realccedilar a beleza e a diversidade da

paisagem do territoacuterio nacional educar para a protecccedilatildeo e preservaccedilatildeo do meio ambiente e

para a utilizaccedilatildeo correcta dos recursos naturais do paiacutes (Thompson 199122)

Buque faz a relaccedilatildeo entre os meacutetodos de ensino e o uso do livro didaacutectico de Geografia da

7ordf classe A autora conclui que no processo de ensino-aprendizagem de Geografia predomina o

meacutetodo expositivo e que o livro eacute pouco utilizado Sugere que as escolas adquiram material

didaacutectico que os meacutetodos de ensino sejam activos que se faccedila a distribuiccedilatildeo do livro pelas

escolas entre outros (Buque 1999)

O trabalho de Mesquita (2002) explora a importacircncia do livro didaacutectico de Geografia da 8ordf

classe no processo de ensino-aprendizagem A autora conclui que as aulas de Geografia satildeo

predominantemente expositivas culminando com o ditado de apontamentos extraiacutedos do livro O

custo do livro e o fraco poder aquisitivo das famiacutelias inibem a compra e uitlizaccedilatildeo deste

importante meio de ensino Sugere entre outros a necessidade de o professor conhecer a

importacircncia do livro no processo de ensino-aprendizagem e definir-se uma poliacutetica de formaccedilatildeo

contiacutenua de professores (Mesquita 2002)

Outro estudo de Jaime (2013) relativo a avaliaccedilatildeo pedagoacutegica do livro de Ciecircncias

Sociais da 7ordf classe sugere-se a revisatildeo do livro de modo a garantir um ensino mais relevante a

formaccedilatildeo de um cidadatildeo que possa integrar-se na vida e aplicar os conhecimentos adquiridos em

prol da sua comunidade (p 219)

Na parte que se segue iremos tentar resgatar um pouco da histoacuteria do livro didaacutectico no

geral e em particular o de Geografia

56

1 O livro didaacutectico de Geografia no periacuteodo colonial em Moccedilambique - dominaccedilatildeo e

exclusatildeo

Chorou e chora Moccedilambique

Pelas riquezas que lhe usurpam

Sem os filhos as utilizarem

Moccedilambique chorou e chora

(Jackson 197918)

O extracto acima eacute de um poema de um militante da FRELIMO (Frente Nacional de

Libertaccedilatildeo de Moccedilambique) publicado na obra Poesia de Combate cuja primeira ediccedilatildeo

aconteceu em 1971 altura em que Moccedilambique ainda era uma coloacutenia A estrofe revela o

sentimento de dominaccedilatildeo e exclusatildeo a que o povo moccedilambicano estava sujeito

O acto educativo natildeo eacute neutro dado que reflecte aquilo que satildeo os interesses inerentes agrave

estrutura social e poliacutetica A educaccedilatildeo visa transformar dentro de uma determinada perspectiva

de desenvolvimento Antes da Independecircncia o livro didaacutectico de Geografia expressava os

interesses e valores coloniais O ensino no tempo colonial em Moccedilambique caracterizava-se por

ser discriminatoacuterio elitista e selectivo

Mondlane denunciava que os programas do Ensino Primaacuterio em Moccedilambique tinham

mateacuterias idecircnticas agraves que constavam dos programas em Portugal constituindo a cultura

portuguesa o ponto central sendo ignoradas a Histoacuteria e Geografia do continente africano

(1995) Prosseguindo afirma que as mateacuterias principais satildeo a liacutengua portuguesa geografia das

descobertas e conquistas portuguesas moral cristatilde trabalhos manuais e agricultura

(Mondlane 199558)

O livro didaacutectico era produzido em Portugal Tomando como exemplo o livro utilizado no

1deg ano do curso complementar do Ensino Secundaacuterio (equivalente actualmente agraves 11ordf e 12ordf

classes) datado de 1974 com 447 paacuteginas verificamos que apresentava para o 1deg ano a seguinte

estrutura (i) Introduccedilatildeo geograacutefica (ii) Geografia Fiacutesica (iii) Geografia Humana (iv) Geografia

Econoacutemica Jaacute para o 2deg ano apoacutes um toacutepico sobre Advertecircncia segue-se a (i) Bibliografia

(ii) Monografias de alguns produtos ultramarinos e (iii) Antologia (Vieira e Moura 1974)

Os autores citados afirmam com base no programa de Geografia do 6deg e 7deg anos do Ensino

Liceal que no 7deg ano o programa incide sobre o estudo de Portugal metropolitano e ultramarino

natildeo havendo um compecircndio propriamente dito mas uma indicaccedilatildeo da bibliografia de

57

estatiacutesticas mapas e outros elementos Nesta senda no que diz respeito a Portugal ultramarino

especificamente Moccedilambique eacute indicada a seguinte bibliografia (apenas 2 obras) Boleacuteo Joseacute de

Oliveira Moccedilambique AGU16 Lisboa 1950 e Costa Maacuterio Bibliografia Geral de

Moccedilambique AGU Lisboa Posteriormente satildeo indicados mapas para serem consultados (Vieira

e Moura 1974)

Na parte correspondente agrave Monografia de alguns produtos ultramarinos satildeo apresentados

os seguintes amendoim gergelim coqueiro riacutecino palmeira do azeite algodoeiro cafeeiro e

cacauiero Na Antologia a informaccedilatildeo sobre Moccedilambique eacute apresentada da p 423 agrave p 428

com o tiacutetulo A agricultura em Moccedilambique integrando os seguintes itens condiccedilotildees naturais -

distribuiccedilatildeo das culturas as empresas agriacutecolas e a produccedilatildeo exportaccedilatildeo dos produtos agriacutecolas

possibilidades de expansatildeo (Vieira e Moura 1974) A figura 372 apresenta o mapa de

Moccedilambique vegetaccedilatildeo espontacircnea e algumas plantaccedilotildees e o mapa da figura 373 apresenta as

principais produccedilotildees vegetais de Moccedilambique A figura 374 apresenta o movimento comercial

de Moccedilambique com graacuteficos de importaccedilatildeo e exportaccedilatildeo Ainda consta uma tabela com

exportaccedilotildees de produtos agriacutecolas e respectivos valores

Os objectivos da colonizaccedilatildeo passavam pela construccedilatildeo do colonizado com uma identidade

lusitana Assim podemos perceber neste livro que natildeo havia muita preocupaccedilatildeo em atender agraves

necessidades dos paiacuteses colonizados mas sim conhecer as suas principais produccedilotildees e

potencialidades para maior exploraccedilatildeo Entretanto do ponto de vista pedagoacutegico jaacute se mostrava

uma tendecircncia de dar maior autonomia ao estudante de pesquisar natildeo se elaborando um livro

para o 7deg ano do Liceu mas dando pistas para o estudo independente

2 O livro didaacutectico de Geografia no periacuteodo poacutes-Independecircncia de Moccedilambique - do

marxismo-leninismo ao neoliberalismo

I Repuacuteblica

Os primeiros anos apoacutes a Independecircncia em Moccedilambique foram caracterizados por uma

grande falta de livros didaacutecticos e outros materiais de ensino Isto deveu-se a razotildees conjunturais

como a mudanccedila de regime o processo de massificaccedilatildeo a insuficiecircncia de especialistas na aacuterea

da educaccedilatildeo os parcos recursos financeiros disponiacuteveis as prioridades definidas no momento

entre outros Apoacutes 1975 e ateacute iniacutecios dos anos 90 as principais instituiccedilotildees nacionais

16 AGU - Agecircncia Geral do Ultramar

58

fomentadoras da produccedilatildeo e utilizaccedilatildeo do livro didaacutectico foram principalmente o Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo (e Cultura) o Instituto Nacional do Desenvolvimento da Educaccedilatildeo (INDE) a

Distribuidora Nacional de Material Escolar (DINAME) o Instituto Nacional do Livro e Disco

(INLD) a Editora Escolar e a Universidade Eduardo Mondlane (UEM)

No periacuteodo de vigecircncia de Partido uacutenico a direcccedilatildeo da FRELIMO definiu que a tarefa

principal da educaccedilatildeo eacute no ensino nos livros de textos e nos programas inculcar em cada um a

ideologia avanccedilada cientiacutefica objectiva colectiva que nos permite progredir no processo

revolucionaacuterio( Machel 198059)

Esta ideologia estava associada agrave criaccedilatildeo de uma sociedade marxista-leninista e agrave formaccedilatildeo

do Homem Novo Para Bastos e Duarte a criaccedilatildeo do Homem Novo constituiacutea a pedra

angular do processo revolucionaacuterio que caracterizou grande parte da Iordf Repuacuteblica (1975-1990)

(201572)

Na Constituiccedilatildeo de 1975 a Repuacuteblica Popular de Moccedilambique eacute um Estado de Democracia

Popular em que o poder pertence aos operaacuterios e camponeses unidos e dirigidos pela FRELIMO

que eacute a forccedila dirigente do Estado e da Sociedade

A Lei do Sistema Nacional de Educaccedilatildeo (SNE) menciona que na construccedilatildeo da

sociedade socialista o sistema de educaccedilatildeo deve no seu conteuacutedo estrutura e meacutetodo conduzir

agrave criaccedilatildeo do Homem Novo (Moccedilambique 1983) Mais adiante constam os fundamentos da lei

que satildeo as experiecircncias da educaccedilatildeo desde a luta armada ateacute agrave fase em que se encontrava o paiacutes

na construccedilatildeo do socialismo os princiacutepios universais do marxismo-leninismo e o patrimoacutenio

comum da Humanidade (Ibid) No capiacutetulo I artigo 1 aliacutenea e) estaacute expliacutecito que A Educaccedilatildeo

eacute dirigida planificada e controlada pelo Estado que garante a sua universalidade e laicidade

no quadro da realizaccedilatildeo dos objectivos fundamentais consagrados na Constituiccedilatildeo

(Moccedilambique 1983)

Podemos verificar que o centralismo democraacutetico desse periacuteodo natildeo permitia que outros

actores tivessem oportunidade de participar nos processos de planificaccedilatildeo e organizaccedilatildeo da

educaccedilatildeo estando isso apenas reservado ao Estado sob direcccedilatildeo da Frelimo cuja ideologia era

dominante em todo o sistema educativo e social no geral A Nacionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo em

1975 definitivamente descartava essa possibilidade de participaccedilatildeo sendo o Estado o principal

provedor dos serviccedilos educativos

Assim observando os programas de ensino por exemplo o Programa de Geografia para o

Curso de Formaccedilatildeo de Professores para o 2deg grau do Ensino Primaacuterio na parte introdutoacuteria

consta que De acordo com as grandes decisotildees do glorioso IV Congresso do Partido Frelimo

59

cabe agrave educaccedilatildeo criar o Homem Novo (MEC 19841) Mais adiante o documento que temos

vindo a citar considera que o professor eacute um agente poliacutetico do Partido Frelimo na escola

atraveacutes do ensino cientiacutefico e partidaacuterio na base dos princiacutepios gerais do marxismo-leninismo

(Ibid)

Em 1986 para a 5ordf classe do Ensino Primaacuterio foi disponibilizado o livro intitulado

Geografia de um colectivo de autores nomeadamente Isabel Coelho Laura Loforte Benilda

Reis e Emiacutedio Sebastiatildeo (Moccedilambique 1986) Este primeiro livro moccedilambicano apoacutes a

Independecircncia para a 5ordf classe na disciplina de Geografia teve ediccedilatildeo do INDE e Editora Escolar

e foi avaliado por Thompson (1991) que destaca que apesar das deficiecircncias que apresenta e

que carecem de correcccedilatildeo ele constitui base de trabalho de alunos e professores (Ibid21)

Para a 6ordf classe o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Cultura disponibilizou dois livros o primeiro

em 1978 Geografia - 6ordf classe Textos para os alunos 3deg periacuteodo (MEC 1978) e outro

intitulado Geografia - 6ordf classe textos para os alunos 1deg e 2deg periacuteodos isto em 1979 (MEC

1979) Nestes livros temos presente a ideologia entatildeo dominante no que se refere por exemplo

ao papel do cooperativismo e do Estado Vamos estudar o que se produz nas machambas

colectivas e estatais (MEC 19797) O domiacutenio do Partido uacutenico Depois da Independecircncia

o povo moccedilambicano organizado pelo seu Partido de vanguarda a Frelimo procura

transformar radicalmente a sociedade construindo o Poder Democraacutetico Popular e uma

sociedade socialista O desenvolvimento do paiacutes eacute expresso desta forma na aacuterea dos transportes

aeacutereos

Ateacute 1974 a DETA teve que se limitar a voar em terras de Moccedilambique () com

a conquista da Independecircncia atraveacutes da Luta Armada de Libertaccedilatildeo Nacional

esta companhia viu-se libertada dos travotildees coloniais e comeccedilou a fazer voos

internacionais para a Tanzacircnia Zacircmbia Angola Portugal Aacutefrica do Sul e por

uacuteltimo Itaacutelia (MEC 197963)

Na aacuterea das comunicaccedilotildees O jornal e a raacutedio satildeo dois meios de informaccedilatildeo de grande

importacircncia na vida do nosso paiacutes Atraveacutes deles podemos saber as informaccedilotildees nacionais

internacionais e divulgar a poliacutetica do nosso Partido a FRELIMO (Ibid66)

O livro de Manuel Arauacutejo intitulado Noccedilotildees elementares da Geografia de Moccedilambique teve uma

influecircncia profunda no processo de ensino-aprendizagem de Geografia Natildeo foi concebido

especificamente para o ensino mas foi amplamente usado para esse fim O livro tem ediccedilatildeo do Instituto

Nacional do Livro e do Disco (1979)17 com 65 paacuteginas e estruturado da seguinte forma (i) Situaccedilatildeo e

limites (ii) O relevo (iii) Hidrografia (iv) Breve noccedilatildeo do clima de Moccedilambique (v) Divisatildeo

17 A primeira ediccedilatildeo foi em 1975

60

administrativa (vi) Populaccedilatildeo (vii) Aspectos simples de Geografia Econoacutemica (Arauacutejo 1979) Como o

autor afirma

Esta nova ediccedilatildeo surge natildeo pelo valor da obra que como dissemos na 1ordf

ediccedilatildeo fornece alguns dados muito simples e ateacute incompletos sobre a RPM18

mas pela vontade de conhecer o nosso Povo O facto de com esta ediccedilatildeo se

atingir um nuacutemero de 50000 exemplares eacute revelador de que o Povo

Moccedilambicano quer conhecer o seu Paiacutes (Arauacutejo 19795)

Apoacutes a Independecircncia e ateacute a deacutecada 1980 era grande a carecircncia de materiais de ensino tal

como jaacute nos referimos Muitos dos livros disponiacuteveis no mercado eram da ex URSS19 Ediccedilotildees

Progresso traduzidos para o portuguecircs como Geografia Econoacutemica do Mundo (1979)

Ciecircncia da Sociedade (1980) Metodologia do Ensino das Ciecircncias Sociais (1980) Teoria

da Populaccedilatildeo (1987) Tambeacutem se encontravam os livros das Ediccedilotildees da Imprensa Noacutevosti com

vaacuterios tiacutetulos Estes livros divulgavam as teorias marxistas-leninistas no contexto da guerra-fria

e eram apropriados para o momento poliacutetico que o paiacutes vivia (Duarte 2007) Um livro que

tambeacutem serviu aos professores moccedilambicanos foi Geografia - 1deg ano - 1deg volume - Curso

Complementar do Ensino Secundaacuterio do autor Dragomir Knapic Editorial Aster sem data

A Universidade Eduardo Mondlane Faculdade de Letras Departamento de Geografia

elaborou trecircs manuais para o ensino da Geografia20 Um intitulado deles Geografia Manual da

10ordf classe do ano 1982 possui 95 paacuteginas Este manual tem sete capiacutetulos (i) Cosmografia (ii)

Cartografia (iii) Climatogeografia (iv) Geomorfologia (v) Hidrogeografia (vi) Pedogeografia

(vii) Biogeografia De realccedilar que no manual natildeo constam os nomes dos autores (UEM 1982)

O outro Geografia Econoacutemica Manual da 11ordf classe Volume I do ano 1981 conta com

138 paacuteginas e estaacute estruturado em 6 capiacutetulos (i) As bases metodoloacutegicas da Geografia

Econoacutemica (ii) A Geografia Econoacutemica como ciecircncia social (iii) O meio geograacutefico e a

sociedade (iv) Os recursos naturais e a Geografia Econoacutemica (v) As leis da distribuiccedilatildeo

geograacutefica das forccedilas produtivas (vi) A divisatildeo geograacutefica do trabalho Os autores satildeo Ximena

Andrade Pablo Garcia e Khazimukhmet Nurgaliev (UEM 1981a)

O Manual de Geografia Econoacutemica Volume II para a 11ordf classe elaborado tambeacutem por

Ximena Andrade Pablo Garcia e Khazimukhamet Nurgaliev em 1981 tem 5 capiacutetulos (i)

18 Repuacuteblica Popular de Moccedilambique 19 Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas 20 Estes manuais satildeo do Antigo Sistema de Educaccedilatildeo

61

Geografia da Populaccedilatildeo (ii) Geografia da Induacutestria (iii) Geografia Agraacuteria (iv) Geografia dos

Transportes e (v) As bases da divisatildeo em regiotildees econoacutemicas (UEM 1981b)

Podemos ver nestes livros como era divulgada a ideologia dominante Nestas novas

condiccedilotildees na Repuacuteblica Popular de Moccedilambique a propriedade estatal e a propriedade

cooperativa estabelecendo novas relaccedilotildees de produccedilatildeo constituiratildeo a base econoacutemica do

Poder Popular Democraacutetico (UEM 1981a79) Outro exemplo relacionado com a Geografia

da Populaccedilatildeo Nos paiacuteses socialistas o desemprego eacute eliminado pois a produccedilatildeo social baseia-

se na propriedade social dos meios de produccedilatildeo (Ibid8) ou ainda a questatildeo da agricultura e

dos povoamentos rurais era tratada do seguinte modo Com base no desenvolvimento da

agricultura socialista forma-se a nova rede de povoamentos rurais - Sistema de Aldeias

Comunais (Ibid80)

O livro A terra planeta dinacircmico foi usado para a 8ordf classe em Moccedilambique Este livro

produzido em Portugal e para o sistema de ensino portuguecircs tinha um total de 256 paacuteginas e 5

capiacutetulos (i) Introduccedilatildeo ao estudo da Geografia (ii) O relevo terrestre (iii) A atmosfera (iv) os

ambientes bioclimaacuteticos (v) Conclusatildeo os meacutetodos da geografia Depois seguia-se o apecircndice e

a bibliografia Na ficha teacutecnica lecirc-se Ediccedilatildeo Especial para a 8ordf classe com um apecircndice de 32

paacuteginas O apecircndice sobre Moccedilambique constava das paacuteginas 226 a 256 e encontrava-se assim

estruturado 1 Caracterizaccedilatildeo geneacuterica do clima de Moccedilambique 2 A hidrosfera 3 A litosfera

4 Uso conservaccedilatildeo e protecccedilatildeo da natureza O nome dos autores do apecircndice natildeo consta desta

obra (Matos e Ramalho 1989)

As mesmas autoras posteriormente em 1990 publicam o livro Contrastes geograacuteficos -

9ordf classe com um total de 272 paacuteginas Este livro concebido para o sistema educativo

portuguecircs foi tambeacutem usado em Moccedilambique Na ficha teacutecnica pode-se ler Ediccedilatildeo Especial

para a 9ordf classe com um apecircndice de 32 paacuteginas e ainda Colaboraram na elaboraccedilatildeo deste

apecircndice Luiacutes Agostinho Nanjolo e Francisco Mbebe A estrutura do livro eacute a seguinte (i)

Populaccedilatildeo mundial (ii) Os grandes contrastes da agricultura no mundo actual (iii) Contrastes

da industrializaccedilatildeo no mundo actual (iv) As cidades no mundo A parte do apecircndice apresenta o

seguinte (i) Populaccedilatildeo mundial (ii) Agricultura mundial (iii) Induacutestria mundial (iv) Transportes

no mundo (Matos e Ramalho 1990)

II Repuacuteblica

Com a nova Constituiccedilatildeo de 1990 Moccedilambique torna-se um Estado de Direito

Democraacutetico Neste contexto eacute revista a Lei do SNE permitindo a participaccedilatildeo de outras

62

entidades incluindo comunitaacuterias cooperativas empresarias e privadas no processo educativo

(Moccedilambique 1992)

Em 1992 a 10ordf classe beneficia-se de um livro intitulado Geografia de Moccedilambique Vol

I Parte Fiacutesica com 109 paacuteginas Este livro eacute da autoria de Alberto da Barca e Tirso Santos

com ediccedilatildeo do INDE e da Editora Escolar O livro possui um total de 10 capiacutetulos (i)

Localizaccedilatildeo geograacutefica e coacutesmica (ii) Limites (iii) Extensatildeo territorial (iv) Orla mariacutetima (v)

Geologia (vi) Morfologia (vii) Solos (viii) Clima (ix) Hidrografia (x) Biogeografia (Barca e

Santos 1992)

Posteriormente em 1993 eacute disponibilizado o livro tambeacutem para a 10ordf classe Geografia

de Moccedilambique Vol II Parte Econoacutemica da autoria de Alberto da Barca com ediccedilatildeo da

Editora Escolar num total de 243 paacuteginas O livro possui 7 capiacutetulos nomeadamente (i)

Populaccedilatildeo (ii) Agricultura (iii) Pescas (iv) Induacutestria e Energia (v) Transportes e vias de

comunicaccedilatildeo (vi) Comeacutercio (vii) Turismo (Barca 1993)

Surgem depois em 1995 dois livros um para a 8ordf classe e o outro para a 9ordf classe O livro

intitulado Geografia 8ordf classe dos autores Joseacute Martins e Marta Correia com ediccedilatildeo da

Editora Escolar com 119 paacuteginas estaacute dividido em 4 partes (i) Atmosfera (ii) Hidrosfera (iii)

Litosfera (iv) As grandes regiotildees naturais (Martins e Correia 1995)

Da autoria de Luiacutes Nanjolo Geografia 9ordf classe tambeacutem da Editora Escolar com 80

paacuteginas encontra-se subdividido em 5 partes (i) Populaccedilatildeo (ii) Agricultura e Pecuaacuteria (iii)

Induacutestria (iv) Transporte e (v) Urbanismo (Nanjolo 1995)

A Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo prevecirc tanto para o Ensino Primaacuterio como para o Ensino

Secundaacuterio no acircmbito da melhoria da qualidade e relevacircncia a disponibilizaccedilatildeo e a provisatildeo do

livro escolar e dos manuais de ensino para alunos e professores (Moccedilambique 1995)

Reconhecendo os problemas socio-econoacutemicos do paiacutes a partir de 2004 o livro didaacutectico

no Ensino Primaacuterio em Moccedilambique eacute gratuito No Ensino Secundaacuterio eacute necessaacuterio adquiri-lo ao

preccedilo do mercado

Um estudo nacional revela-nos que apesar da gratuidade do livro no Ensino Primaacuterio este

ainda natildeo estaacute ao alcance de todos Agrave medida que a classe frequentada se eleva a percentagem de

alunos que possui o livro escolar vai decrescendo Na 1ordf classe essas percentagens estatildeo acima

de 90 mas jaacute na 7ordf classe natildeo alcanccedilam os 50 Ainda a niacutevel nacional abaixo de 40 dos

alunos frequentam escolas em que todos eles possuem livros de todas as disciplinas

(MINEDINDE 2014) Outro aspecto que eacute necessaacuterio referenciar eacute a existecircncia de livros-

63

caderno que satildeo descartados apoacutes um ano encarecendo ainda mais o processo de provisatildeo do

livro escolar

Assim mesmo sendo gratuito o livro natildeo cobre todas as necessidades A par disso estatildeo

os problemas de desvio de livros e venda no mercado informal corrupccedilatildeo maacute conservaccedilatildeo

fazendo com o que o seu periacuteodo de vida seja encurtado

Um relatoacuterio do Tribunal Administrativo sobre a distribuiccedilatildeo gratuita do livro escolar

constata que o processo ligado ao livro eacute complexo os recursos humanos ligados ao Ministeacuterio

da Educaccedilatildeo natildeo conseguem atender agrave demanda haacute falta de infraestruturas de suporte ao

processo natildeo satildeo apresentados relatoacuterios sistemaacuteticos sobre a distribuiccedilatildeo dos livros o retorno

do livro natildeo estaacute assegurado a qualidade do livro natildeo eacute adequada para assegurar a sua maior

durabilidade os professores nem sempre satildeo preparados para utilizar o livro nem sempre o livro

gratuito eacute suficiente para todos os alunos entre outros (Moccedilambique 20107-8)

O livro didaacutectico actualmente eacute um recurso que apresenta muacuteltiplos aspectos sendo uma

produccedilatildeo cultural e ao mesmo tempo uma mercadoria (Pontuschka Paganelle e Cacete

2007339)

Por exemplo em 2017 os alunos da 1ordf e 2ordf classes tiveram os livros de distribuiccedilatildeo gratuita

apoacutes cerca de 3 meses do iniacutecio das aulas Compram-se anualmente em meacutedia 14 milhotildees de

livros da 1ordf agrave 7ordf classe para cerca de seis milhotildees de alunos despendendo-se um valor estimado

em 17 milhotildees de doacutelares financiado por parceiros do Fundo de Apoio ao Sector da Educaccedilatildeo

(FASE) sendo um deles o Banco Mundial (Jornal O Paiacutes 2017)

Para o Ensino Secundaacuterio o livro eacute uma mercadoria de custo elevado para a maioria da

populaccedilatildeo Geralmente numa turma de 70 alunos podemos encontrar 5 com o livro didaacutectico

Em consonacircncia com o Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio novas exigecircncias satildeo

colocadas ao livro orientadas para a educaccedilatildeo inclusiva ensino-aprendizagem centrado no

aluno desenvolvimento de competecircncias para a vida ensino em espiral transversalidade e

interdisciplinaridade entre outros (MECINDE 2007)

Actualmente no mercado moccedilambicano temos vaacuterias editoras que concorrem e disputam

para garantir a aprovaccedilatildeo dos seus livros a fim de serem adoptados no sistema educativo Os

livros apresentam-se atractivos coloridos e bem ilustrados mas para o Ensino Secundaacuterio

encontram-se mais nas prateleiras das livrarias do que nas matildeos dos alunos das escolas puacuteblicas

Conforme o Diploma Ministerial 842016 que Aprova o Regulamento de Avaliaccedilatildeo do

Livro Escolar no seu artigo 1 os livros do aluno e o manual do professor passam a ser editados

pelo sector empresarial puacuteblico e privado constituindo objecto de avaliaccedilatildeo pelo Conselho de

64

Avaliaccedilatildeo do Livro Escolar (CALE) Segundo o artigo 5 constituem grandes aacutereas de avaliaccedilatildeo

as seguintes (i) curriacuteculo e conteuacutedos (ii) abordagem metodoloacutegica e liacutenguas (iii) valores e

questotildees transversais e (iv) estrutura e organizaccedilatildeo No artigo 5 consta que a adopccedilatildeo do livro

prevista para 5 anos eacute da competecircncia do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano

sob proposta do CALE O artigo 7 menciona que no Ensino Primaacuterio os livros satildeo adquiridos

sem a comparticipaccedilatildeo dos pais e encarregados de educaccedilatildeo e no Ensino Secundaacuterio estaraacute agrave

venda no mercado formal e deve ser adquirido pelos paisencarregados de educaccedilatildeo e pelos

professores (Moccedilambique 2016)

Corroboramos com a ideia de que em relaccedilatildeo ao livro didaacutectico mesmo diante de tempos e

espaccedilos escolares tatildeo diferenciados e distantes a forccedila deste artefacto sobrevive a poliacuteticas

diacutespares culturas diferentes e espaccedilos virtuais (Tonini 2014149) Deste modo mesmo com

todas as mudanccedilas que foram ocorrendo em Moccedilambique o livro didaacutectico continua a ser un

importante instrumento de trabalho de alunos e professores

Os desafios da utilizaccedilatildeo do livro didaacutectico

Por longo tempo permaneceu (e ainda permanece) a ideia de que com o livro didaacutectico

tudo se resolve ou seja O livro didaacutectico natildeo eacute visto como instrumento auxiliar na sala de

aula mas sim como a autoridade a uacuteltima instacircncia o criteacuterio absoluto da verdade o padratildeo

de excelecircncia a ser adoptado na aula (Freitag 1997124)

Os grandes problemas relacionados com o livro didaacutectico no ensino da Geografia prendem-

se com a dificuldade de acesso por parte dos alunos e agrave falta do seu uso adequado em sala de

aula O livro tem inuacutemeras possibilidades de ser explorado mas numa aula do Ensino

Secundaacuterio poucos alunos possuem o livro Natildeo existindo outros materiais auxiliares a

aprendizagem fica comprometida

No nosso trabalho de observaccedilatildeo de aulas de Geografia em escolas secundaacuterias

encontramos casos em que os professores se limitam na aula a dar uma breve explicaccedilatildeo do

conteuacutedo para de seguida fazer um exaustivo dito de apontamentos directamente do livro Ou

entatildeo observamos aulas em que os erros constantes do livro didaacutectico satildeo passados ipsis verbis

para os alunos

Jaacute participamos em sessotildees de trabalho com professores secundaacuterios que lamentavam o

facto de os livros de Geografia em Moccedilambique estarem desactualizados por que por exemplo

ainda mencionavam que os planetas do sistema solar satildeo 9 ao inveacutes de 8 Com os avanccedilos da

65

ciecircncia e da teacutecnica novas descobertas vatildeo sendo feitas mas o livro didaacutectico tem o seu tempo

de vida e natildeo pode dar conta do que acontece diariamente

A formaccedilatildeo dos professores para trabalhar devidamente com os livros eacute um desafio que

nos eacute colocado permanentemente sabido que muitos deles fizeram o seu percurso escolar com

muitas dificuldades de acesso aos livros ou pela sua inexistecircncia em termos de produccedilatildeo em

Moccedilambique ou pelo preccedilo a que eacute colocado no mercado

O professor tem que se posicionar criticamente perante o livro e natildeo limitar-se a ser um

consumidor passivo

Tenta-se actualmente colocar o livro ao alcance de todos A Universidade Pedagoacutegica tem

dado o seu exemplo investindo em Bibliotecas Moacuteveis

Consideraccedilotildees finais

Este estudo tentou abarcar a histoacuteria do livro didaacutectico de Geografia ao longo das vaacuterias

fases de desenvolvimento de Moccedilambique O livro didaacutectico eacute um instrumento importante no

processo de ensino-aprendizagem mas o professor natildeo pode restringir a praacutetica docente-

educativa ao uso ou consulta de um uacutenico material didaacutectico

O livro didaacutectico reflecte os interesses dominantes numa sociedade a ideologia e a poliacutetica

dos governantes

Em Moccedilambique no periacuteodo colonial devido ao regime vigente usava-se o livro

produzido em Portugal que reflectia os interesses do colonizador

Apoacutes a Independecircncia verificaram-se seacuterias dificuldades em produzir o livro internamente

e nalguns casos para a disciplina de Geografia foi necessaacuterio recorrer novamente aos livros de

Portugal com apecircndices elaborados por autores moccedilambicanos que reflectiam a nossa realidade

Nos uacuteltimos anos estabeleceu-se a gratuidade do livro didaacutectico para o Ensino Primaacuterio

Contudo para o Ensino Secundaacuterio o livro tem que ser adquirido pelas famiacutelias Vigoram as leis

do mercado o nuacutemero de alunos que possuem o livro no ensino secundaacuterio eacute ainda muito

insignificante e isso estaacute relacionados aos custos do livro

Muitas vezes o livro didaacutectico eacute usado de forma inadequada natildeo se explorando todo o seu

potencial

Sugere-se a formulaccedilatildeo de poliacuteticas que garantam maior acesso ao livro por parte dos

alunos maior apetrechamento das bibliotecas escolares com livros didaacutecticos e de leitura

complementar e melhor formaccedilatildeo dos professores para explorarem cabalmente o livro

66

Referecircncias bibliograacuteficas

ARAUacuteJO Manuel Noccedilotildees elementares de Geografia de Moccedilambique 2 ed Maputo INLD

1979

BARCA Alberto da e SANTOS Tirso Geografia de Moccedilambique Vol I Parte Fiacutesica - 10ordf

classe Maputo INDE Editora Escolar 1992

BARCA Alberto da Geografia de Moccedilambique Vol II Parte Econoacutemica - 10ordf classe Maputo

Editora Escolar 1993

BASTOS Juliano e DUARTE Stela Mithaacute Necessidade e possibilidade da Educaccedilatildeo Patrioacutetica

em Moccedilambique In DUARTE Stela Mithaacute e MACIEL Carla Ataiacutede Temas

Transversais em Moccedilambique Educaccedilatildeo Paz e Cidadania Maputo Editora Educar-UP

2015

BUQUE Suzete Lourenccedilo Os meacutetodos de ensino e o uso do livro do aluno da disciplina de

Geografia na 7ordf classe Monografia Cientiacutefica para a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura

Maputo Universidade Pedagoacutegica 1999 (natildeo publicado)

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69

Desafios da formaccedilatildeo de professores por competecircncias no Modelo de 10ordf

classe + 3 anos

Acircngelo Guiloviccedila Niquice21

Resumo

O artigo apresenta algumas linhas de reflexatildeo sobre o desafio da transposiccedilatildeo do texto curricular agrave praacutetica

docente implementada na formaccedilatildeo de professores competentes reflexivos de modo a corresponder os

anseios da sociedade em relaccedilatildeo agrave qualidade de educaccedilatildeo O principal objectivo eacute analisar a actual

formaccedilatildeo de professores e aprendizagem por competecircncias do novo Plano Curricular de Formaccedilatildeo de

Professores para o Ensino Primaacuterio em Moccedilambique A metodologia eacute baseada na pesquisa bibliograacutefica

Conclui-se que jaacute foi um grande passo a opccedilatildeo por uma estrutura curricular na perspectiva de

competecircncias mas persistem muitos desafios para levar a cabo a formaccedilatildeo Sugere-se que se trabalhar

continuamente com os formadores de modo a promover praacuteticas pedagoacutegicas inovadoras

Palavras-chave Formaccedilatildeo de professores Aprendizagem por Competecircncias Modelo 10ordf + 3 anos

Abstract

The article presents some lines of reflection on the challenge of transposing the curricular text to the

teaching practice implemented in the formation of competent reflective teachers in order to match the

aspirations of society in relation to the quality of education The main objective is to analyze the current

teacher training and competency learning of the new Teacher Education Curricular Plan for Primary

Education in Mozambique The methodology is based on bibliographic research It is concluded that the

option for a curricular structure in the perspective of competences was a great step but many challenges

persist for carrying out the training It is suggested to work continuously with teacher educators in order

to promote innovative pedagogical practices

Keywords Teacher training Competency Learning Model 10 + 3 years

Introduccedilatildeo

As grandes mudanccedilas sociais econoacutemicas e poliacuteticas dos uacuteltimos tempos em Moccedilambique

e no mundo levaram a que as autoridades educacionais sentissem a necessidade de embarcar em

transformaccedilotildees curriculares como forma de dar resposta agrave expansatildeo da educaccedilatildeo e agrave crescente

inquietaccedilatildeo sobre qualidade de ensino como por exemplo as evidecircncias de fraco desempenho na

leitura escrita e na matemaacutetica referenciados nos relatoacuterios de estudos (MINEDINDE 2000 e

2010) Eacute neste contexto que o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo concebeu a estrateacutegia para a formaccedilatildeo de

professores 2004 ndash 2015 na qual se propocircs a elaborar um programa coerente consistente e

coordenado de formaccedilatildeo de professores competentes criacuteticos reflexivos e comprometidos com

21 Mestrando em EducaccedilatildeoFormaccedilatildeo de Formadores na UP ndash Maxixe angeloniquicesapomz

70

uma educaccedilatildeo de qualidade e que proporcionasse um desenvolvimento profissional do docente

ao longo da carreira Assim pretendemos neste artigo analisar os desafios da adopccedilatildeo de um

curriacuteculo baseado em competecircncias na formaccedilatildeo de professores do modelo de 10ordf classe mais 3

anos

O novo Plano Curricular de Formaccedilatildeo de Professores para o Ensino Primaacuterio (PCFPEP) eacute

baseado em competecircncias e nele estatildeo definidas nove competecircncias nos domiacutenios pessoal e

social de conhecimentos cientiacuteficos e das habilidades profissionais Estas vatildeo desenvolvendo-se

de forma transversal na medida em que as mesmas satildeo operacionalizadas ao longo do curso nos

diferentes moacutedulos

Iniciada a transformaccedilatildeo curricular levantam-se desafios sendo o primeiro a criatividade

dos formadores que devem gerar e estimular actividades centradas na aprendizagem de

competecircncias profissionais atraveacutes da mobilizaccedilatildeo de saberes e habilidades de forma a tornar os

graduados em professores competentes O segundo desafio prende-se com a transposiccedilatildeo

didaacutectica (modificaccedilatildeo selecccedilatildeo de saberes curriculares tomando em conta a

interdisciplinaridade e contextualizaccedilatildeo com o objectivo de operacionalizaccedilatildeo de competecircncias)

e o uacuteltimo relaciona-se com os mecanismos de implementaccedilatildeo de um sistema de avaliaccedilatildeo

adequado agrave construccedilatildeo de competecircncias

A motivaccedilatildeo para a realizaccedilatildeo deste estudo deve-se em primeiro lugar ao facto de que

durante o nosso percurso profissional nas instituiccedilotildees de formaccedilatildeo de professores no periacuteodo que

vai de 1999 a 2014 termos tido vaacuterias inquietaccedilotildees das quais a preocupaccedilatildeo com uma

abordagem que possibilitasse a formaccedilatildeo de professores criacuteticos reflexivos e por outro da

percepccedilatildeo da necessidade de uma mudanccedila da praacutetica docente reflexiva quer do formador quer

do professor primaacuterio ou secundaacuterio

Para direccionar o estudo partimos das seguintes questotildees

Que desafios poderatildeo ser vivenciados na implementaccedilatildeo do modelo 10ordf classe + 3 anos

baseado em competecircncias na formaccedilatildeo de professores criacuteticos e reflexivos

Qual o grau de competecircncia e criatividade dos formadores na abordagem de praacuteticas

docentes apoiadas na mobilizaccedilatildeo de um conjunto de saberes transformando-os em

acccedilatildeo de forma a promover um ensino de qualidade

Ateacute que ponto as aspiraccedilotildees subjacentes no curriacuteculo prescrito encontram enquadramento

na implementaccedilatildeo do texto curricular em particular a atitude didaacutectica dos formadores e

o sistema de avaliaccedilatildeo

71

Metodologicamente este trabalho tem um caraacutecter bibliograacutefico do tipo exploratoacuterio e

descritivo O principal objectivo do mesmo eacute de analisar a actual formaccedilatildeo de professores e

aprendizagem por competecircncias do novo PCFPEP em Moccedilambique A principal bibliografia

usada foi Niquice (2006) Golias (1993) e Perrenoud (1999 2002)

Breve abordagem histoacuterica e caracterizaccedilatildeo da formaccedilatildeo de professores em

Moccedilambique

A formaccedilatildeo de professores em Moccedilambique comeccedila na deacutecada 30 do seacuteculo XX no

regime colonial numa perspectiva racista discriminatoacuteria e selectiva tal como retrata Golias

(1993 p48) quando afirma que os professores para o ensino dos ldquoindiacutegenasrdquo foram inicialmente

formados pela Escola de Habilitaccedilatildeo de Professores Indiacutegenas do Alvor ndash Manhiccedila sendo esta a

primeira do geacutenero criada em 1930 e que com o mesmo espiacuterito satildeo criadas em 1965 as Escolas

de Habilitaccedilatildeo dos Professores do Posto Escolar

As estruturas curriculares prescritas e ocultas destas Escolas de Habilitaccedilatildeo de Professores

eram sustentadas por um paradigma tradicional Eacute assim que Golias (1993 p57) caracteriza

aquele paradigma como sendo um ensino destinado a professores do povo colonizado como

forma de cristalizar a instrumentalizaccedilatildeo teacutecnica e a ldquodomesticaccedilatildeordquo e que em paralelo decorria

o ldquoensino oficialrdquo representado basicamente por uma educaccedilatildeo da elite colonial assegurada por

professores das Escolas do Magisteacuterio Primaacuterio criadas em 1962

A caracterizaccedilatildeo do formador da eacutepoca colonial eacute feita no acircmbito de um caraacutecter riacutegido do

ensino formal e muito tecnicista Para Niquice (2006 p27 e 28) ao trazer a limitaccedilatildeo da

preparaccedilatildeo de professores ao niacutevel de treinamento de habilidades acreditava-se nos

procedimentos uniformizados de ensino-aprendizagem na padronizaccedilatildeo das situaccedilotildees onde

resumia-se na capacidade de imitar os passos do mestre-formador Estas praacuteticas de formaccedilatildeo de

professores de entatildeo enquadram-se nas teorias tradicionais no entanto carregavam consigo

questotildees de poder na perspectiva de manutenccedilatildeo do status quo a dominaccedilatildeo do povo

colonizado atraveacutes de reproduccedilatildeo da desigualdade social continuando o povo pobre menos

escolarizado e excluiacutedo

Com a Independecircncia Nacional a formaccedilatildeo de professores passou por grandes testes e

transformaccedilotildees principalmente para preencher as vagas dos professores que abandonaram o

paiacutes e tambeacutem assegurar que se cumprisse a grande aposta de massificaccedilatildeo da educaccedilatildeo As

72

transformaccedilotildees foram inadiaacuteveis pois era necessaacuterio adaptar-se a educaccedilatildeo agrave realidade do Paiacutes

qualificando a matildeo-de-obra para responder agraves necessidades de desenvolvimento da jovem naccedilatildeo

Niquice (2006 p34) recorre a Chirrime (2000) para explicar que os planos de estudos eram

organizados para pequenos cursos de reciclagem onde os primeiros foram de 1 a 3 meses e

entre 1976 a 1980 os cursos passaram a ter duraccedilatildeo de 6 a 10 meses

Em 1983 eacute introduzido o curso 6ordf classe mais 3 anos com uma pretensatildeo dupla elevaccedilatildeo

da formaccedilatildeo (geral) dos formandos e formaccedilatildeo profissional Esta duplicidade de objectivos levou

a que existissem muitas disciplinas teoacutericas (gerais) em detrimento das praacuteticas (profissionais)

Parafraseando Golias (1993 p74) a implementaccedilatildeo de cursos de duraccedilatildeo diversa visava

responder agraves urgecircncias quantitativas impostas pela vontade poliacutetica de massificar o ensino e que

estas natildeo permitiram influenciar mudanccedilas profundas nos professores por exemplo no que se

refere agrave transposiccedilatildeo da teoria agrave praacutetica O autor citado explicita que aqueles curriacuteculos

mantinham a tradicional concepccedilatildeo enciclopedista compartimentarizaccedilatildeo dos planos de estudos

em disciplinas estas sobrecarregadas de conteuacutedos muitas vezes pouco relevantes Tais

disciplinas e curriacuteculo eram estritamente seguidos e disseminados em todo Paiacutes sem nenhuma

flexibilidade e iniciativas por parte dos professores

Com o decurso do tempo em 1996 satildeo criados os Institutos do Magisteacuterio Primaacuterio que

primeiramente proveram cursos de 10ordf classe + 2 anos e sucessivamente alguns deles

ofereceram o curso do modelo de 10ordf classe + 1 ano + 1 ano e em 2006 esses Institutos devido agrave

grande urgecircncia em colmatar a contrataccedilatildeo de pessoas sem formaccedilatildeo psicopedagoacutegica

ofereceram em moldes transitoacuterios o curso de 10ordf classe + 1 ano Com estes cursos mesmo com

o ldquofantasmardquo da quantidade houve uma aposta para que se garantisse a qualidade Os cursos de

10ordf classe + 1 ano tinham apenas disciplinas profissionais e praacuteticas pedagoacutegicas Contudo

diversos segmentos (professores formadores pesquisadores pais e encarregados de educaccedilatildeo)

de forma contiacutenua foram mostrando-se ceacutepticos agrave eficaacutecia destes cursos Destes destacam-se as

reservas de Niquice (2006 p43) concernentes agrave preparaccedilatildeo pedagoacutegica-didaacutectica dos

formadores pois estes usam praacuteticas conservadoras muitas vezes contraditoacuterias ao discurso

actual da melhoria da qualidade de ensino Percebe-se que a manutenccedilatildeo de modelos

transmissivos por parte dos formadores denuncia a circulaccedilatildeo e contramatildeo dos movimentos da

escola nova da pedagogia activa e das abordagens construtivistas

Niquice (2006 p46) realccedila que os formadores tomam atitudes autoritaacuterias em sala de

aulas e que existe predominacircncia de aulas teoacutericas sobre praacuteticas Realccedila ainda que a formaccedilatildeo

73

de professores continuava esquemaacutetica e restritiva porque a aula continuava confinada agrave sala de

aulas e a uacutenica forma de ensinar era a aula

Eacute importante realccedilar que os actuais modelos de formaccedilatildeo de professores em

implementaccedilatildeo em Moccedilambique trazem consigo alguns aspectos vinculados pelas teorias poacutes

criacuteticas tais como preocupaccedilatildeo das relaccedilotildees de geacutenero diversidade cultural e eacutetnica (esta

materializada atraveacutes de mobilidade de formandos das diferentes proviacutencias do Paiacutes)

A formaccedilatildeo de professores eacute crucial para a materializaccedilatildeo seja da massificaccedilatildeo do ensino

seja tambeacutem da melhoria contiacutenua da qualidade contudo eacute apontada como uma das responsaacuteveis

pelos problemas de educaccedilatildeo Ainda que tenha ocorrido uma verdadeira revoluccedilatildeo quer em

nuacutemeros quer na preocupaccedilatildeo pela qualidade atraveacutes de reformas curriculares haacute ainda grande

dificuldade em se por em praacutetica concepccedilotildees e paradigmas dos modelos inovadores com

destaque do modelo 10ordf classe + 3 anos

A formaccedilatildeo de professores por competecircncias no modelo curricular de 10 ordf classe + 3 anos

exige por um lado a criatividade e flexibilidade dos formadores por outro adopccedilatildeo efectiva da

pedagogia de competecircncias combinada agrave avaliaccedilatildeo predominantemente formativa

Criatividade e qualidade dos formadores

As aceleradas mudanccedilas que ocorrem ao niacutevel local e pelo mundo fora sugerem de

imediato um formador dotado de competecircncias de criatividade e de autonomia capaz de

aprimorar nos formandos natildeo apenas o exerciacutecio profissional mas tambeacutem a capacidade criacutetica e

criativa

Parafraseando Niquice (2006 p16 e 43) ao abordar as questotildees do niacutevel de competecircncia e

criatividade assim como a maneira de ensinar e orientar a aprendizagem afirma que os

formadores natildeo conseguem evitar a aprendizagem predominantemente teoacuterica combinada com

um trabalho pedagoacutegico bastante rotineiro Os formadores recrutados conservam praacuteticas muitas

vezes contraditoacuterias ao discurso actual de melhoria qualidade de ensino de criatividade no

ensino de implementaccedilatildeo do curriacuteculo integrado centralizaccedilatildeo da aprendizagem no formando

ligaccedilatildeo teoria-praacutetica Satildeo formadores que receberam uma escolarizaccedilatildeo e formaccedilatildeo baseadas no

curriacuteculo conteuacutedista racionalista tecnicista O autor argumenta ainda que os processos que satildeo

utilizados pelos formadores satildeo laquocristalizadosraquo as suas concepccedilotildees estatildeo subjacentes ao

pensamento de que ensinar eacute simplesmente transmitir e aprender eacute receber Para eles o discurso

moderno significa um incoacutemodo na medida em que exige em fazer diferente do habitual que

desestabiliza as praacuteticas e haacutebitos consolidados

74

Em reacccedilatildeo aos vaacuterios estudos o novo PCFPEP coloca a acccedilatildeo praacutetica desde o 1ordm moacutedulo

da formaccedilatildeo docente para aleacutem de preconizar a articulaccedilatildeo da formaccedilatildeo inicial (no 1ordm e 2ordm ano) e

formaccedilatildeo em exerciacutecio (no 3ordm ano) tendo esta uacuteltima o objectivo de dar continuidade ao

desenvolvimento de competecircncias reflexivas no contexto escolar Esperamos que seja o fim da

formaccedilatildeo em que formandos recebam conteuacutedos prontos sistematizados sem uso da criticidade

e muito menos da problematizaccedilatildeo

A necessidade de formar professores competentes e reflexivos eacute uma discussatildeo actual

colocando-se no centro da questatildeo a problemaacutetica da mudanccedila educativa que suscita a reflexatildeo-

acccedilatildeo-reflexatildeo e compromisso dos profissionais da educaccedilatildeo no exerciacutecio das suas tarefas

quotidianas

O perfil profissional dos formadores deve estar em consonacircncia com o espiacuterito da

formaccedilatildeo de professores onde se exige que haja articulaccedilatildeo cientiacutefica e pedagoacutegica orientada agrave

praacutetica reflexiva e contextualizada Aconselha-se a apropriaccedilatildeo do pensamento de Noacutevoa (1992

p67) segundo o qual a formaccedilatildeo de professores deve fornecer um pensamento autoacutenomo em

sentido criacutetico-reflexivo Eacute que os formadores devem repensar o seu papel na formaccedilatildeo de

professores pois estes precisam desenvolver e estimular situaccedilotildees de aprendizagem nos

formandos

Implementaccedilatildeo da pedagogia por competecircncias na formaccedilatildeo de professores

A abordagem por competecircncias eacute apresentada como nuclear na organizaccedilatildeo curricular do

novo paradigma de formaccedilatildeo de professores em Moccedilambique Por intermeacutedio desta componente

de competecircncias eacute constituiacutedo um discurso de se ter alcanccedilado a foacutermula para a elevaccedilatildeo da

qualidade da formaccedilatildeo docente e consequentemente da educaccedilatildeo (no seu contexto geral) no

Paiacutes Isto insta-nos a querer analisar a abordagem por competecircncias as modalidades inseridas

no modelo de 10ordf classe + 3 anos e a sua implementaccedilatildeo

Competecircncia

O termo ldquocompetecircnciardquo pode assumir diferentes significados pelo que importa clarificar

que discutiremos alguns conceitos inseridos na aacuterea da educaccedilatildeo Allessandrini (2002 p164)

define competecircncia como sendo a capacidade de compreender uma determinada situaccedilatildeo e reagir

adequadamente frente a ela No mesmo diapasatildeo Perrenoud (1999 p7) chama competecircncia a

capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situaccedilatildeo apoiando-se em

conhecimentos mas sem limitar-se a eles O mesmo autor (Perrenoud 2003 p13) enfatiza a

75

competecircncia como sendo uma mais-valia acrescentada aos saberes a capacidade de a utilizar

para resolver problemas construir estrateacutegias tomar decisotildees e actuar no sentido mais vasto

Formaccedilatildeo de professores por competecircncias

Os desafios de Moccedilambique no acircmbito de educaccedilatildeo tais como a) universalizaccedilatildeo do

Ensino Primaacuterio b) elevaccedilatildeo da qualidade de ensino e por exemplo as evidecircncias de fraco

desempenho na leitura escrita e matemaacutetica reforccedilaram a convicccedilatildeo do MINED de repensar a

qualidade do professor atraveacutes da reforma do curriacuteculo de formaccedilatildeo de professores do Ensino

Primaacuterio adoptando um curso baseado em competecircncias Estas competecircncias surgem como

alternativa para suprir essa lacuna e captar mais precisamente as tarefas que o indiviacuteduo estaacute

efectivamente apto a cumprir (Ramos 2006 p 38)

A proposta do PCFPEP de formaccedilatildeo por competecircncias veio atender a uma preocupaccedilatildeo da

sociedade que reivindicava um professor competente dinacircmico capaz de dar sentido aos

conteuacutedos transmitidos pela escola e de garantir que os conhecimentos sejam de facto

convertidos em acccedilotildees concretas de acordo com as necessidades de cada formandoaluno Em

reacccedilatildeo aos desafios que se impotildeem encontram-se alternativas seguindo o preceituado por

Perrenoud (1997 p 47) que defende que as competecircncias permitem enfrentar com algum

sucesso as situaccedilotildees desconhecidas por que conteacutem certa intuiccedilatildeo analoacutegica que possibilita a

mobilizaccedilatildeo de vaacuterios recursos e experiecircncias anteriores a fim de obter uma resposta

parcialmente original que seja adequada agrave situaccedilatildeo

A ideia de que a escola tem de fazer aprender habilidades directamente uacuteteis agrave escola eacute

cada vez mais abrangente no nosso seio logo a pedagogia por competecircncias aparece como

alternativa

Operacionalizaccedilatildeo de competecircncias na formaccedilatildeo de professores

Um curriacuteculo por competecircncias pressupotildee uma proactividade do formandoaluno

estimula-se nele o desenvolvimento de determinadas habilidades comportamentais mobilizaccedilatildeo

de outras dimensotildees do sujeito para aleacutem do conhecimento

Para esta abordagem preferimos parafrasear o principal representante da pedagogia de

competecircncias Perrenoud (1999) por este alertar que aceitar uma abordagem por competecircncias eacute

assumir um compromisso contiacutenuo de mudanccedila de ruptura das rotinas pedagoacutegicas e didaacutecticas

de compartimentaccedilotildees disciplinares Para este autor estrateacutegias didaacutecticas como a segmentaccedilatildeo

do curriacuteculo o peso da avaliaccedilatildeo e da selecccedilatildeo as imposiccedilotildees da organizaccedilatildeo escolar a

76

necessidade de tornar rotineiros o ofiacutecio de professor e o ofiacutecio de aluno natildeo contribuem muito

para a construccedilatildeo de competecircncias mas apenas para obter aprovaccedilatildeo em exames (Perrenoud

1999 p14) O maior desafio na concretizaccedilatildeo de um modelo por competecircncias consiste na

prontidatildeo dos formadores em assumir novos papeacuteis na transposiccedilatildeo didaacutectica e na aplicaccedilatildeo de

uma avaliaccedilatildeo concertada com o espiacuterito de construccedilatildeo de competecircncias

Para a operacionalizaccedilatildeo de competecircncias Perrenoud (1999 p17) convida neste caso os

formadores a considerar os conhecimentos como ferramentas a serem mobilizadas conforme as

necessidades a trabalhar regularmente com situaccedilotildees-problema a criar ou utilizar outros meios

de ensino a negociar e conduzir projectos com seus alunos a adoptar uma planificaccedilatildeo flexiacutevel

a improvisar a implementar e explicitar um novo contrato didaacutectico a praticar uma avaliaccedilatildeo

formadora em uma situaccedilatildeo de trabalho a alcanccedilar uma compartimentaccedilatildeo disciplinar menor

Apreciaccedilatildeo criacutetica da abordagem por competecircncias

A implementaccedilatildeo da formaccedilatildeo de professores por competecircncias no caso do Instituto de

Formaccedilatildeo de Professores (IFP) de Homoine foi antecedida por actualizaccedilatildeo dos formadores

criaccedilatildeo de condiccedilotildees em termos infra-estruturais limitaccedilatildeo de 20 formandos por turma No

entanto verificam-se dificuldades para a transposiccedilatildeo didaacutectica dificuldades de materializar a

avaliaccedilatildeo de competecircncias combinadas com ceptismo na aplicabilidade do sistema de avaliaccedilatildeo

Esta tendecircncia teraacute sido analisada por Perrenoud (1999 p 95) que alertava que se o

sistema educativo natildeo se der tempo de fazer a reconstruccedilatildeo didaacutectica natildeo traraacute resultados agraves

finalidades da escola pois apenas estaratildeo a atribuir nome de competecircncias aos antigos

conteuacutedos O autor apresenta seus argumentos afirmando que o indiacutecio mais evidente de uma

mudanccedila profunda eacute a diminuiccedilatildeo de peso dos conteuacutedos disciplinares e uma avaliaccedilatildeo formativa

e certificativa orientada claramente agraves competecircncias de tal forma que natildeo se pode pretender

desenvolvecirc-las sem dedicar o tempo necessaacuterio para colocaacute-los em praacutetica

O novo papel do formadorprofessor no ensino de competecircncias

Eacute importante destacar que no desenvolvimento da formaccedilatildeo que tem como orientaccedilatildeo um

modelo educacional baseado em competecircncias os participantes directos do processo de ensino-

aprendizagem assumem novos papeacuteis

A figura tradicional do formadordocente transmitindo um enorme volume de

conhecimentos algumas vezes de forma passiva sofre uma mudanccedila no modelo de formaccedilatildeo

baseado em competecircncias Exige-se dele mudanccedila de postura e aplicaccedilatildeo efectiva de estrateacutegias

77

metodoloacutegicas previamente seleccionadas para o desenvolvimento do curso O

formadorprofessor tem responsabilidade pelo desenvolvimento e progresso dos

formandosalunos no programa como um todo aleacutem de encorajar o formandoprofessor a buscar

informaccedilotildees e aplicaacute-las na aquisiccedilatildeo de uma habilidade aconselhando e motivando-o para que

atinja as metas

Parafraseando Perrenoud (1999 2003) este implora na mudanccedila de postura

concretamente na transferecircncia e mobilizaccedilatildeo das capacidades e dos conhecimentos atraveacutes da

exercitaccedilatildeo sempre em situaccedilatildeo didaacutecticas apropriadas As opccedilotildees pedagoacutegica-didaacutecticas

sugeridas satildeo a problematizaccedilatildeo da aprendizagem e aprendizagem por projectos

De salientar que ensinar nos dias que correm pressupotildee uma pedagogia activa a

necessidade de concepccedilatildeo encaixe e regulaccedilatildeo de situaccedilotildees de aprendizagem Neste propoacutesito

Rey et al (2005 p26-37) consideram que a operacionalizaccedilatildeo de competecircncias atraveacutes da

resoluccedilatildeo de problemas deve ser associada agrave perspectiva construtivista de aprendizagem e no

paradigma reflexivo uma vez que o aluno eacute colocado diante situaccedilotildees que por vezes natildeo tem

conhecimentos para encontrar soluccedilotildees Este aluno perante as situaccedilotildees novas e complexas

interroga os seus raciociacutenios cria um saber de forma autoacutenoma entende problema mobiliza

vaacuterias faculdades nesta resoluccedilatildeo da situaccedilatildeo-problema Ainda reactiva a pedagogia de projecto

que vai partir de problemas questotildees ou situaccedilotildees mais ou menos complexas de princiacutepio

seleccionadas por ele e vi mobilizar e contextualizar saberes e organizaccedilatildeo de toda informaccedilatildeo

Como eacute sustentada a aprendizagem por competecircncias no novo modelo de formaccedilatildeo de

professores

O novo texto curricular eacute segundo o MINEDINDE (2012 p20 e 80) baseado em

competecircncias e tem como fonte principal de avaliaccedilatildeo das competecircncias as evidecircncias que

demonstram o alcance de um determinado resultado de aprendizagem dentro de um moacutedulo O

curso eacute caracterizado como estando estruturado em torno de nove competecircncias estas satildeo

operacionalizadas de forma transversal em todas as aacutereas curriculares e de forma especiacutefica nos

moacutedulos (op cit79)

Esta operacionalizaccedilatildeo decorre de forma transversal nas diversas componentes do curriacuteculo

e pressupotildee superar a loacutegica do formador como transmissor de conteuacutedos passando a ser um

estimulador da aprendizagem atraveacutes da construccedilatildeo de uma diversidade de situaccedilotildees de

aprendizagem concretas onde se valorizam os princiacutepios da diferenciaccedilatildeo pedagoacutegica Contudo

78

a sua implementaccedilatildeo ainda em fase piloto eacute caracterizada por uma descrenccedila dos formadores

Estes deviam ser mais criativos inovadores e comprometidos em assumir a prescriccedilatildeo do texto

curricular Estes continuam obcecados em praacuteticas dirigistas e preocupados com os testes

escritos que satildeo heranccedila de praacuteticas de avaliaccedilatildeo classificatoacuterias

Exige-se dos formadores mudanccedilas de postura e aplicaccedilatildeo efectiva de estrateacutegias

metodoloacutegicas previamente seleccionadas para o desenvolvimento do curso Segundo Perrenoud

(1999 p 57) o novo objectivo do formador eacute mais fazer aprender do que ensinar por meio de

pedagogia e meacutetodos mais activos convidando os formadores a a) considerar os conhecimentos

como recursos a serem mobilizados b) trabalhar regularmente com problemas c) criar ou

utilizar outros meios de ensino d) negociar e conduzir projectos com seus formandos e) adoptar

uma implementaccedilatildeo flexiacutevel e indicativa f) implementar e explicitar um novo contrato

didaacutectico g) praticar uma avaliaccedilatildeo formadora e situaccedilotildees de trabalho

Avaliaccedilatildeo numa abordagem por competecircncias (como eacute adoptada no Plano Curricular)

Na abordagem por competecircncias a avaliaccedilatildeo natildeo se limita agrave verificaccedilatildeo do produto final

mas identifica as dificuldades no processo de aprendizagem e as estrateacutegias de aperfeiccediloamento e

progressatildeo

Avaliaccedilatildeo na oacuteptica de Fernandes (2001 p68) durante muito tempo esteve mais atenta a

mediccedilatildeo dos resultados adquiridos pelos alunos atraveacutes da utilizaccedilatildeo de testes e exames em

detrimento da valorizaccedilatildeo dos processos que promoviam essa aquisiccedilatildeo ou aprendizagem

Eacute assim que o PCFEP aposta na avaliaccedilatildeo como uma actividade contiacutenua que permita

por um lado obter-se uma imagem do desempenho do formando em termos de competecircncias

descritas no texto curricular e por outro servir de mecanismo de retro-alimentaccedilatildeo ao processo

de formaccedilatildeo

Outra inovaccedilatildeo eacute a previsatildeo de dois niacuteveis de avaliaccedilatildeo interna e externa Este raciociacutenio

encontra-se em Alonso (2001 p20) que sugere a avaliaccedilatildeo interligada a aprendizagem devendo

basear-se em competecircncias em atitudes que facilitem o aprender a aprender o colaborar com os

outros o intervir activamente na sociedade adaptar-se agraves mudanccedilas constantes O autor

argumenta que eacute necessaacuterio ldquoum ensino construtivista que requer uma avaliaccedilatildeo contiacutenua

formativa diferenciada e multidimensionalrdquo

A experiecircncia de Tochon (1995 p159) no acircmbito da avaliaccedilatildeo na formaccedilatildeo de

professores mostra que as diferentes funccedilotildees estatildeo longe de serem fixas ou exclusivas ao niacutevel

da aula Este autor aconselha a natildeo opccedilatildeo por fixaccedilatildeo riacutegida dos instrumentos de avaliaccedilatildeo

79

dando como exemplo a generalizaccedilatildeo das grelhas de avaliaccedilatildeo formativa que considera

perigosa uma vez que corre-se o risco de se metamorfosear o ideal de diferenciaccedilatildeo e de

autonomizaccedilatildeo da aprendizagem num processo de socializaccedilatildeo escalonado normalizado e depois

controlado segundo processos repetitivos e aborrecidos

Esta problemaacutetica estaacute acontecendo com a avaliaccedilatildeo no novo modelo de 10ordf classe + 3

anos uma vez que este preconiza a elaboraccedilatildeo de muitos relatoacuterios reflexivos

consequentemente torna-se uma actividade repetitiva e aborrecida tanto para os formandos que

esgotam inspiraccedilatildeo e ficam sem palavras assim como para os formadores que lhes parece

estarem a corrigir relatoacuterios iguais

Retomando o debate da aposta pela avaliaccedilatildeo formativa Perrenoud (1999 p15) aconselha

que esta deve forjar seus proacuteprios instrumentos que vatildeo do teste criterioso agrave observaccedilatildeo in loco

dos meacutetodos de trabalho dos procedimentos e dos processos intelectuais do formandoaluno O

autor insiste que a verdadeira avaliaccedilatildeo formativa eacute acompanhada de uma intervenccedilatildeo

diferenciada em termos de meios de ensino de organizaccedilatildeo de horaacuterios organizaccedilatildeo do grupo-

aula ateacute mesmo de transformaccedilotildees radicais das estruturas escolares

Enquanto os formadores no modelo de 10ordf classe + 3 anos tendem a sobrevalorizar mais os

testes escritos pois estes prevalecem no sistema avaliativo os pesquisadores se mostram

ceacutepticos a aplicabilidade das provas tradicionais numa abordagem por competecircncias Zabala

(2001 p194) natildeo recomenda provas especiacuteficas num tempo predeterminado porque na sua

opiniatildeo quebra o ritmo de trabalho e torna-se num processo artificial Para este autor a

verdadeira avaliaccedilatildeo deve integrar-se no proacuteprio desenvolvimento da unidade no decurso de

vaacuterias actividades que permitam observar o percurso de aprendizagem do aluno e deste modo

facultar as ajudas necessaacuterias na altura adequada

Prosseguindo o ceptismo de certos pesquisadores em relaccedilatildeo aos testes escritos o grande

estudioso da abordagem por competecircncias Perrenoud (1999 p159) considera que as provas

escolares tradicionais se relevam de pouca utilidade porque satildeo essencialmente concebidas para

anaacutelise dos erros dos formandosalunos mais para a classificaccedilatildeo dos alunos do que para a

identificaccedilatildeo do niacutevel de domiacutenio de cada um Acrescenta ainda que provas desse geacutenero natildeo

informam muito como se operam a aprendizagem e a construccedilatildeo de conhecimentos elas

sancionam seus erros sem buscar os meios para compreendecirc-los e para trabalhaacute-los

80

Consideraccedilotildees finais

A adopccedilatildeo de um curriacuteculo por competecircncias na formaccedilatildeo de professores anuncia um

modelo de profissionalizaccedilatildeo que possibilita a formaccedilatildeo de professores competentes e reflexivos

Tal perspectiva apresenta-se como sendo uma formaccedilatildeo que pode privilegiar a praacutetica e

secundarizar o conhecimento teoacuterico Em suma a aprendizagem por competecircncias na formaccedilatildeo

de professores do modelo 10ordf classe + 3 anos suscita a articulaccedilatildeo entre teoria e praacutetica

De acordo com as anaacutelises ao PCFPEP agrave revisatildeo da literatura e os diaacutelogos exploratoacuterios

feitos aos formadores conclui-se que jaacute foi um grande passo a opccedilatildeo por uma estrutura curricular

na perspectiva de competecircncias mas persistem muitos desafios para que de facto os formadores

assumam a prescriccedilatildeo curricular e formem professores competentes criacuteticos reflexivos eacuteticos

prudentes autoacutenomos Estas qualidades satildeo imprescindiacuteveis para que se possa realmente

desenvolver um ensino de qualidade e eliminar as fragilidades existentes na praacutetica reflexiva dos

professores

Consideramos que deve trabalhar-se continuamente com os formadores de modo a

promover praacuteticas pedagoacutegicas inovadoras que ultrapassem a mera transmissatildeo de

conhecimentos e que se impulsione a transposiccedilatildeo didaacutectica que privilegie experiecircncias

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Percepccedilotildees de professores de Matemaacutetica sobre o uso de calculadoras em

salas de aulas

Herciacutelio Paulo Munguambe22

Resumo

O presente artigo cientiacutefico enquadra-se no uso das tecnologias no Ensino Secundaacuterio Geral do 1ordm Ciclo e

pretende discutir as percepccedilotildees que os professores de Matemaacutetica tecircm sobre o uso de calculadoras em salas

de aulas Os objectivos deste estudo satildeo compreender o uso da calculadora identificar as percepccedilotildees dos

professores e propor estrateacutegias do seu uso procurando assim contribuir para a melhoria da qualidade de

ensino da Matemaacutetica O trabalho baseou-se em anaacutelise bibliograacutefica assistecircncia agraves aulas entrevista aos

professores da escola pioneira da pesquisa aplicaccedilatildeo do questionaacuterio aos professores de Matemaacutetica em

exerciacutecio abarcando no seu todo 13 participantes de diferentes escolas da cidade e distrito de Xai-Xai No

que respeita agrave anaacutelise da assistecircncia agraves aulas e das respostas dadas na entrevista e no questionaacuterio chegou-se

agrave conclusatildeo de que os professores na praacutetica natildeo usam as calculadoras embora a maioria afirma o contraacuterio

tanto na entrevista como no questionaacuterio defendendo que fazem o seu uso o que nos leva a perceber que eles

tecircm vontade de usar as calculadoras nas aulas de Matemaacutetica mas por falta de bases cientiacuteficas tecircm muitas

limitaccedilotildees Se eles afirmam que usam entatildeo fica claro que usam-nas de forma empiacuterica E ainda segundo os

dados obtidos entende-se que a maioria reconhece a utilidade destas em salas de aulas embora alegando que

as mesmas criam dependecircncia e preguiccedila mental no aluno Portanto conclui-se haver necessidade de

recomendar a preparaccedilatildeo de professores de Matemaacutetica no uso de calculadoras em salas de aulas e por via

disso garantir-se o seu uso no Ensino Secundaacuterio Geral do 1ordm Ciclo

Palavras-chave Matemaacutetica Calculadoras Aprendizagem e Ensino Resistecircncia Percepccedilotildees

Abstract

The present dissertation fits in the use of technologies in the Lower Secondary Schools programs and aims

to discuss the perceptions teachers of Mathematics have on the use of calculators in the classroom context

The objective of the present study is to understand the use of the calculator identify the perceptions the

teachers of Mathematics have and suggest strategies for their use with the aim of giving a contribution for

the improvement of the quality of Mathematics teaching The present dissertation is based on the literature

review carried out lesson observations interview to a group of teachers in the schools the studied was

carried out the use of a questionnaire to a group of on duty teachers of Mathematics All in all (13) thirteen

respondents from different schools in Xai-Xai took part in this study With regards to the lesson observation

and the analysis of the process as well as the analysis of the data from the interview and questionnaire it

was concluded that teachers do not use the calculators in the teaching context However the majority of our

respondents stated that they do use This brings us to the assumption that they would like to use them in

Mathematics lessons but due to the lack of scientific basis they have some limitations If they state that they

use it then becomes clear that they use them in an empiric form Furthermore from the data collected it is

quite clear that the majority recognizes the importance of the use of the calculators in the classroom context

in spite of their argument that these calculators may lead to dependence and mental laziness among

learners Therefore it is concluded that there is a need to recommend the training of the teachers of

Mathematics on the usage of the calculators in the classroom context with a view to guaranteeing their

appropriate use in the Lower Secondary School

Key Words Mathematics Calculators Learning and Teaching Resistance Perceptions

22 Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de Matemaacutetica Docente da UP Gaza Universidade Pedagoacutegica de Moccedilambique Email

herciliomunguambeyahoocombr

84

1 Introduccedilatildeo

No nosso paiacutes os iacutendices de reprovaccedilatildeo escolar em especial na disciplina de Matemaacutetica

chegam a limites considerados injustificados os obstaacuteculos e as dificuldades de aprendizagem

constituem uma das preocupaccedilotildees das sociedades e dos intervenientes dos processos de ensino e de

aprendizagem em particular isto eacute haacute necessidade de se procurar buscar respostas agrave pergunta qual

a razatildeo que leva o aluno a natildeo aprender

Nos uacuteltimos anos presenciamos um avanccedilo tecnoloacutegico bastante visiacutevel e promissor Por esta

via as calculadoras e computadores passaram a fazer parte do quotidiano de muitos indiviacuteduos e

por conseguinte estes materiais estatildeo jaacute presentes em quase vaacuterias escolas moccedilambicanas Eacute loacutegico

que a chegada destes materiais agraves escolas ainda assusta tanto aos alunos assim como aos

professores Partindo do princiacutepio que as novas tecnologias vieram para ficar e que as escolas natildeo

podem ser alheias a estas exige-se que os professores estejam seguros e preparados para o seu

manuseio procurando assim melhorar a sua praacutetica pedagoacutegica

Assim sendo actualmente num mundo globalizado jaacute natildeo faz sentido se caminhar sem o uso

das novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo A comunidade escolar jaacute percebe a

importacircncia das tecnologias como ferramenta pedagoacutegico-didaacutectica na educaccedilatildeo e como

instrumento de mudanccedilas nos processos de ensino e de aprendizagem Com base nos

assinalamentos anteriores levanta-se a seguinte questatildeo de investigaccedilatildeo Que percepccedilotildees os

professores de Matemaacutetica tecircm sobre o uso de calculadoras em salas de aulas

Assim sendo esta pesquisa busca compreender as percepccedilotildees dos professores de Matemaacutetica

do 1ordm ciclo do Ensino Secundaacuterio Geral a respeito do uso da calculadora na sala de aulas

Constituem objectivos especiacuteficos desta pesquisa

Identificar as percepccedilotildees dos professores sobre o uso das calculadoras em sala de

aulas no ESG do 1ordm ciclo (8ordf a 10ordf classes)

Descrever o niacutevel de percepccedilatildeo dos professores sobre o uso das calculadoras na sala

de aulas de Matemaacutetica no ensino secundaacuterio geral do 1ordm ciclo

Propor algumas sugestotildees com vista a melhoria da utilizaccedilatildeo de calculadoras nas aulas

de Matemaacutetica do ESG do 1ordm ciclo

11 Justificativa

A escolha deste tema deveu-se ao facto de que a escola onde se fez a pesquisa possuir um

aproveitamento muito baixo especialmente na disciplina de Matemaacutetica e considerou-se que a

85

partir desta pesquisa poder-se-aacute encontrar uma soluccedilatildeo com a implementaccedilatildeo de calculadoras

como recursos didaacutecticos facilitadores dos processos de ensino e de aprendizagem

Por este motivo escolheu-se este trabalho para propor sugestotildees que possam permitir a

melhor utilizaccedilatildeo de calculadoras mais concretamente no Ensino Secundaacuterio Geral do 1ordm Ciclo (8ordf

9ordf e 10ordf classes) de forma a que se desenvolvam competecircncias colocando assim o aluno cada vez

mais proacuteximo da utilizaccedilatildeo eficiente deste material na vida real e com expectativas promissoras

para enfrentar o ensino superior com sucesso

A escolha do tema justifica-se tambeacutem pelo facto do autor pretender contribuir para a

melhoria do processo de ensino-aprendizagem incentivando a implementaccedilatildeo adequada de

calculadoras e promovendo maior rigor nas mediccedilotildees e nos caacutelculos em pouco tempo por um lado

e por outro permitir que mais tempo e energia sejam despendidos na compreensatildeo de conceitos

2 Revisatildeo da literatura

Calculadoras satildeo dispositivos universalmente disponiacuteveis e usados por mais diversas

profissotildees para a realizaccedilatildeo de caacutelculos numeacutericos Assim a aula de Matemaacutetica natildeo pode ser

alheia agrave utilizaccedilatildeo destas embora se refere MOURA (20123) que ldquoentre os seacuteculos XII e XVI

ocorre uma oposiccedilatildeo entre os que utilizavam o aacutebaco como instrumento de caacutelculo e os que

defendiam a praacutetica do caacutelculo escrito onde mais tarde no seacuteculo XVII essa oposiccedilatildeo resulta

na transiccedilatildeo do aacutebaco para adopccedilatildeo de maacutequinas artificiaisrdquo Deste modo os actuais programas

de Matemaacutetica um pouco por todo mundo foram elaborados temendo consagrar o seu uso

Desde os tempos mais remotos o homem sentiu anecessidade de efectuar caacutelculos Deste

modo ldquono iniacutecio usou pedrinhas e pequenos paus que separava e agrupava depois comeccedilou a usar

os proacuteprios dedosrdquo (OLEacute 200410)

Segundo PAVAtildeO (20054) ao longo do tempo ldquoeacute inventado na China o Aacutebaco que eacute um

instrumento designado por maacutequina de calcular a mais antiga da histoacuteria do caacutelculo e a primeira

que ajudou o homem a calcular de forma mais raacutepidardquo O Aacutebaco foi o ponto de partida para

inventar novas formas de calcular mais faacuteceis e raacutepidas Os ocidentais baseando-se no Aacutebaco

Chinecircs comeccedilam entatildeo a inventar novas maacutequinas de calcular mas que ainda apresentavam

grandes dimensotildees e peso

Todavia percebe-se que com o passar do tempo verifica-se o aparecimento de calculadoras

mecacircnicas portaacuteteis que funcionam por cursores e manivelas sem utilizarem para isso qualquer

energia senatildeo a cineacutetica De acordo com OLIVEIRA (2011) ldquoconseguem-se entatildeo as 4 operaccedilotildees

baacutesicas (soma subtracccedilatildeo multiplicaccedilatildeo e divisatildeo) e chega-se rapidamente a uma caracteriacutestica

86

revolucionaacuteria a impressatildeo em papel que daacute origem agrave primeira calculadora impressora de

escritoacuterio - a Maacutequina Facit de teclas e alavancasrdquo Com o aparecimento da calculadora

electroacutenica aparecem as primeiras maacutequinas com circuitos electroacutenicos que tornavam mais raacutepidos

e fiaacuteveis os caacutelculos A calculadora comeccedila assim natildeo soacute a ser utilizada no escritoacuterio mas tambeacutem

a niacutevel pessoal

Na deacutecada de 80 surgiram diversos modelos de calculadoras de mesa e de bolso e

diferentes computadores Assim as calculadoras foram aperfeiccediloadas e diminuiacuteram

de preccedilo e de tamanho podendo hoje ser adquiridas por um custo menor e a

populaccedilatildeo em geral passou a ter acesso a esse tipo de instrumento o que acaba

auxiliando nas tarefas particulares e profissionais (OLIVEIRA 201118)

Dentre os vaacuterios tipos de calculadoras as mais usadas hoje em dia satildeo as electroacutenicas

construiacutedas por vaacuterios fabricantes em diversas formas e tamanhos variando em preccedilo conforme a

qualidade e os recursos ofertados A capacidade de uma calculadora varia de acordo com o modelo

desde o poder de caacutelculos agrave aritmeacutetica elementar inclusive outras que consagram funccedilotildees

trigonomeacutetricas

Assim das calculadoras electroacutenicas consideram-se dois tipos que satildeo a baacutesica (simples) e

a cientiacutefica por serem as mais usadas actualmente De acordo com OLIVEIRA (201126) a baacutesica

conta com as quatro operaccedilotildees fundamentais acrescidas de raiz quadrada e percentagem e depois a

cientiacutefica que realiza operaccedilotildees mais complexas como funccedilotildees trigonomeacutetricas logaritmos

interpolaccedilatildeo meacutedia desvio padratildeo potenciaccedilatildeo factorial entre outras Esta uacuteltima ainda pode ser

encontrada no mercado com diferentes funccedilotildees e com maior ou menor complexidade dependendo

do modelo tendo assim um custo relativamente maior que a baacutesica

A partir da Tabela 1 a seguir mostramos os resultados para facilitar a visualizaccedilatildeo das

diferenccedilas referidas previamente

Tabela 1 ndash Resultados depois dos comandos digitados

Expressatildeo Calculadora Cientiacutefica Calculadora Baacutesica

5+4x5 25 45

4x5+5 25 25

20+4x10+5x2+5 75 495

44011x4 160 160

10+10x10+10 120 210 Fonte Organizado pelo autor

87

Da tabela apresentada anteriormente podemos verificar que usando as duas calculadoras para

resolver a mesma expressatildeo obtemos em algum momento o mesmo resultado e noutro resultados

diferentes o que nos leva a perceber que na segunda e na quarta linha os resultados mantecircm-se

pois a multiplicaccedilatildeo vem antes e na divisatildeo e multiplicaccedilatildeo segue-se a ordem respectivamente

Poreacutem noutras linhas a calculadora baacutesica natildeo respeita a multiplicaccedilatildeo como operaccedilatildeo com

prioridade e assim acaba originando um outro nuacutemero como resultado

Uma outra diferenccedila das calculadoras verifica-se no arredondamento de valores que eacute feito

apenas nas calculadoras cientiacuteficas Exemplo 17x7 = 1 Este valor na calculadora baacutesica resulta em

09999997

Assim vaacuterios autores procuram perceber dos professores se tecircm algum conhecimento sobre

a importacircncia ou mesmo vantagens e desvantagens do uso de calculadoras nas aulas de Matemaacutetica

Uma das respostas tidas dos professores eacute que eles afirmam reconhecer a necessidade do uso de

calculadoras em sala de aulas apontando as vantagens e desvantagens da sua utilizaccedilatildeo mas os

mesmos reconhecem natildeo usarem sistematicamente estes materiais no seu quotidiano escolar

A partir das consideraccedilotildees ateacute entatildeo suscitadas tornam-se convenientes as

reflexotildees sobre o papel do professor numa escola adaptada ao uso das novas

tecnologias as representaccedilotildees destes profissionais acerca do perfil dessa nova

escola bem como um olhar atento sobre os processos de formaccedilatildeo especiacutefica

direcionados ao ensino da matemaacutetica e mediados por essas tecnologias

(MORAES 20007)

Neste sentido percebe-se que o nosso sistema de educaccedilatildeo moccedilambicano precisa incluir nos

curriacuteculos uma estrutura educacional que procure priorizar a necessidade de acelerar o processo de

formaccedilatildeo e aperfeiccediloamento de professores em mateacuterias ligadas ao uso de calculadoras nas aulas de

Matemaacutetica

As pesquisas mostram que ldquoo uso de calculadoras em sala de aulas pode promover uma

reorganizaccedilatildeo da actividade matemaacuteticardquo (KISTEMANN 2014)

ldquoEmbora o uso da calculadora ainda possa ser um tabu nas aulas de Matemaacutetica fora da

escola nas mais variadas situaccedilotildees eacute uma realidade esta faz parte das experiecircncias quotidianas

dos alunosrdquo (SANTOS 2014) Percebe-se que todo mundo deveria estar a utilizar a calculadora

por tratar-se de uma ferramenta importantiacutessima Ao contraacuterio do que muitos professores dizem a

calculadora natildeo coloca no activo o raciociacutenio do aluno Todas as pesquisas feitas sobre a

aprendizagem usando calculadoras preocupam-se em como utilizar correctamente estas tecnologias

de forma a desenvolver actividades que contribuam para o desenvolvimento dos alunos tanto no

ambiente escolar como fora

88

De acordo com KISTEMANN (2014) ldquoestudos nacionais e internacionais vecircm apresentando

resultados que demonstram que a calculadora pode exercer um papel importante na compreensatildeo

de conceitos matemaacuteticosrdquo Sendo assim estes materiais podem ser propostos em sala de aulas a

partir de situaccedilotildees que estimulem os alunos a reflectirem subsidiando tambeacutem o professor na

proposiccedilatildeo de actividades matemaacuteticas

Todavia a discussatildeo sobre o uso de calculadoras nas salas no ensino primaacuterio em

Moccedilambique eacute actual e contestada dividindo opiniotildees nos diversos quadrantes educacionais uma

vez que a poleacutemica se conduz para a forma como a calculadora pode auxiliar no desenvolvimento

de actividades em sala de aula influenciando de maneira positiva a aprendizagem matemaacutetica do

aluno

De acordo com DEIXA (2016) natildeo se justifica que a calculadora seja vista como um

instrumento destruidor das mentes dos alunos na escola em pleno seacuteculo das inovaccedilotildees

tecnoloacutegicas uma vez que esta pode servir como alavanca para verificar os resultados sem perca do

tempo

Apesar das divergecircncias nesta secccedilatildeo percebeu-se que vaacuterios autores defendem que o uso de

calculadoras em sala de aulas quando bem explorado em situaccedilotildees didaacutecticas planificadas com

criteacuterios bem definidos pode constituir uma oportunidade para o aluno se auxiliar na operaccedilatildeo com

nuacutemeros naturais e racionais na visualizaccedilatildeo da interpretaccedilatildeo de conceitos matemaacuteticos construccedilatildeo

de graacuteficos entre outros aspectos

Neste contexto percebe-se que o uso de calculadoras aparece como alvo de muitos

preconceitos pois muitos profissionais consideram que a inserccedilatildeo destes materiais pode impedir o

raciociacutenio do aluno aleacutem de lhe causar a chamada preguiccedila mental

As actividades propostas com calculadoras satildeo organizadas de modo criterioso

Levando-se em consideraccedilatildeo o tipo de actividade o eixo matemaacutetico a que se

refere e os conceitos trabalhados as actividades buscam entre outras propostas (i)

explorar o valor posicional do sistema de numeraccedilatildeo decimal (ii) propor a

resoluccedilatildeo de problemas com grandezas e medidas (iii) explorar a divisatildeo como

geradora de nuacutemeros decimais e a multiplicaccedilatildeo de decimais (iv) explorar

diferentes representaccedilotildees dos conceitos matemaacuteticos e as relaccedilotildees entre operaccedilotildees

inversas e (v) estimular actividades de estimativas e realizaccedilatildeo de caacutelculos

confirmadores de resultados (KISTEMANN 201410)

Depreende-se que tomando em consideraccedilatildeo todas estas actividades a presenccedila de

calculadora nas aulas de Matemaacutetica pode ser motivadora para os alunos criando um ambiente de

89

reflexatildeo acerca de situaccedilotildees matemaacuteticas que de certo modo se tornam reincidentes fatigantes e

abaladas por praacuteticas mecacircnicas nas quais se utilizam somente laacutepis e papel

A imagem a visatildeo real da coisa natildeo soacute economizam palavras mas permitem senti-

las tal como satildeo sem ter que imaginaacute-las a partir das palavras do professor Aleacutem

disso os recursos do ensino satildeo estimuladores e incentivadores O aluno que vecirc

que toca que manipula os objectos que realiza as experiecircncias que age sobre os

objectos tem mais facilidade de compreender e explicar a mateacuteria em estudo Dessa

forma a aprendizagem se torna mais real mais concreta mais significativa

(FERREIRA 2007 51)

Neste contexto percebe-se que com base em demonstraccedilotildees do concreto usando objectos

como eacute o caso da calculadora em sala de aulas facilmente pode se contextualizar a mateacuteria em

estudo colocando assim o aluno muito proacuteximo da realidade ou do seu quotidiano Entende-se

tambeacutem que um processo de ensino e aprendizagem da Matemaacutetica acompanhado de manipulaccedilatildeo

de objectos pode tornar o aluno mais entusiasmado e com facilidade de poupar mais tempo na

assimilaccedilatildeo da mateacuteria

3 Metodologia

Para a concretizaccedilatildeo deste trabalho de pesquisa foram aplicados os estudos qualitativo e

quantitativo A pesquisa qualitativa natildeo se preocupa com representatividade numeacuterica mas sim

com o aprofundamento da compreensatildeo de um grupo social ou organizaccedilatildeo Por isso o autor do

presente trabalho utilizou os meacutetodos qualitativos para poder explicar e exprimir o que conveacutem ser

feito E mais ainda o autor preocupou-se com aspectos da realidade que natildeo podem ser

quantificados centrando-se na compreensatildeo e explicaccedilatildeo da dinacircmica da utilizaccedilatildeo de calculadoras

na sala de aulas Para a recolha de dados foram utilizados os seguintes instrumentos questionaacuterio

entrevista observaccedilatildeo directa e registos institucionais

No que respeita ao estudo quantitativo estabelece-se que ldquoos resultados da pesquisa

quantitativa podem ser quantificados conforme as amostras que satildeo geralmente grandes e

consideradas representativas da populaccedilatildeo alvo da pesquisardquo (FONSECA 200220) Neste

contexto o autor centrou o seu estudo na objectividade onde a realidade foi compreendida com

base na anaacutelise de dados brutos recolhidos com auxiacutelio de instrumentos padronizados

Salientar que a utilizaccedilatildeo conjunta da pesquisa qualitativa e quantitativa permitiu recolher

mais informaccedilotildees do que se poderia conseguir isoladamente A pesquisa quantitativa serviu apenas

para auxiliar e complementar o estudo qualitativo que foi mais amplo e que permitiu que as pessoas

90

socializassem a sua proacutepria realidade e daiacute tirar conclusotildees a partir do proacuteprio trabalho do campo

respeitando o que foi mais uacutetil de acordo com a posiccedilatildeo dos intervenientes no contexto estudado

Nesta direcccedilatildeo para melhor verificar como tinham sido utilizadas as calculadoras nas aulas

de Matemaacutetica ao longo do periacuteodo fez-se um estudo pioneiro que na primeira etapa consistiu na

recolha dos dados referentes ao uso da calculadora na oacuteptica de diversos autores na segunda etapa

baseou-se no trabalho de campo mais concretamente na Escola Secundaacuteria de Inhamissa em Xai-

Xai com o intuito de entender profundamente o que estava acontecendo com o aproveitamento

pedagoacutegico na disciplina de Matemaacutetica atraveacutes das pautas do exame da 10ordf classe realizado em

2012 e de outros documentos como fichas relatoacuterios ou arquivos em computador A seguir foram

assistidas algumas aulas de Matemaacutetica da 8ordf 9ordf e 10ordf classe Posteriormente foram auscultados 13

professores em exerciacutecio nas distintas escolas da cidade e distrito de Xai-Xai Para a recolha dos

dados aplicou-se um questionaacuterio

O questionaacuterio foi aplicado em 5 escolas nomeadamente Escola Secundaacuteria de Chongoene

Escola Secundaacuteria Ndambine 2000 Escola Secundaacuteria de Xai-Xai Escola Secundaacuteria de Tavene e

Escola Secundaacuteria de Inhamissa abrangendo professores de Matemaacutetica na maioria a leccionar a 8ordf

classe haacute mais de 7 anos

Com esta composiccedilatildeo de teacutecnicas foi possiacutevel obter respostas que permitiram fazer uma

anaacutelise assente em aspectos convergentes e divergentes em torno do uso da calculadora na sala de

aulas de Matemaacutetica Para efeitos de anaacutelise as respostas dos inquiridos foram apresentadas por

P11 P12 P13 ateacute P115 e assim sucessivamente ateacute ao 13ordm inquirido que foi designado por P1315

onde P11 significa inquirido 1 pergunta 1 e P1315 significa inquirido 13 pergunta 15

4 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

Para apresentar analisar e discutir o uso de calculadoras no ensino de Matemaacutetica recorreu-

se agrave anaacutelise dos dados recolhidos a partir dos instrumentos elaborados para o efeito

As calculadoras natildeo satildeo usadas no ensino da Matemaacutetica pois de acordo com as respostas

dadas por um total de 3 professores de Matemaacutetica entrevistados na Escola Secundaacuteria de

Inhamissa em Xai-Xai haacute falta de domiacutenio no manuseamento durante o ensino da Matemaacutetica

aliaacutes eles reconhecem que natildeo se tecircm promovido acccedilotildees de formaccedilatildeo ou capacitaccedilatildeo regular de

professores em mateacuterias ligadas ao uso da calculadora

Da observaccedilatildeo directa feita conseguiu-se verificar que os 3 professores de Matemaacutetica tecircm

um certo domiacutenio na planificaccedilatildeo das suas aulas uma vez que os seus planos apresentavam-se bem

estruturados e com quase todos os materiais didaacutecticos contemplados

91

Ao longo da nossa presenccedila na escola em causa houve oportunidade de conhecer a sala onde

se encontram guardados todos os materiais didaacutecticos desde calculadoras giz reacuteguas esquadros

compassos transferidores soacutelidos geomeacutetricos ateacute alguns construiacutedos pelos proacuteprios alunos

ldquoA aprendizagem da Matemaacutetica visa desenvolver o raciociacutenio loacutegico ao operar com

conceitos e procedimentos usando meacutetodos apropriadosrdquo (INDEMINED 200743) Do estudo

feito a niacutevel do Plano Curricular do Ensino Secundaacuterio Geral (PCESG) desde o seu Contexto

Poliacutetica Geral Inovaccedilotildees no ESG Estrutura Cultural do ESG Aacutereas Curriculares do 1ordm ciclo ateacute agraves

Estrateacutegias de Implementaccedilatildeo constatou-se que no seu todo ele tem como principal desafio

formar cidadatildeos capazes de lidar com padrotildees de trabalho em mudanccedila de adaptar-se a uma

economia baseada no conhecimento e em novas tecnologias influenciando assim o reforccedilo das

conquistas atingidas nos campos poliacutetico econoacutemico e social e para a reduccedilatildeo da pobreza na

famiacutelia e na sociedade em geral Neste sentido entende-se que tanto ao niacutevel da famiacutelia como da

sociedade em geral haacute necessidade de reduzir os preconceitos tendentes ao uso da calculadora

Apresentam-se a seguir os resultados do questionaacuterio aplicado em cinco escolas secundaacuterias

da cidade e distrito de Xai-Xai sobre a percepccedilatildeo dos professores de Matemaacutetica no que respeita ao

uso de calculadoras em sala de aulas Este questionaacuterio foi respondido no iniacutecio do mecircs de

Novembro de 2016

Para tornar faacutecil a anaacutelise dos dados recolhidos no campo de pesquisa foram organizadas as

respostas e declaraccedilotildees dos inquiridos em cinco (5) quadros resumo de acordo com o nuacutemero da

questatildeo nomeadamente Quadro 1 2 3 4 e 5 para as questotildees Q4 Q5 Q6 Q7 Q8 Q9 Q10 Q11

Q12 Q13 Q14 e Q15 respectivamente E os inquiridos foram designados por P1 P2 P3 P4 P5

P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 e P13

Para as questotildees Q1 Q2 e Q3 da anaacutelise das respostas dadas pelos 13 professores de

Matemaacutetica inquiridos do ESG do 1ordm ciclo em 5 escolas da cidade e distrito de Xai-Xai Proviacutencia

de Gaza pudemos depreender que dois (2) possuem o niacutevel meacutedio um (1) bacharel e dez (10)

licenciados trabalhando com Matemaacutetica entre um (1) a trinta e seis (36) anos

92

Quadro 1 - Tem alguma formaccedilatildeo sobre TIC`s (Q4)

Resposta dada Inquiridos Nordm de inquiridos Percentagem ()

Sim P1 P2 P7 P8 P9 P11 e P12 7 538

Natildeo P3 P4 P5 P6 P10 e P13 6 462

Fonte Organizado pelo autor

O Quadro 2 mostra a situaccedilatildeo referente agrave formaccedilatildeo dos professores em TIC`s Deste quadro

podemos notar que 538 dos inquiridos tecircm a formaccedilatildeo em TIC`s contra os 462 que natildeo tecircm

Quadro 2 - Alguma vez jaacute leu ou procurou se informar sobre artigos que abordam sobre o uso da

calculadora no ensino de Matemaacutetica (Q6)

Resposta dada Inquiridos Nordm de inquiridos Percentagem ()

Sim P1 P2 P5 P10 e P12 5 385

Natildeo P3 P4 P6 P7 P8 P9 11 e P13 8 615

Fonte Organizado pelo autor

Com relaccedilatildeo agraves respostas apresentadas no quadro anterior respeitantes agrave informaccedilatildeo que os

professores tecircm sobre o uso da calculadora no ensino da Matemaacutetica atraveacutes da leitura de artigos

verifica-se que apenas 385 dos inquiridos eacute que jaacute tinham lido alguns artigos e a maioria

correspondente a 615 natildeo o tinham feito

Neste sentido e segundo os resultados apresentados entende-se que a falta de alguma

informaccedilatildeo cientiacutefica atraveacutes da leitura de textos ou artigos cientiacuteficos que versam sobre o uso das

calculadoras no ensino da Matemaacutetica provoca limitaccedilotildees da sua implementaccedilatildeo em sala de aulas

93

Quadro 3 ndash Respostas dos inquiridos nas questotildees Q7 e Q8

Questotildees Respostas dadas pelos professores inquiridos Percentagem

()

Q7 Em relaccedilatildeo ao uso da calculadora com os alunos para ensinar Matemaacutetica 7

professores dos inquiridos responderam que ldquoSimrdquo o fazem nas operaccedilotildees

matemaacuteticas com nuacutemeros complicados para determinar a soluccedilatildeo para

caacutelculos aritmeacuteticos longos e trigonometria e para estudo de estatiacutestica E os

restantes 6 dos inquiridos responderam que ldquoNatildeordquo sem comentaacuterios

exceptuando 1 dos 6 que justifica natildeo utilizar a calculadora na medida em

que o aluno precisa desenvolver competecircncias de caacutelculo mental

Sim 538

Natildeo 462

Q8 No que respeita agrave mateacuteria em que se exige o uso da calculadora 10

professores dos inquiridos responderam que o fazem em algumas (mateacuterias)

como na determinaccedilatildeo de aacutereas de figuras geomeacutetricas trigonometria

caacutelculo combinatoacuterio probabilidades e estatiacutestica e logaritmos E os

restantes 3 dos inquiridos abstiveram-se de responder

Algumas 769

Sem

resposta 231

Fonte Organizado pelo autor

Como se pode depreender a partir do quadro anterior nas questotildees 7 e 8 a maioria dos

professores fazem o uso da calculadora com os seus alunos em algumas mateacuterias conforme ilustra

o quadro aliaacutes as percentagens que rondam entre 538 e 769 datildeo a indicaccedilatildeo de que haacute

necessidade por parte dos professores de usarem a calculadora por um lado e por outro verifica-

se que haacute limitaccedilotildees no manuseamento desta visto que uma parte dos inquiridos natildeo explora esta

tecnologia nas suas aulas por que tanto o programa da 10ordf classe como o livro do aluno natildeo datildeo

nenhuma orientaccedilatildeo sobre o uso da calculadora

Quadro 4 ndash Respostas dos inquiridos nas questotildees Q11 e Q12

Questotildees Respostas dadas pelos professores inquiridos Percentagem ()

Q11 Sobre aspectos positivos do uso da calculadora nas aulas de Matemaacutetica

11 professores dos inquiridos responderam que ldquoSimrdquo existem

nomeadamente reduz os caacutelculos permitindo que o aluno tenha mais

Sim 85

94

tempo para resolver muitos exerciacutecios em pouco tempo rapidez na

determinaccedilatildeo de valores numeacutericos sobretudo no caso de nuacutemeros

irracionais flexibiliza o trabalho com caacutelculos incentiva o aluno a

explorar a aacuterea tecnoloacutegica e traz simplicidade nos caacutelculos E ainda na

mesma questatildeo 2 professores responderam que natildeo existem

Natildeo 15

Q12 No que respeita aos aspectos negativos do uso da calculadora nas aulas

de Matemaacutetica 11 professores dos inquiridos responderam que ldquoSimrdquo

existem nomeadamente quando o aluno natildeo consegue acertar caacutelculos

simples sem a calculadora cria um fracasso (preguiccedila) no aluno ao

resolver casos simples o aluno natildeo desenvolve habilidades para

resolver casos subsequentes que dependem do que aprendeu

anteriormente cria preguiccedila na forma de pensar E os restantes 2

responderam que ldquoNatildeordquo mas sem comentaacuterio

Algumas 85

Natildeo 15

Fonte Organizado pelo autor

A partir das respostas apresentadas no quadro anterior entendemos que elas evidenciam um

equiliacutebrio entre as vantagens e desvantagens do uso da calculadora nas aulas de Matemaacutetica pois

tanto em aspectos positivos como negativos nas questotildees 11 e 12 a percentagem dos inquiridos que

responderam e comentaram eacute a mesma de 85 contra 15 dos que natildeo comentaram

Assim apesar deste equiliacutebrio as respostas dos inquiridos revelam que eles tecircm sido

dominados pelas desvantagens uma vez que em nenhuma das respostas clarificam o objectivo

especiacutefico do uso da calculadora em determinados conteuacutedos de Matemaacutetica Por esta razatildeo haacute

receio na implementaccedilatildeo desta devido agrave falta de formaccedilatildeo de professores em mateacuterias ligadas ao

uso de calculadoras em salas de aulas o que contribui para o mesmo professor tornar esta

tecnologia alheia agraves aulas de Matemaacutetica

Quadro 5 ndash Respostas resumidas nos comentaacuterios dos inquiridos nas questotildees Q5 Q9 Q10 Q13

Q14 e Q15 sobre o uso da calculadora

Resposta dada Inquiridos Nordm de inquiridos Percentagem ()

Sim P1 P2 P3 P4 P5 e P11 6 46

Natildeo P6 P7 P8 P9 P10 P12 e P13 7 54

Fonte Organizado pelo autor

Quanto ao uso de calculadoras em sala de aulas 6 dos inquiridos (P1 P2 P3 P4 P5 e P11)

correspondentes a 46 apresentaram os seguintes comentaacuterios deve-se usar a calculadora somente

para os testes excepto para exames deve-se usar a calculadora simples e de acordo com o conteuacutedo

a dar mas natildeo em todas as classes (acho que podia se comeccedilar no ensino secundaacuterio porque o aluno

95

jaacute possui as bases do caacutelculo) deixar os alunos usarem a maacutequina pois facilita na obtenccedilatildeo do

resultado e racionaliza o tempo o que permite o aluno se sentir bastante motivado que se deixe o

aluno usar a calculadora sempre que necessaacuterio a Matemaacutetica eacute uma sequecircncia de conteuacutedos em

que cada um depende do anterior obrigando assim o aluno a aprender com base na calculadora as

maacutequinas calculadoras satildeo importantes no nosso dia-a-dia de caacutelculos mas eacute preciso que sejam

usadas depois de se ter desenvolvido o caacutelculo mental no aluno Contudo os outros 7 dos inquiridos

(P6 P7 P8 P9 P10 P12 e P13) correspondentes a 54 natildeo apresentaram nenhum comentaacuterio

Contudo salientar que todos foram unacircnimes em reconhecer a existecircncia e faacutecil acesso das

maacutequinas simples e cientiacuteficas

Neste contexto os comentaacuterios apresentados pelos professores inquiridos constituem mais

uma prova de que de facto eles reconhecem que as calculadoras satildeo bastante importantes no

processo de ensino e aprendizagem no caso concreto de Matemaacutetica Poreacutem prevalece o problema

referente ao seu manuseamento pois os proacuteprios professores natildeo estatildeo preparados cientificamente

em mateacuterias ligadas ao uso de calculadoras em sala de aulas E se assim continuar teremos um

professor que estaraacute sempre em choque com as tecnologias que dia poacutes dia estatildeo ganhando espaccedilo

pelo universo

4 Conclusotildees e sugestotildees

Do estudo realizado sobre as percepccedilotildees dos professores no que tange ao uso de calculadoras

em sala de aulas do ESG do 1ordm ciclo conclui-se o seguinte

Os professores natildeo fazem o uso de calculadoras em aulas de Matemaacutetica pois durante a

assistecircncia em nenhum momento o professor se preocupou em orientar o uso da calculadora

limitando-se apenas a usar frequentemente materiais didaacutecticos como quadro verde e giz e

livro do aluno

Haacute uma vontade clara por parte dos professores em usar a calculadora no ensino da

Matemaacutetica segundo as respostas dadas pela maioria dos inquiridos (acima de 60)

afirmando que esta facilita simplifica e impulsiona uma aprendizagem significativa dos

alunos Poreacutem na praacutetica o cenaacuterio eacute outro pois haacute receio no uso desta devido a

preconceitos excessivos dos professores que se ilustram pelas afirmaccedilotildees como a

calculadora cria preguiccedila mental ao aluno assim como a dependecircncia mesmo em caacutelculos

simples ou seja a calculadora retarda o desenvolvimento da capacidade mental

96

Os professores tecircm conhecimento da importacircncia de calculadoras em sala de aulas mas natildeo

fazem o seu uso conforme as expectativas porque natildeo tecircm bases da sua implementaccedilatildeo

limitando-se assim a usaacute-las de forma empiacuterica

Nos documentos como PCESG do 1ordm Ciclo e Livro do aluno natildeo aparece nenhuma

orientaccedilatildeo sobre o uso de calculadoras em sala de aulas

Sugestotildees

Com o triunfo e surgimento das novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tanto alunos

como professores deveratildeo se sentir obrigados a acompanhar essa evoluccedilatildeo e apostar num trabalho

que vise promover acccedilotildees de formaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo em mateacuterias concretamente ligadas ao uso de

calculadoras nas aulas de Matemaacutetica

Para futuras pesquisas sugerimos um debate com os professores a respeito do uso das

calculadoras em salas de aulas visto que este trabalho pode abrir um espaccedilo para dar seguimento

das investigaccedilotildees Contudo muitas questotildees se levantaram por exemplo Quando usar a

calculadora Como usar a calculadora Onde usar a calculadora Porquecirc usar a calculadora

Uma alteraccedilatildeo nos cursos de formaccedilatildeo dos professores com vista a equipaacute-los de capacidades

cientiacuteficas ajustadas ao uso das calculadoras em particular e das tecnologias em geral em salas de

aulas poderia ser uma oportunidade para que o professor de Matemaacutetica possa buscar coerecircncia

entre a actividade e os objectivos educacionais que pretende atingir com seus alunos

Referecircncias bibliograacuteficas

DEIXA Geraldo Vernijo O Uso de Calculadoras nas Aulas de Matemaacutetica no Ensino Primaacuterio

Concepccedilotildees de Professores em exerciacutecio e em formaccedilatildeo Proviacutencia da Zambeacutezia Maputo

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MOURA Rui Aprendizagem Transformativa Uma Abordagem ao Conceito Lisboa Ed UL

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MOURA Andrea de A Educaccedilatildeo Matemaacutetica Retrospectivas e Perspectivas Contribuiccedilotildees da

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Guaratinguetaacute UNESP 2011

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Ensino Fundamental PUCPR 2005

SANTOS Adriano C Centro de Ensino e pesquisa Aplicada agrave Educaccedilatildeo Plano de Ensino de

Matemaacutetica 7ordm Ano 2014

98

Reflexatildeo sobre o sistema de progressatildeo por ciclos de aprendizagem

Yavalane Sergio Parruque23

Resumo

O presente trabalho com o tema ldquoReflexatildeo sobre o sistema de progressatildeo por ciclos de aprendizagemrdquo

visa conduzir a uma reflexatildeo dos professores e da sociedade moccedilambicana sobre a implementaccedilatildeo da

progressatildeo por ciclos de aprendizagem introduzidas no paiacutes e a sua relaccedilatildeo com o modelo por

competecircncias Em vaacuterios paiacuteses os ciclos de aprendizagem tecircm sido implementados com o objectivo de

reduzir ou eliminar o grande nuacutemero de reprovaccedilotildees que tem-se verificado nas escolas Entretanto a

progressatildeo por ciclos de aprendizagem tem sido um assunto poleacutemico no contexto de ensino primaacuterio em

Moccedilambique por natildeo permitir a reprovaccedilatildeo do aluno ao longo do ciclo e por isso serem justificadas as

lacunas que os alunos apresentam no desenvolvimento das competecircncias prescritas nos programas de

ensino Para a compreensatildeo deste fenoacutemeno desenvolveu-se um estudo qualitativo baseado na revisatildeo de

literatura e na anaacutelise de documentos Com a informaccedilatildeo recolhida foi possiacutevel perceber que a falta de

preparaccedilatildeo dos professores em mateacuteria da avaliaccedilatildeo formativa o uso abusivo da avaliaccedilatildeo sumativa e a

falta de registo das competecircncias dos alunos satildeo entre outros factores que caracterizam a maacute gestatildeo dos

ciclos de aprendizagem

Palavrasexpressotildees-chave Gestatildeo Progressatildeo por Ciclos de Aprendizagem

Abstract

This present work titled ldquoReflection on learning cycles system progressionrdquo am to conduct a reflection to

Mozambican teachers and the society about the implementation of learning cycles progression introduced

in the country and its relation with the competence model

In various countries learning cycles have been implemented with the objective to reduce or eliminate high

number of failures that are being seen in the schools However learning cycles progression have been seen

as a polemic subject in the context of primary education in Mozambique by not permitting students

failures along the cycle and that is being justified the gaps that the students present in the development

of prescribed competences in the education programs

To comprehend this phenomenon it was developed a qualitative study based in literature revision and

document analysis With the collected data it was possible to perceive that the lack of teachers preparation

in formative assessment abusive use of summative assessment and the lack of the students competences

registration are among other factors that characterize the bad management of learning cycles

Key wordsexpression management learning cycles progression

Introduccedilatildeo

Em vaacuterios paiacuteses do mundo tecircm-se verificado elevados iacutendices de reprovaccedilatildeo o que

conduziu a procura de soluccedilatildeo para mudar-se este cenaacuterio A busca de uma soluccedilatildeo para um

sistema de ensino fustigado pelas reprovaccedilotildees paiacuteses lusoacutefonos e francoacutefonos inclusive

Moccedilambique implementaram a promoccedilatildeo automaacutetica que reduziu as reprovaccedilotildees no Ensino

Baacutesico organizando o ensino por ciclos (Duarte et al 2012)

23 Mestre em Desenvolvimento Curricular e Instrucional pela UEM (2013-2016) e Licenciado em Ensino de Ingles

pela UEM (2001-2005) Docente de Inglecircs na Escola Comunitaacuteria Santo Antoacutenio da Malhangalene desde 2003 e

colaborador na aacuterea de docecircncia no Instituto de Ciecircncias de Sauacutede (ISCISA) em Maputo na cadeira de Inglecircs desde

2010

99

Em Moccedilambique o relatoacuterio de Desenvolvimento Humano do ano 2000 colocou a

necessidade de o paiacutes adoptar a promoccedilatildeo automaacutetica ou a avaliaccedilatildeo por ciclos de aprendizagem

(Duarte et al 20122) O Regulamento Geral do Ensino Baacutesico (REGEB) 2008 preconiza que a

progressatildeo seja por ciclos de aprendizagem e dentro de cada ciclo a progressatildeo seja automaacutetica

A progressatildeo por ciclos de aprendizagem significa transitar de um ciclo de aprendizagem para o

outro e passagens automaacuteticas a transiccedilatildeo do aluno de uma classe para outra dentro do ciclo

(INDE 2003) 24

Apos vaacuterias transformaccedilotildees curriculares em 2004 eacute introduzido um novo curriacuteculo para o

Ensino Baacutesico (EB) em Moccedilambique cujo desafio eacute melhorar a qualidade elevando o acesso e

equidade do geacutenero com vista a assegurar a universalizaccedilatildeo da escolaridade baacutesica gratuita de

07 classes ateacute 2015 (Duarte et al 2012)

Problema

A progressatildeo por ciclos de aprendizagem tem sido um assunto poleacutemico no contexto de

ensino primaacuterio em Moccedilambique por natildeo permitir a reprovaccedilatildeo do aluno ao longo do ciclo

mesmo os alunos natildeo possuindo o domiacutenio das competecircncias exigidas para cada ciclo Por isso

a questatildeo que se levanta eacute porquecirc os alunos progridem de um ciclo para o outro sem revelarem

as competecircncias exigidas em cada ciclo

Objectivo da pesquisa

Reflectir sobre a poleacutemica da progressatildeo por ciclos de aprendizagem no Ensino Baacutesico em

Moccedilambique e suas consequecircncias aos niacuteveis subsequentes

Perguntas de pesquisa

I Seraacute que os intervenientes principais deste processo (alunos e professores) estatildeo

esclarecidos sobre a filosofia da progressatildeo por ciclos de aprendizagem

II Seraacute que os professores praticam a avaliaccedilatildeo que acompanha as aprendizagens dos

alunos

III O que estaacute sendo feito para que os alunos passem com o domiacutenio das competecircncias

exigidas para cada ciclo

24 Citado por Nhantumbo (2009)

100

Este artigo estaacute dividido em trecircs partes A primeira discute a questatildeo da reprovaccedilatildeo no

contexto internacional e nacional no Ensino Baacutesico mostrando as suas desvantagens A segunda

parte retrata a questatildeo da introduccedilatildeo da progressatildeo por ciclos de aprendizagem em Moccedilambique

e a aprovaccedilatildeo dos alunos sem o domiacutenio das competecircncias exigidas para cada ciclo e a terceira

discute a implicaccedilatildeo da sua maacute gestatildeo

Metodologia

Para a compreensatildeo deste fenoacutemeno se desenvolveu um estudo qualitativo baseado na

revisatildeo de literatura e na anaacutelise de documentos A opccedilatildeo pela pesquisa de orientaccedilatildeo qualitativa

justifica-se em funccedilatildeo da crenccedila de que este tipo de investigaccedilatildeo fundamenta-se na anaacutelise

qualitativa e interpretativa como sendo a mais adequada na compreensatildeo de processos sociais

Bauer e Gaskell (2003) defendem que o aspecto quantitativo de uma investigaccedilatildeo pode

estar presente ateacute mesmo em informaccedilotildees colhidas por estudos essencialmente qualitativos natildeo

obstante o seu caraacutecter qualitativo quando satildeo transformados em dados quantificaacuteveis na

tentativa de assegurar a exatidatildeo dos resultados

Para a consecuccedilatildeo desta pesquisa recorreu-se agrave anaacutelise de documentos deste modo foram

analisados o Programa Curricular do Ensino Baacutesico (PCEB) e Regulamento Geral do Ensino

Baacutesico (REGEB) no que concerne a avaliaccedilatildeo

A revisatildeo de literatura permitiu explorar de melhor forma aspectos relativos ao novo

sistema de avaliaccedilatildeo progressatildeo por ciclos de aprendizagem e a qualidade de ensino

Fundamentaccedilatildeo teoacuterica

Avaliaccedilatildeo

O artigo 58 do REGEB considera avaliaccedilatildeo uma componente de praacutetica educativa que

permite uma recolha sistemaacutetica de informaccedilotildees que uma vez analisadas retroalimentam o

processo de ensino-aprendizagem promovendo assim a qualidade de educaccedilatildeo A avaliaccedilatildeo tem

como objectivos

I Permitir ao professor tirar conclusotildees dos resultados obtidos para o trabalho pedagoacutegico

subsequente

II Apoiar o trabalho educativo de modo a sustentar o sucesso permitindo o reajuste

curricular da escola e da turma nomeadamente quanto agrave selecccedilatildeo de metodologias e

recursos em funccedilatildeo das necessidades educativas

101

III Contribuir para a melhoria da qualidade do sistema educativo possibilitando a tomada de

decisotildees para o seu aperfeiccediloamento e promovendo a confianccedila social no seu

funcionamento

IV Certificar as diversas competecircncias adquiridas pelo aluno no final de cada ciclo e no

ensino baacutesico

Evoluccedilatildeo ou fases da avaliaccedilatildeo

A avaliaccedilatildeo da aprendizagem foi e continua sendo obejcto de anaacutelise por parte dos

pesquisadores da aacuterea da avaliaccedilatildeo educacional e teve diferentes fases As suas origens

remontam desde o iniacutecio do seacuteculo XX com o objectivo de medir mudanccedilas nos

comportamentos humanos A avaliaccedilatildeo eacute entendida como a mediccedilatildeo da diferenccedila existente entre

o modelo do professor e a reproduccedilatildeo desse modelo que o aluno consegue fazer serve para

hierarquizar os alunos e o erro natildeo constitui um ponto de referecircncia para novas aprendizagens

mas sim eacute punido atribuindo-se uma nota para qualquer tipo de apreciaccedilatildeo (Pinto e Santos

2006)

A segunda fase da avaliaccedilatildeo eacute marcada por estudos desenvolvidos por Tyler e Smith (sd)

que incluiacuteam uma diversidade de procedimentos avaliativos como testes escalas de atitude

inventaacuterios questionaacuterios fichas de registos de comportamento entre outras medidas Para

Tyler (1974) o propoacutesito da educaccedilatildeo eacute modificar o comportamento isto eacute consiste basicamente

na determinaccedilatildeo dos objectivos tradutores das mudanccedilas desejaacuteveis nos padrotildees de

comportamento do aluno que satildeo determinados no curriacuteculo

Desde o seu surgimento a avaliaccedilatildeo teve uma funccedilatildeo classificatoacuteria selectiva e de

hierarquizar os alunos a sua funccedilatildeo eacute de atribuir creacutedito agraves aprendizagens realizadas pelo aluno

no final de cada etapa formativa quando se obteacutem um diploma ou certificado sendo um criteacuterio

de selecccedilatildeo no mundo laboral

A terceira geraccedilatildeo eacute marcada pelos estudos de Scriven a avaliaccedilatildeo como juiacutezo de valores

Nesta fase haacute distinccedilatildeo da avaliaccedilatildeo sumativa e formativa Nesta geraccedilatildeo para aleacutem dos testes

escritos a avaliaccedilatildeo envolve os seus intervenientes na tomada de decisatildeo e toma em conta o

processo de ensino-aprendizagem (Duarte et al 201210)

A quarta geraccedilatildeo da avaliaccedilatildeo teve seu iniacutecio nos finais de seacuteculo XX Avaliaccedilatildeo passou

para a funccedilatildeo de acompanhamento das aprendizagens colocando o aluno como o centro das

aprendizagens e o professor como facilitador do processo de ensino-aprendizagem Nesta

102

abordagem o aluno tem espaccedilo para descobrir suas fraquezas e procurar formas de superaacute-las

adoptando novas formas de aprendizagem assim como o professor adopta novas estrateacutegias de

ensino com vista a garantir a apropriaccedilatildeo do conhecimento pelos alunos

Embora na progressatildeo por ciclos se privilegie a utilizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo formativa aquela

que ajuda o aluno na construccedilatildeo do saber ainda nota-se nas escolas do ensino baacutesico em

Moccedilambique o uso excessivo da avaliaccedilatildeo sumativa o que acaba sendo contraditoacuterio para o tipo

de avaliaccedilatildeo que se procura implementar para reduzir ou eliminar as reprovaccedilotildees em

Moccedilambique

Ciclos

No seacuteculo XX devido a um alto iacutendice de reprovaccedilotildees alguns paiacuteses introduziram no

ensino os ciclos de aprendizagem Eles se caracterizam como possibilidade de reorganizaccedilatildeo do

tempo e espaccedilo escolares respeito aos processos de aprendizagem dos alunos e eliminaccedilatildeo da

repetecircncia

O termo ciclos com o significado de natildeo retenccedilatildeo veio a ser utilizado de modo mais

recorrente na deacutecada de 1980 adquirindo posteriormente outras designaccedilotildees tais como

promoccedilatildeo automaacutetica progressatildeo continuada ciclos de formaccedilatildeo e ciclos de aprendizagem

Contudo as denominaccedilotildees natildeo podem ser consideradas como sinoacutenimos (Mainardes 2007)

Segundo Barretto e Mitrulis (1999) os ciclos surgem como forma de regularizar o fluxo

escolar buscando eliminar ou limitar a repetecircncia O objetivo eacute oferecer melhores condiccedilotildees de

ensino e ecircxito escolar dos alunos favorecendo assim o exerciacutecio da plena cidadania

Os ciclos de aprendizagem procuram romper com o regime normal que tem em sua origem

uma loacutegica de reprovaccedilatildeo e exclusatildeo Essa loacutegica eacute uma construccedilatildeo histoacuterica e produz enormes

taxas de reprovaccedilatildeo sem viabilizar o desempenho acadecircmico dos alunos Esse fracasso se revela

atraveacutes do modo como o professor avalia aos seus alunos privilegiando a forma classificatoacuteria

verificando se eles dominam habilidades e conteuacutedos atraveacutes de provas testes trabalhos Essa

forma de avaliar tem sido contestada pois daacute primazia apenas ao produto e natildeo ao processo de

aprendizagem (Freitas 2003)

A discussatildeo trazida por Barretto e Mitrulis (1999) Freitas (2003) e Mainardes (2007)

sobre os ciclos de aprendizagem mostra a necessidade de uma mudanccedila no sistema de avaliaccedilatildeo

rompendo o regime de reprovaccedilotildees avaliaccedilatildeo classificativa para uma abordagem centrada no

aluno que assenta na avaliaccedilatildeo formativa

103

Por isso em Moccedilambique para se reduzir ou eliminar o maior iacutendice de reprovaccedilatildeo foi

introduzido em 2004 um novo curriacuteculo que entre vaacuterias mudanccedilas introduzidas inclui-se a

progressatildeo por ciclos de aprendizagem aliada a progressatildeo semi-automaacutetica

O curriacuteculo de Ensino Baacutesico (EB) eacute organizado em dois graus o Ensino Primaacuterio do 1ordm

grau (EP1) e o Ensino Primaacuterio do 2ordm grau (EP2) O EP1 eacute constituiacutedo por dois ciclos o 1ordm ciclo

que corresponde a 1ordf e 2ordf classes e o 2ordm ciclo que corresponde a 3ordf 4ordf e 5ordfclasses O EP2 eacute

constituiacutedo por 3ordm ciclo que correspondem a 6ordf e 7ordf classes

Segundo o INDEMINED (2008) os principais objectivos dos trecircs ciclos do ensino

primaacuterio satildeo

O 1ordm ciclo tem como objectivo desenvolver habilidades e competecircncias de leitura e escrita

contagem de nuacutemeros e realizaccedilatildeo das operaccedilotildees baacutesicas somar subtrair multiplicar e dividir

observar e estimar distacircncia medir comprimentos noccedilotildees de higiene pessoal de relaccedilatildeo com as

outras pessoas consigo proacuteprio e com o meio

O 2ordm ciclo tem como objectivo aprofundar os conhecimentos e habilidades desenvolvidas

no primeiro ciclo e introduzir novas aprendizagens relativas as Ciecircncias Sociais e Naturais e

tambeacutem levar o aluno a calcular superfiacutecies e volumes

O 3ordm ciclo tem como objectivo consolidar e ampliar os conhecimentos habilidades

adquiridas nos ciclos anteriores preparar o aluno para a continuaccedilatildeo dos estudos eou para a

vida

Neste sistema de avaliaccedilatildeo pressupotildeem-se que haja a criaccedilatildeo de condiccedilotildees de

aprendizagem de modo a que os alunos alcancem os objectivos miacutenimos de aprendizagem de um

determinado ciclo para que possam progredir para os outros ciclos Por isso a avaliaccedilatildeo

predominante eacute formativa ela faz o acompanhamento do aluno de modo a superar as suas

fraquezas as actividades de aprendizagem centram-se no aluno e esta avaliaccedilatildeo procura aferir

o desempenho fiaacutevel em termos de competecircncias descritas no curriacuteculo para cada ciclo Eacute com

base nos resultados dela que se identificam as actividades de reforccedilo e de recuperaccedilatildeo dos

alunos com dificuldades de aprendizagem

A avaliaccedilatildeo formativa na visatildeo de Hadji (2001) tem a funccedilatildeo de informar ao professor

sobre a sua acccedilatildeo pedagoacutegica e ao aluno sobre o seu ponto de situaccedilatildeo no processo de ensino-

aprendizagem dando ecircnfase sobre os seus ecircxitos e dificuldades

Como se pode depreender esta avaliaccedilatildeo ajuda ao professor a avaliar o niacutevel de

aprendizagem os seus meacutetodos e a adequar as suas estrateacutegias quando necessaacuterio e tambeacutem ao

aluno traz informaccedilatildeo vaacutelida informa-se sobre os seus erros para os poder corrigir Knoblauch

104

(2004) explica que a avaliaccedilatildeo formativa estaacute integrada no processo de ensino e facilita a

aprendizagem do aluno

Tanto Haidji (2001) assim como Knoblauch (2004) concordam que a avaliaccedilatildeo formativa

natildeo tem a funccedilatildeo de medir e classificar entretanto de fornecer o feedback aos seus

intervenientes de modo a conduzi-los a uma aprendizagem efectiva

Embora o discurso centra-se na utilizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo formativa nas salas de aulas em

Moccedilambique

prevalece nas praacuteticas educativas uma avaliaccedilatildeo sumativa que procura

classificar o aluno verificar a sua posiccedilatildeo no conjunto dos alunos reprovaacute-lo

ou aprovaacute-lo dando-se pouca ecircnfase agrave avaliaccedilatildeo como forma de ajudar o aluno

a superar as suas dificuldades e ajudaacute-lo a melhorar o seu desempenho (Duarte

et al 2012)

Na eacutepoca contemporacircnea estudos desenvolvidos internacionalmente assim como

nacionalmente mostram-se a favor de uma avaliaccedilatildeo que natildeo seja classificatoacuteria e que procure

eliminar a reprovaccedilatildeo Por exemplo internacionalmente um estudo efectuado por Almeida

Junior (1957) explica que a reprovaccedilatildeo acarreta problemas como a evasatildeo escolar desperdiacutecio

de recursos financeiros e a estagnaccedilatildeo de alunos reprovados nas seacuteries iniciais do curso primaacuterio

e que eles envelhecem ocupando o lugar das novas geraccedilotildees

Um outro estudo levado a cabo por Perrenoud (2004) considera que reprovar o aluno duas

ou mais vezes durante a sua escolaridade natildeo eacute soluccedilatildeo pois a reprovaccedilatildeo natildeo cria

homogeneidade das turmas afecta a auto-imagem do aluno e o seu valor aos olhos dos outros o

seu atraso escolar torna-se uma deficiecircncia no momento de qualquer decisatildeo posterior a

reprovaccedilatildeo natildeo somente eacute inuacutetil mas tambeacutem injusta

A niacutevel nacional Gomez (2010) Dias (2009) Duarte et al (2012) e INDEMINED (2008)

explicam nos seus estudos que a reprovaccedilatildeo retarda e afecta o aluno no seu rendimento escolar

e consequentemente na sua auto-estima como se testemunha a seguir

Os alunos repetentes tecircm tendecircncia a ter um rendimento baixo

relativamente aos natildeo repetentes Isto pode significar que em alguns

casos a repetecircncia natildeo melhora significativamente a qualidade de

ensino-aprendizagem pelo contraacuterio pode provocar bloqueios nos

alunos quer porque a sua faixa etaacuteria natildeo condiz com os colegas da

turma criando complexos de inferioridade inibiccedilotildees e ateacute bloqueios

cognitivos quer porque eventualmente foi lhe impedida uma

progressatildeo Note que eacute necessaacuterio ter em conta que os ritmos de

aprendizagem e desenvolvimento satildeo variaacuteveis de pessoa para pessoa e

isto tambeacutem se pode aplicar ao niacutevel da escola principalmente nos

primeiros anos de escolaridade (INDEMINED 2008)

105

A citaccedilatildeo em epiacutegrafe faz-nos perceber que a reprovaccedilatildeo traz no sistema uma seacuterie de

desvantagens no caso concreto de Moccedilambique para aleacutem de trazer descompassos no ritmo de

aprendizagem ela tira o aluno do sistema e consequentemente o marginaliza Contudo

Perrenoud (2004) explica que o desaparecimento da reprovaccedilatildeo natildeo basta para eliminar o

fracasso escolar Deve se buscar outras respostas para a questatildeo da heterogeneidade nas salas de

aulas Na opiniatildeo do autor na busca de uma homogeneidade sem acompanhamento acaba-se

conduzindo os alunos a natildeo aprendizagem efectiva

Em Moccedilambique eliminou-se a reprovaccedilatildeo poreacutem os alunos chegam no fim de cada ciclo

sem apresentarem o desenvolvimento das competecircncias prescritas nos programas de ensino

Uma das razotildees eacute que

a escola na perspectiva de individualizar o ensino atender aos ritmos de

aprendizagem de cada aluno acaba criando situaccedilotildees de desigualdade na sala

de aula ou seja haacute alunos que progredindo automaticamente chegam a uma

fase em que a classe em que estatildeo natildeo corresponde aquilo que satildeo os seus

saberes (Duarte et al 2012)

O Plano Curricular do Ensino Baacutesico-PCEB (200829) apresenta as seguintes condiccedilotildees

para que se cumpram os objectivos esperados sobre ciclos de aprendizagem

Preparaccedilatildeo dos professores em mateacuterias de avaliaccedilatildeo o que poderaacute ser realizado atraveacutes

da formaccedilatildeo inicial e em exerciacutecio

Disponibilidade de cadernos de exerciacutecios que reflictam as competecircncias miacutenimas que os

alunos devem desenvolver em cada estaacutegio de aprendizagem

Disponibilizaccedilatildeo pelo MINED de instrumentoc de recolha de informaccedilatildeo (qualitativa e

quantitativa) sobre o desempenho do aluno (hellip)

Contudo estudos desenvolvidos por Dias (2008) revelam que o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

natildeo criou condiccedilotildees para que tal acontecesse e os implementadores os professores natildeo

entendem em que consiste a avaliaccedilatildeo formativa

A minha questatildeo eacute como desenvolver as competecircncias prescritas nos programas

curriculares sem acompanhamento do aluno e adequaccedilatildeo das estrateacutegias ou por outra sem

aplicaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo formativa Esta situaccedilatildeo mostra que enquanto os executores (professores

directores e inspectores) natildeo estiverem familiarizados com este tipo de avaliaccedilatildeo e convencidos

da sua necessidade a promoccedilatildeo automaacutetica estaraacute destinada a completo fracasso (Leite 1959)

Dias (2009291) explica que em Moccedilambique

ao tentar resolver o problema das repetecircncias criando ciclos de

aprendizagem apenas se escamoteou o problema Jaacute natildeo temos

106

repetentes as estatiacutesticas satildeo todas bonitas os alunos todos aprovados

temos dados quantitativos para mostrar a eficiecircncia a eficaacutecia e a

ldquoqualidaderdquo do sistema educacional e continuamos cinicamente

mantendo um sistema de avaliaccedilatildeo distorcido e que estaacute a ser desastroso

Como interpretar esta triste realidade que oculta o real desempenho do aluno Isto por um

lado acontece por que os professores natildeo estatildeo preparados para aplicar a avaliaccedilatildeo formativa

por outro por que ldquo as direcccedilotildees das escolas entendem que devem apresentar altos iacutendices de

aprovaccedilatildeo porque essa seria uma exigecircncia vinda de cimardquo(Gomez 2010 256)

A falta de conhecimento sobre o que os professores devem fazer nos ciclos de

aprendizagem faz com que eles escondam o resultado do seu trabalho nas estatiacutesticas ldquobonitasrdquo

que natildeo revelam o real desempenho dos alunos

Com os problemas aqui arrolados pode-se inferir que os ciclos de aprendizagem em

Moccedilambique ainda natildeo estatildeo a assumir a funccedilatildeo pela qual foram adoptados que seria de os

alunos progredirem para etapas subsequentes com as competecircncias desses ciclos bem

consolidadas Por isso na tese 2 de Perrenoud (200441) sobre os ciclos de aprendizagem o

autor defende que ldquo um ciclo de aprendizagem soacute pode funcionar se os objectivos de formaccedilatildeo

visados no fim do percurso forem claramente definidos Eles constituem o controlo de base para

os professores alunos e paisrdquo

Implicaccedilatildeo da maacute gestatildeo de progressatildeo por ciclos de aprendizagem associada a

promoccedilatildeo semi-automaacutetica

As mudanccedilas no sistema educacional sempre foram acompanhadas pela aceitaccedilatildeo assim

como pela resistecircncia dos seus intervenientes Garcia (2001) afirma que os professores

consideram que no sistema normal era possiacutevel obter resultados mais eficazes do que com o

sistema de ciclos de aprendizagem

Para Gloria (2002) uma das implicaccedilotildees deste sistema de aprendizagem eacute que a escola natildeo

tem cumprido o papel que para eles eacute fundamental a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho

Essa consequecircncia eacute atribuiacuteda agrave proposta de natildeo retenccedilatildeo escolar que tem aprovado os seus

filhos sem que eles dominem o miacutenimo exigido por esse mercado

A implantaccedilatildeo dos ciclos eacute complexa uma vez que traz implicaccedilotildees para o curriacuteculo a

avaliaccedilatildeo as metodologias a organizaccedilatildeo e a gestatildeo da escola Pressupotildee uma formaccedilatildeo

contiacutenua dos professores Trata-se de uma mudanccedila na estrutura do sistema de escolarizaccedilatildeo que

traz implicaccedilotildees para o trabalho docente organizaccedilatildeo da escola relaccedilatildeo escola-comunidade e

que demanda investimento de natureza diversa algo que eacute atendido de forma variada e algumas

107

vezes de forma descontiacutenua nos diferentes contextos nos quais os ciclos satildeo implantados

(Mainardes amp Stremed 2012)

Estes autores afirmam que a implantaccedilatildeo de ciclos traz diversos desafios para os

professores sendo primeiro a necessidade de conhecer o projecto de ciclos proposto para as

escolas o significado desta politica e as implicaccedilotildees dessa politica para o seu trabalho e o

segundo desafio diz respeito agraves implicaccedilotildees pedagoacutegicas dos ciclos uma vez que a sua

implantaccedilatildeo pressupotildee uma alteraccedilatildeo significativa nos processos de avaliaccedilatildeo e

desenvolvimento curricular que eram usados pelos professores no regime anterior

Segundo Franco (2001) entre as implicaccedilotildees positivas da organizaccedilatildeo por ciclos destacam-

se as seguintes

i Cria a necessidade de se repensar o sentido da escola das praacuteticas avaliativas dos

conteuacutedos curriculares do trabalho pedagoacutegico e da organizaccedilatildeo escolar

ii Agiliza o fluxo de um maior nuacutemero de alunos contribuindo para a diminuiccedilatildeo do

desperdiacutecio de recursos financeiros

iii Descongestiona o sistema possibilitando o acesso agrave populaccedilatildeo escolarizaacutevel que se

encontra fora da escola

iv Garante aos alunos maior permanecircncia na escola elevando assim as meacutedias de

escolaridade em termos de anos de estudo

v Exige a destinaccedilatildeo de maiores recursos para a educaccedilatildeo a fim de garantir as

condiccedilotildees adequadas

vi Implica em mudanccedilas nas concepccedilotildees e praacuteticas pedagoacutegicas

vii Implica igualmente numa mudanccedila de atitudes dos pais que deixariam de se

preocupar apenas com aprovaccedilatildeo passando a se interessarem tambeacutem pelo

conhecimento que os seus filhos estariam adquirindo na escola bem como pela

necessidade de assumir a responsabilidade da frequecircncia agrave escola no periacuteodo

regular e nos periacuteodos destinados ao reforccedilo ou recuperaccedilatildeo

E entre as possiacuteveis implicaccedilotildees negativas menciona

i Pode ser implantada apenas como soluccedilatildeo formal para as taxas de reprovaccedilatildeo ou

para atender interesses economicistas sem preocupaccedilatildeo com a elevaccedilatildeo da

qualidade de ensino e socializaccedilatildeo efectiva do conhecimento

ii A ausecircncia de trabalho colectivo na escola e a falta de estrateacutegias de projecto

pedagoacutegicos consistentes podem inviabilizar a efectivaccedilatildeo de tais medidas ou

108

ainda estimular a criaccedilatildeo de praacuteticas que visem a moldar as novas orientaccedilotildees agraves

praacuteticas anteriores

Em Moccedilambique a implementaccedilatildeo dos ciclos de aprendizagem implica em primeiro

lugar informar os seus intervenientes sobre este projecto para que eles estejam familiarizados

preparar os professores para a sua implementaccedilatildeo criar condiccedilotildees para capacitaccedilotildees contiacutenuas

de modo a revitalizar o conhecimento destes sobre os ciclos de aprendizagem e mostrar para a

sociedade em geral que embora se procure por um sistema que crie homogeneidade dos alunos

natildeo significa progredir para ciclos subsequentes sem mostrar o domiacutenio das competecircncias

prescritas para cada ciclo

A inquietaccedilatildeo que atormenta ao pesquisador eacute que jaacute passam 13 anos apoacutes a

implementaccedilatildeo das progressotildees por ciclos de aprendizagem no paiacutes mesmo assim entretanto

na medida em que o tempo passa nota-se que haacute transferecircncia deste problema de um niacutevel para o

outro do Ensino Baacutesico para o Ensino Secundaacuterio e os mesmos alunos daqui haacute alguns anos

seratildeo clientes das universidades com particular destaque para Universidade Pedagoacutegiga e

Universidade Eduardo Mondlane A questatildeo que se levanta eacute seraacute que as universidades sendo

instituiccedilotildees de pesquisa estatildeo preparadas para levar a cabo acccedilotildees de modo a inverter este

cenaacuterio

Conclusatildeo

Este trabalho reflectiu sobre as progressotildees por ciclos de aprendizagem e as implicaccedilotildees

da sua maacute gestatildeo no Ensino Baacutesico em Moccedilambique As progressotildees por ciclos de

aprendizagem satildeo vistas internacionalmente assim como nacionalmente como uma forma de

reduzir ou eliminar as reprovaccedilotildees Embora se pretenda eliminar as reprovaccedilotildees a implantaccedilatildeo

deste sistema tem gerado poleacutemica no contexto de ensino primaacuterio em Moccedilambique por natildeo

permitir a reprovaccedilatildeo do aluno ao longo do ciclo mesmo natildeo demostrando o domiacutenio das

competecircncias prescritas para cada ciclo Em Moccedilambique estudos desenvolvidos por Dias

(2009) revelam que jaacute natildeo haacute reprovaccedilatildeo as estatiacutesticas satildeo bonitas contudo a qualidade do

sistema educacional eacute desastrosa

Entretanto vaacuterios factores concorrem para esses resultados poleacutemicos (i) a falta de

preparaccedilatildeo dos professores em mateacuteria de avaliaccedilatildeo inicial e em exerciacutecio (ii) gestatildeo escolar

efectiva (iii) disponibilizaccedilatildeo de material como cadernos de exerciacutecios que reflictam as

109

competecircncias miacutenimas que os alunos devem desenvolver em cada estaacutegio de aprendizagem

entre outros Todos estes factores conduzem as implicaccedilotildees negativas como a falsificaccedilatildeo das

estatiacutesticas pois elas satildeo positivas enquanto a qualidade do ensino eacute baixa o desinteresse por

parte do aluno por saber que no fim do ciclo iraacute progredir e a revindicaccedilatildeo da sociedade por se

graduar alunos que natildeo servem para as exigecircncias do mercado de emprego e a transferecircncia

deste problema de um niacutevel para o outro Portanto exige-se uma reflexatildeo raacutepida especialmente

para as universidades como instituiccedilotildees de pesquisa para a soluccedilatildeo deste problema que

recentemente enferma quase todo o sistema de ensino em Moccedilambique

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111

Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior atribuiccedilotildees causais dos conflitos estudante-

docente na Universidade Pedagoacutegica

Faque Tuair Chare25

Resumo

O comportamento de oposiccedilatildeo entre estudantes e docentes eacute uma realidade na Universidade Pedagoacutegica

manifestando-se por rivalidades acusaccedilotildees muacutetuas e queixas frequentes aos vaacuterios niacuteveis de gestatildeo da

instituiccedilatildeo Assim este artigo visou compreender na perspectiva de estudantes na Delegaccedilatildeo de

Nampula os factores que propiciam a ocorrecircncia dos conflitos entre eles e seus docentes no processo de

avaliaccedilatildeo da aprendizagem Para o efeito usamos entrevistas colectivas em quatro turmas do curso de

Psicologia Educacional antecedidas de revisatildeo literatura e documental Eacute de realccedilar que tratou-se de uma

pesquisa explanatoacuteria uma versatildeo das pesquisas qualitativas e pesquisa de campo para a recolha de

dados A anaacutelise de conteuacutedo serviu-nos para compreender as intervenccedilotildees dos estudantes e as leituras

que fizemos e tambeacutem para a estruturaccedilatildeo do texto Os resultados indicam uma diversidade e confluecircncia

de factores no comportamento conflituoso tais como a corrupccedilatildeo desconhecimento eou incumprimento

de regulamentos da instituiccedilatildeo e subjectividade dos procedimentos de avaliaccedilatildeo Assim propomos que

continuem os trabalhos de divulgaccedilatildeo dos regulamentos de avaliaccedilatildeo supervisatildeo das aulas e sobretudo

das avaliaccedilotildees e sensibilize-se ao docente em relaccedilatildeo ao seu perfil docente como modelo no processo de

ensino e aprendizagem

Palavras-chave Atribuiccedilotildees causais Avaliaccedilatildeo Conflitos Ensino Superior Percepccedilatildeo

Abstract

The behaviour of opposition between students and teachers is a reality in the Pedagogical University

manifesting itself by rivalries mutual accusations and frequent complaints to various levels of

management of the institution So this article aimed to understand the perspective of students in

Nampula Delegation the factors that promote the occurrence of conflicts between them and their teachers

in the process of learning evaluation For that purpose we use collective interviews in four classes of

Educational Psychology course preceded for literature and documentary review It should be noted that

this was an explanatory research a version of the qualitative research and field research for the collection

of data The analysis of content served us to understand both the students speeches and readings that we

did and the structuring of the text The results indicate a diversity and confluence of factors in the

conflictual behaviour such as corruption ignorance andor non-compliance with regulations of the

institution subjectivity of the evaluation procedures We therefore propose to continue the work of

disseminating the assessment regulations supervision of classes and above all the evaluations and raises

awareness to teachers in relation to teaching profile as models in the process of teaching and learning

Keywords Causal attributions Conflicts Assessment Higher education Perception

25 Docente da UP - Nampula Doutorando em Psicologia Educacional na Universidade Pedagoacutegica ndash Maputo

(faquetuairyahoocombr)

112

Introduccedilatildeo

Uma das caracteriacutesticas do ensino eacute a interacccedilatildeo entre os alunos e os professores Esta

interacccedilatildeo supotildee-se que seja agradaacutevel No entanto em algumas vezes verificam-se cenaacuterios

contraditoacuterios isto eacute surgem conflitos entre os principais intervenientes sendo uma das razotildees o

processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem

De facto se definirmos o conflito como o ldquoprocesso que se inicia quando um indiviacuteduo ou

um grupo se sente negativamente afectado por outra pessoa ou grupordquo (De Dreu 1997) apud

CUNHA et al (2004) a avaliaccedilatildeo da aprendizagem parece ter passado a centro de conflitos entre

estudantes e docentes na Universidade Pedagoacutegica (UP) Delegaccedilatildeo de Nampula Os estudantes

tendem a natildeo reconhecer os seus resultados principalmente quando esses satildeo negativos A partir

daiacute assiste-se a constantes pedidos de recorrecccedilotildees dos exames acusaccedilotildees rivalidades cartas

com abaixo-assinados denuacutencias de corrupccedilatildeo nas Miacutedias perseguiccedilotildees em ambientes fora da

instituiccedilatildeo e de queixas aos gestores dos cursos e departamentos como se significasse existecircncia

de docentes injustos Agraves vezes parece uma instrumentalizaccedilatildeo de outros docentes colegas da aacuterea

a qual os estudantes encontram os resultados negativos Aliaacutes parece estar na moda que todos os

estudantes tenham um ldquopadrinhordquo ele pode ser um marido esposa irmatildeo vizinho entre outras

relaccedilotildees que facilitam pedidos e consequente passagem nas disciplinas

Em virtude do disso jaacute existem roacutetulos de professores que reprovam e dos que passam e

ateacute dos que satildeo corruptos como escreveu a Associaccedilatildeo dos estudantes desta instituiccedilatildeo na

mensagem da abertura do Ano Acadeacutemico de 2014

Eacute digno de nota que natildeo obstante aos conflitos o trabalho que se tem feito no iniacutecio dos

anos acadeacutemicos como estrateacutegia preventiva em docentes e estudantes tem sido de divulgaccedilatildeo

dos planos curriculares e do regulamento acadeacutemico da instituiccedilatildeo que incluem o proacuteprio

processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem

Entretanto os conflitos tendem a aumentar e tendo em conta que o conflito precisa ser

percebido pelas partes envolvidas isto eacute a existecircncia ou natildeo do conflito eacute uma questatildeo de

percepccedilatildeo (ROBBINS 2009 190) procuramos saber na percepccedilatildeo dos estudantes que factores

susceptibilizam a ocorrecircncia desses no processo de avaliaccedilatildeo

Nesta pespectiva em que colocamos a questatildeo o artigo procurou compreender na

perspectiva de estudantes os factores que propiciam a ocorrecircncia de conflitos entre eles e seus

docentes no processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem Para o alcance desse objectivo

enquadramos os estudantes dentro da problemaacutetica vivida em seguida exploramos as suas

113

atribuiccedilotildees causais ao fenoacutemeno e por meio das causas evocadas propusemos agrave instituiccedilatildeo

algumas estrateacutegias para minimizar a situaccedilatildeo

Eacute uma temaacutetica digna de abordar visto que a UP tem sido motivo de debates em torno da

sua qualidade e em particular pela conduta dos seus docentes Aliaacutes a educaccedilatildeo superior nas

palavras de SORDI (2005 125) deve ser de qualidade sempre a qualidade natildeo eacute uma condiccedilatildeo

que seja facultativa agraves instituiccedilotildees de ensino E tambeacutem poderaacute servir para evitar que entremos

no perigo de a avaliaccedilatildeo ser utilizada de forma tendenciosa onde segundo Cavalieri (2004)

apud MARTINS (2010 34) existe o risco de manipulaccedilotildees por parte dos professores

coordenadores de dados de avaliaccedilatildeo dos seus pares e outros professores no jogo de poder e

rivalidades na instituiccedilatildeo Ou por outra tambeacutem estaremos a acautelar riscos de possiacuteveis

retaliaccedilotildees dos proacuteprios estudantes intimidando os professores a darem as notas que lhes

convecircm

Pelas razotildees descritas enveredamos por uma pesquisa qualitativa e explanatoacuteria ou

explicativa cujo trabalho de campo usou a entrevista como principal procedimento de recolha de

dados Outrossim recorremos agrave pesquisa bibliograacutefica e documental como auxiliares e agrave anaacutelise

de conteuacutedo para compreensatildeo das intervenccedilotildees dos sujeitos da pesquisa das leituras que

fizemos e tambeacutem para a organizaccedilatildeo do texto

Avaliaccedilatildeo de aprendizagem no Ensino Superior

O conceito de avaliaccedilatildeo eacute polisseacutemico provavelmente seja por isso que as suas praacuteticas

tambeacutem sejam variadas Eacute nessa loacutegica que apresentamos nesta etapa as vaacuterias concepccedilotildees e

praacuteticas e relacionamo-las com as da instituiccedilatildeo que elegemos para este estudo

Para Kraemer (2006) citado por OLIVEIRA APARECIDA e SOUZA (sd 2384)

avaliaccedilatildeo vem do latim e significa valor ou meacuterito ao objecto em pesquisa junccedilatildeo do acto de

avaliar ao de medir os conhecimentos adquiridos pelo indiviacuteduo Os autores consideram um

instrumento valioso e indispensaacutevel no sistema escolar podendo descrever os conhecimentos

atitudes ou aptidotildees das quais os alunos se apropriaram A avaliaccedilatildeo nesse sentido revela os

objetivos de ensino jaacute atingidos num determinado ponto de percurso e tambeacutem as dificuldades no

processo de ensino-aprendizagem

Por seu turno NETO e ROSENBERG (1995 14) definem sinteticamente a avaliaccedilatildeo

como sendo a comparaccedilatildeo entre os resultados observados e os desejados A partir dessa

comparaccedilatildeo podem ser levantadas hipoacuteteses para atribuir causas aos efeitos encontrados como

foi o propoacutesito deste trabalho

114

Um bom instrumento de avaliaccedilatildeo eacute aquele que informa bem eacute discriminador eacute

consistente natildeo eacute arbitraacuterio Uma boa metodologia de avaliaccedilatildeo deve ir muito aleacutem do medir do

verificar do classificar precisa oferecer muito mais do que um iacutendice quantitativo deve permitir

compreender conhecer interpretar identificar situar entender o que e como se aprendeu A

medida e a nota tecircm seu papel mas eacute preciso ter clareza sobre ele (RAMOS sd 12)

Aleacutem disso RAMOS (op cit 13) salienta que o processo avaliativo deve respeitar e

promover o desenvolvimento de relaccedilotildees interpessoais autecircnticas e cooperativas Atitudes e

posturas com relaccedilatildeo aos colegas agrave instituiccedilatildeo aos professores bem como atitudes com relaccedilatildeo

ao conhecimento devem tambeacutem ser consideradas Isso implica que os alunos construam uma

relaccedilatildeo saudaacutevel com o conhecimento natildeo devendo a avaliaccedilatildeo ser fonte de perda de energia ou

fonte de stress destrutivo

Para o propoacutesito que acabamos de nos referenciar LUCKESI (2011a 204-205) considera

que a avaliaccedilatildeo devia ser como um acto amoroso no sentido de que ela por si jaacute eacute um acto

acolhedor integrativo inclusivo Como um acto amoroso para o autor seria aquele que

acolhesse actos acccedilotildees alegrias e dores como eles satildeo acolhesse para permitir que cada coisa

seja o que eacute neste momento Por acolher a situaccedilatildeo como ela eacute o acto amoroso tem a

caracteriacutestica de natildeo julgar pois os julgamentos apareceratildeo mas evidentemente para dar curso

agrave vida (agrave acccedilatildeo) e natildeo para excluiacute-la

Esse amor nos parece muito bem evidenciado nos princiacutepios da avaliaccedilatildeo do Regulamento

Acadeacutemico da Universidade Pedagoacutegica (2012 15) concretamente no nuacutemero 5 do Artigo16

onde se propotildee que a avaliaccedilatildeo tem de desenvolver a motivaccedilatildeo dos estudantes e melhorar o seu

desempenho acadeacutemico

Poreacutem em BASSEDAS HUGUET e SOLEacute (1999 172) sabemos que o juiacutezo e as

valorizaccedilotildees que fazemos dos nossos alunos frequentemente estatildeo permeados por diferentes

factores que agraves vezes natildeo tecircm quase nada a ver com uma observaccedilatildeo cuidadosa e objectiva

como se exige nas avaliaccedilotildees Muitas vezes essa valorizaccedilatildeo depende das expectativas que

formamos (noacutes professores) sobre a crianccedila lecciona-se com sua simpatia ou graccedila com a sua

vontade de aprender com a sua obediecircncia ou ateacute com o seu fiacutesico Este ponto de vista eacute

compartilhado por LUCKESI (op cit 41) quando afirma especificamente que as provas e

exames satildeo realizados conforme o interesse do professor ou do sistema de ensino Nem sempre

se leva em consideraccedilatildeo o que foi ensinado Mais importante do que ser uma oportunidade de

aprendizagem significativa a avaliaccedilatildeo tem sido uma oportunidade de prova de resistecircncia do

aluno aos ataques do professor As notas satildeo operadas como se nada tivessem a ver com a

115

aprendizagem Do mesmo modo essa subjectividade da avaliaccedilatildeo eacute referida por Hadji (1994)

apud GREGO (2014 1) ao admitir que quem quer que seja que avalie revela o seu projecto ou o

que lhe impuseram os seus preconceitos as suas preocupaccedilotildees e se natildeo estiver consciente disso

natildeo pode pretender ser aquilo a que hoje se chama um ldquoactor socialrdquo e a que antigamente se

chamava um homem livre A questatildeo que podemos colocar eacute natildeo seraacute por essa dependecircncia do

factor humano o subjectivo na avaliaccedilatildeo que temos tantos conflitos nesse processo

Por essas contrariedades eacute pertinente vincar nas palavras de BASSEDAS HUGUET e

SOLEacute (op cit 173) que a finalidade baacutesica da avaliaccedilatildeo eacute que sirva para intervir para tomar

decisotildees educativas para observar a evoluccedilatildeo e o progresso da crianccedila e para planear se eacute

preciso intervir ou modificar determinadas situaccedilotildees relaccedilotildees ou actividades na aula E para que

isso seja concretizado eacute necessaacuterio considerar-se na oacuteptica de CHUEIRI (2008 51) que a

avaliaccedilatildeo escolar eacute um meio e natildeo um fim em si mesma

BROWN RACE e SMITH (2000 42-44) reconhecendo que a avaliaccedilatildeo pode ser muito

aborrecida natildeo soacute para os alunos como para os professores propotildeem as seguintes sugestotildees para

a sua animaccedilatildeo diversificaccedilatildeo dos meacutetodos de avaliaccedilatildeo contar com a participaccedilatildeo dos alunos

na avaliaccedilatildeo contar com a participaccedilatildeo de outros colegas pedir a colaboraccedilatildeo de pessoas

estranhas ao processo diversificar os locais de afixaccedilatildeo das notas de vez em quando fazer

sessotildees de avaliaccedilatildeo raacutepida procurar utilizar os meios tecnoloacutegicos dar aos alunos a

possibilidade de se avaliarem em sessotildees informais fazer uma lista de falhas recolhidas nos

trabalhos que corrigiu e dar a conhecer aos alunos atribuir alguns pontos ao sentido de humor

dos trabalhos Assim importa questionar qual eacute a nossa realidade

Os autores que acabamos de citar referem antes que por um lado a avaliaccedilatildeo deve ser

justa e equitativa Isto eacute os estudantes devem ter igualdade de oportunidades para ter ecircxito

mesmo que as suas vivecircncias natildeo sejam idecircnticas Eacute muito importante que todos os instrumentos

e processos de avaliaccedilatildeo sejam considerados justos pelos estudantes E por outro lado as

praacuteticas avaliativas natildeo devem fazer discriminaccedilotildees entre os alunos nem colocar em

desvantagem quaisquer indiviacuteduos ou grupos Por isso deve haver uma gama equilibrada de

diferentes meios de avaliaccedilatildeo em cada curso de modo a assegurar que natildeo haja um grupo de

estudantes mais favorecido do que outro

MARTINS (2010 27) tambeacutem concorda que os procedimentos de avaliaccedilatildeo no ensino

superior natildeo podem se resumir exclusivamente em provas mas devem envolver outras teacutecnicas

capazes de fornecer informaccedilotildees sobre certas mudanccedilas comportamentais como a socializaccedilatildeo

que provas e testes convencionais natildeo tecircm condiccedilotildees de fornecer

116

Note-se que o nuacutemero 1 do artigo 20 do capiacutetulo VI sobre a avaliaccedilatildeo da aprendizagem o

Regulamento Acadeacutemico da UP (2012 17) cumpre com esses pressupostos ao prever que a

avaliaccedilatildeo possa ser individual eou colectiva e apoiar-se em vaacuterios instrumentos a saber

trabalhos teoacutericos trabalhos praacuteticos seminaacuterios testes exames das disciplinas observaccedilatildeo

praacuteticas profissionalizantes praacuteticas pedagoacutegicas e estaacutegio pedagoacutegico praacuteticas teacutecnico-

profissionais e estaacutegio profissionalizante relatoacuterios de praacuteticas profissionalizantes auto-

avaliaccedilatildeo portefoacutelio exames de qualificaccedilatildeo e outras dependendo de cada aacuterea de formaccedilatildeo E

ainda o regulamento sublinha que a participaccedilatildeo do estudante em aulas em sessotildees tutoriais e

em outras actividades o seu empenho e dedicaccedilatildeo ao estudo a sua atitude perante colegas

docentes tutores gestores dos centros de recursos a sua capacidade de auto-avaliaccedilatildeo e

correcccedilatildeo dos seus erros satildeo elementos importantes a tomar em consideraccedilatildeo no processo

avaliativo Entatildeo onde eacute que estaacute o problema Porque razatildeo existem conflitos Seraacute que os

docentes usufruem dessa abertura do regulamento

O processo avaliativo deve ser democraacutetico claro transparente e honesto Eacute impossiacutevel

conceber um processo cooperativo de aprendizagem funcionando junto com um processo

autoritaacuterio de avaliaccedilatildeo Isso implica que os aprendizes devem tambeacutem estar envolvidos na

decisatildeo do que deve ser avaliado (RAMOS sd 13)

McConnel (1999) relata resultados de pesquisas que ao avaliar o grau de relaccedilatildeo entre o

processo de avaliaccedilatildeo e de aprendizagem mostraram que os estudantes em geral escolhem como

e o que aprender com base na forma como satildeo avaliados ou melhor na forma como eles

conseguem imaginar que seratildeo avaliados (RAMOS sd 11) Em virtude desse estudo a UP teraacute

que procurar mecanismos que reduzem os conflitos para que depois natildeo seja viacutetima de fugas de

estudantes para outras instituiccedilotildees de Ensino Superior

Retomando a ideia da democraticidade ABRAMOWICZ (1992 95-96) afirma que a

avaliaccedilatildeo natildeo pode ser vista desgarrada de um universo existencial Ela natildeo deve ser imposta

doada mas deveraacute constituir-se em uma criaccedilatildeo em uma recriaccedilatildeo Portanto deve ser um

processo em que o aluno eacute o sujeito activo o homem no mundo que se auto-avalia de dentro

para fora Deve ser uma avaliaccedilatildeo pelo diaacutelogo amorosa criacutetica natildeo arrogante natildeo autoritaacuteria

mas esperanccedilosa

Sendo o professor um representante dos modelos e valores universalistas Parsons (1985)

apud AFONSO (2000 24) supotildee que deveria garantir a todos os alunos uma igualdade de partida

e oportunidades reais para que estes revelem as suas capacidades recompensando o ecircxito de

117

qualquer um que se mostre capaz Portanto nesta oacuteptica seria o professor o garante de

implementaccedilatildeo de todos os princiacutepios possiacuteveis que tornem ameno o processo de avaliaccedilatildeo

O que se percebe ao aprofundar os estudos sobre a questatildeo eacute que o ensino superior natildeo estaacute

isento dos problemas mais gerais constatados no campo da avaliaccedilatildeo e que tanto na teoria

quanto na praacutetica a avaliaccedilatildeo se reveste de rituais e atitudes discriminatoacuterias Grande parte dos

professores avalia da forma como foram avaliados em sua trajectoacuteria escolar ou vatildeo criando a

partir da experiecircncia e do bom-senso maneiras de avaliar o desempenho dos alunos A prova

escrita eacute o instrumento baacutesico utilizado para verificar a retenccedilatildeo dos conhecimentos repassados

natildeo servindo para orientar ou reorientar o aluno e o professor (CHAVES 2001 156-157)

Dentre os problemas mais destacados na avaliaccedilatildeo da aprendizagem em contextos

universitaacuterios Benedito et al (1995) apud CHAVES (op cit 157-158) destacam

Os processos de avaliaccedilatildeo que passam pela complexidade dos conteuacutedos dos niacuteveis de

aprendizagem dos alunos e de sua valoraccedilatildeo Usualmente enfatiza-se avaliaccedilatildeo de conteuacutedos

conceituais valorizando a memorizaccedilatildeo e reproduccedilatildeo desconsiderando ou deixando de lado as

capacidades e habilidades mentais desenvolvidas o pensamento criacutetico a resoluccedilatildeo de

problemas o estabelecimento de relaccedilotildees etc

Ausecircncia de criteacuterios avaliativos e de sua explicitaccedilatildeo Os proacuteprios alunos percebem

incoerecircncia entre os procedimentos avaliativos os niacuteveis de exigecircncia e a forma do professor

lidar com o conteuacutedo Os criteacuterios natildeo soacute devem ser expliacutecitos como discutidos e analisados

com os alunos modificando-os introduzindo novos criteacuterios derivados da interacccedilatildeo

alunoprofessor

Uso corrente de avaliaccedilatildeo sumativa Haacute uma preocupaccedilatildeo por parte de alunos e

professores com o produto em detrimento do processo de compreensatildeo apropriaccedilatildeo e

construccedilatildeo do conhecimento

Utilizaccedilatildeo inadequada dos resultados da avaliaccedilatildeo Poucos professores utilizam os

resultados de suas avaliaccedilotildees para rever o processo para retomar o conteuacutedo ou para analisar a

sua proacutepria praacutetica assumindo com os alunos a co-responsabilidade pela sua formaccedilatildeo

Contudo talvez seja este o espaccedilo oportuno para se saber que do ponto de vista

pedagoacutegico natildeo existe nenhuma razatildeo cabiacutevel para a reprovaccedilatildeo Pois a reprovaccedilatildeo em si natildeo

faz sentido em nenhuma praacutetica educativa desde que o objectivo seja a aprendizagem e o

desenvolvimento do educando Se a meta eacute essa natildeo faz sentido abortaacute-la pela reprovaccedilatildeo mas

sim investir nela na perspectiva do sucesso Oferecer ensino a educandos e reprovaacute-los satildeo actos

118

contraditoacuterios Quem ensina tem como objectivo o aprendizado do outro A reprovaccedilatildeo aborta o

acto de ensinar e de aprender (LUCKESI 2011b 428-429)

Contrariamente o artigo 34 sobre aprovaccedilatildeo no exame deixa claro a inoperacircncia do

conselho de Luckesi pois considera-se aprovado no exame de uma disciplina moacutedulo ou

actividade curricular o estudante cuja classificaccedilatildeo seja igual ou superior a dez (10) valores

arredondados Para dizer que os que natildeo chegam a esses valores satildeo reprovados e satildeo essas

reprovaccedilotildees como se afirmou antes uma das grandes promotoras de conflitos

Para efeito de promoccedilatildeo ou de graduaccedilatildeo NEacuteRICI (1993 203) afirma que a universidade

deveria promover avaliaccedilatildeo em trecircs sectores assim distribuiacutedos avaliaccedilatildeo de conhecimentos

avaliaccedilatildeo de teacutecnicas e habilidades por meio de estaacutegios e por uacuteltimo avaliaccedilatildeo de atitudes

soacutecio-morais e cientiacuteficas por meio de conceitos expedidos apoacutes a observaccedilatildeo geral do

comportamento do estudante durante o ano lectivo que seria elaborado primeiramente pelos

professores que actuam junto ao estudante separadamente e depois em conjunto

Para evitar os conflitos tambeacutem eacute interessante a experiecircncia de MASETTO (2003159)

que demonstra a sua praacutetica pessoal como docente nos seguintes moldes

No teacutermino do bimestre ou do semestre conforme a exigecircncia da instituiccedilatildeo

fecho a avaliaccedilatildeo juntamente com a auto-avaliaccedilatildeo dos alunos desde que eles

jaacute tenham aprendido a realizaacute-la bem Fazemos em conjunto uma descriccedilatildeo de

como se desenvolveu o processo de aprendizagem durante aquele periacuteodo

conforme jaacute comentado e buscamos uma nota ou um conceito que represente

aquilo que foi aprendido durante o periacuteodo Em minha experiecircncia poucos

foram os casos em que este processo natildeo deu certo Na sua quase totalidade os

resultados foram satisfatoacuterios

Metodologia

Por aquilo que constitui o nosso objectivo nesta pesquisa recorremos aos estudantes para

que compreendecircssemos as suas atribuiccedilotildees causais em relaccedilatildeo aos conflitos que envolvem eles e

seus docentes no processo de avaliaccedilatildeo de aprendizagem

BRUNNER e ZELTNER (1994 31) definem atribuiccedilatildeo causal como tratando-se de um

processo de atribuiccedilatildeo de resultados de acccedilotildees a determinados factores que satildeo considerados

como origem destes resultados Os autores citam Heider (1958) como tendo dito que qualquer

acccedilatildeo pode ser justificada por factores pessoais situacionais e de estabilidade temporal

Deste modo com base em uma investigaccedilatildeo qualitativa que visou compreender os

problemas analisando os comportamentos as atitudes ou os valores (SOUSA e BAPTISTA

119

2011 56) exploramos junto aos estudantes as razotildees que atribuem aos conflitos que ocorrem

entre eles e seus docentes

Na classificaccedilatildeo de Marshall e Rossman (1999) apud SOUSA e BAPTISTA (op cit 57)

de tipos de estudos qualitativos esta pesquisa enquadra-se nos estudos explanatoacuterios visto que

preocupou-se em explicar as forccedilas que originam o fenoacutemeno em estudo e identificar as causas

que o afectam

A entrevista colectiva a anaacutelise documental e a anaacutelise bibliograacutefica foram as teacutecnicas que

auxiliaram a pesquisa A anaacutelise bibliograacutefica segundo GIL (2008 50) eacute desenvolvida a partir

de material jaacute elaborado constituiacutedo de livros e artigos cientiacuteficos enquanto a anaacutelise

documental na perspectiva de OLIVEIRA (2007 69) caracteriza-se pela busca de informaccedilotildees

em documentos que natildeo receberam nenhum tratamento cientiacutefico ou seja as fontes primaacuterias

como satildeo os casos de regulamentos da UP e a mensagem de estudantes desta universidade que

aqui foram usados

O levantamento dos dados por via da entrevista decorreu em quatro turmas que compotildeem o

curso de Psicologia Educacional (com um total de 218 estudantes) A entrevista foi conduzida de

forma grupal Em cada turma (grupo) a estrateacutegia foi de apresentar o enquadramento do

problema que eacute sobejamente conhecido e por via disso os estudantes de uma forma livre foram

dando as razotildees que achavam justificar o comportamento de conflitos entre eles e os seus

docentes no processo de avaliaccedilatildeo da aprendizagem A entrevista foi semi-estruturada visto que

a pergunta era aberta e dava a possibilidade dos entrevistados de exprimirem e justificarem

livremente as suas opiniotildees sem fugirem muito do tema (SOUSA e BAPTISTA op cit 81)

Por meio da anaacutelise de conteuacutedo procuramos compreender melhor o discurso ou as

intervenccedilotildees dos estudantes aprofundar as caracteriacutesticas (gramaticais fonoloacutegicas cognitivas

ideoloacutegicas etc) da bibliografia e dos documentos e extrair os momentos mais importantes os

que nos interessavam para a nossa pesquisa (RICHARDSON et al 1999 224)

Resultados

Apoacutes um enquadramento sobre os comportamentos que evidenciam a problemaacutetica de

conflitos entre docentes e estudantes no que concerne as avaliaccedilotildees como afirmamos

anteriormente pedimos aos estudantes para que atribuiacutessem as razotildees que achavam influenciar o

comportamento em estudo pelo que tivemos vaacuterias razotildees que passaremos a apresentar

Uma das primeiras razotildees indicadas pelos estudantes foi a da elaboraccedilatildeo de testes na base

de mateacuterias natildeo dadas Nesses termos ateacute haacute docentes que apenas deixam o plano temaacutetico

120

orientam para os estudantes prepararem certas mateacuterias mas que depois trazem outras mateacuterias

tambeacutem natildeo discutidas violando assim o nuacutemero 3 do artigo 16 sobre Princiacutepios Gerais da

Avaliaccedilatildeo do Regulamento Acadeacutemico da UP (2012 15) onde se determina que a avaliaccedilatildeo tem

de permitir a identificaccedilatildeo e descriccedilatildeo clara do que vai ser objecto e conteuacutedo da avaliaccedilatildeo

conhecimentos habilidades capacidades e atitudes ou seja competecircncias

Mais uma violaccedilatildeo das normas da instituiccedilatildeo regista-se na marcaccedilatildeo de exames orais

surpresa isto eacute sem que os estudantes tenham sido avisados antecipadamente pois alguns

docentes decidem no dia calendarizado em aplicar esta modalidade de exame Embora os exames

orais sejam uma das alternativas previstas no Artigo 25 sobre exames das disciplinas o Artigo

32 sobre Juacuteri de exames orais impotildee que os mesmos sejam prestados perante um Juacuteri

constituiacutedo no miacutenimo por trecircs membros O Juacuteri referido deveraacute ser designado pelo Chefe de

Departamento o que pressupotildee que a sua realizaccedilatildeo seja antecipada e natildeo de surpresa com um

uacutenico elemento no Juacuteri como foi salientado pelos estudantes

Agraves vezes regista-se incumprimento das calendarizaccedilotildees de exames e remarcaccedilatildeo unilateral

por parte de docentes o que origina consequentemente perca desses por parte de estudantes o

que tambeacutem gera conflitos entre esses sujeitos

Os docentes de liacutenguas foram referenciados como sendo os que avaliam como se

estivessem em cursos de especialidade deixando muita gente a repetir Outrossim regista-se

falta de obras na biblioteca entretanto os docentes mandam fazer trabalhos cujas fontes natildeo

existem e como se natildeo bastasse ainda exigem que tenham uma perfeiccedilatildeo que os estudantes

consideraram de impossiacutevel

Alguns docentes distribuem todo o programa em forma de seminaacuterios e nem sequer fazem

a suacutemula desses e natildeo obstante reprovam os estudantes Haacute docentes que sempre as suas notas

satildeo muito baixas nunca consideram o esforccedilo do estudante mesmo em trabalhos independentes

Os estudantes consideraram que existem docentes que parecem estar a competir com estudantes

aplicando testes quase impossiacuteveis de realizar por exemplo haacute uma tendecircncia de trazerem mais

questotildees de memorizaccedilatildeo do que de reflexatildeo

Nas avaliaccedilotildees referentes aos relatoacuterios de praacuteticas pedagoacutegicas e estaacutegios os estudantes

falaram de arbitrariedades nas notas isto eacute os docentes avaliam sem bases pois eles natildeo

acompanham o decurso dessas actividades acabando por usar criteacuterios obscuros nas atribuiccedilotildees

de notas

121

Alguns estudantes revelaram natildeo terem conhecimento do regulamento de avaliaccedilatildeo sendo

que as uacutenicas informaccedilotildees sobre o processo de avaliaccedilatildeo apenas adquirem na base dos planos

temaacuteticos dos docentes

Por uacuteltimo o Sistema de Gestatildeo de Dados da UP (SIGEUP) agraves vezes contribui para esses

conflitos que agraves vezes parecem provocados pelos docentes isto eacute os estudantes se surpreendem

com duplos resultados numa primeira visualizaccedilatildeo com aprovaccedilotildees e noutra com reprovaccedilotildees

ou por outra com notas diferentes das visualizadas nas primeiras vezes

Consideraccedilotildees finais

O processo de avaliaccedilatildeo que deveria ser um momento amoroso tem virado na UP

Delegaccedilatildeo de Nampula de fonte de conflitos manifestando-se por acusaccedilotildees muacutetuas entre os

docentes e seus estudantes Entre os comportamentos que nos tecircm revelado a ocorrecircncia desses

conflitos destacam-se os pedidos constantes de recorreccedilotildees dos exames as queixas regulares

apresentadas aos gestores dos cursos e departamentos as cartas com abaixo-assinado a

perseguiccedilatildeo de docentes manifestadas fora da instituiccedilatildeo a desobediecircncia de estudantes em

realizarem actividades que incluem alguns testes e exames as denuacutencias de corrupccedilatildeo em

Miacutedias entre outros

Na base dessas evidecircncias desencadeamos uma pesquisa em que nos propuacutenhamos a

compreender na percepccedilatildeo dos estudantes as atribuiccedilotildees causais do comportamento descrito

Pelo que apuramos uma diversidade e confluecircncia de factores sobretudo de iacutendole pessoal dos

docentes no sentido que tratamos em BRUNNER e ZELTNER (1994) Ora vejamos haacute

incumprimento dos calendaacuterios de exames avaliaccedilatildeo com conteuacutedos natildeo leccionados

responsabilizaccedilatildeo inteira dos conteuacutedos dos planos temaacuteticos aos estudantes natildeo divulgaccedilatildeo do

regulamento de avaliaccedilatildeo administraccedilatildeo de testes com questotildees contestadas como os que

exigem memorizaccedilatildeo e a natildeo valorizaccedilatildeo dos trabalhos independentes

E esses factos podem levar a utilizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo para fins pessoais como nos alertou

CAVALIERI (2004) e na contra-acccedilatildeo poderemos continuar a ver estudantes ameaccedilando os

docentes Natildeo soacute como tambeacutem poderaacute a instituiccedilatildeo entrar em decadecircncia pela fuga de

estudantes para outras instituiccedilotildees de ensino superior

Assim propomos que

- sejam divulgados os princiacutepios de avaliaccedilatildeo no geral e da UP em particular

- que se desenvolva um movimento de sensibilizaccedilatildeo dos docentes para tomarem uma

postura que natildeo desgaste a sua imagem pessoal assim como da instituiccedilatildeo

122

- os regulamentos de avaliaccedilatildeo devem continuar a ser divulgados junto dos docentes assim

como dos estudantes

- deve-se fazer uma supervisatildeo constante das aulas e sobretudo das avaliaccedilotildees

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124

Fracasso escolar um olhar conjunto de alunos professores e pais

Arauacutejo Manuel Arauacutejo26

Resumo

Este artigo tem como objectivo analisar o problema do fracasso escolar Pretende descrever as causas

relativas ao estudante na sala de aula na escola e fora dela e outras ainda intra e extra escolares indirectas

ao estudante A metodologia usada foi do tipo descritivo de um levantamento de dados e o instrumento

para a recolha destes foi um conjunto de dois inqueacuteritos o primeiro composto de 23 perguntas semi-

fechadas dirigido a estudantes e o segundo com 5 perguntas abertas para professores e pais e

encarregados de educaccedilatildeo Numa perspectiva indutiva os resultados da leitura dos inqueacuteritos permitiram

concluir que i) o fracasso escolar eacute uma realidade ii) existem causas especiacuteficas cuja existecircncia permite

intervenccedilatildeo em ordem a se ter saiacutedas para problema Propotildee-se um trabalho conjunto de aquisiccedilatildeo de

mecanismos para reduzir o impacto do fracasso

Palavras-chave Fracasso escolar Estudante Repetecircncia Meio escolar Professor

Summary

This article aims to analyse the problem of school failure Describes the causes related to the

student in the classroom in the school and outside of it and others still intra and extra school

indirect to the student The methodology used was the descriptive type of a data survey and the

instrument for the collection of these was a set of two surveys the first compound of 23 semi-

closed questions to students and the second with 5 open questions to teachers and parents and

guardians From an inductive perspective the results of the reading of the surveys allowed to

conclude that i) school failure is a reality ii) there are specific causes whose existence allows

intervention in order to have outputs to the problem It is proposed a joint work of acquiring

mechanisms to reduce the impact of failure

Keywords School failure Student Repeat School environment Teacher

Introduccedilatildeo

O fracasso escolar eacute um dos problemas do Sistema de Educaccedilatildeo em Moccedilambique Haacute

muitos estudos feitos sobre o tema Este artigo procura trazer aleacutem da abordagem bibliograacutefica

pontos de vista sobre as causas do fracasso escolar de docentes estudantes e pais e encarregados

de educaccedilatildeo e como trabalhar para mitigar a problemaacutetica Os manuais usados para o suporte

bibliograacutefico abordam o tema muitas vezes em acircmbitos nacionais de realidades natildeo

moccedilambicanas contudo os inqueacuteritos que serviram para a elaboraccedilatildeo deste artigo foram

26 Mestrando em Educaccedilatildeo Ensino de Filosofia pela Universidade Pedagoacutegica em Maputo ndash Moccedilambique Teacutecnico

na Direcccedilatildeo dos Serviccedilos de Documentaccedilatildeo e Informaccedilatildeo (DSDI) da Universidade Pedagoacutegica

125

especificamente direccionados a estudantes do niacutevel meacutedio (11ordf e 12ordf classes) de escolas puacuteblicas

e privadas de Maputo e Matola nomeadamente Coleacutegio Moderno Escola Secundaacuteria Armando

Emiacutelio Guebuza Escola Secundaacuteria 14 de Outubro e Escola Secundaacuteria Satildeo Damaso Os

professores e os encarregados de educaccedilatildeo inquiridos tambeacutem pertencem a estes ciacuterculos

O inqueacuterito foi levado a cabo no mecircs de Setembro do ano de 2015 Foram inquiridos 100

estudantes das escolas em causa 4 professores e 4 pais e encarregados de educaccedilatildeo num total de

108 elementos cuja escolha foi aleatoacuteria

Este artigo surge da associaccedilatildeo de duas metodologias dois inqueacuteritos (um aos estudantes

e o outro aos professores e pais e encarregados de educaccedilatildeo) e leitura de bibliografia que trata do

tema de fracasso escolar

Fracasso escolar em muitos dos casos estudados estaacute ligado agrave pobreza esta ideia eacute

defendida por Libacircneo na sua obra com o tiacutetulo Didaacutectica ldquoum dos mais graves problemas do

sistema escolar (hellip) eacute o fracasso escolar principalmente de crianccedilas mais pobresrdquo (Libacircneo

201339) Este tem como origem (no sentido de germe) o ensino primaacuterio comportando

insuficiente alfabetizaccedilatildeo e repercute-se em exclusotildees ao longo dos anos repetecircncias

dificuldades ldquoinsuperaacuteveisrdquo comprometedoras do estudo ateacute desistecircncias

Urge tambeacutem nesta introduccedilatildeo emergir algumas definiccedilotildees sobre o que seja a expressatildeo

fracasso escolar ou insucesso escolar como prefere designar Annamaria Rangel (sd) Haacute aquelas

definiccedilotildees que parecem sinoacutenimas especificamente no campo educacional tais como ldquoinsucesso

num exame bem como o afastamento definitivo da escola provocado por repetecircncias sucessivasrdquo

(Rangel sd9)

Considere-se tambeacutem que fracasso escolar eacute uma noccedilatildeo relativa Ela soacute tem sentido no

seio de uma dada instituiccedilatildeo escolar e num dado momento da carreira nessa instituiccedilatildeo Eacute

relativa aos objectivos da escola traduzidos num programa uma progressatildeo niacuteveis e natildeo a uma

inadaptaccedilatildeo que caracteriza o aluno permanentemente (Cfr Rangel sd 21) Quer dizer

mudadas as circunstacircncias um aluno dito fracassado pode ser aluno de sucesso

A ideia de fracasso escolar eacute um conceito da deacutecada de 60 Segundo explicaccedilotildees dos

socioacutelogos de educaccedilatildeo fracasso escolar eacute o fenoacutemeno da desigualdade de oportunidades na

escola

O sistema escolar pode ter um papel nas desigualdades de sucesso escolar contudo o

papel de outros campos vectores deve ser atendido como eacute o da famiacutelia o Governo e a

sociedade no geral para se apurar o papel que estes tecircm sobre o tema em causa

126

Quais satildeo as causas do fracasso escolar no nosso meio proacuteximo e como trabalhar para a

mitigaccedilatildeo de algumas delas satildeo as questotildees que vatildeo ser esclarecidas ao longo da leitura deste

artigo Ele estaacute dividido em cinco partes a primeira apresenta a conceituaccedilatildeo a segunda as

causas do fracasso escolar relativas ao estudante e a sala de aulas a terceira causas relativas ao

meio escolar a quarta causas relativas ao meio extra-escolar e a quinta uma possiacutevel soluccedilatildeo

do problema do fracasso escolar

1 Revisatildeo da literatura

O problema do fracasso escolar tatildeo presente em vaacuterios contextos educacionais do mundo

actual pode ateacute ser considerado de um problema antropoloacutegico educacional Eacute sobejamente

estudado contudo um estudo a mais levanta sempre uma possibilidade de tornar presente uma

missatildeo a cumprir na educaccedilatildeo resolver o problema do fracasso escolar

Segundo Durkheim citado por Rangel a primeira tarefa de um investigador eacute a de definir

o objecto do seu estudo ou seja determinar a ordem dos factos que propotildee a estudar a fim de

lhes dar homogeneidade e a especificidade que lhes satildeo necessaacuterias para serem tratados como

cientiacuteficos e poderem estabelecer uma ponte segura no diaacutelogo do discurso do texto com o leitor

(Cfr Rangel sd 28) Eacute a partir desta ideia que satildeo chamadas as palavras-chave ou ideias-chave

a serem definidas Nesta ordem o primeiro conceito a definir eacute o fracasso escolar Eacute importante

dissecaacute-lo para entendecirc-lo melhor Por um lado temos o termo fracasso e por outro o termo

escolar Aquele deve ser entendido como insucesso falecircncia de um projecto bem como uma

posiccedilatildeo difiacutecil na qual algueacutem coloca o seu adversaacuterio O dicionaacuterio da liacutengua portuguesa

coordenado por Joatildeo Costa define fracasso como ruina ou desgraccedila (Costa 2011 734) O

correlativo termo para exprimir esta ideia eacute a palavra escolar Esta eacute um adjectivo de qualquer

coisa que versa sobre a escola Sendo assim fracasso escolar no contexto desta abordagem deve

ser entendido como insucesso escolar relativo aos estudantes incapacidade de sua progressatildeo

chumbos desistecircncias repetecircncia de estudantes na escola Esta ideia eacute antoacutenima de sucesso

escolar abordada por Bernard Lahire na sua obra Sucesso escolar nos meios populares como

sendo ldquoverdadeiros ecircxitos sem defeitos que os professores percebem como brilhanteshelliprdquo

(Lahire 1997 285)

Um outro conceito a ser abordado eacute o de repetecircncia Para Rangel repetente diz-se de um

estudante que recomeccedila um ano escolar desde que esta decisatildeo natildeo tenha sido provocada por

uma causa fortuita nem ter problemas graves do ponto de vista psicoloacutegico ou fiacutesico e ao fim de

127

um ano os seus resultados escolares levem-no a repetir (Cfr Rangel sd 30) A anaacutelise do termo

visa alargar o conceito de insucesso escolar

A falta de dignificaccedilatildeo da actividade docente tambeacutem tem sido tomada como um dos

factores para o fracasso escolar Nas questotildees levantadas nos inqueacuteritos aos docentes estes

apontam a natildeo valorizaccedilatildeo dos docentes como causa do fracasso escolar ratificando a existecircncia

conjuntural desta desvalorizaccedilatildeo expressa por Lourenccedilo na introduccedilatildeo do seu livro com o tiacutetulo

Hoje natildeo haacute aulas como ldquoreacccedilatildeo agrave cada vez mais insuportaacutevel e injusta desvalorizaccedilatildeo da

profissatildeo docente ou seja da imagem daqueles que satildeo agentes principais no futuro de um paiacutesrdquo

(Lourenccedilo 2007 5)

No seu livro Acabar com insucesso na escola Hubert Montagner propotildee a atenccedilatildeo dos

professores a casos particulares de estudantes mas isto depende da motivaccedilatildeo que eles tecircm o

nuacutemero de estudantes que compotildeem as turmas os problemas que cada estudante traz de casa

Mesmo assim ele afirma que ldquoo professor eacute o observador melhor colocado do tempo pessoal

das diferentes crianccedilasrdquo (Montagner 1996 205) Ele deveria ter ou deveria ser dotado da

capacidade privilegiada para ajudar os estudantes a ultrapassar as suas dificuldades sem ser

intrometido nem ldquomandatildeordquo e assegurando uma presenccedila eficaz

Os conceitos acima descritos relativos ao fracasso escolar abrem um horizonte para a

percepccedilatildeo do espaccedilo criado para a anaacutelise do tema ou o ciacuterculo do fracasso envolvente aos

estudantes nas escolas de Maputo e Matola a intersecccedilatildeo que este ciacuterculo tem com o ciacuterculo do

meio extra-escolar e possiacuteveis saiacutedas do problema

2 Causas do fracasso escolar relativas ao estudante e a sala de aulas

Quando se aborda a o assunto em causa isto eacute fracasso escolar a primeira ideia que

surge eacute sobre o sujeito em foco o estudante Para atender a esta primazia coloca-se neste

trabalho o ponto de vista do proacuteprio alvo

Um olhar sobre o inqueacuterito respondido pelos estudantes referido no resumo que constitui

uma das metodologias da elaboraccedilatildeo deste artigo dita que dos 100 estudantes inquiridos das

diversas escolas (Cfr Anexo II) boa parte deles acredita que a causa do fracasso escolar estaacute

estritamente ligada ao proacuteprio estudante que fracassa Eles se atribuem a culpa pelo fracasso

escolar pelo natildeo empenho e maus resultados

Outros factores de relevo que levantam os estudantes como causas do fracasso escolar

satildeo os professores menos motivados e consequentemente desmotivadores isto eacute pouco atentos

no acompanhamento dos alunos se progridem ou natildeo o factor transporte tambeacutem eacute apontado

128

como causa relevante do fracasso pese embora estando ligado a causas econoacutemicas extra-

escolares do fracasso Dois uacuteltimos factores apontados como causas do fracasso escolar satildeo a

fome e a falta de orientaccedilatildeo profissional dos alunos para a sua vida adulta

No que diz respeito aos nuacutemeros sugeridos para a composiccedilatildeo das turmas dos 100

estudantes inquiridos 25 sugerem 30 estudantes por turma e fazem passar entre os argumentos a

favor deste nuacutemero a ideia segundo a qual este nuacutemero proporciona um bom sentimento na sala

de aulas que acaba favorecendo um melhor processo de ensino e aprendizagem e favorece que o

professor esteja atento ao crescimento dos seus estudantes outros 25 sugerem 35 estudantes por

turma com similares argumentos anteriores a favor Sucessivamente em nuacutemero de 12

estudantes por cada opccedilatildeo apresentam 25 40 45 e 50 estudantes por turma com os seguintes

argumentos facilitaccedilatildeo da compreensatildeo da mateacuteria por parte dos estudantes facilitaccedilatildeo do

trabalho docente e muita interacccedilatildeo estudantes professor professor estudantes e estudantes

entre si Os 12 uacuteltimos estudantes que propotildeem o nuacutemero de 50 estudantes por turma estatildeo

convictos de que haacute desistecircncias ao longo do ano e que este nuacutemero deve compor as turmas no

iniacutecio do ano quer dizer que para eles o nuacutemero ideal para compor as turmas deve ser menor que

50 estudantes por turma caso natildeo houvesse desistecircncias Haacute dois estudantes que propotildeem o

nuacutemero de 36 estudantes por turma sem apresentar argumentos relevantes Em meacutedia as turmas

que proporcionaram alunos que responderam ao questionaacuterio eram compostas de 65 alunos por

turma aleacutem dos nuacutemeros propostos pelos alunos

Entre os docentes que abordaram o fracasso escolar sob ponto de vista dos alunos

levantaram factores que se podem chamar de ldquodistractoresrdquo que levam ao fracasso escolar nas

zonas urbanas onde o questionaacuterio foi lanccedilado entre os quais as novelas as redes sociais (p ex

facebook) os jogos electroacutenicos etc que absorvem completamente o tempo que era reservado

para que um estudante se dedicasse aos estudos

3 Causas do fracasso escolar relativas ao meio escolar

O meio escolar tambeacutem tem sido apontado como uma causa do fracasso escolar Entre os

factores que tecircm sido levantados constam o professor o corpo teacutecnico da escola a localizaccedilatildeo

da escola a distacircncia do seu acesso as comodidades ndash carteiras quadros giz ndash a interacccedilatildeo dos

corpos docente e natildeo docente com os estudantes a aplicaccedilatildeo de normas etc (Cfr Rangel sd

10-12)

O inqueacuterito aos estudantes levantou 5 factores que se resumem fundamentalmente em

trecircs que satildeo tipo do sistema escolar interacccedilatildeo entre estudantes e o corpus natildeo docente e

129

aplicaccedilatildeo de normas Em relaccedilatildeo ao primeiro dos trecircs aspectos os estudantes natildeo concordam que

o fracasso escolar dependa de uma escola se eacute ou natildeo privada segundo eles tanto nas escolas

privadas como nas puacuteblicas encontra-se o problema fracasso escolar sob vaacuterios aspectos Em

relaccedilatildeo ao segundo aspecto se os directores das escolas fazem visitas agraves turmas 49 estudantes

afirmaram que sim 11 natildeo se pronunciaram e 40 responderam negativamente Essas respostas

permitem argumentar que no geral os directores das escolas natildeo satildeo motivo alarmante para

imputar o fracasso escolar Sobre se os outros dirigentes das escolas (pessoal teacutecnico-pedagoacutegico

e outros) se se encontram regularmente com os estudantes a maioria diz que natildeo podendo

interpretar-se que haacute necessidade de se promover encontros do geacutenero que serviratildeo quem sabe

de uma sinergia na luta contra o fracasso escolar

Em relaccedilatildeo se existe exagero de exigecircncias que dificultam aos alunos de participar das

aulas a concordacircncia de 37 estudantes no universo de 100 eacute preocupante vezes haacute em que nas

escolas no geral os estudantes perdem trecircs aulas sucessivas por atrasar apenas numa aula do

primeiro tempo perdem outras tantas aulas por natildeo obedecer a uma ou outra norma tais como

usar uniforme poder comprar fichas de apoio natildeo levantar-se para ir satisfazer necessidades

bioloacutegicas em tempo de aulas apenas como exemplos

Sobre este item docentes inquiridos apontaram como causas do fracasso escolar questotildees

psicoloacutegicas pedagoacutegicas e didaacutecticas que tecircm pesado sobre o professor entre as quais

incapacidade de ensinar falta de estiacutemulo do professor condiccedilotildees de trabalho improacuteprias e

exigecircncia de percentagens por parte da direcccedilatildeo da escola para a classificaccedilatildeo do docente em

bom ou mau professor

4 Causas do fracasso escolar relativas ao meio extra-escolar

A escola eacute uma instituiccedilatildeo inserida dentro do conjunto das instituiccedilotildees humanas e faz

com as outras instituiccedilotildees um todo interligado Sendo assim tudo quanto afecta outras

instituiccedilotildees directa ou indirectamente afecta a escola Nesse sentido o fracasso escolar natildeo

deve ter apenas causas intra-escolares deve sim e em grande medida ter causas extra-escolares

Tecircm sido apontadas como causas extra-escolares a situaccedilatildeo econoacutemico-financeira dos

pais e encarregados de educaccedilatildeo poliacuteticas que excluem a educaccedilatildeo agravequeles que natildeo pertencem a

certos ciacuterculos sociais e outras barreiras do geacutenero

O resultado do inqueacuterito aos estudantes no quadro indicativo (Apecircndice II) mostra

claramente que entre as causas do fracasso escolar sob ponto de vista dos alunos estaacute no topo a

130

falta de poliacuteticas de emprego Ou os estudantes vatildeo a escola e natildeo sabem ou natildeo satildeo orientados

para agravequilo que vatildeo fazer na vida poacutes escolar

Um outro factor a que os estudantes se referiram ligado ao precedente eacute que o Governo

natildeo garante explicitamente esperanccedila de empregabilidade Ou se o faz isso natildeo eacute sentido no seio

dos estudantes e essa falta de ldquoseguranccedila laboralrdquo conduz ao fracasso escolar Um outro factor

natildeo menos importante elencado pelos estudantes eacute a famiacutelia que daacute menos atenccedilatildeo ao processo

de ensino e aprendizagem os estudantes deixados a soacutes sentem-se sem acompanhamento e

fracassam

Os docentes do ensino meacutedio e pais e encarregados de educaccedilatildeo que responderam ao

questionaacuterio do apecircndice III na questatildeo ldquoporque acontece o fracasso escolarrdquo disseram que tecircm

constituiacutedo causas do fracasso escolar aspectos culturais (ritos de iniciaccedilatildeo no periacuteodo de aulas

casamentos precoces) econoacutemicos (fraca renda dos pais incapazes de sustentar as necessidades

escolares) poliacuteticos (entre os quais poliacuteticas educativas ldquoinadequadasrdquo e instabilidade militar nas

zonas propensas) sociais (trabalho infantil ligado a factor econoacutemico) naturais (estiagem secas

e inundaccedilotildees que tecircm causado fome) entre outros factores

5 Propostas de superaccedilatildeo do fracasso escolar

O fracasso escolar eacute um problema proveniente de muitas causas Pensar na sua

eliminaccedilatildeo eacute um sonho a realizar-se em vaacuterios conjuntos A superaccedilatildeo aqui deve entender-se

como a possibilidade de gradualmente num trabalho conjunto encontrarem-se e aplicarem-se

mecanismos para reduzir ou debelaacute-lo ao maacuteximo

Um olhar atento sobre as respostas dos estudantes inquiridos pode ajudar a extrair

algumas propostas de saiacuteda do problema do fracasso escolar que os professores pais e outros

agentes de educaccedilatildeo inspirem a autoconfianccedila nos seus estudantes (questatildeo 2 e 4) isto eacute um

trabalho conjunto deve ser feito em ordem a remover-se a auto condenaccedilatildeo dos estudantes pelo

fracasso escolar pois implantar essa ideia na sua mente e deixar que ela cresccedila e que faccedila parte

deles soacute agrava mais o fracasso escolar ao inveacutes de tender a combater o problema que o pessoal

natildeo docente envolva-se no papel educativo (questotildees 16 e 17) os pais e encarregados de

educaccedilatildeo se envolvam mais (embora indirectamente) no processo de ensino e aprendizagem

(questotildees 18 e 19) e que o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano crie poliacuteticas

orientadoras para o emprego mais abrangentes (questotildees 21 e 23)

131

Os docentes envolvidos no inqueacuterito (Apecircndice III) sugerem que haja mais planificaccedilatildeo

das actividades educativas formaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos gestores da educaccedilatildeo uma forte relaccedilatildeo

entre escola e comunidade motivaccedilatildeo dos professores uma atenccedilatildeo agrave educaccedilatildeo da rapariga

Parece que o paradigma de uma educaccedilatildeo centrada no aluno tirou de certa forma a

autoridade do professor comenta um professor eacute preciso que este paradigma seja revisto e que

se recupere a autoridade do professor natildeo como detentor do conhecimento mas como figura

digna de valor

O curriacuteculo e os relativos programas de ensino tecircm sido a chave do problema Eacute

necessaacuterio que estejam desenhados politicamente para irem ao encontro da situaccedilatildeo real que se

vive isto constituiraacute um caminho bem andado na debilitaccedilatildeo do fracasso escolar

Os pais e encarregados trazem vaacuterios apelos entre os quais que haja um melhor

acompanhamento dos alunos por parte das famiacutelias por parte dos professores e por parte do

Governo quer dizer que haja um trabalho mais uma vez conjunto e triangular

escolaharrfamiacuteliaharrGoverno

Conclusatildeo

O fracasso escolar eacute um tema bastante estudado sob inuacutemeras perspectivas e a que

acabou de ser levantada eacute mais uma um olhar conjunto de alunos professores e pais e

encarregados de educaccedilatildeo Como um problema com vaacuterias vertentes o trato com ele deve ser

tambeacutem de ordem muito diversa O surgimento de mais uma perspectiva eacute mais um contributo

nesta luta

Natildeo basta identificar o problema que ele eacute muito evidente eacute preciso saber quais satildeo as

causas (algumas) para depois segundo essas mesmas causas esboccedilar algumas possibilidades de

saiacuteda do problema como afirma Madaloacutez ldquoplanejar acccedilotildees que realmente tragam benefiacutecios e

resultados agraves praacuteticas de sala de aula e nas relaccedilotildees do espaccedilo escolar minimizando conflitos e

tensotildees que possam vir a surgir entre escola famiacutelia e sociedaderdquo (Madaloacutez 2012 12)

Os questionaacuterios usados foram bastante reveladores de alguns caminhos para a reduccedilatildeo

destes conflitos e tensotildees ou entatildeo a debilitaccedilatildeo do problema fracasso escolar como o potenciar

da autoconfianccedila no estudante a niacutevel poliacutetico criaccedilatildeo de escolas orientadas em vista a

profissotildees futuras para os jovens motivaccedilatildeo dos professores a atenccedilatildeo da educaccedilatildeo da rapariga

criaccedilatildeo de mais escolas e reduccedilatildeo de nuacutemero de estudantes por turma entre outras propostas

132

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133

APEcircNDICES

Apecircndice I Ficha sobre Possiacuteveis causas do Fracasso Escolar (respondido pelos estudantes)

Escala Concordo Plenamente (CP) Concordo (C) Sem Opiniatildeo (SO) Discordo (D) Discordo Plenamente (DP)

Dimensatildeo1 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao estudante e agrave sala de aulas

Questotildees

Escala

CP C SO D DP

1 Fracasso escolar estaacute ligado ao abandono escolar 12 26 13 49 0

2 Fracasso escolar estaacute ligado ao proacuteprio estudante 43 49 4 4 0

3 Todos os professores acusam os alunos de natildeo saberem nada 17 0 30 49 4

4 Alguns professores acusam os alunos de natildeo saberem nada 32 20 19 12 0

5 Os professores conhecem individualmente todos os alunos 24 25 12 25 14

6 Alguns professores conhecem individualmente todos os alunos 22 53 25 0 0

7 Todos os professores acompanham individualmente os alunos 18 25 16 37 4

8 Alguns professores acompanham individualmente os alunos 15 58 15 12 0

9 No decurso do Processo de Ensino e Aprendizagem haacute uma orientaccedilatildeo

profissional aos alunos

21 21 21 16 21

10 Os alunos se confrontam com a situaccedilatildeo de fome durante o Processo de

Ensino e Aprendizagem

4 37 32 12 15

11 Haacute espaccedilo de exposiccedilatildeo e esclarecimento de duacutevidas na sala de aulas 49 25 4 11 11

12 Os professores usam recursos didaacutecticos que facilitam a compreensatildeo dos

conteuacutedos

16 41 16 16 11

Total Dimensatildeo1 273 380 207 243 80

Dimensatildeo 2 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao meio escolar

Questotildees

Escala

CP C SO D DP

13 Fracasso escolar depende da escola em que o aluno se encontra 5 12 21 37 25

14 Nas escolas privadas haacute menor iacutendice de fracasso escolar que nas escolas

puacuteblicas

11 16 16 37 20

15 O director da escola visita as turmas 0 49 11 15 25

16 O director e outros dirigentes da escola tecircm tido encontros com os alunos 0 12 25 25 38

17 Existe exagero de exigecircncias que dificultam aos alunos de participar das

aulas

16 21 21 42 0

Total Dimensatildeo2 32 110 94 156 108

Dimensatildeo 3 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao meio extra-escolar

Questotildees

Escala

CP C SO D DP

18 Fracasso Escolar estaacute ligado agrave famiacutelia do aluno 7 25 16 26 26

19 Os pais e encarregados participam regularmente a reuniotildees na escola

quando convocados para tal

26 53 0 21 0

20 Os alunos datildeo informe aos pais e encarregados de educaccedilatildeo sobre o

decorrer do seu Processo de Ensino e Aprendizagem

11 32 21 32 4

21 As poliacuteticas do emprego satildeo de ldquosalva quem puderrdquo 73 16 11 0 0

22 Os media divulgam oportunidades de emprego aos alunos 12 48 20 10 10

23 O Governo daacute esperanccedila de empregabilidade aos alunos 11 21 11 25 32

Total Dimensatildeo3 140 195 79 114 72

Totais 445 685 380 513 260

Quantos alunos sugere que as turmas tenham E porquecirc _______________________________________________

Justifique em poucas linhas algumas das respostas que deu na grelha acima________________________________

_____________________________________________________________________________

134

Apecircndice II Causas do Fracasso Escolar (iacutendice de concordacircncia e discordacircncia)

Escala Iacutendice de Concordacircncia (IC) Sem Opiniatildeo (SO) Iacutendice de discordacircncia (ID)

Dimensatildeo1 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao estudante e agrave sala de aulas

Questotildees

Escala

IC SO ID

1 Fracasso escolar estaacute ligado ao abandono escolar 38 13 49

2 Fracasso escolar estaacute ligado ao proacuteprio aluno 92 4 4

3 Todos os professores acusam os alunos de natildeo saberem nada 17 30 53

4 Alguns professores acusam os alunos de natildeo saberem nada 52 19 12

5 Os professores conhecem individualmente todos os alunos 49 12 39

6 Alguns professores conhecem individualmente todos os alunos 75 25 0

7 Todos os professores acompanham individualmente os alunos 43 16 41

8 Alguns professores acompanham individualmente os alunos 73 15 12

9 No decurso do Processo de Ensino e Aprendizagem haacute uma orientaccedilatildeo

profissional aos alunos

42 21 37

10 Os alunos se confrontam com a situaccedilatildeo de fome durante o Processo de

Ensino e Aprendizagem

41 32 27

11 Haacute espaccedilo de exposiccedilatildeo e esclarecimento de duacutevidas na sala de aulas 74 4 22

12 Os professores usam recursos didaacutecticos que facilitam a compreensatildeo dos

conteuacutedos

57 16 27

Total em numeral 653 207 323

Percentagem () 56 17 27

Dimensatildeo 2 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao meio escolar

Questotildees

Escala

IC SO ID

13 Fracasso escolar depende da escola em que o alunos se encontra 17 21 62

14 Nas escolas privadas haacute menor iacutendice de fracasso escolar que nas escolas

puacuteblicas

27 16 57

15 O director da escola visita as turmas 49 11 40

16 O director e outros dirigentes da escola tecircm tido encontros com os alunos 12 25 63

17 Existe exagero de exigecircncias que dificultam aos alunos de participar das

aulas

37 21 42

Total em numeral 142 94 264

Percentagem () 28 19 53

Dimensatildeo 3 Avaliaccedilatildeo do fracasso escolar expectativa em relaccedilatildeo ao meio extra-escolar

Questotildees

Escala

IC SO ID

18 Fracasso Escolar estaacute ligado agrave famiacutelia do alunos 32 16 52

19 Os pais e encarregados participam regularmente a reuniotildees na escola

quando convocados para tal

79 0 21

20 Os alunos datildeo informe aos pais e encarregados de educaccedilatildeo sobre o

decorrer do seu Processo de Ensino e Aprendizagem

43 21 36

21 As poliacuteticas do emprego satildeo de ldquosalva quem poderrdquo 89 11 0

22 Os media divulgam oportunidades de emprego aos alunos 60 20 20

23 O Governo daacute esperanccedila de empregabilidade aos alunos 32 11 57

Total em numeral 335 79 186

Percentagem() 56 13 31

135

Apecircndice III Questionaacuterio dirigido aos professores e pais e encarregados de educaccedilatildeo

1 a)Professor _________________ (Nome da escola onde lecciona ____________________________)

b)Pai ou Matildee (Encarregadoa de educaccedilatildeo) ____________________________________________

2 O que entende por fracasso escolar

________________________________________________________________________________

3 Como acontece o fracasso escolar

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

4 Porque acontece o fracasso escolar

_________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

5 Como pode ser superado o fracasso escolar

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

Teccedila alguns comentaacuterios sobre o fracasso escolar

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

136

A influecircncia das liacutenguas xichangana e cicopi no insucesso escolar - caso dos

alunos da 10ordf classe da Escola Secundaacuteria de Mandlakazi

Antoacutenio Domingos Cossa27

Resumo

O presente artigo surge no contexto dos estudos sociolinguiacutesticos e na tentativa de compreender o

fenoacutemeno insucesso ou fracasso escolar no ensino secundaacuterio geral Motivado pelos estudos de Bright

Soussure Labov Firmino Gonccedilalves e Dias definiu-se o seguinte temaldquoA influecircncia das liacutenguas

xichangana e cicopi no insucesso escolar - caso dos alunos da 10ordf classe da Escola Secundaacuteria de

Mandlakazirdquo com os seguintes objectivos analisar as influecircncias das liacutenguas xichangana e cicopi no

processo de ensino-aprendizagem da liacutengua portuguesa relacionar o insucesso escolar que se verifica na

disciplina de portuguecircs com as influecircncias das liacutenguas xichangana e cicopi nos alunos da 10ordf classe O

tipo de pesquisa foi qualitativa com recurso a questionaacuterio como instrumentos de recolha de dados tendo

sido usado o meacutetodo indutivo Os resultados da pesquisa postulam que 64 dos inquiridos possuem uma

L1 moccedilambicana sendo 14 falantes da liacutengua Xichangana 14 da liacutengua Cicopi e 36 falantes de

outras liacutenguas Bantu nacionais Olhando para estes dados pode-se afirmar que cerca de 64 dos

inquiridos possuem uma gramaacutetica impliacutecita diferente da gramaacutetica da liacutengua-alvo (o portuguecircs) usada

em contextos formais em situaccedilotildees de aprendizagem no geral e em situaccedilotildees de aprendizagem do

portuguecircs como L2 em particular O insucesso escolar eacute uma realidade e constituiu fenoacutemeno negativo

para o progresso acadeacutemico dos alunos do ensino secundaacuterio e da 10ordfclasse nesta escolaNo entanto as

liacutenguas Xichangana e Cicopi natildeo satildeo somente factores determinantes para a ocorrecircncia do insucesso

escolar neste grupo alvo associando a eles o meio e a falta do imput da L2

Palavras-Chave Insucesso-escolar L1 L2 Ensino-aprendizagem

Abstract

This article appears in the context of sociolinguistic studies and in trying to understand the phenomenon

of failure or school failure in secondary education Motivated by studies of Bright Soussure Labov

Firmino Gonccedilalves and Dias defined the following theme The influence of cicopi and xichangana on

school failure -case of grade10 in Mandlakazi secondary school With the following objectives to

analyze the influences of cicopi and xichangana in teaching-learning process of the Portuguese language

relate school failure that occurs in the Portuguese subject with the influences of cicopi and xichangana

students of grade 10 Have been used qualitative research questionnaires as tools of data collection in

inductive method Search results postulate that 64 of respondents have a Mozambican language 14

speakers Xichangana language 14 of the Cicopi language and 36 speakers of other Bantu

languagesLooking at these figures it means that approximately 64 of respondents have an implicit

grammar unlike the grammar of the target language (Portuguese) used in formal contexts in learning

situations in General and in situations of learning Portuguese as second language in particular School

failure is a reality and it constituted negative phenomenon to the academic progress of students in

secondary education and the 10th grade at this school However the Cicopi and Xichangana languages

are not only determinant factors for the occurrence of failure at school in this target group the middle

and the lack of imput from second language associate

Keywords Failure 1 st L 2nd L Teaching and learning

27 Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de Portuguecircs Bacharel e Licenciado em Ensino de Portuguecircs Docente da Faculdade

de Ciecircncias de Linguagem Comunicaccedilatildeo e Artes na Universidade Pedagoacutegica ndash Delegaccedilatildeo de Gaza

137

0 Introduccedilatildeo

A partir do pressuposto que a liacutengua eacute um veiacuteculo pelo qual se transmitem informaccedilotildees e

se estabelecemmantecircm contactos sociais ldquoqualquer pessoa fala de modo diferente a pessoas

diferentes e em diferentes situaccedilotildees ainda que o conteuacutedo do que diz ateacute aconteccedila ser o

mesmordquo (Strevens apud MARQUES1995) Assim entende-se que o ldquorepertoacuterio verbalrdquo de um

indiviacuteduo (como tambeacutem de uma comunidade) eacute um conjunto de variantes linguiacutesticas

Ferdinand Saussure o considerado precursor da corrente estruturalista reconhecia a

importacircncia de natureza etnoloacutegica histoacuterica e poliacutetica poreacutem seus estudos voltaram-se

essencialmente para o organismo linguiacutestico interno uma vez que ele concebia a liacutengua como

um produto homogeacuteneo e sua anaacutelise partia da observaccedilatildeo como comportamento linguiacutestico de

um indiviacuteduo O princiacutepio da homogeneidade linguiacutestica foi adoptado pelos estudiosos da

glossemaacutetica e do gerativismo

As primeiras investigaccedilotildees acerca de estudos sociolinguiacutesticos surgem a partir de

WILLIAM BRIGHT (1966) e FISHMAN (1972) os quais passaram a incorporar os aspectos

sociais nas descriccedilotildees linguiacutesticas BRIGHT (idem) afirmava que a diversidade linguiacutestica eacute

precisamente a mateacuteria de que trata a Sociolinguiacutestica Segundo este autor as dimensotildees desse

estudo estatildeo condicionadas a vaacuterios factores sociais com os quais a diversidade linguiacutestica se

encontra relacionada nas identidades sociais do emissor e receptor e na situaccedilatildeo comunicativa

Dando prosseguimento aos estudos de Bright LABOV (1972) passa a descrever a

heterogeneidade linguiacutestica pois para ele todo facto linguiacutestico relaciona-se a um facto social e

que a liacutengua sofre implicaccedilotildees de ordem fisioloacutegica e psicoloacutegica Labov ficou conhecido por ser

o representante da teoria da variaccedilatildeo linguiacutestica

Tendo em vista a heterogeneidade dos fenoacutemenos linguiacutesticos William Labov precursor

dos estudos variacionistas propocircs um modelo de anaacutelise linguiacutestica que considera a influecircncia

dos factores sociais atuantes na liacutengua e que ficou conhecido como teoria da variaccedilatildeo

linguiacutestica Eacute a partir desse conhecimento que o presente trabalho desenvolve-se acerca do tema

ldquoA Influecircncia das liacutenguas Xichangana e Cicopi no Insucesso Escolar - caso dos alunos da 10ordf

Classe da Escola Secundaacuteria de Mandlakazirdquo

No contexto de ensino-aprendizagem da Liacutengua Portuguesa eacute frequente ouvir-se dos

alunos o seguinte ldquoaquele professor de portuguecircs como natildeo daacute notardquo ou ldquoTenho notas razoaacuteveis

a quase todas as disciplinas mas a minha meacutedia na liacutengua portuguesa eacute a pior de todasrdquo Os

alunos tecircm direito de observar a sua prestaccedilatildeo acadeacutemica sob diversas perspectivas Poreacutem a

verdade estaacute relacionada com o fraco domiacutenio da liacutengua portuguesa particularmente a gramaacutetica

138

do portuguecircs de ensino por parte dos alunos desde o ensino primaacuterio e que se arrasta ateacute aos

niacuteveis imediatamente superiores

A este respeito vaacuterias questotildees satildeo levantadas desde conteuacutedos curriculares formaccedilatildeo

do corpo docente qualidade infraestrutural e linguiacutesticos

No presente estudo como aludiu-se acima interessa aprofundar o fenoacutemeno linguiacutestico

como elemento fundamental no processo de ensino-aprendizagem formal Sabe-se que o fraco

domiacutenio da liacutengua portuguesa por parte da maioria dos moccedilambicanos tem as suas razotildees

enraizadas na histoacuteria da eleiccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa como oficial no paiacutes Por conseguinte a

aprendizagem e uso da liacutengua de ensino natildeo eacute homogeacutenea para os aprendentes Isto eacute quanto

mais os falantes se distanciam dos centros urbanos mais distante se colocam da aprendizagem e

domiacutenio da norma padratildeo da liacutengua portuguesa Ou seja quanto menos praticarem e menos

tiverem a oferta linguiacutestica menos conhecimentos sobre a liacutengua vatildeo possuindo

Segundo estudos efectuados por LAURENCE LAUTIN (1990) referem que 25 a 30

das crianccedilas provenientes das classes chamadas ldquosocioculturais desfavorecidasrdquo repetem uma

ou vaacuterias vezes as classes do ciclo primaacuterio sofrendo portanto um insucesso a partir da sua

confrontaccedilatildeo com a linguagem escrita Pois segundo STOER e GRAacuteCIO(1982) ldquo A inteligecircncia

e a linguagem satildeo produto duma interacccedilatildeo permanente entre o sujeito e o meiordquo

Para estes autores o meio social exerce um efeito importante sobre o ritmo do

desenvolvimento intelectual A pobreza da sintaxe pode constituir um obstaacuteculo ao domiacutenio do

pensamento formal e da loacutegica das proposiccedilotildees Ela pode sem duacutevidas afectar o sucesso

escolar O ambiente soacutecio-cultural pode moldar a inteligecircncia e as aptidotildees linguiacutesticas da

crianccedila

Tal como se refere LOPES (1991) citado por FIRMINO (2000) fazendo uma abordagem

sobre a alfabetizaccedilatildeo e o insucesso escolar no contexto moccedilambicano a Liacutengua Portuguesa (LP)

em Moccedilambique eacute manipulada pelos seus falantes como uma Liacutengua Segunda (L2) na medida

em que a LP convive com as liacutenguas Bantu (LB) que constitui a Liacutengua Materna (L1) da maior

parte da populaccedilatildeo Esta afirmaccedilatildeo eacute consubstanciada pelos dados estatiacutesticos do censo de 1997

analisados por FIRMINO (2000) segundo os quais a LP eacute falada por apenas 39 dos

moccedilambicanos O papel da L2 em Moccedilambique torna-se ainda mais evidente quando se refere

que 90 dos moccedilambicanos usa mais frequentemente uma LB no seu discurso quotidiano

STROUD (2001) acrescenta que numa sociedade do tipo moccedilambicana a variedade-alvo

escolhida como norma pedagoacutegica natildeo eacute congruente com a norma que eacute usada pela maioria dos

falantes

139

Tendo em consideraccedilatildeo os pressupostos acima o presente trabalho guia-se pelos

seguintes objectivos

- Analisar as influecircncias das liacutenguas Xichangana e Cicopi no processo de ensino-

aprendizagem liacutengua portuguesa

- Relacionar o insucesso escolar que se verifica na disciplina de Portuguecircs com as

influecircncias das liacutenguas Xichangana e Cicopi nos alunos da 10ordf Classe

Constituem nossas hipoacuteteses as seguintes Os alunos da 10ordfClasse falantes das liacutenguas

Xichangana e Cicopi como L1 registam um relativo insucesso pedagoacutegico na disciplina de

Portuguecircs O fracasso manifesta-se atraveacutes da dificuldade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de

textos em liacutengua portuguesa

A metodologia usada para este trabalho eacute o uso da abordagem qualitativa e de um

questionaacuterios como instrumento de recolha de dados O instrumento de recolha de dados estaacute

subdividido em trecircs secccedilotildees sendo A- social linguiacutestico e pedagoacutegico B-Questionaacuterio de

interpretaccedilatildeo e C-Comentaacuterio Para substanciar as nossas hipoacuteteses escolhemos como amostra

os alunos da 10ordfclasse turmas A e B curso diurno da Escola da Secundaacuteria de Mandlakazi no

universo de cinquenta alunos inquiridos sendo vinte e cinco por cada turma A consulta

bibliograacutefica eacute um dos tradicionais meacutetodos usados para provar a cientificidade do trabalho

Os resultados desta pesquisa iratildeo ajudar no Processo de Ensino Aprendizagem (PEA) e

no melhoramento gradual do rendimento pedagoacutegico na disciplina pois uma vez identificadas as

razotildees reais que motivam o insucesso pedagoacutegico o impacto das liacutenguas Xichangana e Cicopi

na aprendizagem da L2 Poderatildeo tambeacutem contribuir na suscitaccedilatildeo de outras pesquisas e debates

acadeacutemicos

10 Referencial teoacuterico

Antes da nossa abordagem de fundo sobre o insucesso escolar importa-nos trazer

conceitos de alguns termos-chave que recorrentemente seratildeo referenciados no corpo do

presente trabalho

11 Linguagem

Linguagem eacute um processo por meio do qual os seres animais transmitem mensagens entre

si servindo-se da oralidade escrita e gesto etc isto eacute a capacidade que os seres vivos tecircm de

140

comunicar Para GALLISSON e COSTE (1983445)28 Linguagem eacute meio de comunicaccedilatildeo

utilizado por uma comunidade humana ou animal para transmitir mensagens

Linguagem pode tambeacutem ser considerado com todo o sistema de signos que serve de

meio de comunicaccedilatildeo entre indiviacuteduos e pode ser percebido pelos diferentes oacutergatildeos dos sentidos

Para FREITAG amp LIMA(2010) Linguagem eacute a

Capacidade inata e universal que faz parte da heranccedila geneacutetica do ser humano e

permite a ele reconhecer e produzir um nuacutemero infinito de sentenccedilas

gramaticais atribuindo-lhes respectivamente uma interpretaccedilatildeo semacircntica e

uma interpretaccedilatildeo fonoloacutegica Instrumento de comunicaccedilatildeo cuja principal

funccedilatildeo eacute a transmissatildeo de informaccedilotildees Eacute colocado em relevo o circuito da

comunicaccedilatildeo um emissor transmite a um receptor atraveacutes de um canal uma

informaccedilatildeo colocada em coacutedigo

Isto eacute eacute pela sua linguagem que o homem realiza as suas atividades sejam de denuacutencias

de afirmaccedilatildeo de identidade social de lazer de trabalho eou de vida Estes autores refem em

uacuteltima anaacutelise que Linguagem eacute um meio ou veiacuteculo de comunicaccedilatildeo usada por uma

determinada comunidade ou grupo para se transmitir informaccedilotildees

12 Liacutengua

Segundo a formulaccedilatildeo Soussuriana a liacutengua eacute um sistema formal de valores puros ou seja

de signos arbitraacuterios A langue eacute uma estrutura homogeacutenea que se constitui como objecto do

estudo da linguiacutestica desde que esta se tem como ciecircncia autoacutenoma

Segundo FREITAG amp LIMA(idem) Liacutengua eacute

Coacutedigo um conjunto de signos que se combinam segundo certas regras que os

organizam em niacuteveis hieraacuterquicos (fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico) e que

deve ser conhecido pelos falantes para que a comunicaccedilatildeo possa acontecer

Embora seu uso seja um ato social a liacutengua eacute preacute-estabelecida e concebida

como um sistema convencional imanente desvinculado dos indiviacuteduos Liacutengua

= coacutedigo estrutura A liacutengua eacute uma realidade soacuteciohistoricamente construiacuteda

pelos sujeitosinterlocutores Liacutengua = enunciaccedilatildeo atividade social

Segundo GALLISSON (ibid) citando Saussure Liacutengua eacute todo o sistema especiacutefico de

signos articulados que servem para transmitir mensagens humanas Na perspectiva de

GONCcedilALVES e STROUD (2000)29 Liacutengua eacute um sistema organizado de sons vocais de que nos

servimos para expressar ideias e comunicar com os falantes conhecedores do mesmo coacutedigo

Gorski e Freitag( 2007) apud KOCH (2002) vecircem a liacutengua simultaneamente como

28Gallisson e Coste (1983) Dicionaacuterio de Didaacutectica das Liacutenguas Coimbra Livraria Almedia 29 Gonccedilalves P e StroudC A Construccedilatildeo de Um Banco de Erros Moccedilambique INDE

141

um sistema e como uma praacutetica social No primeiro caso ela eacute vista como

um conjunto de elementos inter-relacionados que se manifestam em

vaacuterios niacuteveis de organizaccedilatildeo (fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico

semacircntico) No entanto soacute se realiza ou se configura no interior do meio

social lugar de interacccedilatildeo dos membros de uma sociedade

Embora linguagem e liacutengua sejam noccedilotildees interligadas a noccedilatildeo de linguagemeacute mais

abrangente que a de liacutengua O termo linguagem costuma ser associado a palavras como

lsquofaculdadersquo lsquocapacidadersquo lsquoatividadersquo com foco tanto na funccedilatildeo cognitivabioloacutegica como na

funccedilatildeo comunicativasocial da linguagem humana A linguagem eacute uma atividade cognitiva e

discursiva jaacute que ela manteacutem um viacutenculo estreito com o pensamento e tambeacutem estabelece a

interlocuccedilatildeo( GORSKI e FREITAG 2007)

13 Liacutengua Materna (L1)

Os estudiosos GONCcedilALVES e STROUD (ibid) definem a L1 como sendo a primeira

liacutengua que a crianccedila aprende no meio familiar de lugar de origem materna Entretanto

GALLISSON (1985opcit) afirma que a L1 eacute o primeiro instrumento de comunicaccedilatildeo desde a

mais tenra idade e a utilizada no paiacutes de origem do sujeito falante

14 Liacutengua Segunda (L2)

Ainda na perspectiva de GONCcedilALVES e STROUD (ibid) a L2 eacute a liacutengua natildeo materna

que o indiviacuteduo aprende apoacutes a primeira liacutengua e que exerce uma influecircncia relevante no falante

Na oacuteptica de GALLISSON e COSTE (1983opcit) a L2 eacute a liacutengua natildeo materna que beneficia

oficialmente de um estatuto privilegiado Acrescentam que esta eacute ensinada como veicular a toda

a comunidade em que as liacutenguas maternas satildeo praticamente desconhecidas fora das fronteiras do

paiacutes

Como se pode constatar os autores consultados para a conceitualizaccedilatildeo dos termos

Linguagem Liacutengua L1 L2 de uma forma geral convergem nas suas abordagens pelo que a

presente abordagem tomaraacute como base estas definiccedilotildees que grandemente seratildeo convocadas O

outro indispensaacutevel conceito para esta reflexatildeo eacute o insucesso escolar que portanto constitui o

principal objecto de estudo

142

15 Insucesso Escolar

No contexto de ensino-aprendizagem estudos sobre insucesso esolar satildeo frequentes pois

duma mateacuteria bastante complexa e inerente

SILVA e SAacute (200328)30 consideram sucesso e insucesso escolar como sendo crenccedilas

pessoais que advecircm de uma motivaccedilatildeo mantida pelos efeitos do meio positivos ou negativos

Estes autores afirmam que ldquo As razotildees do seu sucesso e insucesso as suas respostas

geralmente caem em quatro categorias capacidade esforccedilo dificuldade da tarefa e sorterdquo E

ainda estas percepccedilotildees que os alunos tecircm sobre aquelas causas vatildeo influenciar diferencialmente

as suas respostas emocionais os seus desempenhos e as suas motivaccedilotildees

Parafraseando estes autores como resultado destas crenccedilas os alunos deixam de se

esforccedilar quando confrontados com tarefas difiacuteceis Esta atitude por sua vez aumenta as

probabilidades de haver insucessos frequentes De recordar que insucesso eacute antoacutenimo do

sucesso que de acordo AAVV (20013475)31 eacute aquilo que acontece que sucede especialmente

quando eacute de grande importacircncia Ter sucesso sair-se bem ter ecircxito

Para DIAS (200271)32 habitualmente o insucesso escolar eacute definido como falta de

conhecimentos habilidades e competecircncias em certas aacutereas Citando PERRENOND(2000)

ldquohellippara a definiccedilatildeo do insucesso escolar eacute importante distinguir entre desigualdades reais de

capital cultural e hierarquias de excelecircnciasrdquo e afirma que ldquoas desigualdades podem

desempenhar um papel no fracasso escolar quando elas pertencem a aacutereas que tecircm ligaccedilatildeo com

a relaccedilatildeo pedagoacutegicardquo

20 O Impacto das Liacutenguas Xichangana e Cicopi no Insucesso Escolar

21 Argumentaccedilatildeo

Ao escolher-se a variaacutevel Insucesso Escolar pretende-se de uma forma sucinta trazer agrave

superfiacutecie as causas deste fenoacutemeno compreendeacute-lo e propor algumas estrateacutegias a serem

observadas no processo de Ensino-aprendizagem (PEA) da LP

COSSA (2015) no seu estudo sobre o fracasso escolar no I Ciclo do Ensino Baacutesico

moccedilambicano concluiu que

30Adelina Lopes da Silva e Isabel Saacute (2003) Saber Estudar e Estudar para Saber Porto Colecccedilatildeo Ciecircncia de

Educaccedilatildeo 31 AAVV Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Contemporacircneo Academia das Ciecircncias de Lisboa 32 Dias Hildizina Norbeto As Desigualdades Sociolinguiacutesticas e o Insucesso Escolar em Direcccedilatildeo a Uma Praacutetica

Linguiacutestica Escolar Libertador Maputo Ediccedilatildeo Promeacutedia

143

as dificuldades de ensino e de aprendizagem da leitura satildeo um facto e resultam

de diversas razotildees Algumas das quais as seguintes a grande maioria dos

aprendentes do Ensino Baacutesico eacute proveniente das zonas rurais com a sua cultura

veiculada pela L1 bantu e frequentam este ensino numa L2 Estas crianccedilas

enfrentam dificuldades de aprendizagem da leitura pela simultaneidade da

aprendizagem da liacutengua de ensino e dos conteuacutedos programaacuteticos que tambeacutem

satildeo de mundo totalmente distinto do delas (COSSA 2015)

Esta constataccedilatildeo pode ser extensiva para o contexto deste estudo Pois a maioria dos

alunos da Escola Secundaacuteria de Mandlakazi eacute falante nativa das liacutenguas Bantu (Xichangana e

Cicopi ) o que pode interferir negativamente no aproveitamento pedagoacutegico e na proacutepria

aprendizagem da L2 Esta nossa escolha foi motivada pelo facto de a escola (em que foram

recolhidos os dados) localizar-se no meio cujas liacutenguas maternas-bantu dominantes satildeo

Xichangana e Cicopi

22 Da apresentaccedilatildeo e descriccedilatildeo dos dados

Como jaacute foi avanccedilado na introduccedilatildeo a amostra foi delimitada em cinquenta informantes

sendo vinte e cinco seleccionados por cada turma Neste contexto os propoacutesitos reportados no

instrumento de recolha de dados foram os dados pessoais linguiacutesticos sociais culturais e

pedagoacutegicos contidos no inqueacuterito sociolinguiacutestico a secccedilatildeo B que visava confirmar e apurar as

dificuldades que conduzem os alunos ao fraco aproveitamento pedagoacutegico ligados a

compreensatildeo e domiacutenio da gramaacutetica da liacutengua de ensino no meio escolar Dos dados colhidos

no universo dos informantes reporta-se o seguinte os falantes de Xichangana como L1

correspondem apenas a 14 do total dos inquiridos de Cicopi tambeacutem 14 de Portuguecircs 28

de outras LB nacionais 36 e estrangeira 8

Inquiridos sobre a frequecircncia de leitura 30 confirmaram nunca terem lido um livro

sequer durante o primeiro semestre fora da escola e 70 foram unacircnimes em dizer que leram

mais de trecircs livros fora do ambiente escolar

Quanto agrave compreensatildeo que se desdobra em interpretaccedilatildeo e gramaacutetica 16 dos

inquiridos mostraram dificuldades na interpretaccedilatildeo pobreza vocabular e 84 demonstraram

dificuldades na gramaacutetica (morfologia classe de palavras)

Em relaccedilatildeo agraves actividades que mais ocupam os informantes fora da escola 20 ocupam-

se em actividades acadeacutemicas 46 em actividades domeacutesticas (cozinha comeacutercio e religiatildeo) ao

144

passo que 34 em desporto Em relaccedilatildeo ao aproveitamento pedagoacutegico 2 do total teve Muito

Bom 2 Bom 60 Suficiente 34 Mediacuteocre e 2 Mau

23 Da anaacutelise e discussatildeo dos dados

Ainda na esteira de cumprir com o objectivo deste estudo que eacute relacionar o insucesso

escolar com as influecircncias das liacutenguas Xichangana e Cicopi segue-se anaacutelise e discussatildeo dos

dados recolhidos no campo de estudo auxiliando-se das fontes teoacutericas seleccionadas para esta

reflexatildeo Recuperando a ideia de LOPES (2001opcit) a aquisiccedilatildeo de L2 tem contributos de L1

tendo por isso repercussotildees na linguagem escrita

Para GONCcedilALVES (199822)33 os estudos de aquisiccedilatildeo da L2 tambeacutem tiveram de tomar

em consideraccedilatildeo uma diversidade de factores determinantes no sistema de regras do aprendente

como sejam o papel da gramaacutetica universal (GU) ldquoa influecircncia da L1 e as caracteriacutesticas da

liacutengua-alvo o papel do imput para aleacutem de outros aspectos influentes como a motivaccedilatildeo as

caracteriacutesticas individuais ou o contexto de aquisiccedilatildeordquo Tomando como alicerces estes dois

pensamentos os resultados em anaacutelise postulam que 64 dos inquiridos possuem uma L1

moccedilambicana sendo 14 falantes da liacutengua Xichangana 14 da liacutengua Cicopi e 36 falantes

de outras liacutenguas Bantu nacionais

Olhando para estes dados pode-se afirmar que cerca de 64 dos inquiridos possuem

uma gramaacutetica impliacutecita diferente da gramaacutetica da liacutengua-alvo (o portuguecircs) usada em contextos

formais em situaccedilotildees de aprendizagem no geral e em situaccedilotildees de aprendizagem do portuguecircs

como L2 em particular Esta constataccedilatildeo concorda com a ideia de Gonccedilalves pois de facto a

diversidade e as caracteriacutesticas que cercam a L1 e L2 fazem com que sempre haja dificuldades

no processo de aquisiccedilatildeo e aprendizagem da L2 uma vez que as suas caracteriacutesticas natildeo tecircm

sequer uma aproximaccedilatildeo de inteligibilidade Como diz GONCcedilALVES(1998) o papel de imput eacute

bastante relevante na apreensatildeo e treinamento das regras gramaticais de uma dada liacutengua Este

imput eacute condicionado pelo ambiente situacional em que os alunos vivem e passam a maior parte

do seu tempo ao longo do dia

Nesta perspectiva ambiental e de imput 46 do total dos nossos respondentes passam a

maior parte do seu tempo em ambientes lsquocaseirosrsquo fazendo trabalhos domeacutesticos e 34 tem

passado com amigos em ambientes desportivos Como se sabe nos ambientes aqui descritos a

33 Gonccedilalves Perpeacutetua Mudanccedilas do Portuguecircs em Moccedilambique Maputo Livraria universitaacuteria UEM

145

linguagem eacute basicamente informal onde segundo BERNSTEIN(1980)34 o coacutedigo predominante

eacute restrito que versa questotildees meramente particulares e que natildeo orientam os seus significados

para o universo da L2 Para este estudioso uma vez as escolas trabalharem com o coacutedigo

linguiacutestico elaborado os alunos da classe social baixa tecircm sido objecto de exclusatildeo e conclui

que ldquo as crianccedilashellipestatildeo excluiacutedas pelo coacutedigo escolar satildeo discriminadas e afastadas pelo

coacutedigo escolarrdquo

Eacute curioso numa altura de ldquoaudiovisualismordquo os respondentes natildeo se terem referido da

televisatildeo como elemento de diversatildeo ou de ocupaccedilatildeo temporal A falta deste item conduz a

confirmaccedilatildeo do ecircxodo rural a que se fez alusatildeo antes Para esta situaccedilatildeo concreta desta pesquisa

a diferenccedila do coacutedigo linguiacutestico escolar do aluno natildeo se prende com a classe social baixa dos

alunos mas com o ambiente de imput que proporciona a oferta linguiacutestica Esta afirmaccedilatildeo

prende-se essencialmente com o facto de 70 do universo dos inquiridos habitar no meio urbano

e apenas 30 na zona suburbana e 90 dos encarregados destes serem funcionaacuterios puacuteblicos

Na perspectiva de BENAVENTE(1976)35 ldquocada crianccedila constroacutei a sua personalidade e

a sua inteligecircncia nas trocas com o meio que a rodeiardquo e acrescenta que ldquoos factores de

insucesso ligados ao meio social satildeo de ordem material e de ordem culturalrdquo

Tomando em consideraccedilatildeo o factor imigraccedilatildeo a que se fez referecircncia anteriormente pode-

se referir com seguranccedila que maior parte destes alunos actualmente residentes na Vila nascem e

crescem em ambientes de fraca oferta linguiacutestica da liacutengua-alvo mesmo em ambiente escolar por

eles vivido durante o ensino primaacuterio

A cultura linguiacutestica deste tipo de escolas localizadas na periferia e no interior natildeo eacute a

mesma praticada nas escolas urbanas particularmente dos jardins infantis dos coleacutegios e de

outras instituiccedilotildees consideradas de prestiacutegio que procuram pautar pelo uso do coacutedigo elaborado

que coincide com a L1 para alguns L2 para outros e liacutengua de ensino escolar caracterizada pela

gramaacutetica expliacutecita (regida por regras prescritivas) sugerida pelos linguistas e gramaacuteticos

Como diz LOPES (2001opcit) a escrita da L2 eacute influenciada pela L1 trazendo assim

repercussotildees que culminam com o insucesso escolar Pois como se sabe o ensino moccedilambicano

eacute totalmente avaliativo e este item centra-se na linguagem escrita e oral onde as dificuldades e

desproporcionalidades do coacutedigo linguiacutestico elaborado residem

34 Declaraccedilotildees de Basil Bernstein em uma entrevista sobre a Socializaccedilatildeo e Coacutedigos Linguiacutesticos a um professor em

25 de Fevereiro de 1980 35Benavente Ana A Escola na Sociedade de Classes Lisboa Biblioteca do Educador Profissional Livros

Horizontes 1976 pp20-39

146

Embora alguns autores defendam que quanto mais o aprendente da L2 possuir

conhecimentos soacutelidos de leitura e escrita da L1 mais facilidades teraacute na aprendizagem e na

praacutetica da L2 a realidade moccedilambicana natildeo se acomoda nesta teoria uma vez que a maioria dos

falantes nativos da L1 natildeo domina as regras gramaticais da oralidade nem da escrita

DIAS (200279) citando HAMERS e BLAC (1989) refere que ldquohellip a noccedilatildeo de

semilinguismohellipocorre quando a crianccedila natildeo consegue alcanccedilar uma proficiecircncia monolingue

em nenhuma das liacutenguas que conhecerdquo E acrescenta que ldquoIsto natildeo quer dizer que a crianccedila

natildeo eacute capaz de comunicar no seu dia-a-dia pelo contraacuterio a crianccedila eacute muito fluente mas essa

fluecircncia eacute considerada superficial nas duas liacutenguas visto que a crianccedila natildeo domina bem a

estrutura de nenhuma das liacutenguasrdquo

Esta tese defendida por Dias sustenta a afirmaccedilatildeo avanccedilada anteriormente ligada a natildeo

domiacutenio de sequer uma das duas liacutenguas faladas por uma boa parte dos moccedilambicanos residentes

na periferia e na zona urbana no geral e agraves crianccedilas em idade escolar na zona rural e na zona

urbana em particular Este fenoacutemeno pode tomar a dianteira no insucesso escolar sucessivo dos

alunos no ensino secundaacuterio onde as exigecircncias tecircm sido maiores em relaccedilatildeo agraves classes do

ensino primaacuterio

Cerca de 86 do total dos inquiridos responderam incorrectamente a pergunta que exigia

os conhecimentos da gramaacutetica concretamente no que concerne a classe dos adjectivos isto eacute 43

alunos dos cinquenta natildeo conseguem identificar um adjectivo Somente 14 eacute que conseguiram

responder correctamente a esta questatildeo Olhando para estes dados eacute preciso questionar a

qualidade destes alunos que quase ou nada entendem da gramaacutetica expliacutecita que coincide com o

coacutedigo elaborado praticado no PEA

A este propoacutesito ressalta a ideia que vem veiculada nas hipoacuteteses segundo a qual existe

um deacutefice de estrateacutegias de ensino resultante da falta de professores com formaccedilatildeo cientifico-

pedagoacutegica nesta aacuterea de ensino de liacutengua portuguesa Este resultado eacute a prova do arrastamento

de dificuldades (nesta mateacuteria) a que se fez referecircncia nas respostas preacutevias Como se sabe no

acto de avaliaccedilatildeo pedagoacutegica da liacutengua portuguesa eacute inevitaacutevel a parte que exige o domiacutenio da

liacutengua Neste caso eacute evidente que 86 seja o nuacutemero suficiente para determinar o sucesso e

insucesso escolar Outra parte que compotildee a avaliaccedilatildeo eacute a produccedilatildeo escrita onde as influecircncias

das liacutenguas nacionais aparecem em lsquogrossorsquo a construccedilatildeo de frases gramaticalmente incorrectas

e algumas carentes de conteuacutedo que se espera neste niacutevel

Estes dois elementos tirando a compreensatildeo comportam a maior percentagem da

avaliaccedilatildeo daiacute por aquilo que se verificou nesta pesquisa esta tem sido a maior razatildeo do

147

insucesso escolar que por si soacute comporta a maior carga das influecircncias linguiacutesticas negativas no

PEA da liacutengua portuguesa como L2 e como liacutengua de ensino ndash o chamado coacutedigo elaborado

caracterizado pela gramaacutetica expliacutecita do ensino

Um outro pormenor que merece uma anaacutelise profunda eacute a leitura que eacute um instrumento

impulsionador da aprendizagem e se reveste daquilo que Gonccedilalves chamou de imput pois bem

concebida e didacticamente orientada pode fazer a diferenccedila nos aprendentes tirando o

lsquoestacionamento linguiacutestico caseirorsquo e moldando a cada passo a cultura linguiacutestica dos alunos

influenciando-os a uma linguagem proacutexima da formal

Segundo resultado dos dados recolhidos a maioria dos inquiridos lecircem em meacutedia

semestral 5 livros fora do ambiente escolar O que significa que 70 destes leu durante o

primeiro semestre 3 livros no miacutenimo e 30 natildeo leu nenhum livro

Em primeiro lugar eacute de referir que 30 eacute uma percentagem elevada dos que natildeo lecircem

tendo em consideraccedilatildeo o tempo de um semestre a localizaccedilatildeo da escola e das residecircncias destes

alunos e o proacuteprio niacutevel em que estes se encontram Poreacutem os 70 de frequecircncia positiva de

leitura satildeo suficientes para dizermos que a cultura de leitura existe no seio destes respondentes

Natildeo obstante o elevado nuacutemero de alunos que responderam positivamente quanto agrave frequecircncia

de leitura este natildeo eacute proporcional agrave capacidade de interpretaccedilatildeo dos textos lidos Satildeo exemplos

as respostas incorrectas demonstradas na interpretaccedilatildeo pois 56 dos inquiridos tiveram

problemas de compreensatildeo somente no que concerne a perguntas de interpretaccedilatildeo textual Por

conseguinte constatam-se algumas evidecircncias de insucesso escolar no seio destes

3 Consireraccedilotildees Finais

O insucesso escolar eacute uma realidade no seio desta camada estudantil que constituiu a

fonte dos dados acabados de ser analisados e discutidos Ele constitui um fenoacutemeno negativo

para o progresso acadeacutemico dos alunos do ensino secundaacuterio no geral da 10ordfclasse e da escola

que foi o campo do estudo

No entanto as liacutenguas Xichangana e Cicopi natildeo satildeo somente factores determinantes

para a ocorrecircncia do insucesso escolar neste grupo alvo Poreacutem eacute preciso frisar que estas duas

liacutenguas satildeo parte integrante de um conjunto de liacutenguas bantu nacionais que directa ou

indirectamente tecircm a sua contribuiccedilatildeo para o insucesso escolar Como diz LOPES (2001) na

aquisiccedilatildeo de uma L2 existe um contributo assinalaacutevel do L1 isto eacute verificaacutevel na situaccedilatildeo

concreta de bilinguismo em Moccedilambique

148

Entretanto o factor ldquoMeiordquo em que os alunos se encontram e convivem constitui um

impulsionador dominante para a ocorrecircncia do insucesso escolar que eacute resultado da praacutetica

massiva do coacutedigo linguiacutestico restrito que entra em choque com o coacutedigo linguiacutestico elaborado

coincidente com a liacutengua-alvo de ensino

A influecircncia do meio eacute tida como poacutelo dominador devido a sua atracccedilatildeo nesta faixa

etaacuteria GONCcedilALVES (1998) chamou a isto de imput que diz ter um papel bastante relevante na

apreensatildeo e treinamento das regras gramaticais da liacutengua de ensino e acrescenta ldquoeste imput eacute

condicionado pelo ambiente situacional em que os alunos se encontramrdquo

Por conseguinte as liacutenguas bantu locais o fraco imput da L2 e o meio lideram o grupo de

vaacuterios factores que contribuem para o insucesso escolar embora alguns autores considerarem o

insucesso escolar como sendo crenccedila mas o meio estaacute sempre na vanguarda Entretanto nem

todos os alunos registam o insucesso escolar dependendo das influecircncias do meio e da praacutetica

linguiacutestica quotidiana que traduzem a cultura e a vivecircncia de cada aluno

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Cadernos de Pesquisa nordm 24 INDE 2001

150

Jogos recreativos na Cidade de Nampula Os predilectos das crianccedilas das zonas

suburbanas

Domingos Carlos Mirione36

Resumo

O presente estudo tem como objectivo identificar os jogos predilectos das crianccedilas dos bairros suburbanos

da Cidade de Nampula-Moccedilambique Utilizou-se como teacutecnica de recolha de dados a observaccedilatildeo com

registo cursivo complementado com uma entrevista semi-estruturada Os resultados revelam que o jogo

predilecto das crianccedilas do sexo masculino eacute o futebol e para as do sexo feminino eacute o jogo de cartas

localmente conhecido como naripito O facto de as crianccedilas do sexo feminino optarem mais por jogos

passivos e de azar sugere implicaccedilotildees futuras negativas para esta geraccedilatildeo pelo que deveria-se reflectir

profundamente sobre essa tendecircncia

Palavras-chave Jogo Recreaccedilatildeo Actividade fiacutesica Sauacutede

Abstract

This study aimed to identify the most preferred games for the children of the suburban neighborhoods of

the city of Nampula Mozambique It was used as a technique for data collection observation with cursive

record complete with a semi-structured interview The results revealed that the most favorite game for

male children is football and the female is the card game locally known as naripito The fact that the

female children choose more for passive games and gambling suggests negative future implications for

this generation and should be deeply reflected on this trend

Keywords Game Recreation Physical activity Health

Introduccedilatildeo

O Jogo eacute uma das actividades mais estudadas pelos cientistas de diferentes aacutereas

pedagogos psicoacutelogos filoacutesofos bioacutelogos antropoacutelogos etc Por que tanto interesse pelo jogo

Porque o jogo eacute a essecircncia do ser humano a vida soacute eacute agradaacutevel quando se joga ORTIZ (2002)

cita Soacutefoles como tendo dito a ceacutelebre palavra ldquoaquele que se esqueceu de jogar que se afaste

do meu caminho porque para o homem eacute perigosordquo

36 Licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desporto e Mestre em Treino Desportivo de Crianccedilas e Jovens Assistente do

Curso de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desporto na Universidade Pedagoacutegica de Moccedilambique-Delegaccedilatildeo de Nampula

151

O jogo eacute multifaceacutetico e polisseacutemico presente em todas as culturas e ao longo da vida de

todo ser humano eacute uma atividade que exerce grande influecircncia na vida de uma crianccedila por ser

uma das atividades mais realizadas pela mesma

Nos Bairros Suburbanos da Cidade de Nampula eacute comum ver crianccedilas a praticarem

diversos jogos em campos na rua e ateacute nos quintais das casas Isso cria a curiosidade de saber

qual desses jogos eacute o predilecto das crianccedilas desses bairros

Dada a variedade dos jogos sua influecircncia pode variar de jogo para jogo havendo uns que

podem exercer uma influecircncia positiva e outros negativa

Identificar os jogos preferidos pelas crianccedilas pode facilitar a previsatildeo de futuros

comportamentos ou haacutebitos das crianccedilas nas fases subsequentes para aleacutem dos efeitos a longo

prazo

O jogo e suas caracteriacutesticas

O ser humano pratica actividades ao longo da vida denominadas luacutedicas que lhe servem de

distraccedilatildeo relaxamento recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ou entretenimento (ORTIZ 2002)

O vocaacutebulo jogo e jogar tecircm muitas aceitaccedilotildees e interpretaccedilotildees A palavra jogo para uns

significa entretenimento diversatildeo mas para outros ultrapassa esses limites conceptuais Como

afirmam CILLAS amp OMENtildeACA (1999) ldquoa diversatildeo a alegria a exploraccedilatildeo das proacuteprias

possibilidades e a relaccedilatildeo com os demais se manteacutem para aqueles que participam na

actividade luacutedica agrave margem das definiccedilotildees e categoriasrdquo

CILLAS amp OMENtildeACA (1999) depois de analisarem estudos sobre o jogo de 24 autores

elaboraram um quadro sinoacuteptico intitulado ldquoAs caracteriacutesticas do jogo desde uma perspectiva

teoacutericardquo onde eles identificam 8 caracteriacutesticas nomeadamente

1 O jogo daacute prazer e diverte

2 Constitui um desfrute dos meios

3 Eacute espontacircneo e voluntaacuterio livremente escolhido

4 Representa uma fonte de aprendizagem

5 Supotildee um acto de expressatildeo

6 Implica participaccedilatildeo activa

7 Possui pontos de encontro com outras condutas seacuterias

8 Constitui um mundo a parte

Nestas caracteriacutesticas distintivas do jogo estaacute impliacutecita a importacircncia do mesmo e por

conseguinte a pertinecircncia da sua praacutetica e promoccedilatildeo

152

Segundo ORTIZ (2002) ldquopode-se afirmar que o jogo possibilita o desenvolvimento

evolutivo em diferentes acircmbitos cognitivo-linguiacutestico social-afectivo fiacutesico e motrizrdquo Se

relacionarmos este entendimento ao conceito de sauacutede entatildeo chegariacuteamos a conclusatildeo de que o

jogo eacute promotor de sauacutede ou seja jogar eacute sauacutede

CORSINO (2000) define a sauacutede como ldquoo estado completo de bem estar fiacutesico mental

emocional social e espiritual e natildeo somente ausecircncia de doenccedila ou incapacidaderdquo

No entanto nem todo jogo eacute saudaacutevel Estudos feitos por OMAIS (2007) evidenciaram o

caraacutecter destrutivo dos jogos de azar O jogo de azar eacute entendido como aquele em que a vitoacuteria

depende mais da sorte do que da razatildeo e segundo a autora este tipo de jogo pode ldquoconduzir o

indiviacuteduo a desenvolver seacuterios problemas psiacutequicos e sociais assumindo a forma de uma

patologia o jogo patoloacutegicordquo

Entre os jogos de azar que podem conduzir ao jogo patoloacutegico estatildeo os jogos de cartas

bingos lotarias apostas em eventos desportivos maacutequinas de jogos electroacutenicos jogos de casino

e apostas pela internet (SPRITZER 2009)

Classificaccedilatildeo dos jogos

O facto de o jogo ser polimoacuterfico e polisseacutemico torna a sua classificaccedilatildeo muito difiacutecil

Vaacuterios autores como CAILLOIS (1958) HUIZINGA (1938) PIAGET (1964) DELVAL (1994)

OTERO (1994) PARLEBAS (2001) LOacutePEZ et al (2002) DOS ANJOS (2002) e outros

classificaram os jogos desde diferentes perspectivas e como resultado encontramos hoje na

literatura uma infinidade de classificaccedilotildees muitas delas com criteacuterios natildeo consentacircneos

Dada a natureza do presente trabalho destaca-se a classificaccedilatildeo de OTERO (1994) que

distingue os jogos em desportivos e recreativos Os jogos recreativos distinguem-se dos

desportivos pela ausecircncia de qualquer superestrutura institucional e consequentemente ausecircncia

de qualquer requisito burocraacutetico para a sua praacutetica nem precisando de treinador De facto o que

mais distingue os jogos recreativos dos outros eacute o objectivo pelo qual se joga recrear-se

divertir-se entreter-se

Outras classificaccedilotildees feitas pelos autores antes citados podem ser usadas nas

subclassificaccedilotildees dos jogos recreativos como por exemplo a classificaccedilatildeo feita por

ZAPAROZHANOVA amp LATYSHKEVICH (1996) citados por ORTIZ (2002) que distinguem

os jogos em activos onde integram todos aqueles que envolvem corridas saltos e lanccedilamentos e

natildeo activos onde integram o resto Integrando essa classificaccedilatildeo na classificaccedilatildeo de OTERO

(1994) teriacuteamos jogos recreativos activos e jogos recreativos natildeo activos ou passivos Eacute verdade

153

que uma anaacutelise mais detalhada poderia distinguir esses jogos recreativos em muito activos ou

super activos activos e passivos dependendo do grau de intensidade dos movimentos

envolvidos

Igualmente dentro dos jogos recreativos podemos integrar a classificaccedilatildeo de CAILLOIS

(1958) que distingue os jogos em

Jogos agonais (acircgon) que satildeo aqueles que implicam competiccedilatildeo entre os jogadores ou

equipa de jogadores

Jogos aleatoacuterios (alea) tambeacutem chamados de jogos de azar satildeo aqueles em que a vitoacuteria

natildeo depende muito do jogador mas sim da sorte do acaso como por exemplo jogo de

cartas bingo lotaria etc

Jogos ilusoacuterios (mimicry) satildeo simboacutelicos de imitaccedilatildeo simulacros a caracteriacutestica

principal eacute a representaccedilatildeo

Jogos vertiginosos (inlix) satildeo jogos associados a uma busca freneacutetica de uma situaccedilatildeo que

potildee o corpo numa exaustatildeo atingindo o frenesi momentacircneo poreacutem no maacuteximo de

ecircxtase Como exemplo temos os chamados desportos radicais ou de forte emoccedilatildeo

Assim tendo em conta estas classificaccedilotildees um jogo pode ser recreativo ou desportivo e

subclassificar-se em superactivo activo ou passivo e estes por sua vez em agonal aleatoacuterio de

ilusatildeo ou vertiginoso como mostra a tabela 1

Tabela 1 Classificaccedilatildeo dos jogos

O presente estudo teve como objectivo identificar os jogos predilectos das crianccedilas dos

bairros suburbanos da Cidade de Nampula

Jogo

Desportivo

Recreativo

Superactivo

Activo

Passivo

Agonal

Aleatoacuterio

Ilusoacuterio

Vertiginoso

154

Metodologia

O presente estudo eacute do tipo levantamento e teve como amostra dois Postos Administrativos

suburbanos da Cidade de Nampula nomeadamente o Posto Administrativo de Napipine e o

Posto Administrativo de Muatala

Utilizou-se como teacutecnica de recolha de dados a observaccedilatildeo com registo cursivo

complementado-se com uma entrevista semi-estruturada na qual os observadores devidamente

treinados e credenciados se deslocavam aos bairros nos periacuteodos de manhatilde das 08h00 agraves 10h00

horas e no periacuteodo da tarde das 14h30 agraves 16h30 horas de segunda a sexta-feira durante duas

semanas do periacuteodo de interrupccedilatildeo escolar Agrave medida que encontravam crianccedilas a jogar

registavam numa ficha todos os dados importantes referentes ao jogo e em caso de

desconhecimento de alguns dados como o nome do jogo e material usado entrevistavam alguns

membros do grupo de crianccedilas para o devido esclarecimento

Os dados recolhidos foram processados no pacote estatiacutestico SPSS para analisar a

frequecircncia da ocorrecircncia dos jogos tendo em conta o sexo dos praticantes

Os jogos mais observados ao longo das duas semanas foram considerados como os jogos

predilectos das crianccedilas

Resultados

A tabela 2 mostra os jogos e a frequecircncia que cada jogo foi observado a ser praticado pelas

crianccedilas ao longo dos 10 dias da recolha dos dados

Tabela 2 Frequecircncia de jogos

Nordm Nome do jogo Frequecircncia Percentagem

1 Futebol 40 336

2 Naripito 19 16

3 Berlinde 8 67

4 Cheia 7 59

5 Neca 6 5

6 Namacachantho 6 5

7 Banana 6 5

8 Zero 5 42

9 Phada 5 42

10 Pino 3 25

11 Saca 3 25

12 Isa-isa 2 17

13 Matraquilho 2 17

14 Salto a Corda 2 17

155

15 Desconto 2 17

16 Corrida de Pneus 1 08

17 Trinta e Cinco 1 08

18 Dama 1 08

Total 119 100

Como mostra a tabela em termos gerais o jogo de futebol foi o que com mais frequecircncia

se encontrou as crianccedilas a praticarem com uma frequecircncia de 40 correspondente a 336

seguido de naripito com uma frequecircncia de 19 correspondente a 16 berlinde com uma

frequecircncia de 8 correspondente a 67 Cheia com uma frequecircncia de 7 correspondente a 59

Os jogos neca namacachantho e banana foram observados com a mesma frequecircncia 6

que corresponde a 50 do total das observaccedilotildees seguido do jogo zero e phada observados 5

vezes cada que corresponde a 42

Os jogos de pino e saca foram observados com a mesma frequecircncia de 3 que corresponde

a 25 para cada jogo A esses jogos seguem os jogos de matraquilho salto a corda e desconto

com uma frequecircncia de 2 correspondente a 17 cada

Em uacuteltimo lugar estatildeo os jogos de corrida de pneus dama e jogo 35 que foram observados

1 vez apenas cada um deles uma frequecircncia correspondente a 08 cada

Em funccedilatildeo do sexo foram identificados 8 jogos realizados exclusivamente por crianccedilas do

sexo masculino com maior frequecircncia para o futebol seguido de berlinde (tabela 3)

Tabela 3 Frequecircncia de jogos sexo masculino

Nordm Nome do jogo Frequecircncia acumulada

1 Futebol 40 667 667

2 Berlinde 8 133 800

3 Pino 3 50 850

4 Naripito 3 50 900

5 Desconto 2 33 933

6 Matraquilhos 2 33 966

7 Dama 1 17 983

8 Corrida de pneus 1 17 1000

Total 60 1000

Jaacute para o sexo feminino foram identificados 10 jogos realizados exclusivamente por

crianccedilas do sexo feminino com maior frequecircncia para o jogo naripito seguido de neca (tabela 4)

Tabela 4 Frequecircncia de jogos sexo feminino

Nordm Nome do jogo Frequecircncia acumulada

1 Naripito 13 271 271

2 Neca 6 125 396

156

3 Zero 5 104 500

4 Namacachantho 5 104 604

5 Banana 5 104 708

6 Phada 5 104 812

7 Cheia 4 83 895

8 Salto de corda 2 42 937

9 Isa-isa 2 42 979

10 Trinta e cinco 1 21 1000

Total 48 100

Em cinco jogos estiveram a participar tanto crianccedilas de sexo masculino como crianccedilas de

sexo feminino (tabela 5)

Tabela 5 Frequecircncia de jogos praticados por grupos mistos

Nordm Nome do jogo Frequecircncia

1 Saca 3 273

2 Naripito 3 273

3 Cheia 3 273

4 Banana 1 91

5 Namacachantho 1 91

Total 11 100

Discussatildeo

Em termos gerais o jogo de futebol e o jogo de naripito satildeo os predilectos das crianccedilas

O jogo recreativo de futebol praticado por estas crianccedilas tem certas particularidades

diferentes do jogo desportivo de futebol tendo em conta a classificaccedilatildeo referenciada no presente

estudo Eacute um jogo em que o mais importante eacute divertir-se pelo que natildeo eacute exclusivo mas sim

inclusivo sem regras restritas como o caso do nuacutemero de jogadores dimensotildees tanto do espaccedilo

como dos implementos do jogo o tempo de duraccedilatildeo de jogo etc Todos esses aspectos satildeo

definidos pelos proacuteprios jogadores e natildeo precisam nem sequer de um aacuterbitro para zelar pelo

cumprimento das regras Todos satildeo aacuterbitros pelo que todos ficam atentos agraves infracccedilotildees das

regras do jogo

Caso o nuacutemero de jogadores for iacutempar um dos jogadores que eacute conhecido como jogador

galo integra por um periacuteodo de tempo uma equipa e noutro periacuteodo integra a outra equipa ou

entatildeo eacute integrado definitivamente na equipa que estiver a perder para equilibrar o jogo o que

mostra que nesses jogos o mais importante natildeo eacute ganhar mas sim divertir-se

A preferecircncia do jogo de futebol por parte das crianccedilas da Cidade de Nampula pode dever-

se a popularidade do futebol como desporto tanto a niacutevel mundial como agrave niacutevel de Moccedilambique

ao avaliar pela sua divulgaccedilatildeo nos oacutergatildeos de informaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos outros desportos

Todos os jogos recreativos de futebol registados foram praticados absolutamente por

crianccedilas de sexo masculino Isso pode indicar que para essas crianccedilas o futebol eacute um desporto

157

para indiviacuteduos do sexo masculino e isso pode ser resultado de influecircncias culturais onde ainda

persiste a divisatildeo de trabalho por sexo ou seja existem actividades tidas como masculinas e

actividades tidas como femininas Em Moccedilambique ateacute o ano de 2012 o uacutenico campeonato de

futebol devidamente estabelecido e cuja praacutetica eacute regular e bem divulgada pelos principais

oacutergatildeos de informaccedilatildeo eacute o campeonato masculino

Isso pode ter influecircncia no pensamento das crianccedilas que faz com que elas pensem que o

futebol eacute para os homens e natildeo para as mulheres

O segundo jogo predilecto foi o jogo de naripito Trata-se de um jogo recreativo de cartas

cujo preacutemio satildeo ripitos que satildeo contas de diferentes cores que as crianccedilas de sexo feminino

usam para enfeitar o cabelo Pode-se classificar como um jogo recreativo passivo aleatoacuterio ou

seja jogo de azar onde cada crianccedila aposta uma determinada quantidade de contas ou bijutarias

chamadas na liacutengua local de ripitos

Eacute um jogo recreativo eminentemente feminino embora dos 18 registos tenha havido 3 em

que eram jogados por crianccedilas do sexo masculino e 3 em que se encontravam a jogar de forma

mista crianccedilas tanto do sexo feminino como do sexo masculino

Quando praticado pelas crianccedilas do sexo masculino em vez de apostar os ripitos muitas

vezes apostam dinheiro

Esses resultados sobre a preferecircncia de um jogo alea por parte das crianccedilas de sexo

feminino exige uma reflexatildeo dado aos estudos que indicam o perigo desses jogos Eacute mais

provaacutevel que com o avanccedilar da idade essas crianccedilas passem de aposta de ripitos para aposta de

dinheiro ou joias conduzindo-as ao jogo patoloacutegico cujos efeitos negativos foram comprovados

em estudos de OMAIS (2007) e GALETTI AT AL (2008)

OMAIS (2007) refere que os jogos patoloacutegicos fragilizam os viacutenculos familiares e causam

no jogador sensaccedilotildees desagradaacuteveis como culpa vergonha tristeza humilhaccedilatildeo ressentimento e

raiva depressatildeo ansiedade perda de amizades como consequecircncia de actos ilegais cometidos

pelo jogador para financiar o jogo

Diferentemente do futebol que eacute um jogo recreativo superiactivo e agonal e que por

conseguinte pode contribuir muito na aptidatildeo fiacutesica para a sauacutede dessas crianccedilas o naripito natildeo

soacute eacute um jogo recreativo alea mas tambeacutem passivo o que pode criar futuros haacutebitos sedentaacuterios

nessas crianccedilas

Eacute verdade que pela forccedila da cultura as crianccedilas de sexo feminino fora da escola dedicam-

se mais a actividades activas inseridas nas tarefas domeacutesticas como carregar aacutegua cozinhar o

que pode justificar a preferecircncia pelos jogos passivos nos tempos livres no entanto mereceria um

158

estudo especiacutefico para provar ou rejeitar essa hipoacutetese uma vez que namacaxantho (jogo de

pedrinhas) que eacute outro jogo que se pode classificar como passivo jaacute que se joga sentado

lanccedilando e encaixando uma pedrinha que natildeo pesa mais que 50 gramas teve apenas uma

frequecircncia de 5 correspondente a 104 contra 271 de naripito o que sugere que a motivaccedilatildeo

para a maior preferecircncia no jogo naripito natildeo estaacute no facto de ser um jogo passivo mas sim no

facto de ser um jogo de sorte

O resto dos jogos preferidos pelas crianccedilas de sexo feminino que constituem

aproximadamente 625 de frequecircncia podem ser considerados jogos activos nomeadamente

Neca zero phada salto de corda e isa-isa que envolvem saltos banana cheia e trinta e

cinco que envolvem corridas e lanccedilamentos de bola

Dos 18 jogos identificados 13 jogos que constitui 722 podem ser considerados de

activos ou superactivos Um estudo feito por PRISTA (1995) na Cidade de Maputo constatou

que as brincadeiras das crianccedilas envolvem ldquomovimentos relativamente intensosrdquo o que parece

ser caracteriacutestico dos bairros suburbanos da Cidade de Nampula

Quanto agraves crianccedilas do sexo masculino a frequecircncia de jogos activos foi de

aproximadamente 767 nomeadamente futebol pino (movimentos acrobaacuteticos do solo)

desconto (jogo que se usa bola de futebol e que cada jogador situado na sua aacuterea delimitada por

linhas no chatildeo trata de defender a aacuterea com qualquer parte do corpo menos com a matildeo para

que a bola natildeo caia na sua aacuterea Cada vez que a bola pica na aacuterea de um jogador de 20 ou 100

desconta 5 pontos Aquele que desconta ateacute zero eacute eliminado do jogo ateacute se achar o campeatildeo e

corrida de pneus que eacute um jogo mimicry mas que tambeacutem agraves vezes as crianccedilas o transformam

em um jogo agonal consiste em correr rolando um pneu seja de motociclo ou de automoacutevel

O resto dos jogos preferidos pelas crianccedilas do sexo masculino com uma frequecircncia de

aproximadamente 233 podem ser considerados passivos nomeadamente berlinde (em outros

paiacuteses lusoacutefonos eacute conhecido como jogo de gude que eacute um jogo de bolinhas de vidro que satildeo

lanccediladas desde uma determinada distacircncia para caiacuterem numa cova e depois procura-se impactar a

bolinha do adversaacuterio para eliminaacute-lo) Naripito matraquilho (jogo de futebol de ficccedilatildeo

efectuado numa maacutequina que para soltar as bolas que satildeo usadas no jogo deve-se colocar uma

moeda) e dama (jogo de mesa que usa fichas ou dados que satildeo movimentados num tabuleiro

quadriculado)

Para as crianccedilas do sexo feminino os jogos activos tiveram uma frequecircncia de 625 e

foram Neca Zero (conhecido tambeacutem por salto de elaacutestico eacute um jogo que envolve saltos

verticais sucessivos de uma corda elaacutestica) Banana (jogo de mata-mata com bola) Phada (uma

159

variante de neca mas que usa uma figura desenhada no chatildeo de duas colunas de quadrados que

se passam a peacute cochinho) Cheia (jogo de mata-mata mas que usa uma garrafa no meio que se

procura encher de arreia) Salto de Corda Isa-isa (um jogo de agilidade que envolve saltos em

diferentes direcccedilotildees frente atraacutes e laterais) e trinta e cinco (jogo de mata-mata parecido com

beisebol em que o jogador tem que passar por quatro bases sem ser tocado com a bola para

ganhar)

Ainda 375 da frequecircncia foi constituiacuteda por jogos que podem ser considerados de

passivos nomeadamente Naripito e Namacaxantho

Em termos de diversidade as meninas tecircm mais jogos activos do que os meninos mas em

termos de praacutetica os meninos se dedicam mais a jogos activos do que as meninas

Isso subentende que embora as meninas tenham mais opccedilotildees recreativas elas preferem

mais jogos recreativos passivos do que os meninos

De todos os jogos identificados apenas um pode ser classificado como ilusoacuterio o jogo de

matraquilho um pode ser classificado de vertiginoso o jogo de pino ainda um pode ser

classificado de aleatoacuterio o jogo de naripito e o resto dos jogos podem ser classificados de

agonais o que mostra a maior componente competitiva dos jogos praticados por essas crianccedilas

Dos 18 jogos identificados apenas em quatro jogos foram encontrados a jogarem juntas

crianccedilas do sexo masculino e crianccedilas do sexo feminino

O facto de poucas vezes ter-se encontrado crianccedilas de ambos os sexos a praticarem o

mesmo jogo juntas pode ser justificado pela proacutepria faixa etaacuteria preacute-puberdade e puberdade Agrave

medida que a crianccedila cresce cria sua identidade sexual vai-se identificando com o seu sexo e

consequentemente procura juntar-se agrave crianccedilas que tenham a mesma identidade sexual

Conclusatildeo

Foram identificados 18 jogos praticados por crianccedilas da Cidade de Nampula e desses os

predilectos em ordem decrescentes satildeo futebol naripito berlinde cheia e neca sendo futebol e

berlinde os jogos preferidos pelas crianccedilas do sexo masculino e naripito e neca os preferidos

pelas crianccedilas do sexo feminino

Destes 722 dos jogos identificados podem ser classificados de activos ou superactivos

o que indica existecircncia ainda de opccedilotildees recreativas saudaacuteveis para as crianccedilas da Cidade de

Nampula

Em termos de diversidade de jogos as crianccedilas do sexo feminino tecircm jogos mais

diversificados do que as crianccedilas do sexo masculino e em termos de classificaccedilatildeo dos mesmos

160

as crianccedilas do sexo feminino tecircm mais jogos activos do que as crianccedilas do sexo masculino no

entanto na opccedilatildeo recreativa as crianccedilas do sexo feminino optam mais por jogos passivos do que

as crianccedilas do sexo masculino A maiorias dos jogos recreativos identificados satildeo agonais no

entanto a maioria dos jogos optados pelas crianccedilas do sexo feminino satildeo aleatoacuterios ou de azar

O facto de as crianccedilas do sexo feminino optarem mais por jogos passivos e de azar sugere

implicaccedilotildees futuras negativas para esta geraccedilatildeo pelo que dever-se-ia refletir profundamente

sobre essa tendecircncia

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162

Crescimento somaacutetico e aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede Um estudo em

alunos da Cidade da Beira Moccedilambique

Djossefa Joseacute Nhantumbo37

Bridgette Simone Bruce-Nhantumbo38

Resumo

O presente estudo teve como objectivo avaliar o Crescimento somaacutetico e a Aptidatildeo Fiacutesica Relacionada agrave

Sauacutede (AptFS) em alunos dos 6 aos 14 anos da Cidade da Beira Moccedilambique Eacute um estudo de caraacutecter

descritivo comparativo e transversal envolvendo uma amostra de 883 alunos (451 rapazes e 432

raparigas) que foram submetidos agrave bateria de testes FITNESSGRAM para a avaliaccedilatildeo da AptFS O

crescimento somaacutetico foi avaliado de acordo com a padronizaccedilatildeo descrita por LOHMAN et al (1998)

tendo o IMC sido determinado dividindo o valor do peso pelo quadrado da altura em metros

(pesoaltura2) sendo expresso em kgm2 A anaacutelise de dados foi realizada atraveacutes do pacote estatiacutestico

SPSS 150 e o niacutevel de significacircncia foi fixado em 005 Os resultados mostram que tanto as meninas

como os meninos apresentam valores meacutedios estatuto ponderais abaixo do recomendado para as idades

consideradas no presente estudo pese a que as meninas espelham valores mais elevados de IMC Na

maior parte dos intervalos etaacuterios a Aptidatildeo Fiacutesica aumenta com o avanccedilo da idade sendo que os rapazes

evidenciaram melhores niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica em quase todas as provas em relaccedilatildeo agraves raparigas o

maior desempenho da Aptidatildeo Fiacutesica registou-se na prova de elevaccedilatildeo do tronco em ambos os sexos

enquanto o menor desempenho registou-se na prova de corrida de 1600 metros em que foram evidentes

em ambos os sexos niacuteveis abaixo do recomendado na maior parte das provas fiacutesicas seleccionadas para o

presente estudo excepto nas idades 6 e 9 Embora natildeo tenha sido efectuada uma correlaccedilatildeo linear entre

estas variaacuteveis parece existir uma inter-relaccedilatildeo entre os niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica com os valores de IMC

cuja inteligibilidade carece de mais estudos contextualizados Palavras ndash Chaves Aptidatildeo Fiacutesica IMC Alunos

Abstract

The present study had as objective to evaluate somatic growth and Physical Fitness associated to Health

in students aged 6 to 14 years from the City of Beira Mozambique Itacutes a descriptive-comparative and

transversal study which involved a sample of 883 pupils (451 boys and 432 girls) who were submitted to

Fitnessgram battery of test to measure Physical Fitness Related to Health Somatic growth was evaluated

according to LOHMAN et al (1998) standardized method and BMI was determined by dividing the

value of the weight by the square of height in meters (IMC=WeightHeightsup2) Data analysis was

performed in the SPSS statistical program version 15 and the significance level was set at 005 The

results show that both girls and boys present somatic average values below to those recommended for the

ages of the present study although the girls show higher values of Body Mass Index in most age ranges

the Physical Fitness increases as the age advances even so the boys showed better levels in almost all the

tests if compared to the girls the best performance was in the test trunk lift which occurred in both

genders while the worst performance was in the mile race in which both boys and girls performed above

recommended in almost all the tests selected for the present study excepting the ages 6 and 9 Although

there has not been a linear correlation analysis between these variables there appears to be an

interrelationship between levels of Physical Fitness with BMI whose intelligibility needs more

contextualized studies

Keywords Physical Fitness Body Mass Index Students

37 Licenciado em EF e Desporto Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de EF e Desporto Doutorando em Educaccedilatildeo

especializaccedilatildeo em Metodologia de Investigaccedilatildeo Educacional pela Universidad Iberoamericana (UNINI) 38 Licenciada em EF e Desporto Mestre em EducaccedilatildeoEnsino de EF e Desporto Doutoranda em Educaccedilatildeo

especializaccedilatildeo em Metodologia de Investigaccedilatildeo Educacional pela Universidad Iberoamericana (UNINI)

163

Introduccedilatildeo

A praacutetica regular de Actividade Fiacutesica sistematizada na infacircncia e na adolescecircncia pode

favorecer o desenvolvimento ou a manutenccedilatildeo de niacuteveis adequados de Aptidatildeo Fiacutesica reduzindo

o risco de incidecircncia de inuacutemeras disfunccedilotildees croacutenico degenerativas em idades precoces

(RONQUE et al 2007) Embora sejam vaacuterios os elementos necessaacuterios para aquisiccedilatildeo de

habilidades muitos desportos enfatizam capacidades fiacutesicas especiacuteficas por exemplo os

halterofilistas precisam de forccedila os maratonistas de resistecircncia muscular e cardiovascular entre

outros A danccedila requer o desenvolvimento de vaacuterios componentes pois movimentos como o

ldquogrande saltordquo necessita tanto de flexibilidade quanto de forccedila e para realizar equiliacutebrio fora do

centro de gravidade ou passos raacutepidos e intrincados na ponta deve-se possuir refinada

coordenaccedilatildeo neuromuscular (GREGO et al 2006)

Nas uacuteltimas trecircs deacutecadas numerosos trabalhos tecircm consistentemente demonstrado que altos

niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica estatildeo associados agrave diminuiccedilatildeo do risco de doenccedila arterial coronaacuteria

diabetes hipertensatildeo e osteoporose (PITANGA 2002)

O desenvolvimento da Aptidatildeo Fiacutesica assim como do desporto nas suas diferentes formas

de manifestaccedilatildeo satildeo objectivos a serem alcanccedilados nos programas de Educaccedilatildeo Fiacutesica (EF) e de

desporto nos quais o indiviacuteduo eacute submetido a um processo de treino Para tanto eacute necessaacuterio que

o profissional de EF ou Desporto tenha conhecimento destes conceitos e suas relaccedilotildees (BOumlHME

2003)

O desenvolvimento motor eacute um processo sequencial relacionado agrave idade cronoloacutegica

traduzido pela interacccedilatildeo entre os requisitos das tarefas a biologia do indiviacuteduo e as condiccedilotildees

ambientais sendo inerente agraves mudanccedilas sociais intelectuais e emocionais (GALLAHUE amp

OZMUN 2001) Eacute na infacircncia particularmente no iniacutecio do processo de escolarizaccedilatildeo que

ocorre um amplo incremento das habilidades motoras o que possibilita agrave crianccedila um amplo

domiacutenio do seu corpo em diferentes actividades saltar correr rastejar chutar uma bola lanccedilar

um arco equilibrar-se num peacute escrever entre outras (SANTOS et al 2004)

A infacircncia e a adolescecircncia satildeo periacuteodos criacuteticos poreacutem extremamente importantes

estando associados a aspectos de conduta e solicitaccedilatildeo motora jaacute que nesta fase do

desenvolvimento humano aleacutem das implicaccedilotildees fisioloacutegicas relacionadas agrave maturaccedilatildeo bioloacutegica

o organismo eacute sensiacutevel agrave influecircncia de factores ambientais e comportamentais tanto de natureza

positiva como negativa (GUEDES amp GUEDES 2006)

164

Assim o acompanhamento dos iacutendices de desempenho motor de crianccedilas e adolescentes

pode contribuir de forma decisiva na tentativa de promover a praacutetica de Actividade Fiacutesica no

presente e para toda a vida Para tal as experiecircncias motoras devem fazer parte do dia-a-dia das

crianccedilas e adolescentes pois satildeo representadas por toda e qualquer actividade corporal realizada

em casa na escola e nas brincadeiras

Com efeito e conforme LUGUETTI et al (2010) enfatizam verificar os aspectos da

AptFS de jovens poderaacute contribuir de forma decisiva na tentativa de promoccedilatildeo da sauacutede

colectiva

Os estudos centrados no crescimento somaacutetico e Aptidatildeo Fiacutesica realizados em

Moccedilambique que pelo seu valor constituem-se como referecircncias (PRISTA et al 1997 PRISTA

et al 2002 SARANGA et al 2002) foram realizados em contexto urbano concretamente com

crianccedilas e jovens de Maputo existindo apenas um uacutenico estudo de referecircncia que se insere neste

domiacutenio que foi realizado com crianccedilas e jovens moccedilambicanos em idade escolar vivendo em

contextos rurais (NHANTUMBO 2007)

Todavia e ateacute aos dias que correm natildeo existem dados sistematizados no domiacutenio dos

padrotildees de crescimento somaacutetico e Aptidatildeo Fiacutesica referentes agraves outras aacutereas de Moccedilambique Por

conseguinte do ponto de vista eacutetnico orograacutefico e de assimetrias socioeconoacutemicas regionais a

populaccedilatildeo de Moccedilambique eacute heterogeacutenea o que justifica a necessidade e extrema importacircncia de

avaliar a variabilidade destes indicadores em todas as regiotildees do paiacutes Foi neste contexto que no

acircmbito do presente estudo foram consideradas algumas variaacuteveis somaacuteticas e de AptFS no

sentido de examinar e caracterizar a expressatildeo destes indicadores no seio de crianccedilas e jovens da

cidade da Beira

Crescimento somaacutetico

As modificaccedilotildees no estilo de vida das pessoas vecircm acometendo grandes transformaccedilotildees

sociais isto eacute na actualidade o trabalho as novas tecnologias e sobretudo as mudanccedilas nos

haacutebitos alimentares associadaso agrave inactividade fiacutesica estatildeo proporcionando alteraccedilotildees

significativas no tocante agraves alteraccedilotildees morfoloacutegicas dos indiviacuteduos (MOREIRA et al 2010)

Sendo assim a monitorizaccedilatildeo do crescimento resulta ser um procedimento

internacionalmente aceite para aferir as condiccedilotildees de sauacutede e qualidade de vida de um

determinado paiacutes ou regiatildeo (TANNER 1987 MALINA amp BOUCHARD 1991) embora o

165

crescimento corporal seja tambeacutem em muitos paiacuteses um indicador de sauacutede mais relevante do

que qualquer informaccedilatildeo acerca do valor do produto interno bruto (PRISTA et al 2000)

Outrossim o conhecimento do estado de crescimento e desenvolvimento de uma

populaccedilatildeo eacute de extrema importacircncia pois revela na realidade resultados relevantes aos

educadores pediatras nutricionistas pais e gestores na perspectiva de trazer agrave luz as

necessidades contemporacircneas que estejam associadas agrave sauacutede e ao bem-estar (MAIA et al

2007)

A informaccedilatildeo do crescimento somaacutetico e do desempenho motor de crianccedilas e jovens eacute de

primordial importacircncia natildeo soacute para profissionais de Desporto e de Educaccedilatildeo Fiacutesica mas

tambeacutem e sobretudo para Nutricionistas Pediatras e peritos em Sauacutede Puacuteblica (MAIA et al

2006)

Em termos antropomeacutetricos crescimento consiste no aumento e nas modificaccedilotildees dos

componentes corporais tanto longitudinais como transversais sendo que apoacutes o primeiro ano a

fase mais acelerada eacute a adolescecircncia (WALRICK amp DUARTE 2000)

Historicamente profissionais da aacuterea de sauacutede tecircm utilizado a estatura e a massa corporal

como medidas para avaliar as alteraccedilotildees no crescimento e essas medidas antropomeacutetricas podem

ser usadas a niacutevel individual e populacional para obter informaccedilotildees sobre comprometimento da

sauacutede ou o bem-estar nutricional e para obter informaccedilotildees sobre o estado nutricional de um paiacutes

comunidade grupo socioeconoacutemico e para estudar os determinantes e consequecircncias da maacute

nutriccedilatildeo respectivamente (BERGMANN et al 2008)

Tambeacutem pode ser visto como um encadeamento de fenoacutemenos de ordem celular

fisioloacutegica e morfoloacutegica predeterminados geneticamente e modificaacuteveis pelos fenoacutemenos que

traduzem o meio ambiente mesmo quando o componente geneacutetico natildeo possa anular a influecircncia

ambiental (SILVA NETO 1999)

O crescimento e desenvolvimento passam por fases definidas mais ou menos susceptiacuteveis

agraves influecircncias geneacuteticas e ambientais onde os primeiros anos de vida satildeo mais susceptiacuteveis aos

estresses alimentares doenccedilas infecciosas niacutevel socioeconoacutemico e dependecircncia cultural da

famiacutelia no tratamento com a sauacutede As alteraccedilotildees saudaacuteveis na composiccedilatildeo corporal durante o

crescimento implicam uma imediata disponibilidade de nutrientes seja em qualidade e

quantidade para a actualizaccedilatildeo dos incrementos dos valores estatuto ponderais esperados para

uma determinada idade e contexto socioeconoacutemico favoraacutevel (SARANGA et al 2007)

No entanto o crescimento fiacutesico e em especial a performance motora vecircm merecendo

particular destaque em pesquisas com a finalidade de documentar e compreender diversos

166

aspectos relacionados agrave sauacutede de uma determinada populaccedilatildeo (PRADO 2000) Isto faz com que

o crescimento e desenvolvimento fiacutesico juntamente com o desempenho motor mereccedilam uma

particular abordagem em pesquisas que buscam documentar e compreender a diversidade de

aspectos relacionados agrave sauacutede de determinada populaccedilatildeo (BARBOSA et al 2008)

Estudos tecircm vindo a denunciar a influecircncia preponderante do factor ambiental sobre o

estado de crescimento e desenvolvimento de crianccedilas e adolescentes o que inclui entre outros

as condiccedilotildees socioeconoacutemicas das famiacutelias e inegavelmente factores geneacuteticos que determinam

toda essa complexa intensa e veloz transformaccedilatildeo ocorrida no organismo humano (JOHNSTON

amp MACVEAN 1995 PRADO 2000)

A relevacircncia desses estudos reside no facto de que o crescimento principalmente nos

paiacuteses em desenvolvimento configurar-se como um importante meio para avaliaccedilatildeo das

condiccedilotildees de sauacutede de crianccedilas e jovens tendo em vista que constitui um dos indicadores de

qualidade de vida de um pais alem disso o acompanhamento do crescimento durante a infacircncia

e adolescecircncia possibilita a comparaccedilatildeo dos iacutendicies individuais com os valores apresentados

pelo grupo ou com referencias preestabelecidas possibilitando assim o diagnoacutestico precoce de

possiacuteveis problemas de subnutriccedilatildeo ou de sobrepeso e obesidade (BERGMANN et al 2008)

Aptidatildeo fiacutesica

O incremento galopante do sedentarismo nas sociedades modernas e industrializadas tem

sido associado a factores de risco de um complexo espectro de condiccedilotildees moacuterbidas bem como

ao estabelecimento de relaccedilotildees entre Aptidatildeo Fiacutesica e sauacutede fundamentalmente a partir de uma

oacuteptica epidemioloacutegica (NHANTUMBO et al 2006)

O que realmente se tem verificado eacute que o modo de vida contemporacircneo induz as pessoas

ao sedentarismo e agrave adopccedilatildeo de haacutebitos alimentares inadequados que por sua vez estatildeo

intimamente relacionados a uma maior morbidade e mortalidade (BIM amp JUNIOR 2005)

Vaacuterias tentativas tecircm sido feitas para melhorar a Aptidatildeo Fiacutesica em crianccedilas

principalmente no meio escolar atraveacutes do aumento do conhecimento e da praacutetica de actividades

fiacutesicas apesar de saber-se que estas medidas embora importantes natildeo satildeo tatildeo eficazes devido agrave

forte interferecircncia dos meios de comunicaccedilatildeo verbais escritos e principalmente visuais no dia-a-

dia da crianccedila o que supera qualquer tentativa de fazer com que a crianccedila tenha um

comportamento fiacutesico activo e uma alimentaccedilatildeo a mais saudaacutevel possiacutevel (PINHO amp

PETROSKI 1999)

167

Outro aspecto importante eacute que no mundo existe uma forte preocupaccedilatildeo no sentido de

determinar e atribuir significado pedagoacutegico e epidemioloacutegico aos niacuteveis de AptFS o que tem

por conseguinte conduzido a investigaccedilatildeo a dirigir o seu olhar para populaccedilotildees diferenciadas em

termos etaacuterios e contextuais (SANTOS et al 2010)

Compreendendo os benefiacutecios que a praacutetica da Actividade Fiacutesica regular promove na

melhoria da qualidade de vida desperta-nos a atenccedilatildeo no que concerne agrave relaccedilatildeo entre as

actividades fiacutesicas e os iacutendices de Aptidatildeo Fiacutesica para o estado de sauacutede global das pessoas

principalmente na infacircncia e na adolescecircncia (MARCHESONI et al 2011)

A Aptidatildeo Fiacutesica eacute um indicador fundamental do niacutevel de sauacutede individual e comunitaacuterio

aleacutem de possuir reconhecida associaccedilatildeo entre os haacutebitos de Actividade Fiacutesica o estado de sauacutede

e o bem-estar sendo de grande utilidade tanto para os profissionais de EF como para os da aacuterea

de sauacutede por conter informaccedilotildees relevantes acerca das caracteriacutesticas de uma determinada

populaccedilatildeo em seu local de actuaccedilatildeo (VERARDI et al 2007)

Com o aumento do sedentarismo e a diminuiccedilatildeo dos niacuteveis de actividade fisica em crianccedilas

e adolescentes na fase escolar a Aptidatildeo Fiacutesica converteu-se num motivo de grande interesse

para os profissionais na aacuterea de sauacutede (TOMKINSON amp OLDS 2007 MOJICA et al 2008

CLELAND et al 2008)

Sabe-se que os niacuteveis satisfatoacuterios de AptFS podem para aleacutem de favorecer a prevenccedilatildeo

manutenccedilatildeo e melhoria da capacidade funcional reduzir a probabilidade do desenvolvimento de

inuacutemeras disfunccedilotildees de caraacutecter croacutenico degenerativo tais como obesidade diabetes doenccedilas

cardiovasculares hipertensatildeo entre outras proporcionando consequentemente melhores

condiccedilotildees de sauacutede e qualidade de vida agrave populaccedilatildeo (BOREHAM amp RIDDOCH 2001)

O desenvolvimento da Aptidatildeo Fiacutesica assim como do desporto nas suas diferentes formas

de manifestaccedilatildeo satildeo objectivos que devem ser alcanccedilados em programas de EF e do desporto

em particular nos quais o indiviacuteduo eacute submetido a um processo de treino sendo para tal

necessaacuterio que o profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica ou Desporto tenha conhecimento destes

conceitos e suas respectivas relaccedilotildees jaacute que o desporto e a Aptidatildeo Fiacutesica tecircm em comum o

facto de se desenvolverem por meio de actividades fiacutesicas em que a realizaccedilatildeo do desporto se

daacute principalmente por actividades fiacutesicas denominadas acccedilotildeesactividades desportivas

(BOumlHME 2003)

Avaliar os niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica deve ser o primeiro passo para identificar um estado

que predispotildee a sauacutede e deve-se neste contexto incentivar uma constante revisatildeo dos programas

168

de EF escolar para preservaccedilatildeo de niacuteveis satisfatoacuterios de sauacutede (BOELHOUWER amp BORGES

2002)

Eacute importante ainda salientar que o mais fundamental eacute desenvolver no aluno a

consciencializaccedilatildeo e formaccedilatildeo para que ele possa praticar Actividade Fiacutesica fora do acircmbito

escolar sabendo da sua importacircncia para a sauacutede e assim influenciar outras pessoas agrave essa

praacutetica Ademais a Aptidatildeo Fiacutesica apresenta caracteriacutesticas individualizadas de acordo com as

necessidades proacuteprias de actividades fiacutesicas de cada ser humano possuindo elementos

qualitativos de acordo com o modo de vida e apresenta variaccedilotildees entre os indiviacuteduos assim

como durante as diferentes fases da vida do proacuteprio indiviacuteduo nas quais ele possa ser mais ou

menos activo (Boumlhme 2003)

Resulta importante ver a aptidatildeo desde uma perspectiva total na qual se iria referir agrave

totalidade biopsicossocial do homem isto eacute agrave realidade de o indiviacuteduo estar apto para todas as

suas necessidades do ponto de vista bioloacutegico psicoloacutegico e social levando-o a uma integraccedilatildeo

adequada ao meio ambiente onde estaacute inserido ou seja seria o resultado directo da interacccedilatildeo

das suas caracteriacutesticas geneacuteticas com o meio ambiente com que estaacute relacionado e o seu

fenoacutetipo (BOumlHME 1993) Os componentes que englobam a AptFS compreendem os factores

motores (flexibilidade e forccedilaresistecircncia muscular localizada) funcionais (aptidatildeo

cardiorrespiratoacuteria) morfoloacutegicos (anaacutelise da composiccedilatildeo corporal) fisioloacutegicos e

comportamentais (PEZZETA et al 2003)

Referir que Aptidatildeo Fiacutesica sauacutede e qualidade de vida relacionada agrave sauacutede satildeo variaacuteveis

com um alto grau de associaccedilatildeo Existe uma tendecircncia a uma maior prevalecircncia dos niacuteveis de

sedentarismo quando se inicia a vida adulta e essa populaccedilatildeo adulta jovem tende a ser

aparentemente saudaacutevel por ausecircncia de sintomas muito embora esse grupo tenda a apresentar

factores de risco que potencialmente levaratildeo a doenccedilas hipocineacuteticas

Em decorrecircncia do sedentarismo cada vez mais prevalente esse grupo populacional tende

a apresentar niacuteveis progressivamente menores de Aptidatildeo Fiacutesica de sauacutede e de qualidade de vida

(ARAUacuteJO amp ARAUacuteJO 2000) Como eacute evidente natildeo existe um conceito uacutenico de Aptidatildeo

Fiacutesica jaacute que diferentes especialistas e pesquisadores tecircm trazido conceitos adequados agrave sua

realidade contextual (GUEDES amp GUEDES 1997) A Aptidatildeo Fiacutesica eacute em geral um estado

fiacutesico de bem-estar que permite agraves pessoas realizar as actividades e reduzir os problemas de

sauacutede relacionados com a falta de exerciacutecio proporcionar uma base de aptidatildeo para a

participaccedilatildeo em actividades fiacutesicas (AAHPERD 1988)

169

Contudo a AptFS eacute tambeacutem a capacidade de executar actividades fiacutesicas com energia e

vigor sem excesso de fadiga e tambeacutem como a demonstraccedilatildeo de qualidades e capacidades fiacutesicas

que conduzem ao menor risco de desenvolvimento de doenccedilas hipocineacuteticas (PATE 1988

ACSM 1996) Eacute simultaneamente um conceito complexo e um instrumento operacional de

mensuraccedilatildeo de um conjunto lato de atributos fisicos psicoloacutegicos e fisioloacutegicos que cada pessoa

possui em determinado momento da sua histoacuteria de vida cujos valores moderados a elevados

estatildeo intimamente associados a um risco reduzido de desenvolvimento de doenccedilas de natureza

hipocineacutetica (BOUCHARD amp SHERPARD 1994) Por seu turno trata-se da capacidade de

executar actividades fiacutesicas de forma eneacutergica e vigorosa sem excesso de fadiga e ao mesmo

tempo a demonstraccedilatildeo de qualidades e capacidades que conduzam ao menor risco de

desenvolvimento de doenccedilas e incapacidades funcionais (SILVA et al 2005)

Tambeacutem a Aptidatildeo Fiacutesica eacute a expressatildeo da capacidade funcional direccionada agrave realizaccedilatildeo

de esforccedilos fiacutesicos associados agrave praacutetica de Actividade Fiacutesica representada por conjunto de

componentes relacionados agrave sauacutede e ao desempenho atleacutetico (CASPERSEN et al 1985) Nesta

vertente enquanto a Actividade Fiacutesica define-se como processo estreitamente relacionado com

aspectos comportamentais a Aptidatildeo Fiacutesica caracteriza-se como produto voltado ao

dimensionamento das capacidades para a posterior realizaccedilatildeo do trabalho muscular Visto nestas

perspectivas ser um indiviacuteduo saudaacutevel eacute uma espeacutecie de harmonia entre o comportamento e as

funccedilotildees corporais (PEZZETTA et al 2003)

Metodologia

A presente pesquisa possui um delineamento transversal e teve como enfoque descrever e

comparar as variaacuteveis do Crescimento Somaacutetico e da AptFS dos alunos do ensino primaacuterio da

Cidade da Beira Participaram do estudo de 883 alunos de ambos os sexos (451 rapazes e 432

raparigas) do 1ordm ao 7ordm grau com compreendidas entre os 6 e os 14 anos da Cidade da Beira

pertencentes a quatro escolas sendo duas puacuteblicas e outras duas privadas todas da Cidade da

Beira seleccionadas aleatoriamente

Teacutecnica e instrumentos de recolha de dados

A altura e o peso foram medidas com um estadioacutemetro e uma balanccedila de marca

Harpenderreg e Seccareg respectivamente de acordo com a padronizaccedilatildeo descrita por LOHMAN et

al (1998) O IMC foi determinado dividindo o valor do peso pelo quadrado da altura em metros

170

(IMC=PesoAltura2) sendo expresso em kgm2 A Aptidatildeo Fiacutesica foi avaliada com recurso agrave

bateria de testes FITNESSGRAM que compreende os seguintes testes Corrida de 1600 metros

(aptidatildeo cardiorespiratoacuteria) Curl-Up ou Abdominais (forccedila de resistecircncia abdominal) Flexotildees

de Braccedilo ou Push-Up (forccedila de resistecircncia dos membros superiores) e Trunk lift (flexibilidade do

tronco) Agrave excepccedilatildeo das provas de corrida 1600 metros e forccedila de resistecircncia abdominal foram

concedidas duas repeticcedilotildees a cada sujeito em todas as provas de aptidatildeo fiacutesica Nestas foi

considerado o melhor resultado Em ordem a minimizar a variacircncia do erro nas mediccedilotildees tanto

nas medidas antropomeacutetricas como em todas as provas fiacutesicas os sujeitos foram sempre

avaliados pelos mesmos observadores

Procedimentos estatiacutesticos

A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi efectuada no programa estatiacutestico SPSS versatildeo 150

com um niacutevel de significacircncia fixado em 005 tendo compreendido as seguintes etapas 1

Aplicaccedilatildeo do teste de Kolmogorov-Smirnov para efeitos de verificaccedilatildeo da normalidade da

distribuiccedilatildeo dos dados tendo evidenciado uma distribuiccedilatildeo normal 2 Caacutelculo das medidas de

estatiacutestica descritiva baacutesicas isto eacute a meacutedia e desvio padratildeo 3 Comparaccedilatildeo das meacutedias obtidas

nas diferentes variaacuteveis de interesse em funccedilatildeo do sexo atraveacutes do T-Teste de medidas

independentes 4 Aplicaccedilatildeo da anaacutelise de variacircncia a dois factores (ANOVA II) para determinar

o efeito da idade e do sexo sobre as variaacuteveis somaacuteticas e de Aptidatildeo Fiacutesica bem como a

interacccedilatildeo idade-sexo

Consideraccedilotildees eacuteticas

Foram feitas todas as diligecircncias necessaacuterias para salvaguardar a integridade fiacutesica e a

sauacutede dos sujeitos avaliados Os testes foram aplicados por avaliadores previamente treinados

para o efeito Todas as avaliaccedilotildees e observaccedilotildees encerraram um caraacutecter natildeo invasivo e foram

realizadas nas escolas seleccionadas para esta pesquisa num ambiente adequado aos propoacutesitos

da mesma A autorizaccedilatildeo para a recolha de dados foi obtida apoacutes a explicaccedilatildeo antecipada da

metodologia e objectivos do estudo agraves direcccedilotildees das escolas e aos pais e encarregados de

educaccedilatildeo dos alunos da faixa etaacuteria abrangida no acircmbito desta pesquisa

171

Resultados

Crescimento somaacutetico

A anaacutelise dos resultados da presente pesquisa face agrave tabela de classificaccedilatildeo do IMC da

OMS permitiu evidenciar valores abaixo dos padrotildees recomendados em todas as idades da

amostra do presente estudo facto resultante dos baixos escores do Peso e Altura (Tabela 1) Os

resultados da anaacutelise de variacircncia (ANOVA II) revelam um efeito do sexo e da idade

significativo e altamente significativo respectivamente Evidenciou-se ainda uma interacccedilatildeo

significativa entre o sexo e a idade nas variaacuteveis somaacuteticas Peso e IMC Ainda que se trate de

dois contextos diferenciados estes resultados satildeo contraditoacuterios com os reportados por BORGES

et al (2010) em que avaliaram os indicadores antropomeacutetricos e neuromusculares de 94 alunos

(51 meninas e 43 meninos) brasileiros com idade entre 10 e 14 anos tendo sido constatados

iacutendices de prevalecircncia de risco de excesso de peso expressivos em todas as crianccedilas investigadas

Tabela 1 Valores descritivos da altura peso e IMC em funccedilatildeo do sexo e da idade (MplusmnDP)

Altura (cm) Peso (Kg) IMC

Idade

(anos) Meninas

(n= 432)

Meninos

(n= 450)

Meninas

(n= 429)

Meninos

(n= 444)

Meninas

(n= 429)

Meninos

(n= 443)

6 11989plusmn826 12098plusmn996 2019plusmn452 1939plusmn386 1408plusmn285 1328plusmn223

7 12575plusmn969 12392plusmn663 2076plusmn418 2159plusmn342 1324plusmn275 1406plusmn197

8 13368plusmn1021 13208plusmn990 2950plusmn738 2755plusmn681 1631plusmn283 1576plusmn331

9 13919plusmn970 13671plusmn817 3281plusmn886 2987plusmn598 1679plusmn345 1591plusmn231

10 14088plusmn788 14056plusmn896 3259plusmn794 3523plusmn1077 1625plusmn271 1764plusmn442

11 14541plusmn735 14366plusmn906 3485plusmn679 3437plusmn1057 1639plusmn242 1644plusmn366

12 14538plusmn711 14290plusmn1393 3478plusmn589 3479plusmn746 1641plusmn216 1656plusmn265

13 15152plusmn631 14875plusmn1004 4207plusmn727 3732plusmn804 1834plusmn326 1676plusmn231

14 15309plusmn1418 15305plusmn1280 4658plusmn1428 4195plusmn1275 1963plusmn448 1757plusmn326

Anova II

Efeitos Principais Efeitos Principais Efeitos Principais

Sexo F=4229 pgt001

Idade F=125433 plt0001

Interacccedilatildeo F=0462 pgt005

Sexo F=6115 pgt001

Idade F=94163 plt0001

Interacccedilatildeo F=2285 plt005

Sexo F=3579 pgt005

Idade F=28333 plt0001

Interacccedilatildeo F=3206plt005

Em Moccedilambique PRISTA et al (2005) descreveram o estado de crescimento de crianccedilas

e jovens de Maputo em idade escolar comparando esses valores com as normas da OMS e com

os resultados obtidos em 1992 com a populaccedilatildeo da mesma zona numa tentativa de averiguar o

impacto socioeconoacutemico naqueles indicadores de crescimento As crianccedilas de 11 anos

apresentaram menor estatura e baixo peso em relaccedilatildeo agraves normas da OMS O IMC em rapazes de

11 anos e em raparigas a partir de 12 anos foi relativamente menor quando comparado com as

normas da OMS Os valores de altura e peso diferiam substancialmente dos valores normativos

172

da OMS e verificou-se ainda uma clara vantagem dos indiviacuteduos com niacutevel socioeconoacutemico

mais alto

Comparando os valores descritivos dos indicadores somaacuteticos em funccedilatildeo do sexo (Tabela

2) observa-se que natildeo existem diferenccedilas significativas entre as meacutedias (pgt005) contudo ao

niacutevel do peso as meninas apresentam valores meacutedios superficialmente maiores em relaccedilatildeo aos

meninos A semelhanccedila estatiacutestica constatada entre os dois sexos ao niacutevel do peso e altura deve-

se muito provavelmente ao facto de se tratar de uma comparaccedilatildeo global da amostra em funccedilatildeo

do sexo e sem ter em conta a idade Com efeito uma leitura atenta dos valores meacutedios das

variaacuteveis somaacuteticas em funccedilatildeo da idade permite observar que as meninas apresentam na faixa

etaacuteria dos 13-14 anos valores meacutedios substancialmente mais elevados

Estes resultados estatildeo em linha com os reportados noutros estudos realizados com crianccedilas

e jovens residentes em contextos urbanos e rurais de Moccedilambique (PRISTA 1994 MURIA et

al 1999 MAIA et al 2002 NHANTUMBO 2007 NHANTUMBO et al 2007

NHANTUMBO et al 2010)

Por sua vez os resultados referentes ao iacutendice de massa corporal indicam que as meninas

apresentam valores mais elevados em relaccedilatildeo aos seus pares do sexo masculino nas idades de 6

8 9 11 13 e 14 anos Resultados semelhantes foram encontrados pelo grupo de autores citados

anteriormente em crianccedilas e jovens moccedilambicanos

Tabela 2 Comparaccedilatildeo dos indicadores do Crescimento Somaacutetico em funccedilatildeo do sexo

Variaacuteveis

Meninas

(n=432)

Meninos

(n=451)

t

p

Peso (Kg) 32011086 31381074 -086 039

Altura (cm) 138821372 138171436 -069 049

IMC (kgm2) 1620342 1621576 003 097

No presente estudo as meninas nas idades de 13 e 14 anos apresentam valores meacutedios de

IMC mais elevados o que justifica a influecircncia do iniacutecio do processo de maturaccedilatildeo das meninas

(idade de menarca) o qual eacute caracterizado por um aumento de concentraccedilatildeo de gordura corporal

decorrente da acccedilatildeo hormonal (GUEDES amp GUEDES 1997) Em outras palavras os resultados

meacutedios de IMC encontrados no presente estudo parecem traduzir as caracteriacutesticas maturacionais

proacuteprias das meninas nesta faixa etaacuteria

Como foi referido anteriormente os resultados da anaacutelise da variacircncia bifactorial

evidenciaram um efeito principal significativo do sexo e da idade bem como uma interacccedilatildeo da

173

mesma magnitude entre os dois factores Resultados similares foram documentados por

NHANTUMBO et al (2010) ao verificarem aumentos dos valores meacutedios do peso altura e IMC

com o avanccedilo da idade evidenciando um efeito claro desta sobre aqueles indicadores conjugado

com uma interacccedilatildeo significativa com o sexo Poreacutem estes valores encontravam-se aqueacutem dos

valores normativos internacionais situando-se abaixo do P25 da distribuiccedilatildeo percentiacutelica de

referecircncia adoptada pela CDC e pela OMS

Considerando que a maior parte de estudos centrados nos aspectos do crescimento

somaacutetico de crianccedilas e jovens em idade escolar foi realizada na Cidade de Maputo (PRISTA

1994 MURIA et al 1999 MAIA et al 2002 SARANGA et al 2002) e na localidade rural de

Calanga (NHANTUMBO 2007 NHANTUMBO et al 2007 NHANTUMBO et al 2010)

espelha-se um desconhecimento da dinacircmica do crescimento deste extracto populacional

residente noutras regiotildees soacuteciogeograacuteficas deste vasto paiacutes

Uma vez reportado um efeito significativo da aacuterea geograacutefica no comportamento da

maioria das variaacuteveis somaacuteticas (NHANTUMBO et al 2007) e natildeo existindo nenhum estudo

feito com a populaccedilatildeo em idade escolar da Cidade da Beira os resultados encontrados no

presente estudo referentes agrave dimensatildeo somaacutetica podem reflectir uma pressatildeo ambiental

especiacutefica sobre as variaacuteveis em estudo

Aptidatildeo fiacutesica relacionada agrave sauacutede

Os resultados da comparaccedilatildeo dos valores meacutedios da Aptidatildeo Fiacutesica em funccedilatildeo do sexo

permitem observar diferenccedilas estatiacutesticas altamente significativas em todas as variaacuteveis em

anaacutelise com uma niacutetida vantagem dos rapazes em relaccedilatildeo aos seus pares do sexo oposto em

todos os testes motores Uma anaacutelise cuidadosa dos resultados encontrados nas diferentes provas

de Aptidatildeo Fiacutesica (Tabela 3) seleccionadas para o presente estudo permite constatar uma

tendecircncia de os meninos mostram valores superiores aos das meninas em quase todas as idades

embora essa tendecircncia sofra alteraccedilotildees segundo o tipo de prova Resultados semelhantes foram

encontrados por alguns autores que evidenciaram a forte tendecircncia das crianccedilas e adolescentes

do sexo masculino superarem os seus pares do sexo feminino (CARDOSO 2000 LOPES et al

2004 NHANTUMBO et al 2007 LUGUETTI et al 2010 DUMITH et al 2010 SILVA et

al 2010)

Os dados obtidos permitem tambeacutem analisar o desempenho da amostra em cada teste

efectuado Na prova de elevaccedilatildeo do tronco nota-se que o desempenho aumenta com o avanccedilo da

idade o que era esperado dado o desenvolvimento morfoloacutegico mostrar a tendecircncia de

174

acompanhar o desenvolvimento de capacidades em razatildeo do avanccedilo da idade Esta tendecircncia de

desempenho pode ser explicada pelo facto de a maturaccedilatildeo bioloacutegica exercer uma influecircncia

directa em quase todos os componentes do desempenho motor e da composiccedilatildeo corporal

(ALVES et al 2009) Ao analisarmos esta prova em funccedilatildeo do sexo observa-se que os meninos

apresentam um niacutevel de desempenho superior ao das meninas em todas as idades excepto nas

idades de 6 e 8 anos corroborando com os resultados de estudos anteriormente referenciados Na

prova de abdominais observa-se uma tendecircncia normal de aumento com o avanccedilo da idade

sendo interrompida esta aos 8 12 e 13 anos Analisando os dados em funccedilatildeo do sexo os

meninos apresentam aqui tambeacutem resultados superiores aos das meninas na maior parte das

idades agrave excepccedilatildeo das idades dos 6 e 10 anos em que se observa o inverso

Na prova de flexotildees de braccedilos nota-se uma perspectiva de crescimento que soacute eacute

interrompida aos 9 e 11 anos pese embora estes dados quando analisados em funccedilatildeo do sexo

mostrem um desempenho melhor dos meninos em todas as idades com excepccedilatildeo dos 6 anos

Para a prova de Corrida de 1600 metros observam-se valores elevados nas idades de 6 e 7 anos

A comparaccedilatildeo em funccedilatildeo do sexo destes valores permitem observar uma superioridade dos

meninos em relaccedilatildeo agraves meninas em todas as idades exceptuando-se unicamente a idade dos 8

anos

Os resultados da presente pesquisa foram comparados com os pontos de corte relacionados

aos indicadores de AptFS propostos pelo Fitnessgram e Physical Best Ao contrastar os

resultados deste estudo com os valores propostos pelo Physical Best observa-se que nenhuma

das idades atinge os valores dos pontos de corte propostos o que denota um fraco desempenho

da nossa amostra Na referenciaccedilatildeo destes resultados junto dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo dos

indicadores da Aptidatildeo Fiacutesica propostos pelo Fitnessgram observou-se que tanto as meninas

como os meninos atingiram os valores recomendados nas provas de elevaccedilatildeo do tronco e

abdominais Em contrapartida na prova de corrida de 1600 metros natildeo se verificou qualquer

sucesso em nenhuma das idades exceptuando o intervalo etaacuterio dos 6 aos 9 anos em que o

objectivo principal eacute terminar a prova

Tabela 3 Valores descritivos das provas de Aptidatildeo Fiacutesica em funccedilatildeo do sexo e da idade (meacutedia

plusmn desvio padratildeo)

Elevaccedilatildeo do Tronco Abdominais Flexotildees de braccedilos Corrida 1600 (minutos)

Idade

(anos)

Meninas

(n= 432)

Meninos

(n= 450)

Meninas

(n= 431)

Meninos

(n= 450)

Meninas

(n= 425)

Meninos

(n= 444)

Meninas

(n= 432)

Meninos

(n= 451)

6 2819plusmn790 2822plusmn831 915plusmn827 893plusmn695 698plusmn497 676plusmn510 2463plusmn368 2341plusmn619

7 2890plusmn672 3000plusmn700 1045plusmn759 1431plusmn863 741plusmn521 951plusmn556 1889plusmn342 1780plusmn258

175

8 3289plusmn724 3282plusmn793 1000plusmn612 1053plusmn624 839plusmn532 1047plusmn659 1295plusmn516 1384plusmn335

9 3489plusmn568 3524plusmn779 1179plusmn787 1249plusmn624 798plusmn564 924plusmn493 1499plusmn327 1350plusmn219

10 3595plusmn638 3877plusmn869 1520plusmn1162 1519plusmn806 764plusmn572 977plusmn631 1451plusmn125 1395plusmn109

11 3793plusmn670 4007plusmn638 1554plusmn1333 1871plusmn868 648plusmn433 924plusmn402 1496plusmn130 1265plusmn90

12 3822plusmn735 4005plusmn689 1269plusmn715 1824plusmn969 778plusmn578 1024plusmn607 1254plusmn136 1176plusmn151

13 3877plusmn603 3925plusmn768 1327plusmn664 1709plusmn1013 698plusmn460 1053plusmn642 1188plusmn95 1125plusmn120

14 3786plusmn838 4222plusmn993 2039plusmn1165 2335plusmn1492 609plusmn420 1137plusmn550 1247plusmn156 1208plusmn134

Anova

II

Efeitos Principais Efeitos Principais Efeitos Principais Efeitos Principais Sexo F=824 plt001

Idade F= 3630 plt0001

Interacccedilatildeo F= 087 pgt005

Sexo F=12850 plt0001

Idade F=15355 plt0001

Interacccedilatildeo F= 1207 pgt005

Sexo F=41891 plt0001

Idade F= 1918 p=005

Interacccedilatildeo F= 1735 pgt005

Sexo F=24770 plt0001

Idade F= 211067 plt0001

Interacccedilatildeo F= 2215 plt005

Refira-se que na prova de flexotildees de braccedilos constatou-se que os sujeitos do intervalo

etaacuterio dos 6 aos 10 anos atingiram os pontos de corte propostos pelo FITNESSGRAM Ao

analisar-se os resultados por idades nota-se que na idade de 11 anos soacute os meninos conseguiram

situar-se dentro dos pontos de corte propostos superando de longe as meninas que nem sequer

situaram-se nos limites propostos facto que repete-se nas idades de 12 13 e 14 com os meninos

sempre superando as meninas (Tabela 4) Como se pode constatar no presente estudo os

maiores valores meacutedios da Aptidatildeo Fiacutesica nas diferentes provas observam-se entre os 12-14

anos O predomiacutenio de meacutedias de desempenho motor dos meninos mais elevadas a partir desta

faixa etaacuteria pode ser explicado pela ocorrecircncia de eventos hormonais associados ao aumento da

massa muscular e testosterona (MALINA et al 2004)

Estudos realizados em Moccedilambique sobre a Aptidatildeo Fiacutesica evidenciam esta tendecircncia de

os meninos superarem as meninas em tarefas de forccedila e resistecircncia e as meninas superarem em

tarefas de flexibilidade (PRISTA 1995 PRISTA 1997 SARANGA et al 2002 PRISTA et al

2008 NHANTUMBO et al 2010) Poreacutem eacute necessaacuterio ter em conta que as diferenccedilas

somaacuteticas e sociais entre as crianccedilas moccedilambicanas e americanas e ao tentar associar o

desempenho de crianccedilas moccedilambicanas aos pontos de corte sugeridos tanto pelo Physical Best

como pelo Fitnessgram incorre obrigatoriamente a discordacircncias devido agrave influecircncia dos

indicadores de crescimento fiacutesico e de maturaccedilatildeo bioloacutegica nos resultados dos testes motores De

facto estudos anteriores realizados em Moccedilambique com crianccedilas e jovens da Cidade de Maputo

evidenciaram uma vantagem de sujeitos de grupos socioeconoacutemicos desfavorecidos em

praticamente todos os testes fiacutesicos selecionados

Tabela 4 Comparaccedilatildeo dos valores da Aptidatildeo Fiacutesica em funccedilatildeo do sexo

Variaacuteveis

Meninas

(n=432)

Meninos

(n=451)

t

p

Elevaccedilatildeo Tronco 3473785 3643906 298 0003

176

Abdominais 1303985 1556997 380 0000

Flexotildees de braccedilo 730512 963571 637 0000

Corrida 1600 1561475 1439474 -384 0000

Os melhores desempenhos da classe desfavorecida foram explicados pelo facto das

crianccedilas e jovens que crescem em condiccedilotildees desfavorecidas se engajarem em tarefas domeacutesticas

diaacuterias que contemplam actividades fiacutesicas de duraccedilatildeo frequecircncia e intensidade consideraacuteveis

(PRISTA 1994 PRISTA et al 1997)

A desvantagem constatada entre a amostra do presente estudo e os valores de corte do

Fitnessgram na prova de Corrida da Milha eacute de certo modo surpreendente uma vez que estudos

anteriores que compararam o desempenho motor de crianccedilas e jovens moccedilambicanas tanto

urbanos (PRISTA 1994 PRISTA et al 1997 MURIA et al 1999) como rurais

(NHANTUMBO 2007 NHANTUMBO et al 2010) evidenciaram uma clara superioridade

destes em relaccedilatildeo aos seus pares europeus e americanos

Aliaacutes no estudo de MURIA et al (1999) que testou com a populaccedilatildeo moccedilambicana em

idade escolar os criteacuterios sugeridos pela bateria da Prudential Fitnessgram tendo avaliado 547

crianccedilas de ambos os sexos dos 8 aos 11 anos de idade foi evidenciada uma elevada proporccedilatildeo

de sujeitos que superava os valores de corte pelo Fitnessgram para classificar os sujeitos em

aptos do ponto de vista de AptFS com valores de 991 e 966 para os rapazes e as raparigas

respectivamente

Ora a fraca performance revelada pela amostra do presente estudo na prova de Corrida da

milha pode ser explicada atraveacutes de factores ambientais adversos contudo e tratando-se este de

um estudo envolvendo crianccedilas e jovens da Cidade da Beira portanto fora do contexto da Cidade

de Maputo deparamo-nos com alguma limitaccedilatildeo para elaborar uma explicaccedilatildeo substantiva

destes resultados o que torna clara a necessidade de mais estudos em ordem a tornar esta mateacuteria

mais inteligiacutevel

Com efeito e como jaacute referenciado anteriormente crianccedilas e jovens moccedilambicanos

sobretudo pertencentes ao estatuto socioeconoacutemico desfavorecido ou vivendo em contextos

rurais evidenciaram niacuteveis superiores de aptidatildeo caacuterdiorrespiratoacuteria comparativamente aos seus

pares europeus e americanos da mesma faixa etaacuteria o que torna interessante estabelecer e

clarificar as inter-relaccedilotildees entre a Aptidatildeo Fiacutesica Actividade Fiacutesica e o ecossistema especiacutefico

com que estas crianccedilas interagem no seu quotidiano

177

Consideraccedilotildees finais

Neste estudo foi possiacutevel verificar que tanto as meninas como os meninos apresentam

valores meacutedios estaturo-ponderais abaixo do recomendado pela OMS para as idades

consideradas Mesmo assim as meninas espelharam valores mais elevados de IMC na maior

parte dos intervalos etaacuterios Foi notoacuterio em ambos os sexos um aumento da Aptidatildeo Fiacutesica com

o avanccedilo da idade sendo que os rapazes evidenciaram melhores niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica em

quase todas as provas em relaccedilatildeo agraves raparigas O maior desempenho registou-se na prova de

elevaccedilatildeo do tronco em ambos os sexos enquanto o menor desempenho registou-se na prova de

corrida de 1600 metros em que foram evidentes em ambos os sexos niacuteveis abaixo do

recomendado pelo Fitnessgram e Physical Best na maior parte das provas fiacutesicas seleccionadas

para o presente estudo com excepccedilatildeo das idades dos 6 aos 9 anos Foi ainda evidente em todas

as variaacuteveis somaacuteticas e de Aptidatildeo Fiacutesica um efeito e uma interacccedilatildeo significativos do sexo e da

idade Ainda que natildeo se tenha efectuado uma correlaccedilatildeo linear entre estas variaacuteveis parece

existir uma inter-relaccedilatildeo entre os niacuteveis de Aptidatildeo Fiacutesica e os valores de IMC cuja

inteligibilidade carece de mais estudos contextualizados Os resultados encontrados neste estudo

sugerem face as limitaccedilotildees encontradas a relevacircncia de realizar-se mais estudos transversais

ampliando a amostra e incluir mais variaacuteveis correlatas no sentido de melhor mapear com

abrangecircncia a populaccedilatildeo em idade escolar da Cidade da Beira analisando profundamente

variaacuteveis do crescimento somaacutetico Aptidatildeo Fiacutesica actividade fiacutesica composiccedilatildeo corporal

estado nutricional entre outros paracircmetros Relevante ainda seria examinar a influecircncia dos

factores ambientais e das assimetrias socioeconoacutemicas existentes entre as diferentes regiotildees da

Proviacutencia de Sofala sobre os indicadores de crescimento somaacutetico aptidatildeo fiacutesica e ainda da

actividade fiacutesica em ordem a recomendar estrateacutegias e medidas para a sua monitorizaccedilatildeo

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183

Relaccedilatildeo entre a orientaccedilatildeo vocacionalprofissional e qualidade no sistema

educativo moccedilambicano

Rafael Renaldo Laquene Zunguze39

Resumo

Com o presente artigo pretendo sustentar a necessidade e a possibilidade de introduccedilatildeo da orientaccedilatildeo

vocacional eou profissional no sistema educativo moccedilambicano Com efeito irei demonstrar as

implicaccedilotildees e as contribuiccedilotildees da implementaccedilatildeo destes serviccedilos designadamente na melhoria da

qualidade de ensino Foi uma pesquisa qualiquantitativa concretizada atraveacutes da teacutecnica de questionaacuterio a

estudantes e docentes da Universidade Pedagoacutegica Delegaccedilatildeo de Maxixe (UPMax) Importa referir que

todos os estudantes envolvidos exercem a funccedilatildeo de professorado em escolas da Proviacutencia de Inhambane

A amostra foi de 32 elementos sendo 8 docentes e 24 estudantes Os resultados permitiram constatar que

todos os inquiridos reconhecem ser necessaacuteria a introduccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional ou

profissional no sistema educativo Embora natildeo possuam nenhuma referecircncia ou experiecircncia desses

serviccedilos os inquiridos acreditam ser de grande utilidade para a vida dos alunos o que se pode reflectir

ainda na esfera social concretamente no desenvolvimento do paiacutes Sugiro que o Governo e a sociedade

civil sobretudo os indiviacuteduos e instituiccedilotildees de niacuteveis superiores invistam na promoccedilatildeo dos serviccedilos de

orientaccedilatildeo vocacional e profissional comunitaacuteria aquela que inicia na famiacutelia passando pela comunidade

ateacute a escola para habilitar os indiviacuteduos a trabalharem em prol do desenvolvimento numa clara intenccedilatildeo

de melhoria da qualidade de ensino no paiacutes

Palavras-chave Orientaccedilatildeo Vocaccedilatildeo Profissatildeo Qualidade Desenvolvimento Comunidade

Abstract

With the present article I intend to support the need and the possibility of introducing vocational and or

professional orientation in the Mozambican educational system In effect I will demonstrate the

implications and contributions of the implementation of these services particularly in improving the

quality of education It was a qualiquantitative research accomplished through the questionnaire technique

to students and teachers of the Pedagogical University Maxixe Delegation (UPMax) It should be noted

that all the students involved perform the teaching function at schools in Inhambane Province The

sample consisted of 32 teachers of which 8 were teachers and 24 students The results showed that all

respondents recognized that it is necessary to introduce vocational or professional guidance services into

the education system Although they do not have any reference or experience of these services

respondents believe it to be very useful for the students lives which can still be reflected in the social

sphere specifically in the development of the country I suggest that government and civil society

especially individuals and institutions at higher levels invest in the promotion of vocational guidance and

community vocational services the one that starts in the family through the community to the school to

enable individuals to work for Of development with a clear intention to improve the quality of education

in the country

Keywords Orientation Vocation Profession Quality Development Community

39 Docente na Universidade Pedagoacutegica Delegaccedilatildeo de Maxixe onde igualmente eacute Director do Curso de Psicologia

Educacional e Coordenador do Nuacutecleo de Estudos de Poliacuteticas Educativas Mestre em Educaccedilatildeo Social pela

Universidade Catoacutelica de Moccedilambique Doutorando em Psicologia Educacional pela Faculdade de Ciecircncias de

Educaccedilatildeo e Psicologia (FACEP) da UP

184

Introduccedilatildeo

Este artigo eacute resultado de uma pesquisa sobre a necessidade e a possibilidade de introduccedilatildeo

dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema educativo moccedilambicano

realizada em 2015

A principal dificuldade constatada estaacute ligada agrave inexistecircncia dos serviccedilos de orientaccedilatildeo

vocacional ou profissional no sistema educativo moccedilambicano o que faz com que os alunos ou

estudantes terminem niacuteveis de ensino sem ldquosaber fazerrdquo Embora existam outros casos de

graduados que conseguem ingressar no mercado de emprego nacional estes denotam problemas

nas componentes vocacional ou profissional Na praacutetica verifica-se que os empregados realizam

as actividades incumbidas sem interesse vocacional ou sem nenhuma formaccedilatildeo preparatoacuteria

Em funccedilatildeo do desconhecimento e da inexistecircncia dos serviccedilos em referecircncia os resultados

do estudo demonstram claramente a sua necessidade de uma das aacutereas no sistema de ensino

moccedilambicano desde a educaccedilatildeo infantil ateacute aos niacuteveis primaacuterio secundaacuterio e universitaacuterio

destacando o papel preponderante da famiacutelia

O meu pensamento circunscreve-se na necessidade da elaboraccedilatildeo e concretizaccedilatildeo de um

projecto cuja finalidade se afigura multidimensional e que deve incidir na orientaccedilatildeo vocacional

e profissional ou pelo menos numa delas no sistema escolar do nosso paiacutes Ao longo do

trabalho procuro relacionar a introduccedilatildeo e concretizaccedilatildeo destes serviccedilos com a qualidade de

educaccedilatildeo oferecida no e pelo nosso paiacutes No artigo chamo atenccedilatildeo ao facto de ter que se

conceber a qualidade como objecto ainda e em permanente construccedilatildeo pela sociedade Nisso

natildeo tenciono afirmar que a orientaccedilatildeo vocacional e profissional eacute a soluccedilatildeo de todos os

problemas da considerada ldquofraca qualidaderdquo de ensino no nosso paiacutes Tenciono isso sim alertar

para o contributo desses serviccedilos no incremento das competecircncias dos alunos o que pode de

certa forma concorrer para o incremento da qualidade de ensino especificamente no produto

final Isso prepara psicologicamente o indiviacuteduo a amar e a dedicar todas as suas energias numa

determinada ocupaccedilatildeo Mas tambeacutem pode ser a proacutepria formaccedilatildeo profissional sobre essa

actividade e que futuramente possa valer ao aluno por toda a vida

Ademais incentivo a designaccedilatildeo e concretizaccedilatildeo duma Orientaccedilatildeo Vocacional e

Profissional Comunitaacuteria (OVPC) Embora acredite que a materializaccedilatildeo destes serviccedilos deve ser

fundamentalmente da responsabilidade do Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano

considero ser necessaacuterio o envolvimento das famiacutelias na concretizaccedilatildeo desses serviccedilos O Estado

deve promover e assegurar os serviccedilos comunitaacuterios dessa orientaccedilatildeo Os serviccedilos comunitaacuterios

185

com destaque para a famiacutelia visam essencialmente preparar a pessoa humana desde a infacircncia agrave

velhice a desenvolver uma profissatildeo a partir de uma escolha responsaacutevel madura e vocacional

Assim antevejo e considero um grande aesafio da Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional em

Moccedilambique

No concernente agrave estrutura do presente artigo apresento a introduccedilatildeo depois segue-se a

metodologia a fundamentaccedilatildeo teoacuterica a apresentaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos dados e as

consideraccedilotildees finais

Metodologia

Foram envolvidos no estudo trinta e dois (32) inquiridos nomeadamente oito (8) docentes

e vinte e quatro (24) estudantes da Universidade PedagoacutegicaSagrada Famiacutelia em Maxixe

Todos os estudantes satildeo professores em exerciacutecio nas escolas primaacuterias e secundaacuterias da

Proviacutencia de Inhambane Para todos os inquiridos foram administrados inqueacuteritos por

questionaacuterio

No que se refere ao plano de processamento e anaacutelise dos dados (resultados obtidos a partir

da pesquisa) haacute que realccedilar que os mesmos foram submetidos a uma tabulaccedilatildeo Nisso foram

elaboradas algumas tabelas contendo algumas das perguntas preponderantes para a obtenccedilatildeo de

informaccedilotildees sobre o estudo Seguiu-se depois uma quantificaccedilatildeo numeacuterica e percentual que

facilitou a anaacutelise eou a interpretaccedilatildeo que se almejavam sustentando as nossas convicccedilotildees e

pensamentos a partir de fundamentos teoacutericos

Para melhor apresentaccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados recolhidos fez-se a

apresentaccedilatildeo das diferentes perspectivas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre os serviccedilos em

alusatildeo e a qualidade de educaccedilatildeo com ecircnfase na definiccedilatildeo e nas tarefas das duas aacutereas de

desenvolvimento humano

Fundamentaccedilatildeo teoacuterica

A Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional deve ser compreendida como um processo de

busca complexa de caracteriacutesticas individuais sua relaccedilatildeo com as possibilidades profissionais

bem como o estabelecimento de medidas e tomada de decisatildeo Espera-se que essa capacidade se

traduza na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas baseadas em evidecircncias e que levem agrave melhoria perceptiacutevel da

qualidade da aprendizagem Eacute um componente importante do esforccedilo para alcanccedilar a promessa

real de que a educaccedilatildeo esteja associada a economias dinacircmicas (Greaney amp Kellaghan 2011)

186

Para que sejam conhecidas as caracteriacutesticas e possibilidades eacute preciso que se faccedila uma

avaliaccedilatildeo tripartida ou seja psicopatoloacutegica cognitiva e da personalidade Esta avaliaccedilatildeo deve

incluir a histoacuteria pessoal e familiar devendo ainda explorar o autoconceito e o mundo

profissional

A Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional constitui uma junccedilatildeo de duas aacutereas as quais

podem ser estudadas concretizadas e compreendidas separadas ou conjuntamente nas famiacutelias

nas escolas e nas comunidades A primeira aacuterea eacute mais ampla e eacute intrapsiacutequica no indiviacuteduo

Busca informaccedilotildees profissionais e caracteriacutesticas para promover um encontro entre o sujeito e

aquilo que poderaacute vir a ser A segunda eacute restrita Eacute a ajuda agrave algueacutem a escolher uma profissatildeo ou

ocupaccedilatildeo Estas aacutereas podem ser estudadas separadamente embora sejam muito proacuteximas

Pertencem numas e noutras perspectivas agraves Psicologias Educacional Vocacional do Trabalho

Comunitaacuteria etc numa manifestaccedilatildeo clara da multintertransdisciplinaridade (Zunguze

2013293)

Como principais tarefas estas aacutereas visam essencialmente despertar na famiacutelia no

indiviacuteduo na escola na comunidade e na sociedade a necessidade de identificaccedilatildeo e

desenvolvimento vocacional Relacionam-se as caracteriacutesticas do indiviacuteduo e as exigecircncias

vocacionais capacidades e competecircncias profissionais para a elaboraccedilatildeo e concretizaccedilatildeo de um

Projecto de vida

Haacute que efectuar e conservar registos das perspectivas dos graduados sobre a sua inserccedilatildeo

no mercado de trabalho a correspondecircncia entre as competecircncias adquiridas no ciclo de estudos

e as exigecircncias do mercado de trabalho as necessidades do mercado de trabalho na aacuterea

cientiacutefica em que se insere o ciclo de estudos (CNAQ 201217)

Embora natildeo se possua informaccedilotildees e experiecircncias processuais no contexto moccedilambicano

os poucos conhecimentos sobre os serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional apontam que

a sua concretizaccedilatildeo efectiva-se predominantemente nas escolas secundaacuterias sobretudo no fim do

niacutevel preacute-universitaacuterio ou para o ingresso no ensino superior ou para o exerciacutecio de qualquer

profissatildeo Atraveacutes deste artigo pretendo inverter a concepccedilatildeo sobre a realizaccedilatildeo desses serviccedilos

Tenciono fundamentar que eles devem se concretizar em todo o momento e em qualquer espaccedilo

Como jaacute se disse oficialmente natildeo existem esses serviccedilos em Moccedilambique

Esporadicamente surgem pequenos movimentos Acredito que o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e

Desenvolvimento Humano deve se esforccedilar em introduzir estes serviccedilos no sistema educativo o

que vai incrementar a melhoria da qualidade

187

Apelo a todos os compatriotas independentemente das classes idades e niacuteveis para o

aproveitamento positivo dos novos recursos Haacute que investir na formaccedilatildeo vocacional e

profissional A qualidade dos alunos ou estudantes vai traduzir-se no trabalho e depois de

terminar o niacutevel de escolaridade o aluno ou estudante pode realizar-se profissionalmente

O trabalho faz e desenvolve o indiviacuteduo a famiacutelia a comunidade a sociedade e a naccedilatildeo

inteira Embora natildeo seja apenas nisto que se resume a qualidade de ensino constitui verdade a

consideraccedilatildeo de que estes serviccedilos concorrem para a melhoria da qualidade A Educaccedilatildeo integral

e criativa marca essencial da qualidade de ensino resume-se em minha opiniatildeo no ensinar as

pessoas a trabalharem Eacute no trabalho onde cada um deixa transparecer as suas competecircncias

Os resultados de vaacuterios estudos internacionais clarificam que os sistemas avaliativos de

cada paiacutes responsaacuteveis pelo controle da aprendizagem devem visar a promoccedilatildeo e mediccedilatildeo das

competecircncias na leitura na matemaacutetica e ciecircncias com consciecircncia de que elas parecem mostrar

a eficaacutecia do sistema educativo (Pascal 200234)

Com efeito importa referir que a qualidade natildeo se esgota apenas na compreensatildeo de

assuntos restritos Eacute preciso que se compreenda a qualidade como uma construccedilatildeo quotidiana de

todos os actores psico-educativos sociais em todos os contextos e fases do desenvolvimento

humano

Seguramente haacute muito a fazer na aacuterea de qualidade e as informaccedilotildees coletadas pecam

pelo caraacuteter parcial ndash em educaccedilatildeo a qualidade natildeo poderia reduzir-se agrave satisfaccedilatildeo imediata do

lsquoclientersquo ndash uniacutevoco e finalmente pouco construtivo (Pascal 200244)

Apresentaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo de dados

Para a auscultaccedilatildeo e anaacutelise das sensibilidades em relaccedilatildeo agrave necessidade e possibilidade da

introduccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional foi priorizada a pergunta Acha

necessaacuteria a introduccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema

educativo moccedilambicano Porquecirc

Todos os 32 (100) inquiridos afirmaram ser necessaacuterio e urgente que o Governo de

Moccedilambique especificamente o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano se esforce

em introduzir os serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema educativo do paiacutes

Para fundamentar a sua afirmaccedilatildeo os inquiridos consideram que a concretizaccedilatildeo dos mesmos

serviccedilos permite que cada aluno e estudante desempenhem profissotildees ajustadas agraves suas

caracteriacutesticas e vontades

188

Em funccedilatildeo destas declaraccedilotildees julgo essencial e real a ideia segundo a qual a introduccedilatildeo da

orientaccedilatildeo vocacional e profissional vai fortificar cada vez mais a qualidade de ensino

Os formuladores de poliacuteticas devem assumir a lideranccedila para garantir que as evidecircncias

objectivas e confiaacuteveis sobre o funcionamento do sistema educacional resultantes da avaliaccedilatildeo

nacional sejam utilizadas para melhorar a qualidade global do processo de tomada de decisotildees

(Greaney e Kellaghan 201187)

No meu entender os envolvidos no estudo acreditam que a orientaccedilatildeo vocacional e

profissional vai beneficiar e poderaacute facilitar a materializaccedilatildeo do ensino por competecircncias

vigente no nosso sistema de educaccedilatildeo Explicitando os informantes acrescentaram que as

competecircncias estatildeo ligadas ao saber fazer uma componente ligada agraves profissotildees Natildeo haacute

incompatibilidade entre as competecircncias e as profissotildees

Numa consideraccedilatildeo categoacuterica 30 (9375) informantes dentre estudantes e docentes da

Universidade PedagoacutegicaSagrada Famiacutelia afirmam que a orientaccedilatildeo vocacional e profissional

poderaacute contribuir para a melhoria da qualidade de ensino Para sustentar o seu posicionamento

estes informantes fundamentam que a orientaccedilatildeo vocacional e profissional forneceraacute o

diagnoacutestico sobre o niacutevel de aprendizagem de cada aluno o que eacute importante para o

desenvolvimento profissional e isso reflecte a qualidade de ensino se considerarmos que ela em

grande escala traduz-se nas capacidades e competecircncias que os alunos ou estudantes ostentam

apoacutes a conclusatildeo de certos graus de escolaridade

Num outro desenvolvimento os informantes referiram que para que se reflicta na

qualidade de ensino esses serviccedilos devem ser introduzidos o mais raacutepido possiacutevel como

instrumento de orientaccedilatildeo educacional e sobretudo escolar

Por outro lado 2 (625) natildeo concordam que a orientaccedilatildeo vocacional e profissional

poderaacute contribuir para a melhoria da qualidade de ensino Para sustentar este posicionamento

estes informantes fundamentam que a questatildeo da qualidade eacute relativa e complexa visto que para

que o sistema surta efeito desejado eacute necessaacuterio que haja envolvimento efectivo das famiacutelias

professores e o proacuteprio estudante

Com este posicionamento percebo que estes informantes natildeo possuem um domiacutenio

exaustivo da orientaccedilatildeo vocacional e profissional bem como se encontram desprovidos dos

conhecimentos aprofundados sobre a qualidade de ensino

Embora seja real que eacute preciso que se envolvam as famiacutelias no processo de ensino e

aprendizagem para a melhora da qualidade de ensino para colaborarem com a escola e com o

189

proacuteprio estudante natildeo constitui verdade que estes serviccedilos natildeo sejam fundamentais para o

desenvolvimento pessoal e social

Pelo contraacuterio a orientaccedilatildeo vocacional e profissional sobretudo no novo mileacutenio prioriza

uma realizaccedilatildeo destes serviccedilos a partir das famiacutelias passando das escolas ateacute agraves comunidades

destacando o papel fulcral do orientador educacional especificamente o professor das escolas

puacuteblicas Estes serviccedilos consideram que o ser humano eacute indissoluacutevel ao meio no qual se encontra

inserido

A intenccedilatildeo aqui patente eacute fazer referecircncia agrave qualidade educativa a qual haacute bem pouco

tempo comeccedilou a ganhar um espaccedilo reconhecido nas aacutereas da Psicologia da Educaccedilatildeo e noutras

De acordo Godoy (199558) de maneira diversa agrave quantitativa a avaliaccedilatildeo qualitativa natildeo

procura enumerar eou medir os eventos estudados nem emprega instrumental estatiacutestico na

anaacutelise dos dados

A avaliaccedilatildeo qualitativa parte de questotildees ou focos de interesses amplos que vatildeo se

definindo agrave medida que o processo se desenvolve Envolve a obtenccedilatildeo de dados descritivos sobre

os sujeitos educativos ambiente e processos interactivos podendo ser pelo contacto directo do

avaliador com a situaccedilatildeo procurando compreender os fenoacutemenos segundo a perspectiva dos

sujeitos ou seja dos participantes da situaccedilatildeo em estudo

O autor acima citado acrescenta que ldquosob a denominaccedilatildeo avaliaccedilatildeo qualitativa

encontram-se variados tipos de investigaccedilatildeo apoiados em diferentes quadros de orientaccedilatildeo

teoacuterica e metodoloacutegica tais como o interaccionismo simboacutelico a etnometodologia o

materialismo dialeacutectico e a fenomenologiardquo Godoy (199558)

A abordagem qualitativa faz uma anaacutelise essencialmente descritiva do processo educativo

ao conceber a avaliaccedilatildeo no e do processo de ensino e aprendizagem como um processo o

interaccionismo simboacutelico entende que o indiviacuteduo e a educaccedilatildeo mantecircm constante e estreita

inter-relaccedilatildeo e que o aspecto subjectivo do comportamento humano eacute necessaacuterio na formaccedilatildeo e

na manutenccedilatildeo dinacircmica do self social e do grupo social

Esta abordagem atribui importacircncia fundamental ao sentido que as coisas (como os

objectos fiacutesicos seres humanos instituiccedilotildees ideias que satildeo valorizadas situaccedilotildees vivenciadas)

tecircm para os indiviacuteduos ressaltando que esse sentido surge do processo de interacccedilatildeo entre as

pessoas Tais sentidos (significados) satildeo manipulados e modificados por meio de um processo

interpretativo

A avaliaccedilatildeo qualitativa tem o ambiente natural como fonte directa de dados e o avaliador

como instrumento fundamental A avaliaccedilatildeo denominada qualitativa tem como preocupaccedilatildeo

190

fundamental a anaacutelise das situaccedilotildees didaacutecticas de aprendizagem no mundo empiacuterico em seu

ambiente natural

Os orientadores e avaliadores estatildeo preocupados com o processo e natildeo simplesmente com

os resultados ou produto Eles tentam compreender os fenoacutemenos que intervecircm em todo o

processo incluindo as perspectivas dos participantes considerando todos os pontos de vista

como importantes

O autor acima citado acrescenta que este tipo de avaliaccedilatildeo ilumina e esclarece o

dinamismo interno das situaccedilotildees

Quando a avaliaccedilatildeo eacute de caraacutecter descritivo o que se busca eacute o entendimento do processo

fenoacutemeno como um todo na sua complexidade

Tenoacuterio e Lopes (2010172) afirmam que ldquoa qualidade educacional eacute um conceito fluido

polisseacutemico complexo cuja apreensatildeo que se objectiva seraacute sempre imparcial e incompletardquo

Em funccedilatildeo do acima exposto pelos autores pode se compreender que o termo qualidade

natildeo esgota tudo o que deve se compreender pelo e nos processos de orientaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo uma

vez que neles intervecircm vaacuterios aspectos alguns dos quais imprevisiacuteveis A qualidade em

orientaccedilatildeo vocacional e em avaliaccedilatildeo eacute considerada sempre incompleta pois refere-se a uns e

exclui tantos outros aspectos nesse processo Aliaacutes se o proacuteprio sistema de ensino eacute dinacircmico

satildeo dinacircmicas tambeacutem a orientaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo e a proacutepria qualidade

Em funccedilatildeo dos dados recolhidos constatou-se que 3 (937) informantes acham que a

orientaccedilatildeo vocacional e profissional deve ser introduzida e concretizada no ensino primaacuterio para

quem vai ao ensino profissional baacutesico e no ensino secundaacuterio para os alunos que entram na

universidade

Estas declaraccedilotildees mostram claramente um desconhecimento total das abordagens

modernas sobre estes serviccedilos as quais advogam que a sua concretizaccedilatildeo deve se materializar

em todos os niacuteveis de ensino incluindo na infacircncia Estas declaraccedilotildees indicam claramente que a

concepccedilatildeo destes inquiridos resume-se na ideia de que os serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e

profissional destinam-se aos indiviacuteduos que terminam o ensino secundaacuterio para obter

informaccedilotildees fundamentais para o ingresso no ensino superior ou para a aquisiccedilatildeo de um emprego

eou realizaccedilatildeo duma actividade remunerativa

Entretanto 29 (9062) informantes embora natildeo tenham sabido justificar consideraram

que estes serviccedilos devem ser concretizados em todos os niacuteveis de ensino

191

De facto estes serviccedilos devem ser concretizados em todo o espaccedilo social Devem mesmo

iniciar em tenra idade para permitir que o indiviacuteduo cresccedila com haacutebito e espiacuterito de trabalho

para o seu sustento e dos demais que se localizam em seu redor

A Perspectiva Ecoloacutegica da Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional advoga que o ser

humano eacute considerado indissoluvelmente unido ao seu meio como uma unidade em

funcionamento O ambiente eacute activo e modificador de possibilidades e de projectos pessoais e

sociais (Lassance 200515)

Todos os 32 (100) inquiridos afirmaram que as possibilidades ou condiccedilotildees necessaacuterias

para a introduccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no nosso sistema

educativo devem se concretizar na exposiccedilatildeo das possibilidades e profissotildees nas escolas

Embora natildeo seja simplesmente nas escolas onde devem ser expostas as possibilidades e

profissotildees julga-se verdadeira a afirmaccedilatildeo segundo a qual estes serviccedilos satildeo responsaacuteveis pela

orientaccedilatildeo pessoal em prol dum projecto pessoal social e nacional numa clara realidade de

desenvolvimento do paiacutes atraveacutes da melhoria da qualidade de ensino

Existe uma relaccedilatildeo visiacutevel entre a Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional e o

desenvolvimento humano pois quem faz o que gosta tem mais possibilidades de se desenvolver

humanamente Da mesma maneira tem mais possibilidade de contribuir para o desenvolvimento

da sua famiacutelia sua comunidade e para o paiacutes inteiro

Uma das caracteriacutesticas naturais dos seres humanos eacute a transformaccedilatildeo da natureza para o

benefiacutecio proacuteprio em prol do desenvolvimento

Nas sociedades globalizadas o envolvimento das comunidades rurais eacute um dos

instrumentos para a competitividade e sobrevivecircncia

Nestes termos acreditando que a promoccedilatildeo valorizaccedilatildeo e concretizaccedilatildeo do

desenvolvimento e envolvimento dependem essencial e fundamentalmente do niacutevel ou grau de

formaccedilatildeo considero necessaacuterio um programa de Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional

processual (a iniciar na famiacutelia) visando a consciencializaccedilatildeo das populaccedilotildees sobre a

necessidade de participar e decidir pelo aproveitamento das potencialidades locais

A colaboraccedilatildeo ou envolvimento parental eacute traduzida por um importante alijamento da

formaccedilatildeo geral dos alunos envolvidos e por um incremento dos saberes em benefiacutecio das

competecircncias teacutecnicas profissionais e sociais permitindo a adaptaccedilatildeo dos trabalhadores nos

projectos institucionais e nacionais (Pascal 200241)

192

Movido pelo conhecimento da importacircncia do envolvimento na realizaccedilatildeo das actividades

comunitaacuterias pretendo atraveacutes da investigaccedilatildeo identificar formas conducentes agrave materializaccedilatildeo

da Orientaccedilatildeo Vocacional e Profissional individualizada ou colectiva nas comunidades rurais

Consequentemente desejo desenvolver nas comunidades a necessidade de busca

incessante de esforccedilos para a concretizaccedilatildeo de muacuteltiplos intentos

Em termos pessoais pretendo identificar e promover estrateacutegias que me possam envolver

cada vez mais nas comunidades do distrito donde sou natural ajudando-as a desenhar e sustentar

projectos de vida individuais ou comunitaacuterios materializando um antigo desejo de desenvolver

economicamente principalmente a minha localidade

Nos aspectos de ordem profissional assumindo-me como pesquisador tenciono elevar as

capacidades e o conhecimento na aplicaccedilatildeo de diversificados instrumentos proacuteprios e adequados

para a concretizaccedilatildeo de serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional tanto individual como

colectivamente Pretendo igualmente consciencializar nos nativos e nos residentes o espiacuterito e

cultura do trabalho para o benefiacutecio proacuteprio e comunitaacuterio

No concernente aos aspectos de ordem acadeacutemica pretendo dar continuidade aos estudos

tidos na minha formaccedilatildeo anterior de Mestrado em Educaccedilatildeo Social pois acredito que os

serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacionalocupacional e profissional concretizam uma das praacuteticas

antigas do trabalho social

Em Moccedilambique ainda natildeo encontrei nenhuma referecircncia sobre a orientaccedilatildeo

vocacionalocupacional e profissional comunitaacuteria

A mateacuteria sobre o desenvolvimento rural eacute do domiacutenio da Sociologia e Antropologia e natildeo

concretamente da Psicologia Deste modo pretendo introduzir uma novidade no domiacutenio da

Psicologia Vocacional

Pasqualin Garbulho e Schut (200414) debruccedilam-se sobre a orientaccedilatildeo vocacional e

profissional numa perspectiva para o novo mileacutenio apelando uma reflexatildeo sobre as necessidades

e satisfaccedilotildees actuais desta aacuterea e citando Bronfenbrenner (1996) referem-se ao paradigma

ecoloacutegico para esclarecer que o ser humano eacute indissoluvelmente unido ao seu meio como uma

unidade em funcionamento

A orientaccedilatildeo vocacional e profissional eacute considerada uma das chaves fulcrais para a

superaccedilatildeo de inuacutemeras dificuldades com que os homens se deparam no processo de

desenvolvimento social Eacute a partir da orientaccedilatildeo vocacional comunitaacuteria que se pode promover a

participaccedilatildeo das comunidades na identificaccedilatildeo de causas consequecircncias e soluccedilotildees dos

problemas locais

193

Anseio ainda incrementar e sustentar o niacutevel de colaboraccedilatildeo efectiva entre os diferentes

segmentos populacionais na planificaccedilatildeo e execuccedilatildeo de projectos comunitaacuterios em prol dum

desenvolvimento franco envolvente e permanente

Como resultado os Governos nacionais e os oacutergatildeos doadores tecircm aumentado bastante o

apoio a avaliaccedilotildees nacionais destinadas a monitorar o aproveitamento dos alunos O pressuposto

frequente eacute que natildeo soacute as avaliaccedilotildees nacionais forneceratildeo informaccedilotildees sobre o estado da

educaccedilatildeo mas tambeacutem que o uso dessa informaccedilatildeo deve levar agrave melhoria do aproveitamento

(Greaney e Kellaghan 2011 9)

Consideraccedilotildees finais

A partir de orientaccedilatildeo vocacional e profissional colectiva processual sobretudo a iniciar

em tenra idade pode se consciencializar as famiacutelias e comunidades locais a manifestar interesse

pela realizaccedilatildeo de qualquer actividade profissional para o sustento proacuteprio e comunitaacuterio

A orientaccedilatildeo vocacional e profissional sobretudo no novo mileacutenio considera a sociedade

em geral como o espaccedilo proacuteprio para a sua concretizaccedilatildeo e auto-afirmaccedilatildeo

Os conhecimentos sobre a materializaccedilatildeo da orientaccedilatildeo vocacionalocupacional e

Profissional nas comunidades poderatildeo beneficiar ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Desenvolvimento

Humano na identificaccedilatildeo e introduccedilatildeo de poliacuteticas referentes no sistema educativo nacional

conntribuindo assim para a melhoria da qualidade entendida como produto de ensino

Para Silva (200467) o desenvolvimento eacute entendido como crescimento econoacutemico

acompanhado do progresso tecnoloacutegico e institucional definido controlado e dirigido pela

populaccedilatildeo a serviccedilo da mesma para o seu bem-estar O autor considera que o desenvolvimento

eacute um ideal a ser alcanccedilado

A orientaccedilatildeo vocacional consiste em o conselheiro incentivar o indiviacuteduo a pensar com

cuidado na profissatildeo que lhe agrada e depois fornecer-lhe todas as informaccedilotildees possiacuteveis sobre

as habilidade e qualificaccedilotildees exigidas por essa profissatildeo e sobre o tipo de perspectivas e

oportunidades que ela pode oferecer com o passar do tempo (Fontana 2002359)

Para Souza citado por Francisco (201078) a comunidade eacute o conjunto de grupos e subgrupos

de uma mesma classe social que tem interesse e preocupaccedilotildees comuns sobre condiccedilotildees de

vivecircncia no espaccedilo residencial e que dadas as condiccedilotildees fundamentais de existecircncia tendem a

ampliar continuamente o acircmbito de repercussatildeo dos seus interesses preocupaccedilotildees e

enfrentamentos comuns Eacute uma organizaccedilatildeo cujos assuntos satildeo do interesse colectivo

194

As aglomeraccedilotildees humanas situadas numa dada base territorial constituem uma comunidade

na medida em que a organizaccedilatildeo do quotidiano leva agrave criaccedilatildeo de canais particulares de

expressatildeo assim como cria relaccedilotildees que de modo limitado cumprem diversas funccedilotildees

Haacute que reconhecer a importacircncia que o envolvimento dos diferentes segmentos

populacionais das comunidades locais tem para a materializaccedilatildeo de qualquer vontade sobretudo

no contexto do desenvolvimento Deve igualmente reinar entre todos os moradores das diferentes

comunidades o espiacuterito de interdependecircncia e cooperaccedilatildeo

O desenvolvimento comunitaacuterio eacute um processo de cooperaccedilatildeo social O homem sempre

buscou a cooperaccedilatildeo para vencer as barreiras naturais e as dificuldades causadas pelo homem e

pelo proacuteprio desenvolvimento Aqui estaacute o grande fundamento da qualidade educativa resultante

da implementaccedilatildeo dos serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional comunitaacuteria em prol do

desenvolvimento de toda a naccedilatildeo a partir do indiviacuteduo formado vocacional ou

profissionalmente

Para a concretizaccedilatildeo destes serviccedilos satildeo fundamentais as teorias psicodinacircmicas

desenvolvimentais humaniacutesticas comunitaacuterias e contextuais que enfocam a origem o

desenvolvimento vocacional e a escolha profissional a partir das caracteriacutesticas pessoais do

jovem e de suas relaccedilotildees significativas com as pessoas mais proacuteximas

Em outras palavras o pleno potencial da educaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao crescimento econoacutemico

soacute pode se concretizar se o ensino oferecido for de alta qualidade e se forem desenvolvidos os

conhecimentos e as habilidades cognitivas dos alunos (Greaney e Kellaghan 2011)

Em siacutentese considero que para que o nosso sistema de ensino seja considerado de melhor

qualidade os governantes e a sociedade civil devem se esforccedilar em oferecer aos aprendentes as

capacidades e competecircncias para a escolha e desempenho profissional

Referecircncias bibliograacuteficas

CNAQ Sistema Nacional de Avaliaccedilatildeo Acreditaccedilatildeo e Garantia de qualidade de Ensino

Superiorndash Manual de avaliaccedilatildeo Externa de Instituiccedilotildees Maputo CNAQ 2012

FONTANA David Psicologia para Professores 2 ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 2002

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para a sua compreensatildeo 2 ed Editora BS 2010

GODOY Arllda Schmidt Introduccedilatildeo agrave Pesquisa Qualitativa e suas Possibilidades Satildeo Paulo

1995

195

GREANEY Vincent e KELLAGHAN Thomas Avaliaccedilatildeo dos niacuteveis de desempenho

educacional Rio de Janeiro Elsevier 2011

LASSANCE Maria Ceacutelia Pacheco Adultos com Dificuldades de Ajustamento ao Trabalho

Ampliando o Enquadre da Orientaccedilatildeo Vocacional de Abordagem Evolutiva Revista

Brasileira de Orientaccedilatildeo Profissional nuacutem 6 2005

PASCAL Roggero Avaliaccedilatildeo dos sistemas educativos nos paiacuteses da Uniatildeo Europeia de uma

necessidade problemaacutetica a uma praacutetica complexa desejaacutevel EccoS Revista Cientiacutefica

vol 4 nuacutem 2 2002 Satildeo Paulo

PASQUALINI Juliana Campregher GARBULHO Norma de Faacutetima e SCHUT Tannie

Orientaccedilatildeo Profissional com Crianccedilas Uma Contribuiccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Infantil Revista

Brasielira de Orientaccedilatildeo Profissional Volume 5 num 1 2004

SILVA Janaila dos Santos A Influecircncia dos Meios de Comunicaccedilatildeo Social na Problemaacutetica da

Escolha Profissional Psicologia Ciecircncia e Profissatildeo Brasil 2004

TENOacuteRIO Robinson e LOPES Uaccedilai (org) Avaliaccedilatildeo e gestatildeo teorias e praacuteticas Salvador

EDUFBA 2010

ZUNGUZE Rafael Importacircncia das Ciecircncias de Educaccedilatildeo nos temas transversais In

DUARTE Stela e MACIEL Carla Temas Transversais em Moccedilambique Educaccedilatildeo Paz

e Cidadania Maputo Educar-UP 2015 (pp 293-304)

196

Apecircndices

Universidade Pedagoacutegica

Questionaacuterio dirigido aos docentes

O presente inqueacuterito por questionaacuterio visa recolher informaccedilotildees sobre a necessidade e

possibilidade de introduccedilatildeo da orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema educativo

moccedilambicano bem como das suas implicaccedilotildees na qualidade de ensino O conteuacutedo seraacute usado

para fins meramente acadeacutemicos

Idade ______anos em 2015 SexoMF______ NiacutevelGrau acadeacutemico_________

NiacutevelGrau onde lecciona________________________________

1 Acha necessaacuteria a introduccedilatildeo do serviccedilo de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema

educativo moccedilambicano____________________ Porque___________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

2 Concorda com a ideia segundo a qual a introduccedilatildeo da orientaccedilatildeo vocacional e profissional

vai enfraquecer cada vez mais a qualidade de ensino__________ Fundamenta__________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

3 No seu entender a orientaccedilatildeo vocacional e profissional beneficia ou prejudica o ensino por

competecircncia vigente no nosso sistema de educaccedilatildeo________________ Explicite_______

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

4 Em sua opiniatildeo a orientaccedilatildeo vocacional e profissional poderaacute contribuir para a melhoria da

qualidade de ensino__________ Argumeta_______________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

5 Para vocecirc a orientaccedilatildeo vocacional e profissional deve ser introduzida e concretizada no

Ensino Primaacuterio_______ Ensino Secundaacuterio_________ Ensino Superior_____________

Porque______________________________________________________________________

197

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

6 Estes serviccedilos devem ser introduzidos e concretizados em todos os sistemas de ensino____

Porquecirc______________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

7 A seu ver existem possibilidades ou condiccedilotildees em Moccedilambique para a introuccedilatildeo dos

serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional_______

8 Quais satildeo as possibilidades ou condiccedilotildees necessaacuterias para a introduccedilatildeo dos serviccedilos de

orientaccedilatildeo vocacionale e profissional no nosso sistema educativo_____________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

9 Concorda com o pensamento de que os serviccedilos de orientaccedilatildeo vocacional e profissional

devem ser discutidos no ensino geral_____________ Desenvolva____________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

10 Existe alguma relaccedilatildeo entre as descobertas dos Recursos Minerais e introduccedilatildeo dos serviccedilos

de orientaccedilatildeo vocacional e profissional no sistema educativo________ Comente________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

11 Acha que apenas nas escolas teacutecnico-profissionais eacute que devem ser concretizados os serviccedilos

de orientaccedilatildeo vocacional e profissional___________ Fundamente___________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

12 Existe alguma relaccedilatildeo entre a orientaccedilatildeo vocacional e profissional e o desenvolvimento

humano________Justifique__________________________________________________

_

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Muito obrigado pela colaboraccedilatildeo

198

Amorosidade como componente pedagoacutegica

Elisabeth Jesus de Souza40

Resumo

O principal objetivo deste trabalho eacute discutir a amorosidade como componente pedagoacutegica na Educaccedilatildeo

Infantil O meacutetodo de pesquisa utilizado foi de observaccedilatildeo participante baseado natildeo somente na praacutetica

como tambeacutem na leitura de alguns teoacutericos A observaccedilatildeo participante realizou-se numa Unidade

Municipal de Educaccedilatildeo Infantil situada em uma comunidade no centro da Cidade de Niteroacutei Rio de

Janeiro Conclui-se que considerar a amorosidade na atuaccedilatildeo docente sobretudo na educaccedilatildeo infantil natildeo

eacute uma questatildeo de perda de autoridade pelo contraacuterio o amor eacute uma ferramenta no exerciacutecio da conquista

pelo respeito na sala de aula pela consolidaccedilatildeo dos laccedilos humanos fazendo da aprendizagem uma

consequecircncia O caminho da amorosidade como componente pedagoacutegica eacute uma escolha uma escolha

minha e ou sua Sem uma escolha voluntaacuteria o amor seraacute apenas uma utopia pedagoacutegica

Palavras-chave Educaccedilatildeo Amorosidade Componente pedagoacutegica Educaccedilatildeo infantil

Abstract

The main objective of this work is to discuss amorousness as a pedagogical component in Early

Childhood Education The research method used was participant observation based not only on the

practice but also on the reading of some theorists The participant observation was carried out in a

Municipal Infant Education Unit located in a community in the center of the City of Niteroacutei Rio de

Janeiro It is concluded that considering amorousness in teaching especially in early childhood education

is not a matter of loss of authority on the contrary love is a tool in the exercise of achievement for

respect in the classroom for the consolidation of human bonds making learning a consequence The path

of love as a pedagogical component is a choice a choice of mine and or yours Without a voluntary

choice love is only a pedagogical utopia

Keywords Education Amorosity Pedagogical component Child education

Introduccedilatildeo

O presente artigo eacute o capiacutetulo dois que compotildee parte do trabalho monograacutefico intitulado

de Pedagogia Social ldquoUm olhar amoroso na educaccedilatildeo infantil de meninos e meninas em

situaccedilatildeo de vulnerabilidade socialrdquo como requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de especialista

em Pedagogia Social para o Seacuteculo XXI por mim defendido em novembro de 2016 Nele

veremos a amorosidade como componente Pedagoacutegica na Educaccedilatildeo Infantil o amor como

40 Poacutes graduanda - Universidade Federal FluminenseEmail uffbethjesushotmailcom

elisabethjesusdesouzagmailcom

199

possibilidade efetiva de mudanccedilas e transformaccedilotildees no contexto educacional natildeo somente de

meninos e meninas como tambeacutem de educadores e educadoras deste segmento Quem satildeo os

sujeitos da amorosidade De que forma a amorosidade pode cooperar para inclusatildeo escolar

Atraveacutes de embasamentos teoacutericos do diaacutelogo com os respectivos autores citados ao longo da

discussatildeo bem como por meio da pesquisa de caraacuteter participativo eacute possiacutevel chegarmos a um

consenso de respostas e possiacuteveis caminhos para essas e outras indagaccedilotildees no contexto da

educaccedilatildeo escolar e na busca de educadores que almejam uma praacutetica coerente com seu discurso

O artigo constitui-se de trecircs partes Na primeira parte a partir de alguns autores como

Freire e Schettini a partir tambeacutem de relatos de experiecircncias podemos encontrar pelo menos

uma definiccedilatildeo para a questatildeo ldquoO que eacute amorosidaderdquo Prosseguindo com o primeiro autor e

dialogando com outro profissional da educaccedilatildeo infantil na segunda parte discutiremos quem satildeo

ldquoOs Sujeitos da Amorosidaderdquo a motivaccedilatildeo que tanto os educandos quanto os educadores

poderatildeo experimentar quando a afetividade eacute considerada nessa relaccedilatildeo reciacuteproca Para que haja

ldquoAmorosidade e Inclusatildeordquo item discutido na terceira parte deste trabalho compreender a

importacircncia do diaacutelogo neste contexto eacute imprescindiacutevel Por fim na quarta parte com bases

teoacutericas e praacuteticas eacute possiacutevel encontrar a primeira definiccedilatildeo de ldquoO que eacute amorrdquo Com a mesma

base encontraremos exemplos do que eacute sua praacutetica e qual sua aplicaccedilatildeo no acircmbito educacional

1 O que eacute amorosidade

() o ato de amor estaacute em comprometer-se com sua causa A causa da

libertaccedilatildeo Mas este compromisso porque amoroso eacute dialoacutegico () Como ato

de valentia natildeo pode ser piegas como ato de liberdade natildeo pode ser pretexto de

manipulaccedilatildeo senatildeo gerador de outros atos de liberdade A natildeo ser assim natildeo eacute

amor Somente com a supressatildeo da situaccedilatildeo opressora eacute possiacutevel restaurar o

amor que nela estava proibido Se natildeo amo o mundo se natildeo amo a vida se natildeo

amo os homens natildeo me eacute possiacutevel o diaacutelogo

Paulo Freire

Eacute possiacutevel entatildeo a partir da citaccedilatildeo acima definir amorosidade como a expressatildeo a

praacutetica do amor Eacute em nome do comprometimento com a causa de uma educaccedilatildeo libertadora

para os vulneraacuteveis de nosso paiacutes que noacutes educadores nos dispomos a dar um corpo uma

corporeificaccedilatildeo ao amor agregando-o em nossa luta

200

Quando me comprometo com a educaccedilatildeo tenho uma causa a crianccedila em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social por exemplo Se a nossa responsabilidade como educador social eacute propor

uma educaccedilatildeo que a liberte da opressatildeo do pensamento hegemocircnico de que estaacute fadada ao

fracasso de que eacute algueacutem incapaz precisamos ser educadores amorosos porque sem amor

seremos mais um opressor ou natildeo faremos qualquer diferenccedila na vida escolar dessa crianccedila

Para tal eacute indispensaacutevel o diaacutelogo Quando esta relaccedilatildeo muacutetua eacute estabelecida entre

educador e educando a troca na construccedilatildeo do conhecimento acontece de forma mais maleaacutevel

mais terna com mais satisfaccedilatildeo de forma mais estaacutevel para ambas as partes Natildeo estou falando

de permissividade leviana mas de um profissional movido pelo sentimento humano um ser

sensiacutevel capaz de mudar sua praacutetica pela flexibilidade inerente ao seu fazer do ser educador

Nesta senda da libertaccedilatildeo vou cada vez mais querendo bem ao educando

O resultado seraacute sem nenhuma descrenccedila um contiacutenuo e progressivo processo de

libertaccedilatildeo Esse resultante da accedilatildeo amorosa nos conduz a reflexotildees que culminam em ouvir a

crianccedila perceber seus anseios suas anguacutestias sentir seu silecircncio seu medo ou sua valentia seu

olhar sua alegria ou tristeza Nessa direccedilatildeo vamos encontrando sentido para a praacutetica docente

Natildeo podemos ser dissuadidos quanto a nossa motivaccedilatildeo quanto aos nossos pensamentos

quanto agrave educaccedilatildeo que desejamos e pela qual lutamos natildeo podemos ser atordoados nem

desvanecidos por aqueles que afrontam os direitos humanos O direito a que refiro nesse

contexto eacute o direito de libertar a alegria o amor que pode estar gritando dentro de mim e de

vocecirc a alegria de ser o que eacute sem medo da felicidade sem medo da inveja alheia

A seguir relato de experiecircncia

Certa vez enquanto estava agrave mesa tomando cafeacute com algumas colegas de

trabalho fiz referecircncia agraves crianccedilas (as quais chamo de meus amores meus

favores) de minha sala de aula Uma das colegas interrompeu-me com a seguinte

fala

― Vocecirc fica aiacute cheia de amor com eles mas um dia pode pegar o jornal e ver

uma delas morta

(Raquel professora de educaccedilatildeo infantil haacute doze anos)

Chamar essas crianccedilas de meus amores tem para mim grande significado pois foi com

essa ―turminha que pude pela primeira vez sentir experimentar o sabor e a gratidatildeo que eacute

trabalhar como educadora de crianccedilas da classe popular A espontaneidade de cada um se

traduzia na pureza e singeleza da vida que noacutes adultos muitas vezes complicamos

201

Amorosidade cuidado dedicaccedilatildeo atenccedilatildeo todo esse labor que a infacircncia exige de noacutes

educadores que com ela trabalhamos resultam nessa ternura Por isso eles eram tambeacutem meus

favores A sociedade e muitos intelectuais destacam apenas as sofrecircncias os problemas

apresentados pelos educandos da classe popular mas as experiecircncias nos mostram e nos ensinam

que nesse contexto tambeacutem temos peacuterolas a lapidar

A fala da professora Raquel me deixou tatildeo aborrecida que me retirei da mesa naquele

momento Fui assim percebendo no conviacutevio com esta e algumas outras colegas de profissatildeo

que sem amor natildeo temos esperanccedila ou qualquer perspectiva de mudanccedila seja qual for o contexto

que me envolve Na educaccedilatildeo isso tem peso dobrado A sociedade ainda quer ver a Educaccedilatildeo

como meio de mudanccedila social ainda deposita nela alguma esperanccedila

Para a professora citada no entanto as crianccedilas que moram em comunidade que vivem

em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social jaacute estatildeo condenadas a morte Que sentido faz entatildeo investir

nessas crianccedilas Jaacute estatildeo arruinadas mesmo jaacute tecircm seu futuro predeterminado preestabelecido

Para que serviraacute entatildeo meu amor em relaccedilatildeo a elas

No sentido oposto fui tambeacutem constatando atraveacutes da troca de experiecircncia com outros

colegas que uma simples atitude amorosa por parte do professor pode marcar profundamente

uma crianccedila no seu contexto escolar e trazer a ela o sentido da Educaccedilatildeo Mesmo que ela natildeo

alcance esse sentido agora Ser amoroso eacute parte integrante da superaccedilatildeo da opressatildeo Mas para

ter amor pelos oprimidos noacutes educadores tambeacutem precisamos ser libertos Segundo Luiz

Schettini

Que seria uma ―accedilatildeo afetiva em um contexto pedagoacutegico Natildeo existe manual

ou roteiros a serem seguidos para cumprir um programa de accedilatildeo afetiva Essa eacute

talvez a dificuldade da maioria das pessoas mesmo quando compreendem a

importacircncia da afetividade Agir com afeiccedilatildeo eacute a resultante de tudo o que uma

pessoa eacute nas suas relaccedilotildees com o mundo (SCHETTINI 2010 p 26)

Conforme citaccedilatildeo acima natildeo existe uma resposta pronta que defina a expressatildeo accedilatildeo

afetiva efetiva O que estaacute intriacutenseco nesse contexto eacute muito mais do que o planejamento que

temos para cumprir ou as regras ―os combinados do cotidiano que criamos como pretexto para

manter a ordem O valor sentimental e profissional estaacute expliacutecito em nossa atitude

Nossa presenccedila e nosso fazer na sala de aula tem significaccedilatildeo e valor imensuraacutevel Natildeo

deixemos portanto que por estarmos tatildeo embaraccedilados com o proacuteprio cotidiano isso passe

despercebido Quando dermos conta disso o amor a afetividade seraacute apenas uma consequecircncia

202

A proposta natildeo estaacute em que o educador se torne um profissional melancoacutelico natildeo Mas em que

cuidemos para natildeo deixar morrer a sensibilidade a alegria de praticar a docecircncia porque sem a

amorosidade a praacutetica educativa perde o sentido

Relato a seguir uma experiecircncia

Isaque tem 2 (dois) anos de idade foi matriculado na unidade escolar dois

meses apoacutes inicio do ano letivo Ao ser entregue na sala pela avoacute a crianccedila

resistiu chorando as professoras tentaram acolhe-lo convidandondasho para brincar

No primeiro dia durante o tempo em que permaneceu na creche (periacuteodo de

inserccedilatildeo ndash das 8 agraves 10 horas) ele reagiu com muito choro ameaccedilando e batendo

em qualquer adulto que dele se aproximasse No segundo dia Isaque parecia

mais calmo poreacutem demonstrava agressividade na interaccedilatildeo com os colegas de

sala de aula e tambeacutem na interaccedilatildeo com os colegas de paacutetio Ele apertava com

forccedila e mordia os demais colegas que se aproximassem dele ou simplesmente

se aproximava para morder No dia seguinte ou seja no terceiro dia Isaque

trouxe flores para uma das professoras e a abraccedilou carinhosamente Estendemos

um pouco mais seu horaacuterio na escola Alimentou-se muito bem

A partir do quarto dia consideramos que a crianccedila jaacute teria condiccedilatildeo de

permanecer tempo integral na escola pois jaacute natildeo chorava mais Alimentou-se

bem e dormiu bem Aos poucos vem demonstrando ser bastante carinhoso e

prestativo com uma oacutetima desenvoltura na fala demonstra ter uma inteligecircncia

bastante aguccedilada Possui uma incriacutevel autonomia na realizaccedilatildeo das atividades

cotidianas da escola

Poreacutem a crianccedila Isaque vem nos sinalizando continuamente que precisa de

socorro de ajuda pois na relaccedilatildeo na interaccedilatildeo com os colegas durantes as

brincadeiras tem ainda apresentado sinais de agressividade mordendo e

apertando pegando-os pelo colarinho Se chamado agrave atenccedilatildeo pelas professoras

disse que vai matar o coleguinha em quem bateu ou chutou bate na professora

chamando-a de palavras de baixo escalatildeo Considerando as dificuldades de

Isaque as professoras Elisabeth e Cristiane planejaram realizar com ele natildeo

somente atividades coletivas mas tambeacutem individuais tais como jogos de

memoacuteria quebra-cabeccedila leituras etc

(Caderno de campo- junho de 2016)

A primeira leitura que fizemos dessa crianccedila foi de que ele era um menino agressivo Mas

felizmente logo que proferimos essas palavras percebemos nossa insensibilidade refazemos

nossa leitura a tempo - tinha paacuteginas sem ler Antes de qualquer conclusatildeo precisaacutevamos saber o

que se passava com Isaque sua atitude era apenas reproduccedilatildeo de algum contexto apesar de seus

tatildeo poucos anos de vida Nossa relaccedilatildeo com essa crianccedila natildeo poderia ser outra senatildeo uma

relaccedilatildeo pedagoacutegica-amorosa Nossos julgamentos deram lugar ao amor Tentar impor-lhe limites

sem qualquer compreensatildeo de sua realidade seria somente mais uma forma de opressatildeo

203

A matildee de Isaque tem dezessete anos de idade e estava reclusa Certo dia ela foi busca-lo

na escola e ficou um periacuteodo levando e buscando-o Periacuteodo esse que percebiacuteamos nitidamente

consideraacutevel melhora no seu desempenho no seu relacionamento com as demais crianccedilas Mas

de repente ela jaacute natildeo estava mais Isaque dizia que sua matildee fora embora Essa oscilaccedilatildeo sem

duacutevida reflete diretamente na vida pessoal da crianccedila e no seu rendimento escolar Isaque fica

sob a responsabilidade da avoacute materna

Atraveacutes de um olhar amoroso da postura do sentir do agir foi possiacutevel a percepccedilatildeo de

que haveria de existir outras maneiras de intervir no cotidiano de Isaque que natildeo fosse de forma

repressora Aacute medida em que buscaacutevamos alternativas fomos observando a incriacutevel crianccedila que

era o Isaque suas dificuldades e inquietudes natildeo poderiam estar acima de suas e de nossas

possiblidades

Natildeo teriacuteamos tantos jovens e adultos na EJA (Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos) se

minimamente as crianccedilas e os jovens recebessem o respaldo necessaacuterio na educaccedilatildeo infantil e no

ensino fundamental Mas no lugar do acolhimento o que vemos na maioria das vezes eacute a

exclusatildeo dos mesmos seja pela roupa que veste pelo sapato que calccedila ou pelo modo como fala

seja pelo lugar onde vive ou pelo tipo de cultura que expressa As proacuteprias atividades

pedagoacutegicas que lhes satildeo propostas muitas das vezes satildeo excludentes pela de falta de

contextualizaccedilatildeo

A partir do momento em que mecanismos natildeo satildeo criados para a permanecircncia de uma

crianccedila ou um adolescente na escola automaticamente seus sonhos satildeo fragmentamos E se essa

crianccedila natildeo for acolhida pela escola teraacute que mais tarde fazer parte do quadro da EJA Isso eacute

perverso Eacute perverso porque se hoje a crianccedila e o adolescente jaacute tecircm o direito agrave educaccedilatildeo direito

constitucionalmente adquirido por que precisar recorrer a EJA mais tarde Isso acontece porque

o sistema eacute perverso Entatildeo noacutes educadores tambeacutem precisamos nos libertar dessa opressatildeo

hegemocircnica

2 Os Sujeitos da Amorosidade

Quem satildeo os sujeitos da amorosidade No contexto da discussatildeo podemos entender como

sujeitos da amorosidade tanto o educando quanto o educador Compreendo que a amorosidade

acontece na relaccedilatildeo de troca numa relaccedilatildeo muacutetua Se o amor pode ser aprendido tanto eu e

vocecirc noacutes educadores podemos aprender o caminho do amor como tambeacutem o educando Entatildeo

ambos somos sujeitos dessa componente pedagoacutegica a amorosidade

204

Eacute a convivecircncia amorosa com seus alunos e na postura curiosa e aberta que

assume e ao mesmo tempo provoca-os a se assumirem enquanto sujeitos

soacutecios-histoacutericos-culturais do ato de conhecer eacute que ele pode falar do respeito agrave

dignidade e autonomia do educando Pressupotildee romper com concepccedilotildees e

praacuteticas que negam a compreensatildeo da educaccedilatildeo como uma situaccedilatildeo

gnoseoloacutegica (FREIRE 1996 p11)

Freire nos mostra que quando assumida a coexistecircncia amorosa com o educando o

educador natildeo soacute tem uma postura curiosa como tambeacutem permite ao educando ser sujeito de sua

proacutepria aprendizagem sujeito de sua histoacuteria Isso denota respeito ao educando e o dignifica ao

mesmo tempo em que viabiliza sua autonomia

Essa cumplicidade abre caminho para que o educando rompa com e medo e a opressatildeo

Nessa accedilatildeo amorosa derrubamos e vencemos paradigmas conceitos e preconceitos natildeo soacute por

parte do educando mas do proacuteprio educador Compreendemos nessa mutualidade

epistemoloacutegica a importacircncia de reconhecer aluno como protagonista como sujeito do processo

ensino-aprendizagem na praacutetica educativa

Segundo a professora Cristiane

Eacute atraveacutes da afetividade que a relaccedilatildeo professor-aluno se constitui e assim

sendo possibilita que o processo ensino-aprendizagem se torne mais

significativo ao educando (Cristiane Moura de Mattos ndash Professora haacute 8 anos)

Se haacute essa relaccedilatildeo afetiva entre o professor e o aluno ambos constituem-se como sujeitos

da amorosidade Conforme a fala da professora Cristiane essa relaccedilatildeo permite olharmos para o

educando como sujeito no processo Esse viacutenculo reincide no fato de que o professor natildeo

somente ensina como tambeacutem aprende

A postura sensiacutevel do profissional da educaccedilatildeo auxilia na autonomia do aluno

motivando-o na construccedilatildeo do conhecimento tanto escolar como extraescolar Quando na sua

praacutetica o professor eacute motivado pelo amor para o educando a aprendizagem ganha novo

significado Aprender com prazer contribui para o desempenho e rendimento do educando

3 Amorosidade e Inclusatildeo

Para algueacutem ser incluiacutedo em determinado contexto ele precisa ser ouvido Ouvir eacute algo

essencial no processo de inclusatildeo pois ao ouvir o outro eu o percebo ele passa a existir para

mim se esse outro fala comigo eacute porque para ele eu jaacute existo Isto sem duacutevida me compromete

Por isso nosso trabalho deveria estaacute sempre seguido do diaacutelogo

205

Segundo Freire (2011) ldquoEacute preciso poreacutem que quem tem o que dizer saiba saiba sem

sombra de duacutevida natildeo ser o uacutenico ou a uacutenica a ter o que dizerrdquo Ao despertar nossa atenccedilatildeo

para colocar em praacutetica o diaacutelogo Freire estaacute nos dizendo que para haver diaacutelogo eu

necessariamente tenho que saber aprender a ouvir o outro o que ele tem a anunciar Uma

simples escuta pode mudar todo seu plano de aula Freire propotildee uma interaccedilatildeo uma

movimentaccedilatildeo interna da fala do outro ao seu pensamento comprometido com o comunicar natildeo

como fazer o comunicado mas daacute atenccedilatildeo ao questionamento agrave incerteza daquele que ouviu O

ato dialoacutegico me anuncia natildeo somente como educador criacutetico e questionador mas tambeacutem

amoroso respeitoso e humilde no processo de autoavaliaccedilatildeo da minha praacutetica docente

Como citado anteriormente o amor eacute dialoacutegico se dialoacutegico eacute tambeacutem inclusivo A

questatildeo da amorosidade como componente pedagoacutegica eacute de suma importacircncia e de grande

relevacircncia portanto imprescindiacutevel no processo educativo de inclusatildeo Com o exerciacutecio do

amor consequentemente as demais virtudes me seguiratildeo

Segundo a professora Letiacutecia Lucas

Sem diaacutelogo nossa praacutetica e discurso satildeo vazios Sem ele natildeo temos como

saber como atender a necessidade do aluno Se natildeo o ouvimos como saberemos

do que precisa (Letiacutecia ndash 10 anos de magisteacuterio)

Para a professora Letiacutecia o diaacutelogo eacute uma forma de ser diligente de evitar a incoerecircncia

entre o discurso e a praacutetica docente Sem essa ferramenta natildeo eacute possiacutevel a contextualizaccedilatildeo do

fazer pedagoacutegico com o cotidiano do educando ficando somente na teoria Poreacutem ao

enveredarmos pelo caminho do diaacutelogo a probabilidade de certos em nossa experiecircncia praacutetica

seraacute maior

Traccedilar caminhos buscar alternativas que incluam cada crianccedila que se achega aos bancos

das escolas puacuteblicas no processo de rendimento escolar eacute uma forma de estimulo para que esta

permaneccedila dando prosseguimento agrave educaccedilatildeo para a vida e tornando possiacuteveis seus sonhos

Conforme Martins

Assim acredito que tudo depende da forma como vemos os fatos depende da

nossa formaccedilatildeo dos autores eleitos das nossas possibilidades ou limitaccedilotildees de

intervir no real O ato de pesquisar eacute um bom exerciacutecio para nos olharmos

(MARTINS 2015 P 47)

De acordo com a citaccedilatildeo acima a intervenccedilatildeo do educador na realidade no cotidiano do

educando depende do seu olhar em relaccedilatildeo a este Na educaccedilatildeo infantil principalmente o modo

206

como eacute direcionado esse olhar tem peso maior Nesse contexto o olhar antecede a palavra

resultando em accedilotildees As accedilotildees do professor em relaccedilatildeo ao aluno dependem de como este o ver

sendo acolhedora ou excludente

A formaccedilatildeo do educador sua escolha teoacuterica suas possibilidades e limitaccedilotildees podem

determinar seu modo de intervenccedilatildeo no papel que desempenha na dinacircmica docente O educador

social entende e estaacute ciente de que eacute parte no processo de mudanccedilas dos paradigmas da

educaccedilatildeo intervindo como parte transformadora de uma sociedade em que os dominados natildeo

satildeo excluiacutedos apenas economicamente mas em todos os aspectos sociais sobretudo no que diz

respeito a uma educaccedilatildeo com qualidade uma educaccedilatildeo modificadora e libertadora

Como componente pedagoacutegica a amorosidade tem relaccedilatildeo direta na inclusatildeo do educando

no acircmbito educacional Para aleacutem do conhecimento cientifico a educaccedilatildeo forma cidadatildeos seres

humanos Partindo desse pressuposto nesse sentido a amorosidade tem participaccedilatildeo

fundamental nessa correlaccedilatildeo entre o aluno e o professor

A pesquisa eacute um dos caminhos que podemos trilhar com vista ao aperfeiccediloamento ao

amadurecimento do olhar amoroso como forma de inclusatildeo do educando em nossas accedilotildees

docentes Atraveacutes da pesquisa hipoacuteteses podem ser levantadas e ou confirmadas conceitos

podem ser mudados as certezas e incertezas podem dar lugar a novas formas de pensar E vocecirc

professor acredita na amorosidade como componente pedagoacutegica

Para a professora Anoil

Atraveacutes do amor conquistamos alcanccedilamos objetivos (Anoil ndash 20 anos de

magisteacuterio)

Se a amorosidade eacute esse facilitador ela eacute tambeacutem promotora da inclusatildeo A amorosidade

eacute um facilitador no processo de inclusatildeo quem natildeo ama natildeo inclui Sem ser incluiacutedo nas

atividades pedagoacutegicas o aluno perde o estiacutemulo perde a motivaccedilatildeo em aprender A

amorosidade no ato de educar eacute uma demonstraccedilatildeo de valoraccedilatildeo do professor em relaccedilatildeo o

aluno Essa preocupaccedilatildeo eacute essencial

4 O que eacute amor

A primeira definiccedilatildeo por mim encontrada estaacute no capiacutetulo treze da primeira carta aos

coriacutentios na Biacuteblia Sagrada O tiacutetulo desse capiacutetulo define o amor como dom supremo e a

introduccedilatildeo deste capiacutetulo descreve-o como caminho sobremodo excelente

207

Agora pois permanecem a feacute a esperanccedila e o amor estes trecircs poreacutem o maior

destes eacute o amor (I Coriacutentios 13 13)

Partindo da citaccedilatildeo podemos ver que o amor realmente eacute algo sublime pois estaacute acima

de todos os dons de todo conhecimento cientiacutefico de toda eloquecircncia humana Apesar de todos

esses outros atributos que o ser humano possa vir adquirir se natildeo for o amor a real causa de meu

efetuar natildeo tem valor algum Mesmo exercendo a generosidade distribuindo todos os meus bens

entre os necessitados ainda que eu negue a proacutepria vida dando-a em favor de meus semelhantes

que entregue os meus bens entre eles se natildeo for o amor a razatildeo a essecircncia de tudo nada me

acrescentaraacute

Paulo finaliza o capiacutetulo falando de trecircs coisas que devem permanecer a feacute a esperanccedila e

o amor Mas de todas elas a maior eacute o amor A feacute e a esperanccedila estatildeo interligadas pela motivaccedilatildeo

que ambas promovem aqueles que nelas depositam suas forccedilas Natildeo haacute como desvincular uma da

outra No entanto nem mesmo a feacute (algo capaz de superar qualquer expectativa humana para os

que dela se apoderam) pode se sobrepor ao amor Essa compreensatildeo eacute encontrada na proacutepria

experiecircncia do apoacutestolo Paulo um homem que aprendeu a amar aprendeu a amorosidade

Podemos ver a seguir de forma praacutetica

Essa experiecircncia estaacute relacionada a um escravo chamado Oneacutesimo cuidado por Paulo

quando este estava aprisionado em Roma Em o texto ONEacuteSIMO ndash DE INUacuteTIL A UacuteTIL o autor

explana a carta de Paulo a Filemon mostrando a grande mudanccedila que Oneacutesimo teve em sua vida

atraveacutes da amorosidade e cuidado de Paulo Ele destaca os versiacuteculos 10 e 11 desta carta

passagem em que Paulo chama Oneacutesimo de filho e confirma que este foi gerado entre algemas

que ele era algueacutem sem valor agora poreacutem eacute valoroso O texto detalha que outrora Oneacutesimo era

um simples escravo em fuga desprezado pela sociedade Contudo os versiacuteculos mencionados

segundo o autor mostram com clareza a amorosidade paciecircncia e dedicaccedilatildeo que Paulo tinha agraves

pessoas independente de seu niacutevel social ou seu grau de instruccedilatildeo (YULAN DONG 2016)

Na praacutetica docente a experiecircncia de Paulo pode ser aplicada com o mesmo princiacutepio o

amor Vemos com essa experiecircncia que o resultado se deu a partir da amorosidade como

componente principal no processo de transformaccedilatildeo na vida de Oneacutesimo Portanto a

amorosidade eacute uma componente pedagoacutegica a partir do qual podemos como educadores

intervir de maneira beneacutefica na vida de crianccedilas da educaccedilatildeo infantil Essa interferecircncia poderaacute

ultrapassar os muros da sala de aula e da escola

A experiecircncia a seguir nos faz pensar sobre a importacircncia da afetividade na educaccedilatildeo

infantil de um olhar amoroso voltado para as crianccedilas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

208

Atualmente a comunidade onde estaacute localizada a unidade escolar em que a pesquisa foi

realizada passa por grande conflito entre as facccedilotildees atingindo diretamente aos moradores e o

funcionamento da escola tornando-os refeacutem de suas accedilotildees Tanto as crianccedilas como suas

respectivas famiacutelias e de alguma forma noacutes educadores e demais funcionaacuterios da unidade

escolar sofremos as consequecircncias desses atos Ao dialogar com a professora Cristiane chegamos

a conclusatildeo que no atual contexto em que se encontram as crianccedilas a noacutes confiadas natildeo apenas

como profissionais mas como seres humanos capazes de cuidar de outro o melhor pedagoacutegico

que poderiacuteamos propor seria o acolhimento atraveacutes da afetividade o afago o calor e o valor

humano teria maior significado do que qualquer outro conteuacutedo (Caderno de campo novembro

de 2016)

Conclusatildeo

Considerar a amorosidade na atuaccedilatildeo docente sobretudo na educaccedilatildeo infantil natildeo eacute uma

questatildeo de perda de autoridade pelo contraacuterio o amor eacute uma ferramenta no exerciacutecio da

conquista pelo respeito na sala de aula pela consolidaccedilatildeo dos laccedilos humanos fazendo da

aprendizagem uma consequecircncia Essa conquista eacute gradual agrave medida que pratico a amorosidade

o amor torna-se muacutetuo Afirmo assim que eacute uma praacutetica reciacuteproca Como seres humanos

precisamos natildeo somente de conhecimento cientifico das condiccedilotildees sugeridas e muitas senatildeo na

maioria das vezes impostas pelo sistema no contexto social poliacutetico e econocircmico do sistema

capitalista que domina a sociedade Brasileira E eacute esse sistema que na maioria das vezes noacutes

educadores reproduzimos no cotidiano escolar sem levar em consideraccedilatildeo a afetividade esta

indispensaacutevel na relaccedilatildeo professor aluno ainda mais quando se refere agrave educaccedilatildeo infantil com

maior peso a educaccedilatildeo de meninos e meninas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social pois estes jaacute

sofrem com maior expressividade e visibilidade o estigma da violecircncia Seja ela fiacutesica ou

simboacutelica Mas se a amorosidade como componente pedagoacutegica fizer parte do curriacuteculo nas

salas de aula e nos espaccedilos escolares certamente a realidade escolar teraacute outro sentido na

educaccedilatildeo escolar na infacircncia de muitos meninos e meninas que se fazem parte do dia a dia de

nossas praacuteticas docente

Referecircncias Bibliograacuteficas

FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa Satildeo Paulo

Paz e Terra 2011

209

MARTINS Margareth Pedagogia Social diaacutelogos com crianccedilas trabalhadoras VIII Satildeo

Paulo Expressatildeo e Arte 2015

SCHETTINI Luiz Filho Analfabetismo afetivo In Pedagogia da Ternura 2 ed Petroacutepolis

RJ Vozes 2010

YU LAN Dong ONEacuteSIMO ndash DE UTIL A INUTIL In O Encargo Central de Paulo Alimento

Diaacuterio Seacuterie A ideia central das epistolas de Paulo Satildeo Paulo Aacutervore da Vida 2016

210

ldquoDe Ministro mais activo e mais reluzente do Governo para Reitorrdquo um

contributo para o estudo da configuraccedilatildeo de rituais verbais da descortesia e

incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV

Acircngelo Ameacuterico Mauai41

Resumo

Com o presente estudo procuramos demonstrar de que forma as estrateacutegias discursivas se manifestam na

interacccedilatildeo entre interlocutores Analisamos a configuraccedilatildeo de rituais verbais as estrateacutegias de descortesia

e a incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV As sequecircncias discursivas do ldquoPontos

de Vistardquo analisadas evidenciam situaccedilotildees de ameaccedila das faces tendo em conta o valor social positivo

que as pessoas reivindicam Os interlocutores natildeo conseguem evitar a vulnerabilidade das faces jaacute que

usam estrateacutegias discursivas invasivas ou comprometedoras na perspectiva em que os outros possam

entender o seu discurso A intenccedilatildeo deliberada do locutor atacar a imagem de outro ou outros manifesta-

se ritualmente de forma descortecircs e os argumentos perfilados na interacccedilatildeo natildeo satildeo coerentes com a tese

defendida no discurso

Palavras-chave (Des)cortesia verbal Rituais verbais Estrateacutegia discursiva

Abstract

The study aims to demonstrate how the discursive strategies are revealed in the interaction between

interlocutors We analyze the outline of verbal rituals discourtesy strategies and discursive incoherence in

the STV ldquoPontos de Vistardquo program When scrutinized the discursive sequences of the ldquoPontos de Vistardquo

program show situations of facial threat taking into account the positive social value that the interlocutors

claim for They cannot avoid the vulnerability of the facial expression since they use invasive or

compromising discursive strategies in the perspective in which others can understand their discourse The

deliberate intention of the participants to attach the other manifests itself ritually in a discourteous manner

and the arguments outlined in the interaction are not consistent with the thesis defended in the discourse

Key words Verbal courtesy Verbal rituals Discursive strategy

1 Introduccedilatildeo

Em qualquer forma de interacccedilatildeo verbal aquele que ocupa uma posiccedilatildeo de falante tem a

consciecircncia de que estaacute numa posiccedilatildeo vulneraacutevel pois corre o risco de ser julgado interrompido

ou sofrer objecccedilatildeo Em funccedilatildeo disso ele procura controlar (monitorar) suas proacuteprias palavras

assim como as palavras e reacccedilotildees dos interlocutores Atraveacutes dessa estrateacutegia o falante procura

manter a situaccedilatildeo de equiliacutebrio no processo interaccional42

41 Docente da UP Delegaccedilatildeo de Gaza Licenciado em Ensino de Portuguecircs Mestre em Estudos Portugueses

Multidisciplinares na Aacuterea de Especializaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa e Doutorando em Estudos Portugueses na

Aacuterea de Especializaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa 42 A reflexatildeo sobre os fenoacutemenos linguiacutesticos subjacentes agrave interaccedilatildeo verbal insere-se no acircmbito do conjunto de

problemaacuteticas linguiacutesticas que emergem no campo da Pragmaacutetica das sequecircncias discursivas (Fonseca 1992) da

Anaacutelise Interacional (Kerbrat-Orecchioni 1986) e da Sociolinguiacutestica Interacional (Gumperz 1989)

211

Tendo por base as interacccedilotildees discursivas entre dois interlocutores - um jornalista e um

comentador permanente do programa ldquoPontos de Vistardquo da STV43 decorrido no dia 27 de

Novembro de 2016 - gravadas e posteriormente transcritas atraveacutes do sistema de notaccedilatildeo

ortograacutefica procuraremos analisar o comportamento sociolinguiacutestico subjacente ao geacutenero

discursivo ldquoPontos de Vistardquo um programa de informaccedilatildeo que vai para o ar aos domingos sob

moderaccedilatildeo do jornalista Jeremias Langa (JLL1) e nesta ediccedilatildeo contou com a participaccedilatildeo do

comentador Fernando Lima (FLL2)

O programa ldquoPontos de Vistardquo tem o objectivo de levar ateacute aos telespectadores a anaacutelise dos

acontecimentos semanais de ordem poliacutetica econoacutemica e social de Moccedilambique Na confluecircncia

de orientaccedilotildees teoacutericas e metodoloacutegicas da Sociolinguiacutestica Interaccional seguiremos o meacutetodo

qualitativo e interpretativo de anaacutelise de fenoacutemenos interaccionais concebendo a liacutengua como

um fenoacutemeno social e como as unidades linguiacutesticas do discurso funcionam nas conversaccedilotildees

dando enfoque agrave cortesia44 linguiacutestica e ao modo como se estabelece a coerecircncia discursiva

tendo por base as ldquopistas de contextualizaccedilatildeordquo subjacentes ao discurso e interpretados pelos

interlocutores (Gumpez 1989)

Considerando a relaccedilatildeo entre as praacuteticas discursivas e ldquocomunidades de pensamentordquo

(Gumperz 1989) procederemos ao levantamento e agrave anaacutelise das sequecircncias de valorizaccedilatildeo da

face dos actos ameaccediladores da face (Brown e Levinson 1987) e de como se realizam

discursivamente os rituais verbais de delicadeza no ldquoPontos de Vistardquo Descreveremos o modo

como se estabelece a intercompreensatildeo de sentido atraveacutes das estrateacutegias discursivas utilizadas

pelos interlocutores na anaacutelise da exoneraccedilatildeo do Prof Dr Jorge Ferratildeo do cargo de Ministro de

Educaccedilatildeo Cultura e Desenvolvimento Humano de Moccedilambique e da sua nomeaccedilatildeo para Reitor

da Universidade Pedagoacutegica (UP) de Moccedilambique Analisados os dados precedidos

basicamente por alguns pressupostos teoacutericos que confluem no modelo da chamada

Sociolinguiacutestica Interaccional apresentaremos por fim as principais conclusotildees extraiacutedas da

anaacutelise efectuada

2 Consideraccedilotildees teoacutericas

Uma das formas de manter o equiliacutebrio na interacccedilatildeo eacute por um lado construir uma auto-

imagem puacuteblica de si mesmo na qual se evidenciam os traccedilos positivos e se ocultem os traccedilos

negativos e por outro lado o falante busca resguardar a imagem dos interlocutores evitando

43 Soico Televisatildeo 44 Os itens cortesia e delicadeza descortesia e indelicadeza satildeo sinoacutenimos

212

aquilo que possa ser tomado por invasivo ou comprometedor ou seja uma imagem delineada em

termos de atributos aprovados socialmente A esta imagem Goffman (1967 5) atribui o nome de

face termo entendido como o valor social positivo que uma pessoa reivindica para si de forma

eficaz na percepccedilatildeo dos outros durante um contacto especiacutefico

John Gumperz e Erving Goffman destacam-se nos estudos da Sociolinguiacutestica

Interaccional Eles desenvolvem estudos que buscam dar conta de fenoacutemenos que envolvem

cultura sociedade e linguagem Uma elocuccedilatildeo pode ser compreendida de vaacuterias maneiras e

atraveacutes de inferecircncias Os interlocutores decidem como interpretaacute-la em conformidade com

ldquoconstelaccedilotildees de traccedilos presentes na estrutura de superfiacutecie das mensagens que falantes

sinalizam e interpretam a actividade que estaacute ocorrendordquo (Gumperz 1982 99 apud Biar 2006

4) Biar salienta que os mecanismos de sinalizaccedilatildeo como entoaccedilatildeo ritmo do discurso escolhas

lexicais foneacuteticas e sintaacutecticas constituem as pistas de estereoacutetipos de classe assimetrias de

poder Para Gumperz as pistas de contextualizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo e inferecircncia associam-se agrave

interpretaccedilatildeo inerente a qualquer discurso e tecircm como base as expectativas dos participantes e

contribuem na construccedilatildeo do significado

As pistas de contextualizaccedilatildeo podem aparecer sob vaacuterias manifestaccedilotildees linguiacutesticas

dependendo do repertoacuterio linguiacutestico de cada falante determinado historicamente e tambeacutem

culturalmente Assim

uma teoria geral das estrateacutegias do discurso deve portanto comeccedilar por

especificar quais satildeo os conhecimentos linguiacutesticos e socioculturais que satildeo

necessaacuterios partilhar para manter o envolvimento conversacional e tratar de

seguida o que constitui a proacutepria natureza de inferecircncia conversacional o que

faz a especificidade cultural e situacional da interpretaccedilatildeo (Gumperz 1989 2

apud Almeida 2012 14)

As pistas ajudam no estabelecimento da cortesia no curso da interacccedilatildeo em funccedilatildeo do

geacutenero discursivo actualizado Catherine Kerbrat-Orecchioni (2004) acentua a funccedilatildeo reguladora

da cortesia ligada ao contexto A delicadeza eacute sensiacutevel ao contexto quer situacional quer o

contexto mais amplo de que o geacutenero discursivo participa O geacutenero impotildee constriccedilotildees agrave relaccedilatildeo

interpessoal e por conseguinte agrave relaccedilatildeo cortecircs ou seja a cortesia verbal eacute uma competecircncia

sociocultural e linguiacutestica especiacutefica de cada geacutenero discursivo

213

3 Anaacutelise da configuraccedilatildeo de descortesia rituais verbais e incoerecircncia

discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV

31 A (des)cortesia verbal

A anaacutelise da cortesia passa pela distinccedilatildeo a partir da teoria da ameaccedila ou preservaccedilatildeo das

faces entre delicadeza positiva (estrateacutegias de valorizaccedilatildeo da imagem dos falantes) e delicadeza

negativa (estrateacutegias de evitaccedilatildeo dos actos ameaccediladores) (Brown e Levinson 1987 61) O ato de

cortesia exige um adequado trabalho de figuraccedilatildeo na interacccedilatildeo e a descortesia revela a emoccedilatildeo

na interacccedilatildeo e um forte ldquoenvolvimento conversacionalrdquo dos interlocutores no contexto

interaccional A indelicadeza distingue-se da rudeza Como refere Marina Terkourafi (2008)45

na rudeza o locutor tem a intenccedilatildeo deliberada de ameaccedilar a face enquanto na indelicadeza natildeo

haacute essa intenccedilatildeo deliberada A descortesia para efeitos da nossa anaacutelise envolve comportamento

comunicativo que causa a ofensa ou a ldquoperda da facerdquo de um alvo ou interpretado como alvo

(Almeida 2013 61)

311 Rituais verbais na abertura do Programa

Analisar uma interacccedilatildeo verbal como praacutetica sociodiscursiva situada historicamente eacute

investigar de que maneira as pessoas utilizam e o que fazem com as palavras ao se envolverem

em actividades quotidianas mediadas pela linguagem Para que isso ocorra eacute necessaacuterio observar

as regularidades e consistecircncias que moldam as praacuteticas sociais e seus geacuteneros dentro das

comunidades discursivas analisando os seus propoacutesitos comunicativos as diversas relaccedilotildees

interpessoais de poder e de interesses estabelecidas suas estrateacutegias discursivas tendentes ao

equiliacutebrio relacional ou para a preservaccedilatildeo das faces dos interactantes

No programa ldquoPontos de Vistardquo os interlocutores no processo conversacional

estabelecem uma relaccedilatildeo dialoacutegica em que ambos adaptam continuamente suas enunciaccedilotildees agraves

necessidades do Outro e do contexto em que se desenrolam Assim cada acto de fala influi

directamente no desenvolvimento sucessivo da interacccedilatildeo determinando as futuras acccedilotildees dos

interlocutores no evento comunicacional uma troca verbal que se preza pela manutenccedilatildeo de

acordos firmados atraveacutes de contiacutenuas negociaccedilotildees

O geacutenero discursivo ldquoPontos de Vistardquo configura portanto uma relaccedilatildeo discursiva

assimeacutetrica uma vez que os papeacuteis dos interlocutores satildeo distintos A assimetria interaccional

relaciona-se natildeo soacute com as funccedilotildees dos interlocutores na situaccedilatildeo comunicativa mas

45 Citado por Almeida (2013 61)

214

principalmente com seus papeacuteis sociais e suas caracteriacutesticas individuais JL eacute o jornalista que

modera a conversa enquanto ao FL neste contexto cabe-lhe a missatildeo de analisarcomentar os

assuntos propostos Embora revestidos de um papel distinto e institucionalizado tambeacutem

organizam criteriosamente o seu discurso com um ldquograu de ritualizaccedilatildeordquo verbal ao serviccedilo de

equiliacutebrio relacional parte integrante do trabalho de figuraccedilatildeo46 (ou ldquoface workrdquo) (Goffman

1974) dos comportamentos de interacccedilatildeo

A ritualizaccedilatildeo das praacuteticas discursivas revela-se como um saber de uma ldquopoliacutetica de uma

conversaccedilatildeordquo (Gumperz 1989 128) que determina o que os interactantes dizem em funccedilatildeo da

situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo na qual a cortesia se reveste de grande importacircncia na gestatildeo da relaccedilatildeo

instituiacuteda na interacccedilatildeo (Almeida 2009 46) O L1 eacute responsaacutevel pela abertura moderaccedilatildeo e

fecho do programa ele introduz novos assuntos formula perguntas controla e orienta a

interacccedilatildeo e decide pela mudanccedila de toacutepicos Estando integrado em todas as culturas como

componente verbal de interacccedilatildeo social o programa abre atraveacutes de uma saudaccedilatildeo para pocircr em

contacto os telespectadores conforme podemos observar no excerto seguinte

JL Muito boa noite (hellip) hoje vamos analisar as mexidas no Governo com

mudanccedila do Ministro da Educaccedilatildeo Cultura e Desenvolvimento Humano sua

nomeaccedilatildeo para Reitor da Universidade Pedagoacutegica (UP) A nomeaccedilatildeo de um

novo vice-ministro dos Recursos Minerais e Energia no caso eacute novo e uacutenico

pois natildeo havia neste ministeacuterio um vice-ministro Seria apenas um ministro

substituiacutedo entatildeo pela ministra Letiacutecia Como se sabe o Presidente reforccedila este

ministeacuterio com um vice-ministro quase dois anos depois da formaccedilatildeo deste

Governo Estes vatildeo ser entatildeo os assuntos de fundo aqui no nosso Programa

(hellip)

As ldquoestrateacutegias de alinhamentordquo possibilitam a retoma de uma intervenccedilatildeo interrompida e a

manutenccedilatildeo do ldquofluxo de progressatildeo temaacuteticardquo (Traverso 1996 apud Almeida 2012 22)

reorientando os rumos discursivos evitando as digressotildeesdivagaccedilotildees temaacuteticas e mantendo a

coerecircncia temaacutetica contribuindo para a manutenccedilatildeo da ordem interaccional da conversaccedilatildeo

46 A ldquofiguraccedilatildeordquo ou ldquotrabalho de face (face-work)rdquo ndash relativa a tudo o que uma pessoa empenha para que suas acccedilotildees

natildeo faccedilam ningueacutem perder a face incluindo ela proacutepria ndash estaacute ligada agrave noccedilatildeo de ldquoritualizaccedilatildeordquo das actividades

discursivas (Goffman 197417) O autor fundamenta o trabalho de figuraccedilatildeo ldquoEu emprego o termo ritual porque

se tratam de actos cuja componente simboacutelica serve para demonstrar o quanto a pessoa que age eacute digna de respeito

ou quanto ela estima que os outros satildeo dignos delerdquo (idem p21)

215

Estes fenoacutemenos denotam um forte ldquoenvolvimento conversacionalrdquo dos participantes nas trocas

discursivas

JL Vamo-nos situar para o primeiro assunto que elegemos para esta noite

Como dissemos houve mudanccedilas ao niacutevel do Governo duas pedras foram

mexidas uma a sair e outra a entrar Vamos comeccedilar por falar do Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo um dos ministros mais activos e diria mais reluzentes deste Governo

sai sai no final de uma forma muito espraia e parece muito suacutebita do Governo

e regressa para academia o que eacute que lhe parece esta mudanccedila para Jorge

Ferratildeo

Os alinhamentos muacutetuos dos participantes atraveacutes das trocas pergunta-resposta ou seja o

ldquoenquadramento de participaccedilatildeordquo (Schiffrin 1993 255 apud Almeida 2012 22) guiam os

interlocutores no seu trabalho e as intervenccedilotildees ocupam uma ldquosintagmaacutetica conversacionalrdquo

(Kerbrat-Orecchioni 1998 196) sendo que a coerecircncia natildeo se inscreve apenas ao niacutevel do

toacutepico (mantendo a continuidade referencial) mas tambeacutem em relaccedilatildeo agrave organizaccedilatildeo sequencial

da interacccedilatildeo respeitando a vez de elocuccedilatildeo e analisando as intervenccedilotildees que possibilitam o

entrelaccedilamento da vez de elocuccedilatildeo

Assim a interacccedilatildeo verbal eacute regida por regras e convenccedilotildees que determinam a

estruturaccedilatildeo da conversa em trecircs macro-momentos como saudaccedilatildeo empenhamento temaacutetico e

despedida As rotinas linguiacutesticas de abertura e de fecho revelam-se instrumentos de cortesia

Constituem meios para reduzir o risco da ameaccedila da face (Laver 1989 289 apud Almeida 2012

112) O elevado niacutevel de padronizaccedilatildeo social que caracteriza a abertura e o encerramento

conversacionais ocorre dentro das normas interaccionais envolvidas na situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo

e encontra a sua explicaccedilatildeo no tratamento dos actos ameaccediladores das faces - FTArsquos - face

threatening acts - (Brown e Levinson 1987)

312 A descortesia atraveacutes de actos de valorizaccedilatildeo da face como

forma de persuasatildeo

Os papeacuteis desempenhados pelos interlocutores na conversaccedilatildeo satildeo assimeacutetricos O L1 faz

perguntas e L2 tem o papel de responder em conformidade com a questatildeo como podemos

observar nas sequecircncias abaixo

216

[(hellip) um dos ministros mais activos e diria mais reluzentes deste Governo sai

sai no final de uma forma muito espraia e parece muito suacutebita do Governo e

regressa para academia]asserccedilatildeo [o que eacute que lhe parece esta mudanccedila para

Jorge Ferratildeo]Pergunta

De acordo com Gumperz as pistas de contextualizaccedilatildeo as pressuposiccedilotildees e inferecircncias

satildeo relevantes na interpretaccedilatildeo de qualquer discurso pelos interlocutores e contribuem na

construccedilatildeo do significado O L1 realiza um acto de valorizaccedilatildeo da face do Ministro exonerado

natildeo obstante natildeo se conheccedilam os criteacuterios convocados para o avaliar ou comparar aos outros

ministros do Governo actual O uso da asserccedilatildeo avaliativa de valor axioloacutegico positivo um dos

ministros mais activos e diria mais reluzentes deste Governo que apresenta um item

intensificador ldquomaisrdquo e os adjectivos ldquoactivosrdquo e ldquoreluzentesrdquo permitem a forte valorizaccedilatildeo da

face do Professor Ferratildeo Esta estrateacutegia discursiva pode causar discordacircncia entre os

admiradores das qualidades do Professor e os opositores da decisatildeo tomada indicia portanto

uma solidariedade de L2 em relaccedilatildeo agrave contraposiccedilatildeo da decisatildeo tomada pelo Presidente Eacute um

acto de descortesia porque limita a liberdade de posiccedilatildeo e ameaccedila a face do interactante O

locutor podia espevitar melhor a opiniatildeo do seu interlocutor se evitasse um comentaacuterio que

revela explicita ou implicitamente a sua posiccedilatildeo

O L1 realiza um ato directivo directo precedido de uma construccedilatildeo assertiva com

objectivo de conduzir o L2 a reagir segundo o que lhe eacute pedido o que eacute que lhe parece esta

mudanccedila para Jorge Ferratildeo A formulaccedilatildeo da ldquointerrogativa totalrdquo (Mateus et al 2003)

esperaria da parte do L2 uma resposta afirmativa ou negativa A resposta afirmativa a esta

interrogativa podia ser ldquofoi uma boaexcelente decisatildeo ou uma maacutepeacutessima decisatildeordquo seguido da

expressatildeo ldquoa mudanccedila de Jorge Ferratildeordquo mas o interlocutor infere a intenccedilatildeo e reage num tom

emocionado

FL Bem Jeremias eu estou atoacutenito estou atoacutenito eu estou como aqueles

espectadores que quando satildeo perguntados para comentar alguma coisa dizem

ldquoestou sem palavrasrdquo Esta deveria ser de facto a minha posiccedilatildeo estou sem

palavras com o afastamento de Jorge Ferratildeo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo mas

natildeo satildeo conhecidos os motivos pelos quais um dos ministros que quanto a mim

tentou inovar tentou fazer coisas novas tentou levantar um debate nacional

sobre questotildees tatildeo prementes do nosso sistema educativo nomeadamente a

questatildeo da qualidade Estava a tentar fazer um trabalho estruturante neste

217

sector e eacute assim tirado deste cargo aliaacutes presumo que o Jeremias tal como eu

tenha o seu telemoacutevel cheio de mensagens de incredulidade de centenas de

moccedilambicanos que natildeo percebem por que eacute que este ministro foi afastado

Em diferentes contextos de uso linguiacutestico a minimizaccedilatildeo de expressotildees descorteses deve

ser mais evidente quando haacute uma relaccedilatildeo de poder do alocutaacuterio sobre o locutor ou quando haacute

uma grande distacircncia social entre eles bem como quando se trata de um referente com um papel

social reconhecido universalmente Agrave semelhanccedila do L1 o comentador realiza um acto de

valorizaccedilatildeo da face do Professor Ferratildeo atraveacutes da sequecircncia de justificaccedilatildeo (Lopes 2009) tiacutepica

da relaccedilatildeo de coerecircncia do discurso argumentativo que se processa entre blocos enunciativos

conclusatildeo e argumento organizados segundo uma ordem regressiva (Marques 2010 296)

Veja-se o enunciado

ndash [() estou sem palavras com o afastamento de Jorge Ferratildeo do Ministeacuterio

da Educaccedilatildeo]conclusatildeo [mas natildeo satildeo conhecidos os motivos pelos quais um dos

ministros que quanto a mim tentou inovar tentou fazer coisas novas tentou

levantar um debate nacional sobre questotildees tatildeo prementes do nosso sistema

educativo nomeadamente a questatildeo da qualidade]argumento

O L2 usa uma estrateacutegia de cortesia negativa para salvaguardar a sua imagem diante dos

telespectadores presumo que o Jeremias tal como eu tenha o seu telemoacutevel cheio de mensagens

de incredulidade de centenas de moccedilambicanos que natildeo percebem por que eacute que este ministro

foi afastado FL entende que estaacute a exteriorizar o sentimento de muitos compatriotas incluindo o

do moderador do Programa Esta eacute uma estrateacutegia discursiva de mitigaccedilatildeo dos efeitos da ameaccedila

da sua face e de promoccedilatildeo da credibilidade do seu argumento desfavoraacutevel agrave decisatildeo tomada A

convocaccedilatildeo das vozes diferentes para alicerccedilar o seu discurso inscreve-se na ldquopolifoniardquo

discursiva uma estrateacutegia usada pelos falantes para conferir argumento de autoridade uma vez

reconhecer que a informaccedilatildeo dada desconfortaria algumas pessoas que estivessem a acompanhar

o Programa O L2 apresenta deste modo um discurso agoniante de ameaccedila agraves faces de

Presidente responsaacutevel pela sua exoneraccedilatildeo do cargo de Ministro e da sua nomeaccedilatildeo para Reitor

da UP esta Instituiccedilatildeo com a imagem conspirada pelo discurso do comentador

218

[Noacutes estamos muito quente47 a comentar a saiacuteda deste Ministro certamente

que nos proacuteximos dias haveraacute muito mais de explorar (hellip) A educaccedilatildeo eacute um

sector vital e matarmos48 uma pessoa que tem trabalho feito na educaccedilatildeo

mostrou que tinha comprometimento com a educaccedilatildeo natildeo eacute natildeo me parece

muito interessante]argumentos orientados agrave tese seguinte[Eu acho que claramente o

Presidente andou muito mal nesta exoneraccedilatildeo (hellip)]conclusatildeotese

Para compreender a interacccedilatildeo conversacional eacute necessaacuterio ver por um lado de que

modo um ato de discurso se relaciona com os outros na conversaccedilatildeo e por outro eacute importante

natildeo soacute compreender as relaccedilotildees entre actos de discurso em diferentes movimentos como

tambeacutem considerar as relaccedilotildees entre os actos no mesmo movimento (Holdcroft 1992 apud

Almeida 2012 38) Neste acircmbito a estrutura argumentativa desencadeia ldquopistas de

contextualizaccedilatildeordquo utilizadas pelos interlocutores (Gumperz 1989) o que facilita a compreensatildeo

dos actos verbais actualizados O locutor tomado pela emoccedilatildeo apresenta actos verbais

descorteses com recurso a expressotildees que ameaccedilam fortemente a face da entidade que decidiu

exonerar o Ministro cujas qualidades satildeo fortemente exaltadas Eacute visto como um profissional

criativo sagaz inovador e aberto para consultas sobre os problemas da educaccedilatildeo (esta sequecircncia

constitui um acto de valorizaccedilatildeo da face) Desconfortado e perplexo com a decisatildeo tomada o L2

apresenta um comportamento de desespero por natildeo poder contar mais com a colaboraccedilatildeo do

Professor Ferratildeo a dedicar as suas energias experiecircncias e os seus conhecimentos na busca

incessante de soluccedilotildees para os problemas da educaccedilatildeo

O uso da expressatildeo ldquomatarmos uma pessoardquo ao serviccedilo da criacutetica incisiva ameaccedila

intensamente a face do Presidente acusado de ter tomado uma decisatildeo infeliz e constitui um acto

de descortesia A afirmaccedilatildeo de que ldquoo Presidente andou muito mal na exoneraccedilatildeordquo constitui

estrateacutegia de desvalorizaccedilatildeo agressiva do outro uma indelicadeza discursiva que resulta de uma

anaacutelise focalizada na saiacuteda de Ferratildeo do Ministeacuterio sem reflectir na intenccedilatildeo da sua nomeaccedilatildeo

para Reitor pelo Presidente A sagacidade e o comprometimento do exonerado com a educaccedilatildeo

podem ser importantes na UP dado que esta Instituiccedilatildeo natildeo eacute excluiacuteda quando se reflecte sobre a

educaccedilatildeo em Moccedilambique natildeo soacute por ser uma Instituiccedilatildeo do Ensino Superior como tambeacutem

pela sua vocaccedilatildeo de formar quadros superiores (professores gestores etc) para servirem a

47 O termo ldquoquenterdquo foi usado como extensatildeo semacircntica por meio da metaacutefora conceptual No contexto vertente do

uso assume o sentido de ldquopreocupado impacienterdquo 48 Item tambeacutem usado como extensatildeo semacircntica com sentido sacrificar ofuscar destruir o brio profissional do Dr

Jorge Ferratildeo

219

educaccedilatildeo No entanto ameaccedila em contrapartida a face do locutor que natildeo soube usar

adequadamente padrotildees estabelecidos pela etiqueta social natildeo suavizou a criacutetica com intuito de

assegurar relativa harmonia na interacccedilatildeo social O interactante parece ignorar que as faces a sua

e a do alvo da censura satildeo vulneraacuteveis isto eacute satildeo passiacuteveis de serem ameaccediladas Enfim este

juiacutezo de desvalorizaccedilatildeo funciona como estrateacutegia discursiva de intensificaccedilatildeo da ameaccedila agrave face e

eacute uma forma de descortesia

313 A cortesia e solidariedade linguiacutestica no ldquocerne das estrateacutegias de

argumentaccedilatildeo discursivardquo

O Professor Jorge Ferratildeo foi exonerado do posto de Ministro da Educaccedilatildeo e

Desenvolvimento Humano atraveacutes de um despacho presidencial datado de 24 de Novembro e

passou a assumir a pasta de Reitor da UP de Moccedilambique O L1 reorientou o debate focalizado

para a nova atribuiccedilatildeo de Ferratildeo

L1 Permita-me encerrar esta vertente e olhar para a UP Jorge Ferratildeo eacute

nomeado para Reitor da UP portanto o regresso dele agrave academia Aconteceu

um processo eleitoral dentro da Universidade Pedagoacutegica que culminou com

a selecccedilatildeo daqueles trecircs nomes num processo de votaccedilatildeo num processo

democraacutetico (hellip) quando o Presidente pode ignorar a vontade democraacutetica

destas instituiccedilotildees e nomear quem ele quiser este debate este velho debate o

reitor de uma universidade eacute uma extensatildeo de poder executivo de poder

poliacutetico ou do acircmbito acadeacutemico

Mais uma vez o L1 usa uma estrateacutegia de descortesia ao revelar a sua posiccedilatildeo face agrave

nomeaccedilatildeo para Reitor procurando influenciar o analista A Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica na sua

aliacutenea c) do nuacutemero 2 refere que compete ao Presidente da Repuacuteblica no domiacutenio do Governo

nomear exonerar e demitir os reitores e vice-reitores das universidades estatais sob proposta dos

respectivos colectivos de direcccedilatildeo nos termos da lei Na verdade houve eleiccedilotildees para se

encontrar um reitor que sucederia o Professor Rogeacuterio Uthui O colectivo da UP apresentou trecircs

nomes de candidatos melhor posicionados no escrutiacutenio Um dos nomes seria alvo de nomeaccedilatildeo

por parte do Presidente da Repuacuteblica (PR) de Moccedilambique No entanto ele nomeou o Professor

Jorge Ferratildeo para o cargo de Reitor Este antes da sua nomeaccedilatildeo para o MInisteacuterio da Educaccedilatildeo

e Desenvolvimento Humano tinha sido Reitor da Uniluacuterio uma Instituiccedilatildeo do Ensino Superior

220

onde despertou as suas qualidades de gestatildeo O nomeado natildeo se tinha candidatado nem

participado do processo de eleiccedilatildeo o que desvaloriza a vontade democraacutetica da Instituiccedilatildeo e lesa

sobremaneira a separaccedilatildeo de poderes entre a academia e a poliacutetica retira a autonomia das

Instituiccedilotildees do Ensino Superior e faz com que os criteacuterios de nomeaccedilatildeo sejam subjectivos Nesse

sentido o L2 reage nos seguintes termos

L2 Em primeiro lugar eu acho que a academia tem que ter mais liberdade e

tem que ter muito mais independecircncia e este processo de selecccedilatildeo de votaccedilatildeo

dos candidatos poderem ser votados e escolhidos no seio da academia eacute um

processo que encerra em si esta nuance de democracia

Segundo Marques (2008) no campo da argumentaccedilatildeo o efeito perlocutoacuterio visado por

um determinado protagonista prende-se basicamente com o acto de convencer o seu antagonista

da justeza do ponto de vista defendido Assim a relaccedilatildeo de refutaccedilatildeo processa-se por meio de

diferentes operaccedilotildees de cariz linguiacutestico que funcionando no domiacutenio metadiscursivo

desenvolvem uma acccedilatildeo de argumentaccedilatildeo negativa que procura invalidar a posiccedilatildeo alheia a de

conferir a legalidade da decisatildeo tomada

O Presidente natildeo estaacute a fazer nada de ilegal mas de algum modo corta este

filme ou seja na proacutexima vez ningueacutem se vai importar muito com estes

processos ou seja estamos aqui a fazer um exerciacutecio esteacuteril um exerciacutecio para

dizer que haacute democracia para que no fim do dia o chefe eacute quem nomeia o chefe

eacute quem decide (hellip) natildeo me parece uma coisa muito interessante

O L2 recorre agrave cortesia e solidariedade linguiacutestica no ldquocerne das estrateacutegias de

argumentaccedilatildeo discursivardquo (Marques 2008 294) Um contra-argumento questiona a

aceitabilidade da possiacutevel posiccedilatildeo alheia referente agrave legalidade da decisatildeo tomada depois de uma

encenaccedilatildeo ou de um exerciacutecio ingloacuterio de eleiccedilotildees Esta operaccedilatildeo linguiacutestica tem como objectivo

invalidar modestamente as vozes concordantes centra-se mais na refutaccedilatildeo indirecta tanto da

conclusatildeo alheia como do argumento alheio O objectivo desta estrateacutegia discursiva passa

evidentemente pela refutaccedilatildeo do argumento do Outro para num segundo plano se sustentar o

argumento do locutor atraveacutes de um acto de ameaccedila da face do Presidente O acto de asserccedilatildeo

avaliativa por parte do L2 constitui uma estrateacutegia argumentativa para fragilizar uma verdade

geral (uma doxa) partilhada pelo puacuteblico que eacute reorientada a uma nova tese de natildeo ser

221

interessante que o PR nomeie reitores sem tomar em consideraccedilatildeo a opiniatildeo do Conselho

Universitaacuterio o que possibilitaria a construccedilatildeo de consenso e reduziria a responsabilidade

pessoal do Presidente

314 A emoccedilatildeo e a retoacuterica de denigrir como estrateacutegia de justificaccedilatildeo

Do ponto de vista discursivo a expressatildeo da emoccedilatildeo pode ser perspectivada atraveacutes das

ldquoestrateacutegias discursivasrdquo (Gumperz 1989) usadas ldquono envolvimento conversacionalrdquo (Goffman

1967) Num tom poleacutemico o L2 que natildeo eacute a favor da passagem do Professor Ferratildeo para a UP

expressa de forma descortecircs o seu inconformismo ou desconsolo face agrave sua mudanccedila do sector

em que estava a desenvolver um bom trabalho para uma universidade com problemas conforme

podemos entender no excerto

A pessoa sai de ministro para ser reitor de uma universidade E que

universidade Esta eacute a universidade que tem o oacutenus de ter passado mais

diplomas administrativos que haacute neste paiacutes mas uma universidade que nem

sequer disciplina os seus licenciados para usarem as suas verdadeiras

credenciais ou seja uma pessoa formada para dar aulas de psicologia chama-

se a ele proacuteprio de psicoacutelogo um professor formado em geografia chama-se a

si proacuteprio geoacutegrafo o que eacute que eacute isto Eacute esta universidade que agora foi dada

ao Doutor Jorge Ferratildeo para dirigir

Para aleacutem de orientar a seu favor uma situaccedilatildeo interlocutiva ameaccediladora da sua face

nesta sequecircncia discursiva o locutor realiza actos ameaccediladores da face ldquoFace Threatening Actrdquo

quer do PR quer da UP Esta estrateacutegia argumentativa ameaccedila por um lado a face positiva do

locutor uma vez que se trata de um comportamento autodegradante pois se os telespectadores e

outras entidades natildeo se simpatizarem com a informaccedilatildeo dada pode ter autodegradaccedilatildeo da sua

face (a sua imagem puacuteblica) que seraacute alvo de julgamento desfavoraacutevel Por outro se o

diagnoacutestico for real ao inveacutes de ameaccedilar valida a posiccedilatildeo do PR de apostar por este homem

reluzente activo e capaz de dar uma dinacircmica diferente agrave UP Ainda usa uma estrateacutegia

ameaccediladora para denegrir a face desta Instituiccedilatildeo com 30 anos de existecircncia no Paiacutes um

comportamento exemplificativo da ausecircncia de cortesia na interacccedilatildeo verbal evidenciado pelos

actos expressivos natildeo comedidos e natildeo abonatoacuterios para a imagem do comentador de um

programa televisivo com maior auditoacuterio como eacute o caso de ldquoPontos de Vistardquo Conveacutem salientar

que na verdade natildeo eacute o tempo que determina a qualidade a indicaccedilatildeo de tempo do

222

funcionamento desta Instituiccedilatildeo visa apenas chamar atenccedilatildeo para o facto de ser uma instituiccedilatildeo

que tenha produzido muitos quadros integrados em diferentes sectores laborais

A argumentaccedilatildeo eacute ldquoum esquema de acccedilatildeordquo e permite ldquoa construccedilatildeo de expectativas

muacutetuas partilhadasrdquo que possibilitam a realizaccedilatildeo de inferecircncias a partir do que eacute dito na

interacccedilatildeo (Almeida 2012 67) isto eacute funciona na base de ldquopistas de contextualizaccedilatildeordquo

(Gumperz 1989) Decorrente disso a criacutetica generalizada (e natildeo mitigada para a evitaccedilatildeo de

conflitos na interacccedilatildeo) da ldquoseriedade institucionalrdquo constitui uma estrateacutegia discursiva de

intensificaccedilatildeo da ameaccedila das faces um mecanismo discursivo de desvalorizaccedilatildeo de muitos

quadros graduados por esta Universidade incluindo o Jornalista Jeremias Langa que fez a sua

licenciatura e mestrado nesta Instituiccedilatildeo Satildeo quadros que dedicam as suas energias os seus

conhecimentos e as suas experiecircncias em muitos sectores em prol do desenvolvimento do Paiacutes

32 Incoerecircncia no raciociacutenio argumentativo

O Professor Jorge Ferratildeo foi nomeado como Reitor da UP uma instituiccedilatildeo de ensino

vocacional cuja missatildeo estatutaacuteria eacute a formaccedilatildeo superior de professores para todos os niacuteveis de

ensino e de outros profissionais para a aacuterea de educaccedilatildeo e afins a pesquisa e extensatildeo Nesse

sentido para aleacutem da sua funccedilatildeo instrumental na disseminaccedilatildeo de conhecimento para a

transformaccedilatildeo da sociedade moccedilambicana rumo ao desenvolvimento social cultural e

tecnoloacutegico a UP atraveacutes dos seus pesquisadores diagnostica as fragilidades no sistema

educativo e por fim apresenta propostas terapecircuticas para a melhoria da qualidade de educaccedilatildeo

em Moccedilambique ou seja o trabalho da UP ocorre ao serviccedilo da educaccedilatildeo

O Professor Jorge Ferratildeo enquanto Ministro da Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano

teve a oportunidade de conhecer os problemas que afectam o ensino em Moccedilambique um dos

quais tem que ver com a formaccedilatildeo humana e teacutecnica dos professores Essa formaccedilatildeo encontra

maior espaccedilo na UP pois o Ministro da Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Humano recebe os

graduados desta Instituiccedilatildeo Na linha das fragilidades o L2 usa uma estrateacutegia de descortesia

pois realiza um acto ilocutoacuterio assertivo (Searle 1972) ndash ldquoesta eacute a universidade que tem o oacutenus

de ter passado mais diplomas administrativos que haacute neste paiacutesrdquo - que ameaccedila intensamente as

faces com objectivo de sustentar o seu desacordo em relaccedilatildeo agrave nomeaccedilatildeo do novo reitor Perante

os cenaacuterios apresentados natildeo se justifica a objecccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave nomeaccedilatildeo do Professor Jorge

Ferratildeo para Reitor da UP Os argumentos convocados natildeo legitimam a proposiccedilatildeo de que a sua

nomeaccedilatildeo foi mal feita pelo PR Pelo contraacuterio o reconhecimento de que o Professor Ferratildeo eacute

um acadeacutemicoliacuteder carismaacutetico cujas qualidades (satildeo perceptiacuteveis de forma expliacutecita ou

223

impliacutecita atraveacutes do uso de expressotildees com valor axioloacutegico positivo um homem visionaacuterio

criativo reluzente activo corajoso sagaz) justificam a sua nomeaccedilatildeo para ajudar a UP a

melhorar a sua imagem puacuteblica

4 Conclusotildees

Com este trabalho procuramos demonstrar de que forma as estrateacutegias discursivas se

manifestam na interacccedilatildeo entre interlocutores Analisamos a configuraccedilatildeo de rituais verbais as

estrateacutegias de descortesia e a incoerecircncia discursiva no programa ldquoPontos de Vistardquo da STV As

sequecircncias discursivas do ldquoPontos de Vistardquo analisadas evidenciam situaccedilotildees de ameaccedila das

faces tendo em conta o valor social positivo que as pessoas reivindicam Os interlocutores natildeo

conseguem evitar a vulnerabilidade das faces jaacute que usam estrateacutegias discursivas invasivas ou

comprometedoras na perspectiva de que os outros possam entender o seu discurso Para o L2 a

intenccedilatildeo deliberada de ataque da imagem de outro ou outros manifesta-se ritualmente de forma

descortecircs e os argumentos perfilados na interacccedilatildeo natildeo satildeo coerentes com a tese defendida a de

que ldquoo Presidente andou muito mal na exoneraccedilatildeo do Professor Ferratildeo do MINEDH e na sua

nomeaccedilatildeo para Reitor da UPrdquo provavelmente sejam as boas qualidades demonstradas pelo

Professor Jorge Ferratildeo nas instituiccedilotildees onde trabalhou como gestor que justificaram a sua

nomeaccedilatildeo para ajudar a UP a melhorar a sua imagem puacuteblica

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linguiacutestica do discurso em interacccedilotildees verbais Porto Afrontamento Biblioteca das

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entrevistardquo In REDIS Revista de Estudo do Discurso Nordm 1 2012b disponiacutevel em

httplerletrasupptuploadsficheiros12714pdf acesso 13112016

224

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de mitigaccedilatildeo do conflito (potencial) em interacccedilotildees verbais na raacutedio In Brito et alTextos

Seleccionados XXV Encontro Nacional da Associaccedilatildeo Portuguesa de Linguiacutestica Porto

APL 2010a pp 127-142 disponiacutevel tambeacutem em httpwwwaplorgptapl-actasxv-

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______ ldquolsquoO envolvimento conversacionalrsquo no momento do desenvolvimento de interacccedilotildees

verbais na raacutedio sequecircncias de actos ilocutoacuterios e lsquoestrateacutegias de alinhamentorsquo em

programas de raacutedios especiacuteficos In FROTA Soacutenia e SANTOS Ana Luacutecia (orgs) 2008

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emhttpperiodicosufesbrpercursosarticleview4019 acesso 1102016

BIAR Liana de Andrade Pistas Linguiacutesticas na Construccedilatildeo do Fenoacutemeno Collor 2006

disponiacutevel httpwwwpgletrasuerjbrlinguisticatextoslivro02LTAA02_a12pdf acesso

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Oral Formal em Contexto Escolar (tese de doutoramento apresentada agrave Universidade de

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httpwwwyumpucomptdocumentview12709065a-argumentacao-oral-formal-em-

contexto-escolarpdf-estudo-geral- [acesso 06062013]

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DUARTE Isabel Margarida (orgs) O Fasciacutenio da Linguagem ndash Actas do Coloacutequio de

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Porto 2008

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Situaccedilatildeo de Entrevista contributos para o seu estudo semacircntico-pragmaacutetico Dissertaccedilatildeo

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FONSECA Joaquim (org) A Organizaccedilatildeo e o Funcionamento dos Discursos Estudos

sobre o Portuguecircs Tomo II Porto Porto Editora 1998 (pp 11-220)

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sequecircncia argumentativa no geacutenero artigo de opiniatildeordquo XIX Seminaacuterio do CELLIP

UNIOESTE Cascal Paranaacute 2009 disponiacutevel em httpwwwhackcceprofufscbrwp-

contentuploads201001Cellip2009pdf acesso 13112016

SILVA Gonccedilalves PINTO Casimiro Imagens da Cultura Actas do VI Seminaacuterio Imagem da

Cultura Cultura das Imagens E-book Ediccedilatildeo Centro de Estudos das Migraccedilotildees e

Relaccedilotildees Interculturais ndash CEMRI ndash Universidade Aberta 2010 p 122-130 disponiacutevel em

httpsrepositorioabertouabptbitstream10400222011IMAGENS20DA20CULTU

RApdf

226

Normas de publicaccedilatildeo na Revista UDZIWI

O artigo a ser publicado deve ser ineacutedito

Depois de publicar o artigo na Revista UDZIWI o autor pode publicaacute-lo noutras revistas ou

livros

Recomenda-se que sejam ateacute 3 autores do artigo Se for necessaacuterio ultrapassar esse nuacutemero o

autor principal pode contactar a equipa editorial da Revista

(cepepoliticaseducativasgmailcom)

Os direitos autorais satildeo do autor e passaratildeo a ser tambeacutem da Revista apoacutes a sua publicaccedilatildeo

Todas as ideias expressas no artigo pertencem ao autor que tem toda a responsabilidade sobre as

mesmas

Os artigos enviados devem estar enquadrados dentro dos preceitos da eacutetica na pesquisa em

educaccedilatildeo Em caso de existir algum conflito de interesses a responsabilidade eacute exclusivamente

do autor do artigo

Envio do artigo

- O artigo deve ser enviado em formato Word

- O nome do autor e os seus dados de identificaccedilatildeo natildeo devem aparecer no corpo do artigo

- Todos os dados de identificaccedilatildeo do autor deveratildeo ser digitados no espaccedilo apropriado da paacutegina

de submissatildeo do artigo O autor teraacute de fazer uma breve descriccedilatildeo dos seus dados acadeacutemicos e

profissionais (no maacuteximo 3 linhas)

Processo de aprovaccedilatildeo do artigo

Compete a Comissatildeo Editorial

- Aceitar integralmente o artigo

- Recusar o artigo para efeitos de publicaccedilatildeo na Revista UDZIWI (isto acontece quando os

trabalhos estatildeo fora dos requisitos editoriais)

- Recomendar se necessaacuterio melhorias ao texto para posterior avaliaccedilatildeo

- Enviar as propostas de melhoria do texto ao autor e posterior reenvio do artigo jaacute reformulado

aos mesmos avaliadores

Soacute satildeo publicados artigos aprovados pela Comissatildeo Editorial

227

Sobre o artigo

1 O artigo deve integrar o seguinte

- Tiacutetulo do artigo (natildeo pode ultrapassar 10 palavras caso isso aconteccedila tem que ser criado um

subtiacutetulo)

- Subtiacutetulo (se houver)

- Resumo apresentado em Portuguecircs Inglecircs Espanhol Francecircs ou uma liacutengua nacional escrito

a tamanho de letra 11 e espaccedilo simples com o maacuteximo de 250 palavras e com indicaccedilatildeo de

palavras-chave (4 a 5 palavras-chave) Artigos escritos em Portuguecircs Espanhol Francecircs ou

numa liacutengua nacional devem apresentar resumo em Inglecircs Artigos escritos em Inglecircs devem

apresentar resumo em Portuguecircs O resumo natildeo pode ter enumeraccedilatildeo de toacutepicos e deve-se evitar

ao maacuteximo fazer citaccedilotildees no resumo No resumo apresenta-se o objecto e objectivos do estudo a

metodologia os principais resultados e as conclusotildees e sugestotildees

- Caso haja agradecimentos estes satildeo feitos junto ao tiacutetulo e em nota de rodapeacute natildeo se

admitindo qualquer referecircncia agrave autoria do texto

- Depois do resumo segue-se a Introduccedilatildeo Desenvolvimento Conclusatildeo e Referecircncias

Bibliograacuteficas (apenas o que foi referenciadocitado no texto)

- Os quadros tabelas e figuras que constem do trabalho devem estar em formato editaacutevel Todas

as imagens devem ser apresentadas em formato JPG permitindo ampliar ou reduzir o seu

tamanho sem prejuiacutezo

- As citaccedilotildees com mais de 3 linhas devem ter um recuo de 4cm na margem esquerda sem aspas

e em tamanho 11

2 A apresentaccedilatildeo dos artigos cientiacuteficos deve obedecer aos seguintes requisitos

a O texto deve ter no miacutenimo 10 e no maacuteximo 20 paacuteginas Se for necessaacuterio ultrapassar as

20 paacuteginas eacute necessaacuterio contactar com a Comissatildeo Editorial

b A revisatildeo linguiacutestica eacute da competecircncia do autor

c O tipo de letra deve ser Times New Roman

d A fonte deve ser 12

e O espaccedilamento entre linhas deve ser 15

f Devem ser usadas as seguintes margens

Margem superior 3 cm

228

Margem inferior 2 cm

Margem esquerda 3

Margem direita 2 cm

3 As referecircncias bibliograacuteficas devem ser apresentadas da seguinte forma

Apelido do autor

Nome do autor

Tiacutetulo do documento (em itaacutelico)

Ediccedilatildeo (primeira ediccedilatildeo natildeo se coloca)

Local de publicaccedilatildeo

Editora

Ano de publicaccedilatildeo

Exemplos

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professores contribuiccedilotildees de estudos da narrativardquo In SOUZA Joatildeo DINIZ Margareth e

OLIVEIRA Miacuteria (orgs) Formaccedilatildeo de professores (as) e condiccedilatildeo docente Belo

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DUARTE Stela et al Progressatildeo por ciclos de aprendizagem no Ensino Baacutesico desafios na

mudanccedila do paradigma de avaliaccedilatildeo Maputo INDE e Editora Educar-UP 2012

MACHAVA Abiacutelio A poliacutetica e a praacutetica da avaliaccedilatildeo da aprendizagem no terceiro ciclo do

Ensino Baacutesico um estudo de caso na Escola Primaacuteria Completa de Matola-Gare

Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Formaccedilatildeo de Formadores Maputo Universidade Pedagoacutegica

2014 (natildeo publicado)

MONDLANE Eduardo Lutar por Moccedilambique Maputo Centro de Estudos Africanos 1995

NOTA Juvecircncio Algumas dificuldades praacuteticas no trabalho com a sexualidade humana em

sala de aulas nas escolas do ensino primaacuterio na cidade de Maputo-Moccedilambique UDZIWI

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Consultado em 15012016

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