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Anorexia Nervosa: a distorção de si

Revista Sentidos – Dire. Ana Margarida Alves 1

ANOREXIA NERVOSA:

A distorção de si...

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Anorexia Nervosa: a distorção de si

Revista Sentidos – Dire. Ana Margarida Alves 2

Algumas notas e históricas...

“Et imo log i camente, o termo “anorex ia nervosa” der iva do grego “an” ,

def ic iência ou ausência de, e “orex is ”, ape t i te . Também signi f ica aversão à comida,

enjoo de estômago inap tênc ia.

A denominação mai s espec í f ica “Anorex ia Nervosa” surg iu com Wi l l i am Gul l a

part i r 1873, re fer indo-se à “fo rma pecul ia r de doença que afeta pr incipa lmente

mulhe res jovens e carate r i za- se por emagrec imento extremo cuja “fa l ta de apet i te é

decor rente de um estado menta l mórb ido e não de qualquer d i sfunção gást r ica

(Córdas;Claud ino, 2002) ”

Cordás e C laud ino (2002) re latam que du rante a idade média as pra t icas de

je jum fo ram compreend idas como estados de possessão demoníaca ou mi lag re s

d iv inos. Descrevem o comportamento anoréx ico de 260 santas i ta l ianas que v iveram

entre 1200 e 1600, apa rentemente em resposta à estru tura socia l e pat r iar ca l a que

são submetidas, conhecida pe la “anorex ia sagrada” (sacr i f íc io) .

Pe la supre ssão de necessidades f ís icas e sensações , impul so sexua l, fome ,

dor, e la s parec iam l ibera r o corpo e a lcança r me tas esp i r i t ua i s super io res, po rém as

crenças re l ig i osas pare ciam misturar out ras in tenções dos jovens como a perda de

atrat ivos femin inos.

O caso de Santa Catar ina de S ier ra que aos 15 anos após a morte da sua

i rmã in ic iou uma rest r i ção a l imen tar , pre ces e pra t i cas de auto f lage lamento ,

chegando a induzi r vômito através de ervas e ga lhos na garganta quando fo rçada a

a l imenta r-se . A i nani ção gerou um es tado p si cológ ico de constante v ig i lância e

exper iênc ias míst i cas, causando a sua morte po r desnu tr i ção aos 32 anos.

Re latam Cordas e C laud ino (2002) em que o pr imeiro caso de anorex ia

nervosa apare ce em 1689, desc r i t os por Morton em l iv ro sobre doenças

consumptivas. Mor ton comenta sob re a inf luenc ia mútua ent re o menta l e o f í s ico ,

ressa ltando a inda as emoções, po r não se rem es tes quadros acompanhados de febre

ou d ispne ia e s im pe la d iminui ção de apet i t e , amenor re ia, aversão à comida ,

obst ip ação, emagrecimento ext remo e h ipe rat iv idade.

Em 1914, ocor re uma mudança marcante na compreensão da Anorex i a

Nervosa, sendo v i sta a pa rt i r da í como uma doença orgâni ca ( somati ca ), quando

re latada por S immons um caso fata l de caquex ia no qual a autóps ia mostra a trof ia

no l obulo anter ior da h ipóf i se, e só em 1960 com um número c rescente de pacien te s

parecem ter cont r ibuído para o re conhec imento da doença. E f ina lmen te na década

de 70 su rgem cr i tér i os pad roni zados pa ra d iagnost i car a aorex ia nervosa.

Nos d ias atuai s não se pode af i rmar que anorex ia nervosa es te ja re la cionada

com os casos de “anorex ia sagrada” Porém alguns pa ra le l os são ev idente s: ambos

não to leram as consequência s do “comer” , ambos repre sen tam estados ideai s

descrevem excesso de at iv idades, pe rfecion ismo, constan te v ig i l ânc ia, au to-

suf i c iência e preferência po r cuida r dos outros ao invés de serem cuidadas (Cordas;

Claud ino, 2002).

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A anorex ia é uma d isfunção cara ter i zada por uma r íg ida e in suf i c ien te d ieta

a l imenta r (carater izada em baixo peso corpora l , s tress f ís ico). T rata -se duma

doença complexa envo lvendo componentes ps ico lóg icos , f i s io lóg i cos e socia is. A feta

pr imariamente adole scente s do sexo feminino e jovens mulhe res do hemisfé r i o

ociden ta l . A taxa de mor ta l idade da anorex ia é de aprox imadamente 10% uma das

maio res en tre qua lquer t ransto rno p sicológ ico . (Claud ino, A M; Zanel la AMT Guia

de trans to rnos a l imen tare s e obes idade, São Pau lo, Manole , 2005 , P 3-163)

Aprofundando Conce i tos e S intomas

Je jum, Rest r ição e Hipe rfag ia

Gérard Apfe ldorfe r em “Anorex ia, Bu l im ia e Obesidade” , B ib l io teca Bási ca de Ciênc ia

e Cultu ra (p .18)

O Autor ques t iona-se sobre a nossa regulação do apet i te . “Segu imos sempre

os nossos apet i tes? Ev identemente que não. Podemos decid ir , por exemplo, passa r

fome, não comermos e faze r je jum. Quer se t rate de je jum involuntá r io , por fa l ta de

a l imento , ou de je jum esco lh ido , obse rvam-se as mesmas mudanças b io lóg icas e

psicológ icas. No p lano b io lóg ico , o funcionamento do me tabol ismo dependendo em

grande pa rte da ut i l i zação da g l i cose, pá ra após dois ou trê s d ias, dev ido á fa l ta de

energ ia, e são as gorduras armazenadas que fornecem energ ia. São es tas

modif i ca ções do metabo l ismo que fazem com que a fome intensa e do lorosa duran te

os pr imei ros d ias desapareça. Surge então o estado de eufo r ia, de l ibe rdade. A

embriaguez do je jum leva á impressão da lucidez e de c l ar idade menta l: o inte resse

centra- se nas at iv idades inte letuais , a esp ir i tua l idade. O corpo que vai enfraquec ido

é esquec ido. Quase sempre o dese jo sexua l desaparece.

Por i sso, não é de espanta r que a pr ivação volun tár i a de a l imentos tenha

sido u t i l izada como fo rma de l iber tação do mater ia l i smo”

A maior i a das sociedades p r imit iv as impõe je juns como fo rmas de in i c ia çã o

dest inadas a prepa rar o ind iv íduo pa ra uma nova fase da sua ex i stência. Em maio r

ou menor g rau, os pe r íodos de je jum ou de ab st inênc ia a l imen tar fa zem parte da

quase to ta l id ade das trad ições re l ig i osas. O Ramadão , o Yom Kippour , a Quaresma,

são d i sso exemplo.O je jum pode também se r v is to como uma a rma . Assim, no Japão

ant igo , je juava-se contra um in imigo para atentar cont ra a sua honra . De igua l

modo , a mode rna greve de fome v isa dobra r o i n imigo. Por exemp lo Gandh i, na sua

luta con tra os i ng le ses, ut i l i zou dezassete vezes a greve de fome como a rma “até

que a mor te chegue”

Por ou tro lado, quando a pr ivação de a l imen tos é in completa ( rest r i ção

a l imenta r) e consumimos g l íc idos mesmo em pequenas quant idades, a fome e o

desconfor to pe rs istem, tan to a n íve l f í s i co como p síqu ico . Para o ind iv íduo e m

estado de “ res tr i ção a l imentar” , os a l imentos tomam um cará ter obecessivo:

constan temente em busca de comida, naqui l o que e le comeu no passado . To rna -se

rap idamente i r r i t ado e ans ioso, depre ss ivo, perdendo todo e qualquer apet i te

sexual.

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Este s índroma de re st r ição a l imen tar fo i obje to de exper iência s da qual fa z

parte a d i ta “do Minnesota ” em 1950, que const i tu i um modelo desse t ipo.

Homens jovens voluntá r ios, f oram submet idos a uma d ie ta re tr i ta até pe rde r

25 por cento do seu peso. F i caram i rr i táve i s, ansiosos ou depressivos apre sentando

um es tado de f raqueza e fo ram su je i t os a impu lsos de bul imia.

Os te ste s psi co lóg i cos most raram uma evo lução das depressões , de

h ipocondr ia e h iste r i smo. Obcecados pe los a l imentos a rmazenados o pouco que

t inham inc lu indo ob jetos inú te is . E ste comportamento de a rmazenamento é também

observáve l em anima is, po r exemplo, o rato p r ivado de a l imen tos , passando -se o

mesmo com vá r i os anoréx i cos menta i s” .

O inverso do je jum e da re str ição a l imen tar é a h iperfag ia . Assim com o

podemos decid i r je juar ou re str ing ir a inges tão de a l imentos, podemos também

engordar invo luntar iamente, comendo s istemat icamente mai s do que a fome impõe .

É por exemplo trad ição no Magrebe na Áfr ica negra, no Médio Oriente e no Extremo

Orien te, que as rapar igas aumentam de peso an tes de casa r, a obes idade é também

procurada pe los l utadores de sumo ou, pa ra f im de compet i ção (os mai s gordo s

ganham), na lgumas popu lações af r i canas. O au tor acrescenta que de uma fo rma

gera l , nos pa íse s em que re ina a fome em estado endémico, os ind iv íduos têm

tendênc ia a ser h ipe rfág icos e aumenta r de peso nos per íodos em que têm a

a l imentação suf i c ien te à sua d isposi ção .

Na medi c ina tudo é f requen temente c la ssi f icado e o seu dest ino depender á

da casa na qua l fo i agrupado o seu sof r imento.

Os d is túrb ios a l imentare s re l aci onados com a desiqui l ibrada regulação en tre

o excesso a l imentar e a res tr i ção a l imen tar pode ser v i sual izado no quadro

seguin te:

Anorexia Nervosa Bul imia Nervosa Síndroma de

hiperfag ia

incontro lada

Denominação

cor rente

Anorex ia nervosa Bul im ia Nervosa Obesidade

Hiperfág i ca

A lterações

predominan tes do

compor tamento

a l imenta r

Je juns e re str ições

a l imenta res. Cr i ses

de h iperfag ia

(bul imias)

compensadas por

vómitos

voluntár i os e

outros modos de

anulação

Cr i ses de

h iperfag ia

(bul imias)

compensadas por

vómitos

voluntár i os e

outros modos de

anulação

Cr i ses de

h iperfag ia

(bul imias)

a l ternadas ou não

com per íodos de

rest r ição a l imentar

Estado Ponde ra l Magreza Patológ ica Peso Va r iáve l

f requentemente

normal

Obesidade

f requentemente

peso var iáve l

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O manual de c lassi f i ca ção de doenças “Diagnost i c and S tat i sca l Manua l, DSM -

IV, 1993 ident i f ica-a como:

a. recusa de manter peso igual ou super i or ao peso mínimo adequado à

idade e à a l tu ra.

b . Medo intenso de engordar ou de aumenta r de peso, mesmo com um

peso anormalmente ba ixo

c. A forma e o peso do co rpo são encarados de forma anorma l, a

autocr í t i ca é indev idamente i nf luenciada pe la fo rma e peso do co rpo

ou ex iste uma re cusa em encara r as consequência s do reduzido pes o

do co rpo

d. Nas adole scen tes, a s amenorre ias, quer d i zer, ausência de pe r íod o

menstrual pe lo menos durante t rês meses consecut iv os.

Di st i ngue-se pe lo menos doi s t ip os de Anorex ia Nervosa:

Tipo bul imias/ vómitos: o i nd iv íduo apresenta h ipe rfag ia s

incontroladas acompanhadas de compor tamentos compensa tór ios par a

prevenir o aumento de peso.

Tipo re st r i t ivo: A pessoa não ap resen ta nem ep isód ios de h iperf ag ia

incontrolados, nem comportamentos compensatór ios para preveni r o

aumento de peso.

A anorex ia menta l não deve ser confund ida com a s imples perda de apet i te

(anorex ia) que se obse rva nos es tados depressi vos, na maior i a das doenças que se

tornam cróni cas , nas doenças graves que at ingem os ó rgãos. Os pr in cipa i s s intomas

são o peso corpora l 85% ou menos do n íve l normal, prat i ca excess iva at iv idades ,

mesmo tendo um peso abaixo do normal .

Em mulhe res ve r i f i ca- se a ausência da menst ruação. A anorex ia nervosa pode

causar sér ios danos ao s is tema reprodutor feminino. D im inui ção ou ausênc ia da

l íb ido, nos rapazes pode rá oco rre r d isf unção erét i l e d i f i cu ldade em at ing ir a

matu ração sexual comp leta, tanto a n íve l f ís i co como emoc iona l .

Crescimento re tardado ou até pa ragem do mesmo, com o re su ltan te da má

formação do e squele to (pernas e braços cur tos em re lação ao t ronco),

desca lc i f ica ção dos dente s, cár ie dentár i a, depressão profunda, tendência s sui c idas ,

bul im ia, ob st ipação grave.

A anorex ia ne rvosa afeta na maior i a das vezes pessoas jovens (12 a 22 anos) e

do sexo feminino (90% dos casos ocor rem em mulhe res). Tem sido enf a t i zada em

debates popu lare s, a importancia dos meios de comun icação socia l para o

desenvolv imen to de desordens como anorex ia e bul imia, por , a legadamente ,

promover e la uma ident i f i ca ção de be leza com padrões f í s i cos de mag reza

acentuada. Qua lquer pape l a se r exercido pe la cu ltu ra de massa na promoção

dessas desordens, no entanto está a inda pa ra se r demonst rado. Na busca da

et io l og ia de pertubação da saúde menta l , in clu si ve da anorex ia nervosa , comumente

são procu radas causas de ordem in trap síqui ca, ambienta l e genét i ca .

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A procu ra das causas.. .

Rachae l Bryant Waugh e Bryan Last , na ob ra Doenças do

Comportamento A limentar e scl arecem-nos sobre as causas destes prob lemas(

cap ítu lo 2 , p .43).

Ao conside rar a s causas destes p rob lemas, é a conse lhave l d iv id i - la em trê s

fatore s:

Fato res pred isponente s

Fato res pre cip i ante s

Fato res de perpetuação

Fato res pred isponente s

Este termo refe re-se aos fatore s que const i tuem uma pré -cond ição pa ra que

uma dete rminada doença sur ja . São coi sas já presente s no ind iv íduo ou no seu

ambien te antes do desenvolv imento da perturbação do comportamento a l imentar .

Não desencade iam o prob lema, mas têm de ex ist i r para que os fato res de

precip i tação tenham o efe i to e specí f ico de produção da doença . Podemos anal isa r

outro exemplo mais adequado . A lgumas pessoas nascem com pulmões e v ia s aérea s

resp i rató r ia s sensíve i s a ca rate r í st i cas de asma . Essas mesmas pessoas podem ou

não v ir a te r prob lemas re sp irató r ios dependendo do ambiente em que v ivam.

Da mesma forma nas doenças do comportamento a l imenta r (e em muita s

outras doenças) ex i stem cond ição de pred ispos ição necessá r ia s, sem as quais não

terá luga r uma a lteração a l imen tar, i ndependente do número e in tensidade dos

fatore s prec ip ian tes .

Fato res Gené t icos

Muita s pessoas surp reendem-se com o f ato de os genes cont r ibu irem de

modo impor tante par a s doenças de comportamento a l imenta r. Compreendem-se

dado que apenas uma minor ia (5 a 10 por cento) de doen tes com p rob lemas de

compor tamento a l imenta r tem um fami l iar chegado com a mesma doença.

“Se os fami l iare s não sof rem de doenças do compor tamento a l imen tar, como pode

ser genét ico?”

A transmissão genét i ca ou pred isposi ção para a as doenças oco rre de formas

var iadas e hab itua lmente complexas.

Só ra ramente é tão s imple s como numa t ransmissão d ireta de pais par a

f i lhos. Normalmente, a t ransmissão gené t ica é determinada pe la cont r ibui ção de

ambos os pai s e ex iste f requen temente numa combinação de genes imp l icados. A

cont r ibu ição gené t i ca exa ta pa ra o desenvo lv imento de doenças do comportamento

a l imenta r e a forma de transmissão não fo i compreend ida.

Contudo ex is tem dados substanc ia i s que most ram que os genes são

re levante s. Uma das melhore s formas de determinar a contr ibui ção dos fatore s

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genét icos em qua lquer prob lema é, segundo os auto res, es tudar a s d i fe renças ent re

gêmeos idênt i cos e não idênt icos. Isso deve-se ao fato de os gémeos terem um

mapa gené t i co idênt ico , ao passo que os gémeos não ident i cos não têm. Em

consequência , se os genes são re levantes pa ra o desenvo lv imento de uma doença

ser ia de e spera r que essa doença em pa rt i cu lar ocor re num gèmeo ident i co ,

oco rre sse, mu ito mai s provave lmente também no out ro gêmeo.

Num gêmeo não idênt ico, a s h ipó teses se r iam muito menores. No caso de

anorex ia ocor rer numa gêmea não idên t i ca a probab i l idade de também afe tar a

outra gêmea é de ce rca de 5 por cento. Ao contrár i o, quando um a gèmea te m

anorex ia nervosa as h ipóteses da i rmã também ter é de cerca de 56%.

Personal idade

É amplamente re conhecido que as pessoas com anorex ia nervosa têm

tendênc ia para uma per sonal id ade conscienciosa e perfecc ion ista. Lutam por fa ze r

as coi sas melhor possíve l e é f requen te entregarem-se a ta refas de uma forma

obecessiva e compul siva. Por exemplo, podem passar horas a faze r dete rminado

trabalho de casa tendo d i f i cu ldades em completá - lo de forma sa t isfa tó r ia seguindo o

seu c r i té r i o. Ap l i cam o mesmo esf orço à maior ia das at iv idades e em comparação

com mui tos colegas most ram tendência para serem jovens e bem comportadas e

bem adaptadas.

“Atente -se o exemplo dado pe la autora : Soph ie de 12 anos e stabe le cia cada vez

mai s regras para s i próp r ia. E ssas reg ras i nc lu í am manter ab solutamente todos os

objetos do quar to no seu lugar, passa r pe lo menos trê s ho ras a faze r traba lhos de

casa , todas as noi tes e pe rmit i r - se ver apenas doi s programas de te lev isão por

semana. Sent ia -se bem a cumprir as suas p rópr i as regras, mas achava-se que

dev ia fazer melhor e a pouco e pouco f o i e stabe lecendo mai s reg ras . No in í c io , os

pa is de Sophie não no taram nada . V iam-na t ransformar -se numa rapar iga sensata e

sér ia que t inha opt imas notas na escola e não dava traba lho excessivo à mãe .

Contudo, Sophia não es tava sat i sfe i t a com os seus esf orços e todos os d ia s

prome tia a s i própr ia que i r ia me lhorar a inda mai s. Se na e scola as co isas não

cor respondessem tão bem ou não t ive sse uma nota tão a l ta quanto e sperava , a chara

que fora perguiçosa e que dev ia t rabalhar mai s. À medida que a v i são negat iva de s i

própr i a aumentava acabou por decid i r que necessi tava de pre star mai s atenção à

sua a l imentação . Achava que es tava a engordar demasiado e que era p rec iso

cont ro lar i sso” (p . 46)

Fato res B io lóg icos

Tem hav ido muita i nvest igação sobre a possib i l i dade de ex is t i r a lguma forma

de anoma l ia b io l óg ica que or ig ine o desenvolv imento das doenças do comportamento

a l imenta r.

As possib i l idades conside radas in cluem:

Demora no esvaziamento do e stômago- é possív e l que nas pessoas com doenças

de comportamento a l imentar , os a l imentos permaneçam no e stômago , mai s

tempo, an tes de passarem pa ra o re sto do s i stema d igest iv o, o que p or sua vez

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s igni f ica que essas pessoas têm tendência a sent ir -se che ia s durante mai s

tempo.

Algum defe i to no s i stema endocr ino , em especia l nas g landulas que a tuam sobre

a regulação do apet i te a través da se cre ção de vár ios ha rmonas .

Uma def i c iência em a lguns nutr iente s v i ta is como zinco e magnés io.

Um defe i to menor numa pequena pa rte do céreb ro que pode r ia leva r ao env io de

mensagens enganadoras pa ra o resto do corpo.

Até hoje, os esfo rços rea l i zados pe la inves t ig ação para encontara uma causa

b io lóg ica não se most ram part i cu larmente produ t ivos . Isto deve-se em pa rte ao fato

de não termos a tecnolog ia necessár ia que permita uma invest igação comple ta dos

pormenores mai s sub t i s do funcionamento do cérebro. É igualmente mu ito d i f í c i l

saber se as a l terações que fo ram ident i f icados no co rpo são pr imária s. Isto é

estavam presentes antes do desenvolv imen to da doença, tendo , por i sso,

cont r ibu ido para o seu apare cimento ou se são secundá ria s, i sto é, se se devem aos

efe i tos da doença a l imenta r, como fome extrema perda de peso e vómi tos. Cada

t ipo de a l teração leva, ev iden temente, a mod if i cações profundas na e st rutu ra e no

funcionamento de d i ferente s par tes do co rpo.

Para i lu strar e ssa d i f i cu ldade (re lat iva á d is t i nção ent re aspetos pr imários e

secundários das doenças de comportamento a l imentar) cons ideremos o que aconte ce

como os ová r ios na anorex ia nervosa , os ovár i os são mui to ma is pequenos do que

dev iam naquela idade. Através da ecograf ia , f i camos a sabe r que em pessoas com a

anorex ia nervosa , os ovár i os são mu i to pequenos do que dev iam se r naque la idade .

Têm também uma apa rência d i fe rente com menos f o l í cu los ap resentam-se ma i s

pequenos do que ser ia no rmal para aquela id ade .

Os especia l i sta s ques t ionam-se se as transfo rmações ute r inas se devem à

doernça.. .

Apenas sabem que at ravés da monotor i zação das imagens na e cograf ia e após o

in íc io da re cuperação e do aumento de peso , os ovár ios e stab i l i zam e at ingem as

formas normais .

Uma exp l i cação semelhante pare ce ap l i car -se a muita s das descobertas de

anomal ia s ou a l te ração em pessoas com anorex ia ne rvosa. Por exemp lo tacs ao

cérebro dessas pessoas reve lam uma tendência para a at rof ia cerebra l .

O nosso apet i te e a sensação de sat i sfa ção são governados por uma interação

muito comp lexa ent re um ce rto número de substância s químicas e as mensagens

que v ia jam no cérebro e o estômago. Nos i nd iv íduoas saudáve is e mesmo nos

momentos in ic i a is de anorex ia ne rvosa, o centro regulador do apet i te recebe

mensagens comun icando a necessidade de comer ou não conf orme o caso. Contudo ,

mesmo em ind iv íduos anter iormentre saudáve i s a part i r do momento que se in sta la r

a fome ext rema , se ja po rque razão f or, a sequencia norma l de mensagens é

inter rompida causando a lte rações de apet i t e , apesar da necess idade de comer. È

prováve l que a sensação de saciedade expe r imentadas por pessoas com anorex ia

nervosa se ja o re su ltado deste processo paradoxal .

Um ou tro queb ra-cabeças está re la cionado com perceção d istorcida da imagem

corpora l , tão carate r í st i ca da anorex ia ne rvosa. Quase sempre o co rpo no todo ou

em par te é v i sto como sendo gordo quando na rea l idade pode se r magro . Não há

d ív idas de que es ta percepção d is to rcida é genuína. Não se põe h ipó tese de que re r

enganar e os estudos conf i rmam esta percepção er rada. É a l tamente prováve l que

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tenha or igem em a lguma anoma l ia de uma função ce rebra l á seme lhança da

regulação defe i tuosa do apet i te . Pare ce que , de forma ge ra l a pe rcepção de fome e

da saciedade re sulta da combinação de d isposit ivos cogni t ivos, mensagens

f is io lóg i cas externas e in ternas.

Fato res Socio-Cultu ra i s

Não ex istem dúv idas de que a maior i a dos prob lemas a l imentares , part icu larmente ,

a anorex ia e a bu l imia nervosas, ocorrem em sociedades onde os a l imentos são

re lat ivamente abundante s. Nos paí ses onde escasse iam doenças do comportament o

a l imenta r são extremamente ra ras.

Contudo, é in tere ssan te nota r que quando as pessoas emig ram de paí ses menos

indus tr ia l i zados para soc iedades mai s abundante s, podem e le s ou os seus f i lhos, v i r

a desenvo lver doenças do comportamento a l imen tar. Isto apon ta pa ra a con tr ibuição

de fatore s socio- cultura is no desenvolv imento das doenças de comportamento

a l imenta r.

Não é mu ito d i f íc i l compreender po rquê. Nas sociedades onde os a l imentos

escassse iam ex i ste tendênc ia para va lo r i zar a gordura como sina l de prosper idade .

Inve rsamente onde os a l imen tos abundam ter peso a ma is é v i sta como forma

negat iva.

As manifes tações mai s óbv ias deste fato encon tram-se na imprensa e na indúst r i a

da moda. Os anúncios de uma vasta gama de produtos e não apenas de roupas ,

ut i l i zam preferencia lmente modelos com peso normal e , mu ito menos com peso

excessivo.

Para a lém d i sso, os quiosques e as l iv ra r ia s e stão che ios de rev istas que p romovem

d ietas .

É igualmente impor tan te mencionar a impor tânc ia das campanhas de saúde púb l i ca

e da educação em a lguns ind iv íduos . Sabemos que nos paíse s ocidenta i s há

tendenc ia para se ter peso a ma is e que mu ita s vezes se i nveste ene rg ia e d inhe iro

na tentat iva de nos encora ja rem a a l te rar os nossos háb i tos a l imen tare s, pa ra

promover uma me lhor saúde e reduzir a s doenças associadas ao excesso de peso.

É importan te rea l çar que a pre ssão socia l é apenas uma entre vá r ia s pré -cond i çõe s

necessár ias , ou fa tore s pred i sponente s que podem cont r ibu ir para o

desenvolv imen to das doenças do comportamento a l imentar. As pessoas pensam, por

vezes, que os fato res soc iocultura i s que os au tore s anal isa ram causam a

perturbação a l imenta r. Isso não acon tece pra t i camente nunca, mas é verdade que

const i tuem o pano de fundo no qua l as doenças de comportamento a l imentar se

podem desenvolver fa ci lmen te. (p .55)

Fato res P rec ip ian tes

È agora necessár i o tomar em conside ração os fatore s prec ip ian tes aque les que

parecem desencadear o in í c io da doença. Apenas o podem fazer na pre sença das

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Anorexia Nervosa: a distorção de si

Revista Sentidos – Dire. Ana Margarida Alves 10

pré-cond i ções necesár i as já anal i sadas. É quase como se represen tassem a ú lt ima

gota.

Há mui tos exemplos de fatore s prec ip i tantes das doenças do compor tament o

a l imenta r, para a lém da troca.

Na verdade, qualque r fo rma d i ferente a d i ferentes agen tes de st resse e as c r ianças

que desenvolvem doenças de comportamento a l imen tar descrevem uma grande

var iedade de aconte cimentos ou si tuação de tensão:

A aprox imação dos exames

Más re lações com os co legas

Outras d i f i cu ldades e sco lare s

Mudança de casa

Perda de um amigo, fami l i ar, animal de es t imação ou ente que r ido

Tensões fami l iares

Traumas graves como ter te stemunhado uma ac idente

Sofrer de maus t ratos ou abusos sexua is

As cr i anças es tão muito cosnsc iente s das a l te rações f ís ica s e emocionai s que

v ivem nesta idade como o desenvo lv imento de um corpo adu lto , mudanças de humor

f requente s e, para as rapar igas a menstruação. Essa a l te ração f ís ica s no rma is da

puberdade são também muitas vezes acompanhadas por ans iedade sobre o

compor taemnto da adole scen te e do adul to e as perspet iv as em re la ção ao futu ro .

Fato res de Pe rpetuação

Uma vez desenvolv ido o prob lema a l imentar, os fatore s de prec ip i ta ção pe rs i tem e

i rão p rovave lmenter con tr ibu ir pa ra a sua manutenção. Por exemplo , se a t roça ou

a pre ssão dos co legas teve um papel no desenvolv imento do prob lema e se es se se

mant iver então é prováve l que o prob lema a l imentar se mantenha .

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Anorexia Nervosa: a distorção de si

Revista Sentidos – Dire. Ana Margarida Alves 11

Figura 1 - o desenvolv imen to de uma doença de compor tamento a l imenta r

As a l terações que ind icam uma doença do comportamento a l imenta r podem

cla ssi f ica r- se do segu inte modo:

Relac ionadas com a a l imentação

Relac ionadas com o es tado de esp ír i to e compor tamento

Fís i cas

Apresentamo-la s sob a fo rma de l i sta e sempre um comportamento ou descobe rta

sejam espec í f icas da anorex ia nervosa ou da bu l imia nervosa (f ome intensa /vómito)

ou as ina lamo-la com AN ou BN :

Carater í st i ca s re la ci onadas com a a l imentação

Preocupação com os a l imentos

Passar muito tempo a le r l iv ros cul inár ios

Sensib i l idade em re la ção à comida

Al imen taçãomuito re str i ta (AN)

Preferência po r come r sozinha

Preparação de re fe ições pa ra a famí l i a

Escolha de a l imentos com ba ixas ca lor i as, ex clu indo todos os ou tros (AN)

Fatores Genéticos

Fatores Biológicos

Personalidade

Vunerabilidade doenças Comportamento alimentar

Doenças de Comportamento alimentar

Puberdade Situação Stresse

Fatores Familiares

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Anorexia Nervosa: a distorção de si

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Irr i tab i l idade angúst ia e d i scussão . Especia lmente, à ho ra das re fe ições e mui ta s

vezes sob re pequenas quan t idades como se deve comer c inco ou dez

erv i lhas(AN)

Comportamento est ranhos em re la ção à comida como cortar ou e sfare lar os

a l imentos em pedacinhos , espalhando-se pe lo p rato ou empunhando pedaços de

comida de um lado e do outro (AN)

Irr i tab i l idade, angús t ia e d i scussão, especia lmen te à hora das re fe i ções e mui ta s

vezes pequenas quant idades como se deve comer

Comportamento e stranho em re lação à comida

Junta r e aguardar a l imen tos

Comer em segredo

Ter c r i se de voracidade a l imenta r

Vomi tar

Negar que tem f ome quando é óbv io que tem

Sent ir -se angust iada e culpada em re la ção ao ato de comer

Incapacidade de to lerar aconte ciemntos não p laneados re l aci onados com a

comida

Beber mui ta água

Beber mui ta coca -cola

Também é de re fer i r out ros s ina i s que reve lam uma poss íve l pa tolog ia

compor tamenta l :

Pesar -se f requentemente

Prat i ca r exerc íc i o em excesso, e spec ia lmente , an tes ou depois de comer

Andar de pé de um lado para o out ro

Vontade c rescente de fazer coi sas que envo lvam exercí c io

Reco lha de inf ormação sobre d ietas em brochuras, l iv ros e rev is tas

Usar laxan tes

Tomar d iurét icos

Usar roupas l argas

Ter d i f i cu ldade em dormir

Irr i tab i l idade gera l

Desenvolv imen to de rot ina r íg ida

Rebeld ia e te imosia

Afastamento at iv idades soc ia i s e até i so l amentos

Medo extremo de aumento de peso

Outras fo rmas de faze r ma l a s i própr ia. . .

. . .

Carater í st i ca s F í s icas:

A perda de peso, a s f lutuações n ít idas do peso

Flutuação no peso, mantendo-se normalmente num peso médio

In ter rupção da menst ruação

Ton turas

Desmaios

Crenças

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Anorexia Nervosa: a distorção de si

Revista Sentidos – Dire. Ana Margarida Alves 13

Dores de Estômago

Temperatu ra corpora l ba ixa

Mau controlo da tempe ratu ra

Preparação p rote icos, medi camentos psi co t róp i cos (neu rolept icos , ant i -

depress ivos , ansio l i t ícos

Má c ir cu la ção o r ig inando pés e mãos f r i os e, se não forem tratadas fer idas que

não sa ram e podem ser u l ceradas

Pele e mãos em tons azulados

Aparecimento de penugens nas costas

Cabelo baço sem v ida

Entre outras. . .(p .71)

Vencendo a doença

Gérard Apfeldorfer , no seu l iv ro Anorexia, Bulimia e Obes idade ind i ca-nos

a lguns possíve i s tratamentos (p .57):

Os d istúrb ios do compor tamento a l imen tar e os prob lemas peso susci taram-nos

numerosas teor ias terapêut i cas , re fe r indo -se a d i ferente s modelos de compreensão .

Na prát i ca, todav ia, a re sponsab i l i zação é raramente ex clusiva e fa zemos ape lo

segundo as necessidades do momento, sucess ivamente ou para le lamente a uma

aprox imação ou a out ra.

Quando a desnut r i ção do anoréx ico põe a sua v ida em per igo impõe -se uma

hosp i ta l iza ção sem d iscusão poss íve l .

Como a anorex ia menta l ex ige uma abordagem especí f i ca, o i nternamento

deverá preferenc ia lmente te r luga r num se rv i ço hosp ita lar ( serv i ço de nut r i ção ou

psiquia tr i a hab ituado a l idar com este t ipo de pa tolog ia).

O isolamento e o cor te com a famí l ia prat i cam-se desde Cha rle s Laségne e Jean

Mart in Charcot. Os pacien tes serão convencidos progressivamente a través de um

modo contra tua l . É com efe i to na forma de con trato c laramente def in ido e

negociado, que o médico p rocura es tabe le cer uma re la ção com a anorex ica . E m

troca da ace ita ção de comer e ganhar peso , o terapeuta negocia com a sua

pacien te as modal id ades de v is i ta s de membros da famí l i a , a concessão de

auto r i zação, f ina lmente a sa ída do hosp ita l . Podem ser a inda ob jeto de

negociação o acesso de d iversos ob jetos pessoa i s, o acesso a d iversas comodidades

que oferece o e stabe le ciemnto, a part ic ipação nas d iversas at iv idades que ne le

decor rem. Cada aumento de peso dá ass im acesso a novos d i re i t os ; a pac iente só

está autor i zada a de ixa r o hosp i ta l quando t iver obt ido o peso combinado

in ic ia lmente . Es te proced imento fo i teor i zado pe la terap ia comportamen ta l operante

por re forço posit ivo. Mas é mai s f requen temente posto em pra t ica por terapeutas

que se re ferem às teor ia s do cond i c i onamento e que u t i l izam de modo empír ico.

Este autor. Géra rd Apfe ldorfer e lu cida -nos sobre e stas terap ias de choque , o

internamento , a proib i ção de v is i tas , an tes de mai s, a s propos tas de eventua i s

sessões de terap ia fami l ia r, os conse lhos para desenvo lverem uma ps icoterap ia

própr i a são f requentemente v iv idos com sina is de culpab i l idade.

Os medi camentos e st imulante s de ape t i te f requentemente pre sc r i t os pe lo médi co

face a uma pessoa que não ce ssa de emag rece r, não servem de nada á anoréx ica

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menta l , já que o apet i te , l onge de ter desapa recido é intenso e e sta ú l t ima não

de ixa de lutar con tra a vontade de comer . Vár ios complementos a l imentare s são

igualmente prescr i tos , a f im de atenuar a s carênc ias: v i taminas , sa is mine ra i s ,

preparação p rote icas, medi camentos p si cot r íp i cos (neu ro l ip t i cos, ant idep ressivos ,

ansio l í t icos). (p .60)

Os extratos de t iró ide aceleram o metabo lismo de bas e e fazem

efet ivamente perder peso. Mas uma boa pa rte do peso perd ido consi ste em massa

magra e em pa rt i cu lar em músculos, as necessidades energét icas do o rgani smo

d iminuem, o que torna a recuperação do peso quase ine lu táve l quando se dá a

inter rução do t ratamento. Os extratos da g landu la t i ró ide provocam calo res , suore s,

pa lp i ta ções, perturbações psíqu icas, a ssim como perturbações ca rd ía cas mort í fe ras

nalguns casos. Méd i cos pouco escurpulosos pre screvem p í lu l as e cremes à base de

harmonas da t i ró ide , gera lmen te d iss imuladas entre outras pre sc r ições e t iquetadas

“prescr ição homeopá t ica”.

Os d iu rét i cos são os prefe r idos de a lguns bul ímicos e obesos. Mas perder a

água não é perder a gordura . O peso perd ido por desid ratação volta quando se pá ra

de tomar d iuré t i cos.

Com isso cor re- se o r i s co surg i rem quedas de tensão e fad iga, ver t igens e

s ín copes. A fa l ta de potássio na u r ina pode provocar anomal ias por vezes mor ta i s no

r i tmo card ía co .

O mesmo se passa com os laxa t ivos tomados em doses exageradas, dev ido à

d iarre ia que provocam e impedem a absorção de nutr ien tes . A perda de água e de

sa i s mine ra i s, em part icu lar de po tássio, leva também à queda de tensão, fad iga ,

vert igens e s íncopes, assim como a p rob lemas card íacos, reve lando-se , por vezes,

mor ta i s. Quando tomados em doses mai s ra cionais, os laxat ivos, não têm qualque r

e fe i to de peso.

Os tapa-buracos anfetamíni cos re tardam a v inda da fome e fa zem reduzi r o

tamanho da re fe ição. Mas levam também a uma excita ção f ís ica e menta l seguida de

um per í odo de depressão , que conduz a uam nova tomada de anfetaminas

conduzindo à dependência. Com o seu prolongamento surgem es tados depressivos e

de pertu rbação ps íqui ca g raves .Os novos tapa -buracos, com a fenf luramina, não

têm efe i tos exci tante s no s istema nervoso e não condu zem á dependência . O efe i t o

anore ct i co é maior nos a l imentos r i cos em g l íc i dos, consumidos en tre as re fe i ções ,

apesar de serem propos tos por vezes como tratamento de dese jos sub itos e

bul im ias de doces.

F ina lmen te a lguns med icamentos da categor ia dosn ant idepressivos, imipramina

ou f luxovoxamina, pare cem te r uma ação favoráve l sobre as bu l im ias e ou tras

h iperfag ia s incont roladas . Nenhum des tes medi caemntos pe rmi te, sem pre jud i car a

saúde, regula r o consumo de a l imentos e o peso , e apenas de fo rma pontual .

Para a lém da medi cação ex i stem também var iad íssimas terap ias que podem

levar a uma a lte ração do compor tamento a l imen trar e rrróneo

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As terap ias cogn it ivo -comportamenta i s:

A terap ia cogn it iv o-comportamenta l , uma das pr incipa is co rren te s

psicoterapeut i ca s dos pa íse s ang lo- saxón icos

As técnicas de cont ro lo de comportamento a l imentar v i sando o re stabe lecimen to de

uma a l imentação socia l i zada. Apontam pa ra a tomada de re fe i ções em horár ios

decente s com al imentos coz inhados.

Uma a juda d ie tét i ca e conse lhos nut r i c ionai s f icam integ rados na maio r ia do s

tratamentos comportamenta i s. A posse de uma caderne ta a l imenta r na qual o

suje i to ace ita o que come onde e quando em que ocasiõe s pode permi t i r um

trabalho sob re a tomada de consciência dos fa tore s do amb iente em redor (v isão ,

odor, pre sença de a l imentos apet i tosos, re fe ições à mesa , comer d i retamente da

d ispensa do f r igor í f i co ao coz inha r, et c.) Fa tore s re l aci ona is (d i f icu ldades em

recusar os a l imentos ofere cidos em af i rmar-se , na a l imentação compuls iva dev ido a

provocação e desaf i o no quadro dum conf l i to d e poder) , reações emocionai s (vazio

interno, ansiedade, fúr i a, t r is teza e a legr i a).

O controlo de e st ímulos através de d iversas regras compor tamenta is v isa

regular o comportamento a l imentar, reduzi r a inf luência do meio neste e permi t i r

def in i t ivamente ao su je i t o d i stancia r- se re l at ivamente ao su je i t o d i stancia r- se

re lat ivamente ao a l imento. Cada semana é- lhe ped ido que e stabe le ça regras que

acre scen ta às das semanas anter iore s. Ev identemente, segundo, o comportamento

a l imenta r, reduzi r a inf luencia do meio neste e permi t i r def in i t ivamente ao su je i t o

d istanciar- se re l at ivamenyte ao a l imen to.

Nas terap ias cognit ivas as h ipe rfág icas são enca radas como respostas

inadaptadas favorecidas po r d iversas d i storções cogni t ivas.

O su je i t o tem, na ma ior ia das vezes, uma v i são i r rea l , d ramáti ca do mund o

que o conduz a ampl ia r as de rrotas e m inimizar as v i t ór ia s, e a cr iar -se obr igações ,

a ter d iscu rsos culpab i l i zantes . A s fa l sas c renças que podemos engordar sem

cont rar iedades e sob emoções fo rtes ou então emag rece r comendo grandes

quant idades. Se a comida é uma boa comida são d i scut idas assim, como a

necessidade de uma v ida perfe i ta de um peso i dealmente baixo. A terap ia ajuda a

cr i t icar o d iscurso in ter i or, a mode rar a s ambições v i sando ob jet ivos rea l i sta s. A

pressão soc ia l da magreza excess iva é pos ta em questão.

A exposi ção de a l imentos que provoquem ansiedade ap l ica -se em caso s

bul ím icos (ape t i te devorador seguido de vómito) e obesos h ipe rfág i cos que

d ist i nguem os a l imentos segundo c r i té r ios mora is:os doces e as gordu ras ou a inda

as carnes são , po r exemp lo, d iabo l i zados enquanto out ras ta i s como as f rutas eos

legumes f rescos, produtos lá cteos são exal tados.

As estra tég ia s de ajus tamentos de consumo de a l imentos in controlados sã o

v istos como compor tamentos prob lemáti cos que os ind iv íduos não conseguem

ultrapassar. A d i f icu ldade a l imentar subst i tu i as ou tras d i f icu ldades as outras

d i f icu ldades da v ida. Esta in capacidade conduz o ind iv íduo à autodesvalor i zação e à

depressão. O terapeuta va i assim ajudar o ind iv íduo a desenvolve r est ratég ias de

ajustamento ( cop ing processo) para enfren tar o mundo e o st ress, a f im de que a

fuga na h iperfag ia não se ja necessár i a; os mé todos são numerosos.

As tecni cas de re laxamento ou de concen tração numa imagem menta l ou

uma ladaínha u t i l izada du rante a s i tuação devem, por exemplo , permit i r enfren tar a

angúst ia sem re cor rer á bu l imia (voracidade seguida de enjoo e vómito) .

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O desenvolv imento de comportamentos imcompat íve i s como o at o de comer

deve levar, segundo as c i rcunstânc ias à subs t i tu ição das re fe ições por at iv idades

f ís i cas , contatos socia is, cu idados co rpora is ou a inda at iv idades f ís i ca s , contatos

soc ia i s, cu idados co rpora is ou a inda at iv idades que mobi l izam as duas mãos

(costu ra, manipula ção de ob jetos maleáve i s) .

As ten icas de re so lução de prob lemas v isam ensina r o i nd iv íduo a encont ra r

solução para os prob lemas v isam ensinar o ind iv íduo a encon tra r solução para os

prob lemas que hab itua lmente levam ao consumo de a l imen tos.

Tra ta- se de desenvo lver comportamentos a l t ernat iv os à bu l imia , mas ,

também aprender a ger i r o seu tempo, o seu d inhe i ro, as suas re la ções afet ivas e

os seus prob lemas fami l iare s e sexua is .

A af i rmação de s i cons is te em ap render a re sis t i r às p ressões ma is ou meno s

amiga is que levam a comer para saber reag ir às cr í t icas.

O trabalho sobre o ev itamento fób ico do co rpo ap l ica - se também tan to ao s

anoréx i cos menta i s como aos bul ím icos e aos obesos . Para quem as per turbações da

iamgem do corpo e stão presen tes . Os cuidados do co rpo, o trabalho a pa rt i r de

fotograf ias , de v ídeos, do espe lho, o exerc íc i o f ís ico f rente ao espe lho, a terap ia

cogni t iva, a af i rmação do seu próp r io , são d i ferente s perspet ivas que devem

permi t i r uma re conci l ia ção com a imagem e sensação co rpora is , uma redução do

d iscurso in ter i or de au to desva lo r ização.

As psi cote rap ia s de or ientação de psi cana l í t i ca . . .

As pertu rbações do comportamento a l imenta r sendo entend idos pa ra a

maio r ia das psi cana l is tas mai s como de natu re za pro -ed ip iano que pertu rbação de

cará ter ne rvoso (ver ma is à f rente) , re levam de perspet iv as mai s concretas que a

c lá ssi ca cu ra ps icanal í t i ca (na qua l o pac iente se de ita num d ivã ), d ia logando co m

um psi cana l is ta neutro e pouco ( interven iente ). É a l i ás de sa l ientar que, na ma io r i a

dos casos a p sicanál ise c l ássica pode permit i r progre ssos em todos os domínios ,

aprofundamento do v ivenc ia l e tomada de consciência da afet iv idade, no prog resso

na v ida re la cional amorosa, prog ressos em todos os domínios aprofundamento do

v ivencia l e tomada de consciência da afet iv idade no progre sso da v ida re lac iona l e

amorosa, progre sso no p lano prof i ss i ona l . . .ex clu indo a no tar , a s perturbações do

compor tamentos. A tendência é a ss im ma is pa ra uma p si cote rap ia em face a fa ce

permi t indo um d iá logo e uma re lação mais ca lorosa; a s se ssões são semana isou

p lur i semanai s f requentemente duran te vá r ios anos. Os d is túrb ios dos

compor tamentos a l imenta res e os prob lemas de peso são considerados como

sintomas de uma per turbação mai s profunda e não são ob jeto de atenção do

terapeuta. Tra ta- se em regra ge ra l , para e ste ú l t imo o a judar o paciente da sua a

tomar consciência da sua v ivência in ter i or e dos afetos de re f orçar a sua conf iança

em si . Como pa ra todas as perspe t ivas psi coterapeut icas.

Mi l e uma psi co terap ias. . .

Já não têm conta os métodos psi co terapeu tas e ser íamos in capazes de revê -

los a todos.

As terap ias human istas, como b ioenerg ia a Gesta lt . Terap ia, anál ise

transac ional , o gr i to p r imal. Estas teor ias não propõem uma abordagem especí f i ca

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Anorexia Nervosa: a distorção de si

Revista Sentidos – Dire. Ana Margarida Alves 17

das pertu rbações do compor tamento a l imenta r. Encont ram-no entan to um cer to

sucesso sobretudo jun to dos pacien tes bul ímicos , re spondendo ao ped ido de

qualquer co isa que consiga at ing i r a s suas est ranhas . A ide ia gera l é que o

ind iv íduo v ive na aparênc ia enganosa .

São te rap ia s intensivas f requentemente de g rupo de g rupo onde se acentua a

expressão dos sen t imentos e emoções pe lo próp r io ind iv íduo.

O terapeuta incent iva a exter ior ização dos sent imentos e emoções pe l o

própr i o ind iv íduo .

O terapeu ta in cent iva a exter io r i zação dos sen t imentos de cóle ra, de ód io, de

amor, verba lmente mas também por atos concretos por gr i t os , po r lág r imas ,

contatos f ís icos com out ros part ic ipante s ou com o terapeu ta.

A represen tação de papé i s é ut i l i zado para re c r iar s i tuações d ramati zadas ,

nas qua is o ind iv íduo é conv idado a d ize r ou a g r i ta r o que jama is ousou d i zer.

A psi cote rap ia in terpessoal cons iste num t rabalho sobre as reações

emocionai s. T rata -se de tomar consc iência das suas reações aqui e agora. E

compará- la s com as do passado . As pertu rbações do compor tamento a l imenta r são

abordadas.

O trabalho re fere -se e ssenc ia lmente a d i f i cu ldades de comuni cação ou a inda

um me io de at ing ir e con tro lar o out ro .

Outro método a que os terapeu tas re cor rem é a terap ia fami l ia r que

necessi t a da part ic ipação at iva de todos os membros da famí l i a e mobi l i za vár i os

terapeutas a l t amente qual i f icados. É ut i l i zado essencia lmente na anorex ia ,

excecionalmente na bul imia ou na obesidade hiperfág ico da cr i ança ou do

adolescente . Os terapeu tas e sforçam-se pa ra c lar i f i car a s re l ações fami l i are s, po r

põr em ev idênc ia os d i feren tes conf l i t os do paciente transfo rmado ent retanto em

objeto de desaf io. Na anorex ia menta l , a lguns terapeutas, seguido res de Salvador

minuch in propõem a o rgani zação de vár i as se ssões á volta de uma refe i ção tomada

no quad ro fami l iar , l oca l geog ráf i ca de todos os conf l i t os . Vár ias no rmas e

presc r i ções são ge ra lmente p reconi zadas pa ra uns e pa ra out ros, de ta l f orma que

cada e lemento possa te r a imp ressão que cont r i bui e f icazmente para a melhor ia da s

re lações no se io fami l iar.

Os resultados dos das perturbações do comportamento a limentar e da

obesidade

Relat iv amente, á anorex ia menta l , a comb inação de um tra tamento médico e

psicológ ico permite uma evolução g lobal favoráve l na maior par te dos casos. O peso

normal i za -se em 50 por cento dos casos após dois anos, em 70 por cen to dos casos

após c inco anos. Em 80 por cento dos casos, o per íodo menstrua l reaparece nos

dois anos que se seguem ao aumento de peso . Mas mode ramos ot imi smo: não é

raro que a anoréx ica se torne bu l ímica, cos tume prat ica r a re str ição a l imen tar se

torne bu l ímica, costume prat i car a re st r ição a l imenta r, os vómitos provocados ou o

uso de laxa t ivos. E la conse rva quase sempre d iversas preocupações re la t ivas á

a l imentação e f ica angust iada com a ide ia de engordar em dois ter ços dos casos ,

segundo os autore s, em pa rt i cu lar após um casamento ou um pr ime iro pa rto . Ao

longo prazo, o futu ro p rof i ss ional das ant igas anoréx icas é f requen temente bom,

mesmo sendo infer i or ao p rev is to pe los br i lhantes re sul tados dos p r imeiros tempos

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esco lare s. É f requentemente a v ida afet iv a e sexual que, dev ido a v ida afet iv a e

sexual que, dev ido a fa l ta de ps icoterap ia se reve la dececionante . Pa ra a Bu l imia

Nervosa, as te rap ia s cogn it iv o-comportamenta i s e as b reves terap ia s cen tradas nas

d i f icu ldades de re la ção (“ps icoterap ia i nterpessoal , support ive expre ssive the rapy ,

são as ún icas para as qua is d i spomos de resultados e stat íst icos f i áve is . Es tas duas

perspet iv as, uma abordando d i retamente os compor tamentos a l imenta res , a ou tra

considerando-os como formas de desv io das d i f i cu ldades de re lação, dão resu ltados

aparentemente idênt i cos em são bem suced idos num caso em doi s ter ços dos

doentes abandonam com re la t iva fac i l idade as suas condutas bul ími cas , o ú l t imo

terço, eng loba f requentemente os que têm d is tú rb ios de pe rsonal idade mai s graves ,

consumidores de a l cool ou de d rogas ou que apresen tam um es tado depressivo

sér i o ou a inda que cent ram a tota l idade da sua ex istência no comportamento

bul ím ico não respondendo tão bem ás ps icoterap ias de longa duração.

Conclusão

A anorex ia é uma doença compor tamenta l que at inge ma io r i ta r iamente o

sexo feminino.

É uma desordem psíqui ca-comportamenta l comp lexa e d i f íc i l de cara ter i za r e

u l trapassar.

Sabe-se é que inexp l icave lmente a lgumas pessoas sem uma razão apa rente

re je i tam todo e qualquer t ipo de a l imentação com o dese jo exace rbado de

emagrecer/pe rder volume corpora l . O que as induz a este t ipo de at i tude é

desconhec ido. O que aparen temente começa por se r uma s imple s d ieta transfo rma-

se numa obecessão de emagrecimento i ncontroláve l , levando as pessoas com esse

t ipo de pato log ia a u l t rapassa rem as bar re iras da racional idade e transf igura rem

a sua própr ia imagem at ing indo graus de mag reza fantasmagóri ca.

Mais que at ing i rem os padrões de modelos femin inos impostos pe la sociedade

moderno trata- se duma tenta t iva exacerbada de anulação co rpora l e af i rmação

menta l . Como se o corpo se t ransforma-se num est igma f ruto de todos os seus

prob lemas de adap tação socia l . Prog ressivamente perdem peso e a noção de s i

própr i as. Vêm-se obesas quando na rea l idade já at ing iram um estado de mag reza

mórb ida A anorex ia é, a ssim, mais que um prob lema de obes idade e nutr i ção um

prob lema cogn it iv o/comportamenta l .O seu tratamento/cura re side numa reeducação

soc ia l de ace it ação de s i própr i as.

Para Saber Mai s:

B ib l iog raf ia

http:/ /adane r.o rg- Associa ção en Defesa de la Atención a la Anorex ia

Nerv ioso y Bul imia aced ido em 26 de de Ju lho 2012 às 18:42

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Revista Sentidos – Dire. Ana Margarida Alves 19

Ameri can Psychiat r i c Assoc iat i on – DSM-IV

Wik iped ia: Anorex ia Nervosa - Def in ição

http:/ /www.psi colog iamsn .com/2011/12/anorex ia -hi sto r ia-

mundo .brasi l .html

Claud ino, AM, Zanel la AMT Gu ia de Transtornos A l imen tare s e

Obesidade , São Paulo : Manole, 2005 , p .3-163

Cordas, TA Claud ino AM Transtornos A l imen tare s fundamentos h i stó r i cos ,

Rev ista Brasi le i ra de Ps iquia tr i a, São Paulo ; V 24, sup l 3, p 3,5 Dez 2002

ISSN: 1516-4446

Waugh Bryant Rache l e Bryan Lask, Doenças de Compor tamento

A l imen tar , um Guia para os Pa is , Anorex ia e bul im ia, ed itor ia l presença ,

2002

Apfe ldorfer, Gé rard, Anorex ia, Bu l im ia e Obesidade , B ib l i oteca Bás ica de

Ciência e Cultu ra, Inst i tu to P i aget

Comp i la ção informação por ana marga r ida a lves

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