Antologia Histórica com capa · Cada etapa vencida em peleja Traga sempre uma glória melhor, Uma...

102

Transcript of Antologia Histórica com capa · Cada etapa vencida em peleja Traga sempre uma glória melhor, Uma...

1

2

3

1ª EdiçãoGráfica e Editora Irmãos Drumond LTDA.

Barra Mansa - RJ2016

Antologia Histórica

Academia Barramansense de História

4

Copyright© 2016 by Academia Barramansense de História

OrganizaçãoNikson Salem

DiagramaçãoRozan Silva

Capa

Mapa Mundi. Autor: Guillaume Delisle - 1720

Catalogação na FonteMargareth Magalhães – CRB 7/5408

Email. [email protected] - Tel.: 998378757Facebook: academiabarramansensedehistória

A634 Antologia histórica / Nikson Salem (organizador). Barra Mansa (RJ): Gráfica Irmãos Drumond, 2016.

100p.; il.

1. Literatura brasileira. 2. Barra Mansa (RJ) – histórias. 3. Academia Barramansense de História (ABH). I. Título.

CDD B869.3

5

DIRETORIA ABH – 2016 / 2017

Nikson Salem – PresidenteDulce Rodrigues – Vice-presidente

Rozan Silva – 1º SecretárioAída Goulart – 2º SecretárioAna Vitalina – 1º Tesoureiro

Eduardo Wernech – 2º TesoureiroDanielle Fidelis – Diretora de Projetos

Aloísio Lélis de Paula – Diretor de Promoção SocialThaís Ribeiro – Diretora de PatrimônioRozan Silva – Mestre de Cerimônias

Ivan Marcelino de Campos – Conselheiro FiscalAlzira Ramos – Conselheiro Fiscal

Protógenes Gomes – Conselheiro Fiscal

6

Hino à Barra MansaLetra: Professor Henrique Zamith

Música: Maestro Izídio Moura

Vivo seja teu nome esculpidoNo granito das rochas sem par,E por todos co’amor repetido,Como preces diante do altar!Cada lábio o murmure e um hinoE ele seja e o suave penhorDum afeto tão grande e divino,Tão sublime e mais puro que o amor!

Barra Mansa! Barra Mansa!Glória a ti! Hosana mil!Lembras suave esperançaNum recanto do Brasil!

Tua glória, fulgindo brilhante,Com mais vivo fulgor e mais luz,Repercute no vale distante,Vai além desses céus mais azuis!Vai além desses montes e falaDa existência de um povo a lutar,Do teu povo feliz, que se igualaaos titans no feroz batalhar!

Barra Mansa! Barra Mansa!Glória a ti! Hosana mil!Lembras suave esperançaNum recanto do Brasil!

O teu nome também nos recordaUm murmúrio suave, um perdão,Um carinho que terno transbordaDe teus filhos no teu coração!Ele lembra também a meiguice,À beleza, a grandeza moralDas mulheres que tens, a lediceÀ pureza sem par de Vestal!

Barra Mansa! Barra Mansa!Glória a ti! Hosana mil!Lembras suave esperançaNum recanto do Brasil!

Do criador, já a mão justiceiraTeu destino no tempo traçou...Barra Mansa, serás a primeiraPelos bens que o Senhor te doou!Cada etapa vencida em pelejaTraga sempre uma glória melhor,Uma glória mais santa e que seja,Entre todo o triunfo o maior!

Barra Mansa! Barra Mansa!Glória a ti! Hosana mil!Lembras suave esperançaNum recanto do Brasil!

7

Descrição do Brasão da ABH:

1 - Escudo de formato com base redonda, português clássico, lembrandonossa tradição lusa e a colonização do Brasil. Em destaque, à frente, eem cima o nome “Academia Barramansense de História”, aindasobrepondo abaixo, a sigla A.B.H. e ao meio a Pena que simboliza aarte da escrita com o sentido de homenagear os que aqui descreveram anossa história, ao fundo sobressai o verde de nosso majestoso vale,cortado por águas límpidas do nosso principal manancial, o Rio Paraíbado Sul, e refletido no céu, o amarelo do nascer do sol representando avida.

2 - Dois festões guarnecem o escudo, sendo eles ramos de caféfrutificado, produto agrícola que já sustentou a economia de Barra Mansae do nosso amado Brasil.

3 - Um listel, em caracteres na cor preto, com os seguintes dizeres:“Fundada em 15 de outubro de 1998”, a faixa é azul e vazada em branco.

4 - Divisa entre os Festões: “ACTIONES - VERITAS - LUX” - Ação -Verdade e Luz.

Criação: Eduardo Augusto Silva WernechSupervisão: Clécio PenedoAcompanhamento: Alan Carlos Rocha e José Gentil Filho

8

Ata de Fundação da AcademiaBarramansense de História

Aos quinze dias do mês de outubro de mil novecentos e noventae oito, reuniram-se em assembleia, na sede da AssociaçãoComercial, Industrial, Agropastoril e Prestadora de Serviços deBarra Mansa (ACIAP), sita na Avenida Domingos Mariano, 196,centro, várias pessoas ligadas ao mundo cultural, com a finalidadede fundar a Academia Barramansense de História. Foi convidadopara presidir a assembleia o Cel. Cláudio Moreira Bento, presidenteda Academia de História Militar Terrestre do Brasil, que convidouo jornalista José Gentil Filho para secretariar os trabalhos.Instalando-se oficialmente a assembleia solicitou ao secretáriopara ler a Ordem do Dia, constante no Edital publicado no jornalO Líder, de 16 a 30 de setembro de 1998, cujo teor é o seguinte:“Edital – Por este instrumento, ficam convocados todas aspessoas de nossa cidade, interessadas na preservação damemória barra-mansense, para se reunirem em AssembleiaGeral, no dia 15 de outubro de 1998, quinta-feira, às 19h.30min.,no salão da ACIAP, na Avenida Domingos Mariano, 196, centrode Barra Mansa, com a seguinte Ordem do Dia: 1 - fundação daAcademia Barramansense de História; 2 - leitura e aprovaçãodos Estatutos; 3 - eleição da diretoria executiva e conselho fiscal;4 - assuntos gerais. Passando ao primeiro item do Edital, opresidente da assembleia informou aos presentes que a finalidadeda assembleia era promover a constituição da AcademiaBarramansense de História. Em seguida, passando ao segundoitem, convocou o secretário jornalista José Gentil Filho paraproceder a leitura do estatuto da Academia Barramansense deHistória, o que foi feito. Após a leitura do estatuto, o presidentecolocou em discussão, tendo sido aprovado por unanimidade. Aseguir, o presidente passou ao terceiro item, que trata da eleiçãoda diretoria e do conselho fiscal. O presidente da assembleiasolicitou ao secretário para proceder a leitura da chapa única

9

registrada, que ficou assim constituída para a diretoria executiva:presidente Alan Carlos Rocha; vice-presidente Eliette Ferreira;secretário José Gentil Filho; tesoureiro Eduardo Augusto SilvaWernech; diretor de patrimônio José Fleming e diretor socialAparíco Guilherme Braz, tendo como suplentes Francis Bullos,Matilde Diniz Lacerda e J.M. do Lago Leal. Para o conselho fiscalapresentaram-se os seguintes nomes: José Carlos Franco Faria,Wilson Deslande e Neuza Cançado, tendo como suplentesMoacyr Arthur Chiesse e Álvaro Luiz Carelli Pereira. Após a leiturada chapa pelo secretário, o presidente a submeteu a apreciaçãoda assembleia, tendo sido aprovada por unanimidade. A seguir, opresidente passou ao quarto e último item da convocação, quetratou de assuntos gerais. Como ninguém se manifestou,passaram-se aos discursos, usando da palavra o presidente daACIAP, Hilton Alexandre Alves da Silva, o presidente daassembleia, Cel. Cláudio Moreira Bento e o presidente eleito daAcademia Barramansense de História, Alan Carlos Rocha. Apósos discursos, o presidente da assembleia deu por encerrada ostrabalhos, marcando a posse da diretoria executiva e do conselhofiscal para o dia três de dezembro de 1998.

10

ÍNDICE

Ata de Fundação da ABH..............................................,Palavra do Presidente....................................................,

Alan Carlos RochaNa Época da Jovem Guarda ............................................,Alkindar Cândido CostaOs Índios na Região...........................................................,Aloísio Lélis de PaulaA Instalação da Estrada de Ferro D. Pedro II.......................,

A Industrialização...........................................................,Alzira Ramos da Silva

Grupo Escolar Fagundes Varela......................................,Ana Maria Carvalho AlvesA Matriz de São Sebastião.................................................,André CoutoAtaulpho de Paiva.............................................................,Antônio de Oliveira LealCine Éden, Uma Paixão...................................................,Djalma Augusto dos Santos Melo

Revoluções Silenciosas: niilismo e modus vivendi em Barra Mansa na derrocada da Escravidão(1884-1888)...........,

Eduardo Augusto da Silva WernechParque Centenário - Jardim das Preguiças.......................,Evandro dos Reis Brito SarmentoA Saga do Trem..................................................................,Ivan Marcelino de CamposRialto - Distrito Barramansense........................................,

813

15

21

2328

30

32

35

39

43

45

48

51

11

64

69

71

73

75

778084

87

9092

9598

54

5660

Jean Carlos GomesHomenagem à Barra Mansa.............................................,José Carlos Franco FariaBarra Mansa e sua Origem...............................................,Barra Mansa Futebol Clube..............................................,José FlemingAconteceu na Fazenda da Posse.........................................,José Gentil FilhoO Hino à Barra Mansa......................................................,J. M. do Lago LealMinha Cidade....................................................................,

Matilde Diniz LacerdaPulmão Verde de Saudade.................................................,Natália FariaCentro Educacional Barra Mansa - SABEC.....................,Nikson SalemCasarão do Clube Municipal............................................,

Epidemias que Grassaram em Barra Mansa no Século XIX...., Navegação pelo Rio Paraíba do Sul................................, Roberto Guião de Souza Lima

Fragmentos Históricos da Criação de Barra Mansa........,Rogério Gonçalves LeoniA Escola Vieira da Silva....................................................,A História da Loja Maçônica “Independência e Luz”......,Rozan SilvaCarlos Lacerda Seria Assassinado em Barra Mansa........,O Início do GRECAB.........................................................,

12

13

PALAVRA DO PRESIDENTE

Prezados,

A Academia Barramansense de História é uma Instituiçãocomposta por pessoas comprometidas e que demonstramempenho e amor para fazer dela um caso de sucesso e referênciana região. Tenho a honra em presidir esta Instituição que há 17anos tem lutado pela preservação do patrimônio e divulgação dahistória de Barra Mansa. No campo literário, a ABH é responsávelpela publicação do jornal “Memória Barramansense”; da revista“Barra Mansa Coleção Nossa História”; e do livreto “250 anos doSurgimento do Povoado de São Sebastião da Barra Mansa”, mas,sem dúvida, sua maior conquista na literatura é o lançamentodeste livro. ANTOLOGIA HISTÓRICA apresenta trabalhos jápublicados e inéditos, elaborados pelos Acadêmicos e Associadosda ABH. Fatos e grandes personagens da história do municípiosão narrados em forma de textos, ensaios, contos e poemas,expondo a versatilidade de nossos autores.

Esperamos que os leitores apreciem esta obra, pois ela reúneum grupo de amigos que se tornou uma grande família, ligadapelo ideal de produzir conhecimentos e experiências que possamde alguma forma nutrir o seu amor pela nossa querida BarraMansa.

Agradecimentos especiais são devidos a todas as instituiçõese pessoas que ao longo dos anos contribuíram para oengrandecimento da ABH.

Nikson SalemPresidente

14

15

Na Época da Jovem GuardaAlan Carlos Rocha

THE BRAZILIAN BOYS

Este conjunto começou a se apresentar nos clubes sociaisde Barra Mansa e Volta Redonda, por volta de 1967. O conjuntose chamou assim porque em uma reunião do grupo, decidirampor unanimidade, que seria o melhor nome para eles, que eramjovens, se apresentarem no meio artístico musical da região. Suaformação em 1968 era a seguinte: Marco Aurélio (solista),Serginho (contrabaixo), Ivan (guitarra base), Álvaro Celso (bateria),Julinho (órgão) e Flávio (crooner). O empresário era o Sr. JoséAlves da Silva (Zé Leitinho), um homem notável e muitocomunicativo, infelizmente já falecido. Na época, algunsintegrantes do conjunto eram estudantes e outros trabalhavam,entretanto, ensaiavam constantemente suas músicas, que eramconsideradas “pra frente”.

Os clubes nos quais mais gostavam de tocar eram o ClubeMunicipal e o Ilha Clube, em Barra Mansa; e o Aero Clube, emVolta Redonda. THE BRAZILIAN BOYS foi considerado o conjuntorevelação de 1968 na cidade de Volta Redonda, e obteve o 2ºlugar no Concurso de Conjuntos realizado em 1969, na cidadede Pindamonhangaba, em São Paulo, concorrendo com dezenasde conjuntos jovens do Brasil. Esses rapazes levaraminesquecíveis momentos de encantamento e diversão ao públicoda época.

OS FALCÕES REAIS

Conjunto que começou com o nome de THE JETSON,entretanto, havia no Rio de Janeiro outro grupo com essadenominação, motivo pelo qual, seus fundadores mudaram onome para OS FALCÕES. Ocorre que, em São Paulo, já existiaum conjunto chamado Os Falcões. Então, resolveram mudar paraOS FALCÕES REAIS, assim permanecendo durante toda sua

(Homenagem Póstuma)

16

existência. OS FALCÕES REAIS podia se dizer tanto de BarraMansa quanto de Volta Redonda, já que seus componentes eramdessas cidades. Sua formação, em 1968, foi a seguinte: HiranGuimarães Adler (guitarra solo), Paulo Sérgio (contrabaixo),Moacyr Guimarães (bateria), Fernando Luiz Guimarães (guitarra

base), Auriston (órgão) e Antônio Carlos (crooner). Oempresário era o Sr. Mendel Oser Adler. A música era jovem eseus componentes tinham OS BEATLES como seus ídolos. Elescomeçaram praticamente em Volta Redonda, no ClubeComercial, mas atuaram em quase todos os clubes sociais deBarra Mansa e Volta Redonda. Entre os lugares que maisgostavam de se apresentar mencionavam Barra Mansa, VoltaRedonda, Cachoeira Paulista, Três Rios, Ribeirão das Lajes, Barrado Piraí e Quatis. No ano de 1968, estavam em grande evidênciana TV TUPY, canal 6, se apresentando todos os domingos noprograma do palhaço Carequinha, com quem gravaram um “longplay” em agosto daquele ano, com destaque para a música “THEMILLIONAIRE”. Quantas saudades do conjunto que fez balançarcorpos e corações com músicas inesquecíveis e se tornando,também, inolvidáveis em nossas lembranças! Ao relatarmos umpouco da história daqueles rapazes, expressamos nossa sinceraadmiração e prestamos um tributo de agradecimento por diversãosadia, divulgação positiva da cidade de Barra Mansa e exemplosconstrutivos para as gerações dos anos 60 e 70!

OS BATOKENS

O conjunto musical que deixou seu nome gravado com acordesde ouro na história musical de Barra Mansa e da região apareceuem nossa cidade no ano de 1966. Naquela época, os padres daigreja católica estavam promovendo uma forte campanha paraunir ainda mais a mocidade com a religião, e os jovens músicosforam convidados para participar de uma Missa da Juventudeem Barra Mansa, nascendo assim: Os Batokens. Esse nome foidado quando Antônio Carlos, um dos seus componentes, estavaconstruindo com madeira jacarandá, oriunda do Rio Grande doSul, um contra baixo (que foi utilizado). Entre o material

17

encontrava-se uma lata com o rótulo “BATOKE”, daí surgiu OSBATOKENS.

Sua formação era a seguinte: Jeferson, que era o líder e tocavaórgão e guitarra solo, além de ser vocalista. Luiz Carlos tocavaguitarra-solo e contrabaixo, além de vocalista. Marcelos tocavaórgão, contrabaixo e também vocalista. Antônio Carlos tocavacontrabaixo (jacarandá), guitarra base e também vocalista.Francisco de Paula era o baterista. O empresário era o Bigode.Os Batokens ganharam muitos e muitos títulos e prêmios, entreeles, o de conjunto mais católico do Estado do Rio e a Taça deArrebatadores de Prêmios em função dos concursos disputadose vencidos. Além dos bailes, se apresentavam nas rádios de BarraMansa e da região, tendo também, participado muitas vezes deprogramas de televisão nos canais 2 e 6 da época, e no programaHaroldo de Andrade. Sua música era jovem, entretanto,levantavam plateias com o carro chefe do Conjunto: BEATLES,BEATLES, BEATLES! Todos eram beatlemaníacos! Estariafaltando uma página na história musical de Barra Mansa, se nãotivesse existido Os Batokens.

Assim, homenagear os integrantes do conjunto OSBATOKENS não é favor nenhum, em função da extremacapacidade que possuíam de fazer sonhar, de alegrar e departicipar em movimentos sadios construtores de uma sociedademais justa e perfeita. A profunda saudade fica por conta do alegreLUIZ CARLOS, que hoje, possivelmente estará tocando suaguitarra e alegrando corações e mentes como sempre foi suamaneira de ser. VIVA OS BATOKENS! VIVA BARRA MANSA.

THE BLUE JET´S

Esse conjunto foi formado pela união dos Conjuntos The BlueStar e o Snobe, que na época tinham se dissolvido. Apareceu porvolta de 1965, no Clube dos Funcionários, em Volta Redonda eem clubes de Barra Mansa. Nesse ano de 1965, The Blue Jet’spossuía a seguinte formação: bateria – José Rosa (Mecica);guitarra solo – Carlos Rosa (Neném); guitarra base – Paulo CesarRios; cantor – Paulo Guilherme; guitarrista – Roberto Medeiros;

18

tumbadora – Roberto Prado e órgão – Nilton Gonçalves. Detalhe:todos nascidos em Barra Mansa. Gostavam de tocar nos Clubes:Comercial e Aero Clube bem como, no Ilha Clube, de BarraMansa. Em março de 1965 se apresentaram em Sepetiba eCampo Grande, fazendo grande sucesso. O responsável peloconjunto era o Mecica, que planejava levar o conjunto paraapresentações em São Paulo, motivo pelo qual estava adquirindoum novo órgão. Em todos os festivais e encontros da JovemGuarda, os componentes do The Blue Jet’s se faziam presentes,dando suas colaborações e participando ativamente dos mesmos.Entre os elementos do Conjunto, achavam o Paulo Guilherme, omelhor cantor da época. Os irmãos Rosa eram virtuosos damúsica, verdadeiros talentos, influenciados pelo patriarca, Sr.Rosa, que tocava violino. Um dos membros dessa família, OvídioBonfá, abrilhantou por muitos anos um dos melhores conjuntosnacionais, o CRY BABY’S. Já Carlos Rosa, o popular Neném,era imbatível na guitarra, sendo considerado, sem favor nenhum,o melhor guitarrista brasileiro. Detalhe: Luiz Carlos, que integrouOS BATOKENS, também tocou no BLUE JET’S.

Infelizmente, da família Rosa, todos os homens já faleceram.Restou a saudade que esses rapazes nos deixaram. Saudadeda alegria contagiante de todos os Rosas; saudade dos bailesnos quais eles esbanjavam talento e comunicação, saudade dossorrisos alegres dos elementos dessa família. Quando nos viam,um largo sorriso era estampado nessas faces amigas, pois elessorriam com os lábios, com os olhos, com os corações e com amúsica. Dos integrantes desse conjunto, ainda vive o RobertoPrado ao qual o Memória Barramansense agradece pela enormecontribuição musical prestada aos jovens daqueles anosmaravilhosos, quando barra-mansenses ou não, alegravamnossos dias com seus instrumentos de bela sonoridade!

Ao Neném, podemos dizer: “você foi notável e por isso, nossagratidão e nossa admiração por tanto talento e tanta alegria”. THEBLUE JET”S não morreu. Alegra hoje as jovens tardes decelestiais domingos...

19

THE BROTHERS

A banda The Brothers comemora 40 anos, quatro décadas detrajetória musical dentro e fora da região sul fluminense. Formadapelos irmãos João Batista, Ney e Serginho, o tecladista Leonardo(filho de João Batista), a vocalista Carla, o baixista SérgioFernandes e o baterista Dom Beto, a banda continuamovimentando os bailes da região, com o mesmo repertório quea consagrou: sucessos dos anos 70 e todos os estilos atuaispedidos pelo público.

O grupo se apresenta em bailes, festas e formaturas, e grandeparte de seus shows, atualmente, são realizados em MinasGerais. Os componentes do The Brothers atribuem o sucesso àcompetência profissional, maturidade e disciplina. O sentimentopelo aniversário de 40 anos da banda é de dever cumprido, e deboas expectativas para dar continuidade na trajetória artística.

A maior inspiração veio de casa. O Sr. Flávio (já falecido) tocavabandolim, quando os três filhos começaram a se interessar pelamúsica. João Batista, Ney e Serginho, ganharam seus primeirosinstrumentos, que foram o violão e o acordeom. Desde então,não pararam mais de tocar. Flávio percebeu o talento dos filhos edecidiu investir, comprando toda a aparelhagem necessária paraa formação da banda. Na época, os irmãos eram aindaadolescentes, com idade entre 13 e 19 anos. A escolha do nomefoi feita para simbolizar a união da família nos palcos e seguir asbandas de sucesso da época, que tinham nome em inglês.

Nessa caminhada, a banda conquistou o seu espaço musical,e em 1972 foram convidados para participar da novela “A Patota”.Essa participação abriu grandes portas para a banda. Gravaramseu primeiro e único disco, com repertório de músicas inglesase americanas. Fizeram várias participações em programas deTV, dividindo o palco com Rita Lee, Ronnie Von, entre outrosartistas.

Parabéns The Brothers, pelos 40 anos de sucesso!!!

20

2001

Para fechar com chave de ouro a História dos ConjuntosMusicais da Jovem Guarda em nossa cidade, escolhemos oconjunto 2001, formado por Marcial, Oswaldinho, Silvio e Samir.Esse conjunto era muito requisitado para animar as brincadeirase bailinhos da juventude, bem como, se apresentava em váriosclubes de Barra Mansa e da região. Tinha como carro chefe aalegria dos seus componentes e bela qualidade musical, sendoconsiderado inovador, de vanguarda, conforme o nome escolhido.Em uma apresentação de conjuntos jovens no clube Umuarama,de Volta Redonda, o “2001” causou furor, sendo aplaudido de pé,ao combinarem música com jogos de luzes e figuras psicodélicasousadas. Foi o conjunto que introduziu a Tropicália no meiomusical jovem de então. Havia certa separação entre os roqueirosda Jovem Guarda e os tropicalistas. O 2001 pôs fim a isso, e apartir de então, os movimentos citados convergiram para o mesmonorte, qual seja, boa música, muita alegria e diversão sadia.

Todos os integrantes do 2001 continuam em nosso meio emerecedores da nossa admiração e gratidão, por marcaremépoca e contribuirem para um Brasil melhor.

(Textos publicados originalmente no jornal “Memória Barramansense”,

de 2008 e 2009)

21

Alkindar Cândido Costa(Homenagem Póstuma)

Os Índios na Região

O desbravamento da região representou um contato, noprincípio nada amigável, entre os colonizadores e os índios queeram os verdadeiros senhores da terra. Nas pesquisasrealizadas, vamos encontrar os Puris repartindo o domínio deNossa Senhora da Conceição do Campo Alegre da Paraíba Nova(Resende) com os Coroados que, em São João Marcos, eramabsolutos. Nas fraldas da Mantiqueira, na parte divisória com SãoPaulo, cabia o domínio aos Puris. Entre os Rios Paraíba e Preto,na parte em que este servia, como hoje, de limite com MinasGerais, predominavam os Coroados.

O Barão de Eschwege, Debret e Rodolfo Garcia eram deopinião que os Puris tiveram origem comum com os Coroados epertenciam à nação chamada de “Tapuia”. Historiadoresapresentam os índios Araris, encontrados na região, confundindo-se com os índios Coroados. Em razão dos constantes ataquesdos Botocudos, os Puris estabeleceram-se na margemsetentrional do Paraíba, a cinco léguas de Campo Alegre daParaíba Nova, no sítio depois conhecido por Minhocal, nas abasda Serra de Tunifel e à margem do Ribeirão São Luiz, confluentedo Rio Preto. Em consequência de constantes ataques, o Vice-Rei D. Luís de Vasconcelos e Souza, ordenou o aldeamento dosíndios, em 23 de junho de 1788, enviando o Sargento-Mor JoaquimXavier Curado (depois General e Conde das Duas Barras) paraatender ao determinado, nos sertões entre os rios Preto e Paraíba.Após uma série de lutas, onde a vitória sobre os Índios se fezsentir, na localidade depois conhecida por Falcão, foi fundadaem 2 de outubro de 1788, uma aldeia com o nome de São LuizBeltrão, em homenagem ao Vice-Rei. Os trabalhos dealdeamento foram entregues ao cap. Henrique José de Carvalho.A este sucederam o Padre Francisco Xavier de Toledo (1788-1821) e o Padre Jacinto Júlio de Queiroz. A parte militar da aldeiafoi entregue ao comando de Joaquim de Araújo Sampaio. Em1801, o Vice-Rei - D. Fernando José de Portugal (depois Marquêsde Aguiar) designou o cap. Inácio de Souza Werneck, o fazendeiroJosé Rodrigues da Cruz, senhor da Fazenda de Ubá, e o Padre

22

Manoel Gomes Leal para catequizarem e aldearem Puris e Araris.Em cumprimento às ordens recebidas, penetraram no territóriodos Coroados, no local onde hoje se ergue a cidade de Valença,à qual deram o nome de Nossa Senhora da Glória deValença. Logo em seguida, no local hoje conhecido porConservatória, foi fundada uma aldeia dos índios Araris. Amelhor descrição dos habitantes indígenas consta de “AIgreja Matriz de São Sebastião de Barra Mansa” de J.B. deAthayde:

Os Coroados eram de pequena estatura, cabeça grande,achatada no alto, e enfiada dentro dos largos ombros. Falavampela garganta e pelo nariz, aspirando muito, e mal abrindo a boca,dando pouco movimento aos órgãos da voz e apoiando-sefrequentemente na última sílaba. As suas casas eram grandes,feitas de madeira e barros, mui compridas, cobertas de feno oude cascas de árvores, com uma só porta, sem janela,sustentadas sobre grande número de esteios a que prendem assuas maças. Acomodam-se as cinquenta, e ainda oitenta ou cemfamílias em cada uma. Ordinariamente cada casa é uma aldeia;raras vezes se encontram duas juntas. Usavam o banho mesmoque, ao se levantarem, estivesse chovendo; os casamentosrepresentavam grandes festas e as mulheres, no momentodas dores do parto retiravam-se para a mata e davam à luzos fi lhos sem assistência alguma. Seus mortos eramenterrados assentados.

Os Puris eram pequenos e bronzeados. Eram de corpoapoquentado; mas valorosos, velhacos, e pérfidos. Nãogostavam da agricultura e viviam em contínua guerra como todogênero de irracionais, de que faziam seu principal sustento. Eramgrandes inimigos dos Coroados; usavam “d’arco e flechaarpoada” e tinham grande estima a qualquer instrumento de ferroe, sobre todos, o machado. Em razão da falta de comunicação,desconhecemos suas principais doenças e os meios usados decura. Na sua língua a residência era denominada cuari, e seconstituía no seguinte: sua estrutura sustentava uma camadainterior de folhas de patioba recoberta por várias camadas defolhas de palmeira. A rede era feita de fibra de embira.

Os Araris quase não apresentavam diferença dos Puris. Eramapenas mais claros, desembaraçados, e mais numerosos.

23

Habitavam também Amparo, Conservatória, Volta Redonda ePiraí. A influência dessa cabilda coroada é digna de nota. Nuncaserá demais recordar que, a mãe de Joaquim José Ferraz deOliveira, o Barão de Guapy era índia Arari, nascida em Piraí, e o1º Barão de Amparo, bem como os seus filhos - o 2º Barão deAmparo, o Barão do Rio Negro e o Barão e depois Visconde daBarra Mansa - escolheram cabeças de índios com turbantes depenas de cores, para seus respectivos Escudos de Armas, nosquais as ditas cabeças aparecem esquartelando no 1º e no 4º.Em 1808 o perigo de ataques de indígenas ainda era grande,principalmente em Volta Redonda, vindo desaparecer em razãodo trabalho do Capitão José Tomaz da Silva, que usando métododiverso, conquistou a amizade e a confiança dos silvícolas, aponto de muitos dos que haviam sido aldeados, inclusive emValença, deixarem o aldeamento para refugiar-se em suapropriedade, onde passaram a viver e a trabalhar pacificamente.

(Texto publicado originalmente no livro Volta Redonda Ontem e Hoje, deAlkindar Costa - 1992)

24

A Instalação da Estrada de Ferro D. Pedro IIAloísio Lélis de Paula

As ferrovias chegaram ao Vale do Paraíba certamente emfunção do café e da persuasão do baronato influenciando asdecisões do imperador. As iniciativas tomadas por D. Pedro IIpara a implantação das primeiras ferrovias no município neutro edepois no vale foram em função dessa classe que o apoiava. Asinfluências britânicas no Brasil a partir da chegada da FamíliaReal Portuguesa em 1808, em função das invasões napoleônicas,permaneceram e fizeram parte da vida dos brasileiros desdeentão. Assim, o impacto da Revolução Industrial inglesa influenciouo consumo dos brasileiros, principalmente com seus produtosmanufaturados, e também contribuiu com o modelo ferroviáriopara as primeiras iniciativas de desenvolvimento brasileiro. Apossibilidade de construir ferrovias para o transporte de todo bemproduzido no Brasil se verificava nos interesses dos barões quese serviam da Corte para alcançar seus objetivos, e também doImpério, que de certa maneira atendia a seus pleitos. Os barõesdo Vale do Paraíba desciam com suas cargas pelos caminhosque até então eram a única forma de alcançar a Corte para venderseus produtos, principalmente o café, e a ferrovia diminuiria otempo gasto com as viagens e os riscos que as caravanas ecargas corriam neste percurso. A partir desses argumentos, emoutubro de 1835, foi apresentado e aprovado o projeto naAssembleia Legislativa e sancionado em menos de um mês peloRegente Diogo Antônio Feijó, através de um decreto queautorizava o governo a conceder a uma ou mais Companhias,que fizerem uma estrada de ferro da Capital do Rio de Janeiropara as Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia, carta deprivilégio exclusivo por espaço de 40 anos, para o uso de carrosde transporte de gêneros e passageiros. Esta foi a primeira Leibrasileira que abordou concessão para construção de ferroviasno Brasil, e seu objetivo principal era ligar através da ferrovia, aCorte as mais importantes regiões do Brasil naquele momento.Apesar de não ter exercido sua função, esta foi a primeira iniciativabrasileira de entrar no processo de construção de ferrovias, assim,outra Lei foi formulada em março de 1836, revogada e substituídacom algumas alterações dois anos depois. Em outubro de 1839,

25

foi solicitado pelo médico inglês Thomaz Cockrane ao governo,o privilégio exclusivo para a construção de uma ferrovia da Pavuna– na divisa do município neutro com a Província do Rio de Janeiro– a Resende – no Vale do Paraíba Fluminense, próximo da divisadas províncias de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Então,em novembro de 1840 foi concedida a Cockrane a primeiraconcessão a nível nacional para a construção de uma ferroviaque iria da Corte à Província de São Paulo. Esta concessão seriaentão o inicio efetivo e Cockrane, no mesmo mês, organizou aImperial Companhia de Estrada de Ferro. Em 1845, cinco anosapós, alegando dificuldades para a obtenção dos capitaisnecessários para a viabilização dos projetos, justificou seu atraso,assim pagou uma multa contratual de 4:000$000 por não teriniciado a construção da ferrovia. Este contrato foi revalidado pormais dois anos, e por fim em 1852 o contrato foi consideradocaduco. Esse evento, por mais caricato que possa parecer,atrasou por doze anos o início da construção da ferrovia. Houveainda outras tentativas de iniciar a construção da ferrovia, masas condições de garantia oferecidas pelo Governo Imperial foraminsuficientes, e a ferrovia caíra no esquecimento. Noutra tentativa,em 1853, o governo imperial propôs que fossem apresentadosnovos projetos para a realização da estrada de ferro, e transferiupara Londres a concorrência para assinatura do contrato. Essanova tentativa criava novas possibilidades, levando para Londresa concorrência e garantindo 7% de juros ao ano sobre o capitalinvestido, mas mesmo assim os europeus, não seguros doinvestimento a ser feito no Brasil deixam de lado o projetoalegando, entre outras coisas, os custos de importação decereais, já que a colheita inglesa fora insuficiente naquele ano.As experiências dos contratos anteriores, doze anos de atrasoaguardando Cockrane, e depois a expectativa frustrada com alicitação em Londres, levam o Governo Imperial propor emfevereiro de 1853 novos projetos para a desejada ferrovia, econtrata diretamente Edward Price. Depois de um ano e trêsmeses transfere a responsabilidade da execução de EdwardPrice para uma companhia no Rio de Janeiro. Assim em apenasquatro meses organiza uma companhia na Corte, aprova osestatutos e contrata a companhia para a execução da linha queligaria o Rio de Janeiro ao Vale do Paraíba, fazendo valer a vontade

26

do Imperador que não podia dispor do tesouro para a construçãoda ferrovia, mas organiza uma companhia e se torna seu maioracionista. Companhia que não poderia ter outro nome senão oseu, “Companhia de Estrada de Ferro D. Pedro II”. As obras foraminiciadas em 11 de Junho de 1855, o engenheiro ChristianoBenedito Ottoni - considerado depois o pai das ferrovias brasileiras- assume a direção da Companhia Ferroviária D. Pedro II. Em 29de Março de 1858 é inaugurado o trecho até Queimados, commenos de três anos. O trecho percorria pouco mais de 48quilômetros, passando por cinco estações: Campo (atualCentral), Engenho Novo, Cascadura, Maxambomba (atual NovaIguaçu) e Queimados. Alguns meses depois mais um trecho forainaugurado com treze quilômetros, no dia 8 de Novembro de 1858,chegando até Belém (atual Japeri), de onde partiu o ramal deMacacos (atual Paracambi) concluído em 1º de Agosto de 1861.Em 1861 foram iniciadas as obras da subida da Serra do Mar, otrecho até Rodeio (atual Paulo de Frontin) foi concluído em 12 deJulho de 1863, aproximadamente dois anos, alcançando assimo Vale do Paraíba, e por fim, chegando em 9 de Agosto 1864 oprimeiro trem de passageiros a Barra do Piraí. Vencida então aserra, e alcançando Barra do Piraí os objetivos eram ir em direçãoas Minas Gerais por um lado, e pelo outro em direção a SãoPaulo. Em 1865 a estrada de ferro já se alongara 133 quilômetrosalcançando Desengano (atual Barão de Juparanã), no municípiode Valença, passando por Vassouras e suas infindáveis fazendascafeeiras. Em direção a São Paulo foram iniciadas as obras em1870, chegando a Barra Mansa em 16 de Setembro de 1871 ondeas festividades de inauguração contaram com a presença daPrincesa Isabel e seu marido, o Conde D’Eu. Chegando em 1873a Resende, Campo Belo (Itatiaia) e Boa Vista (próximo à divisaestadual com São Paulo), e depois Queluz e Lavrinas em 1874.Em 20 de Julho de 1875 atinge Cachoeira (atual CachoeiraPaulista), seu destino final. Esta etapa da construção históricada Estrada de Ferro D. Pedro II demonstra que a participação doGoverno Imperial foi determinante para a concretização daferrovia. As dificuldades contratuais, os jogos de interesses, aevasão de capital entre outras coisas, fizeram parte da históriada construção da ferrovia, mas esta ficou ativa. A ferrovia foielemento de estruturação e ligação da Corte com as províncias

27

do planalto. Foi certamente a mais importante atitude de conquistado vale, e o início de um novo ciclo para as cidades que seserviram da D. Pedro II.

Referências Bibliográficas:

ABREU, João Capistrano de. Caminhos antigos e Povoamento do Brasil.4ª Ed. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1975.AGASSIZ, Luis e Elizabeth. A História nos Trilhos. ANPF – AssociaçãoNacional de Preservação Ferroviária. Disponível em: <http://www.anpf.com.br/histnostrilhos/ historianostrilhos 15_ fevereiro 2004.htm>Acesso em: 04 jan 2009APFSMG, 2008 – Associação Pró Ferrovias do Sul de Minas Gerais.Disponível em <http://www.geocities.com/Area51/Realm/7805/Sapucahy.htm>. Acesso em 23 dez. 2008.BELCHIOR, Elysio de Oliveira. Mesa-redonda: Momentos FundadoresVI. 1. O Rio de Janeiro e a Formação Nacional. Revista do InstitutoHistórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro, a. 161, n. 408, pp. 225-237. jul./set. 2000.BRAME, Fernando Ribeiro Gonçalves. O Império Sobre os Trilhos: Aestrada de ferro como agente de desarticulação socioespacial da ÁreaMetropolitana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UFRJ, 2004.LAMEGO, Alberto. O Homem e a Serra. Rio de Janeiro: IBGE, 1950.Processo de Tombamento Estadual “Caminhos de Minas” E-03/31486/83. Base Cartográfica: parte da Carta corográfica da Província do Rio deJaneiro - F4 MAP 618, fl. 04. Arquivo Nacional do Estado do Rio deJaneiro. Sem escala.LOPES, A.C. A Aventura da Cidade Industrial de Tony Garnier em VoltaRedonda. Alberto Costa Lopes. Rio de Janeiro. UFRJ, 1993. pág. 10.dissertação de Mestrado.VARGAS, Getúlio. A Nova Política do Brasil. Volumes I. Rio de Janeiro,Livraria José Olympio Editora, 1938

28

A IndustrializaçãoAloísio Lélis de Paula

A década de 1930 assistiu ao início da industrialização regional.A implantação das indústrias atraiu esses trabalhadores ruraisque estavam desacampados, que chegavam com a expectativado trabalho industrial, mas a experiência rural não lhes davamuitas possibilidades senão os trabalhos mais rudes e semtrégua. A industrialização, juntamente com a oferta de águas peloRio Paraíba do Sul, associada à facilidade do transporte pelasferrovias, somaram estes fatores que fizeram com que BarraMansa despontasse como principal região econômica de nossopaís. Os caminhos ferroviários foram essenciais para atrair novosempreendimentos. A economia, ainda ruralista, com uma cidadeconfigurada pelas fazendas de café que se tornaram grandesáreas de pastagens com rebanhos que se multiplicavamrapidamente para atender a demanda das iniciativas daspequenas indústrias de laticínios que seguidamente se instalaram.Assim, a economia se altera para um novo momento, em que acidade é destacada pela posição de grande centro agrícola-pastoril. Mesmo com a economia agropastoril, a cidade por suavocação, foi indicada por Cincinato Braga, em 1919, como regiãoideal para o estabelecimento de indústrias siderúrgicas, pelafacilidade do transporte do minério pelos trilhos vindos das regiõesmineiras, e da partida do aço para as diversas regiões do Brasilpor estes mesmos caminhos. A quebra da política do “Café comLeite”, em 1929, pelo Presidente Washington Luis, quando fazapoio político ao Presidente do Estado de São Paulo, Júlio Prestes,para candidatura à Presidência da República, afronta os políticosmineiros, gaúchos e também paraibanos que não aceitavam orompimento com a política estabelecida até então, assimestabelecendo o golpe de estado que depôs Washington Luisem 1930, a menos de um mês para o término seu mandato. Apolítica ruralista é desfeita, e a cidade formada de fazendas e deatividades agropastoris, apesar de ser ponto de convergência demuitos caminhos e ferrovias, inicia um novo ciclo econômico, aindustrialização. Com a Revolução de 1930, o país toma outrorumo. A vocação siderúrgica apontada por Cincinato Braga tomafôlego pela determinação de Getúlio Vargas em construir um

29

projeto de nacionalidade, inicia a industrialização de Barra Mansa.O início da industrialização brasileira foi apressado pela depressãoamericana que teve seu ponto culminante em 1929 e, o Brasilprecisava ser rápido. O Moinho Santista, que possuía um escritóriono Rio de Janeiro para a distribuição de farinha de trigo,encomendou um projeto inglês para a construção de um moinhono vale do Paraíba em 1928, e assim inicia a obra. O MoinhoSantista iniciou suas atividades em Barra Mansa em 1932, nãocomo pioneirismo industrial, mas como a primeira construçãode grande vulto. À margem da Ferrovia Oeste de Minas distribuíasua produção de farinha de trigo por toda a região fluminense emineira. As possibilidades ferroviárias buscaram os olhares demuitas outras indústrias e, por alguns anos foram promovidasnegociações até que, em 1937, três grandes indústrias seinstalam em Barra Mansa, além das demais indústrias menores.A Cia Industrial Comercial Brasileira de Produtos Alimentares(Nestlé) que pela oferta da maior produção de leite do Brasilescolheu Barra Mansa para sua segunda fábrica em nossopaís, a Cia Metalúrgica Barbará; a Siderúrgica Barra Mansa(SBM), pela oferta do minério de ferro que vinha de MinasGerais pela Ferrovia Oeste de Minas e a possibilidade dedistribuição da produção para os três grandes centrosurbanos: Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Essasindústrias foram o marco da industrialização de Barra Mansa, eassim, depois destas, outras indústrias buscavam as facilidadesque a cidade dispunha a oferecer.

Referências Bibliográficas:

BRAME, Fernando Ribeiro Gonçalves. O Império Sobre os Trilhos: Aestrada de ferro como agente de desarticulação socioespacial da ÁreaMetropolitana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UFRJ, 2004.LAMEGO, Alberto. O Homem e a Serra. Rio de Janeiro: IBGE, 1950.LOPES, A.C. A Aventura da Cidade Industrial de Tony Garnier em VoltaRedonda. Alberto Costa Lopes. Rio de Janeiro. UFRJ, 1993. pág. 10.dissertação de Mestrado.VARGAS, Getúlio. A Nova Política do Brasil. Volumes I. Rio de Janeiro,Livraria José Olympio Editora, 1938

30

Grupo Escolar Fagundes VarelaAlzira Ramos da Silva

Oh! Que saudades que tenhoDa aurora da minha vidaDa minha infância queridaQue os anos não trazem mais

Quem não recorda destes versos?Sei, que meus ex-colegas do curso primário do saudoso Grupo

Escolar Fagundes Varela, hão de se lembrar, pois todos nóséramos incentivados a decorar e recitá-los em nossas salas de aula.

Estes versos são de Casimiro de Abreu, (1830-1856), poema“Meus Oito anos”.

Tenho saudades... daquelas mestras sábias e dedicadas:professoras: Nair Calderaro, Júlia Fonseca Franciscone, ZéliaJardim Geraidine, Helena Amaral, Beokis Campos Cunha, Mariado Carmo e Eliza Schettino, Berenice Mattéa, Lucy Lourenço,Zulmira Faria, e muitas e muitas outras, que além de nos ensinaras matérias essenciais como: português, matemática, geografia,conhecimentos gerais (higiene, cidadania, puericultura, música)e catecismo, (pelo saudoso padre André), esmeravam-se paranos tornar pessoas sensíveis e de bem.

Nossas queridas diretoras: D. Maria Luiza Gonzaga e D.Jandira Reis de Oliveira.

Nosso colégio era muito bonito, um prédio de dois pavimentos,com amplas salas, enormes janelas, um belo pátio com algumasárvores, localizado bem no centro da cidade, na Praça Ponce deLeon nº 411 (local onde hoje está instalada uma das agências doBanco Itaú). Na década de 1940, antes de entrarmos nas salasde aula, nos organizávamos em fila e cantávamos o HinoNacional, e nas datas festivas os hinos referentes a cada umadelas. Exemplos: Independência, Proclamação da República,Bandeira, das Américas, do Expedicionário, Duque de Caxias,da Árvore.

Fazíamos canteiros e plantávamos flores. Cada professoraescolhia um formato: quadrado, redondo, losango, triângulo,

31

estrela, lua, etc. Para nossa turma, D. Nair Calderaro escolheu oformato de um coração; todo plantado de violetas de 20centímetros nas bordas e ao centro, rosas, cravos, margaridas,etc... Todos nós cuidávamos com muito carinho destes canteiros,e cada turma queria que o seu fosse o mais belo.

Havia os desfiles cívicos, nos dias 7 de setembro e 3 deoutubro, e muitas outras coisas maravilhosas como: aula demúsica, saudações aos dirigentes, apresentação de teatro, etc...

Todos os meus ex-colegas, sem exceção, conseguiram osmelhores empregos nas grandes firmas e empresas daqui, eem Volta Redonda, e logo destacaram-se como encarregados,gerentes e chefes.

Ali estudaram as mais ilustres personalidades da cidade, como:Dr. Leandro Álvaro Chaves (advogado e co-fundador do UBM –Centro Universitário de Barra Mansa, e primeiro presidente da 4ªsub-seção da OAB, entre outros feitos de renome), Haroldo Horta(advogado e jornalista), Plínio Carvalho (ex-gerente da COBAL -Companhia Brasileira de Alimentos e alto funcionário da CSN),Aparício Guilherme Braz (advogado, colunista, mestre decerimônias), Romilda Collistet (professora e diretora), NildaBecheteluff (funcionária dos Correios), Jorge Bastos (desenhistada Barbará), Alírio Marques Pinto (bancário), José Luiz Francunha(cineasta), Leda Fonseca (advogada), Júlia Vieira (médica), LuizCarlos (funcionário da Du Pont), Roberto de Paula Silva(funcionário da Prefeitura), Terezinha Guimarães Cotia, entremuitos outros, que não é possível citar aqui.

Tudo isso devemos às nossas queridas e incansáveismestras, que tiveram grande participação na formação de todosnós, ex-alunos do Grupo Escolar Fagundes Varela.

Mesmo tendo que galgar novos caminhos...

(Publicado originalmente no livro Tenho Saudades, Alzira Ramos – 2011)

32

A Matriz de São SebastiãoAna Maria Carvalho Alves

A história da Igreja Matriz de São Sebastião está intimamenteligada à origem da cidade que, inicialmente, chamava-se SãoSebastião da Barra Mansa. A região constituía uma imensasesmaria, que compreendia toda a terra que margeava o rioParaíba, desde a foz do rio Bananal até o córrego conhecido comoBarra Seca ou Barra Mansa, obtida em 1764 por FranciscoGonçalves de Carvalho. A denominação Barra Mansa,identificando o riacho, aparece, oficialmente, em um mapa nacarta cartográfica da Capitania do Rio de Janeiro em 1767. Àmargem direita do pequeno curso d’água, na fazenda do Ten.Cel. Henrique Vicente Louzada de Magalhães, se ergueria, porvolta de 1800, uma tosca capela, dedicada a São Sebastião.Historicamente, núcleo inicial da atual cidade, na época, local deparada para viajantes e mercadores com destino à Corte. Formou-se, à beira do riacho, uma pequena povoação, que ficou conhecidacomo São Sebastião da Posse. No entanto, a partir de 1811, como casamento do Capitão-Mor Custódio Ferreira Leite com a filhado Tenente-Coronel Louzada de Magalhães, o lugarejo encontrounovos rumos. Foi o Capitão-Mor Custódio Ferreira Leite quem,em terreno doado por Manoel Marcondes do Amaral, fez ergueruma nova capela, em louvor a São Sebastião, junto à EstradaGeral, no largo onde hoje se situa a principal praça da cidade.Em 1839, Custódio Ferreira Leite, o Barão de Ayuruoca, deu inícioà construção da igreja, que só foi concluída em 1859, após a“vila” ter sido elevada à categoria de cidade. A edificação teveinfluência de moldes neoclássicos, traçados pelo arquiteto daMissão Francesa de 1816, Gran Jean de Montigny. Era divididapor dois corredores e a nave central separada por duas paredes.A nave central continha vários nichos e possuía um grande ediversificado acervo de imagens. O Largo da Matriz, ajardinadoem 1880, passou a ser chamada Praça Ponce de Leon. A cidadereverencia como seu fundador, nos atos oficiais, o Capitão-MorCustódio Ferreira Leite, mas tributa as honras devidas a Manoel

33

Marcondes do Amaral, que, além de doar “cem braças quadradas”para a construção da igreja, também doava terrenos a quemquisesse construir no lugar e ali permanecer.

A população de São Sebastião da Barra Mansa, em 1824, eraprovavelmente de 1800 habitantes, em cujo território existiamaproximadamente 360 fogos (casas). Quando passou a Curato,em 1829, o número elevou-se para 2200 habitantes. Em 1880, apopulação total era de 28.702 habitantes, dos quais 14.822 eramlivres e o restante 13.880 escravos. Os escravos que vinhampara Barra Mansa eram de Angola (Cabinda e Benguela), doCongo, da Guiné e de Moçambique, predominando, entretanto,os de nação Guiné. Os escravos, logo que chegavam, eraminiciados na prática da religião Católica Apostólica Romana, queaceitavam e seguiam com fervor, apesar de, em sua maioria,serem fetichistas. A outra parte, formada de haussás, nagôs,gêgês, minas e cabindas, entre outros, que professava a religiãode Maomé, resistiu sempre à fé cristã e era, com o maiorconstrangimento, que aceitava a imposição dos sacramentos.Os anos foram passando e a Paróquia ficou sob os cuidadosdos Padres da Congregação do Verbo Divino (SVD). PadreGuilherme Münster (alemão), o 1º deles, desembarcou nestacidade, no dia 14 de abril de 1929. Era um domingo de Páscoa,presidiu sua primeira missa na Matriz, na companhia dofranciscano Frei Adolfo Thoonsen, oitavo e último párocofranciscano. A crise socioeconômica e política de 1929 se fazsentir também em nossa região. As demissões em massa e ofechamento de indústrias provocaram a fome e a miséria. A quedade preço do café afetou diretamente os fazendeiros, causandograndes consequencias para toda a população. As acomodaçõesparoquiais eram pequenas, antigas e em mau estado deconservação. O cuidadoso pároco enfrentou situações difíceis,mas, em pouco tempo, o resultado começou a aparecer. Comoartista plástico, escultor, Pe. Guilherme cuidou do seu interior e,com pinturas alegres e coloridas, deixou a Matriz muito bela paraa comemoração do seu 1º centenário, em 1939. Com astransformações econômicas ocorridas na região, decorrentes da

34

industrialização, a população do município aumentou, crescendotambém o número de fiéis da Igreja. Ao lado da nave centralhavia um salão que serviu, por um bom tempo, para ofuncionamento da Escola Paroquial São Sebastião, utilizado,também, para o Cinema Paroquial. Este era o único local paraas reuniões, catequese, teatro e confraternizações. Em 1958houve uma reforma arquitetônica na Igreja Matriz, visandoaumentar o espaço físico para acolher o número crescente defiéis. Outro importante motivo foi o comprometimento, por cupins,das madeiras do interior da nave e do altar. A reforma aconteceuno período de 1958 a 1962, alterando a sua arquitetura neoclássicapara o estilo eclético. Foram retiradas as paredes e implantadasas colunas, alargado o presbitério (local onde está o altar) econstruído o andar superior. Com essas modificações o espaçofoi triplicado para a acomodação e acolhimento dos fiéis, quevêm participar das missas e celebrações, bem como das diversasatividades pastorais que nela ocorrem. A Igreja Católica éconsiderada uma das maiores instituições religiosas e políticasda humanidade, desde o surgimento da civilização romana atéos dias atuais. Os projetos desenvolvidos pelas comunidadespertencentes à Igreja Matriz de São Sebastião seguem asdiretrizes do Vaticano, procurando contribuir para uma práticaconsciente e humana do cidadão. As diversas pastorais,atualmente em número de trinta, formadas por representaçõesdas comunidades, buscam desenvolver, não só a fé cristã, comotambém a formação de uma consciência de cidadania, além deacolhimento e orientação, entre outras características. A Matrizde São Sebastião representa um grande patrimônio histórico ecultural de nossa cidade. Preservar sua história deve ser nossocompromisso.

35

Ataulpho de PaivaAndré Couto

Caiu praticamente no esquecimento em Barra Mansa apresença na cidade de um quase barra-mansense, aqui chegadoainda menino nos tempos do Império, e que na primeira metadedo século 20 desfrutou de considerável notoriedade no país. Trata-se do advogado e magistrado Ataulpho de Paiva, que no seu vastoe variado currículo exibe o posto de ministro do Supremo TribunalFederal, a presidência da Academia Brasileira de Letras e umpapel destacado no combate à tuberculose entre nós, tendo sidoinclusive um dos principais responsáveis pela introdução davacina BCG no país.

Ataulpho Nápoles de Paiva nasceu no extinto município de SãoJoão Marcos, em 1º de fevereiro de 1865, filho do tenente JoaquimPinto de Paiva e de Feliciana Rosa do Vale Paiva. Em 1871,quando tinha apenas seis anos de idade, transferiu-se com afamília para Barra Mansa, onde fez seus estudos primários.Apesar da modesta condição social de sua família, seu excelentedesempenho escolar abriu-lhe as portas do Colégio AlbertoBrandão, em Vassouras, onde pôde realizar gratuitamente ocurso secundário. Ao completar 18 anos, matriculou-se naFaculdade de Direito de São Paulo, que junto com a de Recifeformava então os dois únicos cursos jurídicos do país. Em seusperíodos de férias em Barra Mansa, onde sua família continuavaresidindo, ganhava algum dinheiro dando aulas preparatórias paraos candidatos ao disputado Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro.Concluída a formação universitária em 1887, Athaulfo retornoude vez a Barra Mansa, estabelecendo escritório de advocaciaem companhia de Adolfo Burgos Ponce de Leon, figura quedesfrutava então de considerável prestígio no município, tendo jáexercido os cargos de juiz municipal e vereador. Em 11 dedezembro daquele ano, o jornal Aurora Barramansense noticiavaseu retorno à cidade e dedicava-lhe muitos elogios. Suapermanência em Barra Mansa durou pouco mais de dois anos,porém, visto que seria nomeado em seguida juiz da comarca dePindamonhangaba (SP). Ali também permaneceu por poucotempo, transferindo-se logo depois para o Rio de Janeiro, entãocapital do país, para trabalhar no Tribunal de Justiça do Distrito

36

Federal. O renome adquirido naquele órgão levou-o a sernomeado, em 1897, juiz do Tribunal Civil e Criminal, também nacapital. Em 1905, atingiu o posto de desembargador da Corte deApelação do Distrito Federal, e foi dessa posição que enviou votosde boas festas ao jornal Barra Mansa, em fins de 1909. Napresidência da referida Corte a partir de 1912, cumpriu importantepapel nas reformas Rivadávia Correia e João Luís Alves, queintroduziram grandes modificações na organização judiciáriabrasileira. Em 1932, com a tardia criação da Justiça Eleitoral nopaís pelo governo do presidente Vargas, foi nomeado presidentedo Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal. Em abril de 1934atingiria o ponto culminante de sua carreira jurídica ao sernomeado ministro do Supremo Tribunal Federal; posto queocuparia até novembro de 1937, quando foi compulsoriamenteaposentado dias após o golpe de Estado que implantou a ditadurado Estado Novo. Tinha então mais de 70 anos de idade, e essafoi provavelmente a causa de seu afastamento do STF, já quesua postura pragmática jamais o indispusera politicamente comas altas esferas do poder.

Ataulpho de Paiva cedo manifestou preocupação também comas questões relativas à assistência na área da saúde, e comomembro do judiciário trabalhou na organização das bases jurídicasda assistência pública e privada sob inspeção do Estado no país,tendo representado o governo brasileiro em congressos sobre otema realizados em Paris (1900) e em Milão (1906). Em 1912assumiu a presidência da Liga Brasileira Contra a Tuberculose,importante instituição filantrópica criada em 1900 por médicos eintelectuais para dar combate àquela gravíssima enfermidade,que então atingia a população brasileira em largas proporções.Numa época em que o Estado não promovia ações eficientes deprevenção à doença e de assistência aos enfermos, a Ligadesempenhou papel relevante nesse campo. Após um curtomandado de dois anos, voltaria a presidir a Liga em 1919,permanecendo no posto, como presidente perpétuo, até o finalde sua vida. Em 1927, a Liga deu início à vacinação contra atuberculose (BCG) no Brasil, a partir do Rio de Janeiro, e nomesmo ano criou o Preventório Dona Amélia, na ilha de Paquetá,também na capital federal, pioneiro no tratamento de criançastuberculosas no país. Nos anos finais da década de 20, após ogoverno federal finalmente iniciar uma política pública de

37

prevenção e tratamento da doença, criando a Inspetoria deProfilaxia da Tuberculose, a entidade presidida por Ataulpho dePaiva passou a priorizar a fabricação da vacina BCG. Em suahomenagem, em 1936 a Liga contra a Tuberculose passou a sechamar Fundação Ataulpho de Paiva, assim permanecendo atéos dias de hoje, quando ainda desempenha importante papel naprodução da BCG. Apesar de não ser exatamente um homem deletras, algumas obras na área jurídica valeu-lhe a eleição para aAcademia Brasileira de Letras, em dezembro de 1916, ocupandoa cadeira de nº 25, cujo patrono é o poeta Junqueira Freire. Tomouposse em maio de 1918, e presidiu a prestigiada instituição duasdécadas depois, entre 1937 e 1938. Após sua morte, o escritor etambém acadêmico Austregésilo de Athayde declarou, no seuestilo rebuscado e pouco profundo, que se faltava títulos literáriosa Ataulpho, ele sempre procurou compensá-los devotando-se aosinteresses da Academia, “fazendo o papel das abelhas que nãoparticipam dos voos nupciais na primavera, que nunca enfrentama glória das alturas ensolaradas, mas realizam o trabalhoindispensável da colmeia”. Um perfil mais interessante de Ataulphode Paiva seria apresentado, porém, pelo escritor paraibano JoséLins do Rego, um dos grandes do romance regionalista brasileiroe seu sucessor na cadeira 25 da Academia. Obrigado a dissertarsobre seu antecessor no posto que então assumia, José Lins ofez na prosa solta e informal que o caracterizava, e que no casoaqui focalizado parece reforçada por certa proximidade pessoalcom o homem que aqui focalizamos. Num discurso dominadopela sinceridade, pouco comum em ocasiões como aquela, emque se espera solenidade, ainda mais numa casa por si já tãosolene como a ABL, o escritor paraibano ressaltou os traços devaidade, calculismo e superficialidade intelectual de Ataulpho, bemcomo a sua condição de cultor das aparências sociais. E sem aagressividade que talvez esteja sendo aqui sugerida, afirma queAtaulpho “chegou ao Supremo Tribunal Federal sem ter sido umjuiz sábio e à Academia Brasileira de Letras sem nunca ter gostadode um poema”. Sua apurada elegância no trajar – já notada peloacadêmico Medeiros e Albuquerque no discurso pronunciado porocasião da recepção a Ataulpho na ABL, em 1918 – também nãopassaria despercebida por José Lins do Rego, para quem Ataulpho“caprichava no talho de seus casacos, no trato de seus bigodes,nos laços de suas gravatas”. Homem de trato ameno, procurava

38

ser sempre agradável com seus interlocutores, fugindo invariavel-mente dos confrontos. Já quase nonagenário, se perguntavamsobre a sua idade dizia não saber: “os livros da igreja de SãoJoão Marcos foram destruídos pelas águas da Light”, brincava.José Lins não deixa de assinalar, porém, que alguns dos maisconsagrados nomes da poesia nacional, como Carlos Drummondde Andrade e Augusto Frederico Schmidt, dedicaram artigos emhomenagem a Ataulpho, por ocasião de sua morte. Homenagensjustificadas admite Jose Lins, porque em seu apego às aparênciasacabava, paradoxalmente, por ser autêntico e sincero E acres-centa: “morreu deixando saudades, porque fez amigos eternos”.

Ataulpho de Paiva desempenhou ainda papel de destaque emdiversas outras instituições importantes: presidente do ConselhoNacional do Trabalho, criado pelo presidente da República ArturBernardes em 1923, e que mais tarde embasaria a criação doMinistério do Trabalho por Getúlio Vargas; presidente do recém-criado Conselho Nacional do Serviço Social, em 1940,permanecendo no posto até morrer; sócio benemérito daAssociação Brasileira de Imprensa (ABI); membro honorário doInstituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e da AssociaçãoComercial do Rio de Janeiro; membro fundador da Cruz VermelhaBrasileira; membro do conselho executivo da Liga de DefesaNacional e do conselho deliberativo da Legião Brasileira deAssistência (LBA). Entre suas obras de maior destaque estão: OBrasil no Congresso Internacional de Direito Comparado de Paris(1900), Assistência pública, sua função jurídica (1903), Assistênciapública (1907), Justiça e assistência: os novos horizontes (1916),Assistência pública e privada no Rio de Janeiro (1922) e Oraçõesna Academia (1944).

Ataulpho de Paiva jamais se casou e não deixou filhos. Faleceuem 8 de maio de 1955, no Rio de Janeiro. Seu nome foi dado àprincipal avenida do bairro do Leblon, no Rio, bem como a umalocalidade no distrito de Antônio Rocha, em Barra Mansa.

Referências Bibliográfica:Dicionário da Primeira República. Cpdoc-FGV.Academia Brasileira de Letras (site oficial).Supremo Tribunal Federal (site oficial).Fundação Ataulpho de Paiva (site oficial).

39

Cine Éden, uma PaixãoAntônio de Oliveira Leal

A infância é o fator mais marcante na vida de uma pessoa,seja pela pureza de alma das crianças, seja pela memória fresca,guardando sempre na mente os fatos vividos naquela encantadorafase. Hoje, com setenta anos, lembro-me com todos os detalhese minúcias da Fazenda Crissiúma, onde, ao lado de meus primos,fiz as mais gostosas e alegres travessuras de garoto peralta;lembro-me também, com muita saudade da Fazenda Antinhas,dos meus pais, onde passei grande parte da minha pré-adolescência; mas o que me marcou profundamente foi o CineTheatro Éden, situado na Avenida Joaquim Leite, esquina com aDuque de Caxias, onde hoje é o edifício Éden.

O cinema começou em Barra Mansa por volta de 1910, comum senhor de sobrenome Mantovani, que tinha um projetor de16m/m, e andava de cidade em cidade levando a máquina e rolosde filmes, tornando o cinematógrafo (primeiro nome da SétimaArte) conhecido na região sudoeste do Estado do Rio de Janeiro.Interrompendo a narrativa, pergunto ao leitor por que a nossaregião é chamada de Sul do Estado, é só ver o mapa paraconstatar o que escrevo. Mais tarde, ainda no cinema mudo,passou a funcionar com um só projetor de 35m/m o Cinema Éden,na Avenida Joaquim Leite, esquina com a Praça da Liberdade,onde mais tarde foi o Cine Palácio, e hoje é a Casas Bahia. Ocinema teve um avanço fabuloso em todo o mundo, tornando-sea principal e mais barata diversão da humanidade, avanço quese tornou maior com a chegada do cinema falado, chamadoMovietone. Esperidião Geraidine, um homem sério de grandevisão comercial, tinha uma torrefação de café em nossa cidadee achou que Barra Mansa já merecia uma boa casa deespetáculos, então construiu o Cine Theatro Éden, inauguradoem 1924, que foi, na minha opinião, a mais bonita e clássicaconstrução já havida em Barra Mansa, com linhas muito elegantes,interna e externamente. Meu tio J.B. Leal trabalhava em Resende,sendo gerente do Cine Central, do senhor João França. O Sr.Esperidião propôs ao tio Leal voltar para Barra Mansa, e ele veiogerenciar o Éden. Meus pais não moravam na cidade e eu vimestudar, ficando na casa de meus avós paternos, que era

40

germinada com a casa dos tios Leal e Laura. Após a primeiratarde de aula com minha tia Ritinha, fiquei com muita saudadede meus pais e queria voltar pra casa a todo custo. Tio Leal vendoo desespero do garoto de sete anos, levou-se ao Éden para queeu me distraísse, foi água na fervura, pois a partir daquele diafiquei completamente apaixonado por cinema, paixão que continuaaté hoje. Era o dia 25 de março de 1935, e o filme foi o primeiroestrelado por Johnny Weissmuller: “Tarzan, o Filho da Selva”.

O Éden tinha três pavimentos, sendo os dois mais altos demadeira nobre trabalhada; no térreo ficava a platéia, com 504lugares; no segundo pavimento eram localizados 14 camarotescom capacidade de cinco lugares cada um, com acesso por umaescada de madeira que começava na sala de espera e quetambém levava à cabine de projeção; o terceiro pavimento é ondeficava a geral, com 150 lugares, tendo também um enorme sãonobre com frente para a avenida Joaquim Leite, e lá eramrealizadas festas, reuniões, palestras e conferências, o acessoao último andar era feito também por uma escada de madeirainterna, nas laterais.

O prédio tinha cinco portões de ferro, gradeados, enormes, eportas internas de madeira, com frente para a avenida e comsaída para a rua Duque de Caxias, onde três imensos portões demadeira e de correr, davam escoamento ao público da plateia, emais dois iguais aos primeiros, que serviam de acesso ao enormepalco e aos dez camarins para os atores teatrais. Naquele palco,companhias teatrais famosas apresentaram grandes peças aonosso povo, tendo como atores Mesquitinha, Procópio Ferreira,Jaime Costa, João Rios, Déa Selva, Darcy Cazarré, PauloGracindo, Alda Garrido e muitos outros, além de cantores comoFrancisco Alves, Silvio Caldas, Vicente Celestino, Roberto Paiva,Gilberto Alves, Trio de Ouro, Pedro Raymundo, Anjos do Inferno,Grande Othelo, Trem da Alegria (Heber de Boscoli, Yara Salles eLamartine Babo), o concertista de piano Arnaldo Estrela e muitosoutros, além de grupos locais de teatro amador. No Éden conhecios maiores e mais famosos astros e estrelas do cinema, como,Frederic March, Paul Muni, Spencer Tracy, Gary Cooper, NormaShearer, Barbara Stanwyck, Greta Garbo, os irmão Marx, CharlesChaplin, os inigualáveis cômicos Stan Laurel e Oliver Hardy (omagro e o gordo), Joan Crawford, Bette Davis e centenas de

41

outros astros e participantes brilhantes, entre eles, Claude Rainse Walter Brennan, o único coadjuvante a ganhar três oscars.

Deixei para o final falar do Faroeste e dos filmes em série, quelevavam a garotada à loucura. Os seriados eram compostosgeralmente de 12 ou 15 episódios, exibidos as quintas-feiras, osda Republic, e aos sábados e matinês de domingo, os daUniversal e Columbia. Cada episódio com o mocinho, amocinha ou o garoto (geralmente era o Frankie Darro) sendoatropelado por um trem, levando uma flechada de índio, morrendoasfixiado ou sendo torturado nas infernais engenhocas do FuManchu; a cena era apagada e aparecia na tela o letreiro “Voltena próxima semana”. A garotada passava a semana inteiradiscutindo como o herói iria safar-se, tornando o seriado omaior auxiliar dos pais no comportamento dos fi lhos, quenão pisavam na bola para não ficarem sem ver o próximoepisódio, como castigo. Meu grande ídolo do faroeste eseriados era John Wayne, que foi o mocinho de três deles: “OsTrês Mosqueteiros”, “O Trem Ciclônico” e “A Águia de Prata”.Outros seriados que muito me agradaram foram: “A FlotilhaMisteriosa”, com Bob Steele; “Flash Gordon”, com Buster Crabbe,“O Guarda Vingador”, com Lee Powell, e “A Deusa de Joba, como domador de feras Clyde Beatty. Cada dois episódios duravam30 minutos e, para completar o programa, eram exibidos trailers,jornais americanos e nacionais, além de faroeste pequenos, cujotempo de projeção era de 50 a 60 minutos, e cujos heróis eramTom Mix, Buck Jones, Charles Starrett, Tim Mc Coy, Ken Maynard,Bob Steele, Tom Tyler, Harry Carey e Kermit Maynard, que foi omais perfeito cavaleiro da história do cinema. Até 1936, eu achavaque Buck Jones era sinônimo de vaqueiro e não o nome de umator. Certo dia, estavam o tio Leal e o pintor Giovanni Marinspregando fotografias de um faroeste em uma tabuleta e eu, queestava olhando, disse: “oba, vamos ter mais um filme de BuckJones”, e os dois responderam que não era Buck Jones e simJohn Wayne. Na quinta-feira fui ver o seriado e antes foi exibido otal filme, que era “Sorte de Verdade”, que tenho gravado em vídeo.O filme e o mocinho me agradaram tanto, que, a partir daqueledia John Wayne ficou sendo o meu ídolo cinematográfico, comofoi também de quase todos os aficionados do cinema, pois, emmais ou menos 35 anos figurou entre as vinte maiores bilheterias

42

em todo o mundo, sendo seis em primeiro lugar, fenômeno que,creio, nunca seria igualado.

Quem não conheceu o Éden, deve assistir “Cinema Paradiso”.Filme do diretor italiano Giuseppe Tornatore, pois o cinema deuma pequena cidade da Sicilia é o retrato de todos os cinemasde cidades interioranas em todo o mundo, principalmente o Éden,com todos os tipos e costumes da época, como o que dormiadurante a sessão e acordava com o palito de fósforoincandescente em sua testa, os vendedores de balas, o caraque ficava na geral cuspindo nos expectadores da parte de baixo,a garotada da primeira fila, que se masturbava ao ver uma cenade beijo, e o padre fazendo a censura do filme com a tesoura.

Meu querido Éden, você foi demolido, mas viverá eternamentena minha primeira lembrança e na minha sala de visitas, ondetenho uma quadro seu, pintado pelo brilhante artista e amigoClécio Penedo. Éden do senhor Esperidião, do senhor Camerano,do senhor Montuori, do tio Leal, da tia Laura, da D. Hilda, dossenhores Olindino, Fedoca, Fábio Vianna, Costela, Lopes, doCanário, do Norte, do Nicanor, do Lucy, do Eduardo, do Adolar, doGiovanni, do Mozart Cardoso e de tantos outros funcionários comquem tive o prazer de conviver. Éden que alegrou e empolgou aminha infância, que fez todos os meninos sonharem ser alguémimportante um dia, ensinando a eles o caminho da bondade, dorespeito e da honestidade (os filmes da minha infância sóensinavam o triunfo do bem sobre o mal). Deixo aqui, sem quererser piegas, o meu eterno agradecimento e a minha saudade.

(Texto publicado originalmente no livro Prosa & Verso IX, do GrêmioBarramansense de Letras)

43

Revoluções Silenciosas: niilismo emodus vivendi em Barra Mansa na

derrocada da Escravidão (1884-1888)Djalma Augusto dos Santos Mello

Recentemente, participando de um encontro de literatos ehistoriadores no Real Gabinete Português de Leitura, pudedeparar-me com uma vasta produção sobre o “longo século XIX”,tendo como objeto de pesquisa científica, o comportamento deescravos, crioulos alforriados e até um certo movimento feministadas mulheres brancas na Corte e também em cidades comoSão Paulo, Recife e Salvador. Barra Mansa não poderia ser umailha em uma sociedade conservadora à luz do dia, mas nas noitescom iluminação precária, surgiam abolicionistas que retiravamescravos de residências, soltando-os, com o apoio de maçonsque aspiravam à República, enquanto D. Pedro II viajava o mundocom o seu jaquetão, colocando-o numa condição de discrição,voltado para as leituras, ciênciase envolvido com o seu principalhobby: a fotografia.

Entre os anos de 1884 e 1888, Barra Mansa sentiu os mesmosefeitos de um Brasil que se encontrava em uma metamorfosekafkiana, ou seja, o homem escravo tornava-se livre porque omundo estava em uma mudança rápida e em Barra Mansa nãoseria diferente. A mudança no planejamento urbano ainda era lentae gradual, mas a mentalidade sobre um futuro não escatológicomexia com a intelligentsia, permitindo um presente-futuro com oadvento do capitalismo industrial e o Estado republicano, queconsolidava o seu positivismo como filosofia política.

A vinda do projetista e botânico francês August François MarieGlaziou, que ocorreu após o convite de Joaquim Leite Ribeiro deAlmeida, para a criação do Jardim Municipal, atual ParqueCentenário. O Jardim era frequentado somente pelos brancosque apreciavam várias espécies de plantas, como a canforeirado Ceilão, as figueiras da Índia, as palmeiras imperiais das Antilhase eucaliptos australianos. Durante todo o século XX, oshistoricistas produziram livros moldando a sociedade com oDarwinismo social, ou seja, branca e elitizada, mas a história é o

44

alicerce para a compreensão do modus vivendi das alforriadas edas mulheres brancas em Barra Mansa. Enquanto a burguesiatradicional escandalizava-se com a Chiquinha Gonzaga no Riode Janeiro, outras mulheres usaram meios silenciosos para aascensão social e domínio do espaço público. Os estereótiposesquizofrênicos de alguns historicistas do passado nãopermitiram a divulgação sobre o papel social dos escravos noúltimo quartel dos oitocentos. As mocinhas, que pertenciam àsfamílias mais tradicionais de Barra Mansa, como de costume,invejavam as escravas e alforriadas que vendiam seus quitutesnas ruas, o que hipoteticamente deveriam ser democratizadas,sobretudo, no Jardim Municipal. A conquista do espaço públicofoi silenciosa, criticada por muitos, por permitirem as moçoilasde estarem interagindo fora dos eventos privados entre as famíliastradicionais de Barra Mansa e da região do Vale do Café. Estanova mentalidade, fruto das transformações culturais do Brasilna segunda metade dos oitocentos, com a influência francesa ea sua folie que ocupou Barra Mansa e o país.

Eu mesmo deparei-me com uma publicação no jornal “AuroraBarramansense”, às vésperas da abolição da escravatura, deum escravo que pedia encarecidamente a devolução do seu livro“Os Miseráveis” do romancista francês Victor Hugo, publicadoainda sem tradução na época. O número de escravos letradosera irrisório, mas a menção não poderia ser ocultada. Muitascrioulas minas compravam escravas, surrupiando contos de réisde seus senhores e colocando suas escravas em laranjas,ocultando a verdadeira proprietária, como prática comum em todoo Vale do Café e na Corte. No substrato, os escravos e alforriadossentiam na pele as Leis que foram criadas em benefício deles,mas as coisas mudaram com a “brecha camponesa” após acriação da Lei Sinimbu, em 1878, favorecendo a entrada deimigrantes, tornando-se a primeira Lei trabalhista no Brasil, comum regime escravocrata perante um grupo de europeus que nãoaceitavam as más condições de trabalho e sem poder rompercom as parcerias. Entre os escravos e alforriados, restava a LeiÁurea, encerrando um ciclo na História de Barra Mansa e do Brasil.

A historiografia e os seus historicistas positivistas, nosapresentaram uma Barra Mansa e um Brasil entusiasmado coma República, mas não compreendeu o presente-futuro

45

niilistaSchopenhaueriano-nietzschiano em um país que desejavaum progressismo político. O historiador alemão ReinhartKoselleck, mapeia como poucos o desejo do homem comoelemento histórico: “No campo da política pessoal das elites [...]assim como no campo das transformações dos processos deprodução por meio da técnica e do capitalismo industrial, a históriaassegurou e testemunhou continuidade dos planos: jurídico, moral,teológico e político. E a nenhuma dessas transformações faltousentido voltado à ordem divina ou uma regularidade de ordemnatural. Aos acontecimentos imprevisíveis era atribuído um sentidomais profundo ou mais elevado. A tese da capacidade de repetiçãoe, com ela, da capacidade de transmissão de ensinamentosatribuída à experiência histórica era um momento constituinte daprópria experiência: história magistra vitae”. O historiador alemãofoi capaz de perceber a estrutura que é atemporal,metamorfoseada e que ainda é um campo fértil para oshistoriadores de Barra Mansa e da nossa região.

Referências Bibliográficas:

BARROS, José D’assunção. O tempo dos historiadores, Petrópolis, RJ.Ed. Vozes; 2013.Jornal Aurora Barramansense [1884-1888] Academia Barramansensede História.KOSELLECK, Reinhart. Futuro-Passado: contribuição à semântica dostempos históricos, Rio de Janeiro. Ed. Contraponto, 2006.MOURA, A.R. Carlos. Nietzsche: Civilização e Cultura, São Paulo. Ed.Martins Fontes, 2014.

46

Parque Centenário – Jardim das PreguiçasEduardo Augusto da Silva Wernech

É do século XIX o Parque Centenário, projetado pelo francêsAuguste François Marie Glaziou, e está situado à frente do PalácioBarão de Guapy. Suas grades guardam ainda o estilo de umaépoca e seu portal registra a beleza do Brasil Colonial. Tambémé conhecido como Jardim das Preguiças. Local aprazível, comvariados espécimes da fauna e da flora brasileira. O ParqueCentenário de Barra Mansa se encontra inserido em uma áreaurbana de aproximadamente 9.000 m2, e é habitado por diversasespécies animais e vegetais. O parque recebeu este nome em1932, em homenagem ao município de Barra Mansa quandocompletou 100 anos. (AMADO et al, 2010). Já passou por diversasreformas, dentre elas, a mais importante, foi realizada em 1964,pelo então prefeito Moacyr Chiesse, que fez o plantio de diversasespécies no local e hoje continua abrigando uma biodiversidadede espécies de grande importância para a avifauna e de alimentopara as preguiças. No entanto, com relação às espécies vegetais,muitos indivíduos de idade avançada se encontram localizadosem seu interior. Além das espécies vegetais, encontra-se umaavifauna diversificada e cotias, vivendo neste ecossistema. Foiimportante o trabalho realizado neste ano de 2015, com o projetode revitalização que objetivou o plantio de1000 (mil) mudas com57 espécies nativas, para a formação de um sub-bosque,considerando a idade de alguns indivíduos, até mesmocentenários estar chegando próximo do fim de sua vida útil. Sendoassim, se fez necessário o plantio imediato de mudas, para quefuturamente, daqui a 10 ou 15 anos, tenhamos o Parque em boascondições florísticas e em melhores condições que as atuais.Foi tomado o cuidado de inserir mudas de espécies nativas taiscomo Embaúba, Paineira, Figueira Vermelha, Aldrago dentreoutras que sirvam de alimente aos bichos- preguiça (Bradypusvariegatus). Atualmente há 21 indivíduos entre machos, fêmease filhotes. Foi necessário a supressão de 25 indivíduos de Caryotaurens L., da família Arecaceae, conhecida popularmente comoPalmeira rabo-de-peixe, originária do sertão do ACRE, que já havia

47

causado a morte de duas preguiças e causado acidente gravepela toxidade de seus espinhos em trabalhadores do parque queforam imediatamente medicados correndo até mesmo risco demorte. Elas foram substituídas por Cecropia glaziouii, da famíliaUrticaceae, conhecida como Embaúba. Esperamos assimmelhorar o aspecto paisagístico do Parque. Foi criado um decretopara que o Parque fosse transformado em uma unidade deconservação permanente, sendo elevado a Unidade deConservação, e renomeado como “Parque Natural MunicipalCentenário Complexo Auguste François Marie Glaziou”,incorporando todo o seu entorno, e preservando o CorredorCultural. Para finalizar, ressaltamos que a realização do projetode revitalização só foi possível com a parceria estabelecida entrea Secretaria Municipal de Meio Ambiente e DesenvolvimentoSustentável e a OSCIP - Associação Ecológica Piratingaúna.Que fique registrado para a história este trabalho e o empenhode todos.

48

A SAGA DO TREMEvandro dos Reis Brito Sarmento

Barra Mansa é uma cidade estrangulada pela Linha Férrea eseu povo, refém de um Pátio de Manobras.

A Linha Férrea

A Linha Férrea parece eterna. Na década de setenta, a febredos elevados afeta as cidades com o problema de trânsito e seespalha como epidemia. Carretas e carretas transportavam daCSN para o Rio de Janeiro peças metálicas gigantescas, basesda construção dos enormes viadutos na grande cidade paradesafogar o trânsito intenso de veículos, depois da progressivainstalação de fábricas de automóveis em nosso país.

Pasmem, é dessa mesma época o nosso artigo propondoum elevado menos extenso do que fora feito alhures. A nossaproposta teve apoio em planejamento por nós idealizado, queconstituía em um “elevado” para o trem, no sentido Rio – SãoPaulo, a rampa ascendente, hoje, começaria na altura doBarbará e a descendente, após a passagem de nível na entradade Saudade, cerca de três quilômetros de extensão, como asolução secular.

Vantagens mil o munícipe há de contraternar, mas nospermitimos apontar estas: desobstrução do centro da cidade;nova avenida surgiria com duas pistas ladeando o elevado nosdois sentidos de direção de tráfego; e cruzamentos normais,sinalizados, nas consideradas antigas passagens de nível – nolugar das atuais convulsionadas, onde o povo sofre com atravessia entre carros, animais e o assustador apito do trem.

Outros aspectos afloram do âmago do projeto: a redehospitalar que fica do lado esquerdo, sentido Rio Paraíba. Sealguém se vitimar em acidente na Rodovia Presidente Dutra, terámorte iminente por falta de recurso, barrada, hoje, pela passagemde nível com o trem parado ou em movimento na cara de todomundo, inerte, remoendo-se de raiva.

Um proposição bem estruturada traz no seu bojo as fontes derecurso para plena realização da obra. Considerando-se o elevado

49

construído, a nova avenida pronta, nos seus três quilômetros deextensão e o atual valor do metro quadrado de terreno no centroda cidade, passemos, agora, a calcular o número de terrenosque comportariam o lado par e ímpar da nova avenida, quemsabe não dariam para custear a obra? Um gabarito de obras paraaprovar as construções seria incluído no projeto.

A nova rua comercial e maior arrecadação para os cofrespúblicos; a beleza arquitetônica mudaria a feição da cidade, oque já nos dá saudades da nossa Patinho Feio.

O Pátio de Manobras

Manobra – do latim manus – mão de obra. Vaivém delocomotivas, nas estações de caminho do ferro, para organizaros trens na linhas convenientes. Loucura de uma cidade! Queminventou o trem, inventou as manobras e os manobreiros. Asmanobras são necessárias para compor o trem e o manobreiroemprega os meios necessários para conseguir a composição.O trem em si, tem um princípio útil: serve ao homem. O homeminventou o trem para o homem e o homem é o manobreiro quemanobra o trem. Ele cumpre diligentemente o seu papel: comporo trem. Tudo é manobra. O movimento e a evolução dasmáquinas mais vagões formam um quadro “impressionista” dignode figurar em qualquer galeria de arte, famoso será e apreciadopor quem não tem o privilégio de nascer, criar-se, morar e acordartodas as manhãs com o barulho das manobras e apreciando omesmo quadro todos os dias.

Manobras diuturnas. Manobras vexatórias. Tudo para. Otrânsito para. O viandante para. O carro para. O trem para. Umapopulação encurralada, estrangulada, agredida física epsicologicamente. Ninguém passa. Os vagões são barreiras naspassagens de nível, bloqueando-as literalmente. O nosso coraçãotambém para quando o apressadinho pula entre os vagões comos pés apoiados no engate.

Há que se aplicar artimanhas para escapar ao manejocalculado das máquinas – manobra para alucinar, enervar, agitar,intranquilizar, afetar, castigar, dificultar, enfurecer uma populaçãopacata, submissa, que só deseja transitar livre e calma no usodo seu direito constitucional de ir e vir, sem ameaças, sem riscos,

50

sem importunações e sem ser figura principal de cenas brutais,violentas, como a do corpo arrastado, esfacelado por rodastrágicas, vigorosas, mortíferas da anaconda de ferro.

Há décadas esse problema se arrasta, com promessas epromessas de solução. A última: um “outdoor” da altura de umprédio é colocado próximo à passagem de nível central voltadopara a rua José Marcelino de Camargo, propagandagovernamental, disponibilizando verba de mais de quarentamilhões de Reais para as obras. “Ave-te”, fim do Pátio deManobras e o nascimento da rodovia ladeada por trilhosremanescentes. Projeto grotesco. Difícil de entender. As obrascomeçariam logo. Havia prazo para o início. Teve início imediato,mas não teve fim, isto é, por conclusão. A obra foi interrompidada noite para o dia. Não se falou mais na conclusão. A verba?Supomos que foi gasta, não sendo suficiente para concluí-la. Opovo se calou e chorou de tristeza. Mais um projeto que não deuem nada. E o pátio de manobras continua, nas mesmas horas,com apitos e campainhas mais sonoros.

Fico com o meu projeto de quarenta anos atrás, muito maisagora que tivemos a privatização da CSN, significa que temosde quem cobrar diretamente, vez que a linha só existe para servira empresa privada.

Mudos assistimos, mudos ficamos, diante dessa lástima.Ó Deus, onde estás que não nos ouve? Que não vens em nossosocorro? Que não atendes as nossas súplicas? Seria a empresatão pobre, deficitária que não possa retirar de seu vultoso ganho,um mínimo para atender aos anseios de nossa gente?

51

Rialto - Distrito BarramansenseIvan Marcelino de Campos

Era final do século XVIII, e ele já se fazia presente entre os riosTurvo e Bananal.

Habitado pela tribo de índios Puris que moravam em “Cuari”,linguagem usada por eles para denominar a sua residência,habitação simples que era sustentada por uma camada inferiorde folhas de palmeiras.

O então povoado do Divino Espírito Santo da Barra do Turvo,como era conhecido, já servia como suporte de apoio às tropasque por ali passavam com destino aos portos do mar, fazendo aliponto de descanso dos tropeiros.

Com o passar dos anos e o aumento da população, o povoadofoi prosperando, a capela frágil e corroída pelo tempo que lá existia,foi demolida, e iniciou-se a construção de outra para substituí-la.Esta obra iniciou-se em 1833, ano em que o povoado passava achamar-se Curato do Divino Espírito Santo da Barra do Turvo, ea igreja era quem controlava o local. Ela continuou a ser construídae passou por várias etapas até ser concluída em 1887, tendorecebido recursos do Legislativo Estadual. A igreja é hoje opatrimônio histórico mais valioso e um dos mais bem preservadosno município.

Como se pode concluir através dos anais da história, o curatoera de tanta valia que abrigava dentre muitas pessoas importantese influentes da sociedade, o tenente Domiciano de Oliveira Arruda,o padre José Britualdo de Melo e o dr. José Ferreira Nobre, tendoos dois primeiros exercido o cargo de presidente da CâmaraMunicipal de Barra Mansa.

Por meio da Lei Provincial nº 308, de 29 de março de 1844, ocurato foi elevado à categoria de freguesia, mantendo-se comouma das alavancas propulsoras do sucesso do município, tantona agricultura quanto na pecuária.

Um fato que bem justifica isto, politicamente falando, foi aposse do primeiro prefeito nomeado, em 1914, João Luiz Ferreira,ter acontecido no distrito.

Após passar a chamar-se Distrito do Espírito Santo, em 1909finalmente recebeu o atual nome de Rialto.

52

A versão mais aceita de troca para o atual nome é a de que,devido ao rio que por lá passa, o Bananal, percorrer uma área deplanalto, descendo em seguida até desembocar no rio Paraíba.

Um dos marcos importantes na vida daquele distrito foi o ramalferroviário que por ali passava, criado inicialmente para escoar aprodução de café, e, posteriormente, estendida ao transporte depassageiros, servindo também para escoar a produção leiteira.Seu funcionamento deu-se de 1883 a 1965, e muito contribuiupara o desenvolvimento local.

Dentre os nobres e ilustres passageiros, que por aquela ferroviapassaram, podemos destacar o grande jornalista, poeta e bibliófiloLuis Edmundo, que foi também diretor do jornal Correio da Manhã,do Rio de Janeiro, autor de peças de teatro e de diversos livros.Entre eles citamos “O Rio de Janeiro no Tempo dos Vice-Reis”,reeditado pelo Senado Federal recentemente. Ele foi o proprietárioda Fazenda Bela Vista, que tem partes de suas terras situadasno Distrito de Rialto.

Após a desativação da ferrovia, iniciou-se a abertura eampliação da rodovia de ligação entre o distrito e a sede domunicípio, que desde então recebeu diversos reparos, mas até omomento aguarda o tão esperado asfalto para solucionar de vezo grande problema que impede o crescimento local, visto que oacesso é fundamental para o desenvolvimento.

Olhando o distrito, de fora para dentro, vemos que elecontribuiu e continua contribuindo muito para o crescimento domunicípio, exportando: cultura, entretenimento, lazer,hospitalidade, religiosidade, diversões, mão de obra qualificadae oportunidade de trabalho na agricultura, pecuária e indústria.

Não podemos deixar de mencionar as atividades que sãorealizadas pela comunidade com poucos recursos, mas commuita criatividade como: resgate da memória através do livro,criação de Hino e Bandeira do distrito, cavalgadas, romaria ecriação do Centro Rialtense de Cultura, entre outros.

O clima de montanha, as águas cristalinas dos rios ecachoeiras e as matas tropicais de encosta, formam um conjuntoperfeito para quem gosta de curtir a natureza.

Mesmo com todos estes potenciais, temos que admitir que odistrito cresce em passos lentos e o fator responsável por isso éa falta de vontade política em investir lá. Mesmo estando em pleno

53

século vinte e um, a população ainda convive diariamente compoeira no inverno, e lama no verão, por conseqüência das ruaslocais serem de chão batido, que, além do transtorno, aindaprejudica a saúde dos moradores.

Enquanto a pavimentação não chega, só resta aos moradoresa leitura de textos de ilustres personalidades, que através doouvido, da visão, do pensar e do sentir, tira do aprisionamentod’alma, versos e prosas que melhor retratam a localidade, e dentremuitos deles, podemos citar os versos de Alice Borges, “Cantandoao Rio Bananal” e os da professora Matilde Diniz Lacerda, “Rialto”.De Dayse Borges, o conto “Os Bitus”, e o acróstico de autoria daprofessora Marta, que por mais de 30 anos foi diretora da escolaestadual municipalizada daquele distrito.

R ealidade I dealA morL iberdadeT rabalhoO rdem

(Texto publicado originalmente no livro Antologia Grebalista II, do GrêmioBarramansense de Letras)

54

Homenagem à Barra MansaJean Carlos Gomes

Barra Mansa,

Oh! Minha querida Barra Mansa,Tu és a princesinha do Vale do Paraíba,Cortada pelos rios Bananal, Bocaina e Paraíba do Sul...

Desde quando te conheci, quando fui ao GREBAL– Grêmio Barramansense de Letras – em 1998, pela primeira vez,A convite do saudoso poeta patriota, Pedro Viana Filho...

Indo e vindo (de Volta Redonda até aí...) viajo e me inspiroEm tua história rica e lendáriaE em teus causos e costumes peculiares...

Barra Mansa, Rosa dos Vergéis do Paraíba!– Como escreveu a talentosa poeta Lacyr SchettinoEm: Nasce uma Cidade –...

Serviste de itinerário para muitos desbravadoresQue ajudaram a erguer-te...

Possuis uma população mista: formada por descendentes europeus(Portugueses, italianos e espanhóis), mas também franceses e alemães,

Além de uma dinâmica colônia sírio-libanesa,Assim como também de ameríndios e de escravos africanos...

Tu és uma das maiores cidades do Sul Fluminense,Com a segunda maior população da região...

Indo no coletivo intermunicipal, descia perto da Ponte dos Arcos,Do supermercado..., próximo ao GREBAL, na Beira-Rio(Que tinha em suas margens inúmeros vendedores ambulantes),Do outro lado, o bairro Ano Bom, o Ilha Clube, o SESC...

55

Ao passar pelo Parque Centenário(Projeto do renomado paisagista Auguste Glaziou),Localizado em frente ao Palácio Guapy (antiga sede da Câmara Municipal)...

Andando do lado do Jardim das Preguiças, com suas grades que cercamAs tuas árvores altas e centenárias, teus bichos, tuas plantas,Teus bancos, teu coreto vazio, mas encantador...

Ao atravessar pela linha férrea antiga, ouve-se o barulho forteE demorado dos vagões do trem, que às vezes leva-meA uma viagem fabulosa ao passado...

Vejo a antiga Estação,Avisto de longe o Prédio da Prefeitura,Piso e ando na movimentada e apertada Avenida Joaquim Leite,Palco dos tradicionais e inesquecíveis carnavais (pra quem os viveu...),

Passo pela Igreja Matriz, cenário perfeito das festas religiosas,Populares, dos comícios históricos...

Um pouco adiante, pela transversal estreita, a Dr. Mário Ramos,Chega-se ao Centro Universitário...

Ainda na Avenida, a Rodoviária, um pouco mais pra frenteA Fazenda da Posse, onde tudo começou,... Morros, matos, o Rio Paraíba passando,A Barbará... O fim da divisa com Volta Redonda (que foi o seuoitavo distrito)

Pelas mãos do seu principal desbravador e fundador,Custódio Ferreira Leite – O Barão de Ayuruoca –Que trouxe esperança e triunfo para aquela que se tornouA princesinha do Vale do Paraíba e cidade do meu coração!!!

(Texto originalmente publicado no livro Prosa e Verso XV do GrêmioBarramansense de Letras, por ocasião do aniversário de 180 anos deBarra Mansa)

56

Barra Mansa e sua OrigemJosé Carlos Franco Faria

Desde a descoberta do Brasil os portugueses buscaram naregião do Vale do Paraíba vestígios de metais preciosos, índiospara escravizar e estabelecer ligações entre o interior e o litoral.No início do século XVII foram percorridas várias trilhas indígenasque conduziam ao litoral ou ao interior, sopé da Serra daMantiqueira. Daí é que os “Bandeirantes” partiam, até atingir aregião das minas, o caminho cruzava a “Garganta do Embaú”,uma parte baixa da serra onde hoje fica a cidade de Cruzeiro.Este caminho se tornou a mais importante passagem para chegaràs primeiras jazidas de ouro.

Estes desbravadores abriram os primeiros caminhos emdireção ao Vale do Paraíba e a Serra da Mantiqueira. Nosso Valedo Paraíba sofreu influencia de diversos povos para se constituirno que é hoje, uma das grandes regiões de nosso País. Índios,africanos e portugueses principalmente ajudaram a materializaro que é hoje nosso Vale do Paraíba. O encontro dos índios comos tropeiros vindos de todas as partes promoveu a mistura depovos de realidades diferentes. Este encontro nem sempre foitranquilo, a ponto dos governantes portugueses inundar aldeiasde índios das vários tribos da região.

Assim, os Puris, os Araris e os Coroados foram reunidos semse misturarem, em aldeias com “padres” para catequizá-los. Naregião do distrito de Rialto, isto aconteceu com os índios Puris;em Resende, no distrito da Fumaça, foi criada a aldeia de S. VicenteFerrer; no final, prevaleceu o que havia de melhor em cada cultura.

Nós de Barra Mansa temos uma característica que se confundecom paulistas, mineiros e cariocas. Somos brasileiros ecléticos,mas não podemos deixar de relembrar com respeito nossosprimitivos habitantes, isto é, os índios, os negros e portugueses,que aqui se mesclaram. Todos trabalharam no cultivo do café,do algodão, cana de açúcar, proporcionando nossa riqueza.

Herdamos tudo naquele tempo, tínhamos tudo de melhor quea Europa produzia. Nas casas tivemos: porcelanas, pratarias,tapeçarias, móveis e cristais. Naturalmente, à custa do trabalhodesses africanos, índios e misturas várias. Hoje esta gente de

57

origem eclética é até chamada de maneira depreciativa, orasomos caboclos, ora caipiras, mas em verdade somos barra-mansenses, do Vale do Paraíba.

Recebemos a todos que aqui vêm com atenção e boa vontade,assim comprovamos que onde surgimos havia um ribeirãochamado de Barra Mansa, e por isso somos cidadãos brasileirosmansos e cumpridores de nossos deveres e obrigações. Nuncativemos ouro em nossas terras, mas um rio com muita água eterra boa. Até hoje por aqui restam comunidades descendentesde escravos rio a fora. São os quilombos encontrados em SãoJoaquim, Valença e Rio Claro.

Os índios aldeados se dispersaram e se mesclaram,mostrando que o Vale do Paraíba é terra de todos, assim algumasfamílias de Barra Mansa mostram sua ascendência com orgulho.

Tudo que valoriza nossa mescla social é extremamenteimportante, ajuda a marcar a personalidade de nossa cidade.

Sei que o rio Paraíba é o grande vetor de nosso progresso,nossa riqueza vem da água, tudo depende dela, nem é precisodizer que ela mata nossa sede, ajuda na climatização e na higiene.Por isso é preciso cuidar bem do nosso rio, ele é nossa vidasobremaneira. É preciso mostrar e ensinar isso nas escolas.Como dizia a poeta Lacyr Schettino: “Barra Mansa é a Rosa dosVergéis do Paraíba”.

O nascimento de nossa cidade ocorreu após 1764. Por estaocasião havia terminado o “ciclo do ouro”, em Minas Gerais. Estaregião do Vale do Paraíba era ainda uma área completamenteselvagem e habitada somente pelos índios, nossos primitivoshabitantes. Surgiu a palavra “Barra Mansa” designando umpequeno rio que era afluente do Rio Paraíba do Sul, em suamargem direita. Esta palavra é encontrada em um mapa da regiãoda Capitania do Rio de Janeiro, mandado confeccionar pelo Vice-Rei Antônio Álvares da Cunha (Conde da Cunha).

Por esta ocasião, o governo português já se preocupava coma interiorização e exploração de terras brasileiras. Até então osportugueses tinham se preocupado só com o litoral do Brasil.Começou então a distribuição de terras no interior para pessoasque se dispusessem a criar fazendas de gado e mantimentos.Estas áreas recebiam o nome de “Sesmarias”, e por isso tinhama dimensão de 6 léguas quadradas.

58

Em 30 de agosto de 1764, o cidadão Francisco Gonçalves deCarvalho recebeu uma sesmaria que ia da foz do Rio Bananal,continuava pela margem direita o Rio Paraíba do Sul, até a foz doRio Barra Mansa. Esta doação foi confirmada pelo Rei D. José,de Portugal, em 17 de janeiro de 1765. A área era na verdadeisolada da civilização, lugar ermo por inteiro. Era uma regiãohabitada ainda pelos selvagens e o homem brancoesporadicamente abria trilhas para se interiorizar. Aí nascia BarraMansa, por incrível que pareça. Paulistas (bandeirantes) emineiros misturados, percorriam nas duas direções o Rio deJaneiro e os ares das antigas minas já em extinção.

Francisco Gonçalves de Carvalho não se interessou muito porsua sesmaria, parece que nunca por aqui apareceu. Poucos anosdepois, sua sesmaria foi vendida aos Sargento-Mór José Pereirada Cruz, que logo deu início à formação de uma fazenda. BarraMansa nasceu daí. Na foz do rio ele abriu um engenho e construiuuma capela que teve São Sebastião como patrono, santo de suafé. Ele era muito religioso.

A fazenda foi construída por ele por volta de 1800, e o localcomeçou a atrair os viajantes que por aqui acampavam, paradescanso de suas caminhadas. Este ponto após o Rio BarraMansa tornou-se dormitório de viajantes que por ali se achavamprotegidos de assaltos. O local era conhecido como São Sebastiãoda Posse, e mais tarde um pouco, São Sebastião de Barra Mansa.

Todo passado de uma cidade nasce por razões nem semprebem conhecidas, um nascimento nem sempre bem anotado deixaescapar muitos detalhes. Sabemos que Barra Mansa não nasceupelas riquezas de suas terras, já que aqui não havia ouro oupedras preciosas, mas por sua localização, que sempre foicaminho para os mineiros, goianos, paulistas e brasileiros deum modo geral, e continua sendo até hoje. Colonos destemidosque enfrentavam a floresta, os índios, pelo rio Paraíba acima ouabaixo, que plantaram o progresso nas áreas de nosso município,com grandes derrubadas e inúmeras plantações.

A lei de criação das “Sesmarias”, entre outras restrições,obrigava aos pioneiros a reservar as madeiras de lei para as“naus” do reino.

Nosso nome surgiu pela “barra mansa” que se formava naconfluência dos rios no Paraíba. Quando comemoramos cada

59

ano de nossa existência com autonomia, é muito bomlembrarmos-nos de nosso nascimento. Nunca esqueça suaorigem, cultive-a e a passe para os de hoje e aos de amanhã.

O que se imprime sempre fica com alguém ou em algum lugar.Este trabalho, que chamo “barramansear”, constitui um modode concientização e elaboração de nossa memória histórica.Conhecer e esclarecer a nossa origem é uma maneira de guardara verdade de nosso passado já tão longínquo.

A fazenda construída pelo Sargento-Mór José Pereira da Cruztinha o nome de Fazenda da Posse, até hoje ela subsistenaturalmente graças à São Sebastião.

Todos os grupos humanos se relacionam com o passado, amemória que guardamos dos cidadãos que viveram antes denós, é como um culto aos ancestrais.

Francisco Gonçalves de Carvalho foi o primeiro habitante oficialde Barra Mansa, quando obteve a sesmaria que o Conde daCunha, Vice-Rei da Capitania do Rio de Janeiro, lhe deu paraabertura de uma fazenda de gado.

Que este despretensioso trabalho possa contribuir, emboramodestamente, para esclarecer o nascimento de Barra Mansa.

60

Barra Mansa Futebol ClubeJosé Carlos Franco Faria

O futebol surgiu em Barra Mansa em 1908 trazido do Rio deJaneiro como novidade esportiva por estudantes. No princípio ojogo era praticado em terrenos baldios por grupos que seorganizavam formando times e não clubes. As disputasaconteciam entre times que representavam o comércio,estudantes ou filhos de fazendeiros e que na realidade constituíamas classes sociais de então. Toda a nomenclatura e regras dojogo usavam palavras da língua inglesa a mostrar a origem dofoot-ball. Os campos de jogo não tinham a dimensão oficial enem os gramados hoje existentes, jogava-se em terrenos maisou menos planos, os locais os mais diversos, assim era comumo jogo na atual rua Jorge Lóssio, no terreno do Lazareto, naFigueira e até junto ao prédio da Câmara Municipal. Firmando-seo novo esporte na aceitação pública, os jogadores começaram ase organizar em sociedade e clubes. Segundo o jornal Gazetinha,de 21 de maio de 1914, o primeiro clube se instalou em frente aEscola Pública da Figueira, congregava distintos rapazes danossa sociedade e tinha uniforme com camisas na cor azul ebranco em linhas verticais, calções brancos muito compridos,no meio da canela, e calçavam botinas ao invés de chuteiras.Este clube era chamado de Barramansense Foot-ball Club. Parapugnar com o mesmo, surgiu o Sport Club Independente, formadopor rapazes empregados no comércio. Tinha seu campo de jogona atual rua Jorge Lóssio e em sentido contrário ao da rua.Usavam uniformes com camisa de algodão branco e simplescamisetas com mangas comuns na época. Estas sociedadesesportivas constituíram a semente do Barra Mansa F.C. atual eforam os pioneiros na prática do futebol no Vale do Paraíba. Nosprimeiros anos, os times se enfrentavam constantemente numafesta que envolvia futebol, piquenique e bailes, era por assim dizeruma festa envolvente com cada grupo elegendo a sua rainha,escolhida entre as moças da sociedade a quem competia aentrega de flores antes e após cada partida e no meio de muitosdiscursos. O relacionamento entre os dois clubes era o maisamistoso que se podia imaginar e logo desapareceram para darorigem ao Barra Mansa, que surgiu em 26 de setembro de 1915,

61

para representar o futebol da cidade nos encontros contra clubesde fora. A revista Cartão Postal, de 10 de outubro de 1915, assimnarra a notícia: “Sob a denominação de Barra Mansa F.C. acabade ser organizada nesta cidade por um grupo de moçosprogressistas, uma sociedade para se cultivar o esporte da moda.Em Assembleia Geral de sócios fundadores, em 26 de setembrode 1915, foi eleita sua diretoria, que se empossou em 3 de outubroe assim constituída: A. Moravia Junior (presidente), Dr. FranciscoLeite (vice-presidente), René Labarthe (1º secretário), AlbertoQuintas Gonçalves (2º secretário), Argemiro Coutinho (1ºtesoureiro), José Alves de Souza (2º tesoureiro), GilbertoMagalhães (cobrador), Dr. Carolino Lengruber (representante),Olindino Alves da Costa (capitão), e Clodoaldo Sobrinho (fiscalde campo). Esta agremiação esportiva iniciou sua trajetória deglórias que levaria o nome de nossa cidade por todo o Estado doRio e também pelos Estados vizinhos, desde a sua fundação oBarra Mansa projetou-se como fator de grandes paixões ememoráveis feitos. Em 1916, um imigrante libanês apaixonou-se de tal forma pelo clube que tomou-o sob sua liderança e oconduziu por inúmeras vitórias esportivas, este grandedesportista de nome Esperidião Geraidine liderou o futebol barra-mansense até sua morte. Sua grande providência foi mudar ocampo para uma área de dimensões adequadas para umacancha oficial e com o apoio do Dr. Luiz Ponce de Leon, entãoprovedor da Santa Casa, escolheu um terreno daquela instituiçãopara ali estabelecer o Barra Mansa Futebol Clube. A instituição epreparação do terreno mereceu o apoio da sociedade em geral,e com euforia foram arrancados os pés de maricá e louceiras decana e cercou-se o local com bambus, convencionou-se com aSanta Casa o pagamento simbólico pelo clube de uma aluguelde 500 réis. Naquele campo viveu o Barra Mansa suas glórias, eem inúmeras vezes projetou-se como um clube vencedor. Entre1920 e 1930 suas vitórias foram tantas pelo Vale do Paraíba aforaque ganhou a alcunha de Leão do Sul. Seu grande líder EsperidiãoGeraidine ousou adotar um temerário profissionalismo, numaépoca em que os clubes das grandes cidades ainda repeliam talprocedimento, o BMFC recebia jogadores de todos os recantose que aqui ocorriam pela fama do clube e pensando ganhar avida jogando futebol. Formou-se uma grande equipe e que por

62

muito tempo tornou-se quase imbatível. Após 1933, com osurgimento da Federação Fluminense de Desportos, o clube sefiliou a subsidiária Liga Sulfluminense com sede em Barra doPiraí, foi quando começou a nascer a grande rivalidade esportivaentre as duas cidades, nos encontros futebolísticos entre o Leãodo Sul e os times do Central e do Royal. As competições locaisficaram em segundo plano, raramente um time local se atrevia aenfrentar o todo poderoso BMFC, isto porque todos os melhoresjogadores só almejavam vestir a camisa azul com a cruz de maltaque Esperidião adotara para o novo uniforme. Na década de 40,com a criação da Liga Barramansense de Desportos Amador,voltou o clube para o campeonato local, seguiu-se então umasérie de vitórias, seu maior rival se tornou o Minas E.C., comquem travou memoráveis pugnas. Nesse período, sob a direçãotécnica de Sebastião Alves, ganhou o Barra Mansa campeonatosseguidos. Suas vitórias despertavam mágoas e invejas, detempos em tempos os adversários formavam times para derrotaro campeão, mas todos acabavam derrotados. O campeãocontinuou seu sendeiro de glórias, desinteressado nas pugnaslocais e a partir de 1945 se lançou a disputar a Copa Vale doParaíba. Sua presença era exigida por todos os clubes, desdeResende até Campos. O clube ganhou várias vezes esse torneio.Mas o futebol sofreu evoluções na sua estrutura, não nas regrasdo jogo em si, mas nos fatores extra campo. Em 1958, o Brasilse tornou campeão mundial pela primeira vez, a era Maracanã,ajudada por boas estradas, começou a tirar parte dos nossosvencedores para o campeonato carioca, a própria televisãoparadoxalmente prejudicou o futebol do interior, nosso campinhojá com o pomposo nome de Estádio Esperidião Geraidine seesvaziou e quando se pretendia oferecer um grande espetáculofutebolístico ele se tornava acanhado para a assistência que aliocorria, aquele mar de torcedores não se dirigia a pé para o campo,os automóveis, de uso obrigatório, não encontravamestacionamento para atender a todos, e finalmente os custos.Encontrou-se assim uma fase de desanimo e insolvência e osverdadeiros desportistas cansaram-se de meter as mãos nosbolsos para salvar as aparências e liquidar os compromissos. Aárea do campo, por demais central e exígua, não ofereciaalternativas para a construção de um estádio condizente. O clube

63

entrou em declínio e foi presa fácil de demagogos eaproveitadores, alguns ingênuos bem intencionados persistiramem vão. Hoje, após uma hibernação forçada, o clube parecedespertar e com dinamismo e amor nossos desportistas selançam a luta para a construção do novo estádio do Leão do Sul.Esperamos que o apoio das autoridades e da sociedade local semanifeste novamente como no passado e que a juventude atualse agregue em torno deste grande empreendimento esportivo eque nossa cidade consiga ver renascer o Barra Mansa F.C. comtoda a pujança, para continuar a levar o nome glorioso que sempreteve a todos os rincões do Estado e além dele.

(Texto publicado originalmente no jornal Projeção, de 9 de outubrode 1984)

64

Aconteceu na Fazenda da PosseJosé Fleming

Era uma noite de chuva rica de relâmpagos e riscada porbandos de ventos de passos longos, que vindos da margem dooutro lado do Rio Paraíba fustigava a casa da fazenda próxima amargem do riacho Barra Mansa. Num dos lados do edifícioassobradado ficavam os ranchos cobertos de sapê e, mais além,delineado pelos clarões dos relâmpagos, piscava o vulto de umarústica capela. Do rio menor, corriam na estreiteza do leito, aságuas da chuva recolhidas ao longo das margens cultivadas; quemesmo engrossadas pelos afluentes ribeirinhos, despejava suaságuas mansas na margem encrespada do rio maior. Nessa cunhade terra, situada entre as margens rasas dos rios, foi queFrancisco Gonçalves de Carvalho ergueu uma fazenda, construiuuma capela e um cemitério. Por que tomara posse do lugar graçasa uma concessão do Vice-Rei, o Conde de Cunha, no ano de1764, de a fazenda o nome de Posse e nela residiu por algunsanos. Ali por perto passava o caminho de tropas que descia deMinas para comerciar nos portos de Angra dos Reis e Paraty.Era uma noite chuvosa. A sede da fazenda golpeada pela chuvaachava-se às escuras. Somente na capela tênues traços de luzbrilhavam entre uma fresta da porta entreaberta. No interior dacapela, agrupados em duas filas de toscos bancos, reunidos aalguns agregados e escravos, achava-se um grupo de tropeiros.No fundo da capela, quase encostado a parede, uma mesaretangular coberta por um atoalhado de tafetá branco; um oratóriofechado por uma cortina de linho azul, sustinha em seu teto umacruz de madeira. Nas duas pontas da mesa, fincada em umcastiçal de cobre, de forma côncava, uma grossa vela bruxuleava,proporcionando uma fraca luminosidade ao interior do humildetemplo. Ao desabar do temporal naquele começo de noite, logoas várzeas se alagaram. As enxurradas crescendo no terreiro dafazenda invadiram o rancho desprotegido de paredes onde seabrigavam os tropeiros. O dono da Posse, Francisco Gonçalves,abriu a capela para que todos nela se abrigassem, até o cessarda inesperada tempestade. Lá se achavam todos reunidos; maisalguns agregados e escravos, em companhia do proprietário daPosse, à espera de que se findasse o aguaceiro, com seu cortejode relâmpagos e trovoadas, quando de repente a porta foi aberta

65

de empurrão e um homem de meia idade, sem chapéu, molhadodos pés a cabeça, entrou assustado na capela.

_ Irmãos! Exclamou. Pelas chagas de Cristo. Sou o padreLuiz de Sá. Sou perseguido pelos soldados do Rei. E tirandodebaixo da capa que portava uma imagem de São Sebastião,talhada em madeira, de dois palmos de altura, colocou-a em cimada mesa, na frente do tosco oratório. Em seguida caminhou parao lado mais escuro da capela e sentou-se na ponta de um banco.O senhor da Posse, diante daquele inesperado acontecimentolevantou-se da cadeira onde se achava sentado, no lado esquerdoda mesa, e permaneceu por uns instantes sem ação. Súbito,tomou a decisão de caminhar para o lado do estranho, quandoum grupo de soldados da Guarda Real entrou apressado nacapela.

_ Calma, pediu ele aos tropeiros, que alvoroçados, se puseramde pé. Permaneçam calados e em silêncio. Deu uns passos emdireção aos soldados comandados por um oficial, todosrespingando água de seus uniformes. Enquanto tomavam posiçãopara impedir a saída de todos que se achavam no interior dacapela, o oficial ordenou:

_ Todos sentados! Que ninguém saia do seu lugar. Sem seimportar com a ordem dada, Francisco Gonçalves aproximou-sedo oficial, dando a entender que era o dono daquela fazenda.Como apenas duas velas alumiavam o recinto da capela, aescuridão era quase total. Apenas na parte da frente se podiadistinguir as feições dos ocupantes, ao passo que na partetraseira, mal se distinguiam os vultos dos que ali se refugiavam.Lá fora a chuva ainda continuava.

_ Sou o Capitão Ruiz. Busco um fugitivo da justiça do Rei.Creio que ele acabou de entrar nesta capela, bradou. Era osesmeiro Francisco Gonçalves de Carvalho um homemponderado. Sem demonstrar temor com a fala do oficial, avaliouo risco que corriam ele e o religioso que lhe pedira proteção. Antesque surgisse alguma manifestação entre os tropeiros, respondeude maneira franca, expressa num tom de voz suficiente para quetodos escutassem.

_ Senhor oficial. Nenhum estranho entrou nesta capela. A nãoser que tenha entrado sorrateiramente. Como o senhor percebe, aescuridão aqui é quase total e a porta fica a nossas costas. E, antesque o Capitão Ruiz respondesse, indagou com propositada calma.

66

_ Que fugitivo é esse? Algum criminoso? O senhor oficial oconhece?

_ Não, respondeu o oficial do Rei. Mas é um contrabandista.Fui informado de sua passagem por este caminho. Quando nosaproximamos, ele desconfiou de nossa missão e fugiu. Estamosem seu encalço. Entrou nas terras de sua fazenda, achamossua mula junto do curral. É possível que ele tenha entrado nessacapela. A situação de Francisco Gonçalves era embaraçosa. Operseguido, que se intitulava padre Luiz de Sá seria encontrado,sem possibilidade de fuga, entre os tropeiros ali reunidos. OCapitão da Guarda já tomara as providências para que issoacontecesse. Além de alguns soldados na porta da capela paraevitar que alguém tentasse fugir, foi determinando suas ordens.

_ Senhor! O fugitivo está todo molhado, suas roupas e acabeça. Ele perdeu o chapéu na fuga. Em nome do Rei, ordenoque sejam revistados todos que aqui se encontram. Se ele entrounessa capela, será logo encontrado. Francisco Gonçalvespermaneceu calado. Não tinha como reagir ou evitar a decisãodo oficial do Rei. O padre acusado de contrabando seria logoencontrado por que suas vestes ainda respingavam a água dachuva. Esmagados pela penumbra que bruxuleava das duas velasacesas, quase ninguém respirava na capela. O silêncio quereinava entrecortado pela respiração dos homens ali agrupadostornou-se mais opresso. Outra ordem do oficial ressoou autoritáriae forte, deixando os tropeiros sem ação diante do que foraordenado aos soldados:

_ Revistem todos! O grupo de soldados se dividira. Uns forampara o lado direito, e outros para o lado esquerdo das carreirasde bancos. Os tropeiros e agregados tiveram então suas roupase cabeças apalpadas. Francisco Gonçalves de Carvalhopermaneceu de olhos fechados, diante da mesa com a imagemde São Sebastião às suas costas, com os ouvidos atentos aosilêncio que reinava a espera que a qualquer instante surgisse orebuliço da prisão do padre Luiz de Sá. Mas o que o deixou atônitofoi ouvir a voz de um dos soldados exclamar:

_ Capitão! Estão todos enxutos. Ninguém com as roupas oua cabeça molhadas. A pressão que sufocava o interior da capeladesanuviou-se do temor que pairava na obscuridade do pequenotemplo; mas uma pergunta aflorou-se no pensamento de cadatropeiro ali presente. O que acontecera? Francisco Gonçalves

67

de Carvalho, próximo da mesa, com a imagem de São Sebastiãoem frente do oratório, não conseguiu de momento entender oinusitado acontecimento de não haver sido achado o padre comas roupas molhadas. Vira o padre Luiz de Sá chegar encharcado,momentos antes dos soldados, e refugiar no canto mais escuroda capela. Calculou que ele estivesse escondido debaixo de umdos bancos, com altura suficiente para alguém de baixa estatura,como o padre, se esconder de baixo, ou se esgueirado, protegidopela escuridão para trás da mesa coberta pelo largo atoalhado.Foi o Capitão Ruiz que rompeu o silêncio, que tornava mais nítidoo rumor da chuva fora da capela.

_ Senhor! Creio que o fugitivo tomou outro rumo. Será maisfácil apanhá-lo, agora que foge a pé. Francisco Gonçalves deCarvalho passou logo ao oficial preciosa informação.

_ Do outro lado do cemitério parte uma trilha que chega a SãoJoão Marcos. É bem possível que ele a tenha tomado.

_ Seguiremos essa trilha, respondeu. Assim que o diaamanhecer será mais fácil capturá-lo.

E, alçando a voz num tom mais autoritário, solicitou aofazendeiro.

_ Senhor, gostaria de ter a permissão para revistar vossa casa.É bem possível que tenha se escondido em vossa residência.

_ Tem toda a minha permissão, Capitão. Desde que, meusaposentos particulares sejam respeitados. Francisco Gonçalvesde Carvalho deixou a capela, acompanhado pelo Capitão Ruiz eseus soldados, e caminharam para a sede da fazenda. A chuvacontinuava, mas afrouxava sua força e deixava antever que embreve iria se amainar. Entraram, acompanhado pelo fazendeiro,o oficial e dois praças. A sala principal da fazenda estava iluminadapor um candeeiro de cobre pendurado numa das paredes. Deum armário o fazendeiro tirou um pacote de velas, e com elasacesas percorreram os cômodos do primeiro pavimento, semnada encontrar. Começaram a subir as escadas do segundoandar, quando o Capitão Ruiz declarou:

_ Senhor! Estou satisfeito com a revista. Saíram da residência,para alívio de Francisco. Ainda debaixo da chuva apanharam suasmontarias e tomaram a trilha que conduzia a São João Marcos,levando a mula do fugitivo.

O dono da Posse retomou a capela levando as velas que usarana revista de sua residência. Encontrou o padre Luiz de Sá

68

ajoelhado diante da imagem de São Sebastião. Chamou dois deseus escravos e passou-lhes uma ordem.

_ Saiam e vigiem os arredores da capela. O Capitão Ruizpoderá voltar de repente. Agora, sob a claridade de numerosasvelas, a capela se achava iluminada. O padre Luiz de Sá, que seachava ajoelhado, ao ver aproximar o fazendeiro, levantou-secontrito e respeitoso.

_ Senhor! Aconteceu um milagre, disse com a voz trêmula. E,apontando para a imagem de São Sebastião, declarou:

_ Senhor, a imagem é oca. Dentro levo ouro do Bispado deCampanha para as obras de caridade do Bispado do Rio deJaneiro. Tive a proteção do mártir São Sebastião. Ainda sob oefeito a emoção que tornara suas mãos trêmulas, comentou:

_ No momento em que o Capitão ordenou a revista de todos,senti que minha roupa e meus cabelos molhados se enxugavam.Uma lassidão apoderou-se de mim e meu coração que batia forte seacalmou. Senti que alguém me protegia oculto na escuridão da capela.

_ Levarei o ouro oculto em minhas roupas, continuou. A imagemde São Sebastião ficará nessa capela como uma dádiva ao mártirque nela me protegeu. Francisco Gonçalves de Carvalho entãoapontou para um dos tropeiros que se achava a seu lado.

_ Este é o Graciano, o capataz da tropa. Ele o conduzirádisfarçado de tropeiro até Angra dos Reis. De lá seguirás para oRio de Janeiro sem nenhum risco, já que os soldados que andama sua procura não conhecem o teu rosto. Nessa noite nenhumdaqueles que se achavam na capela se retirou. Nelapermaneceram ajoelhados até que o dia amanheceu. Quandose retiraram da capela, já com a chuva serenada, no oratóriosobre a mesa ficou entronizada a imagem de São Sebastião.Alguns anos depois, Francisco Gonçalves de Carvalho passou aFazenda da Posse para outro dono. Mais tarde ,quando a rústicacapela foi transferida mais para o centro de Barra Mansa, aimagem de São Sebastião não foi encontrada no primitivo altar.Certamente Francisco Gonçalves a levara em seu oratório parao Rio de Janeiro. Tomei conhecimento desse histórico fato porquesou descendente do tropeiro Graciano. E nos serões da família,muitas vezes ouvi minha avó contar com doce emoção, o milagreque São Sebastião fizera na Fazenda da Posse.

(Texto publicado originalmente no jornal “Memória Barramansense”,nº 13, de outubro de 2007)

69

O Hino à Barra MansaJosé Gentil Filho

Corria o ano de 1932. Barra Mansa se preparava para festejarum grande acontecimento: o centenário de emancipação político-administrativa. Dentre os projetos para marcar a efeméride surgiua ideia de compor o hino da cidade. Foi quando a comissãoorganizadora dos festejos decidiu procurar o renomado professorHenrique Braune Zamith para elaborar a letra. Após a letra ficarpronta, a comissão resolveu, então, solicitar a um maestro muitofamoso na cidade, o professor Izídio Moura, para executar amúsica. Porém, como não havia muito tempo, o maestro, sempremuito rigoroso em seu trabalho, que realizava com notadaperfeição, informou à comissão que era impossível musicar aletra de forma tão rápida. Mas, o seu elevado espírito municipalistafez com que sugerisse que poderia tentar buscar em seu acervode partituras antigas, que guardava com muito cuidado, umamúsica que pudesse ser adaptada à letra do professor HenriqueZamith. Depois de revirar seus arquivos, ele encontrou umverdadeiro tesouro, uma marcha intitulada Pelo Brasil, cujo autorera desconhecido. Foi um casamento perfeito a sua adaptaçãoà letra do professor Zamith. E assim nascia o Hino a Barra Mansa,cantado oficialmente pela primeira vez no dia 3 de outubro de1932, durante as comemorações ao primeiro centenário deemancipação político-administrativa do município, logo após umaMissa Campal realizada no Parque Centenário, popularmenteconhecido como Jardim das Preguiças. Vale destacar que oprofessor Henrique Zamith, embora tenha nascido em NovaFriburgo, gostava tanto de Barra Mansa, que demonstrou o seugrande amor à cidade ao compor a letra de seu Hino. Sem dúvida,foi uma das maiores culturas de Barra Mansa, com destacadafolha de serviços prestados ao município, nos mais diversossetores. Brilhante orador, grande cultor da língua portuguesa, quedominava com especial maestria, bacharel em ciências e letras,poeta, prosador e autor de várias obras literárias. Fundou o colégioprimário denominado Externato Santo Antônio, foi diretor do antigoGinásio Municipal de Barra Mansa; agente municipal de estatísticae capitão da quarta companhia do 150º Batalhão de Infantaria da

70

Guarda Nacional da Comarca de Barra Mansa, por força de Atoassinado pelo presidente Wenceslau Braz, cujo documentooriginal encontra-se no museu Henrique Zamith, da Loja MaçônicaIndependência e Luz de Barra Mansa, instituição da qual participouativamente e foi venerável-mestre no período de 1926 a 1927.Dentre muitos outros feitos, foi um dos fundadores do Asilo daMendicidade, em 1926, do qual foi o seu primeiro secretário.Curiosamente, o Hino a Barra Mansa foi oficializado duas vezes.A primeira, através do Ato nº 180, de 15 de maio de 1933, assinadopelo prefeito Isimbardo Peixoto, tornando obrigatório o seu ensinoe a sua apresentação nas escolas municipais. Lamentavelmente,depois que Isimbardo deixou o governo, o Hino também acabouesquecido, e durante muitos anos deixou de ser ensinado ecantado nas escolas municipais. Há um registro de que o Hinofoi orquestrado para o programa “Cidades Brasileiras”, na RádioTupi, levado ao ar no dia 20 de fevereiro de 1953. Em 1981, avereadora Ruth Coutinho, primeira mulher a assumir uma cadeirana história da Câmara Municipal de Barra Mansa, iniciou umaverdadeira maratona para resgatá-lo. A sua luta culminou com aapresentação de um Projeto de Lei, que foi aprovado e resultouna Lei nº 1.616, sancionada em 1º de dezembro de 1981, peloprefeito em exercício, Elmiro Chiesse Coutinho, irmão davereadora, oficializando o Hino. Assim, ele foi revivido e a cadadia que passa vem sendo cantado com mais entusiasmo nasdiversas solenidades realizadas no município. O Hino a BarraMansa foi gravado em CD pelo Coral Cantabile da POLIARTE(Conservatório Barramansense de Música), e depois, pela duplaJulinho Marassi e Gutemberg, ficando, assim, perpetuada essaobra monumental.

(Texto publicado originalmente no livro Prosa & Verso XII, do GrêmioBarramansense de Letras)

71

J. M. do Lago LealMinha Cidade

Madrugada fria. A cerração abraçava o Parque Centenário,enlaçava toda a cidade com seus brancos tentáculos de neblina.A insônia queimava o cérebro de Zé Maria. Ele não conseguiadormir e vagava, divagando. O Parque é um pedaço da florestaque cobria toda a região, há 200 anos passados. A cidade é BarraMansa, no Estado do Rio de Janeiro. O sono que não vinha, traziapara Zé Maria fantasmas do passado, que emergiam doinconsciente. Como os restos de um naufrágio, de quando emvez, sobem de seu mundo submerso. E vinham à tona farraposde sonetos, escritos há muitos anos, naquele mesmo Parque;fragmentos de vivência perdida nas águas do tempo; restos desaudade. Saudade da cidadezinha poética de outrora, que oprogresso transformara na pujante Barra Mansa. Na princesa doVale do Paraíba. Princesa que reina, com os poderosos cetrosdo seu comércio e da sua indústria, sobre toda uma regiãosocioeconômica. A nostalgia tomou conta do espírito do nossoherói. O casarão imperial da câmara, ao fundo, emergia daneblina, casando-se às árvores. Ele próprio, árvore frondosa,plantada em 1861. O casarão parecia olhar para Zé Maria, comas dezenas de olhos que são suas janelas. E falar de tudo o quepresenciara, de todos os que abrigaram suas centenáriasparedes. Que bom, pensou Zé Maria, se pudéssemos conversarcom os prédios antigos, como o daquela câmara. Ou conversarcom uma destas árvores, velhas de séculos, que tantas coisaspresenciaram. O antigo prédio e as velhas árvores falariam entãodos que chegaram para conquistar, para desbravar, para construir.Dos que dirigiram os destinos desta terra através dos tempos.De suas lutas, suas realizações, de seus sonhos. Por vezesnão realizados, porque imensos são os obstáculos, massonhados. Dos que erigiram o edifício material de suas riquezas.De sua pecuária, de sua produção leiteira, de sua avicultura. Dosque fundaram suas indústrias, desvirginando o ar das matas como fumo colorido de suas chaminés. Indústrias que levam o nomede Barra Mansa e do Brasil aos quatro rincões do globo. Nomesviriam do antigo prédio e das velhas árvores. Daquela, porque osabrigou; destas, porque os viram passar, ou quedarem-se aos

72

seus pés, sonhando seus sonhos de grandeza e progresso. Ese lembrariam do Barão de Ayuruoca, fundador do então arraialde São Sebastião da Barra Mansa. De Domingos Mariano,Joaquim Leite, Ponce de Leon, Andrade Figueira. De LucienRegnier, que fundou em Barra Mansa a primeira fábrica de pilhaselétricas do Brasil. De João Klotz, Levi Miranda, Camilo Metzer emuitos outros... Por certo falariam também daqueles queimplantaram as redes de transportes, que hoje ligam Barra Mansaa todo o país, e daqueles que acenderam a luzerna do ensino emnossa terra, plantando escolas e faculdades como se plantamárvores. Louvariam os que, por iniciativa particular, construíramo magnífico hospital da Santa Casa e erigiram o Lar dos Velhinhos,o Asilo das Órfãs e a Vila Vicentina. E em meio a tudo isso, nãose esqueceriam, por certo, dos que alicerçaram as bases desua cultura no passado; Pedro Vaz, Henrique Zamith, Cardilo Filho,Christovam Rangel Leal e tantos outros... Porque nada se constróide duradouro, sem idealismo e sem cultura. O progresso materialdeve ser alicerçado na evolução e cultura de espírito. Assomariamentão à lembrança aos vultos religiosos; padre Christiano, padreAndré, pelo catolicismo, Zico Horta, pelo espiritismo. E tantosoutros mais apóstolos da fé. Por certo falariam também, comesperança neles e fé no futuro, dos que hoje em dia lutam esonham, nos diversos setores, pelo progresso e evolução deBarra Mansa. Talvez falassem de Clécio Penedo, artista plásticoque projetou o nome da cidade por todo o país e até no exterior. Efalassem desses moços que, através da literatura e da arte cênica,lutam por melhores chances, na difusão da cultura em nossa cidade.

(Texto publicado originalmente no livro Versos e Crônicas para Barra

Mansa, do Grêmio Barramansense de Letras - 2007)

73

Pulmão Verde de SaudadeMatilde Diniz Lacerda

Numa chácara com uma área de 10 mil m², pertencente àErasto Nascimento, de 77 anos, encontra-se o “pulmão verde deSaudade”, em Barra Mansa. Numa história de mais de 100 anos,a área dentro da cidade, registra todos os aspectos de uma matavirgem, onde não se toca no solo, que cria os húmusnaturalmente, favorecendo o aparecimento de novas árvores,flores e vegetação rasteira. São encontrados Cabaceira, Aroeira,Olho de Boi, Jaqueira, Cactus, Abricó, Bambu, Mangueira, Cajá-manga, Palmeira, Ipê, Sunã, Coqueiro, Bananeira, Jambeiro,Ameixeira, Jamelão, Umbaúba, Grumixama, Goiabeira e Caniteirodo Pará. O Caniteiro é raríssimo na região e produz um frutomuito doce. O pai de Erasto, Marcolino Pereira do Nascimento,que foi funcionário da Central do Brasil, chegou em Barra Mansaem 1870, quando adquiriu a área, localizada as margens daferrovia, na rua Siqueira Campos nº 3.538. Ele tinha o hábito deplantar e recebia mudas do Ministério da Agricultura, iniciandoassim, o bosque. Há três Caniteiros do Pará com mais de cemanos, plantados por Marcolino. As sementes foram se espalhandoe outras árvores foram nascendo, aumentando o número deCaniteiros. No chão existe um verdadeiro tapete herbário, ondeaté orquídeas naturais são encontradas, além de um grandenúmero de ervas medicinais. Erasto conta com orgulho que lutapela preservação do local. Diz ele, que a prefeitura já tentou váriasvezes desapropriar um trecho para prolongamento da rua, massempre resistiu, apelando para a justiça. Erasto é advogado eafirma que a área não pode ser mexida. É uma raridade dentrode Barra Mansa. Ele afirma que até Mico Leão Dourado havia naárea, mas foram roubados, aos poucos, e eles desapareceram.Erasto conta que os micos travavam verdadeiras batalhas comos bem-te-vis. Os pássaros davam voos rasantes para atacaros micos. Além do bem-te-vi, ainda são encontrados emabundância na área pássaros como o sabiá, tico-tico, canário daterra, saíra, rolinha, sanhaço, beija-flor, coleiro e muitos outros.As borboletas que dão um colorido especial ao bosque são emmais de 20 tipos diferentes, segundo informou Erasto. O casarão

74

onde mora a família foi construído no início do século, e aindamantém todas as características originais. Toda a pedra usadapara a construção foi tirada do próprio local, onde existia umapedreira. A pólvora utilizada para explodir as pedras foi fabricadapelo pai de Erasto, com carvão de Umbaúba e salitre. MarcolinoPereira do Nascimento faleceu em 1921, mas deixou sua marcaregistrada na cidade, pelo exemplo de preservação da natureza,seguido a rigor por seu filho Erasto.

(Texto publicado originalmente no jornal “O Líder”, de 24 de novembro de1993)

Nota: O bosque da família Nascimento foi desapropriado pelaPrefeitura Municipal de Barra Mansa para a criação do ParqueMunicipal de Saudade, inaugurado em 16 de junho de 2011. Oespaço foi aberto com o objetivo de atender os moradores domunicípio, para a realização de atividades físicas, como caminhadase corridas, além de ser uma oportunidade de aproveitar momentosde lazer. Hoje, o local possui 8.875 mil metros quadrados deextensão, recebe oficinas e abriga um Centro de EducaçãoAmbiental, instalado no antigo casarão, que foi totalmenterestaurado mantendo suas linhas originais. O Parque ainda contacom uma grande variedade de espécies de árvores e aves. Alémdisso, foi instalada no local toda a estrutura para receber osvisitantes, e um auditório com capacidade para abrigar 100 pessoas.O Parque está aberto à visitação.

75

Centro Educacional Barra Mansa - SABECNatália Faria

O ano era 1949. O dia, 29 de julho. Nascia em Barra Mansauma nova Escola, fruto do sonho de dois jovens idealistas: ElcioMedeiros de Souza Lima e Haroldo de Carvalho Cruz. Receberao nome “Escola Técnica de Comércio de Barra Mansa”, porque,a princípio, o objetivo era proporcionar um curso técnico aosinúmeros barra-mansenses detentores apenas do Curso Ginasialda época, que não tinham como prosseguir seus estudos.

Com o apoio recebido de Sebastião de Paula Coutinho,Presidente da ACIAP, do então Prefeito Flávio de MirandaGonçalves e do Governador Edmundo Macedo Soares, Elcio eHaroldo conseguiram que a ACIAP ficasse como Mantenedoraaté a formação da Sociedade que a regeria. Bolsas de estudosda Prefeitura e o uso do Grupo Escolar Barão de Ayuruoca emhorário noturno, permitiram que o sonho se concretizasse. Ocorpo docente contou com professores de Volta Redonda e algunsprofissionais liberais da cidade, com as condições exigidas.Foram importantes as adesões de Pedro Monteiro Chaves, queaceitou a Presidência da Sociedade e a Direção da Escola, e deGuilherme de Carvalho Cruz, que respondeu pela Secretaria Executiva,até ser eleito Diretor Superintendente. A sigla SABEC significou:Sociedade Assistencial Barramansense de Ensino e Cultura.

Sociedade formada, encamparam o Ginásio mantidopela CNEG, criaram o Curso Científico e trocaram as instalaçõesdo Grupo Escolar para um espaço próprio, à Avenida JoaquimLeite, 644. Os cursos passaram a ser diurnos e noturnos, tendodesde a Educação Infantil até o Ensino Médio, com vários CursosTécnicos, além de preparar para o ingresso em Faculdades. Fazalguns anos que vim morar em Barra Mansa. Não vim por acaso,pois eu não acredito nele. Estava escrito nas estrelas que euhaveria de ser feliz aqui. Cheguei em outubro de 1974. Éramosduas jovens: SABEC e eu. Tínhamos a mesma idade esonhávamos muitos sonhos bonitos. Desejando me inserir nomercado de trabalho, não perdi tempo... distribuí currículos,marquei entrevistas, solicitei ajuda... e, em um dia abençoado,adentrei-me na Escola da Avenida Joaquim Leite, a SABEC. Foiamor à primeira vista. Nós nos entendemos desde o primeiro

76

olhar. Logo chamada para a entrevista, fui contratada. Quefelicidade! Prometi a mim mesma, que daria o meu melhor. Edei! Foi uma longa história de amor. Vesti com garra a camisa daEscola e fiz dela a continuação do meu lar. Éramos uma família.Direção, Coordenação, alunos, professores e todos que aliatuavam. Amávamos estar lá. Trabalhei por muitos anos... maisde 30. Só me separei dela em seu último suspiro, no mês dedezembro de 2006. Já não éramos tão jovens. Nós. Ela e eu.Mas ainda poderíamos ter muita vida pela frente. Confesso quechorei, andando pela Joaquim Leite, na manhã de 26 de maio de2014. Senti uma tristeza imensa ao ver derrubar minha Escola.Lá eu passava grande parte dos meus dias. Fui muito felizprofissionalmente. Milhares de alunos de várias gerações passaram por mim. Fui muito amada e dei muito amor. Até hojerecebo carinho dos meus ex-alunos, e eles sabem que os levono coração. Meu filho cresceu sabendo que a mamãe dividiria otempo entre a casa e a SABEC. Desde cedo, começou afrequentá-la também. Ali aprendeu as primeiras letras, concluiudiferentes etapas e se preparou para a vida acadêmica. Doeuem mim a demolição do tradicional prédio da SABEC. Ali existiuuma grande Escola. Para mim, ela não foi só mais uma escola...ela foi a ESCOLA. A minha, a do meu filho, a dos meus alunos, ados meus colegas... a de Barra Mansa. Entristeceu-me a quedadas paredes, o alicerce em ruínas, o barulho das máquinas. Sentisaudade do tempo em que a portaria ficava barulhenta com asvozes de alunos uniformizados e o trânsito no local,congestionado. Passou um filme em minha cabeça. Quantalembrança eu tenho dali! Quantas festas juninas, de Natal,Páscoa, formaturas, desfiles cívicos... tanta coisa! Sou movidapelo coração. Chorei! Não consegui me conter. E acho que nãohá nada de errado nisso. Quem nunca chorou de saudade¿Naquele instante, senti vontade voltar no tempo e ser feliz outravez. Impossível! Tudo passa! Mais uma página foi virada em minhavida e na vida de cada um que por ali passou. Este é o fim deuma bonita história. O espaço deu lugar às Lojas Americanas.Tomara que os barra-mansenses passem para as futuras gerações aimportância que a SABEC exerceu na vida de seu povo.

(Os dados históricos sobre a SABEC foram pesquisados na revistaintitulada “SABEC – Meio Século”, publicada por ocasião do seuJubileu de Ouro)

77

Casarão do Clube MunicipalNikson Salem

Situado na área central da cidade de Barra Mansa, o casarãodo clube municipal faz parte do principal conjunto arquitetônico epaisagístico remanescente do século XIX, que ainda inclui oPalácio Barão de Guapy, o prédio da antiga Estação Ferroviária,e o Parque Centenário. Toda essa área fazia parte das terras daFazenda da Posse quando, Custódio Ferreira Leite, proprietáriodas terras na época, registrou escritura pública e pôs à disposiçãoda Câmara Municipal de Barra Mansa para distribuir a área pelopovo, sem ônus algum. Em 1842, o engenheiro agrimensorLeopoldo Dufour, que na época era responsável pela abertura econservação das estradas do município, organizou a primeiraplanta topográfica de Barra Mansa. Pelo serviço prestado àCâmara Municipal, o engenheiro recebeu um terreno defronte aoParque Centenário. Transferido para outra cidade, o engº Dufourvendeu o terreno ao major José Bento Ferreira Leite Guimarães,que deu início a edificação do casarão, datado de 1865. O majorJosé Bento foi fazendeiro, comerciante, provedor da Santa Casade Misericórdia, e presidente da Câmara Municipal de BarraMansa. O major faleceu em 1907, e após a partilha de bens, ocasarão passou por herança a um dos seus filhos, Henrique deAlmeida Leite Guimarães. Com planta em formato de “U”,assentado sobre um porão, o casarão apresenta elementoscomuns à arquitetura daquela época. Possuía váriasdependências e um pátio central, quando no fim da década de1940, na gestão do presidente Carlos Augusto Haasis, o prédiofoi adquirido pelo Clube Municipal. O prédio foi contraído junto aoherdeiro Henrique Guimarães pelo valor de 600 mil cruzeiros. Osenhor Carlos Haasis ofertou o valor de 150 mil cruzeiros, orestante procedeu da venda de cotas do clube, e também davenda de oito lotes de terras que o clube havia recebidogratuitamente do senhor Francisco Junqueira Villela. Após realizarobras para melhor atender seus associados, o clube inauguroua sede própria no réveillon de 1953. Até a conquista da sede

78

própria, o clube funcionou no salão da Loja Maçônica Independênciae Luz; posteriormente, ocupou um sobrado na av. DomingosMariano.

Na gestão do presidente Wandir de Carvalho (1954/1956), oporão do casarão foi rebaixado para abrigar o restaurante, salãode jogos e os banheiros; o pátio central da casa foi fechado paraabrigar o bar do clube, e na área externa do prédio foramconstruídas duas piscinas. Mais tarde, o clube adquiriu os terrenoslocalizados nos fundos do prédio, onde havia uma pequena vilade casas, e o terreno ao lado do casarão. Terrenos onde foramconstruídas as quadras esportivas. Dos memoráveis bailes decarnaval, réveillon, e grandes competições esportivas, restaramapenas às recordações. A administração ineficiente, as dívidas,e o descaso com a conservação do prédio, determinaram odesabamento de parte da fachada do casarão, ocorrido emfevereiro de 1998. Com sua estrutura comprometida, a DefesaCivil interditou o prédio, o que fez surgir fortes rumores de que ocasarão seria demolido. Jornais da época divulgaram notasdizendo que, por decisão da diretoria do clube, ficou decididoque no dia 12 de novembro de 1998 seria demolido o casarão. Aotomar conhecimento dos fatos, a Academia Barramansense deHistória encaminhou ofícios ao Poder Público Municipal e aoINEPAC, solicitando providências para impedir a demolição. AABH também interpelou judicialmente a diretoria do clube, paraque a mesma tomasse ciência de que o casarão encontrava-seincluído entre os bens do Setor Especial Histórico, protegidospela Lei Complementar Nº10, de 3 de setembro de 1992. Emresposta aos ofícios, o Poder Executivo declarou que, por se tratarde um prédio particular, nada poderia fazer para auxiliar em suarecuperação. O INEPAC, Instituto Estadual do Patrimônio Cultural,informou que o Estado não tinha recursos específicos parainvestir na recuperação do prédio. Coube aos associados eempresários do município, junto ao Poder Legislativo, financiar arecuperação do prédio. A obra teve início em janeiro de 1999.Foram restauradas a estrutura do telhado, o forro de madeira e aparede da fachada que, construída originalmente em pau a pique,

79

foi substituída por alvenaria. Hoje, o clube é administrado por umadiretoria que luta pela volta dos tempos áureos e pela preservaçãodo casarão.

Referências Bibliográficas:ALMEIDA, A. F. Barra Mansa, Memória Comemorativa do PrimeiroCentenário, Câmara Municipal de Barra Mansa, Rio de Janeiro, 1932.ATHAYDE, J. B., A Igreja Matriz de São Sebastião da Barra Mansa.Gráfica Laemmert, Rio de Janeiro, 1960.O OLHO. Barra Mansa: Órgão Informativo do Clube Municipal, 1966.Diretoria conclama sociedade a ajudar na recuperação do ClubeMunicipal. Jornal O Líder, Barra Mansa, 15 de março, 1998.JORNAL DIÁRIO DO VALE, Volta Redonda, 12 de novembro, 1998.JORNAL A VOZ DA CIDADE, Barra Mansa, 14 de novembro, 1998.

80

Epidemias que Grassaram emBarra Mansa no Século XIX

Nikson Salem

A primeira grande epidemia ocorrida no município de BarraMansa incidiu entre os anos de 1855 e 1856, quando a cólera(infecção intestinal aguda e muito contagiosa, presente em águaspoluídas) vitimou grande número pessoas. Esse surto foi um doscasos mais nefastos na saúde pública do Brasil Império. Surgiuno país em 1855, através de um navio vindo de Portugal, queaportou no Estado do Pará. Rapidamente, a doença atingiu acidade do Rio de Janeiro, e em poucos meses, praticamentetodos os municípios da província, com mais intensidade emCampos, Niterói, Cantagalo, Barra Mansa, São João da Barra,Paraíba do Sul, Macaé, Paraty e São João Marcos. A CâmaraMunicipal de Barra Mansa, presidida pelo vereador Bernardo JoséVieira Ferraz, tomou rapidamente as primeiras medidas cabíveispara preservar o município; as casas, ruas, lojas e fazendaspassaram por uma minuciosa limpeza. Um dos problemasenfrentados foi a carência no número de médicos residentes nomunicípio, que não eram suficientes para conter o avanço dadoença, tendo sido necessário solicitar a chegada de médicos ealunos de medicina da cidade do Rio de Janeiro. Nesse episódio,não podemos deixar de destacar a atuação de Joaquim LeiteRibeiro de Almeida, delegado de polícia na época, que além deabrigar os médicos e estudantes em sua residência, socorreuos pobres com dinheiro, medicamentos e alimentos. Fato quefez a população barra-mansense o eleger para o cargo devereador municipal em 1857. De acordo com os Relatórios dosPresidentes das Províncias Brasileiras, ocorreram na cidade deBarra Mansa 372 mortes, destes, 311 escravos e 61 livres. Emtodo o Estado contabilizaram 4.542 pessoas falecidas, mas, opróprio presidente da província reconhecia que esses dados eramfalhos, apontando que haveria um número muito maior de vítimase de lugares atingidos, principalmente, por serem os escravosos menos contabilizados. Passados sete anos desde osurgimento da cólera, Barra Mansa registrou os primeiros casos

81

de varíola, que felizmente, não se propagou entre a população. Avaríola, também conhecida como bexiga, voltaria a assustaros munícipes em 1866, quando foi registrada a morte de 50pessoas e outras 120 doentes. Em 1872, a doençaregressou de forma mais aguda, impedindo o pleno exercícioadministrativo. A situação foi tão grave, que a sede domunicípio foi transferida para o então distrito de Quatis. JoaquimLeite, então presidente da Câmara Municipal, contratou médicose enfermeiros, e custeou a compra de um terreno para aconstrução de uma casa fora das imediações do centro da cidadepara abrigar o Lazareto (local para onde as autoridades levavamos doentes com a finalidade de conter a transmissão da doençapara o restante da população). A casa do Lazareto funcionou emBarra Mansa até o fim do século XIX, quando toda a área ondeestava edificada a casa deu origem ao atual bairro Bom Pastor.Nos anos de 1878, 1882, 1887 e 1889, a varíola grassounovamente em Barra Mansa, mas em menores proporções. Em1882, surgem os primeiros casos de malária no município(doença infecciosa febril aguda causada por protozoários,transmitidos pela fêmea infectada do mosquito, caracterizada porfebre alta acompanhada de calafrios, suores e cefaleia). Segundoos Relatórios dos Presidentes das Províncias Brasileiras, a novaepidemia que grassou em Barra Mansa e na região, teve iníciona cidade do Rio de Janeiro e expandiu pelo Vale do Paraíbaatravés da Estrada de Ferro D. Pedro II. O pior caso foi registradona cidade de Vassouras, em 1881, onde a malária vitimou tantaspessoas que, assustados, os habitantes viram-se obrigados aabandonar a cidade até que a epidemia fosse controlada. No dia1º de fevereiro de 1886 foi registrado o primeiro caso de febreamarela no município de Barra Mansa, a doença teve origem noretorno à cidade do morador italiano Giuseppe Ricciardi, que haviavisitado a cidade do Rio de Janeiro. Até o final do mês, foramregistrados três casos, logo, a Câmara Municipal tomou asprovidências necessárias, encaminhado os infectados aoLazareto, e ordenando que os funcionários da câmararealizassem a mais rigorosa limpeza nos quintais e sarjetas dacidade. A câmara ainda publicou em um jornal local umaprescrição do médico Dr. Urias Antônio da Silveira:

82

Conselhos ao Povo:

- Mantenham o mais escrupuloso asseio nas habitações,impedindo que nelas permaneça por muito tempo substânciasorgânicas, como restos de comida.

- Evitar a estagnação de água nos quintais e tanques de jardins.- Ventilar suficientemente os aposentos.- Lavar diariamente os mictórios e as latrinas, lançando nelas,

de dois em dois dias a seguinte mistura: 300 gramas de ácidofênico, 500 gramas de sulfato de ferro, e dois litros de água quente.

- Evitar aglomeração de pessoas em quartos poucoespaçosos.

- Abster-se de expor-se aos raios do sol durante as horas demaior labor e ao sereno.

- Não praticar escavações, mormente em lugares úmidos ouonde exista materiais orgânicos em putrefação.

- Resguardar o corpo dos resfriamentos súbitos.- Excluir completamente da alimentação legumes crus, e

também carnes e outros alimentos frios, guardados de um parao outro dia.

- Evitar que a água fique exposta ao ar, isto é, em moringassem tampa.

- Evitar escrupulosamente as carnes e peixes alterados ouem via de decomposição, assim como bebidas geladas, estandoo corpo em transpiração.

- Alimentar-se, como de costume, porém, de todos osalimentos cozidos.

- A água fervida, depois resfriada e guardada em moringastapadas esteriliza os germes mórbidos.

- O leite para as crianças deverá ser fervido por dez minutos.- Banir do espírito todo receio da invasão da moléstia, a fim de

precaver-se da influência deprimente do terror.- Logo que adoecer qualquer pessoa, deverá ser chamado

imediatamente um médico.(Jornal Aurora Barramansense, 28 de fevereiro de 1886)

Até o fim do mês de março contabilizava-se 170 pessoascontagiadas; 20 óbitos; 17 doentes sendo assistidos no Lazareto

83

e 50 em suas residências. Por quatro meses a cidade apresentouum aspecto desolador, um grande número de famílias evadiu parafazendas e cidades vizinhas. A gravidade foi tamanha, que aCâmara Municipal decidiu suspender suas atividades por trêsmeses, até que atenuasse a intensidade da epidemia. Somenteno mês de junho, após 92 mortos e 629 doentes, a epidemia foifinalmente controlada. Uma das mortes mais lamentada pelapopulação barra-mansense foi a do procurador da CâmaraMunicipal, Estevão da Silva Nogueira, que deixou esposa e seisfilhos. A atuação da Câmara Municipal de Barra Mansa nocombate as epidemias que grassaram no município a partir dasegunda metade do século XIX até o ano de 1889, quando foiregistrado o último surto de grandes proporções, foi de extremaimportância para a preservação da vida dos menos favorecidos,escravos, e da população em geral. Por diversas oportunidadesforam realizadas através da câmara subscrições popular emfavor das viúvas e famílias pobres vítimas das epidemias.Devemos aqui registrar os nomes dos benfeitores do municípioque sempre ajudaram com elevada soma em dinheiro, são eles:Joaquim Leite Ribeiro de Almeida, D. Cecília de Moraes Monteirode Barros, Dr. Domingos de Andrade Figueira, D. Maria EugêniaMonteiro de Barros, Dr. Adolpho Pereira de Burgos Ponce de Leon,Dr. Sancho de Bittencourt Berenguer, e Ricardo José GomesGuimarães. Ainda citemos os médicos que auxiliaram comveemência os enfermos no município: Dr. Cândido Teixeira daCunha, médico responsável pelo Lazareto; Dr. Joaquim Antôniode Oliveira Botelho, médico do Rio de Janeiro que chefiou acomissão que veio auxiliar os médicos locais; e os médicosresidentes de Barra Mansa, Dr. Urias Antônio da Silveira, Dr. JoséPinto Ribeiro, Dr. Miguel Arcângelo de Santana, Dr. Antônio Freireda Silva Reis, entre outros.

Referencias Bibliográficas:Arquivo Nacional - Relatórios dos Presidentes das Províncias Brasileiras.ATHAYDE, J. B., A Igreja Matriz de São Sebastião da Barra Mansa.Gráfica Laemmert, Rio de Janeiro, 1960.Jornal GAZETINHA, Barra Mansa, 1906-1931.Jornal AURORA BARRAMANSENSE, Barra Mansa, 1883-1887.

84

Navegação pelo Rio Paraíba do SulNikson Salem

Na década de 1860, Barra Mansa foi uma das maioresprodutoras de café do Vale do Paraíba, e toda sua produção eraescoada pelas árduas e onerosas viagens das tropas de mulasaté os portos de Angra dos Reis. Para agilizar o transporte docafé, José de Souza Azevedo, fazendeiro estabelecido na margemdo rio Bananal, em Barra Mansa, mandou construir uma barcapara exploração do rio Paraíba. Sobre a descoberta da navegaçãono Paraíba, há na Biblioteca Nacional, um memorando de dezpáginas, assinado por José de Souza Azevedo, no qual ele dizque o governo provincial mandou a Câmara Municipal de BarraMansa informar se o rio Paraíba era ou não navegável,respondendo, sem algum exame prévio, que não era. Então, oSr. Azevedo, acreditando que o fato merecia mais atenção ecuidado, porque naquela altura havia vários municípiosinteressados na dita navegação, mandou construir um barco, igualaos que navegavam no rio Douro, que nasce na Espanha e temsua foz em Portugal. Tendo sido o barco construído em suafazenda e colocado no rio Bananal, foi necessário desobstruiruma grande extensão do Bananal para que o barco chegasse aoParaíba. Contrariando a opinião de muitos, até mesmo da CâmaraMunicipal, que considerava um ato de loucura, Azevedo embarcouno dia 19 de janeiro de 1860 com destino a cidade de Barra doPiraí, a fim de examinar as dificuldades que oferecia a navegaçãoaté esse ponto, ao chegar em Barra Mansa sem nenhumadificuldade, seguiu até a cidade de Resende. No início do mês defevereiro, aventurou-se em uma viagem ainda mais ousada, deBarra Mansa, desceu o rio até a ponte do Faro, localizada asmargens da estrada Presidente Pedreira, em terras de JoséPereira de Faro, o Barão do Rio Bonito. Pela estrada, asmercadorias seguiriam de carro até a estação ferroviária maispróxima, de Belém, atual Japeri, município da região metropolitanado Rio de Janeiro. Para provar que a navegação não ofereciaobstáculos, ao retornar para Barra Mansa, Azevedo trouxe arroz,

85

feijão, milho, vinhos e três pianos. Em seguida, Azevedo solicitouao Governo Provincial o privilégio para explorar a navegação norio Paraíba. Logo que souberam desta pretensão, muitos outrospedidos apareceram para que tal favor não fosse concedido, eenquanto o Sr. Azevedo esperava resposta, o rio encheu-se debarcos semelhantes ao seu, tendo seduzido até os marinheirosque tinham trabalhado com ele. Assim, já com seu pedidoindeferido, Azevedo deixou a navegação e dedicou-se a mineraçãode carvão. Em 1862, eram mais de 60 embarcações cortando oParaíba, barcos movidos a remo, que mediam onze metros depopa à proa e três de largura, possuíam capacidade de cargaque variava entre 300 e 1000 arrobas. Posteriormente, foi utilizadopor algumas companhias de navegação o barco a vapor. Osprincipais barcos que navegaram em Barra Mansa era o“Minerva”, de Batista & Freitas, e “Faraó”, de João BatistaMarcondes do Amaral. O trajeto principal realizado pelas barcasera entre São José do Campo Belo (atual Itatiaia) até Ipiranga,em Vassouras. Mas as dificuldades eram muitas. Em 1864, apedido do D. Pedro II, uma comissão liderada pelo engenheiroFranz Keller, deu início a um estudo para melhorar os meios detransporte do café: ferrovia, estrada, e navegação. Sobre anavegação, os engenheiros apresentaram os custos e asdificuldades. O relatório informava que, um barco era tripuladopor oito homens e um Arrais (geralmente o homem mais velho eprofissionalmente o mais experiente), que recebiam entre 50 e100 réis cada um. O transporte do café de Campo Belo até Barrado Piraí custava 500 réis por arroba; de Resende, 450 réis, e deBarra Mansa, 240 réis. Da Estação Ferroviária de Barra do Piraíaté a Corte, o frete era de 315 réis. A viagem de ida, rio abaixo,durava entre 7 e 11 dias, o retorno, rio acima, de 12 a 14 dias. Orelatório ainda informava que ¼ dos produtos utilizava esse meiode transporte e, que, devido a grande quantidade de pedras ecachoeiras, eram 23 no total, muitas cargas se perdiam pelocaminho, com a avaria dos barcos. Pelo relatório apresentado,os gastos para melhorar a navegação seriam de 1.700:000$000contos de réis e, para levar os trilhos da ferrovia até as cidades

86

Referências Bibliográficas:Jornal A Atualidade, Rio de Janeiro, 11 de fevereiro, 1860.Jornal Echo da Nação. Niterói, 23 de fevereiro, 1861.Jornal Correiro Mercantil. Rio de Janeiro, 24 de fevereiro, 1861.Azevedo, J. S. Memorial sobre a descoberta da navegação do rioParahyba. Rio de Janeiro, Tipografia Popular de Azeredo Leite, 1862, in-4.° de 10 pp.

que mais utilizavam os serviços do transporte fluvial, seria gastoo valor de 2.400:000$000 contos de réis. Como o valor final doscustos era próximo, os engenheiros entregaram um parecercontrário a investir no transporte pelo rio Paraíba, indicando queo melhor seria investir no transporte ferroviário. O que de fato foifeito. Ainda em 1864, os trilhos da Estrada de Ferro D. Pedro IIchegaram à cidade de Barra do Piraí; e em 1871, à cidade deBarra Mansa; e por fim, em 1873, à Resende. O declínio danavegação, e consequentemente o seu fim, tem como fatorprincipal o avanço da ferrovia pelas cidades do Vale do Paraíba ea conservação e abertura de novas estradas; o que diminuiu otempo e o custo do transporte de mercadorias.

87

Fragmentos Históricos daCriação de Barra Mansa

Roberto Guião de Souza Lima

Sem considerar os naturais donos das terras, os índiosPuris e Coroados, o marco pioneiro da presença humanaem Barra Mansa foi Francisco Gonçalves de Carvalho querecebeu, em 1764, uma sesmaria de terras na foz do rio BarraMansa que assim passou a ser chamado por ter suas águasdesaguando tranquilamente pela margem direita do caudalosorio Paraíba do Sul.

No local o sesmeiro fundou uma fazenda de gado, produtorade mantimentos (principalmente, milho e mandioca) e de anil,conhecida como fazenda da Posse, que com o seu crescimentofoi muito útil ao abastecimento de tropeiros que por lá passavamdemandando por um lado as Minas Gerais e por outro o litoralfluminense.

Tempos depois, em 1800, já sob o domínio do sargento-mor José Pereira da Cruz, foi edificada no local uma capela soba invocação de São Sebastião o que, como de resto aconteceuem muitos locais no Brasil, criou as condições iniciais de fixaçãode moradores no que viria se constituir no primeiro núcleo urbanoda futura Barra Mansa. A criação de um cemitério, que se manteveativo até por volta de meados do século XIX, e das primeirascasas de comércio, tudo em torno da capela da Posse, deu aopequeno povoado sobrevida de alguns anos.

Todavia, sendo o local considerado impróprio para odesenvolvimento de um povoado, possivelmente por estar situadono nível do rio, por iniciativa de um mineiro de São João d’El Rei,Custódio Ferreira Leite, o futuro barão de Aiuruoca, foi erigida,em 1820, nova capela — em um sítio mais alto, cerca de 2 kmParaíba acima e na mesma margem direita — sob a invocaçãodo mesmo padroeiro. Na empreitada contou o futuro barão como concurso do coronel Manuel Marcondes do Amaral que doou100 braças quadradas de terras para a construção da capela eque se constituiu no seu primeiro patrimônio.

Com o intuito de acelerar o crescimento do novo povoado,Marcondes do Amaral, o cônego Antonio Moreira da Costa e, em

88

especial, Ferreira Leite, doaram mais terras para aqueles que sedispusessem construir casas no local e por essa razão este,sempre citado por seu título nobiliárquico de barão de Aiuruoca, éconsiderado o fundador de Barra Mansa.

Todavia, a iniciativa da criação do povoado só se tornouefetivamente próspera e economicamente viável quando a culturado café — que viria ocupar de forma avassaladora as terras detodo o Vale do rio Paraíba do Sul, nas suas vertentes: fluminense,a mais expressiva delas, paulista e por fim mineira, e ao longo detodo o século XIX no importante “Ciclo do Café Vale-paraibano”— se instalou nas terras locais a partir do núcleo pioneiro deResende, local das primeiras plantações de café na região de“Serra Acima”.

Com o café, o povoado se desenvolveu de forma rápida ecrescente de sorte que apenas nove anos depois de erigida acapela foi elevada a condição de curato, distinção religiosa, coma denominação de Curato de São Sebastião da Barra Mansa.Em 3 de outubro de 1832 o povoado foi erigido em Vila com terrasdesmembradas de Resende, Valença e São João Marcos (naépoca São João Príncipe e hoje Rio Claro), com a mesmadenominação, sendo a respectiva câmara instalada em 16 defevereiro do ano seguinte. Por Lei Provincial de 15 de outubro de1857 a vila foi elevada a categoria de cidade e, finalmente, em 4de maio de 1874 galgou a condição jurídica de Comarca sendo oprimeiro juiz o dr. Eduardo Pindaiba de Matos.

Sob o aspecto religioso o mencionado curato, de 1829,passou a Freguesia em 1839, a Paróquia em 1841 e a CâmaraEclesiástica em 1842, sendo que as duas primeirasnomenclaturas religiosas se confundiam com situações civis tala simbiose existente entre a igreja católica e o estado imperial.

A expressividade de Barra Mansa como produtora de cafépode ser atestada por inúmeras fazendas, algumas aindaexistentes, e por renomados fazendeiros como, por exemplo, ocomendador Lucas Antonio Monteiro de Barros (fazenda TrêsPoços, hoje em Volta Redonda), o 1o barão do Amparo e seusfilhos, o barão do Rio Negro e o visconde de Barra Mansa(fazendas Sant’Anna e Crissiuma, no distrito de Amparo), o barãode Guapi (fazenda Ribeirão Frio, em Dorândia, hoje Barra doPiraí), Joaquim Leite Ribeiro de Almeida, o barão Ribeiro de

89

Almeida, paladino do progresso local e fazendeiro no distrito, hojemunicípio, de Quatis e o coronel Domiciano de Oliveira Arruda,1o presidente da Câmara Municipal (fazenda Bocaina, em Rialto).A fazenda da Posse, marco pioneiro de Barra Mansa, restaurada,hoje funciona como Centro Cultural.

Indiscutivelmente o café foi o responsável direto pelocrescimento e as sucessivas e crescentes mudanças de statuspolítico civil e religioso de Barra Mansa ao longo de todo o séculoXIX, como registrado por viajantes estrangeiros dentre eles oportuguês Augusto Emilio Zaluar, em 1859, e o alemão Carl VonKoseritz, em 1883, que em livro citou marcos urbanosexpressivos, felizmente ainda existentes, como o belo palácioBarão de Guapi, antiga Câmara Municipal, a Estação Ferroviária,de 1871, o bucólico Parque Centenário, desenhado por Glaziou,e a matriz de São Sebastião, esta lamentavelmente desfiguradainternamente.

Com a derrocada do café no Vale do Paraíba com a gotad’água da abolição e aproveitando as terras por ele desnudadasda sua original cobertura de Mata Atlântica, entrou Barra Mansaem novo e expressivo ciclo econômico, o da pecuária leiteira,que deu a ela a condição impar de maior bacia leiteira do Brasil eresponsável pela instalação de fábricas de laticínios e afins. Oleite sustentou a economia do município na fase intermediáriaentre a cafeicultura e a industrialização, ocorrida a partir da décadade 1940 com a Companhia Metalúrgica Barbara, atualmente Saint-Gobain Canalização, e, principalmente, com a inauguração, em1946, do marco da industrialização brasileira, a CompanhiaSiderúrgica Nacional (CSN), hoje em terras do município de VoltaRedonda, na época o 8o distrito de Barra Mansa.

Atualmente, a cidade tem seu desenvolvimento calcado naárea de serviços e de comércio diversificados, vivendo assim oseu quarto ciclo econômico.

90

A Escola Vieira da SilvaRogério Gonçalves Leoni

Em 1880, nasceu a ideia de fundar uma escola a ser mantidapela Loja Maçônica Independência e Luz. Foi a primeira escolanoturna de alfabetização de adultos da América Latina. A EscolaVieira da Silva começou a funcionar no dia 19 de Maio de 1887 ea inauguração oficial se deu no dia 3 de Julho, um domingo, diaem que tomava posse a nova diretoria da Loja, e se prestavauma homenagem ao então Orador da mesma, o maçom Dr.Antônio Leite Ribeiro de Almeida, que fora nomeado pelo Governodo Império, Presidente da então Província do Espírito Santo.Vejamos o que dizem as Atas da Loja: “O Salão de festas achava-se ricamente decorado com os ornamentos que, na véspera,tinham servido para a manifestação feita pelos profanos ao nossoIrmão Dr. Antônio Leite, pelo fato de sua nomeação a Presidenteda Província. Às 19 horas, mais ou menos, achavam-se no salãoo Vice-presidente da Câmara Municipal e Superintendente doEnsino em Barra Mansa, Irmão Dr. Adolpho Pereira de BurgosPonce de Leon; Dr. Macedo Bittencourt; Joaquim Leite Ribeirode Almeida, Vice-presidente da então Província do Rio de Janeiro(atual Estado do Rio de Janeiro); Major Gonçalves Costa, 1ºSuplente do Juiz Municipal; o Irmão tenente Antônio Brandão,delegado de polícia de Barra Mansa, e outras autoridades policiais;professores e avultado número de distintas pessoas. O VenerávelMestre, que ali tinha o título de presidente, tomou assento no topoda mesa, em frente às bancadas em que se achavam cerca de50 alunos da Escola e, ao seu lado, as autoridades que acabamde ser mencionadas. Dado o sinal de silêncio, o Venerável MestreJoaquim Adelino da Cruz expôs a finalidade daquela reunião,terminando por dizer que a reunião era uma homenagem prestadaao Irmão Dr. Antônio Leite Ribeiro de Almeida. Em seguida, umdos alunos, sobrinho do Irmão João Zoroastro Bittencourt, lê, emnome dos seus companheiros de aprendizagem, uma mensagemcongratulatória dirigida ao Dr. Antônio Leite a quem é entregue ooriginal, depois de terminada a leitura, o que foi freneticamenteaplaudido pelos assistentes. Falou em seguida, o Dr. Antônio Leite,na qualidade de Orador da Loja, o que fez em brilhante discurso;o Irmão José Cirilo Castex; o Comendador Joaquim Leite, entre

91

outros, sendo todos eles calorosamente aplaudidos. Tomando apalavra, o Irmão Dr. Ponce de Leon, declarou que na sua qualidadede Superintendente do ensino em Barra Mansa, estava inauguradaa Escola Noturna, criada e patrocinada pela Loja Independênciae Luz, sob o título distintivo de ESCOLA NOTURNA VIEIRA DASILVA”. O nome da Escola foi uma homenagem ao Conselheiroe Visconde Dr. Luís Antônio Vieira da Silva, que era então o Grão-Mestre da Maçonaria Brasileira e, também ocupava o cargo deMinistro da Marinha do Gabinete Ministerial que estava no poderdo Império, chefiado pelo Conselheiro João Alfredo, Gabinete esteque aprovaria a “Lei Áurea” da Abolição da Escravatura.

(Texto publicado originalmente no jornal “Memória Barramansense”, nº13, de outubro de 2007)

Nota: O Centro de Educação Integrada Vieira da Silva, atualdenominação, é administrado pela Prefeitura Municipal de BarraMansa. Em março de 2015 foi inaugurada a nova instalação daescola, sito na Rua Cristóvão Leal. O CEI Vieira da Silva contacom 22 salas de aulas, anfiteatro para 200 pessoas, quadrapoliesportiva coberta, dois laboratórios de informática, umlaboratório de ciências destinado à iniciação do ensino de robótica,refeitório e estrutura administrativa.

92

A História da Loja Maçônica“Independência e Luz”

Rogério Gonçalves Leoni

Corria o ano de 1874. Sete maçons que passaram a residirem Barra Mansa, aos poucos, foram se conhecendo e resolveramfundar uma Loja Maçônica na cidade. A primeira reunião comessa finalidade foi no dia 7 de setembro de 1874. Decidiu- se darà Loja o nome de “Independência”, por causa da data e, também,devido à origem dos maçons, quase todos os membros da Loja“7 de setembro”, da cidade de São Paulo. No entanto, já existiauma loja com esse nome em Campinas, Estado de São Paulo.Por força do regulamento, teria que chamar-se Loja“Independência II”, com o que os fundadores não concordaram.Então, por sugestão do Grão-Mestre da Maçonaria, Dr. JoaquimSaldanha Marinho, eles aceitaram o título distintivo de “LojaMaçônica Independência e Luz”. Foram considerados fundadoresos seguintes maçons: Joaquim Adelino da Cruz , português,comerciante, então agente consular de Portugal em Barra Mansa;Dr. José Barbosa Torres, advogado, foi o Venerável-Mestre Interinoda Loja e Deputado Provincial por Barra Mansa, no Império; Dr.Frederico Augusto Cleto Moreira, advogado; Dr. Luiz Barbosa daSilva; advogado e primeiro Venerável-Mestre da Loja, eleito parao mandato 1875/1876. Figura histórica de importância, governadorda Província do Rio Grande do Norte no Império, abolicionista erepublicano histórico; Celso Rodovalho Marcondes dos Reis,fazendeiro da região, de família ilustre e major da Guarda Nacional;Ulisses Francesconi, italiano, relojoeiro de fama na região,proprietário de uma relojoaria na Rua Direita (atual AvenidaJoaquim Leite); Antônio Marcondes de Andrade, brasileiro, 31 anosde idade, solteiro. Era, também, Tabelião em Barra Mansa efazendeiro. A Loja Independência e Luz foi oficialmente instaladano dia 21 de outubro de 1874, por uma comissão do Rio deJaneiro, com a presença do Grão- Mestre Joaquim SaldanhaMarinho. Concluída a cerimônia, quando foram pronunciadosimportantes discursos, foi servido um lauto jantar em um hotelda cidade. Os fundadores procuraram organizar a sede da Lojaem um imóvel, alugado às margens do Rio Paraíba do Sul, na

93

então Rua da Misericórdia (hoje Rua Pinto Ribeiro), pagando umaluguel de 45 mil réis. No dia 12 de novembro de 1874, foi realizadaa eleição do primeiro Venerável-Mestre para o ano maçônico,sendo eleito o Dr. Luiz Barbosa da Silva, um dos fundadores daLoja e figura de destaque na História do Brasil como republicanoe abolicionista. Tomou posse em 22 de maio de 1875. Porém, jámuito adoentado, faleceu no dia 26 de junho de 1875, vitimadopor tuberculose pulmonar. Ele foi assistido pelo médico maçomDr. Clímaco Barbosa, que depois foi eleito Venerável-Mestre daLoja para concluir o mandato, tendo tomado posse em 12 desetembro de 1875, com a presença do Grão-Mestre SaldanhaMarinho. No ano de 1876, uma comissão se encarregou de mudara sede da Loja para o centro da cidade, instalando na Rua SãoSebastião, onde se encontra até hoje. O prédio pertencia aocapitão e cirurgião- mor da Guarda Nacional, Dr. Pedro Luiz Vieira,que viera clinicar em Barra Mansa, em 1861. Em 1877, tratava-se da aquisição do prédio, feita por 5 maçons, que posteriormentecomeçaram a vender suas partes para a Loja. Fato importanteque apressou a aquisição do prédio, foi um incêndio no prédio daMaçonaria na noite de 4 para 5 de abril de 1883. O alarme foidado às 2 horas da madrugada pelo pessoal que estavatrabalhando no antigo jornal “Aurora Barramansense”, cuja oficinae redação ficavam em frente ao prédio da Loja e era propriedadedo maçom João Zoroastro Bittencourt. O incêndio destruiu metadedo prédio, praticamente todo o arquivo e a maior parte do telhado.A destruição só não foi completa devido aos esforços dapopulação, pois muitas pessoas foram ajudar, além dos maçons,que conseguiram com grande sacrifício dominar o incêndio. Omaçom José Lourenço Pereira, mestre de linha da Estrada deFerro também compareceu com a sua turma, tornando-se umadas pessoas de destaque no combate às chamas. Em 14 deabril de 1883, realizou-se uma reunião extraordinária, a primeiradepois do incêndio, para tratar da reconstrução do prédio e daaquisição dele. Na verdade, a aquisição total com a lavratura daescritura só ocorreu em 1905, quando era Venerável o Tenente-Coronel Comandante do 151º Batalhão de Infantaria da GuardaNacional, João José Alves Jr., então proprietário da Fazenda doSobrado. Como todas as lojas maçônicas no País nessa época,a Loja Independência e Luz teve, também, participação ativa na

94

Abolição da Escravatura, inclusive libertando uma escrava emsolenidade pública, durante uma festa de posse de diretoria. Nareunião de 24 de novembro de 1886, o maçom Luís Ariello, denacionalidade italiana, membro da Loja, havia proposto a libertaçãode uma escrava no dia de posse da diretoria, como de fatoocorreu no dia 21 de dezembro de 1886, quando tomava posse,reeleito como Venerável- Mestre, Joaquim Adelino da Cruz, umdos fundadores da Loja. Na solenidade estiveram presentes 45maçons, além de visitantes ilustres como o Dr. Adolfo PereiraPonce de Leon, membro da Maçonaria do Rio de Janeiro,senhoras e familiares de maçons. Após a posse solene, todosos presentes se dirigiram ao salão de festas, onde se achavaum conjunto musical, promovendo um modesto baile. A escravalibertada, de nome Tereza, serva do Sr. Manoel José da Costa, foiconduzida ao salão, recebendo ali das mãos do orador da Loja,Dr. Antonio Leite Ribeiro de Almeida, a sua alforria, que custou200 mil réis, quantia alta para a época.

(Texto publicado originalmente no jornal “Memória Barramansense”, nº13, de outubro de 2007)

95

Carlos Lacerda Seria Assassinadoem Barra Mansa

Rozan Silva

Em 24 de agosto de 1954 o Brasil inteiro ficou chocado com osuicídio de Getúlio Vargas. O fator preponderante para que essetriste episódio de nossa história ocorresse, foi o atentado sofridopor Carlos Lacerda, em 5 de agosto do mesmo ano, na ruaTonelero, em Copacabana. Lacerda era um dos mais ferrenhosadversários de Getúlio, e concorria na época ao cargo de deputadofederal. Usava seu jornal, o “Tribuna da Imprensa”, para atacarde todas as maneiras o presidente, e fora ameaçado de mortealgumas vezes. Adepto de suas idéias, um grupo de oficiais daaeronáutica prestava segurança a Lacerda durante seuscomícios, voluntariamente. Naquela noite de 5 de agosto, osegurança da vez era o major Rubem Florentino Vaz, e o comícioera realizado no pátio de um dos mais tradicionais colégios doRio de Janeiro, o São José, situado na rua Barão de Mesquita, naTijuca. Os autores do atentado foram o pistoleiro Alcino João doNascimento e Climério Euribes de Almeida, pertencente à guardapessoal do presidente Getúlio Vargas. O crime foi cometido quaseque amadoristicamente, e os criminosos deixaram muitas pistas,o que facilitou as suas prisões, e o conseqüente desfecho docaso. A primeira grande falha foi que, para chegar ao comício doColégio São José, Climério chamou um taxi, que tinha seu pontopróximo ao palácio presidencial, e cujo taxista, Nelson Raimundode Souza, costumava servir aos integrantes da guarda dopresidente, e conhecia Climério. O crime iria ocorrer no ColégioSão José, mas o taxista só chegou ao local quando o comício játinha terminado, e eles seguiram então para a residência deLacerda, na rua Tonelero, 180. Lá chegando aconteceu o tiroteio,que tirou a vida do major Rubem Vaz, feriu Lacerda e um guardamunicipal de nome Sálvio Romeiro, que estava nas proximidades.No dia seguinte o taxista foi à polícia e contou o que sabia,facilitando a prisão de Climério, que depois entregou o pistoleiroAlcino, na realidade um marceneiro, mas que já havia cometidopelo menos um crime, a pedido de um amigo, José AntonioSoares, que disse a ele necessitar sua ajuda para matar um

96

homem que tentava seduzir sua mulher. Alcino aceitou a tarefa eno carnaval matou o suposto Don Juan, recebendo pelo crimecinco mil cruzeiros. José Antonio descobriu depois que Alcinomatara o homem errado, mas nem por isso deixou de apresentá-lo a Climério, que o contratou para executar Lacerda porquinhentos mil cruzeiros. Durante as investigações, outra gravefalha do plano veio à tona, quando a polícia descobriu que GregórioFortunato, o chefe da guarda de Getúlio, dera cinqüenta milcruzeiros para a fuga do grupo. Em 8 de agosto Gregório confessasua participação no crime. Com isso a pressão sobre o presidentechegou a níveis muito altos. Lacerda aproveitou-se do episódiopara aumentar seus ataques, e a população e os militares pediama sua renúncia. Em um trágico gesto, Getúlio dá fim a sua vida,matando-se com um tiro no coração. A situação então se inverte,e os que clamavam por sua renúncia passam a lamentar suamorte. Enquanto a carta-testamento era transmitida pelos rádios,o povo tomou as ruas, revoltando-se contra os adversários deGetúlio. O jornal “Tribuna da Imprensa”, bem como outros ligadosa adversários de Getúlio, foram empastelados e depredados pelamultidão enfurecida. Carlos Lacerda fugiu para o exterior, tendosido na época considerado o responsável direto pela morte dopresidente. Controvérsias surgiram sobre o atentado, e sãodiscutidas até os dias de hoje. Em uma entrevista, em 2004, opistoleiro Alcino, com 82 anos então, declarou que o primeiro tiroque acertou o Major Rubem Vaz partiu do revólver de Lacerda.Foi dito também que Lacerda não havia se ferido, e forjou oferimento, para dar mais comoção ao fato. Outra teoria é que aspistas foram deixadas propositalmente, para que se instalasseuma crise política, provocando uma renúncia de Getúlio. Nenhumadessas teorias foi comprovada. Alcino foi condenado a 33 anosde prisão, tendo sobrevivido a duas tentativas de assassinato, efoi solto depois de cumprir 23 anos. Morreu aos 92 anos, em2014. Gregório foi condenado a 25 anos, e morreu assassinadona prisão. Climério foi condenado a 33 anos, e também foi mortona prisão. José Antônio Soares pegou 26 anos, e o taxista NelsonRaimundo 11 anos. Getúlio Vargas não foi o mandante doatentado, mas pagou pelo que seus assessores fizeram. Em umafamosa declaração sobre o caso, disse: “Os tiros da rua Tonelerome acertaram pelas costas”.

97

O que poucas pessoas hoje sabem, é que Carlos Lacerdaestava marcado para morrer em Barra Mansa, e não na ruaTonelero. Após ter sido apresentado a Climério Euribes de Almeidapor José Antônio Soares, Alcino João do Nascimento foi levadopor eles a Nova Iguaçu, para que conhecesse o homem quedeveria ser assassinado, Carlos Lacerda, que estava realizandoum comício naquela cidade. Decidiram então executar o crimeno próximo comício, que aconteceria em Barra Mansa, no SulFluminense. No dia marcado, Alcino foi para a casa de JoséAntônio, em Cascadura, e logo depois chegou também Climério.Os três embarcaram às 17 horas no carro de José Antônio, comele ao volante, e se dirigiram para Barra Mansa. A menos de cincoquilômetros do destino o carro enguiçou. Demoraram um pouco,mas conseguiram um reboque, e também um táxi, que levouAlcino e Climério para Barra Mansa. Chegaram a tempo de assistirao final do comício, quando usava da palavra o próprio alvo, CarlosLacerda. Alcino e Climério carregavam uma pasta de couro cadaum, ambas com uma arma dentro, mas desistiram de cometer oatentado ali, porque não dispunham de carro para a fuga.Pernoitaram na cidade e, no dia seguinte, com o carro de JoséAntônio reparado, voltaram para o Rio de Janeiro. Devido à avariaocorrida no carro, Carlos Lacerda escapou de ser assassinadoem Barra Mansa, em 1954.

Referências Bibliográficas:Inquérito Policial Militar - Setembro de 1954

98

O Início do GRECAB

Naquela quarta-feira, 30 de novembro de 1949, muitos barra-mansenses tinham um programa especial. Era meio da semana,não era feriado, mas estavam vestidos com suas melhoresroupas, esperando para ver o espetáculo teatral que seriaapresentado por um grupo de atores amadores. O local era opalco do Cine Palácio. E estava lotado!

Tudo havia começado um mês antes, quando o Sr. ArthurChiesse, destacado cidadão de nossa cidade e entusiasta peloteatro, havia inclusive fundado um grupo teatral em 1940 que nãovingou, foi procurado pela esposa do Dr. José Neves Arantes,Dona Fausta Villena Arantes, que compunha junto com as Sras.Celia Millen Oliveira e Maria de Lourdes Meirelles a comissão doNatal dos Pobres, e precisavam levantar fundos para eles. Arthurde pronto abraçou a idéia, e convidou vários amigos paraensaiarem e apresentarem uma peça, com a renda revertida paraa causa social. Lair Alexandre, Milton Carneiro, Evelyn Wardini,Anita Souza Araújo, Marta Magacho, Walkiria Corrêa, CelioMoreira, Jair Gomide, Estevão Gifoni, Hélio Couto, J. A. Dias, JoséSilva, a menina “Tutuca”, José Polastri, Antônio de Oliveira Leal,Alfredo Horta, José Lourenço, Antônio Elias Arbex, Joe Maleck eAmérico Vespúcio Lacerda, sob a direção artística de MiltonCarneiro, de pronto aceitaram o convite. A peça escolhida a serapresentada era um drama, “ O Mundo Não me Quis”, de autoriade A. Peres Filho, e que contava a história de um recém-nascidoabandonado na porta de um mosteiro.

Ao fim da apresentação o público aplaudiu efusivamente,entusiasmado com o espetáculo e com a capacidade que aquelescidadãos, que não eram atores profissionais, tinhamdemonstrado.

O objetivo do Sr. Arthur Chiesse foi cumprido com louvor. Narevista “Sinos de Barra Mansa” de novembro/ dezembro de 1949,órgão informativo das Associações Católicas, sob a direção deIsaltino Xavier, José Valiante e Arlindo Lopes Ferreira, foi publicadoo balancete da peça, que rendeu Cr$9.312,00. O dinheiro foi tododestinado ao natal do pobres da Escola Doméstica Cecília

Rozan Silva

99

Monteiro de Barros, o “Asilo das Órfãs”. Com esse dinheiro oAsilo adquiriu 1.070 vestidos, como comprova o agradecimentopublicado na edição seguinte da “Sinos de Barra Mansa”.

Quando terminou a apresentação no Cine Palácio naqueledia 30 de novembro de 1949, o que ninguém imaginava, nem oSr. Arthur Chiesse, nem os atores, nem os técnicos, nem o públicopresente, era que as cortinas permaneceriam abertas para oGRECAB por mais de 40 anos. Estava inaugurada uma nova erapara o teatro, não só de Barra Mansa, mas de toda a região.

O sucesso foi tanto que começaram os pedidos de novasapresentações. Todos queriam ver novamente em cena aquelesatores barra-mansenses que, apesar de amadores, tinham sesaído muito bem. Vieram as festas de fim de ano, o carnaval,mas as conversas em torno do assunto vira e mexe voltavam.Dentre os que se apresentaram no cine Palácio, estava LairAlexandre, comerciante, mas um apaixonado por teatro, e que jáera um ator amador com experiência. Ele era um dos maisentusiasmados com a continuidade do grupo, pois queria atuar.Seu currículo de ator amador já era respeitável na época. Lairhavia se apresentado de 1936 a 1938, sob a direção de AlvaroMarques, nas peças “O Conquistador de Fantasma”, Pecado dosPais” e “O Segredo de Família”, no Cassino Bangú, e, sob adireção de Antonio Moraes Lopes, na Associação dos Sargentosdo Exército em Juiz de Fora, de 1939 a 1947 atuou nas peças“Coitado do Xavier”, “Pense Alto”, “Ferro em Brasa”, “Chuvas deVerão”, “A Família Lero-Lero”, “Minha Sogra é da Polícia”, “OsTransviados”, “Os Maridos Atacam de Madrugada” e “O Ministrodo Supremo”. Eram na sua maioria peças cômicas, e Lair foi umdos responsáveis por levar algumas delas para o GRECAB.Como todos também queriam que o grêmio continuasse, não foidifícil para Lair convocar e realizar a primeira reunião preliminarde fundação do GRECAB, que se realizou no dia 8 de maio de1950. Essa ficou sendo depois a data oficial da fundação doGRECAB.

A reunião foi no Clube Marajoara, e compareceram a ela deacordo com a Ata os seguintes nomes: Lair Alexandre; JoséNeves Arantes; João Chiesse Filho; Jaime Leal; Antonio NagibArbex; Antonio de Oliveira Leal; Lair Alexandre; Luis PauloFrancischelli; Milton Carneiro; Arthur Chiesse; Fernando Ramos

100

Franco; José Polastri; Joe Maleck; Zulma Moreira Chiesse; FaustaVillela Arantes; Evelin Wardini; Jair Alves Gomide; AméricoVespúcio Lacerda; Anita Araújo e Lúcia Campbell, com o propósitode fundar e eleger a primeira diretoria do Grêmio. A presidênciada reunião ficou a cargo de João Chiesse Lima, à época Prefeitode Barra Mansa, e este convidou para secretariar a ata LairAlexandre. O nome escolhido em comum acordo entre algunsparticipantes era “Grupo Amador Dr. Neves Arantes, emhomenagem ao Dr. José Neves Arantes e sua esposa D. Fausta,responsáveis pelo convite feito a Arthur Chiesse que resultou noespetáculo de 30 de novembro de 1949. O Dr. José Neves Arantes,que estava presente, recusou a honraria. O Sr. Jaime Leal propôsentão que o grupo fosse denominado GRECAB- Grêmio Culturale Artístico Barramansense, o que foi aceito por todos. Passou-se à eleição da primeira diretoria do GRECAB, que foi poraclamação, e ficou assim constituída: José Neves Arantes –Presidente; João Chiesse Filho - vice-Presidente; primeirosecretário - Jair Alves Gomide; segundo secretário - Antonio deOliveira Leal; primeiro tesoureiro - Lair Alexandre ; segundotesoureiro - Antonio Nagib Arbex ; diretor artístico -Arthur Chiesse.

Foi assim que começou o GRECAB, o grupo teatral amadorde maior longevidade de Barra Mansa, que subiu aos palcos denossa cidade e da região centenas de vezes, sempre destinandoa renda para uma causa nobre, e cuja última apresentação foiem abril de 1992, com a peça religiosa “A Força do Perdão”.

Referências Bibliográficas:Livro de atas do GRECABRevista Sinos de Barra Mansa

101

Produzido pela ABHAcademia Barramansense de História

Apoio Cultural do GREBALGrêmio Barramansense de Letras

102