Antropogeo§rafia - museunacional.ufrj.br · subconsciente, porque f.azem parte da nossa vida. E...

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Antropogeo§rafia 7 Suas ori§ens, seu. objeto, seu compo de estudo e tendêncías Não deixa de ser para mim uma grata emo- ção o falar de uma disciplina a gue sempre dedi- quei o melhor de meu esfôrço, e que agora jus- tamente começa a ser compreendida no Brasil - fase em que uma ciência corre o maior dos perigos: o de "estar em moda" e ser cortejada de mais. A geografia humana é uma ciência jovem. Pelo menos como disciplina independente. Havia, decerto, nas páginas dos geógrafos modernos e mesmo dos pensadores antigos, des- de os gregos aos enciclopedistas, numerosos con- ceitos sôbre ,os aspectos geográficos da civiliza- ção, a distribuição dos povos na Terra, e as in- terdependências entre suas construções e produ- tos e o ambiente terrestre. Mas é justamente observado pelos geógra- Íos que um autor como VaRrNIus, precursor, no século XVII, da geografia comparada, é muito vago em matéria de geografia humana. Com o desenvolvimento científico da geo- grafia comparada no século passado, a distri- buição geográfica dos fatos humanos passou a ser feita por critério mais racional nas obras de um RIrtBn e de um Rrcrus, ou entrelaçada a estudos sociais da escola de Lr PLey, sem esgue- cer a influência da sociologia positivista, com a sua concepção da Humanidade. Soou afinal para a Ciência do homem como 1 Palestra realizada na Rádio Sociedade do Rio de |aneiro e publicada na Reuisúa Nacional de Educação, ns. 11 e 12, agôsto e setembro de 1933, pgs. 17-23. Reproduzido em homenagem ao geógrafo brasileiro, falecido em 8 de setembro de 1941. ÀGÔSTO, 1944 RernauNoo Lopns morador da terra a hora da autonomia e foi Rerzrr o eminente mestre de Leipzig, quem lha reivinclicou. Naturalista e escritor de larga cultura geral, Rarzer teve uma carreira cheia de imprevistos: a princípio zoólogo, entrou depois para o ensino geográfico mediante uma tese sôbre a imigração chinesa cujas observações obteve viajando, como correspondente da imprensa, nos Estados Uni- dos; depois escreveu vários trabalhos de geogra- fia histórica e política, e a sua Anthropogeogra- phie, o primeiro tratado especial da nova disci- plina. RarzBr procurou definir os grupos huma- nos no seu enquadramento (Rahmen), na sua localização (Stelle), e em relação ao espaço (Raum), e sempre apresentou concretamente, por meio de relações entre fatos objetivos, a dis- tribuição geográfica dos homens e da civiliza- ção. A criação dêsse sábio germânico, gue dis- seram de espírito latino, repercutiu nos centros científicos, especialmente nos Estados Unicios onde entrou com largo contingente para o pro- gresso da escola primária e na França, onde pro- duziu admiráveis manuais e onde Vtoer os La- BLACHE, BnuNHrs, Veuaux lhe deram brilho extraordinário. Um geógrafo francês, P. Dn- NIS, escreveu sôbre a nossa terra belos capítulos. No Brasil o seu advento foi algo tardio, como o de todos os progressos da ciência geo- l7

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Antropogeo§rafia 7

Suas ori§ens, seu. objeto, seu compo de estudoe tendêncías

Não deixa de ser para mim uma grata emo-

ção o falar de uma disciplina a gue sempre dedi-quei o melhor de meu esfôrço, e que agora jus-tamente começa a ser compreendida no Brasil

- fase em que uma ciência corre o maior dos

perigos: o de "estar em moda" e ser cortejada de

mais. A geografia humana é uma ciência jovem.

Pelo menos como disciplina independente.

Havia, decerto, nas páginas dos geógrafosmodernos e mesmo dos pensadores antigos, des-

de os gregos aos enciclopedistas, numerosos con-ceitos sôbre ,os aspectos geográficos da civiliza-

ção, a distribuição dos povos na Terra, e as in-terdependências entre suas construções e produ-tos e o ambiente terrestre.

Mas é justamente observado pelos geógra-Íos que um autor como VaRrNIus, precursor, noséculo XVII, da geografia comparada, é muitovago em matéria de geografia humana.

Com o desenvolvimento científico da geo-grafia comparada no século passado, a distri-buição geográfica dos fatos humanos passou aser feita por critério mais racional nas obras de

um RIrtBn e de um Rrcrus, ou entrelaçada a

estudos sociais da escola de Lr PLey, sem esgue-

cer a influência da sociologia positivista, com a

sua concepção da Humanidade.Soou afinal para a Ciência do homem como

1 Palestra realizada na Rádio Sociedade do Rio de |aneiroe publicada na Reuisúa Nacional de Educação, ns. 11 e 12, agôstoe setembro de 1933, pgs. 17-23. Reproduzido em homenagem aogeógrafo brasileiro, falecido em 8 de setembro de 1941.

ÀGÔSTO, 1944

RernauNoo Lopns

morador da terra a hora da autonomia e foiRerzrr o eminente mestre de Leipzig, quem lhareivinclicou.

Naturalista e escritor de larga cultura geral,Rarzer teve uma carreira cheia de imprevistos:a princípio zoólogo, entrou depois para o ensinogeográfico mediante uma tese sôbre a imigraçãochinesa cujas observações obteve viajando, comocorrespondente da imprensa, nos Estados Uni-dos; depois escreveu vários trabalhos de geogra-fia histórica e política, e a sua Anthropogeogra-phie, o primeiro tratado especial da nova disci-plina.

RarzBr procurou definir os grupos huma-nos no seu enquadramento (Rahmen), na sua

localização (Stelle), e em relação ao espaço(Raum), e sempre apresentou concretamente,por meio de relações entre fatos objetivos, a dis-tribuição geográfica dos homens e da civiliza-ção.

A criação dêsse sábio germânico, gue dis-seram de espírito latino, repercutiu nos centroscientíficos, especialmente nos Estados Uniciosonde entrou com largo contingente para o pro-gresso da escola primária e na França, onde pro-duziu admiráveis manuais e onde Vtoer os La-BLACHE, BnuNHrs, Veuaux lhe deram brilhoextraordinário. Um geógrafo francês, P. Dn-NIS, escreveu sôbre a nossa terra belos capítulos.

No Brasil o seu advento foi algo tardio,como o de todos os progressos da ciência geo-

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gráfica. Eucrnns oa CuNue, com a sua visãogenial, de naturalista e historiador, da terra e dagente, traçou n'Os Ser/ões e alhures, páginas de

Tipiti abogado. Obtido em Guaratiba, Distrito Fe-deral' pc Raimundo f,opes e Sílvio Fróis de Àbreu,s6 aoymtro de 1927. (N'. 19.454, da Coleção do

Museu Nacional).(Fotograíia de Moacir Leão)

alta compreensão antropogeográfica. Roeurrr-PrNTo, o mestre da nossa etnologia, já documen-tando a etnografia "sertaneja", jâ aplicando os

métodos geográÍicos ao estudo das tribos da"Rondônia", ccntribuiu decisivamente para o de-senvolvimento das idéias antropogeográficas nonosso país,

Dnrceoo DE CARVALHo e outros profes-sôres contribuiram para a modernizaçáo da geo-grafia econômica e do ensino geográfico.

O autor desta palestra, começando por ob-servar o meio regional e traçar no O Torrão Ma-ranhense e em roteiros de ensino, delineamentosda sÍntese geográÍica do país, dedicou-se depois,pelo estudo das estearias e dos sambaquis, à gec-arqueologia. O professor Sanapero deu atençãoà geografia botânica em suas repercussões sôbreo "habitat rural". SÍrvro Fnors Annru muitotem trabalhado no campo da geografia indus-trial e no arqueológico; H. A. Tônnes, nos seus

estudos sôbre a cerâmica de Maraio e outros,têm revelado vivo espírito geográfico. O prof.BacxHrusrR estudou as idéias da escola geo-política sueco-alemã. lâ ArnrRro Tônnrs,aliás, tinha lançado vistas profundas sôbre as

fontes naturais da vida social.

Dadas estas noções sôbre o progresso daciência, procuremos, lançando uma vista de olhosem tôrno de nós mesmos, de nosso ambiente coti-diano, definir os fenômenos que ela estuda e os

seus objetivos.

Por mais que o cinema, a palavra escrita e,

aincia, irradiada, no mundo moderno, universa-hzem o conhecimento de fatos distantes e de ter-ras extranhas, nada nos pode dar idéia de uma

ordem qualquer de fatos naturais, como aquêles

aspectos que estão em contato conosco e que, por'

assim dizer, se incorporam não só ao nosso per-manente quadro visual mas à nossa memóriasubconsciente, porque f.azem parte da nossa

vida.

E por isso que os americanos tanto se esfor-

çaram para implantar, na escola primária, a "Ho-me Geography", a geografia do nosso panoramafamiliar.

Tomando um veículo, por ex. para vir a

êste estúdio, vemos logo, neste ato, uma série

de conexões geográficas.

l8 REVISTÀ DO MUSEU NÀCIONÀf,

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§

A nossa casa Íica, p. ex., Írum dos bairrosresidenciais da parte interior da cidade o vei-culo nos traz à zona mercantil e de diversões,onde, como é natural, se localizam os centros derâdio-difusão. Aqui encontramos pessoas que

vieram de outros pontos, v. g . de um bairro ma-rítimo como Botafogo, e outra por ex. mora nossubúrbios da Central. Podemos, no trajeto, f.a-

zer víxias outras observações, que permitem umestudo da diferenciação funcional da cidade,como o que publicamos em nossos artigos -Pro urbe nostra e "Ensaio sôbre a vida das cida-des" - e como o recente mapa funcional do Rio,do geógrafo americano PRestoN E. |anaes. Alipara os lados da praia de S. Cristóvão e doCais do Pôrto, estabelecimentos industriais;alêm, nas proximidades da Praça da República,comércio e retalho, gue se diferencia e afina em

especialização e elegância à medida que vamospara o centro urbano.

Um turista ou inteiectual com quem trave-mos conhecimento pode ter chegado nesta ma-nhã ao Cais do Pôrto, vindo do Norte ou daEuropa, quando não de S. Paulo - pela estradade automóveis ou, modestamente, pela Centraldo Brasil; e falam-nos de boas ou más condi-

ções do trânsito, da paisagem da serra ou dotempo gue Íêz durante a travessia marítima.

Ora, tudo isso é geografia e tudo isso évivido. . .

Mas voltemos o olhar para dentro das nos-sas próprias casas: ao lado das de aspecto maisconfortável, palacetes, casarões antigos ou mo-dernos "bungalows" e outras, freqüentes vêzescom um avarandado de colunas de pedra cin-zenta - o gneiss das pedreiras cariocas - e

parecles de tijolo (que foi feito nos subúrbios ouna zona rural ) , há as mais modestas, cujas frá-geis paredes divisórias são feitas de um barroque é simplesmente o laterito (gue resulta dadecomposição das mesmas rochas dos nossosmorros )traçado com um duvidoso quantum sa-Íis de cal. . .

la náo falo dos apartamentos em que se re-talham os flancos gigantes do arranh â-cêtJ -intruso arrogante que, feito de material mais oumenos estrangeiro (ferro e cimento) e filho dacivilização cosmopolita e mercantil, e (mesmo

ÀGÔSTO, 1944

que a produção nacional daqueles materiais, quejá começou em nosso país, se desenvolva) nãochegará, talvez, tal a pressão econômica das di-ferenças dos meios, a eliminar os padrões arqui-tetônicos regionais, como certos modernistaspretendem.

E que dizer dos barracões heteróclitos demadeira e latas de querozene, dos morros po-bres, ou dos ranchos de taipa e sapé dos confinsdos subúrbios e das povoações rurais?

Cada uma dessas casas, por menos gue pa-reça, e não só no material, mas na situação, nasdimensões, Ílo terreno ocupado pelo quintal oupelo jardim, tÍaz - com interferência de fatosdistantes - os indeléveis sinais da influênciado meio local, a marca da terra, E mais interes-sante ainda é notar que os móveis, os aparelhos,os utensílios mais comezinhos têm, não raro, umreal interêsse geográfico.

Tipiti para expremeÍ mandioca com prelsa deÀrataca ou de parafuso. Obtido em Parati, Estado doRio de |aneiro, em levereiro de 1928, por RaimundoLopes e Sílvio Fróis de Àbreu. (N. 19.554, da Co-

leção do Museu Nacional).(Fotografia de Moacir Leáo)

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A vassoura, o abano, a esteira, o caixote,que foram adquiridos na quitanda, na feira-livre,etc., em gue lugar da zona rural ou do interiorforam feitos? gue madeira ou que fibras forne-ceram material para cada um dêsses objetos?

Que caminhos percorreu, em carroça ou eÍr cos-tas de animal, que matuto o trouxe à cidade?

Como trabalhou êle para o Íazer: no rancho, noterreiro, em plena mata?

Todos êsses obletos têm também um inte-rêsse etnográfico: êste abano, feito com a fôlhade palmeira palmada, parece-se com os dos ín-dios; aquêle côvo de pesca, que podeis ter vistonuma praia da Ilha do Governador, pode ser dcorigem portuguêsa; outros tipos, de armadilhade pesca, um munzuá p. ex., serão de origemafricana.

Esta esteira de carnaúba, feita no Nordes-te, é trançada a 45'; aguela outra, de tabúa.vinda da zona rural carioca, é uma trama per-pendicular.

Um tipiti alongado, do Distrito Federal (n."19454 da col. do Museu Nacional) é mais se-

melhante aos dos índios, do que outro de Para-ti, (r.'19.554) arredondado e que prensa a

mandioca por mecanismo diferente."Cada terra com seu uso, cada roca com

seu fuso", la diz a sabedoria popular.

Assim entrelaçamos a geograf.ia urbana e arural. Nesta podemos ir também indagar dondevem o que comemos e o gue vestimos.

O gado que veio de Goiaz, uia Minas, eabatido em Santa Cruz, é, assim como suâ câr-ne, transportado pela Central do Brasil; o artozpode ter vindo dos banhados do Rio Grande dcSul; a planta é própria do solo úmido e se pro-duz atê certas latitudes na zona temperada.

Já o algodão só dá na região tropical e porisso o de que se fazem os panos de algodão donosso país é plantado em S. Paulo e no Norte.O Íumo do charuto pode ter vindo de Minas ouda Bahia. Um sabonete, manteiga de cozinhadevem ter sido feitos com óleo de babaçu doMaranhão.

Cada clima, cada terreno, só dá certos pro-dutos e presta-se especialmente ao desenvolvi-mento de um determinado produto. Daí a ne-

cessidade do transporte e do comércio, que jáexistem em rudimento nos povos primitivos. Oporto do Rio de laneiro, p. ex., recebe: ca[é,do interior do Sul para exportar para o restodo país e estrangeiro; produtcs que as cidadesindustriais, como S. Paulo, e os portos dos es-

tados enviam, uns já manufaturados, outros pormanufaturâÍ - pois nos estados de origem nãohá fábricas apropriadas para o transformar; e

produtos que importamos do estrangeiro.

Os porúos, especialmente os grandes, dota-dos de cais acostáveis modernos, são semprecentros de civilização, que enfeixam os caminhose os produtos de todo o mundo, e compensam

reciprocamente as deficiências da produção dasua e das outras regiões.

Assim, através das necessidades econômi-cas, vamos vendo configurar-se uÍlâ série defatos mais dependentes da geografia, por mais"agarrados à terra", como sejam os de ocupa-

ção improdutiua (ou melhor construtiua) comoos edifícios e os caminhos; de produção uegetale animal (lavoura e criação); os das industriasextratiuas, p. ex. a mineração, os produtos Ílo-restais, e a ação destrutiua do homem sôbre anatureza vegetal e animal, p. ex. a devastaçãodas matas.

São os fatos essenciais da geografia huma-na, na classificação de |. BnuNHrs, o qual con-sidera os outros aspectos da cultura humanacomo apenas indireta ou acessôriamente iigadosà geografia.

Outros geógrafos, porém, e à frente dêles

Vroer LesracHe, preferem, partindo do aspecto

global da distribuição das populações, destrin-

çar a casualidade geogrâfica de todos os fenô-menos, através do seu encadeamento no espaço,

e Ínesmo no tempo, e não só pela geografiahistórica como pela pré-história, considerandoos utensílios, como fatos de frisantes caracterís^ticas geográficas e encarecendo o caráter geo-gráfico, pela estreita dependência dos recursos

regionais, das culturas primitivas, dos povos sel-

vagens.

Sem desconhecer que os fatos chamadcsessenciais da classificação de BnuNries estãorealmente em mais íntima, imediata ou completaligação com a terra, não podemos dar razáo a

20 REVISTÀ DO MUSEU NÀCIONÀL

certas interpretações exclusivistas, por ex. QUan-do êste autor chega a desmerecer as caracterís-ticas geográficas dos veiculos e instrumentos cle

trabalho, sem excetuar os de material rústico ou

regional, e os gue foram coordenados nos notá-veis trabalhos etnogeográficos africanistas de

FnosrNrus.No nosso continente sul americano, os En-

saios etnológicos comparatiuos, de NoRorNs«-Iôro deixaram bem confirmados os caracteresregionais, em dependência com os meios equato-

rial, tropical, andino, etc., que de há muito vêm

os etnógrafos notando, p. ex. a rêde, complexo

de mandioca, os

tipos de flechae de arco. Osetnólogos e geó-grafos mostra-ram a importân-cia dos comple-xos dependentesde um dado ma-terial.

Não deu Bnu-NHES a impor-tância devida àcircunstância deque os materiaise os utensílios,constituem o laçoindispensável

vaguciro da resião do rio s

entre os que cha-ma de "fatos essencias da geografia humana".Não é suficiente a comparação que êsse autorf.az, dizendo que cs móveis e instrumentos uestem

a habitação, ou os veículos, a estrada, que afinalde contas é feita para o veículo !

O vaqueiro, na caatinga nordestina, estarámais adstrito a um tipo de habitação regional,que ao complexo de objetos: roupa de courc,

alpercatas, cornichas, etc. - na vida rude de que

Eucuoss oa CuNHÀ nos deu tão impressio-nante descrição?

O gue é mais local e mesmo geográfico, na

zona dos cocais - o toco (cesto) e a mean-sada (esteira) feitos de palma de babaçu como

a casa de palha, ou os casarões coloniais de Ai-cântara e de S. Luiz, em cujos lajedos e por-tais se empregou cantaria de Lisboa, vinda como

lastro dos navios? Em igualdade de condições

o imouel é mais geográfico que o móvel, concor-demos com JeaN BnuNHES, a cujo trabalho de

classificação objetiva muito deve a ciência mas,

além do critério da situação, do "princípio de

extensão", gue é um dos fundamentos tradicio-nais da geografia, devemos encarar também os

fatos pelo critério da conexão, pelo "princípio

de causalidade", que é inerente a tôda ciência

natural.

Wortxor, aliás, notou que os sêres e mate-

riais móveis superficiais da terra ê que são oble-to por excelência da ação geográfica humana.

É verdade que

êsse critério es-

trito, formal, deBnuNnrs, é o

que rigorosa-mente delimita a

geografia huma-na e as ciênciasantro po lo gi cas,mas, se nos fôs-semos cingir aos

lirrites da "geo-

grafia pura", em

breve a ciênciageográfica retor-naria ao ramerrão

Fraucisco, Esrado da Bahia decorativo ' p?t-(Fotografia de Ànteu tervalhol dgndo O eStímulo

da pesquisa.De um modo geral, duas tendências princi-

pais dividem hoje os geógrafos - a tendênciaeconomista e a biológica; a primeira apresenta a

terra como campo de trabalho e exploração daHumanidade; a tendência biológica atende me-lhor aos mil laços que prendem o homem, comoanimal de singular atividade criadora, ao setr

ambiente.

Não devo ocultar a minha preferência pelageografia "causal", pela tendência biológica epela pesquisa ampla, em estreito contato com as

ciências irmãs, pois sou dos que pàrrru- que ageografia não é apenas uma rígida descrição dos

aspectos exteriores da terra, mas um dos mais

nobres esforços do espírito humano para expli-car o papel do homem na cena do mundo. . .

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