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  • 8/18/2019 Antropologia Kant Parte

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     Da visão

    § 19

    Também a visão é um sentido da sensação mediata, produzida por meio de uma matéria móvel sentida apenas por um certo órgão (osolhos), a luz, a ual não é meramente, como o som, um movimento ondulatório de um elemento !luido, ue se propaga em todas asdireç"es do espaço ao redor, mas uma corrente pela ual é determinado um ponto para o ob#eto no espaço, e por meio da ual o universo senos torna conhecido numa e$tensão tão imensa ue, sobretudo uando comparamos, a partir de nossas escalas terrestres, as dist%ncias doscorpos celestes dotados de luz própria em relação & terra, nos cansamos com a série de n'meros e, nesse caso, uase temos mais motivo para admirar a delicada sensibilidade desse órgão, no ue se re!ere & percepção de impress"es tão !racas, do ue a grandeza do ob#eto (ouniverso), principalmente uando se considera o mundo em escala menor, como uando é posto diante dos olhos por meio do microscópio, por e$emplo, nos animlculos em in!usão * +e não é mais indispensvel ue o ouvido, a visão é seguramente o sentido mais nobre, porueé, dentre todos, o ue mais se distancia do tato, como condição mais limitada das percepç"es, e não só contém a maior es!era delas noespaço, mas também sente seu órgão menos a!etado (porue, do contrrio, não seria mera visão), e, com isso, se apro$ima, portanto, deuma intuição pura (a representação imediata do ob#eto dado sem ue nela se note mistura de sensação)

    -sses tr.s sentidos e$ternos conduzem o su#eito, por re!le$ão, ao conhecimento do ob#eto como uma ciosa !ora de nós * /as uandoa sensação se torna tão !orte ue a consci.ncia do movimento do órgão se torna mais intensa ue a re!er.ncia a um ob#eto e$terior, então asrepresentaç"es e$ternas se convertem em internas * 0otar o liso ou o spero no tangvel é algo totalmente di!erente ue reconhecer comisso a !igura do corpo e$terior 2o mesmo modo, uma voz esganiçada pode tornar alguém surdo por alguns instantes, se a !ala do outro étão !orte ue, como se diz, doem os ouvidos, ou então alguém pode !icar cego por alguns instantes, se sai de um aposento escuro para a luzdo sol e pisca os olhos, isto é, nenhum dos dois pode chegar ao conceito do ob#eto devido a veem.ncia da sensação, a atenção deles estandomeramente !i$ada na representação sub#etiva, a saber, na modi!icação do órgão

     Do paladar e do olfato

    § 34

    5s sentidos do paladar e do ol!ato são, ambos, mais sub#etivos ue ob#etivos, o primeiro, pelo contato do ob#eto e$terno com o órgãoda lngua, da garganta e do céu da boca6 o segundo, pela aspiração de aromas ue se mesclam ao ar, onde o corpo ue as emite podeinclusive estar distante do órgão 7mbos são bastante aparentados, e auele a uem !alta o ol!ato tem sempre apenas um paladar embotado * 8odese dizer ue ambos são a!etados por sais (!i$os e volteis), dos uais um precisa ser dissolvido pelo luido na boca, o outro, atravésdo ar, sais ue t.m de se in!iltrar no órgão para !azer chegar a este a sensação espec!ica deles

     Nota geral sobre os sentidos externos

    § 31

    7s sensaç"es dos sentidos e$ternos podem ser divididas nas de in!lu$o mecânico  e nas de in!lu$o químico :s ue in!luemmecanicamente pertencem os tr.s sentidos superiores6 &s de in!lu$o umico, os dois sentidos in!eriores 7ueles são sentidos da  percepção(super!icial)6 estes, da  fruição (ingestão no mais ntimo) * 7 náusea, estmulo de se libertar do ingerido pelo caminho mais curto doesôfago (vomitar), !oi dada ao homem como uma sensação vital muito !orte, porue a ingestão pode ser perigosa ao animal

    /as assim como e$iste também uma fruição espiritual , ue consiste na comunicação dos pensamentos, !ruição ue, no entanto, amente acha repugnante uando nos é imposta e não nos é saudvel como alimento espiritual (como, por e$emplo, a repetição sempre dasmesmas idéias pretensamente espirituosas ou divertidas não pode nos ser saudvel #ustamente por essa monotonia), assim também oinstinto natural de se livrar dele se chama igualmente, por analogia, nusea, ainda ue pertença ao sentido interno

    5 olfato é como ue um paladar & dist%ncia, ue !orça os demais a compartilhar a !ruição de algo uerendo ou não, e por isso essesentido, contrrio & liberdade, é menos socivel ue o paladar, onde dentre muitos pratos ou bebidas o convidado pode escolher um de seuagrado, sem obrigar os demais a compartilhar a !ruição dele * 7 imundcie parece despertar nusea não tanto pela repugn%ncia para olho elngua, uanto pela suposta !etidez 8ois a ingestão pelo ol!ato (nos pulm"es) é ainda mais ntima ue pelos vasos de absorção da boca ougarganta

    ;uanto mais intensamente os sentidos se sentem afetados, ainda ue o grau de in!lu$o e$ercido sobre eles permaneça o mesmo, tantomenos eles ensinam 5u inversamente< para ue ensinem muito, precisam ser moderadamente a!etados ;uando a luz  é mais intensa, nada

    se vê (distingue), e uma voz de estentor ensurdece (aba!a o pensamento);uanto mais o sentido vital é receptivo a impress"es (uanto mais delicado e sensvel), tanto mais in!eliz é o ser humano6 uantomais receptivo ao sentido org%nico (mais sensitivo) e, inversamente, uanto mais duro para o sentido vital, tanto mais !eliz ele é * digomais !eliz, não e$atamente melhor moralmente *, pois ele tem mais em seu poder o sentimento de seu bemestar 7 !aculdade de sentir pela força do su#eito ( sensibilitas  stenica) pode se chamar sensibilidade !ina6 a !aculdade de sentir pela debilidade do su#eito em não poder resistir su!icientemente & invasão dos in!lu$os dos sentidos na consci.ncia, isto é, em lhes prestar atenção contra a vontade, pode se chamar suscetibilidade delicada ( sensibilitas astenica)

    !uestão

    § 33

    ;ue órgão de sentido é o mais ingrato e parece ser também o mais dispensvel= 5 do olfato 0ão compensa cultivlo ou seuer re!inlo para !ruir dele, pois pode proporcionar mais ob#etos de asco (principalmente em lugares de muita aglomeração) ue de agrado e, para causar prazer, a !ruição por meio desse sentido também só pode ser sempre !ugaz e passageira * /as como condição negativa do bemestar, para ue não se respire um ar nocivo (o vapor dos !ornos, a !etidez dos p%ntanos e cadveres), ou também não se usem coisasestragadas como alimento, esse sentido não é sem import%ncia * -$atamente essa mesma import%ncia tem também o segundo sentido de!ruição, a saber, o sentido do paladar , mas com a vantagem particular de ue !omenta a sociabilidade na !ruição, o ue o anterior não !az,além de também #ulgar se os alimentos são proveitosos # na porta de entrada do canal intestinal6 pois nessa !ruição o proveito est ligadoao agrado como uma predição bastante segura desse 'ltimo, contanto ue a opul.ncia e a gulodice não tenham posto a perder o sentido * 

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    5nde !alta apetite aos doentes, isso costuma ser em geral para eles proveitoso tal ual um remédio * 5 cheiro das comidas é como ue umantegosto, e o !aminto é convidado & !ruição pelo cheiro dos pratos prediletos, assim como dela se a!asta auele ue est satis!eito

    -$iste um substituto dos sentidos, isto é, um uso de um sentido para substituir um outro= 8or meio de gestos, isto é, da visão se pode!azer um surdo !alar da maneira habitual, desde ue tena podido ouvir um dia6 a isso também pertence a observação do movimento deseus lbios, e o mesmo pode ocorrer pelo sentido do tato, tocandose os lbios em movimento no escuro /as se é surdo de nascença, entãoo sentido da visão, partindo do movimento dos órgãos da linguagem, precisa converter os sons ue se conseguiu obter dele por aprendizadonum sentimento do movimento próprio dos m'sculos da !ala, ainda ue com isso ele nunca chegue a verdadeiros conceitos, porue ossignos de ue necessita para isso não são próprios para a universalidade * 7 !alta de ouvido musical, ainda ue o ouvido meramente !sico permaneça intacto, porue o ouvido pode ouvir sons, porém não tons, ou se#a, um ser humano ue possa !alar mas não cantar, é uma atro!iadi!cil de e$plicar, assim como e$istem pessoas ue podem ver  muito bem, mas não distinguir cores, pessoas para as uais todos os ob#etosaparecem como numa gravura em cobre

    7 !alta ou perda de ual sentido é mais grave, a da audição ou a da visão= * 7 primeira, se é de nascença, é dentre todas a menosreparvel6 mas se só ocorre mais tarde, depois ue # se cultivou o uso da visão, uer para observar a gesticulação, uer ainda indiretamente pela leitura de uma obra escrita, então uma tal perda pode ser malemal reparada por meio da visão, principalmente num indivduoabastado /as alguém ue se tornou surdo na velhice em muito sentir a !alta desse meio de relacionamento, e assim como se v.em muitoscegos ue são e$pansivos, sociais e alegres & mesa, assim também alguém ue perdeu a audição di!icilmente se mostrar em sociedade anão ser como um aborrecido, descon!iado e insatis!eito -le v. na !isionomia de seus companheiros de mesa muitas e$press"es de a!eto, ouao menos de interesse, e se es!al!a sem .$ito para adivinhar a sua signi!icação, estando, pois, condenado & solidão mesmo em meio &sociedade

    § 3>

    2os dois 'ltimos sentidos (ue são mais sub#etivos ue ob#etivos) ainda !az parte uma receptividade para certos ob#etos de sensaç"es

    e$ternas de um tipo especial, ue são meramente sub#etivos e atuam sobre os órgãos do ol!ato e do paladar por meio de um estmulo uenão é nem cheiro nem sabor, mas é sentido como a in!lu.ncia como desopilantes espec!icos de certos sais !i$os ue estimulam os órgãos6 por isso, tais ob#etos não serão propriamente !rudos nem recebidos intimamente nos órgãos, mas devem apenas toclas e ser retirados emseguida, porém, e$atamente por isso, poderão ser usados sem saciedade durante o dia inteiro (e$cetuadas as horas de comer e dormir) * 5material mais comum dessa receptividade é o tabaco, inalado ou colocado entre as laterais e o céu da boca, como estmulo & e$pectoração,ou  fumado com cachimbo, como a mulher espanhola de ?ima o !az com um cigarro aceso -m vez de tabaco, os malaios se servem, no'ltimo caso, da noz da areca enrolada numa !olha de bétele (areca de bétele), ue produz e$atamente o mesmo e!eito * 7bstraindose dautilidade ou do dano medicinal ue a secreção de luido pode causar em ambos órgãos, essa avidez ( pica), como mera e$citação dosentimento sensvel em geral, é como ue um impulso !re@entemente repetido para recobrar a atenção sobre o próprio estado de pensamento, ue, do contrrio, se entorpeceria ou se aborreceria com a uni!ormidade e monotonia, enuanto aueles meios sempre osdespertam como ue aos solavancos -ssa espécie de entretenimento do ser humano consigo mesmo substitui uma companhia, pois preenche, no lugar da conversa, o vazio do tempo com sensaç"es sempre novas e com e$citaç"es !ugazes, mas sempre renovadas

     Do sentido interno

    § 3A

    5 sentido interno não é a pura apercepção, uma consci.ncia do ue o ser humano  faz , pois esta pertence & !aculdade de pensar, masdo ue ele sofre uando é a!etado pelo #ogo de seus próprios pensamentos +eu !undamento est na intuição interna, por conseguinte, narelação das representaç"es no tempo (tais ue nele se#am simult%neas ou sucessivas) 7s suas percepç"es e a e$peri.ncia interna(verdadeira ou aparente) composta pela ligação entre elas não são meramente antropol"gicas, a saber, onde se desconsidera se o homemtem ou não uma alma (como subst%ncia incorpórea particular), mas  psicol"gicas, onde se acredita perceber em si uma tal alma, e a mente,representada como mera !aculdade de sentir e de pensar, é considerada como subst%ncia particular ue habita o ser humano * B entãosomente um sentido interno, porue não são diversos os órgãos por meio dos uais o ser humano sente interiormente a si mesmo, e poderseia dizer ue a alma é o órgão do sentido interno, do ual se a!irma ue est su#eito também a ilus#es, ue consistem em ue o ser humano toma os !enCmenos desse sentido por !enCmenos e$ternos, isto é, !icç"es por sensaç"es ou as tem até mesmo por inspiraç"es deue um outro ser é a causa, ser, porém, ue não é ob#eto do sentido e$terno< então a ilusão é desvario ou também sono de visionário, eambos, engano do sentido interno -m ambos os casos a enfermidade do espírito é a propensão a tomar o #ogo das representaç"es dosentido interno por um conhecimento emprico, uando é só uma !icção, e também a se entreter !re@entemente com um estado de %nimoarti!icial, talvez porue se#a considerado saudvel e elevado acima da bai$eza das representaç"es sensveis, e a enganar a si mesmo com

    intuiç"es !or#adas con!orme auele estado (sonhar acordado) * 8ois pouco a pouco o homem toma auilo ue ele mesmo introduziu de propósito na mente por algo ue # !ora posto antes nela, e cr. ter apenas descoberto nas pro!undezas de sua alma o ue ele mesmo havia seimposto

    Doi assim com as e$altadas e e$citantes sensaç"es internas de uma Eourignon, ou as e$altadas e assustadoras de um 8ascal -ssa perturbação da mente não pode ser convenientemente eliminada por representaç"es racionais (pois ue podem estas contra supostasintuiç"es=) 7 propensão ao ensimesmamento, #unto com as ilus"es do sentido interno ue dela decorrem, só pode ser corrigida se o ser humano é reconduzido ao mundo e$terior e, com isso, & ordem das coisas ue se apresentam aos sentidos e$ternos