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    Levantamento do Perfil Antropomtrico da Populao Brasileira Usuria doTransporte Areo Nacional

    Projeto ConhecerSurvey of Anthropometric Profile of Brazilian Air Transport Users

    Project Conhecer

    Sidney Cavalcante da SilvaMestre em Educao Fsica

    Agncia Nacional de Aviao Civil [email protected]

    Walace David MonteiroDoutor em Educao Fsica

    Universidade do Estado do Rio de Janeiro [email protected]

    Antropometria, Fator Humano, Espao entre Assentos.

    O objetivo do estudo foi traar um perfil da populao brasileira que utiliza a aviao como meio detransporte e verificar que parcela desta populao atualmente atendida satisfatoriamente dentro das

    configuraes de interior praticadas nas aeronaves, propondo modificaes se necessrio.

    Anthropometry, Human Factor, Seat Pitch.

    This study aimed at describing a profile of the Brazilian air transport users, finding out what percentage of

    this population is satisfied with the current airplane seat design as well as offering modification proposals

    when needed.

    1. Introduo

    Buscando conhecer a realidade entre ascaractersticas morfolgicas populacionais e otransporte areo no Brasil, a Agncia Nacionalde Aviao Civil (ANAC), realizou um grandelevantamento antropomtrico em todo o pas. Oobjetivo foi verificar a influncia das dimensescorporais dos usurios da aviao civil brasileirana sua sade, no espaamento entre assentos ena segurana de voo. Para tanto, foi delineadoum trabalho que envolveu duas fases. Na

    primeira, foi realizado um estudo piloto quecontou com 960 voluntrios, sendo 748 homens,com idades entre 16 e 83 anos (43,411,2 anos)e 212 mulheres, com idades entre 18 e 81 anos(38,211,5 anos). Os voluntrios foramselecionados em dois aeroportos geradores detrfego areo no pas, a saber: AeroportoAntnio Carlos Jobim e Aeroporto SantosDumont, ambos situados no Rio de Janeiro. Oestudo teve como objetivo refinar a metodologiaa ser usada na segunda fase do trabalho, queenvolveu a coleta de dados em todo o Brasil.Para atender este objetivo, trs objetivos

    especficos foram delineados. O primeiro recaiu

    na determinao de um conjunto de medidasantropomtricas para avaliar a relao entre asdimenses corporais da populao e o espaotil entre assentos, praticados pelas principaisempresas do transporte areo nacional. Osegundo voltou-se para a criao de umprotocolo vivel para coleta de dados emdiversos aeroportos do pas. Dessa forma, almda especificidade, as medidas deveriam atendera diversos critrios de viabilidade para suaobteno. O terceiro objetivo especfico

    direcionou-se ao tratamento dos dados,permitindo a obteno do perfil populacionalpreliminar concernente ao sexo, idade e medidasantropomtricas dos indivduos investigados.

    O estudo piloto mostrou dados que podem seranalisados sob vrios aspectos. No que dizrespeito ao espao entre assentos, foi constatadoque os reduzidos espaos verificados entre osassentos no estavam obrigatoriamenterelacionados ao espao longitudinal aplicado

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    entre as poltronas (pitch1), mas provavelmente aassociao entre os espaamentos e o design dosassentos. Quigley et al. (2001), em documentoelaborado para oJoint Aviation Authorities(JAA), analisando os espaamentos entre

    assentos praticados pelas companhias areas,relatam que os espaamentos atendem a apenas77% da populao europia e aaproximadamente 80% da populao mundial.Os mesmos autores ainda chamam ateno paraa dificuldade na evacuao de emergncia, bemcomo para a adoo da posio de impacto pelopassageiro. Posteriormente, Mulchansingh eNewberry (2002), corroborando com os achadosde Quigley et al. (2001), advertiram que osprojetos de poltronas de avies deveriam

    priorizar o aumento dopitch no peloafastamento entre os assentos, mas pela reduoda distncia sacroilaca base do encosto dapoltrona. No entanto, todo esse processoenvolve pesquisa com elevado custo, o que nemsempre se constitui na prioridade dosfabricantes de aeronaves. Em termos prticos, aspesquisas nem sempre revertem o retornoesperado.

    Todos esses problemas relacionados scaractersticas antropomtricas dos sujeitosestariam associados no s ao aumento damassa corporal total, mas tambm s variaesdas dimenses corporais entre as populaes.Enquanto algumas populaes apresentamaumento da estatura, outras podem experimentarefeito negativo, ou at mesmo a ausncia desseefeito, fenmeno chamado de tendncia secularem estatura (Kac, 1999). A tendncia secular emestatura definida como a ocorrncia de

    alteraes na idade em que se atinge umadeterminada estatura na infncia ouadolescncia, ou a estatura final alcanada pelapopulao adulta de um pas (Van Wieringen,1986). Esse fenmeno pode trazer mudanassignificativas, observadas em situaes em quegrandes percentuais da populao devem ser

    1 Compreende-se por seat pitch a distncia longitudinalentre as fileiras de assentos. (www.uk-air.net/seatpitch-htm). Obs.: Normalmente se utiliza de um ponto de

    fixao de um assento ao mesmo ponto de fixao doassento frente para sua medida, por no apresentarvariao.

    atendidos. Da a necessidade da obteno de umbanco de dados especfico para a populaobrasileira usuria do transporte areo, no sentidode investigar a influncia das dimensescorporais na disposio dos assentos das

    aeronaves que operam em nosso pas.

    Conclui-se no estudo piloto a necessidade emrealizar um levantamento do perfilantropomtrico da populao brasileira queutiliza a aviao como meio de transporte, bemcomo a anlise desses dados relacionados segurana, a sade e ao bem-estar dopassageiro. Desta forma, a parte do estudodirecionada ao delineamento das caractersticasantropomtricas da populao usuria da

    aviao civil brasileira apresentada a seguir.

    2. Materiais e Mtodos

    2.1 Seleo da Amostra

    Para identificar os aeroportos a partir dos quaisa amostra foi selecionada, adotaram-se osseguintes critrios: a) principais aeroportosgeradores de trfego areo, para cada ComandoAreo Regional, especificados por meio domovimento operacional da Empresa Brasileirade Infraestrutura Aeroporturia INFRAERO;b) a partir dos 65 aeroportos distribudos nossete COMARs, foram selecionados aqueles quereuniram o maior fluxo de passageiros porregio, somando no mnimo 80% do fluxo areopara cada uma delas.

    Para a seleo dos 5.305 indivduos, com idadeentre 15 e 87 anos (40 12), que foram

    avaliados no estudo, foi aplicado oprocedimento de clculo amostral, paraespecificar o nmero de indivduos necessriosem cada aeroporto.

    2.2 Medidas Antropomtricas

    Para caracterizao antropomtrica dosindivduos foram selecionadas 7 medidas, asaber: estatura, altura tronco-ceflica, largura deombro, largura de quadril, comprimento glteo-

    joelho e altura de poplteo. Em adio, tambmfoi aferida a massa corporal total.

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    A medida das variveis selecionadas seguiu apadronizao adotada na literatura (Martin et al.1988;Military Handbook Anthropometry, 1991;Gordon et al., 1988). As medidas foramrealizadas por avaliadores experientes, cuja

    reprodutibilidade em realiz-las foi previamenteestabelecida.

    2.3 Medidas Realizadas nas AeronavesAs medidas realizadas nas aeronaves seguiramum padro para a coleta, onde todas foramefetuadas do lado esquerdo da aeronave. Oslocais de medida foram prdeterminados, asaber: na frente da aeronave, sendo as medidasrealizadas, entre a primeira e a segunda fileira;antes da sada de emergncia; aps a sada de

    emergncia; no fundo da aeronave, entre apenltima e a ltima fileira. As medidaspraticadas forneciam os seguintes dados: a)largura do assento atravs da almofada dapoltrona; b) largura do assento entre os braos(armrest); c) espao til, compreendido pelaintercesso entre assento e encosto, em umapoltrona e a parte posterior do assento frente,ou qualquer outra estrutura rgida situada frente.

    2.4 Confeco dos Modelos Virtuais

    Para a confeco dos modelos virtuais foinecessria a utilizao dos dados referentes aoperfil da populao usuria da aviao noBrasil, as medidas realizadas dentro dasaeronaves e empresas selecionadas, e oComponent Maintenance Manual (CMM) decada assento, obtido com as respectivasempresas vistoriadas.

    De posse desses dados inicialmente foramvetorizados os assentos atravs do softwareCorel Draw Grafics X3.13 (Corel Corporation,Califrnia, USA). Utilizando o software Catia5.17, no modulo human builder foram geradasas figuras humanas (Dassault Systmes, Paris,Frana). Ambas as figuras foram unidas paraque se tivesse a visualizao do perfil dapopulao no percentil 95 para cada modelo deassento analisado.

    3. Tratamento Estatstico

    Para expressar os resultados da pesquisa, foramutilizados valores correspondentes s medidasde tendncia central, medidas de variabilidade e

    valores percentuais para verificar a distribuiodos dados, que foram normalizados pelo escorez.

    4. Resultados e Discusso

    Para caracterizar a amostra foi utilizado pesocorporal, estatura e ndice de Massa Corprea(82,8 14,2; 173,1 7,3; 27,7 4,3). A anlisedesses dados permitiu verificar que a amostraapresentava uma distribuio normal, o que

    permite afirmar que o processo de seleo damesma no foi tendencioso.

    O estudo piloto identificou que o reduzidoespao entre assentos no estavaobrigatoriamente relacionado aopitch, mas simaos diferentes tipos de assentos queinfluenciavam de forma distinta nos espaosteis praticados. Em adio, tambm foiconstatado que opitch oscilava entre 29 e 34polegadas. Como os dados do estudo pilotoforam gerados em 2004, procurou-se verificar semudanas teriam sido promovidas nessesespaos nos ltimos quatro anos. Atravs daslopas das aeronaves, fornecidas pelas empresas,constatou-se que os espaos entre assentos,atualmente praticados, continuam os mesmos.Essa distncia entre assentos encontra-se dentroda variao observada em todo o mundo(Skytrax, 2007).

    Outro aspecto a ser destacado diz respeito grande variabilidade depitchs que podem serencontrados em uma mesma aeronave. Nessecaso, foram constatadas variaes de 2 a 5

    pitchs, o que provocaria espaos teiscompletamente distintos em diferentes locais daaeronave. Em termos aplicados, para um mesmoindivduo, o fato de sentar em locais distintosacarretar em diferenas no espao til.

    Alm disso, nas aeronaves avaliadas verificou-

    se o uso de 22 modelos de assentos diferentes.Deste total, em cinco modelos virtuais gerados,

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    os indivduos pertencentes ao percentil 95 deestatura (187,4cm) e comprimento glteo-joelho(67,0 cm) teriam dificuldades em se acomodarno espao existente entre assentos. Isto significaque dizer que dos modelos virtuais gerados

    22,72% no atendem. importante ressaltar queos modelos virtuais em questo foram geradospara o menorpitch das aeronaves (29polegadas), no sendo representativo para toda aaeronave. A figura 1 apresenta um dessesmodelos e a limitao para atender a indivduosno P95.

    Figura 1 - Modelo virtual para P95 da populao em umpitch 29

    No entanto, observando todo os modelosvirtuais gerados compitchs 29 polegadas,verifica-se que alguns modelos apresentam maisespao do que outros. Esses achadoscorroboram os dados do estudo-pilotomostrando que o espao til adequado umacombinao entre a distncia longitudinal entreos assentos, opitch e o modelo de assento,como podemos verificar na figura 2.

    Figura 1 - Modelo virtual para P95 da populao em umpitch 29 com amplo espaoNos modelos virtuais gerados para umpitch de30 polegadas, a influncia do modelo de assentomostra-se mais explcita. Assim, possvel

    verificar facilmente a diferena de espao tilfornecido pelos distintos modelos de assento,apesar do mesmopitch.

    Ao comparar os distintos assentos para ospitchsde 29 e 30 polegadas, era de se esperar que os

    pitchs maiores oferecessem maior espao til.No entanto, quando analisamos os modelosvirtuais destespitchs, verificou-se que doismodelospitch 29 polegadas apresentam espaotil similar a dois modelos pitch 30 polegadas

    apesar da diferena entre si. Estes achadosconsubstanciam a importncia do design dosassentos na determinao do espao til entre osassentos nas aeronaves.

    Os modelos virtuais compitchs acima de 30polegadas mostram espaos teis bemconfortveis para os indivduos situados nopercentil 95 da amostra, o que demonstra queindependentemente do modelo de assentoatualmente utilizado, quandopitchs acima de 30

    polegadas so empregados, o espao til deixade ser um problema (figura 3).

    Figura 3 - Modelo virtual para P95 da populao em umpitch 31 com amplo espao

    Logo, se as empresas selecionadas trabalharemcom 17 dos 22 modelos de assentos avaliados,compitch de no mnimo 29 polegadas, elasconseguem atender os indivduos situados no

    percentil 95 da amostra, como podemosverificar nas quatro figuras que seguem com

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    dois modelos apitch 29 polegadas e dois a 30polegadas (figuras 4, 5, 6 e 7).

    Figura 4 - Modelo virtual para P95 da populao em um

    pitch 29 atendendo o espao til

    Figura 5 - Modelo virtual para P95 da populao em umpitch 29 atendendo o espao til

    Figura 6 - Modelo virtual para P95 da populao em umpitch 30 atendendo o espao til

    Figura 7 - Modelo virtual para P95 da populao em umpitch 30 atendendo o espao til

    Tal fato corresponderia ao atendimento daquelesindivduos com estatura de 187,4 cm, ecomprimento glteo-joelho de 67,0 cm. Caberessaltar, que os modelos virtuais gerados nocontemplam as empresas que detm 6,82% domercado da aviao nacional regidas peloRBHA-121. No entanto, como as aeronavesutilizadas praticamente esto concentradas entredois fabricantes, Boeing e Airbus, dificilmentealguma das empresas que compem a outraparcela do mercado utiliza um tipo de assentodiferente dos avaliados. Contudo importanteque tal fato seja avaliado e a presena deassentos diferentes seja verificada.

    5. Concluses

    Aps a apresentao dos dados sobre a relaoentre as dimenses corporais da populao e

    distintos modelos de assentos, possvelconcluir que: a) as trs maiores empresas domercado nacional, utilizando 17 dos 22 assentosavaliados compitch 29, atendem populaobrasileira usuria do transporte areo nacionalP95; b) nem todos os assentos que cumprem oespao til P95 atendem populao nestepercentil; c) acima de 30 depitch, o modelo deassento dificilmente influenciar no espao til.

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    4. Referncias Bibliogrficas

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    Skytrax.webpgina.www.airlinequality.com/product/seats.americas.htm, 2007.

    Mulchansingh Russel e Newberry Joss. questionof economy. In:Aircraft interiors International,

    p. 30-36, UK & International Press, 2002.

    KAC Gilberto. Tendncia secular em estatura:uma reviso da literatura. In: Caderno deSade Pblica, 15(3), p.451-461, 1999.

    VAN WIERINGEN JC. Secular growthchanges. In FAULKNER F, TANNER JM:

    Human Growth. A comprehensive treatise.Methodology, Ecological, Genetic and

    Nutritional Effects on Growth. 2aed. p. 307-331,

    New York, Plenum Press,1986.

    United State Military Personal. Militaryhandbook anthropometry. DOD-HDBK, p. 34-62, 1991.

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    GORDON C, CHUMLEA WC, ROCHE AF.Stature, recumbent lenght, and weight. InLOHMAN Timothy G, ROCHE AF,MARTORELL R. AntropometricStandartization Reference Manual, p. 03-08.Champaign, Human Kinetics, 1988.