Ao redor do relicário de São Vicente de Paulo de março de§ão... · de Paulo entregou a sua...
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RSV No.3—Marçode2015
Postulação
de março de
A linda história da nossa fundação Ao redor do relicário de São Vicente de Paulo
anos Neste ano de 2015 celebramos
os 170 anos da fundação dos Religiosos de São Vicente de Paulo.
Segunda‐feira, 3 de março de 1845, alguns dias antes da Páscoa,
Jean‐Léon Le Prevost, Clément Myionnet e Maurice Maignen se encontraram na capela dos Lazaristas,
para receber a benção de Dom Angebault
na frente do relicário de São Vicente de Paulo.
Este acontecimento o conhecemos muito bem, mas talvez não saibamos a
que ponto
devemos a este famoso relicário do grande Santo da caridade
a nossa identidade vicentina?
Propomos‐lhes que reliam nossos primeiros anos descritos em dez quadros,
inspirados por um grande mestre na arte da caridade, São Vicente,
de acordo com os planos e “as intenções” de Deus!
A capela São Vicente de Paulo na Casa mãe da Congregação da Missão
O relicário se encontra acima do altar mestre. Os fiéis podem subir uma escada, de lado, para venerar São Vicente. Página de cobertura: O relicário de prata, a obra do ourives Sr. Jean‐Baptiste Odiot. É coroada por um grupo composto de uma estátua principal de 1,5 m. onde se vê São Vicente glorificado e quatro figuras que representam anjos com os emblemas da Religião, da Fé, da Esperança e da Caridade. Dos dois lados, sobre os pedestais, se encontram duas figuras de órfãos cujo olhar está voltado para o interior do relicário e que parecem invocar o seu benfeitor.
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História tormentada do relicário
de São Vicente de Paulo
1660‐1830 1
A morte de São Vicente em 1660 Em Paris, no dia 27 de setembro de 1660, o Sr. Vicente de Paulo entregou a sua alma a Deus. Foi enterrado no dia seguinte na igreja Saint‐Lazare, numa tomba escavada no meio do coro da capela. No dia 19 de setembro de 1712, durante o processo de beatificação foi feita a primeira exumação. Para a sua canonização, os seus restos mortais foram depositados num relicário de prata colocado sobre o retábulo do altar na capela Saint‐Lazare.
A Revolução francesa
No dia 13 de julho de 1789, na véspera da tomada da Bastilha, os revolucionários foram roubar a Casa de St‐Lazare. No dia 14 inicou a Revolução francesa. Nos anos seguintes, um decreto da Assembleia legislativa suprimiu todas as ordens religiosas. Na véspera da expulsão legal dos missionários, no dia 31 de agosto de 1792, um grupo de rebeldes se apresentou na Casa de St‐Lazare. Pouco antes, foram retirados os ossos de São Vicente do relicário. Este foi roubado pelos revolucionários, deixando a casa em incêndio.
As relíquias ficaram escondidas durante 40 anos
A ossada foi confiada ao notário de St‐Lazare, Sr. Clairet. Em 1806, o despojo consagrado foi posto num modesto relicário de madeira de carvalho e confiado às Filhas da Caridade da rua Du Vieux‐Colombier. Em 1815, foi trans‐ferida na sua Casa da rua Du Bac onde permaneceu até o dia 10 de março de 1830.
Construção de uma nova capela
Em 1827, uma nova capela, oferecida pela Cidade de Paris em reconhecimento pela obra de São Vicente, foi inaugurada, na rua de Sèvres no 95. Um magnífico relicá‐rio de argento também foi feito.
Traslada do relicário de São Vicente de Paulo
No dia 30 de março de 1830, a urna de carvalho, contida as relíquias, foi levada da Casa da rua Du Bac para a casa Arquidiocesana. No dia 10 de abril, os ossos foram juntados, por quatro médicos, segundo a sua posição natural do esqueleto hu‐mano. Uma vez o reconstituído foi enfaixado com peços algodão de seda e selado com 14 selos judiciais. Em segui‐da, foi coberto com as vestes sacerdotais. A cabeça e as mãos foram cobertas de cera e o rosto modelado segun‐do o retrato de São Vicente.
No dia 25 de abril de 1830, 2º Domingo de Páscoa, dia do Bom Pastor, uma grande procissão foi organizada nas ruas de Paris para a translação do relicário de São Vicente da catedral Notre‐Dame para a capela da rua de Sèvres. Apesar da lei que proibia qualquer manifestação pública nas ruas de Paris, tiveram a participação de numerosos bispos, centenas de padres e todas as comunidades religi‐osas aos quais se juntaram milhares de fiéis.
A Revolução de julho de 1830
Três meses após a translada, durante os três dias da Re‐volução de Julho, temendo o pior, se retirou o corpo de São Vicente do relicário para colocá‐lo, em segurança, na Casa das Filhas da Caridade.
Grande celebração para a volta das relíquias No dia 13 de abril de 1834, 2º Domingo de Páscoas, em recordação da translada de 1830, o corpo de São Vicente foi recolocado no relicário da capela da rua De Sèvres.
St‐Lazare—13 de julho de 1789
Capela São Vicente, rua de Sèvres
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Jean‐Léon Le Prevost vive em Paris
1825 ‐ 1832 2
Jean‐Léon Le Prevost estava em Paris desde 1825 e tra‐balha no Ministério dos Cultos. Habitava na rua Cassete no 4, perto da igreja St‐Sulpice.
No dia 25 de abril de 1830
Como todos os Parisienses, ele foi certamente tocado pela translada pelas ruas de Paris, das relíquias do gi‐gante da caridade, São Vicente de Paulo… o santo mui‐to amado pelos Franceses. Não era ainda a hora para o Sr. Le Prevost de relatar isto numa das suas cartas... Mas a graça estava agindo no seu coração…
No “Salão de Montalembert” Desde a sua chegada a Paris, a dois passos da sua casa, Le Prevost frequentava o “Salão” de Montalembert on‐de se encontravam artistas, pensadores, escritores, tais: Eugène Boré, Lacordaire, Lamennais, o músico Liszt e também o mais novo do grupo, um jovem universitário, estudante em direito, Frédéric Ozanam… Discutiam política, mudança social, catolicismo… Ainda que os acontecimentos políticos perturbassem Le Prevost, jovem artista sensível e romântico (a Revolu‐ção de Julho – os Três Gloriosos dias 26‐27‐28 de julho – a queda do rei Charles X… as revoltas na Bélgica, na Po‐lónia, a capitulação de Varsóvia), ele aspira a outras coi‐sas …
O seu amigo, Charles Gavard, que frequentava também o Salão de Montalembert, lhe fez conhecer um jovem poeta angevino de nome de Victor Pavie. Foi a ele que Le Prevost confiou, em suas primeiras cartas, conserva‐das em nossos arquivos, o seu caminho espiritual.
Do romantismo à Fé A sua amizade com Victor Pavie lhe abriu o coração. Ele abandonou gradualmente os sonhos do romantismo e da li‐berdade política e começou a sua subida para Deus… o seu caminho de conversão e a busca de sua vocação. No dia 9 de agosto de 1832, anunciou ao seu amigo Pavie que tinha “redescoberto a Fé”.
Como para São Vicente, Deus fazia o seu caminho em seu coração, sem forçá‐lo, mas no momento favorável.
Um piscar de olhos do céu… para um futuro vicentino !
Victor Pavie
Paris, 9 agosto de 1832
Meu caro amigo Victor,
Você me viu, lembra‐se, a caminho do catolicismo, olhando
‐o como meu objetivo, mas dando alguns passos bem len‐
tos, parando muitas vezes pelo caminho e ficando afinal
naquele triste estado misto, que não é nem de luz nem tre‐
vas, e que ora me parecia o crepúsculo de minha antiga fé,
ora a aurora de uma nova fé...
Graças a Deus saio enfim destes nevoeiros de incerteza e
de dúvida. Volto a ser crente. Sinto que meus laços se des‐
fazam e que estou subindo novamente em direção à verda‐
de. Minha oração não é mais vaga, incerta, jogada ao aca‐
so em direção ao Deus desconhecido. Era numa inclinação
natural ao Deus que eu sinto, que vejo, que ouço e sob o
olhar do qual estou neste instante como em todos os ou‐
tros. Você partilhará, eu sei, meu caro amigo, esta minha
felicidade...
Jean‐Léon Le Prevost — 1831
No caminho da caridade
1833
A miséria dos pobres de Paris A situação social na França, e particularmente em Paris, era dramática: os pobres eram deixados ao seu destino, a industrialização nascente escravizava os operários, e sobretudo as crianças, que trabalhavam em condições miseráveis e os artesões tinham dificuldades para so‐breviver. Se a justiça era totalmente inexistente, a caridade era também pouco presente em Paris, como o relicário da rua De Sèvres sempre órfão das relíquias de São Vicen‐te.
A fundação da Conferência de Caridade Mas aí, surgiu uma pequena chama: Ozanam, um jo‐vem estudante da Sorbone que, com um grupo de ami‐gos se reunia na casa de Emmanuel Bailly num círculo de estudos chamado “Conferência de história”, decidiu se comprometer mais para a dedicação caritativa. Assim, no dia 23 de abril de 1833, do coração cheio de amor e de zelo de Frédéric Ozanam, “a Conferência de Caridade” foi fundada, tendo Bailly como presidente.
Na mesma época, a Irmã Rosália Rendu, Filha da Cari‐dade de São Vicente de Paulo, mostrava o exemplo do amor efetivo tão caro a São Vicente: cuidava, alimenta‐va, aliviava e consolava os pobres do bairro Mouffetard. Foi ela, Irmã Rosália, que empurrou estes jovens estu‐dantes à ação concreta, e lhes ensinou a ver o Senhor nos pobres, visitando‐os, respeitando‐os e consideran‐do‐os como irmãos.
Pois, uma outra chama surgiu, desta vez vem do coração já conquistado do Sr. Le Prevost que queria “dar uma for‐ma à sua Fé”. Deus respondeu ao seu desejo por um en‐contro providencial num pequeno restaurante da rua Des Canettes onde frequentemente almoçava com o seu ami‐go Levassor. Um dia, neste restaurante, se encontrou com Frédéric Ozanam ‐ que ele tinha conhecido na casa de Montalem‐bert ‐ e com os seus companheiros. A partilha foi mais que cordial, os corações se uniram ao redor da mesma Fé e do mesmo impulso de caridade. Le Prevost foi convidado a fazer parte da nova Conferência de Caridade. Em seguida, conheceu Emmanuel Bailly, cuja devoção pa‐ra São Vicente era manifesta.
Aí está outro piscar de olhos do céu
por parte de São Vicente! Rua Des Cane es
Foto de Charles Marville (1813‐1879)
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Encontro providencial entre Le Prevost e Ozanam
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O início de um grande movimento vicen no
1833 4
Proposta de Le Prevost: São Vicente patrono da Conferência
O Sr. Le Prevost, certamente, foi marcado muito pela vida de São Vicente. Por isso, no dia 4 de fevereiro de 1834, ins‐pirado por uma graça do Espírito, ele propõe à Conferência de Caridade que assumisse São Vicente como patrono. A proposta foi aceita e um novo momento decisivo foi vivido pela “Conferência São Vicente de Paulo”.
Outro piscar de olhos do céu para o Sr. Le Prevost:
A volta do corpo de São Vicente No dia 12 de abril do mesmo ano, o corpo de São Vicente, escondido durante a Revolução de julho de 1830, foi trazido de volta na casa de rua De Sèvres. Uns sessenta Irmãos da nova Sociedade São Vicente de Pau‐lo foi venerar o corpo do seu Santo patrono exposto numa sala contígua à capela. Após terem rezado, beijaram os pés de São Vicente.
No dia seguinte, 13 de abril, 2º Domingo de Páscoa, missa solene pela o aniversário da primeira translação. O relicário recebeu uma outra vez, e definitivamente, o corpo de São Vicente. Entre os membros da SSVP, estava Jean‐Léon Le Prevost que, 10 anos mais tarde, na frente deste mesmo relicário de São Vicente, se tornou o pai de uma nova famí‐lia religiosa.
Sem a influência providencial do Pai celestial e a proteção
de São Vicente que conduziu o Sr. Le Prevost, estes jovens
vicentinos não teriam, provavelmente, estado presentes
neste dia 13 de abril de 1834, e nós entriamos aqui em 2015
a celebrar o 170º aniversário.
Foi o início de um grande movimento vicentino!
M. Le Prevost habitava no no 98 da rua Du Cherche‐Midi A dois passos do relicário de São Vicente
O casamento com Aure De Lafond
O Sr. Le Prevost procura junto de Deus a sua vocação.
Em 1833, quando ele habitava com a família Hébert,
encontrou Aure De Lafond, dez anos mais velha, artista
pintora que gostava, como ele, de arte e de literatura.
Esta amizade recíproca será reforçada pelos cuidados
que ela dará ao Sr. Le Prevost quando ele foi atingido
pela epidemia de cólera. Ele acreditava, naquele tempo,
que a vontade de Deus para ele, se encontra na vocação
nobre do matrimônio.
Rua Du Cherche‐Midi
Le Prevost se casou com a Sra. De Lafond no dia 19 de
junho de 1834 e se instalou no no 98 da rua Du Cherche‐
Midi, a dois passos da Casa das Lazaristas, na parte
traseira da capela São Vicente de Paulo onde, cada dia,
ele ia rezar.
O nosso Santo patrono não estava muito distante. Ele
vigiava sobre Le Prevost ajudando‐o neste casamento
“de caridade”, que se tornou uma prova santificante
para o nosso fundador. Immeuble ‐ rue du Cherche‐Midi — vers 1850
Le Prevost preside a Conferência St‐Sulpice
1834‐1835 A formação de uma nova Conferência
No fim de 1834, a Sociedade São Vicente de Paulo ficou
numerosa. Ozanam e alguns companheiros, dentre eles,
Le Prevost, pensavam dividir a Conferência em dois grupos
e mesmo a difundir o seu movimento em toda a França.
Uma comissão foi formada, apresentou o seu relatório no
dia 16 de dezembro: a discussão foi difícil, Emmanuel
Bailly era contrário.
O ano 1835 começou em paz, mas na noite da Epifania,
Bailly não se apresentou e foi Le Prevost que presidiu a
sessão. Ele teve um papel de moderador e foi assim que,
no dia 17 de fevereiro apoiada por Bailly, a decisão é to‐
mada pela SSVP de se dividir em dois grupos: St‐Etienne‐
des‐Monts, com Bailly e Ozanam, e St‐Sulpice com Levas‐
sor apoiado pelo Sr. Le Prevost.
1ª sessão da Conferência St‐Sulpice No dia 3 de março de 1835, dez anos antes da nossa fun‐
dação, se realizava a primeira sessão da Conferência St‐
Sulpice. Le Prevost se tornou presidente no dia 11 de de‐
zembro de 1836. Durante quase dez anos o zelo e a criati‐
vidade do Sr. Le Prevost o conduziu a se doar de coração e
alma às obras de caridade da SSVP. A Conferência St‐
Sulpice mereceu o lindo título “de rainha das conferên‐
cias”.
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Rua Du Cherche‐Midi
Encontro com Maurice Maignen 6 Le Prevost devient peu à peu un « autre Vincent de Paul »
Na primavera 1843, um jovem homem de 21 anos se apre‐sentou ao no 98 da rua Du Cherche‐Midi. Chamava‐se Maurice Maignen. Nasceu no dia 3 de março de 1822 em Paris. Ele tinha ouvido falar da Sociedade São Vicen‐te de Paulo.
Naquele dia na capela da rua De Sèvres, “… onde eu sabia que se encontrava o relicário de São Vicente de Paulo. Era ainda uma lembrança da minha infância e um fato providen‐cial. A minha mãe me tinha conduzido na procissão solene que teve lugar em 1830 pela translada das suas relíquias… Um bom Irmão Lazarista me tinha informando… mas ele se enga‐nou. Em vez do endereço do presidente da Conferência das
Missões que se reunia rua De Sèvres, ele me deu o endereço do Sr. Le Prevost…” Aí está um outro e duplo piscar de olhos de São Vicente…
A translada das relíquias e um erro providencial ! Maurice Maignen se tornou rapidamente um amigo e um filho do Sr. Le Prevost, que o levou à prática religiosa e o acompanhou no caminho da sua vocação.
A obra da Sagrada Família São Vicente não parou de inspirar o Sr. Le Prevost. Em abril de 1844, ele fundou a obra do Sagada Família. No domingo, no subsolo da igreja St‐Sulpice, ele reunia as famílias mais humildes para lhes dar um pouco de consolação e de forma‐ção cristã: orações, cantos, palestras, bingos… O Sr. Maignen ajudava o Sr. Le Prevost nesta obra que se espalhou rapida‐mente em outras paróquias.
Projeto de fundação de um Instituto religioso
No outono 1844, durante um passeio no bosque de Chaville, o Sr. Le Prevost confiou ao Sr. Maignen o seu projeto: o de fundar um Instituto de Irmãos dedicados às obras de carida‐de para apoiar a SSVP. “Seria necessário, declara a Maignen, que Deus faça surgir na sua Igreja, para a salvação dos pobres e dos operários, uma sociedade nova de religiosos, inteiramente consagrados a estas obras, cujo potencial vemos, e, sobre as quais, vemos manifestações das bênçãos de Deus… Seria, amigo, os verda‐deiros monges do décimo nono século”. “Ah! respondeu o seu jovem confidente, se encontrasse al‐guns homens decididos a abraçar uma vida assim, eu deixaria tudo para segui‐los…”
M. Maignen a 21 ans — desenho feito por ele mesmo
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Na capela São Vicente de Paulo
Encontro com Clément Myionnet 7
No mesmo dia do passeio de 1844, continuando a conversa com Maurice Maignen, Le Prevost conta como, uma manhã, saindo da capela dos Lazaristas, ele tinha sido abordado por um membro da Conferência São Vicente de Paulo de Angers, desejoso também de se consagrar a Deus num novo Instituto dedicado às classes operárias. Ele se chamava Clément Myionnet. Tinha 32 anos.
A Conferência de Angers tinha sido fundada no fim de 1838 graças ao concurso de Florestan Hébert que reuniu três ou‐tros companheiros, incluindo Clément Myionnet. Em dezem‐bro, Victor Pavie se tinha juntado a eles e o grupo contava já com 36 membros. Dando‐se aos mais pobres, a vocação de Clément Myionnet se firmava. Frente às dificuldades para manter as obras, em especial uma casa de família para os jovens em dificuldades, Myionnet vê efetivamente que é necessário ter homens to‐talmente dedicados às obras de juventude. Fala com seu bispo, Dom Angebault que o incentivou na sua empresa. Mas faltavam os colaboradores. Então, ele pediu a Dom Ange‐bault a permissão de partir para Paris, “Lá, eu encontrarei alguém que tenha o mesmo pensamento. Tenho esta íntima convicção”. Encontro de Clément Myionnet com Jean‐Léon Le
Prevost Após ter rezado na igreja Notre‐Dame des Victoires, Clément Myionnet encontra um Irmão de Angers, o doutor Renier, que lhe fala de Jean‐Léon Le Prevost. Myionnet vai para a casa dele, na rua Du Cherche‐Midi, mas o Sr. Le Pre‐vost estava em Duclair. Clément Myionnet permanece em Paris e tenta encontrar
Le Prevost. Somente na quinta tentativa o encontra na rua
Du Cherche‐Midi. Juntos foram para a capela da rua De
Sèvres, na frente do relicário de São Vicente.
No dia 6 de outubro de 1844, Myionnet dá a sua resposta
definitiva e no dia 20 de janeiro de 1845 ele deixa Angers e
vai assistir à missa na frente do relicário de São Vicente em
companhia do Sr. Le Prevost.
Diante destas santas relíquias, os dois Irmãos
Paris, 27 de dezembro de 1844
Meu caríssimo irmão,
Tenho apenas o tempo de lhe escrever duas pa‐lavras para dizer‐lhe que acabo, como anunciei há alguns dias, (por uma carta que se cruzou com a sua) de me diri‐gir ao Bispo de Angers, para solicitar‐lhe mais diretamen‐te seu apoio e seus conselhos e para suplicar‐lhe também a mandá‐lo para o meio de nós.
Somos tão fracos e a obra empreendida tão ele‐
vada, que nos é preciso absolutamente reunir nossos re‐cursos, sob pena de ficarmos no caminho sem atingir o fim almejado...
Rezemos bem instantemente para que nosso
Bispo de Angers o envie a nós. Nossa querida obra, tanto tempo parada nos seus primeiros atos, sofreria, tenho medo125, com novos adiamentos, se não tivemos sua cooperação. Entreguemos tudo nas mãos do divino Se‐nhor; possa sua caridade, que nos aproximou, creio fir‐memente, nos reunir para sua maior glória.
Seu nos corações de J. e M.
Châsse de saint Vincent — croquis 1830
Diante do relicário de São Vicente
3 de março de 1845 A Casa da rua Du Regard
Em 1844, a SSVP aluga uma casa no 24, da rua Du Regard, para aí instalar um patronato para os aprendizes. Foi nesta casa que se estabeleceu a primeira comunidade nascente. Mas desde 1842, o Sr. Le Prevost pensava em fundar uma comunidade religiosa. Com este objetivo, ele animava, uma reunião de um peque‐no grupo de jovens, na casa do Sr. de Missol, no 18, da rua St‐Sulpice. Entre eles, estava um jovem arquiteto, Guar‐das, que se engajou ao lado de C. Myionnet e do Sr. Le Pre‐vost, mas partiu, no final do segundo dia…
1º de março de 1845
Solicitado para assumir a obra dos Irmãos dos Escolas Cris‐tãs que deixavam a casa da rua Du Regard, o Sr. Le Prevost, como Jacó, atravessou o seu rio Jaboque… e instalou a sua comunidade nesta casa da rua Du Regard. No diário da obra dos aprendizes, ele redige em algumas linhas o ato de nas‐cimento da sua família religiosa: “J.M.J sancte Vincenti Paulo, 1º de março 1845. Os Irmãos Myionnet e Guardas tomam posse de uma casa na rua Du Regard n° 16, alugada pela Sociedade São Vicente de Paulo para a reunir os aprendizes que patrocina. Os dois Irmãos cuidarão destas crianças…”
2 de março de 1845
Era um domingo, por conseguinte um dia “de patrô”, na rua
Du Regard! Com esta criançada bagunceira, que são os me‐
ninos Parisienses, o Sr. Myionnet passa um dia… penoso,
mas “afinal passou”. À noite, ficou sozinho… na casa vazia e
abandonada por seu companheiro, o jovem arquiteto que
recuou a obra a edificar…
3 de março de 1845 Inverossímil reunião para os inícios oficiais de uma congre‐gação religiosa: é composta, com efeito, apenas de um membro totalmente livre; os outros, um era casado, o ou‐tro ainda tinha que cuidar da sua família… Compreende‐se melhor que, na missa das 7:00 da manhã, celebrada por Dom Angebault na rua De Sèvres, o relicário do seu Santo patrono foi descoberto “por favor especial” … Sim, como imaginar São Vicente que se esconde aos olhos dos que o escolhiam como patrono ?! As palavras de ordem do bispo de Angers são: coragem e perseverança, porque “o grão de mostarda vai dar o seu fruto”. O sol vai fazer crescer esta humilde semente planta‐da numa terra ainda pedrosa… neste dia abençoado de 3 de março… a Deus e aos seus Irmãos… ambos assinaram no seu coração o ato de fundação, a palavra é dada, será ne‐cessário ser fiel !
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Os « Três Gloriosos » dias dos RSV 1, 2, 3 de março de 1845
Eis uma vera revolução… vicentina !
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O ano dos compromissos
1846 9
Após um longo suspense…
No dia 17 de setembro de 1845, após um longo suspense, numerosas cartas, mui‐ta psicologia e “capacidade em lidar com as almas”, o Sr. Le Prevost escre‐ve a Dom Angebault que obteve o consentimento formal da sua esposa. Após ter sabido desligar sem quebrar o laço conjugal em dificuldade, ele esta‐
va, doravante, livre para seguir o seu de‐sejo… mas necessitará ainda de tempo para
se liberar completamente. O primeiro dia consagrado à Santa Virgem Maria No dia 1º de maio de 1846: foram necessários finalmente quatorze longos meses depois o dia 3 de março de 1845… de modo que a paciência dos três primeiros Irmãos seja recompensada. Neste, “primeiro dia do mês consagrado a Santíssima Virgem Maria”, a solidão de Clément Myionnet acaba: ele acolhe o fundador da família na casa “comum” da rua “Du Regard. “Dia muito tempo esperado, dia para sempre abençoado”.
O compromisso solene
Dois meses antes, no dia 1º de março de 1846, um ano (e dois dias) após a funda‐ção, os dois Irmãos tinham se compro‐metidos reciprocamente a se doar aos pobres por ato escrito. Sr. Myionnet escreveu: “Comprometo‐me diante de Deus e por um voto formal a me consa‐grar às obras de zelo e de caridade, em
união com o Sr. Jean Le Prevost. Poderei me libertar desta promessa solene apenas com o livre e inteiro consentimento do Sr. Le Prevost…”
Paris, 1º de março de 1846, 1º domingo de Quaresma.
Um quarto de hora de heroísmo de Maurice Maignen
Durante este tempo, a vida de Maurice Maig‐nen continuava, entre o seu dever de fun‐cionário do Estado, a sua família, a obra da rua Du Regard, e a missa na capela dos Lazaristas. Ele desejava muito poder se juntar aos seus Irmãos, mas estava ligado pelas relações do coração com a sua família…
Quan‐ do de repente, num quarto de hora de heroísmo decidiu se libertar… No dia 2 de setembro, deixando o seu trabalho e a sua família e ele vai para a Normandia encon‐trar o Sr. Le Prevost!
O retiro em Notre‐Dame de Chartres
Chegou no dia seguinte, 3 de setembro, em Duclair… A sua decisão estava tomada. Com o Sr. Le Prevost se ajoelhou frente ao Santíssimo da igreja da aldeia. Em seguida foi para Chartres para fazer um retiro. No dia 21 de setembro de 1846, Clément Myionnet foi também se juntar a ele.
A aparição na montanha de La Salette
Foi durante este retiro, que no dia 19 de setembro, no cume dos Alpes, na al‐deia de La Salette, uma linda senhora confiava a duas humildes crianças uma mensagem de conversão e de reconciliação.
Os Irmãos de São Vicente de Paulo aco‐lheram este acontecimento como um sinal
do céu! O Sr. Le Prevost fará erigir uma capela em Vaugi‐rard que se tornou a sua última residência sobre a terra.
Os três Irmãos enfim reunidos!
No dia 3 de outubro, com a entrada na comunidade do Sr. Maignen, os três Irmãos já unidos pelo coração, Estavam, agora, inteiramente, corpo e alma, na casa da rua Du Regard.
Duclair, 26 de agosto de 1847
Caríssimos e bem‐amados irmãos, Alguns dias já se passaram desde minha saída, e vocês esperam sem dúvida uma carta que me aproxime alguns momentos de vocês. […]
Sentindo no fundo do coração uma suave e pura alegria com todas essas recordações, bendigo a Deus, que já se digna formar em nós o espírito de família e consolidar no dia‐a‐dia nossa união […]
Vejo os elementos de um bom futuro, se soubermos acomodar‐nos em tudo de nossos pequenos inícios, tempori‐zar e não exigir de nossas obras, nem de nossa constituição, nem de nós mesmos o que somente um desenvolvi‐mento sucessivo deverá trazer. Dependeria, sem dúvida, do Senhor que colocou em nós um germe de vida, fazê‐lo crescer e florir de repente, Ele poderia consolidar nossas obras, aumentar nossas forças, lançar‐nos mais sensivel‐mente na perfeição, mas não lhe apraz proceder assim. Empregou, desde o começo, seis dias para configurar o mundo e, desde então, só realiza algo, na maioria das vezes, por um trabalho lento, medido, que avança, mas que a gente não vê andar.
Entremos nesse compasso, caros amigos, sem pressa como sem moleza, seguindo o passo de Deus. Com Ele, iremos com segurança e atingiremos nosso fim. Não sentem como eu, no coração um certo poder, um tipo de an‐seio pelo futuro, um grande desejo, uma grande esperança? Pois bem, o sinal e a força de nossa missão estão aí. Deus colocou em nós o desejo para que oremos, a esperança para que ajamos. Oremos com todo o fervor de nossa alma, trabalhemos com uma santa coragem, e caminhemos com confiança, porque estamos no caminho; cada passo nos conduz ao fim.
Não temos desesperado de nosso tempo, de nosso país, de nossos irmãos, temos pensado que, neste movimen‐to, vago e fraco ainda, do povo para a fé, havia algum impulso, alguma promessa fecunda. Não seremos iludidos.
É a caridade que suscita tudo ao redor de nós; é ela que desperta as almas, as impulsiona e as unifica. É ela tam‐bém que nos leva e nos envolve na sua ação. A caridade não fraqueja e não fica no meio da jornada. Uma vez acesa, é preciso que se espalhe, brilhe e leve longe seu calor. Tudo também lhe serve de alimento. Não tenha‐mos medo, portanto, queridos amigos, não olhemos demais à nossa indignidade, que nos freia frequentemente e nos torna tímidos. A caridade, como a chama, consome e purifica; por ela seremos penetrados, vivificados, por ela seremos transfigurados. Oh! que esse pensamento nos anime e nos console. É a caridade que nos impulsiona e nos pressiona, somos movidos por ela; por ela tão ardente, tão poderosa; por ela, que é força, vontade, amor, amor infinito, amor de Deus! […]
O Senhor tendo nos dado bem definitivamente uns aos outros, não saberíamos entrar melhor em sua perspectiva a não ser adotando‐nos bem ternamente, bem fraternalmente; tenho certeza de que, se tivermos a coragem de nos amarmos e de nos suportarmos uns aos outros com caridade, Deus também nos suportará, nos amará, nos confirmará em nossa missão, quaisquer que sejam as qualidades que nos possam faltar por outro lado. Parece‐me, caríssimos amigos, que, de minha parte, chegarei a isso sem dificuldade, procurem fazer também a metade do caminho. […] Seu amigo e irmão em N.S.
A comunidade dos três Irmãos !
3 outubro de 1846
Esta carta é aquilo que temos de mais lindo: a nossa identidade.
Ela, podemos dizer, foi escrita a duas mãos…
a mão de Vicente de Paulo e a mão de Jean‐Léon.
Neste sábado, 3 de outubro, o Irmão Le Prevost escreveu no diário da comunidade: “O Ir. Maignen, ao preço de grandes sacri‐
fícios, e quebrando as relações naturais que faziam obstáculos à sua dedicação, se tornou o terceiro membro da comunidade”.
“Os três monges do XIXo século” agora foram estabelecidos na casa da rua Du Regard. Três homens tão diferentes, que deve‐
rão aprender a viver em comum, não sem dificuldades, mas na caridade…
Alguns meses depois, quando estava em Duclair, descansando em sua terra natal,
o pai da família escreveu a seus filhos Clément Myionnet e Maurice Maignen
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VenerávelJean‐LéonLePrevostumdignofilhodeSaoVicentedePaulo
plenodedelicadeza,depacienciaedezeloapostolico.
Concedei‐nosterpartenofogodecaridadequeoEspıritoSantoacendeunoseucoraçao,
paraqueanossaCongregaçaocontinuecomunicar
aospobres,aosjovens,aosoperarios,eatodos aquelesqueestaoemnecessidade,
aternuradeCristo
PelaintercessãodovossoServo,concedei‐nosagraçaqueVospedimos…
porJesusCristonossoSenhor.Amen !
Realização: Pe. Yvon Sabourin, postulador geral e Pe. Richard Corbon, arquivista geral
A partir dos diversos escritos dos nossos Irmãos ‐ Arquivos gerais de Roma
Documento imprimido na Casa geral em março de 2015
Oração pela glorificação do Venerável Jean-Léon Le Prevost