“ACIDENTES DE TRANSITO”...Acidentes de Trânsito: análise das vítimas menores de 18 anos em...

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Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde Coletiva Curso de Graduação em Saúde Coletiva Acidentes de Trânsito: análise das vítimas menores de 18 anos em Mato Grosso, 2014 Edilene da Conceição Delgado Sena Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Saúde Coletiva. Orientador: Prof. a Dr.ª Noemi Dreyer Galvão Cuiabá-MT 2017

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  • Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde Coletiva

    Curso de Graduação em Saúde Coletiva

    Acidentes de Trânsito: análise das vítimas menores de 18 anos em Mato Grosso, 2014

    Edilene da Conceição Delgado Sena

    Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Saúde Coletiva. Orientador: Prof.a Dr.ª Noemi Dreyer Galvão

    Cuiabá-MT 2017

  • Acidentes de Trânsito: análise das vítimas menores de 18 anos em Mato Grosso, 2014.

    Edilene da Conceição Delgado Sena

    Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

    ao Curso de Graduação em Saúde Coletiva do

    Instituto de Saúde Coletiva da Universidade

    Federal de Mato Grosso, como requisito parcial

    para obtenção do título de Bacharel em Saúde

    Coletiva.

    Orientador: Prof.ª Dr.ª Noemi Dreyer Galvão

    Cuiabá-MT

    2017

  • DEDICATÓRIA

    Dedico este trabalho a todos aqueles que me ajudaram, ainda que de forma

    indireta, nesta fase tão importante de minha vida, à meu querido, amado e

    companheiro esposo Marcos Sena que me deu a tranquilidade necessária para

    que eu pudesse me dedicar a essa tarefa e também a meu amado filho Raphael

    Agner e a minha querida filha Anna Beatriz, e também a minha muito amada mãe

    Bernadete que me ensinou os valores de uma cidadã de bem. Também quero

    dedicar a minha mãe Maria Júlia que apesar de estar longe, sempre quis o

    melhor para mim. Dedico ainda aos meus avós Jorge e Lourdes que sempre

    estiveram ao meu lado me ensinando e fazendo os meus dias mais felizes

  • AGRADECIMENTOS

    Muitas pessoas tiveram colaboração, direta ou indireta, para o

    desenvolvimento deste trabalho. Os agradecimentos são sempre parciais e

    seletivos, não fazem justiça, mesmo assim, gostaria de agradecer a todas essas

    pessoas e em especial:

    À Deus, primeiramente, por ter me dado inteligência e perseverança,

    pois nos momentos mais difíceis de toda essa trajetória, guiou-me

    sempre, não deixando que eu desanimasse diante de todos os

    obstáculos que foram surgindo a cada fase desse projeto, mostrando

    o caminho, dando-me a força necessária para continuar acreditando

    que o sonho era possível, bastava para isso acreditar em mim mesmo

    e é graças a ele que esse trabalho pode ser concluído.

    À minha orientadora, a professora Noemi Dreyer Galvão que me

    orientou e com seus ensinamentos soube me guiar para que pudesse

    ser realizado a feitura deste trabalho até sua conclusão final e a

    paciência com que o fez. Ainda quero agradecer a professora Maria

    Ângela que com todo carinho e atenção me ajudou em vários

    momentos. Agradeço também ao professor Ageo que sempre esteve

    à disposição ajudando no que era possível. E a todos os professores

    que contribuíram para o meu aprendizado. Agradeço ainda a minha

    chefe e amiga Clauzita que soube compreender os momentos

    ausente.

  • RESUMO

    SENA, E. C. D. Acidentes de Trânsito: análise das vítimas menores de 18 anos em Mato Grosso, 2014. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Saúde Coletiva) – Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá.

    Introdução: Os acidentes no trânsito é um problema de saúde pública,

    caracterizada como a nona causa de lesões e de óbitos no mundo, também são

    responsáveis por uma grande demanda nos serviços de urgência e emergência.

    Objetivo: Descrever o perfil epidemiológico das vítimas menores de 18 anos

    atendidas nas urgências e emergências de Mato Grosso, no período de 1º a 30

    de setembro de 2014. Métodos: Trata-se de um estudo transversal, em serviços

    de urgência e emergência nos municípios selecionados do Estado. Resultados:

    Foram registrados cerca de 2.648 atendimentos, vítimas de acidentes de

    trânsito. Cerca da metade eram jovens e a maioria do sexo masculino. Destas

    vítimas, 412 atendimentos foram de menores de 18 anos. Sendo do sexo

    masculino (64,6%), e do feminino (35,4%), 80,0%, aproximadamente, moravam

    na zona urbana. Metade das vítimas eram passageiros e o meio de locomoção

    era a motocicleta. Conclusão: Faz-se necessário o desenvolvimento de

    métodos para agilizar o processo de prevenção e criar políticas para evitar a

    violência no trânsito como diminuir a velocidade nas zonas urbanas onde está

    concentrado a maior prevalência de acidentes de trânsito, pois o número de

    acidentes causados, independente da distinção trazem implicações de altos

    custos diretos e indiretos de ordem econômica e social, tanto para a vítima,

    quanto para a sociedade, e que poderá ser pensado em políticas públicas de

    Educação para Trânsito em busca de conscientização da população.

    Palavras-chaves: Causas externas; Acidentes de Trânsito; Vigilância; Vítimas menores de 18 anos;

  • ABSTRACT SENA, E. C. D. Traffic Accidents: an analysis of the victims under 18 years

    of age in Mato Grosso, 2014. Graduation in Collective Health - Collective Health

    Institute, Federal University of Mato Grosso, Cuiabá

    Introduction: Accidents in traffic is a public health problem, characterized as the

    ninth cause of injuries and deaths in the world, are also responsible for a great

    demand in the emergency and emergency services. Objective: To describe the

    epidemiological profile of the victims under the age of 18 attended in the

    emergency and emergency departments of Mato Grosso, from September 1 to

    30, 2014. Methods: This is a cross-sectional study in services urgency and

    emergency in selected municipalities of the State. Results: Some 2,648 cases

    were reported, victims of traffic accidents. About half were young and most were

    male. Of these victims, 412 attendances were of minors of 18 years. Being male

    (64.6%), and female (35.4%), approximately 80.0% lived in the urban area. Half

    the victims were passengers and the vehicle was the motorcycle. Conclusion: It

    is necessary to develop methods to streamline the prevention process and create

    policies to avoid traffic violence such as slowing down in urban areas where the

    highest prevalence of traffic accidents is concentrated as the number of accidents

    caused, regardless of the distinction, have implications for high direct costs and

    indirect economic and social, both for the victim and for society, and that may be

    thought of public policies of Traffic Education in search of awareness of the

    population.

    Keywords: External causes; Traffic-accidents; Surveillance; Victims under 18 years of age;

  • SUMÁRIO

    1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 8

    2. OBJETIVOS ................................................................................................. 11

    2.1 Objetivo Geral ........................................................................................ 11

    2.2 Objetivos Específicos: ............................................................................. 11

    3. REVISÃO LITERÁRIA...................................................................................12

    3.1 Causas Externas......................................................................................12

    3.2 Acidentes de Trânsito: conceito e classificação ..................................... 13

    3.3 A Violência .......................................................................................... ...16

    3.4 Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes – VIVA.........................17

    4. MÉTODOS ................................................................................................. 199

    4.1 Tipo de estudo e População ................................................................... 20

    4.2 Coleta de dados ...................................................................................... 20

    4.3 Variáveis de estudo ................................................................................ 22

    4.4 Processamento e análise dos dados ..................................................... 23

    4.5 Aspectos Éticos ...................................................................................... 24

    5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................... 25

    6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 33

    7. REFERÊNCIAS ........................................................................................ 2534

    8. ANEXO..................................................................................................... 3737

  • LISTA DE TABELAS

    1. Vítimas de Acidente separadas por município.............................................25

    2. Vítimas de Acidente pelo sexo.....................................................................26

    3. Vítimas menores de 18 anos........................................................................27

    4. Especificações das estatísticas....................................................................28

    5. Tipos de Lesões...........................................................................................29

    6. Tipologia e Dias da semana.........................................................................30

  • 8

    1. INTRODUÇÃO

    Os acidentes e violências no trânsito é um problema de saúde pública,

    pois é a violência sobre rodas, caracterizada como a 9ª causa de lesões e de

    óbitos no mundo. No Brasil, é a quinta causa. Os óbitos das altas velocidades

    nas ruas das cidades matam mais de 1,2 milhões de pessoas a cada ano em

    todo o mundo. Devido à gravidade das ocorrências, é considerada uma epidemia

    pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que escolheu os anos de 2011 a

    2020 como a década de Ação em Segurança Viária (MALTA et al., 2012).

    Segundo MALTA et al. (2012), existe uma estimativa que cinco

    milhões de vidas poderão ser salvas com metas estabelecidas para reduzir e

    estabilizar a violência no trânsito.

    Agrega-se a isso que, apenas 28 países, representando 449 milhões

    de pessoas (7% da população mundial), têm leis apropriadas para os principais

    fatores de risco: velocidade excessiva, ingestão de bebida alcoólica, ausência

    dos usos de capacete, cinto de segurança e de sistemas de retenção para

    crianças.

    No Brasil segundo OLIVEIRA et al. (2015), as causas de acidentes de

    trânsito são variadas, porém a velocidade excessiva dos veículos e a distração

    de condutores e pedestres são os motivos mais recorrentes de atropelamento,

    além da falta de sinalização, baixa visibilidade noturna, obras na pista, entre

    outros fatores que podem potencializar as ocorrências.

    Os números alertam para tomadas de decisão e ações urgentes, entre

    elas, a redução do limite de velocidade em áreas urbanas para controlar esta

    epidemia de morbimortalidade.

    Em Mato Grosso, os dados são preocupantes, dentre os anos de 1980

    e 2005, o risco de morrer por acidente de trânsito em Cuiabá e no restante do

    estado apresentou uma média maior que a brasileira (OLIVEIRA e MELLO

    JORGE, 2008). e as vítimas não fatais sobrecarregam os serviços de saúde em

    todas as complexidades, além das situações sociais advindas destas.

  • 9

    Existe uma grande preocupação em relação ao aumento dos índices

    de motorização dos países pobres e emergentes, sem equivalente investimento

    na segurança viária, este quadro é semelhante o que vem ocorrendo no Brasil,

    com o apoio maciço do governo para reduzir impostos a fim de que a população

    adquira mais veículos. O investimento na melhoria do transporte público ainda é

    baixo. Assim, com a crescente demanda por atendimentos nas unidades de

    saúde, principalmente aquelas de urgência e emergência, que se caracterizam

    como a porta de entrada do sistema para as vítimas dos acidentes de transporte,

    tem-se então a importância da vigilância desses atendimentos, a partir de outras

    ferramentas, que não aquelas ligadas as mortes e internações (IPEA, 2013).

    Com essa crescente demanda por atendimentos nas unidades de

    saúde de urgência e emergência, que se caracterizam como a porta de entrada

    do sistema para as vítimas dos acidentes automobilísticos, tem-se então a

    importância de avaliar esses atendimentos. Levando em consideração que os

    atropelamentos ocorrem com condutores e pedestres de diferentes perfis,

    especialmente, com motoristas mais jovens e com pouco tempo de habilitação,

    o estudo busca analisar o perfil epidemiológico das vítimas menores de 18 anos

    envolvidas em acidentes de trânsito em Mato Grosso no ano de 2014.

    A motivação para a escolha do tema surgiu decorrente de vivência

    profissional, que já atua nesta área, como também por ser uma temática de

    interesse público, abrindo a discussão sobre os acidentes de trânsito envolvendo

    menor.

    O estudo delimita-se na análise do perfil das vítimas dos acidentes de

    trânsito atendidas nos serviços de urgências e emergências das principais

    cidades do estado de Mato Grosso, buscando saber as implicações do

    envolvimento de menores de dezoito anos. E esta análise utilizará informações

    de um levantamento realizado pelo projeto de pesquisa “Violência e Acidentes:

    conhecendo os eventos não fatais e suas consequências", financiado pela

    Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, a partir de sua

    aprovação no Chamamento Público nº 20/2013.

  • 10

    Perante o contexto apresentado, justifica-se o presente trabalho,

    devido à necessidade de se conhecer o perfil das vítimas de acidentes de trânsito

    menores de 18 anos, de menor gravidade, atendidas nos serviços de urgência e

    emergência, por meio dos dados do inquérito realizado nos serviços

    selecionados da Rede VIVA, pois se constituem uma demanda “invisível” para o

    Sistema Único de Saúde. A partir dessa análise poderão ser elaboradas

    propostas para o atendimento dessa demanda, e, consequentemente, a redução

    das sequelas desses acidentes e, além disso, políticas de prevenção dos

    acidentes com vistas às especificidades dos grupos populacionais mais

    vulneráveis a estes agravos.

    Desta maneira formalizou-se a seguinte questão norteadora: Qual o

    perfil epidemiológico das vítimas menores de 18 anos envolvidas em acidentes

    de trânsito, atendidas nas urgências e emergências em Mato Grosso, no período

    de 1º a 30 de setembro de 2014?

  • 11

    2 OBJETIVOS

    2.1 OBJETIVO GERAL

    Descrever o perfil epidemiológico das vítimas de acidentes de trânsito,

    menores de 18 anos, atendidas nas urgências e emergências de Mato Grosso,

    no período de 1º a 30 de setembro de 2014.

    2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

    Caracterizar as vítimas de acidentes de trânsito menores de 18 anos, segundo

    variáveis sócio demográficas (sexo, faixa etária, raça/cor, escolaridade);

    Descrever as vítimas de acidentes de trânsito menores de 18 anos, segundo

    dados da ocorrência (dia da semana, local, zona, tipo da vítima e meio de

    locomoção);

    Identificar os desfechos do acidente segundo a natureza da lesão, parte do

    corpo mais atingida e evolução da vítima.

  • 12

    3. REVISÃO DE LITERATURA

    3.1 CAUSAS EXTERNAS

    Desde a década de 1980, as causas externas simbolizam a segunda

    causa de mortalidade no Brasil e a primeira para as crianças e os indivíduos

    jovens e adultos (SANTOS et al., 2008). Segundo dados do Sistema de

    Informações sobre Mortalidade (SIM), somente em 2011, ocorreram 145.842

    óbitos por causas externas em todo o território nacional, representando 12,4%

    dos óbitos ocorridos no país1.

    As causas externas (acidentes e violências) são todos os

    agravos à saúde de início repentino e como resultado de

    violência ou outra causa exógena. Agregados a este grupo

    estão também as lesões provocadas por eventos no

    transporte, homicídios, agressões, quedas, afogamentos,

    envenenamentos, lesões por deslizamento ou enchente, e

    outras ocorrências relacionadas ao ambiente (GONSAGA

    et al., 2012).

    Essas causas recebem uma classificação, de acordo com a Classificação

    Internacional de Doenças (CID-10), sendo as causas externas correspondentes

    ao capítulo XX com os seguintes códigos: Acidentes V01-X59; Lesões

    autoprovocadas intencionalmente X60-X84; Agressões X85-Y09; Eventos com

    intenção indeterminada Y10-Y34; Intervenções legais e operações de guerra

    Y35-Y36; Complicações de assistência médica e cirúrgica Y40-Y84; Sequelas

    de causas externas de morbidade e mortalidade Y85-Y89; Fatores

    suplementares relacionados com as causas de morbidade e mortalidade

    classificadas em outra parte Y90-Y98 (OMS, 2008).

    1Dados extraídos de: http://ptdocz.com/doc/282303/avalia%C3%A7%C3%A3o-da-qualidade-

    das-informa%C3%A7%C3%B5es-sobre-%C3%B3bitos-por-c. Acesso em: 15 mar. 2017.

  • 13

    De acordo com MENDES,

    O Brasil vive, nesse início de século, uma situação de

    saúde que combina uma transição demográfica acelerada

    e uma transição epidemiológica singular expressa na tripla

    carga de doenças: uma agenda não superada de doenças

    infecciosas e carenciais, uma carga importante de causas

    externas e uma presença fortemente hegemônica das

    condições crônicas. MENDES (2012, p. 21).

    Verificou-se que os custos destas causas são também extremamente

    altos, estimativas apontam gastos de 4 (quatro) bilhões de reais (RODRIGUES

    et al., 2009). Para o setor saúde, os acidentes de trânsito despertam

    preocupação por sua quantificação, impacto na mortalidade e morbidade, por

    atingir faixas etárias jovens principalmente os menores de 18 anos, com elevado

    número de anos potenciais de vida perdidos (APVP) e consequente redução da

    esperança de vida, além de gastos que representam para o setor

    congestionamento dos serviços de emergência e custos com reabilitação, em

    função das sequelas que ocasionam, o que também representa custo familiar e

    social (MAGALHÃES et al., 2011)

    3.2 ACIDENTES DE TRÂNSITO: CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO

    O Ministério da Saúde (MS) define como acidente “o evento não

    intencional e evitável, causador de lesões físicas e ou emocionais no âmbito

    doméstico ou nos outros ambientes sociais, como o do trabalho, do trânsito, da

    escola, de esportes e o de lazer”. Ainda segundo o MS (2002), entende-se por

    violência o evento representado por ações realizadas intencionalmente por

    indivíduos, grupos, classes, nações, que ocasionam danos físicos, emocionais,

    morais e/ou espirituais a si próprio ou a outros (BRASIL, 2002).

  • 14

    Os acidentes de trânsito têm sido uma das principais causas de morte

    no Brasil, caracterizado como todo evento que envolva o veículo, a via, o homem

    ou animais. O tráfego de veículos na maioria das grandes cidades brasileiras é

    percebido e interpretado pela maioria dos motoristas de carros particulares como

    um social caótico e caracterizado como um campo de guerra atribuído às

    condições culturais e sociais com as práticas transgressoras, violentas, egoístas

    e desrespeitosas. Deste modo, sendo a violência um fenômeno generalizado e

    complexo. Um esforço para chegar a um consenso e padrão universal de

    conduta é necessário (OLIVEIRA e SOUSA, 2003).

    A Lei brasileira prevê a concessão de habilitação, tanto para motocicleta

    como para automóvel, a partir dos 18 anos; são frequentes, entretanto, os casos

    em que menores de 18 anos conduzem veículos (com ou sem a ciência dos pais)

    e acabam se envolvendo em acidentes. Mesmo para os que possuem habilitação

    recente, estudos comprovam que a inexperiência na condução de veículos pode

    provocar colisões e quedas (OMS 2008).

    Neste contexto, além da pouca experiência comum aos condutores

    adolescentes, é preciso repensar na questão da ilegalidade, cabendo aos pais e

    responsáveis determinarem o uso do veículo apenas por pessoas devidamente

    habilitadas (SANTOS et al.,2008).

    O comportamento também contribui significativamente para a ocorrência

    do evento, pois a necessidade de testar seus limites e de transgredir regras,

    própria da adolescência e dos jovens, colabora para que os números sejam

    elevados desta causa. Para o adolescente e jovens, a moto e o carro são vistos

    como um símbolo de aventura e desafio (DINIZ & LIMA 2005).

    A velocidade excessiva, muitas vezes testada em "rachas" ou em

    exibições em grupo, com manobras radicais, torna o uso do veículo perigoso e

    nocivo. A imaturidade, o sentimento de onipotência, a tendência de superestimar

    suas capacidades, a pouca experiência e habilidade para dirigir são

    comportamentos de risco que contribuem sobremaneira para este evento

    (MELLO JORGE & MARTIN, 2013).

    Outro fator que colabora para a ascensão dos números de acidentes de

    trânsito consiste o não cumprimento das leis de trânsito associado à impunidade

  • 15

    como: ultrapassar os limites de velocidade, não respeitar as faixas de segurança

    e nem a sinalização, avançar o sinal vermelho, o consumo de bebidas alcoólicas,

    que se tornou um hábito comum em quase todo o mundo, entre outras infrações,

    são comportamentos habituais, principalmente entre os jovens menores de 18

    anos (MELLO JORGE & MARTIN, 2013).

    Entretanto, o seu consumo tem sido relatado como fator intimamente

    associado aos acidentes no trânsito, pois diminui a visão periférica, reduz a

    percepção e leva à incoordenação, colocando em risco não apenas a própria

    vida, mas a vida de terceiros, como pedestres e condutores/passageiros de

    outros veículos (HINGSON & WINTER, 2003).

    Destaca-se, ainda, o não uso de equipamentos de segurança, como o

    capacete e roupa adequada para os motociclistas e o uso do cinto de segurança

    para os ocupantes de automóvel, a fim de reduzir as lesões em caso de acidente

    (MELLO JORGE & MARTIN, 2013).

    Neste sentido, ressalta-se o papel da sociedade como um todo:

    profissionais da saúde e de diversas áreas, educadores, pais e gestores, no

    esforço de encontrar caminhos que canalizem para a segurança de nossas

    crianças e adolescentes no trânsito. Torna-se urgente investir em medidas

    preventivas a fim de reduzir o sofrimento e a incapacidade da

    criança/adolescente, da família e as pesadas cargas econômicas impostas à

    sociedade pelos acidentes de trânsito, a fim de reduzir a violência no trânsito

  • 16

    3.3 A VIOLÊNCIA

    A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a violência como uso

    intencional da força física ou do poder, ou ameaça, contra si mesmo, outra

    pessoa, grupo ou comunidade, de modo que os resultados têm uma alta

    probabilidade de resultar em lesão, morte, mau desenvolvimento ou privação

    (OMS, 1996 apud DAHLBERG e KRUG, 2007).

    A violência é um grave problema de saúde pública mundial, milhões

    de pessoas morrem como resultado de lesões causadas por violência e um

    número ainda maior de indivíduos podem sobreviver, mas sofrem incapacidades

    permanentes. Globalmente, a violência é uma das principais causas de morte de

    pessoas entre 15 e 44 anos de idade, que compreende 14% de todas as mortes

    de homens e 7% total de mortes de mulheres. Observa-se que a complexidade

    e a variedade de atos violentos criam sentimentos de impotência e apatia (OMS,

    2015).

    Os acidentes são avaliados sendo eventos não intencionais e

    evitáveis, causadores de lesões físicas e emocionais, no âmbito doméstico ou

    nos outros ambientes sociais, como o do trabalho, do trânsito, da escola, de

    esporte e o de lazer. Por debaterem as causas que em sua quase totalidade

    podem assim ser evitadas com ações de promoção e atenção/cuidado

    adequado, diferenciar como um relevante problema de saúde pública (OMS,

    2015).

    Deste modo, pode se dizer que a humanidade é acompanhada pela

    violência, por um fenômeno conhecido como sócio histórico; não sendo em si um

    problema de saúde pública, porém se transforma em um quando afeta a saúde

    individual e coletiva, necessitando de políticas, práticas e serviços específicos

    para essa demanda (MINAYO, 2005).

  • 17

    3.4 SISTEMAS DE VIGILÂNCIA DE VIOLÊNCIA E ACIDENTES (VIVA)

    Segundo ANDRADE et al. (2012), conhecer todas as circunstâncias

    dos acidentes e atos de violência é fundamental para a elaboração de políticas

    públicas. Assim, com essas informações podemos adotar medidas de

    prevenção, além de atender as vítimas, promover a saúde e incentivar uma

    cultura de paz. As lesões e óbitos decorrentes de acidentes (referentes ao

    trânsito, envenenamento, afogamento, quedas, queimaduras e outros) e casos

    de violência (relacionados a agressões, homicídios, suicídios ou tentativas,

    abusos físicos, sexuais, psicológicos, negligências e outras) são definidas ou

    classificadas como causas externas de morbidade e mortalidade (BRASIL,

    2013).

    A Rede VIVA (Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes), foi

    implantada pelo Ministério da Saúde (MS) no ano de 2006, para assim

    complementar os sistemas de informações SIM e SIH/SUS para a vigilância dos

    acidentes e violências. Esta rede dividiu-se em dois componentes: o VIVA

    Contínuo, que faz a vigilância das violências domésticas, sexual e/ou outras

    violências; e o VIVA Inquérito, que se caracteriza pela vigilância dos acidentes e

    violências em serviços sentinelas de urgência e emergência (ANDRADE, 2012).

    O VIVA aparece com o intuito de possibilitar o acesso às informações

    sobre os acidentes com automóveis que envolvem menores, assim poderá ser

    avaliado tais tipos de lesões e gravidade (BRASIL, 2013).

    A ficha do VIVA é composta por grupos de variáveis, que contêm

    informações gerais (município de notificação, unidade de saúde, data, dia e hora

    do atendimento, além da concordância em participar da pesquisa); sobre a

    pessoa atendida (identificação, idade, sexo, cor da pele, escolaridade, meio de

    locomoção até a unidade hospitalar); sobre residência (país, estado, município,

    bairro de residência, naturalidade, e forma de contato); dados das ocorrências

    (data, horário e local da ocorrência, tipo da ocorrência); dados sobre a violência

    ou acidente (queimadura, acidente de transporte, queda, lesão autoprovocada e

    agressão/maus-tratos/intervenção por agente legal público, uso de álcool e

  • 18

    equipamentos de segurança, acidente de trabalho); e dados sobre a

    lesão/evolução do caso (natureza da lesão, parte do corpo atingida e evolução

    na emergência) (GAWRYSZEWSKI et al., 2007).

    Verificou-se que os dados contidos na ficha são de suma importância

    para saber das causas do acidente, tais como: utilização de álcool; utilização de

    equipamentos de segurança e local de ocorrência. Ressalta-se que essas

    informações não auxiliam apenas no planejamento ou na execução de políticas

    públicas no setor, como também permite o acompanhamento dos resultados e

    avaliação de projetos de prevenção de acidentes de trânsito a fim de promover

    à saúde (BRASIL, 2013).

    O processo de aperfeiçoamento do Sistema de Vigilância de

    Violências e Acidentes (Viva) vem sendo desenvolvido a partir da participação

    efetiva de parceiros de diversas instituições, o que é fundamental para conhecer

    o impacto das violências e de acidentes (causas externas) no perfil de

    morbimortalidade da população e para promover saúde e cultura de paz no

    contexto do Sistema Único de Saúde do Brasil.

  • 19

    4. MÉTODOS

    Este estudo integra o projeto de pesquisa "Violência e Acidentes:

    conhecendo os eventos não fatais e suas consequências", financiado pela

    Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde a partir de sua

    aprovação no Chamamento Público nº 20/2013: Estudos e Pesquisas Aplicadas

    em Vigilância em Saúde.

    O projeto foi coordenado pelo Instituto de Saúde Coletiva da

    Universidade Federal de Mato Grosso e desenvolvido em parceria com a

    Secretaria Estadual de Saúde e 14 municípios sedes dos escritórios regionais

    de saúde do Estado de Mato Grosso: Pontes e Lacerda, São Felix do Araguaia,

    Peixoto de Azevedo, Rondonópolis, Barra do Garças, Cáceres, Água Boa, Juína,

    Alta Floresta, Diamantino, Colíder, Juara, Tangará da Serra e Sinop (OLIVEIRA

    et al., 2015).

    Foram previstas duas abordagens epidemiológicas distintas em cada

    uma das etapas da pesquisa: 1) estudo de demanda e exploratório, com base

    em dados primários, visando caracterizar o perfil de vítimas de causas externas

    atendidas em serviço de urgência e emergência e; 2) estudo de uma mostra de

    acidentes de trânsito com base em dados primários, visando identificar,

    prospectivamente, as consequências (deficiências e incapacidades) desses

    agravos (OLIVEIRA et al., 2015).

    A primeira abordagem, no mês de setembro de 2014, denominada no

    estudo de "Etapa 1", foi baseada na metodologia do VIVA Inquérito conduzido

    pelo Ministério da Saúde, em outros municípios brasileiros (OLIVEIRA et al.,

    2015).

  • 20

    4.1 TIPO DE ESTUDO E POPULAÇÃO

    O tipo de estudo foi delineamento transversal por meio da análise dos

    dados secundários obtido pelo banco de dados do VIVA Inquérito, extraído do

    projeto: Acidentes e Violências: conhecendo os eventos não fatais e suas

    consequências.

    Este tipo de estudo caracteriza-se por ser uma “foto” da população de

    estudo, pois, diversas informações são coletadas em um momento pontual, é

    também aquele que possibilita a descrição de variáveis e seus padrões de

    evolução, e é o único que permite a identificação de prevalência de um dado

    agravo/doença. Dentre suas principais vantagens podem ser citados: baixo custo

    para realização e a menor quantidade de perdas. Devido à pontualidade

    temporal, o estudo permite ao pesquisador a rápida coleta dos dados, é a

    ausência de necessidade de acompanhamento (ROUQUAYROL, 2013).

    A população para este estudo foram as vítimas de acidentes de

    trânsito menores de 18 anos atendidas nos serviços de urgência e emergência

    do Estado de Mato Grosso.

    A coleta dos dados secundários (Etapa 1) deu-se a partir da Ficha de

    Notificação de Violências e Acidentes (VIVA) desenvolvida pelo Ministério da

    Saúde para utilização no VIVA Inquérito-2014, realizado nas capitais e

    municípios selecionados do país (Anexo I). Esta foi preenchida para as vítimas

    de acidentes e violências atendidas nas unidades de urgência e emergência

    selecionadas no período de 01 a 30 de setembro de 2014, por profissionais da

    saúde selecionados, contratados e capacitados especificamente para essa

    atividade.

    4.2 COLETA DE DADOS

    Detalha-se abaixo como se deu a coleta de dados da presente

    pesquisa, utilizando-se informações disponíveis na ficha de notificação.

  • 21

    1. Dados da pessoa atendida: idade (menores de 18 anos), sexo, cor da pele,

    escolaridade;

    2. Dados específicos da ocorrência: dia da semana, horário e local da ocorrência,

    tipo de vítima, tipo de transporte e outra parte envolvida nos acidentes, utilização

    ou não de equipamentos de segurança, ocorrência ou não de acidente de

    trabalho e utilização de álcool nas últimas 6 horas;

    3. Lesão/evolução do caso: natureza da lesão, parte do corpo atingida e

    evolução na emergência.

    4. Após a seleção destas variáveis, foram elaboradas categorizações para cada

    uma delas, que seguem:

    1. Faixa etária: 7 grupos;

    2. Cor da pele: branca, preta e amarela, visto que não houve notificações

    de outras categorias;

    3. Sexo: masculino e feminino;

    4. Escolaridade: sem escolaridade, de 1 a 8 anos, de 9 a 11 anos, 12

    anos e mais de estudo, não se aplica e ignorados;

    5. Horário da ocorrência: Matutino (6:00h – 11:59h), Vespertino (12:00h

    – 17:59h), Noturno (18:00h – 23:59h) e Madrugada (00:00h – 5:59h).

    6. Uso de álcool, utilização de equipamentos de segurança e acidente

    de trabalho: serão tratadas de forma dicotômicas (sim/não).

    7. Em relação ao tipo de ocorrência foram selecionados apenas os

    acidentes de transporte.

    8. Local de ocorrência: residência, habitação coletiva, escola, área de

    recreação, bar ou similar, via pública, comércio/serviços, indústrias/construções,

    outros e ignorado.

    9. Dia da semana: domingo, segunda-feira, terça-feira, quarta-feira,

    quinta-feira, sexta-feira e sábado.

    10. Tipo da vítima: pedestre, condutor e passageiro.

  • 22

    11. Tipo de transporte da vítima: a pé, automóvel, motocicleta,

    bicicleta, transporte coletivo, outros e em branco.

    12. Outra parte envolvida nos acidentes: automóvel, motocicleta,

    transporte coletivo, bicicleta, objeto fixo, animal, outros, ignorado e em branco.

    13. Natureza da lesão: sem lesão física, contusão, corte/laceração,

    entorse/luxação, fratura, traumatismo crânio-encefálico, poli traumatismo,

    queimadura e ignorado.

    14. Parte do corpo atingida: boca/dentes, cabeça/face, pescoço,

    coluna/medula, tórax/dorso, abdome/quadril, membros superiores e inferiores,

    múltiplos órgãos/regiões e não se aplica.

    15. Evolução dos atendimentos: alta, encaminhamento ambulatorial,

    internação hospitalar, encaminhamento para outro serviço e ignorado.

    Estas variáveis e suas categorizações foram utilizadas tanto para

    análise geral, quanto para análise do meio de transporte mais prevalente.

    4.3 VARIÁVEIS DE ESTUDO

    Neste estudo foram consideradas as variáveis abaixo relacionadas.

    Sócio demográficas:

    Sexo: masculino e feminino.

    Faixa etária: menores de 18 anos.

    Raça/cor: preto, branco e amarelo.

    Escolaridade: 1º grau e 2º ano.

    Dados da ocorrência:

    Dia da semana: todos os dias.

  • 23

    Local: do acidente.

    Zona: urbana.

    Tipo da vítima: motorista e passageiro.

    Meio de locomoção: carro, moto e bicicleta.

    Natureza da lesão: moderada à grave que não ameaça a vida; grave

    que ameaça a vida com sobrevivência provável; a crítica com sobrevivência

    incerta; lesão máxima que é quase sempre fatal.

    Parte do corpo mais atingida: cabeça; pescoço; face; tórax; membros

    e cintura pélvica.

    Evolução da vítima: números de óbitos registrados pelo VIVA no

    período em estudo.

    4.4 PROCESSAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

    Para o processamento dos dados foi utilizado o programa Microsoft

    Office Excel 2007. Os resultados foram avaliados mediante distribuição de

    frequências absolutas e relativas das variáveis. A razão de sexo foi calculada por

    meio da divisão do número de homens pelo de mulheres. Os dados foram

    apresentados a partir de gráficos e tabelas, para assim proporcionar o

    entendimento da extensão do agravo e o perfil das vítimas dos acidentes de

    trânsito menores de 18 anos em Mato Grosso.

  • 24

    4.5 ASPECTOS ÉTICOS

    O projeto de pesquisa "Violência e Acidentes: conhecendo os eventos

    não fatais e suas consequências” foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa

    do Hospital Universitário Júlio Müller – UFMT (Processo Nº 093397/CEP-

    HUJM/2014), desenvolvido seguindo os aspectos éticos recomendados pela

    Resolução CNS nº 466, de 12 de dezembro de 2012.

  • 25

    5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

    Foram registrados cerca de 6.702 (seis mil, setecentos e dois)

    atendimentos, nas urgências e emergências de Mato Grosso de vítimas causas

    externas, na tabela 1. Destas vítimas os acidentes totalizaram 6.293 (seis mil,

    duzentos e noventa e três) e as de violências: 409 (quatrocentos e nove); sendo

    a grande parte dos atendimentos nos municípios de Rondonópolis (24%) e Sinop

    (19%). Dentre as causas externas, o estudo demonstrou predomínio das vítimas

    de acidentes, similar ao encontrado em outros estudos (CASTRO, 2009;

    GALVÃO, 2011; NEVES et al., 2013),

    Tabela 1 - Vítimas de acidentes e violências atendidas em unidades de urgência

    e emergência segundo local de atendimento. Municípios selecionados - Mato

    Grosso, 2014.

    Município Acidentes Violências Total

    nº % nº % nº

    Água Boa 255 92,1 22 7,9 277

    Alta Floresta 490 95,7 22 4,3 512

    Barra da Garça 455 92,5 37 7,5 492

    Cáceres 552 93,4 39 6,6 591

    Colíder 13 59,1 9 40,9 22

    Diamantino 172 94,0 11 6,0 183

    Juara 254 93,0 19 7,0 273

    Juína 332 94,3 20 5,7 352

    Peixoto de Azevedo 199 93,0 15 7,0 214

    Pontes e Lacerda 374 95,9 16 4,1 390

    Rondonópolis 1.505 94,5 88 5,5 1.593

    São Feliz do Araguaia 56 88,9 7 11,1 63

    Sinop 1.192 94,5 69 5,5 1.261

  • 26

    Continua

    Tangará da Serra 444 92,7 35 7,3 479

    Total 6.293 93,9 409 6,1 6.702

    Fonte: VIVA Inquérito, Mato Grosso 2014

    Cabe destacar ainda que 87% dos atendimentos foram de residentes nos

    quatorze municípios que integraram a pesquisa enquanto 11% foram de

    residentes em outros municípios mato-grossenses e somente 2% de outras

    localidades.

    Os acidentes de trânsito atendidos pelos municípios do estado do Mato

    Grosso se destacaram e representam aproximadamente 40% de todos os

    atendimentos e 42% dos atendimentos por acidentes. Comparando com o

    resultado do VIVA Inquérito realizando em 2011, nas capitais brasileiras, os

    acidentes de trânsito também se destacam nos atendimentos de urgência e

    emergência (BRASIL 2013)

    Tabela 2 - Vítimas de acidentes e violências atendidas em unidades de urgência

    e emergência segundo tipo de ocorrência e sexo. Municípios selecionados - Mato

    Grosso, 2014.

    Tipo de Ocorrência

    Sexo Total

    Masculino Feminino

    nº % nº % nº %

    Acidente de trânsito 1.788 39,5 860 39,6 2.648 39,5

    Queda 852 18,8 573 26,4 1.425 21,3

    Outros acidentes 1.643 36,3 577 26,6 2.220 33,1

    Lesão autoprovocada 31 0,7 28 1,3 59 0,9

    Agressão/maus-tratos 216 4,8 134 6,2 350 5,2

    Total 4.530 2.172 6.702

    Fonte: VIVA Inquérito, Mato Grosso 2014

    Na tabela 2, observa-se que os atendimentos de vítimas de acidentes de

    trânsito são mais frequentes em ambos os sexos, porém somente os homens

  • 27

    correspondem aproximadamente 66% atendimentos, este percentual está em

    consonância com os resultados apresentados pela SVS/MS no VIVA de 2011

    (BRASIL 2013) .

    Dos 2648 atendimentos de acidentes de trânsito, cerca da metade das

    vítimas eram jovens e a maioria do sexo masculino. Destas vítimas de acidentes

    de trânsito, 412 atendimentos foram de menores de 18 anos, sendo no município

    de Sinop com maior frequência (Tabela 3)

    Tabela 3 – Distribuição de Acidentes de trânsito em menores de 18 anos

    segundo município de residência em Mato Grosso 2014. .

    Município Acidentes de transito

    nº %

    Água Boa 22 5,4

    Alta Floresta 24 5,8

    Barra do Garça 34 8,2

    Cáceres 33 8,0

    Diamantino 7 1,7

    Juara 18 4,4

    Juína 18 4,4

    Peixoto de Azevedo 14 3,4

    Pontes e Lacerda 23 5,6

    Rondonópolis 93 22,6

    São Félix do Araguaia 3 0,7

    Sinop 100 24,0

    Tangará da Serra 23 5,6

    Total 412

    Fonte: VIVA Inquérito, Mato Grosso 2014

    A tabela 3, demonstra a maior frequência das vítimas de acidente de

    trânsito em menores de 18 anos atendidas nas unidades selecionadas de Mato

  • 28

    Grosso, sendo os municípios Sinop, Rondonópolis e Barra Garças que

    apresentaram os maiores percentuais.

    Na tabela 4 mostra algumas características das vítimas atendidas nas

    unidades selecionadas: sendo do sexo masculino (64,6%), de cor/raça parda

    (55,6%). Em cerca de metade (51,9%) das vítimas prevaleceu o ensino

    fundamental, aproximadamente 80,0% moravam na zona urbana e o local do

    acidente se deu numa via pública em praticamente em 88,0%. Metade das

    vítimas eram passageiros e o meio de locomoção era a motocicleta, estes

    achados diferem dos encontrados por MARCHESE et al.(2008) e por BONILHA

    (2012).

    Tabela 4 -– Distribuição de Acidentes de transito em menores de 18 anos

    segundo variáveis selecionadas

    Características Acidente de Trânsito %

    Sexo

    Masculino 266

    64,6

    Feminino 146

    35,4

    Faixa etária

    0-05 anos 70 17,0

    06-10anos 74 18,0

    11-17anos 268 65,0

    Raça/cor

    Branca 143 34,7

    Preta 28 6,8

    Parda 229 55,6

    Indígena 5 1,2

    Ignorado 5 1,2

    Sem Informação 2 0,5

    Escolaridade

    Analfabeto/Sem escolaridade 3 0,7

    Creche (0 a 3 anos) 23 5,6

    Pré-escola (4 a 5 anos) 18 4,4

  • 29

    1º ciclo Ens. Fund. (1º ao 5º ano) 82 19,9

    2º ciclo Ens. Fund. (6º ao 9º ano) 132 32,0

    Continua

    Ensino médio 120 29,1

    Ensino superior 1 0,2

    Não aplica 18 4,4

    Ignorado 11 2,7

    Zona

    Urbana 343 83,0

    Rural 69 16,7

    Local de ocorrência

    Via pública 366 88,8

    Escola 5 1,2

    Outros 41 9,9

    Meio de locomoção

    Carro 47 11,4

    Moto 195 47,4

    A pé 24 5,8

    Bicicleta 128 31,0

    Ônibus 5 1,2

    Outros 13 3,1

    Não se aplica 2 0,5

    Natureza da lesão

    Sem lesão física 20 4,8

    Contusão 47 11,4

    Corte/laceração 163 39,5

    Entorse/luxação 61 14,8

    Fratura 56 13,6

    Amputação 2 0,5

    Traumatismo dentário 7 1,7

    Traumatismo crânio-encefálico 19 4,6

    Poli traumatismo 1 0,2

  • 30

    Intoxicação 35 8,5

    Queimadura 0 0,0

    Outros 1 0,2

    Parte do corpo atingida

    Boca/dentes 10 2,3

    Outra região da cabeça/face 54 13,1

    Pescoço 3 0,7

    Coluna/medula 5 1,2

    Tórax/dorso 16 3,9

    Abdômen/quadril 7 1,7

    Membros superiores 98 24,0

    Membros inferiores 129 31,3

    Genitais/ânus 1 0,2

    Múltiplos órgãos/regiões 89 21,6

    Evolução

    Alta 275 66,8

    Encaminhamento ambulatorial 26 6,3

    Internação hospitalar 54 13,1

    Encaminhamento para outro serviço 50 12,2

    Evasão/fuga 2 0,5

    Óbitos 1 0,2

    Fonte: VIVA Inquérito, Mato Grosso 2014

    Pode-se verificar a imprudência no trânsito por meio desses dados.

    Verificou se que a maior parte dos acidentes as vítimas sofreram lesões na parte

    inferior e superior do corpo, o que também foi encontrado pelo estudo realizado

    por MARCHESE et al. (2008) em Alta Floresta e BONILHA (2012) em Mato

    Grosso. Alguns casos apresentaram lesões em múltiplas regiões (18,4%).

    Quanto a evolução, 66,8% das vítimas tiveram alta e apenas um caso fatal no

    período analisado.

    Além da mortalidade precoce e das sequelas decorrentes dos acidentes

    de trânsito, deve-se considerar os sofrimentos enfrentados pelas pessoas

  • 31

    acometidas por essas condições clínicas e suas famílias. OLIVEIRA e SOUZA

    (2003) reforçam que as sequelas físicas podem determinar alterações na

    qualidade de vida de motociclistas vítimas de acidentes de trânsito, trazendo

    como implicações altos custos diretos e indiretos de ordem econômica e social,

    tanto para a vítima, quanto para a sociedade.

    Tabela 5 - Distribuição de Acidentes de transito em menores de 18 anos

    segundo dia da Semana e tipo de vítima em Mato Grosso 2014

    Dia da semana

    Domingo 93 22,6

    Segunda-feira 50 12,1

    Terça-feira 49 11,9

    Quarta-feira 51 12,4

    Quinta-feira 51 12,4

    Sexta-feira 49 11,9

    Sábado 66 16,1

    Tipo de vitima

    Pedestre 24 5,8

    Condutor 225 54,6

    Passageiro 158 38,4

    Outros 3 0,7

    Não se aplica 1 0,2

    Fonte: VIVA Inquérito, Mato Grosso 2014

    Em relação os dias de semana, observa-se que os finais de semana

    (sábado e domingo) concentraram-se o maior percentual de atendimento, porém

    nos dias de semana sempre tem uma frequência acima de 10%. BASTOS et

    al.(2005) em estudo realizado com as vítimas de acidentes de trânsito atendidas

    em serviço pré-hospitalar em cidade do Sul do Brasil, encontrou maior

    prevalência de acidentes durante o sábado, o que difere do encontrado neste

    estudo. No entanto, nos resultados do VIVA 2011 divulgado pela SVS/MS

  • 32

    (BRASIL 2013) encontrou domingo com maior frequência estando em

    consonância com este estudo.

    O aumento do número de veículos, a ausência de fiscalização adequada,

    falta de infraestruturas rodoviárias e de programas de promoção voltados aos

    grupos de risco são fatores que influenciam no aumento dos acidentes (BRASIL,

    2005).

  • 33

    6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

    O desenvolvimento do presente estudo, possibilitou identificar o perfil

    epidemiológico das vítimas de acidentes de trânsito menores de 18 anos no

    período de 1º a 30 de setembro de 2014 nas urgências e emergências de Mato

    Grosso.

    De acordo com o estudo conclui-se que o perfil entre os jovens menores

    de 18 anos são de pessoas considerados brancas e pardas, do ensino

    fundamental (5º ao 9º ano), a motocicleta é o principal meio de locomoção na

    hora do acidente, maior parte dos acidentados no estudo sofreram lesões na

    parte superior e inferior do corpo ou sofreram múltiplas lesões com apenas uma

    vítima chegando a óbito.

    Dada a importância do assunto, é necessário o desenvolvimento de

    métodos para agilizar o processo de prevenção e criar políticas para evitar a

    violência no trânsito, como diminuir a velocidade nas zonas urbanas, onde está

    concentrado a maior prevalência de acidente de trânsito, pois o número de

    acidentes causados, independente da distinção, trazem implicações de altos

    custos diretos e indiretos de ordem econômica e social, tanto para a vítima,

    quanto para a sociedade, e que poderá ser pensado em políticas públicas de

    Educação para Trânsito em busca da conscientização da população.

    E ainda, desenvolver um trabalho com a população com o intuito de

    diminuir o acesso de menores na direção para que assim se evite mais

    acidentes. Não podemos esquecer outros fatores muito importantes como uso

    de celular e de bebida alcoólica.

  • 34

    7. REFERÊNCIAS

    ANDRADE S.M.S, Acidentes de trânsito entre motociclistas de entregas em dois municípios de médio porte do Estado do Paraná, Brasil. Paraná. Cad. Saúde Pública. 2012;24(11):2643 - 52

    BASTOS, Y. G. L., ANDRADE, S. M. de, SOARES, D. A. Características dos acidentes de trânsito e das vítimas atendidas em serviço pré-hospitalar em cidade do Sul do Brasil, 1997/2000. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21, n. 3, p. 815-822, mai./jun. 2005.

    BONILHA, S. M. F. Acidentes de Transporte: demanda nas unidades de urgência e emergência. 2012. 107 p. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) – Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá.

    BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violência. Brasília: Ministério da Saúde. 2002.

    BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância da Saúde. Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção da.VIVA: Vigilância de Violências e Acidentes,2009, 2010 e 2011. Brasília, 2013.

    BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de Situação de Saúde. Saúde Brasil 2010: uma análise da situação de saúde e de evidências selecionadas de impacto de ações de vigilância em saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.

    DAHLBERG, L. L.; KRUG, E. G. Violência: um problema global de saúde pública. Ciência & Saúde Coletiva, v. 11 (Sup.), p. 1163-1178, 2007.

    Diniz EPH, Assunção A, Lima FPA. Por que os motociclistas profissionais se acidentam? Riscos de acidentes e estratégias de prevenção. Rev Bras Saude Ocup. 2005;30:42. Hingson R, Winter M. Epidemiology and consequenses of drinking and driving. Alcohol Res Health. 2003;27:63-78.

    GALVÃO, Noemi Dreyer et al. Atendimentos de emergência na rede de vigilância de violências e acidentes em Mato Grosso, Brasil, 2008. Espaço para a Saúde, v. 12, n. 2, p. 45-55, 2011.

    GAWRYSZEWSKI, V. P. et al. A proposta da rede de serviços sentinela como estratégia de vigilância de violências e acidentes. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 11, p. 1269-1278, 2007.

    http://pesquisa.bvs.br/brasil/?lang=pt&q=au:%22Brasil.%20Ministério%20da%20Saúde.%20Secretaria%20de%20Assistência%20à%20Saúde%22

  • 35

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    ANEXO I

    INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS