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“AMARELINHA” COMO JOGO DIDÁTICO PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA SOBRE OS BIOMAS BRASILEIROS Yume Kikuda Silveira – Graduanda em Geografia Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP Campus de Ourinhos [email protected] Luciene Cristina Risso – Professora Assistente Doutora da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP – Campus de Ourinhos [email protected] INTRODUÇÃO Atualmente é possível encontrar a Educação Ambiental disseminada em muitas áreas, através de projetos e campanhas realizadas por ONGs, por grupos de pesquisas das universidades entre outros, com a finalidade de ligar a comunidade aos temas ambientais e auxiliar os indivíduos em sua formação enquanto cidadãos críticos. Muitos desses projetos que são realizados em escolas unem o espaço universitário às comunidades locais, possibilitando novas experiências para ambos os lados. O termo educação ambiental surge em 1965, em Keele na Grã-Bretanha, como uma forma de pensar e lutar por um ambiente melhor, diante do cenário de impactos negativos advindos da intensificação da urbanização e do crescimento da produção industrial. Assim, a educação ambiental visaria educar cidadãos conscientes de seus atos perante o mundo em que vivemos. Ela seria “então transformadora buscando atrelar ao cidadão um caráter participativo nas atividades sociais e ambientais em um exercício pleno de sua cidadania” (Dias, 2004 apud Risso, 2009). A Educação Ambiental passa a atuar na sociedade como uma ferramenta capaz de auxiliar os indivíduos em sua formação, complementando-os, já que a partir dela é possível trabalhar com questões referentes a valores de cidadania, respeito ao meio ambiente e atuar, muitas vezes por meio de projetos, em ações concretas as quais contribuem para uma maior conservação do meio ambiente, mantendo suas características e permitindo as transformações daquilo que lhe trará benefícios.

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“AMARELINHA” COMO JOGO DIDÁTICO PARA O ENSINO DE

GEOGRAFIA SOBRE OS BIOMAS BRASILEIROS

Yume Kikuda Silveira – Graduanda em Geografia Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP

Campus de Ourinhos [email protected]

Luciene Cristina Risso – Professora Assistente Doutora da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP –

Campus de Ourinhos [email protected]

INTRODUÇÃO

Atualmente é possível encontrar a Educação Ambiental disseminada em muitas

áreas, através de projetos e campanhas realizadas por ONGs, por grupos de pesquisas

das universidades entre outros, com a finalidade de ligar a comunidade aos temas

ambientais e auxiliar os indivíduos em sua formação enquanto cidadãos críticos. Muitos

desses projetos que são realizados em escolas unem o espaço universitário às

comunidades locais, possibilitando novas experiências para ambos os lados.

O termo educação ambiental surge em 1965, em Keele na Grã-Bretanha, como

uma forma de pensar e lutar por um ambiente melhor, diante do cenário de impactos

negativos advindos da intensificação da urbanização e do crescimento da produção

industrial. Assim, a educação ambiental visaria educar cidadãos conscientes de seus atos

perante o mundo em que vivemos. Ela seria “então transformadora buscando atrelar ao

cidadão um caráter participativo nas atividades sociais e ambientais em um exercício

pleno de sua cidadania” (Dias, 2004 apud Risso, 2009).

A Educação Ambiental passa a atuar na sociedade como uma ferramenta capaz

de auxiliar os indivíduos em sua formação, complementando-os, já que a partir dela é

possível trabalhar com questões referentes a valores de cidadania, respeito ao meio

ambiente e atuar, muitas vezes por meio de projetos, em ações concretas as quais

contribuem para uma maior conservação do meio ambiente, mantendo suas

características e permitindo as transformações daquilo que lhe trará benefícios.

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Deste modo, concordamos com Dias (2004, p.148) ao ressaltar que:

A Educação Ambiental é considerada um processo permanente, pelo qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem o conhecimento, os valores, as habilidades, as experiências e a determinação que os tornam aptos a agir - individual e coletivamente - e resolver problemas ambientais presentes e futuros.

E também com Loureiro (2006, p.28) que assinala:

A Educação Ambiental não atua somente no plano das idéias e no da transmissão de informações, mas no da existência, em que o processo de conscientização se caracteriza pela ação com conhecimento, pela capacidade de fazermos opções, por se ter compromisso com o outro e com a vida.

Para TELLES (2002), a educação ambiental possui como objetivos a

conscientização, conhecimento, atitudes, habilidades e a capacidade de avaliação para

poder tomar as devidas providências e participação nos cuidados, melhorias e

responsabilidades perante o ambiente.

Sobre o processo de formação de cidadãos críticos através da educação

ambiental, PELICIONI& PHILIPP (2005) garantem que:

A educação ambiental vai formar e preparar cidadãos para a reflexão crítica e para uma ação social corretiva ou transformadora do sistema, de forma a tornar viável o desenvolvimento integral dos seres humanos (PELICIONI & PHILIPPI, 2005, p. 3).

Dessa forma, considerando a notável relevância da educação ambiental e de suas

diversas formas de ser implementada, este projeto vislumbrou à criação de um jogo

didático que pudesse contribuir para o aprendizado sobre os biomas brasileiros,

facilitando a interpretação de suas fisionomias além de contribuir com o docente para

que este tenha mais facilidade em explicar o tema, contribuindo com novas didáticas em

sala de aula.

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Reconhecemos a importância do tema ambiental e da conservação da

diversidade biológica ou biodiversidade, que segundo a Convenção sobre Diversidade

Biológica (CDB) define como:

Diversidade biológica significa a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e complexos ecológicos de que fazem parte; Compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e ecossistemas. (1992, p.9.)

Optou-se pela escolha da “amarelinha” pois, de acordo com STEFANELLO

(2008), “propiciar situações lúdicas na escola favorece o desenvolvimento de

habilidades necessárias para a construção do conhecimento”, e, assim, os jogos

didáticos facilitam criar um ambiente lúdico na sala de aula, contribuindo para a

construção do conhecimento de maneira mais aprazível, além de dinamizar as aulas

teóricas.

Este trabalho insere-se no projeto do Núcleo de Ensino, coordenado pela

Profª. Dra. Luciene Cristina Risso, tendo como objetivo principal a pesquisa e produção

de materiais didáticos para os alunos da rede pública estadual, por meio do grupo

CENPEA (Centro de estudos de percepção de educação ambiental).

OBJETIVOS

O projeto possui como objetivo principal produzir material didático para

estudantes da rede pública estadual, além de auxiliar os professores nas aulas de

Geografia, contribuindo para a melhoria do ensino de Ourinhos-SP.

Este trabalho tem como objetivos específicos os itens abaixo:

• Desenvolver um jogo didático de “Amarelinha” que possa ser utilizado nas aulas

de Geografia.

• Confeccionar o jogo em sua forma física no material de E.V.A., sendo que serão

elaborados dois jogos de amarelinha para cada bioma.

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• Produzir as cartilhas dos biomas que têm por função auxiliar tanto o professor

quanto o aluno durante a “brincadeira”.

• Disponibilizar no site do Cenpea (www.cenpea.com.br) os jogos didáticos em

formato “pdf”.

METODOLOGIA

O trabalho constituiu de revisões bibliográficas acerca da temática da

biodiversidade, biomas brasileiros, educação ambiental e geografia, a produção do

material didático e aplicação do material em escolas.

Especificamente sobre a produção do material didático, foi escolhido o

“tradicional” jogo para crianças conhecido como “Amarelinha”, o qual normalmente se

brinca nas ruas. É um jogo muito simples, cujo principal objetivo é percorrer as “casas”

(quadrados) numeradas de 1 a 10, com o destino final o “céu”. Para brincar, a criança

joga uma pequena “pedra”, cascalho ou graveto em uma das casas, iniciando pelo

número 1, e não pode pisar na “casa” onde a “pedrinha” se encontra, é preciso pulá-la.

A inovação e adaptação desse jogo, é que cada “casa” (ao invés de números)

apresenta uma questão sobre os biomas brasileiros e ao final chega-se a adivinhação do

bioma (ao invés do céu). Para a classificação de biomas, escolhemos de Dora de

Amarante ROMARIZ (1996), ao qual designa de Floresta Latifoliada Equatorial

(Amazônia), Floresta latifoliada Tropical (mata atlântica do interior), Floresta

Latifoliada Tropical Úmida de Encosta (Mata Atlântica), Mata de Araucária, Caatinga,

Cerrado, Campos e complexo do pantanal. Desses, trabalhamos com a Floresta

Latifoliada Equatorial (Amazônia), Floresta Latifoliada Tropical Úmida de Encosta

(Mata Atlântica), Caatinga, Cerrado e Campos, foram escolhidos esses 5 biomas por

serem mais conhecidos dos próprios estudantes, decidimos concentrar apenas nesses

biomas para não dispersar muito enquanto joga-se. Foram confeccionados 10 jogos de

“Amarelinha”, dois de cada bioma.

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As questões elaboradas e encontradas em cada “casa” têm suas representantes

em cada jogo, pois as perguntas são adequadas a cada bioma, mas correspondentes. As

questões que estão nos jogos são: “Qual o principal solo encontrado no bioma?”, “Fale

um animal encontrado somente na Caatinga”, “Qual o clima predominante no bioma?”,

“Uma árvore característica do bioma”, “Outro animal encontrado somente na Mata

Atlântica”, Outra árvore característica do bioma”, “Cite três estados onde é encontrada a

Floresta Latifoliada Equatorial”, “Mais um animal encontrado somente nos Campos”,

“Quanto do Cerrado já foi devastado?”.

Importante lembrar que, antes de se iniciar o jogo, o professor deve distribuir as

cartilhas aos grupos de educandos, que devem ler as cartilhas correspondentes ao seu

bioma, já que nela contém informações relevantes para poder responder as perguntas

que serão desvendadas ao longo da brincadeira, como também imagens de alguns

animais e árvores que podem ser encontradas no bioma. Para ressaltar algumas

diferenças sobre os biomas, os alunos podem ver alguns exemplos nas cartilhas, como

as imagens e os dados. A intenção da cartilha é bem simples: propiciar um

conhecimento prévio aos alunos para que eles possam jogar a “amarelinha”, permitindo

a eles que construam o conhecimento de forma lúdica, auxiliando também o professor a

passar conteúdos que muitas vezes são distantes da realidade dos alunos.

Os jogos de “amarelinha” podem ser aplicados em salas de aula, mais

especificamente no terceiro bimestre do oitavo ano (antiga sétima série) do ensino

fundamental, de acordo com a Proposta Curricular do Estado de São Paulo (2008),

perpassando o tema “A crise ambiental” e o subtema “A biodiversidade ameaçada”.

Também podem ser aplicadas na primeira série do ensino médio (quarto bimestre), no

tema “Globalização e urgência ambiental” e ao subtema “Os biomas terrestres: clima e

cobertura vegetal”.

RESULTADOS PRELIMINARES

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O presente trabalho foi concluído com as 10 (dez) cartilhas temáticas prontas,

tanto na forma física, quanto em formato digital, bem como os jogos de amarelinhas,

que podem ser observados nas imagens abaixo (Figuras 1 e 2).

Figura 1- Jogos de Amarelinha finalizados

Fonte: Material produzido por SILVEIRA, Y. K. (2012)

Figura 2- Jogo de Amarelinha da Caatinga finalizado e montado

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Fonte: material produzido por SILVEIRA, Y. K. (2012).

A produção desses jogos didáticos voltados para o ensino é ancorada na

construção do conhecimento de forma lúdica, possibilitando um ambiente de

aprendizado mais agradável, como já dito por STEFANELLO (2008), que ao se criar as

situações lúdicas no ambiente escolar, o desenvolvimento das habilidades necessárias

para a construção do conhecimento são favorecidas. Concordamos com este pensamento

e esperamos além de dinamizar as aulas de Geografia propiciando situações em que aja

uma maior interação entre os alunos e o próprio professor.

O jogo didático teve sua primeira aplicação em uma escola no segundo semestre

de 2013, na escola E.E. Dr. Ary Corrêa, localizada na cidade de Ourinhos (Figura 3).

Foram aplicadas as amarelinhas e suas respectivas cartilhas em quatro turmas da sexta

série/sétimo ano, juntamente com a aplicação de um questionário após a atividade, cujos

resultados estão sendo analisados e pretende-se uma nova aplicação no ano de 2014.

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Figura 3- Aplicação dos jogos didáticos na E.E. Dr. Ary Corrêa

Fonte: arquivo da autora - Silveira, Y. K. (2013).

Como os arquivos digitais estão todos finalizados, disponibilizaremos no site do

Cenpea (www.cenpea.com.br), no formato de arquivo “pdf”, para que outros

professores tenham a oportunidade de utilizar com seus alunos. Também colocaremos

outras alternativas para confeccionar os jogos, os quais foram feitos com amarelinhas de

EVA, entretanto é possível utilizar outros materiais mais baratos e prováveis de serem

encontrados nas escolas, como papelão, cartolinas, entre outros, para que realmente seja

possível utilizar em sala de aula.

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BIBLIOGRAFIA

BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. A convenção sobre Diversidade Biológica –

CDB, cópia do Decreto Legislativo nº2, de 5 de junho de 1992. M.M.A., Brasília, 2000.

Disponível em

http://www.mma.gov.br/estruturas/sbf_chm_rbbio/_arquivos/cdbport_72.pdf acessado

em 04/05/2014

DIAS, G. F. Educação Ambiental: Princípios e Práticas.9 ed. São Paulo: Gaia, 2004.

LOUREIRO, C. F. B. Trajetória e Fundamentos da Educação Ambiental. 2 ed. São

Paulo: Cortez, 2004.

TELLES, M. de Q.; ROCHA, M. B. da; PEDROSO, M. L.; MACHADO, S. M. de C.

Vivências Integradas com o Meio Ambiente. São Paulo: Sá Editora, 2002.

SANTOS, Silvio de Oliveira. Princípios e técnicas de comunicação. In: PHILIPPI JR,

A.; PELICIONI, M.C.F (Eds). Educação Ambiental e sustentabilidade. Barueri:

Manole, 2005. p.437-465.

RISSO, L.C. Pesquisas em Educação Ambiental e Produção de Material Didático.

In: PINHO, S. Z.; OLIVEIRA, J. B. de. (Org.). Núcleos de Ensino da UNESP (recurso

eletrônico): artigos dos projetos realizados em 2009. São Paulo: UNESP, Pró-Reitoria

de Graduação, 2009, v.1, p.729-746.

ROMARIZ, Dora de A. Aspectos da vegetação do Brasil. São Paulo. Edição da autora,

2ª edição, 1996. Pg. 37 a 43.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Proposta Curricular

do Estado de São Paulo. São Paulo: SEE, 2008.

STEFANELLO, Ana Clarissa. Práticas de ensino na geografia escolar. In: ______.

Didática e avaliação da aprendizagem no ensino de Geografia. Curitiba: IBPEX,

2008. P. 105-120.