“JOÃO QUE O MUNDO ROEU”julho de 1978. Como foi e porque João teria matado aquela senhora...

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“JOÃO QUE O MUNDO ROEU” Anthonny G Ramos

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“JOÃO QUE O MUNDO ROEU”

Anthonny G Ramos

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João que o mundo roeu

Anthony G Ramos Central de Minas

Dez de maio de 2001 São nove horas, o frio da noite vem chegando aos poucos! Deixo minha mente relaxar, o vento rolava lá fora, ao longe se ouvia o rugido das arvores, a tempestade se aproximava, aproveitei para fechar as janelas, acender a lareira, depois tomar um vinho e relembrar um pouco as historias deste povo de vida simples e sofrida, precisamente sobre certo João. O povo desta cidade viveu uma era de muita tristeza, tanto que ate hoje se ouve falar deste caso. Eles vivem da pesca e da agricultura. Vamos relatar os fatos acontecidos aqui. A propósito, meu nome é Anthony G. Ramos, trabalho no fórum desta cidade. Já vi muitos casos por aqui, mas igual, jamais. Hoje, temos o julgamento do ex-delegado de policia desta cidade. Logo a seguir julgaremos o senhor Roberto Souza. Eles omitiram provas da justiça. Depois disto talvez saiam daqui direto pra delegacia. O dia era nublado, nada se comparava aos de outros que já foram melhores! A comunidade é cercada de contos e lendas, dizem que: aquele menino nas noites de junho ronda as ruas vendendo jornais

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fazendo das suas por ai. Quando ouço seu choro. Fico pensando se... Existe mesmo justiça neste mundo. Era isto mesmo! Uma historia de deixar qual quer um de boca aberta. João Era um rapaz prestativo e muito amigo. Este corpo de jurados que se faz presente, deve se lembrar cada detalhe deste caso! No dia 06 de julho de 1978. Como foi e porque João teria matado aquela senhora brutalmente? Por dinheiro? Não ao que consta nos laudos, ele não teria motivo algum de cometer tal crime em plena luz do dia. João fora caçado e desmoralizado. Preso e sem advogado para livrá-lo é humilhado. Nasceu nesta cidade, seus pais mudaram para Malacacheta. João tinha 17 anos, esses eram seus anos nesta era. Moreno cabelo liso corte radical.

Parecia um índio João se despede se seu amigo cão, o lulu era seu nome. Todos os dias, após o final da aula, João se dirigia ao jornal pra começar o seu trabalho no diário, tinha estratégica devido sua popularidade com os senhores cidadãos distintos de Central de Minas. O diário da tarde deve ser entregue em suas casas entre as 11 horas e 12.30 horas, era pontualmente do qual, ele seguia cada passo rigorosamente, e depois, se encontrava na esquina da rua oito e nove para vender o que restava do jornal. Acontece que... - Como vai meu amigo?

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Respondeu João; - Vou bem, obrigado! E você Robert? - Vou como Deus manda; Viver, amar e progredir. - Ah! Bom! Assim é que se fala! Disse-lhe João. - Sabe João, meus pais estão querendo me mandar para estudar no exterior! Já completei o segundo grau. Acha que o Brasil mesmo sendo Pais de terceiro mundo, não oferece o suficiente pra uma vida universitária competitiva fora de seus limites. Mas volto quando tudo der certo. - Pois então se for bom pra você, pois que é o mais pensado momento, é melhor se apressar. Nem todos os pais podem dar este conforto ao filho. Aproveite e me mande um cartão postal de lá. Disse João. Eles se abraçam e a despedida é pra João uma perda da qual ele nem imagina que vai lhe fazer. Nisso surge Elaine uma amiga de infância. - Ola meu caro amigo João! Tudo as mil e umas maravilhas? E você Robert? - Vou bem! Desculpe-me, mas estava de saída.

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- Tudo bem! Disse Elaine. -Tudo. Poderia ser melhor não fosse o destino que devemos seguir pra ter um futuro promissor. Disse João. - Também acho! Afirma Elaine. -É bom ter você como amiga! Estava com saudades dos teus olhos! Disse João. - É mesmo? Sabe bem que sou sua. Admirada ela o abraça apertado e se lembra de quando os pais de João faleceram. E como aconteceu tudo. Ele vive nos fundos da casa de Elaine, em um quartinho de madeira. Estuda na mesma escola onde ela estuda, e sempre está junta, até mesmo a merenda escolar, é dividida entre eles. Aproveita para colocar as fofocas em dias quando se encontram na rua.

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- Bom! Vou indo, depois nos falamos. Tchau então! Hoje tenho pressa de chegar, pois as férias se aproximam e cada vez mais as tarefas escolares nos apertam. - Tudo bem! Depois nos falamos, preciso acabar de vender estes jornais. Ela saiu desfilando seu corpo de menina faceira aos olhares de seu amigo. Elaine era filha de conceituada família de Central. Amava João e ele Trabalha para dar continuidade aos estudos, porque acredita que um dia as pessoas olharão pra ele com mais atenção e menos compaixão. - Extra! Comprem jornal. Índios invadem fazenda primavera e seqüestram a família do seu Manuel. Extra. Comprem jornal. Adolescente em Belo Horizonte é morto na porta da escola. Um cidadão é esfaqueado na praça sete. Dois militares são atacados pela gangue de ladrões após fuga da cadeia do Barreiro. Fazendeiros são obrigados a venderem suas terras para o governo por causa da invasão da reforma agrária. O caso veio à tona ontem pela manhã. Extra.

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João era muito religioso e todo o domingo ia a igreja participar da hora santa, padre Alfredo gostava de vê-lo no coral da igreja. Mesmo com tantos sofrimentos, ele não deixava transparecer, vivia o dia como se fosse a única esperança de conforto pra sua alma. Ele era solitário. No dia vinte e oito de junho, quando se aproximavam as férias, João estava conversando com Elaine, quando Beto aparece dizendo não ver à hora de este semestre acabar. Beto tinha ciúmes de João e Elaine quando estavam juntos. A relação entre eles era sem tamanho, Elaine ficava com eles sem se decidir, seu coração era de João e por Beto tinha apenas amizade, mas Beto amava Elaine e ela amava João discretamente. - Hoje tenho que fazer um trabalho que é um saco! Não gosto de psicologia. Detesto ter de usar minha mente mais que já uso. Depois, tenho de apresentar na sala! Isto me deixa de cabelos brancos. Meus belos e aloirados cabelos! João ri da maneira dela se referir aos belos cabelos dourados. Na verdade, ela é lindíssima!

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Têm os traços de moça fina e o olhar duma menina, sua juventude é estampada no rosto. Seus quinze anos vividos trás felicidade á flor da pele. - Joãozinho você pode ajudar-me com o trabalho de psicologia? Perguntou Elaine. - Lógico! Terei imenso prazer em lhe ser útil! Disse. - Pois é! Não sou entendida neste assunto quanto a você! Disse Elaine - Tudo bem! A que horas posso ir a sua casa? Perguntou. - Assim que você chegar do serviço! Aguardo você na minha casa, farei uns bolinhos de fubá que eu sei que você adora. - E você Beto? O que pretende fazer da sua vida?

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- Oras Elaine! Bem sabe que não gosto de estudar! Dia dez completos 18 anos. E depois seguirei carreira de fotografo, montarei um estúdio com a grana que meu pai me deixar de herança casar ter muitos filhos e depois viver numa das fazendas que eu herdar. - Só moleza! Sombra e água fresca. Disse Elaine. - Bom! Vou embora. - Elaine abraça e beija João, Beto fica com raiva e vira de costas. Elaine que ama João, Beto que ama Elaine. João que o mundo... - Extra. Governo esta distribuindo terras na cidade de Mucuri Conflitos fazem mais uma vitima de sem terras. Seis de julho de 1978. Se bem me lembro; Naquele dia tudo parecia dar certo quando... Era de ser tranqüilo. Mas nem tudo que reluz é ouro e nem sempre se bebe água fresca á sombra duma arvore. Não se sabe de onde saiu tanta gente, eles viam aos bandos! Atropelando quem estivesse a sua frente. João se esquiva de alguns

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Mas uma senhora de idade avançada não tem mesma sorte. Cai no chão. E eles continuam passando por cima dela. João e Beto viram tudo. João se abaixa pra acudi-la. Beto aproveita pra tirar umas fotos depois se afasta, temendo o pior, fica escondido atrás duma arvore temendo pelo pior. Joãozinho levanta a cabeça da senhora e percebe que ela havia se acidentado e que jorrava muito sangue. - Sangue? Deus meu! Ela esta morrendo. Esta morrendo! Socorro, socorro. Aparecem algumas pessoas e ficam abismadas. - Este rapaz matou esta dona! Disse uma senhora. - Verdade! Ele matou cruelmente esta dona! Chamem a policia! Disse um senhor de barba branca. - Mas...

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Eu não matei ninguém! Esta dona foi atropelada pelas pessoas que fugiam não sei de que, passaram por aqui como éguas no pasto. E... Aparecem dois policiais - O melhor eu sair daqui! Disse um medroso que se referia o João como um possível criminoso. - Esperem! Vocês não estão pensando que eu... - Sim! Você matou esta dona, tinha um rapaz por aqui, disse ter visto você com uma pedra na mão e atingir senhora ai no chão. Disse um senhor de poucas amizades. - Quem? Ele se desespera tentando saber a pessoa que havia feito isto. Uma infâmia. - O rapaz sumiu na esquina. Disse o acusador. Um dos policiais se aproxima e prende João. - Está preso rapaz!

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Tem o direito de permanecer calado, ter um advogado, tudo o que dizer... Será contra você! - Mas como? Eu? Preso? Perguntou ele. João tenta correr. Ma umas as pessoas que ali estavam avançaram pra cima dele, procurando linchá-lo, não conseguindo, o policial atira pra cima tentando a tudo custo, conter a multidão. - Jesus! Toma conta de mim! Nada fiz pra merecer tal castigo. Alguém armou pra cima de mim! Disse João. - Você se meteu numa encrenca rapaz! Com tantas testemunhas, é bem provável que... Vai apodrecer na cadeia. - Qual sua idade? Perguntou outro militar. - 17 anos! Respondeu João.

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- É menor de idade! Devemos levá-lo a delegacia para prestar depoimento, depois o delegado saberá o que fazer dele. - Rapaz1 Onde você mora? Qual o nome de seus pais? - Não tenho pais! Moro na Rua Afonso Arinos numero 14 - Não tem pais? Nem um responsável por você? - Não senhor policial! Respondeu ele. Eles saem da multidão com o preso algemado seguindo até uma delegacia que ficava ali perto da pracinha são Marcus. Iam eles levando João. Pra muitos ele não passa de um delinqüente, depois desta feita, mesmo sendo um rapaz de boa índole sua ficha será sujeito a especulações diversas na vida. Julgará como se julga um criminoso até que se prove o contrario, ele é culpado. Será que não havia uma testemunha a favor dele. E o Beto? Onde andarás? Preso e injustamente é encaminhado á delegacia. Antes de cometer qualquer delito, ou até mesmo que se prove que são culpados os pobres são os primeiros a serem suspeitos e detidos de qualquer

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maneira, sem qualquer tipo de ajuda! Depois são metidos em cadeias fedidas, e para livrá-los de uma prisão provisória as possibilidades são mínimas. São tratados como bichos. Ainda não se vê uma justiça, ainda que acredite nela. O delegado fica sentado numa cadeira fumando um charuto, com os pés em cima da mesa. O charuto fedorento incendiava tudo! Havia uns papeis espalhados pela sala, embora feio e esquisito, ele tinha mesmo cara de mau. Era o que se dava perceber. Aquele gordo nojento incompetente. Lembro-me como se fosse hoje! A barba sem fazer, os olhos de sapo, a boca faltando uns dentes. O delegado Simon silva. - Doutor Simon este rapaz foi autuado em delito criminoso! Foi encontrado com as mãos sujas de sangue segurando uma senhora do qual esta mortinha da silva! Disse mo militar. - Morta? O que fez com o cadáver? - Levamos para perícia! Disse o militar.

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- Então matador de velhinhas? O que me pode dizer sobre sua defesa? Ficar ai calado não irá lhe render nada! Há não serem uns anos a mais na cadeia. Perguntou o delegado. De boquiaberta desferindo uns palavrões indecifráveis assustando mais ainda João. Ele por um instante olha pra o preso e sem saber o que dizer; Pede para levantar sua ficha, e depois que seja preso numa das selas e que depois verá o que fazer. João fica atônito com seu destino. Como explicar ás pessoas que o Condenaram? Sabes que a vida agora terá outro rumo. Sem ajuda, irá apodrecer na prisão. A justiça é cega e anda na contramão. Perguntou o escrivão ao Joãozinho; - Seu nome? - João Fernandes. - Nome de seus pais? - Não tenho pais Afirma ele

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- Endereço? - Afonso Arinos 14. Bairro Tupi. - O que aconteceu com seus pais? - Morreram numa chacina em Malacacheta em 1976, ninguém foi preso. Depois disto, vim morar com minha avó, mas dias depois, morreu também. Hoje moro nos fundos da casa de Elaine, trabalho, estudo, como todo cidadão de respeito desta cidade. Quero um advogado do estado. O delegado interrompe. - Você terá um! Vai demorar, mas vai. Sei do caso de Malacacheta! Houve apenas um sobrevivente! Quer dizer que... - Sim! Sou eu! João Fernandes. Disse com uma angustia nos olhos pela recordação do assunto. - Faremos uma varredura pela cidade. Vamos descobrir este mistério. Disse o delegado.

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- Terminou? Perguntou o escrivão. - Sim! - Pode levá-lo. Prendei-o Resmungou o delegado, e continuou a fumar seu charuto fedorento. Joãozinho olha sua nova morada, percebe sujeira por todos os cantos, parece que era o fim do mundo. A privada era uma chave no chão úmido, a janela, nem por do sol dava pra se ver! Tudo era deserto! O silencio da noite lhe assolava a alma. Pobre João! Levanta a cabeça e tenta respirar. - Meu Deus! Que será de mim? Quatorze dias se passaram, e ele, continua preso. Era bem cedinho, quando o delegado recebe uma carta anônima. Ele começa a ler e percebe que é de suma importância aquele papel que estavam consigo. Continha umas fotos das quais, João segurava a vitima que se chamava Jandira Sales. O autor da carta descrevia que o criminoso havia sim, deliberadamente sido matador de dona Jandira Sales. E como estava de passagem pela cidade, não pode dar maiores detalhes do crime, mas, fez questão de

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enviar as fotos. O delegado vê tudo e depois, anexa ao relatório incriminando de vez João. As fotos eram claras! Era impossível uma montagem. João estava com a pedra e a mão suja de sangue, e com a outra mão, segurava a cabeça da vitima. Era seu fim! Arquivou o caso. Como surgiu este fotografo? Do nada? João recebe a visita de Elaine. - Meu amigo! O que fizeram com você? Está pálido, magro e sujo. Será que não tem comida por aqui? Perguntou furiosa com a situação dele. Joãozinho emocionado chora ao ver sua amiga. - Sou inocente! Nada fiz minha amiga!Estava trabalhando naquele dia, quando tudo aconteceu! O Beto viu. Ele pode inocentar-me! Viu tudo, e até tirou umas fotos! - Fotos? Como assim? - É ele tirou umas fotos, eu vi, depois desapareceu no mundo. - Você falou isto ao delegado? Perguntou Elaine.

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- Não achei legal! Poderia dizer que ele estava comigo e depois... - Depois? O que? Elaine retruca João. - Depois não iriam acreditar mesmo! A justiça deste delegado é corrupta e Sem escrúpulo algum. E na verdade, é cega. Disse ele com os olhos vermelhos de lagrimas. Elaine Vai embora aos prantos. Dizendo voltar outra hora e que iria fazer de tudo pra ajudá-lo a sair da cadeia. O primeiro passo é saber o paradeiro de Beto. Ele é a chave de tudo. O tempo passa lento, oito anos já se passaram! João continua preso. Elaine sumiu, já faz dias não lhe faz uma visita. Fica pensando se ela o abandonou. Mas logo se enche de alegrias, quando uma senhora surge trazendo uns bolinhos caseiros que sempre lhe oferece. Um dia percebeu... Ela se parece com minha mãe! Os olhos, os cabelos são iguais! Mas é um pouco menor.

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Fica me olhando sentada do lado de fora da sela, e depois vai embora sem nada dizer. E esta carta sem destinatário? Ela disse que uma moça mandou entregar-me. De quem era? Depois vou ler. Quem a mandou? Porque faz isto? Bom! Deixa pra lá! Não estou com cabeça pra ficar lendo carta! Depois leio. No outro dia, quando tudo estava como se o mundo tivesse parado, a noite chegou trazendo ventos, tempestade e frio. Lá fora, o vento levantava as folhas anunciando um inverno seco. Ele resolve ler a carta de dona filó. - Meu querido amigo Joãozinho... Queria estar ai com você, sei do seu sofrimento, e tenho plena certeza de que não esta bem! Quero te pedir uma coisa, não desista meu amigo! Tudo vai se ajeitar. Os amigos da escola ainda perguntam como esta você, respondo que vai sair um dia destes, e eles ficam alegres. Sabe? Estão preparando-lhe boas vindas, pois acreditam que sairá logo deste inferno em que te meteram. Já me formei, mas continuo fazendo cursos. Talvez continue o curso de enfermagem que surgiu aqui na cidade. Sei que és inocente sei que jamais faria mal a alguém. As fatalidades existem mesmo! Mas é preciso andar de cabeça erguida, e continuar acreditar que existe um Deus que olha pra você. Fique bem, meu amigo. Já tive varias razoes nesta vida pra chorar, mas quando penso em você que

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foi preso injustamente, guardo pra chorar de alegria no dia em que você e eu andarmos pela cidade de mãos dadas e continuar a sonhar e viver uma vida livre! Livre de verdade reze muito meu amigo. Somente assim poderá chegar mais perto de Deus. Lamento não ter ajudado a resolver seu problema, eu não estava contigo naquele dia, mas tenha certeza, estarei rezando sempre todos os dias de minha vida até que esteja livre novamente. Sabes que pode contar comigo. No mais, fico te esperando pra um café a qualquer dia destes. Prometo escrever. Estou ficando com o Beto. Sei que tinha ciúme dele, mas ele mudou depois que você ficou preso. Tem sido carinhoso comigo. Até em casamento, ele me pediu. Sabe? Não sei se amo o suficiente pra um casamento, se fosse com você! Era de ser diferente! Mas quem é dono do destino das pessoas? Continuo te amando. Beijos Elaine. Ficou feliz pela declaração, e isto lhe trouxe mais vida. O dia estava findando quando... - João! Você tem uma visita! Ele custa se levantar, depois ergue os olhos. Quando surge á sua frente.

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- Este senhor é o promotor de justiça que o estado lhe conferiu. Seu nome é... - Pode deixar assumo as responsabilidades daqui pra frente. Disse o promotor de justiça - Mas?... É você mesmo? João? Meu amigo de infância? - Robert? Disse João. Espantado, ele fica sem saber o que falar. Começa a chorar e feito louco arranca um grito da garganta Parecia que o coração iria sair pela boca. - Robert? Vais me tirar daqui? Por onde andou? Foi mesmo para o exterior? Já é doutor... Em? - Sim! Acabo de chegar ao Brasil! Fiquei sabendo de um preso aqui em Central de Minas. Fui destinado a defendê-lo. Eu e meu amigo

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Doutor Carlos Henrique advogado da mesma faculdade em que estive, iremos ajudá-lo. Ele fará sua defesa. Eu não esperava que o preso fosse você! Vou averiguar os laudos. Fique tranqüilo, saberemos estudar com todo carinho. Alguém há de me pagar pela injustiça cometida a você! Acredito na sua inocência. - Sabe Robert! Fui acusado e preso, pago por crime que não cometi. Quando vi aquela senhora caída ao chão, não excitei em ajudá-la! Depois disto minha vida virou um inferno. - Calma meu amigo! Tudo vai se sair bem! Vou agora mesmo ao fórum. Assim que coletar todas as provas, Marco uma revisão depois é só aguardar a intimação de prováveis testemunhas. Dizendo isto, Robert sai em direção ao fórum, depois pede ao advogado que reabra o processo para fazer um julgamento de João Fernandes. Pediu que chamasse as testemunhas; Elaine Maria Teixeira. Roberto Souza (Beto) E quais outras mais assim o precisar.

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Estatuto da Criança. O Estatuto da Criança lei número 8, 069 de 13 de julho de 1990, alterado pela lei 9.455, que dispõe sobre a proteção integral á criança e ao adolescente, considera criança pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescentes aquele que entre doze e dezoito anos de idade. Todo homem tem capacidade para gozar e a liberdade estabelecida nesta declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça ou cor e sexo, língua, religião, opinião política ou outra natureza, origem nacional, social, riqueza, nascimento outra condição. _Todo homem tem direito á propriedade só ou na sociedade com outros. _A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito á proteção da sociedade e o Estado. _Todo homem tem direito á vida, a liberdade e a segurança pessoal. No principio II. A criança deve gozar de proteção especial e facilitar por lei e por meios Facultar-lhe o desenvolvimento físico intelectual, moral, espiritual e social de forma saudável e normal. Em um ambiente de liberdade e dignidade. A criança tem direito desde o nascimento a um nome e a uma nacionalidade. São direitos adquiridos pelo menor, e fico aqui pensando, porque é que deliberadamente são transgredidos.

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Robert e Carlos se encontram em seu escritório que fica ao lado do tribunal para estudar o caso João. - Sabe Robert... Metade do caminho estará resolvida se mantivermos o foco da situação rumo certo. A auto-estima fica abalada num caso deste! Ser preso, surpreendido pela vida duma hora pra outra de livre á prisão. Os homens tende a pensar melhores seus julgamentos. Verifiquei que havia algo de estranho na morte daquela senhora. - O que encontrou? - Voltei anos atrás pra desvendar um mal entendido talvez. A solidariedade é pra ser trabalhado diariamente. Joãozinho, naquela época enfrentou uma crise emocional constante, hoje ele esta doente dentro daquela cadeia fedida que os homens o colocaram. Acredite este delegado fez vista grossa. - Será que é possível isto? - Claro como o dia! Dependemos das sementes que plantamos pra sobreviver aqui fora, e ela nem sempre termina em terrenos férteis. E o delegado não soube plantar, ignorou a semente. - Olhe Carlos se tiver fundamentos...

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Apenas confiamos nas pessoas e esquecemos-nos de nos corrigir, esquecemos de refletir melhor a vida. - Você e eu Robert! Podemos até achar que estamos perdendo as faculdades mentais aprisionados neste fim de mundo! Defendendo as pessoas, Mas a cada momento surge uma luz no fim do túnel pra aquela, ou aquele outro. A justiça tarda, mas provavelmente não falha. - Oras Carlos... É deste tribunal que vejo as maiores injustiças, cometidas deste mundo. Aqui, que ouço barbaridades, é deste tribunal que saem muitos diretos para cadeia aqueles que têm menos condições permanecem muitos longos anos. Acho que há muitas maneiras de pensar! A minha não é diferente daquela ou daquele outro de pensar, mas sim de agir. ”A vida consiste em dois tempos” “Um tempo pra pensar e outro pra agir” diariamente vemos mortes sem nexo, sem razão alguma. - Elementar meu caro Robert! Enfim! Os homens nada são senão retrato de si mesmo na parede de um quarto qualquer, mesmo na prisão se vê isto. São farinhas do mesmo saco.

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João é mais uma vitima da burocracia da justiça. É fácil prender, é fácil julgar e se não tem ninguém por ele, nada importa, é apenas mais um. Atravessa a noite e a madrugada fria surge trazendo recordações para Joãozinho, meu sentimento ao mundo perdeu-se naquele dia em que foi covardemente preso. As pessoas se viram ameaçadas inutilmente, pois mesmo sabendo que não era ele o culpado, não pensaram duas vezes em julgá-lo. Amanheceu, e Joãozinho recebe uma visita amiga. É dona filó, aquela senhora bondosa que se parece a sua mãe. - Ola! Você bem que cresceu em? Vejo que da ultima vez em que estive aqui, eras um rapazinho! Agora é homem, o que lhe fez a vida! Ainda se ainda esta aqui. Mas não será por muito tempo. Disse dona filó. - Mas é assim mesmo dona filó! Já fui para tantos lugares que nem sei mais em quem confiar! Sabe, outro dia esteve aqui um amigo meu, ele é promotor de justiça! - Promotor? Que bom Joãozinho! E ele? Prometeu ajudar você? - Sim!

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Mas faz bem tempo que ele ficou de me trazer noticias e nada de novo. - Calma meu filho! Agora pode ser seu momento! Este tal de promotor poderá defendê-lo. - É, fiquei feliz ao vê-lo. Disse João - Queria saber uma coisinha dona filó! - O que João? - A senhora tem filhos? - Sim! Tenho um rapazinho. - Que bom! Como é ele? - Quando o vi pela ultima vez tinha o rosto pálido, sofrido, mas tinha esperanças de vida. - Esperança de vida? Como assim? Conte-me. - Olhe meu rapaz! Faz-me ficar triste quando toco neste assunto. Melhor nós mudarmos a prosa.

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- Esta bem! Disse-lhe - Sabe!... Não iremos responsabilizar os outros pelos nossos erros. Eles se defendem, sabendo que tem por trás deles uma justiça. Esquecem apenas que muitos inocentes morrem por aqui. Deixa estar. É melhor não generalizar a coisa. A corda sempre pende ao lado inferior. E as balas continuam perdidas, acertando quem não deve. Disse João.

O tempo vai longe João é transferido pra uma penitenciaria em Contagem, cidade metropolitana de Belo Horizonte. É recebido como a um criminoso, um delinqüente qualquer. Mas seu destino é inevitável. Ele vê um homem com cara de poucos amigos atrás duma mesa, tinha aparência de um bode velho, barba ruiva, olho arregalado, roupa escuras,

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mais parecia um mendigo que um delegado de policia. João é apresentado aos demais carcereiros. - Valter venha aqui! Leve este preso com você! Guarde-o bem. - Pode deixar seu delegado! Farei sua estadia aqui um inferno. Deu uma risada escrota e arrastou João pra sela. - Fica aqui! Vai amargar pelo que fez aquela dona. - Mas... - Tenta se explicar e é atirado dentro da sela. Como se fosse um cão. No fundo esperava mais atenção por se tratar de um desconhecido, vindo de outra cidade. Mas não espere que o diretor tenha dó de você. João vê seus dias passarem Sem nenhuma resposta. Pensa sobre o que deixou pra trás. - Elaine me esqueceu! O meu amigo promotor? Será que sabe que estou aqui? Pensou consigo. João é remetido de volta a Central de Minas.

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Robert ficou sabendo de sua estadia lá em Contagem e imediatamente requereu a sua presença. O delegado foi intimado a depor no tribunal por haver transferido o preso sem justificar ao tribunal de justiça. Quando João chega à cidade os curiosos vai até a delegacia vê-lo. Robert estava acompanhado de dois advogados amigos dele, conversava a respeito do caso quando vê seu amigo João. - Meu Deus! O que fizeram a você meu amigo? Ele nada respondeu. Estava deitado numa maca de hospital, mais parecia uma múmia ambulante. Devia estar uns dez quilos a menos do seu peso normal. Seus olhos estavam fundos, seus cabelos sujos e espetados, pareciam um João felpudo. Cheirava mal. Suas roupas em farrapos tinha tido febre alta e diarréia crônica poucos dias atrás. - Alguém haverá de me pagar por isto. Disse doutor Robert a Carlos Henrique. - Vamos falar com o responsável por tudo isto. Disse Robert.

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- Elaine estava chegando, quando foi abordada pelo advogado de defesa de João. - Elaine? - Sim! Como vai? - Vou bem! O que fizeram ao João? É mesmo ele ai? - Infelizmente é! Disse doutor Carlos. Elaine vai embora chorando, estava atrasada pra fazer uma faxina em sua nova casa. Estava de casamento marcado com Beto. Chorava muito quando resolve limpar as coisas de Beto, e umas fotos caem de dentro duma bolsa. Pra seu espanto... - Minha nossa! O que é isto? Exclamou ela. Ela vê umas fotos repetidamente e percebe a razão de tudo. Uma das fotos João caminhava em direção da vitima, quando a mesma já estava caída e ensangüentada. Ela mostra a pedra, a seguir dona Jandira caindo sobre ela.

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O Beto sabia que João era inocente o tempo todo. Era ele mesmo o fotografo daquele dia! E agora? O que fazer? Beto agiu por ciúmes. Estas fotos inocentam João. Foi ele que entregou as fotos ao delegado. Doutor Robert e doutor Carlos Henrique se apresentam ao delegado de policia. - Queremos saber a razão de o preso estar assim! Disse Robert com voz de desdenho ao delegado. - Isto é o que acontece com criminosos desta estirpe! Disse o delegado completamente bêbado. - Costuma beber no serviço senhor delegado? Disse Carlos Henrique. Ele ficou calado sem o que dizer levanta da cadeira e sai. Deixando-os. Não fosse desacato á justiça. Talvez fizesse este delegado vomitar sua ignorância, e sua prepotência. Pensou doutor Carlos Henrique. - Vamos Carlos, voltemos outra hora.

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Reuniremos as provas. Acredito já ter expedido um pedido do julgamento de João, mas antes devemos ter em mãos todo o processo. Diante a juíza Martha Maciel. Estava a juíza falando com o promotor de justiça, quando o corpo de jurados se reunia. Eram ao todo doze pessoas, estudantes de direito e alguns advogados compondo o júri. De um lado, sentado á mesa, dois advogados de defesa. E sentado numa cadeira, escorado pelos lados, estava João. Doente, havia ficado doente dentro daquela prisão. A juíza começa o julgamento. - Senhores membros deste tribunal. Aqui estamos pra fazer justiça ao morto. O senhor João esta sendo julgado pelo crime do dia seis de julho de 1978, nove horas, aqui nesta cidade de Central de Minas. João é acusado de desferir e matar dona Jandira Sales, com uma pedra até sua morte. No qual, consta nos laudos da seguinte maneira. João, depois de ter passado uma multidão naquela rua, estava ele com uma pedra nas mãos e dona Jandira morta ao chão. Teve muitas testemunhas, mas não se prontificaram de comparecer. Ela morreu brutalmente. O senhor, João, pode descrever como o fez? Se realmente o fez.

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- Sou inocente! Nada tenho mais a dizer-lhe! Pois não sou eu quem matou dona Jandira. Disse isto varias vezes ao delegado, mas ele não acreditou e me colocou na cadeia, hoje, o que posso dizer senhora juíza, é que sou inocente, e morrerei dizendo isto. Pois nada tenho mais a dizer. - Pode se pronunciar, doutor Robert. - Veja caros amigos, a pessoa que esta sendo julgada, não sabe dizer mais nada a não ser inocente. Eu acredito nele, e mais ainda! Não tinha provas o suficiente pra prendê-lo. Porque alguém viu uma pedra nas mãos dele, não quer dizer que matou alguém! Havia alguém que fotografou a o fato... O delegado observou isto? Houve motivos para prendê-lo? Talvez o tivesse. Mas era de se provar. Antes de prender qualquer individuo deve se provar sua culpabilidade. E isto não foi feito.

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Abro aqui um processo contra o delegado de policia, senhor Simon Silva. O réu tinha de serem respeitados seus direitos de cidadão lhe fora negado. Sair prendendo as pessoas é muito fácil! Tão fácil que o fizeram sem escrúpulo. A réu esta débil de suas forças! Pelo que bem me lembro, ele tinha saúde de sobra. É agora peço aos senhores que libertem João. Ou apresentem provas o suficiente pra que ele continue preso, já pagou demais pelo o que não fez. Tenho dito. Nós aqui somos as justiças, e nos cabe averiguar cada passo dado. Não podemos cair no ridículo de cometer tais atrocidades. Onde esta a testemunha Roberto Souza? - Não compareceu. Esta viajando, assim foi o que disse sua noiva. - Então, minha sugestão é de que, marquemos outro dia esta sentença. Antes, gostaria de ouvir o advogado de defesa do réu. Disse a juíza Martha Maciel. - Obrigado! Se me permite colocar em apreciação minha tese. Eis que, o meu cliente foi injustamente atropelado pela burocracia da justiça do delegado Simon Silva.

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Pelo que consta nos laudos senhores, o meu cliente estava vendendo seus jornais naquela rua, no mesmo horário de sempre, quando uma multidão ultrapassa correndo desesperados, não se sabe do que, e logo depois, a senhora Jandira Sales, aparece morta, e meu cliente surge como culpado, quando na verdade estava prestando-lhe socorro. Quero justiça pra ele! Não houve provas o suficiente para incriminá-lo. Os senhores haverão de prestar atenção a cada detalhe do acontecimento, façamos uma retrospectiva do tempo. Existe um suspeito e varias evidencias sobre o caso. A vitima tinha varias marcas no corpo! Isto, também poderia ser mortal. Porque não o Beto, um possível suspeito? Ele viu tudo! Não é o criminoso, mas... Ele ficou calado, preferiu omitir e se esconder ao que poderia ter inocentado meu cliente. Peço aos senhores, membros deste júri que ajam com sabedoria. A senhora juíza a de convir comigo que o réu tem a ficha limpa, tem endereço e trabalha, é um cidadão de boa índole. Nada mais a relatar. Dizendo isto, a juíza marca a sentença pra outro dia. Depois de reunir as devidas provas e convocar as pessoas certas. Prosseguirá o julgamento. João é levado novamente à sela.

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Beto saiu de férias e não falou com Elaine. Ela aproveita pra fazer uma visita ao seu amigo. Ela o encontra deitado numa cama, tossia o tempo todo, parece que estava com tuberculose. Ela percebeu isto. Mas é melhor lhe contar a verdade e livrá-lo da cadeia de imediato. Ele estava irreconhecível, tinha um cheiro desagradável, sem forças pra ir tomar um banho, penava naquele lugar. Sem razão pra viver, morria João aos poucos. - João? Sou eu Elaine. Vim tirar você daqui. - Como? Estou livre? É tarde minha amiga, nem forças tenho pra ir embora. Ouvindo isto, Elaine começa a chorar. - Meu Deus! O que lhe fizeram! Olhe João, tenho as provas que inocentam você vou entregar ao delegado e... - Espere! Não entregue ao delegado, ele não presta! Vai queimar as provas e me deixar aqui morrendo.

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Entregue o Robert e ao doutor Carlos Henrique. Eles saberão o que fazer. - Nisto Elaine sai a procurar o promotor de justiça. - Muito bem! Então é isto que realmente aconteceu! As provas estavam o tempo todo ai, nas mãos de Beto. Vamos atrás dele. Deveria de ter um motivo lógico pra tanta crueldade, deixar morrer na cadeia uma pessoa como João. Vamos depois haveremos de encontrá-lo. Agora o que importa é libertar João. O promotor e o advogado de João chegam à delegacia. - Seu delegado! Quero que liberte o preso! Como assim, libertar o preso? Isto aqui não é brincadeira, é uma repartição do governo e deve se mantiver a lei. Aqui quem sabe se deve ou não libertar seja quem for, sou eu. - O senhor fez tudo o que não podia este detido por omitir informações da justiça. - Como? Vai prender-me na minha própria cadeia? - Que cadeia tem se não sabe o que é justiça?

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Desmoralizou nossa lei, na verdade, o senhor deve ter comprado este diploma de delegado! Ninguém faz isto com um ser humano. - Esta desacatando a lei? Perguntou o delegado - Pode me prender se tiver coragem. Vamos seu delgado? Liberte o preso, aqui estão às provas e o os documentos de soltura expedida juíza Martha. Disse Robert. O delegado lê o documento e chama o carcereiro pra libertar João. Nisto ele aparece com as chaves nas mãos e caminha até a sela. Abre e percebe que João esta imóvel. - João? Joãozinho esta livre! Pode sair agora. Ande homem, esta livre. Elaine que acompanhara tudo de perto, deita sobre o corpo dele e começa a tentar reanimá-lo. E constata que ele esta... Ela sentou e desatou a chorar. - Morreu! Meu Deus! Ele morreu. Elaine fazia força pra se manter de pé.

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Suas pernas fraquejaram, seus olhos vermelhos inundavam de lagrimas. Grita desnorteada a vida injusta que o amigo vivera. - Tem certeza? Perguntou o carcereiro. - Absoluta Disse Elaine. Os dois entreolharam-se. João é morto. Estava definitivamente fora de cogitação reanimá-lo. Elaine sentou-se agarrando um lenço tentando disfarçar as lagrimas que escorriam pelo rosto. João que o mundo roeu. Que foi injustiçado pela morosidade da lei. - Não queria que ele morresse, morreu e o pior de tudo é que não teve uma só pessoa para. Provar e inocentar este infeliz. E só depois de morto. Disse o carcereiro. Depois saiu pra dar a noticia ao delegado e doutor Robert que o aguardava na sala. - Doutor, o preso morreu. - Como morreu?

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Perguntou Robert. - Morto a Elaine esta com ele agora. Disse o carcereiro. Robert sacudiu a cabeça e foi ver de perto. - João? Meu amigo, agora não! Vamos sair daqui esta livre. Abaixou abraçou-o pegou-o no colo e saiu pela rua. Caminhou até o tribunal entraram, todos ficaram espantados ao ver. O promotor de justiça coloca João na cadeira e pede que a justiça seja aplicada. Mesmo depois de morto às pessoas precisam saber a verdade sobre João. Ele nada fez pra merecer o destino que os homens impuseram a ele. O que prova mais uma vez a justiça não faz tem sentido nas mãos dos tolos que a regem quando empregam pessoas desqualificadas para aplicá-la. JUSTIÇA DOS HOMENS Deitado estava e assim permaneci Minha alma vagou no espaço Memorizando que pai e mãe eu nem Cheguei a conhecer. Eu sou eu!

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João que o mundo roeu! João que o mundo esqueceu. De vez em quando! De quando em vez Ouvia-se sussurrar a morte Tentando selar sua sorte... Falando baixinho, Joãozinho... Joãozinho. Numa lapide Numa no cantão desta cidade esta escrito Aqui jaz “João” o homem que o mundo roeu. - Venha! Vou levá-lo pra casa. João e levado por uma senhora que entra e o coloca no colo, Depois se levanta e o leva consigo... Passa por todos e depois some na rua. - Olhe! A vida é assim mesmo! A justiça dos homens... Não é igual à de Deus. Todos ficam de boquiabertas. Depois disto, foi um silencio total no tribunal. Beto que amava Elaine, Elaine que amava João, E João que o mundo roeu. O sino da igrejinha faz o anuncia mento. Dezoito horas. Ave Maria cheia de graça! O Senhor é convosco... 08 de maio de2001

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Relatos do autor. Numa época em que tudo não é favorável, temos chance de ser flexível. A vida lhe mostra um lado e você tende ao outro. Nas adversidades é que desenvolvemos talentos escondidos. Algo fictício? Talvez. Depende em que ponto de vista esta situado. Este livro não é apenas um lúcido presente aos leitores É mais que isto! A justiça dos homens deve ser aplicada Conforme é. É um conto que conto com pesar. Isto pode Estar acontecendo na sua cidade ou aonde quer que esteja. Ainda bem que não é verdade! Isto não existe não é mesmo? A justiça dos homens é cega. Mas o de Deus vê ale do escuro.

FIM

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