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433 GÊNEROS DA INTERNET E CURSOS DE FORMAÇÃO CONTINUADA PARA PROFESSORES DE LÍNGUA PORTUGUESA Ligiane Aparecida Bonacin (PPGEL/UEL) Prof. Dr. Núbio Delanne Ferraz Mafra (Orientador) RESUMO: Há muito tempo, o processo que envolve a formação de professores de língua portuguesa tem se constituído de forma complexa. Ainda assim, é uma constante a preocupação em manter os professores atualizados sobre as novas tendências pedagógicas, uma vez que reconhecemos ser por meio da prática didático-pedagógica do professor de língua portuguesa em sala de aula que as possíveis mudanças escolares possam vir a acontecer com o alunado. Pensando nisso, esta comunicação objetiva refletir sobre o uso das novas tecnologias na educação no âmbito da formação continuada destes profissionais. Levando em consideração suas implicações, buscamos articular o ensino com a teoria dos gêneros discursivos da internet, de modo a provocá- los reflexivamente sobre a importância de levar tal tema aos alunos quando do trabalho com o gênero e-mail. Utilizamos, como aporte teórico para este estudo, autores dedicados à discussão sobre gêneros como Bakhtin (2003), Marcuschi (2004) e Rojo (2003), além de pesquisadores que tratam da formação de professores (LIBÂNEO e PIMENTA, 1999; TARDIF, 2006), com especial atenção para a formação em língua portuguesa (KLEIMAN, 2001; OLIVEIRA, 2006). PALAVRAS-CHAVE: formação de professores; novas tecnologias; gênero e-mail. “Um professor de profissão não é somente alguém que aplica conhecimentos produzidos por outros, é um ator no sentido forte do termo, isto é, um sujeito que assume sua prática a partir dos significados que ele mesmo lhe dá.” TARDIF, 2002, p.230

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GÊNEROS DA INTERNET E CURSOS DE FORMAÇÃO CONTINUADA PARA PROFESSORES DE LÍNGUA PORTUGUESA

Ligiane Aparecida Bonacin (PPGEL/UEL) Prof. Dr. Núbio Delanne Ferraz Mafra (Orientador)

RESUMO: Há muito tempo, o processo que envolve a formação de professores de língua portuguesa tem se constituído de forma complexa. Ainda assim, é uma constante a preocupação em manter os professores atualizados sobre as novas tendências pedagógicas, uma vez que reconhecemos ser por meio da prática didático-pedagógica do professor de língua portuguesa em sala de aula que as possíveis mudanças escolares possam vir a acontecer com o alunado. Pensando nisso, esta comunicação objetiva refletir sobre o uso das novas tecnologias na educação no âmbito da formação continuada destes profissionais. Levando em consideração suas implicações, buscamos articular o ensino com a teoria dos gêneros discursivos da internet, de modo a provocá-los reflexivamente sobre a importância de levar tal tema aos alunos quando do trabalho com o gênero e-mail. Utilizamos, como aporte teórico para este estudo, autores dedicados à discussão sobre gêneros como Bakhtin (2003), Marcuschi (2004) e Rojo (2003), além de pesquisadores que tratam da formação de professores (LIBÂNEO e PIMENTA, 1999; TARDIF, 2006), com especial atenção para a formação em língua portuguesa (KLEIMAN, 2001; OLIVEIRA, 2006). PALAVRAS-CHAVE: formação de professores; novas tecnologias; gênero e-mail.

“Um professor de profissão não é somente alguém que aplica conhecimentos

produzidos por outros, é um ator no sentido forte do termo, isto é, um sujeito que

assume sua prática a partir dos significados que ele mesmo lhe dá.” TARDIF, 2002,

p.230

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INTRODUÇÃO

Tendo em vista as discussões sobre a formação de professores em

relação às novas tecnologias, verifica-se que a realidade produzia em sala de aula, ainda

permanece estanque e distante das postulações teóricas que valorizem os gêneros e

práticas envolvendo as novas tecnologias, infelizmente o ensino colocado em prática em

algumas escolas brasileiras ainda têm sido realizado de forma tradicional e

descontextualizada, usando apenas o giz e a lousa como únicas ferramentas didáticas.

Há uma implicação pedagógica, de que o professor tem como tarefa se

manter sempre atualizado, para poder tornar suas aulas mais dinâmicas, interessantes.

Ao pensarmos nessa problemática, buscamos tratar nesse artigo da importância em

discutir os pressupostos teóricos bakhtinianos sobre gêneros, esperamos proporcionar

aos alunos textos de diferentes esferas sociais incluindo os gêneros do ambiente digital,

acreditando com isso podermos levá-los aos diferentes multiletramentos digitais.

De acordo com as novas exigências dos documentos oficiais, por

exemplo, o parâmetro curricular em vigor, exige-se da escola de hoje um ambiente de

interação e para isso a necessidade de se fazer uso das novas tecnologias, de modo que o

aluno faça conexão entre a escola e sua vida cotidiana.

Se entendermos a escola como um local de construção do conhecimento e de socialização do saber; como um ambiente de discussão, troca de experiências e de elaboração de uma nova sociedade, é fundamental que a utilização dos recursos tecnológicos Seja amplamente discutida e elaborada conjuntamente com a comunidade escolar (BRASIL, 1998, p.140)

Pretendemos articular a importância das novas tecnologias sobre a

formação de professores voltada para os novos letramentos, concordamos com Cope e

Kalantizis (2008a apud, ROJO org. 2013) quando os mesmos relatam que trabalhar com

a criação de contextos de aprendizagem que despertem a sensibilidade dos aprendizes

para o mundo global digital é uma maneira diferente de aprendizado, pois os

aprendizados cotidianos são diferentes de aprendizados escolares, desse modo, diversos

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fatores podem estar ligados ao processo de aprendizagem, enfatizando dentre os de

ordem cultural, o uso da internet que se multiplica com a globalização.

Como professores frente às “novas” formas de aprendizagem e

consequentemente, “novas” possibilidades de ensino contemporâneo, faz-se necessário

que busquemos formular uma pedagogia envolvida com esses multiletramentos,

levando em conta as ações pedagógicas específicas, que valorizem todas essas formas

de linguagem (verbal e não verbal), cujo foco deva ser o aprendiz. Em relação a isso

Roxane Rojo, linguista aplicada brasileira complementa:

É preciso que a instituição escolar prepare a população para um funcionamento da sociedade cada vez mais digital e também para buscar no ciberespaço um lugar para que se encontrem de maneira crítica com diferentes identidades múltiplas, (ROJO, 2013, p.7)

Evidente que a grande maioria dos alunos que chegam à escola de

hoje já fazem uso dos mais diversos meios tecnológicos, seja em casa, ou com os

amigos, desse modo, a instituição escolar precisa estar atualizada a essa nova demanda,

de modo que as tecnologias possam se tornar ferramentas dentro da sala de aula. Aliás,

por que não usá-las no contexto escolar, colocando-as nos processos de transformação e

construção da realidade, incorporando-as como novas percepções didáticas?

Essa pergunta parece estar ainda enraizada à tradição conservadora e

reconhecemos que mudanças não poderão acontecer sozinhas, uma das alternativas seria

levar esse tema aos cursos de formação de professores, oferecidos aos docentes em

ação, dando ênfase a pesquisas que tomam como base teórica a teoria dos gêneros

ligada ao mundo da internet.

Mostra-se significativo trabalhar com gêneros ficando claro, não ser

apenas uma exigência dos documentos oficiais, mas uma preocupação latente e atual

para o ensino, mas ao deparar os professores a essas teorias faz-se visível a preocupação

que eles possuem ao refletirem sobre o processo de ensino/aprendizagem de seus

alunos, eles esperam contribuir significativamente com a sua ação/prática em sala de

aula com uma educação de qualidade a seus educandos.

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Segundo Pimenta, (1999, p.22) a pesquisa sobre os cursos de

formação inicial de professores tem demonstrado que estes desenvolvem um currículo

com conteúdos e estágios distanciados da realidade da escola, contribuindo pouco para

gerar uma nova identidade para este profissional, deixando ao professor a tarefa de se

atualizar, cabendo ao professor adaptar-se às novas mudanças para não ficar fora do

mercado de trabalho, reciclando seus conhecimentos através do aperfeiçoamento

contínuo para atingir um crescimento pessoal e a redução da desigualdade social.

O desenvolvimento profissional envolve formação inicial e contínua articuladas a um processo de valorização identitária e profissional dos professores. Identidade que é epistemológica, ou seja, que reconhece a docência como um campo de conhecimentos específicos configurados em quatro grandes conjuntos, a saber: conteúdos das diversas áreas do saber e do ensino, ou seja, das ciências humanas e naturais, da cultura e das artes; conteúdos didático pedagógicos; conteúdos relacionados a saberes pedagógicos mais amplos e conteúdos ligados à explicitação do sentido da existência humana.(LIBÂNEO; PIMENTA, 1999, p 260)

Por isso, as práticas escolares voltadas às novas tecnologias devem ser

cobradas, sobretudo nos cursos de formação, uma vez que esses cursos são oferecidos

aos professores com a intenção de os atualizarem. Por sua vez os professores precisam

entender que os ambientes virtuais de aprendizagem devem ser levados em

consideração, deixando suas cismas e receios de lado, para proporcionarem uma

perspectiva de ensino diferenciada daquela colocada em prática até a atualidade.

De acordo com Kalantizis e Cope (1999, p.139) as escolas precisam

ensinar aos alunos novas formas de competências nesses tempos, em especial “a

habilidade de se engajarem em diálogos que são parte inevitável da negociação da

diversidade.

Por isso, ao pensarmos em objetos de ensino, novos letramentos,

multiletramentos e consequentemente novas ferramentas pedagógicas, destacamos que

houve no Brasil, principalmente a partir de 1995 a cobrança para que os professores de

Línguas tomassem como base metodológica a teoria dos gêneros. Sendo considerada

uma teoria que pode possibilitar ao aluno diferentes textos, dos mais diversos campos

de atuação.

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[...] o emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da atividade humana. Esses enunciados refletem as condições específicas e as finalidades de cada referido campo não só por seu conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais das línguas, mas acima de tudo, por sua construção composicional. Todos esses três elementos – o conteúdo temático, o estilo, a construção composicional – estão indissoluvelmente ligados no todo do enunciado e são igualmente determinados pela especificidade de um determinado campo da comunicação. Evidentemente, cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização de língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciado, os quais denominamos gêneros do discurso. (BAKHTIN, 2003, p. 261-262).

Enxergamos que as “novas” tecnologias abrem espaços para a criação

e manutenção de novos gêneros, reconhecendo que são recursos que possuem uma

variedade de funções sociais nas mais diversas esferas de atividade humana, podendo

proporcionar aos alunos situações em que possam interagir com um aprendizado mais

próximo da sua realidade fora do contexto escolar, criando situações problemáticas, de

modo que avancem no raciocínio e na compreensão as experiências obtidas na resolução

dos problemas.

TRABALHOS QUE FOCAM OS GÊNEROS DA INTERNET

Pensando na preocupação por parte dos professores de se manterem

atualizados, mas que por falta de tempo ou de incentivo governamental, mostram-se

distantes dos centros acadêmicos, das pesquisas mais recentes, e em consequência disso,

não possuem fontes seguras de trabalhos que tenham como corpus os gêneros,

dedicamos esse tópico em especial a fim de disponibilizar referências bibliográficas

seguras.

Damos início as nossas referências citando o linguista Marcuschi,

importante referência sobre o assunto, revelando por meio de suas publicações o quão

importante os gêneros da internet são para o ambiente escolar. De acordo com o autor,

esses gêneros eletrônicos já provocam polêmica quanto à natureza e proporção de seu

impacto na linguagem e na vida social, uma vez que compete com o papel e o som, mas

se bem aproveitados, eles podem se tornar um meio eficaz para se lidar com as práticas

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pluralistas sem sufocá-las, apontando o gênero e-mail, bate-papo virtual, chat, aula-chat,

listas de discussão, blog, que podem propiciar participações interativas.

Há inúmeros trabalhos publicados sobre como transpor a teoria dos

gêneros da internet para a sala de aula, selecionamos alguns para citá-los aos

professores, uma vez que focam os gêneros da internet para a sala de aula, PAIVA

(2005), com o gênero e-mail, PAVANELLI, WEBER E REY com o gênero blog,

disponível no livro Linguagem, Ciência e Ensino: Desafios Regionais e Globais,

organizado por Santos e Silva (2013), ABREU (2009), com o gênero scrap, VALÉRIO

& TOLDO (2012), Também com o gênero blog. Ainda com blog KOMESU (2005),

MILLER (2009), e do próprio bilhete digital MARTINS (2007). Ao citarmos todas

essas referências, esperamos proporcionar ao professorado uma leitura direcionada

sobre o assunto, tornando-os mais próximos das discussões e pesquisas acadêmicas

atuais.

Convencidos da carência em planos de aulas que tomem para si o

tema, nos propomos à elaboração de uma proposta didática com o gênero e-mail,

disponibilizado a seguir uma proposta de transposição didática, cabendo ao docente

adaptá-lo ao seu contexto quando quiser usá-lo.

PLANO DE AULA COM O GENÊRO E-MAIL

Ao pensarmos a partir da linguagem empregada pelos alunos,

poderemos demonstrar a eles que a língua portuguesa deverá estar adequada, de acordo

com a esfera em que ele participa, isso propiciará ao aluno uma aprendizagem

significativa, Bakhtin (1997, p.269) revela que todas as esferas da atividade humana,

por mais variadas que sejam, estão sempre relacionadas com a utilização da língua, por

isso não é de surpreender que o caráter e os modos dessa utilização sejam tão variados

como as próprias esferas da atividade humana, o que não contra diz a unidade nacional

de uma língua.

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Ao disponibilizar esse material, esperamos que o professor

compreenda melhor como trabalhar na prática com as novas tecnologias em sala de

aula, gostaríamos de enfatizar que o plano de aula sugerido apresenta-se apenas como

um exemplo, sendo cabível haver modificações em sua execução, isso dependerá da

realidade de cada contexto escolar. Deduzimos que seja utilizado para execução do

plano de aula, no mínimo 6 horas/aula. Inicialmente faz-se necessário caracterizar o

gênero ao aluno:

CARACTERÍSTICAS DO GÊNERO E-MAIL:

� Estrutura composicional: O gênero e-mail é constituído da seguinte forma na

primeira linha, é obrigatório o preenchimento do campo com o endereço digital de um

ou mais destinatários; na segunda linha, o usuário pode inserir endereços para onde

serão enviadas cópias da mesma mensagem. Outro campo embutido na segunda linha é

um espaço para cópias ocultas, ou seja, você pode enviar cópias para outras pessoas sem

que o destinatário saiba. Na terceira linha temos o assunto, que segundo Cristal

(2001:97) é um elemento crítico na tomada de decisão sobre prioridade de leitura ou até

de descarte do texto. Por meio dos assuntos, podem ser filtradas mensagens indesejadas,

utilizando-se ferramentas do próprio gerenciador de e-mails ou de outro programa.

Outra opção é a assinatura do usuário que pode ser inserida automaticamente assim que

o autor inicia uma nova mensagem.

� Conteúdo temático: um e-mail pode abordar os mais variados assuntos. Isso

dependerá da pessoa que escreve este e-mail ou também da pessoa que receberá o e-

mail os dois sujeitos tem igual importância para este gênero.

� Estilo: Crystal (2002) refere-se à troca conversacional (conversational

Exchange) breve e rápida (p. 109) e ressalta que a velocidade e espontaneidade de seu

processo de produção, provavelmente difere da reflexão que permeia a produção escrita

(p.111). O mesmo autor afirma que esse tipo de texto eletrônico tem um caráter

dialógico, facilitado pelo software quando a opção responder é acionada (p.115). A

linguagem varia, igualmente, conforme a situação estabelecida entre os interlocutores.

Seus parágrafos costumam ser curtos para uma maior clareza na leitura do texto.

� Propósito comunicacional: Informar, entreter, ensinar, expor sua opinião acerca

de determinados temas, assuntos ou acontecimentos diários.

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� Modo de veiculação: na internet.

2º ETAPA: PRODUÇÃO INICIAL

Nessa etapa, o professor deverá disponibilizar 2hs/aulas. A proposta

dessa atividade é preparar os alunos para a construção de um e-mail. Espera-se com isso

mobilizar o aluno ao uso da nova tecnologia: 1º passo - acessar o site: br.msn.com; 2°

passo – clicar em Hotmail;3º passo – inscrever-se;4° passo – criar sua conta do Hotmail,

preencher o formulário; 5º passo – aceitar os termos de uso;6º passo – enviar seu

primeiro e-mail (aqui como todos da sala terão criado sincronicamente um e-mail os

alunos poderão trocar o endereço de e-mail de um para o outro, isso proporcionará a

concretização do uso do e-mail).

Além disso, o professor poderá adicionar todos os alunos ao seu e-

mail o que demandará tempo para adicionar todos, porém resultará na interação

aluno/professor e professor/aluno. Isso proporcionará ainda uma interação aluno/aluno

desta forma o aluno estará praticando sua cidadania e o hábito da convivência, a troca

de experiência e a participação ativa.

OBSERVAÇÃO DA LINGUAGEM EMPREGADA.

Feito o e-mail agora se dará início à etapa da aplicabilidade, como

sugestão de trabalho, o professor, ao tomar o e-mail como gênero textual nas aulas de

língua materna, poderá demonstrar aos alunos as diferentes linguagens empregadas no

e-mail, isso fará com que o aluno comece a perceber o contexto de produção do gênero

estudado, do qual nos baseamos nas perguntas de Nascimento Cristóvão, Durão (2004)

do qual o aluno se aterá para algumas questões que seguem abaixo das imagens:

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EXEMPLO I

EXEMPLO II

De maneira geral, podemos distinguir dois tipos de registro de língua:

Padrão coloquial: Emprego das estruturas da língua de forma espontânea e funcional.

Utiliza-se em contextos informais, íntimos e familiares, que permitem maior liberdade

de expressão. Esse padrão mais informal também é encontrado em propagandas,

programas de televisão ou de rádio, etc. Padrão culto: emprego das estruturas da língua

de forma mais cuidada e tradicional. Utiliza-se em situações que exigem maior

formalidade, sempre tendo em conta o contexto e o interlocutor. Caracteriza-se pela

conformidade ao conjunto de regras da gramática normativa. (Nicola, 2004, p. 15-16,

grifo nosso)

No entanto, o padrão culto e o coloquial são classificações extremas

de inúmeros níveis de usos da língua – ora mais formais, ora mais informais – tanto,

quanto inúmeras são as situações de comunicação ao longo de nossa vida em sociedade.

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O grande desafio é você estar preparado para utilizar o nível de linguagem adequado à

situação, ao(s) interlocutor (es). (NICOLA, p. 43, 2004)

Além da linguagem coloquial e formal, ainda há a inserção de alguns

traços de um uma terceira vertente da linguagem coloquial que é o dialeto social

chamado “Miguxês”, ou seja, encontramos no e-mail alguns traços da comunidade

“EMO”.

O termo “EMO” é abreviação do inglês emotional hard core que é um

gênero de música. Tal termo foi originalmente dado às bandas do cenário punk de

Washington, DC, que tocavam um estilo mais emotivo que o normal. Segundo

especialistas o “miguxês” é um termo popular usado para designar uma forma de grafia

que tenta imitar a linguagem infantil (também chamada de “tatibitate”), sendo

largamente usada na Internet por alguns adolescentes, especialmente por membros desta

comunidade linguística. Não deve ser confundido, porém, com o chamado internetês

por não ser restrito à Internet, serve para acelerar a escrita. Ao contrário, é visível que

essa forma de escrever é ainda mais trabalhosa do que a escrita normal, dado o recurso

comum de alternar letras maiúsculas com minúsculas e substituir o “s” por “x”.

Ainda, dá-se a troca das fricativas vocálicas. Substituição de s e c por

x, simulando a palatização da fala infantil: você, vocês> vuxeh vuxeix; omissão de

diacríticos, ou sua substituição, em alguns casos, pela letra h (acento agudo) ou n/m

(til): será árvore, não> serah, arvore, nawn/naum; substituição de i por ee, por

influência da língua inglesa:gatinha> gateenha;Substituição de o ou e por u e i, em

especialmente em sílabas não-tônicas: quero > keru. Substituição do dígrafo qu e da

letra c por k, e de u não-silábico por w: quem, escreveu > kem, ixkrevew . Ademais, o

uso alternado de maiúsculas e minúsculas acontece indiscriminadamente.

Há importância em demonstrar este socioleto no quesito da variedade

da linguagem coloquial, pois ao discutir isso com os alunos, eles poderão entender que a

língua é viva , se modifica e sofre alterações e que com a internet a linguagem também

varia, é livre no caso dos “emos” a linguagem é empregada sem restrições ou regras

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fixas, o dialeto “miguxês” se caracteriza pela fácil identificação do tipo de emissor que

escreve desta forma.

Levando em consideração a linguagem coloquial, a linguagem formal

e o dialeto “miguxês”. Os alunos deverão responder:

a) Quem produz fisicamente o texto?

b) Qual a posição social do autor?

c) Qual o destinatário físico?

d) Qual a posição social do destinatário?

e) Qual o objetivo da interação?

f) Qual o conteúdo temático?

g) Qual o espaço físico de produção?

i) Qual o meio de veiculação do gênero?

j) Que tipo de linguagem está sendo

empregada?

k) Que tipo de linguagem deveria ser

empregada?

3ª ETAPA - EXERCÍCIOS PARA INTERPRETAÇÃO DO GÊNERO

Propomos que o professor elabore mais dois e-mails; um em que o

emissor envie o e-mail empregando a linguagem adequada ao seu destinatário e outra

com uma linguagem inadequada, nesta etapa verificaremos se o aluno realmente

aprendeu sobre o uso da linguagem coloquial e formal:

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Com base nos dois exemplos de e-mails acima responda as perguntas:

a) Quem produz fisicamente os textos? k) Qual a posição social do autor?

b) Qual o destinatário físico? l) Qual a posição social do destinatário?

c) Qual o objetivo da interação? m) Qual o conteúdo temático?

d) Qual o espaço físico de produção? n) Qual o momento de produção?

e) Qual o meio de veiculação do gênero? o) Que tipo de linguagem está sendo

empregada?

f) Que tipo de linguagem deveria ser empregada? Explique.

g) Analisando os dois e-mails qual deles está usando a língua adequadamente? Por

quê?

h) Qual seria sua opinião em relação à empresa do e-mail do Exemplo I:

i) Explique com as suas palavras o que você pensaria sobre a empresa do e-mail II :

j) Explique com as suas palavras o que é linguagem coloquial e linguagem formal

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5ª ETAPA - RECAPITULAÇÃO E PRODUÇÃO FINAL

ATIVIDADES DE APLICABILIDADE DOS NÍVEIS DE LINGUAGEM:

Nesta etapa busca-se proporcionar ao aluno a possibilidade de por em

prática as noções e os instrumentos elaborados separadamente nos módulos. “Essa produção

permite, também, ao professor realizar uma avaliação somativa.” (DOLZ; NOVERRAZ;

SCHNEUWLY. 2004 p.106).

Após estudar os níveis de adequação da linguagem em ambos os e-mails os

alunos já terão uma base linguística para elaborar seus próprios e-mails, agora será o

momento de solicitar aos alunos para que escrevam, por exemplo, um e-mail para uma

autoridade da sua cidade, convidando-o para um dado evento da escola, ou dando sua opinião

sobre determinado problema social.

Para isso o professor poderá propor as diretrizes abaixo aos alunos,

inclusive essas diretrizes poderão ser enviadas por e-mail. Do qual exigirá que o aluno entre

no endereço de e-mail, lembre-se de sua senha abra sua caixa de e-mail, verifique se o e-mail

realmente veio, leia as instruções do e-mail e escreva um e-mail convidando a tal autoridade

da cidade. Seria interessante que o próprio professor procurasse colocar os alunos em contato

com uma autoridade real, ele poderá ir até a prefeitura solicitar o e-mail do prefeito, ou do

secretário do meio ambiente, ou escolar, isso fará com que os alunos tenham um endereço de

e-mail para enviar a mensagem proposta.

Ao avaliar a produção de texto desse gênero, o professor atentará para que

sejam observadas pelos alunos as diferenças básicas de cada e-mail produzido, comparando a

linguagem usada e as diferenças quanto ao conteúdo e à finalidade, deixando bem claro que a

produção de e-mails, terá única e exclusivamente a função de estudar a língua.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esperamos que este artigo auxilie de alguma forma aos professores de

língua portuguesa a tornar suas aulas mais dinâmicas e diferenciadas do tradicional.

Procuramos conscientizá-los do quão importante é tratar em sala de aula desta visão que

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abrange as “novas” tecnologias, uma vez que estas estão se tornando uma realidade para um

número cada vez maior da população, consequentemente para os alunos também, exigindo um

repensar sobre a educação tradicional. Ao sugerimos um plano de aula com o gênero e-mail

esperamos provocar no professorado mudanças no planejamento e na execução dos seus

projetos educacionais, incluímos essa responsabilidade também a formação continuada dos

professores, de modo que o trabalho com os gêneros integre os diferentes aspectos da tarefa

docente pedagógica, técnico-científico, e cultural. Esperamos que o professor ofereça

multiletramentos a esse aluno, familiarizado com a sociedade tecnológica, de modo a torná-lo

crítico, competente linguisticamente, proporcionando “novas” feições para o processo de

ensino/aprendizagem.

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