Apaixonados sim, mas cada um na sua casa.

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H4 Paraíba Domingo, 01 de julho de 2012 Homem&Mulher Casais escolhem espaços separados para Casais escolhem espaços separados para preservar a atração e evitar a rotina preservar a atração e evitar a rotina VANESSA FURTADO Quem não busca um amor que nos faça reconhe- cer, reencontrar, refazer, am- pliar, descobrir a felicidade e nossos próprios talentos. Quem não deseja acordar to- dos os dias ao lado de alguém que torne nossa convivência um diálogo, uma parceria, onde os mais sutis momen- tos se tornam lembranças capazes de aquecer a alma, onde as dores são suportadas em comunhão. É justamente com esse objetivo que casais se unem e dividem diariamen- te a cama, a casa, as alegrias e tristezas, mas há quem am- plie o conceito de casamento e preserve o amor e o respeito mesmo convivendo em lares diferentes. Um exemplo é a jorna- lista Lívia Vilar e o engenhei- ro civil Raphael Leitão que mantém um casamento há seis anos mesmo estando distan- tes cerca de 120 quilômetros. “Vivemos uma história de amor há 16 anos, dois quais 10 foram de namoro e seis de casamento. A distância nunca foi problema já que sempre re- sidimos em cidades diferentes - anteriormente ele vivia em Natal – RN e atualmente no Recife – PE e eu sempre residi em João Pessoa – PB, mas con- fesso que foi complicado para as duas famílias quando deci- dimos ocializar nossa união. Ainda hoje recebemos críticas e comentários de pessoas de nossa família e de amigos que não aceitam nossa escolha que se deu primordialmente por questões prossionais”, con- tou a jornalista. Independente do moti- vo, Lívia e Raphael constituem um entre tantos exemplos de casamentos que transcorrem em residências separadas, fe- nômeno crescente desde os anos 1980 e que tem se torna- do uma tendência. As razões são as mais diversas de acordo com a psicóloga Karina Si- mões, mas o objetivo continua sendo o mesmo: a busca pela felicidade. “A modicação nos padrões e valores das re- lações afetivas, estão fazendo cada vez mais casais optarem por esse tipo de relação. E tem sido vantajoso para ambos. A vida moderna, o mercado de trabalho cada vez mais acele- rado, as mudanças culturais es- tão ai pra vermos com nossos olhos que o futuro chegou. Os casamentos de hoje precisam ser reformulados para serem duradouros”, esclareceu. O relacionamento onde os amantes que residem em lares separados é uma modali- dade de casamento com prós e contras, assim como as uniões tradicionais, e a decisão de se- gui-la ou não depende muito do que o casal deseja para si. Para Lívia e Raphael, a opção se deu porque ambos opta- ram por seguir suas carreiras e isso necessariamente se deu em cidades diferentes, mas o que é estranho para muitas pessoas é absolutamente nor- mal para eles. “As pessoas se espantam quando contamos que somos casados e que nos vemos apenas nos ns de se- mana, feriados e férias, mas já estamos nisso há 16 anos, é absolutamente comum, so- mos casados, nos amamos, nos respeitamos e somos companheiros como qualquer outro casal”, garante. A psicóloga Karina Si- mões faz questão de esclare- cer que para tudo na vida há vantagens e desvantagens e estar casado e morar na mes- ma casa ainda funciona. “Se resguardada a individualidade de cada um, o respeito pelo espaço do outro, é possível conviver no mesmo espaço. No entanto, casais que mo- ram em casas separadas con- seguem preservar a atração sexual ao mesmo tempo em que evitam a rotina do casa- mento, uma vez que a saudade é constantemente alimentada e isto é imprescindível para o bom relacionamento”. Outros fatores positivos da escolha por manter a rela- ção sob tetos diferentes são a preservação da privacidade e individualidade, além do afas- tamento da rotina conjugal. “Apesar de moramos em ci- dades diferentes, nos falamos todos os dias e meu marido é bastante presente. Ainda assim é sempre especial quando ele está aqui. É o sentimento de saudade, a falta e a necessida- de de dar carinho e de apro- veitar ao máximo o tempo que temos juntos. Isso torna nos- so casamento forte e nos une muito mais”, revela a jornalista Lívia Melo. cada um na sua CASA Apaixonados sim, mas Rafael e Lívia moram em cidades diferentes mas continuam cada vez mais apaixonados como no primeiro dia Paixão Longe dos olhos, perto do coração... Longe dos olhos, perto do coração... Lares são planejados As oportunidades profissionais têm defini- do as escolhas dos lares de muitos jovens e com o analista de sistemas Jo- selito Bandeira, 37 anos e a jornalista Eliane Nó- brega, 28 anos não foi di- ferente. Juntos há quase cinco anos, o casal admi- nistra bem o namoro que têm superado com louvor a distancia que separa Re- cife a João Pessoa. “Pouco depois que começamos a namorar, o Joselito foi morar no Re- cife porque recebeu uma proposta irrecusável de trabalho. Confesso que no começo foi bastante difícil, mas aos poucos encontramos o ponto de equilíbrio e desde então o amor, o apoio e o compa- nheirismo têm nos guiado nesta vida a dois. No m deste ano iremos nos ca- sar mesmo sabendo que pelos próximos anos con- tinuaremos com rotinas individuais e nos vendo apenas no m de sema- na”, explicou Eliane. Para ela, o amadure- cimento pessoal e o avan- ço da relação, que se ba- seou sempre na confiança mútua foram imprescin- díveis para que ambos aceitassem a solidão que o relacionamento traz e que por vezes os uniu. “Somos um casal que se entende, que se aceita e que não se conforma com a distância. Não ire- mos manter um casamen- to sobre tetos diferentes por muito tempo porque esta não foi uma relação que escolhemos, foi uma situação que se impôs em nome de nossas carreiras profissionais. Mas um dia encararemos os desafios proporcionados pelo con- vívio diário e sentiremos o prazer de ter filhos, de criar e educar em famí- lia”, afirmou a jornalista. Conante nos sen- timentos que os uniu e dispostos a vivenciar um casamento com respeito, valorização e com a ex- periência de que é preciso conceder espaços e querer que o outro cresça, Jose- lito e Eliane marcaram o casamento para novem- bro deste ano. Juntos eles compraram apartamento e na medida do possível vão decorando os ambientes e escolhendo os detalhes da cerimônia que será tes- temunhada por amigos e familiares. Certos de que um lar nada mais é que a soma dos pensamentos do casal sobre si, do quanto amam e se permitem ser amados eles garantem que farão valer a pena. Anal, viver em família pode ser oneroso e independente de terem sobre suas ca- beças um mesmo teto ou não, escolheram estar jun- tos e precisarão de diálo- gos, ternura, solidariedade e disponibilidade para o exercício do convívio a dois. Pais de uma menininha de apenas 3 anos, o casal garante que os cuidados, o amor e atenção dispensados a ela são os mesmos que ca- sais que residem no mesmo lar e que a criança lida de for- ma natural com o estilo de sua família. “Raphael é um pai incrível. Ele fala com ela todos os dias por telefone, a incentiva e prova que a ama. Nas ocasiões em que estamos juntos fazemos tudo como uma família tradicional, como passear, cuidar da educação e da saúde dela. Sempre foi as- sim, desde a minha gravidez. Temos planos de um dia ex- perimentarmos a vida sob o mesmo teto, mas somos uma família feliz desta maneira, com nossas diferenças, mas principalmente com o respei- to e o amor que tanto bus- camos quando escolhemos alguém para partilhar nossa vida”, conclui. Apesar das vantagens, a psicóloga esclarece que conflitos são importantes para o crescimento da relação conjugal e não vivenciá-los pode deixar as pessoas frágeis diante de algumas situações. Além disso, a solidão e a dependência de um dos lados podem afetar a solidez da relação. “Casais que optam por viver assim esperam mais respeito pela individualidade. Pois num casal convencional, a individualidade é rapidamente perdida. E aí começam as crises. Aprender a respeitar o ser individual e o espaço alheio, do silêncio do outro, por exemplo, é um grande passo para a conquista a longevidade da relação. Porém, tudo deve ser previamente acordado entre o casal. Cada casal fará suas regras internas. Não existe uma receita pronta para casamentos de sucesso! Casamento e relações não vêm enlatados para nós... preparamos a receita dia a dia”, salienta. ! Crescimento da relação Somos um casal que se entende, que se aceita e que não se conforma com a distância

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Casais escolhem espaços separados para preservar a atração e evitar a rotina.

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H4 Paraíba Domingo, 01 de julho de 2012 Homem&Mulher

Casais escolhem espaços separados para Casais escolhem espaços separados para

preservar a atração e evitar a rotina preservar a atração e evitar a rotina VANESSA FURTADO

Quem não busca um amor que nos faça reconhe-cer, reencontrar, refazer, am-pliar, descobrir a felicidade e nossos próprios talentos. Quem não deseja acordar to-dos os dias ao lado de alguém que torne nossa convivência um diálogo, uma parceria, onde os mais sutis momen-tos se tornam lembranças capazes de aquecer a alma, onde as dores são suportadas em comunhão. É justamente com esse objetivo que casais se unem e dividem diariamen-te a cama, a casa, as alegrias

e tristezas, mas há quem am-plie o conceito de casamento e preserve o amor e o respeito mesmo convivendo em lares diferentes.

Um exemplo é a jorna-lista Lívia Vilar e o engenhei-ro civil Raphael Leitão que mantém um casamento há seis anos mesmo estando distan-tes cerca de 120 quilômetros. “Vivemos uma história de amor há 16 anos, dois quais 10 foram de namoro e seis de casamento. A distância nunca foi problema já que sempre re-sidimos em cidades diferentes - anteriormente ele vivia em Natal – RN e atualmente no

Recife – PE e eu sempre residi em João Pessoa – PB, mas con-fesso que foi complicado para as duas famílias quando deci-dimos ofi cializar nossa união. Ainda hoje recebemos críticas e comentários de pessoas de nossa família e de amigos que não aceitam nossa escolha que se deu primordialmente por questões profi ssionais”, con-tou a jornalista.

Independente do moti-vo, Lívia e Raphael constituem um entre tantos exemplos de casamentos que transcorrem em residências separadas, fe-nômeno crescente desde os anos 1980 e que tem se torna-

do uma tendência. As razões são as mais diversas de acordo com a psicóloga Karina Si-mões, mas o objetivo continua sendo o mesmo: a busca pela felicidade. “A modifi cação nos padrões e valores das re-lações afetivas, estão fazendo cada vez mais casais optarem por esse tipo de relação. E tem sido vantajoso para ambos. A vida moderna, o mercado de trabalho cada vez mais acele-rado, as mudanças culturais es-tão ai pra vermos com nossos olhos que o futuro chegou. Os casamentos de hoje precisam ser reformulados para serem duradouros”, esclareceu.

O relacionamento onde os amantes que residem em lares separados é uma modali-dade de casamento com prós e contras, assim como as uniões tradicionais, e a decisão de se-gui-la ou não depende muito do que o casal deseja para si. Para Lívia e Raphael, a opção se deu porque ambos opta-ram por seguir suas carreiras e isso necessariamente se deu em cidades diferentes, mas o que é estranho para muitas pessoas é absolutamente nor-mal para eles. “As pessoas se espantam quando contamos que somos casados e que nos vemos apenas nos fi ns de se-mana, feriados e férias, mas já estamos nisso há 16 anos, é absolutamente comum, so-mos casados, nos amamos, nos respeitamos e somos companheiros como qualquer outro casal”, garante.

A psicóloga Karina Si-mões faz questão de esclare-cer que para tudo na vida há vantagens e desvantagens e estar casado e morar na mes-ma casa ainda funciona. “Se

resguardada a individualidade de cada um, o respeito pelo espaço do outro, é possível conviver no mesmo espaço. No entanto, casais que mo-ram em casas separadas con-seguem preservar a atração sexual ao mesmo tempo em que evitam a rotina do casa-mento, uma vez que a saudade é constantemente alimentada e isto é imprescindível para o bom relacionamento”.

Outros fatores positivos da escolha por manter a rela-ção sob tetos diferentes são a preservação da privacidade e individualidade, além do afas-tamento da rotina conjugal. “Apesar de moramos em ci-dades diferentes, nos falamos todos os dias e meu marido é bastante presente. Ainda assim é sempre especial quando ele está aqui. É o sentimento de saudade, a falta e a necessida-de de dar carinho e de apro-veitar ao máximo o tempo que temos juntos. Isso torna nos-so casamento forte e nos une muito mais”, revela a jornalista Lívia Melo.

cada um na sua CASA

Apaixonados sim, mas

Rafael e Lívia moram em cidades diferentes mas continuam cada vez mais apaixonados como no primeiro dia

Paixão

Longe dos olhos, perto do coração...Longe dos olhos, perto do coração...

Lares são planejadosAs oportunidades

profissionais têm defini-do as escolhas dos lares de muitos jovens e com o analista de sistemas Jo-selito Bandeira, 37 anos e a jornalista Eliane Nó-brega, 28 anos não foi di-ferente. Juntos há quase cinco anos, o casal admi-nistra bem o namoro que têm superado com louvor a distancia que separa Re-cife a João Pessoa.

“Pouco depois que começamos a namorar, o Joselito foi morar no Re-cife porque recebeu uma proposta irrecusável de trabalho. Confesso que

no começo foi bastante difícil, mas aos poucos encontramos o ponto de equilíbrio e desde então o amor, o apoio e o compa-nheirismo têm nos guiado nesta vida a dois. No fi m deste ano iremos nos ca-sar mesmo sabendo que pelos próximos anos con-tinuaremos com rotinas individuais e nos vendo apenas no fi m de sema-na”, explicou Eliane.

Para ela, o amadure-cimento pessoal e o avan-ço da relação, que se ba-seou sempre na confiança mútua foram imprescin-

díveis para que ambos aceitassem a solidão que o relacionamento traz e que por vezes os uniu. “Somos um casal que se entende, que se aceita e que não se conforma com a distância. Não ire-mos manter um casamen-to sobre tetos diferentes por muito tempo porque esta não foi uma relação que escolhemos, foi uma situação que se impôs em nome de nossas carreiras profissionais. Mas um dia encararemos os desafios proporcionados pelo con-vívio diário e sentiremos o prazer de ter filhos, de criar e educar em famí-lia”, afirmou a jornalista.

Confi ante nos sen-timentos que os uniu e dispostos a vivenciar um casamento com respeito, valorização e com a ex-periência de que é preciso conceder espaços e querer que o outro cresça, Jose-lito e Eliane marcaram o casamento para novem-bro deste ano. Juntos eles compraram apartamento e na medida do possível vão decorando os ambientes e escolhendo os detalhes da cerimônia que será tes-temunhada por amigos e familiares. Certos de que um lar nada mais é que a soma dos pensamentos do casal sobre si, do quanto amam e se permitem ser amados eles garantem que farão valer a pena. Afi nal, viver em família pode ser oneroso e independente de terem sobre suas ca-beças um mesmo teto ou não, escolheram estar jun-tos e precisarão de diálo-gos, ternura, solidariedade e disponibilidade para o exercício do convívio a dois.

Pais de uma menininha de apenas 3 anos, o casal garante que os cuidados, o amor e atenção dispensados a ela são os mesmos que ca-sais que residem no mesmo lar e que a criança lida de for-ma natural com o estilo de sua família. “Raphael é um pai incrível. Ele fala com ela todos os dias por telefone, a incentiva e prova que a ama. Nas ocasiões em que estamos juntos fazemos tudo como

uma família tradicional, como passear, cuidar da educação e da saúde dela. Sempre foi as-sim, desde a minha gravidez. Temos planos de um dia ex-perimentarmos a vida sob o mesmo teto, mas somos uma família feliz desta maneira, com nossas diferenças, mas principalmente com o respei-to e o amor que tanto bus-camos quando escolhemos alguém para partilhar nossa vida”, conclui.

Apesar das vantagens, a psicóloga esclarece que conflitos são importantes para o crescimento da relação conjugal e não vivenciá-los pode deixar as pessoas frágeis diante de algumas situações. Além disso, a solidão e a dependência de um dos lados podem afetar a solidez da relação. “Casais que optam por viver assim esperam mais respeito pela individualidade. Pois num casal convencional, a individualidade é rapidamente perdida. E aí começam as crises. Aprender a respeitar o ser individual e o espaço alheio, do silêncio do outro, por exemplo, é um grande passo para a conquista a longevidade da relação. Porém, tudo deve ser previamente acordado entre o casal. Cada casal fará suas regras internas. Não existe uma receita pronta para casamentos de sucesso! Casamento e relações não vêm enlatados para nós... preparamos a receita dia a dia”, salienta.

!Crescimento da relação

Somos um

casal que

se entende,

que se

aceita e

que não se

conforma

com a

distância