Sally Mackenzie - Nobres Apaixonados 04 - O Cavalheiro Apaixonado

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O Cavalheiro Apaixonado

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OO CCaavvaallhheeiirroo AAppaaiixxoonnaaddoo

SSaallllyy MMaacckkeennzziiee

44ºº NNoobbrreess AAppaaiixxoonnaaddooss

John Parker-Roth não acredita que para ser feliz precise se casar.

Ele prefere se dedicar aos seus jardins e plantações, se bem que, se algum dia encontrar uma mulher que compartilhe a mesma paixão que ele tem pelas plantas, uma moça decente, inteligente, sensata, talvez até reconsidere a ideia. Certamente, a moça que acabou de cair em seu colo não serve, pois é

óbvio que ela não possui nenhuma dessas qualidades. Ainda assim, Margaret Peterson tem alguns pontos a seu favor. Para começar, ela é encantadora

como uma autêntica rosa inglesa, adquire um delicioso tom rosado quando fica ruborizada e não esta totalmente vestida. Seus lábios tentadores parecem implorar por um beijo... O quê? Será que Meg

está realmente pedindo que ele a beije? Talvez se ela não se movesse assim... Oh Deus. Ele não pode ignorar a súbita visão em tê-la em sua cama. Mas ele não deve.

O quê? Será que Meg está realmente pedindo para beijá-la? Bem, bem, bem. John Parker-Roth é um cavalheiro acima de tudo. E não pode recusar o pedido de uma dama…

EEqquuiippee TTiiaammaatt--WWoorrlldd Disponibilização em Esp: Passionate Novels

Tradução: Gisa Revisão Inicial: Lisa

Revisão Final e Formatação: Clara Logo e Arte: Suzana Pandora

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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Comentário da Revisora Lisa: É uma verdadeira novela. Até no estilo da autora. Ela te prende,

mas quando está no auge de um acontecimento, ela corta e começa contar uma estória paralela. Ela adora "encher linguiça". Mas a história é muito engraçada na medida do possível.

Comentário da Revisora Clara: A história é bonitinha, leve, romântica e engraçada... Vale à

pena ler!!! O beijo Meg se contentou lhe dedicar o olhar mais furioso que foi capaz. —Correndo o risco de me repetir, Sr. Parker-Roth, vá! —Quem corre o risco de se repetir sou eu, senhorita Peterson, não. Eu não vou sair nem permitir

que fique aqui sozinha no jardim. De verdade, tinha vontade de chutá-lo. —Senhor, você não é meu guardião… —Maldição, mulher. — o Sr. Parker-Roth agarrou-a pelos seus ombros — Alguém tem que ser

seu maldito guardião e não vejo uma fila de pessoas por aqui, clamando por tal honra. —Eu não preciso de nenhum guard… Esse homem irritante cobriu sua boca com a dele.

Para Papai, para Ruth e como sempre, para Kevin

e as crianças

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Capítulo Um

O visconde Bennington beijava terrivelmente mal. Meg teve que reprimir um suspiro. Que lástima. Ela estava disposta a passar por cima suas

crescentes entradas, seu nariz largo e sua frequente petulância, mas isto era demais. Como poderia se casar com um homem cujos lábios pareciam duas lesmas gordas? Nesse momento deslizavam deixando um rastro úmido sobre sua face em direção a sua orelha direita.

Teria que riscá-lo de sua lista de potenciais pretendentes. Ainda assim, ele tinha uma das maiores coleções de plantas da Inglaterra. E ela adoraria com toda sua alma ter acesso diário a toda essa riqueza botânica.

As lesmas mudaram de curso e agora se dirigiam para seu queixo. Quanta importância podia ter a maneira de beijar? Afinal de contas, apenas uma pequena parte da vida de casados estava dedicada as artes amorosas. E era possível que o visconde Bennington tivesse uma ou duas amantes. Só viria em sua procura para conceber um herdeiro. E uma vez que tivesse cumprido essa tarefa, ele a deixaria em paz.

Poderia fazer isso. Não seria a primeira mulher a sofrer com as atividades próprias do leito nupcial, ficaria deitada, quieta e pensando no futuro da pátria. Poderia passar o tempo catalogando mentalmente os extensos jardins de Bennington.

Seus lábios se dirigiram para um lugar atrás de sua orelha. Ia precisar de um lenço para secar o rosto quando ele terminasse de beijá-la.

Inspirou fundo, mas parou quando seus pulmões estavam apenas pela metade. Ele exalava um odor, um fedor que era bastante acentuado nesse pequeno espaço. Felizmente, ele era apenas uns centímetros mais alto que ela, assim não foi obrigada a ter o nariz enterrado em seu colete. E teria que ter uma conversa com seu criado sobre o estado de suas roupas. Via-se uma fina linha de sujeira na gola da camisa e no lenço.

Agggg! Ele acabava de colocar a língua em sua orelha. Isso foi demais. Mesmo se fosse o proprietário do Jardim do Éden, ela teria que retirá-lo de sua lista de possíveis maridos.

—Milorde! — empurrou-lhe o peito magro. —Sim? — sua boca caiu para a base de seu pescoço e se fixou ali como uma sanguessuga. —Lorde Bennington, por favor. — voltou a empurrá-lo. Nenhum dos outros homens com os

quais esteve entre os arbustos foi insistente assim — Acredito que deveria parar… Eh! As mãos dele baixou até seus quadris e puxou uma de suas coxas. Ela podia sentir uma

ultrajante protuberância em suas calças. Empurrou-o com mais força, mas era como se estivesse empurrando um muro de pedra. Quem

diria que um homem tão baixo e magro poderia ser imóvel? —Milorde, está me fazendo sentir desconfortável. Ele pressionou a protuberância com mais força contra ela. —E você está me fazendo sentir incômodo, querida. — sua voz soava estranhamente rouca. Sua

boca voltou a entrar em contato com sua pele e mordeu seu ombro. —Ai! Pare. Esse homem era um visconde. Um cavalheiro. Não seria capaz de fazer nada indigno no jardim

de lorde Palmerson, a poucos metros do salão de baile cheio de gente, certo? Mas ele não parou. Agora estava lambendo o lugar que tinha mordido. Asqueroso. —Milorde, me leve de volta a lady Beatrice neste mesmo instante!

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Ele grunhiu e sua boca voltou para sua garganta. Deveria gritar? Alguém poderia ouvi-la, apesar da música? Se esperava o silêncio entre duas

peças… Talvez outro casal também tivesse escolhido passear aproveitando o ar fresco da noite e pudessem ir em sua ajuda.

Lorde Bennington acariciou-lhe a orelha. —Não se assuste, senhorita Peterson. Minhas intenções são totalmente corretas. —Corretas? Eu… — Meg fez uma pausa — Com corretas quer dizer que incluem o casamento? —É claro. O quê você pensou ? O que ela pensou… Sim, ele era bastante desagradável, mas realmente um pouco de sujeira e

algumas babadas o descartavam completamente para ser considerado com um marido em potencial? Esse era seu objetivo: estar casada, ou pelo menos comprometida, antes do final da temporada. E já havia passado um pouco mais de um mês e ali estava ela, preste a ouvir uma proposta respeitável — embora não muito brilhante. A filha de um pároco pescando um visconde? As línguas viperinas da sociedade teriam que trabalhar o dobro de seu ritmo para espalharem as fofocas com a notícia.

E ele tinha todas aquelas maravilhosas plantas. Uma estufa, um jardim em Londres e muitos hectares de vegetação em Devon.

E, realmente, quantas vezes teria que aguentar suas atenções se casasse com ele? Seu pai e Harriet eram muito unidos, e sua irmã e sua amiga Lizzie passavam muito tempo com seus maridos, mas a maioria dos casamentos da alta sociedade eram pouco visíveis. Se tivesse sorte, conceberia logo, talvez ainda em sua noite de núpcias. E depois disso, ela e Bennington poderiam levar vidas separadas.

Ela poderia suportar um ou outro momento de desconforto para conseguir a chave de sua estufa, certo? Não havia ninguém mais que possuía tal riqueza botânica. Bom, ninguém exceto Parks… o Senhor Parker-Roth, mas ele não estava absolutamente interessado em se casar com ela.

Ela umedeceu os lábios. Seria capaz de dizer que sim? Já estava na hora de se casar. Queria uma casa que fosse dela. Um jardim. Filhos.

Filhos com o superlativo nariz de lorde Bennington? —Milord, eu não… —Vamos, senhorita Peterson, não lhe farão nenhuma outra proposição. Com certeza que é

consciente disso. —Lorde Bennington! Você pode ser visconde, mas isso não lhe dá o direito de insultar-me. —Outros homens não mencionaram a palavra casamento, porque não? —Outros homens? — ele havia notado suas excursões pelos arbustos? Certamente que não. Ela

tinha sido discreta — Não sei a que se refere. Vim aqui com você porque pensei que, como compartilhamos a afeição pela jardinagem, um passeio pelo jardim de lorde Palmerson em sua companhia poderia ser divertido.

Ele riu e moveu o quadril. O irritante vulto lhe cravou. —Muito estimulante. Sim, alguma coisa foi estimulada. Quem pensaria que um homem tão baixo teria algo tão

grande… —Milorde… —A esse ritmo, senhorita Peterson, vai ser mais fácil perder sua reputação que conseguir um

marido. Os homens falam, certamente tem conhecimento disso. Que sorte que o jardim estivesse escuro. Meg sentiu as faces queimar. Ele não estaria pensando

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que…? —Lorde Bennington, asseguro-lhe que… —Oh, já sei que não há de nada mais trocar alguns beijos. Lorde Farley disse que você era um

pouco inexperiente, então eu presumo que ele foi o primeiro para você… Foi? —Lorde Bennington, por favor…! Eu gostaria de voltar para salão de baile agora mesmo. —Suponho que, dada a sua idade avançada, você tem alguma curiosidade. — ele riu — Talvez

inclusive esteja um pouco desesperada também. —Milorde, só tenho vinte e um anos. —Claro. Bastante passada já da idade em que se espera pescar um marido, não é? —Absolutamente. —Vamos, Margaret. Posso chamá-la Margaret, certo? Acho que já nos conhecemos o suficiente

para deixar de convenções decorosas. Sua mão esquerda pousou no corpete. Ela agarrou seu pulso. Não sabia como, mas ele tinha se livrado das luvas. —Não, certamente não nos conhecemos o suficiente. —Vamos, só está sofrendo os medos próprios de uma senhorita, querida. — seus dedos roçaram

seus seios. —Lorde Bennington! —Me chame de Bennie. Todos meus íntimos me chamam assim. —Eu não poderia. Afaste as mãos imediatamente. Ele as moveu até os ombros. —Eu tenho trinta e seis. Já é hora de pensar num herdeiro. Sua família é respeitável. Seu pai está

relacionado com o Conde de Lansdowne, certo? —Ele é tio do conde de Landsdowne, mas o conde não tem nenhuma relação conosco. —Olhou

entre as folhas para a luz resplandecente. Tinha visto algum movimento entre as sombras? Esperava que houvesse alguém nas proximidades para ajudá-la se fosse necessário.

Os dedos do visconde lhe acariciaram a pele. Ela apertou os dentes. —Mas sua irmã é a marquesa de Knightsdale. E estou certo de que ela sim se preocupa com

você. Não foi ela quem a criou quando sua mãe morreu? —Sim. O salão de baile, milorde. Já é hora de voltarmos. — a palma da mão dele estava

desagradavelmente úmida. —E a condessa de Westbrooke é uma boa amiga dela. —Sim, sim. — esse homem havia feito um estudo de todas suas conexões sociais? — O salão,

lorde Bennington. Por favor, me acompanhe até o salão de baile. Se deseja continuar falando de minha família, continuaremos ali.

—E tanto o conde quanto o marquês são muito amigos do duque de Alvord… De fato, o conde é primo da duquesa.

—Lorde Bennington… —Eu gostaria de estar relacionado com todo esse poder e riqueza. Qualquer um destes homens

poderiam financiar uma expedição para as selvas da América do Sul sem pensar muito. —Selvas? América do Sul? — o homem perdeu a cabeça ? —Quero enviar homens de minha confiança em busca de plantas exóticas, Margaret. —Entendo. — também gostaria de fazer isso, mas era claramente impossível—. Uma expedição

como essa que descreve é muito cara. O senhor Parker-Roth me dizia que… A mão de Bennington lhe apertou o ombro com força.

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—Milorde, está me machucando. —Você conhece Parker-Roth? —Um pouco. Eu o conheci em uma festa campestre no ano passado. — Meg trocou de postura

— Por favor, lorde Bennington, vai me deixar um hematoma. Ele afrouxou os dedos. —Minhas desculpas. Não posso suportar esse homem. É meu vizinho. Passa a maior parte do

tempo no campo. —Ah. — assim, essa era a razão pela qual não o tinha visto em Londres… Embora tampouco é

como se ela estivesse o procurando, claro. —A forma como todo mundo se dedica a bajular quando assiste alguma reunião da Sociedade

de Horticultura é muito desagradável. Tem muito dinheiro e pode mandar a seu irmão viajar por todo mundo em busca em busca de espécimes botânicos.

—Entendo. — a força das mãos de lorde Bennington declinou. Ele a deixaria ir agora? — Por que não voltamos para o salão agora, milorde?

—Mas não me deu uma resposta. —Resposta? —Sim. Quer se casar comigo ou não? Lorde Bennington olhou para ela e franziu a testa. Todos os sinais da paixão havia desaparecido.

Nesse momento foi muito fácil tomar a decisão. —Sinto muito, milorde. Estou plenamente consciente da grande honra que me faz, mas acredite

em mim quando digo que você e eu não nos encaixaríamos. O cenho se aprofundou. —O quê quer dizer com não nos encaixaríamos? —Que não… encaixaríamos. — o que queria esse homem que ela dissesse? Que ela acreditava

que era um bruto desagradável e que tinha cometido um maior erro de julgamento do incomodar-se sequer em lhe dirigir a palavra?

—Me atraiu para este jardim escuro para recusar agora minha proposta? —Eu não esperava uma proposta de casamento, milorde. —E que tipo de proposta esperava? O que você está procurando é uma aventura? —Milorde! É claro que não! Não esperava que me fizesse essa proposta precisamente agora.

Quero dizer, que não esperava nada… nenhuma proposta. Simplesmente queria dar uma volta pelo jardim.

—Senhorita Peterson, eu não nasci ontem. Você me atraiu até este canto escuro por algum motivo. Foi simplesmente para conseguir algum beijo roubado? Ou será que está ansiosa para realizar certa atividade amorosa?

—Lorde Bennington! — esse homem disse a palavra “amorosa” referindo-se a ela? —Não vou permitir que me utilize para satisfazer suas necessidades urgentes. Necessidades! A única necessidade que ela sentia era a de voltar para a luminosidade e a

prudência do salão de baile. O visconde estava muito agitado. Ela não esperava uma reação como aquela. Outros homens se

mostraram muito amigáveis assim que ela propunha voltar para dentro. —Foi você quem decidiu vir para o jardim comigo, então agora têm que pagar o preço —disse

lorde Bennington entre dentes — Quando terminar, seus parentes e amigos ricos me suplicarão que me case com você.

—Lorde Bennington, seja razoável. Você é um cavalheiro.

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—Sou um homem, senhorita Peterson. Com certeza sua irmã lhe advertiu que é muito pouco recomendável estar a sós com um homem em um lugar afastado.

Emma advertiu sobre muitas coisas, mas talvez deveria ter escutado esse conselho em particular. Pelo menos desta vez se livraria da reprimenda de Emma, já que sua irmã estava confortavelmente instalada em sua casa em Kent com seus filhos. Se conseguisse se livrar de Bennington poderia fazer de conta que nada tinha acontecido. Tinha aprendido a lição. Não voltaria a fazer visitas a nenhum canto escuro rodeado por arbustos.

O visconde colocou as mãos entre seus cabelos, desfazendo o penteado e mandando as presilhas pelos ares em todas direções. Seu cabelo caiu em cascata sobre os ombros.

—Lorde Bennington, faça o favor de parar imediatamente! Ele grunhiu. Tinha as mãos de novo sobre seu corpete. Ela levantou o joelho bruscamente, mas

falhou o alvo. —Quer jogar isso, heim? —Milorde, vou gritar. —Vá em frente, por favor. O escândalo será delicioso. Quanto acha que pagará o marquês para

que não transcenda? —Nada. —Oh, senhorita Peterson, você é uma ingênua. Ele pressionou sua boca contra a dela, obrigando-a a abrir os lábios. Sua língua deslizou entre os

dentes como uma serpente, correndo o risco de sufocá-la. Ela fez a única coisa que lhe ocorreu naquele momento.

Fechou a boca e mordeu com todas suas forças.

*** John Parker-Roth — Parks para seus amigos e conhecidos — escapou do calor e ruído do salão

de baile de lorde Palmerson para sair para fresca tranquilidade do jardim. Graças a Deus. Ainda podia cheirar o fedor de Londres, mas pelo menos já não estava se

sufocando com a nauseante mistura de perfume, ar viciado e suor que carregava o ambiente do interior. A razão pela qual sua mãe queria ver-se submetida a esse tipo de aglomerações era algo que além de sua imaginação.

Escolheu um caminho ao acaso. O jardim de Palmerson era grande comparado com os padrões de Londres. Se abstraísse da cacofonia de música e conversação que escapava da casa e do clamor geral que chegava da rua, quase podia imaginar que estava de novo no campo.

Quase. Maldição. Teriam chegado já as plantas enviadas por Stephen? Deveria estar em casa para recebê-las. Se elas tivessem feito todo o caminho da América do Sul para acabar mortas no Priorado enquanto esperavam para serem desembaladas… Não podia suportar nem sequer a ideia.

Seguiria MacGill suas instruções ao pé da letra? As tinha escrito em detalhe e tinha repassado cada um dos pontos com ele, mas o teimoso escocês sempre achava que tinha razão. Na realidade, a maior parte das vezes era assim. MacGill era um jardineiro muito bom, mas, ainda assim, essas plantas precisavam que as tratasse com muito cuidado.

Queria estar ali pessoalmente. Por que sua mãe tinha insistido em arrastá-lo para Londres precisamente agora?

Ele bufou. Sabia perfeitamente o “por que”: a maldita Temporada. Ela disse que era para repor os apetrechos de pintura e poder conversar com seus amigos artistas, mas não conseguiu enganá-

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lo. Queria que encontrasse uma esposa. Tinha ouvido que Palmerson tinha um bom exemplar de Magnólia grandiflora. Veria se o

encontrava. Com sorte estaria no canto mais afastado e escuro do jardim. Não suportaria que sua mãe aparecesse de repente em sua busca, arrastando atrás de si a última candidata para o casamento que acabasse de encontrar.

Por que demônios não podia aceitar o fato de que ele não queria se casar? Já havia dito milhares de vezes. Era tão difícil de entender?

Aparentemente, sim; ele fazia uma careta de desagrado e então ela suspirava, e cada vez que o olhava franzia testa dessa forma preocupada.

Ele empurrou o galho de uma vinha. O engraçado foi que ele não precisava se casar. Não tinha título para que seus descendentes herdar. O Priorado podia passar para Stephen ou a Nicholas, isso se seu pai não sobrevivesse a todos. Ele estava muito feliz com sua vida. Ele tinha o seu trabalho, ou seja, plantas e os seus jardins. Tinha uma viúva complacente na aldeia, embora não a visitasse com frequência. Francamente, desfrutava mais trabalhando nos canteiros de rosas do que na cama que Cat mantinha quente na aldeia. As rosas davam menos problemas.

Não, uma esposa seria apenas um incômodo. Maldição, o que estava movendo tanto atrás desses arbustos?Isso era o que ele precisava para

completar a noite: encontra com um trocando carinhos entre os arbustos. Afastou-se como uma alma que leva o diabo da zona de vegetação suspeita.

O problema era que sua mãe acreditava firmemente que o casamento era necessário para a satisfação masculina. Inspirou fundo e deixou escapar o ar lentamente. Que Deus dê-lhe paciência. Será que alguma vez abriria os olhos e olharia a seu redor, a esses condenados salões de baile aos quais o arrastava? Pode que ela estivesse felizmente casada e que seu pai estivesse satisfeito, mas a maioria dos casamentos não estava.

Ele não tinha nenhum interesse em cair nessa armadilha que os padres tinham criado . Talvez se Grace houvesse…

Não. Não ia alimentar uma ideia tão ridícula. Tinha tomado essa decisão anos atrás. Grace fizera sua escolha e estava feliz. A última vez que ouviu dela é que já tinha dois filhos. A tinha visto no salão de baile momentos antes, rindo com seu marido no final da peça.

O ruído que chegava dos arbustos se tornou mais alto. Maravilhoso. Os amantes estavam tendo uma briga? Isso era a última coisa que queria presenciar. Simplesmente…

—Puta! Deus Santo, era a voz de Bennington. Esse homem tinha o temperamento do próprio diabo.

Certamente que não… —Milorde, por favor. — a voz da mulher demonstrava medo — Esta me machucando. Parks deu um passo adiante sem pensar duas vezes.

*** Não devia entrar em pânico. Bennington era um cavalheiro. Embora agora mesmo parecesse um

monstro. Olhando para ela com olhos apertados, as narinas dilatadas, e a mandíbula tensa. Suas mãos seguravam com força a parte superior dos braços. Estava segura de que seus dedos lhe deixariam manchas roxas .

—Você é uma puta! —Milorde, por favor. — ela umedeceu os lábios. O medo a impedia de respirar com facilidade.

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Ele era muito mais forte que ela e o jardim estava muito escuro. Era um visconde, um nobre, um cavalheiro. Não seria capaz de lhe faria mal, certo? Nunca tinha visto um homem tão furioso. —Está me machucando. —Estou a machucando? Hã! Eu te ensinarei o que é machucar. Sacudiu-a tão forte que sua cabeça dançou sobre seu pescoço como se fosse uma boneca de

trapos, e depois puxou com força o corpete para baixo, rasgando o tecido. Agarrou-lhe os seios e os apertou. A dor era insuportável.

—Morda-me agora… Quer que eu a morda em…? Um braço coberto por um objeto bem confeccionado apareceu ao redor da garganta do homem. Este emitiu um som afogado e a liberou para poder agarrar-se à manga de seda negra que lhe

rodeava o pescoço. —Desgraçado. — o senhor Parker-Roth puxou lorde Bennington para trás, forçando o visconde

a virar e estampou um punho contra seu queixo, o que fez que ele caísse de costas contra um azevinho. Meg teria aplaudido, se não tivesse tão ocupada tentando com todas as suas forças não chorar. Voltou a subir o corpete e cruzou os braços sobre o peito.

—Parker-Roth. — Bennington cuspiu o nome junto com um pouco de sangue enquanto se levantava da planta espinhosa. — Que diabos está errado com você? Foi a dama quem me convidou para acompanhá-la ao jardim.

—Tenho certeza de que não o convidou para atacá-la. —Uma mulher que saí sozinha com um homem… —Não está pedindo que a estupre, Bennington. Visconde abriu a boca e depois fechou de repente. O queixo estava começando a inchar e havia

sangue no lenço. —Eu não ia a… Não o faria, é obvio… Só perdi os estribos. — olhou para Meg — Minhas mais

humildes desculpas, senhorita Peterson. Vou casar com você, é obvio. Falarei com seu cunhado pela manhã e em seguida viajarei para Kent para ver seu pai.

—Não! — ela engoliu em seco e inspirou fundo. Falou lentamente e com clareza — Não me casarei com você. Não me casaria com você nem que fosse o último homem de toda a Inglaterra… Não, o último homem do mundo!

—Mas, Margaret… —Já ouviu a senhorita Peterson, Bennington. Acredito que expressou com clareza seus

sentimentos. Agora faça a coisa certa e saía. —Mas… —Ficarei encantado em ajudá-lo a encontrar a porta de atrás… De fato, seria um prazer lhe dar

um chute em seu miserável traseiro e atirá-lo na rua. —Margaret… Senhorita Peterson… —Por favor, lorde Bennington. Asseguro-lhe que não há nada que possa dizer que me faça

reconsiderá-lo e aceitar sua proposta. —Simplesmente está um pouco impressionada. Talvez eu tenha sido demasiado veemente. —Talvez? — ela apertou os lábios. Não ia se dar o luxo de ter um ataque histérico ali, no meio

do jardim de lorde Palmerson. Ele franziu a testa e depois fez uma breve reverência. —Muito bem, eu vou, se você insisti. — voltou-se e fez uma pausa — Eu reitero minhas

desculpas mais sinceras.

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Meg assentiu. Sim soava arrependido, mas ela só queria que se fosse. Fechou os olhos enquanto ouvia como seus passos se afastavam. Não era capaz de olhar para o homem que continuava em pé ao seu lado.

Por que tinha que ser exatamente Parks quem a encontrasse em uma situação tão embaraçosa como aquela? O que estaria pensando dela agora?

Talvez simplesmente se fosse e a deixasse morrer sozinha. Sentiu um suave contato na face. —Senhorita Peterson, está bem? Ela balançou a cabeça. —Sinto tanto que você teve que suportar as atenções de Bennington… Você não deveria… Bom,

não é o tipo de homem com o que deveria… Têm um caráter diabólico. Isso era mais que evidente. —Não pode voltar para salão de baile assim. Quem é sua acompanhante? Ela se obrigou a falar. —Lady Beatrice. —Eu irei buscá-la. Ficará bem se eu a deixá-la sozinha? —Ss… sim. — mordeu-se o lábio. Não ia chorar… Bom, não até que ele se fosse. Ele emitiu um som estranho, uma espécie de exclamação breve que soava tanto como irritação

quanto a resignação. —Oh, pelo amor de Deus, venha aqui. Suas mãos tocaram seus ombros, insistindo-a suavemente para que ela aproximasse dele. Ela

resistiu só por um segundo. O primeiro soluço escapou no momento em que seu tocou o tecido de seu casaco. Sentiu seus

braços em volta dela, quentes e seguros, e ao mesmo tempo uma de suas mãos tocou-lhe o cabelo com suavidade. O grande nó que estava segurando seu peito se afrouxou.

Ela chorou, desta vez com mais força. Parks reprimiu um suspiro. A garota era a senhorita Margaret Peterson; Westbrooke a chamava

de Meg. Ele a tinha conhecido na festa em casa de Tynweith na primavera passada. Ele gostara dela. Parecia bastante sensata e sabia muito de desenho de jardins e plantas em geral. Tinha apreciado falar com ela.

E olhar para ela. Sim, bem, gostava de vê-la. Ela era muito atraente. Magra, mas com curvas generosas nos

lugares adequados, os olhos de um marrom quente com brilhos dourados e verdes, e um cabelo castanho e sedoso.

Enroscou os dedos nesse cabelo, massageando lhe a nuca. Ele estava a gosto com ela em seus braços. Fazia muito tempo que não abraçava uma mulher.

Muito tempo, se ele que ele estava começando a sentir eram urgências amorosas para uma mulher que estava chorando contra o lenço de seu pescoço. Teria que fazer uma visita a Cat quando voltasse para Priorado, logo depois de olhar o carregamento de planta.

Deu-lhe uns tapinhas no ombro. Sua pele era tão lisa, tão suave… Deixou cair sua mão para a segurança de suas costas coberta pelo espartilho. No que estaria pensando para sair para o jardim escuro de Palmerson com um homem da índole

de Bennington? Será que ela não era o que parecia? Afinal esteve na escandalosa festa na casa de Tynweith…

Mas tinha se comportado com uma correção perfeita ali. Saiu para o jardim com ele, mas sempre

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durante o dia e só para falar de alguma planta em particular. Ela fez um ruído peculiar, um cruzamento entre absorver pelo nariz e um soluço. —Está melhor, senhorita Peterson? Ela concordou, mas manteve a cabeça baixa. —Tome… Use meu lenço. —Obrigada. Ainda assim, ela não se atreveu a olhar em seus olhos. Ele a estudou. Havia luz suficiente para ver um esbelto o ombro branco que estava

completamente exposto, igualmente a bela curva de um de seus seios… Ele afastou um pouco o quadril para salvar-lhe da impressão da repentina atração que havia

sentido. Maldição, definitivamente estava há muito tempo sem uma mulher. —Desculpe por parecer um bebê chorão, pareço um regador. Estou molhando sua roupa —Acaba de sofrer uma experiência traumática. — pigarreou — Sabe que não deveria encontrar-

se a sós com um homem em uma zona tão escura como esta, não é? —Claro, é obvio. — separou-se um pouco dele — Nenhum dos outros perdeu os papéis dessa

maneira. —Outros? Será que houve outros? Meg ruborizou. Parks parecia escandalizado. —Não sou uma debutante. —Não, mas é jovem e não está casada. —Não tão jovem. Tenho vinte e um anos. Parks arqueou uma sobrancelha. Meg sentiu uma ponta de irritação. Esse homem a estava

criticando? —Lady Beatrice não fez nenhum comentário sobre o meu comportamento. Ele ergueu a sobrancelha ainda mais. De repente ela desejou arrancar-lhe os óculos, atirá-los ao

chão e pisoteá-los. Ela estava cansada de todo mundo olhando para ela dessa maneira. —Oh, você é igual ao resto dos desagradáveis e dissimulados brutos que há no salão de baile. Virou sobre seus calcanhares, deu um passo e… tropeçou com uma raiz. —Ah! — caía de cara contra o arbusto de azevinho que tinha abandonado recentemente

Bennington. Braços fortes a seguraram e a puxaram até apoiar suas costas contra a dura rocha de seu peito.

Ela estremeceu. O ar frio da noite fez com que seus braços arrepiasse e… Ela baixou o olhar. Seus seios estavam completamente fora do vestido. —Oh! —O quê há? —Feche os olhos! —O quê? Oh, Deus, isso era o som de sapatos sobre o cascalho? Alguém vinha nessa direção! Tinha que se

esconder. Mas não havia nenhum lugar para se esconder. Virou e apertou contra Parks. Talvez Deus

fizesse um milagre e a tornasse invisível. Mas o Todo-poderoso não estava interessado em ajudá-la nessa noite. —Ooolaaa! Senhor Parker-Roth…? É você? Não sabia que estava na cidade. —Oh. — Meg afogou um gemido no lenço de Parks. Não podia ser… Por favor, lady Dunlee

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não… A maior fofoqueira de toda Londres! Sentiu que o braço de Parks se apertando em torno dela. Sua resposta retumbou sob sua face. —Cheguei recentemente, lady Dunlee. Boa noite, milorde. —Boa noite, Parker-Roth. Estávamos dando uma volta pelo jardim, mas… Bem… —Lorde

Dunlee pigarreou—. Eu, bom, acho já é hora de voltarmos para salão de baile. —Só um momento. —A voz de lady Dunlee era aguda—. Quem está aí com você entre os

arbustos? Não posso vê-la. —Querida, acredito que interrompemos o cavalheiro. Lady Dunlee bufou. —Isso é óbvio. A questão é: o que é que interrompemos? Meg fechou os olhos. Ia morrer de vergonha. —Essa é a senhorita Peterson, não é? Realmente não tinha nem ideia de que vocês dois eram

tão… amigos…

Capítulo Dois

Parecia que sua mãe ia ter seu desejo realizado. Parks cruzou os braços e ficou de pé no canto do salão onde lady Palmerson os tinha deixado.

Ela tinha dado um xale a senhorita Peterson e dedicado–lhe um olhar depreciativo antes de sair para ir em busca de lady Beatrice. Ele assumiu que a reputação da senhorita Peterson estava tão feita farrapos como seu vestido ou que ele já tinha desafogado seus instintos animais, porque fechou a porta ao sair.

Diabos, diabos, diabos. Levantou a vista e enfrentou o cenho acusador de algum antepassado do Palmerson morto há muitos anos.

Sou inocente, maldição. Sou o herói desta história, não o vilão. O homem da pintura não pareceu impressionado. O que é que eu ia fazer? Sentiu como se o laço da corda da sociedade apertava lhe o pescoço

como se estivesse a caminho da forca Tyburn. A senhorita Peterson sentou no sofá olhando os sapatos e concentrada nas franjas do xale que

haviam lhe emprestado. Deveria tê-la deixado a mercê de Bennington. Se o que o homem dizia era certo, era culpa da

moça que se encontrou nessa situação; entre os arbustos e com um homem muito carinhoso. Não. Não poderia deixar nenhuma mulher com Bennington. E a senhorita Peterson parecia

totalmente apavorada quando o viu cair sobre ela. Provavelmente não sabia do que era capaz o homem.

Por que teria pedido a Bennington que passeasse com ela entre os arbustos? Bom, a verdade é que agora não importava. Já não havia forma de que pudessem manter em

segredo sua interessante cena no jardim. Apostaria seu último carregamento de plantas que lady Dunlee tinha começado a contar a torto e a direito as impactantes notícias com toda a velocidade com que a suas curtas perninhas a levaram de volta ao salão de baile.

Só uma intervenção divina poderia salvá-lo agora. E parecia que o Todo-poderoso se aliou com sua mãe. Aprovaria ela a senhorita Peterson?

Ele olhou para a mulher que continuava brincando com as franjas do xale.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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—Se não tomar cuidado, vai estragar. —O quê? — por fim levantou a vista para olhá-lo. —As franjas. Se não tomar cuidado vai arrancá-las. —Oh. — soltou a seda colorida e suspirou — Me desculpe por tê-lo metido nesta confusão. Ele grunhiu. Já não confiava em seu próprio critério na hora de responder. —Eu vou explicar tudo, é claro. Não se preocupe com as repercussões. Ele soprou. —Senhorita Peterson, se acredita que vou poder escapar ileso dos contratempos desta noite,

acredito que tem a cabeça cheia de pássaros. Ela franziu a testa. —O que você quer dizer? Deus Santo, não podia ser tão estúpida, certo? Se fosse, não havia boas perspectivas para a

inteligência de seus futuros filhos. Futuros filhos. Seu corpo traiçoeiro reagiu ao pensamento. Maldição. Definitivamente estava há muito mais do que muito tempo sem uma mulher. Mas isso ia mudar, não é? Estudou à senhorita Peterson. Se tinha que casar-se, bom, poderia ter

sido muito pior. Tinha o cabelo precioso, assim espalhado sobre o xale emprestado; a luz da vela destacava as mechas douradas entre a massa castanha. Era liso e suave. Sedoso. Formigaram-lhe os dedos com a lembrança. E sua pele era cremosa, rosada nesse momento. A boca… O carnudo lábio inferior parecia suplicar para que o beijassem. A ponta da língua saiu um segundo para umedecê-lo…

De repente teve uma breve visão do corpo dela estendido nu sobre sua cama. Ele virou-se abruptamente. —O quê acontece? —Nada. — ajustou as calças. Pensa na composição do chão. Horários de rega. O novo carregamento de

plantas. —Por que me olhava dessa forma? Ele pigarreou. —De que forma? —Olhava-me os cabelos fixamente. A raiva não era um bom antídoto contra a luxúria? Tinha muitas coisas pelas quais sentir raiva.

Virou para voltar a enfrentar senhorita Peterson. Diabos! O xale escorregou e agora ele podia ver um mamilo deliciosamente rosado que florescia

em meio da brancura de seu seio. Ela seguiu a direção de seu olhar. —Oh! A preciosa pele desapareceu sob o tecido. Ira. Ele devia sentir raiva, não um desejo enlouquecedor… Obviamente, um desejo muito

enlouquecedor. Não sentia uma resposta física tão incontrolável por uma mulher há anos, quando era pouco mais que um menino.

Não podia vira-se novamente, assim se escondeu atrás de uma feia poltrona de encosto alto horrorosamente estofada.

***

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Meg se perguntou se era possível morrer de vergonha. Aparentemente não, de outro modo ela já teria caído fulminada.

O senhor Parker-Roth tinha visto um s… Teria abanado o rosto para baixar a cor de suas faces se não tivesse ambas as mãos ocupadas

segurando o xale. Obviamente, ele estava horrorizado com a situação. Manteve-se andando de um lado a outro

para poder conter seu desagrado. E agora se escondia atrás dessa horrível poltrona vermelha. Será que ele pensava que ela iria atacá-lo?

Essa noite foi um desastre. Quem teria pensado que lorde Bennington ia se comportar de uma forma tão escandalosa? E que, em seguida apareceria Parks… Meg fechou os olhos e mordeu o lábio para afogar um gemido. De todos os homens do país, por que tinha tido que ser precisamente ele? Não poderia se lorde Dunlee, por exemplo?

Sem dúvida, Parks tinha despachado o visconde com decisão… Não era provável que lorde Dunlee fosse tão certeiro com os punhos. E quando a tinha segurado para que não caísse… Bom, já tinha admirado a amplitude de seus conhecimentos sobre botânica na festa na casa de lorde Tynweith, mas não teve a oportunidade de apreciar devidamente o resto de seus atributos.

Ruborizou-se. Certo que tinha sonhado com seu cabelo castanho escuro, seus olhos verdes e seu sorriso preguiçoso mais de uma vez. Muitas vezes. Quase cada noite. Mas se soubesse que, além disso, tinha músculos duros como rochas, não teria pregado o olho em todo esse tempo.

E como poderia saber? Parecia um erudito com esses óculos. Soava como um erudito quando discutia com ela aspectos de seu livro. Notas de teoria e prática de jardinagem paisagista de Humphry Repton naquela festa no campo.

Mostrou-se tão intenso, tão apaixonado. Ficou cativada por sua inteligência. E foi uma sorte que não estivesse completamente consciente do seu corpo naquele momento.

Examinou a parte que não ficava oculta atrás da poltrona. Humm… Que pinta teria sem toda essa roupa que o envolvia?

Fazia um calor bastante incômodo nessa sala. Seria bom ter um leque… —Deveríamos falar antes que lady Palmerson volte com sua acompanhante e minha mãe. —Sua mãe? Deus. — com certeza seus olhos estavam saindo das órbitas. Parks tinha uma mãe? Bom, claro. Quase todo mundo tinha uma mãe escondida em algum

lugar. Exceto ela. Sua mãe morreu pouco depois de que ela nascesse. Mas se supunha que as mães dos cavalheiros deviam permanecer convenientemente ausentes, vivendo no campo, a menos que tivessem uma filha que introduzir no mercado matrimonial.

—Sua mãe está aqui? — sua voz se tornou aguda? Engoliu em seco. Tinha que se controlar — Alguma irmã sua participa da Temporada este ano?

Ele franziu a testa. —Não. Jane já está casada e Juliana e Lucy são muito jovens. —Oh, claro, é obvio. — ela tinha conhecido Jane em alguma reunião social no ano passado. —

Não creio ter visto lady Motton nesta Temporada. —Não, felizmente não. — ele sorriu um pouco — A pobre Jane não é uma companhia muito

agradável neste momento. Está aumentando de volume — embora tenha aumentado consideravelmente antes — e é bastante desconfortável. E quando Jane está desconfortável, todo mundo em volta dela tem que estar também.

Meg o compreendia perfeitamente. —Emma também era assim, especialmente no final. Não tem que levar em conta. E eles esperam

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que o bebê chegue logo? —Ainda há pelo menos um mês. — pigarreou — Mas nós estamos desviando do assunto. Certo, estavam desviando. Meg sentiu outra onda de pânico. A mãe de Parks a ia vê-la

despenteada e com o vestido rasgado. Não podia fazer nada com o vestido, mas poderia fazer algo com seu cabelo? Impossível. Mesmo que tivesse presilhas, que não tinha, não podia soltar o xale para ocupar-se dos cabelos.

—O quê vou fazer? —Acredito que não tem escolha, senhorita Peterson. O homem tinha razão. Seu cabelo teria que ficar como estava, a menos que… Ele a estava

olhando de novo. Bom, não olhando precisamente… Lançando olhadas furtivas, na realidade. O quê havia de errado com esse homem?

—Eu suponho que você não sabe fazer uma trança, não é? —Uma trança? — agora a olhava completamente perplexo. —Sim. Tem irmãs, assim é possível que saiba como fazê-lo. —Que Deus me ajude! Por que falar agora de seu cabelo? —Porque sua mãe chegará a qualquer momento e não quero aparecer para ela como um

espantalho. Parks agarrou o encosto da poltrona com tanta força que os dedos ficaram brancos. —Acredite, senhorita Peterson, minha mãe não se importará absolutamente com seu cabelo. —Eu não tenho tanta certeza. Agora mesmo pareço um despropósito. — agarrou o xale com

uma só mão e tentou recolher o cabelo com a outra. Sentiu o ar frio, e o olhar do Parks, em seu seio. Ela corou e deixou cair o braço. Aparentemente o xale não era suficientemente grande.

— Eu lhe asseguro, senhorita Peterson, que minha mãe não vai notar seu cabelo. Terá coisas muito mais importantes nas quais ocupar sua mente.

—Ah, sim? — se amarrasse o xale na frente, ele ficaria no lugar se levantasse os braços? Sentiria-se muito melhor com o cabelo adequadamente recolhido — Que outra coisa poderia lhe preocupar? Este não é o momento de ficar brincando de adivinhações, senhor.

Isso que ouviu era o ranger de seus dentes? —Mas eu não estou brincando de adivinhações! —Não há necessidade de gritar. Eu Ouço-o perfeitamente. —Pode ser que me ouça perfeitamente, mas algum outro sentido deve esta lhe faltando, porque

não me entende. —Senhor Parker-Roth! —Senhorita Peterson! Entende que vão obrigar-nos a nos casar? O queixo dela caiu. O tom do homem era mais do que um insulto. Ele havia dito como se fosse

forçado a rastejar nu entre os ramos de uma amora… E, bom, ela sabia que não era um diamante em bruto, mas tampouco era o antídoto contra a luxúria.

Ela levantou de pronto com o xale bem agarrado. —Que prazer em ver que a possibilidade de se casar comigo lhe provoca tal arrebatamento de

alegria. Parks franziu a testa. Ele olhava para o xale. —Não vim a este maldito baile com a intenção de sair dele comprometido para me casar. —E não o fará. Já disse que explicarei tudo. Esse homem tinha revirado os olhos? Ela deu um passo para se aproximar. Abaixou as mãos

para os quadris até que uma ligeira brisa e seu olhar roçaram sua pele de novo. Maldição. Colocou

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uma mão para assegurar as pontas do xale, rodeou o sofá até onde ele se escondia e enfiou-lhe um dedo no peito.

—Não seja condescendente comigo, senhor Parker-Roth. Deixarei muito claro para sua mãe e lady Beatrice que você não é o vilão desta história.

Ele agarrou sua mão e apertou-a contra seu corpo. —E não sairá correndo em direção ao salão de baile, vestida, ou melhor dizendo, despida, assim,

para fazer o anúncio? —Claro que não! Não seja ridículo. — tentou afastar-se, mas ele não a liberou. —E como vai fazer para que a fofoca deixe de correr de boca em boca por toda a sociedade?

Vamos, senhorita Peterson, certamente que sabe que lady Dunlee esta agora mesmo revoando por todo o salão como uma abelha em um jardim, espalhando todos e cada um dos detalhes do que viu.

—Ninguém se importa com o que fizemos. — depois de tudo ela não era mais que a filha de um pároco… e a cunhada de um marquês. Tentou ignorar o terror que começava a crescer no estômago.

Parks soprou. —Quanto tempo tem na sociedade, senhorita Peterson? —Esta é minha segunda Temporada… —Então sabe que todo mundo vai se importar com o que nós fizemos. —Mas… —E também sabe que não poderá parar as fofocas simplesmente dirigindo-se as pessoas

reunidas no salão e dando-lhes algumas explicações. Eu tenho certeza de que muita gente já saiu apressadamente em direção a seu próximo compromisso desejando ser os primeiros a entreter a seus amigos com o delicioso relatório de lady Dunlee. Não, precisaria reservar espaço em todos os jornais para conseguir parar esta história. E tampouco, isso funcionaria, é obvio

—Você está dizendo coisas absurdas. —Estou dizendo verdades. Admita, senhorita Peterson. Você está tão metida nesta confusão

como eu. — uma de suas odiosas sobrancelhas se disparou para cima — Mas possivelmente é isso o que você queria. Por que convidou Bennington para acompanhá-la ao jardim?

Ela baixou a vista para o lenço de Parker-Roth. —Senhorita Peterson? Não queria mentir para ele, mas definitivamente tampouco queria dizer a verdade: que ela

estava provando os vários maridos em potencial. Um tom amargo em sua voz e apertou sua mão ainda mais. —O que esperava, pescar um visconde? Disso se tratava tudo? Andava em busca de um título? —Não, claro que não. —Fale mais alto, senhorita Peterson. Nem a gola de seu vestido pôde ouvi-la. Ela levantou o queixo e enfrentou seu olhar. —Não estava interessada no título de lorde Bennington, senhor. A comissura direita de sua boca se levantou, mas ele não parecia divertido. —Não? E o quê lhe interessava então? Não pretendo afirmar que conheço a mente feminina,

mas o certo, é que Bennington não tem muito mais que possa interessar a ninguém. Parks tinha uma boca muito bonita. Com certeza seus lábios não seriam como lesmas

percorrendo sua pele. —O visconde tem uma extensa propriedade de grande riqueza botânica.

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Seus lábios se curvaram em uma careta. —Senhorita Peterson, não pode deitar-se com suas begônias. Ela estremeceu. —Você está me insultando, senhor! Ela tentou se livrar outra vez. Mas o aperto férreo sobre ela se manteve inquebrável. Não que ele

estivesse machucando seus dedos… Não. Nem tampouco parecia fazer esforço para mantê-la nesse lugar.

De alguma forma tinha se livrado das luvas no caminho entre o jardim e a pequena sala e agora suas mãos estavam nuas, mas as suas não era quentes e úmidas como as de Bennington. Eram quentes e fortes, e estavam bronzeadas, certamente pelas horas que ele passava trabalhando com suas plantas.

Desejou poder tirar as luvas também para poder sentir melhor seu contato. Sentiu um comichão nos seios, como se eles também quisessem sentir seus dedos.

Que ideia! Um rubor a inundou… Seu rosto devia estar vermelho como um tomate. —A quantos homens atraiu até esse canto escuro? —Senhor Parker-Roth, eu insisto que me solte. Ela não tinha nenhuma intenção de responder à pergunta. Tampouco foram tantos: apenas cinco

antes de Bennington. —Atacaram-na dessa forma todos eles? Era isso o que queria, senhorita Peterson? Tão ansiosa

estava de atenção masculina? O homem era insuportável. Suas palavras eram mais do que insultantes. Abriu a boca para

responder, mas notou um brilho peculiar em seus olhos. Era… excitação. Algo que não combinava com seu tom gélido.

—Quer que a beije? É isso que anda procurando? —Sim, por favor. Até que viu a expressão de espanto em seus olhos, ela não percebeu que havia falado em voz

alta. Deus Santo! Parks piscou. Tinha ouvido bem? Ela queria que a beijasse? O quê tinha essa mulher? Ele não costumava a andar desejando mulheres da boa sociedade.

Claro que estas damas não costumavam aparecer com corpetes em farrapos e o cabelo caindo sobre os ombros. Quando ela perguntou se ele se importaria trançá-los ele esteve a ponto de explodir. Colocar os dedos nessa seda quente… E não parava de mover os braços de forma que seus deliciosos seios apareciam e desapareciam da vista continuamente. E agora a garota tinha pedido que a beijasse. Estava louca… e estava deixando-o louco. Uma jovenzinha decente estaria sentada com muito recato no sofá, soluçando baixinho, com o rosto enterrado no lenço, abalada pela cena no jardim e desejando conseguir um anel de compromisso, e quanto antes, melhor. Mas quando ele explicou o que era óbvio, a senhorita Peterson ficou eriçada. Ela colocou as mãos nos quadris — até que se deu conta da deliciosa visão que isso proporcionava a ele — e apontado um dedo acusador no peito. E agora pedia que a beijasse. E ele era um cavalheiro acima de tudo. Não podia recusar o pedido de uma dama.

Ele sorriu um pouco. A garota olhava-o de boca aberta, como se ela mesma estivesse surpresa com sua própria petição. Que conveniente que já tivesse com a boca aberta. Talvez assim pudesse descobrir o quê havia aprendido com os outros homens.

Ele continuou segurando sua mão contra seu peito, mas a puxou para aproximá-la um pouco mais. Ela se deixou levar sem protestar. Inclinou-se lentamente, dando-lhe tempo para fugir se

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assim desejasse, mas ela ficou ali quieta, como um cervo assustado. Ele cobriu seu queixo com a mão livre, acariciando-lhe a face com o polegar. Era suave como

uma pétala de rosa. Também cheirava a rosas, um aroma suave e doce. Ela emitiu um leve som inarticulado. Soltou o xale que segurava com a outra mão e esta passou

a descansar sobre seu casaco. Sua boca continuava imóvel sob a dele. Ele voltou a sorrir, rodeou-a com seus braços e a puxou com suavidade contra ele. Essa não era a reação de uma mulher com experiência. Seja lá o que fosse o que a senhorita

Peterson esteve fazendo entre os arbustos com esses outros homens, ainda não tinha perdido seu ar de inocência. Estava demonstrando ser incrivelmente sedutora.

Passou uma mão por seu cabelo, afastando-lhe do pescoço. Seguiu a linha de seu queixo semeando uma trilha de beijos até chegar a um lugar sob sua orelha. Ela inclinou a cabeça para lhe deixar mais espaço livre. Sua respiração se tornou em leves ofegos. Ele subiu as mãos até seus ombros e o xale deslizou, deixando descoberto um pouco mais de pele cremosa.

Maravilhosa. A linha da garganta, a clavícula, a doce curva de um de seus seios. Ele tomou um seio na mão.

Era quente, pesado e enchia a palma de sua mão. Olhou-a no rosto em busca de algum sinal de alarme ante seu atrevimento, mas ela estava com os olhos fechados. Mordia os lábios com seus pequenos dentes brancos.

Beijou-a em ambas as pálpebras enquanto acariciava o tesouro que tinha na sua palma. O corpo dela se encaixava ao dele.

Quando seu polegar encontrou o mamilo, rígido e duro, ela inspirou fundo e deixou que ele introduzisse a língua no calor úmido de sua boca.

O último pensamento coerente que ele teve foi um desejo: Ah! Se essa porta estivesse fechada com chave e o sofá fosse maior.

Definitivamente a vergonha não era algo fatal. Ele teve infinidade de amostras disso essa noite.

***

De verdade que tinha pedido a Parks que a beijasse? Não podia ser. Mas, então, por que ele estava com os olhos tão abertos? E depois os entreabriu e a olhou intensamente, alerta.

Tinha que se afastar dele. Ele continuava segurando sua mão contra o peito, mas a deixaria ir se ela quisesse. Não a obrigaria a nada; sua forma de segurá-la não mostrava nenhum tipo de coação.

Ela sentiu uma leve pressão que a incentivou a aproximar-se e ela se deixou levar. Ele ia conceder o que tinha pedido. Sabia.

Devia afastar-se desses lábios que se aproximavam. Não podia mover-se. Ficou completamente imóvel, como um ratinho diante de uma serpente.

Mas, ao contrário do ratinho, ela queria ser apanhada. Observou sua boca que se aproximava ainda mais. Fechou os olhos. Sentiu os lábios dele, frios e firmes, sobre os seus. Suaves. Pedindo, mas não exigindo.

Convidando, prometendo, incitando. Percorreu-lhe o queixo com os dedos e lhe acariciou a face com o polegar. A pele dele era

áspera, mas sua carícia era muito suave. O coração começou a bater com a mesma velocidade das asas de um pássaro preso numa gaiola.

Um calor começou a se formar em seu ventre e notou um batimento estranho ainda mais abaixo, entre suas pernas. Também sentiu uma umidade ali.

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O quê significava tudo isso? Suas pernas falhavam, como se já não pudessem suportar seu peso. Agarrou-se contra seu peito

com ambas as mãos. Precisava sentir seus braços em volta dela antes que seus joelhos se convertessem em gelatina.

Ele devia ter lido sua mente. Graças a Deus. Aproximou-a mais contra ele com muito cuidado. Toda sua força a rodeou. Sentiu o coração

dele pulsando sob suas mãos. Inspirou seu aroma: limpo, uma mistura de sabão, roupa limpa e vinho.

Os dedos dele se enroscaram em seu cabelo e notou que o afastava e que o ar fresco tocava sua pele.

Sua boca desceu por seu queixo. Enquanto os lábios de Bennington haviam se arrastado como lesmas, desagradáveis e úmidos,

por sua pele, a boca de Parks era como as asas de uma mariposa que roçavam e estimulavam sua pele. Como um raio de sol: quente e reconfortante. Inclinou a cabeça e se esticou, desejando que ele encontrasse a zona sensível sob sua orelha. E ele encontrou.

Outra onda de fraqueza a embargou. Precisava abraçá-lo. Levou as mãos até seus ombros. O xale escorregou. Não importava. Não sentia frio… o que tinha era calor. Muito calor. Tanto

que estava ofegando e o batimento entre suas pernas se transformou em uma dor. Pensava que havia aprendido muitas coisas sobre a arte de beijar nessa Temporada, mas estava

enganada. Nunca experimentou nada como aquilo. Os outros homens foram bruscos, desajeitados e apressados. Ou experientes e enjoativos. Isto? Isto era perfeito.

E de repente se tornou mais perfeito. Uma de suas mãos tocou-lhe um seio nu. Sua consciência lhe sussurrou que deveria estar escandalizada. Horrorizada. Mortificada.

Deveria estar gritando e pedindo ajuda. Mordeu-se o lábio para não gritar… de prazer. O calor de sua pele contra a dele não parecia com

nada que houvesse sentido antes. Ele então moveu os dedos. Fundiu-se com seu corpo. Sentiu seus lábios roçando suas pálpebras. Tocou a ponta dura de seu

mamilo. O calor a alagou. Inspirou fundo… e a boca dele cobriu a sua. Sua língua se deslizou para

dentro. Agarrou-se com força a ele enquanto ele a enchia, sua língua explorando o interior de sua boca.

Deveria ser nauseante, mas realmente era maravilhoso. Apertou-se contra ele, deslizou as mãos por suas costas, sob sua jaqueta, e lhe rodeou a cintura.

Havia muita roupa no meio. As luvas, por exemplo, estavam-na dificultando muito. Sua língua estava se retirando. Não! Ainda não estava preparada para que isso acabasse.

Abraçou-o com mais força e tentou imitar suas ações, introduzindo sua língua na boca dele, maior que a sua. Estava certa de que seus esforços pareciam bastante torpes, mas parecia agradá-lo. Entusiasmado inclusive. Sua língua se animou. Agarrou-lhe a cabeça com as mãos. Ele grunhiu e se afastou.

—Acho que será melhor sentarmos. —Hã? — ela piscou e depois tentou alcançar sua boca novamente. Ele riu e a tomou nos braços. Sentou no horrível sofá vermelho e a colocou em seu colo. —Humm, sim, Talvez isto seja melhor. — afrouxou-lhe o lenço.

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—Muito melhor. — beijou-a, primeiro na boca, em seguida na garganta e continuou descendo. —Oh. Ah… Ambos os seios escaparam do espartilho. Ele não iria a…? Certamente que isso não era

absolutamente apropriado… —Senhor Parker-Roth… —John. —O quê? — sua boca estava indecisa diante de seus seios nus. Agarrou-lhe a cabeça para afastá-

lo do desastre. Olhou-a… no rosto. —John. Meu nome é John. —Oh. —Diga-o. — beijou-lhe um lado de um seio. —Oh. — tentou afastar sua cabeça, mas ele não se moveu — John, estou segura de que não

deveria… Ele rodeou o mamilo com a língua, quase, mas sem chegar a tocar no doloroso ponto central. —Oh. Ah, John. Oooooh. Ele lambeu a ponta e depois o pegou na boca e chupou. —John! Ela tinha gritado? Tinha certeza que ela estaria desejando gritar, mas chegou a fazê-lo de

verdade? Ela… —Deus Santo. — de repente Parks a apertou contra ele ao ver a mulher estupefata que estava de

pé na soleira da porta aberta. —Boa noite, mãe.

Capítulo Três —Desculpe-me por não me levantar. — Parks fechou os olhos por um segundo. Ele queria

morrer. Como chegou a essa situação? A ninguém se surpreenderia se Stephen aparecesse em um baile da sociedade com uma mulher meio nua no colo. Seu irmão era muito… aventureiro. Mas ele? Nunca havia feito nada escandaloso em sua vida.

—Sim, vejo que suas mãos estão… ocupadas. — sua mãe apertou os lábios e ficou olhando fixamente as costas da senhorita Peterson, a incrivelmente nua costa da senhorita Peterson com sua mão sem luva bem no centro. Baixou a mão até uma posição perfeitamente apropriada sobre seu rígido espartilho, indevidamente exposto.

—Me diga que isto é um pesadelo, — sussurrou a senhorita Peterson com o rosto enterrado em seu lenço — e que vou acordar em um momento.

—Eu gostaria. — sussurrou ele. Precisava de algo para cobri-la — Você sabe se esta sentada sobre o xale que lady Palmerson emprestou?

Ela se moveu. —Não. Acho que perdi quando você… quando nós… Acho que caiu no chão quando me tomou

nos braços. Olhou por cima do ombro. Certo, o xale formava um montinho no chão. Infelizmente estava

muito longe de seu alcance. —Cecilia, o quê está acontecendo…? Oh. — a contundente silhueta de lady Beatrice se uniu a

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sua mãe na soleira. Esta se encontrava na fase de azuis e cinzas nesse momento, por sorte, porque lady Beatrice teria entrado em conflito com qualquer outra combinação de cores. Seu vestido verde com detalhes roxos e fitas vermelhas e usando uma profusão de plumas amarelas que se agitavam entre seus caracóis cinza que a faziam parecer uma amoreira cheia de ninhos de canários entre seus ramos.

—Meg, o que está fazendo aí, sentada no colo do senhor Parker-Roth? A senhorita Peterson gemeu muito suave e pressionou o rosto contra seu ombro. Lady Beatrice riu. —Oh, entendo. Amor juvenil… Ou é luxúria?… Bom, é primavera. Os pássaros e as abelhas, já

sabemos. Parece que temos que planejar um casamento, não concorda, Cecilia? A mãe de Parker-Roth sorriu um pouco. —Creio que tem razão, Beatrice. Vejamos… —O que está acontecendo aqui? Sua mãe e lady Beatrice se voltaram para olhar para quem tinha falado. No momento seguinte

apareceu uma mulher baixa e gordinha com óculos e o cabelo castanho encaracolado e desordenado. Franziu a testa em direção a lady Beatrice.

—Lady Palmerson me disse que Meg… — olhou para o interior da sala. Ela abriu a boca e os olhos quase saíram de suas órbitas pela estupefação.

—Oh, não. —A senhorita Peterson tinha virado a cabeça para ver a recém chegada—. O que Emma está fazendo em Londres?

—“Emma” é sua irmã Emma, a marquesa de Knightsdale? —Sim — disse, e voltou a enterrar a cabeça em sua camisa — Isto tem que ser um pesadelo. Ele não podia deixar de concordar. A mulher empurrou lady Beatrice para passar; tinha uma

expressão no rosto que dava a impressão de que sua intenção era lhe arrancar as bolas com o prendedor que usava no cabelo.

—Afaste suas mãos de minha irmã, canalha! Ele apoiou as mãos nos braços do sofá até que a senhorita Peterson tentou voltar-se para

enfrentar-se sua irmã. Então voltou a agarrá-la para que não pudesse mover-se nem um milímetro. —Não vai vestida assim. — ele sussurrou sem deixar de olhar para a marquesa. Não seria capaz

de lançar-se sobre ele armada com o prendedor, certo? Realmente parecia que ia saltar sobre o sofá a qualquer momento para lhe alcançar.

—Você não me ouviu? — a marquesa deu um passo para ele. —Um momento! Sua mãe tinha aperfeiçoado esse tom com seus seis filhos. A irmã da senhorita Peterson parou

imediatamente. —Esse homem a quem chamou de canalha é meu filho. — sua mãe se aproximou da marquesa.

Era alguns centímetros mais alta do que a irmã da senhorita Peterson, mas lady Knightsdale pesava alguns quilogramas a mais e era vinte anos mais jovem. Mesmo assim sua mãe não era fácil de vencer, especialmente se a ameaça era contra um de seus filhos. Se elas se enfrentassem, seria difícil apostar quem seria a vencedora.

—E essa mulher sobre a qual o descarado de seu filho tem suas garras é minha irmã. —Tenho que recuperar o xale. — murmurou a senhorita Peterson. —Sim, acho que tem razão. Você acha que pode pedir a sua irmã para trazer? A senhorita Peterson olhou por cima do ombro. —Parece que neste momento está muito ocupada. Não acha que pode ferir sua mãe, certo?

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—É sua irmã, como vou saber? — franziu a testa — Deveria me preocupar? A senhorita Peterson mordeu o lábio. —Emma se tornou um pouco mais… brusca desde que nasceram Charlie e Henry. —Maravilhoso. — e o que ele devia fazer agora? Jogar a senhorita Peterson no chão e se lançar

para separar às duas mulheres? Felizmente a coisa não chegou a tanto. —Tia Beatrice, o quê…? — o marquês de Knightsdale, um homem de constituição poderosa e

porte militar apareceu e parou na soleira — O que esta acontecendo, Emma? Quem é a mulher que você está olhando dessa forma?

—Não sei como se chama. É a mãe daquele homem. — apontou para Parks. O veneno que havia em sua voz deixou claro o que pensava dele para todos os que estavam na sala.

O marquês olhou para ele e arqueou uma sobrancelha. —É sua irmã que está sentada em seu colo? —Sim! —Isto é ridículo — murmurou a senhorita Peterson — Se me levantar com cuidado, poderei

chegar até o xale. —Espere, vem mais gente. — Parks desejou que alguém fechasse a porta — Ah, talvez chegue

um pouco de ajuda. Westbrooke e a condessa estão aqui. —Bem. Tente fazer Lizzie se aproximar daqui. —Você quer que eu grite de um lado a outro da sala, senhorita Peterson? Ela fez um barulho esquisito. —Me chame de Meg. Acho que nossa relação já superou as formalidades. Ele sorriu. Era uma forma de colocar. —Charles, — disse Westbrooke enquanto lady Westbrooke se apressava para se aproximar de

Meg — não acha que já tem muita gente nesta sala? Por que não fechamos a porta? —Sim, por favor, Robbie. Westbrooke empurrou a porta, mas alguma coisa se interpôs em seu caminho. Olhou para ver

qual era o problema. —Sinto muito, lady Dunlee. Se for tão amável em se afastar um pouco… A família precisa de

um pouco de intimidade, suponho que compreende. —Oh, mas acho que… O resto das palavras de lady Dunlee se perderam quando Westbrooke fechou a maciça porta de

madeira em seu nariz. —Olá, Parks. O quê está fazendo aqui? — Robbie sorriu — Há alguma razão para você

entreter uma mulher parcialmente vestida neste local tão pouco apropriado? —Robbie, — disse lady Knightsdale — essa dama parcialmente vestida é Meg! —Ah, sim? Bom, bom. — Westbrooke se encostou na porta. Ainda podia ouvir ruídos abafados

que chegavam do outro lado. — Já era hora. Já era hora? Parks não tinha intenção de acrescentar nada à conversa — tinha uma instinto de

preservação muito forte, mas que diabos queria dizer Westbrooke com isso? Por sorte, Meg estava falando em sussurros com lady Westbrooke e perdeu o comentário.

Mas lady Knightsdale não. —Já era hora? Você sabia que isso estava acontecendo, Robbie? —Como não tenho certeza do que quer dizer com “isto”, não, não sabia. Mas não me surpreende

ver Meg e Parks juntos. — tossiu — Bom, talvez seja um pouco desconcertante vê-los tão, bom,

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juntos nesta situação específica. —Assim conhece o canalha, Robbie… E você me aconselha matá-lo? — Knightsdale sorriu para

sua esposa, era o que Emma gostaria que fizesse. —Bom, não, Parks… Quero dizer, Parker-Roth, é um bom amigo. Eu o conheci em Eton. —

Westbrooke fez um gesto em direção a senhora Parker-Roth — E suponho que sua mãe terá alguma objeção se pretende despachar seu filho para a eternidade.

—É claro que sim. —a senhora Parker-Roth olhou para o marquês. —Minhas desculpas, senhora. Não pretendia insultá-la. Lady Knightsdale bufou. —Pelo menos eu não. — disse Knightsdale — Vamos, Emma, sejamos civilizados. Vamos ouvir

a explicação do homem. Depois veremos se ele merece que lhe arranquemos a pele em tiras. —Sim, Emma. — Lady Beatrice se sentou no sofá — Acho que deveríamos pedir ao senhor

Parker-Roth e a Meg que expliquem o que aconteceu. —Bom, também eu gostaria de saber o quê aconteceu. — a senhora Parker-Roth se voltou

para Parks — John, se importaria de nos explicar isso Lady Westbrooke acabava de entregar a Meg o comprometido xale. —É claro, mãe. Eu… —Não — disse Meg colocando o xale sobre os ombros e envolvendo-se bem. Depois se levantou

— Foi minha culpa. Sou eu que devo dar explicações. O quê Emma estava fazendo ali? Supunha que estava em sua casa em Kent. Bom, essa era uma

pergunta que obteria a resposta mais tarde. Agora todo mundo estava olhando, esperando que falasse.

Meg se envolveu ainda mais no xale. Nunca tinha parecido tão desalinhada em nenhuma parte que não fosse em seu próprio quarto. Abriu a boca.

O quê que ia dizer exatamente? Olhou para a senhora Parker-Roth. Não viu raiva, a não ser uma curiosidade precavida nos

olhos verde musgo da senhora, uns olhos que se pareciam muito com os do Parks. —Vamos, Meg. — a voz da Emma soava tão cortante que teria inclusive feito sangrar — Você

disse que ia explicar tudo. —Dê-lhe um momento para colocar em ordem suas ideias, querida. —Isso não é a única coisa que deveria pôr em ordem, Charles. Também seu vestido, seu

cabelo… Meg sentiu a mão de Parks em suas costas e isso lhe deu coragem. Ela era grata por ele deixá-la

explicar em vez dele. Se soubesse o quê dizer… Inspirou fundo e exalou lentamente. —Primeiro tenho que dize que o senhor Parker-Roth é completamente inocente. O silêncio e os olhares de incredulidade responderam sua afirmação. —É verdade. — por que ninguém parecia acreditar? — Ele não tem nada a ver com minha…

situação atual. Lorde Westbrooke transformou uma risada repentina em uma tosse. Meg olhou para Parks. Ele parecia estar estudando a enorme pintura de um antepassado de

Palmerson com peruca. —Vejamos se o entendi bem. — disse lady Beatrice — O senhor Parker-Roth não tem nada que

ver com seu estado de indecência? —Correto. Eu estava no jardim com… — de verdade queria mencionar o nome de Bennington?

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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Emma a forçaria a casar-se com esse depravado? — Com outro homem. O senhor Parker-Roth passava por ali e me resgatou.

—E quem é esse outro homem misterioso? — Emma continuava olhando para Parks. —Prefiro não dizer. — como pode ter o mau gosto suficiente para considerar o visconde embora

só por um momento? Não queria que Lizzie, Robbie, Charles e muito menos Emma soubessem quão tola havia sido.

Emma bufou. —Porque não havia nenhum outro. —Um momento… Meg estendeu a mão para deter Parks. Sentiu como se tivessem levado um soco no estômago,

mas se Parks interviesse não ia melhorar as coisas. O rosto de Emma mostrava sua expressão ainda mais teimosa.

—Emma, sabe que eu não mentiria para você. Emma apenas a olhou. —Sim, querida. — disse Charles — Está deixando que seu aborrecimento… Emma se voltou para enfrentá-lo. —Que seu compreensível aborrecimento empane seu julgamento. —Olhe para ela, Charles. Charles — e todos outros — olharam-na. Meg mordeu o lábio. Sabia que estava com a aparência impressionante. Era claro que Emma não

descansaria até que ouvisse todos os detalhes. —Muito bem… Era lorde Bennington. —Bennington? Aquele idiota? — Lizzie ruborizou e tampou a boca — Me desculpe. Escapou. Lorde Westbrooke sorriu. —Isto dará ao velho Bennie uma razão a mais para te odiar, Parks. —Estou perfeitamente consciente disso. Emma balançou a cabeça, surpreendida. —Não acreditava que o visconde Bennington fosse capaz de se comportar assim. —Nem eu. — disse Meg — Pode ter certeza de que não me teria aventurado ao jardim com esse

homem se tivesse o mínimo sinal disso. —Você não deveria se aventurar no jardim com nenhum homem! —Emma, tenho vinte e um anos. Já não sou uma menina. Charles pôs a mão sobre o ombro de Emma. —Talvez devêssemos esperar um momento mais privado para ter nossas brigas familiares. Emma franziu a testa. —Muito bem. — lançou um olhar de “já falaremos” para Meg — Continuaremos esta discussão

na carruagem, a caminho de casa. Meg mordeu a língua. Tinha chegado à festa com lady Beatrice e tinha intenção de sair com ela,

mas não havia necessidade de dizer a Emma nesse momento. De fato, se jogasse bem suas cartas, poderia evitar do toda a bronca de Emma. Relaxou um pouco. Um engano. Tinha saído da frigideira para cair nas brasas.

—Não obstante, pergunto-me, — disse Charles olhando-a — como foi para sentada no colo do senhor Parker-Roth, aonde a encontramos quando chegamos.

—Bom… — não lhe ocorreu nenhuma resposta apropriada. —Excelente pergunta, Charles. Mesmo que o colo do cavalheiro fosse a única opção. Ele poderia

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ter permanecido de pé para deixar um lugar para você sentar. — Lady Beatrice acariciou a superfície da poltrona estofada em vermelho — E, embora tenha que concordar com você este assento não é muito atraente, mas a verdade é que eu estou muito confortável.

—Bom… —E como você perdeu o xale com o qual esta se cobrindo agora? Não faz muito calor aqui… —

Charles olhou para Parks enquanto sua voz ia subindo — A menos que ambos estivessem implicados em alguma atividade… que gere calor…

—Eu, uh, bom, veja… Parks pigarreou. —Alegra-me dizer que proponho casamento a senhorita Peterson. —Não. — voltou-se para olhar Parks no rosto. Sua expressão era agradável, educada e

totalmente opaca — Nós já discutimos. Você me resgatou de Bennington. Não deve ser castigado por uma boa ação. Eu disse que explicaria tudo.

Parks sorriu um pouco. —Poderia explicar o que estávamos fazendo quando minha mãe entrou? O rosto de Meg se tornou de um vermelho brilhante. Abriu e fechou a boca várias vezes, mas

nenhuma palavra saiu dela. —O quê estavam fazendo, Parker-Roth? — a voz do marquês era baixa e desagradável. —Vamos dizer que, independentemente do que aconteceu no jardim, acho que seria melhor

para todos que me casasse com a senhorita Peterson. —Você machucou minha irmã, maldito… maldito…? Knightsdale voltou a colocar a mão sobre o ombro de sua mulher para contê-la. —Você machucou minha cunhada, Parker-Roth? — seu tom era ainda mais frio. Parks soube

que era um homem morto se dissesse que sim, mas não ia ceder diante do marquês. Virou para Meg.

—Eu a machuquei, senhorita Peterson? —Não, claro que não. Não seja absurdo. — Meg virou para olhar sua irmã e seu cunhado —

Estão fazendo uma tempestade em um d'água. Não há necessidade de me casar com o senhor Parker-Roth. Simplesmente façamos de conta que esta noite não existiu.

—Façamos de conta que lady Dunlee não é a maior fofoqueira do mundo. — acrescentou lady Beatrice.

—Lady Beatrice… —Meg, você sabe que ela tem razão. — Lady Westbrooke colocou a mão sobre o ombro de Meg

— Lady Dunlee fará circular a história em menos de um piscar de olhos. —Não, ela não fará, Lizzie. Westbrooke tossiu. —Na verdade é, Meg, que já está circulando. Dois homens me contaram isso no salão. Ficaram

surpreendidos de que Parks fosse assim tão selvagem… — Voltou a tossir — Bom, o caso é que a história já corre por aí e que toda Londres saberá pela manhã.

—E toda a Inglaterra, na próxima semana. — a marquesa franziu a testa em direção a sua irmã — Não tem escolha. Tem que se casar com o senhor Parker-Roth.

A boca de Meg se transformou em uma linha fina. Começava a parecer tão teimosa como sua irmã.

—Estão nervosos por nada, Emma. Como sempre. Lady Knightsdale bufou sonoramente. Parks tinha certeza que seu marido ia ter que segurá-la

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para que não se jogasse contra Meg. Esperava que a discussão não degenerasse para uma sessão de puxões de cabelos como as que estavam acostumados a protagonizar suas irmãs pequenas. Olhou para sua mãe. Ela lançou-lhe um olhar interrogativo.

Definitivamente era hora de intervir. —Talvez ajudasse se a senhorita Peterson e eu pudéssemos discutir a situação por uns

momentos a sós… Lady Knightsdale? —Não há nada para discutir. — Meg quase cuspiu as palavras. Agora ia derramar seu veneno

nele? Surpreendeu-se ao dar-se conta de que achava estimulante essa ideia. Na verdade, havia uma

parte de seu corpo que se sentia especialmente estimulada. —Exato. A decisão está tomada. — Lady Knightsdale o olhou a testa franzida — E já vimos o

que aconteceu quando deixamos os dois sozinhos. Meg, vamos. —Não vamos. Vim com lady Beatrice e irei com ela. —Meg… Knightsdale rodeou os ombros de sua mulher com um braço. —Eu acho que vamos dar-lhes uns momentos, Parker-Roth. —Mas Charles… —Você está muito alterada, é compreensível Emma, mas acho que podemos confiar que o

homem não vai violar Meg se os deixarmos cinco ou dez minutos a sós. Esperaremos lá fora, no corredor, justo na frente da porta, se por acaso Meg precisar de ajuda, está bem?

—Bom… A senhora Parker-Roth já tinha visto o suficiente. Mostrou-se perfeitamente educada, mas firme. —Não tem com quê se preocupar, lady Knightsdale. Pode confiar que meu filho se comporte

como um cavalheiro. Não criei um exímio descarado, eu asseguro. As sobrancelhas da marquesa se levantaram e ela abriu a boca como se fosse responder a mãe de

Parks, mas parou a tempo. Ela corou. —Não, é claro que não. — seu tom era seco — Não pretendia insultá-la, é obvio. Como diz meu

marido, estou um pouco alterada. Desculpe-me, por favor. A senhora Parker-Roth sorriu. —Está tudo bem. Na verdade sei exatamente como se sente. Tive uma experiência semelhante

com minha filha mais velha. —Sério? —Sim. Certamente você se recorda do incidente que teve a ver com lorde Motton na passada

Temporada… —Lorde Motton… — Lady Knightsdale assentiu — Sim, me lembro dessa escand… Quero dizer,

dessa história. A senhora Parker-Roth tomou o braço da marquesa e começou a caminhar para a porta. —Oh, claro que foi um escândalo e a princípio meu marido e eu, e também John, estávamos

furiosos. — riu e balançou a cabeça — Mas inclusive naquele momento eu suspeitava que Jane foi uma parte ativa na sedução, ela nunca foi fingida, sabe? Então não podia ser muito dura com Edmund. Assim acabamos o apreciando muito, sobre tudo agora que Jane está esperando nosso primeiro neto.

— Sério? —Sim, assim como no final saiu tudo bem para minha filha e acho que tudo sairá bem para sua

irmã também.

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Lady Knightsdale parou na soleira para olhar para Parks. —Assim espero. O marquês foi o último em abandonar a sala. —Dez minutos, Parker-Roth. — disse, e fechou a porta. Meg explodiu no momento em que ouviram o clique do trinco. —Pode acreditar no que fez Emma? Sempre tentou controlar minha vida, mas desde que se

casou se tornou insuportável. Quando nasceu Charlie — e depois Henry — pensei que estaria muito ocupada para se preocupar com meus assuntos, mas estava enganada.

—Ela te ama. — Assim como minha mãe me ama. Ele podia compreender à senhorita Peterson no referente à interferência dos familiares. O quê pensaria sua mãe da pequena cena daquela noite? Ela tinha arrastado-o até Londres para

lhe encontrar uma noiva, assim estaria contente com a senhorita Peterson? Ele estava? Não importava. Tinha colocado a garota em um compromisso impossível de redimir. Lady

Dunlee se ocupou disso. E depois do… quente interlúdio que ocorreu nessa sala, não podia continuar considerando-se uma vítima inocente. Que demônios o havia possuído?

Fosse o que fosse, não tinha escolha. O marquês de Knightsdale não ia deixar que abandonasse essa sala sem um compromisso. E agora tinha que convencer a senhorita Peterson disso.

Ela suspirou e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. Os dedos vibraram com o desejo de tocar essa extensão sedosa de novo.

Juntou as mãos atrás das costas. —Eu sei que Emma me ama. Sei que só quer o melhor para mim, o que me faz sentir ainda pior,

mas não posso deixar que tome as decisões por mim. —Não, claro que não. E tenho certeza de que isso não é o que pretende tampouco. —Ha! Não tem nem ideia. Ela acredita que tenho que estar casada para ser feliz. Esteve me

torturando com essa ideia os últimos três anos. Teria que ver os homens que joga nos braços. Só isso já foi suficiente para me empurrar a vir para Londres nesta Temporada.

—Certamente que não eram tão maus… —Eram anciões. Completamente caducos. Ele riu. Não pôde evitá-lo diante de sua expressão de horror. —É difícil acreditar que sua irmã tenha pensado que um ancião seria um bom partido. —

especialmente se os rumores sobre o casamento da marquesa fossem verdadeiros. Mais de uma vez já ouviu dizer que o marquês e sua esposa não precisavam de fogo na lareira de seu quarto porque eles sozinhos podiam produzir calor suficiente. Agora que os havia visto juntos, podia acreditar.

—Bom, os homens mais jovens também eram bastante repugnantes. Cabeças-ocas de … E isso que acabo de dizer é um insulto para os tolos.

—Senhorita Peterson… Meg agitou um braço… e conseguiu agarrar o xale antes que ele deslizasse mais e revelasse

alguma coisa de interessante. —Não vivo em Knightsdale. Vivo na casa paroquial com meu pai e sua mulher, Harriet, assim

não incomodo a ninguém. E a Emma muito menos. Não há necessidade de se preocupar com meu futuro.

—Ainda assim, é perfeitamente normal que queira vê-la bem situada. Com certeza seu pai também tentou dar-lhe um empurrãozinho nessa direção…

Meg negou.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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—Não. Ele não disse nenhuma palavra sobre casamento. —Assim está satisfeito que vá passar o resto de sua vida com ele? —Sim. Não. Oh, demônios. — franziu a testa ao olhar um vaso vermelho gritante que havia

sobre o suporte da lareira. — O certo é que tenho certeza de que ele e Harriet agradeceriam a privacidade que lhes proporcionaria minha ausência. — suspirou — E eu gostaria de ter uma casa própria. Não me oponho ao casamento, mas sim que Emma se intrometa. — virou para olhar em seus olhos — A verdade é que eu vim a Londres esta Temporada com o objetivo de encontrar um marido, acho que deveria saber.

— Então você deve estar feliz por ter alcançado seu objetivo tão rápido. — não pôde evitar soar cortante. Por que sentia essa onda de irritação? Ela foi sincera. E não era nada surpreendente. O salão de baile de lady Palmerson estava cheio de jovenzinhas que tinham o mesmo objetivo que ela.

—Bom, eu… — ela ruborizou — Pensei que ia passar mais tempo procurando. Assim não estava feliz que se convertesse em seu prometido? Apertou as mãos com força. O quê

lhe acontecia que não conseguia impressionar as damas da sociedade? Diabos, Grace ficou tão pouco impressionada que o tinha deixado esperando no altar.

Não era nenhum mistério. Não tinha título. Um simples cavalheiro não podia competir com um lorde.

Deveria tê-la deixado com o visconde Bennington.

*** Parks estava franzindo o cenho. Claro. Era óbvio que não queria casar-se com ela. Seu tom de

voz tinha deixado mais do que claro. Tocá-la era outra coisa. Todos os homens pareciam ser iguais. Estavam encantados de Oh…

De repente recordou exatamente o que ela e Parks estavam fazendo quando a mãe dele entrou na sala.

Deus Santo. Cobriu o rosto e gemeu. —O quê deve estar pensando de mim sua mãe? Estávamos… Eu estava… Eu parecia… Bom,

será melhor que não diga o que parecia. É muito espantoso. E Emma e eu brigando como meninas. — Emma chegou a gritar com a senhora Parker-Roth? — E minha irmã não podia ter sido mais insultante. Sua mãe não gostaria de ter nada que ver comigo nem com minha família.

—Tenho certeza de que minha mãe compreende perfeitamente. Como ela mesma disse, Jane se viu em uma situação semelhante no ano passado. Minha mãe estava tão alterada como sua irmã agora.

—Ainda assim, não iria querer que você se casasse comigo. —Senhorita Peterson, espero que não leve a mal, mas às vezes acredito que minha mãe estaria

encantada que me casasse, mesmo que fosse com a mais miserável criada, pelo simples fato de me casar com alguém. Você disse que sua irmã acredita que terá que estar casado para ser feliz? Minha mãe é da mesma opinião. Acredita firmemente que um homem não pode encontrar satisfação na vida sem uma mulher a seu lado que o guie na direção correta.

Parks soava extremamente amargo. —E você não está de acordo? —Eu? Não! — franziu a testa e passou a mão pelo cabelo — Não quero me casar. Nunca. Minha

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mãe esteve me arrastando a Londres ano após ano, repetindo o tema uma e outra vez, sem piedade. Desde que completei os trinta se tornou incansável. E o casamento de Westbrooke só piorou as coisas. Tenho certeza de que agora está exultante porque por fim, me enganaram e caí na armadilha dos padres.

—Eu não o enganei. — Meg sentiu outra pontada de fúria. Sim, a situação era terrivelmente desafortunada, certo de que Parks não escolheu seu destino, e sim, de certa maneira a situação em que agora se encontrava era culpa dela. Mas não tinha planejado para que as coisas acontecessem assim. No fundo era tão vítima como ele.

Bom, talvez não. Sem dúvida alguns diriam que ela teve o que merecia se fosse forçada a se casar com lorde Bennington.

Aparentemente uma dessas pessoas era o senhor Parker-Roth. —Não, você não me enganou. Não obstante, se não fosse tão inconsciente na hora de quebrar as

normas sociais… Se não tivesse saído ao jardim com o Bennington… — ele puxou sua jaqueta e apertou os lábios — Bom, quanto menos falar desse incidente, melhor, eu acho.

Ela não se incomodou em controlar o volume de sua voz. —Você não tem que casar-se comigo, senhor. Sua expressão era como se tivesse acabado de chupar um limão. —Vamos, senhorita Peterson, seja sensata. Sabe tão bem quanto eu que temos que nos casar. Sua

reputação só pode ser restaurada através dos votos matrimoniais. —Não. — queria golpear alguma coisa… por exemplo o senhor Parker-Roth. Odiava ser

obrigada a fazer algo por culpa das normas que tinha imposto outra pessoa — Tem que ter outra forma de solucionar o problema.

—Não há. Sim, adoraria golpear aquele homem. Talvez um soco bem dirigido no peito apagar-lhe-ia essa

expressão altiva da cara. —Sempre há mais alternativas. —Desta vez não. Não para este problema. Sua irmã, melhor dizendo, seu cunhado, o marquês,

não me deixará abandonar esta sala sem uma proposta —Então faça. Eu não aceitarei. —Senhorita Peterson, você… —Faça a pergunta, senhor. Parks apertou os dentes com tanta força que os músculos de seu queixo se esticaram. Olhou

para ela e ela devolveu o olhar. —Oh, muito bem. Senhorita Peterson, faria-me a honra, a maior honra, de me conceder sua mão

em casamento? —Não. —Não pode me dizer que não. —Acabei de fazer isso. Você tem algum problema de audição? Preciso repetir Não. Aí tem. Não

é uma palavra difícil de entender. —Senhorita Peterson… A porta abriu de repente. —Bem. — disse Emma — Quando é o casamento?

Capitulo Quatro

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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—Não posso acreditar que você recusou o pedido do senhor Parker-Roth, Meg. — Emma

começou no momento em que a porta da carruagem se fechou atrás dela. — Você perdeu a cabeça? Quer jogar pela janela todas suas esperanças de se casar?

Meg colocou as saias sobre o assento da carruagem. Não queria estar ali. Se tivesse podido acompanhar lady Beatrice, teria feito, mas Emma tinha enganchado o braço no dela e a puxado até a carruagem dos Knightsdale.

—Não pode culpar o senhor Parker-Roth pela cena do jardim, Emma. Não deve pagar com sua liberdade por ter sido um bom samaritano.

—Ora! O jardim não tem nada a ver com isto. Se o que a senhora Parker-Roth e lady Beatrice me insinuaram se aproxima, embora só seja o mínimo, da verdade, o que esse homem estava exercendo no salão de lady Palmerson não era caridade. Deus, até meus próprios olhos podem me dizer isso. Estava sentada em seu colo, Meg. Meio despida.

Meg sentiu que suas faces estavam tão vermelhas como a horrível tapeçaria da poltrona na qual ela e Parks…

Não, não podia pensar nisso. Olhou pelo janela. —Tenho que concordar com sua irmã, Meg. — pelo menos a voz de Charles soava calma — E

acho que o senhor Parker-Roth também. Parecia totalmente disposto a ser casar com você. Nem sequer foi preciso insistir.

Meg deu de ombros. —Disposto sim, mas não feliz. —Meg, pelo Amor de Deus! — Emma estava quase gritando — O homem apenas a conhece.

Claro que não estava feliz. Ninguém, sobre tudo um homem, não gosta de ser forçado a se casar, mesmo que seja as suas ações responsáveis pela situação. Ele vai superar. — deu de ombros — Não terá mais remédio.

Maravilhoso. Que vida de casada tão excitante, ao lado de um homem que a tolerava com muita dificuldade! Não que esse tipo de casamento fosse incomum, é claro. A maioria dos cavalheiros da sociedade só procurava a suas esposas na hora de atender o dever de conceber um herdeiro… E Parks nem sequer tinha essa necessidade. Talvez poderiam viver juntos como irmãos.

Ela sufocou um soluço. —Você disse alguma coisa, Meg? —Não. E, sim, deu-se conta de que esteve considerando esse tipo de casamento no momento em que

resolveu se casar, sobre tudo enquanto sopesava Bennington como candidato. Mas isto era diferente.

E se negava a reconhecer por que exatamente era diferente. Ela apoiou a cabeça na janela e viu um homem que caminhava por um caminho. Ia mais rápido

que sua carruagem. Se pudesse sair e esticar as pernas… Se pudesse se livrar dessa conversa… Não poderia escapar de Emma até que chegassem à mansão Knightsdale, se é que podia escapar

dela então. Suspirou. Provavelmente Emma a seguiria até seu quarto para continuar sua arenga. E por que iam para a casa de Charles? —Todas as minhas coisas estão na casa de lady Beatrice, Emma. Acho que será melhor que eu

volte para lá.

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—Não. Definitivamente, não. E seus pertences já não estão na casa de lady Beatrice. Assim que cheguei, fiz com que Charles enviasse um criado para recolhê-las. Agora já estou aqui e posso me encarregar dos trabalhos de acompanhante.

E por que Emma veio para a cidade? Sua irmã odiava Londres e preferia ficar em sua casa em Kent, mesmo quando Charles ia à capital a atender assuntos na Câmara dos Lordes.

—Por que veio, Emma? Acho que disse que o ar do campo era muito melhor para os meninos. —E ainda é, mas não podia continuar sentada em minha casa escutando esses relatos chocantes

sobre seu comportamento. — Emma parou, esforçando-se claramente para refrear seu gênio — Deveria ter vindo com você desde o princípio da Temporada e não delegar minhas funções a lady Beatrice. Obviamente isso era pedir muito.

Meg sentiu um nó na garganta. —O quê você quer dizer? Será que alguém saiu por aí contando histórias? —Foi mais de um alguém, senhorita. Recebi cartas de lady Oldston que faziam insinuações e

uma missiva alarmante de lady Farley que, aliás, não acredita que você seja absolutamente adequada para o filho dela. Eu acho que se tornou um hábito seu desaparecer entre os arbustos com os homens. Com quantos cavalheiros se divertiu entre os arbustos, Meg?

—Bom… — dito dessa forma parecia algo sórdido — Não era exatamente… Quero dizer… —Eu achei que você gostava de Parker-Roth — disse Charles — Você não mencionou sobre ele o

ano passado? —Sobre quem? —Sobre Parker-Roth. Ele não estava na festa em casa de Tynweith? Estou seguro de que você ou

a tia Beatrice o mencionaram, falando favoravelmente, em alguma de suas cartas. —Tenho certeza de que não fui eu quem escreveu sobre ele. — tinha tomado cuidado de não

mencionar Parks. Sim, ficou deslumbrada com ele como uma tola. Bom, não era estranho. Não se encontra todos os dias um homem com quem se possa analisar Apontamentos de teoria e prática de arquitetura paisagista, a obra de Repton, e obter opiniões inteligentes ou obter algum tema, seja ela qual for.

Ela tinha esperado estupidamente que ele mostrasse algum interesse nela quando ambos voltaram para Londres, mas ele assistiu o casamento de Robbie e Lizzie e depois desapareceu. Ela o procurou em todas as festas, os bailes e cafés da manhã. Finalmente, depois de semanas de discretas pesquisas, perguntou a Robbie por ele, e este lhe disse que Parks tinha voltado para sua casa em Devon.

Era óbvio que ele não ficou tão impressionado com ela quanto ela por ele. —Tem razão, Charles. Eu acho que foi lady Beatrice quem mencionou senhor Parker-Roth. Acho

que chegou inclusive a dizer que você gostava dele, Meg. —Hã? Eu não sei… — Assim que me recuperei do choque, e você tem que admitir que a cena do salão Lady

Palmerston foi bastante impressionante, — Emma olhou para o xale que Meg ainda usava sobre seu vestido esfarrapado — comecei a ver as vantagens desta união.

—Vantagens? —Sim. Primeiro, você estaria casada. O senhor Parker-Roth é relativamente jovem, trinta e

poucos, acredito, e pode dar-lhes muitos filhos. Tem muitos irmãos e irmãs, sabe? —Oh. —Meg engoliu em seco. Filhos? Com Parks? A só ideia a fazia sentir muito… estranha. —Não está mal. E ele gosta de plantas. Sua mãe diz que tem muitas em sua propriedade. —Ah.

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—Eu acho que ele é perfeito para você. — Emma se apoiou nas almofadas — Sua mãe e eu tivemos um bate-papo muito amigável enquanto esperávamos no corredor. É uma mulher encantadora. Pode ter certeza de que me desculpei muito pelo meu comportamento e ela não podia ter-se comportado melhor… Disse que compreendia perfeitamente. Eu gostarei de ter parentesco com ela.

—Emma, não vai ter nenhum parentesco com a senhora Parker-Roth. Não vou me casar com seu filho, quantas vezes tenho que dizer?

—Quantas vezes quiser, isso não vai mudar nada. Tem que se casar com esse homem ou sua reputação ficará arruinada.

—Eu não o farei. —Meg… —Senhoras, — disse Charles — é hora de dar uma trégua nesta batalha. Nenhuma das duas está

escutando à outra. —O que você quer dizer, Charles? É obvio que estou escutando Meg. Ela que não está sendo

razoável. Charles passou o braço pelos ombros de Emma e a puxou para aproximá-la para si. —Acho melhor as duas irem dormir. Às vezes os problemas parecem diferentes pela manhã. —Não sei o quê vou ver de forma diferente. —Emma… —Oh, está bem. — Emma se sentou rígida por um momento e então relaxou sobre o corpo de

Charles. —Isso está melhor. — disse — Agora me fale de Isabelle, Claire e os meninos. Que travessuras

anda fazendo agora Henry? Meg virou para continuar olhando pela janela. A voz da Emma ficou de fundo enquanto falava

de seu filho Henry, de dezenove meses, de Charlie, que tinha quase três anos e de Isabelle e Claire, as sobrinhas órfãs de Charles. Ela estava contando-lhe todos os aborrecidos detalhes cotidianos de suas vidas que ele perdeu enquanto estava em Londres.

Meg pressionou a testa contra o vidro, mas isso não conseguiu curar a dor súbita em coração. Será que alguma vez ela teria alguém com quem compartilhar esse tipo de histórias banais?

***

—Estas são esplêndidas notícias, Pinky. Eu gostaria que seu pai estivesse aqui conosco. Ficará

encantado quando contarmos. —Mãe, você prometeu que não usaria esse nome ridículo — Parks abriu a porta que dava para

seus quartos no Hotel Pulteney — E não posso acreditar que o pai se importe se eu me caso ou não. Coisa que, de todas formas, não farei. Me casar, quero dizer. Você não ouviu a senhorita Peterson? Ela recusou minha proposta.

Sua mãe passou junto a ele roçando-o. —Oh, tolices! Isso só é uma negativa momentânea. Você sabe tão bem como eu que a garota não

tem outra escolha. Ela tem que se casar com você. —Quem tem que se casar com quem? — a senhorita Agatha Witherspoon, amiga, às vezes

companheira de sua mãe, olhou para cima quando eles entraram na sala. Afastou o livro que lia, baixou os pés que estava sobre uma mesinha baixa e se ajeitou na cadeira — Não me diga que Pinky se colocou sob as saias de alguma mocinha…

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—Oh, claro que não. Bom, não exatamente. — sua mãe sentou-se junto à Agatha no sofá. Parks contou até dez. Duas vezes. Não era de grande ajuda. —Poderiam, por favor, deixar de utilizar esse nominho infernal? —Pinky! Ele olhou fixamente para sua mãe. —Oh, bem… Johnny. Mas tem que aprender a controlar seu gênio. Não é nada apropriado

levantar a voz. Agatha sorria como se estivesse louca. —Assim que esta vinha velha e seca parece ter um pouco de seiva correndo pelas veias… —Agatha, por favor. Está envergonhando Pinky. —Mãe! —Johnny, quero dizer. Ele não é tão velho… Só tem trinta e um. —Pois age como se fosse tão velho como Matusalém. — soprou Agatha — Ou mais. Se

Matusalém foi como o resto dos homens do Antigo Testamento, sabia como levar alguém para a cama muito melhor que Pinky aqui.

—Mas Agatha, Pinky, — ele olhou para sua mãe — quero dizer, Johnny tem a uma bonita viúva no povo…

—Mãe! —Por favor Pin… Johnny, já disse para levantar a voz? Ele ia estrangulá-la. Ia estrangular sua mãe e a sua velha amiga. —Acho que vou tomar um brandy. — disse. —Esplêndido. Me sirva um copo também. Agatha, gostaria de um brandy? —É obvio. Mas me conta tudo, Cecilia. No que se meteu Pinky? —John! — disse Parks — Ou Parks. Ou senhor Parker-Roth. Nada de Pinky, você compreendeu,

senhorita Witherspoon? Agatha deu de ombros. —Oh, muito bem, mas tenho que lhe dizer que não tem senso de humor, senhor. É uma falha

muito importante de seu caráter. Ele entregou o copo de brandy a Agatha sem derramar sobre a ridícula túnica masculina

carmesim e dourada que ela vestia, embora ficou tentado a isso. —Obrigado. Tenha certeza de que levarei em conta sua observação. Ela revirou os olhos. —Eu sinto pela jovenzinha que o colocou em um compromisso. Embora possivelmente ela seja

tão séria quanto você. Ele se contentou em mostrar os dentes em um gesto que podia passar por um sorriso e sentou

no sofá que estava mais afastado das duas damas. —De qualquer forma, Agatha, o que você está fazendo acordada? — perguntou-lhe sua mãe —

Acreditei que estava muito cansada para sair esta noite. Esperava encontrá-la profundamente adormecida.

Agatha bebeu um grande gole de brandy. —Você sabe que só vim à cidade contigo para visitar o Ackermann e a Royal Academy e,

possivelmente para ir ao teatro uma vez, Cecilia. Não quero ter nada que ver com essa tortura social. O que acha que eu ia fazer plantada em um estúpido salão de baile? Morreria de aborrecimento escutando a retórica de todas essas velhas dando voltas uma e outra vez para as fofocas da sociedade. — olhou a Parks — Embora esta noite poderia ter sido uma exceção. Me diga,

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Pinky… Quero dizer, John… quem é a jovem dama que você induziu a comportar-se de forma inadequada ?

—Eu não induzi essa jovem a se comportar de forma inadequada. —Não? E por que não me surpreende? O quê foi que aconteceu? Alguma discussão sobre a flora

que ficou feia? —Deixa-o, Agatha. Você é tão má como Pin… Johnny. Não, eu acho que o indutor foi a jovem e

não a Johnny a quem pretendia encorajar, mas sim o viz... outro homem. Graças a Deus que sua mãe optou pela discrição no último momento. Agatha obviamente não

era uma das fofoqueiros da sociedade, mas tampouco tinha por costume morder a língua. Não se importaria absolutamente ir por aí e soltar na mesma conversa os nomes da senhorita Peterson e de Bennington. De fato, provavelmente estaria encantada de fazê-lo, já que sabia quanto eles se odiavam.

—E por que foi John quem se viu obrigado a fazer a proposta? —Porque foi com ele com quem a pegaram, digamos, em plena ação. —Mãe, não houve nenhuma «ação»! —Talvez não quando lady Dunlee os viu, mas… Sua mãe levantou uma sobrancelha asquerosamente expressiva. Agatha grunhiu. —Parece que a garota não é tão boa como deveria. Talvez algum dinheiro entregue de forma

criteriosamente possa corrigir o problema. Quem você disse que era, Cecilia? —Eu não disse, mas não é nenhum segredo. Lady Dunlee estava espalhando a história pelo

salão de baile tão rapidamente como permitiam seus lábios. Trata-se da Margaret Peterson… E não, o dinheiro não é a solução. A garota é da boa sociedade: sua irmã é a marquesa de Knightsdale.

—Knightsdale? — Agatha se ergueu um pouco em sua cadeira — Eles são parte da família Draysmith. Lady Beatrice é minha amiga.

—Ela estava ali e acho que estava acompanhando a senhorita Peterson. Agatha salpicou parte do brandy sobre sua túnica. —Lady Beatrice, acompanhante? Isso sim é bom. E que tolo pensou que Beatrice podia exercer

tal papel? Nunca foi uma pessoa que se preocupasse muito pelo que é apropriado ou não. Alton continua sendo seu mordomo?

—Sim. Bom, acho que ninguém pensou que lady Beatrice fosse ideal para a tarefa, mas a necessidade obrigou a adotar esse acerto. — sua mãe tomou um gole de brandy — Mas agora lady Knightsdale tem intenção de se encarregar do assunto. Embora agora seja um pouco tarde, é como fechar a porta do estábulo depois que o cavalo já fugiu.

—Mãe, não fugiu nenhum cavalo. Não aconteceu nada. —Nada? Maldição. Sua mãe só tinha que arquear a sobrancelha dessa forma para fazê-lo sentir como

quando tinha dez anos e enchia o vestíbulo de pegadas de barro. Não que sua mãe se importasse com o barro absolutamente, mas isso fazia com que a senhora Charing, a velha governanta, ficasse histérica e isso era o que sua mãe não gostava.

—Eu vou para a cama. —Muito bem, Johnny. Durma bem. Podemos continuar falando disto pela manhã. Não havia nada mais a dizer, especialmente com Agatha Witherspoon sentada ali, desejando

unir-se à discussão.

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Não podia obrigar à senhorita Peterson ir ao altar. Se ela permanecesse firme não havia nada que ele pudesse fazer exceto voltar para o Priorado e seguir com sua vida.

Ele ficou surpreso que essa ideia não produziu uma maior sensação de prazer. Quando entrou em seu quarto, seu criado estava sentado junto ao fogo, lendo. —Deveria ter se juntado a Agatha, Mac. —Sim, claro. Então o que foi que fiz para que tenha chegado à estúpida conclusão que me tornei

idiota, moço? — o enorme escocês sorriu — E tampouco acho que a senhora ficasse muito contente de compartilhar uma noite comigo.

—Provavelmente não. O quê você está lendo? O sorriso do Mac aumentou. Ele levantou uma brochura. Parks entreabriu os olhos para ler o título da capa. Guia completo das prostitutas do Covent Garden:

preços, locais de trabalho e habilidades amorosas especiais. Santo Deus. —«Habilidades amorosas especiais»? O que querem dizer com isso? —Você realmente quer saber? —Não! — o brilho nos olhos do Mac o advertiu de que definitivamente não queria ouvir mais. —Tem certeza? Não quer ouvir falar de Peggy, a ruiva? Por certo, não é o cabelo da cabeça o que

tem ruivo… Com a boca pode… —Basta! Eu não quero ouvir nenhuma palavra mais, eu garanto. Já disse muito. —E há uma Bess, a roliça, que é a mais… —Mac! Por favor. Eu tive uma noite infernal. Não preciso que piore minha dor de cabeça. —Ah, está dor de cabeça de novo? Quer que eu faça um dos meus chás especiais? —Não. — só queria se enfiar na cama e fingir que tudo aconteceu naquela noite não aconteceu

nunca, e que pela manhã levantaria como um homem livre de novo. Embora o certo é que era um homem livre. A senhorita Peterson tinha recusado sua proposta. E por que então não se sentia livre? —Só me ajude a sair deste maldito casaco. —Tem certeza de que não quer dar uma volta pelo Covent Garden e tentar encontrar algumas

destas senhoritas? —Oh, Deus, não! Tudo o que podemos encontrar ali é uma infecção de sífilis. —Não sei, Johnny. O homem que escreveu este guia parecia muito entusiasmado. Embora

também inclui um anúncio das pílulas especiais do Doutor Bailow, assim não sei se pode confiar completamente em suas recomendações. Além disso, você não vem muito frequentemente à cidade, você sabe. Temos que sair para ver as atrações do lugar, você não acha? —Mac o ajudou a tirar o casaco e se afastou para pendurá-lo.

—Creia em mim, hoje não quero ver nenhuma «atração» mais. Voltaria para o Priorado amanhã se pudesse.

A voz de Mac soou abafada dentro do armário. —Normalmente você não está tão ansioso por voltar para casa, Johnny. O quê aconteceu? —Talvez eu tenha conseguido uma esposa. —O quê? — Mac virou de repente e bateu a cabeça contra a porta do armário — Demônios…

Agora eu também tenho uma dor de cabeça igual a sua.

*** —Onde está a senhorita Peterson, Bea? — Alton, o mordomo de lady Beatrice, olhou para fora,

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noite adentro — Você não a perdeu? Lady Bea suspirou e passou por ele para entrar no vestíbulo. —Não exatamente. —Não exatamente. O que quer dizer? Ela estendeu-lhe a capa. —Vamos subir, Billy. Vou lhe contar tudo. — Segurou seu braço enquanto caminhavam para

seu dormitório. —Deus, como é está em casa. — Bea afundou em um sofá — Não sei quantas reuniões sociais

mais vou poder suportar. —Foi tão mal ? — Alton serviu brandy para os dois. —Sim — disse ela dando tapinhas no assento ao lado dela — Venha e me dê um abraço. Alton passou-lhe o brandy e sentou a seu lado. Ela apoiou a cabeça em seu ombro. —Miau! — Rainha Bess, o enorme gato ruivo de Bea deu um salto e se aconchegou sobre as

calças de Alton. Bea riu. —Sentiu minha falta, Bess? —Sua Alteza sempre sente sua falta, Bea. —Isso é o que você diz, mas eu não acredito. Bess se contenta perfeitamente com sua

companhia. Viu o colo de quem prefere? —É que ultimamente passou muito tempo comigo. — ele enterrou os dedos na espessa pelagem

que Bess tinha atrás das orelhas. Sua Alteza fechou os olhos e ronronou. —Isso é porque eu me passei muitas horas trotando de um salão de baile a outro. — Bea revirou

os olhos — Já disse a você como a sociedade é estúpida ? —Acho que na verdade fez essa observação uma ou duas vezes antes. —Eu repeti até aborrecer, verdade? Alton a beijou no cocuruto. —Bea, você nunca poderia ser aborrecida. Bea riu. —Pois você deve ser o único que pensa assim. Alton olhou para seu colorido traje, mas sabiamente decidiu não dizer nada. Bea acariciou as orelhas da rainha Bess. —Bom, as boas notícias são que já não terei que continuar com minha tarefa de acompanhante. —Ora! — Alton deixou que Bess se conformasse com cuidados de Bea e ele passou a acariciar

os cachos dela — Parece que se livrou dessa carga. Será que as harpias da sociedade fizeram pedacinhos da senhorita Peterson e dispersaram as partes sobre o chão do salão de baile?

Bea soltou uma gargalhada. —Não, isso não, mas ela conseguiu montar um escândalo monumental esta noite. Humm…

Continua fazendo isso… —Isto? — Alton estava lha massageando a nuca — Ou isto? —Agora se inclinou para a frente e

beijou a zona sensível que tinha sob a orelha. Bess miou e passou para colo de Bea. —As duas coisas. — Bea inclinou a cabeça para lhe deixar mais espaço para explorar. Ele fez por

vários agradáveis minutos. Quando chegou a seus lábios, beijou-os e se afastou. —Então, onde está a senhorita Peterson? Bea suspirou. —Emma a levou para a mansão Knightsdale. —Ah, sim. Um criado veio antes procurar suas coisas. Mas acreditava que a marquesa estava em

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Kent. —Ela estava até que ouviu os rumores sobre Meg e sua propensão a desaparecer entre os

arbustos. Alton assentiu. —Eu sabia que as ações da senhorita Peterson não levariam a nada bom. Bea se ergueu e o olhou. —Você esta dizendo que já havia me dito, Alton? — Ele a puxou de volta para que se apoiasse

nele. —É claro que eu disse. Sou um velho aborrecido, lembra? Antecipar o desastre é um dos

requisitos de meu trabalho. Bea riu entre dentes —É verdade. —Emma ficou furiosa? —Muito. E não ajudou que chegasse justo no momento em que Lady Dunlee estava contando a

todo mundo que acabava de ver Meg meio nua com um homem entre os arbustos. —Eu achei que a garota era um pouco mais discreta. —E é… ou foi. Havia uma razão pela qual permiti que continuasse com essa conduta. Já tem

vinte e um anos, depois de tudo. É normal que tenha certa curiosidade, por mais que Emma se empenhe em negá-lo. — sorriu Bea — Meg não teve a sorte de conhecer um criado especialmente experiente, claro.

—Mas, Bea, você sabe, foi você que me seduziu. Eu era um jovenzinho ingênuo quando você me levou ao sótão de seu pai.

— Foi isso? Não que eu soubesse muito mais que você… Simplesmente sabia o que queria. — beijou-o na face — E eu diria que temos nos dado muito bem.

Alton grunhiu. Bess miou se queixando. —Shhhh, Alteza. — Bess empurrou a mão de Bea com a cabeça — Sim, sim. Já lhe acaricio as

orelhas, Bessie. —E quem era o homem que a senhorita Peterson estava entretendo entre a vegetação? A mão de Bea parou um momento e Rainha Bess voltou a queixar-se. Bea seguiu com suas

carícias. —Bennington —Bennington? —Sim. Não sei no que Meg estava pensando. Esse homem é tão excitante e tão atraente quanto

as sobras do cordeiro depois de uma semana. —Mas tem uma extensa coleção de plantas. —Plantas! —Miiiiiau! — Rainha Bess protestou com a estridente reação de Bea. —Shhhh, Bessie. — Bea deslizou sua mão das orelhas até a cauda de Sua Alteza e suspirou —

Acho que tem razão, Billy. Isso deve ser o que atraiu Meg. — ela franziu a testa enquanto sua mão se movia metodicamente sobre as costas de Bess — Bem, pode ter certeza, se eu tivesse visto ela escapulir-se na escuridão com ele, eu teria saído atrás dela no mesmo instante.

—É claro. Assim ela está comprometida com o visconde? —Não, não, graças a Deus. Parker-Roth os descobriu. Despachou Bennington antes que lady

Dunlee entrasse em cena. Para infelicidade dele, a mulher assumiu que foi que deslocou as roupas

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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de Meg e decidiu compartilhar o que viu com meia sociedade. —E o senhor Parker-Roth está furioso porque tem que pagar com sua liberdade por uma boa

ação… — acrescentou Alton — É compreensível. O homem era inocente do delito, depois de tudo. Bea soprou. Bess bufou e desceu de seu colo para retirar-se para uma poltrona próxima. —Talvez fosse inocente pelo que aconteceu no jardim. Mas era tudo menos inocente pelo o que

aconteceu no salão de lady Palmerson. —Sério? Assim não se opõe a se casar com Meg? — Alton começou a tirar as presilhas do cabelo

de Bea. —Oh, contrário se mostra. Já sabe que os homens odeiam que os obriguem. —Eu não tenho nem ideia do que você quer dizer. Bea revirou os olhos e virou para desatar seu lenço. —Mas a idiota da Meg recusou sua proposta. Ela também pode ser extremamente teimosa. —

ele pegou o lenço do pescoço e o deixou cair no chão — eu adoraria ver esta batalha… mas não o suficiente para permanecer na cidade.

As mãos de Alton pararam como congeladas. —Você tem planos de deixar Londres? —Tão logo possa. Ele se acomodou no banco. —Eu vou sentir sua falta. — seu rosto permaneceu impassível como só podia fazer um bom

mordomo — Para aonde irá? —Para o continente… com você, tolo. Vamos nos casar por fim. —Nos casar? — Alton franziu a testa — Bea… —Shhhh. — pondo-lhe o dedo sobre os lábios — Não quero ouvir todos seus argumentos. Os

repetiu durante anos e continuo sem ficar impressionada. Prometeu que se casaria comigo quando os assuntos de Meg estivessem solucionados. Agora estão próximos de serem solucionados. Já não precisam de mim aqui… Na verdade, me liberaram das minhas funções. Sou, depois de todos estes anos, livre para seguir os ditames de meu coração, e isso é o que pretendo fazer.

—Continuo pensando que não… —Não pense. Vou casar me com você, senhor William Alton, assim coloque essa ideia em sua

dura cabeça. —Mas… Bea cobriu a boca de Alton com a sua finalizando assim a discussão, mas começando com isso

uma troca muito mais interessante.

***

—Charles, estou preocupada com Meg. —Eu sei que está, querida. Vi você percorrer o dormitório de um lado a outro durante os

últimos cinco minutos. Emma parou junto ao fogo e olhou as chamas. —O que é que lhe deu? Nunca pensei que pudesse ser tão inconsciente para se enfiar entre os

arbustos com um homem. Não é uma debutante. Já tem vinte e um anos. Esta é sua segunda Temporada. Qualquer um pensaria que tem mais juízo.

Charles grunhiu. Emma revolveu as brasas.

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—Tinha que ter vindo antes para a cidade, sei que devia. Pensei quando recebi a carta de lady Olston, mas esta saindo um dente de Henry e já sabe como fica quando saem os dentes; não quer saber da babá. Acho que passei duas noites acordada com ele.

Charles voltou a grunhir. —Para ser sincera, assumi que lady Olston simplesmente estava com ciúmes. Mas então chegou

a nota de lady Farley. — voltou-se para Charles — Pode acreditar que lady Farley disse que não se podia esperar menos de Meg? Fiquei furiosa. Queria vir a Londres e apertar seu esquelético e enrugado pescoço com minhas mãos. — exalou um curto suspiro — E finalmente me escreveu Sarah. Sei que…

Emma olhou intensamente para Charles. Estava sentado na cama, apoiado na cabeceira da cama e com as mantas cobrindo-lhe até a cintura. A luz da vela tremulavam sobre a ampla extensão de pele: o pescoço forte, os largos ombros, os braços musculosos e o peito salpicado de cachos castanho claro que descia, até seu…

—Você está nu? Ele sorriu e olhou debaixo da roupa de cama. —Parece que sim. Você quer ver por si mesma? De repente sim queria… Realmente queria. Fazia quase dois meses desde a última vez sentiu o

peso dele sobre ela. O corpo doía de desejo por ele. Respirou fundo. —Está tentando me distrair. —Não, eu estou tentando seduzi-la, exortá-la a vir para a cama comigo para que eu possa beijar

cada centímetro de seu corpo e me afundar em seu calor. Ela segurou nas costas poltrona mais próxima com força. Os joelhos ameaçavam falhar. Tentou se concentrar em algo que não fossem seus sensíveis seios e o batimento que surgia entre

suas pernas. —Por que não me escreveu para me contar sobre Meg, Charles? Se Sarah se deu conta, você

também deveria… Ou pelo menos Sarah devia dizer a James e ele mencionar isso a você. —Mas não fez. — Charles deu de ombros e Emma observou como seus músculos mudavam de

posição. Meg. Tinha que pensar em Meg. —E como James pôde não dizer nada? E como você não percebeu o que estava acontecendo? —Emma, porque eu não tenho costume de ir a bailes ou a outros eventos sociais. Eu não gosto

de ouvir o bate-papo tolo típico desses lugares. E tampouco tenho nenhuma necessidade de frequentá-los para ver a última colheita de jovenzinhas.

Ela se ergueu. —Espero que não. — não gostava de pensar em Charles olhando para outras mulheres. Nem

que outras mulheres olhassem para Charles. Ele sorriu um pouco. —Vou à Câmara dos Lordes, ao White's, a reuniões com homens de ideias iguais as minhas.

Volto para casa, leio… e sinto falta de você, dos meninos, de Isabelle e Claire. —Oh. —Além disso, como você bem disse, Meg não é uma debutante. Já sobreviveu à passada

Temporada com tia Beatrice. Não pensei que tivesse que me preocupar com ela. Emma suspirou. —Nem eu tampouco, mas obviamente me enganei. O que eu vou fazer? —Venha para a cama. Você já alimentou Henry?

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—Sim. Deve aguentar toda a noite. — sorriu — É um pequeno demônio glutão. —Igual ao seu pai. Eu senti muitíssimo sua falta, sabe? —Tanto como eu senti a sua falta. Aproximou-se e subiu na cama. Charles estendeu o braço e ela descansou a cabeça contra seu

ombro e a mão em seu peito. Ele apertou-a contra si. Ele era grande e sólido. Acostumou-se a dormir sozinha quando ele estava em Londres, mas

preferia ter seu corpo junto ao dele. Fechou os olhos um momento enquanto absorvia seu aroma, seu calor e sua força.

Queria isso para sua irmã, essa conexão, esse amor. Encontraria-o Meg em Parker-Roth? Como poderia? O escândalo não estava acostumado a fazer bons casamentos.

Charles começou a acariciar-lhe o quadril, recordando-lhe as outras razões pelas quais sentiu falta dele.

—Deveria ter vindo para cidade quando recebi a primeira carta, de lady Olston. — deslizou os dedos sobre o pelo curto e encaracolado de seu peito — Eu deveria ter sido a acompanhante de Meg em vez de lady Beatrice.

Charles se moveu para erguer sobre um ombro. Começou a soltar-lhe a camisola. —Emma, você tem filhos para cuidar. Sabe que eles estão mais felizes no campo. —Sim. — era uma sensação tão agradável sentir seus dedos roçando sua pele… E sabia que sua

boca produziria uma sensação ainda mais agradável — Talvez me engane. Talvez os meninos estariam bem em Londres, assim não teríamos que ficar separados tanto tempo.

Ele sorriu, olhando-a. —Bom, eu gosto de tê-la aqui. E ela gostaria de estar ali se pudesse passar todo o tempo na cama com ele. Passou a mão por

seus ombros e o peito. Sentiu sua ereção forte contra sua perna e seu corpo voltou para a vida. O calor e a umidade surgiram entre suas coxas. Recordou tão claramente a sensação que tinha quando ele se deslizava em seu interior que foi quase doloroso.

A necessidade e um urgente vazio começaram a crescer em seu ventre. Ele beijou-lhe as pálpebras. —Mas Londres não é um bom lugar para criar filhos. É muito sujo e barulhento. E se tivesse que

ir com Meg a todos os acontecimentos sociais, sempre estaria cansada. —Sim, mas… Oh. — Charles as mãos sobre seus seios. Agora queria sua língua e seus lábios no

mesmo lugar. —Meg não é uma menina tola, Emma. Já tem vinte e um anos, é sua segunda Temporada e é

independente e decidida. É mais do que capaz de tomar suas próprias decisões. —Você não entende… Charles lhe pôs um dedo sobre os lábios. —Eu entendo que tem a necessidade de assumir a responsabilidade da vida de muita gente.

Deixe que Meg viva a sua própria. Você tem Charlie, Henry, Isabelle e Claire para cuidar. Não é o suficiente?

—Sim, mas… —Uma parte do amor é deixar que se vão, querida. Já é hora de deixar Meg ir. Como Robbie me

disse, Parks é um bom homem. Podia ter sido muito pior. Teria sido muito pior se a tivessem encontrado com Bennington.

O que Charles dizia soava muito razoável. —Talvez tenha razão.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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—Claro que eu tenho razão. Sempre tenho razão. Ela empurrou seu peito. —Não, isso não é verdade. Ele cobriu sua mão com a sua e sorriu. —Ah, não? Bom, acho que tenho razão ao dizer que é o momento de parar de falar de Meg. —Bom… — ela estremeceu quando a mão dele roçou de novo seus seios. —E também tenho razão ao opinar que esta camisola está atrapalhando muito. Quero ter esse

seu precioso corpo sob o meu. Começou a puxar para cima a camisola. Ela levantou os quadris para ajudá-lo e então se ergueu

para tirar a camisola pela cabeça. Lançou-a para as sombras que havia além da cama. —Lorde Knightsdale, não tenho nenhuma intenção de discutir isso.

Capítulo Cinco Deus, tinha que urinar. O visconde Bennington se ergueu com esforço até sentar-se. Pulsava-lhe a cabeça, doía-lhe o

queixo e podia sentir todos e cada um dos malditos arranhões produto de seu encontro com o azevinho dos Palmerson.

Estava na casa de lorde Needham. Sentia-se terrível. Deixou cair sua dolorida cabeça entre as mãos. Quantas garrafas de vinho do Porto tomou

ontem à noite? Ou foi essa mesma manhã? Sua boca era como o fundo de um celeiro. Ele deveria ter ido casa depois da cena do jardim. E teria se não tivesse topado diretamente com

Claxton na saída, que, por seu aspecto, quis saber o que lhe aconteceu; parecia como se tivesse sido assaltado.

E foi o que aconteceu. Maldito Parker-Roth. O canalha não deu nenhum sinal, lançou-se sobre ele por trás sem prévio aviso. Não teve a possibilidade de se defender.

Mas que podia esperar de um monte de esterco de cavalo como Parker-Roth? Lorde Peter emitiu um forte ronco de uma poltrona próxima. Bennington considerou a ideia de

meter um seu lenço em sua boca. No entanto o tecido já não tinha salvação porque estava coberto de sangue.

Na verdade, a culpa do que aconteceu no jardim foi completamente da senhorita Peterson. Foi ela quem o incentivou a meter-se entre os arbustos. Não que ele não soubesse o que ela procurava, claro. Não era nenhum segredo. Passou muito tempo passando de mão em mão entre os homens da sociedade. Ele pelo menos tinha-lhe proposto casamento.

Ele bufou. Não era mais que uma mulher ligeira de cascos. Seria melhor ficar longe dela. Lorde Peter devia ser o homem que roncava mais alto de toda a Cristandade. Bennington pegou

uma caixa de rapé de uma mesinha próxima e a jogou. O Impacto contra seu ombro, não despertou, mas ao menos mudou de postura.

Maldição. A senhorita Peterson diria a Knightsdale o que ele fizera? Não tinha nem pingo de graça ter que explicar ao marquês que sua cunhada não era mais que uma puta como as do Haymarket, mas faria se fosse preciso. Só diria a verdade, afinal.

Diabos, onde estaria o maldito urinol? O normal seria que Needham tivesse vários à vista, dado o número de homens espalhado pelo quarto.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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Se levantou com dificuldade. Talvez Needham tivesse um banheiro próximo, mas ele não tinha tempo de andar por aí procurando e estava mais do que certo que não ia chegar até o exterior para poder se aliviar.

Não podia fazer isso na pequena palmeira que tinha em um vaso de barro… Teria que ser na horrorosa urna que havia junto à porta. Com certeza iria acabar enchendo-a até a borda.

***

Lady Felicity repousou a cabeça contra o vidro frio da janela e observou como o sol lutava para

quebrar a barreira de ar cheio de fuligem de Londres. Um tímido raio de luz tinha conseguido alcançar o jardim e iluminava a emaranhada vegetação.

Há muito tempo pensava que o jardim era excitante, um lugar de encontros infinitos. Agora parecia simplesmente negligenciado. Embora isso fosse normal. Todos os jardineiros tinham se demitido. Estavam cansados de ficar sem pagamento.

Fechou os olhos e pressionou a testa com mais força contra o vidro, engolindo o pânico que se tornou em seu companheiro constante. Quanto tempo passaria antes que toda a sociedade se inteirasse de que seu pai estava à beira da penúria?

Respirou fundo. Calma. Ela devia manter a calma. Talvez a sociedade demorasse alguns meses mais para se inteirar. Ela mesma não soube até duas

semanas atrás. Embora os sinais estivessem aí muito tempo antes, é obvio. Simplesmente ela não os tinha visto.

Inspirou de novo. Precisava sair dessa casa antes que seu pai caísse em desgraça por completo. Tinha que encontrar um marido enquanto ainda podia. Precisava… Maldição. Enxugou-se as estúpidas lágrimas que apareciam em seus olhos. Chorar não resolveria nada. O quê estava acontecendo? Nem sequer era a época do mês em que se desculpava por estar chorosa.

Separou-se da janela e seus olhos se posaram no lugar vazio onde antes ficava um pequeno gato de porcelana sobre a mesa. Fez um gesto de dor. Como podia ter sido tão estúpida? Ele precisou levar tudo isso para que ela se desse conta do que estava bem diante do nariz esse tempo todo.

Os criados se queixaram, mas seu pai nunca se preocupou em pagá-los a tempo e no final todos partiram. Tampouco pagava a qualquer fornecedor no momento. Continuava tendo seus bordéis e suas casas de jogo clandestino. Saía todas as noites. Como ela podia saber?

E um dia voltou para casa depois de uma festa na casa dos Amberson e descobriu que o gato de porcelana já não estava. Ficou olhando o espaço vazio, o círculo mais claro rodeado de poeira, e então notou todos os outros círculos vazios que havia. Foi diretamente a procurar do conde.

A princípio ele disse que a criada o tinha quebrado, mas ela percebeu a mentira em sua voz. Suas palavras foram muito melífluas… E a criada partiu há uma semana. Finalmente ele disse a verdade. Ele o tinha vendido.

Segurou o poste de sua cama com força. Por quê? Era só uma miserável peça de cerâmica. Só a tinha guardado porque pertencera a sua mãe. Tinha certeza que não tinham dado mais que um par de moedas por ele.

Quando lhe perguntou, ele deu de ombros e disse que sentia muito, mas que estava desesperado. Que tinha feito investimentos ruins, isso era tudo. Tudo passaria logo.

Mas agora que sabia que ele andava pelas casas de penhores, se deu conta de que não podia ter muitas esperanças nisso.

O quê ela ia fazer?

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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Casar. Um marido resolveria todos seus problemas. Foi uma estúpida desperdiçando quatro anos de sua vida correndo atrás do conde de Westbrooke.

Acabou-se. Tudo isso era como um cão perseguindo sua cauda. Sua inconsciente perseguição de Westbrooke estava no passado. Tinha que olhar para o futuro. E rápido. Certamente poderia encontrar um homem com quem se casar antes que a situação financeira de seu pai viesse a público. Não podia ser tão óbvio. Os membros da alta sociedade nunca pagavam suas contas a tempo e o conde continuava gastando como se tivesse muito a dispor.

Ela suspirou. Tinha celebrado outra de suas festas na noite anterior. Por que não podia entreter a ralé da alta sociedade em seus bordéis ou em suas casas de jogo clandestino em vez de sua casa?

Pelo menos foi uma festa só para homens. Jogaram às cartas e beberam até ficar bêbados. Houve alguns socos, mas essa comoção não era nada comparada com àquelas que se produziam quando acrescentavam algumas prostitutas à reunião. Sempre que celebrava alguma dessas festas, ela tinha que optar por sair armada com um alfinete comprido se decidisse aventurar-se a caminhar pelos corredores.

Os cavalheiros deveriam estar se levantando e abandonando a casa em poucas horas. Sentar-se-ia com um livro e leria até que todos se fossem. Com sorte, os refugos de sua visita não seriam muito desagradáveis de limpar.

Ela procurou um romance que estava lendo em sua mesa, junto a sua poltrona favorita. Não estava ali. Procurou pelo quarto. Tampouco estava junto a sua cama nem sobre sua mesa. Quando foi a última vez que o teve nas mãos?

Ah, agora se lembrava. Estava lendo-o no salão azul quando seu pai entrou com quatro ou cinco homens barulhento e um pouco bêbados. Tinha-lhe pedido que dissesse à cozinheira que preparasse um jantar tardio. Devia tê-lo deixado ali quando se levantou e saiu apressadamente para a cozinha.

Esfregou a testa. A cozinheira não ficou feliz. Tinha certeza que ia se demitir a qualquer momento. Não ajudava em nada que não a tivessem pago nos últimos tempos.

Olhou o relógio que havia sobre o suporte da lareira. Ainda não eram dez horas. Os homens continuariam dormindo. Poderia ir e recolher o livro sem ter que lutar com nenhum cavalheiro desagradável.

Desceu as escadas e diminuiu o passo quando se aproximou da porta do salão azul. A larga experiência tinha lhe ensinado a ser cautelosa.

Só ouviu roncos. Bem. Os homens ainda estavam adormecidos em consequências de sua farra. Se caminhasse com cuidado poderia recuperar seu livro sem que ninguém se desse conta.

Entrou pela porta e… Ficou congelada. Oh, Meu Deus. Nem todos os homens estavam dormindo. O visconde Bennington estava de pé alguns metros

dela, urinando na urna favorita da falecida e não pranteada tia avó Hermione. Maldição. Eles iriam perder outro criado por isso. Abriu a boca para dizer ao homem o que

pensava exatamente de sua ação. Mas então se fixou um pouco mais na ação. Impressionante… Muito impressionante. Nunca teria pensado que um homem tão baixo e tão

pouca coisa como aquele fosse tão… tão… impressionante. Aparentemente, o tamanho do nariz de um homem revelava o tamanho de outros atributos.

Lorde Bennington podia ser um excelente candidato para o casamento. Certamente estava bem equipado para realizar seus deveres conjugais.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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—Milorde… —O quê? O visconde se voltou de repente para ela. Por infelicidade não tinha terminado sua atividade

anterior. Ela se afastou. —Lady Felicity… Oh… Bennington atingiu à senhora Tadmon, a governanta dessa semana que passava por ali, de cheio

no corpete. Seu alcance foi bastante notável. Não precisou ouvir gritar a mulher para saber que logo estaria procurando alguém para ocupar

seu posto.

*** —Lady Isabelle, lady Claire e a senhorita Peterson, milady. Meg passou por Bentley, o mordomo do conde de Westbrooke. Não queria estar ali, mas

quando recebeu a nota de Lizzie essa manhã, soube que não poderia evitar. Lizzie era capaz de persegui-la até algum ato social para lhe surrupiar a informação que queria saber. Melhor ir vê-la agora, na privacidade da mansão Westbrooke. Com sorte a presença das meninas faria com que conversa não se tornasse muito desconfortável.

Claro que se estivesse comprometida, estaria desejando discutir com sua melhor amiga todos os detalhes.

—Obrigado, Bentley. — Lizzie baixou a carta que estava lendo — Vejo que trouxe as meninas, Meg. Que agradável de sua parte.

Lizzie arqueou ambas as sobrancelhas, dedicando a Meg um olhar muito mordaz. Meg tentou não ruborizar. Assim Lizzie se deu conta de seu subterfúgio… Bom, já sabia que seu plano era fraco.

—Bentley, poderia trazer para nossas hóspedes chá e biscoitos? Suponho que gostariam de um refresco, senhoritas.

—Sim, por favor. —Não, obrigada. Claire se adiantou para sentar junto ao Lizzie. —Não preste atenção em Isabelle, lady Westbrooke. Está praticando para estar perfeita em sua

postura. —Não é verdade. Ainda ficam quatro anos para minha posta de comprimento, Claire. —E já está pensando nela… Eu sei. — Claire revirou os olhos — Sempre está tentando parecer

muito melhor e muito mais velha. É como um rato quando um gato o olha: fica com medo se mover.

—Isso não é verdade! — o rosto de Isabelle ficou vermelho. —Sim é. — Claire sorriu para Lizzie — Eu adoraria algumas bolachas, lady Westbrooke. Sobre

tudo dessas que têm sementes de papoula. Acha que teria alguma na cozinha, lady Westbrooke? —Claire! — disse Isabelle — Não tem maneiras. O que diria Emma? —Ela diria que estou agindo exatamente como deveria. —Não diria isso. —Sim diria. —Meninas! — Meg teve vontade de revirar — Não briguem, por favor. —Sinto muito, tia Meg. Lady Westbrooke… É só que Claire… — Isabelle apertou os lábios,

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obviamente contendo algumas palavras que tinha vontades de dizer. —Perdão — disse Claire encolhendo de ombros e depois sorrindo para Lizzie — Gostaria de

tomar chá com biscoitos, lady Westbrooke, se não tiver problemas. Às vezes eu tenho tanta fome… Lizzie riu. —Sim, Vejo que está faminta. — levantou o olhar para o mordomo — Bentley, poderia verificar

se a cozinheira tem algum biscoito com sementes de papoula? —Claro, milady. Bentley se foi. Claire chamou a atenção de Lizzie dando-lhe tapinhas leves no joelho. —Onde está o bebê, lady Westbrooke? Eu gostaria de vê-lo. —Está lá em cima, em seu quarto, Claire, dormindo. A babá descera daqui a pouco; está quase

na hora de sua próxima refeição. — Lizzie se voltou para Isabelle — Mudou muito desde a última vez que a vi, Isabelle. Agora já parece uma jovem dama.

—Isso é porque lhe cresceram os seios, lady Westbrooke — disse Claire — Isso faz com que suas formas se pareçam diferentes.

O rosto de Isabelle ficou ainda mais vermelho, da cor de uma maçã muito madura. —Claire! Se soubesse de sua falta de decoro, não a teria trazido. — Meg franziu a testa. Sentiu uma onda de simpatia por Emma. Sabia que sua irmã amava suas sobrinhas tanto quanto

a seus filhos, mas criar uma menina de treze anos e outra de oito era algo muito complicado. Para ela parecia muito complicado nesse momento.

Claire cruzou os braços e projetou para fora o lábio inferior. —Não sei por que se incomoda tanto, tia Meg. Só estamos nós e somos todas mulheres. Não

teria dito se Lorde Westbrooke tivesse aqui. Isabelle está bastante orgulhosa de seus seios… Não faz mais do que estudá-los no espelho.

Isabelle emitiu uma exclamação estrangulada. —Claire, — disse Meg — você está piorando as coisas. Lizzie mordeu o lábio enquanto seus olhos dançavam. —É minha culpa por ter levantado o tema. Minhas desculpas, Isabelle. Já não me lembro de

como é ter treze anos, embora não tive a… sorte… de ter uma irmã. —Você teve muita sorte, lady Westbrooke. —Pode ser que tenha razão, Isabelle, mas eu queria desesperadamente ter uma irmã. — Lizzie

sorriu para Meg — Mas me arrumei bem com uma boa amiga. —As amigas são muito melhores que as irmãs. — Isabelle olhou para Claire. Claire mostrou a língua. —Não sei por que se zanga, Isabelle. À maioria das mulheres gostam de seus seios. E eu estou

desejando ter uns. —Ah, sim? — Meg sempre tinha pensado que Claire era bastante precoce, mas era muito jovem

para pensar nessas coisas. —É claro. Quero ter bebês e dar-lhes de comer como Emma faz com Henry. E vou precisar seios

para isso, não é? —Hã, bom, sim… Felizmente, Bentley voltou nesse momento. Claire pegou um bolinho antes que o mordomo

tivesse tempo de colocar a bandeja na mesa. —Claire, lady Westbrooke vai pensar que está morrendo de fome. —É que estou morrendo de fome, tia Meg — disse Claire com a boca cheia — Passou um século

desde o café da manhã. E a cozinheira de lady Westbrooke se ofenderia se não comêssemos algum

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de seus doces. — Claire meteu o resto do biscoito na boca e estendeu a mão em busca de uma bolacha.

—Quer comer algo antes que sua irmã coma tudo, Isabelle? — perguntou Lizzie — Minha cozinheira é muito boa confeiteira.

—Não, obrigada, lady Westbrooke. —Uma xícara de chá então? Meg? Claire lambeu os dedos. —Tenho muita vontade de ver seu bebê, lady Westbrooke. Se a babá não o trouxer logo,

poderíamos subir até seu quarto? Quando acabarmos com os doces, claro. Um gole de chá atravessou e Meg teve que tossir. —Claire! Lizzie riu. —Quando tiver saciado sua fome, Claire, podemos… —Buaaaaa! Todas se viraram para ver o conde de Westbrooke de pé na soleira com um pequeno fardo

gritalhão entre os braços. Meg sentiu uma pontada aguda e repentina de dor no coração. Como ficaria Parks com um

bebê, com seu bebê? Era uma ideia ridícula. Ela não ia ter nenhum bebê com senhor Parker-Roth. —Me desculpem a interrupção, — disse Robbie — mas lorde Manders tem fome. —Isso parece. — Lizzie estendeu os braços — E por que você o traz? Onde está a babá? O conde corou um pouco e passou o choroso visconde para sua mãe. —Ela está no quarto do menino. Acontece que eu passava por ali quando despertou. —Entendo. Será que não foi você quem o despertou? Robbie sorriu timidamente. —Talvez. Ele estava tão quieto que tive que me assegurar de que estava vivo. E a babá disse que

era quase hora de sua próxima refeição, comida. —Ah!… — Lizzie ajeitou a roupa e ofereceu um de seus seios a seu filho. Ele deixou de chorar

imediatamente. —Ah… — disse Robbie — Um pouco de paz por fim. Lizzie sorriu um pouco. Tinha a cabeça baixa olhando para o visconde e acariciando a pequena

mãozinha. A expressão de seu rosto era de puro êxtase. Meg sentiu outra estranha pontada de dor. Lágrimas apareceram em seus olhos e ela piscou

para evitá-las. Mas o que estava acontecendo? Nunca tinha ficado tão sensível ao ver Emma amamentar Charlie ou Henry.

Olhou para Robbie, mas isso tampouco ajudou. Sua expressão mostrava ainda mais veneração do que a de Lizzie; era uma mistura de amor e felicidade, de admiração e orgulho e fazia com que ficasse ainda mais com vontade de chorar.

Robbie foi forçado a casar-se com Lizzie. Talvez se Parks… Não. Sua situação não era a mesma absolutamente. Robbie e Lizzie se conheciam desde sempre.

Ninguém podia entender por que não se casaram antes, quando Lizzie fez sua apresentação na sociedade.

Parks, entretanto, apenas a conhecia. Não tinha por ela nenhum tipo de sentimento. Ela corou ao recordar com uma clareza dolorosa o que fizeram no salão de lady Palmerson. Bom, sim, esse tipo de sentimentos sim, mas isso não significava nada. Isso não eram

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sentimentos, eram… necessidades. Instintos animais. Apetites. Ele teria sentido o mesmo… frenesi com qualquer mulher.

Engoliu em seco. Robbie conseguiu tirar seu olhar da cena que protagonizavam sua mulher e seu filho. —Você disse alguma coisa, Meg? —Oh, não. Tinha uma migalha presa na garganta. — bebeu um gole de chá. —Ah. — ele a olhou interrogativamente, em seguida, sorriu para as meninas — Me perdoem

por não tê-las saudado, senhoritas, mas quando as vi, melhor dizendo, as ouvi, tinha outros assuntos para atender.

—Nós entendemos perfeitamente, milorde. — disse Isabelle. Robbie sorriu. —Você teve uma viagem agradável até Londres, lady Isabelle? O rosto magro da menina sorriu e se sentou ainda mais rígida. —Sim, milorde. Muito agradável. Por uma vez Claire não interveio na conversa. Ainda estava sentada junto a Lizzie e observava o

visconde Manders. —O tempo foi que o mais corrente, não acha, milorde? Meg ocultou seu sorriso. Abençoado seja Robbie; não riu diante da tentativa de Isabelle de

iniciar uma conversa. Ele estava tratando-a como se de verdade já fosse uma dama da sociedade. —Sim — disse — Eu… —Brorb! Claire riu e inclusive Isabelle se uniu desta vez. —Milorde, boas maneiras — respondeu Robbie — Não sabe que não se deve arrotar na presença

das damas? Lorde Manders dedicou a seu pai um amplo sorriso e deixou escapar um pouco de leite que

deslizou por seu queixo, antes de voltar a se dedicar a sua comida. —Sabiam que ele é ruivo? —comentou Claire. —Por São Jorge! Sim, certamente que o é! —Robbie… — Lizzie dirigiu a seu marido um olhar reprovador. Ele sorriu em resposta. —Eu acho que não é nenhuma surpresa, porque muita gente diz que eu também sou ruivo. —E você é, milorde — disse Isabelle com toda seriedade. —Concorda, lady Isabelle? Então deve ser verdade. — o conde sentou-se e seu sorriso aumentou

— Mas já falamos bastante de mim e de meus… O que acham do casamento próximo da senhorita Peterson?

Um silêncio sepulcral se abateu sobre a sala. —Ai… — disse Robbie. —Você vai se casar tia Meg? — perguntou Isabelle virando-se para ela. —Quando? Por que não nos disse, tia Meg? — inquiriu Claire. Meg sentiu seu rosto queimar. —Não esta decidido. Eu não tenho… A verdade é que eu não acho que… E não fez nenhum

anúncio. Isso esperava. Oh, céus. Não lhe ocorreu olhar os jornais essa manhã. Mas certamente que Parks

não teria colocado nada por escrito depois que ela recusou sua proposição tão claramente. —Robbie, — disse Lizzie — por que não leva às meninas ao estábulo? Acho que ouvi Bentley

dizer que tem uma nova ninhada de gatinhos.

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—Gatinhos? — disse Claire se levantando de um salto — Eu adoro os gatinhos. —E estes formam um grupinho realmente esplêndido, eu garanto. — Robbie se levantou e

ofereceu o braço a Claire. Depois se virou para Isabelle — Vem conosco, lady Isabelle? Isabelle corou e olhou para Meg. Ela reprimiu um suspiro. Estava muito claro que Isabelle morria de vontade de ir. Não era justo

utilizá-la para esconder-se… E Lizzie era perfeitamente capaz de dizer o que queria, mesmo na presença de Isabelle.

—Vá. Eu vou ficar conversando um momento com lady Westbrooke. Isabelle agradeceu a Meg com um sorriso doce e breve e se apoiou no outro braço do conde. —Acho que Isabelle está ficando meio apaixonada por Robbie. — disse Meg quando as vozes e

os passos deixaram de ser ouvido. —Isso está bem. Ele tomará cuidado com seus sentimentos. —Sei que o terá. Lizzie colocou lorde Manders sobre o ombro. —Não deveria falar mal dos mortos, mas foi uma bênção que os anteriores lorde e lady

Knightsdale morressem. As meninas encontraram pais muito melhores em Charles e Emma. —ela deu leves batidinhas nas costas do visconde. Ele arrotou de novo.

—Oh, que menino bonzinho. — beijou-lhe ambas as bochechas ruidosamente e ele riu. Meg tentou não revirar os olhos. Certamente ela teria uma atitude parecida quando tivesse um

bebê. Se chegasse a ter. —Me fale de Parks. — disse Lizzie aproximando o visconde do outro seio — Como ele fez a

proposta? Quando é o casamento? Está nervosa? —Bom… —Eu sabia que vocês dois fariam um bom casal desde que os vi juntos na festa de Tynweith. —

Lizzie franziu a testa — Acho que não vi o anúncio nos jornais esta manhã. Estava aí? —Ah… Não. — bom, suas dúvidas estavam esclarecidas. Não deveria ter preocupado. Por que

ia Parks enviar uma nota aos jornais? Obviamente ele tampouco queria se ver metido nessa armadilha.

—Oh, bom, com certeza sairá amanhã. Meg evitou olhar para Lizzie nos olhos. —Eu acho não. —Por quê não? —Porque, bom… Eu não estou comprometida. —O quê? Como é possível que não esteja comprometida? Estava sentada no colo de Parks e seu

vestido… —Sim. Sei. Mas não foi culpa do senhor Parker-Roth… —Você desceu o vestido? —Não, claro que não. — Meg se removeu na poltrona — Uma coisa levou a outra… Já sabe o

que quero dizer. —Não, a verdade é que não sei. — Lizzie sorriu — Sim que entendo isso de que uma coisa leva a

outra, mas essa outra geralmente levar a um compromisso. —Bom, pois neste caso não. —Por que não? —Lizzie! Não quero falar disso. — Meg pigarreou — Espero que não tenhamos interrompido

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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nada com nossa visita desta manhã. Estava lendo uma carta? Lizzie a olhou pensativa. Não foi trabalho mudar o tema. —Sim, fazia isso. Uma carta de tia Gladys. — ela riu — Pode ser que você não esteja

comprometida, mas tia Gladys sim. —Lady Gladys? — Lady Gladys tinha mais de setenta anos. Foi acompanhante de Lizzie até que

se retirou para Bath. Ela foi muito mais estrita que lady Beatrice. Se lady Gladys estivesse encarregada delas o ano passado, nunca teria ido à festa na casa de Tynweith e Meg nunca teria conhecido o senhor Parker-Roth… O que teria sido uma sorte.

Se seu primeiro encontro com Parks fosse no jardim de lorde Palmerson ontem à noite, sentiria-se diferente agora? Não era uma debutante de olhos brilhantes. Tampouco esperava apaixonar-se perdidamente por nenhum candidato em potencial. Ela estava preparada para tomar uma decisão inteligente e racional sem o incômodo de um coração acelerado ou um peito ofegante.

Se olhasse desapaixonadamente, Parks era um candidato perfeito para o casamento. Era rico, viril e se interessava pela horticultura. Tudo perfeito, exceto pelo fato de que ele não tinha mostrado o menor interesse por ela desde que deixaram a propriedade de Tynweith até ser resgatada no jardim. E sua reação no salão não podia chamar de interesse. Luxúria animal, isso era tudo.

Não precisava que a amasse, mas não gostou de ser ignorada e depois tratada como uma… prostituta.

Inalou. Não ia chorar. Isso era ridículo. E tampouco ia se casar com um homem que a tinha tratado com essa falta de respeito.

Mas uma incômoda vozinha sussurrava em sua cabeça: «mas você não estava exatamente o afastando de você, não é?».

O calor subiu-lhe pelo pescoço até cobrir suas faces. O mesmo calor que fazia pulsar suas orelhas.

Está bem, talvez ela também tenha experimentado a mesma luxúria. Nunca teria acreditado que ela fosse capaz de tal sentimento, mas aparentemente era. Que vergonha! Emma e Lizzie não eram propensas a uma emoção como essa. Certamente em seus encontros íntimos agiam com mais dignidade.

—Então já terminou de comer, queridinho? — Lorde Manders tinha virado para olhar para Meg. Lizzie o levantou para dar tapinhas nas costas — Já está com a barriguinha cheia?

Ele respondeu com outro forte arroto. —Muito bem, meu filho. — ela o beijou e ele agarrou uma mecha de seu cabelo. —Ai! Lorde Manders gritou e agarrou mais cabelo. Meg tentou não rir. —Você precisa de ajuda, Lizzie? —O que você acha? Claro que preciso de ajuda. Meg agarrou a sólida cintura do bebê enquanto Lizzie tentava liberar-se de suas mãozinhas. O

visconde estava bem mais forte desde a última vez que o viu. Já tinha quatro meses. —Vamos, milorde. Deixa a sua pobre mãe. O menino levantou o olhar e lhe dedicou um amplo sorriso. Lizzie conseguiu abrir o último dedinho e liberar-se. —Já está. — ela se afastou com rapidez — Você pode ficar com ele, não é? Nunca acabarei de ler

a carta se o colocar em meu colo. Está se tornando um polvo.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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Meg se sentou com lorde Manders nos seus braços. Sentia-se bem com esse peso pequeno e sólido. Henry, o bebê de Emma, já tinha nove meses, assim tê-lo nos braços era como um combate porque sempre queria escapar engatinhando para fazer alguma travessura. O visconde Manders era muito pequeno para remexer. Ela aproximou e o abraçou.

Nunca foi uma dessas garotas que ficam loucas ao ver um bebê, embora sim quisesse ter filhos, claro. Esse era seu dever, uma tarefa inconveniente, mas inevitável que ia separar de suas atividades de horticultura. Mas ao ver o visconde… talvez ter filhos não fosse tão terrível. Só tinha que encontrar o marido e o pai adequado.

Afastou intencionalmente a imagem do senhor Parker-Roth de sua mente. Lizzie olhava para carta que tinha nas mãos. —Sim, definitivamente lady Gladys está comprometida. —Com quem? —Com lorde Dearvon. Meg franziu a testa. Lorde Dearvon… Não podia ser… claro que não… —Será aquele velho calvo e com as orelhas peludas que falava de Waterloo? —A verdade é que a tia Gladys se refere a ele como um velho amigo que compartilha com ela o

amor pelo teatro, mas sim, acho que esse é o cavalheiro. Lady Gladys e lorde Dearvon. Juntos. Casados. Fazendo as coisas que fazem os casados… Não.

Isso era impossível. —E lady Gladys não é muito velha para se casar? —Eu acho que sim. Isso espero. —Talvez esteja procurando um companheiro com quem compartilhar a velhice, embora pensei

que já tivesse companhia. Lizzie sorriu. —Você não vai acreditar nisso, mas lady Amanda também vai se casar… Com um tal senhor

Pedde-Wilt. Acredito, embora não estou completamente segura, a tia Gladys teve um de seus ataques de falsa pobreza e juntou tanto as linhas que é muito difícil entender, vão ter uma cerimônia conjunta. Logo. Em maio, diz tia Gladys, a menos que nesse momento a gota de lorde Dearvon não lhes permita fazer a viagem de lua de mel… mas isto é muito difícil de entender.

A situação em geral era muito difícil de entender. Lizzie baixou a carta e se inclinou para frente. —E falando de Parks… —Hã? Lorde Manders levantou o olhar para ver quem tinha emitido esse som estranho. —Não quero falar do senhor Parker-Roth. —Não me importa o que queira, Meg. — disse Lizzie com a testa franzida — Sabe que Robbie e

eu estamos muito preocupados com você? —Preocupados? — Meg tentou rir — E por que estão preocupados comigo? —Porque ultimamente esteve desaparecendo entre os arbustos em todos os atos sociais. Meg corou. —Eu só escapuli uma ou duas vezes… —Bem mais, cinco ou seis. E se acha que estava sendo discreta, está muito enganada. Robbie me

disse que os homens estavam começando a fazer apostas para ver quem seria o seguinte. —Não… —Sim. Com certeza notou a quantidade de canalhas que a rondavam ultimamente…

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—Bom… — Sim, foi um pouco desconfortável ultimamente. Não pode evitar notar as pausas estranhas, os olhares significativos olhares e as risadas escondida de alguns homens, mas tinha decidido as ignorar. A maioria dos cavalheiros da sociedade eram uns janotas sem cérebro e não podia esperar deles uma conduta muito racional.

—Estava acostumada a ser muito observadora, assim pensei que teria notado. E não é só isso… As mães estão começando a afastar a suas filhas debutantes de você. De fato, todas as senhoritas casadouras estão evitando você como se tivesse peste.

—Não. — agora foi Meg que franziu a testa — Tenho certeza de que deve estar enganada. Talvez sim houvesse menos mulheres dispostas a falar com ela, mas isso não a incomodava. Não

gostava das garotas de Londres. Eram umas criaturas tolas, superficiais e aborrecidas que só sabiam falar do tempo e das últimas fofocas.

—Por isso Robbie e eu ficamos encantados em vê-la com Parks ontem à noite. Não sei por que recusou sua proposição. Porque ele fez a proposta, não é?

—Sim. —E por que você recusou? Estava muito impressionada com ele na festa na casa de Tynweith. —Não o estava. Lizzie se limitou a olhá-la. Meg se remexeu no lugar. —Eu gostei de conversar com ele. Sabe muito de horticultura. Não era mais que isso. Lizzie arqueou uma sobrancelha. —Eu acho que recordo que você perdeu pelo menos um almoço para estar com o senhor Parker-

Roth. —Estávamos falando de paisagismo e desenho de jardins. —Ah. —Não me olhe assim. É perfeitamente normal que um homem e uma mulher que têm um

interesse comum tenham uma conversa inteligente sem a necessidade de ter que chamar o sacerdote. Meus sentimentos pelo senhor Parker-Roth não vão mais além do respeito por outro horticultor.

Lorde Manders escolheu esse momento para deixar escapar um som que não pressagiava nada bom. O som não tinha saído de sua boca.

Meg franziu o nariz e olhou com horror para a criatura fedorento que estava sentada sobre um de seus vestidos favoritos. O menino sorriu-lhe.

—Isso é exatamente o que eu penso, filho. — disse Lizzie pegando seu bebê — Tudo diz que a tia Meg está cheio disso…

Lizzie revirou os olhos e foi trocar o seu bebê.

Capítulo Seis —Lady Knightsdale quer falar com você, senhorita Peterson. Ela está no quarto das crianças

com a duquesa de Alvord. —Obrigado, Blake. —A duquesa trouxe para seus filhos? — perguntou Claire. —Sim, lady Claire. —Oh, bem.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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Claire pôs-se a correr na frente delas enquanto Isabelle esperava Meg. —Gostou da visita a lorde e lady Westbrooke, Isabelle? Na carruagem Claire falou o tempo todo

dos gatinhos e acho que não deixou você dizer nenhuma palavra. Isabelle sorriu brevemente. —Sim, tia Meg. — baixou o olhar e brincou com as fitas de seu chapéu — Você vai se casar? Como Isabelle não ia se lembrar do comentário de Robbie! —Não, claro que não. Isabelle a olhou com os olhos cheios de dúvida e de preocupação. —E por que lorde Westbrooke pensou que sim? —Não sei. — Meg não queria contar os acontecimentos da noite anterior. Era melhor esquecer

todo esse assunto — Vamos ver a duquesa, o que acha? Isabelle franziu a testa e depois olhou para o chão. —Está bem. Começaram a subir as escadas. Tudo estava tão silencioso que Meg podia ouvir o sussurro que

produziam seus sapatos ao tocar o mármore. Isabelle nunca foi muito falante, mas normalmente dizia algo.

O silêncio era muito pesado, muito cheio das palavras não ditas. —Você gostou dos gatinhos, Isabelle? —Sim. Não havia entusiasmo em sua voz. Meg a olhou. Isabelle tinha crescido. Seus olhos já quase

estavam na altura dos de Meg —Você gostou de um mais que outros? —Não. Foi Meg que se sentiu falante então. —Tem certeza? Claire parecia gostar mais do preto. Isabelle levantou o olhar. —Tia Meg, tenho treze anos. Já não sou uma menina. Eu… — Isabelle mordeu o lábio e voltou a

olhar para seus sapatos. Subiram os últimos degraus em silêncio. Isabelle tinha razão: Já não era uma menina. Tinha sobrevivido a uma mãe fria e dura e a um pai

egocêntrico e narcisista. E tinha superado o golpe que foi o assassinato deles quando tinha apenas nove anos. Também fisicamente era quase uma mulher. Muito em breve começaria a interessar-se pelos homens… e eles por ela. Merecia a verdade. Precisava.

Meg parou na parte superior da escada. —Isabelle, não fui completamente sincera com você. Sim, sei por que lorde Westbrooke pensava

que eu ia me casar. Aconteceu algo ontem à noite no baile dos Palmerson. Algumas pessoas pensam que estou comprometida, mas eu não penso assim.

—O que aconteceu? Havia honestidade… e sinceridade. —É um pouco complicado. Cometi o engano de sair ao jardim com um homem. —Tia Emma disse que saiu para o jardim com muitos homens. Meg sentiu que corava, em parte pelo aborrecimento. —Não foram muitos, Isabelle. Surpreende-me que Emma lhe dissesse uma coisa assim. —Oh, ela não me disse isso. Ela estava conversando com sua madrasta. Ela não sabia que eu

estava ouvindo.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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—Oh. — não foi difícil de acreditar. Isabelle tinha aperfeiçoado a capacidade de ouvir discretamente no ano passado. — Bem, o que é certo é que cometi um grande erro ontem à noite. — ela colocou a mão no ombro de Isabelle e a olhou diretamente nos olhos — Emma vai dar-lhes muitos conselhos sobre a maneira adequada de comportar-se…

Isabelle sorriu. —Ela já tem feito. —Tenho certeza. — às vezes, enquanto estava crescendo, Meg tinha a impressão de que Emma

só abria a boca para dar conselhos — Bom, muitos de seus… conselhos podem ser pesados, mas deve fazer caso. Sobre tudo na parte de não ficar sozinha com um homem. Só estando sozinha com um pode dizer se esse homem é um canalha ou não.

Isabelle assentiu. —Eu sei. Desgraçadamente era provável que soubesse; seu pai foi um exemplo perfeito de canalha

bonitão. As duas começaram a subir o próximo lance de escadas que levava ao quarto das crianças. . —E quem é o canalha com quem tem que se casar, tia Meg? Meg tropeçou e teve que agarrar o corrimão. —Eu não tenho que me casar com o canalha! Quero dizer, o canalha não é o homem com quem

as pessoas pensam que tenho que me casar… Embora não tenho necessidade de me casar com ninguém, é claro.

Isabelle olhou para Meg fixamente. —Eu não compreendo. Meg preferiu examinar o corrimão em vez de olhar nos olhos de Isabelle. —Eu saí para o jardim com um cavalheiro. Quando ele ficou muito… carinhoso, outro

cavalheiro me resgatou. Por infelicidade, alguém me viu com este segundo cavalheiro e assumiu… — Meg limpou a garganta — E esta pessoa se dedicou a difundir a história e a dizer para todo mundo que este segundo cavalheiro se comportou comigo de uma forma inadequada, o que não era verdade.

Ao menos no jardim não… Meg afastou esse pensamento. Isabelle franziu a testa. —Isso não é justo. — soava bastante indignada. —Não, não é. —E quem difundiu a história? Talvez essa mulher não tenha contado a tanta gente. Meg continuou subindo. —Era lady Dunlee. —Oh. — Isabelle duvidou um momento antes de segui-la pelas escadas — Então está perdida. —Eu não estou! —Tia Meg, até eu sei que lady Dunlee é a maior fofoqueira de Londres. Chegaram ao andar e elas chegaram bem a tempo para ouvir um enorme estrondo. Um bebê

começou a chorar. —Parece Henry. — disse Isabelle — Provavelmente tenha caído alguma coisa em cima dele

outra vez. —Outra vez? —Sim. Está tentando ficar de pé. Segura nas coisas para tomar impulso e estas acabam caindo

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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sobre ele. Está deixando a todos nós loucos. Quando entraram no quarto Emma estava com Henry nos braços e junto a eles havia uma

cadeira derrubada, caída de lado. —Eu juro que vou jogar tudo no chão até que ele aprenda a andar — estava dizendo Emma à

duquesa de Alvord. Sua Graça sorriu. —David começou a andar o mês passado, assim sei exatamente o que você está passando. —Graças a Deus que deixamos Prinny em casa. Um cão correndo pelo quarto é a última coisa

que precisamos. —Sim, tornaria as coisas mais difíceis, com certeza. — a duquesa sorriu para Meg — Como está,

senhorita Peterson? —Muito bem, Sua Graça. Emma virou bruscamente. —Meg, estava esperando você. — olhou para Henry, que ainda estava em seus braços — Shhhh,

fica quieto tolinho que não ouço nem meus próprios pensamentos. — a seguir deu-lhe um beijo alto e úmido que transformou o choro em risadas. E em poucos minutos já se estava lutando para ir ao chão.

—Isabelle, pode cuidar de Henry? Tenha cuidado para que ele jogue nada mais sobre si, sim? Isabelle sorriu e seguiu Henry enquanto este engatinhava pelo chão do quarto até onde estava

Claire, que observava o segundo filho da duquesa, lorde David, de um ano, que estava deixando cair soldadinhos dentro de uma tigela. O herdeiro do duque, o marquês de Walthingham, e o filho mais velho de Emma, Charlie, lorde Lexington, estavam no outro canto do aposento, construindo uma torre com blocos de brinquedo.

—Isabelle, não deixe Henry colocar nenhum soldadinho na boca. —Não se preocupe. A atenção de Emma voltou para Meg. —Meg, a senhora Parker-Roth mandou uma mensagem esta manhã. Perguntou se podemos ir

visitá-la esta tarde. Eu disse sim, é claro. Meg sentiu um nó no estômago. Ela não queria ver a mãe de Parks. —Eu não sei se é uma boa ideia. —Claro que é. Terá que conhecer sua futura sogra, não acha? —Ela não é minha futura sogra. Eu não vou me casar com o senhor Parker-Roth. —Oh, não seja tola, Meg. Claro que vai se casar com ele. Não tem escolha. —Emma… —Talvez fosse uma boa ideia que baixassem a voz, senhoras — disse a duquesa apontando com

a cabeça para onde Isabelle e Claire estavam brincando com Henry e David e a escuta é claro. Emma franziu a testa, mas prosseguiu em voz um pouco mais baixa. —Sarah, você pode persuadir Meg? —Eu duvido. Eu me recusei a me casar com James apenas para cumprir com essas noções do

que é apropriado e o que não é na Grã-Bretanha, se lembra. —Garanto que, mesmo nos Estados Unidos, Meg teria que se casar com o senhor Parker-Roth. —É mesmo? — a duquesa olhou para Meg — Existe a possibilidade de um acontecimento

interessante dentro de nove meses? —Não! Lorde David deixou cair o soldado de infantaria que estava a ponto de colocar na boca. Todas as

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crianças se voltaram para olhar para Meg. Respirou fundo, deixou escapar o ar lentamente e falou em voz baixa, pouco mais que um

sussurro. —Não, não existe essa possibilidade nem remotamente, Sua Graça. É completamente

impossível. —Bem, pois se não ocorreu nada dessa natureza… —Não, definitivamente. —Então não vejo por que tem que se casar com o senhor Parker-Roth se não querer. Emma emitiu uma exclamação de irritação. —Sarah, não entende a gravidade da situação. Lady Dunlee descobriu Meg em um estado de

extrema indecência. Não há esperanças de que se possa conter o escândalo. Seria mais fácil recolher o estrago depois de um vendaval.

—Não pode ser tão mau. Se Você e Charles a apoiassem, Emma, e também Robbie e Lizzie, James e eu. Eu estou tempo suficiente em sua sociedade para conhecer sua gente e sei que não se arriscariam a ofender um duque, um marquês e um conde.

—Mas Sarah… A duquesa colocou uma mão no braço de Emma. —Está preocupada, é compreensível. Pode ser que comente um pouco esta Temporada, bom,

com certeza falará, mas depois de alguns meses, quando for óbvio que não há nada desenvolvendo-se aí dentro… — a duquesa assinalou com a cabeça para a cintura de Meg — as pessoas passaram para outros escândalos. Com certeza não vale a pena Meg se acorrentar a vida toda a um depravado.

Meg abriu a boca para protestar porque a duquesa acabava de chamar Parks de depravado, mas Emma falou primeiro.

—Mas vai haver algo mais que alguns comentários! Sarah deu de ombros. —Bom, pois Meg terá que passar o resto da Temporada em casa. Está tudo bem, não é nenhuma

tragédia. Emma estava se esforçando visivelmente para conter seu temperamento. —Se ela for para casa agora, todo mundo pensará o pior. —Emma! Os meninos voltaram a olhar para Meg. Ela voltou a baixar a voz com grande esforço. —Emma… —Meg, isso é o que vão pensar. Não seria a primeira garota que se retira de Londres porque está

grávida. —Eu não estou grávida. Emma ficou com as mãos nos quadris. —E nunca estará se não se casar logo. Já tem vinte e um anos. E não vai deixar de cumprir

nenhum. A duquesa riu. —Emma, tanto você quanto eu tínhamos muitos mais de vinte e um quando nos casamos. —Mas isso foi diferente. Nenhuma das duas teve a oportunidade de conhecer nenhum bom

partido. Nem andávamos escapulindo entre os arbustos com o primeiro homem que passava. —Eu não escapulia entre os arbustos com o primeiro homem que passava. Emma olhou para Meg.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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—Sua reputação pende por um fio, senhorita. Sarah estava me contando algumas coisas. —Sua Graça? — Meg não se esperava que a duquesa fosse dessas que saiam por aí contando

histórias. —É verdade, Meg. Eu não acho que deva se casar com o senhor Parker-Roth se não sente nada

por ele, mas sim, você está roçando o inaceitável. —Eu suponho que você poderia ir para casa e se casar com o senhor Cuttles — disse Emma —

Ele acaba de ficar viúvo e acho que anda procurando uma nova esposa. Emma não podia estar falando sério. —Eu não vou me casar com o senhor Cuttles. Tem cinquenta anos! —Oh, não acho que tenha muitos mais que quarenta e cinco. E está em boa forma para um

homem de sua idade. —Por mim poderia estar em uma forma espetacular… Mas não vou me casar com ele. —Meg se

virou para a duquesa — E, embora eu não vá me casar com o senhor Parker-Roth, ele não é um depravado.

—Ele não é? — a duquesa franziu a testa — Mas se ele te assaltou entre os arbustos! —Não, esse foi lorde Bennington. O senhor Parker-Roth me salvou. —Para te assaltar no salão de lady Palmerson — concluiu Emma. Meg corou. —Não me assaltou exatamente… E, em todo caso, lady Dunlee não viu isso. —Mas a senhora Parker-Roth sim. — Emma sorriu pela primeira vez — Me disse que era muito

estranho, que não condizia com o caráter de seu filho, que está acostumado a ser seco como um galho velho. Acredito que estava encantada.

—Tenho certeza de que esta enganada. — Meg começava a pensar que se ficasse ainda mais vermelha ia arder em chamas.

—Ah. — parece que a duquesa estava tentando não rir — E suponho que você estava lutando para se safar das atenções do senhor Parker-Roth, não, Meg?

—Bom… — Meg afastou o olhar para onde estavam lorde Walthingham e Charlie, ainda construindo a torre. Lorde David estava a ponto de…

—Cuidado! Muito tarde. David riu e agarrou um bloco fazendo com que a torre caísse. O conde e o marquês começaram a gritar. David caiu e começou a chorar. Henry, para não

deixar por menos, abriu a boca e uivou. Meg desejou poder gritar como os meninos.

*** —Pinky, convidei a senhorita Peterson e a lady Knightsdale para passarem por aqui esta tarde. Parks posou sua xícara de café e olhou para sua mãe. —Não me chame «Pinky». Sua mãe sorriu um pouco. —Sinto muito. Eu tinha esquecido. —Você não esqueceu. Você faz de propósito para me irritar. Ela o olhou com reprovação. Maldição, agora ele tinha ferido seus sentimentos. —Me perdoe. Estou de mau humor esta manhã. Acho que não dormi bem. Sua mãe estendeu a mão e deu-lhe uns tapinhas na sua.

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—Claro, você está tenso. Aconteceu muitas coisas nas últimas horas. Ficará melhor depois que se acostumar com sua nova situação.

—Minha nova situação? —De homem casado, é claro. —Nada de «é claro», mãe. Eu já disse que a senhorita Peterson declinou o pedido. Não vou me

casar. Na verdade, foi uma má idéia convidar às damas para virem aqui. —Oh, tolices. — sua mãe molhou a torrada no seu chá com toda a calma do mundo — Claro que

tinha que convidá-las. Quero conhecer sua futura esposa. — mordeu a torrada molhada — Mas não pense que você tenha que estar aqui.

—Mãe… — respirou fundo. Não ia gritar com sua mãe. Falaria devagar e claro. Com autoridade — A senhorita Peterson… recusou… minha… proposta . Não vai se casar comigo.

Sua mãe bufou. —A senhorita Peterson não pode recusar sua proposta. —Bom, pois foi isso que ela fez. —Sua família a persuadirá a entrar na razão. Irá contigo ao altar. Ninguém persuadiu Grace para que entrasse em razão. Deixou-o ali, sozinho, diante de toda a

igreja. Maldição, de onde vinha essa lembrança? —Mãe, isto é a Inglaterra. Ninguém pode forçar às mulheres a se casar. Se a senhorita Peterson

não quer se casar comigo, não há mais o que dizer. —Johnny, parece que você não quer entender. Eu sei o que vi no salão de lady Palmerson.

Ninguém estava obrigando à senhorita Peterson a segurar sua cabeça enquanto você… —Sim, bom, acho que já disse o suficiente. — ele puxou o nó do lenço. Que calor fazia ali! — Isso

foi uma alienação momentânea. —Bom, pois organiza alguma outra alienação. Com certeza você pode fazer com que a garota

fique tão embargada pela luxúria que seja capaz de dizer sim para qualquer coisa. Na verdade , seu pai…

Parks deu um salto e derramou o café. Limpou-o com um guardanapo antes que caísse no chão. Estava mais que certo de que não queria ouvir nenhuma frase que começasse com «seu pai» e seguisse com algo que continha a palavra «luxúria».

—Desculpe-me. Acabei de lembrar que tenho um compromisso urgente comigo… banqueiro. Sim, meu banqueiro. — olhou o relógio — Por Júpiter, já estou atrasado. Tenho que sair correndo. Desculpe ter que interromper nossa conversa.

Sua mãe riu dentro da xícara de chá. Ele preferiu ignorar o som. —Mac acompanhará a Agatha e você aonde queiram ir. Eu estarei fora o dia todo. —Bem. Mas se esqueça de voltar a tempo para me acompanhar ao baile dos Easthaven. —Sim, sim, não se preocupe. Voltarei a tempo. E saiu quase correndo da sala.

*** —Se escondendo? Parks grunhiu. Pensou que estava a salvo nesse canto remoto do White’s, meio escondido atrás

de uma figueira raquítica. Como foi ingênuo! Embora Westbrooke fosse normalmente bastante agradável, podia ser tão tenaz como um terrier se encontrasse um caso que merecia.

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E este caso, aparentemente, era um deles. O conde se acomodou em uma poltrona junta a dele e colocou uma garrafa de brandy na mesa

que havia entre ambos. —Pois escolheu o lugar perfeito. Nenhuma mulher decidida poderia cruzar a soleira do White's.

— Westbrooke serviu dois copos e passou um para Parks. Era inútil dizer que não queria companhia, a verdade era que precisava de uma bebida. Hesitou

por um momento, mas depois pegou o líquido âmbar. —A senhorita Peterson não está decidida a me encontrar, eu lhe asseguro. —Eu não tenho tanta certeza sobre isso, mas não falava de Meg. Emma é a que não vai deixá-lo

escapar, coloque como quiser. — Westbrooke sorriu — Se decidir ir atrás de você… melhor dizendo, quando decidir ir atrás de você, não terá escapatória. Se não conseguir localizá-lo, mandará Charles para que o encontre, independentemente de onde pretenda se esconder.

—Tenho certeza que nem a marquesa nem o marquês querem amaldiçoar à senhorita Peterson com um marido reticente.

Westbrooke parou com o copo junto aos lábios. —Hã? Você é um marido reticente? —Claro. Eu não quero me casar. Não tenho necessidade disso. Ao contrário de você, eu não

tenho nenhum título para legar. —Ah… — Westbrooke o olhou longamente. Parks baixou o olhar e estudou seu brandy. Esperava que o homem deixasse o assunto correr. Uma esperança vã. —Há outras razões para se casar que não têm nada a ver com a descendência, Parks. Ele forçou uma risada. —Quais? Ter uma mulher a mão para esquentar a cama? Uma amante pode fazer isso tão bem,

ou inclusive melhor, que qualquer virgem frígida e assustada. —Bom, é verdade o que diz, embora eu não teria expressado com essa crueldade. Nem ele normalmente tampouco. Maldição, estava tenso e sua cabeça estava batendo como se

um ferreiro tivesse estabelecido seu negócio dentro dela. —Minhas desculpas. Minha cabeça dói. Não pretendia insultar. Obviamente o casamento é uma

boa instituição, simplesmente não é para mim. —Parks, só porque Grace… Deus! Não ia passar por isso. —Westbrooke, por favor. Tenho certeza de que tem boas intenções. Mas é que… simplesmente

não quero falar mais sobre isso. Houve uma longa pausa e depois o conde suspirou. —Muito bem. Vou mudar de assunto. —Graças a Deus. —Mas depois de dizer uma última coisa. Parks grunhiu. —É realmente necessário? Westbrooke sorriu. — Ouça-me e depois eu prometo que vou parar de chateá-lo com… Ao menos por hoje. Parks voltou a grunhir. Tinha os dentes tão apertados que temia quebrar a mandíbula. — Eu odeio ver como destrói sua vida por algo que aconteceu há três anos. Quatro, mas Parks não estava contando o tempo que tinha passado.

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—Não sei do que você está falando. — Uma pequena questão que tem a ver com o fato de deixar você de pé junto ao altar no dia de

seu casamento. —Oh, isso. — Parks tentou rir, mas o som ficou atravessado na garganta e teve que

transformá-lo em uma tosse — Por favor, Westbrooke, isso é história antiga. Eu mal me lembro disso. — o que era verdade se «mal» significava menos de dez vezes ao dia — Tenho uma relação muito cordial com lady Dawson e seu marido.

—Você já falou com ela do que aconteceu? Parks fechou os olhos para que eles não lhe saíssem das órbitas. Falar com Grace dessa manhã

terrível? Westbrooke ficou louco? Ele preferia ser torturado, ter arrancado lentamente as unhas das mãos e dos pés do que falar com Grace do casamento.

—Não acredito que o tema tenha surgido. Eu não venho muito para Londres, você sabe e lady Dawson não visita seu pai com frequência.

—Isso não me surpreende, esse homem é um verdadeiro tirano. Tenho certeza que pode jogar toda a culpa de seu desastre matrimonial a ele. Não me surpreenderia que tivesse deixado a garota sem comer até que aceitasse sua proposta. Certamente a ameaçou de algum jeito.

Esplêndido. Isso o fazia sentir muito melhor: era um candidato para o casamento tão ruim que tinha que obrigar uma mulher para que se casasse com ele. E nem sequer a coação tinha funcionado. Grace conseguiu fugir de qualquer maneira.

— Por que você acha que a família de senhorita Peterson vai incentivá-la a aceitar a minha oferta, se antes dela, uma mulher me detestava tanto que teve de fugir no meio da noite.

—Lady Dawson não te detesta, Parks. —Isso você não sabe. Westbrooke o olhou exasperado. —Está bem, pelo bem da discussão, vamos assumir que sim, detesta-o. Continua sendo apenas

uma mulher. —A senhorita Peterson não deseja se casar comigo tampouco, não sei se você notou. —Ah, não? — Westbrooke mostrou um sorrisinho — Não a vi lutando para descer de seu colo

quando estavam no salão de lady Palmerson. E me pergunto como chegou a deslocar-se tanto seu vestido…

—Você sabe que o canalha do Bennington a tinha atacado. —Bennington não foi o único que a atacou essa noite. Estava o suficientemente escuro nesse canto do White's para que Westbrooke não pudesse ver

como se ruborizou? Embora, não tinha ruborizado. Simplesmente estava com muito calor. —Mas o fato continua sendo o mesmo: a senhorita Peterson recusou minha proposta. Não há

nada mais a dizer sobre este assunto. —Oh, eu me rendo. Você é impossível. — Westbrooke se levantou de repente — Fique aí

cozinhe-se em seu próprio suco. Eu deixo-lhe o brandy para macerar bem. Pense nisso. Eu quase deixei que meu passado governasse meu futuro. Se os acontecimentos não fizeram, quer dizer, se não tivesse obrigado a me casar com Lizzie, nunca teria conhecido a felicidade. E odeio ver você perder esse prazer só porque falta-lhe coragem suficiente para enfrentar seu passado.

—Hey, espera um momento… Mas Westbrooke tinha ido embora. Diabos, diabos, diabos. Parks tomou um longo de brandy, mas este entrou pelo lugar errado e

provocou-lhe um ataque de tosse. Os poucos fregueses do White's olharam em direção a triste

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figueira para ver quem estava se afogando. Ele camuflou seus ruídos com um lenço. Mas não pôde afogar a ideia que o mortificava: teria Westbrooke razão? Era um covarde? Ridículo. O conde não tinha nem ideia de como se sentia. Não o tinham deixado de pé em frente

de uma igreja cheia de amigos, familiares e membros da boa sociedade ávidos por ter alguma fofoca para contar. Westbrooke não viu a lástima nos olhos de seus pais nem escutou as pessoas falar em sussurros.

Westbrooke não tinha a mínima ideia do quanto tinha doído a traição de Grace. Maldição. Golpeou a mesa com o punho. A dor o fez sentir-se melhor. Westbrooke tinha razão

sobre uma coisa: o desastre do Grace era o passado e deveria ficar ali. Teria que ficar ali. Assim que sua mãe acabasse de comprar suas malditas pinturas voltariam para casa, o Priorado, e ele se preocuparia de se MacGill tinha cuidado adequadamente do último carregamento de plantas exóticas.

Ficaria encantado em abandonar Londres. Terrivelmente encantado. Serviu outro copo de brandy. Deus, como odiava a cidade. Assim que tirasse a poeira das botas se sentiria melhor. Tudo voltaria ao normal.

A imagem da senhorita Peterson na horrorosa poltrona vermelha de lady Palmerson com o cabelo solto sobre os ombros o assaltou repentinamente. Seus lindos cabelos longos, sua pele branca, seus seios macios e suaves, seu delicioso sabor a…

Diabos. Não podia evitar que seus instintos masculinos se vissem exacerbados diante da visão de uma

mulher seminua, verdade? Franziu a testa em direção ao órgão que se via especialmente exacerbado nesse momento até o ponto de ser quase doloroso. Remexeu no assento. Era um homem, depois de tudo. E os homens tinham certas… necessidades. Era uma reação puramente física, animal.

Engoliu outro gole de brandy. O pior de tudo era que não podia dormir bem. A maldita mulher penetrou em seus sonhos.

Despertou-se duas… não, três vezes a noite anterior em uma situação extremamente desconfortável.

Trocou de posição de novo. Tinha que fazer uma visita a Cat assim que voltasse para casa. Uma rápida sessão em sua cama e curaria de seu mal, Tinha certeza disso. Tinha que ser assim ou se tornaria completa e perdidamente louco.

Capitulo Sete —Emma, definitivamente isto é uma má idéia. —Tolices, Meg. Você tem que conhecer sua futura sogra. Meg estava tremendamente tentada a chutar o chão da carruagem. —A senhora Parker-Roth não é minha futura sogra. Tenho que colocar um anúncio no The

Morning Post para você entender? —Oh, excelente ideia. O senhor Parker-Roth deve colocar um anúncio no Post o quanto antes

possível. Falarei com sua mãe, embora eu ache que ela já tenha mencionado a ele. Pareceu-me uma mulher muito capaz.

—Emma! — Meg respirou fundo. Gritar era algo que nunca tinha funcionado com Emma. A

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mulher vivia em seu pequeno universo, fazendo planos alegremente sobre as vidas dos outros. Um tom maduro e moderado funcionaria melhor — Emma. — sim, isso era mais ou menos o que pretendia: calma, madura. — Não… vai fazer… nenhum… anúncio. — excelente. Respirar uma vez depois de cada palavra fazia maravilha. Relaxar as mãos também seria uma boa ideia. Não ia brigar a socos com sua irmã — Você compreendeu?

Emma franziu a testa. —Mas o que esta acontecendo com você? Parece muito estranha… Não bateu a cabeça durante a

viagem, não é? Agora mesmo briga com socos parecia uma excelente idéia. Ou talvez o estrangulamento. —Eu não vou me casar com o senhor Parker-Roth. —Meg, por favor, baixe a voz. O que vai pensar de você a mãe do senhor Parker-Roth? Meg tentou voltar a respirar fundo, mas não funcionou. Uma vez que Emma se obcecava com

alguma coisa, não havia maneira de pará-la. Era como um cavalo desembestado. Ela só esperava que a senhora Parker-Roth fosse mais racional. A carruagem diminuiu a velocidade. Emma olhou pela janela e assentiu. Meg sentiu o estômago

se retorcer. —Chegamos. Vamos, Meg. Não queremos fazer nossa anfitriã esperar. Emma saiu da carruagem no mesmo momento em que o criado desceu os degraus. Meg parou

um momento e para olhar a impressionante fachada do Pulteney, um dos hotéis mais elegantes em Londres.

Pareciam as portas do inferno. Deus! E o que aconteceria se Parks estivesse com sua mãe? Não tinha pensado nisso, mas era

óbvio que ele estaria hospedando ali também. —Senhorita Peterson? — o criado estendeu a mão para ajudá-la a descer os degraus. Ela ficou olhando seus dedos enluvados. Pareciam menores que os de Parks. Deixaria-os tão

morenos, tão contrário da moda, como os dele? Não que ela tivesse nada contra a pele obscurecida pelo sol… nem contra os dedos fortes, que se deslizaram sobre sua pele, cobriram-lhe o seio e tocaram os mamilos, que quase doíam…

Respirou profunda e agitadamente. Definitivamente não queria ver o senhor Parker-Roth, sobre tudo acompanhada por sua mãe e

sua irmã. —Está tudo bem, senhorita Peterson? — a voz do criado tinha uma nota de preocupação. Emma

voltou para carruagem. —Meg, o que esta errado? — olhou para os homens e mulheres que passavam por ali e se

aproximou para sussurrar — Está fazendo um espetáculo. —Eu… — as pessoas estavam começando a parar e ficar olhando — Eu, bom… —Vamos! — Emma se virou para saudar a senhora Windham, que tinha parado para observá-

las através de seus óculos. A velha bruxa arqueou uma sobrancelha; Emma levantou o nariz e olhou para baixo como se fosse uma… uma… uma marquesa. Meg piscou. Emma era uma marquesa, é obvio e há quatro anos, mas foi simplesmente a senhorita Peterson, a filha do vigário, durante vinte e seis anos antes disso. Sempre foi muito mandona, ao menos no que se referia a Meg, embora não imperiosa. Mas aparentemente agora dominava a técnica necessária para colocar em seu lugar a todas essas velhas harpías.

A senhora Windham corou, respondeu a saudação e seguiu seu caminho para o Picadilly. —Está sentada aí como se tivesse criado raízes… Levante e entremos. — Emma caminhou para a

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porta principal do Pulteney, onde um porteiro esperava preparado para abrir a porta. Meg desceu os degraus com dificuldade e agarrou o pulso de Emma. — Eu não acho... quero dizer ... Será que realmente temos que...? — Meg lutava para respirar.

Emma franziu a testa. —O que está acontecendo? Você esta se comportando como uma louca. Meg olhou para o porteiro. Ele olhava completamente para frente, como se fosse uma das

muitas estátuas de cerâmica. Provavelmente tinha presenciado um bom número de dramas menores enquanto cumpria seu trabalho, mas Meg não queria acrescentar outra história a sua coleção. Baixou a voz.

—Emma, a senhora Parker-Roth disse se seu filho ia estar presente? Emma sorriu. —Você está ansiosa para vê-lo de novo, hein? —Não! — só a ideia fez com que seu almoço estivesse ponto de ir a ignominiosamente a parar o

pavimento. Sentia as faces pegajosas e os dedos formigavam. Deus Santo! Ia desmaiar? Emma deu-lhe uns tapinhas na mão. —Se acalme. Aposto que o senhor Parker-Roth não está. Atrapalharia muito e tenho certeza de

que ele sabe. —Você acha? — Meg olhou para a carruagem dos Knightsdale. O criado ainda não tinha

retirado os degraus. Se corresse, teria tempo de subir de novo antes que os tirasse — Do que vamos falar exatamente?

—Disto e aquilo. Sua família, seus interesses, seu patrimônio. —Emma… —Planos para o casamento… —Emma! Eu já disse que não vou me casar com o senhor Parker-Roth. —Não seja ridícula. Claro que vai se casar com esse homem. Não tem escolha. — Emma rodeou,

o braço de Meg com o seu e fez um gesto ao estóico porteiro — Vamos. A senhora Parker-Roth já deve estar nos esperando.

Um gigante ruivo abriu a porta do apartamento dos Parker-Roth. —Por favor, diga a sua senhora que a marquesa de Knightsdale e a senhorita Margaret Peterson

estão aqui. — disse Emma. —Oh, são vocês? — o gigante se virou para examinar Meg de cima abaixo — É você a garota do

senhor, hein? — assobiou — Acho que Johnny vai ser um homem feliz antes de seu aniversário. Meg sentiu seu rosto corar. Devia estar tão vermelha como o cabelo do gigante. —Senhor! — disse Emma — Eu não acredito ter pedido sua opinião. O homem sorriu. —Então deveria me agradecer por oferecer tão generosamente, não acha? Emma exalou bruscamente. —Você é um impertinente. —Ah, sim. — seu sorriso aumentou — Isso já haviam me dito antes. —MacGill! — a voz da senhora Parker-Roth ecoou de algum lugar dentro dos quartos — Pare

de brincar com as senhoras e as acompanhe para dentro. MacGill fez uma careta. —Se forem amáveis em me acompanhar… Enquanto o gigante partia pelo um curto corredor, Emma se aproximou de Meg e sussurrou:

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—Este homem é um mordomo muito estranho. Terá que falar com o senhor Parker-Roth depois do casamento e discutir se é adequado para esse trabalho.

—Emma, — respondeu Meg em sussurros também — quantas vezes tenho que dizer não haverá nenhum casamento?

—E quantas vezes tenho que te dizer que não tem outra opção? Você vai se casar com o senhor Parker-Roth.

Emma falou muito alto e MacGill riu entre dentes. Meg estava certa de que ia fazer algum comentário, mas em vez disso ele se colocou de lado para que elas pudessem entrar em um salão.

—Lady Knightsdale, senhorita Peterson, bem-vindas. — a senhora Parker-Roth se adiantou para segurar suas mãos. Em seu rosto formaram-se rugas bem marcadas ao sorrir e seus olhos verdes, iguais de seu filho, brilharam ao vê-las — Me alegra muito que tenham podido me fazer uma visita. — fez um gesto para uma mulher que estava sentada no sofá — Permitam-me apresentar a minha companheira de viagens, a senhorita Agatha Witherspoon. Agatha, lady Knightsdale e a senhorita Margaret Peterson.

A senhorita Witherspoon as saudou com a cabeça. Parecia ter mais de sessenta anos. Seu cabelo era cinza e peludo e o usava muito curto, o que a deixava parecida com um ouriço.

Vestia um estranho traje vermelho alaranjado em torno do corpo. —Um sári. — murmurou Meg surpreendida enquanto a senhora Parker-Roth falava com o

MacGill. Seu pai tinha falado dessa vestimenta hindu uma vez, mas nunca tinha visto um. —Não sinta1. — disse Emma — Simplesmente seja sensata. —O que? —Não acaba de dizer que sentia muito? —Não. —Sim, você disse. Ouvi perfeitamente. A senhorita Witherspoon riu. —Acredito que sua irmã se referia a meu vestido, lady Knightsdale. Emma franziu a testa. —Meg jamais faria um comentário tão desagradável, não é, Meg? —Emma… eu não disse sinto muito, eu disse «sari». —Eu não entendo por que tem que falar em código. Se não ir a… A senhora Parker-Roth se voltou assim que MacGill abandonou a sala. —Desculpe-me, lady Knightsdale. Sou eu que sente muito. Tenho certeza de que o

comportamento de MacGill não é o que você está acostumada a ver. —Não, tenho com certeza. Meg se mordeu a língua. Até que Emma se casou com Charles não estava acostumada a nenhum

comportamento de criado absolutamente. Sua irmã não estava acostumada ser tão altiva. O cansaço de Londres e lidar com a situação de

Meg a estava colocando cruelmente a prova. —O homem é escocês, sabe? É muito independente. É o criado de meu filho, mas atua como

nosso criado para tudo quando saímos de viagem. Seu irmão gêmeo é o jardineiro chefe de Johnny. —Entendo. Assim seu filho o estima muito? —Oh, sim. Johnny acredita que ambos os irmãos são impecáveis. — sorriu — MacGill trará o

1 A confusão da Emma se produz pela pronúncia parecida de ambas as frases em inglês: A sari, «um sari», e I'm sorry, «sinto

muito»

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chá em alguns minutos. Sentem-se, por favor. Meg escolheu uma cadeira de encosto reto com fortes braços de madeira e um assento que tinha

a consistência de uma pequena rocha. Emma se uniu à senhorita Witherspoon no sofá. Seus olhos se arregalaram quando ela finalmente percebeu o traje da mulher.

—Usa um vestido certamente incomum, senhorita Witherspoon. Não creio que tenha visto nada como isso em Kent. É alguma nova moda?

—É um sari, lady Knightsdale — disse a senhorita Witherspoon pronunciando as sílabas com grande claridade — Muitas mulheres naturais da Índia usam. É bastante cômodo.

—Ah… Entendo. Obviamente Emma tinha uma grande dificuldade para encontrar uma resposta adequada. Meg

sentiu pena por ela. —Já esteve na Índia, senhorita Witherspoon? —Oh, sim… Várias vezes. E na África e na América do Sul… Por todo mundo. Faz apenas umas

semanas que voltamos de Sião. —Voltamos? — Meg olhou para a mãe de Parks. A senhorita Witherspoon seguiu o olhar de

Meg e riu. —Oh, não, não Cecilia e eu. Não poderia afastá-la do Priorado durante tanto tempo, embora eu

tentei. Não, viajei com minha querida amiga Prudence Doddington-Prinz. Emma franziu a testa. —E isso é seguro? Duas mulheres viajando sozinhas… —Bom, nunca vamos completamente sozinhas. Estamos acostumados a levar um líder de

expedição. E o senhor Cox está acostumado a nos acompanhar também. No passado foi boxeador e pode ser bastante assustador quando a ocasião requer. Embora não está acostumado a ser assim. Somos viajantes experientes. Não corremos riscos desnecessários.

A senhora Parker-Roth soprou. —Cecilia, você não pode opinar. Vir a Londres de vez em quando é o mais arriscado que você já

fez na em sua vida. — a senhorita Witherspoon revirou os olhos — Leva uma existência tão protegida, tão… insípida.

—Não há nada de insípido em minha vida, Agatha. Tive seis filhos me provocam muito mais excitação do que gostaria.

—Mas, como pode se chamar artista se nunca visitou a Itália, nem Grécia e não viu a arte dos verdadeiros Mestres?

A boca da senhora Parker-Roth se tornou uma fina linha. —Agatha… — ela parou, obviamente esforçando-se para dominar seu temperamento, e depois

sorriu em direção ao Meg e a Emma — Perdoe-me. Esta é a discussão de sempre, eu temo. —Sim é. — a senhorita Witherspoon se inclinou para se aproximar de Meg — Pense muito bem,

senhorita Peterson. Não cometa o mesmo engano de Cecilia: não se apaixone por um par ombros largos.

Meg corou recordar exatamente como se sentia ao ser apertada por um par de ombros largos… um amplo peito e braços musculosos.

—Eu não cometi nenhum engano — disse a senhora Parker-Roth. —Cometeu, Cecilia. Poderia ter sido uma grande artista. —Agatha… —O casamento e a maternidade sãos bons para a maioria das pessoas. Obviamente, se

quisermos que a raça humana continue, alguém deve ocupar-se dar vida para a próxima geração.

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Mas não tinha por que ser você, Cecilia, nem tampouco tinha que ter contribuído com tantas vidas. Um pouco de moderação teria sido bom para você.

A senhora Parker-Roth se ruborizou. —Agatha… —E seu marido nem um título tem para deixar de herança… E, em todo caso, já teria se ocupado

disso de sobra simplesmente com Pinky e Stephen. —Pinky? — perguntou Meg. Parecia que precisava de uma distração. A senhora Parker-Roth dedicou um sorriso desconfortável. —Nós chamávamos Johnny de «Pinky» quando era pequeno para diferenciar de seu pai. Seu

segundo nome é Pinkerton. Agora ele não gosta que o chamemos dessa forma. — se voltou novamente para a senhorita Witherspoon — Agatha, eu não penso…

—Isso é mais do que evidente. — disse a senhorita Witherspoon — Não pensou. Uma vez que conheceu John Parker-Roth em seu baile de apresentação, seu cérebro cedeu o controle de sua conduta …

—Agatha! — …a outro órgão que a levou ao casamento e a maternidade. Mesmo assim, se tivesse parado

depois de Stephen, podia ter ficado livre há anos… Embora tenha que te dar a razão, que Napoleão tornou as viagens pelo continente extremamente difíceis, embora não impossíveis, durante aquele tempo. Mas você sabe que não foi por isso. Não foi um monstro corso que a manteve encadeada na Inglaterra, foi sua própria prole de pequenos monstrinhos.

A senhora Parker-Roth deu um salto. —Isso é ir muito longe! A senhorita Witherspoon deu de ombros. —Bom, está bem. Peço desculpas. São uns monstrinhos muito bem educados. —Eles não são… Você chamou meus filhos… A senhorita Witherspoon tocou o braço da senhora Parker-Roth. —Você poderia ter sido uma grande artista, Cecilia… A mãe de Parks por fim conseguiu dominar sua respiração o suficiente para emitir um ruído

curto e exasperado. —Já me disseram que agora sou tão boa artista como podia ter sido, Agatha. —Eu não acredito. Lembra-se ha anos atrás, quando nos conhecemos na festa de lady Baxter?

Disse que só tolerava a Temporada porque a trazia para Londres e para a Royal Academia de artes. Você jurou que ia desafiar seu pai para perseguir a sua inspiração.

—Eu estava sendo ridícula. —Estava sendo apaixonada. — suspirou a senhorita Witherspoon — Em parte é minha culpa,

suponho. Eu não deveria ter colocado John em seu caminho, mas nunca suspeitei que pudesse ficar tentada por um poeta.

Meg olhou para Emma. Sua irmã parecia muito desconfortável, como se a conversa estivesse galopando em alta velocidade rumo a um precipício e ela não tinha nenhuma forma de pará-la.

—Agatha, por que não pode entender? Não preciso, nem quero, ir a Itália ou a Grécia. A luz da Inglaterra é tão boa como a de qualquer parte. Há muita beleza em nosso próprio canto do mundo. E se tiver que escolher entre a pintura e meus filhos… Bom, então não há escolha que valha. Nada… Nada, é mais importante para mim do que minha família.

A senhorita Witherspoon estalou a língua, levantou as mãos no ar e apoiou as costas no sofá. —Oh, isso é o que se convenceu para acreditar, Cecilia. É o que os homens querem que

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creiamos. Do berço até o casamento nos ensinaram que o casamento é a maior vocação da mulher. E um presunto!

—Só porque você nunca se casou… —Graças a Deus! Eu tive mais cabeça do que vender meu corpo ao melhor lance. —Agatha! Meg baixou rapidamente o olhar e estudou as mãos. A senhorita Witherspoon no mercado

matrimonial? A ideia de que alguém pudesse oferecer por seu corpo forte e velho era ridícula, mas talvez não parecesse um ouriço (um ouriço zangado) quando era jovem.

—Não me «Agatices». É certo que muitas mulheres seriam mais felizes se ficassem solteiras. Dizem «sim, quero» uma vez e depois seus maridos se ocupam de dizer «não» o resto das vezes.

Emma estava franzindo a testa. —Faz com que o casamento pareça uma prisão. —E é, lady Knightsdale. Podem estar confinadas em uma bonita casa de campo e que seu

guarda seja rico e bonito, mas ainda assim estão renunciando a sua liberdade. Têm que atender suas necessidades e deixar que as utilizem a seu desejo quando quiserem, as manuseando quando a necessidade é premente, as deixando grávidas com seus filhos uma e outra vez…

—Agatha! — a senhora Parker-Roth quase gritou — Você está excedendo os limites. A senhorita Witherspoon enrugou o nariz. —Minhas desculpas se tiver ofendido a sensibilidade de alguém. Simplesmente quero salvar a

senhorita Peterson do desastre. —Desastre? Está equiparando casar-se com meu filho a um desastre? —Não tenho nada contra Pinky, sabe, Cecilia. É muito bom, para um homem. —Senhorita Witherspoon. — o tom de Emma era um pouco estridente — O desastre se

produzirá se minha irmã não se casar com o senhor Parker-Roth. Sua reputação estará destroçada. —Tolices. — a senhorita Witherspoon assinalou a Emma com o dedo — A reputação só é

importante se alguém deseja casar-se dentro da boa sociedade. Se isso não for importante, então a reputação, ao menos como define a sociedade, é irrelevante. Olhe para a tia de seu marido, lady Beatrice.

—Não acredito que lady Beatrice seja um bom exemplo. A senhorita Witherspoon continuou como se Emma não houvesse dito nada. —Bea escolheu a vida que queria. As harpias da sociedade fofocaram, mas ela ignorou a todas e,

finalmente, elas tiveram que aceitá-la. — deu pequenos golpes no joelho de Meg — Você pode fazer o mesmo, senhorita Peterson. Ignore essas velhotas. Deixe que sussurrem entre elas e faça como se estivesse surda. Siga o que suas paixões ditam. Porque tem paixões, não é?

—Hã? — paixão. A palavra se tornou ultimamente em um sinônimo de Parks. De suas mãos, sua boca, sua língua… O calor a inundou — Bom… estou muito interessada em plantas.

—Agatha, a senhorita Peterson não pode esperar que a sociedade a trate como fez com lady Beatrice — disse a senhora Parker-Roth — Lady Beatrice é filha e irmã de um marquês. A sociedade é muito mais tolerante com as mulheres que têm famílias poderosas para apoiá-la.

—E a senhorita Peterson é a cunhada de um marquês. A maioria das harpias pensarão duas vezes antes de criticá-la. Terão medo de ofender os Knightsdale.

—E elas devem ter. — respondeu Emma — Charles arrancarias as vísceras de qualquer um que insulte Meg.

—Exatamente. Assim já vê, senhorita Peterson, não tem que se casar com Pinky. —Johnny, Agatha.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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—Johnny. Não tem que se acorrentar a nenhum homem… —Johnny não é um homem qualquer um, Agatha. É um excelente, firme, fiel… —Aborrecido… —Não é aborrecido. — a senhora Parker-Roth fez uma pausa e depois suspirou — Bom, talvez é

um pouco aborrecido, mas se pode confiar nele. —É previsível. —Agatha! Não há nada de errado em ser previsível. Essas mulheres estavam falando do senhor Parker-Roth? Do homem que apareceu um deus

vingador no jardim de lorde Palmerson para salvá-la das garras de Bennington? Que tinha derrubado Bennington de um só golpe? Que a tinha atraído para si e abraçado enquanto soluçava em seu peito?

O homem que tinha metido a língua em sua boca, e depois a boca entre os seios e as mãos… em todas partes?

Meg estremeceu e esse estranho batimento voltou a surgir sob seu ventre. Não tinha absolutamente nada de aborrecido ou de previsível nas ações do senhor Parker-Roth

no salão de lady Palmerson. —Você está bem, Meg? — Emma a olhou com preocupação — Está bastante avermelhada. —Hã? Felizmente o senhor MacGill escolheu esse momento para trazer a bandeja de chá.

Capitulo Oito —Você é a personificação da felicidade doméstica. — Felicity tentou que seu tom fosse ligeiro e

sarcástico, mas o olhar lamentável que Charlotte lançou lhe indicou que não teve êxito. —Eu sou. — os olhos de Charlotte percorreram o salão de baile de lorde Easthaven e pararam ao

encontrar um homem de estatura mediana, com um cabelo que começava a ralear e uma cintura crescente. Ela sorriu — Nunca fui mais feliz.

Charlotte nunca foi mais feliz. Seu primeiro marido, o velhote duque de Hartford, tinha esticado a canela há mais de um ano. Embora, se os rumores fossem certos, foi seu membro e não sua canela que esteve esticada até o último momento. Mas seu último esforço aparentemente deu fruto e, nove meses depois do falecimento do duque, Charlotte deu a luz a um menino, para alívio dela e enorme consternação herdeiro anterior. Um ano e um dia depois de que Hartford exalou seu último fôlego, sua pobre viúva se casou com o barão Tynweith.

Lorde Tynweith concluiu sua conversa com sir George Gastón e se dirigiu para o lado de sua esposa. Felicity franziu a testa. Poderia pensar que eram jovens apaixonados em vez de adultos maduros e experientes. Sua devoção mútua era nauseante.

Suas entranhas se retorceram. Náuseas, isso era o que sentia. Não ciúmes. Claro que não. Que ridículo.

—Tomou a maternidade com muito mais entusiasmo do que pensava. Charlotte não afastou os olhos de Tynweith e um sorriso ligeiro brincou em seus lábios. —Surpreendeu inclusive a mim. —E que sorte que o barão pareça tão contente de ser o padrasto de seu filho. Não é todos os

homens que aceitam bem o filho de seu antecessor, embora o filho seja um duque.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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—Edward é maravilhoso. Felicity se conteve para não soltar um bufo. A generosidade de Tynweith não era difícil de

explicar. Apostaria que era o barão, e não o falecido duque, o verdadeiro pai do novo duque de Hartford. Examinou o homem enquanto se aproximava. Parecia… aborrecido. Certamente ele foi imprudente em sua juventude, mas agora não era diferente de outros nobres de provincianos um pouco entrado em anos.

Exceto pelo fato de ter conseguido entrar na cama de Charlotte e lhe roubar o coração. Algo teria de especial… Algo que não via em seu pouco interessante exterior.

A cara de Bennington com seu nariz proeminente se abriu caminho em seus pensamentos. Humm…

Estava ali essa noite. Falava com lorde Palmerson quando ela chegou. Provavelmente discutiam sobre horticultura. Bennington gostava de muito de plantas.

Sairia com ela para dar uma volta pelo jardim? Charlotte havia dito que se perdeu entre a vegetação dos Palmerson com a senhorita Peterson.

Seu estômago se encolheu. O relógio seguia seu curso. Em qualquer momento a situação financeira de seu pai sairia à luz. Não tinha tempo a perder. Tinha que convencer algum homem a se meter entre os arbustos com ela o quanto antes possível. Bennington poderia servir.

—Você ouviu falar de lorde Andrew? Está em Boston, não é? —Hã? — mas o que acontecia com ela? Sempre tinha pensado que era formal. Muito formal; tão

rígido como um padre. Mas esteve pulando entre a vegetação com a senhorita Peterson… E seguro que nenhum vigário se atreveria a encher daquela forma a urna de tia Hermione…

E era um visconde. Precisava de um herdeiro. E se aproximava perigosamente dos quarenta. Talvez ele também ouvia o tic tac do relógio. —Felicity. —Sim? — olhou para Charlotte. Do que estava falando? Onde estava Tynweith? Ah, parou-se de

novo para conversar com lady Dunlee. Agora que já era um homem casado se tornou em outro perfeito fofoqueiro da sociedade.

—Felicity, você não está me escutando. Talvez estivesse procurando o tipo de homem errado. Talvez os espécimes menos atraentes

eram mais… gratificantes. —Felicity! —O que? Não precisa gritar comigo, Charlotte. Charlotte olhou para cima por um segundo. —Eu perguntei se soube algo de lorde Andrew. Na verdade, não sei como Westbrooke e Alvord

o deixaram viver depois do que fez a lady Westbrooke na festa. Sim, ela tampouco o entendia. Mas no que estaria pensando ele - e ela? —Eu não sei. Não mantenho correspondência com Andrew. Ele havia escrito uma vez lhe pedindo dinheiro. Quando lhe disse que não tinha, ele perdeu

todo seu interesse por ela. Andrew era um desses chamativos. Era muito bonito, mas sua beleza era só superficial. Estava

podre por dentro. Bennington, entretanto… Definitivamente precisava sair para dar um passeio pelos jardins de lorde Easthaven com o

visconde.

***

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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—Eu não posso acreditar que nem um só cavalheiro pediu-lhe uma dança esta noite, Meg. Se

Charles não tivesse que ficar… mas Charlie o queria com ele por causa da dor de ouvido… Se Charles estivesse aqui, com certeza que seria muito mais solicitada.

—Aha. — provavelmente Emma tinha razão, mas por alguma razão a ideia de dançar com um homem que sentia o equivalente social do cano de uma pistola em sua cabeça não era muito apetecível.

—Talvez o senhor Symington esteja procurando par. —O senhor Symington sempre está procurando par. — agora estava procurando outra. Meg

tinha visto que algumas damas se escondiam atrás dos pilares e vasos de barro com plantas quando o baixo, calvo e corpulento senhor Symington passava junto a elas, Symington, o simples, chamavam alguns engraçadinhos. Os rumores diziam que sua Santa esposa tinha morrido de aborrecimento durante um dos discursos de seu marido.

Os rumores também diziam que tinha morrido com um sorriso na cara. Symington, o simples, dirigia-se para elas. Meu Deus! Na verdade ia pedir lhe uma dança

aquele homem? Isso seria uma tortura. Não só era gordo e aborrecido, mas sim também cheirava a alho e cebolas. Mesmo assim, párias como ela não podiam permitir-se escolher. Dançar com ele seria melhor que…

Symington olhou para ela, corou e mudou de direção. —Seguro que lady Dunlee chamou sua atenção. — disse Emma — Sempre está procurando par

para a tola de sua filha. —Claro. — o que Emma disse teria muito sentido, exceto pelo fato de que o novo lorde

Frampton já estava levando lady Caroline, a filha de lady Dunlee, para a pista de baile enquanto lady Dunlee puxava seu marido para a porta do jardim, provavelmente para ver que outros escândalos podia encontrar entre os arbustos.

Essa noite, Meg era tão atraente como esterco fresco de cavalo. A aborrecida sociedade mantinha com ela uma distância segura.

Não se importava. A senhorita Witherspoon tinha razão. Não ia deixar que a sociedade governasse sua vida. Seguiria e a marcaria com sua paixão.

O rosto do senhor Parker-Roth, com seus olhos verdes atrás dos óculos e o cacho de cabelo castanho que lhe caía sobre a testa, apareceu de improviso em sua mente.

Ela corou. Não. Plantas. As plantas eram sua paixão. Estames e estigmas. Folhas, caules e habitats. Nada de mãos, lábios e línguas. Nem de ombros largos, peitos duros nem queixos com uma ligeira covinha. Nada disso.

Ela não precisava um marido. Podia se arrumar muito bem sozinha. Bom, tinha um pequeno problema de financiamento. Não tinha uma tia rica e excêntrica o suficiente simpática para morrer e lhe deixar um fortuna em herança. Não poderia pedir a Charles que a ajudasse, embora ele pudesse dispor de recursos sem nenhum problema. Não queria estar em dívida com ele.

Talvez pudesse pedir à senhorita Witherspoon que a deixasse viajar com ela. Poderia ser útil às duas anciãs uma acompanhante mais jovem. Gostaria de ver o mundo que havia fora da Inglaterra: as dálias de México, as rosas da China, as orquídeas das Índias Ocidentais… Poderia ir em busca de plantas por sua própria conta. Talvez inclusive encontrasse alguma nova espécie: um Rhododendron Petersonus ou uma Fuschia Petersonia.

A ideia não era tão apetecível como acreditava. —Oh, olhe, — exclamou Emma — chegou o senhor Parker-Roth.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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—Ah, sim? — tinha gritado as últimas palavras? O olhar de Emma lhe confirmou que o tinha feito. O que lhe acontecia? O coração tinha acelerado no peito como as asas de um pássaro apanhado em uma rede.

Estava se comportando como uma estúpida. Já não era uma debutante tola para se enganar com a visão de um homem de bom porte que lhe provocava paroxismos de alegria. Embora teria que reconhecer que o senhor Parker-Roth tinha bom porte.

Estava de pé na soleira com sua mãe, saudando a anfitriã. O casaco negro se esticava à altura dos ombros e as calças envolviam umas pernas poderosas. Não era especialmente alto, mas sua presença dominava o ambiente. Certamente que todas as mulheres presente havia notado sua chegada.

Eles tinham feito… Ou, se não o tinham notado, as mulheres que tinha a seu lado avisaram disso. As conversas em sussurros correram como o vento. Todos os olhos femininos passaram de Parks a ela.

Teve vontade de vomitar. —Acho que preciso ir reparar um rasgo em meu vestido, Emma. —Tolices. Não pode… Não houve tempo para debater o assunto. Seu estômago insistiu em que saísse para procurar o

banheiro das damas imediatamente.

*** Ele tinha vontade de vomitar. Saudou lady Easthaven com a cabeça e sorriu. Por que demônios tinha permitido que sua mãe o

convencesse a assistir esse baile absurdo? Deveria ter ficado no White's. Deveria ter-se negado a abandonar o hotel Pulteney. Deveria ter dito que sua cabeça doía. Sua mãe sabia que sofria dessas dores horríveis desde infância. E, além disso, era verdade. Sua cabeça pulsava, desde que abandonou White's. Escutar o discurso de sua mãe sobre o casamento durante toda a viagem na carruagem não contribuiu para melhorar nem um pouco.

Como podia lhe explicar que a senhorita Peterson tinha recusado sua proposta? Por que sua mãe não conseguia entendê-lo? O que esperava, que raptasse à garota? Estavam na Inglaterra, pelo amor de Deus, não em um país incivilizado. Não se sequestrava mulheres no meio da noite e as obrigava a se casar.

Se a senhorita Peterson dizia que não, não havia nada mais que dizer. Além disso, era a cunhada do marquês do Knightsdale. Ela poderia se arrumar perfeitamente sem a proteção de um simples cavalheiro como ele.

Maldição. Só queria voltar para seu quarto, beber uma taça da infusão medicinal de MacGill, apagar as velas e deitar com uma compressa fria sobre a testa.

Olhou a sua volta enquanto sua mãe conversava com lady Easthaven. Onde estava a senhorita Peterson? Certamente que estava ali. Sua mãe não o teria arrastado a essa reunião se não tivesse certeza de que certa senhorita assistiria. Seguro que lady Knightsdale tinha comentado com ela seus planos durante a visita daquela tarde.

Ali estava. Viu o cabelo da senhorita Peterson do marrom quente de terra fértil que refletia com brilhos dourados à luz das velas. Com as costas ereta e a cabeça alta, afastava-se em direção a uma porta que havia no extremo mais afastado da sala, deixando a sua irmã de pé junto a uma coluna. Aonde ia?

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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—Causou certa impressão, senhor Parker-Roth. Como pode ouvir, todo mundo está murmurando como resultado de sua última travessura.

—Travessura, lady Easthaven? Não sei o que quer dizer. — sim que se ouviam muitas conversas em sussurros, e notou que muitas olhadas maliciosas se dirigiam para ele.

Lady Easthaven deu-lhe um golpezinho no braço com o leque. —Sim sei que sabe, senhor. — maldição, olhava-o com um sorrisinho malicioso — Tem que ver

com certa dama. — ela piscou os olhos um olho para sua mãe — Que moço tão peralta que tem, Cecilia.

Sua mãe tinha a boca aberta. Não tinha podido ainda recuperar o fôlego para responder ao comentário.

Ele rangeu os dentes. Ele sim que tinha uma resposta, mas estava seguro de que não era muito educado golpear à anfitriã na cabeça com seu próprio leque. Ainda assim, teve que se esforçar para reprimir o impulso.

—Acho que você foi mal informada, lady Easthaven. —Mal informada? Eu não acredito. Lady Dunlee… —É a maior fofoqueira da Inglaterra. Espero que não acredite em todas as histórias que conta… —Bom, eu… Sua mãe recuperou a fala o tempo suficiente para replicar. —Ouviu alguma vez que John se visse envolvido em algo que se parecesse remotamente a uma

travessura, Dorthea? Lady Easthaven franziu a testa. —Bom não, não exatamente. —Não, absolutamente. John não é dado a travessuras, verdade, Johnny? Travessuras? Ele podia lhes falar de travessuras. Tinha cometido alguma bastante interessante

no salão de lady Palmerson. —Definitivamente não. São muito inadequadas. — ele se sentia surpreendentemente

inapropriado nesse momento. A senhorita Peterson não estaria procurando algum outro entretenimento no jardim, verdade?

—Senhor Parker-Roth. — a voz de lady Easthaven soou estranhamente alegre — Acaba de rosnar?

Ele olhou para as damas. Ambas o olhavam com os olhos totalmente abertos como um casal de mochos.

—Não, claro que não. Eu não rosno. Que ridículo! — precisava falar com a senhorita Peterson, mas tinha desaparecido atrás dessa maldita porta — Se me desculparem…

Não se incomodou em esperar que as mulheres lhe dessem permissão. Lady Easthaven podia queixar-se agora do pequeno empurrão que tinha lhe dado. Mal podia

escapulir-se pela periferia da sala, maldição. Aonde demônios foi a senhorita Peterson? Lady Knightsdale deveria vigiar melhor sua irmã. Depois de tudo, foi a tendência da garota a desaparecer entre os arbustos que tirou a marquesa das campinas de Kent para trazê-la até os salões de baile de Londres.

Lady Knightsdale estava demonstrando ser uma acompanhante tão pouco estrita como lady Beatrice.

Certamente que a senhorita Peterson não teria se atrevido a escapulir para o jardim, verdade? De todas as formas, se esse era seu destino, tinha tomado a porta equivocada… Embora também podia ter se tornado mais ardilosa; talvez tinha escolhido uma rota circular para chegar a fim de se

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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encontrar com seu amado dessa noite. —Parks! Vejo que conseguiu sair do White's por seu próprio pé. Está seguindo meu conselho e

persegue Meg? Westbrooke obviamente tinha compartilhado muito tempo com alguma garrafa de brandy. —Pode baixar o tom? —Não suba pelas paredes. Ninguém pode me ouvir entre todo este estrondo. Parks olhou a seu redor. Muitas mulheres o estavam olhando, mas nenhuma tinha reagido de

uma forma óbvia às palavras do conde. Talvez Westbrooke tivesse razão, mas ele preferia não se arriscar. Baixou a voz esperando que o conde fizesse o mesmo.

—Onde está sua querida esposa? O conde apontou com o queixo; tinha ambas as mãos ocupadas com o que pareciam ser dois

copos de limonada. —Lizzie está ali, com a duquesa de Alvord. — levantou sua carga — Me mandaram para

buscar-lhes umas bebidas. —Ah entendo. Bom, será melhor que se apresse. Parecem mortas de sede. —Tolices. É você que quer escapar a algum lado, verdade? — Westbrooke sorriu — Aposto que

vai para o jardim esperando encontrar de novo com Meg entre os arbustos. A aparência de Westbrooke poderia melhorar com uma aplicação liberal de limonada por cima

de sua cabeça. —Claro que não. Simplesmente quero inspecionar as plantas de lorde Easthaven. — Uh-huh.. — o conde fez uma careta — Espero que esteja brincando, mas suspeito que não. —

voltou a elevar ambas as limonadas em um fingido brinde — Bom, que divirta com a vegetação… e com qualquer moça que te encontre rondando por aí.

Não tinha sentido responder. Westbrooke parecia muito divertido em seu humor… e não precisava que o resto do mundo compartilhasse essa diversão.

Parks o viu afastar-se e pôde escapulir-se em direção ao ar fresco da noite. Em um segundo, a luz e o ruído do salão de baile ficaram para trás.

Respirou fundo e expirado lentamente, deixando que os calmantes aromas da terra e vegetação o tranquilizassem. Estava perdendo perspectiva. Sempre ficava tenso quando estava em Londres, mas agora era muito pior. Esfregou-se a testa. Precisava com desespero uma xícara da infusão calmante de MacGill.

Westbrooke o tinha deixado de bastante mal humor. Isso não era o normal. Poucas vezes perdia a paciência com seus amigos. O que estava acontecendo com ele?

O semblante da senhorita Peterson apareceu em sua mente. Inspirou fundo de novo. Claro que estava pensando nela. Tinha saído ali fora para encontrá-la,

não? Para evitar que complicasse mais as coisas mais do que já tinha feito. Para evitar que se visse na situação em que se encontrava a última vez que se aventurou em um jardim… e entrou numa discussão com um homem.

Juntou as mãos às costas. E exatamente por que estava envolvendo ele? Ela tinha recusado seu pedido de casamento. Não lhe agradeceria que se entremetesse em suas aventuras.

Aventuras… Demônios! Não queria que a senhorita Margaret Peterson tivesse aventuras com outros homens.

Não queria que outros homens fizessem com ela o que ele fez com ela no salão de lady Palmerson. Não queria que outro homem a tocasse… a beijasse…

Oh, que confuso era tudo! Assaltaram-lhe insidiosas lembranças de seios brancos como o leite

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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coroados por mamilos rosados que pertenciam a seus dias de juventude. Agora era muito maior para permitir que o distraíram essas imagens libidinosas.

Faria uma visita a Cat assim que chegasse ao Priorado, talvez inclusive antes de se ocupar com o novo carregamento de plantas.

Começou a caminhar para o interior do jardim. Tudo tinha sido culpa dessa mulher com ânsias de independência. Se tivesse se comportado

como uma jovem correta, ele não se veria agora nesta situação. Lady Easthaven nem sequer teria notado sua chegada, sua mãe não estaria lhe exortando uma e outra vez com o tema do casamento e, o mais importante, ele não se veria torturado por escandalosos sonhos que o faziam despertar pela manhã desconfortavelmente cansado.

Toda aquela situação era muito chata. E onde demônios estava a senhorita Peterson agora? Examinou a vegetação que lhe rodeava.

Estaria praticando alguma conduta lasciva entre esses arbustos? Teria seduzido a algum pobre ingênuo para que a acompanhasse a algum lugar coberto por eles?

Havia muita folhagem para ocultar qualquer atividade lasciva que a senhorita Peterson queria provar. Lorde Easthaven tinha permitido que suas plantas crescessem muito. Ou o homem tinha uns jardineiros incompetentes ou que estava animando intencionalmente a suas hóspedes para que tivessem ali atos libidinosos? Teria que falar com o conde na seguinte reunião da Sociedade de Horticultura… Agora mesmo o homem não estava à vista.

Ouviu umas risadas abafadas e um murmúrio masculino mais baixo. Outra risada, um rangido de folhas e depois o silêncio.

Demônios, ela estava ali fora. Com quem estaria agora brincando? Não seria com Bennington… Por Deus, seguro que não precisava repetir; havia uma larga cauda de cavalheiros mais que alegres de ver-se arrastados entre os arbustos. Mas isso não era assunto dele. Ele não tinha nada que ver com ela.

E então por que estavam levando seus pés para o arbusto aonde se ouviam os suspiros? Deveria virar e voltar para salão de baile. Agora não fazia falta que ninguém resgatasse à senhorita Peterson… Pelo que podia ouvir, desta vez estava desfrutando imensamente.

Mas seus pés se negaram a atender a razões. Carregou contra um ramo e agarrou ar para informar à senhorita Peterson do que pensava exatamente de seu comportamento.

Mas as palavras ficaram atravessadas na garganta. Deus Santo. Acreditou que ia se morrer de vergonha ali mesmo, no desarrumado jardim de lorde Easthaven.

*** Meg alcançou o banheiro das damas sem arruinar nada… Ao menos sem arruinar nada mais,

pois que já o tinha arruinado antes. Graças a Deus o cômodo estava vazio. Inspirou fundo, conteve a respiração e sentiu que seu estômago começava a assentar.

Como ia voltar a sair dali e enfrentar toda a sociedade, toda a depreciativa, fofoqueira e maliciosa sociedade? Cobriu o rosto com as mãos.

Melhor ficaria ali até que fosse hora de ir. Ela… —Escondendo-se? —Hã! — Meg girou a cabeça com tanta rapidez que se fez mal ao pescoço. O estômago lhe

revolveu de novo. Lady Felicity Brookton estava de pé na soleira.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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O que podia ficar ainda pior para a noite? —Não estou me escondendo. Felicity riu. —Mentirosa. —Eu garanto, só é que… quero dizer, queria… me sentia… — Oh, por que incomodar-se em

dissimular? Estava mais que claro que Felicity não acreditava nenhuma palavra do que lhe estava dizendo — Está bem, suponho que sim estou me escondendo.

—Não podia suportar como essas velhas harpias afiam as unhas em sua pele? Fuçam loucas com um só salgadinho de fofocas, mas você lhes ofereceu um prato cheio até em cima: uma solteirona que vai cumprindo anos, cunhada de um marquês, que foi desaparecendo entre os arbustos com uma longa lista de homens… E ao fim conseguiu que o reticente senhor Parker-Roth chegue a se comportar de forma pouco adequada. — Felicity sorriu — Delicioso.

—Eu… — Meg colocou a mão sobre a boca — Não me encontro bem. Felicity lhe aproximou um urinol com o pé. —Eu também já passei por isso uma vez. Então tudo fica mais fácil. —Ah, sim? — Meg se sentou e inspirou fundo de novo. Evitou olhar o urinol. Mas o deixou à

mão se por acaso fosse necessário. Felicity se sentou na cadeira que tinha a seu lado. —Sim. Claro que eu só tinha dez anos a primeira, e única, vez que deixei que a sociedade me

provocasse um desgosto. — afastou o olhar e brincou com um pé, com a boca apertada com força. Meg teve a urgente necessidade de tocar o joelho da outra garota para lhe transmitir sua

simpatia. —O que aconteceu? Felicity deu de ombros. —Nada, realmente. Só estava em Londres dois dias. Antes disso tinha passado toda minha vida

no campo, com minha mãe. Mas ela morreu, assim que criados me enviaram com o demônio do conde. — sorriu brevemente — Meu pai ficou muito surpreso ao me ver ali, de pé em sua porta.

—Ninguém mais quis te acolher? — Meg tentou que o horror não se filtrasse em sua voz, mas uma menina de dez anos aos cuidados de Needham…?

—Não. Eu acho que o conde podia ter-me mandado outra vez de volta ao campo para que os criados se ocupassem de mim, mas não o fez. Acredito que se esqueceu de mim quase imediatamente. E isso não era tão mau, uma vez que se acostuma.

—Oh. — Meg não podia nem imaginar-lhe, mas claro, ela tinha crescido com papai. Mesmo que fosse avoado, sobre tudo quando estava imerso em uma tradução do grego, mas não havia dúvida de que a queria.

—De todas formas, — prosseguiu Felicity — o segundo dia que passei em Londres, estava passeando e me dirigia à zona de jogos que havia no centro de uma praça. Ouvi a risada de uma menina e vi lady Mary Cleveland brincando junto à fonte. — olhou para Meg — Pensei que poderia ter encontrado, uma amiga… até que sua mãe chegou correndo para salvá-la da má influência.

—Lady Cleveland é suscetível quanto às maneiras e a disciplina. Felicity bufou. —Isso quer dizer pouco. Olhou-me como se fosse uma encarnação do diabo. Agarrou lady Mary

e a separou de mim sem deixar de gritar à babá — a voz do Felicity adotou um tom de imitação— «Você não sabia que era a filha do Needham?».

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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—Oh, isso é horrível. Lady Felicity deu de ombros. —Realmente foi uma forma excelente de me introduzir na sociedade. Aprendi uma importante

lição que agora estou compartilhando com você: a única forma de sobreviver em Londres é que não dá a mínima com o que essa gente pensa. — sacudiu a cabeça — Tentei enfrentá-los quando fiz minha apresentação em sociedade, mas logo me dei conta de que era impossível. Assim agora faço o que quero. Sempre e quando for moderadamente discreta, me recebem na maioria dos lugares. As ladys Cleveland da sociedade nunca o farão, mas como eu as acho tremendamente aborrecidas, não me importa que me fechem suas portas na cara.

—Entendo. — Meg engoliu em seco. Uma menina de dez anos sendo objeto de tal maldade… Pobre Felicity. Mas tinha razão. Meg endireitou os ombros. Fazia muito tempo que acreditava que a sociedade era tola e inútil, e onde estava agora? Caindo na armadilha do que importava o que pensava seus membros. Não ia continuar com isso.

—Bom, o certo é que não a segui até aqui para lhe dar um conselho — disse lady Felicity. —Seguiu-me? —Sim. Tenho que lhe fazer uma pergunta. Charlotte, quero dizer, a baronesa Tynweith e

anterior duquesa de Hartford me disse que a viu em casa de lady Palmerson a noite do… incidente com o senhor Parker-Roth.

Meg ficou tensa. Não queria falar daquela noite não. Felicity se inclinou para diante. —Charlotte me disse que você saiu ao jardim com lorde Bennington, não com o senhor Parker-

Roth. Então, por que não se viu o nome do visconde misturado com o seu? Meg pigarreou. —É um pouco complicado. —Como complicado? —A verdade, lady Felicity, não acredito que… Felicity elevou a mão. —Eu esclarecerei. Não preciso, nem quero, saber os detalhes. Só me responda a isto: tem algum

interesse em lorde Bennington? —Não! — que ideia mais repugnante! Ver-se submetida ao manuseio desse homem de novo…

Talvez sim que ia necessitar esse urinol — Definitivamente, não. —Bem. — Lady Felicity sorriu — Perguntei por que eu sim que tenho interesse nele. —Entendo. — deveria advertir a lady Felicity de que os lábios do Bennington tinham uma

semelhança com duas lesmas? Ridículo. Felicity era suficientemente capaz de fazer seu próprio julgamento sobre a questão — Tem o caminho mais que livre.

—Obrigada. Agora será melhor que voltemos para salão. O salão de baile? E enfrentar as risadas afogadas, os sussurros e os falatórios da sociedade? —Não estou segura de que isso seja uma boa ideia. — o estômago do Meg se retorceu de novo.

Pode que não lhe importasse o que pensasse a sociedade, mas não desejava expor-se a seu desagradável escrutínio, isso estava claro.

—Bom, pode passar-se toda a noite aqui. Se veio especialmente para admirar o gosto bastante estridente que tem lady Easthaven quanto aos móveis?

Meg baixou a vista para olhar as esfinges douradas com grandes asas que serviam de apoio aos braços da poltrona. Umas esfinges com peitos bastante proeminentes…

—Não, claro que não.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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—Então vamos. — Lady Felicity ficou em pé — Mostre um pouco de coragem. Estava lady Felicity insinuando que era uma covarde? Meg se levantou com rapidez… e então

recordou os rumores dos quais fugia. Possivelmente a covardia não era completamente desprezível. Era mas bem… prudência. Se ficava ali…

Ouviu umas risadas que se aproximavam. Oh, não. Fechou os olhos um momento. Por favor, que quem se aproximava fosse para algum outro lugar… mas a que outro lugar podiam ir?

Ouviu que alguém dando um pulo e olhou para a porta. Duas jovens debutantes estavam de pé, congeladas na soleira. Tinham idênticos olhares de horror em suas caras ao olhar para Meg e depois a Felicity e finalmente para Meg de novo.

—Não se preocupem, senhoritas — disse Felicity — Já íamos. Voltou-se e ofereceu o braço a Meg. Um leve sorriso curvava seus lábios. —Vem, senhorita Peterson? Meg duvidou só durante um segundo. —Sim, lady Felicity, vou. Uniu seu braço com a filha do temível lorde Needham e passou roçando às duas virgenzinhas

que tinham as cabeças abaixadas.

Capítulo Nove —Minhas mais sinceras desculpas. Eu os confundi com outras pessoas. — Parks teria retirado

sem fazer nenhum comentário se pudesse, mas lorde Dawson o viu. Grace virou-se entre os braços de seu marido. Estava muito escuro para ver se suas faces tinham

o mesmo tom que o cabelo que lhe caía sobre os ombros. —Ah, sim? — Dawson sorriu — Pergunto-me a quem estaria procurando. —Eu não estava procurando ninguém. — uma pequena mentira — Saí para tomar um pouco de

ar…O ambiente lá dentro está muito carregado. Quando vi que havia alguém aqui, pensei… — não ia lhes dizer o que pensou — Bom, já me desculpei pela intrusão. — maldição, agora era ele quem estava corando. Por sorte estava na penumbra — Eu irei imediatamente. Por favor, continuem com o que estavam fazendo.

Oh, o que foi que disse? Na escuridão ou não, se ele continuasse por esse caminho, sua cara poderia iluminar todo aquele bairro de Londres.

Dawson tinha os dentes brancos e perfeitos. —Bem. Ficarei encantado em acabar o que estava fazendo. Onde estávamos, querida? —Oh, para com isso, David. — Grace se ajustou o corpete e afastou uma mecha de cabelo para

trás da orelha — Sua frivolidade será sua ruína. — sorriu — Como está, John? —Eu estou bem. — estaria melhor se pudesse escapar desse lugar. Dava-se bem com Grace e

Dawson. Não havia rancores por sua parte. Diabos, ambos estavam casados há anos; teve tempo suficiente para assumir… as coisas. Mas isso não significava que ele estivava encantado de estar ali de pé, conversando com eles. Sobre tudo tendo em conta o que estavam fazendo… e que iriam continuar assim que ele partisse. Era óbvio para ele que Dawson estava ansioso por seguir fazendo amor com sua mulher.

Mas realmente aquele homem não podia esperar até que voltassem para casa? Ele teve a infelicidade tropeçar com eles, mas Dawson deveria ter previsto que isso podia acontecer. Afinal

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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estávamos, estavam em uma reunião social muito concorrida. —Estava admirando os jardins de lorde Easthaven, John? — Grace soava divertida. Ela sempre

achou estranha sua fascinação pela botânica. Mas ele nunca se importou com isso. Ela era bonita e encantadora, e a terra de seu pai divisava com a sua. Se conheciam desde à infância.

—Não, na verdade. Easthaven tem uma seleção de plantas da mais ordinária e seus jardineiros deveriam receber uma reprimenda por não ter cuidado apropriadamente delas. Este teixo2, por exemplo, necessita urgentemente de uma poda.

—Oh, não sei se estou de acordo, — disse Dawson — eu gosto muito do fato de estarem tão descuidado. Serve admiravelmente como tela. — riu — Já pensou alguma vez que talvez Easthaven queira dar a seus hóspedes alguma oportunidade de encontrar um pouco de diversão entre as plantas?

—David! Tenho certeza de que John não sabe a que você quer dizer. Que não sabia a que se referia? O que Grace pensava que era, um eunuco? Certo que nunca

tentou vê-la a sós entre a vegetação, mas isso não significava que não fosse completamente consciente das possibilidades que oferecia uma folhagem muito crescido.

Dawson lhe dedicou um olhar de comiseração. —Se os rumores que andarem pelo salão são certos, Grace, Parker-Roth sabe exatamente a que

me refiro. Grace franziu a testa. —Eu tinha a intenção de perguntar-lhe sobre isso, John. Quem é a senhorita Peterson? —É a irmã da marquesa de Knightsdale. Seu pai é vigário, eu acho. — ele tinha algo atravessado

na garganta. Tentou tirar pigarreando. Também tinha a boca seca — E deveria ignorar os rumores, lady Dawson.

—Grace. Por favor, John, está sendo ridículo. Crescemos juntos, depois de tudo. Se não fosse esse lamentável mal-entendido…

—Mal-entendido! — ele mordeu o lábio. Prometeu a si mesmo que não ia falar do assunto com ela.

—Sim, claro. Esse mal-entendido. Grace colocou a mão em seu braço. —Tentei me desculpar. Você sabe que tentei. Foi tudo minha culpa. Deveria ter enfrentado pai

muito antes. E sim, eu te amei, eu te amo, mas como uma irmã do que como uma esposa. Deus Santo. A noite poderia se tornar ainda mais embaraçosa? —Sim, bom, isso já não importa. Quero dizer, deixemos correr. Isso é passado. Quantas menos

voltas darmos melhor. Por favor. —Mas deveríamos falar, John. Dawson colocou o braço sobre os ombros de sua esposa. —Grace, eu acho que Parker-Roth preferiria que falassem de outra coisa. — riu — De fato, penso

que o pobre homem preferiria que não falasse de nada e o deixasse escapar de novo para o salão de baile.

—Bom, é que não posso, David. — Grace apertou o braço de Parks — John, quero que seja feliz. Todos esse anos me perseguiu o remorso pelo que fiz. Eu não o fiz o certo… nada certo.

—Por favor, lady Dawson… — sacudiu o braço.

2 Uma árvore gimnospérmica da família das Taxáceas que nasce de forma espontânea nas terras altas de Portugal, podendo, no

entanto ser também cultivada. Esta árvore é venenosa e já tem havido mortes pela ingestão de bagas/folhas da mesma.

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—Eu deveria ter ido à igreja e diante de toda sua família e amigos e dar uma explicação. Nunca devia ter deixado para que enfrentasse todos eles sozinho. Eu quis te pedir perdão após… e o estou fazendo agora.

—Não há necessidade de se desculpar. Foi… — foi o momento mais doloroso de sua vida. Mas era óbvio que Grace estava arrependida. E ele… ele queria terminar com aquela conversa — Já se passou faz quatro anos. Não pensemos mais nisso.

—Mas não é justo. Eu fui muito feliz. — apoiou a cabeça contra o peito de Dawson — Eu acho que você não foi.

—Lady Dawson, por favor. Maldição. Ele tinha pensado que o que sentia era um amor não correspondido por Grace, mas

nesse momento a única coisa que sentia era irritação. Será que ela não podia entender que ele não queria de maneira nenhuma falar do tema? Olhou para Dawson. O homem sorriu pormenorizado e deu de ombros.

Não precisava de compreensão, necessitava ação. Lorde Dawson deveria puxar Grace para voltar para dentro… ou para meter-se de novo entre os arbustos. Algo que a distraísse de sua atenção atual: ele.

—É essa senhorita Peterson é a pessoa que pode fazê-lo feliz, John? Parks olhou para o céu com expressão esperançosa. Talvez caísse uma tormenta repentina e

pusesse fim a essa incômoda conversa. Não, conversa não, monólogo. Não havia nenhuma nuvem à vista. —Não deve se casar com ela se for fazê-lo infeliz, John. Eu receio que é possível que seja

precisamente isso que acontece. Ela não tem o que se diz, uma boa reputação. Há rumores de que andou desaparecendo entre os arbustos com homens diferentes durante toda a Temporada.

A fúria formou redemoinhos em suas vísceras. —Lady Dawson, não deve falar mal da senhorita Peterson. — Maldição, de onde tinha saído

isso? Bom, qualquer emoção era melhor que a vergonha que o deixou paralisando. Respirou fundo para se acalmar — Desculpe-me, mas tenho que lhe dizer que deixe de se preocupar com meus assuntos amorosos.

E com essas palavras se retirou para a segurança do salão.

*** —Uau. — Grace piscou e observou Parker-Roth enquanto este se afastava. Nunca tinha falado

dessa forma com ela. Não que não tivesse merecido; a maneira como o tratou não foi nada apropriado. Ela estremeceu com a lembrança. Não pretendia… não se deu conta de que… deu um breve suspiro. Suas intenções não importavam. Havia de feito dano a John.

Queria desesperadamente corrigir. —Eu diria que te colocou em seu lugar, querida. —Sim. — afastou uma mecha de cabelo do rosto — Talvez isso seja bom. No passado John foi

tremendamente educado comigo, quando não pôde me evitar, claro, mas eu sabia que estava furioso. E como não ia estar? Eu o deixei plantado no altar.

—Você não pôde evitar. —Eu deveria ter evitado. — se pudesse voltar atrás e fazer as coisas de uma maneira diferente…

— Eu nunca aceitei me casar com ele, sabe? Meu pai arrumou tudo. —Eu sei. — David a beijou — Parker-Roth é um idiota.

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Ela riu. —Você é o idiota, David. — ela se aproximou para rodear seu pescoço com os braços — O certo

é que não tinha precisamente uma fila de pretendentes na porta pedindo minha mão. A maioria dos homens da boa sociedade não prestavam mais atenção em mim do que a uma pedra do caminho.

—A maioria dos homens da boa sociedade são uns anões mentais. Ela sorriu. —Não, eles não são. Você que é um gigante. —E você adora cada centímetro de meu corpo comprido e musculoso. Seu sorriso cresceu. —Você já sabe que sim. — deslizou a mão pela frente de suas calças — Cada centímetro. David tomou sua boca e continuou com as deliciosas atividades que estava realizando quando

John os interrompeu. Deus, quanto o amava. Sempre que pensava em que tinha destroçado a vida de John, se

lembrava que sua própria vida teria sido destroçada se não tivesse se casado com o homem que a beijava com paixão nesse momento. Ardia por ele, inclusive depois de quatro anos de casamento e dois filhos.

Se tivesse ido à igreja como insistia seu pai e houvesse feito os votos com John, estaria presa em um casamento educado, sem paixão e aborrecido. Teria sido o inferno.

A boca do David se mudou até uma área muito sensível no pescoço. —Vamos para casa, Grace. — as palavras lhe fizeram cócegas na orelha e fizeram que um

estremecimento lhe percorresse as costas — De repente preciso ir para a cama. —Ah, está com sono, David? —Absolutamente — disse pressionando seu quadril contra a dela — Estou muito acordado. Ela riu. —Eu já vejo… ou melhor dizendo, já sinto. —Tenho vontades de te fazer sentir ainda mais. —Então. Não podemos ir correndo como recém casados. —E por que não? —A sociedade se escandalizaria. —Bem. David colocou a mão sobre um seio. Oh, que maravilha. Talvez pudessem escapulir pela porta

de trás… Não. Queria ver a senhorita Peterson. Era certo que os planos ou a falta de planos matrimoniais

de John não eram de sua incumbência, mas não podia evitar. Precisava descobrir que tipo de mulher era a senhorita Peterson. Se a mulher fosse uma harpia, ela encontraria uma maneira de pará-la. Pode ser que John não agradecesse, mas não podia ficar ali e vê-lo sofrer mais. Os homens pensavam muito frequentemente com o órgão que guardavam em suas calças.

David agarrou seu traseiro e a empurrou contra esse órgão precisamente… esse órgão que estava mais que duro.

—Para. —É isso que quer? Se não lhe falasse com firmeza, os dois passariam a noite toda ali fora… Não que fosse um plano

pouco atraente, mas era impossível. —Sim, isso é o que quero. Quero ver o que dá de si a senhorita Peterson.

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—Parker-Roth disse para se manter afastada de seus assuntos. —Sim, eu sei. Mas, infelizmente, eu prefiro ignorar seu comentário. —Comentário? Pareceu-me uma ordem. —Eu não cumpro ordens de ninguém. David riu. —Sim, eu sou muito consciente disso. —Oh, para já. Está sendo ridículo. Ajude-me a arrumar um pouco minha aparência, ok? Tenho

certeza de que deve parecer que me arrastou de costas até os arbustos. —Bom, muito interessante despenteada, mas duvido que ninguém jogue a culpa na vegetação. —Claro que não… Todo mundo saberá o que estivemos fazendo. Arrasta-me para o jardim em

todos os eventos sociais que assistimos. —Eu acho que esta noite foi você que me arrastou. Grace deu de ombros. —Você me ajuda? —É obvio. Depois de quatro anos de casamento e de uma infinidade de excursões aos jardins, lorde

Dawson se familiarizou bastante com as tarefas próprias de uma criada de uma dama.

*** Meg viu Parks esgueirar no salão da porta que dava para o jardim. O que ele esteve fazendo?

Não é que fosse assunto seu, é obvio, mas parecia culpado de alguma coisa. Seu rosto parecia tão inexpressiva que certamente estava escondendo alguma coisa. O que seria?

Teria um compromisso com alguém entre os arbustos? Ela escondeu atrás uma coluna quando ele olhou em sua direção. Afinal, agora que pensava bem, ele também esteve rondando pelo jardim de lorde Palmerson.

No momento não notou isso, tão alegre como estava quando ele a resgatou do desagradável lorde Bennington, mas agora sim lhe parecia estranho. Estava Parks simplesmente admirando a flora ou tinha saído para admirar algo mais? Ou alguém…

Era por isso que os homens rondavam os jardins durante as reuniões sociais, não? Para roubar um beijo… ou algo mais.

Olhou a planta com ar doentio que havia no vaso de barro que compartilhava com ela seu esconderijo. E pensar que se sentia culpada por ter apanhado, de forma completamente inconsciente, o pobre senhor Parker-Roth e ele se viu obrigado a fazer-lhe um pedido… Ela tinha acreditado que ele passava inocentemente por ali, que era um bom samaritano desinteressado.

Mas que ingênua tinha sido! Sim, era certo que ele não tinha nenhuma culpa de sua situação, mas não teria culpa do que ocorria em outra parte do jardim?

Ele disse que não queria se casar nunca. Por que seria contra o casamento? Porque uma mulher restringiria suas excursões amorosas, essa era a razão.

Teria uma amante e uma grande quantidade de mulheres complacentes sempre a seu dispor. Seguro que sabia tudo sobre a arte da paquera. Se suas ações no salão de lady Palmerson podiam servir como indício, era um mestre da sedução. Só um canalha experiente saberia onde pôr os lábios… e a língua…

Ela corou. Isso nunca deveria ter acontecido… Não ia voltar a pensar nas ações que aconteceram no salão de lady Palmerson.

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Mas esse homem tinha que ser um consumado canalha. Um descarado. Como teve a desfaçatez de repreendê-la por seu comportamento? Isso era a frigideira dizendo à chaleira: «se afaste que me suja».

Agora mesmo gostaria de ter uma frigideira à mão. Utilizaria-a para lhe ensinar maneiras ao Dom Superioridade Moral, também conhecido como o senhor Parker-Roth. Ela olhou por um lado do pilar. O desgraçado estava falando com lady Easthaven nesse momento.

E ninguém o estava tratando como se ele tivesse o equivalente social da peste bubônica. E por que a tratavam assim? Isso não era justo.

Não ia se esconder ali como essa planta deplorável. Examinou-a mais de perto. Alguém deveria movê-la para um lugar mais agradável. Tocou-lhe as folhas murchas. Pode ser que já estivesse além da salvação.

Mas ela não. Ia fazer exatamente o que lady Felicity tinha aconselhado: ignorar a opinião da sociedade. Seria como a senhorita Witherspoon e lady Bea. Seria ela mesma. A sociedade podia aceitá-la ou rejeitá-la, mas isso não ia mudar.

Podia fazer o que quisesse e agora mesmo o que queria era entrevistar possíveis candidatos ao casamento no jardim. Afinal, uma garota não podia passar vida esperando que um cavalheiro com armadura brilhante aparecesse magicamente e a tomasse nos braços e a levasse para viver uma vida própria de conto de fadas.

A imagem do senhor Parker-Roth se misturou em seus pensamentos, mas a afastou bruscamente. Não ia consumir sua vida esperando o amor. Isso é o que havia feito Emma. Emma esteve apaixonada por Charles desde a infância, mas não havia feito nada para demonstrar seus sentimentos. Foi apenas uma questão de sorte – má sorte para o irmão de Charles, mas boa para a Emma – que Charles herdasse o título, voltasse para casa e se casasse com ela. Se o irmão de Charles não tivesse sido assassinado, Emma seria uma solteirona que cuidava da casa do pai e deixava todos loucos.

Voltou a examinar o salão de baile. Emma estava falando com a senhora Parker-Roth no extremo mais afastado do salão e Parks estava falando com lorde Featherstone agora. Que apropriado. Certamente estava pedindo conselho ao velho libertino. Asqueroso.

Ela saiu detrás da coluna e examinou o panorama, com cuidado de permanecer oculta dos olhos de Emma. Seu plano não funcionaria se sua irmã chegasse a cruzar o olhar com ela.

Vamos ver… que homem ia levar aos arbustos? Lorde Locklear? Muito jovem. O senhor Cashman? Muito velho. O conde de Tattingdon? Muito gordo.

Lady Felicity tinha encurralado lorde Bennington e o guiava para a porta do jardim. Ele sorria ligeiramente e seu enorme nariz projetava sua sombra sobre seus lábios de lesma. Yuck! Felicity tinha o caminho mais que livre no que dizia a respeito a lorde Probóscide3.

Uma mulher alta e um homem ainda mais alto entraram pela porta que saíam Felicity e Bennington. Pareciam um pouco desalinhados, como se tivessem estado fazendo algo mais apropriado para um dormitório do que para um jardim. O homem sussurrou alguma coisa ao ouvido da mulher enquanto lhe tirava uma folha de cabelo. A mulher riu.

Deviam estar casados, porque suas ações não provocaram uma tormenta de cochichos… Devia ser um bom casamento assim como o de Emma e Charles, Lizzie e Robbie, a duquesa e o

duque de Alvord… todos eles tinham esse tipo de casamento, mas eles eram exceção não a regra. Não podia olhar tão alto. Lorde Frampton estava de pé, sozinho. Quase não tinha olhado desde

3 S. f. Zool. Tromba do elefante.

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que estava em Londres, mas agora que fazia… Poderia valer a pena. A verdade é que não era tão feio. Tinha a noz muito grande e subia e

descia de uma forma que distraía bastante cada vez que engolia. Além disso, o cabelo castanho terroso começava a rarear, mas pelo menos a acne que o haviam de fato ganhar o apelido de «Grãos» tinha desaparecido. Agora que acabava de herdar o título, os falatórios diziam que tinha deixado para trás as loucuras de sua juventude. Já não tentava colocar leitões nos salões dos nobres…

Precisava de um herdeiro, assim devia estar procurando uma esposa, e não era provável que houvesse uma fila de mulheres competindo pelo posto. Era apenas um barão, e não era nem o mais rico nem o mais atraente dos espécimes. Seria um trato justo: sua casa para ela, seu corpo para ele.

Seu estômago se retorceu. Dito assim, a ideia era bastante difícil de digerir. Melhor não pensar muito nisso. Não podia ficar exigente com as condições. Ela só era a filha de um vigário, embora também fosse a cunhada de um marquês. Não podia levar para altar muito mais que seu corpo.

Observou como saltava a noz de lorde Frampton quando ele bebia um gole de champanha. Se pelo menos o homem tivesse um enorme jardim, como lorde Bennington, mas, por desgraça,

Frampton gostava de caça, não a horticultura. Mas ao menos teria algum pedaço de terra, não importava que fosse pequeno, onde ela poderia cultivar algo.

E com certeza os lábios de lorde Frampton não se pareceriam tanto com lesmas quanto os de Bennington. Eram muito finos. Ao menos isso a livraria dessa sensação desagradável.

Ela rodeou o perímetro da sala. Ser uma pária tinha suas vantagens; a pessoas se afastavam bruscamente para lhe abrir caminho. Era inclusive agradável se ignorasse os empurrões e as olhares ofendidos.

Passou por diante de um grupo de debutantes encolhidas de medo. Todas explodiram em um frenesi de sussurros e risadas assim que a bainha traseira de sua saia passou.

—Boa noite, lorde Frampton. O pobre homem esteve a ponto saltar. —Senhorita Peterson. Oh, que… alegria vê-la. — sua noz subiu e baixou furiosamente como se

tentasse saltar de sua garganta e sair fugindo diante de sua presença. Olhou-a e então desviou o olhar. Estava procurando alguém que o salvasse das garras do diabo? Nunca antes tinha provocado um pânico similar em um homem.

—Acho que a última vez que falamos foi na casa dos Knightsdale, antes que minha irmã se casasse com o marquês. Assistiu àquela festa com seus pais e sua irmã.

—Oh, sim. Eu me lembro. — a noz seguia movendo-se a um ritmo alarmante. —Ainda não lhe transmiti minhas condolências pela morte de seu pai o ano passado. Sinto

muito seu falecimento. Esteve doente muito tempo? —Não, não esteve doente. Foi um acidente de caça, não sabia? Seu cavalo se negou a saltar uma

cerca e meu pai foi jogado pelo ar. Quebrou o pescoço. Não pudemos fazer nada por ele. —Que tragédia. A caça é um esporte tão perigoso… —O quê? — Lorde Frampton a olhou como se acabasse de surgir, de repente, uma segunda

cabeça — Não é perigoso. Foi má sorte. Teria voltado a subir a seu cavalo em um segundo se não tivesse morrido.

—Ah. É obvio. — nunca entenderia a atração que exercia a caça, embora vivesse cem anos. Cavalgar pelos campos, destroçar as plantas… Bom, estava claro que não ia fazer nenhum favor discutir o assunto. Se casasse com esse lunático, quer dizer, com esse lorde, seria melhor que não mencionasse o tema. Ela abanou o rosto. Isto está lotado. Gostaria de dar um passeio pelo jardim?

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Foi como se ela tivesse proposto um passeio por Sodoma e Gomorra. —O jardim? — sua voz se quebrou. Ele pigarreou — Não ah o… Acredito que… Quero dizer,

eu… —Eu ouvi dizer que lorde Easthaven tem umas plantas extraordinárias. — Extraordinariamente

aborrecidas, mas não é que lorde Frampton fosse se dar conta. —Eu… enfim, não me interessa muito a flora. Por isso eu sei, todas poderiam ser ervas

daninhas. Eu deixo essas coisas aos jardineiros. Para isso eu os pagos. Quase sentiu pena, mas não havia nenhum outro cavalheiro à mão. —Mesmo assim, faz uma noite agradável. —Um pouco fria. — olhou-lhe os ombros — Pegará um resfriado. É melhor ficar aqui dentro. Tentou sorrir. Talvez lorde Frampton fosse muito problemático. Se procurasse… Deus! Parks vinha em sua direção. Ia se aproximar dela em um lugar público? Sim, ele ia. Podia dizer pelo olhar que tinha no rosto e seu passo decidido. Também a sociedade inteira se deu conta. Quase podia ouvir a inalação coletiva da antecipação

ao notar o cheiro do escândalo em seus altivos narizes. Não se diferenciavam muito dos cães de caça de lorde Frampton.

E ela era a raposa. Tinha que fugir. Agarrou-se ao braço do barão e o puxou para a porta do jardim.

—Milorde, precisa de ar. Devia parecer tão desesperada como sentia, porque o homem a seguiu para a noite sem emitir

nenhum protesto.

*** Foi, de longe a pior noite que teve que suportar. Primeiro o terrível engano no jardim. E agora,

ao voltar para dentro, viu-se assaltado por lady Easthaven. Acabava de livrar-se dela e de suas referências descaradas à senhorita Peterson, quando se viu encurralado por lorde Featherstone. Parks se esforçou por manter as mãos dos lados porque os dedos formigavam pelo desejo de apertar o pescoço esquálido do velho depravado. Acreditava - ou o esperava - que o homem estivesse embaixo da terra há anos, mas, por desgraça, aquele velho seguia vivinho e abanando o rabo.

—Bem, parece que a garota foi uma decepção, hein? — Featherstone se aproximou, seu fôlego rançoso envenenava o ar.

Parks deu um passo atrás. —Não tenho nem ideia do que está falando. —A senhorita Peterson. Todo mundo sabe que você provou seus encantos no baile dos

Palmerson. Acho que não foi o suficientemente deliciosos para levá-lo a colocar a corda no pescoço… — o homem soltou uma risada entre fôlegos e deu um soco amistoso no ombro de Parks — Ou talvez pensou que não precisava pagar pelo que podia ter grátis, hein?

Ia estrangular esse velhaco ali, no meio do salão de baile de lorde Easthaven, e nesse momento. —Lorde Featherstone, está interpretando mal completamente a situação. O homem dedicou-lhe uma careta e fez um gesto com a cabeça. —Será melhor que diga a lorde Frampton. Olhe quem está tentando levá-lo ao jardim… —O quê? — maldição, a senhorita Peterson estava de pé junto à porta do jardim, falando com o

barão.

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—Não é que seja de minha incumbência, claro, — disse Featherstone — mas na verdade é uma pena. Estive observando lady Caroline tentar caçar Frampton nas últimas temporadas, inclusive antes que ele herdasse. Eu acho que já estava perto de convencê-lo. Não acredito que goste que agora a senhorita Peterson tenha posto seus olhos nele.

Parks grunhiu. Lady Caroline não precisava se preocupar. Ele se ocuparia de que d senhorita Peterson não arrastasse mais nenhum homem para os arbustos.

—Desculpe-me, milorde. Tenho um assunto para resolver. O velho riu. —Foi o que pensei. Parks não se incomodou em responder. Guardava suas palavras para a senhorita Peterson.

Capitulo Dez Ela sentia-se como se todos os cães do inferno a estivessem perseguindo. —Senhorita Peterson. Precisava se afastar, ficar fora da vista. Não podia suportar enfrentar o senhor Parker-Roth. Era

uma covarde. E estava mais que disposta a admitir. Tentaria ser valente e enfrentar a sociedade outro dia, quando esse membro em particular não estivesse presente.

—Senhorita Peterson. Ela baixou apressadamente os degraus do terraço. Lorde Easthaven tinha algumas lanternas

penduradas em estacas, mas havia muita sombras. Outros dez metros mais ou menos e estaria na bendita escuridão.

—Senhorita Peterson! Alguém puxou pelo braço. Ela puxou para o outro lado. Não podia parar ali. Parks devia estar

bem atrás dela. —Senhorita Peterson, pare. O ar é tão bom no terraço como em qualquer outra parte do jardim. Olhou por cima do ombro. Parks ainda não tinha aparecido, mas ela seria ingênua se achava que

ele não apareceria em breve. Ainda tinha tempo para se esconder se lorde Frampton colaborasse. Olhou-o. Não parecia muito disposto a cooperar.

—Trata-se em parte de inquietação mental, lorde Frampton. A luz só piora. O que eu preciso é de completa escuridão.

Lorde Frampton cruzou os braços. —O mal sobreveio bastante de repente, não acha? —Sim. — ela olhou para trás em direção ao salão de baile. Ela tinha apenas alguns segundos

antes de Parks aparecer na soleira — Tenho certeza de que um curto passeio pela área mais escura do jardim me faria sentir muito melhor.

Lorde Frampton bufou. —Perdão? — não esperava essa reação. —Não. Eu sinto muito por sua indisposição, mas não irei mais à frente com você. Não posso. —Por que não pode? —Reputação; a sua não é muito boa e eu não quero que a minha também seja afetada pelas

consequências. Quando lorde Frampton se tornou tão hipócrita? Era o mesmo homem que só quatro anos antes

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atirava acianos4 para seus amigos e tentou colocar um leitão no salão de Charles? Agora foi ele quem olhou para trás em direção ao salão. Suas feições se encheu de alívio. —Talvez Parker-Roth queira dar uma volta pelos jardins com você. —O que? — seguiu o olhar de Frampton. Parks tinha saído finalmente para o terraço. Não

parecia contente. Ela recolheu as saias e correu.

*** —Eu não sei o que fazer com Meg. — Emma dobrou o tecido de seu vestido e depois esticou. Ela

Tinha pedido à senhora Parker-Roth que a acompanhasse a uma saleta vazia. Não queria de maneira nenhuma discutir um assunto tão delicado no salão de baile. Muitos ouvidos curiosos estariam à espreita para inteirar-se até do menor sussurro.

A mão da senhora Parker-Roth apareceu no campo de visão de Emma e deu-lhe uns tapinhas no joelho. Emma olhou para cima. Como podia essa mulher manter a calma? Ela tinha um grande nó no estômago que só de um croquete de lagosta causava-lhe náuseas. Como toda a sociedade tinha tratado Meg no salão…!

Sorveu pelo nariz para engolir as lágrimas e procurou um lenço. —Que confusão que eu montei com tudo isto. —Não, por que diz isso? Emma soou o nariz. —Está sendo muito amável. Nunca devia ter permitido que Meg viesse a Londres com lady Bea

como acompanhante. —Lady Knightsdale… —Me chame Emma, por favor. — ela interrompeu —Emma. — a senhora Parker-Roth pegou a mão de Emma que não segurava o lenço amassado

— Lady Beatrice tem um caráter um pouco excêntrico… —Um pouco? Ela vai se casar com seu mordomo! —Sim, eu sei. — a senhora Parker-Roth sorriu — Sim, é verdade que ela segue seu próprio

caminho, mas isso não deve fazer você pensar que é uma incompetente total. Muito pelo contrário, ela está a par de tudo. Tenho certeza de que sabia exatamente o que sua irmã estava fazendo.

—E como poderia saber? — Que mulher em seu juízo perfeito deixaria entreter dessa forma os homens entre os arbustos? — Será que queria que Meg arruinasse sua reputação?

—Não, claro que não. Mas já sabe que lady Bea não estava interessada particularmente com reputações. Agatha tem razão nesse ponto.

O nó de seu estômago se apertou ainda mais, se é que isso fosse possível. —Uma mulher que não se preocupa com a reputação não deveria ser acompanhante. —Eu não disse que não se preocupa absolutamente as reputações. — o tom da senhora Parker-

Roth era de recriminação — Simplesmente que há outras coisas que lhe interessam mais. A felicidade de Meg, por exemplo.

—Sim, mas… — Emma fechou os olhos. Tudo tinha se tornado um desastre tão horrível… Como podia ter dito que a tia de Charles era uma acompanhante incompetente? Mas era. Tinha deixado que Meg saísse das mãos e enlouquecido.

4 É uma flor com hastes finas e flexíveis e folhas longas

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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Embora, por outro lado, quem imaginar Meg ficando louca em algum outro lugar que não fosse um campo com plantas raras? Se alguém a tivesse perguntado antes daquela Temporada infernal, Emma teria jurado que a única razão pela qual Meg arrastaria um homem para os arbustos seria para ajudá-la a identificar uma planta desconhecida.

Quem era essa garota que dizia ser sua irmã? —Eu simplesmente não entendo. Meg sempre foi bem diferente, mas não imprudente. Não é

uma garota leviana. —Ninguém pensou nem por um momento que fosse. —Como você pode dizer isso? A metade ou mais das pessoas desse salão pensam… Alguns até

se atrevem a dizer. A senhora Parker-Roth minimizou os participantes do baile com um gesto da mão. —Ora, isso é apenas fofoca. Estão aproveitando do escândalo do dia… Amanhã se entreterão

com um novo. Não se preocupe. —Não me preocupar? As fofocas farão com que Meg tenha que ir para ca… casa e que se torne

em uma sol… solteirona para toda a vi… vida. — Emma apertou os lábios com força para reprimir o soluço que já aparecia — Não que eu não queira Meg em minha casa. Eu quero. —fungou — Quero que seja fé… feliz.

Ela tirou os óculos e soluçou. Ela sentiu que um braço a rodeava os ombros e a puxava. Aspirou o perfume de rosas e roupa

limpa e deixou que sua face descansasse sobre o peito quente e suave da senhora Parker-Roth. Não sentirá o toque uma mãe há vinte anos. Seu pranto aumentou. A senhora Parker-Roth se limitou a abraçá-la. —Você fez um grande trabalho, Emma. — a senhora Parker-Roth lhe acariciou o ombro —

Carregou com uma grande responsabilidade a uma idade precoce. —Não, eu estraguei tudo. —Tolices. Está se comportando como uma tola. —Não. — Emma se ergueu e fungou — A reputação de Meg parece despedaçada e acabo de

insultar a tia de Charles. Tenho certeza de que lady Beatrice nunca mais falará comigo. —Mas é claro que lady Bea falará com você. É a esposa de Charles e a mãe de seus filhos. E o faz

muito feliz. — a senhora Parker-Roth sorriu — Na verdade, acho que Bea está muito grata agora . —Não pode ser. —Claro que sim. Já sabe que não tem paciência com a sociedade e odeia seus entretenimentos.

Sempre está aborrecida e desesperada para escapar quando é obrigada a participar. Suponho que essa é a razão pela qual bebe tanto. É beber ou gritar.

—Você acha? —Sim, claro. Certamente que Bea prefere estar em casa com o senhor Alton. Ela o ama, como

bem sabe. Emma suspirou. —Espero que tenha razão. Talvez deveria levar Meg para casa, à mansão dos Knightsdale no campo, e voltar na seguinte

Temporada e começar do zero. Alguns recordariam seus erros, mas a maioria já teria esquecido e voltado sua atenção para outros escândalos.

Era uma boa ideia. Os meninos tinham mais liberdade no campo. O ar era mais saudável. Talvez Charlie não tivesse pegado a infecção de ouvidos se tivessem ficado em casa. E a sociedade de províncias era muito mais agradável. Na verdade, talvez fosse melhor não voltar para Londres

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para nada. Poderia organizar uma festa campestre em sua casa e encher Knightsdale de cavalheiros adequados, assim como fez lady Beatrice quando Charles herdou o título e começou a procurar uma esposa.

—Acho que deveríamos ir para casa. —Não, Emma, não faça isso. —E por que não? —Porque isso é retirar-se. — a senhora Parker-Roth sacudiu a cabeça — É admitir a derrota. —Bom, derrotaram-me! — o desespero se alojou em seu peito como um peso morto — Se pelo

menos… — se sua mãe não tivesse morrido… Se Meg tivesse tido uma mãe de verdade em sua infância, provavelmente hoje estaria felizmente casada, não desaparecendo entre a vegetação com o primeiro homem que passasse.

Foi como se a senhora Parker-Roth tivesse lido sua mente. Tocou-lhe no braço. —Não se culpe pelo comportamento de sua irmã. —Mas… —Nada de mas, Emma. Não pode viver a vida de Meg por ela, não importa quanto tente. —a

senhora Parker-Roth sorriu ligeiramente — Acredite em mim. Tenho seis filhos e posso garantir que não importa o que faça, não importa quanto tente orientá-los, eles farão exatamente o que quiserem. Pode ser extremamente irritante, mas basicamente é o que todas nós queremos: que cresçam para serem pessoas fortes e independentes e que saibam o que querem.

—Mas levar homens para entre os arbustos… —Não é tão ruim se convencer o homem certo. — a senhora Parker-Roth sorriu — Espero

sinceramente que Meg possa convencer meu filho a se comportar de novo de forma inadequada.

*** As impressionantes narinas de Lorde Bennington se ampliaram de desdém. —Vejo que a senhorita Peterson continua tentando seduzir os homens para acompanhá-la entre

os arbustos. —Ah, sim? — Lady Felicity se virou e olhou por cima da balaustrada. A senhorita Peterson

estava na base das escadas do terraço com lorde Frampton. O homem estava franzindo a testa e tinha os braços cruzados — Duvido que tenha êxito. Parece que o barão não tem intenção de ser seduzido para ir a parte alguma.

—É um homem inteligente. — as narinas se ampliaram novamente. — A senhorita Peterson não vale a pena.

—Oh! E como você sabe isso? Bennington pigarreou. —Eu, bom…, — tossiu e olhou para outro lado — pode ser que alguma vez… —Lorde Bennington! Esteve brincando entre os arbustos! Nunca pensei que você fosse tão

ousado… O visconde pareceu adoravelmente envergonhado que Felicity teve vontade de beijá-lo. Bom,

beijá-lo – e alguma outra coisa – seu propósito era tirá-lo do salão de baile, mas seu atual estado de nervosismo o tornava ainda mais tentador. E estava se vangloriando um pouco também? Será que pensava que agora era um Don Juan também? Sorriu para si mesmo. Nem pensar. A menos que ela se enganasse em suas conclusões, ele não era mais que um principiante em assuntos íntimos.

Mas ela ficaria feliz em aumentar sua experiência. Muito mais encantada do que esperava.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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Sentia um estranho calor quando considerava a questão. Agitação, sim, mas também algo mais. Algo que não era familiar.

Bennington deu de ombros. —Pode ser que alguma vez tenha dado uma volta pelo jardim com essa mulher. Mas, como

disse, não é algo que tenha nenhuma vontade de repetir. —Pobrezinho — disse ela, e deu-lhe uns tapinhas no antebraço. Ela se asseguraria de que não

perdesse a vontades de repetir o que eles fizessem ali. — Pelo menos você não foi encontrado com ela como Parker-Roth.

Acabava de enfiar os pés pelas mãos. A cara de Bennington ficou congelada. Poderia pensar que acabavam de enfiar-lhe um pau pelo traseiro. Recuou e voltou para o salão de baile.

—Não quero falar disso. —Não, claro que não. — Maldição. Tinha ouvido alguma coisa sobre Bennington não ter

simpatia a Parker-Roth, mas não tinha nem ideia de que existisse tal rancor entre eles, pelo menos não no que diz respeito a Bennington. Poderia gritar de pura frustração. Passou meia hora trabalhando esse homem. Se voltasse para dentro, todo esse esforço teria desperdiçado.

Um estranho calor agitou em seu peito. Tinha que ser que os croquetes de lagosta que não lhe caíram bem. Não podia ser por que se sentia… triste com a ideia de perder a oportunidade de realizar seus planos de sedução com lorde Bennington, certo?

Não, simplesmente era por que ela não tinha tempo a perder. A cada manhã levantava com a certeza de que alguém descobriria que seu pai tinha a espada de Dâmocles5 sobre a cabeça. Uma vez que espalhasse a notícia de que estava arruinado, ela podia dar adeus a todas suas esperanças de encontrar um marido.

Quis agarrar o braço de Bennington e impedi-lo de ir. O poderia fazer para que ele permanecesse com ela no terraço?

A ajuda chegou de um lado inesperado. —Diabos! — murmurou Bennington. Ele Parou em seco. Felicity bateu contra suas costas. Teve

que conter-se para não abraçar sua cintura atraente e sólida. —O quê ? — murmurou. Olhou por um dos lados. Falando do diabo! Parker-Roth estava de pé

no terraço, bloqueando a porta que dava para o salão. Não parecia contente. Eles poderiam ser invisíveis, a julgar pelo caso que fez Parker-Roth. Era óbvio o que – melhor

dizendo, a quem – ele estava olhando. Felicity observou como a senhorita Peterson recolhia as saias e corria para a escuridão, liberando lorde Frampton.

Parker-Roth cruzou o terraço e desceu as escadas em um tempo recorde. —Parker-Roth, eu… —Depois, Frampton. — o homem nem se incomodou em olhar na barão. Tinha sua presa à vista.

Saiu disparado para a vegetação. Frampton balançou a cabeça e subiu para o terraço. —Deveriam ser um pouco mais discretos, não acreditam? —Definitivamente. — disse lorde Bennington — À senhorita Peterson vai ficar sem reputação se

não tomar cuidado.

5 Figura da mitologia grega nos é apresentado como um cortesão bajulador da Dionísio I de Siracusa. Ele dizia que, como um grande homem de

poder e autoridade, Dionísio era verdadeiramente afortunado. Dionísio oferece trocar de lugar com o cortesão por um dia, para que Dâmocles

poder apreciar a sorte dele. Ao fim do jantar, onde Dâmocles era servido como rei, o cortesão olhou para cima e percebeu uma espada afiada

suspensa por um único fio de rabo de cavalo, suspensa diretamente sobre sua cabeça. Imediatamente perdeu o interesse pela excelente comida e

pelos belos rapazes e abdicou de seu posto, dizendo que não queria mais ser tão afortunado.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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Frampton assentiu. —Eu achei que teria um anúncio de compromisso depois do assunto na casa dos Palmerson,

mas aparentemente não. Eu me pergunto qual será o problema. — deu de ombros — Não é de minha conta. — tossiu — Não serei eu a contar a história, claro. Não quero ser o responsável direto de lhe dar o laço. — fez uma pausa e franziu a testa — Mas sim deixarei cair alguma coisinha em um par de ouvidos. Uma advertência sobre uma dama desavergonhada. Eu não gostaria que alguma senhorita bem educada se fosse levada para o mau caminho.

—Não, claro que não. — Felicity saiu detrás de Bennington. Os olhos de Frampton se arregalaram, o que era muito engraçado. Havia luz suficiente para ver que sua cara ficava de um vermelho profundo — Obrigado, milorde. Eu me considero claramente advertida.

—Lady Felicity, não falava de… Quero dizer, não a tinha visto. Não sabia que estava aí. —Ah, não? Pois eu acreditava que seus comentários foram dirigidos diretamente a mim. Frampton emitiu um estranho som estrangulado que rapidamente tornou em uma tosse. —Claro que foram dirigidos a você. — disse Bennington — Deve manter-se longe da senhorita

Peterson, lady Felicity. Essa moça não é trigo limpo. Ela piscou. De repente tinha os olhos úmidos. Ninguém tinha tentado protegê-la antes.

Certamente que essa ideia nem sequer tinha passado pela cabeça de seu pai. Tinha que fazer lorde Bennington acompanhá-la entre os arbustos. —Lorde Bennington, talvez possamos servir de ajuda. Se nós pudéssemos nos unir à senhorita

Peterson – e ao senhor Parker-Roth se tiver ele conseguiu encontrá-la – para uma caminhada, a presença de duas mulheres no jardim não seria estranha a ninguém, não acha?

Bennington uniu ambas as sobrancelhas. —Eu… —É uma ideia maravilhosa. — o alívio que sentia lorde Frampton era quase evidente. —Não sei, eu… —Lorde Bennington, é você muito modesto. — Felicity pôs a mão sobre a manga do visconde. —Eu? Ambos os cavalheiros a olharam. Ela sorriu-lhes. —Claro que é. Lorde Frampton, não concorda comigo que a aparição de lorde Bennington

salvaria certamente à senhorita Peterson da desgraça absoluta? — Lorde Frampton piscou. —O quê? Oh! Oh, sim. certamente. — voltou-se para Bennington — Se pudesse prestar sua

ajuda, milorde, tenho certeza de que poderia evitar o desastre. —Bom… Felicity juraria que tinha visto Bennington inchar o peito. Ela Puxou seu braço. —Vamos, lorde Bennington. Não devemos perder mais tempo. —Não, claro que não! — Frampton se moveu para bloquear a porta do salão — Não percam

nem mais um minuto. Felicity sentiu o momento em que lorde Bennington se rendeu: o braço que tinha sob sua mão

relaxou. —Oh, muito bem. Suponho que não posso dar as costas a uma jovem que precisa de minha

ajuda. —Exato. — Felicity começou a caminhar para as escadas mantendo a mão segurando

firmemente o braço de Bennington — Se nos desculpar, lorde Frampton… —É claro. —Essa garota merece tudo o que lhe acontecer. — murmurou Bennington enquanto desciam —

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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Não é trigo limpo. —Certamente. — Felicity acariciou o antebraço de Bennington. Essa mistura de agitação e…

carinho era bastante alarmante — Ela deveria comportar-se melhor… muito melhor. —O quê? — Ele olhou para sua mão e então olhou para seu rosto. O pobre homem estava tão

desconcertado… custava esclarecer a situação — O que quer dizer? —Quero dizer… — saíram do círculo de luz que projetava o salão e entraram na profunda

escuridão— que vai valer mais a pena se vier comigo para os arbustos. — Deslizou os dedos pelo braço do homem até seus bíceps.

Ele conteve a respiração enquanto a outra mão da mulher roçava a parte dianteira das calças. —Alguém pode nos ver. —Eu não acho. — conhecia muito bem o jardim dos Easthaven; teve intimidade com vários

homens nele. Pela primeira vez esse pensamento lhe pareceu de mau gosto. Bom, se tivesse êxito com seu plano já não teria que andar por aí entretendo ninguém mais que Bennington. Sorriu. Guiou o visconde para seu lugar favorito. Não estava muito longe.

—Acho que poderemos encontrar algum lugar escuro e confortável onde tenhamos um momento de intimidade… ou vários… Tantos como necessitamos.

Ali estava. Por sorte, a senhorita Peterson não o tinha encontrado antes que eles. Cruzou uma passagem entre dois arbustos densos para entrar em uma pequena clareira ao redor de uma árvore de tronco maciço. Os arbustos serviam admiravelmente como proteção e a árvore… Bom, em ocasiões precisava do apoio que proporcionava seu tronco.

—Não deveríamos ir procurar à senhorita Peterson? Nos dissemos ao Frampton que íamos em sua ajuda.

Felicity sorriu e colocou a mão sobre a braguilha de suas calças. —Acho que a senhorita Peterson pode arrumar por si mesma. Não acaba de dizer que merece

tudo o que lhe acontecer? — voltou a sorrir — Acredito que o que lhe acontece é que quer apanhar o senhor Parker-Roth. E eu quero apanhar você.

—Uh, mas… Aah! O homem já estava preparado. —Shhhh, lorde Bennington. — soltou-lhe o botão — Qualquer ruído ressoa na noite, já sabe. —Uh. — ele estava ofegando. Ele baixou a voz de uma vez quando ela abriu a braguilha — O

que… o que está fazendo? —Achei que era óbvio. Estou fazendo que valha a pena o que está fazendo comigo. — sorriu —

Me dei conta de que é impossível resistir a você. Por estranho que pudesse parecer, era verdade. —A mim? — disse Bennington quase em um grito. Estava claro que ninguém tinha tentado

seduzi-lo antes. O calor do peito dela cresceu. Na verdade, agora até sentia calor. Bennington também estava um pouco aceso. —Eu, aaaah, ooooh… Ele ficou livre em sua mão. Nunca teve na mão um órgão tão impressionante. Sustentou-o entre

os dedos e sentiu como crescia até ficar impressionantemente duro. Aproximou-se mais, ansiosa por examiná-lo mais de perto, mas primeiro…

Passou-lhe a língua pelos lábios. —Beije-me — ela sussurrou — Por favor. Ele não precisou que repetissem duas vezes. Seus deliciosos lábios grossos e úmidos cobriram os

dela e sua língua empurrou para penetrar entre seus dentes.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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Delicioso. —Está aborrecido, lorde Bennington? —Deus, não. De maneira nenhuma. — explorou-lhe a orelha com a língua — E me chame

Bennie, querida. Bennington é muito formal. Ela estremeceu. —Oh, Bennie, eu adoro isso! — e quando ia passar a prestar atenção a seus seios? Ela arqueou-se

um pouco para animá-lo. Ele provou ser perspicaz. Suas mãos deslizaram para baixo e liberaram essa parte de sua

anatomia do espartilho. Inclinou a cabeça e lambeu. Ah. Sentia cada vez mais calor. Era muito conveniente que o tronco da árvore estivesse à mão.

Ela se separou um pouco dele e se apoiou. Os joelhos ameaçavam falhar. Fechou os olhos para se concentrar melhor. Fazia tanto tempo que já tinha se esquecido o que se

sentia quando um homem a tocava. Tinha esquecido também como pulsava entre suas pernas. Agora estava inchada e úmida e quase lhe doía. Necessitava, necessitava desesperadamente que Bennington dedicasse seus cuidados a essa parte de seu corpo em especial. Imediatamente. Antes inclusive, se isso fosse possível.

Bennie soube. Graças a Deus que não era um imbecil. Sentiu que lhe subia as saias e o calor entre suas coxas. Arqueou-se para ele. A língua. Precisava de sua língua. Deus, por favor, só um ligeiro contato da língua. Só a ponta, justo aí.

Ia gritar. Deus! Bennie tinha uma boca deliciosa, tremendamente deliciosa. E muita habilidade com a

língua. Estava-a levando para a liberação tão rápido… Quase tinha chegado. Ela… Teve a estranha sensação de que alguém os observava. Abriu os olhos… E se encontrou olhando diretamente para a cara de desaprovação de Lady

Dunlee.

Capitulo Onze Ela estava deixando que suas emoções fugir do controle. Deveria parar e enfrentar o senhor

Parker-Roth. Não acabará de decidir naquela noite que ia tomar as rédeas de sua vida? Seus pés continuaram correndo sobre a grama. Tomaria as rédeas amanhã, em um lugar mais público, longe, muito longe do homem que a

estava perseguindo. Se encaminhou para um grupo de arbustos em sombras. Por que ele estava perseguindo-a? Será que não entendia que ela não queria sua companhia? Um ramo de videira se enganchou no seu cabelo. Ela tropeçou em uma raiz e quase caiu sobre

um rododendro6. As saias se enroscaram entre as pernas e notou alguma coisa duro sob seu pé. Esses tolos sapatos de baile não foram projetados para executar qualquer atividade que implicasse um esforço maior do que o que precisava para dança. E com certeza ninguém tinha pensado que podiam utilizá-los para uma louca corrida por um jardim.

6 O rododendro é a designação comum às plantas do gênero Rhododendron L., da família das ericáceas, que reúne mais de 1000

espécies, entre elas as azáleas.

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Ela ofegou com o coração acelerado e afastou o cabelo do rosto. Ele estaria perto? Seria possível que não a estivesse seguindo? Talvez se deu conta de como era inadequado cruzar esses arbustos correndo atrás dela. Afinal, o homem parecia não gostar de escândalos. Talvez, certamente, tinha reconsiderado.

—Senhorita Peterson? —Oh… — apertou os lábios com força, mas já era muito tarde. O som já tinha escapado.

Maldição. Ainda não podia vê-lo, mas não estava longe. Seu nome não foi mais que um sussurro, mas ela ouviu com toda claridade.

Ela tinha que se esconder. Mas aonde? Esse jardim infernal não era nem a metade do escuro que parecia do terraço. Precisava de algum lugar que mais sombrio e resguardado. Algum esconderijo no qual, com um pouco de sorte, pudesse ocultar-se e ver o senhor Parker-Roth passar. Depois ela poderia voltar para salão de baile, sozinha.

Um raio de lua iluminou uma mancha de barro em seu vestido. Precisaria de mais que sorte para voltar a entrar no salão de baile de lady Easthaven. Precisaria

de um milagre. Como podia chamar a atenção de Emma para lhe dizer que queria voltar para casa? Teria que vaguear pelos arbustos até que sua irmã notasse sua ausência e mandasse procurá-la?

Ela reprimiu um gemido. Não podia se preocupar por isso agora… Tinha preocupações mais urgentes nesse momento. Ouviu o ruído de uma pedra. Muito mais urgentes.

Levantou as saias ainda mais e correu. Outro ramo ficou preso em cabelo, soltando-o e fazendo com que caísse sobre seus ombros. Não ficaria surpresa se estivesse cheios de folhas. Virou ao redor de um arbusto de teixo e suas esperanças cresceram.

Easthaven devia ter decidido experimentar com um pitoresco estilo de desenho de jardins, porque a vegetação nessa parte estava extremamente abandonada. Ela nunca gostou de muito de plantas muito crescidas, mas se essa excessiva frondosidade oferecesse proteção contra Parks essa noite ia se tornar uma devota.

Pôde ver o bosquezinho de pinheiros se agrupavam para ocultar o jardim da rua que havia atrás. Perfeito!

Apertou o passo deixando para trás uns ramos baixos e indo em direção o muro de pedra. Ninguém a encontraria ali. Poderia ver Parks se afastar e depois…

—Ah!

*** Essa mulher o estava deixando louco… completa e perdidamente louco. Será que acreditava que

podia se esconder dele entre a vegetação? Então é que era algo mais que despistada, porque seu vestido azul e sua pele clara – uma quantidade excessiva de pele clara – eram ridiculamente fáceis de ver na escuridão.

Era melhor deixar que entrasse mais entre plantas de Easthaven. Havia certas palavras que queria lhe dizer e que era melhor que ninguém as escutasse. Não queria servir de entretenimento para algum idiota da festa que passeasse pelo terraço de Easthaven por acaso.

Saiu da grama para entrar em um atalho. Poderia seguir a senhorita Peterson mesmo que tivesse estado cego. Ela estava fazendo um ruído entre os arbustos próprio de um cervo assustado. Mas o que pensava que ia fazer lhe?

Algumas possibilidades fascinantes surgiram em sua mente. Maldição! O calor inundou seu rosto e… outra parte de sua anatomia.

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Demônios! Não era um jovenzinho novato a mercê de suas necessidades. Era um homem maduro e experiente. Tinha uma amante, pelo amor de Deus. Pensamentos tão lascivos como esses não deveriam se misturar em suas considerações sobre a senhorita Peterson… e definitivamente não devia se misturar de uma maneira tão… proeminente. A garota era uma virgem de boa família e com bons contatos em sociedade.

Parou. Será que era realmente uma virgem? Ele apertou os dentes. É claro que o era. Mas no que estava pensando? Reprimiu um estranho

estremecimento de… alguma coisa que batia em seu peito. Não deveria pensar na virgindade da senhorita Peterson.

Outra estranha sensação o assaltou, embora desta vez não foi no peito. Ele ajustou as calças. Sentia-se muito estranho. Talvez não os croquetes de lagosta não tivesse lhe caído bem.

O comportamento da senhorita Peterson no salão de lady Palmerson deixou claro sua inocência. Esteve o tempo tentando manter o maldito xale em seu lugar para cobrir-se… Não, não ia pensar em seus deliciosos e brancos…

Bom, agora era um pouco menos inocente do que quando entrou nesse salão. E se não deixasse de frequentar os cantos escuros, ia ser muito, mas muito menos, muito em breve. Havia uma razão pela qual se advertia as jovens a evitarem os arbustos. Os homens podiam…

A escandalosa imagem de um homem… o que ele, como homem, podia fazer com a senhorita Peterson entre os arbustos enviou uma sacudida de líquida luxúria diretamente na parte de seu corpo que estava mais ansiosa para se comportar inadequadamente.

Demônios, demônios, demônios. Tinha que manter seus pensamentos sob controle. A senhorita Peterson estava segura com ele. Ele tinha lhe oferecido seu nome e ela tinha

recusado. Isso era tudo. Ela não o queria e ele pediu só obrigado pelas convenções sociais. Ela não o interessava absolutamente.

Sua falta de interesse escolheu esse momento para aumentar a intensidade de seu batimento de desinteresse, forçando-o a dobra-se um pouco.

Ele evitou um arbusto chato e inclassificável. Não importava o que pensasse; a qualquer um veria que era óbvio que a senhorita Peterson precisava desesperadamente que a vigiassem de perto. E por que lady Knightsdale não estava se preocupando em manter sua irmã longe dos arbustos?

Ele se inclinou para esquivar de ramo pendente de uma videira. O jardim de Easthaven necessitava uma poda urgentemente. Cultivar plantas com aspecto desalinhado era uma coisa, mas arriscar a decapitar os visitantes era outra completamente diferente.

Bom, se lady Knightsdale não cumpria com sua obrigação, ele se ocuparia de que a senhorita Peterson compreendesse qual era a atitude adequada para uma jovem solteira. Diabos, se ela fosse sua irmã…

Seu estômago se retorceu. Ela não era sua irmã. O que sentia por ela não tinha nada que ver com os sentimentos fraternais. O mero pensamento era obsceno.

Mesmo assim, se Jane tivesse… Bom, Jane tinha feito, mas só com lorde Motton. Talvez devesse mostrar exatamente o que poderia acontecer a uma jovem que ficasse sozinha

com um homem no escuro. Ele parou. Precisava de uma boa e fria fonte. Gelada. Encharcar-se em água muita, muito fria

ajudaria significativamente a sua concentração. O que realmente precisava era voltar para o Priorado. O ar nocivo de Londres tinha afetado seu

cérebro.

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Bem, já estavam o suficientemente longe do salão de baile. Deteria a senhorita Peterson e deixaria que sua língua dissesse exatamente o que pensava.

Deus! O desconforto anterior se tornou uma dor insuportável. Ele se inclinou e rodeou os joelhos com os braços. Onde estavam as fontes geladas quando alguém precisava?

Nada de línguas. Melhor deixar as línguas completamente fora deste assunto. Repreenderia, faria isso. Que sentisse sua ira. Fúria. Isso seria tudo o que ela ia sentir.

A verdade era que, se não tirasse sua mãe de Londres e a arrastasse para casa logo, ia ficar louco.

—Senhorita Peterson? — sussurrou se por acaso tivesse alguém mais no jardim. Sabia que ela não estava muito longe.

—Oh. O som se cortou abruptamente. Houve uma pausa e depois o ruído de uma carreira furiosa. Mas essa mulher se tornou completamente louca? Ele a seguiu. A folhagem se tornou mais densa e espessa. Ou Easthaven tinha decidido criar

uma paisagem pitoresca ou deveria despedir seus jardineiros. Ali estava ela, de pé junto a uns pinheiros. Será que tinha pensado em se esconder? Ridículo. Ele

se adiantou e segurou a parte superior do braço com os dedos. Tinha a carne incrivelmente macia. —Ah! — ela estremeceu e olhou para seus dedos. Tinha medo de olhá-los nos olhos? Ela estava

com medo dele? Não deu nenhuma credibilidade a essa ideia. Por que iria temê-lo? Será que alguma vez a tinha tratado mal?

Bom, talvez no salão de lady Palmerson, mas ela não se queixou… absolutamente; provou ser uma participante ativa nas atividades.

— Você vai a algum lugar, senhorita Peterson? — mesmo ele pôde notar o estranho tom de fúria em sua voz.

—Hã… — Ela continuou olhando para seus dedos. Eram longos e pareciam escuros em contraste com sua pele. Ele a obrigou a virar-se.

—Senhor Parker-Roth. — sua voz continuava ofegante — Que surpresa encontrá-lo aqui. Ela realmente ia agir como se simplesmente estivessem caminhando por ali para tomar ar?

Tinha o cabelo solto sobre os ombros e pelas costas, e adornado com mais de uma folha seca. Seu peito subia e descia rapidamente. Por todos os Santos, ela estava ofegante.

Ele também estava ofegante. — Alguém poderia perguntar, senhorita Peterson, o que você anda procurando em um jardim

escuro. As pessoas poderia perguntar muitas coisas. Respirou fundo e sentiu o cheiro de pinheiro e o

aroma da mulher. Da senhorita Peterson. De Meg. Ele se perguntou se teria imaginado o quão suaves eram seus seios, e tão deliciosamente

conhecer sua pele, quão rápido podia tirar seu vestido. Não, não, não tinha que se perguntar isso. Ela acabava de dizer algo sobre procurar solidão. Solidão? . Sim, isso era justo o que ela

precisava. O que ele precisava. Tempo a sós para colocar sob controle essa luxúria enlouquecedora. Não poderia voltar a entrar no salão de baile em seu estado atual de… excitação.

—Senhor, você está me machucando. Maldição. —Desculpe-me — disse, e afrouxou a pressão de seus dedos. Ele ia soltar sua língua agora. Não!

Nada de línguas. Ele ia se lançar em pescoço… Não, não. ia deixar que a tormenta caísse sobre sua

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cabeça. Bem, isso sim. Nada de línguas nem de pescoços. Ela tirou a ponta da língua para umedecer os lábios. Engoliu em seco e sua delicada garganta se

moveu, arqueou-se. Adoraria voltar a provar esses lábios novamente, deslizar a língua a partir desse ponto sensível sob sua orelha e ir descendo para a garganta, onde sabia que pulsava…

Uma reprimenda. Ela merecia uma reprimenda. —Parece-me que sua resposta não foi muito sincera, senhorita Peterson. — Deus, realmente

soava com um velho puritano com um pau metido pelo traseiro? — Abandonou o salão em companhia de lorde Frampton. Você não acha que é um comportamento um pouco estranho para alguém que está procurando um momento de solidão?

Mesmo na penumbra dos arbustos ele pôde vê-la corar. A cor escura subiu pela garganta até as faces. Desceria pelo resto de seu corpo da mesma maneira? Se baixasse o corpete, se a liberasse do espartilho, poderia ver como os seios se tornavam rosados? E seu ventre e seu doce…

Bom, o que era certo é que a pele dela estava mudando de cor. Não precisava olhar para saber. Podia sentir o calor, a pressão…

—Mas esse homem não está comigo agora, certo? Menos mal. Não tinha certeza de que se comportaria de uma maneira civilizada se Frampton

estivesse ali. Temia que pudesse se lançar lhe apagar as poucas luzes que tinha. —Só porque recusou seu convite para participar do escândalo. — Frampton se comportou como

um cavalheiro. —Tolices. Simplesmente não queria dar um passeio pelo jardim. E o desejo de solidão me surgiu

de repente, quando vi que se aproximava no salão de baile, e se intensificou quando o vi sair para o terraço.

Que Deus lhe desse paciência. Ele ia tirar esse sorriso do rosto mesmo que fosse a última coisa que fizesse. Como se atrevia a agir como se fosse ele que estivesse se comportando de forma pouco razoável? Ela precisava de uma lição e ele era o homem adequado para lhe mostrar.

—Senhorita Peterson… —Senhor Parker-Roth, não diga nada mais. Por favor. Só volte para salão. Quero ficar sozinha. Ficar sozinha? Ouviu que ela estremecia e se obrigou a relaxar os dedos de novo. Ficar sozinha? Essa mulher não estava bem da cabeça. Ela devia ter enlouquecido. —Eu não a deixarei sozinha. Não seria correto. Os olhos dela arderam. —Senhor, me solte e eu lhe farei o favor de deixá-lo sozinho. — Nada me agradaria mais, mas sou um cavalheiro. — e um mentiroso. Não, sim queria deixá-

la, mas também queria cercá-la com seus braços, apoiá-la contra uma árvore e… Estava perdendo a cabeça. —Não posso deixar uma dama… uma mulher… sozinha na escuridão. —Senhor, você está me insultando! Talvez tivesse posto uma ênfase na palavra errada. E quem poderia saber? Será que a garota não

compreendia que já era um milagre que ainda pudesse fazer frases coerentes? — Você é incorrigível. —Não sou! Como se atreve me dizer isso? — Como poderia não dizer-lhe Será que não se tornou um hábito frequentar os cantos escuros

dos jardins da boa sociedade com um grande número de homens? Uma mulher inteligente teria aprendido a lição depois de seu encontro com Bennington.

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Isso tinha lhe afetado. Ele Teve que segurar sua mão antes que ela se chocasse com sua cara. Ela não pensava que ia assustá-lo esse olhar?

—Correndo o risco de me repetir, senhor Parker-Roth, vá! — Quem corre o risco de se repetir sou eu, senhorita Peterson, não. Eu não vou sair nem

permitir que fique aqui sozinha no jardim. —Senhor, você não é meu guardião… Juraria que ia explodir lhe a cabeça. Nunca esteve tão furioso… Na verdade via as coisas através

de um véu vermelho. —Maldição, mulher. — ele a segurou pelos ombros. Sentiu sob suas mãos o quão delicada ela

era. Poderia quebrá-la como uma boneca de porcelana. Será que não tinha nenhum sentido comum?— Alguém tem que ser seu maldito guardião e não vejo uma fila de pessoas aqui, clamando por tal honra.

A senhorita Peterson ergueu o queixo. Não havia nenhum sinal de medo ou de precaução em seus olhos. Por Deus, estava realmente louca.

—Eu não preciso nenhum guard… Já tinha ouvido o suficiente. Sua boca se aproximou dela em um movimento inconsciente. Ele a

faria saborear algo do perigo com o qual estava jogando. Saborear. Sim. Seu sabor era quente e doce. Ele lambeu a linha que separava ambos os lábios e

eles se tornaram mais suaves e se abriram. Ele escorregou para dentro. O peso dela caiu sobre ele. Isso era muito melhor que discutir. Ele percorreu a escura e úmida maravilha que era sua boca. Deus, era tão bom… tão bom como

tinha imaginado tantas vezes desde aquela maldita noite no salão de lady Palmerson. Ou melhor. Bom, nem tanto. Em seus sonhos a senhorita Peterson estava nua; gloriosa, esplêndida e

completamente nua. Outra sacudida de luxúria sacudiu sua virilha. Ele ia explodir. Ele abaixou as mãos por suas costas e deixou atrás do duro espartilho até chegar à deliciosa

zona de seu traseiro. Percorreu seu contorno, cobriu-o com as mãos e o empurrou suavemente para aproximá-lo da zona dolorida.

Será que ela ia se escandalizar? Ficaria com medo? Não queria… Ela fez um estranho ruído no fundo da garganta e se retorceu para se aproximar mais. Outro

movimento como esse e ele acabaria fazendo algo sem volta. Só de pensar fez com que sua parte mais recalcitrante pulsasse pela antecipação. Dedicou-lhe

uma dura reprimenda mental e afastou um pouco o quadril enquanto baixava para lhe beijar seu queixo. Sua respiração ofegante e seus leves gemidos encheram seus ouvidos. Ela cheirava a rosas e a necessidade.

Deus Santo. Agora eram suas mãos que percorriam as costas dele, se enfiavam sob seu casaco e se colocavam sobre sua traseiro. A desavergonhada! Estava puxando-o, tentando que reaproximasse dela.

Realmente ela precisava de uma boa lição e ele ia… Maldição —John… —Shhhh! — cobriu-lhe os lábios com os dedos. Sim, ele não estava enganado; era incrível que

conseguisse ouvir alguma coisa por cima do rugido do sangue em seus ouvidos, mas tinha ouvido. Alguém se aproximava.

Não era recomendável que ninguém os encontrasse. A atitude da senhorita Peterson era

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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deliciosamente ousada e ele… Bom, suas calças eram muito ajustadas para ocultar sua situação atual.

Ele a puxou para que entrassem um pouco mais entre os pinheiros.

*** Chegaram ao muro de pedra que separava o jardim de Easthaven da rua traseira antes que Meg

tivesse tempo de recuperar de tudo. Na verdade se Parks não tivesse rodeado sua cintura com o braço para segurá-la, ela teria caído de joelhos no chão. Ele quase a levava voando.

—John… Desta vez não precisou que os dedos dele a silenciasse. Ouviu claramente a voz de uma mulher. —Confesse: você gostou. Oh, Deus! Era lady Dunlee. Ela engoliu um gemido e escondeu a cabeça no peito de senhor Parker-Roth. Ele subiu uma mão

que se enredou em seu cabelo, um cabelo que estava escandalosamente solto sobre os ombros e as costas.

Seus dedos lhe massagearam suavemente a cabeça. Desta vez sim estava perdida. Uma vez já era suficientemente ruim, mas que a encontrem entre

os arbustos duas vezes com o senhor Parker-Roth… Lady Dunlee regozijaria com essa história durante o resto da Temporada… E possivelmente também na próxima e a próxima. Um homem riu.

—Não gostei. Não sei por que você tem que me arrastar para as moitas, Clarissa. Nós temos uma cama muito confortável em casa.

Cama? Clarissa? Esse era o nome de bastimo de lady Dunlee e o homem que falava parecia lorde Dunlee, mas…

Cama? Será que foram dormir no jardim? Não podia ser que… Certamente eram muito velhos para

utilizar uma cama para qualquer outra coisa que não fosse uma soneca. Meg esquadrinhou através das agulhas de pinheiro. —Eu não posso evitar, Edgar. Já sabe como são esses arrebatamentos. Eu fico muito quente…

corada e suada. Não posso suportar continuar no ambiente fechado e carregado do salão de baile. E depois, bom, as vezes me ponho…

E a mulher riu! —Às vezes simplesmente não posso esperar. E, de qualquer maneira, eu não ouvi você protestar

com muita veemência há uns momentos, milorde… Lorde Dunlee pigarreou. —Bom, não. Eu sempre estou preparado para cumprir com meu dever, é obvio, querida. Só que,

a nossa idade… com meu reumatismo… bom, uma cama seria imensamente mais confortável, não acha?

—Algumas vezes. Mas outras um… encontro rápido num banco de um jardim escuro é tudo o que preciso para estar confortável.

—Entendo. Você parecia um animal selvagem, querida. Espero não ter perdido nenhum botão. —Se perdeu, vou costura-lhe um novo. —Mas temos que voltar a entrar no salão. —Então será melhor que comprove se está tudo em ordem, não?

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Deus, lady Dunlee não iria Oh, sim! Pôs a mão de lorde Dunlee sobre… Meg enterrou o rosto no lenço do senhor Parker-Roth. Será iam continuar com o que eles

estavam fazendo? Por sorte não. —Clarissa, você tem que me dar um tempo para me recuperar. —Oh, bem. Certo. — Lady Dunlee emitiu um suspiro curto e contrariado — Você já foi capaz de

cumprir mais de uma vez por noite. —Sim, antes eu também era muito mais jovem. Lady Dunlee riu. —Certo… e eu também. E devo dizer que o que perdeu em quantidade, ganhou em qualidade.

— ela fez um som de ronronar muito curioso. Meg tampou os ouvidos com as mãos, mas não pôde evitar continuar ouvindo a conversa. —Eu não posso esperar a próxima. —A próxima será em nosso quarto, milady. Agora coloque o vestido e se comporte. —É isso que quer? Sim, por favor. Meg fechou as pálpebras com força e se meteu os dedos nas orelhas. Por favor,

comportem-se. Voltem para o salão. Como ia olhar para lady Dunlee no rosto de novo depois de ter visto – ouvido – essa cena? —Eles se foram. Meg tirou o rosto do lenço do senhor Parker-Roth. Ele tinha uma expressão divertida nos olhos. —O que eles estavam…? Ele voltou a cobrir-lhe os lábios com os dedos. —Qualquer ruído ressoa na noite. Seu estômago se retorceu. —Então terão nos ouvido. O senhor Parker-Roth revirou os olhos e a puxou enquanto caminhava ao longo do muro. —Eu acho que antes estavam muito absortos em suas atividades para escutar as escondidas.

Mas agora pode sim. Meg o seguiu. Felizmente havia um caminho estreito junto ao muro, assim não foram obrigados

a lutar contra a vegetação. —O que você está fazendo? —Procurando a porta de atrás. Não acho que esteja em condições de voltar a entrar no salão. Meg afastou o cabelo do rosto. Não, definitivamente não ia poder honrar o salão de lady

Easthaven com sua presença de novo naquela noite. —Mas eu… O homem parou de repente e ela se chocou contra ele. —O quê ocorre? —Você não vai querer saber. —Sim que eu quero. — odiava que fossem paternalistas com ela. Passou por debaixo do braço

dele… e parou em seco. Por sorte eles ainda estavam escondidos sob os ramos negligenciados dos pinheiros. Através dos

ramos pôde ver lorde e lady Dunlee do outro lado de uma pequena clareira. Franziam a testa em direção a lady Felicity. Ela estava… bom… estava apoiada contra uma árvore. Tinha uma expressão muito estranha e tinha o vestido… ela tinha…

Havia alguém sob o vestido de lady Felicity?

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—O quê…? O senhor Parker-Roth tampou-lhe a boca com a mão. Esse homem estava se comportando de

uma maneira muito irritante. Ainda assim, teve que lhe agradecer pelo que acabava de fazer. Se não o tivesse feito, ela teria atraído uma atenção desnecessária para sua presença.

—Lady Felicity, — disse lady Dunlee — quem é a pessoa que se esconde aí embaixo?

Capítulo Doze —O que estava fazendo? — Meg esteve tentando descobrir a resposta dessa pergunta desde que

lorde Bennington apareceu debaixo das saias de lady Felicity no jardim dos Easthaven, duas noites atrás — Não é médico. — franziu a testa e voltou a reproduzir a cena em sua mente pela enésima vez — Embora lady Felicity sim tivesse uma expressão um pouco estranha. Você acha que ela sentia alguma dor ?

—Ela não tinha dores. O mau humor do senhor Parker-Roth era evidente. Meg olhou para ele. Eles estavam com as

orelhas muito vermelhas também. Estava envergonhado? Por quê? Ele não lhe devolveu o olhar, mas acelerou o passo de forma que quase galopava pela grama da

propriedade do duque de Hartford junto ao Tamisa. —Poderia ir mais devagar? Isto não é uma corrida, não é? —Não, claro que não. Mas o homem acelerou o passo ainda mais. Meg estendeu a mão e agarrou-lhe o braço. —O que está acontecendo? —Nada. Ela soprou, contrariada. —Eu não sou uma imbecil. Alguma coisa está acontecendo. O senhor Parker-Roth parou e olhou para ela. —Por que não pergunta a sua irmã pela cena do jardim? Meg sentiu seu rosto corar. Evitou os olhos de Parks. —Eu não sei. É difícil de descrever, eu acho. Muito estranho. Quero dizer, quem ia acreditar que

um homem adulto ia se colocar sob as saias de uma mulher em um jardim ao lado de um salão de baile? É… absurdo.

—Exato. Simplesmente tire isso da cabeça. Mas tampouco podia fazer isso. Tinha tentado. Havia algo naquela cena que simplesmente não

podia esquecê-la. —Lorde Bennington e lady Felicity estão comprometidos. Parks soprou e recuperou seu passo endiabrado para descer a colina e juntar-se ao grupo de

pessoas que jogavam bocha. —Isso espero. —Por quê? Ele parou de novo. —Senhorita Peterson, por favor. Você pode não entender o que estava fazendo lorde

Bennington, mas certamente entende que não deveria ter visto nenhuma atividade que implicasse uma visita debaixo das saias de uma dama.

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—Claro, mas… —E, além disso, lady Dunlee os descobriu. Agora foi Meg quem soprou. —Lady Dunlee não pode dar aulas depois do que ela estava fazendo no jardim. — ela fez uma

pausa. O que estava fazendo lady Dunlee? —Lorde e lady Dunlee são casados. O que fazem um com o outro não tem por que escandalizar

ninguém. —Eu estava escandalizada. — não precisava conhecer os detalhes para saber que tinha ocorrido

algo escandaloso. —Você é uma virgem. Não conta. —O que quer dizer com não conto? — voltou a lhe segurar o braço. Talvez não tivesse

experiência, mas, ainda assim…— Será que você não se chocou? O senhor Parker-Roth corou. —Talvez tenha ficado um pouco surpreso, sim. Não tinha pensado… bom, normalmente não

penso em… — deu de ombros — Mas, chocado? Não. Como já disse, são casados. Geralmente pode se esperar certo grau de… intimidade num casamento.

Meg apertou-lhe o braço. —Mas, no mato? Lady Dunlee? Parks voltou a dar de ombros e retomou seu caminho. Ela manteve o ritmo. Lorde e lady Dunlee

eram velhos. Quem ia pensar que as pessoas velhas pudessem se envolver em atividades que exigisse o refugio dos arbustos?

Deveria ter pensado antes. Lady Dunlee era provavelmente um pouco mais jovem que Harriet e seu pai, e eles eram bastante… ardentes. Claro que estavam a pouco tempo casados; ainda assim, se o entusiasmo conjugal fosse limitado pela idade…

Não, não era a idade de lady Dunlee que tornava tão chocante o incidente no jardim dos Easthaven. Era o papel como árbitro do decoro que ela havia imposto a si própria na sociedade. Tinha feito lorde Bennington fazer uma proposta de casamento apenas alguns minutos depois de que ela… bom, de que dela ter feito algo que necessitava de um banco afastado do jardim e que implicava a possibilidade de perder os botões de uma calça. E depois se mostrou indignada com o que lady Felicity e lorde Bennington faziam…

Mas o que era que faziam? —Eu gostaria que você me explicasse a situação. Parks quase se pôs a correr. —Eu não vou explicar nada. Seria muito inapropriado. Se você tem tanta curiosidade, pergunte

a sua irmã. —Alguém já lhe disse que você é um puritano terrível? Ele olhou para ela. —Se você não deseja minha companhia, procure um companheiro que seja mais de seu agrado.

Acho que não a estou obrigando de nenhuma forma a ficar ao meu lado. —Eu apenas tentava ser educada. —Pois será a primeira vez… — murmurou as palavras, mas ela pôde ouvi-las com claridade. Deveria ignorar a indireta e o deixar em paz. Não tinha intenção de ir atrás dele. Estava muito

zangada com esse homem e tinha planejado ignorá-lo completamente. Mas não podia. Ao vê-lo chegar com sua mãe e a senhorita Witherspoon se viu atraída para ele como um inseto para a luz. E depois a senhora Parker-Roth sugeriu que ele a levasse para dar um passeio. Ela sabia que ele não

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queria, mas não recusou quando ele se ofereceu. Além disso, tinha uma pergunta para fazer que ele acabava de demonstrar que não tinha

intenção de responder. Nunca. Ele estava adiantando de novo. Certamente que um homem que tivesse o mínimo de educação

caminharia no seu ritmo… Acelerou para chegar até ele. Não, não era um inseto atraído pela luz. A analogia mais adequada seria a de uma mosca

atraída pelo estrume. Ou um verme diante da carne podre. Ela poderia perguntar a Emma o que estava fazendo lorde Bennington sob as saias de lady

Felicity. Mas Emma não estava muito contente com ela nesse momento. A atenção da sociedade tinha se voltado para o suculento escândalo do visconde e a filha do conde com má reputação, mas os olhos de Emma se fixaram em seu vestido manchado de barro e em seu cabelo emaranhado. Tinha-a levado com toda pressa para a porta de atrás e num piscar de olhos ambas estavam na carruagem, aonde deu-lhe uma bronca que durou toda a viagem de volta a casa dos Knightsdale.

Não, não podia perguntar a sua irmã nada que tivesse a ver com comportamentos escandalosos.

*** —Seu filho não parece muito interessado em minha irmã. — Emma se inclinou para frente em

sua cadeira do terraço e franziu a testa enquanto observava o senhor Parker-Roth, que caminhava pela grama debaixo onde estava ela. Meg quase tinha que correr para não ficar para trás.

—Eu diria que ele está muito interessado. — a afirmação da senhora Parker-Roth, que estava comodamente instalada na cadeira que havia junto à Emma, soou um tanto petulante — Extremamente. Nunca antes o tinha visto tomar tanto interesse por uma mulher.

Essa mulher não devia estar bem da cabeça. Se o senhor Parker-Roth estava mostrando interesse por Meg, Emma não queria saber que fazia para mostrar desinteresse.

—Como pode dizer…? Oh! Lorde Henry tinha encontrado uma mosca morta e estava se preparando para colocá-la na boca.

Emma se lançou para segurar a mãozinha gorducha. —Não, Henry! Caca! Ela lutou para que os dedos do menino soltassem o inseto asqueroso. Ele uivou um momento e

depois saiu engatinhando em busca de outro bocado parecido. —Henry! O menino riu e engatinhou mais rápido. Emma saiu atrás dele e o agarrou pela cintura. Ele

lutou para se soltar. —Não, não conseguirá. Baixou-o ao chão para que ficasse de pé junto a seus joelhos. O menino a olhou, piscou e gritou

de júbilo mostrando os dois dentinhos que se sobressaíam de sua mandíbula inferior como duas minúsculas pérolas. Agarrou-se a suas saias para manter o equilíbrio sobre suas perninhas rechonchudas.

—Isto seria mais tranquilo se a duquesa não tivesse decidido fazer da reunião uma festa familiar — disse a senhora Parker-Roth, rindo.

—Certamente. Cuidar de Henry é como lutar com um porco coberto de graxa, embora eu não tenha lutado com nenhum em minha vida…

—É obvio. Emma franziu a testa. Por que se sentia tão inquieta por Henry? Soltou-o e ele voltou a sair

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engatinhando para investigar uma rã ornamental. —Charlie não era tão ativo. —Charlie é maior. Henry o vê e quer fazer o que ele faz. —Mas há dois anos de diferença entre eles. Não há forma de que Henry possa fazer o mesmo

que Charlie. —Diga a Henry. Henry tinha perdido o interesse pela rã de pedra e estava arrancando as flores de um vaso. —Henry! Ele sorriu e voltou engatinhando para elas. —Stephen é dois anos mais novo que John e sempre estava tentando fazer o mesmo que este

fazia. Por sorte, John era bastante cauteloso… Se não, Stephen teria acabado cheio de hematomas; e eu, com muitas mais cabelos brancos.

—E você teve seis filhos. — Emma deu a Henry uma bolacha. A senhora Parker-Roth riu. —Bom, eu não pensava no que seria criar os meninos quando os estava fabricando, a verdade.

Meu marido é muito… persuasivo. —Ah. — Emma olhou para a senhora Parker-Roth. A mulher tinha uma expressão estranha e

sonhadora. Deus! A senhora Parker-Roth devia rondar a idade de seu pai. Embora seu pai e Harriet

tivessem se casado há alguns anos antes e Charles achava que eles ainda… O estômago de Emma se encolheu pelo pânico. A mulher não iria compartilhar com ela os

detalhes de…? Não, certamente que nem tinha passado por sua cabeça. Era necessário mudar de assunto… ou

que voltar para o assunto —Por que você acha que seu filho está interessado em minha irmã? — perguntou Emma —

Agora mesmo está praticamente fugindo dela. A senhora Parker-Roth sorriu. —Eu sei. E por sua expressão poderia dizer que se sente encurralado, não acha? —Sim, é certo. E os homens não gostam de serem encurralados… Pelo menos Charles não. Por

isso se casou comigo: para evitar ser perseguidos pelos cães matrimoniais depois que herdou o título.

A outra mulher riu. —Você não acredita realmente nisso, certo? —Claro que sim. Disse-me… —Oh, tolices. — a senhora Parker-Roth estalou os dedos em sua direção — Pode ser que seja

isso o que disse. E inclusive o que acreditou em algum momento. Os homens odeiam tanto mostrar seus sentimentos… É muito mais fácil dizer - e pensar - que se casam por conveniência do que por amor. Não seja tola. O marquês está perdidamente apaixonado por você.

—Ele se preocupa comigo, isso é certo. — Emma deu a Henry outra bolacha. Uma boa parte da que tinha lhe dado antes estava espalhada por sua roupa e por seu cabelo.

Charles a amava? Ela pensava assim… até que chegou a Londres. Não era tão mal como temia antes de se casar. Ele não tinha ido para a casa de campo dos

Knightsdale só para deixá-la grávida. Ele ficou ali tanto quanto pôde, mas por fim teve que voltar para Londres para ocupar seu posto na Câmara dos Lordes. Quis que ela o acompanhasse, mas ela odiava Londres. Preferia Kent, onde o ar era limpo e a sociedade era mais fácil de suportar. E era

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melhor para os meninos e para Isabelle e Claire ficar no campo. Mas Charles era um homem com uns apetites saudáveis. Teria visitado muitos bordéis em

Londres ou teria alguma amante? Ela não quis lhe perguntar. Ele era muito atento do que ela podia desejar quando estavam juntos; o que fizesse quando não estavam… bom, o que não soubesse não podia lhe machucar.

As mulheres de Londres eram tão bonitas e ela era tão baixa e tão normal e… pouco robusta era o adjetivo mais caridoso que lhe ocorria depois de dar a luz a dois filhos. Suspirou.

—Eu garanto que não posso competir com as damas londrinas. —Nem precisa tampouco. Você é a marquesa e não elas. Emma deu de ombros e observou Henry enquanto comia o último pedacinho de bolacha. Os

criados tinham levado uma jarra de água. Já o limparia com um lenço. A senhora Parker-Roth lhe tocou no joelho. —Emma, não deve se menosprezar dessa maneira. —E como eu não poderia? — mordeu o lábio. Não ia chorar. Não tinha intenção de dizer isso, mas estava tão cansada de fingir que se encaixava na alta

sociedade… Não encaixava. Não importava o quanto se esforçasse nisso; sentia-se fora do lugar, como um… como um porco em um salão.

A senhora Parker-Roth a olhou preocupada. —Emma, a pessoas nos dá o valor que nós mesmos nos damos. Se você acreditar que não vale a

pena, a sociedade, especialmente seus membros com língua viperina, estará de acordo com você. Mas se agir como se pertencesse a seu círculo, lugar ao qual, por certo, pertence, aceitá-la-ão. Você é a marquesa de Knightsdale, pelo amor de Deus.

Emma deu de ombros e mergulhou o lenço no recipiente de água. —Vem aqui, diabinho sujo. — agarrou Henry, contente de que não tivesse lhe quebrado a voz —

Só desejo que Charles de verdade tenha me escolhido… e não que simplesmente se conformou comigo.

Deus, de onde tinha saído isso? Aproximou a cabeça para Henry, piscando para afastar as lágrimas que surgiram de repente e tentando se concentrar em limpar a massa úmida, mistura de bolacha e baba de menino que Henry tinha por todo o rosto.

A senhora Parker-Roth estalou a língua. —Emma, o marquês nunca poderá provar seu amor acima de qualquer dúvida. Ninguém pode.

Terá que confiar nele. Ele lhe deu alguma razão para duvidar dele? —Não, claro que não. — fez uma bola com o lenço sujo e o guardou em sua bolsa. Como a

conversa terminou centrando-se nela? Forçou um sorriso e olhou para o senhor Parker-Roth — Ainda não me disse por que acredita que seu filho está interessado em minha irmã.

A mulher franziu a testa enquanto seus olhos examinavam o rosto de Emma, mas ela não se permitiu desviar o olhar. Finalmente a senhora Parker-Roth sorriu um pouco.

—É fácil. Se não estivesse, não participaria deste tipo de acontecimento social. Emma franziu a testa. —Mas ele tem que acompanhá-la. A senhora Parker-Roth riu. —Acredite em mim, Johnny não é um filho tão preocupado com seus deveres para com sua

mãe. Não é a primeira vez que viemos a Londres, lembra? A cada pouco temos que vir para comprar suprimentos para minhas pinturas… E para tentar lhe encontrar uma esposa. Ele sabe que essas são minhas razões. Desenvolveu uma grande capacidade para evitar as reuniões sociais, mas

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desta vez vem e me acompanhar todas às vezes, embora se queixe em voz bem alta cada vez que tem oportunidade. — sorriu — A única razão que me ocorre para sua mudança de atitude é a presença de sua irmã.

—Mas parece que está tentando evitá-la. —Se realmente quisesse evitá-la, faria. — disse entre risadas a senhora Parker-Roth — É muito

divertido observá-lo. Depois de sua experiência infeliz com lady Grace se auto convenceu de que nunca se casaria. Mas agora se sente atraído por sua irmã. Está travando uma luta terrível consigo mesmo. — ela sorriu amplamente — Estou encantada.

—Sério? — como podia uma mãe gostar de ver seu filho travar uma luta como essa? Emma agarrou Henry e o abraçou. Seu peso quente o fazia sentir tão bem… Não podia imaginá-lo como um homem adulto com as faces ásperas pela barba e seus bracinhos gordinhos convertido em duros e musculosos.

Henry se retorceu. Ela voltou a pô-lo no chão e o pequeno engatinhou para a beira do terraço. Emma conseguiu apanhá-lo quando ele quase tinha alcançado a balaustrada. Não havia nenhuma necessidade de que andasse por aí batendo a cabeça.

A duquesa passeava pela grama que havia debaixo falando com seu marido, o barão Tynweith. O duque estava dormido sobre o ombro do barão com o polegar na boca.

A senhora Parker-Roth se uniu a ela junto à balaustrada. —O que pensa de nossa anfitriã? — falar da duquesa parecia um tema sem perigo e Emma tinha

curiosidade — Meu marido diz que estavam acostumados a chamá-la de Rainha de Mármore, e depois a Duquesa de Mármore, mas não me parece que seja fria.

—Isso é porque mudou. Este segundo casamento lhe fez muito bem. —Ela mal esperou um ano para voltar a se casar. As pessoas dizem… — Emma baixou a voz —

As pessoas dizem que o bebê é de Tynweith. —Suponho que seja verdade. Esse homem adora o menino como se fosse dele. Emma piscou. A mulher não parecia absolutamente escandalizada. —Não se queixou o herdeiro? —Oh, Claxton não deixou de se queixar desde que o velho duque se casou. Mas não há nada

que possa fazer. Hartford morreu in flagrante delicio nove meses antes que o bebê da duquesa nascesse. Só um tolo tentaria provar que esse filho não é legítimo… E Claxton não é tão estúpido.

Henry escolheu esse momento para fazer um ruído de mau gosto com a boca… Uma travessura que Charlie tinha lhe ensinado.

—Shhhh, Henry. Ele ignorou. Emma suspirou. Henry nunca fazia caso. —Disse que o duque morreu… você sabe… — Charles havia dito ele já tinha mais de oitenta

anos — Não queria dizer… Não estaria… Ou sim? —Claro que sim. Não posso lhe dizer exatamente em que momento se encontrava, mas está

claro que estava realizando a atividade necessária para que culminasse com um sucesso interessante nove meses depois.

—Oh! — Emma engoliu em seco. Algumas coisas era melhor não imaginar. —Acho que é uma sorte que Charlotte seja muito mais agradável agora. E Tynweith também.

Tornou-se um ermitão, quando não estava servindo de anfitrião para festas de má reputação em sua propriedade no campo, é claro.

Emma corou. —Meg esteve em uma das festas de lorde Tynweith, em que morreu Hartford. Foi ali que

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conheceu seu filho. A senhora Parker-Roth afogou uma risada. —Essa foi uma das reuniões moderadamente aceitáveis de Tynweith. Lady Dunlee esteve nela

com seu marido e sua filha… E, como já disse, também Johnny. E ele não ia em busca de um escândalo, seguro. — a senhora Parker-Roth suspirou — Suponho que iria com a fim de observar a poda das sebes em forma de animais…

—Oh, bom, ainda assim, se eu tivesse sabido… — Emma passou a mão sobre a suave cabecinha de Henry. Ele estava chupando o punho; certamente tinha fome. Tudo o que precisava era que o alimentassem, banhassem e lhe dessem carinho. Tão simples assim.

—Não se desculpe. Me alegro muito de que sua irmã estivesse ali. Se não estivesse, pode ser que Johnny não a tivesse conhecido nunca. — a senhora Parker-Roth sorriu — Posso lhe contar que, quando voltou para casa, aconteceu algo interessante.

—Sério? Ele mencionou Meg? —Oh, não. Johnny é muito taciturno, especialmente no que diz respeito a seus sentimentos.

Simplesmente parecia menos… satisfeito consigo mesmo. Mais inquieto, irritável… áspero, inclusive. E passava ainda mais tempo que antes entre suas plantas.

Henry desceu de seu colo, foi engatinhando para onde estava a senhora Parker-Roth e se agarrou a suas saias.

—Henry! —Oh, não é nada. Eu adoro os bebês. Mal posso esperar que minha filha tenha meu primeiro

neto. — a senhora Parker-Roth ofereceu as mãos a Henry — Venha, milorde, deixe-me ajudá-lo. Henry olhou para cima para ver a quem pertencia essa voz estranha. Cambaleou um pouco e

depois caiu sentado com um ruído seco. Fez uma careta com o lábio inferior e parecia claramente que pensou em chorar, mas, em vez disso, virou e seguiu engatinhando para se afastar.

Emma o apanhou enquanto via aproximar Isabelle. —Isabelle, você pode cuidar de Henry, por favor? —Claro. Vem aqui, Henry. — Isabelle levantou o bebê e o colocou sobre o quadril — Quer ver

os patinhos? Henry sorriu e bateu palmas. —Tome cuidado não se aproximar da água, Isabelle. —Não se preocupe, eu vou. Isabelle soava muito confiante, mas será que era consciente do perigo? Só precisava de um

instante para que ocorresse uma tragédia. —Procure Charles, Isabelle. Provavelmente estará perto do lago, com o Charlie. Isabelle só fez um gesto com a mão. —Eles vão ficar bem. — disse a senhora Parker-Roth. —Mas… — Emma deixou escapar um curto suspiro — Eu me preocupo. —Claro. Você é mãe. — a senhora Parker-Roth riu — Vamos também ver os patos. Assim

também poderá ver o quão bem Isabelle faz. E se alguma coisa sair errado, você estará perto para arrumar.

Desceram as escadas e começaram a caminhar sobre o campo. —Ser mãe se torna mais fácil alguma vez? —A verdade é que não. — a senhora Parker-Roth sorriu — Quando os meninos são pequenos,

tentamos protegê-los de todos os perigos que os rodeiam, como os lagos com patos: se caírem em um, você pode correr e tirá-los. Mas quando ficam maiores tem que se afastar e observar como eles

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entram no lago dos patos se quiserem. Não pode fazer nada para evitá-lo, exceto os aconselhar que não o façam. Mas a maioria das vezes não escutam.

—E por que não escutam? A senhora Parker-Roth riu. —Porque são jovens e acreditam que sabem tudo. — sorriu — Certamente que você tampouco

teria seguido os conselhos de sua mãe, se ela tivesse vivido para poder dar-lhe. —Não? Como pode dizer isso? — Emma parou e olhou para a mulher com a testa franzida. —Porque todos os filhos são assim, Emma. — a senhora Parker-Roth uniu seu braço ao dela,

aproximou a cabeça e seguiu caminhando — Mas se formos discretas, e um pouco astutas, podemos convencê-los de qualquer coisa facilmente. — sorriu — Vamos ver, como podemos convencer a meu obstinado filho e a sua encantadora irmã a se casarem?

Capitulo Treze O visconde Manders soltou um potente arroto, bastante impressionante para seu tamanho. Ele

sorriu enquanto um fluxo de leite descia pelo queixo. —Bom menino. — disse Lizzie limpando-o e dando um beijo antes de oferecer o outro seio. Ele

fez alguns ruídos que pareciam grunhidos e bufos e depois ficou calado com uma mãozinha de dedos minúsculos estendida sobre o vestido azul celeste de Lizzie.

Ela poderia perguntar a Lizzie sobre a estranha cena entre Bennington e Felicity? Meg se remexeu na cadeira. Ela e Lizzie, e lorde Manders, estavam sentadas sob um carvalho, um pouco afastadas do barulhento grupo que jogava a bocha.

Lizzie saberia do que se tratava? Afinal, era casada… Mas a atividade que eles desenvolveram no jardim teria algo que ver com o casamento, além de que o visconde agora estava comprometido com lady Felicity? Seguro que Robbie não… Não, nem sequer podia pensar.

Ela não era totalmente inocente. Nas muitas horas que tinha passado observando plantas teve a oportunidade de ver alguns animais ocupados no ato da procriação. Tinha uma ideia geral dos mecanismos do ato… ou pelo menos acreditava que tinha. Um rubor coloriu suas faces.

Nenhuma das criaturas que viu nos campos e nas granjas de Kent estava realizando as atividades que o senhor Parker-Roth tinha iniciado no salão de lady Palmerson. Os animais nem sequer ficavam cara a cara durante o encontro. A verdade é que tudo aquilo parecia um pouco estranho e desconfortável… Embora não tivesse observado muito, claro. Uma vez que percebia o que eles estavam fazendo, desviava a vista. Conhecia as regras da conduta apropriada, embora às vezes decidisse quebrá-las.

Francamente, a única razão que podia encontrar para suportar essas indignidades era para ter um bebê… E até isso era uma bênção apenas em parte. Emma ficou terrivelmente desconfortável quando esperava seus filhos. Estava cansada e doente a princípio e cansada e mal-humorada no final. Não podia comer, nem respirar, nem ver os pés. Lizzie tinha se saído um pouco melhor, mas Robbie e ela se preocuparam muito quando chegaram as primeiras dores porque temiam que ela morresse no parto como sua mãe.

E depois vinha, claro, todo o trabalho e a preocupação para criar o filho. Não, depois de ouvir Emma e Lizzie falar de suas terríveis experiências – adequadamente

adaptadas para seus pobres ouvidos de solteira – e das tê-las visto passar dias sem dormir com

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bebês nervosos ou incômodos, não podia dizer que ela estivesse ansiosa para que chegasse sua vez. Mas se ela quisesse ter sua própria casa, teria que se casar, e os homens queriam filhos… ou pelo menos queriam realizar a atividade que resultava na criação dos bebês. Desde que eles não tinham o trabalho de carregar e parir a sua prole… Claro que não. Se eles tivessem que fazer, apostaria que haveriam pouquíssimas crianças no mundo.

Ainda assim, o que Parks tinha feito lhe pareceu… intrigante. Ela se abanou com a mão. Talvez houvesse algo de agradável em todo o processo da procriação.

Lizzie ajudou lorde Manders a arrotar de novo. O que esteve fazendo lorde Bennington com lady Felicity? Parks parecia saber de que se tratava, mas

ele não se aventurou embaixo de suas saias, embora suas atenções provocaram uma reação muito estranha em…

Ela se abanou com mais força. Certamente que Bennington não estava investigando essa parte da anatomia de lady Felicity…

—Por que está tão corada, Meg? —Eu não estou corada. Lizzie afogou uma risada e voltou a concentrar sua atenção em lorde Manders. Lady Felicity deve ter ficado tão envergonhada… Embora não parecia. Sua aparência era quase

triunfante quando lorde Bennington finalmente saiu abandonando qualquer que fosse a atividade que estava realizando sob suas saias.

—Você é um menino precioso, certo, querido? — Lizzie estava acariciando o pescoço do pequeno. O visconde emitiu uma risada — Um bebê precioso e preparado.

Meg se conteve para não revirar os olhos… ou quase. O que é o que tinham os bebês que faziam os adultos sensatos se tornassem idiotas?

—E bem, quando vais casar se com o Parks? —O quê? — ela ficou com a boca aberta. Fechou-a. E o que vinha isso? — Eu já não disse que

recusei sua proposta. —Eu sei. Robbie e eu não podemos acreditar. — Lizzie ajeitou o visconde Manders no colo. Ele

chupou o polegar e ficou olhando para Meg — Você poderia ter mudado de opinião… —Não mudei de opinião. O senhor Parker-Roth tem tanta vontade de se casar comigo quanto

com lady Beatrice. Lizzie riu. —Oh, tenho certeza de que prefere se casar com você a lady Bea. Nesse momento, Meg compreendeu totalmente o significado da expressão «ranger os dentes». —Você sabe o que quero dizer. —Ah, sim? Então me diga por que estava com Parks no jardim dos Easthaven. —E como você sabe que ele estava ali comigo? Lizzie deu-lhe um olhar irônico. —Emma me disse, é claro. E embora não se tivesse dito, Robbie teria contado; Charles disse a

ele. Meg desejou que seus amigos e parentes se ocupassem com seus próprios assuntos e a

deixassem em paz. —Nós não estávamos falando de casamento. —Ah, não? E do que estavam falando? Meg corou. —Não falávamos de nada.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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Lizzie se limitou a ficar olhando-a e arquear uma sobrancelha. Meg sentiu que seu rosto ficava ainda mais corado. Demônios.

—O importante é que o senhor Parker-Roth veio em minha ajuda quando lorde Bennington se lançou sobre mim. E não deve receber um castigo por uma boa ação.

Lizzie acariciou a cabeça de lorde Manders. —Bom, claro que não. Mas não há nenhum castigo nesta situação. É óbvio que ele está

loucamente apaixonado por você. Parks? Apaixonado por ela? —Acho que é você que está louca. Ao senhor Parker-Roth eu pareço uma fonte inesgotável de

aborrecimentos e incômodo. Nada mais. —Claro. Por isso estava sentado naquela horrível poltrona vermelha de lady Palmerson com

você, meio nua, em seu colo. —Eeeeh… — dito assim, soava… pouco estranho — O senhor Parker-Roth estava

simplesmente… só estava… quero dizer… — Lizzie parecia muito cética. Meg falou olhando para lorde Manders — Eu estava muito afetada pela experiência com lorde Bennington e o senhor Parker-Roth estava me consolando.

Lizzie bufou. —Com o vestido pela cintura e os seios… —Não se atreva a dizer! —… seios completamente ao ar? —Oh. — ela ia morrer de vergonha ali mesmo, na casa de campo do duque de Hartford. Meg

deixou cair o rosto entre as mãos. —eu não sei por que você está tão triste. — disse Lizzie — Você estava bastante impressionada

por Parks na festa campestre de Tynweith no ano passado. Meg levantou a cabeça. Por que negar? —Mas isso foi o ano passado. Esse homem não fez o mínimo esforço por estar em minha

companhia depois daquilo até que me encontrou com Bennington. Obviamente não consegui causar-lhe uma grande impressão.

—Eu não estou tão certa disso. Parecia bastante impressionado no salão de lady Palmerson. —Ai, outra vez não! — Meg voltou a deixar cair a cabeça entre as mãos. —Não foi você quem me disse, quando eu estava em uma situação similar, que alguns homens

temem o casamento, mas que se acomodam muito felizmente uma vez que jogam o laço, exatamente igual a um cavalo que lhe põe um frio?

—E agora estou certa de que estava errada. O senhor Parker-Roth não se parece em nada a um cavalo. É mas bem como uma mula: cabeça grande, obstinado e completamente irritante.

—Oh, entendo. Então se trata de uma criatura simples que se dedica só a comer, dormir e fornicar…

—Você tem sempre que usar minhas palavras contra mim? Lizzie riu. —É muito divertido. Lorde Manders grunhiu e se contorceu. —Oh, querida. Eu acho que Bobby vai precisar ser trocado dentro de um momento. —Oh, entendo. — havia coisas que Meg não queria ver se pudesse evitar. Ficou de pé

rapidamente — Eu acho que vou me aproximar para ver aqueles estão jogando bocha. —Covarde. — Lizzie ficou séria — Mas não seja covarde com as coisas importantes, Meg. Eu

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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acho que Parks é perfeito para você. Meg balançou a cabeça. —Sério? Pois diga isso a ele. Lizzie não sorriu em resposta. —Eu não acho que tenha que dizer. Lembra, Meg, Robbie tampouco queria me pedir em

casamento. Se lorde Andrew não tivesse me atacado e forçado as coisas, talvez eu ainda estivesse solteira… E o pequeno Bobby não estaria aqui.

Lizzie abraçou o bebê. Meg franziu a testa. As situações não se pareciam absolutamente. —Robbie esta há anos apaixonado por você. —Mas eu não sabia. —Saberia se tivesse aberto os olhos. —E talvez seja você agora que precisa abrir os olhos, Meg. —Tolices, eu… Lorde Manders voltou a grunhir e alguma coisa aconteceu. Meg se afastou. —Até logo, vejo você depois de que… — fez um gesto em direção ao traseiro do visconde —

tenha arrumado as coisas. —Você tem certeza de que não quer praticar trocar um bebê? Meg negou e seguiu caminhando.

*** —Bem feito, Parks. Westbrooke lhe deu um tapinha nas costas. Parks sorriu. Tinha sido um golpe inspirador, tinha

que reconhecer, A bola de Bennington se viu impulsionada para a direita, muito longe, e deixando nula sua possibilidade de pontuar, o que garantia a sua equipe a vitória. Inclinou para recolher a jaqueta.

—Embora duvido que tenha ganhado um amigo. — Lorde Frampton, seu outro companheiro de equipe, fez um gesto com a cabeça em direção a lorde Bennington. O visconde o olhava fixamente. Se o olhar matasse, Parks já estaria no seu último suspiro.

Deu de ombros e se voltou. —Bennington e eu já temos um passado desagradável. —Por que você se interpôs entre ele e a senhorita Peterson? —Deus Santo, não. — Parks ficou olhando para Frampton. O homem parecia sincero. Não

parecia ter más intenções… Simplesmente é que era estúpido — De onde tirou essa ideia? A senhorita Peterson não tem nada que ver com isso.

—Ah, não? — Frampton arqueou ambas as sobrancelhas — Ouvi rumores de que Bennington estava interessado nos contatos da garota. Oldston me disse que ouviu uma conversa do visconde no White's sobre ele precisar de recursos para uma expedição… Uma viagem a América do Sul, África ou algum lugar longínquo… Dizia que talvez saísse para dar um passeio pelo jardim com a senhorita Peterson. Para examinar a mercadoria, disse, para ver se valia a pena lhe fazer um pedido. Embora dissesse que provavelmente faria de qualquer forma. Que poderia se deitar com qualquer galinha se esta fosse capaz de colocar um ovo de ouro o suficientemente grande e que, há prostitutas suficientes para esquentar a cama de qualquer homem se sua esposa demonstrar ser muito frígida.

—Maldição!

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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Westbrooke colocou a mão no braço de Parks. —Será melhor que baixe o volume de suas queixas. Está angustiando às damas. —O quê? — olhou na direção em que indicava o conde. Um bando de debutantes tolas

franziram a testa ao olhá-lo e escapuliram. Bem. Umas tontas a menos que sua mãe poderia jogar em seus braços. Ele virou para Frampton. O homem tinha uma expressão teimosa.

—Todo mundo sabe que a senhorita Peterson esteve procurando entretenimento entre os arbustos.

Aparentemente o barão também tinha a inteligência do teimoso animal com o qual recordava. —A senhorita Peterson não esteve procurando nada entre os arbustos. —Ah, não? Tentou me arrastar para a folhagem na casa dos Easthaven na outra noite.

Certamente se lembra. Parks respirou fundo e se obrigou a abrir as mãos que tinha apertadas em punhos. Começar

uma briga no jardim do duque de Hartford com uma boa quantidade de membros da alta sociedade como testemunhas não era uma boa ideia. Mas suas intenções deveram estar claras em seu rosto, porque o barão deu um passo atrás.

Não ia gritar. Respirou fundo de novo e deixou que o arrebatamento vermelho da fúria se dissipasse um pouco.

—Espero que não tenha estado contando por aí essa história, Frampton. Eu lhe asseguro que seria um grande erro por sua parte fazê-lo.

Frampton devia andar procurando problemas, essa era a única explicação. O homem piscou e depois abriu sua boca estúpida.

—Oh, entendo. Acreditei… Bom, desculpe-me por dizê-lo, mas os falatórios dizem que você se negou a propor casamento a essa garota depois de ser encontrado em circunstâncias bastante comprometedoras.

Ele sentiu a mão de Westbrooke sobre seu braço de novo. Ele a tirou de cima. Não ia matar Frampton… hoje, ali, diante de tantas testemunhas interessadas, embora a ideia parecesse extremamente… apetecível.

—Você realmente acha que o marquês de Knightsdale teria me permitido não fazer uma proposta a sua cunhada se eu a tivesse comprometido?

Um novo conceito abriu caminho no lento cérebro desse asno. Frampton coçou a cabeça. —Não, não acredito que permitisse. — assentiu — Será que chegaram a algum acordo privado? —Não tenho liberdade para dizer. — não ia dizer para aquele idiota que a senhorita Peterson o

tinha recusado. —Mas, por que manter segredo? Deve saber que a garota está sendo objeto de todo tipo de

especulações desagradáveis. —Você acaba de ser o vivo exemplo delas. Frampton ruborizou. —Bom, sim. Minhas desculpas. Eu acho que não cheguei a compreender completamente a

situação. —Você está absolutamente certo. — o certo era que a situação era uma confusão diabólica. —Senhores, vão seguir jogando ou não? — perguntou lorde Pontly. —Por enquanto terminamos. — disse Westbrooke — Ocupe nosso lugar se quiser. Eles se retiraram da competição. Infelizmente, Frampton era como um cão com um osso e não

tinha intenção de largar o assunto. —E por que diz que não é a senhorita Peterson quem se interpõe entre você e Bennington? Seria

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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lógico que fosse. Ele a quer e você a tem. Uma onda repentina de luxúria golpeou Parks em… Ele enviou uma dura reprimenda a seu

órgão mais rebelde. Não «tinha» a senhorita Peterson nem ia ter a menos que ela mudasse de opinião.

Seu corpo suplicava que as coisas fossem diferentes. Suplicava e… Olhou para Westbrooke em busca de ajuda. O maldito conde sorria como se estivesse louco.

Obviamente não ia chegar nenhuma ajuda por essa parte. —Porque, — disse ao fim — embora não é que seja de sua conta absolutamente, Bennington me

odiou durante anos. Muito antes que qualquer um de nós soubesse que a senhorita Peterson existia.

—E por quê? Que Deus lhe desse paciência. Devia sossegar a aquele homem por ser um maldito intrometido Ou simplesmente responder a sua pergunta? Westbrooke finalmente encontrou a voz… por

desgraça. —Plantas, Frampton, acredite ou não. — o conde soltou uma risada — Bennington odeia Parks

por suas plantas. O queixo de Frampton caiu fazendo que se parecesse assombrosamente com um bacalhau

pronto para que lhe tirassem as tripas. —E por que alguém ia ficar de mal com outra pessoa por um pouco de vegetação? Parks suspirou. Estava muito mais que acostumado a essa reação. —Porque Bennington acredita que pode competir comigo, está com ciúmes de meus extensos

jardins e estufas, sobre tudo de minha coleção de espécimes exóticos. É para isso que quer o dinheiro, para ir em busca de novas espécies de plantas.

Frampton continuou olhando para ele com a boca aberta durante alguns segundos. —Demônios. — disse por fim — Nunca teria imaginado. Parks ignorou o tom do homem. Havia algo nele… Parecia que já não estivesse falando das

ambições horticulturas de Bennington. —O que é que não teria imaginado? Frampton corou. —Oh, nada. Só estava surpreso, isso é tudo. — pigarreou — Tenho certeza de que as flores, as

ervas e tudo isso que você tem é fascinante para… certo tipo de homens. Ele estava insinuando que…? Não. Não podia ser tão imbecil. —Certamente que ouviu falar de Humphry Repton, John Claudius Loudon, Sir Joseph Banks… —Parks! — Westbrooke ria de novo. Esse homem passava muito tempo sorrindo — Está

esbanjando saliva. Frampton não lê nada que não fale de cavalos ou de caça, não é, Frampton? —Claro que não. E por que deveria? —Isso. — Westbrooke assentiu — Viu alguma coisa interessante no Tatt's recentemente,

Frampton? Frampton travou numa monótona descrição de um cavalo que tinha visto no Tattersall's.

Provavelmente se tratava de um pangaré terrível – o homem era famoso por seu olho ruim para os cavalos. Por Parks, Frampton podia recitar as obras completas de Shakespeare desde que deixasse de falar da senhorita Peterson. Deixou que Frampton e Westbrooke se adiantassem.

A senhorita Peterson. Demônios do inferno. Pensar que Bennington estava mencionando seu nome no White's… O canalha. Agora gostaria de golpeá-lo na cabeça da mesma forma que o havia feito em sua bola durante o jogo. Não, melhor usaria suas vísceras para segurá-las, literalmente.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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Gostaria de lhe cravar uma faca no estômago e abrir em canal lentamente… —Senhor Parker-Roth, poderíamos falar um momento? O marquês de Knightsdale estava de pé ao seu lado e sua cara parecia de pedra. Ele foi oficial de

cavalaria na Espanha antes que seu irmão morrer e ele herdar o título. Agora mesmo parecia preparado para a batalha.

Mas sua dura fachada ficava prejudicada por um pequeno detalhe. Levava um menino nos braços, um menino pequeno, quase um bebê, de cabelo encaracolado castanho e olhos azuis iguais aos seus. Obviamente era seu filho, o conde de Northfield. O conde ficou olhando fixamente para Parks e depois apoiou a cabeça no ombro de seu pai.

—Papai, eu estou com fome. —Como você pode ter fome, Charlie? Passou o dia todo comendo. —Mas estou com fome. — o conde arregalou os olhos e afundou as linhas da boca de forma que

dava verdadeira pena. O marquês suspirou e procurou em seus bolsos. Tirou o que parecia ser um bolinho meio

comido adornado com algumas penugens. —Toma. Você não se alegra agora que eu o tenha guardado para você? Você queria jogar fora,

lembra-se? O conde assentiu, pegou o bolinho e afastou a maioria das penugens antes de colocá-lo na boca. —Parker-Roth? — o marquês fez um gesto com a mão que não segurava a seu filho. —É claro. — Parks caminhou junto com o marquês e ambos se separaram do grupo. Deveria

estar nervoso, obviamente Knightsdale não queria falar do tempo, mas não estava. Voltou a olhar para o conde. O menino sorriu e com a boca cheia de migalhas.

Deus. Ele olhou para outro lado. O que lhe estava acontecendo? Sentia-se… Bom, havia algo em

Knightsdale e seu filho que o fazia pensar que ter filhos podia ser uma boa ideia. Estava perdendo a cabeça. Não queria ter filhos. Eram umas criaturas incômodas, barulhentas,

sujas e destrutivas. E ele sabia bem: tinha crescido em uma família com seis. Isso era o caos. E ainda era às vezes, quando suas irmãs pequenas brigavam e puxavam-se pelos cabelos. A maioria das vezes ele se via obrigado a mediar a disputa. Seus pais… Bom, ele tinha cometido o erro de ir buscá-los no estúdio de sua mãe uma vez que as meninas estavam brigando. Deus Santo, nunca ia fazer isso de novo. Nem sequer agora podia suportar pensar em…

Não, filhos não. Só queria que lhe deixassem em paz para poder trabalhar em seu jardim. —Eu queria falar com você sobre a irmã de minha esposa, senhor. A marquesa e eu estamos

preocupados porque não se fez nenhum anúncio. Eles pararam perto de um lago ornamental de pouca profundidade. Parks ficou ligeiramente

surpreso sem saber nada do marquês, antes, algo como um convite para que preparasse pistolas para dois, mas café da manhã somente para um ao amanhecer. O duelo era ilegal, mas esse homem foi oficial de cavalaria…

—Olhe, papai! Patos! —Estou vendo, Charlie. — o marquês baixou seu filho ao chão — Por que não vai vê-los

enquanto eu falo com o senhor Parker-Roth? O conde assentiu. —Eu posso alimentá-los, papai? —Eu receio que não levo nada de pão, Charlie. Nós vamos ate a casa para pegar um pouco

quando acabar a conversa.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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O conde amuou e por um momento pareceu que ia começar uma birra, mas mudou de ideia quando outros dois patos aterrissaram na água. Saiu correndo para ir olhar os… e eles nadaram para o lado oposto do lago.

—Tome cuidado de não cair dentro, Charlie. —Sim, papai. O marquês voltou sua atenção para Parks. —Falávamos de minha cunhada, senhor Parker-Roth. —Tenho certeza de que a senhorita Peterson informou-lhes que eu lhe fiz a proposta e ela

recusou. —Sim, depois do incidente no salão de lady Palmerson. Mas dado o que vi… Bom, não acredito

que precise que lhe descreva a cena que nos encontramos a marquesa e eu ao entrar na sala. —Não. Certamente não é necessário. — Knightsdale só podia contar o que tinha visto: à

senhorita Peterson, meio nua, sentada no colo de Parks. Mas Parks podia recordar cada detalhe. Deus, recordar? Perseguiam-lhe em sonhos: o peso de seu suave traseiro sobre suas coxas, a suavidade de sua pele, o leve aroma de rosas que foi crescendo uma vez que a pele dela se esquentava sob suas mãos, sua doce receptividade…

Que os demônios o levassem! A calça começava a ficar bastante desconfortável. Olhou para outro lado. O conde ria enquanto perseguia os patos de um lado a outro do lago.

—E que espera que eu faça? Como disse, a senhorita Peterson recusou minha oferta. Nesta época, não se pode forçar uma mulher a ir ao altar.

Knightsdale franziu a testa. —Não, é claro que não. Eu nunca obrigaria Meg a se casar. — soprou brevemente e com força,

para depois passar as mãos por sua cabeça — É só que, bom, a situação está se complicando. Tenho certeza de que sabe o que as pessoas falam. A reputação de Meg pende por um fio. Estou certo de que se eu não fosse o marquês de Knightsdale, a sociedade já teria lhe dado as costas.

Ele tinha toda a razão. Esses fofoqueiros de mentes estreitas e desagradáveis estavam murmurando sobre a senhorita Peterson. O baile dos Easthaven tinha servido como prova disso.

O conde estava começando a se inclinar sobre a beira do lago para alcançar aos patos. Deveria dizer ao marquês?

—As coisas seriam diferentes se você desagradasse a Meg, mas esse não é o caso. —O quê? — seu olhar voltou para Knightsdale. Parecia que o homem falava a sério — E por que

acha isso? Knightsdale arqueou uma sobrancelha. —Emma me falou do desaparecimento de Meg no jardim dos Easthaven. E do estado de seu

vestido depois. —Ela esteve caminhando entre a vegetação. —Com você atrás, perseguindo-a. —Eu… — não foi em sua perseguição, exatamente — Simplesmente acreditava que não era

recomendável que a senhorita Peterson estivesse sozinha num jardim escuro. Era possível que fosse objeto de atenções masculinas não desejadas.

Knightsdale bufou. —Bom, o certo é que acabou sendo objeto de atenções masculinas. Demônios do inferno. Parks desviou o olhar. Por Deus, esperava que sua cara não estivesse

rubra como a sentia. —Graças a Deus que Bennington provocou tal cena e que Emma pôde tirar Meg sem atrair

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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atenção nem comentários indesejáveis sobre sua aparência desalinhada. Parks grunhiu para assentir. —Pelo menos não nega que você é responsável por seu desalinho. Ele se obrigou a encarar os olhos de Knightsdale. —O que quer que eu faça? Eu a pediria em casamento outra vez, mas acho que a senhorita

Peterson recusaria de novo. —Isso é o que não entendo. Meg não é nenhuma estúpida insensata, embora agora possa

parecer o contrário. É óbvio que não o despreza ou não teria aceitado desaparecer entre os arbustos com você. Acho que deseja se casar e ter seu próprio lar. E então por que continua recusando?

Essa era uma pergunta que ele próprio já havia feito um número incontável de vezes, especialmente no meio da noite, quando despertava do sonho quente e excitado.

—Realmente não sei. —Talvez é preciso que seja mais persuasivo. —Papai! Parks franziu a testa. —Não vejo como posso ser mais persuasivo. —Papai! —Um momento, Charlie. — Knightsdale estava corando — A situação não pode permanecer

como está. Se os acontecimentos estivessem desenvolvendo de forma normal, haveria muito tempo para se dedicar ao cortejo, mas não estão. Você deve centrar-se no objetivo, Parker-Roth. Meg não tem outra escolha senão se casar com você. E você tem que persuadi-la para que veja a razão.

Parks quase pôs-se a rir. Conseguir que a senhorita Peterson visse a razão? —Isso não é nada fácil, milorde. A senhorita Peterson tem suas próprias opiniões sobre o

assunto. Knightsdale revirou os olhos. —Acha que não sei? —Papai! —Sim, sim. Agora mesmo estarei com você, Charlie. — Knightsdale cruzou as mãos atrás das

costas e ficou mais vermelho ainda — O que terá que fazer… bom… quero dizer… Oh, demônios! — inclinou-se para frente — É óbvio que Meg está louca por você, homem. É necessário que se coloque em ação e que consiga que suas emoções lhe devolvam seu maldito cérebro.

Parks ficou olhando fixamente ao marquês. Seguro que ele… não estaria sugerindo… ele queria que seduzisse a senhorita Peterson?

—P… Ouviu-se uma forte splash. O marquês virou de repente no mesmo momento em que os patos

saíam voando do lago sem deixar de gritar. —Charlie! O conde de Nordfield estava de pé com a água pela cintura. —Sinto muito, papai.

Capitulo Quatorze O senhor Parker-Roth mandou a bola de lorde Bennington para longe, dando voltas pelo prado.

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Meg segurou as mãos com força para evitar aplaudir. Não queria atrair a atenção sobre ela… nem que o senhor Parker-Roth soubesse que estava ali olhando.

Não que ele fosse notar embora ela fizesse algum ruído… Tinha escolhido sua posição cuidadosamente; a certa distância do resto dos espectadores e na sombra que proporcionava um robusto carvalho. Com sorte, ninguém perceberia sua presença. Lady Dunlee e as demais harpias tinham passado a tarde enrugando o nariz em sua direção, como se ela fosse uma terrina de leite azedo.

E ela, que poderia dizer a todo mundo um par de coisinhas sobre lady Dunlee… Bufou. Parks tinha razão: o que alguém fizesse com seu marido não podia ser muito escandaloso, embora o melhor seria limitar certas atividades – quaisquer que fosse – à intimidade do tálamo nupcial.

Ela viu Robbie parabenizando o sr. Parker-Roth, que exibiu um largo sorriso. Mesmo dali pôde ver seus branquíssimos dentes.

Ela nunca o tinha visto sorrir assim. Melhor dizendo, ela já o tinha visto sorrir alguma vez? Com certeza que sim, se não nesta

Temporada, pelo menos no ano passado na festa de lorde Tynweith. Sim. Ele tinha brincado com Robbie. Mas não sorriu, pelo menos não como agora.

Se pudesse aproximar-se mais… Ridículo. Ele não teria sorrido se ela estivesse nas proximidades. Ele nunca sorrira daquele jeito

para ela. Era sempre muito sério, pelo menos quando estava ao seu lado. Parecia sempre tenso, aborrecido. Era muito sério, pelo menos quando ela estava à vista. Tenso e chateado. Como se ela fosse uma tarefa do mais desagradável que tivesse que realizar, uma responsabilidade a mais.

Ela poderia tê-lo feito sorrir no ano passado? Meg achara que ele tinha apreciado sua companhia. Mas devia ter sido unicamente por causa do assunto da conversa. Ela era a única pessoa presente na festa dos Tynweith que se interessava por plantas. Se lady Beatrice tivesse demonstrado algum interesse por jardins, botânica ou paisagismo, ele teria apreciado a companhia dela com o mesmo entusiasmo.

Ela quis flertar com ele, mas então não sabia como fazê-lo. Ele inclinou-se para recolher a jaqueta que tirou para jogar. Não era tão alto como Robbie, mas

tinha as costas mais larga. Seus ombros eram… Não, não ia se pôr a elogiar seus ombros, pelo amor de Deus. Ele poderia guardar seus largos

ombros para ele. Na verdade, aquele homem era realmente insuportável. Por que simplesmente não se limitou a explicar o que tinha acontecido com lorde Bennington no jardim de lorde Easthaven? Era óbvio que sabia. Poderia satisfazer sua curiosidade com poucas palavras. Podia demonstrar a mesma habilidade com a língua que tinha mostrado quando teve oportunidade para isso também.

A grande habilidade… Nenhum dos outros cavalheiros que tinham-na acompanhado entre os arbustos tinha utilizado a língua dessa forma tão imperiosa. Ela havia se sentido… Completa. Completamente estranha. E muito, muito… estranha.

Se alguém tivesse descrito a ação antes que ela tivesse experimentado, teria achado totalmente repugnante. Ter a língua de outra pessoa na boca? Asqueroso! Mas não foi desagradável absolutamente.

Mesmo ali, de pé em um prado, em plena luz do dia, assistindo um evento junto com a maioria da alta sociedade, sentiu o arrepiante calor de seu corpo, a força de seus braços, a dureza de seu peito, o suave mas firme contato de seus lábios, a pressão úmida de sua língua…

Meg estremeceu e envolveu sua cintura com os braços. Deus! Sentia uma umidade e um

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batimento ali abaixo outra vez. O que significaria? Certamente Parks também podia lhe responder essa pergunta. —Senhorita Peterson? —Ops! — Meg virou-se repentinamente. Uma mulher muito alta estava parada a poucos metros

dela. —Desculpe-me. Eu a assustei? Não, não eu sempre grito e dou pulos quando alguém me aproxima. Meg engoliu a resposta. —Não, claro que não. A mulher ergueu uma sobrancelha. Sim, estava mentindo, e daí? As pessoas que fazem perguntas estúpidas deveriam esperar

respostas estúpidas. De qualquer maneira, por que a mulher a estava incomodando? Será que não se dava conta que Meg preferia ficar sozinha? Ninguém procurava um canto afastado em uma reunião social se quisesse companhia.

Sua consciência – por que será que sua consciência sempre tinha a voz de Emma? Aconselhava a entabular uma conversa educada. Meg disse a sua consciência que fosse para o inferno. Ela não se sentia educada nesse momento absolutamente. Na verdade, sentia-se agressivamente mal educada.

Meg cruzou os braços e ficou olhando para a mulher. A mulher lhe devolveu o olhar. Maravilhoso. Quem era ela? Era quase da mesma estatura de Parks e extremamente… peituda. Ela Tinha uma

preciosa pele de porcelana, o cabelo cor de cobre, nariz reto e olhos verdes. Não era a típica beleza clássica, mas definitivamente marcante. Ela não foi apresentada a Meg, ela se lembraria. Além disso, não havia muitas mulheres tão grandes. Mas tinha certeza que já a vira…

No baile dos Palmerson… sim, ali. Ela estava com um homem muito alto. Meg não se fixou muito nela… Estava muito ocupada tentando convencer lorde Bennington para que a acompanhasse até os arbustos. Ela também a viu também no baile dos Easthaven? Essa noite foi uma confusão cheia de vergonha, mas agora que pensava… Sim, ela era a mulher que entrou do jardim, também com o homem alto. Devia ser seu marido. Pelo menos ninguém começou a murmurar depois de sua excursão pela vegetação.

Por que estava trás de Meg? A mulher não estava com nenhuma pressa para esclarecer razão de sua presença. O silêncio

começava a parecer ridículo. Elas pareciam como dois cães que lutavam por um osso… mas por que osso estavam brigando?

—Está me procurando por alguma razão em particular, senhorita…? —Lady Dawson. — a mulher pronunciou as palavras pausadamente, como se seu nome devesse

significar alguma coisa. Em seguida arqueou as sobrancelhas. Meg respondeu erguendo as suas. Será que lady Dawson pensava que ia cair aos seus pés, só

porque ela, uma simples «senhorita», conhecia tão ilustre personagem? Provavelmente. Desde que chegou a Londres ela teve o desprazer de conhecer muitas pessoas que pensavam que seus títulos as tornavam divindade.

Não era americana como duquesa de Alvord, nem achava que o único título que deveria ter um homem era o de «senhor», mas sim acreditava que a nobreza de caráter superava os títulos nobiliários.

—Com certeza já ouviu falar de mim. — disse lady Dawson. —Eu creio que não. — Meg tentou imitar lady Easthaven, que foi imagem viva da

condescendência quando cumprimentou Meg ao entrar em seu baile. Ela se permitiu um pequeno

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sorriso e um encolhimento de ombros. — Acho que frequentamos círculos diferentes. Minha irmã é a marquesa de Knightsdale, sabe? E a condessa de Westbrooke é uma boa amiga. — ela também podia se mostrar depreciativa.

O semblante de lady Dawsonse tornou carregado. Então não gostava de receber um pouco de seu próprio remédio, hein?

—Eu já conheço seus contatos. Seu pai é vigário, não é? —Certo. — ela não ia descer tão baixo para assinalar que seu pai era filho de um conde. Na

verdade, o quarto filho de um conde, mas um nobre de qualquer forma. Embora talvez lady Dawson já conhecesse a linhagem de seu pai. Será que essa mulher estava investigando sua família? Não que fosse difícil descobrir essa informação, mas era tremendamente estranho. Por que ia se interessar? Lady Dawson estava assentindo.

—E esta é sua segunda Temporada? —Sim. —Apesar já ter passado da idade em que uma moça normalmente entra para a sociedade. Será que esta mulher a estava chamando de velha? Deus! Ela estava indo longe demais. —Lady Dawson, eu não quero ser rude, — Pelo menos não tanto quanto você — mas qual o motivo

de suas perguntas? —Sim, claro. — a mulher se empertigou em toda sua estatura. Meg se endireitou também, levantou o queixo e olhou para lady Dawson diretamente nos olhos.

Não ia se deixar intimidar. —Obviamente a senhorita não sabe de minha amizade com o senhor Parker-Roth. Um buraco se abriu no estômago de Meg. —E por que eu deveria saber? — pigarreou na esperança de que sua voz permanecesse firme —

O senhor Parker-Roth é um mero conhecido. As sobrancelhas de lady Dawson subiram de novo. —É mesmo? Não é o que dizem os rumores. —Lady Dawson, espero que não acredite em fofocas… —Eu diria que neste caso envolve mais do que fofocas, senhorita. Como pode ficar surpresa?

Você esteve levando homens para os arbustos toda a Temporada. — Lady Dawson balançou a cabeça — É de admirar que ainda seja aceita na boa sociedade. Se seu cunhado não fosse o marquês de Knightsdale duvido sinceramente que estivesse aqui.

Meg duvidava também. Depois dos olhares de menosprezo que recebeu neste piquenique, poderia discutir se realmente era aceita ou não. Voltou a pigarrear e esperou que estivesse ruborizada, como sentia.

—Eu tenho grande interesse em horticultura e botânica? Lady Dawson bufou. —Botânica? — Lady Dawson pronunciou a palavra com uma careta — Aposto que o que

estudava entre os arbustos era biologia e não botânica. Meg soube que agora sim estava corada. A mulher estava sendo incrivelmente insultante. E

quem lhe dava o direito de castigá-la? —Lady Dawson… —Senhorita Peterson, ouça. Eu não posso ficar sentada vendo como brinca com os sentimentos

do senhor Parker-Roth sem fazer nada. Meg riu. — Pode ficar sossegada. Os sentimentos do senhor Parker-Roth não estão em jogo. Eu diria que

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ele sente por mim aparentemente o mesmo que você. Lady Dawson ficou boquiaberta. —Ah, sim? —Sim. Ela bateu levemente com um dedo sobre os lábios. —Não, eu acho que você está enganada. Será que essa mulher escapou de um manicômio? —Eu não estou enganada. —Eu posso lhe assegurar que é difícil averiguar os seus sentimentos. Isso é minha culpa, eu

acho. —Culpa sua? O que você quer dizer? —Tem certeza que você já não ouviu a história? —Não. — e Meg não estava totalmente certa se desejava. —Eu pensei que alguém teria dito, já que está praticamente comprometida com John. —O quê?! — praticamente comprometida com Parks? Mas a mulher estava pensando? E John?

Lady Dawson chamava Parks por seu nome de batismo? Mas o que havia entre eles? Será que ela realmente queria saber?

—Não estou comprometida com o senhor Parker-Roth, nem vou estar. Agora me escute bem, porque me estou cansada de repetir: esse cavalheiro não tem nenhum interesse em se casar comigo.

—Eu acho que você está errada. Meg experimentou um forte desejo de puxar os cabelos de alguém – dela ou da mulher. —E por que acha que estou errada? —Eu estive observando John. Ele está de olho em você. —Isto é ridículo. — definitivamente aquela mulher escapou de um manicômio. —Não, é verdade. Eu percebi no baile dos Easthaven. Assim que entrou no salão de baile, John

olhou para você. —Está enganada. — Parks olhara para ela, simplesmente para saber onde não ir. —Não estou enganada. Você não compreende. Eu me sinto… culpada em relação a John. Eu me

preocupo com ele. Tem certeza de que não lhe contaram a história? Meg considerou a possibilidade de gritar. —Sim, tenho certeza de que não me contaram. Por que não me conta você? —Tem certeza de que John não mencionou o assunto? —Lady Dawson, eu tentei explicar O senhor Parker-Roth e eu não estamos acostumados a

conversar. —Esse homem geralmente tem a língua muito ocupada para se dedicar a conversa. Meg apertou os lábios. Não disse isso em voz alta, certo? Aparentemente não. Lady Dawson não

gritou com as mãos nas orelhas nem tinha começou a soltar fumaça por nenhuma parte. Em vez disso a mulher suspirou.

—Eu não deveria me surpreender. As lembranças ainda são muito dolorosas. Meg perdeu a paciência. —Que lembranças, lady Dawson? A outra mulher desviou o olhar. —Eu… quero dizer… bom… — ela mordeu o lábio — É muito difícil dizer. Pensando melhor, talvez fosse melhor que ela não dissesse. Alguma coisa dolorosa que tinha

que ver com lady Dawson e «John» talvez fosse melhor nem mencionar. —Não se sinta pressionada a…

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—Não, será melhor que eu diga. Eu devo a John. — Lady Dawson inspirou profundamente e olhou diretamente nos olhos de Meg — Veja: eu o abandonei no altar.

Meg sentiu como se alguém tivesse lhe dado um chute no estômago. —O quê? —Eu deixei John no altar há quatro anos. — Lady Dawson desviou o olhar — Não foi uma

atitude decente de minha parte. O fôlego do Meg não havia retornado ainda e nesse momento seu coração pulsava como se

tivesse deslocado vários quilômetros. Parks esteve comprometido com lady Dawson. Quase tinha se casado com ela. Ele a amara. Será que ainda a amava? É por isso que renegava o casamento? Meg obrigou-se respirar. Ela tinha que pensar. Infelizmente, sua mente não funcionava. Lady Dawson, que estava ao seu lado, observando sua reação. Ela apertou as mãos com força.

Não podia deixar que a mulher percebesse que foi afetada. Não estava afetada. E por que estaria? O mundo não se acabou. Ali estava ainda, de pé sob um

carvalho na casa de campo do duque do Hartford. As damas continuavam passeando pelo gramado e os cavalheiros jogavam bocha. As crianças corriam e os bebês choravam. A vida não ia mudar só porque agora ela sabia. Porque lady Dawson havia dito que…

Porque estava claro que o senhor Parker-Roth não a amava. Claro que não a amava. E por que amaria? Ou, melhor dizendo, por que ela pensou que sim? Ele

não fez o menor esforço para entrar em contato com ela desde que deixaram a casa de lorde Tynweith no ano anterior. Tampouco a procurou nessa Temporada. Se encontraram devido a uma série de acontecimentos infeliz e ele esteve no lugar e na hora. Sim, ele tinha lhe pedido em casamento, mas esse pedido foi forçado pelas circunstâncias. Bom, talvez um pouco também por Emma e Charles, mas dava no mesmo. O amor não tinha nada, absolutamente nada, a ver com isso.

E por que ela estava considerando o assunto? Ela tinha recusado o pedido de casamento. E, de qualquer modo, ela também não o amava.

Certo. Ela era uma mentirosa. Para ser justo, ela não se deu conta de seus sentimentos – sua loucura transitória – até aquele

momento. Ela esclareceu a garganta. Conversa. Ela tinha que falar de alguma coisa antes que lady Dawson

percebesse seu desconforto. —Então você deixou o senhor Parker-Roth no altar? Saiu e o deixou ali… —Não. — Lady Dawson baixou o olhar para as mãos — Eu não apareci Aquilo era pior do que pensava. —Você não foi até a igreja? Lady Dawson assentiu. —Mas você disse para ele antes? Não deixou que ele enfrentasse sua família e amigos e todos os

convidados pensando que você ia se apresentar, não é? — tinha deixado o homem de pé no altar com a igreja cheia e depois, quando ficou dolorosamente evidente que a noiva não ia aparecer, ele foi forçado a enfrentar as perguntas, a pena e as fofocas sussurradas?

E agora ela estava fazendo objeto de mais falatórios. Não era de se estranhar que Parks estivesse

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tão irritável. Ele devia odiá-la. É natural que não quisesse enfrentar outro casamento e não importava quanto o pressionassem Emma e Charles.

—Foi desprezível de minha parte, eu sei, mas eu entendi mal… — lady Dawson dizia — Acreditei que meu pai… — balançou a cabeça, depois inclinou para frente e brandiu o dedo para Meg — A questão é, senhorita Peterson, que não vou permitir que magoe John novamente, assim se tiver intenção de brincar com seus sentimentos, sugiro- que reconsidere.

Meg não gostou do tom de lady Dawson. Por que aquela mulher a estava repreendendo? Afinal foi ela que deixou o senhor Parker-Roth na porta da igreja.

—Lady Dawson, creia em mim, eu não tenho nada a ver com os sentimentos do senhor Parker-Roth.

—Como eu disse, não estou tão certa disso. —Bom, pois deveria. E lá estavam outra vez, disputando pelo mesmo osso… E nenhuma podia dizer que era dele… Lady Dawson reagiu primeiro e deu um passo atrás. —Eu estarei atenta, senhorita Peterson. Você pode ter contatos muito importantes, mas eu

também tenho certa influência que posso exercer. Meu marido é um barão e meu pai, o conde de Standen. E o mais importante, frequento a sociedade a mais tempo que você. Sei em quais ouvidos devo sussurrar as coisas se quiser espalhar uma história. Posso arruiná-la, senhorita Peterson, e farei se magoar John de alguma forma. Não duvide.

Lady Dawson virou e caminhou até se juntar ao resto do grupo. Meg nem sequer ficou para vê-la partir. Estava muito zangada.

Que mulher insuportável! Assumir que ela estava brincando com os sentimentos de Parks, e que exercia influência sobre esses sentimentos…

Maldição!Ela precisava de um novo vocabulário para expressar seus sentimentos sobre esse assunto.

***

—Senhorita Peterson, que agradável vê-la de novo! — a senhorita Witherspoon vestia um sari

roxo e usava duas plumas amarelas no cabelo. Ela sorriu e encheu seu prato de croquetes de lagosta. Quando pegou o último, olhou para Meg. Parou com a comida suspensa no ar e depois suspirou e soltou sua presa.

—Prove os croquetes de lagosta antes que acabem. —Você recomenda isso? — Meg olhou em volta. Exceto pela senhorita Witherspoon e ela, o

salão estava deserto. —Sim, claro. Estão entre os melhores provei. E, acredite em mim, sou uma entendida. —Entendo. — Meg voltou a olhar para a mesa. Observou fixamente a pelotinha de lagosta

solitária. Normalmente gostaria do petisco, mas ainda estava muito alterada com o encontro com lady Dawson para poder sequer pensar na possibilidade de introduzir algo em seu estômago — Infelizmente, acho que não tenho fome.

—Que pena. — a senhorita Witherspoon pegou o croquete antes que Meg tivesse acabado de falar — Talvez você prefira um pouco de ensopado de enguia?

—Não. — ensopado de enguia não a tentava nem nas melhores circunstâncias. A senhorita Witherspoon acrescentou uma colherada de enguias em seu prato. —Não me posso imaginar por que você está aqui, na sala de refeição, se não tem fome, senhorita

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Peterson. —Uh-huh. — não havia nenhuma explicação plausível. Simplesmente precisava afastar o mais

possível de lady Dawson e do campo de bocha. E de Parks. Deus! Ao tentar evitar lady Dawson quase tinha se chocado com ele, que falava com Charles junto a um lago ornamental.

Talvez um copo de limonada ajudasse acalmar seus nervos. —Estas reuniões sociais são um pouco aborrecidas, não acha? — a senhorita Witherspoon

terminou sua seleção com uma colherada de doce de abóbora — O nível da conversa era tristemente deficiente.

—Hã? — a limonada não ajudou. Uma mulher ia entrar na sala, viu a senhorita Witherspoon e se virou, conseguindo se retirar quando só a metade de seu corpo tinha cruzado a soleira.

—Por favor, sente-se comigo. — a senhorita Witherspoon agarrou Meg pelo cotovelo e a levou para uma mesa junto a janela — Eu queria falar com você.

—Ah, sim? — Parks não teria fome, certo? Olhou pela janela. Dali tinha uma boa panorâmica do gramado. Poderia ver se o visse vir e fugir bem a tempo.

—Sim, claro. Recebi uma carta de minha amiga Prudence. Nós vamos para a América do Sul em duas semanas. Navegaremos o Amazonas e exploraremos a selva. Imediatamente pensei em você. Você tem que unir-se a nós.

Meg deixou de olhar pela janela para observar a senhorita Witherspoon. A mulher meteu o garfo cheio de ensopado de enguia na boca e sorriu.

—Oh, eu… — a Amazônia! Isso era o paraíso botânico. Nunca tinha se atrevido a sonhar sequer em visitar a Amazônia a riqueza e a variedade da vegetação… Tinha certeza de que descobriria espécies novas de um grande número de plantas.

Então, por que não estava excitada? Ou, o que era pior, por que o rosto de certo cavalheiro não deixava de se intrometer em seus pensamentos? Definitivamente não queria pensar em Parks.

—Eu não sei se… —Tolices. — a senhorita Witherspoon cuspiu acidentalmente um pouco de ensopado de enguia

— Seja decidida, senhorita Peterson. Você tem vinte e um anos, não é assim? —Sim, mas Emma… —Ora! Sua irmã terá que soltar as rédeas algum dia. É você uma mulher adulta. Tem que abrir

seu próprio caminho na vida. — a senhorita Witherspoon se aproximou, as enguias se balançando em seu garfo entre as duas — Escute minhas palavras, senhorita Peterson: se não escolher seu próprio rumo, sua irmã e minha amiga Cecilia o farão por você… diretamente para a cama de Pinky.

Meg engoliu em seco. A ideia de traçar um rumo para a cama do senhor Parker-Roth provocou várias mudanças perturbadoras em sua fisiologia, mudanças que começavam a ser mais que familiares. Disse a seu traiçoeiro corpo que deixasse de regozijar-se de antecipação. Esse homem ou ainda sentia algo por lady Dawson ou estava decidido a não se casar nunca… ou ambas.

—O que você me diz, senhorita Peterson? Juntar-se-á a nós? Já é hora de você acrescentar alguma aventura a sua vida.

—Sim, sim, tem razão. Simplesmente é que não… É um pouco repentino. Eu vou pensar nisso. —Bom, mas não pense muito tempo. A oportunidade bate na porta uma vez, mas não mais.

Terá que estar preparado para abrir a porta. —Eu… — a porta que se abria imediatamente em sua mente era a do quarto do senhor Parker-

Roth. Ela devia estar em um estado lamentável se a palavra «aventurar» a fez pensar mais em corpos

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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que em botânica. —Eu pensarei muito seriamente.

*** —Felicity, este não é o lugar apropriado para tais atividades. Pode vir alguém a qualquer

momento. —Benny, você se preocupa demais. Se concentre no que tem entre as mãos. — Felicity acariciou

o que tinha entre mãos e o visconde estremeceu. —Felicity! — sua voz era um sussurro urgente, sua cabeça virou de um lado para o outro e seus

olhos examinaram área, mas seu… bom, ele não se afastou para ficar fora de seu alcance — Estamos em plena vista.

—Só para alguém que venha da casa. Quem vier do campo de boliche ou do rio teria que rodear essa maravilhosa sebe antes de nos ver. — ela desabotoou a braguilha da calça — Há muito pouca gente na casa.

Ele a agarrou pelo pulso. —Mas há alguém na casa. Ela riu e utilizou a outra mão. Era tão divertido provocá-lo. Nunca tinha flertado com ninguém

tão sério. Tampouco tinha flertado dessa forma. Tinha provocado e tentado antes, mas não… dessa

maneira. Nunca se tinha fixado muito na pessoa que tinha o órgão. Sempre pensou que um homem era como qualquer outro. Ela sorriu para lorde Bennington.

Ela estava errada. Bennie era único. —Eu ficarei com os olhos bem abertos. — percorreu com os dedos por toda sua longitude

crescente. Era um homem esplendidamente robusto. Mal podia esperar para desfrutar de toda sua… atenção.

Ela franziu a testa. Francamente, não podia esperar absolutamente. A situação financeira de seu pai estava piorando rapidamente. Era possível que Bennington a deixasse plantada se tomasse conhecimento do montante das dívidas do conde antes que a armadilha estivesse completamente fechada. Seria um escândalo, mas a maior parte da sociedade o perdoaria facilmente. Afinal ela era apenas a filha do maldito lorde Needham.

Uma dor tola se alojou ao redor de seu coração. Bennie a deixaria se soubesse que estava beira da pobreza? Provavelmente. Não tinha nenhum indício de que houvesse outra coisa que não fosse luxúria entre eles, pelo menos por parte dele. Mas também era certo que os homens agiam muito frequentemente levados pela luxúria.

Não, definitivamente precisava de uma aliança de casamento no dedo antes que o desastre pecuniário de seu pai fosse conhecido pela sociedade. O problema era que lorde Bennington queria um casamento em consonância com a ideia que tinha de sua própria importância, e pensava que esta era muito grande.

Felicity esperava que a luxúria acelerasse as coisas e o persuadisse de que uma licença especial e uma rápida troca de votos era o melhor.

Ela moveu os dedos e sentiu como se ele saltasse em sua mão. Ele respirava com bastante dificuldade e colocou as mãos em seus ombros. Deveria empregar a boca também?

Não. Ouviu o ruído de passos sobre o cascalho solto. Seu pequeno interlúdio se terminou por agora. Ela deu-lhe uns tapinhas uma vez que afastava a mão. Sorriu quando ouviu seu grunhido

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baixo. —Milorde, temos companhia. Ele precisou de um momento para que a racionalidade voltasse para seus olhos. Murmurou

uma maldição e deu um salto para trás. Talvez não tivesse que esperar muito para obter essa aliança de casamento.

***

Maldição. Parks ficou parado no caminho de pedras. Por um instante pensou em escapulir por um caminho lateral, mas era tarde demais. Ela já tinha-o visto. Seria muito estranho mudar de direção agora.

—Senhorita Peterson, está aproveitando o dia? Mas ela não parecia estar aproveitando nada. Parecia… bom, era um pouco difícil descrever sua

expressão. Tinha visto um brilho de alguma coisa que poderia ser prazer. Pareceu que seus olhos se iluminaram e se desenhou um sorriso nos lábios, mas a expressão se desvaneceu com tanta rapidez que poderia até jurar que não a tinha visto. Agora seu rosto estava corado e fazia uma careta em sua direção.

Knightsdale disse que ela estava louca por ele. Quem estava louco era o marquês. A senhorita Peterson parecia simplesmente zangada.

—O que você está fazendo aqui? Ele notou que suas sobrancelhas se arquearam. Estava tão furiosa que tinha esquecido as boas

maneiras, e até mesmo seu humor. Ela deve ter percebido que seu tom não foi nada educado, porque desviou o olhar e cruzou os braços sob os seios.

Aqueles seios bonitos. Ele lembrou em detalhes qual era seu toque, seu sabor. Poderia seduzi-la? Não, é claro que não. O que estava errado com ele? Ela era uma moça de família… que

aparentemente o odiava. A cunhada de um marquês… um marquês que tacitamente o incentivará a seduzi-la. Seria o ódio e o amor tão diferentes? Onde havia uma dessas paixões, podia vir a outra atrás?

Maldição. Estava perdendo a cabeça. Não queria se casar com ninguém, nem com a senhorita Peterson. Queria mandar Londres para o inferno e voltar para o Priorado, onde podia pensar com claridade. Iria a reunião da Sociedade de Horticultura nessa semana e depois arrastaria sua mãe para casa. Suas plantas estavam muito tempo sem ele.

—Estou perambulando sem rumo e procurando persuadir minha mãe e a senhorita Witherspoon para ir. E você?

—Eu também. — sorriu um pouco — Bom, eu me refiro a parte de perambular sem rumo. Não tenho nenhum interesse que sua mãe e a senhorita Witherspoon se vão.

Era mais benéfico para sua paz de espírito que ela franzisse a testa. —E por que não perambulamos sem rumo juntos? — ele ofereceu-lhe o braço. Ela sorriu de

novo, quase timidamente, e aceitou. Para o inferno com tudo. Ele não deveria ficar excitado com o simples contato dos dedos

enluvados da senhorita Peterson sobre seu braço. Era culpa de Knightsdale por colocar esses pensamentos de sedução na cabeça. Afinal, só era um homem… e a parte mais masculina de seu ser estava extremamente alterada pela proximidade da senhorita Peterson.

Vegetação. Devia estudar a vegetação. Concentrar-se na botânica e não na biologia. Os canteiros de flores não…

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A vegetação circundante era extremamente pouco interessante. Passearam em silencio por um caminho. O topo da cabeça da senhorita Peterson ficava justo sob

seu queixo. Ela ainda sorria? Seu chapéu ocultava completamente sua expressão. E se ele parasse a beijasse? Ela o esbofetearia com vontade? Isso era de esperar. Talvez um pouco de bom senso conseguisse penetrar entre a névoa

luxuriosa que enchia seu cérebro. —Oh! — a senhorita Peterson parou abruptamente. O que poderia…? Oh. Lorde Bennington e lady Felicity estavam ali, diante deles, a menos de

vinte metros. Mesmo a essa distância podia ver que a braguilha do homem estava desabotoada, por todos os céus. Seria muito esperar que a senhorita Peterson não tivesse notado? Cumprimentaria-os com a cabeça educadamente e a levaria para longe dali, a um lugar seguro.

—Senhorita Peterson, que alegria vê-la! — Lady Felicity sorriu e deu um passo adiante, bloqueando, felizmente, sua visão de lorde Bennington. O homem aproveitou a oportunidade para se arrumar.

Mas por que lady Felicity os tinha parado? Não seria melhor para seus propósitos deixá-los passar? Pelo que parecia, lorde Bennington ficaria muito mais contente se assim fosse. O homem parecia sofrer. Maldição, dado seu estado óbvio de… excitação no momento em que o encontraram, o visconde obviamente estaria sofrendo. Ele não gostava de Bennington, mas neste caso qualquer homem sentiria simpatia diante da situação do outro.

A senhorita Peterson afastou a mão de seu braço como se queimasse. —Lady Felicity. — pigarreou — Lorde Bennington. Bennington pigarreou e acenou com a cabeça. —Senhorita Peterson. Parker-Roth. — desviou o olhar. Lady Felicity riu. —Nós estávamos nos divertindo, não é, Bennie? Os olhos de Bennie quase saíram de suas órbitas. Pelo menos esses eram os únicos órgãos

sobressalentes nesse momento. O que Felicity pretendia? Uma coisa era conversar e outra muito diferente era dar detalhes sobre sua excursão pelo caminho do prazer.

—Não é delicioso passear pelos jardins? Admirar a forma em que as coisas… crescem? Como uma planta sensível pode se transformar em um caule sólido crescer…

—Falando de bio… botânica. — Parks a interrompeu já Bennington não ia parar lady Felicity, e claro que não ia, pois a ficou olhando boquiaberto, coisa nada estranha — Você vai participar da reunião da Sociedade de Horticultura esta semana, Bennington?

Pela primeira vez o homem pareceu encantado em ouvi-lo falar. —Sim. Rathbone irá discursar sobre a expedição a Amazônia, não? —Sim, eu… —A Amazônia? — a senhorita Peterson voltou a colocar a mão sobre seu braço — Falarão da

Amazônia? —Na reunião da Sociedade de Horticultura desta semana, sim. — por que a senhorita Peterson

estava tão nervosa? — Eu preciso ir a essa reunião! Agora foi sua vez de ficar de boca aberta. —Senhorita Peterson, por favor. — disse Bennington rindo — Esta bom. Você na reunião da

Sociedade de Horticultura. Ela recuperou sua mão para colocá-la no quadril.

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—E o que é tão engraçado sobre meu desejo de assistir a essa reunião? —Senhorita Peterson, não sabia que a Sociedade só aceita homens? — Parks franziu a testa. Era

a segunda Temporada da senhorita Peterson. Ela devia saber tudo sobre a Sociedade de Horticultura, dado seu entusiasmo por tudo o que se referia a botânica.

—Claro que sei, mas isto é diferente. Tenho um interesse muito especial na Amazônia. — Creio que eu, ou Parks, possamos lhe emprestar um livro, se desejar, senhorita Peterson. —

Bennington tinha recuperado seu habitual tom de condescendência — Tenho alguns textos básicos que poderiam se adaptar a seu nível.

Evidentemente, o fenômeno de boca aberta era contagioso. Agora era a senhorita Peterson que olhava para lorde Bennington boquiaberta. Mas só durante um segundo. Em seguida estreitou os olhos.

—Eu não acredito que a senhorita Peterson se interesse por sua oferta, Bennie. — disse lady Felicity.

Isso foi um eufemismo . Parks quase podia ouvir o ranger de dentes de Meg. A mulher não atacaria fisicamente visconde, verdade? Não devia baixar a guarda.

—E por que está tão interessada na Amazônia, senhorita Peterson? —Porque talvez eu acompanhe a Srta. Witherspoon numa expedição a esse lugar. Definitivamente, o fenômeno da boca aberta era contagioso. —Você deve estar brincando. Seu olhar passou de Bennington para ele. —Não estou. —Mas isso é… — viu que seu olhar se tornar frio, mas a palavra saiu antes que pudesse detê-la

— ridículo. Se olhar matasse, ele já estaria morto.

Capítulo Quinze Então eles queriam lhe emprestar um livro? Meg olhava para os títulos dos inocentes romances

que se enfileiravam sobre as prateleiras. Um livro com textos simples, de fácil entendimento? Ela mostrou os dentes aos mistérios do Udolfo. Ainda bem que aqueles dois idiotas não estavam presentes, pois ela não tinha certeza se iria resistir a tentação de literalmente abrir a cabeça deles. Com certeza havia armas de peso a sua disposição: Razão e Sensibilidade, de Jane Austen, serviria. Ou talvez Orgulho e Preconceito fosse mais adequado. Na verdade, quanto maior, mais eficaz seria em sua aplicação.

—Eu concordo que o O castelo do Otranto não se qualifique como grande literatura, senhorita Peterson, mas tampouco merece tal desagrado.

—O quê? — Meg se virou. A senhorita Witherspoon estava parada ao lado dela a. Naquele dia usava um vestido convencional, uma extravagante combinação de verde ervilha e roxo. Ela e lady Beatrice deviam ter a mesma costureira.

A senhorita Witherspoon levantou seus óculos e estudou a seleção de leitura. —Você estava rosnando. Rosnando? Ela parecia ser um cão. —Eu, não.

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—Sim, estava rosnando. — a senhorita Witherspoon dedicou sua atenção brevemente a Meg—. Eu ouvi. Felizmente era um rosnado baixo e acredito que não atraiu nenhuma atenção.

Meg olhou em volta. Havia um homem sentado junto a lareira, lendo um jornal. Duas jovens passaram caminhando, sussurrando e rindo. Ninguém estava olhando. Voltou-se para a senhorita Witherspoon.

—Eu não rosnava para o livro. A senhorita Witherspoon lhe dedicou um olhar inquisitivo. —Assim não nega que estivesse rosnando? —Oh! Não estava… —Shhhh. — a mulher pôs um dedo enluvado sobre os lábios — Não tão alto. Meg voltou a olhar a seu redor. Ninguém tinha interesse especial nela. —Se não se incomodar que eu diga, senhorita Peterson, hoje você esta um pouco irritável. Meg suspirou. E por que negar? —Certo, estou um pouco nervosa. A senhorita Witherspoon emitiu um som para não dar importância e a tocou levemente em seu

braço. —Espero que não tenha nada que ver com o Pinky… Ou deveria dizer o senhor Parker-Roth? —Claro que não. — Meg voltou a examinar a oferta literária de novo. Parecia que estivessem

escritos em russo; não podia se fixar em nenhum dos títulos. —Isso é bom. Não tem sentido deixar que um homem perturbe sua paz. Não, não tinha nenhum sentido. Talvez se repetisse isso vinte vezes ao dia, acabaria

acreditando. A senhorita Witherspoon deixou cair seus óculos e estes golpearam contra seu amplo decote. —Então, você pensou na expedição a Amazônia? Não quero pressioná-la, mas o tempo corre. A Amazônia. Essa foi a semente de seus últimos problemas. —Senhorita Witherspoon, sabia que o senhor Rathbone vai falar sobre a Amazônia na reunião

da Sociedade de Horticultura desta semana? —Sir Rathbone. Não, não sabia. —Vai falar de sua viagem a Amazônia. — e por que aquela mulher não estava mais

entusiasmada? — Eu acho que pode ser muito educativo. Espero poder participar. A senhorita Witherspoon bufou. —Você pode ter tantas esperanças de assistir como Rathbone consegue dinheiro suficiente para

cruzar o oceano. —Quer dizer que ainda não viajou a América do Sul? —Rathbone? Não. Não tem nem um tostão para custear. Continua procurando alguém para

financiar a expedição, suponho. —Oh. — agora que pensava, Bennington não havia dito que a expedição a Amazônia se realizou

— E por que ele não pode se unir a seu grupo? —É muito teimoso. Precisa estar no comando… E não estaria se juntando a nós. Diego, nosso

líder, é suficientemente inteligente para não deixar que Rathbone tome as rédeas. Ainda assim, esse homem é muito instruído. Vale a pena ouvi-lo falar, se puder suportar toda a sua conversa e auto engrandecimento.

—Então você me recomenda que assista? A senhorita Witherspoon voltou a utilizar seus óculos. —Você sabe que não permite mulheres assistir as reuniões da Sociedade, não, senhorita

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Peterson? Meg deu de ombros com impaciência. —Com certeza farão uma exceção neste caso. A senhorita Witherspoon voltou a bufar. —Seria mais provável que a gravidade fizesse uma exceção se você tropeçasse ao sair deste

edifício. Não, senhorita Peterson, confie em mim. A Sociedade de Horticultura não fará nenhuma exceção.

—Isso é ridículo. —Como são muitas atividades nas quais participam grandes grupos de homens, mas aí estão.

Receio que não há nada a fazer. Meg franziu a testa. Queria ouvir Rathbone falar e talvez fazer algumas perguntas. Os livros são

bons, mas em ocasiões não eram bons substitutos das palavras de um ser humano culto e instruído. E se certo estúpido cabeça quadrada passasse por ali, ouvisse e percebesse que não era uma tonta analfabeta, muito melhor.

—Tem certeza de que nenhuma mulher assistiu uma reunião da Sociedade de Horticultura? —Bom… — os cantos dos lábios de Agatha se curvaram, e ela se inclinou para a frente — Sim,

talvez uma. Então havia esperança. —E quem foi? —Minha amiga: Prudence Doddington-Prinz. — a senhorita Witherspoon olhou em volta e

baixou a voz até convertê-la em um sussurro — Foi justo depois de que Wedgwood formasse a Sociedade, em 1804 aproximadamente, se não me engano. Prudence estava tão decidida quanto você. Ela é uma botânica entusiasta, assim assediou Wedgwood e a alguns outros homens em cada ocasião que teve, mas eles foram categóricos: nada de mulheres. — a senhorita Witherspoon sorriu — Finalmente Prudence decidiu fazer as coisas a sua maneira. Foi… vestida como um homem.

—Ela fez Isso? — Meg sentiu um calafrio de espanto — E ninguém suspeitou? —Ninguém. Na verdade, Prudence assistiu a todas as reuniões daquele ano. Só parou de

assistir, segundo ela, porque se cansou de ouvir todos aqueles galos de briga cantado e se gabando por toda parte.

—Continuo sem poder imaginar como uma mulher pode se fazer passar por um homem. A senhorita Witherspoon deu de ombros. —Tenho certeza de que eu não poderia. Sou muito baixa e, bem, generosamente dotada. Mas

Prudence é como você: magra e pouco masculina, sem muitas curvas. Suponho que não seria difícil.

Meg se ergueu. O senhor Parker-Roth pareceu gostar de suas exíguas curvas no salão de lady Palmerson. E os outros homens que a tinham acompanhado entre os arbustos…

Mas não podia estar segura do que pensavam os outros homens. Exceto lorde Bennington, todos ficaram felizes em deixar os arbustos quando ela sugeriu que voltassem para evento social que se estava desenvolvendo em cada momento. Bennington obviamente se havia sentido mais atraído por seus contatos que por seus encantos. Mas o senhor Parker-Roth…

O senhor Parker-Roth foi completamente imune aos seus encantos do momento em que a conheceu na festa na casa de lorde Tynweith até que se viu obrigado a brincar de cavalheiro andante para resgatá-la do visconde. Suas ações no salão de lady Palmerson não foram nada mais do que uma tentativa de aproveitar. E o interlúdio no jardim dos Easthaven? Ele mesmo. Devia saber que Emma e Charles – e inclusive sua própria mãe – pensavam que deviam se casar. Mas

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agiu como se tivesse gostando de seus encontros com ela. —Senhorita Witherspoon, eu me decidi. A acompanharei a Amazônia.

*** —Tem certeza de que isto não me causará problemas, senhorita? —Não se preocupe, Annie. Ninguém saberá que você me ajudou. Meg olhou para as roupas dispostas sobre a cama enquanto Annie, uma das criadas mais jovens,

se removia junto a porta. Foi um golpe de sorte ter ouvido a garota falar de seu irmão, que era criado na casa de lorde Frampton em Londres. Com um pouco de persuasão, mas agora tinha um traje masculino completo. Esperava que vestisse bem. Se não, estava sem sorte. A reunião da Sociedade de Horticultura era nessa noite.

Uma coisa estava clara: não ia usar espartilho. Então, como ia manter a na linha suas exíguas curvas?

—Você trouxe outro lenço, Annie? —Sim, senhorita. —Bem. — não tinha sentido esperar mais — Me ajude a tirar a roupa, por favor? Meg havia dito a Emma e Charles que não se sentia muito bem, o que era certo. Seu estômago

não era mais do que um nó apertado. Será que realmente poderia passar por um homem? Se a descobrisse…

Não, nem sequer devia pensar nessa possibilidade. Ela tirou o vestido, o espartilho e a regata e colocou os calções e calças masculinas. Sentia-se

muito estranha com tecidos entre as pernas e lhe envolvendo as coxas. Deu uns passos para prova. Gostou da liberdade de movimentos que proporcionava o traje masculino.

Ela olhou-se no espelho. Oh, Deus Santo… Os quadris e as coxas! Nunca os tinha visto tão expostos. Nunca estiveram tão expostos, exceto quando entrava e saía do banho. E agora ia andar pelas ruas de Londres vestida assim?

Ela ia vomitar. Engoliu seu nervosismo e estudou seu reflexo com mais atenção. Seus quadris não se pareciam

com de nenhum homem que ela já vira. Seria melhor que a jaqueta do irmão de Annie os escondesse bem.

—Coloque-me o lenço. Annie rodeou os seios de Meg com o lenço três vezes, apertando o tecido um pouco mais em

cada volta, mas não tão forte para que não lhe permitisse respirar. Ela segurou ali e então cobriu com o resto do tecido o corpo de Meg até a cintura, o que ajudou a esconder um pouco mais sua figura.

Meg vestiu a camisa e o colete e voltou a estudar o efeito no espelho. Não estava ruim. Já estava pronta para o outro lenço.

—Você sabe fazer o nó, Annie? —Sim, senhorita, Eu acho que sei, mas… — Annie mordeu o lábio. —Mas o que? —Seu cabelo, senhorita. —Meu cabelo? — era um desastre, esparramado sobre seus ombros. Teria que escová-lo e

segurá-lo com presilhas sob… o Oh. — Eu não acho que os homens usem chapéu na reunião da Sociedade de Horticultura, certo?

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—Certamente que não, senhorita. Meg ficou olhando suas largas ondas castanho claro. Gostava de seu cabelo. Era um de seus

melhores traços. Mas ele teria que desaparecer. Ela inalou. Não tinha sentido chorar. Era apenas cabelo. Seria muito mais conveniente usá-lo

curto na Amazônia. Estava decidida a navegar com a senhorita Witherspoon e sua amiga. A senhora Parker-Roth tinha contado a Emma, que por sua vez dito a ela, que Parks estava planejando voltar para sua casa de campo no fim de semana.

—Que tal você se dá com as tesouras, Annie? Foram necessários vários ensaios e enganos - sobre tudo enganos, mas Annie finalmente

conseguiu fazer um penteado que não parecesse criado por um macaco bêbado. O lado direito estava um pouco mais comprido que a esquerdo e algumas mechas se sobressaíam em diversos ângulos estranhos, mas estava bom. Ninguém iria estudar seu cabelo de todas maneiras.

Annie acabou de ajudá-la com o lenço e o casaco. Finalmente agarrou a cartola e a colocou na cabeça.

—O que você acha, Annie? Passará? —Eu não sei. — Annie inclinou a cabeça e ficou olhando enquanto Meg girava lentamente com

os braços estendidos — Acho que sim. Meg se olhou no espelho uma vez mais. As calças ficavam um pouco apertadas, mas não podia

fazer nada com isso. As abas do casaco ocultavam seus quadris por trás e o colete e o lenço ocultavam seu seio. Parecia estranha, mas não especialmente feminina. Deu de ombros.

—A pessoas veem o que esperam ver, Annie, e nenhum dos cavalheiros da reunião desta noite espera encontrar uma mulher com roupa de homem. Estarei bem… mas por precaução, tentarei ficar nas sombras e não chamar a atenção.

—Isso será bom, senhorita, mas o que fará se a descobrirem? Vomitaria. Não, uma viajante intrépida não deixaria que esses pequenos perigos a separassem de seus

objetivos. —Não me descobrirão, Annie. Agora olhe para ver se o corredor está vazio e eu descerei pela

escada de serviço.

*** —Como você pode deixar Londres agora, Johnny? Parks lutou para encontrar paciência. Sua mãe esteve dando voltas no tema desde o dia da festa

na casa dos Hartford. Quando ele anunciou seus planos na viagem de volta a casa na carruagem, ela não disse nada, embora ele percebesse que ela teve que morder a língua. O dia seguinte começou a mencionar o assunto, mas se limitou… depois de tê-lo dito seis vezes. Então começaram as insinuações. Agora tudo se reduziu a um grande assalto frontal, uma vez descartada toda delicadeza.

—Eu estive fora do Priorado durante muito tempo, mãe, muito mais do que pretendia. —Oh, tolices. Você trabalha muito. Precisa para um pouco para se divertir. Parks respirou fundo. Não ia gritar. —Não acho divertidas as noites da sociedade. — outra inspiração. Falar calmo e racionalmente

— Você sabe que eu estava esperando um grande carregamento de plantas de Stephen quando saímos. Tenho que voltar.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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—Mas… não tive tempo para comprar meus pincéis e tintas. Parks contou até dez com os dentes apertados. —Você teve tempo mais do que o suficiente para comprar um fornecimento de pincéis e tintas

para uma vida inteira. — bom, isso não parecia calmo nem racional. Sua mãe olhou para com os olhos arregalados e tristes, e com os cantos da boca afundados. Ela teve trinta anos para aperfeiçoar essa expressão. Há tempos que já utilizava com seu pai… e

com antecedência já utilizava com o dela. —Mãe, sabe que eu tenho razão. Ela suspirou e desviou o olhar. —Só quero que seja feliz, Johnny. Havia certo tremor em sua voz? Esteve a ponto de rir. Por isso ela desviou; para que ele não

pudesse ver. Ela podia conseguir fingir como se estivesse chorando, mas nunca dominou a técnica de poder produzir lágrimas quando tivesse vontade. Ele não ia engolir nada disso.

—Serei feliz quando voltar ao Priorado. Ela olhou-o por cima do ombro. Como ele tinha suspeitado, tinha os olhos secos. —E o que acontece com a senhorita Peterson? —O que tem ela? —Colocou-a em um compromisso. —E também a pedi em casamento e ela recusou. Já não tenho nenhum dever com a senhorita

Peterson. Sua mãe franziu a testa. —Mas não…? Quero dizer, conheço você… — fez um gesto com a mão no ar — Já sabe. —Eu não sei o que diab… — outra inspiração profunda. Era com sua mãe com quem estava

falando — Eu realmente não sei do que está falando . Sua mãe o olhou diretamente, com verdadeira preocupação nos olhos. Ele fechou os seus. Deus, isto era o pior que podia passar. —Johnny, você a quer. Não pode deixá-la ir. Por que tinham que ter essa conversa? Por que não podia ser como os outros homens que

tinham mães que se preocupavam de seus próprios assuntos… Ou que pelos menos tinham o bom senso de guardar seus próprios pensamentos para si?

—Meus sentimentos, ou a falta deles, para a senhorita Peterson não têm importância, mãe. Ela vai para a América do Sul em duas semanas. Vai se unir a senhorita Witherspoon e sua amiga em sua expedição a Amazônia.

—Não! Sua mãe estava chocada. Tinha o mesmo olhar que ele quando a senhorita Peterson informou

tão alegremente de seus planos de pôr milhares de quilômetros entre ambos. Ele tomou a decisão de voltar para casa no momento em que essas palavras abandonaram os lábios dela.

Deus! Era um idiota. Será que não aprendeu nada depois de Grace? Não ia perseguir nenhuma outra mulher. Embora não tivesse perseguido Grace, é obvio. Mas não ia pensar mais nessas criaturas. Iria para casa e entreteria com um escarcéu agradável e sem sentido na cama com Cat.

—Sim, mãe. Assim, você vê, não há necessidade de permanecer em Londres. Eu sugiro que compre seus fornecimentos hoje quando sairmos para a reunião da Sociedade de Horticultura.

***

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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—Eu estou indo para o continente esta noite. —Você não pode. — Felicity olhou para seu pai. Estavam de pé no que uma vez foi a biblioteca.

As estantes estavam vazias. O escritório, as cadeiras e todos os móveis já não estavam; foram vendidos para evitar os credores de seu pai. Uns retângulos de papel descolorido davam testemunho dos lugares aonde antes tinham pendurado as pinturas.

O conde deu de ombros. —Eu não tenho escolha. Não posso escapar da perseguição durante mais tempo. Se não for

agora, acabarei no cárcere com toda certeza. —E o que acontecerá comigo? Seu pai voltou a dar de ombros e desviou os olhos. Queria gritar, mas isso não serviria de nada. —Se fugir agora, certamente Bennington sairá assustado. —Está prometida. Esse homem não pode deixá-la jogada. —Você acha que ele se casará comigo se seu nome estiver em boca de todos? Já era bastante

ruim quando era proprietário de um bordel, mas o dinheiro faz que se perdoem muitos pecados. Mas o bordel e sem um centavo… Bennington me abandonará como se eu fosse um peixe podre, e ninguém o recriminará por isso.

Ela mordeu o lábio. Não ia chorar. Seu pai afundou as mãos nos bolsos e deu de ombros. —Não pode ser assim tão ruim… —Sim que é tão ruim… ou será se você desaparece. Não pode ir. —Eu tenho que ir. Meu navio parte ao amanhecer. —Tudo bem. — não ia permitir que todos seus planos se fossem a deriva nesse momento —

Isso da-lhe cerca de dez horas. Procura uma solução. Quero ser viscondessa antes que toda a sociedade saiba que sou pobre.

—Mas eu não posso… —Pode. Por uma maldita vez pode fazer alguma coisa por sua filha, bastardo. — não ia gritar.

Maldição, não ia chorar. Nem tampouco ia desviar de seus malditos e mentirosos olhos. Ele se ergueu. —Eu verei o que posso fazer.

*** —Charles… — Emma deixou Orgulho e Preconceito. Devia ter lido a mesma frase vinte vezes,

mas não podia se concentrar. Continuava ouvindo a voz da senhora Parker-Roth em sua cabeça. Estudou seu marido. Ele estava sentado diante dela em uma grande poltrona estofada. A luz da

vela brincava sobre seu cabelo castanho encaracolado, um pouco comprido agora, e sobre seu rosto. Cada vez que o olhava ainda sentia essa sensação de mariposas no estômago, embora já estivessem quatro anos de casados e dois filhos.

Quando estavam em casa, em Knightsdale, esse era seu momento favorito do dia… Bom, seu segundo momento favorito. Corou ao pensar no favorito. Os bebês estavam na cama e a casa estava em silêncio. Estavam sozinhos os dois.

Charles a amava? Gostava, isso sabia. Ele estava confortável com isso... e disposto a levá-la para a cama. Mas a amava?

—Charles.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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—Sim? — o homem não levantou o olhar do livro. —Charles, você nunca quis se casar com outra pessoa, uma mulher que estivesse mais

confortável em Londres? —É claro que não. — ele virou a página. Pelo menos ele estava entretido em seu livro. Seria melhor que deixasse as coisas como estavam.

Mas quando ela teria outra oportunidade como essa? Meg estava acostumada a estar com eles. Talvez fosse providencial que sua irmã não se sentisse bem naquela noite e se retirasse para seu

quarto. —Alguma vez… bom, você se sentiu sozinho aqui em Londres, quando não eu não estava? Por fim ele levantou a vista. —Claro, Emma. Eu sinto falta de você e das crianças, mas sei que você prefere o campo. —Mas você alguma vez…? Quero dizer, a maioria dos homens fazem, é claro, mas… — ele

estudou o rosto dela. Parecia educadamente desconcertado. Sua coragem desapareceu. —Não importa. — ela fez um gesto para o livro que estava aberto no colo — Eu sinto ter

incomodado. Volta para seu livro, por favor. Ele a olhou durante um momento mais e então sim voltou para seu livro. Bom, foi isso ela disse

que fizesse, não? Emma voltou a pegar Orgulho e prejuízo de novo. Era como se estivesse em grego. Ela se mexeu na cadeira. Só precisava se concentrar. Ela tinha

apreciado razão e sensibilidade, da senhorita Austen, e estava a muito tempo tentando ler este. Suspirou, cruzou os tornozelos e ajeitou a saia. —O quê é, Emma? Ela olhou para cima. Charles estava franzindo a testa e inclinado para ela, com o dedo entre as

páginas, marcando o lugar onde parou. —O que é o quê? —Você esta a noite suspirando e se remexendo na cadeira. O que há? —Nada. —Emma… Coragem. Não havia melhor momento que o presente. Se deixasse que a oportunidade

escapasse… Mas e se ele dissesse que sim, que ia a bordéis ou que mantinha uma amante enquanto ela estava em Kent?

Melhor saber a verdade do que viver na ignorância. —Quando eu estou em Knightsdale… bom, seria perfeitamente compreensível se você… se… —

inspirou fundo e se ergueu na cadeira — Sei que os homens têm certas necessidades e você especialmente tem… bom… são muito… — exalou o ar com força. Não podia dizer.

—Emma, você não estará sugerindo que eu não sou fiel aos meus votos matrimoniais, não? — Charles tinha uma expressão dura no rosto e suas sobrancelhas formavam um profundo carranca. Ela corou.

—N… não. — mordeu o lábio. Não ia mentir para ele — Bom, talvez. Quer dizer, não é que ninguém fosse culpá-lo. Passamos muitos meses separados…

—Ou seja, que você tem amantes enquanto eu estou em Londres? Orgulho e preconceito caiu no chão quando Emma levantou de um salto. —Eu não! Claro que não. Eu te amo. Nunca… Charles se levantou também. Colocou os dedos sobre os seus lábios. —Eu tampouco, Emma. Eu quero você e só você. Sinto saudades quando estamos separados. —

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seus lábios se curvaram para em um uma meio sorriso — Deus, como sinto sua falta. E, sim, eu adoraria tê-la na cama junto a mim… Desejaria estar dentro de você… mas é de você que sinto falta, Emma, não uma mulher, não um corpo feminino. Como pôde pensar o contrário?

—Eu… — ela estudou seu lenço. Ele pôs os dedos sob o queixo e a fez levantar a cabeça para olhá-lo. Seus olhos examinaram os dela e sentiu que seu rosto corava.

—Eu já lhe dei razões para duvidar de minha palavra, Emma? —É claro que não. É só que… — pigarreou para esclarecer a garganta — É só que sou consciente

de que só casou comigo para que as meninas tivessem uma mãe e para evitar ter que entrar no mercado matrimonial…

—Emma! Se eu dei essa impressão… — sacudiu a cabeça — Realmente acredita nisso? —Não… Não sei. Quando estamos na casa de Kent, não. Mas quando venho para Londres e vejo

todas essas mulheres belas e mundanas e como se comporta na sociedade, acho que seria uma estúpida se esperasse que você não se aproveitasse de… tudo isso. — engoliu em seco — Especialmente porque sou um aborrecido camundongo do campo.

Ele deixou cair as mãos sobre seus ombros e a sacudiu com delicadeza. —Não é um aborrecido camundongo do campo, Emma. É uma mulher forte e corajosa que tem

um coração muito maior do que a mulher mais bela de Londres que tanto parece invejar. Você acha que eu só vejo a superfície das pessoas? Eu sei que há coisas que importam mais do que uma cara bonita e um corpo atraente e é o que há aqui — disse ele tocando suavemente na testa — e aqui — e colocou a mão sobre seu coração.

—Oh, Charles. — ela enterrou o rosto em seu peito e o abraçou com força. Sentiu vontade de chorar. Sentia-se como se seu coração fosse explodir de tão cheio de amor que estava.

Ele inclinou a cabeça para sussurrar em seu ouvido. —Mas também amo sua sedutora superfície, é claro. Amo sua boca… — ele beijou a área

sensível que ela tinha sob a orelha — e seus seios… — foi descendo até a base da garganta — e suas preciosas e maravilhosas coxas. — espalhou beijos desde o queixo até a boca, parando junto a seus lábios — Adoro saboreá-la — ele roçou os lábios — e me deslizar profundamente dentro de seu doce calor.

Ela estava ofegando. O calor emanava de seu ventre e pulsavam de necessidade. Queria-o dentro dela. Queria seu amor e sua semente.

—Quer que eu veja se o ferrolho da porta da biblioteca funciona? — perguntou Charles — Ou nos arriscamos a escandalizar os criados?

Capítulo Dezesseis —Eu acho que compliquei as coisas, David. Lorde Dawson suspirou e fechou o livro. —Grace, se me dessem um xelim cada vez que você diz isso, agora eu seria um homem rico. —Mas já é um homem rico. —Pois seria um homem mais rico. Qual é o problema agora? —Eu falei com a senhorita Peterson quando estávamos na casa de duque do Hartford. —Ah. E não foi uma conversa proveitosa? —Não, não foi. — Grace deixou cair a cabeça entre as mãos e gemeu — Quando vou aprender a

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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controlar minha língua? —Estou contendo a respiração de antecipação. Grace olhou para ele. —Muito engraçado. —Bem, a verdade é que você tem a tendência para asneira quando abre a boca, querida. O quê

exatamente fez desta vez? —Eu ameacei a garota com a ruína social se fizer mal a John. David assentiu lentamente. —Tenho certeza de que fez muito bem. — sorriu — Acredito que aconselhei permanecer

distante dos assuntos do senhor Parker-Roth, ou não? —Oh, não me diga: «Eu avisei». Ainda não aconteceu nada terrível, exceto que a senhorita

Peterson parece ter desenvolvido um ressentimento por mim. —Não me surpreende. Como se sentiria você… melhor dizendo, como se sentiu quando as

pessoas começaram a dizer como devia se comportar em relação a mim? Grace mostrou os dentes. —Eu deveria escutá-los. Obviamente só queriam o melhor para mim. —Mentirosa. Ela mostrou-lhe a língua e depois deixou a cabeça cair entre as mãos novamente. —Eu me preocupo com o John. Não deveria surpreender ninguém. Nós fomos amigos desde

criança. Sinto-me responsável por estar ainda solteiro. Eu… —Grace, não se dê tanta importância. —O quê? — levantou a cabeça rapidamente e seus olhos soltavam fogo. Felizmente ele não se

intimidava facilmente. — Você sabe que ele se sentiu muito ferido quando o deixei plantado no dia de suas… de nosso casamento.

David suspirou. Eles tinham conversado sobre isso tantas vezes antes… Grace se perdoaria alguma vez? Talvez só quando Parks se casasse.

Esperava fervorosamente que adquirisse esse vínculo com a senhorita Peterson. —Parker-Roth é um homem adulto, Grace. Não estou dizendo que não ficou… afetado quando

você não apareceu na igreja. Tenho certeza que ficou envergonhado, furioso e sim, ferido. — permitiu-se um sorriso preguiçoso — E teria ficado ainda mais… afetado se soubesse o que você fazia exatamente quando tinha que estar pronunciando seus votos diante dele .

—David! —Mas é ele que governa sua própria vida e é perfeitamente capaz de tomar suas próprias

decisões. Tenho certeza de que não vai querer piedade. Na verdade, aposto que ficaria horrorizado se soubesse que está se preocupando tão terrivelmente com seu destino.

—Mas… —Deixe-o estar, Grace. Deixe que ele encontre a felicidade com a senhorita Peterson ou a deixe

mandá-la ao inferno… mas deixe que faça por si mesmo, sem que você interfira. Confia em mim, ele não vai lhe agradecer isso. Nenhum homem faria.

—Como pode saber? —Porque, meu amor, sou um homem. E se esse detalhe escapou a sua mente, ficarei encantado

em refrescar sua memória. Grace abriu a boca como se fosse discutir, mas parou. Seus lábios curvaram em um meio sorriso. —Talvez eu precise de um lembrete. Ele colocou o livro sobre a mesa.

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—Aqui ou em nosso quarto? Ela olhou em volta, à biblioteca. —Aqui. — sorriu — E em nosso quarto. — ela levantou e rodeou-lhe o pescoço com os braços —

Minha memória é realmente deplorável. Preciso que me refresquem muito frequentemente. —Então sou o homem que precisa. Além disso, será um prazer. — aproximou seus quadris da

parte que estava mais ansiosa por… refrescar a memória — Um grande prazer.

*** Meg deixou escapar um suspiro lentamente enquanto via a carruagem de aluguel se afastar. A

primeira parte da aventura havia dado certo. O cocheiro não suspeitou que ela fosse uma mulher… Ou, pelo menos não demonstrou, se percebeu.

Ele poderia ter adivinhado? Certamente que não. Ela manteve a cabeça baixa e o chapéu inclinado para evitar que a luz mostrasse seu rosto. Baixou o tom e falou com voz áspera e calma… Ele não a teria deixado entrar na carruagem se tivesse suspeitado, certo? Ou ficaria tão feliz pelo dinheiro que não se importou o escandaloso passageiro?

Não importava. Ele já foi embora, desaparecendo na massa conformava a humana que compunha Londres. Não sabia seu nome. Nunca o veria de novo…

Deus! Ela não tinha pensado… Como voltaria para casa? Ela se ergueu e puxou o colete. Se preocuparia com isso depois. Agora ainda tinha muitos

obstáculos para superar, por exemplo, como iria conseguir se fazer passar por homem sob a iluminação do salão, ou como entraria no tal salão, antes de mais nada. Será que bastava chegar e entrar, ou tinha de bater na porta, ou haveria algum ritual especial que ela não conhecia? Sua ignorância podia traí-la inclusive antes que cruzasse a soleira.

O suor começou a correr entre as omoplatas. Talvez deveria desistir agora mesmo. Mas ainda estava com o problema de que não sabia como voltar para casa.

Não podia desistir. Só teria que subir dois lances de escadas. Agarraria a aldrava que tinha forma de dente, nada alarmante, e a golpearia com força. O mordomo ou o criado abriria e…

Descobririam-na. Ela fechou os olhos e respirou fundo uma vez. E outra. E outra mais… Não podia fazer isto. Então ouviu aproximação de um grupo de cavalheiros e se ocultou com rapidez entre as

sombras. Deus! Pôde reconhecê-los: eram lorde Easthaven, lorde Palmerson e o conde de Tattingdon.

Lorde Smithson, apoiando-se pesadamente em sua bengala, ia atrás. Era sua oportunidade. Os cavalheiros eram velhos e estavam exaltados, assim certamente não

teriam a menor ideia de que existia uma pessoa tão pouco importante como a senhorita Peterson. Além disso, lorde Smithson era mais do que um pouco surdo e tinha uma visão ruim. Perfeito. Começou a caminhar atrás deles, entrou no vestíbulo e deu seu chapéu ao criado com reticências.

Lorde Smithson estava lutando com as escadas. Sem pensar, se aproximou para ajudá-lo. Quando chegaram em cima, ele a deteve.

—Muito obrigado, jovem… — ele olhou estreitando os olhos — Eu o conheço? —S… Sim. — e até aqui chegou. E foram descobrir em uma casa cheia de homens. Sua vida seria

arruinada além do que ninguém pudesse imaginar. Respirou fundo para começar a suplicar a todo mundo que a perdoasse.

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—Não, não me diga. — a voz de lorde Smithson poderia despertar os mortos, e nesse momento Meg desejou fervorosamente estar entre eles, mas, felizmente seus companheiros, aparentemente assumindo que ela estava em boas mãos, se adiantaram — Tenho que testar a memória, sabe? Exercitá-la, igual se exercitam as pernas, para que esteja em boas condições.

Lorde Smithson observou seu rosto. Não sabia como conseguiu não cair fulminada naquele mesmo momento.

—Você me parece familiar. Oh, Deus Santo. —Muito jovem. Ainda nem tem barba. Ela só pôde assentir. O coração pulsava com tanta violência que mal podia ouvir suas palavras,

e ele falava bem alto. —Já sei! — Lorde Smithson golpeou a bengala contra o chão de azulejos. Seu coração parou. —É um dos Beldon de Devonshire, não é? —Uh. — O que podia dizer? — Eu… Lorde Smithson franziu a testa. —Está gripado, Beldon? Sua voz parece um tanto estranha. Ela era uma covarde. Assentiu. —Um pouco — ela sussurrou. Tossiu suavemente para disfarçar. Lorde Smithson grunhiu. —O melhor para isso é um pouco de ponche quente. Vamos. Ele a Levou até um grande salão. O murmúrio das vozes masculinas não era moderado por

nenhuma nota feminina mais suave. —Aqui tem, Beldon. Isto curará todos os males. — Lorde Smithson serviu um copo cheio de

ponche e entregou para Meg. —Obrigado. — tomou um gole… e esteve a ponto de cuspi-lo sobre a camisa de lorde Smithson.

Não era como nenhum ponche tivesse provado em sua vida. Lorde Smithson bebeu um longo gole e limpou a boca na manga. —Tome tudo, rapaz, e se sentirá novo. Meg sorriu e fingiu que tomava outro gole. Se tomasse tudo, com certeza se sentia diferente.

Certamente mais da metade era álcool. —Palmerson, você conhece o jovem Beldon aqui em minha companhia? Talvez mais um gole para lhe dar forças não seria uma má ideia. Meg tomou um bom gole e

começou a tossir. —Beldon está gripado, sabe? — disse lorde Smithson. —Sinto muito ouvir isso. Meg assentiu e se dedicou a olhar os sapatos de lorde Palmerson. —Por certo, Smithson, você sabe onde escondem o urinol? —Normalmente está nesse armário. —Ah, bem. Passei toda a tarde no White's bebendo… Deus! Meg olhou para cima. Lorde Palmerson tinha uma mão na porta do armário e a outra na

braguilha das calças. —Desculpe-me. — ela virou e fugiu. Encontrou um assento do outro lado do salão, junto a uma saudável planta em um vaso de

barro e uma grande mesa. Duas pequenas cadeiras estreitas, obviamente acrescentadas para

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acomodar a multidão que esperava, estavam perfeitamente situadas em um canto afastado junto a uma porta fechada que podia ser sua via de escapamento se precisasse de uma. Como vantagem adicional, não tinha nenhum armário que escondesse um urinol à vista.

— Se os senhores puderem se acomodar, estamos prontos para começar. Ela se sentou na cadeira e depositou o copo sobre a mesa. Nada mais desse ponche ou teria

sérios problemas. Já se sentia um pouco enjoada nesse momento. Maldição. Um pilar lhe bloqueava a visão de um homem baixo e com cara de rato que devia ser

Sir Rathbone. Deveria mudar de lugar? A cadeira do lado dela oferecia melhor vista, mas, se movesse, alguém poderia ocupar sua cadeira atual. E ela definitivamente não queria companhia.

Ela ficou onde estava. Um par de cavalheiros olharam para a cadeira vazia, mas como tinham que passar por cima dela para alcançá-la e ainda restavam outras alternativas mais confortáveis, passaram.

Finalmente todo mundo se acomodou. Esperou alguns minutos mais e então se moveu. Agora podia ver o conferencista, e continuava escondida atrás da planta decorativa. Exalou um suspiro de alívio. Por enquanto tudo ia bem.

Mas ela se congratulou-se prematuramente. Ela ouviu um estalido a seu lado, sentiu o deslocamento de ar e, pelo canto dos olhos, viu um

par de pernas fortes se aproximando e ocupando a cadeira vaga. Não pôde se reprimir; lançou um olhar rápido para ver quem era.

O senhor Parker-Roth a saudou com um aceno. Ele deteve o gesto e franziu a testa com um olhar desconcertado.

O horror a deixou paralisada por um momento. Depois cobriu os olhos com as mãos. O que ia fazer? Ele bloqueava a saída. Podia tentar tombar a palmeira para escapar, mas era um espécime saudável e muito pesada. Poderia…?

Uma enorme mão masculina segurou seu pulso. —Que diabos você pensa que está fazendo?

*** Felicity esperou entre as sombras. Seu pai tinha demonstrado sua inutilidade novamente, mas

pelo menos ela tinha conseguido lhe tirar a carruagem e dinheiro o suficiente para pagar o cocheiro antes que ele fugisse para o Continente. Com um pouco de sorte se livraria dele durante anos. Poderia encontrar o caminho para a cama de uma rica ou estabelecer um bordel em Paris, Viena ou Constantinopla… Não importava, desde que se mantivesse longe de Londres.

Lá estava: Bennie acabava de sair pela porta de sua casa da cidade. Deus, seu coração deu um salto ao vê-lo. Ridículo… mas certo. Desejava-o. Se soubesse como era sentir amor, talvez pudesse dizer que o amava.

Ele caminhou para sua carruagem. —Milorde! — ela correu para interceptá-lo. Ele se voltou para olhá-la. —Lady Felicity! O que está fazendo aqui? Está tudo bem? Ela deixou escapar algumas lágrimas; suficientes para que os olhos ou o nariz não ficasse

vermelhos, mas apenas para provocar piedade. —Não — conseguiu soluçar — Oh, lorde Bennington, nada vai bem. Apertou os lábios. Se não se cuidasse se tranformaria em um regador.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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Bennington fez um gesto a seu criado para segurar sua carruagem. —O que aconteceu? —É meu pai. — ela agarrou–lhe e apertou ligeiramente — Bennie, está tão preocupado que está

fora de suas casinhas. — certo. Ela nunca viu o conde nesse estado. Nunca o viu tão convencido de que acabaria no cárcere. Ela se inclinou para frente — Tenho medo…

Bennington franziu a testa. —Você acha que ele poderia machucá-la? Ela deu de ombros. Não a havia lhe causado dano suficiente esbanjando todo seu dinheiro? —Eu… Eu… — deixou escapar mais lágrimas. Bennington a pegou pelo braço e afastou uns

passos dos criados. —Não se preocupe, Felicity. Tudo vai ficar bem. Agora mesmo eu estou saindo para a reunião

da Sociedade de Horticultura, mas… Será que ele ia conversar sobre plantas deixando-a nesse estado de nervos? Não. E se alguém na

reunião tivesse ouvido sobre o conde? Ela o queria a caminho de Gretna Green agora mesmo, antes que chegasse a seus ouvidos algum rumor sobre o conde. Voltou a agarrá-lo por braço.

—Bennie, não me deixe. — apontou a carruagem — Eu consegui a carruagem. Esperava que me levasse a Escócia. Quando nos casarmos… Quando eu for sua viscondessa… estarei segura. Meu pai não poderá me tocar. — se aproximou mais dele e tentou parecer completamente adorável. Felizmente estavam junto a uma luz e tinha o rosto bem iluminado — Dependo de você, Bennie.

Bennington parecia despedaçado. —Eu passei muito tempo esperando esta reunião, Felicity. Será que era tão duro como as pedra dos escarpados de Dover? Estava dizendo que preferia

sentar em uma sala cheia de homens e falar de vegetação a entrar em uma carruagem escura com ela? Ela baixou a mão até seu colete.

—Eu sei, Bennie, mas tenho medo. Se demorarmos muito, não sei o que pode me acontecer. —Bom… —Por favor… — baixou a mão um pouco mais e parou em sua cintura — Eu sei que estou te

pedindo muito, mas eu… — deixou que seus dedos baixassem um pouco mais. O que via era uma amostra de interesse envolta em caxemira? —… farei com que valha a pena. Tenho certeza de que gostará da viagem ao norte tanto quanto gostaria da reunião. — seus dedos se aventuraram mais abaixo. Sim, definitivamente ele estava interessado… e seu interesse ia crescendo mais. Como o seu. Ela mal podia se manter em pé. Tudo o que conseguia pensar era neles sozinhos na carruagem e poder finalmente remover as camadas por de roupa e tocá-lo… em toda sua extensão.

—Bom… Ela apertou seu corpo contra o dele. —Eu preciso de você, Bennie. Em todos os aspectos. —Oh… Ela abraçou-lhe pela cintura e aproximou de seu ouvido para sussurrar: —Não quero ficar sozinha. Preciso que me abrace… toda a noite. —Ah. — agora ela tinha conseguido atrair toda sua atenção — Mas não estamos casados… Ela estava quase ofegando. —Mas estaremos. O que importam uns dias mais ou menos? Ele olhou para ela e assentiu. —Sim… claro. Muito bem. Não importa. — as mãos dele tocaram seus quadris brevemente e

depois voltaram os lados — Me deixe colocar algumas coisas em uma mala.

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Cada minuto que passava aumentava as possibilidades de que algum rumor sobre o escândalo chegasse a seus ouvidos. Ou, o que era mais importante, cada minuto significava um minuto mais antes que pudesse lhe arrancar o colete, a camisa, as calças e…

—Não posso esperar, Bennie. Eu trouxe algumas coisas de primeira necessidade para você. — colocou as mãos por debaixo de seu casaco e as desceu até seu traseiro — Além disso, não vai precisar de muito. Tenho a carruagem de viagem. Simplesmente vamos já, por favor…

Ele ficou olhando sua boca. Passou-se a língua lentamente sobre o lábio inferior. —Milorde? O que quer que eu faça com a carruagem? Os cavalos estão inquietos. —Volta a colocá-los nos estábulos, William. — disse Bennington por cima do ombro. Seus olhos

continuavam fixos nos de Felicity — E diga ao senhor e a senhora Ferguson que estarei fora por uns dias.

—Sim, milorde. Felicity sorriu quando ouviu carruagem de Bennington se afastar. —Vamos, milorde? — tocou a dura protuberância da parte dianteira de suas calças — Eu

realmente não posso esperar para começar. —Nem eu, meu amor. Nem eu.

*** Parks chegava tarde. Deu um salto para sair da carruagem. —Venha me buscar a meia-noite, Ned. —Sim, senhor. Ele se apressou a entrar no edifício enquanto Ned retrocedia com a carruagem. Demônios. Ele

odiava chegar atrasado. Teria chegado a tempo, melhor dizendo, teria chegado antes, se não tivesse desperdiçado esses preciosos minutos falando com sua mãe sobre a senhorita Peterson. Agora a reunião da Sociedade de Horticultura já tinha começado. Perdeu a oportunidade de conversar antes que começasse o programa. Já não teria oportunidade para uma conversação racional até que Rathbone terminasse a oratória sobre a maldita Amazônia.

Parks entregou o chapéu ao criado. —Subindo as escadas… —Sim, obrigado. Eu conheço o caminho. Ele subiu as escadas de dois em dois. Não era justo. A única coisa fazia suportável essas viagens

a Londres era a oportunidade de falar de assuntos botânicos com seus colegas entusiastas da horticultura. Agora tinha que tentar passar despercebido e sentar em alguma cadeira na parte de trás.

E por que diabos o assunto tinha que ser a maldita Amazônia? Cada vez que pensava na senhorita Peterson partindo para a América do Sul dava vontade de golpear algo. Ou de estrangular alguém… preferivelmente a senhorita Peterson.

Ela não podia estar considerando seriamente em viajar com a senhorita Witherspoon e sua estranha companheira, não é? Com certeza Knightsdale exerceria sua autoridade sobre ela e, se não tivesse, seria seu pai que objetaria. Ou sua irmã. Alguém devia fazer a mulher ver a razão.

A porta principal estava fechada, assim entrou no salão vermelho para chegar até a outra entrada. Como esperava, Rathbone já tinha começado sua aborrecida apresentação. Examinou os presentes. Todos os assistentes usuais estavam presentes: Smithson, Palmerson, Easthaven.

Talvez depois da reunião tivesse uma conversa com Easthaven sobre o estado de seu jardim. A paisagem não estava ruim, mas algumas parte dos exemplares do conde estavam fora de controle.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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Embora as plantas não fossem as únicas coisas fora de controle nesse jardim. Sentiu-se um calor desconfortável foi subindo pelo pescoço até as orelhas e recordou o pouco controle que demonstrou ali. Obviamente não ia falar disso com Easthaven.

Olhou em volta de novo. Faltava alguém, mas quem? Eldridge não; tampouco Tundrow nem… Bennington. Era ele que não estava. Que estranho. Bennington vinha sempre e sempre, sem

nunca faltar, sentava-se justo em frente ao orador. Certamente que faria o mesmo que em Eton, tentando ser o favorito do professor. O que será que impediu o visconde de participar? Ele não tinha uma mãe que ficasse em cima para que se casasse. Além disso, o homem já se encarregou desse assunto: já estava comprometido.

Deu de ombros. O paradeiro de Bennington não era de sua conta. Havia uma cadeira vazia ao lado de um jovem que tinha o pior corte de cabelo que já tinha

visto. Parecia como se o menino o tivesse cortado ele mesmo… com os olhos fechados. Parks deslizou para o assento e o olhou. Conhecia-o?

O perfil era vagamente familiar. Na verdade era mais que vagamente familiar. Era como se estivesse vendo algo que tivesse visto muitas vezes, mas faltava um detalhe crucial. Mas, o que?

O menino levantou a vista. Que idade teria? Tinha o rosto tão fino que certamente nenhuma navalha de barbear tinha passado por ele ainda. E parecia tão… temeroso. Esse menino não estava com medo dele?

Os olhos. Tinha visto esses olhos antes. Marrom quente, da cor da terra fértil com bolinhas verdes. Tinha-os visto cintilar pela fúria…

Deus Santo! Não podia ser… Mas era. Maldição: era a senhorita Peterson. Baixou a vista para olhar suas mãos… Agora o

perfil era claro. A senhorita Peterson tosquiou o cabelo e vestia calças… Calças. A mulher usava calças. Suas coxas estavam expostas a vista de todos. Ele podia vê-las

com toda claridade. Bom, não com tanta claridade quanto gostaria porque estavam coberta pela caxemira…

Ele agarrou-a pelo pulso. —Que diabos você está fazendo aqui? A senhorita Peterson soltou um gritinho agudo e manteve a cabeça baixa. Ele olhou em volta rapidamente. Ninguém estava prestando atenção todo mundo olhava para

Rathbone e o escutavam divagar. Ele se aproximou para sussurrar em seu ouvido. —Nós vamos agora mesmo. Você me entendeu? Ela assentiu. Ele soltou o pulso… e seus dedos roçaram na caxemira. Ele estava tocando sua perna. Se

deixasse cair sua mão uns centímetros mais, teria a palma sobre sua coxa. Poderia percorrer toda sua longitude até…

Ele recuperou a mão deixando-a cair em seu colo de forma que cobrisse… tudo o que precisava ser coberto.

Isso era ridículo. Tinha que conseguir controlar seus rebeldes pensamentos. Ele voltou a olhar para as pernas dela. O controle era inquestionável. Maldição. Fechou as mãos em punhos para que não pudessem voltar a encontrar o caminho

para seu corpo sedutor. Ela tinha corrido um risco terrível essa noite. O medo, e a fúria, percorriam-lhe as entranhas. Alguém deveria ensinar a senhorita Peterson uma boa lição.

E nesse preciso momento ele era o homem mais adequado para isso.

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*** Ela ia vomitar. Tinha o coração atravessado na garganta. Não podia respirar. Meg ficou olhando para a mão do senhor Parker-Roth em torno de seu pulso. Era muito maior

que a sua. E muito mais forte. Não havia nenhuma forma possível de se livrar dela. Se ela quisesse é claro. Ela apertou os dentes. É obvio que queria. Queria que se fosse, que a deixasse morrer de

vergonha em paz… sozinha. —Nós vamos agora mesmo. Você entendeu? Ela assentiu e ele a soltou finalmente. Seus dedos pararam por um segundo e ficaram no ar,

sobre sua perna. Fechou os olhos. Com certeza que estava olhando para suas coxas. Realmente ia morrer de vergonha. Se pelo menos a palmeira fosse maior… Se já estivesse nas

selvas da Amazônia… Se a terra abrisse e a engolisse… Meg desejou estar em qualquer lugar menos ali, sentada ao lado do senhor Parker-Roth, que a

olhava fixamente para suas coxas escandalosamente envoltas em uma calça. Se tivesse um pingo de respeito por ela, o mínimo de consideração, desviaria o olhar

imediatamente. Nenhum homem respeitável podia ter uma boa opinião de uma garota que se vestia com roupa de homem e assistia uma reunião exclusivamente masculina, apesar da amiga da senhorita Witherspoon ter feito antes. Bom, pelo menos a amiga da senhorita Witherspoon não sofreu a ignomínia de ser descoberta.

O senhor Parker-Roth disse alguma coisa. Ela engoliu em seco para afastar o rugido de seus ouvidos.

—O que? —Eu disse para você sair primeiro. Espere por mim no vestíbulo. Irei logo em seguida. Se

alguém olhar para nós, pensarão que não está bem e que eu vou em sua ajuda. Ela certamente não estava bem. — Terei de passar pelo senhor, para sair. Ele sorriu. Parecia um lobo preste a saborear seu jantar. Não que ela já tivesse visto um lobo,

claro, mas havia algo selvagem na expressão do senhor Parker-Roth. Seu olhar era… quente. —Não tem problema. — olhou em volta, para o salão, e depois de novo para ela — Vá agora. Ela ficou em pé. Havia muito pouco espaço para se mover. Será que ele não podia se afastar

para deixá-la sair? Olhou-o. Ele devolveu com sorriso especialmente inquietante e fez um gesto com a cabeça para que continuasse.

Bem, quanto antes saísse dali, melhor. Começou a se apertar contra ele para poder sair, tropeçou e puxou o copo de ponche que tinha afastado antes.

— Ops! —Esticou o braço em um vão tentando evitar que caísse. Em vez disso o derrubou e sentiu uma mão que subia pela perna sob as abas do casaco. Uma grande mão masculina.

O ventre se alagou de calor. Sentiu como se esses dedos queimassem, embora não notasse nenhuma dor… A menos que contasse o batimento doloroso que sentia em um lugar muito embaraçoso. Olhou o ponche que fluía do copo caído por cima da mesa para o cotovelo do senhor Wicklow.

Esperava não estar ofegando. A mão seguiu para seu traseiro retaguarda. Se seu pobre cérebro não estivesse tão acalorado,

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talvez tivesse encontrado suficiente inteligência para gritar. Não, homens não gritavam, certo? Deveria golpeá-lo. Ela mordeu o lábio para não gemer. Ele estava seguindo a linha da costura da caxemira

Agora se aproximava perigosamente do batimento doloroso de… Queria que a tocasse aí. Deixou cair a cabeça, aflita pela mortificação e a necessidade. A mortificação venceu. O ponche deve ter chegado por fim até o cotovelo do senhor Wicklow, porque ele levantou o braço da mesa como uma mola e saltou de seu assento.

—Que demon...? — e olhou para ela — Este é meu melhor casaco, bastardo estúpido! As mãos em seu traseiro agora estavam empurrando. Ela não precisava que a animassem. O senhor Wicklow parecia disposto a lhe dar uma boa sova.

—Eu sinto muito. — colocou a mão sobre a boca. Sentia-se doente. Todo mundo olhava para ela. O senhor Wicklow se afastou rapidamente.

—Meu Deus, homem, não vá jogar o mingau aqui. Vá embora. — e a espantou com a mão como se fosse um cão vadio.

—Vamos. Não precisava que dissessem duas vezes. Virou- se e fugiu.

Capitulo Dezessete Agora já não tinha nenhum sentido esperar para sair. A senhorita Peterson tinha provocado

uma cena que não havia problema se ele saísse atrás imediatamente. Parks acenou para Wicklow, deu de ombros como se dissesse: «Estes jovens, não sabem controlar a

bebida…» e se encaminhou para a porta. Para ser justo, a cena não foi apenas culpa da senhorita Peterson. Não, para ser sincero, não foi

culpa dela absolutamente. Se ele tivesse mantido as mãos longe dela, é possível que ela teria saído sem chamar a atenção. Mas raios! Como ia evitar? Seu doce traseiro estava justo ali, diante dele, rogando que o tocasse.

Ele parou com a mão no trinco. Se pelo menos não tivesse coberto de caxemira… Se pudesse colocar as mãos em sua carne suave e nua… Podia imaginar exatamente…

Maldição. Não precisava ter muita imaginação para saber onde teria indo seus pensamentos. Uma olhada ao vulto de suas calças revelaria tudo. E como todos os homens presente acreditavam que a senhorita Peterson era um rapaz, ia estar horrivelmente comprometido muito em breve.

Maldição. Pelo menos a mulher se deu conta agora do perigo que é sair por aí vestida de homem. Não que ele que albergasse pensamentos libidinosos sobre uma moça de família, é obvio, mas, diabos, um homem tinha seus limites. Ele era só um homem… e um mais obviamente masculino do que o normal nesse momento, maldição.

Aparentemente, muito aparentemente, suas necessidades eram muito mais urgentes do que acreditava. Ele balançou a cabeça. Esse estado tão estranho tinha que ser devido a atmosfera própria de Sodoma e Gomorra de Londres. Não estava acostumado a ter problemas para controlar suas necessidades. Infernos, normalmente não tinha nenhuma necessidade para controlar. Suas visitas semanais a Cat mantinham a questão adequadamente na linha.

Ele corou. A última vez que esteve em sua cama se surpreendeu pensando em uma nova mistura para um fertilizante antes que estivesse acabada de tudo.

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Parks soltou um pequeno suspiro. Só precisava voltar para o Priorado e seus jardins. Amanhã pela manhã sacudiria a poeira de Londres de suas botas e sua vida voltaria ao normal.

***

Meg inspirou fundo assim que fechou a porta atrás dela. Tinha que pensar. Não podia esperar que Parks sair da sala. Tinha que ir imediatamente. E se o senhor Wicklow

viesse atrás dela para lhe pedir satisfação por ter estragado seu casaco? E se algum cavalheiro precisasse um urinol? Havia um armário a sua direita que provavelmente conteria um desses receptáculos.

E se o senhor Parker-Roth quisesse tocá-la de novo? Deus! Ela cobriu o rosto com as mãos quando uma onda de mortificação rompeu sobre ela. Ele sabia

quem era ela. A tinha visto com as calças e sabia. Ele colocou as mãos em… Oh! Ele sentiu-se mal. Seu rosto queimava e… outros lugares. O que ele pretendia com aquilo? Obviamente estava zangado. Ela esperava que a repreendesse

assim que tivesse oportunidade, mas definitivamente não esperou que… Nunca teria imaginado que ele pudesse…

Ela tinha que sair dali. Olhou por cima de seu ombro. A porta continuava fechada, mas não por muito tempo.

Onde estavam as escadas? Ele chegou por esse caminho. A sala era muito grande e tinha cortinas vermelhas e enormes molduras dourados que com pinturas escuras de homens com togas. Em algum lugar tinha que ter…

—Ai! — produziu-se um movimento do outro lado da sala. Quem seria? Não podia vê-lo; a iluminação era precária. Alguém tentava economizar alguns tostões restringindo o número de velas. Mas certamente se tratava de um homem. O normal seria que tivesse percebido sua presença quando ela entrou, mas parecia tão surpreso quanto ela.

—Boa noite, senhor. Será que poderia me indicar a saída? — pigarreou. O homem não disse nada — É urgente. Tenho que ir imediatamente. — Deus! Ouviu o rangido da dobradiça de uma porta — Por favor, eu imploro…

Uma mão masculina se fechou sobre seu braço. Ela gritou. —Deus Santo, mulher, quer atrair toda a Sociedade de Horticultura para cá? Baixe a voz. Ela puxou para se soltar. Por que o outro homem não ajudava? Será que tinha medo do senhor

Parker-Roth? Depois de seu grito não poderia acreditar que ela agradecia seu contato… —Me solte, senhor. — fez um gesto em direção ao outro homem — Como vê que não estamos

sozinhos. —O quê? — Parks olhou a sala — Do que você está falando? —Do outro cavalheiro. — olhou para seu potencial salvador — Senhor, por favor, preciso de sua

ajuda. O senhor Parker-Roth riu entre dentes. —Não há ninguém mais aqui. —O quê? Mas eu vi claramente… —O que viu claramente é seu próprio reflexo. Vamos. —O quê? Como pode dizer…? Oh. — tinha razão. Olhou a seu «salvador». Ele estava ao lado do

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senhor Parker-Roth, com a mão de Parks segurando seu braço — Eu não percebi. Está tão escuro aqui…

Ele resmungou. —Não o suficientemente escuro para ocultar o fato de que você é uma mulher e assim que

Rathbone acabar de falar e todos os homens passaram para esta sala. Para falar a verdade, ela também não tinha que isso ocorresse. —Eu cheguei até aqui sem ser descoberta, você sabia? Seus dedos apertaram seu braço. —Isso é um verdadeiro milagre. O que foi que fez? Entrou com algum cego? Ela mordeu o lábio. —Lorde Smithson me acompanhou. Ele pensou que eu era um dos Beldon de Devonshire. —Santo Deus. O senhor Parker-Roth a levou para a saída cruzaram um breve vestíbulo. Ao chegar as escadas a

soltou. —Nós vamos pegar nossos chapéus e depois sairemos daqui. Não diga nenhuma palavra. —Mas… —Nenhuma palavra. Confie em mim, sua voz não soa absolutamente como de um homem. Ela deu de ombros. Não tinha intenção de esbanjar tempo discutindo. Quanto antes deixassem

esse lugar, mais feliz se sentiria. O senhor Parker-Roth foi tremendamente eficiente. Em poucos minutos saíram para rua sem

provocar nenhuma reação estranha pelos criados. —Quer que vá procurar sua carruagem, senhor? — perguntou um dos mordomos. —Não, obrigado. Caminharemos. — Parks saiu para rua e começou a caminhar em direção a

mansão dos Knightsdale. Meg acelerou para segui-lo. —Por que não vamos em sua carruagem? — ela baixou a voz e se aproximou de Parks quando

um de trio de bêbados passaram junto a eles. —Ned foi para casa. Eu disse que não voltasse até a meia-noite. Atrás deles ouviu alguém vomitando. —E por que não pegamos um carro de aluguel? É uma longa caminhada… Havia suficiente luz para ver seu olhar claramente. —Eu acho que preciso fazer exercício. Estou um pouco alterado pelos acontecimentos da noite. —Oh. —Oh, claro. — seguiu caminhando. Ela tentou acompanhar o ritmo dele. Era mais fácil caminhar com calças do que com saias -

podia inclusive se acostumar com isso, mas os sapatos emprestados não eram bons o suficientemente para uma longa caminhada. Ela ia ter bolhas pela manhã. E não tinha as pernas suficientemente largas para manter o passo sem ter que correr. Estava ficando sem fôlego.

Mas, mesmo assim, por que estava ele irritado? Não era seu pai. Não tinha nenhuma responsabilidade em relação a ela. O que ela fez não tinha absolutamente nada que ver com ele.

—Eu não sei por que está tão mal-humorado. Não sou a primeira mulher que participa de uma reunião da Sociedade de Horticultura vestida de homem, sabia?

Ele parou. —O quê está dizendo? Seu tom não era encorajador. Ela endireitou os ombros. Não ia deixar que a intimidasse. Esse homem era muito autoritário.

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—A senhorita Witherspoon me disse que sua amiga assistiu durante um ano inteiro e ninguém se deu conta.

Ele riu. —Você esta se referindo a Prudence Doddington-Prinz? —Sim, claro. —Deus Santo. — ele continuou caminhando. Meg teve que aumentar o passo Tinha para manter

o ritmo. Agora eles passavam junto a uma longa fila de carruagens que esperavam o baile de lorde Fonsby terminar. A mansão que o barão tinha na cidade, que ainda estava algumas casas a frente, brilhava com a luz de centenas de velas. O som da música e das vozes escapava pelas janelas abertas. Alguns cocheiros que vadiavam junto a suas carruagens olharam para Meg, ou, pelo menos, ela sentiu como se olhassem. Será que suspeitavam? Tentou utilizar Parks como escudo.

—O que você quer dizer? O que há de errado com a senhorita Doddington-Prinz? —Você alguma vez a viu? —Bom, não. Mas, o quê isso tem a ver com este assunto? Ele a olhou de novo. —Senhorita Peterson, acredite em mim… —Shhhh! — Meg olhou para os cocheiros. Eles teriam ouvido chamá-la «senhorita»? O senhor Parker-Roth pareceu não ter notado. —Não me surpreende absolutamente que Prudence Doddington-Prinz passasse por um homem

durante um ano. Essa mulher é alta e quadrada, e não tem nada que possa qualificar como curvas. Além disso, tem mais pêlo sobre o lábio superior do que eu.

—Oh. — mais cocheiros estavam interrompendo suas conversas para escutar a sua? — Por favor, senhor, baixe a voz.

Pela atenção que ele prestou, era como se fosse surdo. Ele parou. Ela olhou a seu redor. Deus! Será que também era cego? Agora não só se tratava da multidão de cocheiros com as orelhas em pé para ouvir a conversa, mas também estavam diretamente diante da casa de lorde Fonsby, bem iluminados para que todo mundo os visse. Meg agarrou-lhe o braço e tentou afastar uns passos para as sombras. Era como tentar remontar o Tâmisa tirando da Torre de Londres.

—Quer saber a verdadeira razão pela qual não peço um carro de aluguel? Por que ele estava tão agitado? Talvez se ela concordasse com ele, se acalmaria. —Sim, eu adoraria saber. Me diga por favor. Mas primeiro vamos para algum lugar mais

privado. Se por acaso não notou, estão nos observando. — puxou-o de novo. Se pudessem ao menos deixar para atrás a casa de lorde Fonsby… Não era uma muita distância…

Ele se sacudiu para soltar-se. —Um lugar mais privado? Ha! Não havia forma de evitar: todos os cocheiros da rua encontraram uma razão para se reunir a

uns três metros de onde estavam. Talvez o melhor seria tirar o lenço do senhor Parker-Roth e amordaçá-lo.

—Tenho certeza de que se arrependerá disto, senhor. —Sim, certamente que me arrependerei. Já me arrependo, mas não posso fazer nada. Você esta

me torturando. Desafia qualquer convenção: se perde entre os arbustos com outros homens, planeja partir para as selvas da Amazônia sem pensar duas vezes, como se não tratasse mais do que uma excursão ao Hyde Park… — ele a agarrou pelos ombros e sacudiu — Sabe como me senti ao vê-la na reunião esta noite? Quando colocou seu traseiro diante de meu rosto?

Ela ficou boquiaberta ao ouvir tal vulgaridade. Estava chocada… mas o estranho calor que já era

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mais que familiar começava a crescer debaixo de seu estômago. Ela afastou a vista e viu que não era a única se surpreendeu com as palavras do senhor Parker-

Roth. Os cocheiros também estavam de boca aberta. Se aproximavam mais para se inteirar de todos os detalhes do espetáculo, ela ia desmaiar. Mas não precisava se esforçarem. O senhor Parker-Roth estava falando suficientemente alto para que toda a vizinhança se inteirasse.

—E agora você me sugere um lugar mais privado… — ele a sacudiu de novo — Tome cuidado com o que pede. — apertou seus ombros um pouco mais com cada palavra — Não pedi uma carruagem de aluguel porque não sei se poderei me controlar em um carro escuro com você.

O cocheiro que estava justo atrás do senhor Parker-Roth deu um salto. Não era a libré de lorde Dunlee que o cocheiro usava?

—Senhor, está bem? — assobiou Meg — Baixe a voz. —Não, maldição, não estou bem. Estou louco. Completa e totalmente louco. Sou um verdadeiro

candidato para o manicômio. — por fim baixou a voz… e a cabeça. Os lábios dele roçaram os seus — Perdi a cabeça. — sentiu as palavras uma vez que as ouvia — Você me roubou isso. Como se fosse um parasita agressivo, arrancou-me todo o bom senso que tinha.

Ele estava louco e a tinha contagiado sua loucura. Com o quente, não muito quente contato de seus lábios ela esqueceu completamente onde estavam. Esqueceu que a metade dos cocheiros de Londres estavam olhando. Esqueceu que usava calças e que estava em um rua de Londres diante de uma casa que em alguns momentos sairia grande parte da alta sociedade. Esqueceu de tudo, perdida como estava nas quentes e úmidas maravilhas de sua boca.

Recebeu gostosamente a carícia da língua dele sobre a sua. adorava como a enchia, a possuía. Agarrou-se a ele e abriu mais a boca, deixando-o tomar o que queria. O que ela também queria.

Entrelaçou a língua com a dele e um grunhido escapou do mais fundo de sua garganta. Suas mãos desceram pelas costas. Ela franziu a testa. Seus seios desejavam seu contato, mas estavam escondidos sob camadas de tecido. Ele não podia chegar até eles. Gemeu e se apertou contra ele.

Ah. O traje masculino tinha suas vantagens. Esfregou-se contra o interessante vulto que acabava de descobrir. As mãos dele alcançaram seu traseiro…

—Deus Santo! Essa parecia ser a voz de lorde Dunlee. A boca de John abandonou a sua. Ele passou um braço em sua cintura para abraçá-la com força

contra ele e levantou uma mão para ocultar seu rosto contra seu ombro. Ele a resguardava, a protegia.

Não lutou contra ele. Se lorde Dunlee estava ali, lady Dunlee não estaria longe. —Boa noite, lorde Dunlee — disse John. Pigarreou — Lady Dunlee. Meg tentou enterrar a cabeça em seu ombro. —Ora, senhor Parker-Roth. — a estridente voz de lady Dunlee certamente chegava até os

ouvidos mais recônditos da sociedade — Nunca acreditei que gostasse… Nunca teria adivinhado que suas preferências fossem … — tossiu — Suponho que isso explica por que continua solteiro.

***

—Agora tem que se casar com ele, Meg. — Charles esfregou a testa. Estavam sentados no

estúdio de Charles. Bom, pelo menos Meg estava sentada. Charles e Emma estavam de pé, inclinados sobre ela.

—A sodomia é… Bem… A reputação do homem está completamente destruída.

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—Mas não estava… quero dizer… Sou uma mulher! —Mas nenhuma das pessoas que presenciaram sabem. — disse Charles — Parker-Roth protegeu

sua identidade com um custo considerável para si mesmo. —Há umas horrorosas caricaturas de vocês em toda a imprensa. — Emma olhava tristemente

para a cabeça de Meg — Você saberia se pudesse sair. Meg resistiu o impulso de cobrir com as mãos o cabelo tosquiado. Não tinha saído da mansão

dos Knightsdale desde que o senhor Parker-Roth a levou. Felizmente, Lizzie e Robbie participavam da festa de lorde Fonsby e se apressaram em levá-los em sua carruagem antes que a situação ficasse pior.

—Não o levarão a julgamento, certo? — se obrigassem Parks a se apresentar diante de um tribunal por um crime como esse… Nem sequer podia suportar em pensar — Richard, o primo de Lizzie, nunca foi acusado de nada e, bom… ele definitivamente… Todo mundo sabe que ele e seu mordomo eram… — Meg não conhecia os detalhes concretos, mas não era nenhum segredo que Richard Runyon tinha uma relação desse tipo.

—Mas Richard não se expôs suas inclinações em uma rua de Londres na vista da metade da sociedade. — Charles suspirou — E como também frequentava os bordéis de Londres, tanto os que estavam na moda quanto os que não, ficou alguma dúvida sobre seus costumes. Entretanto, Parker-Roth foi mais discreto quanto a suas atividades. O que significa que corresponde a sociedade adivinhar quais são suas preferências, e a sociedade sempre prefere acreditar na possibilidade mais suculenta.

—Mas não há necessidade de assumir nada depois da exibição que deu diante da casa de lorde Fonsby. Se a descrição de Lizzie é certa, embora só fosse metade dela, o homem estava praticamente fazendo o amor com Meg na rua. — Emma cruzou os braços e olhou para Meg — Mas, em nome de Deus, no que estava pensando, Meg?

—Bom… —Sua irmã tem razão, Meg. Seu comportamento não foi nada exemplar. — Nada exemplar? — Emma levantou a voz — Chame-o pelo nome, Charles. Meg esteve se

comportando com uma rameira vulgar. Meg engoliu em seco. Sentia-se como se tivessem lhe dado um chute no estômago, mas Emma

tinha razão. Seu comportamento podia espantar qualquer um. Totalmente escandaloso. Fechou os olhos um momento recordando o terrível momento em que se viu arrancada da loucura pelo som da voz de lorde Dunlee.

—Você não acha que está exagerando um pouco, Emma? —Não. Como você chamaria uma mulher que se vê… envolvida em tais… assuntos em uma rua

de Londres? Charles deixou escapar o ar lentamente. —Bom… — olhou para Meg e depois olhou para seus sapatos — Mesmo que estivesse usando o

mais bonito de seus vestidos, Meg, — disse por fim — agora terá que se casar com Parker-Roth. Você entende, não é? Esta é, no mínimo, a segunda vez que viram você em uma situação tão íntima com ele.

Emma gesticulou com as mãos. —Não entendo qual é o problema. É claro que não acha o homem repulsivo. Não posso

entender por que continua resistindo, a menos que… — seu tom se tornou mais agudo — Será que esteve se comportando assim com outros homens?

—Não! — Meg olhou ela, horrorizada — Como pode me perguntar isso?

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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—É que esteve desaparecendo entre os arbustos toda a Temporada. Até eu tenho que reconhecer que não era examinando a vegetação…

Meg corou —Bom, eu não estava… fazendo o que estive fazendo com o senhor Parker-Roth. —Damos graças a Deus por isso! —Por que insiste em resistir, Meg? — perguntou Charles — Sei que Parker-Roth a pediu em

casamento no baile dos Palmerson. E, como diz Emma, é claro que você tem certos sentimentos por ele.

—Sentimentos — interveio Emma — que só deveria expressar depois de ter recebido uma aliança de casamento do senhor Parker-Roth, senhorita.

Charles e Emma ficaram olhando. E o que podia responder? Não conseguia entender nada, nem a si mesma.

—Não acho que o senhor Parker-Roth queira se casar comigo. Emma bufou. —Está claro que quer fazer algo contigo… E ele só pode realizar tal atividade com honra, se

primeiro colocar um anel em seu dedo. Meg corou. —Você não entende. Ele não quer ter nada a ver comigo. É só que… bom, eu o incomodo. — É uma maneira de descrevê-lo. —Emma… —Charles, ela está sendo muito mais que estúpida. Se não ver que o homem está fora de si por

uma mistura de amor e luxúria, está mais cega que eu. — disse Emma apontando para seus óculos. Charles riu. —Bom, talvez Parker-Roth esteja tão cego quanto você, porque suspeito que ele tampouco

reconhece suas próprias emoções. Eu só não sei por que. — sacudiu a cabeça — Há pouco tempo dei-lhe carta branca para seduzir Meg.

—Você não teve coragem! —Charles! Por uma vez Meg sentiu que Emma e ela estavam completamente em sintonia. Ambas olhavam

para lorde Knightsdale boquiabertas. Ele deu de ombros, embora sua face estivesse mais avermelhada que o normal. —Parecia que estava claro que os dois se sentiam atraídos um pelo outro. Simplesmente animei

o Parker-Roth que desse o passo seguinte. Estava cansado de me preocupar com a situação. E de que ver você preocupada, Emma. Não posso dizer que me surpreendeu sua resposta.

—Eu não posso imaginar que foi capaz de fazer uma coisa assim. — respondeu Emma. Meg não podia encontrar palavras para expressar seu horror. Seria verdade que Charles disse ao

senhor Parker-Roth que...? Que vergonha. Mas era ainda mais embaraçoso o fato de que o homem não ter feito nada depois do convite de Charles. Se precisava de uma prova de que Parks não queria se casar com ela, acabavam de apresentar uma em bandeja de prata.

—Se vocês deixassem de se preocupar com minhas atividades, eu não estaria nesta situação agora.

Emma olhou-a atentamente. —Se você deixasse de beijá-lo cada vez que o vê, não estaria nesta situação agora. —Ele me beijou primeiro. —Garotas, por favor, estão sendo ridículas. Não importa agora. Parker-Roth já obteve uma

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licença especial. Ele e Meg podem estar casados amanhã pela manhã. —O que? — Meg levantou-se de um pulo. Ela ia se casar amanhã? — E quando ia me dizer. —Agora. — Charles sorriu — Não tinha sentido suportar sua fúria nem um minuto mais do

necessário. —Eu acho que o senhor Parker-Roth deveria propor casamento a Meg. — Emma olhou para

Meg e arqueou as sobrancelhas — De novo. —E por que deveria fazer? — perguntou Charles — Nenhum dos dois tem escolha neste

assunto. —Eu sim tenho escolha. — Meg franziu a testa. Talvez não se tivesse se comportado

adequadamente e tinha tomado decisões equivocadas, mas não era uma menina. Podia escolher livremente — Poderia abandonar a Inglaterra.

—Abandonar a Inglaterra? — perguntou Emma como ela tivesse sugerido pular nua da Ponte de Londres.

—Sim. Eu não disse ainda, mas a senhorita Witherspoon me convidou para ir com ela e com sua amiga a Amazônia. Seria uma fantástica oportunidade para…

—Está louca? — Emma juntou as mãos e as apertou fortemente. Meg estava segura de o que realmente desejava sua irmã era colocá-las ao redor de seu pescoço — Não pode ir a Amazônia. E, além disso, se por algum estranho golpe do destino pudesse ir a esse lugar, não poderia ir com essas mulheres.

—O quê quer dizer com «essas mulheres»? —Digamos simplesmente que Agatha Witherspoon e Prudence Doddington-Prinz estão muito,

mas que muito, unidas. —Oh. —Garotas… — Charles levantou ambas as mãos — Todo isto está fora do lugar. Agora é Parker-

Roth e não Meg que precisa sair deste escândalo. E ele não pode simplesmente abandonar o país. Tem uma propriedade para manter.

Emma assentiu. —E, mesmo assim, sair do país não resolveria seus problemas. Um escândalo desta natureza

recairia sobre toda sua família. Talvez seus pais e sua irmã casada pudessem suportar o temporal, mas seu irmão e suas outras irmãs não teriam tanta sorte. Arruinaria o futuro matrimonial das pequenas, com certeza.

—Não… — Meg se sentia mal. Emma tinha que estar exagerando. —Sim, e também impossibilitaria o senhor Parker-Roth de se casar no futuro. — Emma apoiou

uma mão no braço de Meg — Este não é um escândalo pequeno, Meg. Está na boca de todo mundo… todo mundo. Não vai ser esquecido. A sociedade pode ter muito boa memória…

—Sobre tudo para coisas desta natureza. — explicou Charles — Parker-Roth não foi descoberto com a mulher de outro. Aos olhos da sociedade, é um sodomita. Tanto os homens como as mulheres o evitarão.

—Não… —Sim, Meg. Pensa bem. Vinte ou trinta pessoas o viram claramente beijando apaixonadamente

o que parecia ser outro homem. O quê vai pensar a sociedade? Meg cobriu o rosto com as mãos. —A única solução para o problema que ele tem é se casar imediatamente e você seria a escolha

lógica. E eu diria que a honra a obriga a se casar com ele. Charles tinha razão. Não podia deixar que Parks enfrentasse isso sozinho. Meg deixou cair as

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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mãos e levantou olhou para cima. —Está bem — disse — Eu vou. Eu me casarei com o senhor Parker-Roth.

*** Maldição, maldição, maldição. Odiava ver-se obrigado a fazer qualquer coisa, mas agora ele mesmo tinha que reconhecer que

não tinha escolha nesse assunto. Se não se casasse com a senhorita Peterson, ele e sua família estariam condenados ao ostracismo. Diabos, já começava a notar. O desfile de criados enviados para retirar os convites enchia o vestíbulo do Pulteney na manhã seguinte de seu inconveniente episódio com a senhorita Peterson.

Agora ele tinha uma ideia clara do que deviam sentir os leprosos. Quando se aventurou fora do hotel, as pessoas não só o ignorava, mas cruzavam a rua para evitá-lo. Haviam dito que já não era bem recebido no White's e até a Sociedade de Horticultura lhe enviou uma carta para cancelar sua nomeação como membro. Ninguém em Londres queria ter nada a ver com ele.

Exceto uns poucos. Corou e virou para olhar pela janela da carruagem desejando que sua mãe não notasse a cor ardente de suas faces.

Quem teria imaginado que lorde Easthaven tivesse preferências tão incomuns? Ele se encontrou com o conde depois de que o expulsaram do White's. Estava tão contente de poder falar com alguém que não se deu conta de como era estranho se encontrar com o homem nessa ruela. Compreendia que era possível que Easthaven não desejasse que lhe vissem com ele, mas quando o conde lhe pôs a mão no braço e explicou exatamente por que estava nessa seção de seu jardim tão selvagem, ele deu uma desculpa tola e saiu apressadamente da ruela em busca de uma via principal.

Foi mais que chocante… e também o outro encontro que teve mais tarde nesse mesmo dia. Estava sentado em um banco afastado dos caminhos transitados do Hyde Park, pensando no sombrio de sua existência, quando um criado se aproximou e lhe fez um gesto. Reconheceu a libré prateada e verde do barão Cinter, assim seguiu o homem até uma clareira oculto pelas folhas. Lady Cinter estava ali esperando. Saudou-a com cautela, mas ela não tinha nenhum medo com respeito a sua virtude. Simplesmente queria assistir enquanto ele engajava em um jogo carnal ali, ao ar livre, com o criado.

Fechou os olhos. O criado baixou as calças em um tempo recorde, o que foi um erro tático. Parks nem sequer ficou o tempo suficiente para explicar o mal-entendido… Tinha abandonado a clareira correndo. O homem tentou persegui-lo, mas caiu ao tropeçar em sua própria roupa.

Não, não tinha mais alternativa a não ser casar-se. —Sinto muito que seu casamento tenha que se celebrar em circunstâncias tão desagradáveis. —

disse sua mãe. Estavam a caminho da mansão dos Knightsdale para que pudessem lhe jogar o laço e assim terminar com a tempestade de fofocas. Ele deu de ombros.

—Deveria estar contente. Conseguiste seu objetivo. Agora vai se concentrar em Stephen para obter um compromisso mais cedo?

A dor atravessou o rosto da mulher. Ele desejou por um momento poder retirar suas palavras, mas estava muito furioso para pedir desculpas.

—Johnny, sabe que a única coisa que quero é que seja feliz. Ele assentiu e voltou a olhar pela janela. Sim ele sabia, mas isso não fazia com que se sentisse

melhor diante da situação. E sim, estava consciente que seus problemas eram culpa sua. Se não

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tivesse sucumbido a suas necessidades e não tivesse beijado à senhorita Peterson, estaria a caminho de casa, ao Priorado, em vez de se dirigir a mansão Knightsdale. Mas a senhorita Peterson tinha tanta culpa quanto ele. Se tivesse comportado como uma verdadeira senhorita e se mantivesse afastada dos arbustos, se nunca tivesse trocado as saias por calças, nenhum dos dois teria acabado ali. Ele só tentou ser cavalheiro. Apenas tentou salvá-la de sua própria temeridade.

Certo que a temeridade não foi só dela. Beijá-la diante da casa de Fonsby foi o epítome da insanidade. Ele tinha experimentado uma atípica perda de autocontrole…

Maldição. A perda de autocontrole estava se tornando em típica quando se tratava da senhorita Margaret Peterson.

—Já chegamos. — sua mãe se virou e o abraçou. Ele deu-lhe uns leves tapinhas no ombro. —Eu acho que pode ser feliz com a senhorita Peterson, Johnny. Só tem que tentar. Ele assentiu. O que esperava que dissesse? Ela sabia que ele não queria ser preso na armadilha

do casamento e isso era o que ia fazer em uma hora. Maldição. Ajudou sua mãe a sair da carruagem. A carruagem que tinham alugado para a senhorita

Witherspoon estava estacionando atrás. Não sabia se ia poder suportar a viagem com a mulher que, na verdade, foi a causadora do despropósito da senhorita Peterson. Se não tivesse sugerido que viajasse com ela a Amazônia, se não tivesse falado da estranha aventura da senhorita Doddington-Prinz…

Para dizer delicadamente, nesse momento não tolerava a senhorita Witherspoon. —Eu gostaria que seu pai e o resto da família estivessem aqui. — disse sua mãe enquanto

esperavam que o mordomo dos Knightsdale abrisse a porta — Mas o marquês e você são suficientes. Quanto antes você se casar com a senhorita Peterson e o anúncio aparecer nos jornais, melhor.

Parks resmungou. Estava além dos discursos coerentes; não tinha certeza de que emoção era mais forte: a raiva, o terror… ou, sim, a luxúria.

Decidiu que a raiva era a que, provavelmente, conseguiria ajudá-lo a passar a hora seguinte com mais segurança.

Capitulo Dezoito

— Eu preciso falar com você, Meg. —Hã? — Meg olhava pela janela, à praça. Essa carruagem que estava estacionando era do

senhor Parker-Roth? O estômago de Meg deu um nó e sentiu uma onda de calor que subindo pelo pescoço. Ela mordeu o lábio. Desejava vê-lo e também temia. O que estava acontecendo com ela?

O criado estava abrindo a porta e tirando a escadinha… —Meg! —O quê? — afastou sua atenção da janela. Emma estava em seu quarto, junto a porta, vestida

para o casamento, mas com o Henry nos braços… Um Henry muito, mas que muito calado. —Oh, querido. — Meg se aproximou e colocou a mão na testa de Henry. Ele não se moveu; só

manteve a cabeça sobre o ombro de Emma e chupou o dedo. Estava ardendo — Henry também está doente?

Emma assentiu e beijou a testa úmida de suor de Henry. —Eu queria conversar com você ontem à noite, mas Charlie continuou vomitando e Henry

começou esta manhã. Pelo menos Charlie parece ter passado o pior. Está no quarto das crianças,

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com a babá, dormindo. —Pobre Charlie. — Meg acariciou a bochecha de Henry e ele sorriu um pouco — pobre Henry.

— olhou para Emma. Sua irmã tinha os olhos vermelhos umas linhas finas na testa — Pobre Emma.

Emma sorriu um pouco. —Eu odeio que eles ficam doentes. Preocupa-me tanto… —Claro. Você os ama. Emma deu outro beijo na Henry na cabeça. —Também amo você, Meg. Meg corou novamente. Realmente estava muito quente naquele quarto. —Eu sei. — desviou o olhar e pigarreou — Eu sinto muito ter causado tantas preocupações,

Emma. Nunca pretendi obrigá-la a trazer para os meninos, Isabelle e Claire para Londres. —Eu sei — suspirou Emma — E eu sinto muito por você ter que se casar desta forma tão

atropelada, mas não se pode fazer de outra maneira. Se pudesse se apresentar na sociedade ontem e hoje… — olhou tristemente para o cabelo de Meg. A criada pessoal de Emma tinha penteado e recortado, mas não havia maneira de evitar o fato de que estava tremendamente curto — Se você pudesse, saberia como a situação é terrível. As pessoas estão dizendo coisas horríveis do senhor Parker-Roth.

Meg fechou os olhos. Outra onda de calor a embargou e formaram redemoinhos de lágrimas sob as pálpebras. Não podia tornar-se a chorar agora e descer as escadas para seu casamento com o nariz vermelho e o rosto inchado.

—Eu sinto que o senhor Parker-Roth seja obrigado a se casar comigo para poder se livrar da situação eu criei.

Emma riu. —Bom, isso é algo que não tem por que se lamentar. É óbvio que esse homem está louco por

você. Não sei por que não a persuadiu que o aceitasse antes. — franziu a testa — A menos que ela a desagrade… Meg? É esse o problema? Charles e eu não queríamos que fosse isso, mas… — Suspirou — Eu sentiria muito se fosse o caso, mas a verdade é que não se pode fazer outra coisa.

Meg colocou as mãos nas faces acaloradas. —Não, eu não diria que me desagrada precisamente… É só… — deu de ombros. Sua cabeça

começava a doer — É muito difícil de explicar. Henry se remexeu um pouco e Emma esfregou-lhe as costas e o balançou de um lado a outro. —Shhhh, bebê, shhhh. Será que no próximo ano ela teria um bebê que consolar? Um filho deles? O estômago lhe deu uma volta. Não podia pensar nisso agora. —Já é hora de descer? — de repente ela queria acabar logo com tudo isso. —Sim, mas primeiro temos que ter uma pequena conversa. —Ah, sim? — O quê Emma poderia querer falar agora? Já acabavam de ter uma «pequena

conversa». — Parks estava lá embaixo, esperando. —Sim, como disse, queria vir ontem à noite, mas Charlie estava doente. —Sim. — Meg esperou. Emma continuou dando tapinhas em Henry. Não fez nada para romper

o silêncio. Talvez sua irmã precisasse de um pouco de incentivo — Bem, e o que quer me dizer? Emma corou. —É um assunto um pouco delicado. —É? — aonde ela queria chegar? — Eu não entendo… Oh.

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Emma ficou um pouco mais corada. —Sim… Oh. Eu… bom… — pigarreou para limpar a garganta — Talvez o melhor seria

simplesmente perguntar tem alguma dúvida sobre… sobre o casamento e o que acontece depois… — Emma acenou com o queixo para a cama de Meg — Você sabe…

Não sabia. Tinha muita curiosidade… mas também estava morta de vergonha. Ridículo! Não era hora de ser hipócrita. As mulheres tinham que falar sobre estas coisas... Uma mulher solteira como ela devia saber o que esperar exatamente quando subisse ao tálamo nupcial. Os homens solteiros já sabiam alguma coisa… A maioria inclusive tinha experiência no ato. Com certeza Parks não tinha dúvidas.

O estômago de Meg se retorceu de novo. Ele a esperava lá embaixo. Ela umedeceu os lábios. Tinha que fazer as perguntas agora. Só um momento de coragem,

algumas palavras e saberia. Como poderia perguntar? Ela compreendia de forma rudimentar o processo de procriação

depois de ter visto vários animais realizando o ato. Mas pensar que Charles e Emma realizando esse estranho exercício… Mas Emma levava nos braços a prova irrefutável de que tinham feito.

— Você tem certeza de que não tem alguma dúvida? No dia seguinte nessa mesma hora, ela saberia tudo o que deveria saber. O pânico fechou-lhe a garganta. Engoliu em seco. —Bem, se tem certeza de que não tem perguntas… — Emma pareceu aliviada. Se virou para ir

— Eu verei você lá embaixo. Tenho que deixar Henry em seu quarto. Meg encontrou a voz por fim. —Hã… Bom… Dói? Sua irmã parou com a mão no trinco. Corou de novo, mas respondeu. —Talvez um pouco na primeira vez, mas mesmo assim tudo é bastante… prazenteiro. Espero…

quero dizer… tenho certeza de que o senhor Parker-Roth será um marido atencioso. Afinal, ele é muito bom com sua mãe.

A ideia não foi muito animadora. Emma se virou e olhou para Meg diretamente nos olhos. —E você não parecia se queixar no salão de lady Palmerson ou diante da casa de lorde Fonsby,

— sorriu — assim eu diria que não tem nada do que se preocupar. Alguém bateu na porta. —Milady, milorde pede que você e a senhorita Peterson desçam ao salão azul. O senhor Parker-

Roth e sua mãe chegaram. —Obrigado, Albert. Desceremos em seguida. — Emma olhou para Meg — Vá na frente. Diga a

Charles que vou colocar Henry para dormir, por favor. —Está bem. —Não fique tão nervosa. Tudo vai ficar bem. Era fácil para Emma dizer; ela não estava para se casar com um homem que era praticamente

um estranho. E seria melhor se sua cabeça não pulsasse dessa maneira. Também continuava com um nó no estômago. Ela se sentia doente. .

Respirou fundo várias vezes. Precisava controlar seus nervos. Já tinha criado escândalos suficientes; e vomitar em seu prometido não tinha por que ser outro deles.

Meg desceu as escadas lentamente agarrando com força no corrimão. Não era assim que imaginou seu casamento… embora não tivesse passado muito tempo imaginando. Tinha assumido que seria igual ao de Emma: na igreja paroquial que tinham conhecido toda sua vida e presidido

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por seu pai. Em vez disso ia se casar em Londres, no salão de seu cunhado, no meio do escândalo e as pressas.

—Meg! — Lizzie estava no pé da escada, sorrindo-lhe — Está linda. Lizzie estava sendo amável. Ela sabia o que viu no espelho. Sua pele estava pálida e tinha

círculos escuros sob os olhos. Estava terrível. —Eu gostaria que papai estivesse aqui. Lizzie a abraçou. —Charles enviou sua carruagem mais rápida. Pode ser que seu pai ainda chegue a tempo. Ela fungou. As lágrimas se formavam redemoinhos em seus olhos de novo. Normalmente não

era assim tão chorona. —Eu gostaria que pudéssemos… esperar. Lizzie voltou a abraçá-la. —Você tem que estar na estrada em uma hora para que possam chegar a estalagem antes do

entardecer. Meg assentiu. Sabia. Todos decidiram que, dada a natureza do escândalo, o melhor seria que

Parks e ela abandonassem Londres imediatamente. Ela tinha concordado. A ideia de estar recém casada e ter que enfrentar lady Dunlee e outras fofocas faziam seu estômago retorcer ainda mais.

Ajustar-se a vida de casada já era suficientemente difícil… Não precisava que toda a sociedade observasse cada um de seus movimentos.

Emma desceu as escadas ruidosamente atrás dela. —Como está Henry? —Dormindo. — Emma sorriu — Bom dia, Lizzie. Sinto chegar tarde. Charlie e Henry estão

doentes. Lizzie franziu a testa. —Nada sério, espero. —Não. Charlie já está quase recuperado, mas Henry ficou doente esta manhã. — Emma afastou

um cacho que lhe caía sobre a testa e se virou para Meg — Está pronta? Ela tentou falar, mas sua voz a tinha abandonado. Assentiu. Estava tão preparada quanto podia

estar. Ela seguiu Lizzie e Emma para o interior do salão azul. Charles estava ali com Robbie. Também

estavam presentes o duque e a duquesa de Alvord, a senhora Parker-Roth, a senhorita Witherspoon, Isabelle e Claire.

O senhor Parker-Roth olhava para o pastor. Ela caminhou para eles e a atenção dele se fixou em seu traje. Ela não teve tempo para encontrar um vestido de noiva adequado, assim usava o vestido que usou na festa dos Easthaven. Obviamente não era um de seus favoritos; suas sobrancelhas , normalmente franzidas, afundou-se ainda mais.

Perfeito, pensou enquanto saudava o pastor. Que mais poderia sair errado?

*** Parks normalmente não se deixava levar por esses acessos de raiva, mas hoje era uma exceção.

Francamente, gostaria de bater em alguém. O pastor, que estava ao seu lado, pigarreou. Talvez ele fosse um bom alvo para atingir. O

homem tentou conversar com ele desde que chegou… E tinha pinta de efeminado dissimulado. Será que não via que Parks não estava com humor para tolices?

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Pelo menos ninguém o culpava deste desastre, embora talvez a raiva e o desgosto fosse melhor que a vergonha e a pena com a qual ele tinha que lutar nesse momento; lorde Knightsdale e Westbrooke mostravam-se muito compreensivos. Sim, a senhorita Peterson não deveria andar pelas ruas de Londres vestida de homem, mas ele tampouco deveria tê-la beijado, sobre tudo em um lugar tão escandalosamente público. E não foi um inocente beijinho na face; tinha colocada a língua até sua garganta e as mãos em meio de seu traseiro. Realmente ganhou um pouco dessa repulsão.

Fechou os olhos, recordando com clareza como sentiu o corpo dela, tanto o calor úmido de sua boca como as curvas suaves de seu traseiro. Um calor o inundou e fez com que um apêndice em particular se inchasse até um tamanho mais que óbvio. Maldição. A raiva era, de longe, a emoção mais segura que tinha para suportar o dia.

—Lá vem a noiva. — o reverendo Efeminado tocou-lhe o braço… e depois deslizou a palma por sua manga.

Que diabos…? Afastou o braço bruscamente. —Quando voltar a Londres, venha me ver. — o maldito pastor falou em voz baixa para que

ninguém pudesse ouvi-lo — Conheço muitos homens discretos com interesses semelhantes aos seus.

Definitivamente ia acabar golpeando algo. A alguém. Agora mesmo. —Está você confuso, senhor! — pronunciou as palavras entre dentes. O reverendo Sodomita recuou. —Minhas desculpas. Eu pensei… Parks tinha a mandíbula muito apertada para responder, mas pelo menos o pastor pareceu

entender a mensagem. Gostaria muito de derrubar o reverendo Abominável no chão do salão. Mas infelizmente, um clérigo morto não poderia realizar a cerimônia. E as damas não gostariam de presenciar como descarregava sua raiva nesse miserável…

Ele se obrigou a virar-se. A senhorita Peterson se aproximava. Se não estivesse enganado, usava o vestido do baile dos Easthaven. Easthaven, que tinha tentado seduzi-lo para que ambos se escondessem atrás de seus selvagens arbustos. Londres estava cheio de sodomitas.

Mas ele não era um deles. Ele deixou seu olhar passear lentamente pelos quadris e a cintura da senhorita Peterson, por seus formosos seios, seus ombros e seu pescoço. O aguilhão de luxúria que sentiu foi tranquilizador. O mundo não tinha se enlouquecido de tudo. Ele era um homem com os pensamentos apropriados ao seu sexo. Bom, não precisamente adequados… mas sim naturais. Teve uma reação muito natural e muito masculina diante do corpo de uma mulher atraente. Seu órgão masculino estava muito saudável, forte e grosso, preparado para perseguir seus próprios interesses…

Raiva. Essa era a emoção que precisava hoje. Ele se concentrou no rosto da senhorita Peterson. Ela não estava em seu melhor momento:

estava muito pálida e tinha olheiras. Parecia cansada e tensa. Esse não podia ser o casamento que ela tinha desejado. Bom, foi culpa dela. Se não tivesse se comportado como um moleque, não se veria em um

casamento precipitado. Nem tampouco ele. E seu nome não seria sussurrado por todas as bocas em cada um dos salões de Londres tomando chá… ou brandy. Ele não teria sido expulso do White's, nem teria a entrada proibida na Sociedade de Horticultura.

E, sobre tudo, não teria ao reverendo Atrocidade agarrado as calças. Voltou a olhar para o homem enquanto este murmurava algumas palavras piedosas a senhorita Peterson. Falando de

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sepulcros brancos, esse padre pervertido segurava sua mão. No entanto, a pior parte desse desastre social tinha ficado com sua mãe. Grande parte da

sociedade a deixara de lado, embora ela dizia que isso era melhor do que os comentários maliciosos que outros «queriam » compartilhar com ela.

Seu sangue fervia só de pensar. Olhou para onde estava sua mãe falando com lady Knightsdale. Ela viu que a olhava e lhe sorriu.

Talvez a perda de sua posição social fosse insignificante tendo em conta que levava consigo algo muito melhor: seu casamento.

Knightsdale se aproximou. —Vamos começar? A senhorita Peterson levantou a cabeça. — Nós não podemos esperar um pouco? Eu esperava que papai chegasse a tempo. Sua voz estava embargada. Instintivamente, Parks pegou sua mão e ela sorriu-lhe brevemente.

Ele apertou-lhe os dedos. —Eu não me importa de esperar — disse. Knightsdale suspirou. —Nós tínhamos concordado que sairiam de Londres hoje. Se não… —Chegamos a tempo? A senhorita Peterson se voltou bruscamente. —Papai! Correu para a porta e abraçou um homem magro com pinta de estudioso que estava de pé junto

a uma mulher baixa e de cabelo grisalho. O homem a abraçou também. Parks olhou para o reverendo Sodomita e mostrou os dentes em uma expressão que podia

parecer um sorriso, mas que claramente não era. —Eu acho que não vamos precisar seus serviços, nenhum deles, depois de tudo. —Me alegra… —… ter que ir. — subiu a voz, porque sentiu a mão de Knightsdale no ombro. Graças a Deus,

ele não tentava acariciá-lo. —Mas… —Obrigado, reverendo Phillips, — interrompeu Knightsdale — mas acredito que pode ir agora.

Como pode ver, a senhorita Peterson prefere que seu pai oficie a cerimônia. — sorriu — É obvio, compensaremos por seu tempo…

—Bem. — o reverendo pigarreou — Se vocês tem certeza… —Muita certeza. — a voz de Parks deve ter soado bastante ameaçadora, porque tanto

Knightsdale quanto o pastor olharam-no surpreso. —Está decidido então. — o marquês tomou o pastor pelo braço — Se vier por aqui, reverendo

Phillips, arrumaremos isto em um momento e poderá ir tranquilo. —O que aconteceu entre vocês? — Westbrooke se aproximou para colocar-se junto a Parks.

Ambos observaram como Knightsdale tirava o reverendo Phillips do salão. —Eu não acho que você queira saber. —Bem. Embora espere que essa aversão não seja extensiva a todos os homens que use esse traje. —Por quê? —Pelo que logo ele vai ser seu sogro, claro está. — Westbrooke saudou com a cabeça alguém

que estava atrás do Parks — Reverendo Peterson, que alegria voltar a vê-lo. Deus Santo. Parks se virou lentamente para olhar para o pai da senhorita Peterson. Tinha a boca

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tão seca como se tivesse engolido poeira. Esse homem devia odiá-lo. Embora não parecia zangado. Talvez a senhorita Peterson tenha explicado… Mas como ia poder explicar algo tão estranho?

—Papai, este é o senhor Parker-Roth, meu… meu… — a senhorita Peterson sorriu um pouco e deu de ombros.

—Bom dia, senhor. — Parks estendeu a mão. O reverendo Peterson a estreitou. Isso foi um alívio… pelos menos não ia ignorá-lo também. Certamente sabia que ele não era… que não fazia… que era um homem normal — Eu sinto pelas circunstâncias tão incomuns. Sua filha explicou-lhe…? — se a senhorita Peterson não tinha explicado o assunto, Parks não ia explicar.

—Não inteiramente. Deixe-me apresentar minha esposa. A senhora Peterson sorriu e lhe estendeu a mão. Não viu aborrecimento tampouco em seus

quentes olhos castanhos. Precaução, talvez, mas não repulsão. —Um prazer, senhora Peterson. —Que alegria lhe conhecer fim, senhor Parker-Roth. Por fim? O que ela quis dizer com isso? —Desculpe… — Parks tentou de novo, mas parou. O que poderia dizer? O reverendo Peterson balançou a cabeça. —Não se desculpe. Meg é uma mulher adulta e é capaz de tomar suas próprias decisões. —

sorriu — Você tem o apoio do duque, do marquês e do conde… E, o que é mais importante, de suas esposas. Não me preocupa o futuro de Meg. — abriu seu livro de orações e ajustou os óculos — Bem, entendi que temos pressa. — voltou a sorrir — Embora não me alegra poder dizer, pela razão de costume.

Parks sentiu que suas orelhas ficarem quentes. Olhou para senhorita Peterson. Ela também estava avermelhada.

—Vamos começar? — perguntou seu pai.

*** Estava casada. A cabeça de Meg latejava e tinha um nó no estômago. Estava casada, unida

permanentemente a esse homem que estava ao seu lado e não sorria. Acabava de cometer o maior erro de sua vida?

Seu pai a beijou. — Você sabe que pode voltar para casa quando quiser, se precisar. —Oh, sim, papai. Ele se virou para Parks. —E você deve saber que se a fizer infeliz, matarei-o. Parks assentiu. Meg boquiaberta. Seu estudioso pai ameaçando alguém com a violência? Com

certeza estava lendo A Ilíada antes de sair de casa. —Não se preocupe. — Lizzie a abraçou enquanto Robbie estreitava a mão de Parks — Tudo vai

ficar bem. —Como pode saber isso? —Porque eu a conheço. É sensata… E Robbie diz que Parks é um bom homem. O que aconteceu

é que tiveram que passar por um terreno pedregoso antes de se casar, igual a mim. —Mas isso foi diferente. —Só porque se tratava de mim e não de você. — Lizzie a abraçou novamente — Não se

preocupe. Sei que será feliz.

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Desejou compartilhar o otimismo de Lizzie, mas já tinha encontrado uma falha em seu raciocínio: ela se sentia tudo menos sensata.

Emma a agarrou depois. —Oh, Meg — ela soluçou — Eu sentirei saudades de você. —Eu só vou para Devon. — o abraço da Emma estava a ponto de estrangulá-la — Não vou para

a Amazônia, lembra? —Graças a Deus por isso. — Emma sorriu — Espero vê-la aqui o ano que vem por esta época, no

batismo de seu primeiro filho. —Oh! — bebês? Normalmente seguiam o casamento. Lançou um olhar furtivo para Parks.

Estava falando com a senhorita Witherspoon. Bom, para ser mais preciso, a senhorita Witherspoon estava falando com ele. Ele parecia tão rígido e implacável como um atiçador de lareira. Agora mesmo não parecia que queria ter bebês.

—Bem-vinda a família, querida. — a senhora Parker-Roth sorriu amplamente e a abraçou — Estou tão contente de que tenha se casado com Johnny. — suspirou e balançou a cabeça — estive muito preocupada com ele, sabe? É muito sério… Eu temo que inclusive se esqueceu de como ri. — se aproximou um pouco mais. — Eu acho que ainda não se recuperou pelo fato de Grace o ter deixado plantado. Já é hora de seguir com sua vida.

Meg sorriu tão docemente quanto pôde. Esplêndido. A última coisa que precisava era que a lembrasse que seu novo marido ainda estava assanhado por outra mulher.

O mordomo de Charles apareceu na porta. —O café da manhã nupcial está preparado, milorde. —Obrigado, Blake. — Charles falou dirigindo aos presentes — Nós ficaríamos felizes que nos

acompanhassem em uma breve celebração antes dos recém casados partirem. Deus! O estômago de Meg voltou a se retorcer. Ela iria em uma hora. Viajaria até Devon com o

homem escuro e solene que tinha a seu lado. Talvez a Amazônia estivesse muito mais longe, mas viagem dava menos medo que esta agora.

—Meg, se não ficar bem, — Charles se colocou ao seu lado — sabe que só precisa enviar uma nota e poderá voltar para casa.

Sua cabeça latejava de novo. Olhou para o marido de Emma. Pobre homem, ter se casado para se ver no incômodo papel de ser seu cunhado.

—Eu sinto muito ter sido um incômodo… —Não é um incômodo, Meg. Emma, as crianças e eu gostamos muito de você. Só queremos o

melhor para você. Ela fungou. —Eu sei. Charles se virou para olhar Parks. —Certifique-se de fazer minha cunhada feliz, senhor. — não sorria ao dizer e sua voz era

claramente dura — Ou me alegrarei de poder matá-lo com minhas próprias mãos se meu sogro não fizer antes.

Parks tampouco sorriu. — Eu vou fazer o meu melhor, Knightsdale. —Preocuparei-me de que assim seja. Deve a Meg certo grau de gratidão, sabe? Poderia ter se

negado a se casar com você, o deixando em uma situação bastante incômoda. — Eu estou bem ciente da dívida que devo a senhorit… com minha esposa. Pareciam dois cães, medindo o um ao outro. Por sorte, o resto das pessoas já tinha abandonado

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o salão. —Por favor, Charles, não seja ridículo. Claro que ia casar-me com o senhor Parker-Roth. A

situação foi minha culpa… —Não foi completamente culpa sua. — Parks a olhava atentamente! O que acontecia com esse

homem? Ela conhecia perfeitamente sua responsabilidade. —Eu acho que você não veio a meu quarto nem me obrigou a me vestir de homem, estou

errada? —Não. — o homem parecia estar falando com os dentes apertados — E eu acho que você não

me obrigou a beijá-la diante da casa de lorde Fonsby exatamente quando terminava sua festa. Sua temperatura, que esteve flutuando perigosamente toda a manhã, voltou a subir de repente. —Não, mas… Parks assentiu. —Não. A resposta é não, não me obrigou. Como disse Knightsdale, a culpa é minha. Estou

totalmente em dívida com você. — Eu realmente não acho que… Era tudo tão confuso. Ela sabia que tinha parte da culpa e que ele somente estava sendo

cavalheiro. Embora parecia acreditar realmente que era o culpado da situação. Ela não queria um marido que estava irritado com ela por arruinar-lhe sua vida, mas tampouco queria um cuja principal emoção fosse uma gratidão rancorosa.

Embora não importava o que queria. Agora ele era seu marido: ressentido, agradecido ou furioso.

Ela esfregou-se a testa. Seria mais fácil pensar quando sua cabeça não doesse tanto. —Vamos. — ele pegou seu braço. Charles se afastou no princípio da discussão… Se é que isso

foi uma discussão — Comeremos alguma coisa e partiremos. O nó em seu estômago se apertou ainda mais. Comer não parecia uma ideia muito inspiradora.

*** Ele estava casado. O nó foi feito. Tinha um compromisso. Parks se sentou junto a senhorita Peterson – não podia evitar continuar chamando-a assim – no

café da manhã nupcial. Pelo menos Knightsdale não foi condescendente com ele. Na verdade, ficou aliviado ver um

pouco de aborrecimento. Ele estaria furioso se algum homem tratasse a suas irmãs da forma que ele tratou senhorita… a Meg. Ele ficou furioso por Jane no ano anterior, mas tudo saiu bem. Talvez. Sorriu. Seria melhor que lorde Motton voltasse para casa para ver seu herdeiro nascer ou talvez Jane vendesse o menino pelo melhor lance… ou ao primeiro que se apresentasse. Diabos, era possível que lhe passasse pela cabeça desfazer do menino de qualquer forma.

Meg estava remexendo pelo prato umas fatias de presunto. —Você não esta com fome? —Não. — apertou os lábios. — Não quero nada. Ela estava muito pálida. Na verdade parecia esverdeada. — Você prefere que sair agora? Ela assentiu. —Se você… sua mãe e a senhorita Witherspoon… não se importam…

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—Não se preocupe. Minha mãe e a senhorita Witherspoon viajam em outra carruagem em qualquer caso, assim você e eu podemos ir assim que você quiser. Sua bagagem está pronta? Fica alguma coisa para empacotar?

Ela apertou os lábios de novo e balançou a cabeça. Ele ficou em pé. —Se vocês nos desculparem, a senhori… Minha esposa deseja partir. —O quê? Antes dos brindes? — Westbrooke sorriu — Eu tenho um excelente especialmente

preparado para você, Parks. Isso era algo que realmente queria perder. Agarrou Meg pelo braço e a ajudou a se levantar. —Eu sinto muito. Devemos nos pôr a caminho. —Eu já mandei que colocassem a bagagem de Meg na carruagem. — Knightsdale sorriu — E já

mandei o anúncio para todos os jornais. —Meus mais sinceros agradecimentos. — Parks observou Meg enquanto ela abraçava seu pai,

sua irmã, as sobrinhas de Knightsdale e lady Westbrooke para se despedir. Ela não tinha boa cor. Talvez quando estivesse tranquila na carruagem seu aspecto melhorasse.

—Cuide de minha filha, senhor. Ele estreitou a mão do reverendo Peterson. —Eu farei o melhor. —Isso é tudo o que podemos pedir. — o reverendo Peterson sorriu — Meg tem ideias próprias,

sabe, não é? Isso era pouco dizer. —Eu notei. O reverendo Peterson riu. Todas as damas choravam quando Parks desceu junto com sua esposa as escadas que levavam

até a carruagem. —Escreva, Meg — disse lady Knightsdale. —Muito — apontou lady Westbrooke. A senhorita Peterson… Meg… só saudou com a mão e deixou que ele a ajudasse a subir na

carruagem. Uma vez que ela esteve acomodada, ele deu um bateu no teto e Ned deu ordem para os cavalos avançarem. A carruagem começou se mover.

Estavam sozinhos. A senhorita Peterson olhava para suas mãos fortemente apertadas em seu colo. Ele contorceu no

assento. Ia ser uma viagem muita longa até o Priorado, mas ao menos havia algo que podiam falar no momento.

—Eu não posso continuar chamando-a de «senhorita Peterson». Ela assentiu. —Quer que a chame Margaret? Ou prefere Meg? Dei-me conta de que sua família a chama de

Meg. — estava falando de mais. Parou. —Meg está bem. Bom, pelo menos havia dito algo. —E você pode me chamar de John. Assentiu. —John… —Sim? — a voz dela era baixa e soava forçada. —John, acho… Estou… —Ela engoliu em seco—. Eu Vo… vou Vo… vomitar… Desgraçadamente não havia nenhum urinol. Ele ofereceu-lhe o único receptáculo que pôde

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pensar no momento: sua melhor cartola. Ele tirou da cabeça e passou para ela bem a tempo, antes que o chão da carruagem fosse arruinado.

Capitulo Dezenove —Bem-vinda ao Priorado, senhori… — o pai do senhor Park… de John sorriu-lhe — Bom, agora

você também será a senhora Parker-Roth, e isso vai ser muito confuso… E logo aprenderá que esta casa já é suficientemente confusa para piorar. Como quer que a chamemos?

—Todo mundo me chama Meg, senhor. — parecia que estava olhando para o seu senhor Parker-Roth, só que com trinta anos a mais. Exceto pela cor dos olhos, esse homem os tinha azuis e os de seu filho eram verdes, os cabelos grisalhos e as rugas ao redor da boca e olhos, os dois homens poderiam ser gêmeos.

Embora gêmeos só fisicamente. Suas personalidades pareciam ser tão diferentes como o dia e a noite. Olhou em volta, o escritório pequeno e lotado. Não podia imaginar-se o seu senhor Parker-Roth em um ambiente tão desordenado. Havia livros empilhados de todas as formas imagináveis nas estantes e em montes no chão. Alguns, vítimas da gravidade ou de algum pé incauto, caíam em cascata sob as cadeiras. Os papéis enchiam todas as superfícies horizontais e ela pensou ter parte de uma torrada aparecendo por debaixo de uma pilha de mata-borrão usado.

Seus olhos voltaram para seu anfitrião. Usava um traje escuro e folgado que poderia no passado ser azul, mas que agora era cinza, com uma antiga mancha de tinta no peito. Também seus dedos, longos e bem cuidado, estavam manchados de tinta, tal como seu próprio pai.

—E como eu devo chamá-lo? Ele deu de ombros. —Como quiser. John me chama pai; o resto me chama Pa… — voltou a sorrir. Seus olhos ocultos

atrás dos óculos cheios de rugas de diversão — Quando não me chamam de algo pior, claro… —Entendo. — era muito informal para chamá-lo de «Pai». Teria que ser «Pa» — Eu acho que… —Demônios do inferno! — uma mulher com uma gravidez muito avançada empurrou a porta

para abri-la. Parou em seco na soleira — Oh, perdão. — sorriu — Você deve ser a esposa de John. —Sim. Meu nome é Meg Peters… — não, já não era Meg Peterson. Reprimiu um suspiro.

Levaria um tempo se acostumar — Sou Meg. A mulher estendeu a mão e Meg a estreitou. —Eu sou a irmã de John, Jane. — ela acariciou o ventre — A irmã casada. —A irmã resmungona. — disse o senhor Parker-Roth. Jane riu e afastou uma pilha de papéis de uma cadeira para poder sentar-se. —Você também estaria resmungão, Pa, se fosse como uma serpente que engoliu uma cabra. —Eu estaria muito mais que resmungão. Ficaria sem fala… e não quero nem imaginar qual seria

a reação de sua mãe. Jane riu cinicamente. —Muito engraçado. — virou para Meg — Homens! Confia em mim, se fossem eles que

estivessem condenados a levar os bebês nove meses nas tripas, — ela se remexeu um pouco na cadeira — a maior parte do tempo lhes pressionando a bexiga, manteriam suas calças grampeadas muito mais tempo.

O senhor Parker-Roth levantou uma de suas mãos manchadas de tinta.

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—Jane, por favor, não faça Meg sair gritando da casa agora que mal entrou. Jane deu de ombros. —Está casada, não é? —Ela acabou de se casar. —É verdade. — Jane sorriu para Meg — Você vomitou, hein? E agora John está lá em cima

vomitando as vísceras e mamãe e Agatha caída na cama. — franziu a testa — Será melhor que não me deixe doente. Vômito neste estado podem ser algo muito terrível.

—Sim, eu também espero que não fique doente. — Meg olhou para o senhor Parker-Roth — Eu sinto muito. Meus sobrinhos estavam doentes quando saí. Eles devem ter me contagiado.

Ele riu. —Você vomitou no chapéu do John, segundo me disse MacGill. Em algum momento poderia se recuperar de tanta vergonha? —Não tínhamos nada mais a mão. — engoliu em seco — Seu filho se comportou como um

cavalheiro. Jane soltou uma gargalhada. —Certamente que foi. Deus, eu ficaria encantada em ver John segurando um chapéu cheio de

vômito. —Não foi nada divertido. —Não, eu acho que não. — Jane seguia sorrindo — Mas John deve estar muito apaixonado. Meg não tinha coragem suficiente para contar-lhes a verdadeira história. Talvez quando…

John… se recuperasse, contasse a sua família os detalhes de seu casamento. Ou a senhora Parker-Roth contaria a seu marido. Eles não tiveram tempo para isso até agora. Tinham chegado apenas meia hora antes; John tinha saído correndo para seu quarto e sua mãe e a senhorita Witherspoon, com as caras um pouco esverdeadas, se retiraram para descansar e recuperar as forças. Agora pelo menos as mulheres pareciam bastante recuperadas de seus males.

O desconcertado mordomo tinha levado Meg até ali. —Tinha alguma razão irromper dessa maneira, Jane? Jane voltou a dar de ombros. —Na verdade não. —Eu só queria soltar a diatribe diária devido a ausência de Motton, verdade? —Isso. — olhou para Meg — O visconde Motton é meu marido… Meu marido ausente. Está

fora com uma tia moribunda em Dorset. —Uma tia que não morre o suficientemente rápido para o gosto de Jane. —Não sou tão insensível. — disse Jane franzindo a testa — Mas ela vai morrer do mesmo jeito

ele estando lá ou não.. —Assim como essa criança, nascerá esteja seu pai aqui ou não. —Mas é seu bebê! Isto — disse tocando o estômago — é, pelo menos parcialmente, culpa dele.

Se eu tiver que estar aqui, ele também deveria estar. O senhor Parker-Roth revirou os olhos. —Vamos esperar que a tia de Motton seja o suficientemente sensata para expirar logo. Mas

enquanto isso, você acha que poderia acompanhar Meg ao quarto amarelo? Tenho certeza de que Claybourne já subiu suas coisas para lá.

—Está bem. Isso é melhor do que ficar aqui sentada, me reclamando. —Definitivamente. E eu poderei voltar para meu soneto. — o senhor Parker-Roth sorriu para

Meg — Não deixe que Jane te alarme. Ladra muito, mas não morde.

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Meg seguiu Jane para fora do aposento. Começaram a subir as escadas, mas Jane tinha que parar cada poucos degraus para descansar.

—Você está bem? —Sim, estou bem. Meg pôs a mão de Jane no braço. —Tenho certeza de que outra pessoa pode me mostrar aonde está meu quarto. —Não, não, Pa tem razão. É melhor para mim ter alguma coisa para fazer do que passar o dia

incomodando a todos. — sorriu, embora Meg achou que o esforço a estava cansando muito — E Pa estava desejando voltar para sua poesia. Eu suponho que John contou-lhe tudo sobre nossa estranha família...

Uma hipótese razoável se seu noivado tivesse transcorrido em circunstâncias normais. —Não, realmente não. Jane agarrou seu lado. — Tem certeza de que você está bem? —Sim, é só uma pontada. Aconteceu às vezes durante os últimos dias. Simplesmente é por que

já não tenho mais espaço dentro de mim para este bebê. —agarrou o corrimão e respirou fundo. —Para quando espera o bebê? —Ainda falta um mês… E os primeiros sempre chegam mais tarde. — voltou a inspirar e deixou

escapar o ar lentamente — Assim está melhor. — continuou subindo as escadas — Assim John não contou nada sobre nossa família?

—Não. Ela olhou para Meg do degrau mais acima e sorriu. —Um noivado relâmpago? Nunca teria imaginado que John fosse tão apaixonado! Meg sorriu timidamente. —É… bom, um pouco complicado. Parecia que Jane queria continuar lhe a língua, mas, aparentemente, pensou melhor. E virou e

subiu outro degrau. —Nossa família… Eu prefiro nos qualificar como aventureiros e excêntricos, mais que

estranhos. O único que realmente é estranho é John. Para utilizar uma analogia botânica, John é como uma sebe em forma de… porco no meio de um bosque. Ele acredita que o trocaram ao nascer.

John, uma sebe em forma de porco? Que absurdo! —O que quer dizer? —Você não notou? Ele é muito ordenado e educado. — Jane sorriu e arqueou uma sobrancelha

quase até a linha do couro cabeludo — Ou talvez não foi muito educado com você? Meg corou. Não ia falar da educação de John com sua irmã. —E outros não são educados? Sua mãe parece perfeitamente normal. —Ela se comporta-se diante das pessoas… Bom, o certo é que todos nós fazemos… mas ela é

uma artista. — Jane riu — Terá que esperar para ver seu estúdio para poder decidir sobre sua educação. Pa é um poeta… e já viu sua forma de vestir. Mamãe consegue que se arrume quando vêm as visitas, mas não importa que o que vista, sempre parece… um pouco desalinhado. John nunca está desalinhado. — voltou a levantar ambas as sobrancelhas — Ou sim?

Meg ignorou o comentário. —John é o mais velho? —Sim. O seguinte é Stephen. É dois anos mais jovem que John. Viaja por todo mundo

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recolhendo plantas para John e Deus sabe o que mais. Eu acho que é um pirata. Eu tenho vinte e cinco — se deu uns leves tapinhas no ventre — e tinha que me casar. Nicholas, que está em Oxford quando não está encalacrado montando alguma travessura das suas, tem vinte e um. Juliana tem dezesseis e é cientista; está sempre explodindo coisas. E Lucy tem quatorze e sonha escrever a continuação da “Vindicação dos direitos da mulher “ de Mary Wollstonecraft.

Finalmente chegaram ao topo das escadas. Jane virou à direita e Meg a seguiu por um longo corredor decorado com pinturas de caça desagradavelmente gráficas.

—Horríveis, não é? Mamãe tem que desviar o olhar, mas Pa acha graça. Um de seus antepassados devia ser um ávido caçador… Ou simplesmente sua visão artística era atroz.

Meg também desviou o olhar. —Eu vou conhecer Juliana e Lucy esta noite? —Oh, não. Enviaram-nas para visitar tia Reliham. Mamãe pensou que a presença delas podia

ser muito perturbadora para alguém em uma condição tão delicada como a minha. —Entendo. —Sim, e entenderá. Aqui está seu quarto. Tinham chegado quase ao final do corredor. Só havia outra porta mais à frente, exatamente ao

lado da porta em que acabavam de parar. —E esse é…? — Meg tinha quase certeza da resposta, mas desejava ouvir para confirmar suas

suspeitas. —O quarto de John, é obvio. — Jane sorriu — Não se preocupe. Há uma porta de comunicação.

Poderão… Oh. Jane se inclinou para frente e se apoiou na parede junto a uma desafortunada pintura de uma

raposa morta. —Ohh… Ac… Acho… Acho que talvez nem todos pri... primeiros filhos se a… atrasam…

*** Agora mesmo gostaria de morrer. Parks estava feito uma bola em sua cama. Graças a Deus

estava no Priorado não alguns quilômetros mais longe. Não teria conseguido chegar. — Você vai me deixar ajudá-lo a tirar a roupa agora? Ele grunhiu. Será que Mac estava louco? Mesmo abrir os olhos era um esforço impossível. —Você ficará mais confortável de pijama. —Se cale. Vá. —Está bem. Eu Trarei um recipiente limpo, se por acaso precisar. Deus, certamente que não tinha mais nada no estômago… Abriu um olho e encontrou uma

grande tigela de cerâmica diante de seu nariz. Estava tão perto que podia ver, inclusive sem seus óculos, que estava pintado com porcos azuis.

Fechou o olho que abriu e voltou a gemer. —Voltarei logo. — Mac o cobriu com uma manta — Talvez possa dormir um pouco e estará de

melhor humor dentro de um momento. Ouviu os passos do Mac cruzar o quarto e depois a porta abrir e fechar. Deixou escapar um suspiro trêmulo. Estava sozinho por fim e podia sofrer sem público. Se a

experiência da enfermidade de Meg e das outras damas podiam servir de guia, só tinha que suportar outras doze horas de intenso desconforto antes de começar a se recuperar. Apertou a face contra a fresca terrina de cerâmica e esperou a que o tempo passasse.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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Deve ter dormido por um momento, porque se sobressaltou ao ouvir passos de novo. Seu estômago retorceu de novo.

Se ele ficasse deitado muito quieto talvez não voltasse a vomitar. — Vá embora, Mac. Pode tirar a roupa até me despir, mas não agora. —Não sou Mac — disse uma voz feminina — Quer que eu vá buscá-lo? —O quê? — ele se sentou em um salto. Um grande erro. Felizmente continuava com a tigela na

mão. Esvaziou o pouco que restava no estômago e depois ficou resfolegando com dificuldade durante uns minutos.

—Eu sinto muito — disse Meg. Estava de pé junto a cama, ao lado de seu corpo débil. Por que, em nome de Deus, não tinha a

decência de sair? Ele se deixou cair sobre os travesseiros e ela pegou a tigela cheia de vômito e afastou. Ele morreria de vergonha antes de morrer dessa maldita doença. Fechou os olhos. Deus, por que

não morria agora mesmo? Mas Deus não o estava escutando. Ouviu os passos de Meg, voltava a se aproximar. —Sinto muito tê-lo deixado doente. —Não é sua culpa. — talvez se continuasse com os olhos fechados, ela partiria. —Sim é. Ouviu o som de uma cadeira que roçavam o tapete. Ele suspirou e abriu os olhos. Estava claro

que não ia partir. Ela entregou-lhe uma tigela limpa. —E destrocei seu melhor chapéu também. Ele pegou a tigela limpa e a colocou sobre a cama, ao alcance da mão. —Não pense mais nisso Meg puxou sua saia. —Se eu não tivesse ido a reunião da Sociedade de Horticultura, você não seria obrigado a se

casar comigo. Quantas vezes teriam essa conversa? —Pare de se culpar. Como já disse, nosso casamento não é culpa sua. — nem, obviamente, era o

que ela queria. Tanto desejava um título? Pois agora sua única oportunidade era que ele morresse jovem.

O estômago retorceu e ele aproximou a tigela. Tão mal como se sentia agora, possivelmente lhe fizesse logo esse favor.

—É muito amável por sua parte dizer, mas, bom… Seu olhar deve ter impressionado, porque se calou e deu de ombros. —Bom, não vim discutir com você. Sua mãe mandou dizer que Jane teve um menino. —Sério? — ele se recostou um pouco sobre o travesseiro — Que rápido! — devia ter dormido

mais do que pensava. Mac tinha puxado as cortinas antes de sair, assim não tinha nem ideia da hora que era — Ela e o bebê estão bem?

Meg sorriu. —Muito bem. E não foi tão rápido. Depois de falar com a criada de Jane, sua mãe acha que Jane

esteve em trabalho de parto durante os últimos dias. Ainda assim, o pior do parto sim foi rápido. E o melhor foi que lorde Motton chegou ao mesmo tempo que a parteira, uns vinte minutos antes de seu filho nascer.

—Que sorte. Jane o teria castra… quero dizer que não ficaria feliz se perdesse o acontecimento.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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Meg sorriu. —Ela parece, bom ambos parecem muito felizes. Alguma coisa diferente de náusea deu uma pontada em suas vísceras. O que estava lhe passando? Bom, já sabia: essa suscetibilidade tinha que estar relacionada com a

doença. Nunca antes havia sentido tão… Deus!… tão emocionado com o nascimento de uma criança. Recordava o suficiente da infância de Lucy e Juliana para saber perfeitamente que os bebês são umas criaturas ruidosas, desordenadas e inconvenientes.

Removeu-se sobre os travesseiros quando seu estômago voltou a se retorcer. Westbrooke parecia ter um carinho incomum por seu filho. Mas, claro, seu amigo precisava de um herdeiro e não tinha certeza de sua capacidade de chegar

tê-los. Devia se sentir muito aliviado ao ver seu trabalho realizado. Mas ele não tinha essas preocupações. E, para ser honestos, fazer qualquer coisa mais trabalhosa

que respirar nesse momento estava fora de questão. —Você não deveria dormir com roupa. Quer que eu o ajude a…? —Não! Ela pareceu ofendida com sua veemência. Estava louca? Ele não ia deixar que ela o despisse

enquanto continuava sentindo vontade de vomitar a qualquer momento. Ela corou. —Nós somos casados. Supõe-se que as esposas devem cuidar de seus maridos. —Obrigado pela oferta, mas preferia que enviasse MacGill para me ajudar. Ela se levantou. —Está bem, se é isso que você prefere. —Sim, definitivamente. Ele deixou escapar um suspiro quando ela fechou a porta ao sair.

*** —Jane e o bebê estão bem, Cecilia? —Esplendidamente, Jane foi muito corajosa, John. — a senhora Parker-Roth verteu um pouco de

água na pia e riu — Bom, talvez foi melhor, ela estava desesperada para não continuar grávida. Estou feliz de ter voltado para casa antes do bebê nascer.

Seu marido Bufou. —Tenho certeza de que Jane teria se arrumado muito bem sem você. —Sem dúvida, mas uma mãe deve estar ao lado de sua filha nestes momentos. — tomou um

pouco de água no rosto. E pensar que podia estar em Londres e perder o nascimento de seu primeiro neto… Teria que dar graças a Deus ao escândalo e as núpcias rápida. Ainda assim, tinha certeza de que ainda restava, pelo menos, outro par de semanas — Eu acho que Jane calculou mal.

—Eu acho que Jane antecipou seus votos. —É claro que fez. Foram descobertos em uma situação muito comprometida. Ainda assim,

tenho que admitir que me surpreendeu. Nunca pensei que Edmund faria… quero dizer… não é o tipo de homem que… — deu de ombros — Bom, de qualquer maneira. Tudo acabou saindo da melhor maneira possível.

John grunhiu. —Pelo menos Motton conseguiu chegar a tempo. Claybourne me disse que chegou junto com a

parteira.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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—Sim. Jane ficou encantada de vê-lo. Gastou todo o fôlego que não dedicava à tarefa em amaldiçoá-lo. E isso fez com que sua mente se afastasse das preocupações.

—Então é uma sorte que não tivesse uma faca à mão. O homem poderia se ver separado de seu testículo. Jane não foi uma acompanhante muito agradável nas últimas semanas.

—Pobrezinha. Tenho certeza esta muito desconfortável. —E ela não era a única. —John, deveria ter um pouco de compaixão por ela. —E tive compaixão. Mas me abandonou há uma semana. Cecilia parou por um momento enquanto lavava o rosto. A voz de John soava decididamente

irritada. Sorriu-lhe. Ela sabia exatamente o que ele precisava. De qualquer maneira, estava muito nervosa para dormir…

—E que tal suportou Motton seus insultos? —Muito bem — respondeu ela — Não pareceu se ofender. Ele a conhece… E acredito que

também sabe como foi duro para ela sua ausência. — secou-se o rosto. —Será melhor que Jane vigie essa língua viperina que tem, senão quiser acabar o enviando

diretamente para alguma outra cama mais amistosa. —Querido, sei que esta de mau humor hoje… —Eu não estou. —Sim você está. — ela pegou a escova do cabelo. Para um poeta, ele não se mostrava muito

eloquente. Não importava. Em breve lhe daria infinidade de oportunidades para ele demonstrar as habilidades de sua língua.

Ela estremeceu pela antecipação. Também tinha sentido falta dele. —Suponho que a tia de Motton morreu, finalmente. Ela riu. —Não. Edmund diz que foi uma recuperação milagrosa. É provável que faça outra cena no leito

de morte quando voltar a se sentir sozinha. Ele prometeu que levaria a bebê para que ela o conhecesse… Como você pode ver, isso o que a reanimou. — passou a escova pelo cabelo. Talvez se não desse as cem escovadas acostumadas esta noite. Uma parte diferente de seu corpo sentia falta de outro tipo de escovadas. Simplesmente tiraria os piores nós — Oh, John, o bebê é lindo. E pode acreditar que tem cachos castanhos? Deve ter herdado isso da família de Edmund.

—É os nossos não tinham cabelo? —Claro que não! Será que não se lembra? Eram todos tão carecas que nem sequer pudemos

adivinhar que cor seria os cabelos até que completaram um ano. Como ele não podia recordar? Bom, isso foi há muitos anos. Lucy, a pequena, já tinha quatorze

anos. Tempo voa, não? Olhou-se no espelho. Tinha mais ruga ao redor dos olhos e dos lábios, e mais fios grisalhos no cabelo. E agora tinha um neto. Um… e logo talvez mais…

—O que achou de nossa nova nora? —Parece agradável. Embora tenha que dizer que não teve a melhor recepção no Priorado.

Claybourne a deixou cair em meu escritório quando todos desapareceram. E então Jane chegou para se queixar dos males da gravidez, com todos seus terríveis detalhes.

—Como sinto… Deveria ter ficado com Meg, mas me sentia mal. Espero que Pinky já se encontre melhor.

—Já sabe que John não gosta que o chame Pinky, Cecilia. —Johnny, então. —E Johnny já tem mais de trinta anos. Há muito que não precisa de uma mãe.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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—Todo mundo, especialmente todos os homens, precisam uma mãe, pelo menos até que se casam. — deixou a escova. Meg e Johnny estavam casados, mas ainda tinha algo que os mantinha separados, mas o quê? Qualquer idiota podia ver que foram feitos um para o outro… Qualquer idiota, menos seu filho, ao que parece.

Não estaria ainda levando a cruz do ocorrido com lady Grace Dawson, certo? Será que ia se afastar de todas as demais mulheres só porque ela o deixou plantado no altar? Certamente que não. Sim, certamente foi uma experiência desagradável, mas foi há anos. Era passado. Ele tinha que olhar para o futuro.

Ela voltou-se para seu marido. Estava sentado na cama, lendo um livro… Mais poesia, sem dúvida.

Adorava olhá-lo, como suas muitas pinturas testemunhavam. Agatha tinha razão; havia caído rendida diante de um par de ombros largos… e pelo homem que vinha com esses ombros. Ele a entendia como ninguém mais o fazia e tinha lhe dado seis filhos que ela amava mais que a sua vida. Como ia escolher a arte sobre o casamento?

Além disso, ainda tinha sua arte, mas não como o único objetivo na vida, coisa que teria sido se ela houvesse feito o que Agatha aconselhou.

Será que Johnny estava colocando seu trabalho por cima de seu casamento? Seria esse o problema? Agora estava casado, mas era o suficientemente teimoso para negar que sentia algo mais que luxúria por sua esposa… se é que chegasse admitir essa emoção. Suspirou. Quase desejava que um fogo devastasse todos seus jardins e estufas para que pudesse tirar a cabeça do esterco o tempo suficiente para ver o mundo que o rodeava.

—O quê há? — Eu acho que temos que conceber um plano para aproximar Johnny e Meg. —Mas… Já estão juntos, Cecilia. Estão casados. Quanto mais perto podem ficar? —Bom, sim, trocaram votos, mas isso não significa que estejam juntos. Não sei se me entende… John subiu os óculos pela ponta do nariz. —Não, eu acho que não entendo. —Não seja tão obtuso. Tenho certeza de que não consumaram o casamento. —Bom, e por que não disse isso em vez de ir pelos ramos? Passou muito tempo em Londres.

Pegou essa forma de falar sua tão comedida… Ela não diria que lady Dunlee era muito comedida, mas era certo que tinha estado muito tempo

em Londres. Umedeceu os lábios. Alegrava tanto que John evitasse os pijamas e preferisse dormir nu… O brilho da luz das velas sobre sua pele - a forte coluna de seu pescoço, a linha descendente dos ombros, o cabelo espesso, cinza e encaracolado que alagava seu peito… rogavam-lhe que os pintasse… depois de fazer outras coisas, é claro.

Adorava seu corpo. Adorava-o quando estavam recém casados e o adorava agora, já passado seus sessenta aniversários.

—Não é todo mundo ignora o que é apropriado como fizeram Jane e Edmund — disse ele — E é um pouco difícil fazer alguma coisa sob os lençóis quando está ocupado vomitando as vísceras. Tenho certeza que farão isso quando ambos estiverem saudáveis.

—Não sei. Johnny pode ser tão… teimoso. —Mas nem tanto. É um homem, Cecilia. Deixe-o em paz e cumprirá com seu dever. —E o que vai fazer Meg enquanto espera que os instintos animais de Johnny tomem as rédeas? —Esperar, simplesmente. —Meg tem uma personalidade muito forte. Duvido que queira se sentar por aí tricotando ou

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bordando enquanto o idiota de meu filho percebe que agora está casado. John deu de ombros. —Se ela for tão decidida, poderá seduzi-lo. Suponho que a porta que há entre seus quartos se

abre dos dois lados… —Seduzi-lo? Está…? — um momento… E por que não ia poder Meg seduzir Johnny? Não era a

forma usual em que a virgens subiam ao tálamo nupcial, e ela continuava pensando que era virgem, dissessem as más línguas o que dissessem, mas isso não queria dizer que não pudesse funcionar perfeitamente bem. Claro que poderia. Como John acabava de dizer, Johnny era um homem. Mesmo que não fosse um libertino, mas sim que sabia como funcionava o órgão relevante. Tinha uma amante na aldeia.

Cecilia franziu a testa. —Acho que deveria ter uma conversa com a senhora Haddon? —Definitivamente não. — John a olhou com a testa franzido — Supõe-se que não deve conhecer

sua existência. —Mas claro que conheço sua existência. Para mim é importante saber tudo sobre meus filhos. Ele riu e voltou para sua poesia. —Deixa de se intrometer, Cecilia. —Bom… — sorriu um pouco. Talvez a amante não fosse um problema. Devia levar em conta a

forma em que Johnny olhava para Meg durante os bailes de Londres. Só precisava que o animassem um pouco. Um pouco de privacidade. Um pouco de sedução.

Podia ensinar a Meg um par de coisas sobre sedução. Afrouxou a bata e deixou que se deslizasse pelos ombros.

—Talvez tenha razão. Talvez seja uma boa ideia que Meg seduza Johnny. —Claro que… — John se ergueu em seu assento e fechou o livro de repente — O quê esta

usando? —Uma coisinha que encontrei em Londres. — uma coisinha muito especial. As transparentes

partes do tecido verde salgueiro mal cobriam as partes cruciais. Esticou os braços e se virou, sentindo que o sedoso tecido se deslizar sobre seus seios e ondeava junto a suas coxas — Você gosta?

—É indecente. —Claro que é… mas, você gosta? — assegurou-se de que o fogo ficasse atrás dela. John grunhiu e afastou o cobertor. —Veem aqui e eu demonstrarei quanto eu gosto.

Capitulo Vinte —Que bebê mais bonito. — Lady Felicity, agora lady Bennington, arrulhou o Honorável

Winthrop Jonathan Smyth, o primeiro filho e herdeiro de lorde Motton. O Honorável Winthrop Jonathan Smyth, recostado nos braços de sua mãe, bocejou.

—É um menino muito bom — disse Jane — Ele dorme durante a maior parte da noite. Meg reprimiu um sorriso. Jane, passou toda manhã reclamando em voz alta por ter que entreter

«essa pele de carneiro disfarçada de cordeiro», agora sorria para Felicity como se ela acabasse de se tornar em sua melhor amiga. E Felicity parecia realmente encantada com bebê.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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—Você tem muita sorte por ter um bebê tão saudável — disse Felicity — Eu espero dar a meu marido um herdeiro logo que seja possível — disse, e soltou uma risada — Bennie está muito ansioso para ser papai… e é muito consciencioso em seus esforços por alcançar esse objetivo.

Meg baixou rapidamente o olhar para as mãos recolhidas no colo. Só de pensar nos lábios de lorde Bennington, que se pareciam umas lesmas, próximo de sua pessoa… Agggg! Estava realmente contente de não ter que suportar as atenções desse homem.

O certo era que já não tinha que suportar atenções de nenhum homem. Passaram-se três semanas desde seu casamento e a porta que havia entre seu quarto e o de John ainda continuava fechada.

Ela se removeu-se na cadeira. A verdade tinha sentido. As coisas estiveram muito revoltas. Ela ficou doente – precisou de um tempo para se recuperar completamente da desagradável enfermidade e depois foi John que ficou doente. Jane teve o bebê. John teve que se ocupar das coisas do Priorado; seu pai havia delegado a tarefa de levar a propriedade a ele. Havia chegado um novo carregamento de plantas exóticas enquanto John estava em Londres, assim que ele passava muito tempo em suas estufas, catalogando e mimando suas novas aquisições.

Meg teria gostado de ajudá-lo com isso pelo menos. Pode ser que não soubesse tantas coisas como ele, mas tampouco era uma ignorante total. Mas ele não lhe pedira ajuda. Na verdade ela teve a clara impressão de que ele preferia que ela se mantivesse o mais longe possível dele.

Suspirou. A situação não podia continuar como estava. Tinha que falar com ele. E faria isso… logo.

Felicity se inclinou para frente e lhe tocou o joelho. —Suspirando por seu marido? —Hã? — Meg olhou para Jane em busca de ajuda, mas sua cunhada estava concentrada em

alimentar seu filho. Tinha os lábios apertados e a mandíbula tensa. Obviamente estava desejando soltar sua habitual fileira de maldições assim que o bebê pegasse o peito, mas não queria fazê-lo em presença de Felicity.

A senhora Parker-Roth tinha assegurado a Jane que os mamilos se acostumariam e que, depois, amamentar deixaria de ser uma tortura. Mas isso não acalmou Jane. Não era uma mulher com muita paciência.

Felicity também suspirou. —Dei-me conta de que gosto da vida de casada muito mais do que imaginava. — ela balançou a

cabeça como com assombro — Bennie pode parecer tão cinza como um céu de tempestade, mas não é absolutamente. Bom, suponho para alguém poderia parecer, mas a mim não. — sorriu — E é um amante surpreendentemente satisfatório. É obvio, ajuda muito que tenha uma impressionante verg…

—Sim, bom, alegramo-nos muito de que esteja feliz. — será que a mulher iria discutir as coisas que passavam em seu dormitório?

Felicity franziu a testa. —Você soa você como uma virgem. —Não seja ridícula. Estou casada há três semanas. — Mas você ainda é virgem, hein? Ela não lhe arrancaria a verdade nem que a arrastassem os cavalos selvagens. — Você sente falta de Londres? — Claro que não. — Felicity revirou os olhos. — Vocês tinham seu próprio escândalo nas mãos,

assim tenho certeza de que não prestaram atenção as fofocas que correm sobre meu pai.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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Abandonou a Inglaterra cheio de dívidas. Não tenho intenção de voltar para nenhuma festa londrina até dar um herdeiro a Bennie.

—Entendo. O pior da tortura de Jane tinha passado. Ela agora sorria ao passar os dedos pelos espessos

cachos castanhos do bebê, mas continuava sem prestar atenção a conversa. —Deixe-me dar-lhe um conselho. — disse Felicity aproximando-se ainda mais — Tecnicamente,

eu era virgem na minha noite de núpcias - bom, em minha viagem de núpcias, mas já tinha uma ampla experiência com os homens. São criaturas simples. A menos que Parker-Roth seja… diferente, só precisará de algum incentivo para cumprir com seu dever.

— Incentivo? — Meg outrora aconselhara Lizzie como fazer com que Robbie desse o passo. Tinha passado horas observando as interações sociais de homens e mulheres. Acreditava-se uma perita, mas não o era. Ser partícipe na situação era muito diferente de ser uma observadora.

—Sim. Não é tremendamente sutil, mas garanto que funcionará, — Felicity sorriu — você simplesmente tem que ficar nua na cama dele.

***

—Sem rancores, Parker-Roth? Bennington estava de pé do outro lado do estúdio. Não podia colocar mais distancia entre os

dois embora tivesse tentado - e tinha feito. Assim que cruzou a soleira, ficou tão longe de Parks quanto pôde, o que para Parks parecia uma bênção. Com sorte Felicity logo se cansaria logo de admirar o bebê de Jane e levaria seu marido para casa.

—Rancores? — claro que guardava rancor. Bennington o odiava. E ele tinha que admitir que não tinha muito apreço por Bennington tampouco. Além do fato do homem parecer estar evitando-o, o visconde estava surpreendentemente calmo. O casamento deve ter lhe feito bem.

Adoraria poder dizer o mesmo. Sorriu e cruzou fortemente as mãos atrás das costas. —Por que ia guardar rancor? Bennington arqueou ambas as sobrancelhas. —Porque se não tivesse saído ao jardim dos Palmerson com a senhorita Peterson - quero dizer,

sua atual esposa, claro, você não seria obrigado a lhe propor casamento. — Você está sugerindo que eu fui forçado a casar com ela? — foi assim, mas não gostava que

Bennington afirmasse. Bennington piscou. — Não é exatamente um segredo, embora agora que o penso, não foram os acontecimentos do

baile dos Palmerson que ouvi comentar em sussurros sobre seu casamento. Lorde Peter me escreveu alguma coisa sobre ter beijado Fonsby, ou algo assim…

— Bom Deus, você está louco? Eu nunca beijei o maldito lorde Fonsby! A ideia é nauseante. Repugnante. Detestável. — seu idioma não tinha uma palavra o suficientemente forte para descrever o horror que evocava a imagem.

—Acho que isso é o que tinha feito… Lorde Peter tem uma letra terrível. Mas é certamente que algo incomum aconteceu. Tundrow, que tem uma letra melhor, escreveu para me dizer que o tinham expulsado da Sociedade de Horticultura. — Bennington não pôde reprimir um sorriso, embora tentou — Senti ouvi-lo.

Bem.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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—Só foi um mal-entendido. Tenho certeza de que voltarão a me admitir como sócio se eu solicitar.

— “Se” «Será que pode não solicitar? Parks deu de ombros. A ideia de voltar para Londres era mais desagradável que nunca, mas

tinha certeza de que em alguns meses sua mãe ia querer voltar para ver seus amigos artistas. E sua… esposa… também poderia querer. Teria que fazer esse esforço para estabelecer sua posição na sociedade, sobre tudo dado que seu casamento esteve na boca de todos – e ainda estava

—Suponho que farei… Quando puder, é claro. —Claro. Bennington sorriu brevemente e depois voltou para examinar as estantes. Parks observou o

tapete. O que é que ia fazer com sua esposa? Até agora a porta que havia entre seus quartos parecia

estar cravada o marco. Ela não queria se casar com ele; queria um título que estivesse à altura do que tinha conseguido

sua irmã. Qualquer mulher queria. Só foi uma questão de má sorte lady Dunlee encontrá-la no jardim dos Palmerson com ele. Se a tivesse deixado em paz era provável que agora fosse viscondessa. E embora vestir-se de homem e assistir uma reunião da Sociedade de Horticultura fosse algo muito impressionante, teria passado despercebida se ele não tivesse decidido lançar-se sobre ela diante de meia sociedade.

Ele era o culpado por ela está condenada a ser somente a senhora Parker-Roth em vez de lady alguma coisa.

Claybourne enfiou a cabeça pela porta do estúdio —Milord, lady Bennington já está pronta para partir. —Oh, obrigado, Claybourne. — Bennington se apressou para a porta — Encantado de ter

passado este momento com você, Parker-Roth. Esclareceu as coisas, né? —Bom… Mas Bennington o tinha deixado falando sozinho. Realmente Bennington pensava que ia se lançar sobre ele com intenções amorosas? Incrível,

embora aparentemente quase toda Londres acreditasse. Tinha que resolver as coisas com Meg… mas ainda não. Ele saiu pela porta lateral e se dirigiu a estufa principal. Na verdade não importava que Meg tivesse colocado suas esperanças em um título; agora

estava casada com ele. E ele com ela. Nenhum dos dois tinha escolha; deviam tirar o maior proveito possível.

E era seu dever dar o primeiro passo. Só tinha que abrir a maldita porta entre os dois quartos… Mac já tinha ameaçado abrir, ele mesmo, várias vezes na semana anterior.

Ele não queria fazê-lo. Mas o que estava acontecendo com ele? Não que não desejasse Meg. Deus, precisava se atordoar com conhaque para poder dormir e

ainda assim se levantava rígido como uma estaca no meio da noite. Seus sonhos eram… Não devia pensar em seus sonhos. Nem sequer podia ir visitar Cat em busca de alívio. Não só porque era trair seus votos

matrimoniais, mas sim porque ela já tinha encontrado quem lhe substituísse. Tinha passado por sua casa para se despedir formalmente e dar-lhe um colar com um brilhante que tinha comprado em Londres para acalmar sua sensibilidade ferida, mas então descobriu que ela estava pensando

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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em se casar com o ferreiro. Será que ele não era importante para? Ele entrou na estufa e inspirou fundo o ar quente e úmido cheio do aroma calmante da terra e

das plantas que cresciam… só que nem isso conseguiu acalmá-lo. — Que diabos você está fazendo aqui, Johnny? — Thomas MacGill franziu a testa em sua

direção depois levantar a cabeça de um foco. — É a minha estufa, Thomas. Acho que tenho direito de estar aqui se eu quiser. MacGill resmungou e voltou sua atenção a uma fúcsia que estava transplantando. Parks olhou em volta. Ele tinha trabalho a fazer muito trabalho... só que não sabia o quê fazer

primeiro. —Como vão as novas plantas? —Bem. — MacGill dedicou-lhe um olhar de menosprezo — Melhor do que sua nova esposa,

segundo diz William. —Thomas! — não era a primeira vez que experimentava as desvantagens de que seu criado de

quarto fosse irmão gêmeo de seu jardineiro chefe — Minha esposa não é assunto seu nem de seu irmão.

—Mas sim é assunto seu, Johnny. —Thomas… — nesse momento também desejou ter contratado verdadeiros criados ingleses e

não estes rebeldes escoceses que não sabiam qual era seu papel. — Ela estava aqui outro dia. —Ah, sim? — deveria levar Meg para ver os jardins. Ela gostaria — Bom, não me surpreende.

Meg sabe muito sobre plantas. Com certeza de que você se deu conta. MacGill assentiu. —Sim, eu fiz. E descobri outra coisa. Por que tinha um mau pressentimento sobre o que ele ia dizer? MacGill parecia muito sério,

muito um desses escoceses azedos. —E o que foi? —Que sua esposa não é feliz, Johnny. Parks sentiu como se tivessem lhe dado um soco no estômago. —Vamos ver, Thomas… MacGill o olhou com a testa profundamente franzida. —Deixa de me chamar por meu nome, Johnny. Já passaram três semanas desde seu casamento:

tem que fertilizar mais coisas que suas roseiras.

*** — Meg, eu posso falar com você? —Certamente , senhora… —Me chame de mãe, querida.— a senhora Parker-Roth deu uns tapinhas no braço de Meg — Eu

a vejo como mais uma de minhas filhas. —Oh. Bom… está bem, Ma… mãe. —Vamos ao meu estudio. Podemos nos sentar tranquilamente ali sem nos preocupar de sermos

interrompidas. Pode ser que uma interrupção fosse desejável, dependendo do assunto da conversa, mas Meg

foi com ela sem protestar.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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O estúdio da senhora Parker-Roth era uma pequena casinha do outro lado do lago ornamental. —John - meu marido, não o seu John - vem às vezes aqui para poder se concentrar em seus

sonetos — explicou a senhora Parker-Roth enquanto se aproximavam do edifício. Era maior que a vicariato de seu pai — Diz que o passeio lhe areja a cabeça… e faz que todo mundo pense duas vezes antes de vir incomodá-lo com alguma coisa. Quando os meninos eram pequenos, iam sempre para buscá-lo para que mediasse em suas brigas, mas, quando chegavam ao lago, já tinham se distraído com alguma coisa: as meninas paravam para recolher flores silvestres e os meninos saltar sobre as pedras. Isso salvou John de muitas interrupções.

A senhora Parker-Roth tirou uma chave do bolso e abriu a porta. —Eu gosto porque posso deixar minhas pinturas ao ar com a certeza de que ninguém vai mexer

com elas. — sorriu — E, francamente, Johnny acredita que muitas de minhas pinturas não são apropriadas para crianças. — riu — Bom, para ninguém, na realidade. Johnny se envergonha tão facilmente…

Meg seguiu a senhora Parker-Roth através da escura entrada. O cheiro de papel, tinta, a pintura e a terebintina a envolveram.

—Ali está o estúdio de meu marido. Como pode ver é muito maior do que o que há em casa. Sim que era muito maior… mas estava igual bagunçado. —E aqui está o meu estúdio. Meg podia ver uma sala grande e muita inundada de luz natural, Havia pinturas em todas as

paredes. —Você gostaria de ver no que estou trabalhando agora? —Sim, por favor. — por que a mãe de John, que tinha brilho travesso nos olhos? A senhora Parker-Roth puxou o tecido que cobria uma grande pintura que havia no meio da

sala. Meg se encontrou diante da imagem de um homem nu, deitado em um divã, com as pernas flexionadas casualmente para mostrar seu… bom, felizmente essa parte de sua anatomia só estava esboçada com traços vagos. A atenção de Meg se dirigiu para o rosto.

Deus Santo. Fechou os olhos com força. Não podia ser. Ela abriu um olho lentamente. Era. Seu sogro olhava-a da tela com uma expressão muito sedutora no rosto. Sua sogra soltou uma risada. —Estou há semanas tentando terminar esta pintura, mas, bom, eu… — por sorte voltou a cobrir

a pintura, mas por desgraça apontou o divã vermelho e dourado que havia contra a parede. — acabo me distraindo.

Meg tomou o caminho mais longo para voltar ir para casa… o mais longo de todos. Não tinha pressa em ver-se rodeada de pessoas. Ele ouviu o som das ondas e cheiro a maresia. Subiu uma colina e olhou em direção ao mar. Havia nuvens de tempestade no céu plúmbeo. O mar estava agitado e cinza. Exatamente igual seus pensamentos.

O que ia fazer com seu casamento? Sua sogra lhe disse para seduzir John, mas realmente podia confiar em sua opinião? Tinha

pinturas de nus de seu… Meg balançou a cabeça em uma vã tentativa para tirar a imagem da cabeça.

Felicity havia dito praticamente o mesmo, mas Felicity não era o que se diz o epítome de respeitabilidade.

E de qualquer maneira de todas as formas, o quê Meg sabia de sedução? Era ridículo. John riria dela se fosse suficientemente estúpida para tentar.

Já tinham casados há três semanas e não houve sequer um sussurro sedutor por parte de John.

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Claro que a princípio ele esteve doente, muito doente para empreender outra atividade na cama que não fosse dormir. E depois ficou ocupado com as plantas e a propriedade. Ela também ficou ocupada ajudando Jane e a senhora Parker-Roth com o bebê. Não houve muito tempo…

Tinham se passado três semanas. Meg mordeu o lábio. Mal tinha visto John desde que chegaram ao Priorado. Só tinham trocado

poucas palavras… e nada mais. Para ser brutalmente sincera, ele a estava evitando. O vento tentou lhe arrancar o chapéu da cabeça. Desatou as fitas e deixou que o ar fresco

corresse por seu rosto acalorada e secasse as lágrimas. Deveria estar feliz. Tinha muitos acres de terra para explorar e uma riqueza vegetal lhe para

examinar. Mas não estava feliz. A triste e alarmante verdade era que, pela primeira vez desde que tinha o

uso de razão, não importava o mínimo com o que crescia sob seus pés. Interessavam-lhe mais os bebês. O pequeno filhinho de Jane. Ter seu próprio filho. Certamente que John acabaria finalmente cumprindo com seu dever. Ela só tinha que ser

paciente. Ou não faria? Não precisava de um herdeiro. Não tinha casado com ela porque quis, mas para

evitar um horroroso escândalo… um escândalo que ela tinha causado. Ele devia odiá-la. E também tinha lady Grace Dawson. A senhora Parker-Roth assegurou que John já não estava

interessado em sua antiga prometida, que seu sentimento principal por ela era - e sempre foi - uma profunda vergonha. Que ele nunca amou essa mulher.

E como sabia senhora Parker-Roth? Ela admitiu que John não havia dito. Só falava com intuição de mãe.

Mas, então, por que John não se casou até agora até ser forçado a fazer? Meg enxugou os olhos. O que lhe acontecia? O amor não entrava em seus planos. Desejou uma

casa própria, coisa que já tinha. Também queria filhos, mas nunca ansiou em tê-los. Agora sim estava ansiosa. Começou a andar novamente e o movimento que ajudou a organizar seus pensamentos. Com certeza John era consciente de que lady Dawson estava fora de seu alcance. Estava casada,

e felizmente pelo que diziam todos. Seu amor estava destinado a não ser correspondido. E, de qualquer maneira, não era necessário o amor para cumprir com o procedimento de

procriação. Ele foi capaz de realizar o ato com sua amante; certamente que podia fazer também com ela. Seguro que seria muito mais confortável; em vez de ter que ir até a aldeia, só tinha que cruzar a porta que separava seus quartos. Ou ela entrar no dele. Nem sequer teria que abandonar a comodidade de sua própria casa.

Com sorte, não teria que fazer o esforço muitas vezes para conseguir seu objetivo. Era um plano simples, o que ele podia objetar? A menos que a odiasse por tê-lo apanhado nesse casamento. A falta de amor não tinha por que

ser problema, mas o ódio… Isso sim podia ser. Separou-se do mar e voltou a colocar o chapéu. A indecisão e a incerteza já tinham durado

muito. Ela se aproximaria de John essa mesma noite. Pediria-lhe um filho. Se não vomitasse primeiro.

***

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—Você vai visitar a cama de sua esposa, Johnny? —MacGill! — diabos. Primeiro seu jardineiro chefe e agora criado de quarto. Deveria livrar-se

de ambos—. Meu casamento não é assunto seu. —Claro que é. Você esta dando voltas no assunto desde que chegou em casa. —Não é verdade. MacGill arqueou uma sobrancelha. Maldição. —Eu estive doente. —Johnny, esta curado pelo menos há duas semanas… e tampouco estava tão doente. —Como não estava tão doente? Eu estava morrendo. MacGill riu entre dentes. —Sim, certamente sim… durante um dia ou dois. Mas agora, seu apetite — MacGill levantou

ambas as sobrancelhas — já está bem, certo? Decidiu ignorar a insinuação de seu criado. — Não, eu certamente não. Não tenho fome. —Porque você está criando um nó no estômago desde seu casamento… ou não casamento. Tem

que se deitar com a garota, Johnny. Deitar-se com Meg? Uma parte dele deu um salto ao pensar. Mas como ia conseguir fazer isso? Simplesmente batia na porta e entrava? Deveria ter feito isso

há duas semanas - ou mais. Agora já era um pouco tarde. Ia parecer um idiota. —Dê-me um lenço novo, sim?Estraguei este. MacGill lhe deu o que pedia. —Vá até ela esta noite, Johnny. Não tem sentido atrasar mais. Maldição. Acabava de estragar outro lenço. —Eu não… o caso é que… bom, como sabe, as circunstâncias de nosso casamento foram

bastante… incomuns. —E o que muda isso? Agora estão casados, não é assim? —Sim, mas… —Nada de ”mas”, Johnny. Estão unidos pelos votos… ambos. MacGill tinha razão: nenhum dos dois tinha já escolha. Se Meg preferiria ter se casado com

alguém com um título, bom, teve má sorte, mas teria que se conformar com sua situação atual. — A única coisa cavalheiresca a fazer é visitar sua cama, você sabe. Claro, também pode ir ver

sua amante… —Não, eu não posso. Isso seria trair os meus votos... E mesmo se eu quisesse, ela vai se casar

com o ferreiro. —Ah, sim? — MacGill sorriu — Você sabia que ela também via ele ao mesmo tempo que você? —Não sabia. — mas sim suspeitava que não era o único cliente de Cat. Era mais lógico, já que

ele ia visitá-la com pouca frequência e ela não ia ficar na cama esperando-o todo o tempo. Bom, a parte de estar deitada na cama sim era certa; o da espera, evidentemente não. O ferreiro tinha o caminho livre.

—Como dizia, o mais cavalheiresco é que vá à cama de sua esposa. Ela também tem necessidades que só você pode satisfazer.

—Necessidades? —Sim. —Que tipo de necessidades? —Oh, Johnny, certamente que sabe que as mulheres desejam os homens tanto como os homens

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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as mulheres. Faziam-no? —Nunca tinha pensado. — seria por isso que Meg esteve levando homens para os arbustos? Ela

tinha se mostrado tremendamente apaixonada em seus braços. —Bom, pois pensa novamente. A pobre garota está meio louca de desejo. Uma pontada de luxúria - não, impressão, definitivamente impressão - percorreu-o até chocar-se

em seu órgão mais sensível. —MacGill! Meg é uma mulher de família. —É uma mulher, Johnny, de boa família ou não. Eu vi a forma em que olha para você. Está

ardendo, moço. Ardendo por você. Parks bufou. Maldição, quase tinha acreditado no que dizia o escocês. Queria acreditar. —Boa tentativa, MacGill, mas foi muito dramático no final. Da próxima vez detenha antes que

vá a mão. MacGill riu. —Quase que eu pego você, hein? Parks não ia responder. —Ajude-me a colocar o casaco. É hora de descer para o jantar. MacGill lhe ajudou a colocar o casaco azul marinho. —Nem tudo era brincadeira, Johnny. Realmente você tem que fazer alguma coisa com seu

casamento. —Eu sei. — ele vestiu o casaco colocou os punhos — Me ocuparei disso. —Esta noite, Johnny. Essa é outra coisa sobre a qual não brincava: vi como sua esposa olha para

você. Ela te quer, precisa de você em sua cama. Se MacGill tivesse razão… Poderia ser verdade? Não. Tinha que estar enganado. Embora MacGill não estivesse acostumado a enganar-se. Bom, só havia uma forma de averiguar. Iria ao quarto de Meg essa mesma noite. Então saberia. Uma mistura de terror e antecipação retorceu o estômago. Ele desceu as escadas e tentou comer alguma coisa no jantar.

Capitulo Vinte e Um Esse foi o jantar mais incômodo de sua vida. Meg apoiou a cabeça nas mãos e reprimiu um gemido. Graças a Deus ela estava finalmente a

salvo em seu quarto. Graças a Deus que ao fim estava a salvo em sua habitação. Deveria trancar a porta e nunca mais sair. Voltar a sair nunca.

Toda vez que olhava para seu sogro, via a pintura inacabada do estúdio da senhora Parker-Roth… e o divã vermelho e dourado que havia ali. Desviava os olhos e via sua sogra, perguntava-se como uma senhora de aparência tão normal podia estar envolvida em algo selvagem…

Não. Meg puxou os cabelos e fechou os olhos com força em uma tentativa de afastar esse pensamento.

E lá estava John também. A senhora Parker-Roth os fizeram sentar juntos, é obvio. Bom, isso era de se esperar. Lorde Motton tinha jantado no quarto com Jane e o bebê, assim só estavam o senhor

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e a senhora Parker-Roth, John e ela na mesa. E a senhorita Witherspoon. Graças a Deus que estava a senhorita Witherspoon. A mulher não deixou de falar de sua viagem a Amazônia. Meg ficou pendurada em cada palavra.

Certo, apenas fingiu estar pendurada em cada palavra. O realmente pensava era como tocar no assunto dos filhos com seu marido.

Ela não chegou a nenhuma conclusão. Na verdade, estava tão desconsolada porque achava que não poderia mencionar nunca, até tinha considerado - só por um momento, claro - fugir para Amazônia com a senhorita Witherspoon.

E ainda continuava desconsolada. Meg levantou-se do assento da penteadeira para examinar sua figura no espelho. A criada da

senhora Parker-Roth – em algum momento tinha que arrumar sua própria criada – tinha-a ajudado a trocar e colocar a camisola… essa camisola tão virginal de flanela branca e abotoado até o queixo.

Não era absolutamente um objeto adequado para seduzir. Precisava alguma coisa muito diferente, algo que deixasse John louco de luxúria. Queria que ele

esquecesse todas suas reservas e simplesmente… agisse. Claro, que depois da primeira vez, já não teria tantas reservas para fazer mais vezes. A menos que fosse desagradável. Suspirou. Será que ele poderia achar desagradável? Obviamente não podia dizer. Pode ser que

ela fosse desajeitada e inepta. Não seria surpresa se fosse… não tinha nenhuma experiência. Mas aprendia rápido. Se John ficasse decepcionado, só tinha que lhe explicar o que deveria mudar. E se ele não dissesse, perguntaria.

Embora, agora que pensava, ele não parecia nem aborrecido nem insatisfeito no salão de lady Palmerson, nem no jardim dos Easthaven… Nem na rua diante da casa de lorde Fonsby. Certamente que as atividades realizadas nesses lugares tinham algo a ver com o ato de procriação.

Já basta. Preocupar-se não serviria de nada. Só podia dar o melhor de si. Meg separou-se do espelho, foi até o armário e abriu uma gaveta. Seu primeiro passo no

caminho da sedução devia ser guardar essa volumosa camisola. Felizmente Emma lhe dera algo mais apropriado como presente de casamento.

Abriu um pacote pequeno e de aparência agradável. Essa camisola também era branca, mas aí acabavam as semelhanças. Retirou-a e corou. Não podia ser tão escandaloso como parecia.

Mas ela receava era. Meg tirou a camisola de flanela e colocou a outra pela cabeça. O tecido sedoso se deslizou por seu corpo, acariciando-lhe a pele. Ela voltou para o espelho para examinar o efeito.

Sim, era muito, muito chocante. Duas tiras finas uniam a um diminuto corpete que apenas cobria a parte superior dos seios. A saia ondeava por cima de seus quadris e em torno de suas pernas - e tinha um corte lateral que subia até o início da coxa. O tecido era quase transparente e revelava muito mais do que escondia.

Não podia entrar no quarto de John assim. Ela agarrou uma bata grossa de lã e a colocou antes de abrir a porta de conexão entre os dois quartos.

O senhor MacGill puxou a xícara de chá no colo. Deu um salto para se levantar da cadeira. —Oh. Está tudo bem? — Meg aproximou rapidamente. —Sim, sim. — o homem limpou as calças com uma toalha que pegou da pia — Não se preocupe.

O chá estava frio. Não sofri nenhum dano. — fez uma pausa com a toalha junto ao joelho, levantou o olhar e sorriu — E há alguma razão pela qual você está aqui, senhora?

Meg corou.

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—Não. Bom, sim, estou procurando meu marido. O senhor MacGill sorriu ainda mais. —Alegra-me muito ouvir isso. Por que não o espera aqui? Tenho certeza de que ele chegará

logo. Ou, se preferir, posso ir buscá-lo… —Não! — não queria que ninguém arrastasse John de qualquer lugar que estivesse — Não,

obrigado. Não precisa. Não há pressa. Posso esperar. — olhou em direção de seu quarto. Não queria sentar-se ali a conversar com o criado de quarto de John — Voltarei depois…

—Oh, não. Tenho certeza de que John prefere que o espere aqui. Por favor, fique confortável. Se estiver cansada, pode se deitar na cama. — o senhor MacGill parecia esconder um sorriso — De qualquer forma, eu já estava de saída.

—Bom, se você tem certeza de que não se importa... —Querida, eu nunca tive tanta certeza na minha vida. O senhor MacGill fez uma pequena reverência e saiu, assobiando, para a porta.

*** John se escondeu em seu estudio. Sua mãe tentava fazer seu pai falar com ele sobre seus deveres

conjugais. Felizmente, seu pai resistia. Ele serviu-se um copo de conhaque e ouviu a chuva batendo nas janelas. A tempestade havia

chegado depois do jantar. Isso era bom para as novas plantas… Ultimamente o tempo esteve muito seco.

A porta se abriu e seu pai olhou para dentro. John baixou seu copo. — Você vem falar comigo sobre o que pensa, certo? Seu pai olhou por cima do ombro, assentiu em direção a alguém que estava no vestíbulo, entrou

no estúdio e fechou a porta firmemente. —Me sirva um pouco de conhaque, Johnny. —Está bem, mas não vou ouvir mais nenhuma conversa. Seu pai se acomodou no assento mais perto do fogo… e o mais longe da porta. —Eu suspeito que sua mãe está com o ouvido no buraco da fechadura. —Eu também. — John entregou o conhaque para seu pai, caminhou uns passos e abriu a porta.

Sua mãe caiu dentro do estúdio. —Não ficaria mais confortável sentada aqui conosco, mãe? —Oh, não. Eu estava indo para a cama. John arqueou uma sobrancelha. Seu estúdio não estava no caminho do quarto de sua mãe. Nem

tampouco escutar atrás das portas era uma atividade típica realizada antes de ir para a cama. —Tem certeza de que não quer nos acompanhar? —Sim, Tenho certeza. — lançou a seu pai um olhar de advertência — Certamente têm muitas

coisas de homens para discutir. Eu só atrapalharia. Bom, ele tampouco tinha vontade que ela ficasse. Seu pai teria o bom juízo de não sufocá-lo, mas

sua mãe com certeza não. —Então… boa noite. Sua mãe sorriu. —Boa noite, Johnny. Não deixe que seu pai se entretenha muito aqui embaixo. Meg já foi se

deitar, você sabe, né?

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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Ele não sabia. Ele acenou para a mãe e depois observou percorrer o corredor para alcançar as escadas. Ele voltou para o estúdio. Seu pai estava servindo-se de mais conhaque.

—Bebeu isso muito rápido. —São os nervos. — seu pai tomou outro gole — Ela vai me perguntar o que aconteceu assim que

subir para o quarto. — Diga que você me disse para eu cumprir com o meu dever e eu disse-lhe que faria. Seu pai sorriu. —E vai… Você vai fazer? —Vou fazer o quê? —Cumprir com seu dever. —Pai! Isso não é assunto seu. — John olhou para a garrafa de conhaque, mas resistiu a tentação

no momento — Nem sequer pode alegar que eu preciso seguir com a linha sucessória. Você não tem título e, além disso, tem outros dois filhos. A sobrevivência do nome dos Parker-Roth estar garantido pelos menos outra geração.

Seu pai deu de ombros. —Eu sei. É só que, bom, essa forma que tem de fazer as coisas… bom, não é natural. Está casado,

mas não parece. Isso preocupa sua mãe e me preocupa. —Meu casamento aconteceu em circunstâncias muito incomuns. —Pode ser, mas aconteceu Ou pelo menos em parte. A consumação ainda não chegou. —Pai, por favor! —Suponho que você conhece perfeitamente o mecanismo, Johnny. Tem - ou tinha - uma amante,

mas se tiver alguma pergunta… —Não tenho nenhuma maldita pergunta. — Então que seu pai - e provavelmente sua mãe também,

maldição - sabiam de Cat. Deveria ir para a América. Talvez ali conseguisse ter um pouco de privacidade, embora não se surpreenderia se sua mãe também tivesse espiões no Novo Mundo…

—Eu já supunha que não teria. — seu pai tomou outro gole de conhaque — Só queremos que seja feliz, você sabe.

John suspirou. —Eu sei. Fica tranquilo porque sou perfeitamente capaz de cumprir com meu dever. E esse

problema se resolverá logo. —Esta noite? —Pai! —Sinto muito. Já sabe como é sua mãe quando coloca algo na cabeça. —Pois isto não é assunto dela tampouco, pelo amor de Deus. — respirou fundo — Pode

tranquilizar minha mãe; ocuparei-me desse assunto – em seu tempo. Seu pai resmungou. —Simplesmente se ocupe de que esse «em seu tempo» não se torne muito longo. Posso freá-la

por uns dias mais, mas já sabe que voltará no assunto se acreditar que ainda não… —Sim! Sim, eu sei. — sua mãe não seria capaz de trancá-lo nu no quarto de Meg até que

pudesse mostrar-lhe o lençol manchado de sangue, - Pelo menos, isso esperava - mas faria qualquer outra coisa necessária para ver o assunto solucionado a sua satisfação.

Seu pai assentiu e deixou o copo de conhaque meio vazio. —Muito bem. Vou para cama então. Posso dizer a sua mãe com a consciência tranquila que fiz

tudo o que pude. —Sim você pode.

Tiamat - World Sally Mackenzie [Serie Nobres Apaixonados 04]

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John suspirou longamente assim que seu pai saiu e fechou a porta na suas costas. Primeiro os irmãos MacGill e agora seus pais. Não teria paz até que tivesse arrumado as coisas com Meg.

Parks serviu mais uma dose de conhaque e se deixou cair na cadeira que seu pai acabava de abandonar. Não era como se o estivessem obrigando a fazer algo contra sua vontade. Antes do jantar já tinha decidido que iria em busca de Meg essa noite. Já era hora de resolver esse assunto.

Que diabos ia lhe dizer? Tomou um grande gole de conhaque, manteve-o uns segundos sobre a língua e deixou que os

eflúvios lhe esquentassem a boca. Em um mundo perfeito, ele teria cortejado Meg pouco a pouco. Um passeio de carruagem pelo

parque, uma valsa, um toque acidental, um beijo roubado. Em um mundo perfeito, ela o teria escolhido, não seria forçada pelo escândalo a salvá-lo do suicídio social.

Em um mundo perfeito, ele não teria nenhum problema para se aproximar da cama de sua esposa.

Engoliu todo o conhaque de uma vez, quase apreciando a dor enquanto ia queimando sua garganta ao descer.

Em um mundo perfeito para ela, ele teria um título. Ele realmente queria se meter entre os lençóis de uma mulher que esteve levando homens para

os arbustos com a intenção de conseguir um título? Porque levou Bennington com ela para os arbustos?

O resto de seu corpo lhe garantiu que sim, queria. Maldição. Bom, não havia nenhuma dúvida de que sentia atraído fisicamente pela garota… Não foi capaz

de tirar as mãos de cima dela nenhuma das vezes em que se viu a sós com ela. Fechou os olhos por um momento. E quando não estavam tão sozinhos, como muitos dos convidados de lorde Fonsby puderam testemunhar.

Ainda assim, não podia passar toda a vida na cama com ela, verdade? Franziu a testa em direção ao órgão que tinha respondido com um entusiasmado «sim». Ele deixou cair a cabeça contra o encosto da cadeira e ficou olhando para as sombras delineadas

no teto. E não era apenas seu corpo que desejava. Ela tinha uma mente brilhante. Ele notou no ano

anterior, na festa de campo de Tynweith. Não estava acostumado a falar de assuntos sérios como a horticultura ou a jardinagem com as mulheres, então foi muito... estimulante poder compartilhar com ela um de seus entretenimentos favoritos. E ela tinha muita coragem e integridade.

Ele sorriu ao recordar como ela enfrentou sua família - e a sua mãe - no salão de lady Palmerson. E tampouco se acovardou diante de todas as fofocas da sociedade.

Também tinha se metido em um monte de atividades estúpidas, sem sentido e absurdas. Por que lhe ocorreu vestir-se de homem e assistir uma reunião da Sociedade de Horticultura era algo que estava além de sua compreensão. Mostrar suas pernas ao mundo para que todos pudessem ver…

Ele tomou outro gole de conhaque e fechou os olhos. Não se importaria em ver essas preciosas pernas. Como seriam nuas? Como se sentiria se as envolvesse?

Ele precisava dela a ponto de doer... E não só doía a parte mais óbvia. Sua mente e seu coração doíam também. Queria uma companheira, uma amante, uma amiga. Ele queria Meg.

Parks deixou o copo e saiu do estúdio. Ele devia lembrar-se que o comportamento de Meg imprevisível. Quem pensaria que uma garota de família arrastaria homens para os arbustos ou

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passearia pelas ruas de Londres com calças? Ela poderia dizer claramente que não queria ter nada com ele.

O que ele então? Ela se casou com ele. Era inteligente. Devia compreender que não tinha mais opções… Tinha

chegado o momento do compromisso. Ele subiu as escadas. Já estaria adormecida? Deveria despertá-la ou esperar até a noite seguinte? Não, seu pai tinha razão; tinha que resolver esse assunto, e melhor antes que depois. Jane e

Edmund iriam assim que o bebê pudesse viajar. Então sua mãe não teria nada para se distrair que não fossem seus assuntos. Ela era incansável.

Parks parou no corredor, diante da porta do quarto de Meg. Deveria ir procurá-la a partir do seu quarto, mas não queria ver o sorrisinho de sabichão de MacGill. Olhou para ambos os lados. Não havia ninguém que pudesse vê-lo.

Ele escorregou pela porta. O quarto estava escuro, mas o fogo emitia suficiente luz para poder passar sem tropeçar ou bater nos móveis. Não se ouvia nada. Devia estar dormindo.

A porta de seu dormitório estava aberta. Parou para escutar. Estava muito quieto. Deveria ouvir alguma coisa: o farfalhar da roupa de cama, uma respiração

suave… algo. Estava tudo tão quieto como em um cemitério. Santo Deus! Se tivesse lhe acontecido algo de ruim? El agarrou um candelabro, acendeu-o no fogo e o levantou. As sombras inundaram o quarto. Ele

aproximou-se da cama e afastou as cortinas. A cama estava vazia e os cobertores lisos, sem nenhuma ruga. Onde diabos estava sua esposa?

*** A porta que dava para o seu quarto abriu-se de repente. Meg deu um pulo e agarrou o livro

Esboços e conselhos sobre jardinagem paisagista de Repton contra seu peito. —O quê está fazendo aqui? — John parecia extremamente irritado. Obviamente esse não era o

momento para pedir-lhe filhos. —Bom… Eu não conseguia dormir. Eu estava olhando para seus livros. Espero que não se

importe… Ele franziu a testa e olhou em torno do quarto. —Onde está MacGill? — Ele saiu quando eu cheguei. Ele não disse para aonde ia. — esperava que luz fosse tênue para

que John não pudesse notar seu rubor. MacGill se deu conta porque ela estava ali, por que John não? Voltou a colocar o livro de Repton com cuidado na estante. Talvez simplesmente não queria que ela estivesse ali.

Ele resmungou e cruzou as atrás das costas. Ela poderia sair, mas talvez, nunca mais pudesse reunir coragem para voltar a abrir essa porta

novamente. Ela tinha que perseverar. Tinha que encontrar uma desculpa para tirar a bata. —Não faz muito calor aqui? John piscou. —Não realmente. Você está com calor? —Sim. — era uma mentira piedosa — Estou.

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—Entendo. — franziu a testa. Parecia estar tentando encontrar as palavras. Estava tentando encontrar uma forma educada de mandá-la de volta para seu quarto?

Ela não podia ir pelo menos até que tivesse tentado seduzi-lo. Mas tampouco podia tirar a bata com ele olhando assim. Era muito embaraçoso.

Ela precisava de uma distração. Se ela conseguisse que ele se virasse por um momento, poderia tirá-la.

—Poderia me servir um pouco de brandy? —Brandy? —Sim. — assentiu com a cabeça para dar ênfase — Vi que tem uma garrafa naquela mesa. John olhou por cima de seu ombro. —Oh. Sim. Claro. Ela tirou rapidamente a bata no momento em que ele se virou… e estremeceu. John tinha razão:

não fazia calor no quarto e agora ela estava praticamente nua. Seus mamilos estavam duros e se tornaram em rígidos botões.

Talvez ele não notasse. Mas como não ia notar? Quase atravessavam o tênue tecido. Deveria colocar a bata novamente? Não. Afastou-a para o lado com chute e se aproximou do fogo, resistindo a necessidade de

envolver-se com os braços. Esta era sua oportunidade. Não podia desperdiçá-la por alguns minutos de calor.

John terminou de servir o brandy e se virou com o copo na mão. —Aqui tem… — seus olhos a encontraram junto ao fogo — Santo Deus. Ele parou boquiaberto enquanto o copo cheio de brandy caía no chão.

Capitulo Vinte e Dois Ele tinha morrido e ido para o céu. Meg estava de pé diante do fogo, vestida com… bom, quase nada. Tinha os ombros e os braços

completamente nus e só um fino tecido branco agarrado aos seios e quadris… e parecia uma teia de aranha na madrugada. A luz do fogo que atrás dela iluminava tudo o que as calças só tinham deixado entrever: a delicada linha das panturrilhas, a curva dos joelhos, toda a extensão de suas coxas, os escuros cachos de seu…

Ele se lembrou que devia respirar. —Oh, Meu Deus. Olha o que você fez. —Hã? — ela caminhava rapidamente para ele. Por Deus, havia uma abertura na saia da

camisola. Pôde vislumbrar do tornozelo até a coxa enquanto ela avançava para ele, insinuante, sedutora…

Ele abriu os braços. Tinha que abraçá-la. Tinha que senti-la contra ele. Tinha que… Ela se inclinou para examinar o tapete. — Você tem uma toalha para limpar o tapete? —Uma toalha? — ele umedeceu os lábios. Sua nuca, a curva de suas costas, a escura fenda entre

suas nádegas… tudo era precioso. —Sim. A mancha está se espalhando.

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—A mancha? Ela olhou para ele franzindo a testa. —Do brandy que caiu. —Oh. — de onde ele estava podia ver claramente os seios. Embora não com toda claridade que

gostaria. Gostaria que ambos estivessem nus diante dele, suficientemente perto para beijá-los, lambê-los…

Se ela se aproximou do rosto alguns centímetros, sua preciosa boca ficaria justo à altura de… —O que há com você? Por que está aí parado como um idiota? — voltou a inclinar e recolheu o

copo de brandy vazio — Talvez devesse chamar MacGill. —Não. — mas ela tinha razão. Não podia ficar aí parado, atordoado pela luxúria. Ele se inclinou

para puxá-la. — MacGill ia nos atrapalhar e muito. Ela sentiu as mãos dele em seus ombros… Suas enormes mãos sem luvas sobre seus ombros

nus. Seus fortes e grossos dedos, quentes e secos, acariciaram-lhe a pele. A ligeira fricção fez com que sentisse um batimento surdo no ventre. Os mamilos endureceram, mas desta vez não era pelo frio.

Ele estremeceu. —Meg. — sua voz era mais profunda do que o normal. Ela tinha medo de olhar para cima. Olhou para a mancha úmida. O tapete não era o único que

estava molhado. Suas mãos se deslizaram por seus ombros até sua garganta. Tomou o queixo e a fez levantar o

rosto e enfrentar seu olhar. —Por que veio ao meu quarto esta noite? —Eu… — tentou desviar o olhar, mas ele não a deixou. —Por que veio ao meu quarto? Ela estava ofegando. Ele também respirava com dificuldade. Era o momento de ter coragem. Ela

se levantou e posou as mãos sobre seu casaco. —Para seduzi-lo. — pigarreou para limpar a garganta — Para pedir que me desse filhos. —Ah. — ele fechou os olhos durante um momento. Quando voltou a abri-los neles havia uma

mistura de calor e dúvida— E não vai se importar que seus filhos não tenham nenhum título? Ela notou a dor em suas palavras. —É claro que não. E por que eu ia querer um título? —Todas as mulheres querem. —Esta mulher não. — ela ergueu as mãos para tocar seu queixo e ele virou a cabeça para beijar-

lhe a palma. Ela sorriu. Coragem. Ela daria de presente seu coração. Talvez ao saber que ela o amava curaria a ferida que Grace deixou em seu coração — Eu te desejei… te amei… desde que te conheci na festa de campo de Tynweith.

Ele fugiu de seu toque e se afastou. —Não. —Sim. — ela o abraçou pela cintura e esfregou a face contra suas costas. Ele tinha muita roupa

— Ninguém entendeu nunca minha paixão pelas plantas. Sempre fui a filha estranha do vigário, a pobre menina que perdeu a mãe quando era apenas um bebê, a bala perdida cujo pai deveria ter amarrado em curto e ensinado a forma adequada de fazer as coisas, o cão verde que não sabe falar de nada mais que plantas. — sua voz falhou. Por que estava chorando? Nada disso importava. Ela tinha se acostumado.

John virou e a abraçou com força, pressionando seu rosto contra seu peito, enredando a mão em

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seu cabelo e acariciando a cabeça. Era tão bom… —Você me entendia. Podia falar com você… falar com você de verdade. E depois que Lizzie e

Robbie se casaram, você se foi. Ficou claro que não sentia o mesmo que eu. Ele roçou a têmpora com os lábios. — Eu odeio Londres. E eu estava com medo. Eu disse para mim mesmo durante anos que nunca

me casaria até que a conheci. — suspirou — Não sou muito flexível… Pergunte a minha mãe. Ela dirá que uma vez que eu coloco alguma coisa na cabeça, é preciso de um milagre para tirar — ele a fez levantar a cabeça de seu peito — E você, meu amor, é esse milagre.

Os lábios dele tocaram os seus suavemente. Ela se abriu para ele e se relaxou contra seu corpo. Sua língua acariciou a sua devagar. Não era um beijo apaixonado… Era mais uma… conexão.

Oh… E paixão também. Seus mamilos endureceram ainda mais e os seios doíam. A necessidade encheu seu ventre e um vazio que só ele podia encher cresceu dentro dela.

— Vamos para a cama? — sussurrou ele. —Sim, por favor. Uma necessidade nunca experimentada o encheu. Meg o desejava. A ele. Ela o amava. Estava além de sua compreensão. Sua mente não podia entender, mas seu coração sim. Por uma

vez deixou que esse órgão fosse seu guia. Ele pegou a mão dela e levou-a para a cama. Quando ela tentou subir, ele a deteve.

—Espera. — ele se inclinou para apoiar-se em um só joelho diante dela — Ei nunca a pedi em casamento como é devido, Meg.

Ela puxou um pouco para liberar sua mão, mas ele não a deixou escapar. — Nós estávamos em uma situação estranha —Sim, certamente. — beijou-lhe a palma da mão — Assim vou pedir-lhe agora. Quer se casar

comigo, senhorita Margaret Peterson? Ela riu, insegura. —Que tolo. Já me casei com você. — corou — Se levante. Ele não se moveu. Em vez disso beijou os dedos um por um, parando um pouco no anelar. —Realmente se casará comigo? Será minha esposa e terá meus filhos? Amará-me agora e para

sempre? Ela mordeu o lábio. —Sim. Sim, é claro que sim. A felicidade começou a borbulhar por dentro. — E eu te amo. Em Londres, eu te dei meu anel. Esta noite vou te dar meu corpo. Meg inspirou bruscamente. —E… eu te darei o meu. Ele sorriu. —Esplêndido. — tinha escolhido essa postura, diante ela e apoiado em um joelho, porque era o

tradicional, mas descobriu que também proporcionava uma vista maravilhosa e um acesso excelente a seu pouco vestido, formoso e sedutor corpo. Procurou seus tornozelos e subiu as mãos lentamente por suas pernas, por sua suave pele, levando-se consigo o tênue tecido que ela vestia. Pelas panturrilhas, passou os joelhos até suas muito belas coxas.

Ela ofegava e gemia um pouco com as mãos em seus ombros, apertando os dedos pouco a pouco conforme suas mãos foram subindo.

Ele parou em sua cintura. Seus belos cachos privados foram expostos aos seus olhos. —John…

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Ela parecia envergonhada? Ela puxou-o, como se quisesse tirá-lo da sua contemplação. Ele beijou o ponto onde a perna direita se unia com seu corpo. —John! Ele deu a mesma atenção para a esquerda. —John... Isso é… Tenho certeza de que você não deveria… Os cachos lhe fizeram cócegas no nariz. Adorava esse calor e o ligeiro aroma almiscarado de seu

lugar secreto. Nunca antes havia feito isso. Nunca quis fazer amor com Cat. Simplesmente procurava a

liberação, sua liberação, e tão rápido quanto possível. Agora não havia pressa. Queria explorar, apreciar. Brincar. Ele tinha brincado alguma vez? Certamente que não desde a infância. E nunca com uma mulher. Ele queria dar prazer a Meg. Oh… E também queria o seu próprio. A antecipação desse prazer

lhe percorria todo o corpo. Sorriu e deslizou a língua sobre os cachos de Meg e no interior do lugar escuro e úmido que escondiam. Encontrou o minúsculo botão…

Seus quadris tremeram e ela gritou. — O que você está...? Oh! — ela puxou seu cabelo. Ele voltou a lambê-la. Ela tentou escapar, mas ele agarrou seus quadris com força. —O que você está fazendo? Tenho certeza que você deve parar de fazer isso. — puxou seu

cabelo de novo — É muito indecoroso. Ele olhou para cima e a olhou para seu rosto além de seus lindos seios peitos com seus mamilos

endurecidos que destacavam contra o tecido transparente. —Você gosta? —A mim… Mas tenho certeza de que não deveria. —Mas você gosta? —Sim… Quero dizer, é uma sensação muito estranha. — voltou a gritar quando ele lambeu uma

terceira vez. Ele deu a essa parte de sua anatomia de um beijo de despedida e foi para cima e foi subindo e

beijando o ventre, o umbigo, a cintura, as costelas. Removeu completamente a camisola e liberou as mãos para colocar sobre os preciosos seios enquanto sua boca e sua língua exploravam os mamilos.

—John. Oh. John. — empurrou-lhe, rompendo sua concentração por fim — John! Ele se afastou. Ela estava ruborizada e ofegava, mas tinha um ar de determinação nos olhos.

Estaria gostando? —O que há? —Você… Ainda tem muita roupa. — respirou fundo, fazendo seus seios moverem de uma

forma deliciosa — Você tem que tirar. —Tenho que tirar? —Sim. — ela pigarreou — Quero… vê-lo nu. — Meg engoliu em seco — Completamente nu. —Ah. — ele sorriu. Então sim, ela gostava do que faziam — Que maravilhosa sugestão. —

afastou o lençol e a levantou até sentá-la sobre o colchão. Beijou ambos os seios uma vez mais e depois se afastou — Eu adorarei fazer sua vontade.

Ela estava ficando louca. A necessidade a estava comendo por dentro, tudo o que ficava era um vazio doloroso que não parava de pulsar.

—Rápido. Ele riu. —Que impaciente!

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Lentamente, muito lentamente, ele soltou o lenço e desabotoou o colete. Colocou-os com cuidado sobre uma cadeira. Depois, finalmente, agarrou a borda de sua camisa e a tirou pela cabeça.

—Oh. Oh, Meu Deus. —Você gosta do que vê? —Sim. Muito. — ele é bonito. A pele dos braços dobrados sobre os músculos. Os ombros eram

largos e retos. Um pelo curto e castanho cobria o peito e seguia por seu plano estômago até suas calças. Ela se aproximou para tocar o estômago. Era como mármore, mas quente.

—Tire o resto da roupa. —Sim, senhora. Ele tirou a calça e as ceroulas rapidamente e se ergueu. Ela conteve a respiração. O órgão masculino tinha uma aparência muito estranha. E o de John era surpreendentemente

longo. Se ela entendeu o processo corretamente, esse apêndice tão longo tinha que entrar em… Ela

estremeceu. Agora entendia por que o processo podia doer na primeira vez. Ou todas às vezes. Bom, ela nunca foi melindrosa e agora não era hora de começar. Emma e Lizzie sobreviveram a

experiência… Emma até disse que era agradável. E John devia ter realizado o ato várias vezes sem matar nenhuma mulher. A raça humana não teria sobrevivido se as peças necessárias para a procriação não encaixassem bem uma com outra.

Agora que pensava bem, os bebês atravessavam essa passagem eram bem maiores que esse órgão. A parte relevante de sua anatomia devia expandir-se de forma apropriada.

E ela sentia como se já se estivesse em expansão. Ela olhou para o rosto dele. Ele a observava atentamente. —Eu posso tocá-lo? Sua garganta se moveu quando ele engoliu. —Por favor — ele disse quase em um grasnido. Ela deslizou um dedo ao longo de seu comprimento e, em seguida, tomou delicadamente na

mão. Essa parte dele estava dura também... e sedosa e quente também. Sim, ela ainda sentia a expansão. Ele a tinha lambido, ela poderia…? —Meg! Podia. —Meg, amor, por favor, pare. — ele soava desesperado. Ele colocou as mãos em sua cabeça e a

afastou cuidadosamente. —Você não gosta? Ele estremeceu. —Eu adoro, mas se você parar agora, as coisas vão terminar antes de começar. —Eu não entend… Ele deteve seu protesto com a boca. E com a língua. Levantou-a da cama e apertou com força seu

corpo contra o dele. O contato foi tão bom quanto a aparência. Ela esfregou-se contra seu peito e o grande órgão

roçou o ventre. Deixou as mãos por suas musculosas costas até alcançar as nádegas. Ele tampouco tinha as mãos quietas; desciam até seu quadril, seguiam suas curvas e voltavam

até seus seios.

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Oh, sim, sentia que a expansão era máxima. E úmida. Já não havia dúvidas em sua mente: Com certeza poderia acomodar esse esplêndido órgão em seu interior sem dificuldade. Estava ansiosa para experimentar. Muito ansiosa.

Ele subiu na cama e se uniu a ela sobre o colchão. Sua boca passou de sua garganta a seus seios. Beijou-lhe a parte superior, os laterais… e foi descendo por suas costelas.

Ela queria gritar. Sentia os seios inchados e os mamilos duros que suplicavam pelo o úmido contato de sua boca. Certamente que ele sabia que ela queria que ele a beijasse… aí.

Ela se retorceu. Ele estava lambendo a base das costelas. Isso também era bom, mas havia outro lugar… outros lugares… que precisavam mais de seu contato.

Ah, ele entendeu. Sua língua roçou um mamilo enquanto seu polegar se ocupava do outro. Ela quase saltou da cama. —Você gosta disso, Meg? —Oh. — ela estava além do pensamento coerente. Ela se arqueou novamente, incentivando-o a

explorar mais. Ele riu e chupou um de seus mamilos. Maravilhoso… Era muito, muito melhor que qualquer um dos outros encontros. Nua e na

horizontal, em uma confortável cama e atrás de uma porta maravilhosamente trancada. E com uma aliança de casamento e as bênçãos de ambas as famílias…

Sim, a situação era muito melhor. Mas a região entre suas pernas continuava pulsando. Precisava dele ali. Imediatamente. Moveu

os quadris. Magia! Seus lábios abandonaram seus seios e se moveram na direção que ela queria. Oh, Deus! Antes sua boca era uma maravilha, mas agora o toque úmido de sua língua – a fez

erguer de repente. —John! Ele sorriu de sua posição entre suas pernas. —Está bem, Meg? Está muito corada. Talvez prefira que eu pare… —Não! — ela ofegou — Não se atreva a parar! Ele lambeu novamente e ela conteve a respiração. —Mas acreditei que você queria filhos… —Hã? —Filhos, Meg. Um filho ou uma filha. Não porque tenhamos que fazê-lo, mas sim porque

queremos. — com a boca sobre a dela seu peso empurrava-a contra a cama — Você gostaria disso? —Ehhhh. — sentiu que seu órgão tocava o lugar doloroso e úmido. Ele estava apenas

friccionando contra ela, incitando-a — Sim, sim. Por favor. Agora. Ele sorriu junto a seus lábios. —Será um prazer. Ele entrou nela devagar, preenchendo o vazio. Muito lentamente. Ela moveu os quadris para

aproximá-lo mais e sentiu uma ligeira sensação de queimação, uma dor momentânea, e depois só prazer.

Meg o sentiu pesado e quente sobre ela. Quente. Ela se deleitou com seu calor, a plenitude que estava lhe proporcionando… E então ele se moveu. Para fora e para dentro de novo. Ela estava presa entre a parede que era seu peito e a cama, penetrada por ele, rodeada por seu corpo.

Era muito mais que maravilhoso, mas precisava algo mais. Cada toque de seu corpo a deixava mais e mais tensa. Essa tensão era insuportável. Ela…

—Ohh…

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Uma onda se quebrou sobre ela, alagando-a com uma sensação deliciosa e depois, na calma que seguia a tempestade, sentiu uma inundação diferente dentro dela: o pulso quente da semente de John.

Ela sorriu e o abraçou o quando ele caiu sobre ele. Ele se sentia como nunca. Nunca teria acreditado que esse ato pudesse ser tão… esmagador. Queria ficar exatamente onde estava, mas devia estar esmagando Meg. Separou-se de seu corpo

e deitou ao seu lado na cama, apoiado sobre um cotovelo para poder olhá-la. Ela ainda tinha os olhos fechados; em sua boca um ligeiro um sorriso.

—Eu machuquei você? Ela balançou a cabeça sem abrir os olhos. —Na verdade não. Ele Pôs uma mão sobre um seio e ela fez um ligeiro som, quase um ronronar. —Foi o que você esperava? Ela virou a cabeça para olhá-lo. —Oh, não, eu nunca teria esperado algo assim. —Então como? Ela riu. —Procurando um elogio? Dedicarei-lhe isso sem nenhum problema. Foi maravilhoso. — ela

ficou de lado e lhe acariciou o braço — Fiquei encantada. Quero repetir, muito em breve. — ele arqueou a sobrancelha — Muitas vezes.

Parks encheu o peito de felicidade. Nunca havia se sentido tão livre. —Eu vejo que você é insaciável. Essa é uma qualidade muito boa em uma esposa. Ela sorriu. — Eu quero fazer você esquecer-se de Grace. Ele lhe deu um beijo no topo da cabeça. —Grace? Quem é Grace? — Então já consegui afastar de sua mente seu antigo amor? — Meg sorriu, mas seu olhar era

sério — Espero que não se esqueça de mim com a mesma facilidade. —Nunca poderei te esquecer, Meg. — seguiu com o dedo a linha de suas sobrancelhas. Queria

que ela o entendesse — Eu não amava Grace da forma que te amo. Eu gostava dela. — sorriu um pouco — Mas eu gostava mais de suas terra. Era um lugar excelente para um jardim de rosas. — seu sorriso aumentou. A dor e a vergonha daquele dia desapareceram há anos, mas agora, nessa cama, evaporava-se por completo. A luz do sol entrou por fim nessa sombra tão persistente. Quase sentia enjoado. Ele aproximou-se e beijou Meg no nariz, e a tomou nos braços e a atraiu para seu peito.

Meg se enroscou para estar mais perto. —Ela te machucou. —Realmente não. Era mais vergonha do que dor. —Mas recusou o casamento. Parks tomou um de seus seios na mão e sorriu ao ouvir a súbita inspiração dela. —Obviamente estava confuso. — ele tocou o mamilo com o polegar e ela cobriu a perna dele

com a sua,lhe pressionando a coxa — E, o mais importante; eu ainda não havia conhecido você. Ela bufou indignada. —Conheceu-me no ano passado, mas não pareceu muito impressionado. Ele acariciou-lhe o quadril com a mão.

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—Nunca disse que não sou um idiota, mas, embora tivesse considerado, — a beijou na testa e deslizou seu dedo indicador em direção a seu centro quente e úmido — acreditava que não tinha nenhuma chance com você.

Ela tinha os olhos um pouco vidrados. Moveu o dedo e ela mordeu o lábio. —Por que…? — ela estremeceu quando ele se moveu de novo — Por que diz isso? —Você queria um título, não é? —Não… pare, não posso pensar. Ele afastou o dedo e o deixou junto a entrada. Ela se encolheu um pouco e suspirou. —E por que eu iria querer um título? —Todas as mulheres querem títulos. Ela riu, cinicamente. —Como eu já disse, esta mulher não. Ele quase acreditou. —Então, por que você levou todos aqueles homens com título para os arbustos? —Todos tinham título? — Meg começou a mover a mão em uma direção muito interessante —

Nem me dei conta. — beijou-lhe no peito — Se não podia me casar com você, qualquer um estava bom.

Ele agarrou seus dedos antes que chegassem a seu destino. —Mas por que Bennington? Esse homem é um despropósito. —Bom, sim, mas tem uma extensa coleção de plantas. —Não tanto como a minha. Ela sorriu. —Eu sei. Ele se sentou de repente e a olhou. —Você se casou comigo por causa de minhas plantas? Ela tentou não rir, mas John parecia muito ofendido. Ele devia saber que ela estava brincando…

Imediatamente se aproveitou da vantagem que proporcionava o fato dele ter soltado sua mão para poder seguir deslizando para baixo pelo resto de seu corpo.

—Bom, é que eu ainda não conhecia as outras coisas maravilhosas que você pode fazer crescer. A coisa em questão estava crescendo bastante. Ela o acariciou de novo e se inchou e endureceu

ainda mais. A voz de John tremeu. — Você é uma bruxa da pior espécie, senhora. Vejo que terei que dar-lhe algumas lições de

comportamento apropriado. — ele estremeceu quando ela utilizou a boca no lugar onde antes tinha a mão — Mas em outro momento. Uma conduta… Ah! Um comportamento… sim! Um pouco inaprop… Oh, Deus… inapropriado… pode ser… não pare… muito aconselhável!

A última palavra se transformou em um grito. John a empurrou para deitá-la de barriga para cima e entrou nela tão profundamente que poderia jurar que chegou a tocar o ventre. Ele separou-se… e um segundo depois fez o mesmo.

Ela suspirou de prazer. A verdade era que não importava se tivesse cem acres de plantas exóticas ou somente uma triste figueira: o amor que ele plantou floresceu em seu coração além de qualquer expectativa. Ela apertou os braços em volta dele - e uma outra parte de seu corpo - para abraçá-lo com força enquanto sussurrava em seu ouvido:

—Sabe, John? Por uma vez concordo totalmente com você.

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