Aparecimento Das Cidades Chinesas

download Aparecimento Das Cidades Chinesas

of 76

Transcript of Aparecimento Das Cidades Chinesas

Aparecimento das cidades chinesas2007-12-12 12:36:47 A construo das cidades antigas faz parte importante da civilizao chinesa. O nmero de residncias, construes defensivas, oficinas artesanais e de mercados so quatro dos critrios utilizados para avaliar a pujana de uma antiga cidade chinesa. O stio arqueolgico de uma tribo primitiva descoberta em 2002 em Ling Jiatan, na Provncia do Anhui, comprova que a primeira cidade chinesa surgiu h 5.500 anos. Ling Jiatan, coberta por plantios agrcolas era uma cidade prspera e movimentada. Ela ocupa uma rea de 16 milhes de metros quadrados e possua grandes palcios, templos, casas bem distribudas, tmulos e valas com finalidade defensiva, oficinas artesanais, assim como grande quantidade de objetos religiosos. O acervo evidencia o desenvolvimento do setor pecurio, artesanato e da criao de animais. Antes desta descoberta, a cidade mais velha da China situava-se no distrito de Wulian, na cidade de Rizhao, na Provncia de Shandong, com mais de quatro mil anos. Os arquelogos descobriram que Ling Jiatan possua trs divises. A primeira era a zona residencial dos membros da tribo e era muito bem disposta. Foi encontrada grande quantidade de peas em cermica. A segunda diviso inclui uma praa de barro vermelho com trs mil metros quadrados. Concentram-se ali palcios dos chefes de tribo, um lugar para reunies e sacrifcios. Segundo os arquelogos, essa zona era o centro poltico, militar e cultural da tribo e tambm o centro daquela antiga cidade. Ela reflete o nvel da sociedade e de sua potncia naquele perodo. A terceira diviso abrigava os tmulos. No centro desta diviso, havia um altar com cerca de um metro de altura. Tambm foram encontrados objetos como peas de jade, pedras e porcelanas. Durante a dinastia Shang e Zhou (cerca de 2000 a.c), a China comeou a construir expandir o nmero de cidades. As runas Yin, descobertas na cidade de Anyang, na Provncia do Henan no incio do sculo passado a antiga sede da capital do fim da dinastia Shang. As zonas palacianas, residncias, oficinas e tmulos assim como o rio com fim de proteger a cidade provaram que naquele tempo, a capital da dinastia Shang j era muito desenvolvida. Em 1983, foi descoberta na vila de Yanshi, na provncia do Henan, outra sede da capital da dinastia Shang com uma rea de 20 milhes de metros quadrados. Em 1999, os arquelogos encontraram a quarta sede da capital daquela dinastia na cidade de Anyang, na provncia do Henan. O conjunto de palcios encontrado l o maior descoberto da dinastia Shang at agora. O primeiro imperador Qin unificou a China em 221 a.C e a subdividiu em mais de 40 prefeituras e mil distritos. Esta medida faz com que a formao das cidades chinesas de desenvolvessem rapidamente. Atualmente, muitas das cidades chinesas datam das prefeituras e distritos criados naquele tempo e ainda mantm os mesmos nomes cri

Runas Ying, AnyangClassificao a Patrimnio Mundial Proposta: Local Cultural Localizao: Norte da Provncia de Henan

Anyang uma das sete antigas cidades capitais da China e uma Meca cultural e histrica. Localizada no norte da Provncia de Henan, Anyang foi a capital do estado durante a ltima parte da dinastia Shang (tambm denominada Yin), que dominou a China entre c. 1300 A.C. e 1046 A.C.. As runas testemunham uma nova era na histria da China, com uma economia, sistema poltico e militar, tecnologia e cultura desenvolvidas, no que era uma sociedade de escravos tpica. Inscries em orculos encontrados no local representam a mais remota caligrafia chinesa conhecida.Museu das Runas Yin

A dinastia Shang foi a primeira dinastia de que se conhecem registos histricos contendo informaes sobre a poltica, a economia, a cultura, a religio, a geografia, a astronomia, as artes e a medicina deste perodo, e por conseguinte, toma um lugar importante na histria da civilizao chinesa. Constitui uma das quatro principais civilizaes antigas, juntamente com as civilizaes egpcia, mesopotmica e indiana. Das escritas destas quatro civilizaes, trs delas, o egpcio, o babilnio arcaico e o hindu arcaico, deixaram de se praticar, enquanto que os caracteres encontrados nas inscries chinesas descobertas em Anyang, ainda hoje se usam. Estendendo-se por uma rea de 30 quilmetros quadrados, as Runas Yin ocupam ambas as margens do Rio Huan, localizado a noroeste da cidade de Anyang. De acordo com estudos baseados em registos histricos, o Rei Pan Geng, da dinastia Shang, mudou a sua capital para Anyang, a qual se manteve at ao final da mesma dinastia, governada pelo Rei Zou (Dixin). A dinastia Shang prolongou-se por cerca de 250 anos, estendendo-se por oito geraes e doze reis. Em 1899, foram descobertas inscries em carapaas de tartaruga e em osso na aldeia de Xiao Tun, que confirmam a existncia de uma histria documentada desta dinastia. As Runas Yin foram descobertas no incio do sc. XX e as primeiras escavaes foram efectuadas em 1928. De 1926 a 1937, efectuaram-se quinze escavaes e, desde 1950, tm-se feito mltiplos esforos no que se refere ao estudo do local. Em 1961, as Runas Yin foram proclamadas um local histrico protegido. As principais atraces das Runas Yin, candidatas a Patrimnio Mundial da UNESCO, incluem a zona das runas do Palcio Yin Xu e o Tmulo de Fuhao, localizado na zona do Templo de Adorao dos Antepassados do Palcio (Museu). Caracterstica Notvel: Sofisticada antiga capital chinesa e bero das inscries em orculos com caracteres em completo desenvolvimento.

Zona do Palcio Yin Xu

Carruagem e Cavalo

Principais atraces: Zona do Templo de Adorao dos Antepassados do Palcio Yin Xu A Zona do Templo de Adorao dos Antepassados do Palcio Yin Xu situa-se perto do Rio Huan e a nordeste da aldeia Xiao Tun, existindo nesta zona cerca de oitenta fundaes de construes antigas. Foram desenterrados cerca de 160000 fragmentos de carapaas de tartaruga e de fragmentos de osso com inscries, assim como um tmulo de um membro da famlia real, muito bem conservado, denominado Tmulo de Fuhao.

Altar de Sacrifcios

Zona do Templo de Adorao dos Antepassados do Palcio Yin Xu

Tmulo de Fuhao O Tmulo de Adorao Fuaho est localizado na Zona do Templo de Adorao dos Antepassados. Fuhao era a mulher do Rei Wuding da dinastia Shang, a qual tinha a patente de general, de acordo com documentos antigos. Nas Escavaes do tmulo encontraram-se um total de 1928 fragmentos, incluindo carapaas de tartaruga e ossos com inscries, vasos de bronze, artigos de jade, osso, ferramentas em pedra, objectos em marfim e conchas, que se encontram depositados no Museu de Henan, na cidade de Zhengzhou, e na Estao Arqueolgica de Anyang, do Instituto de Cincias Sociais da China. Foram deixadas dentro do tmulo algumas rplicas dos achados das escavaes. Esta descoberta foi uma importante revelao para a arqueologia e para a histria chinesas.

Inscries em Carapaas de Tartaruga

Zona do Palcio Yin Xu A Zona do Palcio Yin Xu localiza-se na parte norte do Rio Huan, a norte das aldeias de Hou Jia Zhuang e Wuguan. Foram aqui recentemente desenterrados treze templos reais e descobertos milhares de altares e muitos vestgios de sacrifcios humanos e animais, assim como um grande nmero de inscries em carapaas de tartaruga e osso, para alm de delicados vasos de bronze, ferramentas e utenslios. Uma das descobertas extremamente rara: o vaso quadrado Si Muwu, com o peso de 875 quilos. Todos os artefactos encontrados neste local ilustram o estdio avanado da civilizao da dinastia Shang. A maior parte dos tmulos e altares foram novamente enterrados e apenas algumas sepulturas, que se encontram cobertas, foram conservadas para demonstrao e estudo posterior. Estas escavaes exibem uma carruagem e cavalo, altares e os tmulos reais. Plantas e maquetas so usadas para mostrar a localizao e o formato das sepulturas.

EDITORA SHU apresenta CIVILIZAO CHINESA POR MARCEL GRANET Volume 2 Rio de Janeiro, 2002 NOTAS SOBRE A EDIO Esta uma reedio do livro Civilization Chinoise, publicado em 1928 pelo grande sinlogo francs Marcel Granet. Apesar de ser um livro antigo, as interpretaes que o autor faz sobre a Histria chinesa continuam atuais, e, por causa disso, este manual ainda consta em qualquer bibliografia moderna sobre sinologia. Esta uma traduo baseada na verso, em portugus, publicada pela editora Otto Pierre em 1979. As notas do texto so apresentadas entre parnteses, e as datas, entre colcheias. Mantivemos o sistema de transliterao de nomes chineses para o francs em respeito ao texto original. Este sistema, denominado EFEO, atualmente est em desuso, mas o leitor no ter dificuldade em identificar os nomes de textos e personagens histricos famosos. Assim, livros como o Shi Ji encontram-se escritos como Chou Ki; a dinastia Zhou aparece, por exemplo, como Tcheou; mas, ao longo do livro, estas dificuldades desaparecem, e a partir da o que fazemos ns deliciar com este texto erudito e profundo, que marcou geraes diversas de historiadores. Atenciosamente Editora Shu Rio de Janeiro, 2002 www.orientalismo.cjb.net Lugares-Santos e cidades Desde o passado mais longnquo que os documentos nos permitem imaginar, os habitantes da velha China viveram agrupados em aglomeraes bastante poderosas. provvel que a densidade dos agrupamentos tivesse aumentado na medida em que progrediu a preparao

do solo, com os desflorestamentos, os arroteamentos, a drenagem. Cataclismos locais (inundaes, incurses, de nmades) puderam, aqui e ali, retardar este progresso: no temos nenhum meio de avaliar isto. De fato, a existncia de comunidades rurais, formadas simplesmente de dois grupos territoriais unidos, no nos deixa revelar, seno com a ajuda da nomenclatura de parentesco e dos traos que o dualismo deixou nos usos jurdicos e religiosos. Deve-se presumir que, desde a aurora dos tempos histricos, os agrupamentos territoriais eram de uma natureza relativamente complexa: entrava em sua composio mais de dois grupos exgamos e solidrios. Nas prprias aldeias deviam encontrar-se, como hoje, tanto pessoas trazendo o mesmo nome, ou, pelo menos, no se casando entre si, quanto pessoas pertencendo a famlias diferentes. De qualquer maneira, os documentos sempre fazem aparecer, justaposta China das aldeias, uma China das cidades. Cidados e aldees opem-se da maneira mais evidente: uns so os rsticos, os outros so os nobres. Estes se vangloriam de viver "segundo os ritos", os quais "no descem at as pessoas do povo" (395). Os camponeses, por outro lado, recusam-se a interferir nos negcios pblicos. "Os comedores de carne que deliberem", dizem eles (396). Uns e outros no tm as mesmas preocupaes, nem a mesma alimentao. Eles diferem a ponto de seguir sistemas opostos de orientao: os nobres preferem a esquerda e os aldees, a direita (397). A aldeia tem, no mximo, um decano. Os nobres so os vassalos de um homem que o Senhor da cidade. Eles levam, a seu lado, uma vida ocupada inteiramente com as cerimnias da corte. Reunidos em redor do Senhor, eles cantam seu desprezo pelo "povo dos campos, o povo dos rsticos - vivendo, somente, para comer e beber... Mas eles, todos os nobres, eles, todos os vassalos - juntam-se e fazem a Virtude do chefe" (398)! Os camponeses passam por ser rendeiros. Os cidados so conquistadores? No h senhor sem cidade e, de toda cidade, diz-se que ela foi fundada por um senhor. este o descendente de uma raa vitoriosa que teria introduzido na China, de uma s vez, o regime feudal e a organizao urbana? No h nenhuma razo de ordem histrica que permita aceitar esta hiptese ou recus-la. A histria no traz nenhum testemunho em favor de uma invaso: mas, por que a China teria sofrido menos invases na antiguidade desconhecida do que nos tempos histricos? Por outro lado, a oposio entre nobres e camponeses um fato: mas com que direito se pode afirmar que os supostos invasores estavam organizados feudalmente? A oposio pode resultar de uma evoluo diferente de costumes em dois meios distintos, mas da mesma origem. possvel que os invasores tenham se introduzido na China, mas pode-se explicar o aparecimento das cheferias fazendo-se abstrao de toda hiptese de ordem propriamente histrica. O poder dos chefes parece fundado em crenas que se esboaram nos meios camponeses. O Chefe possui uma fora idntica quela que as comunidades atribuem a seus LugaresSantos. Ele exerce esse poder numa cidade considerada um Centro ancestral. Nos Lugares-Santos, realizavam-se grandes festas que eram tambm feiras: ali se comunicava com o solo natal; convidavam-se os antepassados a vir se reencarnar. A cidade nobre santa; ela contm um mercado, um altar do Solo, um templo dos Ancestrais. A cidade do fundador de uma dinastia senhorial traz o ttulo de Tsong. Emprega-se, tambm,

esta palavra para designar os grupos de pessoas unidas pelo culto de um mesmo ancestral. Uma expresso como Tcheou-tsong, pode ser entendida como: Centro ancestral dos Tcheou. Mas a mesma palavra encontrada na expresso Ho-tsong. Ora, esta vale, ao mesmo tempo, para denominar o Houang.ho (o Ho: o rio por excelncia) e o deus do Houang-ho. Ela usada, tambm, para designar o grupo familiar encarregado do culto do rio Amarelo, assim como a residncia deste grupo. Esta ltima considerada uma Cidade, um Centro ancestral. Ela se confunde com o Lugar-Santo onde a fora divina do rio se manifesta (399). A cidade senhorial a herdeira do Lugar-Santo. O chefe o duplo de um poder sagrado que, impessoal no incio, merecia a venerao de uma comunidade. Realizado depois sob o aspecto de um ancestral, ele recebeu o culto de um grupo hierarquizado. A santidade dos lugares de festa camponeses passou inteiramente para o Chefe e para sua Cidade. Ela se incorporou na pessoa senhorial, no templo ancestral, no altar do Solo, nas muralhas e nas portas da cidade. Uma passagem que se encontra em Mei-ti significativa (400). Num sermo eloqente, Mei-ti d provas decisivas do poder vingador que pertence s divindade. Ele mostra os deuses punindo os culpados sobre o altar do Solo, num templo ancestral, num pntano, e, enfim, num lugar denominado Tsou, sem dvida, menos conhecido ou menos definido. Ele exclama, ento: "E Tsou, para a regio de Yen, como o altar do Solo e das colheitas para Ts'i, como Sanglin (a Floresta das amoreiras) para Song, como (o pntano de) Yun-mong para Tch'ou: l que rapazes e moas se juntam e vm assistir s festas!" evidente a aproximao entre os cultos urbanos e as festas campestres. No caso de Sang-lin, particularmente instrutivo. Sang-lin figura no sermo de Mei-ti como templo ancestral dos prncipes de Song. Ele figura, em outro lugar, como deus do Solo e tambm o nome de uma porta de Song (401). ainda o nome de um demiurgo e o de um Lugar-Santo, cujo gnio comanda a chuva, a seca, a doena (402); devotando-se a este Lugar-Santo, o fundador dos Yin, ancestrais dos prncipes de Song, mereceu tomar o poder(403). Apenas os prncipes de Song possuem o culto de Sang-lin. O essencial deste culto uma dana, a dana de Sanglin (404). Ora, como Mei-ti afirma, Sang-lin o lugar das festas da regio de Song, onde rapazes e moas se reuniam. Surge, ento, uma continuidade entre as festas das comunidades camponesas e os cultos dos senhores feudais. Antigamente, um domnio compunha-se de uma cidade murada, rodeada por terras protegidas por outras muralhas. No interior, ficavam os campos cultivados, adiante, as regies incultas, montes com bosques, pntanos cobertos de junco ou de mato. A cidade senhorial servia de refgio e, conforme seu afastamento, os habitantes estavam submetidos a corvias ou a direitos mais ou menos pesados. Apenas os habitantes do domnio murado (fong t'ien) contribuam para o casamento das filhas do senhor(171). Os domnios fora do cen-

tro, que aumentavam assimilando os Brbaros, impeliram suas fronteiras muradas para longe. Os cultos urbanos so o resultado do desmembramento de um culto rural dirigido a foras santas indistintas. A virtude do Lugar.Santo foi transferida (s vezes, como se observou, com seu prprio nome) aos altares onde se honram deuses diferentes. Fora de sua cidade, os senhores rendem um culto a tal montanha ou a tal rio. No Monte ou no Rio encontra-se, integralmente, a eficcia dos lugares consagrados s reunies camponesas. Eles so os reguladores da ordem natural, como da ordem humana. O Chefe tambm o , e tanto quanto eles. Ele no reina sobre a natureza menos do que sobre seus seguidores. Seu poder colegiado ao dos lugares sagrados da sua regio. Estes so o princpio exteriorizado de seu poder. Este ineficaz se a Montanha ou o Rio mostram-se impotentes, e Montes e Rios so impotentes se a Virtude prpria da Raa senhorial acha-se esgotada. "Um domnio deve ter o apoio de seus Montes e de seus Rios. Quando a Montanha desmorona ou o Rio seca, isto um pressgio de uma runa (405)." O poder do Chefe, o poder do Lugar-Santo tm a mesma durao, a mesma amplido, a mesma qualidade, a mesma natureza. Eles so indistintos a ponto de o Heri feudal e de seu Lugar-Santo serem, cada qual, o duplo do outro. pelo efeito da Virtude de um Fundador, tal como Yu, o Grande, que correm os Rios augustos e que se elevaram os Montes venerveis. Por outro lado, enquanto que Chen-nong e Houang-ti puderam adquirir, cada qual, junto a um rio o gnio especfico que os habilitou a reinar, foram "das Montanhas santas (que) desceram as foras sagradas que fizeram nascer (os prncipes de Fou e de Chen)" (406). Entre o Lugar-Santo e o Chefe existe um vnculo de interdependncia que pode surgir sob o aspecto de uma relao de filiao. Quando assim se imaginam as coisas, o Lugar-Santo de uma comunidade camponesa apresenta-se como o Centro ancestral de uma dinastia feudal. Poderes difusos e autoridade individual

Toda raa senhorial liga-se a um Fundador. O nascimento deste ltimo devido, normalmente, a um milagre. nicos qualificados para seu culto e mestres de sua dana, os possuidores de Sang-lin (a Floresta das Amoreiras) so descendentes de uma mulher que concebeu por ter engolido um ovo (tseu) de andorinha. Ela o conquistou numa justa, no dia do equincio da primavera (407). Alguns dizem que ela concebeu depois de haver cantado num local denominado a Plancie das Amoreiras (408), Se o Heri que nasceu dela recebeu como nome de famlia o nome de Tseu (ovo), foram as amoreiras crescidas miraculosamente que anunciaram a seus descendentes um renascimento ou um declnio da Virtude prpria de sua raa (409). Assim, o nome simblico e o emblema real ligam-se, os dois, a um mito anlogo: o de um nascimento obtido num Lugar.Santo, durante uma festa das estaes. Nos meios camponeses, um simbolismo constitudo por emoes fortes e confusas era a alma de toda crena e de todo culto. As imagens aparecidas na paisagem das festas eram tomadas como manifestaes, sinais, smbolos de uma fora criadora realizada no Lugar-Santo. Ora, o parentesco que implicava a obrigao exogmica repousava, unicamente, no vnculo simblico do nome na posse de uma essncia comum. Esta, sustentada pela comensalidade, era extrada da alimentao tomada no territrio familiar. Entre este ltimo e o nome de famlia devia existir, asseguram-nos, uma espcie de consonncia. Estes fatos permitem supor que a organizao camponesa era fundada num princpio anlogo ao princpio totmico. Totens, ou para dizer melhor, emblemas eram escolhidos, segundo toda probabilidade, entre os animais e os vegetais que apareciam no Lugar-Santo na poca das festas. Certos motivos de canes antigas s podem ser compreendidos se forem considerados os temas de um sortilgio destinado a fazer multiplicar uma espcie associada. "Gafanhotos alados - como sois numerosos! - Possam vossos descendentes ter grandes virtudes(410)!" As justas, as danas, os cantos procuravam obter, com a prosperidade de cada grupo, a da espcie simblica. As plantas e os ani-

mais, cujas sementes ou ovos eram consumidos, para que fosse assimilada sua essncia e que a eles se comunicasse, aparentando-se, deviam ser, muitas vezes, plantas e animais humildes. Foi de uma semente de tanchagem que nasceu Yu, o Grande, primeiro rei da China. A histria s se preocupa com as grandes famlias. S conhecemos os emblemas dos prncipes. Estes, geralmente, no so bichos vulgares, mas animais mticos. Sua natureza compsita revela um trabalho de imaginao semelhante ao da arte do braso e que teve seu ponto de partida na dana. Entre esses animais herldicos figura o Unicrnio, que evocavam com o auxlio de versos muito semelhantes queles dos "Gafanhotos"(411). O mais clebre dos animais simblicos o Drago. O Drago, antes de ser um smbolo da fora soberana, foi o emblema da primeira dinastia real, a dos Hia (ou, antes, um dos emblemas que a tradio atribua aos Hia (412). Um dos ancestrais dos Hia transformou-se em drago num Lugar-Santo. Esta metamorfose aconteceu quando esquartejaram. Ela , portanto, conseqncia de um sacrifcio. Drages apareceram quando houve uma renovao ou um declnio da virtude genrica que autorizava os Hia a reinar. Um ramo de sua famlia tinha o privilgio de criar drages e conhecia a arte de faz-los prosperar. Um rei Hia, para fazer seu reinado prosperar, alimentava-se de drages. Enfim, dois drages-ancestrais proporcionaram o nascimento dos descendentes dos Hia. Fato notvel: antes de desaparecerem, no deixando seno uma espuma fecundante, eles tinham lutado um contra o outro (413). As justas entre drages, macho e fmea, assinalavam as chuvas e tinham por cenrio Os pntanos formados por dois rios que transborda. ram (414). Dizia-se, tambm, neste caso, que os rios lutaram juntos e estas eram, sem dvida, justas sexuais, pois as divindades de dois rios que se unem passam por ser de sexo diferente (415). Dois rios que se juntam so, de resto, um smbolo da exogamia. Os confluentes eram, com efeito, lugares consagrados s justas amorosas. No tempo das enchentes, os rapazes e as moas, atravessando a gua, pensavam ajudar as reencamaes e chamar a chuva que fertiliza (416). Ora, a travessia pela gua por bandos que danavam afron-

tando-se era praticada, acreditava-se, para imitar a justa de dois drages, macho e fmea. Assim, eles eram induzidos a se unir e a fazer cair as guas fecundantes (417). V.se que antes de constituir um emblema do prncipe, o drago foi o tema das danas populares. Os drages foram, inicialmente, uma projeo no mundo mtico dos ritos e jogos das festas das estaes. Mas logo que se viu neles os patronos de uma raa de Chefes, a nica que sabe com-los e faz-los prosperar, estes drages, simples emanaes do Lugar-Santo, figuram como Ancestrais. Neles est toda a virtude do Lugar-Santo, toda a virtude das festas. Esta se acha tambm, difusa, na raa herica. Ela s se encama verdadeiramente no par de Grandes Ancestrais que garantem as reencarnaes e que so, ao mesmo tempo, drages e homens. O gnio misto da espcie pode se individualizar ainda mais. Para as festas primaveris da regio de Tcheng, rapazes e moas reuniam-se num lugar onde cresciam orqudeas perfumadas. Eles as colhiam e, agitando-as sobre as guas, convidavam, gritando, as almas dos ancestrais a vir se reencarnar. Pensavam assim atrair uma alma-sopro (houen), que no se diferencia do nome pessoal. Terminada a justa, a moa recebia, em penhor, uma flor do rapaz ao qual se unia. A orqudea do Lugar.Santo servia, pois, para proporcionar nascimentos a todas as pessoas de Tcheng. Ela acabou tornando-se um emblema do prncipe. "O duque Wen de Tcheng tinha uma mulher de segunda categoria, cujo nome era Yen Ki. Ela sonhou que um mensageiro do Cu lhe dava uma orqudea (lan), dizendo-lhe: "Sou Po-yeou; sou teu ancestral. Faze disto teu filho. Porque a orqudea tem um perfume de prncipe (ou, tambm, porque a orqudea tem o perfume da regio), ele ser reconhecido como prncipe (de Tcheng) e ser amado. Depois disto, o duque Wen veio v-la. Ele lhe deu uma orqudea e deitou-se com ela. Excusando-se, ela disse: "Vossa serva no tem talento (= no tem prestgio), se por vosso favor eu tiver um filho, no tero confiana em mim: ousarei tomar como prova esta orqudea?" O duque respondeu: "Sim". Ela trouxe ao mundo (aquele que foi) o duque Mou cujo nome pessoal foi Lan (orqudea)...

Quando caiu doente, o duque Mou disse: "Quando a Orqudea morrer, eis que morrerei tambm, eu que vivo por ela (ou, ainda, que nasci dela)". Quando se cortou a orqudea, o duque morreu (686 a.C.)." Esta lenda implica que nome pessoal, alma exterior ou penhor de vida, testemunho de paternidade, prestao nupcial, princpio de maternidade, ttulo de poder, patrono ancestral e emblema so equivalentes indistintos(418), A espcie emblemtica acha-se associada a um individuo e corresponde, nunca ao nome de famlia, mas ao nome pessoal. O gnio do Lugar Santo, incorporado numa planta caracterstica, a propriedade do Ancestral que se reencarna e s d a vida quele que merece ser um Chefe. somente quando o Lugar. Santo, onde a planta colhida, representado como um Ancestral que d a planta, que o emblema, deixando de ser de um grupo, aparece como um emblema do prncipe. O Chefe, ento, possui sozinho o gnio do Lugar-Santo e considera este ltimo um Centro ancestral. Um fato deve ser retido; o Ancestral substitudo no Lugar-Santo um ancestral materno, Nos meios camponeses, as mulheres foram as primeiras a adquirir, com o ttulo de mes, uma autoridade. No momento em que foi elaborada a idia de Terra-Me, a noo de parentesco pareceu sobrepujar a de aparentamentoaliana, da qual se destacava. Concebida como um vnculo unindo uma criana raa materna, o parentesco pareceu repousar na filiao uterina e implicar uma parte de relaes individuais. Sem dvida, ento que o vnculo de dependncia global, unindo indistintamente uma comunidade inteira ao lugar sagrado de suas festas, foi imaginado sob o aspecto de uma rela- o de filiao, ligando o Chefe, que absorve toda au- toridade, a um ancestral materno investido de todo o poder do Lugar-Santo. Deuses e chefes masculinos Os primeiros passos do poder individual e da hierarquia datam da poca em que reinou, por algum tempo, o direito matriarcal. O tema das Grandes Avs, das Rainhas-Mes, ocupa um lugar importante na mitologia chinesa. Toda raa senhorial descende de um

Heri, mas Me do Heri que se dedica a venerao maior. Nada, na cidade feudal, mais sagrado do que o templo da Av da raa. Os mais belos dos hinos dinsticos so cantados em sua honra(419). Entretanto, a organizao feudal repousa no reconhecimento do privilgio masculino. Parece-nos que somente os prncipes, de pai para filho, comandam as estaes; somente eles so juizes e mantm a concrdia entre os homens. Mas temas diferentes, jridicos ou mticos, deixam entrever que os atributos mais arcaicos da autoridade do prncipe, antes de pertencerem a um chefe masculino, foram detidos por um casal de prncipes, onde a esposa no teve, inicialmente, o papel mais apagado. De sua cidade e por simples proclamaes mensais, o Chefe, senhor do calendrio, determina esta colaborao dos homens e da natureza, realizadas, outrora, pelas npcias equinocias dos Lugares-Santos. Tal a teoria ritual. Mas os Ritos afirmam, por outro lado, que o maior negcio de Estado o casamento do prncipe (420). A ordem do mundo e da sociedade dependem dele. O universo desregula-se quando a unio entreo rei e a rainha no perfeita. Se um e outra ultrapassarem seus direitos, a Lua ou o Sol se eclipsa. "O Filho do Cu dirige a ao do principio masculino (Yang), sua mulher, a do principio feminino (Yin)(421)." Sua harmonia indispensvel. Um rei no nada sem sua rainha, um senhor no nada sem sua dama. Os sacrifcios no so vlidos se no forem celebrados por um casal de esposos. O principio de oposio necessria dos sexos reforado pelo principio que exige sua colaborao (422). Um chefe (no Estado ou na famlia) no pode ficar sem mulher. Com efeito, a vida sexual interessa ordem universal. Ela deve ser regulada minuciosamente. Quando a Lua ficar redonda e estiver voltada para o Sol, o rei e a rainha devem se unir(423). Ora, a lua cheia um equivalente ritual do equincio. A unio do chefe e de sua mulher no tem, para o pensamento feudal, menos poder do que tive. ram, em outro meio, as npcias coletivas das festas federais, que se celebravam nos meses do equincio do outono e da primavera. A autoridade do prncipe substituiu a do Lugar.Santo. Ele cumpre sua tarefa celebrando, em tempos regulares, hierogamias fecundas.

Ele parece ser o nico senhor. Com efeito, o pensamento jurdico concede ainda mulher um certo poder, mas que propriamente no lhe pertence. A rainha, dizem, no possui seno um reflexo da autoridade marital. A Lua obtm sua luz do Sol, inicialmente, entretanto, o poder foi detido por um casal de prncipes. Uma frmula mostra-o bem. O Chefe nunca diz que o pai do povo. Ele pretende ser "o pai e a me". Isto reconhecer que ele concentrou a autoridade que, outrora indivisa, pertencia a um casal. Sozinho e em sua cidade, o prncipe exerce o poder de juiz e de pacificador dos conflitos. Os debates judicirios, aos quais preside, so combates de imprecaes que tm um aspecto de justa. Os torneios judicirios realizavam-se, habitualmente, na cidade e sobre o altar do Solo. Entretanto, os processos mais graves deviam ser julgados (em Lou, pelo menos) nas margens do rio onde, com o auxilio de justas danadas, celebravam-se tambm as festas primaveris (424). Por outro lado, uma mesma palavra designa as queixas processuais dos litigantes e a ladainha das justas amorosas(425). Um Fundador, o Ancestral dos prncipes de Yen, clebre como justiceiro. Os debates, aos quais presidia, eram disputas em versos, tendo como adversrios rapazes e moas. Suas sentenas no eram nunca pronunciadas na cidade, sobre um altar do Solo, mas ao p de uma rvore. Esta, durante longos sculos, foi venerada - tanto como o juiz. Era provavelmente a rvore mais sagrada de um LugarSanto. A sua sombra, o Grande Ancestral de Yen presidia s festas sexuais que traziam a paz e a boa ordem. Este heri, na verdade, tinha um ttulo significativo, aquele de Grande Mediador(426). O mesmo ttulo era, nos tempos feudais, usado por um funcionrio encarregado de presidir "s reunies nos campos" que a sabedoria do prncipe tolerava, dizem, no segundo ms da primavera (equincio). Ele presidia tambm certas cerimnias nupciais. O mesmo ttulo ainda atribudo a um heri, Kao-sin, que um dos primeiros soberanos chineses. Homens e mulheres iam celebrar a festa de Kao-sin em pleno campo e, precisamente, no dia do equincio da primavera. No era, dizem, uma festa popular. Limitava-se a pedir

crianas para a casa reinante. Kao-sin merecia a confiana que nele se depositava. Outrora, duas de suas mulheres tinham dado luz um Fundador de linhagem real. verdade que uma havia concebido pousando os ps sobre a pegada de um gigante, a outra depois de um banho, de uma justa e de ter comido um ovo, e todas as duas no meio dos campos. Admitiu-se, mais tarde, que o Cu era o verdadeiro pai destes Filhos do Cu. Entretanto, como para as Mes da raa, construiu-se para Kao-sin um templo, que lhe fora dedicado por ter sido o Mediador Supremo(427). O estudo destes dados mostram que o prncipe, como o Lugar-Santo, o autor de uma concrdia fecunda. Ele a recria periodicamente, unindo-se numa unio santa a sua mulher. Ele deve seu poder a um Heri Fundador. Este ltimo presidia, outrora, s npcias coletivas das festas das dade da fornalha era do mesmo sexo que o ferreiro. A mulher, jogada a esta divindade masculina, era-lhe dada como esposa. Seu sacrifcio era concebido como um casamento com o deus da fornalha. Dando-lhe sua mulher, o ferreiro, por uma espcie de comunho divina, aliava-se a seu Senhor. Este rito de unio conservava todo o valor de uma hierogamia. O metal resultante da fundio era sempre considerado bissexual. Os deuses tomam uma aparncia masculina medida em que se estabelece o privilgio masculino. O que ocorreu na fornalha divina, ocorreu tambm nos Lugares-Santos. Sob os Han, para obter uma alternao justa das estaes, limitava-se a jogar na gua, em tempo adequado, dois gnios da seca, macho e fmea: Keng fou (o Lavrador) e Niu-pa; podia-se tambm sacrificar, em efgie, um casal de lavradores(431). Outrora, os senhores feudais deviam pagar com sua prpria pessoa. Eles s mereciam o poder se soubessem identificarse s foras antagnicas que distribuem a seca e a chuva. Para realizar neles mesmos (e na natureza) um perfeito equilbrio de virtudes, era-lhes suficiente viver em pleno campo, expondo-se, ao mesmo tempo, ao sol e ao orvalho(432). Eles preferiam, entretanto, expor feiticeiras. Eles as faziam danar at o esgotamento. Em caso necessrio, se a seca fosse muito forte, eles sacrificavam a feiticeira, queimando-a (433).

As feiticeiras tm uma virtude que as tornam poderosas. Sua fora vem do fato de elas serem macilentas e ressecadas. Ora, precisamente, a histria nos apresenta tambm, como seres ressecados, dois Fundadores de dinastias reais, T'ang, o Vitorioso, e Yu, o Grande. Os dois inauguraram seu reinado, sacrificandose em benefcio de seu povo: um para pr fim seca, outro para deter uma inundao. Eles cortaram ento seus cabelos e suas unhas e as entregaram, em penhor, a uma divindade. Do mesmo modo, para obter a fuso dos metais, os ferreiros, em lugar de se jogarem na fornalha, podiam simplesmente jogar suas unhas e seus cabelos. Marido e mulher jogavam-nos juntos. Possuindo os penhores dados pelas duas partes do casal, a divindade tinha todo o casal e sua dupla natureza, pois dar a parte dar o todo. Yu e T'ang, o Vitorioso, sacrificaram-se inteiramente. O deus, no entanto, tomou apenas a metade. Eles s ficaram meio ressecados. V-se porque Yu, o Grande, saltitava e danava seu passo arrastando uma perna: era hemiplgico. O Passo de Yu no seno a metade de uma dana sexual. O sacrifcio de Yu no seno a metade de um sacrifcio. O sacrifcio completo teria sido o de um casal - como fora o dos fundidores, enquanto a divindade da fornalha no foi concebida como masculina. T'ang sacrificou-se na Floresta das Amoreiras (Sang-lin), onde rapazes e moas encontravamse para as justas. Yu, o Grande, sacrificou-se em Yangyu. Yang-yu o lugar-Santo onde o Conde do Rio tem sua capital (Ho-tsong), mas o Conde do Rio casado e mesmo o nome que tem (Ping-yi) foi, inicialmente, o de sua mulher. Se Yu sacrificou-se sozinho, foi, talvez, porque seu sacrifcio data de um tempo em que a deusa sobrepujava o deus. O deus prevaleceu. Ele acabou por tomar da deusa at mesmo seu nome. Ento, os sacrifcios ao rio, sempre inspirados pela idia da hierogamia, tiveram as mulheres por vtimas (434). O rio, na poca feudal, era venerado principalmente em dois lugares: em Lin-tsin e em Ye. Em Ye, na regio de Wei, ele recebia um culto popular presidido pelas feiticeiras e pelos invocadores. Cada ano era escolhida uma bela jovem. Alimentada e paramen-

tada como uma noiva, colocavam-na num leito nupcial. Este, posto para flutuar, era arrastado at um turbi. lho, onde submergia. A eleita ia assim "casar-se com o Conde do Rio" (435). O culto de Lin-tsin foi tambm, sem dvida, um culto popular. Mas em 417 a.C., os senhores de Ts'in (Chen-si) conquistaram a regio. Eles anexaram o Lugar-Santo. Uma de suas maiores ambies era arrancar, de seus vizinhos de Chan-si, a proteo do deus do rio. Eles deviam obter sua aliana, menos para sua regio do que para sua raa. Cada ano, casavam uma princesa de seu sangue com o Conde do Rio (436). As danas sexuais e as npcias coletivas proporcionaram uma fora augusta aos Lugares-Santos. Esta fora, depois, foi captada por uma raa de Chefes. Sacrifcio do casal, meio sacrifcio do Fundador, sacrifcio da esposa, sacrifcio das virgens servem para concluir uma aliana e consistem numa unio. O LugarSanto, mesmo quando se torna um Centro ancestral e que sua divindade toma traos masculinos, conserva, graas s hierogamias, seu poder complexo. Do mesmo modo, na poca em que se estabelece o privilgio masculino, o Chefe continua provido de um comando duplo. Seu poder estende-se s foras antagnicas que constituem o universo, Yin e Yang, Cu e Terra, gua e Fogo, Chuva e Seca... Mas esta autoridade mista s se concentrou nele mediante os mais terrveis sacrifcios. Rivalidades de confrarias Parece que as primeiras autoridades masculinas constituiram-se - ao curso das cerimnias da estao do inverno - durante reunies de confrarias. Durante a invernada, na casa comum, os lavradores, fora de justas, de gestos, de orgias, conquistaram a confiana nas virtudes viris. Seu prestgio aumentava medida em que se extendiam seus arroteamentos. Mas os Heris Fundadores no tiram sua glria unicamente do fato de terem preparado o solo e vencido as matas com o fogo. De outra maneira ainda, eles so os Senhores do Fogo. Eles so oleiros ou ferreiros. Sabem, com o auxilio de

unies santas e trgicas, fabricar utenslios divinos. Nos caldeires mgicos, fundidos por Yu, o Grande, toda a virtude dinstica estava incorporada, exatamente como podia estar, num Monte ou num Rio Sagrados. Estes ltimos desmoronam ou secam quando a Virtude de uma raa vacila. Assim tambm, quando esta Virtude se torna muito frgil, as caldeiras perdem seus pesos. Por elas mesmas, vo carregar-se novamente de prestgio junto a um novo senhor (437). Yu, o Grande, primeiro rei da China, um ferreiro. Houang-ti, primeiro Soberano, tambm um ferreiro. Houang-ti o deus do raio. Yu comandava o trovo. Graas ao trovo, ele fez chegar plenitude a Virtude de sua raa. Outrora, numa justa danada, ele havia vencido divindades ou chefes ( a mesma coisa) aparentados aos touros e que mugiam como os ven. tos (438). Houang-ti, do mesmo modo, chegou ao poder depois de ter "conduzido sua Virtude " numa justa onde venceu Chen-nong. Chen-nong nos apresentado presidindo s festas da forja (conta-se que sua filha morreu queimada ou afogada). Mas ele , antes de tudo, o deus dos ventos abrasados, o deus dos fogos do arroteamento. o deus dos lavradores. Houang-ti lutou contra Chen-nong; lutou tambm contra Tch'e-yeou. Os historiadores confundem a narrao dessas justas. Para dizer a verdade, Tch'e-yeou e Chen-nong pouco diferenciam. Todos os dois trazem o mesmo nome de famlia. Todos os dois so homens com cabea de touro. Somente Tch'e-yeou no um deus das lavouras. Ele o Senhor da Guerra, o inventor das armas. Seus ossos so concrees metlicas. Ele tem uma menino representava o Sol recm-nascido. Chamavamno o deus do Cu. Nas lendas dos Reis de perdio, a entrada do menino vermelho simboliza a chegada de um Chefe novo, substituindo, no poder, o velho Chefe que no soube renovar sua virtude abalada. Com efeito, as comedorias e as libaes hibernais serviam para renovar as foras vitais dos velhos. As festas da casa comum consistiam, principalmente, numa orgia de bebida. Saboreava-se, ento, o vinho novo, fabricado no inverno e encerrado em odres, jarras ou sinos. Esta orgia terminava com vivas e votos de vida sem fim: dez mil anos! Ela acompanhava o jogo do gargalo

e era completada por justas de jactncia. Tinha-se acumulado os vveres em montes mais altos do que uma colina! Nenhum rio teria podido fornecer tanta bebida! Cheou-sin, quando celebra a festa hibernal, levanta uma montanha de alimentos. Ele cava um tanque que enche de vinho. Em tal lago de bebida, pode-se, dizem, fazer girar um navio. Pode-se fazer corrida de carros sobre o monte de comestveis. Nestes festins, todos os assistentes tm que beber at a saciedade, tomando o vinho, chafurdando-se maneira dos bois. O rei que, por diferentes ordlios, tem que manifestar sua capacidade, deve prova-la, sobre. tudo, fartando-se como qualquer outro. Ento, vestindo uma couraa de pele de boi, ele pode atirar no Odre de pele de boi. Ele pode, maravilhoso batismo que equivale a um renascimento, fazer chover sobre si o sangue do Cu: quando bem sucedido em seu tiro inaugural, os vassalos proclamam sua glria: " Ele venceu o Cu! Nenhum o sobrepuja em talento!" E os vivas e votos: "Dez mil anos! Dez mil anos! " ressoam em redor e repercutem ao longe - assim que o Rei bebe. A festa real da longa noite surge como um desdobramento das festas da casa comum. Ela cheia de ritos dramticos, seno horrveis, pois assinala o ponto culminante de uma liturgia hibernal em que, com a ajuda de justas, de provas, de sacrifcios e de sagraes, classificam.se os mritos e constri-se a hierarquia. Certas justas e certos ordlios so curiosos. Havia uma prova do balano que servia para pesar os talentos e uma prova do mastro de cocanha onde as vtimas eram consumidas pelo fogo de uma fogueira. Cheou-sin, soberano nefasto que forava seus sditos a beber como bois (e como Nabucodonosor) morreu numa fogueira (como Sardanapalo). Como bom ferreiro, ele sabia estirar o ferro com suas mos potentes e (forte como Sanso) ele podia sustentar a verga de uma porta e recolocar a coluna. Ele fundiu e esculpiu altas colunas para a prova do balano e para a da ascenso. Ele construiu tambm uma torre que (como a de Babel) pretendia chegar aos cus. Era no alto de uma torre semelhante que devia ser suspenso o odre cheio de sangue que representava o cu e no qual (como Nemrod) Cheou-sin atirou. J se viu que

o Odre celeste um tambor. Ora, perto da China encontrava-se um povo que cada ano sacrificava um homem chamando-o de "Senhor celeste". Na ocasio destas festas, usava-se suspender um tambor no alto de um poste de madeira levantado na terra (kien-mou). Por outro lado, os Chineses conheciam uma rvore divina que se chamava Kien-mou (a madeira levantada). Esta rvore ergue-se bem no centro do mundo e marca o meio-dia, momento em que tudo o que perfeitamente vertical no faz nenhuma sombra. A rvore Kien-mou um gnmon. tambm um mastro de cocanha. Por ela se eleva aos cus o Soberano, isto , o Sol. Ela tambm reta como uma coluna mas, na sua base e em seu cume existem nove razes e nove ramos: isto significa, suponho, que ela toca, no alto, os Nove Cus, e, embaixo, as Nove Fontes. As Nove Fontes so as Fontes subterrneas, as Fontes Amarelas, a morada dos mortos, o Grande Abismo. no Grande Abismo que mergulhado quem se embebeda numa libao da grande noite. Esta libao faz-se num palcio subterrneo. O Sol se eleva nos cus depois que sai do Grande Abismo. O Yang, que o Yin aprisiona durante o inverno, fica encerrado nas Noves Fontes. Antes de aparecer na manh do ano como um Sol que nasce vitorioso, o Chefe deve tambm se submeter a um retiro. Ele aprisionado num quarto subterrneo e profundo, como as Nove Fontes. Depois disto, ele pode se elevar at os Nove Cus numa ascenso triunfal. Destinadas prova da ascenso, a alta torre de Cheou-sin ou sua coluna esculpida marcam o lugar no qual o Chefe pode executar sua apoteose. Elas marcam a linha reta que pretende ser o centro do mundo. O poder do Chefe nasceu das festas da casa dos homens e das justas de confrarias. Este Chefe um fundador de cidades e um chefe de guerra. Tch'eyeou, o ferreiro que inventou as armas, o chefe de uma confraria danante e uma divindade da guerra. Houang-ti, seu adversrio afortunado, outro ferreiro, tambm um deus dos exrcitos. Os dois, quando lutam juntos, lutam trs contra trs. O nmero trs est na base da organizao militar, como da organizao urbana, pois a cidade no se diferencia quase nada de um acampamento. Ela formada pela residncia se-

nhorial, cercada, direita e esquerda, pelas casas dos vassalos. O exrcito compreende, normalmente, trs legies; a legio central a do prncipe e formada por seus parentes. Apenas o exrcito real tem seis legies. Na cerimnia do tiro com o arco, que talvez o mais importante dos ritos feudais, o tiro iniciado por dois bandos de arqueiros que lutam juntos, trs contra trs. Trs, segundo as tradies chinesas, o antigo nmero dos danarinos (que, a seguir, formaram grupos de oito). O esprito de rivalidade que animava as confrarias masculinas e que, durante a estao do inverno, opunha-as em justas danadas, deu origem ao progresso institucional, graas ao qual, da antiga organizao dualista e segmentria, surgiu, com a hierarquia, a organizao tripartida que caracteriza as cidades feudais (447). As dinastias agnticas Quando as rivalidades entre confrarias ricas de segredos tcnicos e de novos prestgios dominam as justas aldes, onde se defrontam os sexos concorrentes, criam-se as autoridades masculinas e, entre elas, esboa-se uma hierarquia instvel. Mas, o princpio de alternao que preside s justas das estaes no perde imediatamente sua fora: e, com ela, o dualismo mantm seus direitos - mesmo quando a ordem social no se baseia mais na simples bipartio, mesmo quando a sociedade tende a tomar a organizao favorvel concentrao dos poderes. Tam. bm a autoridade conquistada pelos chefes masculinos, dificilmente, chega a se tornar a propriedade de uma linhagem de prncipes, transmitindo, de pai para filho, o direito de reger, somente eles e durante toda a vida, o conjunto de foras que constituem o mundo dos homens e das coisas. Os heris mticos que a histria apresenta como primeiros soberanos da China reuniram o povo e so poderosos por sua sabedoria. Chouen era lavrador, pescador, oleiro e, "no fim de um ano, no local em que residia, formava-se uma aldeia, um burgo, no final de dois anos, no fim de trs anos, uma cidade" (448). Quaisquer que tenham sido sua sabedoria e

sua fama, nem Chouen, nem Yao, seu predecessor, transmitiram sua autoridade a seus filhos. Eles nem mesmo a conservaram at o fim de suas vidas. Chegou para os dois uma poca em que foram forados a se apagar diante do prestgio ascendente de um Sbio, cujo gnio se adaptava melhor aos novos dias. Os Anais conservaram a lembrana de alguns prodgios que convidavam um Chefe a se retirar e a ceder o poder (yang) (449). O Chou king deixa entrever, vagamente, o aspecto dos discursos, quando se procurava conquistar o poder, fingindo cede-lo (jang)(450). Segundo os historiadores que os fazem falar, os concorrentes no pensavam seno em ostentar a mais pura virtude cvica. Na realidade, os duelos de eloqncia atiavam gnios opostos e feitos para se alternar. Yao, o Soberano, sabia regular a marcha dos Sis. Ele teve que lutar contra Kong kong, que sabia sublevar as guas e que as conduziu ao ataque de K'ong-sang, a Amoreira oca, mastro por onde subiam os Sis; ele demoliu tambm, com uma marrada, o monte Pou-tcheou, que o pilar do Cu, de modo que todos os astros tiveram que se encaminhar para o poente. Kong-kong, que disputou com Yao a posio de Soberano, acabou morrendo afogado no fundo de um abismo(451). Possudos pelos gnios da gua e do Fogo, penetrados de Yin ou de Yang, animados pelo esprito da Terra ou pelo esprito do Cu, destros ou sinistros, gordos ou altos, de ventre amplo ou de costas fortes, mantendo, solidamente, na terra seus vastos ps ou estendendo para o cu sua cabea redonda, os candidatos obtm o poder, unicamente, quando sua essncia responde s necessidades alterNa verdade, o mais ntimo dos vassalos deve, como a esposa, seguir seu senhor na sepultura. O duque Mou de Ts'in tinha trs fiis (Ministro diz-se Trs Duques) que se devotaram pessoalmente. Eles foram sacrificados por ocasio da morte do duque. O sacrifcio ocorreu quando o defunto tomou posse de sua ltima morada (472). O enterro definitivo marca o fim das observncias mais severas do luto. O sacrifcio que o acompanha assegura a apoteose do morto que, enfim transformado em Ancestral, sobe triunfalmente ao Cu,

escoltado por uma corte fiel. Este enterro definitivo precedido por um enterro provisrio, cuja durao terica de trs meses. O enterro provisrio feito na casa. O morto descarna-se entre seus parentes. Estes, enquanto dura o perodo em que se dissipa a impureza morturia, devem participar, de todas as maneiras, do estado do morto. Eles devem purg-lo de sua infeco, pois sua infeco a deles. Para muitos povos que praticaram o sistema de enterro duplo, o primeiro dever comer as carnes decompostas do morto. Os antigos Chineses sabiam impor o dever de consumir o cadver quele que, desejando suceder, pretendia adquirir as virtudes do defunto. Quando morreu Yi, o Grande Arqueiro, prncipe de Kiong, "fez-se cozinhar sua carne, que foi dada a seus filhos para que a comessem. Os filhos no puderam suportar a idia de comer (seu pai). Por isto foram mortos nas portas de Kiong" (473). Se T'ai-kia conseguiu adquirir as virtudes de T'ang, seu pai, foi, sem dvida, porque, menos tmido do que os filhos do Arqueiro, tomou para si o encargo de livrar os ossos do defunto da infeco morturia. Na verdade, ele no chegou a adquirir as virtudes paternas seno depois que Yi Yin, o ministro, baniu-o durante o tempo de luto, para Tong, precisamente onde T'ang foi enterrdo. Yi Yin, cedendo a T'ai.kia o dever de purgar a impureza funrria, f-lo suceder, e T'aikia, por seu lado, quando T'ang passou para a categoria de ancestral, cedendo a Yi Yin, que matou, a honra de acompanhar fielmente seu senhor, f-lo obter a glria de ser o Arauto de uma dinastia que se fundava. Outrora, como bom sobrinho uterino, o ministro teria, sem dvida, reclamado o encargo de purificar os ossos do defunto e, para encerrar o luto, ele teria sacrificado o filho nos arrabaldes. A continuidade das linhagens reais foi assegurada e o direito agnatcio foi estabelecido quando o filho, heroicamente, teve a coragem de se ligar a seu pai. Houang-ti, nascido num monte do mocho, sabia sustentar seu gnio emblemtico comendo mochos. Parece que um costume dos mochos devorar sua me. Nutrir-se das carnes da me (quando a filiao uterina) limitar-se a confirmar em si mesmo as vir. tudes de sua raa (474). O endocanibalismo que permite

a uma famlia conservar sua integridade substancial, um dever muito simples do respeito domstico. Quem o cumpre, presta-se a uma comunho pura. A pessoa torna-se sagrada sem procurar ultrapassar as sagraes permitidas a seu gnio primeiro. Quando no endocanibalismo, o canibalismo torna-se, pelo contrrio, um ato de f e um ato de orgulho. O heri capaz de comer a carne de quem no seu parente, demonstra uma Virtude ambiciosa que no recua diante das incorporaes e dos excessos. Esta a Virtude de um Chefe. A histria chinesa mostra-nos os filhos do Arqueiro, raa de usurpadores, perecendo porque no tm a coragem de beber o caldo feito com o cadver de seu pai. Ela nos mostra, tambm, dois grandes sbios que, tendo coragem, fundaram duas dinastias gloriosas. Desafiado por um rival, o rei Wen, fundador dos Tcheou, bebeu o caldo de seu filho. O fundador dos Han, Kao-tsou, tambm provou seu herosmo quando, em 203 a.C., disps-se, tranqilamente, a beber o caldo de seu pai (475). significativo o fato de estas particularidades histricas se encontrarem na narrao da fundao de duas dinastias. Elas fazem parecer a prova do canibalismo como uma espcie de rito preliminar de entronizao. Quando o chefe bebe, diante de seu rival, ningum pode ignorar que ele possui em si, graas a uma anexao triunfal, a dupla virtude do Cu e da Terra, outrora dividida entre prncipe e ministro, entre pai e filho. Os aumentos de prestgio Somente ritos terrveis tiveram o poder de aproximar o pai e o filho, outrora membros de dois parentescos diferentes e dotados de virtudes heterogneas. A enfeudao agnatcia tem qualquer coisa de uma anexao triunfal. Mas alcanar a vitria e leva-la at o fim s foi possvel, inicialmente, fora da famlia e da cidade. Foi nas regies limitrofes que se criou o direito de guerra que permite os aumentos substanciais de prestigio. O Chefe um guerreiro, um domador de animais, um civilizador de Brbaros. Senhor do fogo, com o qual se desbrava a mata e se forjam as armas, ele

pde acomodar o mundo. Ele pde domar os animais ferozes, os demnios, os selvagens que cercam a cidade, nas regies incultas, alm dos campos cultivados. Ele suportou a prova da exposio na mata, seja em seu nascimento, como Heou-tsi, seja, como Chouen, antes de tomar o poder. Ele sabe, como Yu, o Grande, danar os passos que tornam inofensivos os Tch'e-mei, espritos ferozes dos pntanos e dos montes, ou a dana que, domesticando os Trs Miao, estes seres alados, faz com que eles abandonem a barbaria e tragam seu tributo capital. Ele conhece o nome dos Monstros: este nome a prpria alma. Quando o pronuncia, ele v se aproximar, cativo, o animal mais horrendo(476). O Chefe um fornecedor de caa, um conquistador de nomes, um caador de emblemas. A alma dos animais cativos tremula em seus estandartes, ressoa em seus tambores. Ele vai em seu pntano pegar o Crocodilo divino que toca tambor em seu ventre e d gargalhadas, ou, na mata, K'ouei, boi e drago, que faz o rudo do trovo: com sua pele, com seus ossos, ele faz um tambor que governa o raio (477). Ele vai aos brejos onde se arrasta o Wei-t'o, vestido de roxo, como convm a um prncipe, e sinuoso como uma bandeira que tremula: ele o pega e o come, pois Wei-t'o tem em si uma virtude dos prncipes e governa a Seca (478). O Chefe um caador mas que caa com msica, danando, batendo o tambor, brandindo, como uma bandeira, caudas de animais (479). Ele captura os animais, come sua carne, usa sua pele, revestindo-se de sua natureza, assimilando seu gnio. Ele d a seus homens, para que eles os usem, o nome ou a pele dos monstros vencidos. Ele conquista os emblemas e os distribui. A natureza e os homens lhe obedecem, graas a estes emblemas. Mas ele s pode conquista-los nos territrios desertos, terra de caadas ou de guerras. Ali vivem os Brbaros, que so a caa do Chefe. Entre os Chineses, realmente, a guerra foi, outrora, proibida. Ela parecia impossvel. Todos os Chineses eram aliados (literalmente: kieou-cheng = sogros e genros) ou irmos (hiong-ti). Se traziam nomes diferentes, uniam-se pelo casamento e por vingana, vivendo num estado de equilbrio agitado que difere, radicalmente, do estado de guerra. Preludiando vin-

ganas ou coroando-as, a unio pelo casamento corresponde a uma trgua na qual as rivalidades talvez se avivem mais do que diminuam. Concursos regidos mos irmos. Por que, por duas vezes, agistes sem nos consultar?" Che-kiuan respondeu (como seu prestgio fora restaurado, ele s tinha que afetar modstia): "Antes, no pensei seno em penetrar no campo inimigo e depois tive medo (no tenho a pretenso de vos igualar em bravura: esta frmula desarma a clera)". Os dois puseram-se a rir, dizendo: "Vossa Senhoria bem perspicaz (619)!" V-se que nas provas impostas pelo ponto de honra, a lealdade toma, muitas vezes, um ar de traio. A fraternidade de armas tem qualquer coisa de equvoca, pois o resultado da batalha (tanto quanto a vitria ou a derrota da regio), uma exaltao ou um rebaixamento dos prestgios pessoais. Por outro lado, no se experimenta menos sentimentos amigveis do que rancor em relao ao inimigo ocasional que se combate, sobretudo, para se classificar em seu prprio acampamento. Salvo nos casos extraordinrios em que a guerra uma guerra de morte, a finalidade da batalha no , de modo algum, a destruio do adversrio. Ele deve ser um combate corts. O duque Siang de Song espera, para uma batalha campal, que o exrcito de Tch'ou atravesse um rio(620). Dizem-lhe: "Eles so numerosos; ns somos poucos; antes que eles acabem a travessia, vamos atac-los!" O duque no seguiu este conselho. Terminada a travessia, como Tch'ou ainda no se dispusera ao combate, dizem ao duque: " preciso atac-los!" Ele responde: "Esperemos que eles estejam prontos para a batalha!" Ele atacou, por fim, foi derrotado e ferido. Diz ento: "Um chefe digno deste nome (kiun-tseu, prncipe, gentil-homem, homem honesto) no (procura) vencer um adversrio no infortnio. Ele no toca o tambor quando as fileiras no esto formadas." Embora respondessem ao duque que somente o xito era meritrio, a Histria perdoou-lhe inmeras faltas graves porque, nesta circunstncia, ele s pensou em salvar a honra.

No h vitria quando a honra do chefe no sai engrandecida da batalha. Ela aumenta menos quando se procura o xito (e sobretudo, quando se quer levlo ao extremo) do que quando se mostra moderao. Ts'in e Tsin esto frente frente(614). Os dois exrcitos se formam e no combatem. De noite, um mensageiro de Ts'in vem advertir Tsin para que se prepare: "Nos dois exrcitos no faltam guerreiros! Amanh cedo, eu vos convido, encontremo-nos!" Mas os de Tsin notam que o mensageiro nunca olha fixo e que sua voz no est segura: Ts'in derrotado antecipadamente. "O exrcito de Ts'in nos teme! Ele fugir! Vamos atac-lo no rio! Certamente ns o venceremos!" No entanto, o exrcito de Tsin no se forma para o combate e o adversrio pode retirar-se tranqilamente. Foi suficiente que algum dissesse: "No recolher os mortos e feridos, desumano! No esperar o momento conveniente, cercar o inimigo numa passagem perigosa, infame (621)!" E eis como deve falar um vencedor a quem se prope ostentar sua glria construindo um acampamento no local de sua vitria, levantando, sobre os corpos dos inimigos mortos, um monumento de terra (622): "Por minha causa, duas regies expuseram ao sol os ossos de seus guerreiros! crueldade!...(Sem dvida) nos tempos antigos, quando os Reis resplandecentes de Virtude combatiam homens que no tinham respeito algum (para com a ordem celeste) e quando eles tomavam (aqueles que, semelhantes a) baleias (devoravam os fracos, estes reis podiam), ento, levantar um outeiro triunfal (fong) a fim de expor (para sempre) os corpos (dos culpados: os do mau chefe e de seus seguidores, maus por contgio). Mas, no presente! no h culpados (= no tenho categoria para conduzir uma guerra mortal)! No existem vassalos que no tenham mostrado, at o fim, sua fidelidade! Eles morreram, ligando seu destino (ming: vida, destino, ordem, investidura) ao de seu prncipe! Por que levantar um monumento triunfal?" Enquanto os vassalos defrontam-se em confuso, o chefe que assume, sozinho, as responsabilidades do combate e de suas conseqncias. s o chefe que conduz a batalha. A vitria conquistada, exclusivamente, devido a sua virtude. Ele deve trans-

mitir a fora de sua alma a todos os combatentes. Deve se consumir inteiramente. K'i-k'o comanda a legio central de Tsin; Houan seu lanceiro, Tchang-heou seu cocheiro. No incio do combate(588) (623), "K'i-k'o foi ferido por uma flecha; o sangue escorreu at seus sapatos: ele no cessou de fazer soar seu tambor. (Mas, enfim) ele disse: 'Sinto dor!' (Os chefes em armas devem respeitar a etiqueta. Seus vassalos fiis esto encarregados de lhe recordar seu dever). Tchang-heou diz-lhe: 'Desde o princpio da batalha, duas flechas atingiram-me, uma na mo, outra no cotovelo. Eu as arranquei para conduzir o carro. A roda da esquerda tornou-se prpura. Ousei dizer que me sentia mal? Senhor sede paciente.' Houan diz a K'i-k'o: 'Desde o comeo da batalha, desde que houve perigo, desci do carro e fiz avanar os cavalos. Senhor, vs vos preocupastes (somente) comigo? E, no entanto, Senhor, vs tendes dor!'Tchang-heou replicou: 'Os olhos, os ouvidos do exrcito esto presos em nossa bandeira, em nosso tambor. Todos lhes obedecem, para avanar, para recuar. Enquanto houver um homem para conduzir nosso carro, que aqui est, possvel concluir a obra! Por que tendes dor, conduzireis a grande obra de nosso senhor a um desastre? Aquele que reveste a couraa e toma as armas deve ir firmemente at a morte. Vs sofreis, mas no mortalmente. Senhor, superai o sofrimento!' Tchang-heou, ento, fazendo passar as rdeas para sua mo esquerda, pegou a baqueta e tocou o tambor." Mas Tchang-heou no estava qualificado para agir como chefe: seus cavalos desenfrearam e a batalha foi perdida. Um chefe digno de sua posio quando pode, aps o combate, exclamar: "Fui derrubado sobre o estojo de meu arco! Vomitei meu sangue! No entanto, o som de meu tambor no esmoreceu! Hoje, fui um chefe! " E porque ele foi, verdadeiramente, um chefe, seu lanceiro pde, sem nenhuma dificuldade, afastar os inimigos, enquanto que seu cocheiro, com as rdeas to gastas que ao menor esforo de trao elas deveriam ter-se rompido, pde conduzir, no meio da confuso, seu carro com toda a carga. A voz, a respirao, a alma, o ardor do chefe comunicam-se a seus companheiros de carro e a todo

exrcito, mas animam, primeiramente, seu tambor e seu estandarte. A bandeira toda a ptria. Se a bandeira for destruda, o domnio est perdido. A bandeira o prprio prncipe. Quem tocar no porta-bandeira culpado de lesa-majestade e o senhor, em pessoa, est em todos os lugares em que sua flmula levada (624). Mas preciso ocasies excepcionais para que um prncipe exponha, simultaneamente, sua pessoa e seu estandarte. Geralmente, ele confia a bandeira, passando o comando. Entretanto, so raros aqueles que querem aceitar a perigosa honra de um imperium total. Um general prudente suprime pelo menos seus gales do estandarte do prncipe. Todos os vassalos, em princpio, so votados morte depois que, por ocasio da partida do exrcito, uma uno sangrenta deu alma s bandeiras e aos tambores. Mas o general a quem so confiados os tambores e as bandeiras de comando positivamente votado morte, se, aceitando o imperium, ele se tornar o representante do senhor. Quando recebe o tambor e a bandeira, tendo em mos o machado, depois de uma consulta tartaruga e de uma abstinncia severa, o chefe de guerra deve proceder a uma tomada de hbito que o afasta do mundo dos vivos. Ele veste ento um hbito fnebre e s poder sair da cidade por uma brecha feita na porta do norte: tambm por uma brecha que os mortos devem sair do Templo ancestral no momento do enterro (625). O general deve cortar as unhas de seus ps e de suas mos, como se faz, quando algum quer se entregar inteiramente a uma fora santa. Desde ento, "votado morte", "ele no deve mais olhar para trs". Preso por um vnculo de fidelidade absoluta, no podendo mais "ter um corao duplo", ele se torna a alma da obra de mortandade que inaugura sua tomada de hbito. Esta se parece com a tomada de hbito dos exorcistas encarregados de expulsar, por conta do senhor, as foras nocivas. Os exorcistas, vestindo suas roupas consagradas, juram no voltar seno depois de ter "combatido at o fim". O chefe de guerra, no decurso da campanha, renova, s vezes, seu devotamento. Tchong-hang Hien-tseu, general de Tsin(554), jogou pedras preciosas no rio e pronunciou este juramento: "No me permitirei reatravessar o rio!" Hien-tseu no foi mais do que

meio vencedor e, no entanto, reatravessou o rio. Ele caiu doente, pois. Seus olhos se abaularam. Ele pediu um sucessor, depois morreu. Morto, ele continuou, com a boca escancarada, a olhar com seus olhos do devem dar a primeira e a quinta nota." "Em presena do senhor, ningum (nem mesmo o herdeiro designado) deixa pender livremente e retinir as pedras preciosas de seu cinto." S se deve ouvir o tilintar do berloque do prncipe. Mas quando o nobre est em seu carro, ele escuta uma harmonia de campainhas e quando anda - com rapidez e gestos sempre moderados - "escuta o som das pedras penduradas em seu cinto: ento, nem o erro, nem a m-f podem entrar em sua alma" (656). O nobre deve ser corajoso e puro. No combate, deve mostrar-se bom (chen-jen ou ento leang jen); na corte deve se esforar para ser belo (mei jen), pois beleza (mei) e pureza (kie = bem arrumado, de boa qualidadeJ confundem-se e, alm disto, a bravura no se diferencia de uma boa apresentao (657). nobre aquele que se apresenta nobremente. Quando se veste um traje "feito de doze faixas, como o ano feito de doze meses" - cujas " mangas redondas, imitando o crculo", convidam "aos movimentos graciosos" - cuja "gola, talhada em ngulo" e "a costura dorsal reta, como um cordel", lembram "a retido e a correo" - enfim, cuja "borda inferior, horizontal como o travesso de uma balana em equilbrio, pe seus sentimentos em repouso e o corao em paz"(658), possvel guardar o porte nobre (yi) que faz com que "um homem seja verdadeiramente um homem". Bem vestido, no se arrisca a ser comparado a um rato que s tem sua pele, a um animal com movimentos desordenados e loucos (659). Tem-se uma alma que o traje modela corretamente, solidamente, que pode subsistir. No se ouve dizer: "Um homem que no est bem posto! - possvel que no esteja morto?" Ao contrrio, de um gentil-homem perfeito, que traz pedrarias na orelha e cujo barrete, guarnecido de prolas, "brilha como as constelaes", dir-se- que "para sempre inesquecvel ".'No se compreende que suas maneiras no sejam "graves, majestosas, imponentes, distintas" (660). "Quando o vesturio co-

mo deve ser, a postura do corpo pode ser correta (tcheng), o ar do semblante doce e calmo, conforme as regras, as frmulas e as disposies (661)." Somente ento se pode ser considerado um vassalo por seu prncipe, um filho por seu pai e, por todos, um adulto. A cerimnia da maioridade uma tomada de hbito que sagra um gentil-homem e o dedica aos deveres elegantes. Quando se est vestido nobremente, pode-se tomar parte nessas justas de boas maneiras, fsicas ou verbais, que constituem a vida na corte. A grande prova de nobreza (pois os nobres so, antes de tudo, guerreiros) o torneio do tiro com o arco; ele no conserva nada da brutalidade de uma prova de habilidade ou de bravura (no sentido vulgar destas palavras): uma cerimnia musical dirigida como um ballet, em que se deve ser hbil nas belas saudaes e elegante em seus trajes. Todos os movimentos devem ser feitos em cadncia e a flecha que destoar no pode nunca tocar o alvo (ou, pelo menos, no vlida) (622). "Os arqueiros, avanando, recuando, virando e voltando, devem atingir o centro (tchong) das regras rituais. No interior, uma atitude correta (tcheng) da alma, no exterior, uma atitude correta (tche) do corpo, eis o que necessrio para se manejar arcos e flechas, firmemente, cuidadosamente. Arcos e flechas manejados firmemente, cuidadosamente, eis o que permite dizer que se tocou no centro (tchong) do alvo. E assim que se faz conhecer a virtude (t)", no somente a virtude do vassalo que atira, mas tambm a virtude de seu senhor - pois s ele pode conduzir as flechas ao alvo: o suserano diminua tambm os feudos dos senhores, cujos vassalos, nobres desqualificados, demonstraram a lealdade incerta de seu amo, no sabendo atingir, corretamente, o centro dos alvos (663). Mas de um prncipe que sempre atira com o arco sem que "nenhuma flecha se desvie" [oh! Como digno de renome! - seus belos olhos tm um brilho puro! - e como seu modo de trajar (yi) correto!"] dir-se-, imediatamente, que ele pode reinar; ele belo, ele puro: "Ele pode afastar as calamidades! " (Sabe-se que os chefes antigos expulsavam as mculas com flechadas). Na corte do senhor virtuoso, os vassalos atiram cada vez melhor e todos com a mais perfeita cortesia: "Os sinos, os tambores

esto prontos! - o grande alvo est colocado! Arcos entesados e flechas preparadas! - Os arqueiros enfileiram-se dois a dois! -'Eu te proponho (hien: termo que vale para os presentes depositados em oferendas e para os desafios dirigidos a um rival) provar tua arte!' - 'Vou prov-la - e tu bebers minha orao (k'i, orao dirigida a uma fora santa, humildemente, mas para constrang-la a atender favoravelmente o suplicante) (664)!'" O requinte tal que a taa (imposta ao vencido em vista de uma penitncia e de uma reconciliao) -lhe apresentada como uma homenagem. O gentil-homem "quando se esfora para atingir o alvo", deve fingir procurar a vitria s por humildade, para "declinar da taa" e passar a honra (honra e taa so expressas com a mesma palavra) (665). Passa-se generosamente a outro o reconforto (Yang) honroso que esta taa salutar com uma bebida (feita para restaurar as foras declinantes, mas) reservada aos velhos a quem se deve respeitar. O duelo com o arco, que se faz na corte entre pessoas honradas, poupa, da maneira mais delicada, as suscetibilidades. lsto compreende um nmero infinito de genuflexes. uma prova de boa apresentao e de disciplina mundana. Todo trao de brutalidade selvagem cuidadosamente dissimulado. H um homem atrs de cada alvo, mas ele no est l para receber as flechadas; simplesmente encarregado de gritar "toque!", com uma voz harmoniosa e ajustada nota dada pelos msicos. um analista que marca os pontos e h um diretor do tiro. Ele calcula as flechas de cada par de arqueiros e faz respeitar a boa ordem, encarrega-se de chamar os faltosos ao dever, com o auxlio de uma varinha. So assim consolidadas as regras da honra que, depois de terem penetrado em todos, iro reger a vida cotidiana(666). Se dois arqueiros rivais decidem encontrar-se numa plancie, eles atiraro um contra o outro, como que regidos por uma msica, os dois ao mesmo tempo. Como os dois tm boa pontaria, suas flechas devem se chocar no meio do percurso sem causar mal a ningum (pelo menos se eles tm o mesmo nmero de flechas). Pode acontecer que um deles, muito inflamado pela vitria, esconda uma flecha suplementar. O outro reter o golpe delituoso com uma varinha. Depois disto, "os dois, chorando (de com-

paixo, um pelo outro), depem seus arcos, faro genuflexes no local, um diante do outro, convidando-se (a viver, doravante, como vivem) um pai e um filho" e se ligando para sempre por uma troca de sangue (tirado de seus braos) (667). Os torneios regulares do tiro com o arco servem para purgar o esprito de vingana. Com grande quantidade de gestos leais, um velho fundo de violncia e traio se dilui e se ameniza: dissimula-se a ponto de parecer apagado. Cada um se apresenta com uma aparncia nobre. Esta roupagem de lealdade (tchong) representada com o sinal corao e uma imagem mostrando a flecha no centro do alvo) a alma oficial do nobre, do ser civilizado (wen: distinto), do homem verdadeiramente homem (jen), o qual ao encontro de selvagens, sabe compor sua dignidade. "As regras do cerimonial (li) ensinam-nos, umas a moderar nossos sentimentos, outras a fazer esforo para excit-los. Dar livre curso aos sentimentos, deix-los (sem mais) seguir sua inclinao, o caminho (virtude: tao) dos Brbaros. O caminho imposto pelo cerimonial bem outro. O cerimonial fixa os graus e os limites ( expresso dos mente os degraus de uma escada e de andar com os cotovelos estendidos, correndo a servio do senhor. partidrio das polticas positivas e no das formas religiosas. Lou tem somente uma corte humilde, mas a regio das tradies rituais. Tambm um sbio, um gigante, o apstolo da sinceridade, o prprio Confcio que assiste o prncipe de Lou. Os dois prncipes sobem o montculo de terra do tratado e se sentam face a face, isolados e sem armas: foras nuas. Ao longe esto os vassalos, ao p dos degraus, os assistentes. Outrora, num encontro semelhante, e numa poca em que Ts'i ainda queria impor a Lou um tratado desastroso, houve, no acampamento de Lou, um guerreiro que, subindo todos os degraus do monticulo, foi ameaar o duque de Ts'i com um punhal, extorquindo-lhe um juramento inesperado. Ts'i tinha, ento, um prncipe e, por conseguinte, um ministro que eram sbios; eles executaram com uma lealdade escrupulosa o juramento imposto pela fora: isto trouxe sorte para Ts'i. Mas os tempos mudaram, a vitria est ainda do lado de Ts'i; entretanto, a lealdade e o conselheiro leal esto ao lado de Lou. , pois, Ts'i

quem, procurando confirmar pela violncia uma vitria que a sabedoria no mereceu, tentar intimidar o prncipe de Lou, isolado no local. Um oficial sugere chamar os danarinos: "Sim", diz o prncipe de Ts'i. Logo avana uma massa de estandartes, de lanas e de alabardas, num tumulto de tambores e de gritos. Mas nada perturba a alma leal de Confcio. "Com um passo rpido, ele sobe os (primeiros) degraus do montculo, mas no o ltimo, e levanta suas mangas no ar." A etiqueta no permite a um vassalo fiel gestos mais violentos. Mas, quando possui senso de dignidade, o vassalo possui a arte da palavra. No segundo degrau, Confcio falou. Yen tseu nada teve para replicar. Graas ao talento de seu arauto, Lou superou Ts'i; uma contra-clusula foi inserida no tratado, para prometer a entrega dos domnios arrebatados; e (como toda justa entre prestgios de prncipes implica um castigo aos vencidos - que so culpados) Confcio, para marcar o triunfo do direito, fez proceder a uma execuo. A tradio hagiogrfica pretende que ele fez esquartejar os bufes e os anes: no era a melhor maneira de tomar evidente a derrota de um prncipe desleal e inimigo dos ritos, cujo ministro no podia ser seno um ano e um bufo? A alma do prncipe fala pela voz do arauto e ela que, nos torneios oratrios que so as entrevistas dos chefes, conquista, para o domnio, glria ou vergonha. O conselheiro eloqente, numa poca em que a batalha s consegue meias vitrias, , bem mais do que o general, o grande conquistador do prestgio e o verdadeiro auxiliar do senhor. Mais ainda do que na guerra, a solidariedade do grupo feudal se estabelece nas reunies da corte. em conselho que os vassalos entregam-se ao prncipe. Eles recebem do prncipe sua sabedoria, que restituem sob a forma de advertncias. Um domnio perdido se uma mesma virtude no animar todos os vassalos, todos os conselheiros. "Parecer de acordo e se desacreditar -ah! eis a o maior mal!" "Encher de palavras a corte de audincias"(678) de nada serve, se os coraes no estiverem unnimes:

pelo contrrio, preciso que cada um "saiba" assumir a responsabilidade (kieou: o efeito nocivo ou feliz) dos conselhos que deu ou que outros preconizaram, mas aos quais o senhor, em nome de todos, aderiu dizendo "sim". Quando um conselho adotado, todos os conselheiros so obrigados a execut-lo, a menos que tenham tido o cuidado de se eximir de sua responsabilidade. Mas, repudiar uma deciso que, Por princpio, no pode deixar de ser unnime, subtrair-se do grupo feudal, banir-se a si mesmo, maldizer-se, arriscando-se a maldizer seus pares e o senhor. A admoestao (kien) - o conselho contrrio - um ato inconcebvel num domnio provido de um bom destino. um dever, um dever funesto, no conselho de um domnio que declina. O vassalo que pleiteia uma causa contra os outros, condena-se a expiar o efeito nocivo das decises que repudia. A opinio semelhante de trs conselheiros constitui a unanimidade do conselho. Um protesto, trs vezes repetidos, atinge a deciso com uma espcie de oposio suspensiva; ela desliga provisoriamente a sorte, mas comprometendo o destino do oponente. Este deve se retirar, renunciar a seu cargo, expatriar-se: deve expiar aquilo que atribui aos outros como uma falta. Submeter-se seria "ficar apenas para odiar" e para lanar sobre o ato decidido uma m sorte (679). O oponente deve, salvo casos extremos, evitar maldizer os outros e excomungar-se a si prprio. Quando o vassalo, cujo conselho foi rejeitado, deixa o pas, ele rompe com sua ptria e com seus antepassados: ele no pode levar a baixela de que se servia para seus cultos patrimoniais. Perde seus deuses. "Assim que passou a fronteira, aplaina a terra e levanta um montculo. Volta seu rosto para sua regio e se lamenta. Veste uma tnica, uma roupa interna, um barrete bem ornamentado, de cor branca e sem bordas de cor (traje de luto). Cala sapatos de couro cru, o encosto de seu carro coberto por uma pele de co branco, os cavalos de seu carro no tm mais seus plos cortados. Ele deixa de aparar suas unhas, sua barba e seus cabelos. Quando toma sua refeio, abstm-se de fazer qualquer libao (ele eliminado da comunho dos deuses). Abstm-se de dizer que no culpado (abstm-se tambm de se dizer culpado: somente um

chefe tem alma e autoridade suficientes para poder se confessar formalmente culpado). Suas mulheres (Pelo menos a mulher principal) no so mais admitidas perto dele (sua vida sexual e suas relaes da vida em comum so interrompidas). Somente depois de trs meses que ele retoma suas vestes comuns(680)." O vassalo expatriado usa o luto pela ptria perdida, mas tambm seu prprio luto que ele veste. Rompe os vnculos antigos e acaba com a personalidade que, at ento, foi a sua. Quando, no fim de trs meses, retira as insgnias do luto, deixou de ser o homem de tal senhor e de tal regio. Para cessar de ser um oponente, ele deve morrer em sua ptria. Todo tempo em que traz as vestimentas de luto e em que se submete abstinncia, ele ameaa seu senhor com um gesto de suicdio. Esta ameaa tem uma fora terrvel e basta, mesmo dirigida a um estrangeiro, para coagir a vontade. Um vassalo de Tch'ou conseguiu obter para seu senhor vencido a ajuda dos exrcitos de Ts'in, lamentando-se durante sete dias, apoiado contra uma parede do palcio do prncipe, sem que o som de sua voz parasse e sem que nem uma colherada de bebida entrasse em sua boca (681). Quando se expatria e jejua, o Vassalo oponente procura constranger seu senhor a faz-lo repudiar os projetos aos quais no quer se associar. Pode, em casos urgentes, empregar um procedimento mais brutal. O prncipe de Tsin, convencido por sua mulher, filha de Ts'in, libera generais de Ts'in que ele havia vencido e aprisionado. Um vassalo apresenta-se, repreende o prncipe, depois "cospe no cho, sem se voltar" (682). Lana, assim, a mais real das maldies sobre a deciso do prncipe; uma alternativa terrvel impe-se desde ento ao senhor: preciso que ele renuncie deciso maldita (o que fez o prncipe de Tsin), ou bem, que condene morte seu vassalo, incorrendo, assim, em todas as responsabilidades de uma execuo que este havia provocado deliberadamente. Mas sem atrair o castigo, um vassalo fiel pode libertar seu senhor da m sorte acarretada por uma deciso inoportuna: suficiente, para isto, que o oponente exclame, mostrando com um gesto os conselheiros da outra faco: "So estes que o quiseram (683)!" Se o senhor segue o conselho deles, mas

com a prudncia de esboar um gesto de restrio, em caso de fracasso, o ato nefasto pode ser eliminado, suprimindo-se os conselheiros perniciosos. Transfere-se para estes a calamidade (684). Sem dvida, mais digno da parte do senhor que ele reivindique para si toda a responsabilidade e que diga: "Meus generais e meus ministros no so mais do que meus braos e minhas pernas", mas, se a teoria quer que o domnio tenha uma alma, a do chefe, e se, em princpio, o conselho deve ser unnime, na prtica, a principal utilidade da reunio da corte determinar um responsvel para cada conselho: assim, as palavras pronunciadas no empenham mais a sorte, de maneira irremedivel, num nico sentido. Os arrependimentos tomam-se possveis, e j se acham designadas as vtimas das expiaes que se podem impor. No conselho, como na batalha, procura-se diluir as responsabilidades, pois se hesita em se comprometer irrevogavelmente. Precisamente porque a palavra empenha o destino e desnuda a alma, cada conselheiro prepara-se, no para falar sem dizer nada, mas, pelo menos, para se exprimir somente com o auxlio de frmulas proverbiais. Estas impem respeito por seu carter tradicional, mas se a tradio as consagrou, elas no tm, por outro lado, mais do que um valor neutro e so, sobretudo, suscetveis de interpretaes variadas. O ideal que o conselho proceda como numa justa de provrbios e que a deciso tenha o aspecto um corpo de nobres: so os indivduos do alto, aqueles que so admitidos para comer, depois do chefe, mas sobre o estrado do chefe, a comida da qual se alimenta a alma dos senhores falecidos. Como o chefe, eles tm uma alma que no ir, logo depois da morte, perder-se no fundo da terra: ela habitar, bem alto, nas regies celestes onde os chefes defuntos ainda tm sua corte e onde sobe, como fumaa, a gordura queimada das vtimas. E, durante sua vida, eles tero, em suas famlias, a santidade de um chefe, todo o prestgio que permite comandar um grupo humano, toda a virtude que pode fazer frutificar um domnio e que d o direito de ser um possuidor de terra. Quando procede primeira lavra, o chefe traa, para si, um pequeno nmero de sulcos: logo toda a terra acha-se fecundada e todas as primcias so alcanadas pelo

santo que retirou o carter sagrado do solo(701). Entretanto, todos animados pela fora sagrada que est concentrada em seu senhor, e que, neles, est difusa, mais numerosos no trabalho e cavando, cada um, maior nmero de sulcos na medida em que so menos ricos de nobreza e de virtude eficaz, os vassalos, na ordem de sua dignidade, lavram depois de seu senhor: eles adquirem, a seguir, um direito eminente (mas subordinado ao direito do prncipe) sobre os campos onde os camponeses s tero, rsticos como so, que trabalhar - trabalho de viles, que no confere mais do que direitos vis. Cada nobre um chefe com virtude diluda. Uma mesma alma habita no senhor e nos gentis-homens que constituem sua corte. Tambm o vnculo de vassalagem implica uma adeso total de vontades. Ele no difere do lao de parentesco, tal como existe, na mesma poca, entre pai e filho. O vassalo veste luto pelo senhor com o mesmo rigor que veste luto por seu prprio pai. O grupo feudal uma espcie de famlia, da mesma forma (como veremos) que a famlia uma espcie do grupo feudal. Como o agrupamento domstico, o agrupamento feudal uma unidade comunitria. Os membros do grupo so possudos pelo mesmo gnio, todos participando dele, mas de maneira desigual, pois o grupo hierarquizado. O irmo que procura suplantar seu irmo, o vassalo que quer destronar seu senhor (estas prticas eram cotidianas) no se colocam fora da lei do grupo: eles esperam simplesmente por sua ordem. No rompem uma comunho, no so culpados de um crime contra a pessoa ou a famlia, mas unicamente de lesa-majestade, e isto somente quando no tm xito, pois o sucesso faria brilhar neles uma majestade superior quela de sua vtima e esta seria o verdadeiro culpado. Tambm, enquanto o esforo de um grupo homogneo pode tender unicamente a manter e a reforar uma unio comunitria, o esforo do agrupamento feudal se exercer, com mais evidncia, para manter a ordem hierrquica que o grupo possui: por isto que as cerimnias que restauram periodicamente a comunho dos vassalos so reguladas de modo a marcar, por dosagens protocolares, a parte de prestgio

que deve caber a cada um deles. Todo simbolismo social tem por objetivo reforar o senso de disciplina. A disciplina o ideal, porque a resistncia subordinao o fato. Ningum pensa poder viver fora de uma clientela, mas desde que faz parte desta clientela, cada um possui em si uma parte desta virtude contagiante que faz a majestade de um chefe reconhecido. O chefe no tem outra ocupao alm de concentrar em si o prestgio. Para que ele permanea majestoso, preciso que seja um prncipe ocioso. Mas desde que se impe uma ao, s um vassalo pode execut-la, e ele no pode agir a no ser com o auxlio de uma delegao da virtude do prncipe. Ora, se ele comprometer, por um revs, a santidade do senhor, ou, tendo obtido grande xito, santificar-se mais do que o desejvel, ele atenta sempre contra a dignidade do senhor. Arauto ou general, o vassalo (pois nada distingue o devotamento absoluto da ambio facciosa) condena-se a expiar, se decidir, verdadeiramente, agir. Para se mostrar um servidor leal de maneira evidente, preciso que seja, no completamente, talvez, um ministro ocioso, mas muito estritamente, um ministro que no age seno na frmula e para a frmula. A sinceridade (tch'eng), que o primeiro dever do vassalo, define-se por uma conduta de conformidade absoluta s leis da etiqueta. Quem quiser se manter fiel, deve mostrar claramente que no age, no pensa e nem sente a no ser segundo as regras protocolares. Tudo na vida pblica no mais do que ostentao e ostentao regrada. E assim at o momento em que os tcnicos superam a velha nobreza no favor dos prncipes. Mas, quando o conselho privado, ou, ainda pior, a corte dos legisladores substitui a corte dos vassalos, seus torneios e seus discursos, os dias da nobreza feudal terminam. verdade que o homem honesto vai substituir o gentilhomem; este ltimo estava apto a fazer todos os servios: o outro se vangloriar de tudo saber. - Durante longos sculos em que reinou, a disciplina feudal fez com que os Chineses adquirissem preciosas virtudes. Reconheceram os mritos do formalismo, dos gestos regulados, das frmulas feitas. Compreenderam o valor moral do conformismo. Propuseram-se, como dever essencial, a prtica da mais completa e

da mais autntica lealdade; tiveram a sabedoria de defini-la por uma adeso formal a um conjunto de convenes consagradas, de hierarquias estabelecidas, de boas tradies. Fizeram da sinceridade e da honra os princpios fundamentais de sua conduta e de seu pensamento. Codificaram estritamente a prtica destas virtudes e decidindo devotar sua vida ao culto da etiqueta, conseguiram evitar as perturbaes acarretadas por uma busca anrquica do justo e do verdadeiro. A vida privada O respeito filial, em toda a antiguidade, se quisermos acreditar nos Chineses, constituiu, entre eles, o fundamento da moral domstica e mesmo da moral cvica. O respeito devido autoridade paterna considerado o maior dos deveres, o primeiro dever do qual emanam todas as obrigaes sociais. Se o prncipe merece ser obedecido, porque o povo reconhece nele um pai. A autoridade de um governo, seja ele qual for, parece ser sempre de essncia patriarcal, pois os deveres para com o Estado so representados como uma extenso dos deveres familiares. O sdito fiel fruto do filho respeitoso. Quando o pai ensinou o respeito (hiao) a seu filho, ele aprendeu a lealdade (tchong). O pai , pois, o primeiro magistrado e, mesmo, segundo a teoria clssica, ele no retira esta magistratura de uma delegao: ela lhe pertence em virtude de um direito fundado na natureza. Estas concepes correspondem a sentimentos to consolidados hoje que os Chineses podem se sentir justificados declarando-os inatos. Mas estes sentimentos tm uma histria. Eles foram inculcados nao graas ao esforo de propaganda de uma escola de ritualistas e de mestres de cerimnias. Estes tiraram os princpios da moral nacional, aplicando-se em analisar os usos em vigor na nobreza feudal. Deste trabalho de anlise resultam dois rituais: o Yi li e o Li ki, que servem para ilustrar inmeras coletneas de particularidades histricas. Estas coletneas apresentam-se como narrativas da histria, enquanto que os rituais so colocados sob o patrocnio distante de

Confcio. Entretanto, sua redao definitiva data da poca dos Han, mas desde ento, tomam uma espcie de valor cannico. So lidos para que neles se encontre o cdigo dos bons costumes; ningum ousaria imaginar que estes costumes no foram os dos antigos. Em compensao, desde que se leva em conta os dados histricos, percebe-se que, longe de nascer de uma simples codificao de sentimentos naturais, as regras do respeito filial derivam de antigos ritos pelos quais se obtinha, primitivamente, a filiao agntica. Foi somente ao trmino de uma longa evoluo que o pai e o filho se consideraram parentes. O primeiro vnculo que os uniu foi um vnculo de enfeudao, vnculo jurdico e no natural, e, alm disto, vnculo de natureza extrafamiliar. O filho no considerou seu pai um parente seno depois de t-lo reconhecido seu senhor. conveniente, pois, inverter o postulado histrico que constitui a base das teorias chinesas. A moral cvica no uma projeo da moral domstica; pelo contrrio, o direito da cidade feudal que impregna a vida domstica. Quando, sob a influncia dos rituais, o princpio agntico comandou, sozinho, a organizao familiar, o respeito do filho pelo pai, aspecto particular da lealdade em relao a um senhor, pareceu, estendido a todas as relaes familiares, ser a base do prprio vnculo de parentesco. Da um trao caracterstico da vida privada dos Chineses, to importante que devemos insistir longamente sobre ele. Como a ordem domstica parece repousar inteiramente na autoridade paterna, a idia do respeito tem primazia absoluta, nas relaes da famlia, sobre a idia da afeio. Regulada pelo modelo das reunies da corte, a vida domstica prescreve toda familiaridade. Reina a etiqueta e no a familiaridade. l - A famlia nobre Alm do interesse histrico que apresenta, em razo de sua influncia sobre o desenvolvimento dos costumes chineses, a organizao da famlia nobre na China feudal de grande interesse sociolgico. Esta famlia de um tipo bastante raro e muito curioso,

pois um tipo de transio. Ela ocupa, na verdade, um lugar intermedirio entre a famlia agntica indivisa e a famlia propriamente patriarcal (702). Maior do que a famlia patriarcal, ela no compreende, no entanto, o conjunto de agnatos. No indivisa. Alm de um certo nmero de graus, o parentesco se atenua. Certas obrigaes no ultrapassam um crculo determinado de parentes. Outras se acham limitadas a um crculo menos amplo ainda. Mas o menor dos crculos compreende sempre os colaterais e no apenas um pai com seus descendentes. No basta que um pai morra para que todos seus filhos adquiram o poder paterno. Apenas o primognito pode ser investido, imediatamente, de uma autoridade. Assim a famlia, que no indivisa, tambm no patriarcal no sentido estrito do termo. A autoridade paterna reconhecida, mas limitada e subordinada a outras autoridades. Os direitos do tio mais velho entram em competio com os do pai. Os deveres dos filhos diferem conforme so mais velhos ou mais moos. A autoridade, enfim, no exercida, em todos os domnios ao mesmo tempo, por uma pessoa nica. O conjunto de parentes acha-se dividido em grupos distintos, com funes diferentes, mas cujos chefes so enfeudados, uns aos outros. Agrupamento ampliado de agnatos distribudos em clientelas hierarquizadas, a famlia nobre'forma um corpo articulado, uma unidade complexa na qual no se levanta, entretanto, nenhuma autoridade que disponha de um poder verdadeiramente monrquico. 1. - A organizao domstica A comunidade de nome (t'ong sing) o elemento essencial do parentesco; a de culto (t'ong tsong) o princpio da organizao domstica (703). Todos os que trazem o mesmo nome so parentes e, ligados a deveres definidos, formam uma famlia (sing). Por outro lado, os parentes acham-se distribudos num certo nmero de grupos culturais (tsong). Os tsong so mais ou menos vastos. Eles nunca compreendem mais do que parentes ligados por laos definidos a um ancestral comum, aquele cujo culto celebrado pelo grupo. Assim, enquanto

que o parentesco no repousa em relaes de proximidade natural, em considerao aos laos individuais que so constitudas as comunidades religiosas, cuja reunio forma a grande famlia. Na famlia camponesa, que uma famlia indivisa, o nome o sinal do parentesco; sinal carregado de realidade, smbolo rico de sentimentos, ele implica uma virtude (t) e caracteriza uma espcie (lei). Na famlia nobre (e uma razo para se achar que ela deriva, por evoluo,