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Aplicabilidade de argamassas de revestimento: avaliação empírica e comportamento reológico por squeeze-flow Dr. Fábio A. Cardoso - [email protected] Prof. Dr. Rafael G. Pileggi - [email protected] Prof. Dr. Vanderley M. John - [email protected] Departamento de Engenharia de Construção Civil e Urbana – Escola Politécnica Universidade de São Paulo - Brasil Fábio L. Campora - [email protected] Associação Brasileira de Argamassas Industrializadas (ABAI) - Brasil Resumo: O objetivo deste trabalho é estabelecer relação entre o comportamento reológico de argamassas de revestimento avaliado por squeeze-flow e o desempenho das mesmas em relação à qualidade e à produtividade durante aplicação manual. Seis produtos brasileiros de revestimento foram aplicados por três pedreiros e submetidos à avaliação empírica (através de aplicação de questionário) e, também, a testes de squeeze-flow. Todas as argamassas foram aplicáveis, mas com comportamentos diferentes nas etapas da aplicação, afetando principalmente os níveis de produtividade esperados. O método de squeeze-flow demonstrou representar com relativa precisão a percepção dos pedreiros. Palavras–chave: argamassa, revestimento, comportamento reológico, squeeze-flow, aplicabilidade. 1. INTRODUÇÃO Os principais requisitos de desempenho dos revestimentos estão relacionados a propriedades finais no estado endurecido, como a resistência de aderência, o módulo elástico e a permeabilidade, parâmetros importantes para promover maior durabilidade das edificações. As argamassas são aplicadas no estado fluido e, apesar de ser uma etapa curta e intermediária do processo, o comportamento destas no estado fresco é de fundamental importância para possibilitar uma aplicação produtiva e isenta de defeitos. Entre as patologias de revestimentos, a falha de aderência é um dos fenômenos mais frequentes e graves, causando prejuízos financeiros (e de imagem) a fabricantes de insumos, construtores e usuários, restringindo a utilização dos produtos e oferecendo risco à população. Essas falhas são causadas por defeitos na interface substrato / argamassa, originados durante a aplicação do material fresco contra o substrato [1]. Quando o comportamento reológico da argamassa não é adequado à energia de lançamento utilizada, são criados vazios na região da interface que permanecem após o endurecimento, reduzindo a área de contato e, conseqüentemente, a aderência entre o revestimento e a base [1]. Portanto, a adequação das características reológicas das argamassas às solicitações envolvidas na aplicação (seja manual ou mecânica) fornece condições de processamento mais favoráveis para a obtenção das máximas propriedades finais do

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Aplicabilidade de argamassas de revestimento: avaliação empírica e comportamento reológico por squeeze-flow

Dr. Fábio A. Cardoso - [email protected] Prof. Dr. Rafael G. Pileggi - [email protected] Prof. Dr. Vanderley M. John - [email protected] Departamento de Engenharia de Construção Civil e Urbana – Escola Politécnica Universidade de São Paulo - Brasil Fábio L. Campora - [email protected] Associação Brasileira de Argamassas Industrializadas (ABAI) - Brasil Resumo: O objetivo deste trabalho é estabelecer relação entre o comportamento reológico de argamassas de revestimento avaliado por squeeze-flow e o desempenho das mesmas em relação à qualidade e à produtividade durante aplicação manual. Seis produtos brasileiros de revestimento foram aplicados por três pedreiros e submetidos à avaliação empírica (através de aplicação de questionário) e, também, a testes de squeeze-flow. Todas as argamassas foram aplicáveis, mas com comportamentos diferentes nas etapas da aplicação, afetando principalmente os níveis de produtividade esperados. O método de squeeze-flow demonstrou representar com relativa precisão a percepção dos pedreiros. Palavras–chave: argamassa, revestimento, comportamento reológico, squeeze-flow, aplicabilidade. 1. INTRODUÇÃO Os principais requisitos de desempenho dos revestimentos estão relacionados a propriedades finais no estado endurecido, como a resistência de aderência, o módulo elástico e a permeabilidade, parâmetros importantes para promover maior durabilidade das edificações. As argamassas são aplicadas no estado fluido e, apesar de ser uma etapa curta e intermediária do processo, o comportamento destas no estado fresco é de fundamental importância para possibilitar uma aplicação produtiva e isenta de defeitos. Entre as patologias de revestimentos, a falha de aderência é um dos fenômenos mais frequentes e graves, causando prejuízos financeiros (e de imagem) a fabricantes de insumos, construtores e usuários, restringindo a utilização dos produtos e oferecendo risco à população. Essas falhas são causadas por defeitos na interface substrato / argamassa, originados durante a aplicação do material fresco contra o substrato [1]. Quando o comportamento reológico da argamassa não é adequado à energia de lançamento utilizada, são criados vazios na região da interface que permanecem após o endurecimento, reduzindo a área de contato e, conseqüentemente, a aderência entre o revestimento e a base [1]. Portanto, a adequação das características reológicas das argamassas às solicitações envolvidas na aplicação (seja manual ou mecânica) fornece condições de processamento mais favoráveis para a obtenção das máximas propriedades finais do

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revestimento que são determinadas pelas características da formulação (composição química, granulometria, teor de água, aditivos, adições, etc.). O squeeze-flow, método reológico consagrado na caracterização dos mais diversos tipos de pastas (alimentos, cosméticos, materiais cerâmicos, polímeros e compósitos) [2], o qual consiste em comprimir uma amostra cilíndrica entre duas placas paralelas, vem sendo utilizado para a avaliação do comportamento reológico de argamassas e outros materiais de construção [3-12]. A vasta gama de aplicação da técnica deve-se ao fato desta não apresentar alguns dos problemas mais comuns dos ensaios reológicos, como a perda de contato entre material e o elemento cisalhante (especialmente para materiais com características plásticas como as argamassas) e o entupimento de capilares. O método é simples, rápido e de fácil execução, capaz de avaliar com precisão materiais com qualquer nível de consistência e, até mesmo formulações com a presença de fibras. Além disso, dispensa o uso de reômetros especializados, pois pode ser facilmente implementado em equipamentos do tipo máquina universal de ensaios (prensas) comumente utilizados em universidades, centros de pesquisa e desenvolvimento e, também, em laboratórios destinados ao controle de qualidade. No caso das argamassas, a técnica é especialmente interessante, pois a mudança geométrica inerente ao ensaio simula condições do processamento desses materiais como nas etapas de espalhamento, nivelamento e acabamento. O perfil típico obtido de um ensaio de squeeze-flow com controle por deslocamento expresso na forma de carga vs. deslocamento pode apresentar 3 estágios bem definidos [3-5], conforme demonstrado na Figura 1.

Deslocamento (mm)

Car

ga ou T

ensão (N

ou Pa)

I II III

Deslocamento (mm)

Car

ga ou T

ensão (N

ou Pa)

I II III

Figura 1 - Perfil típico de carga vs. deslocamento de um ensaio de squeeze-flow realizado com deslocamento controlado. Estágio I: deformação elástica; estágio II: deformação plástica e/ou fluxo viscoso; estágio III: enrijecimento por deformação (strain hardening). No primeiro estágio, em pequenas deformações, o material comporta-se como um sólido, apresentando deformação elástica linear e está relacionado provavelmente à tensão de escoamento do material. No estágio seguinte (II) a compressão resulta em deformação radial elongacional e de cisalhamento superando as forças que mantinham o material sob comportamento elástico e, assim, o mesmo flui por deformação plástica e/ou viscosa

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dependendo das suas características. Nesta etapa o material é capaz de sofrer grandes deformações sem aumento significativo da força necessária para o deslocamento, que é um comportamento que provavelmente facilita a aplicação de argamassas. Já no terceiro estágio ocorre um aumento expressivo (exponencial) da carga necessária para prosseguir a deformação do material. A aproximação das partículas ou de outros constituintes de um sistema submetido a grandes deformações gera forças restritivas ao fluxo devido à maior interação por embricamento ou entrelaçamento (no caso de fibras) das unidades móveis. Consequentemente, as forças de atrito são predominantes nessa situação. No caso das argamassas ainda existe uma grande tendência à separação de fases, devido a sua natureza multifásica, principalmente em condições de grandes deslocamentos e baixas velocidades [2,11,12]. Este terceiro estágio é caracterizado por um comportamento em que o procedimento de aplicação do material tende a ser dificultado devido às altas cargas envolvidas. É importante ressaltar que a faixa de deslocamento e a intensidade dos estágios variam de acordo com a composição dos materiais (teores de água e de ar, dimensões mínima e máxima das partículas, presença de aditivos) e também com os parâmetros de ensaio utilizados. A análise de uma curva carga ou tensão vs. deslocamento possibilita a compreensão do comportamento reológico da argamassa em diferentes situações durante sua aplicação, partindo de uma condição estacionária representando o material em repouso, até um elevado nível de deformação, cisalhamento e restrição geométrica durante a aplicação. Entretanto, para o aproveitamento de todo o potencial da técnica na caracterização reológica de argamassas de revestimento, é de suma importância determinar com precisão as implicações dos comportamentos obtidos no squeeze-flow sobre o desempenho real dos materiais durante a aplicação. Portanto, o objetivo deste trabalho é correlacionar os resultados das curvas de squeeze-flow com a avaliação da aplicabilidade manual das argamassas por pedreiros. Ou seja, possibilitar que os resultados de squeeze-flow tenham significado mais preciso em relação às situações práticas nas quais as argamassas são utilizadas. Para isso, seis argamassas de revestimento do mercado brasileiro foram aplicadas por três pedreiros e avaliadas empiricamente através de questionário especialmente elaborado para esta finalidade. 2. EXPERIMENTAL 2.1 Materiais 2.1.1 Paredes Foram construídas 5 paredes sobre pórticos de concreto com blocos cerâmicos de vedação e aplicado chapisco industrializado sobre às superfícies, conforme a Figura 2.

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240cm

150cm

Figura 2 - Detalhes do pórtico com chapisco aplicado.

2.1.2 Argamassas Seis produtos de revestimento (denominados 1 – 6) do mercado brasileiro foram avaliados. As argamassas foram submetidas aos seguintes ensaios para determinação das características físicas demonstradas na Tabela 1: • Determinação dos teores de finos e agregados - 2 amostras de 500g de material foram

peneiradas em malha 200 (75µm) por 30 minutos em equipamento do tipo “Ro-Tap”. As partículas passantes (finos < 75µm) e retidas (agregados > 75µm) foram pesadas, sendo que as últimas foram posteriormente lavadas e secas para precisa determinação dos teores de cada fração. A média das duas determinações foi utilizada.

Após 24h em estufa a 110°C, os materiais foram submetidos aos seguintes ensaios: • Picnometria de gás Hélio (MultiPycnometer – Quantachrome Instruments) para

determinação da densidade real (massa específica) de cada fração; • Determinação da área superficial BET dos finos por adsorção de gás Nitrogênio

(Micromeritics ASAP 2010); Tabela 1- Características físicas das argamassas no estado anidro. Agreg = teor de agregados em volume; Finos = teor de finos em volume; ρ Arg = densidade real da argamassa anidra; ρ Agreg = densidade real dos agregados; ρ Finos = densidade real dos finos; AS Finos = área superficial dos finos; Água/ms = relação água / materiais secos em massa.

Agreg Finos ρ ρ ρ ρ Arg ρ ρ ρ ρ Agreg ρ ρ ρ ρ Finos AS Finos Água/ms(%v) (%v) (g/cm

3) (g/cm

3) (g/cm

3) (m

2/g) (g/g)

1 82,8 17,2 2,61 2,59 2,67 4,53 0,1542 68,9 31,1 2,81 2,81 2,80 0,75 0,1653 66,9 33,1 2,82 2,77 2,90 1,36 0,1524 74,4 25,6 2,65 2,61 2,77 1,76 0,1405 67,6 32,4 2,71 2,64 2,86 1,24 0,1636 85,7 14,3 2,60 2,58 2,71 2,70 0,164

Argamassa

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2.2 Mistura As argamassas foram preparadas em argamassadeira de eixo horizontal (Consolid) com teor de água indicado pelo fabricante. O tempo de mistura de cada batelada de 35kg variou entre 2 e 3 minutos dependendo da argamassa. 2.3 Ensaios Simultaneamente à aplicação pelos pedreiros, foram realizados os seguintes ensaios no laboratório: 2.3.1 Densidade aparente e teor de ar incorporado A densidade aparente e o teor de ar incorporado foram determinados através do método gravimétrico de acordo com a norma brasileira vigente, NBR 13278. 2.3.2 Squeeze-flow Amostras de argamassa foram moldadas para os ensaios de squeeze-flow com diâmetro de 101mm e altura de 10mm. Os testes de squeeze-flow foram realizados em uma máquina universal de ensaios INSTRON (modelo 5569) com controle de deslocamento utilizando célula de carga de 1000N, conforme Figura 3. As amostras com diâmetro de 101mm e altura de 10mm (Figura 4) foram submetidas a uma compressão máxima de 9mm com taxas de deslocamento de 0,1 e 3mm/s.

Base rígida de aço

Placa superior

Travessão móvel

Célula de carga

Conexão: Célula de carga / placa superior

Base rígida de aço

Placa superior

Travessão móvel

Célula de carga

Conexão: Célula de carga / placa superior

Figura 3 - Máquina universal de ensaios (INSTRON modelo 5569, capacidade 50kN, célula de carga utilizada 1000N) devidamente instrumentada para execução do ensaio de squeeze-flow.

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Figura 4 - Configuração utilizada nos ensaios de squeeze-flow. Dimensões da amostra de argamassa: Diâmetro = 101 mm, altura = 10 mm; (a) Início do teste ; (b) fim do teste. 2.4 Pedreiros Três pedreiros (denominados A, B e C), com reconhecida experiência, foram contratados para aplicar aproximadamente 1m2 de cada argamassa e realizar a avaliação empírica do comportamento das mesmas através de questionário. Cada pedreiro aplicou as 6 argamassas em 2 ou 3 dias de trabalho. A ordem de aplicação das argamassas por cada pedreiro foi distinta, conforme Tabela 2. A Tabela 2 indica as datas de aplicação e as condições ambientais do prédio em que estavam as paredes. Tabela 2 – Data e condições ambientais da aplicação das argamassas.

*Utilização de iluminação especial 2.5 Avaliação empírica Foi elaborado um questionário no intuito de padronizar a forma de avaliação. O documento foi baseado nos questionários utilizados em pesquisas prévias [1,10] e pode ser encontrado na íntegra na referência [12]. De forma resumida, o questionário aborda os seguintes temas do processo de aplicação das argamassas de revestimento:

Argamassa Aplicador A Aplicador B Aplicador C

Data T

(°C) UR (%)

Data T

(°C) UR (%)

Data T

(°C) UR (%)

1 16/Set 19 60 26/Set 18 68 19/Set 21 52 2 16/Set 19 60 25/Set 22 60 7/Out 25* 70 3 16/Set 19 60 25/Set 22 60 7/Out 25* 60 4 2/Out 23 61 26/Set 18 68 18/Set 20 44 5 2/Out 23 61 25/Set 22 60 18/Set 21 43 6 2/Out 23 61 25/Set 22 60 19/Set 21 52

(A)

(B)

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1. Aplicação – etapa de aplicação propriamente dita, a qual consiste em lançar a argamassa contra o substrato (“chapar”) e em seguida apertar e espalhar a mesma sobre a superfície. Foram avaliados os seguintes itens nesta etapa: (a) espalhamento da argamassa no impacto e (b) facilidade de aperto com a colher. Além das notas para cada quesito, cada pedreiro deu sua opinião sobre a etapa como um todo.

2. Acabamento – consiste nas etapas de sarrafeamento (corte e nivelamento) e desempeno (acabamento final). Foram avaliados os seguintes itens: (c) tempo de espera entre a aplicação e o início do sarrafeamento, (d) facilidade para sarrafear com a régua (cortar) e (e) facilidade para desempenar. Além das notas para cada quesito, cada pedreiro deu sua opinião sobre a etapa como um todo.

3. Qualidade final – avaliação da qualidade final do revestimento aplicado considerando acabamento liso.

4. Produtividade – estimativa de produtividade esperada por pedreiro por dia de trabalho (m2 de revestimento aplicado / dia).

Os pedreiros deram notas para cada quesito em questão de acordo com o seguinte sistema de classificação: �= Ruim; � = Regular; ☺ = Boa; � = Ótima. 3. RESULTADOS 3.1 Distribuição de fases no estado fresco As distribuições de fases das argamassas no estado fresco em função do aplicador (pedreiro) são demonstradas na Figura 5. Nota-se que as argamassas 1 e 6 possuem baixos teores de ar e mais de 50% de agregados. A argamassa 5 apresentou teor de ar pouco acima de 20% e destacou-se pela repetibilidade no teor de ar resultante entre diferentes bateladas. Já as argamassas 2, 3 e 4, caracterizam-se por teor de ar médio entre 15 e 20%, mas com uma variação entre bateladas significativo.

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27 27 27 25 28 26 24 25 27 23 22 22 24 23 2327 28 26

11 12 12 1719

1718

2021

16 15 15 14 14 139 9

9

7 4 6

20 12 18 21 15 11

13 18 1922 23 24

7 8 9

55 57 56

3841 39 37 40 42

47 45 4440 40 39

56 55 55

0

50

100

A B C A B C A B C A B C A B C A B C

1 2 3 4 5 6

Teo

r em volume (%

)

Argamassa / Aplicador

Agregados Ar Finos Água

Figura 5 - Teor de fases em volume das argamassas frescas. 3.2 Squeeze-flow Os comportamentos de squeeze-flow das argamassas em questão são ilustrados na Figura 6. Em baixa velocidade (0,1mm/s) as argamassas 1 e 6 logo apresentaram a inversão para o estágio de strain-hardening, resultando em pequenos deslocamentos em decorrência da proximidade dos agregados e conseqüente atrito entre os mesmos. Nos demais materiais predominou o comportamento de deformação plástica, sendo que todos atingiram altos valores de deslocamento em virtude do maior teor de pasta nessas argamassas. Destaque para o produto 4, em que a deformação plástica ocorre com maiores níveis de carga do que 2, 3 e 5. O comportamento dessas argamassas não foi influenciado pelo aumento da velocidade de deslocamento (Figura 6b), indicando materiais com pouca suscetibilidade à segregação [2,5,11,12]. Por outro lado, o material 1 praticamente dobrou de deslocamento máximo com o aumento da velocidade de deslocamento de 0,1 para 3mm/s, sugerindo alta suscetibilidade à segregação pasta-agregado. O mesmo ocorreu para a argamassa 6, mas em deslocamentos menores.

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0

200

400

600

800

1000

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Ca

rga

(N

)

Deslocamento (mm)

0,1mm/sArg 1

Arg 2

Arg 3

Arg 4

Arg 5

Arg 6

1

2

3

4

5

6

(a)

0

200

400

600

800

1000

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Ca

rga

(N

)

Deslocamento (mm)

3mm/sArg 1

Arg 2

Arg 3

Arg 4

Arg 5

Arg 6

1

2

3

4

5

6

(b)

Figura 6 - Resultados de squeeze-flow das argamassas ensaiadas em três velocidades distintas: (a) 0,1mm/s e (b) 3mm/s. 3.3 Avaliação empírica Na Tabela 3 é demonstrado o resumo da avaliação das argamassas detalhando os quesitos da etapa de aplicação para facilitar a relação com os resultados de squeeze-flow. As fichas completas da avaliação empírica de cada argamassa podem ser encontradas em [12]. Percebe-se que as argamassas 2, 4 e 5 foram bem avaliadas em relação às questões de espalhamento na parede e aperto. Com destaque para a argamassa 2 que foi a única a receber a máxima classificação possível no quesito aperto, o qual o squeeze-flow tem maior relação em função da similaridade de solicitação. As argamassas 4 e 5 também foram bem classificadas neste quesito e, ainda, foram as melhores avaliadas na etapa de aplicação como um todo, visto que o espalhamento destas na parede após lançamento foi muito bom. Os resultados de squeeze-flow das argamassas 2, 4 e 5 apresentaram altos deslocamentos mas com níveis de carga distintos (Figura 6). As argamassas 1 e 6, caracterizadas por altas cargas de squeeze-flow mesmo em pequenos deslocamentos não foram tão bem avaliadas (especialmente a 6), devido a maior dificuldade de deformação. Entretanto, vale ressaltar que a avaliação depende muito do gosto do pedreiro, o que resulta em certa dispersão dos resultados, especialmente da argamassa 1.

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Tabela 3 - Resumo da avaliação empírica das argamassas realizada pelos pedreiros. Códigos de classificação: � = Ruim; � = Regular; ☺ = Boa; � = Ótima.

Um fato interessante em relação à etapa de aplicação e sua relação com o comportamento de squeeze-flow, é a avaliação da argamassa 3. Apesar do ensaio reológico classificá-la como de fácil deformação, os pedreiros foram unânimes em achar o comportamento dela ruim. Todas as explicações convergiram para o fato da argamassa grudar demais na colher, mas não segurar na parede, resultando também na menor espessura máxima possível de camada aplicada (a qual foi efetivamente medida). Este comportamento não identificado pelo tipo de ensaio aplicado sugere que o procedimento de puxada da argamassa após o aperto efetuado pelo squeeze-flow é importante para avaliar a questão de adesão na ferramenta. Tal procedimento já foi utilizado com sucesso para avaliar a adesão de argamassas colantes [8]. As argamassas 1 e 6, com elevadas cargas de squeeze-flow mesmo em baixos deslocamentos, foram as que apresentaram menores tempos de espera entre a etapa de aplicação e os procedimentos de acabamento. Ou seja, atingiram a consistência necessária para permitir tais procedimentos mais rapidamente, uma vez que a deformação inicial destas argamassas já foi mais difícil (começaram com maior consistência) e, provavelmente, a perda de água para a base e para o ambiente é facilitada devido à maior suscetibilidade à segregação destas argamassas. Ambas foram classificadas como boa/ótima em relação à facilidade nas etapas de acabamento, juntamente com a argamassa 5 (apesar do elevado tempo de espera). Por outro lado, os produtos 2 e 3 foram obtiveram as piores classificações em relação à etapa de acabamento, sendo que os pedreiros citaram a dificuldade em deslizar a régua e a desempenadeira quando trabalhando nessas argamassas.

Etapa / quesito Argamassa 1 2 3 4 5 6

Aplicação �☺� ☺�☺ ��� �☺☺ ☺�� ☺�� Espalhamento ��� ☺�� ☺�� �☺☺ �☺☺ ���

Aperto ☺�� ��� �☺� ☺☺☺ �☺☺ ☺�� Acabamento ☺☺� ☺�� ��� �☺☺ �☺☺ �☺☺

Espera (min)

35 160 160 70 180 35

Sarrafeamento ☺☺☺ ☺�� ��� �☺� �☺☺ ��☺ Desempeno ☺☺� �☺� ��� �☺☺ ��� �☺☺ Qualidade

final �☺� ☺☺� ��☺ ��☺ �☺� ��� Produtividade

(m2/dia) 35,30,40 30,20,15 >10,>10,10 30,40,40 35,35,40 25,25,40

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Quanto à qualidade final dos revestimentos aplicados os produtos 1, 4 e 5 foram os melhores classificados, enquanto a argamassa 6 teve a pior avaliação em função da sua superfície extremamente áspera. No quesito produtividade, observa-se que resultado de maior discrepância em relação aos demais é o da argamassa 3, a qual todos os pedreiros afirmaram aplicar no máximo 10m2 em um dia de trabalho, uma vez que a elevada adesão da argamassa nas ferramentas (colher, régua e desempenadeira) e a pequena adesão ao substrato dificulta muito as etapas de aplicação e acabamento. 4. CONCLUSÕES Na avaliação geral, todas as argamassas foram aplicáveis, mas apresentaram diferenças significativas especialmente em relação à produtividade esperada. As argamassas 3 e 6 receberam as piores classificações, principalmente devido à dificuldade na aplicação, qualidade final insuficiente e reduzida produtividade. Enquanto os produtos 4 e 5 foram considerados os melhores, aliando facilidade de aplicação e acabamento, qualidade final e elevada produtividade. O squeeze-flow apresentou boa relação com a etapa de aplicação das argamassas, principalmente com os quesitos de espalhamento e aperto contra o substrato, mas a adesão da argamassa na colher tem influência significativa na opinião dos pedreiros. Tal resultado sugere que o squeeze-flow seja também utilizado para avaliar a adesão, através da puxada da argamassa após a deformação inicial. 5. AGRADECIMENTOS Às instituições de fomento FAPESP, CNPq e CAPES e, também, aos membros do Consórcio Setorial para Inovação em Tecnologia de Revestimentos de Argamassa (CONSITRA) pelo apoio à pesquisa. Os autores agradecem especialmente aos seguintes profissionais pela indispensável colaboração durante planejamento e execução deste trabalho: Prof. Mércia Barros, Mario Takeashi, Cesar Romano, Waleska Barbosa, Daniel Sentone, Brunoro Giordano e Márcia Takahashi. 6. REFERÊNCIAS [1] Antunes, R.P.N. Influência da reologia e da energia de impacto na resistência de aderência de revestimentos de argamassa. São Paulo, 2005. Tese de Doutorado – Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da USP.

[2] Engmann, J.; Servais, C.; Burbidge, A.S. Squeeze flow theory and applications to rheometry: A review. Journal of Non-Newtonian Fluids Mechanics 132, p. 1-27, 2005.

[3] Min, B.H.; Erwin, L.; Jennings, H.M. Rheological behavior of fresh cement paste as measured by squeeze flow. Journal of Materials Science 29, p. 1374-1381, 1994.

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[4] Cardoso, F.A.; Agopyan, A.K; Carbone, C.; John, V.M.; Pileggi, R.G. Squeeze flow as a tool for developing optimized gypsum plasters. Construction and Building Materials, 23, p. 1349–1353, 2009.

[5] Cardoso, F.A.; John, V.M.; Pileggi, R.G. Rheological behavior of mortars under different squeezing rates. Cement and Concrete Research, 39, p.748–753, 2009.

[6] Cardoso, F.A.; Campora, F.L.; Pileggi, R.G; John, V.M. Caracterização reológica de argamassas do mercado por Squeeze-Flow. In: anais eletrônicos do VII Simpósio Brasileiro de Tecnologia de Argamassas (VII SBTA), Recife – Brasil, 2007.

[7] Costa, M.R.M.M.; Cincotto, M.A.; Pileggi, R. G. Análise comparativa de argamassas colantes de mercado e o seu comportamento reológico. In: Anais do VI Simpósio Brasileiro de Tecnologia de Argamassas, Florianópolis - Brasil, p. 382-394, 2005.

[8] Póvoas, Y.V. Avaliação da formação de “película” na argamassa colante e sua influência na adesão. São Paulo, 2005. Tese de Doutorado – Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da USP.

[9] Lofrano, F.C.; Cardoso, F.A.; Pileggi, R.G; John, V.M.. Influência da rugosidade das placas na caracterização reológica de argamassas por squeeze-flow. In: anais eletrônicos do VIII Simpósio Brasileiro de Tecnologia de Argamassas (VIII SBTA), Curitiba – Brasil, 2009.

[10] Silva, R.P. Argamassas com adição de fibras de polipropileno - estudo do comportamento reológico e mecânico. São Paulo, 2006. Dissertação de Mestrado – Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da USP.

[11] Toutou, Z.; Roussel, N.; Lanos, C. The squeezing test: a tool to identify firm cement-based material’s rheological behaviour and evaluate their extrusion ability. Cement and Concrete Research, 35, p. 1891– 1899, 2005.

[12] Cardoso, F.A. Método de formulação de argamassas de revestimento baseado em distribuição granulométrica e comportamento reológico. São Paulo, 2009. Tese de Doutorado – Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da USP.