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APLICAÇÃO DA FERRAMENTA PRODUÇÃO MAIS LIMPA NA FABRICAÇÃO DE CADERNOS UNIVERSITÁRIOS EM UMA INDÚSTRIA GRÁFICA DA PARAÍBA. Kleber Miranda de Araujo (IFRN) [email protected] Handson Claudio Dias Pimenta (IFRN) [email protected] Um dos grandes desafios da humanidade é a gestão dos recursos naturais com o intuito de utilizá-los sem exauri-los, de sorte que os conhecimentos em gestão ambiental devem orientar a produção nas indústrias, pois estas são grandes transformmadoras do meio ambiente. Sob esse prisma, o presente estudo tem como objetivo apresentar propostas de aplicação da ferramenta Produção Mais Limpa (PML) no processo de produção de cadernos universitários a fim de reduzir a geração de resíduos de uma indústria gráfica da Paraíba. A metodologia utilizada foi baseada na metodologia proposta pelo Centro Nacional de Tecnologias Limpas (CNTL) com a finalidade de identificar as oportunidades de aplicação da PML e foi composta das seguintes etapas: revisão bibliográfica sobre Produção mais Limpa e sobre o setor, identificação das barreias para implementação, diagnóstico operacional e ambiental (fluxograma do processo, avaliação de inputs e outputs e avaliação de aspectos ambientais), identificação de oportunidades de melhoria. Os resultados mostraram que os aspectos ambientais do processo estão relacionados principalmente com o consumo de papel e à geração de resíduos sólidos recicláveis, mais especificamente geração de papel e fios de aço. Por fim, esta pesquisa apresenta a possibilidade de se minimizar, na fonte, os resíduos derivados do processo de produção, demonstrando os benefícios ambientais e econômicos resultantes da implementação das propostas. Palavras-chaves: Produção mais Limpa; Gestão Ambiental; Minimização de Impactos Ambientais e Ecoeficiência. XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

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APLICAÇÃO DA FERRAMENTA

PRODUÇÃO MAIS LIMPA NA

FABRICAÇÃO DE CADERNOS

UNIVERSITÁRIOS EM UMA INDÚSTRIA

GRÁFICA DA PARAÍBA.

Kleber Miranda de Araujo (IFRN)

[email protected]

Handson Claudio Dias Pimenta (IFRN)

[email protected]

Um dos grandes desafios da humanidade é a gestão dos recursos

naturais com o intuito de utilizá-los sem exauri-los, de sorte que os

conhecimentos em gestão ambiental devem orientar a produção nas

indústrias, pois estas são grandes transformmadoras do meio

ambiente. Sob esse prisma, o presente estudo tem como objetivo

apresentar propostas de aplicação da ferramenta Produção Mais

Limpa (PML) no processo de produção de cadernos universitários a

fim de reduzir a geração de resíduos de uma indústria gráfica da

Paraíba. A metodologia utilizada foi baseada na metodologia proposta

pelo Centro Nacional de Tecnologias Limpas (CNTL) com a finalidade

de identificar as oportunidades de aplicação da PML e foi composta

das seguintes etapas: revisão bibliográfica sobre Produção mais

Limpa e sobre o setor, identificação das barreias para implementação,

diagnóstico operacional e ambiental (fluxograma do processo,

avaliação de inputs e outputs e avaliação de aspectos ambientais),

identificação de oportunidades de melhoria. Os resultados mostraram

que os aspectos ambientais do processo estão relacionados

principalmente com o consumo de papel e à geração de resíduos

sólidos recicláveis, mais especificamente geração de papel e fios de

aço. Por fim, esta pesquisa apresenta a possibilidade de se minimizar,

na fonte, os resíduos derivados do processo de produção,

demonstrando os benefícios ambientais e econômicos resultantes da

implementação das propostas.

Palavras-chaves: Produção mais Limpa; Gestão Ambiental;

Minimização de Impactos Ambientais e Ecoeficiência.

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1. Introdução

A questão ambiental, no Brasil e no mundo, tornou-se um tema amplamente debatido em

todos os meios, em vista da crescente degradação movida por um modelo no qual o

desempenho da qualidade ambiental das atividades produtivas está cada vez mais distante da

prática do consumismo. Entretanto, é necessário que o desenvolvimento econômico-social

seja compatível com a conservação do meio ambiente, tendo, dessa forma, a utilização dos

recursos naturais dentro dos limites capazes de manter a sua qualidade e equilíbrio, buscando

a efetivação do paradigma da sustentabilidade (PIMENTA; GOUVINHAS, 2007).

Segundo Slack (2002, p.698), “atingir a sustentabilidade significa reduzir ou pelo menos

estabilizar a carga ambiental. A única maneira que se pode mudar é a maneira com que são

criados produtos e realizados serviços”.

É nesse contexto que ganha destaque a ferramenta de Gestão Ambiental denominada

Produção Mais Limpa. Essa Ferramenta é utilizada pela sociedade moderna visando à

sustentabilidade dos recursos naturais.

A Produção mais Limpa é aplicação de uma estratégia técnica, econômica e ambiental

integrada aos processos e produtos, a fim de aumentar a eficiência no uso de matérias-primas,

água e energia, através da não geração, minimização ou reciclagem dos resíduos e emissões

com benefícios ambientais, de saúde ocupacional e econômica (SENAI-RS, 2003, p. 13).

Nessa conjuntura, o objetivo geral da presente pesquisa é apresentar propostas de aplicação da

ferramenta Produção Mais Limpa nos processos de produção de cadernos universitários a fim

de reduzir os aspectos ambientais significativos de uma indústria gráfica da Paraíba. Desta

forma, será efetuado um diagnóstico operacional e ambiental; um levantamento de

oportunidades de melhoria sob a ótica da ferramenta Produção mais Limpa e de evidencias

dos benefícios ambientais e econômicos com a aplicação das propostas de Produção Mais

Limpa.

Destaca-se que esta pesquisa justifica-se porque, a despeito do grande número de pesquisas,

no nível acadêmico e empresarial, relacionadas à preservação ambiental, são raras as

relacionadas à minimização de resíduos na fonte no setor de produção de cadernos. A maioria

dos estudos se concentra em propor técnicas de reciclagem para os resíduos gerados nos

processos construtivos, com destaque especial para a reciclagem do papel. Dessa forma,

verifica-se que geralmente as pesquisas procuram agir após a ocorrência do problema, medida

esta caracterizada como corretiva, pois não age na causa do problema, e sim nos sintomas por

ele produzidos, isto é, análise de “fim de tubo”.

É importante frisar que atualmente, o setor de industrias gráficas representa 1% do PIB

brasileiro e 5,8% do PIB industrial, sendo responsável pela geração de mais de 200 mil postos

de trabalho diretos (ABIGRAF, 2010). Na Região Sudeste se concentra o maior número de

unidades produtivas (53,8%), seguida da Região Sul, com 23,3%, Região Nordeste, com

12,5%, Centro-Oeste, com 7,4%, e Norte, com 3,0% das unidades instaladas no setor. No

nordeste, por sua vez, os Estados Bahia, Ceará e Pernambuco são os que concentram o maior

número de indústrias gráficas desta região. Nesses três Estados estão localizados 63% das

empresas, 67% da mão de obra empregada e igualmente 67% do faturamento do setor obtido

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na região. Quando distribuído o consumo de papel por região, novamente o maior destaque

fica com a Região Sudeste, com uma participação de 71% sobre o total consumido no país;

participação superior à obtida pela região, no montante de empresas em atividade no setor

(ABIGRAF, 2009).

2. Produção mais Limpa

Em tempos de responsabilidades e preservação ao meio ambiente, organizações de diferentes

setores industriais estão agindo de forma pró-ativa com relação às questões ambientais em

substituição a antiga forma reativa de agir. Diferentes ferramentas de gestão ambiental

buscam sensibilizar os gestores das organizações demonstrando a possibilidade de se obter

lucro com o meio ambiente, entre elas a se destaca a Produção mais Limpa.

A Produção mais Limpa adquiriu impulso a partir do conceito de desenvolvimento

sustentável, especialmente depois da decisão do Conselho de Governo do UNEP (Programa

das Nações Unidas para o Meio Ambiente), em 1989, que estabeleceu prioridade para as

atividades relacionadas com tecnologias de baixo resíduo, produção mais limpa,

gerenciamento de resíduos e política industrial.

O direcionamento dado às tecnologias limpas começou a se efetivar a partir de 1992 com a

realização da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento

(United Nations Conference on Environment and Development - UNCED) e com a

Conferência RIO - 92, a qual lançou a Agenda 21 e foram introduzidos os métodos de

produção mais limpa, tecnologias de reciclagem e gerenciamento preventivo para realizar o

desenvolvimento sustentável.

Segundo o Conselho Empresarial Brasileiro Para o Desenvolvimento (CEBDS, 2009), PML é

a aplicação contínua de uma estratégia ambiental preventiva integrada, aplicada aos

processos, produtos e serviços, a fim de incrementar a eficiência e reduzir os riscos aos seres

humanos e ao meio ambiente. Seu elemento fundamental é a prevenção para os problemas

ambientais ao invés das soluções de remediação via tratamentos “fim-de-tubo”. Os recursos

da empresa devem ser utilizados de forma eficiente para reduzir os custos e a poluição

ambiental, além de melhorar a saúde e a segurança de trabalho para os funcionários. A PML

em geral inclui medidas como: boas práticas administrativas, modificações no processo, eco-

desenho dos produtos e tecnologias limpas.

A PML inclui processos mais simples, não necessariamente requerendo a implementação de

tecnologias de ponta. Nesse prisma, a PML consiste em uma ferramenta que busca eliminar a

poluição antes de ser gerada. Desta forma, a PML possui três níveis de aplicação conforme

figura 2. O nível 1 – redução na fonte, tem como principal meta, encontrar medidas que

diminuam a geração na fonte. A mudança de produto é uma importante abordagem, entretanto

só é recomendada quando as medidas mais simples tiverem sido esgotadas, mesmo que seja

de difícil realização. Um exemplo de medida nesse nível é quando uma empresa regula suas

máquinas de modo a produzirem menos resíduos.

Já no nível 2 – reciclagem interna, os resíduos que não podem ser evitados devem,

preferencialmente, ser reintegrados ao processo de produção da empresa via processos de

reuso ou de reciclagem. Um exemplo no nível 2 é quando uma empresa reutiliza seus

resíduos. Finalmente no nível 3, reciclagem externa, não sendo possível a redução na fonte ou

mesmo a reciclagem externa, as empresas devem enviar seus resíduos para outras indústrias

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que podem utilizar como matéria-prima ou empresas especializadas em reciclagem. Tem-se

como exemplo nesse nível é quando uma indústria disponibiliza seus resíduos para outra

empresa reaproveitá-los.

Fonte: Adaptado de SEBRAE (2005).

Figura 1 – Níveis de aplicação dos programas de PML

Considerando que a PML foca-se na minimização de resíduos na fonte, Lora (2000) descreve

os benefícios decorrentes:

− o controle de resíduos na fonte leva à diminuição radical da quantidade. Conseqüentemente,

se reduz custos de produção devido à utilização mais eficiente das matérias-primas e da

energia, bem como custos de tratamento;

− a prevenção de resíduos, diferentemente do tratamento de resíduos, implica em benefício

econômico, tornando-a mais atrativa para as empresas;

− maior facilidade em cumprir as novas leis e regulamentos ambientais, o que implica em um

novo segmento de mercado;

− melhoria da imagem ambiental da empresa;

O fortalecimento da imagem da empresa frente à comunidade e autoridades ambientais é uma

conseqüência bastante positiva e muitas vezes difícil de ser mensurada. Outra questão é o fato

de que os consumidores de hoje exigem cada vez mais produtos "ambientalmente corretos".

Os consumidores assumem previamente que as empresas sejam tão responsáveis em relação à

qualidade de seus produtos, como responsáveis em relação ao meio ambiente nas suas práticas

produtivas (KIND, 2005).

3. Procedimentos metodológicos

3.1 Caracterização da empresa objeto do estudo de caso

A pesquisa se deu em uma empresa situada na cidade de Campina Grande/PB, que atua no

mercado há 18 anos e possui 160 funcionários, com uma jornada de trabalho de 44 horas

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semanais. A produção diária média é composta por 20000 (vinte mil) cadernos entre cadernos

do tipo universitário (80% da produção), e cadernos do tipo pasta (20%).

O escopo desta pesquisa será a produção dos cadernos tipo universitário cuja produção diária

média é de 16000 cadernos. A principal matéria-prima é o papel que é adquirido em bobinas

que possuem certificado ambiental com as seguintes características: Gramatura: 50 g/m²;

Diâmetro da bobina: 120cm; Diâmetro do tubete: 10 cm; Peso: 950 kg; Largura do papel:

1005mm; Extensão total do papel: 19000m e Área da superfície de papel: 19095m.

As outras matérias-primas são: papelão (para a capa), e arame de aço (para o espiral do

caderno, com as seguintes especificações: diâmetro do arame: 0,90 mm; Densidade do arame:

5,02 g/m; Peso da bobina de arame: 25,10kg e Extensão total da bobina: 5000). Esses

materiais são comprados a fornecedores certificados ambientalmente, credenciados e

devidamente avaliados pela direção.

3.2 Procedimentos da Pesquisa de Campo

Foram realizadas diversas visitas técnicas junto à empresa objeto do estudo para análise in

loco dos processos de produção no período de novembro de 2009 a abril de 2010.

Nas Visitas técnicas se deu o conhecimento das instalações, maquinário, empregados, inputs,

outputs e de todo o processo, além de possibilitar o aprimoramento da relação entre o

concluinte e a empresa. Além disso, foi realizado entrevistas com os gestores e funcionários

envolvidos no setor produtivo da empresa.

A metodologia do trabalho foi baseada no modelo de aplicação da Produção mais Limpa

proposto pelo Centro Nacional de Tecnologias Limpas (CNTL, 2003) conforme figura 2

abaixo se restringindo apenas as etapas necessárias à consecução dos objetivos do estudo

entre os quais o principal é apresentar propostas para reduzir os aspectos ambientais

significativos da indústria em estudo.

O diagnóstico ambiental foi formado pelas seguintes atividades: Definição do fluxograma do

processo produtivo; Avaliação dos inputs e outputs; Avaliação dos aspectos e impactos

ambientais (CNTL, 2003). Os dados foram obtidos de janeiro a março do presente ano.

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Fonte: CNTL (2003)

Figura 2 - Passos para implementação de um programa de Produção mais Limpa

4. Resultados e Discussão

4.1 Comprometimento da Alta Administração, Identificação das Barreiras e Formação

do Ecotime

Inicialmente uma reunião foi realizada com a diretoria da empresa a fim de buscar o

comprometimento dos empresários e mostrar os objetivos da Produção mais Limpa, em

seguida foram desencadeadas as ações necessárias ao diagnóstico ambiental e à identificação

de oportunidades de melhoria.

As barreiras encontradas no desenvolvimento dos trabalhos na empresa foram: resistência

inicial dos funcionários para fornecer informações, aversão a mudanças por parte dos

funcionários e resistência da empresa em disponibilizar informações dificultando a coleta de

dados.

O ecotime foi formado por profissionais da empresa que tiveram as funções de auxiliar na

coleta de dados e na identificação de oportunidades de melhoria. Na empresa em estudo, a

chefe do setor de produção designou um funcionário de cada setor para compor o ecotime.

4.2 Diagnóstico Ambiental

a) Descrição do fluxograma do processo

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O processo de fabricação dos cadernos universitários é composto pelas seguintes etapas:

impressão das pautas, cortes das folhas dos cadernos, perfuração das folhas, preparação das

capas dos cadernos, perfuração das capas dos cadernos e montagem dos cadernos.

Na etapa de impressão das pautas é utilizada uma tinta a base de álcool que não gera resíduos.

A empresa utilizou o sigilo industrial para não disponibilizar mais informações sobre a

mesma.

Na fase de corte das folhas dos cadernos é utilizada a máquina chamada cortadeira cuja

função é cortar as folhas já impressas em tamanho 554x1005mm onde estão impressas 10

(dez) pautas em cada retângulo cortado. À medida que as folhas vão sendo cortadas, elas vão

sendo empilhadas conforme.

Em seguida é utilizada a máquina chamada guilhotina para fazer o acabamento das

extremidades e para cortar as 10 (dez) pautas que estavam juntas. Os resíduos do refile vão

sendo armazenados conforme figura 11 abaixo.

Fonte: Autores (Nov./2009).

Figura 3 - Resíduos do refile da máquina guilhotina

Na etapa de perfuração das folhas é utilizada uma máquina automática que faz 27 (vinte e

sete) furos por onde passará o espiral.

Na preparação das capas dos cadernos é utilizada uma máquina que coleta o papelão da capa

dura medindo 20x27cm e cola a arte da capa e da contra capa que são compradas prontas para

o uso. Esta máquina utiliza uma cola especial que não gera resíduo. Essa cola é adquirida em

tabletes sólidos que derretem a temperatura de 73,8 graus Celsius. Ao final do dia de trabalho

quando a máquina é desligada a cola volta ao seu estado sólido e no dia seguinte o processo se

repete. Também a empresa manteve em sigilo maiores informações sobre a referida cola. Na

etapa de perfuração das capas dos cadernos é utilizada uma máquina semi- automática que faz

também 27 (vinte e sete) furos na capa que passará o espiral.

Por fim, na etapa de montagem dos cadernos reúnem-se as folhas, a capa, a contra capa e o

espiral acrescentando-se uma folha de adesivos e uma bolsa plástica que são adquiridos

prontos para montagem.

A Figura 4 apresenta os inputs e outputs do processo.

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Fonte: Autores (Nov./2009).

Figura 4 – Levantamento dos inputs e outputs do processo.

b) Avaliação dos aspectos e impactos ambientais

Na avaliação de aspectos e impactos ambientais, inicialmente buscou-se identificar os

aspectos ambientais das atividades da empresa avaliada a partir de análises in loco e a partir

do fluxograma do processo produtivo (Tabela 1). Posteriormente foram determinados os

impactos ambientais associados a estes aspectos e avaliadas suas importâncias. A

identificação dos aspectos ambientais consistiu na numeração seqüencial (de 1 a 6) das

operações relacionadas no fluxograma do processo produtivo. Em seguida, foram listados

todos os aspectos de entrada e saída do processo.

Os critérios utilizados na análise dos impactos, de acordo com CNTL (2003), foram: Grau de

Severidade; Abrangência – Incômodo às partes interessadas; Probabilidade e Importância –

Severidade x Probabilidade; todos já explanados na metodologia.

A descrição dos aspectos e impactos ambientais promovidos na empresa objeto de estudo foi

identificada conforme descrição realizada no fluxograma do processo produtivo (figura 4) e

priorizadas conforme planilha de análise de aspectos e impactos (Tabela 1).

Após a avaliação de aspectos e impactos ambientais na empresa em estudo verifica-se que o

consumo de energia, apesar de estar presente em quase todas as etapas do processo, não foi

considerado significativo. Sobre este fato a chefe do setor de produção foi indagada e a

explicação desta foi que isso é devido às máquinas envolvidas possuírem selo A do Procel e

as lâmpadas utilizadas serem fluorescente.

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Fonte: Autores (Dez./2009)

Tabela 1 – Planilha de avaliação de aspectos e impactos ambientais

4.3 Avaliação de Oportunidades de Melhoria

a) Uso de Papel

Na primeira etapa de produção, um aspecto significativo observado foi o consumo de papel. À

medida que o impacto significativo da segunda etapa (geração de resíduos sólidos recicláveis:

papel) for reduzido naturalmente esse aspecto será também reduzido devido ao grau de

interligação entre ambos. Em outras palavras: quanto mais se reduzir a geração de resíduos de

papel, mais se reduzirá o consumo desse material.

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Por isso, segue-se a analise da geração de resíduos de papel da segunda etapa. Na fase de

corte das folhas dos cadernos (2ª etapa), foi utilizada a máquina cortadeira cuja função, citada

anteriormente, era de cortar as folhas já impressas em tamanho 55,4x100,5 cm onde estão

impressas 10 (dez) pautas em cada retângulo cortado.

Em seguida é utilizada a máquina chamada guilhotina para fazer o acabamento, ou refile, das

extremidades e para cortar as 10 (dez) pautas que estavam juntas.

Nesse acabamento das extremidades era dado um corte de 5mm nos quatro cantos da folha

que passará a medir 54,4x99,5cm (Ver figura 5).

Fonte: Autores (Jan./2010).

Figura 5 – Bobina com cortes de 5mm.

Calculando a área dos retângulos tem-se:

- Área do retângulo antes da guilhotina: 5567,70cm²

- Área do retângulo após a guilhotina (retirando-se as partes azuis): 5412,80cm²

Isso representa uma geração de 154,90cm² de resíduos por cada 55,4cm da bobina, isto é, por

cada retângulo azul (na figura 14 estão representados dois retângulos azuis). Como a bobina

tinha 19000m, foi evidenciada uma geração de 5312455cm² (531,25m²). Considerando que a

bobina pesava 950kg e que tinha 19095m² de área de papel, logo a geração de resíduos era

equivalente a 26,43kg por bobina. Em outras palavras, após a utilização de uma bobina

completa o que sobra de resíduos (parte azul da figura 5) era equivalente a 26,43kg.

A proposta de redução na fonte geradora de resíduos nessa etapa é diminuir a regulagem da

guilhotina de 5mm para 3mm conforme figura 6.

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Fonte: Autores (Jan./2010).

Figura 6 – Bobina com cortes de 3mm.

Com essa redução a empresa passaria a comprar as bobinas com 4mm a menos de largura o

que representaria uma redução no preço de aquisição das bobinas de 0,40%, pois as novas

bobinas seriam menores e mais leves. Além disso, com a redução proposta, as bobinas

passariam a render 2494 folhas a mais e isso representa 12 cadernos de 10 matérias (200

folhas cada caderno).

Para a redução proposta será necessário uma melhor arrumação das folhas que saem do

primeiro corte.

Findado o acabamento, o próximo passo era separar as 10 (dez) pautas. Essa separação era

realizada também pela guilhotina, porém em cortes “secos”, ou seja, sem geração de resíduos.

Atualmente a empresa produz em média 16 mil cadernos por dia e de acordo com o

levantamento do ecotime, gera em média 247kg por dia de resíduos de papel na produção de

cadernos universitários. A tabela 2 sintetiza as diferenças entre o corte de 5mm e 3 mm na

guilhotina. Como se verifica na Tabela 2, a proposta reduziria em 99,02kg de resíduos de

papel o que representaria uma economia de R$23,97 por dia. Verifica-se também que com a

proposta cada bobina passaria a produzir 2.494 folhas de cadernos e a empresa passaria a

comprar bobinas R$ 0,92 mais baratas pelo fato de que a empresa passaria a adquirir bobinas

um pouco mais leves.

Dados diários Situação

Encontrada

Proposta

de

Melhoria

Ganho Unidades

total de cadernos no dia 16.000 16.000 - unidades

total de folhas ao dia (16mil cadernos de 200fls cada) 3.200.000 3.200.000 - unidades

comprimento da bobina 19.000 19.000 - m

para gerar 10 folhas utiliza-se da bobina (em metros) 0,554 0,55 0,004 m

quantidade de folhas produzidas por bobina 342.960 345.454 2.494 unidades

total de bobinas utilizadas por dia 9,33 9,26 0,07 unidades

valor unitário da bobina 229,90 228,98 0,92 R$

valor gasto com boninas ao dia 2.145,09 2121,08 24,01 R$

resíduos por bobina 26,43 15,93 10,50 Kg

Total de resíduos gerados ao dia 246,61 147,58 99,02 Kg

Valor dos resíduos gerados ao dia 59,68 35,71 23,97 R$

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Fonte: Autores (Jan./2010)

Tabela 2 – Comparação da situação encontrada e proposta de melhoria.

b) Uso do Aço

Na etapa 6, montagem dos cadernos, foi observado que o equipamento que manufatura os

espirais, desenvolve espirais com 29 voltas, isto é, duas voltas a mais que o numero de furos

dos cadernos. Isso ocorre para que a máquina faça o acabamento cortando o excedente e

dobrando as extremidades, acarretando em uma significativa geração de resíduos sólidos.

Assim, a proposta de redução na fonte geradora de resíduos nessa sexta etapa é diminuir uma

volta nos espirais produzidos. Atualmente a empresa utiliza 2,03m de arame (29 voltas de

7cm cada) para a confecção de cada caderno. Das duas voltas excedentes, que correspondem

a 14cm, a máquina utiliza 5cm para o acabamento e 9cm se transformam em resíduos. Como

cada espiral para confecção do caderno passaria a medir 196cm, 7cm a menos que o tamanho

atual, a máquina passaria a gerar apenas 2cm de resíduo por caderno que é a margem de erro

da máquina.

A Tabela 3 sintetiza as diferenças entre a situação atual e a proposta. De acordo com os

resultados, observa-se que a proposta reduziria em 5,62kg de resíduos de aço o que

representaria uma economia de R$34,16 por dia. Verifica-se também que com a proposta cada

bobina de arame passaria a produzir 88 cadernos e se fosse possível unir todos os pequenos

pedaços de arame residual diário eles atingiriam 1120m.

Dados diários Situação

Encontrada

Proposta

de

Melhoria

Ganho Unidades

total de cadernos ao dia 16.000 16.000 - unid/dia

total de arame gasto ao dia 32.480 31.360 1.120 m/dia

comprimento da bobina 5.000 5.000 - m

para gerar 1 caderno utiliza-se de arame 2,03 1,96 0,070 m

produção de cadernos por bobina 2.463 2.551 88 unidades

consumo de bobinas por dia 6,50 6,27 0,22 unidades

valor unitário da bobina 152,50 152,5 - R$

gasto diário com boninas 990,64 956,48 34,16 R$

geração de resíduos por bobina (em metros) 221,67 51,02 170,65 m

Total de resíduos gerados ao dia (em metros) 1440 320 1.120 m

Total de resíduos gerados ao dia (em Kg) 7,23 1,61 5,62 Kg

Valor do resíduo ao dia 43,92 9,76 34,16 R$

Fonte: Autores (Jan./2010)

Tabela 3 – Comparação da situação encontrada e proposta de melhoria na geração de resíduos

de aço.

4.4. Avaliação financeira e ambiental das oportunidades de melhoria

Após a aplicação dos conhecimentos acadêmicos na prática, verifica-se a oportunidade de

melhorias significativas tanto na questão ambiental quanto na financeira.

Em relação aos ganhos ambientais, foi observado uma otimização do uso dos recursos

naturais e redução da geração de resíduos sólidos, através de uma redução diária de 99,02kg

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de papel o que representa uma redução de 35,65 toneladas de papel ao ano. Já a proposta de

redução de arame, representaria uma redução de 5,62kg de aço diários e isso representa 2,02

toneladas de aço que deixariam de se tornar resíduos da produção de cadernos. Assim, ao

longo de um ano, a empresa evitaria a geração de 37,67 toneladas de resíduos, trazendo, dessa

forma, benefícios ambientais como a otimização do uso dos recursos naturais e a redução da

geração de resíduos sólidos. No tocante aos ganhos financeiros, a empresa, sem investimentos

representativos, teria uma economia diária de R$ 58,13, que daria R$ 20.926,80 por ano,

representados por redução no custo de produção e aumento da produtividade.

A tabela 4 sintetiza os ganhos ambientais e financeiros das oportunidades de melhoria

vislumbradas.

Descrição

Indicador Ambiental – redução da geração de

resíduos Ganho financeiro

Situação

Encontrada

(Kg/dia)

Proposta de

Melhoria

(Kg/dia)

Redução

Anual

(Kg/ano)

% Mensal

(R$/mês)

Anual

(R$/ano)

Diminuir a regulagem da

guilhotina de 5mm para

3mm

246,61 147,58 35647,20 40% 719,10 8629,20

Diminuir uma volta nos

espirais produzidos 7,23 1,61 2023,20 78% 1024,8 12297,60

- 253,84 149,19 37670,4 - 1743,9 20926,8

Fonte: Autores (Jan./2010)

Tabela 4 – Ganhos ambientais e financeiros das oportunidades de melhoria vislumbradas.

6. Considerações Finais

A presente pesquisa apresentou um estudo de caso sobre a aplicação da Produção Mais Limpa

em uma indústria de cadernos. Os resultados mostraram que a poluição ambiental do processo

está relacionada principalmente com a geração de resíduos sólidos: papel e arames de aço.

É bem verdade que a empresa vende esses resíduos para empresas que irão reciclá-los.

Todavia como foi observado, essa atividade não seria a mais adequada, que nesse caso a

medida mais oportuna seria a redução na fonte geradora.

As sugestões apresentadas objetivando reduzir resíduos nas fontes geradoras versaram

principalmente sobre boas práticas (housekeeping) a fim de obter melhor utilização de todos

os recursos alocados na empresa, pois esta já possui equipamentos modernos em seu

segmento.

Verificou-se que, em larga escala de produção, pequenas práticas: como a redução de 2mm

em uma máquina que corta papel e uma redução de 7cm em outra que corta arame pode-se

evitar 35,65 toneladas de papel e 2,02 toneladas de arame residuais ao ano.

Portanto, conclui-se que a indústria gráfica o não só mitigará os impactos, mas também

ganhará competitividade através da possibilidade de redirecionar seus antigos custos com

resíduos em investimentos no empreendimento, melhorar sua imagem, conquistar novos

mercados, além de uma maior obtenção de soluções que contribuam mais para a minimização

XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção

Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

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dos problemas ambientais, que deve ser a principal meta buscada pelas empresas

ecologicamente corretas.

A pesquisa limitou-se a produção de cadernos universitários e encontrou barreiras no sigilo de

algumas informações por parte da empresa.

Referências

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Brasil. São Paulo, SP. Disponível em: <http://www.abigraf.org.br> Acesso em: 4 de jul. 2010.

______. Estudo Setorial da Indústria Gráfica no Brasil. São Paulo, SP: ABIGRAF, 2009.

CENTRO NACIONAL DE TECNOLOGIAS LIMPAS – CNTL. Curso de Formação de

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SUSTENTÁVEL - CEBDS. Barreiras de implantação da PmaisL. Disponível em:

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