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Linard AG, Pagliuca LMF, Rodrigues MSP. Aplicando o modelo de avaliao de Meleis teoria de Travelbee. Rev Gacha Enferm, Porto Alegre (RS) 2004 abr;25(1):9-16.

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APLICANDO O MODELO DE AVALIAO DE MELEIS TEORIA DE TRAVELBEEaAndrea Gomes LINARDb Lorita Marlena Freitag PAGLIUCAc Maria Socorro Pereira RODRIGUESd

RESUMO Objetivou-se realizar uma reflexo crtico-interpretativa da Teoria da Relao Interpessoal de Joyce Travelbee, utilizou-se um segmento discursivo do modelo de anlise de teoria proposto por Meleis. A anlise utilizou a descrio do modelo especificamente nos componentes funcionais: foco, cliente, enfermagem, sade, interao enfermeiro-cliente, ambiente, problemas de enfermagem e teraputica de enfermagem. Identificamos o foco como a natureza interpessoal das relaes, com o objetivo de ajudar o individuo ou famlia. Os demais componentes foram identificados na teoria, excetuando-se o termo ambiente. O modelo de anlise apresenta-se, portanto, como um direcionamento eficaz para avaliao e adequao da teoria ao trabalho cientfico. Descritores: teoria de enfermagem; avaliao; enfermagem. RESUMEN Era objectified para llevar con una reflexin critica-interpretativa de la Teora de la Relacin Interpersonal de Joyce Travelbee, usada un segmento del discursivo del modelo del anlisis de la teora considerado para Meleis. El anlisis utiliz especficamente la descripcin del modelo en los componentes funcionales: foco, cliente, oficio de enfermera, salud, cuidar-cliente de la interaccin, ambiente, problemas del oficio de enfermera teraputico y del oficio de enfermera. Identificamos el foco como, la naturaleza interpersonal de las relaciones, con el objetivo para ayudar a individuo o a la familia. Los excesivamente componentes haban sido identificados en la teora, excepto s mismos el trmino circundante. El modelo del anlisis se presenta, por lo tanto, como apuntar eficiente para la evaluacin y la suficiencia de la teora al trabajo cientfico. Descriptors: teoria de enfermera; evaluacin; enfermera. Ttulo: Aplicando el modelo de la evaluacin de Meleis la teora del Travelbee. ABSTRACT Aiming to carry out a critical and interpretative reflection about Joyce Travelbees theory of Interpersonal Relation, we used a discursive segment of the model of theory analysis proposed by Meleis. The analysis specifically used the description of the model at the functional components: focus, client, nursing, health, nurse-client interaction, environment, nursing problems and nursing therapeutics. We identified the focus as the interpersonal nature of the relations, with the objective to help the client or the family. The other component had been identified within the theory, except for the term environment. The model of analysis is presented, therefore, as efficient while aiming the evaluation and adequacy of the theory to the scientific work. Descriptors: nursing theory; evaluation; nursing. Title: Applying the model of evaluation of Meleis to Travelbees theory.

a

b

c d

Estudo realizado na disciplina de Anlise Crtica de Teorias de Enfermagem, Programa de Ps-Graduao em Enfermagem da Universidade Federal do Cear (UFC). Enfermeira, Mestre, Professora Adjunto da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), Doutoranda em Enfermagem da Universidade Federal do Cear (UFC), Bolsista da Fundao Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (FUNCAP) e Integrante do Projeto Sade da Mulher (UNIFOR). Enfermeira, Doutora, Professora Titular do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Cear (UFC). Enfermeira, Doutora, Professora Adjunto do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Cear (UFC). Linard AG, Pagliuca LMF, Rodrigues MSP. Applying the model of evaluation of Meleis to Travelbees theory [abstract]. Rev Gacha Enferm, Porto Alegre (RS) 2004 abr;25(1):9.

Linard AG, Pagliuca LMF, Rodrigues MSP. Aplicando el modelo de la evaluacin de Meleis la teora del Travelbee [resumen]. Rev Gacha Enferm, Porto Alegre (RS) 2004 abr;25(1):9.

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1 INTRODUO Enfermagem uma cincia jovem, recordamos que a primeira teoria de enfermagem a de Florence Nightingale em 1859, a partir da qual nascem novas teorias. Cada teoria aponta uma filosofia para entender a enfermagem e o cuidado. Na busca do entendimento entre enfermagem e cuidado deparamos-nos continuamente com a evoluo do conhecimento que ocorre, muitas vezes, atravs de erros e incertezas da pesquisa que caminha por corredores escuros at alcanar, mediante o uso de estratgias adequadas, luz da metamorfose do conhecimento. Em conformidade com o pensamento de Morin(1), toda evoluo fruto do desvio bem sucedido, cujo desenvolvimento transforma o sistema onde nasceu: desorganiza o sistema, reorganizando-o. As grandes transformaes so morfogneses, criadoras de formas novas que podem constituir verdadeiras metamorfoses. Contudo para desorganizar o sistema e reorganiz-lo a filosofia e a teoria devem ser entendidas como elementos a serem incorporados na prtica assistencial de enfermagem, uma vez que, fornecem respaldo cientfico para justificar toda e qualquer ao teraputica do cuidar. A priori, para uma parcela de profissionais que integram a categoria profissional da enfermagem, trabalhar com teorias se torna um evento desgastante e cansativo, em decorrncia da ausncia de desenvolvimento perceptivo frente ao conhecimento real e a importncia das certezas e incertezas que ele trar para a sistematizao de sua assistncia. O sculo XXI uma poca em que as certezas se desmoronam. O mundo est numa fase particularmente incerta porque as grandes bifurcaes histricas no foram ainda apreendidas. No sabemos para onde vamos. Segundo Morin e Le Moigne(2) o futuro muito incerto. Para caminhar no mundo de incertezas do conhecimento, necessrio que a enfermagem tire partido das teorias na prtica

cotidiana, mediante o aprofundamento dos estudos das teorias subsidiadas pelos modelos de anlise. Os modelos de anlise se inserem no cenrio como ferramentas bsicas na tentativa de responder a questionamentos sobre a pertinncia ou no do uso da teoria no contexto biopsicossocial do indivduo e da famlia. Neste cenrio o estudo se justifica, pois resgatar o modelo de anlise de teorias proposto por Meleis(3), procurando abstrair seus conceitos e estabelecer, assim, uma discusso, que a posteriori, poder ajudar no entendimento, escolha e aplicao de uma teoria. Para o desenvolvimento do estudo, estabelecemos, como objetivo: realizar uma reflexo crtico-interpretativa da Teoria da Relao Interpessoal de Joyce Travelbee, utilizando um segmento discursivo do modelo de anlise de teoria proposto por Meleis. 2 METODOLOGIA Desenvolvemos um estudo de anlise interpretativa que segundo Severino (4), divide-se em trs etapas: a primeira etapa da interpretao consiste em situar o pensamento do autor em uma unidade de esfera ampla. Na segunda etapa o pensamento apresentado na unidade situado quanto ao contexto filosfico-cultural adotado pelo autor. A prxima etapa a crtica que busca identificar at que ponto o autor atingiu os objetivos que se props a alcanar na elaborao do seu texto. Para a anlise interpretativa utilizamos o segmento descrio do modelo de avaliao de teorias proposto por Meleis(3). Neste segmento nos detivemos aos componentes funcionais: foco, cliente, enfermagem, sade, interao enfermeiro-cliente, ambiente, problemas de enfermagem e teraputica de enfermagem. Estes itens subsidiaram a reflexo crtico-interpretativa da Teoria da Relao Interpessoal de Joyce Travelbee. Esta estratgia buscou desencadear um dilogo entre os autores, explorando a fecundidade de seu pensamento e estabelecendo-se associao

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e identificao entre os componentes funcionais e sua clara identificao na Teoria de Travelbee(5). 3 APRESENTANDO O MODELO DE AVALIAO DE TEORIAS O modelo de Meleis(3), dividido nos seguintes segmentos: descrio, anlise, crtica, teste e apoio. O foco do nosso estudo no modelo recai no segmento descrio, por ser esta etapa a responsvel por identificar elementos conceituais pertinentes s idias centrais de uma teoria. Passa-se, agora, a apresentar o segmento utilizado no desenvolvimento do estudo. Inseridos na descrio temos os componentes funcionais, que so: foco, cliente, enfermagem, sade, interao enfermeiro-cliente, ambiente, problemas de enfermagem e teraputica de enfermagem. Questes centrais que permearam o nosso processo de descrio dentro dos componentes funcionais: - se a teoria identifica o foco da teoria com o cliente, famlia, comunidade, sociedade ou no; - qual a definio que a teoria oferece enfermagem, cliente, sade, problemas de enfermagem, relacionamento enfermeiro-paciente; - se so definies explcitas ou implcitas; - e se a teoria oferece uma idia clara sobre os problemas de enfermagem, se a teoria oferece algum insight no que concerne interveno de enfermagem. 4 A TEORIA DA RELAO INTERPESSOAL DE JOYCE TRAVELBEE 4.1 A trajetria profissional de Joyce Travelbee Foi uma enfermeira assistencial da rea de psiquiatria, alm de docente e escritora.

Nasceu em 1926, terminou seus estudos bsicos de enfermagem na Escola do Hospital de Caridade em Nova Orleans. Obteve seu bacharelado em enfermagem na Universidade de Lowsiana, em 1956, iniciando seu mestrado no mesmo ano, na Universidade de Yale. Em 1973 matriculou-se no curso de doutorado, na Flrida, mas veio a falecer de forma prematura e inesperada, no mesmo ano. Esta uma razo que nos leva a encontrar poucos registros de artigos na literatura, utilizando a teoria. Sua experincia durante a formao bsica em enfermagem e seus primeiros trabalhos como assistencial em instituies catlicas influenciaram sobremaneira na formulao de sua teoria. Travelbee considerava que os cuidados de enfermagem que se davam aos pacientes careciam de compaixo. Travelbee foi membro de vrias escolas de enfermagem e teve influncia de Ida Orlando, para escrever a teoria, ressalta-se que influencia tambm de Vicktor Frankl. Em linhas gerais, Frankl(6), contemporneo de Sigmund Freud, e criou a logoterapia que lida com o sentido concreto de situaes concretas, nas quais se encontra uma pessoa, por sua vez, tambm concreta. Em conformidade com Marriner (7), Ida Orlando trabalhou em sua teoria a relao recproca entre paciente e enfermeira, pois ambos so afetados pelo que o outro diz e faz. 4.2 A teoria da relao interpessoal Em conformidade com Leopardi (8), a teoria de Joyce Travelbee, enfatiza a relao teraputica que existe entre enfermeira e paciente. A importncia dada aos cuidados que reforam a empatia e simpatia no que tange ao aspecto emocional. Pressuposies bsicas: - a relao enfermeiro/paciente a essncia do propsito da enfermagem; - pessoas experienciam conflitos e fazem escolhas;

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- seres humanos tm a capacidade de evoluir e mudar todo o tempo; - paciente: um termo estereotipado, til para a economia da comunicao; na verdade, paciente no existe, o que temos so seres humanos, que necessitam de cuidados, servios e assistncia que se supem, outros seres podem dar; - interao enfermeira-paciente: significa todo o contato entre enfermeira e enfermo e se caracteriza por um elo em que ambos percebem o interlocutor de maneira estereotipada. 4.3 Principais conceitos dominantes Os principais conceitos dominantes so: - enfermagem: um processo interpessoal em que a enfermeira ajuda a um individuo, famlia ou comunidade a evitar ou fazer frente experincia de enfermidade e sofrimento; - sade: definida segundo a Organizao Mundial de Sade (OMS) como, no apenas a ausncia de doena, mas a situao de perfeito bemestar fsico e mental; - cliente um humano que requer assistncia de outro humano que ele acredita ser capaz de ajud-lo; - comunicao significa enviar e receber mensagem mediante smbolos, palavras (escritas ou faladas), signos, gestos e outros meios no verbais; - problema de enfermagem toda e qualquer falha ou distoro na comunicao entre enfermeiro e cliente (falncia na escuta, falha na percepo); - foco a natureza interpessoal das relaes, com o objetivo de ajudar o indivduo ou famlia a enfrentar e compreender a experincia da dor e do sofrimento pelos quais passa;

- relacionamento enfermeiro-paciente a experincia entre um indivduo que necessita dos servios da enfermeira, e a enfermeira que procura ajud-lo; - teraputica de enfermagem tudo o que a enfermeira faz para ajudar o indivduo ou famlia a aceitar e encontrar significado para sua experincia, utilizando intervenes de enfermagem no processo de comunicao. 4.4 Conceitos inter-relacionados O enfermeiro, para ser capaz de prestar uma assistncia adequada ao paciente, deve ser capaz de utilizar sua percepo no desenvolvimento do processo de comunicao. Entende-se por percepo o movimento interno de uma pessoa para tomar conscincia do mundo que a cerca, decifrando-o de acordo com suas experincias anteriores. Quando se reporta comunicao, entende-se como a capacidade humana para o estabelecimento de troca de informaes e significados sobre o mundo e sobre si mesmo. De acordo com Matheus(9), a comunicao em enfermagem pode ser vista como uma competncia que a enfermeira deve desenvolver, uma vez que, uma das ferramentas a ser utilizada para desenvolver e aperfeioar o saber-fazer profissional. Para tanto, conhecer a comunicao como processo, colabora para a qualidade dos relacionamentos que devero ser estabelecidos nas relaes de trabalho. O processo de comunicao deve ser pautado por uma relao pessoa-pessoa, que segundo Leopardi(8) descrito, em 5 fases, a saber: a) fase do encontro inicial o primeiro contato entre a enfermeira e o enfermo e onde se produzem as primeiras impresses; b) fase das identidades emergentes, em que os envolvidos expressam sua

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identidade pessoal, valores e significados; c) fase da empatia, que ocorre quando o profissional e o enfermo expressam o desejo de estabelecer um processo de ajuda mtua; d) fase da simpatia, em que o enfermeiro se coloca como apoiador, para

ajudar a pessoa a enfrentar sua doena e tratamento; e) fase do rapport, quando ambos avaliam a relao e os resultados teraputicos. Podemos explicitar a teoria de Joyce Travelbee, em um diagrama, realizando sua interface com o processo de enfermagem.

ENFERMEIRA (E)

CLIENTE (C)

ENCONTRO INICIAL Foco IDENTIDADE EMERGENTE (E C) Foco EMPATIA (E C) Foco SIMPATIA (E C) Foco RAPPORT (E C)

LEVANTAMENTO DE DADOS

DIAGNSTICO DE ENFERMAGEM

PLANO DE CUIDADOS

IMPLEMENTAO

AVALIAO

Complementando o diagrama, o enfermeiro, para atuar no processo de comunicao com eficcia, necessita deter uma competncia interpessoal, que dever ser formada mediante utilizao de alguns recursos citados por Leopardi (8), como: - circuito ou mtodo indireto, no qual o enfermeiro deve evitar con-

frontao direta, podendo usar parbolas ou o relato de experincias; - mtodo direto, no qual o enfermeiro promove uma interao de ajuda, formulando questes pertinentes ou explicando logicamente a situao.

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5 REFLEXO CRTICO-INTERPRETATIVA Em conformidade com o seguimento descrio do modelo de anlise de Meleis, identificamos os componentes funcionais: foco, cliente, enfermagem, sade, interao enfermeiro-cliente, problemas de enfermagem e teraputica de enfermagem; contudo, percebemos a lacuna do termo ambiente. No pensamento de Stefanelli (10), o ambiente refere-se ao local onde se d o processo de comunicao enfermeiro-paciente. O conceito de ambiente no descrito na teoria, sendo fundamental a sua existncia, pois, para que se estabelea um relacionamento interpessoal produtivo com o cliente, as variveis que permeiam o ambiente interferem no estabelecimento e manuteno de todo o processo. Para Magela(11), as interferncias ambientais, tais como uma porta que fechada bruscamente, odores fortes, muito calor ou muito frio, cadeiras barulhentas ou desconfortveis, so exemplos comuns que podem ser encontrados e trabalhados durante o processo de comunicao. Outro aspecto interessante reside na definio de problema de enfermagem, que toda e qualquer falha ou distoro na comunicao entre enfermeiro e cliente; percebe-se, portanto que o elemento ambiente pode ser entendido como fator causador de falhas na comunicao. Esta constatao corrobora a necessidade da conceituao do termo ambiente na teoria de Travelbee, uma vez que, o ambiente um elemento que pode facilitar ou prejudicar, no estabelecimento de uma relao teraputica. Travelbee se apropria do conceito de sade adotado pela Organizao Mundial da Sade que se apresenta de forma clara, explicita e faz destaque entre o fsico, o mental e o social. Faz tambm aluso ao que se chama de completo bem-estar. Contrapondo-se a esta definio, questiona-se o que

considerado como completo bem estar, na teoria, para que se possa entender no cerne da questo a trade: fsico, mental e social, dentro do relacionamento interpessoal. No entendimento de Leito, Linard e Rodrigues(12), a sade resulta da adaptao da pessoa ao ambiente que est em constante mudana. Um estado e um processo de ser e tornar-se uma pessoa integrada. Segre e Ferraz(13), apresentam uma outra leitura da definio de sade adotada pela OMS, enfatizando que, se trata de definio irreal, porque, aludindo ao perfeito bem-estar, coloca uma utopia. O que perfeito bem-estar? , por acaso, possvel caracterizar-se a perfeio? Mediante discusso entre os autores sobre o conceito de sade, entende-se que existem mltiplos determinantes a serem considerados, para que se construa um conceito amplo, no qual estejam elencado os elementos que permitam uma condio digna e respeitvel de vida ao ser humano. Estes elementos, tais como, habitao, educao, renda, emprego e acesso aos servios de sade, necessitam estar contemplados e ser, portanto, respeitados pelo Estado em suas esferas federal, estadual e municipal. O foco da teoria a natureza interpessoal das relaes. Este fato se justifica, pois a teoria, em sua essncia, busca trabalhar o relacionamento interpessoal entre enfermeira e cliente, para assim estabelecer um relacionamento teraputico. As demais definies presentes nos componentes funcionais da teoria, como, cliente, enfermagem, interao enfermeiro-cliente e teraputica de enfermagem, so expressos de forma explicita, clara e de fcil mentendimento. A teoria, em vrios pontos, clarifica os elementos necessrios e os caminhos para o desenvolvimento de um relacionamento interpessoal de forma congruente, para ao do cuidar no processo de comunicao ver-

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bal. Em contrapartida, verificamos que as relaes interpessoais perpassam pela comunicao no-verbal, que no foi contemplada por Travelbee. A teoria se apresenta com um corpo de conceitos entrelaados e complexos. Complexos, no por apresentarem dificuldades para sua aplicao, e sim no sentido de estarem entrelaados e necessitarem ser estudados e aplicados dentro de um contexto, sob uma determinada ptica global e considerando os reais objetivos de sua utilizao. Para apreender uma melhor compreenso do termo complexo, reportamos-nos a Morin e L Moigne(2), que enfatiza o complexus como o que foi tecido junto; de fato, h complexidade, quando elementos diferentes so inseparveis constitutivos do todo e h uma interao e inter-retroao entre o objeto de conhecimento e seu contexto, as partes e o todo, o todo e as partes, as partes entre si. 6 CONSIDERAES FINAIS Percebe-se que o estudo propiciou a aplicao do modelo de anlise de Meleis (3), que se apresenta como um direcionamento eficaz para o pesquisador conhecer e avaliar a adequao da teoria ao seu trabalho. O segmento componentes funcionais do modelo norteou a identificao dos elementos: foco, cliente, enfermagem, sade, interao enfermeiro-cliente, ambiente, problemas de enfermagem e teraputica de enfermagem, oferecendo na teoria uma viso apurada das idias de Travelbee. Mediante o reconhecimento destes componentes, mergulhamos na Teoria do Relacionamento Interpessoal, no qual vislumbramos as fases do processo de comunicao e sua relao com o processo de enfermagem.

Para a dcada de 60, poca em que foi escrita a teoria, o conceito de sade da OMS era considerado como completo e pertinente, para ser usado em uma teoria que trata do relacionamento humano enfermeiro-paciente, contudo, no mundo atual, que sofre constantes transformaes, entendemos que existe a real necessidade de se aprimorar o conceito. Para a prtica acadmica e assistncia, esta uma teoria utilizvel, embora na literatura da rea no se encontrem muitos registros que comprovem o seu uso e aperfeioamento, o que refora a necessidade da enfermagem resgatar a teoria e aperfeio-la. REFERNCIAS1 Morin E. Os setes saberes necessrios educao do futuro. 2a ed. So Paulo: Cortez; 2000. 118 p. 2 Morin E, L Moigne JL. A inteligncia da complexidade. Portugal: Europa-Americana; 2000. 263 p. 3 Meleis AI. Theoretical nursing: development and progress. 3rd ed. Philadelphia (PA): Lippincont; 1997. 565 p. 4 Severino RJ. Metodologia do trabalho cientfico. 21a ed. So Paulo: Cortez; 2000. 278 p. 5 Travelbee J. Intervenion en enfermeria psiquiatrica: el proceso de la relacion de persona a persona. Colombia: Carvajal; 1979. 256 p. 6 Frankl V. A presena ignorada de Deus. Petrpolis (RJ): Vozes; 1992. 101 p. 7 Marriner A, Garcia MS. Modelos y teoras de enfermera. Spain: Rol; 1989. 345 p. 8 Leopardi MT. Teorias em enfermagem: instrumentos para a prtica. Florianpolis (SC): Papa-Livro; 1999. 226 p. 9 Matheus MCC. Comunicao. In: Cianciarulho TI. Instrumentos bsicos para o cuidar: um desafio para a qualidade de assistncia. So Paulo: Atheneu; 2000. 220 p. p. 61-73.

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Linard AG, Pagliuca LMF, Rodrigues MSP. Aplicando o modelo de avaliao de Meleis teoria de Travelbee. Rev Gacha Enferm, Porto Alegre (RS) 2004 abr;25(1):9-16.

10 Stefanelli MC. Comunicao com o paciente: teoria e ensino. 2a ed. So Paulo: Robe; 1993. 200 p. 11 Magela AL. A comunicao profissional na enfermagem. Revista Cogitare Enfermagem, Curitiba 1998 jul/dez;3(2):92-9.

12 Leito GCM, Linard AG, Rodrigues DP. Conceitos de enfermagem segundo Roy, Orem e Watson. Revista Acta Paulista de Enfermagem, So Paulo 2000 set/dez;13(3):76-80. 13 Segre M, Ferraz FC. O conceito de sade. Revista Sade Pblica, So Paulo 1997; 31(5):538-42.

Endereo da autora/Authors address: Andrea Gomes Linard Rua Correia Lima, 250 Apt l0l-B Bairro Democrito Rocha 60.440-040 - Fortaleza - CE E-mail: [email protected]

Recebido em: 21/07/2003 Aprovado em: 31/03/2004