APLICANDO PESQUISAS PARA CONSERVAÇÃO NOPARQUE ESTADUAL DA ILHA DO CARDOSO, SP

RESUMO

Na Ilha do Cardoso nós temos uma ótima oportu-nidade de aplicar pesquisa para conservação de umimportante espectro de ambientes - Mata Atlântica,restinga, manguezal, estuário, praias e costões rocho-sos - e preservar sua flora e fauna. O Centro de Pesquisasituado na Ilha do Cardoso, CEPARNIC, dedica-se aaplicar pesquisa para o planejamento e manejo doParque Estadual, e para a conservação da região comoum todo. Os modelos gerados no CEPARN IC devem terum largo espectro de implicações, de modelos gerais acomo pesquisa pode ser aplicada a problemas práticosem parques, até modelos de funcionamento deecossistema e manutenção da diversidade. Para queestes objetivos sejam alcançados, é essencial que otrabalho seja integrado a níveis mais altos de organiza-ção - planejamento, conservação, ecossistemas, etc.Apresento aqui uma proposta de como isto pode serorganizado e discuto a teoria e a prática de como fazê-10. O esquema segue essencialmente os princípios deanálise de sistema: modelos são montados definindo osobjetivos e como os sistemas devem funcionar e istoorienta a pesquisa que é conduzida no nível básico(botânico, zoológico e ecológico). Em troca, os resulta-dos da pesquisa são reaplicados aos modelos e servempara refiná-Ios e gerar mais hipóteses. O CEPARNIC éobviamente a instituição que deve ter o papel de coorde-nação e a pesquisa vem de projetos passados, presen-tes e futuros, das muitas instituições e universidadesque usam as instalações do CEPARNIC.

Palavras-chave: Pesquisa aplicada, conservação, MataAtlântica, manejo de parque, análisede sistemas.

1 INTRODUÇÃO

Em ciências em geral nós somos freqüentementeconfrontados com a questão de como fazer uma pesqui-sa "aplicada" e "prática". No campo da conservação,mais do que nunca, é isto que acontece, à medida emque buscamos soluções para problemas cada vez mai-ores de destruição e perda de diversidade (COLLOR,1991, COLLOR et alii, 1991).

Apresento aqui uma abordagem para este proble-ma e o que nós estamos realizando na Ilha do Cardoso.Dou uma idéia geral do programa e discuto os métodosque estam os tentando empregar.

(1) Centro de Pesquisas Aplicadas de Recursos Naturais da Ilha do Cardoso, Caixa Postal 43, 11990-Cananéia-SP, Brasil.

Timothy P. MOUL TONl

ABSTRACT

At Ilha do Cardoso we have an excellent opportunityto apply research to the conservation of an importantrange of habitats - Atlantic rainforest, sand-plain vege.ta-tion, mangrove, estuary and open coast - and preservetheir component flora and fauna. The research centresituated at Ilha do Cardoso, CEPARNIC, is dedicated toapplying research tothe planning and managementof theState Park, and to the conservation of the region as awhole. The models generated at CEPARNIC have wide-ranging implications, from general models of how re-search can be applied to practical problems in parks,through to models of ecosystem function and mainte-nance of biodiversity. For these goals to be achieved, it isessential that the work be integrated at the higher levelsof organization - planning, conservation, ecosystem, etc.I present a proposal of how this can be organized anddiscuss the theory and practice of how it can work.Essentially the scheme follows the principais of systemsanalysis: Models are erected defining the objectives andhow the systems are thought to work and this orientatesthe research which is conducted at the basic (botanical,zoological, ecological) leveI. The results of the research,in turn, are reapplied to the models and serve to refinethem and generate more hypotheses. CEPARNIC is theobvious institution for the coordinating role and the re-search comes from past, present and future projects ofthe many institutions and universities that use the facili-ties at CEPARNIC.

Key words: Applied research, conservation, Atlanticrainforest, park management, systemsanalysis. .

2 CEPARNIC, ILHA DO CARDOSO E A REGIÃODO LAGAMAR

O Centro de Pesquisas Aplicadas em RecursosNaturais da Ilha do Cardoso, CEPARNIC, situa-se emuma posição bastante favorável, se não única, para aaplicação de pesquisa e educação ambiental às metasde conservar a Mata Atlântica e ecossistemas associa-dos. Ele está estrategicamente localizado próximo aocentro da maior área remanescente de Mata Atlântica eem um complexo estuarino extremamente importante (aregião de Iguape-Cananéia ou "Lagamar"). Sua situação,

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em uma ilha que é um Parque Estadual, é propícia àimportante tarefa de integrar pesquisa às funções demanejo.

A Ilha do Cardoso contém exemplos de quasetodos os tipos de ambientes naturais encontrados nacosta sudeste do Brasil. Geograficamente, apresentamontanhas (até ca. 900 m), planícies arenosas, estuárioprotegido e costões e praias de mar aberto. Botanica-mente a ilha compreende áreas bem preservadas deMata Atlântica (subdivisível em de altitude, de encostasíngremes e formações de plan ície), restinga, manguezale formação de dunas. Estudos intensivos revelaramgrande diversidade de espécies associada à MataAtlân-tica (BARROS et alii, 1991).

Zoologicamente a ilha é muito rica em espécies deaves (ca. 365 espécies até o presente, incluindo 28consideradas ou em perigo de extinção ou raras)(MARTUSCELLI, com. pessoal). A presença de cincoespécies de felinos, dois primatas (mono-carvoeiro ebugio) e outros grandes mamíferos atestam o excelenteestado de preservação (MARTUSCELLI, com. pessoal).

A ilha é arqueologicamente e antropologicamenterica, tanto da época pré-colonização (sambaquis) quan-to de ocupação humana recente (AB'SABER &BESNARD, 1953; UCHÔA & GARCIA, 1983). É sociolo-gicamente interessante em termos das comunidades depescadores artesanais e agricultura de subsistência.

O Centro de Pesquisas foi construído na partenorte da Ilha do Cardoso em 1976 e compreende umprédio para acomodações e refeições para ca. de 60pessoas, 12 casas para funcionários, um prédio deadministração com 13 salas, um complexo de laborató-rios, auditório, museu e áreas funcionais externas einternas, um prédio de laboratórios associado comaqüicultura, um prédio separado para larvicultura, umcomplexo de tanques de concreto com água doce esalgada, facilidades de atracadouro, um sistema hidrelé-trico e gerador termelétrico.

3 DEFINiÇÃO DO CEPARNIC

Devido a uma história de muitas mudanças estru-turais e burocráticas, o exato âmbito do CEPARNIC nãoestá claro. Visando os argumentos que serão colocadosaqui, considero o CEPARNIC como compreendendo osprédios e as instalações localizadas ao norte de Ilha doCardoso (no "Pereirinha"), juntamente com os funcioná-rios associados. Considero o Parque Estadual da Ilha doCardoso como sendo separado, embora a premissadesse documento é que as funções do CEPARNIC e doParque devam ser integradas. Se, no futuro, ficar deci-dido que o CEPARN IC deva ser englobado pelo Parque,em um único corpo, as idéias e argumentos aqui apre-sentados permaneceriam os mesmos.

4 PESQUISA NO CONTEXTO DAS ATIVIDADESDO PARQUE

Considero pesquisa fundamentalmente necessá-ria para os processos de planejamento e manejo deparques. Nós precisamos saber o que temos a fim deconservá-Io e nós precisamos entender como ecossiste-mas funcionam a fim de manejá-Ios.lnteressantemente,freqüentemente ouvimos o argumento da maneira inver-sa - que parques e áreas naturais são necessáriasporque elas proporcionam áreas para se entender eco-logia básica, fornecendo um reservatório debiodiversidade, etc. (MACHLlS & TICHNELL, 1985).Não existe um conflito essencial entre estas duas pers-pectivas; elas constituem um argumento dereenforçamento mútuo, se circular, entre a pesquisa e aconservação.

Nós podemos enquadrar os componentes do par-que em cinco: Pesquisa, educação ambiental, ecoturismo,habitantes e manejo, os quais deveriam estar intima-mente interligados (FIGURA 1).

---~ interação de controle--IIIIfi~~J interação de feedback

FIGURA 1 - Interrelacionamento das atividades no Parque Estadual da Ilha do Cardoso

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•...MODELO

... Definição dosobjetivos, sistema, ete.

Resultados a seremaplicados, testados

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Orientação das pesquisasgeração de hipóteses

•• É essencial para esta filosofia que se tenha osobjetivos claramente definidos ao nível de conservação,e que as várias funções e atividades do Parque estejamdirecionadas para esses objetivos. Aqui eu estou primei-ramente preocupado com pesquisa e tento definir umsistema no qual pesquisa é aplicada ao planejamento emanejo. Evidentemente a educação ambiental, oecoturismo e as atividades dos moradores locais mere-cem um tratamento também específico.

PESQUISAsobre os componentes

do modelo

5 APLICAÇÃO DA PESQUISA PARA A CON-SERVAÇÃO

Um dos princípios de análise de sistemas é que seconstrói um modelo do sistema a um nível e se testa omodelo no próximo nível inferior de organização. Osresultados de experimentos e descobertas no nível baixosão então aplicadas ao modelo ao nível acima,(JEFFERS, 1978) (FIGURA 2).

Este é, em geral, o modo como deveríamos traba-lhar em ciências ambientais. Na Ilha do Cardoso pode-mos construir modelos ou objetivos ao nível da conser-vação da Ilha do Cardoso (ou da região ou da MataAtlântica em geral) e orientar pesquisa a nível dos váriosprojetos de pesquisa.

No caso da Ilha do Cardoso, os objetivos não foramainda claramente definidos oficialmente, mas em termosgerais podemos considerar três objetivos:

a) preservar a ilha e suas vizinhanças em estadonatural intacto;

b) criar oportunidades para o público visitar a ilhacomo um Parque Estadual; e

c) usar o ecossistema intacto da Ilha do Cardosopara os propósitos de compreender o funciona-

FIGURA 2 - Relação entre os níveis de modelagem e pesquisa

mento do ecossistema, avaliando os recursosnaturais e, quando aplicável, explorandoapropri-adamente os recursos naturais. Este objetivoestende-se ao uso de tal informação em outrasáreas da MataAtlânticae estuárioe nacriação demodelos para a recuperação ambiental,agroflorestal, etc.

Os dois primeiros objetivos contém o conflito ine-rente entre preservar e aproveitar o ambiente natural.Este é um problema bem conhecido por diretores deparques (MACHLlS & TICHNELL, 1985; MCNEELY &MILLER, 1984). Pesquisa tem importante papel em (i)fornecer informação sobre a qual deve-se planejar asolução deste conflito e (ii) monitorar os impactos do usode visitantes e habitantes locais, o que é importante parao manejo.

O terceiro objetivo tem implicações particulares nomanejo e monitoramento da Ilha do Cardoso e implica-ções de largo espectro em conservação em geral.

A fim de estruturar a pesquisa para cumprir estesobjetivos, é necessário quebrar as fronteiras clássicasde várias disciplinas. É difícil criar categorias rígidasporque na pesquisa ambiental os componentes sobre-põem-se e interagem. No entanto, a fim de construir umaestrutura, escolhi dividir as atividades de conservaçãoem "planejamento" e "manejo", (FIGURA 3).

A fase de planejamento inicia-se com um númerode questões de tipo "o que" e "onde" e "quanto": queespécies de plantas e animais existem, onde ocorrem,que comunidades podem ser definidas e quanta áreacada ocupa? Esta informação constitui a base para ozoneamento de usos e planejamento de como o parquedeve ser usado. Respostas a essas questões são geral-mente descrições do ambiente e estão endereçadas a

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levantamentos botânicos (Fitossociologia) e levanta-mentos zoológicos (indicado por flechas em negrito naFIGURA 3)

As preocupações do manejo, no entanto, são ge-ralmente do tipo "como": como funciona o sistema, (e,portanto, como o manejamos para obter as metas dese-jadas)? Estas informações vêm de estudos de funcio-namento de ecossistema, e esperamos que sejam osresultados de estudos sobre ecossistemas terrestres eaquáticos na Ilha do Cardoso, (indicado por flechas emnegrito na FIGURA 3).

Existe, é claro, uma grande sobre posição entreestas duas linhas de trabalho, como indicado pelasflechas pontilhadas na FIGURA 3. Um plano ambiental ébastante superficial se não contém recomendações paramanejo baseadas em dados disponíveis e princípiosfuncionais conhecidos. Do mesmo modo, o processo demanejo baseia-se em dados de monitoramento que são,no mínimo em primeira instância, descritivos e, talvez,estejam precisando dar um passo a mais na direção deexperimentos funcionais (BOUCHER, 1991; De VELlCEet alii, 1988).

Na FIGURA 3 reconheci dois componentes adicio-nais da pesquisa - o estudo de espécies carismáticas eúteis. As primeiras são as pandas gigante e muruquisque são importantes para a conservação, e geralmentesâo também bons indicadores de quanto o sistemanatural está intacto. As espécies úteis são importantesem si e podem ou não estar sujeitas a uma exploraçãocontrolada dentro das linhas de conservação. (Umaimportante função das áreas preservadas é ser umafonte para se estudar espécies comercialmente explora-das no seu estado natural assim como procurar novosprodutos).

Na FIGURA 3 as flechas que partem das espéciescarismáticas e úteis ultrapassam os processos de redu-ção (Descrição do Meio Ambiente, Função doEcossistema) e entram diretamente no nível de Planeja-mento e Manejo. Isto foi feito simplesmente para desta-car a importância desses organismos (COOK &TANACREDI, 1990); eles podem dominar as práticas demanejo, como o exemplo do mico-Ieão-dourado da Re-serva Biológica de Poço das Antas, RJ. Entretanto, naprática, os dados obtidos ao se pesquisar espéciescarismáticas ou úteis devem ser analisados em umprograma geral e entrariam nos processos analíticos,juntamente com os de outras fontes.

Bioeconomia. Um assunto à parte neste esquemaé a questão de dar um valor econômico na entidade deconservação e nas funções do ecossistema intacto. Istotornou-se uma preocupação global recente. É tambémuma ferramenta necessária para se obter e manter áreasintactas , (MCNEEL Y, 1988).

6 AGILlZAÇÃO

6.1 Organização nos níveis altos

Como foi descrito na seção anterior, é importantecomeçar a integração e planejamento da pesquisa ao

nível de conservação e ecossistema. No passado, atendência foi reunir as pessoas interessadas em váriosprogramas de pesquisa na Ilha do Cardoso e esperar queda soma das partes emergisse uma síntese. Em vez decomeçar com os projetos individuais e construir umprograma a partir deles (o método "de baixo para cima"),sugiro a construção de um modelo conceitual ao nível deconservação/ecossistema e a orientação das pesquisasa partir desta perspectiva (o método "de cima parabaixo"), (FIGURA 2).

Considero que:a) qualquer projeto relacionado com o ambiente da

IIhado Cardoso pode ser colocado no quadro de- .conservaçao;b) o projeto irá contribuir para a conservação da

Ilha do Cardoso (e talvez até ter maisabrangência) e que, portanto, não existe neces-sidade de se manter uma dicotomia entre "pes_quisa aplicada" e "pesquisa básica";

c) o projeto enquadrado desta maneira irá requererum pouco mais de trabalho do pesquisador, masprovavelmente irá render resultados melhoresao nível de projeto assim como contribuir aonível de conservação;

d) o projeto que for assim enquadrado não iráperder seu rigor nem a sua autonomia; e

e) a metodologia é fundamental para integrar pes-quisa e deverá trazer sínteses importantes quesão valiosas por si mesmo assim como podemser aplicadas em conservação.

Para dar alguns exemplos: existe uma grandenecessidade de se conhecer a taxonomia de muitosgrupos de animais e plantas na Ilha do Cardoso. Esteestudo pode parecer isolado dos objetivos diretos deconservação, mas não é isto que necessariamente acon-tece. Uma parte importante de conservação é saber oque existe para ser conservado e onde e quanto existe.Enquadrado ao nível de Descrição do Ambiente, precisa-mos saber a identidade certa e a distribuição de tantasespécies quanto possível e incorporar todos os dadosdisponíveis em reprodução, dinâmica de população,importância biológica e utilidades para o homem. Tudoprecisa estar interrelacionado entre as espécies ecorrelacionado com fatores ambientais, geográficos, etc.Isto tem significado imediato para o taxonomista. Suascoletas não podem ser simplesmente ao acaso, masdevem ser sistematizadas, abrangentes e bem docu-mentadas, (ausências sendo tão importantes quantodados de ocorrência). O maior benefício para otaxonomista é o banco de dados auxiliares que se tornadisponível na forma de co-ocorrências de outras plantase animais e padrões de variáveis ambientais, que, emtroca, geram hipóteses sobre a biologia das espécies emquestão.

Ao nível de Descrição de Ambiente, os resultadosdevem ser analisados, coordenado com outros resulta-dos e a síntese usada no nível seguinte de organização- o Planejamento, (FIGURA 3). Aí as decisões sobrezoneamento e uso de terra são tomadas com base nosdados disponíveis. Presumivelmente, isto deve ser rea-

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lizado pelo CEPARNIC, em colaboração com as partesinteressadas. É evidente que para o esquema funcionaro CEPARNIC precisa fornecer ao taxonomista mapas,trilhas marcadas, formulário com os detalhes requeridose outros itens de orientação. Ao mesmo tempo, parahaver um retorno positivo para o participante, os dadosdevem ser processados rapidamente e os resultadosdevem tornar-se disponíveis.

Dentro dos estudos de ecologia funcional, aintegração da pesquisa é freqüentemente mais óbvia,pela própria natureza do conceito de ecossistema. Estu-dos dos componentes do ecossistema devem ser plane-jados ao nível de ecossistema para assegurarintercompatibilidade. Resultados intermediários devemser analisados ou modelados a nível de ecossistema, afim de aperfeiçoar o modelo e, no nível básico, gerarexperimentos adequados. O passo seguinte na hierar-quia de níveis é usar o modelo em manejo da Ilha doCardoso e em outras áreas da Mata Atlântica.

Obviamente uns projetos são mais adequados doque outros para serem incorporados no âmbito de con-servação e, obviamente, um projeto de valor científicomas sem forte conexão com conservação não seriarejeitado. Mas, em princípio, todos os projetos sãoaproveitáveis.:.

6.2 Convocação dos cientistas participantes

O primeiro passo no programa proposto é convidartodas as partes interessadas para que participem. Existeum número impressionante de projetos em andamento erecém-terminados na Ilha do Cardoso, cobrindo muitosaspectos de pesquisa. E existem também muitos parti-cipantes potenciais.

Como foi dito acima, é fundamental que todosparticipem no nível de Conservação e Planejamento.Estetipo de organização e integração de pesquisa exigeregras especiais de conduta e regulamento e eu conside-ro importante que estas sejam formuladas de uma ma-neira participativa. Tais assuntos, como arquivamentode dados crus e como tratar pessoas fazendo teses, sãoimportantes e sensíveis e devem ser discutidos comtodos os interessados.

Portanto, o programa atual de conservação doCEPARNIC precisa ser considerado. Obviamente, pormais abrangente que uma seleção de cientistas possaser reunida, existirão necessariamente lacunas nas es-pecialidades e necessidades de pesquisa. Algumas de-las devem ser preenchidas atraindo-se os participantesjá existentes; outras podem ser preenchidas através daprocura nas universidades e institutos; outras podemrequerer a contratação de funcionários.

Um exemplo do primeiro caso poderia ser a neces-sidade de mapear os tipos de vegetação da Ilha doCardoso. Embora hoje se conheça bastante sobre a florada Ilha do Cardoso (BARROS et alii, 1991), a vegetaçãoainda não é detalhadamente conhecida, exceto pelotrabalho preliminar de NOFFS & BAPTISTA-NOFFS,1982a,b, que interpretou fotos aéreas. Um mapa deta-

"Ihado ·de vegetação é uma ferramenta para conserva-ção tão importante e com extensão tão óbvia aos interes-ses das pesquisas em andamento, que eu posso imagi-nar que serão encontrados entre os participantes atuaisaqueles que possam cobrir esta necessidade.

De outro modo, pode ser necessário contratar umprogramador especializado em banco de dados para oSistema Geográfico de Informações desejado.

O processo de organização implica em um certosacrifício por parte dos cientistas participantes. É impor-tante mostra-Ihes os benefícios mútuos em termos deganhos para os seus projetos individuais e os benefíciospara conservação.

6.3 Metodologias

O processo de aplicar pesquisa aos objetivos deconservação não exige necessariamente habilidades outecnologias que estão além do ordinário. A maior partedo trabalho apóia-se no esquema esboçado acima,usando métodos convencionais e bom senso.

Do mesmo modo, certas tecnologias "avançadas"como análise de imagem de satélite e Sistema Geográ-fico de Informação (SGI) seriam provavelmente de gran-de valor.

A tarefa de integrar as descobertas de pesquisaimplica planejar os métodos de coletar dados de maneiraque produtos de projetos individuais sejam compatíveis.Os dados serão compilados em bancos de dados paraserem usados nas tomadas de decisão e, para isso, éessencial que estes dados contenham informações ge-ográficas. Os primeiros passos nesta direção não reque-rem a sofisticação de um SGI mas é bom que os dadossejam coletados e armazenados de uma maneira com-patível com esta tecnologia.

Um dos benefícios em coletar dados desta maneiraé que podem aparecer padrões potencialmente interes-santes de distribuição de animais e plantas.

Claro que é fundamenta] que o CEPARNIC tenhamapas (em larga escala) confiáveis, o que implica fazê-los. (Nós começamos um programade mapear na escala1:5.000). Mais uma vez, existem sofisticadas soluçõesde computador que auxiliam o problema de muitosbiologistas de campo de como mapear em diferentesescalas.

Muitas das técnicas envolvidas são comuns aonível de projetos individuais, mas devem ser emprega-das mais rigorosamente ao nível integrado. Por exem-plo, técnicas de regressão múltipla tem grande poder nainterpretação de padrões e geração de hipóteses sobreefeito e causa. A nível de projetos individuais, o cientistanecessita de uma abordagem disciplinada para certifi-car-se que todos os parâmetros requeridos estão sendomedidos e com consistência. A nível de pesquisa inte-grada, estes problemas aumentam e é essencial que osdados sejam coletados de maneira integrada usando,sempre que possível, os mesmos locais experimentais,medidas simultâneas de parâmetros ambientais, etc.

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7 TÓPICOS PRÁTICOS

7.1 Zoneamento

Um dos produtos importantes do programa propos-to é o zoneamento do uso da terra do Parque Estadualda Ilha do Cardoso. No entanto, antes que esses planospossam ser feitos e postos em ação, o CEPARNICprecisa ter a segurança de que suas atividades nãoserão comprometidas por visitas não controladas nasáreas de pesquisa.

Sugiro que a parte norte da Ilha do Cardoso, ondeestá situado o Centro de Pesquisa, seja demarcada paraser usada apenas por grupos que tenham propósitos depesquisa científica ou educação e que haja controle dasvisitas.

A maioria da ilha deve também estar bem protegidaatravés de zoneamento adequado (e vigilância).

A área de turismo intenso está situada ao sul dailha, com centro na vila de Marujá e a maioria do turismoque ocorre atualmente tem pouco impacto no resto dailha.

7.2 Fundos

.t Obviamente o CEPARNIC precisa de fundos sufi-cientes para levar adiante o seu trabalho. Na maior partede sua história, ele não teve fundos suficientes e, nosúltimos quatro anos a situação esteve crítica.

Existe um grande potencial para o CEPARNICfuncionar de maneira auto-suficiente, usando fundosprovenientes de visitas científicas e educacionais.

8 AGRADECIMENTOS

Drª Marilza Cordeiro-Marino inspirou muito essetrabalho. Maria do Rosário de Almeida Braga apoiou-oem inumeráveis aspectos e fez a tradução em Portu-guês. Paulo Martuscelli forneceu dados ainda não publi-cados sobre aves e mamíferos. Anthony Anderson eMiriam Milanelo fizeram comentários úteis ao manuscri-to.

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