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1 APÊNDICE I: Descrição do trabalho prático Não era minha intenção no início deste mestrado incluir o computador pessoal como ferramenta de trabalho, ou pelo menos como alicerce exploratório – havia uma vontade de entender e usar o som como matéria prima, incluir novas tecnologias electrónicas e digitais, mas nunca ter o computador como ponto de partida. À medida que os estudos avançavam e alguns problemas encontravam solução num ambiente computacional, os papéis inverteram-se e tornou-se mais do que óbvio que, ao contrário das minhas deliberações iniciais, a direcção a tomar seria mesmo no sentido das ferramentas digitais. A decisão final de desenvolver um trabalho a partir do computador prendeu-se com o facto de ter tido na componente lectiva deste mestrado um Seminário Artístico sobre o software Max/MSP1. I.1 . Objectivos O ponto de partida para este trabalho, além do já mencionado desejo de usar o som como matéria prima, começa também pela necessidade de complementar algumas características técnicas das ferramentas analógicas usadas no início deste trabalho (ex: Akai MPC1000 – Sampler). 1 A história por detrás deste programa pode ser consultada no seguinte endereço: http://cycling74.com/support/faq_max4/ - Transcrevendo a informação disponível no endereço anterior, destaco dois pontos que julgo fundamentais: “The main difference between Max/MSP and these programs (Csound, SuperCollider) is ease and immediacy of use. We think Max/MSP is easier to learn than text-based programs because it offers immediate feedback and because it can be easier to conceptualize a signal processing algorithm in a graphical form than as text.”; “Max/MSP is not an audio editing program. It does all its processing in real time, and when you use it, you build a dynamic process–an instrument if you will–whereas an audio editing program is designed to make a static recording stored on your hard disk. You can certainly use the two together, taking hard-disk audio files and using them as source material for an Max/MSP real-time process, or interacting with an Max/MSP process and recording it, then processing the result further in an audio editing program.”

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APÊNDICE I:

Descrição do trabalho prático

Não era minha intenção no início deste mestrado incluir o computador pessoal

como ferramenta de trabalho, ou pelo menos como alicerce exploratório – havia uma

vontade de entender e usar o som como matéria prima, incluir novas tecnologias

electrónicas e digitais, mas nunca ter o computador como ponto de partida. À medida

que os estudos avançavam e alguns problemas encontravam solução num ambiente

computacional, os papéis inverteram-se e tornou-se mais do que óbvio que, ao contrário

das minhas deliberações iniciais, a direcção a tomar seria mesmo no sentido das

ferramentas digitais. A decisão final de desenvolver um trabalho a partir do computador

prendeu-se com o facto de ter tido na componente lectiva deste mestrado um Seminário

Artístico sobre o software Max/MSP1.

I.1 . Objectivos

O ponto de partida para este trabalho, além do já mencionado desejo de usar o

som como matéria prima, começa também pela necessidade de complementar algumas

características técnicas das ferramentas analógicas usadas no início deste trabalho (ex:

Akai MPC1000 – Sampler).

                                                                                                                         

1 A história por detrás deste programa pode ser consultada no seguinte endereço: http://cycling74.com/support/faq_max4/ - Transcrevendo a informação disponível no endereço anterior, destaco dois pontos que julgo fundamentais: “The main difference between Max/MSP and these programs (Csound, SuperCollider) is ease and immediacy of use. We think Max/MSP is easier to learn than text-based programs because it offers immediate feedback and because it can be easier to conceptualize a signal processing algorithm in a graphical form than as text.”; “Max/MSP is not an audio editing program. It does all its processing in real time, and when you use it, you build a dynamic process–an instrument if you will–whereas an audio editing program is designed to make a static recording stored on your hard disk. You can certainly use the two together, taking hard-disk audio files and using them as source material for an Max/MSP real-time process, or interacting with an Max/MSP process and recording it, then processing the result further in an audio editing program.”

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Assim, a ideia condutora partiu das seguintes premissas:

− reconhecimento e gravação automática do som.

− fragmentação do som gravado e reordenação das diferentes partes em tempo

real.

− manipulação das características temporais (velocidade de reprodução).

− manipulação das característivas acústicas como a reverberação e o delay.

− interacção entre os vários aparelhos electrónicos.

O resultado final, ou pelo menos o requisito mínimo, deveria proporcionar um

ambiente de trabalho optimizado, de forma a que pudesse ser usado por terceiros e que

fosse aplicável tanto em estúdio como ao vivo.

I.2 . Características técnicas

É fundamental sublinhar que, tendo em conta a complexidade programática de

algumas das características destas ferramentas, não está ainda ao meu alcance o domínio

dos “objectos”, funções e “equações” que permitem por exemplo dividir um som

gravado em oito partes iguais. Para isso foi necessário o apoio de um especialista (neste

caso o professor Carlos Caires). Julgo também importante mencionar dois factores que

ajudaram na evolução deste projecto: a) os sistemas de ajuda (tutorials), disponíveis no

Max/MSP, capazes de dar resposta aos problemas técnicos que vão surgindo; b) a troca

de informação feita através de fóruns na internet, incentivados pelos criadores do

respectivo software, proporcionando dessa forma aos utilizadores, diferentes soluções

para o problema (relembro que este foi um dos factores propostos por Manning quanto à

evolução das ferramentas digitais).

Retomando o último parágrafo e como se pode ver na imagem 1, uma das

preocupações com este trabalho foi torná-lo o mais visual possível, incentivando dessa

forma a exploração por parte do utilizador. Através de sucessivas referências gráficas o

utilizador pode estabelecer comunicação entre as diferentes ferramentas, sejam elas

digitais ou analógicas.

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Imagem 1. Arpeggiator

A primeira ferramenta, ou instrumento (ao qual chamei Arpeggiator), iniciado

ainda durante o seminário artístico, encontra-se, nesta fase, num ponto capaz de

responder às premissas por mim colocadas e apresenta as seguintes características

técnicas (consultar imagens no Anexo I):

− reconhecer a entrada sonora e gravação automática em dois canais (imagem

A).

− reprodução automática do som gravado a partir de oito fragmentos iguais

(imagem B).

− canais de reprodução com saídas e controle de intensidade sonora

independentes (imagem C).

− manipulação das características temporais (velocidade de reprodução) (

imagem D).

− manipulação das característivas acústicas como a reverberação e o delay

(imagem E).

− controlar cada um dos aspectos do som gravado gravado, anulando ou

adicionando os respectivos factores durante a reprodução (R – reverb; T –

transposição; D - delay) (imagem F).

− reordenar em tempo real as diferentes partes (oito), que constituem os sons

gravados nos dois canais (nesta fase em simultâneo) (imagem G1 –

reprodução contínua e integral dos sons gravados; imagem G2 – reprodução

contínua do quinto fragmento; imagem G3 – reprodução contínua dos sons

gravados sendo apenas audível o quinto fragmento).

− aplicar uma função que permite moldar as características ADSR (Attack,

Decay, Sustain, Release), de cada um dos fragmentos (imagem – H).

− aplicar a transposição com a possibilidade de audição simultânea com o som

original (opção independente de reverb e delay) (imagem - I).

− opção de nova gravação em tempo real (imagem J1 – a partir do início;

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imagem J2 – escolha do fragmento a partir de onde terá início a gravação).

− activação da função MIDI de modo a que seja possível modificar cada um

dos parâmetros a partir de uma ferramenta externa (imagem K).

− função que permite substituir, guardar, apagar os sons usados (imagem L).

Como complemento e com o objectivo de enriquecer o leque sonoro, reformulei

alguns instrumentos a partir de trabalhos desenvolvidos nas aulas de seminário. Em

conjunto com o Arpeggiator permitem explorar outras interacções com os controladores

externos adicionando resultados sonoros muitas vezes imprevisíveis - as características

base destas ferramentas foram transferidas a partir da primeira.

A segunda ferramenta, ou instrumento, ao qual intitulei de Droner (imagem 2),

apresenta basicamente as mesmas características desenvolvidas no primeiro

instrumento. Ao manipular o tempo de repetição da área gravada percebi que, ao

diminuir o valor do “tempo” e adicionando uma reverberação, o resultado obtido é um

efeito harmónico contínuo (denominado em linguagem musical como drone).

Imagem 2 . Droner

− reconhecimento e gravação automática (um canal).

− selecção manual da área a editar.

− aplicar uma função que permite moldar as características ADSR (Attack,

Decay, Sustain, Release), de cada um dos fragmentos.

− aplicar a transposição (neste caso sem possibilidade de audição simultânea

com o som original).

− manipulação das características temporais (tempo de repetição).

− controlar cada um dos aspectos do som gravado gravado, anulando ou

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adicionando os respectivos factores durante a reprodução (reverb; delay – no

caso deste instrumento esta função foi canalizada para a ferramenta de apoio

representada na imagem 4).

− activação da função MIDI de modo a que seja possível modificar cada um

dos parâmetros a partir de uma ferramenta externa.

− função que permite substituir, guardar, apagar os sons usados.

A terceira ferramenta, ou instrumento, é um sintetizador que transforma uma

mensagem MIDI em frequência com a possibilidade de alterar os valores de ADSR.

Podemos ver na imagem 3 que as características são muito semelhantes às dos

instrumentos anteriores mas sem a capacidade de gravação. Para este trabalho são

usados dois destes instrumentos permitindo dessa forma uma gestão mais abrangente

de sons. É possível aplicar efeitos acústicos como a reverberação e o delay havendo

igualmente a opção de anular ou adicionar esses efeitos ao som original.

Imagem 3 . Synth

De maneira a facilitar a gestão dos resultados sonoros obtidos no mesmo espaço

de trabalho, desenvolvi uma ferramenta exterior a cada um dos instrumentos

representados anteriormente. Todos os sons debitados pelo Arpeggiator, pelo Droner, e

pelos Synth A e AA, são redireccionados para uma plataforma de mistura que permite

também receber o som externo através de dois canais. Convém salientar que as

características do Mixer (imagem 4), resultam das necessidades surgidas durante a

evolução deste trabalho e é aplicável apenas a esta estrutura.

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Imagem 4 . Mixer

Características do Mixer:

− controlar cada um dos efeitos obtidos a partir do Droner, anulando ou

adicionando os respectivos factores durante a reprodução (D – delay; R –

reverberação; S – som original).

− seis canais que controlam a intensidade sonora do Arpeggiator, do Droner,

do Delay (do Droner), da reverberação (do Droner), do Synth A e AA, e do

som geral (master).

− dois canais de entrada (C1 e C2), com controle de volume independente e

aplicação de efeitos sonoros em simultâneo (Delay, Reverb).

− activação da função MIDI de modo a que seja possível modificar cada um

dos parâmetros (efeitos e intensidade sonora), a partir de uma ferramenta

externa.

I.3 Aplicações

Vimos nos objectivos deste trabalho prático que as suas aplicações possíveis são

duas: em estúdio e ao vivo. Neste momento as diferentes ferramentas estão aptas para

ser usadas na minha exploração faltando no entanto uma optimização de forma a que

possam ser mais apelativas a terceiros. Voltando ao artigo de Manning, damos conta

que até agora os programas evoluiram paralelamente de duas formas distintas: aqueles

que ofereciam aos utilizadores uma base de dados com a livraria pré-definida (sons;

instrumentos virtuais; efeitos); os que permitiam ao utilizador programar de raiz todas

as propriedades a editar. Como resposta a esse avanço paralelo e contrariando a ideia de

especialização que muitos programas de produção musical impõem, surgiu o Max for

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Live, programa que permite conciliar o ambiente de programação do MaxMSP com o

ambiente de produção pré-definido do Ableton Live2. De uma forma muito simples,

trata-se de uma oportunidade única que cada um dos criadores tem em personalizar,

recriar ou apenas suprimir as faltas de um programa sem que na realidade deixe de o

usar em detrimento de outro. Basicamente, estamos a falar de uma matriosca digital

sendo o Live o invólucro que alberga o MaxMSP, cada um deles alberga característics

próprias que se conjugam entre si.

Para que comunicação entre ambos seja bem sucedida são necessários alguns

pré-requisitos programáticos. A adaptação já feita prende-se com as medidas gráficas

dos dispositivos que não devem ultrapassar a altura de 169 pixels (medida estabelecida

pelo Live). Depois de feitas todas as readaptações será então possível explorar algumas

destas ferramentas num ambiente que pode complementar as suas capacidades sem que

ponha em causa todo o trabalho inicial.

                                                                                                                         

2 Mais do que ferramenta de produção, o Live surgiu em 2001 como uma ferramenta performativa. A sua maiordiferença relativamente a outros programas está no facto de ter sido criado por músicos com o objectivo específico de ser usado ao vivo. Um dos mais reconhecidos representantes que criou o programa Ableton Live foi o músico alemão Robert Henke com discos editados na sua etiqueta Imbalance Computer Music. Em Março deste ano (2013), foi lançada a nona versão do Live.

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IMAGENS APÊNDICE I

Imagem A. Entrada sonora e gravação automática em dois canais.

Imagem B. Reprodução automática do som gravado a partir de oito fragmentos iguais.

Imagem C. Canais de reprodução com saídas e controle de intensidade sonora independentes.

Imagem D. Manipulação das características temporais (velocidade de reprodução).

Imagem E. Manipulação das característivas acústicas como a reverberação e o delay.

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Imagem F. Controle de cada um dos aspectos do som gravado gravado, anulando ou adicionando os respectivos factores durante a reprodução (R – reverb; T – transposição;

D - delay).

Imagem G1. Reprodução contínua e integral dos sons gravados.

Imagem G2. Reprodução contínua do quinto fragmento.

Imagem G3. Reprodução contínua dos sons gravados sendo apenas audível o quinto fragmento.

Imagem H. Função que permite moldar as características ADSR (Attack, Decay, Sustain, Release), de cada um dos fragmentos.

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Imagem I. Aplicar a transposição com a possibilidade de audição simultânea com o som original (opção independente de reverb e delay).

Imagem J1. Opção de nova gravação em tempo real a partir dos 0.00 segundos.

Imagem J2. Nova gravação em tempo real com escolha do fragmento a partir de onde terá início a gravação.

Imagem K. Activação da função MIDI de modo a que seja possível modificar cada um dos parâmetros a partir de uma ferramenta externa.

Imagem L. Função que permite substituir, guardar, apagar os sons usados.

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Imagem M. Ferramentas optimizadas para a minha exploração.