apostila ceeja

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1 SOCIOLOGIA UNIDADE 1 A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO Prezado aluno iniciaremos os nossos estudos de Sociologia fazendo uma análise do contexto sócio- histórico que propiciou o seu surgimento e, a partir daí, poderemos entender melhor o seu conceito e o seu objeto de estudo OBJETIVO DA UNIDADE: !nalisar as condi"#es sócio-históricas que fa$oreceram o surgimento da Sociologia como ci%ncia, identificando seu objeto de estudo e comparando as diferentes posturas paradigmáticas neste contexto, a fim de que possa par ticipar do processo social conscientemente O CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO E INTELECTUAL DO SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA & surgimento da Sociologia pode ser identificado no bojo de um amplo processo histórico que tem início na transi"'o feudal-capitalista, quando se dá a desagrega"'o da sociedade feudal no s(culo )* e $ai at( o período das re$olu"#es burguesas - re$olu"'o industrial inglesa e a re$olu"'o francesa no s(culo )*+++, marcando a consolida"'o da sociedade capitalista espondendo a essas indaga"#es, estaremos com os nossos estudos bem encamin hados Sendo assim, $amos em frente A CRISE DO FEUDALISMO .aminharemos juntos nesta etapa, $isando entender que, para que a no$a ordem pudesse ganhar espa"o, o /eudalismo teria que extinguir todas as suas possibilidades de reprodu"'o ! partir dos s(culos )* e )*+ podemos obser$ar que grandes transforma"#es ocorreram na 0uropa e, conseq uentemente, no mundo todo 0sses acontecimento s desestruturaram o sistema feudal existente e deram origem a um no$o sistema o capitalismo ! grande crise do feudalismo desen$ol$eu-se na 0uropa &cidental no s(culo )+*, atingindo indiscriminadamente campo e cidade, disseminando a fome, epidemias e as gu erras, podendo ser ex pl icada po r um co nj unto de fa tores que tr ou xe , como consequ%ncia, a supera"'o do sistema feudal ! economia medie$al encontra$a-se em crise face 2 baixa produti$idade agrícola, ocasionada pelo esgotamento dos solos - utiliza"'o inadequada de t(cnicas agrícolas predatórias - o que projeta$a um declínio na produ"'o de alimentos, gerando a fome e, consequentemente, as epidemias 0m meados do s(culo )+*, os comerciantes geno$eses trouxeram da regi'o do 3ar 4egro uma epidemia que, no espa"o de dois anos, espalhou a morte por toda a 0uropa, atingindo homens e mulheres adultos e crian"as de todos os segmentos sociais, sendo conhecida como Peste 4egra um castigo de 5eus ! crise se agra$ou na medida em que os senhores feudais $iram seus rendimentos declinarem de$ido 2 falta de trabalhadores e ao despo$oamento dos campos Capia!i"#$: sistema social baseado no capital, no dinheiro ! mortalidade trazida pela fome e a peste negra foi ainda ampliada pela longa 6uerra dos .em !nos 71889:1;<8=, desencadeada pela disputa das regi#es de >ord(us e /landres, entre /ran"a e +nglaterra

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SOCIOLOGIA

UNIDADE 1

A FORMAO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTFICO

Prezado aluno iniciaremos os nossos estudos de Sociologia fazendo uma anlise do contexto scio-histrico que propiciou o seu surgimento e, a partir da, poderemos entender melhor o seu conceito e o seu objeto de estudo.

OBJETIVO DA UNIDADE:

Analisar as condies scio-histricas que favoreceram o surgimento da Sociologia como cincia, identificando seu objeto de estudo e comparando as diferentes posturas paradigmticas neste contexto, a fim de que possa participar do processo social conscientemente.

O CONTEXTO SCIO-HISTRICO E INTELECTUAL DO SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA

O surgimento da Sociologia pode ser identificado no bojo de um amplo processo histrico que tem incio na transio feudal-capitalista, quando se d a desagregao da sociedade feudal no sculo XV e vai at o perodo das revolues burguesas - revoluo industrial inglesa e a revoluo francesa no sculo XVIII, marcando a consolidao da sociedade capitalista.

Respondendo a essas indagaes, estaremos com os nossos estudos bem encaminhados... Sendo assim, vamos em frente!

A CRISE DO FEUDALISMO

Caminharemos juntos nesta etapa, visando entender que, para que a nova ordem pudesse ganhar espao, o Feudalismo teria que extinguir todas as suas possibilidades de reproduo.

A partir dos sculos XV e XVI podemos observar que grandes transformaes ocorreram na Europa e, consequentemente, no mundo todo. Esses acontecimentos desestruturaram o sistema feudal existente e deram origem a um novo sistema o capitalismo. A grande crise do feudalismo desenvolveu-se na Europa Ocidental no sculo XIV, atingindo indiscriminadamente campo e cidade, disseminando a fome, epidemias e as guerras, podendo ser explicada por um conjunto de fatores que trouxe, como consequncia, a superao do sistema feudal.

A economia medieval encontrava-se em crise face baixa produtividade agrcola, ocasionada pelo esgotamento dos solos - utilizao inadequada de tcnicas agrcolas predatrias - o que projetava um declnio na produo de alimentos, gerando a fome e, consequentemente, as epidemias.

Em meados do sculo XIV, os comerciantes genoveses trouxeram da regio do Mar Negro uma epidemia que, no espao de dois anos, espalhou a morte por toda a Europa, atingindo homens e mulheres adultos e crianas de todos os segmentos sociais, sendo conhecida como Peste Negra um castigo de Deus.

A crise se agravou na medida em que os senhores feudais viram seus rendimentos declinarem devido falta de trabalhadores e ao despovoamento dos campos.

Capitalismo: sistema social baseado no capital, no dinheiro.

A mortalidade trazida pela fome e a peste negra foi ainda ampliada pela longa Guerra dos Cem Anos (1337/1453), desencadeada pela disputa das regies de Bordus e Flandres, entre Frana e Inglaterra.

A conjuntura de epidemias, de aumento brutal da mortalidade e de superexplorao camponesa que caracterizou a Europa do sculo XIV trazendo a crise, foi sendo superada no decorrer do sculo XV, com a retomada do crescimento populacional, agrcola e comercial.

FORMAO DOS ESTADOS-NACIONAIS

Para acompanharmos as transformaes em curso, fundamental concentrarmos-nos na aliana entre a burguesia e o rei, que resulta na formao dos Estados-Nacionais, verificando-se a consolidao territorial a partir de prticas polticas absolutistas, com o fortalecimento do poder e autoridade dos reis.

Essa nova forma de organizao poltica atendia aos interesses tanto da nobreza quanto da burguesia. Os nobres, apesar de sua crescente dependncia frente aos reis e da perda de autonomia, tiveram assegurados os seus privilgios feudais sobre os camponeses, mantendo suas terras e os seus ttulos nobilirquicos, alm de cargos administrativos, penses e chefias de regimentos militares.

Os burgueses procuraram aliar-se aos reis, financiando-os com recursos para a manuteno de exrcitos profissionais permanentes, necessrios manuteno da ordem e do poder. Alm disso, a centralizao poltica e administrativa trouxe a gradual unificao de impostos, leis, moedas, pesos, medidas e alfndegas em cada pas, beneficiando o comrcio e a burguesia.

Os Estados-Nacionais, formados a partir de fins do sculo XIV em Portugal e durante o sculo XV na Frana, Espanha e Inglaterra, evoluram no sentido do Absolutismo monrquico. Sistema poltico o qual o rei detm o poder total, cabendo-lhe o direito de impor leis e obedincia aos sditos. Mesmo as regies que permaneceram divididas em pequenos reinos e cidades, como a Itlia e a Alemanha, a tendncia foi para o fortalecimento do poder poltico dos governantes locais.

MERCANTILISMO E A EXPANSO COMERCIAL ULTRAMARINA

Veremos agora como os europeus pioneiramente Espanha e Portugal - chegam a regies nunca antes alcanadas e quais os seus verdadeiros interesses. A expanso territorial implementada pela poltica mercantilista resultou na conquista e explorao de novos territrios denominados colnias e estas passando a cumprir o papel de complementaridade da economia da metrpole, constituindo-se em fontes geradoras de riquezas dos pases europeus. Atravs do Pacto Colonial, ficava assegurada a exclusividade das transaes mercantis estabelecidas entre as metrpoles e suas respectivas colnias, numa relao tambm conhecida como monoplio comercial. Dentre as caractersticas do Mercantilismo, podemos identificar:

expanso martima comercial e a conquista de novos mercados fornecedores de matrias-primas e mo de obra;

busca incessante do lucro, atravs da manuteno de uma balana comercial de supervit, ou seja, exportar sempre mais do que importar;

ideia metalista nvel de riqueza de um pas medido pelo montante de ouro e prata acumulado em seu tesouro nacional;

absolutismo monrquico poder poltico centralizado em torno do rei que se constitua na autoridade maior do sistema, com o Estado controlando a poltica econmica em favor dos interesses burgueses.

As prticas mercantilistas impulsionaram o crescimento do capitalismo comercial dando origem acumulao primitiva de capitais, pr-condio necessria ao desenvolvimento do prprio capitalismo.

Secularizao

importante agora, percebermos as mudanas do entendimento do homem sobre si mesmo e o mundo. Na transio feudal-capitalista surge um novo homem, principalmente nos centros urbanos, mais crtico e sensvel, representando um pensamento antropocntrico o homem como o centro de todas as coisas e racionalista crena ilimitada na capacidade da razo em dar conta do mundo - movimento resgatado da antiguidade greco-romana, que se chocava com a postura teocntrica e dogmtica, definida pelo poder clerical na Idade Mdia.

Desenvolve-se, ento, uma nova forma de entender a realidade, isto , a razo passou a ser considerado o elemento principal de interpretao dos fatos. O homem constri uma concepo anticlerical apoiada em bases de liberdade, que no precisava se submeter autoridade divina imposta pela Igreja Catlica.

Renascimento

O Renascimento foi um movimento intelectual que marcou a cultura europeia entre os sculos XIV e XVI, originrio da Itlia e irradiado por toda a Europa. Est associado ao humanismo e fundamentado nos conceitos da civilizao da antiguidade clssica, numa demonstrao de menosprezo pela Idade Mdia, considerada como noite de mil anos ou escurido.

O Renascimento representou uma nova viso de mundo que atendia plenamente aos interesses da burguesia em ascenso. Suas principais caractersticas eram o racionalismo, crena na razo como forma explicativa do mundo em oposio f; o antropocentrismo, colocando o homem no centro de todas as coisas, em oposio ao teocentrismo e o individualismo, em oposio ao coletivismo cristo.

O Humanismo pregava a pesquisa, a crtica e a observao, em oposio ao princpio da autoridade.

A explicao da origem italiana do Renascimento e do Humanismo se d em funo da riqueza das cidades italianas, da presena de sbios bizantinos, da herana clssica da Antiga Roma e da difuso do mecenato. A inveno da Imprensa contribuiu muito para a divulgao das novas ideias.

Fases do Renascimento

O Renascimento pode ser dividido em trs grandes fases, correspondentes aos sculos XIV, XV e o XVI.

Trecento - sculo XIV - manifesta-se predominantemente na Itlia, mais especificamente na cidade de Florena, polo poltico, econmico e cultural da regio. Giotto, Boccaccio e Petrarca esto entre seus representantes. Suas caractersticas gerais so o rompimento com o imobilismo e a hierarquia da pintura medieval - valorizao do individualismo e dos detalhes humanos;

Quatrocento - sculo XV - o Renascimento espalha-se pela pennsula itlica, atingindo seu auge. Neste perodo atuam Botticelli, Leonardo da Vinci, Rafael e, no seu final, Michelangelo, considerados os trs ltimos o trio sagrado da Renascena. As caractersticas gerais do perodo so: inspirao greco-romana (paganismo e lnguas clssicas), racionalismo e experimentalismo;

Cinquecento sculo XVI - o Renascimento torna-se neste sculo um movimento universal europeu, tendo, no entanto, iniciado sua decadncia. Ocorrem as primeiras manifestaes maneiristas e a Contra-reforma instaura o Barroco como estilo oficial da Igreja Catlica. Na literatura atuaram Ludovico Ariosto, Torquato Tasso e Nicolau Maquiavel, j na pintura eram Rafael e Michelangelo.

O Iluminismo

O Iluminismo foi o movimento intelectual desenvolvido na Frana no sculo XVII e teve o seu apogeu durante o sculo XVIII - o chamado Sculo das Luzes, que enfatizava o domnio da razo e da cincia como formas de explicao para todas as coisas do universo, substituindo as crenas religiosas e o misticismo que bloqueavam a evoluo do homem desde a Idade Mdia.

Para os filsofos iluministas, o homem era naturalmente bom, porm era corrompido pela sociedade com o passar do tempo. Eles acreditavam que se todos fizessem parte de uma sociedade justa, com direitos iguais para todos, a felicidade comum seria alcanada. Por esta razo, eles eram contra as imposies de carter religioso, contra as prticas mercantilistas, contrrios ao absolutismo do rei, alm dos privilgios dados nobreza e ao clero.

O Iluminismo foi mais intenso na Frana onde influenciou a Revoluo Francesa, assim como na Inglaterra e em diversos pases da Europa onde a fora dos protestantes era maior, chegando a ter repercusses, mesmo em alguns pases catlicos.

Podemos dizer que, de certo modo, este movimento herdeiro da tradio do Renascimento e do Humanismo por defender a valorizao do Homem e da Razo, contribuindo tambm para o avano do capitalismo e da sociedade moderna na medida em que disseminava os ideais de uma sociedade livre, com possibilidades de transio de classes e mais oportunidades iguais para todos.

Economicamente, o Iluminismo identificava que era da terra e da natureza que deveriam ser extradas as riquezas dos pases. Segundo Adam Smith, cada indivduo deveria procurar lucro prprio sem escrpulos o que, em sua viso, geraria um bem-estar geral na civilizao.

Os principais filsofos do Iluminismo foram: John Locke (1632-1704), ele acreditava que o homem adquiria conhecimento com o passar do tempo atravs do empirismo; Voltaire (1694-1778), ele defendia a liberdade de pensamento e no poupava crtica intolerncia religiosa; Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), ele defendia a idia de um estado democrtico que garantia igualdade para todos; Montesquieu (1689-1755), ele defendeu a diviso do poder poltico em Legislativo, Executivo e Judicirio; Denis Diderot (1713-1784) e Jean Le Rond dAlembert (1717-1783), juntos organizaram uma enciclopdia que reunia conhecimentos e pensamentos filosficos da poca.

O outro lado da moeda

Estas transformaes foram acompanhadas, nos sculos XVII e XVIII, por mudanas polticas, tais como: a Revoluo Inglesa, a Revoluo Americana e a Revoluo Francesa, que introduziram grandes alteraes nessas sociedades e influenciaram a mudana de outras no mundo a fora.

Voc pode observar que a sociedade que antes tinha suas bases na produo da terra passa a ter suas bases na produo industrial e trouxe consigo uma nova forma de trabalho, que o trabalho assalariado. Este tambm trouxe novas formas de relaes entre as pessoas e de representatividade nos governos.

Tudo mudava. Aquela sociedade tradicional que antes existia estava completamente transformada precisando se organizar para atender s novas necessidades.

Revoluo Industrial Inglesa

Agora, iremos pesquisar a revoluo que alterou a relao entre os homens, configurando as formas do mundo contemporneo.

No decorrer do sculo XVIII, a Europa Ocidental passou por uma grande transformao no setor da produo, em decorrncia dos avanos das tcnicas de cultivo e da mecanizao das fbricas, a qual se deu o nome de Revoluo Industrial. A inveno e o aperfeioamento das mquinas permitiram o aumento vertiginoso da produtividade, resultando na diminuio dos preos dos produtos e o crescimento do consumo e dos lucros.

Esse momento revolucionrio de passagem da energia humana, hidrulica e animal para motriz, o ponto culminante de uma revoluo tecnolgica, social e econmica, cujas origens podem ser encontradas nos sculos XVI e XVII, com a poltica de incentivo ao comrcio, adotada pelos Estados-Nacionais e a adoo da poltica mercantilista. A acumulao de capitais nas mos dos comerciantes burgueses e a abertura dos mercados proporcionada pela expanso martima estimularam o crescimento da produo, exigindo mais mercadorias e preos menores. Gradualmente, passou-se do artesanato disperso para a produo em oficinas e destas para a produo mecanizada nas fbricas.

Para Karl Marx, a Revoluo Industrial integra o conjunto das chamadas Revolues Burguesa do sculo XVIII, responsveis pela crise do Antigo Regime na passagem do capitalismo comercial para o industrial. Os outros dois movimentos que a acompanham so a Independncia dos Estados Unidos e a Revoluo Francesa que, sob influncia dos princpios iluministas, assinalam a transio da Idade Moderna para a Idade Contempornea.

A Inglaterra foi o pas pioneiro da industrializao, sendo que alguns fatores contriburam para isso:

o principal deles foi a aplicao de uma poltica econmica liberal em meados do sculo XVIII, liberalizando a indstria e o comrcio o que acarretou um enorme progresso tecnolgico e aumento da produtividade em um curto espao de tempo;

a Lei de Cercamento dos Campos, denominados enclouseres marcou o fim do uso comum das terras, expulsando o homem do campo e gerando o trabalhador livre. Na medida em que no tinham mais condies de vida no meio rural, partiam para as cidades, gerando forte concentrao de mo de obra urbana, o que favorecia as indstrias;

a Inglaterra possua grandes reservas de carvo mineral em seu subsolo, a principal fonte de energia para movimentar as mquinas e as locomotivas a vapor. Possuam tambm considerveis reserva de minrio de ferro, principal matria-prima utilizada neste perodo.

a burguesia inglesa tinha capital suficiente para financiar as fbricas, comprar matria-prima, mquinas e contratar empregados por causa da grande taxa de poupana que existia na poca;

a agricultura inglesa desenvolveu-se com a difuso de novas tcnicas e instrumentos de cultivo.

A mecanizao da produo criou o proletariado rural e urbano, composto de homens, mulheres e crianas, submetido a jornadas de trabalho dirias, extensivas e intensivas, de mais de 16 horas no campo ou nas fbricas.

Com a Revoluo Industrial, consolida-se o sistema capitalista baseado em duas classes fundamentais: a burguesia detentora do capital e o proletariado, que nada possuam a no ser a sua fora de trabalho, que vendiam aos capitalistas em troca de um salrio.

O capital apresenta-se sob a forma de terras, dinheiro, lojas, mquinas ou crdito. O agricultor, o comerciante, o industrial e o banqueiro, donos do capital, controlam o processo de produo, contratam ou demitem os trabalhadores, conforme seus interesses.

As formas de transformao de matrias-primas em produtos so:

Trabalho artesanal a forma mais primitiva de trabalho, dominada pelo homem h milhares de anos. O trabalho era manual, sem a utilizao de mquinas e o arteso realizava sozinho todas as etapas da produo, desde o preparo da matria-prima at o acabamento final dos produtos, no havendo diviso do trabalho. O arteso era dono dos meios de produo - oficina e ferramentas simples - possuindo tambm o produto final de seu trabalho.

Trabalho manufaturado estgio intermedirio entre o artesanato e a indstria. Neste processo, podemos observar o uso de mquinas simples e a diviso social do trabalho (especializao do trabalhador) com cada trabalhador ou grupo de trabalhadores, realizando uma etapa para a obteno do produto final. Na manufatura, j encontramos a figura do capitalista com interferncia direta no processo produtivo, passando a comprar a matria-prima e a determinar o ritmo de produo.

Indstria moderna com a mecanizao da produo introduzida pela Revoluo Industrial, os trabalhadores perdem o controle do processo produtivo, passando a trabalhar para um patro burgus - na condio de operrios empregados assalariados. Esses trabalhadores passam a manejar mquinas que pertencem agora ao empresrio, dono dos meios de produo e para o qual se destina o lucro, sendo que a matria-prima e o produto final no mais lhes pertencem.

Temos como etapas da industrializao, os seguintes perodos:

Primeira Revoluo Industrial desenvolvida entre meados do sculo XVIII at as ltimas dcadas do sculo XIX, com a predominncia do trabalho intensivo com jornadas de trabalho de at 16 horas por dia, com baixa remunerao do operariado. Utilizao de mquinas vapor nas indstrias txteis, sendo que a grande fonte de energia era o carvo mineral.

Segunda Revoluo Industrial compreendida entre as ltimas dcadas do sculo XIX at o final da dcada de 1970 sculo XX. A jornada de trabalho cai para 8 horas dirias e passa a ser regulamentada por leis trabalhistas, a partir dos avanos sociais relativos ao processo histrico de cada pas. O petrleo vai substituindo o carvo at se constituir na principal fonte de energia e a indstria automobilstica como maior atividade produtiva.

Terceira Revoluo Industrial conhecida tambm como Revoluo Tcnico-Cientfica, tem incio a partir da segunda metade da dcada de 1970, sendo caracterizada pelo avano do conhecimento e tecnologia avanada. As jornadas de trabalho so mantidas em 8 horas dirias. Os setores de ponta so a informtica, a robtica, as telecomunicaes, a qumica fina e a biotecnologia. Neste perodo, temos uma diversificao quanto s fontes de energia hidrognio, energia solar, etc.

A Revoluo Industrial favoreceu tambm o desenvolvimento dos transportes. Logo vieram locomotiva e a navegao a vapor, o que fez com que houvesse uma reduo nos custos dos fretes, baixando os preos dos produtos e aumentando o consumo.

Com a Revoluo Industrial, a Inglaterra se transformou no maior produtor e exportador de produtos manufaturados e a populao dos centros urbanos cresceu assustadoramente. No podemos esquecer de que havia nesse pas matrias-primas indispensveis para o funcionamento e a construo dessas mquinas carvo e ferro.

E, ento, voc j pode imaginar o que foi acontecendo: a burguesia investiu na inovao tecnolgica e as mquinas foram cada vez mais se aprimorando e aumentando a produo que se expandia por todo o mundo, estabelecendo laos de dependncia entre as naes.

O trabalho assalariado que substitui o trabalho artesanal ganha fora utilizando-se fortemente da mo de obra feminina e infantil e a energia a vapor cresce em lugar da energia humana.

Revoluo Francesa

A Revoluo Francesa um importante marco histrico da transio do feudalismo para o capitalismo, inaugurando um novo modelo de sociedade baseada na economia de mercado.

A Revoluo Francesa significou o colapso das instituies feudais do Antigo Regime e o fim da monarquia absoluta na Frana. Ao mesmo tempo, propiciou a ascenso da burguesia ao poder poltico, fortalecendo as condies essenciais para a consolidao do capitalismo.

Movimento poltico de extrema relevncia para o continente europeu e para o Ocidente, a Revoluo Francesa teve incio em 1789 e se prolongou at 1815. Sofreu grande influncia dos ideais do Iluminismo, baseando-se no direito liberdade, igualdade e fraternidade e nos princpios democrticos e liberais da Independncia Americana (1776).

O xito do processo revolucionrio francs, encerrando os privilgios da nobreza e do clero, serviu de motivao para novos movimentos em direo ao igualitarismo em outras partes da Europa.

A Revoluo Francesa pode ser subdividida em quatro grandes perodos: a Assembleia Constituinte, a Assembleia Legislativa, a Conveno e o Diretrio.

Causas da Revoluo

A Revoluo Francesa foi resultado de uma conjugao de fatores sociais, econmicos, polticos e, pelo menos um desses fatores, apontado, pela maioria dos historiadores, como determinante para o desencadeamento do processo revolucionrio. Trata-se do descontentamento do povo com os abusos e privilgios do regime absolutista.

A composio social da sociedade francesa, na segunda metade do sculo XVIII, marcada por uma rgida hierarquia e estratificao social. A hierarquia social francesa propiciava honras e privilgios em funo do nascimento e dividia a populao de maneira discriminatria segundo ordens ou estados.

De um lado, duas classes o clero e a nobreza, que juntas usufruam dos privilgios e da riqueza produzida pela sociedade francesa.

O Clero ou 1 Estado composto por importantes membros da Igreja Catlica, originrio da nobreza, que em 1789 representava 2% da populao francesa.

A Nobreza ou 2 Estado formado pelo rei e sua famlia, bem como outros nobres como: condes, duques, marqueses, aproximava-se de 1,5% dos habitantes. Controlava a maior parte das terras, concentrando em suas mos boas parte de tudo que produziam os camponeses; gozava de inmeros privilgios e no pagava impostos.

Do outro lado, o povo base da sociedade francesa, que sustentava pelo peso de impostos que pagava a vida de riqueza e muito luxo dos nobres e do clero.

O Povo ou 3 Estado era formado pela burguesia, pelos trabalhadores urbanos (a maioria deles desempregados), artesos e camponeses - sans cullotes.

Liberalismo: corrente poltica de pensamento que defende a liberdade do indivduo frente ao intervencionismo do Estado.

O desenvolvimento do comrcio e da indstria, assim como a conquista de novos mercados na Europa e fora dela, fez a burguesia acumular riquezas muito rapidamente. A confortvel posio que desfrutava no campo dos negcios contrastava com a desfavorvel condio que a burguesia ocupava na vida poltica do regime absolutista. Apesar de rica, a estrutura social francesa barrava a ascenso da burguesia, uma vez que os privilgios, honras e ttulos estavam reservados somente nobreza e ao alto clero. Alm disso, a m administrao das finanas, a cobrana excessiva de impostos e os gastos descontrolados da nobreza eram considerados obstculos aos interesses burgueses.

Os camponeses e os trabalhadores urbanos que representavam a esmagadora maioria da populao francesa viviam em precrias condies de vida e de existncia, ou seja, em quase absoluta misria.

No campo, embora grande parte dos camponeses fosse livre, somente uma pequena parcela podia manter-se com a produo da terra. A elevada carga de impostos relegou boa parte dos pequenos proprietrios a subsistir trabalhando nas propriedades dos grandes senhores ou dedicar-se a produo artesanal.

Por outro lado, o progresso industrial no representou para a classe trabalhadora operria uma melhoria das condies de vida e de trabalho. A classe operria convivia com salrios muito baixos e com altos nveis de desemprego.

O quadro de desigualdade social da sociedade francesa, alimentado pela crise econmico-financeira do Antigo Regime, tornou ainda mais precrio as condies em que viviam os trabalhadores do campo e da cidade. Relegados a condies miserveis de existncia, camponeses e trabalhadores urbanos desejavam novas formas de vida e de trabalho.

As origens do processo revolucionrio francs de 1789 devem ser buscadas nas contradies dos interesses estabelecidos pelo regime absolutista e as novas foras sociais que estavam em ascenso. Ou seja, os interesses econmicos e polticos da nova e poderosa classe burguesa sufocada por uma organizao social aristocrtica e decadente fizeram despertar o povo (o terceiro estado), que passou a rejeitar as ordens, as diferenas sociais e as restries. Diante das promessas igualdade e fraternidade, o povo foi atrado para a causa revolucionria.

A SOCIOLOGIA SE ESTABELECE COMO CINCIA

Tendo em vista todos estes acontecimentos, Augusto Comte (17981857) defende uma proposta para resolver os problemas da sociedade de sua poca que viria atravs da reforma intelectual do homem alcanando a reforma das instituies.

Estas reformas estavam embasadas no Liberalismo que triunfara no sculo XIX e pregava a liberdade e a igualdade inata entre os homens. Porm, suas reformas estabeleciam a autoridade e a ordem pblica contra os abusos do individualismo da Escola Liberal (RIBEIRO JR. 1988:15).

A Sociologia nasce como resposta a esse individualismo pregado pela sociedade capitalista e vai assim enfatizar as aes altrustas entre os homens.

O positivismo de Comte comparava a sociedade vida orgnica, cujas partes que a constituem desempenham funes que se orientam para a preservao do todo. Sendo assim, a sociedade no poderia sofrer revolues violentas e sim se desenvolver harmoniosamente. Repudia o laissez-faire do Liberalismo, pregando o planejamento social.

Comte defendia a ideia de que as cincias deveriam atingir a mxima objetividade possvel.

A influncia de Comte foi alm da escola francesa, atingindo tambm os republicanos no Brasil, como podemos observar o lema na bandeira nacional Ordem e Progresso. A especificidade do conhecimento sociolgico

As cincias se distinguem pelos seus objetos de estudo e pelos seus mtodos.

E com a Sociologia no vai ser diferente. Se observarmos uma sociedade, veremos que os homens praticam atos que podemos chamar de individuais, tais como: dormir, respirar, caminhar, como tambm, praticam atos considerados sociais casar, fazer reunies, pedir demisso so situaes que s podem ser entendidas atravs das relaes que se estabelecem entre indivduos ou grupos de indivduos e que no podem ser entendidas isoladamente. So estes fatos coletivos que interessam Sociologia, pois suas causas so encontradas no no individual, mas sim na sociedade.

HORA DE SE AVALIAR!

No se esquea de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exerccio! Elas iro ajud-lo a fixar o contedo, alm de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem.

Nesta primeira unidade estudamos a formao da Sociologia como conhecimento cientfico. Na prxima unidade, estudaremos a Sociologia Clssica. Espero voc na prxima unidade. Temos muito que estudar!

EXERCCIOS DE APRENDIZAGEM E FIXAO

1. A partir da transio feudal-capitalista, surge uma nova postura intelectual do homem, nova forma de ver a realidade e uma nova maneira de interpretar as coisas sagradas, que o colocava numa condio de liberdade, rompendo com a submisso diante da autoridade divina:

a) existencialismo;

b) positivismo;

c) marxismo;

d) racionalismo;

e) tomismo.

2. A Sociologia a cincia que estuda as aes humanas sob qual perspectiva?

a) As aes humanas fora do contexto histrico-social;

b) As aes humanas comparativamente s demais espcies animais;

c) As aes humanas tomadas isoladamente;

d) As aes humanas tomadas em coletividade;

e) As aes humanas tomadas em estado de natureza.

3. Dentre os pensadores iluministas, destacamos Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que defendia a ideia de:

a) procura do lucro individual sem escrpulos;

b) centralizao poltica em torno de um Estado forte;

c) intolerncia religiosa;

d) um estado democrtico que garanta igualdade para todos;

e) diviso do poder poltico em Legislativo, Executivo e Judicirio.

4. A Crise Geral do Feudalismo do sculo XIV, s foi superada em funo da:

a) retomada do crescimento populacional, agrcola e comercial;

b) linha de crdito bancria obtida junto aos reis;

c) Revoluo Industrial Inglesa;

d) fatores naturais dados f religiosa do povo;

e) unio entre todos os segmentos sociais em torno do Pacto de Moncloa.

5. A produo industrial trouxe consigo uma nova forma de expresso do trabalho:

a) servil;

b) escravo;

c) voluntrio;

d) assalariado;

e) terceirizado.

6. A Revoluo Industrial inglesa utiliza em seus momentos iniciais, que tipos de energia?

a) Energia humana e energia elica;

b) Energia humana e energia a vapor;

c) Energia humana e energia nuclear;

d) Energia humana e energia eltrica;

e) Energia humana e energia solar.

7. Que tipo de motivao, inserida na lgica do capitalismo, levou a classe burguesa a investir em inventos?

a) Acompanhar o ritmo de produo da classe trabalhadora;

b) Retrao da produo para atendimento do mercado interno;

c) Atender as exigncias dos reis;

d) Renovao do parque industrial;

e) Racionalizao e aumento da produo.

8. Com a Revoluo Industrial, que tipo de fenmeno populacional se deu na Inglaterra?

a) Aumento vertiginoso das populaes urbanas;

b) Envelhecimento assustador da populao adulta;

c) Aumento da populao feminina, uma vez que o nmero de bito entre os homens aumentou em face da explorao desumana do trabalhador;

d) Alta na taxa de mortalidade infantil, num processo de contaminao produzida pelas mquinas;

e) Aumento da taxa de mortalidade, tanto dos homens quanto das mulheres, em razo de que, as condies de trabalho no sistema capitalista, se apresentavam mais hostis do que as verificadas no sistema feudal.

UNIDADE 2 UMA NOVA CINCIA: A SOCIOLOGIA

Como vimos na Unidade 1, a Sociologia enquanto cincia surgiu como resposta intelectual para as crises decorrentes da implantao e da consolidao das sociedades capitalistas modernas. Nesta segunda unidade de estudo, vamos a Sociologia Clssica.

OBJETIVOS DA UNIDADE:

Compreender o pensamento de trs autores considerados clssicos na Sociologia do sculo XIX e no incio do sculo XX. So eles mile Durkheim, Max Weber e Karl Marx.

UMA NOVA CINCIA: A SOCIOLOGIA

As transformaes sociais, econmicas e polticas desencadeadas pelo duplo processo revolucionrio - a Revoluo Industrial e a Revoluo Francesa, no sculo XVIII - fizeram emergir um novo gnero de questes sociais que despertou o interesse de filsofos e intelectuais em investigar a sociedade.

A sociedade passava assim a se constituir em objeto de estudo de uma nova cincia a Sociologia.

Observadores da nascente sociedade industrial, cada um deles procurou em estudos que realizaram interpretar as questes sociais fundamentais da sociedade de seu tempo. Todos trs, de maneira diversa, estavam comprometidos com o propsito de apresentar respostas para a crise da sociedade moderna. Suas obras apresentam distintas interpretaes das crises sociais de uma nova sociedade que nasce mergulhada em contradies profundas.

Para Durkheim (1858-1917), a crise da sociedade industrial moderna estava associada fragilidade moral da poca em orientar com eficcia a conduta dos indivduos. A sociedade s poderia manter sua estrutura e equilbrio se reconstitusse uma nova moral comum que pudesse reunir os membros da coletividade. Para ele, a Sociologia deveria servir para resgatar o bom funcionamento da sociedade, reconstruindo novos hbitos e valores, instituindo, enfim, uma nova moral capaz de recuperar a normalidade social e preservando, assim, a ordem social.

Para Karl Marx (1818-1883), a questo fundamental da sociedade do seu tempo eram as contradies insolveis engendradas pela sociedade capitalista. O antagonismo entre as classes sociais constitua a realidade concreta do capitalismo. Para ele, a diviso do trabalho entre os homens era uma fonte inesgotvel de explorao e alienao. A cincia, em sua tarefa de conhecer a realidade, deveria converter-se em um instrumento poltico para a transformao social.

A contribuio dos trabalhos realizados por Weber (1864-1920) tornou-se referncia para o desenvolvimento da Sociologia. Polmico pelas crticas ao positivismo de Durkheim e ao Materialismo Histrico de Marx, Weber foi capaz de compreender as particularidades das cincias humanas realando o carter particular de cada formao social e histrica, realando aquilo que ela apresenta de especfica.

Caro aluno saiba que quando buscamos empreender uma anlise da vida social, nos deparamos com um conjunto significativo de pressupostos tericos, que nos levam a diferentes abordagens e concepes metodolgicas tambm variadas. A marca principal da anlise sociolgica do fenmeno social a pluralidade de abordagens e contribuies tericas que nos informam como a realidade e a vida social foram analisadas e interpretadas. Essa diversidade terica nos permite construir diferentes imagens do fenmeno estudado e apontam para diferentes direes.

A SOCIOLOGIA DE MILE DURKHEIM

Embora, Auguste Comte seja reconhecidamente apresentado como fundador da Sociologia pela sua preocupao de dotar a Sociologia de bases cientficas, Durkheim apontado como um dos primeiros grandes tericos desta cincia.

Representante do Positivismo, uma das preocupaes centrais de Durkheim foi estabelecer a Sociologia como uma disciplina rigorosamente cientfica. De acordo com Durkheim, a Sociologia deveria assentar-se em uma base slida afastando-se de todas as orientaes que transformavam a investigao social numa deduo de fatos particulares, mergulhada em generalidades abstratas, interpretando a realidade social sem critrios e limites impostos pela cincia.

Autor de obras essenciais para o pensamento sociolgico, como: A Diviso de Trabalho Social (1893), As Regras do Mtodo Sociolgico (1895), O Suicdio (1897) e As Formas Elementares da Vida Religiosa (1909).

Em sua viso, a Sociologia deveria delimitar com rigor o objeto de estudo de seu interesse; definir um objeto de investigao prprio, especfico, distinto do objeto analisado por outras cincias.

Em sua obra As Regras do Mtodo Sociolgico (1895), Durkheim afirmava que a Sociologia deveria estudar fatos essencialmente sociais e procurar interpret-los sociologicamente. O Fato Social como objeto de investigao da Sociologia Para Durkheim, o objeto de estudo da Sociologia o fato social.

Mas, o que so fatos sociais? Afirma Durkheim (1970 p.87-88):

Antes de procurar saber qual o mtodo que convm ao estudo dos fatos sociais, importa dar a conhecer os fatos que assim designamos. A questo tanto mais necessria quanto s pessoas se servem desta qualificao sem grande preciso. Empregam-na correntemente para designar, mais ou menos, todos os fenmenos que ocorrem na sociedade, mesmo que apresentem, apesar de certas generalidades, pouco interesse social. Mas, partindo desta acepo, no h, por assim dizer, acontecimentos humanos que no possam ser apelidados de sociais. Cada indivduo bebe, dorme, come, raciocina, e a sociedade tem todo o interesse em que estas funes se exeram regularmente. Assim, se estes fatos fossem sociais, a sociologia no teria um objeto que lhe fosse prprio e o seu domnio confundir-se-ia com os da biologia e da psicologia.

Mas, na realidade, h em todas as sociedades um grupo determinado de fenmenos que se distinguem por caractersticas distintas dos estudados pelas outras cincias da natureza.

Quando desempenho a minha obrigao de irmo, esposo ou cidado, quando satisfao os compromissos que contra, cumpro deveres que esto definidos, para alm de mim e dos meus atos, no direito e nos costumes. Mesmo quando eles esto de acordo com os meus prprios sentimentos e lhes sinto interiormente a realidade, esta no deixa de ser objetiva, pois no foram estabelecidos por mim, mas sim recebidos atravs da educao. Quantas vezes acontecem ignorarmos os pormenores das obrigaes que nos incumbem e, para conhec-los, termos de recorrer ao Cdigo e aos seus intrpretes autorizados! Do mesmo modo, os fiis, quando nascem, encontram j feitos as crenas e prticas da sua vida religiosa; se elas existiam antes deles, porque existiam fora deles. O sistema de sinais de que me sirvo para exprimir o pensamento, o sistema monetrio que emprego para pagar as dvidas, os instrumentos de crdito que utilizo nas minhas relaes comerciais, as prticas seguidas na minha profisso, etc. funcionam independentemente do uso que deles fao. Tomando um aps outro todos os membros de que a sociedade se compe, pode repetir-se tudo o que foi dito, a propsito de cada um deles.

Estamos, pois, em presena de modos de agir, de pensar e de sentir que apresentam a notvel propriedade de existir fora das conscincias individuais.

No somente estes tipos de conduta ou de pensamento so exteriores ao indivduo, como so dotados dum poder imperativo e coercivo em virtude do qual se lhe impem, quer ele queira quer no. Sem dvida, quando me conformo de boa vontade, esta coero no se faz sentir ou faz-se sentir muito pouco, uma vez que intil. Mas no por esse motivo uma caracterstica menos intrnseca de tais fatos, e a prova que ela se afirma desde o momento em que eu tente resistir. Se tento violar as regras do direito, elas reagem contra mim de modo a impedir o meu ato, se ainda for possvel, ou a anul-lo e a restabelec-lo sob a sua forma normal, caso j tenha sido executado e seja reparvel, ou a fazer-me expi-lo, se no houver outra forma de reparao. Tratar-se- de mximas puramente morais?

A conscincia pblica reprime todos os atos que as ofendam, atravs da vigilncia que exerce sobre a conduta dos cidados e das penas especiais de que dispe. Noutros casos, a coao menos violenta, mas no deixa de existir. Se no me submeto s convenes do mundo, se, ao vestir-me, no levo em conta os usos seguidos no meu pas e na minha classe, o riso que provoco e o afastamento a que me submeto produzem, ainda que duma maneira mais atenuada, os mesmos efeitos de uma pena propriamente dita. Alis, a coao no menos eficaz por ser indireta. No sou obrigado a falar francs com os meus compatriotas, nem a usar as moedas legais, mas impossvel faz-lo de outro modo. Se tentasse escapar a esta necessidade, a minha tentativa falharia miseravelmente. Se for industrial, nada me probe de trabalhar com processos e mtodos do sculo passado, mas, se o fizer, arruno-me pela certa. Mesmo quando posso libertar-me dessas regras e viol-las com sucesso, nunca sem ser obrigado a lutar contra elas. Mesmo quando so finalmente vencidas, ainda fazem sentir suficientemente a sua fora constrangedora, pela resistncia que opem. No h inovador, mesmo bem sucedido, cujos empreendimentos no acabem por chocar com oposies deste tipo.

Aqui est, portanto, um tipo de fatos que apresentam caractersticas muito especiais: consistem em maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivduo, e dotadas de um poder coercivo em virtude do qual se lhe impem. Por conseguinte, no poderiam ser confundidos com os fenmenos orgnicos, visto consistirem em representaes e aes; nem com os fenmenos psquicos, por estes s existirem na conscincia dos indivduos, e devido a ela. Constituem, pois, uma espcie nova de fatos, aos quais deve atribuir-se e reservar-se a qualificao de sociais.

Tal qualificao convm-lhes, pois, no tendo o indivduo por substrato, no dispem de outro para alm da sociedade, quer se trate da sociedade poltica na sua ntegra ou de um dos grupos parciais que engloba: ordens religiosas, escolas polticas, literrias, corporaes profissionais, etc. Por outro lado, a designao convm unicamente a estes fatos, visto a palavra social s ter um sentido definido na condio de designar apenas os fenmenos que no se enquadrem em nenhuma das categorias de fatos j constitudas e classificadas. Eles so, portanto, o domnio prprio da sociologia.

A partir dessa definio, podemos, ento, afirmar que so trs as caractersticas bsicas que permitem reconhecer os fatos sociais.

A primeira caracterstica dos fatos sociais a exterioridade. Segundo Durkheim, o indivduo ao nascer j encontra regras sociais, morais, legais, religiosas, etc., que foram sedimentadas pelas geraes anteriores que devero ser internalizadas a sua existncia para que ela possa viver em sociedade. So maneiras de ser e de agir consolidadas pelo grupo, que existem independente de sua vontade individual, ou seja, so fatos sociais exteriores ao indivduo. Ele no consultado para decidir se agir ou no em concordncia com esse conjunto de regras. O fato do indivduo pertencer a uma determinada sociedade ou grupo social implica na adeso obrigatria de regras que serviro para orientar sua conduta e comportamento.

Portanto, alm de exteriores, os fatos sociais so coercitivos, ou seja, dotados de um poder imperativo que se impem ao indivduo pela fora. Essa , pois, a segunda caracterstica dos fatos sociais - exercer sobre o indivduo uma coero exterior. Todo conjunto de regras: jurdicas, morais, religiosas, financeiras, lingusticas, etc., constitudas pela sociedade imposto coercitivamente ao indivduo. Cabe a ele conformar-se s regras socialmente institudas e orientar-se de acordo com elas, independente de sua vontade particular.

Segundo Durkheim, um fato social reconhecido pelo poder de coao externa que exerce ou suscetvel de exercer sobre os indivduos; e a presena desse poder reconhecida, por sua vez, pela existncia que o fato ope a qualquer iniciativa individual que tende a violent-lo.

Uma pessoa pode no querer usar o idioma falado em sua sociedade, pode no querer usar a moeda corrente em seu pas ou pode no querer se subordinar aos cdigos legais vigentes em seu meio, mas certamente, suas atitudes sero severamente tolhidas pela fora que a sociedade exercer sobre seu comportamento.

Alm da exterioridade e coercitividade dos fatos sociais, uma terceira caracterstica deve ser considerada a generalidade. Ser considerado social o fato que geral, ou seja, o fato que se manifesta pela sua natureza coletiva, difusa - formas de viver consolidadas socialmente, como os hbitos, as crenas e os valores, e tambm, as formas de habitao, as vias de comunicao que definem o fluxo das correntes migratrias e de escoamento da produo.

Portanto, o domnio da Sociologia compreende um determinado grupo de fenmenos fatos sociais que so reconhecidos pelo seu poder de coero externa que exerce ou suscetvel de exercer sobre os indivduos; e se manifestam pela sua generalidade, pela difuso que tm no interior de uma determinada sociedade.

O Mtodo Sociolgico

Para Durkheim, o conhecimento e a explicao da vida social impem ao pesquisador a escolha de um mtodo que permita investigar de maneira cientifica os fatos sociais. Para observar e interpretar a realidade social, o pesquisador deveria assumir posio semelhante a do estudioso das cincias naturais, considerando, entretanto, que a Sociologia examina fatos que pertencem ao reino social, com especificidades prprias que os distinguem dos fenmenos da natureza.

Segundo Durkheim, a explicao cientfica dos fatos sociais exigiria do pesquisador um compromisso com a objetividade e a neutralidade em relao aos fenmenos observados. A regra fundamental para observao dos fatos sociais era consider-los como coisa, isto , como realidades exteriores ao indivduo.

O distanciamento do pesquisador em relao ao objeto investigado condio essencial para garantir a cientificidade de seu estudo. O socilogo deve ser capaz de observar a realidade dos fatos sem contaminar a interpretao com suas prenoes, seus preconceitos, sentimentos e concepes de mundo pessoais, o que certamente, dificultaria conhecer verdadeiramente o objeto em questo. O socilogo deve procurar interpretar a realidade tal como ela , e no como ele gostaria que ela fosse fazendo prevalecer vises permeadas de valores e preconceitos.

A Sociedade

Precursor da corrente positivista e inspirado nas anlises das cincias naturais, Durkheim compara a sociedade a um corpo vivo, em que cada rgo, ou seja, cada uma das partes que compem a sociedade desempenha uma funo especfica para a preservao e a coeso do todo. Ao comparar a sociedade a um organismo vivo, Durkheim identifica dois estados em que a sociedade pode se encontrar: o normal e o patolgico.

Para ele, os fenmenos que apresentam uma regularidade no meio social e que esto previstos em sua estrutura e organizao devero ser interpretados como normais. De outra forma, a sociedade poder apresentar comportamentos que podem ameaar a integridade e a harmonia sociais, colocando em risco o consenso que dever prevalecer. Tais situaes so consideradas patolgicas, anormais. Considerava Durkheim que a sociedade poderia apresentar, como um corpo vivo que , alguma disfuno.

Depois de instalada, a doena deveria ser tratada para no provocar prejuzos maiores e comprometer a integridade e bom funcionamento da ordem social. Os fenmenos sociais patolgicos deveriam ser tratados para restabelecer a sade e o equilbrio da sociedade.

Para Durkheim, a sociedade industrial se encontrava em um estado patolgico porque as crises geradas por ela colocavam em risco o seu pleno funcionamento. A crise que se encontrava a sociedade capitalista, no era de natureza econmica, como defendiam os socialistas, mas sim uma certa fragilidade moral e a ausncia de regras de conduta e comportamento que correspondessem nova realidade, capazes de frear o mpeto de destruio e de desordem sociais e guiar com eficcia a vida dos indivduos.

A Sociologia de Karl Marx

Ao lado de mile Durkheim e Max Weber, Karl Marx faz parte do grupo seleto de intelectuais que integram o pensamento terico da Sociologia Clssica.

Autor de obras fundamentais para a teoria sociolgica, como o Manifesto do Partido Comunista (1848), Contribuio Crtica da Economia Poltica (1859) e, sem dvida, a mais importante obra dedicada a interpretar o funcionamento do sistema capitalista O Capital (1867). A questo central que orientou os trabalhos de Marx foi analisar o funcionamento do capitalismo, o processo histrico que o gerou e a sua evoluo.

Em sua trajetria intelectual, contou com a colaborao de outro importante intelectual alemo Friederich Engels (1820-1903). Comprometidos com a no preservao da ordem socioeconmica do sistema capitalista, Marx e Engels no estavam interessados em dotar a Sociologia de um carter cientfico, institucionaliz-la como disciplina acadmica, como, alis, fizeram Durkheim e Weber, mas sim torn-la instrumento poltico de reflexo e crtica da sociedade capitalista, denunciando as contradies e os antagonismos entre as classes sociais, com o objetivo extremo de proporcionar os fundamentos tericos para a transformao revolucionria desse modelo de sociedade. Embalados por um ideal revolucionrio, defendiam a adeso da cincia a uma proposta de ao poltica prtica. Para

Marx, a cincia deveria converter-se em um instrumento de transformao radical da sociedade.

A anlise socioeconmica do capitalismo

Enquanto para anlise positivista, as crises sociais e os conflitos entre trabalhadores e empresrios na sociedade capitalista eram interpretados como fenmenos passageiros, passveis de serem superados pela incluso de um sistema de regras para orientar a conduta dos indivduos. A anlise marxista procurou realizar uma crtica radical a esse modelo histrico de sociedade, apontando suas contradies e antagonismos.

Comprometidos com ideal revolucionrio de transformao social, Marx e Engels identificavam a luta de classes como a principal caracterstica da sociedade capitalista. Concordavam que a crescente diviso de trabalho na sociedade moderna era a principal fonte de explorao, opresso e alienao.

Afirmava Marx, em O Manifesto do Partido Comunista:

A histria de todas as sociedades que existiram at os nossos dias tem sido a histria das lutas de classes.

Homem livre e escravo, patrcio e plebeu, baro e servo, mestre de corporao e companheiro, numa palavra opressores e oprimidos, em constante oposio, tm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformao revolucionria da sociedade inteira, ou pela destruio das duas classes em luta.

Nas primeiras pocas histricas, verificamos, quase por toda parte, uma completa diviso da sociedade em classes distintas, uma escala graduada de condies sociais. Na Roma antiga encontramos patrcios, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Mdia, senhores vassalos, mestres, companheiros, servos; e, em cada uma destas classes, gradaes especiais.

A sociedade burguesa moderna, que brotou das runas da sociedade feudal, no aboliu os antagonismos de classe. No fez seno substituir novas classes, novas condies de opresso, novas formas de luta s que existiram no passado.

Entretanto, a nossa poca, a poca da burguesia caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado.

(Marx, Karl. Manifesto do Partido Comunista. In: FERNANDES, Florestan. Marx e Engels Histria. So Paulo: Editora tica, p.365-366)

Dois conceitos essenciais para o pensamento de Marx podem ser analisados a partir deste trecho do Manifesto do Partido Comunista: classe social e alienao.

Marx partiu da ideia de que a sociedade estava dividida em classes, cada uma com regras e condutas apropriadas, mas que esto inseridas em um nico sistema que o modo de produo capitalista.

Para Marx, na sociedade capitalista as relaes sociais de produo definem duas classes principais: a burguesia classe dominante detentora dos meios de produo (propriedades, mquinas, ferramentas, capital, etc.), e o proletariado que destitudo dos meios de produo, oferece a sua fora de trabalho em troca de salrio.

Marx tentou demonstrar que no capitalismo sempre haveria desigualdade social, uma vez que a concentrao de riquezas se daria pela explorao dos trabalhadores. O capitalismo se revelaria, portanto, em um sistema selvagem, pois o trabalhador produziria mais para o seu empresrio do que o seu prprio custo para a sociedade. O capitalismo se apresentaria necessariamente como um regime econmico de explorao, sendo a mais-valia a lei fundamental do sistema.

O capitalismo tornou o trabalhador alienado, isto , separou-o de seus meios de produo (suas terras, ferramentas, mquinas, etc.), provocando um estranhamento entre o trabalhador e seu trabalho. O homem aliena-se de sua prpria essncia que o trabalho. A diviso social do trabalho no capitalismo promove, ento, a alienao, uma vez que o trabalhador deixa de ter o domnio do processo de trabalho e dele no se beneficia.

As crises e conflitos em que se envolviam a burguesia e o proletariado decorriam, em grande medida, da oposio de interesses entre as classes sociais. No capitalismo, os trabalhadores esto submetidos dominao econmica, uma vez que se encontram destitudos da propriedade dos meios de trabalho. A enorme capacidade de produzir do regime capitalista no foi capaz de reduzir a misria da grande massa da populao.

Os trabalhadores, no entanto, no estavam submetidos somente a dominao econmica. A dominao estendia-se ao campo poltico, ideolgico e jurdico da sociedade. Para Marx, o instrumento de que dispe a burguesia para fazer prevalecer seus interesses e privilgios o Estado. Atravs do Estado e dos seus aparatos repressivos (exrcitos, polcias), a classe dominante impe seus interesses ao conjunto da sociedade, fazendo-a submeter-se s regras polticas. Alm do aparato repressivo, a classe dominante dispe do aparato jurdico o Direito para garantir, atravs do estabelecimento de leis que sua vontade prevalea.

Materialismo Histrico

Para interpretar o capitalismo e compreender a histria das sociedades humanas, Marx desenvolveu uma teoria o Materialismo Histrico, que procurava explicar qualquer tipo de sociedade, em todas as pocas, atravs de fatos materiais, essencialmente econmicos.

Na Contribuio a Critica a Economia Poltica, afirmava Marx (1957 4-5):

O resultado geral ao qual cheguei, e que, uma vez adquirido, serviu de fio condutor aos meus estudos, pode ser formulado brevemente assim: na produo social de sua existncia, os homens entram em relaes determinadas, necessrias, independente de suas vontades, relaes de produo que correspondem a um grau de desenvolvimento determinado de suas foras produtivas materiais. O conjunto dessas relaes de produo constitui a estrutura econmica da sociedade, base concreta sobre a qual se ergue uma superestrutura jurdica e poltica e qual correspondem formas de conscincias sociais determinadas. O modo de produo da vida material condiciona o processo de vida social, poltica e intelectual em geral. No a conscincia dos homens que determina o seu ser; inversamente seu ser social que determina sua conscincia. A um certo estgio de seu desenvolvimento, as foras produtivas materiais da sociedade entram em contradio com as relaes existentes, ou, o que no seno a expresso jurdica, com as relaes de propriedade no seio das quais se moviam at ento. De formas de desenvolvimento de foras produtivas que eram, essas relaes tornaram-se obstculos. Abre-se, ento, uma poca de revoluo social. A mudana na base econmica transtorna mais ou menos rapidamente toda a enorme superestrutura. Considerando-se estes transtornos, torna-se necessrio sempre distinguir entre a desordem material que pode -constatar de forma cientificamente rigorosa - das condies de produo econmica e as formas jurdicas, polticas, religiosas, artsticas ou filosficas, em resumo, as formas ideolgicas sob as quais os homens tomam conscincia desse conflito, levando-o s ltimas consequncias. Da mesma forma que no se pode julgar um indivduo pela ideia que faz de si mesmo, no se poderia julgar uma poca de transtornos pela conscincia que ela tem em si mesma; necessrio, ao contrrio explicar esta conscincia pelas contradies da vida material, pelo conflito existente entre as foras produtivas sociais e as relaes de produo. Uma formao social nunca desaparece antes que sejam desenvolvidas todas as foras produtivas que ela possa conter, e nunca relaes de produo novas e superiores tomam seu lugar antes que as condies de existncia materiais destas relaes surjam no seio da velha sociedade. por isso que a humanidade s se coloca problemas que possa resolver; pois, olhando isso de mais perto, poder-se- observar sempre que o problema s surge onde as condies materiais para resolv-lo j existem ou esto pelo menos em vias de existir. Em geral, os modos de produo asitico, antigo, feudal e burgus moderno podem ser qualificados de pocas progressivas da formao social-econmica. As relaes de produo burguesas so a ltima formao contraditria do processo de produo social, contraditria, no no sentido de uma contradio individual, mas de uma contradio que nasce das condies de existncia social dos indivduos; entretanto, as foras produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa, criam ao mesmo tempo as condies materiais para resolver esta contradio. Com esta formao social termina ento a pr-histria da sociedade humana.

Nessa passagem destacamos algumas questes centrais que serviram de suporte terico ao materialismo histrico:

1) os homens constroem a sua vida (social) e a sua histria, porm no as constroem em condies por eles escolhidas, determinadas pela sua vontade. A vida em sociedade estabelece relaes sociais que no foram geradas pela vontade individual. A ao do indivduo no mundo que o envolve obriga-o a contrair relaes, as relaes sociais. Elas determinam o ser social, ou seja, o indivduo o resultado das foras econmicas e das relaes sociais que atuam sobre ele.

Para viver, os homens tm de inicialmente transformar a natureza, arrancando dela tudo o que necessita para subsistir e para ultrapassar a vida simplesmente natural. pelo trabalho que os homens transformam e dominam a si prprios e a natureza. Assim, pelo trabalho, atravs dos instrumentos que ele gerou, como as ferramentas ou mquinas, as tcnicas empregadas para produzir e a diviso do trabalho, que os homens produzem a sua existncia.

Portanto, as relaes fundamentais de qualquer sociedade so as relaes de produo. As relaes de produo so as formas pelas quais os homens se organizam para executar a atividade produtiva. So as relaes fundamentais dos homens com a natureza e dos homens entre si na sua atividade produtiva.

As relaes de produo articulam-se a trs elementos: as condies naturais (clima, solo, fauna, flora, etc.) determinada pela prpria natureza, as tecnologias e a diviso do trabalho. Esses trs elementos constituem as foras produtivas.

No curso da histria, cada um desses elementos pode sofrer modificaes e aperfeioamentos. Por exemplo, a explorao e o uso de novos recursos naturais exigem o aperfeioamento tecnolgico e a inveno de novas tcnicas para atingir o mximo de produo. Por outro lado, alm da incorporao de novos instrumentais e tecnologias, uma nova organizao da diviso do trabalho tambm ser exigida, determinando novos padres de formao e aperfeioamento da capacidade tcnica da fora de trabalho.

Portanto, as foras produtivas e as relaes de produo so fatores essenciais para organizao de toda atividade produtiva realizada em sociedade. A forma como cada uma existe e se desenvolve vai determinar o que Marx chamou de modo de produo.

2) Defendendo rigoroso determinismo econmico em todas as sociedades humanas, Marx distingue as etapas da histria humana a partir dos modos de produo. So quatro os modos de produo: o asitico, o antigo, o feudal e o capitalista.

Segundo Aron (1987), esses quatro modos de produo podem ser reunidos em dois grupos. Os modos de produo antigo, feudal e capitalista so representantes da histria do Ocidente. Enquanto o modo de produo asitico caracteriza uma civilizao distinta da do Ocidente. O modo de produo antigo caracterizado pela escravido; o modo de produo feudal pela servido e o modo de produo capitalista pelo trabalho assalariado. Eles correspondem a trs modos distintos de explorao do homem pelo homem. O modo de produo capitalista seria a ltima etapa de uma formao social baseada na explorao do homem pelo homem, na medida em que o modo de produo que o substituiria, seria o modo de produo socialista, no submeteria a massa de trabalhadores explorao e opresso.

3) Estabelece uma distino entre a infraestrutura e a superestrutura. Compara a sociedade a um edifcio, cuja base, a infraestrutura, seria representada pelas foras econmicas - foras produtivas e relaes de produo, enquanto a superestrutura representaria as ideias, costumes e instituies jurdicas e polticas, as ideologias e as filosofias.

sobre essa base econmica que se ergue a superestrutura da sociedade moderna. O campo poltico, jurdico e ideolgico por sua vez representa a forma como os homens esto organizados no processo produtivo. Para Marx, a esfera econmica determina e condiciona o desenvolvimento da vida social, poltica e intelectual em geral.

A Sociologia compreensiva de Max Weber

Pretendendo distanciar-se do Positivismo de Durkheim que pretendia estabelecer leis universais comuns a vrias ou a todas as configuraes histricas, e do Materialismo Histrico de Marx que pressupe um determinismo econmico na anlise dos processos histricos, Max Weber parte da ideia de que cada formao histrica carrega especificidade e importncia prprias. Sendo tarefa de o socilogo trazer tona o que h de peculiar, de particular em cada uma delas.

Para Weber, os fenmenos sociais que interessam a Sociologia no devem ser tratados como coisa, ou seja, fatos exteriores que devem ser analisados distncia pelo pesquisador.

O domnio do trabalho cientfico no tem por base as conexes objetivas entre as coisas mas as conexes conceituais entre os problemas. S quando se estuda um novo problema com auxlio de um mtodo novo e descobrem verdades que abre novas e importantes perspectivas que nasce uma nova cincia.

(WEBER, M. A Objetividade do Conhecimento nas Cincias Sociais. In: COHN, G. Weber Sociologia. So Paulo: Editora tica, p.84)

Nem tampouco devem tentar interpret-los sempre tomando como nica explicao causal a esfera econmica. Em nenhum domnio dos fenmenos culturais pode a reduo unicamente a causas econmicas ser exaustiva, mesmo no caso especfico dos fenmenos econmicos.

(WEBER,Op.Cit,86)

Sua obra marcada pela anlise terica e emprica dos fatos econmicos, histricos e culturais. Weber partia do pressuposto que a realidade social era infinita e inesgotvel, portanto, o conhecimento e os fundamentos gerados pelas cincias sociais no deveriam se limitar a determinar leis gerais que explicassem a totalidade da vida social.

A cincia social que ns pretendemos praticar uma cincia da realidade. Procuramos compreender a realidade da vida que nos rodeia e na qual nos encontramos situados naquilo que tem de especfico; por um lado, as conexes e a significao cultural das suas diversas manifestaes na sua configurao atual e, por outro, as causas pelas quais se desenvolveu historicamente assim e no de outro modo.

Ocorre que, to logo tentamos tomar conscincia do modo como se nos apresenta imediatamente a vida, verificamos que se nos manifesta, dentro e fora de ns, sob uma quase infinita diversidade de eventos que aparecem e desaparecem sucessiva e simultaneamente. E a absoluta infinidade dessa diversidade subsiste, sem qualquer atenuante do seu carter intensivo, mesmo quando prestamos a nossa ateno, isoladamente, a um nico objeto - por exemplo, uma transao concreta -; e isso to logo tentamos sequer descrever de forma exaustiva essa singularidade em todos os seus componentes individuais, e muito mais ainda quando tentamos capt-la naquilo que tem de causalmente determinado. Assim, todo o conhecimento reflexivo da realidade infinita realizado pelo esprito humano finito baseia-se na premissa tcita de que apenas um fragmento limitado dessa realidade poder constituir de cada vez o objeto da compreenso cientfica, e de que s ele ser essencial no sentido de digno de ser conhecido. (WEBER, In: COHN, 1979, p.88)

Segundo Weber, o propsito da cincia no dar conta da infinita e exaustiva totalidade da vida social, reduzindo-a as leis gerais vazias de contedo.

Isto porque quanto mais vasto o campo abrangido pela validade de um conceito genrico isto quanto maior a sua extenso -, tanto mais nos afasta da riqueza da realidade, posto que para poder abranger o que existe de comum no maior nmero possvel de fenmenos, forosamente dever ser mais abstrato e pobre de contedo.

(Ibid., p.96)

Na perspectiva de Weber, a cincia pode e deve produzir uma anlise objetiva das diversas dimenses (econmica, poltica, cultural, religiosa, etc.) da realidade, sem a inteno de reduzir e aprisionar toda a riqueza dos fatos a leis gerais. O que importa compreender a significao que a realidade da vida possui para os indivduos em diferentes contextos e em diferentes pocas.

O mtodo sociolgico interpretativo

Para Weber, todo o conhecimento da realidade social parcial, limitado e subordinado a pontos de vista particulares. O cientista social far sempre uma seleo, consciente ou inconscientemente, dos elementos da realidade que pretende analisar a partir do seu ponto de vista particular, destacando conexes que, para ele, possui significado. O fenmeno social que o pesquisador escolhe, assim como a delimitao do problema que orientar a sua investigao sero determinados pelas suas escolhas, orientado pelas suas ideias de valor, ou seja, o pesquisador orientado pela sua convico pessoal e subjetiva, que ele que confere ao seu estudo uma direo e exprime uma determinada interpretao do fato estudado.

Afirmava Weber que apenas as ideias de valor que dominam o investigador e uma poca podem determinar o objeto de estudo e os limites desse estudo.

Mas, no que refere a validade cientfica, uma questo emerge: como conferir ao conhecimento produzido a partir das ideias e dos valores subjetivos do pesquisador, a validade e o rigor de uma obra cientfica? Como alcanar a objetividade cientfica?

No que se refere ao mtodo de investigao, defendia Weber que para alcanar maior objetividade cientfica seria fundamental o pesquisador construir sua interpretao baseada nas normas e preceitos vlidos e determinados pela cincia de seu tempo s ser considerada uma verdade cientfica aquilo que se pretende vlido para todos os que querem a verdade. (WEBER, idem, p.100)

Segundo Aron (1987), a cincia, na perspectiva weberiana, apresenta dois pressupostos fundamentais para o alcance de sua validade cientfica.

O primeiro significa que a cincia moderna se caracteriza pelo no acabamento, isto, porque o conhecimento cientfico um processo que jamais se esgotar.

Weber no acreditava que o conhecimento gerado na atividade cientfica representava um retrato fiel e acabado da realidade, j que esta ampla e inesgotvel, impossvel de ser encerrada em sua totalidade. O conhecimento ser sempre parcial, fragmentado e inacabado. O que o pesquisador consegue alcanar em sua tarefa investigativa apenas uma comparao aproximada da realidade.

O segundo diz respeito objetividade do conhecimento como requisito indispensvel para qualquer cientista que procure construir um conhecimento verdadeiro e vlido.

Ao Social: objeto da cincia

Segundo Weber, a Sociologia uma cincia voltada para a compreenso interpretativa da ao social, conduta humana dotada de sentido e subjetivamente elaborada. Sociologia caberia buscar compreender o sentido que os indivduos atribuem a sua conduta. Segundo Cohn (1979) tarefa da Sociologia desvendar o sentido que manifesta em aes concretas e que envolve um motivo sustentado pelo indivduo como fundamento da sua ao. Tanto o indivduo como as suas aes so considerados pontos-chave da investigao cientfica, evidenciando o que para Weber era o ponto de partida para a Sociologia: a compreenso e a percepo do sentido que cada indivduo atribui sua conduta.

Portanto, tarefa do cientista social reconstruir o motivo que fundamenta a ao, porque ela figura como causa e efeitos da conduta dos indivduos. Na concepo weberiana, o indivduo age orientado por motivaes informadas pelos valores, por interesses racionais ou pela emoo.

Existir uma ao social toda vez que um indivduo estabelecer com outro algum tipo de comunicao, a partir da sua conduta com os demais indivduos. Para Cohn (1979) a ao social a conduta qual o indivduo associa um sentido subjetivo. a ao orientada significativamente pelo indivduo conforme a conduta de outros indivduos e que transcorrem consonncia com isso.

Weber elabora uma distino entre quatro tipos de ao social: a ao racional com relao a fins, a ao racional com relao a valores, a ao tradicional e a ao afetiva.

1) A ao racional com relao a fins: uma ao concreta em que o agente concebe claramente objetivos especficos a serem alcanados. Exemplo: o atleta que se prepara para realizar uma competio; a ao do cientista.

2) A ao racional com relao a um valor: a ao definida pela crena consciente no valor - moral, tico, religioso, esttico, etc. que justifica determinada conduta. O indivduo age motivado pela fora dos valores sobre a sua conduta. Aceita todos os riscos para manter-se fiel a sua honra ou causa que acredita. Por exemplo: o homem-bomba, que mesmo consciente do fim trgico de sua ao, age em conformidade com a sua crena religiosa.

3) A ao afetiva: a ao que corresponde ao estado de esprito do agente que a pratica. definida por uma reao emocional dos indivduos em determinadas circunstncias, que necessariamente no foi orientada por um planejamento prvio ou motivada por valores. Exemplo: a exploso de raiva do motorista quando leva uma fechada no trnsito.

4) A ao tradicional: a ao ditada pelos hbitos, costumes e crenas arraigadas. O indivduo age obedecendo a reflexos adquiridos pela prtica. Para agir conforme a tradio, o indivduo no precisa orientar-se por um objetivo ou valor, nem tragado por uma emoo, obedece simplesmente a hbitos enraizados por longa prtica. Exemplo: o batismo dos filhos realizados por pais pouco comprometidos com a religio.

Segundo Quintaneiro (1999), o socilogo pode usar essas categorias para analisar o sentido de quase todas as condutas que o indivduo pode ou no praticar: estudar, dar esmolas, comprar, casar, participar de uma associao, fumar, presentear, socorrer, castigar, comer certos alimentos, assistir televiso, ir missa, guerra, etc. tarefa do socilogo, portanto, compreender o sentido que o sujeito atribui sua ao e seu significado social.

Os tipos ideais

Para tornar possvel a investigao e a compreenso de categorias e conceitos empregados na anlise sociolgica, Weber recorreu a certos instrumentos metodolgicos que permitiriam ao cientista uma investigao dos fenmenos particulares. A este recurso metodolgico Weber chamou de tipo ideal, o qual cumpriria duas funes principais: primeiro a de selecionar explicitamente a dimenso do objeto que vir a ser analisado e, posteriormente, apresentar essa dimenso de uma maneira pura, sem suas sutilezas concretas.

Para Weber (Falta o ano e a pgina), o tipo ideal construdo:

mediante a acentuao unilateral de um ou vrios pontos de vista, e mediante o encadeamento de grande quantidade de fenmenos isoladamente dados, difusos e discretos, que se podem dar em maior ou menor nmero ou mesmo faltar por completo, e que se ordenam segundo os pontos de vista unilateralmente acentuados a fim de se formar um quadro homogneo de pensamento. Torna-se impossvel encontrar empiricamente na realidade esse quadro, na sua pureza conceitual, pois trata-se de uma utopia. A atividade historiogrfica defronta-se com a tarefa de determinar, em cada caso particular, a proximidade ou afastamento entre a realidade e o quadro ideal, em que medida portanto o carter econmico das condies de determinada cidade poder ser qualificado como economia urbana em sentido conceitual. Ora, desde que cuidadosamente aplicado, esse conceito cumpre as funes especficas que dele se esperam, em benefcio da investigao e da representao.

Trata-se, portanto, de uma construo terica abstrata dos fenmenos particulares que se pretende investigar. O cientista constri um modelo (tipo ideal) acentuando algumas caractersticas cujo exame lhe parece importante na observao do fenmeno selecionado para o estudo.

Segundo Costa (2005, 100):

O tipo ideal no um modelo perfeito a ser buscado pelas formaes sociais histricas nem mesmo em qualquer realidade observvel. um instrumento de anlise cientfica, numa construo do pensamento que permite conceituar fenmenos e formaes sociais e identificar na realidade observada suas manifestaes. Permite ainda comparar tais manifestaes. A construo do tipo ideal permite ao socilogo explicar uma realidade complexa, partindo de traos caractersticos essenciais.

Chegamos ao final desta unidade, abordando as principais questes e conceitos que orientaram os estudos dos principais tericos clssicos da Sociologia. Esperamos que voc tenha percebido que a realidade social um fenmeno que pode ser compreendido de vrias formas distintas e que a anlise sociolgica plural, porque permite olhar um mesmo fenmeno por diferentes ngulos.

LEITURA COMPLEMENTAR:

COSTA, Cristina. Sociologia: Introduo cincia da sociedade. 3 a.ed. ver. ampl. So Paulo: Moderna, 2005. 416p.

MARTINS, Carlos Benedito. O que Sociologia. 38a. ed. So Paulo: Brasiliense,1994. (Coleo Primeiros Passos-57). 58p.

QUINTANEIRO, T. Um Toque de Clssicos: Durkheim, Marx e Weber. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999. 157p.

HORA DE SE AVALIAR!

No se esquea de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exerccio! Elas iro ajud-lo a fixar o contedo, alm de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem.

EXERCCIOS DE AUTO-AVALIAO

1. Segundo Durkheim, objeto de estudo da Sociologia:

a) a ao social.

b) o fenmeno orgnico.

c) a conscincia individual.

d) o fato social.

e) as classes sociais.

2. Aponte os principais critrios de validade cientfica para Durkheim.

a) Objetividade e especificidade.

b) Subjetividade e neutralidade.

c) Neutralidade e especificidade.

d) Objetividade e neutralidade.

e) Subjetividade e especificidade.

3. Marque a alternativa correta:

a maneira como a sociedade organizada para produzir bens e servios. Consiste de dois aspectos principais: foras produtivas e relaes de produo. A que conceito fundamental da anlise marxista se refere esta ideia?

a) Modo de produo.

b) Mais-valia.

c) Alienao.

d) Fora de Trabalho.

e) Mercado de Trabalho.

4. Marque a alternativa correta:

a relao rompida entre o trabalhador e o seu trabalho, porque os que produzem bens no tm voz sobre o que produzir e como produzir. Na perspectiva marxista, este conceito representa a ideia de:

a) classe social.

b) diviso do trabalho.

c) meios de produo.

d) relaes sociais.

e) alienao.

5. Marque a alternativa correta:

Ao denunciar a forma de contradio inerente ao regime capitalista, afirmava que o papel da Sociologia era unir conhecimento cientfico ao poltica. Caberia a Sociologia denunciar a contradio essencial do capitalismo entre o aumento das riquezas e a misria crescente da maioria, contribuindo, assim, para a realizao de transformaes radicais na sociedade. Essa ideia expressa o pensamento de:

a) mile Durkheim.

b) Georg Hegel.

c) Max Weber.

d) Karl Marx.

e) Auguste Comte.

6. Marque a alternativa correta:

A percepo de um estado de anarquia na sociedade capitalista no poderia ser atribuda somente a uma distribuio injusta da riqueza, mas, principalmente, falta de regras de comportamento mais rigorosas capazes de conduzir a vida dos indivduos. A unio de esforos entre a elite empresarial e intelectual seria fundamental para a orientao da conduta dos indivduos. Essa ideia expressa o pensamento de:

a) Karl Marx.

b) Max Weber.

c) Friedrich Engels.

d) mile Durkheim.

e) Francis Bacon.

7. Perspectiva terica baseada na ideia de que uma interpretao sociolgica de comportamento deve necessariamente incluir o significado que os fatores sociais atribuem as suas condutas.

a) Sociologia Marxista.

b) Sociologia Compreensiva.

c) Sociologia Positivista.

d) Sociologia Crtica.

e) Sociologia Aplicada.

8. Marque a alternativa correta:

Depois que um terrorista suicida de Gaza voou pelos ares, os parentes encontraram frequentes referncias ao Paraso em seus cadernos. Ele escreveu muito sobre o desejo de morrer, de conhecer Deus como mrtir e viver uma vida muito melhor do que esta. (Jornal Estado de So Paulo, 1994) De acordo com a anlise weberiana, esta passagem exemplifica que tipo de ao social?

a) Afetiva.

b) Irracional.

c) Racional em relao aos fins.

d) Tradicional.

e) Racional em relao a valor.

EXERCCIOS DE APRENDIZAGEM E FIXAO

1. Explique porque, segundo Durkheim, os fatos sociais so exteriores e coercitivos:

2. Leia e explique a afirmao a partir da anlise sociolgica desenvolvida por Max Weber: Apenas as ideias de valor que dominam o investigador e uma poca podem determinar o objeto de estudo e os limites desse estudo.

UNIDADE 3 CARACTERIZAO DA SOCIEDADE HUMANA

Nesta unidade, veremos como o homem um ser que necessita viver em grupo para se hominizar, ou seja, para se tornar verdadeiramente humano. Examinaremos o seu ambiente social e a sua produo em grupo. Vamos l!

OBJETIVOS DA UNIDADE:

Diferenciar a sociedade humana da sociedade animal, identificando seus elementos principais.

Conceituar cultura atentando para as suas sutilezas.

Construir uma viso crtica acerca da influncia da indstria cultural nos dias atuais, avaliando seu papel ideolgico.

Tendo em vista o que foi exposto na unidade anterior, examinaremos agora o ambiente social do homem, o seu papel como elemento ativo da sociedade em que vive e suas possibilidades transformadoras deste ambiente.

ELEMENTOS PRINCIPAIS DA SOCIEDADE HUMANA

O homem sempre viveu em grupos e no podemos imaginar a sua existncia fora deles. Sem contato com o grupo social, o homem dificilmente pode desenvolver as caractersticas que chamamos de humanas, como, por exemplo: organizar instituies, chorar e sentir pela morte de seus entes queridos, transmitir mensagens atravs de smbolos... O processo de hominizao ocorre, justamente, na sociedade em que ele aprende a viver com outros homens e a se comportar como tal.

Portanto, o ser humano produto da interao social. interagindo com os outros homens, ou seja, influenciando e sendo influenciado que ele ir aprender a conviver.

Segundo Durkheim que o homem s homem porque vive em sociedade.

A criana no nasce sabendo se comportar em sociedade. convivendo, primeiramente, com seus grupos mais ntimos (famlia e escola) e depois com outros grupos que ir se tornar um membro ativo da sociedade em que nasceu. A esse processo chamamos de socializao.

Consequentemente, podemos observar que a criana tem poucas possibilidades de seguir seus desejos e suas vontades, que normalmente so hedonistas e egostas e que muitas vezes so opostas s vontades do grupo, o qual exige restrio, disciplina, ordem e abnegao. E nesta relao, a sociedade normalmente sai ganhando.

Embora o ambiente fsico seja tambm importante, o ambiente social o fator verdadeiramente determinante na socializao da criana. Mas este processo durar pela vida toda, pois ele permanente e ns estamos sempre aprendendo coisas novas em nossa sociedade.

O ambiente social influencia at no tipo de personalidade dos indivduos, assim observamos, ao longo da Histria, sociedades que geraram homens guerreiros, homens caadores, homens viajantes, homens executivos com tino para negcios, etc. De um modo geral, pode-se dizer que cada cultura produzir seu tipo especial ou tipos especiais de personalidades.

Socializao: processo de aprendizagem da cultura da sociedade em que nascemos.

Hedonista: ligado aos prazeres.

Durkheim (In: CASTRO & DIAS, 1981) afirmou que o pensamento e o comportamento dos indivduos so determinados pelas representaes coletivas. Esta representao indicava o corpo de experincias, ideias e ideais de um grupo do qual o indivduo inconscientemente depende para a formulao de suas ideias, atitudes e comportamento.

A ESSNCIA DA CULTURA

A cultura tem sido definida de diversas maneiras.

Spencer (In: KOENIG, 1985) considerou-a o ambiente superorgnico, ambiente peculiar ao homem, enquanto os outros dois (inorgnico ou fsico e orgnico, o mundo dos vegetais e animais) ele compartilha com os animais inferiores.

Uma definio muito conhecida a de Edward Tylor (1871, p1):

Cultura todo o complexo que inclui conhecimento, crena, arte, moral, lei, costumes e quaisquer outras capacidades e hbitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade.

Tambm pode ser definida como:

A soma total dos esforos do homem para ajustar-se a seu ambiente e melhorar suas maneiras de viver.

Desta forma, os antroplogos enfatizam que a cultura o comportamento aprendido em sociedade, pois o comportamento instintivo inerente aos animais. Logo, a cultura resultante da inveno social, aprendida e transmitida por meio da educao e da comunicao entre os membros de uma sociedade humana.

Alguns animais vivem em sociedades, mas estas se baseiam em instintos ou comportamento reflexo e no mostram variao de gerao para gerao. O caso mais apontado o das abelhas, em que visualizamos certa organizao social.

Os instintos animais respondem a leis biolgicas, sendo assim suas reaes podem ser previstas e esto ligadas completamente ao mundo natural, no o ultrapassando. J o homem se comportar de acordo com a sociedade em que vive, respondendo diferenciadamente aos estmulos e s necessidades de seu meio ambiente e de seu tempo.

Entretanto, para a produo de cultura, o homem precisa se comunicar e esta comunicao, que feita de vrias maneiras na sociedade humana, ganha maior peso com a linguagem simblica (abstrata) que exclusiva do homem.

Assim o homem transmite a sua cultura, mas ao mesmo tempo rompe com as tradies, renovando esta cultura e acrescentando novos elementos mesma. Desta forma, observamos que o homem um ser histrico que vive a cada poca de maneira diferente.

CLASSIFICAO DA CULTURA

As culturas apresentam um aspecto material e outro no material. Aqui podemos situar as tradies, os costumes, as leis, as cincias, as ideologias, etc. A cultura, tambm possui o seu lado material, concreto, em que so produzidos todos os tipos de objetos, mquinas, ferramentas, que esto ligados, obviamente, ao lado abstratos.

Sob o enfoque marxista, como vimos na unidade I, o homem o nico animal que produz cultura, pois o nico animal que transforma a natureza atravs de seu trabalho, produzindo bens materiais para a sua subsistncia.

CULTURA POPULAR E CULTURA ERUDITA

Esses conceitos geram, muitas vezes, discusses entre os estudiosos da questo, pois como se define o que popular e o que erudito? Quais os critrios utilizados para separarmos o que uma coisa e o que outra?

O critrio mais utilizado o da classe social, ou seja, a cultura popular pertenceria ao povo e a cultura erudita s elites ou classes dominantes dentro da sociedade capitalista. Para alguns antroplogos, estas definies so muito mais complexas do que aparentemente se apresentam, pois as classes no so homogneas e nem to pouco a sua produo cultural. Portanto, esta diviso traz em si um grande debate cientfico.

Em uma sociedade como a nossa, verificamos a existncia de uma inter-relao entre a cultura popular e a cultura erudita, o que permite a manuteno da sociedade como um todo. Os elementos que a princpio pertencem cultura popular ou cultura erudita vo se transformando dinamicamente e se entrelaando. O que podemos dizer que este fenmeno consequncia da vivncia do homem em sociedade. E assim, se por um lado vemos a feijoada que a princpio era alimento de escravos nos melhores restaurantes das cidades, por outro lado, vemos a msica clssica (pertencente s elites) em um radinho de pilha de um operrio.

Edgar Morin (1986, p.75), grande pensador sobre as questes culturais, analisa o conceito de cultura da seguinte forma:

Cultura: falsa evidncia, palavra que parece uma, estvel, firme, e, no entanto, a palavra armadilha, vazia, sonfera, mimada, dbia, traioeira. Palavra mito que tem a pretenso de conter em si completa salvao: verdade, sabedoria, bem-viver, liberdade, criatividade...

O que percebemos que a cultura um sistema em que todos os elementos esto ligados entre si e que cada sociedade transmite a seus membros a sua cultura, o seu patrimnio cultural.

Cada sociedade possui a sua cultura e ela que a caracteriza.

Indstria cultural ou cultura de massa

Podemos comear a falar de indstria cultural ou cultura de massa a partir do sculo XVIII quando foi marcante a multiplicao dos jornais na Europa, fato que anteriormente industrializao somente o clero e a nobreza tinham acesso escrita.

A industrializao trouxe consigo grandes transformaes sociais, econmicas, polticas e culturais, no somente os bens materiais produzidos por ela apresentaram aumento no consumo, mas tambm os bens culturais. O nmero de leitores aumentou consideravelmente com o barateamento dos custos do papel, os jornais tinham cada vez mais tiragens. Cresceram as companhias de teatro, bal, circos, que se preocupavam com o pblico das cidades que aumentava a cada dia com o xodo rural.

Todas estas transformaes fizeram com que um ramo da indstria passasse a se dedicar exclusivamente a este fato. Logo, no s os jornais apresentavam crescimento, como j foi dito anteriormente, mas os livros, as peas, as mercadorias culturais como um todo, cresciam.

Este termo, indstria cultural, foi criado por dois grandes filsofos contemporneos: Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheime (1895-1973).

Eles explicam como os meios de comunicao de massa (rdio, televiso, cinema) vendem as mercadorias culturais e como so veiculadas as imagens da sociedade capitalista atravs da propaganda desta sociedade, a fim de que ela se mantenha como est, ou seja, para que a sua estrutura permanea a mesma.

Os atuais meios de produo propiciaram a reproduo de obras de arte que foram sendo popularizadas em larga escala. E sobre esse aspecto os estudiosos da questo afirmam que no podemos pensar em cultura erudita ou cultura popular sem antes examinarmos a indstria cultural.

Entretanto, os autores mencionados criticavam a indstria cultural, pois consideravam que, ao invs de democratizar os bens culturais chamados de eruditos, simplesmente os banalizavam, na medida em que o povo no conseguia compreend-los.

Logo, s serviam para controlar e manter o status quo atravs da dependncia e da alienao dos homens.

Em contrapartida, outros autores, assim como Marshall Mcluhan (1911-1980) analisam a indstria cultural sob outro ngulo mais positivo, pois consideram que os meios de comunicao de massa aproximam os homens e diminuem as distncias territoriais e sociais entre eles e muitas vezes, estes so as nicas fontes de informao para uma considervel parcela da populao.

Segundo esta corrente de pensadores, a indstria cultural contribuiu para a emancipao e melhoria das sociedades, pois promovendo a padronizao dos gostos e sensibilidades entre as classes sociais, promove tambm a unio e o sentimento de nacionalidade.

Faa uma reviso deste contedo, buscando rever os pontos principais que foram abordados.

LEITURA COMPLEMENTAR:

CASTRO & DIAS. Introduo ao pensamento sociolgico. Rio de Janeiro: Eldorado, 1981.

KOENIG, S. Elementos de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.

MORIN, E. Cultura de Massa no sculo XX. O esprito do tempo -2. NECROSE. Rio de Janeiro: Forense, 2001.

HORA DE SE AVALIAR!

No se esquea de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exerccio! Elas iro ajud-lo a fixar o contedo, alm de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem.Status quo expresso latina que significa o sistema vigente.

EXERCCIOS DE AUTO-AVALIAO

Marque a alternativa correta nas questes abaixo:

1. A indstria cultural nasceu na Europa propiciando a expanso e circulao dos livros, das peas teatrais, dos jornais, na maioria das cidades, portanto:

a) a produo das mercadorias culturais aumentou, mas a circulao continuou restrita s classes dominantes.

b) o comrcio das mercadorias culturais continuou a se restringir ao clero e nobreza.

c) a indstria cultural produz mercadorias que interessam basicamente s pessoas que esto ligadas educao formal.

d) as mercadorias produzidas pela indstria cultural se tornaram de difcil acesso ao povo porque eram caras.

e) a indstria cultural produzia mercadorias culturais que passaram a circular entre as diversas classes sociais.

2. Marque a alternativa que completa corretamente o pargrafo abaixo:

Spencer chamou o ambiente peculiar ao homem de _________________, enquanto que o _______________ pertenceria ao mundo fsico e o __________________ aos animais e vegetais.

a) orgnico superorgnico inorgnico;

b) superorgnico inorgnico orgnico;

c) inorgnico superorgnico orgnico.

d) orgnico inorgnico superorgnico;

e) superorgnico orgnico inorgnico;

3. O homem considerado um ser histrico por que:

a) vive diferentemente em cada sociedade ao mesmo tempo.

b) estabelece contato com vrias culturas diferentes aprimorando a sua cada vez mais.

c) vive diferentemente em cada poca, o que demonstra o seu poder de transformao.

d) transforma a sua cultura de acordo com a influncia de outros povos.

e) interage com vrias pessoas de lugares diferentes atravs da comunicao.

4. Como vimos nesta unidade, o homem um ser que no nasce pronto e por isso depende do grupo social para se:

a) movimentar.

b) concentrar.

c) transportar.

d) socializar.

e) especializar.

5. O processo de socializao aquele no qual:

a) o homem aprende a cultura de sua sociedade de forma contnua.

b) a criana aprende a respeitar seus amiguinhos.

c) o homem troca experincias com as geraes mais novas.