Apostila de Gestalt

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G forma e percepção Débora Ramos_20/07/09

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Gforma e percepção

Débora Ramos_20/07/09

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Consumidores não vivem no vácuo. Eles são constantemente bombardeados por propagandas. No que as pessoas vão prestar atenção?

O consumidor vê tudo dentro de um contexto. Compreender as relações entre os elementos de uma propaganda é essencial para determinar quais deles são elementos-chave, ou seja, do que o consumidor vai lembrar. Assim, 2 segundos de um vt de 30 segundos pode fazer dele o pior ou o melhor comercial. Entendendo os princípios da Gestalt, é possível organizar as informações de forma clara e eficiente, além de torná-las atrativas e agradáveis ao olhar. Isso contribui para a efetividade de uma comunicação, explicando por que algumas delas tem um efeito tão forte e um design tão memorável.

ExistEm rEgras para composição?

Desde a Grécia Antiga, tem-se tentado descobrir o que faz um bom design e uma boa composição. Os gregos trouxeram a idéia da Proporção Áurea, muito semelhante à regra dos terços na fotografia. Eles foram mais longe ainda, descrevendo as dimensões exatas para seu conceito de ideal, que influenciou o desenho e a escultura clássicos e pode ser encontrados nas formas da natureza, que são harmônicas: a concha do náutilo, as flores, as proporções do corpo humano.

O número áureo (aproximadamente 1,618) é fruto de uma razão entre partes e o todo.

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No início do século XX, os psicólogos alemães Max Wertheimer, Wolfgang Kohler e Kurt Koffka encararam a mesma missão e fundaram a escola de pensamento conhecida como GESTALT, que em alemão significa: “forma” ou “figura”.

objEtivoDescobrir como a mente percebia e processava estímulos visuais.

rEsultado Teoria da gestalt, apresentando princípios que explicam porque algumas formas agradam mais que outras. Segundo ela, a mente humana tenta estabelecer padrões formais de reconhecimento em uma tentativa sistemática de organizar o caos.

basE da tEoria

“O todo é mais do que a soma das partes.”

Segundo a psicologia da Gestalt, o todo possui características próprias, que se relacionam, mas que não correspondem meramente à soma de partes individuais.Não vivenciamos as partes do ambiente separadamente, tentamos organizá-las num todo significativo. Nós queremos que as coisas façam sentido com base naquilo que já sabemos.

Para designers, essa é uma regra visual. Quando olhamos para um anúncio ou uma página de revista, sabemos que o layout é composto por imagens e por texto. A teoria da Gestalt entra para fazermos esses elementos se relacionarem de tal forma que eles façam mais sentido juntos do que se observados individualmente. Por isso, questione se a peça tem um significado maior como um todo e que mensagem ela está passando.

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4 54 51.UNIDADE

Um elemento que se encerra nele mesmo. Um objeto pode ser formado por vários elementos que se combinam e são percebidos como um todo, como uma unidade. Nesse caso, alguns elementos podem se destacar dos demais, guiando a leitura.

2.SEGREGAÇÃO e UNIFICAÇÃOSão as leis mais simples que regem a percepção visual.

sEgrEgação

Capacidade de separar unidades em um todo compostivo ou em partes desse todo, tendo como base as relações de forma, dimensão e posição. As forças de segregação agem conforme a desigualdade de estimulação.

A partir desse princípio, é possível gerar hierarquia dentro de uma composição, determinando a importância dos elementos e a ordem de leitura. Na diagramação de um texto, por exemplo, podemos diferençar título, subtítulo, texto e legenda pela tipografia utilizada (se houver mais de uma), pela diferença entre variações de uma mesma fonte (como itálico, negrito, versaletes), com corpo de fonte de tamanho diferente (maior no título, menor na legenda), alterando o alinhamento e pela diferença de cores.

unificação

Ocorre quando os princípios básicos de harmonia, equilíbrio visual e coerência formal da partes ou do todo estão presentes na composição, fazendo com que haja igualdade de estímulos produzidos. Dialoga diretamente com as leis de proximidade e semelhança para a organização formal.

Assim como na segregação diferenciamos títulos de textos, por exemplo, com a unificação reconhecemos na diagramação os elementos que são semelhantes, seja por terem a mesma cor, ou serem do mesmo tamanho ou estarem no mesmo lugar. Numa revista, por exemplo, as páginas sempre estão no mesmo lugar da página, o que facilita a leitura, uma vez que o olhar do leitor identificará o padrão e buscará aquele ponto para obter a informação, no caso, da página.

As armas e os braços estão alinhados, são da mesma cor e tem tamanhos e for-matos parecidos, por isso

tendemos a agrupá-los.

Apesar de ser a mesma imagem da Eve, vemos a

diferença de tamanho e cor entre elas, assim como

na fonte do título e na fonte do texto embaixo.

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trabalhando com formas abErtas

Uma imagem é delimitada pelo quadro que a contem, isto é, seus limites externos. Quando o objeto representado é cortado, essas margens sugerem a continuação do objeto fora do quadro, servindo como uma ferramenta para guiar o olhar e acrescentar dinamismo à composição.

Com o recorte, redesenha-se os limites e altera-se a forma de uma fotografia ao alterar a escala dos elementos em relação à totalidade da imagem. Uma imagem vertical pode tornar-se um quadrado, um círculo ao adquirir novas proporções. Aproximando-se de um detalhe, o recorte pode alterar o foco da imagem, conferindo-lhe novo sentido e ênfase. Experimente opções de enquadramento colocando dois pedaços de papel em L sobre uma imagem.

Logomarcas da WWF e do Guggenheim Museum utilizam bem o princípio

do fechamento.

3. FECHAMENTO

Em elementos separados ou interrompidos, as forças de organização da forma tendem a formar unidades fechadas. Assim, tem-se a sensação de fechamento visual da forma pela continuidade de uma ordem estrutural definida. Ou seja, quando os elementos que estão configurados induzem a uma forma que não está integralmente registrada. O subentendimento resulta na extensão lógica da percepção que preenche os vazios que faltam para completar a figura.

Uma forma fechada, é completa, estável e gera passividade e tédio, mesmo que esteja equilibrada. Por isso, as formas abertas são tão empregadas na construção de logomarcas, sendo um recurso muito bom para conferir dinamismo e atrair o olhar. Como a forma precisa ser identificada e completada na mente do observador, a imagem se torna um convite para envolvê-lo de forma ativa.

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6 76 74. FIGURA/FUNDO

Além do todo ser mais que a soma das partes e nossa tendência natural em ver padrões, a im-portância da figura versus fundo é um conceito chave da Gestalt. Essa regra faz com que a mente preencha as lacunas e permite identificar elementos que estão faltando, ilusões de óptica e ambigui-dades visuais.

Uma figura (forma) é sempre vista em relação ao que a rodeia (fundo)- as letras e a página, um edifício e seu terreno, uma escultura e o espaço dentro e em torno dela, o assunto de uma foto e o ambiente em torno dela. Para que se tenha uma forma, é necessário que haja separação com o fundo, o que ocorre por meio de contraste.

As pessoas costumam ver o fundo como algo passivo e pouco importante em relação ao assunto dominante. Já os artistas visuais prestam atenção aos espa-ços em volta e entre os elementos, descobrindo seu poder de moldar experiên-cias e tornarem-se formas propriamente ativas.

Assim, os designers gráficos buscam frequentemente um equilíbrio entre figura e fundo, utilizando essa relação para proporcionarenergia e ordem à forma e ao espaço. Contrstando a forma e a contra-forma, é possível fazer uma composição que estimula o olhar. A criação de tensões ou ambiguidades de figura/fundo adiciona energia visual a uma imagem ou marca. Mesmo ambi-guidades sutis podem animar o resultado final e mudar sua direção e impacto.

“A forma de um objeto não é mais importante que a forma do espaço em torno dele. Todas as coisas resultam da interação com outras coisas.”Malcolm Grear.

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No design de marcas e símbolos, a transformação de sentidos complexos em formas simplificadas, mas significantes normalmente é bem sucedida com a reciprocidade tensa dos espaços positivos e negativos. Em cartazes, layouts e designs de tela, o que está do lado de fora emoldura e equilibra o que é colo-cado dentro. Do mesmo modo, em mídias que incluem o tempo, como livros de muitas páginas, a distribuição do espaço afeta o ritmo de leitura.

É essencial saber avaliar e criar essa tensão de figura/fundo, por isso, a necessidade de treinar o olho para esculpir espaços em branco ao compor formas. Procure manipular as áreas positivas e negativas ao ajustar a escala das imagens e da tipografia. Olhe para as formas que cada elemento produz e veja como seus contornos delimitam um vazio que é igualmente atraente.

EstávEl, rEvErsívEl E ambíguo

Uma relação estável de figura/fundo existe quando a forma destaca-se claramente do fundo. A figura/fundo reversível ocorre quando os elementos negativos atraem nossa atenção igualmente e alternadamente, avançando e recuando, à medida que nossos olhos percebem como sendo dominantes e em seguida como subordinados. A relação ambígua desafia o observador a en-contrar um ponto focal. A figura confunde-se com o fundo, levando o olhar do observador a dar voltas sobre a superfície sem nenhuma condição de discernir sobre sua predominância.

Alex Schrijvers HandbagsDesigner: Davy Dooms

Bélgica

Observe como os elementos no espaço positivo são organizados para criar um espaço negativo com igual

importância e que juntos, adquirem um significado maior.

m.c. EschEr: trabalhando o Espaço nEgativo

Um artista gráfico que trabalhou muito bem essa regra foi o holandês M.C. Escher, conhecido tam-bém por suas ilusões de óptica. O seu trabalho foi intensamente influenciado pelos mosaicos dos palácios árabes.

Escher achou muito interessante as formas como cada figura se entrelaçava a outra e se repetia, for-mando belos padrões geométricos. Este foi o ponto de partida para os seus trabalhos mais impressio-nantes e famosos, que consistiam no preenchimento regular do plano, mostrando seu absoluto um domínio do princípio figura/fundo.

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8 98 95. CONTINUIDADE

É a impressão visual de partes que sucedem ao se organizarem sem quebras ou interrupções (descontinuidades) na sua trajetória ou fluidez visual. Significa a tendência que alguns elementos tem de acompanharem uns aos outros, permitindo a continuidade de um movimento para uma direção já estabelecida, seja por pontos, linhas, planos, volumes, cores, texturas, degradês e outros.

Ela ocorre no sentido de alcançar a melhor forma possível, ou seja, a forma mais estável estruturalmente em termos perceptivos: a “boa continuidade”. O círculo, as esferas e variantes são as formas de melhor continuidade por serem fluidas, não apresentando nenhuma interrupção no olhar. As formas orgânicas, além de apresentarem boa continuidade, imprimem suavidade visual à forma, sendo muito usadas no Design para a concepção de produtos.

6. PROXIMIDADE

Os elementos próximos tendem a ser agrupados visualmente, constituindo uma unidade dento do todo. Nas mesmas condições, os estímulos mais próximos de cor, tamanho, direção e localização tendem a constituir unidades. As cores de uma impressão, por exemplo, são percebidas como contínuas, embora sejam compostas por pontos próximos (retícula). Esse é o princípio do movimento conhecido como Pontilhismo.

7. SEMELHANÇA

Se os elementos possuem mesma cor e forma, tendem a ser agrupados e a constituir unidades. Os estímulos que tiverem mais semelhança e mais proximidade terão maior tendência a serem agrupados.

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primeira logo (1976) 1976-1998 logo atual

8. PREGNÂNCIA DA FORMA

É a lei básica da percepcção da Gestalt, podendo ser também considerada a lei da Simplicidade. Segundo ela, as forças de organização da forma tendem à harmonia e ao equilíbrio visual. Assim, um objeto com alta pregnância é o que tende espontaneamente a uma estrutura mais simples, mais equilibrada, mais homogênea e mais regular, apresentando o máximo de unificação, clareza formal e de simplificação na organização de suas partes. Em publicidade, quanto mais simples a mensagem, mais facilmente ela será absorvida pelo público. Seguindo essa lógica de que “menos é mais”, é pos-sível perceber a importância de buscar a pregnância da forma em um anún-cio, por exemplo, tornando-o de fácil compreensão e aumentando a rapidez de sua leitura e interpretação.

Se a fonte escolhida for muito rebuscada ou a imagem for muito complexa e confusa, pode-se prejudicar a leitura e poderá exigir do observador muito tempo para a sua leitura. Isto é, mais que os 3 segundos que as boas propa-gandas gastam para fazer a pessoa entender a mensagem.

Logicamente, o tipo de fonte e imagem dependerá sempre do objetivo que se pretende com a peça. Às vezes, dependendo do conceito e da sensação que se pretende transmitir, a complexidade visual pode ser uma opção. No entanto, se não houver uma justificativa pertinente para utilizar mais uma fonte, mais cores ou mais imagens, procure evitar.

Quanto mais elementos, mais informação, mais complexidade, mais ruído. Ou seja, mais chance de que a mensagem não seja transmitida em sua integri-dade. Portanto, keep it simple.

Evolução da logomarca da Apple mostra como ela

passou de uma imagem de baixíssima pregnância,

na qual a maçã é quase imperceptível em cima do

Newton e a fonte é de péssima leitura.

Na versão atual, existe o mínimo de informação de

cor e forma, conferindo-lhe alta pregnância pela clareza e simplicidade.

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10 1110 11Neste exemplo, é possível identificar praticamente todos os princípios da Gestalt apresentados, mostrando claramente como a tipografia pode ser utilizada como forma.

Unidades, segregação: O rosto aparece por inteiro, depois identificamos suas partes. Ao contrário de um texto escrito, não se vê pedaços de uma imagem que, aos poucos, compõem um todo.

FigUra/FUndo: O rosto é construído pelos traços que se formam nos espaços entre as linhas e letras (repare a franja). Eis um excelente exemplo da importância dos espaços negativos no desenho de uma página. Eles dão suporte para os outros elementos. A visão não “pára” em um lugar. Perceba como você olha para o rosto, o nome, o fundo. Isso é interatividade, muito mais interessante que um pop-up ou qualquer outra chatice publicitária.

Fechamento: Tendemos a “completar” a figura, ligando as áreas similares para fechar espaços próximos. É fácil ver as bochechas, a língua (escrita “soul”, genial) etc. É o mesmo princípio que nos permite compreender formas feitas de linhas pontilhadas.

Pregnância da Forma: apesar de haver muitos elementos, podemos facilmente reconhecer de quem se trata, absorvendo de imediato a forma marcante do rosto, reforçado pelo escrito “James Brown” no canto inferior esquerdo, cujo corpo de fonte, cor e contraste tornam a leitura e compreensão mais rápidas.

semelhança: Agrupamos elementos parecidos, instintivamente. Perceba que, por mais que você tente evitar, o rosto se destaca do fundo, mesmo sendo da mesma cor.

Proximidade: Elementos próximos são considerados partes de um mesmo grupo.

continUidade: Compreendemos qualquer padrão como contínuo, mesmo que ele se interrompa. É o que nos faz ver a “pele” do sr. Brown como algo contínuo, mesmo com todos os “buracos” das letras. Elementos em uma mesma direção são vistos como se estivessem em movimento e formam uma unidade, como se percebe na “explosão” que acontece no fundo do cartaz.

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10 1110 11livros rElacionados ao tEma

GOMES, João Filho. Gestalt do objeto: sistema de leitura visual da forma. São Paulo. 6ª Edição, 2004. Escrituras Editora. 2000.

LUPTON, Ellen e PHILLIPS, Jennifer Cole. Novos Fundamentos do Design.São Paulo. Ed Cosac Naify, 2008.

HURLBURT, Allen. O design da página impressa. 1ª Edição. Ed. Nobel,1986.

DONDIS, Donis. A. Sintaxe da linguagem visual. São Paulo. 3ª edição. Ed. Martins Fontes. 2002.

ARNHEIM,Rudolf. Arte e percepção visual, uma psicologia da visão cria-dora. São Paulo. Ed. Thomson Pioneira. Trad. Ivonne Terezinha de Faria. 1ª Edição.1998.

BIERDERMANN, Hans; Dicionário Ilustrado dos símbolos. São Paulo; Melhora-mentos; 1994.

sitEs

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