Apostila de Literatura - Impacto

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    Ficha1

    Ficha2

    Ficha3

    Ficha4

    Ficha5

    Frente 2Frente 1

    Classicismo RenascentistaI - Cames

    2

    Cantiga Lrica de Amor -Trovadorismo

    16

    Classicismo RenascentistaII

    6

    Humanismo I

    20

    Introduo ao Barroco noBrasil

    10

    A Era Romntica ou Mo-derna - Romantismo I

    28

    Consideraes Gerais doBarroco

    12

    A Era Romntica ou Mo-derna - Romantismo II2 Gerao Romntica:lvares de Azevedo

    30

    O Arcadismo em Portugal

    14

    3 Gerao Romntica -A Poesia Romntica

    32

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    2 3 n LITERATURAwww.portalimpacto.com.brwww.portalimpacto.com.brn LITERATURA

    Classicismo Renascentista I

    CAMES

    Cames

    1. CAMOES LRICO

    A biograa e a bibliograade Luis Vaz de Cames levantamproblemas apaixonantes eaparentemente insolveis, querpela distncia temporal, quer pelafalta de dados conveis, quer pelagrandiosidade com que a obra e otempo foram construindo, no umareputao, mas um verdadeiro mitodentro da literatura portuguesa euniversal. Nascido provavelmente emLisboa, em ano incerto e no sabido,lho de uma famlia da pequenanobreza, no se pode aceitar queno tenha tido uma educaoformal de qualidade, tendoa vista a universalidade doconhecimento que ressuma desua obra, particularmente dapica. Na juventude freqentoua corte e a bomia lisboeta,

    onde o gnio forte e aventureiroo marcaram e conseguiram ocognome de o trinca-ferroscom que passou a ser conhecido.Envolvido em repetidas brigas econfuses, acabou embarcado para oservio militarnas ndias- Portugalento estava empenhado na expansoultramarina - e passou cerca devinte e cinco anos longe da ptria,chorando o exlio amargo e o gniosem ventura. Retornando ptria,por obra e graa do acaso e da ajudade amigos, pde publicar sua obramxima, qui o maior monumentoliterrio das literaturas lusfonas - OsLusadas- que por si s vale pr umaliteratura inteira.

    A lrica de Cames compreendeduas vertentes principais:

    - A tradicional constituda deredondilhas que vo comporvilancetes,motes glosados,cantigase trovastodas bem representativas dachamada medida velha, to em vogana literatura portuguesa medieval.

    A clssica em que avulta a sonetopetrarquiano, do qual o grande einsupervel mestre de uma linhagemde maravilhosos sonetistas que

    enriqueceram as letraslusitanas atravs do

    tempo.

    O soneto camoniano incomparvel na tcnica superior,no domnio abastado do vernculo,na felicidade da escolha dos temas,na sensibilidade das imagenscriadas. Dessa forma, o campo deobservao do estudioso visto, ricoe diversicado. As camadas tica,fnica, semntica e morfossintticainterpenetram-se de maneiraadmirvel, revelando um Autor cientede seu ocio e dotado de talento

    superior para bem execut-lo, unindo,em suas prprias palavras, engenhoe arte na construo de verdadeiras

    jias literrias. Humanista notvel,soube exprimir a experincia vividana guerra e no exlio, na priso e namisria, no amor e no abandono,na presena e na saudade. Suapoesia revela a meditao profundasobre a realidade circundante, luz de uma slida cultura tericaque embasou o desvelamento deseu universo mtico solidamente

    plantado na cultura renascentistaclssica e classicizante de quefazia parte. A lrica camoniana contaminada pelo cnonemaneirista, lembrando em muitoscasos o Barroco literrio que viria aseguir. Sua explorao da dvidaexistencial, do desconcertodo mundo, a inquietude

    entre a fome e o esprito, as

    contradies do amor, semprede forma equilibrada, harmnica eformalmente inatacvel, revelam umhomem atento ao que o cercava,mas com inquietao suciente parair alm e antecipar; prever e meditar;inovar e surpreender. Nos sonetos que Cames exercitou todas as suasvirtualidades, aproveitando-se dabrevidade e da estrutura facilitadorados exerccios engenhosos daexplorao das mais raras guras esignicados. As contradies doamor, o universalismo do homemrenascentista; o neoplatonismo; oamar e o querer so temas versadoscom raras maestria e beleza.

    Chegando a Goa, Cames toma parte na expedio do vice-rei D.

    Afonso de Noronha contra o rei de Chembe, conhecido como orei da pimenta. Depois Cames xou-se em Goa onde escreveugrande parte da sua obra pica. Considerou a cidade como umamadrasta de todos os homens honestos e ali estudou os costumesde cristos e hindus. Em 1556 partiu para Macau, onde continuou

    os seus escritos. Viveu numa gruta, hoje com o seu nome, e a ter escrito boaparte dOs Lusadas. Naufragou na foz do rio Mekong, onde conservou de formaherica o manuscrito da obra, ento j adiantada. No desastre teria morrido a suacompanheira chinesa Dinamene, celebrada em srie de sonetos.

    Frente Ficha

    01

    01

    O soneto ressalta, em enunciados antitticos,compondo um todo lgico, o carter paradoxal do sentimentoamoroso. Esclarea-se, entretanto, que tais contradiesso, por vezes, aparentes, pois a segunda pane de cadaverso funciona como complemento da primeira, enfatizando-apor intermdio da aproximao de realidades distintas, quaissejam o aspecto material, sensvel (ferida que di) ( dor quedesatina) oposto ao transcendental e espiritual(em que sesente) (sem doer) como, de resto pode-se observar ao longode todo o soneto, culminando com a indagao nal, a traduzirtoda a perplexidade diante da total impossibilidade de secompreender o prprio amor.

    Sete anos de pastor Jac serviaLabo, pai de Raquel, semana bela;Mas no servia ao pai, servia a ela,Quer a ela s por prmio pretendia.

    E os dias na esperana de um s diaPassava, contentando-se com v-la;Porm o pai, usando de cautela,Em lugar de Raquel lhe dava Lia.

    Vendo o triste pastor que com enganos,Lhe fora assim negada a sua pastora,Como se a no tivera merecida;

    Comea de servir outros sete anos,Dizendo: - mais servira, se no foraPara do longo amor to curta a vida.

    A matria prima do soneto vem diretamente do AntigoTestamento - Gnesis, XXIX, 25, - em que se narra uma dasmais belas histrias de amor de toda a literatura universal: oamor de Jac por Raquel. Jac serviu a seu tio, Labo, por

    sete longos anos para fazer js a Raquel, lha mais nova elinda. Aps cumprir sua parte do acordo, recebe Lia, a lhamais velha, de bem poucos atrativos. Do impasse, Jac iniciauma nova servido de sete anos para conseguir sua amada.Raquel. Percebe-se a grandeza do amor de Jac, que noserviria s mais sete anos, mas sete vezes setenta e sete,desde que conseguisse o objetivo almejado. Ressalta aquio grande poder de sntese de nosso vate que resume todoum episdio bblico nos limites estreitos de quatorze versos,com grande maestria lingistica e interpretativa e sem que seperca nada do contedo primitivo e ainda acrescentando acarga potica bem mais signicativa que o original de ondefoi extraida. Ressalte-se, ainda, a grande economia de meios.Nada de vocabulrio erudito ou her mtico. Usando os termosem sua denotao usual e sem apelar em demasia para agurao, o poeta passa a mensagem que pretende de formaabsolutamente lgica e coerente, numa linguagem arrumada,seqenciada e expressiva de tal forma que instaura uma linhadireta de entendimento entre os homens de diferentes pocas,materializando magistralmente a funo sinfrnica de que o

    texto literrio de alto nvelsempre portador.

    Mudam-se os tempos,mudam-se as vontades,Muda-se o ser, muda-se aconana;

    Todo o mundo composto demudana,Tomando sempre novas qualidades.continuamente vemos novidades,Diferentes em tudo da esperana;Do mal cam as mgoas na lembrana,E do bem, se algum houve, as saudades.O tempo cobre o cho de verde manto,Que j coberto foi de neve fria,E em mim converte em choro o doce canto.E, afora este mudar-se cada dia,Outra mudana faz de alor espanto:Que indo se muda j como sota.

    O soneto retoma a Teoria do Devir, do lsofoHerclito, O que , enquanto , no , porque muda , quereconhece como sendo a mudana o nico estado observveldas coisas. Essa colocao do tema da efemeridadeda vida, e da continua mudana de. todas as coisas, realada pelos pares antitticos mal x bem, verde mantox neve fria, choro x doce canto. O estado de incertezacontamina a prpria mudana que no se faz mais comose fazia.Abre-se outro par antittico: presente x passado.O tom pessimista ca evidente com a aluso de que amudana acontece sempre para pior, instaurando-se, ai, osaudosismo desesperanado to presente no sentimentoportugus de todos os tempos.

    2. CONCEITUANDO A NATUREZA PARADOXAL DO AMOR

    Amor fogo que arde sem se ver;

    Ferida que di e no se sente;

    E um contentamento descontente;

    dor que desatina sem doer.

    um no querer mais que bem querer; um andar solitrio por entre a gente; um nunca contentar-se de contente; um cuidar que se ganha em se perder.

    querer estar preso por vontade; servir a quem vence; ovencedor; ter com quem nos matalealdade.

    Mas como causar pode seu favorNs coraes humanos amizade,Se do contrrio a si o mesmoamor?

    Quando da bela vista e doce riso,tonando estrio meus olhos mantimento,1

    to enlevado sinta o pensamentoque me faz ver na terra o Paraso.

    Tanto do bem humano estou diviso,2que qualquer outro bem julgo por vento;assim, que em caso tal, segundo sento,3assaz de pouco faz quem perde o siso.Em vos louvar, Senhora, rido me ndo,4porque quente vossas cousas claro sente,

    sentir que no pode merece-las.Que de tanta estranheza sois ao mundo,que no destranhar, Dama excelente,que quem vos fez, zesse Cu e estrelas.

    1 Tomando mantimento - tomando conscincia.2 Estou diviso - estou separado, apartado.3 Sento - sinto.4 No me fundo - no me empenho.

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    O resgate da losoa do discpulo de Scrates uma marca de Cames. Vericamospontos de contato entre a obra de Cames e as idias platnicasem poemas que revelam o amorconduz o esprito amante; o amante elevado Beleza Absoluta pelo amor.

    Pode-se extrair trs idias acerca do platonismoamoroso nos poemas de Cames:- o amor idealizado ala a tal altura o esprito, que o faz contemplar uma realidade extra-terrena;-negao da sensualidade.- esse amor, chama orientadora do esprito, se dirigido para o Bem, ilumina a realidade inteligvel;- negao da ignorncia.- sublimado na ausncia ou a contemplao da mulher amada, reexo da Beleza Divina, o amor,enobrece a alma e nela executa a imagem incorporal; - negao da materialidade.

    No podemos esquecer que tudo aquilo sentido pelo amante parte da observao fsica.Assim, a contemplao da beleza material seria o princpio da percepo de uma beleza absoluta,arquetpica.

    Um soneto que caracteriza saciedade o vnculo de Cames com a lrica neoplatnica e petrarquista. Assimilando,como todo cristo culto de sua poca, o idealismo de Plato, reorientado na Idade Mdia pelos doutores da Igreja-Santo Agostinho e Santo Toms de Aquino-, Cames concebe a mulher no como uma companheira humana, mascomo um ser anglico que sublima e apura a alma do amante, Iluminada por uma luz sobrenatural que lhe transguraas feies carnais, a beleza feminina convertesse numa imitao da Beleza plena, pura, que leva ao mundo das idiase divindade. o que ca patente na chave de ouro do soneto em questo, que, apontando a distncia entre a Senhorae as coisas terrenas, contemplada expressamente como criatura divina; ... no destranhar, Dama excelente, que quemvos fez, zesse Cu e estrelas... J no primero quarteto, a bela vista e doce riso so atributos que permitem ao poetavislumbrar o Paraso. E essa viso to perturbadora que, como registro o quarteto seguinte, seria causa de uma quaseloucura: assaz de pouco faz quem perde o piso. Observe-se o contraste entre a dimenso humana do poeta, tenso econtraditrio, e a imagem feminina, imaterial, distante e serena.A forma xa do soneto petrarquista, pela disposio estrcaem dois quartetos e dois tercetos, e a mtrica decassilbica (a medida nova) so os dois traos mais evidentes da EscolaClssica, imediatamente perceptveis. Mas h mais: a sintaxe opulenta, com hiprbatos freqentes, a seleo vocabular, aconteno emocional, o desenvolvimento lgico... Temas representativos da cosmoviso do mundo renascentista, comoo amor; o desconcerto do mundo; a efemeridade da existncia; o neoplatonismo e a fuso do maravilhoso cristo como pago, numa clara antecipao do Barroco que viria a seguir. Como elementos formais destacam-se o tom elevado, ovocabulrio medido e contido, a harmonia simtrico das construes e a grande expressividade conseguida com imagens quefalam bem alto sensibilidade, sem descambar para o hermetismo ou para a ostentao intelectual.

    Sendo um dos grandes gnios artsticos do Renascimento, Cames desenvolveu em sua obra uma variedade detemas, dentro do padro formal dessa esttica clssica, sem perder, contudo, sua originalidade. Encontramos em sua obra:

    3. PLATONISMO

    4. PETRARQUISMO E O ESTILONOVISMO

    5. LIRISMO TRADICIONALISTA

    Primeiro vamos prestar ateno corrente peninsularpela qual foi inspirada de maneira signicativa a obra lricacamoniana. Se falamos da lrica peninsular, no podemosdeixar de mencionar que esta chegou para os tempos deCames no s atravs dos antigos Cancioneiros, mas sobretudo por meio do Cancioneiro Geral.

    Embora este cancioneiro colecione a poesia palaciana,mantm a herana do trovadorismo peninsular captandomesmo a transio do lirismo medieval para o renascentista.

    De qualquer forma Cames parece ter-se inspirado nasantigas cantigas de amigo, retomando sobre tudo o temaque at nos faz lembrar as canes populares. Por outrolado, na forma do poema, podemos encontrar os vestgios doCancioneiro Geral.

    O autor com freqncia usa a forma da redondilhamantendo simultaneamente um certo paralelismo medieval norefro, como podemos ver no seguinte poema.

    Francesco Petrarca, poeta italiano do sculo XIV, desenvolveualgumas tendncias que sero inspirao para a criao camoniana:

    as contradies que a losoa amorosa despertam noser humano- prazer e sofrimento, esperana e desespero;

    a serenidade diante dessas contradies, pois fazem parte de um percursopuricador; a mulher amada como representao de um ideal de Beleza e Perfeio ; a razo e o labor, como modo de criao, dando ao texto uma forma racionale um contedo e equilibrado. preferncia pelo soneto e pela nova medida (verso decasslabo).

    DESCALA VAI LEANOR

    MOTE: Descala vai pera a fonteLeanor pela verdura,Vai fermosa e no segura.VOLTASLeva na cabea o pote,O testo nas mos de prata.Cinta de na escarlata,Sainho de chamalote,Traz a vasquinha de coteMais branca que a neve pura.Vai fermosa, e no segura.Descobre a touca a garganta,Cabelos de ouro entranado,Fita de cor de encarnado,

    To linda que o mundo espanta.Chove nela graa tanta,Que d graa a fermosura.Vai fermosa, e no segura.

    Como tivemos ocasio deobservar, o tema deste vilancetecomo se estivesse tirado dosantigos cancioneiros medievais,incluindo os elementos buclicos,tpicos para as pastorelas, comoa fonte ou o caminho cheio daverdura. Tambm a mtricados versos faz nos lembrar omedieval, usando o autor amedida velha, ainda acentuadapelo uso do refro em cada estrofe(inclusive no mote). Os vestgiosda transio da poesia medievalpara a renascentista (fenmenossintomticos para o Cancioneiro

    Geral) possvel ver no retratoda Leanor, que de certa maneirapodia at ser considerada comouma mulher petrarquiana: loira,bela e graciosa, acentuando agraa espiritual.

    Aplicaes noCaderno de Exerccios

    A palavra pico vem do grego

    pos, e signica narrativa, recitao. Toda a obra de Cames inuen-ciou a posterior literatura portuguesa,de forma particular durante o Roman-tismo, criando muitos mitos ligados sua vida.

    Cames teve uma vida muitoatribulada e que viajou bastante, in-clusive refazendo a rota de Vasco daGama na viagem do descobrimento docaminho martimo para as ndias. Con-ta a histria que numa dessas viagensCames e sua amada Dinamene nau-fragam s margens do rio Mekong, noCamboja.

    Nessa viagem Cames tambm trazia consigo um ma-nuscrito de sua grande obra,Os Lusadas. Muitas pesso-as brincam com esse episdio dizendo que no momentodo naufrgio, com aquela confuso, Cames no sabia aquem salvar, se a amada ou sua obra prima. No nal do in-cidente, a amada morre e o manuscrito permanece intacto.

    CAMES

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    Frente Ficha

    01

    02

    Orenascimento literrio atingiu seu pice em Portugal durante o perodo conhecidocomo Classicismo, entre 1527 e 1580. o marco do incio o retorno a Portugaldo poeta S de Miranda, que passara anos estudando na Itlia, de onde trazas inovaes dos poetas do Renascimento italiano, como o verso decasslaboe as posturas amorosas do Doce stil nuovo. Mas foi Lus de Cames, cuja vida

    se estende exatamente durante este perodo, quem aperfeioou, na lngua portuguesa, as

    novas tcnicas poticas, criando poemas lricos que rivalizam em perfeio formal com os dePetrarca e um poema pico, Os Lusadas, que, imitao de Homero e Virglio, traduz emverso toda a histria do povo portugus e suas grandes conquistas, tomando, como motivocentral, a descoberta do caminho martimo para ndias por Vasco da Gama em 1497-99. Paracantar a histria do povo portugus, em Os Lusadas, Cames foi buscar na antiguidadeclssica a forma adequada: o poema pico, gnero potico narrativo e grandiloqente,desenvolvidos pelos poetas da antiguidade para cantar a histria de um povo. A Ilada e aOdissia, atribudas a Homero (sc. VIII a.C), atravs da narrao de episdios da Guerrade Tria, contas as lendas e a histria herica do povo grego. J a Eneida, de Virglio(71 a19 a.C), atravs das aventuras do heri Enas, apresenta a histria da fundao de Romae as origens do povo romano. Ao compor o maior monumento potico da lngua portuguesa,Os Lusadas, publicado em 1572< Cames copia a estrutura narrativa da Eneida de Vrgilio.Utiliza a estrofao na oitava rima, inventada pelo italiano Ariosto, que consiste em estrofesde oito versos rimadas sempre da mesma forma: abababcc. A epopia se compe de 1.102dessas estrofes, ou 8.816 versos, todos decasslabos, divididos em 10 cantos.

    O poema se organiza tradicionalmente

    em cinco partes:I. Proposio (Canto I, estrofes 1 a 3)Apresentao de matria a sercatada: os feitos dos navegadoresportugueses, em especial os daesquadra de Vasco da Gama e ahistria do povo portugus.

    II. Invocao (Canto I, Estrofes 4 e 5) O poeta invoca o auxlio das musas do rio Tejo, as Tgides,que iro inspir-lo na composio da obra.III. Dedicatria (Canto I, Estrofes 6 a 18) O poema dedicado ao rei Dom Sebastio, visto comoa esperana de propagao da f catlica continuao dasgrandes conquistas portuguesas por todo o mundo.IV. Narrao (Canto I, Estrofe 19 a Canto X, Estrofe 144) A matria do poema em si. A viagem de Vasco da Gama e

    as glrias da histria herica portuguesa.V. Eplogo (Canto X, Estrofes 145 a 156) Grande lamento do poeta, que reclama o fato de sua vozrouca no ser ouvida com mais ateno.

    NARRAOA narrao consiste, portanto, na maior parte do poema. Inicia-se In Media Res, ou seja, em plena ao. Vasco da Gamae sua frota se dirigem para o Cabo da Boa Esperana, comintuito de alcanarem a ndia pelo mar. Auxiliados pelos deuses

    Vnus e Marte e perseguidos por Baco e Netuno, os herislusitanos passam por diversas aventuras, sempre comprovandoo seu valor e fazendo pr evalecer sua f crist. Ao pararem emMelinde, ao atingirem Calicute, ou mesmo durante a viagem, osportugueses vo contando a histria dos feitos hericos de seupovo. Completada a viagem, so recompensados por Vnuscom um momento de descanso e prazer na Ilha dos Amores,verdadeiro paraso natural que em muito lembra a imagem queento se fazia do recm descoberto Brasil.

    1. CAMES PICO E O CLASSICISMO PORTUGUS EM OS LUSADAS

    2. DIVISO DA OBRA

    3. ESTRUTURA NARRATIVA DE LUSADAS

    O poema se estrutura atravs de uma narrativa principal, queapresenta a viagem da armada de Vasco da Gama. A esseo narrativo condutor incorporada inicialmente a narraofeita por Vasco da Gama ao rei de Melinde, em que conta ahistria de Portugal at a sua prpria viagem. Na voz de Gamaouvem-se os feitos dos heris portugueses anteriores a ele,como Dom Nuno lvares Pereira, o caso de amor trgico deIns de Castro, o relato de usa prpria partida, com o iradoe premonitrio discurso do Velho do Restelo e o episdio do

    Gigante Adamastor, representao mtica do Cabo da BoaEsperana. Em seguida so acrescentadas as narrativas feitasaos seus companheiros pelo marinheiro Veloso, que relata oepisdio dos Doze da Inglaterra. Por m, j na ndia, Pauloda Gama, irmo de Vasco, conta ainda outros feitos hericosportugueses ao Catual de Calicute. A estrutura narrativa dopoema composta, portanto, por trs narrativas remetendo historia de Portugal, interligadas pela narrao da viagem deVasco da Gama.

    Passada esta to prspera vitria,Tornado Afonso Lusitana Terra,

    A se lograr da paz com tanta glriaQuanta soube ganhar na dura guerra,O caso triste e dino da memria,Que do sepulcro os homens desenterra,

    Aconteceu da msera e mesquinha

    Que despois de ser morta foi Rainha.

    Comentrio: O rei Afonso1voltou a Portugal, depois davitria contra os mouros,esperando obter tanta glriana paz quanto obtivera naguerra. Ento aconteceu otriste e memorvel caso dadesventurada que foi rainha

    depois de ser morta, assassinada.Tu, s tu, puro Amor, com fora crua,Que os coraes humanos tantoobriga,Deste causa molesta morte sua,Como se fora prda inimiga.Se dizem, fero Amor, que a sede tuaNem com lgrimas tristes se mitiga, porque queres, spero e tirano,

    Tuas aras banhar em sangue humano.

    Comentrio: O Amor, somente ele, foi quem causou amorte de Ins, como se ela fosse uma inimiga. Dizem queo Amor feroz, cruel, no sesatisfaz com as lgrimas,com a tristeza, masexige, como umdeus severo edesptico, banharseus altares(aras) em sanguehumano: requersacrifcios humanos.

    A palavra prdo, naobra, geralmente se refereaos Mouros inimigos. Nesseverso, parece indicar que Ins

    foi morta com a mesma crueldade que se usava contra eles.

    Estavas, linda Ins, posta em sossego,De teus anos colhendo doce fruito,Naquele engano da alma, ledo e cego,Que a Fortuna no deixa dur ar muito,Nos saudosos campos do Mondego,De teus fermosos olhos nunca enxuito,

    Aos montes insinando e s ervinhasO nome que no peito escrito tinhas.

    Comentrio: Ins estava em Coimbra, sossegada, usufruindo

    1 Entre 1337 e 1340 D. Afonso IV esteve envolvido em guerracontra Castela, tendo sido as trguas assinadas em 10 de Junho desseano (1340).Ainda nesse mesmo ano, a 30 de Outubro, os exrcitoscristos de Afonso XI de Castela e D. Afonso IV, combatendo lado alado, aniquilaram por completo os invasores Mouros (ansiosos porrecuperar o seu antigo poder na P ennsula Ibrica), na clebre Batalhado Salado.

    (colhendo doce fruito) da felicidade ilusria (engano da alma,ledo e cego) e breve (Que a Fortuna no deixa durar muito)da juventude. Nos campos, com os belos olhos midos delgrimas de amor, repetia o nome do seu amado aos montes(para cima, para o alto) e s ervas (para baixo, para o cho) Asformas fruito e enxuito so variantes de fruto e enxuto.Durante muito tempo, enquanto a Lngua Portuguesa sesolidicava, essas variantes foram utilizadas simultaneamente.

    A Lngua Portuguesa acabou por denir fruto e enxuto comoa forma culta. Na poca de Cames, palavras como despois,fruito, enxuito e escuito eramas mais usadas. Ele,ento, prefereestas formaspara seadequar e s t r u t u r apotica deOs Lusadas

    - a oitava rima-, formada porversos decasslabos(hericos ou scos),

    Do teu Prncipe ali te respondiamAs lembranas que na alma lhe moravam,Que sempre ante seus olhos te traziam,Quando dos teus fermosos se apartavam;De noite, em doces sonhos que mentiam,De dia, em pensamentos que voavam;E quanto, enm, cuidava e quanto via

    Eram tudo memrias de alegria.

    Comentrio:As lembranas do Prncipe2respondiam-lhe, empensamentos e em sonhos, quando ele estava longe. Isto , amemria do amado fazia com que Ins conversasse comele, quando este estava ausente. Ambos no se esqueciam umdo outro e se comunicavam atravs da memria, em formade pensamentos e sonhos. Assim, tudo quanto faziam ou viamos fazia felizes, porque lembravam dos respectivos amados.Esta estrofe bastante ambgua. As lembranas do Prncipevinham mente de Ins como resposta aos seus cuidadosamorosos; por outro lado, as mesmas lembranas, agora deIns, existiam (moravam) na alma do prncipe quando estavalonge da amada. Os sonhos e os pensamentos dos versos 5e 6, dois modos de lembranas, pertencem indistintamente ao

    amado e amada. E o sujeito de cuidava e via, no verso 7,tanto pode ser ela quanto o Prncipe.

    De outras belas senhoras e PrincesasOs desejados tlamos enjeita,Que tudo, enm, tu, puro amor, desprezas, Quando um gesto suave te sujeita. Vendo estas namoradas estranhezas,O velho pai sesudo, que respeitaO murmurar do povo e a fantasiaDo lho, que casar-se no queria,

    Comentrio: O Prncipe se recusa a casar com outras mulheres

    2 D. Pedro I, o Justiceiroou o Cruel(o cognome varia emfuno das sensibilidades). Em 1328, ainda infante, casa por palavrasde futuro com D. Branca, lha do rei de Castela. No houve futuro. Oinfante desiste e casa por procurao com D. Constana Manuel, daGaliza.

    4. EPISDIO DE INS DE CASTRO

    Rei Afonso

    Tmulo de Ins

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    (tlamo: casamento, leito conjugal) porque o amor despreza,rejeita tudo que no seja o rosto do amado (gesto signica rosto,semblante) a quem est sujeito. Ao ver este estranho amor, estecomportamento estranho de no querer se casar, o pai sisudo(srio, grave) atende ao murmurar do povo e

    Tirar Ins ao mundo determina,Por lhe tirar o lho que tem preso,Crendo co sangue s da morte ladinaMatar do rme amor o fogo aceso.Que furor consentiu que a espada na,Que pde sustentar o grande pesoDo furor Mauro, fosse alevantada

    Contra ha fraca dama delicada?

    decide matar Ins, para que o lho seja libertado do seuamor. O pai acredita que s o sangue da morte apagar o fogodo amor. Que fria foi essa que fez com que a espada cortanteque afrontara o poder dos Mouros fosse levantada contra uma

    frgil e indefesa mulher?

    Traziam-na os horrcos algozesAnte o Rei, j movido a piedade;Mas o povo, com falsas e ferozesRazes, morte crua o persuade.Ela, com tristes e piedosas vozes,Sadas s da mgoa e saudadeDo seu Prncipe e lhos, que deixava,Que mais que a prpria morte a magoava,

    Comentrio: Quando os horrveis e cruis carrascostrouxeram Ins perante o rei, este j estava compadecido (comd) e arrependido. No entanto, o povo persuadia, incitava orei a mat-la. Ins, ento, com palavras ou com a voz triste,sentindo mais pela dor e saudade do prncipe e dos lhos do

    que pela prpria morte

    Pera o cu cristalino alevantando,Com lgrimas, os olhos piedosos(Os olhos, porque as mos lhe estava atandoUm dos duros ministros rigorosos);E despois, nos mininos atentando,Que to queridos tinha e to mimosos,Cuja orndade como me temia,

    Pera o av cruel assi dizia:

    Comentrio:Levantando os olhos cheios de lgrimas aocu (somente os olhos, porque um carrasco prendia-lheas mos) e, depois, olhando para as crianas - que amavatanto e temia que cassem rfs -, disse para o av cruel(o rei):

    Se j nas brutas feras, cuja menteNatura fez cruel de nascimento,E nas aves agrestes, que somenteNas rapinas areas tem o intento,Com pequenas crianas viu a genteTerem to piedoso sentimentoComo co a me de Nino j mostraram,E cos irmos que Roma edicaram:

    Comentrio:Se j vimos que at os animais selvagens, cujosinstintos so cruis, e as aves de rapina tm piedade com ascrianas, como demostraram as histrias da me de Nino e ados fundadores de RomaSemramis, rainha da Assria e me de Nino, a abandonara

    num monte. Nino foi alimentada por aves de rapina. Rmuloe Remo, fundadores de Roma, foram abandonados quandoinfantes e amamentados por uma loba.

    tu, que tens de humano o gesto e o peito(Se de humano matar ha donzela,Fraca e sem fora, s por ter sujeitoO corao a quem soube venc-la),

    A estas criancinhas tem respeito,Pois o no tens morte escura dela;Mova-te a piedade sua e minha,

    Pois te no move a culpa que no tinha.

    Comentrio: Sendo assim, ele, o rei, que tinha o rosto e ocorao humanos (se que humano matar uma mulher sporque esta ama um homem que a conquistou), poderia aomenos ter respeito e considerao s crianas, ainda que nose importasse com a triste morte da me. Ins suplica, ento,que o rei se compadea dela e das crianas, j que no queria

    perdo-la ou absolv-la de uma culpa, um crime, que no tinhacometido.

    E se, vencendo a Maura resistncia,A morte sabes dar com fogo e ferro,Sabe tambm dar vida, com clemncia,

    A quem peja perd-la no fez erro.Mas, se to assi merece esta inocncia,Pe-me em perptuo e msero desterro,Na Ctia fria ou l na Lbia ar dente,

    Onde em lgrimas viva eternamente.

    Comentrio: E se o rei sabia dar a morte, como o mostraraao vencer os Mouros, tambm saberia dar a vida a quem erainocente. Mas, se apesar da sua inocncia, ainda a quisessecastigar, que a desterrasse, expulsasse, para uma regio

    gelada ou trrida, para sempre.

    Pe-me onde se use toda a feridade,Entre lees e tigres, e vereiSe neles achar posso a piedadeQue entre peitos humanos no achei.

    Ali, co amor intrnseco e vontadeNaquele por quem mouro, criareiEstas relquias suas que aqui viste,

    Que refrigrio sejam da me triste.)

    Comentrio: Que ele a colocasse entre as feras, onde poderiaencontrar a piedade que no achara entre os homens. Ali,por amor daquele por quem morria ou sofria, criaria os lhos,

    que era recordaes do pai e seriam consolao da me.

    Queria perdoar-lhe o Rei benino,Movido das palavras que o magoam;Mas o pertinaz povo e seu destino(Que desta sorte o quis) lhe no perdoam.

    Arrancam das espadas de ao noOs que por bom tal feito ali apr egoam.

    Contra ha dama, peitos carniceiros,Feros vos amostrais e cavaleiros?

    9www.portalimpacto.com.br

    Comentrio: o rei bondosoqueria perdoar Ins, comovidopor suas palavras. Mas opovo obstinado, persistente eo destino de Ins (que assimo quis) no lhe perdoaram.Os que proclamavam que eladeveria morrer puxam suasespadas. Mostram-se valentesatacando uma dama.

    Qual contra a linda moaPolicena,Consolao extrema dame velha,Porque a sombra de Aquiles

    a condena,Co ferro o duro Pirro se aparelha;Mas ela, os olhos, com que o ar serena

    (Bem como paciente e mansa ovelha),Na msera me postos, que endoudece,

    Ao duro sacrifcio se oferece:

    Comentrio: Assim como Pirro (Os gregos, persuadidos deque Polixena tinha organizado uma cilada, ao apoderarem-seda cidade de Tria, desvaneceram-se sua procura. Pirro,lho de Aquiles, que os gregos tinham ido buscar para quetomasse o lugar de seu pai no exrcito, descobriu-a e imolou-asobre a sepultura do heri.) se prepara com a espada (ferro)para matar Policena (Filha de Pramo), por ordem do fantasmade Aquiles, e ela - mansa e serenamente -, movendo os olhospara a me, enlouquecida de dor, oferece-se ao sacrifcio

    Aquiles, heri da guerra de Tria, era invulnervel por tersido submergido, logo ao nascer, na gua da lagoa Estgia(Lagoa da Morte). Personagem da Ilada de Homero, morreudurante a guerra de Tria, quando foi atingido por uma seta nocalcanhar, o nico ponto vulnervel do seu corpo. Pirro, lhode Aquiles, teria sido aconselhado pelo fantasma (sombra)do pai a matar Policena, noiva do heri morto. Matou-a quandoesta se encontrava sobre o tmulo de Aquiles.

    Tais contra Ins os brutos matadores,No colo de alabastro, que sustinha

    As obras com que Amor matou de amores

    Aquele que despois a fez Rainha,As espadas banhando e as brancas ores,Que ela dos olhos seus regadas tinha,Se encarniavam, fervidos e irosos,

    No futuro castigo no cuidosos.

    Comentrio: Do mesmo modo agem os cruis assassinosde Ins. No pescoo (colo) que sustenta o belo rosto (asobras: o sorriso, o olhar, os movimentos do rosto) pelo qualse apaixonou (o deus Amor, Cupido, fez morrer de paixo)o prncipe, que depois a far rainha, eles (os matadores)banham, lavam suas espadas e tambm as faces plidas(brancas ores) e molhadas de lgrimas de Ins; atacavamenraivecidos, sem pensarem no castigo que o futuro lhesreservava. Cames supe que Ins foi degolada, comoPolicena oferecendo o pescoo ao golpe, e o s angue escorreusobre seu rosto.

    Bem puderas, Sol, da vistadestes,Teus raios apartaraquele dia,Como da seva mesade Tiestes,Quando os lhos pormo de Atreu comia!Vs, cncavosvales, que pudestes

    A voz extrema ouvir daboca fria,O nome do seu Pedro,que lhe ouvistes,Por muito grande espaorepetistes.

    Comentrio: Naquele dia, o sol deveria ter-se escondido,como zera quando Tiestes comeu os prprios lhos em umbanquete servido por Atreu, para no ver o terrvel crime. Altima palavra de Ins - o nome de Pedro, o prncipe - ecooulonga e repetidamente atravs da regio. Cames iguala acrueldade da morte de Ins da histria de Atreu e Tiestes.Tiestes era lho de Plops e irmo de Atreu. Seduziu a esposado irmo. Atreu deu a comer a Tiestes os lhos que nasceramdaquela unio.

    Assi como a bonina, que cortadaAntes do tempo foi, cndida e bela,Sendo das mos lascivas maltratadaDa minina que a trouxe na capela,O cheiro traz perdido e a cor murchada:Tal est, morta, a plida donzela,Secas do rosto as rosas e perdida

    A branca e viva cor, co a doce vida.

    Comentrio: Como uma or colhida precocemente pelas mostravessas (lascivas) de uma menina para coloc-la numagrinalda (capela), assim est Ins, sem perfume e sem cor.Morta, plida, com as faces (do rosto as rosas) secas, murchas,sem rubor. O padro de beleza feminino era uma combinao debranco na testa, colo, etc. (branca e viva cor ) e vermelho (viva

    cor) nas rosas do rosto.

    As lhas do Mondego a morte escuraLongo tempo chorando memoraram,E, por memria eterna, em fonte pura

    As lgrimas choradas transformaram.O nome lhe puseram, que inda dura,Dos amores de Ins, que ali passaram.Vede que fresca fonte rega as ores,Que lgrimas so a gua e o nome Amores.

    Comentrio: As ninfas do Mondego (rio de Portugal), durantemuito tempo, lembraram chorando a morte de Ins. E, parasua memria eterna, as lgrimas transformaram-se numafonte chamada dos amores de Ins, acontecidos ali. A fonteque rega as ores refrescante porque feita de lgrimas ede amores.

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    Introduo ao Barroco

    NO BRASIL1. GREGRIO DE MATOS GUERRA

    3. CONTEXTO HISTRICO BRASILEIRO

    2. CARACTERSTICAS LITERRIAS:

    CONTEXTO HISTRICO MUNDIAL

    O Barroco1 (Seiscentismo-1601) vai reetir a luz contraditria do seu tempo. Abre-se ajanela no sculo XVII, e vemos uma Europa perdida em conitos de ordem religiosa, econmica,social e poltica, conforme vemos abaixo:

    1.1-O trmino do ciclo das grandes navegaes;1.2-O capitalismo mercantilista se desenvolve contribuindo para o aumentar a inuncia

    da burguesia;

    A Reforma protestante2, movimento religioso, que foi liderada por Lutero e Calvino; Contra-Reforma3 em reao Reforma marcando tambm a ciso da Igreja Catlica.

    A poesia de Gregrio de Matos religiosa (Sacro) e lrica.Absolutamente conforme com a esttica do Barroco, abusa de guras

    de linguagem (Antteses, Paradoxos, Hiprboles, Hiprbatos);faz uso do estilo cultista4 e conceitista5, atravs de jogos depalavras (Ludismo) e raciocnios sutis. As contradies souma constante em seus poemas, oscilando entre o sagradoe o profano, o sublime e o grotesco, o amor e o pecado, abusca de Deus e os apelos terrenos.

    Tambm verca-se no Barroco brasileiro o uso dastira ferina, azeda e mordaz, usando, s vezes, palavrasde baixo calo, da seu epteto Boca do Inferno. Critica todos

    os aspectos da sociedade baiana, particularmente o cleroe o portugus. A atitude nativista que disso resulta apenas

    conseqncia da situao na Colnia brasileira.

    No Brasil o Barroco foi inaugurado com a publicao do poema pico Prosopopia (1601), de Bento Teixeira. O Brasil aindase estruturava scio-economicamente como pas-colnia de base aucareira. Somente a Bahia e Pernambuco produziamalguma atividade cultural. O Brasil-Barroco marcado tambm pela expulso denitiva dos franceses (1615) e pelas invasesholandesas, na Bahia (1624) e em Pernambuco (1630)

    O termo barroco, usado na lngua portuguesa do sculo XVI para designar umaprolade forma irregular.

    . Uma das causas importantes da Reforma Protestantefoi o humanismo evangelista, crtico da Igreja da poca. A Igrejahavia se afastado muito de suas origens e de seus ensinamentos, como pobreza, simplicidade, sofrimento. No sculo XVI,o catolicismo era uma religio de pompa, luxo e ociosidade. Surgiram crticas em livros como o Elogio da Loucura(1509),de Erasmo de Rotterdam, que se transformaram na base para que Martinho Luteroefetivasse o rompimento com a igrejacatlica

    . A Contra-Reforma, ou Reforma Catlica, foi uma barreira colocada pela Igreja contra a crescente onda do protestantismo.Para enfrentar as novas doutrinas, a igreja catlica lanou mo de uma arma muito antiga: a Inquisio. O Tribunal da Inquisiofoi muito poderoso na Europa nos sculos XIII e XIV, No decorrer do sculo XV, porm, perdeu sua fora. Entretanto, em 1542este tribunal foi reativado para julgar e perseguir indivduos acusados de praticar ou difundir as novas doutrinas protestantes.

    . Valorizao de forma e imagem, jogo de palavras, uso de metforas, hiprboles, analogias e comparaes. Manifesta-seuma expresso da angstia de no ter f.

    . Valorizao do contedo/conceito, jogo de idias atravs do raciocnio lgico. H o uso da parbola com nalidade msticae religiosa.

    Frente Ficha

    01

    03

    4 - GREGRIO DE MATOS (1623-1696)

    Filho de dalgo portugus e deme brasileira, cursou humanidades comos Jesutas da Bahia e se formou emDireito pela Universidade de Coimbra.Passou a advogar em Lisboa, ocupandocargos de magistratura. Por sua stira,foi obrigado a voltar Bahia e, aqui,esta foi aguada, tornando-o motivode reaes e perseguies. Acaboudeportado para Angola, retornando umano antes de morrer em Pernambuco.

    a) Sacro Religiosa

    Pequei, Senhor, mas no porque hei pecado,Da vossa alta clemncia me despido; Porque quanto mais tenho delinqido,Vos tenho a perdoar mais empenhado.

    Se basta a vos irar tanto pecado,A abrandar-vos sobeja* um s gemido:Que a mesma culpa que vos h ofendido,Vos tem para o perdo lisonjeado.Se uma ovelha perdida e j cobrada Glria tal e prazer to repentinoVos deu, como armais na sacra histria,Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,Cobrai-a; e no queirais, pastor divino,Perder na vossa ovelha a vossa glria.

    b) Lrico Amorosa

    Anjo no nome, Anglica na cara!

    Isso ser or, e Anjo juntamente:Ser Anglica or, e Anjo orente*Em quem, seno em vs, seuniformara?

    Quem vira uma tal or, que a no cortara, De verde p, da rama orescente?

    A quem um Anjo vira to luzenteQue por seu Deus o no idolatrara?Se pois como Anjo sois dos meus altares,Freis o meu custdio*, e minha guarda,Livrara eu de diablicos azares.Mas vejo que to bela, e to galharda,Posto que* os Anjos nunca do pesares,Sois Anjo, que me tenta, e no me guarda.

    c) Satrica

    A cada canto um grande conselheiro,

    Quer nos governar cabana e vinha, Nosabem governar sua cozinha,E podem governar o mundo inteiro.

    Em cada porta um freqenteolheiro,Que a vida do vizinho, e davizinhaPesquisa, escuta, espreita eesquadrinha,Para a levar Praa e ao Terreiro.

    Muitos mulatos desavergonhadosTrazidos pelos ps os homens nobres, Posta nas palmas toda a picardia.*

    Poesia Filosfca

    Nasce o Sol, e no dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura,Em contnuas tristezas a alegria.Porm, se acaba o Sol, por que nascia? Se to formosa a Luz, por que no dura?Como a beleza assim se transgura? Como o gosto da pena assim se a?(...) Comea o mundo enm pelaignorncia,E tem qualquer dos bens por natureza

    A rmeza somente na inconstncia.

    A OBRA DE GREGRIO DE MATOS GUERRA:

    Em 1850, o historiador Francisco Adolfo de Varnha-

    gen publicou 39 dos seus poemas na colectnea Floril-gio da Poesia Brasileira (em Lisboa). Afrnio Peixoto edita a restante obra, de1923 a 1933, em seis volumes a cargo da AcademiaBrasileira de Letras, excepto a parte pornogrcaque aparecer publicada, por m, em 1968, por Ja-mes Amado. A sua obra tinha um cunho bastante sat-rico e moderno para a poca, alm de chocar peloteor ertico, de alguns de seus versos. Entre seus grandes poemas est o A cadacanto um grande conselheiro, no qual critica os gover-nantes da cidade da Bahia de sua poca. Esta crtica, no entanto, atemporal e universal - os grandes conselhei-ros no so mais que os indivduos (polticos ou no) que nosquer(em) governar cabana e vinha, no sabem governar sua cozinha, mas podem governar o mundointeiro. A gura do grande conselheiro a gura do hipcrita que aponta os pecados dos outros, semolhar aos seus. Em resumo, aquele que aconselha mas no segue os seus preceitos.

    Aplicaes noCaderno de Exerccios

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    Consideraes Gerais do

    BARROCOFrente

    Ficha

    01

    04

    Algumas caractersticas da linguagem barroca mere-cem especial ateno pela sua peculiaridade e pelo uso quefoi sendo feito de algumas delas em escolas posteriores. Requinte Formal (Obscuridade): voc deve notar queo nvel lingstico dos textos so sticado ou seja, suasconstrues sintticas so elaboradas com vocbulos de n-vel elevado. O Barroco literrio foi uma arte da aristocracia eesse re namento era desejado por seu pblico consumidor,porque lhe conferia status:

    Veja que as palavras empregadas por Gregrio sopouco usuais, no esto no dia-a-dia, e essa uma das mar-cas do requinte formal. Figurao (Similaridades):em vez de dizer as coisasde forma direta e objetiva, o texto barroco prefere a gu-rao, a sugesto por meio de metforas, de comparaes,smbolos e alegorias.

    Aqui a mulher comparada ao Sol (estimula o ardor)e ao Anjo (smbolo da pureza).

    Conito Espiritual (Fusionismo/Dualismo): o ho-mem barroco sente-se dilacerado e angustiado diante daalterao dos valores, dividindo-se entre o mundo espirituale o mundo material As guras que melhor expressam esseestado de alma so a anttese e o paradoxo .

    Observe que o poeta argumenta que o pecado pa-radoxalmente o motivo da ira e da alegria de Deus. Temas Contradit rios (Jogo de Claro/Escuro ):h o gosto pela confrontao violenta de temas opostos,como amor/dor, vida/morte, juventude/velhice, pecado/perdo, etc.

    Viso que o poeta tem da terra, local de sofrimento,mas tambm de luz. Isso refora o aspecto contraditrio dapoesia barroca na qual gura feminina vista como um serambguo, que realiza simultaneamente uma seduo mstica(religiosa) e carnal (profana). A Efemeridade do Tempo e o Carpe Diem: o ho-mem barroco tem conscincia de que a vida terrena ef-mera, passageira, e por isso, preciso pensar na salvaoespiritual. Mas, j que a vida passageira, sente, ao mesmotempo, desejo de goz-la antes que acabe, o que resultanum sentimento contraditrio, j que gozar a vida implicapecar, e, se h pecado, no h salvao. Diante disso, nota-seum horror diante da passagem do tempo.

    Nesse trecho h o convite amada para que ela apro-veite a vida enquanto est jovem.

    2. A LINGUAGEM BARROCA

    Convivendo com o sensualismoe os prazeres materiais tra-

    zidos pelo Renascimento,os valores espirituais - tofortes na Idade Mdia edesprezados pelo Renas-

    cimento - voltaram a exer-cer forte inuncia sobre amentalidade da poca. Uma

    nova onda de religiosidade foitrazida pela Contra-Reforma e

    pela fundao da Companhia deJesus. O que decorreu da fo-ram naturalmente sentimentoscontraditrios, j que o homemestava dividido entre valoresopostos. E a arte barroca, que

    exprime essa contradio, igualmente oscila entre o clssi-co (e pago) e o medieval (cristo), apresentando-se comouma arte indisciplinada. Comparado aos outros dois movi-mentos que integram a Era Clssica, o Classicismo e o Arca-dismo, o Barroco representa um desvio da orientao clssi-ca, j que procurava, ao mesmo tempo, fundir a experinciarenascentista ao reavivamento da f crist medieval. Punhaem risco, assim, certos princpios muito prezados pela tra-dio clssica, como o predomnio da razo e o equilbrio.Resumindo, a literatura Barroca tenta conciliar duas concep-es de mundo opostas, a medieval e a renascentista, demaneira que valores como a autoconanca humana e a bus-ca de prazeres mundanos trazidos pelo Renascimento, queera caracterizado pelo racionalismo, equilbrio, clareza, fun-dem-se a valores espirituais trazidos pela Contra-Reforma,com idias medievais, teocntricas e subjetiva. Nasce entouma forma de viver conituosa, expressa na arte barroca.

    nau en m, que em breve ligeireza,Com presuno de Fnix generosa,Galhardias apresta, alentos preza.

    Se basta a vos irar tanto pecadoA abrandar-vos sobeja um s gemidoQue a mesma culpa, que a vos ofendido,Vos tem para o perdo lisonjeado.

    Lugar de glria, adonde estou penandoCasa da morte, adonde estou vivendo! OuMas vejo, que por bela, e por galharda,Posto que os Anjos nunca do pesares,Sois Anjo, que me tenta, e no me guarda.

    Goza, goza da or da mocidade,Que o tempo trota a toda ligeireza,E imprime em toda or sua pisada.

    Ontem a vi por minha desventuraNa cara, no bom ar, na galhardiaDe uma mulher, que em Anjo se mentia;De um sol, que se trajava em criatura(...)

    1. CONSIDERAES GERAIS

    Utilizao de uma linguagem que varia em nvel: vai

    do mais culto ao mais vulgar, usando mesmo, palavras debaixo calo. Gregrio de Matos chegaa usar expresses indgenas,para criticar o comportamentohipcrita da sociedade baiana.

    As suas caracter sticasfundamentais so:

    Conceptismo argumentaoapurada uso de vrias tcnicas de argumentao,dentre elas a citao

    Cultismo uso de analogiassensoriais, jogo de palavras,ludismo e gurativo; Contradio e exagero

    tendncia ao grotesco,com imagens estranhamentecontraditrias que revelam oconito do eu-lrico. Temtica diversi cada que vaido amor, passa pela fugacidade(transitoriedade das coisas) eda contrio (arrependimento). Melancolia, tdio, impotncia,desequilbrio e contrio.

    As questes 1 e 2 referem-se aopoema abaixo:

    Desenganos da vida humana, metaforicamente

    a vaidade, Fbio, nesta vida,Rosa, que da manh lisonjeada,

    Prpuras mil, com ambio dourada,Airosa rompe, arrasta presumida. planta, que de abril favorecida,Por mares de soberba desatada,Florida galeota empavesada,

    Sulca ufana, navega destemida. nau en m, que em breve ligeireza

    Com presuno de Fnix generosa,Galhardias apresta, alentos preza:

    Mas ser planta, ser rosa, nau vistosaDe que importa, se aguarda sem defesaPenha a nau, ferro a planta, tarde a rosa?

    In: - NICOLA, Jos de. Literatura Brasileira. Dasorigens aos nossos dias. So Paulo: Scipione,

    1998.

    Vocabulrio:

    airosa = elegantepresumida= vaidosasoberba = arrognciadesatada = soltagaleota= embarcao de pequeno porte

    empavesada = enfeitadaufana = vaidosaapresta = prepara com rapidezpenha = rochedo

    Na Espanha do sculo XVII, dentro do padro bar-roco, aparecem essas duas designaes literrias que setornam smbolos do exagero verbal e de certa obscurida-de do pensamento. Assim: Cultismo: o rebuscamento formal, caracterizadopelo jogo de palavras e pelo excessivo emprego de gu -ras de linguagem. Tambm conhecido como gongorismo,pela inuencia do estilo do poeta espanhol Lus de Gn-gora, o cultismo explora efeitos sensoriais, tais como cor,tom, forma, volume, sonoridade, imagens violentas e fan-tasiosas - en m, recursos que sugerem a superao doslimites da realidade.

    Ocorre a, de a mulher ser vista como um sol (quen-te); o cultismo est nessa analogia sensorial.

    Cultismo: Ludismo metafrico forma perfeita qualquer preo.

    Busca da perfeio formal atravs de um estilo rebuscado. Utilizao contnua metforas sensoriais e cromatismo Uso de hiprbatos (inverses sintticas) de modo freqentes.

    Conceptismo: (do espanhol concepto, idia) o jogo de idias, constitudo pelas sutilezas do raciocnioe do pensamento lgico, por analogias, etc. Embora sejamais comum o cultismo manifestar-se na poesia e o con-ceptismo na prosa, perfeitamente normal apareceremambos em um mesmo texto.

    Para conseguir o perdo divino o eu-potico procurausar os trechos do livro sagrado, jogo de seduo intelectual.

    Conceptismo:Argumentao arguta e persuasiva Tentativa de dizer o mximo com o mnimo depalavras. Emprego de elipses, duplos sentidos, paradoxos

    e alegorias. Requinte expressivo e sutileza das idias,Silogismo: duas premissas e uma concluso Disseminao eRecolha: palavras espalhadas e recolhidas Referencialismo:citaes bblicas.

    SnteseSEISCENTISMO (SC. XVII)Idade Moderna: in uncia clssica. Corrupo e explorao em Salvador-BA. Unicao Ibrica (1580 - 1640)

    3. A CULTISMO E CONCEPTISMO

    4. LINGUAGEM: PORTUGUS MODERNO E EXPRESSES LOCAIS:

    Ontem a vi, por minha desventuraNa cara, no bom ar, na galhardiaDe uma mulher, que em Anjo se mentia,De um Sol que se trajava em criatura.

    Se uma ovelha perdida e j cobradaGlria tal e prazer to repentinoVos deu, como a rmais na sacra histria;Eu sou senho a ovelha desgarrada.

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    O Arcadismo

    EM PORTUGAL1. ASPECTOS GERAIS

    CONTEXTO HISTRICO O sculo XVIII cou conhecido como o Sculo das Luzes, claro que um bom aluno perguntaria: por qu?. E a explicao clara.O sculo XVIII foi palco de trs importantssimas revolues que pretenderam afastar o homem das trevas do medievalismo Barroco deacordo com a viso renascentista. Os Iluministas foram homens que tentaram explicar luz da razo e da cincia a verdade dos fatos. Assim, a razo e a cincia constituem paraestes homens as LUZES s quais o sculo se refere. A Inconfidncia Mineira foi fundamental porque des ocou o eixo scio-econmico cultural da Bahia (onde ocorrera o Barroco) para MinasGerais onde se teve na poca o CICLO DO OURO. E a revoluo industrialfoi vital porque deniu profundas transformaes sociais, polticas e econmicas. Pois, com o avano cientcosurgiram as indstrias e os centros urbanos. A vida deixou de ser rural para se tornar urbana. As fbricas reuniram em torno de si grandes aglome-

    rados populacionais e a atmosfera calma e pacata dos centros populacionais iniciais ceder lugar agitao e ao burburinho prprio das cidadesde nosso tempo. Por esse motivo que os homens esclarecidos, iluminados da poca preferiram o campo ao invs da cidade. Essa a maior caracte-rstica da escola rcade.

    2. CARACTERSTICAS DO ARCADISMO

    1. Revalorizao da cultura clssica:cultura clssica toda cul-tura pertinente s civilizaes da Antigidade clssica: Grcia eRoma. Os conceitos greco-romanos (ou greco-latinos) so resga-tados no Arcadismo porque os povos clssicos foram exemplosde equilbrio e de racionalidade.Como os rcades valorizavam a razo, logo os conceitos greco-lati-nos foram tambm revalorizados.2. Racionalismo:como foi dito anteriormente a escola rca-de baseada nos princpios greco-latinos apresenta a suprema-cia da razo sobre a emoo, como conseqncia do desen-volvimento tcnicocientfico do sculo XVIII.3. Bucolismo:lingisticamente a qualidade de bucli-co (relativo vida e costumes do campo), no Arcadismo seentende esta caracterstica como a exaltao da beleza docampo e de sua cultura em detrimento da vida citadina.Ex.: Ver as longas Campinas retalhadasDe trmulos ribeiros; claras fontes,E lagos cristalinos onde molhaAs leves asas do lascivo vento....

    (Baslio da Gama)

    4. Pastoralismo: o poeta, desnorteadocom o avano da urbanizao das cidades,ao criar, se evade para um ambiente campestreonde se situa como um pastor, inclusive adotando um PSEUD-NIMO (pseudo = falso e nimo = nome) pastoril.Ex.: So estes os prados,Aonde brincava,Enquanto pastavaO gordo rebanho

    Que Alceu lhe deixou?.5. Uso de palavras latinas:devido revalorizao clssica greco--romana o LATIM lngua falada na Roma Antiga utilizado paracompor caractersticas da escola rcade.

    Fugere Urban: devido ao burburinho dos centros urbanosno sculo XVIII o poeta rcade desejou fugir da cidadepara um lugar no corrompido pela civilizao. Lcus amoenus:ao fugir da agitao dos centrosurbanos o poeta rcade buscou estalar-se num lugar ameno,

    calmo, pacato... o campo. Carpe diem:ao chegar no local desejado o poeta deveriaaproveita-lo o mximo possvel da a utilizao do termo carpediem, isto , aproveite o dia, alm de que o homem rcade

    tinha a conscincia de que a vida terrena se nda, por isso anecessidade de aproveitala o quanto possvel. Inutilia truncat:princpio rcade de imitao da sim-

    plicidade formal dos clssicos contrria ao rebuscamentodo Barroco. O termo significa cortar as inutilidadespara o poeta rcade o rebuscamento barroco retiravaa objetividade do texto tornando-o de difcil leitura, oque no era propsito dos rcades. J a simplicidadepor meio da moderao da linguagem e da emoo

    era obtida da natureza calma e amena. urea mediocritas:ngir que eram pastores foi a sada en-

    contrada pelos rcades para realizar (na imaginao) o ideal damediocridade dourada, isto , a louvao vida equilibrada,espontnea, humilde, em contato com a natureza. Em Latim, otermo urea mediocritas entendido como paz de esprito eeste era o ideal rcade da existncia.

    CURIOSIDADE

    Voc sabe por que o Arcadismo recebeueste nome? Arcdia, segundo a mitologiaera um monte que cava na Grcia Anti-ga. Tal monte era habitado pelo deus P(o deus das pastagens) que vivia l comseus amigos pastores e algumas ninfas.

    3. MANOEL MARIA DU BOCAGE

    Frente Ficha

    01

    05

    MANOEL MARIA DU BOCAGEPoeta lrico neoclssico portugus, que tinha pretenso a vir a ser um segundo

    Cames, mas que dissipou suas energias numa vida agitada. Nasceu em Setbal,em 15/09/1765 e morreu em Lisboa (21/12/1805), aos 40 anos de idade, vtimade um aneurisma. Ingressou na Nova Arcdia usando o pseudnimo de ElmanoSadino, tambm conhecido como poeta obsceno e ertico na autoria de algunssonetos satricos. Notamos em sua obra o predomnio de uma sensibilidadedo poeta; ao mesmo tempo uma sensibilidade sobre a razo, valorizando osentimentalismo, marcado por um profundo sofrimento, pelo cime e o abandono,gerando um gosto pelo lado escuro da vida e tendo como nica soluo para seusproblemas a morte, o que marca de certa forma a sua chegada ao Romantismo.

    COMPREENSO TEXTUALSONETO I

    tranas, de que Amor priso me tece, mos de neve, que regeis meu fado! Tesouro! mistrio! par sagrado,Onde o menino algero(1)adormece!

    ledos(2)olhos, cuja luz pareceTnue raio do sol! gesto(3)amado,

    De rosas e aucenas semeadoPor quem morrera esta alma, se

    pudesse! lbios, cujo riso a paz me tira,E por cujos dulcssimos favores

    Talvez o prprio Jpiter(4)suspira! perfeies! dons encantadores!

    De quem sois?... Sois de Vnus?(5) mentira; Sis de Marlia, sois de meus amores.

    Glossrio1- Cpido / Literalmente, algero signica rpido ligeiro.2- Risonho alegre.

    3- Signica rosto, muito comum na poesia clssica.4- Deus supremo, o pai de todos.5 - Deusa da beleza e do amor.Comentrios:

    Tal soneto exemplica a esttica rcade. Neste,

    observamos a presena da natureza, bem como de guras

    mitolgicas como Vnus e Jpiter. O poema construdo

    tomando como tema oposio beleza e o seu efeito sobre

    o poeta. As mos da tgide tecituram o fado do poeta e os

    lbios da musa tiram a sua paz. A beleza dionisaca da

    mulher amada demonstrada ao longo do poema e, ao nal,

    a mulher ser comparada a Vnus (Afrodite), deusa da

    beleza e do amore transparece tanto a mesma beleza, que

    mesmo Jpiter (Zeus) por ela suspira apaixonado.

    Soneto IIImportuna Razo, no me persigas;Cesse a rspida voz que em vomurmura;Se a lei do Amorse fora daternuraNem domas, nem contrastas,nem mitingas:(1)

    Se acusas os mortais, e os noabrigas,

    Se (conhecendo o mal) no ds a cura,Deixa-me apreciar minha loucura,Importuna Razo, no me persigas. teu m, teu projeto encher de pejo(2)

    Esta alma, frgilvtima daquelaQue, injusta e vria, noutros laos vejo:Queres que fuja de Marlia bela,Que a maldiga, a desdenhe; e meu desejo carpir,(3)delirar, morrer por ela.Glossrio1 amansar, abrandar; 2- vergonha, pudor/ 3. sofrer, chorarComentrios: Nesse soneto fazem-se presentes traos do

    Arcadismo e tambm da esttica romntica. Marlia est emoutros laos, este ltimo vocbulo pode receber a conotaodo termo outros braos. Essa viso real, essa ImportunaRazo persegue o eu-lrico, que, aos invs de lhe dar ouvidos,prefere apreciar sua loucura. A Razo que per sonicada pelouso de iniciais maisculas, pede para o eu-lrico fuja da mulheramada, contudo, seu desejo carpir, delirar, morrer por ela.

    notrio neste poema a existncia de um conito entre a razorcade e a subjetividade romntica.

    SONETO III

    Oh retrato da morte, ohNoite amigaPor cuja escuridosuspiro h tanto!Calada testemunha demeu pranto,De meus desgostossecretria antiga!Pois manda Amor, que a ti somente os digaD-lhes pio(1) agasalho no teu manto;Ouve-os, como costumas, ouve, enquantoDorme a cruel, que a delirar me obrigaE vs, oh cortesos da escuridadeFantasmas vagos, mochos(2) piadores,Inimigos, como eu, da claridade!

    Em bandos acudi aos meus clamores;Quero a vossa medonha sociedade,Quero fartar meu corao de horrores.Glossrio1 piedoso.2- espcie de coruja.Comentrios: Bocage, neste poema, anuncia a vinda doRomantismo. A morte se faz presente, confunde-se com anoite e amiga do eu-lrico, mais que isso, ela a Caladatestemunha do seu pranto. Alm disso, surgem fantasmas emochos, guras noturnas, que tal como o poeta so inimigos daclaridade. Claridade essa que no deve ser vista simplesmentecomo luz, mas sim como metforas da luz do conhecimentoe da razo, que se ope noite, ou seja, a incerteza, aosmistrios da alma, porm, essa atmosfera romntica, queenvolve o eu-lrico, no atinge a mulher amada, que alheia a

    tudo isso, dorme tranqilamente.

    SONETO IVMeu ser evaporei na lida (1)insana

    Do tropel(2)de paixes, que me arrastavaAh! Cego eu cria, ah! msero eu sonhava

    Em mim quase imortal a essnciahumana.

    De que inmeros sis a mente ufana(3)

    Existncia falaz me no dourava!Prazeres, scios meus e meus tiranos!

    Esta alma, que sedenta em si no coubeNo abismo vos sumiu dos desenganos.

    Deus, Deus!... Quando a morte luz me roubeGanhe um momento o que perderam anos,

    Saiba morrer o que viver no soube.Glossrio1- Vida2- Grande confuso, desordem3- Que se orgulha de algoComentrios:

    Esse soneto, de tom confessional, um dos poemas de

    Bocage mais reproduzidos no Brasil. Ele foi escrito pouco antes

    da morte de Bocage e outro exemplo do pr-romantismo,

    porque a emoo, mais uma vez contrada pela rigidez do

    verso. No poema, o eu-lrico nos mostra como a sua vida foi

    consumida em prazeres e amores. No ltimo terceto ele

    invoca Deus, arrepende-se dos erros cometidos em vida e,

    mostrando que est totalmente reconciliado com a religio,

    espera encontrar na eternidade o perdo Divino.

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    Cantiga Lrica de Amor

    TROVADORISMOFrente

    Ficha

    02

    01

    NAQUELE TEMPO ... (CONTEXTO HISTRICO):

    A partir desse sculo,Portugal comeava a armar-se como reino independente,

    embora ainda mantivesselaos econmicos,sociais e culturais

    com o restante daPennsula Ibrica.

    Desses laos surgiu,prximo Galcia (regio

    ao norte do rio Douro),uma lngua particular, de traos

    prprios, chamada galego-portugusque consolida-se como lngua

    falada e escrita da Lusitnia . Os rabes so expulsos parao sul da pennsula, onde surgem os dialetos morabes. Emgalego-portugus so escritos os primeiros documentosociais e textos literrios no latinos da regio, como oscancioneiros(coletneas de poemas medievais), surgindoos Trovadores Medievais. O perodo histrico em que surgiu oTrovadorismo foi marcado por um sistema econmico e polticochamado Feudalismo, que consistia numa hierarquia rgidaentre senhores: um deles, o suserano, fazia a concesso deuma terra (feudo) a outro indivduo, o vassalo. O suserano, noregime feudal, prometia proteo ao vassalo como recompensapor certos servios prestados. Essa relao de dependnciaentre suserano e vassalo era chamada de vassalagem. Almda casta da nobreza e dos servos, havia ainda um outro gruposocial: o clero. Nessa poca, o poder da Igreja era bastanteforte, visto que o clero possua grandes extenses de terras,alm de dedicar-se tambm poltica. Os conventos eramverdadeiros centros difusores da cultura medieval, poisera neles que se escolhiam os textos loscos a serem

    divulgados, em funo da moral crist. A religiosidade foi umaspecto marcante da cultura medieval portuguesa. A vida dopovo lusitano estava voltada para os valores espirituaise a salvao da alma . Nessa poca, eram freqentesas procisses, alm das prprias Cruzadas - expediesrealizadas durante a Idade Mdia, que tinham como principalobjetivo a libertao dos lugares santos, situados na Palestinae venerados pelos cristos. Essa poca foi caracterizada poruma viso teocntrica(Deus como o centro do Universo). Atmesmo as artes tiveram como tema motivos religiosos. Tantoa pintura quanto a escultura procuravam retratar cenas davida de santos ou episdios bblicos. Quanto arquitetura,o estilo gtico o que predominava, atravs da construode catedrais enormes e imponentes, projetadas para o alto, semelhana de mos em prece tentando Tocar o cu.

    Classes Sociais: Nobreza (classe que pertenciam ossuseranos)Servos- classe dos vassalos.Clero - possua grandes extenses de terras, alm de dedicar-

    se tambm poltica.Trovador - alta nobreza ou clero, msico, poeta quecompunham a letra e a msica de canes. Em geral umapessoa cultaSegrel- nobre decadente, poeta, cantor. dalgos desqualicadosque iam de corteem corte, acompanhados por um jogralJogral - cantores e tangedores ambulantes, geralmente deorigem plebia

    Menestrel cantores, msicos-poetas sedentrios; viviam nacasa de um dalgo, enquanto o jogral andava de terra em terraSoldadeira- mulheres que acompanham os jograis.

    O INCIO DO TROVADORISMO. A poca do trovadorismo abrange as origens daLngua Portuguesa, a lngua galaico-portuguesa (o portugusarcaico) compreende o perodo de 1189 a 1418. A tradiohistrica considera como o primeiro texto literrio portugusuma cantiga (poema musicalizado com viola, a harpa, alira e o alade as vezes, acompanhadas por bailarinos eartitas circenses - Os trovadores medievais escreviam empergaminhos) escrita por Paio Soares de Taveirs, datada de1189 ou 1198. O poema foi dedicado a d. Maria Pais Ribeiro

    apelidada de Ribeirinha. Esta cantiga cou conhecida comocantiga da Guarvaia. As cantigas, primeiramente destinadasao canto, foram depois manuscritas em cadernos deapontamentos, que mais tarde foram postas em coletneas decanes chamadas Cancioneiros (livros que reuniam grandenmero de trovas).No mundo nom me sei parelha,mentre me for como me vai,ca j moiro por vs-e ai !mia senhor branca e vermelha,queredes que vos retraiaquando vos eu vi em saia!Mao dia me levantei,que vos enton non vi fea!E mia senhor, des quel di, ai!me foi a mi muin mal,e vs, lha de Don PaaiMoniz, e bem vos semelhad aver eu por vs guarvaia,

    pois eu, mia senhor, d alfaianunca de vs ouve nen eivalia dua correa.

    1. RESUMO TERICO

    Aumente seu vocabulrio:

    A Trova possui o seu conceito plenamenteestabelecido: o poema de quatro versos setisslabos comrima e sentido completo. J Quadra toda estrofe formadapor quatro linhas de uma poesia Trovador uma palavrada lngua d oc, acusativo singular de trobaire (poeta),proveniente do verbo trobar (inventar, achar).Gnero Lrico- neste gnero, o amor a temtica predominante. Sodivididos em cantiga de amor e de amigo.

    Nestas Cantigas de autoria masculina, o eu-lrico masculino. O poema revela uma aspirao frustrada (O

    sofrimento amoroso conhecidocomo coita), emque o poeta idealizaa mulher1 amada(Dama Palacianapertencente aNobreza Feudal),considerando-ai n a c e s s v e l ,superior, divinizada,casta, angelicale distante). Porisso, vive umamor platnico

    ou platonismo eassume um comportamento

    servil (vassalagemamorosa), submissodiante dela (o amorcorts).

    A mulher chamada respeitosamente de mia senhor- (as palavras terminadas em orcomo senhor ou pastor, emgalego-portugus no tinham feminino) - minha senhora - oumia dona(Minha Dona) usando uma linguagem formalcomeufemismos, obedecendo-se assim as regras e convenesda Mesura. A origem da cantiga de amor a Provena, nosul de Frana, Existem dois tipos de cantigas de amor: as derefro e as de mestria, que no tem refro.

    1. Na Idade Mdia, as pessoas casadas que pulam a cerca soenterradas as mulheresat o peito ou da cintura para baixo ealvejadas pelo povo com pedras pequenas, at a morte ou eramqueimadas nas fogueiras em praa pblica. Se a traidora no forocialmente casada, o castigo mais leve: cem chibatadas. (Fonte:Revista Mundo Estranho)

    2. E HOJE EM DIA....

    3. CANTIGA LRICA DE AMOR

    COMPREENSO TEXTUAL

    Hun tal home sei eu, ai, bem talhada,que por vs ten a sa morte chegada;vedes quem e seedem nembrada:eu, mia dona!Hun tal home seu eu que preto sentede si morte chegada certamente:vedes quem e venha-vos em mente:eu, mia dona!Hum tal home sei eu, aquestide:que por vs morre vo-lo en partide;vdes quem , non xe vos obride:eu, mia dona! (Cancioneiro del-Rei D. Dinis)

    COMPREENSOTEXTUAL

    Love Song(Nuno Fernandes

    Torneol)

    Pois naci nuncavi Amor

    e ouo delsempre falar

    Pero sei que mequer matar

    mais rogarei amia senhor

    que memostraquel

    matadorou que mampare

    del melhor

    No mundo no conheo ningum que se compare a mim eminfelicidade,

    Enquanto minha vida continuar como vai indo,

    Porque j morro de amor por vs e ai !minha senhora vestida debranco e de faces rosadas, quereis que eu vos descreva quando eu vos visem manto! Em infeliz dia me levantei,pois vos vi bela, e no feia! E, minhasenhora, desde aquele dia, ai! tudo correu muito mal para mim, e vs,lha de Dom Paio Moniz, parece-vos suciente e satisfatrio que eu devareceber, por vosso intermdio uma guarvaia 1(por pintar vosso retrato) poiseu, minha senhora, na verdade como prova de amor nunca de vs recebinem receberei nem o simples valor de uma 2correia.

    1.Guarvaia: luxuoso vesturio de corte.2. Ou seja, alguma coisa de valor.

    Renato Russo

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Pergaminhohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Manuscritohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Trovahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Proven%E7%A1%80http://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%E7%A1%80http://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%E7%A1%80http://pt.wikipedia.org/wiki/Proven%E7%A1%80http://pt.wikipedia.org/wiki/Trovahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Manuscritohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Pergaminho
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    A autoria desta cantiga lrica masculina, expressao sentimento amoroso (Coita), mas difere da Cantiga de

    Amor. A palavra amigo, na poca, era sinnimo de namoradoou amante. Agora, o eu-lrico feminino, ou seja, o trovadorassume o ponto de vista da mulher (Fingimento Potico)e, por isso, no submetida as regras e convenes docasamento.

    A mulher camponesa2, concreta-real (sensual, svezes) se dirige em queixaou lamento diretamente ao amigo,ou a me, irms, amigas ou algum elemento da naturezacondente (Animismo ou Personicao) onde exalta anecessidade do amor fsicoou carnal3e anseia pelo retornodo amado.

    2.A situao femininaera ainda pior nas camadas sociais inferiores(burgueses e camponeses). Naturalmente, a descoberta da cortesianas classes altas do sculo XII no se difundiu rapidamente por todoo corpo social. No sculo XIV um texto do direito de Aardenburgo(cidade amenga que seguia o costume de Bruges) muito chocanteno que diz respeito condio das mulheres burguesas: Um homempode bater na sua mulher, cort-la, rach-la de alto a baixo e aqueceros ps no seu sangue; desde que, voltando a cos-la, ela sobreviva;ele no comete nenhum malefcio contra o senhor.3.A iluminura mostra uma dama abraando seu cavaleiro de umamaneira muito envolvente. O abrao amoroso um tema comumnas pinturas dos cantores alemes. Sentado a seus ps, reclinado,fascinado por sua beleza e pelo contato fsico de seu amor, o cavaleirose entrega passivamente aos seus carinhos, com seus olhos nos olhosdela. Para aumentar a sensao de ternura da pintura, o iluministacolocou a dama debruada suavemente sobre seu amado, com seurosto tocando o dele. Repare, sua atitude a de quem est tomandoa iniciativa, especialmente pela posio de seu brao esquerdo,envolvendo Conrado.

    A Cantiga de Amigo, de origem ibrica, teminspirao popular(rural camponesa - o amor cantado por uma mulher do mesmo nvel social- ou urbana), o queexplica sua linguagem coloquial, simples com uso constantede Paralelismo e refro.

    3. CANTIGA LRICA DE AMIGO

    4. CLASSIFICAO

    Alvas(quando se passam ao amanhecer):

    Levantou-sa velida (a bela) / Levantou-s alva; / e vai lavar camisas / e no alto(no rio) / vai-las lavar alva (de madrugada). - D. Dinis.

    Bailias (quando seu cenrio uma festa onde se dana): E no sagrado (localsagrado, possivelmente frente de uma igreja), em Vigo / bailava corpo velido

    (uma linda moa) amor ei! - Martim Codax.

    Romarias (sobre visitas a santurios, enquanto as madres queymamcandeas):

    Pois nossas madres van a San Simon / de Val de Prados candeas queimar(pagar promessas) / ns, as menininhas, punhemos dandar (vamos passear).- Pero de Vivies.

    Barcarolasou Marinhas(falam do temor de que o amigo v s expediesmartimas; do perigo de que ele no volte mais.

    Vi eu, mia madr , andar / as barcas e no mar, / e moiro de amor! - NunoFernandes Torneol

    Pastorelas (quando seu cenrio o campo, prximo a rebanhos):

    Oi (ouvi) ojeu ua pastor andar, / du (onde) cavalgava perua ribeira,/ e o pastor estava i senlheira, (sozinha) / a ascondi-me pola escuitar... - AirasNunes de Santiago.

    Manifestao artstica que ocorre durante a Idade Mdia. Eracomposta por poemas que possuam uma forte relao com amusica. Da a denominao cantigas medievais.

    Aplicaes noCaderno de Exerccios

    4. ASPECTOS ESTILSTICOS

    CANTIGAS MEDIEVAIS.

    Ausncia do amado o eu-potico revela no saber seu paradeiro.

    Amor natural e espontneo- algumas revelam que j foi realizado, e a moa espera por um bisConsso dos sentimentos feito indiretamente ao amado o eu-potico confessa seus sentimentos outrem. por issoque essas cantigas geralmente apresentam dilogos.Mulher mais prxima da realidade, que sofre presso social, sua madre (me) exerce esse poder.Patriarcalismo- comportamento vigiado ou tolhido.Eu-potico Feminino e Autor Masculino cano colocada na boca de uma moa do povo que exprime seu amor peloamigo (namorado).

    Estrutura de poesia folclrica, uso de elementos reiterativos, principalmente, paralelismo e refro.usicalidade: Paralelismo e refro so recursos que do musicalidade, reforam a idia principal do texto e facilitam sua amemorizao.

    Paralelismo: repetio de expresses ou signicados:

    Refro: repetio de versos, geralmente no nal de cada estrofe de um poema.

    Origem Ibrica: uma cantiga que nasceu no seio popular e que talvez por esse motivo, sua ambientao perifrica,podendo a cantiga se classicada de acordo com seu ambiente:

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    HUMANISMO I Ficha

    02

    02

    Frente

    1. O TEATRO MEDIEVAL PORTUGUS

    2. HUMANISMO E A FARSA DO VELHO DA HORTA

    A origem do teatro portugus est relacionada gura de Gil Vicente que considerado o fundadordo teatro lusitano. Antes dele, parece ter havido umaproduo de carter religioso, mas no h registrosdevidamente documentados. O estudo que desenvol-veremos agora colocar as obras de Gil Vicente comorepresentantes das manifestaes dramticas da Idade

    Mdia.

    HUMANISMO

    Costuma-se enquadrar Gil Vicente na segundapoca da literatura medieval portuguesa, uma poca detransio da idade mdia para o renascimento, denomi-nada de Humanismo. Humanismo onome que se d a um movimentointelectual, um comportamentoe uma postura artstica que re-presenta a transio entre cul-tura europia medieval e acultura do Renascimento.Teve o seu incio na Itlia,entre o m do sculo XIIIe o incio do sculo XIV.

    Os humanis-tas acreditavam que anatureza como teste-munho da grandeza eda bondade de Deus,como elemento dig-no de ser valorizadoe estudado racional-

    mente. Aprenderamtambm a reconhe-cer no homem quali-

    dades superiores: a razo, a iniciativa, a capacidade detransformar a histria e a natureza, o seu poder de inuncia na construo de seu prprio destino. Esta visode mundo otimista, assimilada de grandes clssicos da

    Antiguidade, foi o germe do antropocentrismo, que viriaa caracterizar o Renascimento. Acreditavam tambmna busca de retorno ao cristianismo original, da advma crtica ao comportamento da Igreja Romana. Os hu-manistas repugnavam ao autoritarismo e aos desviosem relao s fontes da doutrina crist (os Evangelhos)que igreja medieval praticava. Alm disso, a difuso dosestudos clssicos (a lngua, a li teratura, a losoa, a re-ligio e a histria da antiguidade greco-romana) desper-tou o interesse pela investigao da natureza e o gostopela investigao racional (racionalismo).

    Os humanistas trouxeram de novo uma atitu-de de liberdade intelectual de que a escolstica nodispuha. Essa independncia levou a conquistas queabalaram o teocentrismo. Dentre elas, uma das mais

    expressivas a valorizao daao e da necessidade que ohomem possui em dominar a

    natureza (valorizao dohomem e da nature-za). A mentalidadehumanista impreg-nou todas as artesde novos valores eformas de expres-so, preparandoo terreno para avirada esttica do

    Classicismo renas-centista.

    O drama VELHO DA HORTA revela inunciados princpios adotados pelos humanistas na medida emque apresenta: Inuncia das encanaes litrgicas cartermoralizante as peas tem como objetivo reformar oscomportamentos. Uso de redondilha de e rimas o teatro potico vi-centino visava facilitar a memorizao dos assuntos trata-dos Temas que exploram os costumes humanos em fatosque buscam a conscientizao da degenerao moral ohomem tomando conscincia de seus defeitos morais. Humor e Ironia / crtica e ridicularizao uso do

    lema clssico: ridendo castigat mores rindo mudamos osmaus hbitos. Teatro popular: feito para agradar aos populares, daa musicalidade e o Humor, serem elementos importantes.

    Tipos Sociais: personagens que revelam tiposmuito comuns da sociedade.Linguagem hbrida: Mistura do idioma lusitano, poca oportugus arcaico, com uma modalidade do castelhano,tambm arcaico.

    Anlises e comentrios: Andr Belm

    Os temas das farsas dizem respeito realidade doPortugal quinhentista; e por isso, alm de jias de fantasiae de poesia, esses textos so curiosssimos documentos devida.

    PICCHIO, Luciana Stegagno. Histria do Teatro Portugus, trad. port.Lisboa, 1969, p. 67.

    Na forma mais simples, a farsa reduz-se a um episdiocmico colhido em fl agrante na vida da personagem tpica (...).

    SARAIVA, J. A & LOPES, O. Histria da Literatura Portuguesa, 8.o ed., pgs.201 e 202.

    Roteiro para agilizar o entendimento da Obra

    1. Apresentao

    Sucinta, mas rigorosa, pois analisa osfatos principais ligados a obra, enumerandoos momentos mais relevantes, bem comoaspectos extra-textuais como sua datade apresentao, que ajuda no enten-dimento das circunstncias de sua en-cenao.

    APRESENTAO DA FARSA DOVELHO DA HORTA

    Esta farsa o seu argumentoo seguinte que um homem honrado emuito rico, j velho tinha uma horta; eandando uma manh por ela espaire-cendo, sendo o seu hortelo fora, veiouma moa de muito bom parecer buscar hortalia, e o velho em tanta ma-neira se enamorou dela que, por viade uma alcoviteira, gastou toda a suafazenda. A alcoviteira foi aoitada, ea moa casou honradamente. Entralogo o velho rezando pela horta.

    2. Cena I Entra o Velho rezando, misturando latim com por-tugus. A orao d ao personagem um falsa impresso

    de beatice e religiosidade, que depois ir contrastar comsua postura de assdio da moa e de crena no misticismoque alcoviteira ir apresentar. Isso d orao um aspectocmico, de beatice e ignorncia religiosa.VELHO Pater noste criador,qui es in coelis, poderososantic tur, senhornomem tuum vencedor

    Adveniat a tua graa,regnum tuum sem mais guerra;voluntas tua se faa.sicut in coelo et in terra.

    3. Cena II A postura que o Velho assume com a entrada daMoa apresenta caracteriza-se por uma ambigidade queest entre a mera cortesia e o galanteio, que ira evoluirpara uma admirao progressiva e obsessiva. Seu discur-

    so amoroso apresenta os seguintes temas: Amor que revigora; Amor que aprisiona; Amor que risco; Amor que se acende com rejeio; Amor que morte antecipada; Amor que sofrer e querer sofrer; Amor que cego; Amor que irracional; Amor que se doa, transporta-se totalmente para o outro etc. Entra a MOA na horta e diz o VELHO:VELHO Senhora, Benza-vos Deus!MOA Deus vos mantenha, senhor.VELHO Onde se criou tal or,eu diria que nos cus.MOA Mas no cho.

    VELHO Pois damas se acharo,que no so vosso sapato.MOA Ai! Como isso to voE como as lisonjas so de barato!........................................................ Assim cantando, colheu a MOAda horta o que vinha buscar e, acaba-do, diz:Eis aqui o que colhi;vede o que vos hei de dar.VELHO Que me haveis vs depagar, pois que me levais a mi?Oh coitado!Que amor me tem entregadoe, vosso poder me no,porque sou de vs tratadocomo pssaro de mo dadode um menino!MOA Senhor, com vossa merc.VELHO Por eu no car sem a vos-sa, queria de vs uma rosa.

    MOA Uma rosa? Para qu?VELHO Porque so colhidas de vossa mo,

    deixar-me-ies alguma vida,no isenta de paixomas ser consolaona partida.MOA Isso por me deter.Ora tomai, (e) acabar!Tomou-lhe o Velho a mo:Jesus! E quereis brincarQue galante e que prazer!VELHO J me deixais?Eu no vos esqueo maise nem co s comigo.Oh martrios infernais!No sei por que me matais,nem o que digo.

    3. ALGUMAS CONSIDERAES SOBRE A FARSA

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    22 23 n LITERATURAwww.portalimpacto.com.brwww.portalimpacto.com.brn LITERATURA

    Ao trmino de sua colheita, a Moa surpreendi-da pelo assdio do velho que ao lhe pedir uma das rosascolhidas tentou segurar sua mo. Isso aumentou nela aindignao e o desprezo e lhe precipitou a partida. O velhoca e pe a rosa em sua cabea.4. Cena III Sai a personagem feminina e entra o parvo, cria-do do velho, que a mando da patroa foi saber o motivo dademora na horta e foi cham-lo para jantar.Vem um PARVO, criado do velho, e diz:PARVO Dono, dizia minha donaque fazeis vs c t noite?VELHO Vai-te! queres que taoite?Oh! Dou ao demo a intrujona sem saber!PARVO Diz que fosseis vs comere no demoreis aqui.

    VELHO No quero comer, nem beber.PARVO Pois que haveis c de fazer?VELHO Vai-te da!............................................................................................PARVO Assim, por Deus!Ento tanta pulga em vs,tanta bichoca nos olhos,ali, cos nados, ss,e comer-vos-o a vsos piolhos.Comer-vos-o as cigarrase os sapos! Morrei! Morrei!

    Mesmo abandonado pela sua paixo o velho con -tinua a evoc-la em seu discurso como a razo de suaperda de apetite e seu desejo de morte, para o espanto doParvo. Este, cria um discurso cmico no qual seu patropassaria de comedor para comido. Ele no entende oalheamento de seu amo, por estar preso as coisas prticada vida. Como comer, por exemplo.

    VELHO Deus me faz mercde me soltar as amarras.Vai saltando!

    Aqui te co esperando;

    traze a viola, e veremos.PARVO Ah! Corpo de So Fernando!Esto os outros jantando,e cantaremos?!...VELHO Fora eu do teu teor,por no se sentir esta pragade fogo, que no se apaga,nem abranda tanta dor...Hei de morrer.PARVO Minha dona quer comer;Vinde, infeliz, que ela brada!Olhai! eu fui lhe dizerdessa rosa e do tanger,e est raivada!

    ..........................................................................................

    Pelo cu sagrado,que meu dono est danado!viu ele o demo no ramo.Se ele fosse namorado,logo eu vou buscar outro amo. Sada denitiva do parvo: em suas ltimas pala-vras revela um contraste entre seu apelo material e o ape -lo ideal de seu amo.

    5. Cena IV

    Entra a mulher do Velho. Ao perceber que seuMarido estava com uma rosa na cabea, indica-lhe a ida -de avanada, prope-lhe mudar os costumes. O velho nolhe d ouvidos, termina por expuls-la da horta.Vem a MULHER do VELHO e diz:

    Hui! que sina desastrada!Fernandeanes, que isto?VELHO Oh pesar do anticristo,Oh velha destemperada!Vistes ora?MULHER (E) esta dama, onde mora?Hui! infeliz dos meus dias!Vinde jantar em m hora;(por) que vos meteis agoraem musiquias?MULHER J vos estais em idadede mudardes os costumes.VELHO Pois que me pedis cimes,eu vo-los farei de verdade.MULHER Olhai a pea!VELHO Que o demo em nada me empea,Seno morrer de namorado.MULHER Est a cair da tripeae tem a rosa na cabeae embeiado!...VELHO Deixai-me ser namorado,porque o sou muito em extremo!MULHER Mas que vos tome inda o demo,se vos j no tem tomado!

    VELHO dona torta,acertar por essa porta,velha mal-aventurada!Saia, infeliz, desta horta!MULHER Hui, meu Deus, que sereis morta,ou espancada!VELHO Estas velhas so pecados,santa Maria val com a praga!tanto mais so endiabradas!Volvido nos han volvido.volvido nos han:por una vecina malameu amor tolhe-me a fala.volvido nos han.

    CENA V

    Entrada da alcoviteira Branca Gil. Seu objetivo e rou-bar o velho. Essa cena pode ser dividida em trs momentos:PRIMEIRO MOMENTO: o velho troca cortesias com aalcoviteira. Ela mostra-se conhecedora de prticas debruxaria. Ao revelar saber onde mora a moa e quemela , o Velho passa mal.SEGUNDO MOMENTO: a alcoviteira faz uma ladainha.

    Acredita-se hoje que os santos citados por ela, eram pes-soas da corte. Roga que ele melhore e consiga realizar seudesejo.TERCEIRO MOMENTO: Branca Gil diz ir ver a Moae ao retornar revela ao Velho que para ele seduzir aamada, precisa gastar. Ele cona e entrega seu dinheiropara a Alcoviteira, mas ela ca o dinheiro dele para si.Entra Branca Gil, ALCOVITEIRA, e diz:Mantenha Deus vossa merc.VELHO Ol! Venhais em boa hora!

    Ah! Santa Maria! Senhora,Como logo Deus prov!

    ALCOVITEIRA Certo, oh fadas!Mas venho por misturadas,e muito depressa ainda.................................................................VELHO Isso o que sempre brado,Branca Gil, e no me val,que (eu) no daria um realpor homem desnamorado.Porm, amiga,se nesta minha fadigavs no sois medianeira.no sei que maneira siga.nem que faa, nem que diga,nem que queira.

    ALCOVITEIRA Ando agora to ditosa(louvores a Virgem Maria!),que logro mais do que queriapela minha vida e vossa.De antemo,fao uma esconjurao um dente de negra morta

    ante(s) que entre pela portaqualquer duro coraoque (a) exorta.

    VELHO Dizede-me: quem ela?

    ALCOVITEIRA Vive junto com aS.J! j! J! Bem sei quem ! bonita como estrela,uma rosinha de abril.uma frescura de maio.to manhosa, to sutil!...VELHO Acudi-me, BrancaGil,que desmaio.Esmorece o VELHO e a ALCOVI-TEIRA comea a sua reza:

    precioso Santo Areliano,mrtir bem-aventurado,tu que foste marteiradoneste mundo certo e um ano; So GarciaMoniz, tu que hoje em diafazes milagres dobrados,d-lhe esforo e alegria,pois que s da companhia dos penados! apostolo So Joo Fogaa,tu que sabes a verdade,pela tua piedade,que tanto mal no se faa! senhorTristo da Cunha, confessor,O mrtir Simo de Sousa,pelo vosso santo amor,livrai o velho pecador de tal cousa! Santo Martim Afonsode Melo, to namorado,d remdio a este coitado,e eu te direi um reponso com devoo!Eu prometo uma orao,todo dia, em quatro meses,por que lhe deis fora, ento,Meu senhor So Dom Joode Meneses!................................................................

    ALCOVITEIRA Sus! Nome de Jesus Cristo!Olhai-me pela cestinha.VELHO Tornai logo, fada minha que eu pagarei bem isto.Vai-se a Alcoviteira, e ca o Velho tangendo e cantandoa seguinte cantigaPues tengo razn, seora,razn es que me la oiga!

  • 5/24/2018 Apostila de Literatura - Impacto

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    2. CENA VI

    Entra um alcaide (autoridade) seguido de quatro beleguins (policias). O dilogo revela que eles j conhecema alcoviteira e ela j foi presa e castigada outras vezes. Chama a ateno a bonomia com que trata os policias, noque duramente repreendida.

    Vem um ALCAIDE com quatro BELEGUINS, e diz:

    Dona, levantai-vos da!ALCOVITEIRA Que me quereis vos assi?ALCAIDE cadeiaVELHO Senhores, homens de bem, escutem vossas senhorias.

    ALCAIDE Deixai essas cortesias!ALCOVITEIRA No hei medo de ningum, vistesora!

    ALCAIDE Levantai-vos da, senhora,dai ao demo esse rezar!Quem vos fez to rezadora?

    ALCOVITEIRA Deixai-me ora, na m-

    -hora, aqui acabar!ALCAIDE Vinde da parte del Rei!ALCOVITEIRA Muita vida seja a sua.No me leves pela rua;deixai-me vs, que me irei.BELENGUINS Sus! andar!

    ALCOVITEIRA Onde me queireis levar.ou quem me manda prender?Nunca havedes de acabarde me prender e soltar?No h poder!

    ALCAIDE Nada se pode fazerALCOVITEIRA Est j a carocha aviada?!...Trs vezes fui j aoitadae, enm, hei de viver

    Vem a Alcoviteira, e diz o VELHO:Venhai em boa hora, amiga!

    ALCOVITEIRA J ela ca de bom jeito;mas, para isto andar direito razo que vo-lo diga:eu j, senhor meu, no possosem gastardes bem do vosso.vencer ua moa tal.VELHO Eu lhe pagarei em grosso.

    ALCOVITEIRA Ai est o feito nossoe no em al.Perca-se toda a fazenda,por salvades vossa vida!VELHO Seja ela disso servida,que escusada mais contenda.....................................................................

    Vais-se e o VELHO torna a prosseguir a sua msi-ca e, acabada, torna a ALCOVITEIRA e diz:

    Dei, m-hora, uma topada.Trago as sapatas rompidasDesta vindas, destas idas,e enm no ganho nada.VELHO Eis aqui dez cruzados para ti.

    ALCOVITEIRAComeo com boa estria!

    3. CENA VII Solilquio no qual o velho revela sua tristeza diante da priso de sua ajudante. O sonho de realizao amorosaparece -lhe distante.Levaram-na presa e ca o VELHO dizendo:Oh! que m-hora!

    Ah! Santa Maria! Senhora!J no posso livrar-me bem.Cada passo se empiora!Oh! Triste quem se enamorade algum!

    4. CENA VIII

    Chegada de uma mocinha para comprar couve e cheiros. Ela conta ao Velho que Branca Gil acabava de serchicoteada, enquanto os executores apregoavam ao pblico que ela estava sendo castigada: Por mui grande alco -viteira e para sempre degradada. Conta ainda que, enquanto isso acontecia, passava um cortejo com uma formosamoa, que vivia ali S para se casar. O velho, percebendo que se trata de sua amada, lastima-se:

    Vem uma MOCINHA horta, e diz:Vedes aqui o dinheiro?Manda-me c minha tia,que assim como noutro dialhe mandeis a couve e o cheiro.Estas pasmado?VELHO Mas estou desatinado.MOCINHA-Estais doente, ou que haveis?VELHO Ai! no sei! desconsolado,que nasci desventurado .MOCINHA No choreis,mais mal fadada vai aquela!VELHO Quem?MOCINHA Branca Gil.VELHO Como?MOCINHA-Com cem aoites no lombo,uma carocha por capela,e ateno !Leva to bom coraocomo se fosse em folia.Que pancadas que lhe do!E o triste prego porque dizia:Por mui grande alcoviteirae para sempre degredada,vai to desavergonhada,

    como ia a feiticeira.E, quando estava,Uma moa que passavana rua, para ir casar,e a coitada que chegavaa folia comeava de cantar:ua moa to fermosaque vivia ali na S...VELHO Oh coitado! A minha !MOCINHA -E agora m hora a vossa!Vossa a treva.Mas ela, o noivo a leva.Vai to leda, to contente.Uns cabelos como Eva;Por certo que no se lhe atrevatoda gente!O noivo, moo polidono tirava os olhos dela,

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    e ela dele, Oh que estrela! ele um par bem escolh