Apostila - DISTRIBUIÇÃO E METABOLISMO
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DISTRIBUIÇÃO DOS FÁRMACOS NO ORGANISMO
O fármaco penetra na circulação sistêmica por administração direta ou após absorção a partir do sítio de
aplicação. Depois de administrada e absorvida, a droga é distribuída, isto é, transportada pelo sangue e outros
fluidos para os tecidos do corpo.O termo distribuição se refere a transferência reversível do fármaco de um local
a outro dentro do organismo. Informações precisas da distribuição de um fármaco requer seu doseamento em
nível dos diferentes tecidos. Depois de absorvido ou injetado na corrente sanguínea o fármaco pode distribuir-se
para os líquidos intersticial e celular. Os padrões de distribuição de um fármaco, refletem alguns fatores
fisiológicos, como fluxo sanguíneo tecidual e características da membrana de transporte, bem corno de suas
propriedades fisico-químicas. Quando as características do fármaco propiciam sua fácil passagem através da
membrana endotelial, a velocidade de distribuição depende da taxa de perfusão. Assim os fármacos se distribuem
mais rapidamente em tecidos altamente perfundidos, como o pulmão; o contrario ocorre nos de baixa perfusão,
como o músculo em repouso. Se características do fármaco, como polaridade e grande peso molecular,
dificultam seu transporte através da membrana celular, a velocidade de distribuição e limitada pela taxa de
difusão. A distribuição também pode ser limitada pela ligação do fármaco às proteínas do plasma, em especial a
albumina para fármacos ácidos e à alfa 1-glicoproteina ácida no caso de fármacos de característica básica. Uma
substância ativa extensa e fortemente ligada a estas proteínas tem pouco acesso a locais de ação intracelulares e
pode ser lentamente biotransformada e eliminada. Os fármacos podem acumular-se nos tecidos em concentrações
maiores que as esperadas. O acúmulo de um fármaco em determinado tecido, pode atuar como um reservatório
que prolonga sua ação nesse mesmo tecido e em um local distante atingido pela circulação.Como a velocidade de
distribuição de um fármaco no organismo costuma ser menor que a de metabolização e excreção, um pseudo-
equilibrio entre plasma e tecido é atingido ao se completar a distribuição, mas a concentração plasmática
continua a diminuir graças á eliminação. Um verdadeiro equilíbrio pode ser estabelecido durante a infusão
continua de fármacos.
Fatores que influenciam a distribuição dos fármacos para os compartimentos corporais
Fármacos ao alcançarem a circulação sanguínea podem se ligar, em diferentes proporções ás proteínas
plasmáticas. Essa ligação é uma medida da afinidade do fármaco pelas proteínas do plasma, especialmente, como
já foi citado, pela albumina e alfa-l-glicoproteina ácida. Os sítios receptores de fármacos em todas estas proteínas
são chamados "receptores silenciosos", pois sua interação com aqueles não gera efeitos biológicos.
Uma vez que as proteínas não passam através das paredes capilares, a ligação do fármaco a proteínas pode retê-lo
no espaço vascular por um determinado tempo. A fração do fármaco não ligado e que atravessará as membranas
tornando-se disponível para interações com receptores, ou seja, é ela que exercerá o efeito farmacológico sendo,
assim, chamada de fração, farmacologicamente ativa. Já a fração ligada é considerada farmacologicamente
inerte. Porém, a interação do fármaco com a proteína plasmática á um processo rapidamente reversível e a
medida que o fármaco não ligado difunde-se dos capilares para os tecidos, mais fármaco ligado dissocia-se da
proteína até que seja alcançado um equilíbrio, onde há concentrações
relativamente constantes de forma ligada e não ligada. É uma interação dinâmica, em que complexos
continuamente se formam e se desfazem. O complexo fármaco-proteína age como um reservatório temporário na
corrente sanguínea retardando a chegada de fármacos aos órgãos alvo e sítios de eliminação. Quando a ligação à
proteína ocorre fortemente ela pode diminuir a intensidade máxima de ação de uma dose única de um fármaco,
por diminuir a concentração máxima atingida no receptor, alterando, assim sua resposta clinica; reciprocamente,
a diminuição da ligação pode aumentar a intensidade de ação do fármaco.Os sítios proteicos de ligação de
fármacos no plasma são passiveis de saturação. À medida que a concentração do fármaco, aumenta, também
pode aumentar sua forma livre, porque a capacidade de ligação pode estar saturada. No entanto, numa ampla
margem de concentrações, a fração livre não se altera porque há abundância de sítios de ligação; a saturação na
verdade só ocorre em concentrações muito altas, clinicamente irrelevantes. A relação entre fração livre e fração
ligada pode ser influenciada por situações onde ocorrem variações nas concentrações das proteínas plasmáticas,
podemos citar as situações de hipoalbuminemia por cirrose, síndrome nefrótica, desnutrição grave e uremia; na
gestação, em que há hemodiluição e em idosos, onde muitas vezes por menor capacidade de produção de
proteínas, o teor de ligação a fármacos torna-se menor. Fármacos podem competir entre si pelos sítios de ligação
proteica, sendo deslocado o que tem menor afinidade pelos mesmos, ficando consequentemente, com a fração
livre aumentada no plasma. O ácido acetilsalicilico (AAS), por exemplo, altera a ligação de fármacos á albumina,
isso resulta num aumento da fração livre do fármaco deslocado, podendo ocorrer um aumento da atividade
farmacológica do fármaco deslocado. A competição por locais de ligação não ocorre apenas entre fármacos, mas
também entre fármacos e ligantes endógenos. Hormônios, por exemplo, podem ser deslocados de suas proteínas
carreadoras por fármacos, porém, normalmente, sem importância clinica já o deslocamento de bilirrubina da
ligação proteica no neonato, consequente á administração de sulfonamidas, é de importância clinica porque altos
níveis de bilirrubina leva a icterícia podendo provocar lesão cerebral. Diferenças individuais na ligação a
proteínas podem ocorrer, o que pode contribuir significativamente para a variabilidade na resposta clinica a
fármacos. As diferenças interindividuais estão parcialmente sob o controle genético, podendo porém ser afetadas
por patologias e idade.
Distribuição de Fármacos a sítios especiais
Sistema Nervoso Central - Barreira hematoencefálica
Muitos fármacos tem acesso limitado ao cérebro devido às restrições impostas pela barreira hematoencefálica.
Somente fármacos altamente lipossolúveis, ou outros, através de sistemas especializados de transporte
ultrapassam esta barreira. Devido às dificuldades de acesso, varias estratégias tem sido usadas, como canulação
intraventricular (útil no tratamento de doenças na meninge) e administração nasal de substâncias lipossolúveis
Globo ocular: Os humores aquoso e vitreo parecem limitar a penetração da maioria dos fármacos. Dai,
usa-se aplicação tópica ou injeção subconjuntival para o tratamento de afecções oculares.
Testículo: As células de Sertoli apresentam junções intimas próximas à lâmina basal, sendo
consideradas como barreira hematotesticular. Fármacos administrados sistemicamente têm, pois, pouco acesso à
luz de túbulos seminíferos.
Barreira Placentária: Na placenta, o sangue arterial materno esta em contato com vilosidades que
contem capilares fetais. Uma droga, para passar da circulação materna para a rede capilar fetal, deve penetrar
pelas vilosidades. A barreira placentária representa um conjunto de tecidos que se localizam entre a circulação
materna e a fetal. As drogas que atravessam essa barreira biológica são as lipofílicas e não polares e de peso
molecular baixo. O tiopental, outros anestésicos, álcool, antibióticos, morfina e heroína, podem atravessar esta
barreira e alcançar os tecidos do feto.
Meia-vida biológica: Em farmacocinética ela representa o tempo gasto para que a concentração plasmática ou a
quantidade original de um fármaco no organismo se reduza à metade. A concentração decresce em 50% do valor
que tinha no inicio do período.A meia-vida de uma droga não só é valiosa para permitir uma comparação entre as
taxas de eliminação de diversas drogas como também pode ter utilidade na definição de esquemas posológicos
dentro da faixa terapêutica.
METABOLISMO DE DROGAS: O metabolismo é um dos principais mecanismos através dos quais é
interrompido a ação de uma droga. Em muitos casos a velocidade de metabolismo da droga é o determinante
básico da duração quanto da intensidade da ação da droga. Praticamente todas as drogas que sofrem
transformação metabólica são convertidas em produtos (metabólitos). Acreditava-se antigamente que todos os
metabólitos de drogas fossem farmacologicamente inativos em relação à droga original. Muito embora isto seja,
de modo geral, verdadeiro, trabalhos recentes revelaram exceções. O termo pró-droga descreve um composto
que, em si mesmo, apresenta pouca ou nenhuma atividade biológica, mas é metabolizado em uma modalidade
farmacologicamente ativa. A droga anticâncer ciclofosfamida, por exemplo, é biologicamente inerte, mas é
convertida, predominantemente no fígado, em uma droga citotóxica ativa. O acetaminofeno, um analgésico de
uso comum, e muitos carcinogênicos químicos, como o benzopireno, encontrado na fumaça do cigarro,
correspondem a exemplos deste grupo. Podemos resumir dizendo que o metabolismo das drogas geralmente
resulta na formação de produtos com acentuada redução da atividade farmacológica. A velocidade de
desaparecimento de uma droga do corpo é função tanto de sua velocidade de biotransformação quanto de sua
velocidade de excreção (renal, biliar, pulmonar).
Enzimas Metabolizadoras de Drogas: As enzimas envolvidas na biotransformação de compostos exógenos
(xenobióticos) são distintas daquelas que participam do metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios. As
drogas e outros xenobióticos sofrem quatro tipos gerais de reação de biotransformação: (1) oxidação, (2)
redução, (3) hidrólise e (4) conjugação.Tendo em vista sua relativa abundância em enzimas (atividade enzimática
por grama do órgão) e sua grande massa o fígado é nitidamente ó órgão dominante no metabolismo das drogas.
Entretanto muitos outros tecidos incluindo o pulmão, o rim, a mucosa intestinal, a supra-renal, a pele e a placenta
também possuem níveis significativos de atividade metabolizadora de drogas. Atividades mais baixas, porém
ainda mensuráveis, estão presentes nos
leucócitos, na flora intestinal, nas gônadas, no baço, no olho e no cérebro. Independentemente do local onde
ocorra o metabolismo, uma única droga sofre várias etapas de biotransformação.
Fatores que influenciam o Metabolismo das Drogas
Ldade: Logo no início da vida fetal, a atividade enzimática de metabolização de drogas é bastante
baixa, mas esta começa a aumentar durante o período pós-natal. As velocidades de biotransformação muitas
vezes sofrem aumentos drásticos até níveis adultos durante ou por volta da puberdade nos idosos, as taxas de
metabolismo de drogas tendem, de modo geral, a declinar. Assim, tais indivíduos (tornam-se gradualmente cada
vez mais sensíveis a uma dose determinada da droga, na medida em que sua capacidade de metabolização de
compostos exógenos diminui. Além disso, os indivíduos idosos apresentam reduções na função renal que
também contribuem para a diminuição da e eliminação das drogas. Os pacientes idosos também podem absorver
as drogas de modo menos completo ou mais lento em virtude da redução do fluxo sanguíneo do fígado
(decorrente, em grande parte, do débito cardíaco reduzido ou de alterações da motilidade gastrointestinal. O
débito cardíaco diminui em aproximadamente 30% já aos 65 anos e isto resulta em redução de 45 a 50% no fluxo
sanguíneo gastrointestinal.A distribuição das drogas nos pacientes idosos pode sofrer alterações decorrentes da
hipoalbuminemia, de modificações qualitativas nas regiões de ligação das drogas, de reduções na massa muscular
relativa, de aumentos na proporção de gordura corporal e de diminuições na água corporal total. O nível
plasmático da droga ativa e livre costuma ser uma função direta da extensão da ligação da droga a proteínas
plasmáticas. Existe um declínio bem documentado e dependente da idade (em torno de 20%) na concentração de
albumina plasmática em seres humanos, que se deve à redução da taxa de síntese hepática de albumina. Estas
modificações na albumina sérica podem afetar em a concentração de droga livre no caso de diversas drogas,
como a fenitoína, a varfarina e a meperidina.Além das alterações metabólicas, nos idosos, que ocorrem como
decorrência da atividade enzimática hepática, o metabolismo pode sofrer repercussões negativas de reduções na
massa hepática e no fluxo sanguíneo (perfusão).A eliminação renal de compostos estranhos pode ser
drasticamente alterada pela redução do fluxo sanguíneo renal (novamente decorrente da redução do débito
cardíaco), da taxa de filtração glomerular, da atividade secretora tubular e do número de néfrons funcionantes
com o decorrer da idade. Foi estimado que, em seres humanos, a função renal declina a partir dos 20 anos de
idade em cerca de 10 % por década de vida. Este fato tem especial importância no caso de drogas como a
penicilina ou a digoxina, cuja eliminação é basicamente renal. Os receptores podem apresentar redução em sua
quantidade ou em sua afinidade ou, até mesmo, em sua responsividade qualitativa.
Nutrição: A deficiência proteica prejudica o metabolismo das drogas. Dietas isentas de gordura ou
deficientes em aminoácidos essenciais também prejudicam o metabolismo das drogas.A administração crônica de
etanol pode resultar em aumento do metabolismo das drogas, em aumento do teor hepático de enzimas.
Fatores Farmacogenéticos: A depuração global da droga (meia-vida plasmática) foi estudada em
gêmeos idênticos. Em gêmeos idênticos, praticamente não foram observadas diferenças nas meias-vidas
plasmáticas da fenilbutazona, da antipirina ou do dicumarol. O fato de que esses gêmeos idênticos adu1tos
residiam em domicílios separados, consumiam dietas diferentes e foram expostos a ambientes diferentes e
mesmo assim, apresentavam semelhanças impressionantes nas meias-vidas plasmáticas das drogas, tenderia a
minimizar a
influência de fatores ambientais e a implicar um controle predominantemente genético sobre o metabolismo de
drogas em indivíduos humanos.O metabolismo hepático das drogas fica prejudicado em pacientes com malária e
esquistossomose. A doença neoplásica, mesmo quando inexiste comprometimento hepático, inibe a
metabolização hepática de drogas, possivelmente por fatores humorais. A biotransformação também fica
prejudicada pela presença de afecções patológicas como a hepatite, a icterícia obstrutiva ou a cirrose avançada.
Entretanto, nesta última doença, a depuração corporal total e a duração da ação da droga
Radiação:O metabolismo hepático das drogas fica prejudicado por doses subletais de irradiação
corporal total com raios X.
Diferenças entre os sexos: Existem acentuadas diferenças nas taxas de biotransformação de muitos,
embora não de todos, os substratos farmacológicos entre animais masculinos e femininos. Nos ratos, as
diferenças relacionadas aos sexos nas taxas de metabolismo das drogas são nitidamente decorrentes dos efeitos
estimulantes dos androgênios. Não há registros de diferenças sexuais no metabolismo das drogas em seres
humanos.
Co-administração de Drogas: Estudos cinéticos revelam que uma droga capaz de ser metabolizada
pelo sistema de metabolização de drogas é capaz de inibir competitivamente o metabolismo de uma segunda
droga administrada concomitantemente. O anticonvulsivante fenitoína e o anticoagulante dicumarol, por
exemplo. Os pacientes que estão recebendo uma dose de manutenção constante de fenitoína e que,
posteriormente, passam a receber também o dicumarol podem experimentar graves sintomas do sistema nervoso
central relacionados à toxicidade da fenitoína, como decorrência de uma inibição associada ao dicumarol do
metabolismo da fenitoína. Analogamente, os diabéticos em uso do agente hipoglicemiante tolbutamida podem
apresentar grave crise hipoglicêmica ao terem a fenilbutazona ou o dicumarol acrescentados a seus esquemas
medicamentosos.
Os efeitos inibitórios do alcoolismo agudo sobre o metabolismo já foram discutidos anteriormente. A ingestão
concomitante de um benzodiazepínico e de álcool tem um efeito dual, elas inibem o metabolismo uma da outra e,
consequentemente, a duração de seus efeitos farmacológicos. Os efeitos depressores do sistema nervoso central
de dois agentes também são aditivos.
Fatores Hormonais
Corticosteroides:A atividade hepática de metabolização de drogas parece apresentar uma correlação inversa
com os níveis plasmáticos de glicocorticóides.
Tiroxina:A tireoidectomía reduz o metabolismo de vários substratos farmacológicos. Na clínica, pacientes
hipotireóideos evidenciam taxas reduzidas de
depuração plasmática de drogas.
Insulina: Animais com diabete induzido pela injeção de aloxana ou estreptozotocina apresentam metabolismo
prejudicado.
Estrogênio e Progesterona: Estudos em animais sugerem que existe uma metabolização prejudicada de drogas
na mãe durante a gestação.
Microflora Intestinal: Os agentes terapêuticos presentes na luz gastrointestinal entram em íntimo contato com a
microflora intestinal. A microflora desempenha biotransformação.