APOSTILA INDÚSTRIA CAL

20
Universidade Tecnológica Federal do Paraná Campus Apucarana Curso: Tecnologia em Processos Químicos Professora: Juliana Guerra Sgorlon Disciplina: Tecnologia de Processos Inorgânicos INDÚSTRIA DA CAL I - INTRODUÇÃO A fabricação da cal e o seu emprego são conhecidos pelo homem há mais de 2.000 anos. Suas primeiras aplicações constam de construções de cais, de pavimentos e edificações. Na América Colonial, a simples calcinação do calcário foi um dos processos primitivos de fabricação adotado pelos colonizadores. Usavam, então fornos escavados num barranco, com paredes de tijolos ordinários ou de pedra, com fogo de carvão ou de madeira no fundo, durante 72 horas. Estes fornos ainda podem ser vistos em muitas das regiões de povoamento mais antigo no país. Foi só recentemente, sob a influência de pesquisa, que a fabricação da cal desenvolveu-se numa grande indústria, com um controle técnico exato, produzindo um material uniforme a custo baixo. 1.1 Indústria da cal no Brasil A maioria da cal produzida no Brasil resulta da calcinação de calcários/dolomitos metamórficos, de idades geológicas diferentes; geralmente muito antiga (pré-cambriana) e pureza variável. Em geral, na região sul sudeste predomina as cales provenientes de dolomitos e calcários magnesianos e na região nordeste-nortecentro as resultantes de calcários. O principal produto da calcinação das rochas carbonatadas cálcicas e cálcio- magnesianas é a cal virgem, também denominada cal viva e cal ordinária. O termo cal virgem é o consagrado, na literatura brasileira e nas normas da ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas (2008), para designar o produto composto predominantemente por óxido de cálcio ou por óxido de cálcio e óxido de magnésio, resultantes da calcinação, à temperatura de 900 1200ºC, de calcários, calcários

Transcript of APOSTILA INDÚSTRIA CAL

  • Universidade Tecnolgica Federal do Paran Campus Apucarana

    Curso: Tecnologia em Processos Qumicos

    Professora: Juliana Guerra Sgorlon

    Disciplina: Tecnologia de Processos Inorgnicos

    INDSTRIA DA CAL

    I - INTRODUO

    A fabricao da cal e o seu emprego so conhecidos pelo homem h mais de

    2.000 anos. Suas primeiras aplicaes constam de construes de cais, de pavimentos e

    edificaes. Na Amrica Colonial, a simples calcinao do calcrio foi um dos

    processos primitivos de fabricao adotado pelos colonizadores. Usavam, ento fornos

    escavados num barranco, com paredes de tijolos ordinrios ou de pedra, com fogo de

    carvo ou de madeira no fundo, durante 72 horas. Estes fornos ainda podem ser vistos

    em muitas das regies de povoamento mais antigo no pas. Foi s recentemente, sob a

    influncia de pesquisa, que a fabricao da cal desenvolveu-se numa grande indstria,

    com um controle tcnico exato, produzindo um material uniforme a custo baixo.

    1.1 Indstria da cal no Brasil

    A maioria da cal produzida no Brasil resulta da calcinao de calcrios/dolomitos

    metamrficos, de idades geolgicas diferentes; geralmente muito antiga (pr-cambriana)

    e pureza varivel. Em geral, na regio sul sudeste predomina as cales provenientes de

    dolomitos e calcrios magnesianos e na regio nordeste-nortecentro as resultantes de

    calcrios.

    O principal produto da calcinao das rochas carbonatadas clcicas e clcio-

    magnesianas a cal virgem, tambm denominada cal viva e cal ordinria. O termo cal

    virgem o consagrado, na literatura brasileira e nas normas da ABNT - Associao

    Brasileira de Normas Tcnicas (2008), para designar o produto composto

    predominantemente por xido de clcio ou por xido de clcio e xido de magnsio,

    resultantes da calcinao, temperatura de 900 1200C, de calcrios, calcrios

  • magnesianos e dolomitos. A qualidade comercial de uma cal depende das propriedades

    qumicas do calcrio e da qualidade da queima. classificada, conforme o xido

    predominante, em: Cal Virgem Clcica (Com xido de clcio entre 100% e 90% do

    xido total presente); Cal Virgem Magnesiana (Com teores intermedirios de xido de

    clcio, entre 90% e 65% do xido total presente); e Cal Virgem Dolomtica (Com xido

    de clcio entre 65% e 58% do xido total presente).

    No mercado global da cal, a cal virgem clcica predomina, particularmente, pela

    sua aplicao nas reas das indstrias siderrgicas, de acar e de celulose. Todas elas,

    quer clcicas, quer magnesianas, so comercializadas em recipientes plsticos,

    metlicos e outros ou a granel, na forma de blocos (tal como sai do forno), britada

    (partculas de dimetro 1 a 6 cm), moda e pulverizada (85% a 95% passando na peneira

    0,149 mm). A proporo de produo de 1,7 ou 1,8t de Rocha Calcria para 1t Cal

    Virgem e com 1t Cal Virgem para 1,3t Cal Hidratada.

    Outro tipo de cal muito comum no mercado a cal hidratada que um p de cor

    branca resultante da combinao qumica dos xidos anidros da cal virgem com a gua.

    classificada, tambm, conforme o hidrxido predominante presente ou, melhor, de

    acordo com a cal virgem que lhe d origem, em: Cal Hidratada Clcica, Magnesiana e

    Dolomtica. A cal hidratada, geralmente, embarcada em recipientes plsticos ou em

    sacos de papel kraft (com 8, 20 e 40 quilos do produto), numa granulometria 85%

    abaixo de 0,074 mm (peneira 200).

    No Brasil, as diversificadas reas de consumo de cal so supridas por mais de

    200 produtores distribudos pelo pas. A capacidade de produo de suas instalaes

    varia de 1 a 1000 toneladas de cal virgem/dia. Dado ao uso da cal como aglomerante,

    plastificante e reagente qumico, no Brasil, o mercado caracteriza-se pela:

    disperso geogrfica das suas unidades de fabricao face s ocorrncias de

    calcrios dolomitos por quase todo o territrio nacional;

    facilidade e abundncia da sua oferta ainda que para cales especiais, o

    suprimento s vezes implique transporte mais longo; e

    o seu baixo custo o menor entre os reagentes qumicos alcalinos e os

    aglomerantes cimentantes.

    Das muitas aplicaes que a cal tem no Brasil, as principais so nas reas das

    indstrias:

    siderrgicas como fluxo (45 a 70 kg/t ao nos fornos LD), aglomerante (2,5% da

    carga de pelotizao);

  • celulose e papel para regenerar a soda custica e para branquear as polpas de

    papel;

    acar na remoo dos compostos fosfticos, dos compostos orgnicos e na

    clarificao; lcalis para recuperar a soda e a amnia;

    carbureto de clcio onde, com o coque, em forno eltrico, d formao a este

    importante composto qumico;

    tintas como pigmento e incorporante de tintas base de cal e como pigmento

    para suspenses em gua, destinadas s caiaes;

    alumnio como regeneradora da soda; e

    diversas de refratrios, cermica, carbonato de clcio precipitado, graxas, tijolos

    silico-cal, petrleo, couro, etanol, metalurgia do cobre, produtos farmacuticos e

    alimentcios e biogs.

    Figura 1 reas de consumo da cal (ABPC,2008)

    A utilizao da cal tambm se d, nos processos relativos a: tratamento de guas

    potveis e industriais; estabilizao de solos como aglomerante e cimentante;

    obteno de argamassas de assentamento e revestimento; misturas asflticas como

    neutralizador de acidez e reforador de propriedades fsicas; precipitao do SOx dos

    gases resultantes da queima de combustveis ricos em enxofre; de corretivo de acidez de

    pastagens e solos agrcolas; de sinalizao de campos esportivos; de proteo s

    rvores; de desinfetantes de fossas; de proteo estbulos e galinheiros; e de reteno

    de gua, CO2 e SOx.

    A produo brasileira de cal, segundo a ABPC (2008), atingiu em 2008 cerca de

    6,8 milhes de toneladas, caindo em relao a 2007, devido a crise. Desde 2002, a

    estrutura produtiva da cal vem mantendo crescimentos modestos e caiu em 2008. A

  • ABPC (2008), que congrega sessenta dos maiores produtores brasileiros, classifica os

    produtores de cal como:

    integrados: produzem cal (Virgem e Hidratada) a partir do calcrio prprio;

    no Integrados: produzem cal e compram calcrio;

    transformadores: realizam moagem e produzem CAL Hidratada a partir da CAL

    Virgem; e

    cativos: produzem para consumo prprio (Siderrgicas).

    Figura 2 Participao de cada setor na produo da cal (ABPC,2008).

    Cerca de 73% da produo brasileira de cal realizada no Sudeste, onde se

    concentram os maiores produtores, principalmente em Minas Gerais, vindo logo a

    seguir So Paulo, Rio de Janeiro e Esprito Santo.

    Na Regio Sul, que participa com 14% do mercado produtor brasileiro, a grande

    produo vem do Estado do Paran, onde, segundo a MINEROPAR- Minerais do

    Paran S.A (2008), existem cerca de 95 empresas produtoras de cal empregando

    diretamente quase 1.700 pessoas. O APL - Arranjo Produtivo de cal do Paran situa-se

    na regio Nordeste do Estado, com destaque para os municpios de Colombo, Almirante

    Tamandar, Rio Branco, Castro, Campo Largo e Rio Branco.

    Na regio Nordeste, encontra-se 6% da oferta brasileira de cal. O Rio Grande do

    Norte destaca-se como grande produtor dessa regio, com destaque para a regio de

    Mossor, Baraunas, Currais novos e Apodi, onde mdios produtores convivem com

    pequenos e micros muitas vezes produzindo na clandestinidade. O Cear tambm

    registra produo de cal, no municpio de Altaneira, localizada no Cariri Oeste, tem

    como principal fonte de renda a produo de cal, onde os moradores encontram uma

    fonte de renda para sustentar suas famlias.

  • Figura 3 Localizao dos principais produtores de cal no Brasil (ABPC,2008).

    O mercado livre, representado pelos produtores integrados, no integrados e

    transformadores, corresponde a 84% da produo total e os restantes 16% correspondem

    produo das grandes siderrgicas (produo cativa). O consumo per capita mundial

    de consumo de cal nos ltimos anos gira em torno de 30 Kg por habitante. Entre os

    maiores consumidores per capita do mundo, segundo o Mineral Industry Surveys

    (2008), citam-se: Blgica 193, Alemanha 130, Polnia 119, Rssia 112 Kg/hab/ano.

    O consumo per capita observado acima depende das caractersticas do consumo

    de cada pas, no entanto, os pases desenvolvidos so mais consumidores. O consumo

    per capita brasileiro girando em torno de 40 Kg/hab/ano, apesar de acima da mdia

    mundial, est bem afastado da mdia dos pases desenvolvidos citados acima.

    Nos ltimos anos a estrutura da produo da cal vem se mantendo praticamente

    inalterada, com a frao ou parcela da Cal Virgem correspondendo a 73% da produo

    nacional e a Cal Hidratada representando 27%.

    1.2 Definio, propriedades, classificao e aplicaes

    A cal, tambm conhecida como xido de clcio (CaO) uma das substncias

    mais importantes para a indstria, sendo obtida por decomposio trmica de calcrio

    (CaCO3) a 900C. Tambm chamada de cal viva ou cal virgem , um composto slido

    branco.

  • 1.2.1 Propriedades

    O xido de clcio aquecido chama do maarico oxdrico, emite uma luz

    branca, muito intensa, denominada luz de cal. Seu ponto de fuso extremamente

    alto; superior a 2500 C. Como um xido bsico, reage: a) com gua, dando

    hidrxido; b) com cidos, dando os sais de clcio correspondentes; c) com xidos

    cidos, dando os sais de clcio correspondentes.

    A reao com gua to exotrmica, que a gua em excesso chega a ferver; o

    hidrxido de clcio obtido conhecido como cal extinta. Grande parte de cal viva

    obtida convertida em cal extinta, em enormes aplicaes.

    1.2.2 Classificao

    Cal Clorada: Produto qumico obtido pela reao do gs cloro com a cal extinta.

    P branco de composio muito complexa, que contm hipoclorito de clcio, Ca(ClO)2.

    Parcialmente solvel em gua. Importante na indstria sendo empregado para vrios

    fins, por exemplo: como descorante alvejante, como desinfetante, como oxidante, na

    preparao de clorofrmio, etc. Recebe tambm a denominao imprpria de cloreto de

    cal.

    Cal Extinta ou Cal Apagada: [ Ca(OH)2

    ] Hidrxido de Clcio. obtido pela

    reao de cal viva com gua: CaO + H2O Ca(OH)

    2. pouco solvel em gua; ao

    contrrio da maioria das substncias, sua solubilidade diminui com a elevao da

    temperatura. Sua soluo em gua denomina-se gua de cal. A suspenso de grande

    quantidade de hidrxido de clcio em gua chamada de leite de cal. Note-se que a

    extino da cal uma operao bem exotrmica: liberam-se 15,5 Kcal por mol que

  • reage. empregada no preparo de argamassas para construes e como matria-prima

    muito barata na indstria qumica.

    Cal Gorda: a que provm da calcinao de calcrios bastante puros e tem a

    propriedade de se unir com a gua muito rapidamente, mesmo na forma de pedras,

    desenvolvendo grande quantidade de calor e aumentando muito de volume. branca e

    d esplndida argamassa. Forma, com pequeno excesso de gua, uma pasta de aspecto

    gorduroso.

    Cal Hidrulica: um produto obtido pela calcinao de calcrios, contendo 10 a

    20% de argila. Comporta-se na extino como a cal magra, unindo-se gua mais

    lentamente. Misturada com gua e areia (argamassa hidrulica), absorve gs carbnico

    da atmosfera. Difere, porm, completamente, das cales areas (que endurecem ao ar)

    pela propriedade de endurecer mesmo na ausncia de ar, pela ao exclusiva da gua, e

    poder conservar-se satisfatoriamente dentro desta ltima.

    Cal Magra: a cal formada de calcrios que contm silica, magnesita, argila e

    xidos de ferro; um produto inferior, que se associa gua lentamente, com fraco

    desenvolvimento de calor e pouco aumento de volume. Com a gua, forma em vez de

    uma pasta consistente, uma espcie de lama que fornece argamassa de endurecimento

    mais lento. A produo, tanto da cal magra como da gorda, feita em quantidades

    enormes.

    Cal Nitrogenada: a mistura de CaCN2

    (cianamida clcica) e C (grafite). Cerca

    de 70% do CaC2

    (carbeto de clcio) fabricado, transformado em cal nitrogenada, que

    se destina, em sua maior parte, ao uso como fertilizante. No solo, lentamente

    transformada em uria e depois em carbonato de amnio. A cal nitrogenada ainda

    empregada na fabricao de cianeto de sdio e gs amonaco. A fixao do nitrognio

    atmosfrico atravs da fabricao da cal nitrogenada, representa importante processo

    industrial, que foi introduzido por A. Frank e N. Caro, em 1895. A produo mundial

    sobe a vrios milhes de toneladas por ano.

    Cal Sobrecalcinada: Quando a temperatura da calcinao ultrapassa a 1.000 C

    comea a acarretar prejuzo para a qualidade da cal, pois o aumento de temperatura o

    CaO aumenta de densidade provocando diminuio da porosidade e aglomerao de

    gros, em consequncia diminui a capacidade de reao com a gua. A esta cal d-se o

    nome de cal sobrecalcinada.

  • Cal Dolomtica: a cal proveniente de uma rocha contendo de 35 a 45% de CaO

    e 10 a 25% de MgO. tambm chamada de cal magnesiana. Presta-se para massa de

    emboo ou estuque.

    1.2.3 Aplicaes da cal

    Cal de Construo: usa-se como argamassa e com fins ornamentais por seu fcil

    trabalho em consequncia da plasticidade. D um reboco elstico e livre de fendas para

    exteriores, e combinada com cimento, pode-se empregar at 20% (de peso de cimento)

    sem prejuzo da resistncia e com a vantagem de aumentar muito o volume e facilitar o

    trabalho.

    Cal para adubo: a forma em que a cal aplicada na terra, varia segundo as

    qualidades do solo. Tratando-se de terreno com escasso contedo em colides e

    portanto muito expostos a lixiviao, corrige-se sua falta de cal c/ calia moda. Nos

    terrenos mais compactos usa-se cal viva (virgem) em p que facilita o espalhamento

    para corrigir pH de solos cidos.

    Cal para Indstria: Sempre que se necessita de uma ao bsica, em uma

    indstria, a mais fcil de se obter e a mais barata a cal. Seu mais largo emprego tem

    lugar na indstria siderrgica para formar escria.

    usada no abrandamento da gua;

    serve de matria-prima bsica na produo de sais de clcio;

    tem emprego como matria-prima na fabricao de carbeto de clcio (C2Ca).

    Seu maior emprego na fabricao do hidrxido de clcio. Em laboratrio

    empregado na secagem de gases, por exemplo, do NH3. Este no pode ser secado com

    cloreto de clcio porque absorvido pelo mesmo, com formao de um amoniacato:

    CaCl2

    . 8NH3; tambm no pode ser secado com cido sulfrico concentrado porque

    reage com o mesmo dando sulfato de amnio; usa-se ento na secagem do gs

    amonaco, a cal viva.

  • A cal viva usada na purificao da sacarose; forma-se um sacarato solvel, que

    separado por filtrao das impurezas (insolveis). Passando-se uma corrente de gs

    carbnico precipita-se o carbonato de clcio, ficando a sacarose em soluo. Os

    sacaratos de clcio conhecidos so:

    usado na obteno de hidrognio puro: conduz-se uma mistura de monxido

    de carbono e vapor de gua sobre o xido de clcio aquecido a 500 C.

    Hidrxido de Clcio: Ca(OH)2

    - obtido a partir da cal viva, pela reao com

    gua:

    tambm chamada cal apagada. pouco solvel na gua; ao contrrio do que

    acontece com a maioria das substncias, sua solubilidade diminui com a elevao da

    temperatura. A soluo de hidrxido de clcio em gua chama-se gua de cal; a

    suspenso de grande quantidade de hidrxido de clcio em gua, chama-se leite de cal.

    A gua de cal exposta ao ar, absorve gs carbnico tornando-se leitosa, devido a

    formao de carbonato de clcio, que insolvel.

    A gua de cal usada em Qumica Analtica Qualitativa, na identificao do gs

    carbnico e dos carbonatos. Apresenta as reaes gerais dos hidrxidos; assim reage

    com os cidos dando os sais de clcio correspondentes:

    O maior emprego da cal extinta na preparao da argamassa, usada no

    assentamento de tijolos nas construes. A argamassa preparada misturando-se cal

    extinta, areia e gua: obtm-se uma massa espessa que exposta ao ar perde gua e

    solidifica-se, endurecendo depois gradativamente, medida que absorve gs carbnico,

    formando-se ento carbonato de clcio.

  • O hidrxido de clcio empregado na fabricao:

    a) da cal clorada, ou cloreto de cal;

    b) do hidrxido de sdio, a partir do carbonato:

    c) do sulfeto cido de clcio, que empregado na depilao de couros: o plo incha

    e separado por simples raspagem:

    d) de sulfito cido de clcio que empregado na extrao de celulose da madeira e

    tambm como antissptico:

    O hidrxido de clcio usado na purificao do gs de hulha, pois absorve

    vrios gases, tais como CO2, H

    2S, SO

    2 etc. tambm empregado na fabricao de

    vidros.

    II FABRICAO DA CAL

    2.1 Matrias-primas

    A principal matria-prima para a fabricao da cal o carbonato de clcio

    (CaCO3). O caronato de clcio encontra-se na natureza em grandes quantidades, sob

    diversas modalidades, tais como:

    a) Aragonita - o carbonato de clcio cristalizado no sistema rmbico; quando

    cristalizado acima de 30C, separam-se cristais de aragonita; abaixo desta temperatura

    separam-se cristais de calcita. A aragonita, abaixo de 30C, se encontra em estado

    metaestvel.

    b) Calcita - outra forma de carbonato de clcio cristalizado no sistema

    trigonal.* Os cristais de calcita so comumente embaados e opacos; quando so

    transparentes e incolores recebem o nome de espato de Islndia, que apresenta

    nitidamente o fenmeno de dupla refrao.

    c) Mrmore - um agregado de microcristais de calcita.

  • d) Calcrio - o carbonato de clcio, no nitidamente cristalizado, numa forma

    impura. Constitui s vezes grandes regies da crosta terrestre. O calcrio tambm

    chamado de greda.

    Os carbonatos de clcio e de magnsio so obtidos de depsitos de calcrio, de

    mrmore, de greda ou de cascas de ostra. Nas aplicaes visando a empregos qumicos,

    prefere-se um calcrio muito puro, em virtude da cal com alto teor de clcio que se

    obtm. Escolhem-se as pedreiras que ornecem rocha contendo como impurezas

    pequenas percentagens de slica, de argila e de ferro. Estas impurezas so importantes,

    pois a cal pode reagir com a slica e a alumina dando silicatos de clcio ou

    aluminossilicatos de clcio, cujas propriedades hidrulicas no so desejveis.

    Certas pedras que as vezes encontram-se na cal sobre calcinadaso

    provenientes de modificaes no prprio xido de clcio e, tambm em impurezas que

    sofreram o efeito do excesso de calor, e que se reconhecem como massas de material

    relativamente inerte, semivitrificado. A cal sobre-calcinada caracterizada pelo

    aumento de densidade, diminuio de porosidade e aglomerao de gros; em

    consequncia, diminui a capacidade de reao com a gua. Por outro lado a cal sub-

    calcinada apresenta torres de carbonatos de clcio que no encontram temperaturas

    suficiente, para decomporem-se.

    2.2 Processo de fabricao da cal

    Etapas da fabricao da cal:

    EXTRAO do CaCO3 de pedreiras ou veios subterrneos;

    TRANSPORTE da matria-prima da pedreira at os monhos (via frrea);

    BRITAGEM e MOAGEM das pedras em britadores de mandbula ou monhos

    giratrios;

    PENEIRAMENTO para separar os diversos tamanhos de pedras;

    CARREGAMENTO de pedras maiores no topo de FORNOS VERTICAIS;

    CARREGAMENTO de pedras pequenas para FORNOS rotatrios

    HORIZONTAIS;

    TRANSPORTE de finos para um PULVERIZADOR (fabricao de calcrio

    modo);

  • CALCINAO DO CALCRIO(de acordo com o tamanho), em fornos

    verticais para produzir cal em pedras, ou em fornos rotatrios horizontais para

    produzir cal pulverizada.

    EMBALAGEM da cal produzida ou carregamento para um hidratador;

    HIDRATAO da cal

    MOAGEM e CLASSIFICAO granulomtrica da cal extinta;

    ENSACAMENTO

    Figura 4 Fluxograma da sequncia dos estgios para fabricao da cal (GUEDES,

    2000)

    A primeira etapa do processo de fabricao da cal o desmonte/extrao do

    calcrio das pedreiras ou veio subterrneo por meio de explosivos. Em seguida ocorre o

    transporte das pedras de calcrio at a indstria por meio de caminhes para que se d a

    moagem/britagem das mesmas. As indstrias de cal geralmente esto localizadas

    prximas s pedreiras devido economia de combustvel. As pedras de calcrio so

    encaminhadas para equipamentos chamados britadores (giratrio ou de mandbula) para

    que ocorra a sua moagem e diminuio de sua granulometria. Posteriormente o calcrio

    enviado para peneiras vibratrias onde ocorre a classificao granulomtria, ou seja, o

    peneiramento para separar os diversos tamanhos de calcrio e dar continuidade ao

    processo.

    As partculas finas que passam pela peneira vibratria so transportadas para

    pulverizadores, afim de se fabricar calcrio modo para a agricultura e outras

    finalidades.

  • Figura 5 - (a) transporte do calcrio da pedreira, (b) britador de mandbulas, (c) peneira

    vibratria, (d) pulverizador

    J as pedras pequenas de calcrio so encaminhadas para fornos horizontais

    rotatrios para que passem pelo processo de calcinao. As pedras grande que ficam

    retidas nas malhas superiores das peneiras vibratrias so encaminhadas para o topo de

    fornos verticais de calcinao. Nesses fornos o calcrio aquecido a temperaturas que

    chegam a 900C. A altas temperaturas ocorre o desprendimento de dixido de carbono

    (CO2) e o surgimento do xido de clcio (CaO).

    Figura 6 (a) Forno horizontal, (b) forno vertical de calcinao

  • 2.2.1 Calcinao do calcrio: trocas de energia na converso qumica

    Para fabricao da cal, gasta-se energia para extrao do calcrio da pedreira,

    para o transporte at a fbrica e na calcinao atravs do forno.

    A calcinao uma reao reversvel e exotrmica com desprendimento de

    1,18x106 kcal/ton.

    O consumo mdio de combustvel na calcinao, usando-se carvo betuminoso,

    de 3,23 Kg de cal por um de carvo, nos fornos verticais, e de 3,37 Kg, nos fornos

    rotatrios(horizontais).

    Abaixo de 650C, a presso de decomposio do CO2 no equilbrio muito

    pequena. Entre 650 a 900C, a presso de decomposio aumenta rapidamente e atinge

    a 1 atm a cerca de 900C. Na maioria dos fornos em operao, a presso parcial do CO2

    nos gases em contato direto com a superfcie externa das pedras menor que 1 atm; por

    isso, a decomposio inicial pode ocorrer em temperaturas um pouco menores que

    900C. A temperatura de decomposio no centro dos pedaos de rocha ,

    possivelmente, bem superior a 900C, pois a a presso parcial do CO2 no s igual

    presso total, ou est prxima desta presso total, mas tambm deve ser bastante

    elevada para provocar o movimento do gs para fora da pedra e sua entrada na corrente

    gasosa.

    O calor total necessrio para obter uma tonelada de cal na calcinao pode ser

    dividido em duas partes: o calor sensvel necessrio para elevar a temperatura da rocha

    at a decomposio, e o calor latente de dissociao. As exigncias tericas de calor por

    tonelada de cal produzida, quando a rocha foi aquecida apenas at uma temperatura de

    calcinao igua a 900C, so aproximadamente 362 milhes de calorias, para o calor

    sensvel, e 724 milhes de calorias, para o calor latente.

    Nas operaes reais de calcinao, em virtude de contingncias prticas, entre as

    quais o tamanho das pedras e o tempo da operao, aquece-se a rocha a temperatura

    entre 1200 e 1300C, o que aumenta as exigncias de calor sensvel em cerca de 97500

    Kcal. Por isso as necessidades prticas so aproximadamente, de 1183 milhes de

    calorias por tonelada de cal produzida num forno vertical. Cerca de 40% corresponde ao

    calor sensvel e o restante ao calor latente da decomposio.

  • 2.2.2 Fornos de calcinao

    Fornos verticais: empregados geralmente na calcinao de pedras gradas de calcrio.

    Tanto so fornos verticais como os horizontais so revestidos com tijolos refratrios e

    tem seus cascos confeccionados em ao para resistir as altas temperaturas. Existem

    vrios tipos de fornos verticais de calcinao:

    Fornos verticais com fornalhas de aquecimentos externas: so os fornos mais

    primitivos e atualmente esto obsoletos;

    Fornos verticais queimando uma alimentao mista de calcrio e coque: nestes

    fornos o calcrio deve estar bem integrado ao combustvel para que ocorra a calcinao.

    So fornos usados no processo Solvay de fabricao da barrilha.

    Figura 7 Fornos de alimentao mista (GUEDES, 2000)

    Fornos verticais onde a combusto feita em queimadores especiais: A

    combusto feita em queimadores especiais, com vrias bocas e resfriados a gua, que

    asseguram a calcinao uniforme do calcrio. Os custos de produo so 20% menores

    do que nos fornos rotativos equivalentes. Este forno recircula parte do gs assegurando

    um aquecimento uniforme e 98% de descarbonizao em temperatura inferior a 870C.

    Com isto, obtm-se uma cal mais ativa (menos queimada).

  • Figura 8 Forno vertical de cal com queimadores especiais (Union Carbide

    Metals) (SHREVE, 1997)

    Sistema Dorrco FluoSolids: opera num forno vertical com gs calcinando o

    carbonato num leitoo fluidizado seco. uma generalizao do reator a leito fluidizado,

    com uso extenso na indstria de petrleo, e por exemplo, na oxidao do naftaleno a

    anidrido ftlico.

  • Figura 9 Sistema Dorrco Fluosolids para a produo de cal a partir de calcrio

    pulverizado ou de uma lama de carbonato de clcio (SHREVE, 1997).

    Fornos verticais modelo Azbe: so aquecidos mediante injees mltiplas e

    controle do gs natural, com recirculao de ar. Esse forno pode ter zonas de calcinao

    e de pr-aquecimento produzindo 276 toneladas dirias de cal de alta qualidade.

    Consegue-se essa taxa graas eliminao da requeima e mediante a introduo

    regulada e sucessiva do combustvel, com recirculao do ar. Todo o combustvel entra

    na base da zona ativa de calcinao e todo ar pela base da seo de arrefecimento da cal.

    Uma parte significativa de ar quente retirada da seo de arrefecimento da cal, para

    evitar a zona mais quente de calcinao e reduzir a temperatura nesta zona. O sistema de

    retirada de cal funciona segundo controle automtico, em intervalos de 5 a 20 minutos.

  • Figura 10 Forno Azbe (SHREVE, 1997)

    Fornos horizontais: Tm comumente 46 m a 122 m de comprimento 122 m, com

    dimetro de 3,5 m. Um arrefecedor da cal produzida, rotatrio e a contracorrente

    usado para pr-aquecer o ar de combusto. Estes fornos operam com finos ou com

    pequenos pedaos de calcrio ou de mrmore ou com lama mida de carbonato de

    clcio precipitado. Qualquer um destes materiais bloquearia a queima eficiente e

    uniforme do combustvel em um forno vertical.

  • Figura 11 Fornos horizontais

    2.2.3 Hidratao, embalagem, transporte e armazenamento

    Aps a calcinao a cal produzida pode segui para a embalagem (em barris ou

    tambores de 82 a 172 kg). Uma parte da cal produzida pode ser encaminhada para um

    equipamento chamado hidratador para ser hidratada e transformada em cal extinta e ser

    comercializada como hidrxido de clcio [Ca(OH)2]. A cal extinta comercializada em

    saco de papel de 22,7 kg. A reao de hidratao da cal exotrmica (15,9 Kcal) e

    representada a seguir:

    Figura 12 Esquema de hidratao da cal

    Para o armazenamento e transporte da cal virgem (CaO) e da cal extinta

    [Ca(OH)2] deve-se tomar alguns cuidados, como ser apresentado a seguir.

    a) Cal Virgem: A proteo da cal virgem durante o transporte e armazenamento,

    contra o contato com umidade ou com gua, fundamental para garantir sua qualidade e

  • para evitar a ocorrncia de acidentes provocados pela elevao da temperatura. Essa

    elevao pode atingir valores suficientes para provocar incndio em materiais

    combustveis.

    Pode ser embalada em sacos multifolhados de papel, e assim transportada em

    caminhes comuns e armazenada em pavilhes cobertos. Estes devem ser livres de

    umidade, de inundaes e de goteiras. No devem ser usados estrados de madeira, por

    serem combustveis. O armazenamento no deve ser feito junto com materiais

    inflamveis, materiais explosivos, ou junto com produtos higroscpicos.

    b) Cal Hidratada: A cal hidratada no exige os cuidados preconizados para a cal

    virgem, no que diz respeito ao contato com a gua. Mas da mesma forma que a cal

    virgem, irrita a pele e as mucosas. Esse problema agravado pelo fato de ser um

    material pulverulento muito fino, com baixo peso especfico, produzindo por isso

    grande quantidade de poeira ao ser movimentado.

    3 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    SHREVE, R. N; BRINK JUNIOR, J. A. Indstrias de processos qumicos. 4. ed. Rio de

    Janeiro: Guanabara Koogan, 1997.

    GUEDES, A. B. Fabricao e controle de qualidade de cal e cimento. 2000.

    ABPC Associao Brasileira dos Produtores de Cal. So Paulo, 2008. Disponvel em:

    Acesso em: 26 de junho de 2013.

    Anurio Estatstico da Indstria Siderrgica Brasileira. Rio de Janeiro: IBS, 2008.

    Anurio Mineral Brasileiro 2008. Braslia, MME/DNPM, 2001. Disponvel em:

    http://www.dnpm.gov.br. Acesso em: 26 de junho de 2013.

    BRASIL. Instituto Brasileiro de Siderurgia IBS. Anurio Estatstico da Indstria

    Siderrgica Brasileira. Riode Janeiro, 2008.

    GUIMARES, J.E.P. A Indstria de Cal no Brasil. ABPC. So Paulo, 1990.