Apostila Parte V

9
Ergonomia: Aplicação Prática ao Trabalho 22 Embora em geral essas tarefas não exijam grande demanda energética, podendo, muitas vezes, ser realizadas na posição sentada, submetem os trabalhadores a atividades intensas dos músculos dos dedos, braços e ombros que nem sempre movimentam-se de maneira adequada. Essas operações são características de trabalhos de montagem em linhas de produção, tais como: montagem de eletroeletrônicos, montagem de relógios, embalagem de produtos, inspeções visuais de produtos, etc. Tais atividades podem conduzir os trabalhadores a desenvolverem as chamadas DORT - Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho, dentre elas as LTC - Lesões por Trauma Cumulativo ou LER - Lesões por Esforços Repetitivos. Dentre essas lesões destacamos as mais diagnosticadas atualmente: Síndrome do túnel do carpo (pulso); Tendinites; Tenossinovites; Bursites; Inflamações de articulações em geral. Não é somente o trabalho que pode levar o trabalhador a uma das enfermidades elencados anteriormente mas diversos fatores associados às nossas atividades laborais são co-responsáveis por isso, a saber: Posturas de trabalho inadequadas: ombros elevados, punhos desviados, etc.; Postura de trabalho estática; Ritmo / velocidade de trabalho excessivo; Freqüência de atividades repetitivas muito alta e sem intervalos de descanso; Horas extras em atividades com potencial de dano; Sistemas de pagamento por incentivo / exigências exageradas de produção; Tensão no trabalho; Pressão da chefia; Métodos de trabalho inadequados que requeiram força excessiva; Móveis, equipamentos e ferramentas inadequadas; Condições ambientais adversas; Métodos agressivos de trabalho; Desprazer no trabalho; Luvas de proteção inadequadas, etc. Não obstante, também os fatores pessoais são importantes, tais como: Dores nas articulações ou doenças citadas preexistentes;

description

Ergonomia Aplicada

Transcript of Apostila Parte V

Page 1: Apostila Parte V

Ergonomia: Aplicação Prática ao Trabalho

22

Embora em geral essas tarefas não exijam grande demanda energética, podendo,

muitas vezes, ser realizadas na posição sentada, submetem os trabalhadores a

atividades intensas dos músculos dos dedos, braços e ombros que nem sempre

movimentam-se de maneira adequada.

Essas operações são características de trabalhos de montagem em linhas de

produção, tais como: montagem de eletroeletrônicos, montagem de relógios,

embalagem de produtos, inspeções visuais de produtos, etc.

Tais atividades podem conduzir os trabalhadores a desenvolverem as chamadas

DORT - Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho, dentre elas as LTC

- Lesões por Trauma Cumulativo ou LER - Lesões por Esforços Repetitivos.

Dentre essas lesões destacamos as mais diagnosticadas atualmente:

• Síndrome do túnel do carpo (pulso); • Tendinites; • Tenossinovites; • Bursites; • Inflamações de articulações em geral.

Não é somente o trabalho que pode levar o trabalhador a uma das enfermidades

elencados anteriormente mas diversos fatores associados às nossas atividades

laborais são co-responsáveis por isso, a saber:

• Posturas de trabalho inadequadas: ombros elevados, punhos desviados, etc.;

• Postura de trabalho estática; • Ritmo / velocidade de trabalho excessivo; • Freqüência de atividades repetitivas muito alta e sem intervalos de descanso;

• Horas extras em atividades com potencial de dano; • Sistemas de pagamento por incentivo / exigências exageradas de produção; • Tensão no trabalho; • Pressão da chefia; • Métodos de trabalho inadequados que requeiram força excessiva; • Móveis, equipamentos e ferramentas inadequadas; • Condições ambientais adversas; • Métodos agressivos de trabalho; • Desprazer no trabalho; • Luvas de proteção inadequadas, etc. Não obstante, também os fatores pessoais são importantes, tais como:

• Dores nas articulações ou doenças citadas preexistentes;

Page 2: Apostila Parte V

Ergonomia: Aplicação Prática ao Trabalho

23

• Problemas de circulação periférica; • Neuropatias preexistentes; • Níveis reduzidos de estrogênio (gravidez); • Mãos e punhos pequenos; • Vida sedentária e/ou estressante, • Traumatismos anteriores; • Características físicas, • Perfil psicológico, • etc. Para prevenir as DORT algumas recomendações devem ser levadas em

consideração:

• Automatização de tarefas repetitivas críticas; • Diversificação das tarefas dos trabalhadores; • Distribuição de cargas e esforços a musculatura de todo o corpo; • Evitar pinçamento; • Evitar flexão ou extensão do punho; • Evitar o binômio força - rotação de articulações; • Utilizar equipamentos que auxiliem a segurar e manipular cargas; • Evitar pressões sobre o ritmo de trabalho; • Permitir pausas para descanso (trabalhos altamente repetitivos: 55 minutos de trabalho - 5 minutos de descanso);

• Promover a rotação de funções; • Treinar os trabalhadores para que reconheçam e evitem posturas que possam levar a DORT;

• Introduzir ginástica de distensionamento: ♦ iniciar os exercícios lenta e gradualmente ♦ exercitar-se de forma a não sentir dor ♦ fazer cada exercício por aproximadamente 20 a 30 segundos ♦ respirar calma e regularmente durante os exercícios

Page 3: Apostila Parte V

Ergonomia: Aplicação Prática ao Trabalho

24

X. TRABALHO COM USO DE COMPUTADOR: O trabalho ergonômico com o uso de computadores implica na análise de

teclados, monitores, mesas, cadeiras, iluminamento, ruído, temperatura, etc.

De uma maneira simples e objetiva os seguintes aspectos devem ser observados

em relação ao mobiliário / equipamento para que evitemos riscos à saúde dos

usuários:

• CADEIRAS: • apoio dorsal regulável e confortável;

• evitar cadeiras que obriguem o usuário a inclinar-se para frente;

• altura do assento ajustável (paliativamente, apoio para os pés);

• dimensões apropriadas;

• extremidade do assento arredondada;

Page 4: Apostila Parte V

Ergonomia: Aplicação Prática ao Trabalho

25

• apoio para os braços;

• confortável (vide ilustração páginas 9 e 10).

• MESA: • altura ajustável com ajustes fáceis;

• flexibilidade de posicionamento do monitor que deve possibilitar a

inclinação para frente ou para trás e movimentação lateral;

• dimensões apropriadas;

• espaço para as pernas suficiente em profundidade, altura e largura (vide

ilustração páginas 9, 10 e 11).

• TECLADO E SEU SUPORTE: • teclado destacável do monitor;

• apoio do teclado regulável (fácil ajuste) caso a mesa não o seja;

• dimensões apropriadas;

• mobilidade geral;

• suporte para os punhos com extremidades arredondadas e,

preferencialmente, almofadadas.

• SUPORTE PARA DOCUMENTOS: • possibilidade de ajustes com facilidade.

• APOIO PARA OS PÉS: • largura suficiente;

• ângulo e altura ajustáveis;

• mobilidade.

• MONITOR: • bom contraste;

• espaços entre caracteres de 20 a 50% da altura do caracter;

• boa distinção entre letras;

• iluminação ajustável.

• ILUMINAÇÃO DO AMBIENTE: • 250 e 500 lux;

• posicionamento de forma a evitar reflexos no monitor;

• postos de trabalho lateralmente às janelas.

• GERAIS: • temperatura e ventilação adequadas;

• nível de pressão sonora adequado ao trabalho.

Page 5: Apostila Parte V

Ergonomia: Aplicação Prática ao Trabalho

26

• OPERADOR: • utilizar os ajustes buscando as posições mais confortáveis;

• ajustar brilho;

• posicionar documentos e monitor à mesma distância dos olhos;

• descansar a musculatura dos olhos fixando pontos mais distantes a intervalos

regulares;

• posicionar topo do monitor um pouco abaixo da linha de visão;

• alternar posturas de trabalho periodicamente e ficar de pé repetidas vezes;

• evitar torções e inclinações do corpo e pescoço;

• ajustar teclado à altura do cotovelo;

• fazer pausas para descanso;

• fazer exercícios físicos compensatórios (vide páginas 23 e 24).

XI. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO: Devemos sempre buscar a melhor adaptação do homem ao seu posto de trabalho e

às atividades que desenvolve.

Diversos aspectos que citaremos a seguir devem ser considerados para obtermos

o posto de trabalho adequado, a saber:

• TRABALHO DINÂMICO: • alternar trabalho leve e pesado.

• TRABALHO ESTÁTICO: • evitar postos que obriguem a manutenção de posições rígidas de trabalho;

• evitar alcances ou levantamentos superiores a 127 cm;

• evitar alcances frontais superiores a 38 cm (sentado) e 50 cm (em pé);

• prover assentos ou suportes adequados;

• prover suportes para os pés;

• reduzir força necessárias à operação de comandos operados mais de 10 vezes

por minuto ou segurados por períodos maiores que 30 segundos.

• projetar comandos que não tenham que ser mantidos pressionados durante as

operações;

• permitir pausas para descanso;

• prover ajuda e/ou equipamentos adequados para o transporte de materiais

pesando mais de 7 Kg;

• utilizar talhas e morsas;

• sempre que possível prover manoplas ou cabos em objetos que serão

levantados.

Page 6: Apostila Parte V

Ergonomia: Aplicação Prática ao Trabalho

27

• MECANIZAÇÃO: • sempre que possível mecanizar as atividades mais pesadas.

• SELEÇÃO DE PESSOAL: • levar em conta o dispêndio energético da atividade.

• ADAPTAÇÃO AO TRABALHO: • permitir a adaptação do organismo ao trabalho pesado que deverá ocorrer

após algumas semanas.

• MELHORIA DAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS: • buscar temperaturas e níveis de ruído mais amenos.

• AQUECIMENTO: • permitir exercícios físicos de alongamento.

• HORAS DE TRABALHO: • devem ser evitadas horas extraordinárias em trabalhos pesados.

• REVEZAMENTOS DE TURNOS: • priorizar escalas que permitam adequado descanso entre períodos de

trabalho;

• permitir alguns descansos em finais de semana.

• PRESSÕES PSICOLÓGICAS: • fatores de busca da qualidade e produtividade não podem representar

pressão psicológica.

XII. ANTROPOMETRIA: Ciência que estuda as medidas do corpo humano e aspectos biomecânicos do

homem, conhecimentos de fundamental importância no projeto de mobiliário,

equipamentos e postos de trabalho.

Dados corretos originados de estudos antropométricos determinam resultados

práticos capazes de atender a maior faixa possível de pessoas.

Em “Documentos Anexos” apresentamos o resultado final de pesquisa

antropométrica e biomecânica realizada com operários da indústria de

Page 7: Apostila Parte V

Ergonomia: Aplicação Prática ao Trabalho

28

transformação do Rio de Janeiro que, na falta de trabalho específico para a

população em estudo, poderá ser utilizada com certa representatividade.

XIII. CONDIÇÕES AMBIENTAIS DE TRABALHO:

Sob a ótica da ergonomia, as condições do ambiente de trabalho influem no

desempenho dos trabalhadores em relação a sua capacidade de concentração, seu

estado de alerta, sua capacidade de interpretação de informações e sua

produtividade como um todo.

Aspectos como calor, iluminação e ruído a par de serem considerados dentro da

“HIGIENE DO TRABALHO”, também devem sofrer avaliação ergonômica de

acordo com os parâmetros que se seguem:

ASPECTO PARÂMETROS PARA AVALIAÇÃO CALOR • Higiene do Trabalho: Anexo 3 da NR-15

• Recomendações:

• aclimatação gradual

• ingestão abundante de água

• reduzir ritmo de atividade

• aumentar períodos de descanso

• modificar vestimentas

• Conforto: NR-17

• índice de temperatura efetiva entre 20 e 23oC

• velocidade do ar inferior a 0,75 m/s

umidade relativa superior a 40%

ILUMINAÇÃO • NR-17: NBR-5413

• Recomendações:

• eliminar reflexos

• eliminar fortes contrastes de cores

• evitar luz direta no campo visual

• janelas com cortinas ou persianas

• difundir fontes de luz

• iluminação para tarefas específicas

• reflexão de luz no teto e não no piso

• luzes fluorescentes em ângulo reto em relação a linha de

visão

RUÍDO • Higiene do Trabalho: Anexo 1 e 2 da NR-15

• Conforto: NR-17 / NBR 10152

XIV. NORMA REGULAMENTADORA No 17 - ERGONOMIA:

Page 8: Apostila Parte V

Ergonomia: Aplicação Prática ao Trabalho

29

Sob o ponto de vista legal, todas as exigências relativas à ergonomia estão

inseridas na NR-17 que, dentre outros, aborda os seguintes assuntos:

• Levantamento, transporte e descarga individual de materiais; • Mobiliário e postos de trabalho; • Equipamentos dos postos de trabalho; • Condições ambientais de trabalho: ruído, calor, temperatura, ventilação e umidade;

• Organização do trabalho: normas de produção, modo operatório, exigências de tempo, determinação do conteúdo do tempo, ritmo de trabalho e conteúdo das tarefas;

• Normas para tarefas que exijam sobrecarga muscular dinâmica ou estática dos membros superiores.

Além do exposto, a NR-17 também exige que se desenvolva análises

ergonômicas dos postos de trabalho com a elaboração de “Laudos Ergonômicos”

emitidos por engenheiros de segurança do trabalho ou médicos do trabalho. Cópia

da NR-17 poderá ser analisada no material anexo.

XV. AVALIAÇÃO ERGONÔMICA: Deve-se procurar analisar uma atividade ou posto de trabalho da maneira mais

objetiva possível o que, em se tratando da visão ergonômica dos mesmos, nem

sempre é uma tarefa fácil.

Os diversos e complexos itens já citados que temos que considerar, associados a

aspectos relacionados ao homem quase sempre pouco tangíveis, atribuem a essa

tarefa dificuldades que temos que transpor.

O ponto de partida para a avaliação ergonômica competente é ter em mente que

não existem regras definitivas e que a técnica e o conhecimento aplicados não

sendo absolutos, também não se prestam a conclusões definitivas das questões.

Como em todas as interfaces analisadas pela engenharia de segurança, higiene e

medicina do trabalho, também nesse caso ou, principalmente nesse caso, a visão

do trabalhador é fator fundamental na condução de nossas avaliações e na

proposta de medidas corretivas ou mitigadoras dos problemas encontrados.

Não obstante as dificuldades mencionadas, a sugestão de metodologias para

avaliação das diversas situações de trabalho que são encontradas é o caminho que

nos parece mais adequado a fim de que possamos padronizar não as nossas

decisões frente aos problemas, o que seria impossível, senão a forma de

abordagem dos mesmos.

Page 9: Apostila Parte V

Ergonomia: Aplicação Prática ao Trabalho

30

Nesse contexto, apresentaremos a seguir um questionário básico que deverá ser

respondido pelo trabalhador executor do trabalho avaliado ou ocupante do posto

de trabalho em questão, a fim de que possamos ter suas opiniões registradas e

levadas em consideração.

Na seqüência, vários “CHECK-LISTS” serão apresentados a título de sugestão.

Deverão ser aplicados por equipe multidisciplinar (engenheiro ou técnico de

segurança do trabalho, médico do trabalho, assistente social) lembrando sempre

que seus resultados não são definitivos, embora representem a experiência de

diversos estudiosos do assunto o que lhes confere bom grau de confiabilidade.

Ainda é necessário mencionar que os princípios básicos da avaliação ergonômica

preconizam que sempre levemos em consideração cinco pontos básicos que

interferem na relação homem-trabalho: FORÇA, POSTURAS INCORRETAS, MOVIMENTO (REPETITIVIDADE), COMPRESSÃO MECÂNICA e TENSÃO.

Para facilitar a visão global do processo, seguem-se fluxogramas3 de orientação

quanto a abordagem de avaliação ergonômica em escritórios e em atividades em

fábricas ou outros locais.

3 Fluxogramas propostos por Hudson de Araújo Couto em seu libro “Ergonomia Aplicada ao Trabalho - O Manual Técnico da Máquina Humana” - Volume II.