Apostila-Sistema de Potência

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SISTEMA DE POTÊNCIA – MATERIAL DIDÁTICO

ESCOLA TÉCNICA ELECTRA 1

INTRODUÇÃO A Correção do fator de potência através, principalmente, da instalação de capacitores tem sido alvo de muita atenção das áreas de projeto, manutenção e finanças de empresas interessadas em racionalizar o consumo de seus equipamentos elétricos. Objetivando otimizar o uso da energia elétrica gerada no país, a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), através do Decreto Nº 479 de 20 de março de 1992 estabeleceu que o fator de potência mínimo deve ser 0,92. Com o avanço da tecnologia e com o aumento das cargas não lineares nas instalações elétricas, a correção do fator de potência passa a exigir alguns cuidados especiais. Esta apostila tem como objetivo dar orientação para uma correta instalação de capacitores, corrigindo efetivamente o fator de potência e proporcionando às empresas maior qualidade e maior competitividade. 1 - CIRCUITOS EM CORRENTE ALTERNADA 1.1 – Triângulo das Potências Nós temos três tipos de potências num circuito elétrico, uma denominada de Potência Real (P) considerada como a potência resistiva dissipada na forma de calor. Quando a tensão atravessa uma reatância, que está sempre defasada 90° em relação à corrente que passa pela reatância, tem a Potência Reativa (Q). O produto da tensão da linha pela corrente da linha é conhecido como Potência Aparente (S). Podemos fazer uma analogia do triângulo das potências com uma tulipa de chopp.

ADVERTÊNCIA: Se for dirigir não beba.

Potência ativa: Potência que efetivamente realiza trabalho gerando calor, luz, movimento, etc.. É medida em W.

Potência Ativa (P) → P = VR IR = VI cos ϕ P = R I² cós φ ou P = V² cós φ R Potência reativa: Potência usada apenas para criar e manter os campos eletromagnéticos das cargas indutivas. É medida em VAr.

Potência Reativa (Q) → Q = Vx Ix = vi sen ϕ

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Potência aparente: É o somatório das potências ativa e reativa. É medida em VA.

2 2S P Q= + ou S VI= cos φ

Fator de potência: É a razão entre a potência ativa e a potência aparente. Ele indica a eficiência do uso da energia. Um alto fator de potência indica uma eficiência alta e inversamente, um fator de potência baixo indica baixa eficiência energética. Um triângulo retângulo é freqüentemente utilizado para representar as relações entre W, VAr e VA. Exemplos: 1 – Um motor com a especificação 240V, 8A consome 1.536W com carga máxima. Qual o seu fator de potência?

P 1560cos 0,8S 240x8

ϕ = = =

2 – Uma corrente de 7A segue uma tensão de 220V formando um ângulo de 30º. Qual o FP e a potência real consumida? FP cos cos30º 0,866= ϕ = =

P VIcos 220x7x0,866 1.334W= ϕ = =

3 – Num circuito RLC em série a corrente da linha CA é de 2A e segue a tensão aplicada de 17V formando um ângulo de 61,9º. Calcule o FP, P, Q e S. FP cos cos61,9º 0,471= ϕ = =

P VIcos 17x2x0,471 16W= ϕ = =

Q VIsen 17x2x0,882 30VAr= ϕ = =

S VI 17x2 32VA= = =

1.2 – Circuito RLC em Série Quando um circuito contendo resistência, indutância e capacitância em série com uma fonte AC, a corrente que atravessa esse circuito será determinada pela impedância total da associação. A corrente I é a mesma em R, XL e XC, uma vez que estão em série. A queda de tensão através de cada elemento é determinada pela lei de Ohm: VR = IR VL = IXL VC = IXC A queda de tensão através da resistência está em fase com a corrente que passa pela resistência. A tensão através da indutância está adiante da corrente que passa pela indutância em 90°. A tensão através do capacitor esta atrasada relativamente à corrente que passa pela capacitância em 90°.

XC

VT XL

R I

VR

VL

VC

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Onde: VR = queda de tensão através da resistência, V VL = queda de tensão através da indutância, V VC = queda de tensão através da capacitância, V I = corrente que atravessa cada elemento, A XL = reatância indutiva, Ω XC = reatância capacitiva, Ω R = resistência, Ω

(VL - VC)

VC

I (referência)VR

VL

(VL - VC)VT

VR

I (referência)

2 2VT VR (VL VC)= + − VL VC

arctgVR

−θ =

(VC - VL)

VC

I (referência)VR

VL

(VC- VL)VT

VR I (referência)

2 2VT VR (VC VL)= + − VL VC

arctgVR

− θ = −

A impedância é dada por:

2 2Z R (XL XC)= + − ou

2 2Z R (XC XL)= + −

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1.3 – Circuito RLC em Paralelo Um circuito AC com três ramos em paralelo tem uma resistência em um ramo, uma indutância no segundo ramo e uma capacitância no terceiro. A tensão é a mesma através de cada ramo em paralelo, de modo que VT = VR = VL = VC.. A tensão VT é o fasor soma de IR, IL e IC. A corrente na resistência está em fase com a tensão aplicada VT. A corrente na indutância IL segue atrás da tensão VT de 90°. A corrente no capacitor IC está adiante da tensão VT de 90°.

V (referência)IR

ICIL

(IL - IC)

IT (IL-IC)

IR VT (referência)

2 2IT IR (IL IC)= + − IL IC

arctgIR

− θ = −

(IC-IL)

IL

VT (referência)

IC

IR

(IC-IL)IT

IR

VT (referência)

2 2IT IR (IC IL)= + −

IC ILarctg

IR

−θ =

A impedância Z é dada por:

2 2

Rx(XL XC)Z ou

R (XL XC)

−=

+ − 2 2

Rx(XC XL)Z

R (XC XL)

−=

+ −

IT

IR IL IC

VT

R XL XC

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Exercícios: 1 – Num circuito CA com RLC em série a corrente da linha é de 5 A e segue a tensão aplicada de 127 V formando um ângulo de 60º. Calcule a potência ativa, potência reativa, potência aparente e o fator de potência. 2 – Num circuito série, R = 12 Ω, XL = 7 Ω e XC = 2 Ω. Calcule a impedância, o ângulo de defasagem, o fator de potência e a corrente da linha quando a tensão CA for 110 V. 3 – Um resistor de 30 Ω, uma reatância indutiva de 15 Ω e uma reatância capacitiva de 12 Ω estão ligadas em paralelo através de uma linha de 120 V e 60 Hz. Calcule a corrente total, a impedância e a potência consumida pelo circuito. 4 – Calcule o fator de potência do motor de uma máquina de lavar roupa se esta consome 4 A e 420 W de uma linha CA de 110 V. 5 – A iluminação e os motores de uma oficina consomem 20 kW de potência. O FP da carga total é 0,60. Calcule a potência aparente liberada pela carga. 6 – Um motor de indução de 220 V e 20 A consome 3 kW de potência. Calcule o fator de potência.

2 – Baixo Fator de Potência Hoje em dia as instalações residenciais, comerciais e industriais estarem com uma quantidade bem elevada de cargas não lineares. Isso trás, como conseqüência, um alto consumo de energia elétrica. A fim de se utilizar o mais eficientemente possível a corrente liberada para a carga, deseja-se um alto fator de potência. 2 - Conseqüências e Causas de um Baixo Fator de Potência 2.1 - Perdas na Instalação As perdas de energia elétrica ocorrem em forma de calor e são proporcionais ao quadrado da corrente total (I2.R). Como essa corrente cresce com o excesso de energia reativa, estabelece-se uma relação entre o incremento das perdas e o baixo fator de potência, provocando o aumento do aquecimento de condutores e equipamentos. 2.2 - Quedas de Tensão O aumento da corrente devido ao excesso de energia reativa leva a quedas de tensão acentuadas, podendo ocasionar a interrupção do fornecimento de energia elétrica e a sobrecarga em certos elementos da rede. Esse risco é sobretudo acentuado durante os períodos nos quais a rede é fortemente solicitada. As quedas de tensão podem provocar ainda, a diminuição da intensidade luminosa das lâmpadas e aumento da corrente nos motores. 2.3– Sub-utilização da Capacidade Instalada A energia reativa, ao sobrecarregar uma instalação elétrica, inviabiliza sua plena utilização, condicionando a instalação de novas cargas a investimentos que seriam evitados se o fator de potência apresentasse valores mais altos. O "espaço" ocupado pela energia reativa poderia ser então utilizado para o atendimento de novas cargas. Os investimentos em ampliação das instalações estão relacionados principalmente aos transformadores e condutores necessários. O transformador a ser instalado deve atender à potência total dos equipamentos utilizados, mas devido a presença de potência reativa, a sua capacidade deve ser calculada com base na potência aparente das instalações. A Tabela 1 mostra a potência total que deve ter o transformador, para atender uma carga útil de 800 kW para fatores de potência crescentes.

Também, os custos dos sistemas de comandos, proteções e controles dos equipamentos crescem com o aumento da energia reativa. Da mesma forma, para transportar a mesma potência ativa sem o aumento de perdas, a seção dos condutores deve aumentar à medida que o fator de potência diminui. A correção do fator de potência por si só já libera capacidade para instalação de novos equipamentos, sem a necessidade de investimentos em transformador ou substituição de condutores para esse fim específico.

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2.4 – Principais Conseqüências - Acréscimo na conta de energia elétrica por estar operando com baixo fator de potência; - Limitação da capacidade dos transformadores de alimentação; - Quedas e flutuações de tensão nos circuitos de distribuição; - Sobrecarga nos equipamentos de manobra, limitando sua vida útil;

- - Aumento das perdas elétricas na linha de distribuição pelo efeito Joule; - Necessidade de aumento do diâmetro dos condutores; - Necessidade de aumento da capacidade dos equipamentos de manobra e de proteção; - Baixo rendimento dos equipamentos de iluminação; - Queda no rendimento dos motores, equipamentos de aquecimento e refrigeração. 2.5 - Causas do Baixo fator de Potência - Motores de indução trabalhando a vazio; - Motores superdimensionados para sua necessidade de trabalho; - Transformadores trabalhando a vazio ou com pouca carga; - Reatores de baixo fator de potência no sistema de iluminação; - Fornos de indução ou a arco; - Máquinas de tratamento térmico; - Máquinas de solda; - Nível de tensão acima do valor nominal provocando um aumento do consumo de energia reativa.

3- Vantagens da Correção do Fator de Potência 3.1- Melhoria da Tensão As desvantagens de tensões abaixo da nominal em qualquer sistema elétrico são bastante conhecidas. Embora os capacitores elevem os níveis de tensão, é raramente econômico instalá-los em estabelecimentos industriais apenas para esse fim. A melhoria da tensão deve ser considerada como um benefício adicional dos capacitores. Nos estabelecimentos industriais com sistemas de distribuição modernos e a uma só transformação, a elevação de tensão proveniente da instalação de capacitores é da ordem de 4 a 5%. 3.2 - Redução das Perdas Na maioria dos sistemas de distribuição de energia elétrica de estabelecimentos industriais, as perdas RI2t variam de 2,5 a 7,5% dos kWh da carga, dependendo das horas de trabalho a plena carga, bitola dos condutores e comprimento dos alimentadores e circuitos de distribuição. 3.3 - Vantagens da Empresa - Redução significativa do custo de energia elétrica; - Aumento da eficiência energética da empresa; - Melhoria da tensão; - Aumento da capacidade dos equipamentos de manobra; - Aumento da vida útil das instalações e equipamentos; - Redução do efeito Joule; - Redução da corrente reativa na rede elétrica. - Maior eficiência dos equipamentos de iluminação, motores, aquecedores e etc. 3.4 - Vantagens da Concessionária - O bloco de potência reativa deixa de circular no sistema de transmissão e distribuição; - Evita as perdas pelo efeito Joule; - Aumenta a capacidade do sistema de transmissão e distribuição para conduzir o bloco de potência ativa; - Aumenta a capacidade de geração com intuito de atender mais consumidores; - Diminui os custos de geração; - Evita o risco de apagões. 4 - CORREÇÃO DO FATOR DE POTÊNCIA EM BAIXA TENSÃO 4.1 - Tipos de Correção do Fator de Potência A correção pode ser feita instalando os capacitores de quatro maneiras diferentes, tendo como objetivos a conservação de energia e a relação custo/benefício:

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a) Correção na entrada da energia de alta tensão: corrige o fator de potência visto pela concessionária, permanecendo internamente todos os inconvenientes citados pelo baixo fator de potência e o custo é elevado.

b) Correção na entrada da energia de baixa tensão: permite uma correção bastante significativa, normalmente com bancos

automáticos de capacitores. Utiliza-se este tipo de correção em instalações elétricas com elevado número de cargas com potências diferentes e regimes de utilização pouco uniformes. A principal desvantagem consiste em não haver alívio sensível dos alimentadores de cada equipamento.

c) Correção por grupos de cargas: o capacitor é instalado de forma a corrigir um setor ou um conjunto de pequenas

máquinas (<10cv). É instalado junto ao quadro de distribuição que alimenta esses equipamentos. Tem como desvantagem não diminuir a corrente nos circuitos de alimentação de cada equipamento.

d) Correção localizada: é obtida instalando-se os capacitores junto ao equipamento que se pretende corrigir o fator de

potência. Representa, do ponto de vista técnico, a melhor solução, apresentando as seguintes vantagens: - reduz as perdas energéticas em toda a instalação; - diminui a carga nos circuitos de alimentação dos equipamentos; - pode-se utilizar em sistema único de acionamento para a carga e o capacitor, economizando-se um equipamento de manobra;

- gera potência reativa somente onde é necessário. e) Correção mista: no ponto de vista da ¨Conservação de Energia¨, considerando aspectos técnicos,práticos e financeiros,

torna-se a melhor solução. . Usa-se o seguinte critério para correção mista:

1. Instala-se um capacitor fixo diretamente no lado secundário do transformador; 2. Motores de aproximadamente 10 cv ou mais, corrigir-se localmente (cuidado com motores de alta inércia, pois não se

deve dispensar o uso de contatores para manobra dos capacitores sempre que a corrente nominal dos mesmos for superior a 90% da corrente de excitação do motor);

3. Motores com menos de 10 cv corrigem-se por grupos;

4. Redes próprias para iluminação com lâmpadas de descarga, usando-se reatores de baixo fator de potência, corrige-se na

entrada da rede;

5. Na entrada instala-se um banco automático de pequena potência para equalização final.

4.2 - Projeto da Correção do Fator de Potência Para iniciar um projeto de Correção do Fator de Potência deveremos seguir inicialmente duas etapas básicas:

1. Interpretar e analisar os parâmetros elétricos das instalações: nas Empresas em Operação, através das medições efetuadas e nas Empresas em Projeto, através dos parâmetros elétricos presumidos;

2. Ter em mãos e interpretar as especificações técnicas de todos os materiais que serão empregados na execução do

projeto.

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4.2.1 - Levantamento de Dados: 4.2.1.1 - Empresa em Operação: Dados a serem considerados

- Tipo de tarifação; - Demanda contratada; - Fator de potência registrado.

Transformador

- Tensão no primário; - Tensão no secundário; - Potência nominal; - Potência de curto-circuito; - Grau de ocupação; - Corrente de magnetização; - Impedância; - Cos ϕ

Medições

- Medir as tensões e as correntes ( BT ) nas seguintes condições: Carga mínima Carga máxima Aterramento e pára-raio

- Tipo - Resistência - Neutro aterrado ( S/N ) - Local do aterramento

Conta de energia elétrica (12 meses)

5- Cálculo da Potência Reativa para a Correção do Baixo Fator de Potência

Si

Sf

P

Qi

Qc

Qf

FPiFPf

P = potência ativa instalada (kW) Si = potência aparente antes da correção (kVA) Sf = potência aparente após a correção (kVA) Qi = potência reativa antes da correção (kVAr) Qf = potência reativa após a correção (kVAr) Qc = potência reativa de correção (kVAr) FPi = fator de potência antes da correção FPf = fator de potência pretendido Qc = P(Kw) x (tg ϕϕϕϕ1 – tg ϕϕϕϕ2) = kVAr

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5.1 - Cálculo da Capacitância do Capacitor

5.2 - Cálculo da Corrente nominal do capacitor In = P (Var) V . √3 √3 só no caso de unidades trifásicas 5.3 - Proteções Contra Curto-Circuito Dimensionar para utilização de fusíveis, características: gL - gG, conforme a seguinte equação: Inf = Inc x 1,65 Onde: - Inf = Corrente calculada do fusível (usar o valor comercial do fusível imediatamente superior); - Inc = Corrente nominal do capacitor 5.4 - Condutores Utilizar condutores superdimensionados em 1,45 vezes (NBR 5060) a corrente nominal do capacitor e levar em consideração outros critérios tais como: maneira de instalar, temperatura ambiente, etc. In cond = Inc x 1,45 Onde: - In cond = Corrente calculada para os condutores - Inc = Corrente nominal do capacitor Exemplo 1 Deseja-se corrigir o fator de potência de 0,85 para 0,92 de uma instalação industrial, com 100 Kw instalados. Sabendo-se que a alimentação é trifásica, 220V. Cos ϕ atual = 0,85 → arc cos = 31º 47’ 18” → tg ϕ1 = 0,62 Cos ϕ novo = 0,92 → arc cos = 23° 04’ 26” → tg ϕ2 = 0,43 Qc = P(Kw) x (tg ϕ1 – tg ϕ2) = kVAr Qc = carga reativa de correção Qc = 100 KW x (0,62 – 0,43) = 19 KVAr (valor do banco de capacitores) In = Qc / V √3 In = corrente nominal do banco In = 19.000 VAr / 220 x 1,732 = 50 ampères Para cálculo da bitola dos condutores devemos multiplicar a corrente nominal do banco por 1,45: In cond = 50 x 1,45 = 72,5 ampères. Para calculo dos dispositivos de proteção (disjuntor ou fusível) devemos multiplicar a corrente nominal do banco por 1,65: Inf = 50 x 1,65 = 82,5 ampères. Agora, basta decidir se a correção será total, por agrupamento de cargas ou por cargas individuais. Se não estivermos de posse da potência ativa instalada via projeto, ou sem equipamento especial para efetuar essa medição, podemos calcular a potência instalada tirando a média de consumo mensal, baseado na média das 12 últimas contas e dividir pelo números de horas de funcionamento no mês. P(KW) = C(KWh) / t Onde: P = potência ativa média instalada C = consumo médio extraído das 12 últimas contas t = número de horas de funcionamento durante o mês

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O tempo (t) de 220 horas se refere aos estabelecimentos que funcionam 44 horas semanais. No caso de outros tipos de estabelecimentos com horários atípicos, considerar o horário fornecido pelo cliente (ex: Shoppings, Supermercados, Siderúrgicas etc.). Exemplo 2 Uma instalação comercial apresenta um fator de potência de 0,85 com uma carga instalada de 150 kW e alimentada por uma rede de 120 V. Calcule o capacitor capaz de corrigir o FP para 0,95. Neste caso, agora, vamos utilizar a tabela de conversão em anexo. Na coluna lateral esquerda temos o FP atual e na linha superior o FP pretendido, cruzando os dois valores até o centro da tabela teremos o fator de multiplicação (tg ϕ 1 – tg ϕ 2). No nosso caso: Qc = 150 kW x 0,291 = 43,65 kVAr 5.5 - Correção do fator de Potência em Redes com Harmônicas A tarefa de corrigir o fator de potência em uma rede elétrica com harmônicas é mais complexa, pois, as harmônicas podem interagir com os capacitores causando fenômenos de ressonância. Harmônicas são freqüências múltiplas da freqüência fundamental (H2 = 120Hz, H3 = 180Hz, H4 = 240Hz, etc) e, na prática, observa-se uma única forma de onda distorcida. 5.5.1 - Origem das Harmônicas As harmônicas têm sua principal origem na instalação de cargas não-lineares cuja forma de onda da corrente não acompanha a forma de onda senoidal da tensão de alimentação. Nos transformadores de força, são conseqüências da relação não linear entre o fluxo de magnetização e a corrente de excitação correspondente. 5.5.2 - Classificação das Harmônicas Atualmente as cargas não lineares são classificadas em três categorias de acordo com a natureza da deformação: a) CATEGORIA 1 – Nesta categoria encontram-se os equipamentos com característica operativa de arcos voltaicos, tais como: fornos a arco, máquinas de solda, lâmpada de descarga e outros. A natureza da deformação da corrente é oriunda da não linearidade do arco voltaico. b) CATEGORIA 2 – Nesta categoria encontram-se os equipamentos de núcleo magnético saturado, tais como: reatores e transformadores de núcleo saturados. A natureza da deformação da corrente é oriunda da não linearidade do circuito magnético. c) CATEGORIA 3 – Nesta categoria encontram-se os equipamentos eletrônicos, tais como: inversores, retificadores, UPS, televisores, microondas, computadores e outros. A natureza da deformação da corrente é oriunda da não linearidade dos componentes eletrônicos. 5.5.3 - Cargas não Lineares São cargas que distorcem a forma de onda de corrente e/ou tensão, tais como:

- Conversores / inversores de freqüência; - Acionamentos de corrente contínua; - Retificadores; - Fornos a arco e indução; - Transformadores com o núcleo saturado; - No–Breaks (UPS); - Controladores tiristorizados; - Fontes chaveadas; - Máquinas de solda elétrica; - Lâmpadas Fluorescentes; - Microcomputadores (Centro de processamento de dados), etc.

5.5.4 - Problemas Causados Pelas Harmônicas Altos níveis de distorção harmônica numa instalação elétrica podem causar problemas para as redes de distribuição das concessionárias e para a própria instalação, assim como para os equipamentos ali instalados. O aumento de tensão na rede causado pela distorção harmônica acelera a fadiga dos motores e as isolações de fios e cabos, o que pode ocasionar queimas, falhas e desligamentos. Adicionalmente, as harmônicas aumentam a corrente RMS (devido à ressonância série), causando elevação nas temperaturas de operação de diversos equipamentos e diminuição de sua vida útil.

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Essas ondas de freqüência superior à fundamental causam vários danos ao sistema, entre os quais podemos destacar: - Aumento das perdas nos estatores e rotores de máquinas rotativas, causando superaquecimento danoso às máquinas; - O fluxo de harmônicas nos elementos de ligação de uma rede leva a perdas adicionais causadas pelo aumento do valor

RMS da corrente, além do surgimento de quedas de tensão harmônicas nas várias impedâncias do circuito. No caso dos cabos há um aumento de fadiga dos dielétricos, diminuindo sua vida útil e aumentando os custos de manutenção. O aumento das perdas e o desgaste precoce das isolações também podem afetar os transformadores do sistema elétrico;

- Distorção das características de atuação de relés de proteção;

- Aumento do erro em instrumentos de medição de energia, que estão calibrados para medir ondas senoidais puras;

- Interferência em equipamentos de comunicação, aquecimento em reatores de lâmpadas fluorescentes, interferência na

operação de computadores e em equipamentos para variação de velocidade de motores, etc.;

- Aparecimento de ressonâncias entre capacitores para correção de fator de potência e o restante do sistema, causando sobre-tensões e sobre-correntes que podem causar sérios danos ao sistema.

5.6 – Medições Os instrumentos convencionais, tipo bancada ou tipo alicate, são projetados para medir formas de onda senoidal pura, ou seja, sem nenhuma distorção. Porém, devemos admitir que, atualmente, são poucas as instalações que não têm distorção significativa na senóide de 50/60 Hz. Nestes casos os instrumentos de medidas devem indicar o valor RMS verdadeiro (conhecidos como TRUE RMS), identificado no próprio instrumento. 6- CUIDADOS NA INSTALAÇÃO DE CAPACITORES 6.1- Local da Instalação

- Evitar exposição ao sol ou proximidade de equipamentos com temperaturas elevadas; - Não bloquear a entrada e saída de ar dos gabinetes; - Os locais devem ser protegidos contra materiais sólidos e líquidos em suspensão (poeira, óleos); - Evitar instalação de capacitores próximos do teto (calor); - Evitar instalação de capacitores em contato direto sobre painéis e quadros elétricos (calor); - Cuidado na instalação de capacitores próximo a cargas não lineares (vide item 3.3.3).

6.2- Localização dos Cabos de Comando

- Os cabos de comando deverão estar preferencialmente dentro de tubulações blindadas com aterramento na extremidade do Controlador Automático do Fator de Potência.

6.3- Cuidados na Instalação Localizada - Alguns cuidados devem ser tomados quando se decide fazer uma correção de fator de potência localizada: a) Cargas com alta inércia: Ex: Ventiladores, bombas de recalque, exaustores, etc. Deve instalar-se contatores para a comutação do capacitor, pois o mesmo quando é permanentemente ligado a um motor, podem surgir problemas quando o motor é desligado da fonte de alimentação. O motor ainda girando irá atuar como um gerador e fazer surgir sobre-tensão nos terminais do capacitor. Pode-se dispensar o contator para o capacitor, desde que sua corrente nominal seja menor ou igual a 90% da corrente de excitação do motor (NBR 5060). b) Inversores de Freqüência: Inversores de freqüência que possuam reatância de rede conectada na entrada dos mesmos emitirão baixos níveis de freqüências harmônicas para a rede. Se a correção do fator de potência for necessária, aconselha-se a não instalar capacitores no mesmo barramento de alimentação do(s) inversor(es). Caso contrário, instalar em série com os capacitores Indutores Anti-harmônicas. c) Soft-starter: Deve-se utilizar um contator protegido por fusíveis retardados (gL-gG) para manobrar o capacitor, o qual deve entrar em operação depois que a soft-starter entrar em regime. É sempre importante medir as harmônicas de tensão e corrente se o capacitor for inserido no mesmo barramento da soft-starter.

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7- MANUTENÇÃO PREVENTIVA 7.1 - Periodicidade e Critérios para Inspeção a) Mensal

- Verifique visualmente em todas as Unidades Capacitivas se houve atuação do dispositivo de segurança interno, indicado pela expansão da caneca de alumínio no sentido longitudinal. Caso positivo, substituir por outra com a mesma potência;

- Verifique se há fusíveis queimados. Caso positivo, tentar identificar a causa antes da troca. Usar fusíveis com corrente nominal indicada no Catálogo;

- Verificar o funcionamento adequado dos contatores; - Nos bancos com ventilação forçada, comprovar o funcionamento do termostato e do ventilador. Medir a temperatura

interna (máxima de 450C); - Medir a tensão e a corrente das unidades capacitivas; - Verificar o aperto das conexões (fast-on) dos capacitores.

Obs.: Sempre que um terminal tipo "fast-on" for desconectado, deverá ser reapertado antes de ser reconectado. b) Semestral - Efetuar limpeza completa do armário metálico, interna e externamente, usando álcool isopropílico;

- Repetir todos os procedimentos do item anterior (mensal); - Reapertar todos os parafusos dos contatos elétricos e mecânicos; - Medir a temperatura dos cabos conectados ao contator; - Verificar estado de conservação das vedações contra a entrada de insetos e outros objetos - Instalação dos cabos de sinal de corrente e tensão muito próximos ao barramento (<50cm), causando interferências

eletromagnéticas; - Defeito de fabricação do controlador, ou seja, controlador de baixa qualidade.

Obs: Cuidar com o repique (rápida abertura e fechamento dos contatos de saída) que pode ocorrer no controlador, provocando com isso queima dos indutores de pré-carga dos contatores e expansão dos capacitores. 8-PRINCIPAIS CONSEQÜÊNCIAS DA INSTALAÇÃO INCORRETA DE CAPACITORES I - Queima do Indutor de Pré-Carga do Contator Especial Causa:

- Repique do contator, que pode ser causado pelo repique do controlador.

II - Queima de Fusíveis Causas:

- Harmônicas na rede, gerando ressonância série, provocando sobre-corrente; - Desequilíbrio de tensão; - Fusíveis ultra-rápidos (usar fusível retardado); - Aplicar tensão em capacitores ainda carregados.

III - Expansão da Unidade Capacitiva Causas:

- Repique no contator que pode ser causado pelo repique do controlador; - Temperatura elevada; - Tensão elevada; - Corrente de surto elevada (> 100 . In); - Descargas atmosféricas; - Chaveamento de capacitores em bancos automáticos sem dar tempo (30 ou 180s) para a descarga dos capacitores; - Final de vida.

IV - Corrente Especificada Abaixo da Nominal. Causas:

- Tensão do capacitor abaixo da nominal; - Células expandidas.

V - Aquecimento nos Terminais da Unidade Capacitiva (vazamento da resina pelos terminais) Causa:

- Mau contato nos terminais de conexão; - Erro de instalação (ex: solda mal feita nos terminais); - Interligação entre células capacitivas, conduzindo corrente de uma célula para outra via terminal.

VI - Tensão Acima da Nominal Causa:

- Fator de potência ter ficado unitário, mesmo não tendo harmônicas, porém provocou ressonância paralela; - Efeito da ressonância paralela entre os capacitores e a carga.

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VII - Corrente acima da nominal Causa:

- Efeito de ressonância série entre os capacitores e o trafo, provocado pela igualdade entre a freqüência do trafo e a freqüência de alguma harmônica significativa na instalação.

IMPORTANTE: Em instalações elétricas com fonte de alimentação alternativa através de grupo gerador, aconselha-se que todos os capacitores sejam desligados, pois o próprio grupo gerador pode corrigir o fator de potência da carga, evitando assim problemas tais como perda de sincronismo e excitação pelo fato do gerador operar fora da sua curva de operação. Exercícios: 1 – Uma indústria tem uma carga instalada de 200 kW. Verificou-se que o fator de potência é igual a 0,78 em atraso. Calcule o valor do banco de capacitores para corrigir o FP para 0,92. 2 – Uma loja comercial tem uma carga instalada de instalada de 50 kW com um fator de potência igual a 0,86. Calcule o banco de capacitores para elevar o FP para 0,95 e a corrente absorvida pelo banco, a corrente para determinação dos cabos e fusíveis, considerando que a alimentação é 220 V – 3 φ 3 – Uma indústria tem instalada uma subestação de 750 kVA, que opera em plena carga, e com um FP de 0,85. Pretende-se instalar equipamentos cuja potência total é de 60 kW, sem recorrer ao aumento de carga, substituição do trafo ou submeter o trafo a sobrecarga excessiva. Determine o banco de capacitores capaz de alcançar este objetivo. 4– O que são harmônicas? Cite seus maiores causadores. 5– Cite três elementos causadores de um baixo FP. 6– Cite três desvantagens para uma instalação com um baixo FP. 7- Cite três vantagens obtidas com a correção do baixo FP. 8– Qual o intervalo mínimo entre o desligamento e o manuseio ou re-ligamento de um banco de capacitores?

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13 - ANEXOS

FATOR DE MULTIPLICAÇÃO (tg ϕϕϕϕ1 – tg ϕϕϕϕ2)

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TABELA DE CAPACIDADE DE CONDUÇÃO DOS CONDUTORES

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CORREÇÃO PARA CHAVE DE PARTIDA DIRETA

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CORREÇÃO PARA CHAVE DE PARTIDA ESTRÊLA TRIÂNGULO

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CORREÇÃO PARA CHAVE DE PARTIDA DIRETA COM REVERSÃO

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14 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS 1 - CASA, Darci, Manual de Correção do Fator de Potência - DICEL Engenharia 2 - KASSIK, Dr. Enio Valmor, Harmônicas em Sistemas Industriais de Baixa Tensão - INEP - Instituto de Eletrônica de Potência 3 - MANUAL "ENERGIA REATIVA EXCEDENTE" do CODI (Comitê de Distribuição de Energia Elétrica - RJ) 4 – Niskier, Júlio, INSTALAÇÕES ELÉTRICAS – Ed. Guanabara Dois 5 – MANUAL SOBRE CORREÇÃO DE FATOR DE POTÊNCIA DA WEG 6 – Gussow, Milton, Eletricidade Básica – Ed. Makron Books