Apostila169
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GERENCIAMENTO DE RISCOS
E IMPACTOS AMBIENTAIS
GCA169 – Prof. Alexandre de Paula Peres
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Índice
1. Tendências da Gestão de Meio Ambiente e Riscos
1.1.Quadro Geral .................................................................................................................................3
2. Noções de Riscos Ambientais e de Segurança de Processos
2.1. Introdução
............................................................................................................................................................................................5
2.2. Conceitos e Definições de Riscos / Impactos Ambientais ...............................................................5
2.3. Problemática do Risco ...................................................................................................................7
3. Técnicas de Identificação de Aspectos e Impactos Ambientais
3.1. Introdução ..................................................................................................................................12
3.2. Metodologia para Avaliação de Impactos Ambientais em SGA’s ................................................12
3.3. Técnicas de Identificação de Aspectos Ambientais .......................................................................15
4. Análise, Controle de Riscos e Vulnerabilidade e Análises Quantificadas
4.1. Introdução ..................................................................................................................................30
4.2. Análise de Árvore de Eventos e Árvore de Falhas ........................................................................33
4.3. Análise por Modo de Falha e Efeito (FMEA) ...............................................................................35
4.4. Análise de Consequências ............................................................................................................40
5. Prevenção de Perdas e Gestão
5.1. Objetivos da Análise de Riscos Ambientais .................................................................................41
5.2. Plano de Emergência ...................................................................................................................41
6. Produção Mais Limpa (PML)
6.1. Histórico .....................................................................................................................................42
6.2. Caracterização da PML ...............................................................................................................42
7. Exemplos de Impactos Ambientais
7.1. Tipos de Impactos Ambientais ....................................................................................................50
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1. Tendências da Gestão de Meio Ambiente e Riscos
1.1. Quadro Geral
Durante muitos séculos a queima de combustíveis fósseis trouxe benefícios à humanidade. O
desenvolvimento industrial e a urbanização significaram crescimento econômico, melhor nutrição,
maior renda e serviços de saúde aprimorados. Nos dias atuais as pessoas vivem mais e levam uma vida
mais confortável do que antes.
Porém, os nossos descendentes talvez não tenham a mesma sorte. O consumo desenfreado de
combustível fóssil é a maior ameaça à saúde humana neste século. Estimular uma economia movida a
carbono, assim como dar esteróides a um atleta, é um grande risco para a saúde no longo prazo.
Esse é o terrível dilema enfrentado pelos países emergentes cujas populações são as mais
vulneráveis à mudança climática. Compreensivelmente, busca-se melhorar a saúde pública por meio de
um maior desenvolvimento, entretanto, nesse processo podem-se angariar problemas de saúde para as
futuras gerações.
A mudança climática já mata mais de 300.000 pessoas por ano, afirma o Fórum Humanitário
Global (GHF), e essa quota anual deve atingir meio milhão em 2030. Mesmo esses números,
provavelmente, subestimam a ameaça por causa das complexas interações entre clima, meio ambiente,
pobreza e saúde.
Nos últimos dez anos – a década mais quente já registrada – ocorreram em média 350 desastres
por ano relacionados ao clima, segundo a Cruz Vermelha, contra cerca de 200 desastres por ano na
década de 1990. Temperaturas em elevação significam ondas de calor, como a que em 2003 matou mais
de 30.000 pessoas, sobretudo idosos europeus, e elas se tornarão comuns na metade deste século.
Um planeta em aquecimento é sinônimo de maior frequência e intensidade das tempestades e
inundações destruidoras. Estas não apenas matam e ferem pessoas diretamente, mas também espalham
disenteria e cólera, pois a população é forçada a beber água contaminada.
As enfermidades proliferam não só com as temperaturas em ascensão, mas também por causa da
fome. A mudança climática vai dificultar a produção de alimentos suficientes para prover de forma
adequada a crescente população mundial.
O resultado das colheitas em todo o mundo em desenvolvimento irá, em média, diminuir à
medida que a água se tornar escassa. Isso gera insegurança alimentar, mas não pelas razões óbvias. Para
os ricos, a mudança de clima vai tornar a vida mais desagradável, desconfortável e cara. Para os pobres,
ela poderá significar a diferença entre vida e morte.
Todas as pesquisas de opinião mostram que, para o grande público, a qualidade do meio ambiente é
uma preocupação importante, sendo esta preocupação uma das principais tendências das sociedades
industrializadas.
Pode-se também assinalar um interesse crescente sobre o impacto causado na saúde humana pelo
meio ambiente, e como resultado disso a tendência para uma maior implicação pessoal sobre a questão.
Em outras palavras, o meio ambiente começa a ser percebido como sendo um problema de todos e não
mais como sendo exclusivamente de ambientalistas e de industriais.
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Destaca-se como exemplo desta mudança de atitude o comportamento em relação ao fumo e o
funcionamento, relativamente satisfatório, da reciclagem de embalagens em algumas cidades, onde os
dispositivos adequados foram instalados.
Esta mudança é também visível na crescente demanda para produtos “verdes“, mesmo que
atualmente exista uma confusão de selos ambientais e símbolos que não facilitam a escolha do
consumidor; mas esta confusão não deverá durar muito tempo, visto a demanda de mercado, e que esta
condição não resulte num aumento importante do preço de venda.
Para as indústrias isto se traduzirá por uma necessidade de um melhor conhecimento das
propriedades dos produtos e substâncias colocados no mercado e no seu uso futuro, ao longo da sua
vida, suas qualidades “verdes“ e a necessidade de um melhor conhecimento sobre a toxicologia do
meio ambiente (toxicologia de traços, indicadores fisiológicos).
Todos estes fatores anteriormente citados conduzem a um aumento de custos. Este deverá ser gerido
de maneira a garantir o desenvolvimento da indústria; quem conseguir controlá-lo, mais rapidamente e
melhor que os seus concorrentes, terá uma vantagem competitiva indiscutível.
Geralmente, a implantação de sistemas de gestão ambiental nas organizações visa o gerenciamento e
controle de suas atividades, produtos e serviços, de modo a prevenir os seus impactos ambientais.
Contudo, muitas das organizações industriais têm um histórico de emissões negativo - variando de
simples incidentes a liberações prolongadas – causando, de alguma forma, impactos ambientais sobre o
solo, água ou ar, e direta ou indiretamente sobre o ser humano.
Quando os impactos são óbvios, por exemplo: emissões de particulados ou de vapores, causando
incômodos à população ou a contaminação de corpos d'água, implantam-se medidas de controle.
Entretanto, contaminações do solo ou de águas subterrâneas podem passar despercebidas por anos,
criando um problema adicional para o especialista em meio ambiente.
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2. Noções de Riscos Ambientais e de Segurança de Processos
2.1. Introdução
O controle e a minimização das emissões, o gerenciamento correto dos resíduos gerados pelas
organizações (empresas e sociedade) e a prevenção da poluição tornaram-se as ações mais efetivas
utilizadas para evitar perdas e consequentemente danos ao meio ambiente.
Como efeito principal dessas perdas, o público passou a se preocupar com os aspectos de Segurança
e Meio Ambiente nas instalações industriais, particularmente em relação a incidentes que poderiam
afetar as comunidades vizinhas.
Em função disso desenvolveram-se políticas e metodologias para estudos de avaliação dos riscos
ambientais que levam em consideração os seguintes aspectos:
a. preocupação do público quanto aos processos de fabricação e quanto às substâncias químicas
utilizadas;
b. aumento da consciência ambiental;
c. mudança na atitude das empresas de um conceito de que a proteção de seus interesses deveria ser
resguardada atrás de seus muros para um conceito de diálogo franco e ético com seus parceiros e
público;
d. compromissos voluntários para com a melhoria contínua de seus produtos e operações, de forma
a torná-los mais seguros e menos impactantes ao meio ambiente;
e. maior preocupação com a imagem da empresa;
f. imposições legais.
Um dos requisitos da implantação de Sistemas de Gestão Ambiental é que a organização identifique
e avalie riscos ambientais (aspectos e impactos), associados às suas atividades, produtos ou serviços.
A correta identificação e avaliação dos impactos ambientais, além de previstos nos sistemas de
gestão ambiental, é uma exigência do controle ambiental, e apesar dos grandes desastres causados pela
liberação de materiais perigosos, produtos químicos ou de outras substâncias no ambiente serem
relativamente raros, eles têm ocorrido.
A redução de riscos/impactos em nível zero só ocorrerá se for possível paralisar todas as instalações,
e devem-se responder as seguintes questões:
a) em que extensão os perigos tecnológicos são consideráveis como aceitáveis;
b) em que grau, riscos considerados como aceitáveis podem ser reduzidos.
Uma avaliação dos riscos/impactos ambientais é, portanto, o processo de se caracterizar os efeitos
adversos potenciais da exposição a perigos/aspectos ambientais.
Um dos mais eficientes meios de proteger uma comunidade e ecossistemas sensíveis contra os riscos
de instalações industriais é mantê-las suficientemente afastadas. A falta de zoneamento do uso do solo,
como também de planejamento ambiental leva a proximidades perigosas, que foram a causa de vários
acidentes graves.
2.2. Conceitos e Definições de Riscos / Impactos Ambientais
Um impacto ambiental pode ser definido como sendo uma variação em uma ou mais das várias
características sócio-econômicas e biofísicas do meio ambiente, ou como a probabilidade do meio
ambiente sofrer danos, direta ou indiretamente, devido a efeitos da atividade humana (Risco
Ambiental). Os danos que podem ocorrer são:
- extinção de espécies;
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- perda de espécies do ecossistema;
- mudanças na biomassa, estrutura etária, etc;
- interferência na conversão de energia e no ciclo de elementos do ecossistema.
Na ISO 14001, um aspecto ambiental é definido como um “elemento das atividades, produtos ou
serviços de uma organização que possam interagir com o meio ambiente”, enquanto impacto ambiental
é "qualquer mudança no meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, total ou parcialmente, das
atividades, produtos ou serviços de uma organização". A organização deve somente controlar os
aspectos ambientais sobre os quais se espera que ela tenha influência:
a) em situações em que os aspectos possam apresentar uma ameaça significativa, e é incerto se os
controles planejados ou existentes são adequados em princípio ou na prática;
b) em organizações que procuram a melhoria contínua de seu sistema de gestão, além dos requisitos
legais.
Impactos ambientais podem ser classificados como:
a) diretos - causados por uma ação específica e ocorrendo ao mesmo tempo e local da ação;
b) indiretos - causados por uma ação mas, geralmente, ocorrendo ou mais tarde ou em distância.
Podem incluir efeitos sobre: uso do solo, crescimento populacional, ar, água e outros sistemas
naturais;
c) cumulativos - relacionam-se com o incremento da ação quando somado a ações passadas, presentes
e futuras, não levando em consideração quais agentes ou pessoas realizam tais ações. Impactos
cumulativos podem ser resultantes de ações individualmente menores ou inócuas sobre um longo
período de tempo.
Outra definição importante é a de Risco Ecológico Regional que é a estimativa dos riscos aos
recursos ambientais, como também dos riscos resultantes da poluição e dos distúrbios físicos, em escala
regional. Exemplos: efeitos da chuva ácida; poluição das águas de uma bacia hidrográfica.
Riscos sempre incorporam dois componentes:
probabilidade de ocorrência;
gravidade dos danos potenciais.
A correta identificação dos riscos / impactos ambientais é a essência do processo de avaliação, e se
constituem nos passos iniciais para a implantação de sistemas de gestão ambiental.
Podem-se classificar os riscos ambientais em:
1. Riscos internos (previstos nas Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho), relacionados
às condições de insalubridade e higiene no ambiente de trabalho - presença de produtos químicos
lesivos à saúde, níveis de ruído, presença de substâncias tóxicas nos locais de trabalho,
contaminação do solo localizadas, etc,;
2. Riscos externos, relacionados com a contaminação ou incômodos de comunidades vizinhas e outra
áreas - armazenamento e transporte de resíduos e de matérias-primas e de produtos, emissão de
poluentes líquidos e atmosféricos, etc.;
3. Riscos relacionados com os produtos, levando a problemas de vendas, barreiras tarifárias, processos
em defesa do consumidor e pressões das ONG's ambientalistas;
4. Riscos de imagem da empresa.
Numa outra maneira de classificar riscos ambientais, que seria uma derivação da classificação
anterior, ter-se-ia:
* os diretamente relacionados com legislações e regulamentações aplicáveis, e neste caso pode-se
incluir os que influem de modo :
- local (por exemplo, a contaminação de um córrego vizinho como resultado da emissão de efluentes
líquidos pela planta de fabricação)
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- regional (por exemplo, mudança de qualidade de um aqüífero utilizado como fonte de água potável,
pela contaminação do solo e das águas subterrâneas devido a vazamentos de uma planta)
- global (por exemplo, a diminuição da camada de ozônio pelo uso de substâncias que a afetam);
* e os não relacionados.
2.3. Problemática do Risco
Como a medição do risco é uma função de uma probabilidade e gravidade, geralmente considera-se
o aspecto quantitativo, desconsiderando-se a noção de valor.
Por exemplo, quando na consideração do risco de escolha de moradia de duas cidades, A e B, onde o
risco de acidente fatal pode ser descrito como na Tabela 1.
Tabela 1: Quadro comparativo.
A cidade A pode ser considerada como sendo tipicamente uma metrópole e o acidente em questão
ser devido ao trânsito. Ao longo de 10 anos, o total de mortos seria de 10000.
Já na cidade B, ocorre 0,1 acidente / ano. No entanto, cada acidente gera 10000 mortes (acidente tipo
terremoto). Em 10 anos, ter-se-ia, como na cidade A, 10000 mortes.
Em qual cidade você gostaria de morar?
Se você respondeu A, estará dentro da grande maioria, que acha “normal “ morrerem 10000 pessoas
por ano em acidentes de trânsito, mas, não admitem, como na cidade B , um acidente único gerador de
10000 mortes, mesmo que sua probabilidade seja baixa.
Este é o conceito de valor associado ao risco, o qual poderá ser percebido de maneira diferente pelas
pessoas em função da época, local onde moram, cultura e sua história.
Portanto, temos aqui uma condição que indica as seguintes abordagens possíveis:
um exame da situação existente permite definir um risco intrínseco que resulta numa situação
indesejável ou numa situação aceitável;
se a situação é aceitável, ela será aceita e assumida e o risco será considerado como estando
gerenciado;
se a situação é indesejável então iniciar-se-á uma fase de análise visando colocar em prática
meios de prevenção e de proteção que permitam atingir uma situação aceitável, isto é o
gerenciamento do risco.
Prevenção - Diminuição da probabilidade de ocorrência do evento indesejável
Proteção - Diminuição da gravidade das conseqüências do evento indesejável
Entretanto, nesta análise da situação, podem surgir algumas dificuldades políticas e tecnológicas do
tipo:
risco percebido e risco real
risco meu e risco do outro
risco de perder e risco de ganhar
valor político dos efeitos
acidente Probabilidade de ocorrência Gravidade Risco
cidade A 1000 / ano 1 morte / acidente 1000 mortes/ano
cidade B 0,1 / ano 1000 mortes/acidente 1000 mortes/ano
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É fato que o risco percebido é quase sempre diferente do risco avaliado. Isto pode ser ilustrado pela
comparação entre os dados relacionados às viagens em avião comparadas com as em automóvel (ver
tabelas 2 e 3). O risco de acidente é bem menor em viagens em avião do que em automóvel, mas as
pessoas, em geral, percebem o inverso.
Por exemplo, segundo a Organização Mundial de Saúde, as chances de uma pessoa contrair AIDS
é de 1 em 18.000. Por essa lógica, as pessoas deveriam temer muito mais a morte no trânsito do que de
AIDS. Entretanto, como a morte de um jovem por Aids é um evento mais raro do que um
atropelamento fatal, a imprensa vai dar sempre mais destaque à doença. Isso cria um medo infundado
maior da AIDS do que do trânsito.
Tabela 2: Elenco de alguns desastres, naturais e causados pela tecnologia humana
EVENTO LOCALIZAÇÃO NÚMERO DE MORTES
Inundação Hwang-ho CHINA 3.700.000 (1931)
Terremoto Shensi CHINA 830.000 (1556)
Desabamento Kansu CHINA 200.000 (1920)
Avalanche de neve Huarasa PERU @ 5.000 (1941)
TSUNAMI Ásia @ 225.000 (2004)
Terremoto Haiti @ 270.000 (2010)
Explosão Halifax CANADÁ 1.963 (1917)
Mina Honkeiko CHINA 1.572 (1942)
Vazamento de Gases Tóxicos Bhopal ÍNDIA @ 4.000 ( 1984 )
Terrorismo TORRES GÊMEAS - EUA @ 3000 (2001)
Queda de avião KLM/PANAM TENERIFE 579 (1977)
Tabela 3: Comparação de alguns riscos comuns (valores médios para os EUA)
AÇÃO OU EVENTO RISCO ANUAL
Fumar (1 maço por dia ) 3,6 x 10-3
Qualquer tipo de câncer 2,8 x 10-3
Acidentes automobilísticos, total 2,4 x 10-4
Poluição atmosférica 2,0 x 10-4
Acidentes em casa 1,1 x 10-4
Acidentes com aviões (voar frequentemente) 5,0 x 10-5
Acidentes automobilísticos, pedestres 4,2 x 10-5
Álcool 2,0 x 10-5
Eletrocussão 5,3 x 10-6
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O mesmo se aplica com relação ao medo de voar. Como são mais raros os acidentes aéreos, eles
sempre vão ter mais destaque na imprensa do que os de automóvel. A probabilidade de morrer num
acidente aéreo é de 0,2 em 1 milhão, menor do que a de ser atingido por um raio (1,1 em 1 milhão) - e
bem menor do que a probabilidade de morrer num acidente de trânsito no Brasil, que é de 2,7 em 100!.
O mesmo se aplica para o comportamento das pessoas e organizações, que tomam uma série de
medidas de proteção após a ocorrência de uma grande catástrofe.
Outro aspecto importante a ser considerado é serem comuns na atividade industrial avaliações de
riscos realizadas independentemente por diferentes áreas (segurança, econômica, mercado, finanças)
com diferentes grupos de especialistas. Pode ocorrer que um dado grupo desconheça ou mesmo
despreze os riscos avaliados pelos outros grupos.
Outra dificuldade está relacionada com o balanço adequado de medidas de prevenção e proteção a
serem tomadas, esquecendo-se de levar em conta o risco de perder e o de não ganhar. Por exemplo, os
dispositivos de proteção de instrumentação de segurança de um determinado sistema devem ser
previstos de acordo com um balanço prévio entre o risco de não operar quando deve e, portanto, não
proteger, e o de operar quando não deve e, portanto, deixar de produzir.
Nem sempre riscos ambientais têm um tratamento objetivo e normalizado. Por exemplo, têm-se os
riscos relacionados a interesses comerciais, ou resultantes de campanhas movidas contra alguns tipos de
produtos, sendo difícil estabelecer os limites entre a preocupação com o meio ambiente e o
protecionismo comercial camuflado. Organizações que procuram estabelecer uma imagem ambiental,
mas trabalham com produtos potencialmente perigosos, ou que estão instaladas em áreas críticas,
devem adotar uma postura pró-ativa em relação aos riscos que podem causar.
O perfil de mortalidade da população brasileira vem mudando, como o previsto, e hoje acompanha a
tendência mundial de morte por doenças crônicas, principalmente as de origem cardiovascular. Os
hábitos de vida inadequados como a má alimentação, consumo excessivo de álcool, tabagismo e o
sedentarismo, que pautam a vida moderna há décadas, contribuíram para que as doenças
cardiovasculares passassem a liderar as causas de morte no país.
Um total de 32,2% das mortes no Brasil são originadas por doenças do aparelho circulatório. O
derrame cerebral é a principal causa isolada de morte no Brasil, representando cerca de 10% do total
das mortes.
A expectativa de vida ao nascer dos brasileiros vem aumentando. A média de vida era de 45,5
anos de idade em 1940, foi para 72,7 anos em 2008 (27,2 anos de vida a mais). Em 2050, esse patamar
será de 81,3 anos, o nível atual de expectativa de vida na Islândia.
As principais causas de morte no Brasil (ano base 2005):
1-Doenças do aparelho circulatório: 32,2%.
O derrame cerebral é a principal causa isolada de morte no Brasil. A principal causa de morte
nos homens é o infarto do miocárdio (ataque cardíaco) e nas mulheres é o derrame cerebral.
2-Neoplasias (tumores): 16,7%.
A principal causa de morte por tumores em mulheres é o câncer de mama e nos homens, o
câncer dos pulmões.
3-Causas externas: 14,5%.
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Nos estados do Norte e Nordeste, as causas externas como os homicídios e os acidentes são a
segunda causa de morte, superando as neoplasias (tumores).
4-Doenças do aparelho respiratório: 11,1%.
Como a bronquite crônica e enfisema pulmonar.
5-Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas: 6,1%.
Como causa isolada, o diabete melito e as suas complicações, são a quarta principal causa de
morte no Brasil (a terceira principal causa nas mulheres e a sétima causa nos homens).
6-Doenças do aparelho digestivo: 5,7%.
7-Doenças infecciosas e parasitárias: 5,3%.
As mortes pelo HIV (vírus da imunodeficiência humana), tuberculose ou doença de Chagas
estão diminuindo na população brasileira.
8-Doenças do aparelho urinário: 2,1%
9-Doenças do sistema nervoso: 1,9%.
10-Malformações congênitas: 1,1%
Fonte: relatório Saúde Brasil-IBGE (2007).
Até o momento nenhum esforço foi feito no sentido de fazer uma análise sistemática de todos os
riscos ambientais com relação à probabilidade de ocorrência ou quanto a seus efeitos. Também os
investimentos em meio ambiente e políticas ambientais, referentes ao controle dos impactos
significativos, não estão baseados em estudos adequados.
Em geral, a atenção às prioridades e esforços dirigidos à prevenção dos riscos ambientais, são
estabelecidos em uma base "ad hoc". A sociedade assume uma posição de espera. Ocorrendo um
desastre, tomam-se as precauções necessárias e freqüentemente com base nas reações emocionais, sem
a preocupação de analisar todas as conseqüências e/ou alternativas.
Frequentemente, após um grave incidente, como o vazamento de uma substância tóxica ou uma
degradação de um ecossistema, tomam-se precauções extremamente severas sem que se faça,
primeiramente, um estudo acurado.
Sistemas de Gestão Ambiental requerem a identificação em tempo dos aspectos e impactos
ambientais associados a uma dada operação, serviço e atividade e a conseqüente avaliação dos mesmos,
antes que perdas ocorram. Os riscos devem ser então eliminados ou controlados.
O conceito de segurança é um conceito relativo, já que nada é completamente seguro em todas as
circunstâncias e condições. Existe sempre algum exemplo no qual um material ou equipamento
relativamente seguro se torna perigoso. O simples ato de beber água, se feito em excesso, pode causar
vários problemas renais.
A avaliação de riscos ambientais tem como um de seus objetivos a redução ao máximo possível
desse risco a um nível aceitável pela organização e sociedade. Na realidade, nenhuma atividade humana
é isenta de riscos, num sentido mais geral. Por exemplo, nenhum avião poderia voar, nenhum
automóvel se mexer e nenhum navio poderia sair ao mar se todos os aspectos e impactos ambientais
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tivessem que ser eliminados antes. Da mesma maneira, nenhuma broca poderia ser manuseada, petróleo
refinado, jantar preparado, microondas usado, água fervida, etc... sem algum elemento de risco.
Este problema é mais complicado pelo fato de que a tentativa da eliminação do risco pode resultar
em outra causa de risco.
Como descrito anteriormente, a relatividade de um sistema ambientalmente seguro leva a questão
“Quão seguro é seguro suficiente?”. Por exemplo, é comum ouvir o termo “99,9% seguro” usado para
significar uma grande confiabilidade e baixo risco de acidente, especialmente na indústria de
publicidade. Na verdade seria mais seguro dizer que essa terminologia é de alguma maneira usada de
forma errada em nossa sociedade. Entretanto, considerem-se os seguintes fatos estatísticos:
Hoje nos Estados Unidos, 99,9% seguro significa:
- uma hora de água contaminada por mês
- 20.000 crianças por ano sofrendo convulsões devido a problemas na vacina contra coqueluche
- 16.000 cartas perdidas por hora
- 500 operações cirúrgicas erradas por semana
- 500 recém-nascidos derrubados pelos médicos todos os dias.
Claramente 99,9% seguro não é “seguro suficiente” na sociedade de hoje em dia. Se a
porcentagem fosse acrescentada por um fator de 10 para 99,99% as seguintes informações indicam que
esse nível de risco é ainda inaceitável em certas circunstâncias.
99,99% seguro significaria:
- 2.000 prescrições de remédios incorretas por ano
- 370.000 cheques debitados em contas erradas por semana
- 3.200 vezes por ano que seu coração pararia de bater
- 5 crianças com problemas permanentes no cérebro por ano devido a problemas na vacina contra
coqueluche.
Obviamente a necessidade de proporcionar a maior segurança possível num sistema, indústria ou
processo é absolutamente essencial. Na verdade, em certas partes do sistema, não existe espaço para
erros ou falhas, como evidenciado nos exemplos anteriores. Assim, a segurança se torna uma função da
situação que é mensurada.
A identificação de aspectos e a avaliação de impactos ambientais devem ser desenvolvidas como
resultado direto de uma determinada necessidade de "segurança" ou de uma confiabilidade de operação.
Embora, nenhuma atividade, serviço ou produto possa ser considerado 100% confiável (em termos
ambientais e mesmo de segurança), essa avaliação é uma tentativa de chegar bem perto deste objetivo.
Durante anos, numerosas técnicas e métodos usados formalmente para alcançar a segurança de
um sistema desenvolveram e expandiram novas capacidades de examinar sistemas, identificar perigos,
eliminando ou controlando-os e reduzindo o risco a um nível aceitável. A intenção neste trabalho é
utilizar essa experiência e adaptar essas técnicas e metodologias para os sistemas de gestão ambiental.
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3. Técnicas de Identificação de Aspectos e Impactos Ambientais
3.1 Introdução
A maioria das pessoas não deseja ter perdas, embora elas possam aceitar alguma perda potencial
se houver a possibilidade de um ganho.
Apesar dos esforços para evitar eventos indesejáveis, erros, falhas, acidentes, etc. podem ocorrer.
A lei de Murphy, por exemplo, segue essa ideia: “se é possível algo dar errado, seguramente dará”.
Um dos objetivos do uso de uma metodologia de identificação e avaliação de aspectos e impactos
ambientais, de certo modo, é evitar que a lei de Murphy ocorra. Para os especialistas que tenham um
papel importante em estudos ambientais relacionados com produtos, equipamentos, processos e mesmo
meio ambiente, o objetivo é reduzir riscos ambientais ou eliminar ou reduzir fatores que contribuam
para acidentes, por intermédio de planejamento, projeto e análise.
3.2. Metodologia para Avaliação de Impactos Ambientais em SGA’s
Definida a política de meio ambiente da organização, e iniciando-se a preparação do plano de
implantação do Sistema de Gestão Ambiental (SGA), uma das atribuições iniciais da equipe é procurar
um entendimento claro e definido dos chamados “aspectos ambientais” da instalação, e quais destes são
“significativos” de modo a permitir o desenvolvimento ou melhoria da política ambiental, determinação
dos objetivos e metas, identificação de necessidades de treinamento, estabelecimento de controles
operacionais e desenvolvimento de sistemas apropriados de monitoramento e medidas.
O principal propósito deste requisito é determinar se os controles existentes ou planejados são
adequados, com a intenção de gerenciar os riscos antes que possa ocorrer o dano.
Historicamente, esta avaliação era realizada geralmente de uma maneira informal. Com a ocorrência
de alguns acidentes maiores reconheceu-se que para uma gestão pró-ativa são necessários metodologias
e procedimentos sistemáticos para assegurar seu sucesso.
Desta maneira torna-se prioritário estabelecer um procedimento para identificar aspectos ambientais
das atividades, produtos e serviços da instalação. Para tanto, é necessário seguir uma seqüência de
etapas, descritas a seguir:
1. É necessário, inicialmente, estabelecer uma equipe multidisciplinar, liderada por uma pessoa com
habilidades e conhecimento sobre técnicas organizacionais e de comunicação e competência,
autoridade, credibilidade e capacitação para obtenção das informações necessárias;
2. Preparação da documentação necessária, que deve refletir a situação atual do sistema em estudo
(atividade, serviço e produto), ou seja, o conhecimento de como os processos relacionados são
"operados" realmente (não necessariamente como poderiam ou deveriam ser conduzidos );
3. A identificação de aspectos ambientais e avaliação de impactos ambientais envolvendo três passos
básicos:
a) identificação
b) estimativa - probabilidade e gravidade
c) decisão sobre a significância do impacto ambiental;
4. Indicação das ações de melhoria e respectivos planos, como auxílio para os objetivos e metas;
5. Análise crítica dos planos de ação.
Essa integração - administração e operadores - permite uma percepção compartilhada dos riscos e
impactos, quais as ações ou procedimentos necessários para seu controle e enfoque na prevenção de
perdas.
Avaliações mal planejadas e/ou realizadas acarretam perda de tempo e nenhuma mudança. Sua
função é fornecer uma base para a implantação de medidas de controle e de prevenção de perdas.
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A avaliação de impactos ambientais deve considerar duas questões:
1. Qual a probabilidade de sua ocorrência?
2. Quais são as conseqüências?
Numa avaliação de impactos ambientais deve-se também estudar, sendo o peso destes fatores
extremamente subjetivo:
Sensibilidade dos meios receptores
ar, água, solo
fauna e flora local
Localização da planta
densidade populacional
áreas mais sensíveis (escolas, hospitais)
Qualidade do ar local
Tipo de drenagem
Construções
sítios arqueológicos
arquitetura.
O melhor conhecimento tecnológico sobre os impactos
Implicações sobre os negócios pelo gerenciamento dos impactos
Percepção dos impactos pelos “garantidores do negócio”
De maneira simplificada, deseja-se saber qual o problema ambiental que:
- atualmente prejudica a empresa, ou que faz com que ela não atenda as exigências legais;
- e nos próximos anos;
- possa causar uma ação civil e criminal;
- é percebido pelo público ou clientes como problema, ou já recebeu reclamações;
- possa ocorrer como resultado de uma má gestão de recursos, matérias primas ou resíduos;
- possa prejudicar o futuro desenvolvimento estratégico da organização;
- resulta na liberação de substâncias perigosas ou persistentes.
Os passos básicos para um processo de avaliação estão descritos a seguir:
Classificar as atividades de trabalho
Identificar os aspectos
Determinar os riscos ambientais
Decidir se o risco é tolerável
Analisar criticamente a adequação do plano de ação
14
Os seguintes critérios são necessários numa avaliação de impactos e riscos ambientais:
classificação das atividades e processos - preparar uma lista de atividades
abrangendo propriedades, instalações, pessoal e procedimentos, e coleta de dados;
identificação dos aspectos ambientais relativos a cada atividade e processo - levar
em consideração quem ou o que poderia sofrer danos e como;
estimativa subjetiva do impacto e/ou risco associado a cada aspecto, assumindo
que os controles existentes ou previstos estão em funcionamento;
decisão quanto a aceitabilidade do impacto, levando em consideração se as
precauções existentes ou previstas são suficientes para manter os aspectos/perigos sob
controle e atendendo os requisitos legais;
preparação do plano de ação para o controle de impactos ( se necessário),
assegurando que os controles novos e os existentes são eficazes;
análise crítica de adequação do plano, reavaliando os impactos em função dos
controles propostos, e verificando se são aceitáveis.
Normalmente, não há necessidade de realizar análises quantificadas que, somente são realizadas
quando as conseqüências de possíveis falhas podem ser catastróficas. Na maioria das organizações
métodos simples e subjetivos são os mais adequados. Algumas avaliações, entretanto, podem requerer
uma série de medições da situação existente ou de níveis de exposição a um dado agente tóxico ou
nocivo, para diminuir um pouco a subjetividade.
Os seguintes aspectos devem ser considerados numa avaliação:
preparação de um formulário;
classificação das atividades e processos e coleta das informações necessárias;
metodologia de identificação de aspectos e avaliação de impactos;
critérios de decisão de impactos ambientais significativos e de aceitabilidade de riscos
ambientais, de modo a verificar se as medidas existentes ou previstas são adequadas;
planos de ações corretivas;
critérios para análise crítica de adequação do plano de ação.
O formulário para registro da avaliação geralmente contém:
atividade ou processo;
aspecto;
controles existentes;
pessoas sujeitas a riscos;
danos ambientais;
probabilidade do dano;
gravidade do dano;
níveis de impacto ou risco;
ações a serem tomadas.
O resultado de uma avaliação deve ser um inventário de ações, em ordem de prioridade, para
recomendar, manter ou melhorar os controles. Esses devem ser escolhidos levando em consideração:
a) eliminação, se possível, dos perigos e aspectos, ou o controle do impacto ou risco na fonte
(segurança intrínseca);
b) redução do impacto ou risco;
c) adaptação da tarefa ou processo;
d) melhoria tecnológica;
e) medidas de proteção das pessoas ou do meio ambiente;
f) manutenção preditiva ou preventiva;
g) medidas de emergência;
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h) indicadores pró-ativos para monitorar a conformidade com os controles.
As informações necessárias para uma identificação e avaliação geralmente incluem:
a) fluxos de atividades e/ou processos (diagrama de blocos, fluxogramas de processo,
procedimentos);
b) implantações ("layouts", desenho de máquinas, plantas baixas, etc.);
c) listas de matérias-primas, subprodutos, produtos, efluentes, emissões, resíduos e respectivas
fichas de segurança;
d) tarefas executadas com duração e freqüência;
e) pessoal envolvido ( normal, ocasional, manutenção );
f) treinamentos recebidos;
g) utilidades empregadas;
h) forma física das substâncias utilizadas;
i) requisitos de regulamentações, normas internas;
j) controles em uso;
k) planos de emergência existentes;
l) monitoramento (contínuo; ocasional; pontual);
m) inspeções de segurança e de meio ambiente realizadas.
3.3 Técnicas de Identificação de Aspectos Ambientais
3.3.1 Aspectos relacionados com legislação
Geralmente, os aspectos ambientais relacionados com a legislação - substâncias químicas e/ou
tóxicas; emissões atmosféricas e ruído; efluentes aquosos; e resíduos sólidos/perigosos - podem ser
identificados e avaliados pelos técnicos de segurança e de meio ambiente da instalação, que podem
contribuir e auxiliar na gestão e na obtenção desta conformidade.
A maior parte das plantas industriais possui algum método de documentar e arquivar requisitos de
legislação e regulamentação de segurança, saúde no trabalho e de meio ambiente, aplicáveis às suas
atividades e processos. Documentos típicos são os “check-lists” de segurança, levantamentos de nível
de ruído, gráficos de acompanhamento de análises químicas de efluentes, fichas de segurança dos
produtos, etc.
Um dos pontos principais na identificação de requisitos legais ambientais é procurar obter
informações específicas sobre os processos, métodos de operação e produtos manipulados na planta.
Alguns requisitos legais aplicam-se especificamente ao manuseio de produtos químicos perigosos,
condições de trabalho, métodos operatórios e qualidade do ambiente de trabalho.
De modo a avaliar os riscos de segurança e os impactos sobre o meio ambiente pela utilização e
manuseio de substâncias perigosas, torna-se necessário se obter informações sobre suas propriedades
(físico-químicas; toxicidade; inflamabilidade; etc.) e o seu comportamento no meio ambiente. Neste
último caso, estuda-se como a substância entra no meio ambiente e quais os processos de transporte e
de “quebra“ da molécula. Exemplos de processos de transporte incluem sorção e bio-acumulação.
Exemplos de processos de “quebra” incluem bio-degradação, hidrólise e foto-degradação.
A criação e o uso de fichas de segurança (“material safety data sheet - MSDS“) para todos os
produtos manipulados constituem-se num ponto de partida, pelo fato que, geralmente, elas apresentam
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dados relacionados com características de segurança e de meio ambiente, proteção pessoal e instruções
de manuseio (incluindo-se medidas de emergência), e precauções com o meio ambiente.
O seu uso, entretanto, na identificação de rejeitos - contaminantes atmosféricos, efluentes líquidos,
resíduos perigosos - não é aconselhável. É melhor, nesse sentido, procurar caracterizar as diferentes
correntes de rejeitos de um dado processo através, inicialmente, de um balanço de massa sobre um
diagrama de blocos, identificando-se as várias saídas e respectivas vazões (efluentes líquidos e gasosos,
resíduos) em condições normais e previstas (partidas, paradas, lavagens, manutenção, etc.) de operação
e de uma análise química e físico-química dessas saídas.
Desta maneira é possível desenvolver um método de verificação de conformidade com os
requisitos legais e uma identificação de perigos e aspecto ambientais e uma avaliação dos riscos e
impactos ambientais existentes e potenciais causados por estas correntes de rejeitos. Uma maneira
efetiva de assegurar esta identificação é a realização de uma auditoria de conformidade, com auditores
treinados para verificar a aplicação de requisitos legais específicos.
Requisitos legais incluem, também, demonstrar conformidade com itens administrativos, como
licenças, que podem, conforme o caso, indicar a necessidade de atender recomendações e/ou
imposições identificadas pelo órgão administrativo, que se não atendidas podem causar impactos
ambientais.
Outras áreas relacionadas com a necessidade de se atender requisitos legais são a embalagem e
transporte de cargas perigosas. O principal objetivo destas regulamentações é prevenir o vazamento
destas cargas durante o transporte e, na possibilidade de um acidente minimizar danos à saúde humana
e ao meio ambiente. O entendimento de como tais regulamentações são aplicadas pode ser útil na
identificação de aspectos ambientais.
Em relação aos aspectos ambientais de “serviços“ de uma planta ou unidade de fabricação, uma
primeira aproximação para sua identificação e procurar entender quais são os serviços específicos
oferecidos. Por exemplo, se uma planta possuir uma área responsável por sua manutenção e reparos
com certeza estas atividades utilizam produtos químicos perigosos - novamente o uso de fichas de
segurança permite a identificação de aspectos ambientais.
3.3.2 Aspectos não relacionados com legislação
A identificação de aspectos ambientais não relacionados com a legislação exige um conhecimento
maior dos processos e atividades desenvolvidas pela organização. Exemplos típicos de aspectos
ambientais que podem afetar operações industriais são:
consumo de água e energia;
liberação de CO2 ;
vazamentos crônicos em válvulas, equipamentos, respiros de tanques, etc. - as chamadas emissões
fugitivas ;
falhas humanas e/ou de equipamentos e sistemas de controle que podem ser o inicio de um evento
maior - incêndio, explosão, liberação de produto tóxico ;
resíduos não totalmente regulamentados como papéis, embalagens, perdas ocasionais, tambores, óleos e
solventes utilizados para limpeza de peças, etc. ;
disposição final de equipamentos, restos de construção, restos de produtos e matérias-primas.
Uma metodologia para esta identificação envolve um estudo sistemático de toda a cadeia da
organização, desde fornecedores passando pela distribuição dos produtos até o final-de-vida do produto
(sua disposição final).
Outra abordagem para a identificação de aspectos ambientais é a utilização de ferramentas
analíticas criadas para identificar e analisar riscos de processos (físicos, químicos).
17
O seu uso, principalmente nas empresas químicas, petroquímicas e de refinação, se tornou cada vez
mais amplo, e mesmo a administração pública e organizações não governamentais já as reconhecem
como instrumentos importantes na gestão efetiva da segurança de processos e do meio ambiente.
Entre as ferramentas ou técnicas mais utilizadas tem-se: Análise Preliminar de Perigos/Riscos;
“ What/If”; HAZOP; FMEA; Árvore de Falhas.
Todas elas permitem um exame intensivo de um processo, utilizando-se para tanto múltiplas
competências e experiências, num exercício do tipo “brainstorm”. Os resultados finais, por se tratarem
de técnicas formais, são muito mais facilmente analisados, permitindo com maior facilidade relacionar
objetivos e metas de melhoria em relação aos aspectos ambientais identificados.
3.3.3 Técnicas Preliminares
3.3.3.1 Análise Preliminar de Riscos (APR)
A APR é uma técnica de Identificação de Riscos que teve origem nos programas de Segurança
criados no Departamento de Defesa dos EUA.
Tem como objetivo permitir uma identificação prévia dos riscos existentes num dado sistema.
Procura pesquisar quais são os Pontos de Maior Risco do sistema e estabelecer uma priorização destes,
quando da continuação dos estudos de segurança ou de uma Análise de Riscos Quantificada. A técnica
pode ser utilizada durante as etapas de desenvolvimento, estudo básico, detalhamento, implantação e
mesmo nos estudos de revisão de segurança de uma instalação existente.
Recentemente, essa técnica vem sendo bastante utilizada para a identificação e avaliação de aspectos
ambientais em atividades e serviços de uma organização, principalmente pelas que não envolvem
processos químicos.
O seu desenvolvimento inicia-se com uma explicação sobre o sistema em estudo, e o grupo
envolvido busca, baseado na sua experiência e competência, identificar os eventos (aspectos)
indesejáveis. A partir desta identificação o grupo procura descrever quais seriam as causas prováveis
destes eventos e quais as suas conseqüências ou efeitos (impactos).
Terminada esta fase, o grupo deve classificar cada evento identificado conforme a Tabela 4 e propor
ações ou medidas de prevenção e/ou proteção para diminuir as probabilidades de ocorrência do evento
ou para minimizar suas conseqüências.
Tabela 4: Classificação dos Impactos.
I - DESPREZÍVEL Se a falha ocorrer não haverá degradação do sistema, nem haverá danos
ou lesões às pessoas envolvidas;
II - MARGINAL OU
LIMÍTROFE
A falha poderá degradar o sistema de certa maneira, porém sem
comprometê-lo seriamente, não causando danos às pessoas envolvidas
(risco considerado como controlável);
III - CRÍTICA A falha irá causar danos consideráveis ao sistema e danos e lesões
graves às pessoas envolvidas, resultando portanto, num risco inaceitável
que irá exigir ações de prevenção e proteção imediatas ;
IV - CATASTRÓFICA A falha provocará uma severa degradação do sistema podendo resultar
na sua perda total e causando lesões graves e mortes às pessoas envolvidas,
resultando num Risco Maior que exigirá ações de prevenção e proteção
imediatas.
A técnica pode ser aplicada tanto em novos projetos e em ampliações ou modificações quanto em
unidades existentes.
18
Nas unidades existentes permite, também, pesquisar aspectos em atividades de interface como:
paradas, partidas, liberação para manutenção, etc.. É possível também utilizá-la para estudar a
influência de eventos externos (umidade, temperatura, terremotos, inundações, etc.).
A equipe envolvida geralmente pode ser constituída de:
Pessoal de operação da unidade
Engenheiro de Processo
Manutenção (elétrica, mecânica, instrumentação )
Logística
Engenheiro de Segurança
Preferencialmente, as pessoas envolvidas devem possuir experiência e competência sobre o sistema
em estudo.
A técnica permite rever e comparar problemas conhecidos por meio de análise de sistemas similares
Prioriza, também, as ações mitigadoras e indica quem será o responsável pelas suas soluções e os
respectivos prazos.
Desenvolve uma série de diretrizes e critérios a serem utilizados pelas equipes de projeto, construção
e operação de um sistema.
Permite uma conscientização prévia sobre os impactos identificados.
Entretanto, é uma análise essencialmente qualitativa. Em sistemas mais complexos a sua aplicação é
dificultosa. E em sistemas onde há uma experiência acumulada grande sobre o processo é de pouca
utilidade.
Exemplo Ilustrativo
O exemplo escolhido para ilustração da APR é bastante antigo! Segundo a mitologia grega o rei
Minos, da ilha de Creta, mandou aprisionar Dédalo, o arquiteto e construtor do famoso labirinto, e seu
filho Ícaro. Sabendo ser impossível escapar com vida do labirinto, pelas condições normais, Dédalo
idealizou fabricar asas para tentar fugir pelo ar. Estas asas foram construídas com penas de aves, linho e
cera de abelhas. Antes da fuga Dédalo avisou o filho que tomasse cuidado com a altura do vôo, pois se
voasse muito baixo as ondas do mar molhariam suas penas, e ele cairia; se voasse muito alto, o sol
derreteria a cera, e novamente ele poderia cair. Essa advertência, uma das primeiras análises de riscos
que conhecemos, define de certa maneira o que hoje conhecemos como Análise Preliminar de Riscos.
Como é do conhecimento de todos, Ícaro resolveu assumir um risco, voou muito alto e conforme
previsto caiu no mar.
19
ANÁLISE PRELIMINAR DE RISCOS
IDENTIFICAÇÃO: Sistema de vôo Ded I
SUBSISTEMA: Asas PROJETISTA: Dédalo
RISCO CAUSA EFEITO CAT.
RISCO
MEDIDAS PREVENTIVAS OU
CORRETIVAS
Radiação
térmica do
Sol
Voar muito
alto em
presença de
forte
radiação
Calor pode derreter
cera de abelhas, que
une as penas. Esta
separação pode
causar má
sustentação
aerodinâmica.
Aeronauta pode
morrer no mar.
IV Providenciar advertência contra vôo muito
alto e perto do Sol.
Manter rígida supervisão sobre aeronauta.
Prover trela de linho entre aeronautas para
evitar que o mais jovem, impetuoso, voe
alto. Restringir área da superfície
aerodinâmica.
Umidade Voar muito
perto da
superfície
do mar.
Asas podem
absorver a umidade,
aumentando de peso
e falhando. O poder
de propulsão
limitado pode não
ser adequado para
compensar o
aumento de peso.
Resultado: perda da
função e afogamento
possível do
aeronauta
IV Advertir aeronauta para voar a meia
altura, onde o Sol manterá as asas secas,
ou onde a taxa de acumulação de umidade
é aceitável para a duração da missão.
3.3.3.2 Análise Preliminar de Riscos Modificada
Uma variação dessa técnica permite avaliar de maneira mais uniforme e menos subjetiva os riscos
identificados.
O risco ou impacto ambiental decorrente de um aspecto identificado deve ser determinado
estimando-se a gravidade potencial do dano e a probabilidade de que o dano ocorra, assumindo que os
controles existentes ou planejados estão funcionando.
As seguintes etapas são normalmente seguidas:
- Definição do sistema ou instalações a serem estudados;
- Identificação dos produtos perigosos;
- Obtenção de dados e propriedades de tais produtos;
- Identificação dos possíveis riscos ambientais;
- Identificação dos modos operatórios que resultem em falhas;
- Quantificação das probabilidades de ocorrer as falhas selecionadas.
Para se estabelecer a gravidade potencial do dano, deve-se levar em consideração:
- compartimentos do ecossistema afetados (ar, água, solo, subsolo);
- natureza do dano, variando do mais leve ao extremamente prejudicial:
* levemente prejudicial
danos no local de trabalho; pequenos vazamentos
20
incômodo e irritação (ruído local, ambiente de trabalho) - dor de cabeça, tosse, etc. doença
ocupacional que leve a desconforto temporário
danos leves, facilmente reparáveis;
prejudicial
danos internos à organização
danos maiores em equipamentos e/ou instalações, com perda ou parada de produção, impactos
regionais;
extremamente prejudicial
danos externos à organização
perda total do sistema, impactos globais.
Quando se procura estabelecer a probabilidade de ocorrência do dano, devem ser consideradas a
adequação das medidas de controle já implantadas e a conformidade com as necessidades. Normas,
regulamentações e códigos de prática servem como orientação para o controle de perigos específicos.
Deve-se levar em consideração:
- número de pessoas expostas
- freqüência e duração da exposição
- falhas de utilidades
- falhas de componentes de instalações e máquinas e de dispositivos de segurança
- exposição às intempéries
- proteção proporcionada pelos equipamentos de proteção individual, e o seu índice de utilização
- atos inseguros (erros ou violações não intencionais de procedimentos) praticados por pessoas que, por
exemplo:
podem não conhecer os aspectos
podem não ter conhecimento, capacidade física ou aptidão para fazer o trabalho
subestimam os riscos a que estão expostos
subestimam a praticidade e utilidade dos métodos seguros de trabalho
A tabela 5 apresenta uma classificação da probabilidade.
Tabela 5: Classificação da probabilidade.
Descrição Especificidade
Provável Ocorre freqüentemente (já experimentado)
Improvável Pode ocorrer alguma vez durante a vida útil do item
Altamente improvável Pode ocorrer, mas nunca experimentado
Deve-se julgar, também, se as precauções existentes ou planejadas são suficientes para manter os
aspectos sob controle e para atender os requisitos legais.
Na tabela 6, apresenta-se um método simples para estimar níveis de risco e decidir se são aceitáveis.
Tabela 6: Avaliação de riscos.
Levemente prejudicial Prejudicial Extremamente prejudicial
Altamente
improvável
RISCO TRIVIAL RISCO
ACEITÁVEL
RISCO MODERADO
Improvável RISCO ACEITÁVEL RISCO
MODERADO
RISCO SUBSTANCIAL
Provável RISCO MODERADO RISCO
SUBSTANCIAL
RISCO INACEITÁVEL
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As categorias de risco formam a base para decidir se são necessários melhores controles e ações de
melhoria e o respectivo cronograma. Uma maneira de avaliar pode ser a utilização dos dados da tabela
7.
Tabela 7: Ações e controles dos riscos.
Nível de
risco
AÇÃO E CRONOGRAMA
Trivial Não é necessária nenhuma ação, bem como conservar registros documentados
Aceitável Não são necessários controles adicionais. Devem ser feitas considerações sobre uma
solução de custo mais eficaz ou melhorias que não imponham uma carga de custos
adicionais. É requerido monitoramento, para assegurar que os controles sejam
mantidos
Moderado Devem ser feitos esforços para reduzir o risco, mas os custos de prevenção devem
ser cuidadosamente medidos e limitados. As medidas para a redução do risco devem
ser implantadas dentro de um período de tempo definido.
Quando o risco moderado está associado a conseqüências altamente prejudiciais,
pode ser necessária uma avaliação adicional para estabelecer mais precisamente a
probabilidade do dano, como base para determinar a necessidade de melhores
medidas de controle.
Substancial O trabalho não deve ser iniciado até que o risco tenha sido reduzido.
Recursos consideráveis podem ter que são alocados para reduzir o risco. Se o risco
envolve trabalho em desenvolvimento, deve ser tomada uma ação urgente.
Inaceitável O trabalho deve ser iniciado ou continuado até que o risco tenha sido reduzido. Se
não é possível reduzir o risco, mesmo com riscos ilimitados, o trabalho tem que
permanecer proibido.
Os resultados de uma avaliação de riscos ambientais devem ser um inventário de ações, em ordem
de prioridade, para recomendar, manter ou melhorar os controles.
Os controles devem ser escolhidos levando-se em consideração:
a) eliminar, se possível, completamente os aspectos, ou combater os riscos na fonte, por exemplo,
usando uma substância mais segura;
b) reduzir os riscos quando não é possível eliminar os aspectos;
c) adaptar o trabalho, quando possível, ao indivíduo levando em consideração, por exemplo, as
capacidades mentais e físicas da pessoa;
d) aproveitar os progressos técnicos para melhorar os controles;
e) obter medidas que protejam as pessoas e o meio ambiente;
f) combinar controles técnicos e de procedimentos;
g) introduzir a manutenção preditiva;
h) adotar equipamentos de proteção individual somente como último recurso, depois que todas as
outras opções de controle tenham sido consideradas;
i) estudar técnicas de prevenção da poluição;
j) estudar tecnologias mais limpas;
l) adotar medidas de emergência, levando-se em conta o desenvolvimento de planos de emergência e
de evacuação.
22
O plano de ação deve ser analisado criticamente antes de sua implementação, levando-se em
consideração;
* se os controles revisados conduzirão a níveis de risco aceitáveis;
* os novos perigos surgidos dessas melhorias e de controles;
* a escolha da solução de custo mais eficaz;
* o que as pessoas afetadas pensam a respeito da necessidade e praticidade das medidas
preventivas revisadas;
* se os controles revisados serão usados na prática, e não serão ignorados, por exemplo, por
pressões para terminar o trabalho.
3.3.3.3 Técnicas de Identificação de Riscos e Operabilidade
O melhor método que permite um exame detalhado do processo e, consequentemente identificar
aspectos ambientais, é o estudo de riscos e operabilidade. Neste método tem-se como técnicas o “What
/If” e o HazOp. O objetivo é permitir ao grupo envolvido:
identificar nos fluxogramas disponíveis aspectos (perigos/riscos) presentes nas instalações em
projeto ou existentes;
identificar problemas operacionais;
relacionar os diferentes tipos de prevenção / proteção complementares que permitam obter um
nível de segurança aceitável e os abjetivos e metas do sistema de gestão ambiental.
Nestas técnicas a identificação de aspectos se baseia numa pesquisa de desvios da operação normal
da planta, conduzindo a um documento relacionando desvios e os meios previstos para prevenção e
proteção.
a) Técnica “ What / If “
O conceito é conduzir um exame sistemático de uma unidade ou processo visando identificar
aspectos / riscos, através de perguntas do tipo “O que aconteceria se....”. A análise pode incluir
situações envolvendo edificações, sistemas de operação (inclusive de tratamento de água, efluentes; de
geração de energia; etc.), áreas de armazenamento, procedimentos operacionais, práticas
administrativas, segurança da planta, etc..
Isto implica em identificar desvios no processo a partir de um evento inicial, de qualquer natureza,
podendo ou não ser uma falha de um componente ou sistema. Trata-se de uma técnica em que se
procura um equilíbrio entre a segurança, a preservação do meio ambiente e a produção das instalações.
Dessa maneira um processo de “What / If “ ao ser concluído deve compatibilizar riscos individuais,
sociais, aspectos e impactos ambientais e a indisponibilidade das usinas, de uma forma aceitável.
O procedimento é poderoso se a equipe que o usar for bastante experiente, senão os resultados
podem ser incompletos.
Tem, também, a vantagem de mostrar pontos de vistas novos e diferentes devidos à presença de
pessoas de experiência e horizontes diversos.
A limitação da técnica é dada pelo seu caráter não sistemático e pelo reconhecimento que as
respostas, em boa parte, não tem condições de realização.
A sua realização depende da qualidade da documentação, de uma equipe adequadamente treinada e
de um planejamento adequado.
A revisão deve ser iniciada com uma explanação básica do processo ou sistema, pelo engenheiro
e/ou técnico de operação da área, com base em todos os procedimentos de operação, tanto em marcha
23
normal, quanto em paradas e partidas. Pode-se também descrever as precauções de segurança e de meio
ambiente já existentes, equipamentos de segurança e procedimentos de higiene e saúde ocupacional.
Recomenda-se, sempre que possível, uma visita às instalações.
Inicia-se, então o exame através de uma geração livre de questões que devem ser formuladas na
forma: “O que aconteceria se... ?“.
A equipe não deve se limitar às questões já preparadas, listadas mais adiante a título de exemplo,
mas, sim, utilizar suas competências combinadas através de uma interação entre os membros.
Geralmente, o estudo procede desde as entradas do processo até a sua saída.
As questões relativas à segurança e ao meio ambiente são formuladas livremente, sem qualquer
questionamento, sendo permitido somente um esclarecimento, são anotadas e numeradas. Nesse
primeiro período do exame é expressamente proibido responder. Na segunda etapa, cada participante
procura responder as questões, definindo claramente as consequências do evento imaginado. Deve-se
dar uma atenção especial a não limitar as consequências a expressões do tipo:
“ O nível do tanque sobe ”
“ A bomba pára de funcionar ”
“ O tanque esquenta ”
“ Queda do tambor, com ruptura ”
O cenário imaginado de evoluir até se ter certeza que há ou não consequências para a segurança e/ou
meio ambiente, ou se haverá inclusive a indisponibilidade da usina e um impacto ambiental
(internamente e externamente à usina). Utilizar expressões do tipo:
“O nível do tanque sobe, podendo transbordar, compossível contaminação do solo, corpos d’água e da
atmosfera, inflamação e explosão”
“A bomba para de funcionar, podendo ocorrer falta do produto ”
“Ocorre um aquecimento do tanque, pela falha do sistema de resfriamento, e uma possível formação de
vapores que provocará a formação de uma atmosfera inflamável ou tóxica”
“O tambor tomba podendo ocorrer sua ruptura e o derramamento do seu conteúdo, causando uma
contaminação do solo”
A solução completa de uma questão compreende além da identificação dos aspectos e/ou riscos
conseqüentes potenciais, como se detecta a falha ou os meios de proteção existentes e a proposição de
soluções e ações.
Ao final de cada reunião é feito um relatório preliminar no qual aparecem todas as questões
anotadas, as respostas dadas, as ações e estudos a realizar.
As questões que ficaram em aberto deverão receber respostas escritas que são apresentadas quando
da reunião de fechamento.
A equipe geralmente se constitui de:
Pessoal de operação da unidade
Engenheiro de Processo
Manutenção (elétrica, mecânica, instrumentação)
Logística
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Especialista de Meio Ambiente
Questões “ What / If ”Típicas
1. Falta de Utilidades
O que aconteceria se, não houver ar de instrumentação, eletricidade, nitrogênio, água, vapor?
2. Mudança de Composição
O que aconteceria se a qualidade das matérias primas sofrer variação?
O que aconteceria se certas impurezas forem introduzidas?
3. Condições de Operação Não-Habituais
Quais são as conseqüências de variações das condições de operação normais (T, P, pH, etc.)?
O que aconteceria se certas vazões forem interrompidas?
4. Falha de Material
O que aconteceria se alguns instrumentos particulares ou analisadores sofrerem “pane”?
O que aconteceria se certos produtos vazarem para a atmosfera?
O que aconteceria se certas válvulas não funcionarem corretamente?
5. Regras de Marcha não Respeitadas
Quais são as conseqüências se certas regras de marcha não forem observadas?
6. Conseqüências de Incidentes Externos à Planta / Unidade
O que aconteceria se houvesse a abertura das válvulas de segurança ou discos de ruptura nas
unidades vizinhas ?
O que aconteceria se houver incêndio nas unidades vizinhas ?
7. Conseqüências de Incidentes Internos à Planta / Unidade
Como incidentes internos podem afetar as unidades ou as comunidades vizinhas ?
8. Manipulação de Produtos
O que aconteceria se o produto for liberado para o solo, atmosfera, água, etc. ?
9. Resíduos
O que aconteceria se os resíduos não forem armazenados ou tratados adequadamente?
25
b) Técnica HAZOP
A técnica HAZOP de identificação de aspectos / riscos é um método sistemático de questionamento
mais criativo e aberto.
Observe-se que num HAZOP, a “operabilidade” é tão importante quanto a “identificação de
aspectos“. Na maioria das vezes identificam-se muito mais problemas operacionais do que aspectos /
riscos. É preciso lembrar que existe uma relação muito forte entre a eliminação de problemas
operacionais e a diminuição dos riscos de uma instalação: a eliminação daqueles diminui a freqüência
de erros humanos e, por conseguinte, o nível de riscos.
Essencialmente, a técnica prevê uma descrição completa do processo, sistematicamente
questionando-se toda e qualquer parte deste, para levantar como poderiam ocorrer desvios e decidir
quando estes podem gerar riscos.
O questionamento é focalizado em cima de cada componente da instalação. Submete-se este
componente a um certo número de questões, utilizando-se “palavras-guia“. Estas são utilizadas para
assegurar que as questões que são levantadas para testar a integridade de cada componente da
instalação, explorarão qualquer maneira possível na qual possa ocorrer o desvio de uma dada intenção
prevista na instalação. Como conseqüência, ter-se-á alguns desvios teóricos, e cada um destes é então,
considerado analisando-se como ocorre (qual a causa ?) e quais seriam as conseqüências.
Algumas das causas levantadas podem ser irreais e, portanto, suas conseqüências serão desprezadas
como sem importância. Algumas conseqüências podem ser consideradas triviais e não serão
consideradas, mais que o necessário. Contudo, podem-se ter desvios com causas possíveis e
conseqüências que são potencialmente perigosas. Neste caso, estes aspectos são anotados para prever
uma ação de prevenção e/ou proteção.
Após o exame de um componente e tendo-se registrado o aspecto potencial associado, o estudo
prossegue analisando-se o componente seguinte. Esta análise é repetida até o estudo global da planta /
unidade.
O objetivo é identificar todos os desvios possíveis em relação a como o processo em estudo havia
sido inicialmente previsto operar, e os aspectos/riscos associados com tais desvios. Pode-se no
momento de realização do HAZOP, procurar uma solução para o aspecto/risco identificado. Se a
solução é óbvia e não causa efeitos adversos em outras partes da planta/unidade, pode-se tomar uma
decisão e implantar a modificação. Entretanto, nem sempre isso é possível - por exemplo, poderia se ter
a necessidade de outras informações complementares. Neste caso, as soluções da análise consistem de
uma mistura de decisões e de questões a serem respondidas em reuniões separadas.
Embora, a técnica possa conduzir a muitos desvios hipotéticos, o sucesso ou falha depende de quatro
aspectos fundamentais:
a. precisão dos documentos e outros dados utilizados como base para o estudo;
b. competências e conhecimento da equipe;
c. capacidade da equipe em utilizar a técnica HAZOP como uma “ferramenta auxiliar “ de sua
imaginação para visualizar desvios;
d. capacidade da equipe em manter um senso de proporção, particularmente na avaliação da
seriedade dos aspectos/riscos identificados.
Como a análise é extremamente sistemática e altamente estruturada, é necessário que os
participantes usem certos termos de maneira precisa e disciplinada.
26
Alguns termos importantes são:
Intenção
Define a expectativa de como determinado componente de um sistema deveria operar. Esta
expectativa pode ser ilustrada de diferentes formas e pode ser descritiva ou diagramática. Na maioria
das vezes um fluxograma de engenharia.
Desvios
São as “saídas” da intenção, e são levantadas aplicando-se sistematicamente as palavras-guia.
Causas
Estas se constituem nas razões de porque ocorrem os desvios. Uma vez que estes mostraram ter uma
causa possível ou real, devem ser então tratados como importantes.
Conseqüências
São os resultados se ocorrerem os desvios.
Palavras-Guia
São palavras simples que são utilizadas para qualificar a intenção de modo a estimular o processo
criativo de pensamento e descobrir os desvios.
De modo a ilustrar os princípios do procedimento, considere-se uma instalação na qual os reagentes
A e B reagem entre si para formar o produto C. Supor que a química do processo é tal que a
concentração de B não deva nunca exceder a de A, senão ocorreria uma explosão.
Referindo-se à Figura 1, e analisando-se a linha que parte da sucção da bomba que transporta o
material A até a entrada do reator. A intenção é parcialmente descrita pelo diagrama e parcialmente
pelas necessidades de controle do processo para se transferir A, numa vazão especificada. O primeiro
desvio é obtido aplicando-se a palavra-guia NENHUM à intenção. Isto é combinado com a intenção
para fornecer:
NÃO TRANSFIRA A
O fluxograma é então examinado para estabelecer as causas que podem produzir uma parada
completa do fluxo de A. Estas causas podem ser:
a. tanque de armazenamento vazio;
b. a bomba falha em operar, devido a :
falha mecânica
falha elétrica
bomba desligada
etc..
c. ruptura da linha;
d. válvula de isolamento fechada.
Algumas destas são causas claramente possíveis, logo, pode-se dizer que este é um desvio
importante.
27
Em seguida, consideram-se as conseqüências. A falta de A levará rapidamente a um excesso de B
sobre A no reator e, conseqüentemente, um risco de explosão. Portanto, descobriu-se um aspecto no
processo em estudo, que deve ser anotado para posterior consideração.
FIGURA 1
A + B C
Componente B não deve exceder A, para evitar-se uma explosão
Aplica-se, então, a próxima palavra-guia, que é MAIS. O desvio é:
VAZÃO DE A MAIOR PARA O REATOR
A causa poderia estar relacionada com as características da bomba que permitiriam, em certas
circunstâncias, produzir uma vazão excessiva. Se esta causa é aceita como real, consideram-se, então,
as conseqüências:
a reação produz C contaminado com um excesso de A, que passa para o próximo estágio do
processo;
o excesso de fluxo no reator poderia fazer com que ocorra um transbordamento.
Neste caso, serão necessárias informações adicionais para decidir se as conseqüências constituirão
um aspecto.
Outras palavras-guia são por sua vez aplicadas à intenção do processo, para assegurar que todos os
desvios tenham sido explorados. Quando a tubulação que introduz A foi totalmente examinada, faz-se
uma marcação no fluxograma. Escolhe-se, em seguida, a parte seguinte do processo para estudo
(poderia ser, por exemplo, a linha que introduz B no reator). Esta seqüência é repetida enfim para todo
o processo: linhas; equipamentos e auxiliares (agitadores, válvulas de segurança, etc); sistemas de
fornecimento de utilidades (água, vapor, eletricidade, ar, etc.); sistemas de aquecimento e resfriamento;
etc..
As ações propostas são então anotadas, após um acordo total entre os participantes.
A tabela mostra as palavras-guia normalmente utilizadas e os desvios que elas representam.
reagente A
reagente B
produto C
28
No exemplo utilizado, apresentaram-se os princípios da técnica, mostrando a aplicação das duas
primeiras palavras-guia. Geralmente, as três primeiras são diretas, e fornecem desvios facilmente
entendidos. As restantes não são de fácil aplicação e necessitam de explicação adicional. Seu
significado será explicado a seguir, utilizando-se o mesmo exemplo anterior.
A palavra COMPONENTE A MAIS, tem como desvio COMPONENTE A MAIS DE A.
Isto pode significar:
a. pode ocorrer a transferência de A para algum outro local, além do reator
b. ocorrência de outra atividade com transferência ( A poderia se decompor ).
Tabela 8: Desvios Gerados pelas diversas PALAVRAS-GUIA
A palavra MUDANÇA NA COMPOSIÇÃO daria como desvio COMPONENTE DIFERENTE
DE A, podendo significar:
transferência de outro componente além de A. Uma pesquisa na Figura 1 mostra um linha
adicional com válvula de isolamento na sucção da bomba. Se a válvula não estiver fechada, outro
componente pode ser transferido junto com A.
Quando se usam as palavras-guia nas intenções expressas, elas são sempre aplicáveis. Entretanto,
podem ser aplicadas, também, num nível de palavras ou frases descritivas. Por exemplo, MAIS
VAPOR pode significar uma maior quantidade de vapor (aumento de capacidade) ou vapor em pressão
mais alta (aumento de intensidade).
Quando se trabalha num nível mais detalhado de intenção no processo, encontram-se algumas
restrições causadas por uma redução dos modos possíveis de desvio. Por exemplo, suponha-se que a
intenção no processo seja operar com uma temperatura de 100 o C. Os modos possíveis de desvio (não
se considerando o zero absoluto) são MAIS (isto é, acima de 100 o C) e MENOS (abaixo de 100
o C).
Em aspectos de tempo, MAIS e MENOS podem significar duração maior ou menor, ou freqüências
altas ou baixas.
Em processos contínuos, os fluxogramas devem ser analisados da seguinte forma:
a. equipamento por equipamento e, se necessário, linha por linha;
b. para cada parâmetro de operação ( temperatura, pressão, vazão, nível, composição );
PALAVRA-GUIA DESVIO
NENHUM Ausência total da intenção (Ex.: ausência de fluxo)
MAIS Mais, em relação a um parâmetro físico importante (Ex.: vazão
maior, temperatura maior, viscosidade maior, pressão maior, etc.)
MENOS : Menos, em relação a um parâmetro físico importante (Ex.: vazão
menor, temperatura menor, etc.)
MUDANÇAS NA
COMPOSIÇÃO
Alguns componentes em maior ou menor proporção, ou falta de
um componente.
COMPONENTES
A MAIS
Componentes a mais em relação aos que deveriam existir (Ex.:
fase extra presente - vapor, sólido, impurezas - ar, água, ácidos,
produtos de corrosão, contaminantes, etc. )
REVERSO O oposto lógico da intenção (Ex.: fluxo reverso ou reação
química)
OUTRA CONDIÇÃO
OPERACIONAL
Partida, parada, funcionamento de pico, em carga reduzida, modo
alternativo de operação, manutenção, mudança de catalisador, etc.
29
c. ruptura ou perda de confinamento, normalmente são analisados à parte;
d. pelos sucessivos desvios do parâmetro em consideração, usando as palavras-guia.
A experiência tem mostrado que é mais fácil iniciar-se com os parâmetros mais sensíveis para o
componente em consideração, porque geralmente, as ações previstas para estes riscos servem para os
outros desvios.
Em estudos de processos descontínuos torna-se necessário aplicar as palavras-guia tanto para
instruções como para as linhas de tubulação. Por exemplo, se uma instrução estabelece que 1 tonelada
de A tem de ser carregada no reator, deve-se considerar desvios como :
NÃO CARREGUE A
A CARREGADO EM EXCESSO
A CARREGADO EM FALTA
CARREGUE PARTE DE A ( se A é uma mistura)
CARREGAMENTO DIFERENTE DE A
Operações descontínuas realizadas numa instalação contínua (por ex., condicionamento do
equipamento ou limpeza), devem ser estudadas de modo similar, listando a seqüência de operação e
aplicando-se as palavras-guia para cada etapa.
Em operações descontínuas, os fluxogramas são analisados da seguinte forma:
a. operações dinâmicas, etapa por etapa, seguindo a seqüência das instruções operacionais;
b. operações estáticas, linha por linha, seguindo o arranjo funcional do equipamento:
conexões; utilidades;
Para as ações de proteção de instrumentação a análise é mais difícil de registrar, porque os controles
utilizam instruções operacionais ou sistemas automáticos programáveis.
É especialmente importante identificar desvios que possam ter conseqüências diretas de alto risco, e
se as ações de proteção por instrumentação nem sempre são aplicáveis, estes desvios devem ser
anotados à parte e analisados os meios de prevenção físicos e humanos.
Em processos operados por computador as instruções ao computador (software de aplicação) devem
ser estudadas separadamente. Por exemplo, se o computador está instruído para tomar certa ação
quando a temperatura sobe, a equipe deve considerar as possíveis conseqüências de falha do
computador em realizar a ação.
Um estudo HAZOP é normalmente realizado por uma equipe multi-disciplinar. Pode haver dois
tipos de participantes: os que fornecem contribuições técnicas e os que têm papel de suporte e
estruturação.
A técnica exige que a equipe tenha um conhecimento detalhado sobre o processo em estudo. Como
gera um grande número de questões, é essencial que a equipe seja constituída de um número suficiente
de pessoas com conhecimento e experiência suficiente, para responder a maioria das questões.
A equipe usual é a seguinte:
Engenheiro de processos
Engenheiro de fabricação
Técnico ou operador de fabricação
Técnicos de manutenção, instrumentação
Engenheiro de segurança
Especialista em segurança de processos
30
4. Análise, Controle de Riscos e Vulnerabilidade e Análises Quantificadas
4.1. Introdução
Nos levantamentos de aspectos e avaliação de impactos ambientais, como já visto
anteriormente, as seguintes etapas são normalmente seguidas:
Definir sistema ou instalações a serem estudados;
Identificar produtos perigosos;
Obter dados e propriedades de tais produtos;
Identificar possíveis riscos;
Identificar modos operatórios que resultem em falhas.
Quantificar as probabilidades de ocorrerem as falhas selecionadas.
As análises quantificadas permitem fazer comparações mais objetivas entre diferentes situações de
risco, auxiliando no processo de tomada de decisão, principalmente, no que diz respeito à instituição ou
não de medidas e controles adicionais.
Para ser possível comparar situações deve-se inicialmente fixar critérios de aceitabilidade, ou seja,
estabelecer limites aceitáveis para as seguintes condições:
freqüência de ocorrência de determinado acidente;
riscos ocupacionais;
riscos para o público;
riscos ambientais;
riscos econômicos.
Entretanto, o problema da realização de análises quantificadas está relacionado com a complexidade
do estudo de impactos, conseqüências e vulnerabilidade da organização e do meio ambiente, e o desafio
tecnológico da obtenção de dados confiáveis. Como exemplos dessa situação têm-se:
Histórico dos tanques e suas probabilidades de falha;
Probabilidade de certos equipamentos serem atingidos por fragmentos atirados por máquinas
a partir de incêndio ou explosões;
Evaporação de gases liquefeitos numa área de contenção no solo ou derramamento em
corpos d’água;
Possíveis falhas de operações manuais;
Facilidade de uma evacuação;
Toxicologia para determinar faixas letais, no caso de liberação de produtos tóxicos.
A estimativa de riscos/impactos ambientais de uma instalação industrial complexa é muito difícil,
utilizando-se para tanto, no caso de comparação de riscos diferentes, avaliações quantitativas.
Os objetivos dessas avaliações são auxiliar as organizações em priorizar as atividades, produtos ou
serviços que possam criar impactos significativos e criar cenários para as situações de emergência.
Os métodos de estimativa levam em consideração a probabilidade de ocorrência de cada tipo de
acidente, permitindo, assim, descrever os riscos não somente como “grande” ou “pequeno”, mas
quantificados numericamente.
Na priorização deve-se levar em consideração a criação de uma matriz de Riscos / Impactos. Na
realidade por uma ausência de critérios (da parte do governo ou de padrões industriais) as organizações
preparam uma matriz e um sistema de valores, sendo ainda, portanto, um método subjetivo.
31
O método para estimativa envolve confiança em dados históricos, e estes devem ser conhecidos por
duas razões:
1. Há a possibilidade de que novas operações e procedimentos tenham criado novas situações
que possam causar novos impactos?
2. Lições tiradas de acidentes do passado são aprendidas para que estes não ocorram
novamente?
Por exemplo, para descrever a probabilidade de morte de 100 pessoas em um determinado tipo de
acidente como 1 em 10.000 comparado com 1 em 100 para outro tipo de acidente, é muito mais
significativo que dizer que as chances são “remotas” ou “altas”.
As tabelas 9 e 10 apresentam algumas formas de classificação.
Tabelas 9 e 10: Classificação de probabilidades e consequências.
1- Muito alta Possibilidades frequêntes de ocorrência (1/ano)
2- Alta Possibilidades ocasionais de ocorrência (1/5 anos)
3- Média Possibilidades raras de ocorrência (1/15 anos)
4- Baixa Possibilidades de ocorrência após o tempo útil da planta (1/30 anos)
5- Muito baixa Possibilidades ínfimas (1/100anos)
Ranking Consequências de segurança e saúde
Consequências para o Meio Ambiente
1- Muito alta - Falecimentos - Mortes na sociedade - Danos extensivos à propriedade
- Grandes danos ambientais - Grande perda de tempo - Impactos nas vendas
2- Alta - Feridos - Feridos na sociedade - Danos significantes à propriedade
- Violação permitida no ambiente - Perda de tempo
3- Média - Ferimentos menores - Danos menores à propriedade
- Impactos ambientais moderados - Perda de tempo médio
4- Baixa - Sem ferimentos em trabalhadores - Danos menores à propriedade
- Perda de tempo (horas) - Impactos ambientais menores -Variação na qualidade do produto
5- Muito baixa - Sem ferimentos em trabalhadores - Sem danos à propriedade
- Sem impactos ambientais - Problemas operacionais reparáveis
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Os grupos de avaliação devem, portanto, identificar situações que possam causar impactos
ambientais significativos e selecionar cenários compatíveis de acidentes ambientais.
O impacto ambiental significativo deve ser caracterizado pela sua probabilidade de ocorrência e pela
magnitude de suas conseqüências (e nesse caso tem-se, também, o não atendimento a algum requisito
de legislação ou regulamentação). Consideram-se como eventos típicos:
Incêndios e explosões
Colisões durante o transporte
Ruptura de vasos sob pressão
Liberação de gases/vapores/líquidos através de sistemas de alívio, respiros de tanques, etc
Ruptura de diques de contenção
Vazamentos com infiltração no solo/subsolo.
Para prever um impacto, podem ser utilizados dados de incidentes já ocorridos, bem como
estimativas teóricas de possíveis impactos, sem se importar se a probabilidade é baixa ou não.
Exemplo: a estimativa do impacto de uma liberação de um material tóxico é baseada no conhecimento
da sua toxicidade e nas condições meteorológicas locais no instante da liberação, e não somente nos
dados históricos.
Uma alternativa para esta aproximação é a “árvore de eventos/causas”. Neste método, as principais
conseqüências são identificadas e as possíveis causas iniciais são estimadas percorrendo o caminho
contrário de uma “árvore de eventos/causas”.
Geralmente, as estimativas dos impactos feitas pelo primeiro método são superestimadas porque este
possui números insuficientes de medidas de detalhes preventivos, e o segundo método subestima os
impactos, pela sua falha em identificar todas as causas possíveis do acidente.
Não é possível estabelecer claramente os limites de confiança da análise de riscos por qualquer um
dos métodos por causa das dificuldades existentes nas estimativas de impactos. A estimativa das
incertezas é um processo de julgamento profissional, onde cabe ao grupo de investigação, a tarefa de
estimar as probabilidades, de acordo com o seu ponto de vista, isto é, com a sua experiência nesta área.
As incertezas também existem na estimativa das conseqüências de um determinado acidente. Exemplo:
Devem-se saber quais os efeitos físicos do ser humano perante exposições, em diferentes níveis de
concentrações, das substâncias tóxicas. Mas estas informações são raramente encontradas de forma
definida, e portanto, muitas extrapolações são realizadas.
Os cálculos dos dados podem ser superestimados, na tentativa de cobrir as incertezas, multiplicando-
se a probabilidade de mortes por um fator de dois ou três.
Por fim, o relatório do grupo de investigação vai indicar se as estimativas foram baseadas em dados
corretos, ou se alguma estimativa foi baseada em informações limitadas ou em dados aleatórios, que
permitem uma análise de sensibilidade de uma determinada variável.
As técnicas comumente utilizadas são:
Árvore de Falhas e Árvore de Eventos
Análise por Modo de Falha e Efeito (FMEA)
Defesas contra Falhas de Modo Comum em sistemas redundantes
Análise de Conseqüências.
33
4.2. Análise de Árvore de Eventos e Árvore de Falhas
A Análise da Árvore de Eventos (AAE) é um método lógico-indutivo para identificar as várias e
possíveis consequências resultantes de determinado evento inicial. A técnica busca determinar as
frequências das consequências decorrentes dos eventos indesejáveis, utilizando encadeamentos lógicos
a cada etapa de atuação do sistema.
Nas aplicações de análise de risco, o evento inicial da árvore de eventos é, em geral, a falha de um
componente ou subsistema, sendo os eventos subsequentes determinados pelas características do
sistema. Para o traçado da árvore de eventos, as seguintes etapas devem ser seguidas:
a) Definir o evento inicial que pode conduzir ao acidente;
b) Definir os sistemas de segurança (ações) que podem amortecer o efeito do evento inicial;
c) Combinar em uma árvore lógica de decisões as várias sequências de acontecimentos que podem
surgir a partir do evento inicial;
d) Uma vez construída a árvore de eventos, calcular as probabilidades associadas a cada ramo do
sistema que conduz a alguma falha (acidente).
A árvore de eventos deve ser lida da esquerda para a direita. Na esquerda começa-se com o evento
inicial e segue-se com os demais eventos sequenciais. A linha superior é NÃO e significa que o evento
não ocorre, a linha inferior é SIM e significa que o evento realmente ocorre.
A Análise de Árvore de Falhas (AAF) foi primeiramente concebida por H.A.Watson dos
Laboratórios Bell Telephone em 1961, a pedido da Força Aérea Americana para avaliação do sistema
de controle do Míssil Balístico Minuteman.
A AAF é um método excelente para o estudo dos fatores que poderiam causar um evento
indesejável (falha) e encontra sua melhor aplicação no estudo de situações complexas. Ela determina as
frequências de eventos indesejáveis (topo) a partir da combinação lógica das falhas dos diversos
componentes do sistema.
O principal conceito na AAF é a transformação de um sistema físico em um diagrama lógico
estruturado (a árvore de falhas), na qual são especificadas as causas que levam a ocorrência de um
específico evento indesejado de interesse, chamado evento topo.
O evento indesejado recebe o nome de evento topo por uma razão bem lógica, já que na montagem
da árvore de falhas o mesmo é colocado no nível mais alto. A partir deste nível o sistema é dissecado de
cima para baixo, enumerando todas as causas ou combinações delas que levam ao evento indesejado.
Os eventos do nível inferior recebem o nome de eventos básicos ou primários, pois são eles que dão
origem a todos os eventos de nível mais alto.
A AAF é uma técnica dedutiva que se focaliza em um acidente particular e fornece um método
para determinar as causas deste acidente, é um modelo gráfico que dispõe várias combinações de falhas
de equipamentos e erros humanos que possam resultar em um acidente. Considera-se o método como
"uma técnica de pensamento-reverso, ou seja, o analista começa com um acidente ou evento indesejável
que deve ser evitado e identifica as causas imediatas do evento, cada uma examinada até que o analista
tenha identificado as causas básicas de cada evento". Portanto, é certo supor que a árvore de falhas é um
diagrama que mostra a interrelação lógica entre estas causas básicas e o acidente.
A diagramação lógica da árvore de falhas é feita utilizando-se símbolos e comportas lógicas,
indicando o relacionamento entre os eventos considerados. As duas unidades básicas ou comportas
lógicas envolvidas são os operadores "E" e "OU", que indicam o relacionamento casual entre eventos
dos níveis inferiores que levam ao evento topo. As combinações sequenciais destes eventos formam os
diversos ramos da árvore. A AAF pode ser executada em quatro etapas básicas: definição do sistema,
construção da árvore de falhas, avaliação qualitativa e avaliação quantitativa.
34
Embora tenha sido desenvolvida com o principal intuito de determinar probabilidades, como
técnica quantitativa, é muito comumente usada também por seu aspecto qualitativo porque, desta forma
e de maneira sistemática, os vários fatores, em qualquer situação a ser investigada, podem ser
visualizados. Os resultados da análise quantitativa são desejáveis para muitos usos, contudo, para
proceder à análise quantitativa, deve ser realizada primeiramente a análise qualitativa, sendo que muitos
analistas crêem que deste modo, obter resultados quantitativos não requer muitos esforços adicionais.
Assim, a avaliação qualitativa pode ser usada para analisar e determinar que combinações de falhas
de componentes, erros operacionais ou outros defeitos podem causar o evento topo. Já a avaliação
quantitativa é utilizada para determinar a probabilidade de falha no sistema pelo conhecimento das
probabilidades de ocorrência de cada evento em particular.
Desta forma, o método de AAF pode ser desenvolvido através das seguintes etapas:
a) Seleção do evento indesejável ou falha, cuja probabilidade de ocorrência deve ser determinada;
b) Revisão dos fatores intervenientes: ambiente, dados do projeto, exigências do sistema, etc.,
determinando as condições, eventos particulares ou falhas que possam vir a contribuir para ocorrência
do evento topo selecionado;
c) Montagem, por meio da diagramação sistemática, dos eventos contribuintes e falhas levantadas na
etapa anterior, mostrando o interrelacionamento entre estes eventos e falhas, em relação ao evento topo.
O processo inicia com os eventos que poderiam, diretamente, causar tal fato, formando o primeiro nível
- o nível básico. À medida que se retrocede, passo a passo, até o evento topo, são adicionadas as
combinações de eventos e falhas contribuintes. Desenhada a árvore de falhas, o relacionamento entre os
eventos é feito através das comportas lógicas;
d) Por intermédio de Álgebra Booleana são desenvolvidas as expressões matemáticas adequadas, que
representam as entradas da árvore de falhas. Cada comporta lógica tem implícita uma operação
matemática, podendo ser traduzidas, em última análise, por ações de adição ou multiplicação;
e) Determinação da probabilidade de falha de cada componente, ou seja, a probabilidade de ocorrência
do evento topo será investigada pela combinação das probabilidades de ocorrência dos eventos que lhe
deram origem.
A AAF não necessariamente precisa ser levada até a análise quantitativa, entretanto, mesmo ao se
aplicar o procedimento de simples diagramação da árvore, é possível a obtenção de um grande número
de informações e conhecimento muito mais completo do sistema ou situação em estudo, propiciando
uma visão bastante clara da questão e das possibilidades imediatas de ação no que se refere à correção e
prevenção de condições indesejadas.
O uso da árvore de falhas pode trazer, ainda, outras vantagens e facilidades, quais sejam: a
determinação da sequência mais crítica ou provável de eventos, dentre os ramos da árvore, que levam
ao evento topo; a identificação de falhas singulares ou localizadas importantes no processo; o
descobrimento de elementos sensores (alternativas de solução) cujo desenvolvimento possa reduzir a
probabilidade do contratempo em estudo. Geralmente, existem certas sequências de eventos centenas
de vezes mais prováveis na ocorrência do evento topo do que outras e, portanto, é relativamente fácil
encontrar a principal combinação ou combinações de eventos que precisam ser prevenidas, para que a
probabilidade de ocorrência do evento topo diminua.
Além dos aspectos citados, a AAF encontra aplicação para inúmeros outros usos, como: solução de
problemas diversos de manutenção, cálculo de confiabilidade, investigação de acidentes, decisões
administrativas, estimativas de riscos, etc.
35
4.3. Análise por Modo de Falha e Efeito (FMEA)
A crescente necessidade de melhorar a qualidade de produtos e a satisfação dos clientes tem
popularizado vários métodos e técnicas que visam melhorar a confiabilidade de produtos e processos,
ou seja, aumentar a probabilidade de um item desempenhar sua função sem falhas.
Dentre estas técnicas, destaca-se o FMEA (Failure Modes and Effects Analysis), que atualmente é
amplamente utilizado nas indústrias de manufatura, em grande parte devido à exigências de normas de
qualidade tais como a ISO 9000.
Outra destas técnicas é a análise da árvore de falhas (AAF), vista no tópico anterior, que visa
melhorar a confiabilidade de produtos e processos através da análise sistemática de possíveis falhas e
suas conseqüências, orientando na adoção de medidas corretivas ou preventivas.
A metodologia de Análise do Tipo e Efeito de Falha, conhecida como FMEA (do inglês Failure
Mode and Effect Analysis), é uma ferramenta que busca, em princípio, evitar, por meio da análise das
falhas potenciais e propostas de ações de melhoria, que ocorram falhas no projeto do produto ou do
processo. Este é o objetivo básico desta técnica, ou seja, detectar falhas antes que se produza uma peça
e/ou produto. Pode-se dizer que, com sua utilização, se está diminuindo as chances do produto ou
processo falhar, ou seja, estamos buscando aumentar sua confiabilidade.
Esta dimensão da qualidade, a confiabilidade, tem se tornado cada vez mais importante para os
consumidores, pois, a falha de um produto, mesmo que prontamente reparada pelo serviço de
assistência técnica e totalmente coberta por termos de garantia, causa, no mínimo, uma insatisfação ao
consumidor ao privá-lo do uso do produto por determinado tempo. Além disso, cada vez mais são
lançados produtos em que determinados tipos de falhas podem ter consequências drásticas para o
consumidor, tais como aviões e equipamentos hospitalares nos quais o mau funcionamento pode
significar até mesmo um risco de vida ao usuário.
Apesar de ter sido desenvolvida com um enfoque no projeto de novos produtos e processos, a
metodologia FMEA, pela sua grande utilidade, passou a ser aplicada de diversas maneiras. Assim, ela
atualmente é utilizada para diminuir as falhas de produtos e processos existentes e para diminuir a
probabilidade de falha em processos administrativos. Tem sido empregada também em aplicações
específicas tais como análises de fontes de risco em engenharia de segurança e na indústria de
alimentos.
A norma QS 9000 especifica o FMEA como um dos documentos necessários para um fornecedor
submeter uma peça/produto à aprovação da montadora. Este é um dos principais motivos pela
divulgação desta técnica. Deve-se no entanto implantar o FMEA em um empresa, visando-se os seus
resultados (vide importância) e não simplesmente para atender a uma exigência da montadora.
Tipos de FMEA
Esta metodologia pode ser aplicada tanto no desenvolvimento do projeto do produto como do
processo. As etapas e a maneira de realização da análise são as mesmas, ambas diferenciando-se
somente quanto ao objetivo. Assim as análises FMEA´s são classificadas em dois tipos:
FMEA DE PRODUTO: na qual são consideradas as falhas que poderão ocorrer com o produto
dentro das especificações do projeto. O objetivo desta análise é evitar falhas no produto ou no
processo, decorrentes do projeto. É comumente denominada também de FMEA de projeto.
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FMEA DE PROCESSO: são consideradas as falhas no planejamento e execução do processo,
ou seja, o objetivo desta análise é evitar falhas do processo, tendo como base as não
conformidades do produto com as especificações do projeto.
Há ainda um terceiro tipo, menos comum, que é o FMEA de procedimentos administrativos. Nele
analisam-se as falhas potenciais de cada etapa do processo com o mesmo objetivo que as análises
anteriores, ou seja, diminuir os riscos de falha.
Aplicação da FMEA
Pode-se aplicar a análise FMEA nas seguintes situações:
para diminuir a probabilidade da ocorrência de falhas em projetos de novos produtos ou
processos;
para diminuir a probabilidade de falhas potenciais (ou seja, que ainda não tenham ocorrido) em
produtos/processos já em operação;
para aumentar a confiabilidade de produtos ou processos já em operação por meio da análise das
falhas que já ocorreram;
para diminuir os riscos de erros e aumentar a qualidade em procedimentos administrativos.
Funcionamento Básico
O princípio da metodologia é o mesmo independente do tipo de FMEA e a aplicação, ou seja, se é
FMEA de produto, processo ou procedimento e se é aplicado para produtos/processos novos ou já em
operação. A análise consiste basicamente na formação de um grupo de pessoas que identificam para o
produto/processo em questão suas funções, os tipos de falhas que podem ocorrer, os efeitos e as
possíveis causas desta falha. Em seguida são avaliados os riscos de cada causa de falha por meio de
índices e, com base nesta avaliação, são tomadas as ações necessárias para diminuir estes riscos,
aumentando a confiabilidade do produto/processo.
Para se aplicar a análise FMEA em um determinado produto/processo, portanto, forma-se um
grupo de trabalho que irá definir a função ou característica daquele produto/processo, irá relacionar
todos os tipos de falhas que possam ocorrer, descrever, para cada tipo de falha suas possíveis causas e
efeitos, relacionar as medidas de detecção e preveção de falhas que estão sendo, ou já foram tomadas, e,
para cada causa de falha, atribuir índices para avaliar os riscos e, por meio destes riscos, discutir
medidas de melhoria.
Etapas para a Aplicação
Planejamento
Esta fase é realizada pelo responsável pela aplicação da metodologia e compreende:
- descrição dos objetivos e abrangência da análise: em que identifica-se qual(ais) produto(s)/processo(s)
será(ão) analisado(s);
- formação dos grupos de trabalho: em que define-se os integrantes do grupo, que deve ser
preferencialmente pequeno (entre 4 a 6 pessoas) e multidisciplinar (contando com pessoas de diversas
áreas como qualidade, desenvolvimento e produção);
- planejamento das reuniões: as reuniões devem ser agendadas com antecedência e com o
consentimento de todos os participantes para evitar paralisações;
- preparação da documentação
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Análise de Falhas em Potencial
Esta fase é realizada pelo grupo de trabalho que discute e preenche o formulário FMEA de acordo com
os passos que seguem:
1 função(ões) e característica(s) do produto/processo
2 tipo(s) de falha(s) potencial(is) para cada função
3 efeito(s) do tipo de falha
4 causa(s) possível(eis) da falha
5 controles atuais
Avaliação dos Riscos
Nesta fase são definidos pelo grupo os índices de severidade (S), ocorrência (O) e detecção (D)
para cada causa de falha, de acordo com critérios previamente definidos (um exemplo de critérios que
podem ser utilizados é apresentado nas tabelas abaixo, mas o ideal é que a empresa tenha os seus
próprios critérios adaptados a sua realidade específica). Depois são calculados os coeficientes de
prioridade de risco (R), por meio da multiplicação dos outros três índices.
SEVERIDADE
Índice Severidade Critério
1 Mínima O cliente mal percebe que a falha ocorre
2, 3
Pequena
Ligeira deterioração no desempenho com leve descontentamento
do cliente
4, 5, 6
Moderada
Deterioração significativa no desempenho de um sistema com
descontentamento do cliente
7, 8 Alta Sistema deixa de funcionar e grande descontentamento do cliente
9, 10 Muito Alta Idem ao anterior, porém afeta a segurança
OCORRÊNCIA
Índice Ocorrência Proporção Cpk
1 Remota 1:1.000.000 Cpk > 1,67
2
3 Pequena
1:20.000
1:4.000 Cpk > 1,00
4
5
6
Moderada
1:1000
1:400
1:80
Cpk <1,00
7 Alta 1:40
38
8 1:20
9
10 Muito Alta
1:8
1:2
DETECÇÃO
Índice Detecção Critério
1, 2 Muito grande Certamente será detectado
3, 4 Grande Grande probabilidade de ser detectado
5, 6 Moderada Provavelmente será detectado
7, 8 Pequena Provavelmente não será detectado
9, 10 Muito pequena Certamente não será detectado
Observações Importantes:
- quando o grupo estiver avaliando um índice, os demais não podem ser levados em conta, ou seja, a
avaliação de cada índice é independente. Por exemplo, se estamos avaliando o índice de severidade de
uma determinada causa cujo efeito é significativo, não podemos colocar um valor mais baixo para este
índice somente porque a probabilidade de detecção seja alta.
- No caso de FMEA de processo, podem-se utilizar os índices de capabilidade da máquina, (Cpk) para
se determinar o índice de ocorrência.
Melhoria
Nesta fase o grupo, utilizando os conhecimentos, criatividade e até mesmo outras técnicas como
brainstorm, lista todas as ações que podem ser realizadas para diminuir os riscos. Estas medidas podem
ser:
medidas de prevenção total ao tipo de falha;
medidas de prevenção total de uma causa de falha;
medidas que dificultam a ocorrência de falhas;
medidas que limitem o efeito do tipo de falha;
medidas que aumentam a probabilidade de detecção do tipo ou da causa de falha;
Estas medidas são analisadas quanto a sua viabilidade, sendo então definidas as que serão
implantadas. Uma forma de se fazer o controle do resultado destas medidas é pelo próprio formulário
FMEA por meio de colunas que onde ficam registradas as medidas recomendadas pelo grupo, nome do
responsável e prazo, medidas que foram realmente tomadas e a nova avaliação dos riscos.
Continuidade
O formulário FMEA é um documento “vivo”, ou seja, uma vez realizada uma análise para um
produto/processo qualquer, esta deve ser revisada sempre que ocorrerem alterações neste
produto/processo específico. Além disso, mesmo que não haja alterações deve-se regularmente revisar a
análise confrontando as falhas potenciais imaginadas pelo grupo com as que realmente vêm ocorrendo
no dia-a-dia do processo e uso do produto, de forma a permitir a incorporação de falhas não previstas,
bem como a reavaliação, com base em dados objetivos, das falhas já previstas pelo grupo.
39
Importância
A metodologia FMEA é importante porque pode proporcionar para a empresa:
uma forma sistemática de se catalogar informações sobre as falhas dos produtos/processos;
melhor conhecimento dos problemas nos produtos/processos;
ações de melhoria no projeto do produto/processo, baseado em dados e devidamente
monitoradas (melhoria contínua);
diminuição de custos por meio da prevenção de ocorrência de falhas;
o benefício de incorporar dentro da organização a atitude de prevenção de falhas, a atitude de
cooperação e trabalho em equipe e a preocupação com a satisfação dos clientes;
Comparação entre AAF e FMEA:
Apesar da semelhança entre as duas técnicas, no que se refere à finalidade, existem várias
diferenças entre elas quanto à aplicação e ao procedimento de análise, como mostrado na Tabela 11.
Tabela 11: Comparação entre AAF e FMEA.
AAF FMEA
Objetivo
Identificação das causas
primárias das falhas
Identificação das falhas
críticas em cada
componente, suas causas e
conseqüências
Elaboração de uma relação
lógica entre falhas primárias
e falha final do produto
Hierarquizar as falhas
Procedimento
Identificação da falha que é
detectada pelo usuário do
produto
Análise das falhas em
potencial de todos os
elementos do sistema, e
previsão das conseqüências
Relacionar essa falha com
falhas intermediárias e
eventos mais básicos por
meio de símbolos lógicos
Relação de ações corretivas
(ou preventivas) a serem
tomadas
Aplicação
Melhor método para análise
individual de uma falha
específica
Pode ser utilizada na análise
de falhas simultâneas ou
correlacionadas
O enfoque é dado à falha
final do sistema
Todos os componentes do
sistema são passíveis de
análise
40
41
4.4. Análise de Consequências
Diferentemente dos Estudos de Impactos Ambientais, que são mais abrangentes, nesta área de estudo
procura-se pesquisar, quando da ocorrência de perda de contenção de um produto perigoso e/ou tóxico,
as conseqüências de um incêndio, explosão ou liberação de um produto tóxico sobre o meio ambiente.
Os chamados riscos maiores citados anteriormente ou identificados e analisados pelas técnicas de
identificação representam a grande preocupação da indústria e do público justamente por causa da
magnitude de suas conseqüências.
Geralmente, os incêndios constituem-se os responsáveis pelo maior número de perdas
(principalmente econômicas), entretanto em função do pequeno alcance de seus efeitos (geralmente
confinados aos limites da planta) não resultam normalmente em grandes riscos ao público.
Por sua vez, os efeitos de explosões têm grandes impactos sobre o público além de um grande
potencial de destruição das instalações.
Já as liberações de produtos tóxicos, após os incidentes de Seveso, EXXON-VALDEZ e Bhopal,
constituem-se, atualmente, no fator de maior risco para o público, trazendo como conseqüência maiores
preocupações para as empresas.
A partir dos estudos de identificação de aspectos e riscos pesquisam-se os possíveis eventos
causadores de incidentes, criando-se cenários que procuram visualizar como ocorreria o fenômeno
(incêndio, explosão, liberação de produto tóxico).
Com o uso de modelos é possível, então, avaliar as possíveis conseqüências, bem como os efeitos de
exposição e as distâncias de um “observador “do local.
Em função da amplitude do incidente e conhecendo-se a densidade populacional da área envolvida é
possível avaliar o Risco Público. A grande dificuldade nesta etapa, para definir os meios necessários de
prevenção, proteção e combate visando diminuir a probabilidade da ocorrência e minimizando seus
efeitos, é a fixação de critérios aceitáveis de riscos para o público. Existem na literatura sugestões de
respostas a estas dúvidas.
Os cenários podem ser estudados conforme mostrado a seguir:
- Cenário Máximo Fisicamente Possível - são os cenários catastróficos utilizados para o
dimensionamento dos Planos de Emergência, ou que são estudados a pedido dos órgãos de
governo, mas não correspondem a uma realidade industrial;
- Cenário Máximo Historicamente Verdadeiro - tem como base os acidentes já ocorridos, não
levando em consideração as seguranças “ativas“ (diz-se de um dispositivo concebido para
assegurar a proteção de toda ou parte de uma instalação, concebida para ser ativada
manualmente ou automaticamente);
- Cenário de Estudo de Risco - tem como base os estudos de segurança e de impactos
ambientais, e devem levar em consideração as seguranças “ ativas “ e “ passivas “ ( uma
segurança passiva é um dispositivo concebido para assegurar a proteção de toda ou parte de uma
instalação, por somente a sua presença, sem chegar a ser ativa).
42
5. Prevenção de Perdas e Gestão
5.1. Objetivos da Análise de Riscos Ambientais
De um modo geral uma análise de riscos ambientais pode ser cara, consumir muitas horas de
trabalho e envolver muitas pessoas. Portanto, é importante considerar quando da sua realização qual o
seu objetivo e em que profundidade deve ser realizada.
Um dos principais objetivos de uma análise de riscos ambientais é avaliar danos ou impactos
ambientais, através de um melhor conhecimento dos "processos" envolvidos e as suas relações com o
meio ambiente.
A análise de riscos ambientais permitirá, então, descobrir e observar as intrincadas relações
existentes entre seres humanos e o mundo em sua volta. Essa necessidade de compreensão dos
processos é que permite a sua melhoria.
Outro objetivo da análise de riscos ambientais é servir de ferramenta para uma tomada de decisões
para a seleção correta de uma ação ou de um curso de ações. Permite uma melhor alocação de recursos
financeiros e humanos, para que as ações sejam realizadas dentro dos prazos previstos. O dilema de
uma análise está na extensão suficiente de sua realização para uma tomada de decisões com
confiabilidade e determinada certeza. Do ponto de vista do Meio Ambiente, o propósito de uma análise
de riscos ambientais é a prevenção de perdas. Ser capaz de comunicar e explicar ao tomador de
decisões que existem perigos e quais controles devem ser implementados para eliminá-los ou reduzi-los
é tão importante quanto a habilidade de se falar em termos de administração sobre custos de perdas,
efetividade de controles e sobre os benefícios derivados da alocação de recursos.
5.2 Plano de Emergência
A partir dos estudos de cenários levantados durante a identificação de perigos / riscos e na análise de
conseqüências é possível, então, dimensionar o plano de emergência.
Este deverá levar em consideração a urbanização em torno da fábrica, a densidade populacional da
região, o meio ambiente, os meios de segurança patrimonial, o recenseamento dos meios (internos e
externos) de combate e de auxílio mútuo, a organização do socorro ás vítimas (internos e externos),
treinamentos, simulações, sistemas de alerta (internos e externos), sistemas de comunicação do
incidente, etc.
43
6. Produção Mais Limpa (PML)
6.1. Histórico
Em 1989 surgiu, por iniciativa do United Nations Environment Program (UNEP), um novo
modelo de produção denominado “Produção mais Limpa” (PML). O objetivo do modelo foi alterar a
maneira de pensar os sistemas produtivos, enfatizando a prevenção de poluição em detrimento do seu
tratamento posterior. Segundo o UNEP (2003), PML seria:
A aplicação contínua de uma estratégia ambiental preventiva integrada aos
processos, produtos e serviços, que aumenta a eficiência total e reduz riscos
aos humanos e ao meio ambiente. A produção mais limpa pode ser aplicada
aos processos de qualquer setor industrial, aos produtos e serviços variados
existentes na sociedade (UNEP, 2003).
Segundo o UNEP (2003), para processos produtivos a produção mais limpa resulta de um ou
da combinação dos seguintes fatores:
a) conservação das matérias primas, água e energia;
b) eliminação de materiais tóxicos e perigosos;
c) redução da quantidade e toxicidade de todas as emissões e resíduos, na origem, ao longo do
processo produtivo.
6.2. Caracterização da PML
A ideia de melhoria contínua está implícita na PML. Uma vez que todos os processos
industriais provocam impactos no meio ambiente, a PML estimula a busca por processos cada vez
menos agressivos ao meio (FERNANDES, 2004).
Conforme as agências United Nations Industrial Development Organization (UNIDO) /UNEP,
a produção mais limpa se caracteriza por abranger duas áreas:
Em relação ao processo produtivo: o manual está direcionado à conservação de materiais, água
e energia; eliminação de materiais tóxicos e perigosos; redução da quantidade e toxicidade de todas as
emissões e resíduos, na fonte, durante a manufatura.
Em relação ao produto: o manual aborda a redução do impacto ambiental e para a saúde
humana, durante todo o ciclo, ou seja, desde a extração da matéria-prima, na manufatura, no consumo /
uso e na disposição final / descarte final.
O processo é caracterizado pelo uso eficiente de energia, fontes de matérias-primas renováveis e
processo atóxico. Já o produto é caracterizado pela durabilidade de sua vida útil, reutilização,
embalagens não agressivas ao meio ambiente e materiais recicláveis.
Madruga (2000) comenta que a modificação no processo faz-se necessário quando a geração de
resíduos pode ser minimizada na fonte, isto pode ser feito através de técnicas que buscam melhoria nos
processos produtivos, substituição de matéria-prima e adoção de nova tecnologia. A reciclagem dos
materiais pode ser interna ou externa; a reciclagem interna ocorre quando os resíduos são reutilizados
na empresa como insumo dentro do mesmo processo; na reciclagem externa, os resíduos são
reutilizados por outra empresa e serve como insumo dentro do seu processo produtivo.
Conforme Barbieri (2004), a PML envolve produtos e processos, estabelece uma seqüência de
prioridades a serem seguidas: “prevenção, redução, reuso e reciclagem, tratamento com recuperação de
materiais e energias, tratamento e disposição final”.
De forma geral, o objetivo da PML é satisfazer as necessidades da sociedade através de bens
produzidos de forma ambientalmente correta, que utilizem fontes de energia eficientes e renováveis,
materiais que não ofereçam risco, nem ameacem a biodiversidade do planeta, bem como passem por
processos que gerem o mínimo de resíduo possível (PAIVA et al, 2008).
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De acordo com a UNIDO (2009), a PML consiste em uma estratégia preventiva e integrativa,
que é aplicada a todo ciclo de produção como intuito de:
a) aumentar a produtividade, assegurando um uso mais eficiente da matéria-prima, energia e água;
b) promover melhor performance ambiental, através da redução de fontes de desperdícios e emissão;
c) reduzir impacto ambiental por todo ciclo de vida de produto através de um desenho ambiental com
baixo custo efetivo.
Para Pimenta e Gouvinhas (2007), os benefícios ambientais referem-se à redução de matérias
primas, ao consumo de água e a minimização dos riscos de contaminação. De acordo com UNEP, a
produção mais limpa é a aplicação contínua de uma estratégia ambiental preventiva e integrada,
utilizada nos processos produtivos, nos produtos e nos serviços, para aumentar a eficiência e reduzir
riscos aos seres humanos e ao meio ambiente.
Assim, a PML adota uma abordagem preventiva, em resposta à responsabilidade financeira
adicional trazida pelos custos de controle da poluição e dos tratamentos de final de tubo, voltando-se
para a prevenção. Esta ferramenta enfoca no potencial de ganhos diretos do processo produtivo, por
meio de análises de como uma operação está sendo realizada e detectar em quais as etapas desse
processo as matérias-primas insumos e energia estão sendo desperdiçadas, o que permite uma
otimização e permite melhorias, evitando desperdícios (PIMENTA e GOUVINHAS, 2007).
A PML, como uma ferramenta que prima para a melhora da conduta ambiental das
organizações, também pode proporcionar redução de custos de produção e aumento de eficiência e
competitividade; redução de multas e penalidades por poluição; acesso facilitado a linhas de
financiamento; melhoria das condições de saúde e de segurança do trabalhador; melhoria da imagem
da empresa junto a consumidores, fornecedores e poder público; melhor relacionamento com os
órgãos ambientais e com a comunidade; maior satisfação dos clientes (SILVA FILHO et al, 2007).
Para Paiva et al (2008), os benefícios mais evidentes são a melhoria da competitividade (por meio da
redução de custos ou melhoria da eficiência) e a redução dos encargos ambientais causados pela
atividade industrial.
Dentre outros benefícios que a PML pode proporcionar as organizações, segundo Medeiros
(2007), por ser uma ferramenta que prima para a melhoria da conduta ambiental nas organizações, pode
assim proporcionar redução de custos de produção e aumento de eficiência e competitividade. Assim,
observa-se que a implementação de um Programa de Produção Mais Limpa possibilita à empresa o
melhor conhecimento do seu processo industrial através do monitoramento constante para manutenção
e desenvolvimento de um sistema ecoeficiente de produção com a geração de indicadores ambientais e
de processo.
De acordo com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI-RS (2003), a
utilização da Produção mais Limpa traz benefícios ambientais e econômicos para a empresa. Além
disso, com a utilização de técnicas de PML, a organização elimina os desperdícios, minimiza ou
elimina matérias-primas e outros insumos que causam danos ambientais, reduz resíduos e as emissões,
diminui investimento com tratamento de resíduos, minimiza os passivos ambientais, melhora a saúde e
segurança no trabalho e melhora sua imagem. Todos estes pontos positivos resultam em um processo
produtivo com maior eficiência.
A Figura 1 ilustra algumas vantagens obtidas pelas empresas, com a utilização de técnicas de
Produção mais Limpa.
45
Figura 1 – Benefícios da Produção mais Limpa. Fonte: SENAI-RS (2003).
A postura da produção, nas décadas de 1970 e 1980, era somente tratar os resíduos, e não se
observava o ciclo de geração desses. Até o surgimento do conceito de PML, as empresas utilizavam as
técnicas tradicionais, comumente chamadas de técnicas de fim de tubo ou end-of-pipe, nas quais os
resíduos são gerados, tratados e levados para sua disposição final. Uma das conseqüências disso é que
muitas vezes, os problemas ambientais não são eliminados, mas sim transferidos de um local para
outro.
A PML busca exatamente o contrário: eliminar a poluição durante o processo de produção, não
no final. O Quadro 1 mostra as diferenças entre a técnica de End-of-Pipe (Fim-de-Tubo) e a Produção
Mais Limpa.
A Produção mais Limpa diferencia-se da abordagem convencional pela forma como enxerga o
sistema produtivo no campo ambiental e apóia-se tanto em mudanças tecnológicas quanto na forma de
gerenciamento. Enquanto a abordagem convencional não focaliza os processos, nem interpreta suas
ações e conseqüências, a abordagem da PML visualiza as atividades, diagnostica-as, efetua análises e
indaga sempre as causas e os efeitos das ações. Assim, as tecnologias limpas levam a um aumento de
produtividade resultante da economia de custos e racionalização dos resultados nos processos
produtivos (GETZNER, 2002).
Quadro 1 - Comparação entre as técnicas Fim-de-Tubo e Produção mais Limpa.
Fonte: Adaptado de SENAI-RS (2003).
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Hoje, exige-se muito além da mentalidade de apenas disposição dos resíduos. Existe a
preocupação na fonte dos problemas, ou seja, com a produção de resíduos nos processos produtivos.
"Fim-de-tubo" passou a ser uma última opção, após o esgotamento de todas as alternativas: mudança de
tecnologia, alteração nos processos, modificação do produto, sistemas de organização do trabalho,
reciclagem interna (SILVA FILHO et al, 2007).
A Rede Brasileira de Produção Mais Limpa (2004) organiza a implantação da PML em uma
série de dezoito tarefas, como descrito a seguir:
Tarefa 01 - Comprometimento da Direção da Empresa
O primeiro passo para o início do trabalho é a direção desejar que o Programa aconteça. Ela
deve apoiar seus funcionários para que esse objetivo seja atingido. O comprometimento explícito do
dono da empresa, da direção e da alta gerência é fundamental para a realização do trabalho.
Tarefa 02 - Sensibilização dos Funcionários
Após a realização da primeira tarefa, a diretoria deve comunicar a todos os funcionários sobre a
realização do programa, dizendo-lhes que esse trabalho será totalmente apoiado e expressando
claramente a vontade de que todos participem, colaborando sempre que solicitados. É importante
estipular algum tipo de contribuição pelo esforço extra que será necessário para a realização das
atividades. Pode-se, por exemplo, inscrever a empresa em prêmios ambientais, distribuindo camisetas
que abordem o assunto e outros recursos que podem ser inventados.
Tarefa 03 - Formação do ECOTIME
O próximo passo é a identificação do ECOTIME, que são os funcionários que conhecem a
empresa mais profundamente e/ou que são responsáveis por áreas importantes, como produção,
compras, meio ambiente, qualidade, saúde e segurança, desenvolvimento de produtos, manutenção e
vendas.
O ECOTIME é formado por um funcionário de cada setor. Se um mesmo funcionário
desenvolve mais de uma atividade, ou se a empresa é de pequeno porte, devem ser escolhidos dois ou
três funcionários. Eles serão o ECOTIME, que é a equipe de responsáveis por repassar a metodologia
aos demais colegas e fazer acontecer sua implantação na empresa.
Deve-se definir um coordenador para o ECOTIME, o qual terá a responsabilidade de manter a
direção informada sobre o desenvolvimento das atividades. Identificados os funcionários, é importante
que seja estruturado um organograma funcional, que é um diagrama com a finalidade de identificar
claramente quem são as pessoas responsáveis por cada atividade na Empresa. Isso ajuda a todos nas
etapas seguintes de busca de informações.
Tarefa 04 - Apresentação da metodologia
Nesta etapa, inicia-se uma série de reuniões técnicas com o ECOTIME, com a finalidade de
apresentar os objetivos de cada tarefa da metodologia e como atingi-los. A metodologia que será
utilizada deve ser explicada aos integrantes do ECOTIME, que, em seguida, deverão fazer o mesmo
com o restante do grupo. Deve-se comunicar também que cada atividade exigirá interação entre os
setores e que para isto foi elaborado o organograma funcional.
Tarefa 05 - Pré-avaliação
Nesta tarefa é realizada uma pré-avaliação do licenciamento ambiental, da área externa e da área
interna da empresa.
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a) Pré-avaliação do Licenciamento Ambiental: deve-se verificar se a empresa possui a
Licença Ambiental que permite o desempenho de sua atividade.
b) Pré-avaliação da área externa: o trabalho deve ser iniciado pedindo aos integrantes do
ECOTIME que caminhem pela área externa da Empresa para que possam observar e tomar consciência
de todos os resíduos sólidos, efluentes líquidos e emissões atmosféricas que são gerados. Eles devem
observar os impactos ambientais causados e como os resíduos se apresentam dentro das “lixeiras”: se
misturados ou separados. Devem também conhecer os sistemas de tratamento que a empresa possui,
tais como: a Estação de Tratamento de Água (ETA), a Estação de Tratamento de Efluentes (ETE), a
área de disposição dos resíduos sólidos, filtros para as emissões atmosféricas e outros tratamentos de
“fim de tubo”.
c) Pré-avaliação da área interna: nesta atividade o ECOTIME percorre as áreas internas da
empresa passando por todos os setores. É interessante fazer um layout da organização no papel,
contendo a disposição de equipamentos, bancadas e materiais. É importante lembrar-se de posicionar
neste layout, áreas, geralmente externas à área de produção, como caldeira, geração de frio,
armazenagem de combustível, manutenção, localização da ETE etc. Indique também, usando setas, os
caminhos de movimentação interna dos produtos intermediários que são fabricados em cada etapa.
Tarefa 06 - Elaboração dos fluxogramas do processo
Após a realização da visita de reconhecimento na fábrica, os integrantes do ECOTIME se
reúnem e elaboram Fluxogramas Qualitativos.
O fluxograma é uma representação gráfica de todos os passos de um processo e do modo como
estão relacionados entre si.
O ECOTIME deve identificar o tipo de fluxograma que melhor representa o processo. Poderá
ser um Fluxograma de Processo Linear ou de Rede. O Fluxograma Qualitativo é obtido definindo-se o
tipo de processo praticado pela Empresa e identificando-se os resíduos gerados, as matérias-primas
utilizadas e os produtos fabricados.
a) Fluxograma Qualitativo Global: para prepará-lo, deve-se utilizar o diagrama que representa
toda a empresa e relacione as principais matérias-primas consumidas, que são as Entradas, e os
principais produtos e resíduos gerados, que são as Saídas. Poderá acontecer que alguns resíduos não
tenham sido observados no pátio pelo ECOTIME. Essa questão será resolvida na etapa seguinte,
quando for elaborado o Fluxograma Intermediário.
b) Fluxograma Qualitativo Intermediário: os integrantes do ECOTIME voltam a seus postos
de trabalho e cada um relaciona as macro-atividades de seu setor, impactos ambientais causados e como
os resíduos se apresentam dentro das “lixeiras”: se misturados ou separados. Devem também conhecer
os sistemas de tratamento que a empresa possui, tais como: a Estação de Tratamento de Água (ETA), a
Estação de Tratamento de Efluentes (ETE), a área de disposição dos resíduos sólidos, filtros para as
emissões atmosféricas e outros tratamentos de “fim de tubo”.
Tarefa 07 - Tabelas Quantitativas Referentes aos Fluxogramas Global e Intermediário
A próxima tarefa é o preenchimento dos dados quantitativos nas tabelas referentes aos
fluxogramas Global e Intermediário.
O objetivo dessa etapa é a obtenção de dados e informações que estão registrados em notas de
compras de matérias-primas, de material de escritório, de produtos químicos, de alimentos (no caso de
refeitório) e em contas de água e notas de quantidades de resíduos transportados, as quais poderão estar
na Empresa ou com o contador.
São necessárias as seguintes informações: consumo de água, vazão de efluente líquido, resíduos
sólidos, matérias-primas e consumo de energia. Algumas poderão não estar disponíveis nas notas de
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compra. Nesse caso, são necessárias as medições. Para as medições, são necessários os seguintes
equipamentos:
Consumo de água: hidrômetro, ou horímetro, ou balde e relógio/cronômetro;
Vazão de efluente líquido: medidor de vazão ou balde e relógio/cronômetro;
Resíduos sólidos: balança adequada para as quantidades a serem medidas;
Matérias-primas: balança adequada para as quantidades a serem medidas;
Consumo de energia: horímetro, analisador de energia, amperímetro;
Outros materiais necessários: planilhas em papel definidas pela própria empresa, calculadora e
muita criatividade.
Para a avaliação da energia consumida na empresa, são importantes as últimas contas. Deve-se
verificar o consumo mensal; e o aparecimento de multas por ultrapassagem de demanda contratada ou
por baixo fator de potência.
Tarefa 08 - Definição de Indicadores
Nesta tarefa são definidos os indicadores que poderão ser utilizados para monitorar a empresa.
A base de dados é anual. Exemplos de indicadores ambientais globais: consumo de água, de energia e
de matéria-prima do produto produzido.
Tarefa 09 - Avaliação dos Dados Coletados
Preenchidas as tabelas com os valores quantitativos, deve-se fazer a primeira análise para definir
onde serão realizadas as medições efetivas, isto é, aquelas que serão utilizadas no Balanço Específico
(que será mostrado mais adiante) e que deverão ter grande precisão.
Em seguida deve-se reunir o ECOTIME e discutir o preenchimento das tabelas. Neste momento,
uma análise crítica das informações obtidas deve ser realizada, focando:
Quantidade e toxicidade dos resíduos gerados e das matérias-primas consumidas;
Regulamentos legais que devem ser cumpridos para utilização e disposição dos materiais e
resíduos;
Custos envolvidos: de compra, tratamento e relativos a possíveis punições do órgão ambiental.
Para isto deve-se considerar e observar em cada etapa as maiores quantidades de resíduos
gerados; os que apresentam algum grau de toxicidade; aqueles que, tendo legislação específica não
estão com tratamento ou disposição adequados, além de avaliar o custo do resíduo. Deverão também
ser avaliados os valores gastos com as matérias-primas, a água e a energia consumidas na Empresa.
Tarefa 10 – Avaliação das Barreiras
Algumas barreiras relativas ao levantamento dos dados poderão surgir. Valores altos de resíduos
gerados e de consumo de materiais podem causar desconforto aos responsáveis pelas áreas avaliadas.
Essas informações são parte de um trabalho novo. Não é necessário, nesse momento, identificar os
responsáveis pela geração dos resíduos.
Comente com eles que esse trabalho está sendo feito justamente para reduzir a geração de
resíduos, utilizando-se uma nova abordagem: a da produção mais limpa. É, para todos, um desafio gerar
menos resíduos e começar a preocupar-se com eles como se fossem, em termos de custos, matérias-
primas. Barreiras que poderão ser encontradas durante o trabalho:
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Dificuldades de executar as medições.
Dificuldades de envolvimento efetivo da empresa com a proposta de trabalho;
Dificuldades de assimilar os conceitos e a metodologia de PML;
Dificuldades de conseguir os equipamentos de medição (balanças).
Tarefa 11 - Seleção do Foco de Avaliação e Priorização
Com base na análise anterior e na disponibilidade de recursos financeiros da Empresa, devem
ser definidas etapas, processos, produtos e/ou equipamentos que serão priorizados para as efetivas
medições e realização dos balanços de massa e/ou energia.
Tarefa 12 - Balanços de Massa e de Energia
Após a definição dos pontos críticos das medições, a tarefa seguinte é a realização do balanço de
massa e/ou de energia. Neste momento é necessário construir um Fluxograma Específico para a
realização desse balanço. É importante lembrar os seguintes pontos: O Balanço Global é composto
pelas entradas e saídas de toda a Empresa. Os Balanços Intermediários são as entradas e saídas em
setores da Empresa (corte, forjaria, usinagem, tratamento térmico, acabamento, montagem, expedição,
manutenção, ETE...).
Já, o Balanço Específico é feito, identificando-se um setor a ser estudado, e realizando o balanço
neste setor como um todo e detalhadamente em cada máquina e/ou operação identificada como
importante.
Setor, equipamento ou processo que será analisado; período representativo para a realização do
balanço: quando começa e quando termina (uma semana, duas semanas, um mês ou mais). A empresa
precisa estar funcionando normalmente para que o balanço de massa e/ou de energia possa ser realizado
e seja representativo; depois de realizadas as medições, transformar os valores para o período de um
ano; equipamentos necessários para medição: poderão ser utilizados os mesmos procedimentos e
equipamentos que você adotou para a realização do balanço global; para o preenchimento dos dados
quantitativos medidos nesta etapa você deverá utilizar tabelas iguais às utilizadas na Tarefa 07.
Tarefa 13 - Avaliação das Causas de Geração dos Resíduos
Feito o balanço de massa nas etapas e/ou setores priorizados, o ECOTIME deve avaliar as
causas da geração de cada resíduo identificado. Verificar por que, como, quando e onde os resíduos
são/foram gerados.
Tarefa 14 - Geração das Opções de Melhoria (PML)
Depois de realizadas todas as medições e de ter discutido com o ECOTIME as causas de
geração dos resíduos, deve-se identificar oportunidades de mudar essa situação, ou seja, opções de
produção mais limpa para deixar de gerar o resíduo.
Em ordem de prioridade para a busca de soluções, as seguintes perguntas devem ser realizadas:
Como deixar de gerar o resíduo? Como reduzir sua geração? Como reciclar internamente? Como
reciclar externamente?
A análise deve ser realizada utilizando o enfoque do Nível 1. Se não ficar demonstrada sua
viabilidade, passe para o Nível 2. Se a solução também não for viável, examine o Nível 3.
Além desses, outros pontos devem ser avaliados para identificar oportunidades. Pode-se, por
exemplo, considerar as oportunidades no que diz respeito a retrabalho de produtos, qualidade, saúde,
segurança, tempos de produção, procedimentos organizacionais e muitos outros.
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Tarefa 15 - Avaliação Técnica, Ambiental e Econômica
Após identificar as oportunidades de PML, deve-se fazer a avaliação técnica, econômica e
ambiental de cada opção identificada.
a) Avaliação Técnica: nessa avaliação são consideradas as propriedades e requisitos que as
matérias-primas e outros materiais devem apresentar para o produto que se deseja fabricar, de maneira
que se possam sugerir modificações. Sendo possível tecnicamente implementar-se a opção, procede-se
à avaliação ambiental.
b) Avaliação Ambiental: nesta avaliação deverão ser observados os benefícios ambientais que
poderão ser obtidos pela empresa. Dentre eles, podemos citar: redução do consumo de matéria prima,
redução de carga orgânica, inorgânica e metais tóxicos no efluente final e modificação da classificação
dos resíduos sólidos da Classe I, para II ou III (Ver Anexo B). Esses resultados são medidos e
comprovados por meio da realização de análises laboratoriais. Para isso, você deverá buscar o auxílio
de um laboratório que realize análises laboratoriais ambientais.
c) Avaliação Econômica: será realizada a avaliação econômica, através de um estudo de
viabilidade econômica. Deverá ser considerado o período de retorno do investimento, a taxa interna de
retorno e o valor presente líquido.
Tarefa 16 - Seleção da Opção
Feita a avaliação das diversas opções identificadas para a redução do resíduo, escolhe-se aquela
que apresente a melhor condição técnica, com os maiores benefícios ambientais e econômicos.
Esse mesmo procedimento deverá ser seguido para cada resíduo que foi priorizado e para o qual
foram realizadas medições por meio dos balanços de massa e energia.
Tarefa 17 – Implantação
Após a realização de todas as atividades anteriores, seria muito bom se todas as oportunidades
identificadas pudessem ser implementadas, pois seria a concretização de todo o trabalho desenvolvido.
Porém, neste momento, deve-se analisar a disponibilidade financeira da empresa e definir o momento
da implantação das opções.
Tarefa 18 - Plano de monitoramento e continuidade.
Implementadas as opções, deve ser estabelecido um Plano de Monitoramento para a avaliação
do seu desempenho ambiental. Esse Plano consta de análises laboratoriais de metais e de carga
orgânica, medições e documentação para acompanhamento do Programa. Destina-se a manter,
acompanhar e dar continuidade ao Programa. Os indicadores estabelecidos no início do trabalho e
medidos na realização dos balanços serão as ferramentas para o acompanhamento que, com certeza,
você deseja manter em sua Empresa.
51
7. Exemplos de IMPACTOS AMBIENTAIS
Um estudo do potencial de impactos ambientais significativos deve levar em conta as emissões e uso
de recursos naturais, que serão as fontes dos impactos, relacionados com os meios receptores do
ambiente local e global onde os impactos serão manifestados.
7.1. Tipos de impactos ambientais
Poluição do ar
Fonte Impactos
Local Global
Dióxido de carbono - Aquecimento do planeta
Dióxido de enxofre Efeitos adversos nos seres
humanos, animais e plantas
Danos às construções
Chuva ácida
Óxidos de nitrogênio Ozônio no nível do solo Aquecimento do planeta
Substâncias orgânicas
voláteis
Ozônio no nível do solo
Alguns são tóxicos ou
carcinogênicos
Destruição da camada de ozônio
Ozônio no nível do solo Prejudicial aos seres humanos,
animais e plantas
-
Asbesto Risco de saúde -
CFCs - Destruição da camada de ozônio
Halogênios - Destruição da camada de ozônio
Odores Desconforto dos residentes
locais
-
Poeiras Desconforto dos residentes
locais
-
Fumaça preta Desconforto dos residentes
locais
-
Vapor d’água Impacto visual -
Fumaça de fogo
descontrolado
Possíveis emissões tóxicas Liberação de poluentes
descontrolada
Emissões de
escapamento de veículos
Prejudicial aos seres humanos,
animais e plantas
Ozônio no nível do solo
Aquecimento do planeta
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Poluição de águas fluviais e redes de esgoto
Fonte Impactos
Local Global
Descarte de
efluente nos cursos
d’água
Poluição dos rios -
Descarte de
efluente na rede de
esgoto
Risco de saúde para os funcionários das
redes
Danos ao sistema de canalização de
esgoto
Possível poluição da água na disposição
final
Poluição do mar
Poluição do ar pela
incineração do lodo da
canalização
Outros descartes na
rede de esgoto
(efluentes sanitários) e
água pluvial
Risco de saúde para os funcionários das
redes
Possível poluição da água na disposição
final
Poluição do mar
Poluição do ar pela
incineração do lodo da
canalização
Transbordamento
ou vazamento
acidentais nos tanques
Risco de saúde para os funcionários das
redes
Poluição dos cursos d’água e esgotos
Contaminação do solo
-
Água de combate a
incêndios
Risco de saúde para os funcionários das
redes
Poluição dos cursos d’água e esgotos
-
Utilização de água
de rios ou poços
Uso de recursos naturais -
Gerenciamento de resíduos
Fonte Impactos
Local Global
Armazenamento
de resíduos
Impacto visual
Odores
Degradação do meio ambiente local caso o
resíduo escape
-
transporte de
resíduos
Efeitos locais da emissão dos veículos
Degradação do meio ambiente local caso o
resíduo escape
Ruídos e perturbação pelo maior uso das rodovias
Impactos das emissões
dos veículos
Disposição de
resíduos: solo
Perturbação visual
Odores
Ruído do tráfego na instalação
Poluição da água
Produção de metano aumentando o risco de fogo
Produção de metano
que ajuda o aquecimento
global se não controlado
Disposição de
resíduos:
incineração
Poluição local do ar
Odores
Disposição dos resíduos
Ruído
Produção de dióxido
de carbono que ajuda o
aquecimento global se não
controlado
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Geral
Fonte Impactos
Local Global
Ruído de processo Perturbação dos residentes locais -
Vibração Perturbação dos residentes locais -
Calor Pode afetar o ecossistema local -
Radiação Prejudicial aos seres humanos, animais e
plantas
Acidentes maiores podem
levar a poluição global
Veículos da
companhia
Poluição do ar
Uso de rodovias contribuindo com a
construção de novas
Poluição do ar
Uso de pesticidas Prejudicial aos seres humanos, animais e
plantas
-
Impacto visual Impacto da instalação na estética local -
Contaminação do
solo
Prejudicial para animais e plantas
Poluição da água caso os contaminantes
cheguem aos rios ou penetrem no solo
-
Impactos indiretos
Fonte Impactos
Local Global
Uso de matérias
primas
Entrega de matéria
prima por rodovias aumenta
o tráfego local
Destruição de fontes naturais
Impactos da produção e processo de matéria
primas pelos fornecedores como poluição do ar,
descartes na água, disposição de rejeitos, etc.
Uso de energia - Impactos da produção e distribuição de energia
Por exemplo, poluição da queima de carvão e
óleo, impacto visual dos cabos de distribuição,
etc
Produtos - Impactos do produto pelo seu uso, como
energia necessária para operação
Impactos da disposição final do produto