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  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 1

    Empreendedorismo

    Conceito, Processos de Formao Social

    Conjuntura Internacional e Estudos de Caso

    Prof. Ivan Jacomassi Junior

    Material de apoio para disciplina junto

    aos cursos de formao superior.

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 2

    ndice

    Tema 01 Por que Estudar Empreendedorismo 04

    Parte 01 Evoluo Histrica

    Tema 02 Conceitualizao: Empreendedor 06

    Tema 03 Histria do Empreendedorismo no Mundo 07

    Tema 04 Histria do Empreendedorismo no Brasil 09

    Tema 05 Estudo de Caso Baro de Mau (Prof Camila Lopes) 11

    Tema 06 Pesquisa Complementar Delmiro Gouveia (Prof. Oswaldo) 30

    Parte 02 Formao Social de Empreendedores

    Tema 07 Perfil Empreendedor 37

    Tema 08 Educao Empreendedora 41

    Tema 08 Debate sobre Modelo Educacional 47

    Tema 09 Estudo de Caso Voando como a gua (Prof. Gretz) 47

    Tema 10 Pesquisa Complementar Pirmide de Maslow 49

    Parte 03 Ambiente e Empreendedorismo

    Tema 11 Empreendedorismo no Mundo 51

    Tema 12 Fatores de Presso sobre a Atividade Empreendedora 52

    Tema 12 Debate sobre a Diviso da Riqueza no Mundo 57

    Tema 13 Caractersticas do Empreendedorismo no Mundo 58

    Tema 13 Debate sobre a Conjuntura Internacional 65

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 3

    Tema 13 Debate sobre os Fatores de Presso no Brasil 65

    Tema 14 Estudo de Caso Empreend. e Desenvolvimento (Prof. Ronney) 66

    Tema 15 Pesquisa Complementar Agregando Conhecimentos 79

    Parte 04 Especial Empreendedorismo, Burocracia e Legalidade

    Tema 16 Legalidade de Empreendimentos 80

    Tema 17 Documentao 82

    Tema 18 Questo para Discusso Burocracia Necessria 90

    Tema 19 Estudo de Caso Desburocratizao 90

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 4

    Tema 01 Por que estudar Empreendedorismo ?

    Preliminarmente, antes de iniciarmos nossos estudos, devemos situar a disciplina frente

    ao curso, bem como as expectativas inerentes mesma. Veja, quando pensamos em

    empreendedorismo, podemos ser induzidos a pensar que iremos aprender a abrir um negcio,

    pois empreendedor aquele que abre empresas, correto ? Errado !

    Com certeza podemos antecipar a voc aluno, que o foco desta matria NO A

    ABERTURA DE EMPRESAS, embora inevitavelmente tratemos deste assunto de forma at

    rotineira ao longo do contedo. Seja em qual curso voc estiver, existem duas classes de

    disciplinas:

    - Especficas; e

    - Generalistas.

    As matrias especficas so tpicos ferramentais de trabalho do profissional, quando o

    mesmo exerce seu ofcio. Exemplo: Para o curso de Engenharia existe a disciplina especfica de

    Elaborao de Projetos, que ferramenta bsica de trabalho do engenheiro. J no mesmo

    curso podemos dizer que a disciplina Matemtica generalista, pois no se trata da aplicao

    das frmulas em si, pois so vistas de forma abstrata, o que se faz criar uma viso geral no

    discente que possibilite a aplicao do ferramental futuramente.

    O mesmo podemos dizer de Empreendedorismo, no estamos aqui buscando o fim

    em si, mas criando o meio.

    Aqui temos a pergunta correta: Qual meio busca a disciplina Empreendedorismo ?

    Pois bem, estaremos estudando, de forma geral, algumas dinmicas 1:

    - Comportamento Humano;

    - Psique profissional;

    - Conjuntura nacional;

    - Mercados;

    - Legislao;

    Assim, nesta matria estaremos buscando a construo junto ao aluno, de paradigmas 2

    pessoais de comportamento favorveis. Estaremos analisando o perfil de um indivduo

    empreendedor, suas caractersticas e individualidades.

    1 Por dinmica estamos inferindo relaes entre diversos processos e procedimentos, no sentido de situaes em constante mudana, ou seja, no estticas. 2 Modelo, padro de regras, segundo as quais as pessoas procuram solucionar seus problemas e obter sucesso.

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 5

    Analisaremos o perfil profissional procurado pelas empresas, e cruzando-o com as

    caractersticas empreendedoras, ou seja, veremos o empreendedor frente ao mercado de

    trabalho. Faremos uma avaliao da conjuntura estrutural do pas e os fatores que interferem

    diretamente na criao e fomento empreendedor, atravs de dois estudos bsicos: a) As

    inteligncias humanas frente ao modelo educacional brasileiro e b) Os fatores de

    fomento/regresso da classe empreendedora no Brasil.

    Aps, faremos ainda um estudo complementar comparado da dinmica nacional (letra

    b pargrafo anterior) frente a outras economias no mundo e avaliaremos as conseqncias

    econmico-sociais destas combinaes.

    Ainda, realizaremos um diagnstico do cenrio brasileiro da burocracia x incolumidade

    pblica x celeridade empresarial.

    Estrutura de Tpicos junto a Disciplina:

    Parte 01 Evoluo Histrica

    Conceitualizao: Empreendedor;

    Histria do Empreendedorismo no Mundo;

    Histria do Empreendedorismo no Brasil;

    Estudo de Caso: Empreend. no Brasil e o Processo de Inovao Prof Camila Lopes;

    Pesquisa Complementar Delmiro Gouveia.

    Parte 02 Formao Social de Empreendedores

    Perfil Empreendedor;

    Educao Empreendedora;

    Estudo de Caso: Voando como a guia Prof. Gretz;

    Pesquisa Complementar Pirmide de Maslow.

    Parte 03 Ambiente e Empreendedorismo

    Empreendedorismo no Mundo;

    Fatores de Presso sobre a Atividade Empreendedora;

    Caractersticas do Empreendedorismo no Mundo;

    Estudo de Caso: Empreendedorismo e Desenvolvimento Prof. Ronney R. Mamede.

    Parte 04 Especial: Empreendedorismo, Burocracia e Legalidade

    Legalidade de Empreendimentos;

    Documentao;

    Desafio Governamental: Equilbrio entre Segurana e Celeridade.

    Estudo de Caso: Desburocratizao - Prof. Ivan Jacomassi Junior.

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 6

    Parte 01 Evoluo Histrica

    Nesta parte estaremos posicionando o discente quanto ao conceito de Empreendedor,

    Empreendedorismo e Intra-Empreendedorismo, para depois realizar uma anlise histrica

    do objeto de estudo, entendendo seu reconhecimento pelos estudiosos, sua evoluo e

    compreendendo seu papel e postura frente sociedade atual.

    Tema 02 - Conceitualizao: Empreendedor;

    Definies:

    Empreender: Intentar, levar efeito, dar princpio;

    Empreendedorismo: Designa estudos relativos ao Empreendedor, seu perfil profissional

    e pessoal, suas origens, seu sistema de atividades e universo de atuao.

    Empreendedor: O Empreendedor aquele que faz as coisas acontecerem, se antecipa

    aos fatos e tem uma viso futura da organizao (Jos Carlos Assis Dornelas).

    Empreendedor qualifica o indivduo com caractersticas de:

    Pr-atividade;

    Inovao;

    Dedicao gesto e ao trabalho;

    Viso de mercado;

    Gerao de riquezas.

    Intra-Empreendedorismo: O conceito de intra-empreendedorismo foi estabelecido h

    duas dcadas, mas as empresas no estavam dispostas a dar aos empregados a

    liberdade para criar e, conseqentemente, errar e oferecer-lhes um oramento para

    financiar inovao. Alm do mais, no queriam arcar com os custos dos erros que

    inevitavelmente acontecem no percurso. Hoje esse conceito j est muito difundido e

    valorizado nas organizaes. O intra-empreendedorismo (intrapreneuring) um sistema

    para acelerar as inovaes dentro de grandes empresas, atravs do uso melhor dos seus

    talentos empreendedores. um sistema que oferece uma maneira saudvel para se

    reagir aos desafios empresariais do novo milnio.

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 7

    Ainda, a viso do capital em uma economia moderna sofreu profundas alteraes.

    Financeiro ($)

    Capital

    Intelectual

    Veja, o empreendedor muitas vezes possui pouco capital financeiro, mas macio capital

    intelectual. Empreendedorismo, sob o prisma social est alm do simples ato de criar empresas,

    est vinculado gerao de valor para a nao.

    O Administrador e o Empreendedor, embora semelhantes quanto ao ato de gerir

    negcios, no se confundem enquanto personagens atuantes no mundo econmico, pelo fato

    de a Administrao ser uma Cincia Social Aplicada, um verdadeiro conjunto de tcnicas e

    mtodos para melhoria dos negcios, enquanto que o Empreendedor corresponde a uma

    espcie de habilidade, nata ou adquirida, ou um verdadeiro estado de esprito, mas

    relembrando que ambas se encontram (Administrao e Empreendedorismo) no objetivo

    comum do desenvolvimento econmico do mercado.

    Tema 03 - Histria do Empreendedorismo no Mundo

    Se considerarmos a evoluo humana, pode-se dizer que o homem primitivo

    j possua uma veia empreendedora. Naquela poca, para sobreviver era

    necessrio construir diversas ferramentas que tinham por objetivo agilizar a

    caa de animais. Para se ter uma idia, o Homo Habilis, um dos ancestrais da

    atual raa humana, surgiu h aproximadamente 2 milhes de anos, e j

    possua hbitos de caa. Milhares de anos se passaram e um importante salto

    para o empreendedorismo ocorreu com as grandes civilizaes antigas. Um

    bom exemplo so os egpcios, famosos por suas pirmides. Para construir

    O empreendedor algum capaz de desenvolver uma viso, deve saber persuadir

    terceiros, scios, colaboradores, investidores, convenc-los de que sua viso poder

    levar todos a uma situao confortvel no futuro. Utilizando energia e perseverana,

    e uma grande dose de paixo constri algo a partir do nada e continua em frente,

    apesar de obstculos, armadilhas e da solido. O empreendedor algum que

    acredita que pode colocar a sorte a seu favor, por entender que ela produto de

    trabalho duro.

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 8

    uma dessas maravilhas, estima-se que eram necessrios 30 mil homens e 20

    anos de trabalho. Na agricultura pode-se observar a perspiccia desse povo,

    que aproveitava a cheia do rio Nilo para preparar a terra para o plantio da

    safra seguinte. Alm disso, eles foram muito importantes para reas como a

    matemtica e a engenharia. 3

    Aproximando-nos da fase contempornea, no incio da teoria econmica com Adam

    Smith 4 at muito recentemente, os economistas explicavam o desenvolvimento das naes

    como resultado de trs variveis:

    Mo-de-obra barata, matria prima abundante e capital disponvel para investimentos.

    Hoje se sabe que existem duas outras variveis, provavelmente mais importantes que as

    demais:

    A Tecnologia 5 e o Empreendedorismo.

    Muito embora o ato de empreender exista h milnios, o termo Empreendedor surgiu

    originalmente na Frana (Entrepreneur), para designar indivduos que incentivavam brigas.

    Posteriormente, entre os sculos XVII e XVIII, passou a ser empregada com objetivo de designar

    pessoas ousadas, que auxiliavam no processo de desenvolvimento econmico do pas, pelas

    suas prticas adequadas.

    Posteriormente, no sculo XIX o economista francs Jean Baptiste Say conceituou o

    Empreendedor como verdadeiro agente econmico, um indivduo capaz de elevar recursos de

    baixa para a alta produtividade.

    Peter Ferdinand Drucker 6 (1909 2005), filsofo e economista Austraco, considerado o

    pai da Administrao Moderna, ampliou o conceito de empreendedorismo, articulando junto ao

    conceito do profissional inovador e pr-ativo, capaz de gerar valor conforme exps Jean, aquele

    indivduo que capaz de aproveitar oportunidades para promover mudanas.

    3 Fonte: http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/empreendedorismo-origem-e-desafios-para-o-brasil-do-seculo-xxi/33075/ 4 Pai da economia moderna, considerado o mais importante terico do liberalismo econmico. Autor de "Uma investigao sobre a natureza e a causa da riqueza das naes", a sua obra mais conhecida, e que continua sendo referncia para geraes de economistas, na qual procurou demonstrar que a riqueza das naes resultava da atuao de indivduos que, movidos apenas pelo seu prprio interesse (self-interest), promoviam o crescimento econmico e a inovao tecnolgica. 5 Termo que envolve o conhecimento tcnico e cientfico e as ferramentas, processos e materiais criados e/ou utilizados a partir de tal conhecimento 6 Uma importante teoria de Drucker afirmava que a empresa que apresentasse condies de vender o produto/servio certo, para o cliente certo, com distribuio adequada, preo justo e momento oportuno teria um esforo de vendas equivalente zero, pela correta equao da oferta pela demanda.

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    E este um dos pontos chave do ato empreendedor, pela capacidade de responder a

    frmula do problema, ou seja, enquanto a maioria das pessoas a interpreta da seguinte forma:

    Problema = Frustrao

    Par o empreendedor:

    Problema = Oportunidade

    ou

    Problema + Soluo = Riqueza + Satisfao

    Enquanto a maioria das pessoas entra em profundo estado de abalo emocional diante

    de circunstncias desfavorveis, o sujeito empreendedor vislumbra a chance de criar solues,

    conseqentemente realizando bons negcios e instaurando um Status Quo 7 de satisfao social

    pela problemtica resolvida.

    Importante tambm diferenciar historicamente o Empreendedor do Capitalista, sendo

    que o segundo, aps a revoluo industrial iniciada no sculo XVIII 8, demonstrou sua verdadeira

    vocao, ou seja, a financeira pura e simples, enquanto que o primeiro possui uma conotao de

    vocao ao verdadeiro desenvolvimento econmico-social.

    Tema 04 Histria do Empreendedorismo no Brasil

    Foi a partir do sculo XVII que os portugueses, percebendo a imensido e o grande

    potencial de explorao do territrio brasileiro, comearam a ocupar definitivamente essas

    terras, distribuindo-as aos cidados portugueses, vindos principalmente da regio de Aores.

    Dentre os homens que realizaram os mais diversos empreendimentos (muitos deles

    custa de trabalho escravo degradante), um merece destaque: Irineu Evangelista de Sousa, o

    Baro de Mau. Descendente dos primeiros empreendedores portugueses, ele foi responsvel

    pela fabricao de caldeiras de mquinas a vapor, engenhos de acar, guindastes, prensas,

    7 Expresso Latina que significa na situao ou no estado. Comumente empregada para designar uma

    caracterstica de situao ou estado emocional. 8 A revoluo industrial consistiu em um conjunto de mudanas de ordem tcnica e tecnolgica, que

    revolucionaram a sistemtica dos meios de produo, ampliando sobremaneira a capacidade de criao de bens de consumo, mas tambm minimizando o papel da mo de obra.

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    armas e tubos para encanamentos de gua. Foi responsvel tambm pelos seguintes

    empreendimentos:

    Organizao de companhias de navegao a vapor no Rio Grande do Sul e no Amazonas;

    Implantao, em 1852, da primeira ferrovia brasileira, entre Petrpolis e Rio de Janeiro;

    Implantao de uma companhia de gs para a iluminao pblica do Rio e Janeiro, em

    1854;

    Inaugurao do trecho inicial da Unio e Indstria, primeira rodovia pavimentada do

    pas, entre Petrpolis e Juiz de Fora, em 1856.

    Seu legado foi tamanho que ele ainda hoje reconhecido como uns dos primeiros

    grandes empreendedores do Brasil.

    Entretanto, o empreendedorismo comeou a ganhar fora de forma geral no pas a

    partir da dcada de 1990.

    Com grande volume de produtos importados, especialmente pela intensificao da

    globalizao econmica e instituio de uma moeda estvel e valorizada (Real - R$) houve

    relativo controle dos preos, mas criou-se tambm condies de competitividade por diversas

    vezes desfavorveis s empresas brasileiras, favorecendo a atuao de estrangeiros com perfil

    diferenciado (Empreendedores).

    Destacam-se as condies adversas especialmente nos setores de brinquedos,

    eletrnicos e roupas.

    Portanto, com a formao de um novo paradigma de mercado, aes antes

    consideradas eficientes do ponto de vista mercadolgico precisaram ser redesenhadas,

    repensadas e redirecionadas, fato possvel somente entre empresas com posturas inovadoras,

    flexveis e visionrias.

    Mudanas na postura e polticas internacionais brasileiras favoreceram a vinda de

    investimentos estrangeiros, que potencializaram a criao de renda e PIB Nacional.

    O Brasil demonstra grande vocao empreendedora, segundo o relatrio executivo de

    2000 do Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2000), o pas possui uma relao entre adultos

    que comeam um novo negcio em relao ao total populacional bastante aguerrida:

    Brasil: 1/8 (leia-se hum para cada oito adultos);

    EUA: 1/10;

    Austrlia: 1/12;

    Alemanha: 1/25;

    Reino Unido: 1/33;

  • Empreendedorismo

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    Finlndia e Sucia: 1/50;

    Irlanda e Japo: 1/100.

    Evidente que alguns fatores influenciam iniciativas deste tipo, como renda mdia

    assalariada e estabilidade de emprego, fato que por vezes desacelera o processo empreendedor

    em pases ricos, mas ressalte-se que nos EUA, grande potncia mundial, o empreendedorismo

    bastante difundido.

    Outro ponto a mencionar-se que a atividade empreendedora no pas est relacionada,

    proporcionalmente, na sua grande maioria junto ao pblico jovem, sendo que mais da metade

    dos empreendedores brasileiros possuem menos de 35 anos de idade, e somente 3% dos

    empreendedores possuem idade acima dos 55 anos.

    Esta jovialidade certamente possui ligao direta com o fato de o empreendedorismo

    ter se acelerado somente recentemente, como demonstrado no incio do presente tema.

    Ainda, este perfil empreendedor demonstra fatores favorveis e desfavorveis:

    Prs:

    Iniciativa;

    Adaptabilidade;

    Criatividade;

    Facilidade de lidar com tecnologia.

    Contra:

    Inexperincia;

    Baixa viso de risco;

    Impulsividade;

    Recusa metodologias antigas.

    Tema 05 Estudo de Caso - O Empreendedorismo no Brasil e o Processo de Inovao:

    O Caso Mau 9

    Transcrio do Artigo:

    Este artigo mostra um exemplo de empreendedorismo que alia conhecimento e

    inovao, ao relacionar a vida de Irineu Evangelista de Sousa (Baro de Mau) com o tema

    9 Artigo Publicado em: http://www.ead.fea.usp.br/semead/11semead/resultado/trabalhosPDF/197.pdf. Autores: LOPES, Camila Papa. SANTOS, Moacir Bispo dos. CLARO, Jos Alberto Carvalho dos Santos.

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 12

    do empreendedorismo, passando pelas leituras de McClelland, Schumpeter, Vries,

    Thimmmons, Say, Dornellas, Empretec pelo Sebrae, que tratam do comportamento

    empreendedor e Caldeira, que aborda especificamente a histria de Mau, utilizando-se

    para tal a anlise comparativa entre estes para mostrar a contribuio do Baro de Mau

    para o desenvolvimento do Brasil, pelos negcios estabelecidos no sculo XIX, identificando

    a capacidade administrativa e o pioneirismo no processo de industrializao brasileira.

    Questiona-se como o processo de inovao no Brasil deve sua histria ao

    empreendedorismo a partir de pioneiros que alavancaram nossa economia e

    administrao? Adotou-se o exemplo de Irineu Evangelista de Sousa como o empreendedor

    da inovao a partir de um estudo qualitativo descritivo, de forma a contextualizar a

    realidade do empreendedorismo no Brasil e como foi consolidada sua estrutura. A pesquisa

    entre o que a literatura estabelece como comportamento empreendedor e a postura do

    Baro de Mau mostra quais caractersticas so consideradas no empreendedor para definir

    a competncia para o sucesso nos negcios, como um exemplo de que a inovao

    perpetuada pelas caractersticas empreendedoras.

    Palavras-chave: Empreendedorismo. Administrao. Baro de Mau

    Introduo

    O empreendedorismo um tema que ganhou espao nos estudos administrativos

    nos ltimos anos. A globalizao e as modificaes nas relaes de trabalho fazem com que

    indivduos partam para reas inexploradas, dando importncia s idias e sonhos e criando

    o prprio negcio. Esse contexto, denominado empreendedorismo, pode ser definido como

    um conjunto de hbitos e caractersticas pessoais que tem como base a captao de idias e

    iniciativas, transformando-as em oportunidades de negcio.

    Este trabalho tem como premissa que o empreendedorismo tambm uma

    caracterstica pessoal, uma vez que muitos estudos realizados sobre a personalidade dos

    empreendedores concluem que o sucesso do empreendimento depende dos seus

    comportamentos.

    Pela histria de empreendedores famosos, observa-se que estes indivduos

    ultrapassaram seus limites, enfrentando e superando as dificuldades, tanto da poca quanto

    pessoais e desenvolveram negcios lucrativos e duradouros. Mesmo quando no tiveram

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 13

    xito em um primeiro momento, no desistiram e recomearam. Nesse sentido se

    apresenta a histria do Baro/Visconde de Mau.

    Os empreendedores so pessoas diferentes, com comportamentos que se

    diferenciam do senso comum, possuem motivao singular, so apaixonados pelas

    atividades que desenvolvem, no se contentam em ser mais, querem ser reconhecidos,

    admirados, referenciados e imitados, querem deixar seu legado, sua histria, e muitos o

    deixam.

    O estudo do empreendedorismo compreende a anlise do ser humano a partir do

    desenvolvimento e execuo de idias e oportunidades, bem como a criao do negcio

    pelas iniciativas individuais. Este campo de estudos tem sido explorado de forma crescente

    nos ltimos anos, medida que se passou a enxergar a importncia do indivduo e do

    estmulo criatividade.

    No geral, os empreendedores so pessoas que se dispem a vislumbrar e criar

    oportunidades e fazer acontecer, lutar pela sua consecuo, para por em prtica suas idias

    e gerar um ou mais negcios. Alm disso, os empreendedores so essenciais no mercado,

    pois eles so agentes de inovao, estimulam a criatividade.

    Considerando que os indivduos se desenvolvem a partir de sua relao com o meio

    ambiente, a partir da conduta cultural e social, observa-se que seu comportamento pode

    ser definido como contnuo desenvolvimento orgnico constitudo pela produo de uma

    forma particular de padro cultural, ou seja, como a cultura influencia comportamentos

    direcionados a criao de negcios e como este comportamento contribui para definir o

    ambiente de negcios de forma temporal e regional.

    Faz-se uma reflexo sobre a relao do comportamento humano e a atitude

    empreendedora, como um fator intrnseco ao conhecimento, algo que pode ser

    desenvolvido ao decorrer da vida de um indivduo e da cultura onde ele cresceu,

    conceituada como uma programao coletiva da mente, conhecimentos, que distinguem os

    indivduos.

    Os empreendedores realizam leituras e interpretaes diferenciadas da realidade e

    colocam em prtica seus conhecimentos para gerar inovao com diferentes aplicaes, em

    espaos e momentos histricos distintos. O conhecimento traz a capacidade de identificar

    oportunidades e o empreendedorismo de coloc-las em prtica, a partir de

    comportamentos humanos.

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 14

    Este artigo aborda o comportamento empreendedor pela histria de Irineu

    Evangelista de Sousa, o Baro de Mau, cujo ttulo atribudo s suas obras inovadoras, que

    contriburam para o processo de desenvolvimento do Brasil.

    Metodologia

    O artigo foi desenvolvido a partir de pesquisa qualitativa descritiva, definida por

    Charoux (2006) como pesquisa que descreve e classifica caractersticas de uma situao e

    estabelece conexes entre a base terico-conceitual existente ou mesmo de outros

    trabalhos j realizados. Para a autora: Esse tipo de pesquisa pressupe uma boa base de

    conhecimentos anteriores sobre o problema estudado, j que a situao-problema

    conhecida, bastando descrever seu comportamento. As respostas encontradas nesse tipo

    de pesquisa informam como determinado problema ocorre.

    A descrio baseia-se na histria de Irineu Evangelista, o Baro de Mau, sua

    trajetria no mundo dos negcios e como seu comportamento empreendedor influenciou

    no processo de inovao no Brasil.

    Parte-se do contedo terico sobre empreendedorismo e comportamento

    empreendedor, em seguida feito um levantamento histrico sobre as inovaes

    propiciadas por Mau e por fim apresentada uma anlise comparativa entre as

    caractersticas do comportamento do Baro de Mau evidenciadas na obra de Caldeira com

    as teorias sobre o empreendedorismo como forma de identificar quais dessas caractersticas

    embasaram o alcance do sucesso nos negcios, tambm para mostrar a relao entre

    conhecimento, empreendedorismo e inovao.

    O Estudo terico do Empreendedorismo

    O empreendedorismo pode ser analisado por meio de focos de estudo, destacando-

    se a fenomenologia, que observa atitudes e caractersticas do indivduo, que formam suas

    competncias para conduzir a teoria a partir do que o indivduo faz, o que o motiva; e

    outros que focam o comportamento empreendedor por uma definio e a ele so

    relacionadas atitudes concernentes a atividade empresarial. O conceito de

    empreendedorismo provm da palavra empreendedor (Entrepreneur) tem origem francesa e

    significa aquele que assume riscos e comea algo novo (HIRISH, 1986).

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 15

    Para Carland, Hoy e Boulton (1984), o empreendedorismo constitui-se em um

    conjunto de comportamentos e de hbitos que podem ser adquiridos, praticados e

    reforados nos indivduos, ao submet-los a um programa de capacitao adequado de

    forma a torn-los capazes de gerir e aproveitar oportunidades, melhorar processos e

    inventar negcios. O esprito do empreendedorismo compreende a busca permanente de

    novos produtos, conceitos, mtodos e mercados, aliados com habilidades na execuo de

    todas as atividades operacionais, contemplando um plano gestor para gerir as compras,

    produo, vendas, entregas, administrao, planejamento, cronogramas, oramentos,

    contabilidade etc.

    Filion (1997) conceitua o empreendedor como um indivduo criativo, que possui a

    capacidade de determinar e alcanar objetivos, com alto nvel de conscincia do ambiente

    em que atua, usando as mudanas como forma para identificar oportunidades de negcio.

    Mintzberget al (2000) relaciona o empreendedorismo a estratgias de inovao,

    definindo como caractersticas do empreendedor a busca por oportunidades, centralizao

    de poder, capacidade de lidar com o risco para conquistar lucros e sucesso nos negcios,

    sendo estimulado pela necessidade de realizao.

    Segundo o Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE,

    2008), o empreendedorismo a arte de fazer acontecer com criatividade e motivao. Consiste

    no prazer de realizar com sinergismo e inovao qualquer projeto pessoal ou organizacional, em

    desafio permanente s oportunidades e riscos. assumir um comportamento proativo diante de

    questes que precisam ser resolvidas. O empreendedorismo o despertar do indivduo para o

    aproveitamento integral de suas potencialidades racionais e intuitivas. a busca do

    autoconhecimento em processo de aprendizado permanente, em atitude de abertura para

    novas experincias e novos paradigmas.

    A teoria relacionada ao empreendedorismo considerada mais importante a do

    economista austraco Schumpeter, que associa o empreendedor ao desenvolvimento

    econmico, a inovao e ao aproveitamento de oportunidades em negcios. Os estudos

    sobre o comportamento do empreendedor versam pela hiptese de que o sucesso do novo

    empreendimento depende essencialmente disto. O empreendedor o agente do processo

    de destruio criativa. o impulso fundamental que aciona e mantm em marcha o motor

    capitalista, constantemente criando novos produtos, novos mercados e, implacavelmente,

    sobrepondo-se aos antigos mtodos menos eficientes e mais caros (SCHUMPETER, 1934).

    Para Schumpeter (1934), o empreendedorismo constitui-se na busca de inovaes

    como um diferencial competitivo, a partir da percepo e identificao de oportunidades de

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 16

    negcio, no desejo de concretizar e tornar um sucesso novo ou novos empreendimentos,

    mas tambm de gerar inovao em processos e utilizar recursos de formas variadas visando

    resultados positivos. Neste foco, o autor define o empreendedor como o agente do

    processo de destruio criativa, um indivduo que tem como competncia a criao de

    novidades de forma que estas possam contribuir para o desenvolvimento de um pas, o

    motor do capitalismo que gera riquezas e cria produtos, processos e mercados sustentveis.

    Say (1983), representante da escola clssica francesa - que estuda o empreendedor

    e o lucro, define o empreendedor como aquele que remunerado pelo lucro. Para o autor,

    o empreendedor responsvel por reunir todos os fatores de produo e descobrir, no

    valor dos produtos, a reorganizao de todo capital empregado, o valor dos salrios, os

    juros, o aluguel, bem como os lucros que lhe pertencem, ou seja, uma definio de

    empreendedorismo centrada nos negcios.

    Para McClelland (1961) no existe uma relao condicionante entre

    empreendedorismo e a abertura de negcios, mas o que contribui para essa associao a

    necessidade de realizao do indivduo, que o ponto chave para o desenvolvimento de

    suas demais caractersticas que o tornam empreendedor.

    Comportamento Empreendedor

    Os indivduos considerados como empreendedores tm um comportamento

    diferenciado, conforme se observa nas definies de empreendedorismo. Neste contexto,

    so analisados e discutidos seus comportamentos para facilitar o entendimento das

    variveis do empreendedorismo, como um conjunto de caractersticas psicolgicas e sociais

    relativamente estveis que influenciam a maneira pela qual o indivduo interage com seu

    ambiente (LEZANA; TONELLI, 1998)

    Para Gerber (1996), a personalidade empreendedora transforma uma condio

    qualquer em oportunidade, como por exemplo, mudanas no ambiente fsico, uma chuva,

    pode representar uma oportunidade para um indivduo de vender guarda-chuva, enquanto

    que a grande maioria dos indivduos ir reclamar pelo incmodo.

    Um dos primeiros trabalhos realizados sobre as caractersticas comportamentais dos

    empreendedores foi desenvolvido por David McClelland, na Universidade de Harvard, em

    1961, uma teoria sobre a motivao psicolgica, baseada na crena de que o estudo da

    motivao contribui significativamente para o entendimento do empreendedor. Segundo

    sua teoria, os indivduos so motivados por trs grupos de necessidades:

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 17

    1. Necessidade de realizao

    2. Necessidade de poder

    3. Necessidade de afiliao

    Um estudo mais direcionado para a formao do empreendedor foi elaborado a

    partir da teoria de McClelland, resultando num curso realizado pelas Organizaes das

    Naes Unidas - ONU para a formao de empreendedores que pudessem criar negcios de

    sucesso. Este curso foi trazido para Brasil na dcada de 80, sendo denominado Empretec

    pelo Sebrae, com uma metodologia que testa os comportamentos empreendedores. Estes

    comportamentos foram divididos em quatro grupos de caractersticas: necessidades,

    conhecimentos, habilidades e valores, gerando quarenta caractersticas empreendedoras,

    conforme Quadro 1 (NANNI et al., 2006).

    GRUPO DAS NECESSIDADES GRUPO DOS CONHECIMENTOS

    1. Aprovao/Reconhecimento 9. Aspectos tcnicos relacionados com o

    negcio

    2. Independncia/Autonomia 10. Experincia na rea comercial

    3. Desenvolvimento pessoal 11. Escolaridade

    4. Segurana 12. Experincia em empresas

    5. Auto-realizao 13. Formao complementar

    6. Qualidade e eficincia 14. Vivncia com situaes novas

    7. Poder/Status

    8. Inovao/iniciativa

    GRUPO DAS HABILIDADES GRUPO DOS VALORES

    15. Identificao de novas oportunidades-

    visionrias

    28. Existenciais

    16. Valorao de oportunidades 29. Estticos

    17. Criatividade 30. Intelectuais

    18. Comunicao persuasiva 31. Morais

    19. Negociao 32. ticos

    20. Aquisio de Informaes 33. Religiosos

    21. Resoluo de problemas 34. Autoconfiana

    22. Alcanar metas 35. Autenticidade

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 18

    23. Motivao e deciso 36. Lealdade

    24. Organizao 37. Ambio

    25. Flexibilidade 38. Disposio ao risco

    26. Controle racional dos impulsos 39. Perseverana persistncia

    27. Resilincia 40. Familiares

    De acordo com McClelland (1961), a necessidade de realizao a que o indivduo

    tem de testar seus limites, de executar um bom trabalho. a necessidade relativa s

    realizaes pessoais. Indivduos com alta necessidade de realizao geram mudanas em

    suas vidas, estabelecem metas realistas e realizveis e buscam situaes competitivas. O

    estudo comprovou que a necessidade de realizao a primeira identificada entre os

    empreendedores bem sucedidos. A segunda a necessidade de realizao que impulsiona

    as pessoas a criar um empreendimento. A necessidade de afiliao existe apenas quando h

    alguma preocupao em estabelecer, manter ou recuperar relaes emocionais positivas

    com outros indivduos. A necessidade de poder caracterizada principalmente pela forte

    preocupao em exercer poder sobre outros indivduos.

    McClelland (1972) relaciona o comportamento dos empreendedores necessidade

    de sucesso, de reconhecimento, e ao desejo de poder e de controle, pela vontade do

    indivduo de se superar e evoluir, o que relaciona caractersticas psicolgicas e atitudinais

    tais como tendncia ao risco, iniciativa e desejo de reconhecimento.

    Outro enfoque sobre o comportamento dos empreendedores a pesquisa de

    Abraham Zaleznik e Manfred Kets de Vries (KETS DE VRIES, 1997), que caracterizaram os

    empreendedores como pessoas profundamente influenciadas por uma infncia turbulenta e

    conflitante, cujas vidas eram sofridas com temas reais ou imaginrios de pobreza,

    depravao, morte significativa e solido. Deste modo, acreditam que o empreendedor

    motivado por sentimentos persistentes de insatisfao, rejeio e impotncia, derivados de

    conflitos relacionados com os pais. Esta situao geraria uma ao psicolgica que

    necessitaria de compensao para aliviar estes conflitos dolorosos, os quais poderiam

    induzir a uma ao auto-destrutiva, impulsionando-o esforos criativos e inovativos. Estes

    ltimos se associam com o desenvolvimento de esforos relacionados com a criao e

    desenvolvimento de empreendimentos.

    Os autores tambm consideram o empreendedor como um ator em um teatro

    empresarial, que inclui necessidade de aplauso, e defesas psicolgicas, tais como projeo e

    ruptura. Assim estabeleceram seis elementos constituintes da personalidade

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 19

    empreendedora: meio ambiente turbulento; esquiva em relao as normas autoritrias dos

    pais; sentimento de rejeio; sentimentos dolorosos de raiva, hostilidade e culpa;

    identidade confusa (identificao com a personalidade causadora de dor); adota modelos

    reativos para sentimentos dolorosos (culpa, rebelio e impulsividade).

    A partir dos seis elementos, acreditam que o sucesso do negcio afetado pela

    personalidade do empreendedor, que precisa se identificar fortemente com o

    empreendimento e depende disto para manter sua auto-estima e sua necessidade de

    controle (MANTOVANI; BORGES, 2006).

    Outro estudioso sobre comportamento empreendedor Thimmons (1994), que

    junto com seus colaboradores, pesquisou os atributos de personalidade dos

    empreendedores. Seu estudo representa uma sntese de mais de 50 pesquisas compiladas

    da literatura acerca de atributos e comportamentos dos empreendedores bem sucedidos.

    Verifica-se a seguir uma sntese de suas constataes:

    1. Comprometimento, determinao e perseverana;

    2. Guiados pela auto-realizao e crescimento;

    3. Senso de oportunidade e orientao por metas;

    4. Tomam iniciativas por responsabilidades pessoais;

    5. Persistncia na resoluo de problemas;

    6. Conscientizao e senso de humor;

    7. Buscam obter feedback;

    8. Controle racional dos impulsos;

    9. Tolerncia ao stress, ambigidade e incerteza;

    10. Procuram correr riscos moderados;

    11. Pouca necessidade de status e poder;

    12. ntegros e confiveis;

    13. Decididos, urgentes e pacientes;

    14. Lidam bem com o fracasso;

    15. Formador de equipes.

    Dornelas (2001) resume as caractersticas dos empreendedores no Brasil:

    1. Busca de oportunidades e iniciativas;

    2. Persistncia;

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 20

    3. Correr riscos calculados;

    4. Exigncia de qualidade e eficincia;

    5. Comprometimento;

    6. Busca de informaes;

    7. Estabelecimento de metas;

    8. Planejamento e monitoramento sistemtico;

    9. Persuaso e rede de contatos;

    10. Independncia e Autoconfiana.

    Segundo Bastos (1998), o comportamento empreendedor parte de um mecanismo

    que indivduos utilizam para dar resposta a um determinado evento na busca de satisfazer

    um conjunto de necessidades relativas ao sucesso nos negcios. Assim, o processo

    comportamental do empreendedorismo tem incio a partir da identificao de uma

    oportunidade com a necessidade de assumir riscos e estruturar o negcio, pelo

    conhecimento e ao.

    Uma breve anlise histrica de Irineu Evangelista de Sousa

    Para retratar a realidade histrica e de que forma este evoluiu no Brasil no mbito

    do empreendedorismo, faz um retrocesso por volta dos anos de 1680 e 1777, onde os

    limites do Sul do Brasil eram disputados entre Espanhis e Portugueses, e as diferenas

    eram resolvidas na guerra, ficando a divisa no lugar determinado pelo ltimo combate, at

    que uma nova investida ou tratado de paz negociado na Europa modificasse a situao.

    Nesta poca, os Portugueses se instalaram s margens do Prata bem em frente a Buenos

    Aires, os Espanhis chegaram a tomar a ilha de Santa Catarina, mas nenhum dos dois lados

    conseguia sacramentar suas vitrias, e a fronteira alterava-se a cada investida bem-sucedida

    do adversrio.

    Desde o incio, estas terras tinham se mostrado como excelentes criadouros natural

    de gado, com milhares de cavalos e bois se multiplicando soltos e sem donos, atrativo para

    aventureiros a busca de riqueza e brigas constantes. A coroa portuguesa, interessada na

    ocupao do territrio, distribua generosamente ttulos de terra na zona de litgio (apesar

    de que a assinatura do Rei naquela regio no dizia muita coisa), a maioria dos portugueses

    eram da regio de Aores (super-povoada na poca). Em meio a este contexto, em 1792,

    chegou o av materno de Irineu Evangelista de Sousa, Jos Batista de Carvalho, que

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 21

    estabeleceu um rancho numa sesmaria de 4 mil hectares entre o arroios Grande e

    Chasqueiro a 500km de Montevidu, logo depois o av paterno, Manuel Jernimo.

    Em 1810, o pai de Irineu Evangelista, Joo Evangelista de vila e Sousa casou-se com

    Mariana Batista de Carvalho, e em 1813 nasceu Irineu. Para manter o crescimento de seus

    negcios, Joo Evangelista de vila e Sousa, em 1819, saiu em uma excurso ao territrio

    uruguaio para a busca de mais gado e foi morto por um tiro (verses pouco claras chegaram

    para os familiares), ficando sua me viva pela primeira vez com 24 anos. Tentou tocar os

    negcios e preferiu ensinar Irineu a ler e escrever a ter que fazer os servios da fazenda, e

    este aproveitou o conhecimento oferecido pela me e logo dominou as letras e mostrou

    uma predileo pela matemtica.

    Trs anos aps a morte do pai, sua me casa pela segunda vez com Joo Jesus e

    Silva, que no aceitava crianas de um outro pai. A soluo foi casar sua irm Guilhermina,

    com menos de doze anos com Jos Machado da Silva e mandar Irineu para o Rio de Janeiro

    para trabalhar no comrcio com um tio seu (por parte de me) que tinha o mesmo nome de

    seu av.

    Nesse contexto iniciou a histria do empreendedor, que chegou no Rio com nove

    anos de idade e foi instalar-se na casa de n155 da Rua Direita, que era o armazm e a sede

    dos negcios de Joo Rodrigues Pereira de Almeida, onde aprendeu todas as funes do

    armazm, sendo ensinado pelos mais velhos de casa que estranhavam a origem do menino,

    pois na poca raros nativos do Brasil trabalhavam no comrcio, sendo esta profisso

    exercida por mo-de-obra vinda direta da Metrpole, fato este manipulado pela Coroa, pois

    evitava que habitantes da colnia controlassem a atividade comercial.

    Logo vislumbrou a possibilidade de ser o caixeiro de escritrio, tendo que dominar a

    contabilidade e passar por um exame da Real Junta de Comrcio e Navegao, para ser

    reconhecido pelo patro, que era de famlia importante do Sul e Pereira de Almeida

    negociava charque com ela, seu tio era homem de grande prestgio e respeito por comandar

    uma Nau de Pereira de Almeida e este ltimo tomava conta de seu armazm bem de perto

    e conhecia seus funcionrios e rendimentos. A empresa era bem prestigiada e estava

    envolvida em uma srie de atividades complexas, negociando simultaneamente com

    centenas de pessoas nos trs continentes. Pereira de Almeida era ao mesmo tempo

    comerciante, banqueiro, industrial, armador, alm de corteso e manipulador poltico,

    trabalhar em uma empresa como esta na poca era o objetivo de qualquer caixeiro que

    quisesse vencer na vida. Com uma frota registrada em seu nome de treze navios, a base de

    todo o comrcio de Pereira de Almeida era o trfego de escravos.

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    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 22

    Com menos de cinco anos de experincia e com quatorze anos de idade, Irineu j

    assumia a complexa rede de negcios do patro. Por volta de 1828, houve um revs e as

    coisas mudaram para Pereira de Almeida, pois o trfico de escravos estava acabando e a

    guerra com a Argentina, tornando a provncia Cisplatina no Uruguai, levaram o Banco do

    Brasil a ser um alvo para as perdas governamentais, fazendo com que o comerciante

    perdesse tudo que tinha, para consolar o Imperador que distribua ttulos de nobreza

    criados a granel, concedeu-lhe o ttulo de Baro de Ub, onde foi morrer (1830) em sua

    fazendo defendida por Irineu junto ao credor escocs Richard Carruthers. Assim, Irineu

    comeou a trabalhar em 1829, Carruthers & CO, uma das maiores empresas de Carruthers,

    que o incentivou a aprender ingls e contabilidade da forma inglesa (em libras), e teve

    contatos com a maonaria. Logo se destacou dos demais, aprendendo as mincias do ofcio

    e pela orientao de Carruthers. Leu muitos livros, dentre eles Adam Smith A Riqueza das

    Naes - o original em Ingls que aproveitava para discutir com seu patro.

    Aps completar 22 anos, Irineu recebeu uma participao no capital da empresa e

    uma procurao de Carruthers, que lhe deu todos os poderes para administrar os negcios

    como se a firma fosse apenas dele. Em 25 de Outubro de 1837, Irineu comprou sua primeira

    casa.

    O cenrio Nacional continuava complicado e vrias revoltas eclodiam nas provncias

    (Cabanagem/PA, Balaiada/MA, Sabinada/BA, Carneiradas/PE, Farroupilhas/RS) sempre se

    repetindo a histria: liberais contra conservadores republicanos. Irineu se envolveu em uma

    destas revoltas fornecendo roupas e dinheiro a revoltosos (na fortaleza de Santa Cruz/RJ) e

    isto lhe causou problemas em 1839, indo assim visitar seu amigo e scio Carruthers na

    Inglaterra a fim de acalmar os problemas. Em sua viagem Inglaterra, apresentou grande

    entusiasmo por novidades. Teve como anfitrio um amigo de juventude (Joo Henrique

    Reynell de Castro), que contribuiu para abrir o seu caminho da fortuna. Assistiu a

    inaugurao da ferrovia em 1830, entre Liverpool e Manchester, viu que os ingleses

    produziam fbricas com rapidez, mecanizando assim o desenvolvimento. Tambm notou

    que a ferrovia trazia consigo outros negcios (ferros e mquinas), sendo foco dos

    banqueiros ingleses. Menos de 20 anos depois da inaugurao do trecho entre Liverpool e

    Manchester, havia 10 mil quilmetros de ferrovias na Inglaterra, com um investimento

    aproximado de 250 milhes de libras esterlinas.

    Percorreu fbricas de tecidos, estaleiros, fundies, estradas de ferro e bancos, se

    mostrava muito interessado em novos conhecimentos empricos, perguntava sobre tudo e

    estudava manuais de funcionamento e catlogos, manteve tambm vrios contatos

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    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 23

    econmicos, estudando os movimentos da poca na Grande Potncia Inglaterra. Em sua

    percepo, vislumbrava o desenvolvimento do Brasil e na volta de sua viagem da Inglaterra,

    abriu a empresa que deveria captar dinheiro na Inglaterra para ser investido no Brasil,

    visando a modernidade. Apesar da viagem para a Europa, os nimos dos comerciantes do

    partido Conservador continuavam os mesmos perante a posio de Irineu e estes

    publicaram uma carta em 21 de Outubro de 1842, no Jornal do Comrcio, com a notcia de

    que no tinha conexes com os rebeldes do Rio Grande do Sul, que eram os nicos homens

    em armas que o governo central precisava derrotar para consolidar seu poder. O efeito de

    tal carta foi devastador perante os amigos, pois a fama de traidor da causa logo se

    instaurou. Apesar disto, Irineu foi tido como traidor pelos amigos e era mal visto pelos

    governantes da poca.

    Em 11 de Agosto de 1846, adquiriu o estabelecimento de fundio e estaleiros da

    Ponta de Areia em Niteri/RJ. Pensava em transformar a mesma em um estabelecimento de

    ponta, a moda inglesa, para tanto, teve que trazer a preo de ouro (propriamente dito)

    trabalhadores ingleses, pois no existia mo de obra qualificada na poca, alm de ter a

    regra de que uma pessoa de tez branca, no carregava nada e tinha que sempre ter um

    escravo que o fizesse. A falta de matria-prima tambm o fez pensar fora da caixa, fazendo

    uma logstica (hoje banal), mas que para a poca saltava aos olhos, e passou a trazer

    minrio de ferro de Minas Gerais no lombo de burros, importao de carvo, e peas para

    os defeitos nas mquinas.Firmou um contrato com o ministrio do Imprio para canalizar o

    rio Maracan com tubos de ferro, e como de praxe, o governo no pagava e teve que

    diversificar a produo fazendo pregos, sinos para igrejas, mquinas de serrar, peas para

    engenhos de acar, guindastes, etc. Passou a aceitar servios de reparos em navios e

    montou uma empresa no Rio Grande do Sul para operar um vapor que havia sido construdo

    por ele.

    De forma inovadora na poca, comeou a administrar os funcionrios de forma

    igualitria e distribua lucros, incentivando que os mesmos abrissem seus prprios negcios

    ou aumentar o leque de opes (assumia prejuzos). Da mesma fbrica, saram engenhos de

    acar completos (movidos a vapor), pontes de ferro, canhes de bronze para navios de

    guerra, navios a vapor completos, fornos siderrgicos e bombas de suco.

    Em 1849, o Uruguai se viu em srios problemas, pois nenhum dos pases que o

    subsidiavam queriam continuar a faz-lo, tendo neste momento o crescimento do temor de

    invaso Argentina na figura do ditador na poca (Juan Manuel de Rosas). O embaixador do

    Uruguai no Brasil na poca (Andrs Lamas) pediu ajuda e o governo viu na figura de Irineu a

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 24

    forma de ajudar sem ser notado. Com isto, Irineu emprestou dinheiro para financiar a

    guerra contra a Argentina. Em Fevereiro de 1852 o exrcito de Rosas foi derrotado sem um

    nico tiro, pois acertos monetrios foram feitos nos bastidores com comandantes

    desertores argentinos. Este fato fez com que o governo Uruguaio reconhecesse uma dvida

    pblica junto a Irineu e a partir de 15 de Maio de 1852, ele tornou-se o maior credor do

    governo Uruguaio e com direito sobre a aduana. Com isto, a navegao do Rio Prata foi

    aberta, fluindo o comrcio local.

    Aproveitando a situao do fechamento do trfico de escravos e notando um grande

    valor monetrio na praa sem um destino certo, Irineu em 1851, abriu o Banco Commercial,

    vislumbrando as aplicaes em um futuro promissor de progressos interminveis (fbricas,

    telgrafos, estradas de ferro). Comeou a comprar a moeda nacional (ris) fazendo um

    cmbio favorvel a quem vendia e trocava por libras esterlinas (moeda forte). A corrida ao

    banco foi muito grande, em pouco tempo estava quase que com toda moeda nacional em

    seus cofres ao troco da libra. Comeou a faltar (ris) para negcios nacionais e ele mais que

    depressa comeou a vender (ris) e comprar (libras), dando primeiro golpe no cmbio.

    Nessa poca, chegou no Brasil informes de que os americanos queriam abrir o Amazonas

    para livre explorao e navegao, tal fato alarmou as defesas brasileiras e o governo

    convocou mais uma vez Irineu, propondo que o mesmo abrisse na regio norte uma

    empresa de explorao / navegao do rio Amazonas, explorando assim o comrcio dos

    povoados ribeirinhos muito dispersos, desafio este aceito por ele.

    Em 1852, Irineu ganhou a concorrncia entre trs empresas para fornecer a

    Iluminao a gs das ruas da cidade do Rio de Janeiro e fundou a empresa Imperial

    Companhia de navegao a vapor e Estrada de Ferro de Petrpolis. Ainda neste ano, quatro

    meses antes do prazo prometido para o governo, comeou a funcionar a Companhia de

    Navegao e Comrcio do Amazonas. Em 1853, o dia da queda do gabinete de Itabora,

    Irineu levou um grupo de jornalistas e embaixadores para fazerem uma pequena viagem

    inaugural, sendo esta a primeira viagem de trem a ser noticiada na histria do Brasil.

    Foi assim que foi agraciado com o primeiro ttulo de Nobreza Baro de Mau, em

    30 de Abril de 1854, em cerimnia pomposa com a presena da famlia Real, quando

    inaugurou a Companhia de Navegao a Vapor e Estrada de Ferro de Petrpolis.

    Em 31 de Julho de 1854, trs meses aps a inaugurao da estrada de ferro, o Baro

    de Mau inaugurou uma nova forma de Banco, o Banco Internacional a Mau Mac Gregor &

    CIA, com a proposta de auxiliar todas as operaes na Europa e tambm fornecer crdito

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 25

    para operaes locais, onde iria competir com os financiadores tradicionais (os bancos

    europeus), criando assim a primeira agncia de Cmbio a funcionar em mbito nacional.

    No mesmo ano da inaugurao do Banco Internacional Mau, comprou uma fbrica

    de velas e sabo de um francs com problemas financeiros. Adquiriu a Companhia

    Fluminense de Transportes (34 carroas de burro, mais de 100 mulas). Entrou com um

    aporte tcnico em uma concesso para explorar ouro no Maranho. Tambm montou uma

    fbrica de diques flutuantes, sugerido por um de seus funcionrios de Ponta de Areia. Em

    Agosto de 1855, o Baro de Mau assumiu uma posio de deputado (como suplente) pelo

    partido Liberal. Nunca compactuou com o discurso amoral que dominava a poca (interesse

    pblico), colocando-se abertamente como empresrio, colecionando derrotas atrs de

    derrotas nesta rea. Com viso de negcios, estabeleceu para seus engenheiros a tarefa de

    estudarem os caminhos para nova estrada de ferro ligando o porto de Santos ao interior

    Paulista, possibilitando assim o escoamento da produo. Em 1856, recebeu a concesso da

    construo da estrada de ferro. Decorridos 06 anos aps o final da guerra no Uruguai, Mau

    resolveu transformar seu escritrio de representao em Montevidu numa mistura de

    empresa comercial e casa bancria.

    Em 1857, algumas de suas aquisies no se mostravam lucrativas, entre elas a

    Companhia Fluminense de Transporte, a Mineradora do Maranho, a Santos-Jundia e a

    Companhia de diques flutuantes. Alm disso, grande incndio (narrado pela famlia como

    criminoso a mando dos ingleses) devastou a fbrica de Ponta de Areia, destruindo moldes

    da construo de navios. Em 1858 inaugurou mais um Banco, em Buenos Aires, na

    Argentina, expandindo os negcios do Uruguai. Em 1865 depois de vrios percalos, vendeu

    a Companhia de Iluminao a Gs do Rio de Janeiro e passou por srias dificuldades. Em

    1867, criou a Mau & CIA, uma empresa comercial como nas origens de sua formao,

    tendo como base a desativao de seu imprio para saldar dvidas e problemas sofridos.

    Juntou seu numerrio e mesmo com a derrocada, possua no conjunto da obra a quantia de

    115 mil contos de ris, equivalente a 12 milhes de libras esterlinas e 60 milhes de dlares.

    Em 1874, recebeu uma carta tornando-o o Visconde de Mau, devido a seu

    empenho na instalao dos cabos submarinos de telgrafo que ligou o Brasil Europa. Em

    1875, fechou o Banco do Uruguai e foi perseguido pelo povo, perdendo tudo, porm

    liquidou todos os seus negcios e saldou todas suas dividas, vendendo seus pertences

    pessoais. Afastou-se da vida pblica e morreu completamente esquecido pela sociedade em

    21 de outubro de 1889, sendo levado de Petrpolis para ser enterrado no cemitrio da

    Ordem Terceira dos Mnimos de So Francisco, em Catumbi, no Rio de Janeiro, sendo o

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 26

    fretro deslocado de trem atravs dos trilhos da estrada de ferro de sal fundao, The Rio

    de Janeiro & Northern Railway.

    Anlise do comportamento do Baro de Mau a partir das teorias sobre empreendedorismo

    O exemplo do Baro de Mau retrata sua trajetria como o primeiro grande

    empreendedor brasileiro numa poca adversa, o Brasil no Sculo XIX. Analisando o contexto

    histrico do pas, observa-se que muito de seu desenvolvimento deve-se a inovao criada

    por Irineu Evangelista, que aproveitou as oportunidades que teve para trazer ao Brasil

    conhecimentos e desenvolvimento do capitalismo.

    Para Lira (2005), nos dias atuais, a administrao possui a disposio uma infinidade

    de tcnicas que visam diminuir ao mximo os riscos de insucesso de um novo negcio.

    Porm, no sculo XIX e incio do sculo XX, os nicos meios possveis de analisar um negcio

    eram alguns clculos financeiros e o bom senso. Esta situao fazia com que os riscos,

    principalmente nos negcios pioneiros, fossem difceis de mensurar por se tratar de um

    caminho ainda no percorrido e, portanto, sem parmetros de comparao.

    Embora as pesquisas na rea de empreendedorismo constatem diferenas entre

    aspectos considerados cruciais pelo fato de que as caractersticas empreendedoras variam

    em funo da atividade que o empreendedor desenvolve em uma dada poca ou de acordo

    com a fase de crescimento da empresa, a anlise histrica mostra Mau como um cone da

    inovao e seu comportamento embasado pelas teorias do empreendedorismo, sendo seu

    comportamento distinto a outros empreendedores, que em alguns estudos, so observados

    como indivduos que no eram receptivos ao conhecimento. Segundo Caldeira (1990, p.35):

    Em 38 anos de trabalho duro, tinha enfrentado muitas crises, e

    nelas venceu muito mais que perdeu. Sentia-se jovem o

    suficiente para ousar na hora das dificuldades, aproveitar os

    momentos complicados para triturar adversrios mais fracos.

    Sempre sonhara grande, grande demais para que o conselho

    tornasse mais prudente seu estilo arrojado.

    Mau possui algumas caractersticas identificadas como comportamento

    empreendedor nas teorias estudadas.

    Ainda segundo Caldeira (1990, p.17-18):

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 27

    Administrar sozinho tal volume de negcios e dinheiro era

    tanto uma obrigao imposta por seus mtodos de trabalho

    quanto um prazer ao menos em dias como aquele. Nas noites

    solitrias em seu escritrio, Mau sentia a grandeza dos

    criadores de mundo. Ningum no Brasil havia chegado aonde

    chegou. Tinha todo o direito de agir como um verdadeiro

    imperador, pois no devia nada a ningum. Enquanto a noite

    avanava, Mau instigava os corajosos, punia os medrosos,

    ordenava batalhas de negcios sem nunca ser contestado.

    Esse comportamento impositivo era para ele da natureza das

    coisas. Para quem comeara rigorosamente do nada e lutara

    sempre sozinho, no era estranho o habito de contar apenas

    consigo mesmo.

    Para Caldeira (1990), Mau tinha dedicao ao conhecimento, estudando para

    conseguir obter o dinheiro e antes de passar para a prtica, ele precisava da certeza de que

    suas impresses suportavam o crivo dos nmeros. Enquanto o mercado corria atrs de

    opinies, ele foi buscar o domnio do conhecimento e evidenciou suas caractersticas

    empreendedoras para alavancar o desenvolvimento do Brasil. Segundo Lira (2005, p.15):

    ... na biografia de Mau notamos um foco no progresso com

    um direcionamento maior para o desenvolvimento industrial,

    logstico e estrutural do pas. Com a criao das primeiras

    indstrias, primeira estrada de ferro e criao do primeiro

    banco a financiar novos empreendimentos, Mau refora sua

    condio de personalidade referncia na histria brasileira e

    com perfil voltado para o empreendedorismo.

    A partir da anlise sobre as caractersticas de Mau com a literatura abordada, foi

    feito um quadro consolidado com a porcentagem de caractersticas empreendedoras

    apresentadas no seu exemplo, conforme comparativo adiante:

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 28

    Caractersticas empreendedoras

    encontradas na literatura

    Caractersticas empreendedoras

    encontradas na Biografia por Caldeira resultado % atendido

    McClelland

    3 3 100%

    Zaleznik & Vries

    6 3 50%

    Thimmons

    15 15 100%

    Dornellas

    10 10 100%

    Empretec necessidades

    8 8 100%

    Empretec conhecimento

    5 5 100%

    Empretec habilidade

    9 9 100%

    Empretec valores

    7 7 100%

    Autores

    63 60 95%

    Tomando como base o quadro 3 pela comparao percentual entre itens ressaltados

    perante quesitos dos autores, presentes ao longo da pesquisa, entendemos que Irineu

    Evangelista de Sousa atende quase que na plenitude aos quesitos estipulados pelos autores

    estudados na personalidade empreendedora.

    Assim, mostra-se que dentre os comportamentos evidenciados ao longo da

    pesquisa, o Baro de Mau apresentava 95%, sendo considerado um exemplo potencial

    para o estudo do empreendedorismo no Brasil, sendo que seus traos apontavam para o

    desenvolvimento em larga escala, no sendo limitado a um tipo de negcio ou empresa,

    mas contribuindo com a administrao de um pas.

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 29

    Consideraes Finais

    Este artigo mostrou o contexto de um empreendedor como forma de exemplificar

    como o empreendedorismo influencia a realidade dos negcios no Brasil. O comportamento

    empreendedor abordado sob a tica dos indivduos e da cultura onde se inserem, sendo a

    inovao, iniciativa e a resilincia traos que definem o sucesso dos negcios.

    O contexto analisado nos tempos contemporneos mostra que a herana cultural

    deixada pelos pioneiros que alavancaram os negcios no Brasil a de que o

    empreendedorismo um tema de nossa cultura, que traduz a necessidade de procurar

    oportunidades pela diversidade que possumos.

    A administrao de negcios nesse ambiente precisa de caractersticas e

    comportamentos de indivduos que conseguem lidar com adversidades e identificar

    oportunidades mesmo com a turbulncia do mercado. O centro do poder associa-se com a

    poltica, gerando burocracias difceis de serem colocadas em prtica ao mesmo tempo em

    que se alcana o sucesso nos negcios, mas os empreendedores tm encontrado formas de

    conciliar tal cenrio, a partir do prprio conhecimento, gerando inovaes que podem

    mudar o rumo da histria

    A anlise sobre o Baro de Mau permite observar que ele foi um dos homens mais

    ricos em sua poca no continente sul-americano, com a competncia para identificar

    oportunidades e gerar inovao, alavancando a economia do Brasil a partir de

    conhecimentos obtidos em diferentes setores e colocando em prtica tudo o que sabia em

    seus empreendimentos.

    Embora tenha terminado sua vida sem nada, a grande herana que deixou foi a

    inovao criada pelo conhecimento, que constitui um dos meios que consolida o

    comportamento empreendedor, a busca incessante por oportunidades e por concretizar

    negcios. Mau apresentou formas de inovao que atualmente ainda geram dvidas

    quanto a sua execuo, tamanha inovao apresentada em seus empreendimentos, cujos

    resultados ainda podemos nos beneficiar.

    Ao dos Discentes no Estudo de Caso

    Os alunos devero responder ao solicitado, de forma fundamentada pela matria.

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 30

    1) Quais caractersticas empreendedoras, na sua opinio, faltaram ao Baro de Mau ?

    Justifique.

    2) Voc concorda com todas atribuies positivas realizadas no artigo ao Baro de Mau ?

    Justifique.

    3) Se tivssemos uma parcela maior da populao com caractersticas empreendedoras, o

    que mudaria em nosso pas ?

    4) Comente as caractersticas do Baro de Mau, considerando as qualidades do

    empreendedor apresentadas junto ao Tema 02 da Apostila (Pgina 03 Caractersticas do

    Empreendedor).

    Tema 06 Pesquisa Complementar 10

    Artigo: Delmiro Gouveia Heri Esquecido 11

    1) Pesquise e demonstre qualidades empreendedoras junto outro personagem histrico

    no empreendedorismo brasileiro, chamado Delmiro Gouveia. Observao: Esta comparao

    mais complexa, pois este personagem possui menor expresso do que o anterior (Baro

    de Mau), alm de uma passagem mais polmica. O objetivo do trabalho enriquecer o

    conhecimento pessoal e provocar o discente a uma reflexo sobre alguns pontos

    polmicos na histria brasileira.

    Texto 12

    Delmiro Gouveia foi o maior de todos os grandes empreendedores brasileiros.

    10 Autor: Oswaldo Pacetta. Publicado aos 05/07/2010. 11 Fontes do Autor:

    Delmiro Gouveia e o sonho de industrializao do semi-rido - AUTOR: JOSE ROMERO DE ARAUJO CARDOSO.

    Delmiro Gouveia O perfil do empreendedor AUTORA: TELMA DE BARROS CORREIA.

    CULTURA historia (14/07/2007) Gloria e tragdia de Delmiro Gouveia. AUTOR: J.C. ALENCAR ARARIPE Especial para Cultura, escritor e jornalista.

    Ousadia no Nordeste a saga empreendedora de Delmiro Gouveia AUTOR: DAVI ROBERTO BANDEIRA DA SILVA.

    12 Os fatos e opinies expressados pelo autor so de responsabilidade exclusiva do mesmo, o presente artigo encontra-se apenso para estudo das atitudes empreendedoras, no sendo nossa inteno fomentar o debate sobre ideologias polticas.

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 31

    Suas prodigiosas realizaes empresariais ocorreram no fim do sculo 19 e inicio do

    sculo 20, no nordeste, totalmente dominado pelos famigerados coroneizinhos da poltica

    local, numa poca em que dominavam o trabalho escravo, a ignorncia, o atraso, a misria

    da populao e onde, at a energia eltrica necessria a uma de suas empresas, teve que

    produzi-la com seus prprios recursos. Essa sua indstria no foi seu maior

    empreendimento, mas foi a menina de seus olhos e a causa principal de suas desavenas.

    Nasceu em junho de 1863, em Ipu, Cear. Ao longo de sua laboriosa caminhada,

    dadas as condies e ambiente em que realizou sua obra, tornou-se o mais admirvel

    protagonista da historia do empreendedorismo brasileiro. No poupou esforos, coragem e

    ousadia em sua luta para criar no nordeste um plo de desenvolvimento econmico, com

    justia social e com a obstinada determinao de livrar a economia da regio, primria e

    primitiva, da mentalidade, costumes e prticas arcaicas.

    Foi, na sua juventude, bilheteiro de estao de trem, da Pernambuco Railway,

    servidor da Alfndega e tambm se dedicou mecnica primria, o famoso conserta tudo,

    profisso que exerceu, como meio de sobrevivncia.

    Iniciou-se, como empresrio, no comrcio de peles, vencendo nesse ramo que, na

    poca, era dificlimo. Intensificou as exportaes de peles (de bodes e cabras) para os

    Estados Unidos a tal ponto que precisou criar uma vasta rede de agentes, por todo o

    nordeste para aquisio da matria prima de seu negocio. Quando estabeleceu seu prprio

    abatedouro, toda a carne dos animais abatidos era distribuda gratuitamente aos seus

    trabalhadores e populao carente circundante.

    Destacou-se tambm pelo grande sucesso de sua usina aucareira, graas adoo

    de inovaes tecnolgicas dignas dos pases mais industrializados de ento. Na usina

    Beltro, alm de refinar o acar, o vendia em tabletes, coisa muito chique no Brasil desse

    tempo.

    A criao do Mercado do Derby em Recife, j seria suficiente para defini-lo, em tudo

    e por tudo, como um empreendedor do sculo 21 nascido no sculo 19.

    Mediante acordo com o governador de Pernambuco, recebeu grande rea pblica,

    completamente abandonada, para dot-la de todas as melhorias que o poder constitudo

    havia se esquecido de providenciar e, depois de fazer aterros, sanear o mangue e abrir ruas,

    criar esse empreendimento com tudo o que o caracterizava como uma variao, adaptada

    poca, claro, do que seria, hoje, um misto de Supermercado, Shopping Center, Centro de

    Convenes e dos parques de diverso mais incrementados. O exploraria por 25 anos e,

    cumprido esse prazo, o entregaria para o Estado de Pernambuco. Esse parque de diverso

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 32

    permanente, como ento, era chamado, dispunha de hotel, mercado, chafarizes, gua

    tratada encanada, sistema de esgotos, rea livre ajardinada, de 400 metros, para o

    veldromo, em frente a fachada principal do edifcio. Em prdio a parte, instalaes para

    jogos, caf, teatro, carrossis, barraquinhas, tudo permanentemente animado por retretas e

    iluminado pela luz eltrica, pela primeira vez introduzida na cidade do Recife.

    Alm dos atrativos para hospedagem e entretenimento, o Mercado do Derby,

    comprando em grandes quantidades, diretamente das fontes produtoras, evitando os

    atravessadores que encarecem os produtos e mercadorias, vendia a preos bem inferiores

    aos da concorrncia.

    Os concorrentes cartelizados, sem ter conscincia do que fosse um cartel, mas

    cientes de suas vantagens em - atravs de acordo de preo nico entre os produtores ou

    distribuidores - eliminar a livre concorrncia, um dos fundamentos do capitalismo

    democrtico, no gostaram nada desse modernoso cabra da peste. No sabiam o que era

    nem morriam de amores por capitalismo democrtico ou selvagem, mas se enfureceram

    com a idia de reduzir suas margens de lucro abusivas, por causa desse tal Delmiro. Estavam

    criados os primeiros atritos graves entre o empresrio frente de seu tempo e os

    coroneizinhos retrgrados de ento.

    Informado de uma conspirao para mat-lo, viajou para o Rio de Janeiro onde

    tentou em vo, a interferncia do Vice-Presidente da Republica. Este era chefe situacionista

    de Pernambuco e comandava, entre outros, o prefeito de Recife.

    Delmiro no aceitou o descaso do Vice-Presidente que, em vez de agir com a

    dignidade do cargo, agiu como chefe da jagunada.

    Num encontro casual entre ambos, em plena Rua do Ouvidor, aproximou-se dele e o

    responsabilizou pelo que lhe viesse acontecer de mal. Destratado pelo Vice-Presidente,

    agrediu-o a golpes de bengala. Caiu na armadilha do coronelato de Pernambuco. Por essa

    reao impensada deu pretexto a que fosse considerado um criminoso e passou a condio

    de procurado pela policia, para alegria de seus inimigos invejosos e venais. Resumindo,

    Delmiro chegou a ser preso. A priso se deu com escandaloso aparato: um comandante e 50

    praas da policia. Enquanto estava na priso, o Mercado do Derby, jia preciosa tanto como

    projeto arquitetnico quanto como empreendimento sem igual no Brasil de ento, foi

    criminosamente incendiado, na madrugada de 1 de janeiro de 1900

    Valendo-se da liberdade concedida, trs dias aps o incndio, atravs de habeas

    corpus, Delmiro Gouveia embarca para a Europa de onde volta no ano seguinte e se

    refugia em um vilarejo, no interior de Alagoas, onde pretendia continuar no comercio de

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 33

    peles. Esse vilarejo por nome Vila da Pedra, distante 280 km de Macei e 20 Km da

    cachoeira de Paulo Afonso era formada por meia dzia de casebres em torno de um terminal

    ferrovirio, a estao de trem que ligava Jatob a Piranhas e ficava na confluncia de trs

    Estados: Pernambuco, Alagoas e Bahia.

    Por essa poca (1901/1902), Delmiro conheceu a filha da amasia do governador

    pernambucano, S. Gonalves. Apaixonaram-se, p! Na poca, casar-se com um homem

    separado da esposa anterior, era inadmissvel. A anterior no foi visit-lo quando esteve

    preso, razo porque nunca mais voltou para seu lar. Em face da total resistncia da famlia

    da moa e com a concordncia da mesma, claro, fugiram e foram morar na Usina Beltro,

    fabrica de acar de Tacarauna, no bairro de Santo Amaro. Outra vez, o intrpido

    empresrio alimenta a ira torpe de seus inimigos.

    Acusaram-no de rapto e seduo: mobilizaram a policia e a Justia para enquadr-lo,

    nos termos da lei e o levarem pra cadeia. O casal no teve alternativa seno fugir. Foram

    para Vila da Pedra, Alagoas, que ficava prxima ao rio So Francisco, no serto alagoano

    onde pretendia continuar suas atividades empresariais.

    Em Pedra, no deu outra: o seu empreendimento teve tal sucesso que o levou a criar,

    em 1904, a firma IONA & CIA. para organizar e incrementar suas exportaes de peles de

    bode e de cabra, couros de boi, mamona em bagas e caroo de algodo.

    Para essa vila eram enviadas peles e couros vindos do Cear. Rio Grande do Norte,

    Pernambuco, Paraba, Sergipe, Alagoas e Bahia. Eram tratadas e enfardadas. Seguiam de

    trem at Piranhas. Desciam o So Francisco at Penedo e, por mar, seguiam at Macei de

    onde eram embarcadas para os Estados Unidos.

    Delmiro tinha um sonho: a industrializao do semi-rido alagoano e, em 1909,

    iniciou estudos para a utilizao econmica da cachoeira de Paulo Afonso. Quatro anos

    aps, janeiro de 1913 coroava de xito mais um de seus audaciosos empreendimentos:

    captava energia da usina hidroeltrica, na queda de Angicos e iniciava o abastecimento da

    Vila com gua da cachoeira, Em junho de l913 a Vila passa a ser iluminada com a energia

    eltrica da usina. Em 1914 inaugura em Vila da Pedra a fabrica de linha de coser da marca

    Estrela, que iria vencer, na concorrncia de mercado, a linha Corrente, produzida pela

    multinacional inglesa Cotton Machine. Rtimo alucinante mesmo para nossos dias.

    Ele, que j enfrentava a prepotncia das oligarquias estaduais e a violncia dos

    coronis, passou a enfrentar a fria da multinacional poderosa. A linha de coser Estrela

    comeou a dominar o mercado no s no Brasil como tambm na Argentina, Equador e

    Peru. Chegou a exportar para colnias inglesas.

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 34

    No s para atender as necessidades de sua nova e prospera indstria, mas tambm

    na sua crena de que faria de Pedra, um plo de industrializao do nordeste, abriu as

    primeiras estradas no interior nordestino, ao todo, 520 km pelas quais rodaram tambm os

    primeiros automveis vistos na regio, com os quais equipou seus vendedores-viajantes.

    Eram cinco importados, que, para a poca, foram motivo de alvoroo e festas por onde

    passavam. As estradas que construiu eram de to boa qualidade que sua frota podia

    desenvolver a espantosa velocidade de 60 km por hora!, dinamizando, assim, o trabalho de

    venda de sua produo.

    Mesmo empenhado na consolidao de sua fabrica de linhas, Delmiro no descuidou

    de outras reas como a agricultura, a difuso da pratica de irrigao das terras secas, a

    pecuria e a propagao da cultura da palma forrageira como alimento para os rebanhos.

    Agiu tambm nas reas de desenvolvimento e saneamento urbanos, educao,

    sade e projetos sociais.

    Dotou Pedra de gua encanada, luz eltrica, vilas de casas para seus trabalhadores,

    mdico, escolas, cinemas, parques de patinao e banda de musica.

    A par dessas iniciativas, atacou duramente os costumes retrgrados, indo s raias do

    pitoresco nessa sua obstinao: em Pedra fez do banho uma obrigao diria; no se

    fumava em cachimbos de barro, no se podia cuspir no cho, no se entrava numa casa com

    chapu na cabea, no se tomava cachaa e no se explorava a prostituio. Homens e

    mulheres tinham que andar limpos e calados. claro que dava a seus empregados salrios

    e condies para cumprirem a risca esse cdigo de conduta.

    necessrio atentar para a poca, inicio do sculo passado e para o ambiente, o

    interior de uma regio dominada pelo atraso, pela ignorncia e pela misria extrema, para

    entender que esse cdigo no exprimia autoritarismo, mas preocupao em acelerar o

    desenvolvimento integrado do rido alagoano, como ponto de partida para o

    desenvolvimento integrado do nordeste.

    Na catastrfica seca de 1915, grande numero de flagelados chegava a Vila da Pedra,

    em busca de socorro. Delmiro Gouveia mandou montar tendas ao redor da vila e deu aos

    retirantes toda a acolhida e tratamento de que tanto careciam, sem descuidar de enquadr-

    los no cdigo de conduta j referido.

    O coronel Jos Rodrigues de Lima, de Piranhas, chefe poltico, fazendeiro,

    pecuarista e latifundirio, no se sentia bem com a vizinhana de Delmiro, industrial,

    atuando no seu criatrio e comercializando, em Vila da Pedra, produtos agrcolas a preos

    inferiores aos seus. Era o prottipo dos avs dos coronis do PFL, hoje conhecido como

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 35

    DEMO. O coronzinho Jos Rodrigues era o prprio DEMNIO. Foi um dos articuladores

    de ciladas, armadilhas e emboscadas contra Delmiro Gouveia.

    Delmiro Gouveia, nas varias viagens que fez aos Estados Unidos e Europa, verificou a

    nova revoluo industrial decorrente do uso da energia eltrica.

    Quando conheceu a cachoeira de Paulo Afonso, no rio So Francisco, do qual Vila das

    Pedras ficava prxima, teve a viso audaciosa que s os grandes empreendedores acolhem

    com f e buscam tenazmente sua realizao: construir ali uma usina hidreltrica.

    Com o apoio dos irmos Rossbach, da L. H. Rossbach Brothers, de Nova Iorque, que

    era a grande importadora dos produtos agrcolas e mercadorias produzidas pelas empresas

    de Delmiro, organizou a Cia. Agro-Fabril Mercantil atravs da qual concretizou a construo

    da hidreltrica no salto de Angicos, da Cachoeira de Paulo Afonso, no lado alagoano que,

    quatro anos aps sua concepo, passou a gerar energia eltrica em janeiro de 1913.

    Na Inglaterra pesquisou e escolheu as mais modernas mquinas da indstria Dobson

    & Barlow, que importaria para sua fbrica de linha de coser de alta qualidade e resistncia,

    alm de fios e cordes de algodo cru em novelos, fios encerados e fitas gomadas para

    embrulhos. Inaugurada em 1914, foi mais um empreendimento de grande sucesso desse

    empresrio do sculo 21 nascido no sculo 19.

    Essa fbrica, a Cia Agro-Fabril passou a vencer a concorrncia e quebrar o monoplio

    dos ingleses no setor. Os ingleses, nessa poca, eram os americanos do ps-guerra

    (1939/1945): donos ou pretensos donos do mundo, que impunham seu jugo aos pases

    satlites ou atravs de dispendiosas operaes militares ou atravs dos lacaios e traras

    remunerados que eles tinham o hbito de entronizar nos seus domnios.

    Com a produo de mais de 20.000 carretis/dia, as linhas Estrela ganharam

    rapidamente o mercado nacional alm do de alguns pases vizinhos. A Cotton Machine,

    produtora das linhas de coser Corrente, afamadas at hoje, partiu para a concorrncia

    desleal. Por exemplo, aproveitando um vacilo do Delmiro, registrou a marca Estrela na

    Argentina e no Chile, causando alguns problemas e custos adicionais Agro-Fabril que se viu

    obrigada a re-embalar com novo rotulo seus produtos j nas lojas desse dois vizinhos.

    A pouca eficincia dessa e outras rasteiras para derrubar o concorrente brasileiro

    levou a Cotton Machine a investir alto na tentativa obstinada de comprar o parque

    empresarial de Vila da Pedra, em pleno serto de Alagoas. Delmiro Gouveia recusou todas

    as propostas apresentadas e informou aos gringos que no venderia sua fabrica por dinheiro

    nenhum.

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 36

    A 10 de outubro de 1917, trs anos aps a inaugurao do parque industrial de

    Pedra, na calada da noite, no terrao de sua casa, o empresrio do sculo 21 nascido no

    sculo 19 era assassinado com trs balaos disparados por pistoleiros de aluguel. O crime

    foi desvendado, 66 anos depois, quando todos os envolvidos j eram falecidos. No

    faltaram inocentes tomados como bodes expiatrios, que passaram longos anos na priso,

    sem nada deverem.

    Finalmente, usando seus mtodos preferenciais, os liberais de ento que ainda no

    eram Neo, mas j agiam por meio de marginais contratados, usando matadores de ofcio,

    conseguiram deter o inigualado empreendedor brasileiro e iniciar o desmantelamento da

    mais notvel experincia de industrializao que o nordeste havia conhecido at os anos 70

    do sculo passado.

    Como se v, no de hoje que a ALIANA de interesses estrangeiros escusos, com

    traidores regiamente remunerados e partidos da entrega e da traio fartamente

    financiados, atua contra os interesses nacionais.

    Depois de sua morte, a Cotton Machine colocou em prtica um indecoroso e

    prolongado dumping nos mercados de linhas de coser, vendendo suas mercadorias da marca

    Corrente a preos 50% inferiores ao seu custo de fabricao, com o objetivo de quebrar a

    concorrente e compr-la a preo de banana podre em fim de feira. H que se reconhecer que

    no se tratou de Privataria j que a Cia Agro-Fabril no era estatal. Foi apenas uma grande

    patifaria. No precisavam mais enfrentar o destemido Delmiro Gouveia que os derrotaria

    outra vez. Ele tinha sido misteriosamente abatido.

    Com a anuncia do Presidente Washington Luiz, o complexo fabril de Vila da Pedra

    foi vendido, em 1930, para a Cotton Machine, transao realizada em sua sede ou matriz,

    em Paisley, Esccia.

    Vale lembrar que a industrializao no Estado de So Paulo se iniciou nos anos 30,

    com o governo Vargas e se consolidou nos anos 60/70 do sculo passado e no na dinastia

    tucana como alguns querem nos fazer crer.

    Concretizada a transao, a empresa inglesa contratou, ainda em 1930, uma firma

    especializada em demolio, para por abaixo, a marretadas, o parque empresarial de Vila da

    Pedra. As mquinas modernssimas foram embarcadas para a Esccia. Os destroos do que

    restou foram levados em carros puxados por juntas de boi, numa viagem de 20 kilometros,

    at as barrancas do So Francisco, onde foram lanados.

    Num ato demagogo, pra acalmar a populao local revoltada, o Presidente fantoche

    e submisso, convenceu os ingleses a no levar adiante seu intento de dinamitar a usina

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 37

    hidreltrica de Angicos, encravada nos penhascos do Rio So Francisco, onde pode ser vista e

    visitada, at hoje.

    Washington Luiz, representante fiel dos aristocratas rurais de S. Paulo dessa poca,

    verses estilizadas dos coronis do nordeste, foi o Presidente deposto e exilado pela

    revoluo de 1930, comandada por Getulio Vargas.

    Em 1932 tais aristocratas, com o apoio dos ingleses, que estavam perdendo seu

    mando e desmandos no Brasil, tentaram uma contra-revoluo para depor Getulio. Foram

    derrotados, para o bem do Brasil e dos brasileiros, que puderam ser retirados da Senzala

    assim que os mandarins da Casa Grande foram contidos ... Mas essa outra historia.

    Parte 02 Formao Social de Empreendedores

    Nesta parte estaremos estudando o processo social de criao e formao de

    empreendedores, ou seja, j conhecemos suas caractersticas e relevncia coletiva, agora

    vamos aprender como a sociedade gera e fomenta esta classe de pessoas.

    Ainda, faremos uma anlise do perfil educacional brasileiro frente a este desafio e

    trabalharemos na formulao de propostas.

    Trabalhando no processo de enriquecimento do perfil profissional dos discentes,

    faremos uma abordagem do comportamento de sucesso baseado na proposta do Prof.

    Gretz, chamada As 20 Atitudes da guia.

    Tema 07 - Perfil Empreendedor

    Considere a frase:

    O empreendedor no faz o que gosta e sim o que precisa ser feito

    Ainda, vide um famoso provrbio chins:

    H trs coisas que nunca voltam atrs:

    A flecha lanada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida.

    Um empreendedor no apenas conhece, mas VIVE estes pensamentos.

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 38

    Veremos mais sobre as qualidades empreendedoras (aprofundando o Tema 02) no

    estudo de caso.

    Estilos de Deciso Empreendedor

    O empreendedor torna-se latente pelo seu estilo de deciso, notadamente agressivo

    quando necessrio, mas com dificuldade de identificar, por vezes, momentos de necessrio

    retraimento e conservadorismo. Assim, o esprito empreendedor pode por vezes suplantar a

    cautela, tornando-se perigoso se no domesticado. Devemos lembrar que embora o

    empreendedor esteja associado diversas qualificaes positivas, no vincula-se

    perfeio.

    Segundo Cohen 13 existem oito estilos de deciso, todas aplicveis ao

    empreendedor:

    Intuitivo: tenta projetar o futuro;

    Planejador: situa-se onde est e para onde quer ir;

    Perspicaz: afirma que alm da percepo necessita de conhecimento;

    Objetivo: sabe qual o problema a ser resolvido;

    Cobrador: tem certeza do que quer e deseja medir os resultados;

    Mo-na-Massa: envolve-se de forma pessoal nas aes;

    Meticuloso: agrega diversas opinies para tomada de deciso;

    Estrategista: decide sempre por aes que acompanham a estratgia geral.

    No existe uma definio para o melhor ou pior tipo de deciso, cada situao cria

    condies para sua aplicao ou no. Entretanto, devemos citar inicialmente como mais

    favorveis s empresas modernas os estilos estrategista e meticuloso.

    Isto porque estas atitudes conduzem a deciso tomada em consonncia s regras

    gerais definidas na alta administrao, mantendo a coerncia dos departamentos frente ao

    cliente, alm de agregar opinies dos membros da equipe, favorecendo o grupo.

    Isto pode significar, no caso da deciso estrategista, que a deciso tomada pode

    mesmo no vir a ser a melhor para um departamento de forma isolada, mas que beneficie a

    empresa como um todo.

    13 Allan R. Cohen vice-presidente acadmico do Babson College, obteve o graduao na Harvard Business School e autor de vrios best-sellers.

  • Empreendedorismo

    Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 39

    Sndrome do Empregado e Anti-Empreendedorismo

    Para sabermos melhor o que ser um empreendedor, devemos tambm estudar o

    que NO ser um.

    Esta terminologia surgiu com o personagem Seu Andr, do livro O Segredo de

    Luisa, autor Fernando Dolabela.

    O livro: O Segredo de Lusa, escrito por Fernando Dolabela,

    publicado em 1999, trata da realizao do sonho de abrir uma

    empresa. um romance que envolve a vida sentimental da

    personagem principal Lusa, junto com a concretizao da sua

    idia de ter o seu prprio negcio. O autor relata desde a

    concepo da idia de Lusa at a realizao da abertura da

    empresa. No decorrer da narrao, envolve outros

    personagens, que so essenciais na vida de Lusa. O livro expe

    parte da vida da personagem principal, Lusa uma moa

    muito inteligente - no s no lado profissional, mas tambm os

    seus sentimentos de amor, alegria, medo, solido, tristeza e

    tantos outros que fazem part