apresentação -...

26

Transcript of apresentação -...

apresentaçãoEstá no ar a primeira edição de revista Poesia Agora!

Essa revista é a nossa forma de agradecer aos escritores pelo acolhimento que temos recebido desde 2010, quando começamos a revista benfazeja (projeto de blog, bem modesto, mas desde sempre cuidado com zelo e seriedade). Ao acolhimento presente também quando, em 2015, abrimos a editora benfazeja e ao acolhimento de agora, com o Selo Trevo.

Publicar literatura, em especial poesia, tem sido o norte dos projetos editoriais e minha missão pessoal. Escrever poesia está em segundo plano, um hobbie por vezes doloroso (vocês devem saber bem do que estou falando). Trabalhar com os Poesia Agora é revigorante (além da revista temos também um prêmio literário e antologia que publica em livro impresso os vencedores e os poemas que julgamos mais relevantes).

Estamos a par do peso do nome Poesia Agora e do esforço que será retratar a produção poética contemporânea. A par da audácia de levar um projeto assim. Mas também sabemos bem (como disse, desde 2010) a delícia que é tratar/lidar com poesia e, principalmente, com poetas.

Agradeço, por fi m, aos mais de mil e quatrocentos participantes. Foi difícil escolher apenas 20 para

representar todos esses inscritos. Difícil e prazeroso, mas acredito que fi zemos (e continuaremos fazendo), um grande trabalho!

Está edição é a primeira publicação de muito dos 20 autores e será a primeira publicação de centenas de outros poetas no decorrer dos próximos anos. Devo repetir o quanto essa energia que recebemos é revigorante – parece que até os computadores trabalham melhor. Devo repetir que é o nosso norte.

Por favor, leiam, compartilhem, baixem e guardem :) Esse carinho que recebemos de volta é o nosso

(melhor) salário!

Well Souzadesigner e editor

Luis NogueiraCaio Andreucci

editores

Jéssica Araújodesigner assistente

CHEGOU A HORA DE CRESCERMOS JUNTOS!

PUBLIQUE CONOSCO ANTOLOGIASANTOLOGIAS

4 revista poesia agora - n1 fev.18

ParáfraseEu sou aquela que recolhe os ossos no caminhoQue age à luz do diaUma criadora visionáriaEu sou aquela que persegue a fresta de luzPor baixo da soleira da portaAcossa imagens valiosasPelo instinto selvagemEu sou aquela que transforma vida antigaEm vida novaGermina a sementeColeciona minutos vagosEu sou aquela que se vira para o ladoEm que o sol se apresentaMesmo sabendo que nem sempreEle brilharáEu sou aquela que cozinha ideias cruasDescongela palavras friasFaz cintilar gotículas prateadasEu sou aquela que se entristeceAo perceber que saber demais envelheceE se ergue criando paixãoPor si mesmaEu sou aquela que rodopia de porta em portaPelo mundo aforaSegura a luz da caveiraMesmo tendo a certeza de que ela é eternaEu sou aquela que encara a mulher esqueletoE um dia sei que tambémTerei de beijar a megera

Alba Machado

5 revista poesia agora - n1 fev.18

Tratado de AmorEis que são todos inúteisos meus esforçospara compor um tratado de nós.Se me és, puramente, quem o soue se também eu te souo tratado haveria de ser sobre um único ser,um nós singular.Mas se há tantos plurais nos seres de nós,como abreviarmo-nos em única pessoa de verbo?Como contermo-nos e definir singular o que nos representa?Ainda confunde-me a cabeça todo o palavrarque uso para escrever tratados,mas se é de amore se é de mim e ti que falohaverá de haver um recurso que me ajudee que entre os ensaios eu seja assertiva.Quando do chamamento— duma convenção extraordinária —atribuirei os méritos de sermos pertençaúnica, inédita, urgente, necessária.Assim, cumpra-se! Cumpramos!Imaterialmente...Eu, tratado de ti. E tu, de mim.

Jullie Veiga

6 revista poesia agora - n1 fev.18

Paulo de CarvalhoA saudade é um barcoNão ancoradoTodavia distante Eu demoro para verNo horizonteTal barco sumir

A minha saudadeChama-se paiA minha saudade chama De voltaTodos que partiramE me deixaram No caisQue sou euSozinhoOuvindo no rádioAcordesQue me exprimem lágrimasBebendo amoresQue me anunciam JulgamentosMaus tratos

InebriadoPelas ruas Garrafas OlhosDa Inexatidão

A minha saudadeÉ o meu existir lá na esquinaCom bêbadosPáriasOutras meninas

O gole que me acordaDessa paixão infaustaFalsa

Eu que sou também um barcoJamais fui âncoraEmbora pudessem achar que sim...Eu sou o meu próprio fim...

Antonio Lavacca

7 revista poesia agora - n1 fev.18

De que serve o amorDe que serve agasalhar a almase é a tua pele que uso?Gravado em mim fazes feridae de que serve tricotar a cura?

De que serve a poesia na tua bocase no coração só correm pedras?Reacender o fogo, de que servese já ateamos as cinzas?

De que serve o que já não servee se servisse de que nos serviria?

Maria Almeida

8 revista poesia agora - n1 fev.18

Solidão InaceitávelNa simplicidade do vazioMinha complexidade se desespera

No perpétuo silêncio da solidãoMeu grito ecoa como ventania

E em uma discussão a sós comigoO “estar sozinha” prova-se ameaçador

Nego incansavelmente a solitudeRepudiando-a como mal alheio

Impensável naturalidade solitáriaQuão audaz demonstra-se

Ofertar isolamento à seres sociaisComo dádiva ou retorno

Afirmando a benevolência do ser únicoUsando como álibi o leito materno

Donde a maioria de nós veioSozinho e somente em unidade

Ainda assim não vejo a solidão inataE protesto por não ter amparo

Engolida pela imensidão do vazioSufocada pela pressão de não ser plural

Invejo e admiro a companhiaAlmejo e desejo não estar só

Mas, no entanto, um canto silenciosoPercorre e inunda ouvidos meus

Num belo e afinado coro solitárioPiamente elucidado por dizeres

Não há mal nenhum em estar só

Maíra Luciana

9 revista poesia agora - n1 fev.18

Ode ao QuixotePor amor às quimeras buscaste sombrasA saber se o mar se escondiaNas asas dos leões

Qualquer rugido forte te agitava o peitoAmor, trovões, respiros de bebêQuando abraçava s o mundo ele cresciaNa espiral que moveMoinhos e constelações

Tão longe carregasteO fardo de amar, acreditar

Teus olhos-flores miravam brasasTuas asas vulcões, melancoliaAtrás de ti anjos e fantasmas se arrastavamReis e palhaçosQuando o deserto te convidou à morteNão disseste sim ou nãoQue te importam desertosSe os ventos arrastam gigantes nas estradas

E tuas asasAinda úmidasNãote deixam voar

Gedson Sousa

10 revista poesia agora - n1 fev.18

A não tudo. A não nada.Abandonei a busca, os desejosTornei-me no vazioTonei nas nuvensBoiei no imenso baldioDo nada.Aí consegui ser não sendo.Sem ver senti o não vistoE sem sorrir transbordeiDe uma felicidade impalpávelInfinita… eterna!

Desde quando (achava eu)Que um dia poderia alcançar,Sem querer, uma plenitudeA não ser:A não nada como não tudo.Deixei de saberE fiquei sabendo queSó no nada que não seiEncontraria o que deixara de procurar.

Observo apenas.

Que loucura procurei,Anos a fio, navegada por entre desejos,A única coisa que a mente não encontra…Ignorando o espaço entre o que eu pensavaMentalizei doençaE quando foquei o espaço vazio, o nada,Desmentalizei e definitivamente encontreiO não nada e o não tudo,

O saber não sabido,A luz sem o sobretudo,O “tudo” que ninguém vê.

Pois, esse “tudo” é compostoPor um amor que não é nada.E sendo o nada algo sem fim,Coloquei-me no eternoE à mente não voltei…Não retornei!Fui sem ser nadaE o nada trouxe o todo que me faltava.

Inês Eggers de Azevedo

11 revista poesia agora - n1 fev.18

IN MEMORIAMApego-me às velhas migalhascomo se fossem pães

À tona do tempo(grãos que do além se amealha)meus mínimos tomam corpo

Tenho hoje esta formafeita de quase nadasque pra mim valem tantocomo velas no remanso do portocomo as partes que me compõem

Sou feito de histórias e esquecimentosa mais bela(a que mais doía)tentei largar mar afora(eu além singrando momentos)

as demais também me acompanhamno mosaico de fragmentosdaqueles que fui ao sole adiante resto ao relento

Luiz Sampaio

12 revista poesia agora - n1 fev.18

O sertão (2002)Ao cair o pôr do sol no reflexo de saudade,O entardecer se vai...Entre sonhos, “o verde” que se perde aos olhos,Num amarelo triste de folhas secas pelo chão,Faz chorar e gemer o Sertão.

O povo de cuia na mãoAs cacimbas vazias,Sem alegria, implora ...Um pingo d’água.No Nordeste o que dói não fere,Mas se distrai na esperança...De um novo dia.

O ronco que vem de dentroDe costume se faz moradia.Num silêncio de cortar a voz!És bravo e sedento,O pobre, só é percebido na hora de sua partida.

Entre saudades e despedidasAs desilusões são feridas,Ardentes em gemidos sucumbidosQue a seca impregnou nos corações.

Wilma

13 revista poesia agora - n1 fev.18

Xandapolisa xan é malucaa xan é a morte da imaginaçãono osso duma criança. a xan é umacotovia de cabedal cor-de- corvoa dançar no peito dumainsónia. cuidado, uma xan não é vistaaté se ser apanhado, quando chegachegae chega com dentes moídos depastilha e seu charme infantilde leopardo agachadonuma saia de linho floreada desementes até aos péssaia de longos rasgos colaterais quequando ela divagase abrem florescem desfolhamdescascamdois delgados pedaços deperna morenamoldados em prol da nossadistracção. e a xan nunca praguejanão não,dá uma volta na cadeiraduas madeixas loiras na frente(cabelo pós-agosto,claro) o resto preso atrás,“ah cala-te não digastantasasneiras” e selados os nossos lábiospensamos nos dela: nos de cimae nos de baixo;

e então nós homens sorrimos ea imaginação renasce

nas entranhas dum idosocomo uma nota infinita e agudaque foge sempre ao clímax dumsolo que poucos se lembramde tocar,um pouco comoum orgasmo falhadoque chega a tempo da terceira idade...lembro-me quando ela regressoude s. martinho,passei o dia com ela e uns amigose a xan raramente me olhava oudava a atenção, tinha foguetesno lugar de sapatose rebentavamclac clacao ritmo do estrondo sinfónicoduma sonata qualquer dos clássicos.saímos do bar para fumar e clacclac clacpostura de fera e clacclac clac“porra, como éq conseguesandar com isso?!”não respondia, afastava-se um bocado emetia conversa comoutros dois… pois, porque a xan éum bocado disso, um espírito maleávelou gato ou leãoe se não lhe agrada o novelo,

14 revista poesia agora - n1 fev.18

bem, clac clac clac…“espera xananda mais devagar”ela virava-se e

os seus ombros descaíam para a frentecom os braços entrecruzados.“onde está o carro?”perguntava“ali…” era ao virar da esquinae ela clac clac clacclac clac clacclac clacclace eupronto, eu seguia-aofegantecom as minhas veiasa rebentar ao ritmo doestrondo sinfónicodo enfarteque me esperava em casa.ou até ali, quem sabe, a xannem parecia preocupadasó não digo que passava porcima de mimporque eu nem lhe conseguiaacompanhar;as minhas pernas já cansadasas delas a reluzir o seu brilho escuroa escaparem-se como lágrimasdaquela saiadaquelas duas belas

nádegas a mirarem-me comodois olhos nubladosde esplêndida insanidade...e euum invólucro perdido numenxame de vespas,

forçado a olhar para baixopara me concentrar e recuperar o fôlego.apertava sempre demasiado o cintoera novo de couro castanhorijo, tinha de o soltarceder um buraco e depois outro,durante toda a passada…mas aqui estousentado, semanas depoisjá não a vejo desde entãoe sim, o cinto continuaapertado.acabei de ler um livro eexperimento fumar uma cigarrilhacom sabor a carameloenquanto a xan corre a sua corridae eu aprecio da bancada.não lhe culpo, deixei-me intimidadonos momentos errados comos copos certos e todos sabemosdo cabrão arrogante que emergenessas alturas...dou um bafo, antes de pegar no livro ereler o texto da contracapa,a sorrir e a fingirque tudo está

15 revista poesia agora - n1 fev.18

simplesmentebem.não fantástico, mas sim bem.quanto à xan, espero que vença.quanto ao livro, era daquelesque devia ter lido comum pouco de vinho.ajuda, por vezes.

limpa a cabeça para gravar novas palavrascomo estas.

Pedro Dias de Valera

16 revista poesia agora - n1 fev.18

ColtraneOuvindo Coltrane, te escrevoAcredito que sua vida esteja muito melhorE, talvez, você não tenha ideia do quanto estou feliz ao

vê-lo vencendo barreiras antes intransponíveisAs melhores coisas na vida do homem não estão na mesa

do bar, na rua, na velocidade, no fundo de um copo dewhisky, nos prazeres advindos das futilidadesAs melhores coisas da vida estão presentes no que há de

mais simples:No sorriso do filhoNa noite sem febreNa dor que cessouNa praça repleta de gente sorrindoNo cachorro amigo, na pescaria, no grande amorNo exato momento em que você decide mudar a sua vida,

pendurando em uma árvore do caminho todas asdesolações que o mundo lhe trouxe e, por longos momentos,

o fizeram pensar que seus problemas não tinhamsolução.Se possível, meu amigo, desfrute o melhor da vida ouvindo

ColtraneSuba em monte de areiaJogue futebol com a turma da ruaPegue seu filho e mostre a ele que o mundo gira, incessantemente,

sem que haja a menor possibilidade decongelarmos qualquer segundo nos nossos relógios.Faça exercícios, leia um bom livro, ou dois, ou trêsLeia Neruda e QuintanaRia, ria muito, seja um sorriso ambulanteFaça o bem sem o menor medo de parecer exageradamente

otimista

Prepare seu futuro, estudeTenha um amigo do peito, ou dois, ou trêsTenha uma esposa que será para sempre sua namoradaMeu amigo, não desista dos seus sonhos, abrace-os, proteja-osE seja, desde agora, uma boa semente do futuroJamais se esqueça de quem lhe quer bemPerdoe a quem te feriu, mesmo que seu coração não queira

fazê-lo, perdoe. A construção de sua nova vida foisolidificada com o auxílio de quem não te queria feliz.

Meu bom amigo, eu peço a Deus que lhe conceda muita vida e saúde

Antes mesmo de haveres nascido, seus passos já estavam marcadosCreio que tenhas modificado alguns e, dessa forma, conseguiste

uma vitória bem mais valorosaParabéns caríssimoDesejo-lhe toda a alegria do mundoDesfrute-a, se possível, ouvindo ColtraneUm grande abraço.

Gilmar F. Martins

17 revista poesia agora - n1 fev.18

Geometricamente vividoNasci de Transversal,com uma circular de cordão.Filho de um pai quadrado,uma mãe redondae avós curvados.Moro num lado qualquerdo perímetro urbano.Tenho grandes planos imaginários,olho por diversos ângulos.Caminho numa linha reta,entrecortada por várias perpendiculares,problemas agudose amigos obtusos.Trabalho na esfera política do pentágono,exercito-me no trapézio.Tenho um amor infinitopor alguém em paralelo.Ando no vertical,durmo na horizontal,rezo num centroe morro num ponto final.

Inês Bari

18 revista poesia agora - n1 fev.18

bela cintra com a fernando de albuquerquenéon refletidoem poças de chuva velha da madrugada— vamos?eu iria, garotomas minhas certezas são voláteis

Yessica Klein

19 revista poesia agora - n1 fev.18

CondorA noite se encheu de estrelas mortas,estrelas de sombra,filhas, netas, bisnetas de meus antepassados;esposas de Deus, amantes de Maria,penetradas e lambidas.Invejei-as,clamei pelo sêmen divino.Desnudei-me, santifiquei-me.Um minuto de silêncio, um sussurro débil,e renasci como um poema oculto no ventre de uma casa vazia,presa à sombra de um verso nu.Um dia, talvez, Deus haverá de me comer.

Tereza Du’zai

20 revista poesia agora - n1 fev.18

Alguma dorAinda que seja entre espinhos,alguma dor,sempre será rosa.

em haste desfalecida,a dor sem nome,espreita a rosa

tinge o poema,a pétalade sangue

a dor sem nome,em haste,desfalecida.

Teresa Bendini

21 revista poesia agora - n1 fev.18

Soneto da CulpaCansei de lutar contra teu retratoQue me recorda meu malvado crimeVendo teus olhos não sei se me matoOu se me expurgo aquilo que me oprime

Quanto mais me combato, mais derrotoA mim mesmo, e me mato o coração.E tanto sofro, porque morto, roto,Me olho minguar por própria inanição

De minha boca nada mais que felJorra, mesclado a minha amarga bileDissolve nos meus olhos todo ceu

Pois que só importa minha alma aflitaE o triste consolo que não encontroNeste inferno que hoje meu peito habita

Henrique Fanini Leite

22 revista poesia agora - n1 fev.18

VisceralEsse versoabortado por desafinoestá quatro oitavas acimados decibéis do terreno.

Não Necessariamente NessaOrdem Mesma

Ou

Outra .

Não tem partituratritura todas as notas queo quiserem represar.

Esse verso é grito.Sem ensaio.Esse verso,na verdade,nem vem a ser um.

Edelvan Alves

23 revista poesia agora - n1 fev.18

CondenaçãoQue o amor embora inexplicável, nos dignifique,ainda que no "corte" das vontades siga com alguma sutura,pontos frouxos,alinhavos e esgarços.Que o amor nos rasgue,nos exponha as medidas,esconda suas agulhas,suas soluções,seus "panos quentes" postos sob nossas rachaduras. Não!Não, não há cura para quem foi retalhado pelo amor,curar-se seria antecipar-se a morte,só o que morre não dói por mais nada.Nem a pele arrepia, por mais nada.Nem a boca saliva, por mais nada.Nem há palavra, nem há ouvidos.Aos vivos,febris,indefesos,contaminados,destinados a essa dolorida "peste",que seja o amor a pele sob nossa musculatura,que seja o sustento de nossos ossos,a seiva em nossas veias,o inflar de nossos pulmões,e a causa primeira em se ter um coração em descompasso.Indigna é a morte, fim de tudo que respira, é a cura.Digno é o amor, que nos toma em vida,

nos despedaça, nos junta,nos separa, nos adoece, sem que se queira melhora alguma,nos enobrece, nos faz quase fenecer, mas renasce em tempo.

Esse, que faz com que se rompam todas as nossas fibras e vivamos por umtriz, por um fio.Que seja!Digno é o amor por ser ainda mais forte que a morte.

Eliana Holtz

24 revista poesia agora - n1 fev.18

Canção da DespedidaFlores murchasAinda contem fragrâncias,E há uma nítida belezaEm suas ruinas.Mas, essas flores que te deiE que se encontram espalhadasPelo chão.Estão chorandoPelos pisoes alheiosE se contaminandoPor poluentes depressíveis.Os amores mentem,As flores não,Os amores incrustradosNo coração da mente,E as flores no chão.A desesperançaÉ a tristeza profunda.

Não é saber sofrer,É nítido viver,Entendendo que há desgostosE desencontrosQue podem vir à tonaComo futuros encontrosNuma nova oportunidadeE claramente,Numa nova roupagem.Seguir o passo da cançãoÉ tenebroso para mimPois estou dançando sem você.

A dor da saudade.A morte

Deveria ser uma provável despedidaMomentânea entre amores.Teu desamorFoi minha ruina.E sabe sua voz grossaProvocava-me sorrisos bobos e

Arrepios gostosos.As últimas notas da sinfoniaEsta sendo pronunciada pelo ventoO pretérito está engolindo tudo.Meu corpo é agora uma neblina.E estou girando,Girando,Tentando sentir seus braçosDe homem forteNos meus traços masculinos.O universo me permitiuTer um lapso atemporal,E estou sentido seus lábios nos meus,Junto ao final dos acordesDe nossos corações.O sol quis ressurgir. Renasceu.

Humberto Gódoy

prêmioeantologiaimpressa

PARTICIPE

CATÁLOGO