Apresentação comparada

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Universidade Federal de Ouro Preto Instituto de Ciências Humanas e Sociais Departamento de Letras Seminário: O Retrato da Literatura Através da Pintura Disc.: Introdução à Literatura Comparada Prof.: Carla Cristina de Araújo Grupo: Daniele Fernanda Mara Melina

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Universidade Federal de Ouro PretoInstituto de Ciências Humanas e Sociais

Departamento de Letras

Seminário: O Retrato da Literatura Através da Pintura

Disc.: Introdução à Literatura Comparada Prof.: Carla Cristina de Araújo

Grupo: DanieleFernandaMaraMelina

Existe alguns pontos comuns e diferenciados entre a arte de escrever e a arte de pintar.São eles:

1º - A existência do tema

Tanto a obra literária quanto a pintura apresentam um tema nem sempre fácil de ser reconhecido. Por isso, fazem-se necessários a descoberta de antigos valores e o resgate da história, para que cheguemos a ele. Os temas variam de acordo com a inspiração ou o contexto de que o pintor ou escritor se utiliza para o seu trabalho.

RELAÇÃO DA PINTURA E DA LITERATURA

2º - A utilização de uma técnica própria

O pintor utiliza-se de sua sensibilidade, da sua intimidade com as cores e instrumentos; da capacidade de reproduzir visualmente uma realidade, recompondo-a transformada ou não, através de sua própria interpretação e do domínio de conhecimentos da arte de pintar.

Acontece quase o mesmo com o escritor: utiliza-se de sua sensibilidade, de sua intimidade com as palavras, estrutura das frases, implicâncias gramaticais e da sua capacidade de reproduzir, através delas o mundo exterior, real e/ou imaginário, passando-o pelo crivo de sua interpretação, sob o domínio das letras.

As duas expressões artísticas são elaboradas a partir de técnicas apropriadas para o objetivo do autor ou mesmo da obra. Essas técnicas da criação física do sensível, na pintura, torna-se imagística-concreta e, na criação literária, imagística-intelectual.

3º - Os recursos utilizados

O pintor utiliza-se de instrumentos próprios para expressar-se: pincéis, lápis, tintas, telas, materiais diversificados. Também usa seu conhecimento de técnicas consagradas ou as recria em novos caminhos de expressão.

O escritor utiliza-se de palavras, do seu conhecimento de línguas, dos meios de registros da reprodução de suas idéias. Seus instrumentos são ainda a caneta, o lápis, o papel, a máquina de escrever, o computador, a impressora e outros.

Utiliza-se também, como o pintor, de sua cultura, de sua maneira própria de enxergar o mundo, de estudos e pesquisa. Expressa-se através do texto escrito, com imagens que sensibilizem a imaginação do leitor, com descrições que lhe transmitam conhecimentos de alguns assuntos ou com relatos que o coloquem informado sobre os acontecimentos.

4º - Espaço e tempo

As linguagens adotadas, tanto pelo pintor quanto pelo escritor sempre são relacionadas a uma determinada época histórica ou a um determinado espaço.

Desse modo, a sua produção pode expressar-se vinda de espaços interiores pouexteriores, visto que o contexto histórico motivador pode estar instalado dentro e/ou fora do autor da obra.

5º - Estilo históricoVisto que o contexto histórico é inserido na obra através da captação do tempo, o estilo

dos autores da literatura e da pintura apoia-se nos chamados "movimentos de influência". Assim, temos observado a presença de estilos influenciados pela escola artística predominante na época da produção.

Também, a não contemporaneidade de movimentos artístico-literários no tempo e no espaço histórico, gerou estilos diferentes na expressão de pintores e escritores brasileiros e europeus.

Como resultado, temos obras de pintura e literatura ligadas ou não aos "movimentos de influência", nas quais podemos detectar claramente a época e o estilo., assim como as características predominantes nas mesma, mostrando o contexto histórico da sua produção.

6º - Liberdade de expressão

Tanto na pintura quanto nos textos, o artista é livre para estabelecer convenções e regras, apropriar-se ou não das já existentes.

Não se prendendo a elas, a livre-expressão fará com que sua produção seja única, tenha seu estilo, expresse sua forma de ver o mundo e o transforme com seu trabalho.

A interpretação de uma obra artística depende de muitos fatores: cultura, contexto da literatura, contexto histórico (social, moral, psicológico, etc.) Se são comuns visões diferentes sobre um assunto, o mesmo acontece com as produções artístico-literárias.

Para tanto, não pode perder de vista seus recursos: conhecimentos de história e de habilidades técnica para ampliar a experiência pessoal.

A PINTURA E A LITERATURA NO SÉC.XIX

No século dezenove, Paul Gavarni faz uma litografia chamada Um baile na Chaussée d’Antin, 1862. E em seu livro A casa Nucingen, Balzac esclarece: “…Isaura dançava a maravilha. Seus pés eram notáveis por serem tão pequenos, por esse jogo particular que os velhos mestres chamaram fic-flac e comparável com a palestra agradável da senhorita Mars… Os pés de Isaura conservavam com uma clareza, uma precisão, uma leveza e uma rapidez de muito bom augúrio para as coisas do coração…”

Em 1862, Joaquín Domínguez Bécquer pintou a Dança de ciganos, e Alexandre Dumas o viu e relatou assim em seu livro De Paris a Cádiz: “…Vi então renovar-se o fenômeno de exaltação que já me tinha chocado no circo. Gritavam ‘bravos’ como jamais ouvira. Cinquentachapéus rodavam em um espaço tão estreito aos pés da bailarina, e esta, com uma habilidade encantadora, saltava no meio de todos aqueles chapéus sem tocá-la”.

Edgard Degas pintou um quadro genial entre muitos do mesmo tema em 1874, O Ensaio, e o dramaturgo e libretista de ópera, Ludovico Halévy, que deu vida sarcástica à burguesia francesa, em sua obra Madame e Monsier Cardinal de 1883, está relacionada com a pintura do impressionista: “…Paulina vai cumprir os quinze anos, diz a senhora Cardinal. Está na primeira quadrilha e tenho certeza que quando fizer o primeiro exame será chefe de dança. Pois outro dia o diretor lhe acariciou o queixo; e o diretor é um homem que não acaricia o queixo de todo mundo…”

ESSE SLIDE E OS ANTERIORE, 5 A 8 NÃO COMPREENDI MUITO O PQ DE

COLOCÁ-LOS, POIS FALAM DE OBRAS QUE NÃO TRATAREMOS COM MAIS

PROFUNDIDADE, CREIO QUE APENAS OS SLIDES DE INTRODUÇÃO ÀS

SEMELHANÇAS DE PINTURA E LITERATURA SERIAM DE GRANDE VALIA.

Quem não conhece ou viu algum dia A dança em Bougival, 1883, de Auguste Renoir. Certamente o grande escritor Guy de Maupassant o conheceu e admirou; vemos o que diz em Yvette em 1885: “…E como o pianista começou uma valsa, Yvette tomou bruscamente seu colega pela cintura e o levou consigo com esse ardor que ela punha no baile. Dançaram assim tanto tempo e de um modo tão frenético que todo mundo os observava. Os concorrentes, de pé sobre as mesas, levavam uma espécie de compasso com seus pés; outros brindavam com seus copos; e o músico parecia ficar com raiva e batia com os dedos nas teclas de marfim, com loucas atitudes de todo o corpo, balançando, sem cessar, a cabeça coberta por seu imenso chapéu” (11).

ESSE SLIDE TÁ PARECENDO COPIADO. ACHO QUE DEVERIA SER EXCLUÍDO!

ESSE TB NÃO ENTENDI

OPHÉLIA

DADOS SOBRE A OBRA

Personagem de uma peça escrita por Shakespeare, Hamlet, entre 1.599 e 1.608 – não se sabe ao certo o ano;

É a peça mais longa do autor; A história se dá na Dinamarca; Ophélia se entrega à loucura após a morte de seu pai, o que a

leva à morte; Ophélia era o amor de Hamlet, que depois de vê-la enlouquecer,

desacredita nas mulheres e crê que ela é desonesta;

TRECHOS DA OBRA

Numa conversa com Laertes, irmão de Ofélia, a rainha Gertrudes dá a notícia da morte de Ofélia:A Rainha Tanto as desgraças correm, que se enleiam no encalço umas das outras. Vossa irmã afogou-se, Laertes.Laertes Afogou-se? Onde? Como?A Rainha Um salgueiro reflete na ribeira cristalina sua copa acinzentada. Para aí foi Ofélia sobraçando grinaldas esquisitas de rainúnculas, margaridas, urtigas e de flores de púrpura, alongadas, a que os nossos campônios chamam nome bem grosseiro, e as nossas jovens, “dedos de defunto”. Ao tentar pendurar suas coroas nos galhos inclinados, um dos ramos invejosos quebrou, lançando na água chorosa seus troféus de erva e a ela própria.

Seus vestidos se abriram, sustentando-a por algum tempo, quala uma sereia, enquanto ela cantava antigos trechos, semrevelar consciência da desgraça, como criatura ali nascidae feita para aquele elemento. Muito tempo, porém, nãodemorou, sem que os vestidos se tornassem pesados detanta água e que de seus cantares arrancassem a infelizpara a morte lamacenta.Laertes Afogou-se, dissestes?A Rainha Afogou-se.Laertes Querida irmã, já tens água de sobra; não te dareimais lágrimas. [...]

A loucura e a submersão de Ofélia fascinaram o século XIX. A multiplicidade de representações visuais para o episódio de Hamlet, dentre inúmeros motivos, decorre também da compreensão ambígua ao trecho da peça, narrado pela personagem da rainha Gertrudes,não encenado e, portanto, ainda mais sugestivo.

John Willian Waterhouse,1889.

.

Essa versão é mais tensa e a Ofélia não se apresenta de forma delicada.Ela tem força e peso (embora fragilizada pela loucura)

Eugène Delacroix,1853

.

A Ofélia em dimensões maiores, quase toda imersa na água e com uma face assustadora, em aparente hipotermia, Millais foi atento aos pormenores – em especial às flores, conforme descritas na peça, diferentemente de Delacroix. Desde então, Ofélia ganhou incontáveis

variações na pintura, muitas delas cercadas por uma flora colorida e exuberante.

John Everett Millais, 1851-2

Entre a loucura e a razão, entre o suicídio e a morte acidental, Ofélia deu vazão a inúmeras representações visuais, especialmente no século 19. O sucesso da imagem relaciona-se, sem dúvida, à sua polivalência.

Alexandre Cabanel, 1883.

Mostra Ofélia em terra firme, apoiando-se em galhos e ramos, com os quais os cabelos se confundem. Há uma tensão: Ofélia está prestes a cair no riacho.

Richard Westall, 1793

- No século 19 houve uma correspondência entre o sucesso

de Ofélia e o interesse pelas patologias da loucura, associando

epilepsia e histeria, “melancolia erótica” (erotomania) e feminilidade.

Fortaleceu-se a idéia de uma predisposição natural

das mulheres a tais enfermidades.

Repercussões...

- Ofélia não foi vista apenas negativamente; seu “exemplo”

seria uma inspiração às atrizes. Mesmo em 1827, em

Paris, parece ter havido uma moda de penteado com arranjo

de palha, acompanhado de um longo véu negro. Ofélia teria

sido, desse modo, um modelo a ser seguido.

Mas é inegável que ambas

as imagens se alimentam de um gosto mórbido, cada qual expressando seus

sofrimentos: no Milon, certamente a dor física e, talvez, a frustração (pela

derrota) e o arrependimento (pela soberba); em Ofélia, a loucura, o amor não

correspondido e o desengano.

ATALA OU LES AMOURS DE DEUX SAUVAGES DANS LE DESERT

/ATALA OU OS AMORES DE DOIS

SELVAGENS DO DESERTO

DADOS SOBRE A OBRA

Publicada por Chateaubriand no ano de 1.801; Foi considerada um marco na Literatura Romântica Francesa; O romance se dá no deserto da América do Sul; Atala é filha do chefe de uma tribo; A narração é feita por Choctaw - amor de Atala - já idoso, ao

seu filho adotivo; Atala se envenena ao lembrar que sua mãe havia lhe consagrado

a Deus, e que sendo assim não podia amar, nem estar com Choctaw.

TRECHO DA OBRA

“Ao pôr do sol, em uma caverna, um velho ermitão segura o corpo de Atala. O índio Choctaw, tomado pela dor, abraça os

joelhos da menina. Atala, dividida entre seu amor por Choctaw e a promessa feita à mãe de manter-se virgem cristã, de fato cometeu suicídio. Depois de uma noite sem dormir, os dois

homens vão enterrar Atala numa caverna. “

“Atala estava deitada sobre uma leiva de sensitivas das montanhas; pés, cabeça, costas e uma parte do seio jaziam descobertos. Nos cabelos, uma flor fanada de magnólia...

Aquela que eu mesmo depusera, sobre o leito da virgem para fazê-la fecunda. Os lábios qual botão de rosa colhido há duas manhãs, pareciam languescer e sorrir. Nas faces de luminosos luar, distinguiam algumas veias azuis. Os lindos olhos estavam fechados; juntos os pezinhos, as mãos de alabastro apertavam

sobre o coração, um crucifixo de ébano; no pescoço, o escapulário de seus votos. Parecia encantada pelo anjo da

melancolia e pelo duplo sono da inocência e do túmulo. Nada vi de mais celeste.”

“O religioso não cessou de orar a noite inteira. Eu estava ajoelhado em silêncio à cabeceira do leito fúnebre da minha

Atala. Quantas vezes, durante seu sono, eu suportara nos joelhos aquela encantadora cabeça! Quantas vezes sobre ela me

debruçava para ouvir e respirar seu hálito! Ao presente, porém, nenhum sussurro saía daquele seio imóvel, e em vão eu

esperava o despertar da beldade”.

“O sepultamento de Atala” – 1808 - Anne-Louis Girodet Trioson

“Exéquias de Atala” – 1878 – Augusto Duarte

“A morte de Atala” – 1883 – Rodolfo Amôedo

Tanto Ophélia quanto Atala sofreram e morreram por amor, tiraram suas próprias vidas por amor. E por esse motivo são

consideradas obras, pitorescas, da mesma linha de expressão, como é comprovado no seguinte trecho do livro

Ophélia:“a santa em êxtase tinha os olhos fitos no céu”assim afirmou Márcia Teixeira Rosa, em “Arte e Literatura na pintura do século XIX: Algumas

considerações”

CONCORDÂNCIAS ENTRE OPHÉLIA E ATALA

São cristãs; Acabam por terem um fim trágico; Tratam de representações de outras artes; São retradas de forma mórbida e triste; No seu leito de morte têm ao lado o seu amor.

As artes se conjugam umas com as outras, dando forma à beleza que, depois de tudo, sempre está num cantinho de nossas vidas, se abrirmos nossos sentidos.

Georges-Michel Darricades