APRESENTAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · no Brasil, no século XIX, apresentadas nos relatos...

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APRESENTAÇÃO Este material propõe apresentar o resultado da Produção Didático – Pedagógica do Professor PDE 2008. O formato aqui escolhido é o Caderno Pedagógico. Trata-se de um material composto por fragmentos retirados do livro de John Mawe “Viagens ao Interior do Brasil” (primeira publicação em 1812), sendo este o objeto de estudo do Projeto de Intervenção Pedagógica. Trata-se de várias experiências vivenciadas pelo viajante inglês durante suas viagens ao interior do Brasil, no inicio do século XIX, relatadas no livro mencionado. Os textos estão acompanhados de suas respectivas atividades, as quais foram elaboradas com a finalidade de levar o aluno da quinta série do ensino fundamental a aprender a história do Brasil dirigindo sua atenção para as representações construídas pelos sujeitos e para a simplicidade e riqueza informativa dos relatos que aparecem no documento. 1

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APRESENTAÇÃO

Este material propõe apresentar o resultado da Produção Didático – Pedagógica do Professor PDE 2008. O formato aqui escolhido é o Caderno Pedagógico. Trata-se de um material composto por fragmentos retirados do

livro de John Mawe “Viagens ao Interior do Brasil” (primeira publicação em

1812), sendo este o objeto de estudo do Projeto de Intervenção Pedagógica.

Trata-se de várias experiências vivenciadas pelo viajante inglês

durante suas viagens ao interior do Brasil, no inicio do século XIX, relatadas no

livro mencionado. Os textos estão acompanhados de suas respectivas

atividades, as quais foram elaboradas com a finalidade de levar o aluno da quinta série do ensino fundamental a aprender a história do Brasil dirigindo

sua atenção para as representações construídas pelos sujeitos e para a

simplicidade e riqueza informativa dos relatos que aparecem no documento.

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Aos Professores

Para todos nós professores de História, alcançar a valorização da

disciplina, bem como despertar o interesse dos alunos pelas aulas, tem sido

motivo de questionamentos e reflexões. No entanto, temos nos esbarrado nas

dificuldades que a realidade educacional nos apresenta.

O que ocorre, é que tudo parece perfeito em cada nova concepção do

ensino de História, porém, quando a idéia deixa o papel para se efetivar como

proposta na sala de aula, o processo se torna difícil de executar.

Trabalhamos na perspectiva de que os conteúdos das aulas de

História se apresentem aos alunos de forma interessante. Devemos estimular a

pesquisa e o debate, mostrando ao aluno que a História pode ser vista de

várias perspectivas. Enfim proporcionando o desejo de conhecer. Porém,

muitas vezes somos vistos como fiel depositário, na transmissão de conteúdos,

como se essa transmissão não fizesse parte do papel do professor. Sabemos

que existe engajamento por parte dos educadores em busca da melhoria da

qualidade da educação. Pesquisas estão mostrando que o desinteresse e as

dificuldades de aprendizagem são causadas por vários fatores. O que gera

apatia e desinteresse dos alunos pelas aulas.

Realmente, muitas situações apontam nossas aulas como uma

obrigatoriedade, o que nos impossibilita de trabalhar atrelados ao prazer da

pratica educacional, transformando nossa sala de aula em um lugar de

construção do conhecimento, redimensionando os conteúdos, orientados por

nós professores.

O objetivo deste trabalho, então seria que não esqueçamos nossas

dificuldades e sim que a tomemos como ponto de partida para promover uma

prática pedagógica que nos remeta ao ensino de História voltado à pesquisa,

narrativa histórica e produção do conhecimento.

Este trabalho não tem apenas cunho informativo, mas que ao

conhecer a história brasileira através de leituras e pesquisas, o aluno passe a

acreditar que nossa terra tem memória, considerando que às vezes

valorizamos mais a história geral do que a história do Brasil.

Buscar pela memória não é reviver, mas conhecer e repensar as

experiências do passado (e aprender com elas!).

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Assim espera-se contribuir para a melhoria das aulas de História para

os alunos da quinta série do ensino fundamental.

O objeto dessa reflexão então é pensar nas manifestações observadas

no Brasil, no século XIX, apresentadas nos relatos das viagens dos

estrangeiros. É compreender a importância do trabalho dos viajantes, onde

contribuíram na época para o progresso de todos os campos em que estiveram

envolvidos, seja nas ciências, na literatura, na arte, no comércio.

Para entender e delimitar mais precisamente os fatos históricos a

serem pesquisados será feito um recorte a ser estudado. Tendo em mente a

riqueza que caracteriza quanto a explorar e interpretar com plenitude toda a

contribuição que privilegiou as experiências apresentadas na bagagem dos

viajantes estrangeiros que estiveram no Brasil no século mencionado.

É neste cenário que buscamos justificar o objetivo desse trabalho:

fazer uma investigação histórica da rica bagagem cultural de um viajante

europeu que esteve no Brasil do Século XIX, construída a partir das

experiências sociais e culturais que com certeza não foram exploradas

profundamente.

Portanto nesta incursão, elegemos os relatos de John Mawe um

mineralogista inglês que aqui permaneceu entre os anos de 1807 a 1811,

viajando pelo interior do Brasil, incorporando os hábitos e a vida da população

brasileira. Seus escritos são ricos nos detalhes que vão exatamente ao

encontro do objetivo desta pesquisa: explorar e valorizar a historia que não foi

enfatizada nos livros e documentos oficiais. Coletar tais relatos se volta para a

recuperação de documentos históricos dessa época.

Mas porque estudar os relatos dos viajantes estrangeiros?

Os detalhes desse cenário colonial brasileiros foram bem explorados e

registrados pelos viajantes europeus, porém nosso aluno (ou mesmo o

educador) não dispõe de muito material sobre esse trabalho, incluindo aqui

também os livros didáticos.

Ninguém melhor do que o próprio viajante para nos seduzir a tomar

conhecimento do cotidiano do Brasil colônia, por isso foi escolhido os relatos de

John Mawe para esse trabalho.

Com certeza existe um terreno bastante extenso para pesquisar,

refletir, discutir e finalmente produzir o conhecimento, haja vista que esse

3

processo continuaria aberto a novas abordagens e passamos a compreender

as ações e as relações humanas no tempo, a partir da investigação histórica.

Assim espera-se contribuir com a melhoria das aulas de História para

os alunos da quinta série do ensino fundamental.

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SÚMARIO

APRESENTAÇÃO 1

AOS PROFESSORES 2

OBJETIVOS 7

TEXTO 1: O BRASIL COLÔNIA 9

TEXTO 2: OS VIAJANTES 10

2.1 Batendo um papo 10

2.2 Vamos investigar? 11

2.3 Vamos imaginar e fazer uma produção de texto 11

TEXTO 3: UM VIAJANTE INGLÊS 12

3.1 Interpretação do texto 13

TEXTO 4: AS PRIMEIRAS VIAGENS 14

4.1 Trabalho com o texto 14

TEXTO 5: A CARTA 15

5.1 Para responder 15

5.2 Para aprender mais 16

5.3 Lembrete 17

TEXTO 6: A CIDADE DE SÃO PAULO 18

6.1 Vamos produzir? 18

6.2 Atividades de interpretação 19

TEXTO 7: A FAZENDA DO PRÍNCIPE 20

7.1 Atividade de interpretação 22

7.2 Vamos investigar? 22

TEXTO 8: JOHN MAWE CHEGA A UMA MINA DE DIAMANTES 23

8.1 Vamos pesquisar? 24

8.2 Atividade para desenhar 24

TEXTO 9: LIMÃO DE CHEIRO 25

9.1 Atividade de interpretação 26

TEXTO 10: LEITURA COMPLEMENTAR 26

10.1 A Mulheres de Mantilha 27

TEXTO 11: COMO SE VESTIAM AS PESSOAS 31

11.1 Atividade de interpretação 32

TEXTO 12: OS INDIOS DE CANTAGALO 33

5

12.1 Atividade de interpretação 34

12.2 Vamos pesquisar? 35

TEXTO 13: LEITURA COMPLEMENTAR 35

13.1 A LENDA DO ARCO E FLECHA 35

TEXTO 14: A CANA DE AÇUCAR 39

14.1 Atividade de interpretação 40

TEXTO 15: VARIEDADES 42

15.1 SOBRE A VIDA RELIGIOSA DOS ESCRAVOS NEGROS 42

15.2 FABRICAÇÃO DA CERVEJA 42

15.3 UM INVENTO INTERESSANTE 43

15.4 SOBRE A EDUCAÇÃO DA MULHER NO BRASIL 43

15.5 O COMÉRCIO DOS INGLESES NO BRASIL 44

15.6 OS DIAMANTES BRASILEIROS ENVIADOS PARA A EUROPA 44

15.7 ESPERANÇA NO BRASIL 44

15.8 O PARANÁ 45

15.9 ALIMENTAÇÃO EM SÃO PAULO 45

15.10 VOLTA AO RIO DE JANEIRO 45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 47

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OBJETIVOS

Segundo as Diretrizes Curriculares para o Ensino de História do Estado

do Paraná, podemos ler nesse documento:

Narrar a História é compreender o outro no tempo. A

narrativa histórica constrói-se por argumentos

fundamentados em documentos. Para os alunos esta

narrativa precisa ser plausível. Para isso ele precisa

propor um dialogo entre as suas idéias históricas com os

presentes nas narrativas dos historiadores, sendo assim

percebe-se que a natureza da Historia é interpretativa.

Diante disto, os alunos devem conhecer a interpretação

dos outros pela narrativa histórica desses sujeitos. As

narrativas dos estudantes são constituídas pelas

temporalidades e intencionalidade especifica deles, a

partir do dialogo com as narrativas dos historiadores.

(DCEs, 2008, p.22)

GERAL

A atuação dos viajantes estrangeiros que vieram para o Brasil no

século XIX, é pouco citada pela historiografia, principalmente nos livros

didáticos. Diante disso, o aluno passará a conhecer essa participação dentro

da sociedade brasileira do século XIX, mediante a importância da sua

participação num período de grandes mudanças, com a chegada da família real

portuguesa no Brasil.

Neste trabalho será feita uma análise e uma interpretação das

linguagens produzidas em seus relatos, relacionando com o cotidiano da

população do Brasil desta época. De acordo com o material apresentado

(relatos de John Mawe), procurar-se-á descobrir a riqueza que compunha os

cenários vivenciados pelo viajante inglês em suas passagens pelo interior do

Brasil. Diante da investigação histórica, viabilizar-se-á uma interpretação dessa

leitura, procurando despertar o interesse pela História, restaurando e

valorizando o Brasil no seu contexto histórico.

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ESPECÍFICOS

- Pesquisar acontecimentos que estimulem a compreensão da História

através da leitura.

- Despertar o prazer pela leitura de textos inéditos como fonte de

conhecimentos e informações.

- Ter o contato com material inovador, comparado ao livro didático,

buscando o enriquecimento do conteúdo.

- Descobrir através dos relatos pesquisados situações extraordinárias

da História do Brasil.

- Conhecer a coleta e o registro de dados partindo dos relatos dos

próprios viajantes.

- Compreender o espaço brasileiro na sua construção enquanto

colônia, á partir dos relatos estudados.

- Interessar-se pela investigação histórica, a fim de produzir seus

conhecimentos.

- Sistematizar seus conhecimentos baseado na experiência real e

concreta do testemunho do próprio sujeito histórico.

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TEXTO 1: O BRASIL COLÔNIA

Você já sabe que foram os portugueses que chegaram ao nosso

território em abril de 1500 e por isso tomaram posse de nossas terras.

Portanto, isso aconteceu já faz muito tempo!

Durante todo esse tempo muitas coisas aconteceram e para sabermos

sobre tudo isso precisamos ler e pesquisar sobre a história do Brasil. Por mais

de trezentos anos os portugueses dominaram o Brasil no tempo em que ficou

conhecido como “período colonial”.

Nós iremos pesquisar, através de leituras, sobre os acontecimentos do

século XIX, ou seja, a História do Brasil após o ano de 1800 e às vésperas da

Independência acontecida em 07 de setembro de 1822.

Portanto, quem mandava no Brasil nessa época era Portugal. Foi

quando em 1808, com a invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão

Bonaparte, a família real portuguesa veio morar na sua colônia americana, ou

seja, aqui nas terras brasileiras.

Com a chegada de D. João, Príncipe Regente de Portugal, e sua

família no Rio de Janeiro, muita coisa mudou por aqui. Durante o tempo em

que D. João viveu no Brasil, ele tomou muitas medidas que transformaram a

vida dos brasileiros. E uma delas foi permitir que outros europeus, além dos

próprios portugueses, pudessem conhecer e explorar o Brasil.

Para os europeus do século XIX, sair de seu país de origem e arriscar-

se numa viagem á América significava mergulhar numa aventura que quase

sempre significava a ambição de alcançar uma riqueza rápida.

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TEXTO 2: OS VIAJANTES

Os viajantes que visitaram o Brasil no século XIX tinham diversos

interesses, e todos eles registraram suas passagens por aqui.

Uns desenhavam o que viam, outros colecionavam coisas, escreviam

diários, crônicas, colecionavam catálogos. E teve até quem escreveu livros

contando tudo o que observava durante suas viagens pelo Brasil.

Esses relatos, centenas deles, foram publicados em varias línguas e

muitas vezes em mais de uma edição, causando grande interesse na

população européia, que via ali um meio de saber mais sobre o Novo Mundo.

Todos os escritos que deram origem ao composto de obras desses

estrangeiros passaram a ser chamados de “literatura de viagem”. Ao abordar

as situações vividas em suas viagens, transformando-as em literatura,

trouxeram ao nosso tempo conhecimentos importantes sobre a história do

Brasil. Assim abriu-se uma alternativa de obter informações fundamentais

desse tempo e espaço.

BATENDO UM PAPO- Você gosta de viajar?

- Qual o lugar que mais gostaria de conhecer?

- Qual a viagem mais interessante que você já fez?

- Você costuma trazer coisas das viagens que faz?

- Em sua opinião, podemos aprender viajando?

- Você algum dia fez anotações sobre alguma viagem que fez?

10

VAMOS INVESTIGAR?

1- Pesquise sobre alguns viajantes europeus que estiveram no Brasil

no século XIX e anote seus nomes. Escreva de que forma cada um deles

fazia seus registros, enquanto viajava pelo Brasil. Para isso você pode

observar fotos e ler relatos.

Sugestão para pesquisa na internet:

www.fundaj.gov.br - procure por pesquisa escolar

1- VAMOS IMAGINAR E FAZER UMA PRODUÇÃO DE TEXTO:Volte no tempo e encontre um dos viajantes que pesquisou. Você irá

entrevistá-lo. Para isso formule algumas perguntas que gostaria de saber a

respeito da viagem que ele fez. Lembre-se que neste faz-de-conta,

você mesmo irá responder e para isso terá que retomar as leituras sobre o

viajante que escolheu na atividade anterior, para aproximar as suas respostas

da realidade. Mas vale imaginar para enriquecer seu trabalho. Uma segunda

idéia é trocar sua entrevista com algum colega para que ele responda suas

perguntas e você fará o mesmo com o trabalho dele.

11

TEXTO 3: UM VIAJANTE INGLÊS

Como você já sabe, no século XIX, ou seja, á partir do ano de 1800, o

Brasil passou a receber muito europeus que passaram a ser chamados de

“viajantes”. Através de sua pesquisa pessoal, já conheceu alguns deles na

atividade anterior.

Como são muitos, nós iremos escolher um deles para conhecer melhor

e falar do seu trabalho.

Ele irá se apresentar á você:

Olá! Meu nome é John Mawe. Sou inglês e

viajei pelo

Brasil conhecendo sua terra, sua gente,

seus costumes...

Isso faz muito tempo! Mas eu gostei tanto

que até escrevi um livro relatando tudo que

presenciei. Ainda bem que tive essa idéia,

caso contrário você não poderia saber de

tudo que vou te contar!

Isso mesmo, John Mawe, como muitos, foi um viajante estrangeiro que

esteve no Brasil entre os anos de 1807 e 1811. Ele veio da Inglaterra com a

intenção de conhecer nossa terra e certamente em busca de riquezas.

Ele era um mineralogista, ou seja, gostava de pesquisar e estudar os

minerais. Inclusive aqui no Brasil, onde conheceu as jazidas de diamantes de

Minas gerais.

Mawe foi considerado o primeiro viajante repórter que esteve por aqui.

Enquanto viajava ele anotava tudo e seus escritos deram origem a um livro

chamado “Viagens ao Interior do Brasil”, que foi publicado em 1812.

Através da obra de John Mawe podemos conhecer muito da História

do Brasil.

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INTERPRETAÇÃO DO TEXTO

1- Explique com suas palavras o que você entende por “viajante

estrangeiro”?

2- Com poucas palavras quem foi John Mawe?

3- Qual a profissão de Mawe?

4- Porque Mawe foi chamado de viajante repórter?

5- Qual a importância do livro de John Mawe?

6- Você sabe a nacionalidade de Mawe. No mapa abaixo ( mapa-

mundi) pinte de azul o continente onde Mawe nasceu e de vermelho o

nosso país.

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TEXTO 4: AS PRIMEIRAS VIAGENS

Enquanto vivia na Inglaterra, nosso viajante John Mawe, já gostava

muito de conhecer o mundo. Ele nasceu numa cidade chamada Derbyshire no

ano de 1764 e passou quinze anos realizando viagens marítimas.

Como era mineralogista, vivia percorrendo as minas de seu país para

estudar e colecionar minerais.

Em 1804 partiu para a América e ficou algum tempo nos países do sul

do nosso continente.

Em 1807, chegou ao Brasil, passando alguns dias em Santa Catarina,

passando pelo Paraná e São Paulo.

Chegou ao Rio de Janeiro e encontrou-se com D. João, o príncipe

português que estava residindo no Brasil.

Ele conseguiu uma permissão para visitar as minas de diamantes de

Minas gerais.

O estudo que fez sobre os minérios rendeu a publicação de muitos

trabalhos sobre o assunto em vários idiomas.

Em 1811, ele voltou para Londres, capital da Inglaterra e abriu uma

loja com suas coleções de pedras preciosas e outros minérios que conseguiu

recolher ao longo de suas viagens.

John Mawe morreu em 1829.

TRABALHO COM O TEXTO

Construa uma linha do tempo com todos os acontecimentos da vida de

Mawe a partir do ano de seu nascimento.

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TEXTO 5: A CARTA

Para leitura e interpretação da carta que John Mawe escreveu ao

Príncipe D. João, o professor deverá trabalhar bem o vocabulário. Para isso,

uma sugestão é dividir a turma em pequenos grupos e distribuir trechos da

carta para que cada grupo trabalhe com o dicionário. Após, cada grupo deverá

apresentar sua interpretação ao grande grupo. Cabe ao professor, fazer a

ligação entre as falas para a carta não perder o sentido.

Vejamos aqui a carta que John Mawe escreveu a D. João com a

intenção de obter permissão para publicar seus relatos, publicada em seu livro:

A

Sua Alteza Realização

O Príncipe Regente de Portugal

Príncipe do Brasil

SENHOR,

Com a sanção de Vossa Alteza Real, realizei viagens pelos domínios

do Brasil, é delas é a narrativa que se segue: obedecendo á ordem que Vossa

Alteza se dignou dar-me, quando parti do Rio de Janeiro, submeto-a a gora, ao

Público.

Com imparcialidade, e livre de qualquer preconceito, tentei fazer um

relato claro e fiel do que vi. Ao descrever as condições atuais da mineração e

da agricultura nos seus domínios, tomei a liberdade de sugerir alguns

melhoramentos, que, na minha modesta opinião, contribuiria para aumentar a

rendo de Vossa Alteza real e multiplicar os recursos do país. Estes foram os

pontos principais em que baseei minha esperança de que o trabalho, apesar de

suas imperfeições, fosse julgado digno de ser patrocinado por um Príncipe,

cuja felicidade consiste em assegurar a de seus súditos.

15

Aproveito a ocasião para manifestar meu profundo pesar pelo

falecimento do excelente membro do gabinete de Vossa Alteza real, o Conde

de Linhares, cuja bondade e gentileza de espírito encorajaram.

Com zelo que só verdadeiro patriotismo sabe inspirar, todo o

empreendimento destinado a beneficiar o público. Presumo que, se ainda

vivesse, receberia essas páginas com aquela bondade e camaradagem parcial

que sempre caracterizaram sua conduta para comigo. Privado do amparo

desse nobre cavalheiro,

Apresento-me desprotegido, perante Vossa Alteza Real, a cuja

proteção submeto este trabalho, como testemunho de alto respeito com que

tenho a honra de ser, de Vossa Alteza Real.

O servo grato e mais humilde.

JOHN MAWE

Para responder:1- Quem escreveu a carta acima?

2- A quem ela está endereçada?

3- Qual o objetivo de quem escreveu a carta?

4- Com a sanção de Vossa Alteza Real, realizei viagens pelos

domínios do Brasil, é delas é a narrativa que se segue. Interprete esse trecho

da carta.

PARA APRENDER MAIS...

Existem alguns valores de medidas que parecem nos textos e que não

mais costumamos usar atualmente. Para entendê-los, leia as explicações

abaixo:

Milhas: A primeira vez que o termo "milha" foi usado para denotar

distância foi na Roma antiga, onde valia 1 000 passos ou 5 000 pés romanos.

Em unidades modernas, essa medida equivaleria a 1 480 metros.

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Jardas: é um múltiplo da milha, ou seja, uma milha equivale a 1760

jardas.

Polegadas: A polegada tem sua origem na medida realizada com o

próprio polegar humano, não todo ele, mas a distância entre a dobra do polegar

e a ponta. Uma medida rápida do polegar de um ser humano adulto fornece

aproximadamente 2,5 cm de comprimento para esta distância.

Libra: uma libra = 453,59237 gramas

Quilates: Quando é usado para pedras preciosas, como o diamante,

um quilate representa um peso igual a duzentos miligramas. Aplicado ao

ouro, entretanto, o quilate é uma medida de pureza do metal, e não de peso.

Um quilate de ouro é o total de seu peso dividido por 24.

LEMBRETE:

A partir do texto 6 passaremos a ler e trabalhar trechos do livro “

VIAGENS AO INTERIOR DO BRASIL” DE JOHN MAWE

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TEXTO 6: A CIDADE DE SÃO PAULO

[...] Raramente estrangeiros visitam a cidade. As passagens que lhe

dão acesso, partindo-se da costa, estão situadas em posições tão estratégicas

que se torna quase impossível evitar os guardas nela estacionados,

encarregados de vigiar todos os viajantes e as mercadorias, que se dirigem

para o interior. Soldado de categoria mais baixa tem direito de inspecionar

todos os estrangeiros que se apresentam de detê-los, assim como os seus

bens se não possuírem passaportes. Eu e meus amigos, no percurso até aqui,

fomos obrigados a apresentar três vezes a licença, concedida pelo governador

de Santos, como já me referi. A nossa presença em São Paulo excitou de

maneira indescritível a curiosidade do povo, que parecia nunca ter visto

ingleses, até então; as próprias crianças demonstravam seu espanto, algumas

fugindo, outras contando os nossos dedos, constatando admiradas, termos o

mesmo número que elas. Muito bom cidadão convidou-nos a ir as suas casas e

mandaram chamar os amigos para que nos viessem ver.

Como a casa que ocupáramos era muito grande, vimo-nos

frequentemente cercados por uma multidão de jovens de ambos os sexos, que

vinham até a porta para ver como comíamos e bebíamos. Sentimos-nos gratos

ao verificar que esta admiração geral converteu-se num sentimento mais

sociável; encontramos bom acolhimento em toda parte e fomos convidados

várias vezes, para jantar com os habitantes. Nas festas publicas e nos bailes

do governador encontramos novidade e prazer; novidade porque fomos muito

melhor recebidos do que nas colônias espanholas, e prazer, por estamos num

meio mais requintado e cortês [...].

VAMOS PRODUZIR?

Após a leitura do texto, imagine que John Mawe escreveu uma carta

para seus parentes que ficaram na Inglaterra contando como foi sua chegada

em São Paulo. O que você acha que ele escreveu nesta carta?

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ATIVIDADES

1-Assinale a resposta correta:

Segundo o texto 6, os viajantes estrangeiros sentiam dificuldades em

visitar:

( ) O Brasil ( ) a cidade de Santos ( ) a cidade de São Paulo

O que acontecia quando um estrangeiro chegava:

( ) Todos iam presos ( ) Eles perdiam suas mercadorias ( ) Era

exigido um passaporte

2- Que você entende por “passaporte”? Qual a diferença entre o

passaporte mencionado no texto e os atuais?

3- Mawe era visto pela população com:

( ) raiva ( ) desprezo ( ) curiosidade

4- Transcreva uma cena contada no texto que comprove a sua

resposta para a questão anterior.

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TEXTO 7: A FAZENDA DO PRÍNCIPE

Ao chegar ao Rio de Janeiro, então capital do Brasil, John Mawe ali

permaneceu por algumas semanas e depois ele foi convidado a conhecer a

fazenda de D. João. Leia o relato sobre essa viagem:

[...] Depois de cavalgarmos cinqüenta milhas, chegamos à fazenda,

cerca de seis horas mais tarde, muito fatigados. As acomodações que

encontramos justificam plenamente o interesse do ministro de Sua Alteza Real,

inquirindo sobre o estado de seus domínios. Tendo apresentado minhas

credenciais, fui forçado a esperar até as dez horas, sem que oferecessem um

refrigério, nem mesmo uma xícara de café: o único prato que nos serviram foi

um prato de carne semicrua, certamente a pior que provei no Brasil. O mulato

que nos atendeu se comprometeu a aprontar o almoço para as sete horas da

manhã; ficamos prontos à hora estipulada e, embora assegurasse que nos

serviria imediatamente, esperamos três horas e, quando já pediram os cavalos

para voltar ao Rio, a fim de evitar que morrêssemos de fome, anunciaram a

refeição, com a desculpa que não a tiraram mais cedo por falta de leite.

Passei então revista ao estabelecimento e percorri as terras. A casa,

segundo me informaram,fora convento de jesuítas, donos também de terras

que a circundavam, das quais cuidaram melhor que seus sucessores, se

pudéssemos julgar pelos remanescentes de seus empreendimentos. O edifício

não é grande nem imponente; construído em forma quadrangular, com um

pátio aberto no centro e galerias no interior, para o primeiro e segundo

andares. Os alojamentos são em numero de trinta e seis, muito pequenos,

tendo sido adaptados para o uso da comunidade e, desde que os jesuítas

partiram, foram ligeiramente alterados e decorados para receber a família real,

como residência de verão. Em frente à casa, em direção ao sul, estende-se

uma das mais belas planícies do mundo, de duas léguas quadradas, regadas

por dois rios navegáveis por pequenas embarcações, e limitadas por um belo e

altivo cenário rochoso, embelezado em vários pontos por arvores nobres da

floresta. Esta planície está coberta pelo mais rico pasto, que sustenta de sete a

oito mil cabeças de gado. A parte baixa que é considerável apresenta-se

entrecortada de pântanos, que podem ser drenados facilmente e tornarem-se

cultiváveis. O parque abrange em toda a sua extensão, área superior a cem

20

milhas quadradas, território quase tão grande quanto o de alguns recentes

principados italianos, e capazes em virtude de sua fácil comunicação com a

capital, tanto por via terrestre quanto fluvial, de transformar-se numa das mais

produtoras e populosas do Brasil. Com o atual sistema, encontra-se em estado

progressivo de decomposição; dois pequenos trechos, os melhores da terra,

um com cerca de meia légua quadrada e outro com mais de uma, já foram

vendidos por meio de falsos expedientes. E o restante pode, em pouco tempo,

ser sacrificado a homens cujo cupidez incita-os a depreciar o seu valor, a

menos que se empreguem as medidas adequadas a frustrar os seus maus

intuitos. [...] Uma reforma no estabelecimento poderia ter sido realizada

facilmente, mas agora será muito difícil, pois os abusos foram tacitamente

sanciona dos pela indiferença daqueles cujo dever e interesse era corrigi-los.

Nesta estação de magníficos terrenos vê-se raramente um cercado; as terras

cultivadas estão cheias de mato, e às plantações de café assemelham – se a

um matagal, onde os arbustos silvestres cobrem as lavouras. O gado este

deploravelmente abandonado, e não se encontra, em arredores, sequer um

cavalo digno de ser montado pelo mais miserável mendigo. Tal era o estado

em que encontrei este rico e vasto distrito, que parece ter sido destinado pela

natureza à introdução de melhoramento que poderiam determinar, pela

influencia de um exemplo elevado, modificação completa no sistema agrícola

do Brasil.

Pouco tempo depois de me instalar em Santa Cruz, o Príncipe

apareceu. No dia imediato, à sua chegada, honrou – me com uma visita, depois

da qual sai varias vezes com Sua Alteza Real. Um dia, deu – me a honra de

manifestar o desejo de que me encarregasse da administração da fazenda;

pedi licença para declinar desta proposta, alegando a impossibilidade de

conciliar tal emprego com meus outros interesses, lembrando ao mesmo tempo

o serviço superior que podia prestar trabalhando na mina de ferro. Não

obstante isto, o Príncipe, no dia seguinte, entregou – me um papel, contendo

uma proposta para superintender toda fazenda e estabelecendo as condições.

A insistência na oferta não me embaraçou pouco; tinha consciência de que,

recusando – a, me privaria de qualquer favor futuro; ainda assim, compreendi a

dificuldade de aceita – lá de qualquer uma da formas [...].

21

ATIVIDADES

1- O que as pessoas que moravam na fazenda ofereceram a Mawe

e seu companheiro para comer?

2- O que você achou mais estranho nesta parte do relato?

3- Em poucas palavras, descreva a casa da fazenda.

4- O que Mawe admirou e achou muito bonito por lá?

5- Qual a idéia que nosso viajante teve para melhorar uma parte das

terras e poder usá-la para a agricultura?

6- Descubra no texto o nome do lugar onde se localizava a

fazenda? Era muito longe do Rio de Janeiro?

7- Ao sair para visitar a fazenda de D. João, com certeza Mawe deve

ter levado uma mochila. O que acha que não deve ter faltado na bagagem

dele?

VAMOS INVESTIGAR?

Faça uma pesquisa para saber quais as atividades econômicas

praticadas nas fazendas do Brasil na primeira metade do século XIX.

22

TEXTO 8: JOHN MAWE CHEGA A UMA MINA DE DIAMANTES

[...] Acima do montão de cascalho, são colocados, a distâncias iguais,

assentos elevados para os oficiais inspetores. Quando estes estão sentados,

os negros entram nos compartimentos: cada um traz uma enxada de forma

especial e cabo curto, com a qual faz cair no compartimento cinqüenta a oitenta

libras de cascalho, introduzindo nele, depois, a água. Agita, então, e remexe

constantemente o cascalho, lançando-o sem cessar para o alto do

compartimento. Esta operação dura cerca de um quarto de hora, depois do que

a água, caída no conduto inferior, começa a clarear. Tiradas todas as partículas

de terra, o saibro é levado para a extremidade superior do compartimento; e

quando a água está inteiramente clara, põe fora a principio os maiores pedaços

de pedra, depois os menores, e examinam o resto com muita atenção para

descobrir os diamantes. O negro que encontra um, endireita-se, bate com as

mãos, abre-as, conservando a pedra entre o index e o polegar e o inspetor a

recebe e a deposita em uma gamela ou tigela semi-cheia de água e suspensa

no meio do barracão. Colocam-se naquele vaso todos os diamantes

encontrados no correr do dia. À noite levam a gamela e entregam-na ao oficial

principal, que depois de pesar as pedras, as inscreve, em detalhe, num registro

destinado a esse fim.

Quando um negro tem a felicidade de encontrar um diamante que

pese uma oitava (17 quilates e meio), cingem-lhe a cabeça com uma grinalda

de flores e levam-no em procissão ao administrador, que lhe dá a liberdade e

uma indenização ao seu senhor. Ganha também roupas novas e obtém

permissão para trabalhar por conta própria; o que encontra uma pedra de oito a

dez quilates, recebe duas camisas novas, um terno novo completo, um chapéu

e uma bela faca. Concedem prêmios proporcionais aos descobridores de

pequenos diamantes de pouco valor [...].

23

VAMOS PESQUISAR

Leia os textos abaixo:

Um diamante descoberto no Brasil, que recentemente adquiriu

notoriedade, é o denominado Moussaieff Vermelho, um dos 4 únicos desta cor

sem qualquer tom modificador, cuja existência é pública. Até 1997, ele possuía

mais que o dobro do peso de qualquer outro diamante vermelho lapidado.

A África responde por três quartos da produção mundial de diamantes

e é um campo de batalha para ativistas que procuram acabar com o mau uso

da receita obtida com os diamantes

Faça uma pesquisa respondendo as perguntas abaixo e depois

complete os textos acima, complementando com o que você aprendeu.

Para que servem os diamantes?

Como são os diamantes brasileiros?

ATIVIDADE PARA DESENHAR

Vamos transformar o texto em uma história em quadrinhos. O primeiro

passo é ler cada trecho, separando as cenas que irão ilustrar cada quadro.

Depois comece a desenhar e não se preocupe se você é ou não um bom

desenhista, porque o mais importante é que as cenas sejam bem

representadas. Você poderá usar balões para as falas.

24

TEXTO 9: LIMÃO DE CHEIRO

[...] Devo observar aqui que, quer em São Paulo, quer nos outros

lugares por mim visitados, não presenciei nenhuma leviandade nas mulheres

do Brasil, apresentadas por alguns escritores como sendo o traço

predominante do seu caráter.Atribuo o costume, que se diz reinar entre elas, de

atirar flores das sacadas sobre os transeuntes, de acordo com o seu capricho,

ou presentear com uma flor ou ramalhete os seus favoritos, como prova de

deferência. A circunstancia parece ter dado origem a tal conjetura, tal mal

fundada, é a seguinte: aqui se consideram flores parte integrante dos adornos

femininos, para o cabelo, e quando se apresenta um estrangeiro a uma

senhora, não passa de ato comum de cortesia desprender uma flor do cabelo e

oferece-la. A este elegante cumprimento, deve-se retribuir, durante a visita,

escolhendo uma flor entre a profusa variedade que adorna o jardim, ou a

sacada, e oferecê-la.

Costume singular, não devo omitir, é o de atirar frutas artificiais, tais

como limões e laranjas, feitas de cera, com grande habilidade e cheias de água

de cheiro. Nos primeiros dias da quaresma, comemorados com grandes

festividades, pessoas de ambos os sexos divertem-se jogando, uma sobre as

outras, essas bolas; senhoras, em geral, começam o brinquedo, os cavalheiros

revidam com tanta animação, que raramente param antes de trocarem dúzias,

e ambas as partes ficam tão molhadas como se estivessem sido pescadas de

um rio. Nestes dias de carnaval, os habitantes percorrem as ruas mascarados,

e a brincadeira de atirar frutas é praticada por pessoas de todas as idades.

Considera-se de grande impropriedade um cavalheiro atira-las sobre outro. A

fabricação destes projeteis, estes períodos, proporciona trabalho considerável

a determinadas classes; informaram-me de que na capital do Brasil muitas

centenas de pessoas ganham a vida, temporariamente, vendendo-as. O

costume (posso garantir) é muito desagradável aos estrangeiros, e não raro

provoca brigas, de conseqüências graves [...].

25

ATIVIDADES

1- Observe esta foto:

Escreva uma frase que esta ilustração traga a sua mente, pensando

nos viajantes estrangeiros.

2- Construa três frases verdadeiras sobre o conteúdo do texto.

3- Interprete o significado da frase:

“Considera-se de grande impropriedade um cavalheiro atira-las

sobre outro”

4- Reescreva o texto substituindo as palavras grifadas por um outro

significado:

“Atribuo o costume, que se diz reinar entre elas, de atirar flores das

sacadas sobre os transeuntes, de acordo com o seu capricho, ou presentear

com uma flor ou ramalhete os seus favoritos, como prova de deferência”.

5- O costume de atirar frutos de cera sobre as pessoas era bastante

comum naquela época. Qual a importância dessa festa sobre a economia do

Rio de Janeiro?

TEXTO 10: LEITURA COMPLEMENTARO texto abaixo fala um pouco mais sobre os “limões de cheiro”.

Chamavam de “limões de cheiro”, mas na verdade usava mais frutas como

formato. Eram fabricadas nas casas com cera e recheadas com água

perfumada para serem usadas principalmente na segunda-feira do carnaval.

Até os escravos se dedicavam a esta tarefa. Leia este trecho do livro de

Joaquim Manuel de Macedo que fala sobre este costume.

26

AS MULHERES DE MANTILHA (CAPÍTULO XVIII)

Os dois lírios penderam suavemente para as caixas de laranjinhas que

acabavam de abrir.

Brilhavam nos olhos a flama, e nos lábios o sorriso da alegria de Irene

e Inês.

Eram limões-de-cheiro brancos, verdes, rubros, amarelos, de todas as

cores e nuanças possíveis...

— Tão bonitos, diz Irene; que faremos deles?...

Inês fez um momo e respondeu:

— Tu me molharás e eu te molharei... eis aí tudo.

A nobre mãe das duas meninas tinha parado junto delas e as

contemplava e ouvia risonha.

Irene tornou:

— Se pudéssemos molhar mais alguém...

— Nhanhã, disse Inês, meu padrinho me deu licença para molhar a

todos. E se não fosse meu pai, eu era capaz...

— De quê?...

— De molhar, de quebrar limões em meu padrinho que deu licença

para isso...

A senhora Inês não se pôde vencer, riu-se da idéia da filha e de modo

que as meninas se voltaram para ela.

— Mamãe ouviu?

— Ouvi, sim.

— E que diz?

— Vão molhar o compadre: cada uma leve dois limões, cheguem-se a

ele sem mostrar os limões, e não tenham medo.

— E meu pai?... perguntou Irene, enquanto Inês se armava, não com

dois, mas com quatro limões em suas mãos pequeninas.

As duas meninas animadas pela mãe, palpitantes de emoção,

dirigiram-se à sala, escondendo, como puderam, os limões-de-cheiro que

levavam, e se aproximaram de Antônio.

Era exatamente no momento em que, armadas as pedras, os dois

amigos lançavam os dados.

27

— Vou dar-te um gamão cantado! exclamara o padrinho de Inês.

Mas de súbito soltou um grito: as meninas tinham-lhe quebrado os

limões-de-cheiro no peito.

Em vez de ralhar Jerônimo desatou a rir.

— Ah, brejeirinhas! exclamou Antônio, levantando-se e largando o

tabuleiro do gamão nos joelhos do parceiro.

E correndo a um moringue d’água, que vira sobre a mesa, tomou-o,

mas em vez de vingar-se das meninas, foi despejá-lo na cabeça de Jerônimo

que ainda se ria.

Jerônimo deixou cair o tabuleiro do gamão, e levantando-se para o

interior da casa, voltou com um prato d’água que atirou sobre Antônio.

As meninas tornaram com outros limões e também a senhora Inês que

os quebrou no marido e no compadre; vendedores de limões-de-cheiro da casa

onde os portadores de Irene e Inês os tinham ido comprar, prevendo o

costumado fervor que sucedia sempre ao começo do jogo, apareceram no

terreiro, trazendo tabuleiros disfarçados em caixas fechadas; Antônio e

Jerônimo compraram todos estes, e a luta se tornou mais vigorosa e animada

com a abundância e igualdade das armas, embora houvesse desproporção

entre os combatentes; porque toda a família Lírio acabava de fazer colisão

contra Antônio.

De repente e ao grande ruído que se fazia, apareceu correndo agitada

e temerosa a mulher de mantilha, já porém sem mantilha, e deixando ver em si

uma bela moça vestida com simplicidade.

A chegada imprevista da jovem fez hesitar por instantes os com

batentes; as duas meninas ficaram surpreendidas; Jerônimo contrariado; mas a

senhora Inês pronunciava-lhe breves palavras ao ouvido, quando também

Antônio exclamava à bela moça:

— São quatro contra um! Venha em meu socorro, menina!...

A moça confusa e trêmula não ousava avançar um passo; Jerônimo

porém que ouvira o bom conselho, provocou-a, arrojando-lhe limões, no que foi

imitado pela mulher e pelas filhas; então ela, risonha e com vivacidade pronta,

voou para o lado de Antônio, e tomou parte na ação, excedendo a todos na

viveza do ataque e na certeza das pontarias.

28

No fim de uma hora de amigas provocações, risadas, gritos e alegria,

que novos tabuleiros de limões, acudindo à mina explorada, alimentaram, o

combate cessou por falta de munições e pela fadiga dos combatentes que

todos se acharam molhados da cabeça aos pés, assim como estava sala toda

inundada.

Jerônimo atirou-se em uma cadeira, dizendo:

— Eis aí o que fizeram aquelas duas doidinhas impelidas por um velho

criança!

— Cala-te aí, rabugento! Comadre, mande-nos vir aguardente e Parati,

disse Antônio.

— E basta de entrudo, ouviram? tornou o outro, falando a Irene e Inês;

vão mudar de roupa. Quanto à senhora... à senhora... esqueceu-me o seu

nome...

A moça respondeu, abaixando os olhos:

— Isidora.

— Peço-lhe perdão, menina Isidora; pois fui o primeiro a desafiá-la a

este jogo maldito; ande, vá mudar de vestidos e tranqüilize-se que ninguém

mais se lembrará de entrudo nesta casa.

A senhora Inês e suas filhas entraram para o interior da casa, e Isidora

recolheu-se ao gabinete que lhe haviam destinado.

Cada um dos dois velhos bebeu um cálice aguardente e foram ambos

tomar outras roupas, ao mesmo tempo que alguns escravos varriam e

enxugavam a sala.

Meia hora depois aqueles bons amigos achavam-se de novo em frente

um do outro, rindo-se das inocentes proezas que acabavam de fazer tão contra

os seus hábitos e disposições, e como um pouco envergonhados ambos, não

disseram palavra sobre o entrudo.

— Jerônimo, disse Antônio: estou com vontade de ensaiar uma

experiência...

— Qual?

— Quisera ver, se ainda haveria hoje pessoa ou fato que nos

impedisse de jogar o gamão...

— Pois experimentemos.

29

E, tomando o tabuleiro, sentaram-se e armaram as pedras; mas

imediatamente a senhora Inês entrou na sala, e disse:

— Compadre, o nosso feijão está na mesa.

E foi à porta do gabinete chamar Isidora.

— Antônio, observou Jerônimo, sopa fria não presta.

— Hás de ver que nem à tarde conseguiremos jogar o gamão,

respondeu Antônio, deixando o tabuleiro sobre as duas cadeiras.

30

TEXTO 11: COMO SE VESTIAM AS PESSOAS[...] Os vestidos de sair das senhoras, principalmente nas igrejas, eram

de seda preta, com um longo xale da mesma fazenda, e guarnecida com renda

larga; na estação mais fria, vestiam casimira preta ou lã. Usavam quase

sempre o mesmo xale nas ruas, embora seja parcialmente substituída por um

casaco comprido, de lã grossa, enfeitado com veludo, renda dourada, fustão ou

pelúcia, conforme os recursos do possuidor. Este abrigo é usado como uma

espécie de casaco em casa, nos passeios a noite, em viagens, e as senhoras

sempre que o vestem, usam chapéus redondos. O ser paulista é considerado

aqui, por todas as senhoras, grande honra; pois os paulistas são decantados

em todo Brasil pelos seus atrativos e dignidade de caráter. Extremamente

abstêmias a mesa, seu divertimento favorito é a dança, em que revelam grande

variedade e graça.

Nos bailes e outras festas publicas aparecem em geral, em elegantes

vestidos brancos, com uma profusão de colares de ouro no pescoço, o cabelo

graciosamente penteado, preso com travessas. Sua conversa, sempre

animada, parece ter qualquer coisa musical. Na realidade, a sua educação se

restringe a conhecimentos superficiais, ocupando-se muito pouco com

assuntos domésticos, confiando tudo quanto se refere às dependências

inferiores da direção da casa, ao negro ou a negra cozinheira, e deixando todos

os outros assuntos a cargo dos servos. Devido a esta indiferença,

desconhecem por completo as vantagens daquela ordem, limpeza e

propriedade que reina numa família inglesa, ocupam-se, principalmente, em

casa, em cozer, bordar e fazer renda. Outra circunstância que fere a delicadeza

é que não tem modistas; todas as peças do vestuário feminino são feitas por

alfaiates. Sofrem de anemia quase geral, o que é atribuído, em parte, ao seu

modo de vida abstêmico, mas sobretudo, a falta de exercícios e aos contínuos

banhos quentes a que se abandonam. Empregam todos os meios ao seu

alcance para conservar a plástica, muitas vezes com prejuízo para o organismo

[...].

31

ATIVIDADEDiscuta com seus colegas seguinte questão:

1- Qual a importância da maneira de se vestir das pessoas diante da

sociedade?

2- Faça um desenho ou uma colagem ilustrando o tema da questão

anterior.

3- Pesquise em jornais como se vestem as pessoas hoje na cidade

de São Paulo em diversas ocasiões (passeios, festas, trabalho etc.) e compare

com as descrições do texto.

4- Leia o trecho abaixo e procure dar a sua interpretação: ”Sofrem

de anemia quase geral, o que é atribuído, em parte, ao seu modo de vida

abstêmico, mas, sobretudo, a falta de exercícios e aos contínuos banhos

quentes a que se abandonam. Empregam todos os meios ao seu alcance para

conservar a plástica, muitas vezes com prejuízo para o organismo”.

5- Transcreva do texto algum hábito ou costume que é preservado

até hoje pela sociedade.

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TEXTO 12: OS INDIOS DE CANTAGALO

[...] Numa das muitas excursões nos arredores de Cantagalo, antes da

minha visita á pretensa mina de prata, obtive alguns informes sobre os semi-

civilizados aborígines do distrito, de um homem que se dedicava a procura da

ipecacuanha e que é uma espécie de chefe entre eles. Habitam as florestas,

em condições miseráveis; suas moradas, algumas das quais visitei, são

construídas de ramos de arvores, inclinados de forma a suportar o colmo ou

teto de folhas de palmeiras; os leitos de capim seco. Possuindo poucos

conhecimentos da lavoura, dependem para sua alimentação, quase por

completo, dos arcos e das flechas, e das raízes e frutos selvagens, que

eventualmente encontrem nas florestas. O chefe que me referi veio visitar-me,

com cerca de cinqüenta índios, visita que muito me agradou, pois me deu

oportunidade de examinar suas feições e conversar com os poucos dentre eles

que trocavam algumas palavras em português. Os homens vestiam colete e

calças, as mulheres, camisa e saia, com um lenço amarrado em volta da

cabeça, à moda das mulheres portuguesas. Tinham os característicos gerais

da raça: pele bronzeada, atarracados, rosto redondo, nariz chato, cabelo negro

e liso, estatura regular, com tendência para o tipo baixo e musculoso. Desejoso

de assistir a prova da sua perícia e precisão na pontaria, de que tanto ouvira

falar, coloquei uma laranja a trinta jardas de distância, que foi atingida por

todos que desfecharam seu arco contra ela. Apontei, a seguir, uma bananeira

com cerca de oito polegadas de diâmetro, a distancia de quarenta jardas; nem

uma só flecha errou o alvo, embora todos atirassem de ligeira elevação.

Interessado nestas provas de atirar com arco, acompanhei-os até a floresta,

para vê-los abater pássaros; embora houvesse muito poucos, descobriram-nos

bem mais depressa que eu; e rastejando cuidadosamente até chegarem a

distancia necessária para lançar a flecha, nunca deixaram de abater a caça. O

silencio e a rapidez com que penetravam nas moitas e atravessavam o mato,

eram, na verdade, surpreendentes; nada me podia ter proporcionado idéia mais

completa de sua maneira peculiar de viver. Fazem os arcos da madeira

resistente e fibrosa da palmeira iri, com seis a sete pés de extensão, e muito

fortes; as flechas têm seis pés de comprimento e uma polegada de diâmetro,

sendo a ponta feita num pedaço de madeira em forma de pena, talhada com

33

osso, e, ultimamente de preferência com ferro. Suas pessoas e seus hábitos

são asquerosos; estão apenas um passo acima da antropofagia; devoram

quase todos os animais de maneira primitiva, como por exemplo, um pássaro

sem as penas, semi-cru, com entranhas. Não são acanhados ou de caráter

indolente, mas tem grande aversão ao trabalho, e não se consegue persuadi-

los a submeterem-se a qualquer emprego regular. Raramente se encontra um

índio servindo como criado, ou trabalhando por salário, e a esta circunstancia

atribui-se o atraso da agricultura no distrito. Os fazendeiros, quando começam

a fazenda, raramente possuem fundos suficientes para comprar negros no Rio

e suas operações, por longo tempo, são muito limitadas, extinguindo-se, com

freqüência, as fazendas por falta de braços. Que lucros resultariam para o

Estado e como seria beneficiada a causa geral da humanidade, se estes índios

fossem civilizados e domesticados! Uma tribo de selvagens errantes e

preguiçosos se converteria em lavradores úteis e produtivos; todo o aspecto do

distrito melhoraria; as estradas, que atualmente o ligam a capital livrar-se - iam

dos milhares de inconveniente que agora os embaraçam, e abrir-se-iam novas

para dar escoamento a seus produtos [...].

ATIVIDADESObserve a foto e responda:

a – O que ela mostra? Que tipo de pessoas aparecem na foto? O que

elas estão fazendo?

34

b – Como você imagina que eram os índios que Mawe encontrou?

Desenhe-os no caderno e depois compare com o desenho do seu colega.

c- No texto John Mawe demonstra algum estranhamento em relação

aos costumes indígenas. Escreva sobre isso.

d- Que características físicas dos indígenas são mencionadas no

texto?

e- Procure o significado da palavra “aborígine”. Porque você acha que

John Mawe chamou os índios assim?

VAMOS PESQUISAR.

1- Escolha um grupo indígena que vive ou viveu na região que você

mora e faça uma pesquisa sobre eles. Poderá escrever sobre:

a- Hierarquia no poder

b- Divisão de tarefas

c- Educação infantil

d- Economia

e- Festas e rituais

f- Relação com a natureza

g- Artesanato

2- Será que os indígenas de hoje vivem do mesmo modo que os

índios do texto, ou seja, do século XIX? E os índios que habitavam o Brasil

quando foi conquistado pelos portugueses?

Faça uma pesquisa e construa um quadro comparativo com os dados

obtidos.

3- Após terminar as duas atividades, que tal construir um mural para

exposição. Uma idéia é aproveitar o mês de abril quando no dia 19 se

comemora o “Dia do Índio”.

TEXTO 13: LEITURA COMPLEMENTARA LENDA DO ARCO E FLECHA

35

Os índios costumavam explicar muitas coisas através das lendas.

Como o texto anterior fala das armas dos índios de Cantagalo, então vamos

conhecer esta lenda.

Avinhocá resolveu às margens do rio Kuluene, acima da foz do

Turuine (rio Sete de Setembro), reuniu índios de todas as tribos, mansos,

bravos, para distribuir instrumentos de defesa.

O primeiro a aparecer foi o Kuikúru que tomou o arco branco. Daí em

diante os Kuikúru e todos os seus parentes usam arco desse tipo.

Depois apareceu outro índio, que pegou o arco de madeira escura.

Finalmente apareceu outro que pegou a arma de fogo.

Feito isso, Avinhocá mostrou uma pequena lagoa e mandou todos se

banharem ali. Como a lagoa tinha muita piranha, jacaré, cobras, etc., os índios

ficaram com medo, o que fez Avinhocá ficar zangado. Os índios, então,

molharam só as mãos e correram para enxugá-las num tronco de árvore. Essa

árvore ficou com a casca branca e foi denominada de pau-de-leite. Mas, um

menos medroso obedeceu a Avinhocá e se atirou na lagoa, por isso ficou

branco. Esse é o civilizado que pegou a arma de fogo. Nesse instante uma

árvore gritou lá de dentro da mata e os índios responderam. Avinhocá predisse:

-"As árvores morrerão um dia e os índios também desaparecerão".

Novo grito foi ouvido, desta vez vindo de uma pedra. O civilizado

respondeu o grito e daí Avinhocá disse:

-"A pedra nunca morrerá e, portanto, os caraíbas nunca

desaparecerão".

Depois disso tudo, Avinhocá determinou que todos fossem embora,

cada um para um lado. Avinhocá ainda estava ali quando chegaram seus

filhos, Tivári e Torrôngo. Nesse momento apareceu Rit-Taurinha. Deu óleo de

pequi a um dos filhos de Avinhocá e mandou que passasse no corpo. Avinhocá

não deixou, dizendo que aquele óleo envelhecia. Para provar, passou o óleo no

36

seu próprio corpo, ficando bem velho. Em seguida, Rit-Taurinha deu um

pedaço de fumo ao outro filho de Avinhocá mandando que ele fumasse.

Avinhocá interveio outra vez dizendo que o fumo é somente para os velhos.

Moço fumando envelhece depressa. Por isso é que só índio velho é que fuma.

Rit-Taurinha partiu deixando Avinhocá e os filhos. Um deles, Tivári, resolveu

casar e partiu para beira do rio. Chegando lá, disse que seria sua mulher

aquela que o acompanhasse. Dizendo isso, mergulhou nas águas. Todas

ficaram com medo, até as capivaras fugiram do lugar. A andorinha porém,

imprevidente, continuou esvoaçando por sobre as águas e, numa das vezes

em que se chocava com a superfície, foi apanhada por Tivári, que a levou para

sua aldeia no fundo do rio. Todos acreditam que lá no fundo do rio há uma

grande aldeia com bonitas roças.

Essa é uma bonita lenda que faz referências a origem dos diversos

tipos de arcos em diferentes tribos, assim como também faz um alerta sofre a

feroz perseguição que sofriam os indígenas pelo homem branco.

Entretanto, não era só a arma do homem branco que exterminava o

índio, pois mal ele chegava, aos núcleos dos civilizados, para obter utensílios

ou armas, a fortaleza de seu perfeito organismo, abria-se a todo tipo de

doenças, que acabou devastando gerações inteiras.

O menor contato que o nosso índio tinha com os estrangeiros,

apanhava gripes mortais e sucumbia rapidamente, transmitindo o vírus para os

demais indivíduos de sua tribo.

Quanto à alegação de Avinhocá de que as árvores iriam desaparecer

assim como o índio, era porque a floresta já estava sendo derrubada para

construção de gaiolas, casas, estradas, pontes, devido a agitação febril da

população estrangeira que se estabelecia na região.

O sábio Avinhocá, sem ilusão de seu destino com a chegada do

homem branco, ainda assim, estava determinado a permanecer até o fim de

seus dias e nesse tempo, deveria repassar toda sua sabedoria aos membros

mais jovens. Sendo assim, orientava-os sobre o mal que causa o óleo pequi e

37

o fumo. Vê-se, inclusive, que Avinhocá já tinha conhecimento dos malefícios do

hábito do fumo, pois admite que esse só deveria ser consumido pelos velhos.

O que devemos ter em mente hoje é, que não existe, nem nunca

existiu, povos superiores e povos inferiores, conforme determinavam os

primeiros colonizadores dessa terra. A diferença tecnológica entre as culturas

não revela nada que a respectiva cultura possa gerar. Uma tribo indígena da

Amazônia, que vive sem televisão, sem automóveis ou aviões, não tem uma

cultura inferior àquela que vive nas grandes cidades, onde a fome a a fartura

dividem pobres e ricos de uma mesma rua.

Do mesmo modo, não podemos falar de povos "mais cultos" que os

outros, pois a cultura é algo muito mais amplo que inclui a produção material,

social e cultural. Portanto, todos os povos têm cultura e todas as pessoas são

cultas. É a cultura que nos distingue do reino dos animais e da natureza

orgânica e inorgânica.

É através da cultura e de sua história que um povo constrói sua

identidade e sua alteridade.

Infelizmente, a "intervenção estrangeira" junto aos povos indígenas

continua até hoje. A comunidade nacional contemporânea ainda não conseguiu

aprender a respeitar o ser diferente: a alteralidade dos povos indígenas.

PARA SABER MAIS VISITE O SITE:

http://www.rosanevolpatto.trd.br/armacaca.html

Bibliografia:

Xingu, Os índios e seus Mitos - Orlando e Cláudio Villas Boas

38

Texto 14: A CANA DE AÇUCAR

[...] Se plantada em solo virgem, pode ser cortada dentro de quatorze

meses, mas uma terra esgotada requer de dezoito a vinte meses. Depois de

amadurecida, cortam-na, limpam-na, retirando as folhas da extremidade

superior, etc. às quais constituem excelente forragem para o gado: levam-na

em seguida, á moenda, formada por três cilindros de madeira, ou de ferro,

movendo-se nos seus eixos numa posição perpendicular. As canas passam

continuamente entre eles, até lhes extraia o caldo e fiquem reduzidas a

bagaço.

O caldo é conduzido por tubos de uma grande caldeira, ou clarificador,

onde se lhes adiciona certa quantidade de substância alcalina denominada

clarificador. Depois é conduzida á maior das caldeiras de uma série de três, ou,

ás vezes, quatro, de dimensões decrescentes. A maior raramente comporta

mais de uma centena de galões. Aqui o xarope ferve por algum tempo, sendo

continuadamente escumado,: a seguir, é derramado na outra, onde continua a

ferver, até que se evapore a maior parte do fluido gasoso: passa depois para a

terceira caldeira, e ai muitas vezes, fica suficientemente cozido, sem

necessidade de remover para quarta. Certificam-se de sua consistência pelo

tato: toma-se um pouco de xarope entre o polegar e o indicador, e se, formar

fios e não se quebrarem, ao puxá-los cerca de uma polegada, considera o

cozimento suficiente. É então colocado em formas cônicas, com cerca de dois

pés de altura e dez polegadas de diâmetro, na extremidade aberta, onde,

esfriando, se solidifica. Na extremidade inferior de cada forma há um orifício

que, a principio, fica completamente obstruído: mas depois que o açúcar

começa a esfriar é desobstruído, ligando-se a ele um tubo, por onde escorre o

melaço. Enchidas as formas, removem-nas para um compartimento mais

arejado, onde são colocados de modo a permitirem que o melaço corra para

uma grande cisterna, daí passando para tonéis de fermentação, receptáculos

destinados a receber os refugos de toda sorte num engenho. O processo de

fermentação depende muito da qualidade da madeira com que fabricam os

tonéis, muitos deles fazem com que o liquido fui que pronto para ser destilado

dois ou três dias antes dos outros.

39

A maior parte dos açucares aqui fabricados são refinados por um

processo muito simples, que consiste apenas em cobrir o açúcar com barro

bastante umedecido, cuja água filtra a massa e carrega com melaço

remanescente. Quando a substancia terrosa seca, repete-se a operação, até o

açúcar fique perfeitamente limpo e quase alvo. Depois de permanecer na casa

de secar aproximadamente seis semanas, as formas são emborcadas e os

pães de açúcar delas se desprendem: é em seguida, batidos, até se reduzirem

a pó, em grandes e fortes caixas, construídas de quatro pranchas inteiras,

tendo em geral cerca de oito pés de comprimento por cerca de vinte e seis

polegadas quadradas, pesando de quinze a dezesseis quintas. As caixas

depois de cheias e pregadas, estão prontas para o embarque.

Os principais cuidados a observar na fabricação do açúcar são:

primeiro que as canas estejam maduras e limpas as folhas: depois que sejam

imediatamente muitas, não as deixando em montes, expostas ao calor: e,

terceiro, que os cilindros e todos os condutores da rapa, lavados, tantas vezes

quantas foram necessárias, estejam bem limpos. Quanto ao clarificador, as

opiniões variam: cada negro tem as suas maneiras peculiar de misturá-lo e

aplica – lo. As canas que crescem em algumas terras requerem mais

clarificador do que outras, e a estação seca ou chuvosa exerceram influencia

considerável no caldo; mas estes fatos são inteiramente ignorados aqui, ou não

lhes atribuem a menor importância.

As partes centrais dos pães de açúcar, sendo melhores do que as

pontas, algumas casas as conservam em separado, vendendo – as por preços

mais elevados. E quase todas as famílias, refinam o açúcar, mascavo, quando

o desejam particularmente branco. O processo é muito simples e praticamente

diariamente nos botequins [...].

ATIVIDADES1- Identifique a importância da qualidade do solo na produção da

cana-de-açúcar no século XIX?

2- Procure no texto duas utilidades da cana - de- açúcar.

3- Reescreva no caderno um trecho que indica o uso do açúcar

pelas famílias da época.

40

4- Procure conhecer alguma pessoa que trabalhe ou já trabalhou

nas lavouras de cana-de-açúcar. Pergunte sobre o seu trabalho e sobre esse

produto agrícola. Compare suas anotações com as informações citadas no

texto e veja se encontra alguma semelhança.

5- Crie um desenho representando a produção do açúcar descrita

no texto.

6- Faça uma pesquisa sobre as usinas de fabricação do açúcar na

atualidade. Produza um texto com as informações obtidas.

7- Procure saber se no seu município tem alguma empresa que

realiza esta atividade.

41

TEXTO 15: VARIEDADES

Professor: aqui poderá enriquecer os textos e usar a sua criatividade

para contextualizar os assuntos abordados, inclusive criando alguma atividade

ou promovendo uma pesquisa para complementação do assunto.

Neste último texto faremos uma leitura diferente, onde foi extraído

fragmentos do livro de John Mawe “Viagens ao Interior do Brasil” sobre

diversos assuntos. Veremos o que ele escreve ao vivenciar cada situação.

SOBRE A VIDA RELIGIOSA DOS ESCRAVOS NEGROS:[...] Nesta fazenda, os negros, segundo todos os dados que obtive,

sobem cerca de mil e quinhentos. Constituem no geral excelente classe de

homens, de ânimo dócil e tratável, e de modo nenhum destituídos de

inteligência. Esclarecê-los tem dado grande trabalho: são regularmente

instruídos nos princípios da fé cristã, e as orações lhes são lidas publicamente,

pela manhã e a noite, ao iniciar e ao terminar o dia de trabalho [...]

FABRICAÇÃO DA CERVEJA:[...] Na segunda parte da minha visita ao intendente, que gosta muito

de cerveja, me manifestou desejo de ver centeio convertido em borra, para

fazer aquela bebida. Atendendo a solicitação reiterada, fui tentar a experiência.

Molhei a principio o centeio, o tempo necessário, depois o coloquei no assoalho

e tratei-o de maneira usada nas cervejarias inglesas: quando já estava

suficiente fermentado, fi-lo secar a fogo, lento: em seguida, tirei-lhe a película

por meio de fricção, triturei-o e reguei-o com água. A infusão produziu um

mosto passável, mas pareceu-me que lhe faltava matéria açucarada. Supri

essa falta, misturando uma pequena quantidade de açúcar. Fiz então ferver o

licor até que tivesse adquirido consistência conveniente: substitui o lúpulo por

uma substancia de amargor agradável e depois tentei favorecer a fermentação

com levedo preparado dias antes. Quando terminou a operação, derramei o

licor em pequenos pipotes, que foram fechados. Pode ser que esta cerveja não

fosse boa por causa da maneira muito apressada por que foi feita, mas pelo

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menos ficaram sabendo como fazê-la, o que era o objetivo principal da

experiência [...].

UM INVENTO INTERESSANTE[...] O milho é moído por uma roda-d’agua horizontal, que alcança

grande velocidade movida pela água. N extremidade superior, acha-se a pedra

do moinho, que realiza de sessenta a setenta rotações por minuto. Em pregam

método semelhante para transformar milho em fubá por meio de maquina

denominado preguiçoso (monjolo). A margem do rio insta-la grande pilão de

madeira, cuja mão está encaixada na extremidade de uma alavanca com vinte

e cinco a trinta pés de comprimento, repousando sobre uma barra transversal

ao cinco oitavos de seu comprimento, em redor da qual oscila. A extremidade

do braço mais curto desta alavanca está escavada, de modo a sustentar o

peso da água suficiente para levantar outra extremidade, a qual está presa a

mão do pilão. O peso da água faz com que a colher desça e se esvazie ao

chegar a certo ponto. O encher e descarregar, alternadamente esta cavidade,

provoca a elevação e a queda da mão do pilão, o que se verifica quatro vezes

por minuto. Este invento ultrapassa todos os outros em simplicidade, num lugar

onde o desperdício de água não tem importância, preenche, plenamente, o fim

visado [...].

SOBRE A EDUCAÇÃO DA MULHER BRASILEIRA:[...] Fiquei firmemente convencido de que, se as brasileiras

recebessem educação melhor, sobretudo no que se refere á economia

domestica, e estivessem habituadas a ver tudo quanto diz respeito ao lar

administrado com ordem e regularidade, se tornariam úteis a sociedade. Na

verdade, constantemente observei nelas essa louvável curiosidade e esse

desejo de instrução, que se pode chamar o primeiro passo párea o

aperfeiçoamento. Mas o que esperar de mulheres mal educadas, vivendo

desde a infância, no meio de negros, em más habitações, apenas abrigada da

chuva e do sol, e destituídas de toda espécie de comodidade?[...].

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O COMÉRCIO DOS INGLÊSES NO BRASIL:[...] Desde a emigração da corte de Lisboa, o Rio de Janeiro pode ser

chamado, verdadeiramente, o empório da América do Sul, e está destinado a

tornar-se um deposito geral das mercadorias das quatro partes do globo: no

entanto, o seu comércio com a África, Índia e as ilhas do mar índico,

pertencentes a coroa de Portugal, assim como seu intercambio com a china,

apenas começou. Foram tantas as decepções causadas pelos acontecimentos

políticos na mãe-patria e tão inesperado o afluxo de mercadorias inglesas,

ocasionando tal paralisação nas transações comerciais, que os negociantes

abastados resolveram não mais especular, e outros, grandes capitalistas,

devido às pesadas perdas que sofreram não o podiam fazer. Assim cessou o

monopólio exercido até então pela primeira classe de negociantes, os ingleses,

que os substituíram, vendiam as mercadorias ao publico da melhor maneira

possível [...].

OS DIAMANTES BRASILEIROS ENVIADOS PARA A EUROPA:[...] Dizem que a quantidade de diamantes enviada a Europa, durante

os vinte primeiros anos após sua descoberta, foi quase inacreditável, excedeu

de mil onças. Era tão prodigiosa que diminuiu o valor geral das pedras, que

antes só vinham da Índia, até para ali foram mandados os diamantes do Brasil

e aí vendidos em melhores condições que na Europa [...].

ESPERANÇA NO BRASIL[...] O Brasil, livre das restrições coloniais, terá, dentro em breve, sua

população duplicada: seu ouro, em vez de transportado para os paises

estrangeiros, como até aqui, circulará entre os habitantes: e, sob uma sob uma

sábia administração, é razoável esperar-se que, em vinte anos, este grande

país prosperará mais do que qualquer outro no mesmo espaço de tempo [...].

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O PARANÁ:[...] Os arredores de Curitiba são cortados por bons rios, que

deságuam no Paraná. Em muitos deles existem ouro, notadamente no Rio

Verde: e o Tibagi é rico em diamantes, do que não se esquecem algumas boas

famílias que moram em suas margens. Tornara-se perigoso avançar em

direção ao oeste, pois vivem os antropófagos expulsos desses limites há

poucos anos. A região norte está coberta de florestas [...].

A ALIMENTAÇÃO EM SÃO PAULO:[...] Não tivemos dificuldades em nos acomodar ao método geral de

vida, em São Paulo. O pão é muito bom e a manteiga tolerável, mas usada

raras vezes, exceto no café da amanhã e no chá a noite. Prato bastante

comum no almoço é uma variedade de ervilha, muito gostosa, denominada

feijão, cozida ou misturada com farinha de mandioca. O almoço servido

usualmente ao meio dia, ou mais cedo, consiste, em geral, numa quantidade

de verduras fervidas com carne de porco gorda, ou bife, uma raiz da espécie

da batata e uma galinha recheada, com excelente salada, seguida por grande

variedade de deliciosas conservas e doces. Tomam muito pouco vinho as

refeições. A bebida usual é água. Em ocasiões publicas ou quando se oferece

uma festa a muitos convidados, ornamenta-se a mesa suntuosamente: servem-

se, de uma só vez, de trinta a cinqüenta pratos: arranjo pelo qual se evita uma

série de mudanças de pratos. O vinho circula copiosamente, repetindo-se os

brindes durante o banquete, que dura em geral de duas a três horas, seguido

de doces, o orgulho da mesa: depois do café, os convidados passam a noite

dançando, ouvindo musica ou jogando cartas [...].

A VOLTA AO RIO DE JANEIRO[...] Deixando Vila Rica continuei minha viagem e cheguei ao Rio de

Janeiro em meados de 1810. Achava-me em profundo estado de abatimento,

devido à fadiga e a doença, agravada por exercícios continuo e falta de

repouso. Comuniquei a Sua Excelência, o conde Linhares minha chegada, e

alguns dias depois tive a honra de apresentar-lhes um relatório que continha

particularidades de minha viagem. Fui em seguida apresentado ao Príncipe

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Regente: Sua Alteza deu-me a honra de manifestar sua aprovação

pela narrativa que eu fizera da região por onde viajara, e convidou-me a

publicá-la. Também teve a bondade de, a meu pedido, promover a oficiais,

para recompensá-los pelo seu bom procedimento, os dois soldados que me

haviam acompanhado, e quando lhe exprimi meu reconhecimento por esta

mercê, o Príncipe respondeu-me que era pequeno para merecer atenção, e

perguntou-me de que maneira poderia me provar sua satisfação pelos meus

serviços. Minha saúde nessa ocasião era tão precária, que não podia pensar

em ficar no Rio de Janeiro, onde sentia que ela piorava dia a dia. De outra

maneira não ponho duvida de que o Príncipe me tivesse amplamente

recompensado das fadigas que sofrera [...].

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Departamento de Ensino fundamental. Diretrizes Curriculares para o Ensino de História. Curitiba: SEED, 2008.

MAWE, J. Viagens ao Interior do Brasil. São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 1978. Coleção Reconquista do Brasil, v.33.

COTRIM, Gilberto. História e Consciência do Brasil. São Paulo: Ed. Saraiva 1996.

GOMES, Laurentino. 1808. São Paulo: Ed. Planeta, 2007.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Ed. Companhia das Letras, 1995.

Ministério da Educação e Cultura. 500 anos: O Descobrimento do Brasil Colônia. Brasília, 2000. Cadernos da TV Escola, v. 1.

www.fundaj.gov.br acesso em 05/11/2008

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa acesso em 06/12/2008

http://www.rosanevolpatto.trd.br/armacaca.html acesso em 05/11/2008

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