Araujo 2013b

download Araujo 2013b

of 46

description

dd

Transcript of Araujo 2013b

  • 135

    Geomorfologia e paleoambientesno leste da Amrica do Sul: implicaes arqueolgicas

    Astolfo Gomes de Mello Araujo 1

    N as ltimas dcadas, o nmero de estudos paleoambientais no leste da Amrica do Sul, no que hoje territrio brasileiro, tem crescido consideravelmente. O mesmo pode ser dito sobre os dados arqueolgicos, cujo crescimento exponencial se deve a atividades de cunho acadmico e de arqueologia de contrato. Isso fez com que uma verdadeira integrao entre os dados arqueolgicos e paleoambien-tais fosse possvel, permitindo a compreenso da ocupao regional e cenrios de abandono, bem como a construo de modelos de pre-servao de stios que levam em conta a resposta dos agentes geomr-ficos. Neste captulo ser apresentado, inicialmente, o estado do co-nhecimento sobre os dados paleoambientais para o leste da Amrica do Sul, mostrando seus pontos de convergncia e suas discrepncias. Com base neste cenrio, explorar-se- a contribuio dos dados pa-leoambientais para a compreenso do registro arqueolgico do leste da Amrica do Sul ao final do Pleistoceno e incio do Holoceno, seja em termos de ocupao humana (rotas de expanso) ou em termos de preservao e/ou destruio desse mesmo registro arqueolgico.

    PALEOAMBIENTES NO LESTE DA AMRICA DO SUL

    Muitas publicaes sobre paleoambientes no leste da Amrica do Sul tm sido realizadas nos ltimos cinco anos, mas o desenvolvi-mento mais importante , talvez, o corpus crescente de dados sobre

    1 Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de So Paulo, So Paulo Brasil.E-mail: .

    CAPTULO VII

  • GEOARQUEOLOGIA136

    estudos de istopos de oxignio em espeleotemas. Houve tambm um aumento geral no nmero de artigos e teses que se utilizam de indicadores paleoambientais como a palinologia, istopos de carbo-no no solo e espeleotemas, juntamente com estudos usando dados sedimentares, geoqumicos e de fitlitos no solo.

    As caractersticas dos diferentes indicadores paleoambientais em termos de resoluo, sensibilidade a fatores climticos e mtodos de datao associados, s vezes so responsveis por incongruncias que transmitem alguma dubiedade nas inferncias paleoambientais. Em tais casos, a arqueologia pode auxiliar no estabelecimento dos cenrios mais provveis (ARAUJO et al., 2005; ARAUJO et al., 2006).

    Indicadores paleombientais, convergncias e divergncias

    Na tentativa de dar sentido aos cenrios paleoambientais retrata-dos durante as sesses seguintes, a falta de correspondncia que alguns deles apresentam s vezes impressionante. Tais discrepncias, que podem acontecer tanto dentro do mesmo indicador paleoambiental como entre indicadores diferentes, no so incomuns na cincia, espe-cialmente em cincias relacionadas ao clima. Um exemplo de desacor-do entre diferentes indicadores paleoambientais acontece no Nordeste do Brasil, onde alguns autores vem um evento seco entre 15.100 e 13.200 AP, quando cessou o crescimento de espeleotemas (CRUZ et al., 2009a), enquanto outros autores enxergam a tendncia oposta, de um aumento na umidade com base em dados de plen (LEDRU et al., 2005). No sudeste do Brasil o mesmo acontece quando o ltimo Mximo Glacial (UMG) visto como frio e mido com base em espe-leotemas (CRUZ et al., 2006), e frio e seco quando baseada em plen (BEHLING, 2002; LEDRU et al., 2009). No entanto, o desacordo pode ocorrer dentro do mesmo indicador, e podemos citar, por exemplo, a disputa entre palinlogos sobre o significado das Poaceae (gram-neas) no registro palinolgico. Poaceae podem se espalhar tanto em condies secas (regresso da floresta, paisagens abertas, a resistncia ao estresse hdrico) como em substrato mido (gramneas aquticas,

  • GEOMORFOLOGIA E PALEOAMBIENTES NO LESTE DA AMRICA DO SUL... 137

    bambus dentro de ambientes florestais ou em margens de lagos Ra-cza, 2009). As alteraes na concentrao de CO2 na atmosfera tam-bm podem alterar o sinal de Poaceae (JOLLY, HAXELTINE, 1997).

    A sensibilidade de indicadores paleoambientais distintos em re-lao a fatores climticos e os mtodos de datao envolvidos so outras possveis fontes de desacordo. No caso de espeleotemas, feita a anlise de istopos estveis, cujas concentraes so extremamen-te variveis e muito sensveis a fatores ambientais. Seu crescimento ocorre em camadas anuais, e a calcita pode ser datada pelo mtodo da srie de urnio, o que permite preciso na ordem decadal (Cruz et al., 2009b). Isto significa que espeleotemas podem potencialmente ser datados em fraes de tempo que so relevantes do ponto de vista do intervalo de uma vida humana.

    No caso do plen, a preciso das reconstrues ambientais est relacionada no s ao analista e seus mtodos, mas com o grau de sensibilidade que as diferentes plantas tm em relao s alteraes climticas. Alm disso, as amostras de plen so recolhidas em in-tervalos de 1 a 5 cm, o que pode representar sculos, dependendo da taxa de sedimentao. Some-se ainda o fato que, uma vez que sedi-mentos de lagos so datados por radiocarbono, no possvel alcan-ar um elevado grau de resoluo cronolgica. Por fim, muitas vezes o plen coletado em ambientes midos, pantanosos e, portanto, a assinatura florstica de uma savana, por exemplo, pode ser ofuscada pela presena de mata ciliar (BERRIO et al., 2000).

    A anlise de istopos de carbono nos solos, incorporado por meio de decomposio das plantas, outro importante indicador cli-mtico, muito usado no Brasil. O metabolismo das plantas pode ser dividido em vias C3 ou C4, sendo a C3 mais comum em rvores, e a C4 mais comum em gramneas (PESSENDA et al., 2001). Assim, um sinal C3 forte na matria orgnica do solo significaria um antigo ambiente de floresta, enquanto que um sinal C4 significaria um am-biente de vegetao aberta.

    Esta abordagem, apesar de seu grande potencial, tem alguns problemas. Em primeiro lugar, no possvel saber quais plantas

  • GEOARQUEOLOGIA138

    (taxa) so responsveis pelo sinal isotpico, embora esta lacuna pos-sa ser contornada pela anlise combinada de fitlitos do solo. Em segundo lugar, h evidncias de que as concentraes atmosfricas de CO2 podem favorecer mais as plantas C4 em detrimento das C3, o que significa que um aumento de gramneas pode ser impulsionado por baixas concentraes de CO2, e no necessariamente por climas secos. Terceiro, idades radiocarbnicas obtidas em solos so sempre mais problemticas devido ao biolgica (no caso do carvo vege-tal) e volume de ciclagem de matria orgnica (mistura de matria orgnica antiga e nova).

    Naturalmente, este problema pode ser minimizado atravs de dataes por luminescncia (LOE). importante notar tambm que o mesmo mtodo de datao pode fornecer resultados diferentes. Ida-des de radiocarbono obtidas em fragmentos de carvo so diferentes das obtidas em matria orgnica total, seja em terra ou em turfa. No primeiro caso, o que est sendo datado um indivduo nico, uma rvore ou um galho. No segundo caso, o que est sendo datado um conjunto de matria orgnica proveniente de vrios indivduos dife-rentes, que passou a ser depositada no mesmo lugar. Isto significa que a maior parte da matria orgnica sempre uma mistura de carbono a partir de diferentes idades. Por exemplo, Pessenda et al. (2001) com-pararam as idades radiocarbnicas de perfis de solo em oito localida-des no Brasil, e mostraram que as idades obtidas a partir de matria orgnica total do solo (MOS) eram significativamente mais jovens do que a frao humina (considerado o mais antigo e estvel componen-te orgnico do solo) ou de idades obtidas a partir de carvo vegetal. Diferenas de idades entre MOS total e humina obtidas nas amostras brasileiras variaram entre 13% e 209%. Em geral, as idades de carvo foram similares e/ou mais antigas do que a idade das huminas. Isto significa que uma idade radiocarbnica obtida a um lago sedimento pode ser consideravelmente mais antiga do que parece.

    Por fim, a datao por LOE de sedimentos provenientes de du-nas podem indicar perodos de maior atividade elica, que por sua vez seriam indicadores de ambientes mais secos (p. ex., CARNEI-

  • GEOMORFOLOGIA E PALEOAMBIENTES NO LESTE DA AMRICA DO SUL... 139

    RO FILHO et al., 2002; DE OLIVEIRA et al., 1999; TSOAR et al., 2009) mas essa uma relao que nem sempre se verifica, podendo haver um jogo complexo entre intensidade de ventos, pluviosidade e at mesmo vieses amostrais (ver CHASE, 2009 para uma anlise aprofundada do tema).

    Ao apontarmos estes fatos, queremos deixar claro que no existe um mtodo melhor do que outro, e que as evidncias paleoambien-tais, como quaisquer outros dados cientficos, devem ser abordadas com cautela e basear-se em multiplas evidncias.

    O ltimo Mximo Glacial (23.000 a 19.000 anos cal AP2)

    Os principais eventos climticos de interesse para a nossa dis-cusso ocorreram desde a queda global da temperatura da Terra, chamada ltimo Mximo Glacial (UMG). Durante este perodo, en-tre 23.000 e 19.000 cal AP (MIX et al., 2001), a temperatura mdia da Terra foi 5C mais baixa do que a atual, as concentraes de CO2 metade das de hoje (MAYLE et al., 2009) e o aprisionamento de gua nas geleiras foi responsvel pela remoo de 3% do volume do oceano (WRIGHT, 2009), provocando uma queda de 120 m do nvel do mar a cerca de 18.000 anos cal AP (CLARK e MIX, 2002). Os fatores que levaram ao UMG ainda esto em debate, sendo provavelmente uma confluncia de parmetros orbitais da Terra e complexos mecanis-mos de retroalimentao climtica.

    O UMG tem sido profundamente estudado desde a dcada de 1970, comeando com o Projeto CLIMAP (Investigao, Mapea-mento e Previso Climtica de Longo Alcance CLIMAP, 1981), e inmeros trabalhos sobre o tema foram publicados desde ento. Os aspectos mais consensuais apontam para um clima mais frio e, na maioria das regies, tambem mais seco na Amrica do Sul. No entanto, vrias questes ainda precisam ser esclarecidas, entre elas o papel que as condies UMG teriam nos trpicos. A viso tradi-

    2 Usaremos a notao cal AP para idades radiocarbnicas calibradas de acordo com o programa CalPal-2007 (Weninger et al. 2012).

  • GEOARQUEOLOGIA140

    cional de um UMG frio e seco em ambientes tropicais, com base em simulaes computacionais, est mudando rapidamente na medida em que mais dados so acumulados, mas o cenrio parece no s mais complexo do que se pensava, mas tambm menos consensual.

    O Tardiglacial (19.000 a 11.500 anos cal AP)

    O perodo entre o UMG e o incio do Holoceno bem reconhe-cido no Hemisfrio Norte pelas mudanas climticas drsticas em curto prazo, tais como o perodo frio chamado evento Heinrich 1 (H1), cerca de 16.500 cal AP, que foi seguido por um grande aumen-to de temperatura entre 14.500 cal AP e cal 13.000 cal AP, chamado insterestadial Bolling-Allerod para, em seguida, voltar novamente a um perodo curto e extremamente frio entre 12.600 e 11.800 cal AP, conhecido como Dryas recente.

    No Hemisfrio Sul, no entanto, os sinais deixados por essas mu-danas climticas extremas so um tanto duvidosos. Talvez apenas o Dryas recente possa ser reconhecido, em particular em ambientes marginais, tais como a regio andina (BAKER et al., 2001) ou Patago-nia (HADJAS et al., 2003). No entanto, Ledru et al. (2002) e Jacob et al. (2007) sugerem que o Dryas recente tambm possa ser reconhecido na Lagoa do Ca, norte do Brasil. Novos dados, disponveis a partir de istopos de oxignio em espeleotemas, sugerem que efeitos climti-cos relacionados ao evento H1 e do Dryas recente tambm podem ser observados no NE e SE Brasil (CRUZ Jr. et al., 2005, 2006, 2009 a,b).

    O Holoceno (11.500 anos cal AP at o presente)

    O Holoceno marca o fim das condies globalmente frias e se-cas que reinaram desde 130.000 anos atrs, quando o ltimo ciclo glacial foi estabelecido. Dados de istopos de oxignio do rtico e ncleos de gelo da Antrtida mostram claramente que o Holoceno um perodo condies climticas extremamente amenas quando comparadas ao Pleistoceno (WATANABE et al., 2003;. North Gre-

  • GEOMORFOLOGIA E PALEOAMBIENTES NO LESTE DA AMRICA DO SUL... 141

    enland Ice Core Project Members, 2004). Burroughs (2005) at ape-lidou o Holoceno como o fim do reinado do caos, e com razo. As temperaturas subiram cerca de 20C desde o UMG, e as flutuaes climticas foram muito menos drsticas. De fato, existem fortes evi-dncias de que a agricultura em larga escala no seria sequer possvel nas condies do UMG ou durante o Tardiglacial (RICHERSON et al., 2001).

    No Holoceno mdio, entre 8.300 e 5.000 AP, houve um perodo de aumento global da temperatura chamado hipsitermal, ou ti-mo climtico (FAIRBRIDGE, 2009). Este ltimo termo errneo, uma vez que o clima no se tornou timo globalmente, isto , em alguns locais o aumento da temperatura foi acompanhado por uma reduo na precipitao, conduzindo aos eventos secos do Holoceno mdio, reconhecidos em muitas partes do mundo.

    Com a expanso dos sistemas agrcolas, que trouxeram consigo um grande aumento populacional (Diamond 1987), os efeitos de pe-quenas flutuaes climticas, mesmo nas suaves condies holocni-cas, podem ser extremamente prejudiciais (MENOCAL, 2001). Por isso, a poca Holocnica, suas flutuaes climticas e seu impacto sobre os seres humanos um tema de grande importncia.

    As condies climticas holocnicas para o leste da Amrica do Sul foram discutidas em profundidade em outros artigos (ARAUJO et al., 2005, 2006), e aqui vamos oferecer um panorama das princi-pais questes.

    Resumindo os Paleoclimas do Leste da Amrica do Sul

    Para avanar na discusso, importante no s abordar os pa-leoambientes em diferentes escalas de tempo, mas tambm prestar ateno aos sinais de perturbaes climticas, ou mudanas clim-ticas rpidas (MCRs, seguindo MAYEWSKI et al., 2004) ao longo do registro. Vrios casos de discordncia entre autores e indicadores ambientais podem ser resolvidos se levarmos em conta que indicado-res diferentes respondem de forma diferente, que as condies locais

  • GEOARQUEOLOGIA142

    podem influenciar modos de deposio locais e vegetao local, e tambm que alguns locais de estudo esto muito distantes de seus vizinhos. A Figura 1 mostra a localizao dos dados paleoambientais consultados. No entanto, se queremos ter uma viso global dos pa-leoambientes do Leste da Amrica do Sul desde o UMG, um possvel resumo seria:

  • GEOMORFOLOGIA E PALEOAMBIENTES NO LESTE DA AMRICA DO SUL... 143

    1. Bacia Amaznica: esta rea enorme, maior do que a Europa, denominada sob um nico rtulo por conta de nossa falta de conhecimento, e no devido a qualquer unidade, seja geomor-folgica ou bitica. Em todo o caso, h consenso sobre a queda na temperatura durante o UMG, algum consenso sobre uma di-minuio da precipitao, e nenhum consenso quanto ao grau de fragmentao da floresta. A Figura 2 mostra uma comparao entre diferentes localidades e autores para a Bacia Amaznica (dados baseados em ABSY et al., 1991; BEHLING, 2001; CAR-NEIRO FILHO et al., 2002; COLINVAUX et al., 1996; COLIN-VAUX et al., 2000; FREITAS et al., 2001; HAFFER e PRANCE, 2001; HOOGHIEMSTRA e VAN DER HAMMEN, 1998; JA-COB et al., 2004; LATRUBESSE e KALICKI, 2002; SARGES et al., 2009; SIFFEDINE et al., 2003), onde pode-se perceber que um hiato na sedimentao em Carajs, um perodo de reativa-o de dunas elica no Rio Negro e os nveis baixos na regio de Seis Lagos convergem de alguma forma. O mesmo pode ser dito para o Tardiglacial, e importante notar que Carajs situa-se a 1500 km do Rio Negro e a 2000 km dos Seis Lagos. Para tempos mais recentes, um outro padro que emerge a existncia de uma

    seca em meados do Holoceno (BUSH et al., 2004;. BUSH et al., 2007).

    Figura 2: Quadro mostrando as principais mudanas climticas ocorridas na Bacia Amaznica.

  • GEOARQUEOLOGIA144

    2. Nordeste do Brasil: Auler e Smart (2001) apontam para a impor-tncia das diferenas regionais de clima que podem ser sobrepos-tas aos gerais de circulao atmosfrica. Nimer (1989) observa que hoje os padres gerais de chuva no Nordeste do Brasil so ex-tremamente condicionados pela orografia. A distribuio da es-tao seca muito varivel, com montanhas sendo responsveis pela abreviao do perodo seco, e plancies responsvel pela sua extenso. Mesmo assim, existe uma boa congruncia entre dife-rentes indicadores (Figura 3;. baseada em AULER et al., 2006; CRUZ et al., 2005; CRUZ et al., 2006; CZAPLEWSKI e CAR-TELLE, 1998; TSOAR et al., 2009), sinalizando um Holoceno mdio mido, em contraste com a aridez crescente no Holoceno tardio. Os registros do UMG e do Tardiglacial so mais variveis, mas seria esperado que os registros de Icatu e Central (Bahia), lo-calizados no interior, seriam diferente de Ca, prximo costa e no interior da zona de flutuao da ZCIT (Zona de Convergncia Intertropical), um cinturo de baixa presso caracterizado por precipitao abundante e fortes turbulncias.

    Figura 3: Quadro mostrando as principais mudanas climticas ocorridas no Nordeste do Brasil.

  • GEOMORFOLOGIA E PALEOAMBIENTES NO LESTE DA AMRICA DO SUL... 145

    3. Brasil Central: Para esta regio alguns autores acreditam, com base em registros de plen, que um UMG e Tardiglacial muito secos foram seguidos por um aumento na umidade, com incio por volta de 7.000 cal AP, levando a condies modernas (BAR-BERI et al., 2000; SALGADO-LABORIAU et al., 1997). Na mes-ma regio, no entanto, outros pesquisadores encontraram evi-dncias de um cenrio diferente, com um UMG mais seco e mais frio seguido de um Tardiglacial frio e mido entre ca.12.000 e 9.500 cal AP, seguido novamente por um perodo rido entre ca. 9.500 e 4.500 cal AP, e uma tendncia para as condies moder-nas desde ento (BEHLING, 2002; LEDRU, 1993; LEDRU et al., 1996). As possveis razes para estas diferenas foram discutidas em outro lugar (ARAUJO et al., 2005), mas a Figura 4 mostra que h alguns pontos em comum (com base tambm em FERRAZ- VICENTINI e SALGADO-LABORIAU, 1996; LEDRU et al., 1998; PARIZZI et al., 1998), como a instabilidade climtica que pode ser percebida no Holoceno mdio. Alguns autores tendem a diferenciar o Brasil Central em duas zonas climticas: o ncleo

    de savana poderia mostrar a tendncia de aumento da umidade durante o Holoce-no, enquanto a rea perif-rica, em direo ao leste e ao sul, iria mostrar mais os-cilaes na umidade, prova-velmente devido a incurses de frentes polares antrticas (Barberi, 2001:145) e pero-dos de aridez no Holoceno

    Figura 4: Quadro mostrando as principais mudanas climticas ocorridas na regio central do Brasil.

  • GEOARQUEOLOGIA146

    tardio, devido ao aumento da atividade de fenmenos como o El Nio (ENSO) ou a um deslocamento setentrional da ZCIT (DE OLIVEIRA et al., 1999, p. 335).

    4. Sudeste do Brasil: a maior parte dos dados paleoambientais para o SE Brasileiro so provenientes da Serra do Mar, e ns sim-plesmente no sabemos quo uteis esses dados so do ponto de vista arqueolgico, uma vez que os picos montanhosos foram, provavelmente, mais secos e mais frios do que os fundos de vale. Os poucos estudos nas terras baixas (TURCQ et al., 1997; BEHLING et al., 1998) sugerem um grande perodo de instabili-dade, marcado por forte eroso fluvial (Figura 5; dados com base tambm em BEHLING et al., 2007; BEHLING e LICHTE, 1997; BEHLING e SAFFORD, 2010; COELHO NETTO, 1999; COE-LHO NETTO e FERNANDES, 1990; CRUZ et al., 2009a; CRUZ et al., 2009b; LEDRU et al., 2005; MODENESI- GAUTTIERI 2000; MOURA e MELLO, 1991; PESSENDA et al., 2009; SAIA et al., 2008; WANG et al., 2006; WANG et al., 2007). Stevaux (2000) encontrou evidncias de um UMG seco no rio Paran, mais para o interior. A principal discusso , hoje em dia, sobre a precipitao no UMG (CRUZ et al., 2006; LEDRU et al., 2009).

    5. Sul do Brasil: Os estados do Sul tm a melhor cobertura paleo-ambiental, e o cenrio parece ser bem compreendido (Figura 6; dados com base em BEHLING 1997, 1998, 2007; BEHLING et al., 2001; BEHLING e NEGRELLE, 2001; BEHLING et al., 2004; BEHLING et al., 2005). relativamente consensual que o UMG foi seco e frio, com um predomnio de campos ou campos cerra-dos, sujeito a uma mudana gradual para climas mais quentes e midos durante o Tardiglacial e o Holoceno (BEHLING, 2002).

  • GEOMORFOLOGIA E PALEOAMBIENTES NO LESTE DA AMRICA DO SUL... 147

    Figura 5: Quadro mostrando as principais mudanas climticas ocorridas no Sudeste do Brasil.

    Figura 6: Quadro mostrando as principais mudanas climticas ocorridas no Sul do Brasil.

  • GEOARQUEOLOGIA148

    O IMPACTO DAS MUDANAS CLIMTICAS NA PAISAGEM: UM OLHAR TROPICAL

    reas tropicais e sub-tropicais esto sujeitas a processos geo-mrficos intimamente ligados a fortes chuvas, altas temperaturas e forte atividade biolgica. Estes processos so responsveis pela for-mao de camadas espessas de solo e mantos de intemperismo pro-fundos que nunca foram sujeitos a eroso por meio de processos gla-ciais. A compreenso e registro de processos geomrficos tropicais uma adio relativamente nova ao campo geral da geomorfologia, uma vez que a maioria das teorias e estudos esto relacionados a am-bientes temperados ou desrticos (THOMAS, 1994). Contribuies importantes para a formao de paisagens tropicais num quadro evolutivo vieram do trabalho de Henri Erhart (1956), que props a teoria bioresistatica, em que uma determinada paisagem com co-bertura vegetal estvel (ou em biostasia) estar sujeita principal-mente lixiviao qumica, liberando minerais solveis e retendo os insolveis. Quando h uma ruptura no padro climtico, no entanto, o equilbrio biolgico perdido (resistasia), a vegetao se retrai e os componentes insolveis clstico e argiloso armazenados sob a ve-getao so liberados, causando o preenchimento dos vales e a depo-sio de vrios metros de sedimento em curtos intervalos de tempo.

    Esta ideia foi aplicada por AbSber (1969) e Bigarella (BIGARE-LLA et al., 1965) em depsitos coluviais brasileiros, cujos pavimentos rudceos, ou linhas de pedra, foram considerados testemunhos de climas secos. Tais depsitos foram denominados correlativos, uma vez que poderiam ser teoricamente associados a condies ambien-tais especficas. Outra contribuio importante para a geomorfologia tropical veio de Bigarella et al., (1965), que definiram o conceito de complexos de rampa, ou depresses em forma de anfiteatro preen-chidas por material coluvial e aluvial, mostrando episdios de asso-reamento e degradao que provavelmente estavam ligados a fatores climticos. A definio dos complexos de rampa permitiu uma viso mais dinmica e espacialmente heterognea de processos atuantes

  • GEOMORFOLOGIA E PALEOAMBIENTES NO LESTE DA AMRICA DO SUL... 149

    em solos tropicais, uma vez que pressupe que a eroso e a sedimen-tao ocorrem simultaneamente em diferentes setores da encosta, em mltiplas direes e em ritmos distintos, convergindo porm para o eixo longitudinal, ou depresso (MOURA e SILVA, 2003).

    Um desenvolvimento paralelo da teoria bioresisttica de Erhart foi proposto por Knox (1972), que props um modelo de resposta bio-geomrfica s mudanas climticas abruptas. Apesar de ser original-mente aplicado no leste dos Estados Unidos, o modelo foi usado por Roberts e Barker (1993) na frica tropical, e por Thomas (2008; THO-MAS e THORP, 1995) na interpretao do sinal das mudanas clim-ticas em diversos ambientes tropicais. O modelo prev que um aumen-

    to na precipitao provoca um aumento relativo da cobertura vegetal e, por-tanto, uma diminuio no potencial de eroso das en-costas, e vice-versa (Figura 7). No entanto, as transi-es de umidade para seca e de seco a mido so assi-mtricas em relao a uma quarta varivel, qual seja, o trabalho geomrfico re-lativo, ou a produo de sedimentos. Em condies normais, a produo de sedimentos em reas vege-tadas menor do que em reas semi-ridas devido falta de proteo do solo contra chuvas torrenciais nestas ltimas. A transio de um perodo seco para mido ir produzir um

    Figura 7: Modelo de resposta geomrfica s mudanas climticas, modificado de Knox (1972).

  • GEOARQUEOLOGIA150

    pico na produo de sedimentos porque o solo estaria desprotegido, e a precipitao seria alta. Esta situao vai perdurar at que a vegetao se ajuste s novas condies. A situao oposta, de mido para seco, tende a produzir uma diminuio na produo de sedimentos, uma vez que o solo j se encontra recoberto e a precipitao torna-se baixa. Mais uma vez, esta situao vai perdurar at que a nova vegetao (ou falta dela) prevalea, e a produo de sedimentos, normalmente eleva-da em ambientes semi-ridos, seja estabelecida.

    Para entender melhor as implicaes reais destes modelos, podemos fornecer algumas evidncias empricas. Nas planaltos midos do sudeste do Brasil, em uma larga faixa paralela costa, que incorpora a Serra do Mar e reas adjacentes dos vales do rio Doce e Paraba do Sul, vrios es-tudos conjugando pedologia e geomorfologia foram realizados por Meis, Moura e colegas (MEIS e MOURA, 1984, Moura e Mello, 1991), utilizan-do o conceito de aloestratigrafia, envolvendo interpretao estratigrfica, correlao e mapeamento que se utiliza de descontinuidades e superfcies para subdividir a seo sedimentar. Assume-se que essas descontinuida-des e superfcies possuam significado crono-estratigrfico (NACSN 1983), estando relacionadas a episdios de instabilidade ambiental (MOURA, 2003). Na regio de Bananal, entre So Paulo e Rio de Janeiro, Moura e Mello (1991) reconheceram nove aloformaes implantadas nas encostas e fundos de vales. A cronologia obtida coloca os depsitos em uma faixa de tempo entre o final do Pleistoceno e o Holoceno. A aloformao basal, Santa Vitria, um colvio avermelhado formado diretamente sobre a rocha do embasamento cristalino, datando provavelmente do Pleistoceno tardio. Acima dela, a aloformao Rio do Bananal um depsito colu-vionar amarelado, com mais de 8 m de espessura, apresentando material clstico mal selecionado e no estruturado, sugerindo instabilidade cli-mtica, com episdios de forte eroso das encostas preenchendo os fun-dos de vale. Sua parte superior apresenta um horizonte A, representando um paleosolo soterrado e, portanto, uma superfcie estvel a 11.300 cal AP. Acima da Aloformao Rio do Bananal, os autores definiram outras sete aloformaes. De interesse aqui Aloformao Manso, uma sequn-cia sedimentar composta pela interdigitao de depsitos fluviais e de

  • GEOMORFOLOGIA E PALEOAMBIENTES NO LESTE DA AMRICA DO SUL... 151

    encosta subdivididos em trs fcies, provavelmente associadas a outro pe-rodo de instabilidade, quando a eroso atingiu a rocha do embasamento em alguns locais, causando um extremo preenchimento dos vales, com afogamento das drenagens, que pode ser observado na paisagem ainda hoje. Estes depsitos podem atingir espessuras de 10 m ou mais. A Figura 8 (modificada de MOURA et al., 1991) exemplifica a complexa relao espacial entre os depsitos aloestratigrficos de subsuperfcie e o relevo presente, as diferentes paleotopografias e, mais importante, a potencial dificuldade em se atingir as superfcies mais antigas. De fato, trabalhos posteriores na mesma rea (COELHO NETTO, 1999) mostraram que os sedimentos do Pleistoceno foram quase totalmente erodidos. Eles apare-cem em pontos isolados em alguns patamares de vertente, e nunca nos fundos de vale, arrasados que foram por um episdio regional de eroso--deposio que preencheu a paisagem entre 11.000 e 9.600 cal AP.

    Figura 8: Exemplo da relao espacial complexa entre depsitos colvio-aluviona-res e paleo-superfcies em relao ao relevo atual. Notar a posio estratigrfica da aloformao Rio do Bananal, cuja idade de topo 11.300 cal AP. Modificado de Moura et al. (1991).

  • GEOARQUEOLOGIA152

    Outro exemplo de perturbao climtica foi descrito por Mo-denesi-Gauttieri (2000) no topo da Serra do Mantiqueira, onde pelo menos trs episdios de acreo coluvial ocorreram desde o UMG, com idades contidas nos intervalos de 22.000-17.300, 17.300-11.500 e 11.500-8.300 cal AP.

    HUMANOS ENTRAM NO CENRIO

    Depois de nossa discusso sobre paleoambientes e suas impli-caes sobre a paisagem, hora de colocar os seres humanos neste cenrio. No entanto, uma pergunta inicial tem que ser feita: desde quando? Tal pergunta um pouco retrica, porque ns provavel-mente nunca teremos uma resposta absoluta, mas podemos comear pelo menos descartando algumas respostas incorretas.

    A deteco de stios que so mais antigos do que o horizonte Clovis, conforme definido na Amrica do Norte, ou stios que so um pouco mais novos do que Clovis, mas totalmente independen-tes do ponto de vista cultural, sugerem que o modelo Clovis First insuficiente para explicar as evidncias empricas sulamericanas. Oque falta ser esclarecido o tempo e as rotas de expanso dos pri-meiros habitantes humanos do continente, um tema que tem sido abordado por um grande nmero de pesquisadores, e no ser discu-tido aqui (por exemplo, ANDERSON e GILLAM, 2000; DILLEHAY, 2000; DIXON, 2001; FLADMARK, 1979).

    Minha contribuio comea com um cenrio um tanto nebuloso, baseado em evidncias reconhecidamente escassas, mas que ao mesmo tempo no podem ser completamente descartadas: a possibilidade da chegada de humanos em tempos pr-UMG nas Amricas. Alm das evidncias de Pedra Furada (PARENTI, 2001), existem outros stios que devem ser considerados, tais como Stio do Meio, com idades com mais de 24.200 cal AP (FELICE, 2002; SANTOS et al., 2003), Santa Elina, com idades at 23.000 AP (VILHENA VIALOU, 2003, 2011) e Monte Verde, com uma ocupao superior de 14.000 AP e uma possvel ocu-pao inferior de 33.000 AP (DILLEHAY e COLLINS, 1988), para no

  • GEOMORFOLOGIA E PALEOAMBIENTES NO LESTE DA AMRICA DO SUL... 153

    falar de um stio na Colmbia, onde obsidiana e lascas de slex foram encontrados embaixo de cinzas vulcnicas do Pleistoceno, juntamen-te com madeira datada em 19.500 cal AP (COOKE, 1998). Mas, por que temos de levar estas poucas evidncias em considerao? A respos-ta simples porque essas evidncias explicam melhor o que aconteceu mais tarde. Caso contrrio, muito difcil explicar que, por volta de 12.000 anos AP a Amrica do Sul foi repentina e completamente preen-chida por grupos culturais totalmente diferentes, com tecnologias lti-cas distintas (ARAUJO e PUGLIESE, 2009; BATE, 1990; DILLEHAY, 2000), mostrando adaptaes aos ambientes mais extremos, da floresta amaznica (ROOSEVELT et al., 1996) s estepes da Patagnia (BOR-RERO et al., 1998), tudo isso apenas 1.250 anos aps os primeiros stios Clovis, ou 800 anos depois dos stios Clovis mais tardios (WATERS e STAFFORD, 2007). Ento, como um exerccio, vamos considerar mo-mentaneamente que essa ocupao aconteceu em tempos pr-UMG, permitindo margem suficiente para a expanso e diferenciao cultural dos grupos humanos at 12.000 AP. Continuando nosso exerccio, va-mos fazer um exame cursivo da distribuio das idades de radiocarbo-no para stios sul- americanos mais antigos do que 10.000 14C AP, ou 11.500 cal AP. AFigura 9a mostra um grfico de 202 idades de radio-carbono obtidas em 59 stios arqueolgicos, em sete pases (Argentina, Brasil, Chile, Colmbia, Equador, Peru e Venezuela). Mesmo se descon-siderarmos uma ou outra localidade, o padro sugere um continuum de idades que vai at 14.700 14C AP, ou 18.000 cal AP, que se estende para trs at o fim do UMG. Quando chegamos ao UMG, coincidncia ou no, as idades se espalham. Isto ocorreria porque as idades esto erra-das, os stios so falsos, ou o sinal arqueolgico fraco?

    Se fecharmos o foco no leste da Amrica do Sul, a nossa amostra composta por 81 idades de radiocarbono provenientes de 37 stios (mostrados na Figura 10). A Figura 9b mostra um grfico com as ida-des calibradas, onde tambm possvel perceber a quebra em torno do UMG. Ainda mais intrigante o padro que podemos observar quando as idades calibradas so agregadas em intervalos calndricos de 1000 anos (Figura 9c).

  • GEOARQUEOLOGIA154

    Em vez de um aumento progressivo do nmero de idades, como seria esperado se apenas os caprichos da amostragem e do decai-mento qumico do carvo estivessem em ao, possvel perceber um pico de idades em torno de 17.000 AP. Finalmente, na Figura 9d as idades calibradas foram agrupadas em trs intervalos iguais de 6.000 anos: Tardiglacial (12 a 18 ka, n = 34); UMG (18-23ka, n = 4); Pr-UMG (24 a 30 ka, n = 6). Mais uma vez, os resultados sugerem uma diminuio no nmero de idades durante o UMG. Neste caso, uma questo permanece: o que aconteceu entre esses primeiros s-tios, com a exploso de stios arqueolgicos em toda a Amrica do Sul por volta de 12.000 AP? A resposta mais simples dizer que o que aconteceu foi o UMG. Mas podemos ir mais longe e pensar em (pelo menos) trs possibilidades: uma est relacionada ao n-mero de objetos deixados por essas populaes, assumindo que elas estavam presentes na paisagem durante todo o perodo; a segunda

    Figura 9: Distribuio das idades radiocarbnicas de stios arqueolgicos desde o final do Pleistoceno.

  • GEOMORFOLOGIA E PALEOAMBIENTES NO LESTE DA AMRICA DO SUL... 155

    est relacionada ao impacto que eventos climticos extremos como o UMG poderiam ter sobre a estrutura de pequenos bandos de caadores- coletores, causando extines locais, baixas taxas de re-produo como uma resposta a uma menor capacidade de carga do ambiente, ou deslocamento dessas populaes para reas costeiras, que esto agora submersas; e a terceira est relacionada influncia dos processos naturais sobre o sinal arqueolgico.

  • GEOARQUEOLOGIA156

    Em termos do sinalarqueolgico, quase um trusmo dizer que a deteco de evidncia fsica (arqueolgica) de qualquer compor-tamento humano sempre retardada em relao ao incio real de tal comportamento, por uma simples questo de probabilidade. A probabilidade de se encontrar um stio totalmente correlacionada ao nmero de stios, e o mesmo pode ser dito para artefatos individu-ais. Por isso, o sinal arqueolgico, aqui definido como a quantidade de evidncias materiais do comportamento humano acumuladas em um determinado segmento da paisagem, uma funo do descarte bruto de artefatos. Se assumirmos que em sociedades pr-capitalistas a quantidade de artefatos descartados proporcional ao tamanho da populao, uma populao pequena implica em uma baixa produo e descarte de artefatos, o que significa um baixo sinal arqueolgico. No entanto, difcil diferenciar um baixo sinal arqueolgico da au-sncia efetiva de seres humanos, e este pode ser o caso se pequenos bandos de caadores-coletores ficam demasiadamente separados, ou se a populao diminui em resposta s mudanas climticas rpidas. Dada a variabilidade cultural j mencionada que se observa na Am-rica do Sul em torno de 12.000 cal AP, o cenrio mais parcimonioso no envolveria a extino total dos primeiros colonos, mas a sobre-vivncia dos primeiros grupos humanos durante o UMG e Tardigla-cial, talvez com um baixo sinal arqueolgico. No entanto, se for este o caso, por que o sinal arqueolgico no aumenta exponencialmente com o tempo, em vez de apresentar uma depresso UMG? Uma possvel explicao tem a ver com o impacto dos processos geomr-ficos sobre o registro arqueolgico.

    Os modelos geomrficos apresentados na sesso anterior nos permitem explorar melhor o papel das mudanas climticas rpidas no registro arqueolgico, resumidas na Figura 11. Se temos um UMG frio e mido, por exemplo (Figura 11, quadro 1), e as mudanas cli-mticas ocorrem no sentido de as condies se tornarem mais secas e quentes, haver uma mudana florstica (novas espcies de plantas colonizando o ambiente) sem uma mudana significativa na cober-tura efetiva de vegetao. Assim, as taxas de eroso e sedimentao

  • GEOMORFOLOGIA E PALEOAMBIENTES NO LESTE DA AMRICA DO SUL... 157

    (produo de sedimentos) sero baixas (Figura 11, quadro 2), o que aumenta as chances de preservao de qualquer stio arqueolgico pr-UMG. Porm, se o mesmo sistema passa por um perodo de seca durante o Holoceno mdio, provavelmente haver uma grande rup-tura no equilbrio entre cobertura vegetal e precipitao (Figura 11, quadro 3), potencialmente causando a eroso e retrabalhamento de stios com mais de 5.000 anos.

    Figura 11: Situaes hipotticas onde dois sistemas ambientais sofrem mudanas climticas ao longo do tempo.

  • GEOARQUEOLOGIA158

    Se o Holoceno mdio for mais mido, por outro lado, o siste-ma ir avanar para uma manuteno da produo de sedimentos reduzida (Figura 11, quadro 6). Neste caso, a preservao dos stios ideal. Por outro lado, se tivermos um UMG frio e seco (Figura 11, quadro 4), e se as mudanas climticas ocorrerem rapidamente ten-dendo para um padro mido e mais quente, haver um atraso at que a nova vegetao colonize o ambiente, o solo ficar desprotegido e altas taxas de eroso e deposio iro ocorrer (Figura 11, quadro 5); isto ir diminuir a probabilidade da preservao de eventuais stios pr-UMG. Mais uma vez, durante o Holoceno mdio, este sistema pode passar por mudanas tanto para seco ou mido.

    Naturalmente, este mesmo raciocnio pode ser aplicado a qual-quer mudana abrupta do clima ao longo do perodo de interesse, ou os ltimos 23.000 anos. Se nos voltarmos para os dados paleoam-bientais, podemos reconhecer vrios perodos onde os indicadores sugerem fortes e rpidas oscilaes climticas em vrias partes do leste da Amrica do Sul, levando a condies resistsicas. Para ci-tar alguns exemplos: a transio de uma floresta tropical plenamente desenvolvida em tempos pr-UMG, sofrendo uma reduo conside-rvel das florestas entre 23.000 e 12.000 cal AP, interrompida por um pico de umidade em torno de 17.000 cal AP em Colnia (LEDRU et al., 2009); as lacunas de sedimentao que so aparentes em vrios registros do UMG em todo o SE e Centro do Brasil (LEDRU et al., 1998); os eventos de eroso generalizada e preenchimento do vale do rio Tamandu entre 20.000 e 12.100 cal AP (TURCQ et al., 1997) e em Bananal entre 11.000 e 9600 cal AP (COELHO NETTO, 1999), ambos afetando os depsitos do UMG; os trs episdios de acreo coluvial detectados por Modenesi-Gauttieri (2000) entre 22.000-17.300, 17.300-11.500 e 11.500-8.300 cal AP; um episdio de forte desnudao de vertentes detectado por Melo et al. (2003), em Ponta Grossa, regio Sul do Brasil, a 19.000 cal AP; as fortes oscilaes cli-mticas detectadas entre 17.300 e 16.400 AP em espeleotemas do Rio Grande do Norte (CRUZ et al., 2009a); a camada de areia dentro da argila orgnica na Lagoa do Ca entre ca. 18.600 AP cal e 16.300

  • GEOMORFOLOGIA E PALEOAMBIENTES NO LESTE DA AMRICA DO SUL... 159

    AP (LEDRU et al., 2002), e assim por diante. Quando entramos no Holoceno, essas mudanas climticas rpidas (MCR) no cessam. Mayewski et al. (2004), com base em mais de 50 registos espalhados por todo o mundo, reconhecem pelo menos seis eventos de MCR que ocorreram em ca. 9000-8000 cal AP, 6000-5000 cal AP, 4200-3800 cal AP, 3500-2500 cal AP, 1200-1000 cal AP, e desde 600 cal AP. A assinatura e a fora de cada evento diferente em todo o mundo, mas eles podem imprimir mudanas considerveis na paisagem. Pelo me-nos em algumas partes do Brasil, evidncias de secura no Holoceno mdio (ARAUJO et al., 2005; BEHLING, 2002; BUSH et al., 2007; LEDRU et al., 1996; LEDRU et al., 2009) ou de instabilidade climti-ca (MEGGERS, 2007; RACZA, 2009) esto se tornando mais fortes.

    O Impacto das mudanas climticas em humanos: um exemplodo Brasil Central

    Depois de explorar as consequncias das mudanas climticas no registro arqueolgico, vamos voltar nossa ateno para as conse-quncias das variaes climticas sobre os seres humanos. O assun-to vasto, e foi tratado por vrios autores em diferentes partes do mundo, com diferentes graus de detalhe, algumas vezes carregando uma aura de determinismo e acalorado debate (DIAMOND, 2005; MCANANY e YOFFEE, 2010). No entanto, a minha posio pessoal de que o clima deve ser sempre levado em considerao quando comeamos a pensar em qualquer tema arqueolgico, no porque os seres humanos so movidos pelo clima de uma forma determinista, mas simplesmente porque as explicaes baseadas no clima e as ex-pectativas subsequentes so um bom ponto de partida. E, claro, se os seres humanos no so deterministicamente afetados pelo clima, os artefatos por eles deixados com certeza so, como acabamos de ver.

    H cinco anos, observamos que havia uma forte depresso no sinal arqueolgico para a regio de Lagoa Santa, em meados do Ho-loceno (ARAUJO et al., 2005, 2006). As idades de radiocarbono obti-das por nosso projeto e por outros autores mostravam um comporta-

  • GEOARQUEOLOGIA160

    mento notvel quando plotadas em intervalos de 500 anos: havia um pico de frequncia entre 10.300 e 7.000 cal AP, e outro pico entre 1.960 e 900 cal AP, sem quaisquer idades entre elas, o que constituiria uma importante lacuna, de cerca de 5.000 anos, na ocupao humana. Em seguida, expandimos nosso conjunto de dados e percebemos que o mesmo padro estava presente em vrios outros estados, abrangendo uma rea estimada de 920.000 km no Brasil Central. Por outro lado, as pores nordeste, sudeste e sul do pas no mostravam o mesmo padro. Isso levou-nos a buscar a literatura paleoambiental e, no surpreendentemente, havia boas evidncias de perodos de seca no Brasil Central em vrios registros, o que nos levou a propor que a de-teriorao climtica (secura) motivou os Paleondios de Lagoa Santa a se mudarem da rea.

    Nosso prximo passo foi ir em busca de stios Paleondios a cu aberto, para ter certeza de que o empobrecido sinal arqueolgico do Holoceno mdio no era um vis colocado pelas escavaes nos abri-gos rochosos. Ao mesmo tempo, enviamos mais amostras de carvo dos abrigos para datao, alm de iniciarmos um trabalho colabora-tivo com palinlogos, a fim de refinar os dados paleoambientais de Santa Lagoa.

    Comeando com os stios lticos a cu aberto, encontramos pelo menos trs deles, denominados Sumidouro, Coqueirinho e Lund, e os dados obtidos sugerem que os mesmos se agregam em dois per-odos: entre 12.300 e 9.300 cal AP para Sumidouro e Coqueirinho e 2200 cal AP para Lund. Para o Sumidouro tambm obtivemos idades de luminescncia que colocam os nveis paleondios entre 12.500 e 9900 AP (ARAUJO e FEATHERS, 2008). Com isso, ainda no h evidncias de que houve uma ocupao ao ar livre durante o Ho-loceno mdio. Essa viso mudou quando enviamos mais amostras dos trs abrigos por ns escavados, chamados Lapa das Boleiras (32 idades de radiocarbono), Lapa do Santo (63 idades de radiocarbono) e Lapa Grande de Taquarau (13 idades de radiocarbono). Percebe-mos que havia, de fato, uma reocupao muito rpida no Holoce-no mdio, enquadrada entre 5.300 e 4.000 cal AP, ou durante cerca

  • GEOMORFOLOGIA E PALEOAMBIENTES NO LESTE DA AMRICA DO SUL... 161

    de 1300 anos calndricos. Assim, em vez de um grande intervalo de 5.000 anos sem qualquer sinal arqueolgico, temos dois hiatos, um entre 7.000 e 5.300 cal AP e outro entre 4.000 e 2.000 cal AP. A julgar pela semelhana em termos de material ltico, a mesma populao humana voltou regio em 5300 cal AP. Na verdade, se no fosse pelas idades de radiocarbono, nunca diramos que houve um hiato de 1.700 anos na estratigrafia.

    Finalmente, os dados de plen reunidos por Oliveira e Racza (2009) em dois lagos, Lagoa Olhos d'gua e Lagoa dos Mares, no mostraram qualquer sinal claro de secura, e os lagos pareciam ser perenes, sem hiatos na sedimentao. Aps um UMG frio e mido, a vegetao foi gradualmente substituda por taxa tropicais, o que su-gere um aumento na temperatura desde o incio do Holoceno. No en-tanto, os autores detectaram uma forte oscilao de vrios taxa, suge-rindo um clima instvel durante o Holoceno mdio, com perodos de chuva forte seguidos por longos perodos de seca, de forma irregular. Assim, o abandono rea poderia no ser desencadeado por uma seca generalizada, mas por um ambiente muito inconstante e, portanto, pouco confivel. Vale a pena notar que os Paleondios de Lagoa Santa baseavam fortemente sua subsistncia em recursos vegetais, tal como sugerido pela elevada incidncia de cries dentrias, relacionada ao consumo de carbohidratos (NEVES e CORNERO, 1997), e tambm pelos restos botnicos preservados nos abrigos (NAKAMURA et al., 2010). Assim, a composio florstica da paisagem seria to ou mais importante do que a caa. Creio que a breve reocupao humana (em termos geolgicos) de 1.300 anos est ligada a um perodo curto de estabilidade do clima. possvel que esses perodos de estabilidade e instabilidade, que so obviamente muito impactantes e perceptveis por seres humanos, nem sempre deixam um sinal claro nos sedimen-tos de lacustres. Os solos e as caractersticas geomorfolgicas podem ajudar a elucidar esta questo.

    importante notar que as lacunas arqueolgicas esto presen-tes no s em Lagoa Santa, mas em outras partes do Brasil, como a Amaznia (NEVES, 2007), bem como em vrias partes da Amrica

  • GEOARQUEOLOGIA162

    do Sul, como os Pampas (ARAUJO et al., 2006), NW da Argentina (NEME e GIL, 2009) e Chile (NUEZ et al., 2001). Essas lacunas esto relacionadas a um baixo sinal arqueolgico. Isso no signifi-ca que as pessoas abandonaram totalmente essas reas, e que nunca mais fizeram incurses nas mesmas, significa apenas que eles mu-daram o foco de sua ocupao para outro lugar. Outra consequncia importante dos dados de Lagoa Santa que eles mostram a depopu-lao de uma rea que est longe de ser um ambiente marginal, como o caso de desertos ou locais de grande altitude.

    Seja como for, Lagoa Santa oferece um bom exemplo de mudan-a no padro de ocupao de grupos Paleondios, que provavelmente deslocaram o foco de sua ocupao para outro local, mantendo a re-gio dentro de seu territrio. A continuidade clara na indstria ltica, depois de 1.700 anos de virtual ausncia de sinal arqueolgico, um bom indcio, e sugere que os Paleondios de Lagoa Santa mantiveram seus traos culturais bem alm do Holoceno inicial. PARA ONDE VAMOS? RUMO A ABORDAGENSGEO-INFORMADAS

    Falar sobre a importncia do que chamamos hoje em dia de geo-arqueologia talvez seja desnecessrio. Na verdade, a geoarqueologia to arraigada na arqueologia que no deveria ser encarada como uma especialidade, mas simplesmente como arqueologia bem feita, tanto do ponto de vista terico como em termos de mtodos (ARAU-JO, 1999). A fim de abordar um determinado stio, uma determinada regio ou problema, devemos ter um quadro terico geoarqueolgico operando em nossas mentes (BUTZER, 1980), porque no importa o que estudemos, desde Paleondios at o perodo histrico, temos que encarar que a maioria das questes contemporneas e relevantes s podem ser respondidas por meio de materiais, tcnicas e equipamen-tos que esto alm da tradicional abordagem OryzaetPhaseolus.

    Um aspecto interessante da arqueologia do perodo Paleon-dio que ela tem que se basear ainda mais em geoarqueologia, no

  • GEOMORFOLOGIA E PALEOAMBIENTES NO LESTE DA AMRICA DO SUL... 163

    s porque os stios muitas vezes so compostos apenas por rochas, mas tambm porque eles tm feito parte da litosfera por um longo tempo. A necessidade de utilizao de uma abordagem geoarqueo-lgica para se lidar com stios Paleondios foi reconhecida desde os anos 1930, nos Estados Unidos (HOLLIDAY, 2009). No entanto, ainda mais premente que usemos um raciocnio geoarqueologica-mente embasado na pesquisa, ou o que eu chamo de uma aborda-gem geo-informada. Muito poucos sitios Paleondios nas Amricas foram encontrados por meio de uma abordagem geo-informada, ou procedimentos de pesquisa explicitamente baseados em abordagens geomorfolgicas / pedolgicas / geolgicas, a fim de encontrar s-tios Paleondios (mas ver excees em DREW, 1979; HOFFECKER, 1988; STAFFORD, 1995; MANDEL, 2008). Nas sees anteriores foi demonstrado que necessrio ter algumas pistas sobre que tipo de paleoambiente reinou em uma determinada rea, e tambm quais processos geomrficos devem ser levados em considerao, tanto no passado como hoje. Foram apresentados tambm alguns aspectos da relao entre os paleoambientes, os seres humanos e os materiais que eles deixaram na paisagem, porm, deve-se ir alm do reconhe-cimento de deficincias e necessidades, e adotar uma postura mais pr-ativa.

    Um dos grandes problemas enfrentados na arqueologia do perodo Paleondio resolver a questo dos stios do final do Pleistoceno. Eles esto ao redor, e mesmo quando rejeitados por um grupo de estudio-sos, eles ainda esto por a. Reunies de especialistas, a fim de verificar a validade de um determinado stio, no funcionam mais como antes, no sculo XIX (BORRERO, 1995). Um bom exemplo a Pedra Fura-da, considerado pouco confivel em meados de 1990 (MELTZER et al., 1994), mas s mais tarde publicado na ntegra por Parenti (2001) e, agora,contando com o suporte de pesquisadores franceses (por exem-plo, FOGAA e BOEDA, 2006). Outro exemplo, talvez melhor, Mea-dowcroft Rockshelter, no leste dos Estados Unidos. Como o coordena-dor da escavao afirmou, no h nenhuma perspectiva de um fim controvrsia (ADOVASIO, 1999). Ns podemos sentar e esperar at o

  • GEOARQUEOLOGIA164

    dia em que estes locais sero resolvidos (que nunca vai acontecer) ou, alternativamente, podemos desenvolver uma abordagem geo-informa-da e ir atrs dos locais e mtodos adequados para as nossas necessida-des. Nossas necessidades so presentemente relacionadas ao aumento do sinal arqueolgico e, por conseguinte, do tamanho da amostra de possveis stios do Pleistoceno. Apenas um padro de stios pode re-solver o problema, dentro de uma abordagem regional (DUNNELL e DANCEY, 1983). A maioria dos stios Paleondios nas Amricas foram encontrados por acaso, ou porque eles estavam sendo erodidos e conti-nham artefatos facilmente reconhecveis, ou porque estavam abaixo de depsitos mais recentes, e algum escavou um pouco mais profundo.

    Talvez seja desnecessrio dizer que no h uma receita, e que cada equipe tem que encontrar as melhores maneiras de procurar stios Paleondios, mas podemos pensar em alguns tpicos bsicos.

    Aumentando o Sinal Arqueolgico I: Microartefatos

    Em nossa discusso anterior sobre as vicissitudes do sinal arqueo-lgico, tornou-se claro que difcil separar a total ausncia de seres humanos em uma determinada paisagem, ou perodo, de um baixo sinal arqueolgico. No entanto, existem vrias maneiras de aumentar dramaticamente o sinal arqueolgico, e uma delas est relacionada aos microartefatos. Microartefatos, definidos de maneira abrangente como qualquer produto da atividade humana menor que 2 milmetros, pas-saram a ser considerados seriamente como uma importante fonte de dados aps o artigo seminal de Fladmark (1982). Fladmark no s pro-duziu uma riqueza de dados experimentais, mas apontou para vrias direes futuras para a anlise de microartefatos, uma delas relacionada com seu potencial na deteco de stios arqueolgicos. Em suas palavras:

    Location of deeply buried sites: () small samples of sedi-ments obtained from buried strata () should allow lithic site

    verification rapidly, cheaply, and with minimum disturbance

    compared to current techniques of deep surface exploration.

  • GEOMORFOLOGIA E PALEOAMBIENTES NO LESTE DA AMRICA DO SUL... 165

    Verification of problematical sites: Problematical sites, such as certain proposed New World early man localities, which

    cannot be proved due to absence of standard macroscopic

    indicators of cultural activity, may be verified by micro-debi-tage analysis (FLADMARK, 1982, p. 216).

    O raciocnio simples: de acordo com dados de Fladmark, um nico seixo lascado por percutor duro produz cerca de 400 mil par-tculas na frao 0,125-0,063 mm. Isto significa que microartefatos so, de certa forma, equivalentes ao plen, e podem ser considerados como um excelente indicador da presena humana.

    Nos anos que se seguiram ao artigo de Fladmark, vrios auto-res escreveram sobre o assunto (DUNNELL e STEIN, 1989; HULL, 1987; NICHOLSON, 1983; SHERWOOD et al., 1995; STEIN e TELTSER, 1989; VANCE, 1989). A maioria dos trabalhos foi dirigi-da para anlise intra-stio, mas Nicholson (1983) foi um dos poucos que tentou usar microartefatos na deteco de stios. Sua tentativa foi muito bem sucedida, uma vez que o uso de microartefatos foi res-ponsvel pela maior taxa de deteco (32% contra 7% para poos de teste 1x1m). Infelizmente, Nicholson concluiu que o mtodo no era muito eficaz na deteco de stios, j que no havia nenhuma relao espacial entre microartefatos e artefatos regulares. Ele concluiu que havia um rudo de fundo de microartefatos na paisagem, prova-velmente devido atividade elica, j que ele estava trabalhando em um ambiente periglacial no Canad. Hoje sabemos que no h razo para acreditar que microartefatos emulariam a distribuio espacial de suas contrapartes macroscpicas (DUNNELL e STEIN, 1989), mas esta caracterstica deve ser explorada, e no lamentada.

    Mais de uma dcada aps o trabalho de Nicholson, Stafford (1995) apresentou um caso bem-sucedido de anlise de microartefa-tos em um contexto regional, dentro de uma abordagem siteless ou de no-stios (DANCEY, 1974; DUNNELL e DANCEY, 1983; FO-LEY, 1981; THOMAS, 1975). Mesmo assim, 30 anos aps a publicao do artigo de Fladmark, os microartefatos ainda no fazem parte da

  • GEOARQUEOLOGIA166

    anlise arqueolgica regular. intrigante que hoje em dia a maioria dos artigos que lidam com microartefatos ainda esto relacionados anlise espacial intra-stio, e a maioria deles aplicados a stios do Neoltico do Oriente Mdio ou em contextos de Arqueologia Clssi-ca. O enorme potencial de microartefatos na sinalizao da presena de humanos na paisagem, por meio de amostragem de sedimentos em massa, permanece praticamente inexplorado. Sonnenburg et al. (2011) uma exceo auspiciosa na tendncia atual, em que a anlise de amostras de sedimentos provenientes do fundo de um lago levou deteco de um stio Paleondio submerso no Canad.

    Voltando aos ambientes tropicais, no h razo para acreditar-mos que a atividade elica v criar um rudo de fundo de microar-tefatos. Se o rudo de fundo for criado, ser por meio de processos fluviais, e isso s pode auxiliar na deteco de atividades humanas sobre a paisagem. Tomando um terrao fluvial como exemplo, mi-croartefatos seriam acumulados depois de erodidos de um ou mais stios arqueolgicos. Mesmo se nenhum stio for descoberto em um terrao fluvial em particular, uma anlise de microartefatos po-deria fornecer pistas sobre a eventual presena de seres humanos a montante e, sobretudo, uma idade mnima para esta presena, com base na datao por luminescencia do terrao, ou mesmo dos micro-artefatos em si (SUSINO, 2007). Um esquema de amostragem com base na classe de drenagem (WARREN e O'BRIEN, 1981) poderia ser facilmente aplicado. Uma vez que a ocupao humana sempre desigual na paisagem, e ocupaes Paleondias provavelmente ainda mais, espera-se que algumas regies (bacias hidrogrficas) forneam fortes evidncias de stios antigos, enquanto outras no. Aumentando o Sinal Arqueolgico II: Carvo e Plen

    A presena de carvo vegetal nos solos e sedimentos no ne-cessariamente relacionada com a presena de um stio arqueolgico mas pode ser um sinal de que houve seres humanos na paisagem. Isso no muito til quando lidamos com stios do Holoceno mdio

  • GEOMORFOLOGIA E PALEOAMBIENTES NO LESTE DA AMRICA DO SUL... 167

    e final, mas pode ser muito esclarecedor quando comeamos a recuar no tempo, e quando temos dados slidos sobre o paleoambiente rei-nante. Bush et al. (2007) apresentam dois estudos de caso na Amaz-nia peruana e brasileira, onde a perfurao de sedimentos lacustres forneceu dados sobre a presena de seres humanos com base em car-vo, plen e fitlitos de milho (Zea mays) encontrados em um nvel datado em 4000 cal AP no Lago Geral. Behling et al. (1998) tambm encontraram plen de milho e mandioca (Manihot esculenta) em Bo-tucatu, no sudeste do Brasil, a cerca de 3.000 cal AP (2.910 14C AP). A importncia destes dados no pode ser subestimada, uma vez que estas idades so bem mais antigas do que o incio do sinal arqueol-gico relacionado domesticao de plantas nessas respectivas reas.

    Partculas de carvo encontradas em sedimentos lacustres tam-bm podem ser excelentes indicadores de presena humana, especial-mente na Amaznia, onde as condies climticas eram geralmente inadequadas para incndios naturais. Bush et al. (2007) marcam esse ponto quando observam que durante os 50.000 anos de histria re-cuperados na regio dos Seis Lagos, apenas uma camada, em 5.600 cal AP, apresentou carvo. Behling (2001), trabalhando tambm na Amaznia (Lagoa Curu, prxima a Belm) no encontrou carvo vegetal em uma palinozona entre 13.600 e 12.700 cal AP (11.700 e 10.840 14C AP), mas comeou a encontrar carvo entre 12.700 e 12.000 cal AP (10.840 e 10.270 14C AP), que atribuiu s atividades humanas, uma vez que as inferencias paleoambientais no apoiam a presena de incndios naturais. Essas idades esto de acordo com os dados recolhidos por Roosevelt et al. (1996), mas o ponto principal aqui a possibilidade de saber que havia seres humanos na paisagem mesmo sem encontrar nenhum stio arqueolgico. Esperar o Inesperado, e Ir Mais Fundo

    Depsitos quaternrios e processos geomrficos tropicais no so um tpico simples, nem mesmo para as pessoas que os estudam de for-ma regular. A menos que se esteja escavando na rocha alterada do em-

  • GEOARQUEOLOGIA168

    basamento, praticamente impossvel saber a idade do solo, e por isso, melhor ir o mais fundo possvel. Trados motorizados, ou operados manualmente, so extremamente teis para se ir alm da profundida-de regulamentar de 1 m que a maioria dos trabalhos de arqueologia alcana, geralmente com o uso de cavadeiras, sendo realmente eficazes na deteco de stios profundamente enterrados. Nossa experincia que, com um trado manual do tipo caneco, um furo de 3 m de pro-fundidade pode ser feito por uma nica pessoa (em solo arenoso) em 17 minutos, peneiramento e registro includos. Outro fator que nossa experincia pessoal mostrou que melhor configurar quadrados de prospeco e uma malha regular para a execuo das sondagens, se-guindo o protocolo fielmente, do que localizar as sondagens de maneira oportunista, em locais onde se acha que os stios esto, porque eles provavelmente no estaro l, e porque a paisagem que vemos hoje no tem nada a ver com o que era h 12.000 anos atrs ou mais. A inverso de relevo comum em ambientes tropicais (COELHO NETTO, 1999; COELHO NETTO e FERNANDES, 1990), e o morro de hoje pode ter sido o fundo do vale de ontem. A tradicional regra de ouro que pode-se encontrar stios profundamente enterrados em baixas vertentes, porque onde o sedimento se acumula, e stios muito rasos em altas vertentes ou divisores de gua, porque esses locais esto sendo erodidos, muito dependente do contexto. Eu tive a oportunidade de trabalhar em pelo menos trs stios que quebraram essas duas leis. O desenvolvimento de protocolos para a deteco de microartefatos em tempo real, durante a perfurao, outro tema que deve ser perseguido. CONSIDERAES FINAIS

    Meu objetivo foi o de apresentar algumas das implicaes que os paleoambientes podem ter sobre os seres humanos e sobre os materiais que eles deixaram na paisagem. Como arquelogos, s podemos espe-rar resolver a primeira questo por meio da abordagem da segunda.

    Muitas perguntas sobre o povoamento das Amricas esto den-tro desta linha de pesquisa. No h perspectiva de um fim, citando

  • GEOMORFOLOGIA E PALEOAMBIENTES NO LESTE DA AMRICA DO SUL... 169

    Adovasio (1999), a menos que se aproxime o problema dos stios antigos da Amrica do Sul a partir de uma perspectiva regional, me-nos centrada em stios e artefatos diagnsticos, e mais centrada (ou no-centrada) em lticos dispersos sobre a paisagem. Dado nosso es-tado atual de conhecimento, ningum est realmente errado sobre o momento do povoamento das Amricas e, inversamente, ningum est realmente certo. Como cientistas, ns devemos tentar fazer de nossa coleta de dados um empreendimento maior que os nossos pre-conceitos.

    REFERNCIAS

    ABSBER, A. N. Um conceito de geomorfologia a servio das pesquisas do Qua-ternrio. Geomorfologia, So Paulo, n. 18, 1969.

    ABSY, M. L. et al. Mise en vidence de quatre phases douverture de la fort dense dans le sud-est de lAmazonie au cours des 60,000 dernires annes. Premire comparaison avec dautres rgions tropicales. Comptes Rendus dAcademie des Sciences, Paris, Serie II, v. 312, p. 673-678, 1991.

    ADOVASIO. J. No vestige of a beginning nor prospect for an end: Two decades of debate on Meadowcroft Rockshelter. In: BONNICHSEN, R.; TURMIRE, K. L. Ice AgePeoplesofNorthAmerica:Environments,Origins,andAdaptationsoftheFirstAmericans. Corvallis: Oregon State University Press, 1999, p. 416-31.

    ANDERSON, D. G.; GILLAM, C. J. Paleoindian colonization of the Americas: Implications from an examination of physiography, demography, and artifact distribution. AmericanAntiquity, v. 65, p. 43-66, 2000.

    ARAUJO, A. G. M. As geocincias e suas implicaes em teoria e mtodos ar-queolgicos. RevistadoMuseudeArqueologiaeEtnologia,Anaisda IReunioInternacionaldeTeoriaArqueolgicanaAmericadoSul, So Paulo, Suplemento 3, p. 35-45, 1999.

    ARAUJO, A. G. M.; FEATHERS, J. K. First notice of open-air Paleoamerican sites at Lagoa Santa: Some geomorphological and paleoenvironmental aspects, and implications for future research. CurrentResearchinthePleistocene, v. 25, p. 27-29, 2008.

    ARAUJO. A. G. M. et al. Holocene dryness and human occupation in Brazil dur-ing the Archaic Gap. Quaternary Research, v. 64, p. 298-307, 2005.

    ARAUJO. A. G. M. et al. Human occupation and paleoenvironments in South

  • GEOARQUEOLOGIA170

    America: Expanding the notion of an Archaic Gap. Revista do Museu de Arque-ologiaeEtnologia, So Paulo, n. 15/16, p. 3-35, 2006.

    ARAUJO, A. G. M.; PUGLIESE, F. The use of non-flint raw materials by Paleo-indians in Eastern South America: A Brazilian perspective. In: STERNKE, F.; EIGELAND, L.; COSTA, L.J. Non-FlintRawMaterialUseinPrehistory:Oldprej-udicesandNewDirections.BARSeries1939. Oxford: Oxbow, 2009, p. 169-175.

    AULER, A. S. et al. Series dating and taphonomy of Quaternary vertebrates from Brazilian Caves. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, v. 240, p. 508522, 2006.

    AULER, A. S.; SMART, P. L. Late Quaternary paleoclimate in semiarid North-eastern Brazil from U-Series dating of travertine and water-table speleothems. QuaternaryResearch, v. 55, p. 159-167, 2001.

    BAKER, P. A. et al. The history of South American tropical precipitation for the past 25,000 years. Science, v. 291, p. 640-643, 2001.

    BARBERI, M.Mudanas Paleoambientais naRegio dosCerrados do PlanaltoCentralDuranteoQuaternrioTardio:OEstudodaLagoaBonita,DF. Tese (Dou-torado) Universidade de So Paulo, 2001.

    BARBERI, M.; SALGADO-LABOURIAU, M. L.; SUGUIO, K. Paleovegetation and paleoclimate of Vereda de guas Emendadas, central Brazil. JournalofSou-thAmericanEarthSciences, v. 13, p. 241-254, 2000.

    BATE, L. F. Culturas y modos de vida de los cazadores recolectores en el pobla-miento de America del Sur. Revista deArqueologaAmericana v. 2, p. 89-153, 1990.

    BEHLING, H. Late Quaternary vegetation, climate and fire history of the Arau-caria forest and campos region from Serra Campos Gerais, Paran State (South Brazil). ReviewofPalaeobotanyandPalynology,v. 97, p. 109-121, 1997.

    BEHLING, H. Late Quaternary vegetational and climatic changes in Brazil. Re-viewofPalaeobotanyandPalynology, v. 99, p. 143-156, 1998.

    BEHLING, H. Late Quaternary environmental changes in the Lagoa da Curu region (eastern Amazonia, Brazil) and evidence of Podocarpus in the Amazon lowland. VegetationHistoryandArchaeobotany, v. 10, p. 175-183, 2001.

    BEHLING, H. South and southeast Brazilian grasslands during Late Quaternary times: a synthesis. Paleogeography,Palaeoclimatology,Palaeoecology, v. 177, p. 19-27, 2002.

    BEHLING, H. Late Quaternary vegetation, fire and climate dynamics of Serra do Araatuba in the Atlantic coastal mountains of Paran State, southern Brazil. VegetationHistoryandArchaeobotany, v. 16, p. 77-85, 2007.

  • GEOMORFOLOGIA E PALEOAMBIENTES NO LESTE DA AMRICA DO SUL... 171

    BEHLING, H.; BAUERMANN, S.; NEVES, P. C. P. Holocene environmetal changes in the So Francisco de Paula region, southern Brazil. JournalofSouthAmericanEarthSciences, v. 14, p. 631-639, 2001.

    BEHLING, H. et al. Late Quaternary vegetation and climate dynamics in the Serra da Bocaina, southeastern Brazil. Quaternary International, v. 161, p. 22-31, 2007.

    BEHLING, H.; LICHTE, M. Evidence of dry and cold climatic conditions at glacial times in tropical Southeastern Brazil. Quaternary Research, v. 48, p. 348-358, 1997.

    BEHLING, H.; LICHTE, M.; MIKLS, A. Evidence of a forest free landscape un-der dry and cold climatic conditions during the last glacial maximum in the Bot-ucatu region (So Paulo State), Southeastern Brazil. In: RABASSA, J.; SALEMME, M. QuaternaryofSouthAmericaandAntarcticPeninsula. A. A. Balkema, Rot-terdam, 1998, p. 99-110.

    BEHLING, H.; NEGRELLE, R. B. Tropical rain forest and climate dynamics of the Atlantic Lowland, Southern Brazil, during the Late Quaternary. Quaternary Research, v. 56, p. 383-389, 2001.

    BEHLING, H. et al. Late Quaternary Araucaria forest, grassland (Campos), fire and climate dynamics, studied by high-resolution pollen, charcoal and multivari-ate analysis of the Cambar do Sul core in southern Brazil. Palaeogeography,Pal-aeoclimatology,Palaeoecology, v. 203, p. 277-297, 2004.

    BEHLING, H.; PILLAR, V.; BAUERMANN, S. Late Quaternary grassland (Cam-pos), gallery forest, fire and climate dynamics, studied by pollen, charcoal and mul-tivariate analysis of the So Francisco de Assis core in western Rio Grande do Sul (southern Brazil). ReviewofPalaeobotanyandPalynology, v. 133, p. 235-248, 2005.

    BEHLING, H.; SAFFORD, H. D. Late-glacial and Holocene vegetation, climate and fire dynamics in the Serra dos rgos, Rio de Janeiro State, southeastern Brazil. GlobalChangeBiology, v. 16, p. 1661-1671, 2010.

    BERRIO, J. C. et al. Late Holocene history of Savanna gallery forest from Carima-gua area, Colmbia. ReviewofPalaeobotanyandPalynology, v. 111, p. 295-308, 2000.

    BIGARELLA, J. J.; MOUSINHO, M. R.; SILVA, J. X. Pediplanos, pedimentos e seus depsitos correlativos no Brasil. BoletimParanaensedeGeografia, n. 16/17, p. 117-151, 1965.

    BORRERO, L. A. Human and natural agency: some comments on Pedra Furada (Brazil). Antiquity, v. 69, p. 602, 1995.

    BORRERO, L. A. et al. The Pleistocene-Holocene transition and human occupa-tions in the southern cone of South America. Quaternary International, v. 49/50, p. 191-199, 1998.

  • GEOARQUEOLOGIA172

    BURROUGHS, W. J. ClimateChangeinPrehistoryTheEndoftheAgeofChaos. Cambridge: Cambridge University Press, 2005.

    BUSH, M. B. et al. Amazonian paleoecological histories: one hill, three water-sheds.Palaeogeography,Palaeoclimatology,Palaeoecology, v. 214, p. 359-393, 2004.

    BUSH, M. B. et al. Holocene fire and occupation in Amazonia: records from two lake districts. PhylosophicalTransctionsoftheRoyalSocietyB, v. 362, p. 209-218, 2007.

    BUTZER, K. W. Context in archaeology: an alternative perspective. Journal of FieldArchaeology, v. 7, p. 417-422, 1980.

    CARNEIRO FILHO, A. et al. Amazonian paleodunes provide evidence for drier climate phases during the Late Pleistocene-Holocene. QuaternaryResearch, v. 58, p. 205-209, 2002.

    CLARK, P. U.; MIX, A. C. Ice Sheets and sea level of the Last Glacial Maximum. QuaternaryScienceReviews, v. 21, p. 1-7, 2002.

    CLIMAP Project Members. Seasonal Reconstructions of the Earths Surface at the Last Glacial Maximum. Boulder,C.O.:GeologicalSocietyofAmerica,MapandchartSeries, v. 36, 1981.

    COELHO NETTO, A. L. Catastrophic landscape evolution in a humid region (SE Brazil): Inheritances from tectonic, climatic and land use induced changes. An-nals of the Fourth Conference on Geomorphology, Italy. SupplementidiGeogra-fia Fisica e Dinamica Quaternaria, v. III, p. 21-48, 1999.

    COELHO NETTO, A. L.; FERNANDES, N. F. Hillslope erosion, sedimentation, and relief inversion in SE Brazil: Bananal, SP. Research Needs and Applications to Reduce Erosion and Sedimentation in Tropical Steeplands. ProceedingsoftheFijiSymposium,June1990:IAHS-AISH,n. 192, p. 174-182, 1990.

    COLINVAUX, P. A. et al. A long pollen record from lowland Amazonia: Forest and cooling in glacial times. Science, v. 274, p. 85-88, 1996.

    COLINVAUX, P. A.; DE OLIVEIRA, P. E.; BUSH, M. B. Amazonian and neo-tropical plant communities on glacial time-scales: The failure of the aridity and refuge hypotheses. QuaternaryScienceReviews, v. 19, p. 141-169, 2000.

    COOKE, R. Human settlement of Central America and northernmost South America (14,000-8000 BP). Quaternary International, v. 49/50, p. 177-190, 1998.

    CHASE, B. Evaluating the use of dune sediments as a proxy for palaeo-aridity: A southern African case study. Earth-ScienceReviews, v. 93, p. 31-45, 2009.

    CHENG, C. H.; LEHMANN, J.; ENGELHARD, M. H. Natural oxidation of black carbon in soils: Changes in molecular form and surface charge along a climose-

  • GEOMORFOLOGIA E PALEOAMBIENTES NO LESTE DA AMRICA DO SUL... 173

    quence. Geochimica et Cosmochimica Acta, v. 72, p. 1598-1610, 2008.

    CRUZ JR, F. W. et al. Insolation-driven changes in atmospheric circulation over the past 116,000 years in subtropical Brazil. Nature, v. 434, p. 63-66, 2005.

    CRUZ JR, F. W. et al. Reconstruction of regional atmospheric circulation features during the late Pleistocene in subtropical Brazil from oxygen isotope composition of speleothems. EarthandPlanetaryScienceLetters, v. 248, p. 495-507, 2006.

    CRUZ JR, F. W. et al. Orbitally driven east-west antiphasing of South American precipitation. Nature Geoscience, v. 2, p. 210-214, 2009a.

    CRUZ JR, F. W. et al. Orbital and millennial-scale precipitation changes in Brazil from speleothem records. In: VIMEUX, F.; SYLVESTRE, F.; KHODRY, M. PastClimateVariabilityinSouthAmericaandSurroundingRegions. Springer, 2009b, p. 29-60.

    CZAPLEWSKI, N. J.; CARTELLE, C. Pleistocene Bats from Cave Deposits in Ba-hia, Brazil.JournalofMammalogy, v. 79, p. 784-803, 1998.

    DANCEY, W. S. The archaeological survey: a reorientation. Man in the Northeast, v. 8, p. 98-112, 1974.

    DE OLIVEIRA, P. E.; BARRETO, A. M.; SUGUIO, K. Late Pleistocene/Holocene climatic and vegetational history of the Brazilian caatinga: the fossil dunes of the middle So Francisco River. Palaeogeography,Palaeoclimatology,Palaeoecology, v. 152, p. 319-337, 1999.

    DE MENOCAL, P. B. Cultural responses to climate change during the Late Holo-cene. Science, v. 292, p. 667-673, 2001.

    DIAMOND, J. The worst mistake in the history of the human race. DiscoverMag-azine, May, p. 64-66, 1987.

    DIAMOND, J. Collapse.HowSocietiesChoosetoFailorSucceed. New York: Vi-king Press, 2005.

    DILLEHAY, T. TheSettlementof theAmericasANewPrehistory. New York: Basic Books, 2000.

    DILLEHAY, T.; COLLINS, M. B. Early cultural evidence from Monte Verde in Chile. Nature, v. 332, p. 150-152, 1988.

    DIXON, E. J. Human colonization of the Americas: timing, technology and pro-cess. QuaternaryScienceReviews, v. 20, p. 277-299, 2001.

    DREW, D. L. Early Early Man in North America and where to look for him: Geo-morphic contexts. PlainsAnthropologist, v. 24, p. 269 281, 1979.

    DUNNELL, R. C.; DANCEY W. S. The siteless survey: a regional scale data collec-

  • GEOARQUEOLOGIA174

    tion strategy. AdvancesinArchaeologicalMethodandTheory, v. 6, p. 267-287, 1983.

    DUNNELL, R. C.; STEIN, J. K. Theoretical issues in the interpretation of micro-artifacts. Geoarchaeology, v. 4, p. 31-42, 1989.

    ERHART, H. Lagensedessolsentantquephnomnegologique.Esquissedunethoriegologiqueetgochimique.Biostasieetrhxistasie. Paris: Masson, 1956.

    FAIRBRIDGE, R. W. Hypsithermal. In: GORNITZ, V. EncyclopediaofPaleocli-matologyandAncientEnvironments. Springer: Dordretch, 2009, p. 451-453.

    FERRAZ-VICENTINI, K. R.; SALGADO-LABOURIAU, M. L. Palynological analysis of a palm swamp in Central Brazil. JournalofSouthAmericanEarthSci-ences, v. 9, p. 207-219, 1996.

    FLADMARK, K. R. Routes: alternate migration corridors for Early Man in North America. AmericanAntiquity, v. 44, p. 55-69, 1979.

    FLADMARK, K. R. Microdebitage analysis: initial considerations. Journal of Ar-chaeologicalScience, v. 9, p. 205-220, 1982.

    FELICE, G. D. A controvrsia sobre o stio arqueolgico Toca do Boqueiro da Pedra Furada. RevistaFundhamentos, n. 2, p. 144-178, 2002.

    FOGAA, E.; BOEDA, E. A antropologia das tcnicas e o povoamento da Amri-ca do Sul pr-histrica. Habitus, v. 4, p. 673-684, 2006.

    FOLEY, R. Off-site archaeology: an alternative approach for the short-sited. In: HODDER. I.; ISAAC, G.; HAMMOND, N. PatternofthePastStudiesinHonourofDavidClarke. Cambridge: Cambridge University Press, 1981.

    FREITAS, H. A. et al. Late Quaternary vegetation dynamics in the Southern Amazon basin inferred from carbon isotopes in soil organic matter. Quaternary Research, v. 55, p. 39-46, 2001.

    HADJAS, I. et al. Precise radiocarbon dating of Late-Glacial cooling in mid-lati-tude South America. QuaternaryResearch, v. 59, p. 70-78, 2003.

    HAFFER, J.; PRANCE, G. T. Climate forcing of evolution in Amazonia during the Cenozoic: on the refuge theory of biotic differentiation. Amazoniana, v. 16, p. 579-607, 2001.

    HOLLIDAY, V. T. Geoarchaeology and the search for the first Americans. Cat-ena,v. 78, p. 310-322, 2009.

    HOFFECKER, J. F. Applied geomorphology and archaeological survey strategy for sites of Pleistocene age: An example from Central Alaska. Journal of Archaeo-logicalScience, v. 15, p. 683-713, 1988.

    HOOGHIEMSTRA, H.; VAN DER HAMMEN, T. Neogene and Quaternary de-

  • GEOMORFOLOGIA E PALEOAMBIENTES NO LESTE DA AMRICA DO SUL... 175

    velopment of the neotropical rain forest: the forest refugia hypothesis, and a lit-erature overview. Earth-ScienceReviews,v. 44, p. 147-183, 1998.

    HULL, K. L. Identification of cultural site formation processes through micro-debitage analysis. AmericanAntiquity, v. 52, p. 772-783, 1987.

    JACOB, J. et al. Major environmental changes recorded by lacustrine sedimentary organic matter since the last glacial maximum near the equator (Lagoa do Ca, NE Brazil). Palaeogeography,Palaeoclimatology,Palaeoecology, v. 205, p. 183-197, 2004.

    JACOB, J. et al. Paleohydrological changes during the last deglaciation in North-ern Brazil. QuaternaryScienceReviews, v. 26, p. 1004-1015, 2007.

    JOLLY, D.; HAXELTINE, A. Effect of low glacial atmospheric CO2 on tropical African montane vegetation. Science, v. 276, p. 786-788, 1997.

    KNOX, J. C. Valley alluviation in southwestern Wisconsin. Annals of the Associa-tionofAmericanGeographers, v. 62, p. 401-410, 1972.

    KUZYAKOV, Y. et al. SoilBiology&Biochemistry, v. 41, p. 210-219, 2009.

    LATRUBESSE, E. M.; KALICKI, T. Late Quaternary paleohydrological changes in the upper Purus basin, southwestern Amazonia, Brazil. Zeitschrift fur Geomor-phologie, v. 129, p. 41-59, 2002.

    LEDRU, M. P. Late Quaternary environmental and climatic changes in Central Brazil. Quaternary Research, v. 39, p. 90-98, 1993.

    LEDRU, M. P. et al. Absence of Last Glacial Maximum records in lowland tropical forests. Quaternary Research, v. 49, p. 233-237, 1998.

    LEDRU, M. P. et al. The last 50,000 years in the Neotropics (Southern Brazil): Evolution of vegetation and climate. Palaeogeography,Palaeoclimatology,Palaeo-ecology, v. 123, p. 239-257, 1996.

    LEDRU, M. P. et al. Tropical climates in the game of two hemispheres revealed by abrupt climatic change. Geology, v. 30, p. 275-278, 2002.

    LEDRU, M. P.; MOURGUIART, P.; RICCOMINI, C. Related changes in biodi-versity, insolation and climate in the Atlantic rainforest since the last interglacial. Palaeogeography,Palaeoclimatology,Palaeoecology, v. 271, p. 140-152, 2009.

    LEDRU, M. P. et al. Paleoclimate changes during the last 100,000 yr from a re-cord in the Brazilian Atlantic rainforest region and interhemispheric compari-son. Quaternary Research, v. 64, p. 444-450, 2005.

    MANDEL, R. D. Buried paleoindian-age landscapes in stream valleys of the cen-tral plains, USA. Geomorphology, v. 101, p. 342-361, 2008.

  • GEOARQUEOLOGIA176

    MAJOR, J. et al. Fate of soil-applied black carbon: downward migration, leaching and soil respiration. GlobalChanceBiology, v. 16, p. 1366-1379, 2010.

    MAYEWSKI, P. A. et al. Holocene climate variability. Quaternary Research v. 62, p. 243-255, 2004.

    MAYLE, F. E. et al. Vegetation and fire at the Last Glacial Maximum in tropical South America. In: VIMEUX, F.; SYLVESTRE, F.; KHODRY, M. PastClimateVariabilityinSouthAmericaandSurroundingRegions. Springer, 2009, p. 89-112.

    MCANANY, P. A.; YOFFEE, N. (Ed.) QuestioningCollapse.HumanResilience,Ecological Vunerability, and the Aftermath of Empire. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.

    MEGGERS, B. J. Mid-Holocene climate and cultural dynamics in Brazil and the Guianas. In: ANDERSON, D.; MAASCH, K.; SANDWEISS, D. ClimateChangeandCulturalDynamics:AGlobalPerspectiveonMid-HoloceneTransitions. Else-vier, 2007, p. 117-155.

    MEIS, M. R.; MOURA, J. R. Upper Quaternary sedimentation and hillslope evo-lution; southeastern Brazilian Plateau. AmericanJournalofScience, v. 284, p. 241-254, 1984.

    MELO, M. S. et al. Sedimentao quaternria no espao urbano de Ponta Grossa, PR. GeocinciasUNESP, v. 22, p. 33-42, 2003.

    MELTZER, D. J.; ADOVASIO, J. M.; DILLEHAY, T. On a Pleistocene human oc-cupation at Pedra Furada, Brazil. Antiquity, v. 68, p. 695-714, 1994.

    MIX, A. C.; BARD, E.; SCHNEIDER, R. Environmental processes of the ice age: land, oceans, glaciers (EPILOG). QuaternaryScienceReviews, v. 20, p. 627-657, 2001.

    MODENESI-GAUTTIERI, M. C. Hillslope deposits and the Quaternary evolu-tion of the altos campos Serra da Mantiqueira, from Campos do Jordo to the Itatiaia massif. RevistaBrasileiradeGeocincias, v. 30, p. 508-514, 2000.

    MOURA, J. S. Geomorfologia do Quaternrio. In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. (Org.) Geomorfologia:umaAtualizaodeBaseseConceitos. 3rd. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003, p. 335-364.

    MOURA, J. S.; MELLO, C. L. Classificao aloestratigrfica do Quaternrio su-perior na regio de Bananal (SP/RJ). RevistaBrasileiradeGeocincias, v. 21, p. 236-254, 1991.

    MOURA, J. S.; PEIXOTO, M. O.; SILVA, T. M. Geometria do relevo e estratigrafia do Quaternrio como base tipologia de cabeceiras de drenagem em anfiteatro Mdio vale do Rio Paraba do Sul. RevistaBrasileiradeGeocincias, v. 21, p. 255-265, 1991.

  • GEOMORFOLOGIA E PALEOAMBIENTES NO LESTE DA AMRICA DO SUL... 177

    MOURA, J. S.; SILVA, T. M. Complexo de rampas de colvio. In: CUNHA, S.B.; GUERRA, A. T. GeomorfologiadoBrasil. Rio de Janeiro: Bertrand, 2003, p. 143-180.

    NACSN North American Commission on Stratigraphic Nomenclature. North American stratigraphic code, AmericanAssociationofPetroleumGeologists,Bul-letin 67, p. 841-875, 1983.

    NAKAMURA, C.; MELO J. R.; CECCANTINI, G. T. Macro-restos vegetais: uma abordagem paleoetnobotnica e paleoambiental. In: ARAUJO, A. G. M.; NEVES, W. A. LapadasBoleiras:UmStioPaleondiodoCarstedeLagoaSanta,MG,Bra-sil. So Paulo: Annablume / FAPESP, 2010, p. 159-187.

    NEME, G.; GIL, A. Human Occupation and Increasing Mid-Holocene Aridity. CurrentAnthropology, v. 50, p. 149-163, 2009.

    NEVES, E. G. El Formativo que nunca termin: la larga histria de la estabili-dad en las ocupaciones humanas de la Amazona Central. BoletndeArqueologaPUCP,v. 11, p. 117-142, 2007.

    NEVES, W. A.; CORNERO, S. What did South American paleoindians eat? Cur-rentResearchinthePleistocene, v. 14, p. 93-96, 1997.

    NICHOLSON, B. A. A comparative evaluation of four sampling techniques and of the reliability of microdebitage as a cultural indicator in regional surveys. PlainsAnthropologist, v. 28, p. 273-281, 1983.

    NIMER, E. ClimatologiadoBrasil. 2nd ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1989.

    NORTH GREENLAND ICE CORE PROJECT MEMBERS. High-resolution re-cord of Northern hemisphere climate extending into the last interglacial period. Nature, v. 431, p. 147-151, 2004.

    NUEZ, L.; GROSJEAN, M.; CARTAJENA, I. Human dimensions of Late Pleis-tocene/Holocene arid events in southern South America. In: MARKGRAF, V. InterhemisphericClimateLinkages. San Diego: Academic Press, 2001, p. 105-117.

    PARENTI, F. LeGisementQuaternairedePedraFurada(Piau,Brsil)Stratigra-phie,Chronologie,volutionCulturelle. ditions Recherche sur les Civilisations. Ministre des Affaires trangres, 2001.

    PARIZZI, M. G.; SALGADO-LABOURIAU, M. L.; KOHLER, H. C. Genesis and environmental history of Lagoa Santa, southeastern Brazil. TheHolocene, v. 8, p. 311-321, 1998.

    PESSENDA, L. C. et al. The evolution of a tropical rainforest/grassland mosaic in southeastern Brazil since 28,000 14C yr BP based on carbon isotopes and pollen records. Quaternary Research, v. 71, p. 437-452, 2009.

  • GEOARQUEOLOGIA178

    PESSENDA, L. C.; GOUVEIA, S. E. M.; ARAVENA, R. Radiocarbon dating of total soil organic matter and humin fraction and its comparison with C14 ages of fossil charcoal. Radiocarbon, v. 43, p. 595-601, 2001.

    RACZA, M. F. MudanaspaleoambientaisquaternriasnaregiodeLagoaSanta,MG,Brasil:Apalinologiacomosubsidioparaoentendimentodopadrodeocupaohumana. Dissertao (Mestrado) - Universidade de Guarulhos, Guarulhos, 2009.

    RICK, J. W. Dates as data: an examination of the Peruvian preceramic radiocar-bon record. American Antiquity, v. 52, p. 55-73, 1987.

    ROBERTS, N., BARKER, P. Landscape stability and biogeomorphic response to past and future climate shifts in intertropical Africa. In: THOMAS, D. S. G.; AL-LISON, R. J. (Ed.), LandscapeSensitivity. New York: John Wiley, p. 65-82, 1993.

    ROOSEVELT, A. C. et al. Paleoindian cave dwellers in the Amazon: The peopling of the Americas. Science, v. 272, p. 373-384, 1996.

    RICHERSON, P. J.; BOYD, R.; BETTINGER, R. L. Was agriculture impossible during the Pleistocene but mandatory during the Holocene? A climate change hypothesis. American Antiquity, v. 66, p. 387-411, 2001.

    SALGADO-LABOURIAU, M. L. et al. Late Quaternary vegetational and climatic changes in cerrado and palm swamp from Central Brazil. Palaeogeography,Pal-aeoclimatology,Palaeoecology, v. 128, p. 215226, 1997.

    SANTOS, G. M. et al. A revised chronology of the lowest occupation layer of Pe-dra Furada Rock Shelter, Piau, Brazil: the Pleistocene peopling of the Americas. QuaternaryScienceReviews, v. 22, p. 2303-2310, 2003.

    SAIA, S. E. et al. Last glacial maximum (LGM) vegetation changes in the Atlantic Forest, southeastern Brazil. Quaternary International, v. 184, p. 195-201, 2008.

    SARGES, R. R.; NOGUEIRA, A. R.; RICCOMINI, C. Sedimentao coluvial pleistocnica na regio de Presidente Figueiredo, nordeste do estado do Amazo-nas. RevistaBrasileiradeGeocincias, v. 39, p. 350-359, 2009.

    SHERWOOD, S. C.; SIMEK, J. F. & POLHEMUS, R. R. Artifact size and spatial processes: macro and microartifacts in a Mississipian house. Geoarchaeology, v. 10, p. 429-455, 1995.

    SIFEDDINE, A. et al. A 21000 cal years paleoclimatic record from Ca Lake, northern Brazil: Evidence from sedimentary and pollen analysis. Palaeogeogra-phy,Palaeoclimatology,Palaeoecology, v. 189, p. 25-34, 2003.

    SONNENBURG, E. P.; BOYCE, J. I.; REINHARDT, E. G. Quartz flakes in lakes: Microdebitage evidence for submerged Great Lakes prehistoric (Late Paleoindi-anEarly Archaic) tool-making sites. Geology, v. 39, p. 631-634. 2011.

  • GEOMORFOLOGIA E PALEOAMBIENTES NO LESTE DA AMRICA DO SUL... 179

    STAFFORD, C. R. Geoarchaeological perspectives on paleolandscapes and re-gional subsurface archaeology. JournalofArchaeologicalMethodandTheory, v. 2, p. 69-104, 1995.

    STEIN, J. K.; TELTSER, P. Size distribution of artifact classes: combining macro- and micro-fractions. Geoarchaeology, v. 4, p. 1-30, 1989.

    STEVAUX, J. C. Climatic events during the Late Pleistocene and Holocene in the Upper Parana River: correlation with NE Argentina and South-Central Brazil. Quaternary International, v. 72, p. 73-85, 2000.

    SUSINO, G. J. Analysisoflithicartifactmicrodebitageforchronologicaldetermina-tionofarchaeologicalsites. Oxford: Archaeopress, 2007.

    THOMAS, D. H. Nonsite sampling in archaeology; up the creek without a site? In: MUELLER, J. W. Sampling inArchaeology. University of Arizona Press, p. 61-81, 1975.

    THOMAS, M. F. Geomorphology in the Tropics A Study of Weathering and Denudation in Low Latitudes. New York: John Willey & Sons, 1994.

    THOMAS, M. F. Understanding the impacts of Late Quaternary climate change in tropical and sub-tropical regions. Geomorphology, v. 101, p. 146-158, 2008.

    THOMAS, M. F.; THORP, M. B. Geomorphic response to rapid climatic and hy-drologic change during the Late Pleistocene and Early Holocene in the humid and subhumid tropics. QuaternaryScienceReviews, v. 14, p.193207, 1995.

    TURCQ, B.; PRESSINOTI, M. M. N.; MARTIN, L. Paleohydrology and paleocli-mate of the past 33,000 years a the Tamandu river, Central Brazil. Quaternary Research, v. 47, p. 284-294, 1997.

    TSOAR, H. et al. The effect of climate change on the mobility and stability of coastal sand dunes in Cear State (NE Brazil). Quaternary Research, v. 71, p. 217-226, 2009.

    VANCE, E. D. TheRoleofMicroartifactsinSpatialAnalysis. Tese (Doutorado) - Seattle, University of Washington, 1989.

    VILHENA-VIALOU, A. V. Santa Elina Rockshelter, Brazil: Evidence of the co-existence of man and Glossoterium. In: MIOTTI, L., SALEMME, M.; FLEGEN-HEIMER, N. Wherethesouthwindsblow.AncientevidenceofpaleoSouthAmeri-cans. Texas, Center for the Study of the First Americans, A&M, p. 21-28, 2003.

    VILHENA-VIALOU, A. V. Occupations humaines et faune teinte du Plistocne au centre de l Alamerique du Sud: L abri rupestre Santa Elina, Mato Grosso, Br-sil. In: VIALOU, D. PeuplementsetPrehistoireenAmriques. Comit des Travaux Historiques et Scientifiques, Collection Documents Prhistoriques, v. 28, 2011, p. 193-208.

  • GEOARQUEOLOGIA180

    WANG, X. et al. Interhemispheric anti-phasing of rainfall during the last glacial period. QuaternaryScienceReviews, v. 25, p. 3391-3403, 2006.

    WANG, X. et al. Millennial-scale precipitation changes in southern Brazil over the past 90,000 years. Geophysical Research Letters, v. 34, p. L23701, 2007.

    WARREN, R. E.; OBRIEN, M. J. Regional sample stratification: the drainage class technique. PlainsAnthropologist, v. 26, p. 213-227, 1981.

    WATANABE, O. et al. Homogeneous climate variability across East Antarctica over the past three glacial cycles. Nature, v. 422, p. 509-512, 2003.

    WATERS, M.R.; STAFFORD, T.W. Redefining the Age of Clovis: Implications for the peopling of the Americas. Science, v. 315, p. 1122-1126, 2007.

    WENINGER, B.; JRIS, O.; DANZEGLOCKE, U. CalPal-2007, Cologne Ra-diocarbon Calibration, Palaeoclimate Research Package. 2012. Disponvel em: . Acesso em: 21 ago. 2012.

    WRIGHT, J. D. Cenozoic climate change. In: GORNITZ, V. EncyclopediaofPa-leoclimatologyandAncientEnvironments. Springer, 2009, p. 148-155.