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    PAPIA, So Paulo, 23(1), p. 75-96, Jan/Jun 2013.

    Colonizao e Lngua Geral: o caso do sul da BahiaColonization and Lngua Geral: the South of Bahias case

    Wagner Argolo1

    Universidade Federal da Bahia, [email protected]

    Resumo: Neste artigo, procuramos delimitar o contextosem interrupo de transmisso lingustica entre geraespara a Lngua Geral do Sul da Bahia e para a LnguaGeral de So Paulo, baseados nas constataes de Rodrigues(1996), relativas a esta ltima regio. Alm disso, expomosargumentos para esclarecer a nossa viso de que o sul da Bahiapossua as condies demogrficas para o desenvolvimento deuma populao mameluca, consequentemente apresentando ascondies sociolingusticas que explicariam a ocorrncia de umaLngua Geral na costa central do Brasil.

    Palavras-chave:Bilinguismo; Lngua Geral; ndios.

    Abstract: In this paper, we intend to delimit the contextwithout language shift between generations to the South ofBahias to So Paulos Lngua Geral, based on Rodrigues claims(1996) related to this last region. Besides, we argue in favor ofour vision that the South of Bahia has had the demographicconditions for the growth of a mameluke people, presenting, inconsequence, the sociolinguistic conditions that would explainthe occurrence of a Lngua Geral in Brazilian central coast.

    Keywords: Bilinguals; Lngua Geral; Indians.

    1 Este artigo fruto da pesquisa realizada no mbito da Dissertao de MestradointituladaIntroduo histria das lnguas gerais no Brasil: processos distintosde formao no perodo colonial, orientada pela Prof Dr Tnia ConceioFreire Lobo e defendida no Programa de Ps-Graduao em Letras e Lingustica(PPGLL) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) no ano de 2011.

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    1 Introduo

    Para embasar o carter no-crioulo da Lngua Geral de So Paulo e daLngua Geral da Amaznia, Rodrigues (1996) utiliza como argumento, notextoAs lnguas gerais sul-americanas, o fato de no ter havido, em nenhum

    momento, interrupo na transmisso dessas lnguas2

    , das ndias tupi-guarani,para os seus primeiros descendentes mamelucos. Ou seja, no ocorreu mudanade lngua (language shift) nos descendentes mestios dos europeus e das ndiastupi-guaranis (1996: 04), tendo o tupinamb se transformado no novocontexto cultural do qual comeou a fazer parte (o que inclua o bilinguismotupinamb/portugus, que induziu ambos os sistemas a alteraes estruturais) na Lngua Geral, continuao histrica do tupinamb em tal contexto bilnguee culturalmente transfigurado (cf.: Rodrigues, 1996: 04).

    Apesar de possuirmos um ponto de vista distinto quanto assertiva deque a Lngua Geral da Amaznia no era uma lngua crioula, tal distino

    inexiste quando a mesma assertiva se refere Lngua Geral de So Paulo.Dessa maneira, o contexto sem interrupo de transmisso lingustica entregeraes no qual o termo Lngua Geral foi utilizado j est muito bem definidopor Rodrigues (1996).

    Sobre a Lngua Geral da Amaznia, constatamos que esta, possivelmente,se encontra em um contexto lingustico distinto, ou seja, um contexto cominterrupo de transmisso lingustica entre geraes, que se delineou quandoos jesutas iniciaram a catequizao sistemtica das centenas de povos tapuias,falantes de centenas de lnguas distintas, na Amaznia Colonial, em 1653,impondo sobre essa grande diversidade lingustica o tupinamb L2 faladopelos inacianos em provveis graus diferenciados de competncia, formandoum contexto lingustico propenso pidginizao/crioulizao dessa lngua,que depois de crioulizada e de passar a ser chamada, tambm, de LnguaGeral , veio a ser o antecedente histrico do atual nheengatu, j to marcadopelas influncias posteriores que sofreu da lngua portuguesa em situao debilinguismo, aps a expulso definitiva dos jesutas dos domnios portuguesesem 1759, e aps a integrao do Estado do Gro-Par e Maranho ao Estadodo Brasil em 1823. Por esse motivo, as observaes que, por ora, faremos, nose aplicam Lngua Geral da Amaznia, mas apenas Lngua Geral de SoPaulo, por constatarmos que apenas esta ltima se enquadra no contexto seminterrupo de transmisso lingustica entre geraes.

    2Rodrigues se refere s lnguas tupinamb, tupi e guarani. Contudo, consideramosque a afirmao se aplica tendo-se em conta a histria lingustica do Brasil apenas ao caso de So Paulo e da costa sul da Bahia (antigas Capitanias deIlhus e de Porto Seguro). Tambm podemos notar, quando o autor se refereao tupinamb e ao tupi como lnguas distintas, faladas, respectivamente, noEstado do Gro-Par e Maranho e no Estado do Brasil, que j no mais adota ageneralizao baseada em Alfred Mtraux (1948), que adotara anos antes (1986).

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    2 O contexto sem interrupo de transmisso lingustica

    entre geraes, constatado por Rodrigues

    2.1 O que observou Rodrigues

    Quando teve incio a colonizao efetiva do Brasil, em 1532, com a chegadada frota de Martim Afonso de Souza e a fundao de So Vicente, essa regiose encontrava sob o domnio do povo tupi (tupinamb), apesar de, entre essesndios, j haver a presena do Bacharel de Cananeia e de Joo Ramalho. Essaexpedio de Martim Afonso de Souza era composta apenas por homens,tendo-se iniciado a chegada de mulheres somente a partir de 1537, mas, aindaassim, em nmero bastante reduzido, situao que se manteve ao longo dacolonizao da regio (cf.: Rodrigues, 1996: 02).

    Como consequncia, houve a formao de uma populao mameluca, frutoda miscigenao entre homens portugueses e mulheres ndias. Estando a

    famlia dos pais portugueses do outro lado do Atlntico, seus filhos mamelucosconviviam apenas com a famlia das mes ndias, aprendendo, como primeiralngua, por esse motivo, o tupinamb3 falado pelo lado materno (cf.: Rodrigues,1986: 101; 1996: 02).

    Dessa maneira, conclui o linguista (cf.: Buarque de Hollanda, 2002:1028-1038), no desenvolvimento de seus estudos, que, devido situao deintenso contato com o europeu, houve uma mudana significativa no contextoscio-cultural que envolvia o tupinamb falado em So Vicente: de lnguafalada exclusivamente por ndios com cultura autctone, passou a ser umalngua falada predominantemente por mamelucos com cultura prxima dos

    portugueses. Ademais, a situao de bilinguismo (com a lngua portuguesa),no que dizia respeito aos homens, crianas e a algumas mulheres, fez comque o tupinamb utilizado nesse contexto de miscigenao sofresse uma sriede mudanas estruturais que passaram a diferenci-lo do tupinamb entofalado pelos ndios estremes, quando da chegada da frota de Martim Afonso deSouza4 (cf.: Rodrigues, 1986: 102; 1996: 03). Assim, foi a essa lngua que, emSo Paulo, passou a corresponder a denominao de Lngua Geral. Portanto,o termo Lngua Geral comeou a se restringir a situaes sociolingusticas bemespecficas, constatadas por Rodrigues, como vimos acima.

    3Rodrigues, contudo, prefere chamar a lngua dos tupinambs de So Vicente detupi.

    4Com relao aos homens portugueses, segundo Rodrigues, estes tinham o portuguscomo primeira lngua e o tupi [tupinamb] como segunda lngua. No que dizrespeito s mulheres indgenas, tinham o tupi [tupinamb] como primeira lnguae apenas algumas aprendiam o portugus como segunda lngua. Com relao scrianas mamelucas, todas aprendiam o tupi [tupinamb] como primeira lnguae grande parte aprendia o portugus como segunda lngua, principalmente osmeninos, que a partir de certa idade comeavam a acompanhar os pais em suasatividades laborativas, porm, em graus variados de competncia.

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    2.2 A questo da no-formao da Lngua Geral entre o Rio de

    Janeiro e o Piau, ainda segundo Rodrigues

    Rodrigues afirma, no texto As lnguas gerais sul-americanas, que, em todaa faixa costeira compreendida entre o Rio de Janeiro e o Piau, no houvea formao de uma Lngua Geral. Vamos, ento, aos argumentos apontadospelo autor para embasar tal afirmao.

    Nos sculos XVI e XVII, a costa de So Paulo e a costa do Maranho e Parse tornaram, respectivamente, os extremos sul e norte do domnio portugusna Amrica. Estando a administrao colonial, no caso do Estado do Brasil,estabelecida na Bahia situada na regio central da costa do que representa,hoje, o territrio brasileiro em sua totalidade , as regies costeiras do sul edo norte do atual Brasil constituam-se, consequentemente, nas periferias dodomnio portugus. Assim, nelas, era natural que a imigrao de portuguesesfosse menor e menos continuada do que na regio central onde se encontravaa administrao colonial, para a qual, necessariamente, havia um grandeafluxo de portugueses para trabalharem nos rgos da administrao. Por essemotivo, na regio central, onde se encontrava a administrao colonial, no foipossvel o estabelecimento da mesma situao de mestiagem de So Vicentee da regio amaznica, impossibilitando a prevalncia da lngua tupinamb(Rodrigues, 1996: 05).

    Mas sobre as guerras contra os povos indgenas que recai o argumentomais forte de Rodrigues para afirmar que, entre o Rio de Janeiro e o Piau,no houve a mestiagem intensa entre homens brancos e mulheres ndias,dando origem a uma populao significativa de mamelucos. Dessa maneira,afirma, baseado em informaes oferecidas por Jos de Anchieta, datadasde 1584, que, em So Vicente e em So Paulo, no houve guerra contraostupiniquins(tupinambs), havendo, consequentemente, a preservao docontingente indgena da regio. De maneira anloga, cem anos depois, nosculo XVII, quando fundado o Estado do Gro-Par e Maranho, tambmno houve um genocdio dos povos indgenas que fosse significativo ao pontode tornar o cenrio demogrfico da regio favorvel aos portugueses.

    Situao diversa, contudo, teria sido a da costa central do Brasil, entreo Rio de Janeiro e o Piau, na qual, segundo Rodrigues, foram levadas atermo diversas aes de extermnio contra os povos de origem tupi, comoa do Governador-Geral Mem de S, que exterminou os tupinambs do Riode Janeiro, os kaets da Bahia e Pernambuco e parte dos tupinambs daBahia; como a do donatrio Duarte Coelho, que exterminou todos os ndiosda costa de Pernambuco; como as aes por parte do Conde de Aveiro, emPorto Seguro, e por parte de Francisco Giraldes, em Ilhus, que exterminaram,ainda segundo Rodrigues, todos os ndios temimins dessas duas capitanias.

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    No teriam sido, entretanto, apenas as guerras as responsveis peloextermnio dos povos indgenas da costa central. Os ndios que estavamem contato pacfico com os portugueses, como catecmenos ou como escravos,tambm teriam sido dizimados, no sculo XVI, por constantes epidemias de

    varola na Bahia e suas proximidades.Assim, a dizimao dos ndios de origem tupi teria sido to significativa,

    que, somada continuada imigrao de portugueses e chegada de grandescontingentes africanos, no teria dado margem miscigenao, em grandeescala, entre brancos e ndias tupi, pois, sequer, haveria ndias tupi emquantidade suficiente para gerar filhos mestios em um nmero que pudessecaracterizar uma comunidade lingustica mameluca, no havendo, portanto,condies sociolingusticas semelhantes s ocorridas em So Vicente, dentro dasquais o tupinamb continuasse sendo falado, e que levassem sua diferenciao,

    passando a ser, por isso, denominado de Lngua Geral (cf.: Rodrigues, 1996:05).

    3 O sul da Bahia e a questo da Lngua Geral

    Rodrigues afirma que, em toda a faixa costeira compreendida entre o Rio deJaneiro e o Piau, no houve as j mencionadas condies sociolingusticas paraque, nesse grande pedao de Brasil, se formasse uma Lngua Geral. Contudo,em pesquisa anterior nossa, realizada tambm no mbito do Programa para a

    Histria da Lngua Portuguesa(PROHPOR), o pesquisador Permnio Ferreiraencontrou, no Arquivo Pblico do Estado da Bahia (APEB), um documento de1794, referente Vila de Olivena, na ento Capitania de Ilhus, situada ao sulda Bahia, no qual Antnio da Costa Camelo requerido no sentido de proverManuel do Carmo de Jesus no cargo de Diretor de ndios, alegando comoprincipal razo para tal o fato (...) de ser criado naquela vila e saber a lnguageral de ndios para melhor saber ensinar (Lobo et al., 2006: 609, grifo nosso).Como se pode ler, o documento faz referncia a uma Lngua Geral, indicandoque tambm era falada na Vila de Olivena. Ora, se Rodrigues afirma, baseado

    em seu conceito de Lngua Geral, que, no territrio costeiro compreendidoentre o Rio de Janeiro e o Piau, no houve condies sociolingusticas para aformao desse tipo diferenciado de lngua, ento como explicar a refernciaexplcita, constante no documento, a uma Lngua Geral na Vila de Olivena,no sul da Bahia? Alm desse documento, j nesta pesquisa realizada por ns,outros trs foram encontrados e, igualmente, fazem referncia Lngua Geralno sul da Bahia.

    O primeiro, de 1757, referente freguesia de So Miguel da Vila da Barrado Rio de Contas (atual Itacar), na Capitania de Ilhus, afirma que este local

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    possui 1.060 pessoas de comunho, dos quais33 ndios de lnguageral (Vigrio Menezes, 1757 apudMott, 2010: 212, grifo nosso).

    O segundo referente no apenas Vila de Olivena, mas tambm s de

    Barcelos e Santarm (Serinham), e s aldeias de Almada e So Fidlis, todasna Capitania de Ilhus de 1804, e diz:

    Pelo que toca ao temporal, usam geralmente os ndios de Olivena,Barcelos e Santarm [Serinham] e os das aldeias de Almada eSo Fidlis, do idioma portugus, tendo-se extinguido entre eles ouso da lngua antiga, vulgarmente chamada lngua geral (OuvidorMaciel, 1804 apudMott, 2010: 224, grifo nosso).

    O terceiro se refere Capitania de Porto Seguro, ainda nesse mesmo anode 1804, no qual o seu Ouvidor informava que na Vila do Prado os ndios

    so civilizados no nosso idioma, mas a lngua geral do seu naturalnunca perdem, porque aprendem logo no bero (Ouvidor de PortoSeguro, 1804 apudMott, 2010: 224, grifo nosso).

    Assim, no momento em que encontramos registros documentais que vo deencontro s afirmaes de Rodrigues, este fato nos leva a sugerir uma revisodos fatos passados na scio-histria do Brasil, no que se refere histria da

    Lngua Geral do mesmo tipo da que surgiu em So Vicente. Ento, surgea pergunta: o que, nas afirmaes de Rodrigues sobre a Lngua Geral, noestaria de acordo com a scio-histria lingustica do Brasil, dentro do contextosem interrupo de transmisso lingustica entre geraes?

    Diante dessa questo, podemos pensar em duas linhas de raciocnio, nointuito de buscar uma soluo para o problema exposto acima, e, consequen-temente, explicar a ocorrncia, constatada nos documentos transcritos, daLngua Geral nessa rea costeira central.

    A primeira dessas linhas, exposta por Lobo, Machado Filho e Mattos e Silva

    (2006) levanta a possibilidade de que o conceito de Lngua Geral de Rodriguespossa no estar adequado ao que realmente se passou na histria das lnguasgerais na Amrica Portuguesa. Assim, aps a apresentao do documento de1794, j citado, no qual h meno explcita Lngua Geral na Vila de Olivena,os autores debatem sobre alguns pontos de vista diferentes do de Rodrigues,relativos ao que seria a Lngua Geral, encontrados na histria lingustica doBrasil, passando, em seguida, a uma anlise dos dados demogrficos da Vila deOlivena, presentes em dois recenseamentos situados em perodos prximos a1794 (mais especificamente entre 1735 e 1805) recenseamentos estes tambm

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    encontrados no APEB , atravs dos quais constatam que, em consonncia coma afirmao de Rodrigues, naquela regio no houve condies demogrficaspara se formar uma populao mameluca, postulada como necessria para quese formasse a Lngua Geral. Ento, se no havia as condies sociolingusticas

    para a sua formao, como explicar que, ainda assim, se houvesse formado aLngua Geral na Vila de Olivena? Desse modo, se as concluses de Rodriguesesto de acordo com o que realmente aconteceu na scio-histria lingusticado Brasil, ao afirmar que no houve a formao de populaes mamelucasrelevantes na regio costeira compreendida entre o Rio de Janeiro e o Piau,podem, contudo, no o estar ao condicionar o surgimento de lnguas gerais existncia de populaes mestias (como podemos ler no seu conceito deLngua Geral, transcrito na sequncia), pois, na Vila de Olivena, de acordocom os dados demogrficos apresentados por Lobo, Machado Filho e Mattos e

    Silva, no existiu, ali, uma populao mameluca relevante, mas, ainda assim,houve a formao da Lngua Geral (cf.: Lobo et al., 2006: 609-630).

    Vejamos o conceito de Lngua Geral apresentado por Rodrigues, para quefique clara a problematizao exposta:

    A expresso lngua geraltomou um sentido bem definido no Brasilnos sculos XVII e XVIII, quando, tanto em So Paulo como noMaranho e Par, passou a designar as lnguas de origem indgena

    faladas, nas respectivas provncias, por toda a populao originada

    no cruzamento de europeus e ndios tupi-guaranis(especificamenteos tupis em So Paulo e os tupinambs no Maranho e Par), qual foi-se agregando um contingente de origem africana econtingentes de vrios outros povos indgenas, incorporados aoregime colonial, em geral na qualidade de escravos ou de ndios demisso (Rodrigues, 1996: 05, grifo nosso).

    Dessa forma, concluem os autores, baseados nos dados documentaisque expuseram, que o conceito de Lngua Geral de Rodrigues poderia ser

    ampliado, no sentido de estender a possibilidade de formao da Lngua Gerala populaes no-mamelucas, o que, consequentemente, passaria a incluir umgrande nmero de outras regies brasileiras como locais passveis formaoda Lngua Geral, pois somente aps a sua ampliao, o conceito de Rodriguespoderia abarcar a realidade lingustica que se apresentou na Vila de Olivena(cf.: Lobo et al., 2006: 628).

    A segunda dessas duas linhas de raciocnio, formulada por ns, noconsidera que as concluses de Rodrigues possam ter se afastado da realidadefactual no que concerne ao seu conceito de Lngua Geral, mas no que concerne

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    sua afirmao categrica de que, na faixa costeira compreendida entre o Riode Janeiro e o Piau, no houve as condies sociolingusticas de miscigenao,apresentadas como necessrias formao da Lngua Geral. Enveredandopor essa linha, a formao de populaes mamelucas em determinada regio

    seria, de fato, condio para o surgimento da Lngua Geral como aconteceuem So Vicente levando-nos a concluir que, se houve a formao da LnguaGeral na Vila de Olivena, isto se deu porque ao contrrio do que levam acrer os dados demogrficos apresentados por Lobo, Machado Filho e Mattos eSilva se configuraram na Vila de Olivena as condies sociolingusticas demiscigenao entre homens brancos e mulheres ndias. Porm, o que nos levaa considerar a possibilidade de os dados demogrficos, apresentados por essestrs autores, no corresponderem realidade de ento?

    Como nos informam, os dois recenseamentos utilizados como fontes de

    dados demogrficos (2006: 625-626) foram elaborados entre 1735 e 1805. Comoprimeiro fator a ser levado em conta em tais recenseamentos, podemos destacaro perodo de sua elaborao. No sculo XVIII e incio do sculo XIX, os recursosdisponveis para a coleta fiel de dados demogrficos, certamente, no eram toprecisos quanto os atuais, o que poderia dar lugar a uma margem de erro que,se ainda hoje, com recursos tecnolgicos sofisticados disponveis, existe, o quedizer sobre os referidos sculos? Alm do mais, mesmo se considerando que apopulao brasileira, no perodo em questo, era muito menor do que a atual,ainda assim causa estranheza o nmero to pequeno de apenas 76 recenseados,

    o que nos leva a crer que muitos habitantes da Vila de Olivena ficaram defora dos recenseamentos apresentados. O seguinte trecho, escrito por JosAntnio Caldas, relativo ao ano de 1759 ou seja, entre 1735 e 1805, perodoadotado como referncia pelos autores na utilizao dos dados demogrficossobre a Vila de Olivena , esclarecedor:

    A aldeia de Nossa Senhora da Escada de Olivena teria 120 a 130casais, alm de vivos e vivas. So ndios da Nao Tabajara ouTupis. Est a aldeia ao sul da vila de Ilhus, na costa, a distncia

    de 3 lguas. Dista da aldeia da Almada at 6 lguas (Caldas, 1759apudMott, 2010, p. 206, grifo nosso).

    Quarenta anos depois, em 1799, j na condio de vila, devido s ReformasPombalinas, temos mais informaes demogrficas importantes sobre Olivena,agora dadas pelo Ouvidor Baltasar da Silva Lisboa, e que vm a confirmar anossa inferncia de que muitos moradores dessa vila do sul da Bahia ficaramde fora dos referidos recenseamentos:

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    Trs lguas ao sul de Ilhus fica a vila dos ndios de Nossa Senhorada Escada de Olivena, levantada no ano de 1758 [ressalte-seaqui a divergncia de datas, pois Jos Antnio Caldas se refere aOlivena ainda como aldeia no ano de 1759], com o ttulo de Nova

    Olivena, e se lhe criou justias o Ouvidor Luis Freire de Veras.A sua povoao de 454 pessoas, com uma excelente igreja de38,5 palmos de largura de parede a parede, com um s altar (...).Deu-se-lhes [aos ndios] com a criao da vila uma lgua de terraque no lavram, na qual fizeram pequenas roas na vila, outras sealugaram a particulares (Lisboa, 1799 apudMott, 2010: 207, grifonosso).

    Outro fator importante se refere s 454 pessoas citadas pelo OuvidorBaltasar da Silva Lisboa. Isto porque o nmero dado por ele no se refere

    populao total da Vila de Olivena, mas apenas ao nmero de ndios, oque vale dizer que as 454 pessoas citadas eram 454 ndios. Esse fato ficaclaro em outro trecho do mesmo Ouvidor, referente agora ao ano de 1802,quando afirma que Habitam a 454 ndios, entrando um e outro sexo (...).Relacionando as informaes deste Ouvidor com as de Jos Antnio Caldas,percebemos que a populao de ndios se manteve constante entre 1759 e 1799,pois em 1759 havia, na Vila de Olivena, de 120 a 130 casais de ndios issosem contar os vivos e as vivas , o que significa que, s de ndios amigados,podemos ter um nmero de at 260 indivduos. Se somarmos, a esses 260ndios, os vivos e as vivas, teremos um nmero ainda maior, tendendo a se

    aproximar dos 454 ndios indicados pelo Ouvidor Baltasar da Silva Lisboa em1799.

    Mais uma informao importante podemos ainda extrair das palavras doOuvidor, na citao referente a 1799, quando afirma, referindo-se aos 454 ndios,que Deu-se-lhes com a criao da vila uma lgua de terra que no lavram, naqual fazem pequenas roas na vila, outras se alugaram a particulares. Se onmero de 454 pessoas corresponde apenas aos ndios do lugar, ento os tais

    particulares, que alugavam suas terras, constituam-se em um contingente aser somado aos 454 ndios apontados pelo Ouvidor Baltasar da Silva Lisboa,contingente provavelmente composto por brancos e mamelucos, pois, desde1540, segundo informaes dos naturalistas Spix & Martius, havia ali umacolnia portuguesa (Spix & Martius, 1819 apudMott, 2010: 232).

    Devido importncia dos dados histrico-demogrficos encontrados emdocumentos referentes s Capitanias (ou Comarcas, como prefere Vilhena)de Ilhus e de Porto Seguro, e devido ao fato de Rodrigues referir-se s duascomo locais onde no houve ndios de origem tupi em quantidade significativapara que, em contato com portugueses, se formasse uma populao mamelucasignificativa e necessria formao da Lngua Geral, nessas duas capitaniasou comarcas que nos concentraremos de agora em diante.

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    3.1 Capitanias de Ilhus e de Porto Seguro

    Aps a leitura do ensaio ndios do sul da Bahia: populao, economia esociedade(1740-1854) (Mott, 2010), constatamos a existncia de um grandecontingente tupinamb na regio sul da Bahia, tanto na Capitania de Ilhus,estudada pelo autor, quanto na Capitania de Porto Seguro, estudada por ns,somado a outro contingente, em menor vulto, de homens brancos portugueses.

    Neste ensaio, Mott apresenta uma documentao farta sobre a regioem questo, atestando o referido contingente populacional. O prprioautor demonstra surpresa com o grande nmero de ndios que encontrouna documentao relativa ao sul da Bahia, afirmando que a presena desteimportante contingente demogrfico amerndio sugeriu-nos um aprofundamentode outros aspectos socioculturais da populao autctone da regio (Mott,

    2010: 196), como sua cultura e sociedade, seu sistema econmico, alm dequestes relativas posse da terra dos ndios da regio que tornariamilegtima a posse dos que vieram, posteriormente, a ocupar lugar, como oscoronis do cacau , e de questes relativas religio e aos Diretores de ndiosali instalados depois das Reformas Pombalinas de 1758.

    3.1.1 A Capitania de Ilhus

    A histria da Capitania de Ilhus comea com a fundao da Vila de So Jorgede Ilhus, em 27 de julho de 1534, no intuito de ser a sede da capitania, que

    correspondia a 50 lguas de costa comeando na Ponta do Padro, na Baade Todos os Santos, seguindo rumo ao sul, at a margem setentrional do rioJequitinhonha (tambm conhecido como rio Grande), fazendo limite com aCapitania de Porto Seguro, que tem seu incio na margem meridional dessemesmo rio (Vilhena, 1969: 489; Tavares, 2008: 96). Doada por D. Joo III aoescrivo da Fazenda Real, Jorge de Figueiredo Correia com a ressalva deque pertencesse ao rei todo o pau-brasil que fosse da extrado , este no veiolevar a termo a ocupao da regio, nomeando, para vir em seu lugar, juntocom uma frota de colonos, Francisco Romero. Para ali foram, a seu mando,

    artfices e agricultores. Enviou-nos o gado e segundo conta Gabriel Soares, foitambm, onde, por primeiro, se plantou a cana-de-acar (Santos, 1957: 40).

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    3.1.2 A Capitania de Porto Seguro

    A Capitania de Porto Seguro foi a parte que, na partilha do Brasil, coubea Pero de Campo Tourinho (Santos, 1957: 42), como previu a carta dedoao de 27 de maio de 1534, assinada pelo Rei D. Joo III, concedendo-lheessa possesso ultramarina (cf.: Tavares, 2008: 92), que tinha seu limitesetentrional na foz do rio Jequitinhonha e o seu limite meridional na foz dorio Doce, totalizando uma extenso costeira de 60 lguas, provida de muitoscoqueiros (2008: 95).

    Pero do Campo Tourinho era proprietrio de terras em Viana do Castelo,situada na provncia do Minho, em Portugal. No intuito de angariar fundose viajar para o Brasil, para assumir o seu pedao de costa no sul da Bahia,vendeu todas as suas posses, realizando a travessia do Atlntico juntamente

    com sua esposa, Ins Fernandes Pinho, sua filha Leonor, seus filhos Fernoe Andr5, e mais uma frota composta por 600 homens (cf.: Tavares, 2008:95), sendo estes ltimos muita gente de qualificao, com a qual se pudesseestabelecer e prosperar; gente que era da melhor do reino, sem mescla desangue mouro, e afeita tanto lavoura como s lides do mar (Santos, 1957:42). Foi com a chegada desse grande contingente cuja maioria absolutaera do sexo masculino que teve incio a colonizao da Capitania de PortoSeguro.

    3.2 Constataes sobre as vilas e aldeias das Capitanias de Ilhus e de

    Porto Seguro

    As vilas e aldeias do sul da Bahia eram distribudas da seguinte forma, nosentido norte-sul:

    (1) Na Capitania de Ilhus, tnhamos a Aldeia de So Fidlis, as Vilasde Cairu, Boipeba, Serinham (Santarm), Camamu, Barcelos, Mara,Barra do Rio de Contas, a Aldeia de Almada, as Vilas de So Jorge de

    Ilhus, Olivena e a Aldeia de Poxim.

    (2) Na Capitania de Porto Seguro, tnhamos as Vilas de Belmonte, PortoSeguro, Verde, Trancoso, Prado, Alcobaa, Caravelas, Viosa, PortoAlegre e So Mateus.

    5 Pelo pouco que se sabe, Pero do Campo Tourinho foi o nico dos quinze donatriosa trazer mulher e filhos (Tavares, 2008: 99).

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    Aps a anlise de cada uma das vilas e aldeias citadas, chegamos aconcluses que sero expostas em comentrios gerais sobre a demografiado sul da Bahia e sobre a Lngua Geral que era falada na regio. Assim, adocumentao qual tivemos acesso apenas apresentou nmeros exatos com

    relao Capitania de Ilhus6

    , o mesmo no tendo ocorrido com relao Capitania de Porto Seguro. Mas, mesmo no tendo apresentado nmerosrelativos demografia desta ltima capitania, Vilhena a nossa principal fontesobre a Capitania de Porto Seguro atestou de forma clara no s a existnciade brancos entre os tupinambs do local, como a existncia de uma vida socialna qual as duas etnias conviviam em grau avanado de entrosamento.

    Desse modo, com relao Capitania de Ilhus, no final do sculo XVIII,somadas todas as informaes numricas seja da populao total de algumasvilas e aldeias, seja da populao parcial delas oferecidas pela documentao qual tivemos acesso, temos, apenas para a Capitania de Ilhus, o impressionante

    nmero de 16.034 habitantes, sendo que, no caso de algumas vilas, o nmerono foi fornecido e, no caso de outras, foi fornecido somente o nmero dendios, sem a informao do nmero de brancos, o que indica que o nmero,j alto, de 16.034 , na verdade, menor do que o nmero de habitantes querealmente havia na Capitania de Ilhus. E no podemos nos esquecer de que,apesar de o nmero de habitantes da Capitania de Porto Seguro no ter sidoinformado, a existncia de um contingente de ndios e de brancos, contudo, perfeitamente atestada por Vilhena. Dessa maneira, no seria imprudentepensar, para todo o sul da Bahia, na segunda metade do sculo XVIII, em umapopulao acima de 20.000 pessoas, composta por uma minoria de brancos e

    ndios e uma maioria de mamelucos que, no caso destes ltimos, tiverampelo menos 250 anos para serem gerados.

    No que concerne ao nosso maior interesse, a Lngua Geral falada nessasduas capitanias do sul da Bahia, pudemos identificar a ocorrncia dela emsete, das vinte e duas localidades pesquisadas. Dessas sete localidades, seis seencontram na Capitania de Ilhus, a saber: [1] So Fidlis (que no foi elevadaa vila, vindo a ser incorporada, posteriormente, ao Municpio de Valena), [2]Serinham (Santarm), [3] Barcelos, [4] So Jos da Barra do Rio de Contas,[5] Almada (que tambm no foi elevada a vila) e [6] Olivena.

    Com relao stima localidade, pertencente Capitania de Porto Seguro

    (ao sul da capitania anterior), trata-se de: [7] Prado.

    6 So Fidlis: 240 ndios (sem informao de etnia, mas provavelmente tupinambs);Cairu: 2.210 tupinambs e brancos; Boipeba: 2.417 tupinambs e brancos;Camamu: 4.067 tupinambs e brancos; Barcelos: 200 tupinambs (no hnmeros para brancos); Mara: 1.600 tupinambs e brancos; Rio de Contas:2.000 tupinambs, pocuruxns, guerns e brancos; Ilhus: 2.000 tupinambs ebrancos; Olivena: 1.000 tupinambs e brancos; Serinham: 300 tupinambs ebrancos; Poxim: 34 tupinambs e brancos (Mott, 2010: 195-293).

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    Fig. 1: Mapa da Lngua Geral no sul da Bahia.

    3.3 Concluses sobre as condies sociolingusticas observadas no sul

    da Bahia

    O objetivo de termos analisado a histria das Capitanias de Ilhus e de PortoSeguro foi demonstrar, atravs das informaes constantes nos documentosapresentados por Mott e nas Cartas XIV e XV de Vilhena, que a regio sul daBahia apresentava condies sociolingusticas para a formao de uma Lngua

    Geral semelhantes s apontadas por Rodrigues no que concerne a So Vicente,em So Paulo.

    Desse modo, assim como em So Vicente, temos na Vila de So Jorgede Ilhus e na Vila de Porto Seguro a chegada de frotas compostas emsua maioria quase absoluta por homens portugueses desacompanhados demulheres. Essas frotas foram a de Pero do Campo Tourinho, donatrio daCapitania de Porto Seguro aportada em 1534 , e a de Francisco Romero aportada no mesmo ano, a mando de Jorge de Figueiredo Correia, donatrioda Capitania de Ilhus.

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    Quando os portugueses chegaram s referidas capitanias, no intuito decoloniz-las, encontraram, l estabelecidos, predominantemente, os ndiostupinambs, falantes da lngua homnima, smile dos ndios de So Vicente.Tendo, logo de incio, estabelecido uma aliana de paz com os tupinambs

    fato que rendeu aos portugueses situados no sul da Bahia a inimizadedos tapuias, inimigos histricos dos tupinambs , os brancos iniciaram umarelao amistosa (ou, pelo menos, no to deletria) com os autctones, falantesnativos do tupinamb.

    Como podemos constatar em Rodrigues, quando se refere a So Vicente(1996: 03), os ndios tupinambs [os quais chama de tupiniquins] eram abertosao relacionamento sexual com os brancos, que, por sua vez, tambm eramabertos ao relacionamento sexual com as ndias da terra, principalmentepelo fato de virem em frotas compostas basicamente por homens. Sendo

    os ndios do Estado do Brasil possuidores de uma grande homogeneidadecultural e lingustica na sua regio costeira, a prtica de oferecer ao visitanteuma ou vrias mulheres de sua tribo prtica que Darcy Ribeiro apontacomo cunhadismo (2004a: 81) provavelmente tambm foi aplicada no sul daBahia. Mas a esse fato no podemos deixar de somar os casos em que brancosportugueses se uniram afetivamente a ndias e os casos em que, tomandondias como escravas, mantinham relaes sexuais com elas. Esses trs fatores,combinados, resultavam na gerao de pequenos mamelucos, frutos dessasunies voluntrias ou no.

    Assim, uma populao de mamelucos foi-se formando no sul da Bahia,nas Capitanias de Ilhus e de Porto Seguro. Como essas crianas mamelucasconviviam, no perodo crtico de aquisio da linguagem que, segundo oparadigma gerativista, vai dos 2 anos de idade puberdade, por volta dos12 anos (cf.: Quadros, 2010: 78) , com a famlia das mes ndias pois afamlia dos pais estava em Portugal , aprendiam o tupinamb das mes comoprimeira lngua (L1), configurando-se, tambm no sul da Bahia, o contexto seminterrupo de transmisso lingustica entre geraes, pois o mesmo tupinambque era adquirido como L1 pelas mes ndias era igualmente adquirido pelosseus filhos mamelucos, que nele permaneciam monolngues at atingirem aidade que seus pais portugueses julgassem propcia para que comeassem aajud-los em suas atividades laborativas. Dessa maneira, quando comeavam amanter um maior contato com os pais portugueses trabalhando com eles nasprecrias plantaes de cana, mandioca, caf e, principalmente, nas extraesde madeiras nobres para serem vendidas construo naval, pois essa passoua ser a principal atividade econmica do sul da Bahia , esses mamelucosadquiriam a lngua portuguesa como segunda lngua, tornando-se bilnguesem tupinamb (L1) e em portugus (L2), provavelmente com grande variaode competncia em portugus.

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    Essa situao de bilinguismo dos mamelucos resultou em mudanaslingusticas mtuas, tanto na estrutura do portugus (devido ao contatocom o sistema do tupinamb), quanto na estrutura do tupinamb (devidoao contato com o sistema do portugus), resultando em transformaes

    estruturais em ambas as lnguas. a esse tupinamb dos mamelucos dosul da Bahia, transformado estruturalmente, devido situao de bilinguismocom o portugus, que se passou a chamar de Lngua Geral nas Capitanias deIlhus e de Porto Seguro.

    medida que a colonizao dessa regio continuou, tendo-se prolongadoa relao entre portugueses e tupinambs por, pelo menos, trs sculos, suapopulao mameluca tambm aumentou, consolidando, assim, a formaoestrutural e o estabelecimento da Lngua Geral nessa regio. Entretanto, essasafirmaes sobre a miscigenao entre ndios tupinambs e brancos portugueses

    no sul da Bahia no so apenas inferncias. Mais uma vez, Mott nos apresentadocumentos importantes, que confirmam a miscigenao na regio.

    O primeiro deles um trecho escrito por D. Jos I, rei de Portugal, noseu Livro de Leis no 9 (1751-1756) no contexto do processo civilizatrio,dentro do qual estavam inseridas as Reformas Pombalinas , demonstrandoque o soberano via na miscigenao entre portugueses e ndios uma forma defazer com que estes alcanassem mais rapidamente o estgio de civilizados.Por esse motivo, chegou ao ponto de conceder privilgios aos filhos de ndiascom portugueses, afirmando a estes que

    (...) no ficam com infmia e seus descendentes sero hbeis ecapazes de qualquer emprego, honra e dignidade, proibindo-seque sejam tratados de cabouclos ou outros nomes injuriosos. Osrequerentes a ofcios pblicos faam referncia a sua particularidadede descendentes de ndios para mais particularmente serematendidos (D. Jos I, 1751-1756, Livro de Leis no 9 apudMott,2010: 289-290).

    Ao que tudo indica, essa lei de D. Jos I foi posta em prtica, pois, nosdocumentos analisados por ns, sobre as vilas e aldeias das Capitanias deIlhus e de Porto Seguro, nos anos subsequentes a tal resoluo, constatamosa presena de vrios ndios (provavelmente mamelucos) em cargos pblicosde suas vilas, a exemplo da Vila de Barcelos que possua um juiz ordinrioescolhido entre os ndios , e da Vila de Olivena que tambm possua um

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    juiz ordinrio escolhido entre os ndios7 , ambas na Capitania de Ilhus; assimcomo da Vila Verde que possua dois capites de ordenanas escolhidos entreos ndios , da Vila do Prado que possua uma companhia de ordenanascomposta por brancos e ndios , da Vila de Alcobaa que possua duas

    companhias de ordenanas compostas por brancos e ndios , e da Vila dePorto Alegre que tambm possua uma companhia de ordenanas compostapor brancos e ndios , todas na Capitania de Porto Seguro.

    O segundo deles foi escrito pelo Capito Moniz Barreto em 1794, relativo Vila de Serinham (Santarm), no qual afirma que, ali, havia muitas famliasde portugueses com ndias, estando, por esse motivo, degeneradas:

    Esta vila fica situada em lugar eminente, ameno e aprazvel. Asua populao de at 300 ndios, em que entram muitas famlias

    de espcie degenerada com brancos portugueses. Tem 160 palhoas.A Igreja Matriz de Santo Andr a mais indecente que encontrei,que ao mesmo tempo serve de um lado de curral de ovelhas (MonizBarreto, 1794 apudMott, 2010: 215, grifo nosso).

    O terceiro documento, na verdade uma pequena citao encontrada nanota 12 do artigo de Mott, mas no menos importante, foi escrito pelo OuvidorToms Navarro de Campos, em 1804, no qual afirma, com relao Bahia deforma geral, que os ndios so muito dados ao matrimnio, por isto casam-se

    de poucos anos e so inclinados a enlaar-se com os portugueses e h dissoexemplos (...) (Campos, 1804 apudMott, 2010, p. 289-290). Certamente, asunies entre os brancos portugueses e os tupinambs do sul da Bahia estavaminclusas nesses exemplos.

    Outro trecho esclarecedor do Ouvidor Toms Navarro de Campos poisatesta a tendncia da Coroa Portuguesa no sentido de promover a miscigenaoentre brancos e ndios, para que estes atingissem mais rapidamente o estgiode civilidade , tambm, de 1804, demonstrando inclusive ser a sua opinio,com relao unio de portugueses e ndias, diferente da opinio do Capito

    7Esse fato aponta para a probabilidade de Manuel do Carmo de Jesus, indicadopara Diretor de ndios da Vila de Olivena, ser tambm mameluco, pois, almde os oficiais da Cmara e repblicos da vila terem escolhido entre os ndiosum juiz ordinrio o que aponta para o fato de que essa prtica era realmenteexercida na referida vila , Manuel do Carmo de Jesus como mostra claramenteo documento encontrado por Permnio Ferreira foi criado naquela vila e erafalante da Lngua Geral, tornando ainda maior a probabilidade de ter sido ele,tambm, um mameluco.

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    Moniz Barreto, que as considerava degenerativas: Se fosse possvel promovercom suavidade o matrimnio dos ndios com os portugueses, chegaro osdescendentes mais depressa ao verdadeiro ponto da civilizao, fazendo-semais teis ao Estado e Religio (Campos, 1804 apudMott, 2010: 289-290).

    No sem motivo que um dos documentos encontrados por ns, alm dese referir Vila de Olivena e a outras vilas da Capitania de Ilhus, se refereao uso da Lngua Geral, justamente, na Vila de Serinham (Santarm), sobrea qual Moniz Barreto fez sua observao relativa s famlias degeneradas,devido miscigenao com brancos portugueses:

    Pelo que toca ao temporal, usam geralmente os ndios de Olivena,Barcelos eSantarm [Serinham] e os das aldeias de Almada e SoFidlis, do idioma portugus, tendo-se extinguido entre eles o uso

    da lngua antiga, vulgarmente chamada lngua geral(Maciel, 1804apudMott, 2010: 224, grifo nosso).

    No nos enganemos, outrossim, com a afirmao do Ouvidor Maciel de queem Olivena, Barcelos, Serinham (Santarm), Almada e So Fidlis, no anode 1804, a Lngua Geral j havia sido extinta e substituda pelo portugus.Isto porque o documento apresentado por Lobo, Machado Filho e Mattose Silva, referente tambm a Olivena, em 1794 ou seja, apenas 10 anosantes da afirmao do Ouvidor Maciel, que, como se pode ler acima, tambm

    se referia a Olivena , atesta que, em 1794, a Lngua Geral predominavaentre os habitantes desta vila, tendo sido esse, inclusive, o motivo principalpara que Antnio da Costa Camelo, Ouvidor Interino da Capitania de Ilhus,indicasse Manuel do Carmo de Jesus para Diretor de ndios do lugar, poiseste tinha meio de se sustentar, e a maior razo de ser criado naquela vila esaber a lngua geral de ndiospara melhor saber ensinar [a lngua portuguesa,provavelmente] (Lobo et al., 2006: 610, grifo nosso).

    Na leitura do artigo de Lobo, Machado Filho e Mattos e Silva, vemos quea escolha de um Diretor de ndios mais eficiente para que se ensinasse a lngua

    portuguesa aos ndios da Vila de Olivena foi necessria, justamente, porqueo antigo diretor nunca deu escola conforme a direo da Vila (2006: 610),no ensinando a ler e escrever em lngua portuguesa, sequer, a seus filhos.Dessa maneira, Manuel do Carmo de Jesus foi indicado, justamente, paratentar acabar com a situao enraizada de utilizao da Lngua Geral na VilaOlivena, no intuito de cumprir, assim, as instrues do item 6 do Diretriodo Marqus de Pombal, relativo imposio da lngua portuguesa nos Estadosdo Gro-Par e Maranho e do Brasil, respectivamente nos anos de 1757 e1758 (Pombal, 1757 apud Almeida, 1997, anexos).

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    Tendo sido escolhido para Diretor de ndios com essa finalidade precpua,Manuel do Carmo de Jesus, provavelmente, se empenhou na efetivao dasmedidas pombalinas, fazendo com que os mamelucos da Vila de Olivena,atravs de meios coercitivos, deixassem de falar a Lngua Geral e passassem

    a utilizar apenas a lngua portuguesa. Porm, como de se esperar em taissituaes de opresso lingustica, o uso da Lngua Geral deve ter-se mantido daporta de casa para dentro, no ambiente domstico, tendo sido esse o provvelmotivo para que o Ouvidor Maciel, ao visitar a vila em 1804, acreditasseque os mamelucos de Olivena, Barcelos, Serinham (Santarm), Almada eSo Fidlis no falassem mais a sua Lngua Geral, mas apenas o portugus,pois, de fato, como mostra o documento, foi a lngua que ouviu da boca doshabitantes da Vila de Olivena, quando os encontrou em um ambiente queextrapolava o domstico.

    Alm do mais, Mott nos apresenta um documento de 1804, relativo Vilado Prado, na vizinha Capitania de Porto Seguro j citado no incio desseartigo, assim como os dois documentos anteriores , escrito pelo seu Ouvidor,no qual h o atestado de que a L1 dos ndios do sul da Bahia, no incio dosculo XIX, ainda era a Lngua Geral. Esta, no entanto, vinha sendo alvodos esforos civilizatrios, traduzidos na imposio da lngua portuguesa, deacordo com o que podemos ler quando o Ouvidor de Porto Seguro afirma queos ndios da Vila do Prado so civilizados no nosso idioma, mas a lnguageral do seu natural nunca perdem, porque aprendem logo no bero (Ouvidorde Porto Seguro, 1804 apudMott, 2010: 224, grifo nosso).

    Essa afirmao do Ouvidor de Porto Seguro, inclusive, guarda grandesemelhana com a afirmao que Antnio Vieira fez, 110 anos antes, em 1694,com relao a So Paulo, quando disse que (...) a lingua, que nas ditasfamlias se fala [famlias de portugueses com ndias], he a dos Indios, e aPortuguesa a vo os meninos aprender a escola (Vieira, 1694apud Freyre,2002: 281; Buarque de Hollanda, 2002: 1029, grifo nosso) pois ambos osdepoimentos deixam claro que a lngua adquirida como L1 pelos habitantesde So Paulo e do sul da Bahia era o tupinamb transmitido das mes ndiasaos seus filhos mamelucos, que paulatinamente se modificou na boca destesltimos, devido ao bilinguismo com o portugus, at se tornar a Lngua Geral,continuando o portugus a ser adquirido e ensinado como L2 , o que fortalecea nossa linha de raciocnio no sentido de que, nas Capitanias de Ilhus e dePorto Seguro, se reproduziram condies sociolingusticas semelhantes s queRodrigues identificou em So Paulo no perodo de formao da Lngua Geralnaquela regio, com o acrscimo de que o depoimento do Ouvidor de PortoSeguro diferentemente do de Antnio Vieira foi escrito j no incio dosculo XIX, o que aponta para uma situao de utilizao da Lngua Geralestabelecida e enraizada h, pelo menos, dois sculos.

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    Outro fator que vem corroborar a nossa linha de raciocnio o depoimentodo prncipe Maximiliano Wied-Neuwied. Isto porque, alm dos fatores japontados como componentes das condies sociolingusticas necessrias formao da Lngua Geral, dentro do contexto sem interrupo de transmisso

    lingustica entre geraes, temos junto com a formao de uma populaomameluca e a aquisio do tupinamb das mes ndias como L1 outro fatormuito importante, tambm apontado por Rodrigues, para que a Lngua Geraldesse contexto se constitusse em uma categoria circunscrita por condiessociais muito especficas: o fato de os mamelucos, seus principais depositrios,terem absorvido muito da cultura europeia dos pais portugueses, a partir domomento em que comearam a manter contato constante e estreito com eles,ajudando-os em suas atividades laborativas. Assim, a Lngua Geral passou acorresponder a uma populao, predominantemente, de mamelucos, que, por

    sua vez, comeou a apresentar um modo de vida e de cultura mais prximo aodos pais europeus do que ao das mes ndias, o que no difcil de se aceitarcomo verdadeiro, pois a cultura do colonizador europeu, desde sempre, foivista como superior e, consequentemente, como cultura-alvo.

    Os mamelucos do sul da Bahia tambm passaram pelo mesmo processode aculturao sofrido pelos mamelucos de So Vicente, como podemosperceber nas palavras do prncipe Maximiliano Wied-Neuwied, que se mostroudecepcionado por ter encontrado, na Vila de Olivena, ndios vestidosde camisas brancas que ocupavam-se de pescar na praia. Mais adiante,

    acrescentou:

    Havia entre eles alguns tipos muito belos. O seu aspecto lembrava-me a descrio que faz Lry dos seus antepassados, os Tupinamb.Os Tupinamb, escreve Lry, so esbeltos, bem conformados, tm aestatura mdia dos europeus, embora mais espadados. Perderaminfelizmente as suas caractersticas originais. Lastimei no veravanar na minha direo um guerreiro tupinamb com o capacetede penas na cabea, o escudo de penas nas costas, os braceletes de

    penas enrolados nos braos, o arco e a flecha na mo. Ao invs disso,os descendentes desses antropfagos me saudaram com um adeus portuguesa. Senti com tristeza as vicissitudes das coisas destemundo, que fazendo essas gentes perder os seus costumes brbarose ferozes, despojou-os tambm de sua originalidade, fazendo delaslamentveis seres ambguos (Maximiliano, 1816 apudMott, 2010:225).

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    Essa afirmao do prncipe Maximiliano Wied-Neuwied est em totalacordo com a situao cultural que Rodrigues identificou no modo de vidados ndios de So Vicente depois da chegada dos portugueses e da posteriormiscigenao, levando-o a afirmar que esses ndios foram-se extinguindo como

    povo independente e culturalmente diverso. Desse modo, a lngua que falavamos paulistas j no mais servia a uma sociedade e a uma cultura indgenas, mas sociedade e cultura dos mamelucos, cada vez mais distanciadas daquelase mais chegadas cultura portuguesa (Rodrigues, 1996: 02). As palavrasdo prncipe Maximiliano Wied-Neuwied demonstram que o mesmo aconteceucom os ndios falantes de Lngua Geral do sul da Bahia.

    4 Consideraes finais

    Ao longo deste artigo, procuramos, baseados nas constataes de Rodrigues,delimitar o contexto sem interrupo de transmisso lingustica entre geraes,dentro do qual se formou a Lngua Geral de So Paulo e, segundo nossahiptese, a Lngua Geral do sul da Bahia. Nesse sentido, analisamos aafirmao do autor, sobre no terem se formado lnguas gerais em toda afaixa costeira compreendida entre o Rio de Janeiro e o Piau, comparando-acom os registros documentais relativos regio sul da Bahia que se inserena referida faixa costeira , nos quais no s h afirmaes explcitas de quenas Capitanias de Ilhus e de Porto Seguro se falava Lngua Geral, como

    tambm esto presentes informaes que atestam um grande contingente dendios tupinambs e de brancos portugueses no perodo colonial, fato que teriapossibilitado o surgimento de uma populao mameluca significativa na regio,criando condies sociolingusticas semelhantes s constatadas em So Paulo,no que se refere formao de sua Lngua Geral.

    No intuito de fortalecer nossa hiptese, exposta acima, partimos para aanlise do perfil de cada uma das vinte vilas e duas aldeias das Capitanias deIlhus e de Porto Seguro, com foco nos seus aspectos demogrficos, econmicose geogrficos, para que se tornasse mais clara a visualizao da realidade socialdessas localidades no sculo XVIII, perodo em que sua Lngua Geral aindaestava em pleno uso, de acordo com a documentao analisada.

    Por fim, depois de termos estudado os referidos perfis e de termos constatadoque a Lngua Geral do sul da Bahia se enquadra no mesmo contexto seminterrupo de transmisso lingustica entre geraes da Lngua Geral de SoPaulo, conclumos que as duas tiveram processos de formao semelhantes noseio de uma populao mameluca bilngue.

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    Recebido em: 28/06/2012Aceito em: 16/12/2012

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