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    A HERANA DE MESTRE VITALINO

    Copyright: Instituto Arte na Escola

    Autor deste material:Elaine Schmidlin

    Reviso de textos:Soletra Assessoria em Lngua Portuguesa

    Diagramao e arte final:Jorge Monge

    Autorizao de imagens:Ludmilla Picosque Baltazar

    Fotolito, impresso e acabamento:Indusplan Express

    Tiragem:200 exemplares

    Crditos

    MATERIAIS EDUCATIVOS DVDTECA ARTE NA ESCOLA

    Organizao:Instituto Arte na Escola

    Coordenao: Mirian Celeste Martins

    Gisa Picosque

    Projeto grfico e direo de arte: Oliva Teles Comunicao

    MAPA RIZOMTICO

    Copyright: Instituto Arte na Escola

    Concepo: Mirian Celeste Martins

    Gisa Picosque

    Concepo grfica:Bia Fioretti

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    (William Okubo, CRB-8/6331, SP, Brasil)

    INSTITUTO ARTE NA ESCOLA

    A herana de Mestre Vitalino / Instituto Arte na Escola ; autoria de Elaine

    Schmidlin ; coordenao de Mirian Celeste Martins e Gisa Picosque. So

    Paulo : Instituto Arte na Escola, 2006.

    (DVDteca Arte na Escola Material educativo para professor-propositor ; 115)

    Foco: PCt-A-1/2006 Patrimnio Cultural

    Contm: 1 DVD ; Glossrio ; Bibliografia

    ISBN 85-7762-003-4

    1. Artes - Estudo e ensino 2. Cermica 3. Cultura popular 4. Mestre

    Vitalino I. Schmidlin, Elaine II. Martins, Mirian Celeste III. Picosque, Gisa

    IV. Ttulo V. Srie

    CDD-700.7

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    DVD

    A HERANA DE MESTRE VITALINO

    Ficha tcnica

    Gnero:Documentrio com depoimentos de descendentes de MestreVitalino e seus discpulos, e do muselogo do Museu do Barro.

    Palavras-chave: Heranas culturais; esttica do cotidiano; edu-

    cao patrimonial; imaginrio fantstico; cermica; museu; re-gionalismo; cultura popular.

    Foco:Patrimnio Cultural.

    Tema: A histria de Mestre Vitalino e seus discpulos, que trans-formaram a pequena comunidade de Alto do Moura, emCaruaru/PE no maior centro de arte figurativa das Amricas.

    Artistas abordados: Mestre Vitalino, Manuel Eudcio, Z Cabo-clo, Z Rodrigues, Mestre Galdino e Marliete Rodrigues da Silva.

    Indicao: A partir da 1 srie do Ensino Fundamental.

    Direo: Cac Vicalvi.

    Realizao/Produo: Rede SescSenac de Televiso, So Paulo.

    Ano de produo:2000.

    Durao: 23.Coleo/Srie: O mundo da arte.

    SinopseO primeiro bloco do documentrio apresenta o contexto de Alto doMoura, em Caruaru/PE, onde o barro do Rio Ipojuca se uniu ao gnio

    de Mestre Vitalino, um sertanejo iluminado que faz a crnica de seutempo e sua gente em bonecos que ganharam fama pelo mundo. Osegundo bloco apresenta depoimentos de familiares e produesde peas de barro dos artesos que foram seus discpulos, comcomentrios do muselogo Walmir Porto, do Museu do Barro deCaruaru. A terceira parte finaliza com as novas geraes, que fa-zem deste povoado o maior centro de arte figurativa das Amricas.

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    Trama inventiva

    Obras de arte que habitam a rua, obras de arte que vivem nomuseu. Um vestgio arqueolgico que surge em um desertode pedra, das cidades como runas. Bens culturais, materiaise imateriais se oferecem ao nosso olhar. Patrimnio de cadaindivduo, memria do coletivo. Representam um momento dahistria humana, um marco de vida. Testemunho da presenado ser humano, seu fazer esttico, suas crenas, sua organi-

    zao, sua cultura. Se destrudos, empobrecemos. Quandoconservados, enriquecemos. Patrimnio e preservao so,assim, quase sinnimos. Na cartografia, movemos estedocumentrio ao territrio Patrimnio Cultural,para nosorgulharmos das realizaes artsticas e encontrarmos nelasnossas heranas culturais.

    O passeio da cmera

    O alto falante anuncia a pomada milagrosa, assim a nar-radora nos introduz pelas ruelas de Alto do Moura, munic-pio de Caruaru/PE. A msica da Banda dos Pfanos acom-panha os nossos olhos pela casa onde viveu Mestre Vitalino,pelo Museu do Barro de Caruaru e nos apresenta os seus

    seguidores que, como ele, retratam cenas cotidianas donordeste brasileiro.

    O documentrio foi alocado em Patrimnio Cultural,mas houtros territrios a serem explorados no mapa potencial.

    Sobre Mestre Vitalino

    e seus discpulos(Ribeira dos Campos/PE, 1909-1963)

    Era mais importante que eu aprendesse a usar minhas mos que

    minha cabea... Na minha terra, as mos produzem comida e a

    cabea s produz confuso.

    Mestre Vitalino

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    A HERANA DE MESTRE VITALINO

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    Vitalino Pereira dos Santos nasce no distrito de Ribeira dosCampos, cercanias de Caruaru, na pequena casa, hoje, trans-

    formada em museu. Tmido, cordial, catlico devoto de PadreCcero, Vitalino festeiro e analfabeto como a maioria daspessoas de sua regio, pois as escolas praticamente no exis-tiam ali naquela poca. Seu pai trabalha na roa e a me, comosua av, louceira, faz cermica utilitria. Quando criana, elebrinca modelando com as sobras de barro de sua me. Por voltados 7 anos, comea a enviar sua produo para a feira.

    As cenas cotidianas do homem agreste nordestino suagente, usos e costumes, so registradas no barro por

    Vitalino, um cronista do cotidiano, plasmando no barro o

    sofrimento de seu povo, segundo depoimento do

    muselogo Walmir Porto.

    Descoberto por intelectuais no final dos anos 40, Mestre Vitalinoviaja pelo Brasil, vende peas para museus e colecionadoresdo mundo inteiro, mas no conhece a riqueza. Falece de varo-la, em 1963, aos 53 anos em Alto do Moura, para onde se mudaem 1948, com 39 anos, quando j arteso famoso.

    Entre seus muitos discpulos e seguidores, alguns revelamsingularidades.

    Manuel Eudcio (1931) comea seu aprendizado com Vitalino

    aos 17 anos. Segundo Walmir Porto, sua cermica maisfestiva, voltada para os folguedos e o folclore: figuras dorepentista, do pau de arara, do bicho do p, entre outros, commuito humor.

    Z Caboclo (Jos Antnio da Silva, 1921-1973) tambm apren-de com Vitalino. No Museu do Barro, seu nome reconhecido.Ele inova na tcnica introduzindo o arame nos ps para dar

    sustentao e durabilidade pea, alm de fabricar o carimbo,que indica a autoria da pea. Eudcio introduz os olhinhos pin-tados substituindo o furo na argila usado no passado.

    Mestre Galdino (Manuel Galdino de Freitas, 1929-1996), commais de 50 anos, deixa a profisso de pedreiro e comea a criarestranhas figuras com o barro. Produz peas figurativas no in-

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    cio e, depois, parte para o surrealismo, compondo um poemapara cada uma de suas peas. At os 73 anos, quando morre,

    deixa uma obra sem paralelos. Atualmente, seu filho AntnioGaldino mantm um ateli onde reproduz fielmente as criatu-ras que o pai inventou.

    Z Rodrigues fica conhecido pelos santos e Dona Ernestina,nica mulher a figurar no grupo, modela a temtica regionalistade Vitalino. Entre a nova gerao, destacam-se:

    Severino Vitalino (1940), o nico, dos seis filhos do Mestre, quecontinua a trabalhar a cermica e, como o pai, vai buscar o barrono Rio Ipojuca. Reproduz na cermica as mesmas caractersti-cas que Vitalino imprimia no barro. Marliete Rodrigues da Silva(1957), filha de Z Caboclo, ganha destaque pelas miniaturasem poes diminutas de barro, que trazem tambm a temticada vida nordestina.

    Se Mestre Vitalino usava as mos, com certeza sua mentebrilhante fez mais do que confuso. Deixou uma cidade intei-ra marcada pela cena nordestina registrada em barro e que

    hoje, por meio de sua herana, sobrevive recriando-as.

    Os olhos da arteEm cada sentido moram outros sentidos. Os olhos, os ouvidos, a boca

    o nariz, a pele, o corpo todo est inserido na cultura. Sentimos o mundo

    e construmos os sentidos a partir do que vivemos. Danas, msicas,

    histrias, objetos, roupas, utenslios, comidas, remdios, crenas,

    valores - as linguagens atravs das quais registramos, expressamos

    e transmitimos o que pensamos, o que sentimos e tudo o mais que

    diz respeito nossa vida pertencem a um acervo revelador: o

    patrimnio cultural, tradio, herana de outros tempos que se junta

    ao presente, ganhando o futuro.

    Clia Maria Corsino1

    O acervo revelador da vida nordestina, deixado por MestreVitalino, vive como herana cultural, mas recriado por cercade quinhentas famlias, cujo sustento retirado das peas debarro que comercializam em Alto do Moura e na Feira deCaruaru. Elas do continuidade sua temtica e ao estilo das

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    cenas do cotidiano sertanejo2 . Uma tradio que se junta aopresente e que precisa ser preservada.

    Na casa do Alto do Moura, onde Mestre Vitalino morou, hoje,transformada em museu, esto expostos objetos de uso pes-soal, ferramentas de trabalho, alm de mveis, utenslios e fotosque retratam sua trajetria. Nessa casa, as novas geraescuidam de manter a herana de Mestre Vitalino, que se tornouum mito no nordeste, quase to poderoso quanto Padre Cceroe Lampio. Era um homem simples, mas mudou a vida de toda

    uma comunidade. Cuidado por seu filho Severino, o museu ponto de vendas do trabalho de filhos e netos, com o artesana-to Mos de Vitalino.

    A famlia de Z Caboclo outro exemplo. Dona Celestina, suaviva, repete de maneira original o que durante sculos foi o tra-balho das mulheres, a cermica utilitria, e a faz em miniaturas.Sua filha Marliete Rodrigues da Silva, que j realizou exposiesno exterior, recria as cenas em miniatura: o vendedor de planti-nhas, a vov vendendo o trabalho, por exemplo, falam de suagente, na terra rida do nordeste. Marliete no replica ou copiaa tradio do Mestre e seus discpulos, mas a recria.

    Como um fenmeno simblico, a cultura lida com as tradi-

    es, recriaes, rupturas, a esttica do cotidiano. So as

    singularidades de cada criador que atualizam e ressig-

    nificam as tradies, como o procedimento de modelar as

    figuras dos bonecos, que quase idntico ao passado. Domesmo modo, os rsticos fornos circulares continuam a quei-mar as peas com a lenha do serto.

    Pela oralidade, os conhecimentos so repassados s novasgeraes de artesos: o trato do barro, os cuidados com a se-

    cagem da pea que leva em torno de 3 a 4 dias, sempre som-bra para evitar rachaduras, a correta queima no forno lenha,por volta de 6 horas, observando o esquente, a manuteno ea elevao da temperatura, como tambm o esfriamento dapea. Com relao decorao, quase nada esmaltado, sen-do o acabamento em terracota, embora, na atualidade, algunsas decorem com tintas comerciais em cores fortes e brilhantes.

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    Hoje, Alto do Moura o maior centro de arte figurativa populardas Amricas, mantendo a tradio e o legado vivo de Mestre

    Vitalino. Reconhecido pela Unesco, os artesos abastecem nos a Feira de Caruaru, como tambm todos os mercados dearte popular, no Brasil e no exterior. Mas preciso perceberdiferenas conceituais. A propriedade cultural, trata a culturacomo uma propriedade em forma de objeto, sendo importantesas questes relativas posse e controle, alienao e explora-o como recursos econmicos. Patrimnio cultural, por outro

    lado, toma a cultura como herana, em relao a um povo oucomunidade3 . Por isso, a criao de museus e a educaopatrimonial so focos importantes para a preservao e

    conservao das heranas culturais, capazes de alimentar

    o presente e criar o futuro.

    interessante notar que, na dcada de 60, surgiram muitosmuseus de folclore e de cultura popular nos diversos estados

    brasileiros. Isto se deveu a polticas culturais consistentes e quecontinuam a precisar de verbas para manuteno e ampliaode acervos. O Museu do Barro de Caruaru tambm conheci-do como Espao Z Caboclo um desses espaos que precisaser valorizado tambm por uma educao patrimonial que podecomear na escola e envolver as famlias e comunidades.

    O passeio dos olhos do professorSugerimos que voc inicie um dirio de bordo, como instrumentopara o seu pensar durante todo o processo de trabalho, j apartir da primeira observao do documentrio. Uma pauta doolhar poder ajud-lo:

    Quais os conhecimentos que o documentrio revela sobre oprocesso da cermica?

    Ele amplia a sua percepo sobre as feiras populares?

    O que possvel conhecer sobre o cotidiano sertanejo pormeio da cermica figurativa nordestina?

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    O que possvel perceber da relao do Mestre com seus

    discpulos?Quais as singularidades presentes nas produes artesanaisdas geraes posteriores a Mestre Vitalino? Quais as con-tribuies reveladas pelo documentrio com relao a isso?

    O que seus alunos gostariam de ver neste documentrio?

    As anotaes que voc fez enquanto assistiu ao documentrio,em desenhos ou palavras, podem ter iniciado um mapa potenci-al. O que voc gostaria que seus alunos estudassem sobre opatrimnio cultural brasileiro e a cermica figurativa nordestina?

    Percursos com desafios estticos

    Os percursos e desafios sugeridos, no seqenciais, so apenas

    caminhos possveis. A escuta e a observao atentas so impor-tantes para a criao dos trajetos compartilhados com os alunos.

    O passeio dos olhos dos alunos

    Algumas possibilidades:

    O olhar para o fazer artesanal poderia iniciar um projeto.

    Um passeio pelas feiras ou lugares que comercializam estetipo de pea poderia ser o ponto de partida. Tambm seriainteressante, simplesmente, trazer as peas memrianuma conversa inicial. Qual o artesanato de sua regio?Essas aes podem provocar a ateno para ver o primeirobloco do documentrio.

    A observao da materialidade e potencialidade da argila

    poderia ser um bom comeo para aguar sensibilidades. Paraisso, organize um local com mesas forradas por jornais ouoleados, ideais para o trabalho com argila. H muitos mo-dos de convocar as mos para melhor perceberem a tem-peratura desse material, a sua textura e maleabilidade.Essas caractersticas sero mais bem percebidas de olhos

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    Zarpando

    ferramentas

    procedimentos tcnicos

    natureza da matria

    argila

    no convencionais, faca, carimbos,pente, pena, arame, palito

    procedimentos tradicionaisda cermica

    Materialidade

    poticas da materialidademistrio do barroe do fogo

    espaos sociais do saber

    componentes da ao cultural

    agentes

    acervo, coleo

    artista, muselogo

    museu, Museu do Barro de Caruaru, feira

    MediaoCultural

    Forma - Contedo

    elementos davisualidade

    relaes entda visualida

    f

    fiavo

    tem

    SaberesEstticos eCulturais

    histria da arte cultu

    prticas cul

    sociologia da arte

    LinguagensArtsticas

    meios

    tradicionais

    escultura,cermica,modelagem

    msica tnica,banda de pfanos

    msica

    literatura

    artesvisuais

    poesia

    bens simblicos

    preservao e memria

    bens patrimoniais materiaise imateriais, cultura brasileira

    esttica do cotidiano, acervo de memria, coleo,heranas culturais, memria coletiva, catalogao

    educaopatrimonial

    difuso, valorizao dopatrimnio, acesso

    PatrimnioCultural

    Processo deCriao

    ao criadora potica pessoal, sries,arte como experincia de vida

    repertrio pessoal ecriadora, atitude ld

    potncias criadoras

    ateli, oficinaambincia de trabalho

    ConexesTransdisciplinares

    arte e cinciashumanas

    arte e cinciasda natureza

    antropologia cultural, cotidiano,histria do Brasil, geografia

    meio ambiente, recursos naturais

    qual FOCO?

    qual CONTEDO?

    o que PESQUISAR?

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    fechados, mas preciso aguardar um tempo para que osalunos possam entrar na experincia de fato. Os alunos

    podem modelar uma figura, pensando na ao que ela estfazendo. S quando a figura estiver quase pronta, eles po-dem abrir os olhos para complet-la. Uma conversa sobreas figuras prepara para ver o segundo bloco do docu-mentrio. O que ele despertar nos alunos?

    Com papel e lpis na mo, voc pode preparar os alunos paraassistirem ao terceiro bloco do documentrio, orientando-os

    para que anotem tudo o que acharem mais interessante, oque lhes chamar a ateno, o que lhes causar estranhamento.A socializao dessas impresses suscita interesses e idiaspara continuar um projeto a partir do documentrio.

    Nessas aes, o que importa provocar o olhar atento dosalunos para os diferentes fazeres artesanais, levando-os avivenciar este processo e fazendo-os compreender como acultura e a arte popular se organizam nesse contexto.

    Ampliando o olhar

    Na continuidade da primeira explorao com a argila, jsugerida, os alunos podem aprender mais sobre esse mate-rial e a necessidade de comear o trabalho amassando-apara retirar o excesso de gua e as eventuais impurezasagregadas ela. Placas, rolinhos, bolinhas, cubos, formasirregulares podem ser criadas para que percebam a macieze a fluidez da argila, sem preocupao com a modelagemespecfica de figuras ou objetos.

    No documentrio, possvel ver como os artesos mode-lam as peas manualmente, usando ferramentas improvi-sadas: pena para fazer o olho, faca para cortar a boca, pa-lito para as narinas, pedacinho de pente para os detalhesde barba, cabelo, tbua para bater a base, arame para darsustentabilidade. Depois da explorao com a argila, osalunos podem experimentar essas e outras ferramentas,percebendo os seus efeitos expressivos.

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    Uma expedio para conhecer o trabalho de oleiros de suaregio um bom modo de ampliar o contato com a cermica e

    sua histria. Um roteiro para entrevistas e uma pauta do olharajudam a desenvolver a percepo para apreciar a produode cermicas artesanais e conhecer o processo de modelagem,secagem e queima, bem como os instrumentos utilizados.Como poderiam ser realizados registros dessa expedio?

    Outra expedio interessante seria para as feiras ou luga-res que comercializam artesanato. Registros, levantamen-

    to das diversas categorias artesanais e de suas caracters-ticas regionais, entrevistas com os artistas e artesos, bus-cando descobrir sua temtica e foco inspirador, formariamum rico material de estudo, ampliado tambm por pesqui-sas sobre as feiras famosas de Caruaru e outras que acon-tecem aos domingos nas grandes cidades.

    Para aflorar a imaginao de seus alunos, convide-os criaode cenas do cotidiano de sua regio: usos e costumes de suagente no trabalho, no lazer ou em outras atividades dirias. Comoaquecimento, levante ttulos de vrias cenas e, depois, propo-nha que os alunos os transformem em pequenas representa-es em grupo, congelando um momento especfico. Rpidosdesenhos de observao poderiam ser feitos para o registro.Como cada aluno faria a sua interpretao potica da cena vis-

    ta? Utilizaria o bidimensional de uma placa de argila, trabalhan-do em baixo-relevo, ou construiria no tridimensional?

    O olhar sobre arte popular de muitos tempos e lugares diver-sos evidencia a manifestao do imaginrio surrealista. Aconvocao dos alunos para a criao de seres fantsticospode partir de uma nova exibio da segunda parte dodocumentrio. Nesse bloco, h o enfoque no trabalho deMestre Galdino, sua cermica figurativa repleta de figurasdo imaginrio fantstico e seus poemas para cada pea rea-lizada. Para alimentar as criaes, torna-se oportuna umabusca pela cultura visual contempornea, repleta desses seresfantsticos, e pelos contos e lendas retirados da tradio oral.

    Interessante observar o procedimento artstico da cermica em

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    miniatura feita pelas artess Dona Celestina e Marliete. A obrade Jeanete Musatti, tambm presente na DVDteca Arte na

    Escola, pode ser uma boa oportunidade para perceber a estti-ca do cotidiano na arte contempornea, assim como a questoda escala. O que os alunos podem inventar a partir dessas obras?

    Conhecendo pela pesquisaA pesquisa sobre tradies locais que envolvam a oralidade,ou seja, as aes passadas de uma gerao a outra a partir

    da narrativa oral, pode ser um modo de valorizar o patrimnioimaterial. O registro dessas histrias em textos verbais evisuais pode produzir cadernos de memria. A obra deFranklin Cascaes, tambm presente na DVDteca Arte naEscola, um exemplo desses possveis registros.

    Quem cuida do patrimnio cultural em sua cidade? O que osalunos sabem sobre os bens patrimoniais de sua regio? Umapesquisa pode envolver a arquitetura, a msica, a dana, asartes visuais, assim como a museologia e os arquivos hist-ricos para descobrir interfaces culturais que tecem a identi-dade e a diversidade dos moradores de sua cidade.

    Os procedimentos construtivos da cermica figurativa ar-tstica, experimentados tambm pelos alunos, podem serdesenvolvidos com pesquisas em bibliografias espe-cializadas e na internet. Quais questes os alunos levantampara saber mais sobre cermica? Como as respostas po-dem ajud-los na criao de suas peas?

    Mestre Vitalino retirava o barro do Rio Ipojuca para a cons-truo artstica de suas obras. Existem tipos de argila emcores e densidades diversas. Quais os tipos de argila en-

    contrados em sua regio ou em locais prximos? A organi-zao e coleta de materiais, categorizando-os por cores eoutros detalhes, podem compor um trabalho interdisciplinar,com a rea de cincias naturais e geografia, envolvendo apesquisa do solo e dos recursos naturais. preciso, entre-tanto, ter cuidado com reas que apresentam contamina-o de solo, como reas prximas a esgotos.

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    A Banda de Pfanos de Caruaru traz uma sonoridade regi-onal. Quais as relaes entre ela e a temtica cotidiana do

    sertanejo nordestino, presente tambm na cermica figu-rativa popular? O que os alunos podem pesquisar sobre ela?

    Outro tema de pesquisa seria o artesanato fabricado emsua cidade. Observe em feiras e praas como os artesosrealizam seus fazeres e relacione com aspectos pontuaisdo documentrio, enfatizando diferenas e semelhanascom manifestaes artesanais e artsticas encontradas

    em sua regio.O Museu do Folclore Edison Carneiro, pertencente ao CentroNacional de Folclore e Cultura Popular CNFCP, est instala-do em dois casares do final do sculo 19, na Rua do Cateteno Rio de Janeiro. Cerca de mil e quatrocentos objetos com-pem um diversificado painel das manifestaes da culturapopular brasileira. Se for possvel, agende uma pesquisa nolaboratrio de informtica de sua escola para pesquisar essee outros museus que tratam da cultura popular.

    Para problematizar com seus parceiros professores, suge-rimos uma conversa sobre as questes do patrimnio cultu-ral tendo como ponto de partida o conceito de educaopatrimonial que, segundo Denise Grinspum4, so:

    formas de mediao que propiciam aos diversos pblicos a possibilida-de de interpretar objetos de colees de museus, do ambiente natural

    ou edificado, atribuindo-lhes os mais diversos sentidos, estimulando-

    os a exercer a cidadania e a responsabilidade social de compartilhar,

    preservar e valorizar patrimnios com excelncia e igualdade.

    Desvelando a potica pessoal

    Mestre Vitalino provocou um olhar diferenciado para a cermi-ca figurativa, influenciando geraes de artesos para atemtica da cena cotidiana nordestina, sua gente, usos e cos-tumes. Impulsionar o olhar para o territrio do Patrimnio Cul-tural o foco deste documentrio. O que ele ter provocadopara a produo de uma srie de trabalhos, mergulhando napotica nascente de cada aluno?

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    Amarraes de sentidos: portflio

    Com seu aluno, voc pode mapear os conhecimentos e cami-nhos percorridos com as interfaces culturais, em suas produ-es, tendo como ponto de partida este documentrio. Umamostra organizada por todos, com convites para os artesoslocais, pode evidenciar a diversidade cultural de sua regio.

    Os portflios com os percursos, trabalhos e pesquisas realiza-das podem ser organizados em caixas pintadas ou encapadascom papis coloridos ou papel-jornal, como um canal de notci-as, referendando as produes e estudos sobre a cultura po-pular e as temticas cotidianas de sua localidade. Essas aespodem revelar os sentidos e conhecimentos aguados por estedocumentrio, tambm a serem expostas comunidade.

    Valorizando a processualidadeA escolha por este documentrio, e as questes que proble-matiza, pode ser o incio de uma boa conversa com seus alunosvisando a percepo de alguns caminhos compartilhados porvocs. Os seus alunos ampliaram o conhecimento sobre a im-portncia do patrimnio para a memria social, cultural e hist-rica? Compreenderam a importncia do legado de Mestre

    Vitalino para a cermica figurativa nordestina? Perceberam osdiferentes procedimentos da tridimensionalidade? Verificarama diversidade na prtica artesanal das regies brasileiras?

    Voc pode, ainda, encontrar na DVDteca Arte na Escola outrosdocumentrios que sero bons complementos para algumasquestes levantadas. Fica o convite!

    GlossrioBanda de Pfanos de Caruaru criada em 1924, no alto serto nordes-tino, a Banda de Pfanos de Caruaru tem como instrumento principal opfano, ou pife, uma espcie de flauta transversa de madeira, rstica ecom afinao pouco precisa. O grupo comeou sua trajetria acompanhan-do rituais religiosos e festas tradicionais dos sertes pernambucano e

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    material educativo para o professor-propositor

    A HERANA DE MESTRE VITALINO

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    alagoano. Permaneceu no mbito folclrico at, na segunda metade dosanos 60. Gilberto Gil foi conhecer a banda em Caruaru e, do encontro,

    surgiu Pipoca moderna, gravada em 1971. Em 1999, gravou Tudo isso So Joo, pela Trama, e seus instrumentistas mudaram a residncia paraSo Paulo. Fonte: .

    Folclore Do ponto de vista das polticas de salvaguarda do patrimnio cul-tural, a noo de cultura popular mais operativa a que se ope cultura oficialdominante e cultura de massa, aproximando-se mais da noo de folclore.Mas no da noo de folclore que remete a um simulacro de tradio e auten-ticidade preservado de maneira esttica, como testemunho do que se perdeu,e, sim, da noo de folclore relativa aos saberes do povo, autonomia, liber-dade e dinmica criativa dos vrios grupos sociais em relao cultura oficiale cultura de massa. s alternativas potenciais ao que posto e imposto.Fonte: VIANNA, Letcia. Tradies populares e indstria cultural. Disponvel em:.

    Patrimnio histrico e artstico nacional conjunto de bens mveis eimveis existentes no pas, e cuja conservao seja de interesse pblico,quer por sua vinculao a fatos memorveis da histria do Brasil, quer porseu excepcional valor arqueolgico ou etnogrfico, bibliogrfico ou arts-

    tico. Fonte: LEMOS, Carlos. O que patrimnio histrico. So Paulo:Brasiliense, 1985, p. 43.

    BibliografiaBUCHMANN, Luciano. A pertinncia do patrimnio cultural brasileiro pelo

    ensino da arte. Revista Digital Art&, v.2, 2004, p. 6. Disponvel em:. Acesso em 14 jan. 2006.

    CAMPOS, Neide Pelaez de. A construo do olhar esttico-crtico doeducador. Florianpolis: Ed. da UFSC, 2002.

    LEMOS, Carlos. O que patrimnio histrico. So Paulo: Brasiliense, 1985.

    MARTINS, Mirian Celeste; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, M. Terezinha Telles.A lngua do mundo:poetizar, fruir e conhecer arte. So Paulo: FTD, 1998.

    MASSOLA, Doroti. Cermica: uma histria feita mo. So Paulo: tica,1994 (Um passo frente).

    RICHTER, Ivone Mendes. Interculturalidade e esttica do cotidiano noensino das artes visuais. Campinas: Mercado das Letras, 2003.

    VALLADARES, Clarival do Prado (org.). Artesanato brasileiro. Rio deJaneiro: Funarte, 1980.

    Bibliografia de arte para crianas

    BUCHMANN, Luciano. Entendendo museus: preparando a visita de cri-anas a museus. Curitiba: Due Design, 2000.

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    MACHADO, Ana Maria. A peleja.Rio de Janeiro: Berlendis & Vertecchia,1986. (Coleo arte para criana. Arte popular).

    SOUZA, Flavio de. Lendas e causos da caipora. So Paulo: Companhiadas Letrinhas, 1998. (Castelo R-Tim-Bum).

    VIDAL, Jean-Jacques; JAMES, Paulo. Ceramicando. So Paulo: Callis, 1997.

    Seleo de endereos sobre arte na rede internetOs sites abaixo foram acessados em 6 fev. 2006.

    ALTO DO MOURA. Disponvel em: .

    CENTRO NACIONAL DE FOLCLORE E CULTURA POPULAR e MUSEUDE FOLCLORE EDISON CARNEIRO. Disponvel em: .

    CERMICA. Disponvel em: .

    MUSEU DO BARRO. Disponvel em: .

    VITALINO, Mestre. Disponvel em: .___. Disponvel em: .

    Notas1 CORSINO, Clia Maria. Manifestaes populares: o patrimnio imateriale o encontro das linguagens. Disponvel em: . Acesso em 5 fev. 2006.2 Alguns ttulos de obras: Famlia de retirantes, Enterro na rede, Festa decasamento, Barbeiro de feira, Aguadeiro carregando gua, Pescador comvara e anzol, Cavador de aude, Mulher com lata de gua na cabea, Mulher

    apanhando algodo, Casa de farinha, Vacinao, Dentista, Fotgrafo,

    Agricultor voltando da roa, Doutor auscultando o doente, Centauro,

    Homem com cachorro, Mdico operando o doente, Comedores de bana-

    na, Time de futebol, Banda de pfanos, Lampio e Maria Bonita, So Fran-

    cisco cangaceiro, Menino sentado no penico, Velho acocorado soprando

    fogo na roa, Escola radiofnica, Roberto Carlos cantando, Bumba-meu-

    boi, Os trs no forr. Fonte: . Acesso em 6 fev. 2006.3 FUNARI, Pedro Paulo. Patrimnio e diversidade: o que voc quer pre-servar? Disponvel em: . Acesso em 6 fev. 2006.4 GRINSPUM, Denise. Educao para o patrimnio: museu de arte e es-cola - responsabilidade compartilhada na formao de pblicos. Tese (Dou-torado). Faculdade de Educao - USP, So Paulo, 2000, p. 27.

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