Arrancar-Mascaras-Eliminar-papeis-Jonh-Powell.pdf

177
5/27/2018 Arrancar-Mascaras-Eliminar-papeis-Jonh-Powell.pdf-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/arrancar-mascaras-eliminar-papeis-jonh-powellpdf 1

Transcript of Arrancar-Mascaras-Eliminar-papeis-Jonh-Powell.pdf

  • ARRANCAR MASCARAS!

    ABANDONAR PAPIS!

  • DO MESMO AUTOR

    Aborto: o holocausto silenciosoAs estaes do corao Por queno viver melhor Um estranhoem sua porta

  • JOHN POWEL, SJLORETA BRADY, MSW

    Traduo

    BRBARA THEOTO LAMBERT

    ARRANCARMASCARAS!ABANDONAR PAPIS!

  • Edies Loyola

    ARRANCARMASCARAS!

    ABANDONAR PAPIS!

  • Ttulo originalWill the Real Me Please Stand up?25 Guideline for Good CommunicationC) John Powell, 1985

    Edies LoyolaRua 1822 tf 347 Ipiranga04216-000 So Paulo, SP

    Caixa Postal 42.335 04218-970 So Paulo, SP

    (11) 6914-1922

    (11) 6163-4275

    Home page e vendas. www.loyola.com.brEditorial: [email protected] Vendas:[email protected]

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obrapode ser reproduzida ou transmitida por qualquer formaelou quaisquermeios (eletrnico oumecnico, incluindo fotocpia egravao) ou arquivada em qualquer sistema ou banco dedados sem permissoescrita daEditora.

    ISBN: 85-15-00038-5

    14' edio: maro de 2006

    EDIES LOYOLA, So Paulo, Brasil, 1998

  • SOBRE OS AUTORES E PRONOMES . . .

    As ideias e expresses deste livro tm uma histria progressiva.Loretta Brady psicoterapeuta com clnica particular e John Powellensina na Universidade Loyola de Chicago.

    Reuniram neste livro seus pensamentos e experincias em acon-selhamento e em sala de aula.

    Tambm apresentaram juntos este material em seminrios reali-zados nos ltimos anos.

    A fim de proporcionar uma leitura corrente, no se faz distinoentre os textos de Loretta e os de John. Quando houver excees, seroclaramente identificadas.

  • OQUE REAL?

    "O que REAL?", perguntou o Coelho um dia, quandoestavam deitados lado a lado, perto da grade do quarto das crianas,antes de Nan vir arrumar o quarto. "Significa ter coisas quemurmuram dentro de voc e uma ala do lado de fora?"

    "Real no a forma com que voc feito", respondeu o Cavalode Pele. " uma coisa que acontece com voc. Quando uma crianagosta de voc por muito, muito tempo, no somente para brincar,mas gosta REALMENTE de voc, a voc se torna Real."..

    "No acontece de repente", continuou o Cavalo de Pele."Voc se transforma. Leva bastante tempo. por isso que nemsempre acontece para quem se quebra com facilidade ou tem bordassperas ou precisa ser guardado com cuidado. Geralmente, at vocse tornar Real, a maior parte de seu plo j caiu de tanto carinho,voc j perdeu os olhos, est com as juntas moles e bastante gasto.Mas essas coisas no tm a mnima importncia, porque quandovoc Real, no pode ser feio, a no ser para quem no entende."

    The Velveteen Rabbit,por Margery Williams

  • INTRODUO

    A comunicao entre dois seres humanos reconhecidamentedifcil. Quando nos comunicamos, partilhamos alguma coisa. Comoresultado, essa alguma coisa torna-se posse comum. Por exemplo, secomunico uma piada ou uma receita, esse ato de partilhar tornar apiada ou a receita nossa posse comum; possuiremos alguma coisajuntos. Mas este partilhar um artigo ou uma coisa no a comuni-cao ou o partilhar sobre o qual desejamos escrever. Atravs dacomunicao relacional humana, o que obtemos como posse comumsomos ns mesmos. Atravs de nossos atos de partilhar ou comunicar,conhecemos e somos conhecidos. Voc partilha o dom de si mesmocomigo e eu partilho o dom de mim mesmo consigo. sobre essacomunicao relacional humana que falaremos nestas pginas.

    Parece bvio que a comunicao humana a alma e o impulsovital de todo relacionamento. Tambm parece claro que o dom de simesmo, atravs do partilhar da auto-revelao, o dom essencial doamor. Todos os outros dons jias, guas-de-colnia, flores egravatas so apenas smbolos. O verdadeiro dom de amor odom de si.

    De alguma forma, percebemos que aossas vidas parecem ter amesma qualidade dos nossos relacionamentos. Somos aproximada-mente to felizes quanto felizes so nossos relacionamentos. Um "serhumano solitrio" uma contradio em termos. A existncia de umser humano isolado dos outros como uma planta tentandosobreviver sem sol ou sem gua. Nenhum novo crescimento podeocorrer e a vida que existe comea a murchar e lentamente morrer.Para ns, existir existir com um outro ou outros. A qualidade denossa existncia humana depende de nossos relacionamentos.

    Apesar de tudo isso, a comunicao humana no tem um bomregistro de realizaes. Muitas pessoas, at mesmo muitos casais,

  • parecem estar empenhados em se relacionar um com o outro semo conhecimento mtuo que resulta da boa comunicao. Muitos dens nos contentamos com uma trgua, uma acomodao em vez deum verdadeiro relacionamento.

    Quando acabei de assistir ao filme "Kramer versus Kramer",senti um impulso de me levantar na platia e protestar. Queria dizeraos Kramer: "Na verdade vocs no precisam se divorciar. O queprecisam mesmo se conhecer um ao outro. Precisam aprender a secomunicar. Ambos so pessoas boas e decentes, mas parece que nopercebem nem reconhecem a bondade e as qualidades um do outro".Dizem que "a arte imita a vida" e, infelizmente, h na vida realmuitas situaes como a retratada em "Kramer". Muitos de ns seangustiam com relacionamentos que chegam ao fim. "Breaking up ishard to do" (Um rompimento sempre difcil), diz a letra da cano.Talvez nos deva preocupar o fato de nossos relacionamentos nuncaterem um verdadeiro comeo nem experimentarem um verdadeirocrescimento. Talvez estejamos prontos a nos contentar com umafarsa, enquanto sonhamos com o que poderia ser.

    Para dificultar ainda mais a consecuo de relacionamentos reais,existe o problema da fantasia ou imaginao. Imagine, se quiser, duaspessoas tentando se comunicar uma com a outra. Se fssemosrepresentar graficamente a comunicao, poderamos faz-lo com umfio ou fios esticados entre as duas pessoas. O trfego da comunicaotem dois sentidos. Por isso o partilhar que passa pelos fios movimenta-se de A para B e de B para A. Mas, em toda a extenso,o material realmente transmitido exagerado pela fantasia ou ima-ginao. Fantasiamos muito alm da verdadeira comunicao. Aimaginao sempre impera onde termina a verdadeira comunicao.

    Digo-lhe, por exemplo:

    Sabe, acho que esse tipo de cabelo no fica bem em voc.

    Suponhamos que eu tenha dito exatamente isso, nada mais queisso. Mas voc no consegue deixar de imaginar outras coisas quesuspeita estarem subentendidas em minha observao: "Acho que eleno gosta de mim; no s do meu penteado". Ou voc poderiaimaginar: "Ele est se desforrando de mim, porque eu disse queaquela cor de camisa no lhe caa bem". Estes so apenas exemplospossveis dos perigos da fantasia. O certo que, onde cessa a comu-nicao, a fantasia ou a imaginao tomam conta. Muitas vezes issonos causa grandes danos.

    Outro exemplo: de alguma forma, estou certo de que todos com quemvoc ou eu tivemos contato prolongado tm idia bem-definida

  • de se gostamos ou no deles. muito provvel que nunca lhestenhamos dito explicitamente como nos sentimos verdadeiramente.Mas, de alguma forma, a imaginao substituiu os fatos, quase sem-pre distorcendo-os. Quando um homem est ajudando uma mulher avestir o casaco, sua mo pode roar-lhe acidentalmente o rosto. Elapode imaginar que isso foi deliberado e envolver-se em um rela-cionamento todo irreal (literalmente fantstico). "Ele me tocou! Edepois disso tudo mudou. Tenho certeza de que fez de propsito. um sinal evidente de que me ama." O pobre homem ficaria muitosurpreso ao saber de tudo isso, pois estava apenas ajudando-a avestir o casaco. (At que ela lhe diz: "Sei que voc me ama!")

    Uma mulher sentada mesma mesa que um homem podeencostar acidentalmente seu p no dele, sob a mesa. Ele podefacilmente imaginar que foi intencional. Interpreta isso como umsinal secreto, mas seguro, que afirma o que palavras jamais podemdizer. "Ela acariciou meus ps! Acho que est apaixonada por mim."Tais suposies podem nos levar a um mundo de iluso. No final, ochoque sempre doloroso.

    Parece bvio que quanto mais freqentemente usarmos a comu-nicao verbal exata, menos probabilidade haver de mensagensimaginrias e conseqentes mal-entendidos. quando mantemos nos-sos verdadeiros pensamentos e sentimentos dissimulados quandosomos insinceros, usamos mscaras e fingimos certos estados deesprito , que os outros tm de imaginar o que queremos dizer. Oresultado sempre um mal-entendido, geralmente de desastrosasconseqncias.

    A clara comunicao verbal no apenas nos Poupa esse sofri-mento desnecessrio por causa de mal-entendidos. De modo maispositivo, resulta em profundos e duradouros relacionamentos. E osrelacionamentos so a fonte de nosso crescimento como pessoas.Paul Tournier, mdico e escritor suo, sabiamente sugeriu o quemuitos de ns acreditamos. Para uma pessoa alcanar pleno poten-cial, necessrio haver pelo menos outra pessoa com quem sejatotalmente franca e, ao mesmo tempo, se sinta totalmente segura.Somos seres sociais. Estamos nisso juntos. Para ser tudo o quepodemos ser, so necessrios profundos e permanentesrelacionamentos. E, para conseguir esses relacionamentos, acomunicao efetiva absolutamente essencial.

    j se disse que uma obra de arte acima de tudo um trabalho.Os relacionamentos trabalham para os que trabalham neles. Semdvida, o principal trabalho de um relacionamento verdadeiro a

  • comunicao. A comunicao gradualmente ocasionarelacionamentos profundos e claramente definidos, mas s secontinuarmos a trabalhar para isso. Como muitas outras realizaeshumanas, a comunicao uma questo de prtica contnua. Todas asfrmulas verbais so inteis, a menos que com a prtica a arte dacomunicao se torne parte de ns. No existe frmula para o sucessoque funcione se no trabalharmos para isso.

    A maioria de ns aprendeu a falar durante os dois primeiros anosde vida e, segundo os neonatologistas, comeamos a ouvir antesmesmo do nascimento. Infelizmente, muita gente pensa que, porqueaprendemos a falar e a ouvir, automaticamente aprendemos a noscomunicar. o mesmo que dizer que, porque posso tocar as teclas deum piano, automaticamente consigo tocar msica. No se consegue aboa comunicao automtica ou facilmente. Pense em suas prpriasdificuldades para compreender e ser compreendido. Est comprovadoque nunca se alcana realmente uma boa comunicao antes que duaspessoas se decidam a trabalhar para isso. Precisamos de estudo eprtica para aprender a difcil arte da comunicao. Precisamosaprender a reconhecer e evitar as ciladas. (E, se voc concorda comisso, achamos que este livro lhe servir!)

    Nestas pginas, gostaramos de comentar e interpretar simplifi-cadamente as atitudes e prticas que parecem estimular o partilharhumano. Algumas dessas atitudes e prticas podero ter um imediatoreconhecimento e aceitao. Outras mostrar-se-o mais desafiadoras.Porm todas exigiro prtica constante at se tornarem uma questo dehbito.

    Foi assim que aprendemos a tocar piano ou a andar de bicicleta.O mesmo nos aconteceu com as regras da gramtica. Tivemos depraticar essas regras at se tornarem um hbito. Entretanto, assim quea prtica constante transformou as regras em "uma parte de ns",pudemos conversar vontade e com segurana. De alguma forma,tenho certeza de que se praticarmos as regras bsicas de boa comu-nicao descritas neste livro, elas se tornaro uma questo de instintoe de hbito. Ento, seremos capazes de nos comunicar mais cor-retamente e de nos relacionar com os outros mais vontade e commais segurana. E isso essencial, se quisermos conhecer afelicidade de uma vida plena.

    Freqentemente ouvimos a queixa de que a psicologia sepreocupa com os doentes, sempre investigando as origens das doen-as mentais e emocionais. Mas recentemente tem havido uma novatendncia para estudar as pessoas sadias e felizes e investigar as

  • fontes da felicidade e da sade humanas. Minhas prprias experin-cias, observao e pesquisa levam-me a crer que a comunicao amais importante de todas as fontes de sade e felicidade. A comu-nicao a base essencial de nossa felicidade.

    Quando as pessoas comeam efetivamente a se comunicar, inicia-se uma mudana total que afeta essencialmente todas as reas da vida.Os sentidos parecem reviver. O colorido nunca antes observado percebido de modo novo. A msica nunca antes ouvida passa a ser umacompanhamento da vida. A paz nunca antes sentida passa a morar nocorao humano. claro que a nica prova experimental. Para saberse isso tudo verdade, voc tem de experimentar. Como diz o velhoditado: "Experimente. Pode ser que goste".

    A falta de comunicao em um relacionamento traz um sofrimentomuito real e doloroso. Freqentemente,' as linhas de comunicao emnossos relacionamentos humanos so malconstrudas e caemrapidamente durante a crise de uma tempestade. O resultado a solido,o flagelo do espirito humano. Todavia, quando essas linhas sorestabelecidas, como uma segunda primavera de amor e alegria. Asade e a alegria do esprito comeam a florescer nessa primavera decomunicao.

    Recentemente, uma senhora do sul de Illinois fez-me aexcitante revelao de que eu salvara sua vida. Como nunca a viraantes, naturalmente tive de fazer-lhe algumas perguntas. Explicou-me que, alguns anos depois de casada e de ter alguns filhos, sofreraum colapso nervoso e fora hospitalizada. Depois de repouso emedicamentos, obteve alta e passou aos cuidados de um psiquiatra.Sendo mulher simples, prontamente admitiu que no entendia o queo mdico estava tentando lhe dizer. Por isso, continuou beira deoutro colapso. Ento, acrescentou:

    Um dia o mdico deu-me seu livro, Why Am 1 Afraid to TeltYou Who 1 Am? ("Por que receio dizer-lhe quem sou?"). Eu o li e

    percebi que podia ter meus sentimentos, que podia e devia partilharmeus sentimentos com os 'outros.

    Continuou:

    Bem, de qualquer maneira, comecei a fazer isso. A princpio,meu pobre marido no sabia o que acontecera. Eu recobrara a vida,no era mais uma esttua. Mas, mais importante, comecei a mesentir melhor. Logo no precisei mais de mdico, nem de remdios.Isso aconteceu h vrios anos e agora crio meus filhos alegremente esou voluntria no hospital da cidade. Pela primeira vez na vida,sinto-me realmente viva.

  • Mais recentemente, um homem contou-me a histria de sua vida.Compartilhou o trauma do divrcio dos pais quando tinha sete anos.Quando suas constantes preces para a reconciliao dos paisquedaram aparentemente sem resposta, decidiu "ser um diabo".Embora houvesse evidncias de uma profunda bondade, nunca per-dida, insistiu que passara a vida indo para o mau caminho e levandooutros consigo. Finalmente se casou, mas depois de trs filhos, enjooudo casamento e da famlia e "quis dar o fora".

    Disse a minha mulher que queria o divrcio, que estava farto.Quaisquer perguntas sobre meus motivos deixavam-me indignado.Tudo o que eu sabia era que sentia uma dor interior.

    Ento algum sugeriu um fim-de-semana de comunicao,patrocinado pelo Movimento de Encontro de Casais. No escrever epartilhar daquele fim-de-semana, extravasei trinta anos de dor e res-sentimentos reprimidos. Como ltimo partilhar, escrevi duranteuma hora e meia sem parar. Escrevi um pequeno tomo. Uma vezque as comportas baixaram um pouquinho, no havia o que mepudesse segurar. Depois do fim-de-semana, senti-me como se trintaanos de histria pessoal dolorosa tivessem sido tirados dos meusombros. Senti-me livre e inteiro novamente. Foi realmente oprimeiro dia de uma nova vida para mim.

    Essas duas histrias so verdadeiras, mas so apenas duas entremuitas dessas experincias. Os efeitos da comunicao so to bvios eimediatos que passei a consider-la como o incio de toda mudanaverdadeira. o alimento essencial da sade humana e o nico ingressopara uma vida nova feliz.

    H ainda outro benefcio muito valioso quando se aprende e sepratica a arte da boa comunicao: a maturidade pessoal. Sefielmente acreditarmos nas verdades e aceitarmos as atitudes quefundamentam a comunicao franca e honesta, iniciaremos um con-tato saudvel com a realidade. Desistindo dos papis que represen-tamos e dos jogos que fazemos, logo estaremos lidando maiseficientemente com ns mesmos como realmente somos e com osoutros como realmente so. Comearemos a ser autnticos everdadeiros, com ns mesmos e com os outros. O resultado bvio detudo isso a maturidade.

    Ningum (inclusive eu) gosta de ser imaturo, mas de fato osomos. Somos seres em desenvolvimento e ainda no atingimos tudoo que podemos ser. Condio absoluta para nosso crescimentohumano o contato com a realidade. A comunicao franca e honesta o nico caminho que nos leva ao mundo real. Sua contrapartida

  • contentar-se com uma vida que apenas uma representao, um fingimentosem sentido,

    A questo da comunicao talvez seja a mais importante quevoc ou eu tenhamos analisado. Os captulos que se seguem des-crevem as teorias, atitudes e prticas que ajudam a efetiva comuni-cao humana. Mas este livro exige mais que uma simples leitura.Como as regras de gramtica ou as tcnicas de datilografia, as regrasda boa comunicao tambm exigem prtica. Somente quando setornarem instintivas e habituais comearemos a gozar de relaciona-mentos profundos e permanentes. Ento, comearemos a crescercomo nunca, pois, urna vez que estejamos nesse caminho, afelicidade no poder estar muito longe.

  • PARTE 1

  • DEVEMOS NOS EMPENHAR NA COMUNICAO

    O incio de toda comunicao bem-sucedida o desejo desejo de se comunicar. Esse desejo no pode ser vago etransfervel. Tem de ser um firme estado de esprito, uma resoluointerior, uma promessa concreta feita a ns mesmos e queles comquem estamos tentando nos relacionar.

    Estou disposto a trabalhar para isto, a dedicar-me aomximo. Este compromisso incondicional: nenhum con-trato bem-impresso, com "se" ou "mas" ou limites de prazo.Trabalharei nisto quando for fcil e quando for difcil.Tentarei revelar-lhe quem sou eu e ouvirei, para aprender,quem voc. Farei isso quando estiver disposto e atquando no estiver. Prometo continuar ali com voc, mes-mo quando a criana que existe em mim prefira fingir, ficaramuada ou maltrat-lo. Prometo continuar ali, mesmoquando estiver com vontade de desistir. Juntos nos esfor-aremos para partilhar, at que tenhamos construdo forteslinhas de comunicao. Somente ento poderemos sentir arealizao pessoal que surge com a efetiva comunicao.

    Tudo isso pode dar a impresso de que o compromisso dacomunicao exige uma vontade de ferro. A verdade que noexiste essa coisa de vontade forte. O que forte ou fraco em ns a motivao. Quando algum est altamente motivado parece tervontade forte e determinada. Mas o segredo da fora de vontade a fora da motivao. Diga a uma pessoa que deve deixar defumar, do contrrio morrer e, de repente, a vontade parece ficarimpregnada de grande fora. Na realidade, no a vontade que

  • se fortaleceu. A vontade reage em proporo direta aos motivospropostos e compreendidos.

    Se uma pessoa realmente quer viver, a ameaa de morte podeser uma poderosa motivao. Podemos fazer coisas incrveis se esti-vermos suficientemente motivados. Quase sempre o motivo toma aforma de fuga ao sofrimento ou antecipao da recompensa. Quandoa presena de sofrimento torna nossas vidas seriamente desconfor-tveis, somos movidos a mudar. Ou quando as recompensas pelarealizao parecem bastante grandes, somos motivados a pagar opreo e ganhar as recompensas.

    muito importante que voc e eu nos perguntemos: querorealmente me comunicar? Quais sero os sofrimentos e as desvan-tagens se no o fizer? Quais sero as recompensas se o fizer? Essasperguntas podem estar dentre as mais importantes que tenhamos feitoa ns mesmos.

    A dificuldade de se propor motivao est em que diferentesmotivos interessam a diferentes pessoas. Algumas pessoas so muitoatradas pela "fama", enquanto outras querem apenas ficar no anonimato.Alguns de ns somos altamente motivados pela aparncia pessoal.Descansamos bastante e no comemos demais, porque queremos"parecer bem". Outros pouco se importam com isso.

    Entretanto, h algumas coisas que todos ns achamos muitodolorosas, como, por exemplo, a solido. A solido a priso doesprito humano. Quando estamos solitrios, andamos para l e parac, em pequenos mundos introvertidos. Cremos que ningum noscompreende e realmente no nos importamos muito em compreenderos outros. Do outro lado da moeda, a maioria de ns j sentiu, mesmoque de maneira efmera, a alegria de partilhar. Talvez tenhamosficado com outra pessoa na praia, apreciando um magnfico pr-de-sol. Significou tanto poder virar para o outro e dizer: "No lindo?"Ou talvez tenhamos partilhado uma alegria ou dor secreta com outrapessoa. Lembramo-nos da profunda consolao de nos sentircompreendidos. Foi to bom saber que algum se importava, que noestvamos sozinhos.

    Em outras palavras, h um sistema de recompensa e um sistemade sano embutidos na natureza humana. Temos uma necessidadeinterior de conhecer e ser conhecidos e a satisfao dessanecessidade nos traz uma sensao de realizao humana. Quandoconstrumos muros de separao entre ns e os outros, pode ser quenossa reao interior imediata seja de segurana, mas o resultadoinevitvel a angstia espiritual, uma difusa sensao de solido.

  • Construmos nossas prprias prises. No nos importamos com ningume ningum se importa conosco. Estamos sozinhos.

    Contudo, a experincia humana altamente pessoal. Cada umde ns experimenta a intimidade e a solido de forma nica e muitopessoal. Assim, cada um de ns deve, de algum modo, definir suamotivao para se comunicar. Seria de grande auxilio neste pontofazer uma lista de nossos motivos: as necessidades, os desejos, osimpulsos, os sofrimentos e os prazeres. Lembre-se de que nossavontade to forte quanto nossa motivao. A probabilidade desucesso to grande quanto nossa compreenso das foras que nosguiam para alcanar os objetivos desejados.

    Entretanto, antes de fazer uma lista das foras motivadoras queo levam comunicao, seria de grande auxlio lembrar-se de outrascoisas nas quais esteve empenhado. Lembra-se da resoluo deperder peso, de deixar de fumar, de conseguir um diploma de cursosuperior ou um emprego fixo? Lembre-se das foras propulsoras (amotivao) que animavam e fortaleciam sua resoluo. Talvez istoseja bvio demais para ser mencionado, mas as melhores razes parase fazer alguma coisa podem no ser os motivos mais poderosos paravoc ou para mim. Por exemplo, as melhores razes para deixar defumar ou perder peso podem ser relacionadas com a sade. Masalguns de ns podemos ser mais poderosamente motivados pelo fatode que fumar deixa cheiro em nossas roupas ou que a obesidade nofica bem em uma roupa de banho.

    Assim, depois desse preparo, aqui est a jogada: faa uma listadas coisas que o estimulam comunicao. Lembre-se de que asmelhores razes nem sempre so os melhores motivos. Lembre-setambm de que seus motivos determinam seu empenho. A menosque estejamos realmente empenhados, haver pouca comunicaoreal. Haver uma dolorosa solido. Entretanto, se nos empenharmosrealmente, no final obteremos sucesso e encontraremos a plenitudeda vida.

    Paul Tournier afirma que esse desejo interior, essa determinao,est no centro de toda comunicao bem-sucedida. No livro ToUnderstand Each Other ("Para entender uns aos outros"), ele conta ahistria de duas pessoas que queriam se comunicar, mas no falavam amesma lngua. Por gestos, desenhos, sinais e outros meios criativos,conseguiram completar uma troca bem-sucedida. Finalmente seentenderam, mas s porque realmente queriam se comunicar.

    Empenhar-se claramente uma questo de prioridades. Todosconhecemos a importncia das prioridades, por experincia pessoal.

  • Se temos cinco coisas a fazer no mesmo dia, de alguma forma con-seguimos realizar apenas aquelas s quais demos prioridade. Fazemosaquilo que consideramos especialmente importante. Por isso impor-tante e sensato relacionar, ensaiar e refletir sobre nossos estmulospessoais. Se realmente desejarmos uma boa comunicao, dar-lhe-emosalta prioridade. E se lhe dermos alta prioridade, alcanaremos sucesso.

    Uma vez que nos tenhamos empenhado, o principal obstculo perseverana o fracasso. experincia humana comum que ofracasso obscurece e enfraquece uma deciso. Decidimos fazer re-gime. grande nossa determinao, nossa fora de vontade esti-mulada por motivos bvios e entusiasmo emocional. Afracassamos. Comemos uma sobremesa de alto teor calrico. E, derepente, nos encontramos comendo em demasia. A palpitantesensao de empenho, a vibrao dos estmulos, o entusiasmoemocional, tudo parece um sonho vago e distante.

    importante lembrar que, para ns, o caminho do sucesso estgeralmente coberto de fracassos. Abraham Lincoln perdeu pelo me-nos vrias eleies antes de ser finalmente eleito presidente.Thomas Edison fez experincias durante dois anos com muitosmateriais, antes de descobrir um filamento que servisse para almpada eltrica. Quando Marconi sugeriu a possibilidade datransmisso do som sem fio (o rdio), foi internado em umhospcio. Mas pessoas como Lincoln, Edison e Marconi estavamfortemente motivadas. Por isso no desistiram. De alguma forma,sabiam que o nico fracasso real aquele do qual no tiramos lioalguma. Pareciam prosseguir na suposio de que no h fracassomaior do que o fracasso de no tentar e, por isso, continuaram atentar, mesmo em face de repetidos fracassos.

    Existe uma definitiva "sndrome do fracasso" que pode se tornaro cncer da comunicao. Planejamos partilhar, conhecer e serconhecidos. claro, tendemos a fantasiar at certo ponto o processoque d origem intimidade entre dois seres que a procuram. Ento,acontece um mal-entendido. De repente, os colaboradores da magn-fica obra de comunicao tornam-se adversrios na arena de uma lutapara ganhar ou perder. Em uma disputa para ver quem ganha, todosperdem. E, tristemente, uma vez comeada a luta, surge uma imediatasensao de frustrao emocional. Se no for reprimida, essafrustrao rapidamente se transforma em raiva e agresso. Entosurge a projeo da culpa, mesmo que no seja declarada. " suaculpa. Foi voc quem comeou." No existe mais a sensao con-fortvel de partilhar, somente uma agitada sensao de hostilidade.

  • O desnimo de tais reveses parece afastar muitos de ns doempenho de nos comunicar. Racionalizamos que impossvel a comu-nicao com esse parceiro ou que um profundo partilhar s aconteceem romances, no na vida real.

    Lou Holtz, o treinador de futebol americano da Universidade deMinnesota, insistiu publicamente em que a chave do sucesso emqualquer empreendimento empenhar-se. Confessa que nosprimeiros anos de casamento estava procurando "dar o fora". Entodescobriu que o problema no estava em seu casamento, mas dentrode si. No estava profundamente empenhado em fazer o casamentodar certo. E o casamento s d certo para os que se empenham. Maistarde, experimentou ser treinador de futebol profissional (os Jets deNova Iorque). "Vamos ver como ", disse famlia. Realmente viucomo era e esse homem honesto percebeu tardiamente que isso noera o que realmente queria, que no estava realmente interessado.Assim, voltou a ser treinador na universidade. Holtz insiste queaprendeu esta verdade: todo sucesso humano resultado de umgrande empenho.

    Parece que a primeira coisa que devemos examinar em nsmesmos nosso entendimento e desejo de uma boa comunicao.Devemos nos perguntar honestamente sobre nossas prioridades. Acomunicao importante para mim? Se eu fosse relacionar as dezprioridades mais importantes da minha vida atualmente, a comuni-cao estaria includa? Quero realmente conhecer e ser conhecido?Existem falsos receios de que a comunicao termine tragicamente?Se eu fosse me revelar honestamente a algum, o que receio pudesseacontecer? Algum disse, brincando, que nove entre dez problemashumanos resultam da m comunicao. O dcimo resulta da boacomunicao. Se eu tivesse de descrever meu "medo catastrfico" daboa comunicao, qual seria a pior coisa que poderia acontecer? Oque considero o maior perigo na franqueza e honestidade totais?

    Um grande amigo meu foi piloto da Fora Area Naval durante aSegunda Guerra Mundial. Contou-me que estudos revelam que ospilotos mais bem-sucedidos eram reconhecidos antes mesmo de entra-rem em um avio. Parece que os candidatos a piloto eram convidadosa responder um questionrio. A pergunta (e resposta) mais importanteque infalivelmente predizia o sucesso (ou o fracasso) era esta:

    Voc deseja muito ser piloto da Fora Area Naval?

    Obviamente, o desejo e a determinao so as razes de todosucesso humano.

  • Por isso, queremos que voc pense bem na prxima pergunta:deseja muito se comunicar? Se voc realmente o deseja e quer tra-balhar para isso, o sucesso no est muito longe de voc. E asrecompensas do sucesso so o crescimento pessoal, bons e efetivosrelacionamentos e, por fim, a vida feliz que todos procuramos.

    & 6 7

    9 ?

  • DEVEMOS NOS CONVENCER DE QUE SOMOS UM DOM A

    SER FEITO E QUE, POR MEIO DE SUA AUTO-REVELAO, OS

    OUTROS SO UMA DDIVA QUE NOS OFERECIDA

    Somerset Maugham escreveu em O fio da navalha:

    Pois os homens e as mulheres no so somente eles mes-mos. So a regio onde nasceram, o apartamento dacidade onde aprenderam a andar, as brincadeiras que brin-caram na infncia, as conversas fiadas que ouviram poracaso, os alimentos que comeram, as escolas que freqen-taram, os esportes que praticaram, os poemas que leram eo Deus em que creram.

    s vezes podemos achar que no, mas cada um de ns ummistrio nico. O mistrio que voc e o mistrio que sou eu nuncaexistiram antes. Jamais existir algum exatamente como voc oucomo eu. A combinao de qualidades e talento que voc umaembalagem que nunca antes foi feita. to singular quanto suasimpresses digitais. E s voc pode partilhar seu mistrio e talentocomigo. Tambm verdade que assim como cada floco de neve ecada gro de areia na praia tm uma estrutura singular, assim tambmsou diferente de todos os seres humanos de toda a histria humana. Otesouro de minha singularidade meu para doar ou recusar.

    O poeta e . e. cummings escreveu certa vez:

    e agora voc e agora eu sou e somos ummistrio que nunca acontecer de novo.

  • Se voc preferir recusar-me seu dom, serei privado de partilhardo mistrio e experincia singular que voc. Da mesma forma,posso negar-lhe a experincia indireta de como ser eu. Exatamentecomo ficaremos privados para sempre por causa dessa mtua recusa,o oposto tambm verdadeiro. Podemos ficar para sempre enrique-cidos por uma franqueza e um partilhar mtuos. A participaoindireta na existncia humana singular de outra pessoa sempre

    enriquececlora. Essa a grande ddiva da comunicao.

    Quando me disser quem voc, quando partilhar sua singu-laridade comigo, levar-me- a um mundo diferente, a um tempo e

    lugar diferentes, a uma famlia diferente. Voc partilhar sua antigaizinhana comigo e me contar as histrias que ouviu quando

    criana. Levar-me- a vales e a cumes de montanhas que nunca viantes. Voc me conduzir a arcas secretas de experincias que no

    eram parte de minha vida. Apresentar-me- as emoes, esperanase sonhos que nunca foram meus. E isso s poder ampliar as dimen-

    ses de minha mente e meu corao. Ficarei para sempreenriquecido pelo nosso partilhar. Meu mundo de experincias ficar

    para sempre ampliado, por causa de sua bondade para comigo.

    A maioria das pessoas no se sente assim. Comumente se supeque "se eu desabafar com voc, vou afligi-lo". Alguns dizem a mesmacoisa sob outro aspecto: "As pessoas no desejam me ouvir. J tmbastantes problemas". Existe verdade nisso?

    A auto-revelao em si e por si nunca um peso. importanteperceber que em mim e por mim mesmo sou um dom. Se eu lhe fizeresse dom como um ato de amor por meio de uma honesta auto-revelao, ela no ser um peso. Ser o dom incondicional dacomunicao. Ddivas nunca so um peso, a no ser que imponhamcondies. Ao partilhar, no lhe pedirei nada, apenas que escute comempatia. Minha auto-revelao no lhe far outras exigncias,apenas que acolha meu partilhar com delicadeza e agrado. Ao lhefazer o dom de mim, estou, na verdade, dando-me a voc. minhaddiva mais preciosa, talvez minha nica ddiva verdadeira.

    H algum tempo, deram-me um escrito annimo denominado"As pessoas so ddivas". Gostaria de desenvolver algumas partesdele aqui.

    As pessoas so ddivas de Deus para mim. J vm em-brulhadas, algumas lindamente e outras de modo menosatraente. Algumas foram danificadas no correio; outraschegam por "entrega especial". Algumas esto desamar-radas, outras hermeticamente fechadas.

  • Mas o invlucro no a ddiva e essa uma importantedescoberta. to fcil cometer um erro a esse respeito, julgar.o contedo pela aparncia.

    s vezes a ddiva aberta com facilidade; s vezes preciso a ajuda de outros. Talvez porque tenham medo.Talvez j tenham sido magoados antes e no queiram sermagoados de novo. Pode ser que j tenham sido abertos edepois jogados fora. Pode ser que agora se sintam maiscomo "coisas" do que "pessoas humanas".

    Sou uma pessoa; como todas as outras, tambm sou umaddiva. Deus encheu-me de uma bondade que s minha. Econtudo, s vezes, tenho medo de olhar dentro de meuinvlucro. Talvez eu tenha medo de me desapontar. Talvez euno confie em meu prprio contedo. Ou pode ser que eununca tenha realmente aceitado a ddiva que sou.

    Todo encontro e partilhar de pessoas uma troca deddivas. Minha ddiva sou eu; a sua voc. Somos ddivasum para o outro.

    Alguns meses atrs, um homem de aparncia triste procurou-medurante um encontro. Disse-me que j lera muitos dos meus livros, masadmitiu continuar com uma dvida.

    Por que deveria contar-lhe quem sou? De que adiantaria isso?

    Apelei para o privilgio supostamente irlands de responder a umapergunta fazendo outra:

    Voc acha que eu ficaria enriquecido se voc partilhasse suahistria comigo?

    Oh! sacudiu a cabea com tristeza. Nem imagino isso.

    Ah! respondi, numa tentativa desajeitada de aplicar terapia dechoque a que voc se engana.

    s vezes receio que a maioria de ns somos como esse carosenhor. Achamos que precisamos ter uma histria estrelada comouma noite junina para contar. Imaginamos que uma ddiva realdeveria ter o perfume das rosas e um bordado de ouro nas pontas. Averdade que toda histria humana, se partilhada com outra pessoacomo um ato de amor, alarga a mente e aquece o corao dessapessoa.

    Lembro-me de vrias ocasies em que pessoas de quem eu nogostava (mas que procurava amar) abriram-se comigo e me deixaramboquiaberto. Um senhor, com aparncia de duro e modos empeder-nidos, confiou-me que tudo que tentara terminara em fracasso.

  • Contou-me tintim por tintim um fracasso arrasador depois de outro.Terminou admitindo:

    Tenho sido um tolo, no acha? Passei a atacar os outros, paraque no prestassem ateno minha histria de fracassos. Acho queimaginei que a melhor defesa era uma boa ofensa.

    Aprendi muito sobre o corao humano e o significado de umesprito humano desalentado com ele. Sei que me tornei mais tole-rante, menos ansioso para julgar ou rotular os outros, porque essebom homem uma vez partilhou seu dom "incerto" comigo.

    As pessoas realmente so ddivas, no so?

    6W ? &

    =

  • DEVEMOS DECIDIR-NOS A SER HONESTOS COM

    NOS MESMOS

    O falecido Dag Hammarskjold, que foi secretrio geral daOrganizao das Naes Unidas, sugeriu que nos tornamos peritosem explorar o espao sideral, mas no desenvolvemos habilidadessemelhantes para explorar nossos prprios espaos interiorespessoais. De fato, escreveu: "A mais longa viagem de algum aviagem para dentro de si". E em "Hanilet", Ato I, Cena 3, o idosoPolnio d este conselho a seu filho Laerte:

    Isto acima de tudo: sejas verdadeiro contigomesmo; e dever suceder, como a noite ao dia, queno poders ento ser falso com ningum.

    A princpio parece suprfluo o conselho para ser honesto comigomesmo. Pergunto: como posso mentir para mim mesmo? E, contudo,os gurus da comunicao insistem em que o primeiro obstculo comunicao com um outro no um obstculo entre mim e essa outrapessoa. O primeiro obstculo encontra-se dentro de mim mesmo. bvio que, se no conto a verdade a mim mesmo, no posso cont-la avoc. No posso contar-lhe o que no conto nem a mim mesmo. Se euno estiver em contato com os sentimentos e atitudes que esto dentrode mim, ser-me- impossvel partilh-los com voc. Se eu estiverenganando a mim mesmo, certamente o enganarei.

    Logo no incio de sua carreira como psiquiatra, Siginund Freuddescobriu que cada um de ns tem em realidade trs planos na mente:

  • (1) o consciente (que inclui as percepes das quais estamos cnsciosde momento a momento); (2) o pr-consciente ou subconsciente (que o centro de armazenagem de materiais que podem ser lembradosquando necessrios); e (3) o inconsciente (o armazm para as mem-rias, os impulsos e as emoes com as quais no podemos vivercomodamente). Freud achava que os planos do consciente e do pr-consciente eram relativamente sem importncia, porque o incons-ciente exerce muito mais influncia em nossas vidas. Um psiquiatrameu amigo uma vez especulou que 90% de nossa motivao tiradado plano inconsciente.

    Como se observou, a mente consciente obviamente contmsomente nossas percepes atuais. O plano subconsciente da mente o centro de armazenagem de materiais que podemos trazer aoconsciente quando necessrios. Por exemplo, a maioria de ns podese lembrar das tabuadas de multiplicao se e quando necessrio.Mas o inconsciente o armazm daquelas memrias, emoes emotivos com os quais "simplesmente no podemos viver". O incons-ciente chamado de poro da mente, onde as coisas ofensivas oudesagradveis so guardadas. Esto enterradas bem no fundo de ns.Infelizmente, esto enterradas vivas, no mortas. E, por isso, con-tinuam a nos influenciar. O processo de sepultamento chamado derepresso. A represso no um processo consciente ou deliberado.Enterramos nossos pertences indesejveis sem nem ao menosperceber isso e sem lembr-los.

    No sei o porquDe no gostar de voc.Mas sei muito bem queNo gosto de voc.

    A represso em nosso inconsciente sempre tende a nos fazerperder o equilbrio. Desenvolvemos preconceitos e intolerncias. Ocomplexo de inferioridade um desses preconceitos. possvelque esse preconceito autodirigido tenha surgido na primeirainfncia com a negligncia dos pais, mas que o consciente noesteja a par disso. Entretanto, nossa forma de ver as coisas, nossaescolha de palavras, nossos "lapsos freudianos" e mesmo nossosinfortnios podem todos ser resultado de coisas que no estamoscontando a ns mesmos.

    Exemplo: um filho mais velho pode passar a vida ressentindo-se deum irmo ou irm mais novo porque "voc tirou mame de mim. Antesde voc chegar eu tinha todo o carinho e ateno". Semelhanteressentimento pode permanecer no inconsciente a vida toda, dando

  • motivo para mesquinhez vingativa e rancor que transbordaro emmomentos inusitados e por razes igualmente inusitadas. Nesse caso,o filho mais velho nunca ter conscincia da origem de sua averso,enquanto ela permanecer enterrada no inconsciente. medida quenos reprimimos, perdemos contato com ns mesmos.

    Felizmente, as realidades que reprimimos no inconscienteesto sempre tentando vir tona para serem reconhecidas. Socomo madeira mantida debaixo d'gua. Entretanto, se acolhemos oautoconhecimento, elas viro gradualmente tona. O importante querer conhecer o que est em ns. Devemos cultivar o desejo deser honestos com ns mesmos.

    A honestidade consigo mesmo um hbito de autoconscinciaque deve ser praticado diariamente. E esta autoconscincia maisum processo do que um simples fato. Devemos habitualmente tentartornar-nos cnscios da forma altamente pessoal e individual em quefuncionamos para processar nossas sensaes, percepes, emoese motivos. Devemos examinar com mais cuidado a forma comochegamos a nossas decises e por fim a nossas aes. Este o pro-cesso geral:

    (1) Antes de tudo, nossos sentidos recebem milhes depedacinhos de dados (as coisas que vemos, ouvimos, tocamos,provamos e cheiramos). Parte da autoconscincia tornar-se maisconscientemente a par dessas sensaes.

    (2) Ento organizamos essas sensaes em percepes mentaisou idias. Devemos tentar entender melhor nossa forma pessoal defazer isso.

    (3) De nossas percepes resultam nossas emoes. Nossomodo de pensar geralmente controla o modo como nos sentimos. Emconseqncia, essas emoes ou sentimentos, nossas alegrias etristezas podem nos dizer muito sobre nosso modo de pensar e sobrens, se estivermos dispostos a aprender. bvio que os sentimentosem si no so nem bons nem maus, mas so sintomticos. Dizem-nosmuita coisa sobre nossa forma de organizar e interpretar os dados denossos sentidos em percepes.

    (4) Ento vem a questo de nossos motivos. um trusmopsicolgico que fazemos tudo por uma razo, mas freqentementeessa razo est escondida de ns. Procurar e reconhecer esses mo-tivos parte essencial da autoconscincia.

    (5) Qual o processo pelo qual chegamos a nossas decisesinteriores? Cada um de ns faz isso de forma diferente. Alguns so

  • mais controlados pelos sentimentos; outros pelas percepes e motivosintelectuais. Alguns so mais influenciados pelo planejamento; outrospelas experincias pessoais anteriores.

    (6) E finalmente, como preferimos expressar em aes essasdecises interiores? Por exemplo, pode ser que eu decida interiormentecontinuar a nutrir rancor por voc. Ento opto por expressar essadeciso interior recusando-me a falar com voc. Por que optei porrepresentar meu rancor mostrando-me amuado?

    A fim de ser honestos com ns mesmos, devemos continuamentebuscar uma percepo mais profunda da forma individual pela qualprocedemos nessas seis etapas. Somente assim obteremos uma per-cepo cada vez maior de nossos processos pessoais e um controlemais consciente sobre nossas aes e reaes. Devemos, claro, du-rante todo esse processo, nos responsabilizar por nossas prpriasdecises e comportamento. Sabemos que so o resultado de algumacoisa dentro de ns. Ao mesmo tempo, devemos prestar ateno eprocurar descobrir o que essa alguma coisa. Devemos tentar apren-der quem somos realmente, em vez de tentar dizer a ns mesmosquem deveramos ser.

    Um bom comeo poderia ser desenvolver uma intensa percepode meu "ato" ou "papel" escolhido. Por que decido usar esta minha"mscara"? Porque cada um de ns escolhe o ato, o papel, a mscaraque escolhemos pode continuar para sempre um mistrio. Entretanto,deveramos tentar localizar as razes desta escolha. E embora esse atoou papel possa ter diversas variaes e diferir durante vrios perodosda vida, h sempre um "fim" de alguma espcie. Meu ato ou papelajuda-me a enfrentar a realidade e obter seja o que for que busco.Meu ato leva-me pela vida com um mnimo de dificuldade ouvulnerabilidade pessoal.

    Certa vez fiz uma lista jocosa de alguns dos atos ou papismais comuns. Acho que os nomes dispensam explicao. Esta aminha lista (aposto que voc capaz de acrescentar alguns):

    Agda Hortel AgradvelAlcino AuxiliarBonifcio Bom SujeitoCaio CapachoCndida CapazCristiano Crniolcio IncrvelExpedito Esperto

  • Filomena FigurinoFrancelina FracaFrancisco FrgilJac JocosoMrio "Amigo de todo mundo" MascoteMax MachoMurilo MsculosPatrcia PatetaPorcina Porco-espinhoPlcida PacficaSalom SedutoraSnia SorrisosTnia TmidaTarsila Tagarela

    Mesmo se voc no se encontrou nessa lista, penso que podemoscom razo presumir que voc e eu representamos tambm. Qualquerque seja essa representao, geralmente ela se torna um obstculo auto-honestidade e boa comunicao. Como meu papel ensaiadotodos os dias, gradualmente perco o contato com quem sou realmente.No percebo com facilidade onde termina minha representao ecomea meu verdadeiro eu.

    No que diz respeito comunicao, fao a reviso de minhaauto-revelao e reconheo apenas os pensamentos-sentimentos-motivos que so compatveis com minha representao. Por exemplo,alguns de ns, como Francelina Fraca, escolhemos a fraqueza comorepresentao, a fim de que os outro-snos sustentem pela vida.Patrcia Pateta nunca ser sincera sobre sua fora pessoal e suacapacidade de tomar decises e de assumir tarefas difceis. FranciscoFrgil no vai comunicar nada sobre o cerne de agressividade que defato possui. No quer ser provocado. No revela sua fora para quenunca precise us-la. Depois de algum tempo, at Francisco perder ocontato com suas foras "ocultas".

    * * *

    Meu prprio ato (John) era ser um ajudante. Geralmente eutentava tornar isso claro desde o incio em todo relacionamento. "Eusou o ajudante, voc o ajudado." Eu tambm me desdobrava emfacilitar: fazendo coisas pelos outros, tomando decises por eles,possibilitando que permanecessem fracos. Eu no desafiava os quevinham a mim para que desenvolvessem seus prprios msculos,tomassem suas prprias decises, agissem contra seus medos incapa-

  • citantes. Eu falava por eles, agia como substituto deles, dizia o quefaria se estivesse no lugar deles. claro, o pagamento de um"ajudante" o consolo da gratido expressa por toda a clienteladependente. Ele realmente se sente bem sendo um ajudante. De fato,o ajudante ajuda e favorece a dependncia infantil, mas no tem deenfrentar isso porque tanta gente est pronta a tecer-lhe elogios eagradecer-lhe por seus esforos.

    Quando se trata de comunicao, o "ajudante" como todomundo que tem um "ato" em cena. Ele faz a reviso de sua comu-nicao, nunca admitindo sua prpria necessidade de ajuda. Ele sepassa por algum que "tem tudo sob controle", porque, de outraforma, algum poderia tentar ajud-lo e isso acabaria com seu dis-farce. Algum dia gostaria de escrever um livro intitulado Confissesde um antigo ajudante. Tal estado de esprito tem seus aspectosexaustivos. Aqueles dentre ns que tentaram bancar o Messiassabem que difcil ter respostas para todas as perguntas, soluespara todos os problemas. Visitas domiciliares e noturnas tornam-serotina. Entretanto, desistir do papel seria quase como perder aidentidade. A "clientela dependente" tambm insiste firmemente emque o Messias continue no monte Olimpo. Tm a sensao de que"Deus est ao meu lado", quando podem buscar conselhos e receberorientao do autodesignado guru, o ajudante.

    Caracterizado nesse ngulo, eu nunca podia admitir que estavacom medo ou que meus sentimentos estavam feridos. Nunca podiaconfessar que estava to intrigado com a situao quanto o consulente.Sentimentos de fraqueza, insuficincia e falibilidade humana pareciammuito ameaadores. Eu no podia dizer "no" a nenhum pedido deajuda. Era "conserve o papel a qualquer custo".

    A tragdia que ningum jamais chegava a conhecer meuverdadeiro eu, nem mesmo eu prprio. Eu no podia ter um rela-cionamento verdadeiro porque relacionamentos verdadeiros exigemigualdade. O ajudante no pode permitir isso. Arruinaria tudo.

    E eu (Loretta) escolhi o papel de possibilitadora. Assumia aresponsabilidade pessoal por todas as situaes. Era eu, responsvel,digna de confiana, quem sempre fazia as coisas darem resultado,quem se erguia acima da emotividade e do caos. Eu assumia a tarefade restaurar a ordem, a certeza e a paz a todas as situaes em queestas tivessem sido perdidas. E quando todos os meus esforos aindaassim no produziam uma soluo positiva, eu assumia a responsa-bilidade por isso tambm, pensando: "Devo ter cometido um erro ou,talvez, no me tenha esforado o bastante".

  • Como possibilitadora, eu tinha de ter bastante resignao. Nohavia limites para os fardos que estava disposta a carregar. Tornei-meo maior e mais forte cesto do mundo, para poder pegar e carregartodos os problemas imaginveis. Eu achava que tinha uma resistnciailimitada. claro que quanto mais problemas eu assumia, mais a vidase tornava um peso. Mas, acreditem se quiserem, era isso que me dei-xava satisfeita comigo mesma. Eu estava "colhendo o que plantara".

    Enquanto eu insistia em ser a possibilitadora, todo mundo defato se transformava em perdedor. Os outros perdiam aoportunidade de carregar seus prprios fardos, desenvolver suasprprias foras, tornar-se responsveis por si mesmos e suas vidas. bvio que eu tambm era uma perdedora. Tinha de aceitar aaparente recompensa de ser considerada uma "pessoa muitoresponsvel". Manter essa posio me deixava to preocupada queera impossvel cuidar de mim mesma adequadamente. Meu processode crescimento pessoal ficou "suspenso" para que eu pudessecontinuar a ser reconhecida a curto prazo como possibilitadora. Nopodia cuidar de mim mesma, no podia dar ateno a minhasprprias necessidades e sentimentos. Tinha at de negar meusverdadeiros sentimentos. Como resultado, fui lentamente perdendoo contato comigo mesma. No existia mais um verdadeiro eu paraser ofertado aos outros como dom. Havia apenas o papel que eurepresentava. O verdadeiro eu perdeu-se em alguma parte do papel.Somente agora estou comeando a reencontr-lo.

    * * *

    Ser honesto consigo mesmo exige que se desista desses nossosatos e papis. Mas, antes da renncia, deve haver o reconhecimento.Qual meu ato? J se disse que todos ns levamos um letreiro anossa frente. Ns mesmos o construmos, ele nos anuncia. Somostratados de acordo. Se o letreiro diz "Pateta", os outros no nosprocuram para uma conversa sria. Se nosso letreiro diz "Capacho",os outros tendero a passar por cima de ns.

    O curioso que os outros conseguem ler nossos letreiros muitoclaramente, embora muitas vezes nossa autopropaganda nos passedespercebida. Essa, creio, a razo de um dos receios mais comunsque temos da intimidade. Se eu o deixar chegar perto de mim, vocver atravs do meu ato, ler meu prprio letreiro para mim. Exporminha charada, o que poderia fazer com que eu me sentisse com-pletamente nu.

  • Assim, mais uma vez minha pergunta se volta para mim: creiorealmente que devo ser honesto comigo mesmo, a fim de serautntico com voc? Quero realmente ser honesto comigo mesmo?Quero realmente ser honesto com voc? Quero partilhar minhaverdadeira ddiva com voc ou quero agir com cautela e mostrar-lheapenas minha charada? Meu ato o preo que pago por minhasegurana e meus golpes. a armadura que evita que eu seja ferido,mas tambm uma barreira dentro de mim, que interrompe meucrescimento. Da mesma forma, tambm um muro entre ns que oimpedir de conhecer meu verdadeiro eu. Para desistir de meu atoprecisarei de muita coragem. Estarei correndo um risco real, saindode trs de meu muro. Terei de reescrever meu letreiro: "Este meuverdadeiro eu. O que voc v o que voc recebe". Seja pacientecomigo. Isso no ser fcil. Acho que o velho Polnio sabia disso,quando aconselhou Laerte: "Sejas verdadeiro contigo mesmo".

    Entretanto, se eu estiver disposto a correr esse risco, minhacoragem colher magnficas recompensas: a esttua ganhar vida; aBela Adormecida acordar. Ficarei conhecendo quem realmentesou. Talvez pela primeira vez perceba onde termina o papel ecomea o verdadeiro eu. O verdadeiro eu sair de trs da mscara,da tapeao, do fingimento. Comearei a prosperar em meusrelacionamentos e a crescer como meu melhor possvel eu. Osgregos antigos sabiam tudo isso quando consideraram o "conhece-tea ti mesmo" como o resumo de toda a sabedoria.

    A viagem mais longa a viagem para dentro de si. Boa viagem!

    = 3

  • PARTE 2

  • AO NOS REVELAR AOS OUTROS, DEVEMOS ASSUMIR

    TOTAL RESPONSABILIDADE PORNOSSAS PRPRIAS AES

    E REAES. EMCONSEQUNCIA, FAREMOS AFIRMAES

    COMO PRONOME "EU", NO "VOC"

    A maioria de ns crescemos sendo "acusadores". Acusvamos osoutros de nos deixar zangados. Racionalizvamos muitas de nossasreaes, dizendo aos outros: "Voc mereceu isso". Ou insistamosque haviam provocado nossa reao: "No pude evitar". "Eu estariabem, se ela no tivesse comeado." Para a maioria de ns difcilolhar para trs e reconhecer que nossas aes e reaes no eramcausadas pelos outros, mas sim por algo dentro de ns. Contudo, averdade sempre essa. Se eu conseguir apenas atravessar a linha quesepara os "acusadores" dos que aceitam a plena responsabilidade porseu comportamento, essa ser, provavelmente, a coisa mais ama-durecida que j terei feito. No mnimo, isso me por em contatohonesto com a realidade e essa a nica maneira de crescer e setornar um ser humano amadurecido.

    Para ilustrar essa verdade da responsabilidade pessoal, freqen-temente sugiro uma situao hipottica em minhas aulas:

    Se algum desta classe sasse de repente da sala, batendoos ps, zangado e afirmando que nunca mais voltaria, nunca maisme escutaria, como vocs acham que eu reagiria? O que achamque eu faria? Como me sentiria?

  • Geralmente surge uma variedade de respostas:

    Voc ficaria zangado. Anotaria o nome e o nmero dessapessoa e ameaaria uma represlia. Diria: "Voc no vai escaparimpune".

    Com freqncia outra pessoa sugere:

    No, acho que voc se sentiria magoado. Faria uma cara deofendido e perguntaria com ar de tristeza: "Como pde fazer issocomigo? Eu estava fazendo o melhor que podia".

    Outro aluno freqentemente retruca:

    Imagino que voc reagiria sentindo-se culpado. Pensaria no queteria feito para provocar reao to hostil. Provavelmente perguntaria aosoutros alunos: "O que foi que eu fiz?" Ou correria atrs da pessoa epediria desculpas. Pedir-lhe-ia que voltasse, que lhe desse outraoportunidade.

    Sempre fico aliviado quando outro aluno insiste que eu sentiriacompaixo.

    Voc sentiria d dessa pessoa e provavelmente pensaria: " umapena que esteja to agitado. Provavelmente ainda no est pronto paraisto".

    E assim por diante. H um nmero quase infinito de reaespossveis: "Rejeio ... depresso... ansiedade.. . compaixo ... medo .. .sentir-se um fracasso" etc.

    Sempre me alegra receber uma to grande variedade de respostas,porque isso me permite mencionar que qualquer uma das reaessugeridas possvel. Porm, observe que a reao no ser deter-minada pela pessoa que abandonou a sala, mas sim por alguma coisadentro de mim. Tambm sei que outra pessoa em meu lugar pro-vavelmente teria uma reao diferente. De fato, minhas reaesemocionais e de comportamento sero determinadas por minhas pr-prias atitudes ou perspectiva pessoal. Se eu me considerar boa pessoae considerar importante a matria que estou lecionando, provavelmen-te reagirei com compaixo. Se me considerar um imbecil que sempremete os ps pelas mos, provavelmente reagirei pedindo desculpas. Seminhas atitudes e perspectiva forem paranicas, terei certeza de que"esse jovem est querendo me provocar".

    Com muita freqncia, difcil descobrir sob uma reao asatitudes e perspectivas que a explicam. Entretanto, esse um outroproblema, que no diretamente pertinente questo da respon-

  • sabilidade pessoal. O que pertinente a admisso ntima de que,seja qual for a minha reao, ela no causada pelo agente estimu-lador, mas sim por alguma coisa dentro de mim. Talvez j tenhamouvido falar do cartaz que Eleanor Roosevelt tinha na parede de seuescritrio: "Ningum pode faz-lo sentir-se inferior, a menos quevoc lhe d permisso". De fato, ningum pode fazer-nos sentir ouagir de determinada maneira. Alguma coisa dentro de ns semprepermanece responsvel por nossas reaes emocionais e de compor-tamento. Outras pessoas, circunstncias ou situaes podemestimular uma reao, mas ns determinamos qual ser essa reao.

    O contrrio do reconhecimento das prprias reaes a acusaoou, para usar a palavra mais tcnica, a projeo. A projeo ummecanismo de defesa comum e muito usado. Quando projeto, culpoalgum ou alguma coisa por meus fracassos ou reaes indesejveis.No assumo a responsabilidade pessoal por minhas reaes, masatribuo essa responsabilidade a outra pessoa. Obviamente acomunicao torna-se apenas um jogo se no for honesta, e a projeosimplesmente no honesta.

    Como dissemos, outra pessoa ou circunstncia podem estimularuma reao em mim. Mas a maneira especfica pela qual reajo determinada por minhas prprias atitudes e perspectiva pessoal.Estas, por sua vez, foram moldadas pelas mensagens gravadas emminha mente e pelas experincias de minha vida. Atitudes so topessoais quanto impresses digitais. Conseqentemente, no existemduas pessoas que vejam as coisas exatamente da mesma maneira e,assim, no existem duas pessoas que reajam da mesma maneira. Podeser que voc ache engraada uma coisa que eu leve a srio. Pode serque voc tenha uma reao compassiva a uma pessoa com quem eume zangue. Suponhamos que a mesmssima coisa acontea a nsdois. bem possvel que voc se sinta estimulado pelo desafio,enquanto eu me sinta arrasado pela catstrofe.

    Um acusador que projeta a responsabilidade por suas reaesnunca cresce realmente. A vida de tal pessoa um perptuo exercciode projeo e racionalizao. uma vida de fingimento onde nuncaentra a realidade. Os acusadores insistem que outra pessoa os estcontrolando. Assim, nunca chegam realmente a conhecer a realidadeinterior de si mesmos. "No dos astros, caro Brutus, a culpa, mas dens mesmos, se nos rebaixamos ao papel de instrumentos" (JlioCsar, Ato 1, cena 2).

    Se realmente nos compenetrarmos da verdade, tudo isso ficarimediatamente aparente em nossa comunicao. Faremos afirmaes

  • com o pronome "eu", no "voc". Isso ter muito mais valor do que umasimples escolha de palavras.

    Suponhamos que eu reaja com raiva a alguma coisa que vocfez ou disse. Nesse caso posso falar-lhe sobre minha raiva de umdestes modos:

    (1) "Voc me deixou com raiva!" (Essa uma afirmao com opronome "voc".)

    (2) Ou posso dizer: "Quando voc contou o que fez, fiquei comraiva". (Essa uma afirmao com o pronome "eu").

    A primeira expresso, afirmao com o pronome "voc", negadiretamente a verdade de tudo que dissemos sobre responsabilidadepessoal por nossas prprias reaes. Porm, mais do que isso, pas-sa-lhe uma rasteira de culpa. uma tentativa maldisfarada de ma-nipulao. Eu o estou empurrando para a posio de "sujeito mau".Certo? Tal observao, se voc for do tipo combativo, o convidara uma discusso acalorada para vencer ou perder. Certamente pro-vocar mais calor do que luz.

    Entretanto, se fao uma afirmao com o pronome "eu" "Fiqueicom raiva" , assumo a responsabilidade pela minha reao.Reconheo que outra pessoa em minha situao podia perfeitamenteter uma reao diferente. Pode ser que eu no entenda com facilidadeou presteza todas as atitudes e a perspectiva de que moldaram minhareao. Mas sei que minha reao foi o resultado de alguma coisadentro de mim. Quando fao uma declarao com o pronome "eu",admito isso a mim mesmo e a voc.

    De fato, observo que fico com raiva de algumas pessoas, en-quanto outros sentem pena delas. Fico transtornado por algumascircunstncias, enquanto outros enfrentam-nas sem esforo. Consideroalgumas situaes "absolutamente horrveis", mas percebo que outrosconsideram essas mesmas situaes como "uma oportunidade para sercriativo".

    O importante efeito pessoal de tudo isso que, se eu de fatoreconhecer minhas prprias reaes e aceitar a responsabilidade porelas, descobrirei meu verdadeiro eu. Aos poucos perceberei que tenhoalgumas atitudes deformadas e inibidoras que devem ser revistas. Eessa espcie de honestidade mostrar-se- uma irresistvel iniciao maturidade. Direi coisas como:

    Ajo como criana quando as coisas no acontecem como quero.

  • Terei de ser honesto e lhe dizer:

    Quando voc bocejou enquanto conversvamos, interpretei issocomo desinteresse e me senti triste e com pena de mim mesmo.

    Se eu continuar com essa franqueza e honestidade de afirmaescom o pronome "eu", crescerei e estarei realmente me comunicando.

    Pode ser que agora mesmo eu e voc estejamos presos em umaareia movedia de projeo e acusao. Pode ser que nunca tenhamosrealmente conhecido a ns mesmos porque sempre procuramos umacompreenso de nossas pessoas e nossas reaes fora de ns mesmos. Sepudermos mudar esse modo de pensar, os resultados sero muitocompensadores:

    9=

    E 7 3

  • DEVEMOS FALAR APENAS POR NS ME

    COMUNICAR, DEVO TORNAR CLARO QUE ESTOU FA-

    LANDO APENAS MINH A VERDADE, NO A VERDADE

    A maioria de ns somos tentados a generalizar nossa experinciapessoal. Esquecemos que os outros so realmente outros, diferentesde freqncia presumimos erroneamente que todos reagemexatamente da mesma maneira que ns. Assim, ao descrever nossasreaes pessoais dizemos coisas como:

    Uma reprter me abordou na rua hoje. Perguntou-me o queachava de nosso novo prefeito. Comecei a tagarelar sem pensar. Sabecomo . Sabe, voc fica muito ansioso e entusiasmado e entodispara a falar antes de sua mente comear a funcionar. Entopercebe que meteu os ps pelas mos. Sabe que conseguiu de novo.Certo?

    Errado! Embora eu pessoalmente possa me identificar com amaior parte dessa experincia, h muitas pessoas mais espertas quesimplesmente no se reconheceriam, ou a suas tendncias, nessadescrio. H mesmo alguns tipos calados que nunca falam muito,mesmo quando suas mentes esto zumbindo. Posso falar por mimmesmo, mas certamente no por elas. De fato, s posso falar por mimmesmo. Sou perito apenas a meu respeito. Quando projeto minhasreaes nos outros, freqentemente a situao se torna difcil.Imponho a meu ouvinte a responsabilidade embaraosa de dizer:

    Oh! no, no reajo assim, de jeito algum.

    -

  • Ao que a pessoa que insiste em falar por todo mundo prova-velmente sorrir calmamente e dir:

    Oh! voc diz que no, mas, na verdade, se estivesse em minhasituao, reagiria da mesma maneira.

    E a que muitas pessoas se perguntam: "Que posso dizer?"

    A tentao de generalizar indica que descobri a "diversidade"apenas de maneira imperfeita.

    Ainda no percebi plenamente como cada um de ns nico eindividual. Por causa disso ainda sou tentado a projetar minhasreaes nos outros. Se alguma coisa me ofende ou aborrece, presumoque ofende ou aborrece todo mundo. Se uma dada situao estimulauma reao de preocupao em mim, presumo que todos ficariampreocupados em tal situao. Um tal hbito de pensar e falar faz demim o modelo de toda a realidade humana. Lembra-se do per-sonagem de desenho animado chamado General Bullmoose? Seulema era: "O que bom para Bullmoose bom para a nao". Ele eraum homem que pensava e falava por todo mundo.

    Na verdade, ns temos muito em comum, mas nunca somosmenos que indivduos. A maneira como reagimos s coisas, mesmocoisas como beleza e humor, diferente em cada um de ns. Emoutras palavras, posso contar-lhe apenas minha experincia, minhareao. E voc s pode contar-me a sua. Nenhum de ns podepresumir que conhece as complexas atividades da mente e docorao do outro. Muito menos podemos presumir que nossas mentese coraes funcionam exatamente da mesma maneira.

    A pessoa que percebeu nossa individualidade e singularidadeno somente falar mais cuidadosamente e somente por si, comotambm perguntar antes de presumir. Lembro-me de certa vez terobservado uma pessoa realizando uma tarefa de uma forma que naminha opinio gastava muito tempo. Meu prprio modo de vida "construir melhores ratoeiras", planejar maneiras novas e criativasde fazer as tarefas dirias.

    Gostaria de aprender uma forma mais fcil de fazer isso?

    Presumindo que a resposta seria "sim" comecei a demonstrar. Meuamigo assumiu uma atitude de resistncia.

    J lhe ocorreu que gosto deste mtodo e no estou procurandouma forma mais fcil de fazer isto?

    Zs. Uma nova aplicao da lio de "diversidade".

  • H uma sria conseqncia dessa individualidade humana, quan-do discutimos o que verdadeiro e o que falso. Em nossos tribunais,mandam que as testemunhas digam "somente a verdade, toda averdade e nada mais que a verdade". Mas as testemunhas so chama-das a testemunhar somente o que viram e ouviram pessoalmente.Presume-se que nenhuma testemunha conhece toda a verdade. Achoque em teoria todos reconhecemos isso. Na prtica esse reconheci-mento muito mais difcil, para a maioria de ns. Camos na arma-dilha de atribuir infalibilidade a nossas observaes, interpretaes, aomodo como nos lembramos das coisas. Como resultado, camos emfreqentes erros de comunicao.

    Dizemos coisas assim:

    Voc disse isso. Disse. Lembro-me claramente.

    Se eu estivesse falando minha verdade e no a verdade, prova-velmente diria algo assim:

    Parece-me que voc disse isso ou aquilo. Pelo menos isso queme lembro de ter ouvido. Voc realmente disse isso ou minha memriaest me enganando?

    Se falssemos dessa maneira, certamente facilitaramos a boacomunicao e promoveramos uma agradvel troca de palavras.

    Freqentemente nos envolvemos em uma diferena de opinio.Seria falar apenas minha verdade e um atraente convite comunicao,se eu dissesse:

    Este o modo como vejo as coisas ... Ou

    poderamos dizer:

    Sempre tive a impresso que...

    As pessoas que pensam que so capazes de falar a verdade tendema pontificar:

    desta maneira. Foi assim no incio, assim agora, e sempreser assim.

    Essa espcie de arrogncia , para a maioria de ns, um convite contradio, no comunicao.

    Nenhum ser humano na face da terra possui toda a verdade.Cada um de ns tem s uma pequena parte; mas se estivermosdispostos a partilhar nossas pequenas partes, nossos pedaos de ver-dade, todos possuiremos uma realidade muito mais plena, um quinhomuito maior da verdade total.

  • Vem mente o quadro de duas pessoas em lados opostos deum slido muro. Um lado est pintado de marrom e o outro deverde. Se a pessoa do lado verde ficar insistindo:

    Este muro verde, provocar contradio da pessoa que est dooutro lado do muro.

    No, no . marrom.

    Obviamente cada uma tem uma parte da verdade, exatamentecomo todos temos, na maioria de nossas divergncias. difcilimaginar que uma pessoa possa estar completamente errada arespeito de qualquer questo complexa. Todos tm uma parte daverdade para partilhar.

    Faz sentido, no faz? Ento onde que erramos com tantafreqncia? As vezes penso que as questes que discutimos e debate-mos nunca esto isoladas de um contexto maior. Na maioria dosrelacionamentos humanos, existem "marcadores de pontos"invisveis. Uma mulher que est ansiosa por afeto ou afirmao podemuito bem provocar um ponto de discrdia apenas para desabafar umpouco. Um homem que acha que seu ego foi enfraquecido ou dimi-nudo pode fazer o mesmo.

    Algum j disse sabiamente que a maioria de ns no discute asquestes reais: deslocamos nossos sentimentos e os ligamos asupostas questes. Um marido queixa-se do quanto sua mulher gastouem um par de sapatos novos e ela, por sua vez, lembra-lhe que noconsertou a porta como prometera. Mas o preo dos sapatos e a portano o que realmente os aborrece. Em tais circunstncias, um triunfopessoal parece mais desejvel do que a verdade. Assim, acabamos porcorrigir o registro no marcador invisvel. Conseguimos uma vitriaimaginria sobre uma insignificncia e dizemos aos outros a verdade,toda a verdade, nada mais que a verdade!

  • DEVEMOS PARTILHAR COM AQUELES COM QUEM

    NOS RELACIONAMOS TODOS OS NOSSOS

    SENTIMENTOS SIGNIFICATIVOS

    No somos simples. Existem em ns muitas partes complexas.Temos percepes sensoriais que nossas mentes organizam emidias. Nossas vontades exercem o poder de escolha. E tanto a mentecomo o corpo produzem nossas emoes. Naturalmente verdadeque esses sentimentos ou emoes no so nossas partes maisimportantes. Eles vm e vo, s vezes em direes opostas. Soafetados pela quantidade de sono que tivemos, pela hora do dia, pelo"nvel de acar" em nosso sangue e, s vezes, pelo barmetro. Masno ato de comunicao, ao nos revelar uns aos outros, so o magoda questo. Por qu?

    Tenho certeza de que, quando voc ou eu confiamos nossossentimentos a outrem, temos a sensao de estar realmentepartilhando nosso verdadeiro eu. No temos muitos pensamentoscompletamente originais. Eu, pelo menos, no me lembro de ter tidonenhum. E no fazemos muitas escolhas originais. Mas ningum nahistria da humanidade j teve exatamente os mesmos sentimentosque voc. Ningum j sentiu como eu sinto. Nossos sentimentos soto singulares e originais como nossas impresses digitais. Porexemplo, uma pessoa pode resumir a si mesmo afirmando:

    Sou cristo e advogado, e minha famlia minha vida.

    Correto e conciso. Porm voc no fica conhecendo a pessoaindividual por meio de tais afirmaes sumrias. A maioria das

  • pessoas identifica-se com o cristianismo e h muitos advogados entrens. Os devotados famlia tambm so bastante comuns.

    As pessoas que esto dispostas a partilhar conosco somenteseus pensamentos e opes, da mesma maneira, poderiam partilhar oltimo livro que leram. Mas se uma pessoa confia e descreve seussentimentos a solido e a luta, os temores e as alegrias, a paz dacerteza e a dor da dvida , ento teremos a sensao de que vamosconhecer quem essa pessoa realmente. Diga-me o que pensa epoderei classific-lo: diga-me o que sente e o conhecerei.

    De certo modo, nossos sentimentos so as expresses sumriasde toda nossa histria pessoal. No so apenas nossa reao altamentepersonalizada a uma dada pessoa ou situao. Originam-se de nossasmais remotas experincias humanas, as por assim dizer "influnciaspaternas" (mensagens recebidas no incio da vida, dos pais e de outraspessoas significativas). Tambm modelamos nossas reaes emocio-nais pelas de nossos pais, nossos irmos e irms. Todavia, nossasreaes emocionais nunca so cpias exatas, porque so tambm aexpresso de nossas prprias experincias humanas nicas. Resumemas vezes em que fomos intimidados ou humilhados por adversriosjuvenis. Renem e comentam a segurana ou insegurana dos lares,escolas e vizinhanas de nossa infncia. De fato, resumem e expres-sam todas as razes de nossa existncia humana altamente individual.

    Consideradas apenas em um contexto de atualidade, nossas emo-es so as reaes psicofsicas a nossas percepes. Se perceber quevoc meu amigo, sentir-me-ei seguro quando estiver com voc. Apercepo surge primeiro. A emoo resulta da percepo. Histo-ricamente, nossas percepes, a maneira como vemos ou percebemosum dado objeto, foram amplamente moldadas por outras pessoas eacontecimentos significativos em nossas vidas. Essas pessoas e acon-tecimentos so como que mensagens gravadas que foram deixadas emnossos mecanismos mentais.

    Em conseqncia, ao contar-lhe meus sentimentos estou, de certaforma, partilhando toda a minha vida com voc: as pessoas que meinfluenciaram, as experincias que me moldaram. verdade quemeus sentimentos podem ser inclinados em uma ou outra direopelas quantidades de sono ou alimento recentes, pelo que deu certoou errado durante meu dia. Ainda assim, o partilhar de meus sen-timentos minha mxima auto-revelao. Ao lhe confiar meus sen-timentos, posso estar dizendo que uma pessoa que teve meus pais eminhas experincias reage dessa forma quando est cansada ou

  • com fome. Sempre lhe digo onde estive e quem sou quando partilhomeus sentimentos com voc.

    Em pleno ato de me revelar a voc, no posso simplesmente jogarminhas emoes a seus ps. Como seria desconcertante se eusimplesmente lhe dissesse: "Estou furioso!" Se para voc entender,devo oferecer-lhe um contexto de completa cer-teza, isso presume que eu me dedique auto-revelao, preste atenos coisas que se passam dentro de mim. O pleno contexto de auto-revelao seria mais ou menos assim:

    (1) Primeiro transmito-lhe os dados de minhas sensaes: Vi eo ouvi rindo enquanto eu fazia meu importante pronunciamento para osparticipantes de nosso encontro.

    (2) Depois transmito-lhe minha interpretao provisria dessesdados sensoriais. (Por favor, observe que essas interpretaes devemser sempre apresentadas como provisrias. Interpretao provisria amaneira como, subjetiva e provisoriamente, interpreto o que vi e ouvi.)Interpretei que voc considerou tolas ou estpidas as minhas idias.Pelo menos pensei que voc no estava dando o apoio de ouvir comseriedade. Pensava que voc era meu amigo, mas l estava voc, rindode mim. Esses foram meus pensamentos interiores quandoo vi e ouvi rindo. claro que eu poderia estar longe da verdade etalvez estivesse me levando muito a srio, mas essa minha inter-pretao. Observe que uma interpretao provisria tambm lhe d aoportunidade de ajudar-me a rever minha interpretao, se elaprecisar ser revista. Entretanto, se no lhe contar minhainterpretao provisria, continuarei a pensar o pior e voc nuncasaber o que est me aborrecendo.

    (3) Transmito-lhe os sentimentos que resultaram em mim deminha interpretao.

    E fiquei com raiva de voc.

    Mas a raiva apenas a primeira emoo, cobrindo camadas ecamadas de outros sentimentos. Da forma como entendo esses sen-timentos, senti-me "abandonado" por voc, meu bom amigo. "Et tu,Brutus?" (At tu, Brutus?) Foi o velho choque de Jlio Csar, que ficoutriste e surpreso ante a presena de seu amigo Brutus entre seusatacantes. Verdadeiramente dramtico, no?

    (4) Finalmente, sempre que possvel, acrescento um contextoadicional pela minha reao.

    Sabe, foi a primeira vez que falei em um encontro. Foi minhaestria como orador e por isso fiquei to envolvido. Em vez de pensar

    9=

  • na platia, s estava pensando em mim mesmo. Fiquei imaginandocomo estaria me saindo. Tambm verdade que eu estava tonervoso com aquele maldito discurso que no comia nem dormiadireito. Por favor, no pense que tem de concordar ou discordar oumesmo explicar alguma coisa. No estou realmente tentando che-gar a uma concluso ou desafi-lo. S quero partilhar meu ntimocom voc. Espero que possa me aceitar. De qualquer forma, muitoobrigado por ouvir tudo isso.

    Alis, ao compartilhar todos os nossos sentimentos significativos, muito importante partilhar nossos sentimentos "positivos" ou "afir-mativos" bem como nossos sentimentos "negativos". No dilogoacima, o falante poderia ter dito:

    Quando olhei para a platia e o vi e notei como prestavaateno a tudo o que eu dizia, senti-me seguro e confiante. De fato,cada vez que sentia o pnico de pensar: "O que estou fazendo aquiem cima?", olhava para voc. Muito obrigado mesmo, por ser umbom amigo quando eu realmente precisava de um.

    Mais que qualquer outra coisa, as pessoas precisam de nossas reaesemocionais afirmativas.

    J discutimos a motivao para a comunicao. O difcil em setratando de comunicao que muitas vezes nossa motivao est"oculta". s vezes tentamos disfarar ou negar nossa verdadeira

    motivao, no somente para os outros, mas at de ns mesmos.Quase todos ns em alguma ocasio j passamos pela experinciade algum nos assegurar:

    S estou lhe dizendo isso para seu prprio bem. Ento sfaltaram nos lamber, porque supostamente era "para o nosso bem".

    A questo aqui esta: meu motivo pode ser desabafo, manipu-lao ou comunicao. Se lhe conto meus sentimentos porque querodesabafar, no estou me revelando como uma ddiva a ser oferecida,mas estou usando-o como uma lata de lixo para meu refugo emo-cional, para que possa me sentir melhor (e voc muito provavelmentese sentir pior). Se meu motivo a manipulao, estou, consciente ouinconscientemente, manobrando-o. Posso querer que voc se sintaresponsvel por mim e por minhas emoes, sinta-se culpado porhaver causado minhas emoes ou mesmo d-me a solidariedade queestou procurando. Mais uma vez, isso no uma ddiva sendo ofere-cida, mas apenas um estratagema. Embora possamos tentar disfararou negar tais motivos, no fim transparecero e causaro sofrimento,como os espinhos de uma roseira.

  • O nico motivo aceitvel para que eu compartilhe meus senti-mentos a comunicao. Conto-lhe meus sentimentos porque queroque voc conhea meu verdadeiro eu e quero ter um relacionamentoverdadeiro com voc, no um "arranjo" erroneamente chamado de"amizade". Sei por experincia pessoal que j senti o mpeto de con-tar aos outros meus sentimentos, a fim de ajustar contas, puni-los,arrancar um pedido de desculpas. Todos esses motivos so inacei-tveis. No so justos. Tendem a destruir, no a construir umrelacionamento pessoal.

    Em conseqncia, posso ter de incluir, no contexto mais pleno demeu partilhar, a confisso de que esses sentimentos esto devaneandodentro de mim, que sinto mpetos de ajustar contas com voc pormeus ressentimentos e mgoas reais ou imaginrios, que desejo quevoc pea desculpas por sua omisso. Junto com os outros materiaisque partilho, incluo uma explicao disso, tal como:

    Espero que esse no seja o contedo oculto de meu par-tilhar. Acredito que no seja um motivo disfarado paraeste partilhar.

    Em ocasies mais calmas de reflexo, percebi que a nicaforma de alcanar um relacionamento verdadeiro e profundo contar-lhe todos os meus sentimentos significativos.Realmente desejo isso. Embora emocionalmente eu estejaentre sentimentos ambivalentes, acredito que meu motivoreal de apreo e de revelao.

    Essa, ento, torna-se uma completa comunicao. partilharplena franca e honestamente meu verdadeiro eu com voc. Tudoque posso desejar que voc oua e receba meu partilhar commos delicadas.

    Partilhar ou no partilhar . . . alguns exemplos

    Freqentemente as pessoas se fazem passar por ntimas, mas nuncarealmente chegam a se conhecer mutuamente porque mantm asemoes ocultas sob os chaves da discusso.

    Lembro-me de um casal que me procurou, ambos irritados eafirmando que o divrcio era a nica maneira de resolver seus pro-blemas. Francamente, no queriam nem olhar um para o outro.Parece que ele fora preso e ela se sentira to humilhada que notolerava o pensamento de que isso pudesse acontecer de novo.Convidei-os a se sentar e fazer uma experincia comigo.

  • Quero que me contem seus sentimentos a respeito dessa in-compatibilidade que esto sentindo. Agora s sentimentos. Nenhumaacusao. Nenhuma narrativa de antigos fracassos. Apenas sen-timentos.

    Comecei com a mulher, porque j a encontrara uma vez antes eachava que havia mais possibilidade de sucesso com ela.

    Em resposta a meu convite, ela definiu sua emoo central como"insegurana".

    Realmente no sei o que fazer ou para onde me voltar. Noconsigo entender a situao em que estamos, por isso no sei oque fazer a respeito. Simplesmente quero fugir e deixar tudo paratrs. Mas isso significa divrcio e a comeo a me sentir"culpada". Fui educada na crena de que o compromisso domatrimnio um sacramento. Lembro-me de dizer em meus votosmatrimoniais: i4 . . . at que a morte nos separe".

    Depois que descreveu sua sensao de culpa, parece que eladescobriu em suas borbulhantes emoes outro tipo de sentimentos.

    Acho que me sinto "responsvel' por ele. como se eu fosse suame, alm de esposa. Sinto-me compelida a instru-lo, proteg-lo edefend-lo. Arrumo desculpas para ele e at j menti para poup-lo.Sempre que penso em meu papel de "sua protetora", tenho umasensao incmoda, como se estivesse carregando um peso nas costas.

    A esposa se saiu bem. Mas parecia haver uma bvia omisso e porisso perguntei-lhe:

    Voc no mencionou raiva e, contudo, quando entraram em meuconsultrio parecia estar com raiva. Parecia que queria mago-lo.Estava se sentindo assim?

    Oh, no disse entre soluos. Ele j foi bastante magoado. No,no estou com raiva, apenas lamento realmente porque ele passou pormuita coisa.

    A essas alturas, o pobre marido estava com os olhos arregalados.Tenho certeza de que nem sonhava que esses eram os sentimentos norevelados de sua esposa.

    Ento voltei-me para ele e ele se saiu quase to bem quanto aesposa. Seu sentimento central era "vergonha".

    s vezes sinto-me como se devesse estar usando um letreiro"perverso!" ou algo parecido. s vezes imagino que toda a raa

  • humana est fazendo um piquenique e eu no fui convidado. Sinto-memuito "solitrio" e, s vezes, quando nossos filhos esto sentados emmeu colo, sou tomado pelo medo de que possa contamin-los com.minhas fraquezas e que eles tenham de passar pela mesma espcie deinferno em que estou vivendo.

    Com algum encorajamento, ele continuou por vrias camadas desentimentos e terminou com esta surpresa:

    Explicar este ltimo sentimento difcil para mim. Porque souum homenzarro e sempre quis parecer masculino, nunca pensei quealgum jamais pudesse entender este sentimento. (Longa pausa...)Sinto-me como um menininho que quer chorar, mas precisa de per-misso. Preciso de algum que me diga: "Pode chorar. Continuarsendo homem".

    Ento sua esposa levantou-se e embalou a cabea dele nos braos.

    Est bem, querido sussurrou , pode chorar, sempre oamarei.

    Depois de algumas lgrimas, ele se levantou e a abraou.

    Obrigado, acho que precisava disso disse com suavidade.

    verdade que condensei uma hora em alguns pargrafos, masacho que um resumo exato. Sempre tive um desejo secreto de tere mostrar um videoteipe desse encontro. Exemplificaria claramente oque uma troca verdadeira de sentimentos pode fazer por um rela-cionamento. Alis, no sei se meus amigos "viveram felizes parasempre". Sei que ainda esto juntos "at que a morte os separe". E,de certa forma, estou seguro de que esto realmente procurando seconhecer mutuamente.

    * * *

    Eu (John) tambm tenho lembranas de minha famlia. Sempreque discutamos era como que um dilogo de surdos, uma srie decontrovrsias para ganhar ou perder. No havia troca de sentimentoscomo um ato de partilha. Meu pai era um homem bom. Contudo eratotalmente relutante ou incapaz de partilhar seus sentimentosinteriores. Sempre tinha prontas defesas verbais: "Guardo meus se-gredos!", "No faz mal!", "Sempre digo, mantenha-se aberto pordentro, mas com a boca fechada". E assim, morreu com todos os seussegredos trancados dentro dee si e agora trancados para sempre emseu caixo. Minha me e eu estvamos com ele quando morreu.Depois de colocar gentilmente sua cabea no travesseiro e fechar-lhe

  • os olhos, disse a minha me que a luta terminara, que papai estavamorto. Sua primeira reao foi dizer-me:

    John, ele tinha tanto orgulho de voc. Ele o amava muito.

    Fiquei imaginando por que ela dissera isso. Logo depois, entre-tanto, enquanto procurava um mdico pelos corredores do hospital,para que ele confirmasse a morte de meu pai, entendi a razo desuas palavras. Ela sabia que ele nunca dissera essas coisas. Meu painunca me disse que tinha orgulho de mim ou que me amava.

    Antes da morte de meu pai, eu no entendia nem reconhecia o valorda franqueza emocional. Quando percebi que um relacionamentohumano profundo impossvel sem tal franqueza, resolvi procurarconhecer minha me. Durante as longas horas de seus ltimos anos,passamos bastante tempo confidenciando mutuamente nossossentimentos. Quando ela morreu, foi muito diferente da morte de meupai. Tive uma sensao de plenitude em vez de um vazio. Minhaslgrimas diziam:

    Ela era verdadeiramente uma pessoa maravilhosa. Alegro-mepor t-la conhecido.

    Entretanto, tenho a mgoa de que muito possvel que .,..tinhame e meu pai nunca tenham chegado a se conhecer realmente.Temo que se um anjo fosse escrever o epitfio na nica lpide quemarca sua ltima morada, escreveria:

    Aqui fazem duas pessoas muito boas e decentes, quenunca se conheceram realmente.

    * * *

    Tambm me lembro da ocasio em que um homem me contou queseu filho morrera em um desastre de automvel. Contou-me queescrevera um bilhete na vspera do enterro do filho e o colocaragentilmente sob o corpo do rapaz. O bilhete dizia:

    Meu querido filho:

    Nunca lhe disse quanto o amava. Nunca lhe disse que vococupava uma grande parte de meu corao. Nunca lhe dissequo importante era o papel que voc representava emminha vida. Pensei que haveria uma ocasio propcia paraisso : quando se formasse, quando sasse de casa para viversozinho, quando se casasse. Mas agora voc est morto enunca haver uma ocasio propcia. Por isso escrevo este

  • bilhete desejando que Deus mande um de seus anjos l-lopara voc. Quero que saiba de meu amor por voc e deminha tristeza por nunca ter-lhe falado desse amor.

    Seu Pai

    * * *

    Eu (Loretta) descobri que a franqueza emocional muitodifcil com relao morte. Tive trs grandes lutas com meussentimentos depois das mortes de meu pai, minha me e minha av.Quando eu tinha trs anos e meio, meu pai, policial em Chicago, foimorto em servio. Minhas emoes de pesar ficaram bemescondidas em meu coraozinho. Eu repetia para mim mesma:

    No di.

    Segui o exemplo dos que estavam a meu redor sem perguntarnada. Sem processar minha tristeza, raiva e pesar, aceitei a morte demeu pai como um ato de Deus. De um ato de Deus somente boascoisas poderiam surgir. Por dentro, entretanto, fui atormentada pormuitos pensamentos confusos e sentimentos ambivalentes, durantemuitos anos. Ainda posso citar algumas de minhas conversas inte-riores daquela poca:

    Por que ele tinha de ir para outro lugar para ser feliz? Eleera feliz aqui comigo.

    Sei que ele no queria me deixar, mas sei por que elequeria deixar mame. Ela to triste e tudo que faz trabalhar. Ela no nem um pouco divertida.

    Por que tinha de ser ele e no ela?

    Ele era o nico que me entendia.

    Acho que nunca fiz nada de errado para faz-lo ir... oufiz? Talvez eu seja realmente m, e, como todos dizemestou sendo teimosa. Eu no seria to teimosa e m se elevoltasse.

    Esses dilogos ntimos comigo mesma nunca eram partilhados. Atmesmo negava em meu ntimo as emoes que os provocavam.

    Nunca falava sobre meus sentimentos de rejeio, raiva,ressentimento, medo, dor, tristeza, autopiedade, culpa e esperana.

    medida que fui ficando mais velha, tambm passei a amar eadmirar minha me. Ela morreu vinte e oito anos depois de meu pai.Nessa ocasio eu j tinha idade bastante e aprendera o bastante pararespeitar a expresso livre e franca das emoes. Chorar a morte deminha me foi uma dupla tristeza. Chorava por ela e tambm

  • por meu pai. Era uma tarefa gigantesca. Entretanto, com a ajuda dealguns amigos cheios de pacincia e empatia, "chorei" franca ecompletamente. Como resultado, acho que cresci com a experincia.

    Cinco anos mais tarde, minha av morreu. Chorar a morte deminha av, uma segunda me para mim, foi muito diferente. Eu mesentia vontade com o processo. Conscientemente envolvi-me nele equase o acolhi com alegria. Este terceiro perodo de tristeza trouxebenefcios adicionais. Partilhei meus sentimentos mais profundos comminha av, antes de sua morte. Quando ela morreu e depois, outrosmembros da famlia e eu nos sentimos suficientemente vontade paracompartilhar nossa tristeza. Eu aprendera com as experinciasanteriores que a franqueza emocional seria benfica se eu simples-mente a deixasse fluir. Tornei-me consciente de que as emoes repri-midas no desaparecem e continuam a perseguir a pessoa at quesejam reconhecidas e processadas. Aprendi que eu podia chegar aconhecer a peculiaridade dos outros partilhando mutuamente nossossentimentos. Eu tambm conseguiria conhecer melhor a mim mesma ecresceria como pessoa por meio do processo de chorar algum.

    Finalmente, gostaria de partilhar uma outra ocasio em minha vidaquando tive uma desavena pblica (embora pacfica) com um homemrespeitvel, muito mais velho e considervel do que eu. Amboshavamos falado em um encontro. Em minha palestra, eu incentivara atotal franqueza emocional em todos os relacionamentos ntimos. Meuamigo viu-se forado a discordar:

    Eu no poderia contar a minha mulher todos os meus senti-mentos declarou. Isso a arrasaria. Por isso, censuro meus sen-timentos. O que lhe conto sobre meus sentimentos sempre verdade.Mas claro que no lhe conto todos os meus sentimentos signi-ficativos.

    Pacificamente concordamos em discordar, deixar os membros daplatia decidirem por si mesmos.

    Vrios anos mais tarde, meu amigo separou-se da esposa. Elaescreveu no carto de Natal que me enviou: "Ele decidiu abandonara mim e a nosso lar. Casar-se- em breve com outra". Claro que soumuito velho para pensar que tenho olhos de raios X e posso veratravs das pessoas. Ainda assim, freqentemente imagino se no foio que ele no contou a sua esposa que destruiu seu amor por ela.

  • Em outro encontro que durou uma semana eu estava mesa dospalestristas com um homem chamado Charlie Shedd. Charlie ficavarepetindo aos participantes que "minha Marta chegar quarta-feira".Quando sua esposa, Marta, chegou, ele a acompanhouorgulhosamente mesa. L ele apresentou e publicamente abraousua noiva h quarenta anos. Fiquei murmurando para mim mesmo:"O amor funciona. Veja. O amor realmente funciona". Em outrareunio desse encontro, Charlie Shedd nos contou que quando ele eMarta fizeram os tradicionais votos matrimoniais: "...na riqueza ouna pobreza, na sade e na doena, at que a morte nos separe",acrescentaram um pacto particular de dez promessas. Uma delas era"total franqueza emocional dentro de quarenta e oito horas". Charlienos explicou:

    Acrescentamos o apndice sobre quarenta e oito horas para ocaso de eu chegar em casa com uma emoo latejante e Marta estarcom uma latejante dor de cabea. Nesse caso minha emoo poderiaesperar sua dor de cabea passar.

    "O amor funciona!", fiquei dizendo a mim mesma. Mas aparen-temente o amor funciona s para aqueles que trabalham para isso. Oamor funciona para os que tomam a estrada menos utilizada e corremos riscos da completa franqueza emocional. certamente verdadeque meus sentimentos so singulares. Resumem e expressam aexperincia de toda a minha vida e minha pessoa nica. Se a ver-dadeira ddiva de amor o dom de mim mesmo atravs da auto-reve-lao, ento preciso confiar meus sentimentos queles que amo.

    E queles que amo:

    =

    =

  • DEVEMOS SER CORAJOSOS O BASTANTE PARA

    PARTILHAR NOSSA VULNERABILIDADE PESSOAL

    Existe uma teoria sobre os complexos de inferioridade que estoudisposto e pronto a aceitar. Essa teoria alega que todos temos com-plexos de inferioridade. Esses complexos surg