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    Educar, Curitiba, n. 37, p. 129-152, maio/ago. 2010. Editora UFPR 129

    Sobre as contribuies das anlisesculturais para a formao dos professores

    do incio do sculo XXIOn the contributions of cultural analysis toteachers training of the beginning of the

    XXI century

    Marisa Vorraber Costa1

    RESUMO

    O artigo discute as repercusses, no trabalho docente e na formao de professores, das profundas e marcantes transformaes culturais veri-cadas nos ltimos sessenta anos. Inicia com breves consideraes acercada condio ps-moderna, das anlises culturais contemporneas e suasliaes tericas. Em seguida, trata das conexes entre cultura, pedagogias,escola e sujeitos escolares. Para dotar o trabalho de fora argumentativa,apresenta uma amostra de estudos que realizam anlises de fenmenosculturais contemporneos, expondo e discutindo suas implicaes paraa educao e, consequentemente, para a formao de professores. Nessadireo, o artigo aborda o que pode ser considerado como contribuiesdas anlises realizadas na conjuno dos Estudos Culturais com a Edu-cao para a ampliao do mbito de re exes no campo da Formaode Professores. Palavras-chave: formao de professores; formao de professores e es-tudos culturais; trabalho docente e estudos culturais; educao e anlisesculturais.

    ABSTRACT

    The article discusses the repercussions at teaching work and the forma-tion of teachers, under deep and remarkable cultural changes occurred in

    1 Universidade Luterana do Brasil, Brasil/Universidade Federal do Rio Grande do Sul,Brasil. Pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cient co e Tecnolgico - CNPq.Artigo subsidiado por resultados de pesquisas realizadas na condio de bolsista de produtividade.

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    the last sixty years. It starts by presenting brief considerations about the postmodern condition, the contemporary cultural analysis and their theo-retical af liations. After that, it discusses the connections among culture, pedagogies, school and school students. In order to provide the task withargumentative power, it presents a sample of researches that carry out analy-sis of contemporaneous cultural phenomena, exposing and discussing theirimplications for education and, consequently, to teachersdevelopment. Inthis sense, the article discusses what can be considered as contributionsfrom analysis performed in Cultural Studies conjunction with Educationin order to broaden re ections in the Teachers formation eld. Keywords: teachers formation; teachers formation and cultural studies;teachers work and cultural studies; education and cultural analysis.

    Situando

    Os ltimos sessenta anos vm sendo marcados por profundas e importantestransformaes culturais, que incidem nas formas de vida das sociedades, comintensas e ruidosas repercusses no trabalho docente. Sem dvida, a ateno aessas mudanas e a preparao adequada para equacion-las tem sido imperativas

    para o campo da Formao de Professores e um desa o para suas propostas. Nessa direo, este artigo aborda o que vislumbro como contribuies dasanlises realizadas na conjuno dos Estudos Culturais com a Educao paraa ampliao do mbito de re exes no campo da Formao de Professores.

    Incio com breves consideraes acerca das anlises culturais contempo-rneas e suas liaes tericas. Em seguida, procuro tratar das conexes entrecultura, pedagogias, escola e sujeitos escolares. Para dotar o trabalho de foraargumentativa, dedico-me a apresentar uma breve amostra de estudos que rea-lizam anlises de fenmenos culturais contemporneos, expondo e discutindo

    suas implicaes para a educao e, consequentemente, para a formao de professores.Para a tarefa a que me proponho, algumas advertncias se fazem ne-

    cessrias. Em primeiro lugar, seguindo normas relativas extenso do texto,abdico de apresentar uma cadeia mais ampla de argumentaes para delineartanto o terreno analtico quanto o programa de investigao em que tenho memovimentado nos ltimos anos. O que fao so alguns recortes segundo ocritrio da utilidade e da operacionalidade para esboar um panorama maisou menos adequado e prprio ao meu intento. Em segundo lugar, quanto aosestudos que compem a amostra ttulo de argumentao, opero uma seleo

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    arbitrria, estratgica e interessada, referindo-me s pesquisas com as quaisestive diretamente envolvida.

    Sobre anlises culturais e inspirao terica

    A segunda metade do sculo XX assistiu a emergncia de anlises cultu-rais alinhadas em contundente crtica teoria cultural vigente, assentada sobreconcepes inspiradas na tradio arnoldiana2 de cultura, dominante desde osmeados do sculo XIX. Entre muitos outros focos, as novas anlises dedicam-secentralmente crtica das distines entre alta e baixa cultura e ao fortalecimentodas produes e das manifestaes culturais populares. A literatura especiali-zada tem apontado para o surgimento de estudos com esse teor, nesse perodo,esboados em vrias partes do mundo, inclusive Amrica Latina, frica e sia.Porm, a movimentao com visibilidade mais proeminente parece ter sido a dosCultural Studies, na Inglaterra, entre ns conhecida como Estudos Culturais3.

    Seguindo a linha de periodizao traada por historiadores e intelectuaisdas humanidades, os meados do sculo XX corresponderiam frouxamente aoque se convencionou chamar de ps-modernidade. Sem entrar nas controver -

    tidas polmicas acerca das pretenses de ruptura e superao do moderno, a ps-modernidade teria marcado uma indiscutvel e nada negligencivel mudanade perspectiva em que os freios institucionais fazem-se em pedaos, a razomoderna universal e totalizante mostra-se exaurida em suas pretenses de ver -dade, e as grandes ideologias e estruturas socializantes perdem gradativamentea autoridade. Obviamente, tais transformaes no ocorreram abruptamente, eseus contornos esboaram-se em um longo processo.

    Raymond Williams, um dos fundadores dosCultural Studies britnicose considerado um dos expoentes da teoria cultural contempornea, nos livros

    Cultura e Sociedade4

    eThe long Revolution5

    analisa as transformaes da vida

    2 Denominao alusiva ao principal terico da tradio da cultura e da civilizao,Mathew Arnold (sc. XIX).

    3 Uma discusso aprofundada acerca dessa denominao e dos estudos encaixados nessavertente analtica pode ser encontrada em Costa, Hessel e Sommer (2003), cf. ref. bibliog.

    4 Ttulo originalCulture and Society (1958), traduzido para o portugus por Ansio Teixeira,Lenidas Hegenberg e Octanny da Mota, publicado no Brasil em 1969.

    5 Sem traduo localizada para o portugus, esse livro, publicado na Inglaterra em 1961, prossegue a anlise iniciada emCultura e Sociedade.

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    social desde o nal do sculo XVIII at os anos 1960. Para fazer uma descri-o, anlise e interpretao da herana intelectual, imaginativa e sentimentalrecebida pela gerao dos meados do sculo XX, recorre aos autores mais

    signi cativos na produo do que ele chama de revoluo cultural, trilhada pela cultura ocidental de 1780 a 1950. O eixo de sua argumentao so astransformaes no conceito de cultura, que analisa quando considera a teoriada cultura como a teoria das relaes entre os elementos de um sistema geralde vida. Williams (1969) a rmou, l nos meados do sculo XX, que vivamosem uma cultura em expanso, cuja anlise e interpretao suscitavam maislamentaes e desencantos do que um trabalho rduo de interpretao das gran-des e profundas transformaes pelas quais a humanidade vinha passando. Osindcios da emergncia de formas culturais novas, complexas e ainda de difcil

    inteligibilidade desa aram-no a tentar compreender e explicar os mistriosdesses novos tempos.Essa mutao cultural, cujo processo de gestao e prenncios so des-

    critos e interpretados por Williams como uma longa revoluo, comea a serexperimentada de forma intensa e contundente a partir da segunda metade dosculo XX, no ps-guerra, e percorre os amplos e variados domnios da exis-tncia humana, implicando transformaes de diferentes ordens: tecnolgica,econmica, social, los ca, cient ca, artstica, cultural e muitas outras. Essamovimentao forjou novos modos de viver e novas formas de pensar. No dom-

    nio intelectual, pode-se dizer que uma matriz de inteligibilidade inspirada nesseesprito dos novos tempos passa a orientar boa parte dos estudos e pesquisas,especialmente no campo das cincias humanas e sociais.

    De uma maneira geral, a intrigante condio existencial que nos envolvehoje atribuda, preponderantemente, mas no exclusivamente, avassaladora proeminncia das novas tecnologias e consequente instaurao de uma culturamiditica de alcance planetrio. Segundo muitos autores, nossa prpria humani-dade que estaria sendo transformada. Pierre Lvy (1996, p. 11) faz aluso a umcoletivo pensante homens-coisas, coletivo dinmico povoado por singularidadesatuantes e subjetividades mutantes, umaecologia cognitiva, imensa maquinariado fazer em que o sujeito que pensa e o coletivo cosmopolita, se confundem.Poderamos ento a rmar que est em andamento a constituio de uma novagramtica cultural, e no interior dela que se desenham as tentativas para nosmovimentarmos nos meandros de suas prescries normativas, morfologias,lxico, sintaxes e semntica.

    Desde Raymond Williams (1961, 1969), passando por Fredric Jameson(1996), David Harvey (1993), Andras Huyssen (1992), Zigmunt Bauman (1998,1999, 2001, 2007, 2008), Richard Sennet (2002, 2006) e outros, vrios autoresvm mencionando a emergncia de uma profunda transformao na estrutura

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    do sentimento. Muitos autores concordam que na lenta transformao culturalque atravessa o sculo XX est implicada uma mudana da sensibilidade. Oconceito introduzido por Williams tem sido fulcral para se procurar compreender

    as novas formas de prticas e de hbitos sociais e mentais em conjuno comnovas formas de organizao e de produo econmica, que surgem acopladas verdadeira revoluo cultural veri cada nos modos de produo capitalistas.Jameson (1996) aponta o entrelaamento entre economia e cultura num processode interao recproca, num circuito in nito de realimentao, constituindo essamtua aderncia por si s um fenmeno ps-moderno. nesse sentido que setem a rmado que o mundo ps-moderno produz no apenas uma economia, ummodo de produo e uma sociedade muito peculiares, como constitui sujeitosde um certo tipo, pessoas ps-modernas. Segundo o autor, opera-se uma [...]

    prodigiosa operao de reescritura que pode levar a perspectivas totalmentenovas a respeito da subjetividade e tambm do mundo objetivo [...] (JAME-SON, 1996, p.18).

    Esse estado da cultura, ao qual Harvey (1993) e Lyotard (s/d) referem-secomo condio ps-moderna, aporta consequncias importantes para a educa-o, rea intensamente marcada pelo que tem sido identi cado apropriadamentecomovirada ps-moderna evirada cultural . Tais expresses surgiram acopladas movimentao los ca identi cada comovirada lingustica, compartilhada por boa parte daqueles que se aproximam das vises ps-modernas. Grosso

    modo, pode-se a rmar que diz respeito concepo em que os discursos estoinexoravelmente implicados naquilo que as coisas so. As sociedades e culturasem que vivemos so dirigidas por poderosas ordens discursivas que regem oque deve ser dito e o que deve ser calado e os prprios sujeitos no esto isentosdesses efeitos. A linguagem, as narrativas, os textos no apenas descrevem oufalam sobre as coisas, ao fazer isso instituem as coisas, inventando sua iden-tidade. O que temos denominado realidade o resultado desse processo noqual a linguagem6 tem um papel constitutivo. nesse sentido tambm que acultura tem um papel instituinte, identi cado no campo epistemolgico comovirada cultural (HALL, 1997). De acordo com vises foucaultianas, nisso estimplicado o poder; no um poder maligno, dissimulado, que emana de umanica fonte, mas um poder produtivo, disseminado, capilar e circulante. Um poder que se exerce na forma de uma vontade de saber que tambm von-tade de poder. Quando se descrevem, explicam, desenham ou contam coisas,quando variadas textualidades falam sobre pessoas, lugares ou prticas, esses

    6 Entende-se, aqui, linguagem, no apenas como forma de comunicao oral, ou como textoletrado. Linguagem diz respeito a toda forma de expresso, de manifestao que atribui sentido e,assim, inventa, cria algo.

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    esto sendo inventados conforme a lgica, o lxico e a semntica vigentes nodomnio que produz o discurso. Nesse sentido, Hall (1997) refere-se tambm a poltica cultural da representao.

    Tais vises e concepes vm abalando fortemente o campo da pesquisaeducacional. Os estudos com carter prescritivo e normativo tm sido ampla-mente problematizados face sua presumvel incapacidade para dar conta daexperincia humana instvel, mutante, eivada de exigncias emergentes e cons-tantemente renovadas. Por sua vez, as investigaes com carter mais re exivoe focos pouco comuns na rea da Educao adentram o espao investigativoeivadas de ceticismo e crticas. sobre isso que me deterei na prxima sesso.

    Sobre conexes entre cultura, pedagogias, escola e sujeitos escolares

    Na Introduo do livro Borders crossings: cultural workers and the politicsof education,Henry Giroux (1992)7 anuncia mudanas em sua postura poltica eterica, declarando no acreditar mais que uma educao crtica possa car con-nada nas escolas, e tampouco que [...] a pedagogia, como forma de produo

    poltica, moral e social, possa ser tratada primordialmente como um problema de

    escola. (GIROUX, 1992, p.11). Esclarece ainda que apesar de nunca ter consi-derado que apenas as escolas pudessem mudar a sociedade, havia investido suaenergia terica e ao poltica nesses locais. Agora, contudo, percebera muitascoisas, entre elas, a limitao que o conservadorismo prevalecente exerce nacomposio do currculo e na viso da maioria das faculdades de educao [...](GIROUX, 1992, p.11). Isso, juntamente com sua reinterpretao do prpriosigni cado de pedagogia, vista agora como prtica social e de produo culturalimplicada na poltica cultural que envolve conhecimentos, desejos, valores e prticas, fez com que estendesse suas preocupaes para o mbito social mais

    amplo, em busca de uma pedagogia radical como poltica cultural. Mais adiantenesse livro, descreve a pedagogia como uma tecnologia do poder, da linguageme da prtica que produz e legitima formas de regulamentao moral e poltica,que constri e oferece aos seres humanos vises particulares de si prprios edo mundo (GIROUX, 1992, p. 98).

    Giroux (2003) salienta em obra posterior que as teorias educativas conser -vadoras geralmente consideram que o conhecimento a realizao da tradio

    7 Obra traduzida para o portugus em 1999 com o ttuloCruzando as fronteiras do dis-curso educacional: novas polticas em educao.Menciono no texto a obra original de 1992, paraenfatizar que quase vinte anos nos separam do surgimento dessa anlise.

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    (ocidental) e a pedagogia uma prtica do processo de transmisso. Assim con-cebida, a pedagogia parece estar exclusivamente vinculada aos contedos dasdisciplinas escolares e, portanto, associada aos padres e valores dominantes em

    uma sociedade. Contudo, no isso que observamos hoje, e ele prprio dedicagrande parte de seu esforo investigativo na tentativa de mostrar as pedagogiasem operao nos variados territrios da cultura.

    Compartilho de seu entendimento, uma vez que vivemos hoje uma era pautada por signi cados provisrios, incertezas e indeterminaes, cenrio emque as prticas antes privativas de certos espaos institucionais, como a peda-gogia, encontram-se desterritorializadas. Desenham-se crescentemente novoscontributos tericos para se pensar a pedagogia como uma prtica cultural queultrapassa amplamente os limites estritos de instituies como, por exemplo,

    escola, famlia e igreja. Uma contribuio dos Estudos Culturais em Educa-o tem sido a possibilidade de se abordar de forma mais ampla, complexa e plurifacetada a educao, os processos pedaggicos, os sujeitos implicados,as fronteiras construdas pelas ordens discursivas dominantes. Pode-se dizerque h uma ressigni cao do campo pedaggico em que questes culturaiscomo identidade, diferena, discurso e representao so convertidos em foco preferencial.

    Costa, Silveira e Sommer (2003, p. 56), no artigo em que analisam asconexes entre EC e pedagogia, apontam como contribuies mais importantes

    dos Estudos Culturais em Educao as que tm possibilitado:

    [...] a extenso das noes de educao, pedagogia e currculo para alm dosmuros da escola; a desnaturalizao dos discursos de teorias e disciplinasinstaladas no aparato escolar; a visibilidade de dispositivos disciplinares emao na escola e fora dela; a ampliao e complexi cao das discussessobre identidade e diferena e sobre processos de subjetivao. Sobretudo,tais anlises tm chamado a ateno para novos temas, problemas equestes que passam a ser objeto de discusso no currculo e na pedagogia .

    Mais adiante, nesse mesmo texto, indicam alguns focos preferenciais,reunidos no que chamam de vertentes de anlises dentro desse campo. Na primeira vertente mencionam:

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    [...] questes, discursos e artefatos que, tradicionalmente tidos como pedaggicos, so ressigni cados: livros didticos, cartilhas, legislaeseducacionais, revistas pedaggicas, livros de formao pedaggica para professores, programas e projetos educativos, a prpria seriao escolar,a ciclagem e as classes de progresso, a arquitetura escolar. Prticasescolares como a da merenda, da avaliao, ou dos cuidados na educaoinfantil, entre outras, so problematizadas e constitudas como objetosde estudo sob uma tica cultural, oportunizando seu esquadrinhamentoe anlise como produtoras de significados, como imersas em redesde poder e verdade, em discursos circulantes, atravs dos quais selegitimam determinadas representaes de crianas, de menino e demenina, de estudante, de professores e professoras, de trabalho docente,de alfabetismo, de determinados componentes curriculares e de educao(COSTA; SILVEIRA; SOMMER, 2003, p. 56).

    Outra vertente aquela que discute a questo das identidades e que apareceem trabalhos que problematizam a heterogeneidade e hibridao de algumasdelas, como as de gnero, de ndio, de surdo (COSTA; SILVEIRA; SOMMER,2003, p. 57), assim como identidades regionais (o gacho, indgenas amazni-cos, etc.), novas identidades (motobi (PROTAS, 2009), sem-terra (COSTA,2009), juventuderave (BORTOLAZZO, 2010) internautas, etc.)8. Nelas, atendncia que emerge, sem negligenciar a visibilizao de pedagogias culturais,so os confrontos entre local e global, entre discursos tradicionais e aqueles dacontemporaneidade miditica, questes centrais no panorama sociocultural daatualidade, imbricados diuturnamente nos desa os educacionais e no trabalhoeducativo.

    Nesse trabalho de Costa, Silveira e Sommer (2003) so ainda menciona-das a vertente mais centralmente voltada para as pedagogias culturais e outra para as articulaes dos Estudos Culturais com a escola. Tratarei delas a seguirneste texto.

    Como se pode constatar, mais recentemente, j so numerosos os estudosno Brasil (e no exterior tambm) que, inspirados nas teorizaes do que seconvencionou denominar de vertente ps-estruturalista, tm apontado para umaintensa proliferao de formas e intenes pedaggicas assim como de modosde ser sujeito e de identidades.

    Conforme j mencionei, um dos conceitos fecundos para se pensar aeducao nesses novos tempos perpassados pela condio ps-moderna temsido o de pedagogias culturais. Embora seja um termo tautolgico se tomado

    8 Uma expressiva produo relativa a tais focos de pesquisa pode ser localizada em tesese dissertaes dos programas de Ps-Graduao em Educao da Universidade Federal do RioGrande do Sul (UFRGS), Brasil e da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA).

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    fora do mbito das anlises culturais contemporneas uma vez que seriadifcil pensar-se em alguma pedagogia que no seja produzida pela cultura,sendo, portanto,culturais todas as pedagogias o conceito tem sido til para

    referirmo-nos quelas prticas culturais extraescolares que participam de formaincisiva na constituio de sujeitos. Utilizado por autores que vm se dedicando investigao da produtividade da cultura ps-moderna predominantementemiditica, a expresso empregada, por exemplo, nas anlises j mencionadasde Giroux (1999), Steinberg e Kincheloe (2001, p. 14), que de nem comoreas pedaggicas aqueles lugares onde o poder organizado e difundido,incluindo-se bibliotecas, TV, cinemas, jornais, revistas, brinquedos, propagandas,videogames, livros, esportes, etc., como tambm em estudos desenvolvidos noBrasil por Costa (2009, 2002) e outros autores do campo dos Estudos Culturais.

    Nesse panorama de transformao nas concepes de educao, poltica,cultura e pedagogia, os Estudos Culturais tm se apresentado como um campofecundo de anlise da produtividade das pedagogias culturais na constituiode sujeitos, na composio de identidades, na disseminao de prticas e con-dutas, en m, no delineamento de formas de ser e viver na contemporaneidade.Parte signi cativa das organizaes que hoje educam crianas e jovens (eadultos tambm) no so educacionais, e sim comerciais. O currculo culturalque colocam em operao no est preocupado com a melhoria da sociedade,com o aprimoramento de suas prticas e instituies e com o bem comum; as

    corporaes empresariais de hoje esto interessadas na convocao, formaoe enredamento de sujeitos em suas teias de mercantilizao e consumo9. Colo-cam em operao estratgias que acionam seduo, fascnio e prazer, visandoampliar seus ganhos individuais e seu poder nas economias globalizadas donovo capitalismo. As professoras do admirvel mundo do novo capitalismo,tal como nomeado por Sennet (2006), so as grandes corporaes empresariaise seus so sticados complexos que combinammarketing e mdia em frmulasinescapveis de enredamento. Como argumentam Steinberg e Kincheloe (2001, p. 15), A pedagogia cultural corporativa fez seu dever de casa produziuformas educacionais de um incontrolvel sucesso quando julgadas com base emseu intento capitalista.. Acionando fantasia e desejo, criou-se uma perspectivacultural que mescla ideologias de negcios e valores de livre mercado (STEIN-BERG; KINCHELOE, 2001, p.15). Tal movimentao transformou tambma cultura em recurso (YDICE, 2004), e a escola no escapou disso. Costa e

    9 Entende-se aqui o consumo em concepes atualizadas. Harvey (1993) fala de uma novaconcepo que surge com o declnio do fordismo e a emergncia da acumulao exvel. Jameson(1996) considera o consumo uma dominante cultural e Bauman situa-o com referncia sociedadede consumidores. Todas aludem a algo distinto do consumo da sociedade de produtores. Ver a esserespeito Bauman (1999, 2008) e Costa (2009a).

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    Momo (2009) abordam esse fenmeno contemporneo no artigo intitulado Aconvenincia da escola.

    O trabalho de pesquisa em que tenho me concentrado nos ltimos anos

    (COSTA 2004, 2007) investiga a entrada e a presena da cultura ps-modernana escola, assim como sua produtividade na constituio de sujeitos e na con-formao das prticas pedaggicas. Nessas pesquisas delineia-se a presena damdia, especialmente da televiso, em uma dimenso assustadora. Os artefatos postos em circulao em suas redes, e seus efeitos em termos de proliferao de preferncias, desejos, estilos, modos de ser, condutas inteiramente surpreen-dente e superou todas as minhas suposies anteriores. Telenovelas, desenhosanimados, seriados, lmes infantis e infanto-juvenis, shows evideoclips, peas publicitrias e produtos de todo o tipo dirigidos s crianas e jovens, compem

    o conjunto aparentemente mais poderoso desse arsenal. Mas tambmoutdoors,celulares, DVDs, jogos eletrnicos, teles digitais fazem a sua parte no imensoaparatotechno de comunicao e entretenimento, impregnado de discursos, prticas e tticas de convocar sujeitos. A cultura midiatizada opera dispositivos poderosos com profundas repercusses na recon gurao de todas as instnciase dimenses da condio humana nas sociedades contemporneas. Crianas e jovens escolares forjam as experincias que vo dar rumo a suas vidas no inte-rior de uma nova ordem, de nida principalmente em termos de uma economialiberta de embaraos polticos, ticos e culturais.

    no panorama cultural e terico cujos traados procurei brevementeesboar at aqui, e no mbito das pesquisas recm mencionadas, que se desen-volveram os estudos que pretendo apresentar como uma contribuio para se pensar a educao bsica, os currculos e os sujeitos escolares desses tempose, em consequncia, para se pensar a formao de professores. Entendo que asanlises realizadas mostram um pouco desse conjunto da experincia contempo-rnea, crescentemente marcada pela instantaneidade, volatilidade, efemeridadee descartabilidade, tpicas da vida cotidiana comum dos consumidores ps-modernos crianas, jovens e adultos.

    O que observo que ao focalizar o interior da escola fui recorrentementelevada a olhar para fora dela, para a cultura e suas operaes de controle social,de governo das subjetividades em sua re nada verso de uma governamenta-lidade neoliberal.

    As tecnologias da comunicao e da informao vm contribuindo paraa proliferao, ampla circulao e consumo de textos culturais populares, queexercem um enorme fascnio sobre as pessoas. Na promoo desse fascnioesto implicados desejos, sonhos, seduo, modelos a serem imitados, apti-des a serem adquiridas. Sobretudo, como mostram os estudos e re exes deautores como Bauman (2007), Garcia-Canclini (2006), Beatriz Sarlo (1997) e

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    tantos outros, nas sociedades ps-modernas as pessoas so vistas primariamentecomo consumidoras, e grande parte das aes de governamentalidade estohoje voltadas para orientar o desejo, no na forma estrita de regulao, mas de

    incentivo fantasia, ao gosto, autoexpresso. E j no se trata de consumir emuma acepo usual da palavra, so novas formas de consumo que poderiam sermais bem descritas como comprismo, desejo de adquirir de tudo imagensde si, sonhos, objetos para em seguida descartar e substituir. Bauman (2008)trata, inclusive, da transformao das pessoas em mercadoria.

    Parece que a dinmica das sociedades orientadas para o consumo vem produzindo uma transformao disseminada, que ocorre na cultura que nos en-volve e tambm em nossa interioridade. As crianas e jovens que circulam nasescolas de hoje so sujeitos forjados no interior dessa cultura do consumismo,

    do descarte, da espetacularizao das mdias. Quando esses jovens seres chegam escola j esto inteiramente capturados pelas malhas do consumo. De acordocom Costa (2009, p. 77-78):

    O alfabetismo dirigido ao consumo inicia-se j em casa, em frente televiso e nos teclados dos computadores. O marketing televisivo comeaa operar suas pedagogias de seduo e deleite para formar clientes quandoestes ainda usam fraldas. Por sua vez, e a seu tempo, fantsticas e solitriasviagens virtuais levam as crianas ainda pequenas a passear por verdadeirosimprios mercantis, onde operaes financeiras so trivializadas econvertidas em passes de mgica: desejou, comprou! Antes das crianasentrarem na escola, as corporaes empresarias j zeram seu trabalho. sescolas parece caber apenas administrar estes eus transbordantes de desejossupr uos, inebriantes, descartveis e in nitamente renovveis. Mais doque uma difcil tarefa, eis um novo e imenso desa o que se apresenta s professoras e aos professores destes tempos enfrentar o consumismo eeducar o consumidor-cidado .

    Forjando os sujeitos que vo escola

    Passo ento a expor e comentar algumas pesquisas que analisam aquilo que,l dentro da escola, nos aponta para fora dela. Todas estas anlises delinearam-se

    no mbito das pesquisas j mencionadas sobre a entrada da cultura ps-modernana escola (COSTA, 2004, 2007).

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    H uma infncia ps-moderna na escola

    Tomando a infncia como uma construo cultural, social e histrica sujeitaa mudanas, e considerando as condies contemporneas marcadas pela cultura ps-moderna, o estudo de Momo (2007) pretende mostrar que, com implicaescontundentes da mdia e do consumo, con gura-se hoje uma infncia que colocasob tenso as imagens convencionais e modernas de infncia com que muitos professores persistem trabalhando. Um dos objetivos foi dar visibilidade scrianas pobres que frequentam algumas escolas no municpio de Porto Alegrenesse incio do sculo XXI, e realizar uma das leituras possveis de como ossujeitos infantis das escolas estudadas vivem a infncia sob as condies cul-turais ps-modernas. O estudo mostra, como novos modos de ser criana e deviver a infncia, so engendrados e governam a vida das crianas pobres dasescolas estudadas; todas elas crianas produzidas, formatadas, fabricadas pelacultura da mdia e do consumo.

    Ocorpus de anlise montado para viabilizar as conexes entre as crianasdas escolas e a cultura ps-moderna incluiu artefatos que integram a culturacirculante da mdia e do consumo, como reportagens, comunicaes publicit-rias, imagens de crianas, diferentes produtos direcionados infncia, etc. Uminventrio de artefatos e prticas evidentes nas escolas foi realizado medianteregistros fotogr cos, anotaes em dirio de campo, conversas com crianase professoras, bem como foram coletados desenhos e textos produzidos em salade aula. O conjunto dos materiais coletados dentro e fora das escolas ajudou aautora a compor e a expor um panorama das condies culturais ps-modernas,e contribuiu para o objetivo de mostrar uma infncia ps-moderna que vai escola hoje.

    Nos resultados do estudo cou evidente a consonncia entre as formascomo essas crianas pobres vivem a infncia e constituem-se como alunos e ascon guraes culturais do mundo contemporneo. Visibilidade, efemeridade,ambivalncia, fugacidade, descartabilidade, individualismo, super cialidade,instabilidade, fazem parte de suas vidas. Observou-se crianas que buscaminfatigavelmente a fruio e o prazer e, nessa busca, aparecem borradas asfronteiras de classe, gnero e gerao. H um modo de ser criana, incansavel-mente desejoso por inscrever-se na cultura globalmente reconhecida e integraruma comunidade de consumidores de artefatos em voga na mdia do momento.Observou-se a espetacularizao dos corpos infantis de modo a harmoniz-loscom o mundo das visibilidades, caracterizado por constantes e ininterruptas

    mutaes. So crianas que vo se tornando o que so, vivendo sob a condio ps-moderna (MOMO; COSTA, 2009).

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    Os resultados sublinharam as ambivalncias desse artefato, que ao mesmotempo em que possibilita s crianas a criao de um mundo independente e particular, expe-nas a constantes controles e vigilncia. Esses, no entanto,

    sujeitos a frequentes burlas mediante divertidas e inconsequentes estratgiasde, simultaneamente, escapar e expor-se ao olhar dos adultos. Por uma outraface, a posse desse artefato pode signi car tanto o pertencimento a uma comu-nidade, como, paradoxalmente, uma exacerbao da individualidade. Contudo,isolando ou enturmando, o estudo apontou para uma mudana nas relaesinterpessoais, onde a presena material, fsica, os contatos face a face ou pele a pele parecem ser to efetivos quanto a presena virtual ou a tele-presena. Ainvestigao tambm indicou que as interaes mediadas pelo uso do telefonecelular comeam a repercutir na linguagem oral e escrita das crianas, aparente-

    mente inibindo a oralidade por um lado, mas por outro criando e disseminandonovos cdigos para a linguagem escrita. De fato observa-se a composio deum universo alheio e prova de adultos, bem como de outros aliengenas nessenovo universo de prticas e signi cados.

    Born (2006) levanta a hiptese de que o uso do celular no estaria so-mente modi cando as relaes pessoais, como tambm interfere diretamente nocurrculo escolar. As novas linguagens e cdigos de escrita, alm de alteraremas habilidades das crianas, causam um certo desconforto entre as professoras,que perdem pontos de contato com as crianas. O celular um artefato que

    repercute no apenas em questes disciplinares e de comunicao, mas aponta para a necessidade de ingerncias na seleo de contedos curriculares e nas prticas pedaggicas de sala de aula.

    Aprende-se a consumir comTrs Espis Demais

    Dentre os inumerveis programas assistidos por crianas das sriesiniciais, uma professora pesquisadora identi cou a preferncia pela srie dedesenho animadoTrs Espis Demaise elegeu-a para objeto de estudo. Oobjetivo foi re etir a partir das narrativas apresentadas em dezesseis episdiosda srie, quais representaes de jovens meninas eram colocadas em destaque,quais atitudes eram narradas como naturais e normais. A pesquisa de Igncio(2007) procurou chamar a ateno para a forma como esse desenho animadocompe as identidades de jovens meninas contemporneas, apresentando-ascomo inteiramente capturadas pela cultura do consumo. O eixo da anlise foi oconsumo um conceito que durante a assistncia e decupagem dos episdios

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    comeou a esboar-se para a pesquisadora como chave, como central, para poder discutir, problematizar e mostrar a produtividade do artefato culturalexaminado no governo da conduta das crianas, especialmente de algumas

    jovens meninas que vo escola hoje. Os resultados apontaram para um jeitoque se distingue, e muito, daqueles dos sculos XIX e XX. Moda, consumo enamorados descartveis apresentam-se como temas preferenciais no dia a diadas jovens meninas contemporneas expostas no desenho.

    O estudo evidenciou, tambm, o desenho animado operando uma peda-gogia que ensina s jovens meninas os meandros e estratgias do consumismo.Os resultados mostraram as narrativas dos episdios construdas sobre umarepresentao de tempo e espao ps-modernos voltil, alucinante em queas meninas espis apresentam-se compulsivamente voltadas ao consumo de

    objetos de aparncias e de relacionamentos.A obsesso pelo corpo perfeito, as estratgias para conquista de status social e o imperativo de ter ao lado um jovem estonteantemente belo, fazem deseu dia a dia um constante desejar e descartar objetos da moda em evidncia nasociedade do espetculo. Numa estratgia discursiva que ao mesmo tempo emque exorta parece tambm caricaturizar e colocar sob crtica a super cialidade ea banalidade de suas escolhas, aes e condutas, o desenho apresenta as missesde carter coletivo-mundial, a serem levadas efeito pelas meninas, niveladascom as de carter individual-grupal.

    O que chama a ateno que, em meio ludicidade e ao prazer do en-tretenimento, as narrativas do desenho animadoTrs espis demais invadem avida de crianas e jovens, convocando-os a compartilhar signi cados sobre omundo do consumo, exposto em prticas que os enquadram e acomodam naslgicas das sociedades orientadas pelo e para o mercado.

    O complexo Rebelde enredando sujeitos nas teias do consumo

    Em direo semelhante quela da pesquisa de Igncio (2007), o estudorelizado por Flor (2007) dedica-se anlise dos circuitos e teias do que o autordenominou Complexo Rebelde, um conglomerado de entretenimento que acionauma imensa rede de produtos que exercem imenso fascnio sobre crianas e jovens. Operando com as metforas de circuitos e teias, o pesquisador mostracomo opera o Complexo na convocao para o consumo. De uma novela deteleviso Rebelde , na qual nasce uma banda que circula permanentementeentre a co do folhetim e os shows ao vivo lotados de fs, emerge a energia

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    aparato de tecnologias psi, presente nas estratgias mercantis do Complexo, levaas meninas a investirem em cuidados de si, engajando-se nas tecnologias dasubjetividade a que se referem muitos dos autores contemporneos dedicados

    ao estudo dos processos de subjetivao. OComplexo W.I.T.C.H. ensina as jo-vens garotas a interessarem-se por questes relacionadas beleza, autoestimae ao amor, bem como a exercitarem-se em prticas nessa mesma direo. Elasaprendem tticas para vestir-se de acordo com padres propostos peloCom- plexo e, sobretudo, de acordo com os gostos dos meninos. Ocomplexo ensinaas meninas a lidarem com seus sentimentos, emoes, situaes cotidianas quecircundam a famlia, a escola, os amigos e os amores. Tudo isso a partir dasfrmulas mgicas, dos testes, das matrias propostas nas revistas, bem comoatravs das lies, ensinamentos e recomendaes expressos nos Livros Secretos.

    Cada uma das jovens garotas acaba aprendendo e agindo sobre si mesma deuma certa forma, pois recebem e interpretam essas lies de modos diferentes,conforme a pesquisadora pode perceber em diferentes momentos e conversasque manteve com suas interlocutoras. Implcita e explicitamente, porm, oComplexo convoca o tempo todo as jovens garotas para o consumo.

    Anlises culturais e formao de professores

    O sempre crescente nmero de anlises do que Camozzatto (2010) deno-mina de pedagogias do presente essas novas formas de dirigir as condutasque se esboam em meio s tramas das imagens e do consumo j con guraum substantivo arcabouo terico disponvel para se repensar a formaode professores para as sociedades do sculo XXI. Ainda outros objetos deestudo podem ser acrescentados queles que compem a amostra eletiva queaqui apresentei. A tese de Tomazzoni dos Santos (2009) surpreende-nos ao

    mostrar as lies de dana levadas a efeito pela mdia como um dispositivo pedaggico acionado na formao de sujeitos. O autor identi ca e demonstraem operao dez lies que se esboam para con gurar sujeitos danantes em polticas de gesto da vida. Administram-se sujeitos, promovendo o gerencia-mento de singularidades e a potencializao de novos modos de ser e estar nomundo. Outra aproximao instigante do campo educacional veri ca-se emtese que estuda os discursos sobre educao nas revistasVeja, poca e Isto(GERZSON, 2007).

    A autora considera a mdia como dispositivo da governamentalidadeneoliberal na medida em que faz proposies para as sociedades contempor-

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    neas, sugerindo concepes e prticas de educao favorveis manutenodas polticas neoliberais. Nos textos das revistas, as expectativas atribudas educao atendem s demandas de preparar os estudantes para a produtividade

    mxima no mercado de trabalho. A educao encarregada de cumprir comsua parte para o desenvolvimento, tendo como base o sucesso dos sujeitos.Por sua vez, um estudo sobre animes japoneses (MARCON, 2010), entre outrosachados, aborda a produtividade dessa manifestao da cultura pop na consti-tuio de certo tipo de estudantes dedicados e estudiosos que despontam nassalas de aula. E ainda outro estudo, que interessa particularmente formaode professores, trata das representaes de escola em um conjunto de quatrolmes de animao que trazem cenas escolares em suas tramas (ORTIZ, 2008)e ensinam como a escola funciona. Os resultados desta pesquisa indicaram que

    as aulas das escolas dos lmes de animao so enfadonhas, desquali candosua funo na cultura e na vida das crianas. A escola representada como umainstituio que no atende s necessidades dos alunos, no propicia divertimento, prazer e interesse. Os lmes analisados ensinam ainda que as crianas devemir para a escola, no para aprender alguma coisa com os professores, mas pararelacionar-se com os colegas.

    Como se pode constatar, o campo da Formao de Professores est desa-ado por um considervel conjunto de estudos atuais, que ajudam a desenharos novos contornos da vida nas sociedades de hoje e oferecem contribuies

    substantivas e consistentes para se pensar a educao sob novos ngulos e perspectivas, para alm dos limites exclusivamente escolares.Conforme tenho argumentado, antes de ingressar na escola, as pedagogias

    do presente, forjadas na condio ps-moderna, j se encarregaram do alfabetis-mo requerido para que as crianas dominem a gramtica cultural do nosso tempo.Elas chegam escola fascinadas por imagens, espetculo e consumo, j fami-liarizadas com o ritmo vertiginoso dos acontecimentos e com a curta durao,volatilidade e descartabilidade dos objetos, das experincias, dos desejos, dossentimentos. Pautam suas vidas pela urgncia, rapidez e imediatismo (comidasinstantneas, conexo com o mundo num clicar de teclado, novas roupas, afetose estilos a qualquer momento), e reinventam seus eus inspiradas em repertriosidentitrios in nitamente renovados. So essas crianas nascidas no sculo XXIque frequentam nossas salas de aula. Sabemos quem elas so? Como se tornaramo que so? O que elas precisam aprender que ainda no sabem? Como se educaquando difcil vislumbrar uma direo desejvel?

    Como a rma Ramos do (apud RAMOS do ; COSTA, 2007, p. 110),hoje convivemos e somos capazes de compreender as ambivalncias, ambigui-dades e contradies que perpassam os diversos domnios da vida poltica, sociale econmica, e isso marca nossas vidas e nossa identidade. Contudo, segundo

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    ele, embora a escola j tenha mudado, ainda parece haver um desencontro, umavez que a escola parece re etir pouco sobre as mudanas em curso hoje:

    [...] ela continua a funcionar a partir de idias claras e distintas sobre o que certo e errado. A noo de fronteira, tendo em vista o estabelecimentode nitivo da verdade, est na base da escola que todos conhecemos. Omodelo de educao que ns temos est mais perto do sculo XIX do quedo sculo atual. E os alunos que ns temos, evidentemente, so mais dosculo XXI do que do sculo XIX.

    Os diversos estudos que procurei aqui apresentar brevemente sugerem seruma tarefa rdua essa de pensar em uma escola para sociedades to complexas e plurifacetadas, em um tempo em que tudo lquido, voltil e efmero, conformenos ensina Bauman (2007). Nossa experincia do espao e do tempo encontra-sealterada, e isso con gura uma condio crtica para uma instituio inventada para ajudar a edi car o mundo da ordem, da longa durao, das coisas certas, dasideias claras e distintas. Algumas discusses atuais tem cobrado da escola umamaior abertura aos modos de ser contemporneos, s novas formas de vida. E sea escola ainda se mantm quase impermevel s mudanas, isso talvez possa ser

    atribudo em grande proporo s lacunas na formao de professores, que temencontrado empecilhos para articular-se dentro desse esprito dos novos tempos,e dar conta, dentre outros imperativos, do que Williams (1961, 1969) e outrosdenominam de mudanas na estrutura do sentimento. Talvez, como argumentaRamos do (apud RAMOS do ; COSTA, 2007, p. 112), os professores pu-dessem deixar de ser mensageiros da verdade, e dedicarem-se, junto com seusalunos, construo de representaes do mundo, a partir das interminveisapreenses, interpretaes, reinvenes possveis. As linguagens aportadas hoje pelas novas tecnologias viabilizam, segundo esse estudioso da escola, complexos

    jogos de identidade, sendo a identidade pessoal uma construo inacabada e o euum projeto marcado por mltiplas trajetrias (RAMOS do ,apud RAMOS do; COSTA, 2007, p.114). E de acordo com Costa (apud RAMOS do ; COSTA,2007, p. 114), as novas tecnologias, com todo o aparato discursivo que comportam,so uma espcie de produtoras da subjetividade. De novos jeitos de ser sujeito. Novas formas de viver, novas formas de ser pessoa humana.

    Encaminho-me para o nal desse texto, invocando mais uma vez o acimamencionado dilogo entre Ramos do e Costa (2007, p. 115), em que o autora rma:

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    O modelo escolar que comea no nal do sculo XIX um modelo muito baseado no princpio da homogeneidade. Embora se fale muito na diferenada criana, que cada criana uma criana, voc tem todo um currculoescolar que est desenhado para a construo de grupos de alunos muitoidnticos. O professor se acostumou a dirigir-se ao que ele pensa ser oaluno mdio. Portanto, voc tem por um lado uma forte presso sobreas crianas para se normalizarem e, por outro lado, princpios de forteestigmatizao. E essa estigmatizao to importante porque ela leva o princpio da normalizao e atinge reas muito diferentes. Voc podeter muito valor no plano da sua inteligncia, mas se no for bonito ouautocontrolado no ter sucesso. Ns estamos a construir, em nome dessahomogeneidade de que ningum fala, crianas com muito sofrimento euma fortssima vigilncia face a um padro normal.

    Finalizando este artigo, declaro que ao me dedicar sua composio, pretendi, sobretudo, apontar para alguns estudos que analisam e discutem va-riadas faces da vida e distintas formas de educar e educar-se nas sociedades dosculo XXI. Pensei, com isso, chamar a ateno para anlises culturais que, domeu ponto de vista, poderiam contribuir de forma signi cativa para aproximara Formao de Professores das questes centrais desses novos tempos com suasmltiplas, complexas, divergentes e sempre renovadas demandas.

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  • 8/13/2019 Art. Marisa Vorraber Costa - Sobre a contribuio das anlises culturais para a formao de professores no incio do sculo XXI

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