Arte Conceitual

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Apostila de Arte – Pro Fernanda Arte Contemporânea A Arte Contemporânea surge como um processo de renovação cultural a partir da Segunda Guerra Mundial, como uma resposta às transformações sociais, culturais, políticas e econômicas que sucederam esse grande e devastador momento da história da humanidade. Tem raízes culturais no Dadaísmo e nas obras de Marcel Duchamp e Rene Magritte. Ela se estende até a atualidade, trazendo consigo novos hábitos, diferentes concepções, a industrialização em massa, que imediatamente exerce profunda influência na pintura, nos movimentos literários, na esfera cinematográfica, e nas demais vertentes artísticas. Ela é construída não mais necessariamente com o novo e o original, como ocorria no Modernismo. Ela se caracteriza principalmente pela liberdade de atuação do artista, que não tem mais compromissos institucionais que o limitem, nem tem que se preocupar em imprimir nas suas obras um determinado cunho religioso ou político. Os artistas passam a questionar a própria linguagem artística, a Imagem em si, a qual subitamente dominou o dia-a-dia do mundo contemporâneo. Em uma atitude metalingüística, o criador se volta para a crítica de sua mesma obra e do material de que se vale para concebê-la, o arsenal imagético ao seu alcance. A partir da década de 1960 a arte se diversifica, vários conceitos coexistem, entre eles a Op Art, que opta por uma arte geométrica; a Pop Art, inspirada nos ídolos da época; o Expressionismo Abstrato; o Happening; a Arte Conceitual; o Minimalismo; Hiper-realismo; Video Art; Grafiti; a Body Art; a Internet Street e a Art Street, a arte que se desenvolve nas ruas, influenciada pelo grafit e pelo movimento hip-hop. É na esteira das intensas transformações vigentes neste período que a arte contemporânea se consolida. Ela realiza um mix de vários estilos, diversas escolas e técnicas. Os artistas nunca tiveram tanta liberdade criadora, tão variados recursos materiais em suas mãos. As possibilidades e os caminhos são múltiplos, as inquietações mais profundas, o que permite à Arte Contemporânea ampliar seu espectro de atuação, pois ela não trabalha apenas com objetos concretos, mas principalmente com conceitos e atitudes. Refletir sobre a arte é muito mais importante que a própria arte em si, que agora já não é o objetivo final, mas sim um instrumento para que se possa meditar, exprerimentar e refletir sobre os novos conteúdos impressos no nosso cotidiano pelas velozes transformações vivenciadas no mundo atual. Princípios da Arte Contemporânea “A Traição das Imagens”, 1929 - René Magritte A Traição das Imagens é uma das obras- primas surrealistas do pintor surrealista belga René Magritte. O quadro, pintado em 1929, faz parte de uma série, na qual a imagem realista é acompanhada pela inscrição “Ceci n'est pas une pipe” que em português significa “Isto não é um cachimbo”. “A Traição das Imagens” desafia a convenção linguística de identificar uma imagem de algo como a coisa em si. A princípio, o ponto de Magritte aparece simplista, quase ao ponto de uma provocação: "Uma pintura de um cachimbo não é um cachimbo". Na verdade, este trabalho é extremamente paradoxal. . René Magritte nega aquilo que estamos vendo. A uma primeira análise, o significado desta negação torna-se claro, pois aquilo que estamos vendo não é um cachimbo verdadeiro, mas sim a representação de um cachimbo. Magritte como que esvaziou de sentido aquilo que entendemos como sendo a palavra "cachimbo". Não podemos identificar a representação da coisa com aquilo que o objeto é, gerando-se, assim, um conflito de mensagens. Este quadro pode, portanto, tratar-se de um exemplo de paródia, na medida em que até à leitura da legenda, o espectador não tem dúvida que se trata de um cachimbo. A Arte do passado tinha a Beleza, a Harmonia e a Perfeição como objeto da sua preocupação, por isso o artista dedicava anos de sua vida ao desenvolvimento de técnicas precisas para representar fielmente a natureza e o mundo real. No entanto, por mais perfeita que essa cópia fosse, ela nunca será realmente, o objeto em si. E é essa grande “piada” a que Magrite se refere. Esse quadro encerra de vez a função da arte como mera mimetização da realidade, ou seja, uma cópia muito próxima da realidade, ou ainda, uma mentira/ilusão muito bem contada que nos engana os olhos. O artista não precisa mais ser um mentiroso virtuosista, capaz de recriar a realidade na superfície do quadro. A Arte agora passa a falar da própria arte e o artista pode se lançar a expressar novos conceitos e provocar novas reflexões no espectador.

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Apostila de Arte – Pro Fernanda

Arte Contemporânea

A Arte Contemporânea surge como um processo de renovação cultural a partir da Segunda Guerra Mundial, como uma resposta às transformações sociais, culturais, políticas e econômicas que sucederam esse grande e devastador momento da história da humanidade. Tem raízes culturais no Dadaísmo e nas obras de Marcel Duchamp e Rene Magritte.

Ela se estende até a atualidade, trazendo consigo novos hábitos, diferentes concepções, a industrialização em massa, que imediatamente exerce profunda influência na pintura, nos movimentos literários, na esfera cinematográfica, e nas demais vertentes artísticas.

Ela é construída não mais necessariamente com o novo e o original, como ocorria no Modernismo. Ela se caracteriza principalmente pela liberdade de atuação do artista, que não tem mais compromissos institucionais que o limitem, nem tem que se preocupar em imprimir nas suas obras um determinado cunho religioso ou político.

Os artistas passam a questionar a própria linguagem artística, a Imagem em si, a qual subitamente dominou o dia-a-dia do mundo contemporâneo. Em uma atitude metalingüística, o criador se volta para a crítica de sua mesma obra e do material de que se vale para concebê-la, o arsenal imagético ao seu alcance.

A partir da década de 1960 a arte se diversifica, vários conceitos coexistem, entre eles a Op Art, que opta por uma arte geométrica; a Pop Art, inspirada nos ídolos da época; o Expressionismo Abstrato; o Happening; a Arte Conceitual; o Minimalismo; Hiper-realismo; Video Art; Grafiti; a Body Art; a Internet Street e a Art Street, a arte que se desenvolve nas ruas, influenciada pelo grafit e pelo movimento hip-hop. É na esteira das intensas transformações vigentes neste período que a arte contemporânea se consolida. Ela realiza um mix de vários estilos, diversas escolas e técnicas.

Os artistas nunca tiveram tanta liberdade criadora, tão variados recursos materiais em suas mãos. As possibilidades e os caminhos são múltiplos, as inquietações mais profundas, o que permite à Arte Contemporânea ampliar seu espectro de atuação, pois ela não trabalha apenas com objetos concretos, mas principalmente com conceitos e atitudes. Refletir sobre a arte é muito mais importante que a própria arte em si, que agora já não é o objetivo final, mas sim um instrumento para que se possa meditar, exprerimentar e refletir sobre os novos conteúdos impressos no nosso cotidiano pelas velozes transformações vivenciadas no mundo atual.

Princípios da Arte Contemporânea

“A Traição das Imagens”, 1929 - René Magritte

A Traição das Imagens é uma das obras-primas surrealistas do pintor surrealista belga René Magritte. O quadro, pintado em 1929, faz parte de uma série, na qual a imagem realista é acompanhada pela inscrição “Ceci n'est pas une pipe” que em português significa “Isto não é um cachimbo”. “A Traição das Imagens” desafia a convenção linguística de identificar uma imagem de algo como a coisa em si. A princípio, o ponto de Magritte aparece simplista, quase ao ponto de uma provocação: "Uma pintura de um cachimbo não é um cachimbo". Na verdade, este trabalho é extremamente paradoxal. .

René Magritte nega aquilo que estamos vendo. A uma primeira análise, o significado desta negação torna-se claro, pois aquilo que estamos vendo não é um cachimbo verdadeiro, mas sim a representação de um cachimbo. Magritte como que esvaziou de sentido aquilo que entendemos como sendo a palavra "cachimbo". Não podemos identificar a representação da coisa com aquilo que o objeto é, gerando-se, assim, um conflito de mensagens. Este quadro pode, portanto, tratar-se de um exemplo de paródia, na medida em que até à leitura da legenda, o espectador não tem dúvida que se trata de um cachimbo.

A Arte do passado tinha a Beleza, a Harmonia e a Perfeição como objeto da sua preocupação, por isso o artista dedicava anos de sua vida ao desenvolvimento de técnicas precisas para representar fielmente a natureza e o mundo real. No entanto, por mais perfeita que essa cópia fosse, ela nunca será realmente, o objeto em si. E é essa grande “piada” a que Magrite se refere.

Esse quadro encerra de vez a função da arte como mera mimetização da realidade, ou seja, uma cópia muito próxima da realidade, ou ainda, uma mentira/ilusão muito bem contada que nos engana os olhos. O artista não precisa mais ser um mentiroso virtuosista, capaz de recriar a realidade na superfície do quadro. A Arte agora passa a falar da própria arte e o artista pode se lançar a expressar novos conceitos e provocar novas reflexões no espectador.

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Dadaísmo

O Dadá foi um movimento modernista que surgiu simultaneamente em diversos países, como EUA, França, Alemanha e Suíça, por volta de 1916.

O movimento é uma reação à Primeira Guerra Mundial por jovens artistas indignados perante a falência e a hipocrisia de valores estabelecidos pela sociedade.

Frente à falta de sentido em que a sociedade europeia e americana viviam, onde os valores morais da humanidade e as instituições familiares e políticas estavam falidas, eles resolveram criar uma arte que criticasse e questionasse a razão e a lógica vigentes, e toda essa falta de sentido da vida, da morte, da dor e da Guerra.

Os artistas dadaístas negavam a história, os grandes mestres da arte, e quebraram diversas tradições.

Eles também revolucionaram a Arte porque colocaram em cheque questões como "O que é e o que não é Arte", e o mais importante, "Quem é que pode determinar isso".

“A Fonte”, 1917 – Marcel Duchamp

Uma das invenções mais importantes dos dadaístas foram os ready-mades, criados por Marcel Duchamp. Ele utilizava objetos comuns, deslocava-os do seu contexto familiar e os apresentava como arte.

Uma de suas obras mais importantes chama-se "A Fonte", onde ele retira um urinol do seu contexto familiar (os banheiros), renomeia-o dando-lhe um novo sentido (fonte, como fonte de água, de vida ou de juventude), para distorcer ou destruir o seu sentido, e o recoloca em uma exposição para dar-lhe status de obra de arte.

Foi Duchamp que iniciou a tendencia da utilização de materiais inusitados na arte, quebrando assim com a regra tradicional de que uma obra de arte se resume a uma pintura, uma escultura, uma peça musical, e assim por diante. Ele utiliza em suas obras materiais como urinol, roda de bicicleta, ferro de passar roupa com pregos, secador de garrafas, dentre outros.

Arte Conceitual

Para a arte conceitual, vanguarda surgida na Europa e nos Estados Unidos no fim da década de 1960 e meados dos anos 1970, o conceito ou a atitude mental tem prioridade em relação à aparência da obra. O termo arte conceitual é usado pela primeira vez num texto de Henry Flynt, em 1961. Nesse texto, o artista defende que os conceitos são a matéria da arte e por isso ela estaria vinculada à linguagem.

O mais importante para a arte conceitual são as idéias, a execução da obra fica em segundo plano e tem pouca relevância. Além disso, caso o projeto venha a ser realizado, não há exigência de que a obra seja construída pelas mãos do artista. Ele pode muitas vezes delegar o trabalho físico a uma pessoa que tenha habilidade técnica específica. O que importa é a invenção da obra, o conceito, que é elaborado antes de sua materialização.

“Uma e Três Cadeiras”, 1965 – Joseph Kosuth

Devido à grande diversidade, muitas vezes com concepções contraditórias, não há um consenso que possa definir os limites do que pode ou não ser considerado como arte conceitual. A obra de arte conceitual, dispensando a feitura de objetos, seria uma proposição analítica, próxima de uma tautologia (redundância). Como, por exemplo, em Uma e Três Cadeiras (1965), ele apresenta o objeto cadeira, uma fotografia dela e uma definição do dicionário de cadeira impressa sobre papel.

Pode-se dizer que a arte conceitual é uma tentativa de revisão da noção de obra de arte arraigada na cultura ocidental. A arte deixa de ser primordialmente visual, feita para ser olhada, e passa a ser considerada como idéia e pensamento. Muitos trabalhos que usam a fotografia, xerox, filmes ou vídeo como documento de ações e processos, geralmente em recusa à noção tradicional de objeto de arte, são designados como arte conceitual. Além da crítica ao formalismo, artistas conceituais atacam ferozmente as instituições, o sistema de seleção de obras e o mercado de arte.