ARTE E EDUCAÇÃO: REPRESENTAÇÕES SIMBÓLICAS … · Na Europa ocidental, por sobre um substrato...

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Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012 1 ARTE E EDUCAÇÃO: REPRESENTAÇÕES SIMBÓLICAS ANTIJUDAICAS RUBIM, Sandra Regina Franchi (UEM) OLIVEIRA, Terezinha (UEM) Introdução Nosso objetivo, neste trabalho, é analisar a linguagem imagética como expressão da construção mental e social que fundamenta as práticas educativas e as identidades humanas. Consideramos que uma das razões da História da Educação é entender o processo educativo por meio das ações sociais. Por isso, destacamos que nossa abordagem da linguagem imagética, nessa pesquisa, situa-se nos campos da História Social e da História da Educação, os quais têm como uma de suas finalidades a compreensão das origens das instituições, dos conteúdos e dos pensamentos que permeiam a educação contemporânea. Com base em seus fundamentos, definimos nosso olhar para as imagens como possibilidade de nos aproximarmos da compreensão que os sujeitos têm ou tinham do seu tempo e espaço e das relações sociais que caracterizam suas vidas. Nossa escolha pela linguagem imagética se justifica por crermos na sua potencialidade de educar os homens e, em consequência, participar de forma considerável no processo de formação social. Acreditamos que cada momento histórico produz uma determinada forma de pensar, correlacionada à maneira como se constrói a existência do ser humano. Assim, o discurso imagético, tal como outras linguagens humanas, é construído nas relações sociais. Desse modo, podemos afirmar que, por meio das imagens, constroem-se discursos cujos sentidos difundem-se com uma intenção formativa para uma construção social (OLIVEIRA, 2008). Buscamos, dessa forma, captar como os sujeitos realizam ou realizaram suas ações, ou seja, como, em diferentes lugares e momentos, uma determinada realidade é construída, pensada, dada a ler, como são as suas práticas educativas e quais são os objetivos para o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade. Desse modo, poderemos

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Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012

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ARTE E EDUCAÇÃO: REPRESENTAÇÕES SIMBÓLICAS

ANTIJUDAICAS

RUBIM, Sandra Regina Franchi (UEM)

OLIVEIRA, Terezinha (UEM)

Introdução

Nosso objetivo, neste trabalho, é analisar a linguagem imagética como expressão

da construção mental e social que fundamenta as práticas educativas e as identidades

humanas. Consideramos que uma das razões da História da Educação é entender o

processo educativo por meio das ações sociais. Por isso, destacamos que nossa

abordagem da linguagem imagética, nessa pesquisa, situa-se nos campos da História

Social e da História da Educação, os quais têm como uma de suas finalidades a

compreensão das origens das instituições, dos conteúdos e dos pensamentos que

permeiam a educação contemporânea. Com base em seus fundamentos, definimos nosso

olhar para as imagens como possibilidade de nos aproximarmos da compreensão que os

sujeitos têm ou tinham do seu tempo e espaço e das relações sociais que caracterizam

suas vidas. Nossa escolha pela linguagem imagética se justifica por crermos na sua

potencialidade de educar os homens e, em consequência, participar de forma

considerável no processo de formação social. Acreditamos que cada momento histórico

produz uma determinada forma de pensar, correlacionada à maneira como se constrói a

existência do ser humano. Assim, o discurso imagético, tal como outras linguagens

humanas, é construído nas relações sociais. Desse modo, podemos afirmar que, por

meio das imagens, constroem-se discursos cujos sentidos difundem-se com uma

intenção formativa para uma construção social (OLIVEIRA, 2008).

Buscamos, dessa forma, captar como os sujeitos realizam ou realizaram suas

ações, ou seja, como, em diferentes lugares e momentos, uma determinada realidade é

construída, pensada, dada a ler, como são as suas práticas educativas e quais são os

objetivos para o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade. Desse modo, poderemos

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retomar lições que nos ensinem a ser, antes de tudo, pessoas envolvidas com as questões

do nosso presente, com o bem viver coletivo. Pretendemos apresentar a linguagem

imagética em correlação com as construções sociais e educacionais, de forma a instigar

leitores e leitoras a refletir sobre a importância do tema para a atualidade, uma vez que

“[...] uma ciência nos parecerá sempre ter algo de incompleto se não nos ajudar, cedo ou

tarde a viver melhor” (BLOCH, 2001, p. 45).

Observamos que a imagem tem em si a probabilidade de transmitir a construção

de uma interpretação de certo acontecimento e, concomitantemente, a projeção de uma

intencionalidade daquele que faz o discurso. Podemos indicar que, em toda linguagem

há uma intenção de ensinar ou de aprender (OLIVEIRA, 2008).

Com foco nas manifestações artísticas como estruturas simbólicas, pretendemos,

então, investigar, ao longo da tese de Doutorado, o discurso eclesiástico e laico presente

na representação coletiva do antijudaísmo, nas esferas econômica, religiosa e

comportamental, durante a segunda fase da História da Inquisição na Espanha, no

período em que se delineava o processo social de mudança entre o medievo e a

modernidade.

Consideramos aqui, a reflexão de Cassirer (1994) sobre a linguagem simbólica.

Para ele o símbolo faz parte do mundo humano e se transforma de via de acesso do

mundo real para o mundo do pensamento. O homem não vive mais em um universo

meramente físico de fatos concretos, mas se percebe no meio de suas emoções

imaginárias, suas ilusões, fantasias e sonhos. O homem se cercou de formas linguísticas,

imagens artísticas, símbolos míticos, e não pode mais ver algo, exceto por intervenção

do meio artificial, do símbolo. Assim, selecionaremos do universo simbólico da

Espanha Moderna, algumas imagens de representação social dos judeus, impulsionadas

pela Igreja e pelo Estado Monárquico.

Nesses termos, entendendo as expressões artísticas como transposição das

necessidades e das aspirações dessa época, interessa-nos perceber a função educativa

que perpassa a veiculação dessas imagens e a possibilidade da construção de uma

representação social inferiorizada dos judeus, inimigos da Cristandade.

Destacamos, pois, nesse sentido, que o diálogo entre as fontes, a visual e a

escrita, será baseado, principalmente, na proposta de Panofsky (1979), em Significado

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nas artes visuais, Francastel (1993), em A Realidade Figurativa e na de Hegel (1996),

em Curso de estética: o belo na arte. Verificamos que, ao nos referirmos às imagens,

uma diversidade de possibilidades abre-se à nossa frente e, para compreendê-las, é

pertinente buscar uma formação adequada, já que, segundo esses teóricos, as imagens,

como uma das formas de expressão do homem, não podem ser desvinculadas do seu

contexto histórico e social.

Face ao exposto, afirmamos que nosso caminho consiste em um diálogo entre

fontes escritas e iconográficas, com base em uma abordagem social e cultural do tempo

histórico investigado e na relação entre cultura e sociedade. Dito de outro modo, é

importante considerar a relação das atitudes, valores e suas expressões ou manifestações

em textos, artefatos e imagens com as estruturas econômica, social e política, as quais

são identificadas como padrão das relações sociais características de um determinado

lugar e momento. É válido ressaltar a necessidade de se considerar a pluralidade e a

diversidade das ações humanas desse período, situando-as em um contexto mais amplo,

ou seja, nos campos social, simbólico e cultural1.

Por acreditar que o conceito de imagem como representação abarca uma série de

pressupostos e possibilidades, pretendemos também analisar a imagem como evidência

histórica do período de consolidação do pensamento antijudaico e do Estado Moderno

Absolutista Espanhol, o que nos auxiliaria a compreender as transformações que

ocorreram nesse momento. Nessa perspectiva, trabalharemos com a análise e

interpretação de imagens de representações antijudaicas, veiculadas no século XVI, em

um momento de consolidação do poder real dos Estados nacionais, no período moderno,

no qual se iniciou a segunda fase da história da Inquisição.

Temos, assim, como finalidade geral, nesta comunicação, abalizar a necessidade

de a Educação adentrar no campo das imagens. A maneira pela qual a arte se direciona

para a sensibilidade oportuniza a materialização das experiências reais, permitindo,

1 As estruturas do mundo social produzidas historicamente pelas práticas articuladas (políticas, econômicas, sociais, discursivas). Valemo-nos da definição de Chartier (2002), que, ao propor um conceito de cultura como prática social, buscou o pensamento de Geertz: “[...] o conceito de cultura [...] denota um padrão, transmitido historicamente, de significados corporizados em símbolos, um sistema de concepções herdadas, expressas em forma simbólicas, por meio dais quais os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem o seu conhecimento e as atitudes perante a vida” (GEERTZ, 1973 apud CHARTIER, 2002, p. 67). A cultura compartilhada possibilita a sociabilidade nos agrupamentos humanos e oferece inteligibilidade aos comportamentos sociais.

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então, a abertura da sensibilidade para os fatos exteriores ao indivíduo. Nessas

condições, acreditamos que ler imagens possibilita a educação do indivíduo como

pessoa sensível.

Postulamos, enfim, que a contribuição das humanidades, não somente a da

Educação ou da História, mas também a da literatura, da poesia, das artes, é

indispensável para o processo de educação e humanização do homem.

Arte e Educação enquanto possibilidade de educação do homem: representações

simbólicas antijudaicas na Espanha Inquisicional

De acordo com Duby (1982) até o século XI havia apenas dois segmentos

sociais, ou seja, a sociedade bipartite: a dos que rezam e dos demais homens (povo). A

Igreja governava os homens soberanamente, pois, esses, enquanto, a Igreja respondia às

ações e relações humanas, a aceitavam como governante. Segundo Oliveira (2005), a

Igreja Católica, do início do século VI até meados do século XI, era a única instituição

capaz de governar a sociedade, pois, trazia em seu bojo o conhecimento do mundo

antigo e a essência do Cristianismo, nova doutrina que despontava. Até então, essas

duas condições legitimaram o governo da Igreja. Nesse contexto, a Igreja Católica foi

consolidando seu poder por meio da universalidade ritual, buscando unir as diversidades

religiosas locais sob seu jugo. Na Europa ocidental, por sobre um substrato de bases

pagãs, o produto da unidade ritual foi a solidificação da hegemonia do papado, ao qual

se submeteram os cleros locais. Este momento, palco de inúmeras tensões em razão das

invasões normandas, majiares e árabes, havia uma necessidade política, de alicerçar

uma civilização europeia encurralada contra o Atlântico2. Importa, pois, destacar aqui,

que entre os séculos V e IX, os judeus viveram em paz na Europa ocidental. O Papa

Gregório I (590-604) adotou uma política de respeito ao não deixar atacar as sinagogas,

além de interpretar a morte de Cristo como uma culpa universal, antecipando-se ao

Concílio de Trento. Seguindo essa interpretação, o Império Franco de Carlos Magno e

Luiz, o Piedoso, mantiveram um posicionamento de tolerância em relação aos judeus.

2 Nesse momento, devido à expansão da civilização árabe e do islamismo, os reinos católicos estavam reduzidos a um pequeno espaço, sem condições de expansão.

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A partir do século XI, todavia, percebemos a delineação de um momento novo

na vida dos homens, um momento de consolidação do mundo feudal. Assistimos, então,

um processo de mudança significativa nas instituições medievais e nas relações sociais

como um todo. Surgem diferentes forças sociais capazes de responder pela sociedade:

os senhores feudais (século XI); as cidades e o comércio (séculos XII e XIII) e as

Universidades (século XIII). Segundo Le Goff (2007) a partir do século XII o mundo

medieval torna-se essencialmente urbano. É aí que aconteceram as principais misturas

de pessoas, que se firmaram novas instituições, que surgiram novos centros econômicos

e intelectuais. É no ambiente citadino que se dá o êxito da renovação do comércio e da

promoção dos mercadores; o êxito do saber, culminando no nascimento das

universidades, onde se elabora um novo saber, a escolástica. Também, nesse contexto,

surgem os frades das ordens mendicantes. Assim, esse ambiente singular, possibilita aos

homens um olhar distinto sobre suas vidas e relações.

Verifica-se, portanto, que o fortalecimento dos senhores feudais, representou

uma ameaça ao domínio clerical, pois, esses, gradativamente, passam a ter uma

expressiva influência na vida dos homens. Surge, assim, a possibilidade do poder

eclesiástico ser dividido com esse novo segmento social. Nesse cenário, à medida que,

os novos segmentos sociais se apresentam como capazes de governar a sociedade, o

poder da Igreja, como único, é alvo de indagações.

De acordo com Oliveira (2002), nesse contexto, entram em cena, as obras de

Santo Anselmo, expressando a luta da Igreja pela conservação do seu poder. A ele,

como um teórico da Igreja, é delegada a missão de provar a existência de Deus por meio

de argumentos racionais. Em seu texto Monológio considera a religião e as questões

humanas, sob a perspectiva da razão. Para ele, existe sempre uma razão que leva a algo,

portanto, divina, mas, há outro lado, isto é, a possibilidade dos homens alterarem a sua

realidade. Os homens percebem que a razão pode encaminhá-los para esse momento, de

surgimento de novas relações sociais e ressurgimento do comércio e das cidades. Santo

Anselmo reconhece a importância dessa força, por isso, a Igreja deve rever suas

formulações, pois, esta necessita identificar-se com as novas relações que estão sendo

formadas. Verifica-se uma nova configuração das relações sociais. Distinguir papéis na

sociedade torna-se importante. O desenvolvimento das estruturas sociais foi fundante

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para se esboçar uma multiplicidade de estilos de vida, instituições e ordens, umas de

caráter tendendo mais para o religioso e outras mais para o laico, durante o século XII.

A cidade criou, enfim, uma nova sociedade. É nesse contexto que será forjado um

cabedal teórico, artístico e prático considerável, os quais seriam apropriados por antigos

e novos personagens sociais. O homem medieval buscava respostas aos fenômenos que

o rodeava empenhando-se em mudanças não só nas artes, leis e regras, mas,

principalmente, na sua forma de pensar e estar no mundo.

Nesse período destacamos que os protestos contra a ordem social eram feitos de

forma a contestar também a ordem religiosa, não só porque a Igreja fazia parte de tal

ordem, mas principalmente porque, naquele momento, o conteúdo religioso era o limite

do discurso de protesto, quer para aceitar, quer para opor-se à ordem social estabelecida.

A própria leitura da Bíblia foi proibida pelo Papa Gregório IX em 1229, demonstrando

o caráter de dominação que a Igreja exercia, pois a Bíblia, sendo lida livremente pelos

fiéis, sem a mediação eclesiástica, poderia levar a interpretações subjetivas,

consideradas heréticas pela Igreja. Segundo Lopez (1993, p. 23), “[...] as heresias

religiosas representaram o nascimento das primeiras e importantes minorias dissidentes

do ocidente europeu”. Entretanto, as heresias não surgiram por oposição à religião

católica, mas dentro dela, tanto que os grupos tidos como heréticos, tais como os

valdenses, bogomilos, albigenses, pregavam o retorno da pobreza dos tempos do

cristianismo primitivo, criticando a opulência que a Igreja Católica havia adquirido,

assim como a venda de indulgências e a corrupção do alto clero.

Dessa forma, para combater essas dissidências, a Igreja organizou tribunais

inquisitoriais, para reprimir as heresias. Para isso, apropriou-se dos primeiros escritos

cristãos, como o evangelho de São João, os escritos de Santo Agostinho e São Jerônimo,

para justificar suas atitudes. Transformar as heresias em um insulto à fé foi a forma mais

eficaz de mantê-las à margem da sociedade. Torna-se válido destacar que

etimologicamente, a palavra heresia significa escolher, optar. Ao longo do período em

que a Igreja exerceu sua dominação, a palavra adquiriu outro sentido, tudo que

contrariava o pensamento eclesiástico era considerado herético.

Na passagem do século XII para o século XIII, a Igreja enfrentou a mais séria de

todas as heresias: os Albigenses. Até então, o combate aos heréticos tinha um caráter

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local, não sendo necessário haver uma uniformidade de critérios no tratamento do

problema. Com o surgimento dos Albigenses, a situação mudou, pois estes não ficaram

restritos a sua região de origem, no sul da França, mas sim se disseminaram pelas

demais regiões da Europa ocidental.

Nesse cenário, a Inquisição estava com suas bases lançadas, a partir da decisão

política de comprometer o Estado na repressão religiosa. É comum afirmar que o

surgimento da Inquisição esteja relacionado com o aparecimento dos albigenses e a

necessidade de destruí-los. Porém, Lopez (1993, p. 31) aponta para um fato que,

segundo o autor, passa despercebido aos estudiosos:

A heresia se disseminou na mesma época em que o papado assumiu o caráter de uma verdadeira monarquia absoluta, a primeira da Europa e munida de uma ideologia transnacional, considerando que a fé não tinha fronteiras [...] uma vez estruturado o sistema de dominação, a justiça torna-se um dos modos de exercer o poder e lhe garantir a continuidade. Foi precisamente quando a Igreja definiu seu perfil de Estado centralizado que surgiu a Inquisição.

Podemos concluir que esse excerto é uma constatação importante a se fazer, em

face da situação política da época, em que o poder do rei era dividido pelos feudos,

muito dispersos e fracos.

Em relação aos judeus foi a partir do século IX que a perseguição aos judeus se

reformulou na Europa ocidental, tomando um caráter mais intolerante que no passado.

A Igreja, desejosa de solidificar sua hegemonia pela unidade monolítica da fé, voltou a

mostrar o judeu como um inimigo do cristianismo, e contra ele canalizou os rancores e

histerias coletivas. A população perseguia tanto bruxas quanto judeus antes de a

Inquisição intervir, devido à ocorrência de manifestações de intolerância popular. Em

vista da perda de territórios aos mouros na Espanha e o norte da França para os

normandos, os judeus foram acusados de terem auxiliado os invasores. Isso se tornou

justificativa para o procedimento litúrgico da colafização, que consistia em toda a sexta-

feira santa esbofetear um judeu diante da catedral de Toulouse, em expiação à morte de

Cristo (LOPEZ, 1993).

Verificamos que, nesse contexto, com a pregação da primeira cruzada feita pelo

Papa Urbano II (1042-1099), que consistia na libertação da Terra Santa do poderio

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muçulmano, criou-se um fanatismo religioso que se alastrou pela Europa ocidental. No

bojo desse fato, surgiu também um fanatismo antijudaico3, levado pelos cruzados de

Rouen. Estes diziam que era necessário primeiro combater os infiéis que estavam dentro

da Europa. Nesse período, ocorreram massacres de judeus em Worms, Mainz, Colônia,

Treves, Ratisbona e Bamberg antes da primeira cruzada, em 1096, seguindo o mesmo

fato na segunda cruzada, em 1147. O fenômeno das Cruzadas fortaleceu o sentimento

de ódio aos judeus por parte das populações cristãs, reaparecendo, dentre outras, a

calúnia do assassinato ritual4, que então fora utilizado pelos cristãos contra os judeus.

Essas sublevações da ordem se tornaram tão frequentes que, durante o

pontificado de Gregório IX (1227-1241), Inocêncio IV (1243-1254), Gregório X (1271-

1276) e Clemente VI (1342-1352), foi condenada a perseguição antijudaica que se

disseminava pela Europa. No entanto, essa não era uma visão unânime dentro de Igreja:

Inocêncio III (1198 a 1216), como exemplo, culpava os judeus pela perda do Santo

Sepulcro, condenando-os à servidão perpétua e afirmando ser direito da Igreja dispor

dos seus bens (FONTETTE, 1989).

Desde então, operou-se a mudança para uma nova etapa, na qual o judeu,

considerado inicialmente um herético impenitente, é agora visto como um acirrado

inimigo do cristianismo. Assim, não podemos negar a manifestação de posicionamentos

prévios, de desejos insinuados ou ambições explícitas no discurso imagético. O discurso

clerical e laico expressava-se nas manifestações artísticas como estruturas simbólicas de

representação, como expressões de construções e análises sociais, que possibilitavam

aos indivíduos, grupos e segmentos sociais se moverem e se equilibrarem no meio

social em que estavam inseridos. Por isso, nossa análise imagética está amparada em

noções como a de imaginário e de representações coletivas5, as quais, como padrão

ordenado de significados diferentes, refletem a complexidade das dinâmicas sociais.

3 Segundo Fontette (1989), o termo semita se deve aplicar a línguas e não etnias. O autor comenta que o termo anti-semitismo é forjado durante o século XIX, adquirindo o caráter de preconceito étnico, o que não se aplica nesse momento histórico de que estamos tratando. Dessa forma, optamos pelo termo antijudaismo, que possui uma conotação religiosa, mais apropriada. 4 A acusação do assassinato ritual consistia na insinuação de que judeus seqüestravam uma criança cristã, depois a matavam e misturavam seu sangue com o pão ázimo da eucaristia. 5 Designamos como categorias mentais (imaginário) aquelas que, dotadas de alcance coletivo, transcendendo a experiência individual, correlacionam-se com a realidade vivida. Tendem a fornecer e estruturar padrões e modelos normativos aplicáveis à sociedade. Consideramos, pois, imaginário como o

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Difundiu-se assim, nesse contexto, inúmeras calúnias, como a de profanação da

hóstia e de envenenamento dos poços de água em conluio com os leprosos. Também a

epidemia de peste bubônica do século XIV foi atribuída a uma imaginária conspiração

de judeus, que teriam disseminado a peste contaminando os poços e as fontes de água.

Os judeus foram vistos como servidores do demônio, sendo massacrados por quase toda

Europa. Nem mesmo uma bula do papa Clemente VI, de setembro de 1348, explicando

que os judeus, assim como os cristãos, também morriam por causa da peste, e que, em

regiões onde nunca houve judeus, os cristãos morriam da mesma forma, foi capaz de

frear os massacres que se sucederam. Sendo de uma religião e grupo distintos, os judeus

eram recusados por não serem culturalmente semelhantes, haja vista que se

alimentavam de uma comida diferente, praticavam serviços religiosos distintos,

educavam suas crianças separadamente e tinham autonomia administrativa, fiscal e

judicial. As atitudes tradicionais e costumeiras dos judeus eram, portanto, consideradas

com suspeita. Práticas judaicas, como as de lavar as mãos depois de voltarem dos

cemitérios, de jogar um punhado de terra atrás de si depois do funeral, o ritual de

purificar fornos em preparação para a Páscoa judaica, eram avaliadas como magia. Os

judeus eram também conhecidos como médicos, e como tais eram temidos. O

envenenamento era uma acusação que pesava, com frequência, sobre os médicos judeus

(BETHENCOURT, 2000).

Verificamos também que, desde o século XIII, com a reabertura do

Mediterrâneo, o comércio de várias cidades europeias com o Oriente se intensificou e

tornou possível importantes transformações, a exemplo da formação de uma camada

burguesa enriquecida, que lutava por reconhecimento social. O comércio, comandado

pela burguesia, foi responsável pelo desenvolvimento urbano e por um novo modelo de

vida, cujas novas relações sociais aproximavam uns homens dos outros.

Na conjuntura da revolução comercial e, portanto, citadino, nasce e se

desenvolve uma cultura laica. Tanto os grupos sociais antigos quanto os novos tinham

necessidades, ainda que distintas, e ambicionavam conhecimentos de ordem prática e

conjunto de toda e qualquer construção mentalmente estruturada que se efetiva nas relações sociais, mediante a visão de mundo, que possibilita a apropriação do real. Esclarecemos, no entanto, que, devido à complexidade dessas abordagens, optaremos neste trabalho pelas representações coletivas.

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técnica. Por meio do dinheiro e do poder social e político, o mercador pode satisfazer

suas necessidades e concretizar seus desejos. Le Goff (1991) elenca as influências

consideráveis da burguesia mercantil nesse momento histórico peculiar: na escrita, no

cálculo, na geografia, nas línguas vulgares, na história, nos manuais de comércio, na

racionalização da existência humana, na arquitetura, na pintura, dentre outros. Sua

mentalidade racional, concreta, prática, levou-a a criar elementos de saber e meios de

expressão que lhe eram próprios.

A partir do século XV, com a expansão marítima e com o desenvolvimento do

comércio que amadureceu no seio da sociedade espanhola, surge uma classe média

cristã ávida por lucros, buscando ascender socialmente.

Segundo Novinsky (1999), nesse período, os judeus possuíam certa liberdade,

não sendo perseguidos na Espanha, como eram no resto da Europa. Cita como exemplo

que os bairros judeus – na Espanha chamados de aljamas – eram situados nas partes

mais belas das cidades. Desse modo, os judeus puderam desenvolver de forma

considerável suas potencialidades, atingindo postos de prestígio na política e na

economia, atuando como coletores de impostos do Estado. Foram, durante séculos,

médicos e conselheiros dos monarcas, atuando também em campos intelectuais, como

professores, escritores e filósofos. Por conseguinte, podemos intuir que os judeus

usufruíam de um nível de vida semelhante ao da aristocracia.

O embate entre a insipiente burguesia cristã e a já estabelecida judaica foi

impulsionado por instituições de poder, como a Igreja e os reis, que lançaram uma

intensiva propaganda antijudaica, sob o argumento de que os judeus roubaram as

posições que deviam pertencer aos cristãos. Os judeus, segundo o discurso da Igreja,

eram culpados por todos os males pelos quais passavam a nação. Apesar da tentativa da

Igreja de difundir essas ideias entre a população, não foi de início que os judeus

sofreram qualquer forma de perseguição, pois que eram vistos como parte integrante

daquela sociedade.

A partir do século XIV, principiaram o aumento das restrições às atividades

judaicas. Destaca-se aqui que a burguesia cristã que fortalecia poderia preencher, no

lugar dos judeus, a camada intermediária entre a massa popular e a nobreza. Por várias

regiões eclodiram revoltas antijudaicas. Em Sevilha, no ano de 1391, cerca de 4.000

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judeus foram mortos nas ruas. A Igreja tinha atingido seus propósitos, pois conseguira,

através do fanatismo, conclamar a população cristã a perseguir os judeus por quase toda

a Espanha, destruindo as mais importantes comunidades judaicas.

Observamos que, pelo fato de serem vítimas de perseguições em que eram

obrigados a saírem às pressas das localidades onde viviam, os judeus adquiriam

inúmeros bens móveis – joias, moedas, peles –, de fácil transporte. Assim, além das

extorsões que sofriam por parte dos senhores feudais, na medida em que estes careciam

de recursos financeiros, expulsavam os judeus de suas terras, confiscando todos os bens

que possuíam, permitindo o seu retorno gradual e nova acumulação por parte dos

judeus, para uma posterior extorsão (LOPEZ, 1993).

Daí decorre a aproximação destes com a prática da usura, que já era restringida

aos cristãos por uma lei canônica. O judeu fazia-se necessário para esse trabalho,

tornando-se um intermediário para nobres e prelados. É evidente que, mesmo tendo a

Igreja proibido a atuação de cristãos na usura, muitos deles adotaram tal prática. Nesse

sentido, a vinculação desse ofício aos judeus auxiliou para desviar a atenção da

população aos cristãos. Em suma, foi a própria sociedade cristã ocidental que legou ao

judeu o papel de usurário, pois o restringiu de participar das demais atividades

econômicas. O judeu viu na usura a única forma de enriquecimento para sobreviver

dentro de uma sociedade que o repelia de todas as profissões dignas da época.

Outro mecanismo de sobrevivência nesse momento adverso era os judeus, em

massa, procurarem voluntariamente o batismo. Novinski (1999) assinala que este fato

foi o único em toda a história dos judeus. Não há vestígios em outro momento, durante a

diáspora, em os judeus aceitaram a conversão em como ocorreu na Espanha. Diante das

vicissitudes, o homem luta, adapta-se, buscando um melhor uso das condições

oferecidas pelo seu meio social. Assim, escolheram converter-se a perder as posições

que tinham conquistado dentro da sociedade espanhola.

Sabe-se que no reinado de Isabel e Fernando, a partir de 1474, a Igreja

conseguiu exercer forte influência sobre os reis católicos em relação à perseguição aos

conversos. Fato explicado pela necessidade dos monarcas de manter o apoio ao clero e

da burguesia cristã para consolidar seu projeto de unificação da Espanha. Para tanto,

introduziram uma série de medidas restritivas contra judeus e conversos. Beneficiavam-

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se os burgueses cristãos, que então não tinham mais que preocupar-se com a

concorrência dos cristãos-novos, ao mesmo tempo em que revertiam-se os bens

confiscados para os cofres do Estado, podendo-se assim garantir aos monarcas fundos

para financiar as constantes investidas contras os reinos mulçumanos ainda existentes na

península (KAMEN, 1966).

Em 1478, Fernando e Isabel negociaram com o Papa Xisto IV (1471-1484) o

estabelecimento da Inquisição na Espanha. O argumento utilizado era a necessidade de

extirpar a heresia judaica e os conversos que a praticavam, acusados de contaminarem a

sociedade espanhola. Observamos que os estatutos de pureza de sangue impediam, os

descendentes de judeu e mouro até a sexta ou sétima geração, de pertencer a

corporações profissionais, de ingressar em universidades e exercer cargos oficiais nas

ordens religiosas e militares. Prova de que a discriminação tinha um caráter mais social

do que religioso foi o fato de a Igreja ter sido a última instituição a adotar os estatutos

de sangue. No entanto, na medida em que a burguesia cristã cresceu e tornou-se mais

forte, aumentou o conflito com a burguesia conversa. O clero instigou essa rivalidade,

reforçando o orgulho dos cristãos velhos, ao ressaltar sua pureza de sangue.

Verificaram-se, ainda no século XV momento de unificação da Espanha, graves

crises econômicas que assolavam seus reinos, originando guerras e misérias aos seus

povos. O processo de reconquista dos territórios sob o jugo mulçumano, bem como os

gastos dispendiosos da expansão territorial financiados pelos reis católicos, que

atingiram regiões do Mediterrâneo e, no final daquele século, chegariam à América,

podem ser apontadas como as principais causas das crises (RUCQUOI, 1995).

A Inquisição que foi realizada na Espanha ultrapassou enormemente a crueldade

e a intensidade da Inquisição papal da Idade Média. Apesar de ser autorizada pelo Papa,

era idealizada pelo rei, servindo como instrumento político para resolver problemas de

ordem social, política e econômica. A Inquisição serviu aos reis católicos para resolver

um problema social mascarado de problema religioso. As práticas inquisitoriais

utilizadas na Espanha Moderna, em muito, superavam as que ocorreram no período

medieval. Pode-se dizer que a forma como a Inquisição atuou na sua segunda fase foi

mais organizada e sistemática, unificando métodos de investigação e tortura, como

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também criando autos de fé, verdadeiros espetáculos organizados em praças públicas,

nos quais eram aplicadas as penas aos condenados pela Inquisição.

Mais uma vez, para desviar as atenções das verdadeiras razões da crise, se

utilizou o judeu como bode expiatório. Os conversos agora é que começaram a ser

perseguidos, pela visível ascensão social que conquistaram dentro da Espanha, pois

continuavam atuando nos altos postos do Estado como também despontavam no ramo

das artes e da medicina. Tornava-se imperativo a aristocracia de cristãos velhos,

restritos às atividades agrícolas, buscar mecanismos para vencer a concorrência dos

conversos. Com a nova ordem política e econômica que se estava delineando, os

aristocratas perceberam a importância das relações mercantis e, consequentemente,

financeiras, aquelas que sempre desprezaram (NOVINSKY, 1999).

A Inquisição serviu a tudo isso, como forma de sufocar todo pensamento que

contestasse os dogmas católicos, e assim reforçou a hegemonia da Igreja, conferindo a

ela um poder irrestrito. Embora, na Espanha do período moderno, a Inquisição tenha

servido aos interesses do Estado, a Igreja atuou ao seu lado, como impulsionadora

legítima da perseguição a judeus e conversos. Em 1492 os judeus foram definitivamente

expulsos da Espanha, e muitos seguiram para Portugal. Ao normatizar práticas e

comportamentos, a Inquisição procurava impedir certos desvios religiosos, as heresias.

Observamos, portanto, as relações entre arte e poder laico e clerical, já que a veiculação

das representações iconográficas destinava-se a divulgar a ideia de combate aos judeus,

vistos como pessoas inimigas de Deus e do Estado.

Nesse contexto, a linguagem imagética tornou-se um elemento significativo na

construção de justificativas, na projeção de interesses e objetivos coletivos, na criação

de necessidades e na modelagem de valores e condutas. A arte, por ser um discurso

menos formal, por apresentar uma linguagem menos codificada, por conter sinais

universais de rápida interpretação, configurou-se como um importante instrumento de

educação dos homens. Era necessário recorrer ao conjunto de crenças, fábulas, ritos,

cerimônias, que legaram a comunidade judaica relação intrínseca com o demônio, com

fins conspiratórios contra a cristandade. Segundo Fontette (1989) era natural que fossem

caracterizados da mesma forma, com chifres, orelhas de porco, barba de bode, rabo e

odor pestilento.

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Convém assinalar que o símbolo, o mito, a imagem pertencem à substância da

vida espiritual; pode-se ocultá-los, degradá-los, mas nunca se poderá erradicá-los. O

pensamento simbólico não é domínio exclusivo da criança, do poeta, mas é inerente ao

homem. Ele precede a linguagem e a razão discursiva. Eliade (1979, p. 171), “[...]

afirma que a função de um símbolo é justamente a de revelar uma realidade total,

inacessível aos outros meios de conhecimento [...]”. As imagens, os símbolos, os mitos

respondiam a uma necessidade e preenchiam uma função, condizente com o seu tempo.

Nesse momento, as letras, as artes e a religião educavam o povo no sentido de crer e

aceitar as representações judaicas desejadas pela Igreja, bem como pelo poder

monárquico que se efetivava. Assim, observando, por meio das imagens, a coexistência

entre antigas e novas formas de pensar, sentir e agir, podemos acompanhar a direção

que a educação também foi assumindo nessa época.

Isso certamente não exclui outro procedimento de leitura da imagem, que é o de

levar em conta as condições de produção, examinando quem é o autor, quais suas

vinculações institucionais, em que condições sociais a produziu. Nesses termos, o

estudo deverá ser realizado mediante a história social dessa linguagem imagética, o que

implica observar o momento histórico em que elas foram idealizadas, ou seja, o quadro

das condições econômicas, sociais e políticas da Europa do século XVI, em especial, a

situação da Espanha. Esse procedimento permite fazer uma leitura mais cuidadosa e

mais densa dos teóricos. Temos consciência de que, quando situamos um texto em seu

contexto histórico, ingressamos no próprio ato de interpretar.

Em suma, podemos constatar a possibilidade de entender como a mentalidade do

homem, que se constrói pelas produções intelectuais e influência do conhecimento

popular de cada período histórico, é refletida na produção artística. Nesse contexto, a

arte assume um papel quanto área do conhecimento humano fundamental no processo

de formação do homem.

Abalizamos, então, a necessidade de a Educação adentrar no campo das imagens

e das linguagens tecnológicas. Torna-se crucial humanizar os sentidos do homem e

desenvolver a sensibilidade humana, ampliando, assim, a dimensão da reflexão.

Acreditamos que esses requisitos podem ser desenvolvidos por meio da capacidade

reflexiva dos homens e do conhecimento. Sublinhamos que o conhecimento é um

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elemento fundante da formação humana. Isto é um desafio histórico posto a cada dia

para aqueles que trabalham e se preocupam com a Educação.

Considerações finais

Assinalamos que as investigações na Educação e nas Ciências Humanas que

percorrem o caminho da História geralmente apontam para uma compreensão da

totalidade dos acontecimentos, transformando, assim, o passado em objeto de

investigação. Isso contribui para que a função social da História da Educação, que é a de

promover reflexões sobre as práticas do presente, seja cumprida. Nesse sentido,

situando-nos no campo de investigação da História da Educação e analisando a

educação na história, aproximamos fontes primárias, autores clássicos e ideias

pedagógicas do período.

Verifica-se, contudo, que todo o conhecimento produzido implica e pressupõe

métodos e teorias, os quais, sendo igualmente produtos sociais e históricos, embasam o

processo e o resultado da construção do conhecimento científico. Inserida na esfera da

História da Educação, elegemos como nosso caminho metodológico as abordagens:

reflexão histórica, iconográfica e iconológica.

Nesse sentido, consideramos que o campo da cultura visual, quando estudado

sob a ótica da dinâmica das relações humanas e da transformação social, pode em muito

beneficiar o historiador da Educação e enriquecer o conhecimento que se pretende

construir. Assim, destacamos que a apreciação imagética como possibilidade de

expressão de construções e análises sociais, portanto educativa.

Enfim, enfatizamos o nosso entendimento de que a obra de arte como uma

unidade em que tanto a apreensão da realidade pelo artista quanto a sua representação

acolhem a vida em sua historicidade, desvendam elementos de suas múltiplas faces,

contradições, transformações e prática educativas.

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