Artesanato é fonte de renda e vida em Icapuí-CE

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº1537 Julho/2014 Icapuí O sorriso largo de dona Nazirene traduz a vida que ela mesma define como “FELIZ”. Ela mora no município de Icapuí, na comunidade Vila União, já próximo a divisa com o Rio Grande do Norte. Para a agricultura familiar é indivisível os bens TERRA e ÁGUA, e nessa luta seguem milhares de camponeses que buscam em suas terras produzir e garantir o sustento de suas famílias. A primeira das lutas enfrentada pela D. Nazirene foi a conquista da terra, inicialmente era apenas ela, seu marido Seu Milton e um dos seus filhos. “Quando a gente chegou aqui, só era mato alto, e daí roçamos tudo com facão e começamos a lutar pelos nosso direitos”. Assim a família buscou os documentos e meios legais até conseguir definitivamente a papelada. Já a segunda parte de sua luta, veio a busca pelo acesso à água. “Em uma passeata em Natal encontrei a Ivoneide. Pedi para ela olhar para nossa comunidade e ajudar a conseguir a cisterna da primeira água. Fui lá em Aracati e pouco tempo depois elas vieram para gente.” Disse dona Nazirene explicando como conseguiu as cisternas de primeira água para sua comunidade. De forma organizada ela mobilizou a todos e levou essa demanda até a COMTACTE (Cooperativa Mista de Trabalho Assessoria e Consultoria Técnico Educacional), que também executou essas primeiras construções e capacitações. O sentimento que move dona Nazirene é de que tudo pode ser diferente, não existe em seu coração aquele velho pensamento de que já se sabe tudo, que não se precisa aprender mais. Entre outros pensamentos que tornam as pessoas pessimistas e sem esperança. “Sempre que a gente solicita alguma coisa pra cá. Eles nunca querem no começo, mas quando vê que está dando certo aí se interessam.” Dona Nazirene foi uma das primeiras a apoiar a chegada das implementações do Programa Uma Terra e Duas águas (P1+2) na sua comunidade, já que ainda hoje existem muitas comunidades desacreditadas no Semiárido. Que não crêem que esse tipo de tecnologia social chega até elas, mas percebem que quando a comunidade se envolve, renova-se o sentimento de esperança. Artesanato é fonte de renda e vida em Icapuí-CE

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O sorriso largo de dona Nazirene traduz a vida que ela mesma define como "FELIZ". Ela mora no município de Icapuí, na comunidade Vila União, já próximo à divisa com o Rio Grande do Norte. Primeira moradora da comunidade, fundadora e presidente da associação, artesã, agricultora familiar, mãe. Essas são apenas algumas das atribuições que podem ser dadas a Dona Nazirene, que com seu exemplo de vida segue motivando a todos no Semiárido.

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1537

Julho/2014

Icapuí

O sorriso largo de dona Nazirene traduz a vida que ela mesma define como “FELIZ”. Ela mora no município de Icapuí, na comunidade Vila União, já próximo a divisa com o Rio Grande do Norte.

Para a agricultura familiar é indivisível os bens TERRA e ÁGUA, e nessa luta seguem milhares de camponeses que buscam em suas terras produzir e garantir o sustento de suas famílias. A primeira das lutas enfrentada pela D. Nazirene foi a conquista da terra, inicialmente era apenas ela, seu marido Seu Milton e um dos seus filhos. “Quando a gente chegou aqui, só era mato alto, e daí roçamos tudo com facão e começamos a lutar pelos nosso direitos”. Assim a família buscou os documentos e meios legais até conseguir definitivamente a papelada.

Já a segunda parte de sua luta, veio a busca pelo acesso à água. “Em uma passeata em Natal encontrei a Ivoneide. Pedi para ela olhar para nossa comunidade e ajudar a conseguir a cisterna da primeira água. Fui lá em Aracati e pouco tempo depois elas vieram para gente.” Disse dona Nazirene explicando como conseguiu as cisternas de primeira água para sua comunidade. De forma organizada ela mobilizou a todos e levou essa demanda até a COMTACTE (Cooperativa Mista de Trabalho Assessoria e Consultoria Técnico Educacional), que também executou essas primeiras construções e capacitações.

O sentimento que move dona Nazirene é de que tudo pode ser diferente, não existe em seu coração aquele velho pensamento de que já se sabe tudo, que não se precisa aprender mais. Entre outros pensamentos que tornam as pessoas pessimistas e sem esperança. “Sempre que a gente solicita alguma coisa pra cá. Eles nunca querem no começo, mas quando vê que está dando certo aí se interessam.” Dona Nazirene foi uma das primeiras a apoiar a chegada das implementações do Programa Uma Terra e Duas águas (P1+2) na sua comunidade, já que ainda hoje existem muitas comunidades desacreditadas no Semiárido. Que não crêem que esse tipo de tecnologia social chega até elas, mas percebem que quando a comunidade se envolve, renova-se o sentimento de esperança.

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Articulação Semiárido Brasileiro – CearáBoletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Realização Apoio

Dona Nazirene é um exemplo de força e encorajamento, atualmente ela tem no seu artesanato o seu

sustento e mantém firme e unida toda sua família que vive em volta do seu quintal produtivo. “O cisternão veio para complementar meu quintal produtivo”, disse

a mesma. Hoje seu quintal conta com uma criação de galinhas caipiras, capote,patos, porcos, bezerro, uma vaquinha, entre outras criações. Assim como também

tem como forragem a leucena e algaroba que servem de alimento para a vaca e bezerros. A adaptação da alimentação animal, para espécies que

são cotidianas do Semiárido, facilita a conservação das mesmas durante o período em que não há chuva. Essas

forragens são bastante comuns entre agricultores familiares.

Já no que se refere à venda direta dos produtos, eles ainda não conseguem, pois preferem assegurar a alimentação da família, mas tem como objetivo unir-se aos demais moradores para organizar-se e levarem seus produtos a alguma feira local. Dona Nazirene costuma participar, junto das mulheres da comunidade, de eventos e feiras onde cada um leva seu produto, seja artesanato, seja frutas, verduras, entre outros. Seu artesanato é de encher os olhos. Ela conta que nem lembra como aprendeu, mas que na primeira comunidade onde moravam com sua mãe em Canaã, no Ceará, as mulheres costumavam se reunir à tarde para “rendar”. Hoje ela conta com ajuda de sua mãe para vender suas peças em Natal, no Rio Grande do Norte, assim se livra de um atravessador e recebe justo pela sua arte. O material utilizado para a renda do bilro é bastante simples, o trançado se dá apoiado em uma almofada, confeccionada com retalho de rede e recheada com folhas de bananeira, o papel picado apoia-se em cima com o desenho que dá forma aos fios. Os bilros que dão nome à renda são feitos com pedaços de madeira e Dona Nazirene nos mostra um que lhe acompanha desde a primeira renda. A função dos bilros é facilitar o rendado e cada um tem um fio de coloração diferente. Quanto maior a renda, maior o número de bilros. Os alfinetes usados por ela são espinhos de mandacaru, já que os convencionais enferrujam devido à região ser a beira-mar. Primeira moradora da comunidade, fundadora e presidente da associação, artesã, agricultora familiar, mãe. Essas são apenas algumas das atribuições que podem ser dadas a Dona Nazirene, que com sua hospitalidade e exemplo de vida segue motivando e encorajando a todos no Semiárido.