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III Simpósio Brasileiro de Gestão e Economia da Construção III SIBRAGEC UFSCar, São Carlos, SP - 16 a 19 de setembro de 2003 CRÍTICAS AO PROCESSO ORÇAMENTÁRIO TRADICIONAL E RECOMENDAÇÕES PARA A CONFECÇÃO DE UM ORÇAMENTO INTEGRADO AO PROCESSO DE PRODUÇÃO DE UM EMPREENDIMENTO ANDRADE, Artemária Coelho de (1); SOUZA, Ubiraci Espinelli Lemes de (2) (1) Mestre em Eng. Civil, [email protected] Doutoranda do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (2) Prof. Doutor em Eng Civil, [email protected] Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo RESUMO A qualidade da previsão dos custos envolvidos na execução de uma obra é fundamental para a sobrevivência de uma empresa de Construção Civil no atual mercado competitivo. No entanto, a estimativa de custos deve ser útil não somente para definir o preço a ser proposto para a execução de uma obra, mas também como ferramenta auxiliar para várias outras atividades associadas ao processo construtivo. Defende-se, neste trabalho, que a estimativa de custos deva ser integrada às atividades a ela associadas nas diversas etapas do processo: desde a fase de avaliação de viabilidade até o controle da execução do serviço. Este trabalho passa, inicialmente, pela discussão dos custos de um serviço, conceituando-os, classificando-os e descrevendo caminhos tradicionais para sua estimativa. Em seguida, indicam-se as atividades do empreendimento que compartilham informações relativas aos custos. Faz-se, a partir de um estudo de campo, envolvendo três empresas, a discussão quanto ao processo de elaboração de estimativas de custos. Finalmente, com base nas informações bibliográficas e nas posturas adotadas no mercado, são feitas críticas e recomendações para se promover a integração do orçamento a todas as necessidades de discussão de custos ao longo da vida do empreendimento. ABSTRACT The more reliable is the cost estimate process the more competitive the construction company becomes. But the cost knowledge must help not only the bidding phase but also all the projects phases. Then, cost estimating should be developed along the project life, since the viability studies till the building use and maintenance. This paper, firstly, defines cost definition, classification and estimation. After that, it discusses the construction companies departments dealing, in some way, with cost estimation. Later, three case studies are used as basis for the budgeting production integration evaluation. Finally, recommendations are presented intending to help the budget process improvement. Palavras-chave: Orçamento, Gestão de custos. Keywords : Cost, Estimate cost

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  • III Simpsio Brasileiro de Gesto e Economia da Construo

    III SIBRAGEC UFSCar, So Carlos, SP - 16 a 19 de setembro de 2003

    CRTICAS AO PROCESSO ORAMENTRIO TRADICIONAL E RECOMENDAES PARA A CONFECO DE UM

    ORAMENTO INTEGRADO AO PROCESSO DE PRODUO DE UM EMPREENDIMENTO

    ANDRADE, Artemria Coelho de (1); SOUZA, Ubiraci Espinelli Lemes de (2) (1) Mestre em Eng. Civil, [email protected] Doutoranda do Departamento de Engenharia de Construo Civil da Escola Politcnica da Universidade de So Paulo (2) Prof. Doutor em Eng Civil, [email protected] Departamento de Engenharia de Construo Civil da Escola Politcnica da Universidade de So Paulo

    RESUMO A qualidade da previso dos custos envolvidos na execuo de uma obra fundamental para a sobrevivncia de uma empresa de Construo Civil no atual mercado competitivo. No entanto, a estimativa de custos deve ser til no somente para definir o preo a ser proposto para a execuo de uma obra, mas tambm como ferramenta auxiliar para vrias outras atividades associadas ao processo construtivo. Defende-se, neste trabalho, que a estimativa de custos deva ser integrada s atividades a ela associadas nas diversas etapas do processo: desde a fase de avaliao de viabilidade at o controle da execuo do servio.

    Este trabalho passa, inicialmente, pela discusso dos custos de um servio, conceituando-os, classificando-os e descrevendo caminhos tradicionais para sua estimativa. Em seguida, indicam-se as atividades do empreendimento que compartilham informaes relativas aos custos. Faz-se, a partir de um estudo de campo, envolvendo trs empresas, a discusso quanto ao processo de elaborao de estimativas de custos. Finalmente, com base nas informaes bibliogrficas e nas posturas adotadas no mercado, so feitas crticas e recomendaes para se promover a integrao do oramento a todas as necessidades de discusso de custos ao longo da vida do empreendimento.

    ABSTRACT The more reliable is the cost estimate process the more competitive the construction company becomes. But the cost knowledge must help not only the bidding phase but also all the projects phases. Then, cost estimating should be developed along the project life, since the viability studies till the building use and maintenance.

    This paper, firstly, defines cost definition, classification and estimation. After that, it discusses the construction companies departments dealing, in some way, with cost estimation. Later, three case studies are used as basis for the budgeting production integration evaluation.

    Finally, recommendations are presented intending to help the budget process improvement.

    Palavras-chave: Oramento, Gesto de custos.

    Keywords: Cost, Estimate cost

  • 1 INTRODUO

    A atividade de estimar custos bastante antiga e sua importncia inquestionvel, na medida em que o custo de um empreendimento fator limitante para sua concepo e implementao. Contudo, apesar de esta atividade envolver outros setores da empresa, como as reas de suprimentos, de projetos e de obras, inexiste uma troca de informaes entre os mesmos.

    A atividade de levantar preos - cotao - realizada tanto pelo setor de oramento como pelo setor de suprimentos ou a quantificao de servios realizada tanto pelo setor de projetos como pelos setores de estimativa de custos e pela obra, so exemplos de informaes ou tarefas que podem e devem ser compartilhadas.Alm dos exemplos citados, Goldman (1999) apresenta diversas atividades que poderiam ser compartilhadas entre os diferentes setores. Segundo esse autor, tanto o setor de obras quanto os de planejamento e compras podem contribuir para a definio de especificaes e de sistemas construtivos, em funo das dificuldades de execuo, dificuldades de aquisio, desempenho no uso dos insumos, custos e existncia de fornecedores. Alm disso, a quantificao de servios a partir de projetos fica facilitada se as informaes contidas nos projetos estiverem claras e se as mesmas utilizarem os mesmos critrios do setor de planejamento/oramentos.

    Apesar disso, as atividades se desenvolvem desvinculadamente e a atividade de estimar custos que compartilha informaes com diversos setores fica restrita ao desenvolvimento de uma srie de clculos feitos a partir de procedimentos pr-definidos. Na realidade a atividade de estimar custos que fundamentalmente uma funo administrativa, segundo Finney (2000), assume apenas a funo contbil.

    Com o intuito de integrar o oramento ao processo de produo do edifcio, lembrando que o mesmo se constitui num padro a ser perseguido, sero feitas algumas recomendaes quanto sua elaborao.

    Apresenta-se, inicialmente, uma conceituao e classificao dos custos incidentes na execuo de um empreendimento, bem como a forma como as estimativas so elaboradas tradicionalmente. Em seguida, fala-se dos setores que desenvolvem atividades correlacionadas atividade de estimar custos. Apresenta-se o resulta de estudos de caso sobre a estimativa de custos em duas empresas construtoras e uma subempreiteira, e em seguida faz-se algumas criticas e recomendao para se obter uma maior integrao entre os setores envolvidos.

    2 CUSTOS

    2.1 Conceitos

    Valor, despesa, gasto e importncia so alguns dos sinnimos de custos encontrados na bibliografia, conforme mostrado a seguir.

    Para Martins (2000), custo o "gasto relativo a um bem ou servio utilizado na produo de outros bens e servios"; Cardoso (1999) o define como despesa, gasto, valor em dinheiro ou preo de bens e servios utilizados na produo de outros bens ou servios".

    Para Lima (2000), custo um "termo genrico que se refere a qualquer gasto, monetrio ou no, para produo de um bem ou servio, atravs da utilizao de diversos insumos, tais como matrias-primas, mo-de-obra direta e atividades indiretas".

  • Para Bornia (1995) o custo ou gasto associado produo de um bem ou servio o valor dos insumos adquiridos pela empresa e utilizados na fabricao dos seus produtos, o conceito de despesa, por sua vez, seria o valor dos bens ou servios consumidos para gerar receita.

    Backer & Jacobsen apud Nascimento (1980) acrescentam s definies apresentadas o fator tempo; para esses autores, custo "o montante que a empresa acha que um produto ou a operao de um processo por um perodo de tempo deveria custar com base em certas condies presumidas de eficincia, de situaes econmicas e de outros fatores.

    Diante dos conceitos apresentados, define-se custos na construo civil, como o montante financeiro, proveniente de gastos com bens, servios e transaes financeiras, necessrio execuo de um empreendimento, desde a etapa de estudo de viabilizao at a sua utilizao, durante um prazo pr-estabelecido.

    2.2 Classificao

    Os critrios para classificao de custos so amplamente utilizados pela contabilidade de custos [Martins (2000); Bernardo (1996); Nascimento (1980)] e tambm pela engenharia [Cabral (1988); Bornia (1995)]. A seguir, apresentam-se algumas dessas classificaes.

    Os critrios de variabilidade e de facilidade de atribuio so os mais conhecidos, principalmente por serem a base para a definio de mtodos de custeio, ou, como define Bernardo (1996), mtodos para apropriao de custos.

    Alm dos critrios apresentados, citam-se: a abrangncia, definida por Cabral (1988) como grau de mdia; o momento de clculo; o auxlio tomada de decises.

    A classificao segundo a variabilidade associa o custo do produto ao volume ou quantidade produzidos; assim: custo varivel aquele cuja variao proporcional quantidade produzida; custo fixo aquele que independe da quantidade produzida, mantendo-se praticamente constante no curto prazo; custo semi-varivel o custo que varia de acordo com a quantidade produzida, mas no proporcionalmente.

    A classificao dos custos em diretos e indiretos relaciona-se sua facilidade de atribuio, ou seja, quando o custo for facilmente atribuvel a um determinado produto ou centro de custos1, diz-se que ele direto; do contrrio, havendo alguma dificuldade nessa atribuio, este denominado indireto.

    Os custos indiretos so aqueles indiretamente envolvidos na execuo dos servios (como, por exemplo, os gastos com cpias heliogrficas) ou os que, por incidirem sobre diversos servios, no sejam facilmente atribuveis aos mesmos (por exemplo, o salrio do mestre de obras).

    Ressalta-se que um critrio no exclui outro, ou seja, existem custos indiretos fixos, variveis e semi-variveis; da mesma forma que ocorre com os custos diretos.

    A abrangncia refere-se quantidade produzida; enquanto o custo unitrio seria o valor necessrio para produzir uma unidade de servio, como por exemplo, 1 m de alvenaria, o custo total envolveria o valor necessrio para produzir a totalidade de unidades de servio, ou seja, os m totais de alvenaria de um pavimento ou de todo o edifcio, por exemplo.

    1 Centro de custos o agrupamento de atividades cujos custos incidem de forma homognea ou similar.

  • Quanto ao clculo dos custos, este pode ocorrer em diferentes momentos como, por exemplo, aps a ocorrncia do custo no processo produtivo, sendo denominado custo histrico; ou antes de sua ocorrncia, caso em que se chamaria custo pr-determinado.

    O critrio de auxlio tomada de decises considera a importncia do custo como subsdio tomada de decises; dentro deste contexto, os custos podem ser classificados em: relevantes, que seria os que se alteram em funo da deciso tomada; e os no relevantes, que independem da deciso tomada (Bornia, 1995).

    2.3 Estimativa tradicional

    A estimativa de custos tradicional baseia-se na subdiviso da obra em servios aos quais so alocados os custos, por meio de composies de custo unitrio.

    As composies de custos unitrios so "frmulas" empricas em que se relaciona a quantidade de insumos (materiais, mo-de-obra e equipamentos) necessrios execuo de uma unidade de servio (Gonzlez, 1988).

    Tais composies utilizam em sua elaborao o conceito de custo direto, onde os insumos apresentados esto diretamente envolvidos com o servio. Goldman (1999)

    Assim, obtm-se os custos diretos de produo, por meio do produto entre a quantidade de servio realizada e a composio unitrias de custo do servio..

    A quantidade de servio calculada a partir de projetos, quando existirem, ou de correlaes com caractersticas de outros projetos ou de outros servios anteriormente executados.

    O custo indireto obtido por meio de taxas de rateio, que so usualmente representadas por uma porcentagem sobre o custo direto calculado.

    No caso especfico de equipamentos, os mesmos so considerados, por algumas empresas, como itens de custos da obra. Em outras, o custo dos equipamentos considerado na taxa que rateia os custos indiretos.

    No Brasil, a taxa de rateio dos custos indiretos e do lucro denominada BDI, que considera as despesas indiretas (DI) de produo, tanto de obra quanto da empresa, e o lucro ou benefcio do construtor (B).

    Para o clculo do BDI, Giammusso (1991) afirma que a melhor maneira de faz-lo seria atravs do levantamento dos dois tipos de custo, direto e indireto, num caso real, pois quanto mais o BDI refletir os custos indiretos reais, melhores as possibilidades de se apresentarem preos que, no sendo muito altos, no tiram a competitividade da empresa no mercado, e, no sendo muito baixos, asseguram a sua estabilidade financeira.

    Lima Jnior (1993) critica o uso do BDI por acreditar que as contribuies devam ser parametradas no tempo levando em conta a verdadeira estrutura de custos esperados na empresa fora do canteiro e recursos devem ser coletados do preo das obras para sua cobertura. Sendo a distribuio no tempo tratada de acordo com as necessidades de caixa para custear os gastos e ou despesas.

    3 ATIVIDADES/SETORES RELACIONADOS ESTIMATIVA DE CUSTOS

    Vrios so os setores envolvidos com a atividade de estimar custos. Para clculo do custo direto h a necessidade de projetos ou informaes que relaciona dados de obras anteriores com a que ser executada para quantificar os servios; para definio das

  • composies de custos tem-se a necessidade de indicadores de desempenho dos insumos, obtidos a partir de apropriao em obra, e de informaes quanto ao preo dos insumos avaliados.

    A atividade de estimar custos uma das funes do setor de planejamento da empresa, juntamente com o planejamento/programao da produo e a atividade de controle da mesma.

    Ao estimar custos, o setor de planejamento acaba por envolver informaes relacionadas com a rea financeira, como compras e contabilidade.

    Por ter como objeto de estudo a obra, o setor responsvel pela estimativa de custos acaba por envolver tanto a produo/obra, quanto o setor de projetos, devido necessidade de trabalhar com especificaes, alm do de suprimentos, pela necessidade de conhecer caractersticas do insumo a ser utilizado.

    Diretamente relacionada aos insumos consumidos, a atividade de estimar custos influencia, e influenciada, por aspectos relacionados com tarefas que vo desde a especificao do insumo at o seu uso em obra, havendo, portanto, uma interface dessa atividade com os setores de projetos, suprimentos, contabilidade, contratos e obra.

    A definio do prazo de execuo e da programao da obra influencia diretamente os custos da mesma, seja em funo dos diferentes equipamentos utilizados, ou dos materiais e do nmero de equipes a serem contratadas, influenciando o desembolso mensal. Assim, a estimativa de custos tem, tambm, uma interface com o setor de planejamento/programao da obra.

    Embora o setor de estimativa de custos da empresa possua interfaces com outros setores no se observa um compartilhamento de atividades. O que se verifica uma repetio das tarefas realizadas como, por exemplo, o setor responsvel pela estimativa cota preos de insumos ao invs de utilizar os dados do setor de compras, que tambm realiza essa tarefa.

    Este fato foi comprovado nas entrevistas realizadas em duas empresas construtoras e uma subempreiteira, cujos comentrios encontram-se no item a seguir.

    4 ESTUDOS DE CASO

    Com o intuito de avaliar como era elaborada a estimativa de custos nas empresas e qual a interao existente entre os setores envolvidos, realizou-se entrevistas em duas empresas construtoras (A e B) e uma subempreiteira de mo-de-obra (empresa C) que atuam na grande So Paulo.

    As empresas A e B so construtoras que atuam na rea de incorporao e construo, sendo investidoras em praticamente todas as obras que constroem. Ambas as empresas construtoras tem mais de 15 anos de atuao. A empresa C uma subempreiteira de mo-de-obra, que atua nesse segmento h aproximadamente 10 anos.

    4.1 Comentrios

    As trs empresas visitadas utilizam composies de custos unitrios para elaborao da estimativa de custos. Os indicadores utilizados nessas composies eram dados genricos do setor advindos, inicialmente, do manual de oramentao TCPO (Tabelas de Composies de Preos para Oramento), contudo as empresas passaram a adotar dados prprios, embora no possussem um sistema de apropriao padronizado.

  • Apenas na empresa B a estimativa de custos ocorre desde a discusso de viabilidade da construo. Na empresa A, o setor de oramento (estimativa de custos) s acionado aps a aprovao dos projetos pela prefeitura. E a empresa C s contatada aps a definio do que ser construdo. Em alguns casos, a empresa C contatada sem que se tenham todos os projetos prontos.

    A comparao entre o previsto e o realizado se restringe verificao da quantidade executada de servio, necessria para o pagamento dos subempreiteiro, e ao custo mensal da construo.

    Nenhuma das empresas, exceto a empresa C, verifica a produtividade no uso dos insumos. Mesmo assim, o controle feito pela empresa C apenas quanto quantidade mnima executada por operrio, abaixo da qual a empresa teria prejuzo. No caso da alvenaria esse valor de 15m/dia.

    O uso da taxa de BDI, para considerar os custos indiretos acaba cumprindo uma funo de mecanismo de ajuste. Como ressaltou um dos entrevistados, o BDI acaba sendo um nmero para fechamento final. O mesmo acontece com o subempreiteiro, cujo preo final o de mercado.

    Embora estudos (Souza, 2001; Souza, 2000) tenham comprovado a variabilidade da produtividade da mo-de-obra devido a caractersticas do canteiro, as empresas, de modo geral, desconsideram tal variabilidade.

    No caso especfico da alvenaria, a empresa C considera mudana na composio da equipe quando h variao do equipamento utilizado. Segundo o subempreiteiro, o uso de grua ao invs de elevador resulta numa economia de dois homens por pavimento, que seriam os responsveis pelo transporte do material. Tal dado provm da experincia da empresa, embora esta no possua os ndices reais documentados (pelo menos, no h indcios de que apropria tal tipo de dados sistematicamente).

    A empresa A no considera mudanas nas composies de custos, sua justificativa a de que, no caso da alvenaria, por possurem poucas obras que utilizaram grua fator apontado como variante da produtividade, no possuem dados representativos.

    A empresa B possui composies diferenciadas para a alvenaria, em funo da altura do edifcio, pois verificou que o consumo de insumos era bastante varivel, embora outras causas co-responsveis possam existir, como o equipamento de transporte utilizado, mas nenhum estudo que pudesse confirmar tal desconfiana foi realizado.

    A realizao das entrevistas permitiu verificar a ausncia de uma sistemtica de apropriao e controle dos custos e dos indicadores adotado para sua obteno, alm da individualidade com que a estimativa de custo realizada, sem haver um compartilhamento de informaes entre setores.

    As empresas ainda contratam subempreiteiros baseados no menor preo, de acordo com o entrevistado da empresa C, poucas so as construtoras que avaliam, ao contratar uma subempreiteira, a praticabilidade do preo apresentado.

    As duas empresas construtoras apresentadas utilizam sistema administrativo de gerenciamento de custos, no entanto, no h garantia de compartilhamento de informaes. Assim, alguns setores, por no saber onde buscar a informao, acabam por refazer uma tarefa, j realizada por outro departamento.

  • 5 CRTICAS AO PROCESSO ORAMENTRIO TRADICIONAL E

    RECOMENDAES PARA A ELABORAO DE UM ORAMENTO INTEGRADO AO PROCESSO DE PRODUO DO EMPREENDIMENTO

    Por meio dos estudos de caso, verificou-se que a adoo de sistemticas de apropriao do custo e de indicadores reais no uma realidade nas empresas.

    Embora o setor responsvel por estimar custos tenha a possibilidade de melhor avaliar o impacto financeiro de decises tecnolgicas, o mesmo no participa das discusses estratgicas da empresa quanto produo.

    Uma outra limitao da estimativa tradicional de custos que ela no permite, ao gestor da obra ou da empresa, avaliar a melhor opo tecnolgica para a execuo de um servio, pois as composies unitrias no permitem avaliar o custo dos equipamentos, por exemplo, nem do impacto que a reduo no prazo de execuo teria sobre o processo.

    A ausncia de uma sistemtica de apropriao de indicadores reais e de troca de informaes entre a obra e o setor responsvel por estimar custos quanto s dificuldades executivas, acaba por impossibilitar a elaborao de oramentos mais precisos.

    Do ponto de vista de planejamento e controle, a forma como o oramento executado no facilita nem o controle em obra, nem a realimentao do processo oramentrio. A obra s observa o custo final do servio e no se detm nos indicadores adotados, nem mesmo questionando os indicadores adotados, provavelmente pela falta de controle dos ndices vigentes.

    Alm disso, a quantidade de materiais bsicos em oramento no descrita por servio, mas por obra, o que resulta na necessidade de se fazer um novo levantamento de quantitativo de material. A falta de comunicao entre setores resulta tambm na realizao de nova quantificao de servio, seja por no confiar no dado do oramento, seja por ter havido modificaes de projeto sem que as mesmas fossem consideradas no clculo de quantitativo do oramento.

    O desconhecimento das dificuldades construtivas de obra pelos setores de planejamento e projetos impedem a busca por melhores solues construtivas. Da mesma foram que os setores de contabilidade e suprimentos, embora trabalhem num mesmo local: a empresa, por no trocarem informaes quanto a formas de pagamento, por exemplo, deixam de conseguir melhores ofertas de insumos.

    A no participao do setor de oramento no processo decisrio acaba por atravancar a estimativa de custos, impossibilitando maior preciso e interao deste setor com os demais setores, especialmente o produtivo.

    Assim, prope-se:

    1. o envolvimento do setor de oramento (estimativa de custos) desde a fase de estudo de viabilizao, e durantes as discusses sobre alternativas tecnolgicas;

    2. o desenvolvimento de um banco de dados da empresa considerando as diferentes caractersticas do canteiro;

    3. o envolvimento do subempreiteiro em discusses de alternativas construtivas e no controle de produtividade de insumos, o que garante um maior comprometimento do mesmo2;

    2 Em estudo realizado por esses pesquisadores, numa empresa construtora em So Paulo, verificou-se o aumento de comprometimento da empresa subempreiteira diante da busca por se atingir melhores indicadores de produtividade da equipe.

  • 4. que se desenvolva um sistema de informaes, garantindo o retorno da

    informao necessria aos vrios setores;

    5. o entendimento e conhecimento da atividade a ser orada e os indicadores em consonncia com os diversos setores envolvidos.

    Utilizando o servio de execuo de alvenaria como exemplo para discutir a influncia de aspectos estratgicos e operacionais sobre o custo do servio, apresentam-se algumas diretrizes para a elaborao de sua estimativa de custos:

    1. envolver o setor responsvel pela elaborao de estimativas em discusses de estratgia de produo: programao e organizao.

    No momento de estimar o custo do servio de alvenaria, necessrio que o setor de estimativa de custos, , conhea algumas estratgias e organizao do canteiro, tais como o local de estocagem, tendo em vista a rea necessria para estocar blocos; estratgias de compra e recebimento de insumos utilizadas pelo setor de suprimentos; Tais informaes so necessrias para que se avalie a necessidade de aquisio de equipamentos transportes especficos. Por exemplo, caso no exista espao para estocar grandes quantidades de materiais e o ritmo da obra intenso, o uso da grua pode ser uma opo a fim de eliminar o uso de transporte horizontal.

    Uma outra discusso se a grua for ser retirada quais equipamentos sero utilizados no transportes dos materiais, haver necessidade de comprar novos materiais? Qual o adicional de mo-de-obra ser considerado? Cabe ao setor de estimativa de custos decidir sobre a forma de considerar tais particularidades.

    Um outro aspecto a considerar o prazo de execuo, dependendo do ritmo requerido, h uma variao em quantidades de insumos semi-variveis ou fixo, como os equipamentos. De forma que dependendo do ritmo da obra, pode haver a necessidade de adquirir mais equipamentos ou equipamentos de maior capacidade produtiva. Como por exemplo, uma argamassadeira por andar ao invs de uma a cada dois andares.

    Tudo isso se reflete no custo do servio de execuo da alvenaria.

    2. considerar nas composies unitrias de custos a mo-de-obra direta (m.o.direta) e de mo-de-obra de apoio (m.o.apoio) como itens distintos, embora se trate do mesmo insumo.

    A subdiviso da mo-de-obra em direta e de apoio permite uma maior preciso do item orado, uma vez que se pode considerar diferentes produtividade e compor diferentes equipes. A quantidade de mo-de-obra de apoio para transporte de blocos quando se utiliza elevador diferente da quantidade requerida quando se utiliza grua, embora a produtividade da equipe de execuo possa ser considerada a mesma.

    Decidir utilizar equipamentos diferentes do planejado inicialmente uma situao corriqueira, de modo que a subdiviso da mo-de-obra permite avaliar o impacto no custo do servio de modo muito mais rpido.

    O uso de composies de mo-de-obra de apoio e mo-de-obra direta permitiria ainda avaliar se a opo por certo tipo de equipamento ou no mais vantajosa quando o equipamento considerado como um item do oramento, desvinculado do servio.

  • 3. utilizar diferentes composies em funo das caractersticas da obra e dos

    equipamentos utilizados.

    Diferentes caractersticas do servio resultam em diferentes indicadores de produtividade no uso dos insumos, a desconsiderao de tal variao pode gerar uma variao de custos na ordem de 16%, como apresentado por Andrade; Souza (2000).

    4. O equipamento deve fazer parte da composio de custos

    Dependendo do equipamento utilizado, no s a equipe de apoio e sua produtividade variam como a produtividade da mo-de-obra direta: usar rgua com bolha de nvel resulta em maior produtividade do que quando se utiliza fio de prumo, por exemplo.

    A equipe de apoio considerada na composio de custo do servio, logo o custo do equipamento deveria ser a considerado, inclusive custo de equipamento de transporte.

    5. A existncia de um banco de dados com indicadores de produtividade dos insumos, considerando diferentes caractersticas de canteiro como nmero de pavimentos, tamanho dos ambientes, rea de apartamento; indicadores de projeto, como ml/m de piso, relao entre rea lquida e rea bruta; indicadores de custo, RS/m, R$/Hh, permite melhores correlaes para estimativas futuras.

    6 CONSIDERAES FINAIS

    As crticas e recomendaes apresentadas objetivam uma maior integrao dos setores planejamento, compras, suprimentos, obras/produo e estimativa de custos, de modo a tornar a estimativa de custo o mais prximo possvel do real.

    Acredita-se que essa integrao possa ser conseguida a partir do momento em que as empresas possurem um sistema de troca de informaes eficiente e procedimentos para obteno de indicadores, os quais devem ser definidos de comum acordo entre os diversos setores.

    As entrevistas mostraram que, embora as empresas saibam das atividades compartilhadas pelos diversos setores, inexistem aes que conduzam a uma interao efetiva entre eles. A ausncia de uma pessoa responsvel por detectar as atividades compartilhadas e fornec-las a cada setor foi apontada como a causapara a no interao dos mesmos. Contudo, a existncia dessa funo no garante a integrao dos setores no momento de tomar decises baseadas em conceitos tcnicos, de custos e de exeqibilidade.

    Apenas a empresa subempreiteira considera uma composio de equipe diferente em funo do equipamento de transporte. Acredita-se que tal fato ocorra pela transferncia de responsabilidade, afinal a produtividade da equipe deixa de ser uma preocupao direta da empresa contratante, pois o custo do servio permanecer o estabelecido em projeto.

    Os dados apresentados no foram reveladores, embora se associe tal fato ao tamanho da amostra, acredita-se que por serem empresas com prticas reconhecidamente boas, uma vez que possuem certificao ou esto em fase de, suas prticas reflitam a realidade da construo civil brasileira, seno da melhor faceta dessa indstria.

    O clculo de custos de servios tem sido feito da mesma forma h muito tempo e a prtica de subempreit-lo no colaborou para seu aperfeioamento; pelo contrrio, tem

  • afastado a atividade de estimar custos do processo de tomada de decises, uma vez que as empresas subcontratadas so geralmente contatadas aps definida toda a estratgia de produo.

    Esse artigo no pretende esgotar as discusses a respeito do assunto; pelo contrrio, discute as carncias do setor de estimativa de custos no sentido de integrar o oramento ao processo de discusso do empreendimento e torn-lo uma ferramenta efetiva de planejamento e controle. Tal trabalho est sendo continuado, seja em termos da ampliao do banco de dados oriundos de estudos de caso, quanto em termos do desenvolvimento das ferramentas que permitiro alcanar-se o objetivo citado, satisfazendo tanto s necessidade detectadas teoricamente, quanto quelas advindas das condies vigentes no mercado da construo.

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    AGRADECIMENTOS

    CAPES pela bolsa concedida a um dos autores desse artigo.