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A angstia e o prazerPargrafo 1.Antes de tudo, cabe aqui fazer uma breve definio dos termos angstia e prazer. E ainda, as possibilidades de derivao destes conceitos em outros.A angstia nada mais do que um estado de tenso, de conflito cujo objetivo se resume a uma soluo que o advento de um constructo antagnico. O que isso quer dizer, afinal? Quer dizer, por exemplo, que se uma pessoa encontra-se num impasse, ela est angustiada, pois no sabe o que decidir. No entanto, no momento em que escolhe e se v diante da impossibilidade de volta, a angstia geralmente desaparece. Digo geralmente porque h casos em que a pessoa, no se dando por satisfeita, fica a remoer a possibilidade de outrora, ou seja, angustia-se ainda mais com o pensamento de que fez a escolha errada e que no h o que fazer para reverter o quadro; muitas vezes, seguem-se quedas na autopunio, resultando por vezes na inrcia mrbida. Nesses casos, importante saber da inevitabilidade do transcurso do tempo e da dinmica vital que se resume dicotomia bipolar angstia-prazer, e cujo fim objetivo no outro seno o da sobrevivncia de si e da sua espcie.O outro conceito a ser devidamente esclarecido o de prazer. Prazer, sob uma tica lcida, uma distenso de uma conjuno anteriormente tensionada. Como exemplos, temos os fenmenos fisiolgicos, como sede e fome. No h maior prazer para o sedento do que gua para dessedent-lo, assim como no h prazer maior para o faminto do que comida para saci-lo. Portanto, temos toda liberdade de postular que no h prazer sem que haja uma fonte de desprazer previamente instalada. Pode-se ainda verificar que destes dois conceitos derivam-se ainda outros muito difundidos, e s vezes equivocadamente entendidos como deles independentes. A felicidade e a infelicidade so ideias que remetem nossa ideia original. Contudo, possuem traos inautnticos, como o carter da permanncia, o qual no faz parte da dinmica da vida e sim do estado de morte. importante fazer a diferenciao correta entre estado e dinmica, aqui entendidos como diametralmente opostos. A definio de um fica mais clara quando baseada no oposto da caracterizao do outro. Assim, temos os termos dinmica vital e estado de morte. A angstia e o angustiar-se tem um carter de mobilizao determinada para um certo fim. Evidentemente que, por promover inquietao e tenso, ela precisa ser compensada. Isso nos permite inferir que a dinmica vital no simplista a ponto de dizermos que o ser perambula entre dois polos absolutos em tempos previamente acordados, e assim mantm o equilbrio. No. Fora assim, e as vidas se equivaleriam. Embora o eixo existncia seja comum a todos, a maneira de ocup-lo singular. E vrios so os fatores que influenciam nisso, como predisposio natural e histria pessoal. Uma noo que temos que ter em mente a do equilbrio do Sistema Universal. Somos parte e como tal tambm estamos sujeitos as regras que regem o Todo. Isto significa dizer que nosso ser, durante o ciclo vital, redundar num equilbrio natural que independe de nossa vontade. O que nos permite afirmar que nosso destino no est atrelado apenas aos nossos planos. Com isso, tambm, nos angustiamos.Somos seres diferenciados porque somos os nicos que temos acesso nossa constituio finita. Isso, diversas vezes, prejudica a dinmica vital, pois a angstia, na maior parte do tempo, supera o prazer. Nesses casos, o dficit tamanho que o ser clama desesperadamente clama pela morte, e quando ela ocorre, seja por quais forem s causas, o prazer proporcional aflio vivida. Chamamos a isso de prazer-da-morte.O sentido da existncia a sobrevivncia, e isso requer mobilidade. Isto , a felicidade plena to pregada seria malfica para tal propsito. A insatisfao e a inquietude, quando devidamente compensadas, so aliados nessa luta pela sobrevivncia. O carter de incompletude acompanha o homem durante toda sua vida. No h nada mais benfico do que uma viso lcida da existncia. A conscincia da finitude, em vez de diminuir a dignidade humana, confere um carter de honestidade e autenticidade durante a jornada vital. O sentimento de seres superiores danosa pois estabelece expectativas irrealizveis. Nisso a iluso, por muitos tida como anestsico e lenitivo para nossa hiperconscincia, desvantajosa para a vida do ser humano. Podemos, numa tentativa leiga de apreender, a existncia humana propor trs equaes filosficas interdependentes:I. Matria + energia = dinmica vitalOnde M e E decrescentes, DV decrescente.II. Angstia + prazer = equilbrio vitalOnde A positivo, P negativo. E vice-versa.III. Ser incompleto + projeto vital = ser 1 ; ser1 + projeto vital = ser2, e assim sucessivamente.

Os opostos so absolutamente necessrios para uma compreenso acertada da existncia como um todo. Abordaremos o antagonismo entre vida e morte.Muitas so as tendncias em excluir da vida alguns caracteres que lhe so peculiares. Para ficar em poucos exemplos, temos a averso dor e a tentativa de suprimi-la, a busca por uma harmonia perene isenta de conflitos, e a idealizao de um estado puro, pleno, absoluto. Tudo isso, contudo, so indicadores de um pensamento que, em vez de considerar a existncia como puramente vida, a tenta aproximar do campo da morte. O que isso quer dizer? Ora, se na morte no h preocupao, no h dor, no h mutaes, no h derrotas, ento a tentativa de adquirir tais isenes de forma perene demonstra uma aproximao paradoxal da morte.De fato, muito estranho pensar que o objetivo da vida seja adquirir estabilidade nos sentimentos, nas sensaes, nas emoes, enfim. Visto que tudo isso se consegue com um simples tiro na cabea e com a consequente morte, fica uma questo inquietante: Ser que o ser almeja o seu fim, de uma forma implcita? Acreditamos que no. Realmente, a morte o fim inevitvel do ser humano; no entanto, essa tendncia de adquirir harmonia perene e plena, tpica da morte, foi-nos incutida pelos ideais positivistas que se instalaram no meio humano quando da necessidade de organizar os indivduos em sociedade. Explico melhor: antes, a unio era necessria por motivos de sobrevivncia. Algum inimigo sondava nossos antepassados e, como isolados no conseguiriam venc-los, eis que surge a ideia de unir-se para lutar num esforo coletivo. A vitria foi do ser humano fato que estamos aqui hoje mas, extinto o inimigo, deveria haver algum motivo para continuar unindo os seres humanos, visto que eles estavam inquietos como naturalmente so, e isso lhes causavam alguns problemas de ordem comportamental. Brigas, ausncia de sentido, entre outras mazelas, sobrevieram nossa sociedade remota quando os problemas de sobrevivncia e autopreservao deixaram de lhes incomodar.Temos a, embora numa explanao superficial da questo, a matriz da ilusria busca pela felicidade e pela completude humana, to difundida em nossos dias e propagada como mola propulsora do comportamento humano. Tal fenmeno ocorre porque, uma vez preenchidas nas sociedades modernas as necessidades por alimento, sexo e luta contra a natureza, a existncia humana, marcada originalmente por um estado de inquietao e movimento-para-alguma-coisa, viu-se entregue a um tdio terrvel. Novos objetivos foram traados e estes passaram a nortear a natureza humana. importante dizer que, como um organismo que , o ser humano se assemelha em muito aos demais seres vivos. O ciclo de nascimento, desenvolvimento, reproduo e morte so comuns a todos. Cabe ressaltar, ainda, que o nico ser que tem conscincia da prpria finitude o ser humano. E isso causa angstia nele, por no aceitar essa realidade. Por outro lado, o nico que acredita que pode alcanar com a mente a amplitude do Sistema Universal. Entretanto, a mente humana foi forjada para a sobrevivncia da espcie e no para uma compreenso ilimitada do mundo.O balano de prazer e angstia fica negativamente desequilibrado, a favor da angstia, quando expectativas exacerbadas so depositadas sobre seus ombros, e ento sob um plano irrealista no que diz respeito condio humana, ele tenta atingir objetivos para os quais naturalmente est desabilitado. Um caso comum tentar agradar ao prximo e aos outros prximos simultaneamente, sem nada deixar a desejar. Outro exemplo tentar compreender o que vai na mente de outrem ou ento no errar nas tentativas de tentar compreender a realidade objetiva. Um mito que precisa cair por terra em prol da existncia autntica achar que a realidade social regida por leis imutveis e que d pra fazer previses com uma preciso matemtica. Ledo engano. Tanto no possvel, como tambm seria contradizer o axioma que a experincia nos legou de que o mundo , puramente, viso de mundo. Face a isto, no h motivos rigorosamente necessrios que nos faam obedecer a certas determinaes do mundo, como se tudo dependesse da cega observncia destas. Falo aqui, evidentemente, da realidade social, da linguagem, dos pontos de vista, da moral, da tica, entre outras. Excluo dessa categoria as leias naturais da biologia, as quais existem independentemente da nossa vontade. Cabe aceitar, portanto, que tambm somos organismo, sujeito s mais diversas intempries. A mente e a vontade, nesse caso, no so mais que subprodutos de reaes que acontecem em ns, como ser vivo habitante um determinado meio.Uma enorme (des)vantagem humana o plano conceitual, que est intimamente ligado com a linguagem. Essa habilidade humana de organizao do mundo atravs da linguagem foi, como j disse, indispensvel para a sobrevivncia de nossos antepassados. No obstante vantagem evolutiva, temos tambm que o plano conceitual por vezes representa uma desvantagem, em alguns casos levando at paralisao do ser. Que fique claro: essa uma caracterstica que s est relacionada aos fatores que motivaram o homem a sobreviver, isto , fatores que interferiam diretamente no balano angstia-prazer. Assim, quando o homem sentia medo, era a angstia controlando. Quando o medo era eliminado ou dele se fugia, o alvio decorrente j pertencia ao campo do prazer. E, dessa forma, chegamos at ns, sempre contrabalanando valores opostos. O grande problema enfrentado hoje em dia o fatdico desequilbrio e a aparente impotncia em lidar com essas foras. Uma pessoa extremamente ansiosa em relao s suas relaes sociais ou ento que possui um elevado padro esttico, deve compreender que agradar o prximo at nos mnimos detalhes ou ser sempre a pessoa mais bonita e indefectvel, nunca foi algo inexorvel que ela precisa cumprir. Isso lhe foi implantado pelo meio, sendo que a forma como recebeu tem a ver com sua configurao original. Ao contrrio da fome, sede, sono, sexo, abrigo, tomados nas suas dosagens normais, essas solicitaes no so originrias e, portanto, podem ser alteradas ou at mesmo eliminadas.Essas noes relativas, tidas erroneamente como objetivas, representam, no raro, a raiz de algumas das mazelas que mais afligem os seres humanos.Resta, pois, num verdadeiro exerccio de autoconscincia, encarar de forma sincera a compleio humana e, uma vez conhecidas as nuances que lhe so inerentes, refletir sobre os modos de existir, seja na inescapvel relao com a alteridade, seja na compreenso de si mesmos.