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BASTOS, Jaqueline Angelotti; OLIVEIRA, Juliete Alves de. A influência da família e das relações interpessoais no processo de escolha profissional. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. SP: Bauru, 2012. A INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA E DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS NO PROCESSO DE ESCOLHA PROFISSIONAL. RESUMO O presente artigo busca identificar e discutir qual a influência da família e das relações interpessoais no processo de escolha profissional de um grupo de adolescentes. Baseia-se nas atividades desenvolvidas no Estágio Supervisionado em Psicologia e Trabalho: Orientação Profissional e Vocacional para o Trabalho realizado durante o ano de 2012 com alunos do terceiro ano do ensino médio do Colégio Técnico Industrial Prof. Isaac Portal Roldán, como requisito para a formação no curso de Psicologia da UNESP – Bauru. Comenta-se sobre o encontro durante o qual a temáica foi abordada e os resultados obtidos. Percebe-se que para essa faixa etária, as opiniões e comportamentos de familiares e demais indivíduos que compõem a rede social adquirem uma importância fundamental no processo de escolha profissional. Destacam-se as relações familiares, as quais podem tornar-se conflituosas e desgastantes. Considera-se que o encontro foi fundamental para que os participantes identificassem esse fator influente em suas escolhas e discutissem formas de abordar a questão. Percebe-se a necessidade de criar programas de orientação também para as famílias, já que essas podem enfrentar diversas dificuldades no momento em que um dos membros está em vias de ingressar na universidade. Palavras-chave: Orientação Profissional, família, relações interpessoais, relato de experiência. 1. INTRODUÇÃO

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BASTOS, Jaqueline Angelotti; OLIVEIRA, Juliete Alves de. A influência da família e das relações interpessoais no processo de escolha profissional. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. SP: Bauru, 2012.

A INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA E DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS NO PROCESSO DE ESCOLHA PROFISSIONAL.

RESUMO

O presente artigo busca identificar e discutir qual a influência da família e das relações interpessoais no processo de escolha profissional de um grupo de adolescentes. Baseia-se nas atividades desenvolvidas no Estágio Supervisionado em Psicologia e Trabalho: Orientação Profissional e Vocacional para o Trabalho realizado durante o ano de 2012 com alunos do terceiro ano do ensino médio do Colégio Técnico Industrial Prof. Isaac Portal Roldán, como requisito para a formação no curso de Psicologia da UNESP – Bauru. Comenta-se sobre o encontro durante o qual a temáica foi abordada e os resultados obtidos. Percebe-se que para essa faixa etária, as opiniões e comportamentos de familiares e demais indivíduos que compõem a rede social adquirem uma importância fundamental no processo de escolha profissional. Destacam-se as relações familiares, as quais podem tornar-se conflituosas e desgastantes. Considera-se que o encontro foi fundamental para que os participantes identificassem esse fator influente em suas escolhas e discutissem formas de abordar a questão. Percebe-se a necessidade de criar programas de orientação também para as famílias, já que essas podem enfrentar diversas dificuldades no momento em que um dos membros está em vias de ingressar na universidade.

Palavras-chave: Orientação Profissional, família, relações interpessoais, relato de experiência.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo principal do trabalho de um orientador vocacional e profissional não é

somente ajudar o indivíduo na escolha de uma profissão, mas também orientá-lo durante o

processo que envolve o desenvolvimento de um projeto de vida. Esse projeto implica na

reflexão e organização de diversas estâncias da vida do indivíduo, que são projetadas para o

futuro, almejando alguns objetivos definidos pelo mesmo. Sendo um processo, envolve

diversas etapas e requer reflexão continua e a aquisição e organização de conhecimentos para

que seja efetivo. Os profissionais da área de orientação vocacional e profissional devem,

portanto, proporcionar meios para que o sujeito seja capaz de indentificar e articular esses

fatores, sempre lembrando que o mais importante desses é a autoreflexão e conhecimento de

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si, cuja ocorrência aumentará a probabilidade de que o indivíduo realize uma escolha

condizente com seu próprio ser, valores, desejos e condições de vida.

Por se encontrarem em fase de transição de ciclo educacional, a maioria dos sujeitos

que buscam a orientação vocacional e profissional estão entre a faixa etária média de quinze a

dezenove anos, de acordo com Bohoslavsky (1980). É nesse momento que se “(...) delineiam

com maior clareza os conflitos relativos ao acesso ao mundo adulto em termos ocupacionais”

(BOHOLAVSKY, 1980, p 14).

Sendo assim, uma quantidade consideravél dos programas destinados à orientação

vocacional e profissional tem como público-alvo essa população e se utilizam de técnicas

focadas para esse período denominado como adolescência. Esse momento do cilco vital se

caracteriza por muitas decisões socialmente esperadas, e a escolha de uma profissão é uma

delas. No entanto é necessária uma visão ampla sobre os principais aspectos que compõem

esse momento, considerando que todas as outras decisões influenciam e são influenciadas

diretamente pela escolha de uma carreira. Portanto, são múltiplos os fatores envolvidos que

determinarão a escolha desse indivíduo, sendo que essa pode tornar-se uma experiência

extremamente negativa caso seja realizada de forma apressada e não refletida

apropriadamente.

Nesse sentido, o trabalho realizado com jovens que estão no processo dessa decisão

deve ser bem planejado, visto que essa decisão é socialmente esperada pela família, amigos,

escola e o próprio mundo acadêmico e do trabalho. A pressão para realizar uma escolha em

certo período de tempo é muito grande e, enquanto orientadores vocacionais e profissionais,

deve-se ter o cuidado para não desempenhar o mesmo papel dos demais indivíduos da

sociedade que, em geral, exigem do adolescente uma escolha rápida, absoluta e com base em

informações pontuais.

Logo, é necessário organizar uma intervenção que possibilite a autoreflexão e o

conhecimento de si, especialmente nesse período da adolescência durante o qual ocorrem

diversas mudanças e questionamentos e o indivíduo está estabelecendo e/ou transformando

sua identidade. Dessa forma, sempre se faz necessário conhecer os sujeitos e o grupo que

constituirão antes de planejar qualquer intervenção, a fim de não gerar demanda extrinseca

em relação as necessidades dos participantes e enviesar os objetivos individuais, já que a

orientação vocacional e profissional deve pautar-se como um meio que contribua para a

formação do adolescente, e não somente como um local que forneça informação e respostas

prontas.

Considerando-se esses aspectos da orientação vocacional e profissional com

adolescentes, percebe-se que um dos ascpectos que devem ser considerados no processo da

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escolha profissional é a influência da família, dos amigos e demais relações interpessoais.

Destaca-se o papel da família, já que essa adquire um papel fundamental na formação do

adolescente. Além de ser o primeiro grupo no qual ele se insere, nessa faixa etária inicia-se o

processo gradual de indepêndencia desse meio, o que pode ocasionar instabilidade nas

relações familiares. A família também começa por exigir mais do jovem, associando a ele um

novo papel no grupo e o inserido no contexto social a partir da instrução de novas regras. Logo,

a família, os amigos e outras relações interpessoais (como professores, por exemplo) são

variáveis externas que influenciam de forma bastante eficaz nesse processo de escolha, pois

transmitem conhecimentos, valores e outras informações que acabam por compor o

pensamento e a forma de agir do adolescente em processo de formação pessoal. Porém,

muitas vezes essas influências não são percebidas pelos adolescentes enquanto tal, o que

requer uma reflexão direta sobre a mesma, a fim de indentificar em que níveis ela ocorre e,

assim, garantir a autonomia do adolescente no seu processo de escolha.

A família é o primeiro contato social que o indivíduo estabelece com o mundo. É a

família quem irá transmitir valores, crenças, modelos de comportamento, entre outros. De

acordo com LUCCHIARI (1997), a história familiar é o ponto de partida para a constituição dos

conceitos que os jovens têm de si mesmos, assim como para a compreensão das suas aptidões.

As escolhas vivenciadas se dão a partir de modelos familiares, que também acabam

influenciando no juízo de valores do sujeito acerca das profissões. Nesse sentido, o jovem

adulto sente necessidade de apoio nesse momento de “luta por uma identidade vocacional”, e

este apoio está relacionado ao grau de expectativas e conflitos, tanto dos pais quanto dos

filhos.

O indivíduo, ao nascer, já carrega consigo uma série de expectativas da família, que ele

deverá (ou não) cumprir ao longo da vida. Os pais depositam seus sonhos nos projetos que

fazem para o futuro do filho e este se desenvolve dentro desse contexto. O indivíduo cresce

entre várias expectativas que irão, de alguma maneira, refletir em seu desenvolvimento

vocacional e no momento da escolha por uma profissão. Acaba, então, por ser inevitável que o

adolescente busque fazer uma escolha profissional de acordo com os valores e

comportamentos estabelecidos por sua família. Segundo Santos (2005, p 58)

“A literatura aponta a família como um dos principais fatores que ajudam ou

dificultam no momento da escolha e na decisão do jovem como um dos fatores de

transformação da própria família. O jovem pertence a uma família, que tem uma

história e características próprias (Bock & Aguiar, 1995). Por isso, é considerado

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essencial para a escolha não somente o conhecimento que ele tem de si mesmo, mas

também o conhecimento do projeto dos pais, o processo de identificação e o

sentimento de pertencimento à família, o valor dado às profissões pelo grupo, assim

como a maneira como o jovem utiliza e elabora os dados familiares.”

Muitas podem ser as formas de influência, sendo elas implícitas ou explícitas.

Enquanto explícitas, pode-se identificar os pais que impõem ao filho uma carreira, falando

abertamente (de forma autoritária ou não) sobre a escolha que o filho deve fazer.

Normalmente, há alguma consequência em aderir ou não a essa exigência dos pais, que varia

desde permanecer constantemente insatisfeito até o desconhecimento de outras

possibilidades e a redução da prórpia autonomia. Algumas vezes a exigência não é explícita,

mas ela fica clara pela consequência que acarreta ao não se escolher por ela. Como

demonstrado por SANTOS (2005), na maioria dos casos é a família quem irá sustentar o filho

durante os estudos universitários. É na família que o adolescente encontra normalmente

suporte emocional e financeiro para a realização do seu projeto. Por esse motivo, existe certa

dependência que pode ser reconhecida como um fator que pode direcionar a escolha de

carreira. Além disso, a escolha profissional é uma oportunidade de provar a lealdade à família e

de cumprir com a sua missão não apenas individual, mas familiar, mantendo o legado presente

na mesma.

Enquanto influência implícita é possível citar a relação que os próprios pais mantêm

com o mundo do trabalho. A identidade ocupacional forma-se através da autopercepção que o

indivíduo tem dos papéis profissionais com os quais tem contato ao longo de sua existência,

principalmente no que diz respeito a figuras significativas, como pais, familiares e professores.

A profissão dos pais e familiares e a forma como estes vivenciam suas ocupações são fatores

influentes na decisão do jovem. As representações que os pais têm das profissões são

transmitidas, de forma intencional ou não, através da valorização das dimensões que eles

consideram mais importantes para o sucesso profissional (por exemplo, prestígio,

independência, remuneração, realização pessoal), dos estereótipos associados às profissões, e

dos significados atribuídos ao trabalho.

A dinâmica familiar também parece influenciar no processo de escolha de carreira

(ANDRADE, 1997). A maneira como a família se organiza e se relaciona com a sociedade,

fornece informações para o indivíduo de modelos comportamentais. Como a família se

comunica, lida com conflitos, se expõe, entre outros aspectos da dinâmica familiar, são

modelos que vão influenciar diretamente no processo de formação de identidade do indivíduo

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e podem se estender ao processo de formação de identidade profissional. Além disso, a

escolha profissional não afeta apenas o jovem individualmente, mas o grupo familiar é direta

ou indiretamente afetado pela escolha profissional, sendo necessário investigar como essa

escolha modifica a dinâmica do grupo familiar.

Nem sempre o apoio dos pais facilita o processo de escolha, assim como nem sempre a

liberdade que os pais propiciam para o filho realizar a escolha gera segurança e garantia de que

a mesma será feita da melhor forma possível , ao contrário, ambos os casos podem gerar

ansiedade. Nesse sentido, de acordo com Almeida & Pinho (2008, p. 180)

“As formas de influenciar podem também ser explícitas, através de opiniões expressas

pelos membros familiares. O fato é que na estrutura familiar por vezes o jovem sente-

se forçado a seguir carreiras familiares pela pressão imposta na família. Por outro lado,

conforme constatou Santos (2005), a liberdade excessiva por parte dos pais pode

causar insegurança e, até mesmo, uma sensação de desamparo e dúvidas. Faz-se

importante, então, que o jovem considere as influências recebidas pela família, quer

elas sejam explícitas, quer sejam sutis e expressas implicitamente. Segundo Andrade

(1997), o reconhecimento destas influências pode vir a colaborar com a elaboração de

um projeto de carreira, pois o indivíduo pode usá-las de forma positiva e construtiva,

de maneira a adequá-las aos seus próprios desejos e valores.”

Apesar de a família ser considerada importante no momento da escolha, o jovem não

baseia sua decisão apenas nos familiares. Ele é influenciado pelos pares, que são os “outros”

significativos na sua vida. HARRIS (1995), contrapondo-se às referências anteriores que

destacaram o papel da família, demonstra em seu trabalho evidências de que o papel dos pais

não tem efeito duradouro ou decisivo no desenvolvimento infantil, mas que o contexto no qual

vivem as crianças, seu processo de socialização e seus pares são, na realidade, os responsáveis

pela formação da criança, sendo estes os responsáveis pela transmissão cultural e,

consequentemente, pela construção dos valores. De acordo com o trabalho desenvolvido por

Lassance & Souza (2010, p 281)

“[...]a maioria dos estudantes assumiu que os amigos são valorizados como fonte de

apoio emocional e troca de informações sobre a opção estudada. Embora paradoxal,

este resultado aponta que, mesmo não reconhecida pelo indivíduo, a amizade exerce

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um papel importante no processo de escolha profissional através da cooperação. O

estabelecimento de laços de amizade envolve o desenvolvimento de habilidades

sociais, que, embora tenham uma raiz no temperamento do indivíduo, são,

inegavelmente, passíveis de treinamento e aprendizagem, principalmente através da

modelagem, com a observação do comportamento dos outros significativos, como

pais e pares. [...] É no grupo de pares que o adolescente faz seus primeiros ensaios de

autonomia, desempenhando seu papel social da forma como gostaria de ser visto, ou

seja, faz seus primeiros ensaios de imagem social.”

De acordo com CIAMPA (1994), a adolescência é caracterizada por esse momento de

identificação e trocas com os pares. Aspectos como lealdade, autorevelação, confiança,

honestidade, comprometimento e respeito são mais valorizados nas interações entre amigos,

explicitando, assim, a influência que esses exercem no processo de escolha profissional.

Portanto, o adolescente percebe que, por um lado, deve permanecer ligado à família

por fidelidade e, por outro, que existem pressões sociais nem sempre condizentes com os

valores familiares, sendo essa uma relação triádica. Quanto maior o seu vínculo com o grupo e

com os pares, maior a indecisão no momento da escolha. Isso, por sua vez, é agente gerador

de dependência na medida em que o adolescente se identifica com o grupo e, portanto, não

deseja separar-se dele. O mesmo pode se dar em relação ao núcleo familiar.

Nesse sentido, o trabalho de um orientador vocacional e profissional é o de

conscientizar os adolescentes sobre como a variável família e relações interpessoais também

interfluem no processo de escolha profissional e, assim, utilizar as informações e reflexões

sobre os contextos – tanto familiar, quanto o de pares – a seu favor no momento da escolha

profissional, a partir da promoção de um espaço de discussão e apoio.

Assim, o encontro sobre família e relações interpessoais na escolha profissional objetivou

que os participantes: refletissem sobre como a família e os pares são elementos centrais no

processo de decisão de escolha profissional, identificassem a existência e a funcionalidade

dessa influência em seu cotidiano, desenvolvessem habilidades para que, futuramente,

realizem uma escolha profissional conscientes dessa influência e utilizem, se possível,

características do contexto familiar e dos pares como um elemento facilitador no processo de

escolha profissional.

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2. METODOLOGIA

O projeto de Orientação Vocacional e Profissional no Colégio Técnico Industrial Prof. Isaac

Portal Roldán, organizado por duas estagiárias do Estágio Supervisionado em Psicologia e

Trabalho: Orientação Profissional e Vocacional para o Trabalho da UNESP – Bauru estruturou-se

a partir de encontros semanais com duração de duas horas cada. Cada um desses abordou uma

temática relacionada à escolha profissional e construção de um projeto de vida de forma a se

articularem para a melhor compreensão e engajamento dos participantes.

O encontro sobre família, amizade e relações interpessoais no processo de escolha

profissional foi o terceiro realizado como parte do projeto. Participaram quatro adolescentes

do terceiro ano do ensino médio, com faixa etária entre 16 e 17 anos, dois do sexo masculino e

duas do sexo feminino. Realizou-se a retomada dos encontros anteriores e a aplicação de três

técnicas: Acróstico Família e Profissão, Árvore Genealógica das Profissões e Troca de um

segredo. Ao final, solicitou-se que os participantes avaliassem o encontro completando

algumas frases sugeridas.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

ACRÓSTICO FAMÍLIA E PROFISSÃO.

A primeira atividade do encontro constitui-se na construção de um acróstico por parte

dos adolescentes. A partir ds palavra família escrita verticalmente, os mesmos deveria escrever

palavras que associavam a relação família e profissão/escolha profissional na horizontal, sendo

essas iniciadas com uma das letras da palavra família.

Inicialmente, os participantes demonstraram certa dificuldade em escolher uma

palavra sobre a relação proposta que começasse com uma letra específica, o que demandou

certo período de tempo para concluirem a atividade. Após o término, cada um deles leu sua

produção para o grupo e realizaram-se comentários sobre o porquê da escolha de tal palavra.

Nesse momento surgiram aspectos que, segundo os participantes, caracterizavam suas

famílias e quais os valores que a mesma associava a carreira e profissão. Destaca-se a

preocupação que as famílias manfestam em relação ao futuro do adolescente, o suporte

emocional e instrucional que oferecem, as expectativas que têm em relação a carreira do

jovem, o nível de controle que exercem sobre ele, etc. Identificou-se e discutiu-se sobre os

diferentes ascpetos que compõem a dinâmica familiar e sua influência nos comportamentos,

valores e pensamentos dos adolescentes. Esses argumentaram, no geral, que a família da qual

fazem parte exerce uma influência significativa nas escolhas que realizam no cotidiano, sendo a

mesma muito valorizada pelo grupo.

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Assim, a atividade adiqiriu a função de aquecimento, para se iniciar a discussão sobre o

tema. A dificuldade inicial dos participantes mobilizou os mesmos para pensarem sobre algo

que até então não haviam considerado de forma aprofundada. Possibilitou a identificação e

percepção de características das famílias as quais pertencem, além de expressarem

sentimentos e pensamentos que apresentam em relação às mesmas.

ÁRVORE GENEALÓGICA DAS PROFISSÕES

A atividade proposta em seguida foi a construção de uma árvore genealógica das

profissões presentes na família. Para cada membro, os participantes deveriam assinalar qual a

ocupação do mesmo. Não havia limite de membros a serem assinalados e estes poderiam estar

vivos ou não.

A maioria iniciou a árvore a partir da profissão dos avós e avôs. Somente um

participante conhecia a profissão dos bisavôs. Alguns participantes não soubeream afirmar a

profissão de todos os membros da família ou essa continha muitos membros então optaram

por escolher os mais próximos para indicarem na árvore. Ao término desse primeiro momento,

os participantes expuseram o resultado de suas produções para o grupo.

Três das árvores produzidas se destacaram no grupo. A primeira apontava pela

presença de carreira militar (policial) em diversas gerações da família, principalmente devido a

influência de um patriarca. Apesar de alguns membros possuirem formação universitária em

outra àrea, alguns acabavam por optar pela carreira policial posteriormente. Quando

questionado se tinha algum interesse em ser policial militar, o adolescente que representou

essa família admitiu que durante algum considerou optar por essa carreira, mas devido à

alguns atributos físicos, ele não estaria apto para a àrea. Já outra árvore genealógica que se

destacou foi a de uma participante cujos os membros da família nuclear, em sua maioria,

trabalham em algum setor da UNESP – Bauru. Assim, a família exerce certa pressão para que

ela escolha uma graduação da faculdade e permaneçaa próxima à mesma. A terceira árvore

produzida indicava que alguns membros eram professores, sendo os pais da área de exatas,

enquanto uma tia (que não se relacionava bem com a família) pertencia à área de humanas. O

adolescente citou como os pais desvalorizavam a àrea de humanas e sugeriam ao filho que

escolhesse uma carreira na área tecnológica.

Já a produção da última participante indicou maior variabilidade de profissões

presentes na família e pouca relação entre as àreas de interesse dela e as em que seus

familiares atuavam. A família, portanto, não demonstrava grandes pressões quanto a escolha

de uma dada carreira, demonstrando apoio independentemente da qual ela escolhesse.

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Esses aspectos expostos pelos participantes foram ressaltados durante a discussão que

se seguiu. Comentou-se sobre a pressão que a família exerce para que o adolescente continue

o legado nela presente, pois, se esse enfrentar alguma dificuldade, a família poderá auxiliá-lo já

que apresenta conhecimentos sobre uma dada carreira. Discutiram-se também pontos

negativos e positivos de exercer a mesma profissão presente em diversas gerações em uma

mesma família. Os participantes cujas famílias exerciam tal pressão, em diferentes níveis,

demonstraram vontade de enfrentá-las caso optassem por uma graduação diferente da

sugerida pelos membros. Nesse sentido, comentaram-se as implicações desse enfrentamento,

novamente destacando a dinâmica de cada grupo familiar.

TROCA DE UM SEGREDO

Em seguida, buscou-se identificar e avaliar as habilidades interpessoais dos

participantes. Para tanto, propôs-se que cada um escrevesse uma dificuldade que encontra nas

relações interpessoais. Em seguida, as mesmas seriam colocadas em uma caixa e cada um

sortearia uma questão, leria e apresentaria uma possivel solução para mesma. Porém, os

participantes atentaram para o fato de cada um conhecer a caligrafia do outro, o que não

possibilitaria o anonimato que a atividade propunha. Sugeriram então que as estagiárias

lessem as dificuldades e na semana seguinte trouxessem sugestões de como enfrentá-las. As

estagiárias, por sua vez, ressaltaram a participação de todos com sugestões sobre as

problemáticas apresentadas. Logo, sugeriram que elas lessem as questões e o grupo

comentasse sobre. Uma das participantes não quis que sua questão fosse lida após as demais

terem sido comentadas. Entretanto, a mesma precisou ir embora antes do encontro terminar e

antes de sair, leu sua questão, mas não quis comentar sobre. Os temas que apareceram foram

auto-estima, timidez, importar-se com pessoas que não demonstram o mesmo, entre outros

relacionados ao papel atual do adolescente na sociedade, o que esse espera de si e dos

demais. A discussão foi muito rica, principalmente em relação à auto-estima, cobranças sociais

e pessoais, questões de gênero, etc. As estagiárias incentivaram a reflexão no sentido de fazer

os participantes questionarem certas exigências sociais e reforçar o estabelecimento de metas

reais considerando, em ambos os casos, a situação e desejos de cada um.

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AVALIAÇÃO DOS PARTICIPANTES

Como avaliação foi entregue uma ficha em que os participantes escreveram sua

opinião sobre o encontro. Tanto as estagiárias, quanto os participantes avaliaram o encontro

como positivo. Essa temática já era esperada pelos participantes, que se demonstraram

engajados nas atividades e expuseram reflexões coesas e importantes, atendendo os objetivos

propostos. Sugeriram que nos próximos encontros fosse continuada a abordagem da influência

das relações familiares na escolha profissional, assim como a inclusão dessas no projeto de

vida.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS.

A avaliação final dos participantes foi muito positiva. Segundo eles, o projeto de

Orientação Vocacional e Profissional contribuiu para que eles identificassem quais variáveis

influenciavam seu processo de escolha profissional, o que valorizavam em suas futuras

carreiras e como se organizarem para estabelecer e realizar objetivos. Apesar de alguns

encerrarem o processo sem uma decisão definitiva quanto à escolha profissional,

argumentaram que os conteúdos trabalhados auxiliarão na escolha que pretendem realizar no

próximo ano.

Geralmente não há preparo para esse momento da escolha profissional, tanto para o

adolescente quanto para a família. Pouco se pensa nos impactos que um filho na universidade

representa para a dinâmica familiar, limitando-se a questões financeiras. Quais são os novos

papéis que se formam? Quais as novas responsabilidades e atribuições? 365 dias podem

parecer poucos diante de tantas habilidades, conhecimentos, reflexões e adaptações que

adolescentes e famílias precisaram atravessar para enfrentar essa nova fase, mas podem ser

cruciais em alguns casos para que esse momento seja vivido por esses sujeitos da melhor

forma possível, através de ações que contribuam com o autoconhecimento, revisão de papéis

familiares, implicações de escolhas e a construção de um projeto de vida em diversos aspectos,

não somente profissional.

Trabalhar a influência da família e das relações interpessoais se demonstrou de

extrema importância, uma vez que foi possível perceber que são variáveis que os adolescentes

consideram de grande influência no momento da escolha profissional, sendo de forma explícita

ou não. O encontro possibilitou trabalhar o tema, tornando os adolescentes conscientes sobre

esse papel que a família e os pares exercem, a fim de que eles mesmos pudessem refletir e

decidir até que ponto era positiva a influência que esses exerciam e de que forma a escolha

profissional estava sendo pautada na opinião desses. Nesse sentido, trabalhar o tema família e

relações interpessoais na escolha profissional é considerado essencial em qualquer trabalho de

Orientação Vocacional e Profissional.

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5. REFERÊNCIAS

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ANDRADE, T. D. (1997). A Família e a estruturação ocupacional do indivíduo. Em R. S. Levenfus, D. H. Soares-Lucchiari, I. C. Silva, M. D. Lisboa, M. C. Lassance & M. Knobel, Psicodinâmica da escolha profissional (pp. 123-135). Porto Alegre: Artes Médicas.

BOHOSLAVKY, Rodolpho. Orientação vocacional: a estratégia clínica. São Paulo: Mantins Fontes, 1980

CIAMPA, A. da C. Identidade. In: LANE, S. T. M.; CODO, W. (Org.). Psicologia Social: o homem em movimento. 13. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 58 – 75.

HARRIS, J. R. (1995). “Where is the child´s Environment? A Group Socialization Theory of Development”. Psycological Review, 102, 458-489.

LUCCHIARI, D. H. (1997). Uma abordagem genealógica a partir do genoprofissiograma e do teste de três personagens. Em R. S. Levenfus, D. H. Soares-Lucchiari, I. C. Silva, M. D. Lisboa, M. C. Lassance & M. Knobel (Orgs.), Psicodinâmica da escolha profissional (pp. 135-160). Porto Alegre: Artes Médicas.

SANTOS, Larissa Medeiros Marinho dos. O papel da família e dos pares na escolha profissional. Psicol. estud. [online]. 2005, vol.10, n.1, pp. 57-66. ISSN 1413-7372.