Artigo Arte Popular e Museu
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Museu de Arte Popular como espaço da comunicação da cultura popular
Maria Barthez1
INTRODUÇÃO
O museu considerado como instituição, que procura ilustrar a evolução da Humanidade
através dos documentos que o passado nos legou, cumpre, na sociedade de hoje, e no
enquadramento dos parâmetros traçados, mais premente que nunca, a necessidade de
comunicar, desvendar, elucidar, os fragmentos das culturas e civilizações
protagonizadas pelo Homem. Contudo, a sua dinamização deriva da adaptação às
coordenadas da sociedade na qual se move.
Neste contexto, arrogado como centro de cultura, o museu procura revitalizar a sua
capacidade dialogante e dialógica, assumindo-se como esfera de comunicação entre o
pretérito, o presente e a posteridade. No papel de emitente, a instituição age, enquanto
responsável pela actuação, como pólo catalisador do meio comunitário e desmistificador
junto do homem comum, ao interpretar os campos de saber (ciência, cultura e arte).
Neste sentido, a colecção, os objectos, são o cerne da comunicação que se pretende
incrementar, a mensagem fulcro e fonte de todo o discurso museológico, através do qual
perpassam todas as informações que o museu procura difundir. Inevitavelmente tudo
converge para um potencial receptor da mensagem, que o museu procura agregar: um
público cada vez mais vasto, sob o ponto de vista etário, sociocultural, ético e estético.
O enfoque dado ao Museu de Arte Popular (MAP), à sua relação orgânica entre
topografia de comunicação e cultura popular, é, a meu ver, coerente com que o pretendo
como objectivo para esta comunicação: o registo do processo de comunicação inerente,
considerando o fenómeno de folkcomunicação2, detectando estratégias (exposições,
técnicas de comunicação), e abordando o seu acervo enquanto pólo de aproximação
entre emitente e receptor, entre o museu, como espaço ou esfera de comunicação e o
público usuário.
No âmbito da comunicação em museus, tema por excelência a explorar nesta
comunicação, detenhamo-nos nas reflexões apresentadas por sobre esta temática.
1 Doutoranda em Museologia e Património Artístico, Universidade Nova de Lisboa, FSCH, Email: [email protected]
2 Recorro a este neologismo por uma questão pragmática e metodológica, que pretende articular de forma imbricada, e intestina,
cultura popular e comunicação.
Assim, segundo Santos Alves, “os museus e a sua identidade, encontram-se num
momento decisivo da sua história”, sendo a sua sobrevivência neste século XXI,
orientada em função de um melhoramento considerável “do serviço público com maior
conhecimento das necessidades dos visitantes e uma maior vontade de oferecer
experiências gratificantes e proveitosas” (ALVES, 2010, pg.1). Será pois dado às
alterações, que os museus de arte e galerias de todo o mundo tem vindo a sofrer, a
passagem de “simples armazém de objectos (…) a lugares de activa aprendizagem”
(Alves, 2010, p.1,) que se justifica “uma reestruturação radical da cultura e um
aprofundamento das formas de trabalhar, a fim que o museu possa acompanhar novas
ideias e tendências” (HOOPER-GREENHILL, 1998).
Detenhamo-nos então no museu como espaço de comunicação que encontra eco nesta
nova orientação. Para tal, ainda segundo Alves, este “mobiliza toda a panóplia de
comunicação de massas, proporcionada pela Revolução digital [que] faz das estratégias
para a frequentação museológica um vector crucial para a sua fruição, que visa uma
fusão conflitual fecunda entre usuário e obra de arte, entre cultura erudita e cultura
popular. (ALVES, 2010, p.1).
O Museu de Arte Popular, como processo comunicacional
Enquadramento
A cultura popular, entendida “à letra como tudo aquilo que é a criação do povo ou do
que o povo se apropriou, fazendo hoje parte do seu património espiritual, moral ou da
capacidade de realização prática” (DIAS, 1948, p.1), tão afastada dos discursos oficiais
do exercício do poder em Portugal, não merece ser visionada como o “parente pobre” da
Cultura.
Neste sentido, há que evocar e revigorar esta memória para que não seja definitivamente
extinta. Desmemoriado do passado, deturpando a actualidade, desconhecendo o porvir,
Portugal parece, no quadro da importância e da magnificência da cultura popular,
tropeçar a cada passo, apesar das declarações efémeras de alguns políticos,
provavelmente para se iludirem a eles próprios e ao povo.
Neste sentido, revisitar o MAP, desde a sua criação até aos dias de hoje, como espaço
de comunicação, é uma necessidade para se poder aquilatar o poder e a influência da
cultura popular, do mesmo que olhar o Museu como ingrediente na construção de um
imaginário é, também, neste texto objecto de estudo.
O MAP, em Lisboa, situa-se num edifício, construído, em 1940, para a Exposição do
Mundo Português, destinado à Secção de Vida Popular, e que o acolheu, a partir de
1948. Esta Instituição traduz o culminar do processo síntese de fixação simbólica e
estética da cultura popular, derradeiro elemento no processo de caracterização
conceptual, fixada através de manifestações de cunho popular, que sublinhavam o
carácter rural do país. Assente num discurso marcadamente etnográfico acordado na
veiculada “felicidade de um povo”, a cultura popular concretiza a síntese dos valores do
entendimento ideológico estabelecido pelo regime e seguramente desenvolvida e
difundida pelo respectivo órgão de propaganda, (Secretariado da Propaganda Nacional
/SPN).
Concebido como espaço de reunião da “raiz do nosso carácter” (FERRO, 1948, p.8),
corroborado pela arte popular, o MAP materializa vários ingredientes comunicacionais
como atempadamente serão explanados, tendo com elevado primeiro momento, neste
campo, o discurso proferido por António Ferro no dia da sua inauguração.
Procurando veicular a mensagem da existência de uma certa homogeneidade em torno
da conceito de cultura popular e arte popular, Ferro, um comunicador por excelência,
apresenta o Museu que se então inaugurava como o “sonho que se torna realidade ao
fim de muitos anos de ansiedades e pesquisas, de entusiasmos e desalentos (…),
exemplificação viva (…), retrato de um povo que não quer renunciar nem à sua graça
nem ao seu carácter” (FERRO, 1948, pppp?). Perspectivando-o numa campanha de
“ressurgimento étnico”, convocando essa arte eminentemente nacional, Ferro acrescenta
ainda que “tudo afinal obedecia ao pensamento da primeira hora, à finalidade da
construção deste Museu” (FERRO, 1948, p.9).
Realce deve ser dado a dois processos inerentes às palavras de Ferro que apreendem a
folclore/cultura popular como forma de comunicação construída a partir da
interpretação das mensagens veiculadas. Refira-se então em primeiro lugar a
apresentação de um Museu para dar a ver, para comunicar, para interagir com o usuário
que vai frequentá-lo e simultaneamente a intenção neste caso de reflectir sobre a aqui
presente, teoria da folkcomunicação (enquanto variante de um sistema global de
comunicação), segundo Luís Beltrão, em 1967. Definida como “o processo de
intercâmbio de informações e manifestação de opiniões, ideias e atitudes da massa, por
intermédio de agentes e meios directa ou indirectamente ligados ao folclore”
(BELTRÃO ?????).
Encontramo-nos assim perante a existência de um agente, comunicador, António Ferro,
que utiliza o folclore/cultura popular para concretizar o processo de informação e
comunicação acerca da Instituição. Aliás, face ao vivo interesse, esta teoria será ainda
objecto de referência ao longo do presente texto, ao contemplarmos a importância de
que se reveste o seu acervo, enquanto arte representativa de formas interpessoais ou
grupais de manifestação cultural de um povo, da sua linguagem, “da sua expressão do
seu pensar…” (BELTRÃO, 2004, p.118).
Topografia da comunicação
Enquanto campo de recepção, apropriação e interiorização da obra de arte, o MAP é,
desde a sua criação pela inovadora semiótica utilizada, traduzida numa topografia
própria, um lugar de aprendizagem e fruição, articulado com a indústria do lazer e do
turismo3.
Neste contexto, analisemos um conjunto de premissas em que nos é dado constatar, ou
seja, a existência de fenómenos de comunicação, que abrangem a área da museologia.
Projectado pelo arquitecto António Maria Veloso Reis Camelo e João Simões, o Museu
apresenta vários corpos de forma rectangular e quadrangular, conjugando elementos
modernistas, e de carácter tradicionalista, pontuado exteriormente por relevos, que
reproduzem cenas campestres e de trabalho do povo português. A sua arquitectura, o
modo como foi concebida, a apresentação dos relevos inserem-se numa estratégia de
comunicação, orientada para, desde logo, interagir com um público, expectante tanto ao
que visualiza, quanto às suas características, como ao que marca o seu interior.
Internamente, o espaço de recepção, espécie de "pórtico público", onde conflui o
usuário, e se inicia o seu relacionamento directo com o Museu, funciona como uma
síntese alegorizada, de tudo o que seria apresentado nas salas. Efectivamente, a
comunicação e a informação veiculadas exprimem-se através de um conjunto de
notáveis pinturas murais, aliás presentes em todas as salas/regiões da MAP.
Autênticos ensaios de pintura modernista, de cores garridas e traços fortes, os murais
retratam o Povo, quando participa em procissões, enquanto trabalha e se recreia em
romarias, vivendo no seio de autênticos cenários bucólicos.
3 Este Museu foi também criado, com o intuito funcionar como um agente de turismo do País.
Manuel Lapa e Tomás de Mello (Tom), Eduardo Anahory, Carlos Botelho, Paulo
Ferreira e Estrela Faria (pintores modernistas) são os autores, respectivamente, das salas
dedicadas às regiões de Entre-Douro-e-Minho, Trás-os-Montes, Algarve, Beiras,
Estremadura e Alentejo.
1) Organização das salas
Convertido em espaço museológico, a cargo do arquitecto Jorge Segurado, a
organização das salas do MAP obedece à distribuição das províncias de Portugal
continental, que comunicam entre si através de corredores, recriando as várias regiões
do País, através das quais se agrupam as colecções de arte popular. Com características
únicas e ímpares, atente-se, a exemplo, na recriação de uma varanda de uma casa da
região Trás-os-montes, que define um discurso que utiliza códigos sensoriais que assim
pretendem responder às inquietações buscas e às mais diversas manifestações do
usuário, que visita o MAP.
Na economia e na geografia da exposição permanente (estrutura básica, o mecanismo
específico mais imediato de comunicação entre o Museu e o público), que vigorou
desde 1948 até ao desmantelamento do Museu em 2007 (onde se manteve quase
inalterado a ordem expositiva ou conceptual), o discurso expositivo adoptado, foi
marcado pela imagem, enquanto veículo de comunicação adoptado por excelência,
fortemente apoiado por toda a encenação da própria exposição.
Na verdade, conseguida, propositadamente, uma unidade de conjunto detectável
(definida por um projecto museográfico coerente) em todo o acervo exposto, mobiliário
expositivo, montagem de peças, dispositivos de contextualização e interpretação das
colecções, concepções cénicas, percurso veladamente proposto, o resultado foi como
que a criação de “um museu vivo que me lembra certos aquários de peixes exóticos
onde o colorido inverosímil é autêntico.” (FERRO, 1948, p.22).
O mobiliário expositivo presente constitui outra tónica da exposição. Especialmente
idealizado e construído para um museu em Portugal, revela o cariz tradicionalista
moderno e português (com o recurso a materiais orgânicos, e nacionais, como a cortiça,
cairo, ferro forjado, madeiras maciços e folheados), devendo deste modo, ser também
encarado como agente comunicador. Assume este papel, enquanto elemento que actua
sobre o objecto, na medida em que possui um conteúdo significante, que emite a
mensagem pretendida, a do relacionamento objecto museal/influência do espaço, em
que este se integra organicamente e determina a relação específica que cada indivíduo
trava com o que lhe é dado a observar.
A própria distribuição disposição das peças adoptada, fazia prevalecer uma estratégia de
apresentação baseada na constituição de conjuntos, prevalecentes em relação aos
objectos unitários. Constituindo-se como um mostruário da etnografia nacional, o seu
arranjo museológico, influenciava a leitura da exposição, que assim faz propagar a
mensagem do existente no ambiente de festividade rural, que marca o espírito do
Museu.
2) A Colecção
Como testemunho da cultura popular portuguesa do século XX, o acervo do MAP é
constituído, na sua maioria, por peças de cerâmica, figurado, ourivesaria, instrumentos
musicais, cestaria, têxteis, trajos e bordados, miniaturas de barcos e carros de tracção
animal, alfaias agrícolas, reconstituições de habitações rurais, entre outras.
Neste campo, estes objectos de cultura material, são por excelência, o veículo de
comunicação com o seu público, a expressão concreta da mensagem que se quer
transmitir. A utilização da colecção implica uma atitude criativa, dado que a sua
capacidade significante não se esgota na sua representação: pela sua força primeiro, sem
o carácter de ostensivo, depois pelo acto sublime que é comunicar e fazer comunicar.
São inúmeras as possibilidades que cada objecto oferece, quer isolados, quer na sua
relação com o conjunto ou com os desígnios de cada público.
Neste contexto, “apossemo-nos” de algumas peças pertencentes ao espólio do MAP
nomeadamente do figurado da região de Entre-Douro-Minho, cerâmica, orientada por
produção diversa, pois os barristas reproduzem em barro tudo o que vêem e sentem.
A produção de pequenas figuras representando pessoas e animais, em cuja base era
colocado um apito ou instrumentos musicais (gaitas, ocarinas, rouxinóis, cucos...), com
função eminentemente unicamente lúdica, regista mais tarde nova atitude: representar
quer o quotidiano, quer o imaginário religioso e fantástico recortado de rituais e lendas
da tradição oral da região, contribuindo assim, para atribuir um novo conceito de
utilidade a estas peças, agora feitas para deleite e desfrute e captação de uma mensagem,
de quem as detêm.
A sua selecção entre as peças, que compõem o acervo do MAP, prende-se com a
possibilidade de revisitar o ideário de Beltrão no tocante ao conceito de
folkcomunicação. Beltrão, ao observar o ex-voto como “um veículo da linguagem
popular, de seus sentimentos” (BELTRÃO, 2004, p. 123), vê efectivamente no folclore
(traduzido no MAP em bonecos de barro, e não só, face à imensidade de objectos) “ um
dos grandes canais de comunicação colectiva” (Beltrão, 2004, p. 117)4. É através deles
que “as classes populares podem entender-se e fazerem entender-se” (Beltrão, 2004, p.).
Ainda para este autor, “as manifestações do folclore não [são] como a simples
manutenção de tradições, revividas ao longo do tempo e espaço por meio da oralidade e
da perseverança das classes oprimidas. (…). Na verdade, tais desenfados são desabafos.
Explosões e não estratificações. Revestem-se de actualidade e não de memória”
(BELTRÃO, 2004, p. 45).
Com base ainda no ideário de Beltrão, detenhamo-nos na versão actualizada da sua
teoria da folkcomunicação, em que o autor propõe a classificação dos fenómenos da
comunicação popular, que elencam numa tipologia de géneros folkcomunicacionais.
Utilizando a divisão em cinco géneros, posteriormente discutida em função de algumas
questões problemáticas surgidas, e objecto de alguma adequação relativamente à
problemática existente, entre a definição das fronteiras entre “oral e o musical”, por um
lado, e, por outro, “o carácter reducionista da escrita”, posso articulá-la com a mesma
temática abordada por Marques de Melo.
Neste âmbito, Melo, ao tratar esta temática, introduz na tipologia da folkcomunicação
pequenas alterações (MELO, 2005). Com efeito, é na folkcomunicação icónica, ao
contemplar “a forma de expressão de determinada pela combinação de canal e código
(canais óptico/táctil/códigos estético/funcional) e que se divide em diversos “formatos”,
mas que será no diversional, que deveremos inserir, o figurado da região norte de
Portugal, na medida em que a mensagem veiculada é por vezes encapotada por
intenções recreativas. Na verdade, este elenco da tipologia da folkcomunicação deverá,
contudo, e na mesma esteira do que afirma M. de Melo, vir a ser testada através de
“elaboração de fontes documentais ou realização da pesquisa de campo”, para a sua
validade como meio de efectivação desta teoria.
Aprofundando o MAP, posso dizer que este encerra um discurso expositivo muito
próprio, com destaque para o design moderno, as soluções cenográficas, a colecção,
4No artigo, Luiz Beltrão, “O ex-voto como veículo jornalístico”, o investigador observa o ex-voto como “um veículo de linguagem
popular e dos seus sentimentos”, afirma que é tempo de não continuarmos a apreciar nessas manifestações folclóricas apenas os seus
aspectos artísticos, a sua finalidade diversional, mas procurarmos entendê-las…, a expressão do seu pensar” (Beltrão, 2004, p.118). Lançado o mote, há que repensar muito do acervo do MAP e instituir-lhe nova funcionalidade enquanto parte do fenómeno de
folkcomunicação, sistema de comunicação que se apropria do folclore para comunicar.
tudo em prol de um programa museológico integrado e coerente, que, consubstanciando
os aspectos focados de forma dinâmica conceptual e interpretativa, consegue estabelecer
a comunicação com o seu público. É testemunho de uma cultura popular, que viu os
seus conteúdos vertidos na colecção, que apresenta, e que envolve também, e sempre,
fenómenos comunicacionais, a folkcomunicação. Porém, é precisamente num Museu do
séc. XXI que urge pensar o MAP e a sua identidade, e desenvolver as estratégias que,
como serviço público, venha a oferecer aos usuários. Pretende-se que venha ocupar o
“tal” lugar de aprendizagem e fruição, dedicado ao prazer e ao consumo cultural, em
que a acção comunicacional cumpre função capital.
Neste âmbito, torna-se necessário que se utilizem vários discursos utilizando códigos
verbais e sensoriais que respondam aos diferentes tipos de inquietação busca e
ansiedade sentidas pelo usuário (das intenções das mais espontâneas às mais
complexas), que procura o Museu.
As estratégias a ter em conta, que implicarão novas abordagens comunicacionais, a
partir de pressupostos fundamentados na comunicação museológica como factor de
modernidade da Instituição, deverão, para além do recurso das técnicas de informação e
comunicação que o progresso coloca ao seu dispor, centrar-se no usuário, para quem a
exposição permanente e temporária – às quais se tem vindo a conferir, ao longo dos
anos, mais vitalidade, enquanto síntese do acervo da Instituição, com novos canais de
divulgação da mensagem museológica –, é dirigida. Há que ter em conta, que a
exposição é ao mesmo tempo “o reencontro entre usuário e objecto de arte, vector de
uma estratégia comunicacional e motor de impacto social” (ALVES, 2010, p. 3).
CONCLUSÃO
A exposição museológica, o Museu na sua totalidade orgânica, deverá supor, neste
quadro, um trabalho prévio de investigação científica, pluridisciplinar, que encontre a
sequência e a ordenação que melhor facilite a leitura e a sua compreensão, optando pela
via mais acessível para a divulgação dos conhecimentos a que se propõe, deverá
imbricar, segundo o pensamento de Alves, em três vectores: na primazia dada à obra, no
recorrer à encenação, por último, fornecendo ao usuário o sentimento de existência da
sua identidade, de modo a que interagindo se obtenha o desejado fenómeno total e
orgânico e a comunicação absorvente. Sem procurar ser demasiado interpretativa, talvez
lhe possa chamar entracomunicação (um acto de mútua comunicação)
Partilhando das suas observações, quero com isto dizer, que ao delinear a exposição
deve considerar-se, que a presença do publico, na chamada media/exposição não é nem
pode ser considerada como a de um espectador passivo, ele deverá ser convidado a
converter-se em agente de mudança que ao implicar-se na exposição, deve ousar fazer
comparações e convocar diferentes contribuições.
O espaço criado pelo conservador /autor, no seu processo de construção não deve
esquecer que é o publico o receptor do museu, e deve procurar situá-lo, “no seu lugar de
agente, actor, de sujeito participante criativo do processo de comunicação em qualquer
situação” (CURY, p. 275), deve situá-lo no seu lugar de agente, actor, de sujeito
participante criativo do processo de comunicação, ao fazermos dele parte do processo
do conservador e estar aberto às suas contribuições.
È necessário que se evidencie na concepção que de facto o conservador/autor
desaparece, quando o usuário entra em cena, quando exposição é vista como ritual de
representação, em que o Museu se dá em espectáculo, do mesmo modo que “o usuário
se dá em actor vivendo novas experiências” (ALVES, 2010, p. 3).
Neste contexto, apelemos à identidade do Museu, que deve ser entendida como um
conjunto de elementos organizacionais, operacionais e comportamentais transmitidos
através de forma comunicacionalmente estratégica, para se diferenciar dos outros
museus.
De modo a efectivar esta premissa, caberá então à equipa do Museu a realização de um
trabalho museológico sério sempre com base em critérios comunicacionais, de modo a
que atinja a captação da atenção do público, esta sim a forma mais elementar de
transmissão da identidade do Museu. Esta interacção demonstra se existe, ou não,
organização, comportamento, personalidade e cultura museológica, que leve o usuário a
decidir se prossegue ou corta a sua relação com o Museu.
Então, organizar e informar critérios de comunicação museológica, que concorra para o
estudo e desenvolvimento da identidade do Museu torna-se imprescindível. Deveremos
então ter presente, de que “tudo, absolutamente tudo comunica. Até o silêncio
comunica.” (ALVES, 2010, p. 5).
Ainda neste quadro, em que tenho orientado a minha comunicação, no que diz respeito
às estratégias para a frequentação museológica e as políticas culturais a adoptar deverão
inevitavelmente passar pelo seu relacionamento com o meio, sensibilização dos
políticos e das autoridades, envolvimento dos parceiros sociais, acções junto da opinião
pública, integração social e sedução possível, actualidade do mundo dos museus e
inquérito à frequentação museológica. Estas questões e temáticas aqui enunciadas pela
sua relevância enquanto fenomenologia da comunicação, no seio da área museológica e
no âmbito da visibilidade dos Museu, por economia do presente texto e tempo não serão
aqui desenvolvidas.
Neste sentido, a sua pertinência e concretização concorrem para uma pretensão final, a
contribuição, para que o Museu seja um organismo vivo, que se adapte uma nova
realidade da cultura mundo. Precisamente, na segunda modernidade, que vivemos, em
que o homem necessita de emoções fortes, deve nascer um novo tipo de museu “o
museu/espectáculo… em que o usuário/espectador se dá em espectáculo onde as obras
de arte são o star-system, como no cinema” (ALVES, 2010, p. 13). Chegou o tempo de
uma nova geração de “gentes do museu”, interessada pelo homem e pelo ser vivo, e não
somente pelo objecto, em que a comunicação museológica actue dialéctica e
dialogicamente (CURY, 2005, p. 1), seja quando o museu organiza o seu discurso, seja
quando se abre às procriações discursivas do público, dito de outro modo, quando o
Museu complementa o ciclo do processo de musealização, de quotidianização e de
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